revista fale! brasília. edição 02

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Quase 50 Brasília chega aos 49 anos se preparando para a festa do seu cinquentenário e enfrentando problemas estruturais nunca antes pensados pelos seus fundadores BRASILIENSES DECLARAM SEU AMOR PELA CIDADE ENSAIO FOTOGRÁFICO DE IVALDO CAVALCANTE B B S E D I T O R A 9 771519 953002 00002 R$ 9,00 A catedral de Brasília na Esplanada dos Ministérios Revista de informação ANO I — Nº 2 BSB EDITORA www.revistafale.com.br/brasilia ESPECIAL TOCANTINS, SANTA CATARINA E SERGIPE NA LISTA DE GOVERNADORES COM PROCESSOS DE CASSAÇÃO. CONHEÇA OS CRIMES ELEITORAIS MAIS COMUNS B RASÍLIA

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Revista Fale! Brasília. Edição 02. Quase 50 Brasília chega aos 49 anos se preparando para a festa do seu cinquentenário e enfrentando problemas estruturais nunca antes pensados pelos seus fundadores

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Quase 50Brasília chega aos 49 anos se preparando para a festa do seu cinquentenário e enfrentando problemas estruturais nunca antes pensados pelos seus fundadores

BRASILIENSES DECLARAM SEU AMOR PELA CIDADE ENSAIO FOTOGRÁFICO DE IVALDO CAVALCANTE

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9 771519 953002 00002

R$

9,0

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A catedral de Brasília na Esplanada dos Ministérios

Revista de informaçãoANO I — Nº 2BSB EDITORAwww.revistafale.com.br/brasilia

E S P E C I A L TOCANTINS, SANTA CATARINA E SERGIPE NA LISTA DE GOVERNADORES COM PROCESSOS DE CASSAÇÃO. CONHEÇA OS CRIMES ELEITORAIS MAIS COMUNS

Brasília

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A revista de informação de Brasília.www.revistafrase.com.br/brasilia(61) 3468.5697

A revista de informação de Brasília.

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A revista de informação de Brasília.

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B BSe d i t o r a

DIRETORES Luís Eduardo Girão Luís-Sérgio SantosMarcos Linhares

EDITORES DE ARTE Everton Sousa de Paula Pessoa e Jon RomanoDIRETOR cOmERcIAl Remy Portilho

REDAçãO Gabriel Alves, Vitor Ferns, Rafael Oliveira ARTE Itallo Cardoso, Luís Sérgio Santos Jr SERvIçOS EDITORIAIS

E FOTOgRAFIA Agência Brasil, Agência Estado, Reuters, Omni Editora cOlAbORADORES Aline Almeida, Carlos Henrique Araújo, Adriana Almeida, Vinicius Borba REvISãO Priscila Peres ApOIO

ADmInISTRATIvO Sidney Girão REDAçãO E publIcIDADE BSB Editora EnDEREçO SHIN CA 05 Bloco I Loja 112 Ed. Saint Regis — Lago Norte CEP 71.503-505, Brasília, Distrito Federal FOnE

(61) 3468.5697 SucuRSAl FORTAlEzA Omni Editora — Rua Joaquim Sá, 746 FOnES (85) 3247.6101 e 9673.7375 CEP

60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará e-mail: [email protected] web-page www.revistafale.com.br/brasilia

COPyRIGHt © 2009 BSB Editora Ltda. todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do

conteúdo desta obra de qualquer forma ou meio eletrônico, mecânico, fotográfico e gravação ou qualquer outro, sem a

permissão expressa da BSB Editora (lei nº 5.988 de 14.12.73). Fale! Brasília é publicada pela BSB Editora Ltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00,

exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados

não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! Brasília não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de Fale! Brasília podem ser feitos por fax,

telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. ImpRESSãO Prol Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Fale! Brasília is published monthly by BSB Editora Ltda. A yearly subscription abroad costs US$ 99,00. to subscribe

call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: [email protected] All rights reserved. Reproduction in whole or in part without

permission is prohibited.

DIRETOR DE REDAçãO

Marcos LinharesEDITOR ASSOcIADO

Luís Eduardo GirãoEDITOR ExEcuTIvO

Luís-Sérgio Santos

� | Fale! Brasília | Maio de 2009 www.revistafale.com.br

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14Corrupção eleitoral Tribunal Superior Eleitoral mira

cassações de governadores eleitos acusados de abuso de poder econômico no processo eleitoral

22Saída para a crise Paul Singer defende estímulo

à economia solidária e as atividades comerciais locais junto às comunidades mais pobres

S EÇÕ E S06 Talking Heads08 Arena Política10 Brasília Off12 Online

�6 10 Perguntas60 Moda62 Persona65 Artigo

40 Talento e arrojo Jovens talentosos abrem

empresas, crescem e contribuem cada vez mais no comércio de Brasília

ECO N O M I A & N EG ó C I O S

Responsabilidade dobradaCartadoEditor

Maio, Mês das MãEs E da as-sinatura da libertação dos escravos. E chegamos ao nosso segundo número. E que prazer e responsabili-

dade: ouvir quem tem a falar sobre nossa amada cidade que já se pre-para para comemorar os 50 anos. nesse número, falou quem tinha a dizer sobre a capital de todos os brasileiros: teve pioneiro, poeta, historiador, amigo de JK, gente que analisou a cidade por prismas diferentes, mas sempre construti-vos e respeitosos. nessa edição de Fale!Brasília, nem se rasgou seda tampouco defeitos, mas viu-se a cidade por alto, de lado, no centro e no entorno. E não podemos dei-xar de agradecer ao grande ivaldo Cavalcante pela bela foto da capa e as do ensaio publicado nessa edi-ção. ou ao presidente do instituto Histórico e Geográfico, Cel. Afonso Heliodoro, que abriu seu arquivo histórico pessoal, com suas lem-branças de seu amigo JK. altaneiro e dinâmico, aos 93 anos, uma figura que devemos ouvir mais na cidade e dar o devido respeito à entidade por ele presidida.

nossa revista é assim, ouve e você Fala. Há espaço ao contra-ditório, como na matéria sobre a temporada de cassações aos go-vernadores, onde ouvimos vários lados, incluindo os advogados dos candidatos eleitos que respondem aos processos.

também abordamos os jovens empreendedores que apostam na ci-dade e ajudam a renovar a economia

local. abrimos espaço ao pequeno igor Macedo (8), que, a partir de ju-nho, será nosso repórter mirim.

isso e muito mais, na revista que promete e cumpre a tarefa de ter na reportagem sua arma e es-cudo. aguardamos suas críticas, sugestões de pautas e comentários. os três mais bem escritos (e-mail: [email protected]) ga-nharão, de acordo com julgamento da redação, um exemplar do livro História de Brasília, do pioneiro Ernesto silva. imperdível! Em ju-nho, mais novidades: teremos o início de uma série de reportagens especiais sobre a educação brasi-leira, uma análise do turismo, da produção audiovisual, literária e religiosa do dF, e não para por ai.

Às nossas mães, a poesia de drummond, Para Sempre: “Por que deus permite/ que as mães vão-se embora?/ Mãe não tem limite/ é tempo sem hora/ luz que não apa-ga/ quando sopra o vento/ e chuva desaba/ veludo escondido/ na pele enrugada,/ água pura, ar puro,/puro pensamento./ Morrer aconte-ce/ com o que é breve e passa/ sem deixar vestígio./ Mãe, na sua gra-ça,/ é eternidade./Por que deus se lembra/ — mistério profundo —/ de tirá-la um dia?/ Fosse eu rei do Mundo,/ baixava uma lei:/Mãe não morre nunca,/mãe ficará sempre/ junto de seu filho/ e ele, velho em-bora,/ será pequenino/ feito grão de milho.”

Boa leitura e até junho! Marcos LinharesdirEtor dE rEdação

Maio de 2009 ano I no 2

issn 1519-9533

© 2009 BsB Editora

P O L Í T I CA

CAPA fOTO de ivAldO CAvAlCAnTe

CA PA

30Capital dos BrasileirosBrasília, a utopia tornada

realidade pelo arrojo do político mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, chega aos 49 e se prepara para a grande comemoração dos seus 50 anos em 2010. Brasilienses e brasileiros comentam aspectos da cidade. Um ensaio de Ivaldo Cavalcante mostra um olhar especial sobre Brasília

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Eles confundiram o partido com os interesses particulares deles.

NelsoN Jobim, ministro da Defesa, sobre a reação do PMDB às demissões de apadrinhados de políticos na Infraero.

talkingHeads

No passado, o presidente [Lula] foi a pessoa mais perseguida neste país, foi preso e virou presidente. Comigo aconteceu a perseguição interna, investigações, desejo de obter uma prisão contra uma pessoa inocente. Que país é este onde quem cumpre seu dever é preso?

ProtógeNes Queiroz, delegado da Polícia Federal na festa do dia 1º de Maio da Força Sindical, em São Paulo

O tribunal tem que estar preocupado com o caixa dois, não com o caixa um. rodrigo maia, presidente do DEM acha que criar barreiras para as doações de empresas pode aumentar o caixa dois (doações irregulares, não declaradas à Justiça Eleitoral)fO

TO l

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Ad commodum suum quisquis callidus est.

Ad commodum suum quisquis callidus est.

Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir à Brasília.

lula, presidente revelando que forneceu passagens aéreas para sindicalistas durante seu mandato de deputado federal.

Os sindicatos devem ter renda para pagar passagens para seus dirigentes.

arNaldo madeira, (PSDB-SP), retruca as declarações de Lula sobre o uso das passagens aéreas que tem direito.

A I N D A A S P A S S A G E N S

Procuro alguém com uma mente independente e com uma trajetória de excelência e integridade.

barack obama, presidente dos EUA, sobre o primeiro juiz que ele irá indicar para a Suprema Corte americana.

Às vezes o deputado acha que tem que fazer alguma coisa para que não digam que ele não faz nada, e aí fica criando projetos.

José meNtor , deputado (PT-SP) concordando com cândido Vaccarezza.

Juliana Paes no “Café com Glória”, um bate-papo com Glória Perez sobre a novela das 21h, Caminho das Índias.

fOTO SilviO TAnAkA

A fama me pegou de surpresa, mas nunca fui deslumbrada. A vida é que muda, não a gente. A única coisa que mudou de verdade foi que eu consegui pagar minhas dívidas.

JuliaNa Paes, atriz.

A melhor maneira de se acabar com a doação oculta é impedir a doação a partidos em época de campanha. Exigir a abertura de conta específica não agrega transparência.

ricardo berzoiNi, presidente do PT, manifestando-se contra as novas regras do TSE para evitar caixa dois.

fOTO eSdOn SAnTOS

O processo legislativo hoje é aprimorar a legislação. Às vezes, é mais útil simplificar a lei do que votar novas leis. Mas, aqui no Brasil, para cada evento que tem impacto social, o primeiro pensamento da sociedade e da imprensa é fazer nova lei.

câNdido Vaccarezza, atual líder do PT na Câmara dos Deputados e que foi o responsável por acabar com 13 mil atos legais quando foi deputado estadual em São Paulo.

L E G I S L A R É A S S I M

Estou me lixando para a opinião pública. Vocês batem, mas a gente se reelege.

sérgio moraes, deputado federal (PTB-RS), após arquivar processo contra o ex-corregedor da Câmara Edmar Moreira (sem partido-MG) dono de um castelo de R$ 25 milhões em Minas Gerais.

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arenaPolíticaMalha fina para executivo, legislativo e Judiciário?

O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) apresentou Projeto de Lei (PLS 99/09), que está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, prevendo que as declarações de imposto de renda de chefes do Executivo e ministros de Estado, membros do Legislativo e do Judiciário, em todas as esferas — federal, estadual e municipal —, poderão ser automaticamente incluídas na “malha fina” fiscal da Receita Federal. Além deles, o PLS também inclui pessoas que ocupam cargos de confiança, ordenadores de despesas em todos os órgãos da administração pública, magistrados, membros do Ministério Público e dos Tribunais de Contas. Será que aprovam?

Pouco investimento federalEstão previstos R$ 48,8 bilhões de

investimento no orçamento federal deste ano. De janeiro a março, somente R$ 3,674 bilhões foram investidos, ou seja, apenas 7,5%. E se formos analisar somente as despesas de 2009, o número despenca para R$ 359 milhões (0,7% do total). Se não mudar esse ritmo, o país pode piorar todos seus indicadores econômicos, e a taxa de desemprego vai disparar.

Peru adota sistema de Tv digital utilizado pelo Brasil

O Ministro dos Transportes e Comunicações da República do Peru, Enrique Cornejo, anunciou que adotará o mesmo sistema de TV Digital usado no Brasil, o International System for Digital Broadcasting (ISDB-TB). Segundo o Ministério da Relações Exteriores, “desde 2006, o Brasil promove, na América do Sul, em conjunto com o Japão, a divulgação do referido sistema, com inovações brasileiras”. Se o rítmo de implantação for o mesmo do Brasil, o Peru só terá TV em alta definição na Copa de 2014.

Presidente Lula durante encontro com o presidente da China, Hu JintaofOTO RiCARdO STuCkeRT_PR

LULA VISITA NOVAMENTE A CHINAo PrEsidEntE Luiz ináCio LuLa da silva visitará a China (Pequim) de 18 a 20 de maio. nessa segunda visita aos chineses, Lula tentará não só melhorar o comércio entre os dois países — podendo aí facilitar o trâmite das exportações pela alfândega e pelas duras regras de quarentena

chinesas —, como também tratará sobre o lançamento de satélites sobre a áfrica. a China é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, importando principalmente soja e minério de ferro. só no primeiro trimestre de 2009, o comércio entre os dois países alcançou us$ 7,011 bilhões, melhorando em 12,5% os números do mesmo período do ano passado. as exportações para os chineses aumentaram em 63% com queda nas importações.

De acordo com informações da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, um Grupo de ativistas favoráveis ao PLC 180/2008 se reuniu em duas audiências com os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. Além das cotas para negros e índios, os parlamentares também sustentaram a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial. O projeto tramita na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado há cinco meses e cria cotas raciais e sociais em universidades públicas e escolas técnicas federais. Sarney

afirmou que o Brasil tem graves problemas de inserção social e que as cotas apontam o caminho para começar a solucioná-los. Já Temer comprometeu-se a conversar com lideranças da Casa vizinha para sensibilizá-los a aprovar o projeto. A expectativa é que a CCJ vote o projeto até o final de maio. O ministro da Educação, Fernando Haddad, declarou não entender porque alguns parlamentares, entre eles o presidente da CCJ, Demóstenes Torres (DEM-GO), que aprovaram as cotas no Prouni, criticam a reserva de vagas para negros e

índios nas instituições públicas. Participaram das audiências a Campanha Nacional pelo Direito à Educação, o Ceabra (Coletivo de Empresários Afro-Brasileiros), o Cimi (Conselho Indigenista Missionário), o CNAB (Congresso Nacional Afro-Brasileiro), o Conen (Coletivo Nacional de Entidades Negras), a Comunidade de Terreiros de Matriz Africana de Goiás, a Coper Negros (Negros e Negras pela Habitação de Goiás), a Educafro, o MNU (Movimento Negro Unificado), o MSU (Movimento dos Sem Universidade) e a Nação Hip-Hop.

Mobilização em favor das cotas

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OS VOOS PóSTUMOS DE EX-SENADORES

Se você acha que já tinha ouvido tudo sobre o escândalo com passagens aéreas de parlamentares, vai ficar ainda mais horrorizado agora. Segundo dados do site Congresso em Foco, pelo menos 11 ex-parlamentares — seus familiares, amigos e ‘colaboradores’ — usaram as cotas de passagens depois do término do mandato. A relação de ex-senadores inclui o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), José Jorge, a presidente do Psol, Heloísa Helena (AL), o ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB-DF), João Alberto de Souza (PMDB-MA), atual vice-governador do Maranhão, Rodolpho Tourinho (DEM-BA), Roberto Saturnino (PT-RJ) e Jorge Bornhausen (DEM-SC), o deputado Alberto Silva (PMDB-PI) fecha a lista. Para

espanto maior, foram usadas passgens de cotas de dois senadores que morreram no exercício do mandato: Ramez Tebet (PMDB-MS), que presidiu o Senado entre 2001 e 2003, foi usada sete vezes após sua morte. As beneficiadas Mari Regina Vieira e Marly Souza eram funcionárias do gabinete do senador. Estranho mesmo é a viagem de Mônica Souza, irmã de Marly, que fez o trecho Assunção (Paraguai)–Curitiba. A viúva de Jefferson Péres (PDT-AM), fez uma viagem após a morte do marido. Em dezembro de 2008, Marlídice solicitou ao Senado a conversão em dinheiro da cota de passagens aéreas não utilizadas. O pedido foi feito ao então presidente da Casa, Garibaldi Alves (PMDB-RN), que atendeu prontamente. Marlídice recebeu R$ 118.651,20, segundo o jornal Folha de S.Paulo.

Conta bancária para doações eleitoraistudo indiCa quE o triBunaL superior Eleitoral (tsE) irá exigir, já nas eleições de 2010, que os partidos políticos abram uma conta bancária somente para receber e repassar doações eleitorais. o processo administrativo sobre essa medida já começou a ser julgado e o projeto está no gabinete do ministro Fernando Gonçalves. Esse é mais um capítulo a ser acompanhado de perto da novela sobre o financiamento de campanhas eleitorais.

Querem acabar com1.760 leis inúteis

Édigna de nota e de todos os elogios a iniciativa dos 21 deputados que compõem o Grupo de Trabalho de

Consolidação das Leis Federais que pretende, até 2010, extinguir decretos, leis e normas incompatíveis, ultrapassadas e repetidas, num total de 1.760. Vamos torcer para que consigam. Ninguém mais aguenta ter que lidar com leis ultrapassadas como a recentemente extinta Lei de Imprensa, criada em 1967 pela Ditadura Militar, e que desrespeitava a Constituição Federal de 1988. Precisamos de menos quantidade e de mais qualidade no legislativo brasileiro em todas as esferas.

A S F R A S E S

[É falsa a visão de que o financiamento público exclusivo de campanha traria um

custo maior para o governo.]tarso geNro, (PT-RS) ministro da Justiça,

defendendo o financiamento público das campanhas eleitorais.

[Há muito deputado com medo da eleição e que deseja se esconder no meio de uma lista.]

arNaldo madeira, (PSDB-SP) deputado federal, contrário às propostas da reforma política.

[Não sei quem acredita que tem consenso.]

beto albuQuerQue, (PSB-RS) vice-líder do governo, desmentindo Tarso Genrro

deuS, MAgiSTRAdOSe PARlAMenTAReS

Cerca de 20 membros da Bancada Parlamentar Evangélica reuniram-se com a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) para abrir espaço para o debate de projetos de interesse da magistratura em tramitação no Congresso Nacional e de preocupações comuns ao Judiciário e ao Legislativo. De acordo com informações da AMB, também foram abordadas questões importantes para a melhoria do arcabouço legislativo brasileiro do ponto de vista de quem elabora e de quem aplica as leis. O encontro é mais uma etapa do trabalho que a AMB vem desenvolvendo no Congresso para mostrar o que o Judiciário pensa em relação a alguns temas. A bancada evangélica no Parlamento conta hoje com 54 deputados e quatro senadores de várias legendas.

RefORMA POlÍTiCA. COngReSSO eSTÁ lOnge de COnSenSOa Câmara dos deputados voltou a discutir a reforma política. o foco da reforma é o mesmo de dois anos atrás, quando o projeto foi derrotado em plenário: a votação em lista partidária – fechada ou aberta – nas eleições proporcionais e o financiamento público de campanhas. a falta de acordo que impediu a aprovação persiste. a proposta não tem data para ir a voto, embora o ministro da Justiça Tarso Genro (PT-RS) afirme que ela ocorrerá ainda esse ano. os parlamentares ainda discutem a possibilidade de as mudanças serem aplicadas já nas eleições de 2010.

MÃO LIMPA. O parlamentar Jeferson Péres foi atuante na luta pela moralização do congresso. fOTOS fABiO ROdRigueS POzzeBOM_ABR

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Brasíliaoff

o PrEsidEntE lula rECEBEu das mãos do governador, José roberto arruda (dEM), e do representante dos bombeiros na Câmara, o deputado distrital, aylton Gomes (PMn), a proposta do governo para o novo plano de carreira dos profissionais de segurança do distrito Federal. Entre as propostas estão a criação de

uma gratificação no valor r$ 1 mil por risco de morte, promoções por tempo de serviço, aproveitamento de profissionais da reserva e escolaridade de nível superior para todos os postos. Caso o plano seja aprovado em tempo, 6.595 militares impedidos de crescimento na carreira serão promovidos ainda neste ano.

LULA RECEBE PLANO DE CARREIRA DOS PROFISSIONAIS DE SEGURANÇA

fOTO: ROOSewelT PinHeiRO_ABR

Paixão de Cristo movimentou a economia e o turismo localA 36ª edição da Via Sacra em Planaltina-DF, a mais tradicional encenação da Paixão de Cristo do Centro-Oeste, uma das maiores encenações teatrais a céu aberto da America Latina, levou mais 100 mil pessoas para o Morro da Capelinha, local onde é realizada a encenação. Turistas de todos os estados e até de outros países vêm todos os anos para a cidade conferir a encenação, que é famosa por todos os anos trazer uma surpresa diferente na ressurreição, momento do clímax da apresentação. Cerca de 1.100 atores e 300 técnicos participaram da encenação, que é um show de realismo. Parte do público sobe o Morro da Capelinha junto com a apresentação, que começa no pé do morro e sobe evoluindo por estações. Planaltina-DF é a cidade berço do Distrito Federal, que no dia 19 de agosto completará 150 anos.

Brasilienses brilham no esporte internacionalO saltador brasiliense César Castro não pára de dar alegrias a Brasília e ao Brasil. Castro ganhou a medalha de prata no trampolim de 3m, em etapa do Circuito Mundial de saltos ornamentais, em Montreal, no Canadá. César Castro e o colega Hugo Parisi estão classificados para disputar em Roma, em julho, o 13º. Mundial dos esportes aquáticos.

fOTO: divulgAÇÃO

Construtoras comemoramas construtoras do dF comemoram as medidas recentes do Governo Federal que envolvem, outras medidas, a redução do imposto sobre Produtos industrializados (iPi) para diversos materiais de construção. o iPi que incide sobre cimento, por exemplo, diminui de �% para zero; tintas e vernizes, de 5% para zero; massa de vidraceiro, de 10% para 2%, entre outros.ao todo, 30 itens foram contemplados com o benefício. de acordo com o gerente comercial da MB Engenharia – Empresa Brascan, rubens oseki, com a redução do iPi, o setor de construção civil espera que os preços caiam de 5% a 8,5%.

nova loja Comper em Águas Claras o grupo Pereira, proprietário da rede de supermercados Comper, irá inaugurar sua oitava loja no DF. A nova unidade, fica localizada em águas Claras, no shopping quê, e ocupará 2,6 mil metros quadrados. Foram investidos r$ 5,5 milhões na nova unidade e contratados 150 funcionários. “Estamos investindo em águas Claras por ser uma cidade com grande potencial, além de ser considerada o segundo maior canteiro de obras da América Latina”, afirma o gerente regional do Comper, albanês thiago. a rede tem mais de 30 anos, e a onze está instalado no dF, possui 3� lojas distribuídas em seis unidades da Federação (sC, Mt, Ms, Go, sP e dF).

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as exportações das indústrias do dF começam a retomar os patamares do ano passado. os números preliminares divulgados pelo Ministério do desenvolvimento, indústria e Comércio Exterior (MdiC) indicam que as vendas externas no mês passado ficaram em cerca de us$ 10,6 milhões, crescimento de 22,07% em comparação ao registrado em abril de 2008 (us$ 8,683 milhões) e incremento de 1,79% sobre o resultado de março deste ano (us$ 10,�13 milhões). Para o presidente da Federação das indústrias do dF (Fibra), antônio rocha, o desempenho em abril deste ano indica uma retomada das exportações brasilienses. segundo rocha, a análise comparativa com o mesmo mês de 2008 permite concluir que as vendas para exterior estão sendo retomadas após período de retração. nos quatro primeiros meses de 2009, as exportações somaram us$ 33,338 milhões, um resultado 20,8�% menor se comparado com igual período do ano passado (us$ �2,113 milhões). Em abril deste ano as importações do dF

ficaram em cerca de US$ 87 milhões, avanço de �,7% na comparação com o mesmo mês do ano passado. a balança comercial brasileira teve um desempenho mais acentuado em abril em função do aumento das compras da China. China e arábia saudita são importantes parceiros comerciais do dF. no ano passado, por exemplo, as indústrias brasilienses exportaram us$ 5,875 milhões para a arábia saudita e us$ 1,278 milhões para a China. no ranking, a arábia fechou 2008 na 5ª posição e a China em 13º lugar. no entanto, há um desequilíbrio comercial com a China que, no ano passado, vendeu us$ us$ ��,5�1 milhões para o dF. arábia saudita e turquia não registraram qualquer comércio para a capital brasileira. no primeiro trimestre de 2009, as importações da China somaram us$ 6,�30 milhões, ou seja, 1�,�3% do volume do ano passado. Entre janeiro e março deste ano ainda não houve registro de importações da arábia saudita e da turquia para o dF. Em tempo: Frango é o principal produto da pauta de exportações das indústrias do dF.

unB aceitará enem já em de 2011A Universidade de Brasília não participará da primeira edição do vestibular unificado em outubro deste ano. O novo Enem só será adotado como processo de seleção dos alunos que começam a graduação em 2011. A decisão foi tomada pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. O PAS e as cotas para negros serão mantidos. Existe o consenso de que esses projetos são conquistas da universidade e, portanto, devem continuar.

Reestruturação do Senado. O projetoO presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP), aguarda ancioso estudo da Fundação Getulio Vargas – FGV sobre projeto de reestruturação administrativa destinada a diminuir custos, cortar cargos e melhorar a eficiência do Legislativo. E o da Câmara, quando sai?

Cópia: Brasília em MinasBrasíla é mesmo o sonho de Aécio Neves, governador de Minas Gerais e um dos pré-candidatos do PSDB a presidência da república. Por R$ 890 milhões está sendo construído a nova sede administrativa, projetada por Oscar Niemeyer. As obras seguem em rítmo

acelerado e devem ficar prontas antes do fim de seu mandato. Alguns contrários a construção, reclamam da distância do novo centro, cerca de 1 hora do centro de Belo Horizonte, e também alegam o desprezo com o importante Palácio da Liberdade, construção histórica, atual sede do governo do Estado.

Melhora a balança comercial do DF

fOTO fABiO ROdRigueS POzzeBOM_ABR

Ratos ‘passeiam’ na esplanada dos ministériosTelespectadores da Rede Globo observaram durante participação da repórter Delis Ortiz, ao vivo, direto de Brasília para o programa Fantástico do dia (03/05), ratos que passeavam próximo ao Ministério da Saúde. Segundo o ministério o problema é devido ao acumulo de lixo deixado por ambulantes que vendem comida no local. A falta de restaurantes na esplanada dos ministérios é um problema recorrente. Mas, para que ainda não conhece vai ai uma dica: no prédio do Ministério das Comunicações, funciona um restaurante que serve um saboroso cardápio por apenas R$ 7,95 o quilo. Talvez esse seja um único lugar de Brasília onde se pode comer bem por menos de R$ 5,00. De tão procurado, chega a se formar fila na frente do ministério. O restaurante já ganhou o apelido de “Bistrô do Helinho”, em homenagem ao ministro das comunicações, Hélio Costa.

estelionato preocupa empresários e trabalhadores do SiA Desde janeiro, mais de 80 golpes foram cometidos na região. Campanha da 8ª. Delegacia de Polícia Civil do SAI, com cartilhas, panfletos e banners, orientará trabalhadores e visitantes quanto aos tipos de golpes mais comuns – falsificação de documentos civis e públicos, cheques sem fundos, falsas ofertas de emprego, bilhetes premiados e, mais recentemente, apropriação de dados bancários por meio da Internet -, e dará dicas sobre como agir em situações de risco e perigo.

Maio de 2009 | Fale! Brasília | 11www.revistafale.com.br

Page 12: Revista Fale! Brasília. Edição 02

onLine

O Livemocha está sendo

chamado de ‘orkut’ para aprender inglês. Ele é o mais popular método na internet, grátis.Tem mais de 2 milhões de pessoas conectadas aprendendo e tirando dúvidas. Acesse www.livemocha.

com. Além de lições convencionais, a rede social cria um ambiente real de conversação com a possibilidade de submeter textos à correção de usuários nativos. A falta de profissionais que falam inglês levam empresas a treinarem pessoas sem formação técnica, mas com fluência na língua.

o Q u e é N o V o

inglês em rede social

iPod e iPhone obrigatórios em faculdade de jornalismoO curso de Jornalismo da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, exigirá que seus alunos tenham um iPhone ou iPod Touch como material indispensável para a partir do próximo semestre efeturarem download de material do curso. Comunicado da universidade informa que os equipamentos são requisitos mínimos, e que “A melhor solução para os estudantes que não tenham iPod Touch ou iPhone é ir à TigerTech, loja de informática da universidade, e comprar um.”

google caiu! e agora?e ssa frase é cada vez mais dita pelos usuário de

internet e assíduos clientes de algum produto da gigante Google. É que somente nos quatro primeiros

meses desse ano, o número de falhas em serviços como o buscado, Gmail, Orkut e Google Docs, já igualaram os do ano de 2008, doze no total. Embora algumas falhas não tenhão sido admitidas pelo provedor, que classificou o problema como isolado, e atribui a culpa a terceiros, companhias elétricas e de telefonia, por exemplo, ainda assim a dúvida começa a pairar sobre a cabeça daqueles que elegeram a ‘nuvem’ como local para armazenar sua vida ‘virtual’.

Embora assuste, as falhas no Google servem para mostrar que na área de tecnologia, todos estão sujeitos a erros, inclusive a maior empresa de internet no planeta. Mesmo com os bugs, ainda sobram motivos para confiar no Google: a empresa mantêm seus data ceters em locais secretos, e espalhados pelo mundo; até hoje não se tem notícias de informações roubadas de servidores da Google; a cada ano a empresa amplia seu investimentos em segurança e armazenamento; é muito rigoroza a política de conduta dos funcionários e por fim; a privacidade dos dados é uma das maiores preocupação da empresa. A maior crítica dos usuários se dá por conta da falta de um call center, para atender os usuários. No Google todo o atendimento ao consumidor se dá através de foruns, além da ajuda reunidas em links como ‘perguntas frequentes’ e ‘solução de problemas’.

Orkut inseguro

P rEoCuPado CoM a iMaGEM institucional do orkut, o Google

divulgou uma relação de cuidados de segurança para tentar reduzir o número de usuários vítimas de golpes, uma tendência crescente. os crimes mais comuns são roubo de senhas, de perfis, de comunidades e infecção por códigos maliciosos.

os problemas de segurança fazem muitos usuários desistirem de usar o serviço. cuidados 1. Criar uma senha difícil e não fornecê-la a sites não autenticados pelo Google.2. alerta total com links externos — não copie e cole códigos na barra de navegação. o método é uma forma clássica de mandar o usuário para um endereço que baixa códigos maliciosos ocultamente no PC do usuário. 3. Manter na máquina um antivírus atualizado e nunca baixar arquivos via orkut, especialmente aqueles com extensões suspeitíssimas como .exe e .vb. 4. aumentar o grau de alerta entre amigos. amigos numa mesma rede tendem a ter um grau de confiança alto entre si.

Pirataria de software cresce no mundoEstimativas da Business Software Alliance - BSA dão conta de que a pirataria de programas instalados em empresas e residências em 2007 cresceu em todo o mundo de 38%, para 41% em 2008.No Brasil, a pesquisa indica redução de 1 ponto percentual, chegando aos 58%. No acumulado dos últimos três anos, entre 2005 e 2008, o país registrou queda de 6 pontos no índice. O Brasil ocupa a nona colacação “na lista dos países cuja pirataria de software provoca maior dano financeiro”, informa a BSA no levantamento. China, Rússia também reduziram o índice de pirataria. Os EUA O estudo identificou cinco países com índices de pirataria de 90% ou mais: Geórgia, Bangladesh, Armênia, Zimbábue, Sri Lanka, Azerbaijão e Moldova.

ONDE ESTÁ O GOOGLE. Internautas especulam sobre onde estariam localizados o Data Centers do Google, a empresa não confirma as informações.

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A TEMPORADA DE CAÇA CONTINUACom evidências de terem cometido abuso de poder

econômico no processo eleitoral, governadores eleitos continuam na mira de cassações do Tribunal Superior eleitoral. O governador do

Tocantins, Marcelo Miranda (PMdB), e o governador de Santa Catarina, luiz Henrique da Silveira (PMdB), são a bola da vez rumo à

guilhotina. Já foram cassados Cássio Cunha lima, da Paraíba, e Jackson lago, do Maranhão

Por rafael oliveira, Vitor Ferns e marcos linhares

UMa PEsquisa do MoviMEnto dE CoMBatE, a Corrupção Eleitoral (MCCE) revela que, de 2000 a 200�, quando a Lei 9.8�0 entrou em vigor, a Justiça Eleitoral promoveu a cassação de 623 mandatos no Brasil. a Lei promulgada em 1999 passou a penalizar a captação ilícita de votos e o uso eleitoral da máquina administrativa. nesse

período, os governadores cassados foram: Flamarion Por-tela (ex-Pt-rr), por crime eleitoral na campanha de 2002, e Cássio Cunha Lima (PsdB-PB). Cunha Lima teve uma uma sobrevida no cargo por uma liminar do tribunal su-perior Eleitoral (tsE), mas acabou sendo definitivamente cassado na noite de 17 de fevereiro. o senador José Mara-nhão (PMdB), segundo colocado nas eleições de 2006, de-safeto político de Cunha Lima, assumiu a vaga.

outro defenestrado foi o governador do Maranhão Jackson Lago (Pdt), cassado no início da madrugada da quarta-feira, � de março. Em seu lugar, assumiu a sena-dora roseana sarney (PMdB-Ma), segunda colocada na

Política

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HORA DA VERDADE. Ministros do Tribunal Superior Eleitoral na sessão do dia 23 abril de 2009 e, acima, o diretor executivo da ONG Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo fOTOS: elzA fiúzA_ ABR (ABRAMO) e nelSOn JuniOR (TSe)

eleição.ainda segundo o MCCE, foram

cassados seis senadores (incluídos os suplentes), oito deputados fede-rais, 13 deputados entre estaduais e distritais, 508 prefeitos (inclui seus vices) e 8� vereadores.

dois nomes esperam julgamen-to no tsE: Marcelo Miranda e Luiz Henrique da silveira. o governador Marcelo Miranda (PMdB-to) teve sua diplomação impugnada nas elei-ções de 2002, pelo Ministério Pú-blico Eleitoral (MPE), em uma ação de impugnação a Mandato Eletivo (aiME). o MPE alega que Miranda visivelmente abusou do poder eco-nômico e político e reincidiu em tais práticas nas eleições de 2006, se-gundo Parecer da Procuradoria Ge-ral Eleitoral (PGE). Já o governador Luis Henrique silveira (PMdB-sC), responde por ter supostamente usa-do e bancado com dinheiro público,

os meios de co-municação em p r o p a g a n d a ilegal na mídia do seu estado, santa Catari-na, além de abuso de poder

econômico. Mais dois outros governadores

que também podem ser afastados do mandato esperam decisão da Justiça. Marcelo déda (Pt-sE), governador de sergipe, e ivo Cassol, que atualmente sem partido, governador de roraima. Em comum, a acusação recorrente: abuso do poder econômico.

o diretor executivo da onG transparência Brasil, Cláudio Weber abramo, vê nessa sucessão de even-tos uma evolução do tsE. “a agiliza-ção na Justiça Eleitoral é bem nítida nos últimos tempos. É um progresso em relação à situação anterior, em que isso não acontecia nunca”, lem-bra abramo.

Com esse aspecto, concorda Ju-liano Costa Couto, advogado elei-toral e conselheiro da ordem dos advogados do Brasil (oaB), seção distrito Federal. “Eu entendo que há o afastar da impunidade, que antes existia e que o Ministério Público e o tsE estão aplicando com mais rigor a Legislação Eleitoral.” o presiden-te da associação Brasileira de im-prensa (aBi), Maurício azêdo, vê os processos de cassação de forma pre-ocupante. “Eu acho que as disputas eleitorais são resultados de interes-

ses de grupos econômicos que favo-recem candidatos em detrimento de outros”, declara azedo.

Para o cientista político Waldir Pucci, “as denúncias que recaem so-bre estes governadores não trazem em si novidade alguma. Em toda a história republicana do Brasil, os go-vernadores são acusados da mesma coisa, principalmente da compra de votos”, destaca.

Já para o jornalista político Jú-lio César Fróes, o fato de ministros e desembargadores dos tribunais fe-derais e regionais serem nomeados pelo presidente da república e pelos governadores dos Estados, respecti-vamente, é preocupante. “Essa pers-pectiva de nomeações pelo Executi-vos para o Judiciário é no mínimo estranha.” Mas observa que “esses processos colocados ao extremo no Judiciário tem características de pré-campanha.” assim, pare ele, o tsE presta um serviço para as cam-panhas de 2010”, avalia.

O caso de Marcelo Miranda,

no Tocantins: compra de votosMarcelo Miranda (PMdB), go-

vernador de tocantins, responde ao processo de recurso Contra Expe-dição de diploma (rCEd), n° 698, ou seja, a cassação do mandato. o processo tramita no tribunal supe-rior Eleitoral (tsE) e tem como re-corrente o ex-governador siqueira Campos e como relator o ministro Félix Fischer. o governador e seu

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vice, Paulo sidnei antunes (PPs), são acusados de abuso de poder eco-nômico, compra de votos e conduta vedada a agente público, durante a campanha eleitoral. o parecer do vice-Procurador Geral Eleitoral, Francisco Xa-vier, recomendou ao tsE a cassação de Miranda e antunes e pede nova elei-ção no Estado. segundo Xavier, Miranda não pode participar da nova eleição. álvaro valim, assessor do vice-go-vernador Paulo sidnei antunes, diz que este aparece no processo como réu solidário, pelo fato de a chapa ter sido citada.

Sumiço e caminhão. o trâmite do processo tem alguns fatos insólitos. Em outubro de 2008, próximo ao se-gundo julgamento, o volume n° 39 do rCEd sumiu do gabinete do minis-tro relator. Foi pedida a restauração dos autos. o rCEd n° 698 é o segun-do recurso impetrado no trE-to. o relator do primeiro processo, minis-tro José delgado (hoje aposentado), registrou a tentativa do governador de tumultuar o curso do processo. segundo o advogado do governador Marcelo Miranda, admar Gonzaga, “foi o autor da ação (siqueira Cam-pos) que tumultuou o processo. Eles pediram tantas informações que o governo parou por um mês e juntou um volume enorme que teve de ser transportado por caminhão”, dispa-ra. de acordo com admar, “o pro-cesso não tem conteúdo de mérito e o candidato derrotado só quer fazer espuma, aparecer na mídia dizendo ‘eu vou assumir’ e os desemprega-dos ficam na expectativa”, defende. o processo alcançou 500 volumes e 55 mil páginas, que estão estaciona-dos na Procuradoria Geral da repú-blica. tudo indica que esse deve ser não só o maior processo de defesa mas como também o processo com o maior número de páginas da história do Judiciário brasileiro.

Numerologia. o número 35 assom-bra a vida de governadores. o ex-go-vernador Cássio Cunha Lima (PsdB –PB) perdeu o mandato, segundo a decisão do tribunal, por distribuir 35 mil cheques de r$ 150 a r$ 200 reais durante período eleitoral. o governador Marcelo Miranda criou

35 mil cargos co-missionados por decretos, de forma ilegal, segundo o parecer assinado por Francisco Xa-vier. Foram 22.765 cargos denominados “cargos comissiona-dos” e 1.971 cargos de-nominados das, sendo que 11.057 nomeações para os cargos comissio-nados foram feitas no período de 30 de janeiro de 2005 a 30 de setembro de 2006, sendo 2.299 nomeações para os cargos em comissão e das realizadas no período de 16 de ju-nho de 2006 a 16 de agosto de 2006. segundo Xavier, a criação dos car-

gos violou o inciso v do art. 79 e o art. �1-a, da Lei n° 9.50�/97. Entre as nomeações, estão 22 ex-prefeitos, sete primeira-damas, seis ex-deputa-dos, nove ex-candidatos ao cargo de prefeito, segundo a acusação de si-queira Campos. o rCEd aponta que “Marcelo Miranda abusou dos gastos com propaganda institucional, pois somente no período pré-eleitoral, de 20 de janeiro de 2006 a � de abril de 2006, o Estado de tocantins gastou r$ �2.�33.81�,3� milhões e utilizou emissora pública em dia anterior às eleições”, explica.

Nomeações. Com a criação dos 35 mil cargos comissionados, o Procu-rador-Geral da república, antonio Fernando de souza, ingressou com uma ação direta de inconstitucio-nalidade (adin), no supremo tri-bunal Federal (stF). o governador Marcelo Miranda foi rápido e enca-minhou, no mesmo dia em que sou-be da ação, um projeto à assembleia Legislativa, em rito de urgência, revogando a norma questionada. a assembleia votou e aprovou a Lei 1.950/08, publicada no dia seguinte, exonerando os comissionados. Em agosto de 2008, o stF afastou a ini-ciativa do governador e considerou uma tentativa de impedir a atuação da Corte. “Essa ação de Miranda foi uma verdadeira manobra de burlar

SANTA CATARINA. O governador Luiz Henrique da Silveira está com o mandato em risco fOTO wilSOn diAS _ ABR

P O L Í T I CA

mapa da cassaçãoMaranhão, Paraíba, Tocantins e Santa Catarina são estados com governadores que já saíram ou podem sair pela força de lei

maraNHÃosai JacksoN lagoeNtra roseaNa sarNeY

tocaNtiNsProcessado marcelo miraNda Quem Pode eNtrar NoVas eleições

saNta catariNaProcessado luiz HeNriQue da silVeira Quem Pode eNtrar NÃo deFiNido

ParaÍbasai cÁssio cuNHa limaeNtra José maraNHÃo

roraimaProcessado iVo cassol Quem Pode eNtrar NÃo deFiNido

sergiPeProcessado marcelo deda eNtra NÃo deFiNido

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COM O CARGO EM RISCO. O governador do Tocantins, Marcelo Miranda, abraça o ministro da Justiça, Tarso Genro, na assinatura de convênio do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Abaixo, o ministro Félix Fischer na plenária do dia 28 de abril de 2009 fOTOS u.deTTMAR _ TSe e vAlTeR CAMPAnATO _ ABR

o stF”, disse Xavier. o stF julgou a inconstitucionalidade dos cargos e determinou imediata exoneração. a surpresa veio em 15 de agosto: três meses antes da eleição municipal, Miranda nomeou novamente todos os comissionados exonerados com base na Lei aprovada uma semana antes na assembleia Legislativa.

Professores. no período de 2� de ju-lho a 2� de outubro de 2006, foram feitas 639 nomeações de professores para cargos em comissão, que foram ocupados para substituição, regência em sala de aula e exercício por perí-odo determinado ou hora/aula pré-fixada. Tais nomeações descaracteri-zam o conceito de cargo em comissão e em contrariedade do art. 37, inc. v, da Constituição Federal e art. 9°, da Constituição Estadual do tocantins, de acordo com o parecer.

“Governo mais perto de você”, um programa criado no dia 19 de maio de 2005, não tem qualquer amparo legal ou previsão orçamentária, de

acordo com Xa-vier. de acordo com o parecer, na vigência do programa foram realizados mais de dois milhões de atendimentos e 2� transferên-cias da sede do Governo para os municípios, sem autorização da assembleia Le-gislativa. o pro-grama concedeu, g rat u it a mente , cortes de cabelo, óculos, leite, cober-tores, brinquedos, escovas dentárias, fotografias para documentos, reali-zação de casamentos comunitários, corridas de kart e de rua, jogos de futebol e mais. o programa foi sus-penso pela representação n° �930 — Classe a, pela desembargadora Jacqueline adorno, do trE-to. Pos-teriormente à decisão do tribunal, o

governador Marce-lo Miranda parece ter surpreendido a todos de novo: o governo continuou com o programa, distribuindo óculos e mutirões de cirur-gia, só que dessa vez com um novo nome: Balcão da Cidada-nia. novamente, o programa teve sua execução suspensa por medida liminar nos autos da repre-sentação n° 5.657

– Classe a, pela mesma desembar-gadora, que seu despacho não escon-deu a surpresa com o ato do gover-nante.

Cheques-moradia. três dias antes da convenção de 2006, Miranda re-passou mais de r$ 7 milhões para o programa “Habitação para todos”, distribuídos através do “cheque-

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moradia” para 1� mil pessoas, que gratuitamente, destinava dinheiro para reforma e construção de casas, segundo o parecer da Procuradoria Geral Eleitoral (PGE). Logo após a eleição, Marcelo Miranda reduziu o valor do “cheque moradia” para r$ 2 mil em outubro, depois aumentou para r$ � mil em novembro e para r$ 6 mil em dezembro.

Ciranda lotes e acessórios. no perío-do vedado de eleição, Miranda doou �.5�8 lotes, que inicialmente seriam vendidos a pessoas previamente ca-dastradas. Em fevereiro e março, o governador cancelou a venda dos lo-tes e encaminhou à assembleia Le-gislativa o projeto de lei que acabou na aprovação da Lei 1.685, publicada em 15/05/06, que autorizou a doação. os lotes doados variam entre 300m2 e 585m2. além dos lotes, Miranda “distribuiu gratuitamente, milhares de casas, óculos, cestas básicas, entre outros, bem como realizou consultas médicas”, segundo parecer da PGE.

o parecer traz mais fatos aponta-dos pela acusação de siqueira Cam-pos: Miranda transferiu a sede do poder, de Palmas para o interior, 23 vezes, sem autorização Legislativa. assinou convênios com prefeituras aliadas, dispensou taxas pra aqui-sição de Carteira nacional de Habi-

VIGILâNCIA. O vice-procurador geral eleitoral, Francisco Xavier fOTO gABRiel AlveS

17 de janeiro de 2008. A coligação de Siqueira Campos interpôs o Recurso Ordinário (RO 1.517), onde afirma que Marcelo Miranda utilizou o site oficial do governo de Tocantins para fazer promoção pessoal de campanha eleitoral, “violando o princípio da impessoalidade da administração pública.”

3 de janeiro de 2008. O presidente do diretório municipal do PT, em Lageado (TO), interpôs o RO 1.513, acusando Miranda por abuso de poder político e de autoridade, transferindo recursos para prefeituras durante período eleitoral,o que é proibido pela

Lei Eleitoral.

31 de dezembro de 2007. Coligação de Siqueira Campos interpôs o RO 1.514,

acusando Miranda de abuso de poder político e de autoridade, onde (Miranda) foi elogiado em 12 edições subsequentes do jornal Correio de Tocantins.

16 de novembro de 2007. O governador Marcelo Miranda se beneficiou de atos do prefeito de Pedro Afonso (TO) durante a inauguração de uma obra. Segundo a ação, o prefeito José Wellington Martins Belarmino distribuiu vales de cestas básicas e cheques-moradia durante inauguração de obra pública, onde o secretário de Esportes do Estado representou Miranda,

candidato à reeleição. O prefeito pediu votos para o governador. O ministro José Delgado, do TSE, negou seguimento ao recurso (Respe 28.324).

13 de novembro de 2007. A coligação de Siqueira Campos interpôs o RO 1.496. Miranda é acusado de contratar servidores públicos sem a realização de concurso público, o que configura abuso de poder e autoridade. No período vedado de eleições, descobriu-se a existência de 52 políticos (candidatos aos cargos de prefeito e vereador), nomeados pelo governador para ocuparem cargos em comissão.

10 de outubro de 2007. O governador foi acusado pela oposição por ter supostamente

usado o slogan do Executivo estadual — “Humano, Moderno e Democrático” — como mote de campanha eleitoral, no RO 1.486.

22 de agosto de 2007. Em Agravo de Instrumento (AG 88.69) foi pedido ao TSE que admitisse recurso para cassar o diploma do governador por suposta distribuição de bens durante inauguração de obra pública em período eleitoral.

2 de fevereiro de 2007. Em RCED n° 698, Miranda é acusado pelo ex-governador Siqueira Campos de compra de votos e abuso de poder e autoridade. Segundo Siqueira Campos, o governador nomeou professores em período vedado pela lei eleitoral e distribuiu benefícios e brindes.

AÇOES JUDICIAIS

Dossiê Miranda

litação (CnH), realização de shows, consultas médicas, oficinas de artesa-nato e distribuição de alimentos para população, através de “quentinhas”,

compradas em restauran-tes locais.

Miranda foi eleito pela primeira vez em outubro de 2002. o Ministério Público Eleitoral propôs uma ação de impugnação de manda-to eletivo (aiME), número 3.971/200�. o tribunal regional Eleitoral (to) não encontrou tempo, nos quatros anos de mandato, para julgá-lo. assim, houve perda de objeto, ou seja, a aiME perdeu validade.

Mais uma. na mais recente ação, o governador de to-cantins teria supostamente distribuido materiais es-portivos para candidatos aliados que disputaram as últimas eleições em 2006. o Ministério Público Fe-deral, no tocantins, abriu processo para investigar o caso e pediu à Polícia Fede-ral a abertura de inquérito para apurar o suposto cri-

me. o processo 3.�56/2009 foi encaminhado pelo MPF

ao Ministério Público Eleitoral, desde o último dia 15. segundo a denúncia, os materiais teriam sido comprados por r$ 1,5 milhão.

P O L Í T I CA

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Luiz Henrique da Silveira, mandato por um fio

uso indevido de meios de comuni-cação social em santa Catarina para fazer propaganda ilegal em jornais, rádios e tvs pagos pelos cofres públi-cos e abuso de poder econômico, que teriam desequilibrado a disputa elei-toral. Estas são as acusações contra o governador de santa Catarina, Luiz Henrique silveira (PMdB). no dia 20 de março deste ano, os advogados de Luiz Henrique pediram que o pro-cesso fosse ao supremo tribunal Fe-deral, pedido negado pelo presidente do tsE, Carlos ayres Brito. o rCEd n° 703 está no gabinete do ministro Félix Fischer, também relator do re-curso contra Marcelo Miranda (to). Luiz Henrique entregou o restante das alegações de defesa no dia 1� de abril e aguarda parecer de Fischer para ser julgado.

a coligação “salve santa Catari-na”, do candidato derrotado Esperi-dião amim (PP), pediu a cassação de silveira e a posse de amim, segundo colocado nas eleições 2006. a coli-gação, formada pelos partidos PP, Prona, PMn e Pv, contesta o funda-menta da defesa de que os fatos apre-sentados teriam sido analisados em

outros processos no trE-sC e o tri-bunal de Justiça do Estado. Embora Luiz Henrique estivesse afastado do cargo durante a eleição, obteve apoio de Eduardo Pinho Moreira, vice que assumiu o governo na época e apoiou a reeleição.

o recurso contra Luiz Henrique começou a ser julgado no dia 9 de agosto de 2007. o então relator, José delgado, votou favorável à cassação. o recurso foi suspenso por pedido de vista do ministro ari Pargendler. no retorno do julgamento em 1� de fevereiro de 2008, Pargendler con-siderou que a propaganda denun-ciada pela coligação adversária “foi maciça”. o ministro Marcelo ribei-ro apresentou seu voto em 21 de fe-vereiro, pedindo citação do vice de silveira, Leonel Pavan.

Em agosto de 2008, a defesa de silveira pediu o arquivamento do processo, alegando que o prazo para a citação do vice-governador Leonel Pavan estaria esgotado no tsE. Con-vencidos de que seria a única manei-ra de evitar o julgamento da ação no tsE, os advogados João Linhares e Eduardo alckmin, de defesa, pro-tocolaram o pedido de intervenção simultaneamente à apresentação da defesa de Pavan ao tsE.

na linha de raciocínio dos advo-

gados, a citação de Pavan ocorreu um ano e meio após o prazo legal. a Coligação “salve santa Catarina”, de Esperidião amim, autora da ação, deveria ter incluído o governador e o vice.

Em defesa, o advogado do gover-nador Luiz Henrique, João Linhares, alega que Luiz “construiu e reformou mais de mil escolas e o nosso esta-do é pequeno, tem 290 municípios. o governador asfaltou mais de dois mil quilômetros ligando os municí-pios. além disso, ele fez o teatro Bol-shoi, construiu hospitais”, defende. segundo Linhares, as propagandas institucionais feitas pelo Governo de santa Catarina foram veiculadas en-tre outubro de 2005 a abril de 2006, fora do período de eleição. o advoga-do explica que a Lei Eleitoral especi-fica que a campanha começa no dia cinco de junho. Luiz Henrique dei-xou o cargo de governador em abril de 2006 para disputar as eleições e não causar desequilíbrio entre os candidatos, de acordo com Linhares. a defesa de Luiz Henrique e Leonel Pava, vice, apresentou 200 páginas de prova. “os ministros terão aí 200 páginas para se divertir”, comenta Linhares. “não existiu ilegalidade nem irregularidade nas eleições”, as-segura ele.

EM AçÃO. O ministro Carlos Ayres Brito (e) negou pedido do advogado do governador Luiz Henrique fOTO de nelSOn JuniOR (TSe)

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A sombra da cassação, que anda escurecendo os dias de Marcelo Miranda (PMDB-TO) e Luiz Henrique (PMDB-SC), também assombra outros governadores no Brasil. O fato é que não se vê todos os dias, na política, tantos chefes de estado cotados para perder judicialmente o mandato, e ainda mais, a maioria deles governadores. Ao todo, sete já estiveram nessa lista: dois foram caçados, um ganhou liminar que suspendeu o processo, outro faleceu e quatro tentam enxergar uma réstia de luz no fim dos processos.

As coincidências começam nas acusações e nas alegações de inocência, seguem nas defesas recíprocas, dentro do semelhante rol de acusações. Uso de propaganda institucional para promoção pessoal, compra de votos, abuso de poder, utilização indevida da máquina e verbas públicas em campanhas. Pelo menos um dos itens citados constam nos processos dos outros dois governadores que esperam decisão da justiça, Marcelo Déda (PT-SE) e Ivo Cassol, que, atualmente sem partido, governa o estado de Roraima resguardado por uma liminar do TSE, que impediu a decisão de cassação do TRE-RO. Acompanhe os casos:

Em cinco anos, Aracajú só não deu certo para Marcelo Déda

Mesmo com a desistência do PTB em levar adiante a ação do pedido de cassação, Marcelo Déda não conseguiu escapar do TSE. O PTB havia pedido a extinção do processo, que foi negada pelo ministro do TSE, Félix Fisher, no dia 02 março. Na ocasião, o MPE avaliou que a continuação do processo não se tratava de um mero interesse privado, mas sim do princípio da democracia.

O governador de Sergipe é acusado de propaganda eleitoral

ilegal nas campanhas eleitorais de 2006. Marcelo Déda teria utilizado uma campanha promocional com propagandas institucionais da prefeitura, para promoção eleitoral, onde usava maciçamente o slogan “em cinco anos Aracaju deu certo para todos”. Na avaliação da acusação, as peças publicitárias utilizadas no período eleitoral teriam nítido caráter eleitoreiro.

Quem ajuizou o pedido de cassação foi o Partido dos Aposentados (PAN), que em 2007 foi incorporado ao PTB. Em dezembro do ano passado, Félix Fisher, determinou que o PTB regularizasse a representação de processo ao governador. Na oportunidade, o PTB disse não ter interesse em prosseguir com a ação, e pediu a extinção do processo sem apreciação do mérito, que foi negado.

O atual governador, em 2006, renunciou a prefeitura de Aracaju (SE) para concorrer ao governo do estado. Eleito no primeiro turno com 52,48% dos votos, a preferência por Déda era notória no estado. Agora o cenário está um pouco diferente. Em pesquisa divulgada no dia 20 de abril, pelo Instituto Padrão, feita em 30 municípios, se as eleições fossem hoje haveria segundo turno. Marcelo Déda teria 47,1%,

contra 41,8% de João Alves Filho, a diferença ficou em 5,3%, quase um empate técnico se considerado as margens de erro da pesquisa.

Do inferno ao céu em 24h: Ivo, mesmo cassado, se mantém no cargo por liminar noturna

Sem partido, o governador Ivo Cassol (RO) foi cassado na noite da terça-feira (4 de novembro de 2008) pelo Tribunal Regional Eleitoral de Rondônia (TRE-RO). A decisão durou pouco tempo. Na noite do dia seguinte, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) concedeu liminar que suspendeu cassação. A decisão mantém o governador no cargo até o julgamento definitivo pelo TRE-RO. O ministro Arnaldo Versiani justificou a liminar, como entendimento de jurisprudência no TSE, onde se entende que deve aguardar a publicação da decisão e do julgamento, antes de eventuais embargos.

Acusados de associação em compra de votos e abuso de poder nas eleições de 2006, perderiam o cargo, além de Ivo Cassol e o vice João Aparecido Cahulla, o senador Expedito Júnior. Antes da liminar do TSE, o TER-RO declarou o governador e o senador cassados e inelegíveis, até 2009. Além de

multar Cassol em 95 mil Unidades Fiscais de Referência (UFIRs), cerca R$ 95 mil e o Expedito Júnior em cerca 45 mil UFIRs. No dia da cassação a assessoria de imprensa de Cassol informou que ele estava “tranquilo”, porque iria recorrer ao TSE declarando inocência, o que deu certo, pois cerca de 24h depois foi concedida a liminar.

2x1 para Expedito Júnior O senador de Roraima já foi

cassado por outras duas ações pelo mesmo motivo, no TRE-RO. Na primeira vez, ele obteve liminar para se manter no cargo até a decisão final. Na segunda, a Mesa do Senado decidiu manter ele fora da cadeira para aguardar decisão final. Nesta última vez Expedito Júnior também conseguiu liminar para permanecer no cargo.

No ano passado, a relatora do processo, a desembargadora Ivanira Borges, chegou a afirmar, que Ivo Cassol doou, através do comitê de campanha, ao comitê de Expedito Júnior o valor de R$ 200.500 mil justamente na véspera e no dia da ocorrência da captação ilícita de sufrágio, 28 e 29 de setembro de 2006. Para ela, o fato mais importante é que o governador usou a máquina administrativa pública para tentar ocultar a compra de votos.

TSE IMPLACÁVEL

Governadores por um fioAcompanhe como estão os processos dos outros governadores em vias de perder o mandato

MIRA DO TSE. Governador de Sergipe, Marcelo Deda: mandato em risco. fOTO ROOSewelT PinHeiRO_ ABR

P O L Í T I CA

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B BSe d i t o r a

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Política

SE a CrisE EConôMiCa BatE Mais FortE para os mais pobres, é também nas comunidades carentes que surgem iniciativas que provocam maior dinamismo para as atividades comer-ciais locais. Clube de trocas, cooperativas de trabalhadores e de consumidores e bancos comunitários são fenômenos da chamada economia solidária que vêm experimentando no

Brasil um verdadeiro boom e têm dado condições de sobrevivência a comunidades das periferias das grandes cidades, do campo e de cidades menores.

o economista Paul singer está à frente da secretaria de Econo-mia solidária, do Ministério do trabalho e Emprego. Ele avalia que, em momentos de dificuldades, há a tendência de que as pessoas bus-quem alternativas ao modo de produção excludente. “o que menos se troca em um clube de trocas é mercadoria. troca-se afeição, tro-cam-se histórias”, cita o economista em entrevista à repórter lucia-na lima, da agência Brasil, destacando o caráter inclusivo da eco-nomia solidária. “o desemprego é horrível porque ele tira as pessoas do meio social delas”, considerou.

singer evita previsões sobre o futuro, tentou se esquivar de res-ponder se o pior da crise já passou, mas acabou revelando que vê no atual cenário econômico brasileiro sinais de recuperação. “as vendas no varejo estão crescendo, a indústria automobilística bateu recorde em março, mas não ouso dizer que o pior já passou”, disse. “Primeiro, porque eu não tenho bola de cristal, segundo, não estou falando como economista profissional. Mas acho que a chance é boa. saberemos disso daqui a alguns meses.”

A economia solidária pode ser vista como alternativa para comunidades que sofrem com o colapso da economia de mercado?Paul Singer. Com certeza. a economia solidária surge no Brasil em um momento de forte crise. uma crise à qual eu chamaria de tragédia, que foi a abertura do mercado nos anos 1990. Essa abertura come-çou no governo de Fernando Collor e depois continuou no governo de Fernando Henrique Cardoso. nessa época, cerca de 7 milhões de postos de trabalho foram eliminados, porque começamos a importar em uma quantidade maluca todo tipo de mercadoria. importávamos desde ursinho de pelúcia até guarda-chuvas, da China, da Coréia do sul e de outros lugares onde o custo era menor. Foi uma tragédia para os trabalhadores brasileiros. o desemprego subiu a patamares nunca vistos. os salários baixaram e também houve mais pobreza. nesse contexto é que surge a economia solidária. Ela surge como reação a isso, como estratégia de sobrevivência. as pessoas precisam sobreviver e surgiram experiências na época quase desconhecidas.

Que experiência lhe chamou mais a atenção nessa época?Paul Singer. surgiram as empresas cooperadas, que iriam fechar, mas os trabalhadores conseguiram se juntar e ficar com ela. De emprega-dos passaram a ser donos. isso é o sinal mais concreto de que a eco-nomia solidária é uma solução para a crise. Ela evita deixar pessoas sem meios e sem trabalho. Milhares deixaram de ser empregados e passaram a ter participações. na economia solidária, não há em-prego. o que existe é participação. Essa é também uma experiência internacional, mas acho que nós, brasileiros, estamos na frente.

PAUL SINGER

ECONOMIA SOLIDÁRIA

É SAÍDA PARA A CRISE

O secretário nacional de economia Solidária do Brasil, economista Paul Singer lembra que a crise

econômica estimula iniciativas que provocam maior dinamismo para as

atividades comerciais locais junto às comunidades mais pobres.

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Qual a importância da economia solidária no Ministério do Traba-lho?Paul Singer. Exatamente por causa dessas em-presas coopera-das, que surgiu diretamente da iniciativa dos sin-dicatos. quando há uma falência,

os trabalhadores são credores da empresa, seja porque ela não pagou os últimos salários, as contribuições para o inss [instituto nacional de seguridade social]. no fundo, os tra-balhadores têm um crédito e, com esse crédito, se candidatam a ficar com a empresa e mantê-la funcionan-do. todas as empresas cooperadas no Brasil, e são muitas centenas hoje, se formaram a partir de iniciativas dos sindicatos. Por isso é que o movimen-to da economia solidária faz parte do movimento operário e camponês.

O senhor acha que os efeitos da crise no Bra-

sil já estão sendo superados ou essa crise é mais profunda do que se imagina? Paul Singer. se as pessoas acreditarem que estamos saindo da crise, elas vão agir como se estivéssemos mesmo já saindo. E aí sairemos mesmo. Esse é um ponto que as pessoas, em geral, entendem logo, mas não descobrem sozinhas. a previsão faz o futuro. se as pessoas forem pessimistas, o fu-turo será ruim, porque elas vão se preparar para esse futuro ruim. os mais conservadores estavam exigin-do que o governo cortasse gastos. Mas se o governo fizesse isso com a previsão de que iria arrecadar me-nos, iria mesmo arrecadar menos. o governo está gastando por conta. a arrecadação subiu um pouco, mas o governo está gastando mais. agora, claramente a economia está se recu-perando. as vendas no varejo estão crescendo, a indústria automobilísti-ca bateu recorde em março, mas não ouso dizer que o pior já passou, pri-meiro porque eu não tenho bola de cristal, segundo, não estou falando como economista profissional. Mas acho que a chance é boa. saberemos

disso daqui a alguns meses.

em que pontos a economia solidária se distin-gue da economia capitalista?Paul Singer. a economia solidária tem tudo ao contrário da economia capita-lista. a economia capitalista se baseia essencialmente na propriedade pri-vada, de meios de produção, ou seja, as fábricas, os escritórios, as clínicas, tudo tem dono. Esse dono é quem em-prega trabalhadores em troca de um salário e que os trabalhadores façam o que ele manda. na economia capi-talista, a empresa está inteiramente a serviço dos interesses do dono, que é maximizar o lucro. nem consumi-dores, nem trabalhadores têm poder. quem tem poder é quem tem o capi-tal. na economia solidária não tem isso. os donos dos empreendimentos são os trabalhadores ou os consumi-dores.

Mas como isso funciona?Paul Singer. dois tipos de empreen-dimentos podem ser formados na forma de cooperativas, mas não ne-cessariamente. no entanto, o coo

fOTO elzA fiúzA _ ABR

SINAIS DE RECuPERAçÃO. O secretáio nacional de Economia Solidária do Brasil, Paul Singer vê sinais positivos de retomada do crescimentofOTO elzA fiúzA _ ABR

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Paul Singer. os clubes de troca são basi-camente respostas a situações de cri-se, falta de trabalho e falta de renda. os dois casos históricos ocorreram em tempos de crise. no Canadá, um clube de troca ocorreu em uma cida-de próxima a vancouver na década de 1980. nessa cidade havia poucos empregadores. toda a população tra-balhava ou em uma base aérea ou na indústria madeireira, que fechou. a população ficou sem qualquer fon-te de renda. uma pessoa organizou o clube de trocas para os moradores e, como todo mundo fazia coisas que poderiam ser úteis, o clube funcionou. Eles inventaram uma moeda, e as pessoas conseguiram sair do impasse. na grande crise pela qual a argentina passou em 2001, os clubes foram es-senciais porque faltava dinheiro. Foi uma crise terrível. as pessoas passa-vam fome, assaltavam supermerca-dos, chegaram a derrubar um gover-no. Há um cálculo de 6 a 7 milhões de pessoas que foram ao clube de troca para conseguir comida levando o que tinham em casa ou o que se podia pro-duzir. Foi uma verdadeira explosão. Foi muito ruim porque os clubes de troca na argentina cresciam, tinham centenas de milhares de sócios. de re-pente, essas centenas de milhares de pessoas viraram milhões de pessoas. daí, perdeu-se o controle e começou a falsificação das moedas sociais. Os preços também subiram porque havia muito mais comprador que produtos. a ideia do clube é que quem compra

também vende. são os chamados ‘prossumidores’, fusão de produtores e consumidores. Eles devem exercer os dois papéis.

Que efeito o clube de troca tem sobre a ativi-dade econômica?Paul Singer. os clubes de troca foram criados simultaneamente no Canadá e na argentina. Esses são os primeiros. Mas há registros de cubes de troca ou coisa semelhante no passado, durante a crise dos anos 30. depois, a ideia se perdeu. o clube cria um mercado onde não havia nada, inventa uma moeda onde não havia moeda. Com isso, surge uma oportunidade de trocas, trabalho e consumo. Ele, tipicamente, aparece em situações de crise, formado por tra-balhadores autônomos, microempre-endedores, cujos fregueses perderam o emprego. as pessoas acabam se co-nhecendo melhor. Há situações em que pessoas adoecem e ganham crédito dos outros que vão continuar fornecendo para ele, mesmo que não possa produ-zir naquele momento, por estar impos-sibilitado.

Qual o efeito social do clube de trocas? Paul Singer. o que menos se troca são mercadorias. trocam-se afeição, his-tórias. o desemprego é horrível porque tira as pessoas do meio social delas. o trabalho é o lugar onde estão os seus amigos. as sels (systémes d’Echanges Local) [como são chamados os clubes de trocas ma França] são associações de pessoas que festejam a possibilidade de interagir. nesse caso, a moeda so-cial tem um papel econômico também, mas pelo jeito, menos importante. Ela consegue reincluir no meio social gente que estava isolada. isso é geral. não é só na França.

Como funcionam o banco solidário e a moeda social?Paul Singer. Hoje, no Brasil, estamos de-senvolvendo bancos para pessoas mui-to pobres. Essa é uma criação de uma comunidade de Fortaleza chamada Conjunto Palmares, o Banco Palmas. a moeda social que eles usam para criar crédito chama-se palmas. uma palma vale um real. Em vitória, há também um banco famoso, chama-se BEM, que funciona no Morro de são Benedito. Essa localidade virou um complexo de cooperativas de várias atividades. se a pessoa fizer compras no comércio,

perativismo foi a forma legal mais fácil de se organizar. as cooperativas podem ser de produção, que são tam-bém chamadas de cooperativas de trabalhadores. nesse caso, não tem patrão. os próprios cooperados admi-nistram o empreendimento de forma coletiva, dividem o capital entre eles, por igual, e nas decisões que precisam ser tomadas, cada um tem um voto. Esses são os princípios básicos de qualquer cooperativa e da economia solidária. Há cooperativas que fazem suas assembléias enquanto traba-lham. Conheço uma em Porto alegre, a univens, que vem a ser a abreviação de “unidas venceremos”. trata-se de uma cooperativa de costureiras, na qual trabalham 20 mulheres e um ho-mem, que cuida da serigrafia das rou-pas. Ele não é costureiro e trabalha no outro andar. É chamado quando elas têm que tomar alguma decisão. isso é só um exemplo do que acontece na prática. isso é só um exemplo de eco-nomia solidária que produz mercado-rias e serviços e quem vende.

Como funciona a cooperativa de consumidores?Paul Singer. são pessoas que se juntam para atividades de proveito total de-les. Eles não vendem, até compram da sua própria cooperativa o que ela produz. É o caso das escolas coope-rativas. temos várias no Brasil que têm como sócios os pais dos alunos. Existe uma escola formada por fun-cionários do Banco do Brasil que esta-vam insatisfeitos com a escola de seus filhos. Eles criaram uma cooperativa que mantém a escola. temos coopera-tivas de habitação, em que as pessoas se associam para ter casa própria, algu-mas vezes trabalhando e produzindo a casa em regime de mutirão, outras ve-zes, só colocando dinheiro, para que se possa construir prédios e apartamen-tos. Existem ainda na área de saúde, com pessoas que se juntam para fazer um plano de saúde. quem manda é quem usufrui do serviço. se você entra em um plano de saúde capitalista, vai pagar um valor por mês e o capitalista que administra seu dinheiro vai pegar uma parte para ele, que é o valor pago para ele administrar o plano. Claro que em uma cooperativa quem tem o tra-balho de administrar são os próprios sócios.

e os clubes de trocas?

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O desemprego é horrível porque tira as pessoas do meio social delas. O trabalho é o lugar onde estão os seus amigos. Hoje, As Sels (Systémes d’Echanges Local) [como são chamados os clubes de trocas ma França] são associações de pessoas que festejam a possibilidade de interagir.

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colocar gasolina no carro, ela ganha um desconto para usar a moeda local. Com isso, o dinheiro da comunidade é gasto ali, ao invés de ser gasto fora da comunidade. as atividades comerciais se movimentam. a moeda social é uma moeda, geralmente de papel porque o povo gosta disso. Poderia ser um cartão de crédito, mas o povo acha o cartão muito abstrato. Eles imprimem. tenho uma coleção de moedas sociais que, ao longo dos anos, fui sendo presenteado. são notas com desenhos e com nomes simbólicos, ou do local, como Palmas, tem reais verdes, reais solidários ou somente solidários,. são nomes que exprimem a ideologia da associação. a moeda social também é usada em clu-bes de troca.

Por que o uso da moeda em uma relação onde se privilegia a troca?Paul Singer. as pessoas se reúnem e usam a sua moeda para avaliar o serviço e os bens que eles podem produzir. Em ge-ral, nos clubes de troca, há uma espé-cie de feira que é muito festiva. É uma festa popular no domingo de manhã no bairro. as pessoas se conhecem, isso é importante. todos mundo leva coisas que todo mundo produziu. Mulheres levam pão, bolo e podem trocar por outro bem ou serviço. se você tem um cômodo vazio, pode alugar. Mas a pes-soa que aluga pode não ter nada para você. Então, ele vai pagar com a moeda local, e você poderá comprar alguma coisa que precisa. o banco comunitário tem um âmbito de ação mais amplo, e a moeda é usada para proteger e criar um mercado local. surge uma proteção contra a competição externa que é, ge-ralmente, de empreendimentos capita-listas, supermercados e grandes lojas, por exemplo.

Mas como as pessoas têm acesso à moeda no clube de trocas?Paul Singer. quando elas ingressam no clube, ganham um valor. É um em-préstimo, mas enquanto ela estiver no clube ninguém vai cobrar. as tran-sações têm um registro para que os administradores possam saber que o clube de trocas está funcionando. quando se aluga o quarto, comunica-se à direção do clube a transação, por quanto foi alugado e para quem. o ad-ministrador registra isso. Esse regis-tro serve para a direção do clube ter uma ideia de como esse dinheiro está circulando. se estiver tudo bem equi-

librado, esse dinheiro nunca volta para a direção.

Mas o que pode colocar em risco o equilíbrio de um clube de trocas?Paul Singer. Podem haver pessoas que nunca compram, só vendem. Ficam acumulando dinheiro. isso é ruim para o clube porque o dinheiro fica estocado. a pessoa não ganha nada com isso porque não rende juros e os outros membros do clube não têm para quem vender. nesse caso, cabe até uma interferência. tem que haver pressão, inclusive, algumas vezes, dando prazo para era essa pessoa gastar o dinheiro. acumular dinhei-ro na economia solidária é contra o interesse geral.

A busca capitalista pelo acúmulo de capital en-tão não pode funcionar na economia solidária? Paul Singer. o acúmulo de capital pode ocorrer para os integrantes do grupo, mas não dentro do clube de trocas. Há acumulação quando eles criam, por exemplo, o Palma Fashion, que é uma cooperativa de costureiras do Conjunto Palmares que fazem rou-pas, desfiles e conseguem vender sua produção. as costureiras criaram um mercado e estão produzindo. aí sim, na cooperativa, cada costureira teve que entrar com um valor para que pudessem comprar tecido, linha, máquinas de costura. nesse caso, há sim acumulação de capital, mas den-tro do clube de trocas, não. o que acontece é que se cria um mercado

onde não havia.

Mas, hoje, quem coloca dinheiro nos bancos comunitários?Paul Singer. o Banco Popular do Bra-sil tem hoje r$ 1 milhão no Ban-co Palmas, por exemplo. Começou com r$ 50 mil. na medida em que eles foram vendo o funcionamento do banco, aumentaram os valores. Mas o Banco Popular do Brasil está colocando dinheiro em outros ban-cos comunitários, no Espírito santo, na Bahia. Hoje, existem mais de �0 bancos comunitários já funcionando no Brasil inteiro. Esse aporte é feito em real. na verdade, o Banco Pal-mas só emite palmas na medida em que tenha real. Eu sou contra isso. Pessoalmente, acho que isso é um erro porque o Banco Palmas poderia emitir duas vezes o valor em real que não teria problema, na medida em que essa moeda circula. no entanto, eles fazem questão e, me parece, que isso até faz parte de um acordo com o Banco Central.

e como é a relação desses bancos com o Ban-co Central?Paul Singer. os bancos, na verdade, são bancos fantasia. o pessoal do Banco Palmas, por exemplo, estava ativan-do o banco na sede da associação de moradores. aí apareceu a recepcio-nista dizendo que havia dois homens do lado de fora dizendo que queriam ver o banco. os administradores res-ponderam: que banco? ofereceram umas cadeiras para eles. Eles eram do Banco Central, que queriam saber que banco era aquele, mas nem sa-biam que tinham criado um banco. Enfim, hoje há uma relação entre o BC e o Banco Palmas. aqui da se-cretaria, somos meio intermediários dessa relação. o Banco Palmas tem o nome de banco porque o povo vê isso como um banco, mas não é algo for-mal. É claro que tem contabilidade, controle social. os bancos comunitá-rios são uma espécie de clube de tro-ca mais amplo. Eles podem receber depósitos. se o empréstimo é em real, eles cobram juros. Comparando com o Brasil, que tem taxas inacreditavel-mente altas, eles cobram pouco, cer-ca de 2% ao mês ou até menos. isso porque os reais que eles têm são do Banco Popular do Brasil, que cobra algum juro. Mas se o empréstimo é na moeda social, não há juros.

Hoje, no Brasil, estamos desenvolvendo bancos para pessoas muito pobres. Essa é uma criação de uma comunidade de Fortaleza chamada Conjunto Palmares, o Banco Palmas. A moeda social que eles usam para criar crédito chama-se palmas. Uma palma vale um real.

Maio de 2009 | Fale! Brasília | 25www.revistafale.com.br

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A BANCADA DO FORRóno Ceará, prefeituras abusam com recursos do Ministério do Turismo, que gastou em

2008 com festas o equivalente a 25% do valor do pacote de ajuda que será liberado para socorrer os municípios brasileiros. foram R$ 225 milhões distribuídos. O Ceará recebeu R$ 29 milhões, e municípios chegaram a pagar R$ 200 mil de cachê para artista por um único show. A maior

parte do dinheiro decorre de emendas parlamentares de deputados cearenses

CoM os CoFrEs Esvaziados PELa CrisE FinanCEira, municípios que hoje estão com o pires na mão pare-cem não ter motivos para comemorar. Mas, em 2008, calendário eleitoral, sobraram razões e dinheiro. Com uma verba destinada à “promoção de eventos para di-vulgação do turismo interno”, o Ministério do turismo

transferiu no ano passado r$22�,8 milhões para prefeituras de todo o Brasil, quase um quarto do pacote de r$1 bilhão que o Go-verno Federal irá liberar para socorrer os 5.565 municípios.

VIVA SÃO JOÃO. Festança em Maracanaú, na Grande Fortaleza com verba de emenda parlamentar. fOTO ASCOM_MARACAnAú

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o dinheiro foi utilizado para a re-alização de diversos eventos: de fes-tas juninas, carnaval fora de época, eventos esportivos, réveillon à co-memoração do padroeiro da cidade.

Pra onde foi o dinheiroo Ceará, que representa 2% do

Produto interno Bruto do Brasil, recebeu r$29,227 milhões, sendo o segundo maior beneficiado. Perdeu

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apenas para são Paulo — r$31.158 milhões. os dados são do Portal da Transparência, do Governo Fede-ral. o montante transferido cresceu 3,5 vezes em um ano. saltou de r$ 6�,5�5 milhões em 2007 para os r$ 22�,8 milhões no ano passado. a maior parte desse dinheiro tem origem nas emendas parlamentares, justamente as que mais foram afeta-das pelos cortes na pasta do turismo anunciados pelo Governo Federal no final de março.

os dez municípios cearenses que mais receberam essa verba foram Fortaleza, Maracanaú, solonópole, iguatu, tauá, itapipoca, Pedra Bran-ca, Beberibe, Juazeiro do norte e La-vras da Mangabeira, nessa ordem.

A disponibilidade financeira abriu uma onda de festejos com

gastos desregrados. o município de Pedra Branca, distante 261 quilô-metros de Fortaleza, recebeu em 19 de junho passado r$ 850 mil para a promoção do são João. o evento custou no total r$ 892 mil porque teve a contrapartida da prefeitura. Foi a maior receita de transferência voluntária da união para a pequena cidade do sertão central cearense. o repasse obrigatório do Governo Fe-deral para custear o programa saú-de da Família foi só um pouco maior — r$1,113 milhão.

as principais atrações em Pe-dra Branca foram Bruno e Marrone e zezé di Camargo e Luciano — um são João de fazer o velho Gonzagão dar voltas no túmulo. O cachê ficou entre r$160 mil e r$200 mil. Em fe-vereiro, a prefeitura já havia recebido

r$150 mil para a festa de são sebas-tião, padroeiro de Pedra Branca.

O filho do prefeito que ajudou na organização, Mateus Monteiro, disse que aquele foi o primeiro são João de grande porte. segundo ele, os deputados federais que costu-mam “ajudar” o município são José airton Cirilo (Pt) e Marcelo teixeira (PMdB). Eles apresentaram emen-das para promoção de eventos que juntas totalizam r$3,8 milhões. Mas não especificaram o destino da ver-ba. nesses casos, o dinheiro costuma ser pulverizado com várias prefeitu-ras em comum acordo entre o depu-tado e o prefeito.

Compete às instâncias — como tribunais — averiguar se há alguma coisa errada, disse o deputado Mar-celo teixeira sobre um eventual exa-

cidade Valor (r$)

Fortaleza 2.079.000Maracanaú 1.950.000Solonópole 1.590.000Iguatu 1.500.000Tauá 1.400.000Itapipoca 1.050.000Pedra branca 1.000.000Beberibe 950.000Juazeiro do Norte 900.000Lavras da Mangabeira 800.000Pacajus 800.000Quixeramobim 750.000Novo Oriente 600.000Alto Santo 500.000Itarema 500.000Fortim 470.000Guaraciaba do Norte 450.000Independência 400.000Saboeiro 400.000Tejucuoca 400.000Orós 350.000Parambu 350.000Tamboril 340.000Acopiara 300.000Apuiares 300.000Itaicaba 300.000Pacatuba 300.000Porteiras 300.000

cidade Valor (r$)

Quiterianópolis 300.000Santa Quitéria 300.000São Gonçalo do Amarante 300.000Cascavel 290.000Acaraú 275.000Araripe 250.000Iraucuba 250.000Várzea Alegre 250.000Vicosa do Ceará 250.000Jaguaribe 225.000Itapagé 200.000Massapê 200.000Quixadá 200.000Redenção 190.000Ocara 180.000Ibiapina 170.000Barroquinha 150.000Hidrolândia 150.000Ipaporanga 150.000Jaguaribara 150.000Meruoca 150.000Mucambo 150.000Tianguá 150.000Carnaubal 144.000Russas 140.000Ipú 125.000Martinópole 120.000Icapuí 100.050

cidade Valor (r$)

Altaneira 100.000Aquiraz 100.000Aracati 100.000Assaré 100.000Bela Cruz 100.000Cariré 100.000Caririaçu 100.000Cariús 100.000Cedro 100.000Croata 100.000Farias Brito 100.000Jati 100.000Limoeiro do Norte 100.000Mauriti 100.000Milha 100.000Miraima 100.000Morada Nova 100.000Pacujá 100.000Paramoti 100.000Pentecoste 100.000Pires Ferreira 100.000Potengi 100.000Senador Pompeu 100.000Tabuleiro do Norte 100.000Uruburetama 100.000Trairi 99.210Salitre 90.000

fOnTe: www.PORTAlTRAnSPARenCiA.gOv.BR

transferência de recursos em 2008Somente 83 dos 184 municípios cearenses foram beneficiados com os R$ 29 milhões que o Ministério do Turismo repassou para a Promoção de Eventos para Divulgação do Turismo Interno. Em Fortaleza, além da prefeitura, entidade privadas também receberam recursos

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P O L Í T I CAfOTO JORge CAMPOS_ AgênCiA CAMARA

gero nos gastos. Empresário do setor hoteleiro, o deputado foi o autor de uma emenda de r$2,8 milhões. do que foi liberado pelo Ministério, di-vidiu o dinheiro entre prefeituras e entidades que o procuraram como a associação Brasileira da indústria de Hotéis (aBiH) e a associação Brasi-leira de agências de viagens (abav).

uma comparação entre o volume de dinheiro aplicado em festas e o investimento do município em áre-as sociais levanta o debate sobre a qualidade do gasto público. iguatu, por exemplo, recebeu r$1,5 milhão desse verba do Ministério do tu-rismo no ano passado. Promoveu o festival de quadrilhas, o carnaval, um evento náutico, e o iguatu Fes-teiro. no mesmo período, o Gover-no Federal transferiu apenas r$88 mil para a atenção especializada em saúde bucal.

o destino dos recursos costu-ma coincidir com o colégio eleitoral do autor da emenda. o ex-ministro das Comunicações, Eunício oliveira (PMdB) destinou r$700 mil para Lavras da Mangabeira, terra onde nasceu e que tem sua irmã como pre-feita. Com o dinheiro, foi promovido o iv são João do Povo. o deputado também destinou outra emenda de mesmo valor para tauá, município do sertão dos inhamuns, que faz parte da sua base eleitoral.

o deputado José arnon Bezerra (PtB), que apresentou uma única

emenda no valor de r$3,7 milhões, admitiu que o dinheiro é direciona-do para os redutos eleitorais.

o dinheiro vai para onde a gente é votado e onde tem perspectiva de votos, disse. Mesmo assim, não vê uso eleitoreiro do dinheiro público já que atende ao “pedido do prefeito que representa”.

o consultor de economia da or-ganizaçao não Governamental Con-tas abertas, Gil Castelo Branco, acha que a inversão de prioridades na dis-tribuição dos recursos do orçamento da união tem origem na dependência do executivo de sua base de apoio no Congresso. Parlamentares, segundo ele, pressionam a liberação de recur-sos para seus redutos eleitorais.

Historicamente, se estabeleceu no Brasil uma relação promíscua entre o Executivo e o Legislativo e isso está agradando a todos porque, cedendo às pressões do parlamen-tar, o executivo consegue em troca o apoio dele para aprovar temas de seu interesse.

História do pão e circoapesar dos recursos terem ori-

gem federal, a proliferação das fes-tas acabou despertando a atenção do

tribunal de Contas dos Municípios do Ceará (TCM), que decidiu fisca-lizar a aplicação das contrapartidas municipais.

Eventos sem forte apelo popular consumiram muito dinheiro. Em so-lonópole, distante 275 quilômetros de Fortaleza, foram usados r$�90 mil para a realização de dois festivais da juventude, em julho e dezembro. o valor não inclui a contrapartida do município.

Com r$1,959 milhão recebido do Ministério do turismo, a prefeitura de Maracanaú, na região metropoli-tana de Fortaleza, realizou dois even-tos em 2008 e cobriu parte das des-pesas com o natal do ano anterior. só o são João consumiu r$1,550 milhão de recursos federais.

Parte desse bolo foi recheado com emendas da deputada Gorete Perei-ra (Pr), ligada ao prefeito rober-to Pessoa (Pr). Com uma emenda específica para Maracanaú, ela ga-rantiu r$500 mil. Mas além dessa, apresentou uma emenda genérica de r$1,2 milhão — só liberada em parte — que pode ter sido distribuída em mais de um local.

uma terceira emenda da deputa-da, no valor de R$500 mil, financiou a vaquejada de itapebussu, no mu-nicípio de Maranguape. a verba foi

CLIENTELISMO. O deputado federal José Arnon Bezerra – PTB (e) diz que o dinheiro das emendas é direcionado para redutos eleitorais e Marcelo Teixeira (d) divide sua emendas entre o forró e o turismo

P O L Í T I CAfOTO JORge CAMPOS_ AgênCiA CAMARA

AJuDINHA. José Airton Cirilo – PT, também conseguiu junto ao Minitério do Turismo, verbas para festas no interior cearense

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fOTO luiz AlveS _ AgênCiA CâMARA

MINISTÉRIO EXPLICAA assessoria do Ministério do

Turismo informou que o dinheiro para promoção de eventos vem das emendas parlamentares. O grande número de emendas apresentadas no ano passado foi o responsável pelo aumento de mais de três vezes do montante liberado em 2007.

Segundo o ministério, o parlamentar encaminha a solicitação do dinheiro para um determinado município, mas a prefeitura precisa encaminhar um projeto. O Ministério explicou que municípios que receberam verbas muito elevadas para a realização de um mesmo evento podem ter sido beneficiados com emendas de mais de um parlamentar.

O ministério informou também que faz fiscalização por amostragem, podendo ir ao local no dia do evento. Se detectada irregularidade, a prefeitura é notificada a prestar esclarecimento e poderá, dependendo da gravidade, ser obrigada a devolver os recursos.

repassada para uma entidade sem fins lucrativos — Instituto Práxis de Educação Cultura e ação social — com sede em Fortaleza, contra-tada para a realização. Com r$950 mil para gastar, a cidade litorânea de Beberibe, onde o teto de uma escola municipal desabou em 2007 matan-do uma criança, investiu pouco me-nos da metade desse valor para fazer o carnaval fora de época em dezem-bro passado, com a banda Chiclete com Banana.

uma comparação entre o volume de dinheiro aplicado em festas e o investimento do município em áre-as sociais levanta o debate sobre a qualidade do gasto público. iguatu, por exemplo, recebeu r$1,5 milhão dessa verba do Ministério do tu-rismo no ano passado. Promoveu o festival de quadrilhas, o carnaval, um evento náutico e o iguatu Fes-teiro. no mesmo período, o Gover-no Federal transferiu apenas r$88 mil para a atenção especializada em saúde bucal.

segundo Gil Castelo Branco, consultor do Contas abertas, cerca de 80% dos municípios brasileiros dependem das verbas de convênios e das emendas, as chamadas trans-ferências voluntárias da união, porque não têm recursos próprios

suficientes para investimen-to. o problema é que grande parte desse dinheiro — gasto em festas ou em dezenas de construções de quadras po-liesportivas num mesmo local — atende primeiramente ao interesse do político.

Gil acha que existe uma inversão de prioridades na distribuição dos recursos do orçamento da união. Para ele, a relação promíscua e de de-pendência entre o executivo e o legislativo e o projeto de re-eleição do parlamentar estão na origem dessas distorções.

É possível que o governo li-bere dinheiro para a realização de um evento no Ceará e negue recursos para a compra de um equipamento médico para o município vizinho, disse. É um instrumento de fidelização do prefeito e atende a lógica do parlamentar que quer se reele-ger. É a história do pão e circo. o deputado promove o circo

porque dá votos. não importa se aquilo não é a prioridade para o município.

FORROBODó. A deputado Gorete Pereira ajuda com suas emendas parlamentares a fazer a festa na cidade de correligionário

fOTO luiz AlveS _ AgênCiA CâMARA

FESTA NA BAHIAOng petista recebe recursos da Petrobras para bancar São João na Bahia

HAJA PRé-SAL DE FRuTAS. Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras ataca o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima

A imagem da Petrobrás ficou arranhada após acusação do Jornal Folha de S. Paulo. Segundo reportagem a Petrobrás teria pa-trocinado festa de São João no inteiror da Bahia. As verbas foram repassadas para a ONGs ligadas ao PT baiano. Duas organi-zações gerenciaram os R$ 2,96 milhões. A Associação de Apoio e Assessoria a Organi-zações Sociais do Nordeste – Aanor, lidada a Aldenira da Conceição Paiva, vice-presi-dente do PT baiano recebeu R$ 1,45 milhão. Já a Fundação Galeno D’Alvelírio recebeu R$ 1,5 milhão, a ONG é presidida por Maria das Graças Carneiro de Sena, ex-presidente do PT de Cruz das Almas, a 142 km de Salvador.

Prefeitos de várias cidades acusaram o en-tão diretor regional de Comunicação Institucio-nal para o Nordeste e atual assessor especial da presidência da estatal, Rosemberg Pinto, de chantagar prefeitos para que contratem empresas ligadas a ele na montagem das festas.

O presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli afirmou haver interesses políticos locais por trás das acusações e atri-buiu as denúcias ao ministro da In-tegração Regional-Geddel Vieira Lima. Isso mancharia a candidatura de Ga-brielli ao Senado, Na Bahia, Geddel, do PMDB, é oposi-tor do governador Jaques Wagner, PT, de quem Gabrielli é aliado. Mas o curio-so é que, no plano nacional, todos se abrigam sob o guarda-chuca do Governo.

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História de Capa

Brasília, a utopia tornada realidade pelo arrojo de JK, chega aos 49 e se prepara para a grande comemoração dos seus 50 anos, em 2010

QUASE 50

fOTO ivAldO CAvAlCAnTe

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BRASÍLIA, CAPITAL DE TODOS OS BRASILEIROS, VIVE SENDO injustiçada. Falam de corrupção, de desmandos, mas não falam de outros assuntos que rodeiam essa cidade singular, planejada, patrimônio cultural da humanidade — título concedido pela Unesco.

Cidade de contrastes, de espaços abertos, de integração, de ritmo próprio, de todos os falares e sotaques. Cidade de imigrantes e emigrantes. Cheia de embaixadas e de caldos de cana e por-do-sol decantado em músicas, como a famosa de Djavan e Caetano Veloso, Linha do Equador: “Céu de Brasília

, traço do arquiteto, gosto tanto dela assim”. Brasília, por ser a capital federal e abrigar as mais importantes representações de imprensa, políticas, religiosas e diplomáticas, é a base ideal para um veículo de comunicação como o nosso. Entretanto, trabalhar a informação em Brasília requer considerar as especificidades de uma Capital Federal. Com efeito, pela sua característica de principal centro de decisões políticas do País, Brasília é a cidade para onde mais se estendem as vistas, as preocupações e os interesses da Nação. Mesmo nos grandes centros urbanos, nos que têm os

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maiores parques industriais, maior autonomia e dinamismo econômico, mesmo - ou especialmente – nestes sabe-se das profundas imbricações ( para não falar em dependência) que seus negócios, suas atividades, estabelecem com as decisões geradas, gestadas e geridas a partir da capital política do País. Brasília não é somente o lugar onde as coisas acontecem – é, principalmente o local onde se fazem acontecer as coisas. Para isso, presume-se, a informação adquire, em Brasília, outra qualidade: deixa de ter importância acessória, adjetiva, e torna-se elemento

fundamental, substantivo. Vale dizer: a informação, na Capital Federal, não somente auxilia um negócio; ela é o negócio. Desta forma, ausente a informação, desaparecem os próprios negócios: como num passe de mágica, empresas são extintas, instituições são liquidadas, órgãos públicos são fundidos. Decisões são tomadas a todo instante. Uma assinatura e o que existia há anos passa a ser só referência histórica. Por isso, nossa revista abriu o canal e foi ouvir pessoas que têm muito a dizer sobre essa cidade quase cinquentona e que ainda inspira e transpira criação e luz.

fOTO ivAldO CAvAlCAnTe

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H I S T ó R I A DE CA PAfOTO ivAldO CAvAlCAnTe

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DUZENTOS ANOS DE HISTóRIA DO TERRITóRIO BRASILIENSE

Por deusdedith Junior Coordenador de História do UniCeub, mestre

e doutorando em História, autor do livro “Viagem pela Estrada Real dos Goyazes”

BrasíLia E o distrito FEdE-raL nasceram juntas há quase 50 anos. É raro viver em um lugar em que a maioria das cidades tem mais ou menos

a mesma idade e a mesma origem. Brasília nasceu de fora pra dentro. vieram aqui construir e habitar a ci-dade e a região brasileiros dos mais longínquos rincões. quem construiu Brasília foi gente que veio “de fora”, de outros cantos do Brasil. É corre-

BRASÍLIA, NOSSA TERRAPersonalidades que vivem Brasília falam de diferentes aspectos

da cidade prestes a completar 50 anos

to afirmar o que foi dito acima, mas isso não conta toda a história dessa região.

Este lugar já era habitado antes? E se era, quem e onde morava por aqui? a ideia do “zero absoluto”, do “deser-to” no Planalto Central parece sus-peita quando insistimos em negar a herança goiana desse lugar. Fizemos do goiano o nosso par opositor da identidade brasiliense, e para refor-çar este argumento contamos a his-tória de Brasília, mas não a história de uma região. Em síntese, não te-mos uma história regional — somen-te uma história de Brasília —, pois ela revelaria outros 150 anos de história que não gostamos muito de lembrar.

o poeta bem humorado nicholas Behr já nos lembrava desse esqueci-mento: “… bem, o sr. já nos mostrou os blocos, as quadras, os gramados, os eixos, os monumentos… será que dava do sr. nos mostrar a cidade pro-priamente dita!?” E para além da ci-dade, podemos nos surpreender ao olhar para a longa história que nos

conta o mapa do distrito Federal.A hidrografia do Distrito Federal

teve todos os seus rios batizados an-tes da construção da grande cidade. E o que encontramos são nomes que se referem à vida rural: sobradinho — nome de fazenda; são Bartolomeu — homenagem ao descobridor das minas do Goiás; Fazendinha; valos — demarcadores de fazendas; açude; Monjolo; Contagem — antigo posto fiscal; Descoberto — relativo à mine-ração; Gama — nome de uma antiga fazenda. E poderia ser grande a lista, pois grande é a quantidade de cursos d’águas que irrigam o nosso quadri-látero. Compõe-se aí uma história de ocupação intensa — quase todos os rios já eram conhecidos — que se completa com uma sutil malha viária a ligar as fazendas, umas às outras, e estas às vias principais que ligavam o Goiás à Bahia e a Minas Gerais.

Poderíamos imaginar que essa história das fazendas desaparecerá por completo. Mas nos basta passe-ar pelos circuitos do turismo ecoló-

Desenho de Oscar Niemeyer para a Praça dos Três Poderes, em Brasília

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gico e rural do distrito Federal para encontrarmos casas do século XiX, vestígios de cemitérios antigos e ou-tros restos desse passado que até nas áreas intangíveis do Parque nacio-nal de Brasília se escondem entre as mangueiras (plantas exóticas), pro-va concreta de que grandes fazendas existiram ali. deveríamos recuar a nossa história ao século XiX para nos compreendermos melhor.

Mais longe que isso, porém, en-contramos os vestígios de mineração do período colonial nas curvas dos rios da região de taguatinga — mais uma palavra daqueles tempos, em tupi-Guraní —, samambaia e Gama — aquela antiga fazenda. Mais dis-tante ainda no tempo, os restos de cerâmica e outros objetos deixados por tribos indígenas que caçavam intensamente nesta região, e ainda as pontas de lança e outros instru-mentos de pedra pré-históricos (de até 6 mil anos atrás) que se revelam aos atentos observadores da antigui-dade desse lugar.

não foi uma completa surpre-sa encontrar entre os documentos goianos guardados no arquivo His-tórico ultramarino, em Portugal, um relato de viagem escrito por um tropeiro, José da Costa diogo, em 173�, contendo uma relação dos lu-gares por onde passou, vindo de Mi-nas Gerais em direção à área de mi-neração goiana e citando fazendas, rios e outras referências que ainda pertencem ao vocabulário do mapa do distrito Federal.

na linguagem do século Xviii, o viajante descreve os lugares por onde passou: “dos Bezerras a Lagoa

Fea; dahy a Bandeyrinha; dahy a João da Costa; dahy ao Monteiro; dahy ao sobradinho; dahy às três barras; dahy aos Macacos; dahy ao ribeirão da área; dahy ao Corumbá que não está povoado; dahy ao ar-rayal da Meyaponte”. Este é o antigo percurso daquela que mais tarde se tornou a Estrada real de Goiás e que ainda podemos percorrer em um pe-queno trecho que contorna no Par-que nacional de Brasília.

Este é, até o momento, o mais anti-go relato de uma passagem pela região do distrito Federal. uma história de duzentos anos que mesmo longe dos registros oficiais sobrevive aos peda-ços, ao lado, por baixo e por cima do concreto armado da grande capital.

Em geral, quando nos referimos à ocupação do território goiano, e isso se estende também ao distrito Federal, falamos de um vazio demo-gráfico que parece indicar uma ocu-pação incompleta ou rarefeita. Mais uma vez miramos com olhos de “es-trangeiro”. diferente do litoral, que concentrava um leque de pequenas cidades em torno de um grande cen-tro, ou do sudeste, principalmente Minas Gerais, que produziu um ro-sário de vilas que seguiam os veios de ouro, muito próximas umas das outras, o sertão goiano foi plenamen-te ocupado por uma rede de peque-nas vilas distantes umas das outras, mas ligadas por um emaranhado de estradas costuradas às fazendas.

vale mais uma vez recorrer aos versos do poeta intrigado nicholas Behr: “mapa na mão/ olho no mapa/ mão no olho/vamos tentar encontrar a cidade”.

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PARTICIPAçÃO POPuLAR. A festa de aniversário de Brasília reuniu 1,5 milhão de pessoas na Esplanada, segundo dados da Brasiliatur.

fOTO MACellO CASAl JR_ABR

fOTO ROdOlfO STuCkeRT _ AgênCiA CâMARA

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QuasE 50 anos dEPois, a monumental Brasília ain-da não descobriu a impor-tância do povo do distrito Federal. Esse mesmo povo

que, construindo Brasília de dia, montava seus barracos à noite, aos poucos também construindo, sem qualquer ajuda oficial, sua cidade satélite. o pior é que muitos dos que vieram para cá forçados, para não perder seus empregos, nos primór-dios de Brasília, obrigados também a abandonar suas praias e rodas de malandragem, disseminaram uma lamentável discriminação negativa contra Brasília e contra todo o povo do dF. vamos à história: quem vive nas chamadas cidades-satélites veio para Brasília porque atendeu o cha-mado de JK para realizar o grande sonho da descoberta e ocupação do interior brasileiro. se não houvesse a Cidade Livre, hoje núcleo Bandei-rante, se não fosse a saga dos can-dangos pioneiros inventando tagua-tinga, contra os governantes, não haveria Brasília.

É preciso dizer que Brasília não foi construída pelos maus políticos que, vindos de todo o Brasil, trans-formaram a Praça dos três Poderes e a Esplanada dos Ministérios num escárnio nacional que, injustamen-te, atinge o operoso cidadão de Bra-sília e de suas satélites, muitas vezes injuriado por este Brasil afora, con-fundido com os “donos do poder”. Para muita gente que paga a conta, com seus impostos, para que Brasí-lia funcione como capital de todos os brasileiros, aqui é a terra dos corrup-tos. Mas os corruptos vêm de fora, eleitos por eles... Carlos drummond, em seu poema Confronto (olha só o nome! - veja a íntegra do poema no quadro ao lado) já tinha revelado um estranho abismo entre a capital e seu Entorno.

SEM O POVO DO DF, BRASÍLIA NÃO EXISTIRIA

Wílon Wander lopesMora no DF desde 1959, advogado e

jornalista, é o presidente da Confraria dos Cidadãos Honorários de Brasília

ConfrontoCarlos Drummond de Andrade

A suntuosa Brasília,a esquálida Ceilândia contemplam-se.Qual delas falará primeiro?Que têm a dizer ou a esconderuma em face da outra?Que mágoas,Que ressentimentosPrestes a soltar da goela coletiva e não se exprimem?Por que Ceilândia fereo majestoso orgulho da flórea capital?Por que Brasília resplandeceante a pobreza exposta dos barracos de Ceilândia,filhos da majestade de Brasília?E pensam-se, remiram-se em silêncioas gêmeas criações do gênio brasileiro.

na festa de �9 anos de Brasília, a Esplanada dos Ministérios foi toma-da pelo povo do dF. E foi só alegria, foi uma festa de verdade. o povo do dF veio e mostrou que a Praça é do povo, como dizia o poeta. Mas teve gente que reclamou da sujeira que o povo fez. Gente que acha que a Pra-ça dos três Poderes e a Esplanada dos Ministérios têm que ficar limpas sempre. talvez para não sujar os co-larinhos brancos dos que, sempre por ali, têm ojeriza do interesse público, só pensando em engordar suas contas particulares. o povo que não passe da rodoviária... É assim que acontece, de fato, a injusta história humana de Brasília, que ainda não valoriza a sua redoma - o desconhecido, desvalori-zado, discriminado distrito Federal. a realidade humana da Capital da Esperança. a terra para onde foram jogados, como invasores, especial-mente nos tempos de chumbo, os ver-dadeiros construtores de Brasília.

ainda bem que, quase 50 anos de-pois, está chegando à vida influente uma nova geração. Os filhos de Bra-sília e do distrito Federal. E pouco a pouco, vai se acabando essa odiosa discriminação. É a gente jovem de todas as idades que faz o rock, o rap, o artesanato, as feiras, a arte, a cul-tura, enfim, formando um amálgama de sadia brasilidade, considerando todos os que aqui estão como cida-dãos iguais.

quase 50 anos depois, Brasília começa a descobrir a presença de

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BRASÍLIA, 49 ANOS. VAMOS COMEMORAR?

Por Vera ramos Arquiteta e urbanista, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal

um valor maior: quem é o verdadeiro responsável pela sua criação, conso-lidação e identidade – o povo do dis-trito Federal. todos os que moramos aqui. Juntos, somos co-autores do que Brasília é - e do que será Brasília, e suas cidades-satélites não são só as ruas, os prédios, os viadutos, o cerra-do. os valores de Brasília não são só as maravilhosas obras de niemeyer e Lúcio Costa. É a gente de Brasília e de suas satélites o valor maior, o grande monumento que está implantado no Planalto Central. E toda essa gente precisa se encontrar e se integrar de forma digna. Brasília tem essa mis-são. É a missão maior de todos nós que, vivendo aqui, transformamos o Brasil de direito, com um monte de terra desabitada, neste Brasil de fato, nascido a partir de Brasília, esta obra arquitetônica/humana que recebe elogios de todo o mundo.

na festa dos �9 anos de Brasília, mais de um milhão de pessoas toma-ram a Esplanada para mostrar que não há mais lugar para a discrimina-ção e que começam a se integrar os cidadãos de Brasília e o povo do dF. Mesmo que sobre, no final, o lixo da grande festa.

21 dE aBriL dE 2009. Há aPe-nas �9 anos atrás, o Presidente Juscelino cumpria a mais ou-sada de suas metas e, em tem-po recorde, entregava Brasília

aos brasileiros. Finalmente, estava transferida a Capital da república para o interior do Brasil. Esta gigan-tesca e comovente obra foi o resulta-do da criatividade, da competência, da esperança e da solidariedade de milhares de brasileiros. Brasília é diferente e única. É inovadora com raízes brasileiras. É o urbanismo de Lucio Costa e a arquitetura de os-car niemeyer. É luz, céu, horizon-te, amplos espaços, áreas verdes, eixos, tesourinhas, superquadras, blocos, pilotis, palácios, curvas e retas. introduziu um novo modo de morar e de viver numa nova con-cepção de cidade.

É necessário lembrar que a cons-trução da nossa jovem e moderna cidade — capital não inovou somen-te pela excelente qualidade de seu urbanismo e arquitetura ou pelas novas técnicas construtivas, mas também pelos planos revolucioná-rios nas áreas de educação, saúde e abastecimento. Brasília foi plane-jada e projetada como modelo para um país em desenvolvimento que, pela primeira vez, acreditava em si mesmo. Cumpriu sua missão de in-tegrar nosso país continental e re-presenta um salto qualitativo sob todos os aspectos.

E as inovações não pararam por aí: foi o primeiro bem contemporâ-neo inscrito na Lista do Patrimônio Mundial da unesco, pois até aquele momento somente bens culturais se-culares ingressavam nessa lista. ou-tra inovação: está protegida por um tombamento de caráter urbanístico, diferente do tombamento arquitetô-nico, que é mais usual e conhecido.

Como cidadãos, é imprescindí-vel que tenhamos sempre em nossas mentes e em nossos corações todas essas conquistas, valores e senti-mentos, para comemorarmos todos

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SÍMBOLOS. O edifício sede do Congresso Nacional e, na página oposta, a Catedral de Brasília, dois dos cartões postais da cidadefOTOS ROdOlfO STuCkeRT e edSOn SAnTOS_ AgênCiA CâMARA

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os dias e, sobretudo, para refletir-mos em mais um aniversário de Brasília.

qual o futuro que desejamos? É extremamente preocupante cons-tatarmos que, com apenas �9 anos, a cidade que é patrimônio dos bra-silienses, brasileiros e da humani-dade, que tem possibilidades de se manter na vanguarda também no século XXi, já apresente os mesmos graves problemas que atingem tan-tas outras metrópoles. não podemos permitir que o caos urbano e am-biental aqui se instale de forma irre-versível. É preciso agir rápido, com visão, conhecimento, sensibilidade e, acima de tudo, com respeito por tudo que Brasília representa.

Foi um desafio construir Brasília e é um desafio preservá-la. Temos a obrigação de manter essa cidade diferente e especial, para garantir às futuras gerações o direito de usu-fruir de sua beleza e da qualidade de vida que proporciona.

vamos comemorar sim, mas com consciência de que muita coisa deve ser feita e muitos recursos devem ser empregados para se reverter o quadro atual até o próximo aniver-

sário de Brasília.

vejam como JK se preocupava com o Plano de Lúcio Costa muitos anos antes do tombamento. Ele achava que haveria uma tendência a destruir o Plano se não houvesse mecanismos de defesa para mantê-lo. JK, em 15 de junho de 1960 (menos de dois meses da inauguração da cidade), escreve este bilhete (encontrado no acervo de Lúcio Costa) dirigido ao Presidente do iPHan, rodrigo de Mello Franco de almeida:

“Rodrigo,a única defesa para Brasília está

na preservação do seu Plano Piloto.Pensei que o tombamento do mes-

mo podia constituir elemento, segu-ro, superior à lei que está no Con-gresso sobre cuja aprovação tenho dúvidas.

Peço-lhe a fineza de estudar essa possibilidade, ainda que forçando um pouco a interpretação do Patrimônio.

Considero indispensável uma barreira às arremetidas demolidoras que já se anunciam vigorosas.

Grato pela atenção,abraço, JK”15 de junho de 1960

SEGURANÇA NOS QUASE 50

saulo santiagoPresidente do Conseg de Brasília,

membro do IHGDF/Conbras.

BrasíLia, a CidadE da EsPE-rança, nasceu do sonho dos vi-sionários e da vontade de um estadista. ao desejo dos incon-fidentes Mineiros de mudança

da capital do país para o interior do hinterland brasileiro, seguiram-se os anelos mudancistas do Marquês de Pombal, do Patriarca José Bonifácio, do historiador varnhagen, do jornalista Hipólito da Costa e do profeta dom Bosco. somente na década de 50, a tenacidade do presidente Juscelino Kubitschek concretizou a mudança da capital da república, trazendo-a do litoral fluminense para o cerra-do goiano. do solo ainda agreste do quadrilátero proposto pela Missão Cruls em 1892, brotou, em 1960, uma cidade ímpar no mundo pela sua bele-za arquitetônica e pelo plano original de concepção. Brasília contemporânea ainda é uma cidade aprazível com ex-celente qualidade de vida no Plano Pi-loto. no entanto, há em todo distrito Federal alguns problemas de seguran-ça pública como os das demais grandes cidades. durante sete anos, a curva estatística da criminalidade declinou. de 2008 em diante, houve um surto de criminalidade devido a alguns fatores como o aumento da população de rua; o desemprego de pessoas trazidas pelo êxodo rural; o crescimento da violência entre jovens de 15 a 2� anos de idade e o incremento do uso e tráfico de dro-gas. Em compensação, temos a melhor polícia do Brasil.

Há em execução diversos progra-mas sociais de prevenção da violência por parte do Estado e da sociedade civil. sabe-se, atualmente, que não se combate o crime somente com a re-pressão. temos que atacar as causas da criminalidade, a começar pelo tra-balho no âmbito da família, da escola, da igreja. algumas leis excessivamente complacentes com a delinquência pre-cisam ser reformuladas. temos o pri-vilégio de viver na cidade erigida pela energia dos pioneiros e pela pertinácia de JK. Mas temos também a corres-ponsabilidade de preservar uma urbe tombada pela unesco.

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AVANTE, BRASÍLIAaffonso Heliodoro

Bacharel em Direito, Coronel da Reserva da Polícia Militar de Minas Gerais, jornalista e amigo do Presidente Juscelino Kubitschek, seu conterrâneo de Diamantina, e ex-aluno

de sua mãe, a mestra Júlia Kubitschek. Com JK, foi Chefe do Gabinete Militar no Governo

de Minas Gerais e Subchefe do Gabinete Civil na Presidência da República. Dirigiu o SVMEG (Serviço de Verificação das Metas

Econômicas do Governo) e o SIE (Serviço de Interesses Estaduais). Participou ativamente das campanhas eleitorais de Juscelino para a Presidência da República e para o Senado Federal. Há alguns anos, preside o Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.

BrasíLia não Foi FEita aPE-nas para ser a capital admi-nistrativa do Brasil. Ela foi construída para propiciar a ocupação dessa imensa área

que é o Centro-oeste. seis milhões e quinhentos mil km² de território com apenas cinco milhões de brasileiros a ocupá-los. ou seja, mais ou menos ½ habitante por quilômetro quadrado, numa enorme área com 92% de terras agricultáveis e a segunda maior bacia hidrográfica do mundo. O Presiden-te Juscelino Kubitschek, durante seu mandato presidencial, interligou o Brasil por rodovias, ferrovias, hidro-vias e aerovias. Era a sonhada integra-ção nacional. Esses meios de transpor-tes, realmente, realizaram a sonhada integração de nosso território.

Estava o Brasil pronto para reali-zar, no segundo mandato de JK, sua real independência. seu programa para 1965 era: “5 anos de agricultura para 50 de fartura”. Foi cassado, per-seguido, exilado e morto. seu projeto não foi realizado. a despeito, entre-tanto, de seu afastamento da vida pú-blica do país, graças à existência de Brasília, somos hoje, cinquenta anos decorridos, um dos maiores produto-res de grãos do mundo. ao deixar o governo, Brasília já se ligava ao acre. Fácil, portanto, atingir-se o oceano Pacífico. E o grande mercado mun-dial estaria sendo abastecido pela produção agrícola do Brasil. Esse fato lembra o petróleo, que durante mui-tos anos não nos foi permitido produ-zir. sempre negada sua existência no Brasil pelos “donos do mundo”. (Mis-são Walter Link).

Hoje, depois de Getúlio e Jusce-lino, nosso petróleo cada vez mais ocupa lugar de destaque no mercado

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mundial. E tem potencialidade para ser um dos maiores produtores do mundo. assim seria, também, com a agricultura. o Brasil já havia entrado definitivamente na fase de produção industrial. Já competia nessa área. Mas os royalties vão embora. Com a agricultura é diferente. sua riqueza fica aqui com seus produtores. Fica no Brasil. seria o segundo 7 de se-tembro de nossa história.

Mas vamos falar da Brasília cin-quentenária. vamos lembrar o comí-cio de Jataí. a esse respeito já se falou muito. toniquinho, autor da pergunta histórica sobre criar ou não Brasília, está aí vivo para lembrar o memorá-vel dia. vamos falar do Brasil de JK.

no dia 2 de outubro de 1956, em companhia de personalidades da maior significação na vida nacional, Juscelino realiza sua primeira visita

ao local onde seria construída a nova Capital do Brasil. Era o deserto, mas, em breve, um fabuloso e inacreditável número de máquinas e homens esta-riam realizando a obra que marcaria o maior feito de um presidente na-quele século. Às 11h�0 daquele dia, o avião presidencial tocou o chão duro do cerrado, percorrendo, em pista improvisada por Bernardo sayão, aquele pedaço de Brasil ainda des-conhecido da maioria do povo brasi-leiro. Estavam o Presidente, festivo e alegremente, sob um sol impiedoso, José Ludovico, Governador de Goiás, Bernardo Sayão, figura inigualável de amor ao Brasil e a esta região que ajudou a desenvolver, outras autori-dades goianas e um grupo alegre de estudantes que vieram com JK, já acreditando que aquele homem es-tava, realmente, disposto a realizar o

velho sonho. sonho há tanto acalen-tado pelos brasileiros, principalmen-te, pelo valoroso povo goiano. a ilus-tre comitiva trazia — no bojo daquele pequeno avião, um douglas-dC-3 – a esperança de um futuro de progresso, desenvolvimento econômico e social para a região. Foram os primeiros passos para a irreversível conquista desses mais de seis milhões de quilô-metros quadrados que representam dois terços do território nacional. os goianos e mato grossenses, aqui, so-zinhos, lutavam, buscando desenvol-ver esse abençoado pedaço de mundo

CONSTRuTOR. Jucelino Kubitschek e seu plano de metas. À esquerda, JK com o amigo e então subchefe do Gabinete Civil da Presidência da República Afonso Heliodoro.

fOTOS fePeCS — BRASÍliA

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que deus lhes dera.Em 1960, um terço do Brasil, re-

presentado principalmente pelos es-tados litorâneos, contava com uma população de 70 milhões de habi-tantes, enquanto que os outros dois terços, representados pela região amazônica, incluindo, naturalmente, Goiás e Mato Grosso, contavam ape-nas com cerca de cinco milhões de habitantes, ou seja, mais ou menos,

meio habitante por quilômetro qua-drado. assim, em vez de falar sobre o dia da grande e fundamental deci-são, prefiro falar dos benefícios que Brasília trouxe para o Planalto Cen-tral e, mais ainda, para o País. Bas-taria dizer das grandes rodovias que aqui nasceram para integrar o Brasil. Criou-se uma espinha dorsal ligando o norte ao sul do país. E outras que uniam o Leste ao oeste, transfor-

mando esta região, antes quase desa-bitada e inóspita, no “centro das mais altas decisões nacionais”, pelo vigoro-so impulso dado ao desenvolvimento econômico e social, transformando-a, também, em polo irradiador de civilização e riqueza. Portanto, nes-tes quase cinquenta anos decorridos daquela decisão histórica, vale mais falar-se de Brasília civilização, Bra-sília riqueza, Brasília progresso. va-

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mos falar dos benefícios advindos de sua construção, como a mudança da Capital, a presença do poder político e econômico instalados aqui, nas lon-gínquas plagas do oeste, agora mais próximas do norte e do nordeste.

Por exemplo, para só citar um caso, dentre milhares: a cidade de imperatriz, no Maranhão, com o iní-cio da construção da estrada Bernar-do sayão — a Belém-Brasília – como

passou a chamar-se, na gíria local, Cidade do telhado novo, em virtu-de de construções que se faziam ali, em torno de três novas casas por dia, numa cidade que estava se acaban-do, como tantas outras do interior do Brasil. o povoamento, nas margens daquela estrada, representa hoje, mais de dois milhões de pessoas. sem se falar na Brasília/acre, Bra-sília/Fortaleza, Brasília/Belo Hori-zonte, Brasília/Cuiabá, Brasília/são Paulo e tantas outras estradas de ro-dagem e de ferro hoje abandonadas e as hidrovias, conjunto de obras que visavam, a partir da nova capital, à integração nacional. Há um outro aspecto de significativa importância, ligado ao processo de ocupação do nosso interior, que é a aproximação territorial com nossos irmãos latino-americanos, como o Paraguai, a Bolí-via, o Peru, a Colômbia e a venezuela. Países que constituem a continuação física de nosso território. Povos de origem latina como o nosso, cujas economias sofrem as mesmas penú-rias das regras impostas pelos países chamados do Primeiro Mundo. Essa conquista do vazio territorial que tanto nos angustia ainda, sobremodo agora, com as manifestações afronto-sas de estrangeiros sobre nossa sobe-rania, fazia parte das preocupações do Presidente JK, quando propôs a criação da operação Pan-america-na — oPa. seu principal escopo era

promover o desenvolvimento regio-nal e integrado dos países abaixo do rio Grande. o objetivo era, também, evitar essa postura vexaminosa, que tanto nos humilha, ver nossos gover-nos, cada um por si, de chapéu na mão, a implorar o tostão dos cofres recheados dos países, marcadamente dos Eua, que obstruem e emperram nosso desenvolvimento, que entra-vam e degradam nossa economia. a construção de Brasília e as estradas que daqui saem para o interior apro-ximaram-nos das fraldas dos andes, colocando-nos próximos ao Pacífico, encurtando distâncias e propiciando novos mercados para exportação e importação de bens. Caso não tives-sem matado a oPa, isso seria reali-dade. Estaríamos integrados por ter-ra ao resto da américa Latina.

Falar desses quase cinquenta anos de Brasília não me emociona, mas faz-me reviver as derrotas que temos so-frido pela incompetência ou pelo desa-mor ao Brasil, ao longo desses anos em que nossos governantes se submetem aos mandos dos novos colonizadores do mundo. apesar de tudo, o Brasil vai rompendo suas barreiras, transpondo seus obstáculos. Mas, tenho fé, nossas elites hão de saber como tirar-nos da enrascada em que maus brasileiros teimam em nos meter. Há de chegar o dia em que, de Brasília, alguém há de gritar como tiradentes: Chega, chega de submissão!

O SONHO CHAMADO BRASÍLIA. À Esquerda, pioneiro da construção. Acima, trabalhadores, principalmente nordestinos, que aceitaram o convite de JK e foram ajudar a construir Brasília. fOTOS fePeCS — BRASÍliA

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EM CONSTRuçÃO. Congresso Nacional sendo erguido no final dos anos 50. fOTOS fePeCS — BRASÍliA

H I S T ó R I A DE CA PA

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Entrevista

10 PeRgunTAS PARA

nicholas Behrv

iva BrasíLia! aFinaL, BrasíLia agora é viva, já não mais esqueleto, con-creto, maquete. É cidade grande, seus arranha-céus, contradições e o caos urbano — maquete viva. agora, aos �9 anos, mas, desde sua “adolescência”, a não tão nova capital conta com seus artistas, que ora lhe jogam pedras, ora lhe tecem poemas de amor. E se houve alguém

que muito ilustrou a cidade foi o poeta nicholas Behr, natural de Cuiabá, Mato Grosso. Ele chegou a Brasília em 197� e assumiu posição de um dos principais expoentes da literatura marginal na cidade. quebrou o grande mito da litera-tura brasiliense ser um Diário Oficial. “Pariu Brasília, uma nova realidade.” Nicholas ficou famoso no Plano Piloto, nos idos de 77, quando da publicação de seu primeiro livreto de poesia, o “Iogurte com Farinha”, impresso em mimeógrafo, no colégio setor Leste. adepto da literatura marginal, corrente de contracultura de resistência aos militares e à ordem vigente, vendeu, no corpo a corpo, “heróicos” oito mil li-vrinhos da primeira edição. Em 1978, após lançar “Grande Circular”, “Caro-ço de Goiaba e Chá com Porrada”, foi preso pelo doPs, polícia de repressão da ditadura Militar por “posse de ma-terial pornográfico”. Este era o motivo oficial, mas não foi citado no processo sua militância no movimento estudantil. Julgado, foi absolvido.

sua obra subverteu todo o esquema editorial das livrarias e dos controles sociais, como ele mesmo afirma “sem pedir prefácio a ninguém!”. Entre 1977 e 1980, imprimiu 19 diferentes livri-nhos de poesia. dono de uma crítica feroz e um amor ímpar por Brasília, foi um dos agitadores do Movimento Cabeças, que daria origem mais tarde à toda a cena do rock da capital, com Paralamas do sucesso, Cássia Eller e o inesquecível Legião urbana. Esse foi o movimento que potencializou a humanização dos blocos residenciais com a ocupação dos espaços pela arte. sua obra mostrou a cidade em minú-cias, levando nos títulos a cara da ca-pital federal.

segundo a tese de mestrado de Gil-da Maria queiroz Furiati, para se em-basar, o artista teve como referências o “Relatório do Plano Piloto de Brasí-lia”, de Lúcio Costa, “A Cidade Moder-nista – Uma crítica de Brasília e sua utopia”, de James Holston e as crôni-cas de Clarice Lispector sobre Brasília, inseridas no livro “Para Não Esque-cer.” também serviram de inspiração Mário de andrade, e sua “Paulicéia Desvairada”, resultando no “Brasi-

léia desvairada”, e ainda grandes autores como Guimarães rosa,

além de mais de 100 outras obras. Hoje, é sócio-Geren-te da “Pau-Brasília, viveiro.eco.loja” e vive da produção de mudas, principalmente de espécies do Cerrado, e também da venda de seus livros. Casado com alcina ramalho desde l986, tem três filhos: Erik e os gême-os Klaus e Max. Behr não parou na história. sempre à frente de seu tempo, se

posiciona, intervém e nos mostra uma nova capital da

esperança, extasiante. o poeta carrega o legado de ter dado vida

às curvas desenhadas por niemeyer.

Eu fiz parte de uma geração que teve a

felicidade de ser a primeira geração que uniu Brasília mesmo e que botou uma camiseta, bateu

no peito e disse eu amo Brasília, nós amamos Brasília!

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BrAsíliA dEixOu dE sEr mAQuEtE. BrAsíliA HOjE É umA mAQuEtE vivA [...]às vEzEs AcHO QuE O cENtrO É cEilâNdiA, A pErifEriA AsA sul

nicholas von Behr engoliu Brasília. — Por Vinicius borba, especial para Fale! brasília.

Fale! brasília. Como o Sr. vê o estigma de que Brasília é uma cidade fria, buro-crática, concreta?Nicholas Behr. isto é uma ideia antiga, coisa que já passou, Brasília deixou de ser maquete. Brasília hoje é uma maquete viva, maquete que se huma-nizou, e quem humanizou isso foi a arte e a natureza, as árvores os gra-mados, as pessoas e a cultura. Cada uma foi achando seu jeitinho de se encaixar nessa cidade, nessa propos-ta, nessa ideia maluca dos modernis-tas de fazer esta cidade planejada. isto eu estou falando de nosso centro histórico, asa sul, asa norte e Espla-nada dos Ministérios. Mas isso aí já morreu, esta ideia já foi... E é coisa do passado. Por exemplo, você viu a reação da população àquele obelisco, que o niemeyer quer colocar ali na Esplanada? quer dizer, pela primeira vez a cidade nega uma obra do nie-meyer, nega, nega mesmo. E diz não porque hoje a cidade tem gente que reage, opina. isto é uma coisa muito sintomática, um momento histórico muito importante para uma cidade que está se assumindo e negando o pai, negando o criador. Fale! brasília. é uma revolta da jovem Brasília?Nicholas Behr. É uma das muitas revol-tas que vêm por aí. acho que a grande revolta vai ser o dia que Brasília dei-xar de ser capital, acho que aí vai se chamar “Braxília”, e isso vai aconte-cer não sei quando, mas vai acontecer uma revolta contra esta Brasília que existe, esta Brasília burocrática, que se isola do resto, que criou uma cas-ta de altos funcionários públicos. Eu chamo esta “aristocracia funcional”, que vive longe dos anseios da popula-ção, que vive o poder quase como um fim em si mesmo, e não para servir. Fale! brasília. Nos anos 60 veio toda uma geração com o Presidente Bossa Nova, com muita auto-estima, ímpetos maravi-lhosos, uma insuflação de cultura forte na-quela época. A Ditadura Militar (de 1964 à 1985) deu um banho de água fria nisso, e Brasília, à época uma adolescente, se-gundo Chico Simões, foi “estuprada”pelo golpe. Como o Sr. vê isso?Nicholas Behr. Efervescência é quando

tudo que está sendo preparado apa-rece, mas não é parmamente. Mesmo quando eu não estou escrevendo, eu estou escrevendo. Mesmo quando não estou criando, eu estou criando, então não existe tempo perdido para a poesia, para arte, mas Brasília pas-sa por momentos diferentes. Brasília hoje é uma metrópole, claramente. Passa um processo muito claro de metropolização, e isto mexe muito com a cidade. Eu fiz parte de uma geração que teve a felicidade de ser a primeira geração que uniu Brasília mesmo e que botou uma camiseta, bateu no peito e disse eu amo Brasí-lia, nós amamos Brasília! que contri-buiu muito para a fixação da cidade, para a cidade realmente pegar, para a cidade realmente acontecer. Fale! brasília. Quem são os medalhões desta geração?Nicholas Behr. vamos começar pelo mais conhecidos da geração do rock, do Pop, do Punk, e aí tem várias pes-soas que começaram a cantar a cida-de, a cidade virou musa. quer dizer, isto foi na passagem dos anos 80, a cidade virou objeto, as pessoas come-çavam a ter tesão por Brasília. Então na música, renato Matos, na poesia, eu e outras pessoas. tinha um gru-po na época muito famoso chama-do Asas e Eixos. Tinha filmes sobre Brasília, peças de teatro, então foi um momento muito rico, onde tudo conspirava à favor. Era disponível, tinha contra quem lutar, lutar contra a censura, a ditadura e a repressão, ainda era uma época de repressão. Era o final do Governo Geisel, início do Figueiredo. não era a época “bra-ba” do Médici, mas o Brasil voltava

a respirar, isso tudo resultou numa democratização da arte, quer dizer democratização da poesia, abertura, houve uma ruptura aí. na poesia, co-meçamos a editar livro no mimeógra-fo. na época eram os “zines”, agora vem os blogs.

Fale! brasília. Para qual objetivo?Nicholas Behr. o objetivo é sempre um: democratizar a arte, democra-tizar o acesso à cultura e as pessoas não acharem que para ser artista tem que ser iluminado, ou doente ou es-quizofrênico. É esta coisa de facilitar a manifestação. qualquer um pode se manifestar, sem os requerimento que antes se fazia para ser artista. na época, tinha que ter vários requeri-mentos, obrigações, e nossa geração atomizou isto, mas tem ainda que atomizar muito, tem muita pedreira para quebrar. Fale! brasília. Que pedreiras são essas? Que concreto é este que ainda tem que ser quebrado em Brasília? Nicholas Behr. o ranço acadêmico, falo da minha parte que conheço bem, que é a poesia. o ranço acadêmico, aque-la sisudez, aquela seriedade, aquela coisa de linguagem e poder. Como se poesia fosse uma coisa para iniciados — a pessoa tem que ler muito, saber tudo. aquela sisudez e seriedade é que afastam as pessoas da poesia, da literatura, da arte. sou a favor de uma coisa bem libertária. Comecei a escrever e não pedi autorização para ninguém, não pedi prefácio, não pedi nada! acho que o artista, o poeta, se mistifica muito. É preciso quebrar esta pedreira da mistificação. Fale! brasília. Literatura brasiliense é Diário Oficial? Nicholas Behr. “Pobre da literatu-ra que precisa de um decreto para existir”, trecho de poema de nicolas. Mas ainda está em construção. a li-teratura brasiliense não existe, como não existe uma literatura candanga, como não existe uma literatura ala-goana, matogrossensse. Existe uma literatura universal com vozes bra-sileiras. Então acredito muito em pi-cotar ainda mais a coisa, numa visão muito mais holística. a poesia é viva em Brasília, super viva, e mesmo que não esteja viva ela não está morta, ela está hibernando. Ela está prepa-rando o bote, preparando a hora, por

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que o vulcão não está em erupção o tempo todo, ele está em erupção em alguns momentos, aqui e ali, e esta erupção acontece quando uma série de fatores conspiram a favor desta erupção. Mas a literatura de Brasília tem um ranço muito parnasiano, das academias, muito antigo, com o pé lá na Grécia, na arcádia, nos pasto-res com suas flautas. Queremos uma poesia bem pé no chão, bem que fale da realidade, do dia a dia, com que as pessoas se identifiquem e seja para elas alguma coisa que fala delas ou para elas. Fale! brasília. Onde está o maior entra-de para a democratização das artes?Nicholas Behr. o problema maior é um preconceito do pessoal do Plano, Lago sul e Lago norte com o resto do distrito Federal. as pessoas não conhecem taguatinga, não conhe-cem são sebastião, não conhecem! Em Brasília, as pessoas moram em feudos, guetos e isto é muito ruim, estes guetos culturais, porque as ve-zes acho que o Centro é Ceilândia, a periferia asa sul. tem que mudar um pouco o eixo. Fale! brasília. O Sr. vê exemplos que es-tão levando esta prática?Nicholas Behr. tem dois claros e visí-veis, que é a tribo das artes em ta-guatinga e os radicais Livres s/a em são sebastião, que têm feito um trabalho contínuo de apresentações. isso devia ser muito mais incentivado porque aumenta a auto estima. Pesso-as com mais auto estima são pessoas felizes, e pessoas mais felizes são pes-soas menos violentas. o problema é o estranhamento que há e a arte é a forma de diminuir este estranhamento entre os humanos. a arte tem este papel de humanizar e de compartilhar e de fazer as pessoas se encontrarem.

Do livro Iogurte com FarinhaAmor às pampas você voltou pro seu rancho no rio grande enquanto eu fiquei aqui a ver ministérios...

pra angela Do livro Brasiléia Desvairadabem, o sr. já nos mostrou os blocos, as quadras, os gramados, os eixos, os monumentos... será que dava do sr. nos mostrar a cidade propriamente dita!? Do livro Grande Circular senhores turistas, eu gostaria de frisarmais uma vez que nestes blocos de apartamentos moram inclusive pessoas normais

Do livro Grande Circular sexta-feira chegou mas ela não veio peguei o primeiro ônibus pra Brasília e encontrei morena na rodoviária comendo pastel, tomando caldo de cana e passeando nas escadas rolantes Do Livro Parto do Diaalguma coisa acontece no meu coração que só quando cruzo a W3 L2 sul ou eixão

V E R S O SNicholas Von behr

H I S T ó R I A DE CA PA

eSBOÇOS dO PROJeTO ARQuiTeôniCO de BRASÍliA feiTOS PelO ARQuiTeTO OSCAR nieMeyeR

Nossas grandes riquezas naturais, a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica são destruídas a cada dia. E para frear esta situação, precisamos do seu apoio. O WWF-Brasil é uma organização brasileira que, com a sua ajuda, desenvolve projetos de conservação da natureza e uso sustentável dos recursos naturais.Contribuindo para o WWF-Brasil, você colabora diretamente com ações para construir uma vida melhor para as gerações de hoje e do futuro.Faça a diferença! Afilie-se ao WWF-Brasil. Conserve o seu planeta. Ainda dá tempo.

Uma pequena contribuição mensal, uma grande diferença para o meio ambiente.

Acesse www.wwf.org.br/afiliacao ou ligue 0300 789 5652*

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Você ajuda a salvar espécies

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Amazônia, Pantanal e Mata Atlântica

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Nossas grandes riquezas naturais, a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica são destruídas a cada dia. E para frear esta situação, precisamos do seu apoio. O WWF-Brasil é uma organização brasileira que, com a sua ajuda, desenvolve projetos de conservação da natureza e uso sustentável dos recursos naturais.Contribuindo para o WWF-Brasil, você colabora diretamente com ações para construir uma vida melhor para as gerações de hoje e do futuro.Faça a diferença! Afilie-se ao WWF-Brasil. Conserve o seu planeta. Ainda dá tempo.

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ACaPitaL do BrasiL Foi ar-quitetada por niemeyer e Lúcio Costa, humanizada por darci ribeiro e registrada por ivaldo Cavalcante. o fotógrafo

chegou à Brasília com quatro anos de idade em cima de um caminhão pau de arara, com sua tia Luzanira e mais oito irmãos, e foi direto para tagua-tinga, de onde nunca mais saiu com o sonho e a esperança de melhores condições. nada foi fácil na vida de ivaldo, que teve uma infância como a de qualquer outra criança nas ruas de “taguá”, como gosta de chamar. não faltaram brincadeiras como carrinho de rolimã, patinete, bola de gude e pipa. antes de apaixonar-se por foto-grafia, ele foi engraxate, vendeu piru-litos, picolé, além das bagunças como roubar gasolina de carros, com seus amigos da época – Gim argello, hoje senador, e o Marcola, dono da rede Gasolline de postos de combustível, para colocar nas mobiletes. “veja só como é a vida”, filosofa.

antes da escrita com a luz, conhe-ceu a serigrafia, nas telas imprimiu e vendeu centenas de camisetas com rostos de seus ídolos do rock and roll como Jimmi Hendrix, Led zeppelin, Janis Joplin, Yes, Beatles e outros ícones da década de setenta. na mes-ma época, morava no Mercado sul, reduto de prostitutas, assaltantes, vagabundos, alcoólatras, poetas e outros seres que habitam o submun-do nas entranhas da capital. Lá co-meçou a fotografar o mundo em que vivia, já que morava ali e conhecia todos. “tenho fotos lindas que nunca foram publicadas”, revela o fotógrafo. A fotografia chegou em sua vida atra-vés de um amigo que lhe presenteou com um kit de laboratório fotográfico do instituto universal Brasileiro. Em seguida, fez um curso de fotografia, largou o supletivo e tinha certeza que seria fotógrafo o resto da vida. “Fi-quei encantado com a química e de como ela podia interferir em um pa-pel fotográfico”, romantiza.

Há mais de 25 anos no fotojorna-lismo, passou pelos jornais Correio Brazilliense, Jornal de Brasília, JBr e atualmente é fotógrafo da sucursal de Brasília do jornal mineiro Hoje em dia. Fotografou momentos importan-tes da história do Brasil e de Brasília, presidentes, manifestações, ditadu-ra Militar, diretas Já. nos anos 80, registrou momentos importantes da

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O OLHAR DE IVALDO50 | Fale! Brasília | Maio de 2009 www.revistafale.com.br

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Com mais de 25 anos de fotojornalismo, Ivaldo Cavalcante romantiza e aponta a realidade a

metros do Congresso Nacional Por gabriel alves

[email protected] OLHAR DE IVALDO

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SOB A LENTE DE IVALDO. Museu da República, em Brasília, o giovernador do Distrito Federal José Roberto Arruda, anjos do picadeiro, menor preso, lago Paranoá e banho na periferia.

fOTOS ivAldO CAvAlCAnTe

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cultura candanga, show de bandas que fizeram história na cidade e no Brasil, como Legião urbana, Plebe rube, Capital inicial, Mel da terra, tudo no saudoso teatro rolla Pedra, onde começou os primeiros shows do movimento punk, culturas de todo o Brasil se encontrando e ivaldo vendo tudo através de suas lentes.

desde de que começou a fotogra-far, dedica-se em registrar crianças de rua e atualmente tem o maior orgulho de contribuir na onG de Jimmy Page – o eterno guitarrista da banda Led zeppelin, um de seus ídolos, e sua esposa, Jimena Page–, a action for Brazil‘s Childen trust que tem a função de ajudar meni-nos de rua e que beneficia mais cin-co estados brasileiros. “Para mim, é a realização de um sonho“, releva. Esse é um trabalho muito forte que vem fazendo desde que se apaixonou pelo fotojornalismo. “Era um dos mi-lhares de jovens que sonhava com as guitarras de Jimmy Page, ficava perto da caixa de som para ouvir os tímpanos tremerem ao som de sua guitarra”, conta. “quem não tinha na cabeça uma guitarra imaginária de Jimmy?”, pergunta.

Hoje, em taguatinga, tem um bar que se chama Faixa de Gaza, onde na decoração pôsteres e cartazes que relevam todas as suas paixões, além da fotografia, o cinema e a mú-sica ocupam um grande espaço no coração do artista. o lugar abre aos sábados e tem o público cativo, for-mado principalmente por amigos de muitos anos e como ele apaixonados por arte. “aqui é meu canto”, conta o fotógrafo.

Em 199�, recebeu o Prêmio in-ternacional de Jornalismo rei da Espanha de Fotografia com melhor foto do ano. apaixonado por “taguá”, em 1999 lançou o livro “taguatinga: duas décadas de cultura”, com fotos memoráveis que contam toda a histó-ria da cultura da cidade através de sua visão. Em 2005 lançou o livro “Brasí-lia 25 anos de fotojornalismo”, que é a junção de anos de trabalho e denún-cia como a da prostituição infantil no dF, momentos políticos marcan-tes, ensaios em inferninhos de beira de estrada. tem no curriculum nove prêmios da fundação volpe stessens, nove fotos no Museu internacional de Fotografia, 15 exposições individuais e 25 exposições coletivas.

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Suas fotos são uma junção dos conceitos políticos, geográficos, sociais e econômicos sempre denunciando à sociedade fatos reais, mas que se encaixam perfeitamente na sua concepção do belo e bonito e espelham toda a sua pureza interior.

u. dettmar, fotógrafo

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Brasília.MERCADO

PROMISSOR!Jovens talentosos abrem empresas,

crescem e contribuem cada vez mais para o comércio da cidade

Por rafael oliveiraEspecial para Fale! brasília

Economia&negócios

OMErCado EMPrEsariaL BrasiLiEnsE CrEsce cada vez mais, principalmente entre os jo-vens. a empresária nadja La Parra, 30, abriu o Café La Parra há dois anos. “Em Brasília não tinha uma cafeteria mais elaborada. Eu fiz o curso de barista em São Paulo e me apaixonei pela arte”, explica La Parra. a pri-

meira loja foi aberta no alameda shopping e o negócio está em expansão. “vou abrir outro La Parra em águas Claras, oferecendo outros serviços, como um fondue à noite”, disse.

os empresários Pedro Paulo Cardoso e Pablo Car-doso, 26 e 28 respectivamente, são proprietários da P� Comunicação, empresa de comunicação visual ins-talada há quatro anos em Brasília. Com a expansão, a empresa passou a atuar em quatro segmentos: serviços para condomínios, empresas públicas e privadas e de-senvolvimento de sites. a P� é a única empresa brasi-liense que oferece serviços visuais, como placas para condomínios. “a ideia é ampliar o serviço para o Brasil todo. os condomínios ligarão para o nosso 0800 e pe-dirão os produtos”, disse Pablo Cardoso.

o jornalista e proprietário do restaurante dom Fran-cisco, Edson Monteschio, atua na área de gastronomia há 16 anos. Chegou à Brasília e foi trabalhar com o fun-dador da rede de restaurante, aos 22 anos. aprendeu como montar e gerenciar a casa, passando por todos os processos administrativos. “após obter experiência em todas as áreas, me senti apto a ter meu primeiro res-taurante”, disse Edson. os três restaurantes de Edson atendem a uma média de 20 mil pessoas por mês e ele gera 100 funcionários diretos.

Qualidade do serviço. segundo Pablo, a qualidade no serviço oferecido é o diferencial entre as outras em-presas do segmento. Para La Parra, “o atendimento em Brasília é muito ruim, o funcionário é mal orientado, mal treinado. E é no atendimento onde faço a diferença para os meus clientes”, revela.

segundo dados das Juntas Comerciais do país, o distrito Federal aparece em 11° lugar no ranking de empresas abertas. ao total, foram 13.108 empresas no ano de 2008. no mesmo ano, fecharam as portas �.070 empresas na cidade. E 22.2�6 empresas sofreram al-gum tipo de alteração.

os jovens que procuram o sebrae-dF para orienta-ção sofrem com falta de experiência em gestão, segundo Maria auxiliadora de souza, analista do sebrae. “Eles têm bastante dificuldade na hora de abrir a empresa. Os fatores são diversos: dificuldade de acesso a crédi-to, falta de garantia e falta de experiência no mercado”, disse auxiliadora.

a presidente da associação dos Jovens Empreen-

SERVIçO DIFERENCIADO. “A primeira loja foi aberta no Alameda Shopping e o negócio está em expansão”, Nadja La Parra, Café La Parra

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dedores (aJE), tatiana Gonçalves Moura, aponta uma particularidade de Brasília. “o funcionalismo público aqui é muito forte. Muitos jovens não apostam na iniciativa de abrir um negócio e caem nos concursos públi-cos”, disse. a aJE existe há 10 anos e foi criada com a proposta de dar assistência ao jovem empreendedor. “nos o ajudamos em várias etapas do empreendimento: na assistência jurídi-ca, consultoria”, explica tatiana. a as-sociação está presente em 26 estados.

a viP dF, empresa de distribui-ção, armazenagem, mixagem e im-pressão de etiquetas atua na cidade há 15 anos. distribui mensalmente 300 mil exemplares de revistas. ul-trapassou as seis milhões de entregas por ano. a empresa atende o distri-to Federal e o Entorno. sobrinho do dono, Fabiano Faria começou a tra-balhar na empresa aos 18 anos. Pas-sou pelos processos de entrega, etique-tagem e hoje ocupa o cargo de gerente. aos 30 anos, após 12 anos de experiên-cia, pretende expandir os negócios em meados de 2010. “queremos fazer par-ceria com grandes gráficas para atuar-mos no mercado nacional de distribui-ção”, adianta. Faria afirma que 90% dos seus 87 funcionários trabalham na empresa há mais de 10 anos.

contra a crise. apesar de a crise mun-dial afetar o Brasil, os jovens empreen-dedores a desafiam e expandem seus negócios, segundo tatiana Moura. “Eu tenho a Prospecting Marketing e Pro-paganda há seis anos e abri a Garimpo há nove meses, uma empresa de recur-sos humanos”, comenta tatiana.

“quando se faz o que gosta com

prazer, não existe crise. as pessoas continuam comendo e bebendo café”, argumenta La Parra. Pablo Cardoso de-fende que “a crise não nos afetou, pelo contrário, a cada mês a empresa cresce mais”, comemora.

quanto à crise, a direção do res-taurante dom Francisco incentiva: “se o movimento cai em um mês, nós investimos mais. não podemos fraque-jar por causa da crise. Em um ano, au-mentei quatro vezes mais o movimento de clientes”. Para Edson, se o comércio adotar medidas preventivas por causa da crise e segurar certos investimentos, o próprio comércio cria a crise.

atendimento. segundo reclamações de clientes brasilienses, o atendimen-to dos estabelecimentos comerciais é um ponto fraco dos empresários da ci-

ARROJADA. Bem no meio da crise financeira internacional, Tatiane Moura abriu outro negócio

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas do Distrito Federal (SEBRAE-DF), em parceria com a Associação dos Jovens Empresários e oito faculdades, o projeto Núcleo do Talento Empreendedor (NTE), composto por três fases: inspiração, criação e evolução. A fase de inspiração consiste em palestras de sensibilização nos jovens, a criação em um Plano de Negócio de Mercado

e a evolução, na prática empresarial, a conclusão do plano de negócios e análise deste plano por um comitê gestor do Sebrae.

Segundo Maria Auxiliadora de Souza, analista do Sebrae-DF, a maioria dos jovens que a procuram são pouco orientados. O NTE trabalha atualmente em parceria com oito instituições de ensino: IESB, UniCeub, Faculdade da Terra, Universidade Católica, UNEB, Facitec

e Faculdade Projeção. O quadro de jovens empreendedores do DF

é misto, entre homens e mulheres. “Não podemos dizer hoje se há uma maioria de uma parte ou de outra, é bem diversificado. Nos cursos, os inscritos estão praticamente meio a meio”, disse Maria Auxiliadora.

O projeto NTE ganhou o prêmio “Projeto Destaque” da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje), em Goiânia. A entrega aconteceu durante o 14º Congresso

Nacional de Jovens Lideranças Empresariais & ExpoAje, evento realizado pela Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) e pela Asssociação dos Jovens Empresários de Goiás (Aje Goiás), no Centro de Convenções de Goiânia, entre os dias 26 e 28 de novembro.

O foco estratégico do NTE é oferecer, de forma subdisiada, orientação empresarial em empreendedorismo e gestão empresarial (e-learning) para 20 mil jovens no DF, por ano.

Ações do núcleo do Talento empreendedor

dade. tatiana Moura aponta a ausência do empresário no negócio. “a grande maioria dos empresários não estão na empresa quando o cliente precisa dele”, disse. E completa: “ser empresário é di-fícil, mas é prazeroso”.

o diferencial da P� Comunicação e do Café La Parra é o atendimento. “sempre atendo meu cliente no prazo certo. o atendimento personalizado e de qualidade é o nosso referencial”, explica Pablo Cardoso da P�. “Meu atendimento é bem orientado e profis-sional. a diferença no atendimento é essencial, e Brasília peca muito nesse quesito”, disse La Parra.

No ramo específico de restauran-tes finos, o atendimento personalizado garante a fidelidade do consumidor. “além dos cursos técnicos, o que é óti-mo, o estabelecimento precisa oferecer estrutura para manter o funcionário. no dom Francisco, quando o cliente chega, os garçons já o conhecem e aten-dem de forma especial”, explica Edson. o restaurante oferece para os funcioná-rios cursos de português, inglês, cursos na associação Brasileira de someliers (aBs), cursos de higienização e mani-pulação. Grande parte dos funcioná-rios tem em média 10 anos de trabalho na casa. “na cidade, a lei de mercado prevalece: a cidade vai ter quantos res-taurantes suportar. Mas todo dia tem gente abrindo e fechando comércio. o que devemos pensar é em ter condições e qualidade para não sermos mais um que vai fechar”, disse Edson.

Fabiano Faria, da viP Logística, afirma “qualidade não se discute. Hoje o empresário é obrigado a ter qualida-de. o diferencial hoje é ter a qualidade e dar assistência para o cliente”.

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ECO N O M I A & N EG ó C I O S

AdEsPEito do CEnário dE crise internacional, um dos setores que continuam forta-lecidos no mercado interno é o de panificação. Em 2008, o faturamento do setor cres-ceu 12% em relação a 2007,

saltando de r% 39,61 bilhões para r$ ��,36 bilhões. Mas o presidente da associação Brasileira da indústria da Panificação e Confeitaria - ABIP, Ale-xandre Pereira, diz que a política mo-netária do governo cria uma situação de elevado risco para a economia, em especial em relação ao spread bancário e à taxa selic que continua alta. Ele também critica a falta de crédito para as micro e pequenas empresas que já faz parte da realidade brasileira. Mesmo os chamados bancos de desenvolvimento, não financiam o pequeno empresário. assim, eles correm para a agiotagem do cheque especial e das taxas do cartão de crédito.

se as padarias venderem menos pão, o setor — que emprega milhares de brasileiros — não tem como chegar ao governo para pedir socorro, como fazem grandes indústrias e, pasmem, bancos.

Esse cenário é desenhado por ale-xandre Pereira, para quem é preciso uma sensibilidade especial do governo para o setor que tem impacto direto na qualidade de vida do brasileiro.

Qual o tamanho do setor de panifi-cação no brasil hoje?alexandre Pereira. o setor de pa-nificação está muito organizado hoje. desde 2000, está mudando a gestão e melhorando a sua musculatura para enfrentar as intempéries da economia. Crescemos 12% só no ano passado. o número de padarias no País aumen-tou em torno de 20%, nos últimos anos. Hoje, somos 63 mil padarias no Brasil. Faturamos r$ �� bilhões em 2008. Estamos com o consumo per capita aumentando. alcançamos 33,5 kg/pessoa/ano, no ano passado. Con-sideramos esse consumo ainda baixo, se comparado com outros países. no início da década, era de 26 kg/pessoa/ano. trata-se de uma mudança de cul-

COM A MÃO NA MASSA

O presidente da Associação Brasileira da indústria da Panificação e Confeitaria

- ABiP, Alexandre Pereira da Silva, avalia que perspectivas para 2009 continuam boas e estáveis. ele aconselha que as empresas priorizem seus investimentos, foquem seus objetivos, tenham bastante criatividade, diversifiquem

produtos e sejam eficientes tura alimentar que depende de marke-ting; o resultado é de longo prazo. Em 2008, tivemos crescimento no nú-mero de empregos, em torno de 30 mil novos postos de trabalho. Hoje, gera-mos 700 mil empregos diretos e cerca de 1,5 milhão de indiretos. Em 2009, não acreditamos que haverá demis-sões. Pode haver contratações. nossos negócios vão se manter estáveis esse ano. sem pânico, até porque traba-lhamos num setor que é básico. Para afetar nosso setor, a crise tem de ser muito séria. obviamente deverá haver diminuição no consumo de supérfluos. o consumidor vai segurar recursos.

como o setor está enfrentando a crise internacional? alexandre Pereira. vamos enfrentar os efeitos da crise, em nosso setor, com criatividade e trabalho. se vendermos menos pão, não temos como chegar ao governo para pedir que compre a

produção. quem grita muito são os grandes empresários, que a qualquer mudança nos negócios fazem alarde e

barulho.

a crise mundial interrompe o ciclo de crescimento da economia bra-sileira? alexandre Pereira. acho que vai corrigir o rumo da economia e do mer-cado. Estávamos num ‘boom’ de cres-cimento econômico, todo mundo com-prando carros e imóveis. Estava-se criando uma bolha, na minha opinião. acho que vai haver uma correção na economia real. o ‘boom’ na construção civil era irreal. a venda maluca de car-ros era um pouco fora da realidade. da mesma forma que padarias estão com musculatura mais forte, o Brasil tam-bém está mais preparado. o governo deve fazer o saneamento de suas con-tas, o ajuste interno da máquina públi-ca, que está muito inchada. acho que 2009 é um bom momento para rever e corrigir rumos. não é um ano eleitoral, dá tempo de fazer isso antes de 2010.

como a questão da dificuldade de acesso ou simplesmente a falta de crédito tem impactado o setor de panificação?alexandre Pereira. Este é um pro-blema real. Mas quem reclama muito é o grande empresário. Para a gente, não muda muito. somos pequenos e sempre tivemos problema com a fal-ta de crédito. Estamos acostumados e nos viramos. Essa situação cria situa-ções muito interessantes. Por exem-plo, a gente vai aos fundos de inovação tecnológica, pede r$ 100 mil e não consegue, mas as grandes empresas conseguem. a questão do fomento de crédito no Brasil ainda está muito no discurso. Continua longe da micro e pequena empresa. Há 30 anos, o sis-tema financeiro brasileiro cresce com lucros absurdos. as grandes empresas crescem e as pequenas sobrevivem. o Brasil vai mudar no dia em que o cré-dito realmente chegar ao empresário de pequeno porte. os fundos europeus entram como sócios das empresas, ou seja, correm risco junto com elas.

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o sistema financeiro no brasil é fa-tor de impedimento do desenvolvi-mento do País?alexandre Pereira. É necessário que o governo tome medidas para sanar isso. os bancos só pagam impostos so-bre os lucros, enquanto uma padaria paga sobre faturamento. Por que não se regulamenta isso? a gasolina não é regulamentada? os spreads bancários são absurdos. não houve mudança nos últimos anos, os bancos estão ope-

rando com 700% de spread bancário. vamos fazer uma conta: a pequena empresa se financia no cheque espe-cial, com taxa de juros de 7% ao mês. Multiplicando por 12 meses, chegamos a 90%, que significa cerca de 600% de spread. os bancos cobram taxa de tudo. o dinheiro que está indo para o sistema financeiro deveria ficar nas pequenas empresas. até bancos públi-cos, como a Caixa e o Banco do Brasil, têm spreads e lucros exorbitantes.

a abip tem alguma estratégia ou novidade para 2009?alexandre Pereira. tivemos uma reunião com o Conselho nacional do trigo. Estamos desenhando um pro-jeto de marketing para ser deflagrado em 2009. o primeiro semestre será o período de preparação desse projeto. no segundo semestre, vamos lançar campanha sobre a importância do consumo do pão e derivados do trigo para a saúde. o Programa de apoio à Panificação (Propan), do qual o Sebrae é parceiro, continua sendo um anima-dor permanente do setor. o sebrae é

Números do setor

A indústria da panificação está entre os seis maiores segmentos industriais do País. 10% do que é consumido de alimentos no Brasil correspondem aos produtos panificados. 35% das

contratações feitas pelas padarias correspondem ao 1º emprego. O setor corresponde a 2% do PiB nacional

INDúSTRIA. O presidente da Abip, Alexandre, Pereira com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf

forte apoiador desse programa, que tem melhorado a gestão e os produtos de � mil padarias no País. Essas pada-rias certificadas pelo Propan dissemi-nam o conhecimento adquirido para todo o setor, melhorando os negócios e resultados de um total de 16 mil pa-darias. outra ação prevista para este ano será o Projeto Pão Brasileiro, tam-bém em parceria com o sebrae. vamos introduzir a fécula de mandioca na receita dos pães para ajudar o desen-volvimento do segmento produtor de mandioca. será um pão regionaliza-do. vamos lançar agora o programa de tv da aBiP, “o Empreendedor” que vai ao ar aos domingos às 9 ho-ras na record news. Esse programa conta com patrocínios do sebrae e do senai e terá três blocos: entrevistas, casos de sucesso e capacitação. va-mos atingir as padarias dos rincões. Levaremos informações novas para empresários distantes. — com infor-mações da agência sebrae

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Moda

ESTILO FERRUGEMMusical e alto astral, tudo é multi nesse novo estilo made in Brasília

Por Adriana Meiraespecial para a fale! Brasília

SuCESSO. Fernanda Ferrugem conquistou seu espaço no gosto do brasiliense

LoGo na Ponta da rua sE vê a fachada do charmoso e moder-no sobrado roxo e laranja Espaço Ferrugem, no Guará i, onde brilha a it-girl da moda brasiliense Fer-

nanda Ferrugem. Criativa e instintiva, ela arremata um conceito de moda e estilo bem interessante. autodidata, mãe de gêmeos e amante da música, principalmente a eletrônica, mescla em seu recentemente inaugurado espaço um salão de cabeleireiros di-rigido pela irmã isabela, que também é dJ (que faz par com a irmã gêmea rafaela e são conhecidas como telma e selma), o seu atelier-loja, um estúdio de design de produto e futuramente fotografia e tatuagem.

No sangue. Fernanda desde pequena

se viu às voltas do atelier da mãe mo-delista e costureira de roupas finas, foi gerente da triton , conheceu a fá-brica e se apaixonou! virou estilista! o que ela vestia virava moda. desde então, garimpa tecidos e pesquisa estampas em várias cidades do país e transforma em suas belas criações de acabamento impecável sob a supervi-são da mãe rosangela, que monitora toda a parte de modelagem.

Criativas. suas duas últimas coleções tratam de tribos, sejam elas urbanas ou universais. a penúltima, de verão, inti-tulada de índia acid, com inspiração nas tribos indígenas brasileiras princi-palmente a cultura kayapó, com quem teve profundo contato, transforman-do a pintura da pele em serigrafia de

t-shirts, as tramas de palha em maxi-bolsas, colares e adornos de penas coloridas. sua coleção de inverno Lua nova traz seu lado místico e introspec-tivo “com interferências das fases da lua” diz ela, misturando referências da cigana moderna e bruxas bem femi-ninas com muito roxo, preto e apenas uma estampa com tons avermelhados que quebram a seriedade dos escuros. as formas são ora amplas com pon-tas diferentes, ora justas com alguma transparência e moedinhas prateadas de berloque. Muito sexy e misteriosa é a mulher do inverno de Ferrugem.

Em média, a tiragem de fabrica-ção é de 300 peças por mês que são vendidas em Brasília para seu públi-co fiel e musical e em São Paulo na alameda Lorena.

Estilo. o público-alvo Ferrugem é sem sombra de dúvidas como ela: uma mu-lher independente, sensível, moderna, alternativa e com uma boa pitada da noite, que chama atenção, que gosta de sair, que busca sempre o novo com muita personalidade e atitude.

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Page 61: Revista Fale! Brasília. Edição 02

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Por Aline Almeida [email protected]

Para os amantes do RockNo fim do mês de maio, tem Nazareth. O grupo escocês volta ao Brasil no dia 29 pra divulgação do mais recente álbum: The Newz. Antes tem Heaven & Hell. A banda formada por ex-integrantes do Black Sabbath, que vem conquistando fãs de todas as idades com músicas mais rápidas e pesadas, realizará

Rápidas

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NEM GOSPEL, NEM LOUVOR,A SENSAÇÃO DO MOMENTOÉ O AXÉ CATóLICOo noME dELa É Jaqueline Michele Trevisan. Jake foi sucesso nesse Carnaval com o hit “Pó pará com o pó”, em que versa contra as drogas num axé animado e fácil de decorar. Jake arrancou elogios até mesmo de Caetano veloso e sua música já está sendo interpretada por vários nomes do axé. a paulista com jeito de baiana ainda não tem data na agenda para visitar Brasília, mas aqui já tem fãs esperando por ela!

E para comemorar os 50 anos...Foi com simplicidade e sutileza, como definiu o próprio autor, que a obra de Antônio Danilo Moraes Barbosa ficou em primeiro lugar na escolha da logomarca de comemoração dos 50 anos de Brasília. a obra, que homenageia os três grandes criadores da capital federal estará presente em todo material impresso e publicitário do GdF.

ORGuLHOSO. Danilo Moraes apresenta sua obra.fOTO CéSAR MOuRA

Festival Brasil Sabor Brasíliaaté o dia 31 de maio acontece em Brasília a sexta edição do Festival Brasil Sabor Brasília, uma oportunidade de conhecer novos restaurantes pagando preços mais acessíveis e saboreando receitas inéditas. Essa é a proposta da associação Brasileira de Bares e restaurantes (abrasel-dF). os restaurates esperam atrair novos fregueses e recuperar as perdas geradas pela lei seca e agravadas pela crise econômica. ao todo, o festival envolverá 68 restaurantes em 91 endereços. os participantes do festival concorrem a uma viajem com acompanhante para conhecer vinícolas no Chile e no Brasil entre outros prêmios. acesse www.abraseldf.com.br e saiba mais.

apresentação única na capital, no dia 13.

de outro lado.No dia 16, tem Caetano Veloso com sua nova turnê Ordem e Progresso, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães. E no dia 31 tem Chitãozinho e Xororó no Marina Hall, com o projeto Grandes Clássicos Sertanejos. Também é a primeira vez que Minelli vem à Brasília.

fOTO

CéS

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OuRA

Fumo obrigatório. Na ChinaE você acha que já viu de tudo… a província de Hubei, na região central da China, aprovou regulamentação que obriga os funcionários públicos a fumar. aqueles que não consumirem a cota estipulada serão multados. o governo central chinês aplicou pesada taxação sobre o fumo, para preservar a saúde pública. Entretanto, o governo local de Hubei encontrou uma maneira de aumentar a arrecadação de impostos e quem sabe reduzir a superpopulação.

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Por Aline Almeida [email protected]

O veículo mais fashion do país está na CapitalQuem ainda não viu um micro-ônibus florido, decorado com chita e repleto de lindas bolsas pelas ruas da cidade? agora em Brasília, a loja itinerante Maria Berenice faz sucesso por onde passa. a criação é de Adriana Bruno, atriz que encontrou na arte de desenhar e costurar bolsas, um negócio de sucesso. a empresária, que residiu na capital federal dos 10 aos 20 anos, contou à Fale! Brasília sobre a paixão que sente pela cidade e nos deu uma boa notícia: Maria Berenice veio para ficar! O difícil é escolher qual bolsa levar pra casa. Na dúvida, fique com mais de uma!

O braziliense está convido a olhar para cima. mas não é para o famoso céu da capital, mas o céu capturado pelo fotógrafo silvio zamboni. A mostra “Quem tem medo de olhar para cima”, está montada na Galeria piccola do conjunto cultural da caixa. A exposição apresenta 43 fotografias em grande formato, de céus azuis nas mais diversas situações e países, sempre emoldurados pela arquitetura das cidades.

O nome dele é Igor Macedo. Aos recém completos nove anos de idade, Igor está trabalhando na nona edição do Jornal do Brasileiro. É isso mesmo! O garoto escreve, edita e vende na quadra onde mora um jornal inteiramente criado por ele. A ideia surgiu no ano passado, quando ao ler um livro sobre alunos que criaram um jornal e resolveu fazer o mesmo. Porém, não contente em apenas criar o seu, negociou o preço de algumas cópias com a dona da papelaria e começou a vender nos salões, lanchonetes e lojas da 108 norte, em Brasília. Depois das primeiras edições, Igor tem se tornado conhecido. Já foi entrevistado por um jornal da cidade, pela revista do colégio onde estuda, por um programa de televisão e chegou até a palestrar num evento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde falou para crianças e adultos sobre seu projeto e como transformar ideias em realidade.

O trabalho do escritor mirim só vem se aprimorando. O jornal recentemente ganhou inclusive um espaço para receitas culinárias, já que, segundo o redator, isso faz com que as mulheres comprem mais. A cada número pode-se ler ainda sobre política, esportes, cultura, ecologia e entretenimento. E não para por aí. Igor contou à Fale! Brasília que seu próximo projeto é escrever um livro, mas ele não revela sobre o que será! Enquanto a obra não chega, um aviso aos interessados: além das cópias avulsas vendidas na 108 norte, o Jornal do Brasileiro também pode ser adquirido por meio de assinatura. Nosso diretor de redação, Marcos Linhares convidou e ele aceitou: Igor a partir da próxima edição terá uma página sua na Fale! brasília e será nosso repórter-mirim.

JORNALISTA, EMPREENDEDOR E AINDA CRIANÇA

A musa do Congressoa dEPutada FEdEraL do PC do B do rio Grande do sul, Manuela D’ávila, de 27 anos, concorreu ao posto de política mais bonita do mundo e ficou na sétima posição, com 74.165 votos. a política vencedora foi a japonesa Yuri Fujikawa de 28 anos, que somou 1�6.359 votos. quase 1 milhão de internautas participaram da eleição em todo o mundo. a lista com 65 representantes de 38 países, reuniu, desde Hillary Clinton (Eua), de 61 anos, a Julia Bonk (alemanha), de 22 anos. Manuela é formada em jornalismo. a jovem deputada federal planeja disputar a prefeitura de Porto alegre. a informação é do site espanhol 20 minutos.

fOTO SefOT SeCOM-Cd

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sociedade

NADANDO CONTRAA CORRENTEZA A Agência nacional da Boa notícia mostra que

é possível escrever pautas positivas

Tudo CoMEçou EM 2006, EM FortaLEza (CE), quando uM GruPo dE amigos começou a refletir junto sobre a necessidade de paz na sociedade e a vontade de dar e receber boas notícias. no ano seguinte, a organização não Governamental, Agência da Boa Notícia, foi oficialmente fundada por uma equipe multidisciplinar, formada por jornalistas, empresários, advogados e

consultores de empresas. “todos com um propósito comum: a ação positiva, pro-motora da paz nos meios de comunicação e nas instituições formadoras dos pro-fissionais de imprensa”, afirma o presidente da agência, o jornalista e professor souto Paulino. nesse sentido, a agência da Boa notícia busca atuar em parceria com outras onGs, instituições de ensino, empresas públicas e privadas, associa-ções de classe e demais entidades cujo foco de interesse seja o desenvolvimento de uma cultura de paz e a formação de uma sociedade mais justa e pacífica.

des que trabalham com Comunicação, Cultura de Paz ou bem estar social. É uma via de mão-dupla: fornece e rece-be informações, disseminando a utili-zação do espaço jornalístico com foco na Cultura de Paz. “além disso, é pro-duzido um informativo eletrônico, com periodicidade semanal, enviado aos profissionais de imprensa, por e-mail, com sugestões de pauta e boas notícias da semana. o objetivo é sugerir novas pautas, referentes a ações positivas que foram enviadas para a agência ou que foi apurada através da equipe da aBn”, revela a diretora de comunicação, a jor-nalista Ângela Marinho. Prêmio Gandhi de Comunicação. a agên-cia também criou o Prêmio Gandhi, para além da disseminação da Cultura de Paz, fortalecer a relação da agência da Boa Notícia com os profissionais de Comunicação, destacar os trabalhos que mais contribuem para a Cultura de Paz e chamar atenção da sociedade para a importância do tema. a meta é que o Prêmio Gandhi seja uma referên-cia na imprensa nacional.

Cursos e Seminários sobre a Cultura. Para o diretor institucional e de Projetos, o empresário e consultor de empresas Carlos Eduardo Bandeira araújo, “o eixo educativo propõe o aprofundamen-to do tema Cultura de Paz, através da promoção de cursos, seminários e pa-lestras que permitam o intercâmbio de experiências entre profissionais de Co-municação com as demais instituições que trabalham diretamente com Paz e Comunicação: universidades, onGs e entidades governamentais comprome-tidas com nossos objetivos”, disse.

Pesquisas sobre os espaços da mídia. o secretário geral, o jornalista e profes-sor universitário Moacir Maia, defende que “para trabalharmos na dissemina-ção da paz pela comunicação, precisa-mos conhecer o que está sendo feito e onde precisamos atuar. nesse sentido, uma pesquisa permanente sobre os es-paços utilizados para divulgação de no-tícias de paz e de violência, nos diver-sos meios de comunicação, nos dará a real dimensão do quadro atualizado e quais os nossos focos principais, no direcionamento do fortalecimento de uma cultura de paz”, finaliza.

Visão de negócio. O diretor financeiro da entidade, o empresário Luís Eduardo Girão, afirma que “como todo empre-endimento, a aBn também tem uma visão de negócio, que se estabelece sob perspectivas diferentes, já que os resul-tados esperados são bem mais valiosos do que o ‘lucro’ em dinheiro de uma organização comercial comum, espe-cialmente na nossa era pós-industrial”, observa. o lucro de uma onG se mede a partir dos bens imateriais, embora seja mensurável, a partir de sua atu-

ação a médio prazo. Como “negócio”, a aBn funciona como pólo difusor da boa notícia pela paz, agência de notí-cias, assessoria de imprensa da causa da Paz, fonte de pautas para a impren-sa e agente capacitador.

Com a mão na massa. Fruto primeiro do trabalho, o site www.boanoticia.org.br é uma fonte de informação para os profissio-nais de Comunicação na qual se en-contram sugestões de pautas, artigos, agenda de eventos, dicas de livros e filmes, além de links de ONGs e entida-

BOA COMuNICAçÃO. Professor Francisco Souto Paulino (d), presidente da Agência com o diretor financeiro, Luís Eduardo Girão (e)

Revista de informação

Quem decide, lê.www.revistafale.com.br

Os leitores da revista Fale! sãodecisores, pessoas que nãoabrem mão de informação dequalidade. Política e Economiasão os principais temas darevista de informação

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não há educação sem liber-dade de pensamento. O essencial no ato de educar é possibilitar ao estudante o acesso à tradição do pensa-

mento, a ricas experiências de conteú-dos e a informações relevantes. Expli-citar métodos e procedimentos no ato de educar é fundamental para ajudar as pessoas a aprenderem por si mesmas, de forma autônoma, perseguindo as soluções de suas curiosidades.

O estudante precisa estar capacita-do a escolher as informações relevan-tes dentre as infinitas possibilidades. John Dewey (1859-1952), um grande filósofo e educador americano, afirmava que o ideal de uma educação centrada no aluno não é o acúmulo de informa-ções e conhecimentos, mas o desenvol-vimento das capacidades.

Mas professores estão sendo vencidos por dogmas e clichês. Mui-tos tentam ensinar por meio de meias verdades, criando mistérios e apenas construindo obscuridades. Abdicam da descoberta, da curiosidade, da dúvida e do saber factual. Cultivam a mansidão do pensamento, o decorar e o repetir. Doutrinam! Professores e alunos deixam de descobrir, interagir e aprender.

Ao contrário da doutrinação, educar é o exercício da motivação e da curiosi-dade para o aprimoramento paulatino do conhecimento, do domínio das técnicas e do desenvolvimento de habilidades. Exige como procedimento disciplina, foco, clareza e envolvimento. Educar, no âmbito da escola, é, sobretudo, facilitar e instrumentalizar o estudante para o entendimento necessário sobre as coisas, as pessoas e as relações.

Uma grande parte de nossos pro-fessores apenas repete informações inúteis e trabalha com ideologias e clichês em sala de aula. A pedagogia que está funcionando é das caricaturas e advém diretamente do ensino su-

perior. Os pedagogos e os licenciados brasileiros, recém formados, descre-vem os interesses e os conflitos em torno de sua disciplina, mas não estão preparados para o cotidiano da escola. Trabalham “grandes” questões teóricas, mas sequer podem orientar o estudante a compreender e entender os mecanis-mos da matemática e da leitura.

Um estudante típico que consiga finalizar o ensino médio no Brasil não aprendeu um ofício, não desenvolveu habilidades e competências exigidas pelo mercado de trabalho, dificilmente domina outra língua e apresenta inú-meras deficiências em leitura e pensa-mento lógico. Sobre ciências, decorou algumas poucas fórmulas para resolver problemas treinados. A imensa parte dos estudantes sequer entrou em um laboratório e ainda pensa a natureza de forma pré-darwinista.

Uma rápida avaliação do ensino de humanidades na educação básica bra-sileira pode assustar as mentes mais atentas. Uma boa parte da mitologia social e política é matéria de doutrina de nossos alunos, em escolas públicas ou privadas. Percebe-se que o ensino de geografia, história, sociologia e filo-sofia estão dominados por ideologias e falsas hipóteses de explicação dos

fenômenos sociais. Os alunos saem a repetir frases feitas, panfletárias, que reduzem e subjugam os dados factuais aos moldes de ideias preconcebidas.

Quando finalizam o ensino mé-dio, acreditam, por exemplo, que os problemas nacionais são derivados das imensas injustiças sociais cometidas por uma elite má e perversa. Juram que os empresários e as grandes empre-sas são o mal encarnado. Repetem e versam teorias conspiratórias como explicações da realidade social. Por vezes, os males do mundo são frutos da ação do “grande Império norte-ame-ricano” outras do “catolicismo e suas normas ultrapassadas”.

Em muitas salas de aula de “hu-manidades” não há nenhum fenômeno social, político ou econômico que não seja reduzido a uma simples “luta de classes”. Doutrinam fortemente os estudantes a pensarem por meio de “teorias” de claros interesses políticos. Para confirmar isso, uma simples leitura de livros didáticos de estudos sociais é suficiente.

Doutrinar e educar são duas postu-ras radicalmente diferentes e incompa-tíveis. O mundo global exige muito mais do que a mera repetição e reprodução de antanho. Exige uma mente aberta e preparada para aprender de forma permanente, superando obstáculos e desenvolvendo perícias. No Brasil, sequer estamos ensinando os estudan-tes a lerem com competência. Maus lei-tores são presas fáceis da propagação de mitos e manipulações. Infelizmente, é isto o que está acontecendo no País. O remédio para combater a invasão das doutrinas em nossas salas de aulas é a leitura competente como um atributo de todos os que estão no sistema de ensino. É preciso desenvolver as capa-cidades e não cerceá-las!

Carlos Henrique Araújo é mestre em Sociolo-gia, Consultor em Educação e ex-diretor do Inep-MEC. E-mail [email protected]

liberdade, doutrinas e educaçãoPor carlos Henrique araujo

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