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Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: [email protected] URL: www.csarmento.uminho.pt Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/ Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento CURIOSIDADES DE GUIMARÃES. XX DO POVO. DA LAVOURA. DOS COSTUMES. DO PASSADO E DOS TRAJOS. DAS APEIRIAS E SEMENTEIRAS. DOS FOLGUEDOS E DAS FESTAS. BRAGA, Alberto Vieira Ano: 1961 | Número: 71 Como citar este documento: BRAGA, Alberto Vieira, Curiosidades de Guimarães. XX Do povo. Da lavoura. Dos costumes. Do passado e dos trajos. Das apeirias e sementeiras. Dos folguedos e das festas. Revista de Guimarães, 71 (3-4) Jul.-Dez. 1961, p. 287-374.

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Casa de Sarmento Centro de Estudos do Património Universidade do Minho

Largo Martins Sarmento, 51 4800-432 Guimarães E-mail: [email protected] URL: www.csarmento.uminho.pt

Este trabalho está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/

Revista de Guimarães Publicação da Sociedade Martins Sarmento

CURIOSIDADES DE GUIMARÃES. XX DO POVO. DA LAVOURA. DOS COSTUMES. DO

PASSADO E DOS TRAJOS. DAS APEIRIAS E SEMENTEIRAS. DOS FOLGUEDOS E DAS

FESTAS.

BRAGA, Alberto Vieira

Ano: 1961 | Número: 71

Como citar este documento:

BRAGA, Alberto Vieira, Curiosidades de Guimarães. XX Do povo. Da lavoura. Dos

costumes. Do passado e dos trajos. Das apeirias e sementeiras. Dos folguedos e das

festas. Revista de Guimarães, 71 (3-4) Jul.-Dez. 1961, p. 287-374.

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Do povo. Da lavoura. Dos costumes. Do passa- dio e dos trajos. Das apeirias e sexnenteiras. Dos

folguedos e das festas.

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.Muitos vestígios longínquos da etnografia, que vieram agarrados às práticas do paganismo, perderam-se. Outros se afeiçoaram, num desvirtuamento de origem, aos gostos das localidades, abraçados pela gente do trabalho à face externa das coisas e das rudimentares manifestações de ordem material e espiritual.

Os mais vivos elementos etnográficos, dependem da transmissão c propagação dos primitivos hábitos e costumes das antigas religiões, e do agrupamento das exteriorizações rituais, rudes e pitorescas, que bem defi- niam, nos seus aspectos, todo O carácter e natureza da constituição dac¡.ueles tempos das associações humanas, ainda imprecisas e tfansviadamente mal comandadas, mas já atinentes aos cultos mais variados, extravagan- tes, simlaólicos c fantasistas.

Estas sobreviverias de práticas religiosas e popula- res, mantiveram alto significado histórico e social.

A representação dos autos, dos mistérios, a teo- ria das procissões, de um profano burlesco, os cortejos religiosos das scrpes, dos dragões, das candeias, dos fogaréus, do Espírito Santo, formaram uma cartilha inundável de folias, de lendas piedosas e de temores,

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288 I{E\1§T\ DI C \ I I \ f \ R hã

com visões misteriosas de Purgatórios e de Infernos, de que O povo procurava aliviar-se por meio de um emaranhado de práticas rituais, de benzílhíces, de rezas, de orações, de súplicas, de amuletos e de cautelas pre- ventivas.

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a A etnografia surpreendeu desde esse momento, que

do uma história larga de religiosas c terrenas dos

os domínios da inte- novo de conhe-

expressão mais viva e real dos e

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Tocava os sinos para afugentar as trovoadas e ali- viar as parturicntes. Os objectos dos sacerdotes c da igreja eram o melhor remédio para os males, para os ares ruins e para os maus olhados.

Vieram pela mesma associação de ideias c por um princípio de acomodação mais reverente, os cercos e os clamores, e toda uma latitude de miragens e virtudes puramente revestid de sensibilidade e de um automa- tismo de convicção e de receio.

Estas manifestações de religiosidade e de crendices, levaram ao espírito do povo o fermento de um sem número de práticas correntias, que se arreigaram nos agrupados familiares e nas rústicas comunas do traba- lho, conduzindo toda a engrenagem da vida campesina, por uma série de preceitos e de normas querendeira- mente unidas ao amor das lavoiras e ao governo dos lares, começando então a definir-se, mais aclaradamentc, as leis de toda gravitação humana.

as tradições povo tinham evolução, entre as estruturas ritos e dos usos, e penetrando até licencia popular, deu-nos um mundo cimentos ignorados, e a liflamtrntos originais, greezátios o homem *`1 terra.

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Cultllla do povo. Etnografia trabalho

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O povo anda estruturalmente ligado a uma cultura mental de feição assimiladora, pela influência dos ensi- namentos práticos da natureza da vida. F. uma cultura de presença.

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CURIOSID.UNaS GKIIÃIAELÃES DE 289

A escola é de sugestão impressivo e de convívio com as coisas c objectos mais rudimentares e pobres, e não de determinação teórica.

uma cultura dc mútuas relações entre o homem e todos os domínios e particularidades que o cercam, e lhe dão, em limitada superfície e em fórmulas e aspectos de continuidade e de beleza, os conheci» mentes mais objectivos, embora elementares, dos factos e dos fenómenos da terra e da natureza.

A influência do meio, a adaptação ao lugar, a variedade dos objectos e das leis de fomentação e ger- minação agrícolas e tudo O que exercita e inspira o homem e o leva a resolver e a executar os trabalhos e os serviços mais rudes, e por vezes bem primitivos, da pesada lavoura, são a fisionomia mais dominante que se impõe ao seu espírito.

A s necessidades e a freira, obrigam-no a um con- tinuo e desdobrado laborar industrioso de fabrico e de negócio, pela coagitação, pela habilidade e pelo raciocínio, e assim desenvolve a sua inteligência, em relação à vida, preferentemente, intuitivamente, mate- rialmente, dando-lhe capacidade para todas as realiza- ções do que careça e do que venha tirar proveitos.

() isolamento em que vive, comunicando quase que somente com a terra, com a casa e com a igreja, traços mais característicos c salicntcs da paisagem rural, pontos sugestivos de atenção amorosa, de meditação compreensivelmente salutar c de impressionisrno rnaleᬠvel, justifica todos os passos que dá dentro das suas manifestações temporais e espirituais, tornando-o ins- tintívamente mais permeável a todos os arroubos da crença e predisposto para todos os rebates íncontidos da superstição, do temor e do medo.

I`oi o povo que baptizou os casais e que deu nome aos seus campos e courelas, aos seus caminhos e carrochos, aos seus arrotos e quebradas, 315 suas Poças. aos SCLIS montes e fontes, soutos e devesa, promo- vendo, segundo a tradição mcmoratíva e lendária das povoações ou a direcção dos marcos, dos topos e dos penedos, um coroamento dcvocíonário de cruzeiros e capelas. As subi-serras e as mantas ladeirentas das cou- tadas têm uma terminologia gcográfica e toponimíca que

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não sendo já a romana ou a céltica por vezes genó- rica, quando não de simples emprego local e particular.

Por isso mesmo se encontram nas freguesias entes- tadas nas serranias c nos vales fundos marginados pelo curso dos rios e ribeiros, chamações tópicos ou crismas nomenclativas de terras circundantes dos casais e eidos, um tanto confusas e obscuras, que não condizem com a letra dos tombos, dos emprazamentos, das dilímita- ções foreiras, das matrizes, e muito menos com a remontada cronologia histórica das Inquirições.

Perderam-se muitos nomes, vieram muitos designa- tivos consoante evoluiu ou se rnodificou O perímetro das aldeias, a abertura de estradas e caminhos e a divi- sória ou partilha dos haveres caseiros e rústicos, em sidos c charnecas.

Outros baptismos nasceram, discricionários, de con- sonância moderna, sem um reconhecimento topográfico, administrativo, judicial e oficial de posse, de direito ou de memória, desde que os baldios entraram na posse dos aforamentos, dos talhamentos particulares e na seguente apropriação de tapadas de terra lavradio e sortes de mato, e feitura de prédios, de planos e pro- longamentos de quintarola, que andaram por muito tempo adormecidos no esquecimento das matrizes, das décimas e dos foros.

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Por vezes só OS inventários descreviam OS nomes e as confrontações das terras e dos casais, sem estarem devidamente averbados e matriculados.

data, de novo jeito e formação, e so Para o abarcamento de muitos e curiosos nomes,

alguns de nova ' do restrito conhecimento dos vizinhos e interessados da localidade, que os identificavam mais pela implan- tação dos marcos, tentos, ribas, penedos e paredes, do que pela chamarão, vê no anal, o extenso documento que comporta a lista terminológica e tópico encabeçada na venda de foros, censos, pensões e quinhões, corn- preendidos nas leis de desamortização.

Sobretudo para a história do desenvolvimento a r á « rio, essa lista respeitante à remissão de muitos foros que pertenciam a Câmara de Guimarães, planifica coro- gràficamente quanto de extensão produtiva se desbra- vou em benefício da cultura, e mostra todos os prémios

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precedente figuração

Lcvantou c argamassou uma arquitectura rática

g . do município, entre o que dernarcava no dá dc posse senhorial e particular, como o que etcrmi- nava para o uso público dentro do domínio cristão, colectivo e humano. As paredes, as selvas, os socalcos, os valados, os portelas de cão, as cancelas, os cancelos, os dportais, as grades, os pícgs gl; vidro, de arame far- pa 0, as ratoelras, são II. ectura a demarca, divide e defende as -propriedades, as quintas, as contadas, as ais, redes dos solares fe nosso Minho.

Os caminhos, os . š sadouros, as estradas, as ditos, as pontes, as pontizelas, as poldras, as pinguelas, são a arquitectura de ligação comum, que leva o às igrejas, aos logradoiros do pascigo e dos matos, aos cemitérios, aos adros, aos penedos das peladinhas, dos casamentos c das virtudes curativas, às fontes c aos moinhos, naquelas suas constantes c custosas andadas do trabalho, do sofrimento, dos desengano c da reza penitente, chorada c sofrida.

Depois da cultura material de bases construtivas, manifesta-se a cultura campesina do sementio e da trans- plantação valorosa e procriadora, mantida a céu aberto no pleno domínio vegetativo da natureza, dc onde se colhem, depois da transmissão de Forças c de suores, e do vigor dos arroteis e das eiras, os recursos eco nó_ micos que podem advir da eira, do lagar, do tear c dos currais, em pão, em vinho, em bragal, em leite e em crias.

Tudo o que cerca o povo, na estrutura original do meio e dos hábitos, das fases e dos efeitos, tem o con- dão permanente da realidade, a força potencial que lhe maneja impulsos do sentimento e dos instintos,

de proveito tirados dos montes baldios para o aumento de terras c casais.

Só ótimos das freguesias, antigas :Ii/as dc fun- dação ancestral, conservam puros na chamarão desig- nativa, a que juntaram mais tarde a a tutelar dos orados dc simbologia cristãs.

a l' c snnples de servidão geral e de vedação partiu ar, inte- grada no sentimento da vida dos povoados e das leis

direito crivado

assinalada que

hortas, os.quintai.s,- os jardins e poma- das, rústicas .l.8erdades do

âàrrêlfnš de.pé posto, os atraves- ladeiras e cangostas, os passa-

povo

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292 RL\ I~.T& Dl Gwnnauzõ

espírito c a vontade, como as leis doutrinárias dos res- peitos propiciatório ou as cerimónias paganizadas e dionisíacas das colheitas.

Numa assimilação raciocinada, afirmativa de origem e natureza, pelo tino e engenho, e no correr lento das práti- cas do serviço ou das cismas espirituais, vai lendo nas plantas, nos planetas, nas ervas, nos animais e nas aves, a relação sensorial e Pabulária das sortes e dos agoiros.

Sentindo-lhe a virtude oculta, julga-se, porém, mais previdente e prevenido, acreditando confiadamente nos benzidos ritos dos curandeiros e exorcistas.

A linguagem e a consanguinidade formam o ideal étnico das raças e tornam o povo irmão, dando-lhe, porém, particularidades opulentas de dessemelhanças, quer nos hábitos e nos costumes, quer nos movimentos da vida e nas crenças afectivas e espirituais.

E a lei da história e da universalidade humana. Tudo o que se inteira c completa na vida, em

comunhão dos homens e da natureza, é variado e dife- rente, pelo carácter, pelos climas da posição e da civi- lização, pelas liberdades, pelas formas impressivo do trabalho e pelos precnchirnentos aráveis, coloridos e afarturados da cultura.

Personificando e revestindo em medida de formação, de espírito e de domínio patriarcal e expansivo no génio da labuta e da constância criadora, o modelo próprio do nosso povo rural, verificamos que ele se articula, abre e desdobra a contento duma realeza natural de liberdade. Ninguém é tão rico como ele: rico de sol, de luar, de filhos c de sombras de parede.

Sem direcções contrárias aos destinos da sua sorte, junta-se de manada, à chuva c ao sol, de foice e de enxada, nas vias emaranhadas dos campos que precisam dos cuidados c das operações das decruas, dos sacho, das mondas c das ceifas, tudo feito em boa conta e de graça, com a ajuda lo compadrio rogado, ficando em aberto a permuta, dentro das mesmas veias de serviço.

E tuclo se regula segundo as praxes viciais e as leis humanas, que regem a comunidade familiar, sob o estilo dos /zzreƒ ou da aliciante confraternização das colheitas, em alegrias estantes e ágapes saborosos de limpar os beiços às pontas dos dedos ou as mangas da camisa.

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Figura Lpƒca de um refira Íarradar da H‹¡.fJ'¿2 ƒ*‹=.gƒ:ír›.

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294 REVIS'I'.'*L mf GV11\1ARAES

O povo das aldeias, criado longe das ambições, do parasitarismo bandcante, das recuas preguiçosas do desemprego e das torturas odientas, é unido como uma família só. Sendo acreditado no esforço dum trabalho igual, é essencialmente c colectivamente amante das suas tradições espirituais e hábitos peculiares do seu ofício de orna e de tarefa agrícola, c raramente se afasta das suas tendências respeitadoras, acordantes e concordantes, embora nem sempre possa dispor do sentido mais pró- prio da sua vontade.

A intimidade, o atreito da convivência, a doçura e o amor com que abraça as relações, os costumes, e os sentimentos comunicativos duma sociabilidade fami- liar, multiplicam-se numa sucessão considerável e afectiva de compadres e comadre, de padrinhos c ma- drinhas, de anilhados e afilhadas, tornando o povo duma freguesia e dum lugar todo irmanado na comunhão dum parentesco, se não pelo sangue, pelo menos pela bon- dade _espiritual e humana. l" um parentesco de apreço, de sociedade, unido pelas palavras do credo, pelo arrocho dos abraços, pela graça dos falares e pelas bênçãos de mão beijada ~---Dem' vo: abençoe e ar crie para I20.1 sorte.

Ú ainda um parentesco de relações amorosas e cris- tãs, dc manifesta atracção, de préstimos c de convívios, merendas compartilhadas do farnel, nas romarias, c dos repastos sedentários com que uns aos outros se mimo- seiam, chegante a quinta-Feira dos compadres.

Antes do domingo gordo, surge essa quinta-feira das festas alegres do compadrio, que são dc reunião caseira, íntima, aconchegada, e de grandes pançadas de comes e bebes.

Aqueles de mais posses e mais sortidos dc fumeiro e de salgadeira, acendem a lareira, espicham o casco do vinho mais espertinho, e ajuntam como em ofertório de padre aos ovos, ao redor da sua masseira, toda a sociedade de compadrio modesto de teres, para uma tassalhada de bom presunto cntreveado e cozido, ou uma rejoada trasbordante de loiro pingue.

Os dadores das terras, os amigos mais próximos, e um ou outro senhor abade menos cerimonioso, ali confraternizam, engrossando a camaradagem dos com- padres, que não são nada da fava seca, e marcando em

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presença amistosa, mais uma das muitas páginas liba- tórías c alegres da expansiva vida campesina, que anda sempre a par dos respcitos pelos maiores c do reco- nhecimento pelas boas almas dos que lhe ajudam fabricar as terras e a tornar as águas para os renovo e para os pilhciros.

Dos proventos arrecadantes, todas as migalhas do pé de meia vai consumindo com os senhorios, com invejidades scrrilhentas c urtigosas dos maus vizinhos, com todas as violências sociais dc tributos e licenças, com a bruxaria e com as moléstias do gado ~. da sua familia. Tudo lhe oca pelos olhos da cara, no que da para os (prémios, para os adubos, para os criados fo- leiros (1), para as Casas do Povo c para as prcstanças serviccíras das debulhadoras mecânicas, a tanto por hora, dos veterinários das mulheres dc virtude, em talha~ mentes e dcfurnadoiros.

Cumpre as regras da família e da devoção espiri- tual, na criação dos filhos, no alimento do forno e no rezar do terço.

É o caminhante mais afoito das romarias f: das jornadas de penitencia; o melhor parceiro nas folias do vinho novo e nas alegres esfolhada do milho tenro. Canseiroso e supersticiosamente tímido nas andanças da vida caseira e campesina, desde o nascimento à morte, desde as semeadoras às colheitas.

Conservador outrossim, no sentido da obediência regras do seu viver e à rotina das suas fanas, cui-

dando das crias, vigiando os campos e vinhedos, con- servador imperante dos motivos estéticos e culturais das suas danças, dos seus jogos favoritos de pau, das suas restadas de engalhosa instrumentaria e dos seus tor- neios poéticos de desgarrada e de adivinhas medianas.

Todas jornadas e moircjos quotidianos através do tempo c do espaço, em diurnidades e diuturnidades de serviços tatígantes, que se dcsfiam em dobadeira volante consoante a evolução das oportunidades, dos amanho da terra e do estenda das lavoiras, fixam no seu espírito os justos valores biológicos de que se com-

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(I) Criados fulcirus, ‹›u criadas fulciras burra, que só sabem comer burra. Dc tufe. 4

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Como a água é O sangue da

põe a vida c dc quanto é preciso, em solo f: subsolo, em animalidade e realismo, para obter o relevo e o produto de toda a planura fulgurante e fecundante do que se abre em tufos de beleza e de fartura.

Por entre os montes e os rios, os arroios c os outeiros, as ribanceiras e os valados, as casas e os campos, aparece toda a cronologia das margens, dos regos, dos açudes, das cales, das rodas mouriscas, dos carteiros, dos assentos e dos lugares, articulando de les a lés as marchas e movimentos duma freira solene de via- -sacra dos figurantes da exploração rural, do ritual caseiro, dos caminhantes endomingados da romaria, e dos devotos das missas, das no-:nas e das procissões.

._ - de ver tombem, e amorosamente admirar, como a água engrandeceu, no arraial das freguesias campe- sinas, o aspecto c O sentimento do trabalho e da ale- gria, criando o homem, por todos os recantos margi- nais dos rios, riachos e das nascentes próprias, a mais rebuscada mas singela série de engenhos, erguidos e imaginados para o amanho, achego e aproveitamento de tão precioso líquido.

A variedade é grande em arte e lindeza: as minas, as PUÇÊIS, as represas, as pedras de partilha, com os seus engenhosos gurcntcs de distribuição, os marcadores das águas de rega, c as fontes, estas dc supremo encanto na paz idilica dos casais, de extravagante e formosa cons- trução pela rude simplicidade do seu ajuste. Algumas têm carácter dolménico, outras coladas à terra, fontes de mergulho, e ainda outras donaírosas pelas goteiras cavadas na rocha viva e pelos lavadouros que as guar- necem. Revestidas pelas bordas dos verdes matizados da salsa, dos musgos c da hera, fontes da sede c dos amores, onde bebem os gado e as pombas erradas, lá parecem cascatas maneirinhas a Santo António das moças.

s terra e a eterna can- ção lo tempo, do trabalho, da vida e da fartura, nas lufas do rcgadío é sempre manejada de pés ao leu, pelas horas repoisantes das Trindades, ou pel.as horas do rom- per da hóstia da madrugada, quando as missas.conven¬ tuas soltam o bafejo de Deus sobre a lavoira. A terra tem brasas de lume nas entranhas, e as posadas tem de

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(LURIOSIDÀDES DE CIm.-\.R.?ã1Ls 297

tudo, não dando sequer uma corinha para que dos trabalhadores repouse que bonde

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c engatar os bois ao chiadouro das oras, para que cada

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chegar a a o lombo moiro a nas palhas dos sobrados ou no colo das arribadas.

r . preciso, desde a alva ao pôr do sol, rondar os pijeíros, as regueiras, as poças e os arroio, por mo dos abusos; é preciso abrir c tornar as águas a tempo

dedal de água mate a sede a cada mealheiro de pao. Toda a gota de água. todo ., pcncirar orvalhoso,

todos os escorralhos das minas e das poças, toda essa brancura de treina prateada que aviva os contornos ver- dejantcs por onde estende c espalha a sua babugem de pérolas c lágrimas, tudo enflm que seja vasilha que entorne, tanque que despeje, regato que lime ou céu que abra as torneiras, vale O oiro das tolhas, o carrascão agulhento das adegas, a fartura das masseira e do forno, das caixas, das ares, das citadas, dos alpentlrcs

das barras, tudo por louvor dc Deus e de Santa gatinha, quando pelo seu dia dá uma poçadínha, e da

Senhora da Oliveira, quando dá uma regadeiro, .. cle S. Tiago, em que cada gota vale um cruzado, por todas estas graças dos Santos festejados pelo solstício, e ainda pelo bota que bota lesto das focinhas, dos mangais, dos limpadores, das pás, dos ridos, das crivas, das oeiras, dos ripanços e das cspadelas.

l*` é assim, sem descanso nem parança, no tempo da seca e da sede.

Andam as peles c os ossos dos velhos, os moços e ç ra renovo.

O cebolo é regado as panadas; as tronchas, as prantos, as alfaces e mais cá/frggidadmr q1.1e da farto pingo nos mercados, e vão ali num aninhado baleio, só as ali- mentam e engordam as barricadas dos cevadoiros.

Os linbais, esses dão mais feitio na rega, quando tenros de veludo c mimosos dc fev ra agrilam em airo- sidadc sem igual.

Baixinhos, entra neles somente o vasculhar refres- cantc, sempre encharcado, para que não tombe a haste lcveira, de penacho tão rico, nobre condão da realeza labroste.

:ts moças, a acudir ao formigueiro vindo dos

Dúwde riffdf-.r, .S`. _/asa, .QM rínzfâr Ião :¡¿o¿›5adƒf:[m ? Hã: :'‹=:.*¿›a daqƒrflaƒ ¿=›rã:'!‹u De ƒfigar' 0 cá-ƒ›r¡¡¡'r:Z:rz.

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298 RÃ-\ IQT.-\ Dj- m T`\{"\RAI~ Q

Estes aspectos humanos, devocionaís c pastoris, são o fio c o pavio que lhes alimenta a alma, a imagi- nação, consciência do dever c das obrigações e os espaços vazios da sua iletralidade sempre atenta e cau-

rea- idade material e económica, e a cartilha abcedária e mul- tímoda das abegoarias.

telosa as mutações dos assuntos, dos cenários, da

paisagem. É a variedade arisca e esparsiva das frondes, das

franças, das ervas rasteirinhas, sem nome e sem defesa, dos fenos, dos renovo, das enxertia, dos alporques, das podas, dos bacelos, das mondas, das florações e dos frutos. Iintre O solo e a vida, o que predomina é a lição natural, maravilhosa e de seiva proliferantc na pujança c robustez, que vai desde os tenros, moles e sedosos vitelas aos toiros, desde os ncvados e macios letões às covas de engorda e desde os enovelados pintainhos à franszalhada dos bailes esperneantes e espolinhados, rico filão alimentar e económico, não isento de múltiplos cuidados, vigilias e de carinho caseiro, embora trivial, mas temperado e sapiente à boca das rnanjedouras dos irracionais.

inteligentemente permeável ao clima da expe- riência e aos destinos e valores da vida.

E a beleza da vida é de um valor alumiado e infinito.

Todo o arvorar de existência e todo o rastejamento preguiçoso das cores e das expressões adolescentes e naturais, físicas e contemplativas do que nasce ao gosto da vulgaridade, da utilidade e da cadência do tempo, e se corrige e alenta com O sacrifício e com o amor das virtudes domésticas e da razão, adentro da elabo- ração profunda de cada seio de espécie, representam a história regulada dos assuntos do primeiro plano da natureza c da

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E aprende uma veterinária prática e dc: urgência, curativa das pragas c doenças do gado, cortando as ƒzgzueimr às vacas, os dentes aos ba:or1nhos recém-nas- cidos, matando os piolhos aos pintainhos, etc., etc.

A regularidade e as relações constantes entre exigências sociais, humanas e do trabalho, formando a unidade do espírito do homem, vão determinando, naturalmente, o que em distinção se consagra ao apego das tradições históricas dos lugares, aos costumes regio-

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LI R10õID 1D1_~, GLrn1A1=›...5.1â5 DE 299

ais e agrários do povo, e em obediência se deve às leis institucionais da Paróquia e do Município.

A descrição e o nome variável dos objectos c dos utensílios, as determinantes da sua aplicação, a sem_ lhança comum do trabalho, os sistemas diferentes da regularização dos serviços, as características etnográficas de inclinação ou adaptação, a peculiaridade de certas funções e respeitos, as diversas variantes dos costumes, dos direitos legítimos das divisórias, dos logradoiros, dos hábitos caseiros, domingueiros, de c o t o e de dó, a teoria das práticas, dos exercícios religiosos e supers- ticiosos, as posições, disposições e regras das ajudas pessoais ou colectivas e das impostas (1), o ambiente primário e empírico de todos os sistemas normativos e autónomos da cultura, das regas represadas e quinhoei_ ras, de rego aberto, dos roços foreiros ou livres e das posses irnemoriais de serventia, são O índice, embora não de cultivo espiritual, mas de uma vigorosa orienta- ção e norteação da inteligência.

Inteligência que se desdobra, espraia e revigora no vasto campo das operações práticas de toda uma vasta ruralidade tradicional, e sc esenvolve produtivamente mais pelas ajudas promissoras do tempo, do céu c dos santos protectores, do 311¢ pelo saber e valor dos homens, ias ensinanças, as engrenagens mecânicas e dos adubos químicos.

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.Dêem-no: tempo de feiyâo e trrnperad/›zllo, que nie' aí flt't.figa.f darão Pão e 1/5 C7771/)7'¿Z.Í :fin/50.

Para O desenvolvimento da cultura agrária, basta- rão semente, em aprendizagem, apurando a capacidade, a dedicação c os conhecimentos das classes rurais, métodos experimentais cm cada estilo e clima de localização territorial, e uma indispensável coopera- tiva ou gremio, senhorial ou regional, que auxilias- sem os factores negativos das sementeiras exíguas e pobres, c acudissem aos empréstimos que possam con-

- - junta ou juntas dc bois que ajudam a irar O carro por uma encosta alma. O povo diz mais fre- qucntemcntc dar camibãa do que dar importa.

(1) imposta outras

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tribuir para uma revivic:›tçzllo das terras dá cultivo c directo amparo do produtor trabalhador dc meclianos recursos, 11a compra dc boas sementes, adubos c bom gado dc trabalho c de procriação, para vendas c revendas.

Seriam estes os fundamentos básicos da melhor escola para os adultos do trabalho e de penetração nas massas rurais, iniciativas, uma orientadora, outra foi mentadora, e ambas de política intensificadora e cons- trutiva, capazes de criar um f i e l mais alto de está mula c de educação económica e humana.

E bastavam esta escola e esta ajuda material, em exercício local c itinerante, para sublimar o bom senso da capacidade de trabalho dos moirejadores do campo, pois que de contas, por discernimento mental, é ele mestre, como qualquer papagaio cantarolciro da tabuada.

Todos os elementos c normas de operação agrária, benéficos e açudados, e as suas relações de recurso individual e recíproco das comunidades rurais, estão dentro da comunhão técnica e humilde de um laborar de costumeira dogmática, de força, de vontade, de crença e dc arrancadas, pelo que dcspresam OS méto- dos científicos, julgando que a eliminação dos proces- sos da telha, da aravcça, do atado de cobrir, da en- xada, do gadanho c da grade, pode trazer realmente um maior crescimento de cultividade c produtividade, mas vão definhando os agro. E assim pela ideia de que os adubos, não sendo grossos, adubosos c espar- ralhados a cngaço, calabreados, os químicos cor os de curral e da lareira, as semcaduras não sendo alternadas, variando anualmente os campos do milho temporão e das retevas, e fiquem de alqueíve as terras cansadas e com lampadários vastos e fortes vides de enfor- cado, e não entrem os cevadoiros nas hortas e nos marjões de speciarias mimosas, lá se julga prejudicado

sua arte dc apostolado colectivo, que cada ez lhe parece mais pobre, fugindo dela como o diabo da cruz.

Por a julgarem de palha c bolota, de rudeza estra- tificada, pária de escalpelizações, correu por muito tempo desprcsada, sem um passo de consulta e uma pausa de penetrada atenção, essa cultura popular de que fitlamos, de humildes regras, de bons exemplos, de

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preceitos amorosos, de gama livre em todos os génios dc inspiração e imaginação, dócil e simples de franque- zas e recompensas, verdadeiramente acolhedora do que se faz por bem e por bondade, cultura cheia de sol e beleza, rebrilhante à luz dos olhos c à carícia das almas.

É tudo muito vulgar e igual de narrativas, de for- mas, de estragas finíssimas e ténues de cultivo lendário, de efabulação romanesca, dc mitologia subjectiva e bizarra e uma crença terrena, estática c .de contacto panteista, de amor às coisas, às árvores, as aves e aos animais.

Há também um acreditar de cegueira em todos os elementos fabulosos e míticos das mouras encantadas e seus tesouros, assoalhados às escondidas, em toda a casta de bruxas e lobishomens, e como que um ajuste ao universal e naturalista convívio dos tempos, em que tudo falava, bichos e coisas, numa maravilha da criação e numa ingenuidade de correspondência em tudo quanto segredasse conselhos e cautelas, ensinamen- tos e agouros.

Vemos assim que OS rios, as fontes, OS montes, os penedos, as aves, os animais, o céu, a lua e as estrelas andam povoados de lendas, de crenças, de segredos, que o povo respeita, chamando em auxílio O seu poder maravilhoso com certos rituais dc cerimónias benzi- lheiras e de oferendas ao jeito do sacerdócio pagão e dos cultos dedicados à trilogia astral e divina, de pos- sivel origem babilónica.

Em parte, muito complemento imune e indestru- tivel desta vasta e labiríntico ciência de parentescos estranhos, de jaças híbridas, de origens incertas e de procedimentos pretensioso, naturalistas e universais, quando não represente o valor atávico duma exegese romanesca, de fahulária cultivada e engenhosa, entronca nas veias milenárias e envelhidas duma pré-história pouco conhecida.

A s orações, as maldições, os ensalmos, os sortile- gios e as abusões, entram na complexa formação dos espíritos humanos. São os vícios indiscretos duma sensualidade de fraqueza, praticados intencionalmente a titulo de recompensa.

dc exemplos, de motivos, onde entra um cortejo

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302 RI"v'[5*['¿\ I)I (.z\ 1\1 XRÀLQ

Neste sector gregário a liberdade está

Quando jesus Cristo nasceu, o galo disse' ƒesz/.r Cri.rto é nado. z-\. pomba, anunciou a terra ao homem.

poupa diz-lhe sempre que poupe e o cuco prediz- -lhe a sorte, os anos de vida e o tempo de espera até O noivado.

Podem notar-se, pela falha duma educação metodi- zada e de princípios, vários planos inferiores na insensí- bilidade dc consciência, na dureza insubmissa ou versátil em certos arremates do génio assomadiço e alevantado, alguns reflexos de ferocidade injustificada nos senti- mentos de emoção e de agravo, dissimulações c artifí- cios duma fraqueza inata em muitos melindrosos extre- mos do sentir e do pensar. Podem existir, sim, estes empanamentos psíquicos e pessoais, mas o que tudo sobreleva, nas maiores dimensões do amor à familia e à terra, é uma escola de origem, de repercussão humana e filosófica, de relação entre Deus e o homem, adap- tada ao meio, ao complemento do trabalho, à natureza c ao temperamento do povo.

Muitas coisas, com maior ou menor fugacidade de engenho e de trabalho, muitas utilizações técnicas dos seus instrumentos pobres e redes, muitas situações, muitos factores racionais ou reflexivos, sc resolvem dentro da escala e dos planos copiosas e absorventes das possibilidades, das conveniências, das utilidades, dos entendimentos e das circunstâncias.

Não é 0 produto duma cultivada disciplina. E a própria disciplina dc amorosidade e realidade crista, exacta, prática, agindo particular ou associada rente, num sentido elevado de aplicação dúctil, ao bem social c colectivo.

São OS homens distintos dc valores como as semen- tes, de vocações, de capacidade (lc trabalho e de enge- nho, de ideias e preferências, de gostos, dc virtudes, de intenções, de inteligência, de educação e de amplitudes de liberdade. g mais ou menos presa, aperrcada e condicionada segundo a letra dos contratos, dos arrendamentos e das reservas daquela economia burguesa do capitalismo privado da propriedade parcelar e rústica.

A classe social da lavoira exerce, porém, dentro da comunidade, uma posição activa e permanente de unificação e homogeneidade de serviço e de humani-

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( I RTO*›ID \DI'~z D1-1 GI 'I.\Í.\RÃ ES 303

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dado, a mais pura em doutrina ainda não incorporada na cultura clássica das compensações e da justiça.

Defender a felicidade comum dos naturais das paróquias rústicas, não amesquinhar nem apoucar com desculpas e separações distintas as forças que se dife- renciam pelo grau da maior ou menor sensibilidade de consciência ou inteligência, seria equivalente e fornecer justiça igual a todos. Concertar, concretizar, pela bon- dade, pelo desafogo de taxas e impostos, pelo recon- forto de boas leis de auxílio, uma ajuda eficiente ao homem do trabalho rural, livrando-o de certos encargos, e ajudar propriamente, eficazmente, a propriedade e

seus legítimos proprietários, que da lavoira colhem os seus rendimentos, poderia constituir uma upa de revigoramento tanto para senhorios como para caseiros, e seria sobretudo o ponto de partida para fazer parar o êxodo dos trabalhadores rurais, porque é certo que o vasto campo agrícola encontra-se actualmente cada vez mais despovoado, pondo em grave risco a lavoira e a economia nacional,

Resistindo sempre intcnsivarnente essa cultura po- pular, desdobrada à luz de todos os interesses e von- tades, pela força da tradição e de auditivas heranças de enriquecimento, c não quedando no absoluto das suas graças e na particularidade dos seus motivos de valor real c natural, foi adquirindo novos vínculos, novos elementos transitivos. Então, dentro da mesma capa- cidade, tomaram um insulado crescimento de ínfil- tração, de composição e transplanta‹.;ão, os ciclos do romanceiro, de conhecidas afinidades europeias e os cancioneiros de saudosismo medieval, de heranças remotas, na forma dos cantares de amor e de amigo. Estes valores ele poesia fermentaram depois, no senti- mento colectivo, génio anónimo, as maiores e mais fecundas criações populares, dentro daquele género dc expressão lírica, edénica, pastoril, tão perfeitas nas voltas e na doçura, como as gargantas c as asas dos passari- nhos, que remexem sempre afoites e oportunos no loiro dos tribais maduros e no oiro das eiras soalhentas.

Os períodos que mais directamente nos ligam a dominação romana, é que nos deixaram, pela sua influencia persistente e de longa permanência, a maior

de tradições, seguidas e adaptadas todos SOITIEJ.

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304 RIÊVIST.-\ DF G\."I1lzI.\RAI*S

e a

sentimentos do culto, dos ritos, das artes, das indús- trias e a muitas disciplinas, sistemas e técnicas sociais de governo e orientação de métodos e hábitos dentro das populações e das terras.

Em multiplicação e amplitude, desse mar miste- rioso, proliferante e bélico da Idade Média, Ficaram os respiradoiros csbordantes, vesânicos e increres dos sacerdócios da bruxaria e da impirica, ernplastrada e mezinheiro medicina popular.

Desta idade à Renascença é que mais fundamente se intensificaram os caracteres etnográficos nas rela- ções da vida e no culto libertado dos espíritos, pelo gradual aumento das conveniências sociais, das condições crescentes da civilização e criações técnicas e laborosas.

Os rastos e as linhas de ascensão, os aspectos de transposição, as subtilezas do temporário e do dura- doiro, embora lentas e variáveis, iam alterando, desen- volvendo, renovando e fixando, pela prática, pelo uso, pelo gosto, pela assimilação, pela disseminação, todos os calendários públicos das operações e manifestações temporais e exteriores dos costumes e das tradições. Mui aram também os destinos espirituais dc acção ritual e piedosa das reverencias colectivas, na estrelada beleza dos domínios propiciatórios das graças, das rogações, das abluçõcs c das oferendas.

Assim, no clima rural, nas recurvas dos montes, sal- taricando nos espaços lavradio, no baloiço e na folga dos entretens, na estridência vozeada e folgazona das servi- ceiras mais solenes, o amor solta-se, mais respeitoso OL1 capitoso, numa emanação de fragrâncias e de sentidos métricos e bucólicos, formando a cartilha mais expressiva e poética a todas as deusas do trabalho todos os altares doridos da natureza campestre.

E surge tão espontânea, num conjunto folgado de bom gosto, tão multiplicada de imagens e de cores, tão divertida ou salpicada de confissões, de saudades, de estribilhos c desenganos, numa variedade de bordaduras c de carinhos, que não é possivel arrecadar-se tanta colheita cultivada ao desbarato, em modas corridas e roladas ao jeito malicioso das desgarradas ou em coro colectivo de vozes, no apejar das cerimónias domin-

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guelras, nos C(l)flCÊf tOS de restada, ou nas paradas unifor- mes de regozijo público e romarieiro.

No clima da lavoira, as adivinhas têm um sentido volátil de paciências c desfrutes caseiros, pequeninas como as carriças ariscas da beira da porta e dos telhados. Os contos ingénuos de quando Senhor andava pelo mundo na companhia de S. Pedro, os contos das bruxas, das fadas de cabelos de oiro, das varinhas de condão, dos príncipes e das princesas encantadas, dos santos, dos mares, do céu e do inferno, estilizaram c alindaram uma orquestração espiritual c fluente, que mais e mais se enriqueceu de moldes e rebrilhos expansivas, pela introduzida influencia dos rimances versejados, cantaro- lados pelos cegos trovadorescas c ambulantes.

No clima do trabalho, no clima religioso e tradi- cional, entrecuzaram-se pantci mos, paganismos e roma- nismos, que se foram adoçando ao sabor das virtudes domésticas e dos sentimentos duma evangelização paro- quial, lento ciciar de viação calma que foi correndo com as miragens turvas e nocturnas, pela junção asso- ciada das assembleias irmandadciras e sobretudo pelos cursos reeducativos duma doutrinação de catequese, de confissões c penitências obrigatórias.

Os clamores, as bênçãos, a água benta, contem- plações impressionistas c simbólicas dc emergência para O espantar tcncbricoso dos maus agoiros e dos males ruins, pragas diabólicas que oscilam entre os ventos e as nesgas das encruzilhadas, e sc metem de osga e de golpe no corpo da criação humana e animal e no ventre das terras semeadas, acabaram por beatificar um pouco mais, as almas tementes e assustadiças, que ainda hoje todas tremem, Santo Deus, quando ouvem o uivo pro- longado dos cães, o piar soturno dos mochos e das corujas e o cantar do galo altas horas da noite.

Para os homens que lidam com estas psicologias afectivas, emotivas e compreensiveis lo povo e sabem estremar os sentimentos, as rações, os espasmos e os delírios, verificam que pelas particularidades, pelo ins- tinto, pela intuição, pelo medo, todas aquelas especiosi- dades c luzeiros brotam com simulada c melindrosa naturalidade. Chegam ao seu pensamento e â. sua inte- ligência em borbotões naturais e espontâneos, e se armam e enrodilham a todos os actos correntios do tablado da

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306 RL\ lsrà DI G\,'I\/ KR au,

de cortejo, de ladainha, de programa

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vida c do trabalho. São, todavia, valores rituais c con- trapontos de resistência, que ordinariamente robustecer as verdades mais comuns que subsistem nos incrustados preceitos e normas dos usos, das tradições e do saber mediano do povo.

Não haverá de facto recrudescimentos embala- dores e presentes na espiritualidade dos conhecimentos rudirnentares do povo dos campos. Pelo contrário, bastante do que havia, foi desaparecendo, em virtude da violência forte do progresso e da ínfluência dos tempos, que nivelaram, corrigiram e alteraram muitos costumes, muitas tendências e hábitos de um regionalismo eferves- cente e local.

Obliterou-se também aquele estilo contemplativo e de movimento,

não so espiritual, na ostentação cerimoniosa das rondas da Senhora da Lapinha e do S. Tiago da Costa, como indumentário, costumeiro e tradicional, na bizarrice das andaimas e na teoria das maiores e mais acentuadas demonstrações etnográficas exercidas nas eiras, nas vindi- mas, no enredar do linho, nas espadeladas e nos balofos.

Tudo aquilo, porém, que ceou e que resta, é essencialmente puro. E o que é puro e do povo, é eterno.

Podem as novas camadas da gente moça dos campos saber ler, escrever e contar, imposição legal e profícuo para acabar com O analfabetismo, mas o que elas des- conhecem não é o que ressai das prendas ariscas e imbuições viscosas e ga i t a s de um modernismo que se acasalou com todas as virtudes e humanidades das gentes incipientes e simples, mas tudo aquilo que em estribilho e ementa avoenga representava a existência histórica das tradições, das lendas, das localidades c dos regionalisrnos graciosos, que iam da própria e ligu- rada simbologia amorosa dos conversados aos preceitos da mordomia igrejária das confrarias.

SÓ mais tarde, os homens de gema, de escol, estudiosos e os mais incrédulos letrados dos centros civilizados e urbanizados verificaram, palpàvelmentc, que todas as caracteristicas elementares do idealismo cul- tural e artistico dos agrupamentos rurais, forneceram aos clássicos e eruditos, farta matéria de substância basilar, original e construtiva para o reforço cientifico

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CURIOSIDADES DE GUIMARÃES 30?

‹.› ambiente de afanosídadc e religiosidade onde povo

e uniformizado dos estudos filológicos, filosóficos, geou graficos, históricos, sociológicos c mesológicos.

E quando da cultura popular, acumulada de riquezas conceituoso c comuns, de virtudes ideológicas, de intenções e expressões tradicionais, fundamentalmente instituída pelas regras do trabalho e pela verdade exacta do que se acomoda aos serviços e à perfeita e harmO- nica afinação de criar e produzir, e quando desta cultura, como i m o s dizer, todos os sábios principiaram pacien- temente a tirar partido, reconheceram que o produto do meio de onde germina a vcrgôntea, é a baseprin- cipal de um génio criador e expansivo, o realçar fron- doso de todas as unidades, naturalidades e simplicidades de orientação, de floração e de vida.

Conhecidos depois, cientificamente, todos os facto- res externos, todas as condições mcsológicas e todo

g o opera c vive, e todos os elementos complexos da sua actividzule, da sua formação e do seu estado espiritual, os agrupamentos rurais surgiram à luz da história e da geografia social c humana, com toda a sublimidade dos seus contornos edénicos, artísticos e valorização etno- g folclOríco.

Estudaram querençosamentc O campo, escutaram os segredos da terra, ouviram atentamente o povo, e o aglomerado rústico abriu-se todo, individual e colecti- vamentc, de ponta a ponta, de um longe a outro longe, de um campanário a outro campanário, de um lugar a outro lugar, na riqueza do seu valor intrínseco, na intimidade dos seus sistemas de sacrifício c de finali- dade, no emaranhado condão da sua beleza.

Beleza e verdade esbordantes do sentimento das coisas e do amor dos homens, humilde beleza e fot- mosas tarefas espelhadas na poesia dos moirejos, car- regos e sermos, e na harmonia doce dos seus cultos e credos tutelares, nas horas amargas em que os seus animais perigam e as searas estorrinham de seca ou deli- nham com a bicha.

gráfica, e com todas as linhas de enfeite c de carácter

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Santo António bendldo! J Q 5 u 5 Í .

S. Torcade milagrosos.. Senhora da Lapinha'... . Santíssimo Sacramento ele

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308 lua-;vIs'I'.\ czvnr.~.R.~\F S má

Na crença popular, o Santo .-~\ntónio é o advo- gado dos animais. Quando qualquer bacoro anda doente ou se encontra enfezado, costuma o povo defumá-lo pela maneira seguinte :

Tiram-lhe trás narradas dc pelos: uma da testa, outra do rabo e outra do cncahadoiro ou travadoiro do mesmo rabo.

Deitam-se depois ao defumadoiro, que e feito de alecrim, folhas de nogueira e palha-alhas, passando-o por cima deste defumadoiro, diz-se:

IM: ¡¡¡Ã¡ag¡¡e de Santo /Jnnšnio, lã/‹ le deƒkwza pzzra que faro.

Passa-se três vezes. Qualquer outro animal pode

defumado. Para se castigarem ou afagarcrn as fruteiras que

não dão frutos, há práticas muito curiosas. A planta a que chamam machorra, é aquela que é

preguiçosa em dar cor ou fruto. Para a curar do mal, para lhe tirar o vício, como o povo diz, corta-se uma vara dc castanheiro na noite de _Ioao, c ao nascer do sol do outro dia, dão-se-lhe nove vergastadas.

(`) nosso lavrador tem já por costume e lição, esmocar o tronco d fruteiras que lhes custa dar o fruto. Este castigo é eficaz.

Ainda hoje, esta prática Ó comum e usada, e sem- pre feita, para que de o esperado resultado, com toda a observância do rito supersticioso, na véspera de S. João, à meia noite.

Alguém nos refere o processo de castigar um limoeiro c as palavras de formalidade que se devem dizer no acto :

desta maneira ser

13! fe verfbn PJ"rn'‹jar, eu Is' raƒtfigo, tarado a nzaƒfrirru, Para qƒre dê: ̓fizõeâ' irão gradar rwƒm prrnflw.

F feita esta operação também à meia noite da vés- pera de S. João, e Íustiga-se o Iimoeíro até cair a folha toda. Não sabemos de certeza se para qualquer

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outra

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I CL-RIOSI DA DES DF G[ÍI.\IARAITS 309

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fruteira a cantilena é a mesma, com a mudança apenas das palavras referentes a cada árvore e frutos, ou se varia, mas como cada benzilheiro tem o seu processo de matar pulgas...

Fórmula essencialmente mais caricioso e pouco vul- gar, é aquela que alguém usa, pelo menos para as ban- das de Pcnselo, que foi onde dela tivemos conhecimento : Quando se deseja tirar O vício à fruteira machorra, deve esta ser abraçada por uma mulher que esteja a amassar a formada, e com as mãos cheias de massa e bem junta à fruteira no abraço, deve dizer em tristeza suplicante :

Por que me não dá: dar teu: fmƒw ? Por que zé não dá: Peral? ( Ou figof, wa§a/, EN. J

Ainda lhe escorre dos sentidos, em fixidez de por- menor e dc lembrança, um giradoiro curioso para o recordar de factos e de acontecimentos, dentro das re- servas c limitações do tempo e do espaço. O povo regula, decora, marca, ajusta, aproxima e define os passos, os planos e as levas da sua vida, ou rememora casos e porfias de distância, por um calendário de cir- cunstância, natural e de memória, que roda excêntrica- mente sob as fases do trabalho agrícola ou da folhinha romarieira: lioi pelas lavoiras ou pelas vindimas, que me casei. Foi pelos Santos ou pelo S. Martinho, que isto assucedeu.

Foi pelo S. Miguel ou pela maré dos sachos, que me despedi do amo. Foi pelo Natal, pelo S. Torcade, pelo S. Mateus, ali pela beira da Páscoa, chegante o S. João, etc., etc :

E assim se guia e orienta, numa medida de apro- ximação, pelas imagens dos tempos, e raro pelo calen- dário dos saragoçanos e seringadores, que plantam ali os meses e os dias por entre a estampagem das luas cheias, quartos crescentes e quartos rninguantes.

Como não usa muito de alcunhas, (1) numa ordem prática de simplificação, o povo junta ao primeiro

(1) O povo das aldeias é dc físico cscorreiao c desempe- nado Ram :se vê um malote ou marreca, LIITI eatracego c muito menos um careca. Quebrados c dc fraca dentição, sim, muitos, e de I`1(II\IÚS.

J.

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310 RFVIST.\ DF G\'ImAR.›u*s

nome do lavrador o nome da propriedade que ele fabrica. Uma. espécie dc currículo de feição onomás- tica. e toponímica. Linguagem simples dos nomes simples, acrescidos do brasonário de costado local das quintas e dos lugares.

Portanto, deste modo se identificam: _ da Chrvalbal, o Francisco da Ponte, o Manuel do Paço, a Maria do Tá*/bfidø, a Joana da Cúflateira, a Josefa da Tarte.

Os jornaleiros, os cabanciros, os rendeiros, etc., tomam o nome dos lugares onde vivem: O José da Pë.gada, o vendeiro da [irƒrada Nova, o padre da Bar- naria, o cura de Per selo, de S. Miguel, etc.. Os criados, as criadas, os senhorios, esses vulgarmente nem são referidos pelos nomes: Os lavradores dão-lhes um chamadoiro rápido, que os foca sem confusões, embora muitas vezes os não conheça: O senhorio de .S`aP0.f, a senhoria do Ozrƒeiro, O fidalgo das La/zzeimr, O criado ou criada dos Po/1/hair, do Proposta, etc., etc..

Também usa, c parece que não, as suas etiquetas de cerimónia. Em qualquer grupo de lavradores, em trabalho ou na romaria, estando presente uma só mulher, é a primeira a empunhar a caneca, para beber; estando, porém, duas ou mais, já inicia a roda, o mais velho dos homens, ou o amo e patrão se estão presentes.

Quando as mulheres atingem a idade dos 35 ou 40 anos e não chegam a casar-se, o povo junta-lhes logo ao nome próprio o epíteto de velha - a Maria velha, a Joana velha, a Clara velha, a Carlota velha, etc.. Ou então os designativos dc ficozz para fia, ficazr Para lavar .rruztfu (1 ) , /icon /ia Peça. (~ )

O Ioaqujm

I

(1) E que vulgarmente, as sulteítonas, são as zeladoras dos altares c dos santos, as que US veneram, asseiam, vestem, e lavam. Lavam ns santos usualmente com claras de ovos, que lhes da certo brilho,

(2) Que i r o u 1nte1ra, por encetar. quls, que não teve eumprador, freguês.

I. â1zcn(.121 que ninguém

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I i I

( L Rlosín \DI '¬ CzI..II)»L\}=..u-:râ H1: 311

Talhamentos de terras. Inclinações supersticiosos. Derrame da bruxalidade. O grande museu rural.

I

OS homens da

lei O

ÃO S

I

(Íomeçaram lavoira por povoar intensamente, com desbravamentos c: aldeamentos dá choupanas colmaças dc madeira c alvenaria tosca, as planícies e os vales mais abrigados das intempéries c mais favorecidos ao arroteio do solo pela liberdade das águas de rega e lima dos arroio, e pelas que se repre- savam nos açudes c nas poças e saíam 'is andadas e rodadas consoante a dos prazos ou ajuste dos quinhoeiros e consertes. Os agregados rurais rapida- mente despertavam ern vizinhança- de densidade popó_ lacional e dc terras aráveis, que se metiam cotovelos, às nesgas e às leias, umas por dentro das outras, eanhestramente, numa incomprccndida interposição dis- pcrsiva de direito, por vezes indicativa de extorsão, de delimitação, de posse, de conveniência, ou de concor- dância foralcira ou enfilêutica.

Os talhamentos das terras, constituindo em tempos remotos um benefício sesmeiro de fixidez para a colo- nização lusitana, trabalheira de ávidas pulsações e de perpetuidade, andavam, porém, no trilho corrcmc das prepotèncias, dos abusos c na mão dos mais favoreci- dos de eminências privilegiadas, e cstcndiam-se das chás maneirinhas até os cumes dos outeiros esparralhados dc courclas e de sortes de mato.

Por estirada e bramias para um recavamento con- veniente a braços rijos dc servos c vassalos, algumas dessas terras ficaram indivisas, coutadas, regalengas.

Outros t ra tos mais acomodados c directamente desbravados pelos viveiros de errantes e desaninhados, e as muitas e largas tomadias que sc fizeram arbitra- riamente, ou pela tradição do figo 1i/0rƒa, nas amplitudes dos baldios não atombados nem identificados nos r i s dos bens do Município, adquiriram mais tarde tiros de imemoriabilidadc.

Verdade seja que para onde quer que :t nossa vista se estenda, nos podemos encontrar ainda algumas par- celas da comunidade social agrária de direito vicinal. Encontrámo-las bem patentes, nas sortes divisórias de *›

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312 R1=v1s'1'.-\ DE C1l¡'IÍ\i;\RAJ"S

mato, nas irzfiafldader da ‹{s¿1/a, (1) estabelecidas pelos con- sortes e raçoeiros, na comunhão dos regos, das águas partidas, nas de torna e torna, nas de compropriedade, c na que sai regulada pelas pedras de partilha e pelos gurentes, e também alguns raros vestígios crónicos c rélhos duma sociedade rural de premissas, oblatas e operações aferradas aos mitos, à perduração dos ensai- mos e às heresias praticadas com objectos religiosos para uns irregulares e amorosos, ou ainda denuncia- dores dos despovoamentos, de que as antas, antclas e os castros são os traços indeléveis da fisionomia mile- nária duma vida desaparecida.

E vemos mais: as Paga; da ƒzzorƒe, onde a sua boca se iam rogar pragas contra vizinhos e inimigos, para que desaparecessem do mundo, (2) a.r Za})a.r da zvzzzfber, esconderijos dos pecados e dos actos impuros; OJ' Pena*- do: dar Pedrinhas dos ¡1azv1orad0.t,' os pwzâdo: dar rogadzmar fáficzar; (3) ar faná/es sanear, dos banhos lustrais nas noites dc S. João c as fonte: sagradas, onde os lavradores, no dia primeiro de Maio iam depositar ofertas de milho e demais frutos da terra.

No dia primeiro de Maio, ainda foi é vulgar, os conversados vão pôr os seus ramos de tores nas fontes onde as suas namoradas costumam ir à água, ou então, de preferência e mais seguramente, vão pendurar coroas de flores enramadas de muita ou de folhas de carvalho, nas portas das cozinhas ou dos quartos das casas onde elas moram.

A mesma distinção dc graça se repete na véspera de S. João, indo pôr os rapazes, nos campos onde esteja semeado o linho, para as suas namoradas, um pequeno arco ou delgado pinheiro guarnecidos de flores e fitas de papel de seda,

I

(1) Ver na vol. .X das «(Ãurí‹›sidades dc (Juimarães›› (1946) ‹› cap. A Irrrzandadë da ‹í.gna, a pág. 66.

(2) Para desejarem a morte a alguém, serviam-se das paga.: das bruxar, assim designadas, que as hã espalhadas pm' muitas Fretzuesias do (Í‹.mcelh‹›.

(3) Para estas operações, serviam-se dos _¡'›f'llf'drJ.r das 1)'J'0!i*ƒT}J` ou dar wrofrrar, também espalhados pclfws IT'l(}1l1T.IL'S do Concelho.

Para quem acreditar na lenda das mouras. há, de restá, as fontes que ranlrwz e us penedos que falzzwf.

nu O

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CURIUSI DAD1-:S Gl.IIM;i.R.-*Ll"S DI' 313

Í

As mulheres que nunca tivera junto dos pendo e disfarçaclamcnte ninguém, como dente de algum fraqueza estéril:

machorras e as não menstruadas, ou m flor, no seu dizer, teriam de ir até s das moiras, ao lusco-fusco, sozinhas :I sem darem conta do seu segredo a

se fossem ao encontro sigíioso c Fauna silvestre para 0 alÍ\'i() da

pru- sua

AÍ'fiwliú a ar/zz Penha Para em fifboƒ /tfnl¡(f. Ou rapaz or; rzzpózrfiqzz em" /my .rafa da I›‹:rr:.22¿. ;

| 1 'i . |

e*\ntigamente, para este tcmerárío sacrilégio, os sagrados e rcspcitosos, manchas ignominiosas réu-'am no índice caco

e outro objectos

guilhando com mi de

mungatório :

S íman, usavam, em sagrados, os mais as consciências de

stcmpc:ros que figu-

<‹ ..\~lar1<lam‹›s sob a dita pena dc exc‹›munhà‹J, que nenhuma pessoa faça pacto com U £'lL'fl1HII1lÍ), nem H venere, IICITI ‹› invoque por algum I11(.)l.lO, para algum efeito: nem use dc alguma brutalidade, feitiçaria, ou seja para bom ou mau l i , principalmente usando de pedras dc Ara, corporais ou outras CUIISRS sagradas ou bentas, para lograr ou delegar, conceber, ou fazer mu- ver, ou parir mulheres. ou usarem de beberagens ou curtidas, ou outra coisa, para querer bem uu mal, nem de ‹.›utrr)s ungucfltos e cá)nfei§‹l›e:s supersricic›sas para embruxar ou para qualquer outra cousa : J U efeit‹›, mau nu bom. » (2)

Destes segredos gravosos de feitiçaria está (J mundo cheio, uns que se revelam e vêm superfície das pá_ t i a s , outros mais íntimos que não apercebem, c se

(1) Fstzls duas quadtzls punfcm ter curta czn'1'clzu;üu com aquclc: acto f‹:mcc1r‹› dá sedução:

1

.S e=‹?o g:rƒ¡¿'r‹'1¬' :'zé:':'

.\aí .varra.r dá' .Yrfxfƒrú [Má/ré,

I en: de .r.=ré'iƒr nó: ..Q:rzzr‹*.!'//us _-10 mame do Czfz//'.£:'.¡z*z.

.Ye (¡n¿'rf'_f qfm U Irar e*or¡'›ú .\}ln rã;/Hr: zé .raça da .¡);aL~r1, }¡:*›.*.r de .i.*HÍ1.¡f° fra _Q.*:arf'¬\wzz¡ -Ia wú.u1‹* da C¿/¡'z¡'rr.v.

1121 Frcguusirl ia:

,\':::r›ú*‹¡.u' da l

Hai um monte assim chamado, du (Ífllvâir'o. (›r:mdar.

(2) Coin'/£ƒ.*r:lm‹'u¡ rá 1697', pág. 609.

1.*'¿¿'.ƒ1!.\tJ¿¡l(ƒf/ r f f ü ' .15b‹:t=:1,, !I

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314 HEVI STA DF GV Í \l .-\RAÇA= S

outros não se entendem e ainda muitos nunca se chegam a descobrir, porque as bruxas os encobrem c os pade- ccntes não os revelam. Cada bruxa, tem o seu dobar de meada e 0 seu modo de matar pulgas, e cada um, conforme pode e é servido, procura desculpar a sua queda, disfarçar o seu desgosto ou o seu desrespeito com as operações próprias das benzilhiccs caseiras ou das indicadas pelos curiosos vizinhos entendidos dos males alheios, e são tantas c tão variadas, como as cabeças que enlameiam o purgatOtio de lágrimas desta vida terrena.

Uns mais ferrenhos, descabelados, extirpados, outros mais íntimos, mais respeitosos, mais aflitivos, mais comuns ou reservados, estes fenómenos naturais do estado das almas e da subjectividade dos espíritos, tomam maior incremento nas camadas obreiras do campo, não tanto pela ignorância mas pelo maior grau do isolamento em que vivem e da verdade adorativo e temente a Deus ..\misericordioso, que tudo lhes dá e tudo lhes tira.

Adoram confessada e admirativarnente no sentido realíssimo do bem e em reconhecimento afectivo do bem, acreditando, entanto, cegamente, no predomínio dos espíritos. Temos assim o movimento vagabundo e reverso do mal.

Os espíritos, cm censura, voltam ao lume da vida, quando não SC encontram calmos 170 outro mundo do além, e tratam dc batalhar c de mandar, por interven- ção cabalística, na consciência dos vivos.

O povo nunca se julga liberto, por mais que faça, dos génios dialiólicos, que lidam 'i rédea solta em todas as escaleiras das almas e em todos os andares do pro- prio juízo dos cristãos.

A sensibilidade, a boa fé, o rnedo contagioso, a comoção c a emoção do comum mais denso e estranho da humanidade, navegando no âmbito transfigurado de muitas imaginações fantasiosas e inconsistentes, tanto incidem na importância dos exorcismos, dos amuletos e no dom curativo das benzedeiras e das bruxas, como na crença dos milagres.

A sobrenaturalidade indeterminada e misteriosa dos males que lhe chegam pelos ares e pelo infindável des- file das almas penadas, obrigam-no a seguir, titubeante

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(;I;RIOSID.~\ DES DF GIÍIl\-IARAES 315

e incerto, ao longo de todas as dimensões donde sopram as nebulosidades secretas duma materialidade e ritua- lismo ati-religiosos.

Surgem então as crenças c os rituais, as exaltações e as fascinações, num curso exagerado de sugestões, clevoções e práticas mórbidas, enredando em confusão desvairada a espiritualidade humana, docemente maleá- vel, ingénua e boa.

Para correr com estes e aqueles males que infestam e desassossegam as casas e as famílias, só as bruxas.

Umas são consideradas do Senhor, e são benevo- lentes, caridosas e não abusosas em explorações e trafi- câncias de mistelas; outras consideradas do Diabo, e levam à ruína c à demência muita santa criatura.

Daí, entre o baloiço do bem e do mal, por nada deste mundo o povo se desapega das bruxarias. E corre léguas (I)

Bruxarias, ares ruins, maus olhados, são todos os males dos que não estão bem e sofrem as torturas do coração, as vinganças do amor, os achaques da doença, o peso da desgraça, vitimando uns pelo acabrunha- mento físico e outros pelo treslearnento moral, levan¬

(1) «Por varias vias sc pretende adivinhar c alcançar o futuro, como é por feitiçarias, nigromancias, prcsrígios, arte mágica, agouros, sortes, encantamentos, invocaçücs dc espíritos malignos, e " . . .

*is c repro- varios pelo direito, cm mudo, que por cousas suspeitas para a Fé, foram os culpados nelas castigados por lei Divina, com pena de morre c pelas lois dos ímpcradorcs e rcís catolicos.

Mandamos, con: pena dc excomunhão maior, que nenhuma pessoa, assim cclcsíastica como secular, use de adivinhaçOcs, por ‹:nc:u1tamcmos, por agouros, IICIH por arte magica ou pacto com o alímenros, sonhos,

ossos remediar alguns males, tesouros,

Í

demonio, fcirigarias, nigroinancia, nem faça conjecturas pelos encontros ou voar c cantar das aves e ani-

mais, ou por de tirados, ainda que tudo se ordene a ;¬ ou descobrir ou furtos, ou

para sal:-er alguma cousa passada, ou c› que sc passa. Proibimos com a mesma pena sc não use de arte mágica

nem Q , nem faça juízo ou levante figuras pelos movimentos ou aspectos do Sol., Lua ou Estrelas ou qualquer outra cousa animada ou inanimada, ,ou por sinais do corpo humano, riscas e veias das mao ou outras par- res para prognosticar as acções humanas, que pcndcm do livre alvedrio.

Declaramos não ser proibido usar da Astrologia natural. Declaramos também não ser proibido levantar figura pelos astros

dá modo a l u m da judiciaria proibida

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816 RF.\'ISII'.'\ DF (',\*Íj\¶;\R¡\}*FÊ.

do-os ao suicídio, ao endemoninhamento, ao frangalho trapento da miséria. (1)

Pelos ares, pelos montes, pelas fontes, pelos portelas de cão, pelas casas, pelas cabanas, andam e pairam os agoi- ros, os males dc inveja C os espíritos maus e desgarrados, fazendo entrar na arca do peito a iletrado c simbólica tradição supersticioso, que se enxerga, aliás, na cerebração dos crentes e indiferentes e na síntese de todos os pas- sos necessários à vida. Todas as civilizações estão povoa- das de cultos, os mais diversos e os mais fartos, para o boro amparo da sorte, dos augúrios e das rogações.

Os ensalmos dos crendeiro, de sentido religioso e tradicional., são todavia inofensivos, meros corrílhos e toadilhas de um ritual paisano, que não mete 0 des- respeito ofensivo da estola e do hissope, embora com a escondida e disfarçada presença dos escapulários e bentinhos, para a indemnidade de quem pratica a clou- trína supersticioso, sideral ou S. (Íipríanista, e para que o desfecho das consumidas e liberativas práticas tenham mais força de segurança e de perduração satisfatória.

c aspectos dos planetas C constelações sobre L) nascimento das pessoas, observando a hora do nascimento, e temperamentos c compleiçües dos pais.

Da: pena: que devem bater os .fe¿fire¡ro.r e m‹¿‹{ico.r.- Sendo o culpado plebeu, pagará dois mil reis: c não os tendo, ser-lhe-ha comutada esta pena cM outra corporal, c fará penitencia publica cm um domingo, ou dia santo à porta da nossa Santa Sé ou do lugar onde for morador, com uma mitra infame na cabeça e uma vela acesa nas mãos, enquanto a missa conventual se disser.

Dar benzede:'ra.r e que Clltfllll com em/mo.: e fazem exarciƒmas. au Ferraz): drzr Igreja: a.t imagem: às santas: Sob pena de excomunhão e de vinte cruzados, que nenhum use dc ensalmos, ou palavras para curar feridas, ou doenças, nem benza a outra pessoa, ou animais, ou bichos alguns, nem excomungue lagarto, burgo, got'- gulho ou outra cousa sem primeiro ser examinado e aprovado pelo nosso Provisor

Que não vão furtar as imagens dos santos das igrejas c as levem para suas casas, dizendo que as não hão-de tornar se os santos lhes não derem sande em suas informidades, ou lhes não fizerem aparecer as cousas que perderam ou lhes furtaram: e che- gando a maior atrevimento, prendem com atas c atadoras os mesmos santos, com pretexto de os não soltarem, enquanto lhes não concederem o que eles querem. › Arrebƒrpado de Braga, Lisboa 169?', págs. 610 a 61T )

(1) Ver o que escrevemos a pag. 249 no vol. Yradífãeƒ e :danças papa/arm, Esposende, 1924.

(CÍon.tz'iz*:rr'coenJ .Yinodaiƒ do

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C['RIOSIDAD1*1S DF GIÃ{ÃI.-KR.:'L}{:š 317

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a sua crença, quer 0

penedos siglados figuraçõcs inexpressivas de

n

I I

um misterioso arcano difícil de desvendar. A vontade e o crer, têm uma acção distante de valor. Praticantes e pacientes lutam com muito zelo e muita fé, e nunca por nunca envenenam se laenzam em esconjuro, cu/fzer canboƒo, Diabo :¢]l‹z surdo, quer se benzam respeitosamente, em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo.

Dentro de cada um há pelo menos um medo, uma vacilação, um pressentimento, um Ho incoercivel de carreira que supersticiosamcnte nos envolve, visto que à vida nos prendemos pela dor, pelo sofrimento, pela tortura por vezes e pelos receios da morte, sempre.

Esta feição reflexiva das práticas bruxolentas, as caminhadas miraculosas, segredosas, lúbricas e amoro- sas, aos simbolos hídricos e á materialidade inerte dos

com g ex-vo- tos ou ainda marcados pela erosão ou depressões da natureza, ou também assinalados com marcas divisórias de montados, onde o povo vê todo o maravilhoso calvá- rio das pegadas santas e das tradições lendárias, tornam verdadeiramente assornbrosa, perturbadora e aliciante, a ciência dos costumes, que se retrata na própria ñsio- nomía das actividades da vida rústica c nas atalaias disfarçadas que comprimem e alteram a responsabili- dade moral c crente das almas e das famílias.

Não são, semente, estes fluidos impenctrávcis do subconsciente, que abraçam todos os movimentos e operações dos sentidos, da razão e da vida, dignos de meditação e estudo, pois podem titular-se dentro daquela cadeia espiritual que liga o amor à dor, a superstição à. crença e a simpatia dcvocionária a tudo que à nossa beira se aproxima do culto da defesa e da protecção.

Os demais, os que congraçam representativamente, os costumes e os hábitos, com todas as necessidades dos seres úteis, e fazem parte das leis e da ciência do trabalho, e comunicam estreitamente com os organis- mos vivos e os espaços recrescentes, favorecidos e ricos da natureza, são ainda mais dignos duma ponderação atenta, pela sua esscncialidade espiritual, humana, digni- ficadora e criadora.

O gradativo encarecimento do percorrido, não alterou as gemas da própria simplicidade, nem a lição genérica e instrumental das execuções laborosas, nem

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318 H IS-;*~; 1:~5'1.'.*. 111-1 ‹:.zvL:«»1:z RA* I.: 53

as ntaravilhas virtuais dos ambientes populosos das localidades c das propriedades, nem as formulas c pre- ceitos da sua administração local de unidade irmanda- deita e do governo caseiro de uns aos outros se ajudarem mutuamente.

De maneira que o que vemos hoje é, com pá querias alterações, se bem nos apercebermos, o que víamos ontem e sempre.

E então, o que ante nós se desdobra e em todos os tempos se desdobrou, ao cortar dos velhos cami- nhos e dos pequenos pontilhões, ou ao subir o cus- toso trilho dos barrancos e desfiladeiros, é um museu permanente de rcvcstidura panorâmica e de etnografia viva, bem definido, exuberante e real, cm todas as manifcstaç‹'5es da arte pastoril e expressões mutáveis da coloração e da floração.

um museu de superioridade humana e fecunda, sacudido, animado, gritante, representativo, sempre igual e diferente na delicadeza e pitoresco dos seus quadros, no mostruário da sua exposição de verduras, transições de cultivo, garridice de vcstuarios e na varie- dade simples c cansada das apeirias do trabalho, de estilos diversos, dimensionais, maneirinhos, de resis- tência, de pouquidade, onde cada utensílio tem o seu respeito utilitário e lidaireiro de função.

Museu eloquente, típico, original, correndo em linhas geórgicas de sulcos, de renques de árvores e de vinhedos, e numa horizontalidade vastíssima de campos pujantes de fartura, que sc deram, alentaram e entre- garam, sem soberbas nem cobiças, ao compasso das semcadciras, ias sachadeiras, das regas, das mondas, dos cuidados, das ceifas e das colheitas; altamente educativo, dentro da pureza de um regionalismo orgâ- nico, e fundamente doutrinário, afagoso e subtil dentro ia brancura enamorada e ondeante dos lavores femi-

ninos da roupa branca e das peças mais nobres da lavoira .-- jugos, espadelas, espadeladoiros e roca - e dos ornamentos mais célebres, rebrilhantes e tradicionais das romarias- -arcos e andores.

Pelos verdejares amenos, quentes e germinativos dos agros, pelo outoniço abafado e cinzento dos mon- tes, pela beleza clara e calma dos rios e ribeiros, pelo serpear emaranhado dos caminhos, pelo silencio dos

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CI 'luosl D.-\ I§)I: r; D E CzI'I\l.\R.\}'LS 319

1

I

planaltos, por todalas bandas mais escondidas, esduarte- jadas c revestidas das defesas, das terras acanhadas de leias sobrepostas, das coutadas, dos outeiros de mato molarinho e florido, dos carvalhais barrigudos dc bugalhos e dos soutos, aparecem bem patentes à nossa curiosidade c à nossa observação, os modelos reais e os objectos mais fustcs e rudimentares de toda a complicada afinação agro-pastoril.

Eiras c ciclos, casas, cabanas e alpendres, mastura- doíros, alhais, cobertos c cortelhos, adegas celeiros, são dependencias do grande museu, ao abrigo ele representativa matéria etnográfica e da enorme faina agricola.

Fontes e moinhos, nóras e lavadoiros são a resso- nância expressiva do sentimento folclórico, que dc sonhos e alegria enchem a terra c o céu; são a escola alimentar lírico pastoril das vizinhanças andarilhas e das ternura lo amor, no derriço evoluído dos corações encabritados la gente moça, cenários reeendentcs e segrcdosos das promessas juradas e dos beijos conce- didos no rodopiar dos saracoteios e dos abraços.

Igreas e capelas, perduráveis inventários das gran- dezas c votas e processional, com os registos c ex-votos, com as tábuas dos milagres c com o adorno florido e luzente dos altares, são o evangelho de toda

virtuosidatle espiritual, o glorioso c angelical patri- mónio devoto c romarieiro da mais assinalada c fer- vorosa tradição de benegnidade cristãs e dc cultualidade festiva.

Todos os Senhores c todas as Virgens dos orar_ rios e dos alpendres, todas as invocações dos Santos que dão o nome aos montes, às serras e as cordi- lheiras. ficam para aquém ou para além das extensões peregrinas das via-sacras devotas ou das encruzilha- das da serventia comum, e se espelham na placidez do céu azul, sem raias de lonjura nem de profundi- dade, são os santos memorativas dos panoramas, dos termos e das terras inóspitas e bravas, uns com abri- gos e pavios de luz pelos picos das encostas e das escarpas, outros pairando como que por encantamento na fixidez cio local a que lhe deram o santo nome.

Todos têm, porém, c isso os suplanta na primazia bucólica das regiões ou localidades, história, o

21

ii sua

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fâzu Rntsrâ D1 ( \ I \ I \ R - U x

seu drama lendário c de fantasia, quanto à defesa dos cristãos contra a fúria dos lobos, a sanha tentadora dos rasgos, das bruxas e das invasões dos TTIOIJTOS. Muitas

vezes as capelas ou as freguesias impõem o nome aos montes.

A medida dos tempos, a tradição foi enriquecendo de nomes as parcelas mais alentadas dos bravios mona tesinhos. A variedade, sendo grande, canta na religio- sidade o sobrevoo do baptismo protector:

Serra de .Santa Catarina (monte da Penha) Costa terra de mouros e de lobos. :Monte de S. Romão

(monte da Citânia) - Salvador de Briteiros-terra de mouros e de bruxas. til/[ante de .SÁ Tiago (Per selo) - terra de mouros e de bruxas. ele/fonte de .Varia rlƒarinba (S. Torcato e Rendufe) zlíonƒe de .SÁ. Guida (Rendufe). .Monte da .Senhora da Lapinba (Calvos)-terra de l.obos e raposas. Monte da Senhora do Mente (Nespereira e Cardoso ). Monte da Senhora (Silvares ). .Motzíe da .Yanla (Gondomar e Ronfe). Monte de S. Sirzo (Gondomar). Marzte da Ser/sora da Luz ( Creixomil). Morzte de SÁ. Bento (Vizela). Monte de S. Domingo: (Tágilde). Monte de .SÁ. Bartolomeu ( Leitões ). Monte do Padrão ou do .iofzbor de C`aw _polo¡ (S. João de Ponte ). Monte da.: Crzrzes (Fermentões ). Monte do Calvário (Gondar ). Monte de Santo Arztoninbo. etc. Sande, Briteiros, Castelões, Olei- ros, Lobeiro e Gondomar eram freguesias onde infesta- vam ninhadas de lobos (I).

Alminhas e cruzeiros, monumentos plebeus e pie- dosos, são os singelos marcos das orações caminheiras, os passos dos templos, da paixão de Cristo e das pro- cissões, evolução consubstanciada das devoções e do domínio da terra sobre as dilatadas passagens e exercias divinos, recordações sentidas das gerações que declinaram e desapareceram, padrões que revelam as tendências cristãs e humildes de uma arte popular, ingénua e simbolista de ignorados canteiros, imaginários e pintores, de bucO- lica feição nas linhas arquitectónicas e no realçado flame- jante das chamas do purgatório. Na ideação ingénua e sublime dos cruzeiros e das alminhas tudo está presente e oca eternamente lembrado: a oração c a morte.

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(1) Ver Aíontariaƒ, vol. ( 1931 ) por Alberto Braga. 111

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‹;1}‹r('›s1r).\m:$ .'. CzL1ni.\RÃF~a m 321

gzzzívanízficão popular, são, rndopiantc mobilidade

Romarias, rifas c arraiais, predominantes ligamentos exteriores do calendário poético-religioso das manifes- tações igrejárias, ritos privilegiados de divertimento c

.. .J flíl dc tipos humanos, na característica dos seus costumes de cngalho e de folia e nas regras dos seus hábitos

ç e recordações folclóricas, em todos os gomos e traços da de pitanga, de merenda de patuscada, roda viva de

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C‹I?IÍrI)'z!!fÍ*/2 (I,/)J' Jzrwzorrídoƒ f` (2r¡.â' I›rf'zm'‹1_r

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arte aos do que nas rifas a lcil ramcntc cnfcitadns c coloridas, coletes, algibeiras c lenços, c onde jogo todos

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pastoril. e da arte industrial, desde os armadores fogueteiro, desde as bordadciras às amanhadciras

sc mete ão, em ccstinhas bizar- c nu. gracíosídade dos

,n se encontram cm os recursos estéticos do nosso , desde

as danças e Festadas até os desafios volatilizados de cantoria.

Os idílíos, os hábitos, os episódios das feiras, dos mercados c da vida, todo este animado palrei de bizarria humana, entre o muralhar, o comparar c o

POR

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Efqgante f' Precíofa cruzeiro da freguesia zé' .5`. Saí/uzàdor de .Yaƒrƒo

discernir, é duma fertilidade exuberante, pela graça, pelo espanto, pela ternura, pelas imagens, pela sátira, pela cor e pelo €I'1tC(.]Llf',C11'I1CI'lÍO ahciante de fantasia, de beleza e de orlgmahdade, tão imensa como infin- dável.

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C[.7RIOSID:\DFS DE (J LÍIÀIARAES 323

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cxprcsslvos de v

21 doçura e a harmonia, ao valimen-

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Aqui, sim, no próprio torrão das freguesias, com as suas igrejas maneirinhas, os seus altares como can- teiros cultivados, os seus oragos cm pedestal florido e rodo o vasto comentário das cívicas demonstrações pro- cessionais e de trabalho, ' que se encontram os mais eloquentes museus, variados, digressívos, ostentosos,

erdade c realidade em tudo o que neles perdura ou neles se abriga, ou desponta, ou altera, ou rnodifica, consoante as tradições, as estações e a fisionomia dos preceitos, dos serviços, dos factores sociais, das emoções e dos tempos.

No adro, lá estão os monumentos da sua história, per- petuando as gerações passadas e o enraizamento das suas originárias condições e relações de vida, monumentos de virtualidade regional. Plantados na patriótica base real ia terra de moradia comum, domicilio aberto L amplo

das aves e animais, das árvores e da natureza radiosa e produtiva, tem esses monumentos, de repouso está- vel e de simbologia cristãs, personalidade definida, por- que falam pela voz do próprio ambiente e dos factos passados na solitária curva do desgaste e do esqueci- mento profundo da gente labrega. Falam melhor e mais cspelhadamente do que todas as imagens lançadas nos livros c todos os modelos expostos nos museus, porque a beleza, "'

tos de destaque que SO O próprio ambiente pode em- prestar a realidade das espécies, que estampadas ou removidas, se apresentam como aves enclausuradas.

Ali temos, então, a joeira dos seus pergaminhos de estado, as mesas de pedra das suas reuniões, sim- bolos da justiça e da fraternidade reconhecida pelo próprio povo, como bens da cordialidade conciliadora. Os cruzeiros paroquiais, marcos altaneiros duma fé caminhante e de via-sacra penitente, recordativo dos respeito da igreja, antecipam e indicam os primeiros passos respeitosos a dar e as primeiras rezas a balbu- ciar, antes de sc transporem as portas sagradas dos templos.

Por ali, ou mais perto, ou mais distante, quedam modestamente os simbólicos nichos das alminhas, alta- res anónimos da oração suplicada para a purificação das almas, que sofrem trabalhos cruentos nas gargantas incendidas do purgatório.

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324 I { L \ . I * ~ l ' \ DI ( \ I \ I \ R u s

Cemitérios ou Campos Santos, são cartilha dos pensamentos lacrimosos da saudade c da dor, a continuação sentimental da igreja, pela prece c pelo mistério, e as últimas dependências dos casais.

Pelo dia de Todos os Santos, nos pequeninos monticulos de campa rasa, onde repousam os anjinhos, uma crosta de cal ampara ao jeito do caixão, a terra húmida, c aparecem as mais espontâneas e variadas simbologias crucilormes e motivos ornamentais, feitos c desenliaclos pelas crianças,

E como falam essas simbologiasfi.. Algumas cruzes são graciosas, feitas num brincado

arrebicamento de linhas, e com tufos de papel, de algodão em fama e miolo de sabugueiro. Outras são ingénuas, míseros guiços das arribadas, ligados com cordel e algodão de alinhavar, fitas de papel dc seda ao dependuro e pcnachos de muita nos topos.

E os companheiros dos anjinhos ali postos a dormir, pintam ingénua mente, nas folhas largas dos braços das cruzes, uma espada, um coração, uma flor, um rabisco, um nada, interpretações infantis que falam eloqucntcmcntc da vida, da brincadeira, da saudade, da gratidão I

As manifestações artísticas das crianças, pela sin- geleza dos temas c da sua execução, têm certo primor de beleza e cá: encanto.

Quem se desse ao gosto de desenhar, por essa quadra do ano, nos cemitérios das aldeias, as cruzes de madeira e os motivos pintados, arrecadaria curiosi- dades infantis de muitas lembranças rccordativas.

que faz pena é ver os (Íampos Santos das aldeias, alguns, e talvez muitos, tlesprczivelmente tra- tados, quando deviam merecer o respeito e a piedade dos olhares femininos, c o carinho daqueles que de terra, só contam os sete palmos que ali têm, a mais a família, no (lia final do eterno descanso.

A etnografia e mais compreensível, mais sentida c valorizada dentro dos dominios da sua evidenciada actividade, em contacto directo c pessoal, e nos lugares onde se desempenham c observam todas as composi- ções e agregados subsistentes, naturais, cultuais e cul- turais relacionados com a família c o lar, com o campo e o trabalho, com a c a g a e a paisagem adulta c chei- rosa das terras do lavradio.

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2! poderá chamar, pela

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Ao que escreve e relata documentàdamente, poderemos chamar¬lhe a ciência que junta e relaciona os costumes, sistematiza os motivos, asnidades e alterações, e pode destacar ou aventar as origens, as sobreposições, transplantações, com toda a erudição histórica da contemporaneidade universal, mas não nos dá as subtilezas, os rumos e as parcelas mínimas de tantas e tantissirnas afirmações de variedade e de senti- mentos em profundidade de espírito, e as inúmeras particularidades de regência e de acção, que fazem florir o crescente das maravilhas folclóricas e criações populares, c que são, por assim dizer, fluidos duma existência que não se alcança, ou melhor, a alma de um corpo que se não vê, mas que dá vida ao próprio corpo.

A etnografia e um vivo e dominante produto da hereditariedade e do meio ambiente. Hereditariedade que toma o seu curso ao sabor das evoluções e de muitas circunstâncias e caprichos da sensibilidade espi- ritual e estética dos povos. um congraçamento de observâncias, de sentimentos e de preferências. Nacio- naliza-se c localiza-se pela corrente das ideias, dos costumes, da técnica c das utilidades, pela temperali- dade da natureza, pelo carácter da gleba e das gentes, sempre com E1 repercussivo maleabilidade da adaptação, onde deita as suas raízes, acomodadas à ambiência própria, tradicional ou regional.

Deve fazer-se, sim, o estudo consciencioso dessa ciência etnográfica, que SC sua relação histórica e erudita, a ciência arqueológica das tradições e do regionalismo, pois que abrange, em compreensão, destaque e ensino, a evolução dos usos e o típico discriminar dos elementos expressivos do i`olclore.

O corpo inteiro desta doutrina étnica, está no valor da classe que mais intimamente vive dentro da comunidade rural, e se movimenta naquela uniforme grandeza duma articulação de realidade e de verdade.

..-\ existência real, está de facto na realidade das inves- tigações arqueológicas, etnográficas e históricas, que têm o seu campo específico de actuação e de pesquisa.

E os museus, é claro, servindo a orientação siste_ mítica de todas as verdades aparecidas ou descobertas,

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326 R11\ITST.-\ c. \'na RA1.-s mi

cronologicamente expostas, do antigo ao moderno, do que se USOL1 ao que se conserva em uso, prestam incontcstàvelmente, um alto serviço de lição e de satisfação ao nosso espírito e à nossa inteligência. E já é muito.

Os problemas, os conceitos, os juízos, variam perante as concepções de interpretação e das reconsti- tuições por semelhanças e confrontos, o que nem sem» pre bate certo, porque no fundo e intensivamente o que mais cresce, em todos os domínios, são as seme- lhanças. O que não pode haver, evidentemente, é a pretensão de tudo expor nos museus. .I-lá coisas que neles não podem figurar em realidade. Nem a paisa- gem se transporta, nem as variedades enormes dos cruzeiros, das alminhas e dos grupos das restadas, nem os seus ritmicos dançares e cantares se podem expor. Nem as teorias mais sugestivas e movimentadas da cozedura do pão, das esfolhada, das vindimas, das espadeladas e das procissões se podem retratar na fidelidade dos seus actos e cirandeis.

Nunca ninguém pensou cm levar para os museus, as coruchas das sineiras, os nichos das fontes, a arma- ria dos portais, as inscrições e arabescos das padieira e as muralhas, as casas, os monumentos funerários, as calçadas c as fontes das cidades mortas.

Deram agora os corte is das oferendas c os cor- tejos etnográficos, integrados nas festas anuais dc vilas e cidades, em representar, ao vivo, com figurado e tudo, as diversas fases agrícolas ou os mais típicos e caseiros exercícios do artesanato de uma ou outra freguesia. (Íonstituindo uma novidade colorida, alegre c musicada, com muita fartura de arrojo, paciência e trabalho, os aparato aparelhados dos fastos agrícolas e as notas forçadas c contraídas das personagens em desempenho, no palco minguado dum carro de bois, tornam o espectáculo, de que se tem abusado, mais de conjuntura averbada do que de fiel representação do estado coincidente dos trabalhos múltiplos da lavoura.

A naturalidade e a verdade, dita-se, nem sempre acompanham estas demonstrações itinerantes, capricho- samente ornamentadas, simbolizando os diversos traba- lhos campesinos.

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Cl 'R IOSI D.-'\ más DIL Gl.. nu R.\}'1S vá:-¬

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As paradas dos t r a i s regionais, os concertos das típicas restadas, as exibições do jogo de pau e dos desafios poéticos à desgarrada, isso sim, são notas agradáveis e sérias de um museu volante de educação e de estímulo.

Os museus ao livre, por maior fidelidade de expressão, estão agora no plano das grandes realizações educativas.

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Proprietários e caseiros. Casas e cabanas.

Desapareccu há muito, da grande área das fregue- sias, O unitarismo ocioso dos graúdos c graduados senho- rcs da propriedade, pela derrocada dos vínculos, das leis de desamortização, e pela pulverização dc toda uma casta hirtega e endeusada de privilegiados, que habitavam Paços e Solares.

Era uma lidalgaria provincial de herança e soberania avocnga, dc existencia sultanesca c trivial, funclitla c refun- dida em legítimas patrimoniais c matrimoniais, que engor- dava sem produzir, pelas mcdranças alheias, desbaratando em aventuras o que fazia aumentar em massa falida de muitos filhotes passados pelos cacifos das rodas e em muitos familiares atirados para as grades dos conventos.

Desapareceram pois, os morgados, os quarenta maio- res contribuintes e até os Iidalgos de sangue, de casta, de armaria c de penacho, c morreram, como os cavaleiros dos enredos medievais, todos os nobres titulares de escala, colados, de carreira, de mercê e os verdadeiros, que assentavam nas arribas dos fastígios heráldicos.

I: este Concelho, que era todo cheiinho, como um ovo, de enobrecidos vínculos e pousadas reais, de maf- cante nobreza, com foros e galardões predominantes de representação nas Cortes do Reino, nas Embaixadas, nas camarilhas do Palácio Real, nas expedições e conquistas, ficou na recordação dos conciliábulos representativos e despido das graças honoríficas dos seus antigos (Íondes, Marqueses, Viscondes e Barões.

Surgiram, em compensacão, e às camadas, os Comen- dadores plebeus, de méritos altruísta e industriais, e fica- ram ainda os fidcz{é¿o.â' da I-'Í/(1 ou da ¢'zld‹zdâ*, restos de uma

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328 REVISTA DF (.vm.u›\_.;

ou

recordação cerimoniosa, c presentes na voz respeitadora do povo (1),

Como se depreende pelos testemunhos documentais, naqueles tempos das acumulações e sobreposições dos vínculos, as maiores e melhores possessöes e quintaras do Concelho de (.:zuinlarãcs, foram um domínio senhorial de privilegiados da nobreza e das Comendas de Cristo e de Malta.

Esse domínio de privilegiamento, andou mais tarde ao redor de todo O aro concelhio e dos julgados circun- vizinhos, mas já como apropriação rnonástica, cm vír- tudc de vários factores dissociarivos e de incorporação determinada, adquirindo características históricas locais, sobretudo aquelas inúmeras propriedades e Coutos que pertenceram a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira (e a diversos Mosteiros), e que eram 21LlI'DifllSÍ1'2l[iOS

fabricados pelos caseiros, enfiteutas, ou censuários, que pelo motivo de estarem materialmente ligados aos seus negócios e serviços, por contratos de arrendamento ou de emprazarncnto, gozavam também de regalias, ímunídades e isenções.

Esta organização social agrária, representava aquela regularidade normal e usada do povoamento dispersivo, em gleba, fracções e herdades, sob o domínio senhorial arquíodeccsano ou monástico, das Colegiadas e Mostei- ros, c serviria por famílias rústicas, ligadas à posse reite- rativa dos emprazarnentos. Pouco resultava em produ-

certa

(1) Os caseiros ainda sc dão a apelidar dá fidalgos os seus senhorios, pelo intimo consolo dc boa educação, sabendo estre- mar os homens de gravata, c sobretudo aqueles que lhes confia- ram as terras. F assim também, quando uma gente mais espa- nada esbarra pelos seus sítios, grandes e pequenos, vão dizendo : Andaram por aí uns fidalgo: da fila. (Ãonclue-se que todos os senhores bem apresentados e bem falantes, tem a honraria de fidaf- gar, desde que lhes na conheçam a graça.

As pessoas da sua libra, da sua igzualha, mas desconhecidas, o povo chama-lhes tia! e Iafiƒíriba/. O lia, onde_íica a Tapada?

O Jrrntirrí¡ü, 1'úhweré enganou-se no caminho. - O tia, ajude-me O rafrtƒrrba, por aqui na é passagem, isto

não e n1ani1'1l'1o, não e da .\laia Joana. . . Os da lavoira, dobrando a lingua e medindo as distâncias,

seio respeitosamente educados, para todos e mesmo para aqueles engravatados que dcpreciativamentc os classificam de .rã:¡o:'o:, pale- gos, ,baro¡o.r, labrarrfer, ÍabrF›.f1e.1', etc , etc.

21 erguer este bíllíiiü.

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(.:1 R 1()sII)An1-Ls .I ll -1 (,í'n1.un}za 329

1 dignidade profissional.

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nas, até O dealbar duma genérica dominzlç*E‹› histórlczl

rcgi‹›n:11ism‹› popular de czlmctcrlsticzls c:15~=c1rz1s

das freguesias rústicas, no curso dos valores 1

tiviciade. I: que as famílias, assim acomodadas a este sistema dc direito, mais se alinham as prerroezativas que auferiam, cm mercês c isenções do que aos encargos das terras. As propriedades caminhavam assim para uma desunificação de costumes e de definhamento da própria

i, Havia uma acentuada falta de entendimento e homogeneidade entre o directo senhorio e o foreiro, que se recusava a todos os renovamentos, aviamentos e benfeitoria obrigatórias, desrespeitando os capitulados acordos contratuais.

Aqueles aspectos, todavia, da= apropriações, dos desbravamentos e povoamentos, é que nos dão o funda- mento estrutural dos primeiros trilhos e ar ro te is das terras dc introdução agrária, que passaram por muitos índices significativos de identificação e de existencia, difíceis de determinar com exactidão, desde a dominação e fixação da‹ populações castrcjas, pire-romanas e roma-

g L e geográfica com predominâncias acentuada rente locais e rmmicipais.

Como tudo indica, é certamente entre nós, a impo- sição romanizada, a força que mais se infiltrou e instalou nos nossos costumes, nas nossas tra‹ii‹ .;‹ses agrárias e municipais, nas organizações vicinais c nos Fundamentos institucionais c consuctudinários, que foram evoluindo até Ó §¬ ' .

c dc expressividade local.

l ouve depois a supressão de muitos atavismos apcgadiços que não deixavam 0 pulso livre : i s servos da gleba, e o declinar de algumas leis e tributaçOcs onerosas ‹.II(' regulavam as tiintcs produtivas duma lavoira amarrada ao poderio dos Fortes, dos fidalgos c as ligaduras dos Reguengos c dos Coutos.

Dcixcmos em paz o que ia lá vai e o que morreu, e vamos ao presente. O regime mais duradoiro c subsistente que governa O concerto económico e social a g c habituais

do trabalho, é composto de três classes distintas : o proprietário lavrador, O lavrador caseiro e ior- naleiro.

O primeiro, fabrica ele próprio as terras, com o povo da sua Família ou com a ajuda de criados e jorna- leiros. ( ) segundo, toma de aluguer as terras, por

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320 R F \ 1 ¬ I \ DI ( \ I \ 1 \R~\ l*›

tantos carros de medidas, incluindo milho, centeio, Feijão c por vezes milho alvo e trigo, frutas .. meias c vinho ao terço. Quando tem pouca gente para fazer as terras, se a quinta é grande, roga criados ou criadas, a soldo e ajuste dos usos. o terceiro vive da sua orna, e faz quando muito uma hortica, que lhe fica junto ao cardenho e ao cortelho do ceado.

Os arrendamentos nó‹› olham a direita nem a esquerda das precaritiades ou das fartura. .Alinham

*Fiz

‹ . ‹ . . . * l ã e u .. . ' . 4 . / \ s .Av Q â* ó

, *oz 1 *..

(e`r‹rú*a::d‹› ax Ief'/^a1'. 1 zé .ƒz*.‹›z‹¡‹› (¢' 1'¿z.1°‹¡ ru *.e*,›'£i'a do z"r.f:~n¡ú*»w* r =:.rr.E:'f:

pelos extremos, revés, do que se descreveu em medidas, em géneros c em espécies, e são uns documentos que estipulam as entregas c as pagas, que o Verão e o S. Miguel apresentam e representam nas operações das colheitas c das recolhas, sem atentarem aos desgastes do Outono e do Inverno, onde só a lareira e o forno se acendem e as caixas se esvaziam naquela sentença de onde .re f i f i e razão .re lÍf'Í/a, àew cedo .fe rã/Óqrza ao fiflzdo .

Alguns destes arrendamentos tem cláusulas variadas, curiosas, interesseiras, abusivas, e muitas de sangria, pois nada conta humildade, a submissão e a lesteza de quem serviu e serve as g‹:ra€.‹l›es corridas e decor- rentes, pelo que obrigam os lavradores a todas as feito- rias e préstimos nas largas e extensas reservas dos senhorios, exercidos de graça e a seco. Outros tem de

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( L RI()'*›lD XDLS DI (JL I`\í XR M `› 331

dar o esterco dos seus currais para a plantação das batatas dos senhorios c a fazer-lhes todo o serviço de jurada, com carros e bois (1),

A s cabanas são habitadas por gente pobre, jorna- leiros, cabancíros ou artistas, c têm quase todas uma tira

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Tear é'aJ¢*¿';'‹;, ffzúwnâf, úrfde as Izu'›'ade¿ra.r ƒ‹ure)¡; o.r /is;/ƒw, ax ex/oj›zz.r, os 2'0z=z*¡efl¿'r.›.r c Zzgaƒzz :rã nrdidffrõr (II 1¡¡a.v:fzz.r de jarf'zzpo.r

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de terreno, onde fazem horta e criam, em improvisado cortelho, um hacorínho.

São térreas, sem divisões, desconfortáveis, cobertas de colmo ou de telha vã, feitas de rebos, de uma ne_

(Í) .\lutos arrcndamcntos estipulam ainda nhas, afusals dc linho, culmcnros de palha pança ou de cebola e rasas dc batatas.

a paga du gali- ccntcla, cabos

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332 RI?\II?~šlI`;\ 1)1-2 (f\'I,'\/ .x RAFS

g r u a trístzc dc aspecto, chiquciros *E trcntc, pequenas, com portas acanhadas c ianclos de pisga.

Vivem nestes casalcjos por vezes famílias numc- rosas, ficando ao canto, em alguns deles, os t a res do fabrico manual dc cotins, riscados ou do braçal.. Naquela única dependência cozinham, c.)mcm, trabalham c dor- mem.

Quando os homens saem para o ganho da tá-Cria, as mulheres vão para os pinhais abertos, engraçar molhos dc caruma, faiscas de eucalipto, pinhas bravas, ramusca c graveto, cor que à noite aquentam, entre espiraladas -:le fumaceira e fagulhas o caldo do jantar, seu principal e quase único alimento diário, que acompanham com o pão de milho, escuro e côdeento. As sardinhas são o seu mais amiudado presido.

Fste tipo dc cabana é o mais :ulgar c uniforme, nas linhas primitivas da sua construção, não querendo dizer que seja o único. l á cabanas mais espaçosas e divididas, dc perpianho a pico grosso, com o seu sobrado c largas extensões de terreno de cultivo. Estas são já o que poderemos chamar as casas fabriqueiras da pequena propriedade. A pequena propriedade, não dando rendimento para sustentar o seu dono, nem ali- mentar o gado de pastos, para o arroteio das courclas, Ó fabricada e habitada e os seus proprietários media- nos ou artistas rcmediadiivs, entre vendeiros, mestres de ofícios, etc.

No Auto do Dzfqm* de Florença, que Teófilo Braga ser .]

depois de 1564, quando o Alâcgão pergunta a Gil: e bem, que tear ii* de Ira? respondeu o moço :

]uIgza escrito por João Escovar, em folha volante e

Tenho entre Douro e .-Uirzlw fzzhfz casino terras e mais tenha hum bacelinho que as vezes me dei vinho faria Pipa quase rhëa.

E mais lenha ftãa vacarzeja, engärn, que tenho Per .mm fazendirzha de que coma, que eu e l a mãe eu envéja aí Janote Padre de Roma.

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C l RIOsIDäDL~› DI ( L I \ I àRArs 333

xlnies que a morte me mate £.'g.¶[_z ¡'-fllf? :fa .mÍ(Ía‹Í(1,

m i / z a mnrísa ¿a¡'ra(1'(1, e meu /›elo¿Í:zho úfarte,

g1z‹:ih'}'ra debruada.

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Então ƒrarƒrr-¡n'¢} fá 'aqui com quatro mi' e seis ¢'e'nWs, e como me rirem ass: ¿'›*1o::ísn*íra:n sobre mi milhares de casamentos

Depois, Brazia

'IS-mze-me .ƒèíta uma rasa zícrfzzzrz fumá jurar. .. . 7 rarz¿v; mas Ílaslíe cantar fiun‹1‹› na 1/z‹1ç/1ro‹'(z, O seu amor me Ímde maia

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Temos depois o tipo dc casa da propriedade. A propriedade é maior, em largueza de terra., do

que a pequena propriedade, e menor do que O casal ou quinta.

Regula entre dou a quatro carros de medidas, quando a quinta sobe dos cinco c vai até doze, não mais.

C) tipo de casa da propriedade é de maior avança- mento de linhas, pois o fabrico dos agros necessita, para vivenda do caseiro, de mais dependências, além dos acréscimos para cortes de gado, alpendres para resguardo das espigas e adegas para o amanho do vinho. Os idos ou quinteiros para curtimcnta dos Matos, ficam sempre à. frente dos casais e das cortes, encontrando-se estas, usualmente pegadas aqueles, por uma questão de como- didade e vigia.

Na classe das grandes quintas é muito variado de aspectos o tipo das habitações. O assento do casal é de certa amplitude, c ficam-lhe à volta as hortas, os poma- res e as fontes.

No primeiro pavimento oca a cozinha, térrea, de telha vã, com bombada, e a seguir, separado por uma divisão ou em plano superior oca o sobrado. Ao lado, as cortes, colmadas, em muitos lugares, Ficando por cima delas as barras, onde se guardam as palhas, madeiras e cavaco e onde cabe vulgarmente o masturadoiro.

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O mais t`re‹.1uente, porém, é as cortes do gado fica- rem por debaixo do sobrado.

O lavrador é cioso c temente pelo seu gado. (JOSII9. de o ver e vigiar de dia, e de o ouvir de noite. A sua sensibilidade e o medo do perigo e dos ladrões fazem com que ele desperte, sonolento, de quando em quando e ouça o mascar ou o mugir dos seus bois, e sobretudo das suas vacas, quando andam no Fim do tempo.

O perigo medeia um at. Providencialmente, o lavrador dorme pouco, ao

contrário dos criados, que dormem muito. Os alpendres, de largas portas ripadas, pousam aos

deslados, as suas eiras térreas à frente, feitas de barro e bosta de boi, ou de perpianho, com as juntas aditadas.

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As mudas de palha, de coruchas altas, andam por aqui e por além, arr iadas encosto das oliveiras velhas.

Por detrás das casas, um ou outro lavrador tem u seu coberto c o seu albório, para guardar as escadas e escadotes das vindimas. Por debaixo dos fornos, ficam vulgarmente os poleiros das galinhas e os alhais.

Estas casas da lavoira têm lar, borralheira e forno, aviamentos temporais e elementares do arranjo caseiro e doméstico, onde cirandam, em lida santificada, todas as mulheres enriquecidas dos predicados dc educação, indispensáveis a uma boa dona de casa: saber lar, fazer uma cozedura dc pão e uma barreta de roupa ou de meadas de linho.

Os lagares e as adegas acomodam-se, as mais das vezes, por debaixo das antigas habitações dos senhorios.

Raro se ve a brancura da cal na tristeza dos casa- rios da aldeia. Só as igrejas paroquiais branquejam e um ou outro dpornbal desgarrado.

Variam c região para região as construções das casas rústicas, por influências várias de constituição local.

De facto, essa variedade amolda-se às circunstâncias das províncias e dos locais, pelas disposições dos terre- nos, influência do clima, diversidade dos materiais de construção necessidades de defesa, de abrigo e de granjeio.

Entre nós, os prédios ao rés dos campos ou dos que poisam nas l o b a s dos outeiros, embora com certos

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aumentos e sol:›reposições, seguem os modelos recuados das eclihcaçöes primitivas. F ver que os casotas são, como dizemos, térreos, incómodos pelo casulo do único abrigo, fustigados dc ventania e chuviscaclas pelas fendas das paredes, das goteiras e da telha vã, negros e abafados pelo fumo, de beirais apertados e desfeitos, de janelos assobiados e portas baixas.

Temos dc atender, portanto, que disformidade, tacanhez c os rudimentos variados dc construção das

Cofie: ra/w;zça.r roa 0 que):/eírfz à ƒr‹>nƒ1'. (.S'. João de Perde)

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nossas casas rústicas, com escadas dc pedra ou sem escadas exteriores para o piso do sobrado, com varan- das corridas de madeira ou sem varandas, a disposição das dependências, c muitas vezes a dispersão dos anexos, cortes, eidos, palheiras, etc., se deve muito principal~ mente às condições do terreno.

Para o levantar dos casarias, era quase sempre mal escolhida a situação e procuravam acanhados limites de terreno, para deixarem as melhores courelas para as hortas, pomares e laranjas, e assim, as' casas e as casotas, amol- dadas as linhas do espaço, em variedade e dispersão, pousam por onde quer, como que lançadas a rebatinha.

Nos aglomerados rústicos transmontanos, como casas das freguesias se juntam, ao molde do tracejamento de qualquer vilóría urbana, os aspectos já são mais uniformes, mais característicos.

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Lema nota alegremente típica das nossas casas da lavoira, que sobressai na amaria dos assentos cnsombra- dos, e que de longe se distingue, são os portais largos de madeira, pintados a zarcão, quadrados, abertos nas fachadas dos prédios, sem contudo constituírem, a sua própria entrada. Mais frequentemente são plantados cm plano distante, abertos nas paredes dos muros que à beira dos caminhos de servidão, rodeiam os casais da

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Alpendre e eira de pnzbianbo (.$`.!¢ .Varia de .S`om'0)

lavoira, dando dc chapa para os quinteiros, para as cortes do gado, para os palheiras, quando não são a própria entrada que leva aos aposentos térreos dos casei- ros e às escadarias de pedra das habitações dos senhorios.

Na maioria são uns portais simples, outras recobertos com um alpendre saliente, de telha braguesa, de uma ou duas águas, com os madeírarnentos armados nas ornbreiras. Muitas padieira têm datas inscritas ou o nome dos casais.

Alguns, e aqueles que dão para amplos terreiros ou arborizadas alamedas que vão ter a boca das escadarias de pedra das. casas senhoriais de traga burguesa, são reves- tidos de padieiras lavradas, onde por vezes assentam, no plano central, os brasões ou símbolos decorativos, e ladeados, interior ou exteriormente por bancos de pedra.

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São, os portais, um elemento de fachada muito característico, e de certa importância decorativa na pro- priedade rural, fazendo como que parte da ubertosa e lírica paisagem, girando dentro de todas as funções e scrviceiras do movimento agrícola.

Quando abertos nas afrontarias das casas que deitam para as estradas ou para os caminhos, ficam-lhes por cima, os abrigos dos sobrados, deixando aqueles espaços livres para o resguardo dos carros, dos jugos, dos arados c das alfaias, sendo o caminho do gado para as cortes, para os quinteiros e para todo O serviço que a lavoira requer.

a muros que circundam casais, os assentos, os laranjas, as hortas e os pomares, são a primeira barreira de defesa que se encontra.

Uma vez cscancarados para o c m nho, e uma ampla abegoaria que se abre, e onde ñcam todos os elementos da fábrica agrícola à mostra, e prontos ao exercício do trabalho todos os acessórios indispensáveis. Vulgarmente, para dentro dos portais, :Ficam os abrigos dos carros, as barras, os masturadoiros, as cortes de gado, os idos e as cozinhas térreas dos lavradores.

Mais ao dcslado, tudo junto, os cabanas, os alpen- dres, as eiras, os lagares e as adegas, que Ficam cm eitos mais soalhentos.

A situação e disposição dos casais, a arca das pro- priedades, a direcção dos caminhos, a melhor e mais conveniente implantação dos cobertos, dos abrigos e das cortes, localizam diferentemente os diversos tipos cle portais que se encontram em todas as extensões da Provincia de Entre Douro c Minho.

.Aos portais que não sc v e m e dão para os c a i - › nhos das traseiras do casal ou para os idos interiores, chamam-lhe portas AFronhas.

As habitações mais antigas dos senhorios, aquelas que pertenceram à plana dos solares, têm uma arquitectura de fundo acento português, com o traçado majestoso das escadarias de pedra e patamar de colunatas, à entrada. Os terreiros, com tanques e gárgulas caprichosas, bancos de pedra e velhas árvores de copa frondosa, da nobreza a todo o conjunto harmónico desses prédios armoriados. São casas de pé direito, de sobriedade construtiva, com varandas confortáveis viradas ao nascente.

Quando rasgados nos os

À.

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As modernas construções que os senhorios erguem nas suas propriedades rústicas, acusam decadência, são descaracterizadas, fogem ao ar campesino, numa mole caprichosa de palacetes amaneirados, de via reduzida.

Pelas aldeias vive permanentemente uma soma con- siderável de grandes e pequenos proprietários, numa regalada ociosidade, em casas que vão acomodando ao viver e ao crescimento da Família e que se arvoram, por isso, numa diversidade de construções e enxertias.

Nos peitoris das janelas ou nas bordas das eiras e muros de ao pé de casa, ficam os potes e os cortiços velhos do serpão, dos cravos, da alfândega c do alecrim, cheirinhos afrodisiacos que são o brio das filhas ou cria- das dos caseiros.

g chapéu as trás pancadas e a cajata do guarda-sol lado no ombro ou na cava do colete, logo O presente de um desses cheirinhos os anima c inebria ara os risos de boa feição e ara os falares de consolados sonhos, por vezes dcsviadrds para as imagens maliciosas ao gosto maroto dos desejos.

O silêncio dos namorados, joeira por vezes nas cachimónias pensamentos dos diabos. . .

Quando aos domingos os moços se abeiram, dc \ aczwa-

Sou do .'i1inho, .sou rnin/mm, Sou filiza de minhoteim, E sei .falar aos amores Coma qualquer da ribeira.

Os elementos de trastaria das casas labregas, são parcos e pobres.

Não há, neste concelho, um tipo fixo, localizado, definido, de mobiliário regional, como o de Évora. É tudo singelo c vulgar, desde o escamo da lareira à caixa e ao c a t e do sobrado.

Da masseira fazem mesa de comer, ao redor da qual estão uns compridos bancos de pernas. Dentro dela ficam a embaladeira, a ferreta ou rapadora, para juntar a massa, as b r o a s do pão e o fermento para a próxima cozedura, que é metido ao tender da massa.

Por vezes, é num instrumento tosco de madeira, a que chamam ga!/Jairo ou poeira, que o lavrador põe as b r o a s de pão, para as livrar dos ratos e do bolor.

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CI RIOSID uai s na ( L nó xá ~\I s 339

Os escabelos ladeiam a lareira, onde as labaredas altas das lenhas da poda, dos guiços, da caruma, dos carolos e cascas dos feijões fazem ferver ferro, de caldo para o povo três pés, com ‹)

OS potes de e as lava-

Graz'io.r=9 e elegante Porƒrz/ arzworidda dos Crie; de Pedra

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gene para OS mancebo OU sertãs, os restos c as focas

cevndos. Por cima, a velâtdor. Perto da borralheira

c: os utensílios do forno (1) c fusos nas fendas das paredes.

candeia, presa ao hcam as

c da lavoira

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1 Os utensílios do forno são: a pá, a us bolos ou as boroas do fr›r11‹›, o gancho para dar voltas as lenhas c arrastar as brasas, c o varredoiro dc Farrapos para varrer u lar, o lastro e a parínhcira do dito torno.

( ) fcrrclhn, para tirar

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340 !‹¡=\-'I Fšll`.\ m (.vnzf-1 R .\¬- S

pousam os sé dida, infusas vidradas, umas sopeiras, ca‹_;c¬›i1as, chocola- tciras c almniias (alguidares pc‹.¡u‹:nr›s}. ͬstcs utensílios são de barro., c quase todos dc fabrico vimâllfancnsc. Por

Numas ratelciras, por cima do barrclciro de edra, ratos de louça grossa, tiszclas dc larga mc-

Partfd xzxxršƒo c.*u'.rm¬{) que dez/a para :rã rzzfizifzlfo Pfšb/¡zú dr: j›~t=â¿m=- Na de ..SÁ.*'" .h'(:w‹¿ dr* .S'01//0. Va [Jad:le.¡ra.' -.-ÍBRII- Dzíz 1.719

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cima do barreteiro, alguidarcs, panclos, cocos, cântaros c a gamela ou escudela dc lavar a louça. O balde dos porcos está ao amo, recebendo rodas as barreduras das tigelas e

.=-\s calças, entre grandes e medianas, de castallho ou cerdeira, que constituem il mobília mais rica c de maior

pratos .

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estimação do radar, servem para guardar as sementes, os cereais sobejantes da renda e as roupas e o fraga, por entre os cheiros da alfazema, do limonete, das les- tras, dos mentastros e das maçãs camoesas.

Estes trastes mais preciosos são acantoados pelo sobrado, junto dos catres ou das camas de cerdeira.

(.)s registos dos santos a quem o povo faz romaria promessa, S. Bento, S. Torcato, S. .]oro, S." da Aba-

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dia, S.*== ,-Km aro, S." guarnecem as paredes.

Desde a porta da entrada até à última dependência do casario, estão patentes os símbolos da sua crença e os do seu culto supersticioso.

As medes de palha tem na corucha ou dispa uma cruz feita de palha ou de guiços da poda, envoltos em algodão em rama; os postigos da porta da cozinha, uma cruz pintada, os fornos e as suas portas, cruzes salientes, para que o pao seja sempre abençoado; no cimo dos

das 1\Ícvcf=., S . u dc Antímc, etc.,

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a sempre-verde, são os

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Beija a mar) dcâois dc se bcnzcr, beija O lhe cai por terra, ciz, .aja per/ur al/1/as, quando dá topada OU

telhados, cm latas velhas ou vasos, a erva do raio ou dc Nossa Senhora, que afugenta pela sua virtude, as trovoa- das. A ferradura, simbolo da felicidade, lá está, presa

um canto da porta, ou metida debaixo do forno, da cama, etc. () alho-porro e o amuletos contra ‹› mau olhado c a lnve]a, e aparecem colocados no cimo dos teores, no canto das cozinhas, ou ainda em rarninbos pequenos, o sempre-verde é metido no seio das mulheres, nas algibeiras, nos jugos dos bois, quando vão de caminhada, c nos cestos de hortaliça, fruta ou linho, quando vão para o mercado.

A gente do c a b o é respeitadora, humilde, de bons sentimentos, frenèticamcnte laboriosa, serviçal, e tem na sua corajosa valentia aquele ar e aquela arrogância das características elementares do povo celta.

.Associa todos os sentidos ao gosto do trabalho e ao prazer das colheitas.

" pão quando . 1 uma uma trilhadela; faz uma cruz na boca, quando

a abre sonolento, ao pôr OS bois 011 as vacas ao carro, para qualquer serviço da lavoira ou de carreio, faz no chão uma cruz com a chavelha, para 1. ue Deus o livre dos perigos e desastres, com a polpa da mão Faz uma cruz na massa, para que Mamede O levede, com a pá faz uma cruz à boca do forno, antes de o tapar, para que Vicente o acrescente, porque é para muita gente, benze-se ao deitar a semente à terra, fazendo-a em antes bafejar pelos bois, bafejo-santo porque os bois aquentaram o Deus Menino, cospc trás vezes, quando vê um bicho morto, benze-se quando oca varado por

nova ou sucesso, descobre-se e ajoelha, quando passa pelas portas das igrejas e pelos cruzeiros; diz ora- ções quando passa pelos nichos das alminhas; desco- bre-se e pára de trabalhar ao bater do Meio-dia ou das Trindades, diz, 00221 .fllll licença, quando fala em ceados, cm bosta, ou estrume, mas diz porém as maiores obsce- nidades e não se lembra da licença. Sauda respeitosa- mente todos os caminhantes, conhecidos ou desconhe- cidos :

qualquer

],o/mada .fe _/fz 1Vú.r.ro .Ye/z/Jor ]€.rzr.r C}'£.rto. --Para Jewpre Jójzz Ião/fizfadú.

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( l I { l O ' * › Í D \ D I *â I)I ( I T\Í u‹ M H 343

nos Ajuda c scrvc toda a gente. Dá esmolas e alberga palhciros tolos pobres que lhe batam *i porta. O

.¡3zw.f Â\/øsƒo .Yefzlfúr .se gzrzíe, (.w)/0 sé .garfo dá* zyäxdzzr ax o//!ró›.r.

O ia/ em* sé /bug em-ré, a .rim me HÃ)zpeçzz.

'I`:‹1mb¿m sc' serve, pelo inverso, duma cartilha larga úlc' arrnâgâirlcias nervosas :

.\Já zé [mm zé' 5 má no .ra/' e*;*f*z'/.* fá' J`Ú/¡/i'J*?`¿.='.

(...ú¡/z1n'i//Im da .s'H'¿'JI///‹I.' \'rIu Áeáfz 1//ú* ÍH/ / lJrú

Dam fz (izzr' ao Z)¿}z.¡:ú.

Alimentação.

Passar bem ou passar mal, com bons ou maus comeres, tapar frio ou vestir agasalhadamcnte c deleito- samcnte C()I1$()2111lLC as estações, os co tos da semana ou os luxos dos domingos c dias santos, são os termos c meios termos ci luta pela vida, que sobem ou descem, para melhor ou para pior, C()Il$()íl1"ll2C as posições c os proventos, mais regulados ou moderados dos seres huma- nos, visto que u mundo, pela vontade do destino, gira

§¬ am dos que tra- laalham.

l i e tudo. .\lesmo› porque já o povo, aciívíllhando este desconeerro ale origem, e por ser nobre e positivo de l 1losol'1a, 211't.lCLll21\'11 entre a fé e o esconiuroz

segundo as npcraç‹l›(:s dos que mano c

Qznwz szziú Má' ƒarƒe, _Qm= f‹*;.=.5›z: (10 I}}f';¡a.f /Jon morte.

Qzfzw/ for ¡'iz'ú‹, em* /zé*¡'e 0 .wafarriz¬a. r 0

.*\ progressividade vai entrando no campo rural, com íntermedios lentos, mas vai entrando, felizmente, e pro- porcionando, consoante se expande e alarga, mais rega- lias de humanidade, de justiça e de comodidade, visto

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344 Iu~'vIs'1'À D1' ( l\¬T\I .\ R.u:Q

que o bom, sc reproduz em benefícios, como a luz eléc- trica, as escolas, as cantinas c as Casas do Povo.

.Fntre gregos c troianos, não é só -leigar para uns a cebola crua e para outros a carne assada.

(Í) estado lncnelico, higiénico c salutar da alimenta- ção, porém, que é precário, quase reduzido a um dO dc privação, para não se morrer dá Fome.

Anda mesmo pela vieira, pelo gume de 1111121 espada. Quem mais sofre com o definhamento alimentar

são as crianças. Mal deixam as chuchas ou os lailaerões s g

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com as ioda: ou as migas o caldo de couve galega, roendo, sem dentes, pedaços de /amou zwzƒeeira, quer* (I rã z'.w:1'.\' Józffrlrí- re/ e a me/búr Póznz ta:\('r agi/ar os rzzƒixzlfior.

l;"sta barbaridade, é geral, depauperanclo, na tran- siçäo, o desenvolvimento físico de pequeninos seres que se arrastam, de barriga inchada como tambores, pela 1*'ern1emação de todas as paparoca moles dc batata, Fei- jâio e sardinha, c dá toda a comida mastigada pelas mães, que lhes enfiam pela boca dentro.

Não existem aquela solicitude, aqueles cuidados C amores que deviam presidir ao amparo das crianças até "t idade da escola.

.Mal vigiadas, estas crianças, pobres fetos da sombra, sem que as deusas do carinho c do tem-tem as protejam C as livrem dos perigos, rastejai pelo chão, as fraldicas atadas acima do rabistcl cor do IT1¡Ol() de melancia, em contacto permanente com as dureza areentas da terra ou das mantas tormentosas onde as assentam. Todas tem um aspecto minguado de -Odes rapada, olhos frios, muito 1`rios, para ali, misturadas com o cisco das debu- lhas, com as galinhas c os cães, sem nenhum cerimonial acolhedor de fresta e de entretenimento.

Pelas graças que o povo dirige aos céus, acabada refeição da noite, avalia-se da sua comedida ambição :

dc garrafa, principiar logo a ser 2l11I11Cflt21dE1$ d

Om* Í):-//.r ;\?z.r¡rz .SÁ`r';¡£›rzr :mr dê Hã/fifa

Í j 11ú.r alâúfiríf' zwƒ/ por/wa.

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O pzlss21di(.› da frcntc da izlvuírzx «E pobre clcficicntc dá n1a11tíIltcfltos dc sustáncía. IUEISSCÍTLI e U t()tI'1() são 0 s:1crá1°io alo seu alimento. O e=li‹.) dá milho, terçado com centeio, ú rio ‹¿‹›vcr11:1d(› dc cozcdur:L fl cozedura,

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( L luos ln un s I)1= (š l ' lÀIÀR:\ES 345

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cm todas as casas

as pcregrinaçOes distantes, o farneié mais ` 1

Frito. Depois é mercar as roscas de trigo nos ambulantes tasqueiros dc pipas pela esquina.

As roscas de trigo c rosquilhos de farinha doce fazem as romarias.

No dia a dia, o que o enche e satisfaz, o forte de todos os debiques minguados e pouco suculentos, é tigela do caldo. E que caldo! Mais berços e cabaça do que feijões c adubo. Quando não leva uns pingos de azeite, o adubo fornecido pelo toucinho gordo, urros e miúdos de porco.

As carnes da salgadeira e do tá-umeiro podem prepa- rar árias pratos de resistência e de estalo, acompanha- das com batatas cozidas, arroz, massas, nacos de trigo Lili ovitlhirlha ou com feijão afogado (cu:-;opado}.

que por vezes vai até os l o s do gadellto. Do mais, os alimentos são sempre os mesmos caldo de couve galega com feijão, batatas cozidas, sardi- nhas c aguapé. vinho é só para as grandes servi- ceiras.

Dc maneira que as possibilidades alimentares do povo desta regia não vão além do milho grosso, lei- laio e batatas. Da horta vão colhendo as cebolas, os pepino, os tomates e O seu pé de alface, família rastei- tinha que prolifera abcberada à quentura do nojento cevadouro. Destes quatro elementos de salada, que só arrcfcntam mas não aquentam, usam muito, no verão, picados de sal e vinagre, constituindo sempre uma merenda de petisco, com o acompanhamento da boroa, que é, acima de tudo, o seu alimento integral.

A Fruta pode consola-lo, mas não o farta. Não têm recursos para satisfazer a dclíc'a do paladar

u o regalo da trepa Vão sempre pelo menos. Sá, porém, com as estrelas da manhã ou com o luar

da noite, têm caminhadas para as romarias, ara os arralals, para e F aprovisionado de conduto c samagalos. fotão, as mulheres, que talham quotidianamcntc pela economia e pela sobriedade, alargam os cordões à bolsa c aos saqui- teis, e plantam para o repasto das marcndas boas chou- riças ou salpicOes, bons nacos dc presunto, bolinhos cmaçarocados ou pastelões, ou umas iscas de bacalhau

' c o vinho, ao alto, espichadas

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346 RL\ 1sT \ DL c \ I \ f \R~\I *S

sua H s L121

para U senhor dá;

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Estes pitéu alentadores, só lhe vão aos queixos em marés dc serviço pesado, em dias de festa, ajuntOrio de compadres, visita dos dadores das terras que o lavrador fabrica ou dos dadores dos gado que andam nas lides da lavoura, a perca e ganho, pessoas (lã quem a gente do campo é muito agradecida, pela graça da confiança, do créto.

() caseiro minhoto, o mais remediado, tendo a sua preclilecçíio pela carne de porco, que lhe faz um grande jeito de governo, pois que um porco na sal;_›;adeir:1 é como uma botica de remédios, mata a eva ou porca de mamelas secas, pelo Natal.

Um lombo, entre ramos de loureiro, desanda logo para o senhorio. Se há grande favor .. pagar, a livra anca das correias de algum mancebo, ou a lz.v(›ráveI semenea de algunta demanda, lá vai outro, cmpcnhoca.

O elevado número dc suínos que existe no Conce- lho, constitui de preferência, uma grande time dc receita e ajuda para O la\'r:ulor, pelo feirar dos ieitões c l1€IC('J1'iI1h0). O negócio dos c e a d o s ['(3`l'¡'1()l1-Se 1111121

veifrizulcira c rcndosa industria pecuáitiu caseira (1). Raro comem carne dc vaca. Sc 21 l'11Cf'(lílI'H, só

para os câthlos das paridzls c dos doentes, se não têm nenhuma p i a velha para escochinzlr.

Dos 5;‹EI1cr‹›:‹ C(>111i.lt11¬` :ie lnerccazíiêi fzizcm (› "`ílS1'(), pcàluerin escala, do azeite. !11L1S*;¡.l$, :1:'!'‹.`›¿ e 1>;1e::1l'mu. O b*u:z11!1z«L1, sim, ‹› que mzlšs :Lu :ga u 2LpeLíle do

camponês, mas só de festa Ilhe vai aos cientes

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Clll (HAS âzrzuuicôs ‹›L1

tão bom molho 1121

zí¿uz1, azeite

Diz s r um zLiimcnt‹› rico c caro, que de qui: é, ICKIUCI (› 1J;1ptis111‹› de trás In(›1h‹;›s : l i a , n1‹›Il1‹› no praw c n1‹'›1ho no Pílpí.)" c vinho.

âlzcitcí1'1›s, de 1z1tfl1'iu .. nu (lc traquilzma, lcvam- nhn, u gás, ‹› sá:Ihä(›, u vinagre, (J

O dá burros albarúizuhs com 21I'1d kliI121S lhe 'i l›‹.)c:t do cardu-

ílzcítc L' os 1¬›:1liluS.

(1) No l)isLriL‹› dá Braga. n cfmccllua da (zLlim:tr;ãcs ‹.>('up:1 : I pl'Ín 1‹:iI'‹.› lugar c 111 numero dc cspuciceâ Hl1111;1S 12.889, c tmn- bém ‹› primcir‹› lugar cm -1nin1ais dá

. lú6.634. I am gzndu h(J\I1'IÍJ ocupa n sr.:gu11‹.In h1g:tr, cu 12.867 ‹:zlbcç:1s.

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r:1'R1(›5I1).u)I-as UF ‹:r:n1.-\R.-\l-is 347

Fm comércio livre andam por ali os deita-gatos, que também amolam tesouras c navalhas c compõem guar- da-sóis, os pcncireiros, os costeiros c os capadores.

A s sardinheiras, como os pobres dc pedir por por- tas, lá vão também bater com a mercadoria do pescado mais em conta: sardinhas, carapaus c cavalas.

.1h›f:n' ff/1'¡z.*›'‹lad×z de ‹'rã:›¿sza/ba: de wa‹1w'ra, onde a.r.rw:I‹w/ r'‹¡r?l(:r¡'a.r :'.-:.rƒt'¿›r¡.r .1' F .. l'

¡u›:›rƒ.'¡.r d¢.r ‹'(::¿;.¡.r ¡¡.e(:.í.` d:l.rI‹z///‹*.›' dz/.r âldfíux, feda: a.r I›:'‹'riâ'âe=.r diária: do úqzeƒle, do /'›‹'¿›~r}!z'o, do 1=i›1((Qr‹›, da qq;/arderztø 0 da :e:¡›‹Fr›

dcjbiba, pfpatrx .garri:¡äe.‹, em* ;›e-rmrre mrrncba: c'm.go.rz'a.r, ievaffda as

São estes, mais ou menos variáveis, os recursos alimentares habituais dos mourejantes da lavoira.

vida (E mais difícil e a Parƒage é mais precária ainda. para os cabaneiros ou artistas que não têm hortas nem lenha, tudo compram com os relaxados salários que auferem.

Com as cabaças, landcs, grainha dos laagaços c fare- los, alimentam as donas de casa, os ricos, as ceias e os leitõcs.

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Os do ;1.Ii¡?/50 cara/,=z da pzízr e âzwƒcfzz de /í1zbo,° (Íof¡/e;¿= Pão de järz.r.f‹z:'i1.f£5ú e Ízrfuwz M1110 (Ê ‹*.f?ƒ§:@r€(z(ía . ,Qz.‹zz›¿do sé*lfew; càttäú c'/Jorafirfo (porque 0 vinho verde) F' gzzwzziô fiƒzšo rindo (porque csgrainça a broa). 5071/67/1

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348 1«*.Iz;¬~.'1aI:¬. L,*~:m.x R.**L 1.?¬š I)1=

Ou então desta forma, segundo outra mo dzllidâldc do antigo ditado:

I Os boxzzennr de Í;l¡1h'e-Dúz1ra-z'*-zlíiubú Ca/fa//1 de paz! F verte//¡ (k /is:/Ja; Cwfzmz Pão de Pa.r.tarí;¡/Ja, Bebe;/2 zâimb0 de úvrcaríú F fez» .fá:Jt'§'a que uefi/ diabo ( I )

Aos domingos c dias de festa comem os lavradores mais um migalho. Nas apertas da lavoira, pelo cscachoar das vessadas, saches, segadas, malhas, vindimas e roça- das, onde andam compadres, amigos e vizinhos, que foram rogados para a lufa, a alimentação é mais substan- ciosa. Entra o bacalhau, o macarrão, o arroz, o anho ou a carne clc porco e o vinho. Nestas ocasiões ha os quatro comeres: O desjejuadoiro, (2) ao começo da ma- nhã e ao pegar do serviço e que consta dc aguardente c uma côdea de pão. Depois o jantar, às 8 ou 9 horas ; o ante-bem ou pego, (pão, sardinhas ou rachas dc baca- lhau e vinho), às 11 horas, mais ou menos ; a merenda, pela 1 hora, c a ceia, que é servida as trindades.

Nas nadas é uso c costume dar-se dc comer o seguinte: so cpa doce, ou então sopa gorda, carne cozida de porco e e vaca, arroz, aletria e vinho (S).

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(1) Lcitc de Vascuncclos, nu vol. Vil dos seus O/I:í:c:r¡'ú.r, pág. 708, trás :1 vnrizmtct

llomcm dentre Duul'‹› C Minho Calça de pau, vcstc de linho, (lume pão de passarinho, Bebe inho dc enforcado, Traz O porco cncangado . . . Foge dele como do Diabo I

Ou ainda

(2)

Gente do Àfinho Veste dc pano dc linho, (Íome pão de passarinho, Bebe vinho de enforcado F tem força que nem éliaho.

Mais usualmente lhe chamam ma:-o-bicho ou quebrar Í.) 1e]um.

(3) A sopa doce é feita na calda gorda que tenha cozido gali- nha, carne, salpicão e presunto. Essa calda é deitada em alguída- res, por cima de camadas de trigo e açúcar, indo depois ao forno.

A sopa gorda é resultante de um cozimento de muita carnice, onde se juntam greiros dc arroz ou massa.

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(Íomo a‹.litivos corantes, estimulantes c aromatizan- tes das comidas que pretendam fazer, lá uma vez pelas CÉIICÊÍIS, av

euicladas, não usam protlutos tóxicos, smtelicos, aggres- sivos c de ingestão perigosa, mas sim aquelas espécies vegetais tão especificadas, especializadas, saborosas, agra- dáveis, nutritivas e purificantcs' tomates, cenouras, salsa, limão, arpo, loureiro, tomilho, ofegas ou pregão, pocjos, hortelão, alho, coentros, lestras e beldroegas.

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mais sz11¬›‹›r‹)sz15 cur:t‹1inh::s, te1nper:1‹.Íí11hz1s

b 1 v . 1 \ § I i .--___ w

TÁ]r‹¿q¡r/l!‹:›:a a.ws'›:zf/z::!‹*z' qnz' Prrrorrr ar ca¡¡ƒ:}:›f¡a.r 1-'¡rif:(z¿r da.r )'r£=g:/r›.rƒz:_|- da rorfzflísn, 1£*.*w›:rI0 zé' ƒäarƒaƒ dos rzm-:Í.r ú* da: ¿:ba!.*¡'›r:;1a.~', ef/.f e:lr:.' nr/o.r ¢° ar? faqfre dá* rorwƒa r¡Í׿.r zrâz'/.¡Q.â'.r ziífƒñfx.-':?'ú=.l', r¿'rƒa.r fi.*¿JÃ:r¡do.r Íora::rMra.r.'

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350 n/-:v1sI'A ( \ I\I \l{ Ri ""\ na

Vestuário

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palmilha, ‹) bríchc, (1 montanhaquc, a a .

O vestuário campesino, fugindo pureza original dos bagais c das estamcnhas, entrou no luxo das Fanta- sias estampadas das sedas c no aveludado das pelúcias.

Desapareceram os trajos típicos c tradicionais, a bizarria dos enfeites e o donaire da apresentação. Desa- pareceram o linho c a cstopa, a Saragoça dá varas, a

retina, o pano do reino, a baeta crepe, a castorma das saias, o menino e o armur das blusa, as casirniras de fios de estambre, os lenços brancos, os veludos, as cltitas berrantes, os xailes de barra de seda e os vídrilhos reluzentes (I).

Dos adornos, foram para o cadinlio dos ourives, as gargantilhas de contas de ouro, os .rmcrifár ou sacrários (2), os sóis, os corações, as boro)ore/ax e as grandes cruzes de resplendor, os brincos â rainha, os brincos de fuso, as pclicanas, as arrecadas, as ciganas c as argolas à carni- ceira. Ficaram os cordões com os inexpressivos pendu- ricalhos das libras c das peças de cercadoras estreladas . Caíram os afamares de prata, de pechisbeque e de suta- che das jaquetas, as nadas dos botões de trespasse dos jaleques, as tranças das quinzenas de b a t a de qzfaruMr, as bolsas de lã dos relógios, as faixas pretas, as camisas de favo e as meias de espinha e de rnatulos.

A lavradeira dos tempos de nossas bisavós, era assim retratada, tal e qual como se ao espelho se visse :

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Lez;a o cabelo em rolete mecenas ‹1e[¡en‹1'zu'adas, gargarztilíza em beínrios ram reliczírios de e)m¿a.

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1) Os xailes foram substituídos pelas presentes mantinhas de lã, de fracos compridos. São de variados pontos de malha. Feitas 21 mão, com agulhas grossas dc madeira, ou de fabrico mecânico, estas marinhas, a que mais vulgarmente chamam rrzaibãer (termo derivado de malha larga), estão no uso cot't'eflte, de c o t o e domingueiro, pois sendo de grande comodidade, aga- salham bem o corpo, deixando, todavia, os braços livres para todos os exercícios c trabalhos.

Os lenços foram substituídos pelos cacheares de lã, a que vulgarissimamente chamam lenços chineses.

Eram uma espécie de santuários, com o Cristo ou a I-Ióstia filigranados e com resguardos de vidro.

(2)

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(,rã:Íf=h HE' .\‹:'.='‹r.Úrf!f E , ..r .›*sr/ rƒf' ‹¿.:zé nÍn' :Já â*1..'t:‹u*'‹:, rmrrzfff dê rrn'¿u.a HU I)rf:£¬f1 is rrfifrrmƒ r¡*.‹=ñ.*s.*‹.¢*Jr1*zf:.

!Im1¬›m°a ‹› cc›¡nc‹.liógratu vímzxrâmunsc que assim x

sempre adorn‹'›s de prcçn das dá .1

C que sintetiza, alias, os tempos que correm,

1 nos fala scjf t dos princípios do século x á 1 ), pela fidcli- cladc desta pintura da z1nLigLlídadc dc fllgumêls peças, que* o 1(ÍTI"llPÍ) c USO conscrvarnm ínalterávcis até s.]1.1z1S‹.* os nossos dias.

A §*:1 r9;anrilh:1, o rclícário, o cofctc c 21 tiâza, Foram Ç ‹:scnx‹›vfi1F1êu{:1s c roliçzts

!71oçni]:1s no CÊIITIPU. .\ camisa ‹.lchux:1da Ó nem mais nem 'I'llC11C)!'¡ :1 CÁ I11ÍSZI que as Izlvradcírzls a.in(¶:1 hoje usam com tolho dc b‹í›rdz1d‹›s c silvas mêu'c:1d:ls :1 ponto :lã cruz nas ‹m1brcir:1s c no remate das mangas. Tudo nas moças do campo sc armava a prcccízo, sem t`u%›.ir da cngalhoszl harmonia dos tecidos, das graciosas :1nd:1inzls do \'cStuál'i‹?› e dos adornos favoritos dos SCUS oiros rclu- zcnrcs c fíligrnnztdos.

Nos tempos que correm, porém, um luxo dc rcali- dade vaidosa, contagioso, dc farpelas aparclhantes si galanice acreditada das espevitadas burguesas, alterou por completo, com a mais fria insensibilidade deste mundo, os trajos que melhor calhavam à polpa, à forma c ao fumo das frescalhudas camponesas.

Foi um luxo de completa c rápida transição indo_ menearia que .içou por rodas as aldeias, incompatível com os recursos, a educação c o meio onde sc ostenta c pavoneia, a demasiado voluptuoso.

Em medida de vestuário c adornos femininos, tras- taria caseira e aprcstos de lavoira do século X V I I I , enche-nos plenamente os extremos da curiosidade a ementa variada de tantas usanças mimos catitas e domingueiro, de tantos usos e limpezas, de tantos patrimónios de poupança estimação, que

Iz1h:*e .ias, de tantos

¡ IE A scrailrlzl crzt uma bacia u1c0 rpz1(1:1, com :1c'sc11hos. Nlztis \'ulg:1r1nc11t‹;:, os colctcs desta época, ñ.:ims du: um tuciâlo 21 que chm11:1vam duquesa, c de outros tecidos vcr111cIl1os, f.:r:m: rc LÍu11dr›s *n frcmc c com um só tabichu atrás, ¡¬.:1r:1 ;¬›rcml‹.¬r nos cú5 das saias, c crzun dcbruaclns a ,qLmrniç‹l›es ‹.luit›t‹.1:1s u pr:1t‹;'adas.

.."l Pr›z°.r¿z:.r -- . into da Lã*:w'aa?r¡'rz: de /¡:'rã‹', por António de \'il:‹1sbu:1s e Sampaio, pág. 4.

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I1!/I/.r boi/Ico.: :hã orelha.: de praIa e da:/.f pare: de bata¿r q. /fria r//.tƒan treze/1/os ø búreƒa Preta que cá//:lou .reis .rei/ta: rs., e bug/zi /zzanta de bfire/ fiozfrz q. zé//ia ¡/ii i c dr/ze/:for rs., b//zi toa/ba de limbo da agua

I//‹¡ú.r fzaz-w, que fá//ia :Í/I{e/Ilo.r z* :esse/:fa r.r., e uiƒø ra:)¡zl.m.f wzlre gra.r.fa.r c' de(guda.f, 0 d mão.: de /i¡¡b0 (:¬), que va//ia/n i i / ‹' duzentos rs., e bug/:xx

e qzfiazbrizƒor 7'.I'.,

q. 1-'a/[ia :saí .rez.*!o.r e .rafselzla r.r., ø (leg al .':* de Pai dá* . y

Zulu//! .rum de rƒƒfipa nm'ro¡ doze vir//eis, e' bnzi .fiar/Ja›› (ú).

izu//.e II/mz/(*o dá* ;¿rz¡.¢* (3) z~'r*t'1/xi* //fr; Ã'///)1 nrsk-fe dá' 1 r.r.

bug//fz fixa/1/co de Pa//2/i/bn azul novo ø bzzzzz fizrzfiƒea z;z.r de

oƒteWrz ¡".is. . .reter//ta na., L* b/1/21 gibzio de

dzrzu Io11m.f ø- zfwúf /e1zçr›.r e :.'i.*;.t¿'

.r‹*‹1r¿ra que :fac//ia d/qe/1/of rã., ii/ í' e crízrz' fzrƒ/[uso r i ú fi 1-wzƒei.r, e

b/1ã caixa /ma o/fe :wíiia /ru /eram miro de pai e Ã:/1m Iuzmra pra

q. fá:z//iam Jazz: ii! rei.r, c bm? mia da yzzi; q. vai//ia

Sam .\Iigucl 1T'32 :1 1 TÁ,

. 1) z=\hego›1ri:1 --utensílios dc lavoura. f 2" Tecido dc seda, Ii ou algodão guarnecido de lavores. A

c:1s:1ea dá mulher era um casaco curto, guarnecido :I peles uu penas. ¡-*j lispecie de tecido em várias cores (4) Tecido adzunzlscado. U) (fada mão dá linho correspondia nos molhos dc estritas

que eoubcssem numa mão. (Cândido dc Figueiredo) Viterbo, no seu Í:l¡:r‹'ia'rzr.5a, diz: .\lzlm de linho-Atado com t e z Fevras. Molho de linho atado com um vcncilho Feito de trás fevras, ou pes do mesmo linho. Na ter de \'iseu chamá hoje maio de linho :1 suco estrigzas espz1d‹.-laudas.

I)ote de soam do das Caldas - B

11 folhas 21 v. *K

nó L .I I"ran."° du cazal Alva frcgí* dc Nota dc Bras Lúpus, livro n." TI de -Arquivo M. di.: Guimarães.

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Dá ou:r():~ê dmcs mi c:1›¡z1n1cInos da mesma época . ‹‹ f f /m1 .raia rã/ fá / / Í /Áw P/W(1 ‹* 0///r(¡ dz* ‹'CI¡.›/(«Á‹Fo (2), 112)/a :.=:í_r/:.¿z

zé/e/z= caPo/Í/[›‹›, / rã :`///l'/l' raíz dzzwafrú, /:fiz 1/za.=zƒi¡¿›zz rã' !`¡ar*!a, ///ua .ruir dz úzrdõzzif/Íw de .raia preta, /,ii 7//¿?fsic/,* e:âzz'rz*', fizzo, com .ia /Púfz/[Ibn (s), um ro/«/z' dz* .Psi///a¡'‹>rn f* 0/¡.**ro dz» (//1qzw>.m sI(›)')}/¿› ba, sz//nr11e‹'¿r1o.' 11/11 /caça do z*.rz*//wi/bz/¬ I//,=/z7 foi/za de aura, Izzz.-'rzfrlrz ú* Cu//ra de nó/rrís ar/uezíw 0 a'//fz: ¡wrzz.r dz- wz:z1z¡c.re.f (nmntcis-t(›êlIhas dc ou altar ), 7)/(z/¡ƒ¿*/r

ruzzare/0 (¡ 01/tra e:/mdIlo››. li r(:sum<› se conclui, deste rico gL1z1r‹lz1-r‹›L1p›x., que

US trajos da Õpwca apontada, eram dc cores bcrrzlnt.c:s c duma varícdadfi: típica nos cnfcitcs c no apura das peças de vestuár.í‹›, que modilhavam segundo as posses e os havcrcs dc cada lavrador ou proprietário.

Trajos de homem- Uma camisa, um zgibão, um \'cstído dc Saragoça de calção c casaca, umas tamancas c umas meias de cabrestilho (4).

Trajos de mulher: Urna saia dc crepe, de espernegã‹› ou encarnado, outra arrecadas ou Ci9'flI]ÉliS.

Em 1600 usavam as mulheres corpinhos, os saín'n‹›s c as marltilhas.

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(J urdumc destes: arranjos c casquilhiccs ` .\Ias a v:1ricdad‹: é tão grande que a gente chega 21

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Os c11‹.¬›c›i'‹;s das mulheres, cuInpriúlmm, l=1¬'gê1 r(›d:1 dc pzlnâw azul , cuxn :11):m‹;1:1Incntu:ê dá \'c1LI‹.1(›, LÍLIC crzun u luxo

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máximo das aldeias, nem cm todas as Freguesias se usa- vam, assim C{)I11() a casaca dos homens. (lUa era trajo dc casamento, c os chapéus altos dc sedínha. Estas peças, conlo muitas outras, misturavam-se depois nas arcas no USO, c através dc muitos anos, acompanhavam as novas evoluções dos tral¡os, contrastando o novo c o velho no aparceirado desgaste até o csliampar das rouparias.

Fra a casaca, a que também chamavam .r.㻋z£=/za, tralo dc cerimonia, que obrigava fi cartola alta, de trovoada ao norte. Quando o homem deste modo se enfarpelava, a companheira, para não desmerecer, tinha de sair com o seu chapéu de botões de espelho.

Usavam também as mulheres, lenços brancos, apes- pontados, ou listrados *i volta a vermelho ou azul, ou de cambraia, ricamente bordados a cheio, sapatos ou socas e meia branca. .~\s socas eram uma espécie de chinelas, com pcspontos brancos.

li muitas freguesias, em lugar dos capotes redon- dos ou de larga roda, usavam as mulheres a Pa//1/ria, que era uma espécie de capinha, usando também a capo- tilha de palmilha, as casacas ou vestias, c as roupinhas de palmilha.

Nos livros de registos de testamentos, das fregue- sias rurais, colliem-sc bons elementos. Um, dc 1?25, fala-nos nas easaquinhas dc Saragoça, com seus apare- lhos; ‹:l'1aml›rinhos dc b a t a vermelha; carapuças dc Saragoça c gibües de b a t a preta. Outro, de 1776- - mantéus dc b a t a vermelha c azuis, capotes de pano e de basta, vestias c calções.

Temos assim, pelo que sc vê, uma abundância indu- mentária difícil de destrinçar e dc localizar, mesmo por- que não havia um típico vestuário regional. Só muito tarde O vestuário tomou um carácter mais ou menos harmonizado.

Vemos então que depois dos calções, com os quais usavam umas meias compridas, de linha, que atavam cimo dos joelhos, ou simplesmente de cabrestilho, sui'- giram as calças de linho c de estopa, para o verão, as pantalonas de palmilha ou Saragoça (le varas para o inverno. Fstas calças, primitivamente, eram de alçapão, comorlitlade que permitia o serem despidas rfipidamente, tendo sido muito mais tarde substituído o alçapão pela cancela.

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genes sobre os atrair as :ttcnçöcs de SS. distrito dá Braga

. Depois das carapuças, pretas, vermelhas ou verdes, vieram os barretes, os chapéus redondos, c dá palha, para os d a s dá trabalho, c os sapatos dc orelha larga. Mais tarde, apareceu o chapéu braguús, de pêlos, aba larga, e copa baixa, c os avcludaclos, para dias santos at.

li mesmo nos nossos dias, quantas características peças de vestuário tlesapareccraml... U jaleque, jus- olho ou colete de lrcspasse, com duas carreirinhas de botões e abas cimo do peito, a jat1tlcta ou véstía de biche, de montanliaquc ou casimira de estambre, de afamares, os cotufnos de li, em talos de levante e a típica chinela de vitelo da terra, etc. Seria um nunca acabar (z).

Numa l›1'ocltura hoic bastante rara, da autoria de José .I. da S. Pereira (Íaldas, intitulada <‹.'\pontamentos

mais notáveis obicctos que podem S ' na sua viagem pelo

e em IS'*», vem a pág. 1(1- ..\I.\l. I Í

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c nos servl- lornadas, por tempo de chuva, de corças dc

‹< Nas aldeias frequente o calçado dc socos ou tamancas, a calça, o colete ‹›u ialéeo c a veste de la, ordináríamentc das fabricas do reino, . _ e nas chocas de calor, usam-se as roupas de cstopa c dá linho c ainda de tormentos. -Os homens usam muito do seu capote dc pano do reino, c ainda de chapéu grosso das fabricas de Braga, .

os c P palha de junco, cm que há muita profusão. As mulheres mais pobres usam as saias de retrilha ou farrapos, como las lhes chamam, (e tecido espe- cial dc tiras (lc panos usados), coletes de panos ou bastão de cores, c nos tempos de inverno de faixa a cinta, pelo regular de cor vermelha ou verde.

fundas partes, como para as bandas do Prado, usam de capuchas sobre os ombros, c noutras, como para o sul de (zuintarzics, usam de uma saia voltada

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\`ur l a muito que cscrcvcznuêz s..›h11- rrz1j‹›s¬ no vuhamcz f' I .'.r.-:::{z¡.l' I*rz¡›¿‹z*‹¡.p'I'J' rƒâ- (z.".wz‹.'f':?*'›'. l':‹p‹›sc1:‹.1=.', l 1J'*4. pzigs. (1 s

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358 }*L].ul*-.I .';,*1'-.'\ nf (I"s'IÍ*~I..-E I=:..›1 ICE

sobre a cabeça, c com um grande bico que lhes desce anteriormente sabre os pé5.- Para os lados do (Jerez, pelo contrário, vestem-se os homens c as mulheres quisi semente de tecidos ass:Lmgoç:1dr›s, que fabriczlm de lã dos czarncíros c das ovelhas que eles tÕI'T1...››

sc :1]ust:1vz1

Se nos transportarmos ao século xvm, verificamos, pela letra dos testamentos atrás publicados, que os pn- mitivos trajos das rúhidas fadadas das moças da nossa região campesina. pcncliam dcclaradamente para aquele tom das madruiz atlas soallxeircntas da primavera, c eram lwerranres, xistosos, atraentes na viveza das cores e Hori- dos como roseirzxis (W-

( J maior luxo, então, que ` a vaidade de primar pela compostura e pelo enfeite engalhoso, aos olhos dos namorados, das invejosas das rabugentas. consistia no uso dos coletes e dos lenços, que brilhas- sem e rebrilhasscm como alcgretcs de jardim.

Os lenços davam certo tique às raparigas de bom doi ro , t a o maior quanto mais chameiantes fossem, c os coletes certas formas ao c o l a r dos seios, mais ajustados ou folqâulos, consoante o alarochar dos ataca- (lotes de agulheta metálica na ponta. Todo o conjunto do traçar, porém, em alegre e duma airosidade lurt:1-cores.

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"I ‹‹ Trflziu !111 cabeça lcnzzz, dc ‹:.unb1':1121 ¡'nr;u.l=› ‹:‹›!1¡ anul-

dc:-1 1':1I1!í13.§L:¡1s nas I`!(II1t11S. Sílhtü US ‹›flfl)f‹ ›S lcwuzl 11111z1 fimpâl dz I1:rm:I pâu'LicL1lz1r âwivâulzl Lia \ClUbe() Í pm' haixu U zgihziu du I`)É1 I`lU

azul zn'ivad‹› dc liga prcm. O Cf.)lclL', Pufn rninhunâ c não wffƒzfirâ, que: is 1 ú lá para as raparigas. cm dc ¡.:\nó.,-. azul IJ não curtúw, que dcíxflvâa :1 dcfi‹:‹›bc:'r‹l meio p:tlm‹› dc camisa. l\Eísm ú que difu- runça Q culctà: mi11h‹nu du cnlctc Inzlizuu, rnzxis clcgnntn' c ducuntc, ;1pcrLa‹.1‹› suhn; ‹ › cus da saia, não dci›:an‹.l‹› n:1r.l21 da czlmis:1 :1 dus- [`UhÍ:I'tÍ).

l.cva\'a saia dc pano vcrmclhn, com tarja dá veludilhn prf:t‹›, maias dá :1]§.{‹.›c.Íã<› u Sucnt-5 I1‹›\'‹ 1s_ :u'ivad‹.w. dc verde, cu grzaIeàh' f a i a c11carna‹.Ia, gulpcada dá vcludilhu prctn.

Iuntu dela ía ‹› nmrirlu, dá chapéu /riem na r:abi.'g;-., graxulus c‹›l:1rinhus dá pontas l¬u›rdadzle;¬ culútc dá ›:arca‹› c r'zÍ›.*r1'Ã:(: ds: pano azul :tmn hf.›t‹Í:‹.:s anlarcl‹›s. calças brancas c h‹.›tas daquelas que ns lavrad‹›rcs fninllz›tz›s ITHI11llã.I11 fazer para llws úlurar rfuúla :1 vida.

.=\pá::=ar Lll: estar 0 s‹›l cncubcrtu, lavavzt na r1~:i‹›, al¬›‹.:tr‹› scgumin ‹› ccrimâanial, um guarda-chuva dá paninho v‹.1rm‹.:1l1u. h

['1 e:'‹¡'z:der r' z*ƒr;ãú=.r, lã*‹›rrn, 1859, 1, pás- 41, pur :\rnalLl‹› ( f a r a . 1

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(1}unsII) \ D I *z D1 ( l 1 \ I^ \R \1-S 359

E então verificamos que se usavam os coletes feitos de tecidos vermelhos, debruados a guarnições douradas e prateadas, coletes de serafina azul, de duquesa, de damasquilho (tecido adamascado), de linho. de tanga azul ou amarela, etc.

Usavam-se também as camisas brancas, com os olhos arrendados 110 pescoço nos pulsos, ateados em tufo, os aventais de linho, as listas vermelhas e azuis, tecidos nos t e r e s manuais, os aventalinhos estreitos, apanhados ao cimo em enconchados de favo, as chínclas ou socos de verniz, com laços de ata de gorgorão e pespontados Í-loreadamente a torça branco ou vermelho, e os mantéus (saias sem pregas), vermelhos, azuis, amarelos e alva- dios (I).

Depois, já com O nome de saias, vieram as de b a t a escarlate, ou azul, com taras de veludilho. Vieram também as casacas de droguete (tecido de seda ou lã guarnecido de lavores), as mantilhas escarlates e azuis, c os gibões de b a t a escarlate, com abotoadoras de prata.

Sim, os lenços da cabeça, eram uma maravilha de desenhos e policromia, uma chincada de cores que

i 1; ‹‹ Como sempre, hcrravam iucundamente, aquele ano, as Curtiu is IS nus Í'1t‹)S das camponesas minhotas: lenços encarnados e amarelos, capota cinzenta ou jaleco azul, al§.zumas cm colete com os tolhes da camisa arrendador: no pesco‹.;‹) c nos pulsos, saía curta e bordada na orla, avental de linho com riscas longitudinais verme- lhas c verdes, corda=l›es c píngentcs dc ouro, flørwgrãar lavrados, caídos sobre o seio cntut-tdo como n papo du uma rola.

Rivalizavam no colorido flamante do vcstuzirio, as galegas, com as minhotas, prímtipalmcmc nas tintas zisperas dos lenços que I 1'¡1z i ÉllIlll atados na cabeça ou c1¬.cruv.ados no peito. Algumas saias eram, p¢_n'ern, menos varícgadzas que as das mulheres do Minho, havia-as pretas e curtas.

'lambem apareciam raros exemplares do trajo antigo da (Galiza, conservado apenas na tradição puritana das montanhas:

cabelo metido na coifa de malha branca, que se acairelava de colete de pano verde brochado por afamares de

saia de portal mamou cor de tabaco, apanhada ›

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rihctcs csvâtrlâltcs \'I.3lI.1d1lhU prctu, [NIS braços.

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barquinhns sávclros.›› .- .-\1bc1-ru l*imcntcl, pzigs. 61 u 134 ..

I‹lc›ra descalça, para na perder tempo a procurar as chinelas de p<›1ín1::I"lto, pespontadas df.: turçal, curvas na ponta como dois . ( --1 ¡')›'ínrt=.r(¡ de }i'aƒz¬'zio, lisboa, 1897, pur

Q:-

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360 R Í \ 1 ' s T " L DI ( \ T \ ¶ \ R ~ \ I S

com

cegava a vista dos mais arregalados na pasmaceira da admira‹ .;ão dc tanta riqueza de sedas lustrosas e brunidas. Havia também os de lã, dc cscumílha e os dc cambraia,

grandes ramagens nas pontas. Lim século mais tarde, uma transícão sc opera nos

ajo regionais, que desandaram para o azul dos das casacas e para o nó-:gro da hasta crepe

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todas as peças de vestidura c a s c a , incluindo E

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(6 Nó/zz'//Í//Jrz. /)0 Il Iu ¿`ur/'.5(Í‹¡

nossos t a capotes, das saias.

Em medida lenta, é certo, apareceu o tom escuro, em quase

os aventais, as algibeiras etc. Não deixa de impressionar, todavia, tão dissimulada mas penetra- vel transição, pelo conside- rado afasta- m e n t o d a s correntes que alimentavam, da primitiva, uma donai- rosa {`estivi-- dade de em- bandeiramen- tos indumen- tários.

Fsta degeneração, transmitida por agentes estranhos, teria surgido, nosso ver, pela natureza da convizi- nhança, pois pelo encabeçamento ueográfico, somos os mais próximos parentes, a montante, das alcantiladas povoações transmontanas, e a jusante da extensa linha duriense, Províncias que mantiveram acatadamente o seu tra ar escuro.

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1 Por sua vez as populações duriense e 1§1Í211'1SIT1OI1'CI1fli1

abasteciam o nosso meio, não só de geados, vinho maduro c azeites, como de muitas economias agro-hortícolas e mesteirais. Entre as duas regiões e a nossa, os com- boios dos estafemos e dos alrnocreves eram quase perma~ ncntcs.

O nosso maior comércio de panos, de linhos, de ourivesaria, etc., giravam sempre em grande escala para Traís-os-Montes e para o Douro.

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( [ R 1 ( ) * › I I ) \ D l s mi ( L nIu‹`\} *¬ 361

vcstlgios dc relações sociais provocam variadas infil-

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nüfs

dores, matulinhos, Í`211XíI preta Ui 212111

.listas vizinhanças c os contactos mais permanentes de negócio, deixam sempre acentuados ou atenuados c ç e

travões nos hábitos e nos costumes. De maneira que .. trajo regional e romarieiro de

(Guimarães, talvez por aquela influência social e comer- cial, paredes meias com uma vizinhança de contacto c de negOcio e infiltrações comuns (lc trabalhos e hábitos caseiros, pcrclcmlo todo aquele bucolismo de cores afo- gueaclas, entrou noutra combinação de valores mais modestos, c encadernou as mulheres do campo deste modo: saia dc b e r a crepe preta ou azul escuro, com barras ou sem barras de veludo, muito rodadas, camisa de linho, bordada, com punhos de renda, colete de rabichos, também dc linho, muito justo, ricamente bordado a ponto corrido e canutillio com arabcscos pastoris, avental de veludo preto, guarnecido de viclrilhos (vulgarmente

raparigas neles marcavam as iniciais do seu nome ) e com renda ou peles ( a que chamavam pelos) na esztremidaàle; algibeira escura, forma de coração, toda lenteioulada e afítada a sutache de la ou seda, meias brancas, arrendadas, e chinclinhas (le verniz, de polimento bordadas a cores vivas, entre 0 verde e o vermelho, cachene sem fracos, traçado ao alto da cabeça

lenço maiato, dc fracos, encruado no peito. E são estes lenços gaiteiros a nota destacada c berrante do nosso trajo gravezinho, visto que os preferiam aos brancos de tufe ou de cambraia e ao gracioso rendi- lhado e vaporoso de trás pontas.

Os homens, chapéu braguês, aveludado, de copa baixa e abas largas, botas ou chinelas brancas, de be- zerro, camisa de linho, bordada a canutilho e aos favos, assinalada no peito, nas ombreiras ou punhos com o nome los donos, ou simples iniciais num flamejo de linha vermelha de marcar, justilho de pelúcia ou carapi- nha e calças de casimira de estambre, e as características raquetas de retina ou montanhaque, de grandes afamares e ridas de botões nas mangas, que vulgarmente cra tra- zida ao ombro, para deixar ver a imponente camisa, obra prima t a s bordadeira e luxo máximo dos lavra-

Meias de linho, ou de lã, de cor viva, aos de filbrico caseiro. Usavam por vezes u . É preciso dizer-se que este trajo

c

21

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362 l u u s r x DI C.\nHR›\1 q

não anda em uso. Há muitos e abundosos anos que 0 caruncho, a traça e O cotão das caixas, iam esíiampando esta rouparia velha.

Ninguém vê disto nas missas domingueiras, nos bapti- zados, nos casamentos, nos arraiais nem nas romarias.

Quedou assim esttatilicado, c os homens c as mu- lheres, sobretudo estas, apresentam-sc mais iradas, por toda a arca do peito c em todos os dedos das mãos, do que Iuxosas, quando daquela aia se paramentam.

Passou a ser un1 ligulíno uniforme, I.1L1e só nos aparece, feito de novo, na maioria das peças, nas exibi- ções folclóricas, nos concursos dos trajos, nos cortejos de oferendas, nas festas das colheitas, nas paradas regio- nais ou nos peditórios irmandadeiros para as festividades celebrativas dos santos padroeiras.

Tomou-se assim, o nosso trajo, um cartaz vistoso e atraente daquelas rachadas folclóricas.

Os testamentos dos séculos mais remotos também nos dão uma especializada variedade nomcnclatíva dos arranjos caseiros da trastaria e da indumentária.

Todas estas palhas c maravalhas da vida, colhidas nas letras sumidas dos documentos velhos, mereciam um cuidadoso estudo de reconstituição, c de análise, ínte- grande-as na justeza dos ambientes e nos passados moirejos do trabalho c dos hábitos familiares.

Para se focar, porém, uma época, dentro das suas normas e estilos, é preciso o ajustamento avolumado de muitos pequenos pormenores.

(Íarreeinos pois, elementos, arrecademos o que anda esquecido, o que anda ignorado e perdido e mal se conhece, pelo despreso dos homens modernos, que jul- gam não prestar para nada tudo aquilo que os séculos há muito sepultaram.

E muito difícil, como já dissemos, estabelecer-se a história cronológica e arqueológica dos trajos, e com eles, separadamente, definir a época provável do seu inicio e do seu reinado, depois, em destrinça, procurar mais ou menos estabelecer e destacir qual foi, dentro dessa evoca provável, o tipo que conservou o 'tipo que se adaptou.

E não e só difícil o fazer-se a identificação dos trajos antigos mencionados nos velhos testarnentos e inventários, como também adivinhar-se a nomenclatura

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cr RIOsID xr); s DF GUIBIARAES 363

dos vestuários que aparecem nas pinturas primitivas, pouco fiéis e correspondentes à realidade.

Tem-se escrito muitíssimo sobre os trajos populares, mas tudo quanto se tem escrito e o mais que sc escrever, Ficará. como documentada erudição para os arquivos e para os museus. l`ormar um inventário, de pureza original., cante! Seria um luxo I

tradições andam esquecidas, e tendem a ir de cachafundo, como diz o povo.

Todas as relações circunstanciais que oscilem entre as voltas e o decorrer dos tempos e o evoluir t o s pro- gressos, dos lugares e das regiões, sofrem em elabora‹_;:Í.í.o e representação, em transformação e desgaste, tanto no género das espécies como na execução dos trabalhos, misteriosas e inesperadas descaidas e reviravoltas. Sendo assim, não por vezes muit‹› fácil de estabelecer um gráfico representativo por onde se aquílate, cm análise e sobrevivência, onde e como esta ou aquela enxertia produziu ou degenerou, esta ou aquela sobreposição se adaptou ou introduziu, esta ou que a inovação raiou ou nunca sequer arreguilou.

Deste modo se obs erva no solo c na vida, c muito especialmente nas tradições, nos usos c nos costumes.

No plano geral da feira humana, todos os aspectos c criações opulentas da natureza e do teatro da vida, são modificados c alterados ao gosto dos tempos c das marchas funcionais do que assenta cm novidade e do que morre em desgaste e velhice.

Surgem as oportunidades, as altitudes de expressão do mais e menos, surgem as necessidades, as gerações modernas, e os talentos aparecem, integrados em planos novos, reformando c refundindo, às cavaleiras do pro- gresso, tudo o que possa levar uma volta, quer no campo citadino quer no campo regional, quer nos hábi- tos sociais, quer nas temperanças familiares.

E tolos morrem por outra vida, suspirando pela melhor e mais aliviada.

já Rodrigues Lobo gulosava nas suas 1:i.q¡qgóz.f.'

Por Í.'¡_v0 gualqrfsr Profano .=\bs toma Para :ulreme.:

.,' rafa Ana no lngƒc Porfuguèš

.'unais mudanças que um rigann.

Pargzffe Tá;

r H.: n'Í'.¡'H-!Í.¡L'FI

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364 UI-;YIS'I'A ln1 (.l\'IÍ\I `\R.-Xl*>Z

.\'‹sr) Mrtsrnruâx Mu em 1¿rf›.w› Í"Íf).Ç!n?:‹).s [mr áfnitus :›rr›rÍos Chrƒrê Ísrlnfif, ‹;¿¿er* d'¡.u›r' /;r›.s.s'‹›. (Já não tcrrzfls Irar* Ilf›.5.§'‹J

1)‹)r‹¡r£c 0 £‹›tnattzns de t‹›r›'‹).1.

as

Os tecidos - nomenclatura dos trajos V21lÍl21\.'21111 muito. Alguns deles, entrados no uso, mantiveram-se por muitos c muitos decénios, c talvez séculos, acompa- nhando as novas c renovadas fases por que iam passando os hábitos dc vestir, segundo as exigências dos tempos, das evoluções sociais c das modas.

Depois, a variedade é enorme, e quase que ;ada freguesia, cada classe, cada localidade, se apresentava tão diferentemente consoante as bolsas comportavam mais luxo ou mais sobriedade.

Não havia, quanto ao trajo feminino aldeão, um trajo caractcrizaclamente uniforme.

Cada uma variava conforme entendia e queria, refor- mava ou adaptava, desandando para o berrante das cores ou para o gravezinho, para o linho, *ara as chitas, para os riscados, .para as canelas estampar as, para os gorgo- rões, gorgorinas, castorinas, arrnures e meninos.

Por uma pequena amostra, podemos quilatar de algumas diferenças.

A um antigo questionário espalhados pelas nossas Freguesias, responderam os párocos :

E7IZ Saí/zxrzdor de .S`0//t0: «Os homens, de ordinário, usam veste (1) de abas curtas c calças dc Saragoça, c mulheres saias de tenilha c coletes dc chita.››

Em .SÁ. .Yzdwzdor de Taígi/de.° ‹‹O capote não Ó usado c poucas usam fale.››

]e:'fi; .SÁ. M¿g1.‹z=Í de Gonça: « O vestuário Ó assim resu- mídamente descrito-Fardeta (2) e calça, os homens . as mulheres, saia e capa.››

Em .S`. jota de Pense/a: «No inverno, os homens vestem-se de calças de Saragoça 011 palmilha e colete do mesmo, socos e chapéu grosso, no verão calças de estopa e chapéu de palha. Têm para domingos roupas cle pano azul e vestes, capote de pano c chapéus de sedinha. Não usam calções, usaram-se muito e em

os

Véstc ou fardeta -- Vestia, jaqueta, giboso = czlsac‹› curto. Fardeta ou veste--Véstla, jaqueta ou gíbão=casac‹› curto.

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(;1.'Iu(.›ë;[D.u)}fs (zlÍI_\[;\Rz\I')?ã 1)1=. 365

no melhor tempo, As mulheres vestem saias e roupinhas de palmilha, beta inverno c no verão tenillias, linhos e chitas.››

l m ..S'oÍura(1'e/0 (Alfa Jlaria de .Yrm/0) : ‹‹Quarlt‹) aos pequenos lavradores trajam ordinariamente; sendo já velhos tem a sua casaca feita à portuguesa, do tempo que casaram, e quando o visava ainda era vivo, com o seu competente calção, meia de cabrest.i].ho, sapato de orelha grande e chapéu redondo.

Sendo mais ricos têm andares de roupa ordinária, da semana e do dia festivo, feitos não à. chibantice, mas num termo a que eles chamam médio. Os Filhos destes já querem imitar os figurinos estrangeiros pelos diferentes vestidos que tem, e apurados, isto se entende com uma grande parte da rapaziada masculina, porque a feminina, usa no inverno das lãs da terra e no verão, pela semana, de anáguas mui lavadas, e coletes de chita ou vermelhos, e nos dias santos Ou de festa capotes redondos ou dos grandes, dc pano, lenços de cor ou brancos, vestidos de chita, meia e sapatos, ou socas, isto se entende às lavradeiras ricas, porque (algumas) andam mais ordinàriamcnte.>› volta o mesmo pároco a dizer'

«No vestuário, os velhos usam dc chapéu ia rc- dondo, fardeta, colete comprido, calção com meias ou sem elas, e socos altos ferrados de cravos caídos dos quadrúpede ou tachola grande; outros já usam de calça comprida mas sem suspensórios, c nos d a s fes- tivos ou a que fizcram quando casaram ou um capote de pano português, feito à moda daqueles tempos.

À rapaziada quer imitar a casquílhiee: Bom sapato ou botins, meia branca ou de cor, calça de pano Fino ou de droga (1) lcvc, camisa de cor ou branca, muito brunida, jaqueta, casaco, casaca ou capote e isto ao dia festivo, usando igualmente de chapéus ou bonés de cores.

As mulheres usam do trajo ordinário pela semana, que é lenço branco, colete de cor, saia de pano no inverno e 110 verão de chita, ou anáguas de linho, com

as pobres Noutro lugar,

(1) Tecido ligeiro dc seda ou lã.

casaca

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366 111%-'Is'I.'-\ (.vI:u.\R.›uir; DF

seus aventais, perna c cara bem lavadas, com descal.sas.

Quanto às velhas, essas nunca tiveram capote com- prido, usam dos curtos, nos dias Festivos, cabelo cor- tado, saias com muita roda na cintura e chinelas por asseio, pela semana.

Geralmente fitlando, O trajo dos homens c mu- lheres não é montanhoso nem desagradável

O local, o ambiente, a singulariúlacle dos aspectos que se desdobram à vista dos camponeses minhotos, entre os arrotcios c as colheitas, entre os verdes, os vermelhos, os azuis c amarelos da toadilha orquestral da paisagem dos povoados rústicos, mais montesinho ou mais achegados ao formigueiro urbano, influencia- vam e decretavam os trajos, dando-lhes a partitura das cores,

Os vimos vegetativos dos jardins, dos pomares c das hortas, canteiros dc luxo, dc governo c rendimento, vcrsicolores e esparralhados como aleluia de festa, a frescura dos riachos e arroio pequeninos, paradisíacos, a alegria dos arraiais e das romarias, também impri- mem à viveza das canções e do vestuário, aquela nota decorativa e graciosa que os caracteriza, define e valoriza.

Desaforadamente, os rodopies urbanos, extraviavam, deturpavam ou infiueneiavam os trajos, c impunham-lhes a transgressão parasitária e impenitente de novas formas, caracteres e estilos, e as linhas profuso dos adornos e atavios.

Os sentimentos orgulhosos da tradição, a que não devem ser estranhos certos rei-lexos educativos e ances- trais da paternidade familiar, também exercem o seu prestígio sobre a existência disciplinada dos trajos, tor- nando-os mais honrados e duradoiros.

Há outros sintomas primitivos, de ordem espiritual, de vontade obediente e de natureza persuasiva, que po- derão ter predominado na aceitação c confecção dos trajos, até àquele ponto de tolerância, já se vê, de fechar os olhos ao que dc novo sc apresentava, sem deixar todavia, de aceitar os conjuntos decorativos de beleza e honestidade.

Queremos referir-nos às sentenciosas arbitragens do governo cristão, que eram sempre respeitadas com aca- tamento.

socas UL1

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C`I.R1()~.II) \I)ll *l DÁ C I I \ I *LR \ I 3 BG?

.=\s pré‹;1íc:z1s habituais dos abades das freguesias c das pastorzus c vlsltas dos ..\rceblspos, sobre o rigoroso prcceuo da moral e dos bons costumes, tiveram naqueles

como tempos já distantes, se sabe, uma influencia derra- mada c poderosa sobre os espíritos. Pelo medo das multas c excomunl'1‹l›es, levaram 0 povo a banir : adi- vinhações e bruxarias mais escandalosas e impetrantes, os costumes mais realistas, aquando dos serões nocturnos das cspadeladas, esfolhada c fiadas, de passo que censu- ravam certos engalhos de divertimentos, os barbos ou

redouras e as danças, e certos traços menos respeitosos, ou porque eram de Fantasia e x _ gerada, ou não se ínte- gravam, pela tafulice pretensioso, arriba dos espantalhos das semen- teiras, no clima c nos hábitos da freguesia.

Fra este o pão ázimo administrado por ocasião das missas do- minicais.

Por outro lado também ditavam as suas sentenças, quanto à montagem e arranco das peças indumentá_ rias e domingueiras das mulheres do campo, O gosto mais ou menos engenhoso e derriçoso de juventude das cos-

rureiras c borcladeíras, que cortam corridinho nas letras dos moldes c: dos riscos. Outro cartaz de imitação eram os figurinos vivos das mulheres dos centros urbanos, que despertavam nas aldeias, muitas características de adaptação, quando não de semelhança ou cópia cha- padinha.

Estes recursos mediadores entraram sempre, em alta ou pequena escala, mas em linha de conta, nas grada- tivas combinações da moda.

I{Ln*la'›c*.i.›'z: tôrzzx .:¿.nó=(:rzf;:>‹'zf'r:'z: (is aia dá /zé r'‹'ra'r? I= t'r:w.›‹°/z*›‹:«. zé; r¡ƒ'›'¿*ÍJz*;?¡z*r*.r ‹››1£'0›z¿Ã›(za'r),i-,

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368 RF.\'ISTÁ Dr-2 (z\'I\Í.\R.-*LES

Não avançando muito nem pouco, para reforço desta nossa descrença c impossibilitlade em estabelecer escalões indumentário, em medida rigorosa, quanto ao que vestia o homem e com que se arreava a mulher, nesta época ou naquele tempo, vejamos :

Ontem como hoje, os vestuários correm no tempo é como na casa das adulas.

certo : Lá diz ‹› dinzldo, c bem

Q_uem em ‹Ia:níngf› me veste. cá ca ta um me.'ú'.

218

burjacafi O S

Os capotes alentejanos, os tahardos, as capas dc portas, os gabínardos ou varinos, (gabõcs de Aveiro) os casacões ou sobretudo, as samarras (1) os calções, as pantalonas ou calças, as labitas, os gibões, casa- cas, as abonas, jalecas ou as vestias, as jaquetas, as

ou ]21(.lL1CtÍ)CS, as quinzenas, OS casacos, as cara- puças, os barretes ou bonés, as cartolas, os cocos, chapéus, os socc›s ou tamancas, as tamancas, as chancas, as socas (chinelas), as botas, os sapatos, os botins ou botinas, (pequenas botas de mulher), os Jaques, jalécos ou justilhos ou coletes, as patuleias, capotilho ou capo- tilhas (pequenas capas, para os ombros das mulheres), as roupinhas (casacos curtos das mulheres dc campo), as casacas, (2) casaquinhas, os chambrinhos, as vasqui- nhas, os mantéus ou saias, os corpinhos, as saínhas, as mantinhas, as blusas, os chambres, os xailes c as man- tinhas, etc., etc., viveram sempre uma vida de infiltração, através a a e lento desaparecer.

das evoluções, acomodados, até ao natural

É comprido, dc

1 1

J

_ (1) Todos sabem presentemente .. que uma samarra. Ii um casaco tecido encorpado, pano secião, Forro acolehoaúlo, dr: cetim, c de largas goras de peles. l ' , nos tempos dc hoje, o maior luxo das aldeias c das cidades. como os casacos dc pelúcia das mulheres do campo, que representam a peça mais valiosa e estimada do seu trajar domingueiro.

Que foi a samarra de outros tempos : « A samarra ou pclico, e uma vestidura rústica de peles, de

burel, de matagal aberta aos lados e sem mangas (séculos :cu a xvn). Dava-se e de roupão ou tabardo, comprido, de uso

. também samarra ao sambenito dos penitentes

(2) A casaca de mulher, era um ver a camisa, era guaruecído a peles,-- folhos de seda preta.

*š 5

também este nome, nos séculos :ui a xv1, a uma. espécie casélro. Chamava-se

nos :turnos de fé.›› casaco curto, que deixava

é penas ou

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( I R 1 0 ¬ m \ I ) 1 ~› DI C 1 I \ Í \ R U x 369

\ ainda porquanto capote, por exemplo, foi usado por homens e mulheres,

fcltio, ¡á se vê.

contuszl‹.› torna-se maior, ( )

muitas pregas, c

só diferençados no O jaquc, foi com este nome colete dc homem c

casaco curto de mulher. . \ casaca, Foi trajo de homem e de mulher. O ialéco, foi casaco curto e também colete. .-\ tiraldilha Foi com este nome saía c depois avental

lx1 td ado . .-\s :asquínhas foram saias com

depois casacos curtos : 2 ainda poderemos

rabilidade ' Os gibões, por exemplo, surgiram nos meados do

século XIV, e deles nos fala (til Vicente:

p trotar mais, quanto :`1 perdu-

Í`nu e vendo u m viola E um gzbâo de /uslâo. U .

Pois cm 1732, diz um dote dc casamento: Um mantéu vermelho, duas matilhas e um gibão

dc b a t a escarlate. As vasquinhas, que

n1‹›‹ _;orlas do povo, e as eram umas saias curtas das

Fraldilhas ou frandilhas, salas

trajos compridos saram substi- gíbão cra

‹‹ DL'P‹.›iS da peste, os tuitins, em roda a Fur‹.›pa, pelas roupas curtas. O uma vestidura curta do tronco, mais ou ITICHUS justa, com mêm- gas ou meias mangas, estofacla ou não (do giboso cstr.›fad‹.:› f: abro- chado vieram depois ‹› jaque inglês c a briandina francesa) aberta ` cm Portugal durante quarru séculos

ao xvrr). Vestia-se sobre a camisa, c por debaixo xlv) , du saio, tabardn, pardilhn, rnungil nu

xvr), da mupera (século XVII). textos que abanam u us‹› do giboso mts várias

épocas : A Crauƒra de IJ, ƒaãø Í , de Fernão Lopes, descreve

em ' saiu rmcic 8

a s lados 011 :\ frente, usada (do século xá' do manta (século poluto (séculos

Alguns V c

ttíijí) que Nun .SAlvares saí da sua tenda de campanha: O conde

de mamão, coberto sem outra coisa, c quando chegou volta era, perdeu 0 mamão e ficou em giboso.

O século X V foi a época do em Portugal.

No século xvrr as mulheres também usavam gibão: «egual terão as mulheres pobres e se lhes de tasquinha e camisa do mesmo canhamaço. ››

(De júlío Dantes }

I

Í rzmdc luxo dos gibücs

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370 'RF\I'°›I`\ nó CA 1\I~\.RM Q

compridas das mulheres fidalgas, usavam-sc nos sécu- los e x I .

I: diz Gil Vicente:

Hzí rraƒskr uma vasqzdrrfux E Irás onças de regro

A tasquinha, diz-nos Júlio Dantes, vestia~se com o saio, ou sonho (que era O corpo) ou apenas com a camisa e um guarda-ventre. Na poesia e no teatro do século XVI aparecem-nos alguns tipos de mulher do povo, vestidos à moda do tempo.

Vejam a Leonor do Vilancete célebre dc Camões :

I.ez'azva na caber a Poli, O texto nas mãos da Prata. Cinta de firza escarlala, Saiu/lo de rhamelole: Leva a tasquinha de cota .Mais branca que a neve Pura.

Os mantéus ou mantéis, saias curtas e lisas das mulheres do campo, usavam-se nos séculos XIV c xá, e

é XVII c XVIII. O pelote é um dos trajos mais antigos, c foi larga-

mente usado. Vem lá do século xá, e por aí fora durou que farte, como vestimenta de homem ou de mulher. Um testamento de 1325, que adiante se pode ler, diz :

ainda eram conhecidos c usados nos séculos

A mirzhr: :sana que' me criou n meu Pelá/ala de mija nerrneflzrz.

Volta a falar-nos Júlio Dantes: «O pelote aparece-nos como trajo masculino. Era com efeito, uma especte de casaco forrado, comprido, sem mangas, usado nos sécu- los xrv a XVI, que se vestia sobre o gibão e por debaixo do saio, do mamão, do tabardo ou da opa.

Traziam-no indiferentemente, os homens do povo c os nobres. Encontrámo-lo na indumentária dos men- digos e no guarda-roupa dos reis.

No tempo de D. João H, os pclotes, como se infere duma copia do Cawioizeira, de Garcia de Rezende, eram de tecidos espessos e usavam-se compridos :

De ƒlefole se guarneça PER}U{IO renas do artelhn.

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CI RIOSID uns D1 CzL1\í=u‹»\Ls

liras curtos

Depois, no tempo dc D. Manuel, as modas mascu- zlfcmixlzlram-sc c pclotes passaram (JS

.×I§?.'›rn ['€.'Hf).S` :'a.ƒ› z'fr¡z(:.s-,

.Haia ‹*ui'/‹›.‹ Per:'‹›Ií›rÍw.\.. ( zofpmhfu .§z*:hazfznl1o,‹, P

pclntc foi também

f* [)oa(ä.é¬." tomo

Mas, como sucede com O briol, |

trajo feminino, nos séculos x I a xrv. ( ) pelote feminino tinha mangas, ajustava-se ao busto c em fá`raldado.››

Ressuscitemos do livro dc Regárfar dz» Teƒtzzfizwvtar . 'J I, da, Colegiada de Guimarães, alguma

coisa mais de certo e .

poderá vir a ter real cabimento num mais desenvolvido estudo de inventariação sobre a antiga indumentária rural e urbana, popular c burguesa do Concelho de Guimarães.

negável nréstímo, e que um dia

De má té*.rƒzw/eu/"o de 1325 :

ltc. mando a Frei Pedro de Pulla sínodo libras para hui capa, irc. mando a l"rci Lourenço Aúnes sinco libras para hui saya; Itc. mando a l"1'ci Durão Peres sinco libras para hui saía, Itc. mando a São Domingos hui bocossclha nova c dois lenços. Item mando a minhas irmaãs vinte libras _ minhas duas çíntas esmo- llcíras, socos, anncíz. Item mando a Maria Anafes o meu manto dc sa ia clara c hum esteiro dc milho, ltcm :I minha ama que me criou o meu pcllotc de sarja vcrmclha c hum sestciro dc milho c il garnacha dá.: safira clara.

[.)« fez/J/¡'r'zf Já Í 328

I tem Iflilfldl) a l)omingas l)‹›mingur;:s crizulzl hum brmt chumaçá tramicciro. 'I`:Ircj;1 minha manceba hui saía nova hum L' hum churmtçu c hui êllmoçcllzz.

minha ltcm rnamlu :1

hum Ícltuâll f.:

Dó 0/:/rf» tw'/óxwffxz/ú de Í .ÉS

IUJIH

_I`JLI"UÍ[Z.

cclhzl (1 hum chumassu

f.:

1 I . .

l]1:1l1‹l‹l :l ninha i1'mz1l11 l ã meu n lfifl f u , ta Item il .\Iargurld:l minha crmda hui :tl1nI›-

c hum (.IU211'1() dá bulho. lt‹21'n

r . . l . I f ." .'\lII1‹.›ccl:1 cspccic dc cnhcrtur UL1 mztntu.

21 usar-se

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372 R } \ 1 * ¬ I ` \ D1 ( \ I \ l \ R ~ \ I "1

cflrcnta Sulúlus r¬mlndz› :t João l)umingucs taballinrn, para huílä CEIISSHS.

. . . nuvem Elvira Pcrcs a Gaza cm que que uuvu minha milha Orraca Peres em cá=s‹:drzts (I) c sais alrnoçclhafi trcs churnzlç‹›s u sóis rrlalltcés c uuvu Elvira cnscdras c cuatro almnçclhas c e(›atr‹› chumaças c‹›lcIlas L* sóis Icnçuis c suis n7am‹.'rš:<..

TTNWII c digo cazzu¬ncnt‹› trem cnl‹.¬.h:'L:â c seis

Peres duas L' duas

Dá* om'/ro nó» 7 71

I tem I¬n:1nd‹› :1 1)ur:lu› .\ligu¿:z c› ou pcl‹›Ic_ minha s a n du prcscardi‹› c ‹› meu t:\h:«1fú1‹› do verde calme. Item mando fá Ínâu l.‹›ureI1ç‹› çelurgiãu ‹› meu rab:u'‹.l‹l que he da me cdadc dcsczlrlzna. Item a (›crv:1ze Anncs hui possa de fizndn para r‹›II~u:r 0 luitu. item zé (Í‹mszam;a Xlendiz sincu libras pzlrzl hui saía.

já* 0/xƒrú de 4 /3

!:1h:1rd‹› (2) vcrn1‹.:lh‹› Cum ‹› czmcimm Nlartins hui Llubra czxstcllaà. `

11011 m:1ml‹› sI‹› dfin 1.‹›p‹› 1~lcrn:unic:¬ 'Ê

H I11CII..1

. (3) , 11. :1 'I`h‹›1'1'1c lã. hum LÍ‹›1'›r:1 m‹›1.1ris‹:n.

De /e/ii C1///IV» de H Ã

um. quais ( )

I;sL:~1s som as alfaias que cu renho que minhas ltcm oito cnbessais (*) dc p e n a c :res aimadra-

duas mantas, c trás cobertas c C(-)EH'I'() iençois c: tres prateis (6) c duas salçinhas c cuatro píchcís entre piquenus c grandes c cuatro gatos dc arcar cubas, e cuatro mate is . c dois túneis dc ter pão c duas a r e s de ter pão, c hui pipa z mais hum matalotc U) velho que esta cm caía Maria Luiz vazio c mais outro maralote cm minha caía hui arca nova, c duas arcas piquenas de ter carne c trás cspctos c hui rapadeira c hum caldei- rum c hui pela (8) de frigir c mais hui gamclla nova dc infundir c hum machado, c hui fouce, e hui arca de ter escrituras e dois mangueis de rezar, e tres cubcrtas c hui mera manta.

3 :J

(1"a (2`1 .v'

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íffzccdrfl culchziu de pcnzls. 'l'ahard‹› - - untÍ;.{n czlp‹›tc dá mzmgzas: c cz1;m¿. (flapcírñàa capa grande. Uabcçâll -- .zlrn‹:Elda cm que :1 ¡\Irnâldr:1quc - enxerga . Pr:‹1t‹:l prato pequeno. Dcvc cszsâf por maluco: - Sürtä.

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1flfl121 pré ucnzi

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C l.` R IosIl).xD1fs I)I: (/[.IÉ\I.\l*. -u; 373

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nha quinhentos a Pedro Anmrs vclifics (;â)_

I tem 1L'ix(› zé confraria dc São Romão :L minha vvstíxncntza da zarzunia (I) com quê' digam missa hcstfâs. lt. l i x o :1 Bzlstiàu I.luz‹:m‹›s r i s per sava c gibâwn que :i capa já :1 tem. lã. mando a minha srabri-

rcis para uma fzaldrilhzl (2) 1: qui: dum meu crizulu hui nrwzt 11: IT1.UlÍ'Fl

/.)¿ /.*z*)/ fez///*ro dó» I 540

Irem mzmdu que todos os meus vcsridns vendei‹› c com f a dinheiro que dcllcs sc tizcr c com Ulffrlf) que su tz›mz1r:i dá minha fazenda vá:<rirzi‹› dnzv pessoas vm=c1';z‹›nh:u.l'zs silicct dc pc!‹›tcs c capas c carzzpuças c gabzxtns c será de p a n o pardo dá Castela.

Item l i x o para ‹› hospital que usai cm rua çnpa- u.:ir:1 hui cama dc roupa para ‹›S pobres durmirum ne la sllicct I a alnmdraquc hc dou ‹'ahr:ç'1is L' hum Iunsul dc cswpa ‹: trem m:ml.z1 di! ter c a cubcrta scrâi dá suis vâlra:›;. .~\nr‹mi‹› Vaz que

hum eu-ll‹›tc c taça por s r hum homem.

p:m‹›s. c hua cubcrln dc hurcl E hum Item :1

lhe dê dois mil róis cm dinhcim hui capa dc (Ínstcla L' «ligo lhe que

Do tomo II do livro de Rqgiƒ/ox de Irx/z:›w:*›z!ø.z' e [.)aaçrFe.r da Colegiada de Gummrãcs colhem-sc os scszuintcs elementos .

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Dê* xsw z'(*.rz*(/wrfziú raíz» 1309;

Item III]2.IIN.1U ao mfiestelrn dc SS‹')L1t:'› xvr libras. d o s ClTI..1I.T13Ç(}5.

Lnutençu mendes v. libras c huns man- Item mando han ffilhu

dá Sanha gudins para capa. Item a .Infame a minha bucha melhor. Item mando n meu

U PCh›l'l:.

ltcm mzmdn a .j‹›hanc tres almucclhas c Item mando a rèës por aquilo que dc] ouvi.

v. saldos H- a ' z .I

ccfnmc . a _l‹›hanc c

IÍ;-1rzâ1¿;1Lz11nz1

l¬lf:tld i Ihâl . ..va uspucic dá pano dc ›1lg‹›d:ã‹›.

zncm:1l burdâldu, rccls.l‹› de l i ‹: cstupa. F

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.. . 4". Â.

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{ upa :imi§gn du mulher uiva cm que sc guzlrd:1n1 gcncrus alímcntí‹:i‹›s.

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De 0/Wa de 1385

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Item recnnnscu c ermfess-:› em ÍDc:‹zs, c em minha alma que dói a .\laia luivães minha filha cm CEl2HIT1L'TI1Éí¡

cu . \ lat im Pires, manru c pelluíe de s a i a c saía de h1'()I.1 f á ; com arlni‹›s c Cflffl pr.:mlas miseradas para curie, L deu-lhe Lrraca Domingues cuatro leitos dc mui hnfl liteira, c cm cada hum leítn havido senhas cnsaedras C dois dóis chumassos, L' duas duas almoça'- Ilas c senhas colchas, c as toes htffin l`)alg‹›d‹›rr1, _ hui de barra c dez manrcs, e dez lanceis c dois Etcereus f" c gize lhi boda.

irem cnnfeçn c cnnhnacu um Duna L- cm minha alma que dói a meu rilh.. Airaz juivâes em eazamentu c m \latria de Pinhel: :\ Maria de Pinhel sa mulher. nianm e garnacha de sanuuinha com saía de Mnrete e dei lhe p e n a branca para ‹› riam e p e n a gonoeza para a garnacha e dei lhe sincn brasas Dalfres para u m i n e c para a garnacha c hum maravid para a corda da sara, e a cultura dos paanns seus e de seu mando 6 :1 us palmas as penas dei lhes Peru juivñes seu irmão.

irem dei lhe duzentos libras lhe a dar outras duzentos.

CHI dinheiro c hcí

De 0/zƒrú z/ 7 40:

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[ e m a ¡*.ffr›nço Peres dez meu avé sinto libra;

Fstcvnz cinco sinto

Item mando a minha irnmm as minhas toucas que foram dc minha madre. libras para huäs calssns, ltcm H para funis calssas: hum Maria libras para Sá :cá :S .

mz- .'1 / Í ! c=.1¡z*ø^ú I

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tum mando a 'l`harcj:1 filha dc .\Í:u'iz1 .-~\nncs curcntza saldos c mando Ihi :1 minha saía duburncta "3j. Item mando a Maria Anncs minha irra hum marco mi prata I: mando lhi 0 meu pcllotc dos AleI-c:‹c‹; da $:muuinlI;1, c :1 saía du bcrdcgztm r

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