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Expediente.REVISTA DIÁLOGORevista de Formação e Informação da Província Redentorista de São PauloEdição n. 1 Janeiro a Junho 2014

Superior ProvincialPe. Luís Rodrigues Batista, C.Ss.R.

Coordenador EditorialPe. José Uilson Inácio Soares Junior, C.Ss.R.

RedatorPe. José Inácio Medeiros, C.Ss.R.

RevisãoAna Lúcia de Castro Leite

Design e DiagramaçãoHenrique BaltazarPamela Prudente

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Quem é o Missionário Redentorista

É o homem da palavra, da pregação simples e facilmente compreendida, sendo acessível a todos.

É o homem do confessionário, do atendimento de todos, e o facilitador de milhares de conversões e volta para Deus.

É o homem do amor extremado à Igreja, da unidade com seus pastores e o orientador de comunidades.

É o propagador da devoção a Nossa Senhora.

É aquele que valoriza e celebra a religiosidade popular. É comunicador de massa, que comunica pelas mídias eletrônicas, com linguajar simples e acessível à multidão.

É aquele que tem uma facilidade muito grande de arrebanhar multidão e encaminhá-la para a via de comunidade.

É formador de comunidade e preparador de lideranças.

Ele tem um trabalho subsidiário na pastoral ordinária.

Que o nosso modo de viver e agir seja a extensão ou a materialização da paixão ágape que trazemos em nós.

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Editorial.

SOCIALIZAR O CONHECIMENTO E A COMUNICAÇÃO

Editor: Pe. Inácio Medeiros, [email protected]

Com o objetivo de socializar o conhecimento e a comunicação chega a suas mãos o primeiro número da renascida Revista Diálogo. No passado, ali pelos anos de 1970, ela já foi um importante veículo de comunicação da Província de São Paulo, e tinha por fi nalidade estimular a refl exão e o debate ao redor de temas que realmente eram importantes, por dizerem respeito à nossa vida e atuação missionária.

Um dos últimos números, ou talvez o último, foi publicado em agosto de 1977, ainda na forma mimeografada, trazendo como título a Formação nos Seminários. Naquele tempo o trabalho de editoração era desenvolvido pelo Pe. Flávio Cavalca. E somente pelo título da última revista, percebe-se que os temas que inquietavam a Província de São Paulo, e por que não, a Congregação Redentorista, naquele tempo, continuam sendo candentes e motivo de preocupação, haja vista tantas questões que alimentam nossas conversas, recreios comuns e acaloradas discussões relacionadas com a formação inicial em nossos seminários, especialmente diante dos desafi os da sociedade Pós-Moderna.

Sentindo a necessidade de socializar o conhecimento e a produção intelectual, também com o intuito de ser um subsídio a mais no processo de comunicação interno

da Província de São Paulo e com aqueles que, como nós, são associados à missão, relançamos agora a Revista Diálogo.

É fato que produzimos muitos textos, artigos e refl exões que nem sempre encontram espaço nos demais veículos de comunicação da província por serem mais densos, provocativos e refl exivos, que acabam guardados na memória de nossos computadores pessoais. É fato também que a rapidez de outras plataformas de comunicação, como as redes sociais, não permitem a sua publicação. Isto nos motivou a recriar tão saudosa publicação para socializar nossa produção, oferecendo espaço para a comunicação e o conhecimento.

E esse primeiro número dessa nova série chega com alguns artigos marcantes e interessantes que, se não servirem para mais nada, ao menos oferecerão um registro do nosso esforço de criação e refl exão. Isto também é história e precisa ser registrado!

Num primeiro texto recuperamos uma entrevista concedida pelo Pe. José Ulysses, Secretário Geral da Congregação Redentorista, concedida ao Portal G1, comentando a renúncia do papa Bento XVI, em vésperas da eleição do papa Francisco. A renúncia de um papa deveria ser fato normal, conta-nos ele.

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Num segundo texto, do Pe. Rogério Gomes, hoje professor da Academia Alfonsiana de Roma, vem algo como que uma síntese das preocupações levantadas pelo Ano da Fé, convocado pelo papa Bento XVI, para celebrar o cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II, focando, sobretudo, o legado que isso deixa para a Igreja e para a Vida Religiosa como tal. Como pensar a fé num mundo turbulento e contraditório, talvez seja esta a grande questão dos dias de hoje. Bem dentro deste contexto, podemos perceber como que os primeiros meses do pontificado do papa Francisco retira a poeira e a pátina acumulada na Igreja pelos seus quase vinte séculos de história.

O próximo texto é uma resenha da monografia conclusiva do curso de teologia do então frater, hoje Pe. Luiz Almir. Ele lê o profeta Sofonias a partir da realidade de pobreza da América Latina, indicando que a missão da Igreja é ser pobre com os pobres, indo contra as estruturas e a realidade gritante que continuam desfigurando o ser humano em nosso continente.

Depois disso, o Pe. Inácio Medeiros pesquisa a riqueza de documentos guardados no Arquivo Missionário de Araraquara, para analisar um período de trinta anos de pregação das Santas Missões na Província de São Paulo, entre os anos de 1968 a 1997. No pós-Vaticano II, especialmente nos anos de 1967-1968, fazia-se um grande questionamento sobre a validade das Santas Missões como método de pastoral. Entre nós existia quem defendesse sua interrupção, pois diversas unidades redentoristas estavam já abandonando este método de pregação extraordinária. A Província de São Paulo não interrompeu a pregação das Santas

Missões e, pelo contrário, aprofundou os esforços de renovação deste método de evangelização. Pe. Inácio nos mostra, com riquezas de números, os contributos das Santas Missões no hoje da Igreja.

Destacamos depois disso um artigo do Pe. Marcelo Araújo falando da caminhada na primeira década de história da Editora Ideias e Letras, desde sua criação como selo editorial, agora totalmente independente da Editora Santuário. Há um conceito editorial para ambas, que envolve um planejamento acurado compreendido dentro da missão e vocação da Congregação Redentorista, na Igreja e na sociedade. O que move a Ideias e letras é a grande preocupação com a abertura e diálogo com o mundo plural em que vivemos, especialmente com os agentes produtores de cultura. Isto se dá em ambientes e públicos diferenciados, como as universidades.

Por fim, Pe. Vinicius Ponciano traz um texto que nos desafia. Ele começa mostrando a diferença e as aproximações entre paixão e amor, partindo das paixões humanas ou “mundanas” para se chegar à “Paixão Ágape”, cuja maior expressão é a cruz. Como religiosos consagrados que somos precisamos assumir-nos como agentes de transformação, diz- -nos ele, ajudando a sociedade e a vida religiosa a superar a descoloração, a falta de sensibilidade e até mesmo o vazio provocado pelo consumismo. Precisamos todos recuperar o “encantamento” pela missão e vocação. Grande desafio!

Leia a nossa revista. Reflita sobre os questionamentos que seus artigos apresentam. E se você tiver algum trabalho que queira socializar, temos agora mais um canal de comunicação.

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Pe. José Ulisses da Silva é Secretário-Geral da congregação dos redentoristas.Para ele, Papas deveriam poder afastar-se quando esforço fi car desumano.

Juliana Cardilli Do G1, em Roma

Assim como boa parte da Igreja Católica, a Congregação dos Redentoristas, que fi ca no Centro de Roma, viu a decisão do agora Papa Emérito Bento XVI de renunciar ao comando da Igreja Católica como um ato de coragem e amor à Igreja. Mas o secretário-geral da congregação, o padre brasileiro José Ulisses da Silva, de 69 anos, vai além – para ele, o gesto de Bento XVI deveria se tornar uma atitude comum na Igreja Católica, evitando que pessoas já sem condições físicas sejam expostas à grande demanda exigida de um Papa.

Padre Ulisses, como é conhecido, está em Roma desde fevereiro de 2012, e ocupa o cargo de secretário-geral da Congregação

do Santíssimo Redentor – mais conhecida como dos redentoristas, grupo que reúne 5,5 mil missionários em todo o mundo. Neste domingo (3) ele falou com o G1 sobre o impacto da decisão na Igreja, e como vê o andamento dos próximos passos, nos quais será eleito o novo pontífi ce.

“Para nós, redentoristas, o impacto da renúncia foi positivo – uma visão de admiração, coragem de tomar essa atitude. É desumano exigir de um idoso levar em frente a coordenação de uma Igreja internacional, com uma agenda tão demandante”, afi rmou. “Me parece que ele tentou desmistifi car a fi gura do Papa. O desejo que temos é que esse gesto se torne

“RENÚNCIA PAPAL DEVERIA SER ATITUDE NORMAL”

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uma atitude normal. Vimos o sofrimento do Papa Paulo VI, do Papa João Paulo II. Não se pode exigir isso. Eu não exigiria esse esforço do meu pai, do meu avô – por que temos que exigir do Papa?”

Padre Ulisses relembra que a idade nem sempre é um agravante, e sim as condições de saúde da pessoa. “O corpo não aguenta o ritmo. São diversas audiências, é preciso decidir diversos casos, os ‘abacaxis’ que ele tem que resolver, enfrentar as tendências, as problemáticas internas do Estado do Vaticano, uma série de desafios. Agora talvez até tenha tido uma questão de abuso de poder, mas ainda não ficou muito claro.”

Ele sugere um procedimento semelhante ao que ocorre com os bispos – todos devem apresentar sua renúncia aos 75 anos. Algumas vezes, ela não é aceita, mas na maioria delas, é. O limite de idade para os Papas poderia ser mais elástico, mas seria uma demonstração de humanidade. “Era interessante que houvesse alguma forma de discernimento, que não apenas do próprio Papa, que foi o caso de Bento XVI, em que ele pudesse ser convidado a renunciar e que fosse algo normal”, afirmou o padre.

Com o início das congregações que precedem o conclave marcado para esta segunda-feira (4), cresce a expectativa entre os religiosos em Roma sobre as possíveis mudanças na Igreja. O nome do cardeal brasileiro Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, tem crescido entre os possíveis papáveis – o jornal italiano “La Stampa” publicou neste sábado (2) uma reportagem que indicava articulações do cardeal decano, o italiano Angelo Sodano, para eleger o brasileiro e colocar um italiano ou um argentino de origem italiana como

secretário de Estado. O “Il Messaggero” também coloca Scherer numa lista de quatro “favoritos”.

O secretário-geral dos redentoristas vê como possibilidades os cardeais italianos Angelo Scola e Gianfranco Ravasi, além do próprio Dom Odilo – “já trabalhou em Roma, assumiu uma arquidiocese grande, é intelectualmente preparado” – e o cardeal hondurenho, Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga. “Ele é uma presença forte. Não se omite em diversas questões, nem mesmo nas questões políticas de seu país.”

Acima de tudo, padre Ulisses espera que o próximo Papa seja alguém com experiência pastoral, capaz de mudar alguma coisa na estrutura da Igreja.

“Para mim, a grande esperança é uma reestruturação total da Cúria Romana, que as conferências episcopais assumissem um papel mais decisivo, a própria assessoria do Papa não fosse uma assessoria em que as pessoas se eternizam em um mesmo papel, e acabam se eternizando também no tipo de poder, e eventualmente até de manipulação de certas coisas”, afirmou.

Padre Ulisses também espera que os bispos – que estão mais próximos das comunidades e pastorais pudessem ter uma voz ativa mais respeitada na Igreja. “É o sonho de um tipo de poder colegial, em que o Papa continua sendo o primeiro de todos, aquele que dá o aval a tudo, mas os demais também têm uma responsabilidade pastoral e uma voz forte para ajudar no governo da Igreja.”

Por isso, ele deseja que o eleito não seja alguém que já trabalhe na Cúria, nem alguém com raízes reacionárias ou demasiadamente conservadoras. “Tomara que seja um Papa que não tenha medo de abrir as portas e janelas da Igreja, para entrar um ar novo. Estamos em um momento em que isso é preciso.”

Futuro da Igreja

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Estamos celebrando o ‘Ano da Fé’, uma proposta feita pela Igreja a todo o Povo de Deus para aprofundar a resposta batismal que se traduz em testemunho concreto no cotidiano. Como redentorista, depois de meditar, rezar esse tema, pensei assentar algumas pobres linhas e compartilhá- -las como experiência daquilo que intuí e penso ser fundamental à vida cristã e à vida religiosa consagrada.

O apóstolo Paulo, após defi nir que “a fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se veem”, recorda o testemunho

Website pessoal: http://teologiaeciencia.webnode.com.br/ 1

dos antigos, afi rmando que pela fé que se reconhece como o universo foi organizado pela palavra de Deus; Abel ofereceu seu sacrifício a Deus melhor do que o de Caim; Henoc foi levado a fi m de escapar da morte; Noé salvou a sua família; Abraão recebeu o chamado, obedeceu e partiu sem saber aonde ia e residiu como estrangeiro na terra prometida; Sara, apesar da idade avançada, tornou capaz de ter uma descendência; Abraão, tendo sido provado, ofereceu seu único fi lho Isaac; Isaac abençoou Jacó e Esaú em vista do futuro; Moisés, depois de seu nascimento, foi escondido pelos pais, que não tiveram medo do decreto do rei, renuncia aos favores do faraó e deixa o

Pe. Rogério Gomes, C.Ss.R. – SP 23001

O REDENTORISTA E O ANO DA FÉ.O DESAFIO DA ENCRUZILHADA DE EMAÚS

1. Memória agradecida

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Egito sem temer a ira do rei; Reis e profetas que conquistaram reinos e praticaram a justiça foram martirizados e levaram vidas simples (Hb 11).

Paulo, ao fazer passar pelo coração (recordar) a experiência dos pais e mães da fé, interpela-nos a olhar para a história de nossa Congregação e (vice) província, missões e fundações e resgatar desde o nosso fundador até os dias atuais a experiência de fé dos que nos precederam e daqueles(as) que, em condições adversas, ainda hoje, testemunham a fé em Cristo Jesus. Nesses termos, a fé nos é transmitida pelo testemunho e, se o testemunho dos antepassados chega-nos até o presente e ainda suscita a entrega amorosa e inevitável, tantas vezes até da vida, para testemunhá- -la, significa dizer que a fé é viva e vivificante e faz responder ao essencial da vida.

Os nossos antepassados não conseguiram realizar ou colherem os frutos da semente que plantaram; a “fé antecipada” pode fazer-lhes antever não a obra em si, mas a promessa. Assim a fé é cheia de esperança, compreendida como fidelidade a e de Deus àqueles que seguem sua estrada e se traduz em amor, enquanto ação em favor dos pequeninos do Reino (Is 62, Lc 4,16). O amor é a dinâmica da manifestação concreta da fé: “assim também a fé, se não tiver obras, está morta em seu isolamento” (Tg 2,17). Não é à toa que a constituição 20, ao traçar a identidade do missionário redentorista relembra-o dessas três virtudes: “Fortes na fé, alegres na esperança, fervorosos na caridade...” (Const. 20).

Aproximando-nos das Escrituras e do ensinamento paulino e do ano da fé, a primeira atitude que requer de nós é a da memória agradecida, primeiramente a Deus por sua obra salvífica e, nela, ter suscitado homens e mulheres que, em sua simplicidade, nas encruzilhadas e nos

revezes históricos reafirmaram a fé no Deus único que nos deu sua promessa desde a eternidade; essa memória agradecida estende-se aos nossos fundadores da Congregação, (vice) província, missões e fundações que a fundaram carismática, institucional e estruturamente, e àqueles(as) que a fundam a cada dia no silêncio esperançoso e no amor concreto, traduzido na acolhida de homens e mulheres com seus corações feridos e nas inúmeras experiências pastorais. Precisamos retornar ao nosso baú espiritual que, desde a fundação do mundo e da história da Congregação, contém tesouros de inestimável valor; há que se lapidá-los e a memória agradecida aos nossos antepassados nos pede que façamos o polimento desse bem espiritual que possuímos e extraiamos dele o que de mais precioso possuímos e possamos continuar a nossa história de fé no projeto salvífico que Deus nos confiou, apesar de nossas fragilidades. A fé é um olhar e salto antropológico que encontram ressonância no horizonte transcendental e se descortina como gratuidade de Deus, para que o ser humano possa intuir o profundo mistério de si mesmo e do próprio Deus, e projete sua vida no horizonte da esperança e do amor.

Os Estatutos Gerais recordam que o “estilo da missão entre os fiéis deve, em nossos dias, visar principalmente à conversão à fé, porque os fiéis estão sujeitos a uma crise generalizada de fé. O contexto social, marcado pelo pluralismo cultural, não pode mais ser chamado cristão e não oferece à fé estruturas externas de apoio” (EG 014b). Trata-se de um fenômeno real que tem se evidenciado nas últimas décadas. Nos últimos tempos, uma das

2. Pensar a fé em um mundo turbulento e com nossas contradições

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grandes preocupações eclesiais parece ser o esvaziamento das igrejas, a secularização, o relativismo, e as estratégias ultimamente foram o retorno a novos movimentos eclesiais tradicionais e integralistas e a tradições que muitas vezes não dizem absolutamente nada, a não ser suscitar a curiosidade do homem e mulher pós- -modernos. Talvez é hora da Igreja, enquanto instituição, perguntar se tantas ações não são inoperantes e se, diante de tantos desafios, não está respondendo a problemas extremamente novos com respostas que já não dão conta da complexidade dos fenômenos envolvidos. Enquanto o carisma for aprisionado por esferas de poder dentro da Igreja e suas Instituições, o evangelho não será anunciado de modo sempre novo e o anúncio será mero dogmatismo apologético. Diante disso, as Constituições e Estatutos não propõem um retorno ao passado remoto, de saudosismo e de velhas tradições, mas convidam a ler os sinais dos tempos e os tempos dos sinais. Certamente, esse é o desafio que a atualidade nos impõe e que devemos perseguir.

O ano da fé está sendo marcado por uma crise purificadora. Parece que se começam a ruir certas quinquilharias curiais. Bento XVI certamente chegou à encruzilhada e teve de, diante daquilo que viu, sentiu e sonhava, cortar na própria carne, fazendo desmoronar o velho edifício fundado sobre o poder das púrpuras curiais e de um retorno à segurança dos muros que agora ouvem e veem... Como teólogo inteligente foi capaz de desferir, em tempo, um golpe mortal e estratégico para por fim às guerras internas e salvar a própria instituição de seu distanciamento evangélico. Em sua última Audiência Geral, em palavras simples, mas densas, descreve a situação da barca de Pedro...

Foi uma parte do caminho da Igreja que teve momentos de alegria e de luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos na barca no mar da Galileia: o Senhor nos doou tantos dias de sol e de leve brisa, dias no qual a pesca foi abundante; houve momentos também nos quais as águas eram agitadas e o vento contrário, como em toda a história da Igreja, e o Senhor parecia dormir. Mas sempre soube que naquela barca está o Senhor e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é Sua. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também através dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza, que nada pode ofuscá-la. E é por isto que hoje o meu coração está cheio de agradecimento a Deus porque não fez nunca faltar a toda a Igreja e também a mim o seu consolo, a sua luz, o seu amor.

Estamos no Ano da Fé, que desejei para reforçar propriamente a nossa fé em Deus em um contexto que parece colocá-Lo sempre mais em segundo plano. Gostaria de convidar todos a renovar a firme confiança no Senhor, a confiar--nos como crianças nos braços de Deus, certo de que aqueles braços nos sustentam sempre e são aquilo que nos permite caminhar a cada dia, mesmo no cansaço. Gostaria que cada um se sentisse amado por aquele Deus que doou o seu Filho por nós e que nos mostrou o seu amor sem limites. Gostaria que cada um sentisse a alegria de ser cristão.2

Discurso de Bento XVI na última audiência geral de seu pontificado (27 de fevereiro de 2013).

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A metáfora da ‘barca de Pedro em águas turbulentas’ traduz aquilo que os cristãos católicos estavam sentindo. Desesperança, redes vazias. Talvez a metáfora de Jesus que parecia dormir nos faz pensar em dois aspectos: a confiança divina no ser humano que com suas fragilidades, seus medos busca, com suas forças, colocar essa barca em mar calmo; demonstra o sentido de sua confiança no Pai, que pelo Espírito, é capaz de ordenar o caos. Do caos das águas o Espírito pode suscitar algo novo, um respiro para a própria Igreja e um revigoramento à Vida Consagrada – lançar as redes para águas mais profundas. Além disso, as águas turbulentas, o movimento da decantação que separa as impurezas para que atinja sua verdadeira essência.

O momento atual da Igreja deve ser lido à luz da caminhada de Emaús (Lc 24,1-33). A Igreja chegou à encruzilhada do caminho de Emaús, no escurecer, em seu sentido bíblico – a hora das trevas – e teve/tem de fazer a opção fundamental de convidar o Mestre, como os discípulos o fizeram: “permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina” (Lc 24,29). Em outras palavras: “É noite, e o Senhor é a luz do mundo, entre em nossa casa, em nossa comunidade, pois estamos na escuridão... Se o Senhor passar, perdemos a Luz. Fique conosco, Senhor, entre em nossa casa, não passe adiante, faça nosso coração arder... estamos desesperançados”. O texto lucano mostra o caos da comunidade que não compreende e ainda não digeriu o processo da morte de Jesus. Restavam as quinquilharias, os ressentimentos, as ninharias, as dúvidas, os messianismos, a desesperança, a falta de fé (Lc 24,18-24. O coração acomodado, indiferente, que já estava disposto, no momento da encruzilhada, fazer com que cada um optasse por seguir o seu caminho individual

e permanecer na escuridão. E o próprio Mestre, após confrontá-los e chamá-los de “insensatos e lentos de coração” (Lc 24,25) e recordar-lhes a Escritura, simula seguir adiante e provar-lhes: fazê-los enxergar, provocar-lhes um choque, fazê-los retomar o caminho da comunidade, do encontro, da oração, do partir o pão, da condivisão da vida que é marcada por pecados e virtudes, o que não nos diminui. Por isso, Deus nos fez assim. Somente assim o coração da comunidade volta a arder. Certamente, a simulação do Mestre em passar adiante é proposital... é a impressão do forasteiro não acolhido, que se vê sem lugar; os discípulos ainda estavam preocupados com seus projetos pessoais e o Mestre pode ter se sentido excluído...; mas a memória do ensinamento da Palavra faz com que retomem à sensibilidade e convidem o ‘desconhecido’ para entrar na casa, lugar da intimidade, das relações, onde se desenrola a cotidianidade da vida.

Parece ser este o momento eclesial. A escolha de “alguém do fim do mundo”, do ilustre desconhecido que assume para si o nome comum dos mortais – Francisco (pobre e missionário), que convida a pensar em tempos novos do Bispo de Roma que “preside na caridade outras igrejas” e da colegialidade, revela para nós o tempo auspicioso da esperança, da fé provocativa que faz reconstruir os caminhos e convida a comunidade eclesial em todos os sentidos à necessidade de ser discípula, a caminhar, a confrontar-se e a fazer a opção pelo essencial que é Jesus Cristo, a razão de nossa vida cristã e da nossa Vida Consagrada, com nossos vícios e virtudes. É tempo de retornarmos ao nosso ‘primeiro amor’ que nos motivou e motivará a seguir o caminho da Vida Consagrada. Chegamos ao momento crucial: ou arriscamos a chamar o forasteiro que nos traz a luz ou morreremos

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na escuridão de nossas certezas fundadas em um coração incapaz de se entusiasmar e arder com a força da luz redentora, que nos faz retomar as Escrituras e, ao partir do pão, voltar à comunidade para dividir a alegria do que experimentamos (Lc 24,33).

O Papa Bento XVI, em A porta da fé, propõe a toda a Igreja, neste ano da fé, a profissão do Credo, intensificar a celebração da fé na liturgia, e de modo especial a Eucaristia, e o estudo dos conteúdos do Credo, que se encontram no Catecismo da Igreja Católica. Precisamos ir além. Assim como Paulo recorda os antepassados na fé, para nós Redentoristas é um momento de revigorá-la retomando a vida dos nossos antepassados na fé, em chave hermenêutica nova. É de fundamental importância relembrar os demais santos e beatos redentoristas, estudar e rezar a vida dos nossos mártires, pois são o testemunho daqueles que professaram a fé a ponto de darem a própria vida; meditar os textos fundantes da Congregação Is 61 e Lc 4,14-22, considerando os novos desafios pastorais que nos são propostos, e a reestruturação da Congregação pode-nos trazer novos insights carismáticos de como acolher nossos destinatários e, com eles, anunciar a Boa-Nova do Reino; reler as nossas Constituições e Estatutos, nosso quinto evangelho, à luz das novas transformações sociais, econômicas, tecnológicas, religiosas, culturais etc. e perceber nelas quais são os fundamentos que podem nos sustentar nesse mar tempestuoso e nas estradas e encruzilhadas de Emaús, e quais são os pontos que devemos atualizar, pois já não respondem adequadamente às novas transformações.

Da mesma forma que nosso organismo necessita do alimento cotidiano, também a nossa fé precisa nutrir-se. Essa nutrição acontece pelo cultivo da espiritualidade pessoal e comunitária por meio da oração, meditação, estudo e meditação cotidiana e da vida apostólica. A espiritualidade garante-nos, não somente o avivamento da fé, mas também de nossa vocação, o revigoramento do nosso ‘sim cotidiano’, o sentido de nossa consagração e a forma de agirmos com os nossos destinatários. Isso não quer dizer que estaremos isentos das noites escuras. Aliás, tantas vezes o caminho da fé é trilhado na incerteza e nas noites escuras; o coração ardente pelo desejo de Deus faz encontrar a trilha correta e a certeza de chegar ao destino correto, mesmo se o mar é tempestuoso e o Senhor parece dormir. “A fé nos dá segurança, paz e convicção de que estamos constantemente envolvidos pelo amor de Deus.” A fé constitui uma diferente visão do mundo, um outro modo de ver, principalmente, aquilo que é difícil.

O último Capítulo Geral nos convida a “anunciar o Evangelho de modo sempre novo – com esperança renovada, corações renovados, estruturas renovadas para a Missão”. Para isso, devemos dar o salto qualitativo da fé e percebermos no convite à desinstalação, ao caos. O Espírito que renova o terreno dos nossos corações para que possam se renovar e florescer só age na caoticidade de nossas dúvidas, de nossas incertezas, na tomada de consciência de que é preciso convidar o Senhor para que ele permaneça conosco, faça-nos ver novos horizontes e o nosso coração arder e nos livre do que nos impede de sair correndo e anunciar o que experimentamos em Sua presença.

3. Retorno às fontes orantes

Roma, 15 de março de 2013Festa de S. Clemente Maria Hoffbauer.

4. O que precisamos revigorar

Cf. BENEDETTO XVI. La porta della fede (Motu proprio, 2011). Città del Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2002, p. 14-22.

DAJCZER, Tadeusz. Meditações sobre a fé. São Paulo: Palavra & Prece, 2007, p. 33.

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A partir da leitura do texto de Sofonias 1,8-13, nota-se uma realidade de domínio e opressão da Assíria sobre o reino de Judá. Mesmo oprimido pelos assírios, em Judá, havia uma pequena elite que vivia mergulhada no luxo, com sede de poder e alheia ao sofrimento das classes empobrecidas, que eram as grandes vítimas da exploração econômica e do domínio dos assírios. Neste contexto de exploração e dominação surge o profeta Sofonias que, com ousadia profética, denuncia a exploração injusta da elite dominante, se coloca ao lado dos pobres injustiçados e propõe que estes fossem o sujeito histórico

na reconstrução de uma nova sociedade, sem monarquia e sem opressão.

A realidade de exploração do período de Sofonias repete-se na América Latina. Os pobres latinoamericanos também clamam por justiça em uma sociedade marcada por injustiças sociais e explorações que mancham a dignidade humana. A situação dos pobres hoje é semelhante à situação dos pobres da época de Sofonias: são vítimas da ganância da elite opressora que sugam da população empobrecida seus bens com altos tributos (impostos).

A realidade de exploração dos pobres latinoamericanos levou a Igreja a assumir a causa dos empobrecidos. Nas Conferências

Fr. Luis Almir Gonçalves, C.Ss.R.

O café, 1935 Candido Portinari

O CLAMOR PROFÉTICO DOS POBRES

Introdução

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Contextualizando o profeta Sofonias

Episcopais de Medellín, Puebla e Aparecida, a Igreja latinoamericana fez a opção pelos pobres. Essa opção vai ao encontro daqueles que estão em situação de opressão e faz compreender e ver que a pobreza não é uma fatalidade, mas consequência da ganância daqueles que, com sede de poder e riquezas, oprimem os mais fracos.

O livro do profeta Sofonias apresenta um Deus libertador e sujeito na história. Não é um Deus ocioso, neutro, distante e indiferente que “não faz o bem nem o mal” (Sf 1,12). A elite judaica de Jerusalém ignorava a atuação de IHWH na história e por isso agia como se Ele não existisse. Por isso, Sofonias denuncia esta elite que, distante de Deus, oprimia o povo pobre. Sofonias denuncia um sistema gerador de exploração e a produção da miséria, causada pelos dirigentes do povo e pelos grandes proprietários de terra, chamados de “o povo da terra” que oprimiam o povo para manter-se no poder e para sustentar uma vida cheia de regalias, tais como, a importação de vestes estrangeiras (Sf 1,8).

As vítimas principais desta política opressora eram os “pobres da terra”, pequenos camponeses que tinham suas produções confiscadas pelo comércio para manter a vida luxuosa da elite opressora e a exuberância do palácio e do Templo. “Os pobres da terra eram os lavradores espoliados pelo regime tributário.”5 Diante de uma realidade de opressão e injustiça, Sofonias propõe uma alternativa deixando claro que o mais perfeito santuário é a pratica da justiça.

O projeto de Sofonias seria a renovação total da sociedade feita a partir dos pobres e fracos que praticam a justiça. Por isso ele colocou-se ao lado dos pobres e

injustiçados; elencou fortes críticas a grupos que exploravam o povo por meio de suas manipulações e afirmou que IHWH estava ao lado dos oprimidos. Toda mensagem profética de Sofonias se norteia em defesa dos pobres e oprimidos.

Sofonias fez parte de um movimento que visava estabelecer uma nova sociedade sem opressão e sem injustiças. As classes dirigentes do país eram distantes do povo, arrogantes, opressoras e submissas ao imperialismo assírio. Para o profeta e seus seguidores, Judá não poderia ser lugar de paz enquanto fosse governada por uma elite corrupta e alheia a preceitos religiosos de IHWH, e cuja segurança estava depositada na prata e no ouro, na abundância de casas e terras tomadas a preço de violência e de fraudes.6

Sofonias não defende o pobre simplesmente por ser pobre, mas porque eles são fiéis a IHWH. Para ele, a fidelidade é o início de uma nova sociedade. Na perspectiva de Sofonias é o povo pobre que pode servir de modelo de conversão. No meio dos humildes a paz tem chance de brotar e florescer. Sofonias foi capaz de perceber Deus agindo na história e ao mesmo tempo ter consciência da realidade opressora em que estava vivendo seu povo. O profeta não só denuncia as injustiças que escraviza o povo, sobretudo os pobres, como também apresenta um projeto de esperança que nasce a partir dos empobrecidos. Ele anunciou a salvação a partir dos pobres porque eles colocam a confiança e a esperança em IHWH.

GORGULHO, Gilberto. Sofonias e o valor histórico dos pobres. In: RIBLA. N. 3. Petrópolis: Vozes; São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Imprensa Metodista, 1989, p. 28.SOARES, Sebastião A. Sofonias, filho de negro, profeta dos pobres da terra. In: A opção pelos pobres como critério de interpretação. RIBLA. N. 3. Petrópolis: Vozes; São Leopoldo: Sinodal, 1989, p. 24.

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6

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18 revista - Diálogo

O sistema de injustiça repete-se na atualidade

Missão da Igreja: ser pobre com os pobres

Os pobres de hoje, como no tempo de Sofonias, não são contemplados pelo poder público que visa responder somente aos interesses da classe elitizada. É perceptível na sociedade atual a presença da pobreza que exclui milhares de pessoas do convívio social. Em todos os lugares e cidades, esta exclusão se faz presente. Nas grandes metrópoles, milhares de pessoas vivem debaixo de pontes, viadutos e moram nas ruas, sem a mínima dignidade. Os pobres não são valorizados porque estão fora da dimensão capitalista que visa somente o consumo e o lucro. Os clamores das classes empobrecidas não são ouvidos, seus lamentos são ignorados e suas lágrimas não comovem ninguém.

É perceptível que, na história da humanidade, a ideologia e a opressão aos pobres sempre estiveram presente. Na época de Sofonias, como ainda hoje, existe essa realidade opressora. Muda apenas a maneira, mas permanecem os mecanismos de opressão. Assim, a estrutura dominante da sociedade continua sendo exercida por meio da hierarquia. A maioria da população – os mais pobres – continua sendo explorada.7

A realidade histórica e social da América Latina é caracterizada pela pobreza injusta e cruel. A fome e a pobreza, embora não sendo termos equivalentes, representam uma das faces mais perversas do modelo de desenvolvimento da maioria dos países da América Latina. Há um conjunto imenso de pessoas desprovidas de bens, excluídas socialmente e privadas de cidadania em, praticamente, todos os países do continente latinoamericano.

A partir da missão de Jesus de anunciar e concretizar o Reino de Deus no meio do povo pobre percebe-se o quanto se torna exigente para a Igreja viver a fidelidade ao projeto de Cristo: dar continuidade à concretização do Reino no meio de uma humanidade tão marcada pela busca exagerada de privilégios, já que “Jesus busca a vontade de Deus, buscando soluções concretas e eficazes. Ele não apenas anunciou uma boa nova, mas a realizou”.8 Esta missão de Jesus é hoje a missão da Igreja: colocar-se ao lado dos pobres e excluídos da sociedade. O Reino de Deus exige uma ação concreta de transformação das estruturas injustas e de vidas ameaçadas em decorrência da exclusão. “O Reino de Deus e situações de injustiças, exploração e de opressão não combinam entre si. Tais situações, onde quer que sejam encontradas, com certeza, são opostas à realidade denominada Reino de Deus.”9 “Viver a fé em Jesus Cristo libertador supõe um compromisso com a libertação histórica dos oprimidos.”10

Assim, a Igreja tem a árdua tarefa de denunciar as injustiças que produzem exclusões. Negar esta missão é negar a verdade do Evangelho e abandonar o seguimento de Jesus. É dever da Igreja: denunciar tudo que é injusto e ameaça a vida. É papel irrevogável da Igreja descobrir nos rostos sofredores dos pobres o rosto do Senhor. É algo que desafia todos os cristãos a uma profunda conversão pessoal e eclesial, já que “constata-se uma divisão profunda entre ricos e pobres que é tanto mais dolorosa quando sabemos que uns e

ABDALLA, Maurício. Combate à pobreza ou nova economia. In: Opção pelos pobres no século XXI. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 217.

SOBRINO, Jon. Jesus na América Latina. São Paulo: Loyola, 1985, p. 199.BLANK, Renold J. Escatologia do Mundo. O projeto Cósmico de Deus. Escatologia II. São Paulo: Paulus, 2001, p. 128.BOFF, Leonardo. Jesus Cristo libertador. 20ª ed. Petrópolis: Vozes, 2009, p. 15.

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9

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19revista - Diálogo

Opção pelos pobres na Igreja latinoamericana

A Igreja, a partir do Concílio Vaticano II, redescobriu o valor do pobre na sua missão evangelizadora. Esta nova postura foi incentivada pelo Papa João XXIII que, no alvorecer do Concílio Vaticano II, afirmou: “A Igreja apresenta-se como é, e quer ser a Igreja de todos, mas, particularmente, a Igreja dos pobres”.13

A busca de uma Igreja autenticamente pobre foi proposta em Medellín. A Igreja latinoamericana percebeu a necessidade de ser uma Igreja autenticamente pobre, missionária, desligada de todo o poder temporal e, corajosamente comprometida com a libertação dos oprimidos. Medellín mostra, com vivacidade, que a Igreja deve ser pobre, como queria João XXIII; como de fato é a sua natureza em Jesus Cristo. Os bispos da América Latina “deram outro rosto à Igreja – imagem daquilo que seria uma Igreja segundo o Vaticano II”.14

O caminho aberto pela Conferência de Medellín teve prosseguimento com a de Puebla: nesta Conferência, a Igreja descobre a necessidade de ser solidária com os pobres. Um dos fortes gritos proféticos de Puebla foi a afirmação de que a América Latina sofre a opressão de uma injustiça institucionalizada, geradora de violência. Puebla afirma que Deus é o defensor dos

BOFF, Clodovis; BOFF, Leonardo. Da libertação: o teológico das libertações sócio-históricas. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1983, p. 12.

O documento de Aparecida reafirma, sem sombras de dúvidas, a validade teológica e pastoral da opção preferencial pelos pobres e dedica-lhe nada menos do que oito parágrafos para ratificar e potencializar a opção preferencial pelos pobres feita nas conferências anteriores (396). (OLIVEIRA, Pedro A. Ribeiro. Opção pelos pobres no século XXI. São Paulo: Paulinas, 2011, p. 10).

SOBRINO, Jon. Ressurreição da verdadeira Igreja: os pobres, lugar teológico da eclesiologia. São Paulo: Loyola, 1982, p.133.

BOMBONATTO, Vera Ivanise. Jesus e a opção pelos pobres. In: Opção pelos pobres no século XXI. Pedro A. Ribeiro de Oliveira (org). São Paulo: Paulinas, 2011, p. 139.

CAMPANA, Oscar. Jesus, os pobres e a Teologia. In: Descer da cruz os pobres. Cristologia da libertação. José Maria Vigil (org). São Paulo: Paulinas, 2007, p. 59.

DOCUMENTO DE APARECIDA. Texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. 11ª ed. Brasília: Edições CNBB; São Paulo: Paulus, 2009.

COMBLIM, José. O povo de Deus. São Paulo: Paulus, 2002, p. 90.

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14

outros professam a mesma fé”.11 Dom Pedro Casaldáliga afirmou: “A Igreja dos pobres é estruturalmente a forma verdadeira de ser a Igreja de Jesus; nela se encontra o canal estrutural de aproximar-se cada vez mais da Igreja da fé, e ela deve ser o sacramento histórico de libertação”.12

pobres e está ao lado dos pobres (Puebla n. 1142).

A V Conferência Geral do CELAM, realizada em Aparecida,15 retomou a opção preferencial pelos pobres dentro da dimensão do seguimento de Jesus. No discurso de inauguração desta Conferência, Bento XVI afirmou: “A Igreja está convocada a ser advogada da justiça e defensora dos pobres” (DAp. n. 395). “O papa também afirmou claramente que a opção preferencial pelos pobres está implícita na fé cristológica, naquele Deus que se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza.”16 A Conferência de Aparecida convida todos os cristãos a contemplarem o rosto de Jesus nos rostos de tantos irmãos sofridos do nosso continente e afirma que “os rostos sofredores dos pobres são os rostos sofredores de Cristo. (...) Tudo o que tem relação com Cristo tem relação com os pobres, e tudo o que está relacionado com os pobres clama por Jesus Cristo” (DAp. n. 393).17

Assim, nas Conferências de Medellín, Puebla e Aparecida, a Igreja fez a opção preferencial pelos pobres como elemento constitutivo e necessário para a vida cristã e para a evangelização da América Latina. A opção pelos pobres deve ser uma característica fundamental dos continuadores do Projeto de Jesus. Esta opção deve configurar a vida do cristão como configurou a de Jesus de Nazaré, o crucificado entre os crucificados da história.

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BOMBONATTO, Vera Ivanise. Jesus e a opção pelos pobres, p. 140.18

“A opção preferencial pelos pobres deve ser um dos traços característicos do rosto da nossa Igreja e do nosso modo de ser cristão.”18 Com esta atitude profética – em favor das classes empobrecidas – a Igreja Latinoamericana afirma que o Cristo de Nazaré se faz presente nos rostos sofridos deste continente, e que nos rostos do povo latinoamericano reflete-se o rosto de Jesus Cristo. É a construção de uma imagem de Cristo com características bem próprias do nosso continente. José Comblin afirmou:

Como no tempo de Sofonias, hoje, muitas pessoas morrem de fome, estão desamparadas pelo Estado, enquanto que há um acúmulo de bens nas mãos de poucos. Onde há acúmulo, há miséria e fome. É a mesma história revivida em tempos e lugares diferentes. Estamos vivendo em um contexto histórico diferente, mas os pobres continuam sendo dominados e oprimidos por poderosos que almejam o poder.

No continente latinoamericano, a miséria e a fome são realidades gritantes que desfiguram a dignidade humana. É a história dos pobres da terra – período do profeta Sofonias – revivida no século XXI. É a mesma cena, o mesmo roteiro, mudaram apenas os personagens; é a história de ontem que se repete no presente. O tempo passa, mas a difícil situação dos pobres continua. Por isso precisamos de “novos Sofonias” que tenham a coragem de denunciar as injustiças e a ousadia de proclamar que os pobres são pessoas humanas e, viver com dignidade, é para eles um direito irrevogável. Portanto, defender

Conclusão

os pobres é uma missão irrenunciável da Igreja. Quando ela não cumpre esta missão corre o risco de tornar-se mais uma opressora das classes oprimidas.

Nas Conferências Episcopais de Medellín, Puebla e Aparecida, a Igreja latinoamericana assumiu a causa dos empobrecidos, ao proclamar a sua opção preferencial pelos pobres. Todavia, esta opção pelos pobres deve ser sempre atual, essencial e necessária, pois optar pelos pobres é optar pelo Deus de Jesus. “E essa opção será realmente opção quando expressar-se por meio de atitudes e gestos concretos. Somente belas palavras não bastam; é preciso ação. É necessário descer das cruzes os crucificados.”

Dentro do contexto de empobrecimento latinoamericano, a profecia de Sofonias torna-se, neste continente, um grande clamor que denuncia as injustiças, as condições sub-humanas de sobrevivência de grande parte da população e ao, mesmo tempo, transforma-se em esperança na promoção da vida, com a implantação da justiça e da igualdade. A denúncia e o grito profético de Sofonias são provocações para que se tomem atitudes corajosas e coerentes com a fé cristã que professamos. Sem essas atitudes, podemos até dizer que somos cristão, mas não podemos dizer que somos fiéis seguidores de Jesus de Nazaré.

Ignácio Ellacuría cunhou pela primeira vez a expressão “descer da cruz o povo crucificado” para formular a fé cristã (SOBRINO, Jon. A fé em Jesus Cristo. Ensaio a partir das vítimas. [Coleção Teologia e libertação. Série II. Tomo II] Trad. Ephraim Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 2000, p. 79). Ignácio refere-se aos pobres como os “povos crucificados”; e Oscar Romero não hesitou em afirmar que os pobres são, hoje, “o Corpo de Cristo” crucificado na história (BOMBONATO, Vera. Jesus e a opção pelos pobres, p. 151).

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No mês de outubro de 1897, apenas três anos depois de chegarem ao Brasil, quando ainda mal sabiam falar a nossa língua, os redentoristas alemães, conhecidos como “missionários da capela”, pregavam a sua primeira grande missão de oito dias na cidade de Areias, SP. Lá estiveram os padres Valentim e Miguél Siebler, e, segundo as crônicas da época, missionaram a cidade aconvite do padre Julio Marcondes, e apesar de sua insegurança, a missão alcançou os seus objetivos.

O curioso é que, talvez pelo fato de estar mais próxima de Aparecida, a cidade de Areias nunca mais foi missionada nos 100 anos seguintes, apesar de muitos

redentoristas passarem por lá em trabalhos como novenas, semanas santas, festas, mas não em missão.

O livro do padre João Gomes, “Missões Redentoristas – 85 anos de evangelização da Província de São Paulo”, traz dados abundantes e variados sobre esse apostolado, que juntamente com o atendimento do Santuário de Aparecida, tornou os redentoristas conhecidos em todo o Brasil e no mundo.

Por isso, aqui me limito a dar algumas pinceladas sobre as missões nos últimos 30 anos do século XX (1968 a 1997).

No arquivo central das missões, que fi ca na cidade de Araraquara, há pastas e

Pe. Inácio Medeiros, C.Ss.R.

MISSIONÁRIOS REDENTORISTAS – 100 ANOS DE MISSÕES NO BRASIL

(1968 a 1997)

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22 revista - Diálogo

arquivos que registram todo o trabalho missionário realizado de 1968 até hoje. Valeria a pena um estudo mais aprofundado sobre a história das missões e o contributo dos redentoristas com a história de nosso país e da Igreja no Brasil.

De 1968 até 1997 as equipes missionárias de São Paulo, trabalhando também em conjunto com equipes de outras províncias, pregaram as missões em 473 cidades, com uma média de 15 cidades por ano. Se nós colocarmos 10 comunidades missionadas por cidade, os redentoristas terão pregado uma média de 150 missões por ano.

O ano em que houve o maior número de cidades missionadas foi o de 1971, quando as equipes estiveram em 23 cidades. O ano em que percorreram menos cidades foi o de 1993, quando missionaram apenas sete cidades. Mas nesse ano houve a grande missão de Araraquara que tomou todo o primeiro semestre.

Contando apenas as cidades com mais de 50 mil habitantes, nos 30 anos em questão foram pregadas missões em 11 cidades de São Paulo, oito de Minas Gerais, seis do Paraná e seis de outros estados.

Nos últimos anos da década de 1990 as nossas equipes tinham se restringido mais aos estados de São Paulo e Minas Gerais, nossa área de atuação. Isso se deve a uma diminuição na colaboração entre as equipes de missão das outras províncias, como o enfraquecimento e dissolução de algumas delas. Por outro lado, aconteceu a criação de equipes missionárias na Vice-Província de Salvador, BA, e Vice-Província de Manaus, AM.

Como exemplo das missões pregadas nesse período, elencamos algumas das cidades que servem como destaque:

Realidade dos números

Observação: O número entre parênteses corresponde ao número de cidades missionadas naquele ano

1968: Paranaguá, PR (20)

1969: Presidente Prudente, SP (11)

1970: Ponta Grossa, PR (18)

1971: São Carlos, SP (23)

1972: Presidente Epitácio, SP (19)

1973: Jataí, GO (22)

1974: Cachoeira do Sul, RS (17)

1975: Curitiba, PR (14)

1976: Marília, SP (15)

1977: Joinville, SC (15)

1978: Londrina, PR (16)

1979: Corumbá, MS (15)

1980: Passos, MG (18)

1981: Pouso Alegre, MG (15)

1982: Coari, AM (16)

1983: Ponta Grossa, PR (16)

1984: Santa Helena e Rio Verde, GO (18)

1985: Piracicaba, SP (11)

1986: Formiga, MG (15)

1987: Três Corações, MG (11)

1988: Alfenas, MG (14)

1989: Apucarana, PR (16)

1990: Caratinga, MG (12)

1991: Presidente Prudente, SP (12)

1992: Atibaia, SP (16)

1993: Araraquara, SP (07)

1994: Lençóis Paulista, SP (13)

1995: Varginha, MG (12)

1996: Passos, MG (13)

1997: Amparo, SP

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23revista - Diálogo

Araraquara, Assis, Apucarana, Bauru, Formiga, São Paulo, Ilhéus, Guaratinguetá, Lages, Londrina, Curitiba, Ponta Grossa, Piracicaba, Presidente Prudente, São José do Rio Preto, Varginha, Marília, Pouso Alegre...

A partir dos anos 1980, nossas equipes missionaram pelo menos um bairro de São Paulo a cada ano.

Nos 100 anos de missão no Brasil, portanto, de 1897 a 1997, dos quais tratamos aqui, nossas equipes pregaram em mais ou menos 842 cidades, incluindo aquelas que foram missionadas diversas vezes. As nossas equipes pregaram 30 anos (1968 a 1997), aqui citados quase 50% de todas as missões pregadas pelas equipes missionárias da província de São Paulo. Como exemplo, colocamos três cidades que foram missionadas diversas vezes nesses 100 anos de missão:

Assis, SP: 1933, 1957, 1958, 1973, 1984 e 1992.

Pouso Alegre, MG: 1925, 1926, 1934, 1941 e 1981.

Amparo, SP: 1922, 1931, 1936,1947, 1957 e 1997.

Nesses 100 anos, trabalhando em conjunto com as equipes missionárias de outras províncias, os redentoristas de São Paulo já estiveram pregando as missões em todas as regiões do Brasil.

Estados percorridos: 14 (com registro em arquivo).

Cidades percorridas: 842.Capitais de estados já missionadas:

Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba, São Paulo, Recife, Goiânia, Brasília, Belém, Manaus, Campo Grande, Rio de Janeiro e Cuiabá.

Algumas dessas capitais foram missionadas no seu todo, outras tiveram apenas alguns bairros ou paróquias missionadas.

Pontos de Destaque

Grandes missões realizadas (1968 a 1997)

A partir do Concílio Vaticano II (1962 – 1965), a Província de São Paulo soube renovar seu método missionário. Enquanto outras congregações religiosas, e mesmo algumas províncias redentoristas, abandonaram esse método de pregação do evangelho, os redentoristas de São Paulo não passaram um ano sequer sem a pregação de missões. Nossas equipes missionárias, que nessas três ultimas décadas fixaram residência em Araraquara, Tietê e São João da Boa Vista, sempre foram compostas pelo menos de seis membros cada uma, podendo, dessa forma, manter o ritmo de trabalho evangelizador. Em 1996, a equipe das Santas Missões era formada por 27 missionários, ou seja, quase 17% dos membros da província de São Paulo estavam envolvidos direta ou indiretamente com a pregação das Santas Missões.

Do resultado desse trabalho e da grande carga de informações que temos disponíveis em nossos arquivos, podemos tirar algumas conclusões.

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Presença na vida e nos acontecimentos da Igreja:

Por meio das Santas Missões os redentoristas puderam se fazer presentes em grandes acontecimentos da Igreja como os Congressos Eucarísticos do Rio de Janeiro, São Paulo e Aparecida. Muitas províncias, dioceses e paróquias viram nas Santas Missões um meio eficaz de preparação para o terceiro milênio. Em decorrência disso os pedidos de missões se multiplicaram.

Intercâmbio entre as províncias redentoristas: Foi um fato constante em toda a história das missões, integrando, sobretudo, as equipes de são Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e Santa Catarina. Essa integração acontecia pela necessidade de somar forças em vista das grandes missões, estudos conjuntos e participação em assembleias e congressos. Nos últimos anos diminuiu um pouco essa integração. A tendência era crescer a integração com a equipe da Vice-Província do Recife, PE, que agora era nossa Vice-Província.

Poder de convocação: Ao longo dos 100 anos aos quais nos referimos aqui, as Santas Missões mantiveram seu poder de arrebanhar e convocar o povo por ser movimento de massa. Por isso, muitos bispos e padres viam nas missões um método adaptado para atingir as grandes massas urbanas, como veio acontecendo nos últimos anos. O desafio que crescia a cada dia era a evangelização das grandes massas urbanas. Em geral, na concentração final de uma missão, reunia-se ao menos 50% de população urbana de um município.

Pastoral urbana: Um dos grandes desafios da pastoral nos últimos anos era a pastoral de massa, que foi tema também no congresso das CEBs em São Luís do

Maranhão. Os redentoristas vieram se caracterizando como especialistas nesse tipo de pastoral e são convocados pela eficácia e pela experiência nesse método pastoral.

Método missionário: Crescendo a preocupação com a organização das missões em vista da vida da comunidade, as missões passaram a ser organizadas em fases sucessivas que vão levando as comunidades a um crescimento continuado. A formação dos setores missionários como germes de comunidades foi a nossa grande conquista, que depois foi adaptada pela Igreja para outros movimentos de pastoral como novenas de natal, campanha da fraternidade e outros. Um dos métodos de pastoral mais utilizado nas comunidades, os círculos bíblicos, são uma das heranças das missões.

Transformações socioeconômicas: Os missionários redentoristas no seu trabalho evangelizador acompanharam de perto as transformações socioeconômicas pelas quais passaram o nosso país: Esvaziamento da zona rural, sobretudo, onde encontramos a introdução do cultivo da cana de açúcar, do gado, as plantações de laranja e eucalipto. Nos 30 anos muitos distritos transformaram-se em cidades, cidades do interior se esvaziaram, populações inteiras mudaram-se para as periferias das grandes cidades. E podemos falar ainda dos reflexos sentidos pelas constantes mudanças dos sucessivos planos econômicos.

Mudança dos objetivos das missões: Antes havia uma preocupação sacramentalizante, com a salvação vista numa dimensão mais espiritual, expressa no lema das missões: “Salva a tua Alma”. Depois esta preocupação foi minimizada pela preocupação com a estruturação da vida de comunidade como espaço de salvação integral “Unidos em Cristo, com

Pontos de destaque de nosso trabalho evangelizador

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Maria para viver e crescer em comunidade”. Se antes os critérios para avaliar o resultado de uma missão era o número de confissões e comunhões, ainda que esses dados permaneçam importantes, destaca-se a preocupação com a formação de setores, formação de lideranças, perseverança das comunidades missionadas e dinamização da vida paroquial.

Catequese e evangelização: Diante dos desafios constantes da evangelização inculturada e da evangelização das cidades, as missões continuavam sendo um instrumento eficaz de evangelização das cidades, pela catequese fundamental que oferecia e pela convocação à participação na vida de comunidade. Tanto assim que cresceu muito, nos anos da década de 90, o número de pedidos de missões para as grandes cidades.

Crescente influência dos meios de comunicação: Em toda a sociedade notava-se a crescente influência dos meios de comunicação social. Paralelamente à descoberta destes como meios eficazes de evangelização por parte da Igreja, as missões já desde o começo desse período estudado vinham se utilizando deles com grande eficácia, principalmente o rádio. Por isso sempre tivemos missionários se especializando na utilização dos MCS nas Santas Missões. Tornou-se fato bastante comum que numa grande missão, rádio, televisão, jornais, outdoors e meios de comunicação impressos fossem utilizados com mais intensidade.

Adaptações e renovação do temário das missões: Por meio de estudos, assembleias e encontros, outra preocupação foi a constante renovação do temário central das missões. Se a coluna central da pregação continuava sendo as “verdades eternas”, agora foram introduzidos temas e celebrações condizentes com os objetivos

das missões: Missa do missionário leigo, celebração do envio missionário, celebração do trabalho e outras.

Protagonismo dos leigos: Foi outra grande redescoberta da Igreja e das missões. Paralelo a isto o sistema de missões da Província de São Paulo deu um grande destaque ao trabalho missionário dos leigos. Na descoberta e formação de lideranças desde as primeiras fases da missão e depois na adesão dos leigos como missionários redentoristas estáveis a algumas equipes missionárias.

Trabalho de equipe: No passado tivemos grandes missionários como figuras de relevo na história da Igreja do Brasil. Durante décadas a coordenação das missões ficou centralizada nas mãos do missionário “Chefe da Missão”. Depois o enfoque deixa de ser colocado na pessoa de um ou de outro, passando a ser colocado no trabalho coordenado da equipe. Prova disso foi a criação do Conselho Missionário. Esta descentralização também fez sobressair os dons e valores individuais que antes ficavam escondidos. Pode-se dizer que passou a existir um “espírito de corpo” muito maior.

Formação das equipes missionárias: Ainda que existissem os missionários destacados exclusivamente para esse serviço, com as três equipes permanecendo mais estáveis em número, outros missionários sempre foram convocados para as grandes missões, favorecendo também a maior integração entre as diversas formas de pastoral. Antes, uma grande missão chegava a reunir 90 missionários, como foi o caso de Curitiba em 1959. O recorde desse período está também com Curitiba, em 1975, reunindo 60 missionários. Londrina, em 1978, reuniu 40. No período em questão uma grande missão reuniu de 25 a 40 missionários.

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Integração dos formandos e formadores: Nos primeiros 100 anos de missão e mesmo nas três décadas estudadas, havia a preocupação constante com a mística missionária da província que ia passando de uma geração para outra. Por isso, ao menos uma vez por ano os noviços participavam das missões e no período de férias eram pregadas pequenas missões extras para que os formandos e formadores pudessem delas participar. Outra preocupação vinha com a constante formação dos missionários e sua adequada preparação para a missão. Nos últimos anos destaca-se a realização de um estudo com duração de três meses, em 1987, e outro, em 1993. Esses estudos recriaram e rejuvenesceram a linha mestra das Santas Missões.

Preocupação com a perseverança: Esta era outra constante preocupação das equipes missionárias. Por causa disso, os últimos anos vieram se voltando para a prática da Renovação das Missões ou Pós-Missão. Além disso, foram criados outros meios de perseverança dos setores e comunidades missionadas: Fornecimento de subsídios de Pós-Missão para os grupos e setores, realização de uma romaria anual dos coordenadores e auxiliares, em Aparecida, criação de uma página especial no Jornal “Santuário de Aparecida”, criação de um programa diário na Rádio Aparecida e outro semanal, maior divulgação das missões nos meios de comunicação da província e a volta às comunidades missionadas, segundo solicitação de pároco.

Globalização e secularização: Ainda que constantemente renovado e adaptado, o sistema missionário dos redentoristas de São Paulo também sofreu com as consequências da globalização e da secularização, se bem que nos últimos anos renasceu por todo canto a religiosidade

Avaliação do ‘Trabalho Missionário’

Nos anos de 1950 e 1960 as Santas Missões tiveram o seu auge. Naquela época diversas congregações e quase todas as unidades redentoristas tinham suas equipes missionárias. As mudanças promovidas pelo Concílio Vaticano II, o envelhecimento dessas congregações religiosas, a dedicação a outras formas de trabalho pastoral, a diminuição do número das vocações e a perda de outro tanto de membros fez com que muitas deixassem de pregar as Santas Missões.

Depois nos anos 90 notava-se congregações retomando o trabalho missionário, províncias redentoristas criando suas equipes missionárias e até dioceses formando também suas equipes missionárias para trabalhos esporádicos. Vários redentoristas eram solicitados para ministrar cursos ou acompanhar a montagem e trabalho dessas equipes. Enquanto isso, a Província de São Paulo manteve suas equipes missionárias na ativa.

Mais uma vez tomamos a realidade dos números, ainda que seja esta uma visão parcial, para avaliar o trabalho missionário partindo do ano de 1968. Tendo como base os dados somados do ano de 1995, fazemos uma estatística aproximada para os 30 anos estudados (1968 – 1998):

popular. Outros elementos próprios de nossa cultura e educação continuaram influenciando, assim como novos desafios ou desafios persistentes que se faziam notar, tais como evangelizar a juventude, diminuição da participação dos homens, dificuldade de se atingir as classes média e alta, proliferação das seitas e grupos religiosos autônomos nas periferias de grandes cidades e outros.

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Quem é o Missionário Redentorista

É o homem da palavra, da pregação simples e facilmente compreendida, sendo acessível a todos. É o homem do confessionário, do atendimento de todos e o facilitador de milhares de conversões e volta para Deus.

É o homem do amor extremado à Igreja, da unidade com seus pastores e o orientador de comunidades. É o propagador da devoção a Nossa Senhora. É aquele que valoriza e celebra a religiosidade popular. É comunicador de massa, com linguajar simples e acessível à multidão.

É aquele que tem uma facilidade muito grande de arrebanhar multidão e encaminhá-la para a via de comunidade. É formador de comunidade e preparador de lideranças. Ele tem um trabalho subsidiário na pastoral ordinária.

Diversos elementos do trabalho missionário redentorista vão sendo passados de geração em geração. Alguns tornaram-se parte da ação pastoral paroquial ordinária, como os círculos bíblicos, que surgiam dos setores formados para as missões ou os subsídios de reflexão de caráter popular como as Novenas de Natal, Campanha da Fraternidade e outros.

Alguns elementos tornaram-se característicos do trabalho missionário

Comunidades missionadas: 6.300 (510 matrizes de paróquias, 2.340 comunidades urbanas, 120 comunidades distritais e 3.330 comunidades rurais). Setores formados: 63.000 Leigos suscitados e formados: 201.000 Famílias católicas evangelizadas: 1.890.000 População católica estimada: 11.220.000 Celebrações bíblicas: 1.590.000 Terços rezados: 49.410.000 Pregações feitas: 70.070. Instruções catequéticas: 48.500 Conferências de classe: 20.100 Conferências especializadas: 180 Missãozinhas para crianças: 28.100 Doentes visitados: 50.700 Programas de rádio: 660 Ritos penitenciais: 4350 Atendimentos pessoais (confissões) 1.356.000 Missas celebradas: 64.800Comunhões distribuídas: 12.300.000 Procissões da penitência 21.960 Outras procissões: 13.560 Cruzeiros levantados: 2.790

redentorista, sendo reconhecidos, aonde quer que se vá: O Toque do silêncio, a Procissão da Penitência, o Cruzeiro levantado no final das missões, o uso do logotipo das missões, conhecido como “munheca”, e a figura do missionário com o seu “jeito” característico de ser e a facilidade de lidar com o povo, falando de forma clara, simples e acessível.

Do trabalho missionário como tal, alguns elementos tornaram-se contribuições especiais ao trabalho evangelizador da Igreja ou paróquia missionada: Formação de setores, levantamento sóciorreligioso, estruturação das comunidades, dinamização de serviços e ministérios e celebração da religiosidade popular. Podemos dizer que o missionário redentorista foi se construindo ao longo dos 30 anos como uma figura, bastante conhecida na Igreja do Brasil, sobretudo nas comunidades já missionadas.

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28 revista - Diálogo

Os fatos históricos em si apresentam relevância conforme o ponto de vista de quem os analisa. Por isso a hermenêutica dos fatos coloca-os sempre como elementos doadores de sentido. Não se pode falar da gestação e criação de Ideias & Letras de forma isolada do contexto da criação e história centenária da Editora Santuário. A Editora é, não tanto seus elementos materiais (livros e produtos), mas o objetivo, a fi nalidade e o espírito daqueles que a criaram e a gerenciaram ao longo do tempo. Isso posto, ressalta-se aqui sua relevância na missão evangelizadora dos redentoristas.

O objetivo da continuação do anúncio missionário da Congregação, através

do meio impresso, deixa transparecer a centralidade do elemento humano nos trabalhos desenvolvidos pela Editora. Estender o apostolado redentorista para além das fronteiras de Aparecida esteve presente na criação do Jornal Santuário e das primeiras publicações, reforçando a inserção da Editora na perspectiva missionária da Congregação do Santíssimo Redentor. O mesmo espírito de simplicidade, com uma linguagem direta e compreensível às pessoas mais simples, marcou e marca grande parte das publicações. A criação da Editora, embora delimitada pela tradição redentorista do “anúncio explícito do Evangelho”, que, frente às demandas do meio editorial, poderia algumas vezes restringir-lhe o horizonte, tornou-se

Pe. Marcelo C. Araújo, C.Ss.R.

EDITORA IDEIAS & LETRAS E A MISSÃO REDENTORISTA

1. Nas Origens...

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29revista - Diálogo

O aperfeiçoamento dos processos administrativos, de controle e de marketing amplia demandas e exige respostas mais ágeis e mais complexas. Desde 2009, a partir de incentivo e impulso do Governo Provincial, a administração tem se empenhado no sentido de delinear os campos e características dos diferentes setores. A partir dos consecutivos planos estratégicos anuais, pouco a pouco vai se clareando competências e missão entre os setores relacionados ao editorial.

2. Um Complexo Editorial...

um marco na vanguarda missionária redentorista no Brasil, manifestando uma positiva visão de futuro dos fundadores da Província Redentorista de São Paulo.

A centralidade do elemento humano cobra uma mudança de mentalidade em relação aos meios. Muitos insistem em falar sobre o trabalho na gráfica. A concomitante criação do Jornal Santuário e fundação da Gráfica não redunda na precedência desta última em relação ao primeiro. O objetivo dos fundadores não foi construir uma gráfica, mas desenvolver um veículo com o qual se propagasse a pregação redentorista no Santuário a outros lugares. Não se nega a importância dos serviços gráficos, porém, mesmo com todo o desenvolvimento tecnológico, a Gráfica está mais vinculada ao operacional e administrativo, que ao ideológico ou à filosofia do empreendimento. De sua parte, o Editorial corresponde ao labor criativo no desenvolvimento e seleção dos conteúdos a serem veiculados, inserindo-se na perspectiva missionária e evangelizadora. Todavia, como opção estratégica da Província, a Gráfica associa-se à missão da Editora, e, ambas estão diretamente associadas à missão redentorista.

Desde final de 2011 (Planejamento para 2012), sob orientação da Direção, chegou-se ao conceito de Editorial CSSR, que engloba as Editoras Santuário e Ideias & Letras; a Gráfica e as Livrarias. Compreende-se assim por Editorial CSSR toda a atividade desenvolvida pela Província Redentorista de São Paulo na produção editorial, na produção gráfica e no comércio de livros, dentro da missão e vocação da Congregação do Santíssimo Redentor na Igreja e na sociedade. Essa visão de conjunto estabelece a inter-relação e a interdependência dos diferentes setores, convergindo para sua missão.

Considerando-se a sociedade plural e os espaços confessionais, especialmente da Igreja Católica, o Editorial CSSR assume a missão de “editar e produzir livros e subsídios que contribuam para o desenvolvimento humano e cristão, uma espiritualidade e uma devoção esclarecidas, o aperfeiçoamento pastoral e a reflexão teológica, sobretudo no campo da Moral, Mariologia e Teologia Pastoral, com a possibilidade de criar alternativas editoriais que representem uma contribuição à sociedade”. Na prática, essa visão não só amplia as possibilidades de ação, considerando-se a evolução dos meios de transmissão dos conteúdos, como também resgata ações anteriores no campo das mídias digitais (p. ex. Provedor de Internet Redemptor, Obras em multimídias), que demandam maior especialização e expandem os trabalhos editoriais para mídias não impressas.

O fato de há mais de 100 anos, através da Editora Santuário, a Província estar atuando no campo editorial, pode levar ao equívoco de se imaginar que a marca

3. Abertura ao Diálogo...

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Santuário tenha uma aceitação universal. Sabe-se, no entanto, que os referenciais teóricos da sociedade e cultura brasileiras atuais não são religiosos e tampouco católicos. Ao se pensar em livros de temáticas abertas e em sua disseminação nos meios culturais, a marca Santuário, por apresentar um caráter confessional, dificilmente teria uma penetração no universo acadêmico e de formação de opinião.

Essa não é uma preocupação recente. A perspectiva da amplitude do campo da evangelização pela imprensa já estava presente quando da criação do selo editorial “Vale Livros” em 1991. Seu objetivo inicial era absorver as publicações de caráter mais geral, porém, por questão de oportunidade, acabou se concentrando em livros para o segmento infanto-juvenil, tendo diversas obras premiadas. O foco comercial muito centrado em Aparecida, que não demanda um forte trabalho de marketing, corroborou para uma tímida performance nas vendas. A crise administrativo-financeira da Província e os processos de recuperação financeira acabaram levando à desativação do Selo entre 1999 e 2001. Até 2001 foram publicados 70 títulos.

Após a reestruturação administrativo--financeira da Editora, iniciada em 1997, foi retomado e aperfeiçoado o trabalho editorial com a composição de um novo Conselho Editorial, incorporando ao mesmo dois editores externos e o Pe. Márcio Fabri dos Anjos. Incentivado pela direção administrativa do Pe. João Batista de Almeida, o Conselho não só propôs linhas e iniciativas para o aperfeiçoamento do Jornal e das publicações da Editora Santuário, como também lançou argumentos sobre a necessidade de se estabelecer, através das publicações, um diálogo mais efetivo com a sociedade plural. A partir de um fórum

mais amplo, que envolveu o marketing e parceiros comerciais da Editora, foi lançada a ideia da criação de um novo Selo Editorial.1

Foram estabelecidas como linhas prioritárias para as publicações do novo Selo: abordagem humanística e analítica das relações e fatos humanos, disseminação e desenvolvimento de valores antropológicos, desenvolvimento do pensamento crítico brasileiro, relacionamento com o pensamento internacional, linguagem plural em diálogo com a grande sociedade. A criação do Selo demandou um trabalho de pesquisa do marketing que, após análise do mercado, levou à criação da marca Ideias & Letras, com o slogan: “Cultura é o nosso horizonte”.

Depois do trabalho de seleção de títulos e da definição dos logotipos da marca, o Selo Ideias e Letras foi oficialmente lançado em São Paulo, em dezembro de 2003, apresentando ao público 15 títulos nacionais e internacionais. No ano subsequente, juntamente com a Editora Santuário, esteve presente na bienal do livro de São Paulo.

Como nos primórdios da Editora Santuário, os trabalhos iniciais de Ideias & Letras não foram bem compreendidos, seja em nível da Província, seja no nível administrativo. Alguns imaginavam, por desconhecer o universo que se descortinava à frente, ser problemático abrir um leque muito amplo no editorial. Até o momento ainda persiste alguma desconfiança em relação a Ideias e Letras.

Sem desconsiderar a relevância do aspecto financeiro, é importante ter

Selo editorial corresponde a uma marca editorial, vinculada a uma Editora constituída. Não tem personalidade jurídica e normalmente visa agrupar nele títulos que a Editora não tem tradição de publicar. Institucionalmente é conhecido, pois sua marca é divulgada no mercado livreiro. Todavia, nas instituições do livro, é sempre visto através da Editora que o sustenta. Selos editoriais podem ser da própria Editora ou não.

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31revista - Diálogo

O Selo Editorial Ideias & Letras, a partir de 2006, foi sendo robustecido com a publicação de maior quantidade de títulos. Como consequência, não só tornou-se mais conhecido, como teve aumentada a cobrança por melhor distribuição no mercado livreiro nacional. Por não ter vida própria e, por inexperiência no campo comercial, ser considerado como mais um “produto” da Editora Santuário, o Selo não teve um tratamento diferenciado, uma vez que estava destinado a um público também diferenciado. No entanto, era mister que se desse maior abrangência e solidez ao catálogo. Os contatos com intelectuais em universidades de São Paulo e do Rio de Janeiro e a participação na feira internacional do livro em Frankfurt contribuíram para a criação de lastro e para a formação de um catálogo nacionalmente conhecido.

A necessidade de ter maior visibilidade e de um trabalho diferenciado,

4. Nasce uma Nova Editora...

Um apartamento locado, com área de 110m, distribuídos em 5 salas que abrigam a Direção Editorial, Editoração (3 colaboradores); Comercial/ Marketing (5 colaboradores), secretaria editorial/ recepção (1 colaboradora) e uma sala de reuniões.

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bem como o anseio por melhor posicionamento no mercado livreiro e por melhor relacionamento com os órgãos nacionais do livro premiram um processo de autonomia do Selo em relação à Editora Santuário. De forma gradativa, foram dando-se passos para isso. Depois de reorganizar as questões burocrático--administrativas, a secretaria editorial e organizar um espaço para a sede,2 no dia 6 de agosto de 2012, imediatamente antes do início da Bienal do Livro em São Paulo, foi inaugurada oficialmente a Editora Ideias & Letras, na R. Diana – 592, bairro de Perdizes, São Paulo – Capital.

A Editora Ideias & Letras mantém a missão de “editar e produzir livros em vários segmentos do conhecimento humanístico, apresentando aos leitores conteúdos que contribuam para o aperfeiçoamento das pessoas, a humanização da cultura e o desenvolvimento do pensamento crítico”. Essa missão em nada contrasta à missão da Editora Santuário, pelo contrário, a complementa. Enquanto a Editora Santuário nasce com uma vocação eminentemente confessional católica; a Editora Ideias & Letras, na perspectiva da missão redentorista que transcende o ambiente eclesiástico, origina-se em franca abertura e diálogo com o mundo da cultura brasileira, a partir do arcabouço do saber humanístico e não teológico ou pastoral (no sentido eclesiástico).

claro que, desde que se iniciou o trabalho editorial na Província, assumia-se, com todos os riscos inerentes, uma função não só religiosa, mas também social e cultural. Nessa perspectiva, tudo o que está em estágio inicial, antes de ter “rentabilidade” para quem o mantém, constitui-se em investimento. Por outro lado, um elemento inovador, inserido numa estrutura já consolidada, demanda transformação e atualização das técnicas e modos de produção editorial, bem como das questões administrativas e mercadológicas. É natural essa insegurança, pois o novo sempre impõe medo. Todavia, aferrar-se ao já conhecido seria regredir e correr o risco da mesmice, agonizar e morrer. Isso se dá tanto em relação à Gráfica, quanto às Editoras.

Ideias & Letras nasce como uma editora de porte médio e chegará ao final de 2013 com cerca de 270 títulos publicados. Entre os quais, destacam-se as áreas de:

3. Abertura ao Diálogo...

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32 revista - Diálogo

Filosofia: com a publicação de autores nacionais e internacionais, inovando as publicações nacionais pelas parcerias com autores de diferentes universidades brasileiras. Também, pela parceria com a Cambridge University, trouxe para o Brasil a coleção Companions de Filosofia, que incorpora os estudos mais atuais e avançados da área.

Psicologia: publicando obras nacionais e estrangeiras de caráter mais analítico, com abordagens práticas sem se deter ao técnico e específico das ciências psicológicas. Nesse campo também é a primeira Editora a publicar materiais na área da equoterapia.

Economia, Sociedade, História: sempre na perspectiva da análise crítica, buscando o desenvolvimento do pensamento crítico em relação aos diferentes vetores da formação da sociedade e da convivência humana.

Bioética e ética das ciências: abertura ao diálogo e às grandes questões éticas no campo da biologia e das ciências.

Formação de lideranças, comportamento, conhecimento e bem- -viver: obras destinadas ao público geral, buscando a formação de lideranças e da consciência solidária.

A solidez do catálogo e do trabalho editorial contribuiu para a grande aceitação da Editora nas universidades brasileiras. O trabalho dos editores, redentoristas e leigos, corresponde a um verdadeiro apostolado, aos moldes de Clemente e Afonso, que não se furtaram ao diálogo com o mundo acadêmico e as forças sociais e culturais de seu tempo. O apelo à reestruturação exige formas e métodos novos para o agir missionário redentorista. O grande desafio, que está no horizonte da Editora Ideias & Letras, é estabelecer um diálogo profícuo com

os agentes da sociedade e das ciências, de forma a propor-lhes, sem discriminação ou arrogância, os valores do Evangelho, que são valores essencialmente antropológicos, como proposta viável e realizadora de vida.

A prioridade dos pobres e das periferias humanas não exclui o diálogo com a intelectualidade, que pode contribuir para a superação das injustiças. A riqueza do Reino transcende a perspectiva material e toca a alma humana, que é a dimensão do ser humano capaz de reverter os rumos da história. Se os meios acadêmicos nacionais, influenciados pelo positivismo e/ou cientificismo, subestimam a capacidade dos cristãos e resistem ao seu discurso, são os cristãos os primeiros a abrir fronteiras e a colocar-se em atitude de diálogo, porque acreditam e confiam na realidade do Reino.

Novos desafios e sonhos se impõem nesses 10 anos de existência da Editora Ideias & Letras. No dia 19 de setembro último, em Campinas, foi inaugurada a primeira Livraria Ideias & Letras. Ao mesmo tempo, por abranger um campo que transcende ao eclesiástico, a Editora precisa firmar seus passos de forma independente. Para tanto, deverá desenvolver departamentos de marketing e comercial próprios, ampliar seu editorial, efetivar a criação de uma rede de livrarias. Concomitantemente aos processos nesses campos, haverá de se pensar uma sede própria, mais ampla e adequada para as atividades a serem desenvolvidas.

Cada iniciativa adquire uma vocação própria no concerto e vivência da missão redentorista. Se a sociedade se fecha ao diálogo, a criação de um editorial plural abre à Congregação e à Igreja a possibilidade de uma nova perspectiva missionária, que transcende os ambientes eclesiais e amplia os meios de evangelização para fazer chegar os ensinamentos de Cristo a um mundo cada vez mais plural e secularizado.

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Quão maravilhosa é a linguagem humana. Envolvida pela criatividade, dinamicidade e pluralidade, vai tecendo, tal qual uma tecelã, “palavras novas com outros contornos e signifi cados”.1 Para ilustrar tal confi rmação apresento para você a palavra PAIXÃO. A paixão é um sentimento. Segundo o verbo latino, PATIOR, paixão signifi ca “sofrer ou suportar uma situação difícil (...). O cometido de paixão perde a sua individualidade em função do fascínio que o outro exerce sobre ele”.2 O indivíduo quando está perdidamente apaixonado perde completamente, não somente a sua

Pe. Vinícius Ponciano, C.Ss.R.

DAS PAIXÕES TEMPORAISÀ “PAIXÃO ÁGAPE”

individualidade, mas, sobretudo, a sua “identidade e o seu poder de raciocínio”.3

A paixão não é um sentimento qualquer. Desde a antiguidade até os dias atuais ela é compreendida como um sentimento que gera “uma força interior que move para a ação”. 4 A palavra PAIXÃO, do grego PATHOS, é defi nida por Aristóteles como “uma força interior que impulsiona para práxis (ação)”.5 A paixão, entendida como uma atração física ou como uma emoção, um sentimento impulsivo, gera, no indivíduo apaixonado, sintomas e sensações, tais como:

ANJOS, Márcio Fabri dos. In: Paixão e Moral na Vida Religiosa, p. 29.WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre, p. 1.

Ibidem, p. 1.ANJOS, Márcio Fabri dos. In: Paixão e Moral na Vida Religiosa, p. 30.Ibidem, p. 30.

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34 revista - Diálogo

toda a atenção é voltada para o parceiro;

as pupilas dos olhos se dilatam (melhora a visualização do amado);

os batimentos cardíacos ficam acelerados;

a temperatura corporal aumenta;

o rosto fica vermelho;a pressão sanguínea

tende a aumentar;as mãos tornam-se frias,

suadas e trêmulas;a boca fica seca;há alterações no

funcionamento do estômago e sente-se o clássico “frio na barriga”;

a função intestinal aumenta e pode ocorrer até diarreia;

há uma maior “queima” de gordura;

o nível de açúcar (glicose) no sangue aumenta;

há maior quantidade de adrenalina e cortisol no sangue;

a imunidade tende a aumentar.6

Há uma diferença significativa entre PAIXÃO e AMOR. Uma verdadeira e alucinada paixão pode ultrapassar as “barreiras sociais, diferenças de formação, idades e gêneros”.7 A paixão, quando devidamente correspondida, gera um estado legítimo de satisfação. A paixão, entendida como uma “patologia amorosa”8 faz com que o indivíduo apaixonado funde-se no outro. Pesquisas científicas mostram que a paixão, apesar de intensa e arrebatadora, é um sentimento passageiro. Estima-se que a mesma não dure por mais de quatro anos.

Com o passar do tempo a PAIXÃO vai sendo interpretada e vista com outros olhos: os olhos da MORALIDADE. Na perspectiva da moralidade a paixão deixa de ser uma “virtude e passa a ser um vício”.9 A FILOSOFIA, por exemplo, entendia que nas entranhas da paixão estão os “apetites, a raiva, o medo, a audácia, a inveja, a alegria, a amizade, o desejo, a competição, a compaixão e os sentimentos que são acompanhados de prazer e dor”.10 A análise aristotélica, a respeito do comportamento do indivíduo diante dos impulsos da paixão, informa-nos que temos que assumir o controle racional. Sem racionalidade não é possível adestrar a indomável paixão. Dar à paixão direção e sentido vai depender da qualidade da continência do indivíduo. Em muitos casos a incontinência (descontrole involuntário) se faz presente. Sem temperança não há palato. Isto é: não há sabor. Viver a mercê dos impulsos da paixão pode nos trazer danos irreparáveis. Entretanto, apaixonar-se é um ato de nobreza. Vale a pena. A PAIXÃO deve, por sua vez, ser entendida como um “importante impulso de vida”.11

Uma pergunta que não quer calar: A quantas anda a nossa paixão? As emoções são genuinamente importantes. Mesmo vivendo sob a regência do “amor líquido” temos de salvaguardar em nós os diferentes tipos de sentimentos e emoções. Sem essas forças sentimentais, forjadas no fogo da paixão, dificilmente o indivíduo conseguirá manter uma saudável razão para continuar a sua vida e missão. A PAIXÃO é força motora regente que estimula a crença. Ou seja a fé. Quando há uma autêntica paixão a fé teológica, bem como a fé antropológica, afloram. São como novos rebentos que

WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre, 1-2. ANJOS, Márcio Fabri dos. In: Paixão e Moral na Vida Religiosa, p. 30. Ibidem, p. 2.Ibidem, p. 30.Ibidem, p. 2.ANJOS, Márcio Fabri dos. In: Paixão e Moral na Vida Religiosa, p. 30.

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35revista - Diálogo

surgem nas manhãs ensolaradas da primavera. Quando não há uma vibrante paixão faltam disposição e alegria. Santo Tomás de Aquino nos diz “que toda PAIXÃO supõe algum tipo de amor; pois toda PAIXÃO implica em um movimento de encontro com alguém ou obtenção de algo que satisfaz”.12 Sendo assim, “pode-se dizer que o ser humano antes que um ser pensante ou de vontades, é um ser amante”.13 Apaixonar-se é preciso.

No interior de uma Comunidade de Vida Religiosa Consagrada pode-se viver de forma apaixonada? Há PAIXÃO no agir e pensar do religioso e da religiosa? No ambiente de Vida Religiosa Consagrada a paixão é vista como vício, incontinência e intemperança. Entendida como caixa de marimbondos a paixão é compreendida como algo que fere. Por isso pouco, ou quase nada, se fala dela. Sem as paixões temporais não se chega à paixão ágape. O religioso e a religiosa que vive a sua vida consagrada sem paixão não consegue fazer uma autêntica opção preferencial pelos mais pobres. Olhemos com alegria e entusiasmo para o passado da Vida Religiosa Consagrada. Nossos Fundadores e Fundadoras se comportavam como homens apaixonados e mulheres apaixonadas. Daí eles e elas saltarem da teoria para a práxis (ação). Entusiasmados e entusiasmadas pelo amor apaixonado de Deus pela humanidade (cf. Jo 1,14; Fl 2,5-11; Jo 15,12). Apaixonar-se é preciso. Sem paixão não há consagração. Onde a paixão não é força regente a missão não acontece.

Infelizmente, nas Comunidades de Vida Religiosa Consagrada anda faltando o “fogo da paixão”.14 O que nós estamos vendo, com muita frequência, são religiosas

e religiosos apáticos e amedrontados (cf. Jo 20,19). Não raramente, nas Comunidades de Vida Religiosa Consagrada, encontramos mulheres e homens amargos, rabugentos, regidos por um silêncio sepulcral. Uma passividade insuportável (cf. Ap 3,15-16) encanta os corações de homem e mulheres que rejeitam em suas vidas o fogo da paixão. É preciso converter (cf. Ap 3,19). Infelizmente, as Comunidades de Vida Religiosa Consagrada deixaram e continuam deixando de ser um espaço saudável e comunitário para se experimentar o fogo da paixão. Há muita apatia. Muito ódio. Muitos ressentimentos à flor da pele. Pode-se, evidentemente, reverter esta realidade sepulcral em uma realidade apaixonante e geradora de vida. Para isso é preciso que cada religiosa e religioso, sujeitos concretos, assumam com autenticidade o seu papel. E como indivíduos tragam para si a responsabilidade de agir de forma apaixonada. Há uma carência de atuações. Há muitas cobranças. “Somos frágeis e incompletos.”15 Entretanto, não podemos negar, nós temos a “capacidade de influenciar para um lado ou para outro”16 conforme os nossos interesses particulares. Nas Comunidades de Vida Religiosa Consagrada sabemos que “há pessoas que puxam adiante, enquanto outras precisam ser sempre empurradas. Há religiosas e religiosos amorfos, um peso morto”.17

Soma a tudo isso a falta de vibração. A melancolia nos impede de vibrar com o Carisma fundante, com os princípios dos conselhos evangélicos, com a vida comunitária, com a missão e com a opção preferencial pelos pobres e abandonados. Sem paixão e vibração espiritual só nos falta dar um mero bocejo. Que “apetites” mais

Ibidem, p. 31. Ibidem, p. 33.Ibidem, p. 31. ANJOS, Márcio Fabri dos. In: Paixão e Moral na Vida Religiosa,

p. 33.Ibidem, p. 33.Ibidem, p. 33.

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36 revista - Diálogo

fortes estão realmente sendo cultivados no interior das Comunidades de Vida Religiosa Consagrada? A ausência de fervor e de experiência de vida corroboram mais com o choro do que com o riso. Corroboram mais com o ateísmo do que com a oração e a espiritualidade. Assim sendo, há mais preocupação com o acúmulo do que com a renúncia. Descoloramento e impotência passam a ser forças regentes no interior das Comunidades de Vida Religiosa Consagrada. O viver e o fazer são determinados pelo individualismo e pelo consumismo. Faz-se muito pouco e consome-se muito. Há muitas reclamações e pouca disponibilidade. Apatia e bem-estar é o que queremos na atualidade. É claro que toda regra tem exceção. Mas, será que a exceção não está se tornando regra?

Estamos “conformando com a inércia instalada dentro de nós através do consumismo”.18 Segundo o professor Márcio Fabri dos Anjos:19

A PAIXÃO ÁGAPE anda meio esquecida no interior das Comunidades de Vida Religiosa Consagrada. Essa paixão exige um aprendizado maior do indivíduo. A vida impulsionada pela paixão ágape torna-se vida partilhada. Nela a espiritualidade se torna mais vigorosa, mais fértil e mais dinâmica. É próprio da paixão ágape romper com as forças do mal. Para ela o bem é sempre possível. Ela rompe com as tensões que se formam ao longo do caminho (cf. Mc 9,33-34) e com os comportamentos individualistas geradores de violência e intolerância (Lc 9,54). No Gólgota, o lugar da caveira, vemos Jesus pregado na cruz. Esse gesto extremo de amor por mim, por você e por todos nós é a materialização da paixão ágape. A autenticidade da nossa apaixonante opção cristã deve modificar o nosso modus vivendi et operandi. O nosso modo de viver e agir deve ser a extensão ou a materialização da paixão ágape. Não basta dizer que é cristão. É preciso demonstrar--se cristão e agir como cristão. E isso vai depender muito do direcionamento que queremos dar aos nossos reais “apetites”.

A morosidade do religioso e da religiosa em se locomoverem a partir da paixão-ágape acaba gerando nas Comunidades de Vida Religiosa

O processo cultural atual desafia profundamente a autocracia das pessoas a perceberem que entregar- -se ao consumo gera o tédio, a frustração. A pessoa se sente facilmente vítima, sem “apetites” na direção das paixões do grupo, e sem vigor para a digestão dos amargos da vida. Com ética, é preciso então examinar as próprias posturas, e no fundo perguntar o que a gente realmente se está buscando na vida, em vez de

esperar que ela apareça pronta. E na vida comunitária, não ficar apenas preocupado com o que se recebe ou não recebe. É indispensável ver também o que se tira de coração para oferecer ao bem das pessoas com as quais vivemos (...). E quando as paixões se apagam? Quando a paixão parece se apagar, o amor se pergunta “em que eu estou errando?” Ou existem outros amores que estão falando mais alto?

Ibidem, p. 34.

Assessor da CRB Nacional (ERT); Padre redentorista; doutor em Teologia pela P.U. Gregoriana (Roma); professor do Instituto São Paulo de Estudos Superiores (ITESP), e do programa de mestrado/doutorado em Bioética do Centro Universitário São Camilo (SP); membro da Câmara Técnica de Bioética do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo.

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37revista - Diálogo 35revista - Diálogo

Consagrada comportamentos cada vez mais “individualistas e graves incoerências”.20 Daí o crescimento acelerado do contraste entre as “opções cristãs, com o seu modo de viver”.21 O ambiente religioso ou consagrado, não raramente, está marcado por comportamentos agressivos e até mesmo violentos. Cresce o número de religiosas e religiosos amargos. Há algumas questões comuns que precisam ser feitas continuamente: A quantas anda a minha paixão? Quais são as minhas tendências pessoais? Por que sou assim? Não se iluda: “Os medos, os desejos, os interesses, as violências são forças polivalentes”22 determinantes. O Carisma fundante das Comunidades de Vida Consagrada é continuamente irrigado pela paixão ágape. Junto dele a religiosa e o religioso conseguirão, no cotidiano de suas vidas, falar as várias línguas do Espírito, a saber: a humildade, a pobreza, a paciência, a obediência, o amor, a gratuidade, o perdão, a bondade, a justiça e a fraternidade. “A palavra é viva quando são as obras que falam.”23

A PAIXÃO, no sentido ético, não é boa ou má em si mesma. Entretanto, a paixão é um impulso vital. Sem paixão não há locomoção. Ela é o motor da nossa vida e ação. A paixão ágape, por exemplo, é uma força vital que corrobora com a abertura para o outro diferente. Nela abriremos mão da mera arbitrariedade e adotaremos o modo operandi et vivendi de Jesus: A paixão kenótica. Esta paixão, por ter uma dimensão ágape (kenótica) não está centrada no bem de si mesma, mas “na busca de comunicar

o bem, a vida aos outros”24 (cf. Fl 2,5-11). A paixão ágape, por ser genuinamente kenótica, abre para nós novos horizontes e novas perspectivas. Portanto, caminhemos “sem medo, de se apaixonar, mas com a coragem de fazer do amor uma autêntica e radical saída de si mesmo”.25

ANJOS, Márcio Fabri dos. In: Paixão e Moral na Vida Religiosa, p. 35.

Liturgia das Horas, Vol. 3, p. 1357.

Ibidem, p. 35.

Ibidem, p. 37.

ANJOS, Márcio Fabri dos. In: Paixão e Moral na Vida Religiosa, p. 36.Ibidem, p. 35.

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Bibliografia.

BRETON, David. As paixões ordinárias. Antropologia das emoções. Petrópolis: Vozes, 2009, 280p.

EVDOKIMOV, Paul. O silêncio amoroso de Deus. Aparecida: Santuário, 2007, 187p. (título original: O amor louco de Deus).

GRÜN, Anselm. Um hino ao amor. Aparecida: Santuário, 2009, 127p.

TONIN, Neylor. De coração aberto. Psicologia e Espiritualidade. 12ª ed. Aparecida: Santuário, 2009, 158p.

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