revista ecoturismo 374-3221-1-pb

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Sociedade Brasileira de Ecoturismo. Rua Dona Ana, 138, Vila Mariana, São Paulo, SP - Brasil. 444 E-mail: [email protected]; Tel. (55-11) 99195-7685. Ilha do Medo: proposta de uma nova opção de produto turístico para a cidade de São Luís (MA) Ilha do Medo: proposal of a new tourism product option for the city of São Luís (MA, Brazil) Saulo Ribeiro dos Santos, Paloma Araújo Pinto, Protásio Cézar dos Santos RESUMO O estudo apresenta uma proposta de um novo produto turístico (Ilha do Medo) para a cidade de São Luís (MA), ressaltando a inserção de melhorias para que assim, o mesmo possa ser inserido no portfólio oferecido pela atividade, assim como suas peculiaridades e a interação entre as diversas variáveis que a integram. Como metodologia de desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se a bibliográfica e a documental, além de observação direta e visitas in loco, que resultaram em diagnóstico e avaliação das condições do atrativo. Avaliou-se a necessidade de planejamento do turismo, com ênfase no turismo comunitário como uma maneira de qualificar o atrativo a ser formatado a nível local além da metodologia do processo de planejamento. Como resultado, apresenta-se uma proposta inovadora para o atrativo, como nova opção de produto turístico para São Luís. PALAVRAS-CHAVE: Produto Turístico; Ilha do Medo; Planejamento Turístico. ABSTRACT The study presents a proposal for a new tourism product (Ilha do Medo) for the city of São Luís (MA, Brazil), emphasizing the inclusion of improvements to it so it can be inserted into the portfolio offered by the activity, as well as its peculiarities and the interaction between the variables belonging to it. The methodology of research development, we used the literature and documents, direct observation and site visits, which resulted in the diagnosis and assessment of the conditions of the appeal. Assesses the need for tourism planning, with emphasis on community tourism as a way to qualify the appeal to be formatted at the local level beyond the methodology of the planning process. As a result, we present an innovative proposal for attractive option as a new tourism product for São Luís. KEYWORDS: Tourism Product; Ilha do Medo; Tourism Planning. Santos, S.R.; Pinto, P.A.; Santos, P.C. Ilha do Medo: proposta de uma nova opção de produto turístico para a cidade de São Luís (MA). Revista Brasileira de Ecoturismo, São Paulo, v.7, n.3, ago/out 2014, pp.444-461.

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Revista Ecoturismo 374-3221-1-PB

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  • Sociedade Brasileira de Ecoturismo. Rua Dona Ana, 138, Vila Mariana, So Paulo, SP - Brasil. 444 E-mail: [email protected]; Tel. (55-11) 99195-7685.

    Ilha do Medo: proposta de uma nova opo de produto turstico para a cidade de So Lus (MA)

    Ilha do Medo: proposal of a new tourism product option for the city of So Lus (MA, Brazil)

    Saulo Ribeiro dos Santos, Paloma Arajo Pinto, Protsio Czar dos Santos

    RESUMO O estudo apresenta uma proposta de um novo produto turstico (Ilha do Medo) para a cidade de So Lus (MA), ressaltando a insero de melhorias para que assim, o mesmo possa ser inserido no portflio oferecido pela atividade, assim como suas peculiaridades e a interao entre as diversas variveis que a integram. Como metodologia de desenvolvimento da pesquisa, utilizou-se a bibliogrfica e a documental, alm de observao direta e visitas in loco, que resultaram em diagnstico e avaliao das condies do atrativo. Avaliou-se a necessidade de planejamento do turismo, com nfase no turismo comunitrio como uma maneira de qualificar o atrativo a ser formatado a nvel local alm da metodologia do processo de planejamento. Como resultado, apresenta-se uma proposta inovadora para o atrativo, como nova opo de produto turstico para So Lus. PALAVRAS-CHAVE: Produto Turstico; Ilha do Medo; Planejamento Turstico.

    ABSTRACT The study presents a proposal for a new tourism product (Ilha do Medo) for the city of So Lus (MA, Brazil), emphasizing the inclusion of improvements to it so it can be inserted into the portfolio offered by the activity, as well as its peculiarities and the interaction between the variables belonging to it. The methodology of research development, we used the literature and documents, direct observation and site visits, which resulted in the diagnosis and assessment of the conditions of the appeal. Assesses the need for tourism planning, with emphasis on community tourism as a way to qualify the appeal to be formatted at the local level beyond the methodology of the planning process. As a result, we present an innovative proposal for attractive option as a new tourism product for So Lus. KEYWORDS: Tourism Product; Ilha do Medo; Tourism Planning.

    Santos, S.R.; Pinto, P.A.; Santos, P.C. Ilha do Medo: proposta de uma nova opo de produto turstico para a cidade de So Lus (MA). Revista Brasileira de Ecoturismo, So Paulo, v.7, n.3, ago/out 2014, pp.444-461.

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    Introduo As perspectivas em torno da atividade turstica so otimistas e refletem

    sua relevncia como fator de desenvolvimento socioeconmico das regies. Economicamente est entre as cinco maiores atividades econmica do mundo, gerando milhares de empregos, elevando o Produto Interno Bruto (PIB) das localidades e proporcionando investimentos de capital. Os benefcios econmicos gerados em torno dos recursos tursticos dos destinos chamam ateno pelo nvel de contribuio economia local e capacidade que detm de induzir o desenvolvimento econmico e promover melhorias na qualidade de vida das comunidades.

    No entanto, apesar dessas vantagens, sua gesto eficiente e adequada, bem como a consecuo dos seus benefcios, torna-se um desafio s localidades que dispem de potencial turstico, pois, o turismo uma atividade que interfere em uma srie de aspectos e sua explorao necessita de estudos criteriosos e de medidas que regulamentem sua utilizao. A explorao do turismo enquanto atividade econmica, da mesma forma, no deve abster-se de critrios e normas que norteiem seu desenvolvimento e que considere a integrao dos aspectos econmicos aos demais aspectos envolvidos.

    O planejamento turstico, assim, apresenta-se como um instrumento que integra estudos, normas e mtodos racionais capazes de desenvolver o turismo e garantir seus benefcios quando bem executado e acompanhado. Alm disso, possibilita s localidades a construo de um turismo competitivo e com maiores oportunidades de crescimento.

    Nesse sentido, aborda-se as relaes entre potencial turstico a nvel municipal, atravs de estudos de atrativos de possveis formataes de produtos para a cidade de So Lus (MA), afim de produzir uma maior competitividade entre os produtos presentes no portflio oferecido pela mesma. Portanto, objetiva-se propor uma nova opo de um produto turstico para a cidade de So Lus (MA), focando-se em um atrativo turstico sob as perspectivas e recomendaes do planejamento e projeto turstico.

    Os meios metodolgicos utilizados foram a pesquisa exploratria e descritiva, na qual se utilizam dados tericos para alcanar os objetivos. Adota-se ainda uma abordagem multidisciplinar, uma vez que o tema trabalhado compreende vrias reas do conhecimento, ou seja, histria, geografia, economia e administrao, que se tornam essenciais sua compreenso e interpretao. Alm disso, elabora-se uma proposta para o atrativo turstico, mostrando-se uma concepo dinmica e reflexiva das variveis relacionadas.

    A pesquisa enquadra-se tambm, como bibliogrfica, dando todo um suporte terico ao tema, e ao lado desta, a pesquisa de campo, onde se coletou dados junto aos rgos pblicos e instituies responsveis pela atividade turstica da localidade, alm da realizao de entrevistas informais moradores, relacionados ao atrativo turstico.

    Justifica-se a importncia da pesquisa para a apresentao de proposta de um novo produto turstico para a cidade de So Lus, com o intuito de impulsionar a atividade e os roteiros tursticos, atravs de uma

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    opo diferenciada, com planejamento e gesto, indicados pelos princpios da segmentao turstica.

    Turismo: concepes e atualidades O turismo, atualmente, um dos fenmenos mais importantes do

    ponto de vista poltico, econmico, ambiental e sociocultural. Pois, deixou de ser visto apenas como um sinnimo de lazer e passou a assumir um papel de agente social nas sociedades em que se desenvolve (MARUJO, 2008).

    Nesse aspecto, pondera-se que o mesmo um fenmeno e que deve ser estudado e analisado sob a luz das cincias sociais, devido a sua extenso ir alm das questes ligadas economia, poltica e cultura de uma sociedade, ligando-se experincia de cada pessoa que se envolve ou pratica o turismo.

    Hoje com o desenvolvimento dos meios de transportes, com a globalizao e uma maior renda e tempo livre por parte dos cidados comuns, a preocupao destes com a obteno de cultura e bem estar, faz com que o turismo desponte como setor econmico de maior potencial de crescimento no mundo.

    As pessoas comeam a sentir a necessidade de conhecer novos lugares e culturas, de viajar e especialmente com o intuito de descanso. O turismo inicia seu desenvolvimento e sua consolidao como um dos objetos de consumo mais desejados da populao desse novo sculo (CAMPOS, 2005, p.26).

    Por ser considerado um impulsionador da economia, movimentar grande quantia e ser uma atividade enrgica, o turismo dependente de algumas estruturas para que torne a atividade turstica real, como infraestrutura bsica, hospitais, hoteleiras, principalmente, transportes que vm impulsionando cada vez mais a atividade, por sua acessibilidade de usurios.

    Segundo Trigo (1993, p.17), os fatores que levaram ao desenvolvimento do turismo nestas ltimas trs dcadas foram os mesmos que transformaram profundamente o planeta, seja no mbito das relaes econmicas e polticas, seja no das relaes sociais e culturais.

    O turismo vem conquistando um espao cada vez maior na sociedade, por ser uma atividade que est em pleno crescimento (OMT, 2011). Alm disso, a atividade turstica induz e compreende uma srie de aspectos e relaes especficas que, devido complexidade que lhes so inerentes, merecem um estudo analtico e que abranja suas caractersticas. De acordo com os dados OMT (2011), entre 2000 e 2008, as viagens internacionais cresceram 4,2% ao ano, alcanando o total de 922 milhes de turistas em 2008, gerando uma renda de aproximadamente US$ 5 trilhes.

    Percebe-se a descentralizao do turismo na Europa para as demais regies do planeta, principalmente a sia, que foi um dos continentes que mais investiu em equipamentos tursticos nos ltimos anos.

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    Entendendo a oferta turstica como tudo o que oferecido para os visitantes, possvel identificar, segundo Goeldner, Ritchie e McIntosh (2002), quatro categorias que a compem e que juntas oferecem diferencial da localidade ou regio:

    a) Recursos e ambientes naturais: clima, flora, fauna, relevo, praias entre outros atrativos da regio;

    b) O ambiente construdo: neste tpico esto pautadas a infraestrutura e a superestrutura, construes voltadas para dar suporte aos turistas, produo coligada ao turismo e outros;

    c) Transporte: a disponibilidade de transporte para o visitante, da origem at o destino e dentro do prprio destino, incluindo avies e voos, taxis, trens, navios, automveis e outros elementos que permitam a visitao;

    d) Hospitalidade e recursos culturais: so temas includos cultura local do destino, como idiomas, crenas, costumes e conduta de trabalho e lazer, a amabilidade, amizade e vontade de receber bem dos residentes daquela localidade.

    Portanto, a oferta turstica tudo que est disponibilidade do turista, sendo mesclada dos mltiplos produtos tursticos de uma localidade, e obrigatoriamente, est organizada para ser proporcionada e gerar experincias positivas para um visitante com demandas especficas.

    Diferentemente da oferta turstica, que tem o produto como responsvel pela realizao da oferta turstica, o principal agente econmico responsvel pela demanda turstica o consumidor de produtos tursticos ou, simplesmente, o turista ou usurio de produtos tursticos.

    Segundo Dias (2005), a demanda turstica o conjunto de turistas, que de forma individual ou coletiva, esto motivados a consumir uma srie de produtos ou servios tursticos com o objetivo de cobrir suas necessidades de descanso, recreao, entretenimento e cultura em seu perodo de frias.

    A demanda turstica , portanto, real, em relao ao nmero de pessoas que viaja, e potencial, pelo nmero de pessoas que deseja viajar para usufruir de produtos e servios tursticos, alm de vivenciar novas experincias tursticas.

    O que se pode concluir que a demanda turstica est vinculada a diversos fatores, alguns relativos s preferncias e motivaes dos visitantes, e outros atrelados a aspectos relacionados aos microambientes e ao mercado do qual o destino turstico faz parte.

    A segmentao de mercado veio como uma importante ferramenta que passou a existir no mercado para aquecer a conquista, a criao de necessidades e desejos no cliente, assim, instituies pblicas ou privadas, como empresas ou organizaes ligadas atividade turstica esto procurando os caminhos que atendam aos mais variados pblicos, muitas vezes utilizando-se do conceito e das caractersticas da segmentao de mercado.

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    De acordo com o Ministrio do Turismo (MTUR), a segmentao entendida como uma forma de organizar o turismo para fins de planejamento, gesto e mercado. Os segmentos tursticos podem ser estabelecidos a partir dos elementos de identidade da oferta e tambm das caractersticas e variveis da demanda. (BRASIL, 2010).

    Os visitantes que consomem os produtos tursticos podem ser divididos por categorias, a partir das vrias grandezas que os envolve, como as questes geogrficas, demografia, o uso que fazem do produto, e sua psicografia (BRASIL, 2010).

    A partir da escolha de um pblico por um segmento, a estruturao de produtos e a elaborao de roteiros, a escolha encaminhada para que ocorra seu o desenvolvimento, pois a identidade dada a cada roteiro ser criada atravs do levantamento feito sob a considerao que o pblico se destina.

    O consumidor passou a visar o diferente, o novo, o que julga original, e o turista abrange esse aspecto com domnio, pois segundo Waimberg (2003) o turismo o fenmeno da diferena, ou seja, a diferena o principal agente motivador dos deslocamentos tursticos.

    Para atender as necessidades especficas, o mercado turstico vem se segmentando cada vez mais, formatando novos tipos de turismo, criando roteiros temticos, adaptando produtos e servios de acordo com as especificidades, desejos, limitaes e necessidades dos clientes turistas.

    A segmentao com base na oferta define o tipo de turismo que ser oferecido ao visitante. A definio desses tipos de turismo realizada a partir da existncia de certas caractersticas comuns em um territrio, que segundo o MTUR (BRASIL, 2010), so:

    a)aspectos e caractersticas comuns (geogrficas, histricas, arquitetnicas, urbansticas, sociais);

    b) atividades, prticas e tradies comuns (esportivas, agropecurias, de pesca, manifestaes culturais, manifestaes de f);

    c)servios e infraestrutura comuns (servios pblicos, meios de hospedagem e de lazer).

    Percebe-se que as caractersticas necessrias para o turismo em uma localidade, se torna, tambm, uma forma de trplice caracterstica para formatar com sucesso uma localidade, pois com os atrativos e a cultura, se o local possuir servios, infraestrutura adequada, possivelmente, o turismo conseguir se destacar como uma atividade econmica importante na localidade.

    Atrativo e produto turstico Entende-se como atrativo turstico todo lugar, objeto ou acontecimento

    de interesse para o turismo ou de acordo com Cerro (1992), estabelece a relao do principal componente e mais importante do produto turstico, pois produz a seleo, por parte do turista, do local de destino de uma viagem, ou

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    seja, determina um fluxo turstico at a localidade. Os atrativos tursticos podem ser naturais, culturais, manifestaes e usos tradicionais e populares, realizaes tcnicas e cientficas contemporneas e acontecimentos programados.

    A partir das definies dispostas anteriormente, pode-se afirmar que o atrativo turstico tem por desgnio o ato de atrair, como derivado de atrativo, os grupos humanos para um determinado local. Lugar este que engloba as caractersticas e funes de que necessitam os grupos humanos sua vivncia (DIAS, 2005), sendo assim, os atrativos de cada lugar devem satisfazer s necessidades e desejos naturais que os visitantes tm do movimento.

    Os autores analisam que o atrativo fundamental, mas que sem planejamento no h como atender as exigncias dos turistas, e tambm, importante analisar a situao atual para os autctones, de forma, que a partir do momento, que o atrativo estruturado, no venha afetar ou impactar negativamente o atrativo e o cotidiano dos moradores.

    Por isso, Piperoglou (1967, p.169) esclarece que so necessrias quatro etapas na avaliao do desenvolvimento de um atrativo turstico:

    a) investigao do mercado para descobrir as preferncias e as necessidades dos turistas;

    b) identificao dos elementos buscados pelos turistas na rea de estudo;

    c) definio da regio em termos de interao espacial dos recursos;

    d) estudo da capacidade de absoro de visitantes pela regio, do ponto de vista espacial e humano.

    Portanto, o organizador e planejador do turismo deve possuir conhecimento profundo e saber utilizar as estratgias de marketing para ento atrair os visitantes.

    Mediante estes aspectos o atrativo estar preparado para atender as exigncias e necessidades dos turistas, fazendo com que desperte a qualidade da experincia recebida pelo mesmo, o que consequentemente aumentar a satisfao.

    A atividade turstica se torna, ao passar do tempo, cada vez mais complexa, no sentido de desvendar as necessidades e desejos do consumidor da atividade, pois, de acordo com o que foi visto anteriormente, os desejos e necessidades passaram a depender de mais caractersticas ou fatores internos e externos que influenciam na sua escolha de destino.

    Panosso Netto e Gaeta (2010, p.16) afirmam que o consumidor do turismo e o contexto no qual se integra apresentam, atualmente, caractersticas que favorecem a experincia e nos levam a pensar na autenticidade dos produtos e servios.

    Uma multiplicidade de bens e servios oriundas do consumo e satisfao das motivaes gerada pela atividade turstica, alm de anseios e necessidades dos visitantes, que buscam cada vez mais produtos e

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    servios de qualidade para atender suas exigncias, conforme comentado anteriormente (BRASIL, 2010).

    Contudo, determinar quais so os bens e servios passveis de tal consumo turstico, torna-se uma empreitada perturbadora, lembra-se que existem produtos que, criados para a populao local, so consumidos pelos turistas, assim como existem produtos que so criados com o objetivo de atender a entrada de turistas, mas podem, igualmente, satisfazer as necessidades da populao local.

    A produo no turismo determinada atravs dos bens e servios congregados a outros fatores oriundos da atividade. A produo no turismo , assim, uma conciliao de produtos ou, de acordo com Cunha (1997), o conjunto dos elementos que, podendo ser comercializado, direta ou indiretamente, motiva as deslocaes, gerando uma procura. Os visitantes so atrados pelas produes tursticas de uma diversidade de destinos que competem entre si para abrigar, ao mximo, elementos que faam parte das motivaes tursticas.

    As caractersticas da produo no turismo so dotadas de personalidade prpria, diferenciada de outras produes, pois, se desenvolve de maneira peculiar e aborda aspectos no encontrados em outras atividades, muito embora enfrente os mesmos problemas de escassez de recursos presentes em outras produes.

    Dentre os aspectos destacados pelo Ministrio, possvel a formulao de produtos que sejam interessantes do ponto de vista do turismo. De acordo com Ignarra (2003, p.50) o produto turstico formado por seis componentes: bens, servios, servios auxiliares; recursos; infraestrutura e equipamentos; gesto; imagem da marca; e preo.

    Assim, os bens e servios so a matria-prima para o desenvolvimento da atividade turstica e so compostos por: produtos de alimentao, materiais esportivos e de limpeza, servios em geral (receptivo, hospitalidade, informao etc.). J os servios auxiliares complementam estes ltimos e so formados por: viagem, alojamento, alimentao, atraes, comrcio, indstria, lavanderias, livrarias, cinemas, locadoras de veculos, guias de turismo, organizadores de eventos, dentre outros (IGNARRA, 2003).

    Planejamento e projeto turstico No planejamento turstico, as leis necessrias para o desenvolvimento

    de infraestrutura bsica destinada ao bem estar do turista e tambm da populao local, que os recebe, de responsabilidade do Estado, assim como a conservao, proteo e preservao do patrimnio ambiental, seja ele natural, cultural e psicossocial (RUSCHMANN 1999, p.84).

    Para um bom resultado do planejamento de turismo, o mesmo deve envolver mo de obra especializada, capaz de realizar os passos do processo, tais como a investigao e estudo de casos, definir as polticas e processos de implementao do programa, prever os recursos oramentrios e de pessoal, elaborar a escala metodolgica de execuo das tarefas, administrar a realizao das tarefas e obras, fazer a reviso constante do

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    processo e refaz-lo quando necessrio. Por estas mltiplas tarefas, o planejamento deve ser realizado por uma equipe envolvendo capacidades tcnicas e administrativas especficas da rea (BRASIL, 2010).

    Nesse sentido, torna-se relevante verificar a viso de Ruschmann (1999), que relata que o planejamento turstico pode abranger os nveis internacional, nacional, regional e local, devendo ser observadas as regies geograficamente homogneas e no os limites poltico-administrativos, como por exemplo, a regio amaznica que envolve estados brasileiros e pases da Amrica do Sul, ou das Cataratas do Iguau que envolvem o Brasil e a Argentina.

    Na elaborao do planejamento recomendada a assinatura de acordos que definam a manuteno e preservao dos recursos tursticos. Ao tratar dos nveis de planejamento, Ruschmann (1999) nomeia que no nvel local o planejamento deve legitimar, entre outras coisas, as zonas industriais e de comrcio.

    Influenciado, principalmente, pelas transformaes advindas da globalizao econmica, o mundo vem passando por densas e aceleradas transformaes no mbito social, econmico e cultural, alm das redefinies geopolticas e do avano cientfico e tecnolgico. Como consequncia, ocorre o aumento da concorrncia nos setores julgados como empresariais.

    A partir desse panorama, determinados fatores categricos ou exigenciais para o sucesso se destacam: a agilidade, a capacidade de adaptao, o poder de inovar de forma rpida e eficiente, e o potencial de aprimoramento contnuo sob grandes restries de recursos (PROMON, 2011).

    Contrapondo a essas declaraes, fortalecem-se os sistemas de gerenciamento de projetos, como forma de administrar os empreendimentos transitrios, nicos e multifuncionais, que caracterizam o processo de implementao de estratgias, inovao, adequao e aperfeioamento.

    Boulln (2002) define projeto turstico como qualquer atividade humana que se desenvolve no momento atual, presente, visando uma consequncia no futuro, utilizando a capacidade humana de previso de possveis resultados de suas aes, que podem ser vinculadas a princpios ideolgicos ou prticos questes mais complexas vinculadas a solues de problemas operacionais.

    Sobre a origem de ideias geradoras de projetos, no h uma ttica determinante para a consagrao da mesma, que pode vir espontaneamente ou, ainda como uma consequncia de um plano.

    A Ilha do Medo A Ilha do Medo (Figura 1) localiza-se a Noroeste da Ilha de So Lus, e

    um pouco mais que seis quilmetros de distncia do bairro da Praia Grande, onde se localiza o Centro Histrico da cidade, esta uma das vrias outras ilhas que compem o Golfo Maranhense.

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    Chega-se Ilha, somente atravs de via martima, com embarcaes de pequeno porte, como canoas, igarits, jangadas, catamars, entre outras. As sadas de tais embarcaes se do atravs dos portos de pequeno porte, como da Ponta da Espera/Terminal Hidrovirio, localizado no centro histrico de So Lus. A travessia demora um tempo mdio de dez a trinta minutos, dependendo da embarcao e do ponto de partida da mesma. O trajeto feito pela embarcao saindo da praia da Ponta DAreia, o tempo do percurso foi de 27 minutos.

    Figura 1: Vista area da Ilha do Medo. Fonte: Google (2011). Figure 1: Aerial view of Ilha do Medo. Source: Google (2011).

    Com a presena de mata fechada, como babauais que so responsveis pela principal atividade de subsistncia da Ilha, a extrao de babau, alm da pesca e agricultura, a ilha possui ainda mangues, vegetao de praias, rvores frondosas de mata capoeira e capoeiro, alm de uma variedade de solo que vo do argiloso a arenoso, variando de acordo com a topografia local.

    Com relao fauna encontram-se espcies como tatu, paca, bem-te-vis, sabis, dentre outras e espcies tpicas de regies de mangue como insetos, peixes, moluscos, crustceos (camaro, caranguejo, siri) e aves como garas, guars, dentre outros. A maioria dessas espcies serve de alimento e renda para a prpria populao.

    Possui ainda um farol da marinha, localizado no alto da Ilha, o qual os moradores so os responsveis informais, porm, o mesmo se encontra desativado por cerca de seis meses desde a realizao da pesquisa em novembro de 2011.

    Hoje a ilha conta com a moradia de doze famlias, possuindo doze casas no total, as quais os moradores revezam suas moradias na ilha do Medo e na cidade de So Lus, devido s necessidades dos componentes mais novos da famlia, que a ilha no supre, como escolas, empregos fixos, entre outros.

    De acordo com os relatos do senhor Manoel da Silva de 64 anos, um dos moradores mais antigos e assduos da ilha do Medo, o local comeou a

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    ser habitado pela famlia do senhor Raimundo Nonato Santos Alves, 56 anos que j habita a ilha h mais de 40 anos.

    Manoel da Silva, juntamente com sua famlia, vieram do municpio de Cajapi (MA) e acabaram chegando ilha do Medo por motivos de trabalho com a pesca, onde deram incio ao povoamento junto com a famlia do seu Raimundo Nonato Santos Alves. Atualmente moram duas famlias no local (Figura 2), em residncias diferentes, uma de Manoel da Silva e outra que pertence ao seu irmo.

    Figura 2: Famlia de pescadores. Fonte: Produo da autora. Figure 2: Family of fishermen. Source: Production of the author.

    Com poucos habitantes, a Ilha no dotada de infraestrutura bsica adequada, carente em todos os aspectos, o que nos leva a concluso da dificuldade de moradia e visitao ao lugar, que no possui energia eltrica, rede de esgoto, nem gua encanada, que na improvisao, os oradores conseguiram pequenos poos e fontes para abastecer toda a ilha.

    O abastecimento da ilha tambm realizado atravs de captao de gua no poo localizado na Ponta da Espera, pois a gua da ilha j no se encontra em plenas condies de uso, pois, segundo o morador Raimundo Nonato, uma espcie de planta cultivada prximo aos poos fez com que a gua dos mesmos ganhasse uma cor avermelhada, causando receio nos moradores para utilizao da gua para beber e cozinhar.

    Durante as entrevistas, verificaram-se trs insatisfaes bsicas dos moradores quanto a ilha, a primeira trata do julgamento de procedncia da ilha, se a mesma pertence a cidade de So Lus ou Marinha, que dita as regras na ilha, como o nmero de casas e moradores; a segunda insatisfao trata da presena da empresa Vale, que vem ampliando sua abrangncia na rea e, segundo os moradores, os prejudicando quanto a pesca, pois, com a ampliao da mesma e a presena de minrio, hoje no h uma quantidade suficiente de peixes para a prtica da pesca de subsistncia, forando os mesmos a criar outras espcies na ilha, como a galinha, boi, pato e porco; a terceira insatisfao a falta de interesse de rgos pblicos em melhorar a infraestrutura da ilha.

    Sobre a visitao, realizada principalmente por pesquisadores, bilogos, gelogos, universitrios e pessoas que procuram novas alternativas. Na verdade a ilha um pedao de terra ainda inexplorado pelas

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    agncias de turismo. Entretanto, de acordo com o relato do Senhor Manoel da Silva, a ilha j foi mais frequentada h pelo menos cerca de dez anos atrs, quando famlias de visitantes iam de So Lus e permaneciam o final de semana, gerando renda aos moradores.

    Foi verificado o desejo dos moradores em receber turistas na ilha, de acordo que seja de forma ordenada, sem perturbaes aos moradores e a prpria ilha.

    Metodologia O incio da pesquisa realizou-se atravs de um estudo a partir da

    obteno de informaes por meio de pesquisa bibliogrfica. Segundo Ander-Egg (1978, p.28), a pesquisa um procedimento reflexivo, sistemtico, controlado e crtico que permite descobrir novos fatos ou dados, relaes ou leis no campo atual do conhecimento humano.

    A pesquisa tem carter descritivo que na viso de Pizam (1994, p.97) conceitua como a descrio sistemtica, objetiva e precisa das caractersticas de uma determinada populao ou rea de interesse e apresentao de abordagem qualitativa. A partir desta anlise foi estabelecido um carter de proposta pesquisa, a qual tem como objetivo apresentar solues para algum tipo de problema organizacional j diagnosticado, anteriormente, buscando um estudo de viabilidade de planos alternativos, de concepo e implementao, para a soluo de problemas organizacionais (MARTINS; LINTZ, 2000).

    O local de execuo da pesquisa deu-se na cidade de So Lus, uma Ilha pertencente costa martima da cidade, conhecida como Ilha do Medo. O universo estudado foi formado pelos responsveis dos atrativos tursticos e a amostra deu-se por acessibilidade, ou seja, os elementos foram selecionadas pela facilidade de acesso a eles.

    Os instrumentos da coleta de dados foram observao e a entrevista. Neste trabalho foi utilizada a semiestruturada, que aquela em que o entrevistador formata previamente as perguntas, seguindo um roteiro, porm sem estar preso a ele, as perguntas feitas ao entrevistado so determinantes (MARCONI, 1999).

    Quanto a observao esta deu-se mediante roteiro preliminar, onde se equipamento fotogrfico para resultar em documento de pesquisa. A coleta de dados relacionados anlise das localidades mencionadas acima, ocorreu, tambm, atravs da observao e anlise do local e seu entorno, com auxlio do equipamento fotogrfico para resultar em documento de pesquisa. A pesquisa emprica foi realizada em novembro de 2011.

    Proposta para a Ilha do Medo O termo turismo de sol e praia passou a ser empregado para uma

    variedade de ambientes, considerando-se como praia a rea situada ao longo de um corpo de gua, constituda comumente de areia, lama ou diferentes tipos de pedras, abrangendo as praias martimas, fluviais e lacustres (margens de rios, lagoas e outros corpos de gua doce) e praias artificiais

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    (construes similares s praias naturais beira de lagos, represas e outros corpos d gua) (BRASIL, 2009).

    O segmento de sol e praia est associado ao nmero de horas de sol anual dos lugares, o que gera uma concentrao muito grande de turistas nacionais ou internacionais nos destinos nas pocas de mais sol.

    Historicamente, o segmento tem sido associado ao turismo de massa, por concentrar um grande nmero de pessoas na mesma poca e em um s lugar. Apresenta altas taxas de sazonalidade, o que traz, como consequncia, uma demanda concentrada nos meses de vero ou estiagem (no caso das praias fluviais) e em perodos de frias ou feriados prolongados (BRASIL, 2009).

    Constituir um perfil nico do turista de sol e praia um desafio, pois este segmento est coligado a um circuito de atividades e dinmicas distintas ao longo do territrio. importante entender os princpios bsicos da eleio da destinao entre os distintos grupos de consumidores, caracterizando, assim, as necessidades, desejos e satisfaes de cada grupo, de forma detalhada (BRASIL, 2009).

    So percebidas so algumas caractersticas comuns aos turistas e usurios do segmento de sol e praia, motivados pelo desejo de descanso, prticas esportivas, diverso, novas experincias e busca de vivncias e interao com as comunidades receptoras.

    Vrias acepes tm sido utilizadas para o segmento de sol e praia, mas para fins de formulao de polticas pblicas, considera-se o segmento denominado como: Turismo de Sol e Praia constitui-se das atividades tursticas relacionadas recreao, entretenimento ou descanso em praias, em funo da presena conjunta de gua, sol e calor.

    A partir da anlise do segmento, percebe-se a potencialidade da Ilha do Medo em receber um projeto turstico voltado para as caractersticas do turismo de Sol e Praia, pois, possui um ambiente propcio a recreao e lazer, alm do favorecimento do clima do estado do Maranho que permite um grande perodo referente a sazonalidade, j que possui o clima vero como predominante.

    A proposta se daria em melhorias a infraestrutura bsica como energia, rede de esgotos ou processos alternativos de manejo de resduos, afim de facilitar a estadia do turista na Ilha. A capacitao dos moradores para a prtica de atividades relacionadas ao turismo, como um guia local que auxilie algumas atividades j existentes na ilha, como as trilhas locais para visitao ao farol e visitar as praias que rodeiam a ilha.

    Outra capacitao dada aos moradores pode ser relacionada a rea de culinria tpica (Figura 3) do estado do Maranho, para que a partir da a atividade possa render lucros a comunidade local.

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    Figura 3: Culinria local. Fonte: Produo da autora. Figure 3: Local cuisine. Source: Production of the author.

    So consideradas atividades tursticas o conjunto de atividades e servios gerados em funo do turismo, ou seja, no caso do turismo de pesca, da viabilizao da prtica da pesca amadora aos indivduos que se deslocam a partir de sua residncia habitual (BRASIL, 2009). Esse conjunto envolve a oferta de equipamentos, produtos e servios, tais como:

    a) Operao e agenciamento servios de operao de viagens, excurses, organizao, contratao e execuo de programas ou itinerrios, alm de recepo e assistncia ao turista;

    b) Transporte servios de deslocamento de pessoas ou carga em veculos ou embarcaes at as regies de pesca;

    c) Hospedagem hotel, camping, barco-hotel, pousada, dentre outros; d) Alimentao servios culinrios ofertados nos barcos de apoio

    pescaria, restaurantes, cafeterias, bares e similares; e) Recepo e conduo guias e condutores de turismo especializados no

    segmento e conhecedores dos pontos de pescaria, responsveis por acompanhar, orientar e transmitir informaes a pessoas ou grupos;

    f) Eventos competies de pesca, palestras, festas, encontros relacionados ao tema;

    g) Material para pesca iscas, varas, molinetes etc.; h) Outras atividades complementares que existam em funo do turismo

    (BRASIL, 2009, p.140).

    Aps compreender a definio do termo atividades tursticas quando inserido ao conceito de turismo de pesca, resta refletir sobre o termo pesca amadora.

    O IBAMA (2009) define a pesca amadora como aquela praticada por brasileiros ou estrangeiros com a finalidade de lazer, turismo e desporto, sem finalidade comercial. (Art. 2 da Portaria N4, de 19 de maro de 2009). A pesca amadora, portanto, no envolve, necessariamente, a devoluo do peixe gua, atitude relacionada ao conceito de pesca esportiva.

    A pesca esportiva uma modalidade da pesca amadora em que obrigatria a prtica do pesque e solte, sendo vedado o direito cota de transporte de pescados, prevista na legislao. Portanto, ela diz respeito a uma modalidade em que se devolvem gua todos os peixes capturados por

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    meio da prtica do pesque e solte, possibilitando a sua sobrevivncia (BRASIL, 2009).

    Em ambos os casos, o conhecimento e o respeito legislao vigente so fundamentais para que a atividade no se transforme em um problema para o turista de pesca. Nesse sentido cabe, aos fornecedores dos servios tursticos prestarem as informaes necessrias ao turista, visando garantir o respeito legislao.

    A pesca esportiva pode ser outro segmento a ser abordado na ilha (Figura 4), j que a mesma possui potencial para a atividade, se tratando de ilha, possui locais que podem ser adaptados afim de proporcionar maior segurana ao visitante. A construo de um per, para captao de embarcaes pode ser prolongado afim de estabelecer locais para o praticantes da pesca na localidade. O per poderia ser localizado no lugar em que as embarcaes costumam desembarcar os passageiros (Figura 5).

    Figura 5: Prtica da pesca esportiva. Fonte: Produo da autora. Figure 5: Practice of sport fishing. Source: Production of the author.

    Figura 5: Sugesto de local para o per na Ilha do Medo. Fonte: adaptado de Google (2011). Figure 5: Suggested location for the pier in Ilha do Medo. Source: adapted from Google (2011).

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    A capacitao dos moradores para servirem de instrutores de pesca de fundamental importncia, devido gerao de renda para as famlias residentes na localidade, alm de estabelecer um contnuo contato com uma atividade caracterstica da comunidade, assim preservando-a.

    Podem ainda, os produtos e servios estabelecidos na prtica do turismo de base comunitria que , ainda, um segmento pouco conhecido, cientificamente, entretanto tem sido visvel como um campo de estudo e como uma atuao mais efetiva por parte do poder pblico, no que tange incentivos:

    [...] em maio de 2008, foi anunciado publicamente o lanamento do Edital 01/2008 do Ministrio do Turismo voltado para o financiamento especfico de projeto de Turismo de Base comunitria. Embora no se possa definir como uma poltica pblica federal, esse foi um marco das primeiras aes do poder pblico federal em apoio a um outro modelo de turismo onde as populaes tradicionais, os trabalhadores rurais, os pescadores, os representantes das culturas indgenas so os principais protagonistas (MINISTRIO DO TURISMO, 2009b, p.15).

    Assim, o turismo comunitrio entendido por toda configurao de organizao empresarial amparada na particularidade e na autogesto sustentvel dos recursos patrimoniais comunitrios, assim como as tcnicas de colaborao e igualdade no ambiente de trabalho e na distribuio dos benefcios gerados pelos servios tursticos, com a particularidade do turismo comunitrio, sua dimenso humana e cultural e o objetivo de incentivar o dilogo entre iguais e encontros interculturais de qualidade com nossos visitantes, na perspectiva de conhecer e aprender com seus respectivos modos de vida (BRASIL, 2009b)

    Fundamentado em princpios de solidariedade, o turismo comunitrio est entre as atividades que movimentam a localidade juntamente com a comunidade, por no se tratar de concorrncia, adversrios, e sim utilizar a comunidade com um todo, como empreendedores e protagonistas do local (ECODESENVOLVIMENTO, 2011).

    A partir destes conceitos sobre o turismo de base comunitria, pode-se, tambm, adequar as atividades j citadas acima para a qualificao do turismo nesta nova temtica, ainda no oficial, do Ministrio do Turismo, como a atividade da pesca, culinria local, trilhas, entre outras atividades, prezando sempre pela sustentabilidade ambiental e social da localidade.

    Concluso A fim de permitir a conduo apropriada da utilizao do turismo, faz-

    se necessria a incorporao do planejamento e projeto turstico como instrumentos de organizao e estruturao de espaos tursticos. O planejamento e os projetos so os meios pelo quais se pode elaborar e direcionar polticas pblicas com o intuito de regularizar e melhorar o

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    aproveitamento do turismo, independente de qual seja sua utilizao. Permite ainda a construo de cenrios e futuros desejados pelos seus idealizadores.

    No mbito municipal a relao da economia do turismo com a necessidade de planejamento da atividade torna-se visvel, pois nesta unidade territorial que se encontram efetivamente os recursos tursticos e os atrativos que possibilitam o interesse e as deslocaes dos turistas. A interveno dos municpios nas polticas de desenvolvimento do turismo torna-se, assim, imprescindvel e fundamental para promoo e ampliao dos benefcios da atividade turstica local.

    A cidade de So Lus (MA), por sua vez, possui os recursos e o potencial turstico necessrios para fomentao da atividade turstica na localidade. No entanto, alguns atrativos ainda no foram mapeados ou simplesmente no foram transformados em produtos, por isso, neste trabalho, utilizou-se de alguns atrativos e props-se a formatao dos mesmos como novas opes para os roteiros da cidade.

    Para que um destino turstico mantenha-se competitivo necessrio que inove cada vez mais, pois a concorrncia no mercado nacional e internacional alta. Alm disso, a qualidade exigida hoje pelo turista deve ser refletida no produto formatado.

    Dessa maneira, espera-se tambm contribuir para o melhor posicionamento do destino So Lus, juntamente com os produtos tursticos formatados no mercado e para o atendimento s novas demandas do turista.

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    Saulo Ribeiro dos Santos: Universidade Federal do Maranho, So Lus, MA, Brasil. E-mail: [email protected] Link para o currculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6334574563260950

    Paloma Arajo Pinto: Universidade Federal do Maranho, So Lus, MA, Brasil. E-mail: [email protected] Link para o currculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/7904283579429076

    Protsio Czar dos Santos: Universidade Federal do Maranho, So Lus, MA, Brasil. E-mail: [email protected] Link para o currculo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8366575648240693

    Data de submisso: 02 de julho de 2012

    Data de recebimento de correes: 02 de julho de 2012

    Data do aceite: 25 de julho de 2014

    Avaliado anonimamente