revista dos bancários 17 - abr. 2012

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REVISTA DOS BANCÁRIOS 1 Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br DOS Bancários Revista Ano II - Nº 17 - Abril de 2012 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco Como um mal invisível, as doenças ocupacionais avançam. E os bancários estão entre as principais vítimas do trabalho, por causa do descaso dos bancos com a saúde dos seus funcionários VÍTIMAS DO TRABALHO

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Edição Abril de 2012

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Page 1: Revista dos Bancários 17 - Abr. 2012

REVISTA DOS BANCÁRIOS 1

Leia as matérias completas em www.bancariospe.org.br

DOS BancáriosRevista

Ano II - Nº 17 - Abril de 2012 Publicada pelo Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Como um mal invisível, as doenças ocupacionais avançam. E os bancários

estão entre as principais vítimas do trabalho, por causa do descaso dos bancos

com a saúde dos seus funcionários

VÍTIMAS DOTRABALHO

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2 REVISTA DOS BANCÁRIOS

Opinião Editorial

>>Para os bancos, investimentos em saúde ou segurança são cifras, nada mais. E o funcionário, depois de adoecido, é descartado. Terminam sós, prisioneiros do medo e vítimas do trabalho que um dia lhe orgulhou

Vale a pena?

DOS BancáriosRevista

Informativo do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

ÍndiceAcidentes e Doenças do Trabalho

A luta pelo fim do Imposto Sindical

Contraf-CUT elege sua nova diretoria

Entrevista: Expedito Solaney

Dia do Índio

20 anos de Abril Pro-Rock

Bancário artista

Dicas de Cultura

Conheça Pernambuco

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As histórias são tristes e amolecem o coração de quem ouve. São histórias de gente que se dedicou por anos e anos ao trabalho e viu sua vida ser des-truída por ele. Mães que já não podem segurar os filhos no colo. Gente que não tem mais condições de dirigir um carro ou pentear os próprios cabelos. Trabalhadores que, depois de espremidos e quebra-dos, são jogados fora como o bagaço de um fruto.

São bancários que, um dia, acreditaram ser os funcioná-rios ideais: se desdobravam no serviço, faziam hora extra sem reclamar, aguentavam pressão e cumpriam metas. São bancários que esqueceram que têm um corpo e uma mente e se deixaram atropelar pelas demandas do dia-a-dia ou pelo medo de perder o emprego.

São bancários que enfren-tam um, dois, três.. . deze-nas de assaltos. E continuam trabalhando sem portas com detector de metais, sem vidro blindado, sem segurança. E veem a alma sucumbir diante do medo, dos traumas, do pâ-nico. E, em sua doença, são abandonados pelo banco, pe-

los colegas, muitas vezes até pela família. Terminam sós, prisioneiros do medo, vítimas do trabalho que um dia lhe orgulhou.

Para os bancos, investimentos em saúde ou segu-rança são cifras, nada mais. Falam em custos e nú-meros, questionam a autoria das responsabilidades.

As vidas que se destroem são invisíveis para as instituições financeiras, porque são perfeitamente substituíveis. No lugar dos farrapos gerados pelo trabalho, contrata-se gente jovem, inteira, pronta para ser transformada em pó.

São histórias tristes. E, enquanto cada um conti-nuar fechado em seu modelo de funcionário ideal, nada vai mudar. Enquanto cada um não perceber que não é super-herói e que a história de outros pode ser a mesma sua, tudo vai permanecer como antes. E o trabalho vai valer sempre mais que o trabalhador.

Presidenta: Jaqueline MelloSecretária de Comunicação: Anabele SilvaJornalista responsável: Fábio Jammal MakhoulConselho editorial: Anabele Silva, Geraldo Times, Tereza Souza e Jaqueline MelloRedação: Fabiana Coelho, Fábio Jammal Makhoul e Wellington CorreiaProjeto visual e diagramação: Libório Melo e Bruno LombardiCapa: Montagem sobre foto de Beto OliveiraImpressão: NGE GráficaTiragem: 11.000 exemplares

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Quando o trabalho destrói O CORPO E A ALMAOs bancários estão entre os trabalhadores que mais adoecem no Brasil por causa do descaso dos bancos com a saúde dos seus funcionários. Um problema que seria fácil de resolver, principalmente no setor que mais lucra no país

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No começo, é apenas um cansaço, um formigamento nas mãos, uma sensação de peso nos ombros. Para o bancário, nada que justifique qualquer preocupação. E o silêncio dos trabalhadores vira aliado da omissão dos bancos, que não investem em programas de prevenção de doenças, em mobiliários adequados,

em exames periódicos bem feitos.Como um mal invisível, as doenças ocupacionais avançam: cada vez mais cedo, os

bancários tornam-se incapazes de executar ações simples. Tornam-se escravos de remédios e terapias, tendo a dor como companheira dos dias e das noites. E, nas agências, tudo continua como antes. Os doentes são substituídos. Permanecem a pressão, o excesso de trabalho, a insegurança, o mobiliário inadequado.

Somente nos três primeiros meses deste ano, o Sindicato expediu 82 Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT). Mas o número de doenças é muito maior: os bancos se recusam a emitir o documento e boa parte dos trabalhadores preferem manter o silêncio. No ano passado, o Sindicato emitiu 230 CATs. O Santander é o líder, com 82 casos; seguido pelo Itaú, com 65 registros e o Bradesco, com 38.

Se os bancos privados ocupam o topo do ranking no que se refere a Lesões por Esforço Repetitivo (LER), quando se fala em doenças psíquicas há que citar o Banco do Brasil. Das 35 CATs emitidas por conta de transtornos psíquicos, o BB responde por 19: mais

Capa Doença ocupacional

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Capa Doença ocupacional

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da metade do total. No próximo dia 23 de abril, o Sindicato

lança o Anuário de Acidentes e Doenças de Trabalho de 2011. O lançamento é parte da programação relacionada ao 28 de abril: Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes de Trabalho.

MAL InVISÍVEL João Alves, bancário do Santander desde

os tempos de Bandepe, na década de 70, tem hoje uma vida cheia de limitações. Para tomar banho, precisa estar sentado. Não pode passar muito tempo em pé. Não tem força sequer para segurar uma garrafa de refrigerante. As dores não o deixam dormir. No entanto, há pouco mais de oito anos, ele achava que tudo não passava de um cansaço, que se resolveria quando ele tirasse férias.

E assim ele foi levando durante bas-tante tempo: sentia formigamento nas mãos, déficit de força, dores nos ombros e articulações. Quando a dor aumentava, tomava um “dorflex”, usava um “gelol” e ia levando. Quando viu que não era mais capaz de segurar uma garrafa, em 2006, decidiu procurar o médico. “Minha primeira perícia do INSS me deu 180 dias de afastamento. Eu estava com os tendões rompidos. A médica chegou a perguntar:

‘Como você aguentou tanto tempo?’”, conta o trabalhador.

Esta demora em buscar ajuda médica lhe foi fatal. João Alves não conseguiu se reabilitar e permanece sem condições de trabalhar e levar uma vida normal. Já fez uma cirurgia na lombar e chegou a ser atendido várias vezes em serviços de emergência com dores insuportáveis. Aos colegas, ele deixa uma recomendação: “aos primeiros sintomas, procure ajuda de um médico - reumatologista, ortopedista e neurologista. Vença sua resistência e bus-que apoio psicológico e psiquiátrico, pois as dores são enormes. Ame-se”.

nEgLIgênCIAHoje, João Alves tem consciência de

que, não só os bancos, mas o setor patronal é extremamente negligente com a saúde dos trabalhadores. Os mobiliários são inadequados, a organização do trabalho é insalubre, não há programas de prevenção nem de reabilitação. E existe, ainda, outro grave problema: os exames periódicos e demissionais.

Em 2003, o INSS publicou uma Ins-trução Normativa, a 98, na qual descreve cuidadosamente as Lesões por Esforço Re-petitivo e Doenças Osteomusculares rela-cionadas ao Trabalho. Estão lá o conceito,

o histórico, os fatores de risco, pro-cedimentos, diagnósticos, tratamento, prevenção, notificação. “Todas as re-comendações são comple-tamente ig-noradas pelos bancos. Já entramos, inclusive, com uma represen-tação no Ministério Público para mostrar como os bancos têm tratado a saúde dos trabalhadores”, informa o secretário de Saúde do Sindicato, João Rufino.

Os exames periódicos e demissionais são um capítulo à parte. Oscar Gomes de An-drade Filho, funcionário do Itaú há 24 anos, sabe muito bem disso. Há cerca de sete anos, Oscar começou a sentir um cansaço no ombro, pescoço e coluna. Mas, como outros, achava que era “coisa normal”.

Nos exames periódicos, relatava o fato, mas sempre escutava: “a dor é normal, o cansaço faz parte do trabalho”. Acabava deixando pra lá. E foi somente quando o banco lhe demitiu que ele resolveu fazer os

>>28 de abril é o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho. Uma data para refletir e protestar

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exames. Lá estava o diagnóstico: tendinite nas oito articulações.

De posse dos laudos e exames, Oscar se encaminhou ao exame demissional. “Quando entreguei os exames, a médica disse que eu teria de ser atendido por outra. Deixei as cópias dos exames, voltei na semana seguinte e a médica já estava com o documento preenchido, como apto”, conta o bancário.

Oscar discutiu, lembrou que o mínimo que ela poderia fazer era pedir que os exa-mes fossem repetidos em outro laboratório, recusou-se a assinar o laudo e foi ao Cre-mepe (Conselho Regional de Medicina de Pernambuco), onde apresentou denúncia contra a médica que lhe atendeu. “Nos exames periódicos é a mesma coisa. Se a gente diz que sente dores, eles dizem que é normal. Se vai com laudo médico, tem de brigar muito. Só quando já está com a doença reconhecida pelo INSS é que, às vezes, eles levam em conta”, denuncia o trabalhador.

DoR nA ALMAHá outro mal, ainda mais silencioso,

que a cada ano aumenta nas agências bancárias. Em 2005, as doenças psíquicas respondiam por 2% das CATs emitidas pelo Sindicato. Em 2011, foram 10%. Dados do INSS mostram que, em 2011, doenças relacionadas à depressão e trans-tornos de comportamentos aumentaram 3,5% e 13%, respectivamente, quando comparados a 2010.

“E os trabalhadores do ramo financeiro estão entre as maiores vítimas. Além da pressão por metas, há um fator determinan-te para o adoecimento psíquico dos bancá-rios: a insegurança”, conta a presidenta do Sindicato, Jaqueline Mello.

Adriana Lima, 26 anos de Bradesco, é uma das vítimas da falta de segurança e do descaso dos bancos. “Eu entrei no banco em 86 e já passei por muitos assaltos. Mas, no começo, eu era jovem. Achei que isso não teria repercussão na minha saúde. Em 96, eu estava grávida, de seis meses,

e passei por mais um. A agência onde eu trabalhava não tinha porta de segurança, vivia sendo assaltada. Comecei a sentir medo de trabalhar no caixa, procurava sempre as funções gerenciais”, diz.

Mas, se por um lado, ela ficava menos exposta ao público, por outro, passou a sofrer assaltos mais violentos. Em 2007, chegou a sofrer agressões físicas, mas teve medo de emitir uma CAT. “Com o tempo, comecei a sentir dor de cabeça e na nuca, a sensação de estar sufocada. Os colegas começaram a perceber que eu não estava bem: brigava por tudo, estava muito agressiva, desconfiava de todo mundo. Um dia, quando fui fazer o exame periódico, tive de ir direto pro hospital: minha pressão estava em 24 por 11. Aí, as pessoas falam: doença ocupacional não mata. Mata sim! Aos pouquinhos”, desabafa Adriana.

Mas o pior ainda estava por vir. Em 2008, a bancária tinha acabado de receber o carro-forte e colocar o dinheiro no cofre, quando percebeu que tinha um movimento incomum. Jogou longe as chaves do cofre e escondeu-se por baixo da mesa. Mas os bandidos passaram a ameaçar: se ela, que tinha as chaves do cofre, não aparecesse ao terceiro chamado, lhe matariam lá mesmo, na agência. Ela aguentou firme, onde es-tava. Os bandidos passaram a procurá-la e chegaram a apontar a arma para ela. Mas a polícia chegou e o resto ela não viu. Acor-

dou no hospital. “Minha pressão subiu pra 22 por 11. Foi um taxista quem me levou para o hospital. Passei três dias internada e ninguém do banco me ligou”, lembra.

Adriana ainda voltou a trabalhar e aguentou até janeiro do ano seguinte antes de decidir procurar o Sindicato e ajuda médica. Hoje, faz tratamento psiquiátrico e psicológico, toma vários remédios, perdeu a guarda das filhas, não sai mais de casa, não tem amigos.

“Entrei no banco com 18 anos. Me de-diquei ao trabalho e, por conta dele, perdi a minha vida. Hoje, o Bradesco não paga meu tratamento porque o plano não cobre psiquiatra e psicólogo. Faço tudo pelo SUS. Também não ajuda com os remédios, que são caros e muitos. A gente perde tudo. Passa a ser tratado como louca, é excluído da vida e do mundo”, diz Adriana.

Para Jaqueline, a falta de respeito dos bancos com a saúde dos bancários passou de todos os limites. “Como o setor que mais lucra no Brasil pode ser tão negligente com a saúde dos seus funcionários?”, questiona Jaqueline, que completa: “O Sindicato tem uma série de reivindicações para melhorar a saúde dos bancários. Estamos discutindo nossas demandas numa mesa de negociação específica. Agora, somos nós que temos de pressionar as instituições financeiras, pois o que temos visto nas negociações é que o descaso dos bancos não tem limites”, finaliza Jaqueline.

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Capa Doença ocupacional

JOãO RuFinO: SindiCATO nA LuTA

JAqueLine: BAnCáRiOS enTRe AS pRinCipAiS víTiMAS dO TRABALhO

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Imposto Sindical Política

Criado há 72 anos, o Imposto Sindical existe até hoje. A CUT é a única central a lutar pelo fim deste tributo. Você também pode entrar nesta batalha, participando do nosso plebiscito

Em 1940, o Brasil vivia o cha-mado Estado Novo, regime político fundado pelo então presidente Getúlio Vargas,

caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e, sobretudo, por seu autoritarismo.

Na tentativa de cooptar os sindicatos de trabalhadores, Getúlio criou nesta época o Imposto Sindical, que até hoje, 72 anos depois, existe e é descontado compulsoriamente do salário do traba-lhador no mês de março. Este tributo equivale a um dia de trabalho e é im-possível de se evitar a cobrança.

Embora o Imposto Sindical esteja ultrapassado, muitos sindicatos de

fachada se beneficiam deste tributo para se manter. Não é o caso dos sindicatos da CUT, única central do país a ser contra e a lutar pelo fim do Imposto Sindical.

A última cartada da CUT para acabar com esta cobrança perversa é o Plebiscito Nacional Sobre o Fim do Imposto Sindical. Na consulta, que será realizada até o dia 30 de abril, trabalhadores e trabalhadoras vão poder votar contra ou a favor deste tributo.

O Sindicato dos Bancários está circulando pelas agências e departamentos dos bancos em Pernambuco com as urnas para recolher o voto da categoria. O objetivo da consulta é ampliar o debate sobre o Imposto Sindical com a população e obter mais apoio à luta solitária da CUT pelo fim deste tributo.

“Nossos sindicatos enfrentam, inclusive, a oposição das demais centrais sindi-cais e das confederações empresariais por conta desta luta”, explica a secretária de Finanças do Sindicato, Suzineide Rodrigues.

Para a CUT, o imposto sindical deve ser substituído pela contribuição sobre a negociação coletiva, cuja cobrança será submetida a aprovação em assembleia. “Afinal, os trabalhadores têm o direito de decidir quanto querem pagar para finan-ciar a sua entidade”, comenta Suzineide.

Ultrapassado e injusto

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Organização Contraf-CUT

Nova direçãoBancários do Brasil inteiro elegem a nova direção da Contraf-CUT. Alan Patrício, diretor do Sindicato, assume a Secretaria de Assuntos Jurídicos

A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) acaba de eleger a sua nova

direção para o triênio 2012-2015. Os dirigentes foram escolhidos por unanimidade entre os 316 delegados que participaram do 3º Congresso da Confederação, realizado entre os dias 30 de março e 1º de abril, em Guaru-lhos (SP). O bancário do Itaú Carlos Cordeiro foi reeleito para a presidência da Contraf-CUT.

A Secretaria de Assuntos Jurídicos da Confederação, uma das mais importan-tes, ficou com o diretor do Sindicato,

Alan Patrício. Ele é o único pernambucano na direção da Contraf-CUT. “Espero contribuir para o fortalecimento da organização nacional dos bancários, que é uma das mais fortes entre os trabalhadores brasileiros e referência para as demais categorias”, diz Alan.

O 3º Congresso mostrou uma unidade muito grande tanto entre os sindicatos filiados quanto entre as forças políticas. “A chapa eleita tem uma capacidade enorme de produção política. Avançamos muito na gestão anterior e podemos fazer ainda mais com a nova direção”, projeta o presidente Carlos Cordeiro, destacando ainda a importância de cumprir a cota de 30% de mulheres na nova diretoria.

Cordeiro vê dois eixos principais para a tarefa da Contraf-CUT no próximo período. Por um lado, está a ampliação do diálogo com outros atores da sociedade. O outro eixo é a promoção do emprego decente no ramo financeiro, com a luta por melhores condições de trabalho, segurança, remuneração digna e proteção ao emprego.

Conheça a nova diretoria da Contraf-CUT e os debates realizados no Congresso em www.bancariospe.org.br.

COnGReSSO Reuniu 316 BAnCáRiOS dO BRASiL inTeiRO. nO deSTAque, ALAn pATRíCiO, úniCO peRnAMBuCAnO nA diReçãO dA COnTRAF-CuT

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Abrindo a caixa preta

Entrevista Expedito Solaney

Ditadura militar

O bancário pernambucano Expedito Solaney foi indicado pelo Comitê pela Verdade, Memória e Justiça de São Paulo como um dos nomes para integrar a Comissão Nacional da Verdade, instituída no final do ano passado com o objetivo de jogar luz a um dos mais turbulentos períodos da história recente

do Brasil: a ditadura militar (1964-1985).Ex-diretor do Sindicato dos Bancários de Pernambuco e atual secretário de Políticas

Sociais da CUT Nacional, Solaney aguarda agora que seu nome seja confirmado pela presidenta Dilma Rousseff.

Sua indicação acompanha nomes como o de Fábio Konder Comparato (jurista), Frei Betto (escritor e ex-preso político), Clarice Herzog (familiar de vítima da Ditadura), e de outros militantes históricos dos Direitos Humanos. A indicação de pessoas compro-metidos com a luta pela justiça e verdade traz consigo um importante objetivo: fazer contraponto aos nomes que estão sendo ventilados pela mídia e que representam a mais conservadora parte da sociedade. Por exemplo: Marco Maciel, agente da ditadura.

“Nossa batalha é para que esta Comissão tenha outro caráter, com amplitude e representatividade para apurar os crimes cometidos pelos agentes da ditadura e seus pares”, diz Solaney.

Confira na página ao lado os principais pontos da entrevista exclusiva que Solaney concedeu à Revista dos Bancários.

OS TRABALhAdOReS TiveRAM uM pApeL iMpORTAnTe nA LuTA peLO FiM dA diTAduRA

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Primeiro, gostaria que você situasse em que fase está a Comissão da Verda-de e quais seus próximos passos.

A Comissão foi instituída em novem-bro passado. Agora, estamos na depen-dência da definição dos nomes que vão compor a Comissão. A expectativa dos movimentos sociais é de que presidenta Dilma indique os membros da Comis-são o mais breve possível. Estamos em compasso de espera. Mas a intenção é que a Comissão seja apresentada ainda este semestre para que ela comece a trabalhar já a partir de julho.

A Comissão tem dois anos para concluir seus trabalhos. É um tempo razoável?

Não, é um tempo curto. Mas vamos priorizar as investigações do período entre o golpe de 1964 e o fim da dita-dura, em 1985. Vamos ter de trabalhar com foco, já que o tempo é escasso e a Comissão é pequena, com sete membros titulares e mais quatorze assessores. Temos muitos documentos para estudar e muitas pessoas para ouvir. Mas eu tenho boas expectativas com relação ao trabalho da Comissão. Acho que vamos conseguir esclarecer muita coisa da nossa história. A ideia é que até o primeiro semestre de 2014 já tenhamos um relatório parcial. Mas vale destacar que é possível prorrogar os trabalhos da Comissão por mais dois anos. A sociedade se envolveu muito nesta luta pela Comissão da Verdade, pois é muito importante para as pessoas saberem o que ocorreu durante o regime. Quere-mos contar a história de muita gente que desapareceu na época da ditadura e até hoje a família não sabe o que aconteceu. Esperamos ter autonomia e suporte financeiro e técnico para jogar luz a este capítulo triste da história brasileira.

Os trabalhadores tiveram um papel importante na luta pelo fim da ditadu-ra, com as greves que varreram o país

nos anos de 1970. A Comissão da Verda-de vai resgatar esta parte da história?

Eu espero que sim e, se meu nome for confirmado para a Comissão, vou propor que a gente faça este recorte. Os sindi-catos e os trabalhadores sofreram muito com a repressão da ditadura. E nós temos de conhecer esta história. Os sindicatos sofreram a intervenção dos militares e muitos foram fechados. O próprio Sindicato dos Bancários de Pernambuco teve sua diretoria cassada. Muitos diri-gentes foram presos, exilados. Espero contribuir neste processo de recuperação desta história, até porque o movimento sindical merece conhecer o que ocorreu naquele período com os seus dirigentes. E mesmo com toda a repressão, os sin-dicatos foram fundamentais para acabar com a ditadura. A própria CUT nasceu

combatendo o regime militar.

O que você acha da revisão da Lei da Anistia para punição de crimes come-tidos no período da ditadura militar?

A própria Côrte Interamericana de Direitos Humanos (órgão vinculado à OEA – Organização dos Estados Ame-ricanos) aponta para esta necessidade. O Supremo Tribunal Federal vai julgar esta revisão nos próximos dias e es-peramos que a decisão seja favorável. Não queremos com a revisão da Lei ou mesmo com a Comissão da Verdade qualquer tipo de revanchismo. Mas não podemos admitir que esta lei prive os brasileiros, principalmente os mais jovens, de conhecer a nossa história. A Lei foi importante e cumpriu o seu papel, agora precisamos revê-la.

Entrevista Expedito Solaney

O BAnCáRiO peRnAMBuCAnO expediTO SOLAney é uM dOS indiCAdOS pARA inTeGRAR A COMiSSãO nACiOnAL dA veRdAde

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Todo dia é dia de índio

TeLA de JOSé CLAudiO SOBRe A RevOLuçãO de 1817, RepReSenTAndO A CRiAçãO dA BAndeiRA de peRnAMBuCO

No mês de abril, o Brasil volta os olhos para as comunidades indígenas, ainda que por um breve momento. Nas escolas,

os alunos fazem pesquisas sobre o tema. Nos jornais, exibem-se algumas repor-tagens. As comunidades aproveitam o

momento para dar voz à suas reivindicações e anseios. Mas se, para parte do país, dia de índio é 19 de abril, para outra parte, todo e cada dia é um reforço para suas identidades indígenas.

Rubens Nadiel, bancário do BNB em Floresta, é um destes. Pankararu, filho de pai índio e mãe branca, ele não mora na aldeia. Mas as tradições, os rituais, a cultura e a luta de seu povo sempre fez parte de sua vida.

No trabalho, ele lida com dinheiro. Na vida, acredita nos encantados – seres ancestrais que se encantaram e hoje são parte da natureza, dando-lhe proteção.

Na agência, ele veste-se como bancário. Nos rituais, veste os fardamentos construídos com a fibra do caroá - que facilita a aproximação dos praiás, ou encantados.

No banco, ajuda pessoas a organizar créditos e dívidas. Na vida, participa da orga-nização de seu povo: os Pankararu. “Se por um lado, são coisas muito diferentes, por outro lado, minha atividade no banco ajuda a comunidade na renegociação de dívidas e obtenção de crédito”, diz.

Mas quando é época de preparação para os rituais, Rubens precisa tirar férias do

Para parte do país, 19 de abril é o Dia do Índio. Mas para os indígenas, toda e qualquer data é dia para reforçar suas identidades e lutas

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banco. Para a chamada Corrida do Imbu, por exemplo, é um mês de preparação: em locais apropriados, homens separados de mulheres, e algumas práticas que perma-necem em segredo. Outras já são conhe-cidas, como a dança do cansanção – em que os participantes, enquanto dançam, são atingidos por golpes de uma planta que queima como a urtiga.

O trabalho também dificulta um pouco seu envolvimento na organização políti-ca. “Antes, eu era mais ativo. Já fui para Brasília, no Acampamento Terra Livre. Já briguei contra a transposição do Rio São Francisco. Hoje, não dá para participar de tudo, mas faço o possível”, diz Rubens.

E com orgulho da organização dos Pankararu, ele conta que já conseguiram recursos para uma reserva ambiental, que criaram um Ponto de Cultura para ensinar suas tradições às crianças indígenas, que construíram uma casa de polpa de frutas.

A disputa de terra é antiga. A área Pankararu é demarcada e homo-logada desde 2005. Mas alguns posseiros se recusam a sair. Mas há outras brigas. Uma delas volta--se contra a TV Record, a qual a comunidade move ação judicial, depois que a emissora divulgou reportagem distorcendo a história da comunidade.

“Nosso povo se distribui em diferentes aldeias, nos municípios de Tacaratu, Petrolândia e Jatobá. Há cinco caciques. A nossa é uma mulher: Dona Hilda, que dá con-tinuidade à luta de Dona Quitéria, falecida em 2009. A emissora veio, ouviu alguns falsos índios e fez uma matéria que comete graves erros de informação, re-produz preconceito, criminaliza lideranças e fere violentamente a integridade moral de nosso povo”, afirma Rubens.

BRIgA nACIonAL Mas a briga maior, dos Panka-

raru e de todos os povos indígenas do Brasil, é contra um modelo de desenvol-vimento que, em nome dos grandes empreen-dimentos, atropela os direitos sociais.

Hidrelétricas de Belo Monte, Jirau e Teles Pires; transposição do São Francisco; pequenas centrais hidrelétricas no sul do país... todas as obras são feitas sem a devida consulta às comunidades, como determina a Convenção 169 da OIT – ra-tificada pelo Brasil desde 2002.

As comunidades denunciam aumento nas violações aos seus direitos. Em 2010, foram assassinadas 63 lideranças, a maio-ria no Mato Grosso do Sul. As tentativas de flexibilização da legislação também aumentam. No final de março, por exem-plo, a Comissão de Constituição e Justiça

da Câmara dos Deputados aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição que transfere para o Congresso Nacional, onde a bancada ruralista tem maioria, a competência para aprovar demarcação de terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação.

A criminalização das lideranças é outro problema. No dia 17 de abril será julgado o processo de apelação de 35 lideranças do povo Xukuru, de Pernambuco, con-denadas pela Justiça Federal do estado depois que, em 2003, se revoltaram contra o atentado sofrido por seu cacique, que

culminou no assassinato de dois in-dígenas que o escoltavam. Os índios foram parar no banco dos réus por crimes contra o patrimônio. Um dos fazendeiros envolvidos no atentado sequer foi denunciado no processo.

Este ano, o Acampamento Ter-ra Livre, que geralmente ocorre no mês de abril, foi adiado para junho. É quando acontece a Con-ferência Mundial Rio + 20, sobre sustentabilidade e meio-ambiente. Mais de 1200 indígenas de todo o país somarão forças com outros povos, da América Latina e do mundo, e também com outros movimentos sociais, em uma conferência paralela.

Mas abril não passará em bran-co. De 20 a 22, ocorre em São Paulo o Tribunal Popular da Terra. Mais de mil indígenas, quilom-bolas e trabalhadores rurais farão o julgamento do agronegócio e debaterão casos de criminalização dos movimentos sociais.

<<As comunidades indígenas denunciam o aumento nas violações aos seus direitos, com as constantes tentativas de flexibilização da legislação. As lideranças têm sido assassinadas e criminalizadas. Resistir a tudo isso é uma luta diária

Cultura 19 de abril

O índiO RuBenS nAdieL é BAnCáRiO dO BnB eM FLOReSTA

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Vinte anos de Abril Pro-rock

Criado em 1993, o festival ajudou a lançar muita gente famosa e a abrir o espaço que ainda falta nas rádios e casas noturnas da cidade para a música pernambucana

Música História

Era 1993. Havia uma ânsia na cena musical pernambucana. O Movimento Mangue começava a se delinear, mas ainda em pequenos espaços e com núcleo reduzido. Foi quando surgiu o primeiro Abril Pro-rock. Vinte anos se passaram então. Muitas coisas mudaram rapidamente. Outras, nem tanto.

Houve mudanças tecnológicas, no mercado fonográfico, no perfil de público do festival. Mas uma coisa permaneceu igual, e é a grande queixa do produtor do evento, Paulo André: a falta de espaço nas rádios e casas noturnas da cidade para a música que é produzida em nosso estado.

O Abril Pro-Rock mexeu com a cena local. Levou o nome dos grupos do Re-cife para os fãs de música de todo o país. Ajudou muita gente boa a fechar contrato com grandes gravadoras e percorrer o país. Em depoimento ao documentário “Abril Pro-rock – fora do eixo”, o músico China, vocalista do antigo Sheik Tosado, conta que, no primeiro ano em que o grupo tocou no APR, foi contratado pela Trama.

Alguns grupos nasceriam ali, naqueles palcos do antigo Circo Maluco Beleza. O Comadre Florzinha, por exemplo, só tocara em pequenas festas antes de ser convidado ao festival. E não foram só os pernambucanos que debutaram no Abril Pro-Rock. Muitos, Brasil afora, se reve-laram aqui. É o caso do Los Hermanos e do Pato Fu.

Ao mesmo tempo, ele inspirou muitos outros festivais no Brasil inteiro. “E com o fim das gravadoras, estes eventos tornaram-se a principal plataforma de divulgação de grandes artistas. Através deles, bandas inéditas, das várias partes do país, ganham visibilidade”, conta Paulo André.

As mudanças foram rápidas. Em 20 anos, o festival viveu a era do cassete, do CD, do mp3, da internet. “Antes, os grupos entregavam uma fita demo, com quatro ou cinco músicas. Hoje, mandam um link pro myspace ou site da banda e a gente tem acesso a todo o trabalho e histórico da banda”, conta o produtor.

O público também varou mais de uma geração. “A gente encontra muitas pesso-as, que nos primeiros festivais tinham seus vinte e poucos anos, e hoje acompanham

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seus filhos adolescentes nos shows do Abril Pro-Rock”, diz Paulo André.

A cada edição, uma média de 20 mil pessoas assistem as apresentações. Até o fechamento deste edição, 13 mil pessoas já tinham comprado ingresso só para o primeiro dia do evento, que tem Los Her-manos como atração principal. Mesmo assim, Paulo André acredita que o público caiu nos últimos anos: “a quantidade de shows abertos ao público é muito grande”, lamenta-se.

PoRTõES fECHADoSMas a grande queixa de Paulo André,

e que permanece a mesma desde antes da primeira edição do Abril Pro-rock, é a falta de espaço para a música produzida no estado. Mais do que o produtor do Abril Pro-rock, ele briga há muitos anos para divulgar a cena musical pernambucana. Já rodou 25 países, tem contato com crí-ticos do mundo inteiro, ajuda a produzir

CDs que levam nossa música pelo mundo afora. Mas confessa: a maior dificuldade está dentro do estado.

As rádios locais são uma amostra disso. “A Rádio 3, da BBC, cobriu as duas noites do APRClube de 2010 e de 2011. A equipe de lá já veio a Pernambuco três vezes e rodou o estado para levar à

Europa a música daqui. Há um pool de radialistas europeus que gravaram CDs com músicas do mundo inteiro e os pernambucanos estão entre os dez mais tocados. Mas é mais fácil estabelecer par-cerias com críticos e rádios de fora do país do que com os locais”, conta o produtor.

Sua briga maior é pela existência de rádios públicas que cumpram este papel. Ele lembra que, há alguns anos, quarenta entidades fizeram um Manifesto por Mudanças na Comunicação e Cultura, debateram com o reitor e autoridades da Universidade Federal de Pernambuco. Mas nada mudou na programação da Rá-

dio Universitária. A Rádio Frei Caneca é um projeto de cinquenta anos, que nunca saiu do papel: uma rádio pública, muni-cipal, que cumprisse esta função de abrir espaço para a boa música que se faz aqui.

Falta espaço, também, nas casas no-turnas da cidade. “O turista chega aqui e não existe um lugar que mostre, de forma permanente, a nossa música, seja ela da cultura popular ou de grupos con-temporâneos. Os críticos internacionais conhecem e gostam de nossa música e nós não sabemos usar isso em nosso favor”, critica Paulo André.

Enquanto estes portões continuam fechados, quem é fã de música tem de se contentar com os pequenos espaços que se preservam: o Abril Pro-rock, por exemplo.

DICAAcesse a programação completa em: abrilprorock.info.

Música História

eM 20 AnOS, O FeSTivAL viveu A eRA dO CASSeTe, dO Cd, dO Mp3, dA inTeRneT

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Cultura Bancário artista

A relação de Thiago com a mú-sica começou ligada à religião. Seus pais tocavam na igreja e ele, ainda criança, os acompa-

nhava. Acabou desenvolvendo também as habilidades musicais. Junto com o irmão, entrou em um grupo de jovens e participou da criação de uma banda de punk rock católico: a Archangelos. Este trabalho despertou o desejo de um projeto pessoal. Hoje, também com o irmão, ele faz parte da banda Som Dois, que toca em bailes, casamentos, confraternizações. Mas, durante a semana, ele é Thiago Ra-fael Nogueira, bancário do Itaú.

O trabalho com a banda católica cres-ceu rapidamente. Hoje, a Archangelos já

tem CD e DVD gravados e participa dos grandes eventos da igreja, no Chevrolet Hall ou Marco Zero. “Já tocamos para um público de até 20 mil pessoas”, conta Thiago. Foi justamente o sucesso deste trabalho que motivou Thiago a buscar um novo projeto.

O bancário toca vários instrumentos de corda. Mas sua predileção são os percussi-vos. E é na bateria que ele toca com a Som Dois. Música dos anos 60 e 70, pop rock, forró, frevo de bloco, hits do momento... o repertório inclui todo tipo de música. A banda toca em bailes, casamentos, formaturas, lançamentos de livro, confraternizações e vários tipos de evento. E a agenda está sempre cheia.

São tantos os compromissos que os integrantes tiveram de estabelecer algumas regras. Como todos trabalham, os eventos só podem ocorrer nos finais de semana. Ou na sexta, a partir das 22 horas. E tem mais: a cada mês, eles deixam um fim de semana livre. “Todo mundo tem família e a gente precisa preservar isto”, diz Thiago.

Para o futuro, além de muitos compromissos na agenda, há também alguns projetos em mente. Um deles é a gravação de um CD e DVD. O outro, a busca de um trabalho autoral. “Estamos correndo atrás de patrocínios. Nossa ideia é fazer o mesmo que fizemos com a Archangelos: gravar o DVD no evento de lançamento do CD”, afirma Thiago.

Thiago Rafael nogueira

Fé na músicaDurante a semana, Thiago é bancário do Itaú. De sexta a domingo, ele vira músico em duas bandas: a Archangelos, de punk rock católico, e a eclética Som Dois

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Cultura Dicas

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Cultura Dicas

Cine-PE

Dança em toda parte

L I T E R A T U R ARECoMEnDADoS

Teatro de Santa Isabel, Pátio de São Pedro, Ibura, Alto José Bonifácio, Pau-dalho, Bezerros e Bonito... cada um destes lugares vira palco de apresentações de dança entre os dias 14 de abril e 20 de maio. O Festival Pernambuco em Dança acontece desde 2001 e reúne os principais grupos de dança, academias, escolas e pontos de cultura de todo o estado. São mais de 50 companhias, com apresen-tações em diversos estilos: dança clássica, popular, afro, do ventre, sapateado, xaxado, contemporânea, entre outros. Os homenageados desta edição são André Madureira e o Balé Popular do Recife, que também está na programação. Para saber mais, acesse: http://pernambucoemdanca.blogspot.com.br

Cinema em destaque

Literatura no AraripeDe 13 a 19 de abril, a dica é a Jornada Lite-

rária do Araripe. Nas cidades de Bodocó, Exu, Ouricuri, Trindade e Araripina têm recitais, de-bates, intervenções públicas, cantorias de viola, oficinas e muito mais. Entre os autores partici-pantes, gente como Luzilá Gonçalves, Cícero Belmar, Ronaldo Correia de Brito, entre outros. Mais detalhes em: interpoetica.com

Mostra nós-pósOutra boa dica é a Mostra Nós-pós PE. Se-

rão vinte recitais, sempre às quintas-feiras, na segunda quinzena de cada mês. A cada evento, um jovem escritor pernambucano será homena-geado. E, em cada recital, o público pode confe-rir o trabalho de seis escritores. No mês de abril, serão dois encontros: dia 19, na Casa Mecane; e dia 26, na Livraria Cultura. Sempre às 19 horas.

O cinema invade Recife entre os dias 26 de abril e 2 de maio. Trata-se de mais uma edição, a 16ª, do Festival Cine-PE. Serão 18 curtas e 5 longas concorrendo ao troféu Calunga, na mostra competitiva. Este ano, a novidade é a Mostra Pernambuco, que rola nos dias 28 e 29, a partir das 17 horas, no Cine-teatro Guararapes. O filme de encerramento já foi definido. Sons da Esperança, com direção de Zelito Viana e produção da Bertini Produções e Eventos, vai fechar a programação do festival. O documentário, em fase de finalização, conta a história da Orquestra Criança Cidadã Meninos do Coque. Fora isso, tem oficinas, júri popular, seminários, homenagens e mostras paralelas. Confira em: www.cine-pe.com.br

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Turismo Conheça Pernambuco

A história do município de Águas Belas está ligada, desde sua origem, aos povos indígenas que ali se assentam. Os Fulni-

-ô, remanescentes dos povos Carijós, ocupam aquelas terras desde muito antes de lá chegarem os primeiros brancos. A aldeia, que outrora se chamou Lagoa, tornou-se o povoado Ipanema e, só muito tempo depois, ganhou o nome de Águas Belas. Desmembrou-se do município de Buíque e só no início do século XX, foi elevado à categoria de cidade.

Falar de Águas Belas é, portanto, falar dos Fulni-ô, que hoje habitam uma área dividida em 427 lotes individuais. Em Pernambuco, são um dos poucos povos indígenas que conservam sua língua original – o Yaathée. Embora se comuniquem em português, o Yaathée é ensinado nas escolas e falado pelos índios adultos e mais velhos.

O artesanato é uma das principais atividades de subsistência: os Fulni-ô

são hábeis na produção de bolsas, esteiras, escovas, chapéus, e abanos. Outros artigos, como sandálias, se fazem sob encomenda. Além do artesanato, a cultura dos indígenas de Águas Belas se revela na dança e na música, com grupos de coco e toré, a exemplo do Fethxá.

A visita à aldeia deve ser programada com autorização da Funai. Mas é bom evitar os meses de setembro a novembro. Nesta época, os Fulni-ô estão concen-trados em um ritual que eles chamam de Ouricuri. Embora seja sigiloso, algu-mas informações são públicas. Sabe-se que existem áreas onde as mulheres não podem entrar e que, nestas 14 semanas de retiro, os homens dormem separados das mulheres e as relações sexuais na aldeia são proibidas, assim como o uso de bebidas alcoólicas.

Mas nem só de Fulni-ô é feita a cidade de Águas Belas. O turismo ecológico é uma boa pedida. A Serra das Antas é localizada no ponto mais alto do município. Considerada resquício de Mata Atlântica e brejo de altitude, possui uma fauna e flora ainda inexplorada.

Para quem gosta de apreciar construções antigas, a pedida é uma visita à Igreja da Matriz, erguida no século XVIII.

Em janeiro e fevereiro, acontece a festa de São Sebastião, com manifestações folclóricas como pastoril e reisado, e rituais de devoção ao santo, como novenas, missas e procissões.

COMO CHEGARÁguas Belas se localiza a 308 quilômetros do Recife, ao sul de Buíque e ao norte de Alagoas. O acesso é pela BR-432 e BR-232, via Garanhuns.

A CidAde é uMA óTiMA OpçãO pARA queM GOSTA de hiSTóRiA e CuLTuRA. nA FOTO ABAixO, OS índiOS FuLni-ô COnCenTRAdOS nO RiTuAL ChAMAdO de OuRiCuRi

ÁgUAS BELAS

CidadeIndígena