revista do irb brasil ano 65

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Apresenta-se material de apoio para conhecimento e pesquisa pelos alunos do Curso de Ciências Atuariais da UFF. Trata-se de material de apoio que não substitui os materiais e ensinamentos repassados em sala de aula.

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Page 1: Revista do irb brasil   ano 65
Page 2: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 1-52, abril 2005

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Lúcio Antônio Marques

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Patricia Stanzione

Rogerio Lessa Benemond

Suzana Liskauskas

REVISÃO

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DIREÇÃO DE ARTE

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Isabel Lippi

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DISTRIBUIÇÃO

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Os conceitos emitidos em artigos assinados exprimem apenas as opiniões de

seus autores e são de sua exclusiva responsabilidade.

Os textos publicados podem ser livremente reproduzidos desde que citada

a fonte.

Publicação editada pela Coordenação de Comunicação e Marketing

Institucional do IRB-Brasil Re.

Circulação desta edição: 5.000 mil exemplares, distribuídos gratuitamente

mediante assinatura.

Page 3: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 1-52, abril 2005

Enfim a primeira revista de 2005. Depois do carnaval, e passadas as águas de março, publicamos

a ducentésima nonagésima nona Revista do IRB. Tem sido um período particularmente propício

para a atividade do resseguro no Brasil. Afinal, as premissas legais que podem vir a impulsionar a

atividade no país já estão institucionalizadas. No Rio de Janeiro, é tempo de caravanas do seguro,

iniciativa tomada pelo SINCOR-RJ, com o objetivo de levar um pouco da cultura do seguro para o

interior do estado, radiografado e esquadrinhado por uma pesquisa do IBGE. Perfeito exemplo de

sinergia entre ciência e prática que a Revista do IRB analisa na página 22. O ano ainda promete:

leia na página 32, com a entrada em cena da Lei Complementar nº 109, que inclui no seu artigo 11

o instrumento do resseguro para os benefícios contratados, o que deve dar mais tranqüilidade e segu-

rança aos que temem investir em um plano privado de aposentadoria. E se der tudo certo, o projeto

de criação do Centro Internacional de Seguros e Resseguros no Rio de Janeiro, defendido pelo presi-

dente da ACRJ, o ex-Ministro Marcílio Marques Moreira, deve ser retomado e colocado em pauta,

o que certamente influirá significativamente na ampliação do mercado carioca e fluminense.

Confira, na página 4, a entrevista.

As novas dinâmicas do mercado e da conjuntura exigem que as empresas tenham poder de adapta-

ção aos novos padrões. O IRB-Brasil Re, visando uma maior agilidade e rapidez nos negócios,

reestruturou-se recentemente, implementando um sistema de colegiados e comitês, como demons-

tra matéria na página 18. São claros os objetivos: transparência, rapidez e eficiência.

Dois Artigos Técnicos enriquecem esta edição da Revista do IRB. O advogado Sergio Barroso de

Mello contribui com o artigo “O resseguro de excesso de dano como útil ferramenta contra prejuízos

com catástrofes ambientais e atos terroristas”, enquanto Osvaldo Haruo Nakiri constrói um breve

histórico sobre a regulamentação do seguro à base de reclamações, o Claims Made. No Panorama do

Mercado, vale conferir a entrevista de Wang Xianzhang, presidente da China Life Insurance Company

Limited, estatal que controla metade do mercado de seguros chinês, em visita à sede do IRB-Brasil Re

no Rio de Janeiro, entre outras notas e informes, dos quais destacamos a presença de funcionários do

IRB-Brasil Re na premiação do concurso de monografias, iniciativa promovida pela parceria

Funenseg/AON Re Brasil. Veja as novidades da biblioteca do IRB em Na estante e confira a coluna

Jurisprudência. Boa leitura.

Um abraço

EDITORIAL

ODILON DE BARROS PINTO JÚNIORCoordenador de Comunicação e Marketing Institucional

Novas assinaturas, contribuições, opiniões e cartas para [email protected]

Page 4: Revista do irb brasil   ano 65

Revista do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 1-52, abril 2005

ISSN 0019-0446

32

22

04

03 CARTA DO PRESIDENTE

04 CENTRO INTERNACIONAL DE SEGUROS E

RESSEGUROS: O RIO DE JANEIRO COMO

CENTRO IRRADIADOR DE NEGÓCIOS

E FORMAÇÃO PROFISSIONAL

12 PANORAMA DO MERCADO

16 NA ESTANTE

17 JURISPRUDÊNCIA

18 REORGANIZAÇÃO ESTRUTURAL

22 RAIO-X: PESQUISA IDENTIFICA

POTENCIALIDADES PARA O MERCADO DE

SEGUROS NO RIO DE JANEIRO

32 2005 O ANO DO RESSEGURO

ARTIGOS TÉCNICOS

42 O RESSEGURO DE EXCESSO DE DANO COMO

ÚTIL FERRAMENTA CONTRA PREJUÍZOS COM

CATÁSTROFES AMBIENTAIS E ATOS TERRORISTAS

• Sérgio Barroso de Mello

46 CLAIMS MADE: BREVE HISTÓRICO E

REGULAMENTAÇÃO NO BRASIL

• Osvaldo Haruo Nakiri

Page 5: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 3, abril 2005 3

A história do IRB-Brasil Re é uma história de desafios. Sua criação, no

cenário de inexistência de mão-de-obra qualificada para realizar a técnica do

resseguro, já diz muito sobre a natureza vencedora desta empresa que cons-

truiu sua trajetória de maneira indissociável da história econômica e política

deste país, marcando presença nos momentos mais decisivos da construção do

projeto de desenvolvimento do Brasil.

Hoje, a dinâmica contemporânea dos mercados mundiais tem exigido reposi-

cionamento, ao qual não temos nos furtado. Há mudanças à vista no mercado e

nosso desafio é o de garantir ao IRB-Brasil Re o perfil de liderança em resseguros

no cenário de mercado aberto. Temos caminhado decididamente neste sentido

e 2004 foi pontuado por ações estratégicas que demonstram este intuito.

Buscamos, na história, reforçar nossa identidade. No debate, estabelecer o

diálogo com o setor. Fizemos da responsabilidade social um pilar da empresa e

abrimos o IRB-Brasil Re para o futuro através da contratação, por concurso

público, de uma nova geração de técnicos eticamente orientados para a pro-

moção do desenvolvimento econômico e social. Com a implantação cada vez

mais ampliada do Sistema Integrado de Negócios, o SIN, um marco diferencial

na qualidade de nossas operações e dos serviços prestados a nossos clientes e

parceiros de negócios, o IRB-Brasil Re inova, reafirmando sua presença e

importância para o aprimoramento e desenvolvimento de nosso mercado. Na

busca pela governança corporativa, foram criados comitês consultivos e delibera-

tivos, que proporcionam maior agilidade e transparência em nossos processos.

O ano de 2005 deve inaugurar um período bastante propício para a deco-

lagem do resseguro no país. E o IRB-Brasil Re estará à frente deste processo.

Esta é a nossa natureza. Para isso nos preparamos dia após dia.

LUIZ APPOLONIO NETOPresidente

Page 6: Revista do irb brasil   ano 65

4 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005

o início da década de 1990, o diplomata Marcílio Marques Moreira foi

convidado a exercer o cargo de Ministro da Fazenda em um momento

extremamente delicado da história política do Brasil, tendo conduzido o

país a uma transição tranqüila, acalmando os mercados e superando todas as tur-

bulências. Marcílio, que integra o conselho consultivo da maior corretora do

mundo, preside atualmente a mais tradicional Associação Comercial do Brasil, a

do Rio de Janeiro (ACRJ), que este ano completa 185 anos.

Hoje, a cidade e o estado ocupam o centro das preocupações deste homem

de vasta cultura e experiência internacional. No imponente gabinete presiden-

cial da ACRJ, ele nos concedeu esta entrevista, na qual aponta as potenciali-

dades e os caminhos para a recuperação da economia fluminense. “Um Centro

Internacional de Seguros e Resseguros é um passo muito importante e interes-

sante para o Rio, que vai receber agora novas indústrias, inclusive a maior

siderúrgica do país”, destaca. Ele nega, no entanto, que possa vir a aceitar os

inúmeros convites que tem recebido para candidatar-se ao Governo do Estado.

No plano federal, o ex-Ministro voltou a defender a definição de marcos regu-

latórios seguros, para que o investidor estrangeiro sinta na economia brasileira um

ambiente propício para alocar seus investimentos. E contou que o Banco Intera-

mericano de Desenvolvimento (BID) estuda a criação de um seguro contra

mudanças repentinas nas legislações dos países. “Se alguém fizer um investimen-

to em determinado país e o marco regulatório for mudado, essas companhias

estariam protegidas. E, talvez, o BID poderia assumir uma parte do risco. A lógi-

ca do BID entrar é que o Banco tem diálogo com os governos dos países, o que

poderia contribuir exatamente para evitar o chamado risco regulatório”, explicou.

de negócios e formação profissionalirradiador

Entrevista: MARCÍLIO MARQUES MOREIRA

O Rio de Janeiro como centroCENTRO INTERNACIONAL DE SEGUROS E RESSEGUROS:

N

Page 7: Revista do irb brasil   ano 65

Revista do IRB – O que representa para a cidade do Rio de Janeiro a criação de um

Centro Internacional de Seguros e Resseguros?

Marcílio Marques Moreira – É um passo muito importante e interessante

porque o Rio vai receber agora novas indústrias, inclusive a maior siderúrgica do

país. Mas a grande vocação do Rio é a área de serviços, inclusive os mais sofisti-

cados. Logicamente, o resseguro, seguros, corretagem de seguros, é toda uma

cadeia, um universo grande de pessoas, de tecnologias, pois o setor cada vez

mais se torna sofisticado. A perspectiva é de uma mão-de-obra extremamente

qualificada. É uma semente que acabará virando uma grande árvore.

Revista do IRB – Quanto à qualificação da mão-de-obra, a atividade seguradora pode

alavancar a criação ou ampliação de centros de formação profissional no Rio?

Marcílio Marques Moreira – Sem dúvida. Aqui já existe a Fenaseg, que tem

uma escola na área de seguros. Isso pode ser estendido, por exemplo, para a área

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005 5

atuarial, matemática financeira. Temos

aqui o próprio Instituto de Matemática.

Sem dúvida, um Centro Internacional

de Seguros e Resseguros pode tornar o

Rio um centro irradiador de negócios e

formação profissional, empregos e todas

as atividades ancilares.

Revista do IRB – Em outros Centros de

Resseguro pelo mundo, quais foram os

resultados para as economias locais?

Marcílio Marques Moreira – Essas

concentrações têm ocorrido mais ou me-

nos naturalmente. O que o inglês chama

de cluster, no Brasil está sendo chamado

de Arranjos Produtivos Locais (APL). Cer-

tamente Zurique, Frankfurt, Nova Iorque,

causaram grande impacto nas economias

locais. Interessante como o seguro se

aproxima, às vezes ocorrendo até super-

posição da atividade financeira. Para nos

segurarmos contra um risco cambial,

existe o headge financeiro ou o seguro.

Revista do IRB – O Rio já foi o maior cen-

tro financeiro do país. Um pólo de seguros

permitiria ao Estado retomar, ao menos

parte, seu poderio no setor financeiro?

Marcílio Marques Moreira – Com-

panhias de seguros como Sul América e

Bradesco continuaram aqui. A Susep,

Fenaseg e o IRB-Brasil Re também. As

atividades urbanas tendem a convergir

em torno de um cluster. E o estado do

Rio também tem outros setores fortes,

como petróleo e comunicações.

Revista do IRB – Em outros centros inter-

nacionais, os arranjos produtivos se

desenvolveram de forma quase natural.

Acredita que, no caso do Rio, o planeja-

mento seja uma ferramenta eficaz?

Foto

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M

Page 8: Revista do irb brasil   ano 65

Marcílio Marques Moreira – Em Zurique, o desenvolvimento foi bastante

natural, mas nas Bahamas foi oferecida toda uma gama de incentivos fiscais

para atrair essas atividades. A própria qualidade de vida é um fator de atração.

Revista do IRB – O senhor vê as autoridades locais empenhadas nesse sentido?

Marcílio Marques Moreira – Temos conversado muito com o governo do esta-

do, o próprio secretário Humberto Mota (Desenvolvimento) está muito empenha-

do, assim como os empresários. Já recebemos, estudamos, sugerimos modifi-

cações – que já foram feitas – e estamos próximos de assinar o projeto do Centro

Internacional de Seguros e Resseguros. Agora estou encaminhando à Secretaria

de Desenvolvimento, para o protocolo Susep, Firjan, Associação Comercial.

Revista do IRB – Quando teríamos isso oficializado, para início das atividades?

Marcílio Marques Moreira – É difícil prever. São caminhos insondáveis, mas

acredito que 2005 seja um ano muito adequado, por não ser muito politizado. As

dimensões políticas envolvidas, como no caso do monopólio do IRB, são bastante

relevantes, pois envolvem questões institucionais e reguladoras. A emenda cons-

titucional que trata do monopólio já foi aprovada, faltando apenas a regulamentação.

Isso trará grande ímpeto e o próprio IRB-Brasil Re ganharia. A experiência mundial

mostra que quando temos competição todos os envolvidos acabam ganhando.

Revista do IRB – Um Centro Internacional de Seguros e Resseguros pode fazer com que

os investidores olhem a América Latina também a partir do Rio, e não somente através

dos grandes centros internacionais de Miami, Nova Iorque, Bermudas e Europa?

Marcílio Marques Moreira – A experiência mundial mostra que este não é

necessariamente um jogo de soma zero. Nos últimos anos, após a estabilização da

moeda, o setor tem crescido muito, mas o potencial ainda é muito grande. Pode

haver sim um deslocamento, porque muitas empresas brasileiras estão no exterior,

em parte porque a questão do resseguro ainda não está muito desenvolvida.

Revista do IRB – E quanto ao impacto em nossa balança de serviços?

Marcílio Marques Moreira – Sem dúvida, é um item que pesará, na medida

em que aumentar o volume de negócios. Nós ainda temos uma baixa consciência

A própria forma como o brasileiro elabora a idéia da morte

já indica sua possível relação com a questão do seguro,

pois o sujeito não pergunta quando morrerá, mas se morrerá.

6 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005

Page 9: Revista do irb brasil   ano 65

quanto à importância do seguro. Fui vice-presidente executivo e ainda faço parte

do conselho consultivo de uma grande corretora, da maior corretora do mundo.

Lá, o estudo que está se desenvolvendo atualmente é exatamente a dimensão cul-

tural do seguro. Por exemplo, no Brasil, ao contrário dos EUA, onde praticamente

não se encontra ninguém que não tenha um seguro de vida, aqui ainda, cultural-

mente, a própria forma como o brasileiro elabora a idéia da morte é diferente, pois

o sujeito não pergunta quando morrerá, mas se morrerá (risos).

Revista do IRB – A inflação também prejudicou muito o desenvolvimento do

seguro, certo?

Marcílio Marques Moreira – Dizimou, na verdade, a atividade de seguros,

que chegou a menos de 1% do PIB, quando nos países desenvolvidos gira em

torno de 8% do PIB.

Revista do IRB – O senhor diz que está faltando o desenvolvimento de uma cultura

de seguros no Brasil. Acha que a distribuição de renda influi nesse quadro?

Marcílio Marques Moreira – Influi também, assim como o desenvolvimento de

produtos mais acessíveis. Agora, as companhias estão lançando um seguro de vida

mais popular. Infelizmente, nossa pirâmide de renda é muito desigual, então qual-

quer despesa recorrente passa a ter um peso muito forte. As companhias de

seguros têm de se adaptar, talvez adotando um caminho semelhante ao da

Previdência: o sujeito contribui quando pode (quando está empregado ou tem

renda). Na área de telefones celulares, 85% são pré-pagos e o ticket médio é muito

baixo. Há 10 anos não havia telefone pré-pago no Brasil. Lembro-me que estive

na Colômbia e me mostraram um telefone assim, ainda do modelo que se inseria

o próprio cartão no aparelho.

Revista do IRB – O brasileiro adquire o telefone para ter status?

Marcílio Marques Moreira – Sim, mas principalmente para receber

chamadas. Muito raramente geram chamadas. Na Europa se usa muito o pré-

pago, mas a média de ligações é mais alta. Por causa da média baixa no Brasil,

algumas operadoras até foram à falência, porque não previam esse perfil do

usuário de telefone no Brasil. No caso dos seguros, uma cultura de consumo

favoreceria a massificação e, conseqüentemente, a redução dos preços.

Revista do IRB – No caso dos impostos, o senhor avalia que ainda estão altos para o

setor? Qual a sua proposta para diminuí-los?

Marcílio Marques Moreira – Ainda estão muito altos. Houve uma certa modi-

ficação agora, mas continua a tendência à dupla taxação. A companhia paga o

imposto e depois, quando o beneficiário recebe, tem que pagar novamente. A

Associação Comercial vai realizar em futuro próximo um seminário sobre o assun-

to, ao lado da Fenaseg e do próprio IRB-Brasil Re. �

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005 7

Page 10: Revista do irb brasil   ano 65

Revista do IRB – Como avalia as mudanças no marco regulatório?

Marcílio Marques Moreira – A atividade de seguros no Brasil ainda é sobre-

regulada. Quando ministro, tentei dar o primeiro passo para reverter esse quadro,

através do Plano Nacional de Seguros, e houve uma grande abertura. Qualquer

produto exigia uma série de regulamentações e normas que acabavam tolhendo

muito a criatividade. No mundo moderno, que é muito volúvel, rápido, devemos

deixar que a própria sociedade, seguradoras, operadoras criem seus produtos.

Revista do IRB – O senhor é favorável que, ao menos por um período de transição, o

IRB-Brasil Re e as seguradoras nacionais disponham de algumas prerrogativas, até

se adaptarem às novas regras, já que passarão a concorrer com empresas

estrangeiras muito poderosas?

Marcílio Marques Moreira – Minha experiência, que é maior na área finan-

ceira que na de seguros, diz que em ambos os casos – bancos e seguradoras – o

ator local tem enorme vantagem. Durante certo período, liberalizou-se muito a

vinda de bancos; contudo, o número de bancos que foram revendidos a brasileiros,

com perdas substanciais, foi muito grande. O governo achava que aumentaria a

competição, o que não aconteceu. A atividade bancária está muito ligada à cultura,

barreiras psicológicas. Há uma natural proteção. Evidentemente, casos como o do

IRB-Brasil Re devem ser levados em conta, mas não procurar colocar barreiras.

A questão do resseguro exige um período de adaptação, já que estaremos

8 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005

saindo de um monopólio. Mas para

tanto basta que sejam estabelecidas

algumas regras.

Revista do IRB – Saindo um pouco do

mercado segurador e voltando ao estado

do Rio, a seu ver, quais os principais

vetores da retomada da atividade econô-

mica na região?

Marcílio Marques Moreira –

Farmacêutica, petroquímica, siderur-

gia. Curiosamente, a maior siderúrgica

do país irá se instalar na cidade do Rio

de Janeiro, em Santa Cruz, que, aliás, é

uma zona industrial em franca expan-

são, pois tem boa localização, porto,

tem água, conta com dois canais. Aliás,

participei, há 38 anos, pela Companhia

Progresso do Estado da Guanabara, do

estudo para a implantação da zona

industrial de Santa Cruz. Na época,

Page 11: Revista do irb brasil   ano 65

pensava-se em três zonas, mas as outras se favelizaram, uma delas a Fazenda

Botafogo (atual Acari). Santa Cruz era uma zona rural, colonizada por padres

jesuítas holandeses. A região era um charco, por isso existem os dois canais.

Revista do IRB – Qual o peso do Pan-americano nessa retomada do Rio de Janeiro?

Marcílio Marques Moreira – É importante aproveitar a oportunidade. Há seis

anos, trabalhei no primeiro governo de César Maia, como secretário de Políticas

Públicas. Antes mesmo de tomarmos posse, estivemos com o grupo que planejou

as Olimpíadas de Barcelona. Eles deixaram claro que Barcelona não foi prepara-

da para as Olimpíadas, mas as Olimpíadas foram usadas para preparar a Barcelona

do futuro. O Rio enfrenta problemas por causa das constrições e restrições orça-

mentarias, nos três níveis. Infelizmente, o diálogo entre o governo municipal, o

governo estadual e o governo federal tem muitos atritos, não flui como mereceria

a população. Mas, talvez, o próprio Pan-americano seja um fator para superar isso,

pois não dá para fazer vexame aqui e um ficar colocando a culpa no outro. O Pan-

americano é um aglutinador e mobilizador.

Revista do IRB – Até agora, a maior parte dos fatores de recuperação do Rio que o

senhor citou estão concentrados na capital. Como o senhor vê o potencial do interior,

até por causa de problemas aqui citados, como a favelização?

Marcílio Marques Moreira – A petroquímica é em Itaguaí, portanto, fora da

capital. Há previsão de um grande investimento automobilístico em Porto Real.

Temos que ficar atentos a certos problemas, mas há um bom potencial. No inte-

rior há cidades muito interessantes, como Resende, por exemplo, ou as cidades

do petróleo, como Macaé, onde também há uma grande atividade. A serra ganhou

uma coisa não propriamente nova, mas muito renovada, que é o turismo.

Pousadas de boa qualidade como há hoje, não tínhamos antigamente. Itaipava é

um interessante centro gastronômico. Visconde de Mauá, Penedo, onde estive

hospedado por duas vezes. Fui convidado por uma universidade para fazer uma

conferência na Academia Militar das Agulhas Negras e fiquei muito surpreso. O

auditório tem três mil lugares e o evento contou com a presença de generais e

coronéis. Antes da conferência, fizeram questão de apresentar um concerto com

uma orquestra, que eles chamam de banda sinfônica, de ótima qualidade, uma

beleza, formada na própria Academia.

Revista do IRB – Qual a expectativa em relação ao projeto das PPPs e quais os pro-

jetos prioritários para o Rio?

Marcílio Marques Moreira – A partir desses projetos existe a possibilidade de

se construir o anel rodoviário, ligando Caxias até Itaguaí, Sepetiba, tirando o trân-

sito de dentro do Rio. É muito importante. Houve uma reunião de um de nossos

conselhos, o de política econômica, onde o cônsul geral da Inglaterra, que é inte-

grante do conselho, citou, inclusive, que em seu país há projetos de PPP em

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005 9

Page 12: Revista do irb brasil   ano 65

10 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005

atividades não suficientemente lucrativas para justificar o investimento, mas que

têm uma certa sustentabilidade. Talvez não a parte de segurança, mas presídios,

que estariam ligados à atividade de hotelaria. Muita coisa que o Estado, eviden-

temente, não está muito preparado para fazer. A Polícia Militar não sabe nada

desse ramo. Não sei se estaríamos suficientemente maduros para esse tipo de

atividade, mas certamente há carências para construção de estradas. Na parte de

energia elétrica, estamos relativamente bem com a inauguração de duas ter-

melétricas. Existem problemas exatamente porque foram feitos contratos numa

época de crise, que a Petrobras está querendo rever.

Revista do IRB – De qualquer forma, o investidor só toma a decisão a partir das garan-

tias oferecidas...

Marcílio Marques Moreira – Sim. Aliás, nos últimos quatro anos, um grupo

estudou os projetos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) junto ao

setor privado. Hoje em dia as companhias de seguros e resseguros já têm produ-

tos para o chamado risco político, que é um risco cambial, e estão desenvolvendo

o risco regulatório. Se alguém fizer um investimento e o marco regulatório for

mudado, essas companhias estariam protegidas. E, talvez, o BID poderia assumir

uma parte do risco. A lógica do BID entrar é que o Banco tem diálogo com os

governos dos países, o que poderia contribuir exatamente para evitar o risco regu-

latório. Hoje em dia, um dos principais fatores que afastam os investidores é a

insegurança regulatória. Por isso é interessante promover a consolidação do marco

regulatório de seguros antes, para depois não ter que mudar as regras.

Revista do IRB – Então a legislação regulatória deve vir antes da criação de um Centro

Internacional de Seguros e Resseguros no Rio?

Marcílio Marques Moreira – Sim. Uma coisa que aconteceu na energia elétri-

ca é que, como não havia marco regulatório, houve a necessidade de se fazer um

marco contratual. De novo, o governo fica mais desprovido. Por exemplo, a adoção

do índice IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado, elaborado, no Rio, pela

Fundação Getúlio Vargas). Isso acontece também em relação ao setor de seguros.

Temos, na Previdência, certos benefícios ligados ao IGP-M. A Fundação Getúlio

Vargas (FGV) está querendo rever esse índice, o que é difícil justamente porque

há uma série de contratos ligados a ele. Mas é um índice que na economia moder-

na não faz sentido. É composto, em 60%, pelos preços do atacado (Índice de

Preços no Atacado - IPA), 30% referentes a consumo e 10% da construção civil.

Qual a lógica desta salada, que mistura banana com laranja? O IPA é muito liga-

do ao dólar e o dólar é muito volúvel. E uma atividade como a construção civil

pode estar em um período de expansão ou estagnação.

Revista do IRB – Como isto afeta o setor de seguros?

Marcílio Marques Moreira – Duplamente. Porque há alguns contratos com a

Sem dúvida, um

Centro Internacional

de Seguros e

Resseguros pode

tornar o Rio um

centro irradiador de

negócios e formação

profissional,

empregos e todas as

atividades ancilares.

Page 13: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 4-11, abril 2005 11

Previdência ligados ao IGP-M, outros ao IPCA. Mas, para fazer isso, as próprias

companhias de seguros têm que investir sua reserva técnica em IGP-M. O gover-

no está tentando sair do IGP-M, sair do dólar. Por aí vemos o quão complexo é

esse problema. O resseguro no exterior é cotado em dólar. No passado, aqui no

Brasil só se conhecia a valorização do dólar e todos faziam headge para se prote-

ger. Agora muito poucas pessoas fariam isso.

Revista do IRB – Há quem defenda a desfusão dos estados do Rio e da Guanabara.

Acredita que isso possa alavancar as duas economias?

Marcílio Marques Moreira – A idéia tem certo charme e reflete muito o senti-

mento de insegurança e até mesmo de indignação da população com essa falta de

segurança. Eu mesmo fui assaltado em casa, levaram muitas coisas que estavam no

seguro, o que é muito raro no Brasil. No passado, só se conseguia fazer isso através

de companhias estrangeiras, hoje as brasileiras já operam. Elas pagaram o seguro,

mas isso não compensa o trauma e o valor afetivo dos bens perdidos. Realmente,

muitos problemas do Rio vieram da transferência da capital para Brasília. Trabalhei

na Companhia de Desenvolvimento do Estado da Guanabara entre 1965 e 1968,

quando havia cinco anos da transferência da capital. Via-se claramente a transferên-

cia de pessoas e de investimentos, pois o governo federal investia aqui. Mudou o

eixo. E depois veio a fusão. A população está muito revoltada e, daí, vem essa idéia

da desfusão. Mas ela não é realista. O petróleo, por exemplo, não está na capital e

uma desfusão faria a capital perder os recursos dos royalties do petróleo. O que se

poderia fazer é retomar a idéia de regiões metropolitanas, já que a população da

Baixada Fluminense, por exemplo, usa as escolas, universidades, hospitais, sobretu-

do hospitais, da capital. Isso sobrecarrega a estrutura da cidade. Sou pela abordagem

sistêmica, que está próxima dessa idéia de região metropolitana.

Revista do IRB – Mudando um pouco de assunto, temos tido notícias do lançamento de

sua candidatura ao Governo do Estado. O senhor tem projetos políticos?

Marcílio Marques Moreira – Governar um estado é uma coisa muito complexa.

A relação com a Assembléia Legislativa é difícil. O próprio marco regulatório

eleitoral privilegia certo tipo de atuação que não é benéfica. Agora, uma coisa muito

positiva no Rio de Janeiro atualmente é a atuação do Judiciário. Hoje em dia, o

Judiciário mais eficiente do Brasil é o do nosso Estado. Ao entrar com uma ação no

Tribunal de Justiça, o cidadão fluminense espera no máximo uma semana para que

ela seja distribuída. A lentidão no restante do país é inacreditável. Além disso, no

caso do estado do Rio de Janeiro, há um crescente interesse pela arbitragem, e a

Associação Comercial, juntamente com a Fenaseg, Firjan e a Fecomercio, têm um

tribunal arbitral que está funcionando muito bem. Isso agiliza o processo.

Com relação a projetos politicos, isto se deve ao entusiasmo dos nossos dire-

tores, associados. Venho de uma grande família de políticos, mas o meu momen-

to político já passou. �

Page 14: Revista do irb brasil   ano 65

No último dia 9 de março foi realizado o evento de premia-

ção do Concurso de Monografias de Resseguro promovido pe-

la Funenseg e pela AON Re Brasil. Antonio Nunes Pereira foi

o primeiro colocado com o trabalho “A Importância do Resse-

guro para a Preservação da Solvência de Seguradoras – Uma

Abordagem Exploratória e Introdutória”. Leandro de Andrade

Carvalho, funcionário do IRB-Brasil Re, ficou em segundo

lugar com a monografia “O Resseguro nos Seguros de Vida e

na Atividade de Previdência Privada”. Antonio acredita que sua

obra será importante para outras pessoas que, assim como ele,

se interessam pelo assunto: “Espero que a minha monografia

ajude profissionais, estudantes e pesquisadores que procuram

material sobre o setor, e que possa despertar interesse na cria-

ção de outras publicações do gênero.” Ele destacou, ainda, a

ajuda recebida da Biblioteca do IRB-Brasil Re e da

Funenseg, onde fez grande parte de sua pesquisa. Leandro,

que trabalha na área de planejamento estratégico do IRB-

Brasil Re, vê o estudo do resseguro como uma ferramenta de

trabalho. Para ambos, a principal dificuldade enfrentada para

a realização do trabalho foi a pequena quantidade de material

de pesquisa, fato que reforça a importância do concurso para

a criação de uma literatura mais ampla e inédita sobre o tema.

Outro funcionário da empresa, José Francisco da Silva, foi

parabenizado pela qualidade do seu trabalho, “Solvência das

Seguradoras – análise e solução de resseguro”.

O presidente do IRB-Brasil Re, Luiz Appolonio Neto,

anunciou no mês de março o maior lucro da história

da empresa. O IRB-Brasil Re obteve lucro líqüido de

R$ 432,655 milhões em 2004, com expansão nominal de

32% em relação a 2003, de R$ 327,986 milhões. O patrimô-

nio líqüido da empresa ficou em R$ 1,379 bilhão, com

incremento de 14% em relação ao R$ 1,210 bilhão do ano

anterior. A rentabilidade do patrimônio líqüido inicial ajusta-

do foi de 36,3% (31,6% em 2003). Excluindo-se a receita

referente aos negócios de Previdência Complementar

Aberta e Capitalização, o setor de seguros teve crescimento

de 20,82%, arrecadando R$ 45,099 bilhões em 2004. Desse

volume, o IRB-Brasil Re registrou receita de prêmios emi-

tidos de R$ 2,853 bilhões em prêmios totais, praticamente o

mesmo nível de 2003 (R$ 2,877 bilhões). O percentual de

prêmios cedidos para o exterior, no montante de R$ 1,410

bilhão, apresenta redução de 11,88% em relação ao ano de

2003 (R$1,600 bilhão), implicando aumento de 6,03 pon-

tos percentuais no índice de retenção de resseguro no País,

que atingiu 50,07% do prêmio total auferido pela empresa

(44,04% em 2003). O total de prêmios ganhos foi de

R$ 1,394 bilhão, apresentando crescimento de 11,64% em

relação a 2003 (R$ 1,248 bilhão).

A maior arrecadação esteve, mais uma vez, por conta do

ramo Incêndio (R$ 517 milhões), seguido pelos ramos Res-

ponsabilidade Civil Geral, Garantia e Transportes Internacio-

nais, que respondem, em conjunto, por cerca de 60% do prê-

mio retido pela Empresa. As despesas com sinistros, ou seja,

custo final do IRB no montante de R$ 655 milhões em 2004,

apresentaram aumento de 32,91% em comparação a 2003,

porém, refletindo baixo índice de sinistralidade: 46,98% ante

67,01% apurado pelo mercado em 2004. O resultado

operacional, assim como ocorreu com a sinistralidade, teve

um desempenho positivo no exercício de 2004, atingindo a

cifra de R$ 645 milhões, contra R$ 695 milhões em 2003.

12 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 12-17, abril 2005

RESSEGURO EM CENA

OS NÚMEROS DE 2004

PANORAMA DO MERCADO

À direita,Antonio NunesPereira, eLeandro deAndradeCarvalho, funcionário doIRB-Brasil Re

Page 15: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 12-17, abril 2005 13

AIDA lança Prêmio para estimular a Investigação científica

A Associação Internacional de Direito do Seguro-AIDA, com o apoio da AON

Re Global, acaba de lançar um prêmio para estimular a investigação

científica e o estudo sobre o Direito do Seguro. O trabalho pode tratar

de qualquer tema relacionado ao Direito do Seguro e do Resseguro.

O prêmio é de oito mil euros para o primeiro lugar e de dois mil euros

para o segundo colocado. Mais informações em www.aida.org.uk

A Munich Re, maior resseguradora do mundo, em documento divulgado em

uma conferência de imprensa sobre riscos naturais nas chamadas megaci-

dades, informou que Tóquio e São Francisco são as cidades que enfrentam

o maior potencial de sofrer danos decorrentes de desastres naturais, como

terremotos. Elas são seguidas por Los Angeles, Osaka, Miami, Nova York e

Hong Kong. A Munich Re alertou que as grandes cidades representam um

desafio cada vez maior para o setor de seguros porque, com freqüência,

acumulam grandes quantidades de apólices de seguros.

Vista cada vez mais como um tema

importante no mundo corporativo, a res-

ponsabilidade social foi tema de pesquisa

realizada pela Economist Intelligence

Unit, “The importance of corporate

responsibility”. Segundo os dados coleta-

dos, 85% das pessoas ouvidas declararam

que na hora de decidir no que investir, a

responsabilidade corporativa é um tema

“central” ou “importante”. Ainda segundo

a pesquisa, que teve o patrocínio da

empresa de informática Oracle, os aspec-

tos mais importantes da responsabilidade

social são: comportamento ético, bom

relacionamento interno e transparência

nos acordos corporativos.

Navalshore discutirá seguro-garantia

A Navalshore 2005 – II Feira e Con-

ferência da Indústria Naval e Offshore

reunirá de 11 a 13 de maio, no Píer Mauá,

porto do Rio, fornecedores de navipeças,

estaleiros e armadores. O tema da confe-

rência do dia 12 é “A modelagem do

seguro-garantia”, relacionado aos con-

tratos de construção de navios. Este

seguro tornará viável novos empreendi-

mentos com os estaleiros nacionais, que

passam por período de reestruturação e

aguardam com expectativa a encomenda

de 22 navios pela Transpetro, já decidida.

Mais informações no site www.portose-

navios.com.br/navalshore

Mega-riscos

PANORAMA DO MERCADO

Responsabilidade Social em alta

História do seguro no cinemaO corretor de seguros Joaquim Fonseca, primeiro presidente e fundador do

Sincor-GO, concluiu curso de direção cinematográfica e está escrevendo um

roteiro para filmar um documentário sobre os fatos que marcaram a história

do seguro no Brasil. O objetivo é atingir o grande público, que conhece muito

pouco da história da atividade no país, ao mesmo tempo em que resgata

fatos importantes desta história. Interessados em colaborar podem mandar

e-mail para [email protected]

Page 16: Revista do irb brasil   ano 65

PANORAMA DO MERCADO

14 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 12-17, abril 2005

Em janeiro, representantes da China Life Insurance

Company Limited, estatal que controla metade do

mercado de seguros chinês, estiveram na sede do IRB-

Brasil Re no Rio de Janeiro. A China Life é presidida

desde o ano 2000 por Wang Xianzhang, um executivo

que trabalha na área de seguros desde 1965 e que

respondeu a algumas perguntas da equipe da Revista

do IRB. Segundo ele, esse foi apenas um primeiro

encontro, de compreensão e de conhecimento das

pessoas. “Agora, daqui para frente é trabalho. A próxi-

ma reunião será na China”, finalizou.

Qual o tamanho do mercado segurador na China?

No último censo realizado pela China, no final do

ano de 2004, a população ficou em torno de 1,3 bilhão

de habitantes. O desenvolvimento dos seguros privados

na China nesses últimos anos é proveniente da reforma

econômica desenvolvida no país. Na década de 1980,

quando houve a abertura econômica na China, havia

apenas uma empresa seguradora, uma operadora privada. Agora, passados

20 anos, somos 40, sendo que, entre estas, acredito que 31 trabalhem com

previdência e seguro de vida. Houve também um crescimento muito acele-

rado da taxa do prêmio, do dinheiro que se arrecada. Em 2003, por exem-

plo, no seguro de vida houve um crescimento do valor em 40%. No ano

passado foi regulado pelo governo e caiu para 7,2%. O prêmio total no ano

passado foi de 330 bilhões CNY (moeda chinesa). Destes, cerca de 70% se

situam no ramo vida.

Como funcionam as regras para entrada de empresas estrangeiras no mercado

chinês de seguros?

No ano passado, a China entrou em acordo com a OMC. Em dezembro, a

China abriu totalmente o mercado de seguros para as empresas estrangeiras.

Agora, temos 40 grandes empresas internacionais atuando na China, com mais

de 70 escritórios. E como prometido pelo governo chinês, o seguro de pro-

priedade pode ser administrado exclusivamente pela empresa estrangeira.

Mas, em relação a seguro de vida, a participação da empresa estrangeira

está limitada a 50% do capital. Em relação aos produtos, também houve

China Life no IRB-Brasil Re

Wang Xianzhang, presidente da China Life

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Page 17: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 12-17, abril 2005 15

PANORAMA DO MERCADO

uma abertura muito grande. Antigamente só existia aber-

tura para o seguro individual. Hoje, as empresas estran-

geiras podem atuar também em seguros de empresas.

Além disso, podem atuar também em aposentadorias pri-

vadas e seguros de saúde.

Há espaço para a participação de empresas brasileiras neste

mercado?

O crescimento chinês é o mais acelerado do mundo. No

ano passado, foi de 9%. A estimativa para este ano é de 8%. E

o nível de vida, a qualidade de vida do chinês, melhora a cada

ano. Os nossos valores de consumo também estão mudando.

Até pouco tempo atrás, os três produtos mais desejados eram

a televisão, a máquina de lavar roupa e a geladeira. Hoje é o

seguro, o automóvel e a casa própria. O mercado chinês de

seguros é extremamente promissor se você levar em conta que

o nosso valor é quatro vezes o de Cingapura.

Eu estava folheando a revista (Revista do IRB 296) e vi a

foto do encontro dos dois presidentes (do Brasil e China).

Naquela matéria vocês dizem que esperam, em breve, poder

realizar mais parcerias e intercâmbios com a China. Isso é

uma coisa certa. Vemos que há uma complementaridade

entre as duas economias. Em alguns aspectos, o brasileiro

possui mais experiência do que o chinês e, em outros, o

chinês possui mais experiência do que o brasileiro.

Então, eu digo aos nossos amigos brasileiros que, inde-

pendente do que você faça dentro do mercado de seguros,

resseguro e cosseguro, o mercado chinês é muito bom.

O mercado de seguro chinês é, sozinho, maior que todo o mer-

cado latino-americano, correspondendo a 1,6% do mercado

mundial. A China Life tem planos de se expandir em outros

mercados, como o Brasil?

Em dezembro de 2003, colocamos nossas ações no mer-

cado dos EUA e de Hong Kong, ao mesmo tempo em que

estamos vendo um crescimento econômico bastante

acelerado na China. E isso é bastante promissor para o

nosso ramo. Porque, além do crescimento econômico,

somos muitos. Somos 1,3 bilhão de chineses. Isso significa

um crescimento não somente acelerado, mas de um volume

gigantesco. O que para nós, do ramo de seguros, é

muito importante.

A China Life pretende, num futuro próximo, atuar no

mercado externo. Agora só temos um escritório fora da

China, em Hong Kong.

Finalizando, como é a previdência social na China? Existe uma

previdência privada complementar ou o governo é responsável

sozinho pelas aposentadorias?

Antes tudo era responsabilidade do governo: a aposenta-

doria, a previdência, a educação, saúde... Em todos os

aspectos a responsabilidade era do governo. Após a refor-

ma, parte é do governo e parte é de empresas privadas.

Hoje, a aposentadoria e a saúde cobrem as necessidades

básicas da população chinesa. Elas dão um básico determi-

nado pelo governo chinês. Mas, ao mesmo tempo, o gover-

no incentiva as empresas a realizar seguros privados para

seus funcionários. Então, se uma empresa privada na

China oferece, além da previdência, um seguro privado

para seu funcionário, ela torna-se isenta de algumas respon-

sabilidades e desfruta de alguns benefícios concedidos pelo

governo. A previdência social é calculada em cima das

necessidades básicas de um trabalhador chinês e, por ano,

ele pode usar um valor fixado para a saúde.

Page 18: Revista do irb brasil   ano 65

16 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 12-17, abril 2005

Seleção de obras disponíveis na Biblioteca de Seguros Rodrigo Médicis pertencentes ao acervo da empresa. A bibliote-

ca está aberta para consulta diariamente das 9 às 17 horas, na Av. Churchill, 182, Castelo, RJ. Informações pelos tele-

fones (21) 2272-0631, (21) 2272-0655 ou pelo site www.irb-brasilre.com.br. e-mail: [email protected]

NA ESTANTE

SEGUROS

PARA RISCOS

AMBIENTAIS

Walter Polido

Editora Revista

dos Tribunais

Em vários países, os mercados de

seguros têm buscado aprimorar os

mecanismos relacionados com a pro-

teção securitária dos riscos ambien-

tais, criando soluções que tornem

cada vez mais compatíveis as expecta-

tivas da sociedade com as reais possi-

bilidades do mercado segurador. Di-

versas são as questões relacionadas e

o segmento se torna, a cada dia, uma

disciplina complexa e necessaria-

mente apartada dos demais segmen-

tos de seguros, dada a sua especifici-

dade. Não há, em princípio, fórmulas

totalmente prontas e já largamente

conhecidas e testadas neste segmen-

to. Em seu segundo livro sobre o

tema, Walter Polido, especialista em

Riscos Ambientais, retorna ao com-

plexo e desafiante Seguro para Riscos

Ambientais, desta vez publicado pela

RT Editora. O autor traça compara-

tivos entre os diversos mercados

seguradores e resseguradores do

mundo, estabelecendo posições em

relação ao estágio atual do Brasil

neste contexto.

RESPONSABILIDADE

CIVIL NA GESTÃO

DA QUALIDADE

UMA ESTRATÉGIA

MULTIDISCIPINAR

DE PREVENÇÃO DO DANO

Carlos Afonso Leite Leocadio,

Edgard Pedreira de Cerqueira Neto,

Luizella Giardino Barbosa Branco

Fundo de Cultura / Editora Forense

GROUP INSURANCE

William F. Bluhm –

Editor Robert B.

Cumming, Alan D. Ford,

Jerry E. Lusk,

Peter L. Perkins –

Editores Associados

Actex Publications

Esta é a quarta edição de um dos maio-

res tratados sobre o tema do seguro de

grupo. Revisto e atualizado, Group Insu-

rance analisa importantes aspectos do

seguro de grupo nos Estados Unidos

e no Canadá, relacionados aos ramos

de vida e saúde, com ênfase nos aspec-

tos atuariais deste campo importante

do seguro.

Financiado pelo BID, a realização deste

trabalho, supervisionado pelo Banco

Central do Brasil, teve como objetivo

realizar um diagnóstico detalhado no

âmbito do sistema financeiro de cada

país membro do Mercosul.

ANUARIO ESPAÑOL

DE SEGUROS

Coordenação Geral:

Juan Manuel Blanco

INESE

Listagem das diversas entidades e

empresas do setor de seguros e resse-

guros na Espanha. Contém, ainda, guia

de serviços, instituições científicas e

culturais, endereços de associações e,

em anexo, uma análise do desempenho

do mercado segurador na Espanha em

2003. Vem com um CD Rom.

INTEGRACIÓN DEL

SISTEMA FINANCIERO

– MERCOSUR

APOYO AL MERCOSUR

PARA LA ARMONIZACIÓN

DE LOS MECANISMOS

DE SUPERVISIÓN GLOBAL

CONSOLIDADA

Consultores/Claudio Ness Mauch, Raúl Alberto Fuentes

Rossi, Aécio Cordeiro Neves

Banco Interamericano de Desarrollo

Com uma leitura fácil e dinâmica, este

livro pretende associar o tema da gestão

de qualidade à Responsabilidade Civil,

analisando a possibilidade de se calcu-

lar o risco de cada etapa em uma cadeia

produtiva, o que poderia antecipar as

conseqüências legais de cada passo. É

o que se denomina Qualidade com

Reponsabilidade –QcR.

Page 19: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 12-17, abril 2005 17

JURISPRUDÊNCIA

RESPONSABILIDADE CIVIL –

AÇÃO CONTRA A SEGURADORA

É possível, no direito brasileiro, a ação dire-

ta da vítima do dano contra o segurador do

responsável civil do dano, pois, apesar de

não ser parte do contrato, é o seu benefi-

ciário. Assim sendo, nada obsta que acione

a seguradora para obter a quantia devida a

título de reparação de dano, desde que

prove o prejuízo sofrido. (1º TACív. – SP – Ac.

unân. da 10ª Câm. De 02.12.2003 – Ap.

1.192663-5 – Rel. Des. Ênio Zuliani – Maria

das Dores de Souza Madureira X João

Marcelo Alves Pereira)

In Boletim COAD / ADV n. 1 /2004, p. 10 –

Ementa 108418

SEGURO – SAÚDE – CONTRATO

CELEBRADO ANTES DA LEI Nº. 9.656/98

A matéria em exame é, sem a menor dúvi-

da, conflitante, na medida em que envolve

interesses complexos, um dos quais, o

próprio direito à vida e à saúde, cuja pro-

teção é de natureza constitucional. A

cláusula do contrato que merece exame

aqui é a décima sexta, cuja redação é a

seguinte: “Em nenhuma hipótese, em cada

12 (doze) meses de vigência do contrato, o

período de internação, contínuo ou não,

poderá ser superior a 30 (trinta) dias, não-

cumulativos, exceto as internações em CTI,

CETIN, Unidade Coronariana ou Unidade

Respiratória, em que esse período fica limi-

tado a 10 (dez) dias, também não-cumula-

tivos. A esposa do apelante necessitou de

internação hospitalar no Hospital Santa

Mônica, em Niterói, no dia 05.06.2002, aco-

metida que estava de “meningite tubercu-

losa”, ocasião em que a apelada negou a

cobertura financeira da internação, bem

como o fornecimento de exames comple-

mentares indispensáveis, exatamente sob a

invocação de cláusula 16ª do contrato. A

doutrina e a jurisprudência são pacíficas no

sentido de que inexiste limitação de prazo

para a internação, que é devida enquanto

necessária for. As regras próprias do

processo cautelar inominado não seguem o

rígido princípio dispositivo do processo civil

em geral e a lei concede ao magistrado o

poder geral de cautela, exatamente porque

a ausência de normas específicas para

todos os casos poderia resultar em danos

irreparáveis para a parte. No mais, o jul-

gador não pode olvidar que, na aplicação da

lei, deverá sempre atender aos fins sociais e

às exigências do bem comum. (TJ-RJ – Ac.

unân. da 13ª Câm. Cív. , publ. em 27.11.2003

– Ap. 2003.001.06622 – Rel. Des. Azevedo

Pinto – José Pinto Júnior X AIS – Associação

para Investimento Social)

In Boletim COAD / ADV n. 1 /2004, p. 9 –

Ementa 108416

SEGURO – VEÍCULO – AUSÊNCIA DE CO-

MUNICAÇÃO DA VENDA À SEGURADORA

Quando o segurado deixa de cumprir as

obrigações convencionadas na apólice,

omitindo-se em fazer, por exemplo, comu-

nicação imediata à seguradora, por escrito,

sobre a transferência de posse ou pro-

priedade do auto segurado decorrente da

apólice, em função da perda do direito rela-

tivo ao seguro do automóvel. A lei não deter-

mina a obrigatoriedade de o seguro ser

automaticamente honrado pela segurado-

ra, em relação à parte distinta daquela que

figurou no contrato. Não é abusiva, nem

iníqua a cláusula do contrato de seguro de

veículo automotor que prescreve a comuni-

cação da transferência da apólice para o

adquirente do bem, sob pena de isentar a

seguradora de responsabilidade – C. Civil,

artigo 1.463. Provimento do recurso, para

reformar a sentença e julgar o pedido inicial

como improcedente. (TJ-RJ – Ac. unân. da

16ª Câm. Cív., publ. em 19.08.2003 – Ap.

26.886/2001 – Rel. Des. Ronald Valladares –

Porto Seguro Companhia de Seguros Gerais

X Paulon Sérgio Pascoal)

In Boletim COAD / ADV n. 3 /2004, p. 41 –

Ementa 108566

SEGURO – INADIMPLEMENTO DA SEGU-

RADORA – LUCROS CESSANTES

CABIMENTO

A seguradora é obrigada ao pagamento da

indenização dos danos provocados por

sinistro contemplado na apólice, nas

condições contratadas. Porém, se do des-

cumprimento do contrato pela seguradora

surgem danos ao segurado, que por isso

fica impossibilitado de retomar suas ativi-

dades normais, por esse dano provocado

pelo seu inadimplemento responde a segu-

radora. Deferimento da parcela que, nas

instâncias ordinárias, foi definido como

sendo de lucros cessantes. (TJ-RJ – Ac.

unân. da 10ª Câm. Cív., publ. em 04.11.2003

– Ap. 13.473/2003 – Rel. Des. Ivan Cury – Sul

América Companhia Nacional de Seguros X

Geovania Alves da Silva Oliveira)

In Boletim COAD / ADV n. 10 /2004, p. 153 –

Ementa 109117

Decisões dos Tribunais publicadas em 2004 e compiladas pela Biblioteca Rodrigo Médicis

JURISPRUDÊNCIA 2004

Page 20: Revista do irb brasil   ano 65

18 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 18-21, abril 2005

Page 21: Revista do irb brasil   ano 65

Desde o dia 1º de janeiro deste ano, o IRB-Brasil Re funciona com uma nova

estrutura organizacional. As mudanças, segundo Vandro Ferraz da Cruz, respon-

sável pela gerência de estratégia da empresa (GEEST), foram feitas basicamente

na unidade de negócios do IRB-Brasil Re e têm o objetivo primordial de dar mais

agilidade e qualidade aos seus processos de negócios.

A nova estrutura foi delineada com base em estudo encomendado à Fundação

Getúlio Vargas (FGV). A solicitação partiu dos acionistas, que reformularam o

estatuto da empresa para delegar ao conselho de administração a função de fixar

as atribuições dos diretores. “Houve muitas mudanças no mercado e a nossa estru-

tura já estava há alguns anos da mesma forma”, explica o gerente de estratégia.

Na verdade, segundo o executivo, em 2000, quando foram iniciados o processo

de abertura e as discussões para a quebra do monopólio do resseguro e a conse-

qüente privatização do IRB-Brasil Re, um estudo no sentido de reestruturar a

empresa foi encomendado à FGV. Mas as mudanças acabaram não ocorrendo,

por conta da interrupção do processo de privatização com a ADIN (Ação Direta

de Inconstitucionalidade) de nº 2.223-7, impetrada pelo Partido dos Trabalha-

dores, e a conseqüente suspensão do leilão do IRB-Brasil Re.

A revisão do estudo realizado pela FGV há quatro anos vem em um momento

bastante oportuno, quando se discute, no âmbito do governo, um novo marco

regulatório para o setor de seguros e resseguros no País. “Revimos o estudo, a par-

tir do que identificamos que havia necessidade de mudar. As circunstâncias do

momento em que ele foi realizado mudaram e as coisas não aconteceram como

se previa na época”, avalia Vandro.

Divisão eqüitativa

O conselho de administração aprovou, no final de 2004, a nova reestrutu-

ração, que entrou em vigor no início do ano. Uma das principais diretrizes

determina que o volume de trabalho entre as diretorias deve ser dividido de

forma igual. “Nós tínhamos uma diretoria técnica que cuidava praticamente de

toda a área de subscrição, além da área de regulação e liqüidação de sinistros.

Dentro dessa diretoria técnica, havia uma gerência que concentrava mais de

50% dos negócios do IRB-Brasil Re. A reestruturação, que ocorreu fundamen-

talmente na área de negócios, buscou distribuir a carga de trabalho e melhor

definir funções”, ressalta o responsável pela GEEST.

Na estrutura anterior, havia duas diretorias na área de negócios: a técnica e a

comercial. O grande volume de trabalho acabava sobrecarregando alguns

setores, e, conseqüentemente, prejudicando a agilidade no atendimento.

Processos que poderiam ser analisados em uma semana levavam, dependendo

da complexidade, até um mês para serem respondidos. “Como havia uma con-

centração em determinadas unidades, tínhamos um gerente responsável para

cuidar de muitos negócios. Naturalmente, ele ficava sobrecarregado. Além da

questão da agilidade, havia também a da qualidade. Apesar de dar conta do�

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 18-21, abril 2005 19

Page 22: Revista do irb brasil   ano 65

20 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 18-21, abril 2005

trabalho, a gerência não podia dar a devida atenção a todos os negócios.

Acreditamos que, com essa nova estrutura, vamos poder cuidar melhor disso”,

diz Vandro.

A área de negócios continua a ter duas diretorias. A diferença é que uma

cuidará de todos os processos que envolvem Riscos de Propriedade e a outra, de

Riscos de Transportes. Além disso, a diretoria de Planejamento, que cuidava da

parte de planejamento e desenvolvimento, foi extinta. Suas funções foram agre-

gadas à presidência. Em seu lugar foi criada a diretoria de Riscos e Sinistros.

“Dessa forma, toda essa parte de inspeção de riscos e liqüidação de sinistros, que

era de responsabilidade da antiga diretoria técnica, foi absorvida pela nova direto-

ria”, explica o gerente da GEEST.

O grande ganho nesse caso, de acordo com o executivo, é que, com a nova

reestruturação, o trabalho que estava concentrado praticamente em uma diretoria,

a técnica, foi distribuído entre as três novas que foram criadas. “Conseguimos

agora um desenho com funções e tarefas melhor distribuídas.”

Comitês

A mudança organizacional, no entanto, não se restringe apenas à criação e à

extinção de diretorias. Em busca de uma estrutura cada vez mais transparente

e moderna, de acordo com os princípios de Governança Corporativa – modelo

de administração que ganhou força nos últimos dez anos, tendo nascido e

crescido, originalmente, nos Estados Unidos e Inglaterra – o IRB-Brasil Re

lançou mão de um sistema de colegiados. “A idéia é, fundamentalmente, des-

centralizar o poder decisório e dar mais transparência aos processos, melho-

rando a Governança Corporativa.”

Os Comitês Consultivos já existiam no IRB-Brasil Re, mas com a implemen-

tação do novo modelo organizacional eles foram reformulados. Agora são ao todo

seis, que estão divididos em: Técnico, de Investimento, de Análise de Security, de

Planejamento e Orçamento, de Retenção e o de Compras e Contratações.

No entanto, segundo Vandro, a grande mudança está mesmo na criação dos

Comitês Deliberativos, que permitem que a decisão, até determinada instância do

negócio, saia das mãos da diretoria. “Eles são formados por gerentes da casa, facili-

tando o processo, já que eles podem reunir-se a qualquer momento, sempre que

houver necessidade.” Por enquanto, já estão funcionando dois comitês, o de

“Acho que a reestruturação traz, fundamentalmente, a melhoria na

operacionalidade da empresa. Independentemente de como vai ficar o cenário

no futuro, essas medidas ajudam a melhorar a gestão da empresa.”

Page 23: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 18-21, abril 2005 21

Sinistros e o de Colocação de Excedentes no Exterior. “Mas a idéia é incrementar

ainda mais esse modelo de utilização dos Comitês Deliberativos, que deverão ser

implantados também em outras áreas”, conta o executivo.

Estes comitês são formados por gerentes em um primeiro nível, e pela Diretoria

Colegiada no nível final. Até o valor da alçada fixada, o comitê, no seu primeiro

nível, toma as decisões em caráter final. Para valores superiores à alçada, os inte-

grantes do primeiro nível emitem parecer fundamentado sobre a decisão e o

encaminham ao comitê de nível seguinte.

O Comitê de Colocação possui três níveis. O primeiro é formado por quatro

gerentes; o segundo, por diretores, e o terceiro é a Diretoria Plena. Já no Comitê

de Sinistros, as decisões, que eram tomadas pela Gerência de Sinistros e pela

Diretoria, ficarão em dois níveis: gerentes e Diretoria Colegiada.

Transparência

Todo esse processo, acredita o executivo, vai dar ainda mais transparência e agili-

dade aos negócios da empresa. “Acho que a reestruturação traz, fundamentalmente,

a melhoria na operacionalidade da empresa. Independentemente de como ficará o

cenário no futuro, essas medidas ajudam a melhorar a gestão da empresa”, afirma.

Vandro da Cruz acredita que o mercado como um todo ganhará com estas

mudanças, pois terá um órgão ressegurador mais eficiente e ágil no atendimento às

suas demandas.

Novos negócios

Se a reestruturação irá aumentar o volume de negócios para a empresa, ainda

não se pode afirmar, mas desde o ano passado a empresa vem investindo em

tecnologia, com o objetivo de melhorar os processos nessa área. Um primeiro

passo foi a criação do Sistema Integrado de Negócios–SIN.

Agora o IRB-Brasil Re se prepara para lançar, ainda este ano, um Portal de

Negócios. “Trata-se de mais uma iniciativa, buscando um outro canal de realiza-

ção de negócios pela Internet”, conta o gerente. A idéia é ter um canal eletrônico,

para onde as seguradoras possam enviar a remessa de dados referentes aos con-

tratos que, hoje, ainda chegam em papel.

Outro ponto que passou por reformulações foi a política de colocação de exce-

dentes no exterior. Em 2004, mediante consulta pública, o IRB-Brasil Re editou

um novo regulamento, estabelecendo diretrizes para a colocação de excedentes no

exterior. O normativo, que também está em vigor desde o dia 1º de janeiro, con-

tém regras mais transparentes para o cadastro, a manutenção e o relacionamento

entre o IRB-Brasil Re, corretores de resseguros e resseguradores.

A partir de agora, o IRB-Brasil Re manterá um cadastro atualizado de ressegu-

radores, incluindo sua classificação de rating. Além disso, só poderão operar com

o IRB resseguradores que atendam aos critérios estabelecidos, como rating míni-

mo, de acordo com uma empresa de classificação de riscos, capital mínimo de

US$ 100 milhões e avaliação positiva

do Comitê de Security da empresa.

Resultados

Independentemente da questão da

abertura do mercado de resseguros,

todas essas mudanças, que vêm

ocorrendo desde o ano passado,

demonstram que o IRB-Brasil Re está

quebrando paradigmas e se moderni-

zando. E os primeiros resultados pare-

cem ratificar que essas mudanças

estão no caminho certo. De acordo

com o balanço financeiro publicado

em março, o IRB-Brasil Re registrou o

maior lucro da história da empresa,

R$ 432,655 milhões.

A NOVA DIRETORIA

PRESIDENTE

Luiz Appolonio Neto

VICE-PRESIDENTE

Manoel Morais de Araujo

DIRETORIA FINANCEIRA

Alberto de Almeida Pais

DIRETORIA DE RISCOS DE PROPRIEDADE

Luiz Eduardo Pereira de Lucena

DIRETORIA DE RISCOS DE TRANSPORTES

Carlos Murilo Goulart Barbosa Lima

* Até o fechamento desta edição não havia

sido nomeado o Diretor de Riscos e Sinistros.

Page 24: Revista do irb brasil   ano 65

RAIO-XRAIO-XPESQUISA IDENTIFICA

POTENCIALIDADES PARA O MERCADO

DE SEGUROS NO RIO DE JANEIRO

Page 25: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005 23

O mercado segurador brasileiro fechou 2004 com um crescimento de 20,6%

em relação ao ano anterior em prêmios arrecadados. Os bons resultados, no

entanto, não afastam do setor a preocupação em buscar mecanismos para

expandir a base de consumidores, ainda muito concentrada nas classes A e B,

sobretudo nos grandes centros urbanos. Mas há divergências com relação ao dire-

cionamento dessas ações para que haja um alargamento na base de dados dos

consumidores de seguros no Brasil. Existe uma grande aposta nos seguros de

cunho mais popular, destinados às classes C e D. Do outro lado do balcão, há

análises que apontam o investimento em seguros de responsabilidade civil, fami-

liar e os produtos voltados para o agronegócio. Para o grupo que aposta nos negó-

cios ainda embrionários no setor segurador, mas que não passam nem perto das

classes C e D, a questão do seguro popular não está relacionada ao faturamento

do setor: trata-se de justiça social.

A certeza de que o mercado tem ainda um grande potencial a ser desenvolvido,

levou o Sindicato das Seguradoras do Rio de Janeiro (Sindiseg) a encomendar um

levantamento sobre a realidade econômica do estado e os focos de negócios. O

estudo foi realizado por pesquisadores do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada) e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O presidente

do Sindicato, Luiz Tavares, explica que a pesquisa indica cinco regiões do interior

fluminense onde há espaço para expansão econômica: Sul Fluminense, Norte�

Responsabilidade civil,familiar e seguros voltadospara o agronegócio: potencial a ser desenvolvidono Rio de Janeiro.

Page 26: Revista do irb brasil   ano 65

24 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005

Fluminense, Região Serrana, Baixada Fluminense e Niterói/São Gonçalo. “Um dos

grandes diferenciais é que o estudo permite fazer o cruzamento de dados, combi-

nando informações geográficas com as da população, como sexo, renda familiar,

faixa etária, aquisição de seguros, etc.”, ressalta Tavares.

No segmento de automóveis, por exemplo, o estudo realizado pelo IPEA

mostrou que apenas 25% da frota de veículos – cerca de 3,3 milhões – dos 92

municípios fluminenes têm seguro. De acordo com a pesquisadora Sonoe

Sugahara, uma das responsáveis pelo estudo, o documento gerado apresenta, além

do banco de dados, um conjunto de mapas e análises univariada, fatorial e de pro-

dutos específicos (populares e de capitalização). Uma das análises feitas mostra

dados sobre desenvolvimento da região, relacionando longevidade da população e

o grau de educação. Para cada etapa, há uma marcação geográfica indicando os

municípios e sua situação, negativa ou positiva, com relação à análise específica,

como alta renda, alto desenvolvimento, dimensão rural com urbano reduzido, etc.

Para apresentar o estudo ao mercado, o Sindiseg promoveu um seminário no

Centro de Convenções da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, em novembro passa-

do, que contou ainda com a presença do Secretário Estadual de Planejamento e

Coordenção Institucional, Tito Ryff. Como um dos desdobramentos desse traba-

lho, o Sindiseg vai promover uma série de caravanas para o interior do estado, a fim

de divulgar os produtos do mercado segurador e seus benefícios. Tavares diz que

as caravanas começam a ser feitas ainda este ano em duas das cinco regiões sele-

cionadas como prioritárias pelo sindicato. (Saiba mais sobre as caravanas na entre-

vista com Luiz Tavares.)

Lucio Marques, diretor comercial da Cia. de Seguros Previdência do Sul, apóia

a iniciativa do sindicato em mapear as regiões pouco exploradas. “O trabalho é de

um alcance formidável, não só pela possibilidade mercadológica que pode ser

usada pelas seguradoras, mas também abre perspectivas para um desenvolvimen-

to cada vez maior do estado”, afirma Marques. Na análise do executivo, o trabalho

mostra com clareza onde há potencial de consumo para produtos de seguros no

“O trabalho é de um alcance formidável, não só pela possibilidade

mercadológica que pode ser usada pelas seguradoras,

mas também abre perspectivas para um

desenvolvimento cada vez maior do estado.”

Page 27: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005 25

O estudo levou em consideração crité-

rios como a população dos municípios

ou região, número de escolas, domicí-

lios com rendimentos de cinco a vinte

salários mínimos e números de casais

com filhos e agregados, cujos dados fo-

ram coletados pelo Censo 2000 do IBGE.

Além disso, foram incluídas infor-

mações como o volume de depósitos à

vista, de poupança e a prazo. A idéia é de

que as companhias possam encontrar

nichos de mercado para ações futuras,

não só na capital como fora dela.

PRODUTOS POPULARESNo segmento de seguros populares

(com foco nas carteiras de vida e patri-

moniais e ticket médio considerado de

R$ 10/mês), por exemplo – nicho que já

tem sido explorado por algumas segu-

radoras, incentivado pela própria Su-

perintendência de Seguros Privados

(Susep)– os municípios que despontam

com maior potencial, além do Rio de

Janeiro, estão localizados nas regiões

Norte, Noroeste, Centro-Sul, Médio

Paraíba, Baixada Litorânea, Serrana

(destaque para São Sebastião do Alto) e

Metropolitana (apenas Mangaratiba).

Entre os destaques, estão: São Sebas-

tião do Alto, Varre-Sai, Santa Maria

Madalena, Trajano de Morais, Macuco,

Rio Claro, Laje do Muriaé, Aperibé, Piraí,

Rio das Flores, Cambuci, Sapucaia, São

José de Ubá, Duas Barras, Miracema,

São Francisco de Itabapoana, Porciún-

cula, Cardoso Moreira, Itaocara, Canta-

galo, Natividade, Valença, Mangaratiba.

ACUMULAÇÃONa carteira de produtos de acumulação

(VGBL, PGBL e títulos de capitalização),

podem ser citados como destaques em

potencial de consumo os municípios do

Rio de Janeiro, Niterói, Miguel Pereira,

Vassouras, Nova Friburgo, Nilópolis,

Volta Redonda, Macaé, Bom Jesus de

Itabapoana, Petrópolis, Três Rios, Areal,

Teresópolis, Mendes, entre outros. As

variáveis levadas em conta nesta análise

foram o volume de depósitos à vista, de

poupança e a prazo; o número de do-

micílios próprios com renda entre cinco

e vinte salários mínimos, de casais com

filhos e renda média alta; de domicílios

com chefes de família entre 25 e 50 anos,

de escolas privadas e o número de ma-

trículas nestas instituições de ensino.

O ESTUDO

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

NÚMERO DE ESTABELECIMENTOS DE ENSINONota: Limite superior de classes de igual freqüência

Escala 1:250.000

Fontes: IBGE, Base de Informações Municipais 2000

40601114498

Page 28: Revista do irb brasil   ano 65

ENTREVISTA LUIZ TAVARESPresidente do Sindicato das Seguradoras do Rio de Janeiro (Sindiseg)

O mercado fluminense apresenta um grande potencial de

crescimento para a área de seguros. Esta foi uma das conclusões

de um estudo feito pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada, vinculado ao Ministério do Planejamento), baseado

no Censo de 2000, encomendado pelo Sindicato das

Seguradoras do Rio de Janeiro (Sindiseg – RJ), em 2003. O

atual presidente do Sindicato, Luiz Tavares, explica nesta entre-

vista como o material colhido pelo IPEA será usado na estraté-

gia de crescimento do setor para os próximos dois anos.

Revista do IRB – Qual o conteúdo do estudo?

Tavares – O estudo faz uma análise econômica geral e indica regiões

onde há espaço para expansão. O interessante é que podemos fazer

cruzamentos de vários dados, como identificar, por exemplo, numa

determinada região, quantas pessoas possuem carro e o percentual

da frota segurada naquela região. Podemos fazer também análises

com cruzamentos de dados relativos à faixa etária, renda e sexo.

Revista do IRB – Com base nesse estudo, em que área do estado o Sindicato pretende

reforçar suas ações?

Tavares – Essa análise nos deu a idéia de não focar ações onde há instituições liga-

das à área seguradora, mas buscar uma presença mais forte no interior.

Identificamos cinco regiões em que vamos promover ações como palestras de

profissionais do setor para mostrar à comunidade como funciona o mercado, os

produtos disponíveis, etc.

Revista do IRB – Que regiões são essas?

Tavares – Sul e Norte Fluminense, Região Serrana, Baixada Fluminense e

Niterói/São Gonçalo.

Revista do IRB – Quando e onde começaria a ser feito esse trabalho?

Tavares – O projeto começa este ano ainda em duas das cinco regiões. A primeira

provavelmente será a Sul Fluminense, que inclui Resende, Barra Mansa, Volta

Redonda e Porto Real.

Revista do IRB – Que ramos poderiam ser explorados nessas regiões?

Tavares – Vemos boas oportunidades para os ramos de vida, residência, petróleo,

pesca e produtos populares.

26 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005

Page 29: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005 27

estado do Rio. Para Marques, outras análises contemplando as demais regiões do

país deveriam ser feitas para mapear as áreas em que há potencial para o desen-

volvimento do mercado segurador, com relação aos produtos de automóvel, vida,

acidentes pessoais, previdência privada, saúde e capitalização. Defensor do seguro

popular, Marques aposta no desenvolvimento de produtos para classes C e D, um

caminho para a expansão do mercado.

Aposta no seguro popular

“Desde 1996, quando fui presidente do Clube de Vida em Grupo do Rio de

Janeiro, mostrei que o mercado de seguros, principalmente na carteira de riscos

pessoais, tinha um horizonte extremamente favorável. E que deveriam ser lança-

dos produtos para atingir as classes C e D, aumentando assim a poupança a

longo prazo”, comenta Marques. O executivo explica que, em países industriali-

zados, as carteiras de seguros pessoais representam mais de 50% do mercado.

“Acho que temos potencial para triplicar as vendas desses produtos. Mas é pre-

ciso pensar na criação de produtos nas demais carteiras de seguros, que podem

atingir também as camadas mais pobres da população, como o seguro de incên-

dio, responsabilidade civil, familiar e outros que podem ser divulgados e terem o

custo acessível”, detalha Marques.

Na visão do executivo da Cia. de Seguros Previdência do Sul, quando o assun-�

Fontes: Fundação CIDE & DETRAN do Estado do Rio de Janeiro

Escala 1:250.000

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

NÚMERO DE AUTOMÓVEIS(Dados atualizados até março de 2003)

1173275297631500880

Nota: Limite superior de classes de igual freqüência

Page 30: Revista do irb brasil   ano 65

28 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005

to é seguro popular, o mercado “está fazendo o dever de casa há muito tempo”. Ele

completa a afirmação, citando a atuação dos corretores como um dos principais

fatores de aumento da carteira de seguros de pessoas. “Os corretores devem con-

tinuar mostrando ao cliente como é importante para a família ter um seguro de

risco pessoal, que nada mais é do que uma poupança de longo prazo. Os produtos

estão nas prateleiras e, se considerarmos o avanço que o mercado teve ao lidar

especificamente com este tipo de seguro, pode-se ter uma grata surpresa. Mas este

cenário ainda pode melhorar muito”, afirma Marques.

O presidente do Sindiseg associa a expansão do mercado a um grande trabalho

de disseminação da cultura de aquisição de seguros. Este será o princípio das cara-

vanas que percorrerão o interior do estado do Rio de Janeiro. “É preciso mostrar

todos os tipos de seguros, que a maioria da população desconhece”, lembra

Tavares. De acordo com Marques, a questão da conscientização é mais relevante

do que o custo do produto para alargar a base de consumidores no mercado segu-

rador. O executivo é taxativo ao afirmar que é preciso mostrar à população que, ao

adquirir um seguro, o indivíduo pode garantir um bem-estar à sua família numa

adversidade. “As campanhas institucionais devem ser colocadas nas escolas para

que, desde cedo, a criança tenha uma noção do que é um seguro. Palestras e semi-

nários em universidades também funcionariam como uma alavanca para o setor”,

sugere Marques. O executivo lembra ainda que, hoje, o mercado trabalha com um

leque de produtos, principalmente na carteira de riscos pessoais, em que há desde

a simples cobertura de morte natural até o seguro de renda por internação hospi-

talar, de acidentes pessoais, de auxílio funeral e de vida toda, em que há um adian-

Apostar no desenvolvimentode produtos para classes C e D pode ser umcaminho para a expansão do mercado de seguros no Rio de Janeiro.

Page 31: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005 29

tamento ao segurado de um percentual para tratamento de doenças graves, e uma

série de novos e interessantes produtos que estão dentro do escopo do custo para

atingir a população de baixa renda.

Seguro Possível

As estratégias para ampliar a atuação do mercado segurador também foram tema

de um seminário promovido pela Associação Paulista dos Técnicos em Seguros

(APTS) e pelo Instituto Roncarati de Ciências do Seguro em novembro passado.

No evento “O Seguro Possível”, a principal discussão foi se o seguro oferecido no

Brasil é adequado às necessidades da população. O presidente do conselho con-

sultivo da APTS, Antonio Penteado Mendonça, que também é conselheiro do

Instituto Roncarati, diz que, ao fim do seminário, chegou-se à conclusão de que o

seguro brasileiro é o que a sociedade pode comprar e que o atendimento das segu-

radoras, sobretudo no momento do pagamento dos sinistros, está entre os mais efi-

cientes do mundo.

Mendonça ressalta que o aumento da base de segurados foi o principal mote dos

painéis do evento. “Isso implica evidentemente incluir as classes C e D entre os

consumidores de seguros. O grande desafio, e, para isso, não adianta boa vontade,

nem produtos ditos populares, é como atingir uma massa de gente que ganha, em

média, pouco mais de US$ 100 por mês”, afirma Mendonça. Para o presidente�

Fontes: IBGE, Censo Demográfico de 2000

Escala 1:250.000

ESTADO DO RIO DE JANEIRO

POPULAÇÃONota: Limite superior de classes de igual freqüência

1508924932820025857902

Page 32: Revista do irb brasil   ano 65

30 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005

do conselho consultivo da APTS, não há dúvida de que o setor oferece potencial de

crescimento. Na opinião do especialista, para que esse potencial se transforme em

oportunidades reais é preciso oferecer produtos mais afinados com os riscos que

ameaçam a sociedade brasileira. “Depois de desenvolvidos esses produtos, é

necessário que a sociedade tenha como custeá-los, porque sem dinheiro para cons-

tituir o mútuo não há como fazer seguro e, sem muitos segurados, não há como o

seguro ser barato”, explica Mendonça.

Produto popular não é o único caminho

Enquanto alguns integrantes do mercado segurador apostam no segmento popu-

lar para a expansão, Antonio Penteado Mendonça afirma que ainda há muitos

caminhos na direção do crescimento, sem envolver as camadas mais baixas da

população. Neste sentido, Mendonça destaca os seguros de responsabilidade civil,

de garantias, de crédito interno e externo ou os relacionados aos agronegócios.

“Ainda temos que desenvolver muito estes produtos, mas se isso for bem feito, há

uma possibilidade de diversificação e de crescimento muito grande, sem passar

perto das classes C e D”, afirma Mendonça.

Para o presidente do conselho consultivo da APTS, a questão dos seguros popu-

lares não está relacionada ao incremento da arrecadação do setor, mas corres-

ponde a uma questão de justiça social. De acordo com Mendonça, a função do

seguro é proteger a sociedade. “Quem mais precisa, dentro da sociedade, de pro-

teção é justamente a camada mais pobre, que, se for atingida por um sinistro, corre

o risco de perder o pouco que tem e voltar para a mais dura miséria. Essa é a reali-

dade brasileira e a da maioria dos países em desenvolvimento”, afirma Mendonça.

Entender o que as classes C e D necessitam é fundamental para acertar na venda

dos produtos populares. As discussões ocorridas no seminário “O Seguro Possível”

Page 33: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 22-31, abril 2005 31

apontaram que não adianta tentar vender o que as seguradoras acham que as

camadas C e D desejam, é preciso saber o que os integrantes dessas classes realmente

precisam. “Há um outro fator relevante nessa discussão em torno do seguro popular

que está diretamente ligado ao atendimento desses segurados: como será o com-

portamento do mercado na hora do sinistro?”, questiona Mendonça. Para o espe-

cialista, o sucesso dessa estratégia está intimamente ligado à realização de exaustivas

pesquisas de campo. “Quem quiser entrar nesse segmento tem que efetivamente ser

profissional e trabalhar em cima de dados. Além disso, é preciso ter consciência de

que será preciso muito investimento antes de obter retorno”, completa.

Potencial à vista no ramo Residência

Enquanto nos EUA 92% da população que têm casa própria possuem um

seguro residencial, na América Latina, esse grupo de consumidores representa, em

média, 10% dos proprietários de imóveis. Marcelo Blay, vice-presidente da Itaú

Seguros, aponta o seguro residencial como um dos caminhos para o crescimento

da base de segurados no país, principalmente fora das camadas A e B da popu-

lação. De acordo com Blay, após 2003, quando os seguros residenciais passaram a

fazer parte de um grupamento específico, a avaliação do ramo ficou mais fácil. A

partir dessa análise, verificou-se um aumento de 28% entre o segundo semestre de

2003 e primeiro semestre de 2004 no mercado de produtos residenciais, com

R$ 462 milhões de prêmios retidos em 2003.

“No Brasil, existe um mercado a ser explorado composto por 19 milhões de

domicílios. Menos de 10% da população tem algum tipo de seguro para coberturas

em residências, enquanto no ramo auto essa média sobe para 30%”, afirma Blay. Para

o vice-presidente da Itaú Seguros, os principais limitadores do mercado nacional são

os fatores culturais e o poder aquisitivo. “A população, de um modo geral, ainda não

“As campanhas institucionais

devem ser colocadas nas escolas

para que, desde cedo,

a criança tenha uma noção

do que é um seguro.”

tem uma percepção real da necessidade

do seguro. No ramo residencial, muitos

ignoram o custo e não fazem idéia de

que o prêmio é bem inferior ao de

automóvel”, comenta Blay.

Mas o baixo consumo do seguro resi-

dencial no Brasil, principalmente

quando se compara a mercados muito

desenvolvidos na cultura de aquisição

de seguros, como o americano, onde

50% das residências alugadas também

mantêm algum tipo de apólice, está

ligado ainda à atuação dos profissio-

nais, como os corretores, que não prio-

rizam o produto. Para Blay, quando se

fala em expansão da base de segurados

no país, é impossível desprezar o ramo

residencial. A saída para a captação de

clientes está em diversas ações: “É pre-

ciso capacitar os corretores, desen-

volver ações específicas para os segura-

dos, oferecer serviços agregados, dife-

renciar e analisar os riscos, apostar na

segmentação, incluindo materiais de

construção e categoria de utilização do

imóvel”, completa Blay. �

Page 34: Revista do irb brasil   ano 65

32 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005

Com a provável definição do novo marco regulatório e a prevalência de um

modelo de crescimento econômico sustentado, a expectativa é de que, este ano,

o resseguro possa superar as restrições impostas pela baixa renda da maioria da

população brasileira e deslanchar, dando suporte ao mercado de previdência com-

plementar. Afinal, o Brasil ainda tem um enorme campo para o crescimento desse

segmento, pois está longe de ser um mercado maduro e já delineado, como nos

países desenvolvidos.

Para o resseguro, o maior impulso pode vir da Lei Complementar nº 109, que

regulamentou o regime de Previdência Complementar. Ela inclui no seu artigo 11

o instrumento do resseguro como medida de segurança adicional para os benefí-

cios contratados, o que deve dar mais tranqüilidade aos que temem investir em um

plano privado de aposentadoria.

Salvador Leal Costa, gerente da área de pessoas do IRB-Brasil Re, afirma que a

previdência complementar será diretamente beneficiada, enquanto os seguros de

vida e acidentes pessoais sofrerão estímulo indireto, já que poderão vir acoplados

a planos de aposentadoria complementar. No final, o IRB-Brasil Re sairá ganhan-

do com a abertura de mais este espaço para o resseguro. “A nova legislação per-

mite que as entidades de previdência façam seguro ou resseguro para seus planos.

Antes havia algumas aberturas na legislação para que o IRB fizesse resseguro com

cooperativas, mas, na prática, isto nunca ocorreu. Agora, inclusive, já foi assinado

um contrato com uma empresa de previdência privada aberta”, informou Salvador,

acrescentando que o plano contratado cobre apenas os benefícios de risco – morte

e invalidez.

O ANO DO RESSEGURO NO BRASIL

Page 35: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005 33

“Normalmente, as seguradoras se concentram nisto, pois a aposentadoria não é

um risco, mas um programa de vida. O inédito neste caso é garantir resseguro para

o risco a essa entidade de pecúlio e pensão em caso de morte ou invalidez.”

Segundo Salvador, esta nova oportunidade deve aumentar bastante o volume de

resseguro, mesmo que indiretamente. “Nada impede que as entidades de previ-

dência contratem seguro, e, fatalmente, as seguradoras vão ressegurar no IRB,

pois, a partir de um determinado limite de responsabilidade, a operação bate sem-

pre no IRB”, enfatizou.

Planejamento estratégico

Segundo o gerente de estratégia do IRB-Brasil Re, Vandro Ferraz da Cruz, a per-

missão para que as entidades de previdência contratem seguro e resseguro para

seus planos é mais um elemento a colaborar para o crescimento do mercado, que

já vem apresentando evolução bastante significativa desde a estabilidade da

moeda. “Um dado fundamental foi a divulgação pelo governo das novas alíquotas

de imposto para a previdência complementar. Agora, a legislação referente ao

resseguro também terá forte impacto. Temos sido procurados por várias empresas

e já temos nosso próprio plano de previdência complementar”, comentou.

Alessandra Monteiro, coordenadora de vida e acidentes pessoais do IRB-Brasil

Re, enfatiza que o IRB vem se adaptando rapidamente à nova realidade. “Depois

de fazer resseguro para uma entidade de previdência complementar aberta, já

estamos concluindo estudos para atender também as entidades de previdência

complementar fechada. Recentemente, estivemos em Brasília visitando a Previc,

antiga Secretaria de Previdência Complementar (SPC), uma autarquia que foi

ampliada para dispor de estrutura semelhante à da Susep, só que para fiscalizar os

fundos de pensão. A estrutura da SPC ficou pequena para fiscalizar um mercado

que está ficando enorme”, disse Alessandra.

Ela acredita que o IRB-Brasil Re não deve temer a concorrência de eventuais

pools formados por seguradoras. “O IRB-Brasil Re tem interesse em fazer resse-

guro diretamente com os fundos de pensão, porque a Lei Complementar 109

permite essa abertura. As seguradoras também têm interesse em trabalhar com

esses fundos e alegam que o processo teria que passar antes por elas, mas o

artigo 11 da lei é bem claro, liberando o resseguro”, disse, esclarecendo que o

jurídico do IRB-Brasil Re já analisou o caso. “Já temos condições de oferecer

cobertura para os benefícios de risco – morte e invalidez”, garante.

Contudo, Vandro Ferraz da Cruz pondera que “a efetiva decolagem vai

depender das condições da economia em geral. Mas a tendência é que os

planos de previdência cresçam, no mínimo, no ritmo do mercado segurador

como um todo. Se a Previdência Pública baixar o teto, o que muita gente�

Page 36: Revista do irb brasil   ano 65

34 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005

já está vislumbrando, fatalmente se

abrirá um grande espaço para a previ-

dência complementar privada aberta.

Sem dúvida, isso se refletirá no resse-

guro, que terá de ampliar a capacidade

dessas empresas”, calcula.

Ainda há, lembra Vandro Ferraz da

Cruz, a questão do novo marco regu-

latório para o setor, que deverá con-

templar a abertura do mercado de

resseguro no Brasil. O IRB-Brasil Re já

vem trabalhando estratégias para este

novo cenário, embora seu papel não

esteja bem definido pelo governo. “O

IRB já vem buscando melhorar cada

vez mais seu padrão de atuação, no

sentido de estar preparado, o melhor

possível, para desempenhar o papel que

venha a ser estabelecido para ele.” De

acordo com Vandro, a reestruturação da

empresa já foi feita nesta direção.

“Além de uma melhor distribuição de

funções e atribuições, também houve

alterações na própria forma de gestão.

Foram criados comitês deliberativos, a

exemplo do que já foi feito em diversas

empresas, buscando a descentralização

do poder decisório, de forma a dissemi-

nar o conhecimento e dar mais trans-

parência às decisões.”

Neste caminho, ele cita, também, o

melhor aparelhamento e uma ambien-

tação mais eficiente. “Um novo sistema

de negócios que usa plataforma web já

está em uso nos principais ramos, que

representam mais de 50% da utiliza-

ção, proporcionando melhoria no

processo interno e no relacionamento

com as seguradoras.” Até o final deste

ano, Vandro calcula que o novo sistema

estará operando com 100% de sua

capacidade prevista.

Vandro Ferraz da Cruz,gerente de estratégia do IRB

Mercado projeta crescimento em seguros de vida e previdência privada

Neste novo contexto, os segmentos Vida e Previdência foram alçados à catego-

ria de prioridades nos planos estratégicos da Unimed Seguros para 2005. O obje-

tivo da empresa, segundo seu presidente, Jorge Roberto Cantergi, é crescer 25%

em cada um desses segmentos de negócios, com o lançamento de produtos, o

fortalecimento dos seus escritórios regionais em todo o Brasil e a parceria com as

Unimeds e Unicreds.

A Unimed Seguros fechou 2004 em 18º lugar em seguros de vida e 22º em pre-

vidência privada. O diretor de Negócios da Unimed Seguros, Mauri Aparecido

Raphaelli, explica como a empresa pretende crescer nestes segmentos em 2005:

“Vamos dar especial atenção aos mercados de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo

Horizonte, região onde estão concentrados mais de 50% do mercado de seguros.

Para isso, fortaleceremos ainda mais nossas regionais desses estados, processo que

se intensificou em 2004”, salienta.

Page 37: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005 35

Evolução da renda, um desafio

Na análise de Vandro Ferraz da Cruz, gerente de estratégia do IRB, a baixa

renda dos brasileiros tem sido um entrave ao desenvolvimento do mercado segu-

rador e de previdência complementar, mas destaca o potencial de nosso país em

relação a países mais desenvolvidos. “Temos um potencial de crescimento que

é forte fator de atração para investidores estrangeiros. Essas empresas já atuam

em mercados maduros, onde não há grandes potenciais. Em outros mercados há

muita experiência de operação com o resseguro na previdência complementar”,

acrescenta Vandro, informando que os planos desenvolvidos pelo IRB-Brasil Re

para a previdência complementar foram feitos a partir da aproximação com par-

ceiros internacionais.

Ele vê nos fundos novos um importante aliado da decolagem do resseguro. “O

Governo tem mostrado interesse e efetivado ações no sentido de desenvolver a pre-

vidência complementar, particularmente em relação às organizações de classe

“O IRB já vem buscando melhorar cada vez mais seu padrão

de atuação, no sentido de estar preparado, o melhor possível,

para desempenhar o papel que venha a ser estabelecido para ele.”

Um dos pontos mais polêmicos na questão da aposentadoria

complementar é a transição dos planos BD para CD. Apesar da resistência

dos participantes mais antigos, Alessandra Monteiro, coordenadora de vida

e acidentes pessoais do IRB-Brasil Re, diz que a tendência hoje é tudo estar

sendo transferido para os planos CD. “É o caso dos fundos de pensão

que estão migrando, porque no plano BD o participante sabe previamente

quanto será seu benefício quando se aposentar. Mas, se lá na frente

acontecer de você se aposentar e a contribuição não ter sido suficiente,

o problema é do fundo. No caso da CD, as contribuições vão ficando em

uma conta individual e o saldo do que você pagou é transformado

em renda. De antemão não se sabe ao certo o valor do benefício, só

no momento da concessão. O brasileiro tem medo disso”, comentou.

UMA POLÊMICA: CONTRIBUIÇÃO DEFINIDA (CD) X BENEFÍCIO DEFINIDO (BD)

O ANO DO RESSEGURO NO BRASIL

Page 38: Revista do irb brasil   ano 65

36 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005

como OAB, Força Sindical ou Instituto dos Arquitetos, que já instituíram planos.

Daremos foco maior a esses planos, que apresentam maior necessidade de

solução de resseguro. Já temos produtos para eles e também para os fundos mais

maduros. São produtos mais voltados para os riscos não-programados, como

morte e pecúlio”, informou.

Contudo, Salvador Leal Costa enfatiza o problema da renda. “No final, tudo

acaba sendo um problema de renda. Se o salário não cresce, não há mercado que

se desenvolva plenamente. Quando há elevação na renda, as pessoas dependem

menos do Estado e há massificação de produtos como o seguro.” Para Salvador,

se o crescimento econômico se consolidar, isto certamente se refletirá nos

salários, no seguro e resseguro.

Globalização

Com a nova regulamentação, o Brasil se equipara ao modelo dos países mais

desenvolvidos. “Em tese, esse modelo de retração da intervenção do Estado na

economia e o conseqüente avanço da previdência privada não vêm apenas da

Europa, mas também dos Estados Unidos. O presidente Bush acaba de anun-

ciar a reforma da Previdência naquele país. Também lá, isto vai resultar na

maior abertura de espaço para os planos privados”, opina Vandro. Ele acredita

que podemos alcançar desenvolvimento semelhante ao da Grã-Bretanha,

Alemanha e Austrália, que já consolidaram seus modelos (ver box no fim

da matéria).

“Me parece que é uma tendência sem volta, porque cada vez mais as pessoas

ganham longevidade e, fatalmente, o Estado vai ter dificuldade para financiar

essas aposentadorias. A tendência é as pessoas fazerem uma poupança privada

ou aderirem a um plano de aposentadoria. Mas, como os benefícios virão em

“No final, tudo acaba sendo um problema de renda.

Se o salário não cresce, não há mercado que se

desenvolva plenamente. Quando há elevação na renda,

as pessoas dependem menos do Estado e há

massificação de produtos como o seguro.”

O ANO DO RESSEGURO NO BRASIL

Page 39: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005 37

O IRB-Brasil Re tem estudado, com o mercado externo, a cober-

tura de déficit nos ativos e a mudança atuarial, causas de proble-

mas em grandes fundos fechados, sobretudo de estatais.

Segundo Alessandra, “a tábua atuarial permite o cálculo da

expectativa de vida. Baseado nela o fundo de pensão deve calcu-

lar uma reserva, mas o que acontece é que a expectativa de vida

aumentou. Os fundos têm que estar periodicamente revendo

isto. Provavelmente o caso da Petros foi este, como o de muitos

outros fundos de estatais, como Furnas. Além disso, muitas

empresas pegavam dinheiro emprestado do fundo, o que agora

a lei dificultou bastante.

Salvador Leal Costa acredita que, “até este degrau”, o IRB-Brasil

Re não terá problemas para desenvolver produtos que atendam

às exigências da demanda. Porém, ele acha difícil dar garantia

ao valor das futuras aposentadorias. “Isso já está mais um

degrau acima. Além da premissa atuarial não ser adequada por

causa da maior longevidade, ainda tem a questão financeira, que

é garantir o valor do benefício simulado na hora da venda do

prêmio. Até aí o resseguro vai, mas acho quase impossível

desenvolver um seguro para garantir o valor de um benefício,

embora exista a possibilidade legal”, ponderou.

LIQÜIDAÇÃO DA AEROS NÃO SE REFERE À LEGISLAÇÃO, “É CASO DE POLÍCIA”Para os 860 participantes do Aeros, 300 deles já aposentados,

o consolo é esperar o rateio do patrimônio, ou do que sobrou

dele. A opinião é do consultor e presidente da NetQuant,

Marcelo Nazaré, sobre a liqüidação do fundo de pensão da

Vasp, decretada em fevereiro pelo Ministério da Previdência

Social. “Onze milhões de reais de patrimônio é uma quantia

absolutamente ridícula”, comentou Nazaré, que credita a dete-

rioração do patrimônio da fundação à má gestão e ao não

cumprimento do acordo por parte do patrocinador. “Este é

muito mais um caso de polícia do que de gestão. O interventor

emprestou R$ 200 milhões para o próprio Canhedo (Wagner

Canhedo, dono da Vasp), contra-garantido por cheque da

esposa do beneficiário do financiamento”, criticou.

“Nesse aspecto, foi benéfica a mudança na legislação, que, se já

proíbe empréstimos à patrocinadora, quanto mais para o dono.

Desde a época da privatização, quando Canhedo comprou a

Vasp, a empresa passou a ter problemas”, comentou Nazaré.

“Os funcionários enfrentarão um problema terrível, pois

dedicaram uma vida à empresa. A legislação determina que,

com o fundo em déficit, a patrocinadora deveria fazer aportes

para cobrir. Mas a Vasp não tem dinheiro sequer para pagar

funcionários e, provavelmente, não vem depositando o FGTS”,

ponderou o consultor, lembrando que, recentemente, a

Petrobras fez aporte de R$ 8 bilhões na fundação Petros, que

apresentou déficit.

“A liqüidação da Aeros não será necessariamente lenta, se

tomarmos por base os casos dos bancos. A do Nacional levou

pouco mais de um ano e a do Banco Santos não deve passar de

seis meses”, calcula. Contudo, ele não apostaria na punição dos

culpados. “Certamente, é vedada a retirada do dinheiro das fun-

dações, mas se os maus gestores serão punidos, a tradição

brasileira diz que não”, finalizou.

PETROBRAS E PETROS

O presidente da Petros, fundo de pensão da Petrobras, Wagner

Pinheiro, acredita que a solução para o déficit operacional da

Petros estaria na mudança do plano de benefício definido para

contribuição definida. Os sindicalistas, no entanto, pretendem

barrar novamente na justiça essa proposta, como fizeram em

2001. Contudo, Pinheiro afirma que, se não aceitarem a

mudança de plano, os participantes deverão arcar com parte

do prejuízo.

MEGA DÉFICITS

Page 40: Revista do irb brasil   ano 65

38 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005

10 ou 20 anos, o modelo brasileiro necessita de amadurecimento, algo que já

existe nesses países”, diz o gerente de estratégia do IRB, ponderando sobre a

dificuldade para o desenvolvimento de planos com prazo menor. “Há liberdade

para planos com prazos menores, mas a própria taxação do Imposto de Renda é

maior quanto menor for o prazo. Se o segurado mantiver o investimento por

mais tempo, paga menos. Toda a legislação, portanto, incentiva a aplicação de

longo prazo e diretamente voltada à Previdência”, explicou.

Efeito desigual

Se a longevidade maior é um problema para os planos de previdência, para os

seguros de vida é um estímulo. “O seguro de vida hoje em dia vai muito bem

porque é complementar ao de previdência. E, também, porque as pessoas estão

vivendo cada vez mais. Ou seja, cobrou-se preço para uma expectativa de vida

menor e o segurado, provavelmente, vai viver mais. No plano de previdência ocorre

justamente o contrário”, diz Vandro.

“O que está se buscando, inclusive internacionalmente, são novos produtos

para atender essa demanda, que também é nova.” Segundo o gerente de estraté-

gia, o IRB-Brasil Re está buscando know how lá fora, sobretudo para atender aos

desvios atuariais. “O mercado busca cobertura para os anos adicionais de vida

das pessoas. Estamos pesquisando no mercado externo para que esses direitos

possam ser cobertos por resseguro. Mas é um problema mundial, pois, mesmo

para os resseguradores internacionais, este é um risco quase que certo.”

Contudo, ele acredita que a solução do problema é uma questão de achar

o preço que viabilize o seguro, tanto para o segurador quanto para o segurado.

“É semelhante ao caso do seguro de vida, em que o sinistro é certo. Afinal,

todos morreremos um dia. Nos outros seguros o sinistro pode acontecer ou

não”, ponderou. �

“Cada vez mais as pessoas ganham longevidade e,

fatalmente, o Estado vai ter dificuldade para financiar

essas aposentadorias. A tendência é as pessoas

fazerem uma poupança privada

ou aderirem a um plano de aposentadoria.”

O ANO DO RESSEGURO NO BRASIL

Page 41: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005 39

O presidente da Associação Nacional de

Previdência Privada–Anapp, Osvaldo Nas-

cimento, vê a questão do marco regu-

latório como parte das mudanças pelas

quais o mercado de previdência brasileiro

vem passando nos últimos anos para

adaptar-se ao modelo seguido nos países

mais desenvolvidos. Neste depoimento,

ele traça um histórico das principais

transformações ocorridas. “Houve uma

fase inicial, que foi a mudança dos planos

de benefício definido para contribuição

definida. Isto ocorreu em 1996, quando

houve lançamento dos produtos com re-

cursos segregados, planos PGBL e VGBL.

Entramos agora na fase regulamentar.”

Nascimento destaca, entre as questões

que ainda precisam avançar, a desvincu-

lação, durante o período de acumulação,

das tábuas de vida e a minimização de

riscos. Neste último caso, ele aponta o

auxílio do seguro e resseguro. “Todos sa-

bemos que os déficits que vêm ocorrendo

nos grandes fundos fechados das estatais

se originam da dificuldades de diluir

riscos. Isso vai onerando o patrocinador,

que passa a enfrentar dificuldades.

Nos EUA e em outros países desenvolvi-

dos, esse papel de mitigar o risco

é desempenhado pelas seguradoras

e resseguradoras.”

De acordo com o presidente da Anapp, à

medida que ficar mais claro para o mer-

cado de previdência aberta ou dos fundos

fechados o que é acumulação/investi-

mento e o que é pagamento de benefícios

– algo que envolve risco – teremos o

desenvolvimento de um novo mercado,

que atuará tanto na previdência aberta

quanto nos fundos de pensão fechados. E

o novo mercado contribuirá para

diminuir a insegurança da sociedade

brasileira em relação à previdência pri-

vada. “Todo o desenvolvimento desse

segmento está muito ligado à confiança

nos instrumentos de formação de

poupança de longo prazo. Depende da

capacidade de solvência e de diluição

dos riscos, de forma a termos um sis-

tema mais saudável”, explicou.

“A previdência vem se desenvolvendo

com essas características no mundo

inteiro, faz parte da evolução continuada

do sistema. E o tema resseguro está

sempre tratado no contexto da solvên-

cia. Quanto melhores forem os sistemas

de diluição de risco, menos capital terá

que ser alocado. Por outro lado, sem

esses mecanismos, o acionista acaba

sendo onerado”, resumiu.

PRESIDENTE DA ANAPP DEFENDE ADAPTAÇÃO PERMANENTE AO MERCADO

Page 42: Revista do irb brasil   ano 65

Exemplos internacionais

Ao permitir a utilização de meca-

nismos protetores dos participantes,

como o resseguro, a legislação brasi-

leira se aproxima de um modelo

similar ao que vigora em outros paí-

ses, como Grã-Bretanha, Alemanha,

Austrália. Um estudo do pesquisa-

dor da Fundação Getúlio Vargas

(FGV/Previ), Flávio Marcílio Rabelo,

denominado Modelos Alternativos

de Previdência Oficial e Comple-

mentar, construído a partir de exem-

plos de 12 países desenvolvidos, de-

monstra como a experiência interna-

cional pode ajudar o mercado bra-

sileiro nesta fase de adaptação.

Com relação à previdência privada,

os principais temas abordados por

Flávio questionam se os arranjos cor-

rentes são sustentáveis a longo prazo

e se alcançam uma balança razoável

entre os interesses das diferentes ge-

rações. “Na maioria dos países, a pre-

vidência social está organizada em

múltiplos pilares, sendo que alguns

são de natureza pública e outros, pri-

vados. Estes pilares diferem ainda

quanto à sua forma de financiamen-

to (repartição ou capitalização), na-

tureza dos benefícios prometidos

(benefício ou contribuição definida),

escopo da população coberta e cri-

térios de elegibilidade”, diz.

As principais fontes de renda durante a

aposentadoria são a Seguridade Social,

as pensões privadas e a poupança. As

famílias cujos chefes têm 65 anos ou

mais recebem cerca de 60% de sua

renda da Seguridade Social, 15% de

pensões e anuidades, 11% do rendi-

mento de ativos e o resto de rendimen-

tos do trabalho ou assistência social. A

Seguridade Social repõe em torno de

42% dos rendimentos do último ano de

um trabalhador, que recebe um salário

anual médio de US$ 23.500,00.

ESTADOS UNIDOS

40 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005

O sistema canadense de renda para apo-

sentadoria é composto de benefícios des-

tinados à garantia de uma renda básica

para os idosos, um sistema público de

aposentadoria relacionado aos rendimen-

tos e esquemas privados de aposentado-

ria com benefícios tributários. Os benefí-

cios públicos representam cerca de 60%

da renda da aposentadoria. O gasto públi-

co com aposentadorias, proporcional ao

PIB, está hoje em 5%, mas estima-se que

se eleve a 9% por volta de 2030.

CANADÁ

Page 43: Revista do irb brasil   ano 65

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 32-41, abril 2005 41

O sistema de previdência social é constituído por três pilares.

O primeiro é o benefício público universal por idade, (sujeito

a limites de rendimento e patrimônio), financiado com

receitas orçamentárias. O segundo pilar é o sistema privado

e o terceiro é formado pela poupança voluntária. O benefício

público por idade é retirado, uma vez que os rendimentos e

ativos de aposentadoria proporcionados pelos outros dois

pilares ultrapassam certos limites estabelecidos.

AUSTRÁLIA

Possui o mais antigo sistema de seguridade social formal,

introduzido em 1889 por Bismarck. Originalmente um seguro

de invalidez capitalizado, tornou-se um seguro de aposenta-

doria obrigatório convertido em um esquema de repartição

durante a grande depressão e a Segunda Guerra Mundial.

Nas décadas de 1960 e 1970, o sistema alemão evoluiu como

um dos sistemas mais generosos do mundo, tanto em termos

de sua taxa de reposição, quanto em provisões para aposen-

tadoria antecipada. A Alemanha agora se defronta com o

envelhecimento populacional mais dramático dos países

industrializados, o que coloca em risco o sistema de seguri-

dade social. O pilar privado do sistema de previdência social

alemão tem pouca expressão.

ALEMANHA

Cerca de 50% da renda dos aposentados britâncos provêm de outras fontes que

não a seguridade social, e esta proporção está crescendo. Por mais de 30 anos,

cerca de metade dos trabalhadores estiveram cobertos por fundos de pensão

ocupacionais. Em meados dos anos noventa, três quartos da força de trabalho

já haviam optado por sair do segundo pilar da previdência pública – o Esquema

Estatal de Pensão Relacionado aos Rendimentos (SERPS) – substituindo-o por

fundos de pensão ocupacionais ou por pensões pessoais. Em função destas

características, o seu sistema público de seguridade está solvente.

Não está prevista uma elevação das taxas de contribuição necessárias para o fi-

nanciamento do sistema, apesar da perspectiva de o número de pessoas aproxi-

mando-se da idade regulamentar de aposentadoria subir dos 10,4 milhões de

meados dos noventa para 11,5 milhões em 2020 e 14 milhões em 2050.

GRÃ-BRETANHA

Page 44: Revista do irb brasil   ano 65

Os últimos eventos danosos de dimensões catastróficas em nível mundial produzi-

ram elevado impacto patrimonial, mas não foram capazes de provocar insolvências nas

empresas de seguro e resseguro. São exemplos concretos os atos terroristas de 11 de

setembro de 2001 nos Estados Unidos da América, os atentados na Espanha, em 11

de março de 2004, bem como os fenômenos naturais mais recentes, como as ondas

gigantes ocorridas em dezembro de 2004 na Ásia, com milhares de vítimas fatais e

incalculáveis prejuízos materiais.

Em artigo publicado na Gazeta Mercantil do dia 10 de maio de 2004, procuramos

abordar as limitações de responsabilidade do segurador e do ressegurador, em de-

corrência das mudanças climáticas ocorridas no Brasil, com especial enfoque no

“Furacão Catarina”, concluindo pela necessária aplicação das técnicas tradicionais do

resseguro na formatação de uma apólice de seguro vultoso. Mais recentemente, em

trabalho publicado na Revista Seguro Total, nº 47, tivemos a oportunidade de estudar

os aspectos ligados à prevenção como ferramenta importante para a indústria de

seguro. No entanto, consideramos fundamental o aprofundamento do tema ligado à

técnica do resseguro, com o estudo da modalidade de resseguro denominada excesso

de dano, por se constituir em elemento de segurança jurídica fundamental na for-

matação do contrato de seguro para riscos vultosos.

Por essa modalidade, conhecida internacionalmente como excess of loss, o ressegu-

O resseguro de excesso de dano como útil ferramenta contra prejuízos com catástrofesambientais e atos terroristas

ARTIGO TÉCNICO

SÉRGIO BARROSO DE MELLO Membro do Conselho Mundial da Associação Internacional de Direito do Seguro-AIDA

[email protected]

42 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 42-45, abril 2005

Page 45: Revista do irb brasil   ano 65

rador se obriga a indenizar o ressegurado pelo excesso de dano experimentado e em

conseqüência de sinistros ou de um acúmulo de sinistros derivados de um mesmo

evento (resseguro de acúmulos), caso as perdas superem a quantia pré-fixada no

contrato. O segurador decide, até um certo limite monetário, o valor que está dis-

posto a pagar ao seu segurado, a título de indenização por sinistros ocorridos, bus-

cando cobertura ressegurativa para ser reembolsado do importe da perda ou dano

obrigado a suportar no caso de exceder de dito limite.

O elemento essencial nesses contratos não é o risco, como ocorre nos resseguros

de excedentes, os quais cobrem os contratos de seguro que contemplam riscos cuja

soma segurada ou cuja perda máxima provável excede os limites predeterminados,

mas o sinistro, cobrindo o ressegurador os danos onde a reparação supere uma

determinada cifra. Enquanto no resseguro de excedentes o ressegurador participa

em todos os sinistros, independente de sua quantia, proporcionalmente à cota

assumida em relação à soma segurada ou ao percentual da perda máxima provável,

sempre que dita soma ou dito percentual, e não o sinistro em si, excedam do pleno

de conservação, no resseguro de excesso de dano, somente contribui quando a

quantia relativa à indenização do sinistro supera o limite fixado.

Nesta modalidade, o conceito relevante para determinar a responsabilidade do

ressegurador é o de perda líqüida final (conhecido como ultimate net loss), assu-

mindo este, dentro dos limites pactuados com o segurador, a parte que exceda da

franquia ou prioridade assumida pelo ressegurado. A perda líqüida definitiva com-

preende todas as perdas ocasionadas ao segurador pelo pagamento final e efetivo

de indenizações, como conseqüência dos seguros ou resseguros contratados, uma

vez deduzidas todas as recuperações (exemplo: direito de sub-rogação contra ter-

ceiros responsáveis nos seguros de responsabilidade civil, liqüidação de seguros de

danos por abandono, etc.) e as indenizações que lhes correspondam por conta de

outros resseguros eventualmente contratados.

Com este sistema, mediante a estabilização dos resultados da entidade ressegu-

rada, lhe é outorgada proteção contra os sinistros particularmente graves, os deno-

minados catastróficos (desastres ambientais, prejuízos com atos terroristas, etc.), ou

contra uma acumulação de sinistros por um só evento. É muito útil para amortizar

os efeitos de determinados seguros, como as apólices de responsabilidade civil, nas

quais, ainda quando se estabelece certos limites, não existe uma determinação

exata do valor do interesse segurado, impossibilitando sua quantificação.

A função econômica de sua modalidade, ensina Maria Concepción Hill Prados,

não incide sobre a carteira de riscos, pois não equilibra a freqüência nem a ampli-

tude dos riscos assumidos, mas seus efeitos incidem sobre os resultados dos negó-

cios e sua gestão, protegendo em definitivo a solvência do segurador ressegurado,

ao limitar a incidência econômica de cada sinistro em seu patrimônio.

A função financiadora, especialmente pela rapidez no pagamento das inde-

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 42-45, abril 2005 43

Page 46: Revista do irb brasil   ano 65

nizações, fato muito importante em sinistros catastróficos, é

uma das principais características dos excessos de dano,

atuando, desse modo, como uma conta de reserva à qual o

ressegurado recorre quando necessita de liqüidez para fazer

frente a uma perda importante.

O resseguro de excesso de dano pode celebrar-se por risco

(excess loss per risk), em relação a toda carteira ou com deter-

minados ramos (excess loss). No

primeiro deles, mais freqüente nos

resseguros simples, em caso de

perda, a retenção do ressegurado e a

cobertura ressegurativa se celebram

separadamente, risco por risco,

enquanto no segundo faz referência

a toda carteira ou a alguns ramos

determinados. Por isso, se uma série

de riscos segurados é afetada por

uma perda derivada de um só acon-

tecimento, a cobertura de excesso

de dano por risco, aplicável a cada

um deles, dá lugar a tantas

retenções quantos forem os riscos atingidos, contrariamente

ao ocorrido com a cobertura de acúmulo, porque este tipo de

cobertura não protege contra a acumulação de sinistros pro-

duzidos por um só acontecimento. No excesso de dano, a

retenção e a cobertura ressegurativa se estipulam por evento e

não por risco.

Tratando-se de fenômenos naturais ou meteorológicos, a

unicidade do evento vem determinada por um intervalo de

tempo, constituindo um só evento todos os danos sofridos

durante o período contínuo de tempo geralmente fixado em

72 horas para os furacões e tempestades muito fortes e em

168 horas para os terremotos e demais cataclismos naturais,

conforme informam Hagopian–Laparra. Nestes casos, o

ressegurado determina livremente a data e hora de início do

evento, sempre com o limite mínimo de que pelo menos um

dos interesses eventualmente segurados sofra um dano

como conseqüência do risco que constitui o evento. Uma

vez superado o intervalo de tempo por uma catástrofe, cada

novo acontecimento de 72 ou de 168 horas de antecedência

se considera constitutivo de um novo evento para determi-

nar a prioridade do ressegurado e da cobertura ressegurativa.

Em caso de danos derivados de movimentos populares,

comoções, manifestações, greves, etc., ao limite temporal

(72 horas) se acrescenta um limite espacial (x quilômetros

quadrados ou uma cidade).

Quando se ressegura o excesso de dano em um novo ou

vários contratos de seguro, estipulados também sob o caráter

de excesso de dano do segurado, faz-se fundamental a in-

serção de cláusulas de acumulação de dano (aggregations pro-

visions), cujo significado e alcance sejam possíveis coordenar.

Mesmo assim, nos resseguros de excesso de dano é comum

distinguir dois tipos de cobertura, segundo as diferentes

necessidades e o porte dos sinistros. Com efeito, se distingue

entre a cobertura de subscrição ou operação e a cobertura de

catástrofes. A primeira delas, cuja finalidade é modificar a

cobertura proporcional para superar seus inconvenientes, a

saber, maior custo administrativo e, eventualmente, gasto

desnecessário de prêmios ao não esgotar-se a efetiva capaci-

dade do segurador, estabelece uma franquia para o ressegura-

do muito reduzida, de forma a inserir no âmbito de aplicação

do tratado a maior parte dos sinistros ocorridos. A segunda

protege o ressegurado frente aos sinistros que estão fora do

controle normal de subscrição. O ponto de excesso no qual a

cobertura catastrófica começa a operar varia segundo a

capacidade financeira do ressegurado, mas é, desde logo,

muito mais alto que o fixado para a prioridade ou franquia das

coberturas de subscrição.

Por outro lado, a tarifação de ditas coberturas, indepen-

dente de se tomar em consideração a potencial responsabili-

Atuando rigorosamente dentro da técnica tradicional do

seguro e do resseguro, com cláusulas redigidas de forma

compreensível, certamente os impactos patrimoniais

derivados de catástrofes naturais e de atos terroristas

jamais serão capazes de gerar perdas insuportáveis

à indústria do seguro e do resseguro.

44 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 42-45, abril 2005

Page 47: Revista do irb brasil   ano 65

dade do ressegurador ou a ocorrência maior de sinistros na cobertura de subscrição

e não na de catástrofes, produz como resultado prêmios proporcionalmente mais

elevados nas primeiras.

Para a boa definição do âmbito de aplicação do tratado de excesso de dano é

imprescindível, mais do que estabelecer as datas de entrada em vigor e a determi-

nação do próprio tratado, delimitar concretamente o “dano”, porque com esse

termo se pode estar fazendo alusão a diversas hipóteses de cobertura, tais como:

a) todas as perdas causadas pelos eventos ocorridos durante o período de vigência

do tratado (loss occurrence basis);

b) todas as perdas suportadas pelo ressegurado enquanto vigente o tratado (loss

ocurring basis);

c) todas as perdas causadas pelas reclamações formuladas pelos segurados durante

o período de cobertura do tratado (claims made basis);

d) todas as perdas assumidas pelo ressegurado como conseqüência dos contratos

de seguro, cuja data de conclusão fique adstrita ao período de garantia do tratado

(on risk attaching basis), independente da data da ocorrência do sinistro ou da veri-

ficação dos danos.

Os tratados de resseguro de excesso de dano incorporam gastos de administração

menores que os proporcionais, tanto que a seguradora não necessita classificar os ris-

cos subscritos para estabelecer seu nível de retenção ou para adjudicar prêmios ou

sinistros, pois todas as comunicações e gestões somente podem deferir-se a apólices

sinistradas. A administração dos contratos de excesso de dano se limita a pagar o

prêmio inicial, calcular e pagar qualquer ajuste de prêmio, algo por vezes complica-

do, assim como notificar e liqüidar os sinistros dentro do âmbito de aplicação do

tratado. Além disso, apresenta vantagem para a entidade resseguradora ao aumentar

o volume líqüido de prêmios, porque as perdas menores não se resseguram, assim

como possibilita deduzir notavelmente a variabilidade do custo dos sinistros.

A modalidade de resseguro excesso de dano comporta outras características

sofisticadas, cujo estudo não cabe nestas poucas linhas. Mas as razões de ordem

técnica acima expostas nos garantem afirmar que, além de uma boa análise e subs-

crição do risco, deve o segurador, quando se deparar com um risco vultoso ou acú-

mulo de risco por carteira ou região, atentar para as modalidades tradicionais dos

contratos de resseguro, com especial enfoque aos de excesso de dano. Atuando

rigorosamente dentro da técnica tradicional do seguro e do resseguro, com cláusu-

las redigidas de forma compreensível, certamente os impactos patrimoniais deriva-

dos de catástrofes naturais e de atos terroristas jamais serão capazes de gerar per-

das insuportáveis à indústria do seguro e do resseguro.

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 42-45, abril 2005 45

Page 48: Revista do irb brasil   ano 65

Nota: Utilizarei o termo “Claims Made” (ou simples-

mente CM) em lugar de “Seguro à Base de Reclamações”,

por uma questão de praticidade.

Conforme a Grande Enciclopédia Larousse Cultural:

Latência:

s.f. 1. Qualidade ou estado de latente. – 2. Estado do que se

acha encoberto, incógnito, não manifesto.

Latente:

Adj. (do latim Latens, latentis) 1. Não aparente; que não se

manifesta por fora; oculto; subjacente. – 2. disfarçado, dissimu-

lado. – 3. Virtual.

Origens da CM

Historicamente falando, a condição Claims Made surgiu

nos Estados Unidos em função de um impasse jurídico.

Casos de sinistros como o do amianto/asbesto colocaram

em xeque a cobertura à base de ocorrência quando se

chegou a uma divergência entre os próprios juízes:

A questão básica era: quando ocorreu o dano?

Foi:

1- Quando houve a exposição inicial?

2- Quando houve a manifestação externa? ou

3- Em residência (tempo em que a pessoa ficou exposta

até manifestar-se o dano)?

Conceitualmente seria algo que se poderia chamar de

sinistro contínuo, difícil de se estabelecer quando o sinis-

tro (dano) ocorreu, e por conseqüência, que apólice seria

acionada para indenizá-lo. Dessa dificuldade se originou o

denominado “gatilho triplo”, os três momentos acima men-

cionados, que poderiam ser usados inclusive SIMUL-

TANEAMENTE. Para melhor entendimento, vamos uti-

lizar o mais famoso e dispendioso dos casos, o do

amianto/asbesto, como fio condutor.

O uso do asbesto pela construção civil e naval foi muito

intenso durante os anos 1950 pelas suas qualidades. Os

danos gerados (asbestose, doença que endurece as paredes

do pulmão, em função das fibras inaladas, e levam à morte)

demoraram até 30 anos para se manifestar.

Imaginem utilizar as apólices que vigoraram em cada um

CLAIMS MADE: Breve histórico e regulamentação no Brasil

ARTIGO TÉCNICO

OSVALDO HARUO NAKIRI [email protected]

“Com a harmonia, as pequenas coisas crescem, com a discórdia, as grandes arruínam-se.”Salústio

46 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 46-52, abril 2005

Page 49: Revista do irb brasil   ano 65

dos 10 ou 20 ou 30 anos para indenizar os danos, pela teo-

ria do gatilho triplo! Quanto mais uma seguradora deteve

a liderança do seguro, mais teve que indenizar.

Quem inventou o “Ovo de Colombo” da cobertura

Claims Made foi uma seguradora norte-americana chama-

da Saint Paul, no início dos anos 1980. Resolvia satisfato-

riamente a questão da indefinição do momento do dano

causado (sinistro contínuo) e a síndrome do gatilho triplo,

ao definir que a apólice que seria usada para indenizar os

danos seria aquela em vigor na data em que a reclamação

fosse feita, e não mais aquela em vigor quando o dano

ocorreu, justamente pela sua difícil definição.

O conceito “Claims Made” se espalhou e se tornou

padrão por intermédio da I.S.O. (Insurance Services

Organization), uma empresa cuja atividade é apresentar ao

mercado segurador análises, condições e tudo o mais que

se referir a seguro.

Desde então, seguros de RC envolvendo produtos farma-

cêuticos e alimentícios, poluição ambiental, riscos pro-

fissionais e outras atividades ou produtos que apresentem

características de longa latência, só são contratados na base

Claims Made.

A tendência se espalhou pelo mundo, embora em alguns

países, por uma questão de interpretação jurídica, não

tenha sido adotada, como na França e na Argentina.

Segundo notícias recebidas, atualmente as seguradoras na

França estão enfrentando sinistros envolvendo asbesto, em

um efeito retardado.

Alguns casos clássicos, um pouco esquecidos mas sem-

pre utilizados como marcos pela seriedade do ocorrido, são:

� Mercúrio na baía de Minamata (Japão).

� Talidomida (geradora de defeitos congênitos em bebês,

que já está na segunda geração de pessoas prejudicadas).

Este caso é interessante pois alguns anos atrás a F.D.A.

liberou o uso de talidomida para tratamento de determina-

da doença, evidentemente, restrito a pessoas do sexo mas-

culino, por razões óbvias.

� Silicone em implantes mamários (que levou a Dow Corning

a pedir falência em função do montante indenizado).

� Fumo (a questão não é mais se o fumo causa danos ou

não, mas envolve a obrigação da empresa em comunicar aos

seus consumidores, de forma correta, os benefícios e prin-

cipalmente os perigos envolvendo o consumo do produto).

Foram casos assim que forçaram a criação da F.D.A.

(Food and Drug Administration) nos Estados Unidos e

órgãos similares em outros países.

Uma espada de Dâmocles que paira sobre a indústria do

seguro, na área de Responsabilidade Civil, são os efeitos

dos Campos Eletromagnéticos–CEM (ou Electric

Magnetics Fields–EMF) no corpo humano, cujos possíveis

danos, atualmente, são apenas conceituais. Entretanto,

bastará um dano comprovado, uma sentença promulgada e

uma avalanche de demandas judiciais poderá descer mon-

tanha abaixo. Nos Estados Unidos, a cobertura para danos

por CEM/EMF é concedida como cobertura complemen-

tar, posto que em geral é risco excluído padrão.

Como gato escaldado tem medo de água fria, o merca-

do norte-americano trabalha de modo preventivo, prefe-

rindo excluir automaticamente algo em dúvida e concedê-

lo facultativamente.

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 46-52, abril 2005 47

Page 50: Revista do irb brasil   ano 65

Isso é característica marcante da longa latência em

breves palavras – um lapso de tempo considerável, entre a

data em que o dano foi causado, sua manifestação e final-

mente sua reclamação.

Brasil

As condições à base Claims Made foram introduzidas no

mercado brasileiro através do IRB em 1988, para atender a

uma necessidade específica envolvendo Responsabilidade

Civil para Produtos no Exterior, tendo em vista a prática,

principalmente nos EUA, de se cobrir apenas na base

Claims Made a responsabilidade civil por danos causados

por determinados produtos exportados. Os importadores

estrangeiros pressionavam fortemente os exportadores

nacionais para que as apólices de RC que iriam cobrir

possíveis danos causados por tais produtos fossem emitidas

na base Claims Made que, de acordo com a experiência

local, era a mais apropriada.

Assim, o clausulado Claims Made, quando da sua intro-

dução no Brasil, foi direcionado para um palco de atuação

específico, fora das fronteiras brasileiras, em consonância

com as condições utilizadas no exterior, principalmente

nos Estados Unidos, onde predomina o Common Law –

sistema legal em que os usos e costumes têm um peso

importante, bastante diferente do sistema brasileiro, que é

o sistema positivado, mais baseado em leis escritas, embo-

ra, claro, a jurisprudência e os usos e costumes também

tenham importância.

Tal origem e local de atuação (exterior) explicam per-

feitamente os 60 dias no prazo complementar, padrão nas

primeiras condições CM editadas pelo IRB e usualmente

AINDA estipulados no clausulado americano. Era apenas

esta a razão de tal lapso de tempo ter sido estipulado nas

condições CM brasileiras.

Com o decorrer do tempo, as seguradoras passaram

a pedir autorização ao IRB para utilizar condições

Claims Made para seguro de RC, limitado ao âmbito do

território brasileiro.

Um dos motivos do interesse é que determinadas

apólices brasileiras visam cobrir franquia da apólice

mundial do grupo empresarial multinacional, emitida na

base Claims Made. Assim, a apólice brasileira necessitaria,

se possível, ser também na mesma base, até para evitar

divergências estruturais que podem complicar na hora de

um sinistro.

Aliás, sempre é recomendável que as apólices locais e

internacionais do mesmo grupo empresarial tenham a

mesma base em termos de condições, para evitar momen-

tos diferentes do “gatilho” acionador do sinistro, visto que

funcionariam em conjunto, como primeiro e segundo

layer. Claro que só isso não basta. A apólice mundial, que

funciona como um “guarda-chuva” (blanket = cobertor)

para todas as empresas do grupo no mundo, deve também

ter, pelo menos, a precaução de ser D.I.C. (difference in

conditions) e/ou D.I.L. (difference in limits), já se pre-

cavendo com relação a diferenças, em termos de clausu-

lados e limites, entre as apólices locais e mundiais.

Não se recomenda emitir apólices à base Claims Made

APENAS pelo desconto de 20% proporcionado quando se

trata da primeira contratação nesta base.

As conseqüências são muito mais profundas para todos

os envolvidos no decorrer do tempo.

Observe-se que a Circular SUSEP–235/2003 de

21.10.2003, disciplinadora do clausulado CM no Brasil,

estabeleceu a aplicação das condições Claims Made ape-

nas em casos envolvendo longa latência.

Agora, um problema é conseguir vislumbrar possíveis

sinistros para estabelecer se são de longa latência ou não.

Conflitos recentes envolvendo CM no Brasil

A Secretaria de Defesa Econômica (SDE) do Ministério

da Justiça, ao publicar em 15/03/2001 a Portaria nº 3, am-

pliando o rol de cláusulas consideradas abusivas do Código

de Defesa do Consumidor (CODECON), fez constar em

seu item 11:

11- (considera-se abusiva cláusula que) limita tempo-

ralmente, nos contratos de seguro de Responsabilidade

Civil, a cobertura apenas às reclamações realizadas

durante a vigência do contrato, e não ao evento ou sinis-

tro ocorrido durante a vigência.

A interpretação do mercado securitário foi unânime –

pelo item 11 o clausulado Claims Made (em princípio) foi

considerado abusivo!

48 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 46-52, abril 2005

Page 51: Revista do irb brasil   ano 65

A Fenaseg, após consulta aos seus pares, contatou a SDE

para entender as razões da interpretação dada, que inviabi-

lizava uma série de seguros mundialmente contratados

somente à base CM, como RC Ambiental, RC Produtos no

Exterior, D&O e RC Profissionais vários.

Embora a SDE tenha enviado as

suas justificativas à Fenaseg, o item

11 da Portaria nº 3 continuou ativo.

De qualquer modo, a Fenaseg

entendeu que o local mais apropria-

do para se discutir o assunto seria

junto à SUSEP, órgão regulador do

mercado securitário, e assim o fez.

Neste ínterim, o novo Código

Civil entrou em vigor e a Procu-

radoria Geral da SUSEP em

26/03/2003 fez publicar, no Diário

Oficial da União, o parecer nor-

mativo nº 005/03, onde em seu

item 7, constava:

“7. A questão das apólices à

base de reclamações, validade da

‘cláusula claims made’ à luz do

novo código.”

Em breves palavras, segundo in-

terpretação, concluía-se que a CM

feria entre outros, os artigos 773 e

192 do novo código.

Entre março e outubro de 2003,

houve uma série de consultas entre

SUSEP e Fenaseg, esta inclusive

servindo-se do profundo conheci-

mento de dois de seus melhores

colaboradores, Walter Polido, na

área técnica e Ricardo Bechara San-

tos, na área legal, que elaboraram seus pareceres defendendo

a licitude da CM, e os encaminharam à SUSEP, visando uma

revisão do assunto e conseqüente regulamentação final.

Seguiu-se um período de indefinição até que a SUSEP

emitiu a Circular 235/2003, de 21.10.2003, regulamen-

tando o assunto, mantendo porém, uma interpretação da

Portaria nº 3 da SDE, ao estabelecer que este clausulado

só poderia ser aplicado para seguros de pessoas jurídicas e,

portanto, continuando a inviabilizar os seguros de RC

Profissional para pessoa física.

O mercado digeriu a Circular,

mas até onde sei, nunca solicitou

à SUSEP que definisse o termo

“pessoa jurídica”, por mais óbvio

que fosse. Digo isso porque os

profissionais liberais, salvo melhor

juízo, embora não adotem um

“nome fantasia”, contribuem para

a Receita Federal como microem-

presa, até por uma questão de

tributos menores. Se contribuem

como microempresa, poderiam

eventualmente ser abrangidos

pelo conceito de “pessoa jurídica”.

Acredito ser válida esta questão,

pois quando se alijou a possibili-

dade de se contratar seguros à base

CM para pessoa física, foi no intui-

to de protegê-la, numa relação de

hipossuficiência perante a segu-

radora. Entretanto, nesta situação,

estaríamos falando da pessoa física

como consumidor final, não aquela

que compra seguro para se proteger

contra eventuais erros/falhas pro-

fissionais suas, e que, de uma

forma ou outra agregaria o custo do

seguro ao dos seus serviços.

Sempre se proclamou aos quatro

ventos a necessidade do médico,

dentista, advogado, corretor de

seguros e outros profissionais libe-

rais serem quase obrigados a possuir um seguro de RC

Profissional, justamente para amparar os danos que inadver-

tidamente possam causar aos seus clientes. Por que então a

SUSEP obstaria a eles o direito de possuir tal seguro, que

tem inclusive uma importante função social?

Sempre se proclamou aos

quatro ventos a necessidade

do médico, dentista,

advogado, corretor de seguros

e outros profissionais liberais

serem quase obrigados a

possuir um seguro de RC

Profissional, justamente para

amparar os danos que

inadvertidamente possam

causar aos seus clientes.

Por que então a SUSEP

obstaria a eles o direito

de possuir tal seguro,

que tem inclusive uma

importante função social?

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 46-52, abril 2005 49

Page 52: Revista do irb brasil   ano 65

Período posterior à Circular 235/2003 – pontos polêmicos

O item 11 da Portaria nº 3 da SDE continuou em vigor,

portanto em conflito com a Circular SUSEP 235/2003, até

08 de Dezembro de 2004, quando então, a Portaria nº 24

da SDE o revogou. De qualquer modo, por mais de um ano

os dois dispositivos foram mantidos.

A própria Circular SUSEP 235/2003, de 21.10.2003,

mais tarde foi substituída pela de número 252/2004, de

26.4.2004, sendo a diferença básica entre ambas a per-

missão de se conceder data retroativa em uma primeira

apólice à base CM, desde que a seguradora aceite tal con-

cessão. Segundo a boa técnica, essa concessão deveria ser

aplicável apenas para apólices de D&O, visto ser tal

expediente praticamente comum no mercado norte-ameri-

cano, por uma característica particular da cobertura.

Ainda com relação à Circular 252/2004, a SUSEP, para

regulamentar a CM e ajustá-la à lei brasileira em vigor,

ampliou para 3 anos o prazo complementar de 60 dias

antes estabelecido.

Para efeito de adequação à lei, sem dúvida nenhuma, a

alteração se fazia necessária e perfeitamente adequada.

Com relação especificamente à cobertura de RC Produtos

no Exterior (com foro no exterior), tornou muito mais

abrangente o prazo que as próprias seguradoras nos EUA

mantêm nos 60 dias (pelo menos de forma automática).

Quando o segurado, naquele país, solicita uma ampliação

deste prazo, este é aceito, mas mediante cobrança de um

adicional de prêmio.

Assim sendo, no Brasil, especificamente para a cobertu-

ra retromencionada, o prazo complementar, além de bas-

tante ampliado, deve ser concedido de forma obrigatória e

gratuita. Com o decorrer do tempo, teremos dados para a

análise e comprovação dos resultados provocados por tal

alteração – o ideal seria a manutenção dos 60 dias, com

cobrança de prêmio adicional, se desejada uma ampliação,

quando se tratar de RC Produtos no Exterior – foro no

exterior e a adoção dos 3 anos apenas quando o âmbito da

cobertura se restringir ao território brasileiro.

Uma outra questão, ainda ligada ao prazo complementar,

está associada ao que consta dos artigos 8 e 9 da circular

SUSEP 252/2004.

O artigo 8 cita:

“Deverá ficar expressamente indicado, nas condições

contratuais do seguro, que a concessão de prazo comple-

mentar, prazo suplementar ou a possibilidade de transfor-

mação da apólice, nos termos do artigo 3, 4 e 5 destas

Disposições Gerais, somente poderá prevalecer:

I- se o seguro for renovado em outra sociedade seguradora e

esta não admitir, na cobertura contratada, o período de retroa-

tividade da apólice anterior, ou;

II- se o segurado não renovar o seguro ou se o renovar sob a

forma de apólice à base de ocorrências, seja na mesma

sociedade seguradora ou em outra.”

Perfeito! Entretanto, o artigo 9 da mesma Circular cita:

“Nas renovações sucessivas em uma mesma segurado-

ra, é OBRIGATÓRIA (ênfase minha) a concessão do período

de retroatividade de cobertura da apólice anterior, e do PRAZO

COMPLEMENTAR (ênfase minha), bem como previsão

quanto à possibilidade de obtenção de prazo suplementar.”

O disposto neste artigo 9, ao invés de esclarecer, pode

gerar confusão, uma vez que o artigo 8 já define quando

se concederá o prazo complementar.

De fato, o prazo complementar deve ser concedido APE-

NAS nas situações previstas no artigo 8, caso contrário,

poderá ocorrer o seguinte entendimento:

Suponhamos que um segurado contrate uma apólice

CM em 01.01.2004, em uma determinada seguradora e a

renove em 01.01.2005 e 01.01.2006 na mesma segu-

radora. Havendo uma reclamação em 30.06.2006 relacio-

nada com um dano causado em 2004, os supostos (enten-

do importante a inclusão deste termo, uma vez que não

existe, de fato, prazo complementar distinto para cada

apólice, quando renovada na mesma seguradora) prazos

complementares das apólices 2004 e 2005 ainda não terão

expirado na época da reclamação.

50 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 46-52, abril 2005

Page 53: Revista do irb brasil   ano 65

Se a apólice 2006 não possuir limite suficiente para

indenizar os danos causados, o segurado poderia,

aparentemente, acionar as apólices de 2004 e 2005, se

destas constar o prazo complementar de 3 anos. É de vital

importância que tal prazo SÓ CONSTE DE APÓLICE

NAS SITUAÇÕES PREVISTAS NO ARTIGO 8 DA

CIRCULAR 252/2004.

Quando se fala em CM, não há como não citar a data

retroativa de cobertura (retrodate) ou o período de retro-

atividade de cobertura.

Pela circular 252/2004 da SUSEP, data de retroatividade é:

Data Retroativa de Cobertura:

Mediante acordo entre as partes,

será, no mínimo, a data de início de

vigência da primeira de uma série

sucessiva e ininterrupta de apólices,

à base de reclamações, a partir da

qual e até o término de vigência da

última apólice encontram-se cober-

tos os riscos expressamente definidos

no contrato de seguro.

Período de Retroatividade de

Cobertura:

Corresponde ao espaço de tempo

compreendido entre a data retroati-

va de cobertura e a do início de

vigência da apólice em curso.

O detalhe nem sempre seguido é que a cada renovação

deve constar uma cláusula particular na apólice seguinte,

mantendo a data de retroatividade inicial para os devidos

fins e efeitos. Mesmo sendo a retrodate “zero” (sem

cauda), particularmente falando, recomendo uma obser-

vação neste sentido no texto da apólice, para deixar o

detalhe evidente, sem dúvidas para ninguém, pois o

clausulado CM faz referência à retrodate – a sua ausência

pode gerar mal-entendidos, principalmente para aqueles

que, embora sem o conhecimento específico, possam, em

um sinistro, ter o poder de decisão.

Mudança de base CM para Ocorrência:

No exterior, o período de retroação (contado do início da

primeira apólice CM até o inicio da apólice CM que esti-

ver em vigor) é mais conhecido como tail (cauda) – quan-

to mais longe a data de retroatividade estiver no tempo,

proporcionalmente mais longa a “cauda” está, por isso o

termo usualmente utilizado – long tail.

Sem constar a Data Retroativa de Cobertura, e/ou o

Período de Retroatividade de Cobertura, estarão faltando

um dos sustentáculos do seguro CM.

Um segurado com uma apólice CM com uma “cauda

muito longa” pode desejar mudar de seguradora na reno-

vação por uma série de razões.

O problema é se a outra seguradora aceitará a retroativi-

dade existente. Se não, a última apólice CM deverá ter

“transformada” a sua base, de CM para “ocorrência”, para

evitar perda de cobertura com o decorrer do tempo, e a nova

apólice, se base CM, terá retroatividade zero (sem cauda).

Isso envolve, evidentemente, custos:

– Quanto custará transformar a base da apólice em

“Ocorrência”?

– O desconto no custo pela ausência de retroatividade na

nova apólice compensará o gasto com a transformação da

apólice anterior em base “Ocorrência”?

R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 46-52, abril 2005 51

Quem inventou o “Ovo de Colombo” da cobertura

Claims Made foi uma seguradora norte-americana

chamada Saint Paul, no início dos anos 1980.

(...) ao definir que a apólice que seria usada

para indenizar os danos seria aquela em vigor

na data em que a reclamação fosse feita, e não

mais aquela em vigor quando o dano ocorreu,

justamente pela sua difícil definição.

Page 54: Revista do irb brasil   ano 65

Por outro lado, a nova seguradora deve analisar

muito bem se aceita ou não a retroatividade existente,

pois ao aceitá-la, implicitamente estará aceitando que

se reclame em sua apólice perdas e danos causados a

terceiros desde o início da “cauda”, o que pode signi-

ficar vários anos, cujo prêmio NÃO FOI arrecadado

por esta nova seguradora!

Para avaliar isso, vamos voltar a utilizar como guia o

caso do CEM/EMF, como um exercício de futurologia:

Desde 1996 se discute se ondas eletromagnéticas

causam danos à saúde. Isso é notório e público.

Vamos considerar que as seguradoras sempre acredi-

taram que tais ondas são inócuas (afinal não há, até o

momento, nenhum caso concreto, apenas suposições)

e, portanto, não seja necessário inserir nas apólices

exclusão de cobertura específica.

Consideremos a renovação de uma apólice CM com

vigência 2004/2005, em que haja troca de seguradora,

com retrodate voltada até 1996.

O que aconteceria se, em 2005, fosse provado

cientificamente que, em certas circunstâncias, os

CEM/EMF realmente causam uma determinada

doença?

O que aconteceria em termos de reclamação para a

apólice 2004/2005?

Todos que conseguissem provar que, desde 1996,

tiveram a mesma doença, tentariam (e poderiam con-

seguir) a associação da doença com o uso de aparelhos

que geram CEM/EMF! A apólice provavelmente não

seria suficiente para indenizar todos os casos!

O fato de vivermos em um mundo globalizado,

unificado pela Internet, torna fácil e disponível qual-

quer informação de interesse público. Entidades não-

governamentais ou de defesa do consumidor em par-

ticular têm suas antenas ligadas na questão! Depois

do advento da Internet, nenhuma avestruz se aventu-

ra mais a esconder a cabeça na areia, preferindo tam-

bém contratar um bom advogado.

O IRB-Brasil Re emitiu a Circular Ditec-002/2004

sobre CM e um dos itens obriga a seguradora que

aceitar retroatividade de uma apólice, que não era de

sua liderança, a comunicar previamente ao Ressegu-

rador tal aceitação. Por que? No cenário de monopólio,

é provável que o IRB-Brasil Re tenha ressegurado as

apólices anteriores, porém, é preciso conhecer as

condições que envolveram esta mudança de liderança.

Pode haver caso em que a apólice anterior estivesse

dentro do limite técnico da seguradora, ou tivesse um

limite segurado muito baixo, que ficasse dentro do

resseguro automático. Se na renovação e transferência

de seguradora houver aumento significativo de limites,

certamente ocorrerá que o prêmio arrecadado durante

o período de retroatividade, com um LMI pequeno,

não será suficiente para fazer frente a uma eventual

enxurrada de demandas judiciais ou extrajudiciais den-

tro de uma determinada vigência do seguro.

Desconhecemos se tal dispositivo está sendo obser-

vado. Deveria, para evitar problemas na hora da regu-

lação de eventual sinistro em que houver envolvimen-

to do IRB-Brasil Re.

Diante dessa pequena exposição, por que há casos

em que seguradoras insistem em aplicar condições

Claims Made onde não cabe? Desconhecimento de

causa? Haverá longa latência em seguro de RC

Exposição, RC Shopping ou RC Guarda de Veículos

de Terceiros?

Neste artigo procurei desenvolver alguns aspectos

associados à cobertura Claims Made que me parece-

ram mais urgentes – outros detalhes existem e mere-

cem comentários e esclarecimentos oportunos dos

especialistas no assunto, entre os quais evidentemente

não me incluo.

O conhecimento é como brasa de uma fogueira.

Deve sempre ser avivada, sob o risco de se apagar

e virar cinza. E temos fogueiras apagadas demais

neste Brasil.

Nota:

O autor agradece profundamente a Andrea T. Souzedo pela revisão de texto e a

Maria de Fátima Carvalho pela revisão técnica.

52 R. do IRB, Rio de Janeiro, a. 65, n. 299, p. 46-52, abril 2005

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