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1 REVISTA ELETRÔNICA JANEIRO DE 2011 Edição nº 01 IB@MA

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Revista Eletrônica do Ibama

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R E V I S T A E L E T R Ô N I C A

JANEIRO DE 2011Edição nº 01

I B @ M A

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IB@MAREVISTA ELETRÔNICA

Projeto gráfico, capa e diagramação

Ricardo R. Maia

Edição

Sandra Sato e Jucier Costa Lima

Revisão de texto

Jucier Costa Lima

Redação da Ascom

Antonio Carlos Lago, Janete Porto, Jucier Costa Lima, Luciana V. Araújo, Luís Lopes,

Ricardo R. Maia, Sandra Sato, Talitha Monfort

Realização

Assessoria de Comunicação do Ibama

Contatos

+55 61 3316-1015

www.Ibama.gov.br

[email protected]

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Ministra do Meio AmbienteIzabella Teixeira

Presidente substituto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisAmérico Ribeiro Tunes

DiretoresAmérico Ribeiro Tunes

(diretor de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas)Edmundo Soares do Nascimento Filho

(diretor de Planejamento, Administração e Logística)Fernando da Costa Marques

(diretor de Qualidade Ambiental)Gisela Damm Forattini

(diretora de Licenciamento Ambiental)Luciano de Meneses Evaristo(diretor de Proteção Ambiental)

Procuradoria Federal EspecializadaVinicius de Carvalho Madeira

AuditoriaJorge Ribeiro Soares

Assessoria de Comunicação SocialSandra Sato

SuperintendentesSebastião Fernando Ferreira Lima (AC)

Sandra do Carmo de Menezes (AL)Abelardo da Silva Oliveira Júnior (AP)

Mário Lúcio da Silva Reis (AM)Célio Costa Pinto (BA)

José Wilson Uchôa do Carmo (CE)Maria Silvia Rossi (DF)

Reginaldo Anaissi Costa (ES)Ary Soares dos Santos (GO)

Alberto Chaves Paraguassu (MA)Ramiro Hofmeister de Almeida Martins Costa (MT)

David Lourenço (MS)Alison José Coutinho ( MG)Ronilson José da Paz (PB)Sérgio Noriyuki Suzuki (PA)

Hélio Sydol (PR)Ana Paula Cavalcante de Pontes (PE)

Romildo Macedo Mafra (PI)Adilson Gil (RJ)

Alvamar Costa de Queiroz (RN)João Pessoa Riograndensse Moreira Júnior (RS)

César Luiz da Silva Guimarães (RO)Nilva Cardoso Baraúna (RR)

Kléber Isaac Silva de Souza (SC)Analice de Novais Pereira (SP)

Manoel Rezende Neto (SE)Joaquim Henrique Montelo Moura (TO)

S U M Á R I OS U M Á R I O

Gestão estratégica e política ambiental 06

Gestão Diplan 2010: transformando desafios em oportunidades 08

A gestão do conhecimento 10

Proconve: contribuindo para a melhoria da qualidade do ar 12

Gestão compartilhada: sustentabilidade X cidadania 14

Alteração do Código Florestal: necessidade ou retrocesso? 17

Gestão por competências no Ibama: por que não? 21

Projeto de educação ambiental sensibiliza comunidade para as questões ambientais 24

Espécies da flora e da fauna selvagem em perigo de extinção 26

O poder de polícia administrativa e a ação do agente ambiental 32

Qualidade ambiental: reflexões sobre o conceito 36

Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio 40

Conhecimento e responsabilidade compartilhada 42

Mitigação e adaptação a variações climáticas: avanços e entraves 44

Novos paradigmas de gestão 48

Uma boa leitura!ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

C A RTA A O L E I TO RC A RTA A O L E I TO R

Mais um instrumento de comunicação pública é levado ao servidor do Ibama. Trata-se do Boletim Eletrônico IB@MA, com veiculação exclu-siva pelo Ibamanet, que reúne artigos dos servidores contando fatos, aspectos ou histórias de suas rotinas de trabalho. Este é o primeiro número, lançado às vésperas da chegada de 2011 com o objetivo de, no ano vindouro, consolidar-se em espaço de circulação de informações permanente sobre ações desenvolvidas pelos analistas e técnicos à frente de suas atividades no Ibama.

Em geral, não se sabe o que o colega próximo ou o de outras diretorias e superintendências e centros especializados está produzindo. Autores e leitores estão convidados a usufruir desse novo ambiente virtual, a dividir e a conhecer experiências de trabalho no Ibama.

Os interessados em colaborar com as futuras edições devem enviar artigo de, no máximo, três laudas (espaço simples, corpo 12), currículo resumido e uma foto para ascom@ ibama.gov.br.

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Gestão estratégica e política ambiental

GESTãO ESTRATéGICA E POLíTICA AMBIENTAL GESTãO ESTRATéGICA E POLíTICA AMBIENTAL GESTãO ESTRATéGICA E POLíTICA AMBIENTAL GESTãO ESTRATéGICA E

Há 26 anos, quando recebi minhas primei-ras tarefas de analista ambiental no Ibama, tinha somente uma vaga ideia dos grandes desafios enfrentados por aqueles que esco-lhem fazer da defesa do meio ambiente o seu dia-a-dia. Em meados da década de 1980, havia ainda poucas pessoas, até mesmo entre as que integravam os quadros do Instituto, com uma noção precisa das proporções que a causa ambiental ganharia no rol das questões planetárias emergentes.

A presidenta Dilma Rousseff, em seu discurso de posse, traçou, a meu ver, as diretrizes básicas para o fortalecimento da política ambiental brasileira ao afir-mar que o Brasil tem todas as condições que nos “permitem um projeto inédito de País desenvolvido com forte componente ambiental”. O governo sinaliza fortemente a nova dimensão que deve ser dada à políti-ca ambiental no quadro geral.

Isso não é pouco, notadamente no momento em que a nação luta para man-ter uma taxa de crescimento de 5% ao ano e muitos insistem em considerar as normas ambientais entraves ao avanço da economia.

Nós, da área de meio ambiente, temos atuado como obstáculos intransponíveis a qualquer modelo de desenvolvimento que não pressuponha a sustentabilidade. Estamos, portanto, sintonizados com o pen-samento do nosso novo governo. Energia limpa, defesa dos recursos da biodiversida-de e mais investimentos na preservação da natureza estão presentes na mensagem da presidenta à nação. A novidade, a meu ver, é que o discurso retira o meio ambiente do seu tradicional e desconfortável papel de coadjuvante, e remete a política ambien-tal a um status de vetor do programa de desenvolvimento do País.

Izabella TeixeiraMinistra de Estado do Meio Ambiente

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Mesmo já tendo atuado nos últimos anos em várias funções dentro e fora do Ibama, foi durante os últimos meses, depois que assumi o MMA em substituição ao ministro Carlos Minc, que pude mensurar a dimensão real dos desafios e as perspectivas políticas e econômicas que estão colocadas para as próximas décadas.

Isso é realidade tanto para os brasileiros quanto para as demais nações do Planeta, principalmente no que tange a mudanças climáticas, biodiversidade e economia verde. Da Rio92 para a Rio+20, nosso próximo desafio para 2020, o Brasil toma para si a res-ponsabilidade de potência ambiental.

Isso depende de todos nós, mas se impõe aos órgãos ambientais como tarefa precípua. Ao ser confirmada no cargo pela presidenta, me foi colocado o imenso desafio de formular os parâmetros para um novo pacto ambiental, que implica no diálogo com os mais amplos setores da sociedade brasileira. Na prática, esse diálogo vem se constituindo o melhor e mais eficiente instrumento para a implemen-tação da política ambiental. A tônica é a nego-ciação e ela será reforçada.

O Ibama tem se constituído, no âmbito da política de controle e dissuasão da degrada-ção ambiental, no braço forte da sociedade em defesa da Constituição. Tem procurado, ao longo de sua história, defender o artigo 225, que preconiza: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado”. A nós, integrantes do poder público, defender o patri-mônio ambiental da nação é uma imposição, pura e simples, da Carta. E precisamos nos preparar o tempo todo para essa tarefa.

Teremos à frente o desafio de consolidar e ao mesmo tempo dar maior dinamismo e modernidade ao Ibama. Os caminhos para isso passam, necessariamente por uma rees-

truturação interna e uma reavaliação estra-tégica do papel do Instituto e evidentemen-te da capacitação de seus quadros para a implementação da política ambiental.

Em tese, já está madura a discussão sobre a compatibilização entre crescimento econômico e preservação ambiental, que muito marcou os 40 anos de Ibama. é a partir desse amadurecimento que o órgão deve buscar mecanismos para dar respos-tas eficientes e eficazes à sociedade. E isso não implica, de forma nenhuma, ser menos rigoroso na sua defesa da natu-reza. Quadros qualificados e motivados, principalmente nas áreas de fiscalização e licenciamento, são fundamentais nesse processo. Investir em capacitação é outro dos pilares da gestão estratégica que está sendo pensada para o Ibama.

Está em curso a definição de um modelo de gestão estratégica para o “novo” Ibama. O debate é amplo e aberto, envolvendo todos os setores do órgão e o MMA. Um dos focos é a gestão de pessoas, área que enfrenta problemas críticos, como o da alta rotatividade. Na área de licenciamento, por exemplo, 65% dos egressos no último con-curso acabaram pedindo exoneração.

Há, ainda, a necessidade de ampliação dos quadros e reposição das vagas de apo-sentarias. Isso revela um problema estrutu-ral, que já está sendo enfrentando pelo ministério. A expectativa por uma definição sobre a carreira é grande. Existem propos-tas colocadas sobre a mesa e os entendi-mentos com o Ministério do Planejamento estão em curso. Já assumi, publicamente, e reitero aqui o meu compromisso de per-seguir esse objetivo enquanto ocupar o cargo de ministra.

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GESTÃO DIPLAN 2010 transformando desafios em oportunidades

Edmundo Soares do Nascimento Filho

É graduado em Administração Pública (1985) pela Universidade Estadual do Maranhão e pós-graduado em Logística (1986) e Organização e Sistemas (1987) pela Fundação Getúlio Vargas.

Ingressou no serviço público federal em julho de 1985, tendo atuado sempre na área – foi chefe de Logística da Secreta-ria da Fazenda do Maranhão, diretor-ge-ral de Administração do extinto Ministé-rio da Habitação e coordenador-geral de Administração dos seguintes ministérios: Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Previdência, Esporte, Desenvol-vimento Social e Combate à Fome (onde também exerceu a função de coordenador-geral de Organização e Desenvolvimento Institucional e gerente de Informática).

Atualmente, é diretor de Planejamento, Administração e Logística do Ibama.

Brasília, DF - Telefone: 61 3316-1387 Email: [email protected]

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), entidade autárquica de regime especial criada pela Lei n.º 7.735, de 22 de fevereiro de 1989, vincula-se ao Ministério do Meio Ambiente e tem como finalidades: I) exercer o poder de polícia ambiental de âmbito federal; II) executar ações das políticas nacionais de meio ambien-te, referentes às atribuições federais relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, ao monito-ramento e ao controle ambiental, observadas as diretrizes emanadas do Ministério do Meio ambiente; e III) executar as ações supletivas da União, de conformidade com a legislação ambiental vigente.

Além dessas finalidades básicas, ao institu-to, como órgão integrante do Sistema Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), e de acordo com as diretrizes fixadas pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), cabe ainda o desen-volvimento de um extenso elenco de ações federais que se configuram, na maioria, como desafios permanentes à capacidade de gestão nos níveis estratégico, tático e operacional.

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Nesse contexto, dentro da estrutura regimental do Ibama, foi criada e estruturada a Diretoria de Planejamento, Administração e Logística (Diplan) como órgão seccional, à qual compete: I) elaborar e propor o planejamento estratégico do Ibama, supervisionar e avaliar o desempenho de suas atividades, normatizar, executar e acompanhar o orçamento, promover a arti-culação institucional e a gestão da tecnologia da infor-mação ambiental; e II) coordenar, executar, normatizar, controlar, orientar e supervisionar as atividades ineren-tes aos sistemas federais de gestão da administração pública federal, referentes a recursos humanos, mate-riais e patrimoniais, contabilidade, execução financeira e serviços gerais, bem como promover o gerenciamen-to da arrecadação.

Em linhas gerais, a Diplan, articulada como órgão setorial que integra a estrutura do MMA, deve atuar seguindo as normas e orientações dos órgãos cen-trais dos sistemas de atividades auxiliares, dentre os quais destacamos o SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal), o SIPEC (Sistema de Pessoal Civil), o SIORG (Sistema de Informações Organizacionais do Governo Federal) e o SISP (Sistema de Administração dos Recursos de Informação e Informática).

Percebem-se, assim, a amplitude e a transversalida-de do papel institucional da Diplan no sentido de planejar, prover, monitorar e avaliar a destinação e a efetiva apli-cação de todos os recursos demandados, incluindo-se os chamados descentralizados. Cumpre-nos, portanto, a responsabilidade precípua de prestar contas sobre cada valor aplicado, de acordo com a legislação em vigor.

Em que pese às responsabilidades que nos são natural e formalmente atribuídas, estamos convictos de que se trata de um privilégio fazer parte desta equipe de trabalho e, sobretudo, empenhados em não medir esforços para atender, sob a gestão superior do presi-dente do Ibama, a todas as demandas de uma agenda extensa e intensa, peculiar ao desempenho e ao cum-primento do papel institucional do órgão.

Nossa gestão tem procurado ampliar uma política de articulação e integração no sentido de internalizar e sedimentar, na consciência de gestores, técnicos-servidores e demais colaboradores, a visão de que o Ibama é um todo, criado e estruturado com o propósito de servir a estados e municípios, em conformidade com os conceitos de eficiência, eficácia e efetividade. Este último, traduzido em satisfação expressa de usuários internos e clientes externos.

Essa missão não deve e não pode ser atin-gida a curto e médio prazo uma vez que bus-camos provocar mudanças de atitudes, estilos e comportamentos de gestão que, em geral, exigem esforços e perseveranças de longo prazo, visando a atender às demandas de uma agenda que extrapola os limites nacionais.

Neste sentido, Matias-Pereira, ao discorrer sobre o papel do Estado brasileiro no novo cenário mundial, afirma que:

“O Brasil deverá desempenhar um papel cada vez mais relevante, tanto nas ques-tões que envolvem sua presença na eco-nomia mundial como na proteção do meio ambiente. Por sua vez, essas mudanças são acompanhadas de oportunidades, desa-fios e incertezas (grifo nosso). A superação desses desafios, tendo como referência a necessidade de promover a inclusão, reduzir a desigualdade e a instabilidade no crescimento econômico no Brasil, exige o fortalecimento da Administração Pública e da boa governança. Essas mudanças são essenciais para viabilizar a consolidação da parceria entre o setor privado e o terceiro setor” (Manual de gestão pública contempo-rânea. São Paulo, Atlas, 2008, p. 240).

Sem dúvida, podemos afirmar que supe-ramos, de há muito, as incertezas e que, em face de nossas ações e decisões ao longo desta gestão, auferimos resultados satisfató-rios ante as expectativas, o que nos faz con-tinuar acreditando no descortino da equipe de trabalho da Diplan, que tem aprendido a transformar, de forma competente, desafios em oportunidades.

DIPLAN 2010

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A G E S T Ã O D O

C a p a C i t a ç ã o p e s s o a l

CONHECIMENTOcomo forma eficaz de valorização do servidor

Desde que assumi a Coordenação Geral de Recursos Humanos, uma das primeiras ações a cumprir foi a cria-ção da página de RH, que contou com o apoio do Centro Nacional de Telemática (CNT) e é atualizada diariamente, para que pudéssemos disponibilizar aos servidores, com qualidade, informações necessárias aos serviços de ges-tão de pessoas prestados pelo Ibama.

Neste momento, nossa atenção está voltada para a área de capacitação de pessoal por ser um dos pilares para o fortalecimento da instituição e do desenvolvimento das competências necessárias à boa gestão ambiental.

A preocupação em qualificar o servidor público é antiga em nosso país. Como exemplo, tivemos a cria-ção da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em 1944, da Fundação Escola de Serviço Público do Estado do Rio de Janeiro (FESP/RJ), em 1976, e da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), em Brasília, em1986, com a finalidade de executar, principalmente, programas de capacitação de recursos humanos.

Sérgio Augusto Coelho Diniz Nogueira

É servidor do Ibama desde 25 de janeiro de 1983.

Atualmente, é coordenador-geral de Re-cursos Humanos (DAS 101.4, nomeado em 10 de maio de 2010), tendo sido, an-teriormente, coordenador de Administra-ção de Pessoal (DAS 101.3, nomeado em 13 de novembro de 2009).

Exerceu, na Diretoria de Recursos Huma-nos e Tecnologia da Informação/Advoca-cia Geral da União (AGU), os seguintes cargos: diretor de Recursos Humanos e Tecnologia da Informação (substituto: cinco anos), coordenador-geral de Recur-sos Humanos (DAS 101.4 – cinco anos), coordenador de Administração de Pesso-al (DAS 101.3 – um ano) e chefe da Di-visão de Cadastro e Lotação (DAS 101.2 – um ano).

Brasília, DF – Telefone: 61 3316-1438 Email: [email protected]

Com a integração planetária que se vem delineando desde o final do século passado em função do avanço das tecno-logias de comunicação, informação e informática, o conhe-cimento passou a ser um dos ativos de maior importância dentro de uma organização.

Nessa era do conhecimento e de transformações tecnoló-gicas, as mudanças estão ocorrendo de forma acelerada em todas as áreas e, com isso, as respostas devem ser rápidas e coerentes, não tendo mais espaço para o achismo.

Hoje, temos como marco regulador da capacitação, o Decreto n.º 5.707, de 23 de fevereiro de 2006, que insti-tuiu a “Política e as Diretrizes para o Desenvolvimento de

Pessoal” da administração pública federal direta, autárqui-ca e fundacional, que regulamentou os dispositivos da Lei n.º 8.112, de 11 de dezembro de 1990. O Decreto define como capacitação um “processo permanente e deliberado de aprendizagem, com o propósito de contribuir para o desenvolvimento de competências institucionais por meio de competências individuais”.

Assim, em nossa gestão, as pessoas passaram a ser o grande capital a receber investimentos. Para tanto, um dos principais projetos em que estamos trabalhando é o Plano de Capacitação dos Servidores do Ibama, que atenderá a administração central e as superintendências estaduais, buscando a valorização do servidor ao estimular seu cres-cimento pessoal e profissional por meio de ações de treina-mento, capacitação e educação.

Nessas ações de capacitação, aproveitaremos as habi-lidades e os conhecimentos dos servidores do quadro de pessoal do Ibama que possuem capacidade técnica e didática para serem instrutores/multiplicadores de cursos promovidos pela Divisão de Capacitação. Deste modo, estaremos adotando práticas de gestão de conhecimento.

O investimento em ações de pós-gra-duação, com a assinatura de acordos de cooperação técnica com as universida-des públicas federais, em todo o território nacional, destaca-se como um sistema de desenvolvimento de pessoas e talentos

humanos alinhado à missão institucional e aos objetivos estratégicos, constituindo uma ponte entre o desenvolvimento das pessoas e as estratégias organizacionais.

A instituição incentivará cursos a distân-cia (EAD), possibilitando aos servidores que não possam se ausentar de suas atividades a mesma oportunidade de crescimento dos demais, de acordo com seu planejamento pessoal e tempo disponível.

Com a capacitação e o treinamento dos servidores em cursos específicos, de forma

permanente e continuada, estamos buscando a formação de um quadro de servidores aptos a desenvolver suas atividades com excelên-cia e consciência crítica, aperfeiçoando seu poder de decisão e a resolução de problemas de forma criativa, de maneira que se tornem mais eficazes naquilo que fazem.

Do ponto de vista gerencial, a capacita-ção estará direcionada para o aperfeiçoa-mento dos gerentes em conteúdos e práticas gerenciais sintonizadas com o novo modelo de gestão de pessoas. Cada vez mais, o gerente, além de supervisor do trabalho, passa a ser capacitador, educador, inovador e integrador dos ativos de conhecimento à disposição da organização, sabendo iden-tificar competências e necessidades para melhor desenvolvê-las e aplicá-las.

a atenção se volta para um dos pilares para o fortaleCimento da instituição e do desenvolvimento das CompetênCias neCessárias à boa gestão ambiental.

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Paulo Cesar de Macedo

É meteorologista formado em 1986 pela Universidade Federal da Paraíba (Cam-pina Grande), analista de sistemas for-mado em 1989 pela Funcep/DF e ana-lista ambiental do Ibama desde 1988.

É coordenador de Controle de Resídu-os e Emissões, da Diretoria de Qualida-de Ambiental do Ibama, desde 2005, coordenador dos programas de contro-le da poluição do ar por veículos au-tomotores Proconve e Promot desde mar/2001. Foi coordenador de Gestão da Qualidade Ambiental do Ibama (de abr/2001 a ago/2005), gerente de pro-jeto na Secretária de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável do Mi-nistério do Meio Ambiente (de jul/2000 a mar/2001), analista técnico na Se-cretária de Políticas para o Desenvol-vimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente (de jan/2000 a julho de 2000), representante do Ibama no Comitê Executivo do Fundo Nacional de Meio Ambiente (de 1997 a 1999), coordenador alterno da Comissão da Indústria Automobilística do SGT 3 do Mercosul para assuntos relacionados à emissão de poluentes (de 1991 a 1999), coordenador nacional do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veícu-los Automotores – Proconve (de 1989 a 1999), chefe do Departamento de Registro e Licenciamento do Ibama (de 1995 a 1996) e chefe da Divisão de Licenciamento do Ibama (de 1993 a 1995). Conselheiro do Contran.

Brasília, DF – Telefone: 61 3316-1338 Email: [email protected]

ProconveProconvecontribuindo para a melhoria da qualidade do ar

O Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) tem contribuído de forma significativa para o con-trole da poluição do ar por veículos automo-tores, com resultados expressivos na redução das emissões de poluen-tes de origem veicular.

Além da redução das emissões, o Proconve tem sido importante quanto a propiciar ao setor automobilístico nacional (montadoras, autopeças e serviços) e ao setor de combustíveis a capacitação para adequar-se tecno-logicamente a limites mais rígidos de emissões, atuali-zando-se em relação aos países mais desenvolvidos e ganhando competitividade em mercados mais restritos por limitações de ordem ambiental.

A simples substituição dos veículos altamente polui-dores por veículos dotados de modernos sistemas de controle de emissões, em conjunto com o sucateamento natural da frota, entretanto, não é suficiente para reduzir as emissões de modo a garantir uma melhora substancial da qualidade do ar nos próximos anos.

Assim, são necessárias medidas complementares para retirar de circulação uma parte da frota que não só polui mas também contribui para aumentar o congestionamen-to do trânsito e reduzir a velocidade média de circulação, potencializando ainda mais a poluição. A redução da quantidade de veículos em circulação e das distâncias percorridas, bem como a otimização das velocidades médias dos percursos, podem minimizar as emissões de poluentes. A expansão da oferta de transporte público de qualidade deve ser buscada como solução alternativa ao transporte urbano individual.

Uma atividade prioritária no controle da qualidade do ar é a elaboração de inventários acurados das diversas

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Um Programa vitorioso

A manutenção dos ganhos conseguidos com o Proconve é fundamental para evitar que os altos investimentos feitos para a implantação do programa sejam perdidos.

fontes de emissão, o que tem sido dificultado em razão de a maioria dos grandes centros urbanos não ser coberta por uma rede de monitoramento da qualidade do ar que ofereça séries históricas consistentes da concentração de poluentes do ar.

Um ponto a destacar com relação ao aper-feiçoamento dos inventários diz respeito aos fatores de deterioração das emissões. A dispo-nibilização desses dados pelas montadoras de veículos é de grande importância para melhorar a qualidade da informação sobre a frota circu-lante, especialmente, para os veículos mais antigos em circulação.

Outro objetivo a ser perseguido com determi-nação é a quantificação dos impactos da polui-ção atmosférica sobre a saúde, de forma a via-bilizar análises de custo-benefício das políticas públicas voltadas para a redução das emissões veiculares e justificar a implantação de medidas mais restritivas.

A manutenção dos ganhos conseguidos com o Proconve é fundamental para evi-tar que os altos investimentos feitos para a implementação do programa sejam perdidos. Assim, é necessário avançar na implantação dos programas de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso – I/M. Atualmente, apenas o estado do Rio de Janeiro e o município de São Paulo possuem programa operacional dessa natureza. Os programas de inspeção anual e de fiscalização rotineira dos níveis de emissão nas vias podem, adicionalmente, reduzir em mais de 40% as emissões atuais de CO e HC dos veículos leves em circulação.

Um programa moderno de controle da polui-ção veicular não pode ser completo sem a devi-da atenção à contribuição dos automóveis para o aumento do aquecimento global. A redução das emissões de gases de efeito-estufa (GEE) constitui-se, hoje, em um alvo comum nos pro-gramas de controle de poluição de diversos países. As emissões de GEE são intimamente ligadas ao consumo de combustíveis e à eficiên-cia energética dos veículos. No Brasil, o uso do etanol, combustível de fonte renovável, reduz a gravidade desse quadro, mas, mesmo assim, as emissões de gases de efeito-estufa são bastante significativas. Encontra-se em operação, para os veículos leves de passageiros, um sistema de etiquetagem voltado para a eficiência no con-sumo de combustível. é nossa meta que esta etiqueta, em curto prazo, venha a incluir o com-ponente ambiental.

A melhoria das especificações dos combustí-veis disponibilizados ao mercado deverá persistir com a continuidade da redução do teor de enxo-fre, especialmente, do óleo diesel, para viabilizar o uso de tecnologias mais modernas e aumentar a durabilidade dos catalisadores e filtros.

Em suma, trata-se de um programa vitorio-so que apresenta resultados bem significativos na melhoria da qualidade de vida nos grandes centros urbanos pelo controle da poluição do ar por veículos automotores mas que exige continuidade por meio de medidas adicionais que mantenham os ganhos já conseguidos e avancem no compromisso mundial de redução dos gases de efeito-estufa.

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Gestão compartilhada:

O Centro de Pesquisa e Gestão dos Recursos Pesqueiros Lagunares e Estuarinos (Ceperg), unidade especializada do Ibama, desde a década de noventa, vem desenvolvendo experiências com o emprego da gestão compartilhada, obje-tivando corrigir problemas e buscar a sustentabilidade no uso dos recursos pesqueiros, especialmente, em sistemas lagunares e estuarinos. Este trabalho é realizado por uma equipe técnica do centro com coordenação especifica e que atua neste campo desde a década de noventa.

O comportamento dos estoques pesqueiros, a maioria em constante diminuição, e as dificuldades dos pescado-res sintetizam as condições enfrentadas pela chamada pesca artesanal.

Problemas com esgotamento de recursos, influenciando diretamente na sobrevivência do pequeno pescador, são comuns à maioria dos ambientes costeiros. Apenas, tor-naram-se mais contundentes, porque, de uma forma geral, avolumaram-se ao longo dos anos sem que a maioria das recomendações preventivas tenham sido adotadas.

Vivenciando esta realidade, para a qual soluções somente são possíveis se houver alterações na práti-ca da gestão, é que o Ceperg, por meio de sua equipe, vem implementando novos experimentos. Inicialmente, em complexos do Rio Grande do Sul e, posteriormente,

sustentabilidade x cidadania

Hamilton Rodrigues

É oceanólogo e analista ambiental, chefe do Centro de Pesquisa e Gestão dos Recursos Pesqueiros Lagunares e Estuarinos (Ceperg/Ibama), órgão vol-tado para a geração e a difusão de co-nhecimentos e para a construção de modelos de gestão para o uso de recur-sos pesqueiros, durante mais de duas décadas, inclusive no período de sua estruturação e readequação.

Pesquisador responsável pela execução de programas de extensão pesqueira na extinta Sudepe em Minas Gerais.

Coordenador e executor dos progra-mas de gestão do Ceperg desde as primeiras experiências, com citação especial para os projetos de:gestão para o uso dos recursos pesqueiros no Complexo Mirim/Mangueira/RS, no estuário da Lagoa dos Patos/RS e no Complexo Lagunar Sul/SC.

Rio Grande, RS. Telefone: 53 3232-6990Email:[email protected]

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estendendo-se para o litoral de Santa Catarina. Os traba-lhos têm sido aperfeiçoados em cada região onde foram implementados, pois não objetivam esgotar os temas, diante das características de cada local.

A pesca é um segmento expressivo, com uma diversi-dade de conflitos. A disposição para discutir os problemas, mudar rumos e equacionar soluções tem gerado esperan-ças com a utilização de modelos organizacionais regiona-lizados que possam recuperar e consolidar a pesca arte-sanal como atividade econômica em harmonia e equilíbrio com as questões ambientais para que o desenvolvimento possa ocorrer de forma permanente, racional e sustentado.

Os dados disponíveis nem sempre mostram um perfil confiável de cada local onde se pratica a atividade pesquei-ra. O quadro se agrava à medida que se buscam respostas nas comunidades pesqueiras, que, na maioria dos casos, são desprovidas de informações, assistência e acompanha-mento, além de outros fatores como a falta de um conheci-mento mais aprofundado das peculiaridades culturais.

Muitas tentativas de organizar e administrar questões relacionadas à pesca artesanal, buscando-se alternativas de sobrevivência para as populações, foram desacredita-das por expressarem decisões centralizadas e desprovidas de discussões com a sociedade usuária. Os resultados das últimas três décadas foram ainda mais aflitivos. A diminui-ção dos recursos compromete a situação dos pescadores e favorece as migrações para outras atividades, engrossando os cinturões pobres dos aglomerados urbanos.

È neste cenário que atua o Ceperg através de seu grupo de trabalho. Na prática, os modelos de gestão desenvolvi-dos buscam corrigir as relações, incentivando a participa-ção da sociedade. Desde as primeiras iniciativas nas áreas experimentais, o objetivo é conhecer o universo da pesca artesanal praticada em cada local, conclamando-se a par-ticipação e propondo-se mecanismos de reorganização, com os quais os modelos gerenciais possam ser alterados, revistos ou reconstruídos. Todas as iniciativas que aconte-cem no decorrer dos trabalhos atribuem-se à interatividade, estimulada pelos levantamentos realizados, à produção científica disponível, aos contatos e às soluções encontra-das conjuntamente com a sociedade usuária.

A construção ou a readequação de um modelo de gestão para uso dos recursos pesqueiros, no formato compartilhado e participativo, com o emprego de manejo adaptativo, visa ao equilíbrio entre os elementos ecológicos, sociais e econô-micos. é um sistema de cooperação, em cujas decisões os usuários são ouvidos e o conhecimento tradicional é valori-zado. A maioria dos locais onde se pratica a pesca artesanal em situação similar não possui organização adequada que facilite o uso sustentável dos recursos pesqueiros.

O trabalho da equipe do Ceperg tornou-se mais importante quando encontrou formas e mecanismos para discutir temas relativos à pesca artesanal com regionalização, espe-cialmente, para lagoas costeiras e estuários de características semelhantes. Prioriza-se a organização visando a capacitar as pessoas a trabalhar juntas, refletir sobre os potenciais e problemas de sua região, adquirir informações e definir suas atividades, avaliar progressos e ajus-tar a própria conduta, permitindo-lhes almejar um desenvolvimento sustentado e digno.

As ações com gestão compartilhada tem evoluído a cada novo local onde são implemen-tadas e com resultados concretos. Entre estes, os processos desenvolvidos para as lagoas Mirim e Mangueira, o estuário da Lagoa dos Patos e o Complexo Lagunar Sul, de Santa Catarina, cujo regramen-to encontra-se em fase de publicação. Nestas regiões, foi possível mudar e criar novas sistemáticas de utilização dos recursos, com normativas desen-volvidas de forma partici-pativa, alterando-se o orde-namento pesqueiro, melho-rando-se o controle de esfor-ço e diminuindo-se a pressão exercida pela pesca.

As primeiras experiências tiveram inicio nos anos noven-ta. Na verdade, um exercício da verdadeira missão do Ceperg de produzir e gerar conhecimentos e construir modelos de gestão para o uso dos recursos pesqueiros. O que se tornou necessário foi a mudan-ça de rumos e as formas de trabalho buscando-se praticidade com resulta-dos. Desenvolver normas de ordenamen-to parece um processo simples se forem considerados somente os elementos téc-nicos e científicos. O difícil é fazer com que sejam praticáveis e atinjam os objetivos.

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O fato é que, em cada ambiente, existem usuários, pres-sões e impactos das mais diversas origens. Excetuando-se as alterações naturais, as demais são causadas pela influên-cia do homem. As chances de correção aumentam substan-cialmente quando o homem participa, engajando-se na cor-reção dos problemas e na criação de soluções. A estrutura conceitual empregada é baseada no arranjo institucional, no estabelecimento de parcerias com o mesmo nível hierárqui-co, no equacionamento das estratégias de pesca e na valori-zação do conhecimento técnico e tradicional. O envolvimento dos usuários fortalece a cidadania. Delegar atribuições e divi-dir responsabilidades entre usuários, organizações de gover-no e entidades da sociedade civil organizada é uma maneira clara e transparente de buscar soluções, com chances reais de alcançar resultados, capazes de atingir o desejado equilí-brio social, econômico e ecológico.

O ponto focal é a sustentabilidade por meio de medi-das corretivas no uso dos recursos pesqueiros. Para isto, as ações se concentram na pesca e nos pescadores. As experiências têm mostrado que é possível mudar sem comprometer. As respostas têm sido animadoras. Na Lagoa Mirim, primeira experiência desde 1993, as corre-ções no ordenamento pesqueiro levaram a uma recupe-ração dos recursos com aumento da produção pesqueira, elevando de 600 toneladas para 1.800 toneladas, registra-das no ano de 2000, e mais de 2.500 toneladas em 2004, sem que houvesse aumento do esforço de pesca.

Estes registros poderiam ter sido ainda bem mais representativos se tivessem acontecido algumas ações de contenção de outros impactos que influenciam diretamen-te na recuperação das espécies mais representativas. No caso, maior controle sobre bombas de irrigação e na dre-nagem de banhados, áreas fundamentais de reprodução, e maior constância nas campanhas de fiscalização sobre equipamentos de pesca proibidos.

Ainda sobre a Lagoa Mirim, no Rio Grande do Sul, consi-derando aspectos socioeconômicos e organizacionais dos pescadores, é possível verificar, em alguns locais, mudanças significativas na qualidade de vida, também perceptíveis na melhoria das artes de pesca, nas embarcações, nos lares e no patrimônio individual. Com relação a formas de organização, salienta-se a evolução dos pescadores na busca de soluções em grupo, aprendendo, participando e valorizando suas asso-ciações de classe. A consolidação de novas entidades, a cria-ção de estruturas de aporte de pescado e uma cooperativa de pescadores são uma amostra destas mudanças.

Entretanto a grande inovação têm sido as informações e as proposições advindas dos pescadores, utilizadas em todos os procedimentos de ordenamento e manejo. Com o conhecimento e a experiência da população usu-

ária, foi possível adequar e tornar praticáveis as contribuições técnicas, de forma a construir processos de gestão mais realistas. A utilização de fóruns representativos de comunidades pes-queiras, com o envolvimento dos segmentos interessados na busca de soluções, passando por representações classistas dos pescadores, instituições de pesquisa e governamentais e entidades da sociedade civil organizada, tem revelado ótimos resultados, principalmente, nos quesitos de regionalização das discussões, troca de conhecimentos e execução das medidas de ordenamento.

O Ceperg, com sua equipe, acompanha e monitora os trabalhos desde a implementação, mediando e participando ativamente das reade-quações necessárias. Organizar pessoas, trocar informações, deve ser um processo permanen-te para que os indivíduos e as comunidades tomem consciência do meio ambiente em que vivem e conheçam a dinâmica de uma pesca sustentável, adquirindo conheci-mentos, valores, habi-lidades, experiências e a determinação que os tornem aptos a resolver problemas relacionados com suas atividades e con-dições para sobreviver no presente e no futuro.

Com estas característi-cas é que estão sendo cons-truídos os modelos de ges-tão para o uso dos recursos pesqueiros nas regiões costei-ras estuarinas e lagunares do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, com o envolvimento de um público alvo expressivo. Cada complexo credencia a expansão das experiências para outras regiões e até outros sistemas de pesca mar-cados por conflitos similares. Como propósito principal, objetiva-se organi-zar as populações pesqueiras e demais atores que compõe o processo, buscan-do-se, conjuntamente, equilíbrio, conser-vação, sustentabilidade e sobrevivência.

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Guilherme Viana de Alencar

Analista ambiental do Ibama (concurso de 2002), engenheiro agrônomo for-mado pela Universidade Federal da Pa-raíba com mestrado (UFC) e doutorado em Solos e Nutrição de Plantas (UFV).

Trabalhou no Ibama no escritório regio-nal de Juiz de Fora/MG até 2009, foi transferido via concurso de remoção in-terna para a Supes/ES a fim de trabalhar no Núcleo de Licenciamento Ambiental e, atualmente, acumula funções (equipe técnica da IN-14 e setor de arrecadação desta superintendência).

Vitória, ES – Telefone: 27 3089-1192 Email: [email protected]

a l t e r a ç ã o d o c ó d i g o f l o r e s t a l :n e c e s s i d a d e o u r e t r o c e s s o ?

O Projeto de Lei n.º 1876/99, que tramita atualmente no Congresso Nacional, coloca em evidência a discussão de um tema polêmico para a sociedade, a alteração do Código Florestal. Antes deste projeto de lei, as vozes de contestação ao Código Florestal não apresentavam eco significativo junto aos meios de comunicação de massa, restringindo a insatisfação de infratores que não enten-diam qual crime estariam cometendo em estar mantendo a propriedade produtiva.

A palavra infratores passou a ser moldada indistinta-mente aos criminosos do meio ambiente, seja aquele indi-viduo que realizou a limpeza do solo em área de pousio utilizada historicamente para a agricultura, seja o grande empresário que desmatou uma vasta área para instalar um empreendimento de grande porte.

Neste contexto, o meio ambiente é tratado pela socie-dade conforme a vitrine exibida pelos meios de comu-nicação de massa e pela educação formal difundida pelas instituições de ensino em seus diferentes níveis. Além disso, observamos ONGs, ambientalistas, ecolo-gistas, naturalistas e várias outras correntes ideológicas

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CresCimento desordenado

do ambientalismo difundindo o caos ambiental para a sociedade e defendendo o endurecimento da legislação ambiental. Entretanto esquecem que a produção agrícola brasileira (principalmente, as altas produtividades) advém de um modelo agrícola secular aprimorado com as pesqui-sas científicas desenvolvidas em universidades e demais órgãos de pesquisa, entre os quais, não poderia deixar de citar a renomada Embrapa.

O Brasil passou boa parte de sua história marcado pelo descaso dos governantes para com as áreas de educação e saúde. O reflexo desta política do passado foi a desin-formação de boa parte da população que ficou alheia ou excluída da cidadania, repercutindo na ausência da par-ticipação popular influenciando o texto de leis e decretos que mexem na estrutura produtiva da economia. O Código Florestal, instituído em 1965, é um exemplo prático desta situação, representando um conjunto de normas criadas desvinculadas com a realidade socioeconômica rural e urbana do país, gerando a instabilidade econômica e jurídica na sociedade. Após 45 anos de vigência deste código, pouco ou nada mudou no panorama ambiental no Brasil, seja no que diz respeito à área de vegetação nativa nas áreas de preservação permanente, seja no que diz respeito à quantidade de imóveis agrícolas com reserva legal averbada.

O Brasil tem 5,1 milhões de estabeleci-mentos agrícolas, que ocupam uma área

de 329 milhões de ha, segundo dados do último Censo Agropecuário (IBGE, 2006). Neste levantamento, observa-se a seguin-te utilização da terra: 59 milhões de ha destinados a lavoura; 158 milhões de ha utilizados com pastagem; 90 milhões de ha, em matas e florestas; 8 milhões de ha, em sistemas agroflorestais e 14 milhões de ha, em outras utilizações, ocupando uma força de trabalho de 16 milhões de pessoas. No âmbito destes números, temos a agricul-tura familiar, que é exercida por 4.367.902 estabelecimentos agrícolas (84% dos esta-belecimentos brasileiros) e que ocupa uma área de 80,25 milhões de ha (24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecu-ários brasileiros). Já os estabelecimentos não familiares representam 15,6% do total destes estabelecimentos e ocupam 75,7% da área total. é deste setor primário da economia que é gerada toda a produção agrícola destinada à alimentação de mais de 170 milhões de brasileiros que vivem nas cidades, o qual funciona como propulsor de divisas significativas que repercutem posi-tivamente na balança comercial brasileira (exportações).

No Brasil, a história mostra as cidades nascendo às margens dos rios, onde edificações emergem desordenadamente nas áreas de preservação permanente, gerando um conflito com a legis-lação ambiental. De forma repressiva, os órgãos ambientais, o Ministério Público, o Poder Judiciário e as polícias civil, militar e federal tentam reagir ante a ocupação destas áreas. Por outro lado, vemos a realidade social, a pressão e a especulação imobi-liária invadindo estas áreas.

O que fazer diante de situações incoerentes nas quais a fiscalização ambiental multa uma pessoa por estar construin-do em área de preservação permanente enquanto que, ao se lançar o olhar ao redor do local da infração, num giro de 360°, verifica-se que as margens do rio situadas em perímetro urbano da cidade encontram-se inseridas em APP, com edificações já

concluídas? Será que a lei só vale para alguns ou para todos? Se a lei é para todos, quais ações civis públicas movidas pelos ministérios públi-cos (federal e estaduais) tiveram êxito no Brasil desde a publicação do Código Florestal e da Lei de Crimes Ambientais, determinando a demo-lição de todas essas edificações localizada em área de preservação permanente?

As propostas advindas do projeto de lei que altera o Código Florestal abordam pontos rele-vantes para discussão dos servidores da área ambiental à luz da verdade, da coerência, da rea-lidade social, do academicismo, do tecnicismo e da sustentabilidade ambiental.

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Pensar produção agrícola seguindo rigorosamente o que pressupõe toda a gama de leis, decretos, por-tarias e instruções normativas da área ambiental é condenar o modelo agrícola vigente ao retrocesso, ao aumento do custo de produção (encarecendo toda a cadeia produtiva), ao êxodo rural e à miséria de boa parte da população rural.

Imagine uma propriedade rural seguindo a legislação ambiental na íntegra, quais as infrações que verificaría-mos no ato da fiscalização: adubos químicos aplicados ao solo são lixiviados parcialmente para o subsolo, con-taminando o lençol freático, principalmente, por amônia, fósforo e potássio (infração: poluição); abertura de uma trilha na mata ciliar para acesso de animais domésticos ao córrego, visando a dessedentação (infração: interven-ção em área de preservação permanente); cortar e incor-porar ao solo vegetação de capoeira em área agrícola deixada em pousio por alguns anos visando a resgate da fertilidade do solo (infração: multa por desmate em área em processo de regeneração); retirar algumas estacas provenientes de uma mata da propriedade para reali-zar a manutenção da cerca (infração: desmatamento); construir um pequeno tanque destinado a atividade de piscicultura próximo a um córrego (infração: intervenção em área de preservação permanente); abrir estrada de terra dentro da propriedade para viabilizar o escoamento da produção agrícola (infração: desmate, degradação ambiental); captar água de uma nascente para consumo doméstico (infração: intervenção em APP sem autoriza-ção) – entre outros milhares de exemplos.

Imagine o Ibama fiscalizando mais de cinco milhões de propriedades agrícolas, verificando a regularidade ambien-tal conforme todas as exigências estabelecidas pela legis-lação vigente. Primeiro, o Ibama necessitaria multiplicar, várias vezes, o efetivo atual de servidores para realizar esse trabalho. Segundo, levando-se em conta todas as autorizações e licenças ambientais que o produtor neces-sitaria para manter a atividade econômica em plena produ-ção e considerando-se a gigantesca máquina burocrática do serviço público, toda a economia agrícola entraria em colapso. Terceiro, haveria a redução drástica das áreas dis-poníveis para o desenvolvimento da agricultura.

Estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, nas áreas cortadas por topografia acentuada de montanhas e morros, têm a mínima área útil destinada a agricultura intensiva ou permanente situada às margens dos recur-sos hídricos (rios, córregos, lagos, barragens, represas). Nestas áreas, cujo plantio de café e outras culturas per-manentes é tradição, a ocupação destas culturas ocorre em encostas muito íngremes e no topo de morros (áreas de preservação permanente). Como aplicar a legislação ambiental numa propriedade agrícola cujo agricultor,

marcado pelas mãos calejantes, fisionomia cansada e jornada de trabalho de sol a sol, tem o seu único rendimento para sustento da família retirado da agricul-tura? Muitos defendem a tese de que se trata de produção de subsistência – portanto, existe a complacência da legislação ambiental, que consi-dera como intervenções de baixo impacto. Entretanto esquecem-se de que, no meio rural, exis-tem micro, pequenos, médios e grandes proprietários. Mas será que a legislação ambien-tal é democrática ou discrimi-natória? Existe a legislação ambiental para o pequeno

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produtor e a legislação ambiental severa para os grandes produtores? Será que, em termos de impacto ambiental, numa bacia hidrográfica com a presença de várias pro-priedades pequenas, o meio ambiente é menos impacta-do (ou de impactos insignificantes, desprezíveis) do que numa grande propriedade?

Esses conceitos só podem ser vencidos e compreen-didos por nós, servidores da área ambiental, pesquisa-dores, professores universitários, acadêmicos em geral e técnicos extensionistas, se compreendermos que a complexidade da estabilidade e da resiliência do meio ambiente pode ser mantida com uma produção agrícola sustentável, cujas técnicas adotadas para superar dife-rentes dificuldades física, química ou biológica do solo são citadas em vasta literatura técnico-científica.

Outro fato importante, nesta discussão, é a avaliação de impactos ambientais. A subjetividade na avaliação destes impactos leva o analista ambiental a entrar numa zona cinza para mensurar esses danos, cuja ausência de uma metodologia padrão faz com que a defesa do autuado, quando bem orientada por bons advogados, refute argumentos do agente autu-ante, questione o laudo de vistoria e suscite dúvidas jurídicas. é essa zona cinza, quando não bem caracterizada pelo analista ambiental com argu-mentos sólidos baseados em infor-mações e dados técnico-científicos, que faz com que os autos de infração lavrados pelos fiscais do Ibama cor-ram risco iminente de acometimento de vícios insanáveis, que podem gerar o cancelamento destes autos.

Em prol de uma bandeira de preservação ambiental, cujo aprofundamento das discussões e cuja visão socioeconômica do tema são deixados de lado, engessa-se o crescimento e o desenvolvimento do Brasil e cria-se a indústria das multas. O Ibama possui milhares de processos administrativos gerados pelas multas imputa-das aos infratores ambientais, muitos, reincidentes, o que demonstra a necessidade de mudança e aperfeiçoamento deste modelo institucional de gestão do meio ambiente priorizando resultados realmente efetivos na mudança de atitude do infrator e possibilitando ganhos ambientais reais para a sociedade.

Embora se enfatize o Código Florestal com uma cono-tação rural, deve-se observar que, nas áreas urbanas, os efeitos colaterais deste código são ainda maiores. Como não seria diferente, a forma de ocupação humana no espaço geográfico do território brasileiro e a busca por

fontes d’água que dessem condições para a instalação de aglomerados humanos foram a base da origem de mais de 5.000 municípios brasileiros. Lembremos que as grandes civi-lizações da história da humanidade (persas, egípcios etc.) tiveram seus berços às margens de grandes rios (Nilo, Tigre, Eufrates, entre outros).

A visão de reserva legal, no contexto de bacia hidrográfica em regime de condomínio, e a isenção de sua exigibilidade em pequenas propriedades ou posse rural (preservado-se os fragmentos remanescentes existentes) é mais viável e aplicável efetivamente, representando um real ganho ambiental em comparação com o modelo vigente? A largura da área de preser-vação permanente deve ser mantida engessa-da para o Brasil inteiro ou devem-se readequar as larguras destas áreas, mantendo sua função biológica e viabilizando a adoção de uma agri-cultura sustentável no seu entorno?

Importante observar que a essência do Código Florestal não será descaracterizada com a aprovação deste proje-to de lei e, sim, haverá a ade-quação à realidade socioeco-nômica do país, que permitirá destravar um setor produti-vo que, cada vez mais, vem sendo penalizado por uma legislação desconectada com a realidade da sociedade.

O Ibama, autarquia pública federal criada em 1988 para executar a Política Nacional do Meio Ambiente, enfrenta, atual-mente, o paradigma surgido do embate entre crescimento x desenvolvimento x sustentabili-dade. é esse embate que moldará as iniciativas de alteração da legislação ambiental vigente.

Importante, também, destacar que, diferen-temente de épocas passadas, a discussão de novos temas ambientais exigirá de nós, servi-dores da área ambiental, a percepção dos com-ponentes socioeconômicos e da realidade do país. O inverso desse caminho representará o retrocesso no que diz respeito à criação de uma legislação ambiental moderna, justa, sustentá-vel e de aplicabilidade efetiva.

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gestão Por comPetências no ibama: Por qUe não?

O objetivo deste artigo é apresentar a gestão por competências e provocar uma reflexão sobre os benefícios que esse modelo de gestão poderia trazer para o Ibama. A motivação para escrevê-lo surgiu da recente participação nos cursos de Gestão por Competências e Elaboração de Planos de Capacitação, promovidos pela Escola Nacional de Administração Pública – Enap.

Alguns conceitos

O Decreto n.º 5.707, de 23 de fevereiro de 2006, que instituiu a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal, define compe-tência como sendo o “conjunto de conheci-mentos, habilidades e atitudes necessárias ao desempenho das funções dos servidores, visando ao alcance dos objetivos da instituição.

A Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal tem como finalidades: melhoria da eficiência, eficácia e qualidade dos serviços públicos prestados aos cidadãos; desenvolvi-mento permanente do servidor público; ade-quação das competências requeridas dos ser-vidores aos objetivos das instituições, tendo como referência o Plano Plurianual; divulga-ção e gerenciamento das ações de capacita-ção; racionalização e efetividade dos gastos com capacitação.

Adenilson Perin

Analista ambiental ingresso no Ibama em 2005. Lotação inicial no escritório regional de Ariquemes - RO, onde per-maneceu por três anos. Em meados de 2009, foi removido para a superinten-dência de Santa Catarina, tendo sido lo-tado no núcleo de Recursos Humanos. É formado em Administração de Em-presas e tem mestrado em Engenharia de Produção, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Florianópolis, SC Telefone: 48 3212-3325 Email: [email protected]

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As competências dividem-se em institucionais e indi-viduais. As competências institucionais representam as expectativas da sociedade, dos usuários dos serviços públicos, em relação ao desempenho da instituição. As competências individuais expressam as expectativas da instituição em relação ao desempenho de seus servidores.

Discutindo um modelo de gestão por competências

A gestão por competências deve ser adaptada à rea-lidade de cada instituição, pois não existe um modelo pronto. Porém é recomendável seguir um roteiro, pas-sando por algumas etapas. Brandão e Bahry, citados na apostila da Enap (2010), sugerem um modelo de gestão por competências, composto pelas seguintes etapas:

1. Formulação da estratégia organizacional: definir missão, visão de futuro e objetivos estratégicos, além de estabelecer indicadores de desempenho e metas.

2. Mapeamento de competências: identificar as com-petências necessárias e inventariar as competên-cias existentes, visando a identificar as lacunas de competências e planejar o desenvolvimento.

3. Desenvolvimento de competências: selecionar competências e definir mecanismos de desenvolvi-mento.

4. Acompanhamento e avaliação: apurar os resul-tados alcançados e comparar com os resultados esperados.

5. Retribuição: reconhecer e premiar o bom desem-penho.

Quanto à formulação da estratégia organizacional, o Ibama definiu como sua missão: executar as políticas públicas de meio ambiente, referentes às atribuições federais permanentes, visando a garantir a preservação e o uso sustentável dos recursos ambientais, de forma integrada, descentralizada e supletiva, para as pre-sentes e futuras gerações. Visão de futuro? Objetivos estratégicos? Indicadores de desempenho e metas?

De acordo com o Regimento Interno, são finalidades do Ibama:

• executaraspolíticasnacionaisdemeioambiente,referentes às atribuições federais permanentes, relativas à preservação, à conservação e ao uso sustentável dos recursos ambientais e sua fiscali-zação, monitoramento e controle, observadas as

diretrizes emanadas do Ministério do Meio Ambiente;

• executarasaçõessupletivasdaUnião,deconformidade com a legislação ambiental vigente;

• exerceropoderdepolíciaambientaldeâmbito federal.

Seriam estes os objetivos estratégicos?

O mapeamento de competências tem como propósito identificar a lacuna de com-petências, ou seja, a discrepância entre as competências necessárias para concretizar a estratégia institucional e as competências internas da organização. Atualmente, isso não é levado em conta no Ibama. Não se tem muita clareza da estratégia institucional e tampouco das competências internas. é pre-ciso, por exemplo, que o servidor internalize que sua parcela diária de colaboração está contribuindo para a “preservação dos recur-sos ambientais para as presentes e futuras gerações”. A falta deste “link” pode ser um dos fatores da desmotivação de muitos ser-vidores.

Ligada ao mapeamento por competências, a descrição das atribuições dos ocupantes dos cargos da Carreira de Especialista em Meio Ambiente – Lei 10.410/02 – é muito genérica. Esta é outra questão que merece ser discutida, visando a tornar as atribuições mais claras para que as competências pos-sam ser mapeadas e as lacunas resolvidas.

O desenvolvimento de competências refe-re-se à capacitação dos servidores. Como é o processo de capacitação dos servidores do Ibama? Não se têm critérios bem definidos. Não se tem clareza das lacunas de compe-tências do servidor, o que é que falta para ele desempenhar a atividade ligada ao setor de lotação ou às atribuições do cargo. Isso vale tanto para as chefias como para os subor-dinados. Então, mesmo quando o servidor tem a oportunidade de participar de algum curso ou evento, não se sabe o quanto ele aprendeu, se tal conhecimento foi útil para o setor onde atua, se havia aquela lacuna de competência.

Sobre o acompanhamento e a avaliação, o Decreto n.º 7.133, de 19 de março de 2010,

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regulamenta os critérios e procedimentos gerais a ser observados para a realização das avaliações de desempenho individual e institucional.

O art. 4º diz que “a avaliação de desempenho individual será feita com base em critérios e fatores que reflitam as competências do servidor, aferidas no desempenho individual das tarefas e atividades a ele atribuídas.

O art. 5.º trata da avaliação institucional: “a avaliação de desempenho institucional visa a aferir o alcance das metas organizacionais, podendo considerar projetos e atividades prioritárias e condições especiais de trabalho, além de outras características específicas”.

Então, aquela avaliação de desempenho indi-vidual aplicada atualmente, muitas vezes, um “faz de conta”, terá de se adequar à nova legislação até 2012. Notem o que diz o art. 4.º: “será feita com base em critérios e fatores que reflitam as compe-tências do servidor...”. Vejam como está tudo inter-ligado: a avaliação de desempenho considerando as competências dos servidores.

A retribuição é a última etapa. No Ibama, não se reconhece nem se premia o bom desempenho. Este pode ser outro fator de desmotivação.

Considerações finais

A gestão por competências na administração pública é uma política de governo e as instituições terão de se adequar. Afinal, a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal é uma realidade.

O Ibama deveria começar a discutir o assunto. Uma boa oportunidade seria agregar a gestão por competências ao novo processo de avaliação de desempenho, a ser implantado a partir de 2012.

A Enap, através de seus instrutores, oferece orientação às instituições que tenham interesse em implantar a gestão por competências, bastan-do que seja formalizado o interesse. Fica a suges-tão aos colegas que se identificam com esta dis-cussão: procurem participar dos cursos de Gestão por Competências e Elaboração de Planos de Capacitação da Enap. Quanto aos colegas que já participaram destes cursos, fica o convite para que disseminem a idéia nos seus locais de trabalho e levem ao conhecimento dos superiores.

é bom lembrar que o Ibama tem um grande trunfo, que é sua marca, construída durante sua curta história de 21 anos. Por qualquer canto do país em que se ande, a população conhece ou já ouviu falar do Ibama. A implantação da gestão por competências, aliada a esta característi-ca, fortalecerá ainda mais a instituição e todos ganharão com isso.

Por fim, vale citar que o Brasil já conta com uma série de experiências bem-sucedidas de gestão por competências no setor público federal, entre elas: Presidência da República, Petrobras, Banco do Brasil, Eletronorte, Caixa Econômica Federal, CNPq, Embrapa, Ministério da Educação, Aneel, Superior Tribunal de Justiça, Camara dos Deputados, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Todas estas instituições já implan-taram a gestão por competências e estão nos mais diversos estágios, sendo que algumas já possuem, inclusive, universidades corporativas.

Referências Bibliográficas

• Decreton.º5.707,de23defevereirode2006.Institui a Política Nacional de Desenvolvimento de Pessoal.

• Decreton.º 7.133, de19demarçode2010.Regulamenta os critérios e procedimentos gerais a ser observados para a realização das avaliações de desempenho individual e institu-cional.

• Lei 10.410/02.Criaedisciplinaa carreiradeEspecialista em Meio Ambiente.

• RegimentoInternodoIbama.

• Apostilas dos cursos de Gestão porCompetências e Elaboração de Planos de Capacitação, promovidos pela Enap (2010), em parceria com outras instituições.

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sensibiliza a comunidade para as questões ambientais

Projeto de educaçãoambiental

Com o sugestivo nome de “Projeto Casa Verde”, a superintendência do Ibama na Paraíba vem desenvolven-do ações que envolvem a colaboração dos seus servido-res em todos os níveis, visando a atrair e atender a comu-nidade paraibana em seus questionamentos relativos à problemática ambiental.

O Projeto Casa Verde é coordenado por equipe compos-ta por duas analistas e um técnico do Núcleo de Educação Ambiental do Ibama/PB: Maria de Lordes Almeida, Arinalda Cordeiro e Francisco das Chagas Pereira, contando ainda com a colaboração do analista Gutemberg de Pádua Melo, da Assessoria de Comunicação Social, estabelecendo-se uma parceria bastante proveitosa para a participação em eventos que levem a imagem do Ibama aos mais diversos locais assim como para a divulgação das ações e dos pro-jetos em andamento.

Além das ações de suporte às atividades técnicas do órgão, o Núcleo de Educação Ambiental elabora campa-nhas educativas, trabalha em parceria constante com as demais instituições da administração municipal, estadual

Gutemberg de Pádua Melo

É analista do Ibama/PB, jornalista, rela-ções públicas e especialista em Educa-ção Ambiental.

João Pessoa, PBTelefone: 83 3244-3228 Email: [email protected]

e federal, ONGs e a comunidade em geral. Promove, ainda, a capacitação em Educação Ambiental para professores e técnicos por meio de aulas presenciais e a distância e faz-se presente em eventos ambientais e ativida-des pontuais diversas relacionadas ao meio ambiente, recorrendo a exposições temáticas itinerantes com painéis apresentando fotogra-fias, banners e material informativo do Ibama.

No caso específico do Projeto Casa Verde, sua dinâmica consiste em receber visitantes, estudantes, pesquisadores etc., que são aten-didos com palestras e apresentação de um vídeo educativo, seguidas de uma caminhada pelas trilhas da Mata do Buraquinho, que é uma Área de Preservação Permanente carac-terizada por possuir um ecossistema de mata atlântica. No local, também funciona a sede da superintendência do Ibama na Paraíba, o que nos torna particularmente bem dotados para realizar um trabalho dessa natureza.

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A MATA DO BURAQUINHO

Aspectos geográficos e históricosA Mata do Buraquinho, atualmente, tem sua área total

estimada em 515 hectares, estando localizada no centro geográfico da cidade de João Pessoa. O local se caracte-riza por possuir uma cobertura vegetal natural com muitas essências florestais nativas e espécies animais ameaça-das de extinção, cuja sobrevivência é fundamental para a proteção do próprio ecossistema, que é típico de mata atlântica costeira do Nordeste Brasileiro, assentada em solo regionalmente conhecido por “tabuleiro costeiro”.

Seu curioso nome está ligado à declividade natu-ral do terreno e dos seus 515 ha, uma parte com 349 ha pertencente ao jardim botânico de João Pessoa, a outra, com 166 ha, sob administração do Ibama. As construções existentes em seu interior, erguidas no início dos anos cinquenta, já foram sede do Serviço Florestal Brasileiro e, décadas depois, do IBDF, sendo, atualmente, patrimônio do Ibama.

Os cuidados por parte dos órgãos ligados à adminis-tração da cidade em fazer do lugar uma área de reserva florestal datam de mais de um século, quando o presi-dente Gama e Melo, com o Decreto n.º 134, de 11 de março de 1899, determinou sua condição de utilidade pública para fins de desapropriação, destinando a área para conservação e represamento das águas do rio Jaguaribe, para serem utilizadas no sistema de abaste-cimento de água da capital.

O Decreto Federal n.º 98.181, de 26 de setembro de 1989, transformou a área em uma APP (Área de Preservação Permanente), garantindo, assim, cuida-dos constantes com a manutenção e a conservação da sua flora ainda exuberante, de suas fontes de água potável e dos espécimes da fauna que aqui encontram refúgio. Sendo um resquício da Mata Atlântica, é impor-tante como fonte de pesquisas, podendo ser muito utilizada para a educação ambiental. A conservação de uma vegetação densa próxima a um centro urbano também contribui para amenizar o clima, tornando a temperatura mais agradável e o ar menos poluído.

PROJETO CASA VERDE

Ações desenvolvidas em 2010Dessa maneira, o Projeto Casa Verde é a principal

vitrine que o Ibama/PB tem para atrair a comunidade local, as escolas, grupos de visitantes oriundos de outras cidades, estados e países, pesquisadores etc., aproveitando seu interesse em conhecer um ecossis-

tema de mata atlântica para sensibilizá-los para as questões ligadas à preservação do meio ambiente. A principal ação desenvolvi-da neste trabalho, é o atendimento diário ao público em geral por meio de visitas agenda-das com antecedência, com apresentação de palestras, exibição de vídeos educativos, encerrando-se as atividades com uma cami-nhada nas trilhas da Mata do Buraquinho.

O Projeto Casa Verde atende indiscrimina-damente às solicitações oriundas dos vários segmentos da sociedade, tais como escolas municipais, estaduais e particulares em todos os níveis de ensino, inclusive universidades e outras instituições e entidades que entram em contato com a administração do Ibama/PB para participar das atividades disponibili-zadas pelo Núcleo de Educação Ambiental.

Os temas abordados nas palestras e vídeos são de grande importância no auxí-lio aos professores para desenvolver, com seus alunos, práticas visando à melhor assimilação de teorias relacionadas com as questões ambientais.

No exercício de 2010, o Projeto Casa Verde atendeu a um total de 1.175 pessoas oriundas do público escolar que nos procu-rou. Com as demais atividades realizadas externamente, o Ibama/PB alcançou também um grande número de pessoas, das quais se espera a multiplicação da mensagem de preservação do meio ambiente para a cons-trução de uma sociedade sustentável.

Na estrutura do prédio onde funciona o Núcleo de Educação Ambiental, existe um excelente espaço, no hall de entrada, o qual é utilizado para exibição permanente de mate-rial educativo sobre o meio ambiente e ações do Ibama assim como para sensibilização dos visitantes com a instalação de equipa-mentos para desenvolvimento de dinâmicas e instrumentalização voltada para educação ambiental, tais como o ambiente montado para sensibilizar contra o tráfico de animais silvestres, no qual foi instalada a “caixa do mamífero predador”, conforme sugestão do renomado analista prof. Genebaldo Freire, equipamento este que causa surpresa e estranheza ao observador, que, ao interagir, vê-se refletido no papel de predador das demais espécies e cujo objetivo é fomentar a discussão sobre problemas relacionados à conservação das espécies e à reavaliação do nosso modelo de antropocentrismo.

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Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagem

em Perigo de Extinção

Importância da Cites

A Convenção sobre Comércio Internacional das Espécies da Flora e Fauna Selvagem em Perigo de Extinção (Cites) regulamenta o comércio internacional de espécies amea-çadas de extinção com o objetivo de garantir que o comércio internacional não ameace as populações naturais da fauna e flora. As pri-meiras idéias dessa convenção começaram a ser esboçadas no ano de 1960, quando foi realizada a 7.ª Assembléia Geral da União Internacional para a Conservação da Natureza e seus Recursos Naturais (UICN), hoje, deno-minada União Mundial para a Natureza.

Essa assembléia conclamou os governos para limitar suas importações de animais em

Claudia Maria Correia de Mello

Engenheira agrônoma com mestrado em botânica e analista ambiental do Ibama (coordenadora de Proteção e Conservação Florestal/DBFlo).

Brasília, DF – Telefone: 61 3316-1258 Email: [email protected] e

Henrique Anatole Cardoso Ramos

Biólogo com mestrado em Ecologia e analista ambiental do Ibama (DBFlo).

Brasília, DF – Telefone: 61 3316-1258 [email protected]

Espécies da flora e da fauna selvagem em perigo de extinção

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consonância com as regulamentações de exportação dos países de origem. A implementação da proposta não poderia avançar sem regulamentação já que não havia nenhum acordo formal que permitisse aos países importadores conhecer as regulamentações dos países de exportação.

Deu-se início à elaboração de um texto e, em 1964, surgiu o primeiro projeto da convenção. Na Assembleia Geral da UICN em 1969, foi apresentada uma lista de espécies que estariam sob controle. Em 1971, foi distri-buído um segundo projeto.

Em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, aprovou uma recomendação ratificando o projeto da convenção. Este projeto surgiu em uma conferência celebrada em Washington em fevereiro de 1973, da qual participaram 88 países.

Em 3 de março de 1973, 21 países subscreveram a Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Selvagens (Cites), tam-bém conhecida como Convenção de Washington, que entrou em vigor em 1° de julho de 1975.

Os estados que aderem à convenção são conhe-cidos como partes. Apesar de a Cites ser legalmente vinculante, ou seja, de as partes terem a obrigação de aplicá-la, este efeito vinculante não suplanta as legislações nacionais. Entretanto oferece um modelo que deve ser respeitado por cada uma das partes, que devem promulgar sua própria legislação nacional

para garantir a aplicabilidade da Cites em escala nacional.

O Brasil é signatário da Cites desde 1975, quando houve sua aprovação e pro-mulgação pelo Decreto Legislativo n.º 54, de 24 de junho de 1975, e promulgada pelo Decreto n.° 76.623, de 17 de novembro de 1975, tendo sido alterada pelo Decreto Legislativo n.º 35, de 5 de dezembro de 1985, e promulgada pelo Decreto n.º 92.446, de 7 de março de 1986.

As disposições sobre a implementação da Cites no país estão estabelecidas no Decreto n.º 3.607, de 21 de setembro de 2000. Este decreto, entre outras providên-cias, designa o Ibama como autoridade administrativa e científica, podendo o órgão nomear outras autoridades científicas. O Ministério das Relações Exteriores, repre-sentado por sua Divisão de Meio Ambiente (DEMA), tem o papel de acompanhar, diri-gir e orientar a posição oficial brasileira em reuniões, conferências, organismos, nego-ciações e foros da Cites.

Por se tratar de uma convenção voltada ao controle do comércio e, consequente-mente, focada no uso, a Cites permaneceu com o Ibama após a divisão institucional ocorrida em 2007.

Importância da Cites O grande volume de animais e plantas

silvestres comercializado internacional-mente, assim como a destruição de habi-tats, pode reduzir as populações naturais até o ponto em que a sobrevivência dessas espécies seja comprometida.

Hoje, podemos contabilizar a extinção de várias espécies bem como daquelas que estão em vias de extinção. A falta de criação e implementação de medidas de proteção, conservação e gestão da fauna e da flora contribuíram para esse panorama, motivo pelo qual a sobrevivência de algumas espé-cies depende da manutenção em cativeiro.

Algumas espécies ainda não se encon-tram ameaçadas de extinção mas poderão

Espécies da flora e da fauna selvagem em perigo de extinção

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estar, a menos que se evite um nível de utili-zação incompatível com a sua sobrevivência. Assegurar que a fauna e a flora submetidas ao comércio internacional sejam exploradas de maneira sustentável é a principal missão desta convenção.

Entretanto não basta apenas o esforço exclusivo do país de origem das espécies para protegê-las uma vez que a colaboração de outros países para controlar o comércio é necessária para que as ações sejam efetivas. Assim, percebe-se que, ao longo dos anos, a Cites tem sido um dos acordos ambientais mais importantes para a conservação e o uso sustentável de espécies, contando, atualmen-te, com a participação de 175 países.

Como funciona a CitesA Cites estabelece um modelo jurídico inter-

nacional para prevenir o comércio de espécies em perigo de extinção e regular, de forma efi-caz, o comércio das outras espécies. Atribui aos países produtores e consumidores res-ponsabilidades comuns e cria os mecanismos necessários para impulsionar a cooperação internacional, que é essencial para que assu-mam tais responsabilidades. Também prevê a vigilância do comércio internacional e determi-na, em seus anexos, as espécies da fauna e da flora silvestres que estão protegidas.

A Cites regulamenta o comércio interna-cional, ou seja, a exportação, a reexportação, a importação e a introdução procedente do mar de animais e plantas vivos ou mortos e de suas partes ou derivados mediante um sistema de licenças.

A expedição de licenças e certificados depende do cumprimento de certas condições, tais como: 1) o comércio pode prejudicar a sobrevivência de uma espécie?; 2) os exem-plares foram adquiridos de forma lícita?; e 3) as condições para o transporte estão adequadas?

Aproximadamente, cinco mil espécies de animais e 30 mil espécies de plantas são pro-tegidas pela Cites. Elas estão incluídas em três anexos, segundo o grau de proteção que necessitam, impondo-se diferentes exigências e restrições ao trânsito internacional:

●AnexoI–Asespéciesqueestãoemperigodeextinção, para as quais o comércio será submetido ou controlado por uma regulamentação particu-larmente restritiva e com autorização somente em casos em que a exportação seja, de alguma forma, benéfica para a espécie em questão.

●AnexoII–Asespéciesquehojenãoseencon-tram necessariamente ameaçadas de extinção mas podem chegar a esta situação se o comércio não estiver regulamentado. Além disso, encontram-se, neste anexo, as denominadas espécies simila-res, que são objeto de controle em razão da sua semelhança com outras espécies regulamenta-das. Exemplares de espécies incluídas no Anexo I, quando comprovadamente criados em cativeiro, podem ser exportados a partir da segunda geração (F2), sendo tratados como espécimes do Anexo II.

●AnexoIII–asespéciessubmetidasaregula-mentos dentro da jurisdição de uma parte e cuja exploração não se pode controlar sem a coopera-ção de outras partes.

Os anexos incluem alguns grupos inteiros, como primatas, cetáceos (baleias, golfinhos e toninhas), tartarugas-marinhas, papagaios e ara-ras, cavalos-marinhos, corais duros, cactáceas e orquídeas. Em alguns casos, só uma subespécie ou população geograficamente separada (por exemplo, a população de só um país) é listada.

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Como uma espécie entra nos anexos da Cites

Em uma periodicidade de três em três anos, ocorre a Conferência das Partes (CoP), quando os países sig-natários da convenção se reúnem com a finalidade de incluir espécies nos anexos ou deles excluir espécies bem como avaliar as resoluções, decisões e outros temas relativos à convenção. é, neste momento, que as partes têm a oportunidade de apresentar e discutir suas propostas sobre as espécies constantes nos anexos.

A inclusão, a retirada ou a mudança de uma espécie nos apêndices I ou II dependem de aprovação de 2/3 das partes presentes. Alterações no Apêndice III, entre-tanto, dependem apenas da parte interessada e podem ser efetuadas a qualquer tempo, independentemente da realização da CoP.

O Brasil vem trabalhando para ser mais atuante nestas reuniões e, em 2007, propusemos a entrada do pau-brasil (Caesalpinia echinata) no Anexo II; depois, em 2010, apresentamos a proposta da entrada do pau-rosa (Aniba rosaeodora), também, no anexo II. Ambas as propostas foram aprovadas por unanimidade.

Implementação da Cites no BrasilDiversas ações vêm sendo tomadas no Brasil nos

últimos anos com base no Decreto n.º 3.607/00 e em resoluções Cites aprovadas nas CoPs com o objetivo de fortalecer a implementação da Cites no país, difundir a convenção e conseguir mais espaço institucionalmente.

Talvez, a mais significante das iniciativas tenha sido a criação do Siscites, que entrou em funcionamento em outubro de 2006. Trata-se de um sistema de solicitação e emissão de licenças do Ibama para a importação, exportação e reexportação de espécimes, produtos e subprodutos da fauna e da flora silvestres brasileiras e da fauna exótica, constantes ou não nos anexos da Cites. Esse sistema faz parte dos serviços on line dis-poníveis na página eletrônica do Ibama e fez com que houvesse maior transparência e agilidade nos trâmites para obtenção de uma licença Cites. Ele permite que o requerente acompanhe o status do seu pedido, sendo também informado, por meio de mensagens eletrônicas, sobre o andamento do seu requerimento.

Em 2007, o Ibama publicou a Instrução Normativa Ibama n.º 160/07, criando o Cadastro Nacional de Coleções Biológicas (CCBIo). Esse cadastro tem por obje-

tivo o registro das instituições científicas a fim de facilitar o intercâmbio científico, o que vai ao encontro da Resolução Conf. 11.15 da Cites. A norma vinculava o CCBIo ao recém-criado Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (Sisbio). Entretanto, com a divisão do Ibama no mesmo ano, esse sistema ficou sob jurisdição do ICMBio, e a norma que criava a CCBIo ficou no limbo, sem aplicações práticas naquele momento.

O debate sobre essa norma foi resgata-do nesse ano e, segundo os administrado-res do sistema, o módulo do Sisbio relativo às coleções biológicas está pronto para ser implementado. Resta harmonizá-lo com as necessidades de comunicação com o Ibama e, dessa forma, resgatar a iniciativa.

Em 2009, o Ibama especificou as auto-ridades científicas no Brasil, tendo, inclu-sive, designado outras instituições para realizar a função, conforme a Portaria Ibama n.º 23/2009.

São elas:

• CGREF – Coordenação Geral deAutorização do Uso da Flora e Floresta;

• CGFAP – Coordenação Geral deAutorização de Uso e Gestão de Fauna e Recursos Pesqueiros;

• ICMBIoeseuscentrosespecializados;

• LaboratóriodeProdutosFlorestaisdoServiço Florestal Brasileiro; e

• JardimBotânicodoRiodeJaneiro.

Entre as atribuições das autoridades cien-tíficas, está a de assessoramento à autori-dade administrativa, produção de parece-res sobre coletas/extrações não prejudiciais, supervisionar o comércio nacional, além de outros aspectos científicos relevantes.

Em janeiro de 2010, entrou em vigor a IN n.º 11/2009, que designa os portos e aeroportos de entrada/saída de espécimes Cites. Somente nestes pontos é que está permitida a transação de espécimes Cites.

Além disso, ao longo dos últimos anos, também foram disponibilizadas cartilhas

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explicativas sobre a Cites pelo setor de fauna, enquanto, paralelamente, os setores de flora e pesca disponibilizaram informações diversas no site do Ibama para consulta e informação ao público. O setor de flora ainda produziu um DVD para treinamento dos fiscais naque-la área, além de disponibilizar um manual de diferenciação de madeiras similares ao mogno (Swietenia macrophylla), produzido pelo Laboratório de Produtos Florestais (LPF), e a tradução de uma cartilha tailandesa sobre a diferenciação entre orquídeas coletadas e reproduzidas artificialmente.

Mais recentemente, foi realizado, nos dias 19 e 20 de outubro, uma oficina de capacita-ção em Cites do Ibama, da qual participaram 22 analistas ambientais de todo o país.

Perspectivas para o FuturoMuitas das iniciativas de divulgação e

capacitação para a Cites têm partido separa-damente das diferentes coordenações envol-vidas – Fauna, flora e recursos pesqueiros. Além disso, a emissão das licenças está pul-verizada entre as mesmas coordenações, dei-xando a desejar um pouco mais de integração entre elas. Para acelerar o processo de emis-são, assim como centralizar as discussões e iniciativas quanto à implementação e divul-gação da Cites no país, está em estudo, na DBFLo, a possibilidade de se criar um núcleo especializado para emissão de licenças e ges-tão de assuntos relacionados com a Cites.

A emissão de uma licença Cites significa que a espécie foi obtida de forma sustentá-vel, cumprindo a legislação interna do país e, também, de acordo com os preceitos da Cites. Atualmente, a verificação da origem da espécie é feita fisicamente, por meio de análi-

se documental ou consultas a outros sistemas do Ibama, como o Documento de Origem Florestal (DOF), Sisfauna, SISBIo e, futuramente, o DOP (Documento de Origem de Pescado).

Está em estudo, no entanto, a integração desses sistemas com o Siscites, o que dará uma maior celeridade, além de uma maior segurança, ao processo de emissão da licença de exportação Cites. Juntamente com essa integração, será ava-liada a possibilidade de se integrar ao sistema um mecanismo de certificação/assinatura digital.

As modificações citadas acima fazem parte do processo de revisão e adequação do Siscites às necessidades dos seus usuários e, recente-mente, ao Toolkit, aprovado pela Cites, conforme a Decisão Cites 15.54, que deverá ser adotado por todos os países- membros. Com todas essas ações, espera-se possibilitar maior celeridade ao processo de emissão de licenças, melhorar o controle e dar mais visibilidade a essa importante convenção, dentro e fora do Ibama.

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O PODER DE POLÍCIAADMINISTRATIVA E A AÇÃO DO

AGENTE AMBIENTAL

Introduçãoé ainda recorrente, nos dias atuais, a argu-

mentação, utilizada em defesas apresentadas pelos autuados por supostas infrações admi-nistrativas contra o meio ambiente, de que o agente público não é competente para lavrar auto de infração.

No artigo que apresentei face à conclusão do curso de pós-graduação a distância da faculdade Fatec/Uninter, ofereço um estudo embasado na legislação vigente, desde a Constituição de 1988 até os dias atuais, com apoio bibliográfico de alguns autores. Cito também caso ocorrido no Ibama na década de 90, em que o nosso órgão, principal exe-

cutor das políticas nacionais de proteção ao meio ambiente, encontrou problemas

de sustentação legal da sua principal atividade-fim. Na época, a legali-

dade de um ato administrativo rendeu-se ao duplo grau de

jurisdição dentro do esta-

Gilmar Kerber, 47 anos, natural de São Vendelino/RS, é analista ambiental do Ibama. Bacharel em Ciências Contá-beis, foi funcionário do Banco do Brasil em Mato Grosso do Sul durante quinze anos, de 1987 a 2002. Tomou posse no Ibama em 11/11/2002 na Gerência Executiva II, em Sinop/MT. Ocupou ainda o cargo de chefe de escritório re-gional da SEAP/PR em Mato Grosso do Sul nos anos de 2004 e 2005.

Com residência em Campo Grande, é lotado atualmente no gabinete da Su-pes/MS, onde exerce a função de as-sessor. Também atua como membro do Colegiado Autoridade Julgadora, nas disposições do art. 2.º da Instrução Normativa 14/09. É aluno do curso de pós-graduação a distância em Direito Ambiental pela Fatec/Uninter, em fase de conclusão.

Sua orientadora da pós-graduação é Maria Terezinha Antoniazzi, professo-ra, graduada em Direito, especialista em Direito Constitucional, advogada e Juíza Leiga designada pelo TJ/PR, orien-tadora do curso de Pós-Graduação em Direito Ambiental pela Fatec/Uninter.

Campo Grande, MSTelefone: 67 3317-2973 Email: [email protected]

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do democrático de direito. Foi o caso da Portaria 267/88-P, baseada no decreto-lei de 1967 que embasou nossa atividade fiscaliza-tória de 1988 a 1998, derrubada pelo Judiciário (vide Recurso Especial n.° 120285/97, STJ, 1.ª Turma, publicado no DJ de 01.09.97, pág. 40757), resultando no cancelamento de autos de Infração (conforme a Portaria Normativa Ibama n.º 08, de 30.11.99).

Em meu trabalho de conclusão do curso de pós-graduação em Direito Ambiental, o qual deverá ser publicado em época oportu-na, busco consolidar o entendimento de que, atualmente, não se justifica o argumento con-tido em muitas defesas administrativas nas quais se alega que o agente designado para a fiscalização não detém poderes de polícia administrativa para lavrar autos de infração, aplicar sanções preventivas e deflagrar pro-cessos administrativos decorrentes de condu-ta nociva ao meio ambiente.

A função e a missão do agenteAos que atuam dentro das instituições

governamentais de defesa e proteção ao meio ambiente, pela sua forma de atuação e conhe-cimentos inerentes a sua função pública, é oportunizada uma visão de certa forma privi-legiada no trato da questão ambiental. Para o servidor de carreira dessas instituições, mais ainda conforme seu interesse pessoal e opor-tunidades profissionais dentro das diversas áreas de atuação interna desses órgãos, é imprescindível conhecer a legislação voltada à aplicação prática do exercício do poder de polí-cia e da aplicação das normas do Direito.

Os órgãos ambientais, por imposição da lei que os criou e da decorrente ação dos seus agentes e prepostos, devem cumprir a sua atri-buição delimitada por aquele instituto legal bem como agir no estrito cumprimento da legislação vigente, sob pena de nulidade e arbitrariedade.

Dos que procuram uma vaga no serviço público de um modo geral, é certo que a principal motivação de muitas pes-soas por este ou aquele cargo nos diversos órgãos e ins-tâncias, de um modo geral, se deve à busca

de ir ao encontro de suas perspectivas pessoais de melhora no que tange a esta-bilidade, remuneração, status, independên-cia financeira, aposentadoria etc. No caso do Ibama, posso afirmar que existem, não raro, profissionais que fizeram sua escolha movidos também por um outro ideal a mais ou uma especial filosofia de vida e tenho como certo que a causa foi especialmente pela defesa das causas ambientais.

Tomei conhecimento de tais expecta-tivas ao trocar as primeiras impressões entre meus colegas recém-advindos do primeiro concurso promovido pelo MMA para preencher as 610 vagas do edital de janeiro de 2002, no cargo de analista ambiental. Quando ingressei no serviço público, em novembro daquele ano, no Ibama, pela troca de experiências de vida com os novos colegas e ante as expectativas do futuro trabalho, essas impressões se tornaram cer-tezas evidentes.

Ainda calouros no serviço públi-co, já no exercício do novo cargo, ante as dificuldades logísticas e estruturais, entre outras, logo nos apercebemos que o pleno exercício da proteção do meio ambiente necessita realmen-te de muito mais do que apenas disposição.

O curso introdutó-rio para atuação dos novos analistas, con-cluído após decorri-do o primeiro ano, p roporc ionou aos novos servidores de nível

Na vida pública, espec ia lmente,

no desempenho do papel dos órgãos

de proteção ao meio ambiente, os seus ser-

vidores precisam deter o conhecimento jurídico para

atuar em todas as áreas e no estrito cumprimento da lei,

conhecer e agir dentro da com-petência das instituições a que estão vinculados.

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superior noções amplas e gerais da atuação de um órgão federal ambiental. Objetivou proporcionar, de forma nivelada, um embasamento administrativo, jurídico e institucional, imprescindível para a atua-ção desses agentes, no nosso caso, ainda todos em estágio probatório.

Assim, na vida pública, especialmente, no desem-penho do papel dos órgãos de proteção ao meio ambiente, os seus servidores precisam deter o conhe-cimento jurídico para atuar em todas as áreas e no estrito cumprimento da lei, conhecer e agir dentro da competência das instituições a que estão vinculados.

A competência e a abrangência daação dos agentes

O agente de fiscalização, na qualidade de servidor de órgão ambiental pertencente ao Sisnama, através de um ato administrativo (uma portaria, já que, em respeito aos princípios da administração, entre elas, o da publicidade, não caberia uma simples ordem de fiscalização), recebe a devida competência para exercer o poder de polícia administrativa, função esta delegada pela autoridade competente. Resta, portan-to, inquestionável o respaldo legal e a competência desse agente na deflagração de processos de apura-ção de ilícitos ambientais.

E mais: o constituinte, ao pensar num país de dimensões continentais com características regionais e, muitas vezes, totalmente distintas, como clima, bacias e biomas heterogêneos, optou por não determinar que a fiscalização fosse feita de forma única e limitada por

um único instituto legal ou uma única instituição. Assim, o legislador autorizou, de forma expressa, que todos os servidores de todos os órgãos que compõe o Sisnama pudessem ser incumbidos dessa atribuição, opção essa que contribui para o alcance da ação de proteção do meio ambiente.

No momento em que não se delimitou esse dever, permitiu-se que cada ente da adminis-tração pública, no âmbito do artigo 23 da CF e de acordo com as suas competências, pudesse determinar a criação de instituições de proteção e provê-las dos meios humanos e tecnológicos para a execução da sua ação fiscalizadora.

Alguns operadores do direito e servidores têm defendido uma carreira específica de fis-cal ou de polícia ambiental. Consideram que essa atribuição deve ser definida em um cargo, uma carreira própria, e citam o exemplo da Lei n.º 10410, de 2002. Contudo deve-se ter claro que a Lei Ordinária n.º 10.410/02, por ser um dispositivo infraconstitucional, não teve nem poderia ter a pretensão de substituir a idéia do constituinte face ao contido no artigo 23 da CF/88. De fato, sim, para aquela categoria de servidores foi que a Lei n.º 10.410/02 designou, entre outras, uma competência de fiscalizar. Tal dispositivo apenas acrescenta àquela categoria tal atividade embora houvesse, na sua edição inicial, se omitido quanto à atribuição do grande contingente de uma carreira já existente, a dos técnicos ambientais. Depois, a Lei Federal n.º 11.516/07, no art. 6.º, acrescentou a atribuição do técnico ambiental.

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Assim, hoje, é pacificado para todo o contingente de órgãos de meio ambiente ligados ao Conama que basta um ato de designação para eleger qualquer um dos servidores/funcionários na função de fiscal. Atualmente, no Ibama, qualquer servidor, indepen-dentemente de seu nível de carreira, para exercer a atividade de fiscalização, depende de aprovação em curso preparatório e de designação através de porta-ria. Como ratifica a procuradora federal autárquica dra Andrea Vulcanis (AGU – OJN n.º 08/2010/PFE/Ibama, fl. 04): “Portanto, apenas dois requisitos devem ser observados: um, ser funcionário de qualquer dos órgãos ambientais integrantes do Sisnama; dois, ser designado para as atividades de fiscalização”.

Foi necessária a publicação da Lei de Crimes Ambientais, em 1998, em especial, de seu Capítulo VI, especialmente, nos artigos 70 a 72, para se pôr fim à pendência legal/autorizativa das atribuições do poder de polícia dos agentes servidores de órgãos de meio ambiente. Decorreram, então, dez anos para que fosse atendido o previsto no art. 25 da ADCT da Constituição Brasileira de 1988, no qual se previa que, após vencido o prazo de 180 dias, deveria um novo instituto legal regulamentar tal matéria, sendo que a ausência dessa previsão legal deu causa ao questio-namento da Portaria n.º 267/88-P, de 03/mai/88.

Portanto, após a edição da ei federal n.º 9.605/98, argumentos visando a questionar a ação de nossos agentes em lavrar notificações e autos de infração, alegando que um órgão ambiental ou que seu agente administrativo é incompetente, devem ser precedidos de análise criteriosa, pois se configurarão inócuos. E mais: no que tange ao Ibama, embora sua atuação legislativa se remeta à esfera da União, nada impede este instituto de exercer o poder de fiscalização supletiva, seja quan-do houver ausência de legislação e, mais ainda, median-te omissão na aplicação das leis ambientais, seja no seu controle pelas outras instâncias administrativas.

De toda forma, só a autoridade ambiental pode impor sanções, e isto após o devido processo admi-nistrativo de apuração do ilícito, garantidos ao acusa-do a ampla defesa e o contraditório.

O poder de polícia é atribuição legal de todos os órgãos que compõe o Sisnama, e seus servidores detêm, a partir de legislação específica e de ato for-mal de designação para tal, competência para lavrar autos de infração e deflagrar processo de apuração de ilícitos ambientais.

ReferênciasBrasil. Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, 5 de outubro de 1988.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiçao.htm>; acesso em 11.10.2010;

Brasil. ADCT – Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, 5 de outubro de 1988.

http:/ /www.planalto.gov.br/ccivi l_03/const i tui-cao/constitui%C3%A7ao.htm#adct>; acesso em 15.10.2010.

Brasil. Decreto Federal 3.179, Brasília, 21 de setembro de 1999.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3179.htm>; acesso em 15.10.2010;

Brasil. Decreto Federal 6.514, Brasília, 22 de julho de 2008;

http://www.planalto.gov.br/ccivi l_03/_Ato2007-010/2008/Decreto/D6514.htm>; acesso em 15.10.2010.

Brasil. Lei Federal 9.605, Brasília, 12 de fevereiro de 1998.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9605.htm>; acesso em 11.10.2010.

Brasil. Lei Federal 9.784, Brasília, 29 de janeiro de 1999.

http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9784.htm>; aces-so em 11.10.2010.

Brasil. Lei Federal 7.735, Brasília, 22 de fevereiro de 1989.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L7735.htm>; acesso em 11.11.2010.

Brasil. Lei Federal 10.410, Brasília, 11 de janeiro de 2002.

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2002/L10410.htm>; acesso em 18.10.2010.

Brasil. AGU. Orientação Jurídica Normativa nº 08/2010/PFE/IBAMA; acesso em 02.10.2010. http://www.agu.gov.br/sistemas/site/TemplateTexto.aspx?idConteudo=96663&id_site=1514 .

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26ª ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2001.

TRENNEPOHL, Curt: Infrações Contra o Meio Ambiente. Multas e Outras Sanções Administrativas – comentários ao Decreto nº 3.179/99. Belo Horizonte, MG: Editora Fórum, 2006.

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Qualidade ambiental: reflexões sobre o conceito

O conceito de qualidade ambiental tem evoluído ao longo do tempo dado ser, como a

própria ciência, um conceito social e historicamente construído. Não há um conceito

universalmente aceito para qualidade ambiental, é um termo de difícil definição, pois

está ligado às condições físicas, químicas, biológicas, humanas, sociais e culturais

para a sobrevivência dos indivíduos.

Rita de Cássia do Vale Caribé

Analista administrativo do Ibama oriunda da Sema (desde 1981), é graduada em Biblioteconomia pela UFMG (em 1975), mestre em Ciência da Informação pela UnB (1989) e doutoranda em Ciência da Informação pela UnB (em fase final: defe-sa de tese prevista para março de 2011).

Brasília, DFTelefone: 61 3316-1695 Email: [email protected]

Jailton Dias

Analista ambiental do Ibama desde 2002, é graduado em Geografia pela Univer-sidade Federal de Mato Grosso do Sul, (1994) e mestre e doutor em Geogra-fia pela Universidade Estadual Paulista (1998 e 2003 respectivamente).

Brasília, DFTelefone: 61 3316-1695Email: [email protected]

Para Szalai (1980 apud KAMP; LEIDELMEIJER; MARSMAN; HOLLANDER, 2003), qualidade ambiental é um conceito em desenvolvimento e, por esse motivo, a falta de uniformidade é considerada nor-mal. Inicialmente, atribui-se um significado vagamente circunscrito e, posteriormente, à medida que vão sendo realizadas pesquisas e reflexões, o significado vai sendo escla-recido. O autor argumenta que essa unifor-midade não é necessária, pois qualidade ambiental consiste em um termo multidimen-sional e, por esse motivo, a sua mensuração é extremamente complicada.

Kamp, Leidelmeijer, Marsman e Hollander (2003) discutem o conceito de qualidade ambiental e explicam sua complexidade de uma forma metafórica ao compará-lo a uma cebola. Descrever uma cebola parece um ato simples mas é um engano. Externamente, consiste em um objeto inteiro porém, no seu interior, possui diversas camadas, que, ao serem cortadas, resultam numa perda total de seu formato original, ficando apenas as

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peles. Se cada camada é descrita separadamente, a visão do todo é perdida. As camadas são transparen-tes de forma que, quando olhamos a cebola inteira, não vemos apenas a superfície mas também alguma coisa do seu interior.

Segundo o filósofo Schopenhauer (1848), a qua-lidade é um conceito tanto relacional quanto relativo. A qualidade de uma entidade específica sempre irá depender das necessidades do usuário. A água super-ficial com níveis de oxigênio muito baixos pode ser de baixa qualidade para o peixe entretanto pode ser um bom ambiente para os seres anaeróbicos. Além de ser relacional, a qualidade é também relativa desde que não tenha um tamanho absoluto. Alguma coisa pode somente ter (mais ou menos) qualidade com respeito à escolha ou a uma referência dada.

Por exemplo, a contrapartida da qualidade em um campo diferente não seria a renda mas a prosperida-de. A renda anual de uma pessoa pode, em regra, ser medida de forma objetiva e equivaler a um determina-do número de euros ou dólares por ano. Se isso pode ser visto como próspero, vai depender do resultado da comparação com uma referência escolhida subjetiva-mente como, por exemplo, a média de um determinado país ou a renda do seu vizinho ou o que você considera que merece (BOERSEMA, 2009).

A definição com a qual se faz justiça com o que foi postulado acima deve ser a seguinte: a qualidade é o nível no qual uma quantidade satisfaz a função que se espera para satisfazer (quality is the level at which a quantity satisfies the function which it is expected to satisfy). Aplicando-se ao meio ambiente e aos usuá-rios do meio ambiente, isto tem conduzido para uma lista de funções ambientais ou partes disso (GROOT, 1992 apud BOERSEMA, 2009). Tendo-se a função conhecida, fica fácil a padronização do conjunto. O padrão é definido como o estado ou partes do meio ambiente no qual ou pelo qual a função é total ou suficientemente satisfeita. Quanto mais apuradamen-te forem definidos a função e o usuário e um maior entendimento sobre as relações causais e outros mecanismos relevantes, mais precisos os padrões poderão ser construídos.

O conceito de qualidade ambiental depende das posições filosóficas, ideológicas e políticas assumidas pelos indivíduos, conforme argumentou Oliveira (1983 apud MAZETTO, 2000). Portanto, o conceito é relativo também nesse sentido.

De acordo com Burton (1968 apud MAZETTO, 2000), a qualidade ambiental não deve estar restrita

à natureza ou ao ecossistema, pois engloba também elementos da atividade humana com reflexos diretos na vida do homem, sobre o qual o ambiente construído exerce influência – mais especificamente, em suas atividades sociais e condições físicas e mentais.

De forma bastante simplificada, o artigo de FISHBEIN (1969) define qualidade ambiental como sinônimo de qualidade de vida, nada mais, nada menos. Para o autor, qualidade ambiental tem uma essência social visto que o foco da preocupação é o homem, pois tudo que é feito pela tecnologia para limpar o ambiente de substâncias químicas e físi-cas tem como objetivo atender ao homem nas suas necessidades de vida. é, portanto, o ambiente público, e não é segredo que o homem de hoje enfrenta um ambiente hostil às suas aspirações para uma vida melhor. Dentro do sistema que chamamos de quali-dade ambiental, muitas demandas legítimas são feitas em seu interior por diferentes gru-pos sociais e ai surge o impasse de como conciliar os conflitos de interesses.

Complementando o caráter complexo da qualidade ambiental com a subjetividade, Machado (1997 apud ROSSATO, 2006) salien-ta que existe certa dificuldade para definir o que se entende por qualidade ambiental, pois esta envolve gostos, preferências, percepções e valores, o que torna difícil chegar a um con-senso. A qualidade do meio ambiente é, em parte, objeto da percepção humana, portanto subjetiva, pois a organização dos elementos naturais e artificiais possibilita, através do arranjo de diferentes concepções paisagísti-cas, o gosto ou o repúdio ao meio ambiente. é uma questão de gosto, uma questão estética, porém, mais do que isso, é uma questão de funcionamento que passa, necessariamente, pela organização do espaço.

Na visão de Macedo (1991 apud MAZETTO, 2000), a qualidade ambiental expressa as condições e os requisitos bási-cos que um ecossistema detém, de natureza física, química, biológica, social, econômica, tecnológica e política. Assim, a qualidade ambiental é o resultado da dinâmica dos mecanismos de adaptação e dos mecanis-mos de autossuperação dos ecossistemas. Com base na teoria sistêmica da evolução, a

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qualidade ambiental é o resultado da ação simultâ-nea da necessidade e do acaso.

De maneira geral, na literatura, foram detec-tados diversos conceitos, alguns mais gerais, outros de abrangência mais restrita. No Glossary of Environment Statistics (1997), o termo qualidade ambiental consiste no estado das condições do meio ambiente, expressas em termos de indica-dores ou índices relacionados com os padrões de qualidade ambiental.

Segundo o conceito encontrado no Thesaurus da EIONET (European Environment Information and Observation Network), qualidade ambiental signifi-ca, de forma generalizada ou localizada, o conjunto de propriedades e características do meio ambiente que incide sobre os seres humanos e outros orga-nismos. Nesse contexto, qualidade ambiental é um termo geral que pode referir-se a características variadas, tais como pureza ou poluição da água e do ar, ruído, acesso aos espaços abertos, efeitos visuais das áreas construídas e efeitos potenciais que tais características podem ter na saúde física e mental dos indivíduos.

Conceito similar foi adotado pelo Environmental Terminology and Discovery Service, da European Environment Agency (EEA), no qual qualidade ambiental consiste no conjunto das

[...] properties and characteristics of the environ-ment, either generalized or local, as they impinge on human beings and other organisms. Environmental quality is a general term which can refer to: varied characteristics such as air and water purity or pollution, noise, access to open space, and the visual effects of buildings, and the potential effects which such characteristics may have on physical and mental health (caused by human activities). (Environmental Terminology and Discovery Service – ETDS, disponível em http://glossary.eea.europa.eu/EEAGlossary/E/environmental_quality).

De acordo com Luengo (1998 apud CELEMíN, 2007, p. 81), entende-se por qualidade ambiental

[...] as condições ótimas que regem o comporta-mento do espaço habitável em termos de conforto associados ao ecológico, biológico, econômico, produtivo, sociocultural, tipológico, tecnológico e estético em suas dimensões espaciais. Desta maneira, a qualidade ambiental urbana é, por extensão, produto da interação das variáveis para a constituição de um habitat saudável, confortável

e capaz de satisfazer aos requerimentos básicos de sustentabilidade da vida humana individual e em interação social dentro do meio urbano.

Para Fulgêncio (2007, p. 523), qualidade ambien-tal é um

[...] termo empregado para caracterizar as condi-ções do ambiente segundo um conjunto de normas e padrões ambientais pré-estabelecidos. A qualida-de ambiental é utilizada como valor referencial para o processo de controle ambiental. O resultado dos processos dinâmicos e interativos dos elementos do sistema ambiental define-se como o estado do meio ambiente, numa determinada área ou região, conforme é percebido objetivamente, em função da medição da qualidade de alguns de seus com-ponentes, ou mesmo subjetivamente, em relação a determinados atributos, como a beleza, o conforto, o bem-estar [...].

Bitar (2004, p. 62) conceitua qualidade ambiental como uma expressão

[...] geralmente, parametrizada apenas pela verifi-cação prática do caráter de conformidade das condi-ções desse meio ambiente em relação a exigências ambientais (normas e requisitos legais) previamente estabelecidas, sejam de âmbito local, regional, nacio-nal, sejam de âmbito internacional [...].

A qualidade ambiental, de acordo com Mattos (2005), é entendida como as condições apresentadas em um dado momento pelos dois subsistemas (físico-natural e socioeconômico) e suas interações (englo-bando, portanto, o conceito de qualidade de vida) e cuja avaliação pode ser feita por meio de indicadores.

Nahas (2009) conceitua como um conjunto de condições e características que possibilite a conti-nuidade da reprodução da vida no planeta.

Para estudar a qualidade ambiental, Nucci (2001 apud ROSSATO, 2006) propõe a consideração de atributos ambientais como uso do solo, poluição, enchentes, densidade populacional, cobertura vege-tal e espaços livres, espacializados e integrados.

De acordo com Hogan (2004 apud ROSSATO, 2006), o conceito de qualidade ambiental é importan-te à medida que, baseado em uma análise do meio ambiente em função da qualidade de vida dos seres humanos, se aceita que alta qualidade ambiental está associada àquelas situações do ambiente que favorecem a melhor qualidade de vida das pessoas pertencentes a um sistema humano, dado que a qua-

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lidade de vida está determinada tanto por fatores objeti-vos quanto por satisfações subjetivas.

Boersema (2009) destaca que, para avaliar devida-mente e dar valor ao estado atual do meio ambiente, é necessário ter uma idéia de qual estado se deve ou deseja ter. Isso requer a colocação de normas ou ado-ção de referências. A diferença entre o estado atual e os pontos de referência para o conceito de qualidade está, de qualquer maneira, entre o gap do que é e do que deveria ser.

Para Boersema (2009), a qualidade do meio ambien-te pode ser avaliada por meio da comparação do estado atual com o esperado e com o padrão, isto é, observando-se que o atual estado do meio ambiente ou de suas partes pode mudar devido à intervenção huma-na ou à flutuação natural, e a ênfase aqui será sobre as mudanças induzidas ou intensificadas pelo homem. Se as pessoas, em uma dada sociedade, percebem as diferenças ou presumem mudanças como efeitos negativos, então, elas estão se referindo a problemas ambientais. Em um alto nível, os problemas ambientais podem ser considerados como a deterioração das rela-ções entre a sociedade e o meio ambiente, cujo relacio-namento é julgado como insustentável.

Esta é apenas uma parte do estudo que está sendo desenvolvido com o objetivo de compreender com pro-fundidade o conceito de qualidade ambiental. Esses estudos poderão subsidiar reflexões quanto à missão do próprio Ibama, ou seja, a qualidade ambiental seria competência de uma diretoria do instituto ou de todo o órgão, se o homem está inserido no conceito de quali-dade ambiental, qual o seu rebatimento no órgão, qual a abordagem do Ibama, ecocêntrica ou antropocêntrica. Estas são algumas das reflexões teórico-epistemológi-cas que precisamos estar frequentemente fazendo.

Referências

BITAR, Omar Yazbek. Meio ambiente & geografia. São Paulo: SENAC, 2004. 164p.

BOERSEMA, Jan J. Environmental sciences, sustaina-bility and quality. In. BOERSEMA, Jan J.; REIJNDERS, Lucas. Principles of Environmental Sciences. Amsterdam: Springer, 2009. p. 3-4.

CELEMíN, Juan Pablo. El estudio de la calidad de vida ambiental: definiciones conceptuales, elaboración de índices y su aplicación em la ciudad de Mar Del Plata, Argentina. Hologramática, n. 4, n. 7, jun. p.71-98, 2007.

ENVIRONMENTAL TERMINOLOGY AND DISCOVERY SERVICE. Glossary. Disponível em: <http://glossary.eea.europa.eu/EEAGlossary/E/environmental_quality>. Acesso em: 28 jul. 2010.

EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY. EIONET GEMET Thesaurus. Disponível em: <http://www.eionet.europa.eu/gemet/concept?cp=2912&langcode=en&ns=1>. Acesso em: 6 ago. 2010.

FISHBEIN, G. W. The real meaning of environ-mental quality. American Journal Public Health Nations Health, v.59, n. 12, p. 2130, Dec. 1969. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1226793/>. Acesso em: 26 ago 2010.

FULGÊNCIO, Paulo César. Glossário vade mecum. Rio de Janeiro: Mauad, 2007. p. 678p.

GLOSSARY OF ENVIRONMENT STATISTICS. New York: United Nations, 1997. (Sudies in Methods Series F, n. 67).

KAMP, Irene van; LEIDELMEIJER, Kees; MARSMAN, Gooitske; HOLLANDER, Augustinus de. Urban environmental quality and human well-being towards a conceptual framework and demar-cation of concepts: a literature study. Landscape and Urban Planning, v. 65, p. 5-18, 2003.

MATTOS, Sérgio Henrique Vannucchi Leme de. Avaliação da qualidade ambiental da bacia hidrográ-fica do córrego do Piçarrão (Campinas-SP). 2005. 96f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, 2005.

MAZETTO, Francisco de Assis Penteado. Qualidade de vida, qualidade ambiental e meio ambiente urbano: breve comparação de concei-tos. Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 12, n. 24, p. 21-31, jul./dez. 2000.

NAHAS, Maria Inês Pedrosa. Indicadores intra-urbanos como instrumentos de gestão da qua-lidade de vida urbana em grandes cidades: dis-cussão teórico-metodológica. In. VITTAE, C.C.S & KEINERT, T.M.M. Qualidade de vida, plane-jamento e gestão urbana: discussões teórico-metodológicas: Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009. 29p.

ROSSATO, Marivane Vestena. Qualidade ambiental e qualidade de vida nos municípios do estado do Rio Grande do Sul. 2006. 169f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2006.

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Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio

Nos anos 70, os cientistas descobriram que alguns compostos fabricados pelo homem contribuíam para a destruição da camada de ozônio, a camada protetora do planeta. À época, esses componentes químicos eram amplamente utilizados no setor de refrige-ração e ar-condicionado, na produção de espumas, nos processos de limpeza indus-trial, segurança contra incêndio e fumigação agrícola e eram comumente encontrados nos itens domésticos diários, como copos descar-táveis de isopor, refrigeradores, desodorantes spray e almofadas.

As Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (SDOs) danificam-na fazendo com que ela fique mais fina ou mesmo desapareça em alguns trechos. Este dano representa um perigo significativo para o meio ambiente e a saúde humana já que permite que níveis mais altos de radiação ultravioleta (UV) atinjam a superfície terrestre. A maior incidência de radiação UV, por sua vez, leva à elevação dos

Adriana de Oliveira

Analista administrativo do Ibama, é graduada em Ciências Contábeis (1993), pós-graduada em Desenvolvimento Sustentável (2004) e graduanda do curso de Engenharia Ambiental. Atualmente, atua na Coordenação de Contro-le de Resíduos e Emissões, que integra a Di-retoria de Qualidade Ambiental, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Brasília, DF - Telefone: 61 3316-1284 E-mail: [email protected]

registros de câncer de pele e catarata nos olhos e pode comprometer o sistema imunológico e ame-açar o equilíbrio ecológico dos corpos d’água, das terras agrícolas e das florestas.

A atenção internacional se dirigiu à urgente necessidade de adotar medidas apropriadas nos anos 80, quando foi confirmado que a camada de ozônio sobre a Antártica estava desaparecendo, resultando tal ocorrência na aparição de um “Buraco na Camada de Ozônio”. A crescente preocupação sobre o tema culminou na assinatura do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio em 1987, visando a proteger a camada de ozônio por meio da eliminação da pro-dução e do consumo de substâncias responsáveis por sua destruição. Atualmente, todos os países são signatários do Protocolo de Montreal.

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As SDOs relacionadas no Protocolo de Montreal são: Clorofluorcarbonos (CFCs), Tetracloreto de Carbono (CTC), Bromoclorofluorcarbonos (Halon), Metil Clorofórmio, Brometo de Metila, Hidroclorofluorcarbonos (HCFCs) e as misturas químicas contendo quaisquer destas substâncias.

Com o apoio financeiro do Fundo Multilateral (FML) para Implementação do Protocolo de Montreal, do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), de diversos doado-res bilaterais e com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), os países em desenvolvimento e países com economias em transição passaram a adotar e implementar estratégias que visem à preservação da camada de ozônio.

No Brasil, desde a internalização do Protocolo de Montreal com a assinatura do Decreto n.º 99.280/1990, várias iniciativas foram assumidas pelo governo para que o país cumprisse as metas do tratado, tais como a criação do Comitê Executivo Interministerial para a Proteção da Camada de Ozônio (PROZON), o Plano Nacional de Eliminação de CFCs (PNC), o Programa Brasileiro de Eliminação das Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (PBCO), entre outros 157 projetos apoiados pelo PNUD.

O Ibama é o órgão executor das ações do governo com respeito ao Protocolo de Montreal no Brasil, por meio da Diretoria de Qualidade Ambiental. O instituto define desde o controle das cotas do país, a anuência de licenças de importação, o cadastramento de todas as pessoas físicas ou jurídicas manipuladoras de SDOs no país no Cadastro Técnico Federal/ Ibama, o monitora-mento do comércio e utilização dessas substâncias até a fiscalização do setor, garantindo que o Brasil atenda aos limites estabelecidos pelo Protocolo e pela legislação brasileira, por vezes, mais restritiva.

Além dessas atribuições, o Ibama é parceiro do Ministério do Meio Ambiente na formulação de novas políticas, na revisão de normas técnicas e na compilação de dados para envio anual ao Secretariado do Protocolo de Montreal e também de outros ministérios quando se trata de controlar uma SDO cuja aplicação envolva outras áreas de gerenciamento, tal como o Brometo de

Metila, que tem usos agrícola e quarentená-rio regulados pelo Ibama e pelo Ministério da Agricultura.

Mediante o controle feito pelo Ibama em parceria com outros órgãos do governo brasileiro, o país alcançou o quinto posto no ranking das nações que mais diminuíram o uso dos CFCs na última década. Entre 1995 e 2005, o país cortou suas emissões em 9.928 toneladas de Potencial Destruidor de Ozônio (ODP), unidade usada para mensu-rar os possíveis danos à camada que prote-ge a Terra contra radiações solares. O volu-me só é inferior ao da China (62.167), dos Estados Unidos (34.033), do Japão (23.063) e da Rússia (20.641), numa lista de 172 paí-ses compilada pela Divisão de Estatísticas das Nações Unidas.

As SDOs possuem alto potencial de aquecimento global – GWP (por exemplo, o CFC -12 possui GWP de 10.600, segundo o Third Assessment Report – IPCC, 2001) –, o que traz a consciência de que, além de ser o Protocolo de Montreal um tratado bem-sucedido na proteção da camada de ozônio, também este – e o Brasil – já contribuíram, e muito, para a redução do efeito-estufa.

Na 19.ª Reunião das Partes, em setem-bro de 2007, foi aprovada a Decisão XIX/6, com o objetivo de antecipar o cronograma de eliminação da produção e do consu-mo dos hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), também conhecido como gás refrigerante R-22. Decidiu-se, ainda, pela necessidade de contínua atualização do controle das importações das SDOs, inclusive misturas contendo os HCFCs, bem como pela com-plementação de seus procedimentos de execução no Brasil até o total cumprimento do cronograma de eliminação da produção e do consumo dessas substâncias.

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Conhecimento e responsabilidade compartilhada

O trabalho de uma equipe no Ibama se faz no dia a dia de seus analistas, quaisquer que sejam suas competências. Na Coordenação de Controle de Resíduos e Emissões (Corem/Diqua), isso não é diferente: desde o aten-dimento ao público, passando pelo controle de substâncias ou limites de emissões, até proposição de resoluções e leis, a rotina diária permite que, ao final do período, toda a equipe tenha contribuído com os resultados positivos da área e possa compartilhar estes avanços com a instituição e com a sociedade.

Os desafios da agenda marrom, que são parte da atribuição deste setor, crescem a olhos vistos e, por isso, é necessário manter o analista em contato com os debates que per-meiam as questões de sua responsabilidade. Adicionalmente, internamente à coordenação, existem núcleos que trabalham com temas definidos, como resíduos, emissões veicula-res, novos projetos, entre outros. Com núcleos cada vez mais especializados, surgiu o desafio de compartilhar com toda a equipe informações sobre as atividades econômicas/ ações antró-

picas ou mesmo inovações nestes setores que geram o impacto ambiental, objeto do nosso trabalho.

A solução encontrada foi promover ciclos de deba-tes para todo o corpo técnico da área, abertos para os demais servidores do Ibama, acompanhados por exibição de filmes curta-metragem, documentários ou palestras. Desta maneira, poderíamos focar os temas pertinentes à coordenação, promover a troca de expe-riências entre os analistas dos diversos núcleos e tam-bém disponibilizar este conhecimento aos servidores de outras áreas.

Estes encontros tiveram como temas: energia reno-vável (exibição do documentário Zugzwang), mobilida-de urbana e poluição atmosférica (mostra de curtas), análise do ciclo de vida e destinação ambientalmente adequada de resíduos (palestras sobre pós-consumo e reciclagem de pneus e palestra sobre destinação de embalagens de agrotóxicos). Todos eles foram divulga-dos por meio da intranet e abertos a todos os servido-res da instituição.

Cada uma destas atividades contribuiu com o traba-lho realizado na Corem, principalmente, porque havia

Mariana Midori Nakashima

Analista ambiental da Coordenação de Controle de Resíduos e Emissões (Corem/CGQUA/Diqua), em que trabalha com ge-renciamento de novos projetos, é graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas.

Brasília, DF – Telefone: 61 3316-1245 Email: [email protected]

a facilidade de integrar os assuntos do dia a dia com aqueles relacionados nos debates.

No que concerne à poluição atmosférica, a dis-cussão acerca da mobilidade urbana e a emissão de gases poluentes deu ênfase ao trânsito e à qualidade do ar nas grandes metrópoles. O debate reforçou a importância do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (PROCONVE), que já está em vigor no Brasil há quase 25 anos e é executa-do no âmbito desta coordenação.

A inovação do programa este ano fica por conta de duas instruções normativas: IN n.° 4/2010 e IN n.° 6/2010, do Ibama. A primeira estabeleceu requi-sitos técnicos e de homologação para sistemas de detecção de deterioração ou falha do equipamento para controle de emissões em motores a diesel (fase PROCONVE-P7) enquanto a segunda regulamentou a avaliação de veículos em uso (programas de inspe-ção e manutenção veicular).

Em relação à destinação de resíduos, o deba-te pode ser bastante aproveitado à luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/10), espe-cialmente, no que tange à logística reversa e à res-ponsabilidade compartilhada. Esta prática já é realiza-da em embalagens de agrotóxicos, conforme a Lei n.° 9.974/00, e pneumáticos, de acordo com a Resolução Conama n° 416/09, além de outros produtos.

Durante estas atividades, foram demonstradas ações de conscientização de consumidores e dos demais elos da cadeia produtiva. Além disso, o ciclo de vida destes produtos foi exposto aos analistas, desde a produção até a coleta de embalagens – para o caso de agrotóxicos, ou de produtos inservíveis – para pneumáticos. Posteriormente, foi abordada a destinação ambientalmente adequada.

Estes são assuntos abordados na rotina da Corem e que, a partir da regulamentação da Lei n.º 12.305/10, devem ser intensificados com ampliação da logística reversa a mais setores e envolvimento de todas as partes da cadeia de consumo destes produtos.

Conforme o art. 33 da Lei n.º 12.305, de 2 de agos-to de 2010:

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma inde-pendente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importa-dores, distribuidores e comerciantes de:

I – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim

como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;

II - pilhas e baterias;

III - pneus;

IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embala-gens;

V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;

VI - produtos eletroeletrônicos e seus componen-tes.

Essa atividade deu maior conhecimento aos analistas que, posteriormente, contribuíram em gru-pos de trabalho para a regulamentação da Lei n.º 12.305, cujo decreto será publicado em breve. Além desta contribuição, estas informações subsidiaram também a participação dos analistas em diversos outros grupos de trabalho no Conama que discutem o monitoramento da Resolução n.° 362/05 (eletro-eletrônicos, movimentação de resíduos perigosos, lâmpadas fluorescentes, entre outros).

Concomitantemente a estes debates, outras for-mas de atualização também foram propiciadas no âmbito da coordenação em conjunto com instituições que são referência no tratamento e no controle de resíduos e emissões. Em uma destas oportunidades, analistas puderam ter mais contato com técnicas para gerenciamento de áreas contaminadas e de elaboração de inventário de gases de efeito estufa – conhecimentos estes muito valiosos para a rotina do setor e, principalmente, para a concepção de novos projetos nestas áreas.

As informações coletadas nestas experiências são compartilhadas pela equipe e os materiais com estes dados são mantidos no próprio setor para con-sulta posterior. Desta forma, garantimos a institucio-nalização deste conhecimento bem como um corpo técnico sempre atualizado e que atenda melhor o público que procura por estes serviços no Ibama.

Este projeto é incipiente e ainda carece de cor-reções e melhorias. No entanto foi uma maneira simples de dar à equipe um fórum para compartilhar dúvidas, experiências, alinhar posicionamentos ins-titucionais e, principalmente, para propor soluções e alternativas a estes cenários.

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Ao iniciar a 16.ª Conferência das Partes da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (COP 16 da UNFCCC) –, em Cancun, no México, representantes de 193 países e a sociedade civil em todo o mundo tentam devolver a credibilidade a um processo de negociação internacional debilitado pelo insucesso histórico de Copenhague e, até mesmo, do Protocolo de Quioto, desde 1997. Os objetivos, no entanto, são reafirmados por todos os stakeholders em direção ao estabe-lecimento de ações concretas para a redução dos impactos – especialmente, dos impactos humanos, das mudanças climáticas.

Não por coincidência, a Conferência Climática das Nações Unidas é sediada em Cancun, cidade cheia de complexos hoteleiros luxuosos, questionados por inva-

Mitigação e adaptação a variações climáticas:

Flávia L.S. Xavier

Bacharel em Ciência Política pela Universida-de de Brasília (2008) e especialista em Gestão de Políticas Públicas (2010), é analista am-biental da Coordenação de Controle de Re-síduos e Emissões, da Diretoria de Qualidade Ambiental do Ibama.

Brasília, DF - Telefone: 61 3316-1245 Email: [email protected]

dir espaços naturais e destruir o Parque Nacional Marinho de Cancun, Isla Mujeres e Punta Nizuc, já em processo de degradação. Além disso, extremos pluviais, aumento de focos de calor, de furacões, e secas históricas em 2009 não deixam dúvidas de que, como todos os países da região, o México sofre com os efeitos das variações climáticas em meio à pobreza e à vulnerabilidade da população.

O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis reconhece as contra-dições ostentadas ora pelos Estados Unidos, ora pela China, ora por todo o mundo, inclusive nas conferências climáticas, contudo não se permite à inação no cumpri-mento efetivo de suas competências. Assume, então, o compromisso de adequar a implementação da Política Nacional do Meio Ambiente – Lei 6.937, de 1981 – à miti-gação e à adaptação às variações climáticas.

avanços e entraves

Em coordenação com a Política Nacional de Mudanças Climáticas, com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, com o Protocolo de Montreal e com outras políticas, outros planos e programas, o Ibama visa a inserir em suas ações o alcance da redução de emissões dos gases de efeito-estufa, quais sejam o gás carbônico (CO2), o metano (CH4), o óxido nitroso (N2O), o hexafluoreto de enxofre (SF6) e duas famílias de gases: os perflu-orcarbonos (compostos completamente fluorados) e os hidrofluorcarbonos (conhecidos como HFCs). Apesar de o desafio para um órgão executivo potencializar-se na falta de metas vinculadas que lhe atribuam competência direta e nas fragilidades do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), esta instituição – o Ibama – orgulha-se em disse-minar alguns de seus resultados.

Ao iniciar 2010, o Ibama já contava com a divulgação de mais um ano de sucesso das ativi-dades do Protocolo de Montreal para eliminação das substâncias que destroem a camada de ozô-nio – SDO – com a eliminação da importação dos CFCs, conforme a Resolução Conama 267/00. O Ibama destaca-se pela anuência das licenças de importação dos HCFCs com controle estabele-cido pela Instrução Normativa n.º 207, de 2008, bem como pela autorização da importação de gases HFCs inseridos no Protocolo de Quioto. Visto que são gases com alto potencial de aque-cimento global, essas atividades foram inseridas no escopo do Plano Nacional sobre Mudanças no Clima, publicado em 2008, e reconhecidas por fomentar “aumentos de eficiência no desem-penho dos setores da economia na busca cons-tante do alcance das melhores práticas (Sumário Executivo do PNMC, p.8). As ações adotadas pelo Brasil e executadas pelo Ibama evitaram a emissão de aproximadamente 43 mil toneladas/ano de CFC, equivalentes a aproximadamente 360 milhões de toneladas de CO2.

A figura abaixo demonstra a relação entre as reduções nas emissões nacionais de SDOs e o equivalente na mitigação do aquecimento global:

Segundo o Quarto Relatório de Avaliação do IPCC (IPCC, 2007), está prevista uma maior frequência de ondas de calor em áreas urbanas, com maior inten-sidade e duração. Além disso, pode-se prever uma deterioração da qualidade do ar e o aumento de áreas de risco, em especial, nas cidades tropicais, cada vez mais, sujeitas a chuvas intensas, que podem provocar escorregamentos de encostas e alagamentos.

Ao visar ao alcance de demandas sociais, ambien-tais e econômicas, ratificando a necessidade de imple-mentação de “cidades sustentáveis”, o Ibama vem aprimorando critérios para a implementação de progra-mas de controle de poluição atmosférica por veículos automotores, motociclos e similares – o PROCONVE e o PROMOT. Desde 1986, o PROCONVE já controla os fatores de emissões de material particulado dos veículos homologados, sendo este um fato desestabi-lizador que tem a ver com o efeito do clima nas nuvens atmosféricas marrons, que consistem em partículas de fuligem de carvão, diesel ou madeira queimados. Ainda há, por meio deste programa, o controle dos gases que indiretamente contribuem para o aquecimento da temperatura média global, como monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos (HC), isso porque os hidrocar-bonetos, por exemplo, são os precursores na formação do ozônio do nível do chão (troposfera), formado na atmosfera a partir de processos fotoquímicos, sendo um importante absorvedor da radiação solar.

Recentemente, o Proconve lançou a Nota Verde, que ajuda o consumo consciente ao possibilitar a clas-sificação dos automóveis em relação aos seus níveis de emissão de poluentes e de CO2, que se soma aos já tradicionais parâmetros de escolha como marcas e modelos, potência, consumo e tipo de combustível. Também se constitui um instrumento de estímulo ao setor automotivo pela busca de tecnologias ambien-talmente mais adequadas para o desenvolvimento de motores, veículos e combustíveis.

Por meio de parcerias públicas e privadas, amplian-do diálogo setorial, o Ibama formulou metodologias para o 1.º Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas por Veículos Automotores Rodoviários. O inventário signifi-cou avanço a direcionar políticas públicas no setor de transporte, principalmente, identificando pontos críticos sobre a alta emissão de CO2 por veículos pesados e a necessidade de conhecimento das condições de manutenção dos veículos bem como das condições de tráfego nas emissões da frota.

Em alinhamento a esse instrumento nacional, ressal-ta-se o impacto que a Resolução n.º 418/2009, publicada pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente vem alcan-çando nos estados e municípios. A resolução dispõe

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sobre critérios para a elaboração de Planos de Controle de Poluição Veicular (PCPV) e para a implantação de pro-gramas de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso (I/M) pelos órgãos estaduais e municipais de meio ambien-te. Embora a prorrogação para a entrega dos Planos de Controle de Poluição Veicular (PCPV) tenha sido concedi-da pelo plenário do conselho, nos estados em que o PCPV preveja a realização de programas de inspeção veicular, estes deverão ser iniciados no prazo determinado, até 25 de abril de 2012.

Posto isso, tornam-se claras as razões do subsetor de transporte no país, abrangido pelo setor de ener-gia, não liderar emissões de poluição atmosférica e de gases de efeito-estufa, ao contrário do que ocorre em grande parte do mundo.

Figura 2 – Evolução das emissões de CO2. Fonte: Segunda Comunicação Nacional do Brasil à Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (BRASIL, 2010).

Frente ao maior índice de emissão de gases de efei-to-estufa por setor identificado desde a 1.ª Comunicação Nacional do Brasil, a mudança no uso da terra e de florestas, o Ibama executa, articuladamente a outras instituições, planos de ação para prevenção e controle do desmatamento e das queimadas nos biomas brasi-leiros, como na Amazônia e no Cerrado. Os resultados são históricos, segundo o governo, pois o desmatamen-to na Amazônia Legal voltou a cair pelo segundo ano consecutivo, registrando a menor área desmatada dos últimos 23 anos, desde que o monitoramento passou a ser feito via satélite, em 1988. Os 6,4 mil Km² estimados pelo Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), para o período de agosto de 2009 a julho de 2010 antecipam as metas estabelecidas pelo Plano Nacional de Mudanças Climática em cinco anos.

Não obstante o clima de insucesso das nego-

ciações internacionais para um protocolo que venha a substituir o documento de Quioto ou efetivar a Declaração de Copenhague, o Ibama reporta seus avanços, dissemina experiências e atualiza-se no tema. Para tanto, seus servi-dores e gestores buscam se capacitar e melhor representar o país em importantes fóruns, como a Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas (ICID) e o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, cujos próximos passos envolvem, nada menos ambicioso, a elaboração do Plano Nacional de Adaptação aos Impactos Humanos das Mudanças Climáticas.

Referências Bibliográficas:

BRASIL, Ministério do Meio Ambiente, 2010. Disponível em

h t t p : / / w w w . m m a . g o v . b r / s i t i o / i n d e x .php?ido=ascom.noticiaMMA&idEstrutura=8&codigo=6343

BRASIL, CONAMA, 2009. Resolução n.º 418/2009

BRASIL, IBAMA, 2008. Instrução Normativa n.º 207 de 2008

BRASIL. Segunda Comunicação Nacional do Brasil à Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, 2010.

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Foto: Ricardo R. Maia

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NOVOS PARADIGMAS DE GESTÃOCoordenação Geral de Finanças e Arrecadação

O Ibama, enquanto autarquia especial – entidade com personalidade jurídica, patri-mônio e relativa autonomia administrativa –, tem adotado estratégias de ação con-dizentes com os pressupostos do mode-lo de excelência em gestão pública insti-tuído pelo Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GesPública) do Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG).

O GesPública prevê o tratamento da gestão de forma participativa, baseada em processos e informações, com enfoque valorativo das

Maria Rita Lorenzetti de Carvalho

Graduada em Ciências Contábeis (2001) pelo Instituto Científico de Ensino Superior e Pes-quisa (Icesp), é coordenadora-geral de Finan-ças e Arrecadação do Ibama desde janeiro de 2006, onde foi chefe-substituta da Coordena-ção de Execução Orçamentária e Financeira (de 1989 a 2006), chefe de divisão do Setor de Recursos Externos da Coordenadoria de Execução Orçamentária e Financeira (1995 a 1989) e chefe do Setor de Convênios do De-partamento de Finanças (1995 a 2002).

Brasília, DF – Telefone: 61 3316-1436 Email: [email protected]

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NOVOS PARADIGMAS DE GESTÃO

pessoas, visão de futuro, aprendizado organizacional e foco vol-tado para resultados e inovação. Trata-se de modelo de gestão cuja efetividade contempla um conjunto de diretrizes que apon-tam o rumo a ser seguido, as técnicas e tecnologias disponíveis aliadas às práticas de sucesso aplicadas pelos agentes integran-tes da cadeia da gestão pública.

Assim, o alcance da excelência de uma gestão pública requer revisão estrutural-administrativa, na qual planejamento, organi-zação, direção, coordenação e controle tornam-se essenciais ao bom uso dos recursos disponíveis e à otimização das ações exe-cutadas – sempre em busca dos melhores resultados.

Com enfoque neste conceito, em que a sensibilidade estraté-gica alia-se ao uso racional de recursos de pessoal e financeiro, é que a Coordenação de Finanças e Arrecadação (CGFin/Diplan) tem procurado dar eficácia e efetividade ás suas atribuições regi-mentais.

Responsável pela execução de atividades de natureza orça-mentária e financeira (sub-repasse e adequação de recursos financeiros às unidades estaduais; análise, empenho, liquidação e pagamento da folha de pessoal, dos contratos de manutenção, dos contratos de terceirizados, das diárias, das passagens, do cartão de crédito corporativo; etc.) por meio da Coordenação de Execução Financeira (COEXF), acompanha e orienta, ainda, a correta aplicação dos créditos orçamentários e recursos finan-ceiros mediante atuação da Coordenação de Contabilidade (CCONT). Mais recentemente, a suas atividades habituais, agregou as atribuições de efetivação das receitas do instituto ao assumir também a responsabilidade de arrecadação em âmbito administrativo por intermédio da Coordenação de Arrecadação (COARR).

Assim, a CGFin tornou-se a “gerente” que zela pelo ingresso das receitas, por sua destinação, mediante prévia autorização, e por sua correta utilização.

Além disso, nos últimos três anos, a CGFin/Diplan executou extenso programa de capacita-ção, atingindo servidores das mais diferentes áreas, com destaque para os treinamentos realizados por ocasião da implantação do Sistema de Concessão de Diárias e Passagens (SCDP), em que o Ibama se consagrou como o primeiro órgão da Administração Pública Federal a ter todas as suas unidades gestoras operando o sis-tema de forma plena, bem antes do vencimento do prazo determinado pela Presidência da República.

Tais atribuições dão a dimen-são da CGFin no âmbito da admi-nistração do Ibama e nos levam a refletir sobre a necessidade de atentar para os novos paradigmas de gestão. é, nesse contexto, que essa coordenação, em con-sonância com as diretrizes imple-mentadas no âmbito da Diretoria de Planejamento, Administração e Logística (Diplan), tem ajus-tado suas demandas às novas orientações de gestão em vigor no serviço público.

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