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  • ACORDESQ

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    NOVEMBRO 2010

  • 2 ACORDES / NOVEMBRO 2010

    EDITORIAL SUMARIOSo Joo del-Rei a cidade da msica. Orquestras, sinos e edu-

    cao musical fazem parte do cotidiano da cidade, tornando-a rica em musicalidade. Mas, alm de toda essa formao erudita, a cidade tambm conta com uma riqussima cultura popular musical, que vai desde a raiz da msica africana at as bandas independentes de rock.Ento, com um assunto to amplo e abrangente, por que no dedicar uma revista inteira msica de So Joo del-Rei e regio? E, mais do que isso, por que no tentar registrar atravs de fotografias a musi-calidade da cidade?

    A Acordes traz uma documentao da msica na cidade e regio, sem se prender msica erudita, que j possui grande enfoque e visibilidade na mdia. Como matria principal, foi escolhido o Con-gado, festa de afro-descendentes que tem nos tambores e percusses sua maior marca, como forma de reafirmar a msica popular so-joanense. E para complementar, a revista ainda traz um pouco sobre o Grupo Razes da Terra, que reafirma o direito dos afro-descendentes da regio.

    Alm disso, foi dado grande enfoque ao ensino da msica na cidade, s bandas independentes e aos sinos. A capa, que princpio parece pouco relacionada ao restante da Acordes, traz um jovem estudante do Conservatrio Padre Maria Xavier tocando saxofone, exprimindo toda a continuidade e tradio do ensino da msica em So Joo del-Rei.

    Por fim, preciso lembrar que esta no apenas uma revista de textos. Nosso peso est nas fotos, nas cores e movimentos. Tentamos captar atravs de flashes, ngulos, olhares e composies a essncia da msica que, apesar de no poder ser ouvida nas fotos, pode ain-da assim ser apreciada e, quem sabe, at mesmo sentida.

    Redao: Carolina Gouva, ris Marinelli, Joo Eurico Heyden e Marcelo Alves - Diagramao: Qufrem Vieira - Fotografia: Carolina Gouva, ris Marinelli, Joo Eurico Heyden, Marcelo Alves e Qufrem Vieira

    Trabalho de FotojornalismoProfessora Ktia LombardiCurso de Comunicao Social - Universidade Federal de So Joo del-Rei

    Ensino de msica em So Joo del-Rei

    Marcelo Alves

    4

    Pefil: Nilson, o Guardio dos Sinos

    14Bandas Independentes

    15Congado 8

    Inverno Cultural6

    Marcelo Alves

    ACORDES

  • 3ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Marcelo Alves

    Inverno Cultural Msica discute a situao do negro no Brasil

    Essa uma das msicas que faz parte do repertrio da ban-da de percusso do Grupo de Inculturao Afro-descen-dentes Razes da Terra. A situao do negro na sociedade e a conscincia histrica no fazem apenas parte da letra

    da msica, mas tambm da proposta do Grupo, que nasceu em So Joo del-Rei em 1994.

    Combater o preconceito e aumentar a auto-estima dos negros a principal causa do Grupo, que trabalha atravs de palestras, reu-nies e apresentaes. Mas atravs da msica que o Razes da Terra chega sua expresso mxima: a dana africana, o som dos tambores e de outros instrumentos de percusso e as letras carrega-das de significados remetem aos prprios sentimentos dos negros brasileiros.

    Alm do Razes da Terra, outros grupos ainda trabalham com a conscincia afro-descendente atravs da msica em So Joo del-Rei. o caso do grupo de maracatu Abafu, que muitas vezes tra-balha em parceria com o Razes da Terra e a Associao Cultural Mucambo, que toca diversos ritmos brasileiros e afro-descendentes ao mesmo tempo em que ensina a histria e contexto desses ritmos.

    A contextualizao histrica e cultural das msicas afro-descen-dentes extremamente importante para combater o preconceito. Eu acredito que muito do preconceito que existe hoje se deve fal-ta de conhecimento, explica Egignia Vicentina Neves, a Genica, tesoureira do Grupo Razes da Terra. Por isso, um dos trabalhos do grupo a conscientizao histrica, atravs de palestras.

    Carolina Gouva

    O negro mora em palafita;

    no culpa dele no, senhor. culpa daAbolio

    que veio e nolibertou.

    (Nego Nag)

    Mar

    celo

    Alv

    es

    Grupo Razes da Terra:

    atravs da msica

    que alcan-am sua

    expresso mxima

  • 4 ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Tradio no ensino da msica em So Joo del-Rei

    O curso de licenciatura em Msi-ca da UFSJ foi criado em 2006, com o intuito de atender a uma antiga demanda de So Joo del-Rei e re-gio. Atualmente, oferece as seguin-tes habilitaes: Educao Musical,

    Violino, Viola, Violo, Violoncelo, Piano, Canto Lrico e Popular, Flauta, Clarineta e Trombone.

    O curso de Licenciatura em Msi-ca da UFSJ visa formar um profissio-nal competente e verstil para atuar como educador musical em escolas do ensino bsico (Fundamental e Mdio) e como msico educador em agremia-es musicais, escolas de msica e conservatrios, desenvolvendo ativi-dades diversas e lecionando o canto ou o instrumento musical para o qual foi habilitado. Outro objetivo do cur-so propiciar aos alunos o desenvol-vimento de habilidades tcnicas, mu-sicais e interpretativas para atuarem como instrumentistas, cantores ou re-gentes em conjuntos diversos e agre-miaes musicais como orquestras, corais e bandas de msica. O curso oferecido no Campus Tancredo Neves (CTAN), em horrio integral, e pode durar de 8 a 14 semestres.

    Outro ponto importante no curso de Msica sua infraestrura. O CTAN abriga um moderno prdio desenvol-

    vido exclusivamente para a prtica musical, que conta com diversas salas a prova de som. Tambm so muitos os instrumentos disponveis no pr-dio, que possui at mesmo um piano de cauda.

    O Conservatrio Estadual de Msi-ca Padre Jos Maria Xavier foi criado em So Joo Del-Rei em 1951, pelo ento Governador do estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira. A princpio, foi denomi-nado Conservatrio Mineiro de M-sica de So Joo Del-Rei e teve suas atividades de inaugurao no dia 1 de maro de 1953. As aulas eram minis-tradas no auditrio da Rdio So Joo, at que, em 1960, passou a funcionar nas novas instalaes do prdio pr-prio, construdo pelo Estado. A estrutura pedaggica do Conser-vatrio bem variada. Suas aes so voltadas para a formao profis-sional de msicos em nvel tcnico, educao musical e difuso cultural. Na formao tcnica, os profissionais

    So Joo del-Rei uma cidade muito favorecida musi-calmente, visto que possui duas instituies p-blicas de ensino que mantm viva a tradio de sculos de histria. O Conservatrio Mi-neiro de Msica de So Joo Del-Rei a mais antiga das instituies, e funciona desde 1953. A outra a Universida-de Federal de So Joo del-Rei (UFSJ), atravs do curso de msica, criado h apenas 5 anos.

    Joo Eurico

    Carolina Gouva

  • 5ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Tradio no ensino da msica em So Joo del-Rei

    aprendem sobre criao, execuo e produo prpria da arte musical; na educao musical, ocorre a formao inicial na rea da msica, atravs da oferta de cursos regulares a crianas, jovens e adultos; j a difuso cultural acontece atravs de cursos livres, ofi-cinas e atividades de conjunto, visan-do o enriquecimento da produo ar-tstica e a preservao do patrimnio artstico-musical regional. O Conservatrio de So Joo Del-Rei oferece aulas de 17 instrumentos para os seus cerca de 1700 alunos: bom-bardino, clarinete, contrabaixo, flauta doce, flauta transversal, obo, percus-so, piano, saxofone, trombone, trom-pete, tuba, viola, violo, violino e vio-loncelo, alm do canto. Dentre estes, os mais procurados so violo e pia-no, mas tem ocorrido tambm um au-mento na procura por percusso, prin-cipalmente por parte dos jovens. E o menos procurado o obo, segundo a Profa. Salom Viegas, vice-diretora da instituio, por ser um instrumen-to bem pouco conhecido.

    ris Marinelli ris Marinelli

    ris

    Mar

    inel

    li

    Alunos de msica da Universidade Federal de So Joo del-Rei ensaiando nas salas de aula e em casa e recital apresentado no Solar da Baronesa como encer-ramento de disciplina

  • 6 ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Um dos maiores eventos mu-sicais de So Joo del-Rei

    Inverno Cultural, promo-vido pela Universidade Federal de So Joo del-Rei. Mesmo que este no seja um evento apenas de msica, o espao aberto por este favorece e en-grandece a msica em So Joo, trazendo tanto artis-tas locais quanto de fora da cidade.

    O 23 Inverno Cultu-ral da UFSJ ocorreu em julho de 2010, e durante seus 15 dias de durao, atraiu cerca de 85 mil pes-soas para os seus eventos. Desde o cortejo de aber-tura do festival, at o seu encerramento em Barroso, o Inverno Cultural esteve repleto de manifestaes artsticas, como shows, peas de teatro, exposi-es, mostras de cinema e dana.

    A temtica deste ano Paisagens Sonoras, foi muito bem escolhida. Os coordenadores de rea do Inverno Cultural con-seguiram articular muito bem os eventos, oficinas e debates, com a temtica do festival. Exemplo disso foi o enorme sucesso da palestra do Arnaldo Antu-nes, que por ser um artista multimiditico, caiu como uma luva ao nosso tema,

    explica o prof. Marcos Vieira Silva, coordenador do Inverno Cultural e pr-reitor de Extenso e Assuntos Co-munitrios da UFSJ.

    Segundo o prof. Marcos, a edio de 2010 pode ser considerado uma das melhores do Inverno Cultural j fei-tas: o envolvimento do pblico este ano foi enorme. Isso foi perceptvel nos eventos de rua, como os teatros e

    Inverno Cultural

    shows, que estavam sempre lotados.Quanto msica, a 23 edio do

    evento trouxe cerca de 36 eventos mu-sicais, desde cortejos a shows de ban-das dos mais variados estilos musicais. Teve samba, rock, pop, rap, musica clssica e barroca, MPB, bossa nova, tropiclia entre outros. Merecem des-taque os quatro shows principais Rita Lee, Marcelo D2, Arnaldo Antunes e

    Diversidade do tema Paisagens Sonoras favorece a msica no 23 Inverno Cultural da UFSJJoo Eurico

    Rite Lee e o grupo Juliana Perdigo e os

    8 e meio: algumas das atraes do 23 Inver-

    no Cultural da Univer-sidade Federal de So

    Joo del-Rei

    Joo

    Eur

    ico

    Joo

    Eur

    ico

  • 7ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Diogo Nogueira, este ltimo reali-zado em Barroso.

    Acredito que este ano conse-guimos atender aos variados tipos de gosto musical, pois oferecemos atraes bem diversificadas que vo do erudito ao popular, passan-do pelo pop, rock, MPB, samba, msicas mais experimentais de ar-tistas como Babilak Bah e Arnaldo

    Antunes, por exemplo, e at mes-mo o heavy metal da banda Witch-hammer explicou o coordenador do evento.

    O Inverno Cultural tambm ofereceu vrias oficinas na rea musical. Ao todo foram 19 oficinas oferecidas aos interessados, como Improvisao Jazzstica para Guitarra e Violo e Linguagem

    de sinais para improvisao musi-cal Soundpainting.

    Em 2010, o Inverno Cultural contou com 131 eventos e apre-sentaes, e 1130 pessoas se ins-creveram nas 72 oficinas, que fo-ram realizadas no s em So Joo del-Rei, mas tambm em Dores de Campos, Prados, Santa Cruz de Minas e Barbacena.

    Diversidade do tema Paisagens Sonoras favorece a msica no 23 Inverno Cultural da UFSJ

  • 8 ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Festa de Congado: O som que vem da fricaOs tambores tocam ao longe. Em meio s homenagens Nossa Senhora do Rosrio, grupos afro-descendentes cantam a memria de seus antepassa-dos, curam suas dores e pedem pro-teo. O batuque afasta a chuva, que teima em querem chegar, e o sol abre espao entre as nuvens, secando as

    gotas dgua que caram minutos an-tes.

    As pessoas comeam a danar e, s 13 horas, as bandas de Congado j encheram as ruas tortuosas e incli-nadas de Resende Costa. As senhoras debruam-se nas janelas, donas-de-casa interrompem o servio e crianas perguntam, maravilhadas, o significa-

    do de tanta msica e dana.

    Diversidade Os 26 grupos carregam seus es-

    tandartes, batuques, bumbos, violas, sanfonas e demais instrumentos. In-tegrantes pulam e danam frenetica-mente. Misturados em uma mesma banda, figuram crianas, jovens, adul-

    Uniformes e chapus: vestimentas indispen-sveis nos grupos de

    Congado

    Marcelo Alves

  • 9ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Festa de Congado: O som que vem da frica

    Marcelo Alves

    tos e idosos com mais de 70 anos. A Festa abenoa a pluralidade de pensa-mentos, raas, idades e cultos.

    Juntam-se turistas, congadeiros e curiosos comemorao, alguns se escondem da luz ardida do sol, outros acompanham os desfiles perto das bandas. Visto de cima, o cenrio exi-be as belas igrejas de Resende Costa,

    um cu que vai, lentamente, se livran-do das nuvens e, na aglomerao, co-res de uniformes vermelhos, brancos, azuis, verdes, roxos e amarelos.

    VestesOs congadeiros vestem-se com as-

    seio, cada grupo traja seu uniforme de festa, com chapus, ornamentaes,

    fitas e adereos. Algumas mulheres trajam vestidos longos, brancos e tm o cabelo preso, enquanto os mais ve-lhos se apresentam com ternos e gra-vatas. Crianas erguem imagens de santos protetores, com muitas rosas e enfeites.

    O capito do Grupo de Congado Catup Cacunda, Francisco Valentim,

  • 10 ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Misturados em uma mesma banda, figuram crianas, jovens, adultos e idosos

    de 86 anos, sobe o morro entoan-do cantigas de escravos, mitos de guerrilheiros africanos e aparies mticas de santos.

    Sua voz no enfraquece minuto algum, ele homenageia seus tata-ravs e sua comunidade. O Con-gado uma dana de f, vinda dos antepassados, deixada para mim pelos avs dos meus avs. A Con-gada, para mim, uma religio e uma obrigao. Eu acredito muito em nossa tradio, em So Bene-dito e em Nossa Senhora do Ros-rio, contou o capito.

    Dana e msicaChama a ateno uma banda

    grande, com muitos instrumentos. Arma-se uma roda ao lado da Igre-ja de Nossa Senhora do Rosrio. Congadeiros e congadeiras, vesti-dos de preto e branco, tocam e dan-am em movimentos circulares. O capito, com um sorriso no rosto, abre um corredor ao meio, onde passam meninos e meninas fazen-do, com os ps, uma coreografia. O pblico aplaude os movimentos circulares com um riso no rosto.

    Um senhor se desloca em zi-gue-e-zague, tocando um bumbo do outro lado da igreja. Ele puxa uma banda, toda vestida com ter-nos brancos, quepes de marinheiro e fitas coloridas. Segundo o capi-to do Grupo de Congado Marujo Marinheiro Sereia do Mar, Carlos Evandro do Nascimento, a msi-ca representa as tradies africanas de raiz. So de cativeiro, poca da escravido. Isso mexe com o nosso sentimento. Dessa forma resgata-mos aqueles elementos que esta-vam ficando para trs. Marujo usado porque os escravos vinham para o Brasil dentro de navios ne-greiros, usamos roupas em sua ho-menagem.

    Peculiaridades Maria Aparecida, de 75 anos,

    admira da janela de sua casa os grupos passarem. Vejo esse festa daqui h muito tempo. H cada dia que passa, ela melhora. A irmanda-de do Rosrio convida muitos ter-nos de outras cidades para danar

    Congado

  • 11ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Marcelo Alves

  • 12 ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Religio

    A imagem de Nossa Senhora do Rosrio representa a proteo. Quando os negros chegaram ao Brasil, eles se apegaram devoo para ajudar a passar as tormentas da escravido. Mantemos essa homenagem aos santos at hoje, afirma o vice-presidente Antonio Carlos da Silva da Banda de Con-gado de Marujo de Nossa Senho-ra do Rosrio e Santa Ifignia, de Congonhas.

    Para o capito da Banda de Marujo, Carlos Evandro, Nos-sa Senhora do Rosrio representa tudo, um lao de f e humildade. Quando samos para festejar sua santidade, d vontade de chorar, fi-camos muito emocionados, porque sabemos que ela est alegre por estarmos reunidos em seu nome, disse.

    nesse dia. Sempre fico admirada por-que gosto muito.

    No interior de sua residncia, ela mostra uma das congadeiras mais tra-dicionais de Resende Costa, Duca. Ela tem 104 anos e j no acompanha mais a festa por problemas de sade. Mas Aparecida conta que, alguns anos atrs, Duca ficava na porta da casa danando ao som dos tambores e era

    Marcelo Alves

    cumprimentada por todos os capites.A Rainha Conga, Maria Cristina, de 77 anos, vai subindo a rua, atrs de uma Banda. Ela lembra que Rainha h 45 anos e participa de vrios gru-pos de Minas Gerais. Fico muito fe-liz de encontrar essas pessoas to ma-

    ravilhosas e fazer tantas amizades. H cada ano, mais alegria. uma festa da poca dos escravos. Como Rainha Conga, eu me considero escrava.

    tarde, o tempo quente no es-panta as Bandas. Elas j se espalham pela a cidade. De todos os cantos se ouvem tambores, o trnsito foi in-terrompido e os grupos passam, um atrs do outro, saudando os cidados

    Tambores de Congado: smbolos da msica afrodescendente

    e convidando-os a se juntarem. As bandeiras so beijadas por algumas pessoas. Resende Costa cumprimen-ta os congadeiros, guardies de uma tradio to antiga quanto a chegada dos africanos no Brasil, defensores e patronos da cultura brasileira.

    A msicA representA As trAdies AfricAnAs de rAiz. so de cAtiveiro, pocA dA escrAvido. isso mexe com

    o nosso sentimento.

    Congado

  • 13ACORDES / NOVEMBRO 2010Marcelo Alves

    Festa de Congado em Resende Costa, cidade vizi-

    nha de So Joodel-Rei

  • 14 ACORDES / NOVEMBRO 2010

    O cenrio independente damsica so-joanense

    So Joo del-Rei no apenas cidade da msi-ca clssica das orquestras centenrias, ou da msica singular do badalo dos sinos. A cida-de tambm possui um cenrio forte de ban-das de rock independentes, formada principalmente por jovens, que procuram nas guitarras e baterias sua prpria forma de expressar a musicalidade.

    Dentre as diversas bandas independentes da ci-dade, destacam-se a antiga Pantufas+Z e a famosa Ventura. Mas novas bandas no param de surgir, como a recm criada Veneza.

    O maior problema dessas bandas, entretanto, encontrar espao para crescimento e valorizao em uma cidade que ganhou fama pela msica eru-dita. Segundo Joo Victor Lopes, vocalista da banda Pantufas+Z, faltam ocasies para apresentao das bandas, como festivais de msica que aceitem ban-das independentes: Falta incentivo financeiro e es-pao, pois existem vrias bandas em So Joo sem lugar pra tocar.

    Bandas mais novas, como a Veneza, encontram

    ainda mais dificuldade. Assim, a sada encontrada para a banda garantir reconhecimento entre o pblico jovem atravs de shows em boates so-joa-nenses. Por isso, a Veneza j se prepara com antece-dncia para apresentao que far em uma casa de shows em dezembro.

    Carolina Gouva

    Carolina Gouva

    Isabela Brasil e Felipe Bezamart em ensaio da banda Veneza

    Banda Veneza ensaia para show que far no

    final do ano

    Bandas Independentes

    Carolina Gouva

  • 15ACORDES / NOVEMBRO 2010

    Nilson est ali, sentado. Ob-serva os turistas entrarem e sarem enquanto toma conta um pouco da porta da igreja. Os ir-mos tambm passam s vezes para puxar papo. Mas Nilson est ali. Ele no s o sineiro responsvel da Igre-ja So Francisco de Assis, tambm catlico assduo, conservador do pa-trimnio, apaixonado pelo pai e pre-ocupado com Dona Marli. isso que faz seus sinos encantarem at quem vem de fora.

    Nilson Jos dos Santos, devoto de So Jos, toca os sinos da So Fran-cisco h dezoito anos. Quando peque-no, aprendeu o ofcio musical com o pai que criava sambas-enredo e to-cava na orquestra da prefeitura. Mas, como diz, no bastou apenas aprender o ritmo e musicalidade presentes nos sinos. Tem que gostar, deixar fluir.

    O pai de Nilson representa muitas coisas para ele. Na mesma torre onde hoje os sinos so tocados pelo filho, o pai tambm trabalhou. Por isso, ago-ra Nilson ensina a alguns voluntrios como tirar msica de instrumentos to especiais. O que eu sei eu passo, o que no sei tambm aprendo com eles, disse ele humildemente.

    Essa passagem de gerao para gerao d muito orgulho ao Nilson, pois ele acredita com muita fora na conservao de nossa cultura. Mas: Ns temos que trabalhar na conser-vao da cultura. Se alguma parte se perde, tudo se desestrutura.

    Toda essa herana que foi passada para o sineiro fez com que ele fosse ainda mais apaixonado por So Joo del-Rei. O amor tanto que ele conta como se sentiu quando ficou 16 dias de frias em Santo Andr: Eu no via a hora de voltar. como se ti-vesse aqui ainda. Principalmente no domingo, que dia santo, a falta era muito grande os sinos no tocavam por l.

    por isso que, para Nilson, o sino

    mais do que o som. Representa sua famlia, sua religio, o lugar onde vive, sua cidade. Seu esprito at elevado quando os sinos tocam par-ticularmente no toque da Nossa Se-nhora Morta. Para o sineiro, o toque mais bonito, extasiante. Depois desse toque, ele sente a cidade e as pessoas mais leves. So Joo fica mais cen-trada espiritualmente, se preparando para a Semana Santa. Mas o toque s realizado uma vez por ano, deixando Nilson ansioso pela data: to melo-dioso, to concentrante porque voc

    no pode nem piscar pra no perder o ritmo.

    Nilson tem 37 anos. Tem muito que ensinar ainda. Est noivo, um dia ter filhos que com certeza vo aprender a paixo do pai e quem sabe substitu-lo.

    Nilson, O Guardio dos Sinos

    O que eu sei eu passo, o que no

    sei tambm apren-do com eles.

    ris Marinelliris Marinelli

    Linguagem dos Sinos

    Nilson: paixo pela profisso de sineiro, passada de gerao para gerao

  • ris

    Mar

    inel

    li