revista do meio ambiente 25

52
2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 1

Upload: rebia-rede-brasileira-de-informacao-ambiental

Post on 28-Mar-2016

237 views

Category:

Documents


10 download

DESCRIPTION

Edição 25 da Revista do Meio Ambiente

TRANSCRIPT

Page 1: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 1

Page 2: Revista do Meio Ambiente 25

2 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Page 3: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 1

caixa.gov.br

CAIXA. O banco que acredita nas pessoas.

O saneamento básico não se chama básico por acaso. Ele é fundamental para evitar a poluição, proteger o

meio ambiente e a saúde das pessoas. A CAIXA é a maior promotora de saneamento básico do país e, até

2010, vai investir mais de 40 bilhões em projetos de saneamento, energia

limpa e habitação sustentável que vão fazer bem à natureza e a você.

SANEAMENTO FAZ TÃO BEMAO MEIO AMBIENTE QUE DEVERIA

FAZER PARTE DA NATUREZA.

SAC CAIXA: 0800 726 0101Informações, reclamações, sugestões e elogios0800 726 2492 - Portadores de defi ciência auditiva0800 725 7474 - Ouvidoria

210x280.indd 1 10.07.09 10:37:28

Page 4: Revista do Meio Ambiente 25

2 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental - or-ganização da sociedade civil, sem fins lucrativos, dedicada à democratização da informação ambiental com a proposta de colaborar na formação e mobilização da CIDADANIA SOCIOAMBIENTAL planetária através da edição e distribuição gratuita da Revista do Meio Ambiente, Portal do Meio Ambiente e do boletim digital Notícias do Meio Ambiente (CNPJ 05.291.019/0001-58)

http://www.portaldomeioambiente.org.br/rebia/conheca.asp

FundAdoR dA REBIA E EdItoR (voluntáRIo)Escritor e jornalista VILMAR Sidnei Demamam BERNA - Prêmio Global 500 da ONU Para o Meio Ambiente e Prêmio Verde das Américashttp://www.portaldomeioambiente.org.br/vilmarberna/Contatos: [email protected]: (021) 2610-7365

AssEssoRIA técnIcA AmBIEntAl: Inês Santos de Oliveira, bióloga compós-graduação em meio ambiente na COPPE/UFRJ e especialização em resíduos sólidos - (21) 9975-1224 [email protected]

AssEssoR dE logístIcA: Leonardo da. D. Berna, fotografia e infra-estrutura - (21) 7134-9209 [email protected]

PEssoA juRídIcAA REBIA mantém Termo de Parceria com OSCIP para a administração financeira dos veículos de comunicação e projetos da REBIA. Dados para o cadastro da REBIA e de seus veículos de comunicação: ASSOCIAÇÃO ECOLÓGI-CA PIRATINGAÚNA - CNPJ: 03.744.280/0001-30 – Rua Maria Luiza Gonzaga, nº 217 - no bairro Ano Bom - Barra Mansa, RJ CEP: 27.323.300 - Representante: Presidente EDUARDO AUGUSTO SILVA WERNECH Tels: (24) 3323-4861 (ACIAP), Celular: (24) 8814-3066 - [email protected]

Fontes Mistas

A Revista do Meio Ambiente é impressa em papel ecoeficiente couchè da SPP - Nemo produzido com florestas plantadas de eucalipto, preservando matas nativas. Para a obtenção desta certificação FSC (Forest Stewardship Council) foram estabelecidos os procedimentos de manutenção e controle em cada uma das etapas da cadeia de custódia da SPP-Nemo. Os principais controles do processo foram estudados, sofreram adequações e após auditoria, receberam da organização IMA-FLORA, a devida certificação.

Mais informações: SPP - Nemo: http://www.spp-nemo.com.br/principal.cfm?tela=noticias&id=420 Sobre o selo FSC: http://www.suzano.com.br/fsc/index.htm

REdAçãoTrav. Gonçalo Ferreira, 777 - casarão da Ponta da Ilha, Juru-juba - 24370-290 Niterói, RJ - Tel.: (21) 2610 7365 [email protected]

PARA AnuncIARGustavo Berna Tel.: (21) 2610 7365 / (21) 7826 2326 Telefax.: 3701 3734 - [email protected]://www.portaldomeioambiente.org.br/anunciar/anun-ciar.asp

AssInAtuRAsNa página http://www.portaldomeioambiente.org.br/JMA-Assinar/JMA-Assinar.asp você pode assinar agora pagando apenas R$ 80,00 por ano através de depósito à ASSOCIA-ÇÃO ECOLÓGICA PIRATINGAÚNA no Banco Itaú - agência 6105-1 c/c 12.983-4 - CNPJ: 03.744.280/0001-30

ImPREssão: IMPRINTA EXPRESS (LL Divulgação Editora Cultural (21) 2714-8896)

PRodução gRáFIcA: Designer: Rodrigo Oliveira da Silva [email protected]

WEBmAstER: Leandro Maia - [email protected]

Os artigos, ensaios, análises e reportagens assinadas expressam a opinião de seus autores, não representando, necessariamente, o ponto de vista das organizações parceiras e da REBIA.

Os políticos, a comunicação ambiental e o meio ambiente

Editorial

E x i s t e m l e i s l e g a i s m a s ilegítimas, e por isso precisam ser mudadas, porque em vez

de assegurar direitos e proteger bens coletivos, como os do meio ambiente, por exemplo, defendem ou criam facilidades para outros interesses contrários, como os dos que desejam lucros crescentes e ilimitados, sob uma base de recursos naturais limitada.

Numa democracia, são os políticos, em última análise, e em nome do povo, que fazem, refazem e aprovam ou desaprovam leis, e depois as fiscalizam, ou executam, através dos poderes legislativo e executivo. Berilo Neves afirmou que “as leis, assim como as lingüiças, a gente não deve ver como são feitas.” Alguns políticos agem corretamente, como uma espécie de árbitros, intermediando os conflitos de interesses que são naturais numa sociedade democrá t ica . Outros , assumem a postura de defensores de determinados grupos de interesse e esquecem que depois de eleitos são representantes do povo, e não apenas de um grupo.

O resultado é que o meio ambiente vem perdendo, a olhos vistos, agredido por desmatamentos e queimadas, pela especulação imobiliária, pela exploração mineral, pela poluição de alguns setores industriais e do transporte, entre outros, onde o que tem prevalecido é um tipo de progresso onde o meio ambiente é percebido como recurso a ser utilizado sem limites, ou um obstáculo a ser superado. Basta comparar os índices de desmatamento e queimada da Amazônia com os mapas da fome, por exemplo, para se constatar o equívoco desta percepção. Onde mais se destruiu o meio ambiente é também onde mais existem problemas com trabalho escravo e gente na miséria e passando fome.

Embora o argumento para tanta destruição ambiental seja o atendimento à necessidade de muitos, na verdade

Por Vilmar Sidnei Demamam Berna * o que prevalece é a ganância de uns poucos. Gandhi já nos alertou que “o planeta tem recursos para atender a necessidade de muitos, mas não para atender à ganância de uns poucos.” Os poderosos usam de influência e dinheiro para assegurar que as decisões dos políticos estejam atreladas aos seus interesses a não aos da maioria da população. Conseguem isso, por exemplo, ao financiarem campanhas de candidatos que, infelizmente, pela falta de ética, de compromisso com o interesse público e de financiamento público de campanha, aceitam se tornar reféns desses interesses, contra o interesse público.

Este mesmo mecanismo de dominação atinge os meios de comunicação, pois os donos do poder precisam assegurar que a sociedade não tenha acesso a toda a verdade, mas apenas à informação que lhes interessa. No Brasil, a maior parte dos meios de comunicação pertencem a políticos, ou aos seus ‘laranjas’, e quase não existe espaço para a mídia ambiental independente que denuncie agressões ambientais e dê voz e vez às organizações independentes da cidadania ambiental organizadas que lutam por um outro tipo de modelo de desenvolvimento. E sem informação ambiental independente, a sociedade tenderá a reproduzir as mesmas decisões que trouxeram a humanidade à beira do colapso, continuando a escolher os mesmos políticos, os mesmos produtos, o mesmo estilo de vida, apoiando um modelo predatório e poluidor, tornando mais difícil a mudança rumo a um outro modelo de desenvolvimento, mais sustentável ambientalmente e socialmente mais justo.

* Vilmar é editor da Revista e do Portal do Meio Ambiente, fundador da REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental e escritor, com 18 livros publicados. Em 1999, recebeu no Japão o Prêmio global 500 da ONU Para o Meio Ambiente. www.escritorvilmarberna.com.br

Page 5: Revista do Meio Ambiente 25

3 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Page 6: Revista do Meio Ambiente 25

4 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Entrevista com João TalocchiMudanças Climáticas I

A todo instante, uma nova notícia surge sobre os problemas que a humanidade terá que enfren-

tar caso continue com os altos índices de emissões de gases que provocam e acentuam o efeito estufa. A ciência mostra que se não houver uma redução, todos os povos serão prejudicados com o aquecimento global. Organizações ambientais e sociais tentam alertar e propor mudanças, mas um grande jogo de interesses econômicos e políticos impede uma transformação significativa.

A Organização Não-Governamental (ONG) Greenpeace participa, atualmente, de discussões que visam estabelecer um tratado pela mudança climática. Para a Organização, as propostas apresentadas pelos países não respondem às necessi-dades para que o mundo não entre em um colapso climático e ambiental.

Em entrevista à Radioagênca NP, um dos coordenadores do Greenpeace, João Talocchi, fala sobre o aquecimento global e o papel do Brasil nesse assunto.

Radioagência NP: João Talocchi, os Estados Unidos estão discutindo o aque-cimento global e até mesmo uma lei sobre o clima. Como você avalia esse fato?

João Talocchi: Os Estados Unidos aprovaram a lei deles que trata de mu-danças climáticas, a “Waxman-Markey”. Essa legislação, a nosso ver, é muito fraca e pouco ambiciosa. Joga para 2020 uma redução de 0% em relação aos níveis de 1990, ou seja, os EUA voltariam a emitir o que emitiam em 1990 no ano de 2020, só que no primeiro período do protocolo de Kyoto, que termina em 2012, os paí-ses desenvolvidos já tem que ficar 5,2% abaixo [das emissões] de 1990. Os EUA

estão jogando para o futuro uma medida que os países já aceitaram adotar agora. A ciência mostra que, para ficarmos em níveis seguros de aquecimento, os países desenvolvidos terão que cortar em 25% a 40% as emissões no ano de 2020, com-parado ao ano de 1990.

RNP: Essa postura é vista apenas nos Estados Unidos ou existem propostas co-erentes vindas de países desenvolvidos?

JT: Cada grupo de países desenvolvi-dos ou cada país – tem o tratado da União Européia, do Canadá, do Japão, Rússia, Austrália – apresenta uma proposta. O ruim da proposta americana é ter um nível de ambição baixa. Vários outros países se escondem atrás dela, propondo também reduções baixas nas emissões, como é o caso do Japão, Canadá e Rússia. A União Européia tem a melhor das posições, fa-lando que aceita reduzir em até 30% das emissões, se os outros países desenvolvi-dos aceitarem metas ambiciosas.

RNP: Como você avalia o papel do Brasil nas negociações climáticas?

JT: O Brasil é um país importante nas negociações internacionais, porque temos um nível de emissões muito alto, por cau-sa do desmatamento. Até agora, somos o 4º maior emissor de gás de efeito estufa, por causa do desmatamento da Amazônia. O Brasil cobra posturas firmes e ambicio-sas dos países desenvolvidos e também compromissos financeiros que reflitam na realidade. Só que o Brasil também precisa fazer sua lição de casa e não deixar que o discurso lá de fora, que é um discurso muito bem feito e muito bonito, seja corrompido pelas ações que estão sendo feitas aqui dentro. Podemos dar como

exemplo a aprovação de alguns anexos da Medida Provisória 458, que legaliza 1,5 hectares de terra para ocupação e a destruição que está sendo feita e proposta do Código Florestal, que são vetores para o aumento do desmatamento.

RNP: Um recente estudo mostra que a energia eólica seria capaz de suprir a ne-cessidade energética mundial. Esse seria um ponto importante a se considerar para as mudanças climáticas?

JT: A mudança da matriz energética é um ponto fundamental para que se consiga atingir um padrão de desenvolvi-mento sustentável. E ela é muito benéfica no atual momento, porque gera muitos empregos, tanto na área de instalação de placas solares e geradores eólicos, como na área de desenvolvimento e pesquisa. Além do que, diminui os níveis de polui-ção atmosférica e a emissão de gases que contribuem para o aquecimento global.

RNP: É viável para o Brasil investir nes-sas fontes de energia?

JT: O Brasil tem um potencial gi-gantesco de geração de energia eólica e solar, só que precisamos começar a olhar para frente, ver que podemos nos benefi-ciar de investimentos feitos agora nessa área, em pesquisa, desenvolvimento e implantação. Precisamos ganhar com isso no futuro, nos tornando um exportador de tecnologia Precisamos ser o país que terá a matriz mais limpa do mundo no futuro.

* Da Radioagência NP

30/06/09

Por Ana Maria Amorim *

Page 7: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 5

leva ao processo de globalização, o mercado proporciona os sinais que mo-tivam a necessidade do desenvolvimento sustentável. É necessária uma política impositiva que favoreça os produtos e os procedimentos mais benéficos para o meio ambiente e a sociedade e que aumente as taxações dos que são noci-vos. Porém, nenhuma nação pode adotar isoladamente essa política sem prejuízo para sua própria economia. Isto só pode ser efetivamente realizado no contexto de um acordo internacional obrigatório para todos os países.

A próxima Conferência Internacional sobre Mudança Climática, que aconte-cerá em dezembro em Copenhague, será uma das mais importantes e uma das mais difíceis. É um inquietante paradoxo que, enquanto o nosso futuro depende de graus de cooperação sem precedentes, vivamos uma crescente cooperação e divisão. Copenhague será um marco muito importante, talvez decisivo, no caminho para as mudanças fundamentais a fim de alcançar a segurança climática essencial para nossa sobrevivência, tanto quanto a sustentabilidade e o progresso que devemos aspirar. O tempo está se esgotando e não podemos deixar passar a oportunidade.

Entretanto, devemos nos dar conta de que ainda existem poucas evidências sobre os governos estarem preparados para concretizar os compromissos que nos levarão a essa nova era. Os países, as organizações e as pessoas que parti-cipam desse diálogo terão papel impor-tante em Copenhague. Façamos com que as medidas para conseguir a segurança climática tenham a mais alta prioridade em nossas vidas, tal como esperamos que tenham para os governos.

* Maurice Strong foi secretário-ge-ral da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Humano de 1972. Para Envolverde www.envolverde.com.br

Fonte: VidÁgua

Estudo mostra que o custo econômico do aquecimento global já ultrapassou os US$100 bilhões

Mudanças Climáticas II

U m estudo do Fórum Huma-nitário Mundial, encabeçado pelo ex-secretário-geral da

Organização das Nações Unidas, Kofi Annan, estima que o custo econômico e humano da mudança climática já chega a aproximadamente US$125 bilhões anuais, significando a perda de 300 mil vidas e afetando cada vez mais pessoas em todo o mundo, em especial os pobres. As medidas financeiras para alcançar o êxito na segurança climática vão além do que até agora consideram os principais países desenvolvidos e do que reclamam China e as nações em desenvolvimento.

Essas medidas não devem consistir apenas em fornecer uma soma global, mas também na aplicação de um pacote de compromissos firmes durante um longo prazo, com uma contribuição inicial da magnitude de pelo menos US$ 1 bilhão. A redistribuição de maciços recursos econômicos e humanos que hoje se destinam ao setor militar poderia satisfazer a maior parte das necessidades em matéria de segurança climática. Se trataria de dar prioridade à melhoria da vida no planeta em lugar de outorgá-la ao poder de matar.

Se a quantia de US$ 1 bilhão pode parecer irrealmente alta nas atuais cir-cunstâncias, cabe lembrar que é apenas uma porção do que os Estados Unidos gastaram nas guerras do Iraque e do Afeganistão e nas atuais tentativas de resgate de suas principais instituições financeiras e de sua debilitada economia. Na crise da mudança climática há uma necessidade maior ainda de resgate do que na crise econômica e financeira,

embora ambas estejam intrinsecamente relacionadas. Somos a civilização mais rica que já existiu. Podemos realmente aceitar que não estamos em condições de salvar a nós mesmos e as gerações futuras?

Há boas notícias quanto às promisso-ras dimensões do progresso tecnológico que nossa sociedade do conhecimento produziu. A informação cada vez mais sofisticada e a tecnologia proporcionam ferramentas que nos permitem entender e manejar os sistemas complexos que de-terminam o funcionamento de nossa ci-vilização. Os países asiáticos melhor su-cedidos economicamente, especialmente Japão e Coréia do Sul, nenhum bem dotado de recursos naturais, construíram seu êxito graças ao desenvolvimento de tecnologias avançadas e de altas taxas de investimento em educação e pesqui-sa. Além disso, a China faz progressos impressionantes para se transformar em uma economia baseada no conhecimento e na tecnologia, bem como outros países asiáticos em diferentes graus.

O que devemos fazer? Primeiro, necessitamos de um novo modelo econômico que integre as disciplinas tradicionais com as novas percepções da economia ecológica. Esta “nova econo-mia” deve proporcionar bases teóricas que incorporem na política tarifária e nas contas nacionais os verdadeiros valores do ambiente e dos serviços proporcionados pela natureza. Tam-bém deve incluir um regime fiscal e de regulamentação com incentivos para o sucesso da sustentabilidade econômica, social e ambiental.

As ações das pessoas e suas priorida-des dependem de sua motivação. Embora todos estejamos motivados pelo interes-se próprio, em um plano mais profundo, a ética, a moral e os valores espirituais fornecem a base subjacente de nossa motivação. Grande parte dos atuais con-flitos, violências e “terrorismos” surgem não de motivações econômicas, mas de ideologias extremas e de preconceitos profundamente arraigados.

Em uma economia de mercado que

Por Maurice Strong *

Page 8: Revista do Meio Ambiente 25

6 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Os consumidores estão interessados na tecnologia verde, mas ainda confundem o conceito

Consumo Responsável

S ão Paulo - A maioria dos usu-ários se sentem culpados pela contaminação do meio ambien-

te provocada pelo uso de dispositivos tecnológicos em casa e no escritório. Isto resultou em uma pesquisa encomendada pela Lexmark International e conduzida pela Ipsos com 10 mil pessoas de 21 países, segundo as quais 75% se sentem incomodadas quando imprimem páginas desnecessárias.

64% dos entrevistados acreditavam erroneamente que a eliminação dos car-tuchos é a principal causa da poluição, mas menos da metade dos usuários (46%) acreditam que, na realidade, o papel é o maior poluente do meio ambiente. Este é o ponto que exige mais entendimento e informação, a fim de reforçar os seus hábitos de consumo e contribuir para uma maior sustentabilidade.

As mulheres são mais ambientalmente conscientes

As conclusões revelam que a maioria dos entrevistados não são capazes de identificar os hábitos que mais poluem em termos de impressão e que as mu-lheres mostram maior preocupação do que os homens sobre o impacto do seu comportamento no meio ambiente, além de melhor reconhecerem os perigos da prática errada de impressão.

O estudo indicou que as mulheres têm maior grau de culpa sobre suas práticas verdes do que os homens, além de serem mais propensas a comprar produtos de fabricantes que reciclam.

As principais conclusões são: • 91% dos entrevistados preferem

reparar um dispositivo em garantia em vez de eliminá-lo. 85% escolheria com frequencia a opção de impressão ecoló-gica disponível nos equipamentos com um único clique ou apertando um simples botão.

• 85% escolheria com frequencia

As mulheres têm mais interesses, enquanto os homens, se mostram mais confusos

a opção de impressão ecológica dispo-nível nos equipamentos com um único clique ou apertando um simples botão.

• 84% estariam mais dispostos a comprar um produto, se o fabricante mos-trar mais respeito pelo ambiente, e estão mais preocupados com a reciclagem.

• 75% se sentem culpados quando imprimem páginas desnecessárias.

• 64% pensam incorretamente que o descarte de cartuchos é a principal causa da poluição.

“Este estudo mostra claramente que as pessoas precisam de mais informações para o acesso às melhores práticas de im-pressão, e a Lexmark está empenhada em fornecer esses elementos”, disse Antonio Mola, Diretor Regional de consumíveis da Lexmark na América Latina. “Na Lexmark se reconhece a alguns anos que minimizar o impacto ambiental e otimizar a eficiência dos seus produtos faz parte da nossa responsabilidade corporativa. As nossas práticas são eco-lógicas em cada fase do ciclo de vida dos produtos fabricados e em todas as nossas operações”.

As pessoas exigem uma responsabilidade partilhada

Embora 3/4 dos entrevistados se sintam culpados pelos seus hábitos de impressão, e muitos consideram que os fabricantes poderiam fornecer mais auxílio e instrução, apenas 39 dos 100 entrevistados acreditam que as empre-sas de tecnologia são responsáveis pela reciclagem.

No entanto, os resultados sugerem que uma atitude ambientalmente respon-sável pelos fabricantes exerce uma forte influência nas decisões de compra dos

consumidores. 84% dos entrevistados diz que eles estariam mais dispostos para comprar uma marca que se preocupa com a reciclagem.

América Latina, Europa e EUA. O Brasil foi o país em que os usuários

relataram se sentirem mais responsáveis em descartar um dispositivo em vez de consertá-lo com 84%, enquanto 77% dos usuários do México se sentiram culpados com esta prática.

47% dos mexicanos e 42 usuários dos entrevistados no Brasil acham que os fabricantes devem demonstrar uma atitude mais responsável para a recicla-gem, enquanto 95% dos brasileiros e 86% dos mexicanos responderam estar dispostos a comprar produtos tecnoló-gicos de fabricantes que se preocupam com a reciclagem.

Os usuários do México e do Brasil classificaram como primeiro lugar a eli-minação dos cartuchos (67% e 59% res-pectivamente) como a principal ameaça para o ambiente, seguido pelo consumo de papel (53% e 58% respectivamente).

No México, 91% dos usuários dis-seram que se sentiam culpados quando imprimiam páginas desnecessárias, enquanto no Brasil o percentual foi de 87%.

Em geral, a maioria dos europeus (69%) estão preocupados com os efeitos negativos da utilização de papel para o ambiente, mas se sentem menos culpados que os americanos (78%) dos custos e dos desperdícios de equipamentos.

No entanto, os usuários europeus confiam menos em programas de reci-clagem dos fabricantes, em contraste com os Estados Unidos e o resto do mundo. Apenas 37% dos entrevistados na Europa acreditam que os fabricantes fazem o suficiente em termos de recicla-gem, em comparação com quase metade (46%) dos americanos e a média global de 39%.

As mulheres têm mais consciência am-biental

Nos 21 países envolvidos no estudo,

Page 9: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 7

mais formação e informação, a fim de reforçar os seus hábitos de consumo e contribuir para maior sustentabilidade.

Entretanto, a Análise do Ciclo de Vida Lexmark (1) concluiu que a maior contaminação do meio ambiente gerado por uma impressora é obtido a partir de gastos com o papel (47%), comparado com 10% da poluição que é atribuível ao consumo de energia e 11% com cartuchos de tinta. Da mesma forma, a maioria das emissões de CO2 tem lugar durante o uso do computador: 68% para multifuncio-nais com tecnologia a jato de tinta.

A Lexmark, amplamente conhecida pela sua estratégia “Imprima Menos, Economize Mais”, publicou o seu Re-latório de Responsabilidade Social Cor-porativo 2008, há algumas semanas. Este relatório mostra os esforços contínuos da empresa sobre questões de responsabili-dade social, incluindo as ações de apoio e sua contribuição para a sustentabilidade com usuários corporativos. O relatório está disponível em www.lexmark.com.

Fonte: Silvana Pareja

as mulheres apresentaram maior preo-cupação do que os homens no impacto ambiental de seu comportamento, bem como melhores condições para reco-nhecer os perigos de uma má prática da impressão. Do mesmo modo, as mulheres são mais propensas a comprar produtos de fabricantes que reciclam.

Além disso, 71% das mulheres se sentem culpadas quando descartam um dispositivo, em comparação com 63% dos homens. As mulheres também são mais conscientes dos custos de papel: 79% se sentem culpadas quando imprimir páginas desnecessárias, em comparação com 71% dos homens.

Dois terços dos entrevistados estão confu-sos quanto ao gasto com papéis

A grande maioria dos entrevistados (64%) acredita erroneamente que a tinta e toner são as principais ameaças para o ambiente em termos de impressão.

Entretanto, menos de metade dos usuários (46%) pensam que o gasto com o papel representa o maior poluente do meio ambiente. Este é o ponto que exige

Sobre o Estudo O estudo da Lexmark foi conduzido

pela Ipsos entre 12 de março e 6 de abril de 2009. Foram consultadas 10.507 pes-soas com idade acima de 15 anos em 21 países. Houve, pelo menos, 500 entrevis-tas por país, incluindo amostras nacionais representativas para o objetivo do estudo e realizado na Áustria, Canadá, Dinamar-ca, E.U.A., França, Austrália, Alemanha, Brasil, Itália, China, Holanda, México, Noruega, Rússia, Polônia, África do Sul, Romênia, Turquia, Espanha, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Reino Unido.

Sobre a LexmarkA Lexmark International, Inc. (NYSE:

LXK) fornece às empresas e consumido-res em mais de 150 países uma ampla gama de produtos, soluções e serviços de impressão e imagem que os auxiliam a serem mais produtivos. Em 2008, a Lexmark apresentou uma receita de US$ 4,53 bilhões. Saiba mais sobre como a Lexmark pode ajudar a aumentar a pro-dutividade e a proteger o meio ambiente acessando www.lexmark.com.

Page 10: Revista do Meio Ambiente 25

8 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

O verdadeiro nó está no crescimento

EntrevistaPor Henrique Andrade Camargo, do Mercado Ético

A questão do crescimento eco-nômico é o principal ponto de tudo o que envolve a sustenta-

bilidade. Essa é a opinião de Giovanni Barontini, doutor em Direito Internacio-nal Público pela Faculdade de Direito da Universidade de Florença e sócio da Fábrica Éthica Brasil, uma consultoria em Sustentabilidade. Ele afirma que pouco importa uma empresa cortar 30% ou 40% de suas emissões se, na verdade, seus planos são de crescimento e, portanto, de maior poluição.

Barontini acredita que as ferramentas para aferir a sustentabilidade, como in-dicadores e protocolos, são importantes, mas não tão significativas quanto a mu-dança de mentalidade da população e das corporações. “As pessoas querem salvar o Planeta, mas ainda não descobriram que elas são o Planeta”, diz.

Leia abaixo a entrevista exclusiva de Giovanni Barontini para o Mercado Ético.

Mercado Ético - A sua atuação leva em conta níveis estratégicos na corporação. Como incorporar sustentabilidade como meta?

Giovanni Barontini - Em primeiro lugar, eu não sei se sustentabilidade de-veria ser uma meta ou, muito mais, uma atitude ou filosofia permeando todos os níveis da organização. Quando falamos em metas sustentáveis, existem vários im-pedimentos, que vão desde a melhoria dos impactos sociais e ambientais - daquilo que diz respeito aos processos, operações, serviços e produtos - até a outra ponta, que, ao meu modo de ver, nenhuma em-presa no Brasil e pouquíssimas no mundo estão tratando, que é o verdadeiro nó da sustentabilidade: o crescimento.

Independente de como se consegue diminuir o impacto socioambiental, tem que se perguntar como isso dialoga com a questão do crescimento. Se uma empresa diminuir esse impacto em 30% ou 40% mas planejar duplicar ou triplicar a pro-dução, obviamente para o planeta e para a sociedade os resultados finais serão muito mais nocivos. Quando a gente fala em

meta, o que tento passar para as empresas é o seguinte: a primeira coisa é entender qual é a noção ou acepção que vamos adotar nesse tema. Se estamos falando de sustentabilidade como forma de gestão, modelo de negócio, como filosofia, neces-sariamente é preciso considerar a questão do crescimento - ou então vamos falar de sustentabilidade como está sendo tratada hoje, de forma banalizada. Qualquer ação, maior ou menor, seja no âmago do negócio ou na periferia, é qualificada de sustentabilidade e é jogada dentro de um grande caldeirão, onde entra filantropia, marketing social, investimento social privado. Na verdade, tudo fica meio homogeneizado e perdemos um pouco o fio da meada.

ME - E o que seria sustentabilidade para uma empresa?

GB - A meu modo de ver é algo que tem que estar se referindo necessariamen-te à questão do crescimento. É começar a se perguntar como podemos reestruturar essa sociedade capitalista, de consumo, sobre a essencialidade dos produtos. Por exemplo, estou produzindo determinados bens, mas será que são realmente neces-sários? Será que o cidadão precisa disso? Será que no futuro, com um consumidor mais esclarecido e mais consciente, esse tipo de bem continuará a ter valor? É uma discussão muito de futuro, mas também voltada para o presente para analisar como podemos reconstruir essa sociedade e qual o papel de minha empresa nesse contexto.

ME- Um dos palestrantes da Conferên-cia Ethos deste ano ressaltou o interesse do empresário pelo lucro, mesmo que esteja envolvido em atividades ditas sus-tentáveis. Existe algum outro apelo para o empresário que não seja o de ganhar cada vez mais?

GB - Acho que sim. Tudo depende de quem é esse empresário. Quando falamos de empresa, referimo-nos a um leque mui-to amplo, que abrange as companhias de capital aberto, que têm muitos acionistas anônimos, quase sempre exigindo resul-tados financeiros de curtíssimo prazo, até aquelas empresas que têm uma conotação familiar, que têm um dono, muitas vezes mais preocupado e sensibilizado com determinadas questões.

Acho difícil generalizar, mas vejo que a atividade empresarial não tem como único fim gerar lucro. O lucro é muito mais um instrumento para que a empresa possa cumprir determinadas funções sociais, entre as quais também remunerar seus acionistas e seus donos. Mas, em geral, acho que essa visão de que o empresário só visa o lucro é bem ultrapassada. É uma visão, que, na verda-de, tem sua base em um equívoco de usar todas as métricas de avaliação do sucesso em nível macro, como o PIB dos países, até chegar às empresas mesmo, onde você pode medir o sucesso de acordo com base na receita operacional, nos lucros.

Quando você traz outros indicadores de bem-estar, qualidade de vida, satis-fação e, em última análise, a felicidade - inclusive a dos próprios donos - você vê que muitas vezes esse sucesso não traz esses outros valores agregados. Então qual é o indicador que estamos usando? Qual é a métrica? Se basearmos esses medidores somente na geração de receita e lucros, vamos ver que, de certa forma, não estamos descrevendo a realidade como ela é. É uma realidade feita também de seres humanos com suas realizações e frustrações.

ME - Com relação à política corporativa, você acha que ela pode influenciar o com-portamento dos funcionários?

foto

: you

sol.c

om

Page 11: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 9

GB - No processo de transformação de uma empresa, existe uma dimensão que é a da cultura organizacional. Como é que esse grupo de pessoas vive, quais são os valores de referência para suas atitudes, comportamentos etc. Eu estou cada vez mais convencido de que a pessoa jurídica, a empresa, é uma ficção. Ela não existe. O que existe de verdade é uma somatória de pessoas físicas, que são aquelas que realmente estão lá, de alguma forma definindo esse ser: a empresa.

Então é certamente importante que, ao lado da expansão do processo de consciência dos indivíduos, haja esse processo de transformação da consciência e cultura organizacional. De fato certas atitudes, posturas, metas comecem a ser rediscutidas e, aos poucos, comecem a ser readaptadas a um contexto diferente, que hoje clama por questões mais sus-tentáveis, por uma ética na questão dos negócios.

ME - Hoje se discute muito as metas de emissão de carbono que devem ser estabe-lecidas em Copenhagen. Sustentabilidade só pode ser alcançada no longo prazo?

GB - Acho que não. Essa é uma grande ilusão da experiência humana, que divide o tempo em passado, presente e futuro. Na verdade, as únicas chances que temos de mudança estão no presente. Porque presente é o único tempo em que a gente realmente vive. Por exemplo, quan-do temos alguma expectativa do futuro, estamos tendo isso agora. Assim como fazemos uma avaliação do passado. Fa-zemos isso no presente. Sustentabilidade somente existe no presente, porque esse é o único tempo a nossa disposição.

ME - Mas existem metas para se alcançar no futuro, não é?

GB - Claro. Mas o fato é que muitas vezes as metas são utilizadas de uma forma pouco ideologicamente honesta de procrastinar a tomada de atitude. Como eu sei que tem umas metas lá na frente para serem alcançadas e não podem ser feitas agora, isso, de alguma forma, me dá um sentimento de inércia e eu não faço nada. É tão enorme essa tarefa de construir um outro tipo de sociedade, que eu acho que não tenho condição de fazer isso agora. O equívoco é esse. Uma caminhada de mil quilômetros começa com o primeiro passo. Se esse primeiro passo não é dado no presente, não haverá

nenhum futuro diferente do lugar que já estamos indo.

ME - Você acredita que estamos dando esse primeiro passo?

GB - Acho que muitas coisas estão acontecendo. Mas me parece que o nível de consciência coletiva não está ainda preparado. E muito mais do lado dos am-bientalistas, dos praticantes de sustentabi-lidade, do que do lado das empresas.

ME - Como assim?GB - Hoje tem o ambientalista que

quer salvar o planeta. Ele continua a re-produzir exatamente a mesma separação e a mesma fragmentação, que está na base da insustentabilidade da sociedade. Ele diz que quer salvar o planeta separado de mim. Eu posso destruí-lo ou salvá-lo. Mas certamente eu não atingi o entendi-mento de que eu sou o planeta. Então, certamente, a sustentabilidade começa aqui comigo, nesse momento. Não há outro tempo possível para agir. Então, in-felizmente, você vê que tanto as empresas de um lado quanto o próprio movimento da responsabilidade social, continuam ambos dialogando em um contexto muito de visão dual, em que se vêem separados. Ainda não compreenderam que só se trou-xerem o planeta como parte integrante do meu ser é que eu vou poder de fato transformar alguma coisa.

ME - Você acredita no real poder dos consumidores em exigir mudanças das companhias?

GB - Na sociedade da comunicação, como está organizada hoje, o consu-midor não tem acesso às informações fundamentais que lhe permitiriam agir e influenciar. Por exemplo, eu, que, como bom italiano, sou consumidor de massa. Sempre comprei determinada marca já na Itália e que também existe no Brasil. Descobri em um livro, que essa marca, do ponto de vista acionário, está nas mãos de uma fabricante de armas. Então, se o consumidor tivesse nos rótulos a informa-ção de uma massa de quem está por trás dela, quem é, na verdade, esse grupo que está oferecendo esse alimento, dependeria somente dele tomar a decisão de comprar ou não. O consumidor não tem esse poder porque, na nossa sociedade, ele não está informado. Mas se ele estivesse e fosse colocado na posição de optar de forma consciente, aí sim, poderia influenciar.

ME - Os trabalhos que você desenvolve são baseados no Sistema Operacional Integral. Como colocar as idéias de Ken Wilber na vida real?

GB - As idéias do Ken Wilber são muito reais. Na verdade ele oferece um mapa para gente enfrentar todos esses dilemas que a gente tem na vida con-creta. Tanto que ele não é um filósofo desses mais cheios de teorias abstratas. Ele se preocupa em dar esse fundamento prático.

A idéia é que para a gente transformar a realidade precisamos agir no interior do indivíduo, ou seja, nos seus valores, na sua visão de mundo, na conduta, tanto como funcionários de uma empresa, do-nos de negócios ou cidadãos; no interior do coletivo, que é a cultura organizacio-nal das empresas, e no exterior coletivo, que abrange mais ferramentas como indicadores e protocolos.

Essa última, já começamos a fazer, porque é a mais fácil. É muito fácil para uma empresa criar um código de conduta, que é um instrumento. Mas é muito mais difícil você sensibilizar sobre os valores e as consciências das pessoas que precisam usar esse código de ética.

ME - As pessoas acabam virando ro-bôs?

GB - Exato. Eventualmente elas podem implementar um código de ética porque alguém mandou a instrução para fazer isso. Mas não vai funcionar se, de fato, elas não forem sensibilizadas na consciência.

Então, a idéia de Ken Wilber é mais ou menos essa. Não vai surtir efeito ver-dadeiro na área da sustentabilidade se a gente se obstinar a trabalhar somente nes-ses aspectos de ferramentas, indicadores, protocolos, convenções, códigos de ética e de conduta. Essas são apenas parte das ferramentas que precisamos para, de fato, mudar a realidade em que vivemos.

ME - Além desse quadrante, outro ponto abordado pelo SOI é a espiritualidade. Você acredita que ainda exista espaço para assuntos ligados ao espírito no mundo de hoje?

GB - Se você me permitir, não há nem como se fazer essa pergunta, porque espiritualidade entendida como nossa capacidade de acessar a divindade que está dentro de nós, é uma experiência que cada indivíduo já faz no seu nível, no seu

Page 12: Revista do Meio Ambiente 25

10 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

tempo, na sua cultura. Às vezes faz-se isso atrelado a uma religião. Você faz isso em uma igreja em um templo hebraico, budista. Mas na verdade se perguntar isso é como se perguntar se um empresário tem alma, tem coração, emoções? Óbvio que sim. É um ser humano. O que nós fi-zemos é fingir que isso simplesmente não existe. É fingir que a gente vive como na ponta do iceberg. È uma bela metáfora do iceberg de Ken O’ Donnel, dizendo que na vida corporativa nos acostumamos a viver na ponta da montanha de gelo. Tudo aquilo que acontece na vida corporativa parece que não deixa espaço ao senti-mento, ao pensamento, às aspirações, às pequenas ambições ou frustrações. Tudo isso acontece em um nível subconscien-te que quando explode já obviamente decreta conflitos já insolúveis, porque não foram integrados na luz da atuação da empresa.

Então, acho que espiritualidade é uma das chaves para transformamos a realida-de. Claro que não aquela espiritualidade

abstrata, de nos fecharmos em um mos-teiro. É a espiritualidade entendida como uma ascensão para um mundo interior, para um autoconhecimento, que nos ajuda a exercer nosso papel de CEO, diretor de empresa, consumidor, cidadão.

ME - Então, onde estamos e para onde vamos?

GB - Estamos em uma sociedade capitalista, somente focada no ter. Todos os modelos e referências de sucesso, de beleza, de bem-estar são baseados em consensos somente materialistas. Para onde a gente vai é um lugar onde con-seguiremos nos apropriar daquilo que é realmente importante na vida, em que possamos ter uma maior simplicidade, que pode significar, na vida real, que precisemos de menos produtos e menos coisas para sermos felizes. Portanto, a própria atividade empresarial, a dinâmica de trabalho será repensada e reestruturada radicalmente.

Existe esse bicho-papão do desem-

prego. O trabalho é um valor importante, mas ele não pode ser colocado acima de qualquer outro valor. A gente está caminhando para uma sociedade onde as pessoas poderão trabalhar menos e ter mais tempo a disposição para cultivar uma qualidade de vida e outras atividades que não reconhecemos como realmente importante.

Uma pesquisa do Canadá, com em-presários em ponto de morte, perguntou o que realmente foi importante na vida deles. As respostas sempre estão relacio-nadas aos afetos, aos amores, às relações. Muito dificilmente a pessoa lembra essas coisas efêmeras como promoção de ge-rente júnior para sênior. Todos sabemos o que é realmente importante. Mas parece que existe um véu entre os nossos olhos e a realidade. E o nosso desafio é esse. Temos que derrubar esse véu e reestru-turar a sociedade ao nosso redor de uma forma mais saudável. Afinal, acho que sustentabilidade é isso.

Mudança Climática

Brasil estuda cobrar por emissão de CO2

N a esteira do programa econô-mico do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o go-

verno brasileiro começou a preparar um modelo de tributação para créditos de carbono. O marco regulatório em estudo pode resultar na criação de um tributo direto sobre as emissões de dióxido de carbono (CO²).

O debate ganhou celeridade depois que Obama, ao apresentar o orçamento de 2009, propôs levantar US$ 646 bilhões até 2020 com novas leis relacionadas às mudanças climáticas. Ganha força a tese de que essa nova tributação pode abrir uma janela de oportunidade de investi-mentos e gerar emprego e renda em meio a um ambiente de recuperação econômica pós-crise. Além, é claro, de preservar o meio ambiente.

O Brasil quer avançar na discussão desse tema até a próxima reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, em Copenha-gue, no início de dezembro. O secretário de Política Econômica do Ministério da

Fazenda, Nelson Barbosa, informou ao Estado que a área econômica começou os estudos para escolher o modelo brasileiro. É o assunto da hora no mundo, diz ele. “É o tributo do século 21. A discussão envolve muito mais que preservação do meio ambiente. É uma questão econômi-ca”, afirma.

Cúpula Mundial sobre o Clima A ministra dinamarquesa do Clima,

Connie Hedegaard, admitiu na sexta-feira (3) na Groenlândia que não existe um pla-no B caso a cúpula mundial sobre o clima

que a ONU organiza para dezembro em Copenhague termine em fracasso.

“É claro que não trabalhamos com um plano B. Devemos alcançar um acordo em Copenhague”, declarou a ministra, após uma reunião ministerial com 29 países de todos os continentes para impulsionar as negociações - que estão “lentas demais”, afirmou.

Fechar um acordo “consistente” re-presenta “um desafio político, e não téc-nico”, destacou Hedegaard, que elogiou o “espírito de vontade e compromisso muito forte dos participantes de se envol-ver política e pessoalmente para garantir o êxito da cúpula de Copenhague”.

“É possível conseguir um acordo ambicioso em Copenhague, mesmo que haja muitos obstáculos pelo caminho, alguns deles enormes”, como a questão do apoio financeiro dos países ricos aos países pobres, afirmou.

Fonte: Boletim Vidágua / O Estado de S.Paulo / Yahoo

Page 13: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 11

Dia Mundial de Proteção às Florestas

BNDES não se compromete com o fim do desmatamento na Amazônia

O Banco Nacional de Desenvol-vimento Econômico e Social (BNDES) lançou hoje sua nova

política de exigências para a concessão de financiamento ao setor pecuário, com medidas para frigoríficos, pecuaristas e poder público. Apesar de conter pontos positivos, as medidas do BNDES oferecem prazos muito longos para que frigoríficos e pecuaristas cumpram a lei e melhorem seu desempenho socioambiental, além de não fazer qualquer exigência em relação ao fim do desmatamento na Amazônia.

“É inadmissível que o governo brasi-leiro continue a aceitar financiar o desma-tamento na Amazônia. O BNDES perdeu a oportunidade de ser o grande viabilizador de um modelo de desenvolvimento dife-renciado que não inclua a destruição da floresta como uma premissa”, afirma André Muggiati, do Greenpeace.

Entre os pontos positivos das medidas do BNDES para os frigoríficos estão o con-dicionamento de financiamentos à exclusão de fornecedores com área embargada, con-denados por desmatamento ilegal, trabalho escravo ou localizadas em terras indígenas. Há também linhas de crédito para aumento de produtividade, recuperação de áreas degradadas e de reserva legal, margens de rio e encostas de morros.

Entre os prazos excessivamente lon-gos, estão a adoção de rastreabilidade do gado para toda a cadeia a ser efetivada até 2016, muito além do término do mandato do presidente Lula. A entrada dos pedidos de legalização fundiária e de licenciamento ambiental são postergados até julho de 2010. Com isso, o banco também deverá continuar financiando áreas com ilegalidades durante todo esse tempo.

O prazo de 2016 destoa até mesmo

daquele apresentado pelo ministro da Agri-cultura, Reinhold Stephanes há um mês em audiência na Câmara dos Deputados. Falan-do apenas do Pará, o ministro afirmou que seria capaz de ter um sistema para rastrear o gado no estado em apenas seis meses. A Marfrig, um dos maiores frigoríficos brasi-leiros, diz que em no máximo dois anos é possível impor total rastreabilidade em sua cadeia de fornecedores em todo o Brasil.

Em junho o Greenpeace lançou o relató-rio “Farra do Boi na Amazônia” mostrando o papel do BNDES como sócio e financia-dor dos grandes frigoríficos brasileiros que se abastecem de animais criados em áreas desmatadas ilegalmente na Amazônia.

Mais InformaçõesKiko Brito, 11 8245-2250Caroline Donatti, 92 8114-4497

Ambiente destacou a parceria entre Ibama, For-ça Nacional e Polícia Rodoviária e afirmou que nunca houve um trabalho de fiscalização “tão intenso e árduo” quanto agora, o que resultou na expressiva queda do desmatamento. Ele citou a importância das operações Arco Verde e Portal - que controla o escoamento de madeira dos estados do Acre, Rondônia, do sul do Ama-zonas e do noroeste do Mato Grosso.

Segundo o diretor do Ibama, Luciano Evaristo, das 300 operações planejadas para este ano, 103 já foram realizadas entre janeiro e junho. A maior parte das ações estratégicas será executada no período crítico da seca que teve início em maio e se estende até agosto. Do começo do ano até agora, o Ibama já aplicou um total de 1.102 multas, o que equivale a aproximadamente R$806 milhões.

Minc esclareceu ainda que a regulari-zação fundiária na Amazônia, associada ao Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), também pode contribuir para o controle do desmatamento, uma vez que a regularização das propriedades facilita a fiscalização.

Fonte: MMA

desmatamento na Amazônia caiu 89% em maio deste ano, em com-paração com o mesmo mês em

2008. De acordo com o Instituto de Pesquisa Espacial (Inpe), responsável pela divulgação dos dados, o total da área desmatada foi de 123 Km².

Em coletiva de imprensa no início da tarde de hoje (24), o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a expectativa é de que “teremos o menor índice de desmatamento dos últimos 20 anos”.

Minc declarou ainda que a soma do desma-tamento dos cinco primeiros meses deste ano é menor do que a taxa do mês de abril do ano passado. O Mato Grosso foi o estado brasileiro com o maior índice de desmatamento (61%), seguido por Roraima (17,72%) e Maranhão (17,63%). O sistema utilizado para a medição foi o Deter (Detecção do Desmatamento em Tempo Real). Na medição deste ano, a cober-tura de nuvens foi de 62%, em contraponto aos 46% do mesmo período no ano passado.

De acordo com o ministro, as causas da redução estão relacionadas aos pactos com os setores produtivos de soja e madeira, ao aumento da aplicação de multas, à Operação Arco Verde e à atuação do Ibama em conjunto com a Força Nacional e as Polícias Federal e Rodoviária, que realizaram intensas operações de fiscalização e apreensão em toda a região. Ele acrescentou que todo o Governo Federal está empenhado em reduzir drasticamente a devastação na Amazônia. “Nossa meta é alcançar em 2017 o desmatamento zero”, completou.

Minc também anunciou o pacto que será firmado com o Ministério do Desenvolvimento Social para sanar o custo social da operação Arco Verde. O novo pacto prevê a piscicultu-ra, o manejo florestal e a agricultura de baixo impacto como alternativas de trabalho para as pessoas que antes trabalhavam em atividades ilegais. “Graças a ações como estas consegui-mos chegar a esta redução, mas cada vez que fechamos uma serraria, por exemplo, sabemos que ocorre o desemprego entre a população local”, completou o ministro.

O delegado da Polícia Federal, Álvaro Palharini, da Divisão de Crimes contra o Meio

Por Carine Correa

Desmatamento na Amazônia cai 89% no mês de maio

O

Ministro afirma que teremos o menor índice de desmatamento dos últimos 20 anos

Page 14: Revista do Meio Ambiente 25

12 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Manifestação da APEDeMA/RS Cidadania Ambiental

S audando todas e todos aqui presentes, a Assembléia Per-manente de Entidades em

Defesa do Meio Ambiente – APEDe-MA – manifesta algumas considera-ções acerca do debate sobre alteração do Código Florestal Federal. Elas são baseadas em princípios ecológicos que têm norteado a luta histórica do Movimento Ambientalista. Uma vez de posse do conjunto de propostas de alteração do Código, apresentaremos, oportunamente, a nossa avaliação e as nossas propostas.

PRIMEIRO: Defendemos que os

fundamentos da política ambiental, particularmente da política florestal, mantenham-se estabelecidos pela legislação federal. De outra forma, a segurança e a qualidade da vida fica-rão à mercê da vontade política das elites locais. Haja vista o caso do Rio Grande do Sul, onde o Governo do Estado, através da Secretaria do Meio Ambiente, promove o desmonte dos órgãos ambientais numa clara aliança com o grande capital. Como exemplos recentes, citamos a descaracterização do Zoneamento Ambiental da Silvicul-tura, a emissão de licenças para grandes empreendimentos sem EIA-RIMA, as recentes suspeitas, divulgadas pela imprensa, sobre as licitações para as barragens de Jaguari e Taquarembó, além da perseguição de técnicos de carreira que se contrapõem a seus interesses.

SEGUNDO: Defendemos a manu-

tenção das Áreas de Preservação Per-manente e as Reservas Legais, com as suas funções básicas e imprescindíveis para a qualidade de vida e segurança da população, bem como para as boas condições da produção agro-pecuária. Entre outras funções destacamos: o controle da erosão do solo, a manuten-ção dos ciclos hídricos e a preservação da biodiversidade. Não concordamos,

Na Audiência Pública sobre o Có-digo Florestal do dia 25 de junho de 2009 em Porto Alegre/RS

por exemplo, com a proposta de regu-larizar, indiscriminadamente, as APPs consolidadas em encostas, pois, do contrário, outras tragédias como a de Santa Catarina se repetirão. Da mesma forma, as Reservas Legais são também imprescindíveis para a manutenção da biodiversidade. Sendo assim, é incon-cebível a sua ocupação com espécies exóticas. Como se vê, tanto as APPs, quanto a RLs, com condições de uso distintas, são, porém, fundamentais para a preservação dos ecosistemas. Por isso, considera-se de suma im-portância que os governos fomentem o uso sustentável da biodiversidade, através de mecanismos que conciliem a viabilização econômica com o cum-primento da legislação ambiental pelos agricultores.

TERCEIRO: Defendemos a pre-

servação da biodiversidade brasileira. Somos o país com a maior biodiversi-dade do mundo. No entanto, estamos transformando-o em uma grande lavou-ra de monoculturas para exportação. Enquanto isso, estrangeiros lucram bilhões de dólares anualmente, através da biopirataria do nosso patrimônio ge-nético. O Pampa gaúcho, sempre visto como área pobre do RS, é um bioma tão rico que foi considerado uma das duas áreas prioritárias, no mundo, para con-servação, pela Iniciativa Mundial dos Campos Temperados, na Convenção Internacional das Pastagens Nativas em junho de 2008 na China. Essa riqueza está, hoje, ameaçada pela monocultura de eucalipto.

QUARTO: Defendemos que a com-pensação ambiental e a averbação de Reserva Legal ocorra dentro da própria Bacia Hidrográfica do empreendimento agrícola. Caso contrário, os proprietá-rios rurais estarão decretando a futura falência dos seus empreendimento pelo criação do processo de esgotamento dos recursos naturais. Na realidade, está sendo vendido um falso discurso de que a Reserva Legal leva à perda de milhões de dólares, criando assim um clima de pânico e aterrorizando os pequenos e médios produtores. Pergun-tamos: não seria isto uma estratégia do agronegócio exportador e da política de terra arrasada dos governos para conseguir a adesão dos demais setores do campo?

FINALMENTE: para falar da

adesão de conceitos -bem claros na legislação ambiental- que estas mu-danças propõem, deixamos as seguintes perguntas:

- a agricultura familiar deveria ou não receber maiores incentivos para produzir o seu próprio alimento e co-locar mais alimento na mesa do povo brasileiro? Será que a produção para exportação tem este nobre objetivo?

- e onde fica a nossa soberania alimentar?

Senhoras e Senhores aqui presentes, este momento pode mudar irreversivel-mente as nossas vidas. É hora de muita reflexão e de muita luta. Não podemos nos omitir e nem nos esquecer que:

“Enquanto só existir a última se-

mente sobre a terra, eles vão querer, mesmo assim, transformar em moeda reluzente!”

Obrigada pela atenção. Maria da Conceição Carrion

Audiência públ ica com o minis tro Carlos Minc, em Porto Alegre

foto

: Elie

ge F

ante

/ Eco

Agê

ncia

Page 15: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 13

fronteira agrícola sobre a floresta. Em geral, ocupantes de terras públicas

têm uma visão peculiar da floresta, que co-nheceram, nos anos 70 e 80, bem diferente da paisagem atual, na qual pastos predomi-nam. “O homem da Amazônia não é um monstro. Todos queremos preservar, mas não à custa da nossa vida. Entre a mata e eu, vai morrer a mata. Os atores ganham a vida beijando na televisão, nós não”, alega Divino Silva, numa referência aos atores que levaram abaixo-assinado a Lula em defesa da Amazônia.

Os homens da região medem suas terras em linhas ou alqueires, não em hectares, medida nacional. Um imóvel de um quilô-metro quadrado é considerado pequeno, na visão local. Muitos acreditam que as terras só ganharam valor com o abate das árvores, objeto de preocupação mundial. O super-posseiro Pedro Campos lembra ter pago entre R$ 50 e R$ 100 o hectare da posse, em 99, quando a região era quase só mata.

Almir José da Cruz Arantes, garimpeiro de Serra Pelada, não pagou nada pelos cerca de 29 quilômetros quadrados da União que ocupou em 86, no rastro da extração de mogno. Ele espera regularizar as terras, localizadas no município vizinho a Marabá, no limite do território dos índios Xicrim. “Não tivemos condições de abrir a mata, a despesa era muito grande”, disse, na expectativa de ser remunerado pelo governo para manter a floresta em pé.

Com a família na fila do cadastramento, o agricultor João Rodrigues Gomes chegou há sete anos na região, pagou pouco mais de R$ 100 por hectare da terra da União que ocupa. Pelo tamanho, Gomes deve receber o título de graça. Cria 30 cabeças de gado, quase nada perto das 18 mil cabeças do superposseiro Vessoni.

Fonte: Folha Online / MST .

Por Marta Salomon

Brecha em lei pode beneficiar superposseiro em terras da União na Amazônia

Amazônia

M arabá, PA - Convencido de que a floresta existe para “servir ao homem”, o paulista Eucleber

Vessoni ocupa 190 quilômetros quadrados de terras da União na Amazônia --7,6 vezes o limite máximo de venda de terras públicas permitido pela Constituição. Eucleber cria gado, como a maioria dos candidatos ao programa de regularização fundiária do governo na região de Marabá, com altos índices de desmatamento e recordista em conflitos fundiários no país.

O programa Terra Legal pretende dar ou vender --grande parte a preço simbólico e sem licitação-- 674 mil quilômetros qua-drados de terras da União nos próximos três anos e não exclui as chances de Eucleber se tornar proprietário das terras. É o tipo de situação temida por alguns ambientalistas.

Embora o governo dê destaque para o grande número de pequenos posseiros a serem beneficiados, um número reduzido de posses (6,6%) reúne quase 73% das terras da região. Elas também poderão ser regulari-zadas mediante a divisão dos imóveis entre familiares, por exemplo, apurou a Folha.

Diferentemente dos grileiros, que ocu-pam terras públicas por meio de documentos forjados, os superposseiros como Vessoni não escondem que se apossaram de bem público. “Terra da União, na verdade, é do povo. Nunca pensei que fossem me to-mar. Para dar para quem? Quem é melhor do que eu?”, diz o mineiro Pedro José de Campos, presidente da associação local de pecuaristas, também posseiro, junto com os filhos, de uma área de 30 quilômetros qua-drados, que também deverá ser dividida e regularizada, sem licitação. “Aqui, ninguém tem título”, resume.

Vessoni e Pedro podem vir a se bene-ficiar de uma brecha no programa: o fra-cionamento dos imóveis entre membros da

6,6% das posses reúnem 73% das terras da região

família, para obter os títulos de propriedade. O governo não se opõe a essa possibilidade, desde que as terras não sejam tituladas em nomes de laranjas.

Outra brecha no programa é o prazo de ocupação. A lei sancionada por Luiz Inácio Lula da Silva na quinta-feira fixa 1º de dezembro de 2004 como data limite da ocupação. Desde a versão original da medida provisória editada pelo governo, no entanto, o texto prevê que a ocupação se dê por meio de “antecessores”. Na prática, o governo vai admitir transferência da posse em período posterior, desde que a terra tenha sido desmatada até 2004, conforme imagens dos satélites do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

É o caso de Divino Pereira da Silva, que afirma ter comprado pouco mais de 20 quilômetros quadrados de terras 15 dias antes, por cerca de R$ 471 por hectare (10 mil metros quadrados), abaixo do preço de mercado na região.

A situação dele será analisada pelo programa, assim como os imóveis com área superior ao limite da lei e que vierem a ser fracionados. Provavelmente, haverá vistorias nas áreas. “Se criarmos muitas restrições, não conseguimos trazer [os ocupantes de terras públicas] para a lega-lidade”, avalia o coordenador do programa Terra Legal, Carlos Guedes.

Na primeira semana de cadastramento, limitado a poucas cidades ainda, 600 can-didatos já se inscreveram.

Matas As filas do cadastramento do Terra Legal

são um retrato da ocupação da Amazônia. A Folha encontrou durante a semana passada garimpeiros, ex-trabalhadores de grandes obras na região, gente atraída pelo lema da ditadura (“Integrar para não entregar”), os que pegaram carona nas carrocerias de caminhões de madeireiros e os que levaram rebanhos de outras regiões, no avanço da

Page 16: Revista do Meio Ambiente 25

14 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Page 17: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 15

Por Efraim Neto *

obilizar, segundo o dicioná-rio Houaiss, é movimentar, mover, pôr em ação para uma

tarefa ou campanha. Com o intuito de conclamar a sua participação enquanto movimento socioambiental, a Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade, Rejuma, realizou durante o terceiro dia do VI Fórum de Educação Ambiental, manifesto para sinalizar a sua insatisfação com a atual situação da política ambiental brasileira.

Em meio a participação do Mi-nistro Calos Minc, Meio Ambiente, na mesa redonda sobre Educação, Meio Ambiente e Sustentabilidade, jovens de diversas regiões do país, que compõem a Rejuma, realizaram uma iniciativa simples e objetiva que chamou a atenção de toda a platéia presente.

Em tom contrário ao do ministro, que manteve o discurso político, o manifesto realizado pelos jovens, apontou para a necessidade e para a importância de um posicionamento a favor de uma política justa de respon-sabilidade sobre os danos causados ao Meio Ambiente. “O manifesto é importante porque dá voz a juventude ambientalista brasileira, a partir de um documento construído a várias mãos, por jovens de todas as regiões do país, que acreditam e fazem deste, um mundo melhor”, afirmou. Diogo Damasceno Pires, Coletivo Jovem-GO, Rejuma.

Para dar continuidade às ativida-des referentes ao mês da Mobilização da Juventude pelo Meio Ambiente, o

manifesto apontou para reivindicações ambientais importantes, entre elas: a aprovação do PEC 115/150 (PEC do Cerrado e da Caatinga); não des-motelamento do Código Ambiental Brasileiro; a continuidade da Política Nacional de Educação Ambiental através dos coletivos jovens, coleti-vos educadores, salas verdades e das Conferências de Meio Ambiental, tanto a adulta como a infanto-juvenil; e, a efetivação do Programa Nacional de Juventude e Meio Ambiente. Para conhecer o documento, acesse o site www.rejuma.org.br

VI FórumEntre os dias 22 e 25 de julho o Rio

de Janeiro foi o centro das atenções dos principais ambientalistas do país. Neste período, aconteceu o VI Fórum

Brasileiro de Educação Ambiental, evento promovido pela Rede Brasileira de Educação Ambiental (ReBEA) e que reuniu um público de cerca de três mil participantes no campus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O VI Fórum de Educação Ambien-tal se constitui um espaço que congre-ga e articula os mais diversos atores e segmentos da Educação Ambien-tal, proporcionando aos educadores ambientais um espaço de encontro e oportunidades de convivência para di-álogos e trocas, convidando os sujeitos sociais à participação em prol de uma sociedade justa e sustentável.

* Efraim Neto é jornalista e moderador da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental.

foto

: Fra

ncis

Olív

ia

Jovens cobram ações efetivas para a questão ambiental brasileira

Juventude e Meio Ambiente

M

Durante a fala do ministro Minc, Rejuma vai a público manifestar a sua preocupação com a crise am-biental planetária, seus reflexos no país e à ausência e o não cumpri-mento de políticas socioambien-tais no país.

Page 18: Revista do Meio Ambiente 25

16 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Flora brasileira, a mais rica do planeta, é pouco conhecida e bastante ameaçada

Dia Mundial de Proteção às Florestas

B

Esse é um dos alertas apontados pelo livro ‘Plantas Raras do Brasil’, que foi lançado numa quinta-feira (02/07) durante o Congresso Na-cional de Botânica, na Bahia; publi-cação sintetiza o trabalho de 175 cientistas que identificaram mais de duas mil espécies de distribui-ção restrita no país e 752 áreas de relevância biológica para a conser-vação da flora nacional

rasília – Em um momento delicado para o país no que diz respeito aos rumos de sua

política socioambiental, o livro Plan-tas Raras do Brasil surge como uma contribuição científica valiosa para amparar ações efetivas de conservação ambiental e serve, ao mesmo tempo, como um sinal de alerta para a situação de vulnerabilidade em que se encontra parte importante da biodiversidade nacional. Resultado de um intenso esforço de pesquisa que reuniu, ao lon-go de dois anos, a experiência de 175 cientistas de 55 instituições nacionais e internacionais, a obra identifica 2.291 espécies de plantas que são exclusivas do território nacional e que têm dis-tribuição pontual, ou seja, restrita a uma área de ocorrência de até 10 mil km². As distribuições dessas espécies ajudaram também a delimitar as 752 áreas consideradas estratégicas para garantir a conservação da diversidade dessa flora.

Fruto de uma parceria entre a Uni-versidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e a Conservação Internacional, a publicação foi lançada na primeira quinta-feira de Julho (02/07) durante o 60° Congresso Nacional de Botânica, em Feira de Santana (BA). As conclu-sões do livro denotam a necessidade de ações concretas para evitar a extinção de espécies no Brasil e configuram contribuição importante para a Lista de Espécies de Plantas do Brasil, em fase de elaboração. Podem também reacen-der o debate ocorrido no ano passado quando o Ministério do Meio Ambiente

anunciou a divulgação da Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ame-açadas de Extinção, que considerou 472 espécies enquanto um consórcio de cerca de 300 especialistas indicava 1.472. Alessandro Rapini, professor do Departamento de Biologia da UEFS e um dos organizadores da obra, alerta que a situação da nossa flora pode ser mais grave do que os números oficiais apontam. “O número total de espécies reconhecidas nesse levantamento significa cerca de 4 a 6% de todas as espécies de angiospermas (subdivisão do reino vegetal que compreende as plantas com flores) do país e, dada a área restrita de ocorrência, muitas delas podem ser consideradas amea-çadas de extinção”, comenta Rapini. Segundo ele, o que mais preocupa os cientistas nesse momento, no entanto, são aquelas espécies raras que ainda sequer foram detectadas. “Essas, sim, se encontram completamente desam-paradas, correndo risco eminente de desaparecerem antes mesmo de serem descritas”, avalia.

Maria José Gomes de Andrade, co-organizadora do livro, ressalta que o número de espécies raras e de áreas consideradas estratégicas no Brasil é certamente maior do que o apontado no livro. Isso se deve ao fato de algumas

famílias não terem sido incluídas nessa edição ou não terem sido completamen-te analisadas devido ao grande número de espécies. “É o caso, por exemplo, da família Asteraceae, que tem cerca de 30 mil espécies, das quais 2.000 ocor-rem no Brasil. Temos que considerar, ainda, o grande o número de novas descrições ocorridas nos últimos anos, em estudos taxonômicos e florísticos”, pontua.

Em 496 páginas, o livro traz um catálogo completo com informações sobre as famílias (são ao todo 108, dentre as 177 analisadas) e suas espé-cies detalhando dados e distribuição de cada uma, além de um acervo fotográ-fico com 113 imagens e um capítulo especial, sobre as áreas-chave para a biodiversidade (ACBs), organizadas por região geográfica.

ACBs e estratégias de conservação – As áreas-chave para biodiversidade, ou ACBs, são lugares de relevância bioló-gica detectados e delineados a partir da presença de espécies raras (distribuição restrita), endêmicas (exclusivas de uma determinada região) ou ameaçadas de extinção. No escopo da Convenção da Diversidade Biológica (CDB), as ACBs devem ser os alvos preferenciais dos governos para atividades integradas de conservação, pois há o compromisso global de proteger, até 2010, grande parte dessas áreas contra a degradação. No caso das 752 ACBs identificadas a partir da presença de espécies raras de plantas, elas cobrem 16,3% do terri-tório nacional, o que equivale a cerca de 140 milhões de hectares. Cerca de 47% apresentam alto grau de degrada-ção, com mais de 50% de suas áreas já alteradas por atividades humanas diversas. Em contraste, somente 7,8% das ACBs possuem mais de 50% de suas áreas em unidades de conservação ou terras indígenas, indicando lacunas importantes no sistema nacional de áreas protegidas. José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de ciência para a América do Sul da Conserva-ção Internacional e co-organizador da

Page 19: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 17

cisa utilizar estratégias de desenvolvi-mento que contemplem a melhoria da qualidade de vida de seu povo, com a conservação da nossa biodiversidade. Assim, informações científicas e bem embasadas como as desse livro, cer-tamente ajudarão para a proposição de providências concretas por parte do poder público para evitar a extinção das espécies de plantas no Brasil e conservar o patrimônio natural bra-sileiro, promovendo o uso sustentável dos recursos naturais”, enfatiza.

Fonte: Mirella Domenich.

os investimentos privados irão agregar valor ao patrimônio público brasileiro, e não o contrário”, argumenta Silva. Para ele, qualquer mudança nas regras atuais deve ser feita com muito cui-dado e com base em dados científicos de alta qualidade. “Se o Brasil tivesse um programa de pesquisa sólido e bem articulado em biodiversidade e serviços ambientais com investimentos na mesma magnitude dos programas criados para mapear os recursos natu-rais não-renováveis, já estaríamos bem avançados em nosso dever de casa e o aparente conflito entre os empresários do setor agropecuário e ambientalistas deixaria de existir, pois as decisões poderiam ser tomadas de forma clara e transparente à luz de dados científicos concretos”, esclarece.

Flora nacional – Estima-se que o Brasil detenha cerca de 15% de toda a flora mundial e sabe-se que as espécies de plantas raras não estão homoge-neamente distribuídas ao longo do território nacional. A Região Sudeste é a que apresenta a maior média, com destaque para os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo, enquanto a Região Sul registra o menor índice. Os estados campeões em número de espécies raras são Minas Gerais (550) e Bahia (484). O conhecimento sobre a nossa flora tampouco é homogêneo. “Lacunas nos âmbitos geográfico e taxonômico podem influenciar de ma-neira considerável a nossa visão sobre a distribuição das espécies e, conse-qüentemente, sobre as áreas relevantes para conservação da biodiversidade”, avalia Rapini.

Ameaças e desafios - As ameaças à flora brasileira são muitas e ocorrem nas diferentes regiões brasileiras. Vão desde o uso não sustentado de seus componentes, até a retirada total da vegetação para dar lugar à expansão da agricultura mecanizada, de pastagens e de áreas urbanas, passando pela cons-trução de estradas e pressão imobiliá-ria, dentre outros. Ana Maria Giulietti, co-organizadora do livro, chama a atenção para o dilema desenvolvimento x conservação, especialmente crítico no atual contexto do planeta, com a iminência do aquecimento global. “O Brasil, pela riqueza de sua flora e pelo forte contraste cultural entre os habitantes ao longo do território, pre-

obra, ressalta que a situação dessas ACBs é preocupante. “A combinação desses dois indicadores nos traz uma mensagem explosiva: se nada for feito rapidamente, estamos produzindo um evento de mega-extinção de plantas brasileiras, que pode aniquilar em poucas décadas o produto de milhões de anos de evolução e criar um emba-raço diplomático para o Brasil, um dos primeiros signatários da CDB, pois o governo brasileiro se comprometeu a fazer todos os esforços para evitar a perda de espécies no país”, declara.

Ele defende que, em um momento em que setores da sociedade tentam mudar as regras ambientais para facili-tar a expansão das atividades agropecu-árias em detrimento dos ecossistemas naturais brasileiros, as informações geradas pelo livro demonstram que o princípio da precaução deve ser ado-tado pela sociedade brasileira. Silva enumera quatro fatores em defesa da tese de que o país deveria ter a maior parte de seu território protegido como unidades de conservação, terras in-dígenas, reservas legais ou áreas de proteção permanente: (a) a população brasileira, mesmo a residente nas grandes cidades, depende dessas áreas para garantir a sua segurança climática, alimentar e econômica; (b) ao contrá-rio dos países do hemisfério norte, o Brasil é um país megadiverso, com milhares de espécies únicas compondo o patrimônio biológico público do país; (c) como demonstra o livro, muitas espécies apresentam distribuição pe-quena, ainda que estejam espalhadas pelo território nacional, o que exige, por conseqüência, uma extensão maior de terras para protegê-las em sua inte-gridade; e (d) o valor econômico atual e potencial dos recursos genéticos e dos serviços ambientais existentes nos ecossistemas naturais brasileiros ainda não foi devidamente estimado por falta de investimentos específicos para esse fim.

A legislação que orienta o uso da terra no Brasil deve tomar como prin-cípio o uso efetivo e sem desperdícios dos recursos biológicos brasileiros que, segundo a constituição, são bens públicos e não privados. “É um contra-senso dilapidar o patrimônio público para aumentar o patrimônio privado. Cabe ao governo criar regras em que

Sobre a Conservação Internacio-nal (CI-Brasil)

A Conservação Internacional (CI) foi fundada em 1987 com o objetivo de conservar o patrimônio natural do planeta - nossa biodiversidade global - e demonstrar que as sociedades humanas são capazes de viver em harmonia com a natureza. Como uma organização não-governamental global, a CI atua em mais de 40 países, em quatro con-tinentes. A Conservação Internacional (CI-Brasil) tem sede em Belo Horizonte - MG. Outros escritórios estão estra-tegicamente localizados em Brasília-DF, Belém-PA, Campo Grande-MS, Salvador-BA e Caravelas-BA.

Sobre a Universidade Federal de Feira de Santana (UEFS)

Criada em 1970, a Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) está localizada na porta do semi-árido baiano e consolida um importante le-gado para a região. Possui cerca de 8 mil alunos em 23 cursos de graduação, 8 cursos do Programa de Formação de Professores, pós-graduação lato sensu (15) e stricto sensu (10 mestrados e 02 doutorados), 300 projetos de pesquisa, 121 grupos de pesquisa cadastrados no CNPq e mais de 300 bolsas de ini-ciação científica. A UEFS ocupa lugar de destaque entre as universidades não estado, mantendo um quadro de 636 funcionários técnico-administrativos e 903 docentes efetivos, sendo 34% doutores e 44% mestres. Do total de docentes, 51% estão em regime de dedicação exclusiva.

Page 20: Revista do Meio Ambiente 25

18 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

primeira casa flutuante ecoló-gica do Instituto de Desenvol-vimento Sustentável Mamirauá

(IDSM) já está recebendo os primeiros pesquisadores. A construção apresenta ca-racterísticas ambientalmente corretas e é a mais recente das 16 bases flutuantes de pes-quisa que o Instituto mantém nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, cogeridas pela organização em parceria com o governo do Amazonas.

Construção sustentávelCom capacidade para hospedar até 20

pessoas, a base tem 12 metros de largura por 18 metros de comprimento. A eletricidade é gerada a partir da luz solar, com energia su-ficiente para iluminar as instalações, manter o rádio para comunicação, o funcionamento de computadores e o refrigerador para a conservação de alimentos. O sistema tem autonomia para funcionar por dois dias e meio sem sol.

“A água das torneiras e chuveiros é captada da chuva e do próprio rio sobre o qual a construção está instalada. Filtros garantem que a água esteja limpa para o consumo em tanques que permitem armaze-nar até 5.700 litros”, explica Josivaldo Mo-desto, coordenador de operações do Instituto Mamirauá. Outra iniciativa é o tratamento do esgoto, antes de ser devolvido à natureza. Esse sistema ainda será instalado.

Telhas de garrafas PETA cobertura do laboratório flutuante é de

Casa flutuante ecológica servirá como laboratório na Amazônia

Arquitetura Sustentável

A telhas produzidas a partir de garrafas de plás-tico PET moídas que, entre outras vantagens, apresenta maior resistência e maior vida útil quando comparada a telhas de outros mate-riais. De acordo com Modesto, elas pesam cerca de um sexto das telhas de barro e podem durar até 300 anos. “Uma empresa sediada em Manaus recolhe garrafas PET que antes iriam para o lixo, transformando-as em telhas leves e resistentes”, explica.

As bases de apoio flutuante, como esta nova casa, são utilizadas pela organização nas Reservas Mamirauá e Amanã para viabilizar as pesquisas de campo. Elas ficam estabe-lecidas em plataformas formadas por uma madeira flutuante, chamada assacu. A casa flutuante ecológica permanecerá no Lago Amanã, na Reserva Amanã, e, assim como os outros flutuantes, é feito com madeira certificada pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e de Recursos Naturais (Ibama).

Redação do Site Inovação Tecnológica

Page 21: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 19

Miss Mundo Brasil e Amigos da Terra lançam inédita campanha para desmatamento zero

Dia Mundial da Floresta

A s 38 candidatas, represen-tantes dos 27 estados e de 11 ilhas brasileiras na eleição do

Miss Mundo Brasil 2009, que se con-clui na noite de 04 de julho (sábado), em Angra dos Reis, no Hotel Novo Frade, lançaram no dia 06 (segunda) a campanha internacional com o lema “Sou Miss de um Mundo com Des-matamento Zero”. Será apresentada em todos os estados do país e também em Londres, Dubai e durante a final do Miss Mundo, na África do Sul, em dezembro deste ano. A campanha conta ainda com o apoio da atriz Ana Caro-lina Madeira, ex-BBB, e de Tamara Almeida, que está passando a faixa de Miss Mundo Brasill.

Como parte das provas classifica-tórias para a final do concurso Miss Mundo Brasil 2009, a paranaense Cris-tiane Kampa, 24 anos, foi eleita a Miss Beleza com Propósito. A candidata se destacou nas ações de promoção da campanha, assim garantindo a sua vaga

entre as 16 semifinalistas do evento.As misses, em parceria com a

entidade Amigos da Terra, pretendem conscientizar a opinião pública brasi-leira e mundial para o fato de que as florestas são essenciais para o clima, o solo e geram oportunidades de em-prego e desenvolvimento por meio de seus produtos e serviços.

Henrique Fontes, diretor do Miss Mundo Brasil, considera a iniciativa um marco em concursos de miss no país, por associar beleza à causa da defesa de nossas florestas. De acordo com Roberto Smeraldi, diretor da ONG Amigos da Terra - Amazônia Brasileira, trata-se de “um chamado de cidadania por parte das moças que inspiram as novas gerações, e que se dirige a empresários e políticos”.

No sentido horário, na primeira foto, Miss Mundo Paraná, Cristiane Kampa; em seguida, Ana Carolina Madeira, ex-BBB, Tamara Almeida, Miss Mundo Brasil 2008, e Cristiane Kampa, Miss Mundo Paraná.

Page 22: Revista do Meio Ambiente 25

20 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

10 ações que podem ajudar no escritório a economizar energia e diminuir o impacto ambiental

Fazendo a nossa parteDa redação da REBIA

A REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental vem fazendo a sua parte para o

aumento da conscientização e organi-zação da sociedade na defesa de um mundo sustentável, ambientalmente equilibrado e socialmente justo, ao distribuir a REVISTA DO MEIO AMBIENTE, manter o PORTAL DO MEIO AMBIENTE e distribuir gratui-tamente o boletim digital NOTÍCIAS DO MEIO AMBIENTE, além de seus projetos de educação ambiental, como a ESCOLA AMIGA DO PLANETA, e oferecer campanhas permanente de Cidadania Ambiental. Ao denunciar o que está errado e também divulgar o que está certo, a REBIA estimula e fortalece a formação da cidadania ambiental planetária.

Apesar de todos os cuidados que adota, a REBIA provoca impactos

ao meio ambiente e, por isso, tem adotado, com cada vez maior

rigor, alguns cuidados a fim de mitigar e com-

pensar tais im-pactos. São

p r o c e d i -m e n -

t o s q u e p o d e m ser ado-tados em qualquer es-critório.

1 . T R A N S -PORTE – a REBIA escolheu usar mais a internet e o telefone e evitar reuniões físicas que demandam trans-porte. Para participar de uma reunião física, geral-mente se gastava de uma a duas hora, ou até mais, indo para a reunião, que geralmente dura em média de 15 a 30 minu-

tos, e depois outra uma ou duas horas para voltar. Ou seja, quase a metade de um dia. Isso quando a reunião acon-tece na mesma cidade ou próxima. Se precisar de transporte aéreo, a situação é muito mais onerosa. Como todos na REBIA, inclusive seus parceiros e anunciantes, possuem computador e banda larga, nossa preferência é por videoconferência, cujas reuniões podem ser tão efetivas quanto as pre-senciais, e também o uso do e-mail e do telefone.

Como a REBIA está na área de serviços, e todos os seus funcionários e colaboradores possuem computadores e banda larga em suas residências, em vez de obrigar a todos a comparecer diariamente num único endereço, optou-se em que cada um trabalhe em sua própria casa, limitando as reuniões físicas a uma vez por semana, para planejar os próximos passos e rever as metas da semana anterior.

Ao evitar deslocamentos desneces-sários e usar menos o carro, ou deixar de pegar um avião, a REBIA contribui não só para diminuir a poluição am-biental, mas também evita participar e contribuir de engarrafamentos, poupa a equipe de estresse, economiza di-

nheiro, diminui o risco de assaltos ou balas perdidas, etc.

Quando é necessário usar o carro, por

e x e m p l o , na dis-t r ibui -

ç ã o d a Revis-t a d o

Meio

Ambien-t e , a REBIA

optou por um veí-culo movido a gás

natural.

2 - MEDIDAS COMPENSATÓ-RIAS – ainda que adote uma série de medidas para evitar ou diminuir suas emissões, ainda assim, a REBIA sempre acaba emitindo. Desta forma, adotou o plantio de árvores para retirar da atmosfera este carbono, através de parceria com a OSCIP PRIMA e do Hotel Fazenda Galo Vermelho, em Vassouras (RJ), onde as árvores são plantadas.

3 – PAPEL – a REBIA tem ofere-cido o acesso gratuito à Revista pela internet, mas ainda assim, precisa continuar com sua edição impressa que, em breve, estará à venda também nas bancas de revistas e jornais do país. Desta forma, além de exigir que a gráfica a ser contratada para imprimir a Revista demonstre possuir política ambiental em relação ao tratamento de resíduos e sua gestão interna, tam-bém exige a comprovação de origem e manejo florestal adequado do papel, através de selo FSC.

4. AR-CONDICIONADO - nem sempre faz calor suficiente na redação para ser preciso ligar o ar-condiciona-do. Na maioria das vezes, basta abrir janelas e portas ou ligar o ventilador para manter o ambiente refrescado, gastando 90% menos energia. E mes-mo quando é preciso ligar o ar, a opção é por combinar seu uso com o venti-lador, regulando o ar-condicionado para o mínimo. Além disso, uma hora antes do final do expediente, o ar é desligado, o que equivale a quase um mês de economia no final do ano, além disso, no final do expediente, a tempe-ratura já anda mais amena. A REBIA também adota a manutenção periódi-ca na limpeza dos filtros e, caso seja necessário algum reparo no sistema de refrigeração, exige empresas de manutenção que recuperem o gás, e

recusa qualquer possibilidade de des-carte ainda que acidental dos gases de refrigeração para a atmosfera.

Page 23: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 21

5. ILUMINAÇÃO – em vez de acender luzes, a REBIA opta por abrir as cortinas, durante o dia. Em vez de lâmpadas incandescentes, que consomem mais, trocou por lâmpadas fluorescentes e de baixo consumo. Lâmpadas fluorescentes gastam 60% menos energia que uma incandescen-te. Ao adquirir uma nova lâmpada, nos casos de queima, devolve ao comerciante a lâmpada queimada para que encaminhe para o descarte adequado.

6. COMPUTADORES – a REBIA optou por substituir os computadores tradicionais por laptops, cujas telas de LCD são mais econômicas, além de ocupar menos espaço na mesa e estão ficando cada vez mais baratos. Para carregar ou partilhar arquivos, em vez de gastar com CDs e DVDs, a REBIA tem escolhido o uso do pen drive.

7 - ÁGUA - em vez de copos descartáveis para café, chá ou água, a

REBIA adotou canecas permanentes com a finalidade de reduzir o con-sumo e evitar o impacto ambiental negativo do descarte indevido e excessivo de copos descartáveis. Pela manhã, as garrafas térmicas são cheias de água gelada, evitando o abre-fecha de geladeira toda vez que alguém quer beber água.

8. PILHAS E BATERIAS – em vez de pilhas comuns, a REBIA opta por pilhas recarregáveis que, apesar de serem mais caras, se tornam mais vantajosas a médio e longo prazos, além de serem mais potentes e du-rarem mais. Evita trocar de celular a cada novidade oferecida pelo merca-do, se o celular antigo continua fun-cionando bem. E quando o problema é a bateria, não jogamos no lixo, mas reservamos junto com pilhas recar-regáveis para entregar em postos de coleta apropriados.

9. COLETA SELETIVA - ainda que no bairro onde está instalada a

REBIA não tenha coleta seletiva, a REBIA vem realizando a separação do seu material inservível que é doa-do para pessoas carentes da comuni-dade. Ao mesmo tempo em que vem cobrando através da mídia parceira a implantação da coleta seletiva na cidade onde tem a sua sede.

10. ESGOTO – o fato da comu-nidade onde a REBIA tem a sua sede não possuir coleta nem tratamento de esgotos, não impediu a REBIA de tomar a iniciativa de instalar um sistema de tratamento de seus esgo-tos. Trata-se do SANEFIBRA, um sistema aeróbico e anaeróbico de tratamento de esgotos que remove cerca de noventa por cento do DBO (demanda bioquímica de oxigênio). Além disso, a REBIA tem denunciado pela mídia parceira o fato de existir uma estação de tratamento de esgotos no bairro mas não haver a necessária rede de coleta de esgotos.

II SIMPÓSIO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMPRESARIAL

DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

II27, 28 E 29 DE OUTUBRO DE 2009

nscriç I ões e

nfo maçõ i r es

ravés do sit at e

www.se j co .braer . m

Local: Capela Ecumênica Pavilhão João Lyra Filho Campus Maracanã - UERJ

Rua São Francisco Xavier, 524 Rio de Janeiro, RJ

Coordenação:Prof. Dr. Alexandre de Gusmão PedriniContato: [email protected]

Promoção

Apoio

Principal objetivo do evento:

Congregar os principais autores sociais envolvidos com a Educação Ambiental Empresarial para conhecer suas atividades, demandas, dificuldades e interesses, difundindo e debatendo as experiências empresariais, governamentais e acadêmicas a fim de construir um corpo sólido de conhecimento na área.

a stras f c s P le , o i ina ,m sa -redon as

e s d ,eb te , ro as d d a s d ec nv rs e m i oo e a u t

a sm i !

Preços especiais para estudantes, professores e biólogos inscritos no

CRBio/02

Patrocínio

Page 24: Revista do Meio Ambiente 25

22 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

pobre são inúmeros. Ele contribuiria para a redução do desmatamento, pois os fornos movidos a metano não necessitam de lenha; geraria uma fonte de renda a partir da venda da biomassa das algas para as indústrias farmacêuticas e de alimentos, e forneceria biomassa que pode ser utilizada para a ali-mentação direta da pecuária.

Além disso, o sistema abasteceria a co-munidade com energia, já que o PlayPump geraria eletricidade para iluminação com lâmpadas LEDs, e o óleo de algas seria uma fonte de combustível para as máquinas.

Javier afirma que o sistema pode ser instalado em qualquer local com clima quente, incluindo desertos irrigados com água salgada e até navios. A única coisa que precisaria ser alterada seria o tipo de alga, pois existem milhares de espécies que crescem a ritmos diferenciados, conforme as condições do ambiente.

Ainda segundo o jovem gênio, o Versa-tile pode ser potencializado para ajudar po-pulações de mais de 200 mil habitantes, ou reduzido para pequenas vilas. Atualmente, o adolescente está trabalhando numa versão do Versatile para uma única família, que teria um custo estimado de US$ 300.

A invenção de Javier superou inclusive muitos adultos com mais de 20 anos ao se destacar por seu potencial humanitário. O Invent Your World Challenge é uma com-petição anual, promovida pelas Fundações Ashoka e Lemelson, que procura ajudar 50 jovens inventores a usar seu potencial para o desenvolvimento de mudanças sociais positivas.

Fonte: 3Setor / Envolverde / Carbono Brasil.

Jovem de 15 anos cria projeto com múltiplos benefícios ambientais

Iniciativa

C om apenas 15 anos, o norte-americano Javier Fernández-Han levou o prêmio Invent Your

World Challenge ao combinar 12 diferen-tes tecnologias em um grande sistema que abrange desde um digestor anaeróbico até um bioreator abastecido por algas. Por sua visão de aliar diversas inovações em um único produto que beneficiaria comunidades pobres, Javier derrotou mais de 300 outras iniciativas de 30 países e recebeu uma bolsa de estudos no valor de US$ 20 mil.

Segundo os organizadores do prêmio In-vent Your World Challenge, o diferencial do projeto de Javier, chamado de VERSATILE, está na maneira em que une as diferentes tecnologias, que estão agrupadas em seis subsistemas. Sua eficiência viria ainda da habilidade de pegar os dejetos de um sistema para alimentar outro, assim como da sua adaptabilidade, que permite que o projeto seja alterado conforme as mais diferentes necessidades.

Para os organizadores, mesmo que ainda não tenha sido construído, o projeto de Javier já vale destaque pelo seu espírito inovador e potencial social.

O Versatile agrupa:* Um digestor anaeróbico, que utiliza

esgoto e sobras de comida;* Um ‘bio-gas upgrader’, que transfor-

ma os gases do digestor em alimento para

Chamado de Versatile, o sistema promete tratar dejetos, produ-zir combustível a partir de algas, seqüestrar gases do efeito estufa e ainda gerar iluminação e alimento a baixos custos

algas, assim como produz combustível;* Fornos para a queima de metano,

que não poluem e capturam o dióxido de carbono (que é canalizado para dentro do bioreator para acelerar o crescimento das algas);

* Bioreatores, que usam raios do sol, água salgada, CO2 e nutrientes do digestor para produzir oxigênio e biomassa de algas, que pode ser usada como alimento da pecu-ária e até para pessoas;

* Latrinas com descarga;* ‘PlayPump’, que utiliza a energia

de crianças brincando para movimentar o sistema e outros aparelhos.

“Uma invenção que é muito focada para resolver um único problema geralmen-te acaba criando outros, porque a natureza é altamente complexa e interconectada”, explica Javier.

Os benefícios que o sistema Versatile pode trazer para a vida de uma comunidade

Page 25: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 23

aceleram o processo de extinção desses animais, ao lado de outros, como a poluição das águas, a sobrepesca, a pesca esportiva, o comércio de peixes ornamentais etc.

O mapa de invertebrados aquáticos e peixes ameaçadosé ilustrado com dese-nhos dos animais e fornece, como pano de fundo, informações sobre vegetação primitiva, área antropizada (modificada pelo homem) e delimitação dos biomas. Na legenda estão os nomes das classes, ordens e famílias a que pertencem as espécies, bem como seus nomes científicos e populares, categorias de ameaça (criticamente em pe-rigo, em perigo e vulnerável) e distribuição geográfica.

Os estudos sobre a fauna ameaçada de extinção vêm sendo realizados pelo IBGE desde o fim dos anos 1980, fundamen-talmente com base nas listas do Ibama e complementados por informações levanta-das em diferentes instituições de pesquisas e na literatura especializada. Os estudos produzem informações que são armaze-nadas no banco de dados dos cadastros de fauna, que, por sua vez, gera os mapas. Ao divulgar espacialmente o estado atual de preservação da fauna, o IBGE contribui na orientação de possíveis programas de recuperação das espécies ameaçadas e no despertar da consciência ambiental.

Fonte: REBIA Nacional / IBGE .

Mapa do IBGE mostra onde estão os 238 peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção

Fauna

A presentado na escala de 1:5.000.000 (em que 1 cm cor-responde a 50 km de território),

o mapa “Fauna Ameaçada de Extinção: Invertebrados Aquáticos e Peixes - 2009” pode ser adquirido por R$ 15 nas livrarias do IBGE em todo o país e também na loja virtual do instituto, pelo site www.ibge.gov.br, onde é possível ainda acessar e baixar o mapa gratuitamente, tanto por meio do link “Mapas”, na seção “Canais”, como na área destinada a “Geociências”.

O mapa de invertebrados aquáticos e peixes ameaçados completa a série inicia-da pelo IBGE em 2006 e que inclui um mapa específico para as aves; outro para mamíferos, répteis e anfíbios; e um mapa

Encerrando o projeto de divulga-ção dos mapas da fauna brasileira ameaçada de extinção, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística) lança um mapa que localiza pela primeira vez, no território nacional, as 238 espécies e subespécies de invertebrados aquáticos e peixes que correm ris-co de desaparecer, segundo a Lista das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Am-biente e dos Recursos Naturais Renováveis), publicada em 2004.

de insetos e outros invertebrados terrestres, totalizando 632 espécies de animais que podem entrar em extinção caso nada seja feito para preservá-las.

Das 238 espécies e subespécies ame-açadas que o mapa mostra, 79 são inver-tebrados aquáticos - como estrelas-do-mar, ouriços-do-mar, pepinos-do-mar, anêmonas-do-mar - e 159 são peixes de água doce e salgada - a exemplo de al-guns tubarões, cações, raias, peixes-serra, pacus, barrigudinhos, vermelhos, bagres, cascudos e lambaris. Esses animais foram catalogados pelo Ibama pela primeira vez em 2004, e o maior número deles ocorre nos estados de São Paulo (86), Rio de Ja-neiro (76), Rio Grande do Sul (55), Bahia (51) e Paraná (43). Dentre as espécies relacionadas no mapa, 41 (6 invertebrados aquáticos e 35 peixes) se encontram em estado mais crítico de perigo de extinção. É o caso do marisco-do-junco, do ouriço-do-mar-irregular, do cação-bico-doce e do surubim, entre outros.

Os invertebrados aquáticos são pouco conhecidos e estudados; muitos deles vivem no fundo do mar e não se locomo-vem, por isso são difíceis de serem vistos no dia-a-dia, e alguns não possuem sequer um nome popular. Já os peixes são mais conhecidos e estudados e se encontram em número maior. A destruição dos habitats naturais é um dos principais fatores que

Page 26: Revista do Meio Ambiente 25

24 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Page 27: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 25

Page 28: Revista do Meio Ambiente 25

26 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

de melhoria do trato do lixo e, isso reforça a evolução na cadeia do desenvolvimento socioambiental. Nesse contexto estão cida-des como Nova Olinda (CE), Xaxim (SC) e Itupeva (SP).

O estudo demonstrou que 405 muni-cípios brasileiros atuam com programas de coleta seletiva no País, 24% a mais do que o identificado no último levantamento realizado em 2006.

Outro dado relevante apresentado nessa análise definiu Londrina como o município que teve o melhor desempenho no quesito recolhimento de lixo pelo sistema

de coleta seletiva. De acor-do com os dados de 2008, f o r a m recolhi-das cerca de 3.540 t o n e l a -das por mês con-tra 1080

t o - neladas na pesquisa de 2006 , mesmo com a redução de 15% no acesso da popu-lação ao serviço. Em seguida vêm São Paulo, Curiti- ba e Recife. Além disso, Londrina chama atenção também por con- seguir otimizar o menor custo de coleta seletiva, US$ 21,76/tonela- da. A média dos custos foi de US$ 221,00/tonelada.

Fonte: Cempre

Cenário da Coleta Seletiva no BrasilReciclagem

A implantação da Coleta Seletiva no Brasil ainda é incipiente. São poucos os municípios que

já a implantaram, como reconhecível nos dados da Pesquisa Nacional de Sanea-mento Básico, do IBGE, mas dados mais recentes mostram que este número vem se ampliando.

A Cempre (Compromisso Empresa-rial para Reciclagem) estima que 7% dos municípios do Brasil tenham programa de Coleta Seletiva. Embora o número de mu-nicípios seja, ainda, relativamente pequeno, são os maiores que adotam esta prática. De tal forma que estes representam aproximada-mente 14% da população. Isto quer dizer que 405 mu-nicípios, com 26 milhões de habitantes, pra-ticam a coleta seletiva.

D e s t e s m u n i c í p i o s 2% se locali-zam no Norte do país; 4% no Centro Oeste; 11% no Nordeste; 35% no Sul e 48% no Sudeste.

O custo médio da co- leta seletiva é cinco vezes maior que o da coleta convencional,numa proporção de R$ 376 x R$ 73. Esta rela-ção poderá ser alte- rada desde que se implante um modelo operacional adequado às condições sociais. Diferen-tes formas de operação da coleta seletiva podem trazer também resultados bastante diferenciados com relação aos custos da

atividade e, como conseqüência, à exten-são da parcela dos resíduos que podem ser objeto desta ação.

Pode-se dizer que as principais dificul-dades encontradas pela grande maioria dos municípios são as seguintes: informalidade do processo - não há institucionalização -, carência de soluções de engenharia com visão social e alto custo do processo na fase de coleta

Pesquisa O acesso de mais de um milhão de bra-

sileiros aos programas municipais de coleta

s e -letiva e o crescimento de 24% na abrangên-cia dos municípios que realizam esse tipo de seleção de lixo foram destaques da última pesquisa Ciclosoft, realizada bianualmente pelo Compromisso Empresarial para Reci-clagem (CEMPRE), entidade referência em questões ligadas ao trato de resíduos sólidos urbanos no Brasil. A pesquisa é apontada pelo IBGE como fonte de dados sobre a evolução da coleta seletiva no País.

Outro dado importante foi o aumento de 6% de participação de municípios com menos de 100 mil habitantes no processo

Page 29: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 27

Manifesto Lixo Eletrônico: ASSINE!Reciclagem

T r a m i t a e m B r a s i l i a , n a Câmara dos Deputados, o projeto de lei (PL 203/91)

que irá definir a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Sem qualquer consulta ou justificativa plausível, um “grupo de t rabalho” a l terou a redação do ar t igo 33, que re -gulamenta a logística reversa e a reciclagem, e retirou a menção aos produtos eletro-eletrônicos. Com essa alteração, o projeto de lei que deveria criar a Política Nacional de Resíduos Sólidos passa a ignorar a exis tência do l ixo e le t rônico , problema crescente e de alto custo sócio-ambiental.

Vamos pressionar o Legislativo a INCLUIR NOVAMENTE os equipa-mentos eletro-eletrônicos no Art.33 que regulamenta a logística reversa e a reciclagem obrigatória de produ-tos especiais na Política Nacional de Resíduos Sólidos que esta tramitando pelo Congresso Nacional!

O Brasil possui cerca de 160 milhões de celulares* e 60 milhões de computadores em uso. Em 2012 a previsão é atingir a marca de 100 milhões, 1 computador para cada 2 pessoas**. Em 2008 o setor de eletro-eletrônicos movimentou cerca de R$ 123 bilhões em uma rota de cresci-mento ininterrupto desde 2002***. Aparelhos eletrônicos melhoram a competitividade das empresas, faci-litam a vida das pessoas, oferecem la-zer, entretenimento e são ferramentas importantes para o desenvolvimento pessoal e social.

Por outro lado, os equipamentos eletro-eletrônicos produzem lixo tó-xico, volumoso e de reciclagem com-plexa. Segundo estudos do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o

Por esta razão o Coletivo Lixo Ele t rônico toma a in ic ia t iva de pressionar os deputados e senado-res para a re-inclusão dos produtos e le t ro-ele t rônicos no PL 203/91 at ravés da cr iação e divulgação do “Manifes to Lixo Ele t rônico: pela inclusão dos produtos eletro-eletrônicos na Política Nacional de Resíduos Sólidos”.

Se concordar com os t e rmos deste Manifesto, assine a petição online no seguinte endereço: http://www.petitiononline.com/ewaste1/ e a jude-nos a d ivulgá- lo . Sa iba mais no site: http://lixoeletronico.org

MANIFESTO LIXO ELETRÔNICOPela inclusão dos eletro-eletrônicos na Política Nacional de Resíduos Sólidos

Meio Ambiente), sobre o riscos e amea-ças ao meio ambiente e à saúde humana dos resíduos eletrônicos, a maioria destes produtos contêm substâncias tóxicas como polímeros anti-chamas (BRT), PVC, e metais pesados como mercúrio, chumbo e cádmio.

Além de contaminarem o meio-ambiente, estas substâncias podem causar graves danos à saúde humana e de animais, provocando falhas nos rins, pulmões, cérebro e comprome-tendo todo o sistema nervoso. É um problema crescente e vários países já possuem legislações especificas para tratar dessa urgente questão. A União Européia, por exemplo, regulamentou uma diretiva sobre Resíduos Eletro-Eletrônicos da Comissão Européia de Meio Ambiente, e os EUA possuem normativas regulatórias da Agência de Proteção Ambiental Americana além de Legislações Estaduais de Resíduos Sólidos como as de Nova Iorque e Califórnia.

No Brasil, temos uma oportunida-de hoje que está sendo desperdiçada. Tramita na Câmara dos Deputados o

Projeto de Lei da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PL 203/91). É imperativo que a Política Nacional de Resíduos Sólidos contemple os equipamentos eletro-eletrônicos e que estes sejam enquadrados como produtos especiais de logística rever-sa e reciclagem obrigatória.

Os eletro-eletrônicos estarão cada vez mais presentes na nossa vida, tra-zendo benefícios na mesma velocida-de em que produzem mais lixo com o qual ainda não lidamos corretamente. Regulamentar sua destinação é con-dição urgente e necessária para que possamos continuar a nos beneficiar dos avanços da tecnologia de ma-neira sustentável, sem pagar um alto preço ambiental e à saúde de nossa população.

(*) Anatel, Revisão de celulares por tecnologia, jul/ 2009

(**) 20ª Pesquisa Anual da FGV-EAESP-CIA, 2009

(***) Abinee, Desempenho seto-rial, fev/ 2009

Page 30: Revista do Meio Ambiente 25

28 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

naturalizado português, Júlio César Rando da Costa.

Ele diz que foi o “laranja” na operação, tendo recebido dinheiro das empresas brasileiras importadoras para montar sua companhia na Inglaterra. Mas sustenta que mexia apenas com plástico destinado à re-ciclagem e que o conteúdo encontrado é de responsabilidade da fornecedora, a empresa Hills Waste Solutions que garante, por sua vez, que fornece apenas plástico e que nada tem a ver com o lixo.

Uma rede intrincada e uma catarata de mentiras cercam toda a questão. Por enquanto existem mais perguntas que res-postas. A mais óbvia delas é: como esse lixo passou por toda a fiscalização inglesa?

No Brasil bastou o nariz, o velho e bom apêndice do rosto de qualquer cidadão. Foi o mau cheiro que alertou os trabalhadores em Rio Grande. Parecia que havia algo morto no contêiner, relataram. Da investigação iniciada no sul do país, chegou-se aos cofres em Santos. É provável, para a Federal, que as investigações cheguem a outros casos.

Conivência e corrupção na rotaOs contêineres com lixo são embar-

cados normalmente, com documentação de exportação e importação devidamente legalizada, geralmente relatando o conteúdo como constituído de material limpo desti-nado à reciclagem ou produtos de baixo

Lixo inglês no porto: o ambientalismo mão de gato

Lixo Industrial

A razão de tudo está em uma questão simples: que tal ganhar 10 dólares para cada 1 dólar

investido, no prazo de poucas semanas? Traficar lixo está virando um dos negócios mais lucrativos do mundo a partir da Eu-ropa, estufada de discursos ambientalistas tão eloquentes quanto vazios de significado real. Os governos tornaram-se parceiros informais da máfia internacional do lixo, se não pelo incentivo, pela vista grossa.

Tratar e dispor adequadamente 1 quilo de lixo nos países europeus varia atualmente de US$ 1 a US$ 1,80, dependendo do país e do tipo material. Tomando-se o menor valor, livrar-se de vinte toneladas de lixo custará cerca de US$ 20 mil, ou o equivalente a R$ 40 mil. Enfiar esse lixo em um contêiner e despachá-lo para outro canto do mundo, fica em módicos US$ 2 mil. Resultado: um lucro US$ 18 mil, que alguém embolsa.

Apesar de os valores de tratamento e disposição de lixo serem bem conhecidos de todos os países europeus (há um estudo oficial da União Europeia a respeito, de 2006), empresas duvidosas continuam ven-cendo concorrências públicas com preços pouco além da metade dos valores reais. E ninguém desconfia? Alguém fiscaliza essas empresas? Ou governos, agências ambientais oficiais, prefeituras, todos se acomodam gostosamente à situação de gastar menos para eliminar o lixo de sua própria porta?

Os países europeus, em nome da defesa ambiental, criam leis cada vez mais restri-tivas e elevam cada vez mais os custos de deposição final do lixo. De outro lado, têm de manter a política de contenção de tarifas e taxas, ainda mais em um momento de crise. Ou seja, com duas políticas contraditórias criam o fermento do “negócio” de fazer mágica com lixo; 1.200 toneladas dele, por exemplo, que estão nos portos de Rio Gran-de e Santos, embalados em 89 contêineres, “desapareceram” da Inglaterra em maio.

O flagrante da rede do lixoA Polícia Federal e a Receita estão exa-

minando muito mais que os 41 contêineres repletos de lixo que estão em Santos e os outros 48 que estão no Rio Grande do Sul. O

episódio está sendo tratado como o flagrante em uma rede de tráfico internacional de lixo, que pode ter realizado muitas operações semelhantes. A outra ponta da questão, na Inglaterra, também está sendo investigada e as autoridades daquele país já anunciaram a prisão de três pessoas envolvidas.

Em Santos, 16 cofres chegaram ao Ter-minal de Contêineres, na margem esquerda, e outros 21, que estão na Localfrio. Foram vistoriados quinta-feira pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc (foto).

Há de tudo nos contêineres, de fraldas sujas e bolsas de sangue usadas e cami-sinhas, configurando o conteúdo como lixo doméstico e hospitalar. A lixarada começará a ser enviada de volta ao Reino Unido em dez dias. O governo inglês se responsabilizou pela remoção e transporte, depois de protestos do governo brasileiro em Genebra.

Uma das hipóteses das autoridades é que se achou “a ponta de um iceberg”, que apenas mostraria a possível dimensão de fraudes semelhantes e continuadas.

Os contêineres foram embarcados nos portos ingleses de Felixstowe e Tilbury em oito navios da companhia italiana Me-diterrenean Shipping Company (MSC), desde novembro de 2008 até o final de maio passado.

A empresa que enviou os cofres, a Worl-dwide Biorecyclable, pertence ao brasileiro

foto

s: J

effe

rson

Rud

y/M

MA

/Div

ulga

ção

Por Mauri Alexandrino

Page 31: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 29

valor destinados a indústrias nos países emergentes e subdesenvolvidos.

Isso quer dizer que é preciso furar a fiscalização aduaneira de dois países pelo menos, ultrapassar as barreiras do ISPS Code, que deveria estar funcionando nos portos com requintes técnicos, e ainda vencer a tramitação burocrática dos portos e terminais e, por fim, de transportadoras e as fiscalizações diversas. Ou na versão curta da BBC de Londres: não é possível fazer isso sem conivências oficiais e privadas, nos dois lados da corda.

Quando foi celebrado o acordo de Ba-sileia, em 1989, para controlar a circulação de lixo pelo mundo, estimava-se que 90% dos dejetos europeus “exportados” tinham

A lição de Londres para Brasília

A s reações dos governos britânico e brasileiro no episódio do envio irregular de lixo hospitalar e do-

méstico ao Brasil, disfarçado de importação de polímeros de etileno para reciclagem, não poderiam ter sido mais ilustrativas da diferença de mentalidade e seriedade dos dirigentes dos dois países. Colocados diante de problema de interesse público, que pode pôr em risco a saúde da população, no Brasil, a resposta foi basicamente midiática. Recorrendo mais uma vez à estratégia da “política-espetáculo”, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, protagonizou cenas da mais primária demagogia, deixando-se filmar e fotografar como pinto no lixo, entre os 26 contêineres interceptados pelas auto-ridades alfandegárias no Porto de Santos. E, na entrevista coletiva que concedeu depois da “vistoria”, sob a luz de holofotes, valeu-se da velha retórica “politicamente correta”, classificando a exportação de lixo como “racismo ambiental”, acusando os países ricos de converterem os países pobres em “lixeiras” e prometendo criar um grupo de trabalho para investigar “os crimes e o pas-sivo ambiental” que teriam sido causados no Brasil por empresas estrangeiras, nos últimos anos.

Por sua vez, o presidente Lula aprovei-tou o episódio para tentar fazer graça e para posar como estadista, procurando converter um problema policial em questão diplo-mática. “Eles (os países ricos), que são tão limpos e querem despoluir tanto, mandam para cá contêineres de lixo dizendo que é

para reciclar. Mas quem é que vai reciclar uma camisinha?”, disse ele no discurso de abertura da 5ª Feira Internacional de Produtos Orgânicos, depois de afirmar que pretende convocar uma “discussão mun-dial” sobre a questão ambiental. O discurso foi feito no mesmo dia em que o Itamaraty denunciou o governo britânico - que nada tem a ver com a exportação irregular - com base na Convenção de Basileia, que regula o transporte de materiais tóxicos pelo mundo, e pediu providências imediatas da Organi-zação das Nações Unidas (ONU).

Enquanto isso, com a tradicional discri-ção britânica, o governo de Londres fazia o que se espera do poder público num caso como esse. Em apenas três dias, as autori-dades abriram investigações, descobriram a origem do material exportado, identificaram as empresas responsáveis pela remessa ile-gal de lixo para o Brasil, cuja sede fica na cidade de Swindon, na região de Wiltshire, e prenderam três suspeitos que, embora libertados ontem, continuam à disposição da Justiça.

Eles estão sendo interrogados pela Agência de Meio Ambiente e, segundo a chefe da Divisão de Lixo e Administração de Recursos do órgão, Liz Parkes, serão su-mariamente denunciados à Justiça criminal britânica caso as investigações comprovem que agiram de maneira dolosa. A legislação do Reino Unido permite a exportação de materiais para reciclagem, mas proíbe a venda de lixo doméstico ou hospitalar - justamente o que foi encontrado nos 89 contêineres interceptados nos Portos de Rio

Grande (RS) e Santos (SP) e no porto seco de Caxias do Sul (RS), num total de 1,7 mil toneladas. Além disso, Liz Parkes afir-mou que está aguardando as investigações das autoridades alfandegárias e policiais brasileiras, que estão apenas no começo - embora o governo brasileiro disponha já de dados concretos sobre os empresários responsáveis pela importação irregular -, para autorizar a devolução desses contê-ineres para a Inglaterra, definir os locais apropriados quando chegarem ao País e to-mar as providências para cobrar de todas as empresas britânicas envolvidas na transação o ressarcimento dos gastos com frete, taxas portuárias e custos administrativos.

Paralelamente, o Comitê de Meio Am-biente, Alimentos e Questões Agrícolas do Parlamento britânico decidiu reabrir consulta pública sobre as estratégias ad-ministrativas e jurídicas a serem adotadas para o tratamento do lixo no País, depois do caso envolvendo o Brasil. O objetivo é verificar se os mecanismos de controle sobre o destino do lixo vigentes no Reino Unido permanecem adequados e eficientes e se as sanções penais, administrativas e pecuniárias previstas pela legislação am-biental ainda são suficientes para coibir as exportações ilegais.

O governo britânico agiu com rapidez e objetividade, enquanto os dirigentes brasileiros optaram pelo palanque e por uma retórica do mais puro estilo chavista-bolivariano.

Fonte: Estadão

a África como destino. Em tempo: do grupo de países do G7, apenas os EUA não ratifi-cou o acordo de Basileia.

Desde então, alguns casos tão escabro-sos quanto escandalosos já fazem parte da história do tráfico de lixo. Nos anos de 1998 e 1999, por exemplo, 100 mil toneladas de lixo tóxico foram despejados na Índia, como denunciou o Greenpeace. No ano 2000 o governo turco impediu o descarregamento de uma carga de lixo espanhol contendo cromo ativo, altamente perigoso. As inves-tigações conduziram a outros 18 navios, todos saídos da Espanha, com o mesmo material, que foram esvaziados na Argélia. Em 2006, a Índia impediu a atracação de um navio com 1.200 toneladas de lixo tóxico

alemão, que já havia tentado descarregar antes a porcariada em Bangladesh.

Na Itália, país que, até por decorrên-cia de um enorme tráfico interno de lixo, promoveu várias operações policiais im-portantes, constatou-se que mais de 30% do mercado de recolhimento e disposição de lixo estavam em mãos de organizações criminosas, especialmente a Camorra. Apenas na própria Itália, as operações descobriram 6 milhões de toneladas de lixo tóxico ilegalmente descartado e prenderam mais de cem pessoas, incluindo mafiosos, funcionários públicos de diversos escalões e agentes fiscais.

Fonte: Jornal da Orla

Opinião

Page 32: Revista do Meio Ambiente 25

30 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

questão do aquecimento global.No entanto, o Brasil só terá condições

de avançar nas conquistas da educação ambiental se for capaz de honrar os com-promissos já assumidos internacional-mente. Rompendo, assim, com o círculo vicioso do crônico e desestimulante déficit de implementação desses acordos, que banaliza e desacredita até as melhores políticas.

No plano nacional, é preciso manter e aprofundar a política nacional de educação ambiental, buscando contribuir para a ne-cessária inflexão sóciocultural, que enseje um conjunto de mudanças capazes de levar a um novo paradigma de desenvolvimento. São esses desafios que se impõem ao nosso tempo como compromissos inadiáveis.

Para vencê-los, um bom começo seria juntar esforços no combate às constantes tentativas de retrocessos e flexibilizações na legislação ambiental por parte de se-tores do governo e do Congresso. Isso vêm ameaçando os avanços conquistados graças ao empenho de diferentes governos e, sobretudo, da sociedade, desde a pro-mulgação da Constituição de 1988.

* Marina Silva é professora de ensino médio, senadora pelo PT do Acre e ex-ministra do Meio Ambiente.

Fonte: Terra Magazine

Educar para transformarVI Fórum Nacional de Educação Ambiental

A ampliação da consciência am-biental - capaz de contribuir para mudar valores e atitudes,

acarretando alterações no modelo de de-senvolvimento econômico predatório e nas políticas públicas do Brasil - só pode ser gerada como fruto de um amplo processo de transformação sociocultural.

Em 2009, o Brasil comemora 10 anos de construção da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). E, entre os dias 22 e 25 de julho, realizou-se o VI Fórum Brasileiro de Educação Ambiental, no Rio de Janeiro. Juntamente aconteceu a consulta nacional aos movimentos de juventudes para a elaboração do Programa Juventude e Meio Ambiente.

O Fórum é organizado pela Rede Bra-sileira de Educação Ambiental (REBEA) e reúne sociedade e gestores públicos para discutir a educação ambiental no país. Ele é um importante espaço de diálogo e apre-sentação de propostas. Já a consulta é uma reivindicação dos jovens, que desejam ins-tituir políticas públicas estruturantes para fortalecer a relação entre eles e as ações de proteção ao meio ambiente.

A educação ambiental é relativamente nova. E a formulação de políticas para sua efetiva implementação deve entrelaçar os diversos olhares e saberes. Não é à toa que, no Brasil, ela se construiu sob forte influência da pedagogia de Paulo Freire e integra experiências internacionais que unem educação e meio ambiente.

Desde os anos 70, muitas atividades de educação ambiental são protagonizadas por associações ambientalistas, escolas, governos, universidades e unidades de conservação, entre outros atores sociais.

Esse amplo movimento resultou, no final dos anos 80 e início dos 90, na apro-vação do “Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Respon-sabilidade Global”, durante a Rio 92. O tratado fomenta a participação coletiva para a formação de um pensamento crítico e solidário, de interdisciplinariedade, de multiplicidade e diversidade em educação ambiental, de acordo com a realidade de cada país.

Em 1999, traduzindo o esforço da so-ciedade, foi constituída a PNEA, por meio da Lei 9.797/99. Sua regulamentação se

deu em 2002 por meio do Decreto 4.281, e sua implementação pelo orgão gestor coordenado pelos ministérios da Educação e do Meio Ambiente, no primeiro governo do Presidente Lula.

A implantação do PNEA e do Pro-grama Nacional de Educação Ambiental (ProNEA), somada à realização das três conferências nacionais de meio ambiente (de adultos e infanto-juvenis), entre outros processos participativos, fortaleceram a educação ambiental no Brasil e nos credenciaram a assumir uma liderança internacional neste campo.

Um bom exemplo é a cooperação do Brasil com Angola na realização de um programa nacional de educação ambiental e na aprovação, pela Comunidade de Paí-ses de Língua Portuguesa (CPLP), de uma Rede de Salas Verdes para intercâmbio de literatura sobre meio ambiente nos oito países da comunidade.

Em 2008, o Brasil também assumiu a responsabilidade de coordenar o Pro-grama Latino-Americano e Caribenho de Educação Ambiental (PLACEA) até 2010. A liderança brasileira se expressa ainda na boa recepção, nos foros interna-cionais, da proposta de uma Conferência Internacional Infanto-Juvenil sobre Meio Ambiente, a realizar-se no Brasil em 2010, como parte do processo preparatório da Rio+20, e como estratégia de preparar a opinião pública para os debates sobre a

Por Marina Silva *

Page 33: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 31

Cartas de apoio à REBIACredenciamento

CNPJ: 00.528.836/0001-63

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENGENHEIROS FLORESTAIS 40 anos em defesa das florestas, do ambiente e da sociedade

www.sbef.org.br

SEPN 516 Bloco A Edifício Eng. Inácio de Lima, sala 501 - Asa Norte - Brasília – DF – CEP: 70.770-515

Correspondência: R. Miguel Ângelo 648, CEP: 20.785-200 - Rio de Janeiro – RJ Tel: (21) 2261-3818 email: [email protected]

Ofício N.º 058/09 Ilmo Sr. Vilmar Sidnei Demamam Berna Editor JMA

Rio de Janeiro, 13 de julho de 2009. Prezado Vilmar,

Ao termos a satisfação em cumprimentá-lo, servimo-nos do presente para parabenizarmos o amigo, e toda a sua equipe do Portal do Meio Ambiente, da Revista do Meio Ambiente e da Rede Brasileira de Informação Ambiental – REBIA, pelo excelente trabalho que realizam.

Reafirmamos a importância desta contribuição para a

democratização da informação ambiental no Brasil, principalmente por oferecer este belíssimo serviço de forma gratuita, ou seja, de fácil acesso para todo cidadão.

Acreditamos e a conscientização através da informação é a grande

ferramenta para as mudanças que o país e o ambiente necessitam. Pelo exposto, colocamos a SBEF sempre a disposição nesta parceria.

Sendo o que tínhamos para o momento, renovamos os nossos

protestos da mais elevada estima e distinta consideração.

Eng.º Florestal Glauber Pinheiro Presidente

Page 34: Revista do Meio Ambiente 25

32 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Page 35: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 33

Page 36: Revista do Meio Ambiente 25

34 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Companhias Brasileiras lideram Ranking de Sustentabilidade das 50 maiores empresas latino-americanas

Sustentabilidade

A Management & Excellence (M&E), empresa de consul-toria estratégica que atua há

mais de oito anos no Brasil, anuncia, em parceria com a revista Latin Finan-ce, o resultado do “Corporate Study: a Sustentabilidade nas Maiores Empresas da América Latina”, que avalia a me-lhor performance em sustentabilidade, responsabilidade social e governança corporativa das 50 maiores empresas latino-americanas. As companhias brasileiras lideram o ranking, com a CPFL na primeira posição, seguida respectivamente pela Petrobrás, Em-braer e TAM. Usiminas e Eletropaulo dividem a quarta posição com Cemex, do México, e Perdigão e Vivo estão na quinta colocação ao lado do Wal Mart do México.

A pesquisa realizada pela M&E, que se tornou uma referência na América Latina, contou com empresas do Brasil, México, Argentina, Chile, Peru e Vene-zuela. Foram avaliados 140 critérios nas três áreas (governança, sustentabilidade e responsabilidade social), cruzando in-dicadores financeiros, análise de riscos e processos, regras de governança e de gerenciamento, auditorias, ações na área social e ambiental, entre outros pontos. No quesito sustentabilidade, além de ações de longo prazo e compliance, o estudo da M&E engloba transparência, responsabilidade ambiental e ética – principalmente após os prejuízos causa-dos pela crise econômica mundial.

Segundo William Cox, CEO da Management & Excellence, o ranking é resultado do equilíbrio entre análise financeira, social e ambiental, avaliando a empresa em seu conjunto. “A pesquisa revela o que é realmente importante, por exemplo, o balanço de riscos e processos – e não apenas os indicadores

Management & Excellence avaliou indicadores das maiores empresas do Brasil, Argentina, Chile, México, Venezuela e Peru

financeiros”, explica Cox. As empresas devem passar por auditorias externas e não sofrer influências familiares, con-tando com indicadores reconhecidos internacionalmente como o Bovespa, ILO, OECD, Global Compact, Mille-nium Goals, NYSE, Global Reporting Initiative (GRI), entre outros.

Essa é a terceira vez consecutiva que o Brasil tem um maior número de empresas brasileiras avaliadas no ranking, sendo que, desta vez, 23 delas se destacaram, em comparação a 25 em 2008. Com 16 empresas no ranking, o México foi o segundo país com mais companhias listadas, seguido pela Ar-gentina, com três.

A CPFL conquistou destaque espe-cial porque, além de liderar o ranking geral e manter o resultado de 2008, posicionou-se em primeiro lugar nos três quesitos analisados. Por sua vez, Petrobrás, Embraer, Eletropaulo, Usi-minas, Vivo, Telemar, Eletrobras e TIM galgaram muitas posições em relação ao estudo de 2008, apresentando gran-de evolução dos indicadores (veja o ranking completo abaixo).

Realizada pela terceira vez na Amé-rica Latina, a pesquisa da M&E forma um verdadeiro benchmarket de vários setores como alimentos e bebidas; co-mércio; energia; petróleo e gás; mine-ração; químico; siderurgia e metalurgia; transporte, telecomunicação e varejo. Entre os 10 setores os que mais se desta-caram estão: varejo, telecomunicações, alimentos e bebidas.

Utilizando o método de considerar “somente os fatos” (Facts Only) e com uma abordagem conservadora, a Ma-nagement & Excellence atinge um alto grau de precisão, reduzindo ao mínimo a subjetividade e analisando a fundo a atuação das empresas. Tanto é que alguns resultados surpreendem. “Por meio do critério de Responsabilidade Social Corporativa, concluímos que, das 42 organizações que realizam projetos sociais nas comunidades,

apenas 7 conseguem ligar essas ações diretamente ao negócio”, conta Cox. “E de todas as empresas, somente 6 estão comprometidas com a Declaração Universal dos Direitos Humanos.”

“Além de abordar a comunicação, essa versão da pesquisa amplia a análise ao incluir critérios que tratam da transparência das empresas. Tal adaptação se deve à crise internacio-nal iniciada no ano passado, quando pudemos perceber que, mesmo empre-sas com alto grau de compliance com normas legais, poderiam ser de alto risco. Assim, aumentamos o número de critérios que valorizam a transparência de informações importantes sobre o ne-gócio e a empresa, que também podem servir de ferramenta para analistas e investidores”, conta Angélica Blanco, diretora da M&E no Brasil.

Muitas organizações ainda revelam suas informações financeiras por conta de razões legais ou para atrair investido-res, em detrimento de dados econômicos relevantes. Em relação à governança corporativa, inúmeras companhias ainda têm foco numa política básica, enquanto há a necessidade de um comprometi-mento profundo dos executivos para que haja uma disseminação no dia a dia dos negócios da organização, conclui a M&E no estudo.

Serviço: O “Corporate Study: a Sustentabilidade nas Maiores Empresas da América Latina” da Management & Excellence América Latina está disponível em formato customizado. A organização que adquirir a pesquisa, receberá - além dos rankings geral, setorial, por critérios de compliance, benchmarket setorial e gráficos - uma comparação com outra empresa do mesmo setor, a ser indicada pela pró-pria organização. Mais informações: tel. (11) 3040-9545, e-mail: [email protected] ou www.management-rating.com .

Page 37: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 35

Companhia País CG1 CPFL Brasil 92,68%2 GOL Brasil 90,24%

Aracruz Brasil 90,24%4 Wal Mart Mexico México 87,80%5 Petrobras Brasil 85,37%6 FEMSA México 82,93%

CEMIG Brasil 82,93%Endesa Chile Chile 82,93%

9 Natura Brasil 80,49%Enersis Chile 80,49%Sid. Nacional CSN Brasil 80,49%Tractebel Brasil 80,49%

13 Embraer Brasil 78,05%14 Ambev Brasil 75,61%15 Telesp Brasil 73,17%

YPF Argentina Argentina 73,17%TIM Brasil Brasil 73,17%

18 Bavaria Colômbia 70,73%Vivo Brasil 70,73%Southern Copper Peru 70,73%Usiminas Brasil 70,73%Telemar Tele NL Part Brasil 70,73%

23 AES Eletropaulo Brasil 68,29%24 CCR Rodovias Brasil 65,85%

ALL Brasil 65,85%

Companhia País CGCVRD Brasil 65,85%Telmex México 65,85%Arcelor Brasil 65,85%

29 Televisa México 63,41%Gerdau Brasil 63,41%Souza Cruz AVERAGE Brasil 63,41%

32 Eletrobras Brasil 60,98%33 America Movil México 58,54%34 WEG Brasil 56,10%35 Grupo Carso México 53,66%36 Tenaris Argentina 51,22%37 Soriana México 48,78%

Cemex México 48,78%Falabella Chile 48,78%Cencosud Chile 48,78%CMPC Chile 48,78%

42 Carso Global Telecom México 46,34%43 Liverpool Mexico 43,90%

Inbursa Mexico 43,90%45 Grupo Modelo Mexico 41,46%46 Grupo Mexico Mexico 29,27%47 Kimberly Clark Mexico 24,39%48 Bimbo Mexico 19,51%49 Copec Chile 9,76%50 Telebras Brasil 2,44%

Rankig 2009

Page 38: Revista do Meio Ambiente 25

36 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

esta energia suja? Mas o tema não interessa, porque não é midiático. A obrigatoriedade do uso da energia solar nas residências e edifícios, como faz a Alemanha, ou outros países da Europa, poderia ser um começo. É essencial buscar modelos para financiar energia limpa com efetiva participação do Ministério do Meio Ambiente.

Uma preocupação mais ampla, e não tão focada na Amazônia, do Ministério do Meio Ambiente pode auxiliar o Governo Federal na geração de novos empregos, na inserção social e, num contexto bem diferente, talvez não fosse necessário tanto recurso para o Bolsa Família.

É preciso que o Ministério do Meio Ambiente cuide sim da floresta, e de sua preservação, mas é mais importante ainda que seja consciente do seu papel na sociedade e grandiosidade do desafio. Um ministro desta área tem que estar comprometido com o tamanho de sua ação, diante das carências ambientais enormes deste país.

Ele tem a força para transformar, pode impedir que sejamos um lixão a céu aberto, que possamos ter água tratada, crianças mais saudáveis e idosos sem problemas respiratórios. Temos a certeza que isto não se faz com um machado nas mãos, mas com competência, dedicação, doação e longe de uma gestão egocentrada e com apenas um único discurso.

* Carlos Zveibil Neto é vice-presidente da APEOP – Associação Paulista dos Empresários de Obras Públicas

A questão ambiental é muito mais ampla

Opinião

Por Carlos Zveibil Neto *

S em querer tirar um bifinho do Carlinhos, como disse o ministro Minc, recentemente,

é necessário que se faça uma profunda reflexão sobre a atuação do Ministério de Meio Ambiente. É correta a luta permanen-te pela preservação da Amazônia, da Mata Atlântica... É correta a posição de coibir os abusos dos que agem à margem da lei, ou contra aqueles que querem tornar a lei ambiental branda demais. Mas a atuação do Ministério não pode ser só essa. A política ambiental, não pode se restringir a uma única ação, e poderia ser o Ministério do Meio Ambiente, o mais importante indutor de novos costumes, novos programas e novos empregos.

Que dizer do lixo que não é tratado, desde as grandes capitais até o menor mu-nicípio do interior deste país continental. Se pensar que cada habitante produz por 0,5 kg de lixo, teremos quase 100.000 to-neladas de lixo/dia, dos quais apenas 17% são convenientemente tratados. E os gases que deste lixo emanam; o lixo inorgânico, que demora séculos para ser destruído; e os pneus queimados como combustíveis em fábricas de cimento e que demoram 100 anos para se desintegrar.

Poderia ser uma atitude coercitiva do comando das regras ambientais exigir que o tratamento de lixo seja uma realidade, que haja coleta seletiva e educação ambien-tal. Sobretudo induzir as várias esferas de governo a assumirem o problema e reser-varem valores em seus orçamentos, para que os lixos urbano e industrial tenham o

adequado tratamento.A conservação dos cursos de água, que

são hoje o ralo por onde escoam esgotos in natura, é outro problema que precisa ser enfrentado. É necessário mudar a visão política desse tema já que ainda ouvimos, com bastante freqüência, que tratamento de esgoto é obra enterrada e não dá voto. Ora, um Ministério que cuida do meio am-biente tem que insurgir contra isso. Educar, exigir tratamento de esgotos, significa rios limpos, água tratada e esgoto tratado. É a forma mais eficiente para diminuir a mortalidade infantil, reduzir as internações por verminoses, preservar a vida e, efetiva-mente, reduzir gastos com tratamentos de saúde nos hospitais. Fazer as cidades e seus córregos e rios se tornarem áreas de lazer e não fétidas margens onde se constroem moradias subumanas.

Quantas toneladas de carbono são jogadas na atmosfera, pelos grandes con-gestionamentos de trânsito nos grandes centros urbanos? Quantas Amazônias têm que haver para neutralizar essas emissões? O Laboratório de Poluição Atmosférica da USP já constatou que ficar em conges-tionamentos é o mesmo que fumar oito cigarros. Meio ambiente é também trans-porte público não poluente, é combater a produção de um diesel tão rico em enxofre. Essas deveriam também ser bandeiras dessa pasta.

Soma-se à questão o nosso modelo energético com termoelétricas a carvão ou a óleo combustível tão poluidoras. Quanto jogamos de CO2 na atmosfera para gerar

Page 39: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 37

NO MEIO AMBIENTE LEVAM MAIS DE 100 ANOS PARA SE DECOMPOR. COLABOREM, DESCARTANDO-AS, SEMPRE QUE NECESSÁRIO, EM LOCAIS APROPRIADOS À COLETA SELETIVA. TRAGA DE CASA A SUA PRÓPRIA SACOLA OU USE SACO-LAS REUTILIZÁVEIS”.

O Poder Executivo incentivará a Petrobras e outras indústrias instaladas ou que vierem a se instalar nos polos gás-químico de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e no Complexo Petroquí-mico do Rio (Comperj), em Itaboraí, na região Metropolitana, ou em qualquer outro município do estado, a buscar novas resinas derivadas da produção de petróleo ou composições químicas que levem à produção de novas sacolas não poluentes e biodegradáveis. Deixar de cumprir as obrigações previstas na lei de substituição e recolhimento de sacolas plásticas em estabelecimentos comerciais acarretará em multa de cem a 10 mil Ufirs-RJ.

Fernanda PedrosaDiretora-geral daDiretoria de Comunicação Social

da Alerj(21) 2588-1404 / 2588-1627(21) 9981-5119

Estabelecimentos vão substituir sacolas plásticas por biodegradáveis

D.O. Meio Ambiente

Coluna De Olho no Meio AmbientePor Gustavo da S. D. [email protected]

D esde o dia 15 de julho, os esta-belecimentos comerciais do Es-tado do Rio de Janeiro têm três

anos para se livrar totalmente das sacolas plásticas descartáveis e passar a trabalhar com bolsas feitas de material reutilizável. Esta é a determinação da Lei 5.502/09, de autoria do Governo do estado e aprovada pela Assembleia Legislativa do Rio, que foi sancionada pelo governador em exer-cício Luiz Fernando Pezão e publicada no Diário Oficial do Poder Executivo. “O objetivo é acabar com o uso de produtos elaborados a partir de resina sintética oriunda do petróleo, como é o caso, por exemplo, do polietileno de baixa densidade, utilizado na fabricação das sacolas plásticas, que, além de não serem biodegradáveis, obstruem a passagem da água, acumulando detritos e impedindo a decomposição de outros materiais”, explicou o presidente da Alerj, deputado Jorge Picciani (PMDB).

Os responsáveis pela coleta e subs-tituição das sacolas ou sacos plásticos, compostos por polietilenos, polipropi-lenos ou similares, serão os próprios estabelecimentos comerciais. Esses centros serão divididos em três grupos, com tempos diferenciados para o recolhi-mento e a troca por bolsas reutilizáveis. As microempresas terão três anos para a substituição das sacolas. Os empresários classificados como empresas de pequeno porte terão dois anos para efetuar a troca. Já os demais estabelecimentos comerciais terão somente um ano para se adequarem à determinação. A classificação das em-presas será feita de acordo com os termos do Estatuto Nacional da Microempresa e

da Empresa de Pequeno Porte. Caso as empresas não obedeçam o

tempo determinado, ficarão obrigadas a receber sacolas e sacos plásticos a serem entregues pelo público em geral, inde-pendentemente do estado de conservação e origem, mediante uma das seguintes compensações: a cada cinco itens com-prados no estabelecimento, o cliente que não usar saco ou sacola plástica terá um desconto de, no mínimo, R$ 0,03 sobre as compras ou a troca por um quilo de arroz ou feijão por cada cinquenta saco-las ou sacos plásticos apresentados por qualquer pessoa. Os estabelecimentos que não comercializarem feijão ou arroz poderão efetuar a troca por um quilo de outro produto da cesta básica. As em-presas deverão comprovar a destinação ecologicamente correta para os produtos recolhidos e os estabelecimentos que servirão de postos de troca serão os que possuírem área construída superior a 200 metros quadrados.

As sacolas plásticas devem ser substituídas por materiais reutilizáveis, aqueles que sejam confeccionados em material resistente ao uso continuado, que suportem o acondicionamento e o transporte de produtos e mercadorias em geral e que atendam a necessidade dos clientes. Esta lei não se aplica às emba-lagens originais das mercadorias, mas se refere aos sacos e sacolas fornecidos pelo próprio estabelecimento para pesagem e embalagem de produtos perecíveis ou não. Os estabelecimentos citados na norma ficam obrigados a afixar placas informativas junto aos locais de embala-gens de produtos e caixas registradoras, no prazo de um ano, com as dimensões de, 40 cm x 40 cm e os dizeres: “SACO-LAS PLÁSTICAS CONVENCIONAIS DISPOSTAS INADEQUADAMENTE

Page 40: Revista do Meio Ambiente 25

38 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Empregos verdes despontam como aposta em nova economia mundial

Análise da Conjuntura Ambiental

A crise financeira mundial e a oportunidade de transição para uma nova economia

menos carbono intensiva são temas que vêm sendo intensamente discutidos no cenário internacional. A economia verde surge como estratégia inadiável em um cenário no qual as mudanças do clima ditam a necessidade de re-modelação de mercados, negócios e tecnologias. Entretanto, a urgência de medidas efetivas segue contrastando com o lento ritmo das ações implemen-tadas pelos países.

“Esse é um caminho de mudanças que está começando a ser trilhado, mas de forma muito gradual. Não há um grande plano, mas sim iniciativas pontuais, embora seja notório que a necessidade de crescimento sustentável está sendo, cada dia mais, incorporada pelos políticos e gestores públicos, por uma questão de sobrevivência econômi-ca”, avalia o técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisas Apli-cadas (IPEA), José Gustavo Feres.

Ele destaca o impacto da crise finan-ceira: o pacote de medidas anticrise re-presentou 7% do Produto Interno Bruto (PIB) nos Estados Unidos e na China chegou a 13%. Os percentuais da União Européia também não são animadores. Dados relativos ao primeiro trimestre de 2009, comparados ao mesmo período do ano passado mostram quedas do PIB nos países europeus. A maior economia do bloco, a Alemanha, liderou a perfor-mance negativa, com queda de 2,1%. Na França, a segunda maior economia, a redução foi de 1,2% e na Itália, a terceira maior, foi de 2,4%.

Brasil na contramão? “As medidas do governo brasileiro

para evitar mais impactos da crise financeira não consideram a questão ambiental”, avalia o diretor de polí-ticas públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão. Ele destaca que o país está perdendo uma grande oportunidade de estimular a chamada economia verde e de fato promover o desenvolvimento

sustentável.“O governo poderia, ao mesmo

tempo, incentivar o emprego e também impulsionar uma economia moderna, que é aquela com baixo consumo de eletricidade, menos carbono intensi-va”, aponta o ambientalista.

Na opinião de Leitão, o Brasil só vi-sualiza o lado econômico da crise, sem identificar as possibilidades que podem gerar menos impacto. “As medidas adotadas para fortalecer a indústria automobilística, por exemplo, também poderiam incluir ações compensatórias do ponto de vista ambiental. A redução do Imposto sobre Produtos Industriali-zados (IPI) poderia ter sido condiciona-da à maior rapidez no desenvolvimento e na produção de motores adaptados a diesel menos poluente”, critica.

Emprego verde: janela de oportuni-dades

É nesse contexto que algumas na-ções começam a sinalizar mudanças em seus planos de recuperação econômica, incluindo uma variável ambiental e apostando nos chamados empregos verdes.

Nos Estados Unidos, o presidente

Barack Obama, destinou US$ 500 milhões do seu pacote de estímulo econômico para a criação de milha-res desses empregos, estabelecendo, inclusive assessoria específica para incentivar o trabalho verde. O governo americano também anunciou, em 23 de junho de 2009, a injeção de 8 bilhões de dólares para que as montadoras Ford, Nissan e Tesla invistam em tecnologias capazes de tornar os novos carros mais ecoeficientes. O secretário de Energia Steven Chu declarou que os retornos dos investimentos serão convertidos em empregos e menor dependência de combustíveis fósseis.

Outra aposta nos empregos verdes vem do Reino Unido. O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, afirma que boa parte dos investimentos para a recuperação econômica do país previstos no orçamento para o próximo ano fiscal será destinada às iniciativas verdes e promete a criação de 400 mil novos postos de trabalho na área.

O primeiro-ministro também de-fende uma proposta para que as nações desenvolvidas e em desenvolvimento cheguem a um acordo sobre novos mecanismos para financiar o combate

imag

em: S

XC

Page 41: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 39

às mudanças climáticas. Ele pede que os países ricos trabalhem juntos em uma cifra global de cerca de 100 bilhões de dólares por ano até 2020 para ajudar pa-íses em desenvolvimento a reduzir suas emissões, combater o desmatamento e adaptar às mudanças climáticas.

Em artigo, Ed Miliband, ministro de Energia e Mudanças Climáticas do Reino Unido afirma que o crescente consenso internacional sobre a neces-sidade de uma guinada para a economia de baixo carbono aponta para esperan-ça, e não desespero.”Ao cooperarmos internacionalmente, podemos, a um só tempo, evitar mudanças climáticas perigosas e ver nossas economias em recuperação de modo sustentável. Uma das questões fundamentais para nosso sucesso continua sendo como acelerar radicalmente a disseminação de tecno-logias mais limpas - boas para gerar emprego, para a economia e para o planeta”, destaca Miliband.

Cenário de otimismoContrastando com a estimativa de

que 50 milhões de trabalhadores em todo mundo podem perder seus postos de trabalho devido à crise econômica, o estudo Empregos Verdes: Trabalho Decente em um mundo sustentável e com baixas emissões de carbono, divul-gado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2008, tem um tom de otimismo.

De acordo com o documento, nos últimos anos foram contabilizados 2,3 milhões de novos empregos gerados apenas no setor de energia renovável. Se forem confirmados investimentos previstos de 630 bilhões de dólares até 2030, podem surgir pelo menos 20 milhões de novos empregos neste setor. Na China, está a grande parte das 600 mil pessoas que estão empregadas na produção de energia térmica solar e na instalação de produtos como aquecedo-res solares de água; na África do Sul, 25 mil pessoas desempregadas trabalham agora em atividades de conservação como parte da iniciativa Working for Water (Trabalhando pela água). Entre as possibilidades que se abrem na Nigéria, a indústria de biocombustíveis baseada no cultivo da mandioca e da cana-de-açúcar poderia sustentar e empregar 200 mil pessoas, enquanto na Índia o relatório aponta que até 2015 poderiam

ser criados 900 mil empregos na gasei-ficação de biomassa, dos quais 300 mil vinculados à fabricação de fornos.

Ao mesmo tempo, a OIT chama atenção para o fato de que os gover-nos devem criar condições para que se promova uma “transição justa” em direção a uma economia verde. Neste contexto, devem ser levada em conta a responsabilidade de quem deve adaptar-se às mudanças climáticas, facilitando o acesso a oportunidades de emprego e de atividades econômicas alternativas para empresas e trabalhadores.

“É essencial um diálogo social entre governos, trabalhadores e em-pregadores, não somente para aliviar as tensões e propiciar a formulação de políticas ambientais, econômicas e sociais melhor informadas e mais coerentes, mas também para envolver os interlocutores no desenvolvimento destas políticas”, avalia o coordenador de Programas de Trabalho Decente e Empregos Verdes da OIT, Paulo Sérgio Muçouçah.

Ele menciona ainda que nos países onde houver apoio político consistente -incluindo objetivos, sanções e incen-tivos, como leis e normas de eficiência energética, além de recursos para pesquisa e desenvolvimento - serão criados mais empregos. De igual forma, a redistribuição de subsídios, os benefí-cios das ecotaxas e/ou a venda pública dos créditos de carbono tendem a gerar enormes fluxos de recursos da ordem de centenas de bilhões de dólares. “Esses recursos mobilizados na Europa e nos Estados Unidos seriam suficientes para apoiar economias mais verdes e para a criação de empregos verdes tanto no sul quando no norte industrializado”, argumenta.

Uma boa notícia é que a geração de empregos verdes entrou na pauta de recomendações definida no início de junho de 2009 pela OIT - em meio à 92ª Conferência Internacional do Trabalho. Em uma cúpula sobre a crise mundial e o emprego, a organização destacou a urgência de incentivar a criação de políticas de estímulo ao crescimento e também o fortalecimento de redes de proteção social ao trabalhador afetado pela crise financeira.

Estiveram reunidos em Genebra mais de 4 mil representantes de go-vernos, trabalhadores e empresários

em busca de respostas para o impacto da crise financeira sobre a empregabi-lidade.

Compromisso brasileiro“O presidente Lula esteve em Ge-

nebra e se comprometeu, ao assinar termo de cooperação com a OIT, a implementar o Plano Nacional de Tra-balho Decente, o qual traz uma série de iniciativas visando os empregos verdes. Podemos afirmar que este é o primeiro compromisso oficial do governo para incentivar esse tipo de trabalho no país”, explica Paulo Sérgio.

Ele também destaca que o plano apresenta como prioridades gerar mais e melhores empregos com igualdade e oportunidade de tratamento, por meio de investimentos públicos e privados, além de estímulos fiscais e financeiros direcionados a setores estratégicos. Nesse contexto se destaca a promoção do desenvolvimento sustentável, prin-cipalmente incentivando empresas e empreendimentos preocupados com a melhoria e/ou conservação da qualidade ambiental. Igualmente importantes são os estímulos para micro e pequenas empresas, cooperativas e organizações de economia solidária e agricultura familiar.

De acordo com Paulo Sérgio, o Plano Nacional de Trabalho Decente será implementado por um comitê exe-cutivo interministerial composto por 17 pastas (entre as quais a da Fazenda) e com metas a serem alcançadas em dois momentos: 2011 e 2015.

Brasil já possui mais de 1 milhão de empregos verdes

Mesmo sem ter contado até agora com incentivo do governo o Brasil registra, segundo a OIT, mais de 1 mi-lhão de postos de trabalho considerados verdes e é citado pela organização como um dos líderes mundiais no número de vagas de trabalho na produção de ener-gia derivada de biomassa, juntamente com Estados Unidos, Japão, Alemanha e China.

“Todas as projeções para os países, individualmente, indicam um forte po-tencial para geração de empregos nos próximos anos e décadas. A instalação e manutenção de painéis solares e sis-temas termais solares, particularmente, oferecem uma tremenda oportunidade

Page 42: Revista do Meio Ambiente 25

40 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

de empregos”, diz o Paulo Sérgio Mu-çouçah.

A OIT estima que 500 mil indivídu-os trabalhem diretamente com biomassa

no Brasil - o que inclui o processamento de cana-de-açúcar para produzir etanol. Outros 500 mil empregos foram cria-dos pelo setor de reciclagem. Segundo o técnico da entidade esses números estão sendo revisados e devem ser bem superiores, uma vez que cerca de 840 mil pessoas trabalham atualmente no corte, colheita e processamento da cana-de-açúcar.

Um porém: a mecanização da colheitaPor outro lado, os postos de trabalho

na colheita de cana-de-açúcar estão seriamente comprometidos. Quem faz essa ressalva é o diretor-técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), Antônio de Pádua Rodrigues, ao colocar que cerca de 120 mil tra-balhadores, somente no estado de São Paulo, devem perder seus empregos por conta da mecanização da colheita. “Se por um lado temos benefício ambien-tal, por outro temos o desemprego. No Brasil, podem ser 340 mil desempre-gados devido à colheita mecanizada”, alerta.

Para contribuir com a solução para esse problema, a Única, em parceria com a Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo (FERAESP) e empresas do setor, lançou em junho de 2009 um programa chamado Renovação, que capacita mão-de-obra para o trabalho em outros elos da cadeia de produção ou para ativida-des junto a novos setores. A meta é a requalificação de 7 mil cortadores de cana por ano.

“Esses trabalhadores serão futuros

motoristas, soldadores e mecânicos e/ou também poderão atuar em outros setores, como hotelaria, apicultura, reflorestamento e construção civil”, ex-plica Rodrigues. O projeto será gerido por um comitê executivo formado por integrantes das entidades e empresas participantes, o qual será responsável pelas definições estratégicas, monito-ria e avaliação da iniciativa. No caso dos cursos para as comunidades será adotado um modelo de decisão des-centralizado, a partir de propostas dos trabalhadores.

Reciclagem espera por trabalho for-mal

De acordo com a Associação Brasi-leira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), 95% das latas produzidas no país são recicladas, sendo cerca de 10 milhões somente em 2008, o que representa economia de energia de 95% em relação ao que se consome na fabricação a partir do minério. Isso corresponde ao consumo energético de uma cidade do porte de Campinas.

“A cadeia da reciclagem tem mais de 2 mil empresas e mais de 800 mil trabalhadores em todo o Brasil. Boa parte deles são catadores de latas e a expectativa do setor é que o país pode ampliar seus postos de trabalho se conseguirmos formalizar esse tipo de emprego”, explica o diretor-executivo da Abralatas, Renault Castro.

Ele defende ainda que o governo aprove a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que define responsabilidades entre as esferas municipal, estadual e federal e também junto ao setor priva-do. Além disso, destaca a importância da valorização do trabalho de coleta enquanto emprego verde.

“Nosso setor é autoregulamentado, não temos nenhum incentivo governa-mental. Os catadores brasileiros pre-cisam ser valorizados, ter a dignidade de contar com carteira assinada. Além disso, queremos que seja feito um elo entre as políticas de reciclagem e a política de mudanças climáticas. Essa relação fica num nível etéreo e não chega ao catador”, defende Castro.

Energias renováveis esperam investi-mentos

De acordo com o Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Brasil é o maior mercado mundial de energias renováveis. Cerca de 46% de toda a energia consumida no

país é proveniente de fontes limpas.Nesse sentido, o diretor da As-

sociação Brasileira de Refrigeração, Ar-Condicionado, Ventilação e Aqueci-mento (ABRAVA), Carlos Farias Café, aponta que a energia solar tem inúmeras aplicações e pode ser utilizada para aquecimento de água - que corresponde a 6% de toda energia elétrica consumida no pais - promovendo uma economia de cerca de 18 mil Mega watts (MW).

“A energia solar processada por células fotovoltaicas, converte a luz do Sol em energia elétrica diretamente e já poderia ser amplamente utilizada no Brasil. Existem alguns estudos e cami-nhos de sucesso consolidados no mundo inteiro, mas aqui essas tecnologias são pouco consideradas. O atual governo apenas soluça a inserção da energia solar na matriz brasileira. Se tivésse-mos um governo mais pro ativo na área de energia solar, seriamos com certeza lideres nesta tecnologia”, provoca.

O diretor da ABRAVA menciona ainda que próprio Plano Nacional de Energia coloca metas assustadoramente pequenas para energias renováveis no Brasil. “Em uma ultima apresentação do ministério, falava-se em priorizar carvão, termelétricas e usinas nuclea-res. Ou seja, andamos a firmes passos na contramão, mesmo que hoje nossa matriz seja relativamente limpa do ponto de vista de emissão de gases de efeito estufa”, critica.

Fonte: Portal REMADE / Envolver-de /ANDI Mudanças Climáticas.

Page 43: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 41

ma audiência pública sobre o licenciamento e a mal disfar-çada ampliação de um pequeno

porto na cidade de Arraial do Cabo, à qual compareceram mais de 1.700 pessoas, deixou a cidade em estado de alerta máximo. E, o que é mais importante, lançou dúvidas sobre os reais motivos por trás da decisão do IBAMA ao decidir exigir o licenciamento dessas instalações portuárias.

Afinal, o IBAMA nunca exigiu o li-cenciamento de empreendimentos muito maiores e com impactos ambientais segu-ramente mais significativos implantados antes da promulgação da lei que criou a figura do licenciamento ambiental em 1981, tais como grandes hidrelétricas que impedem a migração de peixes para reprodução e o transporte fluvial.

Essa licença não poderá ser emitida sem inevitáveis e graves danos ambien-tais e, também, para Arraial do Cabo e Cabo Frio.

Ali se dá o fenômeno denominado “ressurgência”, uma colisão entre as cor-rentes frias que vêm do sul e as correntes quentes que vêm do norte, trazendo à tona material orgânico depositado no fundo do mar e fertilizando as águas do mar e fazendo com que essa seja a mais importante região pesqueira do Rio de Janeiro.

Além da pesca, a região vive do

turismo gerado por suas belas praias e belezas naturais.

Essas atividades – pesca e turismo – são incompatíveis com atividades portuárias e, em particular, com aquelas orientadas para a indústria petroleira, altamente poluente (e não apenas de alto potencial poluidor, como conta o jargão legal). Por essa razão é que nos países sérios o ordenamento territorial do lito-ral baseado em suas vocações naturais orienta as atividades portuárias para áreas diferentes daquelas relacionadas ao turismo, à pesca e à maricultura.

No Brasil, por exigência de conven-ções e acordos internacionais sobre os direitos de acesso aos recursos marinhos, em 1988 promulgou-se a lei No. 7.661, que “institui o Plano Nacional de Geren-ciamento Costeiro - PNGC”. A lei, de fato, institui é o plano do plano, isto é, bem ao estilo brasileiro determina que o Plano seja feito, sem estipular prazos. No início, foi a maior empolgação, com a criação de uma Comissão Inter-Minis-terial e da correspondente Secretaria-Executiva. Depois, aos poucos a proposta foi sendo esquecida, abandonada mesmo, com exceções locais ou regionais de ini-ciativa dos estados.

No entanto, emitir uma licença ambiental desse tipo sem considerar os princípios contidos na lei – isto é, sem contemplar as vocações naturais de cada

região - será mais do que uma omissão, mas uma irresponsabilidade ativa.

Arraial do Cabo encontra-se próximo da região do pré-sal, mas para que um porto de apoio às atividades das empresas petroleiras ali se instale será necessário aceitar os inevitáveis danos à pesca e ao potencial da região para a maricultura, além de mudar a cidade de lugar, já que só há uma rua estreita de acesso ao porto.

E, como a mentira tem pernas curtas, no meio do debate vazaram atas da comis-são municipal que faz a gestão do porto nas quais ficam evidenciada a intenção de privatizá-lo. Ah – aí, sim, compreende-se a decisão do IBAMA de exigir o licen-ciamento e, aparentemente, ter a intenção de expedir a licença a qualquer preço: “fica feio” um porto privado operar sem licença ambiental.

O Ministério Público não resolverá nada ou fará a opção, como já se tornou hábito, por um Termo de Ajuste de Con-duta – TAC. Basicamente, “olha, vocês destroem tudo aí e plantam uns pés de pau mais adiante como “compensação ambiental”.

Então, é necessário que a sociedade local prepare-se para caminhar pelas próprias pernas em direção à intervenção do Judiciário, inclusive com ações contra o próprio IBAMA.

Fonte: www.luizprado.com.br

IBAMA X Desenvolvimento Sustentável - O Caso de Arraial do Cabo

Denúncia AmbientalPor Luiz Prado

U

A cidadania reage contra a idéia de empresários e governantes em transformar Arraial do Cabo, uma cidade turística do litoral do Estado do Rio de Janei-ro em “CIDADE INDUSTRIAL do PETRÓLEO”! Proteste você também!

O povo de Arraial do Cabo merece respeito. A implantação de um porto off shore exige obriga-toriamente a divulgação das consequências de tal empreendimento para a população! Mil e quinhentos empregos e ações mitigatórias não compensarão todos os danos que a fauna, a flora e a população

Arraial do Cabo pede socorro!

Para ver a força da reação local, vale visitar www.youtube.com/watch?v=HyPalLg87AU

Page 44: Revista do Meio Ambiente 25

42 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

ONU e Governo Brasileiro apóiam criação da Certificação LIFE para setor empresarial

Certificação

C

A certificação internacional que nasce no Brasil chega para reco-nhecer, medir e qualificar ações das empresas em prol da con-servação da biodiversidade um avanço para a gestão dentro do conceito “Biodiversidade incorpo-rada aos Negócios” A certificação em prol da biodi-versidade gerida pelo Instituto LIFE é uma resposta concreta às decisões da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica tomadas na Alema-nha, para envolvimento do setor produtivo em ações pró-biodiver-sidade

uritiba, 17/7/2009 – A relação economia e meio ambiente, marcada por posições nem

sempre harmoniosas, agora ensaia uma aproximação, que representa uma gran-de esperança para reverter os atuais ín-dices de perda de biodiversidade – que vem impactando diretamente a vidas das pessoas e a agenda das próprias em-presas em virtude do comprometimento de processos ecológicos e da conse-quente limitação da disponibilidade de serviços ambientais É justamente com base nisso que surge o Instituto LIFE – sigla em inglês de Lasting Initiative For Earth (Iniciativa Duradoura pela Terra) – que gerenciará a Certificação LIFE, ‘certificação em prol da biodiver-sidade’, criada para reconhecer, medir e qualificar ações das empresas que desenvolvam atividades destinadas à conservação da biodiversidade. A ini-ciativa tem a chancela da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (órgão da ONU e instância máxima que discute as medidas sobre biodiversidade no mundo) e conta com o aval do Governo Brasileiro por meio do Ministério do Meio Ambiente.

“As empresas que assumirem esse compromisso estarão na vanguarda de uma tendência que está chegando e

não tem mais volta: a construção de um novo padrão de gestão ambiental que reconhece os enormes prejuízos econô-micos decorrentes da degradação da natureza e da perda da biodiversidade. Está cada vez mais evidente que a ges-tão ambiental de uma empresa não pode mais se limitar, dentro do atual modelo de desenvolvimento e consumo da so-ciedade, nem se limitar ao cumprimento da legislação vigente e à identificação dos impactos ao meio ambiente pro-venientes do seu processo produtivo”, afirma o presidente do Conselho Diretor do Instituto LIFE, Clóvis Borges. Este novo padrão de gestão – complementa Borges – implica na adoção de numa visão muito mais ampla e inclui a con-servação da biodiversidade na agenda destas empresas, independentemente de serem ou não responsáveis pelos impactos causados.

“Mas, hoje, estamos apresentando à sociedade, em especial aos empre-sários, um instrumento prático e tec-nicamente avançado para que o setor produtivo possa ter o instrumento para avaliação e reconhecimento de ações voltadas à conservação da biodiversi-dade, visando minimizar os impactos negativos para o seu próprio negócio e, ainda, possa fazer a sua parte além do que já vem fazendo, e com isso ganhar em responsabilidade corpora-tiva, competitividade e diferenciação de mercado: a Certificação LIFE”, complementa.

Nos últimos anos, biodiversidade passou a ser um dos termos científicos mais conhecidos e divulgados em todo o mundo. O Brasil possui a maior diver-sidade biológica do planeta, contando com pelo menos 20% do número total de espécies. Por outro lado, é também dono de uma realidade nada positiva, ao apresentar um quadro constante de degradação de áreas naturais – por exemplo, só nas Regiões Sul e Sudeste não há mais do que e 3% de áreas natu-rais bem conservadas remanescentes.

“Uma estratégia de desenvolvi-

mento que permita melhor conciliação da conservação da biodiversidade ao crescimento econômico precisa reconhecer que pressões excessivas ao patrimônio natural muitas vezes implicam na perda de biodiversidade e, por consequência, no comprometimento dos estoques de recursos naturais e seus serviços ambientais, absolutamente fundamentais para a nossa vida e para a manutenção da vida e de quaisquer empreendimentos. A busca é por um ba-lanço equilibrado entre a conservação da biodiversidade e a manutenção de atividades econômicas. E a iniciativa privada tem um papel fundamental para atingirmos este objetivo. Mas, por outro lado, há situações em que alguns desses serviços vêm sendo exigidos em excesso, o que pode comprometer a manutenção dos negócios (e de seus processos produtivos) e a conservação da natureza”, explica o ministro do meio ambiente, Carlos Minc, lembran-do que conforme estudo da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB), a perda da biodiver-sidade representa uma diminuição de 6% a 7% do produto bruto mundial ao ano, até 2050.

Page 45: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 43

O impacto da destruição da natu-reza nas mudanças climáticas

Mais uma justificativa para investir na conservação da biodiversidade

O fenômeno das mudanças climáticas forçou uma evolução dos conceitos de conservação do meio ambiente. Seja do ponto de vista das iniciativas públicas ou privadas necessárias nesse sentido. Seja pela compreensão da importância de se manter as áreas naturais não só para diminuir o avanço do próprio fenômeno, como para frear seus impactos.

A relação entre a agenda da conser-vação da biodiversidade e o aquecimento global fortalece a valorização de inicia-tivas de proteção de áreas naturais no Brasil. Estima-se que no Brasil, 73% das emissões de gases de efeito estufa são decorrentes de processos de degradação ambiental, especialmente mudanças na utilização de solos e desmatamento.

“A destruição da natureza, que duran-te séculos marcou um padrão de desen-volvimento de muitos países, inclusive o Brasil, é um fator que implica em perdas econômicas e custos adicionais à produ-ção cada vez maiores e que precisam ser

enfrentadas de maneira pragmática. Esta realidade já é percebida de forma mais objetiva por representantes do setor pri-vado”, reforça Andrea Drapier, secretária executiva do Instituto LIFE.

“O Instituto LIFE irá justamente mensurar e qualificar o que está sendo feito pelas empresas em defesa da biodi-versidade”, ressalta Clóvis Borges. “O Instituto LIFE é a entidade de terceiro setor que estamos lançando oficialmente hoje e que gerenciará a Certificação LIFE, a ‘certificação em prol da biodi-versidade’ que reconhecerá, medirá e qualificará os compromissos, práticas, iniciativas e ações das empresas em fa-vor da conservação da biodiversidade”, complementa.

Além de implantar o instrumento que vai reconhecer as empresas que fazem ações significativas em prol da conser-vação, o Instituto LIFE será também um fomentador de debates sobre negócios e biodiversidade com o objetivo de cola-borar para o avanço da agenda da conser-vação no universo empresarial. Também ajudará na concretização dos objetivos da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica: conservação da diversidade biológica, a utilização susten-

tável de seus componentes e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios derivados da utilização dos recursos genéticos.

A instituição foi lançada durante o evento “Certificação LIFE: incorporação da Biodiversidade aos Negócios” em Curitiba, no dia 17 de Julho, e contou com dois momentos: uma mesa redonda e o ato solene com a presença do ministro Carlos Minc, o vice-prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, além de autoridades fede-rais e representantes de diversas entidades ambientalistas e empresas. O secretário-executivo da CDB, Ahmed Djohghlaf, participou do evento com depoimento gravado para oficializar a chancela do organismo à iniciativa brasileira. A mesa redonda sobre o tema “A conservação da biodiversidade na estratégia empre-sarial – necessidade de alta prioridade” foi mediada pelo jornalista Marcos Sá Correa (O Eco/Revista Piauí/ O Estado de São Paulo), tendo como participantes, os biólogos Bráulio Dias (Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente) e Fernando Fernandes (Universidade Federal do Rio de Janeiro), e o cientista político Sergio Abranches (Instituto Coppead de Admi-nistração - UFRJ/CBN).

Page 46: Revista do Meio Ambiente 25

44 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

que será atingida. “Esse deslocamento será problemático, porque não há para onde levar a população ribeirinha. Não precisamos de mercado para comprar frutas porque já as temos em nossas terras”, afirmou.

Durante três horas os líderes partici-param de encontro com representantes do Ministério de Minas e Energia e da Eletrobrás, antes da chegada do presi-dente Lula, com quem se reuniram por cerca de uma hora.

Fonte: Agência Brasil - EBC

Por Pedro Peduzzi

Lula diz que não vai empurrar projeto de usina “goela abaixo” de comunidades

Energia e Meio Ambiente I

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva garantiu no dia 22 de julho a líderes comunitários e

representantes de movimentos sociais ligados ao Rio Xingu que “jamais empurrará o projeto de construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte goela abaixo das comunidades envolvidas”. A informação foi repassada à imprensa pelo presidente do Conselho Indigenista Mis-sionário (Cimi), dom Erwin Kraütler.

Conhecido como Bispo do Xingu, dom Kraütler participou da reunião entre governo, representantes da Eletrobrás e lideranças da cidade paraense de Alta-mira, para discutir os possíveis impactos ambientais e sociais que podem ser cau-sados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu. Segundo o Ministério de Minas e Energia, o processo de licitação da usina deve ter início no final de outubro.

“Lula nos garantiu que esta não será a última reunião e que o diálogo e o de-bate continuarão”, disse dom Kraütler. “Essa obra me causa medo, porque vai trazer consequências sociais e ambien-tais imprevisíveis”, afirmou o bispo. “O Xingu é um rio que ainda está se cons-truindo e, por isso, tem especificidades que não permitem sua comparação com outros rios”, acrescentou. “Essa região é o último resto de paraíso que Deus deixou para esse povo.”.

Cacique do povo Arara, José Carlos alerta que sua comunidade será afetada

pela redução da vazão de água do rio e pela migração que ocorrerá na região. “Além do prejuízo com a diminuição do volume de água do rio, teremos peixes contaminados e menos caça. E a situ-ação vai piorar depois que a obra for concluída, com os trabalhadores em si-tuação de desemprego invadindo terras”, argumentou.

Segundo o agricultor Lucimar Barros da Silva, que vive a cerca de 50 quilôme-tros de Altamira, em um local que prova-velmente será alagado pelas águas do rio após a construção da usina, a Eletronorte não tem para onde deslocar a população

Por Rodolfo Salm *

Sarney, Minc, Dilma e a hidrelétrica de Belo Monte

HSegundo um mal informado Minc, “o juiz acatou pedido de uma ONG contra a audiência pública alegando que não havia sido en-tregue um estudo sobre a questão indígena. E o estudo foi entregue”. Só que o estudo não havia de fato sido entregue. E o Ministério Pú-blico do Pará não é uma ONG.

á poucas semanas eu protestava contra o absurdo de o governo federal ter marcado já para

setembro ou outubro a licitação para a construção da hidrelétrica de Belo Monte, uma vez que o componente antropológico do estudo de impacto ambiental ainda não está sequer concluído. O componente an-tropológico é a parte que trata do impacto

da barragem sobre os povos que vivem na região, como os indígenas, e é um dos aspectos mais sensíveis da questão. Apesar disso, ao contrário da maior parte do Bra-sil, onde só havia motivos para se lamentar no Dia Mundial do Meio Ambiente, aqui no Xingu, o dia 5 de junho teve manifesta-ções em clima de festa por conta da ordem da Justiça de Altamira (PA) que, atendendo

Energia e Meio Ambiente II

Page 47: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 45

ao pedido do procurador Rodrigo T. da Costa e Silva, mandou suspender o licen-ciamento da obra até que este trabalho seja concluído, como manda a lei.

Mais recentemente, outra boa notícia: o funcionário do Ibama que aceitou inde-vidamente os estudos de Belo Monte foi indiciado por improbidade administrativa pelo Ministério Público Federal no Pará. As vitórias foram comemoradas com queima de fogos em vários pontos da ci-dade, mas ninguém aqui se ilude. Apesar dos vivas ao Ministério Público do Pará, sabemos que se trata apenas de um breve alívio para o Xingu. Como ser mais otimis-ta se o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, já disse que derrubaria esta liminar em poucos dias e que a usina hidrelétrica vai receber o licenciamento ambiental a tempo de participar do leilão de energia, previsto para setembro?

Enquanto isso, circulam pela cidade de Vitória do Xingu montes de homens de capacete demarcando a área onde se pre-tende construir 2.500 casas para abrigar os trabalhadores que levantarão a usina, sinal evidente da ilegalidade, afoiteza, e da gen-te “não oficial” a serviço das empreiteiras, já fazendo o serviço sujo para avançar ao máximo as preliminares de forma a tentar tornar a desgraça irreversível. Mais mate-rial para uma boa denúncia aos Ministérios Públicos Estadual e Federal, aos juízes e ao próprio Ibama, uma vez que este tipo de atitude está sendo tomada antes mesmo da concessão da licença prévia, e muito antes da licença de instalação.

A grande imprensa noticiou sem des-taque a decisão da Justiça. Tanto a Folha quanto o Estadão publicaram a notícia apenas nos cadernos de economia. A Folha desqualificou a questão indígena como um “entrave” para a construção da usina e

ambos os jornais repetiram a falácia de que Belo Monte terá uma potência de 11.181 MW. Na verdade esse valor só poderia ser alcançado pela usina durante um breve período do ano. Devido às fortes secas do Xingu, na maior parte do tempo Belo Monte seria a grande hidrelétrica mais improdutiva do mundo, considerando-se a relação entre a produção de energia e a capacidade instalada.

A última do Minc foi dizer à ministra Dilma Roussef que vetará o projeto para a construção da usina hidrelétrica de Torixo-réu (MT) – da qual nem se ouvia falar – e, em troca (!), dará liberação da licença am-biental prévia para a Hidrelétrica de Belo Monte, assim que a liminar for cassada. É como se resolvesse entregar o nosso braço direito aos tubarões, em troca de um dedo da mão esquerda. Recentemente falou que “nunca se deu tanta licença na história desse país”, adaptando o lema do chefe ao seu triste papel “na história deste país”. Segundo um mal informado Minc, “o juiz acatou pedido de uma ONG contra a audiência pública alegando que não havia sido entregue um estudo sobre a questão indígena. E o estudo foi entregue”. Só que o estudo não havia de fato sido entregue. E o Ministério Público do Pará não é uma ONG. Ainda segundo o ministro, “Belo Monte é um problemão antigo no quesito ambiental e sempre vai haver conflito, senão é piquenique sem formiga”. Antes de assumir, o ministro dizia que não en-tendia nada de Amazônia. Então suponho que ele não imagina o tanto de formigas que haverá nesse seu piquenique no Xingu, nem o grau de ferocidade delas. E serão tantas que infernizarão a vida daqueles que pretendem vir aqui “fazer um lanche”.

Não é à toa que o Xingu é o grande rio dos índios, onde eles mantiveram mais ter-

ras do que em qualquer lugar. Não foi por causa da benevolência do conquistador, mas pela ferocidade destes povos quando o assunto é defesa de suas terras. E agora eles vão novamente se levantar. O governo que insistir em construir a hidrelétrica de Belo Monte inevitavelmente protagoniza-rá cenas tristes como aquelas recentemente vistas no Peru, com índios sendo abatidos pela polícia de helicóptero. E este pode ser o destino de um possível governo de Dilma Rouseff, que está investindo fichas neste projeto arriscado.

Então, por que a ministra Dilma inves-te tanto na construção da hidrelétrica de Belo Monte? A força política da ministra vem do presidente Lula, que tem sua maior base de apoio no Nordeste. Belo Monte é uma peça fundamental do plano de conquista e colonização da Amazônia através da Rodovia Transamazônica, que é a entrada do Nordeste para esta região, diferentemente das BR-163 e 363, que partem do Sul para o Norte. Assim, esta obra se tornou fundamental para alavancar sua candidatura à presidência. Politica-mente falando seria mais sensato, até para evitar as tais cenas de massacres de índios, investirem primeiro na construção das hidrelétricas do Madeira, que já estão em uma fase mais avançada e que já serão um desastre de grandes dimensões sob o ponto de vista ambiental. Dificilmente o governo teria como bancar politicamente estas grandes obras ao mesmo tempo. Mas Dilma já está totalmente atrelada a esta idéia. Por isso sinto calafrios quando vejo suas percentagens de intenção de votos crescerem.

Além dos custos sociais e ambientais discutidos, os custos propriamente econô-micos de Belo Monte vão crescendo e se revelando estratosféricos. A última notícia

Rio Xingu, onde pretendem construir a hidrelétrica Belo Monte.

Page 48: Revista do Meio Ambiente 25

46 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

trução de hidrelétricas no Xingu, em 2005 o Senado aprovou a construção de Belo Monte em regime de urgência. A relatoria ficou a cargo de quem? José Sarney. É essa turma que se perpetuaria com a eleição de Dilma Roussef, que também tornaria mais provável a tragédia da construção desta hidrelétrica no rio Xingu.

* Rodolfo Salm, PhD em Ciências Am-bientais pela Universidade de East Anglia, é professor da Universidade Federal do Pará. - [email protected]

Fonte: Correio da Cidadania - [email protected]

de incremento na geração de energia por fontes menos impactantes e renováveis tais como a biomassa, solar, eólica, ondas do mar e a eficiência energética em toda a cadeia produtiva dos setores residenciais, comercias, industriais público e privado. Devemos focar o PROINFA e o PROCEL como instrumentos importantes na imple-mentação destas políticas públicas, bem como em pesquisa e tecnologia para este setor que estão avançando pelas universi-dades do nosso país.

Gostaríamos de lembrar que fazemos estas proposições a mais de 10 anos e não somente no atual governo conforme vários trabalhos, livros, cartilhas e um acordo de cooperação técnica que foi assinada em 2005 entre o FBOMS e o MMA sobre li-cenciamento ambiental do setor de energia. Somos a favor do desenvolvimento e do crescimento com geração de trabalho e renda com equidade e cuidado no uso e ocupação dos recursos naturais neste território.

Atenciosamente,Ivan Marcelo Neves - Secretário-

Executivo - FBOMS - Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

SCS, Quadra 08, Bloco B-50 Edifício Venâncio 2000, Sala 105 CEP 70333-900 Brasília, DF – Brasil Fone: (61) 3033.5535 ou 3033.5545 www.fboms.org.br

600 organizações socioambientalistas apelam ao Ministério Público Federal na busca do diálogo como forma de resolução de conflitos em projetos de expansão de energia no Brasil

Fórum Brasileiro de Organi-zações Não Governamentais e Movimentos Sociais para o Meio

Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) é uma coalizão fundada em 1990 e conta com mais de 600 membros, incluindo organizações não-governamentais, redes e federações de ambientalistas, sindicatos, as-sociações populares, seringueiros, e grupos de mulheres, jovens e consumidores enga-jados em políticas e ações locais, nacionais e globais para a sustentabilidade e o meio ambiente. O Grupo de Energia do FBOMS atua há mais de uma década para políticas públicas de promoção de fontes sustentáveis de energia.

Considerando que o Plano Decenal de Expansão de Energia está fortemente fo-cado na promoção de energia hidrelétrica, interferindo em unidades de conservação e proximidades de terras indígenas, no fomento das termelétricas com aumento de emissões de CO2, e ainda na energia nuclear, o FBOMS expressa sérias preocupações sobre o rumo da política energética de nosso país. Considerando os impactos sociais das obras contidas no Plano, conforme infor-mações do próprio MPF, “prevê-se que, pelo menos, 63.541 pessoas serão afetadas na área rural e que cerca de 26.274 serão afetadas na área urbana”.

Participamos da apresentação do Plano

O Decenal de Expansão de Energia feito pelo MME e perguntamos como seria possível legitimar a expansão de grandes investimen-tos, que causam uma série de conflitos socio-ambientais, como as do caso do rio Madeira e Belo Monte, e justificar a expansão das térmicas a carvão na região carbonífera do país (Santa Catarina e Rio Grande do Sul) e a nuclear, considerando que não tem solução definitiva para os resíduos e risco para saúde humana e meio ambiente enorme em caso de acidente, e considerando o potencial das fontes alternativas como biomassa, eólica e solar.

Defendemos, também, que haja um di-álogo setorial sobre as propostas do PDEE, de forma como ocorreu para a construção do Plano Nacional sobre Mudanças Climá-ticas. Este processo deve ser coordenado pelo MPF dos Estados ou através de uma comissão mista composta por representan-tes de entidades socioambientais, o poder público, o MPF, universidades e o setor empresarial.

Portanto, pelo exposto, solicitamos ao Ministério Público Federal, de forma emergencial e baseada na sua atribuição de defesa do meio ambiente e das populações do nosso país, de monitorar e fiscalizar as políticas públicas energéticas, em especial grandes obras e empreendimentos para a geração de energia, e de apoiar as políticas

Cidadania Socioambiental

é que a nova estimativa do custo da obra é R$ 30 bilhões, segundo a Alstom, gigante fornecedora de equipamentos para usinas hidrelétricas, que já está negociando com as empresas interessadas em participar da disputa da usina. Agora, as empresas concorrendo para entrar no leilão, estão admitindo que o custo da energia deva ser bem mais alto do que o das hidrelétricas do rio Madeira. Isso vai ficando mais claro à medida que empresas e bancos começam a fazer as contas de modo um pouco mais realista.

Pode-se argumentar que este é o custo da instalação das bases de um país moder-no e desenvolvido. Mas está longe de ser o caso aqui. A Alstom é investigada por

corrupção na Suíça, na França e no Brasil. Recentemente foi condenada no Tribunal de Contas de São Paulo pelo pagamento de propinas a políticos em troca de fa-vorecimentos em encomendas públicas para as obras do Metrô. A Eletronorte, a Eletrobrás, o Ministério das Minas e Energia, a ANEEL, a Camargo Correa e a Elabore estão tomados por mentirosos doentios que nos empurram goela abaixo este projeto catastrófico e injustificável, inclusive financeiramente falando. São paus-mandados do grupo de Sarney, que hoje nos envergonha com os escândalos no Senado. Mas aquilo que vemos no no-ticiário na TV é apenas a ponta do iceberg. Apesar de toda polêmica em torno da cons-

Page 49: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 47

Por Vilmar S. D. Berna

Hoje resolvi ser feliz Ecologia Interior

E stou no meio da semana, mas resolvi desligar o despertador mesmo assim, para acordar na-

turalmente no dia seguinte, apenas quando não sentisse mais sono.

Quando acordei, em vez de fazer como todos os dias, levantar logo e me preparar para mais um dia de trabalho, resolvi ficar na cama mais um pouco, fazendo preguiça.

O primeiro sentimento que tive de blo-quear foi o de culpa, por chegar atrasado a algum compromisso, ou decepcionar pessoas já desde cedo envolvidas em seus afazeres.

Resisti. Continuei na preguiça, sen-tindo o calor do colchão, a maciez do travesseiro.

Sem perceber, minha mente foi sendo invadida por pensamentos sobre proble-mas reais e imaginários, e normalmente começaria a organizar o dia, o que fazer primeiro, para quem ligar, que contas pagar ou não pagar, onde ir. Resisti novamente e espantei tais pensamentos para me concen-trar no canto de um bem-te-vi que fez ninho no coqueiro perto de minha janela.

Então resolvi levantar, mas, em vez de me arrumar ligeiro, como todos os dias, para o trabalho, abri as cortinas e a janela e fui saudado pelo sol de uma manhã de

inverno, senti um ventinho frio em meu rosto. Senti vontade de espreguiçar, todos os músculos, lentamente, e enquanto me espreguiçava, ouvia os pássaros, o balan-çar do coqueiro, a luz prateada do sol nas folhas do coqueiro.

Então decidi que não estava pronto para o trabalho. Vesti uma roupa mais leve e saí para caminhar naquela manhã ensolarada, sem rumo, sem culpa, sem metas, talvez para chegar só até a esquina e parar para ficar conversando com os vizinhos, ou então ir mais além e sentar num banco da praça para ver as crianças brincando, e pegar uma carona no olhar delas, na ma-neira despreocupada com que brincam, e criam e resolvem seus conflitos, e gritam, pulam, correm de um lado para o outro para não chegar a lugar algum, só por alegria e brincadeira!

Entretanto, naquela manhã todos pare-ciam muito ocupados em seus afazeres, e não havia vizinhos interessados em conver-sar, nem crianças brincando na praça.

Então continuei caminhando, sem pressa, e logo cheguei até a praia. Em vez de ir pelo calçadão, resolvi seguir descalço na areia, junto ao mar, prestando atenção no som ritmado das ondas para que minha mente não fosse invadida novamente por problemas, soluções, prioridades, emer-

gências.Vi um grupo de pescadores puxando

com alguma dificuldade uma rede para a praia e resolvi ajudar. Surpresa! Pegaram muitos peixes. Estavam contentes. Fiquei contente por eles. Resolvi continuar o meu caminho, e me despedi deles. Rapidamente colocaram uma boa quantidade de peixes numa sacola e me ofereceram, o que re-cusei prontamente, pois não ajudei para ganhar peixes em troca, e não tinha a menor intenção de carregar sacolas naquele mo-mento, muito menos de peixes! Já estava satisfeito por ter ganho a oportunidade de compartilhar daquele momento especial. Mas os pescadores fizeram questão. Dis-seram ser uma tradição compartilhar o resultado de uma boa pescaria com quem ajudou a pescar e que se eu não aceitasse eles poderiam ter dificuldades nas próxi-mas pescarias. Então aceitei, para agradar a eles. Mas realmente, carregar a sacola, e pesada, não estava em meus planos. Então levei o meu presente até um quiosque próximo e presenteei ao comerciante. Ele não queria receber, pois achava que eu estava querendo vender. Expliquei que era uma doação. Aí ele aceitou e me disse que passasse mais tarde ali que ele iria preparar e me ofereceria uma porção. Meu almoço ficou garantido.

Voltei para casa, tomei um banho e aí, sim, fui trabalhar.

Descobri que a felicidade não se mede em quanto tenho de dinheiro no bolso.

Dediquei aquela manhã ao amigo po-eta e jornalista Rafael Pimenta, editor do Jornal Enseada. Soube ontem que ele foi assassinado com um tiro nas costas durante um assalto, no bairro São Francisco, em Niterói. Estava num dos momentos mais produtivos de sua vida, maduro, cheio de sonhos e projetos

Enseada, fotografada por Vilmar da Redação da REBIA

Page 50: Revista do Meio Ambiente 25

48 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009

Academia Internacional de Ciências do Ambiente de Ve-neza e seus presidentes Adol-

fo Pérez Esquivel e Antonino Abrami, lançaram uma campanha mundial para a constituição da Corte Penal Internacio-nal do Meio Ambiente, argumentando que os desastres ambientais são crimes contra a humanidade. Para introduzir o delito contra o meio ambiente é neces-sário modificar os Estatutos de Roma da Corte Penal Internacional com sede em Haia, sendo necessário que 2/3 dos países subscrevam a proposta.

Numerosos desastres ambientais ficam na total e absoluta impunidade jurídica, como aconteceu em Cherno-byl, Bhopal e tantos outros desastres que afetam a vida planetária. O mesmo acontece com as petroleiras e empresas poluidoras com as grandes minerado-ras, o agronegócio, o desmatamento de florestas naturais, a contaminação e uso irracional da água.

Os recursos naturais são um bem essencial da humanidade que se en-contra em alto risco de contaminação e desaparecimento. Organismos in-ternacionais como a ONU e a FAO têm advertido sobre a necessidade de se preservar a soberania alimentar e denunciado que por dia morrem no mundo mais de 13 mil crianças de fome (UNICEF, 2008).

A campanha é conscientizadora e educativa sobre os bens e recursos na-turais que hoje se encontram em grave perigo no planeta.

A convocatória da Campanha foi feita pelos Prêmios Nobel da Paz Betty Williams, Dalai Lama, Mairead Corrigan Maguire, Shirin Ebadi, Rigo-berta Menchu Tum, o Prêmio Nobel de Literatura, Dario Fo, os escritores Luís Sepúlveda, Roberto Saviano, Gianni Miná, Luigi Ciotti, o Padre Alex Zano-telli, o Presidente do Senegal Abdou-laye Wade, o músico Claudio Baglione, entre centenas de adesões.

Fonte: Envolverde/IHU - Instituto Humanitas Unisinos

em cada região, para apoiar a consti-tuição da Corte Penal Internacional do Meio Ambiente. Já existem Comitês em alguns países como na França. As folhas de abaixo-assinado podem ser enviadas para a sede da Academia Internacional de Ciências do Meio Ambiente de Veneza.

• É necessário motivar os governos e parlamentares para que assumam sua responsabilidade: “Salvar o Planeta, é salvar a vida de todo ser vivente e da humanidade”. A Terra é nossa casa comum e temos a responsabili-dade de protegê-la da devastação e da contaminação, dos danos que vem sofrendo, provocado pelos interesses econômicos e políticos que privile-giam o capital financeiro sobre a vida dos povos.

• Da atitude que assumamos depen-de o mundo que deixaremos a nossos filhos e aos filhos de nossos filhos.

Recebam a fraterna saudação de Paz e Bem, desejando-lhes muita força e esperança, porque outro mundo é possível.

Adolfo Pérez EsquivelPremio Nobel de la Paz

Campanha Internacional para constituir a Corte Penal Internacional do Meio Ambiente

Campanha

A

Texto da convocatória:Fazemos um chamado à comu-

nidade internacional, às instituições sociais, culturais, religiosas e políti-cas, aos centros de pesquisa científica, universidades, centros acadêmicos de estudantes, às comunidades religiosas, sindicatos e educadores, aos Povos Originários e organismos de direitos humanos, aos organismos jurídicos, empresariais, artistas e intelectuais e a cada cidadão e cidadã para assumir o compromisso em defesa do meio ambiente e da vida.Convocamos:

• Promover a campanha internacio-nal em cada país;

• Motivar os governos a que subs-crevam sua adesão e se comprometam na defesa do meio ambiente e da vida do seu povo;

• Aos meios de comunicação mas-sivo e alternativos para que assumam a campanha e promovam ações conjun-tas dirigidas à tomada de consciência da população sobre os problemas ambientais. Reivindicamos:

• Aos organismos internacionais: Nações Unidas – ONU, a FAO, UNI-CEF, OMS, UNESCO, União Euro-péia, a OEA, entre outros organismos internacionais para que assumam e promovam a constituição da Corte Pe-nal Internacional do Meio Ambiente.

Organização e objetivos a serem alcançados:

• A participação dos povos é funda-mental como protagonista e construto-res de sua própria vida e história;

• A primeira etapa da campanha é reunir o maior número possível de ade-sões. É necessário que se constituam Comitês de Campanha em cada país,

Convocatória da Campanha

Page 51: Revista do Meio Ambiente 25

2009 - JULHO - EDIÇÃO 025 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - 1

Page 52: Revista do Meio Ambiente 25

2 - REVISTA DO MEIO AMBIENTE - EDIÇÃO 025 - JULHO - 2009