revista dos bancários 29 - abr. 2013

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1 www.bancariospe.org.br DOS Bancários Revista Ano III - Nº 29 - Abril de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco Limpando a consciência Nova Lei das Domésticas combate a secular violação de direitos no país e ajuda a corrigir uma injustiça histórica, que remonta a época da escravidão

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abril de 2013

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1

www.bancariospe.org.br

DOS BancáriosRevista

Ano III - Nº 29 - Abril de 2013 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Limpando a consciênciaNova Lei das Domésticas combate a secular violação de direitos no país e ajuda a corrigir uma injustiça histórica, que remonta a época da escravidão

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2 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Opinião Editorial

>>É hora de começar a olhar as empregadas domésticas a partir do ponto de vista delas. E, quando ficar difícil pagar o que elas de fato merecem, que tal começar a falar sobre relações compartilhadas?

Enfim, a alforria...

DOS BancáriosRevista

Redação: Av. Manoel Borba, 564 - Boa Vista, Recife/PE - CEP 50070-00Fone: 3316.4233 / 3316.4221Correio eletrônico: [email protected]ítio na rede: www.bancariospe.org.br

Presidenta: Jaqueline MelloSecretária de Comunicação: Anabele SilvaJornalista responsável: Fábio Jammal MakhoulConselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Jaqueline Mello e João RufinoRedação: Fabiana Coelho, Fábio Jammal Makhoul e Sulamita EsteliamProjeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno LombardiFoto da capa: E.D. Plug/SXC.huImpressão: NGE GráficaTiragem: 11.000 exemplares

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Índice

Lei das Doméstica

Entrevista: Urariano Mota

A Venezuela depois de Chávez

Bancários em campanha permanente

Dicas de lazer e cultura

Bancário artista

Conheça Pernambuco

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Nossa herança escravocrata nunca falou tão alto quanto nestes últimos dias, depois da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional das Domésticas. A nova legislação, com imenso atraso, reconhece a estes trabalhadores os mesmo direitos que os demais. Nada mais justo. Afinal, varrer, lavar, cozinhar, cuidar de crian-ça, limpar... tudo isso é trabalho duro. Mas, nos grandes meios de comunicação e nas conversas à boca miúda, o assunto foi tratado como um bicho de sete cabeças, que levaria à falência as famílias de classe média ou geraria

demissões em massa.Argumento semelhante foi

usado nos tempos da abolição pelos defensores do trabalho escravo: “os pobres negros, libertos, não teriam onde mo-rar, nem como se alimentar. A escravidão era, em verdade, quem provia estas pobres criaturas e mantê-la era uma questão de humanidade”. A mesma justificativa vale também para quem defende o trabalho infantil, que “dig-

nifica a alma, formando bons cidadãos”.E os comentários em resposta à nova lei revelam esta

cultura, herdada da escravidão: “Não é certo burocratizar uma relação, que é afetiva...”; “Ela mora conosco e não contribui com a despesa. É a casa dela também...”; “É como se fosse da família...”; “Não somos empresa, com fins lucrativos...”.

Pergunta-se: se a relação é afetiva, não seria natural que quiséssemos ver feliz a pessoa de quem gostamos? Não seria natural que ela pudesse dispor de tempo para estudar, descansar, cuidar de seus próprios filhos, se divertir? Não é isso o que queremos para alguém que é de nossa família? E mais: uma empresa pública, sem fins lucrativos, acaso deixa de pagar seus funcionários?

É hora de começar a olhar as empregadas domésticas a partir do ponto de vista delas. Afinal, elas não são uma extensão de suas patroas ou patrões. E, quando ficar difícil pagar o que elas de fato merecem, que tal começar a falar sobre relações compartilhadas? Ou exigir políticas públicas – creches, lavanderias ou re-feitórios – ao invés de clamar contra a atrasada alforria das empregadas domésticas.

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Capa Trabalho

No dia 27 de abril, Dia Nacional das Trabalhadoras Domésti-cas, Eunice, Miriam e mais de sete milhões de pessoas,

sobretudo mulheres, terão motivos para comemorar. Desde o último dia 2, elas deixaram de estar à margem do mundo do trabalho e passaram a ter os mesmos di-reitos assegurados a qualquer trabalhador.

Nos grandes meios de comunicação, as mudanças foram tratadas, como de costume, a partir da ótica do emprega-dor. Também nas conversas à boca mi-úda, reproduzia-se o discurso da mídia: lamentava-se as dificuldades geradas para a classe média e propagava-se a tese do risco de desemprego.

Mas para Eunice do Monte, diretora administrativa do Sindicato das Trabalha-doras Domésticas do Recife, este discurso já não incomoda. Ela faz parte da catego-ria há mais de 30 anos e já viu o mesmo papo ser repetido a cada avanço. “Depois da Constituição de 88, disseram a mesma coisa... A gente sabe que, no começo, vai haver algumas dificuldades. Mas depois, tudo se ajusta”, opina.

Doméstica, com muito orgulho

Nova legislação sobre trabalho doméstico corrige injustiça histórica e valoriza a profissão

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SEMiESCrAViDãoEunice começou a trabalhar com ape-

nas 12 anos de idade. Moradora de Casa Amarela, foi forçada a pegar no batente depois que o pai perdeu a vista e, conse-quentemente, o ganha-pão. Ela e a irmã mais velha tiveram de abandonar a escola e foram, cada qual, para uma residência. Não tinham direito a nada, sequer a salá-rio. Mas eram duas bocas a menos para alimentar. “Eu era uma menina. Lavava os pratos trepada num tamborete. Era uma criança tomando conta de outras... às ve-zes elas me batiam, gritavam comigo e eu não podia fazer nada. À noite, chorava so-zinha”, lembra a trabalhadora.

Com o tempo, Eunice foi “se acostumando” e as coisas melhoraram um pouco. “Mas ainda passei por umas três ou quatro casas sem direito nenhum”, lembra. Um dia, enquanto conversava com uma colega, que trabalhava na vizi-nhança, recebeu o convite para ingressar no Movimento da Juventude Operária Católica. Passou a ir a todas as reuniões e se afeiçoou à militância.

Tempos depois, o convite chegaria pelo rádio, em um anúncio do sindicato dos trabalhadores domésticos, que dizia: “Doméstica, você não está só!”. Ela procurou sua entidade de classe e nunca mais saiu. “Na época, era ainda uma associação. Brigamos muito para sermos reconhecidos como sindicato”, conta Eunice, que também já foi presi-denta da entidade.

A conquista só viria com a Constituição de 88, junto com outras: o salário mínimo como piso; 13º salário; folga remunerada de pelo menos um dia por semana; férias de 30 dias; licença gestante; aviso prévio proporcional e aposentadoria.

DE ConqUiSTA EM ConqUiSTA No século XXI, viriam novos avan-

ços: em 2001, a Lei 10.208 facultou o

acesso ao Fundo de Garantia por Tempo de Servi-ço (FGTS). No entanto, definido como opcional, o direito ficou restrito a uma quantidade mui-to limitada de trabalhadores.

Em 2006, a Lei 11.324 permitiu a dedução, no Imposto de Renda das pessoas físicas, das contribuições previdenciárias do empregador doméstico, o que estimula a formalização dos contratos de trabalho. Também incorporou direitos como esta-bilidade para gestante, direito a feriados e proibição de descontos com moradia, alimentação ou produtos de higiene usa-dos no local de trabalho.

Depois disso, foram mais sete anos para os trabalhadores domésticos dei-xarem de ser uma exceção à legislação trabalhista e conquistarem os mesmos direitos que qualquer outro. “Parece um sonho! Todo ano, no dia 27, a gente estava com faixas na mão, brigando, pressionan-do... Este ano, estaremos comemorando”, comenta Eunice.

Ela sabe, no entanto, que as leis não bastam. No Recife, por exemplo, somadas as diaristas e as mensalistas sem carteira assinada, o nível de informalidade no

Capa Trabalho

>>“Parece um sonho! Todo ano, no dia 27 de abril (Dia das Trabalhadoras Domésticas), a gente estava brigando, pressionando... Este ano, estaremos comemorando”

EUNICE DO MONTE

ARquiVo PESSoAL

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setor era de quase 70% em 2011, quando já vigoravam as leis de estímulo à forma-lização dos contratos.

“O Sindicato recebe aqui muita gente que é humilhada e até apanha. Mas se vamos à Delegacia, não temos como provar, pois não há testemunhas. Tem gente que leva comida de casa para o trabalho, porque os patrões descontam; gente que é demitida quando fica doente; gente que é colocada pra fora e não recebe nem o salário do mês trabalhado... Mas, também tem patrão bom. E alguns nos procuram aqui porque querem fazer tudo direitinho”, conta Eunice.

TUDo LEgALMiriam da Silva é uma das que já tem

boa parte dos direitos assegurados. Mora-dora de Aldeia, Camaragibe, ela trabalha em uma residência perto de Paudalho. Tem carteira assinada, não faz hora extra,

folga aos domingos. “Tudo eles fazem dentro da Lei. Descontam o transporte e a previdência. Não dão nem a mais, nem a menos”, diz a trabalhadora.

No ano passado, Miriam precisou ficar 30 dias afastada por conta de uma cirurgia. Não tivesse a carteira assinada e a previdência paga, teria que depender da boa vontade dos patrões para receber o salário no tempo de afastamento. Em boa parte dos casos, o trabalhador fica sem remuneração durante este período. Ou, pior, é substituído.

Para os patrões de Miriam, pouca coisa vai mudar com a nova legislação. De novidade para eles, somente o FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Servi-ço). Mas, para ela, esta é uma novidade que faz muita diferença. “É bom a gente saber que, se for demitida, não vai sair com uma mão na frente e outra atrás... E também que vai poder recorrer ao seguro

desemprego”, afirma Miriam.Alguns pontos da Emenda Constitu-

cional já passam a vigorar de imediato, a exemplo da jornada de 44 horas. Outros, no entanto, precisam ser regulamentados. É o caso do pagamento do seguro desem-prego e demissão por justa causa. Uma comissão já foi constituída pelo Governo Federal e deve apresentar a proposta de regulamentação em 90 dias. Outro ponto que suscita dúvidas, inclusive para o Sindicato das Trabalhadoras Domésti-cas, é quanto às pessoas que dormem no trabalho. “Acredito que deve ser exigido um acordo entre as partes, mas ainda não sei ao certo...”, confessa Eunice.

ALéM DAS LEiSO fato é que, nos últimos anos, a catego-

ria tem sofrido mudanças e nem todas por conta das leis. As estatísticas mostram, por exemplo, que embora

Capa Trabalho

DoMéSTiCAS CoMEMorAM A AProVAção DA noVA LEgiSLAção no CongrESSo nACionAL

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o número de trabalhadoras domésticas tenha aumentado entre 2001 e 2011, a proporção de pessoas que ocupam este setor diminuiu. No Recife, por exemplo, elas passaram de 107 mil para 129 mil pessoas. Mas, se antes constituíam 9,1% do total de trabalhadores, passaram a constituir apenas 8%.

Para o Dieese (Departamento Intersin-dical de Estatísticas e Estudos Socioe-conômicos), o crescimento econômico trouxe novas oportunidades de inserção. A redução na proporção de trabalhadores domésticos guarda relação com esse processo na medida em que incentiva o deslocamento de trabalhadores para ou-tras ocupações, menos vulneráveis. Essa afirmação é corroborada pelo fato de que as regiões com menor índice de desempre-go registram também as menores parcelas de trabalhadores domésticos.

De acordo com o Dieese, diminuiu também a proporção de trabalhadores que moravam na casa do empregador e o número de crianças e jovens no setor; e praticamente duplicou o percentual de empregadas domésticas com ensino médio completo. No entanto, as jornadas continuam imensas. Em Recife, por exem-plo, as jornadas das mensalistas alcança-ram 58 horas semanais em 2011: quase dez horas por dia. E o grau de instrução ainda é baixo: na maior parte das regiões analisadas pelo Dieese, mais da metade era analfabeta ou não tinha concluído o ensino fundamental.

DiViSão SExUAL Do TrABALho

Por outro lado, há algo que não muda no perfil do trabalhador doméstico brasileiro: mais de 90% da categoria, em todas as regiões do país, é formada por mulheres. E a maioria delas é negra. Mantém-se, desta forma, a tradicional divisão de papéis, que delega às mulheres o espaço privado, do lar e da família, e aos homens o espaço público. “As alte-rações ocorridas no mundo do trabalho

não levaram a mudanças significativas na divisão sexual do trabalho”, avalia a pesquisadora Maria Betânia Ávila, do SOS Corpo.

Com isso, cria-se uma rede de substi-tuições, em que cada mulher trabalhadora recorre a uma outra, que a substitua em casa. Miriam e Eunice sempre puderam contar com a ajuda da família para criar

seus filhos. Já Jacilene Mariano precisa recorrer a uma outra pessoa, da vizinhan-ça, a quem paga um pequeno valor para que cuide de seu bebê. “Minha mãe já toma conta dos filhos de minha irmã e do meu menino mais velho. Não consegue dar conta de um bebê. Como não tem creche, a gente tem que se virar como pode”, explica.

Capa Trabalho

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Escrever “é falar a verdade, é o desvendamento do real. É ter olhos para ver, sensibilidade para imitar”. Para o jornalista e

escritor pernambucano, Urariano Mota, que também é bancário aposentado do Banco do Brasil, a Literatura vem pela memória do sentimento. Para ele, assim como é uma falácia a dita imparcialidade do jornalismo, definir ficção como fruto da imaginação é equívoco e pose. “A fic-ção é o desvendamento do real”, ensina.

Urariano escreve sobre o que viu e vi-venciou. Escreve sobre os resistentes, os solitários, os deserdados. É um militante social e político, com memória dos anos de chumbo inscrita na alma. Parte da ex-periência de menino e adolescente pobre e órfão “criado no beco” no Bairro de Água Fria. Sua literatura é enfática e intensa,

como ele próprio. Está no terceiro livro, a ser lançado em 8 de maio próximo, pela Bertand Russel, Rio de Janeiro: O Filho Deserdado de Deus. Conto inspirado na obra Mulheres como uma certa Maria, foi selecionado no Festival Internacional de Direitos Humanos, ano passado e integrou a mostra itinerante por 19 cidades latino-americanas.

Na verdade, o novo livro é o quarto criado pelo escritor, que se dá ao luxo de renegar o primeiro, Arremedo de Voo, porque “foi mal escrito”; ainda assim, colheu menção honrosa no concurso literário da União Brasileira de Escritores, no início dos anos 70. Dentre os filhos, digamos, reconhecidos, Os Corações Futuristas, sobre a resistência à ditadura de 64 no Recife, foi edição independente, e pequena. Já o seguinte, Soledad no Recife, também sobre os anos de chumbo, ganhou editora consagrada, a Boitempo Editorial, e projetou o nome do pernambucano para o Brasil e o mundo.

O livro foi tema de discussão no seminário sobre Literatura Brasileira na Universidade de Bolonha, na Espanha, ano passado. Para este mês de abril, Urariano participa de debate em seminário sobre Direitos Humanos, dia 1º, no Centro de Educação da UFPE. E na noite do dia 3, autor e obra são os convidados do Projeto História de Pernambuco em Debate pelos Trabalhadores, no Sindicato dos Bancários.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Você está com mais um livro no prelo, que deve ser lançado em breve. O cenário, mais uma vez é o Recife, e os personagens, gente do povo. Qual é o argumento, desta vez?

Literatura para desvendar o realO escritor pernambucano lança seu terceiro livro, que trata do Recife dividido, do preconceito de classe, do racismo e da opressão sobre a mulher

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Entrevista Urariano MotaEntrevista Urariano MotaMA

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Entrevista Urariano Mota

URARIANO MOTA – É mais um ro-mance. O lançamento está previsto para 8 de maio, desta vez pela Bertrand Russel. A intenção é desmontar a farsa dos maridos que se mostram chorosos e sofridos com a morte da mulher, quando na verdade se sentem libertos e, não raro, tentam se lo-cupletar. Ainda outro dia, assistindo a um programa de TV, vi uma história dessas: o homem estrangulou a mulher, mostrou desespero durante o velório e o enterro, e queria mesmo era ficar com a pensão dela, coisa de dois mil reais por mês... Ocorre que a literatura costuma tratar da falsa viúva, nunca do falso viúvo. Re-solvi assumir essa tarefa. Esse romance, O Filho Renegado de Deus, é a história da violentação do povo. Antigamente, a mulher era violentada, barbarizada, cotidianamente, mas isso era “natural”. Mulheres morriam de parto, feito formiga. O pobre não tinha direito à dor. Pobre com dor era frescura. Mulher, a esposa e mãe dos filhos, era doação total e absoluta. A amante é que era a dona do pedaço, era a mulher formosa, atraente, sexy, charmosa. Esse tipo de mulher era considerada puta, e normalmente as amantes eram putas, e estas eram mais valorizadas do que a dona do lar, porque as mulheres casadas eram essencialmente domésticas.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Mas você não acha que mesmo com a que-bra dos tabus sexuais, que devemos às feministas, a imagem que prevalece da mulher, hoje, na mídia, pelo menos, é essa: a de objeto sexual?

URARIANO MOTA – Claro que é a imagem que prevalece, ainda. A diferença é que hoje a gente fala sobre isso. É a mesma coisa com o negro, com os pobres e os miseráveis. O racismo está aí, pouco dissimulado. O preconceito de classe não acabou, mas a gente pode apontá-los, discuti-los, falar sobre eles. Lembro, ago-ra do comercial da Caixa, comemorativo dos 200 anos: pegaram uma imagem do Machado de Assis branco. Ora, Machado

de Assis era mulato. A coisa repercutiu tão mal que a Caixa pediu desculpas e mudou o anúncio. Aliás, a tendência dos negros, à medida em que ficam famosos é serem branqueados... Aconteceu também com o autor de O Guarani, o Carlos Gomes, ficou branco depois que fez sucesso no exterior.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Em Os Corações Futuristas, seu primeiro livro, e em Soledad no Recife, o se-gundo, você narra fatos da resistência à ditadura de 64, que permeou a sua adolescência e juventude, e agora?

URARIANO MOTA – O Filho Re-negado de Deus é memória anterior a 64. Como eu já passei dos 60, é mais funda, remonta à minha infância. E nada é tão forte como a memória da infância. Na infância você sente a dor, mas não tem consciência da dor da diferença de classe, do racismo, da discriminação da mulher. Na nossa infância, a gente sofria com isso, vivia com isso, mas não tinha consciência. Manuel Bandeira escreveu, em Itinerário de Pasárgada: “Quando comparo esses quatro anos de minha meninice a quaisquer outros quatro anos de minha vida de adulto, fico espantado do vazio destes últimos em cotejo com a densidade daquela quadra distante”.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – E quando você descobriu que queria ser escritor?

URARIANO MOTA – Quando na es-cola se tinha o bom costume de ler em voz alta. Eu lia com interpretação, e fui elo-giado pela professora. Porque, na infância de escritores, sempre há um facilitador. Eu não tive. Mesmo Graciliano Ramos, que cresceu no sertão das Alagoas, teve oportunidades que eu nunca tive. No livro autobiográfico Infância, ele conta que, embora pobre, teve acesso à Literatura, através de um tabelião que lhe emprestava livros de sua biblioteca pessoal. Venho de uma época e de um meio onde se dizia que

FoToS: BETo oLiVEiRA

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“quem lê muito fica doido” e “quem gosta de poesia é frango (fresco).

REVISTA DOS BANCÁRIOS – E então você começou a escrever...

URARIANO MOTA – A primeira tentativa foi também minha maior frus-tração. Ainda na adolescência, escrevi um humorístico em homenagem à professora. Quando terminei a leitura, ela estava cho-rando... Era para rir, pô! Mas o fracasso, muitas vezes, é mais importante que a vitória. A vitória simplifica. O fracasso te obriga a refletir. Um pouco mais tarde, escrevi um conto para a revista Escrita, ficção de humor: narrei a experiência de uma noite, a primeira, na Baiana, o maior puteiro do Recife; a prostituta me ensinou, exatamente, onde era o lugar. Eu achava que era, imediatamente, abaixo do umbi-go...” (risos) Desta vez, consegui. Outros vieram. A Literatura é a minha vida, e foi responsável, inclusive, pelo fim do meu primeiro casamento. Só tinha a noite para escrever e, um dia, ela acordou e reclamou do barulho das teclas da minha Reming-thon, que não a deixavam dormir. Então, eu disse: para mim, deu.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Sua literatura foca experiências do real, há também uma preocupação com a História. A realidade é mais rica do que a imaginação?

URARIANO MOTA – Não é bem uma preocupação com a História. É mais com a memória. Como eu já passei dos 60, é História - o que marcou a minha geração. Escrevo o que eu vivi e sobre o que eu vi. Com Cruz e Souza aprendi que não era escrever, era para escrever para falar a verdade. É a astúcia do real, como dizia Lenin. A ficção é tratada como se fosse aquela que brota da imaginação. Pois eu digo que a ficção é o desvendamento do real. Você tem razão, nada é mais rico do que a realidade. Tem caras que posam de monumento. Eu seria incapaz de escrever um romance sobre os séculos XVIII e

XIX. Minha imaginação é curta.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Di-zem que o jornalista é um escritor frus-trado. Ou seria o contrário, o escritor é um jornalista que não deu certo. O que é para você?

URARIANO MOTA – Você propõe um dilema complicado. Prefiro sair pela terceira via. Eu sempre quis ser escritor. O Jornalismo foi o mais próximo que eu consegui chegar, dentro da minha realidade da época. Agora, todo jorna-lista é escritor, quando tem intimidade com a Literatura. Euclides da Cunha foi a Queimados fazer uma reportagem, e escreveu Os Sertões, um grande livro. O Jornalismo Literário, aliás, não é uma escola restrita aos Estados Unidos, não é só Truman Capote. Nós também temos exemplos notórios: Machado de Assis, quando escrevia suas crônicas políticas para publicar nos jornais do século XIX, fazia Literatura. Já no século XX tem An-tônio Maria, Rubem Braga, Drummond e tantos outros.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – Vol-temos ao seu novo livro e ao preconcei-to. O personagem central é um homem negro, poliglota, que foi expulso do res-taurante Leite, mesmo sendo convidado de um bacana estrangeiro...

URARIANO MOTA – É, o persona-gem é discriminado, mas também oprime a mulher e os filhos. Essa história de bom e ruim, bem e mal, só existe em folhetins. Ninguém é de todo ruim nem é imaculado. A natureza do ser humano é múltipla e contraditória. O nosso personagem fala três idiomas. É neto de escrava, mas só gosta de puta loira. É semianalfabeto formal, mas fala inglês como ninguém, e também domina o francês. Seu prazer está no embate com os doutores, que não dominam os idiomas como ele. É a sua vingança. É orgulhoso do posto que conquistou, mas profundamente opressor, o filho renegado de Deus.

Entrevista Urariano Mota

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Entrevista Ana Veloso

A Venezuela sem ChávezEleições definem novo presidente no dia 14 e misturam luto com luta pela manutenção do governo bolivariano

A Venezuela vai às urnas em 14 de abril para escolher seu novo pre-sidente, após a “perda física” do seu comandante, Hugo Chávez,

morto em 5 de março. Honrar o legado do líder da revolução bolivariana é o que move os chavistas, que detêm o candidato favo-rito nas pesquisas. O presidente nomeado interino, Nicolás Maduro (PSUV) – o vice que se tornou herdeiro político designado por Chávez ainda em vida – tem de 14 a 18 pontos de vantagem sobre o opositor Ca-priles Radonski, do PJ (Primero Justicia), mostram as últimas medições.

O início oficial da campanha eleitoral, se deu no dia 2 de abril. Contudo, nas ruas, na mídia e no cotidiano dos vene-zuelanos, respira-se política, muito antes do calendário oficial entrar em vigor. Do lado chavista, a preparação para a batalha democrática inclui a renovação do com-promisso massivo do chamado “núcleo duro” do chavismo, através do Juramento das Unidades de Batalha, que coloriram de vermelho os ginásios de basquete de

três cidades do oriente venezuelano, na última semana de março. Militares empenhados na tarefa “Um por Dez”: cada militante deve conseguir 10 votos. A meta do Partido Socialista Unido da Venezuela é crescer dos cerca de 8 milhões de votos, conquistados nas presidenciais de 2012 (55,25%), para 10 milhões em 2013, informa Carta Maior.

Evidentemente, não faltam provocações de parte a parte, como em todo embate eleitoral. Particularmente da oposição, que se esforça para apropriar-se das políticas e da simbologia chavista, embora, contraditoriamente, não as reconheça. Capriles, que foi derrotado por Chávez nas eleições de outubro do ano passado, tenta desqualificar o candidato do PSUV por sua origem humilde de motorista de ônibus, o acusa de usar a imagem do presidente morto, e empenha-se em grudar-lhe a máxima de que “Maduro não é Chávez”, dentre outras coisas. Para o candidato oposicionista, a disputa eleitoral “é o embate do bem contra o mal”, e é claro, ele, Capriles encarna o bem.

O preconceito de sempre, permeando as velhas práticas das elites. Matéria da Revista Fórum, a partir de perfil publicado pelo La Jornada, explica quem é Nicolás Maduro: “Faz parte da nova geração de líderes latino-americanos que, como o metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva ou o cocaleiro Evo Morales, entrou para a política a partir das trin-cheiras das lutas sociais de oposição.” Sob a aparência do homem robusto de 1,90m, com bigode negro e espesso, está um revolucionário socialista que migrou de uma formação ortodoxa para se unir ao heterodoxo furacão da revolução bolivariana.

É um homem de esquerda, que traz a política no sangue: seu pai fundou o partido socialdemocrata Accion Democrática (AD). Durante mais de sete anos, dirigiu ônibus pelas ruas de Caracas – e o faz, agora, para mobilizar-se na campanha presidencial –, foi chanceler outros seis anos e tornou-se colaborador fiel de Hugo Chávez, a ponto de tornar-se seu herdeiro.

Observadores avaliam, por outro lado, que a humanização da política e a vinculação

A hUMAnizAção DA PoLíTiCA E A VinCULAção AoSSEnTiMEnToS PoPULArES nESTAS ELEiçõES AnTECiPADAS PELo LUTo ABrEM UMA DiSTânCiA qUE PArECEinSUPEráVEL PArA A oPoSição

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Política internacional

A Venezuela sem Chávezaos sentimentos populares nestas eleições antecipadas pelo luto abrem uma distância que parece insuperável pelos adversários do “filho de Chávez”. A despeito das manobras de marketing de Capriles, o favoritismo de Maduro é avassalador. No coração e na mente do povo, é preciso fazer prevalecer a independência, a sobe-rania e a pátria socialista. “Chávez vive, la lucha sigue”, é o bordão da campanha situacionista.

Fato é que, após 14 anos de combate agressivo e de derrotas sucessivas para o chavismo, os opositores já não ousam questionar em público a figura de Chávez, e tentam fazer valer o discurso da continui-dade de políticas sociais, por exemplo. Até batizaram seu comando de campanha como Símon Bolivar, e ameaçaram lançá-la na cidade natal do ex-presidente, Barinas, na mesma data e lugar do comício inaugural de Maduro. Recuaram diante da acusação do candidato chavista de que a oposição buscava o conflito. Nicolás Maduro alertou seus seguidores para não caírem

na “provocação que visa desestabilizar a democracia do país”.

A identidade do “eleito” por Chávez para sucedê-lo com a causa bolivariana parece assegurar vitória nas eleições presidenciais com relativa facilidade. O grande desafio, porém, segundo analistas da política inter-nacional, é assegurar a estabilidade política no longo prazo.

Para Eric Nepomuceno, articulista de Carta Maior, por exemplo, “Nicolás Ma-duro tem pela frente o árduo desafio de consolidar sua liderança no imenso vazio deixado pelo presidente morto. Para isso, terá de buscar novos equilíbrios, conquistar lealdades, procurar um consenso delicado, não apenas junto a seus pares, mas também junto à população deixada órfã”. Mais: “Fazer tudo isso num país radicalmente polarizado, com profundos problemas de violência urbana, no abastecimento, na economia”.

Nepomuceno lembra que não se pode esquecer que Capriles enfrentou Chávez, em outubro passado, e saiu das urnas com quase 45% dos votos. Significa que, à época, havia uma expressiva parcela da população disposta a buscar nas urnas uma alternativa ao governo. Parece óbvio que Nicolás Maduro não detenha o carisma de Hugo Chávez. Entretanto, a um mês da morte do líder, revela-se promissor que Maduro, aparentemente, tenha obtido o apoio decidido das múltiplas correntes que integram o chavismo, tanto políticas como militares. Da mesma forma que mantém o elo com os movimentos populares.

Não obstante a conscientização das mas-sas, via programas sociais, a sociedade ve-nezuelana está fraturada, também por isso. Lá, como no Brasil, as elites não aceitam repartir o bolo com as camadas populares. E se tentaram o golpe contra Chávez, não tentariam sem ele? >>

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Política internacional

Quem cruzar com Néstor Chiri-nos em qualquer local público, não imagina que está diante do consul da República Bolivaria-

na da Venezuela no Nordeste. A juventude expressa nos traços latinos, entretanto, não expõe o nível de preparo do cientista políti-co, formado pela Universidade Central da Venezuela, e que chefia o Consulado, com sede no Recife, desde janeiro deste ano, mas onde trabalha há cerca de cinco anos. A Revista dos Bancários conversou com Chirinos sobre o processo eleitoral vene-zuelano e as perspectivas políticas, sociais e econômicas da Venezuela sem Chávez.

REVISTA DOS BANCÁRIOS – É uma característica da Revolução Bo-livariana colocar jovens em cargos políticos importantes?

NÉSTOR CHIRINOS – Há vários jovens em cargos de direção no Governo do comandante Hugo Chávez, inclusive ministros de Estado. Sou de 1983, um ano marcante. Minha geração nasceu e cresceu em meio à crise. Vimos como o sistema era corrupto e de exclusão das massas, a despeito da riqueza petrolífera. E as práticas políticas perpetuavam a de-sigualdade social e mantinham a riqueza

nas mãos da oligarquia.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Chávez chega para colocar essa parcela que ficou excluída, inclusive no poder...?

NÉSTOR CHIRINOS – Sim, Chávez é eleito em 1998 e, a partir de 1999, tudo muda. Criou-se ministérios para assegurar a participação popular, como por exemplo, o Minis-tério dos Povos Indígenas; as missões bolivarianas, para combater a miséria, o analfabe-tismo, a mortalidade infantil. A melhoria dos indicadores sociais é evidente. Em 14 anos os investimentos sociais somam 500 bilhões de dólares – na saúde, educação, moradia, transporte público, cultura... A educação básica, que no Brasil se chama fundamental, foi universalizada, assim como a educação técnica; acabamos com o analfabetismo.

REVISTA DOS BANCÁRIOS - Nas eleições de outubro do ano passado, a opo-sição, representada por Capriles, obteve cerca de 45% dos votos, e foi contra Hugo Chávez. Para alguns observadores, significa que a sociedade venezuelana mantém--se fraturada. Agora, Capriles enfrenta Nicolás Maduro. O chavismo resistirá?

NÉSTOR CHIRINOS – O Projeto Bolivariano se institucionalizou, não é de um grupo político. Nas eleições presidenciais de outubro tivemos 55% dos votos. Lá o voto é opcional. Você deve ter acompanhado: o sepultamento de Chávez levou milhares de pessoas às ruas para acompanhar o líder que se foi. O funeral teve a presença de chefes de Estado de todo o mundo. O reconhecimento da liderança do Comandante Chávez não se restringe à Venezuela...

REVISTA DOS BANCÁRIOS – O próprio Capriles tenta se apropriar das políticas e dos símbolos do chavismo...

NÉSTOR CHIRINOS – Sim, na verdade age para confundir. Antes, se perguntava às pessoas o que seria da Venezuela sem Chávez. Hoje já se sabe que o projeto boliva-riano está institucionalizado. A atitude da oposição é uma mostra disso. Obviamente que as classes econômicas altas não gostam da palavra redistribuição, por que ela vai contra o status quo a que se acostumaram anos a fio...

‘O Projeto Bolivarianoé do povo’Consul da Venezuela no Nordeste brasileiro fala sobre o processo eleitoral e as perspectivas do país sem Hugo Chávez

ChirinoS, DUrAnTE A fESTA Do MêS DA MULhEr no SinDiCATo

iVALDo BEzERRA

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Organização Sindicato

A Campanha Nacional dos Ban-cários só começa pra valer no segundo semestre. Mas durante o ano inteiro, a cate-

goria está na luta por melhores salários e condições de trabalho.

No final do mês passado, por exemplo, o Sindicato e a Fenaban retomaram as negociações das mesas temáticas, que discutem as reivindicações de saúde, segurança, terceirização e igualdade de oportunidades.

“Conseguimos alguns avanços im-portantes nesta primeira rodada de ne-gociações do ano. O objetivo é chegar na Campanha Nacional com algumas questões consolidadas e prontas para entrar na nossa Convenção Coletiva. São reivindicações complexas que não podem ficar restritas às negociações da Campanha”, explica a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello.

Além das negociações temáticas, os bancários deram início, agora em abril, aos encontros nacionais segmentados por empresas. Os dois primeiros reuniram os funcionários do Itaú e do Bradesco. Em maio é a vez dos congressos dos bancários do Banco do Brasil e da Cai-xa. Os demais trabalhadores ainda estão agendando os seus encontros.

“O objetivo destes encontros é definir a pauta de reivindicações específicas dos funcionários de cada banco para negociarmos permanentemente com as empresas”, detalha Jaqueline.

Como se vê, a luta dos bancários não se restringe ao período da Campanha

Na luta, sempre!Luta dos bancários não se restringe ao período da Campanha Nacional. Nos últimos dias, os trabalhadores deram início às negociações temáticas e começaram a realizar congressos específicos por empresa para definir as reivindicações

Nacional. “Agora mesmo estamos na batalha contra o novo plano de funções comis-sionadas do Banco do Brasil, que é prejudicial aos bancários. Se o BB não atender nossas reivindicações, não descartamos uma possível greve nacional nos próximos meses. Aliás, foi a nossa mobilização que garantiu que os próprios bancários do BB não fossem prejudicados financeiramente com a reestruturação da empresa”, afirma Jaqueline.

Confira no site do Sindicato (www.bancariospe.org.br) as últimas notícias da luta da categoria. Converse com seus colegas e engrosse a mobilização. “Só assim, com pressão e luta, vamos conseguir ampliar os nossos direitos, garantir melhores condi-ções de trabalho e, enfim, mais qualidade de vida”, finaliza Jaqueline.

LuMEn FoToS

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Cultura e lazer Dicas

ESPORTES

Sindicato promove Corrida dos Bancários no dia 4 de maio

Dias 20 e 21 de abril, o Clube de Campo dos Bancários, em Aldeia, se enche de atletas, que participam do II Jogos do Sindicato. Vai haver disputa de natação, vôlei de areia, tênis de mesa, xadrez, sinuca, dominó, canastra e atletismo, com corrida rústica e de velocidade. As disputas serão abertas, também, aos dependentes dos bancários sindicalizados, diretores e funcionários do Sindicato. Os atletas, principalmente os do interior, terão prioridade na ocupação dos chalés. Inscrições pelo www.bancariospe.org.br.

Abril Pro rockNos dias 19 e 20, mais um Abril pro

Rock toma conta do Chevrolet Hall. O pri-meiro dia traz atrações como: Móveis Colo-niais de Acaju, Television e Marcelo Jeneci. No segundo dia, de rock mais pesado, grupos como Dead Kennedys, Sodom e Devotos. Confira a programação em abrilprorock.info.

PE em DançaAté maio, o Festival Pernambuco em

Dança passa por diversos espaços no Recife, além das cidades de Paudalho, Bezerros, Vi-tória de Santo Antão e Santa Cruz do Capiba-ribe. São várias modalidades de dança, com grupos profissionais e amadores. Saiba mais em pernambucoemdanca.blogspot.com.br

Festivaisr E C o M E n D A D o S

O Sindicato realiza no próximo dia 4 de maio mais uma Corri-da dos Bancários, desta vez em parceria com a tradicional Corrida do Pessoal da Caixa. A prova será realizada às 17h no centro do Recife, com percursos de 5 e 10 quilômetros. Serão 300 partici-pantes com 150 vagas, gratuitas, divididas entre os bancários fi-liados ao Sindicato e seus dependentes e os associados da Apcef. Além das premiações gerais, há prêmios específicos para os ban-cários. Há, também, distinções por gênero e por faixa etária. Os atletas serão monitorados através de chip e podem se inscrever pelo endereço www.corre10.com.br. Todos os inscritos receberão uma bolsa com squeeze e camiseta e, caso concluam o percurso, também receberão medalhas.

ii jogos do Sindicato

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Cultura Bancário Artista

A arte empanos e linhasMagali Guerra Heuer é bancária do HSBC durante o dia. À noite, ela vira estilista e já começa a ganhar fama no mundo da moda

Magali Guerra Heuer sempre inventou um jeito próprio de se vestir. Adolescente, fazia da calça jeans um short, desfiava, colocava um bico, tirava a gola da blusa e criava uma nova... Hoje, ela é

bancária, do HSBC. E estilista.Ela era estudante de administração na Universidade Católica

quando achou que poderia, também, investir em outro antigo talento. Com 12 anos de idade, já manejava a linha e agulha. Aos 16, sua mãe ganhou uma máquina de costura e ela deu um jeitinho de aprender como usá-la. “Sempre gostei de desenhar figurinos e customizar minhas roupas. Quando soube que, no Senac, bem pertinho da faculdade, tinha curso de desenho de moda, resolvi investir”, conta a artista.

Foi além: concluiu este curso e fez outro: de estilismo. Na conclu-são da turma, o desfile, realizado na Academia Brasileira de Letras, foi destaque na imprensa. A repercussão dos novos talentos per-nambucanos foi tanta que as criações ganharam espaço até em rede nacional, inclusive no programa da Ana Maria Braga, na TV Globo.

Junto com a irmã Manuela, Magali abriu uma loja: a Dona Comadre, que funcionava nas Graças e tinha, também, um atelier em Boa Viagem, que recebia encomendas. Magali respondia pelas criações. Manuela, pela administração. “Depois que Manuela teve bebê, a gente optou por fechar a loja, já que eu trabalho o dia inteiro e ela também já não poderia se dedicar”, diz Magali.

Apesar disso, ela garante que concilia bem o trabalho e a arte. “O estilismo é, acima de tudo, um hobby, algo que me dá prazer. O HSBC foi meu primeiro emprego. Comecei como estagiária e estou lá há 10 anos”, afirma.

Para as criações, ela reserva as noites e, atualmente, se dedica a desenhar vestidos para um momento inesquecível: o casamento. “O que eu gosto mais é da etapa da criação, do desenho. Então optei pelas noivas. Posso fazer de dois a três vestidos por ano e me dedicar plenamente a cada um deles”, explica. Seu estilo? “Sou uma pessoa romântica e coloco um pouco disso no que construo. Gosto muito de rendas, por exemplo. Mas claro que a gente mescla isso com o estilo de cada cliente”, responde a artista.

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Turismo Conheça Pernambuco

Tacaratu é terra indígena. Lá, entre Tacaratu e Petrolândia, vivem mais de 3 mil pessoas da etnia Pankararu. A origem do

nome também é indígena: significa serra de muitas pontas. De fato, a paisagem da serra se destaca nesta que é a terceira cidade mais alta de Pernambuco. Trilhas ecológicas são uma boa pedida.

Mas a cidade também atrai pela re-ligiosidade, sobretudo no Santuário de Nossa Senhora da Saúde. Construído em 1929, é sede de uma das mais im-portantes festas religiosas da região, a da padroeira da cidade, Nossa Senhora da Saúde. Entre o final de janeiro e início de fevereiro, o local atrai romeiros de vários estados nordestinos. Mas, em qualquer época do ano, o santuário atrai por sua

beleza arquitetônica. Um passeio pelo centro da cidade revela outros encantos, como o coreto junto ao santuário ou a chamada praça do S, com sua fonte luminosa.

Quem vai a Tacaratu deve estar disposto a boas caminhadas. A trilha pela Serra do Cruzeiro revela uma paisagem magnífica de toda a região. Um pouquinho mais acima, dá para aproveitar a Cachoeira do Salobro, com suas sete quedas e deliciosas duchas naturais.

Pela Serra Grande, além da vista da cidade, chega-se à Fonte Grande, uma das prin-cipais atrações da região. A bica jorra água cristalina, através de uma fissura na rocha, a cerca de 2 metros de altura. O percurso da Serra Grande inclui a Bica dos Homens e uma gruta, que teria sido esconderijo dos cangaceiros comandados por Lampião.

Quem deseja conhecer o município, não pode deixar de visitar a aldeia Pankararu. Cerca de 3.670 índios vivem numa área de 8.100 hectares, numa reserva na loca-lidade de Brejo dos Padres, nas margens do Rio São Francisco. Entre suas festas típicas, destaca-se a Corrida do Umbu, realizada durante quatro finais de semana após o carnaval.

Outra manifestação cultural bastante presente é o toré, dançado ao ar livre por homens, mulheres e crianças, de preferência nos fins de semana. O ritmo é marcado pelo som de maracás feitos de cabaças. Os versos da música são cantados em portu-guês, misturados com expressões do antigo dialeto da tribo.

TACArATU

Serra demuitas pontasSerra demuitas pontas

FoToS: PREFEiTuRA DE TACARATu