revista economia v 14 n 2 2012

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V.14 Nº 2 DEZEMBRO 2012 ISSN 1517-1302 ECONÔMICA Revista da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense Carlota Pérez Florencia Barletta Verónica Robert Gabriel Yoguel Frederico Rocha Jorge Rafael Figueroa Elenes Lena Lavinas Paula Martins Antonio César Ortega Vitor Alberto Matos Dossiê: Especialização em indústrias baseadas em recursos naturais e o futuro de América Latina

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Page 1: Revista economia v 14 n 2 2012

V.14 Nº 2 DEZEMBRO 2012

ISSN 1517-1302

ECONÔMICA

Revista da Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense

Carlota PérezFlorencia BarlettaVerónica RobertGabriel YoguelFrederico RochaJorge Rafael Figueroa ElenesLena LavinasPaula MartinsAntonio César OrtegaVitor Alberto Matos

Dossiê:Especialização em indústrias baseadas

em recursos naturais e o futuro de América Latina

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ECONÔMICA Niterói v.14 n. 2 p. 1 - 168 Dezembro 2012

ECONÔMICAV.14 N.2 DEZEMBRO 2012

ISSN 1517-1302

SUMÁRIO5 Editorial

Dossiê: Especialização em indústrias baseadas em recursos naturais e o futuro da América Latina

9 ApresentaçãoAna Urraca Ruiz

11 Una visión para América Latina: Dinamismo tecnológico e inclusión social mediante una estrategia basada en los recursos naturalesCarlota Pérez

55 Algunos comentarios sobre el artículo “Dinamismo tecnológico e inclusión social mediante una estrategia basada en los recursos naturales”, de Carlota Pérez Florencia Barletta,Verónica Robert, Gabriel Yoguel

63 Comentários a “Una visión para América Latina: Dinamismo tecnológico e inclusión social mediante una estrategia basada en los recursos naturales”, de Carlota Perez: a Lei de EngelFrederico Rocha

73 Réplica a los comentarios Carlota Pérez

Artigos85 Empreendedorismo, Microcrédito e Superação da Miséria no Brasil:

pontos em debateLena Lavinas, Paula Martins

115 Infraestructuras Públicas y Desarrollo Económico en MéxicoJorge Rafael Figueroa Elenes

137 Outra Economia para a Nova Sociologia EconômicaAntonio César Ortega, Vitor Alberto Matos

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ECONÔMICA

A Revista Econômica é uma publicação semestral do programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense, que publica artigos e resenhas em Economia, principalmente de autoria de pesquisadores de ou-tras instituições. Não sendo uma revista departamental, a Econômica conserva, não obstante, duas especificidades da instituição de docência e pesquisa que a abriga: a pluralidade temática e metodológica e uma ênfase em questões de policy. Em outras palavras, a revista publica artigos em Economia, teórica ou aplicada, contemplando uma variedade de temas e abordagens, e um dossiê temático voltado para políticas públicas. Neste sentido, no horizonte das revistas pluralistas em Economia, a Econômica se diferencia ao propor, por meio dos dossiês um diálogo entre diferentes abordagens (normalmente separadas em revistas especializadas) sobre temas de interesse público. Cada número da revista é composto por não menos do que quatro artigos e por um dossiê temático, que funciona à maneira de um fórum público de discussão. Os artigos, de conteúdo e abordagem variados, são submetidos a dois pareceristas espe-cialistas, sempre de instituições diferentes das instituições de origem dos autores, em sistema double blind review. O dossiê é formado por contribuições convidadas de especialistas nacionais e internacionais, de excelência amplamente reconhecida, e contém um position paper, seguido por dois comentários inéditos sobre tema de relevância na atuali-dade, a juízo do Comitê Editorial.Editores Responsáveis: Danielle Carusi Machado e Emmanoel de Oliveira Boff.Comitê Editorial: Alberto Di Sabbato, Ana Urraca Ruiz, Carmem Feijó, Danielle Carusi Machado, Emmanoel de Oliveira Boff, Fábio Domingues Waltenberg, Marcelo Dias Carcanholo.Editores Associados: Gary Dymski (University of California) e Lionello Punzo (Università di Siena).Conselho Editorial: Ademar Romeiro (Unicamp, Campinas, Brasil), Ana Maria Bianchi (USP, São Paulo, Brasil), Alessandro Vercelli (Universidade de Siena, Itália), Antonio Barros de Castro (in memoriam), Antonio Maria da Sil-veira (in memorian), Carlos Lessa - professor emérito da UFRJ (BNDES, Rio de Janeiro, Brasil), Clélio Campolina Diniz (UFMG, Belo Horizonte, Brasil), Eleutério Prado ((USP, São Paulo, Brasil), Ernesto Screpanti (Universidade de Siena, Itália), Fernando Cardim de Carvalho (UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil), Fernando de Hollanda Barbosa (FGV, Rio de Janeiro, Brasil), Francesco Farina (Universidade de Siena, Itália), Gary Dymski (Universidade da Califórnia Riverside, EUA), Geoffrey Hodgson (Universidade de Hertfordshire, GB), Gervásio Castro de Rezende (UFF, Rio de Janeiro, Brasil), Ignacy Sachs (École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris, França), Jan Kregel (ONU, New York, EUA), Lionello Punzo (Universidade de Siena, Itália), Luis Gonzaga de M. Belluzo (Unicamp, Campinas, Brasil), Maria da Conceição Tavares (UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil), Maria de Lourdes R. Mollo (UNB, Brasília, Brasil), Mario Possas (UFRJ, Rio de Janeiro, Brasil), Octavio Ianni (in memoriam), Otaviano Canuto - Banco Mundial (USP, São Paulo, Brasil), Paulo Nogueira Batista Jr. FMI (FGV, Rio de Janeiro, Brasil), Philippe van Parijs (Universidade Católica de Louvain, Bélgica), Ricardo Paes e Barros (IPEA, Rio de Janeiro, Brasil), Ricardo Tolipan (in memoriam), Rodolfo Hoffmann (Unicamp, Campinas, Brasil), Theotonio dos Santos (UFF, Niterói, Brasil), Victoria Chick (University College London, GB), Werner Baer (Universidade de Illinois, EUA).Redação e assinaturas: Pós Graduação de Economia da Faculdade de Economia - Campus do Gragoatá – Bloco F – São Domingos - Niterói – RJ – CEP 24210-350 E-mail: [email protected]ço eletrônico: http://www.proppi.uff.br/revistaeconomica/ ou http://www.revistaeconomica.uff.br/Editoração Eletrônica: Fabricio Trindade Ferreira MERevisão, copidesque e normalização: Tania Heglacy Moreira de Almeida

CDD 330

Econômica / Revista do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal Fluminense v. 14, n.2 (2012). Rio de Janeiro - Niterói: PPGE/Faculdade de Economia, 2012.v.:il. ; 23 cm.

SemestralISSN 1517-13021. Economia - Periódicos. I. Universidade Federal Fluminense.Programa de Pós-Graduação em Economia

A revista Econômica é indexada nos indexadores da American Economic Association: JEL on CD, e JEL, EconLit.

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Pareceristas

Os editores da Revista Econômica agradecem aos seguintes professores e pesquisadores que, na qualidade de pareceristas, contribuíram para assegurar a qualidade desta publicação, na edição do volume 14 (2012):

Pablo Martín UrbanoUniversidad Autónoma de Madrid, Espanha

Cláudio César de PaivaUniversidade Estadual Paulista, Brasil

Diogo Franco MagalhãesUniversidade Estadual de Campinas, Brasil

Maria Beatriz Borba FlorenzanoUniversidade de São Paulo, Brasil

Camila FerrazMacroplan, Brasil

Adriana FontesInstituto de Estudos do Trabalho e Sociedade – IETS e Macroplan, Brasil

Antonio Carlos de CamposUniversidade Estadual de Maringá, Brasil

Edilson GraciolliUniversidade Federal de Uberlândia, Brasil

Marina SartoreUniversidade Federal de São Carlos, Brasil

Fernando MattosUniversidade Federal Fluminense, Brasil

Maurício Cortez ReisInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Brasil

João Damásio de Oliveira FilhoUniversidade Federal da Bahia, Brasil

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A palavra Econômica tem a sua origem no termo grego oikonomique, concebido por Aristóteles

para designar a atividade, arte, faculdade, ciência ou virtude do uso adequado dos bens necessários

a uma vida moralmente boa e feliz.

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Editorial

O segundo número do ano de 2012 da Revista Econômica traz como tema de dossiê o debate acerca de uma estratégia de desenvolvimento para a América Latina que preconiza a especialização em indústrias baseadas em recursos natu-rais. Segundo o artigo “Uma visión para América Latina: dinamismo tecnológico e inclusión social mediante uma estratégia basada em lós recursos naturales” , de autoria de Carlota Pérez, os países latino americanos tem uma “janela de oportunidade” , devendo explorar suas vantagens competitivas na área de recursos naturais. Como bem destaca a apresentação do dossiê feita por Ana Urraca Ruiz, isto significa in-vestir em conhecimento de paradigmas tecnológicos onde as possibilidades ainda não se esgotaram, ou seja, em nichos que, se bem desenvolvidos podem gerar tecnologias mais complexas e agregar mais valor à economia. Seguido do artigo de Carlota Pérez, o dossiê apresenta os comentários dos pesquisadores argentinos Florencia Barletta, Verónica Robert e Gabriel Yoguel, que destacam a importância de uma mudança estrutural setorial e as dificuldades da América Latina se inserir na onda tecnológica da derivada da globalização. Do lado brasileiro, temos os comentários de Frederico Rocha. Para o autor, a estratégia apresentada por Car-lota é uma alternativa às políticas macroeconômicas, concordando que se devem construir capacitações e aproveitar vantagens domésticas. O dossiê finaliza com a réplica de Carlota Pérez aos comentários realizados.

Na parte dos artigos submetidos, temos “Empreendedorismo, Microcrédito e Superação da Miséria no Brasil: pontos em debate” de autoria de Lena Lavinas e Paula Martins. Este artigo faz um panorama da situação social do Brasil durante os anos 2000 e levanta pontos e questionamentos sobre o Programa Brasil Sem Miséria cujas ações perpassam por uma análise multidimensional da pobreza, que englobam não somente transferências de renda, mas, sobretudo ações relaciona-das à inclusão produtiva, tais como microcrédito e capacitação profissional.

O segundo artigo “Infraestructuras Públicas y Desarrollo Económico en Méxi-co” de Jorge Rafael Figueroa Elenes, analisa como a maior dotação de infraestru-tura pública afeta o crescimento e o desenvolvimento econômico das economias regionais mexicanas.

Já o terceiro e último artigo “Outra Economia para a Nova Sociologia Eco-nômica”, de autoria de Antonio César Ortega e Vitor Alberto Matos, apresen-

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ta a crítica da Nova Sociologia Econômica (NSE), destacando que é dirigida à Economia Neoclássica e à nova Economia Institucional. Desta forma, chamam a atenção para o fato de que a NSE pode ter interlocução com a Economia à me-dida que se constrói uma “outra” Economia, que considere estruturas de mercado dinamicamente, historicidades e incertezas dos agentes.

Encerramos mais um ano da Revista Econômica e agradecemos a todos que contribuíram para a sua finalização.

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Dossiê

Especialização em indústrias baseadas em recursos naturais e o futuro da América Latina

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ApresentaçãoAna Urraca Ruiz*

Este dossiê da Revista Econômica traz a debate uma das questões mais con-troversas que atualmente os economistas latino-americanos vêm tratando na bus-ca de novos caminhos de desenvolvimento para América Latina.

Dentro da visão de desenvolvimento da tradição cepalina-estruturalista, a controvérsia surge pela aposta, de um lado, e o questionamento, de outro, de uma estratégia de crescimento sustentável no longo prazo baseada em uma es-pecialização produtiva construída a partir da exploração das potencialidades e vantagens que a América Latina tem em seus recursos naturais, tanto no que diz respeito ao desenvolvimento de cadeias produtivas, quanto à criação de valor.

Carlota Pérez trata de mostrar que o aproveitamento desse tipo de vanta-gens não é só uma, mas a melhor alternativa de especialização produtiva para o desenvolvimento da América Latina. Para isto, a autora começa por uma re-visão do modelo de substituição de importações que, apesar de seu sucesso nos anos sessenta e setenta, esgotou-se nos oitenta com a chegada dos paradigmas tecnológicos da eletrônica e as telecomunicações. A autora prossegue na sua ar-gumentação examinando os novos elementos críticos do cenário internacional dos anos noventa e primeiros dois mil, alguns dos quais estão relacionados ao surgimento desses novos paradigmas: a globalização tecnológica, produtiva e financeira; a liberalização dos mercados e o pensamento neoliberal; a reação da Ásia e a perda de oportunidades na América Latina; o novo papel desempenha-do pelas atuais Corporações Globais e a importância de seu alinhamento com os objetivos de desenvolvimento perseguidos pelos governos; e a hiper-segmen-tação internacional em sua tripla dimensão, a produtiva (cadeias de valor), a tecnológica e a dos mercados.

A partir deste cenário, Carlota constrói sua proposta. Tal como a Ásia fez uso da sua vantagem comparativa na dotação de recursos de “mão de obra”, a autora entende que a América Latina tem uma “janela de oportunidade” encami-nhando sua reestruturação produtiva à exploração de suas vantagens em recursos naturais, incorporando os conhecimentos trazidos pelos paradigmas tecnológicos (incluindo biotecnologia), cujas possibilidades ainda não estão esgotadas. Tratar--se-ia de uma mudança estrutural gradual dirigida a indústrias de processos, des-de commodities de grande escala (aço, alumínio, papel, refino, cerveja, petroquí-*Professora Associada da Faculdade de Economia, UFF. E-mail: [email protected]

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mica, alimentos), até os de escala intermediária (química, materiais), assim como em produtos de nicho. Essa especialização permitiria desenvolver capacidades sobre competências tecnológicas e produtivas que gradualmente iriam avançando para tecnologias mais complexas (ciências de materiais e ciências da vida) e para atividades mais especializadas e de maior valor agregado.

A proposta enfrenta ainda vários questionamentos positivos previsíveis pela autora, como a literatura sobre “maldição dos recursos naturais”, a questão da “doença holandesa” pelo efeito deste tipo de especialização sobre a taxa de câm-bio, e outros de tipo normativo, como o papel do Estado e o ambiente institucio-nal adequado para fazer possível a proposta sem deixar de lado um objetivo de fundo que é de prioritário em América Latina: a questão social.

O texto de Carlota conta com os comentários de vários autores. Em pri-meiro lugar, os pesquisadores argentinos Florencia Barletta, Verónica Robert e Gabriel Yoguel chamam a atenção sobre as dificuldades de a América Latina “pe-gar carona” na hiper-segmentação produtiva e tecnológica derivada da globa-lização. Em seu lugar, eles confiam mais numa mudança estrutural baseada na criação de novos setores (unrelated variety) do que a baseada na diversificação dos existentes (related variety); uma mudança estrutural pautada pela eficiência keynesiana (setores de elevada elasticidade-renda e dinamismo da demanda) e schumpteriana (setores que incorporam alta tecnologia). Eles colocam ainda dú-vidas perante fatos tão relevantes como o papel da China, o preço internacional das commodities e a possível deterioração dos termos de troca assim como os riscos sobre a taxa de câmbio.

Em segundo lugar, Frederico Rocha enfatiza seu comentário em dois aspec-tos: a extensão da Lei de Engel, refletida na menor elasticidade renda das expor-tações latino-americanas com respeito àquelas de outros países, e a sobrevaloriza-ção da taxa de câmbio, problema que atualmente enfrentam muitas economias latino-americanas, fruto de políticas econômicas liberalizantes. Para esse autor, a proposta de Carlota é uma solução alternativa às propostas de política macroeco-nômica que, para resolver a questão cambial, agravariam os problemas de distri-buição de renda. O autor observa os problemas de diversificação nas indústrias de processo, mas, assim como Carlota, considera que a questão competitiva está além da questão cambial e concorda com a ideia de “construção de capacitações” mediante o aprendizado e o catching-up sobre vantagens domésticas, qualificando este como “um caminho não obtido por escolha, mas por exclusão”.

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Una Visión para América Latina: Dinamismo tecnológico e inclusión social mediante

una estrategia basada en los recursos naturales1

Carlota Pérez*

INTRODUCCIÓNEl presente ensayo examina las tendencias actuales de la globalización y de la

difusión tanto de la revolución de las TIC (Tecnologías de Información y Comuni-cación) como de su paradigma, con el fin de proponer una visión de futuro exitosa y socialmente equitativa para América Latina; una visión basada en rasgos compar-tidos y capaz de abarcar al mismo tiempo toda la diversidad de sus países. Con ello se espera proporcionar los fundamentos para la realización de investigaciones ulte-riores profundas así como promover un debate serio y amplio alrededor del tema.

La propuesta se organiza con base en el trabajo de la autora acerca de la difusión de las revoluciones tecnológicas, la manera como las tecnologías y las capacidades tecnológicas determinan el potencial de crecimiento y el modo como los contextos tecnológicos mundiales cambian las ventanas de oportunidad para el desarrollo de países y regiones.

Se trata de una proposición en respuesta a la preocupación creciente entre los latinoamericanos sobre la dificultad de emprender un camino de desarrollo dinámico si no se cuenta con un sentido de dirección acordado. Los precios cre-cientes de las materias primas a mediados de la década de los 2000 sin duda ofrecieron el combustible para retomar un ritmo mayor de crecimiento, pero las capacidades tecnológicas no crecieron al mismo ritmo y aun persisten desigual-dades muy profundas— más hondas incluso que en la década de 1970. La región está tomando conciencia de la necesidad de contar con bases más sólidas para llegar a tener una fuente más estable de crecimiento económico y de potencial para el desarrollo social.

Dado el fuerte sesgo asiático del actual proceso de globalización, es muy im-portante identificar áreas con potencial tecnológico donde América Latina tenga

1 Texto disponível em Globelics Working Paper Series. No. 2008-04. ISBN: 978-970-701-963-8. Trabalho preparado para o “Programa de Política Tecnológica y Desarrollo de América Latina” da CEPAL.

* Centennial Professor, London School of Economics. Professor of Technology and Development, Universidad Tecnológica de Talín, Estônia. Senior Research Associate, CFAP/CERF, University of Cambridge. Honorary Professor, SPRU, University of Sussex. Site: www.carlotaperez.org

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una ventaja comparativa respecto al Asia. En términos bastante simplificados, Asia se puede considerar como un continente muy densamente poblado con una dotación relativamente escasa de recursos naturales. América Latina en cambio es muy rica en recursos naturales y tiene una densidad poblacional mucho menor. Estas condiciones le dan a Asia la ventaja en cuanto a las industrias de fabricación (ensamblaje) intensivas en mano de obra, mientras que las de América Latina fa-vorecen a las industrias de procesos basadas en recursos naturales. Como la región es extremadamente diversa en cuanto a la dotación de esos recursos, esta dirección general podría permitir— y de hecho requiere— especializaciones diferenciadas.

La fabricación no debería— y no podría— abandonarse, pero el grueso po-dría concentrarse en áreas al servicio de las industrias de procesos (aguas arriba y aguas abajo) o dirigirse a nichos de alto valor y bajo volumen de producción. Esto último se haría aprovechando la híper-segmentación de los mercados caracterís-tica de la oleada de globalización actual, moldeada por el paradigma de las TIC. Por supuesto, en países más grandes como Brasil o México la fabricación por volumen puede hacerse competitiva mediante el apalancamiento del mercado nacional o la incorporación de rasgos tecnológicos especiales y diferenciadores.

La adquisición de capacidades en las industrias basadas en recursos naturales asociadas con la biotecnología y la ciencia de los materiales tiene la ventaja de preparar el terreno para el posicionamiento adecuado en las tecnologías que hoy se vislum-bran como candidatas probables a formar parte de la próxima revolución tecnológica: biotecnología, nanotecnología, bioelectrónica y nuevos materiales. Más adelante se propondrá un esfuerzo focalizado para asegurar que esa preparación tenga lugar.

Las industrias de procesos de ordinario no son intensivas en mano de obra y tienden a requerir una alta proporción de personal calificado y altamente cali-ficado. Esto significa que aunque puedan contribuir al crecimiento económico y al enriquecimiento en cuanto al capital humano y técnico— ambos cruciales para dar un salto adelante en el desarrollo (catching-up)- no son suficientes para reducir el abismo entre ricos y pobres, ni para eliminar el desempleo y superar la pobreza. Tampoco se puede confiar en el efecto del ‘goteado’ tan cuestionado por la experiencia histórica. Esto sugiere la necesidad de emprender acciones en favor del desarrollo en dos direcciones: ‘desde arriba’ y ‘desde abajo’. Por lo tanto, esta propuesta supone lo que podría llamarse un modelo dual integrado.

La mitad de la estrategia de desarrollo a promover ‘desde arriba’, ya delineada, apuntaría a lograr la competitividad en los mercados mundiales para llegar hasta la frontera tecnológica en ciertas áreas y procesos e incluso tomar la delantera (forging ahead), especialmente mediante alianzas con empresas globales. Por su parte, la mitad de la estrategia ‘desde abajo’ actuaría directamente en cada porción del ter-

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ritorio, en los niveles municipal y local identificando, promoviendo, facilitando y apoyando las actividades de creación de riqueza dirigidas al mercado más adecuado: local o regional, nacional o global. Estas tenderán a ser “conglomerados” especiali-zados dirigidos hacia mercados de nicho basados en las ventajas locales.

Como se discutirá más adelante, las dos mitades de la estrategia dual son fa-cilitadas por las nuevas condiciones globales. La acción ‘desde abajo’ se dedicaría a la reducción de la pobreza y la acción ‘desde arriba’ a la activación y fortaleci-miento de los motores de crecimiento de la economía, con lo cual proporcionaría los recursos para dar viabilidad a ambas mitades.

La estrategia dual no puede ser implementada exclusivamente por el merca-do, pero tampoco puede ser impuesta eficazmente por el gobierno, mucho menos en el paradigma actual, el cual requiere innovación constante y flexibilidad ante los cambios en el contexto. Este modelo sólo puede funcionar adecuadamente como resultado de una visión compartida socialmente, donde los diversos agentes de cambio actúen de manera autónoma en las direcciones acordadas, integrados por un gobierno activo con un marco institucional adecuado y efectivo. Su im-plementación requerirá un proceso de construcción de consensos donde se invo-lucre a las empresas, el gobierno, las universidades, los medios de comunicación y la sociedad en general, seguido por las medidas políticas adecuadas para inducir y facilitar el comportamiento del mercado en las direcciones acordadas.

Para preparar la presentación de esta estrategia, comenzaré con la interpreta-ción del modelo de Sustitución de Importaciones de Raúl Prebisch, considerán-dolo como una estrategia de suma positiva exitosa que aprovechó una ventana de oportunidad muy específica. Ello indica la necesidad de identificar la naturaleza de la ventana actual. Con esto en mente, la siguiente sección examina la globali-zación como un elemento intrínseco al paradigma de las TIC y particulariza tres procesos de híper-segmentación con fuerte influencia en la definición del espacio de oportunidades. Luego se presentan los grandes rasgos del modelo dual, identi-ficando las direcciones generales de la especialización de las industrias de procesos basadas en recursos naturales, teniendo en cuenta tanto la necesidad urgente de combatir la pobreza como el auge asiático. En las siguientes tres secciones se ana-lizan en detalle las tres híper-segmentaciones clave— de los mercados, las cadenas de valor y las tecnologías- considerando cómo cada una de ellas define espacios de oportunidad en las dos direcciones de la estrategia propuesta. En la siguiente sección se muestra cómo la especialización basada en los recursos naturales puede también preparar el terreno de manera efectiva para la inserción exitosa en lo que parece ser la próxima revolución tecnológica. A continuación se discuten breve-mente las teorías acerca del desarrollo basado en los recursos naturales y se indi-ca por qué se puede considerar que las condiciones actuales crean una ventana

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de oportunidad para emprender esa ruta de desarrollo. La sección final sostiene la necesidad de revitalizar el rol del gobierno como constructor de consensos y como facilitador proactivo de la estrategia en sus dos componentes.

Aunque la argumentación se basa en los trabajos de la autora sobre los patro-nes recurrentes en la difusión de las revoluciones tecnológicas, este breve trabajo no permite resumir esos patrones o pasar revista al significado de los conceptos y la terminología. Se espera que, para los propósitos actuales, sean suficientes las explicaciones sucintas proporcionadas en el texto.3 Más aún, se recomienda al lector considerar este escrito como un ensayo más que como un artículo de in-vestigación; como una propuesta sustentada por una visión del mundo particular más que como un análisis empírico del contexto o de la viabilidad. Está destinado a abrir, más que a clausurar, un debate necesario.

CONDICIONES CAMBIANTES, ESTRATEGIAS CAMBIANTES:

Éxito y obsolescencia del modelo de Sustitución de Importaciones.Las sucesivas revoluciones tecnológicas y sus patrones de difusión determi-

nan el contexto cambiante del desarrollo y abren escenarios sucesivos y distintos para la acción. Por ello las oportunidades de desarrollo son un blanco móvil y las estrategias de desarrollo han de ser temporales y abiertas a las actualizaciones y rediseños que se vayan presentando como necesarias.2

El modelo de Prebisch de industrialización por sustitución de importacio-nes (ISI)3 ha sido criticado con mucha frecuencia desde la perspectiva del final del siglo veinte y el comienzo del veintiuno. En un sentido esto es como encon-trarle defectos a la antigua organización jerárquica de las grandes corporaciones, vista ahora como ‘dinosaurio’ después de haber sido reemplazada por la estructu-ra de red flexible propia del paradigma de las TIC. Es fácil olvidar que esas cor-poraciones con sus estructuras burocráticas piramidales dirigieron exitosamente el crecimiento sin precedentes del auge de la post-guerra. Por eso precisamente fueron las organizaciones adecuadas para las tecnologías de la Era del Automó-vil, la Producción en Masa y la Petroquímica. De un modo similar, el modelo de la ISI logró grandes tasas de crecimiento en muchos países latinoamericanos durante casi dos décadas por lo cual fue una estrategia de suma positiva brillante y efectiva para los países en desarrollo empeñados en industrializarse, cuando las tecnologías de esa revolución se acercaban a la madurez.3 Los lectores interesados pueden visitar la página web de la autora www.carlotaperez.org así como las publicaciones citadas en el texto.2 Perez (2001)3 Prebisch (1951) y (1988)

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Hacia finales de la década de 1950, muchas grandes corporaciones de los países desarrollados confrontaban dos límites al crecimiento. Por una parte, en el frente tecnológico, cada vez se les hacía más difícil añadir nuevos productos a las trayectorias acostumbradas y elevar la productividad en sus líneas de producción establecidas. Los aumentos salariales al ritmo del crecimiento de la productividad se hicieron cada vez más difíciles de negociar y terminaron generando inflación. Por otra parte los mercados ya estaban alcanzando la saturación lo cual cerraba las opciones de expansión. El “Modo de Vida Americano” con sus patrones de consumo había alcanzado a toda la fuerza de trabajo de los países desarrollados y a las pequeñas élites de la mayoría de los países en desarrollo. El crecimiento de los mercados sólo se alcanzaba mediante la “obsolescencia planificada”, gene-rando cambio fuertes en la moda para inducir a los consumidores a desechar los productos usados— en perfecto funcionamiento- y a comprar nuevos.

En aquel tiempo, los países en desarrollo no tenían ni la tecnología ni las escalas de mercado necesarias para establecer industrias competitivas y básica-mente exportaban materias primas e importaban productos manufacturados. Las “tijeras” de precios, sobre las cuales Prebisch llamó la atención, empeoraron a medida que las limitaciones de productividad y de mercados empujaban a las corporaciones a exprimir a los productores de materias primas y a transferir al consumidor los aumentos salariales.

El modelo de la ISI ofreció una solución dinámica común a los problemas de las grandes empresas de los países avanzados y a los gobiernos de los países en desarrollo. El traslado del ensamblaje final de los principales productos de con-sumo a estos países dinamizó sus economías al mismo tiempo que expandió los mercados mundiales creando amplias capas de nuevos consumidores.

El reemplazo de las importaciones de productos finales por importaciones de bienes de capital y de partes y la realización del ensamblaje final bajo fuerte protección arancelaria no mejoró la balanza de pagos de los países en desarrollo. Buena parte de los ahorros fue contrarestada por la repatriación de dividendos y por los pagos por marca, entrenamiento y licencias de tecnología, mientras que la inversión extranjera no traía fondos sino que usualmente se realizaba con prés-tamos locales. Pero el proceso trajo crecimiento y empleo y, sobre todo, generó demanda de construcción, infraestructura y servicios complementarios, creando la necesidad de una clase media profesionalizada y de una fuerza de trabajo educada.

Las plantas de ensamblaje final tampoco dieron como resultado un apren-dizaje tecnológico importante aunque requirieron competencias organizacionales y gerenciales así como el entrenamiento básico de los trabajadores. En cambio, se necesitaron y adquirieron competencias tecnológicas locales para construir, mejorar

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y operar puertos, aeropuertos, carreteras, electricidad, telefonía y agua (de ordinario desarrolladas con fondos estatales y bajo control del Estado), así como en industrias complementarias como cartón, artes gráficas, empaques, vidrio, plásticos, cemento y materiales de construcción. Las condiciones del mercado no exigían una alta productividad,4 pero sí requerían competencias de ingeniería para la fluidez y con-fiabilidad de las operaciones. Lo mismo se aplicaba a las agroindustrias de consumo masivo: cerveza, leche, jugos, carne, pasta etc. En estos casos, aunque las marcas y las tecnologías de proceso fueran generalmente importadas, necesitaban adaptarse a las características de los insumos y a las pReferências de los consumidores locales.

Por lo tanto, el proceso de sustitución de importaciones funcionó como un motor de arranque para la dinamización del resto de la economía y para la creación de una cultura de desarrollo en el sector público, lo cual supuso la realización de grandes inversiones en industrias básicas e infraestructura y el establecimiento de sistemas masivos de educación y salud. Obviamente, los países grandes con una base manufacturera fueron mucho más lejos en cuanto al tejido de una estructura industrial completa, con competencias más o menos desiguales en los diversos com-ponentes. Pero aun los países más pequeños y débiles fueron capaces de dar un salto adelante sustancial en el crecimiento (ver gráfico 1). Durante quince años aproxima-damente, el crecimiento real promedio de América Latina estuvo cercano al 4%, con períodos en los cuales uno que otro país creció cerca de 10% en promedio.

Alrededor de 1980, sin embargo, el modelo de la ISI estaba obsoleto. La revo-lución de la información ya despegaba y su paradigma había comenzado a rejuvene-cer las industrias maduras llevándolas a reorganizarse e innovar en nuevas direccio-nes. Era más fácil adquirir tecnologías viejas, pero—o a causa de que—ya no eran competitivas, mientras que se abría el acceso a los préstamos internacionales.5 Los intentos por subsidiar la promoción de exportaciones sólo tuvieron éxito donde ha-bía verdaderas competencias locales (un caso emblemático es Embraer, la productora de aviones brasilera). No era fácil exportar manufacturas hechas con tecnologías ma-duras en un mundo sumergido en la estanflación. Las multinacionales ya no estaban interesadas en las filiales de ensamblaje ni en el licenciamiento de productos, estaban ocupadas construyendo redes globales con proveedores asiáticos y exportando hacia el mundo entero a precios competitivos. La crisis de la deuda pronto se extendió

4 En una economía muy protegida, todos los precios relativos son consistentes con un bajo nivel de productividad y una tasa de ganancia atractiva. Los productos extranjeros también tienen un sobre-precio en relación con los estándares mundiales y llegan a ser prohibitivos cuando hay producción local, lo cual es precisamente el objetivo perseguido por la protección arancelaria.5 En la década de 1970, se multiplicaron los préstamos internacionales fáciles de adquirir a altas tasas de interés, comunes en las empresas tanto del sector privado como del sector público. Kindleberger (1978 p. 19) muestra cómo los préstamos fueron “prácticamente forzados” para los países en desarrollo. Estos préstamos, contraídos para realizar inversiones legítimas o por causa de la corrupción, dieron como resultado niveles de deuda que aún hoy resultan difíciles de pagar.

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por América Latina y las instituciones del “Consenso de Washington” hicieron ex-plícita su oposición a las protecciones. El proceso de “ajuste estructural” tuvo lugar a un ritmo desigual; buena parte de la inversión del sector público fue privatizada, la apertura de las economías gradualmente destruyó la mayoría de las industrias de ensamblaje final y el continente entró en la “década perdida”.6

Hacia mediados de los años 80, las corporaciones multinacionales (CMNs) se fueron modernizando, se globalizaron gradualmente y buscaron socios para sus ca-denas de valor globales. Algunas empresas latinoamericanas sobrevivientes de la ISI desprotegida y las empresas de la “promoción de exportaciones” comenzaron a apren-der con dificultad a modernizarse sin protección, a ser competitivas sin subsidios y a participar en las redes globales en uno u otro rol. Las tasas generales de crecimiento descendieron 2% en promedio y en varios países hubo años con caídas de -6% y -8%.

Gráfico 1 - Crescimento promedio real anual en America Latina por grupos de países según tamaño relativo 1961 - 2005

Fuente: Banco Mundial WDI 2006 (datos originales en dólares EEUU constantes de 1995)

Los Tigres Asiáticos también aplicaron el modelo de ISI y de hecho tu-vieron menos éxito al comienzo. Sin embargo, y quizás en parte porque no

6 Es en este contexto de la “década perdida” a finales de los años 80 cuando Fernando Fajnzylber lidera el proyecto de la CEPAL cuyo resultado fue Transformación Productiva con Equidad (CEPAL 1990). Esta publicación fue quizás el primer intento por encontrar una ruta moderna para que América Latina aprovechara el contexto de la revolución de las TIC. Desafortunadamente, Fajnzylber murió antes de cosechar los frutos de su trabajo. Quizás ha llegado el momento de revivir ese proyecto, cuyo contenido, casi dos décadas después, sigue siendo sorprendentemente válido.

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contaban con una fuente independiente de divisas proveniente de las materias primas, implementaron una manera de protegerse de las importaciones y sub-sidiar la exportación para alcanzar el crecimiento con base en las exportaciones, dando tiempo de aprendizaje protegido a sus “industrias incipientes”, facili-tando el surgimiento y crecimiento de empresas exportadoras competitivas y de complejos industriales. Cambiaron sus relaciones con las CMNs convir-tiéndose en suplidoras de bienes finales de exportación, con calidad de país desarrollado pero a costos de país en desarrollo. Esto era exactamente lo que las industrias maduras buscaban en los años 70 y a comienzos de los 80. El éxito en ese rol suponía haber reunido una alta productividad con bajos costos de mano de obra. El proceso implicaba un aprendizaje tecnológico intensivo ayudado por subsidios explícitamente temporales.7

Por obra de la suerte la región asiática se desarrolló como espacio para el ensamblaje de los productos y componentes electrónicos de las CMNs que terminarían siendo el núcleo de la revolución siguiente. Si bien inicialmente fueron exportadores de productos mecánicos, electromecánicos y vestido, estos países rápidamente entendieron la importancia de las TIC y su inclinación hacia los mercados globales. Construyeron— explícita o implícitamente- “vi-siones” nacionales compartidas claras para su desarrollo económico y experi-mentaron un éxito arrollador.

Sería inútil intentar reproducir esas políticas ahora; esa ventana de oportu-nidad ya se cerró. La revolución de las TIC está ahora a mitad de camino en su recorrido de difusión8 y la región asiática ha avanzado considerablemente en cuan-to a la acumulación de conocimientos y experiencia en tecnología, producción, gerencia y comercio. Muchas de sus empresas ahora están innovando en la fron-tera. Si América Latina quiere emprender un camino de desarrollo rápido tiene que reconocer cuáles son sus posibilidades en el contexto actual y hacia el futuro.

La premisa de toda esta interpretación— y la del artículo en su totalidad- es la condición de suma positiva de todas las estrategias de desarrollo exitosas (exceptuando los países que compiten por el liderazgo— forging ahead— en los primeros lugares). Las transformaciones tecnológicas y económicas de los países centrales del sistema mundial y de las corporaciones líderes de las principales in-dustrias determinan el contexto en el cual tienen lugar los procesos de avance sig-nificativo en el desarrollo— catching-up. Sólo a través de la comprensión clara de 7 En América Latina, el nivel de los aranceles normalmente se calculaba en relación con el costo local de producción del producto equivalente. Esto eliminaba todo incentivo para innovar o elevar la productividad. A medida que el modelo se orientó hacia la promoción de exportaciones a mediados de los setenta, los subsidios tendieron a calcularse de manera similar, sin considerar siquiera su eventual suspensión.8 Ver Pérez (2002:2004), Cap. 5, pp. 78-93 y Epílogo, pp. 223-28

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sus intereses y necesidades cambiantes así como de las ventajas y activos propios es posible identificar oportunidades para construir y subir las escaleras del desa-rrollo. Los casos de los cuatro Tigres Asiáticos y ahora de China e India muestran cómo la pertenencia a la periferia no constituye una situación de “dependencia” estática, sino más bien potencialmente dinámica.9

Por supuesto, aún en las mejores condiciones, todos los procesos de adelan-tamiento— catching-up— llevan tiempo,10 requieren persistencia y esfuerzo, y exigen un aprendizaje activo para poder relacionarse con los más poderosos sobre la base de ventajas mutuas reales.11 Estos procesos son también difíciles, desigua-les y muchas veces injustos, pero hasta ahora no se han encontrado atajos.

LA GLOBALIZACION Y SUS DETERMINANTES:

El paradigma de las TIC y la corporación global

La globalización es un rasgo intrínseco del paradigma de las TIC; la libera-lización no lo es. Es verdad que las características de las TIC hacen permeables las fronteras nacionales y amplían la escala potencial de producción, facilitando y requiriendo mercados a nivel planetario. Pero las políticas de “libre mercado”, en el sentido de permitir al mercado actuar por su cuenta— desregulado, sin guía ni restricciones nacionales o globales— dejaron ya de ser efectivas. De hecho, la eta-pa del laissez faire es un período pasajero, quizás inevitable, en el proceso de di-fusión de cada revolución tecnológica, y en el caso actual ya ese período culminó con el colapso financiero.12 Las primeras dos o tres décadas de propagación son un gran experimento de destrucción creadora durante el cual se instalan las nue-vas tecnologías al mismo tiempo que reemplazan o modernizan a las viejas, mien-tras que la competencia determina cuáles serán las nuevas industrias y los nuevos líderes industriales entre los muchos aspirantes. Es también el período durante el cual todos los agentes económicos aprenden el nuevo paradigma y cuando se instalan las nuevas infraestructuras, usualmente en un frenesí de sobre-inversión. Históricamente, ese Período de Instalación se cierra con el colapso de una gran burbuja tecnológica. Con ello termina también el laissez faire y se hace necesario 9 A juicio de la autora la Teoría de la Dependencia fue una explicación válida de las condiciones prevalecientes durante la Era de la Producción en Masa, especialmente durante las décadas de los cincuenta, sesenta y setenta. A partir de la revolución informática y el consiguiente proceso de globalización el contexto cambia radicalmente y exige ser analizado de nuevo.10 Bell (2006)11 Pérez (2001) pp. 120-121.12 Pérez (2006), pp. 52-54.

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el retorno del Estado regulatorio y redistributivo. Esto ocurre de manera distinta cada vez, según las características de la revolución tecnológica en cuestión.

En esta ocasión en particular, la necesaria recomposición institucional se ha de-morado y las tensiones se han podido esconder bajo la alfombra gracias a la apertura de los países del ex-mundo socialista, China en particular, lo cual ha sido una “solu-ción milagrosa” tanto para producir a bajo costo como para proporcionar enormes espacios frescos al crecimiento de los mercados. Pero las tensiones estructurales repri-midas suelen resurgir de manera explosiva (como ocurrió con el congelamiento del crédito luego de la caída de las hipotecas basura— sub-prime— en el 2007-2008). En las nuevas condiciones, la acción del libre mercado sin restricciones no puede sino agravar los problemas creados por ella misma cuando tenía la función de facilitar la “destrucción creadora”. La concentración de riqueza en el mercado de valores y la revolución tecnológica en los países del centro logran la instalación del nuevo poten-cial pero dan también como resultado una distribución regresiva del ingreso tanto en cada país como entre países. Este fenómeno fue y sigue siendo un importante factor de empobrecimiento para los países en desarrollo que no cabalgaron la ola de las TIC, donde las consecuencias han sido la intranquilidad social, la violencia, las presiones migratorias, el terrorismo y el atractivo de los líderes mesiánicos.

La tensión entre los valores de papel y los valores reales, generada por las ga-nancias fáciles del mercado de valores durante la burbuja tecnológica, ahora aleja las inversiones de la innovación y la creación de empleo para llevarlas, en el mejor de los casos, hacia fusiones, adquisiciones y traslado geográfico de la producción, pero sobre todo, hacia la incubación de burbujas, la multiplicación de los ‘derivativos’ los ‘fondos de cobertura’ (hedge funds), y otros instrumentos de redistribución de riqueza tipo casino.13 Quizás sólo una severa recesión mundial permitiría consta-tar la necesidad imperiosa de regular las finanzas globales y lograr que los estados vuelvan a ocuparse de modificar las condiciones de operación de los mercados para sacar el máximo provecho del paradigma actual en beneficio de sus ciudadanos.14

A fin de lograr la eficiencia de los gobiernos, sin embargo, hay que evitar el retorno a las prácticas del pasado. Los métodos y controles burocráticos están obsoletos y son contraproducentes. Una vez instalada cada revolución tecnológi-ca, las instituciones gubernamentales han de apropiarse de los rasgos del nuevo paradigma y modelar su acción de acuerdo a ellos teniendo por delante sus obje-tivos particulares. Hay que entender que cada revolución tecnológica ofrece un enorme potencial de generación de riqueza y bienestar social. Cada una de las sucesivas revoluciones es claramente superior a las anteriores en términos de efec-13 Pérez (2006), pp. 38-41.14 Para una discusión amplia de este tema, ver Pérez (2002), Caps. 11, 12 y Epílogo.

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tividad y productividad. Eso es lo que sustenta la noción de progreso en el capi-talismo. Sin embargo, la diferencia no reside sólo en la mayor o menor eficiencia tecnológica sino también en la adopción del nuevo paradigma organizativo que acompaña cada oleada. Cada paradigma articula un conjunto de principios, mé-todos, formas organizacionales y criterios nuevos y distintos. Los emprendedores, las empresas, los gobiernos y las sociedades se benefician en mayor o menor me-dida de ese potencial según su capacidad para adoptar el nuevo modelo de óptima práctica y adaptarlo a sus propósitos específicos. Cada nuevo paradigma define la amplia gama de lo posible y de lo imposible— o más bien de lo eficiente y lo ineficiente— bajo las nuevas condiciones.

Algunos de los cambios implícitos en la adopción del paradigma de las TIC están siendo aceptados de manera gradual y general hasta convertirse en las prác-ticas de “sentido común”. Las redes descentralizadas con un centro coordinador reemplazan a las pirámides cerradas, centralizadas y rígidamente controladas; la mejora continua y la innovación están reemplazando la práctica anterior de ruti-nas estables y cambio planificado; nociones como la de capital humano y el poder creador de valor del conocimiento y la experiencia están desplazando la visión del personal como “recurso humano”. Aunque todavía hay resistencia y controversia alrededor de algunos de estos cambios, ninguno ha estado tan sujeto a debate y a posturas extremas como el proceso de globalización.

La globalización no supone la desaparición del Estado-nación o de los go-biernos nacionales, aunque es probable que éstos eventualmente deleguen algu-nos poderes a instituciones supranacionales y otros a gobiernos locales. La globa-lización aprovecha al máximo la diferenciación regional, nacional y local, tanto en la producción como en los mercados. Quizás en el lema de los ambientalistas “pensar globalmente, actuar localmente” es donde mejor se recoge el significa-do del proceso globalizador. Sin embargo, no se trata de un proceso inocuo de impacto equivalente sobre todos los participantes. Más bien quiere decir que los gobiernos nacionales tienen un papel crucial tanto en el condicionamiento que definirá el modo cómo cada país se incorporará a la globalización como en la in-termediación entre las instituciones supranacionales y las autoridades locales.15

La identificación de posibles ventanas de oportunidad no sólo requiere comprender la naturaleza del paradigma de las TIC sino también la naturaleza 15 Si hay un caso en el mundo en el cual el Estado mantiene el control de la inversión extranjera utilizando todo tipo de límites, restricciones, regulaciones y negociaciones es la China actual. No solamente negocia con firmeza sus mercados y sus ventajas de bajo costo, sino que define la parte del territorio y los sectores en los cuales han de operar las empresas extranjeras y establece las condiciones para la participación y el aprendizaje locales. Este fue también el caso de Corea del Sur y de muchos otros países exitosos. En condiciones muy diferentes, la alta tasa de crecimiento alcanzada por Abu Dabhi y Dubai solo son posibles a causa de la inmensa inversión gubernamental proveniente de los ingresos petroleros y de sus visiones audaces, junto con políticas radicales en favor de la inversión extranjera con participación local.

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de las nuevas corporaciones globales. Ellas son los verdaderos agentes de la glo-balización y sus intereses son la clave para el diseño de estrategias suma- positiva.

Hay una profunda diferencia entre las viejas multinacionales (CMN) y las corporaciones globales (CG) actuales. Las primeras fueron resultado de la fase final del paradigma de la producción en masa y una manera de manejar la madu-rez y la saturación de los mercados; las CG actuales son organizaciones capaces de aprovechar el nuevo paradigma de las TIC para obtener las máximas ventajas.

Las corporaciones multinacionales establecieron filiales en diversos países, algunas veces empresas— comerciales o de ensamblaje de productos finales-, en otros casos produjeron localmente muchas de las partes. Estas inversiones estu-vieron motivadas por el interés de estar cerca (o dentro) de cada mercado y en muchas ocasiones fueron inducidas por las políticas de los países anfitriones.

Alrededor de la década de 1970, en un esfuerzo por apuntalar los beneficios en la madurez, comenzó a tomar forma una estructura más compleja (especial-mente en Europa): diferentes partes se fabricaban en diferentes países y el ensam-blaje final se hacía en otros, para optimizar las economías de escala y aprovechar los patrones de especialización locales. Esto se acompañó de manipulaciones de los pagos internacionales y las tasas de cambio, muchas veces en detrimento de las economías nacionales— incluso las del propio país. Al mismo tiempo y por razo-nes similares, tuvo lugar el llamado “redespliegue industrial”, con el cual se trató de aprovechar el bajo costo de la mano de obra, la energía y los materiales del Tercer Mundo. Hacia finales de los 70 y comienzos de los 80, los países desarro-llados importaban a bajo costo de los países en desarrollo ropa y otros productos manufacturados, así como acero, aluminio y productos petroquímicos. Esto alen-tó la esperanza en un “Nuevo Orden Económico Internacional” y llevó a utilizar el término “corporaciones transnacionales” (CTNs) para señalar ese cambio. Las CTNs pueden ser vistas como una forma organizativa de transición mientras se experimentaba y aprendía la lógica y el potencial del nuevo paradigma, mientras el viejo se mantenía todavía vigente.

El nombre de la corporación global (CG) moderna la explica por sí mismo. Ahora no se trata de tener filiales en múltiples mercados ni tampoco de sólo aprovechar los bajos costos de producción de los diversos países; se trata de una estructura diferente con una lógica distinta; es la forma óptima de la nueva or-ganización en redes, dirigida y facilitada por la revolución de la información y la comunicación. Esto afecta profundamente a la empresa misma.

La penetración de los mercados globales es consecuencia directa de la aplica-ción y el aprovechamiento de todas las ventajas del potencial y las características

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de las TIC. Ahora es posible alcanzar niveles más altos de productividad con orga-nizaciones en red que abarcan el globo. La infraestructura de la Internet, con sus satélites y cables de fibra óptica transoceánicos, hace posible las comunicaciones fluidas e instantáneas a todo lo largo del mundo y permite evaluar al planeta entero en términos de ventajas comparativas, valorándose las condiciones para la tercerización, el ‘off-shoring’, las alianzas estratégicas, el ‘joint-sourcing’ y otras opciones, la estimación de las cualidades y costos de la ingeniería, la producción, el transporte y las transacciones “como si” el espacio económico fuese abierto y sin fronteras, pero tomando muy en cuenta las condiciones y las políticas de cada país.

Las capacidades de coordinación proporcionadas por las TIC hacen posible alcanzar niveles de complejidad organizacional y de tamaño que transcienden el máximo alcanzable por las viejas multinacionales o por las corporaciones transna-cionales con estructuras piramidales y sistemas de información lentos. Ahora no sólo es posible orientar, hacer seguimiento y controlar una organización verdade-ramente gigantesca, sino que también la cobertura territorial y la complejidad es-tructural son relativamente fáciles de manejar con las TIC y pueden serlo todavía mucho más con innovaciones adaptativas mayores.

El proceso de globalización ha traído consigo la híper-segmentación de tres áreas clave: las cadenas de valor, los mercados globales y las competencias tecnoló-gicas. Cada una de éstas áreas se convierte en una red compleja con componentes diferenciados. El resultado se puede caracterizar como una descentralización inte-grada o una componentización sistémica, donde cada componente tiene un nivel muy alto de autonomía dentro de una estructura ínter- funcional e interactiva.

En la estructura de cada corporación la red de valor se segmenta (inclu-yendo a proveedores y clientes) en componentes y subcomponentes capaces de conectarse mediante diversos tipos de relación, desde su integración en la es-tructura central, pasando por la condición de contratista estable independiente o aliado, hasta la de suplidor temporal a quien se recurre solo cuando surge la necesidad. Por su parte, cada uno de estos componentes se apoya en su propia red de relaciones, sobre la base de un alto grado de autonomía, lo cual en estas estructuras se considera indispensable para asegurar la flexibilidad y la compe-titividad. Los componentes pueden estar territorialmente disgregados en varios países y aun así conformar una sola red de valor global apalancada y coordinada por la corporación global.16

Esta capacidad para manejar redes complejas facilita también la híper- seg-mentación de los mercados, favoreciendo un perfil de productos altamente di-16 En http://www.globalvaluechains.org el lector encontrará abundante literatura en línea sobre las cadenas de valor globales vistas desde el punto de vista de los países en desarrollo.

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versificados y de gran adaptabilidad a una amplia gama de demandas específicas e incluso ultra-especializadas.

Cuando la red de valor se ha segmentado hasta llegar a los subcomponen-tes más simples y los mercados se han fragmentado en innumerables nichos, las capacidades tecnológicas se pueden singularizar y la especialización innovativa profunda permite a unidades o empresas intensivas en conocimiento prosperar dentro o fuera de la corporación global. En el otro extremo, algunos métodos artesanales tradicionales pueden también ocupar nichos de alto valor (premium).

Estos patrones de óptima práctica forman parte del paradigma actual de las TIC y tienden servir como modelo organizativo generalizado, más allá de las corporaciones globales y de la esfera productiva misma.

Estas características del proceso de globalización abren ventanas de oportunidad específicas para las empresas y países de América Latina. Esas oportunidades serán analizadas luego de describir la estrategia general propuesta y en relación con ella.

EL CONTEXTO Y LAS ESTRATEGIAS BASADAS EN RECURSOS NATURALES:

Un enfoque dual para una realidad dual.Hay dos realidades a enfrentar cualquiera sea la estrategia de desarrollo de América

Latina. Una es la naturaleza de la competencia con China y otros países asiáticos en los mercados globales. La otra es la profunda polarización de la distribución del ingreso y la proporción inaceptable de la población latinoamericana sometida a la pobreza.

La dirección tomada por el actual proceso de globalización parece haber dado a Asia el rol de fábrica del mundo en lo concerniente a las ‘industrias de fabricación’ (electrónica, aparatos eléctricos, ropa etc.).17 Las ventajas sobre las cuales se organiza esta especialización global son las inmensas cantidades de fuer-za de trabajo barata y el abundante número de ingenieros y de personal altamente 17 El término fabricación se usa para referirse a la manufactura de productos mediante el ensamblaje de partes diferentes. Este es el caso de los automóviles, los equipos mecánicos, eléctricos y electrónicos, la ropa etc. Los métodos de producción pueden abarcar la maquinaria automatizada y la robótica, pero suelen ser intensivos en mano de obra desde la menos hasta la más calificada, dependiendo del producto y de la tecnología aplicada. El término industria de procesos se refiere a la transformación directa de materias primas mediante métodos químicos, eléctricos, calor u otros, como los utilizados en la elaboración de acero a partir de hierro y carbón, de papel a partir de la pulpa de madera, la salsa de tomate embotellada a partir de tomates frescos, la gasolina a partir de petróleo, el plástico a partir del gas o la electricidad a partir de combustibles, así como ciertos servicios como las telecomunicaciones, los cuales procesan y transmiten señales utilizando redes de cables y equipos. La diferencia principal reside en que el proceso de producción tiene lugar “dentro” del sistema de equipamiento y el personal supervisa y apoya el proceso en lugar de ejecutarlo, como ocurre con la fabricación. Para una clasificación de los sistemas de producción ver Joan Woodward (1965).

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educado en su población. La escasez de materias primas en ese continente, en relación con sus necesidades de crecimiento, ha permitido que América Latina y África exporten cantidades crecientes de minerales, energía y productos agrícolas a precios cada vez más elevados.

América Latina tiene dificultades crecientes para competir en la fabricación, especialmente en las áreas de productos de alto volumen y bajo costo. Su den-sidad poblacional es muy inferior a la de Asia y la mano de obra, a pesar de ser muy barata, sobrepasa con mucho el nivel asiático de salarios. Sin embargo, su rica dotación en recursos naturales y energía le ofrece una ventana de oportuni-dad para especializarse en “industrias de procesos”. El problema tradicional de la mono-exportación de materias primas podría transformarse en un futuro exitoso de tecnologías complejas, variado perfil exportador y elevado crecimiento si se aprovecharan de manera inteligente las ventajas de poseer recursos naturales.

Adicionalmente, es de esperar que el proceso globalizador tienda a elevar el nivel de precios de los recursos naturales en general (aunque sin eliminar la vo-latilidad). La perspectiva de un nivel promedio favorable en los precios de estos productos abre un posible camino para financiar el esfuerzo tecnológico y de for-mación de capital humano vinculado a ellos. El continente podría convertirse en el proveedor de insumos materiales, comida y otros bienes agrícolas (desde los más estándar hasta los productos a la medida más sofisticados) para el resto del mundo.

El proceso involucraría el escalamiento tecnológico constante de las activi-dades basadas en recursos naturales y la mejora gradual del perfil de las exporta-ciones mediante innovaciones continuas en productos, procesos y actividades au-xiliares, en particular con la visión de crear nichos de alto valor diferenciándolos de los tradicionales mercados de ‘commodities’.

Esto supone la transformación gradual de toda la economía. La idea sería comprometerse en un esfuerzo concentrado por dominar las tecnologías de las industrias de procesos, desde los commodities en gran escala (acero, aluminio, papel, refinación, cerveza, petroquímica, y ciertos alimentos), hasta las especia-lidades de escala intermedia (química, biotecnología, nanotecnología) hasta los materiales en pequeña escala hechos a la medida y los químicos especiales u otros productos de nicho. Este esfuerzo puede echar sus raíces en las capacidades ad-quiridas por cada país en su área específica de dotación de recursos naturales así como en otras industrias procesadoras— metalurgia, química, procesamiento de alimentos- y podría avanzar a lo largo de las nuevas trayectorias tecnológicas abiertas por la ciencia de los materiales y las ciencias de la vida. Los objetivos serían la migración gradual hacia productos con un valor añadido cada vez ma-

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yor, con características cada vez más especializadas y adaptadas al cliente y el establecimiento de redes de innovación fuertes (con participación de empresas y universidades locales, continentales e internacionales) haciendo que el esfuerzo sea sostenible en el tiempo. El Gráfico 2 representa la idea mediante un diagrama.

Gráfico2 - Desarrollo tecnológico y dinamización del perfil de las exportaciones basadas en recursos naturales

Algunas redes de innovación podrían ser creadas con la participación activa de las CGs extractivas o agrícolas, sean extranjeras o nacionales. O podrían cons-truirse mediante la asociación de empresas locales en conglomerados formales e informales (como los productores de vino, de flores, de cacao, los cultivadores de productos orgánicos, las posadas y guías turísticas, los diseñadores de textiles etc.).

La idea sería fortalecer el conocimiento y el ‘know-how’ acumulado por cada país en sus productos de exportación actuales para entonces desplazarse tecnológicamente aguas arriba, aguas abajo y lateralmente18 a lo largo y ancho de las redes de valor relevantes. Los esfuerzos se dirigirían hacia un conjunto de objetivos específicos definidos según la dotación de recursos naturales y la acumulación de capacidades lograda por cada país. Entre estos se pueden en-contrar los siguientes:

18 En su argumentación en relación con la posibilidad de una estrategia para África basada en los recursos naturales, Walker y Jourdan (2003) insisten en la importancia de lo que denominan innovaciones laterales, es decir, aquellas cuyo origen fue, por ejemplo, en la minería pero que, por su naturaleza genérica, pueden luego ser utilizadas en otras industrias.

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• Dar calidades especiales a los materiales de exportación actuales para apuntar a mercados de nicho, como por ejemplo madera anti-termitas (o elástica), materiales adaptados al cliente o biodegradables, o aleacio-nes y compuestos especiales.

• Desarrollar mayores capacidades en cuanto a productos adaptados al cliente o nichos en las grandes industrias procesadoras (metalurgia, pe-troquímica, papel, vidrio etc.)

• Aumentar las capacidades tecnológicas de las industrias de bebidas y procesamiento de alimentos (en relación con las tecnologías de produc-tos y de procesos).

• Aumentar las capacidades tecnológicas de las industrias relacionadas con la agricultura de exportación, productos animales, pesca, silvicultura etc. y desarrollar aun más las industrias productoras de insumos para ellas.

• Rescatar los innumerables vegetales y frutas autóctonas—con su maravillo-so sabor y textura—y desarrollar las tecnologías necesarias para que lleguen en perfecto estado a mercados de nicho ‘gourmet’ con altos precios.

• Definir áreas destinadas a productos ‘orgánicos’ y establecer un sistema de otorgamiento de certificados de origen.

• Desarrollar la biotecnología orientada a la salud para la identificación de necesidades locales humanas o animales y/o para la mejora de las exportaciones relacionadas con ellas.

• Desarrollar capacidades en materia de protección ambiental mediante energías alternativas, reciclaje, captura de contaminantes etc.

• Explotar los diversos tipos de turismo moderno aprovechando todas las ventajas de la variedad de condiciones naturales e históricas existentes y utilizando modelos de negocio imaginativos.

• Alcanzar capacidad de diseño a la medida en aditivos, catalizadores y otros químicos especializados que puedan requerir las industrias de pro-cesos (locales o globales).

• Desarrollar una industria especializada de bienes de capital capaz de responder a las especificaciones sencillas o sofisticadas de las industrias de procesos (grandes, medianas o pequeñas).

• Desarrollar industrias complementarias de ‘software’ e instrumentos elec-trónicos igualmente capaces de responder a especificaciones de los usuarios.

• Promover una densa red de Empresas de Servicios Intensivas en Cono-cimiento (ESICs) para servir a cada una de las áreas de especialización.

• Intensificar las direcciones correspondientes en cuanto a I+D y educación.

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La dotación específica de recursos naturales y los niveles de conocimiento y experticia adquiridos por cada país señalarían las áreas preferenciales de especia-lización a seguir, así como los vínculos y alianzas que convenga establecer dentro y fuera del continente. Los nuevos conocimientos y la experticia requeridos para proseguir por los caminos sugeridos supondrían necesariamente el establecimien-to de redes y alianzas globales tanto con la comunidad académica y de investiga-ción como con las corporaciones globales que lideran las industrias en cuestión. Es probable que se requiera también inversión extranjera y el establecimiento de alianzas estratégicas e inversiones conjuntas entre las CGs y las empresas locales, así como entre empresas de la región.

Al evaluar el potencial para emprender una estrategia como la propuesta, hay que empezar por reconocer la gran diversidad de herencias tecnológicas en los países latinoamericanos. No obstante, hay rasgos comunes en la historia del sub-continente que permiten realizar una evaluación gruesa y estilizada que abarque al conjunto de países a grandes rasgos:

• Mientras que las industrias establecidas bajo el modelo de sustitución de importaciones restringían la innovación (muchas veces por obligaci-ón contractual), las actividades de exportación -muchas veces en manos de las multinacionales- estaban actualizadas en lo tecnológico, emple-aban personal local para las actividades gerenciales y técnicas, y solían practicar la innovación adaptativa.19

• Como se mencionó antes, las industrias complementarias (vidrio, pa-pel, cartón, plásticos, empaquetado, artes gráficas, cemento, pintura, cerámica) y las básicas agroindustriales (cerveza, leche, jugos, café, pas-ta) son fundamentalmente industrias de procesos y como tales requirie-ron adaptaciones y mejoras, aún cuando estuviesen basadas en tecnolo-gías y equipos extranjeros.20

• La mayor parte de las industrias de servicio público, generalmente es-tablecidas por los gobiernos, como los teléfonos, la electricidad, los sis-temas de agua y desagüe, eran manejadas por personal local, para lo cual era necesario tener capacidad operacional y de mantenimiento, así como habilidad para realizar pequeñas mejoras y adaptaciones. Una vez privatizadas, las empresas extranjeras trajeron nuevas tecnologías y actualizaron al personal local tomando como base su experiencia previa.

19Dada la especificidad local de la producción de materias primas (o la extracción) algunas innovaciones importantes se hicieron in situ. En el Lago de Maracaibo, en Venezuela, tuvieron lugar innovaciones pioneras en perforación subacuática.20Ver, por ejemplo, Vera-Cruz (2006) y Dutrénit (2006) para la fabricación de cerveza y botellas en México.

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• En algunos países la sustitución de importaciones avanzó aguas arriba hacia la industria del acero, la petroquímica o los bienes de capital se realizó con la acumulación resultante de ‘know-how’ y capacidades de ingeniería, así como de cierta capacidad de innovación.

• Más tarde, con la apertura de las economías y la llegada de la revolu-ción informática, en la mayoría de los países se desarrollaron empresas locales para diseñar productos de hardware y software y para ofrecer integración de sistemas, mantenimiento y otros servicios.

En conjunto, esto indica que la historia común de los esfuerzos de industria-lización en Latinoamérica ha dejado como legado una cierta inclinación hacia las industrias de procesamiento y suficientes capacidades de TIC como plataforma mínima de experticia tecnológica para esta estrategia. Sin embargo, la propuesta en su conjunto descansa en un gigantesco esfuerzo en educación, capacitación y aumento de la capacidad tecnológica a todo lo largo del espectro aludido.

Desafortunadamente, exceptuando el turismo y algunos sectores agrícolas, la mayoría de las industrias de procesos no son intensivas en mano de obra, sino más bien en capital y capacidades. Más aún, la reorientación propuesta las haría aún más intensivas en conocimiento. Por lo tanto, la estrategia demanda un es-fuerzo complementario para promover algunas industrias de alto empleo (cons-trucción, salud, servicios personales). Pero eso no sería suficiente.

Los temas relativos a la distribución del ingreso y la pobreza están en la palestra debido a la polarización social experimentada por los países emergentes exitosos como China e India. Es bien sabido que América Latina ha tenido tradi-cionalmente una distribución muy polarizada del ingreso así como marginación social en el campo y en las barriadas alrededor de las principales ciudades. Estos rasgos empeoraron durante la “década perdida” generando descontento social, resentimiento y vivos deseos de cambio. Cualquier estrategia de crecimiento in-capaz de reconocer esta realidad aterradora sería socialmente inaceptable y polí-ticamente inestable.

El objetivo del desarrollo debe ser el que promovió Fernando Fajnzylber en la CEPAL en 1990: Transformación Productiva con Equidad.21 Él ya había señalado que el crecimiento en Asia y el sur de Europa durante los años 70 había reducido las inequidades, mientras que la mayoría de los países latinoamericanos había crecido con gran desigualdad en la distribución del ingreso.22 Es interesan-te notar que, durante su proceso de adelantamiento en el desarrollo (‘catching-21 CEPAL (1990).22 Fajnzylber (1990), Gráfico 1, p. 12.

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up’), los cuatro Tigres Asiáticos establecieron programas educativos universales masivos con una fuerte orientación técnica y desarrollaron progresivamente una distribución del ingreso más equitativa. Ambas prácticas siguen ambos vigentes todavía, cuando sus niveles de crecimiento y desarrollo van en aumento.23

Reconociendo plenamente la polarización social a todo lo largo del continente y tomando en cuenta los riesgos inherentes a los modelos recientes de crecimiento rápido, no sería realista emprender una estrategia de desarrollo contando el efecto de ‘goteado’ para superar la pobreza. Habría que proponerse más bien elevar la base de la pirámide conjuntamente con el crecimiento en la vanguardia de la economía. Continuando con el análisis, sostendré que, precisamente en virtud de las carac-terísticas del actual paradigma, el logro de este doble objetivo se ha hecho viable.

Ello exige el establecimiento de una estrategia dual—o un modelo dual in-tegrado. Por una parte estaría la consecución del dominio tecnológico (la especia-lización profunda) en las industrias basadas en recursos naturales hasta alcanzar posiciones fuertes en los espacios del mercado global; por la otra, el desarrollo de la capacidad de creación de riqueza en cada rincón del territorio para mejorar la calidad de vida de sus habitantes, apalancando las ventajas locales y apuntando a nichos de mercado (globales, nacionales o locales). En la primera parte de la estrategia el objetivo es la competitividad; en la segunda, la competitividad se convierte en un medio para lograr el bienestar de la población involucrada. La primera se orienta al crecimiento ‘desde arriba’; la segunda al crecimiento ‘desde abajo’. Los sectores impulsados en la primera serían los motores del crecimiento de la economía; los desarrollados en la segunda serían abordados como medios para salir de la pobreza.

En la última sección sostendré que las dos vertientes del modelo dual deben ser aceptadas por la sociedad e integradas ideológicamente, pero que su promo-ción requerirá instituciones separadas. Discutamos a continuación cómo las tres híper-segmentaciones características del proceso globalizador abren oportunida-des en ambas mitades de esta estrategia dual.

LA HÍPER-SEGMENTACIÓN DE LOS MERCADOS:

Oportunidades en ambas mitades del modelo dual.La revolución de las TIC ha traído consigo la infinita fragmentación de to-

dos los mercados, no solamente en la manufactura sino también en las materias 23 Corea del Sur, Singapur y Hong Kong están entre los 28 primeros países (con resultados mayores a 0.9) en el Índice de Desarrollo Humano. PNUD (2007)

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primas y en los servicios, por lo cual la noción de ‘commodity’ se aplica ahora a muchas manufacturas, desde los teléfonos celulares y las computadoras de mesa hasta las franelas y los refrigeradores, mientras que la idea de nicho de ‘especia-lidad’ se asocia ahora frecuentemente con segmentos de materias primas como ciertos tipos premium de café o de acero.

En cada caso, el segmento de los ‘commodities’ es simplemente la versión del producto en volúmenes muy elevados, del modelo más sencillo y de bajo costo, una vez que ha alcanzado cierto grado de madurez. El margen de beneficio de los commodities industriales es muy exiguo y la producción con ventajas com-parativas es absolutamente indispensable para alcanzar el éxito. Por otra parte, muchos mercados de materias primas tienen capas superiores cuyas calidades es-peciales les confieren un valor adicional en el mercado, llegando en algunos casos a convertirse en semi-monopolios de precios elevados y relativamente estables.24 Lo mismo puede decirse, naturalmente, de los servicios y productos industriales hechos a la medida, los de marca o los organizados en modelos de negocio crea-tivos. El Gráfico 3 presenta un mapa de la segmentación de los mercados indi-cando las dos direcciones principales de la diferenciación, la proporción relativa de los márgenes de beneficio en cada una y cómo estos se obtienen y protegen. El Gráfico 4 ofrece algunos ejemplos ilustrativos e indica las direcciones a seguir para mejorar el posicionamiento en el mercado.

Una de las consecuencias de esta compleja estructura de los mercados es tener que pasar de considerar la “industrialización” como cima del desarrollo, a la necesidad de acuñar un término como “tecnologización” para referirse a las posi-ciones más ventajosas en los mapas globales del mercado (por ejemplo, el movi-miento desde los productos o servicios ‘básicos’ hacia las posiciones angulares del esquema, relativas a lo ‘especial’, lo ‘único’ o ‘a la medida’ en el Gráfico 3). Esto, junto con el aumento del precio de las materias primas provocado por el avance de la globalización, puede contribuir a eliminar o a disminuir de manera signifi-cativa la desventaja tradicional de las materias primas. Este rasgo está en el centro de esta propuesta, especialmente en cuento se refiere a los sectores “motores del crecimiento” correspondientes al crecimiento ‘desde arriba’.

Otra consecuencia de esta estructura caleidoscópica es la abundancia de es-pacios para la coexistencia de las PYMEs con corporaciones gigantes y para que los productos tradicionales puedan aspirar a incorporarse al mercado mundial junto con los de alta tecnología. Por lo anterior, apostarle al mercado adecuado no es sólo un pre-requisito sino también una rica posibilidad tanto para los secto-res que crecen “desde abajo” como para los que crecen “desde arriba”.24 Kaplinsky (2005).

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Gráfico3 - La hiper-segmentación de los mercados bajo el paradigma de las TIC

Gráfico4 - Ejemplos de posicionamiento

Más aún, debido a esta híper-segmentación la forma usual de agrupar sec-tores industriales en la época de la producción en masa se hace inadecuada. En lugar de clasificar por tipo de producto o proceso de producción, la agrupación sectorial de industrias se hace ahora con frecuencia en función de los mercados de destino. Un empresario de telas producidas y tratadas para la confección de velas para barcos ya no pertenece a la industria textil sino a la de los deportes y el ocio. Una empresa especializada en zapatos para diabéticos se clasificaría entre las

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industrias de la salud y así sucesivamente. Las industrias de los deportes y el ocio, el entretenimiento, la protección ambiental, la salud, y las industrias creativas se reconocen como categorías cada vez más relevantes. Típicamente, estas industrias nuevas ofrecen oportunidades más lucrativas y protegidas para los productores especializados así como canales de distribución especiales.

Un aspecto particularmente útil de la diversidad de los mercados es la aper-tura de oportunidades para producir a mucho menor escala. En tiempos del pa-radigma de la producción en masa, para considerar siquiera la posibilidad de exportar, la producción debía ser de varios contenedores o de varias toneladas mensuales. Ni los sistemas de transporte ni los de distribución estaban orientados al manejo de pequeñas cantidades de producto alguno. Hoy día existen innu-merables tiendas especializadas en productos de “nichos” globales; los supermer-cados y las tiendas por departamentos incorporan a su negocio la oferta de una amplia variedad de especialidades; el servicio global de encomiendas (courier) ha desarrollado sistemas muy eficientes de transporte y entrega de cualquier cosa con cualquier frecuencia a precios relativamente decrecientes. La innovación en esta dirección ya comenzó y está encontrando una demanda en aumento.

En este nuevo mundo donde proliferan los nichos de mercado, la gama de productos es extremadamente amplia y va desde los más tradicionales hasta los de tecnologías más complejas e intensivas en conocimiento. Hay nichos para la cerámica artesanal y para los kits de diagnóstico biotecnológico. Los servicios de larga distancia van desde los centros de llamadas hasta la interpretación de datos geológicos; los servicios locales tercerizados desde la preparación de comidas hasta la protección de datos; las exportaciones especializadas desde excelentes mermela-das o quesos locales hasta servicios de detección de fallas en sofisticados equipos de procesos; las ofertas turísticas desde una aldea en los Andes organizada como una “experiencia local” o una excursión de observación de aves en la selva tropical, hasta una conferencia en un centro de tecnologías complejas ubicado en un hermoso pa-raje o una expedición a la Antártida; las actividades de protección ambiental desde los productos “orgánicos” certificados hasta el uso de bacterias especialmente desa-rrolladas para “digerir” derrames petroleros. La variedad es tan amplia como la di-versidad de condiciones locales; los límites los pone la imaginación emprendedora.

La noción de “glocalización” es particularmente útil para todo esto. Se refie-re tanto a la adaptación de productos globales a las condiciones locales como a la identificación de productos locales con potencial global.

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LA HÍPER-SEGMENTACION DE LAS REDES DE VALOR:

Estrategias y políticas para el aprovechamiento de las ventajas mutuas.Existen muchos tipos de redes de valor, desde las coordinadas por una corpo-

ración global productora (como IBM, Toyota, Telefónica o Zara), pasando por las redes de proveedores de las CGs puramente comerciales— buyer- driven— (como Walmart o TESCO), hasta los distritos industriales, formados localmente para ven-der globalmente.25 Lo que tienen en común es el combinar la autonomía de cada elemento con el poder de coordinación sobre toda la red. En el caso de las corpora-ciones globales, el centro define los objetivos y los grados de autonomía de los ele-mentos; en el caso de los conglomerados formados por asociación de productores independientes son los elementos los que definen la estrategia y las atribuciones del núcleo común. Estos últimos a veces llegan a formar parte de la red de una CG.

Es importante notar que en estas estructuras el nivel de competitividad se define más a nivel de la red que al de cualquiera de sus componentes. En conse-cuencia, las relaciones dentro de la red serán evaluadas según la contribución de cada componente al conjunto. El vínculo entre esta contribución y la distribu-ción relativa de los beneficios a lo largo de la red está, por supuesto, fuertemente mediada por el poder relativo y la información poseída por cada participante sobre la red y sobre los mercados.26

Las empresas aisladas no la pasan bien en el paradigma de las TIC. Las rela-ciones a distancia con proveedores, clientes y competidores, típicas del paradigma de producción en masa, dejaron de dar buenos resultados y hasta pueden ame-nazar la supervivencia de la empresa. Este hecho está en la base del éxito de las estrategias de formación de clusters en el mundo entero así como también de los programas de los gobiernos y las agencias internacionales para promover diversas formas de asociación para que se logre compartir costos, o realizar conjuntamen-te las actividades de entrenamiento o mercadeo global. Ello también explica la formación de conglomerados estables o consorcios para ayudar a sobrevivir a industrias ya establecidas o para generar nuevas actividades productivas en áreas empobrecidas. Igualmente subyace a los intentos de muchas empresas en Améri-ca Latina por convertirse en proveedoras de CGs comerciales o productivas, con diferentes grados de éxito.

Esta discusión sobre la segmentación de los mercados quiere dejar en claro como, mientras más cerca se encuentre un producto o servicio de la esquina de 25 En relación con las redes orientadas por productores o compradores (producer- o buyer-driven), ver Gereffi (1994) y Gereffi y Kaplinsky eds. (2001). En relación con las redes locales ver Schmitz ed. (2004).26 Schmitz ed. (2004).

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los ‘commodities’ del mapa de los mercados, mayores serán la presión de los pre-cios y la exigencia de una calidad estándar estable y básica con mínimas desviacio-nes respecto a las especificaciones y los tiempos de entrega. Cuanto más especial sea el producto o servicio o incorpore mayor valor de conocimiento, tanto mayor será el poder de negociación del proveedor.

Es cierto que algunos países de la región disfrutan de ciertas capacidades o tradiciones únicas, capaces de representar una especialidad valiosa, o de algunos especialistas o innovadores altamente reconocidos en condiciones de exigir un va-lor adicional (premium) por su trabajo; pero es probable que la mayoría deba comenzar el proceso de aprendizaje desde la base para intentar re-posicionarse a partir de ahí innovando hacia arriba y lateralmente hacia productos o servicios de nicho. Ello sugiere la conveniencia y necesidad de diseñar y establecer los mecanis-mos de apoyo adecuado, especialmente para la mitad ‘desde abajo’ de la estrategia.

Pero quizás la discusión sobre las condiciones para incorporarse a redes es más relevante para la mitad de la estrategia ‘desde arriba’ relativa a los motores del crecimiento, la cual en última instancia es la que financia a la otra mitad. La literatura sobre gerencia ha estudiado ampliamente el comportamiento de las CGs, analizando cómo están cambiando y difundiéndose sus estructuras en todo el mundo, cómo toman decisiones y cómo compiten; la literatura sobre el desa-rrollo ha venido examinando cómo les va a las empresas y regiones que llevan a cabo el trabajo tercerizado.27 Este ensayo sólo puede tocar en aquellos aspectos de particular relevancia para la propuesta en discusión.

La compleja red geográfica de una corporación global está formada por una enorme variedad de relaciones con las empresas y el personal de todos los países involucrados. La corporación misma se extiende por todo el globo. En el exterior no sólo se ubica a los gerentes regionales, sino también a ciertos gerentes globales, para mejor aprovechar ciertas ventajas locales específicas. Muchas unidades de producción están situadas geográficamente de manera de aprovechar al máximo las diversas ventajas y, cada vez más, algunas de las unidades de apoyo (staff ) se han esparcido por diversos países, incluyendo secciones de los departamentos de I+D. Esto y la mayor autonomía e incentivos para innovar dados a las subsidiarias locales, abren espacios para las negociaciones mutuamente beneficiosas con los gobiernos anfitriones con el fin de elevar la calidad del empleo y de las actividades desarrolladas localmente.28 Hay dos tipos de trabajadores globales en las redes de 27 En la gerencia ver por ejemplo Berger (2006) y Garten ed. (2000); del lado del desarrollo ver Gereffi y Kaplinsky (2001), Giuliani et al. (2005), Humphrey y Schmitz (2004). Para la integración de sistemas, ver Prencipe et al. Eds. (2003) y Hobday et al. (2006). Para la noción de redes de producción global y la tercerización no solo de la producción sino también la innovación, ver Ernst (2000) y Ernst y Linsu Kim (2002).28 Ver Marín (2007)

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CGs: personal en el exterior (off-shore) y personal tercerizado (out-source). Este último es el que trabaja para las empresa locales pertenecientes a la red a través de algún tipo de alianza o contrato; mientras que los primeros están “adentro” de la CG y en su nómina.

El personal local de “adentro” recibe un salario igual (o algo inferior) al del personal del país de origen de la empresa, pero generalmente mayor al normal en el país anfitrión. Puede también beneficiarse de niveles de seguridad social que despiertan lealtad y fidelidad. Ni siquiera las llamadas “maquilas”, como el norte de México, siguen ya el modelo de trabajo basado en rutinas mínimas de entrena-miento. Las empresas se han visto en la necesidad de involucrar a los trabajadores en el aprendizaje del control de calidad, la mejora continua y la flexibilidad.29 Más aún, el aumento de la proporción del trabajo en estas condiciones, a medida que se incrementan las de nuevas inversiones extranjeras en la misma región, puede terminar marcando el ritmo de los aumentos salariales y los niveles de educación y entrenamiento esperados en la zona.

Por otra parte, mientras más unidades de una CG haya en un país o lo-calidad particular, mayor será la demanda de servicios y las oportunidades de sub- contratación en la misma localidad, dependiendo por supuesto del tipo de unidades y de las condiciones locales.

Por razones obvias, las industrias basadas en recursos naturales han tenido que ubicarse en el exterior y tienen décadas de experiencia en un cierto modo de funcionamiento. Típicamente mantienen el control de las actividades medulares y emplean personal local en la medida de lo posible en cada nivel. Cuando van a tercerizar un trabajo de alta tecnología tienden a recurrir a corporaciones globales de servicios, las cuales también puede que empleen personal local. Por esta razón, la mayoría de los países latinoamericanos con energía o recursos minerales cuenta con un importante número de profesionales de alto nivel en ingeniería y gerencia con experiencia en esas industrias capaz de asumir algunas actividades como sub-contratistas. La resistencia a utilizar las empresas locales siempre ha sido fuerte, aunque esto se podría atribuir parcialmente al legado del modelo de la ISI y a la resultante actitud laxa en cuanto a productividad y dominio tecnológico.30 En las nuevas condiciones es probable que las políticas para facilitar la componen-tizacion de las redes de valor, de acuerdo con las CGs globales presentes local-mente, puedan funcionar en forma de acuerdos de suma positiva. Por otra parte, el aumento de la demanda generado por la globalización está exigiendo más y

29 Ver Dutrénit y Vera-Cruz (2007) sobre las maquilas mexicanas.30 Pérez (1996).

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más inversión en materias primas31 y generando una demanda creciente hacia las empresas de servicios. Esto las presionará a las compañías globales de servicios a trasladar personal experimentado hacia las nuevas zonas de operación y abrirá oportunidades para empresas locales competentes.

Las nuevas relaciones de tercerización, sean en las CGs de materias primas, en la fabricación aguas abajo o en las industrias de procesos, no funcionan necesaria-mente a distancia y con enorme presión de precios, como en el pasado. La relación con los proveedores en la red de valor varía, por supuesto, pudiendo ir desde la alta presión sobre los precios hasta la interacción de alta calidad, a medida que el producto o servicio pasa de tener bajos requerimientos de adiestramiento a tener niveles más altos en intensidad de conocimientos e innovatividad. En el extremo superior del espectro puede haber fuertes interacciones técnicas, información com-partida, contratos muy bien remunerados y hasta co-financiamiento de innovacio-nes. La idea en la estrategia sería facilitar el proceso ascendente buscando alcanzar posiciones altas en las redes de valor, reconociendo que llegar a esos niveles puede requerir un escalamiento gradual y que las posiciones más bajas crean más empleo y ofrecen oportunidades para la acumulación de capacidades. El objetivo final sería ampliar y enriquecer el perfil de adiestramiento así como el de las exportaciones.

El comportamiento actual de las CGs hacia la sociedad local y el ambiente no es tan descuidado como lo fue en muchos casos en el pasado. La tendencia hacia la responsabilidad social corporativa, tanto en el trato con el personal como con las comunidades aledañas y en relación al ambiente, está aumentando y probablemente se seguirá extendiendo. Este cambio ha sido quizás más fuerte en aquellas industrias donde la creatividad es el factor determinante de la competitividad, por lo cual la sa-tisfacción del personal es indispensable; pero se ha hecho importante también en las industrias de bienes de consumo expuestas a la transparencia de la Internet, de la cual puede depender su imagen. Sin embargo, aún en casos como la minería, donde la distancia geográfica actúa como un escudo contra la visibilidad del comportamiento y donde los clientes son grandes empresas en lugar de consumidores, la responsabilidad corporativa no sólo ha aumentado sino también ha mejorado la productividad y por lo tanto tiende a difundirse como una práctica normal.32 Dicho esto, sigue siendo responsabilidad de las organizaciones gubernamentales tanto nacionales como locales asegurar la preservación y la mejora del ambiente natural y humano. La información sobre los estándares de prácticas responsables de negocios, establecidas por las empre-sas líderes en estos campos, puede modificar las expectativas y dar forma a negociacio-nes realistas, mutuamente beneficiosas.

31 Gurlit et al. (2007).32 Warhurst (2005).

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LA HÍPER-SEGMENTACIÓN DE LAS TECNOLOGIAS:

La creciente especialización en altas tecnologías y su coexistencia con los métodos tradicionales.

Puede parecer extraño sostener la existencia de una segmentación de las tec-nologías cuando el trabajo interdisciplinario y en equipo caracteriza cada vez más la manera eficaz de alcanzar resultados de investigación e innovación comercial. No obstante, tal como ocurre con otros aspectos del paradigma de las TIC, las dicotomías han dejado de ser útiles para entender las nuevas prácticas óptimas. En materia tecnológica hay un movimiento combinado de componentización y reintegración. Cuando todos los componentes del conjunto se han diferenciado y especializado, estos vuelven a unificarse para interactuar en una red mucho más dinámica. Y el proceso es de naturaleza fractal, porque cada segmento especiali-zado es, a su vez, componentizado en sus partes constitutivas.

En su proceso de reestructuración, la CG determina sus competencias medulares,33 es decir, las que son el núcleo de su posición en el mercado y de su estrategia hacia el futuro. Es en estos aspectos medulares donde las CGs con-centran su propio dominio tecnológico y sus esfuerzos de innovación. Las otras actividades son finamente segmentadas y analizadas en términos de las capaci-dades tecnológicas requeridas y luego, según sea el caso, pasan a ser tercerizadas bajo contrato o compradas a proveedores escogidos, cuya competencia sea en ese componente. Estos, por lo tanto, desearán alcanzar el dominio tecnológico pleno en ese aspecto particular y serán capaces de innovar en él. De tal manera que, a través de la componentización, la tercerización y la construcción de esta compleja red de valor, la corporación global está también construyendo una estructura in-novativa a todo lo largo y ancho de la gama de actividades involucradas.

En esta estructura se abren muchas oportunidades para las pequeñas empre-sas locales de servicios intensivas en conocimiento (ESICs) tanto para el suminis-tro cara a cara como para los servicios digitalizados a distancia. De hecho, la natu-raleza del proceso globalizador genera mercados para las ESICs en cada localidad, en la medida de su expansión. A su vez, la existencia de un tejido competente y confiable de servicios intensivos en conocimiento incrementa la competitividad de todos los usuarios de la localidad y sirve como atractor para ulteriores inversio-nes extranjeras, las cuales continuarán fortaleciendo la red de ESICs.

Hay también amplios espacios para proveedores competentes de bienes y servicios estándar o semi-estándar con dominio suficiente de los procesos tecno-lógicos de mejoramiento continuo de la calidad y la productividad.33 Prahalad y Hamel (1990) introdujeron el concepto.

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Ninguna de estas oportunidades aparece automáticamente. Exigen persis-tencia, tiempo y esfuerzos dirigidos a la construcción de las capacidades reque-ridas para desempeñar esos roles (posiblemente comenzando por el trabajo en mercados menos exigentes), así como el desarrollo de la capacidad de negociar una posición favorable.

Las grandes empresas nacionales exportadoras dispuestas a convertirse en grandes CGs competitivas, por su parte, tambien tendrán que desarrollar su ca-pacidad de componentizar y tercerizar, mientras se afianzan en el dominio de las tecnologías medulares, en su mejora y en la innovación constante.

Aunque no hayan sido mencionadas con frecuencia, es importante destacar que las industrias de electrónica, software y telecomunicaciones así como los servi-cios de Internet constituyen de hecho la plataforma básica para la competitividad de las organizaciones en red y para la participación efectiva en la economía global. En el período actual, el éxito de cualquier estrategia bajo la lógica del paradigma de las TIC, requiere contar con telecomunicaciones eficientes a bajo costo y disponi-bilidad de servicios de software y sistemas altamente competentes así como ESICs de mantenimiento y seguridad. La mayoría de los países latinoamericanos ya ha avanzado un buen trecho de este camino. Las políticas para intensificar este proceso deberían encontrar el terreno abonado para lograr acuerdos entre los participantes.

Un rasgo particular de las TIC es la naturaleza intangible de muchos de sus productos y servicios. Esto hace posible la tercerización de la mayoría de los servicios internos de oficina (incluyendo los centros de llamadas) a cualquier parte del planeta donde un emprendedor competente y responsable ofrezca el servicio. Lo mismo se puede decir de los servicios de traducción y de interpreta-ción de datos complejos digitalizados en cualquier campo (geología, medicina, biología, finanzas, climatología etc.) siempre y cuando los especialistas adecua-dos estén disponibles.

El otro aspecto de los productos intangibles es la posibilidad de iniciar in-novaciones ambiciosas en servicios intangibles en cualquier país para luego globa-lizarlas si tienen éxito. Ese fue el caso de Skype, por ejemplo, donde la pequeña Estonia ha jugado un rol importante. Las especificidades de conocimiento o de lengua también pueden generar nichos en los mercados locales o globales. En Brasil hay decenas de sitios web equivalentes a los sitios en inglés Web 2.0 aprove-chando la publicidad en lengua portuguesa, por lo cual pueden llegar a las colonias del viejo imperio portugués. El mundo hispanohablante también se ha desarro-llado en la web y todavía le queda un largo trecho por recorrer en esa dirección (incluyendo en su universo de usuarios potenciales a los hispanos en EEUU).

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Otro rasgo útil del paradigma de las TIC es la coexistencia de una diversidad mucho mayor de tecnologías y escalas de cuanto fue posible en tiempos de la producción en masa, como consecuencia de la híper-segmentación de los merca-dos. Esto abre innumerables oportunidades para la mitad del crecimiento ‘desde abajo’ de la estrategia dual. El café orgánico cultivado a la sombra, recogido a mano y tostado siguiendo métodos tradicionales y con garantía de origen se ven-de en tiendas gourmet a precios muy altos (premium), mientras el café recogido mecánicamente es la variedad ‘commodity’ de bajo costo a la venta en los super-mercados (donde se venderá también la variedad gourmet). No hay exclusión ni marginalización de una tecnología por otra, ni tampoco homologación de precios en los niveles más bajos, sino más bien un proceso de diferenciación por calidades y una gama de precios capaz de reconocer esas diferencias.

Por otra parte, las tecnologías de información hacen posible la adaptación del producto al cliente llegando hasta el nivel del consumidor individual. Esta forma de producción artesanal de alta tecnología o, cuando se lleva a cabo en volúmenes eleva-dos, de lo que podríamos llamar productos masivos adaptables (mass customization), es una de las muchas viejas dicotomías superadas por fusión en este paradigma.34

El espectro de oportunidades para ir en nuevas direcciones y comercializar productos en cantidades relativamente pequeñas es inmenso. Ese es el camino to-mado por la innovación en nuevas fuentes y sistemas de energía; esa fue la manera como las aerolíneas de bajo costo entraron en la industria y también los inten-tos por crear productos para la llamada “base de la pirámide”.35 Una innovación particularmente sorprendente con la cual se rompe la trayectoria de la industria automotriz en las últimas décadas es el automóvil ultra simple de 2.500 dólares desarrollado por Tata Motors en la India. Al mismo tiempo, en California están entrando en el mercado carros eléctricos ultra avanzados, extremadamente costo-sos, elaborados por empresas nuevas en competencia con las grandes.

Ha llegado la hora de las tecnologías “adecuadas” o “apropiadas” buscada durante tanto tiempo, sin embargo el concepto debía esperar por un paradigma tecnológico capaz de manejar la coexistencia de diferentes niveles de produc-tividad y sofisticación tecnológica, sin tener que homogeneizar el precio o los mercados. Esto se ha visto viabilizado en gran medida por la facilidad con la cual las herramientas informáticas permiten manejar el control de inventarios comer-ciales y otros procesos administrativos, independientemente de cuan grande sea su volumen, cuanta su variedad o cuán frecuentemente cambien en el tiempo.

34 Hemos sido testigos de la proliferación de términos fusionados, más bien feos pero plenos de significación, como coopetencia o la ya mencionada glocalización.35 Prahalad (2004)

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LAS SEMILLAS DEL FUTURO:

Usar las oportunidades actuales para prepararse a dar el salto con las tecnologías de la próxima oleada

La elección de un camino basado en la utilización de los recursos naturales para la tecnologización de la producción en América Latina tiene una ventaja adicional preñada de posibilidades futuras.

La revolución de las TIC está ahora entrando en el período de despliegue, cuando su poder para aumentar la productividad y facilitar la innovación se di-funde hacia todas las demás industrias.36 Es también el tiempo de gestación de la próxima revolución. Es muy posible que las industrias revolucionarias del futuro sean alguna combinación de biotecnología, nanotecnología, bioelectrónica, nuevos materiales y nuevas energías, en función de las rupturas tecnológicas que se puedan producir, y probablemente moldeadas por la creciente preocupación ambiental.

Todas esas tecnologías pueden ser ubicadas en términos gruesos dentro de la categoría de industrias de procesos. Durante el período de gestación actual éstas tenderán a desarrollarse en conexión con algunas de las industrias líderes exis-tentes. Los nuevos materiales encontrarán cada vez más usos en las industrias de fabricación, la nanotecnología en superficies, electrónica, cosméticos, productos de salud y otros. También pueden influenciar la producción de materias primas, como en el caso de las bacterias especiales para la lixiviación en la minería o para eliminar contaminantes y derrames, o los aditivos químicos para dar cualidades particulares a la madera o servir como catalizadores en el refinamiento de petró-leo y la petroquímica, los procesos para el control natural de plagas en la agricul-tura orgánica y así sucesivamente.37

Si los ritmos históricos sirven como guía, la transición a esa nueva revolu-ción podría ocurrir dentro de dos o tres décadas. Pero cualquiera que sea el marco temporal, América Latina puede comenzar ahora un proceso de elevación de sus capacidades a fin de estar lista para entrar en la próxima revolución utilizando sus actividades de exportación basadas en recursos naturales como plataforma para la innovación de avanzada y como fuente de financiamiento.

Como se dijo antes, es importante notar que Japón y los cuatro Tigres Asiá-ticos adquirieron su experiencia inicial ensamblando transistores y equipos elec-trónicos desde los años 50 y especialmente durante los 60 y comienzos de los 70. 36 Pérez (2002) pp. 44-46 y 127-137 y Pérez (2006).37 Sobre el pensamiento estratégico en biotecnología en América Latina, ver Hernández-Cuevas y Palenzuela (2004) y Gutman et al (2006)

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En esos tiempos, los componentes se usaban en los productos típicos de la revo-lución de la producción en masa: radios, televisores, tocadiscos etc. para los cuales las versiones portátiles constituían una innovación de expansión de mercados. Esto colocó a esos países en una posición ventajosa en términos de experiencia y capacidades cuando el microprocesador inauguró la revolución de las TIC. Algo similar puede tener lugar en América Latina la próxima vez, ahora no por casua-lidad sino por la conducción consciente en esa dirección.

UNA VENTANA DE OPORTUNIDAD PASAJERA

Y por qué las teorías acerca del desarrollo basado en los recursos naturales son pasajeras también.

Esta propuesta sostiene que los recursos naturales pueden, en las condiciones actuales y posiblemente por unos cuantos años, convertirse en la plataforma para dar un salto sostenible hacia el desarrollo. Ello implica que dichos recursos pueden convertirse en objeto de tecnologización para mejorar la calidad del perfil de las exportaciones y abrir oportunidades a porciones marginalizadas de las población. Sin embargo, las dudas tradicionales acerca de las posibilidades de alcanzar un desarrollo basado en los recursos naturales pueden llevar a cuestionar su viabilidad.

No deja de ser interesante advertir que la idea de la maldición de los re-cursos naturales es muy reciente y estuvo precedida por otras teorías con otros argumentos, a veces contradictorios en apariencia. Este trabajo sostiene que las oportunidades cambian a medida que las diferentes revoluciones tecnológicas, con sus diferentes condiciones, emergen y se propagan.

Los economistas clásicos (y la opinión popular de su época) consideraban la posesión de recursos naturales como una ventaja para el desarrollo. La idea fue con-firmada—y parcialmente inspirada—por países como Australia, Nueva Zelanda, Ca-nadá y Argentina, que realizaron enormes saltos hacia adelante en el último cuarto del siglo diecinueve, sobre la base de su minería, agricultura, carne y exportaciones de lana. Con ello financiaron sus puertos, aeropuertos, ferrocarriles y otras redes de infraestructura. Los recursos naturales también jugaron un rol positivo en la historia económica de los países escandinavos así como en Gran Bretaña y los Estados Unidos.

La producción de recursos naturales comenzó a ser vista como una carga para el desarrollo después de la completa instalación de la revolución de la producción en masa, cuando la industria de alta productividad se volvió insaciable en su necesidad de energía y materia prima baratas y cuando los materiales sintéticos comenzaron a reemplazar uno tras otro a los naturales. A mediados de la década de 1940, cuando

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se iniciaba el período de despliegue del paradigma de la producción en masa, tanto Prebisch40 como Singer41 vieron las tijeras de precios entre las manufacturas y los materiales como un obstáculo al desarrollo, como en efecto lo eran.

Más adelante se usó la noción de “enfermedad holandesa” para referirse a la manera como las exportaciones de gas (o petróleo) determinaban la tasa de cambio del país exportador dificultando las posibilidades de la manufactura. El concepto apareció cuando los precios de la energía se dispararon en la década de 1970 y fue usado por primera vez en un artículo de The Economist en 1977. Más recientemente, varias hipótesis sobre la “maldición de los recursos naturales” se pusieron de moda. Algunas veces cabalgaron sobre la experiencia de violencia, guerra y corrupción en las luchas internas por el control de fuentes de riqueza como los diamantes, el oro y el petróleo; otras se basaron en datos acerca del auge de los Tigres Asiáticos y la década perdida en África y América Latina.

Lo que aquí se sostiene es la existencia de ciertas particularidades en las condiciones actuales, diferentes de las que originaron las teorías anteriores, con las cuales se abre una ventana de oportunidad pasajera al desarrollo basado en recursos naturales. Sin embargo, es solo una ventana y su duración puede ser re-lativamente breve, quizás una década.42 Este juicio y los siguientes se basan en mi valoración personal de las condiciones de viabilidad de esta propuesta.

Los siguientes son algunos de los factores que crean un contexto favorable para la iniciación de la estrategia ahora (2009-2010):

• En razón del balance oferta-demanda en el proceso de globalización, los niveles de precios de las materias primas tenderán a establecerse, casi con seguridad por encima de los niveles históricos, aunque no desapare-cerá la volatilidad. El nivel promedio dependerá de las eventuales regu-laciones financieras (para impedir la especulación con los commodities) y los reajustes de mercado

• En la medida en que se obtengan beneficios extraordinarios se facilita-ría el llegar a negociaciones suma positiva entre usuarios y proveedores y entre corporaciones y gobiernos para utilizar parte de los beneficios e impuestos provenientes de los recursos naturales para financiar ex-

40 Prebisch (1951)41 Singer (1950)42 El tiempo disponible para iniciar una estrategia con posibilidad de éxito es diferente al tiempo en el cual esta estrategia puede rendir sus beneficios. Corea del Sur entró en la industria de semiconductores y se convirtió en un líder en chips de memoria en el momento adecuado. Diez años después no habría sido posible; sin embargo, los beneficios de esa entrada temprana y el éxito alcanzado se han multiplicado en la medida en que esa experticia ha servido como plataforma para avances ulteriores en condiciones distintas.

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pansión de capacidad, procesamiento aguas abajo, tecnologización y mejora de las externalidades. Ello alimentaría la estrategia de desarrollo ‘desde arriba’ (capital humano, servicios de alta tecnología, infraestruc-tura, protección ambiental) y podría proporcionar los fondos para los proyectos de desarrollo ‘desde abajo’.

• Los cambios en la conciencia ambiental, la regulación y el compor-tamiento corporativo todavía son incipientes pero comienzan a pro-fundizarse. En particular, las industrias de procesos y las corporaciones extractivas se han demorado en adoptar el paradigma global de las TIC (en lo que se refiere a incorporar las capacidades locales a sus redes), pero ya son observables los cambios en esa dirección.

• Las grandes empresas de servicios especializados están sobrecargadas y probablemente verán con buenos ojos el ingreso de aliados locales. Con el 40 tiempo se habrán expandido para satisfacer la demanda y las firmas que no estén “dentro” de la red (como independientes o aliadas) encon-trarán mucho más difícil el ingreso.

• Los competidores potenciales en este espacio estratégico (África, Rusia, Kazajstán) apenas se están iniciando en caminos similares.

• Aquellos países o regiones que se logren convertir en competidores tempranos cabalgando sobre estas tendencias serán quienes ejerzan el liderazgo, y la región capaz de atraer a las CGs más dinámicas habrá adquirido ventajas decisivas.

Otro elemento que coloca a los recursos naturales en un camino dinámi-co es la manera como la dirección actual de la globalización está aumentando su impacto sobre el ambiente. Tanto los límites a la disponibilidad de recursos naturales como la amenaza del cambio climático van a convertirse en fuerzas clave para moldear los mercados y las tecnologías relacionadas con la energía, los materiales, el agua y los alimentos. Esto lleva a pensar que la escasez tenderá a elevar los precios de los productos naturales, convirtiendo su posesión en una ventaja aún mayor. Estos precios cambian junto con el aumento de los costos del transporte, el cual penalizará el traslado de las materias primas no procesadas en todo el mundo. Esto podría favorecer el procesamiento local. Al mismo tiempo, el aumento de los precios presiona a los usuarios hacia la utilización cada vez me-nor de esos materiales por unidad de producto. Esto favorecería a los materiales más finamente especificados, como es el caso de los sugeridos en esta estrategia.

El aumento en los precios de los fletes lleva a reconsiderar la distribución geográfica de las actividades globalizadas y a tener en cuenta más factores al selec-cionar entre ubicaciones locales, regionales o globales, dependiendo de las carac-

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terísticas de los productos y los componentes del costo. Esta tendencia abre unas oportunidades y cierra otras.

El tiempo que tardarán en generalizarse estas tendencias relacionadas con el ambiente puede ser muy corto, dependiendo de la intensidad de los efectos del calentamiento global y la regulación correspondiente. En cualquier caso, esto debería ser, desde el comienzo, un rasgo central de cualquier estrategia basada en los recursos naturales.

Finalmente, esta estrategia en su conjunto depende de un esfuerzo serio de compromiso activo y de fortalecimiento simultáneo del frente del conocimiento y de la experiencia. El aprendizaje y la creación de capital humano llevan tiempo (así como la mayoría de los proyectos de inversión). Ello supone que sólo persistiendo cuanto antes en los objetivos planteados se colocará a los países de América Latina en un camino de crecimiento dinámico y a tiempo para seguirlo con éxito.

Si algo está claro es que si el aumento del ingreso por exportaciones de re-cursos naturales termina por convertirse en una fuente de crecimiento superficial y de aumento de las importaciones para el consumo, se habrá malgastado una oportunidad muy valiosa.

LA IMPLEMENTACIÓN DE LA VISION:

La generación de consensos y el establecimiento del marco institucional adecuado

Ya hay muchas empresas latinoamericanas participando en las redes de las CGs, y algunas ya están construyendo sus propias redes globales. También hay muchas iniciativas gubernamentales para promover las asociaciones entre empre-sas pequeñas y medianas a fin de incrementar su competitividad. Algunos países han ido mucho más allá en uno u otro aspecto de las estrategias sugeridas aquí así como en otras direcciones. La cuestión es saber si esos esfuerzos dispersos son suficientes, si podrán rendir el máximo beneficio potencial a las empresas y a la población de sus países y si las condiciones actuales permiten que se manifieste todo el potencial existente de creación de riqueza y de innovación. Un esfuerzo concentrado en una dirección acordada podría crear mayores externalidades para todos, logrando más rápidamente los resultados requeridos con tanta urgencia.

Tal como se discutió en la sección sobre globalización, el Período de Des-pliegue—la segunda mitad de cada una de las oleadas impulsadas por las suce-sivas revoluciones tecnológicas—pone de nuevo sobre el tapete la necesidad de

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participación del Estado como agente activo. Para ser eficaz, sin embargo, este rol debe ser ejercido en consonancia con las características del nuevo paradigma.

Se ha sostenido aquí que la estructura híper-segmentada de la globaliza-ción— en producción, mercados y tecnologías—se basa en la diferenciación. Es precisamente de la diversidad de roles, de condiciones y ventajas, de especializa-ciones y peculiaridades de cada localidad, país o región de donde surge la poten-cial estrategia suma-positiva entre los agentes económicos, sociales y políticos.

La globalización es, entonces, un proceso técnico, económico y organizacio-nal conducido por las corporaciones globales, el cual solo puede rendir su máxi-mo potencial de crecimiento y desarrollo humano si está guiado por un marco institucional igualmente complejo (e igualmente eficiente) en los niveles local, regional, nacional y sub-regional.

Primero y principal, la estructura de poder de ese marco requiere el desarro-llo de un proceso de construcción de consensos con miras a la convergencia de las acciones. La dicotomía ‘Estado o Mercado’ ya está obsoleta y resulta contrapro-ducente. Ni la planificación central ni el “campo de juego plano” resuelven todo. El terreno tiene más bien que estar sesgado hacia favorecer a las grandes mayorías y estimular vigorosamente el crecimiento y el éxito de los sectores potencialmente competitivos de la economía, reforzando más aún sus ventajas. La visión consen-suada resultante de un debate muy informado e intenso, con participación de los empresarios, el gobierno y la sociedad en su conjunto, podría traer consigo el máximo de cohesión, la guía más efectiva, los instrumentos facilitadores y los resultados generales más beneficiosos para los participantes locales (y globales).

Entre los posibles participantes a traer a la mesa de discusiones están los gobiernos (desde el nacional hasta los locales), las corporaciones globales, las grandes empresas locales, las empresas de servicios intensivas en conocimientos (ESICs), las pequeñas y medianas empresas (PYMEs), las universidades e insti-tutos de investigación, las ONGs relevantes, las empresas consultoras, los bancos y los organismos financieros internacionales, la diáspora (especialmente de ne-gocios e intelectuales), los medios y ...la sociedad en su conjunto. El objetivo es convertir en realidad la promesa de todos los juegos de suma positiva: cada uno contribuye a aumentar el tamaño del pastel y así todos pueden incrementar los beneficios para sí.

La fuente de financiamiento podría ser principalmente el aumento de los precios de la materia prima, los cuales podrían caer en caso de haber una rece-sión seria, pero se recuperarían con la demanda al reanudarse el crecimiento y la globalización. Los beneficios extraordinarios crean condiciones ideales para el

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establecimiento de una estrategia ambiciosa como la formulada aquí. Como se dijo antes, las empresas mismas pueden invertir en tecnología para mejorar su posición en el mercado y fortalecer su base de proveedores locales especializados. Los gobiernos podrían intensificar los procesos de aprendizaje dirigiendo una porción significativa de los ingresos por impuestos y royalties hacia la educación, el entrenamiento y el incremento de las capacidades de innovación. Por lo tanto, los mismos sectores llamados a convertirse en motores del crecimiento podrán proporcionar el dinero semilla para implementar la visión.

El aprendizaje requerirá el compromiso de tres capas complementarias. Primero está el aprendizaje en el sector público, dado que sólo una estructura gubernamental competente y bien articulada puede conducir a una economía sofisticada moderna. Después está el sistema educativo, el cual deberá ser ac-tualizado y adecuado en cuanto a los métodos y comportamientos así como en el contenido técnico. Por último, está el aprendizaje del sector empresarial en la medida necesaria en cada caso para aumentar gradualmente sus capacidades innovativas. La colaboración entre los tres sectores— en conexión con sus con-trapartes globales cuando sea necesario- hará posible tejer un sistema nacional de innovación fuerte.41

Conjuntamente con estos agentes, el aprendizaje deberá difundirse hacia la sociedad como opinión pública general, ayudado por la experiencia del trabajo y la educación así como por los medios de comunicación, contando también con el apoyo proactivo de diversas ONGs y otras organizaciones.

En términos de políticas e instrumentos, las dos vertientes de la estrategia son muy distintas. Por lo tanto, el marco institucional también deberá ser dual. La parte de crecimiento ‘desde arriba’ de la estrategia, donde están los motores del crecimiento cuyo propósito es asegurar el constante aumento y mejora de la pro-ducción y el perfil experto, deberán ser apoyadas por instituciones que adminis-tren un conjunto de programas nacionales y regionales viabilizados por políticas efectivas, para asegurar la cooperación de todos los agentes involucrados, públi-cos y privados, económicos y científicos, tecnológicos y comerciales, nacionales e internacionales. Estos incluirían la articulación de políticas y la negociación de acuerdos mutuamente beneficiosos con las corporaciones globales activas en las áreas de los recursos naturales seleccionados.

La mitad de la estrategia de crecimiento ‘desde abajo’ centrada en la calidad de vida, cuyo objetivo es luchar contra la pobreza mediante la creación directa de riqueza en todo el territorio, necesitaría ser promovida activamente a nivel comu-41 Esta concepción amplia del sistema nacional de innovación donde se abarca a todos los agentes sociales involucrados en el proceso de innovación fue introducida por Freeman (1987) y Lundvall (1988).

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nitario por cada gobierno local. Tanto la pre-inversión como la inversión deberán ser ampliamente financiadas por fuentes externas, sea el gobierno nacional, las agencias internacionales o la banca privada. Para ser efectivo, el proceso podría también implicar un importante esfuerzo en entrenamiento, tanto de los promo-tores como del personal de las empresas de producción creadas.42 El entrenamien-to del personal de los gobiernos locales (o de los promotores itinerantes) podrá ser organizado por agencias internacionales (la CEPAL entre ellas) aprovechando las experiencias exitosas dispersas en todo el mundo con la formación de clusters, con los micro-créditos y otros instrumentos.43 Se requieren políticas audaces para poder alcanzar el éxito, por lo cual no se pueden excluir las barreras arancelarias ni los impuestos y subsidios especiales para empujar con fuerza desde abajo con la finalidad de que la población empobrecida alcance condiciones de vida decentes.

En la visión de la autora, los criterios y métodos a utilizar en las dos mitades del modelo dual por ser tan diferentes requieren actitudes, compor-tamientos y competencias distintas de parte de las instituciones involucradas. Sin embargo, en ambos niveles el éxito va a requerir una cantidad suficiente de personal altamente entrenado con las capacidades y la dedicación adecuadas así como suficiente poder para comprometer al gobierno, junto con una clara comprensión de la nueva dinámica del mercado y las oportunidades que ofrece para el posicionamiento y la articulación favorables. Los resultados finales, sin embargo, dependerán de su capacidad de movilizar a la sociedad para que los diversos actores asuman las distintas iniciativas siguiendo caminos distintos convergiendo en la dirección general acordada.

Obviamente, hay grandes diferencias entre los países más grandes y podero-sos y los más pequeños, tanto en términos del potencial de recursos como en las capacidades de implementación en los sectores público y privado. A este respecto, algunos organismos regionales y multilaterales podrán contribuir con apoyo téc-nico y financiero y/o los países más fuertes podrán establecer mecanismos para servir como polos dinámicos ayudando a halar a los más pequeños.

Más allá de los tamaños relativos y los niveles previos de desarrollo, hay muchos otros factores relacionados con el poder y capaces de influir sobre la via-bilidad de la estrategia general, pudiendo dar como resultado diferencias aún más pronunciadas entre países. Las condiciones de la producción y de los mercados son muy diferentes para las empresas locales y las extranjeras, para los minerales

42 Esta ha sido la experiencia de los organismos multilaterales como el PNUD y del Fondo Multilateral de Inversiones (FOMIN) del BID cuando promovieron los clusters a nivel local.43 Los ‘fondos estructurales’ otorgados por la Unión Europea para aumentar y mejorar las capacidades de creación de riqueza de regiones relativamente atrasadas de cada uno de sus países miembros son un modelo interesante a estudiar.

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y la energía o la agricultura, ganadería, silvicultura y acuicultura, para los casos donde la propiedad y el control de la producción están concentrados o dispersos, o aquellos de mayor concentración o disgregación del comercio y los mercados internacionales; las condiciones también serán distintas según la proporción de la cadena de valor que esté (o pueda estar) en el territorio, según el mayor o menor peso relativo de las actividades intensivas en conocimiento vs. las de rutina, y así sucesivamente. La diversidad de condiciones definirá la necesidad de políticas adecuadas en cada caso, aún teniendo el mismo objetivo general.

Sin embargo, la pregunta crucial que puede construir o destruir la estrate-gia es si hay fortaleza o potencial en las instituciones para promover consensos, aplicar medidas audaces y mantener las políticas, o aplicar las regulaciones o impuestos y evitar el fracaso de la “captura” y/o de la corrupción.

Seguramente también habrá competencia de otros países y regiones ricos en recursos, como Rusia y África, los cuales podrían escoger seguir un camino similar. Hay espacio para todos en la economía global en expansión, pero el éxito relativo puede depender del ritmo de la inversión, de la orientación hacia los mercados adecuados y de la implementación estratégica.

Si esta propuesta representa una forma realmente efectiva de aprovechar el contexto global actual, entonces es importante actuar de inmediato. Las estrate-gias exitosas tanto de las empresas como de los países son aquellas que tienen la dirección adecuada en el momento oportuno. Como se dijo antes, la ventana de oportunidad para impulsar el crecimiento basado en los recursos naturales puede durar alrededor de una década. Cualquier posición ganada a lo largo de ese cami-no servirá como plataforma para el próximo cambio de las condiciones globales.

Pero no hay que hacerse ilusiones. Una estrategia como encontrará resistencia de ambos lados del espectro ideológico y político. Habrá objeciones tanto acerca del rol del Estado como acerca del rol de las corporaciones globales en el proceso; habrá dudas acerca del potencial de crecimiento basado en los recursos naturales así como sobre las capacidades locales de innovación. Por ello, habría que asegurarse que los debates fuesen enriquecidos con abundante información. Mientras más conocimiento se tenga sobre lo que está ocurriendo en otras partes del mundo (e incluso en la misma América Latina) en innovación y cooperación y en el desarrollo de nichos en recursos naturales, menos prejuicios habrá que enfrentar y desmontar.

Tampoco se debe ignorar la dificultad que podrían tener hasta los más con-vencidos para comprometerse en el difícil trabajo de su implementación. Se ne-cesitará un liderazgo político audaz y con determinación. La experimentación gradual, el seguimiento y las discusiones públicas serían parte del proceso para

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lograr resultados convincentes y alcanzar una visión de consenso. Afortunada-mente, la lógica de este paradigma facilita el desarrollo de proyectos piloto en el proceso de ejecución. Si, mediante la aplicación de la dirección general de esta estrategia, un país aquí y otro más allá alcanzan resultados impactantes; si un sec-tor aquí y otro allá obtienen éxitos notables; si algunas partes del gobierno o del sistema educativo dan un salto en efectividad aquí o allá, el proceso de imitación se difundirá y las bases para incorporar a otros se verán fortalecidas. Al final, toda la red de innovación será el resultado de la interacción creciente de un número cada vez mayor de unidades autónomas o semi-autónomas comprometidas en una acción convergente.

En este trabajo se ha sostenido la existencia en la actualidad de una ventana de oportunidad particularmente adecuada para la dotación en recursos naturales y la experiencia histórica de América Latina. Ella exigiría el aprovechamiento de la híper-segmentación de los mercados, las actividades y las tecnologías típicas del paradigma de las TIC y su aplicación aún más profunda en las industrias de procesos basadas en recursos naturales. Esto sería facilitado por los aumentos de precios de esos recursos resultantes del crecimiento globalizado.44 Utilizando una parte del aumento de los ingresos para mejorar tecnológicamente el perfil de las exportaciones y para mejorar las capacidades de la población para crear riqueza, el continente puede especializarse en materiales hechos a la medida del cliente, alimentos sofisticados y otros productos naturales, mientras se prepara para un buen posicionamiento en la próxima revolución tecnológica. La estrategia puede servir tanto para la competencia en la punta de los mercados globales como para sacar a la población de la pobreza mediante la creación de clusters para especiali-zaciones de “nicho” a todo lo largo y ancho del territorio.

Se necesitará mucha imaginación institucional para impulsar la fructifica-ción de esta estrategia. Cada vez más se está practicando y entendiendo la inno-vación en todos los aspectos de los negocios como el camino hacia el éxito. Ha llegado la hora de hacer otro tanto en el sector público como agente y facilitador del cambio, re-pensando, reorganizando e innovando para el máximo beneficio de la población. Por supuesto, el éxito de una estrategia como la propuesta de-penderá en buena medida de la adopción de liderazgos con determinación y de la más amplia creatividad institucional.

44 En los años 2007-8, una parte del gran aumento vivido por las materias primas tenía su origen en la especulación financiera y ese tipo de episodios puede volver a ocurrir, pero el proceso fundamental que ha dado origen al aumento del nivel de precios es el ritmo acelerado de crecimiento de la demanda, por la globalización, en contraste con la capacidad de aumento de la oferta, tanto en los recursos no renovables como en los renovables

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Algunos comentarios sobre el artículo “Dinamismo tecnológico e inclusión social mediante una estrategia

basada en los recursos naturales”, de Carlota Pérez Florencia Barletta*Verónica Robert**Gabriel Yoguel***

En este interesante artículo Carlota Pérez plantea las ventanas de oportunidad que deberían aprovechar los países de América Latina para desarrollar encadena-mientos hacia delante y hacia atrás en sectores intensivos en recursos naturales. Según la autora, esta ventana de oportunidad surge fundamentalmente de una coyuntura internacional caracterizada por elevados precios de los commodities y por una hiper-segmentación de los mercados, de las redes de valor y de las tecnologías, en el marco de un nuevo paradigma tecno- económico centrado en la revolución de las TIC. La hiper-segmentación de los mercados alude al surgi-miento de nichos especializados con altas rentas debido a que constituyen mer-cados protegidos por la diferenciación, la innovación, la tecnología y las marcas y las patentes. La hiper- segmentación de las “redes de valor” hace referencia a las nuevas formas organizacionales de las corporaciones globales asociadas al nuevo paradigma. En particular, la autora se refiere a la emergencia de redes descentra-lizadas que reemplazan a las pirámides cerradas y rígidamente controladas. La hi-per- segmentación de las tecnologías tiene lugar a través de la combinación de los procesos de componentización y reintegración. A su vez, cada segmento especia-lizado es componentizado en sus partes constitutivas. En este marco, sugiere que las estrategias de las corporaciones globales se basan en segmentar las actividades según las capacidades tecnológicas que requieren cada una y luego tercerizarlas en proveedores con las competencias específicas de cada componente.

En este contexto, la autora propone un “modelo dual integrado” que con-siste en combinar una estrategia “desde arriba”, asociada al desarrollo de capaci-dades tecnológicas y capital humano, con una estrategia “desde abajo” que actu-aría sobre la base del desarrollo de aglomeraciones especializadas dirigidas hacia mercados de nicho basados en las ventajas locales. De acuerdo a la autora, el problema histórico de los países de la región referido a la mono- exportación de

*Universidad Nacional de General Sarmiento**Universidad Nacional de General Sarmiento ***Universidad Nacional de General Sarmiento

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materias primas, “podría transformarse en un futuro exitoso de tecnologías complejas, variado perfil exportador y elevado crecimiento si se aprovecharan de manera inteli-gente las ventajas de poseer recursos naturales”.

En términos de política, plantea que los ingresos derivados de la exporta-ción de commodities deberían financiar el esfuerzo tecnológico y de formación de capital humano. El continente podría convertirse en el proveedor de insumos materiales, comida y otros bienes agrícolas para el resto del mundo. En especial, hace hincapié en la creación de nichos de alto valor a través de la producción de bienes que se diferencien de los tradicionales mercados de commodities.

La idea sería comprometerse en un esfuerzo concentrado por dominar las tecnologías de las industrias de procesos, desde los commodities en gran escala (acero, aluminio, papel, refinación, cerveza, petroquímica, y ciertos alimentos), hasta las especialidades de escala intermedia (química, biotecnología, nanotecno-logía) y desde los materiales en pequeña escala hechos a la medida hasta los quí-micos especiales u otros productos de nicho. Este esfuerzo puede echar sus raíces en las capacidades adquiridas por cada país en su área específica de dotación de recursos naturales así como en otras industrias procesadoras y podría avanzar a lo largo de las nuevas trayectorias tecnológicas abiertas por la ciencia de los materia-les y las ciencias de la vida.

Aprovechar esta oportunidad requiere desarrollar aprendizajes en tres nive-les complementarios. En primer lugar, en el sector público, dado que sólo una estructura gubernamental competente y bien articulada puede conducir a una economía sofisticada moderna. En segundo lugar, en el sistema educativo, el cual deberá ser actualizado y adecuado en cuanto a los métodos y el contenido téc-nico. En tercer lugar, en el sector empresarial, para aumentar gradualmente sus capacidades innovativas.

Trataremos en este breve espacio de plantear nuestros acuerdos y desacuer-dos con la autora en una forma estilizada.

Pensamos que la idea de agregar valor a los recursos naturales no es nueva y fue propuesta desde muy distintos enfoques. Así, por ejemplo, los principales referentes del estructuralismo latinoamericano, tanto en los 50s y los 60s como en la actualidad, advierten sobre los problemas macroeconómicos y del desarrollo asociados a una especialización sesgada a la producción primaria, pero también acuerdan con la necesidad de complementar y complejizar el perfil productivo predominante: “La industrialización de América Latina no es incompatible con el desarrollo eficaz de la producción primaria. Por el contrario, una de las condiciones esenciales para que el desarrollo de la industria pueda ir cumpliendo el fin social de ele-

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var el nivel de vida, es disponer de los mejores equipos de maquinaria e instrumentos, y aprovechar prontamente el progreso de la técnica en su regular renovación. La meca-nización de la agricultura implica la misma exigencia. Necesitamos una importación considerable de bienes de capital, y también necesitamos exportar productos primarios para conseguirla” (Prebish, 1986). Por otra parte, autores que podríamos involucrar en el marco de la nueva teoría estructuralista del desarrollo plantean también que, sectores con eficiencia factorial inicial podrían desarrollar “competitividad autén-tica en una fase posterior, siempre y cuando éste se combine con políticas industriales y tecnológicas muy activas. Estas políticas abren la posibilidad de explorar senderos de aprendizaje y construir capacidades en algunos sectores a partir de una base inicial de competitividad dependiente de recursos naturales o de salarios más bajos. El concepto de competitividad espuria debe verse entonces desde una perspectiva dinámica, o sea, observando si la explotación de factores de competitividad no ligados al conocimiento (ventaja comparativa estática) cede gradualmente su espacio para aquellos sostenidos en capacidades tecnológicas (ventaja comparativa dinámica)” (Cimoli y Porcile, 2013).

Asociado a estas posiciones, también existe cierto consenso acerca de las recomendaciones de política planteadas por la autora que se centran en el de-sarrollo de capacidades tecnológicas y organizacionales, el fortalecimiento del sistema nacional de innovación, el mejoramiento de la política educativa y el desarrollo de las cadenas o redes productivas hacia delante y hacia atrás. Concor-damos también con Carlota Pérez que la unidad de análisis tiene que ser la “red” y no un sector. Sin embargo, el desarrollo potencial de ciertas redes no depende de estar basadas en esos recursos sino por el hecho de desarrollar actividades con alto dinamismo tecnológico. La innovación debería ser vista, entonces, como una propiedad emergente de la red donde los procesos de aprendizaje y construcción de capacidades, las interacciones de conocimiento entre sus actores y la existencia de un sistema de instituciones proclive a la innovación y generación endógena de conocimientos son claves.

En lo que sigue de este comentario, plantearemos algunas diferencias con la autora con el objetivo de enriquecer el debate en el campo de las corrientes evo-lucionistas y neoschumpterianas que discuten sobre los problemas del desarrollo en América Latina.

En relación a las “ventanas de oportunidad” que la autora asocia a la hiper- segmentación de las tecnologías tenemos dudas sobre la posibilidad efectiva de que los países de A. Latina puedan participar de eslabones de la cadena global de valor de mayor sofisticación tecnológica en recursos naturales. En ese sentido si bien puede ser cierto que la estructura organizacional de las corporaciones glo-bales esté actualmente más descentralizada, y que las capacidades de innovación

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mantengan un fuerte vínculo con las capacidades productivas, aun gran parte de la la innovación sigue pasando por las casas matrices o filiales localizadas en las economías centrales.

Por otra parte, la oportunidad derivada de la hiper- segmentación de los mercados es relativa. Si acordamos en que la pregunta central que debería guiar las políticas de desarrollo en el ámbito regional es la asociada a las vías por las cuáles es posible lograr procesos de cambio estructural que posibiliten hacer catch-up, no creemos que la respuesta esté en el desarrollo de nichos especiali-zados de mercado. Por el contrario, los sectores con posibilidades de impulsar el cambio estructural son los que presentan de manera simultánea lo que en la literatura se denomina eficiencia keynesiana y schumpeteriana (Dosi, Pa-vitt y Soete, 1990; Cepal, 2012; Cimoli, Porcile y Rovira, 2010). La eficien-cia schumpeteriana puede o no estar presente en actividades especializadas de nicho, pero es clave que esas actividades cuenten de manera simultánea con eficiencia keynesiana –elevada elasticidad ingreso de la demanda- y alto dina-mismo de la demanda. El cambio estructural requiere de la emergencia de acti-vidades que generen una masa crítica de empresas capaz de tener fuerte impacto en términos de empleo, producto y productividad. De lo contrario, el impulso de actividades que sólo cuentan con eficiencia schumpeteriana y se concentran en nichos de mercado, si bien genera capacidades, no tendrá impacto en tér-minos de cambio estructural, y los beneficios quedarán acotados a un conjunto reducido del entramado productivo. Así, una cuestión relativamente ausente en el planteo de Carlota Pérez es la importancia de la demanda y de los procesos de causación acumulativa que darían lugar a los procesos de cambio estructural1. Siguiendo a Saviotti y Frenken (2008), el cambio estructural puede tener lugar a partir de dos trayectorias complementarias: i) la creación de nuevos sectores (unrelated variety) y ii) el aumento de la calidad y la diversificación de los sec-tores existentes (related variety). Una estrategia basada en la creación de nue-vos sectores podría tener un mayor impacto sobre el desarrollo y crecimiento económico dado que puede evitar procesos de lock in en las exportaciones de sectores vulnerables a shocks externos derivados de i) cambios en el paradigma tecnológico y/o ii) fluctuaciones mundiales en los precios (Soete, 1987; Dosi, Pavitt y Soete, 1990; Saviotti y Frenken, 2008). Sin embargo, esta trayectoria debe plantearse claramente en un horizonte temporal de largo plazo. Por su parte, la estrategia basada en la diversificación de los sectores existentes puede 1 Como plantean Cimoli y Porcile (2013) los patrones de demanda predominantes, que en general privilegian bienes de alta tecnología, influyen sobre las elasticidades. Si bien los países especializados en bienes primarios pueden atravesar ciclos de bonanza exportadora asociada a elevados precios internacionales, tanto por el lado de la oferta (capacidad de aprovechar las oportunidades en mercados en crecimiento), como por el lado de la demanda (tendencias en los patrones de consumo), la razón entre las elasticidades ingreso de la demanda de exportaciones e importaciones del país aumenta a medida que se especializa en bienes más intensivos en conocimientos.

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pensarse en un plazo menor y se sustenta en la idea de aprovechar y potenciar las capacidades tecnológicas e innovativas existentes dada la estructura produc-tiva local. En esa dirección, si bien el planteo de Carlota nos parece interesante porque propone aumentar la variedad partiendo de la estructura productiva existente, deja de lado la importancia de aumentar el número de sectores para, en el largo plazo, generar cambio estructural y evitar situaciones de lock in.

Pensamos que el desarrollo de nuevas actividades en la red basada en los recursos naturales no es simple ni automático. El rol activo del estado constituye una condición necesaria para que este proceso tenga lugar. Es decir, la disponi-bilidad de recursos naturales no constituye en sí misma una oportunidad o una ventaja para desarrollar actividades relacionadas con alto contenido tecnológico. De hecho, las evidencias parecen ir en la dirección contraria. Por ejemplo, el desarrollo de semillas genéticamente modificadas estuvo en manos de empresas transnacionales hasta bien avanzado su proceso de difusión en los países adop-tantes como Argentina. De manera similar, la fabricación de maquinarias para la agricultura de precisión en argentina depende fuertemente de la importación de componentes electrónicos y software. Es decir, el sendero de aprendizaje recor-rido en la producción de bienes intensivos en recursos naturales no significa que haya capacidades tecnológicas y aprendizajes que puedan trasladarse al desarrollo de sectores aguas arriba relacionados con altas capacidades o eficiencia schum-peteriana. Para ello se requiere la existencia de sistemas nacionales, sectoriales y regionales de innovación que presenten elevadas capacidades institucionales y decisión política. En esa dirección pensamos que podrían estar más claros en el planteo los mecanismos necesarios para transformar las oportunidades que ofrece el contexto internacional actual de elevados precios de los commodities en verda-deros procesos de cambio estructural.

Creemos, a su vez, que la discusión no debería girar en torno a la “maldici-ón o no de los recursos naturales”, ni por lo tanto al peso relativo que deberían tener estos en la estructura productiva de los países porque desvía la atención de la pregunta relevante: cómo lograr procesos de cambio estructural y qué sectores con EK y ES tienen las posibilidades de motorizarlos partiendo de la estructura económica existente. De igual modo, cómo impulsar el desarrollo de sectores con EK y ES asociados o no a RRNN y sobre qué capacidades construir las trayecto-rias tecnológicas necesarias para su desarrollo.

La respuesta a la pregunta sobre la causa del aumento de la demanda de com-modities, y por lo tanto de sus precios internacionales, de los últimos 10 años, no sólo se encuentra por el lado de la oferta (innovación por parte de los productores o des-commoditización de productos) sino fundamentalmente la incorporación de

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China al comercio mundial (China entra a la OMC en el 2001) y por la especula-ción en torno al valor de estos commodities en un contexto de fuerte incertidumbre sobre el crecimiento de los países centrales. Por lo tanto, salvo algunas poquísimas excepciones, el aumento de la demanda de commodities no se explicaría porque es-tos sectores pasaron a tener eficiencia keynesiana – de hecho sigue predominando la baja elasticidad ingreso de la demanda en estos productos.- Esta cuestión relativiza el sostenimiento de los precios internacionales de alimentos en el tiempo. Por eso, creemos que siguen vigentes las principales ideas de los pensadores del estructura-lismo latinoamericano. En algunos casos podría existir la posibilidad de diferenciar productos debido a la hiper-segmentación que destaca Carlota, lo que puede llevar a la des-commoditización de algunos productos basados en RRNN. Vino, frutas, café y lácteos son algunos ejemplos válidos expuestos por la autora, sin embargo representan aun una porción minoritaria no solo de las exportaciones de los países latinoamericanos, sino también una proporción reducida del comercio mundial de alimentos. Por otra parte, esta no es una conclusión general que pueda extrapolarse a todos los productos basados en recursos naturales.

Otra restricción para desarrollar los encadenamientos más virtuosos es que el tipo de cambio necesario para el desarrollo de los sectores intensivos en recursos naturales es significativamente inferior al necesario para el desarrollo de los bie-nes y servicios intensivos en conocimiento. Por lo tanto, el desarrollo de redes de mayor virtuosidad relativa requiere tipos de cambios múltiples que contrarresten las tendencias a la enfermedad holandesa. En esa dirección como plantean Cimoli y Porcile (2013), un contexto de apreciación del tipo de cambio real2 tiende a reducir la diversificación productiva y compromete el crecimiento y el aprendizaje. Esto es válido tanto por el efecto sobre la emergencia de nuevos sectores (unrelated variety) como sobre el desarrollo de actividades vinculadas a aquellos RRNN que por su elevada productividad relativa tienden a apreciar el tipo de cambio (related variety). El resultado final es una estructura productiva donde los sectores de mayor intensi-dad tecnológica tendrán un peso menor. Por el contrario si, como sostiene Carlota, las rentas de los recursos naturales se usaran para invertir en educación y promover sectores intensivos en conocimiento se podría generar una construcción sostenida de capacidades tecnológicas más sofisticadas a partir del boom exportador. En defi-nitiva, aprovechar o no la oportunidad que ofrecen en la actualidad los altos precios de las commodities depende de la dirección que asuma la política macroeconomía, las políticas industriales y tecnológicas, y la coherencia entre las decisiones de polí-tica en los niveles micro, meso y macro.

2 Es posible imagina que durante el boom de commodities hay una tendencia a que el capital externo acuda a la economía donde ocurre la expansión. Expectativas optimistas de crecimiento y superávit externo hacen que la entrada de capital tienda a acentuarse, lo que impulsa hacia abajo la tasa de cambio real y hacia arriba la curva salarios relativos (Bresser-Pererira, 2008; Frenkel y Rapetti (2011).

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Referências

Bresser-Pereira, L.C (2008) “Dutch disease and its neutralization: a Ricardian approach”, Brazilian Journal of Political Economy 28 (1) January: 47-71.

Cimoli, M. y Porcile, G. (2013) “Tecnología, heterogeneidad y crecimiento: una caja de herramientas estructuralista” En Yoguel, Robert y Barletta (Eds.) “Tópicos de la teoría evolucionista neoshumpeteriana de la innovación y el cambio tecnológico” (en edición)

Cimoli, M., Porcile, G., y Rovira, S. (2010) “Structural change and the BOP-constraint: why did Latin America fail to converge?” Cambridge Journal of Economics, 34(2), 389-411.

Comisión Económica para América Latina, CEPAL (2012) “Cambio estructural para la igualdad. Una visión integrada del desarrollo” Disponible en http://www.eclac.org/pses34/noticias/documentosdetrabajo/4/47424/2012-SES-34-Cambio_estructural.pdf

Dosi, G.; Pavitt, K. and Soete, L (1990) The Economics of Technical Change and International Trade. Brighton: Wheatsheaf.

Frenkel, R. y Rapetti, M. (2011) “Exchange Rate Regimes in Latin America”. In The Oxford Handbook of Latin American Economics, edited by J. A. Ocampo and J. Ros, 187-213. Oxford: Oxford University Press.

Prebisch, R. (1986) “El desarrollo económico de la América Latina y algunos de sus principales problemas” Desarrollo Económico, Vol. 26, No. 103 (Oct. - Dec., 1986), pp. 479-502

Saviotti, P. P. y Frenken, K. (2008). Export variety and the economic performance of countries. Journal of Evolutionary Economics, 18(2), 201-218.

Soete, L. (1987) “The impact of technological innovation on international trade patterns: the evidence reconsidered” Research Policy, 16(2), 101-130.

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Comentários a “Una visión para América Latina: Dinamismo tecnológico e inclusión social mediante una estrategia basada en los recursos naturales”, de

Carlota Perez: a Lei de EngelFrederico Rocha*

A mensagem de Carlota Perez

O artigo de Carlota Perez se baseia em duas observações importantes que devem ser levadas em consideração por autoridades de política econômica e social e por pesquisadores na área de desenvolvimento socioeconômico e economia da tecnologia: (i) a América Latina encontra e encontrará grandes dificuldades para o desenvolvimento de indústrias de montagem, em decorrência da distribuição inicial de fatores entre América Latina e Ásia; e (ii) ainda assim, esse destino pode levar, ao contrário do sugerido pelas teses pessimistas de maldição de recursos naturais, a janelas de oportunidades que devem ser aproveitadas e expandidas mediante políticas industriais e tecnológicas adequadas.

A primeira observação deriva do fato de a Ásia ser uma região densamente povoada e com reduzido acesso a recursos naturais, enquanto a América Latina se encontra na situação oposta. Assim, a mão de obra no primeiro grupo de pa-íses seria naturalmente mais barata, enquanto os recursos naturais seriam mais baratos no segundo grupo de países. Assim, com o surgimento do paradigma de tecnologias da informação e comunicação, criou-se uma oportunidade para as empresas globais descentralizarem sua produção, na medida em que a capacida-de de coordenação de suas atividades à distância aumentou. A presença de mão de obra barata em quantidade forneceu a essas empresas uma alternativa para a instalação de etapas de suas cadeias produtivas que usavam mais intensivamente a mão de obra. Como consequência, emergiram nesses países oportunidades de acumulação de conhecimento e aprendizado nos segmentos de indústria de mon-tagem, sempre mais intensivos em mão de obra. A acumulação de conhecimento e o aprendizado implicaram, no longo prazo, aumento da produtividade do tra-balho, sendo fator de redução da desigualdade.

*Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O autor agradece ao programa Cátedras do Desenvolvimento do IPEA/CAPES.

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Restou à América Latina a especialização em indústrias de processo, prove-nientes da verticalização produtiva de segmentos intensivos em recursos naturais. Essas indústrias são, no entanto, menos intensivas em mão de obra. Assim, a especialização pode ter contribuído para a trajetória da América Latina de não redução das desigualdades de renda. Trata-se, portanto, do lado cético de Carlota Perez que alguns dos principais economistas latino-americanos compartilham.

A segunda observação apresenta o lado otimista de Carlota Perez, ao susten-tar que há possibilidade de aprendizado e desenvolvimento a partir das indústrias de processo. Essa visão se baseia em três argumentos:

1. A afirmação da América Latina como celeiro do mundo, seu principal provedor de alimentos e de outros bens advindos de recursos naturais. Ainda que não mencione claramente, parece ser intuitiva a realização de uma série de inovações de processo – ou seja, aquelas inovações geradas e usadas no próprio setor – para caminhar para a expansão da fronteira agrícola e o aumento de sua produtividade. Esse ponto está associado também à formação de competências nessa indústria. Finalmente, Perez chama a atenção para o fato de a entrada da China no cenário mun-dial ter tornado os termos de troca mais favoráveis à América Latina, constituindo-se em uma nova oportunidade.

2. A existência de uma trajetória de transformação das indústrias de pro-cesso intensivas em escala em indústrias de especialidades de menor escala e possivelmente envolvendo pequenas empresas. Assim, inves-timentos devem ser direcionados para produtos mais customizados, que atendem os interesses de clientes específicos e que mantêm maior margem de lucro. O potencial inovador nesses segmentos não está pu-ramente associado a processos, podendo envolver inovações de produto que permitem adaptação a gostos e necessidades.

3. Existe a possibilidade de exploração de potenciais advindos de tecnolo-gias associadas a recursos naturais, como novos materiais e biotecnologia.

Carlota Perez levanta, no entanto, o grande obstáculo apresentado pela al-ternativa ao crescimento baseado em recursos naturais: o seu limitado alcance no que se refere à força de trabalho. Para Perez, a baixa demanda de mão de obra das atividades intensivas em processo, somada à demanda de mão de obra de alta qualificação, tende a agravar as condições de distribuição de renda das economias latino-americanas.

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Alguns problemas da trajetória de recursos naturais

O ceticismo de boa parte das correntes de pensamento latino-americano sobre o desenvolvimento econômico a partir de recursos naturais advém da ob-servação da lei de Engel, que afirma que a elasticidade renda da demanda por alimentos é menor do que um (ver gráfico 1). No gráfico 1, percebe-se que, no caso dos EUA, o consumo de alimentos representa, ao longo do tempo, uma par-cela decrescente da renda. Mesmo que se leve em consideração que o valor total aumentou muito durante os anos, a capacidade de crescimento daqueles especia-lizados nesses segmentos parece ter sido insuficiente. Assim, países especializados na produção de alimentos – e recursos naturais de uma maneira geral – tenderiam a ter uma elasticidade renda das exportações menor do que a elasticidade renda de suas importações, normalmente associada a bens primários (ver gráfico 2).1 Trata-se, portanto, de uma velha tradição cepalina e difundida na literatura mun-dial, podendo ser conhecida como pessimismo das elasticidades.

Gráfico 1 - Dispêndio com Alimentação Total e Participação do Dispêndio na Renda Dis-ponível das Famílias dos EUA, 1929-2011

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Alimentação em casa (%) Alimentação fora de casa (%)

Gasto total em alimentação (US$ bilhão)

Fonte: Elaboração própria a partir de USDA - Economic Research Service from various data sets from the U.S. Census Bureau and the Bureau of Labor Statistics. http://www.ers.usda.gov/data-products/food-expenditures.aspx.

1O gráfico 2 estende essa constatação para o comércio internacional, mostrando que a parcela de alimentos no total do comércio é decrescente ao longo do tempo. Mostra ainda que essa tendência parece ser estendida para o ramo de metais, ainda que, para petróleo, a grande volatilidade dos preços não permita uma apreciação adequada da questão.

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Gráfico 2 - Participação no Comércio Internacional dos Setores Intensivos em Recursos Naturais, 1962-2010

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Agricultura Alimentos Metais e minérios Combustíveis

Fonte: Elaboração própria a partir de Banco Mundial, World Development Indicators.

Esse tipo de discussão encontra suporte em Cimoli, Porcile e Rovira (2010), que apresenta evidência empírica, para o período de 1960 a 2004, de que a elasticidade renda das exportações latino-americanas, mais intensivas em recursos naturais, é menor do que a elasticidade renda das exportações de ou-tros países, com especial ênfase para o caso asiático. Agrava ainda o fato de as importações dos países latino-americanos apresentarem elasticidade renda su-perior àquela dos demais países. Inspirado no modelo de crescimento liderado pelas exportações, o artigo apresenta o pano de fundo para os estrangulamentos externos associados à história do continente.2

O ponto importante de Cimoli, Porcile e Rovira (2010) é a relação en-contrada entre intensidade tecnológica e elasticidade renda. Assim, o trabalho mostra uma evolução da parcela de mercado da Ásia positivamente associada ao incremento da participação de bens de alta tecnologia no total das exportações, enquanto a estagnação da parcela da América Latina é associada à reduzida evo-lução das exportações na direção desses bens.

2 Esse ponto de vista é sustentado também por Romero, Silveira e Jayme Jr. (2011), com ênfase no caso brasileiro, e Gouvea e Lima (2010), na comparação de casos latino-americanos com casos asiáticos.

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Trata-se da direção do progresso tecnológico. Nesse sentido, é a possibili-dade de gerar novos produtos e, assim, conquistar novos mercados versus a força da imitação e a dinâmica de inovações de processo que parece importar.3 O pro-blema passa a ser, então, como evoluir em direção à especialização em atividades mais intensivas em tecnologia ou, em termos gerais, em atividades em que a trajetória tecnológica esteja associada a inovações de produto.

Cimoli, Porcile e Rovira (2010) assumem a política econômica liberalizante da década de noventa, associada à valorização da taxa de câmbio como parcialmen-te responsável pelo insucesso do processo de diversificação produtiva. Diagnóstico semelhante está presente em outros autores que apontam os males da valorização cambial (Oreiro et al., 2011; Bresser-Pereira, 2012). Esses autores adicionam, no entanto, um fenômeno de doença holandesa, relacionando à valorização cambial e ao diferencial de produtividade entre os setores intensivos em recursos naturais e os demais setores industriais. Assim propõem uma forte redução da razão salário--câmbio com o objetivo de possibilitar a concorrência da América Latina com os demais países. Trata-se, na verdade, de uma proposta de redução dos salários reais com o objetivo de incrementar as margens de lucro dos segmentos patronais e, com isso, conduzir a investimentos superiores na indústria. Em alguns casos, essa solu-ção vem também acompanhada de uma redistribuição dos ganhos entre os setores, propondo a taxação das exportações dos setores de maior produtividade.

Existem três problemas nessas propostas. O primeiro é caminhar na dire-ção oposta das propostas de redução da desigualdade que representaram impor-tantes ganhos para a América Latina na última década. Em regimes democrá-ticos, a alternativa de reduzir ganhos salariais em economias com elevado grau de ocupação não parece ser viável. O segundo é seu descolamento da evidência empírica que relaciona câmbio desvalorizado com crescimento (ver Ferreira e Cardoso 2009). O terceiro é a falta de referência a processos de aprendizado e acumulação de crescimento como relevantes para o crescimento da produti-vidade e para a inovação.4 Assim, pode-se perceber a existência de um longo caminho, pouco especificado, a ser percorrido entre a redução dos salários e a reativação da economia, com impactos de longo prazo. A proposta não trata da superação dos obstáculos relacionados com a baixa elasticidade renda das exportações, mas simplesmente propõe o deslocamento único e não repetido da relação salário-câmbio, sem distinguir ou tratar de problemas de especializa-ção, pressupondo a ativação automática de processos de aprendizado que estão

3 Ver Muscatelli, Stevenson and Montagna (1995) para uma apresentação do sucesso dos países recém industrializados da Ásia baseado em sua capacidade de geração de inovações de produto para a manutenção de elevada elasticidade renda de suas exportações. 4 É comum nessa literatura a referência a uma ativação automática da lei de Kaldor-Verdoorn.

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longe de ter as características pressupostas. Trata-se, na verdade, da retomada da trajetória asiática com quarenta anos de retardo, agravada pela inadequada do-tação de fatores. Por fim, essa alternativa pode se constituir em um novo ponto de equilíbrio de baixo crescimento, mas elevada desigualdade.

Avaliação Crítica da Proposta

O grande mérito da proposta de Carlota Perez é levar a discussão para o cerne do processo de aprendizado e acumulação de conhecimento. Existe o reconhecimento de que o processo inovador está associado também ao passado. A capacidade de inovar está estreitamente associada a dois elementos: (i) o seu nível de esforço; e (ii) o seu conhecimento anterior, ou seja, às capacitações e conhecimentos acumulados ao longo do tempo. Nesse caso, surge o questio-namento de como, a partir da acumulação de conhecimento em atividades in-tensivas em recursos naturais, promover a entrada em atividades que permitam a constante diferenciação e diversificação produtiva, ou, em outras palavras, a busca de segmentos nascentes que expandam sua demanda a taxas superiores ao crescimento da renda mundial.

Assim, a proposta de Carlota Perez está voltada para o aproveitamento do conjunto de atividades em que a América Latina se encontra especializada e man-tém capacitações produtivas que a distinguem de outras regiões. Essas capacita-ções estão associadas a sua base de recursos naturais e, de maneira mais ampla, às indústrias de processo. O problema das indústrias de processo é, no entanto, sua escassa capacidade de diferenciação, o que, conforme levantado acima, as aprisio-na na lei de Engel. Pode-se verificar, no entanto, que o resultado em termos de aprendizado e crescimento da produtividade é obtido. O gráfico 3 mostra uma elevada habilidade da América Latina, e particularmente do Brasil, em aproveitar o potencial de expansão dos setores de recursos naturais, ao crescer sua participa-ção nas exportações mundiais.5 Esse aumento parece, contudo, ser insuficiente para aumentar a parcela da América Latina e do Caribe no comércio mundial.6 Deve-se observar, no entanto, que esses segmentos demonstram uma capacida-de de ganhar parcela de mercado ausente nos demais segmentos das economias latino-americanas. São, portanto, os seus segmentos líderes e a partir deles é que se deve buscar aprendizado para liderar um processo de crescimento.

5Não é objetivo deste texto, mas as políticas governamentais e estratégias empresariais de acumulação de conhecimento na área agrícola, na agroindústria e na mineração brasileiras são bastante claras e o gráfico 3 expressa o resultado desse esforço.6Comparativamente, o ganho de parcela de mercado brasileira nessas indústrias pode ser comparado ao ganho asiático de parcela de mercado nas indústrias de montagem.

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Gráfico 3 -Participação da América Latina e do Brasil nas Exportações Mundiais de Produ-tos Agrícolas, Alimentos e Minerais e Metais, 1980-2010, (%)

24,6 24,26

33,4729,91

6,40 7,03 8,19

13,44

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1980 1990 2000 2010

América Latina Brasil

Fonte: Elaboração própria a partir de Banco Mundial, World Development Indicators.

Dada a impossibilidade de se expandir a demanda por esses produtos acima do crescimento da renda mundial, mesmo com ganhos de parcela de mercado, a proposta de Carlota, Penrosiana em sua essência, é a diversificação a partir da base produtiva e tecnológica. O problema está em que indústrias de processo for-necem pouca margem de manobra para a diversificação. Uma forma de diversifi-cação foi apresentada no gráfico 1. Pode-se procurar diminuir os efeitos da lei de Engel procurando mercados nicho, ou caminhando-se para atividades similares, localizadas a jusante. No caso, indústrias de serviços, representadas por alimenta-ção fora de casa, poderiam ser uma solução. Infelizmente, ainda que sua parcela da renda disponível se mantenha mais ou menos estável ao longo do tempo, essa trajetória parece ser insuficiente para contrabalançar os efeitos da lei de Engel.

O otimismo de Carlota Perez pode estar associado a outro aspecto. Recursos na-turais e indústrias de processo podem ser fonte de acumulação de conhecimento que propicia aprendizado para a diversificação em direção a outras indústrias. Esse ponto é ressaltado em um conjunto de estudos de caso reunidos em Lederman e Maloney (2007). Wright e Czelusta (2007) mostram como os EUA, sendo uma economia baseada em recursos naturais durante o século XIX, entraram no século XX como líderes industriais. Exploram para isso a construção de capacitações a partir da busca de novas formas de produção e alternativas tecnológicas para a expansão mineral.

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Blomstrom and Kokko (2008) enfocam os casos dos países nórdicos e de como o complexo de madeira possibilitou uma expansão para outras indústrias. O cacthing-up dos países nórdicos pode ser exemplificado a partir do gráfico 4 que mostra a evolução do PIB per capita do Reino Unido e da Suécia entre 1850 e os dias de hoje. Percebe-se que a maior parte do processo de catching-up ocorreu entre 1890 e 1940, quando o Reino Unido era líder entre as nações desenvolvi-das.7 É interessante enfatizar, no entanto, que as economias dos dois países eram extremamente entrelaçadas, sendo o mercado britânico o principal destino dos produtos suecos. Em 1880, três produtos respondiam por 68% das exportações suecas: madeira serrada (40%), aço e ferro (16%) e cereais (12%). O quadro se altera radicalmente, em 1911-1913. Madeira serrada continua sendo o principal produto (26%), mas o segundo produto é papel e celulose (18%), seguido de produtos de engenharia (11%).8 É importante ressaltar nessa conta que o com-plexo da madeira, ou seja, as exportações baseadas em recursos naturais conti-nuam sendo a principal base para as exportações, mas agora uma nova indústria entrou em operação, e com capacitações que tornam a indústria sueca líder no segmento. Entre 1880 e 1910, a Suécia saiu de 41% para 55% do PIB per capita britânico. O processo de cacthing-up se deu inteiramente a partir da produção de bens intensivos em recursos naturais. Esse desenvolvimento abriu a possibilidade de constituição de grupos industriais responsáveis pela provisão de infraestrutura que vieram a ser as empresas líderes da Suécia no período posterior. Exemplos são Ericsson, no ramo de telégrafos, e Asea, no ramo de geradores.

7Em 1900, na base de dados de Maddison, o Reino Unido tem o segundo maior PIB per capita, perdendo apenas para a Suíça. 8Dados obtidos de Blomstrom e Kokko (2007).

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Gráfico 4 - Evolução do PIB per capita de Suécia e Reino Unido

0

20

40

60

80

100

120

140

0

5000

10000

15000

20000

25000

3000018

5118

5818

6518

7218

7918

8618

9319

0019

0719

1419

2119

2819

3519

4219

4919

5619

6319

7019

7719

8419

9119

9820

05

Suécia/Reino Unido (%) Suécia Reino Unido

Fonte: Elaboração própria a partir de Maddison Project - http://www.ggdc.net/maddison/maddison-project/home.htm.

Tanto Wright e Czelusta (2007), quanto Blomstrom e Kokko (2008) e até mesmo Maloney (2007), irão argumentar que existem bases na constituição de uma base educacional e de instituições de formação de mão de obra técnica que não estiveram presentes na América Latina, sendo esse o fator distintivo central. Ainda assim, não se pode desprezar o aproveitamento da formação de capaci-tações para prover caminho para indústrias que podem diversificar, a partir do conhecimento, as suas bases de produção.

O recado final de Carlota Perez parece, portanto, estar longe de ser uma visão puramente otimista. Ao contrário, ele levanta as dificuldades de ação em países que já atingiram uma renda per capita elevada, sem conseguir difundir processos de alta produtividade por sua população. O aprisionamento das capa-citações da América Latina nessas indústrias, mesmo após sessenta anos do início dos processos de industrialização tardia, levanta a questão de que o caminho a ser seguido não é uma escolha, mas obtido por exclusão.

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Referências

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Réplica a los comentarios Carlota Pérez*

En primer lugar quiero agradecer y reconocer la alta calidad de los comen-tarios. Creo que estimulan un debate muy serio y necesario en estos tiempos cuando América Latina está creciendo y experimentando con una variedad de modelos sin que necesariamente se tenga un rumbo definido o una visión clara de futuro.

Mi primera aclaratoria se va a apoyar en algo que comprendió muy bien Frederico Rocha. No estoy proponiendo un modelo de desarrollo ideal sino más bien identificando la angosta ventana de oportunidad que se nos presenta en este período en particular. Tal como Rocha concluye en su comentario “o caminho a ser seguido não é uma escolha, mas obtido por exclusão”, lo que yo examino son las condiciones que le quedan a América Latina, una vez que dejó de aprovechar las ventanas de oportunidad que utilizaron los “cuatro tigres asiáticos” al igual que la subsiguiente, usada por China y la India. Más aún, considero que esta ventana para dinamizar los recursos naturales puede desaparecer en una década y que hay muchos países en África y Asia central –incluso Rusia– que podrían adelantarse en aprovecharla. En particular, el poder de negociación que hoy en día ofrece la competencia por el acceso a los recursos entre Asia y Occidente le da un carácter aún más perentorio a ese aprovechamiento. Quienes se muevan primero podrán obtener ventajas en las negociaciones y crearán sinergias en sus territorios, que no estarán disponibles para los retrasados.

Ese será el sentido de mis comentarios para continuar este fructífero de-bate. Mi principal objetivo será explicitar dos ideas que están en el centro de mi modo de abordar las cuestiones del desarrollo (1) poner atención a la forma como se abren y se cierran las ventanas de oportunidad a lo largo del proceso de difusión de las revoluciones tecnológicas, según éstas son asimiladas en los países que juegan el papel de centro y en las distintas periferias y (2) advertir que cual-quier conocimiento adquirido sobre el desarrollo así como las estadísticas que lo sustentan está necesariamente marcado por el período específico cuando el proceso fue examinado y (a diferencia de las ciencias naturales) se requerirá siem-pre distinguir cuidadosamente entre verdades inmanentes al sistema capitalista y verdades pasajeras y cambiantes.

*Centennial Professor, London School of Economics. Professor of Technology and Development, Universidad Tecnológica de Talín, Estônia. Senior Research Associate, CFAP/CERF, University of Cambridge. Honorary Professor, SPRU, University of Sussex. Site: www.carlotaperez.org

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Oportunidades como blanco móvil y estrategias de suma positiva

El hecho de ver las oportunidades para el desarrollo y el adelantamiento como blancos móviles no se sustenta solamente en los modos de difusión de las revoluciones tecnológicas y las diferencias entre paradigmas sucesivos, sino también en los intereses cambiantes de las empresas más poderosas del centro del sistema frente a las distintas secciones de la periferia. Considero que los procesos exitosos de crecimiento o desarrollo resultan de un contexto donde coinciden los intereses de esas empresas con los de los países que emprenden dichos procesos.

Como sostengo en el artículo, el crecimiento por sustitución de importa-ciones de fines de los años cincuenta hasta fines de los setenta, se sustentó en la coincidencia de intereses entre las transnacionales necesitadas de ampliar sus mercados saturados, en productos cuyas tecnologías se acercaban al agotamiento, y los gobiernos de América Latina empeñados en la industrialización y capaces de financiarla con las divisas obtenidas de la exportación de materias primas. Los tigres asiáticos aprovecharon la misma oportunidad pero, al no tener recursos naturales, tuvieron que entrar algo más tarde y financiar el proceso con promo-ción de exportaciones. Eso fundamentó la diferencia. Tuvieron que insistir en la captación de tecnología y en la capacitación y educación del capital humano para poder producir con calidad mundial. Para ese momento, con el aumento de los precios del petróleo y la estanflación, ya para las empresas transnacionales se había hecho menos importante la simple ampliación de mercados en el tercer mundo que el abastecimiento de los países centrales a menor costo, subcontra-tando a empresas en países con mano de obra barata.

Los casos de China e India son en cierto modo la continuación de esa experiencia pero con base en inversión directa. De hecho, a medida que el en-samblaje de los productos de consumo se iba yendo al Asia, fue aumentando el desempleo en los países avanzados y se fueron estancando los salarios nomina-les, mientras el consumo real podía mantenerse por los bajos precios asiáticos. En la actualidad, creo que uno de los mayores impedimentos para salir de la crisis en los países del viejo centro es precisamente el desacoplamiento entre los intereses de sus empresas globales (ya no sólo transnacionales) y los de su pobla-ción. Durante el boom de la post-guerra, el crecimiento de la productividad y los recursos naturales baratos permitieron un aumento sostenido de los salarios y un Estado del Bienestar que garantizaban el aumento constante del consumo y la conversión de la masa trabajadora en consumidora. Ahora, el crecimiento de los mercados se está dando en los países emergentes y también en la camada

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que viene detrás (los no-BRICS de Asia, África y América Latina). Desgracia-damente, en muchos de nuestros países, los altos precios de las materias primas, en lugar de servir para dinamizar la inversión y la innovación, están alimentan-do un boom de consumo.

En resumen, identificar para cada período en qué aspectos coinciden los intereses de los países latinoamericanos con los intereses de las empresas más poderosas es para mí tan importante para evaluar la probabilidad de éxito de una estrategia de crecimiento o desarrollo como los aspectos teóricos de validez universal. Y creo que en la medida en que la innovación intangible basada en la informática se vaya haciendo más prevaleciente y que la dirección ambientalista se imponga en los patrones de producción y consumo (suponiendo que ésta sea favorecida por las políticas), los altos precios de la energía y de las materias primas coincidirán con el interés de las empresas globales. En estos tiempos, los merca-dos más dinámicos tanto de consumo como de bienes de capital e ingeniería no estarán en los países avanzados sino en el resto del mundo. Los altos (aunque volátiles) precios de los recursos naturales contribuirán a poner la demanda en manos de esos países, de un modo equivalente a como el aumento de los salarios y los beneficios del estado del bienestar en los países centro mantuvieron una demanda creciente en manos de sus trabajadores.

Y esto me lleva a la cuestión de la elasticidad o no de la demanda para el caso de los insumos industriales y los alimentos.

La Ley de Engel y el balance entre verdades permanentes y cambiantes

Es cierto que el tradicional problema de la elasticidad ingreso es crucial y es uno de los aspectos más preocupantes de la estrategia propuesta, tal como lo indican BR&Y y lo sustenta ampliamente Rocha. En alimentos, siempre será menor el consumo proporcional a medida que la gente se enriquece; en energía y materiales, en cambio, a diferencia del pasado, es probable que las restriccio-nes ambientales y de precios continúen reduciendo el contenido en volumen por unidad de producto.

Lo que yo quisiera advertir es que, dado el cambio tecnológico, siempre que estemos hablando de desarrollo estaremos en un mundo cambiante donde lo que fue verdad hasta ayer puede no serlo mañana. Lo difícil es distinguir entre lo que es inmanente al capitalismo en cualquier época y lo que está sig-nado por el paradigma particular de una revolución tecnológica específica. En

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el contexto actual y hacia el futuro, yo abriría un paréntesis de duda que va a requerir un seguimiento cuidadoso de las tendencias nuevas y una visión de las estadísticas con conciencia histórica.

Ese paréntesis se alimenta de la diferencia entre los patrones de consumo que caracterizaron el boom de la post-guerra en EEUU y los que pueden marcar el desarrollo futuro de los países emergentes y de los rezagados.

Cualquier serie estadística que describa la evolución del patrón de consumo norteamericano en el período de despliegue del paradigma fordista y su declive estará marcado por las características de ese período en particular y puede que no represente una verdad inmanente. Sin entrar a discutir las muchas preguntas interesantes que despierta el Gráfico 1 de Rocha, me parece que éste nos obliga a profundizar hasta entender plenamente su significado.

Sería valioso, por ejemplo, poder distinguir el comportamiento de las diver-sas porciones del consumo: alimentos, energía, bienes durables, servicios (incl. educación y salud), vivienda y otros y compararlo con las estadísticas de pobla-ción y de niveles e ingreso. De ese modo podríamos analizar cuánto se asocia a la incorporación de nuevas personas al mundo del consumo y cuánto al patrón consumista asociado a los bienes durables y su reposición frecuente.

El objetivo sería evitar extrapolar las características del modo de crecimiento intensivo de esa época y lugar hacia una realidad futura que puede ser muy dis-tinta por ser de crecimiento expansivo. En otras palabras, no hay por qué esperar que el comportamiento del consumo en un período, como el actual - cuando hay millones de personas que cada año se incorporan al mundo del consumo desde la pobreza más profunda en el espacio global-, sea el mismo que uno cuando la característica fundamental fue el aumento del nivel de vida de una población ya básicamente incorporada y en un solo país (del centro).

El otro fenómeno que tendremos que estudiar es la cuestión ambiental y su posible influencia en los patrones de consumo futuros. Este puede reducir el consumo energético y de materiales per capita (suponiendo regulación o subida de precios o ambos), aumentar el componente servicios y cambiar el perfil de la alimentación.

Es interesante observar en el gráfico No. 2 de Rocha, sobre la participación de los sectores intensivos en RRNN en el comercio internacional, el claro cambio de la tendencia decreciente hacia una creciente a partir del año 2000, es decir desde que la globalización se intensificó a partir del colapso del NASDAQ. ¿Será esa una tendencia estable? ¿Qué fenómenos la sustentan?

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En esencia, estoy de acuerdo en que es importantísimo prestar atención al problema de la elasticidad ingreso en los mercados de destino. Para ello, consi-dero que debemos aprovechar la plataforma de análisis que nos ofrece Frederico Rocha con el fin de seguir profundizando en lo que podrían ser las tendencias futuras, evitando el riesgo de basarse en un pasado distinto como guía.

Eficiencias Schumpeteriana y Keynesiana: lo ideal, lo posible y el avance como proceso

Es probable que la combinación de las dos eficiencias sea una de las verdades inmanentes sobre el modo como los países logran escalar posiciones en el ranking del desarrollo.

En vista de ello, la “visión” no pretende ser una ruta ideal, sino encontrar un camino basado en las condiciones disponibles. No supone un salto al desarrollo en el corto plazo sino un proceso de acumulación de capacidades aprovechando lo posible. Me parece que contamos con tres condiciones nuevas y propias del actual período sobre las cuales montar una estrategia viable. Una responde al potencial (Keynesiano) de demanda, otra a la posibilidad (Schumpeteriana) de innovación y la tercera a las condiciones de precios relativos en el mercado mundial.

La primera es la posible complementariedad con Asia -en especial con Chi-na- con su demanda creciente de insumos y alimentos en la zona de más rápido desarrollo del planeta y la correspondiente dotación de recursos y experiencia en esos rubros en América Latina.

Otra, es el incremento significativo en las posibilidades de innovación local en las redes de recursos naturales con las TIC y las otras tecnologías radicales, hoy en gestación, como la biotecnología y la nano-tecnología, ambas asociadas a los recursos naturales.

Y la tercera es el cambio en las tendencias de precios relativos entre produc-tos fabricados y recursos naturales.

Esto último puede cambiar las relaciones de intercambio hasta incluso re-vertir las tijeras de precios. Hoy podemos hablar de commodities industriales, en el caso de los segmentos estándar de cada producto, por los estrechos márgenes unitarios de ganancia y la vulnerabilidad de sus mercados. En cambio, a pesar de la continuación de la volatilidad, el nivel de precios de buena parte de los recursos naturales se ha elevado significativamente. Por supuesto que hay un componente

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especulativo y que además, como lo señalan BR&Y, las diferencias entre los di-versos recursos son tan grandes que cuesta generalizar al respecto y es difícil hacer predicciones. No obstante, mientras la relación demanda/oferta obligue a mover-se hacia sitios de mayor dificultad de extracción y peores tierras, la tendencia en cada caso tendrá un sustento objetivo.

Con ello no se cierra la importante cuestión, apuntada también por BR&Y, sobre la variedad, relacionada o no, y sus consecuencias para el potencial de de-sarrollo. No obstante, tal como lo señalan Saviotti y Frenken, la variedad rela-cionada puede dar resultados en el corto plazo y luego servir de plataforma para emprender esfuerzos de variedad no-relacionada en un plazo posterior. Más aún, el hecho de que las tecnologías que parecen prometer la próxima revolución tec-nológica estén basadas en los recursos naturales, permite ir sentando las bases para participar en los sectores más dinámicos del futuro. Es decir, podemos pen-sar en un proceso para llegar al desarrollo en dos grandes saltos.

Los nichos de mercado como oportunidad complementariaTienen razón BR&Y cuando cuestionan la validez de un proyecto de de-

sarrollo sustentado en nichos de mercado. En verdad los nichos sólo tienen sentido como complemento de los dos polos de la estrategia dual propuesta. En el contexto de las redes de innovación alrededor de los RRNN, los nichos contribuyen a mejorar el perfil exportador, donde por mucho tiempo las ma-terias primas brutas y los procesos tradicionales siguen siendo el grueso. Se trata de realizar una migración gradual en cuatro direcciones: hacia mayores niveles de procesamiento, hacia mejoras de productividad en toda la red, hacia procesos de diferenciación tecnológica en productos especiales y, aguas arriba, innovando en insumos, equipos e ingeniería. Algunas de esas direcciones llevan a nuevos productos, otras sólo a mejorar procesos; unas definirían nichos de especialidad de alta rentabilidad, otras serían del tipo más usual y su impacto dependerá del comportamiento de los mercados mundiales. El efecto a perse-guir es reducir la vulnerabilidad del conjunto y fortalecer el valor promedio por unidad de volumen. Hasta ahora parece ser que los precios de los productos especializados son más estables que los de los commodities aunque todavía re-presenten un pequeño porcentaje en el conjunto.

Donde es crucial la posibilidad de identificar nichos es en lo que concierne a la parte de la estrategia que busca superar la pobreza mediante la promoción de empresas en cada rincón del territorio. Para cada localidad, para cada emprendedor individual o colectivo, un nicho rentable puede significar el paso de la pobreza al bienestar. No se niega la posibilidad de que empresas de mayor tamaño puedan

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generar empleo para una parte de la población, lo que vemos es un camino hasta ahora inédito que permite la generación de riqueza por iniciativa local, incluso para exportar, aprovechando las nuevas condiciones de los mercados globales.

No sólo el riesgo de lock-in sino también el reconocimiento del lock-out

Tienen razón BR&Y cuando advierten el riesgo de la excesiva especialización y de la concentración en “related variety”. El problema del posible lock-in tanto de empresas como de sectores es real y habría que tener un permanente esfuerzo prospec-tivo y planes de contingencia. Pero también es preciso reconocer que las aspiraciones ideales de “unrelated variety” desde el principio pueden estar vedadas. La propuesta parte de la apreciación de estar en condición de lock-out en relación con las industrias de ensamblaje masivo. Asia ha utilizado y magnificado sus ventajas para ese segmento y, a menos de estar dispuestos a disminuir los salarios drásticamente para poder com-petir (ver Rocha al respecto), le sería muy difícil a Latinoamérica en general concen-trarse en esos productos y renunciar a la ventaja de elevar los salarios reales mediante la importación de bienes de consumo de muy bajo costo.

Hay excepciones a considerar como México ‒por el NAFTA y la ventaja del transporte fronterizo‒ y Brasil por sus capacidades tecnológicas unidas a su enor-me tamaño y población, tanto más en la medida en que incorpore una mucha mayor parte de la ciudadanía al consumo.

Sin embargo, el segmento estandarizado masivo de cada producto ensam-blado representa una porción mayoritaria en volumen pero con un estrecho mar-gen de ganancia y gran vulnerabilidad a la competencia. La idea no sería abando-nar el ensamblaje o la manufactura en general. Eso sería suicida. Esas capacidades son cruciales. Aparte de productos y equipos asociados a la especialización en re-cursos naturales, algunos de los cuales pueden convertirse en exportaciones espe-cializadas, habría que mantener lo más posible de las capacidades de fabricación existentes, fortaleciendo ventajas ya adquiridas y obteniendo nuevas ventajas de diseño o marca en productos diversos. Y, en casos bien identificados, cabe perfec-tamente aplicar protección temporal de infant industry.

Una cosa es intensificar una dirección del desarrollo donde pueden crearse nuevas ventajas dinámicas y otra –no propuesta– es desincentivar esfuerzos en otras direcciones o debilitar posiciones ya alcanzadas.

El presente y las tendencias aún débiles que señalan el futuro

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Uno de los mayores problemas enfrentados por las ciencias sociales es que el objeto cambiante que analizamos sólo nos permite ver claramente los resultados de las acciones emprendidas varios años atrás. Las tendencias que representan los éxitos o fracasos del futuro apenas se vislumbran débilmente. Las tendencias que ya son fuertes y obvias, probablemente están a punto de alcanzar su pico máximo y quizás estrellarse contra los obstáculos que su propio exceso genera. Ya para cuando Lyndon Johnson anuncia la “Gran sociedad” en los sesenta, el paradigma que sustentaba esa esperanza estaba a punto de agotarse y los hippies lo estaban rechazando. Y cualquiera que hubiera predicho entonces que la comida orgánica y los textiles naturales se convertirían en los segmentos de lujo en los supermer-cados y tiendas habría sido rechazado por absurdo. Si los científicos sociales no tuviéramos que dar recomendaciones de política que afectan a millares e incluso millones de seres humanos, no importaría mantenerse sobre seguro y trabajar con los datos sólidos. Si queremos asomarnos al futuro, tenemos que correr el riesgo de basarnos en tendencias débiles.

El presente debate se ubica en ese peligroso espacio entre la certeza cientí-fica y la intuición, trabajando sobre un objeto de estudio de alta incertidumbre, incluso en los terrenos de aparente solidez, y en un ambiente de intensos des-acuerdos entre disciplinas y entre diferentes escuelas de la misma disciplina, fuer-temente signados por distintas ideologías. Es mejor, en mi opinión, reconocer esa realidad cambiante y aceptar sus retos, que intentar en vano crear una ciencia dura de verdades universales y estables.

El rol del estado y la cuestión del largo plazo

Tal como lo señalan todos los comentaristas, la estrategia sugerida supone un Estado activo e incluso una fuerte colaboración inter-gubernamental en el conti-nente, con una clara conciencia de la importancia de la educación, de la innovación y de la necesidad de una estrecha interacción en redes a propósito de todo el es-fuerzo. También supone el reconocimiento de la naturaleza dual de la estrategia y la necesidad de ser proactivo de modos profundamente diferentes en las dos mitades. Los agentes de cambio en lo que serían los sectores remolque del crecimiento pue-den identificar claramente sus propias necesidades de apoyo estatal. En cambio, la mitad orientada a superar la pobreza desde abajo necesitará de un soporte público intensivo, que incluya desde el entrenamiento y despliegue de centenares de facili-tadores del proceso para identificar potencial y necesidades, pasando por el apoyo financiero, científico y educativo, hasta el estímulo o creación de mecanismos de mercado que agrupen a los productores de bienes similares, para mercados nacio-

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nales o internacionales. El reto es doble y es enorme. Su éxito requeriría un esfuerzo Prebischiano, tanto en su ambición como en su alcance continental.

Agradezco enormemente a la revista Económica y a la Universidad Federal Fluminense por esta valiosa oportunidad y a todos los comentaristas por la serie-dad de su análisis y la profundidad de los retos que me plantearon. Reconozco que apenas he tocado la superficie de la respuesta que merecen. Es mi esperanza que el debate que hemos estamos iniciando en esta revista continúe y se enriquezca y que, aún si se demostrase que estoy equivocada, sus resultados puedan contribuir a un mayor acercamiento del mundo académico con los hacedores de política y al avance de nuestros países hacia el desarrollo.

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Artigos

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Empreendedorismo, Microcrédito e Superação da Miséria no Brasil: pontos em debate

Lena Lavinas*

Paula Martins**

Resumo: O governo Dilma Roussef estabeleceu como meta de governo a erradica-ção da miséria no Brasil até 2014. Lançou, assim, o Programa Brasil Sem Miséria, cujo objetivo é, através da integração de um conjunto de intervenções, enfrentar a multidimensionalidade da pobreza. De um lado, mantém as transferências de ren-da do Programa Bolsa Família, agora ampliadas para dirimir falhas de cobertura do público-alvo. De outro, compromete-se em levar aos mais destituídos os servi-ços públicos de que carecem, permitindo-lhes ainda adentrar o universo da capaci-tação profissional, como porta de saída da miséria. Espera-se, assim, proporcionar reais oportunidades de inclusão produtiva aos que vivem na pobreza extrema. Este artigo tem por objetivo levantar alguns alertas sobre a estratégia que se vislumbra como central à operacionalização do Programa Brasil Sem Miséria, apontando suas debilidades e riscos, ao final do primeiro ano de sua implementação.

JEL: I3 (I30, I32, I38)

Palavras-chave: erradicação da miséria, empreendedorismo, política pública, ca-pacitação profissional, Brasil

IntroduçãoA prioridade dada pelo governo federal à erradicação da miséria tem sido

acompanhada de um conjunto de medidas que, pouco a pouco, configura uma estratégia nova para enfrentar um problema grave, de solução complexa e, sem dúvida, a demandar inversões de monta e compromisso de longo prazo.

Ademais de reconhecer que o contingente de pessoas vivendo na miséria excedia a estimativa que ao longo dos anos 2000 orientou a política de com-bate à pobreza, em particular a consolidação do grande programa nacional de transferência de renda, o Bolsa Família, o governo federal criou em 2011 uma Secretaria-Executiva voltada para a implementação de mecanismos mais eficazes de resgate daqueles grupos vivendo em situação aguda de destituição.

*Professora Associada do Instituto de Economia da UFRJ.**Mestre em Economia pela UFRJ.

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Assim, em paralelo às transferências de renda, cujo escopo foi ampliado para melhor atender às necessidades emergenciais das famílias mais carentes, a Secretaria-Executiva do Programa Brasil Sem Miséria divulgou um arrojado fra-mework de trabalho, cuja ambição maior é associar necessidades e oportunidades.

Isso se traduz, na prática, na tentativa de atender efetivamente a popula-ção mais vulnerável, que acaba não sendo adequadamente alcançada pelas redes de provisão de serviços públicos, e, na outra ponta, no esforço de prover não somente bens e serviços, mas também meios de resgate, através de alternativas de inclusão produtiva. Nesse quesito, estimular o empreendedorismo individual através de capacitação individual e acesso a ativos – o crédito, em particular – aparece como uma modalidade de resgate senão provável, possível. E ela passa a galvanizar todas as apostas.

Este artigo tem por objetivo levantar alguns alertas sobre a estratégia que se vislumbra como central à operacionalização do Programa Brasil Sem Miséria. Parece-nos correto e urgente tornar os mais pobres cidadãos, dando-lhes a oportu-nidade de se beneficiarem de uma vasta gama de serviços desmercantilizados, cuja oferta hoje é insuficiente, deficiente e inapropriada às suas necessidades. Esse aces-so, se assegurado, há de dirimir graves déficits de bem-estar e sedimentar meios de autonomização importantes. Porém, a perspectiva de que formar o público-alvo do Programa Brasil Sem Miséria, capacitá-lo e profissionalizá-lo vá pavimentar quase de imediato a rota de superação definitiva da miséria parece meta pouco factível. Essa estratégia assim formulada renova com uma visão equivocada e pre-conceituosa de que pobres são pobres por estarem fora do mercado de trabalho ou nele inseridos precariamente em razão notadamente de sua baixa empregabili-dade, sugerindo uma abordagem voluntarista de que a porta de saída é trabalhar quando o problema está, também, no modo de funcionamento do mercado de trabalho. Igualmente, populariza-se a ideia de que com acesso a microcrédito e formação profissional, o caminho para o empreendedorismo estaria bem traçado tendo sido removidos os maiores obstáculos ao desenvolvimento de iniciativas de caráter individual. Financiamento e capacitação juntos promoveriam alternativas de ocupação que permitiriam dispensar, no curto prazo as transferências de renda fiscal que constituem o eixo central das políticas de combate à pobreza.

Essa ideia não é nova e reemerge recorrentemente no debate sobre os ins-trumentos de combate à pobreza. No início do século XX, o então estudioso das questões de trabalho e da pobreza, William Beveridge, julgava também ele que a desocupação e a pobreza eram consequência da falta de informação acerca dos em-pregos disponíveis. Os trabalhadores, portanto, deveriam ser conectados à oferta de emprego existente (Glennester, 2007), superando assimetrias de informação.

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Muito influenciado por suas visitas à Alemanha, onde o sistema fabril engendrava alternativas de trabalho em nível local e regional, a partir da atuação dos sindicatos e de uma rede de formação e capacitação dos trabalhadores embrionária, Beverid-ge pensava ser possível reproduzir esse modelo na Inglaterra. Só mudou de opinião reformulando sua compreensão da relação entre trabalho e pobreza ao ler a obra de John Maynard Keynes sobre a Teoria Geral e o papel que caberia ao Estado na promoção do pleno emprego e na luta contra a redundância dos trabalhadores.

Antecedentes para Contextualizar a Questão e Desenhar Mecanismos de Enfrentamento

Em 2010, o Brasil cresceu a uma taxa de 7,49% (contra -0,64% em 2009, 5,16% em 2008, 6,09% em 2007, 4% em 2006, 3,16% em 2005, 5,71% em 2004). Foi a mais alta desde 1986, quando se registrou taxa equivalente. Leva-mos, portanto, 24 anos para registrar uma taxa tão elevada, no contrapé de uma recuperação acelerada (crise de 2008).

Ainda assim, pelas estimativas do Censo Demográfico 2010, vivem abaixo da linha de indigência de R$ 70,00 cerca de 16,3 milhões de pessoas, algo como quatro milhões de domicílios. É factível supor que esse contingente é justamente aquele que, apesar de novas oportunidades de trabalho trazidas pelo crescimento econômico – criação de empregos, com prevalência de empregos formais, exigin-do maior nível de escolaridade – não consegue se beneficiar das mudanças em curso, de modo a superar a vivência da pobreza.

Pode-se também supor que esses 16,3 milhões de pessoas, 60% a mais do que sinalizava a PNAD 2009,1 constituem o que se denomina o núcleo duro da miséria, ou seja pessoas vivendo em uma situação de déficits crônicos e cumula-tivos. Trata-se de pessoas profundamente carentes de dotações elementares, sem acesso a uma infraestrutura social minimamente adequada.

Barros, Mendonça e Tsukada (2011), servindo-se da PNAD, revelam que na fase pós-Real (1995-2003) a taxa de incidência da pobreza extrema se manteve mais ou menos constante,2 só vindo a cair celeremente a partir de 2004, quando passa de 15,1% para 8,4% em 2009, tomando-se por base a linha de indigência do Bolsa Família. Lavinas (2010) apresenta resultados similares, porém ainda mais positivos, usando a mesma linha de corte. Identifica que o percentual de indigentes recua para 5,4% em 2009, contra 15,8% em 2001. Já foi ampla-mente sistematizado e documentado que o que mais contribuiu para a redução

1 Considerando-se como linha de indigência o mesmo valor de R$ 70,00, como renda domiciliar per capita.2 Oscilando entre 17,8% e 16,5%, segundo estimativas de Barros, Mendonça e Tsukada (2011).

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da pobreza e da indigência foi o crescimento econômico, que gerou um grande número de novos postos de trabalho, associado à forte recuperação do valor real do salário mínimo (Lavinas, 2012; Dedecca et alii, 2006), o que dispensa maiores detalhamentos, no âmbito deste artigo, sobre as causas dessa evolução favorável.

O que nos revela a PNAD sobre a evolução da pobreza extrema a partir de 2003?

O gráfico 1, além de contabilizar o percentual de pobres3 e indigentes, con-siderou igualmente o grupo dos que vivem na chamada zona de risco ou de alta vulnerabilidade (denominados vulneráveis), cuja linha de corte usada pela CE-PAL (Filgueiras, 2011) é de 1,8 vez a linha de pobreza. Por exclusão, obtêm-se aqueles que não compõem nenhum dos grupos de risco nem estão ameaçados por níveis elevados de privação.

Duas observações devem ser destacadas: a primeira é que entre 2003 e 2009, o percentual de indigentes e pobres diminui significativamente, embora o peso dos vulneráveis mantenha-se quase constante em termos relativos (19%), aumen-tando em 1,1 milhão em 2009, no absoluto (passam de 33,5 milhões para 34,6 milhões). Os três grupos na cauda da distribuição somam, assim, 63,5 milhões de pessoas em 2009, contra 76,6 milhões em 2003. É um saldo bastante positivo. Mas o estoque de pessoas vivendo em situação crítica ou potencialmente em risco mostra-se ainda muito grande.

O que se pode deduzir daí é que crescimento elevado e sustentado é indis-pensável para reduzir a pobreza e a miséria, porém não é suficiente para fazer ascender os menos dotados. Ele vem desnudar (operando uma seleção interna, processo de cream skimming, que consiste em retirar a camada superior e assim por diante) o universo da pobreza, distinguindo, pela trajetória de ascensão para fora da pobreza, os indivíduos que têm algum potencial para alavancar-se quando surgem oportunidades, daqueles que não dispõem de meios de transformar opor-tunidades – ou recursos acessíveis – em algum bem-estar.

3 Para estimar ambos os grupos, consideraram-se as linhas de pobreza e indigência do Programa Bolsa Família, para os anos selecionados.

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Gráfico 1 - Distribuição percentual da renda domiciliar per capita, por grupos de vulnera-bilidade - Brasil - 2003/2009

9,7%

14,8%

19,2%56,3%

20035,3%

9,8%

18,1%

66,8%

2009

Indigentes

Pobres

Vulneráveis

Outros

Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2003 e 2009.

Essa é a definição de Sen (1999) – os pobres não são apenas aqueles que não detêm um conjunto necessário de dotações básicas, mas aqueles que mesmo tendo acesso a elas não conseguem maximizá-las em prol do seu bem-estar. Daí a ideia de functionnings, que vem justamente enfatizar que é preciso dispor de ca-pacidades para poder funcionar, mobilizando recursos que se tornaram acessíveis, e, com isso, ampliar sua autonomia.

Pelo que mostram os dados da PNAD 2003 e 2009, houve uma ligeira de-gradação do perfil da população miserável e pobre nesse intervalo de tempo. Três informações importantes acerca da evolução do perfil dos indigentes e pobres no período recente vêm corroborar essa afirmação:

1. Houve uma retração muito acentuada da taxa de formalização da popu-lação vivendo na pobreza extrema, que embora já fosse muito baixa em 2003 (5,2%), despenca para 0,8%, em 2009, conforme os gráficos 2 e 3 adiante.4 Isso indica que se a indigência recua de 15,8% para 5,4%, nesse período, os que aí permanecem ou para essa condição voltaram encontram-se em uma situação de altíssima precariedade e viram redu-zidas suas chances de uma melhor inserção ocupacional que pudesse atenuar seu grau de destituição. O mesmo ocorre com o contingente de pobres. Já o grupo de vulneráveis mantém uma taxa de formalização praticamente inalterada entre 2003 e 2009 (35%). A formalidade au-

4 Nesse período, observa-se também uma redução do emprego formal de até um salário mínimo. Trata-se da única faixa de renda onde há crescimento negativo de postos de trabalho.

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menta unicamente no grupo que vive fora da zona de risco, passando de 50% em 2003 para 55% em 2009.

2. Da mesma maneira, observa-se ligeira queda da taxa de atividade e da taxa de ocupação dos mais pobres, no período, o que pode sugerir tanto possibilidade de recusa de ocupações de péssima qualidade, graças ao recebimento de um mínimo social para bom número dos mais desti-tuídos, como também menores oportunidades para o exercício de uma atividade remunerada, ainda que seja na informalidade. Trabalho do IPEA5 assinala que enquanto o emprego formal cresceu 43,5% entre 2001 e 2009, as ocupações informais tiveram progressão bem menor, da ordem de 9%. Significa dizer que as chances no mercado de traba-lho informal, onde estão majoritariamente os mais pobres, foram quase cinco vezes menores que para aqueles capazes de disputar uma vaga no setor formal. Novamente, o quadro pouco se altera para o grupo dos vulneráveis e melhora para o grupo do que estão fora da zona de risco.

3. A taxa de desocupação dos indigentes aumenta em 2009 vis a vis 2003, passando de 24,8% para 30%, ao passo que diminui para aque-les não pobres e não vulneráveis (5,7% em 2009 contra 6,8% em 2003). Novamente, observa-se que as chances de estar ocupado, em tese ampliadas para todos por força do crescimento, não se distribuem igualmente para os grupos aqui constituídos. Será que o aumento da desocupação para a população pobre em idade ativa é consequência da falta de informação sobre oportunidades de emprego? Ou expressa apenas déficits de empregabilidade?

Alertas

Não bastasse ter aumentado e muito o desafio para retirar da miséria pelo acesso a uma atividade remunerada, em patamar satisfatório, aqueles que são ainda mais desprovidos de meios, recursos, ativos e capital social, aspectos mais gerais associados à dinâmica recente do mercado de trabalho formal e informal devem ser levados em conta para formular a estratégia mais adequada e passível de um êxito razoável. Cabem, portanto, alguns alertas do que pode vir a dificultar o compromisso da nação em erradicar a miséria em poucos anos.

5 Comunicado do IPEA n. 88, 2011.

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Gráfico 2 - Taxas de atividade, ocupação e formalização, por grupos de vulnerabilidade, entre pessoas de 17 a 59 anos de idade - Brasil - 2003

69,475,2

5,2

70,5

85,9

22,2

73,5

87,9

35

78,7

93,2

50,5

Taxa de de Taxa de ocupação Taxa de formalização

Indigentes Pobres Vulneráveis Outros

Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2003

Alerta I: Oferta de emprego e inserção produtiva – desafios da qualificação profissional

Saboia (2011) revela que a maior demanda por mão de obra hoje no Brasil diz respeito ao nível técnico – formação de segundo grau. Esse fato estaria levan-do a um descasamento entre oferta e demanda por pessoal com nível superior, gerando desperdício, posto que grande número de pessoas com diploma univer-sitário acaba sendo absorvido em ocupações típicas de segundo grau, apesar de investimentos longos e caros em educação e formação profissional. No período 2003/2010, dados do CAGED indicam que o grupo menos favorecido com ge-ração de empregos formais foi justamente aquele com fundamental incompleto. Este grupo foi o único a registrar crescimento negativo em cinco anos da série, a saber: 2003, 2005, 2006, 2008 e 2009. O gráfico 4 evidencia essa dinâmica. Isso se explica por duas razões: (i) aumenta o número de pessoas que conclui o fundamental (escolaridade média em alta) e (ii) o processo de formalização de ocupações antes altamente informalizadas, como o ramo da construção civil, por exemplo, acabou por reproduzir o mesmo fenômeno na parte inferior da escala das habilidades, sancionando a entrada no mercado de trabalho à posse de uma formação escolar mínima (nível fundamental completo).6 6 Dados da PNAD apoiam essa afirmação: em 2003, o número médio de anos de escolaridade dos ocupados no setor da construção civil era de 6,8 passando para 7,7 em 2009, ou seja, praticamente um ano de estudo a mais em um período de seis anos.

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Isso tende a demonstrar que o trabalho assalariado formal cada vez menos constitui-se como uma frente de oportunidades para os grupos mais vulnerá-veis. Em uma fase de crescimento mais forte, caracterizada por uma subutiliza-ção dos mais bem formados, é pouco provável que os menos dotados possam, no curto prazo, suprir lacunas graves e desenvolver habilidades elementares até hoje inexistentes e disputar espaço. Segundo dados do Censo 2010, 27,2% do público-alvo do Programa Brasil Sem Miséria, na faixa etária 18-59 anos, são analfabetos. Quanto tempo leva aprimorar e expandir o capital humano de pessoas com tão poucos recursos para que adquiram meios de tentar uma colo-cação com maiores retornos?

Gráfico 3 - Distribuição percentual da geração de emprego, por graus de instrução - Brasil - 2003-2010

-40,0

-20,0

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fundamental incompletoFundamental completo/médio incompletoMédio completo/superior incompletoSuperior completo

Fonte: CAGED/MTE.

Na média, segundo cálculos a partir da PNAD 2009, os trabalhadores ocu-pados, na faixa 17-59 anos, vivendo em famílias indigentes registram 5 anos de estudo, sendo a mediana para esse grupo de 4 anos de escolaridade. No caso dos trabalhadores pobres, a situação é apenas um pouco melhor, pois a média dos anos de escolaridade é igual à mediana: 5. Para aqueles classificados como vulneráveis, a progressão é de mais um ano, o que faz convergir média e mediana para 6 anos de escolaridade. Temos, portanto, um cenário preocupante posto que são grandes as chances de grande parte desse contingente significativo de trabalhadores não ser absorvido no mercado formal, justamente onde se deu a maior expansão da oferta de postos de trabalho no período 2001-2009. O déficit

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de escolaridade que registram varia entre 4 (indigentes) e 2 (vulneráveis) anos de modo a concluir o ensino fundamental. Ora, se o emprego formal vem excluin-do do seu horizonte de contratações trabalhadores sem fundamental completo, o desafio não está apenas em desenvolver as habilidades e capacidades daqueles que vivem na extrema pobreza, mas ampliar o foco e forjar, no médio e longo prazo, alternativas de formação sustentada para um conjunto expressivo de tra-balhadores que, muito possivelmente, trocam de posições entre si com relativa frequência, em particular pobres e vulneráveis.

Ademais, aqueles que numa fase de crescimento sustentado permaneceram na condição de indigentes dificilmente terão condições de “queimar etapas” e assegurar uma trajetória de mobilidade que lhes permita encontrar as boas por-tas de saída da pobreza somente através de ocupações remuneradas. Até porque também o setor informal mostrou papel bem modesto na absorção desses grupos gravemente desfavorecidos do ponto de vista da escolaridade formal.

Cabe indagar, então, como se dá a inserção produtiva dos trabalhadores que integram essas três categorias de análise.

Se tomarmos os três grupos que se situam na cauda inferior da distribuição e transitam entre a miséria e a alta vulnerabilidade, observa-se que a inserção em relações não mercantis é expressiva para o grupo dos indigentes. É o que nos mostra o gráfico 5.

Gráfico 4 -Posição na ocupação das distintas categorias, segundo grupos de vulnerabi-lidade - Brasil - 2009

05

101520253035

Empregados formais

Conta própria

Empregador

Empregado semcarteiraDoméstico sem carteira

Const./prod. parapróprio consumo/uso

Não remunerados

Indigentes Pobres Vulneráveis

Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2009.

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Salta aos olhos, em primeiro lugar, o perfil substantivamente distinto da in-serção ocupacional desses três grupos. Praticamente 45% dos indigentes ocupados realizam atividades que podem ser associadas a não mercantis, tais como cons-trução e produção para o próprio consumo/uso ou ainda não remuneradas. A condição de assalariado (sem carteira e doméstico sem carteira) tem peso pequeno, cerca de 25%. Significa dizer que mais de dois em cada três trabalhadores vivendo na pobreza extrema ou estão ocupados em atividades de quase subsistência ou são empregados informais, logo, não desenvolvem atividades que implicam iniciativa, tomada de decisão, risco etc. Os que se declaram conta própria somam 30%, o que poderia ser aqui associado à figura do empreendedor individual que, desde 2009, passou a ser uma atividade regulamentada e passível de formalização.7

Já os trabalhadores classificados como pobres estão mais concentrados (64%) nas atividades informais, como conta própria e assalariado ou doméstico sem carteira, que nas de autoprodução e autoconsumo (18%). E 16% possuem carteira assinada. O assalariamento, bem mais disseminado, é uma realidade para metade desses trabalhadores, logo tem peso duas vezes maior na categoria dos pobres que dos indigentes.

Por fim, os trabalhadores ditos vulneráveis, exceto na condição de domés-ticos ou empregadores, revelam posição na ocupação relativamente distinta dos dois segmentos anteriores, pois estão majoritariamente inseridos em relações sa-lariais – 3 em cada 4 trabalhadores – , sendo que 35% deles estão na formalidade. Portanto, somente 1 em cada 4 é autônomo.

Assim, observa-se que quanto menor o grau de pobreza, maiores as chances de um trabalhador estar envolvido em relações salariais de compra e venda da sua força de trabalho, que garantem mais segurança, por força da legislação previden-ciária no caso dos formalizados, embora não assegurem forçosamente estabilida-de socioeconômica. Nessa linha de raciocínio, os dados do gráfico 5 tendem a indicar senão uma preferência, ao menos uma realidade que faz do assalariamento uma relação mais frequente que o chamado espírito empreendedor à medida que aumenta a renda per capita dos trabalhadores mais carentes.

Interessante assinalar que os domésticos sem carteira – cujo grau de femini-zação alcança 95% –, revelam proporção equivalente nos três grupos de vulnera-bilidade aqui analisados, a saber, em torno de 10%. Isso indica que o gênero tem maior peso na definição do padrão de inserção ocupacional das mulheres que seu nível de destituição.

7 Lei Complementar 128/2008, cria a figura jurídica do MEI – Micro Empreendedor Individual.

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Outra informação relevante para fins desta reflexão diz respeito aos princi-pais grupos de atividades em que se encontram indigentes, pobres e vulneráveis. Para fins deste exercício, identificamos as atividades que são a maior fonte de ocupação para os trabalhadores vivendo na indigência, na pobreza ou na vulne-rabilidade. Consideramos todas aquelas que têm peso igual ou superior a 2%. O gráfico 6 detalha quais são esses grupos de atividades. Assim, o grupo de atividade “trabalhadores e produtores da agropecuária” reúne pescadores e caçadores, pro-dutores rurais, trabalhadores agrícolas e da pecuária. Já o grupo “trabalhadores dos serviços domésticos” engloba os ocupados nos serviços domésticos em geral, serviços de manutenção e conservação e cozinheiros. No caso da “construção civil”, destacam-se as atividades de ajudantes de obras civis e trabalhadores de estruturas de alvenaria ou pedreiros, que são as funções mais desqualificadas e que se abrem para indivíduos com baixíssima escolaridade. Finalmente, a cate-goria “vendedores e prestadores de serviços do comércio” congrega vendedores e demonstradores em lojas ou mercado e os vendedores ambulantes.

Segundo o gráfico 6, indigentes e pobres trabalham majoritariamente no meio agrícola, 80,3% e 58,2% respectivamente. À medida que diminui a intensidade da pobreza, aumenta a participação de atividades características de setores urbanos. No caso dos serviços, por exemplo, as oportunidades de uma colocação para os tra-balhadores vulneráveis são três vezes maiores que para os indigentes. Idem no setor da construção civil e na prestação de serviços no comércio. Surpreende constatar que esses dois setores geram poucas oportunidades (peso inferior a 5%) para os grupos mais carentes, embora se trate de atividades pouco qualificadas.

Gráfico 5 -Distribuição percentual das atividades dos trabalhadores, segundo os gru-pos de vulnerabilidade - Brasil - 2009

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Vulneráveis

Pobres

Indigentes

Trabalhadores e produtores da agropecuária

Trabalhadores dos serviços domés cos

Trabalhadores da construção civil

Vendedores e prestadores de serviços do comércio

Outras vidades

Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2009.

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Observando agora o nível de remuneração desses grupos, constata-se, pelo gráfico 7, que os rendimentos mensais8 dos trabalhadores vivendo em famílias in-digentes são inferiores à linha de pobreza do Programa Bolsa Família (R$ 140,00 mensais), à exceção das atividades relacionadas à construção civil. Nas lides agrí-colas, esse valor cai, inclusive, abaixo da linha de indigência (R$ 70,00). E é nesse setor onde estão majoritariamente presentes os trabalhadores mais pobres. Mes-mo que vivessem sozinhos, sem família com quem dividir a renda do trabalho, os trabalhadores extremamente pobres registram uma inserção ocupacional drama-ticamente precária, objeto de uma remuneração irrisória. Nas demais categorias de pobres e vulneráveis, o valor do rendimento mensal do trabalho é superior ao valor da linha de pobreza do PBF, mas inferior ao salário mínimo vigente (à época de R$ 450,00), com uma nova exceção no caso dos trabalhadores que integram o contingente de vulneráveis, se ocupados na construção civil.

Esses dados sugerem que, de modo geral, o mercado de trabalho não garante a um contingente expressivo de trabalhadores e suas famílias – cerca de 1/3 da po-pulação brasileira ou 66,5 milhões de pessoas – evitar a pobreza ou altos níveis de vulnerabilidade e insegurança através do exercício de uma atividade remunerada. Logo, o desafio da inclusão produtiva não é problema exclusivo dos que vivem na pobreza extrema, mas de um contingente infinitamente maior de pessoas, que oscilam provavelmente para cima e para baixo dessa zona de risco. Ocupações instáveis, mal remuneradas, de péssima qualidade, muitas vezes degradantes, não sujeitas à regulação e fiscalização, são uma das causas da pobreza e não resíduo para aqueles cujo perfil ocupacional não atende a critérios satisfatórios de empre-gabilidade. O descasamento e a desvalorização da força de trabalho atuam tam-bém para baixo, tornando ainda mais precária a inserção ocupacional dos menos dotados, em lugar de ser um incentivo que os catapulte para cima.

8Considerando que utilizamos no cálculo dos rendimentos mensais dos trabalhadores indigentes, pobres, vulneráveis e aqueles fora da área de risco não a remuneração do setor por completo, mas apenas daquelas atividades que concentram percentual igual ou superior a 2% dos ocupados por classe de vulnerabilidade, o valor médio dos rendimentos do trabalho foi calculado de forma ponderada no interior de cada grande categoria.

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Gráfico 6 -Rendimento médio ponderado do trabalho, segundo as atividades, por gru-pos de vulnerabilidade - Brasil - 2009

135,79 128,62

53,54

171,59

278,76 264,20

164,62

380,25369,86 392,88

239,86

503,70523,97

826,40

514,09

776,90

Trabalhadores dosserviços domés cos e de

manutenção

Vendedores eprestadores de serviços

do comércio

Trabalhadores eprodutores daagropecuária

Ajudantes e pedreiros daconstrução civil

Indigentes Pobres Vulneráveis

Outros Linha de pobreza Linha de indigência

Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2009.

Se analisarmos o nível de escolaridade que apresentam os trabalhadores ocupados nesses mesmos grupos de atividades, segundo o grau de vulnerabi-lidade, vemos, na tabela 1, que na agricultura o padrão é mais ou menos con-vergente entre indigentes, pobres e vulneráveis, variando entre 4,5 e 5 anos de estudo em média. No comércio, aumenta a dispersão à medida que cai o grau de pobreza, praticamente dobrando os anos médios de estudo entre indigentes (5,58 anos) e os fora da área de risco (mais de 10 anos). Porém, se, como vimos no início desta seção, as chances de um emprego formal diminuíram conside-ravelmente para os trabalhadores sem ensino fundamental completo, então os três grupos de risco aqui presentes enfrentam os mesmos desafios, que são tanto maiores quanto maior o grau de privação monetária, sem dúvida. Em nenhum dos grupos de atividade de alta representatividade entre os trabalhadores viven-do em famílias miseráveis, pobres ou classificadas como vulneráveis, os adultos ocupados na faixa 17-59 anos registram em média 8 anos de escolaridade com-pletos (equivalente ao ciclo básico ou fundamental até 2009), salvo entre os vulneráveis atuando no comércio.

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Tabela 1 - Média ponderada dos anos de escolaridade dos ocupados, por grupos de vul-nerabilidade, segundo principais atividades - Brasil - 2009

PRINCIPAIS ATIVIDADESMÉDIA PONDERADA DOS ANOS DE ESCOLARIDADE DOS

OCUPADOS, POR GRUPOS DE VULNERABILIDADEINDIGENTES POBRES VULNERÁVEIS OUTROS

Trabalhadores dos serviços domésticos e de manutenção 5,94 6,10 7,13 7,62Vendedores e prestadores de serviço do comércio 5,58 7,19 8,44 10,72Trabalhadores e produtores da agropecuária 4,56 4,81 5,00 6,00Ajudantes e pedreiros da construção civil 5,00 6,00 6,00 7,00

Fonte: Elaboração própria a partir da PNAD 2009.

A inquietação que se coloca diz, portanto, respeito ao formato que vai to-mar o que poderia ser denominado de uma “capacitação em caráter emergencial para grupos altamente vulneráveis”. É possível abrir mão da escolaridade formal no resgaste dos mais destituídos? Qual o perfil dessa formação? Quanto tempo deve durar? Formar para quê? Que habilidades devem ser desenvolvidas? Quais as chances de indivíduos extremamente pobres, com pouca vivência do mercado, pouco familiarizados com o assalariamento, tornarem-se de imediato microem-preendedores e superarem a pobreza pelo trabalho? Dadas suas características e déficits, qual a probabilidade de adequarem-se à oferta de emprego, consideran-do-se a evolução recente do mercado de trabalho? Essas questões não são triviais já que o discurso oficial centra força na figura do empreendedor individual como opção de saída da miséria para os grupos com níveis de privação agudos.

Pesquisa de avaliação do Projovem,9 conduzida pela OCDE,10 revelou a pouca efetividade dos programas de formação e capacitação para jovens em si-tuação de evasão escolar ou desemprego. A avaliação constata a baixa eficácia do Programa, uma vez que foi registrada altíssima evasão dos estudantes, notadamen-te nas áreas rurais onde somente 1% dos inscritos conseguiu alcançar a meta de obtenção de um diploma. Mesmo onde houve melhor aproveitamento, caso do Projovem Trabalhador, que garantiu a formação de 85% dos inscritos, somente 1 em cada 3 jovens matriculados no Programa conseguiu uma colocação após finali-zada a formação. Que tipo de ocupação, qual o valor da remuneração, qual a taxa de turn-over observada são elementos ausentes da avaliação propriamente dita.

9 O Projovem é um programa social de formação e capacitação de jovens na faixa etária 15 a 29 anos, mediante uma bolsa de R$ 100 mensais. Ele se divide em quatro modalidades: Projovem Urbano, Projovem Rural, Projovem Trabalhador e Projovem Adolescente. As três primeiras modalidades têm por objetivo levar seu público-alvo a concluir o ensino fundamental juntamente com um curso profissionalizante. 10 Jornal O Globo, 4 de outubro de 2011, página 3.

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Estudo desenvolvido por Assunção e Gonzaga (2010) constata, a partir de dados da PNAD 2007,11 que os cursos de educação profissionalizante, mesmo os de qualificação profissional12 que se destinam aos trabalhadores com escola-ridade aquém do ensino médio completo, são majoritariamente frequentados por “trabalhadores brancos que vivem em regiões urbanas, metropolitanas, com mais escolaridade, mais renda e são mais jovens (...) (em relação aos que não frequentaram)”. No tocante ao seu grau de escolaridade, “pessoas que participam ou participaram de cursos de educação profissional apresentam uma média de escolaridade bem superior às que não participaram. Mais precisamente, grande parte desses trabalhadores possui ao menos o ensino médio completo”. Cruzando esses dados com os de renda, observa-se que, tomando o universo de todos os trabalhadores13 que fizeram algum curso de educação profissional em 2007, cerca de 10% apenas provinham de famílias com renda per capita inferior ou igual a meio salário mínimo. De fato, afirmam os autores, a participação em cursos de educação profissional aumenta com a renda familiar per capita até a faixa de três a cinco salários mínimos.

Assim sendo, é sem dúvida promissor vislumbrar mais oportunidades de participação em cursos de educação profissionalizante para os grupos menos fa-vorecidos socialmente, uma vez que essa oferta para eles mostra-se escassa, sobre-tudo no meio rural. Não paira dúvida de que a acessibilidade ao ensino profissio-nalizante é extremamente restrita para os mais pobres e com baixa escolaridade. Porém, se é verdade que se verifica um retorno da educação profissional sobre os rendimentos “maior para os trabalhadores que não têm vinculo formal de con-trato de trabalho (11,1% para os informais e 7,6% para os formais) e para os que residem em regiões rurais (19,2% para a população rural e 8,4% para a popula-ção urbana), é igualmente verdade que para os indivíduos com escolaridade de até fundamental completo o efeito é de cerca de 6% na média, tornando-se não significativo (2,4%) se tal curso de educação profissionalizante não for sanciona-do por um diploma.

Esses resultados, portanto, se parecem corroborar a pertinência da estratégia de extensão da educação profissional ao público-alvo do Programa Brasil Sem Miséria, também alertam que escolaridade formal e qualidade da formação (di-ploma sancionando um aprendizado especializado, objeto de uma avaliação) são indispensáveis para ampliar as oportunidades de emprego e a elevação dos rendi-mentos do trabalho, sem o que o impacto será marginal a ponto de comprometer 11 Nesse ano, o suplemento da PNAD dedicou-se à questão da capacitação e da formação profissionais. 12 As duas outras modalidades de educação profissionalizante dispensadas são técnico de nível médio e graduação tecnológica. 13 Na faixa etária 18-64 anos.

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as chances de sair da miséria! Uma formação de qualidade toma tempo, custa caro e demanda investimentos de porte. E geralmente é o que não é ofertado no âmbito dos programas de geração de emprego e renda.

Os dados do suplemento da PNAD sobre formação e capacitação profis-sionais permitiram estimar o percentual de indigentes, pobres e vulneráveis que se beneficiaram de algum treinamento ou curso profissionalizante ou estavam em formação à época. Conforme consta da tabela 2, no caso da população em idade ativa indigente ou pobre, somente 2% afirmaram estar frequentando curso profissionalizante, contra 3% no caso dos indigentes e 4,5% dentre aqueles fora da área de risco. Decididamente, mesmo para aqueles com maior escolaridade e renda, a proporção de pessoas que se matriculam em algum curso profissionali-zante é extremamente pequena, inferior a 5% e não tendo muita diferença entre os grupos por grau de vulnerabilidade.

Tabela 2 - Percentual de trabalhadores que frequenta ou já frequentou curso profissiona-lizante, segundo os grupos de vulnerabilidade - Brasil - 2007

GRUPOS DE VULNERABILIDADECURSO PROFISSIONALIZANTE

FREQUENTA (%) JÁ FREQUENTOU (%)Indigentes 2,0 9,5Pobres 2,1 9,6Vulneráveis 3,0 15,0Outros 4,5 29,0

Fonte: Suplemento da PNAD, 2007.

Mais interessante, porém, é descobrir que 10% dos trabalhadores indigentes e pobres já passaram por algum tipo de ensino profissionalizante, sem que isso tenha lhes aportado um diferencial que lhes permitisse escapar à pobreza.

Tais cifras sugerem que cursos profissionalizantes nem de longe constituem um antídoto eficaz contra a pobreza e a vivência da destituição. Isso talvez expli-que o grande desinteresse que cada um desses grupos de renda manifestou ao ser indagado sobre as razões que os afastam da formação profissional. Essa opção (em um conjunto de 6) – não tenho interesse em fazer curso profissionalizante – reco-lheu 56,4% das respostas por parte dos indigentes, 58,8% entre os pobres, 61,3% no grupo de indigentes, ultrapassando 70% no caso dos não pobres e não vul-neráveis. Ou seja, à medida que aumenta a renda das famílias, cresce o ceticismo e a descrença dos adultos trabalhadores com os cursos de educação profissional.

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Alerta II: Economia solidária e infraestrutura socialNo campo da chamada economia solidária, avaliações de várias iniciativas

de geração de emprego e renda indicam que:

1. a taxa de evasão é alta na fase de formação, tanto nos cursos profissiona-lizantes, quanto nos grupos constituídos em torno de atividades várias, associadas à economia solidária;

2. a ligeira melhoria nos rendimentos observada em alguns casos específi-cos diz respeito a uma parcela muito pequena dos que foram capacita-dos e integraram cursos profissionalizantes. Outros fatores para além da formação propriamente dita explicariam esse diferencial para mais nos rendimentos do trabalho;

3. o fato de estruturas inadequadas e insuficientes – notadamente infra-estruturas – persistirem no universo dos que tentam obter renda no âmbito de atividades associativas ou individuais, compromete uma di-nâmica  de longo prazo que possa promover uma trajetória emancipa-tória, o que, por sua vez, alimenta a evasão e a dispersão;

4. segundo mapeamento nacional da Economia Solidária,14 muitos pro-dutos têm preço de venda alto para a baixa qualidade dos mesmos. Logo a remuneração da mão de obra acaba também sendo muito bai-xa e irregular (valor agregado muito baixo). Ademais os produtos são destinados quase que totalmente ao mercado local, não se diferen-ciando do que muitos outros trabalhadores produzem em caráter não mercantil. A mesma pesquisa estima que “somente 38% afirmaram ter auferido sobras monetárias em suas atividades, descontadas todas as despesas” (Silva, 2011);

5. baixa formalidade das iniciativas (menos de 10%), o que compromete o futuro do empreendimento (debilidade institucional);

6. no meio rural, o Censo Agropecuário de 2006 indicou que das 4,3 milhões de unidades em regime de exploração familiar recenseadas, so-mente 20,8% declararam receber algum tipo assistência técnica (contra 16,6% em 1996), a maioria delas no Sul e no Sudeste, onde está a agricultura familiar mais fortalecida e inserida nos circuitos mercan-tis. Ou seja, a extensão rural mal atende às unidades que poderiam ser economicamente viáveis, e que carecem dos serviços de extensão e assistência técnica. Portanto, o déficit de cobertura em termos de assis-tência técnica mantém-se importante. Outra dificuldade na delimita-

14Cerca de 90% , segundo pesquisa realizada com as EES, Mapeamento Nacional da Economia Solidária, SENAES/TEM, entre 2005 e 2007.

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ção do foco, é o fato de 45% das pessoas ocupadas residentes na área rural (PNAD 2009) terem atividade principal não agrícola, o que pode levar a formações e capacitações inadequadas (Roffman, 2011) se, tal como anunciado, considerar-se que o público-alvo do Brasil Sem Misé-ria residindo em áreas rurais, tenha de ser capacitado para desenvolver atividades agrícolas;

7. a moradia tem papel central para os que vivem na informalidade, traba-lhando como autônomo ou na construção e produção para uso próprio. Ela se torna o locus da produção e um ativo importante inclusive para começar um pequeno negócio, montar uma associação, reunir colegas, guardar e utilizar equipamentos e insumos etc. Ora, a moradia do pú-blico-alvo do Programa Brasil Sem Miséria ainda é significativamente inadequada em ao menos uma das cinco dimensões apontadas no gráfi-co 7. Empreender sem uma infraestrutura mínima que começa e quase sempre se restringe ao local de moradia para os extremamente pobres aumenta os riscos que se pretende reduzir.

Gráfico 7 - Percentual de domicílios com renda domiciliar abaixo de 70 reais mensais segundo ausência de condições básicas de moradia - Brasil -2010

42,6

32,1

44,4

7,6

66,4

Abastecimento deágua

Banheiro Destino do lixo Energia elétrica Esgotamentosanitário

Fonte: Censo Demográfico 2010.

O enfrentamento do déficit habitacional e da provisão desmercantilizada de moradia para os grupos na cauda da distribuição ainda não foi solucionado. Ferraz (2011) aponta que o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) surge em 2009 (MP 459) com o propósito de gerar empregos e construir um milhão

Total: 4.009.433 domicílios

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de moradias, sendo 40% do novo estoque destinados à população com renda familiar entre 0 (zero) e 3 salários mínimos. Estas famílias teriam direito a sub-sídio integral com isenção de seguro. A segunda fase do Programa amplia a pro-porção de moradias para a faixa inferior de até três salários mínimos, que passa a 60% de um total de 2 milhões de moradias novas. Ora, estudo da Fundação João Pinheiro de 2010 indica que o déficit habitacional para 2008 seria de algo em torno a 5,5 milhões de moradias. E as famílias com renda de até 3 salários mínimos somariam 90% do déficit habitacional. Se quatro milhões de famílias vivem na extrema pobreza, em condições precárias – público-alvo do Brasil sem Miséria –, o PMCMV parece não ser suficiente para atender à demanda dos mais carentes, pois nessa faixa – de 1 a 3 salários mínimos – encontram-se famílias que têm capacidade de pagamento muito superior a outras absolutamente sem meios de fazê-lo. O Programa coloca numa mesma faixa não apenas o público-alvo do Brasil Sem Miséria, mas igualmente famílias com poder aquisitivo bem acima da faixa de vulnerabilidade aqui apresentada e que certamente vão disputar recursos com as que terão menos chances de serem contempladas, pela não capacidade de pagamento. Ademais, como indicam Arantes e Fix (2009), a parcela dos re-cursos do orçamento da União e do FGTS destinados à moradia subsidiada vai para construtoras privadas e somente 3% são apropriados por entidades sem fins lucrativos, cooperativas e outras associações para produção de habitação urbana e rural por autogestão.

Investimento em infraestrutura social e moradia é hoje um dos maiores gar-galos para promover uma inclusão social decente que seja geradora de oportuni-dades. O gasto público está concentrado nas transferências monetárias de renda, com impactos negativos na provisão universal de um conjunto importante de serviços. O segundo pilar do Programa Brasil Sem Miséria – provisão de serviços públicos de qualidade e universais – parece ter hoje posição secundária no tri-pé desenhado. Isso reduz externalidades positivas e também as possibilidades de alavancagem dos mais pobres. O gasto público não tem favorecido o aumento do capital social através da elevação da qualidade e diversidade da infraestrutura urbana e social das áreas mais carentes onde se concentra a população indigente. O entorno da miséria é miserável.

Da mesma maneira, a responsabilidade social por parte do setor privado mantém-se insuficiente e não promove a expansão dessa infraestrutura que tanta falta faz. O BNDES, por exemplo, oferece uma linha de financiamento para empresas realizarem investimentos adicionais na comunidade onde têm lugar os investimentos produtivos que vêm realizando. É a linha Investimentos Sociais de Empresas, sob a modalidade “âmbito da comunidade” (ou subcrédito social). A taxa de juros é a TJLP + 0% e o BNDES entra com até 100% dos itens financiá-

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veis. Não há valor mínimo para o subcrédito social. Creches para as crianças das comunidades, ampliação de escolas, parcerias para equipar as comunidades com serviços ou infraestrutura inexistentes são exemplos de possíveis investimentos, a partir dessa linha criada em 2006, mas cujo desembolso é decrescente. Sabe-se que essa linha de financiamento tem sido importante nas áreas de construção de hidrelétricas. Mas o valor do desembolso vem caindo, em paralelo ao aumento do investimento estrangeiro no país e do investimento privado.

Moradia é capital físico, infraestrutura de qualidade é o que promove ex-pansão e fortalecimento do capital social e assegura a desmercantilização de um conjunto de necessidades básicas, hoje reconhecidas como direitos, mas cuja aces-sibilidade continua problemática e insuficiente.

Nesse sentido, os alertas feitos anteriormente questionam a visão hoje pre-valecente de que o maior desafio para enfrentar a miséria é capacitar os indiví-duos extremamente pobres de modo a ampliar-lhes as oportunidades. Supõe que a mudança do seu perfil de empregabilidade possa resolver as contradições de sua inserção no mercado de trabalho. Ademais, carente de uma infraestrutura mínima que assegure condições de sustentabilidade para o desenvolvimento de iniciativas incipientes que demandam longo tempo de maturação, parece pouco provável que o público-alvo do Brasil Sem Miséria possa, sem maiores suportes, dar as costas à pobreza.

Há que recordar, ademais, que acaba de passar na Comissão de Cidadania e Justiça da Câmara dos Deputados, aprovado por unanimidade, o Projeto de Lei 44 de 200715 que prevê o trabalho voluntário dos membros adultos das famílias contempladas pelo Programa Bolsa Família. Essa seria mais uma condicionalida-de, que vai na contramão do direito à proteção social por força da necessidade, tal como estabelece a Constituição e normatiza o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Novamente, parte-se do pressuposto que os beneficiados pela política de assistência não trabalham e devem, portanto, merecer a transferência de renda a que fazem jus, estando sujeitos a algum tipo de trabalho compulsório. Essa variante nacional do workfare revela-se fortemente ideologizada, já que não cor-responde à realidade dos fatos – a taxa de atividade e de ocupação da população em idade ativa no universo da indigência e da pobreza é inferior à dos não pobres, mas ainda assim superior em ambos os casos a 60%. A distorção que uma decisão

15O Projeto de Lei estabelece que a alteração da Lei 10.836 que cria o Programa Bolsa Família, acrescentando a condicionalidade do serviço voluntário na concessão do benefício, “é compromisso das famílias atendidas junto aos governos e à sociedade que financia a transferência de renda”, além de “representar oportunidade de inserção do beneficiário no mercado de trabalho”.

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como essa viria a criar no mercado de trabalho, ao legitimar um novo piso da remuneração do trabalho, com base no valor de benefícios assistenciais, certa-mente impediria qualquer perspectiva de “porta de saída” para os beneficiários da política de combate à pobreza!

Se esse Projeto de Lei vier a ser aprovado no Congresso, vai jogar por terra 25 anos de uma trajetória bem sucedida de institucionalização de um sistema de proteção social criado em 1988, hoje em sintonia com a política macroeconômica que promove e acelera o desenvolvimento socioeconômico, disseminando-o em todo território nacional. As medidas que permitiram ao país enfrentar com sucesso a crise global recente apoiaram-se na solidez e esco-po do sistema de proteção social.

Alerta III: microcrédito para empreendedores individuaisO Sistema Financeiro Brasileiro (SFB) tem uma história de inclusão extre-

mamente deficiente. Mesmo os bancos públicos estabelecem regras de acesso mui-to restritivas para a população de baixa renda, tanto em se tratando de crédito, quanto dos serviços bancários mais elementares. Transações com grupos de renda média e alta compõem a principal fronteira de expansão para o SFB. Já os setores de baixa renda que buscam quase que exclusivamente dispor de conta corrente e obtenção de empréstimos tradicionais de baixo valor são o público que desperta cada vez mais o interesse do SFB, em razão da elevação recente de sua renda. A população beneficiária de transferências fiscais não contributivas, por sua vez, está definitivamente à margem do SFB. Assim, o processo de bancarização – aumento da cobertura da população atendida pelo SBF – visa, antes de tudo, a baixa classe média e o grupo de alta vulnerabilidade, mas acima da linha de pobreza.

É bem verdade que várias modalidades de crédito para segmentos mais po-bres da população se multiplicaram nos anos recentes, voltadas notadamente para o financiamento de bens de consumo durável para esse segmento. A existência de garantias (renda mínima) por parte dos tomadores de empréstimo favoreceu a expansão do volume e das modalidades de acesso ao mercado de crédito formal entre grupos antes marcados pela exclusão financeira.

No que tange o crédito individual à pessoa física, uma das maiores inova-ções financeiras foi a criação do crédito consignado (Lavinas e Ferraz, 2010). Em junho de 2005, atingia um desembolso de R$ 22,6 bilhões, segundo dados do Banco Central com base em pesquisa junto aos 13 dos maiores bancos que operam com crédito pessoal no país. Isso correspondia a 33% do crédito pesso-al. Em dezembro de 2009, já representava 45% do crédito pessoal, montante

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equivalente a R$ 73,6 bilhões (em valores atualizados para fevereiro de 2010, pelo IPCA). O chamado Empréstimo Pessoal com Desconto em Folha de Pagamento ganhou rapidamente o varejo bancário de todo o país nas mãos dos detentores de um emprego fixo, estável e praticamente sem risco, e do funcionalismo concur-sado. Um ano depois, chegou a pensionistas e aposentados, regulado pelo INSS. Segundo o Decreto 4840/2003, os descontos com o consignado não podem ul-trapassar o percentual de 30% do benefício ou rendimento que serve de colateral. Somente os titulares de benefícios contributivos do INSS podem habilitar-se a tomar esse tipo de empréstimo. Na prática, beneficiários do Benefício de Pres-tação Continuada (BPC), pago e gerido pelo INSS, não têm acesso a essa linha especial de crédito. Constata-se, assim que existe um divisor de águas no acesso ao empréstimo consignado: ele vale para os benefícios contributivos, porém os que recebem benefícios não contributivos, caso do BPC, não são elegíveis. Inte-ressante destacar, desde logo, que não vale o valor do benefício – o valor do BPC é igual ao piso do benefício previdenciário, a saber um salário mínimo vigente – mas sim o status positivo do beneficiário, contribuinte ou trabalhador. Aqueles com status de não contribuinte ou de beneficiários de transferências assistenciais (comprovadamente pobres) são inelegíveis. Ou seja, o mercado de crédito, tal como institucionalizado hoje, discrimina a clientela, o que é um fator de repro-dução das desigualdades.

Inclusão financeira, como bem diz o Banco Central (2009), não se restringe à oferta de crédito. Que outros produtos financeiros podem ser ofertados hoje à população muito pobre ? Por que não uma caderneta de poupança para os bene-ficiários do BF – uma por família – com uma remuneração diferenciada? Existem incentivos (deduções de imposto de renda) para quem poupa, por exemplo, fazen-do um plano de aposentadoria complementar, o que só beneficia grupos de altas rendas. Já que se pretende que os pobres possam ampliar ou estabilizar sua renda para fazer frente a choques econômicos e outras incertezas, reduzindo seu grau de exposição e risco, nada mal formular alternativas que se constituem em incentivos reais e mensuráveis, que atuam pelo lado da tão propalada educação financeira.

Mas o foco da inclusão financeira, mais uma vez, assenta-se na oferta de mi-crocrédito para promover o empreendedorismo e o trabalho autônomo daqueles com inserção ocupacional precária e empobrecidos. De fato, o debate sobre ser-viços financeiros ao alcance dos pobres como instrumento para potencializar seu empreendedorismo e “tornar a pobreza, história”, ou coisa do passado, ganha vo-lume, destaque e centralidade a partir dos anos 1990, em particular com o surgi-mento do paradigma da gestão social do risco, por iniciativa do Banco Mundial.

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Para Lavinas e Ferraz (2010), por gestão social do risco (Holzmann and Jorgensen, 2000) entende-se uma nova forma de promover a inclusão daqueles que, por falta de recursos e por uma inserção precária nos sistemas formais de proteção social de tipo contributivo, acabam, nos países em desenvolvimento no-tadamente, completamente desprotegidos e sem nenhum tipo de garantia frente aos riscos mais variados. Em poucas palavras, em lugar de expandir os sistemas contributivos para levar cobertura protetiva contra inatividade, desemprego etc. àqueles que não integravam o seguro social, universalizando-o como um direito, a ideia passa a ser instituir um mecanismo de proteção dos pobres em lugar de proteção universal. O argumento parte do pressuposto de que os sistemas de proteção social dos países em desenvolvimento não levaram à redução da pobreza em razão do elevado grau de informalidade. Os programas são fragmentados, a lógica interna do sistema é débil, o papel do Estado, excessivo. Além disso, os Estados acabaram se apoiando nos mecanismos mais tradicionais onde quem se responsabiliza pela proteção ao risco é a família.

Frente ao aumento das incertezas – para além dos riscos previsíveis porque estimáveis – decorrentes do processo de globalização e de outros fenômenos cres-centemente imprevisíveis, a proposta consiste, então, em propor aos pobres, o grupo mais exposto ao risco e às incertezas, mecanismos capazes de reduzir sua vulnerabilidade para que possam deixar de ser pobres (o que lhes permitiria estar menos expostos aos riscos imprevisíveis ou de ser capazes de enfrentá-los). E isso passa pelo acesso a ativos – educação, crédito, ativos financeiros e seguros especí-ficos – que caibam em suas carteiras. Há, portanto, que criar mecanismos que vão no sentido de capacitar os pobres para dispor dos meios necessários de gerir esse risco, através da criação de uma poupança ou de um seguro, em lugar de estender uma proteção desmercantilizada e universal.

Assim, há que inserir os pobres ou mais desvalidos na lógica de mercado, ao contrário da proposta da provisão pública gratuita e extensiva. E isso deve ser feito buscando-se elevar as habilidades dos mais pobres para gerir individualmen-te tais riscos, superando assimetrias de informação, o que permitiria reduzir seu grau de vulnerabilidade e incrementar seu nível de bem-estar. Em lugar da visão do Estado do bem-estar, o paradigma da gestão social do risco defende a visão do Estado que promove a emancipação através da inserção no mercado (Enabling State16 ) deixando de lado, senão temporariamente, a ideia da proteção (logo, tem de haver portas de saída).

As estratégias de enfrentamento dos riscos e incertezas são várias, mas no caso dos mais vulneráveis deveriam impedir que estes caiam abaixo da linha da 16Ver a este respeito Gilbert, N. (2005).

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pobreza ou indigência – para isso, devem dispor de meios que lhes permitam não reduzir ainda mais seu consumo e resistir às flutuações. Como? Através da constituição de poupanças e acesso a outros ativos financeiros, que podem ime-diatamente ser mobilizados em caso de perda de bem-estar.

Os principais atores na institucionalização da lógica da gestão do risco são:

• Notadamente as famílias – estratégias de prevenção e atenuação. • As comunidades: sistemas de ajuda mútua, cooperativas etc.... • As instituições financeiras, se bem reguladas pelo Estado: empréstimos,

seguros acessíveis etc...

Podemos sintetizar essa estratégia como a constituição e consolidação de mecanismos que venham completar mercados tradicionalmente incompletos, caso do mercado de crédito, através da regulamentação das instituições financei-ras que podem assegurar mecanismos de enfrentamento do risco. Em paralelo, assegura-se uma renda mínima aos comprovadamente pobres para correção das falhas de mercado. Portanto, essa estratégia é composta e combina inclusão no mercado com mínimos sociais.

Nessa óptica, prevalece o framework da inclusão social através dos mecanis-mos de mercado, em detrimento do framework da proteção social, que está asso-ciado à desvinculação da qualidade de vida da condição de inserção no mercado de trabalho. Um sistema de bem-estar é um Estado no qual o poder organizado é deliberadamente usado (através das políticas e da administração) com o intuito de modificar as forças de mercado ao menos em três direções:

i) assegurando a indivíduos e famílias uma renda mínima, independen-temente do valor de mercado do seu trabalho ou de suas propriedades;

ii) reduzindo o grau de insegurança dos indivíduos e famílias ao contri-buir para que disponham de meios de atender a certas “contingências sociais” (por exemplo, doença, velhice, desemprego) e assim atenuar os riscos e impactos das crises, podendo no limite evitá-las;

iii) garantindo que todos os indivíduos sem distinção de status ou classe possam receber o melhor padrão de atendimento considerando-se o escopo dos serviços sociais disponíveis (Briggs, 1969).

Já a lógica da gestão social do risco é prover acesso ao mercado para que os pobres possam escolher os mecanismos mais adequados para prevenir riscos tais como organismos microfinanceiros, programas de microcrédito para grupos

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vulneráveis, sem colateral, como mulheres, agricultores pobres, trabalhadores por conta-própria etc.

Seguindo essa lógica, o governo federal acaba de lançar o Programa Crescer para empreendedores individuais. Está associado, portanto, à institucionalidade recém- criada para o segmento de micro empreendedores, através do programa MEI, que na prática deve promover uma forte redução na taxa de informalidade. A associação entre o MEI e a necessidade de um financiamento mais adequado (prazos mais longos, taxas menores, definição de metas e compromissos) dos pe-quenos negócios levou ao novo desenho da política de microcrédito no Brasil.

O teto do empréstimo individual é de R$ 15 mil. O reembolso, embora em condições mais favoráveis, é sujeito a uma taxa de 8% a.a. (taxa nominal). Em caso de inadimplência, cabe ao fundo público assegurar a cobertura. A previsão é que o volume de recursos para desembolso inicialmente estabelecido em R$ 670 milhões em 2011, alcance cerca de R$ 3 bilhões em 2013. Muito claramente, o público-alvo do Crescer não é o mesmo do Programa Brasil Sem Miséria. Ele parece destinar-se prioritariamente ao grupo dos vulneráveis que já acumularam alguma experiência no mercado de trabalho e buscam alternativas para fazer um pouco mais, em um ambiente onde multiplicam-se oportunidades pelo cresci-mento. Assim, a aposta consistiria em levar os microempreendedores a contrata-rem aqueles que se encontram em situação de extrema pobreza ou pobreza com apoio do crédito. Resta saber se esse script vai acontecer. Aposta arriscada, uma vez que o crédito deve servir para compra de alguns equipamentos e ferramentas ou mesmo capital de giro e não para contratações. Ademais, muito possivelmente a mão de obra que vai ser mobilizada em primeira mão será a familiar, no âmbito de microempreendimentos familiares.

Comentários Finais

São notórios os avanços do Programa Brasil Sem Miséria no que tange a garantia de uma renda mínima à população extremamente pobre. Amarras que restringiam o acesso dos elegíveis à condição de beneficiários do Bolsa Família foram parcialmente sanadas. A busca ativa levou ao reconhecimento de 407 mil famílias das 800 mil estimadas que deveriam estar recebendo o benefício mas não haviam sido contempladas. Destas, 325 mil famílias entraram na folha de pagamento ainda em 2011. Ademais, o benefício foi estendido a mulheres grávi-das e nutrizes, antes não qualificadas para recebê-lo, bem como se ampliou para cinco filhos, em lugar de três apenas, o direito a um valor mensal de R$ 32,00 por dependente. Isso corresponde, respectivamente, à inclusão de 117 mil novas

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beneficiárias e mais 1,3 milhão de crianças de até 15 anos, antes penalizadas e discriminadas vis a vis seus irmãos. Por fim, a Secretaria Extraordinária de Erra-dicação da Pobreza Extrema – criada para gerir o Programa – logrou pactuar com oito estados da Federação, além do Distrito Federal, a complementação do piso de R$ 70,00 per capita para 3,5 milhões de famílias.

No quesito transferências monetárias, porém, o essencial ainda está por fa-zer: tornar o Bolsa Família um direito para qualquer um que preencha os critérios de elegibilidade e dispor de uma regra de reajuste do valor do benefício, com data para ser aplicada, ao abrigo, portanto, de decisões discricionárias do executivo. Se existe uma regra geral para todos os benefícios, inclusive os assistenciais como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), sua validade implica uniformidade. Mas o governo segue operando pela exceção.

Do ponto de vista da cobertura das políticas sociais, os resultados do Censo de 2010, recém-divulgados, dando conta dos déficits de saneamento básico, mo-radia, acesso à água corrente e bem-estar tornam por si só tímidos alguns avanços alcançados como, por exemplo, o aumento do piso do valor do per capita da Atenção Básica nos municípios onde se concentra a pobreza extrema, ou ainda a criação de mais de mil equipes volantes para levar a assistência social aos mais necessitados, acabando com o atendimento exclusivo, logo restritivo, de balcão. A abertura de duas mil novas unidades de saúde, associada à instalação de 400 mil equipes do Programa Saúde da Família nessas terras de infortúnio são notí-cias alvissareiras, mas a manutenção do foco e a expansão dos serviços e de sua qualidade exigem recursos que a DRU, reconduzida, e sem respeito à preservação do orçamento da proteção social, acaba por ameaçar. Só em 2010 foram retirados da Seguridade Social, em detrimento da universalidade da saúde e das ações de assistência, perto de R$ 50 bilhões. A estratégia não pode ser apenas contemplar os menos contemplados, mas abrir espaço para eles ao lado de todos os demais cidadãos cujo acesso a uma saúde de qualidade e aos mínimos sociais deve per-mitir forjar uma sociedade mais igualitária, carência maior deste nosso Brasil. É demasiado lenta a progressão dos mecanismos de desmercantilização de uma série de serviços básicos e bens meritórios que podem promover equalização de oportunidades e status, favorecendo o aumento progressivo da taxa de atividade e ocupação dos mais desfavorecidos. Essa perna do tripé do Brasil Sem Miséria deixa a desejar.

Por fim, no que tange ao acesso a crédito e capacitação profissional, há que aguardar os números e os resultados de políticas e programas ainda em fase de formulação para avaliar se foram capazes de superar a baixa eficácia do que já foi tentado e testado nessa área. Claro está, entretanto, que não se devem nutrir

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expectativas altas considerando os balanços recentes. Se algum impacto positivo sobre a miséria é factível, dificilmente essa estratégia é suficiente por melhor que seja alinhavada para erradicar a miséria em quatro anos.

Uma coisa é certa: com a desaceleração do crescimento em curso e os velhos conflitos federativos que tanto debilitam a cooperação entre níveis de governo uma boa redução dos níveis de indigência já seria um trunfo considerável e ines-timável como saldo de governo.

Entrepreneurship, Microcredit and the Eradication of Extreme Poverty in Brazil: open questions

Abstract: Dilma Roussef ’s governement has committed itself to eradicating extre-me poverty in Brazil by 2014 at the end of her term.The Program Brazil Without Misery was launched precisely to achieve this goal and address the multidimen-sionality of poverty.  On the one hand, this new program enhances the take up rate of the Bolsa Familia Program to reach poor families that remain in extreme poverty for not being appropriately tackled by the national registry. Those who fell through the cracks will now become full recipients. On the other hand, the Program is concerned with providing access to public facilities and services, no-tably job training, to help the neediest to find a way out of poverty. The market inclusion strategy through professional training coined as “productive inclusion” appears as the main road out of vulnerability and destitution. This paper discus-ses the adequacy of such strategy and the challenges lying ahead, identifying its bottlenecks after the first year of its implementation.

JEL: I3 (I30, I32, I38)

Key words: extreme poverty eradication, entrepreneurship, public policy, job training, Brazil.

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Recebido para publicação em março de 2012Aprovado para publicação em fevereiro de 2013

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Infraestructuras Públicas y Desarrollo Económico en México

Jorge Rafael Figueroa Elenes*

Resumen: En este trabajo se analizan las posiciones relativas de las entidades federativas mexicanas en cuanto a las dotaciones de infraestructuras públicas. Se construyen dos ordenaciones de prioridades en la asignación regional de la inversión pública en infraestructuras. La primera está basada en una estimación de la contribución de las diferencias en dotaciones de infraestructuras a las des-igualdades regionales. La segunda en la aproximación de la rentabilidad social de la inversión pública en infraestructuras en cada región. El propósito del or-denamiento y las estimaciones, es obtener una medida de la dotación efectiva de infraestructura en las entidades federativas.

JEL: C1, C2, R1, R2, R5

Palabras clave: Infraestructuras, dotaciones efectivas, desarrollo económico.

Introducción

En este trabajo se trata de analizar como la mayor dotación de infraestruc-turas públicas afecta el crecimiento y el desarrollo económico de las economías regionales mexicanas. Se utiliza como medida del stock de infraestructuras públi-cas únicamente la infraestructura de transporte y más específicamente la dotación de infraestructuras medida por la cantidad de kms. de carreteras pavimentadas en cada una de las entidades federativas. Se espera que esta variable este altamente correlacionada con la dotación total de infraestructuras públicas para que refleje el comportamiento aproximado de esta.

En tanto el análisis requiere también de indicadores que midan el impacto en la productividad regional provocado por la dotación de infraestructuras públicas, se utilizan como apoyo los resultados de los trabajos de Alonso-Carrera y Freire-Serén (2001) y Figueroa (2008). Estos encuentran, en el primer caso, la forma en la que las dotaciones de infraestructuras públicas impactan la productividad de las regiones españolas para el período 1964-1995 y el segundo encuentra también la medida del impacto referido pero para las entidades de México en el período 1995-2006.*Universidad Autónoma de Sinaloa, México. Facultad de Ciencias Económicas y Sociales. Doctor en Economía. E-mail: [email protected]

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El trabajo muestra que la identificación de las diferencias en dotaciones en infraestructuras públicas, resulta útil para explicar las diferencias regionales, iden-tificando por esta vía las regiones peor dotadas de infraestructuras públicas y en las que en consecuencia se recomienda orientar mayores inversiones.

En principio se realiza un análisis descriptivo de la forma en la que ha evo-lucionado la dotación de infraestructuras en las entidades federativas, tratando de ubicar la posición de ciertas entidades, en un estudio comparativo con el resto de las regiones. Se trata también de relacionar, en esta primera parte, la forma en la que ha evolucionado la productividad de las entidades federativas, a partir del conjunto de factores que inciden en su desarrollo, observando específicamente la evolución del producto per cápita por entidad.

Enseguida se explica de qué manera se aprovecharan los trabajos citados de Alonso-Carrera y Freire-Serén (2001) y Figueroa (2008), a fin de disponer de información sobre la elasticidad de la renta por ocupado, a partir del impacto no solo de variables que miden la dotación en infraestructuras públicas, sino tam-bién de la influencia que tienen el stock de capital privado y el capital humano.

A partir de los resultados obtenidos se estiman una serie de ordenaciones, primero con base en la dotación de infraestructuras por superficie y por ocupado. Posteriormente se aprovechan los resultados de los estudios referidos, a fin obte-ner un indicador de dotaciones efectivas, que permite establecer de qué manera las diferencias en dotaciones de infraestructuras públicas, contribuyen a explicar las desigualdades regionales.

Evolución de las infraestructuras públicas en las entidades federativas de México

Dado que existen diferentes maneras de conceptualizar o definir las infraes-tructuras públicas, es conveniente en principio precisar cómo serán utilizadas o entendidas en este trabajo. En la literatura existente, el stock de capital público se suele descomponer en capital público económico y capital público social. El pri-mero de ellos tiene que ver con la provisión pública de servicios que contribuyen directamente a la producción agregada de la economía, mientras el segundo man-tiene una relación con el suministro de servicios que contribuyen directamente al bienestar de los individuos y la acumulación de capital humano. Por lo tanto, las infraestructuras del capital público económico incluyen carreteras, autopistas, puertos, aeropuertos, ferrocarriles, infraestructuras hidráulicas y estructuras urba-nas (Alonso-Carrera y Freire-Serén,2001).

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En este trabajo, el stock de infraestructuras públicas o la dotación de infraes-tructuras públicas, se referirá al stock de capital público económico, que en este caso se medirá por la infraestructura existente en kms. de carreteras pavimentadas en el período 1995-2005 para las entidades federativas de México, a la que en lo sucesivo nos referiremos como la dotación de infraestructuras públicas.

En el período analizado las entidades que presentan el mayor crecimiento en sus dotaciones de infraestructuras públicas son Guanajuato, Tabasco y San Luis Potosí, las que muestran tasas de crecimiento por encima del 70 por ciento. Le siguen Zacatecas y Chiapas con tasas cercanas al 60 por ciento. En contraparte, son el Distrito Federal, Coahuila y Guerrero las que presentan las tasas más bajas de crecimiento (Anexo. Tabla 1).

El análisis resulta más adecuado si se observa la dotación de infraestructuras públicas considerando la superficie territorial de las entidades federativas. En este caso, para el período analizado, son los estados de Tlaxcala, Morelos, México, Aguascalientes, Colima y Tabasco los que aparecen con los mayores niveles de dotación de infraestructuras. Del grupo de entidades en mención destaca el caso de Tabasco, ya que pasó de la posición 10 a la 5, en el conjunto de las entidades federativas con mayores dotaciones de infraestructura por superficie.

Dado que las tasas de crecimiento en la dotación de infraestructuras pudie-ran ser irrelevantes en términos relativos, en la medida que menores tasas de cre-cimiento podrían corresponder a entidades con un nivel aceptable en la dotación de infraestructuras (o a la inversa), revisamos qué mejoraron su posición en los últimos años en el ranking, aquellas entidades que presentaron las mayores tasas.

En este orden de ideas, lo que encontramos fue que todas las entidades identificadas con las mayores tasas de crecimiento en el período, en mayor o me-nor medida, mejoraron su posición en el ranking. Resultan destacables los casos de San Luis Potosí que mejoró en siete posiciones al pasar de la 23 a la 16, el de Tabasco que con el cambio de posición se incorporó al grupo de las cinco mejor dotadas y el de Zacatecas que aunque mejoró cuatro posiciones, presenta en esta variable un evidente rezago al ocupar la posición 23.

También se analizó la dotación de infraestructuras públicas en las entida-des federativas considerando el personal ocupado en sus economías. Ahora son Campeche, Baja California Sur, Yucatán, Zacatecas y Durango las que ocupan las mejores posiciones. Al interior de este grupo se observa cierta estabilidad dado que los mejores lugares han variado poco en los últimos diez años, aunque se destacaría el caso de Zacatecas que de la posición 7 pasó a la posición 3.

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De nueva cuenta se revisó la relación que guardan las tasas de crecimiento en las dotaciones con una posible mejora en la posición del ranking. Lo que se observa es que sí existe relación, y el impacto es mayor al que se observaba en la dotación por superficie. En Chiapas y en San Luis Potosí en donde se aprecian los mayores cambios, ya que la primera entidad mejoró en diez posiciones pasando de la 25 a la 15, mientras la segunda mejoró en nueve al pasar de la posición 17 a la 8, de 1995 a 2005.

Interesa ahora poder construir un indicador de dotación efectiva de infraes-tructuras en las entidades federativas, que considere el peso que puedan tener las dotaciones por superficie y por ocupado. Para ello se hace necesario utilizar estimaciones a partir de una función de producción agregada regional para ob-tener las contribuciones del stock o la dotación de infraestructuras públicas a la productividad regional.

Productividad regional e infraestructuras públicas

La importancia de la inversión en infraestructura pública como factor que impulsa los procesos de crecimiento y desarrollo económico ha sido abordado en las distintas corrientes y escuelas del pensamiento económico. Particularmente relevantes resultan las aportaciones que provienen del pensamiento clásico, del neoclásico, del keynesiano, del desarrollo endógeno y de la llamada nueva geo-grafía económica (Martín, 1993).

Tabla 1. La Importancia de las Infraestructuras Públicas en el Pensamiento EconómicoESCUELA PLANTEAMIENTO GENERAL INFRAESTRUCTURA

CLÁSICOS Interés individual y mercado asignado de recursos. Intervención mínima del gobierno. Trabajo principal fuente de Crecimiento y Desarrollo de un país. Los economistas clásicos a concebir una economía donde el espacio era vano y adimensional y, por tanto, los problemas de localización y de distancia resultaban irrelevantes.

Poderes públicos proveedores de obras públicas (por ejemplo, hacer caminos) ventajosas para la sociedad, intensivas en capital difícilmente abordables por un solo individuo o grupo. A favor del pago por el uso de infraestructura al objeto de evitar "echar ninguna carga sobre el ingreso general de la sociedad”. A. Smith (1776). Mejora de infraestructura (sobre el ejemplo de un canal) reduce el coste del transporte e incrementa el comercio.

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NEOCLÁSICOS Competencia perfecta. Insuficiente movilidad de factores, favorecerla impulsa el crecimiento. Los modelos económicos regionales de tipo neoclásico, que ponen especial énfasis en la oferta, no son sino adaptaciones del modelo neoclásico normal aplicado en las economías nacionales, aunque considerando la apertura del sistema de regiones. Preocupación por los factores determinantes del crecimiento.

Los modelos neoclásicos parten en sus fundamentos de condiciones ideales de tráfico, necesarios en la concepción de competencia perfecta en que se sustentan. De esta forma, los gastos de transporte son nulos, todos los puntos del espacio pueden alcanzarse con la misma facilidad, la distancia no introduce diferencias de precio, ni pReferências espaciales, ni impide aprovechar las oportunidades. Los modelos neoclásicos centran la teoría económica espacial en la asignación y en la distribución pero no en la producción, de donde proviene la mínima importancia otorgada a las mejoras de la eficiencia territorial que, sin duda, podría beneficiarse de la puesta en práctica de estrategias referidas al sistema de transporte o de infraestructura, ya que, obviamente estos tienen influencia directa o indirecta sobre el sistema productivo.

KEYNESIANOS Fuerzas espontáneas del mercado no corrigen los desequilibrios. Los modelos de derivación keynesiana se apoyan en un enfoque de demanda para generar crecimiento económico. Los modelos de causalidad acumulativa ponen énfasis en la explicación del papel de los mecanismos de mercado como favorecedores de los desequilibrios interregionales. El mercado tiende a favorecer a las regiones con mejores posiciones de partida en perjuicio de las más atrasadas que, a medida que el desarrollo avanza, verán perder en favor de aquellas: comercio, capital y trabajo.

Los modelos de multiplicador-acelerador adaptan mecánicamente a un sistema interregional el análisis keynesiano de inversión macroeconómica aunque paradójicamente no consideran el espacio. No obstante Hirschman (1958) enfatiza el hecho de que el capital social fijo permita realizar muchas de las actividades privadas, de que sus prestaciones sean proporcionadas gratuitamente o a precios regulados por los poderes públicos, de que no puedan ser importadas, de que el capital a ellas destinado presente indivisibilidad de producción, y de que, finalmente, exijan un gran volumen de capital con un rendimiento relativamente bajo. No obstante Rosenstein-Rodan (1943), insiste en la necesidad del “capital social fijo” para facilitar el desarrollo de la economía privada.

DESARROLLOENDOGENO

Las teorías del desarrollo endógeno, en cambio, ponen énfasis en la potenciación de los factores que pueden contribuir al desarrollo regional o nacional desde el propio territorio: los recursos naturales y del entorno, el stock de capital social y las estructuras urbanas, el capital físico y los recursos humanos, las técnicas de producción y organización, las estructuras sociales e institucionales.

La infraestructura hace referencia al grado de estructuración del territorio, y su grado de dotación será expresivo de las posibilidades de desarrollo ya que a un mayor stock de capital público habrá mayor contribución al potencial endógeno del área. La dotación de infraestructuras condiciona en consecuencia la actividad económica propia y la demanda de inversiones, por cuanto una mejor dotación implica una mayor productividad de la inversión, constituyendo por tanto una ventaja frente a terceros, ya que la inversión favorecerá el incremento de la renta y del empleo. Aschauer (1989) fue el primero en plantear la hipótesis de que la disminución de la productividad de servicios del gobierno de los EE.UU. puede ser crucial en la explicación de la disminución general de crecimiento de la productividad en ese país. Su estudio postula que los capitales públicos favorecen la rentabilidad de los capitales privados.

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NUEVA GEOGRAFIA ECONOMICA

Recalca la importancia de las relaciones entre la economía y los intercambios comerciales así como la dimensión especial de la actividad, los rendimientos crecientes y las economías de aglomeración. En el modelo centro-periferia de Krugman (1991), las industrias se localizan en un lugar teniendo en cuenta el arbitraje entre las economías de escala, que favorecen la concentración, y los costes de transporte, que favorecen la dispersión.

Más infraestructura de transporte tiene una profundo impacto en el tamaño del mercado, por lo que los productores pueden agruparse en un solo centro o región. Dada la creciente integración y la desaparición de los costes arancelarios, los costes de transporte adquieren una mayor importancia en la dinámica de comercio internacional.

Fuente: Martín (1993) y elaboración propia.

En este trabajo, particularmente se aprovechan los resultados obtenidos por Alonso-Carrera y Freire-Serén (2001), quienes a su vez retoman de Aschauer (1989) el modelo y las conclusiones en el sentido de que las infraestructuras públicas tienen un impacto positivo relevante y significativo para explicar el com-portamiento de la productividad regional.

Ellos expresan la productividad del trabajo (Q) en la siguiente forma:

γβαγη

α −−−

=≡

1

i

i

i

ii

i

ii

i

ii L

SLP

HLK

ALY

Q (1)

Donde, Y es el producto regional, A es un índice de la productividad total de los factores o estado de la tecnología, L es la población ocupada, K es el stock de capital privado, P es el stock de infraestructuras públicas, H es el stock medio de capital humano por trabajador y S es la superficie por regiones.

Aplicando logaritmos se obtiene de (1) el siguiente modelo econométrico:

ititititititit lslphlkaq εφγηα +−+−++−+= )()()( (2)

Donde la variable dependiente es el logaritmo del producto por ocupado.

El modelo se aplicó para las regiones españolas en el período 1965-1993 y se obtuvieron las siguientes estimaciones para medir el efecto de las infraestructuras sobre la productividad de las regiones:

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Tabla 2. Efecto de las infraestructuras públicas sobre la productividad de la CC.AA.

VARIABLES EXPLICATIVAS ESTIMADOR COEFICIENTE T-ESTADÍSTICO

lk − α 0.306 (9.58)

h η 0.174 (9.86

lp − γ 0.126 (4.72)

ls − φ -0.056 (-4.95)

R2 = 0.953 NÚMERO DE OBSERVACIONES = 255

Fuente: Elaboración propia con base en resultados obtenidos por Alonso-Carrera y Freire-Serén (2001), en Infraestructuras públicas y desarrollo económico de Galicia. Universidad de Vigo, España.

También se buscan aprovechar los resultados obtenidos por Figueroa (2008), quien para el período 1995-2006 estimó, con datos de las entidades federativas mexicanas, el siguiente modelo econométrico:

(3)

Donde LPIB es el logaritmo del Producto Interno Bruto (2006) estatal por ocupado, LSCP es el logaritmo del stock de capital público en infraestructuras (2006) estatal por ocupado y H4_HT06 se refiere al número de hoteles de 4 estrellas entre el total de hoteles, por entidad federativa.

La estimación del modelo arrojó los resultados mostrados en la Tabla 2, para medir el efecto de las infraestructuras sobre la productividad de las regiones mexicanas.

Con base en estos resultados, se encuentra que el impacto de las dotaciones de infraestructuras sobre la productividad regional no difiere en gran medida en los trabajos realizados por Aschauer (1989) para la economía norteamerica-na, Alonso-Carrera y Freire-Serén (2001) para las regiones españolas y Figueroa (2008) para las regiones mexicanas. Para las regiones españolas y mexicanas la diferencia se explica por la incorporación en el primer caso de todos los factores que componen las infraestructuras públicas, mientras en el caso de México ex-clusivamente está considerada la inversión en infraestructura carretera. Además, en el modelo econométrico (2) se ha incluido el stock de capital privado, el stock medio de capital humano por trabajador y la superficie por regiones, variables ausentes en el modelo (3).

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Tabla 3. Estimación de LPIB a través de MCO

VARIABLE COEFICIENTE T-STATISTIC PROBABILITYConstante 7,002 7,026 0,000 *

LSCP 0,329 2,141 0,040 **H4_HT06 4,026 2,734 0,010 *

R2 = 0.32 NÚMERO DE OBSERVACIONES = 32

* Significativo al 1 por ciento** Significativo al 5 por cientoFuente: Elaboración propia con base en resultados obtenidos por Figueroa (2008) en El stock de capital público y su impacto en el crecimiento de la renta per cápita de los es-tados mexicanos, mediante el empleo de técnicas econométricas para el tratamiento de datos espaciales. 2000-2006

Con base en lo anterior y dado que el estudio de Alonso-Carrera y Freire-Serén (2001), contiene información que resulta útil para construir el índice de dotación efectiva de infraestructuras públicas, se aprovecharon y adaptaron los resultados en mención para construir el correspondiente a las entidades federativas de México.

Para ello se procedió a reescribir la productividad del trabajo presentada en (1) de la siguiente manera:

11 −++−−

=

γβαβαη

α

i

i

i

ii

i

iii S

PLPH

LKAQ (4)

La que mediante una manipulación algebráica puede escribirse como

γηα

)( efii

i

iii PH

LKAQ

= (5)

En esta expresión, efiP representa la dotación del stock de infraestructuras

públicas, que se define por

γγβα

γβα 11 −++−−

=

i

i

i

iefi S

PLPP (6)

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Ahora, utilizando los coeficientes estimados por (2) y mostrados en la Tabla 1, es posible obtener las ponderaciones del índice de dotación efectiva para el stock total de infraestructuras públicas, a partir de

44.056.0

=

i

i

i

iefi S

PLPP (7)

Finalmente con base en la ecuación (7) se toman las dotaciones de infraes-tructuras por superficie y por ocupado y se construye la dotación efectiva del stock total de infraestructuras para las entidades de México, para 1995, 2000 y 2005 (Anexo, Tabla 4).

Análisis de la dotación efectiva de infraestructuras públicas

Como ha sido establecido, la dotación efectiva de infraestructuras públicas permite analizar de manera conjunta la dotación de infraestructuras en las entida-des federativas incorporando en un solo indicador la dotación por superficie y por ocupado. En el análisis por separado de estas dos variables, pudo constatarse que las posiciones difieren cuando se toma en cuenta una y otra. Por ello resulta conve-niente analizar no solo las posiciones que ocupan las entidades en cuanto a la dota-ción efectiva de infraestructuras públicas, sino además observar si la dotación por superficie o por ocupado se acerca más al comportamiento de la dotación efectiva.

El indicador de dotaciones efectivas ubica en las mejores posiciones a Yu-catán, Campeche, Tlaxcala, Tabasco y Morelos. Puede observarse que en general estos resultados resultan consistentes con los que se habían obtenido en el análisis previo por superficie y por ocupado. Tlaxcala, Morelos y Tabasco habían presen-tado las mayores dotaciones por superficie y Campeche y Yucatán las mayores dotaciones por ocupado.

Sin embargo otras entidades que observaban posiciones relevantes en el ranking en dotaciones por superficie o por ocupado, presentan posiciones que evidencian su rezago en cuanto a dotación de infraestructuras públicas, cuando se toma en cuenta la dotación efectiva. Tal es el caso del estado de México que ocupó en el 2005 la posición 3 en la dotación de infraestructuras por superficie y en el ranking de dotaciones efectivas ocupa la posición 22. De igual forma llama la atención que las entidades de Baja California Sur y Durango, que ocuparon en 2005 las posiciones 2 y 4 en la dotación de infraestructuras por ocupado, ocupen ahora las posiciones 17 y 13 respectivamente.

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Una observación también relevante, tiene que ver con la forma en la que cambian las posiciones en el ranking de las entidades federativas cuando se toma en cuenta la dotación efectiva y estos cambios se relacionan con las tasas de creci-miento en la dotación de infraestructuras.

Se aprecia que las entidades con mayores tasas de crecimiento son también las que muestran los mayores cambios en términos de su posición en el ranking. Así por ejemplo, se observa que durante el período analizado, Guanajuato mejoró en catorce posiciones al pasar de la posición 25 a la 11. Cambios importantes también se tienen en Chiapas y San Luis Potosí, que ocupan en 2005 las posiciones 10 y 15 respecti-vamente, cuando hace diez años ocupaban las posiciones 22 y 27 (Anexo. Tabla 4).

Sinaloa por su parte se mantiene prácticamente sin cambios durante el pe-ríodo, pero empeora su posición en el ranking ya que mientras en dotaciones de infraestructuras por superficie y por ocupado se ubicaba en la posición 20, ahora en las dotaciones efectivas ocupa la posición 22, pero además en este ranking ha perdido, en el período, dos posiciones ya que al inicio del mismo, 1995, en dota-ciones efectivas ocupaba la posición 20.

Se han agrupado también las entidades por nivel de dotación de infraestruc-turas en Alta Dotación (de la posición 1 a la 8), Dotación Media (de la posición 9 a la 16), Dotación Baja (de la posición 17 a la 24) y Dotación Muy Baja (de la posición 25 a la 32) y, se observa que Sinaloa se ubica en el grupo de Baja Dotación, independientemente de que la clasificación se haga en dotaciones de infraestructura por superficie, por ocupado o en dotaciones efectivas.

Los últimos resultados analizados sugieren que las mayores o menores dota-ciones efectivas de infraestructuras públicas en las entidades federativas estarían contribuyendo a explicar las diferencias regionales en México.

La dotación efectiva de infraestructuras públicas y las desigualdades regionales

Para disponer de una medida que permita relacionar la dotación efectiva de infraestructuras públicas con las desigualdades regionales, se tomó en principio la información que nos muestra la posición relativa de las entidades federativas de acuerdo al PIB por ocupado.

Se asumió el valor de 100 como la representación de una “entidad media” que estaría dotada con la media regional de todos los factores. En consecuencia, la primera columna de la Tabla 5 del anexo, muestra qué porcentaje de las dife-

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rencias de cada una de las regiones con respecto a una “región media”, podría ser explicado por todos los factores que influyen en la determinación del producto por ocupado.

La segunda columna muestra a su vez qué porcentaje de estas diferencias podría ser explicado por la existencia de diferentes dotaciones efectivas de in-fraestructura en las entidades federativas. Finalmente la tercera columna muestra el porcentaje de aquellas diferencias que no son explicadas por las dotaciones de infraestructura sino por otros factores.

La utilidad de este análisis se aprecia de mejor manera analizando la si-tuación de aquellas entidades que guardan una relación negativa con respecto a la llamada “región media” en el caso de desviaciones provocadas por todos los factores y una relación también negativa en las desviaciones provocadas por la dotación efectiva de infraestructuras. Para Guerrero, por ejemplo, se observa que si se redujera o eliminara la diferencia (18.6 por ciento) que esta región tiene con respecto a las dotaciones efectivas de infraestructura de la “región media”, podría reducir a 28.9 por ciento las diferencias en el PIB por ocupado que ahora tiene (47.5 por ciento) con respecto a la región media.

En Oaxaca se estima que si se eliminara la diferencia (29.5 por ciento) que esta región tiene con respecto a las dotaciones efectivas de infraestructura de la “región media”, podría reducir a 27.5 por ciento las diferencias en el PIB por ocupado, que ahora tiene (57 por ciento) con respecto a la región media. Similares análisis pueden realizarse para Chiapas, México, Puebla, Nayarit, Ve-racruz y Sinaloa.

Puede analizarse también el caso de las entidades federativas que tienen una relación positiva con respecto a la llamada “región media” en el caso de las desvia-ciones provocadas por todos los factores, pero una relación negativa en las desvia-ciones provocadas por la dotación efectiva de infraestructuras. Lo que se observa es que si por ejemplo Chihuahua mejorara su posición (redujera su diferencia con respecto a la “región media”) en cuanto a dotación efectiva de infraestructuras, aumentaría (mejoraría su posición) su distancia con respecto a la productividad de la “región media”. En la misma situación se encuentran el Distrito Federal, Nuevo León, Querétaro, Quintana Roo, Sonora y Tamaulipas.

Existen dos situaciones que se derivan también de este análisis. Los casos en los que se combinan entidades federativas que tienen una relación positiva con respecto a la llamada “región media” en las desviaciones provocadas por todos los factores y una relación también positiva en las desviaciones provocadas por la do-tación efectiva de infraestructuras y, aquellos que muestran entidades federativas

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que guardan una relación negativa con respecto a la llamada “región media” en el caso de las desviaciones provocadas por todos los factores, pero una relación po-sitiva en las desviaciones provocadas por la dotación efectiva de infraestructuras.

De estas últimas dos situaciones mencionadas, Campeche se encuentra en la primera de ellas. Se aprecia que reducir la diferencia favorable que ahora tiene en cuanto a dotación efectiva de infraestructuras públicas, no le favorecería ya que también se vería reducida su diferencia a favor en relación con las desviaciones provocadas por todos los factores productivos. Comparten la misma situación Aguascalientes y Colima.

Finalmente, entidades como Tabasco se encuentran en la última situación mencionada. En este caso, dada su favorable posición en la dotación efectiva de infraestructuras, reducirla significaría aumentar sus diferencias ya desfavorables con respecto a la llamada “región media” en el caso de las desviaciones provoca-das por todos los factores. En la misma situación se encuentran las entidades de Durango, Guanajuato, Hidalgo, Michoacán, Morelos, San Luis Potosí, Tabasco, Tabasco, Tlaxcala, Yucatán y Zacatecas.

Como ha podido constatarse, las diferencias en dotación efectiva de infraes-tructuras públicas en las entidades del país contribuyen de manera importante a explicar las desigualdades entre ellas. Pero, quizás, la mayor aportación que de aquí pueda desprenderse es en el sentido de la conveniencia de dotar de mayores inversiones en infraestructuras públicas a las entidades que presentan mayores re-zagos en el PIB por ocupado, como Chiapas, Guerrero y Veracruz. En estos casos, como en otros, se aprecia que una disminución en las diferencias que guardan en relación a la “región media” dotada de infraestructuras, contribuiría en gran medida a acercar las economías de esas entidades a las condiciones de la “región media” nacional en términos de bienestar.

Conclusiones

El trabajo ha logrado demostrar que la inversión en infraestructuras públicas contribuye al crecimiento y desarrollo de las economías regionales. También ha quedado establecido que la mayor dotación de infraestructuras públicas en las entidades federativas de México, proporciona diferentes ordenamientos cuando esta es considerada por superficie o por ocupado.

A propósito, cabe mencionar que un estudio realizado por Calderón y Servén (2004), utiliza diferente metodología pero en general tiene el mismo

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propósito que el presente estudio, relacionar la dotación de infraestructura con el desarrollo económico de los países de América Latina. En él, los autores, ob-servan, a través del índice de Gini, las reducciones de la desigualdad en varios países de América Latina como consecuencia de mejoras en la dotación y en la calidad de la infraestructura.

Observan la reducción en las desigualdades realizando comparaciones con el de mayor dotación en América Latina y el Caribe, Costa Rica y, con los países de Asia oriental. Lo hacen además realizando comparaciones tanto en cantidad como en calidad de las infraestructuras. Se muestra en ambos casos que la situa-ción en Brasil ha evolucionado en mejores condiciones que en México, ya que al ordenar en orden descendente la reducción en las desigualdades, Brasil se ubica en la posición 6 mientras México se ubica en la 12, cuando la comparación se hace con el mejor de América Latina y el Caribe. La situación cambia poco cuan-do la comparación se hace con los países asiáticos, ya que ahora Brasil ocupa la posición 7, mientras México la 13 (Anexo, Tabla 6).

En Brasil, además, se tiene la experiencia relacionada con el trabajo de diag-nóstico realizado con el propósito de identificar las oportunidades de inversión en infraestructura económica. Ahí se ha utilizado el concepto de eje de integra-ción y desarrollo, el que supone, en una primera aproximación, el estudio de las posibilidades de comunicación e integración entre las diversas regiones del terri-torio nacional brasileño (Ablas, 2005). En el estudio realizado se identificaron nueve ejes y todos tienen como referente una vía de transporte importante que les otorga una vertebración y además un territorio complementario que es el área de influencia de esta vía de transporte. Se considera que este conjunto de ejes mues-tra las diferencias significativas existentes entre las diversas regiones que compo-nen el territorio brasileño y abren posibilidades concretas de proposiciones de política, en el sentido de aprovechar las potencialidades localizadas (Ablas, 2005).

Por otra parte, en el presente estudio también, se han adaptado a la economía mexicana los resultados encontrados para la economía española, en relación al im-pacto de la dotación de infraestructuras públicas en la productividad regional. En consecuencia se han podido ordenar las entidades federativas de México, a partir de la construcción de un indicador de dotación efectiva de infraestructuras públicas.

Los resultados obtenidos ponen en evidencia que las mayores o menores do-taciones efectivas de infraestructuras públicas en las entidades federativas estarían contribuyendo a explicar las diferencias regionales en México.

Se aprecia que resulta conveniente y necesario dotar de mayores inversiones en infraestructuras públicas a las entidades que presentan mayores rezagos en el

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PIB por ocupado, como Chiapas, Guerrero y Veracruz. En estos casos, como en otros, se observa que una disminución en las diferencias que guardan en relación a la “región media” dotada de infraestructuras, contribuiría en gran medida a acercar las economías de esas entidades a las condiciones de la “región media” nacional en términos de bienestar.

Public Infrastructure and Economic Development in Mexico

Abstract: This article analyses the relative positions of Mexican federative en-tities in terms of public infrastructure allocations. There are also constructed two priority arrangements in the regional allocation of public infrastructure investment. The first one is based on an estimation of the contribution of the differences on infrastructure allocations to regional inequalities. The second one is based on the approximation of the social yield of each region’s public infrastructure investment. The main purpose of the arrangement and the esti-mations is to obtain a way to measure the infrastructure effective allocation of Mexico’s federative entities.

JEL: C1, C2, R1, R2, R5

Key words: Infrastructure, effective allocations, economic development.

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Recebido para publicação em novembro de 2011Aprovado para publicação em dezembro de 2012

ANEXOS

TABLA 1. MÉXICO. STOCK DE INFRAESTRUCTURAS PÚBLICAS (Infraestructura de Kms. de carreteras pavimentadas). 1995-2005

ESTADO 1995 2000 2005 TCAGUASCALIENTES 937 1,026 1,198 27.9BAJA CALIFORNIA 2,694 2,845 2,464 -8.5BAJA CALIFORNIA SUR 1,543 1,610 1,798 16.5CAMPECHE 2,609 3,290 3,686 41.3COAHUILA 3,812 3,866 3,890 2.0COLIMA 874 869 945 8.1CHIAPAS 3,625 4,584 5,944 64.0CHIHUAHUA 4,684 5,186 5,485 17.1DISTRITO FEDERAL 149 150 150 0.7DURANGO 2,903 3,349 4,358 50.1GUANAJUATO 2,849 3,951 4,935 73.2GUERRERO 3,813 4,515 3,962 3.9HIDALGO 2,585 3,098 3,634 40.6JALISCO 4,645 5,568 5,821 25.3MÉXICO 5,133 5,263 6,506 26.7MICHOACÁN 4,664 5,224 6,046 29.6MORELOS 1,453 1,540 1,599 10.0NAYARIT 1,341 1,419 1,688 25.9NUEVO LEÓN 4,111 4,257 4,360 6.1OAXACA 3,789 4,113 4,669 23.2PUEBLA 3,284 3,848 4,754 44.8QUERÉTARO 1,275 1,398 1,663 30.4

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QUINTANA ROO 1,771 1,943 2,567 44.9SAN LUIS POTOSÍ 2,790 3,659 4,762 70.7SINALOA 2,876 3,324 3,889 35.2SONORA 5,613 6,023 5,969 6.3TABASCO 2,477 3,808 4,250 71.6TAMAULIPAS 3,715 3,904 4,316 16.2TLAXCALA 1,219 1,234 1,336 9.6VERACRUZ 5,277 5,400 5,873 11.3YUCATAN 4,840 5,933 6,120 26.4ZACATECAS 2,566 2,890 4,142 61.4

TABLA 2. MÉXICO. DOTACIONES RELATIVAS DEL STOCK DE INFRAESTRUCTURAS PÚBLICAS (ranking de infraestructuras por superficie). 1995-2005

ESTADO 1995 2000 2005

AGUASCALIENTES 4 4 4

BAJA CALIFORNIA 25 25 28

BAJA CALIFORNIA SUR 31 31 31CAMPECHE 18 17 17

COAHUILA 29 30 30

COLIMA 5 7 7

CHIAPAS 20 19 15

CHIHUAHUA 32 32 32

DISTRITO FEDERAL 8 11 12

DURANGO 30 29 27

GUANAJUATO 12 9 8GUERRERO 16 16 22

HIDALGO 7 8 6

JALISCO 17 15 18

MÉXICO 3 3 3

MICHOACÁN 13 13 13

MORELOS 2 2 2

NAYARIT 21 22 21

NUEVO LEÓN 15 18 20

OAXACA 24 24 25

PUEBLA 11 12 10

QUERÉTARO 9 10 11

QUINTANA ROO 26 27 26

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SAN LUIS POTOSÍ 23 21 16

SINALOA 19 20 19

SONORA 28 28 29

TABASCO 10 5 5TAMAULIPAS 22 23 24

TLAXCALA 1 1 1

VERACRUZ 14 14 14

YUCATAN 6 6 9

ZACATECAS 27 26 23

TABLA 3. MÉXICO. DOTACIONES RELATIVAS DEL STOCK DE INFRAESTRUCTURAS PÚBLI-CAS (ranking de infraestructuras por ocupado). 1995-2005

ESTADO 1995 2000 2005

AGUASCALIENTES 23 23 22

BAJA CALIFORNIA 20 22 30BAJA CALIFORNIA SUR 2 3 2

CAMPECHE 1 1 1

COAHUILA 8 11 11

COLIMA 9 14 18

CHIAPAS 25 19 15

CHIHUAHUA 10 12 12DISTRITO FEDERAL 32 32 32

DURANGO 6 5 4

GUANAJUATO 30 27 23

GUERRERO 14 10 16

HIDALGO 18 16 13

JALISCO 28 28 29

MÉXICO 31 31 31

MICHOACÁN 16 15 14

MORELOS 26 26 26

NAYARIT 13 13 10

NUEVO LEÓN 22 25 25

OAXACA 21 17 21

PUEBLA 29 29 28

QUERÉTARO 24 24 24

QUINTANA ROO 5 8 9

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SAN LUIS POTOSÍ 17 9 8

SINALOA 19 20 19

SONORA 4 6 6

TABASCO 11 7 7

TAMAULIPAS 12 18 17

TLAXCALA 15 21 20

VERACRUZ 27 30 27

YUCATAN 3 2 5

ZACATECAS 7 4 3

TABLA 4. MÉXICO. DOTACIONES EFECTIVAS DEL STOCK DE INFRAESTRUCTURAS PÚBLICAS (ranking). 1995-2005

ESTADO 1995 2000 2005

AGUASCALIENTES 6 8 6

BAJA CALIFORNIA 29 30 31

BAJA CALIFORNIA SUR 9 16 17

CAMPECHE 3 2 2

COAHUILA 24 29 29

COLIMA 4 6 9

CHIAPAS 27 19 15

CHIHUAHUA 31 31 30

DISTRITO FEDERAL 32 32 32

DURANGO 21 17 13

GUANAJUATO 25 12 11

GUERRERO 14 11 23

HIDALGO 8 7 5

JALISCO 30 28 28

MÉXICO 17 23 21

MICHOACÁN 12 10 12

MORELOS 5 5 7

NAYARIT 16 18 16

NUEVO LEÓN 19 25 27

OAXACA 28 26 26

PUEBLA 23 21 19

QUERÉTARO 11 14 14

QUINTANA ROO 13 20 18

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SAN LUIS POTOSÍ 22 13 10

SINALOA 20 22 22

SONORA 10 15 20

TABASCO 7 4 3

TAMAULIPAS 18 24 24

TLAXCALA 2 3 4

VERACRUZ 26 27 25

YUCATAN 1 1 1

ZACATECAS 15 9 8

TABLA 5. MÉXICO. DESIGUALDAD REGIONAL. DESVIACIONES CON RESPECTO A LA PRO-DUCTIVIDAD MEDIA. 2005

ESTADO

DESVIACIONES PROVOCADAS POR

TODOS LOS FACTORES (%)

DOT. EFECTIVA DE INFRAESTRUCTURAS

(%)

RESTO DE FACTORES (%)

AGUASCALIENTES 31.63 32.54 -0.91

BAJA CALIFORNIA 28.30 -54.97 83.27

BAJA CALIFORNIA SUR 28.06 -9.37 37.43

CAMPECHE 52.24 70.61 -18.36

COAHUILA 46.64 -39.15 85.79

COLIMA 2.06 23.21 -21.15

CHIAPAS -58.03 -5.21 -52.82

CHIHUAHUA 50.65 -43.34 93.99

DISTRITO FEDERAL 146.91 -91.39 238.29

DURANGO -6.40 3.88 -10.28

GUANAJUATO -18.99 9.70 -28.70

GUERRERO -47.53 -18.61 -28.92

HIDALGO -39.54 35.08 -74.62

JALISCO -1.74 -34.57 32.83

MÉXICO -19.47 -13.99 -5.48

MICHOACÁN -40.37 6.83 -47.20

MORELOS -5.86 32.42 -38.28

NAYARIT -37.50 -8.75 -28.74

NUEVO LEÓN 88.05 -31.11 119.16

OAXACA -56.92 -29.47 -27.44

PUEBLA -29.87 -12.17 -17.70

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Jorge Rafael Figueroa Elenes - 135

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QUERÉTARO 20.43 -0.70 21.13

QUINTANA ROO 39.39 -9.82 49.21

SAN LUIS POTOSÍ -17.22 9.72 -26.94

SINALOA -16.68 -17.25 0.57

SONORA 30.53 -13.81 44.34

TABASCO -39.55 69.22 -108.77

TAMAULIPAS 11.20 -23.72 34.91

TLAXCALA -46.98 66.06 -113.03

VERACRUZ -38.41 -26.81 -11.60

YUCATÁN -17.64 97.18 -114.81

ZACATECAS -37.39 27.78 -65.17

TABLA 6. REDUCCIONES POTENCIALES DE LA DESIGUALDAD (COEFICIENTE DE GINI) EN VARIOS PAÍSES DE AMÉRICA LATINA, COMO CONSECUENCIA DE LAS MEJORAS EN LA CAN-TIDAD Y CALIDAD DE LA INFRAESTRUCTURA

PAÍS

MEJORA HASTA ALCANZAR LOS NIVELES DEL PRIMER PAÍS DE AMÉRICA LATINA Y

EL CARIBE (COSTA RICA)

MEJORA HASTA ALCANZAR LA MEDIANA DE LOS TIGRES DE ASIA ORIENTAL

(REPÚBLICA DE COREA)

CANTIDAD CALIDAD TOTAL CANTIDAD CALIDAD TOTAL

Argentina -0.03 -0.01 -0.03 -0.05 -0.02 -0.06

Bolivia -0.08 -0.01 -0.09 -0.10 -0.02 -0.12

Brasil -0.03 -0.02 -0.06 -0.05 -0.03 -0.09

Chile -0.03 0.00 -0.03 -0.05 -0.01 -0.06

Colombia -0.04 -0.02 -0.06 -0.06 -0.03 -0.09

Costa Rica - - - -0.02 -0.01 -0.03

Ecuador -0.04 -0.02 -0.06 -0.06 -0.03 -0.09

El Salvador -0.03 -0.01 -0.04 -0.06 -0.02 -0.07

Guatemala -0.07 -0.01 -0.08 -0.09 -0.02 -0.11

Honduras -0.07 -0.02 -0.09 -0.09 -0.03 -0.12

México -0.03 0.00 -0.03 -0.05 -0.01 -0.06

Nicaragua -0.07 -0.02 -0.10 -0.09 -0.03 -0.13

Panamá -0.03 0.00 -0.03 -0.05 -0.01 -0.10

Perú -0.06 -0.01 -0.07 -0.08 -0.02 -0.10

República Dominicana -0.03 0.00 -0.03 -0.05 -0.01 -0.06

Uruguay -0.02 -0.01 -0.02 -0.04 -0.02 -0.05

Venezuela, R. B. de -0.02 -0.01 -0.03 -0.04 -0.02 -0.06

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Outra Economia para a Nova Sociologia EconômicaAntonio César Ortega*

Vitor Alberto Matos**

Resumo: Este artigo ressalta que as críticas da Nova Sociologia Econômica à Economia se dirigem ao neoclassicismo. Portanto, uma interlocução economia--sociologia deve usar “outra” economia, cujas racionalidades relacionem valores, afetividade ou tradições. Esta teoria econômica de caráter dinâmico enfoca estru-turas do mercado, articula estrutura oligopólica e concorrência dinamicamente, associa historicidade e incerteza do agente. Finalmente, destaca alguns pontos de contato desta economia com a Nova Sociologia Econômica compatíveis com uma filosofia do mundo social. Como consequência, pensamos ser esse um es-forço para aproximar as ciências sociais e trabalhar para que a Economia seja de novo assumida como ciência histórica.

JEL: D43, L22, Z13

Palavras-chaves: Nova Sociologia Econômica, Instituições, Estrutura de Merca-do, Construção Social do Mercado.

Introdução

A articulação economia e sociologia no período entre o final do século XIX e início do século XX envolveu teóricos das duas ciências imbuídos da ideia de integrar um corpo teórico comum. No entanto, é necessário reconhecer que esses esforços não tiveram o êxito esperado, uma vez que se observa entre essas ciências um afastamento radical, que se inicia a partir de 1870.

Este ensaio assume os argumentos de STEINER (2006, p. 2), não só de que “é preciso e vantajoso fazer com que as teorias econômicas e sociológicas se aproximem de modo a fornecer melhores explicações para os fatos econômicos”, como de que “nem todos os comportamentos econômicos são racionais”. Assim, nossa intenção é demonstrar que a crítica da Nova Sociologia Econômica (NSE)

*Professor Associado IV do Programa de Pós-Graduação em Economia do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia. E-mail: [email protected]. Agradeço ao CNPq pelo financiamento das pesquisas que venho desenvolvendo.**Professor Titular aposentado do Instituto de Economia da UFU e Pós-Doutor do PPGE/IE/UFU. E-mail: [email protected]

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dirigida à Economia restringe-se, na verdade, ao neoclassicismo econômico1 e à nova economia institucional.

No início dos anos 1920 começa a ser gestado no universo da teoria econô-mica um movimento de rejeição à hegemonia neoclássica, considerando coerção, costume, crença ou imitação na formação de preferências. Em outras palavras, esses críticos ressaltam que as decisões individuais são motivadas: por repetição dos comportamentos e, assim, assumem sua historicidade;2 por mecanismos de previsão do futuro, que considera o quadro de incertezas que envolvem o proces-so decisório dos agentes econômicos; e por racionalidades referentes a valores, a afetividade ou tradições.

Assumimos, de acordo com Philippe Steiner, a existência de uma “tradição francesa de crítica à Economia Política” [e que] “começaria com Comte, pas-saria por Durkheim e os durkheimianos e chegaria, no fim do século XX, a P. Bourdieu” (STEINER, 2008 apud LACERDA, 2009, p. 73-97). No entanto, salientamos que, fazendo parte de um conjunto teórico disperso e voltado ao levantamento de evidências empíricas3 internamente ao campo da Economia, também existe uma crítica de fundo ao pensamento neoclássico que nos parece desconsiderada, sobretudo pela nova sociologia econômica norte-americana, re-presentada por Granovetter (1985), embora, também possa ser encontrada em Steiner (2006). Nossa intenção, portanto, é a de ressaltar, após breve releitura desta crítica interna, a possibilidade de uma interlocução reaproximativa com a NSE considerando aspectos como incerteza, expectativas e múltiplas raciona-lidades; mecanismos de aprendizagem e diversidade operacional; concorrência, inovações e progresso técnico e, por fim, busca por regularidades como elemento central da dinâmica capitalista.

A crítica aos fundamentos neoclássicos será construída a partir do resgate histórico desse corpo de contribuições teóricas, de caráter dinâmico, cujo ele-mento central e orientador é a estrutura de mercado que, de acordo com Possas (1985, p. 94), “de um lado, salienta a ênfase na evolução da estrutura frente às 1Embora esta vertente seja pouco referenciada explicitamente, as questões mais salientadas por esta crítica se referem por um lado às suas hipóteses: “comportamento maximizador, equilíbrio de mercado e estabilidade das preferências empregada de maneira firme e definitiva” como em Abramovay (op. cit. p. 38) e em outros às ideias de “homo economicus” ou de “imperialismo econômico”, todas associadas à economia neoclássica. 2Keynes define uma “economia monetária” como aquela em que “mudanças de ponto de vista sobre o futuro são capazes de influenciar o volume de emprego e não meramente sua direção” (KEYNES, 1983, p. 4). Nesta afirmação algumas ideias destoam do pensamento hegemônico: os agentes são dotados de poder de escolha; tempo econômico (irreversível e expectacional); e incerteza. Também podemos agregar uma quarta sobre a não neutralidade da moeda tanto no curto como no longo prazo. Ver a síntese de Carvalho (1989, p. 179-194) encontrada em Amadeo (1989). 3De acordo com Dequech (2011, p. 605), também encontramos exemplos de correntes de pensamento, como o chamado “velho Institucionalismo” e a “economia francesa das convenções”, cujas abordagens não neoclássicas também fazem severas críticas ao neoclassicismo.

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condições de concorrência efetiva e potencial [...] e de outro, a desconsideração ou redefinição do instrumental estático”. Em suma, pretendemos realizar um esforço teórico cujas premissas fundamentais são: a rejeição das interpretações fundamentadas nos modelos de equilíbrio e a ênfase nas estruturas de mercado por permitirem também identificar aspectos simbólicos como as relações de po-der que envolvem os agentes no processo competitivo.4

Enfim, estamos diante de uma situação de mercado específica, definida por uma forma de organização das atividades econômicas e até mesmo de toda a so-ciedade, cuja estrutura conforma um conjunto de firmas cujas assimetrias criam “vantagens competitivas”. Nesta abordagem, vamos além do comportamento maximizador e buscamos explicar a utilização estratégica por parte das firmas – progressivas5 – de uma parcela de sua capacidade instalada como mecanismo de proteção contra possíveis “espaços” competitivos, fruto da pressão concorrencial proveniente das instabilidades comportamentais (esperadas ou não) dos compra-dores.6 Embora não seja nosso objetivo, é relevante salientar que Cangiani (2011, p. 35) afirma que os ensaios de Polanyi revelam que tanto a “análise economicis-ta” que generaliza as especificidades econômicas do funcionamento da sociedade de mercado, como as ideias da NSE, fundadas na tese da “economia sempre enraizada”,7 ignoram as diferenças específicas entre os sistemas econômicos.

A proposta da Nova Sociologia Econômica (NSE)

Os aspectos da crítica dirigida pela Sociologia à Economia surgem da crítica comtiniana à Economia Política de seu tempo que, em linhas gerais, “caracteriza--se por não levar em conta três dimensões esquecidas pela ciência econômica: his-tórica, social e política”. (RAUD, 2007, p. 204). A partir dos trabalhos de Mark Granovetter surge a denominação “nova sociologia econômica”, cujas proposi-ções, por um lado, rejeitavam a justificativa unicamente individualista da ação 4Uma análise muito próxima daquela que pretendemos apresentar, evidentemente com diferenças de estilo, de metodologia e de fundamentos teóricos, mas enfatizando o campo econômico como campo de luta e de poder entre os participantes do “jogo competitivo” encontra-se em (BOURDIEU, 2005). Embora este autor seja criticado, principalmente pela nova sociologia americana, ele mostra que tal sociologia “apenas desgruda do individualismo metodológico para cair na visão interacionista que, ignorando a pressão estrutural do campo só quer (ou pode) [...] fazer desaparecer todos os efeitos da estrutura e todas as relações objetivas de poder”. (BOURDIEU, op. cit., p. 31)5As “empresas progressivas” assim denominadas por Steindl (1983) se referem às firmas líderes em determinado setor da indústria – geralmente as firmas maiores, tanto por suas “vantagens absolutas” como por “economias de escala” que lhes permitem maiores margens de lucro e melhores condições de crescimento.6Contribuem com a NSE outras vertentes, sobretudo as oriundas do pensamento Institucionalista, da Teoria da Regulação e da Teoria das Convenções, entre outras. Entretanto, enfatizamos mais “os efeitos dinâmicos gerados por uma dada estrutura de mercado do que sua própria constituição”. (POSSAS, 1985, p. 10)7Ver, para mais explicações, Cangiani (2011) in Polanyi-Levitt (2012, pp. 11- 44).

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humana, entendendo-a sempre socialmente localizada, e por outro, assumiam que as instituições sociais eram socialmente construídas. (GRANOVETTER, 1990, pp. 95-96 apud STEINER, op. cit. pp. 27-28).

Os trabalhos de White (1981) e Granovetter8 (1985) – pioneiros na discus-são sobre as origens sociais dos mercados – retomam a ideia de “embeddedness” proposta por POLANYI (2000 [1944]) para estabelecer o fundamento teórico básico da argumentação de que os mercados são construções sociais e não podem ser explicados em função da racionalidade do “homo economicus”, uma vez que relações continuadas entre os atores determinam a não deserção, reforçam a con-fiança e viabilizam a cooperação. Assim, legitimidade, inércia e redes, ainda que informais, são elementos críticos em um processo explicativo que conduz a NSE9 a considerar que a sobrevivência é um elemento explicativo mais decisivo que a eficiência. Em outros termos, existem vantagens competitivas das organizações instaladas frente às organizações desafiantes (GRANOVETTER, 1985).

De acordo com Marques (2003, p. 4), a NSE entende que “o ator social é moldado pelo conjunto de relações sociais que estabelece com outros atores relevantes e que todas as ações, fenômenos e instituições econômicas só são significativos se lidos à luz da sua inclusão num quadro de relações signifi-cativas”. Diferentemente do agente neoclássico e sua racionalidade ilimita-da, para este autor os atores sociais são “dotados de racionalidades limitadas, conduzidos por boas razões e por lógicas sociais dominantes, submetidas ao crivo de sistemas de interação que atualizam e reorientam as próprias decisões tomadas” (idem, op.cit., p. 13).

Assim, para a NSE as decisões tomadas pelos atores são orientadas pela re-petição das relações, que envolvem historicidade e tentativas de antever o futuro, tornando as influências exteriores nem anônimas nem livres. Possuem mãos vi-síveis! Nesta perspectiva, as ações dos atores e as instituições serão sempre pro-duto de contextos sociais. Assim como nas sociedades capitalistas o mercado não é a única forma de regulação ou coordenação da economia, outras formas de organização social como o Estado e as relações solidárias e/ou de parentesco,

8A coletânea de João Peixoto e Rafael Marques (2003) apresenta uma excelente síntese sobre a NSE, de autoria de Marques, reunindo, ao mesmo tempo, os artigos pioneiros de Mark Granovetter e Neil Fligstein e artigos de Richard Swedberg, Viviana A. Zelizer, Paul DiMaggio, Paul Hirsch, Stuart Michael e Ray Friedman. Também encontramos em Abramovay (2007) uma síntese da NSE e suas possibilidades de uso como referencial teórico para uma teoria dos estudos territoriais.9Cangiani (2011, p. 35) salienta que a frequente referência a Polanyi e ao termo “enraizado”, sobretudo em sua crítica à economia neoclássica, (em suas palavras) “me parece imprópria [...] deve estar claro que sua concepção de ‘enraizamento’ tem um significado diferente do encontrado na sociologia econômica contemporânea e na economia neoinstitucional”.

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são também possíveis10 e não podem ser ignoradas. Polanyi reconhece que “as formas de integração também podem se diferenciar de acordo com o modo de relacionamento da economia com os domínios político e cultural da sociedade” (POLANYI, 2011 [1977] in POLANYI-LEVITT, 2011, p. 83).

Para a NSE, as redes de relações sociais continuadas estão na base de contra-tos entre as organizações, grupos de empresas e instituições. Para a manutenção dessas relações, a confiança é um dos atributos mais importantes a ser destacado, mesmo porque ela permite que se alcance a cooperação,11 onde poder, estrutu-ra, cultura e análise histórica comparativa são eixos que os sociólogos desejam acrescentar às concepções tradicionais do mercado e às ideias de equilíbrio. Nesse sentido, a NSE não se apega ao limite extremo da racionalidade do “homo econo-micus”, pois relações continuadas entre os agentes econômicos determinam a não deserção e fidelidade no consumo de determinada marca, reforçam a confiança e viabilizam a cooperação.

Em outras palavras, a NSE ocupa-se do estudo das chamadas formas impu-ras entre a solução mercantil e a de autoridade, buscando a “paixão” no interior da razão estritamente econômica, ou seja, ela reconhece e enfatiza que as decisões dos atores econômicos são motivadas pela repetição das relações implicando con-siderar tanto a historicidade quanto a previsibilidade do futuro.

Crítica econômica à microeconomia do neoclassicismo

O que se pretende nesta seção é recuperar e organizar as críticas ao pensa-mento microeconômico neoclássico visando a construir criticamente uma alter-nativa interpretativa fundada sobre a noção de estruturas de mercado em contex-to oligopolístico. Merecem destaque duas observações preliminares: de início, é essencial explicitarmos que o caráter oligopolístico dessas estruturas desconsidera a tipologia convencional baseada no número e no tamanho das firmas em con-corrência para se concentrar no agente econômico [empresa, produtor e comer-ciante], e em seu comportamento no interior desta estrutura. Em segundo lugar, essa crítica não pretende ir além do conjunto de trabalhos que se estendem desde 10Admitindo, com Richard Swedberg, que a economia seja tradicionalmente definida como o estudo da produção, distribuição e consumo (Swedberg, 2003, in Marques, op. cit, p. XVI), o elemento distribuição pode, de acordo com Polanyi, ser organizado como redistribuição (pelo Estado), como reciprocidade (nas relações de parentesco), ou na troca mercantil (em um mercado). É neste último – no sistema de mercado – que se estabelece a forma capitalista da economia. (Cangiani, op. cit., p. 13)11A confiança é um dos temas mais importantes nas ciências sociais. Ela é vista como cimento da sociedade (ELSTER, 1991), variável fundamental nos dilemas da ação coletiva, tanto dos problemas da ação coletiva de Olson (1999), como da teoria da eleição racional (ELSTER, 1984), porém há que se observar que confiança é uma relação que se estabelece em função da repetição das ações dos atores sociais, ou seja, da história.

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a metade da década de 1920, com os trabalhos de Piero Sraffa, até a análise do capitalismo americano realizada por Josef Steindl, em 1952.

Em suma, desejamos destacar por um lado, o caráter crítico e os elementos dinâmicos dessa alternativa como construção que procura romper12 com a microe-conomia neoclássica e, mais à frente, tentar um dialogo teórico com a NSE na busca por “aproximar economia e sociologia” (STEINER, 2006) a partir da identificação de possíveis pontes para o desenvolvimento de uma abordagem integradora mais realista e consistente.13 No entanto, tal reconstrução dos debates clássicos e marcantes do afastamento progressivo destas teorias do oligopólio em relação às suas origens nos obrigará a uma viagem rápida sobre a teoria dos preços, a teoria da firma, as estruturas de mercado e os padrões de competição e a dinâmica das estruturas de mercado.

Nesta história a “peça inicial e importante da crítica à abordagem marshallia-na” é o surgimento, em 1926, do artigo “A Lei dos rendimentos sob condições de concorrência”, de Piero Sraffa, cujo alvo crítico14 é a curva de oferta e o seu formato ascendente na tradição neoclássica, derivada da presença de rendimentos marginais crescentes e decrescentes, responsáveis pelo formato parabólico da curva de custo (marginal) da qual ela é originária, e adianta algumas contribuições que, para os objetivos deste trabalho destacamos: (a) a afirmação da existência de concorrência interempresarial (não por preços) “onde as dimensões de tamanho desempenham papel relevante”; (b) o destaque para a relação cativa produtor-comprador, que de-termina a escolha por certa firma devido ao “hábito antigo, conhecimento pessoal, confiança na qualidade do produto, proximidade, conhecimento de aspectos espe-cíficos, possibilidade de obtenção de crédito, reputação de uma marca comercial ou símbolo, nome com altas tradições”, entre outras; (c) a forma competitiva basea-da em vantagens adquiridas pela interposição de barreiras à entrada, presentes em alguns mercados; (d) a discriminação de preços decorrente de diferenciações nos produtos; (e) a realidade da competição capitalista caracterizada por: uma estrutura de mercado com diversidade de empreendimentos; existência de acordos entre os concorrentes e estratégias competitivas destinadas a manter ou a aumentar suas participações no mercado, conhecido por oligopólio15 (SRAFFA, 1988).12A versão completa dessa crítica encontra-se tanto em Guimarães (1982) quanto em Possas (1985). Versões simplificadas constituem conteúdos curriculares de Microeconomia de algumas escolas brasileiras de economia. 13Alguns economistas, por se mostrarem relutantes em incorporar instrumentos analíticos de outras áreas da ciência, não avaliam adequadamente os aspectos do mundo real reduzindo o poder explicativo de suas teorias. A abordagem neoclássica da firma ao desconsiderar, por muito tempo, a grande empresa industrial presente no cenário econômico é um exemplo disto (TIGRE, 1998).14Sraffa quer mostrar que o ambiente do cálculo racional desconsidera a iniciativa e a inovação, tanto no aspecto gerencial quanto no aspecto estratégico das políticas orientadas ao mercado. 15Especificamente essas ideias de Sraffa serão retomadas em contribuições posteriores que comentaremos mais adiante e, que devido à sua semelhança com ideias e conceitos da Nova Sociologia Econômica, devem merecer maiores considerações.

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A ideia de Sraffa sobre a impossibilidade de aumento nas vendas, a não ser a partir de sucessivas reduções de preço, alterava a hipótese do preço fixado pelo mercado ou da curva de demanda infinitamente sensível e permitia às firmas usu-fruirem de um monopólio (mesmo que temporário) sobre seus produtos, oriundo das preferências dos consumidores uma vez que elas, ao diferenciá-los, introdu-ziam singularidades caracterizadas tanto pelos diferentes níveis de substituibilida-de das mercadorias quanto pela diversidade dos comportamentos competitivos.

Estas proposições deram origem à chamada Teoria da Competição Imper-feita, a partir dos trabalhos de Robinson (1933) e Chamberlin (1933), em que se ressalta serem os mercados imperfeitamente competitivos, não podendo ser defini-dos de acordo com o número de seus participantes, porém constituir-se-iam como locus de ação estratégica das firmas cujas mercadorias, ao revelarem o conjunto de especificidades ou singularidades (inovações) introduzidas pelos produtores, pode-riam ser agrupadas de acordo com a substituibilidade próxima que guardavam en-tre si.16 Estes estudos ressaltaram a postura estratégica das firmas relativamente às diversas faixas de capacidade aquisitiva dos consumidores dando relevância teórica ao fato de as mercadorias possuírem diferenças reais aos olhos dos compradores (marcas, qualidade, forma de apresentação, localização, reputação e atendimento). Nesse aspecto, explicita-se que as mercadorias e as firmas não são homogêneas, seja devido às características visíveis e palpáveis, seja por aspectos “imaginários” provenientes de “modelos mentais”. A postura enfática sobre a estratégia da dife-renciação dos produtos ou sobre o estabelecimento de monopólios temporários relativamente às novidades ou singularidades introduzidas eleva o poder de nego-ciação do produtor inovador.17

A evolução desse debate deu origem aos estudos de Hall & Hitch (1988) e Sweezy (1988) que mostraram: (a) em certos mercados as firmas têm consciência da reação de seus concorrentes; (b) [elas] não utilizam a regra marginalista para determinar preços e produção nem buscam a maximização dos lucros; (c) os preços são fixados pelo “princípio do custo18 total”, constatação muito próxima à realidade verificada no mercado; (d) a determinação do preço do produto é a 16A teoria neoclássica desconsidera o empreendedor e suas funções na organização. Schumpeter destaca sua função inovadora e transformadora do ambiente, a escola austríaca salienta o enfrentamento da incerteza e a busca e exploração de informações para a decisão (Foss, 1997), por fim, em Leibenstein (1968), ele assume a coordenação eficiente do processo produtivo. 17A introdução de inovações pode ocorrer tanto nos processos, como nos produtos, aspectos que embora importantes, não dizem respeito ao “lado imaginário ou psicológico” do consumidor, que desejamos destacar. Os principais se referem à beleza, ao desempenho, ao status, à aparência, entre outras; podendo apresentar diferentes níveis de reatividade do consumidor quanto ao consumo, mesmo estando sujeitas às ações da publicidade e da propaganda. 18Neste caso, o preço deveria cobrir o custo variável médio, o custo fixo médio e permitir uma margem de lucro “normal”, isto é, permitir uma remuneração satisfatória ao empresário, “uma tendência que é reforçada pela tradição” (HALL & HITCH, 1988).

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principal preocupação das firmas; e (e) os preços possuem rigidez, mesmo com alterações na demanda e nos custos.

Em resumo, os empresários creem que “perderiam clientes se aumentassem seus preços, mas venderiam muito pouco a mais se os baixassem” (SWEEZY, 1988). Portanto, a estratégia mais segura e de melhores resultados estaria na cons-trução de relações mais duráveis com o segmento comprador. Nesse novo contexto, dominado por mercados de características oligopolizadas, a presença de firmas de diferentes capacidades competitivas, somadas às incertezas quanto ao comporta-mento da demanda, impediria a concorrência realizada pelo mecanismo dos preços e transformaria a estratégia da diferenciação no comportamento mais utilizado.19

A introdução de novidades ou a criação de exclusividade visa a revelar “ao imaginário do consumidor” atributos do produto que o tornem muito diferen-te e que produzam incremento das relações “produtor-consumidor”, dava os primeiros passos para o afastamento da pretensa soberania desse último. A di-ferenciação pode ocorrer: nos atributos do produto, nas formas de organizar os processos produtivos, ou nos mecanismos psicológicos criadores do “imaginá-rio” na mente do comprador. Por serem exclusivas do “inovador” essas formas de concorrência criam, por determinado tempo, um “monopólio temporário” traduzido como “fidelização”.

No entanto, a durabilidade desta relação cativa depende da capacidade de os concorrentes “imitarem”, de alguma forma, a inovação introduzida. Conse-quentemente, a diferenciação vai além dos produtos, dos processos e da criação de expectativas positivas quanto ao consumo. Ela deve ser um comportamento permanente, mas não exclusivo, de estreitamento das relações produtor-cliente, e neste sentido deve ser um contínuo processo de descoberta de necessidades ainda não satisfeitas.

Historicamente, segundo Lazonick (1992), o mundo capitalista assistia à transmutação do “capitalismo proprietário” em “capitalismo gerencial”, uma referência evidente ao que se seguiu na literatura20 e ficou conhecido como o divórcio entre “propriedade e controle” ou entre “acionistas e gerentes” e que pro-curava a um só tempo demonstrar sua insatisfação com as ideias hegemônicas do

19Os modelos de concorrência imperfeita e monopolística surgidos após a crítica sraffiana informam a impossibilidade da análise do mercado como mecanismo de formação de preços ou, de acordo com Abramovay (2004, p. 1), “a alocação de recursos a partir dos quais a sociedade se reproduz e se desenvolve”. Neste sentido, diferenciar é ir além dos atributos universais e das possibilidades de metodologias quantitativas, centrando-se nos aspectos “imaginários” ou “simbólicos”, argumento fundamental na abordagem de Bourdieu.20A literatura relacionada à firma capitalista e ao seu desenvolvimento oligopólico está subdividida nas teorias Gerenciais e Comportamentais, seja ao enfatizar a relevância da administração empresarial na formulação dos seus objetivos, seja ao destacar o processo decisório em si, associado às constantes alterações e adaptações nesses objetivos.

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neoclassicismo evidenciando a realidade do mundo empresarial baseado na gran-de empresa. Entretanto, as análises do processo decisório e do comportamento interno à grande empresa se restringiam a um pequeno grupo, nas palavras de Penrose (2006) “poucos economistas consideravam necessário averiguar o que ocorria dentro das firmas”.

Dentre aqueles cujas contribuições se aglutinaram na chamada teoria da fir-ma existe um conjunto que enfatiza os conhecimentos e habilidades aprendidas e o processo de aprendizagem; o modo de fazer e resolver problemas; as rotinas e suas transformações, além de entender a existência, a estrutura e os limites da firma a partir das capacidades e competências individuais e de grupo.21

As abordagens de Knight (1972) e de Penrose (2006), embora com pers-pectivas teóricas diferentes daquela de Steindl (1983), em conjunto contribuíram com as melhores interpretações dos estudos empíricos clássicos sobre as assime-trias entre diferentes empresas de uma mesma indústria relativamente às suas produtividades (HODGSON, 1998). Em Knight (1972), a firma deve utilizar seus recursos humanos e materiais para responder às contingências derivadas da incerteza, principalmente por elas não serem quantificáveis. O tratamento do conhecimento e das formas de aprendizagem formadoras das capacidades ne-cessárias ao enfrentamento destes ambientes serão seus temas mais enfáticos. O enfrentamento da incerteza presente na decisão sobre o que e como fazer exige algum tipo de centralização (um mecanismo administrativo ou “cérebro” da or-ganização), um centro organizador e distintivo da natureza humana e das orga-nizações de origem semelhante ao que ocorre na vida dos organismos animais (KNIGHT, 1972 apud HODGSON, 1998).

Para ele, as especificidades do uso do conhecimento, principalmente em ambientes carregados de incerteza e ignorância quanto ao futuro, exigem “capa-cidade para atuar por opinião (tentativa e erro) mais do que por conhecimento”, característica impossível de ser detalhada em um contrato. Existem características econômicas não contratualizáveis, sobretudo a decisão de um empresário alocar competências por possuir natureza fortemente idiossincrática.22

Segundo Hodgson, Durkheim faz uma afirmação de sentido muito seme-lhante quando mostra que “em qualquer contrato existem elementos não con-21Devido aos objetivos específicos desse texto, as análises da firma, conhecidas por “Abordagens Gerenciais e Comportamentais”, “Resource Based View” (ou conjunto de recursos), deixam de ser apresentadas ou o foram de forma bastante resumida.22Neste ponto Knight se refere às críticas de Coase (1937) e afirma que a incerteza gera a “necessidade de se atuar por opinião mais do que por conhecimento”, comportamento que implica não somente informação e conhecimento, mas essencialmente “opiniões e juízos (suposições) idiossincráticos complexos em contextos de incerteza”. [KNIGHT (1921) apud FOSS (1993)].

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tratuais”, ou seja, “em contextos de incerteza algumas competências não podem ser utilizadas ou facilmente compradas e contratadas” (KNIGHT, 1972 apud HODGSON, 1998). Ao destacar o papel do conhecimento e da incerteza, Kni-ght transforma-se em elemento de fundamental importância tanto à análise da firma, como ao estabelecimento de formas alternativas de entendimento das rela-ções dos atores em um mundo real.

Entretanto, suas ideias também serviram de fundamento e complementari-dade para que E. Penrose apresentasse a empresa não somente como uma “uni-dade de planejamento administrativamente autônoma, cujas atividades são inter--relacionadas e coordenadas por políticas formuladas com vistas a seus esforços na empresa como um todo”, mas como organização que também é “um conjunto de recursos produtivos cuja disposição entre os diversos usos através do tempo é determinada por decisões administrativas” (PENROSE, 2006). Tais afirmações rejeitam enfaticamente a firma da teoria neoclássica em favor de ideias apoiadas na realidade do mundo empresarial, que de acordo com esta autora, inexistiam na firma teórica imaginada pela abordagem neoclássica, logo, não representava nada de uma firma.

A necessidade contínua de introduzir inovações exigia não somente alta ca-pacitação tecnológica, mas também habilidades tácitas “conhecimento difícil de ensinar”, porém fundamental para a solução de problemas inesperados. A firma passa a ser entendida como “coleção de recursos” para que “acumule diversos tipos de reservas para suas atividades”, sobretudo as voltadas ao enfrentamento de ambientes complexos e incertos.23 Em resumo, este hábito, ao se enraizar, transforma-se em cultura de trabalho interpessoal; assim, tanto na firma como em um grupo específico, as pessoas se tornam individual e coletivamente mais valiosas para a organização (PENROSE, 2006).

A aprendizagem pela “experiência” ao emergir internamente à firma, irá su-tilmente transformar os indivíduos, neles se incrustando como um hábito com-portamental, não podendo deles se separar (PENROSE, 2006). Sendo assim, ao se constituir em processo de crescimento interno construído de forma social e orgânica, essa teoria se impõe como uma forma de aperfeiçoamento das com-petências. De um lado, constitui aumento dos conhecimentos correntes; e de outro, impulsiona a busca por novos conhecimentos e dessa forma corresponde à mudança e ao desenvolvimento dentro da firma (HODGSON, 1998). Nesse

23Penrose destaca a importância dos recursos constituídos como reservas em seu grupo de administradores de quem resulta o desenvolvimento de um processo cumulativo em que as experiências individuais e de grupo crescem e se reforçam, transformando os indivíduos.

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sentido, é uma contribuição teórica de extrema relevância24 em que o conheci-mento acumulado no passado e as experiências do presente podem influenciar comportamentos decisórios e ajudar na solução de problemas.

A notável contribuição de J. Steindl – primeira ruptura consistente e bem sucedida com a ortodoxia neoclássica – surge nos anos 1950, concomitante-mente ao início das bases teóricas do keynesianismo, pensamento ainda por se consolidar devido à sua dificuldade em criar um sistema que fosse capaz de explicar os determinantes do investimento produtivo25 associando teoria dos preços, estruturas de mercado [a partir do oligopólio como forma dominante] e concorrência (COUTINHO, 1983).

O método de Steindl englobou esses elementos, baseado em trabalhos ante-riores e nos estudos de M. Kalecki, e construiu um corpo articulado de hipóteses sobre as estruturas de custo, a formação de preços e as formas de concorrência presentes nas condições dos mercados oligopolizados e que pudessem explicar a acumulação e a concentração setorial na indústria dos Estados Unidos.26

Segundo Steindl, ao assumir o mercado como somatório de unidades produ-toras e consumidoras sem nenhuma referência às suas especificidades de tamanho, a economia neoclássica deixava de analisar as vantagens das grandes empresas.27 A constatação dos diferenciais competitivos entre as empresas, decorrentes das diferen-ças de tamanho das unidades produtivas; dos diferenciais de margens de lucro daí resultantes e de seus reflexos sobre os custos que resultam em diferenciais de preços entre as firmas, foram o seu ponto de partida. Isto o levou a distinguir as empresas em: “líderes” ou “progressivas” as de maior potencial competitivo; e “marginais” isto é, ine-ficientes em razão de custos mais elevados, mas nem sempre as de menor tamanho.28 24Outras contribuições teóricas da autora, sobretudo o capítulo sobre a diversificação, foram relegadas por não agregarem nenhum argumento que favorecesse o diálogo com a Nova Sociologia Econômica.25Embora Keynes estivesse certo de que a taxa de lucro esperada pelo empresário capitalista era a decisão fundamental para o investimento da firma, sua argumentação prendia-se unicamente ao grau de confiança do empresário quanto ao futuro, ou seja, suas expectativas a respeito do futuro esperado (que se sabia carregado de incertezas).26A realidade das indústrias observadas por Steindl era a expansão da escala de produção e o surgimento de custos médios cada vez menores, fato que criava grande incompatibilidade com o equilíbrio da firma e do mercado, pois mesmo assumindo as deseconomias de escala e o tamanho ótimo da firma daí decorrentes, ainda persistia a dificuldade de se obter equilíbrio de mercado.27As grandes empresas, devido ao tamanho da escala, obtinham lucros maiores em razão dos diferenciais de custos. A acumulação permanente destes lucros, devido às diferenças temporais de entrada, fazia surgir maiores lucros acumulados e estratégias para torná-los permanentemente duradouros. 28Algumas observações: (a) algumas tendem ao crescimento e à concentração enquanto outras, devido às facilidades de acesso a capitais financeiros e bancários, nascem concentradas; (b) como consequência, o tamanho cria vantagens adicionais, além dos diferenciais de custo, e que se traduzem em vantagens financeiras, principalmente as relacionadas ao crédito e aos juros diferenciados gerando maiores capacidades de endividamento e maior potencial de crescimento; (c) desta forma, nada existe de homogeneidade nesta estrutura de mercado dominante, mas grande diferenciação de graus de endividamento, logo, de capacidade financeira das empresas concorrentes.

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Ao criticar a concorrência imperfeita,29 Steindl adianta alguns conceitos essenciais para o seu raciocínio: a existência de capacidade de reserva (excesso de capacidade produtiva ou capacidade produtiva ociosa) principalmente em estruturas oligopolizadas; o comportamento rígido da empresa oligopolista ao determinar preços; e a noção de acumulação interna dos lucros das empresas como mecanismo fundamental de financiamento interno a partir dos lucros re-tidos (KALECKI, 1983), (WOOD, 1980) e (STEINDL, 1983). Estes conceitos evidenciam a lógica de seu desenvolvimento teórico sobre as assimetrias entre as firmas que ele procura mostrar, articulando-os à dinâmica do crescimento e do investimento empresarial. Inicialmente relaciona formação de preços no oligo-pólio, possibilidade de entrada de novos concorrentes e pressão competitiva no mercado, principalmente para os produtores marginais cujas condições de custo poderiam gerar sua eliminação.

Nas grandes empresas – as líderes – a forma para desestimular a entrada de novos competidores e evitar excessos de oferta de produtos e as quedas de preços e margens de lucro, é planejar a capacidade de produção, considerando possíveis al-terações de curto prazo na demanda e indivisibilidades técnicas do lado da oferta, levando em conta a manutenção de certa reserva de capacidade. Tal procedimen-to possibilitaria responder prontamente aos movimentos expansivos da demanda. Em se tratando do produtor individual, esta reserva de capacidade também pode-ria ser considerada uma arma estratégica para a obtenção de lucros e a redução da incerteza, prioritariamente nos momentos de expansão da demanda.

Ao optar pela manutenção deliberada dessa reserva a empresa repete com-portamentos análogos às outras formas de reserva que possui, tendo em vista se proteger contra instabilidades presentes na competição, ao mesmo tempo em que imprime maior flexibilidade ou rapidez de resposta na produção e nas vendas, reforçando a rigidez dos preços e margens de lucro no mercado.

Uma vez que nos setores oligopolísticos existe rigidez de preços e diferen-ciais de custo decorrentes de diferentes capacidades produtivas, principalmente nas grandes empresas, qualquer pressão competitiva devido à expansão principalmente da demanda resultaria em lucros maiores para essas empresas, compressão das fai-xas de mercado dos produtores marginais e, em determinados casos,30 causaria até

29Anteriormente à publicação de “Maturidade e Estagnação no Capitalismo Americano”, em 1952, Steindl escreveu outro importante trabalho editado em 1945: “Small and Big Business: Econonic Problems of Size of Firms”, norteadores destes comentários.30O movimento de contração e expansão da faixa de produtores marginais é determinado pelo comportamento da demanda. Quando a taxa de absorção da demanda de determinado setor produtivo aumenta acima da capacidade de expansão das empresas líderes, os produtores marginais podem manter ou até elevar suas parcelas de mercado. Ressalve-se que este processo sempre volta à normalidade nos momentos de reversão da demanda.

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sua eliminação. Tal fato elevaria a concentração relativa do mercado – redução do número de participantes e incrementos na participação daqueles que permaneces-sem – e explicitaria que a existência de diferenciais de custo “em favor das empresas maiores permanece como característica permanente”, uma vez que os lucros são “explicados como um excedente originado por estes sistemáticos diferenciais de custo” (STEINDL, 1983). Entretanto, não podemos deixar de considerar que as estratégias de cooperação entre as pequenas empresas, já analisadas por Marshall no início do século XX, ao reconhecer o sucesso de aglomerações denominadas “distritos marshallianos”,31 utilizadas tanto para ganhar escala como para obter ca-pacidade de reserva, também podem lhes dar as vantagens indicadas por Steindl.

Resumindo as contribuições de Steindl destacaríamos, de início, suas ideias sobre as relações entre concorrência e acumulação de capital, por utilizar argu-mentos frutos da pressão competitiva resultante da acumulação interna da firma, opostos à teoria neoclássica; em seguida, a possibilidade de se formular uma “teo-ria alternativa da firma” como em Guimarães (1979) e Possas (1985), rompendo--se radicalmente com a ortodoxia neoclássica;32 e, por fim, a concorrência, que assumida como elemento fundamental da economia capitalista, impulsionaria este movimento que, ao materializar a acumulação de capital, conformaria e transformaria a estrutura dos mercados.33

Identificando “pontes” entre a Nova Sociologia Econômica e a Economia

Esperamos ter deixado evidente que existe internamente à Economia uma possibilidade de análise dos eventos econômicos tendo em mente as dimensões histórica, política e social. Sugerimos que a tentativa de diálogo entre esta “outra Economia” e a NSE deveria partir do estabelecimento de alguns elementos de proximidade que servissem como catalisadores da discussão. Nesta perspectiva, esta seção procura identificar alguns pontos que podem servir como pontes de entrelaçamento entre as duas ciências.

31Esta perspectiva com base na análise marshalliana foi o ponto de partida dos pesquisadores italianos, em suas análises sobre as experiências na chamada Terceira Itália.32Steindl traduz este movimento pela expressão “uma dinâmica do desequilíbrio”, uma vez que as margens de lucro determinam a composição estrutural do mercado e o excesso de capacidade atua como elemento resultante da estrutura de mercado e determinante das estratégias das firmas oligopolistas.33Ao encerrarmos este resgate histórico que procura mostrar uma alternativa crítica presente no âmbito da economia, queremos ressaltar que: (a) os economistas reunidos na vertente da Nova Economia Institucional também apresentam argumentos consistentes cuja origem encontra-se em Coase e nas análises de Willianson, sobretudo ao enfatizar os aspectos referentes aos custos de transação; (b) a NSE, sobretudo Granovetter, também ressalta elementos críticos a essa vertente.

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Em primeiro lugar, há uma estreita relação entre a confiança na qualidade do produto, reputação decorrente de aspectos simbólicos e acordos entre concor-rentes, destacados por Sraffa (1926) e a análise da formação de preços de produ-tos que guardam pouca, ou nenhuma relação com oferta, demanda ou mesmo custos. Entendendo a qualidade como um valor simbólico-cultural que reflete a diversidade de avaliações que relacionam os agentes econômicos a um produto, ela envolve dimensões individuais diversas tanto para consumidores quanto para produtores (KARPIK, 2007).

Para a NSE a dimensão qualitativa dos produtos advém do espaço das rela-ções sociais. O mercado de produtos singulares é distinto. Segundo Abramovay, a existência deste tipo de bens exige uma análise sociológica orientada aos mer-cados da qualidade. Nestes mercados, os produtos adquirem sua especificidade quando associados a avaliações multicritérios, logo, em muitos casos, envolvem pequena parcela de consumidores dispostos a pagar preços mais elevados uma vez que a ênfase se coloca nas qualidades e não nos preços. A característica principal dos bens e serviços singulares envolve julgamentos, muito mais do que decisões. Sendo assim, a operação desse tipo de mercado exige dispositivos que ajudem os indivíduos na formação de seu julgamento sobre o produto, uma vez que esse julgar envolve incerteza de nível superior àquelas existentes nos mercados de bens não singulares (ABRAMOVAY, 2007). Por consequência, envolvem, se-gundo Karpik, modalidades de construção da confiança, sobretudo a reunião de um conjunto de informações que reduza ao mínimo a incerteza sobre o erro de julgamento (CHALITA, 2008, p. 111).

Uma compreensão ampla das relações entre produtores e consumidores deveria reconhecer que, ao produzirem enraizamento ou fortes ligações produ-tor-usuário, podem envolver estratégias comportamentais visando a conquistar parcelas adicionais do mercado. Tais relacionamentos, tanto por diferenciação de produtos como por singularização envolvem a repetitividade, a confiança, a reputação de um aspecto simbólico como a “marca” ou qualquer outro tipo de “signo” e, principalmente, constitui-se em uma vantagem para as firmas estabe-lecidas ou primeiras “inovadoras” em relação àquelas desafiantes. Desta forma, o fundamental em qualquer um dos casos, tanto na forma “real”, isto é, reconheci-da qualidade ou na forma “imaginário/simbólica” através da construção de uma “marca” ou de uma “denominação de procedência”, ambas carregando consigo preferência, tradição, design etc. é que nos afastamos do equilíbrio do mercado ao definirmos o preço.

Outro elemento “ponte” neste trabalho é a existência de acordos entre con-correntes que funcionam como comportamentos estratégicos destinados a manter

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ou a ampliar o domínio/poder sobre determinado mercado, o que em outras pa-lavras significa manter ou conquistar posições superiores na estrutura de distribui-ção das posições específicas em determinado mercado, relativamente aos demais participantes, definidas pelo volume e a estrutura dos diversos capitais possuídos e determinantes daquele domínio ou poder (BOURDIEU, 2005, p. 24).

Na verdade, esta forma de relação entre os participantes procura evitar as tradicionais “guerras de preços” entre os agentes envolvidos cujas causas são evidentemente jogos em que todos perdem. Sendo assim, há que se reconhecer que a redução do grau de incerteza, sobretudo em mercados não convencionais, e a repetitividade das relações são fundamentais tanto aos economistas da Eco-nomia Industrial como deveriam ser aos sociólogos da NSE. Essa repetitividade pode fortalecer a ideia de que os contratos formais para reduzir o oportunismo dos agentes são desnecessários em função do aprendizado propiciado pela re-petição. Assim, tanto na Economia Industrial como na NSE, a repetição faz com que os agentes não só aprendam como confere historicidade aos processos competitivos, que socialmente se constituem visando a estratégias competiti-vas. Consequentemente, pode-se afirmar que tais relações se institucionalizam para o enfrentamento das incertezas.

A competição é entendida como “luta” entre concorrentes34 por fatias adi-cionais de mercado – fruto do poder de mercado estabelecido pelas firmas líde-res (STEINDL, 1983) ou da força de um agente em função de seus diferentes recursos propiciadores de vantagens na competição (BOURDIEU, 2005). Por isso, determina o comportamento de suas rivais, tanto aceitando sua liderança pelo reconhecimento de sua incapacidade em suplantar as firma líderes quanto por sua adesão a elas como firmas seguidoras. Assim, um último aspecto desta “outra economia”, também muito caro à NSE, sobretudo a Steiner, residiria neste reconhecimento, procedimento que não deixa de ser uma tradução da procura por estabilidade no processo concorrencial, ou seja, visa a comportamentos carac-terísticos de arranjos onde todos possuam a oportunidade de ganhar, ainda que sem excluir os conflitos internos.

34Ao afirmar que o campo econômico é um campo de forças, Bourdieu explica que a força (ou o poder de influenciar os agentes) depende, “mais precisamente, do volume e da estrutura do capital que ele possui”; no entanto, ele expande o entendimento deste campo afirmando que ele é “um campo de lutas destinadas a conservar ou a transformar o campo de forças” (BOURDIEU, 2005, pp. 24 e 33). Neste sentido, ele revela que a competição entre os agentes econômicos é uma disputa por oportunidades no espaço de opções do consumidor.

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Conclusão

Este resgate de elementos conceituais presentes na leitura crítica sobre o ne-oclassicismo e visando à “construção de um corpo teórico alternativo para a teoria do oligopólio” (POSSAS, 1985, p. 9), como outra forma analítica das relações de mercado, alheia aos “modelos limpos” e elegantes daquela teoria, não somente pretendeu deixar claro que as críticas à Economia imputadas pela Nova Socio-logia Econômica são, na verdade, dirigidas à Teoria Neoclássica, corrente ainda hegemônica como também dirigidas à Nova Economia Institucional que não foram analisadas aqui. Ao mesmo tempo, concordando com Bourdieu, buscou-se ressaltar que, para além do “homo economicus” e do “individualismo metodológi-co”, existe uma alternativa de análise crítica da economia “compatível com uma filosofia do agente, da ação, do tempo e do mundo social” e cujas conclusões, ainda que formalizadas de maneira distinta, e utilizando expressões diferentes, se aproximam ou diferem pouco da NSE.

Por fim, salientamos que autores da NSE, como Steiner (2006, p. 4), tam-bém reconhecem que certas teorias econômicas heterodoxas “vão ao encontro de alguns desenvolvimentos da sociologia econômica” o que poderia reforçar a convergência de conclusões entre as abordagens da Economia e da Nova Socio-logia Econômica, mesmo se considerando as especificidades “de estilo discursivo, de métodos de trabalho, e de fundamentos teóricos” como destaca Abramovay. Ressalte-se, neste sentido, a Teoria da Regulação e a Economia das Convenções.

Another Economy for New Economic Sociology

Abstract: This paper claims that the New Economic Sociology criticism on Eco-nomic is, indeed on neoclassicism. Therefore, an economy-sociology interlocu-tion should use “another” economy with rationalities related to values, affectivity, or tradition. This economics theory of dynamic character, focuses on marked structures, relates an oligopolic structure and competition in a dynamic view, as-sociates historicity, and uncertainty of the agent. Finally highlights some aspects of contact between that economy and the New Economic Sociology, compati-ble with a social word philosophy. This is an effort to bring the social sciences, working so that the Economy is again assumed as a historical science.

JEL: D43, L22, Z13

Key words: New economic sociology; institutions; market structure; market so-cial construction.

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Recebido para publicação em maio de 2012Aprovado para publicação em abril de 2013

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• Tabelas e ilustrações (gráficos, quadros e outras) devem ser remetidas apenas em preto (sem cores e sem tons de cinza); tabelas devem ser remetidas em formato Excel ou Word, e não como imagem “colada”.

• Tabelas devem seguir as Normas de Apresentação Tabular, do IBGE (1993). Ilustrações (gráficos, quadros e outras) devem obedecer ao que dispõe o item 5.6 da norma da ABNT NBR 10719:2009.

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• As equações matemáticas devem ser alinhadas à esquerda e numeradas sequencialmente à direita.

• Os trabalhos devem conter citações e referências bibliográficas comple-tas e precisas, conforme as normas da ABNT NBR 10520:2002 (Cita-ções) e NBR 6023:2002 (Referências). Nas citações, sugere-se que seja adotado o sistema autor-data (item 6.3 da NBR 10520:2002).

• Todos os trabalhos submetidos à Revista serão julgados pelos editores a partir dos pareceres fornecidos.

• Os originais apresentados serão considerados definitivos e, caso sejam aprovados para publicação, as provas só serão submetidas ao autor quando solicitadas previamente.

• A simples remessa de originais à Revista implica autorização do autor para a publicação dos mesmos. Não serão pagos direitos autorais.

• A Revista Econômica compromete-se a dar sempre uma resposta por carta aos autores. Em caso de aprovação, poderão ser sugeridas modifi-cações. Em caso de recusa, enviaremos ao autor os pareceres contrários. Os originais não serão devolvidos.

• Endereço para Correspondência: Endereço para Correspondência: Edito-rial da Revista Econômica: Pós Graduação de Economia da Faculdade de Economia - Campus do Gragoatá – Bloco F – São Domingos - Niterói – RJ – CEP 24210-350. E-mail: [email protected] – Tel: (21) 2629-9735

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V.14 N.1 JUNHO 2012

Dossiê: Teoria Econômica – um manifesto acadêmico

9 Por um Pensamento Econômico Heterodoxo Dominante: Um Manifesto AcadêmicoLuiz Carlos Bresser-Pereira

33 A Crise Americana e a Resposta da Teoria Econômica: há algo de novo no horizonte?Adriana Moreira Amado

41 Pluralismo, espaço hermenêutico e o método pragmático em Luiz Carlos Bresser-PereiraDanilo Araújo Fernandes / Paulo Gala / Bernardo Stuhlberger Wjuniski

Artigos

63 A “escassez de numerário” e a adoção do açúcar como moeda no Brasil colonialFernando Carlos Greenhalgh de Cerqueira Lima

73 Compra de votos: estimativas do efeito do gasto eleitoral nas eleições do DF em 2006Pedro Fernando Ferreira

93 As intricadas relações entre política fiscal e creditícia no Brasil Pós - 2008José Roberto R. Afonso

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V.13 N.2 DEZEMBRO 2011

Dossiê: Crise Econômica Internacional

9 A Grande Depressão e a Grande Recessão: Uma comparação das crises de 1929 e 2008 nos EUALuiz Carlos Delorme Prado

45 A Crise Americana e a Resposta da Teoria Econômica: há algo de novo no horizonte?Adriana Moreira Amado

57 O Pânico de 2008 e a Longa Recessão: Onde estamos e para onde vamos?Ernani Teixeira Torres Filho

Artigos

77 An alternative measure of Standard of Living: The Body Mass Index in ColombiaLuis Fernando Gamboa e Nohora Forero Ramírez

101 Compra de votos: estimativas do efeito do gasto eleitoral nas eleições do DF em 2006Pedro Fernando Ferreira

125 As intricadas relações entre política fiscal e creditícia no Brasil Pós - 2008José Roberto R. Afonso

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V.13 N.1 JUNHO 2011

Dossiê: Olhares sobre as Favelas

7 Ten ways to see a favela: Notes on the political economy of the new cityGary A. DymskiLuiz Carlos Delorme Prado

37 Favela como montagem: compreendendo a dinâmica e heterogeneidadeEmmanoel de Oliveira Boff

47 Favelas: as formas de ver definem as formas de intervirJailson de Souza e Silva

Artigos

73 Políticas Pork Barrel: Um estudo sobre o caso português do PIDDACPaulo Reis Mourao e Eurico José A. Cunha

94 A dívida pública como componente estrutural do sistema de créditoJosé Raimundo Trindade

126 Autorreferencia, Contágio e Flutuações EconômicasLuiz Antonio de Oliveira Lima

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V.12 N.2 DEZEMBRO 2010

Dossiê: Uma análise das transformações recentes no setor de transportes

9 IntroducciónPablo Martín e Aurora Ruiz Rua

15 Liberalización, efectos en los servicios ferroviarios: El caso del servicio de alta velocidad Madrid-BarcelonaAurora Ruiz Rua

43 Cielos abiertos Unión Europea – Estados Unidos: Una nueva era en la aviación mundialPablo Martín y Vicente Martín

71 La Movilidad Urbana em las ciudades españolas de nuestro tiempoLaura Crespo García y Alberto García Cortés

95 Planificación integrada frente al insostenible modelo de movilidad al Trabajo en la Comunidad de MadridJuan Ignacio Sanchez Gutiérrez

Artigos

127 O desenvolvimento socioeconômico no Nordeste e Sudeste de acordo com o tamanho das cidades - 1991 e 2000Cristiane Soares e Joanílio Rodolpho Teixeira

157 Política comercial brasileira: possíveis impactos de uma redução nas tarifas de importação dos setores automotivo e têxtilCatarina Carvalho Vianna e João Policarpo R. Lima

187 Determinantes macroeconômicas do número de viajantes estrangeiros ao Brasil e da receita por viajanteRoberto Meurer

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V.12 N.1 JUNHO 2010

Dossiê: A perspectiva feminista e os trabalhos sobre “Usos do Tempo”

9 IntroduçãoHildete Pereira de Melo

11 Pesquisas de uso do tempo no Brasil: contribuições para a formulação de políticas de conciliação entre trabalho, família e vida pessoal.Natália Fontoura / Luana Pinheiro / Marcelo Galiza / Márcia Vasconcelos

47 Importância e motivações do Estado Brasileiro para pesquisas de uso do tempo no campo de gênero.Lourdes Bandeira

64 Metodologias para o levantamento do uso do tempo na vida cotidiana no BrasilNeuma Aguiar

Artigo85 O papel do instituto da patente no desempenho da indústria farmacêutica

Samuel de Abreu Pessôa / Cláudio Monteiro Considera / Mário Ramos Ribeiro

125 Perspectivas para a indústria eletrônica brasileira: O caso da produção de bens de instrumentação e controle de processos para a cadeia do petróleo e gás natural.Victor Prochnik

155 O Aeroporto Internacional de Viracopos como fator de desenvolvimento para a região de Campinas e competitividade internacional para empresas.Josmar Cappa

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V.12 N.1 JUNHO 2010

Dossiê: A perspectiva feminista e os trabalhos sobre “Usos do Tempo”

9 IntroduçãoHildete Pereira de Melo

11 Pesquisas de uso do tempo no Brasil: contribuições para a formulação de políticas de conciliação entre trabalho, família e vida pessoal.Natália Fontoura / Luana Pinheiro / Marcelo Galiza / Márcia Vasconcelos

47 Importância e motivações do Estado Brasileiro para pesquisas de uso do tempo no campo de gênero.Lourdes Bandeira

64 Metodologias para o levantamento do uso do tempo na vida cotidiana no BrasilNeuma Aguiar

Artigo85 O papel do instituto da patente no desempenho da indústria farmacêutica

Samuel de Abreu Pessôa / Cláudio Monteiro Considera / Mário Ramos Ribeiro

125 Perspectivas para a indústria eletrônica brasileira: O caso da produção de bens de instrumentação e controle de processos para a cadeia do petróleo e gás natural.Victor Prochnik

155 O Aeroporto Internacional de Viracopos como fator de desenvolvimento para a região de Campinas e competitividade internacional para empresas.Josmar Cappa

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V.11 N.2 DEZEMBRO 2009

Dossiê: Crise financeira internacional: Erros e acertos dos economistas

9 IntroduçãoLucilene Morandi

15 Como os economistas puderam errar tanto?Paul Krugman

36 Como Paul Krugman pôde errar tanto?John H. Cochrane

51 Krugman e o mea culpa importante, mas insuficienteMaria de Lourdes Rollemberg Mollo

61 Por que os economistas erram, e continuam errando?Márcio Holland

Artigo79 Mercado de Trabalho e Previdência Social - um olhar feminista

Hildete Pereira de Melo / André Barbosa Oliveira

111 Política para o setor elétrico da União Européia: rumos contrários ao processo de integração econômicaAndré Luís da Silva Leite / Nivalde José de Castro

133 Limites ao desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro: Aspectos Estruturais de seu Processo de Industrialização no período recenteBruno Leonardo Barth Sobral

155 A interpretação schumpeteriana da revolução marginalistaCristiane Soares

Page 167: Revista economia v 14 n 2 2012

ReitorRoberto de Souza Salles

Vice-ReitorSidney Luiz de Matos Mello

Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação e InovaçãoAntonio Claudio Lucas da Nobrega

Direção da Faculdade de EconomiaAlberto Di Sabbato

Ruy Santacruz

Coordenação da Pós-Graduação em EconomiaAna Urraca Ruiz

REVISTA ECONÔMICA

Comité EditorialAlberto Di Sabbato

Ana Urraca RuizCarmem Feijó

Danielle Carusi MachadoEmmanoel de Oliveira Boff

Fabio Domingues WaltenbergMarcelo Dias Carcanholo

Editores AssociadosGary Dymski

Lionello Punzo

Editores ResponsáveisDanielle Carusi Machado

Emmanoel de Oliveira Boff

Universidade Federal Fluminense

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PRIMEIRA EDITORA NEUTRA EM CARBONO DO BRASILTítulo conferido pela OSCIP PRIMA (www.prima.org.br) após a implementação de um Programa Socioambiental com vistas à

ecoeficiência e ao plantio de árvores referentes à neutralização das emissões dos GEE´s – Gases do Efeito Estufa.

Este livro foi composto na fonte Adobe Garamond Pro, corpo 11. Impresso na Global Print Editora e Gráfica

Ltda., em papel cartão supremo 250g. (capa) e polen 80g. (miolo) produzido em harmonia com o meio ambiente.

Esta edição foi impressa em julho 2013.

www.editora.uff.br

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ECONÔMICA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E INOVAÇÃO DA UFF

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