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Revista de divulgação científica do

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Mudanças climáticasos dois lados da questão

Revista de divulgação científica do

INPACiência para todos

Peixe agrega valor emalimentos e vestuário

Hortaliças: alimentação saudável a baixo custo

Construção da BR-319e o impacto ambiental

nº 03, ano 1 (distribuição gratuita) ISSN 19847653

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A Floresta Amazônica nas Mudanças GlobaisPhilip M. FearnsideEditora INPA, 2003Assunto: Floresta Amazônica – ecossistemaISBN: 85-211-0019-1Formato: 16x23 • Páginas: 134 • Peso: 0,265

The Evolution of Biological Organization as a Function of InformationIlse WalkerEditora INPA, 2004Assunto: Theoretical biology-Evolution-Biological OrganizationISBN: 85-211-0021-3Formato: 21x14 • Páginas: 380 • Peso: 0,415

Conheça outras publicações em:http://acta.inpa.gov.br e-mail: [email protected]

fale conosco: fone 92 3643 3030/ 3643 3223 fax 92 3642 3438

Guia de Identificação de Palmeiras de um Fragmento Florestal UrbanoIres Paula de Andrade Miranda, Afonso RabeloEditora INPA/ EDUA, 2005Assunto: Guia de palmeiras no perímetro urbano de ManausISBN: 85-7401-156-8Formato: 14x16 • Páginas: 228

Biotupé: Meio Físico, Diversidade Biológica e Socio Cultural do Baixo Rio Negro, Amazônia CentralOrganizadores: Edinaldo Nelson, Fábio Aprile, Veridiana Scudeller e Sergio MeloEditora INPA, 2005Assunto: Águas pretas, biodiversidade Amazônica, recursos naturais ISBN: 85-7401-156-8Formato: 20,5x22,5 • Páginas: 246

Assinatura on line disponível no endereço http://acta.inpa.gov.br

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Adalberto Luis Val Diretor do INPA

Wanderli Pedro TadeiVice-diretor do INPA

Sérgio Fonseca GuimarãesChefe de Gabinete

Estevão Monteiro de PaulaCoordenador de Ações Estra-tégicas - COAE

Beatriz Ronchi TelesCoordenadora de Capacitação - COCP

Lúcia YuyamaCoordenadora de Pesquisas e Projetos - COPE

Carlos Roberto BuenoCoordenador de Extensão - COXT

Tatiana LimaCoordenação de Comunicação Social

Leila Ronize (MTB 179/AM)Jornalista Responsável

RedaçãoAna Célia Ossame Annyelle BezerraDaniel JordanoEduardo Gomes Leila RonizeMário BentesTabajara MorenoTharcila Martins

FotografiasAnselmo D’AffonsecaAlberto César AraújoEduardo GomesMário BentesTabajara Moreno

Projeto GráficoLeila RonizeRildo Carneiro

DiagramaçãoRildo Carneiro (DRT-004/AM)

PublicidadeMárcio AlexandreLeandro Mery

Fotos da capa:Anselmo D’Affonseca e Tabajara Moreno

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Pesquisas em prol do homem amazônicoGarantir que a sociedade tenha melhor qualidade

de vida é uma permanente busca nos resultados dos estudos realizados pelos cientistas do Ins-

tituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Você, nesta terceira edição da revista Ciência para todos, passa a ter conhecimento de uma pequena mostra do que é feito nos laboratórios da Instituição.

Exemplos disso são os projetos voltados para ampliar a quantidade de alimentos que vão à mesa dos ribeiri-nhos. Há o estudo com hortaliças não-convencionais, cultivadas sem agrotóxicos e que cabem no orçamento dos amazônidas. Você sabia que existe um projeto de criação de peixes em cativeiro que apresenta uma tec-nologia de subsistência de cunho social? E que está sendo implantado em comunidades ribeirinhas e indí-genas da região Norte? Pois é, o projeto consiste na escolha de uma pequena seção de canal de um iga-rapé que serve como viveiro para peixes que podem chegar a atingir 1 kg, em um período de 12 meses.

Falando em pescado, o Inpa vem fazendo pesquisas para aproveitar esse alimento da forma mais variada pos-sível. Nesse caso, o peixe toma a forma de hambúrguer, sopa, quibe, linguiça e até picles. Além disso, ao ser curtido o couro do peixe pode ser utilizado para produ-zir roupas, sapatos, chapeus, bolsas e outros acessórios.

A prestação de serviços encontra espaço também no Laboratório de Tuberculose e Hanseníase da Institui-ção, que funciona como parceiro da rede de saúde es-tadual e municipal. No laboratório são realizadas aná-lises de casos de tuberculose de difícil diagnosticação.

Essa edição traz ainda uma fotoreportagem sobre

alguns dos animais mais estranhos da Amazônia. São espécimes catalogadas pelo Inpa, encontradas em di-ferentes partes da região e que podem ser vistas, pelo menos boa parte, na Coleção de Invertebrados da Coor-denação de Pesquisas em Entomologia, onde são man-tidos, com fins de pesquisa, cerca de cinco milhões de exemplares de insetos de dez mil espécies diferentes.

Um alerta para a preservação da região vem por meio de um estudo que avaliou os impactos ao meio ambien-te na área de influência direta da rodovia BR-319. A pesquisa revela que, devido à migração de pessoas e a intensificação de atividades econômicas como a explo-ração madeireira e agropecuária, áreas de cinco muni-cípios do sul de Roraima, e também a capital do Estado, Boa Vista, devem sofrer um crescimento no índice de desmatamento em função da reconstrução da estrada.

Por outro lado, estudos sobre mudanças climáticas globais estão contribuindo para que as pessoas re-pensem seu modo de vida e a maneira como está se dando o desenvolvimento da humanidade, levando à conclusão de que o modelo de desenvolvimento eco-nômico e social adotado não é bom para o planeta.

Estudos para melhorar a qualidade dos produtos utilizados na alimentação dos ribeirinhos, proje-tos que atuam no beneficiamento do pescado, seja na industrialização de novos produtos alimentícios ou na curtição de couro, realização de análise de casos de tuberculose, principalmente em crianças, alerta para medidas que venham agredir ao meio ambiente. Todas essas contribuições confirmam o importante papel do Inpa no desenvolvimento da região e na valorização do homem amazônico.

EDITORIAL

EXPEDIENTE

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Sum

ári

oO termo mudanças climáticas globais ganhou

destaque no início de 2007, quando saiu o úl-timo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Ele contribui para repen-sarmos nosso modo de vida, a maneira como está se dando o desenvolvimento da humani-dade. Segundo o pesquisador Antonio Ocimar Manzi, isso nos faz concluir que o modelo de desenvolvimento econômico e social que ado-tamos não é sustentável para o planeta. Temos que mudar a maneira com que tratamos o meio ambiente, inclusive para sobrevivência de mui-tas espécies. O lado positivo desse cenário é o fato desses estudos gerarem pressões sociais pela conservação da biodiversidade da Amazô-nia e provocarem uma nova atitude governa-mental e empresarial sobre a nossa região.

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Hortaliças do bemHá mais de três décadas, o Inpa desen-

volve estudos com hortaliças não-conven-cionais. As hortaliças são consumidas em comunidades indígenas e, além de serem mais nutritivas, possuem propriedades medicinais. O consumo desse produto ul-trapassa oito milhões de toneladas anuais no Brasil, exige mão-de-obra especializa-da, o que encarece o produto.

Peixe nosso de todo diaO pescado que vai à mesa dos ribei-

rinhos foi objeto de estudo dos pes-quisadores do Inpa que vislumbraram a possibilidade de transformar os pei-xes dos rios amazônicos em produtos industrializados. A iniciativa fez parte do projeto “Alternativas de utilização de pescado na Amazônia” cuja ideia genuína era dar finalidade comercial a peixes regionais de baixo valor finan-ceiro.

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Meio ambiente em alerta

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Programa de Criação Intensiva de Matrinxã em Igarapés garante alimento e renda para ribeirinhos e indígenas do Amazonas

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Lei regulamenta ética no uso de animais para experimentação em laboratório26

Laboratório de Tuberculose e Hanseníase do Inpa trabalha como parceiro da rede de saúde estadual e municipal

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Hortaliças do bem

Peixe nosso de todo dia

Inpa contabiliza 40 pedidos de patentes em andamento junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI)

Coleção de Invertebrados da Coordenação de Pesquisas em Entomologia mantém cinco milhões de exemplares de insetos

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O imenso desejo de conhecer as flores-tas tropicais trou-

xe essa suíça a desbravar a Floresta Amazônica. Hoje, 33 anos após ter escolhido viajar pelo mundo e estudar a evo-lução das espécies em seu habitat, a pesquisa-dora Ilse Walker resolveu se aposentar da “vida aventureira”, fincar raiz no Amazonas e se dedicar a colocar no pa-pel o resultado de seus estudos. Mas, continuar na ativa é uma realidade para essa pesquisadora, tanto que ela aproveita para mandar seu recado, nessa entrevista exclusi-va, concedida à repórter Leila Ronize, em sua sala, rodeada por livros e papeis, que guardam resultados inéditos de anos de pesquisa.

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ProtegidaAmazônia ainda é a única grande floresta

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TABAJARA MORENO

Raio XA pesquisadora Ilse Walker possui graduação

em Zoologia, pela Universitat Zurich (1953), mestrado em Genética Drosophila, pela Univer-sitat Zurich (1955) e doutorado em Genética (Drosophila), pela Universitat Zurich (1959). Atualmente é Pesquisadora do Instituto Na-cional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Tem experiência na área de Ecologia , com ênfase em Ecologia Aquática. É autora do livro “The evolution of biological organization as a func-tion of information”, editado pelo Inpa. A obra

discute o papel da informação nos estudos da evolução da espécie e destaca a importância da cooperação nesse processo, embora tam-bém reconheça o papel da competição, como propunha a síntese neodarwinista. Surge des-sa maneira, na Amazônia, um avanço no deba-te sobre a teoria da evolução onde a simples competição (usada como exemplo pelos ne-oliberais que defendem o ajuste da socieda-de apenas pelo mercado) não justifica mais a fantástica complexidade do mundo vivo.

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Revista do Inpa: São mais de 30 anos de ser-viços prestados ao Inpa. A senhora poderia nos elencar quais foram em sua opinião seus trabalhos mais importantes nesse período?

Ilse Walker: Tem o livro, que resume todo o trabalho teórico, fruto de minhas pesquisas. Sempre publiquei trabalhos teóricos ao lado do trabalho do campo da ecologia, como é o caso do estudo sobre Tarumã-Mirim. Concen-trei minha pesquisa na teoria da evolução, ou seja, descobrir como funciona a mecânica da evolução. Quis saber como funcionava. Sele-ção é básica para tudo, sempre tem que ter. [O livro foi publicado no final de 2005, no Inpa].

Revista do Inpa: Desde a publi-cação do seu livro houve mudan-ças nos resultados de seus estudos?

Ilse Walker: A ciência não é tão rápi-da, você precisa em geral de uma geração, até que alguma coisa tenha raiz. Estava in-cluindo, além de Charles Darwin, o Lamarck e outros pesquisadores [todos trabalham a teoria da Evolução]. Hoje em dia temos um dogma darwinista. Só existe Darwin. Entender e ampliar as teorias, principalmente a mecâ-nica de como funciona é muito importante. A evolução é uma mecânica extremamente sofisticada. Foi isso que eu quis investigar.

Revista do Inpa: A Amazônia sempre é vista com fascínio por aquelas pessoas que ouvem falar de suas riquezas. A se-nhora conheceu de perto essa biodiver-sidade. Na sua opinião, quais foram as suas maiores descobertas na Amazônia?

Ilse Walker: Eu estive quatro anos na Áfri-ca, lá fiz biologia marítima, trabalhando com microorganismos marítimos que criei no labo-ratório. Já estava acostumada à floresta tropi-cal, mas, mesmo assim, quando cheguei aqui, foi uma fascinação, uma maravilha trabalhar com faunas e igarapés. A Amazônia é a única

grande floresta que ainda existe, por isso é a única que aparentemente é suficientemen-te protegida. Tudo era praticamente floresta alta antes que o ser humano descobrisse o fogo e queimasse as florestas para criar gado.

Revista do Inpa: O que fazer para garan-tir que a beleza e o fascínio continuem?

Ilse Walker: O povo tem participação im-portante nesse futuro. Há duas saídas: ou você precisa de uma ditadura com um serviço militar muito severo para proteger a flores-ta ou você vive em uma democracia e con-segue convencer a população. Essa segunda é a opção. Deveríamos gritar para o povo no centro de Manaus, nas cidades, nos meios de comunicação. Você sabe por que não chove mais? Por que desmatamos tudo. Onde tem asfalto e cimento não se formam nuvens, que só estão em cima de florestas e vegetações.

Revista do Inpa: A senhora falou que as pessoas precisam gritar para ten-tar parar algumas ações que estão agre-dindo ao meio ambiente. Como mostrar para elas que a situação é preocupante?

Ilse Walker: Toda a cidade está crescendo. A floresta está emitindo água o dia inteiro, é só perceber as nuvens se formando em cima da floresta. A metade do peso de uma árvore é água. Então, a floresta está estocando milhões de litros de água. É só parar e observar na Pon-ta Negra para verificarmos que as primeiras nuvens sempre se formam em cima da mata, mas sobre a cidade não tem essas nuvens.

Revista do Inpa: Então cada um tem que fazer sua parte: o povo precisa gritar, os meios de comunicação denunciar, o governo executar. E qual o papel do pesquisador?

Ilse Walker: O pesquisador faz pesqui-sa, por isso é preciso ter uma interação forte entre os representantes do povo e os

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pesquisadores. Jornalistas e políticos deve-riam ouvir os pesquisadores que têm as in-formações e ajudariam com seus estudos. O problema é que o pesquisador usa uma lin-guagem que o povo não consegue ler, afinal ciência é trabalhar com física, matemática, anatomia, fisiologia. Cabe aos políticos pro-curar informação mais clara sobre como pro-teger a floresta e aos meios de comunicação traduzir esse conhecimento à população.

Revista do Inpa: Há falta de valori-zação do pesquisador e quais as difi-culdades para desenvolver a pesquisa?

Ilse Walker: Não há falta de valorização ge-ral da pesquisa, mas o mundo é complexo, o ser humano é complexo. Uma sociedade hoje em dia, com toda essa tecnologia torna a si-tuação ainda mais complexa. Por exemplo, o computador que vi é tão grande como um pré-dio e agora é do tamanho de um chip ou um pen drive. Hoje em dia toda a bíblia pode ser colocada em um chip e tudo aconteceu em uma geração. Até os pesqui-sadores especializados aca-bam não tendo como seguir isso. Até por que a pesquisa é desenvolvia no campo, onde se gasta mais tempo. Além disso, hoje ninguém tem uma visão geral de tudo, pois isso significa não saber nada so-bre os detalhes. A vida é li-mitada, a movimentação e o cérebro são limitados, por isso há uma necessidade de se especializar em um as-sunto. Você precisa estudar a matéria em sua profun-didade e não um pouquinho ali ou aqui.

Revista do Inpa: Quais as conse-quências mais diretas de não ter acesso às explicações científicas?

Ilse Walker: Quando as pessoas não têm domínio sobre todas informações, voltam-se contra elas. É o que acontece com os fanáticos da religião. Cada vez mais religiões e teorias tentam buscar uma resposta mais fácil. Viajei na Etiópia, no Egito, no Iraque e, como mu-lher, sozinha, podia andar em qualquer lugar, não lembro de mulher com burca. Hoje tudo mudou. Nos Estados Unidos há os evangélicos contra a evolução, que não aceitam falar em moléculas, manejar moléculas. Quando não se tem respostas racionais se buscam respostas em outros lugares ou se criam respostas mís-ticas. Você sabe o que é um dia? Ora é a ro-tação da terra em seu eixo. Tem um sistema matemático para fazer esses cálculos. Então,

um dia é definido pela rotação da terra ao re-dor do seu eixo. Sete dias é sete vezes a terra fazendo essa rotação. O criacionista acredita que todo mundo foi feito em seis dias. O dia do Deus pode ser alguns milhões de anos. Se você é religiosa um dia pode ser milhões de anos, um dia de quem busca uma informação racional tem relação com a rotação da terra.

Revista do Inpa: Muitas pessoas reco-nhecem a riqueza da Amazônia, mas criti-cam a “intocabilidade” da floresta. Como explorar a Amazônia sem depredá-la?

Ilse Walker: Acho a ideia errada. Nossa es-pécie já registra mais de um milhão de anos. E sempre estava dominando os ecossistemas. Agora, realmente há queimadas de grandes florestas no mundo inteiro. A Amazônia ainda é a última que não foi queimada, por conta de esforços de preservação, caso contrário se-ria a metade. Além disso há um esforço mun-

dial, a globalização trouxe um avanço e o que acontece em qualquer lugar, todos sa-bem. Mas, se você tira o ser humano não é mais normal. O ser humano caça cutias e se não caça, vai ter cutias demais e isso vai mexer no equilíbrio, e as plantas serão destruídas. Outro exemplo: o papagaio vive 50 anos ou mais até, ele é territorial, só pode botar o ovo se tem território. Se você não mata nenhum papagaio, ele vive 60 anos e aí não haverá ter-ritório para todos. Isso não é natural. Você tem que pro-teger as espécies ameaçadas,

as plantas, os animais. Mas não retirar o ser humano como aconteceu com o caboclo, que de um dia para outro não teve mais ren-da. O ser humano faz parte do ecossistema.

Revista do Inpa: A senhora tem uma his-tória incrível de coragem e ousadia. Saiu da Suíça em busca de aventura. Viajou por muitos lugares. Veio parar na Amazônia, por onde se apaixonou e resolveu abraçar a pes-quisa para o resto da sua vida, contribuin-do para o desenvolvimento da região. Quais seus planos “aventureiros” para o futuro?

Ilse Walker: Gosto muito de viajar de vez em quando, gosto de saber como funciona a natureza. Mas não tenho mais planos aventu-reiros, quero escrever o que está na gaveta, o resultado de pesquisas que já existem e devem ser publicadas. Posso dizer que talvez venha a fazer uma nova edição do livro, mas na minha idade a gente pensa em ficar mais tranquila.

Você sabe por que não chove mais? Por que desmata-mos tudo. Onde tem asfalto e cimento não se forma nuvens, que só estão em cima de florestas e vegetações

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Frito, cozido, assado e até mesmo cru. O peixe é um alimento que atende a muitos paladares. Em todo o Brasil, a média de

consumo por pessoa é de 20g ao dia, enquanto na região amazônica é de 369g. O hábito e as receitas com o pescado ocupam lugar de des-taque à mesa. Quem nunca ouviu falar das cal-deiradas de tucunaré e tambaqui? Do matrinxã assado na brasa e comido com farinha do ua-rini? Ou do pacu frito? As receitas são diversas e bem sucedidas e foi, justamente, esse sabo-roso sucesso que instigou cientistas do Insti-tuto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) a estudar novas maneiras de consumir o peixe.

Já não bastasse ter o pescado servido à moda tradicional, os pesquisadores Edson Lessi, Nilson Carvalho, Paulo Falcão e Rogério de Jesus, da Co-ordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimen-to (CPTA) do Inpa, vislumbraram a possibilidade de transformar os peixes dos rios amazônicos em produtos industrializados. A iniciativa fez parte do projeto “Alternativas de utilização de pescado na Amazônia” cuja ideia genuína era dar finalidade co-mercial a peixes regionais de baixo valor financeiro.

A desvalorização desses peixes se deve a presen-ça excessiva de espinhas. Na lista, inclui-se espécies como o aracu. “Tratamos o peixe de baixo valor co-mercial no laboratório e estudamos a melhor maneira de transformá-lo em um produto que tenha mercado

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FOTOS: TABAJARA MORENO

O beneficiamento do pescado desenvolvido nos laboratórios do Inpa, agrega um valor muito grande ao alimento

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de consumo. Com isso, o peixe que é pouco consu-mido pela população, ou desperdiçado na época de abundância, pode ser convertido em um produto in-dustrial valorizado financeiramente”, conta Carvalho.

Mas além das espécies de baixo valor comercial, o estudo também desenvolveu produtos a par-tir de peixes de grande aceitação popular, como o tambaqui. “Nesse caso, o produto deve ser feito com animais criados em cativeiro”, explica Car-valho. Desde 1987, quando o projeto começou, até hoje já foram elaborados mais de 12 produtos com potencial de industrialização, derivados do músculo separado mecanicamente, o filé do peixe.

Entre os quitutes elaborados com o pescado ama-zônico estão o picadinho, o fishburguer, o palito, a linguiça, o surubim defumado, o pirarucu defu-mado a frio, a sopa desidratada de piranha, o ma-carrão de farinha de peixe e os derivados congela-dos: quibe, picles, bife e “nugguetes” empanados.

“Todos esses produtos industrializados são feitos depois que a espinha é separada do peixe. Esse traba-

lho de beneficiamento do pescado, que desenvolve-mos nos laboratórios do Inpa, agrega um valor muito grande ao alimento. O quilo do pirarucu, por exemplo, que é comercializado por cerca de R$ 17 a R$ 20, in natura após o beneficiamento defumado, pode pas-sar a ser comercializado por até R$ 40”, diz Carvalho.

Os processos de industrialização do peixe seguem modelos consagrados pela indústria alimentícia mundial, mas o projeto de pesquisa realizado pelo CPTA inovou ao inserir na receita industrial o car-dume amazônico bem avaliado pelo gosto popular.

Além disso, o alimento convertido em pro-duto de consumo tem aceitação para um mer-cado diferenciado. “O peixe é um alimento cuja comercialização é bastante delicada. Ele estraga com relativa facilidade. Dependendo das condições de captura, manuseio e arma-zenamento, o pescado pode deteriorar mais rapidamente diminuindo a vida útil para o seu consumo. Quando ele sofre o processo de industrialização e é congelado ganha uma du-rabilidade bem maior”, ressalta o pesquisador.

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Os rios da Amazônia possuem cerca de cinco mil espécies de peixes. Apenas dez delas concen-tram 90% do consumo na região Norte. Para am-pliar esse mercado, um projeto de pesquisa do Inpa criou produtos in-dustrializados feitos com peixes amazônicos

Jorge Rebello, que trabalha com curtimento de pele há mais de 62 anos.

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Linha de produção Picadinho de peixe: As espinhas do peixe são separadas mecanicamente por uma má-

quina industrial, o filé é moído e embalado em porções de 1kg, e depois congelado.

Fishburguer: Feito com carne de peixe triturada e condimentos selecionados em quan-tidades predeterminadas, o fishburguer é semelhante ao hambúrguer de carne.

Palito de Peixe: O filé do peixe é triturado e temperado. Depois de moldados os palitos são apresentados em pequenas tiras de 2 x 10 centímetros, empanados em clara de ovos e farinha de pão torrado, sendo em seguida congelado.

Quibe de Peixe: Elaborado a partir da carne de pescado triturada, adicionada de condi-mentos apropriados, o quibe de peixe é semelhante ao tradicional quibe de carne.

Bife de Peixe: O Bife é feito a partir da carne triturada, condimentada, moldada e congelada. Assim como os demais produtos, pode ser consumido juntamente com arroz, feijão e salada.

“Nugguetes” Empanados: Carne triturada de peixe e alguns condimentos. Moldado na forma de pequenos quadrados de 7 x 5 centímetros, os empanados sofrem uma pré-fritura por cerca de 30 segundos e depois são congelados.

Sopa desidratada de piranha: A sopa é um alimento em pó instantâneo preparado a partir de carne de piranha. A sopa instantânea é elaborada com ingredientes desidratados da região amazônica, sem conservantes e sem glúten.

Pirarucu defumado a frio: Produto feito a partir do filé de pirarucu proveniente dos planos de manejo comunitários da Amazônia. O processo é realizado em forno de defuma-ção dotado com controle de temperatura e velocidade da fumaça.

Surubim defumado: Filé de surubim sem pele, salmourado, drenado e defumado a frio durante três horas em defumador industrial com temperatura controlada de 42oC.

Linguiça: Feito a partir de peixes cuja característica proteica consegue a formação de gel “kamaboko”, assemelhando-se aos produtos japoneses como “kani-kama”. Pode ser servido como petisco e em saladas.

Picles: Peixes como sardinha, jaraqui, curimatã, branquinha, aracu dentre outros, são submetidos ao processo de conservação sob o efeito da combinação sal e ácido acético contido no vinagre. Ele é embalado dentro de recipientes adequados de vidro e adiciona-do de uma salmoura quente feita com vinagre comum de cozinha, água e sal.

Estudo aponta restrição no consumo do peixeDados oriundos de estudos produzidos Inpa, na

Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e no Insti-tuto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Na-turais Renováveis (IBAMA) demonstram que, apesar de o rio Amazonas possuir cerca de três mil diferen-tes tipos de peixes, o consumo deles como alimen-to na região norte, é restrito a apenas 36 espécies.

As dez espécies de peixe mais importantes: jara-qui, tambaqui, curimatã, pacu, matrinxã, piramuta-ba, aracu, sardinha, tucunaré e mapará, respondem a 90% da produção que chega a mesa dos amazônidas.

Conforme dados do IBAMA, cerca de 210 mil pes-cadores profissionais trabalham com a atividade

pesqueira na Amazônia. Os números também indi-cam que 10% da população ribeirinha usa a pesca de subsistência para obter sua alimentação diária, o que corresponde, aproximadamente, a um milhão de pes-soas trabalhando, direta ou indiretamente, no setor.

Do total de 51.000 toneladas produzidas anu-almente na região, quase 70% tem como des-tino Manaus, sendo que o consumo do alimento na cidade oscila entre 100g e 200g por pessoa diariamente. Número alto, mas ainda assim, in-ferior ao registrado em algumas comunidades ribeirinhas do interior do Amazonas, onde o peixe tem importância superior, atingindo a marca de consumo de 300g por pessoa ao dia.

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Na moda com Couro de Peixe

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Destaque da gastronomia na região Nor-te do Brasil, o peixe também pode brilhar em outras modalidades. Ao ser curtido, o couro do peixe pode ser utilizado para produzir roupas, sapatos, chapeus e outros acessórios. As primeiras amostras disso in-tegraram o projeto “Utilização de pele de peixe de água doce para curtimento”, de-senvolvido há 15 anos na CPTA do Inpa.

Quem teme usar algum objeto ou aces-sório que remeta ao pitiú do peixe, pode se tranquilizar. No decorrer do processo de curtimento, o cheiro característico do pescado vai se diluindo até desaparecer. Dependendo da espécie, o curtimento do couro pode demorar um período de qua-tro a quarenta dias para ser finalizado.

Nos processos padrões, a pele é subme-tida a 14 etapas de curtimento, mas al-gumas experimentações feitas no Inpa já conseguiram reduzir essas etapas em sete. “A redução foi alcançada apenas com a eli-minação de alguns tipos de reagentes de produtos químicos e acrescentando outros. Com a pirarara conseguimos reduzir o cur-timento em apenas quatro etapas”, relata o técnico Jorge Rebello, que trabalha com curtimento de pele há mais de 62 anos.

O curtimento de couro de peixe no Inpa começou com o propósito de dar utilidade a uma matéria prima a qual é despejada em toneladas nos rios e lixões das cidades da região amazônica. Em Manaus, onde o projeto começou, a atividade pesquei-ra é responsável pelo despejo de cerca de 500 kg por dia de pele de peixe no rio.

Além de prejudicial ao meio ambiente, o despejo ignora o potencial econômico de geração de emprego e renda a partir da exploração comercial do couro de peixe. Contudo, isso está prestes a mudar com a implantação, em Manaus, de um Centro Tec-nológico Piloto em Curtimento de Couros.

O projeto foi aprovado pela Superinten-dência da Zona Franca de Manaus (Sufra-ma) em outubro de 2007 e deve entrar em funcionamento em julho de 2010. O tra-balho de implantação do centro será coor-denado pelo pesquisador da CPTA do Inpa, Nilson Carvalho, e será feito em parceria com a Secretaria de Estado de Produção Rural do Amazonas (Sepror/AM) e empre-sários do setor pesqueiro do Amazonas.

Carvalho lembra que graças ao estudo do Inpa o peixe que é pouco consumido pela população, pode ser convertido em um produto industrial valorizado financeiramente

O couro do peixe também pode ser utilizado para produzir roupas, sapatos, chapeus e outros acessórios

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mãosNo cenário atual, onde a luta “contra a balança” se

contrasta com a corrida pela erradicação da des-nutrição, surge na Amazônia uma possibilidade

de alimentação saudável e a baixo custo. Hortaliças cultivadas sem agrotóxicos e que cabem no orçamento dos amazônidas. Pode parecer comercial de supermer-cado, mas não é. Trata-se das hortaliças alternativas, ou não-convencionais, como são mais conhecidas, detentoras de elevado valor nutricional, baixo custo de produção e muito adaptáveis ao clima amazônico.

Há mais de três décadas o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), desenvolve estudos com hortaliças não-convencionais. Riqueza nutricio-

nal e propriedades medicinais são algumas das vanta-gens apresentadas pelas hortaliças alternativas, pouco conhecidas pela população urbana da região Amazô-nica. Essas hortaliças costumam ser mais consumidas em comunidades indígenas e pela população ribeirinha.

Apesar da acessibilidade financeira e capacidade de adaptação, as hortaliças não-convencionais - al-gumas provenientes de outros países - são cultivadas apenas para fins de subsistência, prevalecendo, em larga escala, a produção das hortaliças tradicionais.

Segundo dados coletados em 2000, pela Food and Agriculture Organization (FAO) e pelo Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o cultivo de hortaliças convencionais no Brasil ultrapassa oito mi-

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> Por annyelle bezerra e eduardo GoMes

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mãosPotencial nutricional e medicinal ao alcance das

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lhões de toneladas anuais. Estão entre as mais culti-vadas o tomate, a batata, a cenoura, a cebola, a me-lancia, a batata-doce, o inhame, o melão e o alho.

O pesquisador do Inpa, Hiroshi Noda, explica que as hortaliças não-convencionais são todas aque-las que apresentam valor nutritivo significativo, boa adaptação ao local de cultivo e distribuição restrita.

Segundo ele, o cultivo das hortaliças convencio-nais - mais conhecidas e consumidas pela popu-lação a nível nacional - exigem mão-de-obra es-pecializada, o que acaba encarecendo o produto.

“Muitas vezes, as convencionais são cultivadas em um ambiente artificial onde é necessário utilizar muito

adubo químico e agrotóxico para combater as várias doenças e pragas que atacam essas hortaliças, ele-vando, assim o custo de produção”, esclarece Noda.

Exemplo disso, segundo Noda, são o tomate, a batata, a alface e a cebola, que apresentam inúmeras dificulda-des de adaptação às condições da região Amazônica. “O tomate, domesticado no México e espalhado pelo mun-do todo, exige que haja um processo de melhoramento”.

O mesmo ocorre com a batata, domesticada no Peru, e a cebola. “No caso da alface, que em Manaus é produ-zida em ambiente protegido – mais especificamente em estufas plásticas - , e na maioria das vezes é plantada na água, sem contato com o solo, há uma redução da produ-ção e da qualidade do produto”, explica o pesquisador.

Riqueza nutri-cional e proprie-dades medicinais são algumas das vantagens apresen-tadas pelas horta-liças alternativas, pouco conhecidas pela população urbana da região Amazônica

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Possível aliado no combate ao colesterol Uma das hortaliças introduzidas na região Ama-

zônica e que ganhou força no cultivo, por parte das populações tradicionais foi o cubiu (Solanum ses-siliflorum). Conhecida popularmente por uma vasta diversidade de nomes como topiro, cocona, tomate de índio, orinoço-apple, maná, cubiu-maná, a hor-taliça é um arbusto nativo da Amazônia ocidental que foi domesticado por indígenas pré-colombianos.

Pertencendo a mesma família do tomate e do pi-mentão, o cubiu pode chegar a medir até dois me-tros de altura. Os frutos são ricos em ferro, vitaminas (principalmente do complexo B5) e pectina ( subs-tância que dá o ponto de geléia). São utilizados como alimento, consumidos ao natural ou processados, não só na forma de geleias, doces, sucos, mas também como medicamento, já que o cubiu pode reduzir os níveis de diabetes, ácido úrico e alguns problemas re-lacionados ao mau funcionamento dos rins e fígado.

Vale ressaltar que esta planta possui boa produti-vidade e que pode ser cultivada até mesmo no quin-tal de casa. É isso mesmo, a facilidade de cultivar

o cubiu está à disposição de todos, porém, hoje esse hábito de consumir alimentações alternativas, é conservado apenas pelas populações ribeirinhas e por parte da população urbana que conhece e entende a variedade de riquezas nutricionais que podem ser encontradas nesse tipo de alimentação.

Para produção das mudas, as sementes devem ser plantadas em copos ou sacos de plástico, bandejas de isopor ou canteiros comuns, porém para plantio comercial, o espaçamento entre as plantas pode ser entre 1,0 x 1,0 até 1,5 x 1,5 metros conforme a variedade utilizada. Cada planta pode produzir em média mais de oito quilogramas de frutos em seis meses de produção, já que a planta respon-de muito bem a adubação orgânica e nutrientes.

Você pode até não conhecer estas hortaliças, mas elas encontram-se hoje disponíveis nas fei-ras mais populares de nossa cidade, como no caso da feira do Coroado, zona Leste de Ma-naus, que tem como diferencial a oferta de pro-dutos alternativos trazidos do interior do Estado.

Hiroshi Noda explica que as hortaliças não-convencionais são todas aquelas que apresentam valor nutritivo significativo, boa adaptação ao local de cultivo e distribuição restrita

Para Carlos Bueno, o convênio é uma forma de conciliar o conhecimento desenvolvido pelos pesquisadores a partir de estudos realizados no próprio município

EDUARDO GOMESEDUARDO GOMES

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Objetivando explorar a potencialidade do cubiu como possível fonte de suplementa-ção alimentar da população amazônida, o Inpa vem desenvolvendo estudos com o fruto.

Segundo a responsável pela Coordenação de Pesquisas (COPE) do Inpa, Lucia Yuyama, a des-nutrição gerada em torno das populações ribei-rinhas se dá pela falta de consumo de energia. “Não adianta os ribeirinhos consumirem apenas a farinha e o peixe, pois embora o peixe seja de boa qualidade, com fonte de proteínas altamen-te biodisponíveis, fonte de minerais e vitaminas, há a necessidade do consumo de energias para atender as necessidades nutricionais, para que haja o aproveitamento pleno das proteínas de alto valor biológico”, ressalta a pesquisadora.

Um dos destaques do estudo realizado no Inpa com o cubiu é a “farinha de cubiu” que, segundo Yuyama, tem o objetivo de responder a questio-namentos sobre a possibilidade de possuir uma ação hipocolesterolêmica, ou seja, ajuda a re-duzir o colesterol. Mas por que utilizar a fari-nha como base para introdução desse produto na mesa das famílias amazônidas? A pesquisa-dora explica que o hábito alimentar influencia e pode ser a melhor maneira de agregar os va-lores nutricionais do cubiu na refeição familiar.

“O hábito alimentar da população do Ama-

zonas é consumir farinha de mandioca, então por que não agregar valor a essa farinha de mandioca utilizando uma mistura, a base de farinhas de cubiu, pupunha, tucumã, ou buri-ti e agregar valor as preparações. Além disso, essa é uma forma de resgatarmos uma cultura, uma vez que o cubiu era muito utilizado pe-las populações tradicionais”, enfatiza Yuyama.

Desta forma, segundo a pesquisadora, a ex-pectativa é que o uso da farinha de cubiu con-tribua para a redução dos índices de colesterol na população e que seja um benéfico como fon-te de fibra alimentar e principalmente na saúde.

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Cubiu no combate a desnutrição

O cubiu pode reduzir os níveis de diabetes, ácido úrico e alguns problemas relacionados ao mau funcionamento dos rins e fígado

Hortaliças não-convencionais adaptadas à regiãoA hortaliça conhecida como Feijão-de-Asa

(Psophcarpus tetragonolobus), por ter as folhas semelhantes a asas, é uma das espécies trazi-das para a Amazônia que apresenta alto índi-ce de adaptação e aceitabilidade de consumo.

A hortaliça de origem africana conta com um ele-vado índice de aproveitamento, podendo ser con-sumida da vagem até a raiz. A vagem, ainda verde, é a parte mais consumida pela população amazô-nica. Previamente cozida, ela é muito utilizada no preparo de saladas, cremes, entre outros pratos. Na Nova Guiné, a população costuma consumir as sementes secas da hortaliça (como se fosse soja), além das folhas e flores. A raiz tuberosa, muito semelhante a batatas, é muito consumida em cal-deiradas, por ser importante fonte de proteínas.

Outra hortaliça proveniente da África mui-to bem adaptada à região amazônica é o Es-pinafre (Spinacia oleracea L.). O fruto é rico em proteínas e sais minerais, suas folhas representam ingrediente bastante aprecia-do em saladas, refogados, cozidos e suflês.

ParceriasEm fevereiro deste ano, o Inpa fechou con-

vênio com a Prefeitura Municipal de Parin-tins com o objetivo de aliar ciência e desen-volvimento. Entre os projetos desenvolvidos pelo Instituto e implantados no município está o de utilização de hortaliças alternativas.

De acordo com o pesquisador do Inpa, Carlos Bue-no, o convênio é uma forma de conciliar o conheci-mento desenvolvido pelos pesquisadores a partir de estudos realizados no próprio município que, por uma falta de comunicação entre as partes, acaba não sendo empregado em benefício da população local.

“É importante que as prefeituras sejam parcei-ras desse projeto, porque geralmente o pesqui-sador vai ao município e tem que alugar carro, ou barco o que acaba dificultando a prestação de contas no final do projeto, devido aos inú-meros custos. E muitas vezes a Prefeitura tem essa estrutura lá. Então a ideia é inserir o go-verno municipal nas ações que o Inpa tem de-senvolvido em vários locais”, explica Bueno.

LUCIA YUYAMA

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Um projeto do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) capaz de abrir um universo para o desenvol-

vimento da pesquisa na área de criação de peixes, indicado entre os finalistas do con-curso da Fundação Banco do Brasil (FBB) de Tecnologia Social, já está mudando, para melhor, a vida de dezenas famílias da zona

rural do Estado. O Programa de Criação In-tensiva de Matrinxã em Igarapés (Procima), desenvolvido pelo pesquisador Jorge Fim, 53, especialista em zootecnia, apresenta uma tecnologia de subsistência de cunho social importante já replicada com sucesso em co-munidades ribeirinhas e indígenas do Ama-zonas e de outros Estados da região Norte. “O projeto deu muito certo, tanto que em cinco anos temos mais de 100 canais de cria-

ribeirinhos e indígenas

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FOTOS: JORGE FIM

> Por ana Célia ossaMe

A construção do canal e sua manutenção é de baixo custo e um ano de acompanhamento é suficiente para tornar o agricultor independente

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ção no Tarumã-Mirim, localizado no Ramal do Pau Rosa, quilômetr o 21 da BR 174”, revela.

A tecnologia criada por Jorge Fim que é desenvolvida desde 2003 vem acontecendo no assentamento de trabalha-dores rurais do Igarapé do Ta-rumã-Mirim, onde ocupa área aproximada de 42 mil hecta-res e onde vivem atualmente cerca de 1.160 famílias, cada uma ocupando lotes que va-riam entre 25 e 40 ha de terra.

Lá, o projeto acontece sem impactos ambientais, pois não provoca desmatamento e nem altera a qualidade da água. O melhor de tudo é que os agricultores além de con-sumir o produto, ainda têm sobras para comercializar. Ainda que em pequena es-cala, a tecnologia de subsis-tência desenvolvida por ele adquiriu um cunho social importante. O pes-quisador comemora e vê com otimismo a ideia sendo multiplicada para comunidades indígenas de São Gabriel da Cachoei-ra (a 858 quilôme-tros de Manaus), na região do Alto Rio Negro.

O projeto, que priori-za a criação para sub-s i s t ê n c i a , consiste na escolha de uma pequena seção do ca-nal de um iga-rapé, com cerca de quatro metros de largura onde pode ser feito um viveiro de madeira ou tela suficiente para receber até 15 pei-xes/m³. De acordo com Fim, as medidas recomendadas atualmente para os viveiros são de 30m x 4,0m

x 0,70m, ou seja, 84m³, e a vazão de água deverá ser acima de 10 litros/segundo.

“Com estas características podem ser criados até 1.250 peixes, que podem atingir 1 kg de peso (peso de mercado) em um período de 12 meses”, revela o pesquisador, expli-cando que essa quantidade mostrou-se suficiente para alimentar uma família por todo o ano. Isso, emenda ele, torna o projeto uma contribui-ção significativa para a me-lhoria do padrão de vida fami-liar na região dada pelo Inpa.

INOVAÇÃOAo lembrar que a cria-

ção de peixe em canal não é uma proposta nova, Jorge Fim destaca a inovação do projeto que desenvolve uma tecnologia própria que torna todo o ambiente o mais na-tural possível, sem alteração

da qualidade da água, seja na limpidez ou na química, razão pela qual peixes como o ma-

trinxã se deram muito bem. Há cuidados a serem tomados com outras espécies

como o tambaqui, que não pode ser colocado muito jovem, da-

dos os seus hábitos alimen-tares. “Mas a experiência pode ser feita com ba-gre e tucunaré”, sugere.

Para um Estado como o Amazonas, entrecortado por

igarapés, não exis-te melhor alternati-

va do que criar peixes em canais, assegura o pesquisador, compa-rando essa estrutura à da criação em barra-gens e viveiros. “Pode haver adaptações no futuro, para aperfei-çoá-lo, mas hoje esse

é o melhor sistema”, garante ele, inte-

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Jorge Fim destaca a inovação do projeto que desenvolve uma

tecnologia própria que torna todo o ambiente o mais natural

possível, sem alteração da qualidade da água

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O projeto, que pri-oriza a criação para subsistência, con-siste na escolha de uma pequena seção do canal de um igarapé, com cerca de quatro metros de largura onde pode ser feito um viveiro de madeira ou tela suficiente para receber até 15 peixes por m³

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Realizado a cada dois anos, o Prêmio Funda-ção Banco do Brasil de Tecnologia Social tem o objetivo de identificar, certificar, premiar e di-fundir produtos, técnicas ou metodologias que se enquadrem no conceito de ‘tecnologia social’ - uma proposta inovadora de desenvolvimento, que considera a participação da comunidade no processo. O prêmio é nacional e, em cada evento, seleciona 20 projetos concorrentes.

O conceito de tecnologia social está base-ado na multiplicação de soluções sociais em áreas como alimentação, educação, energia, habitação, meio ambiente, recursos hídricos, renda e saúde. As tecnologias podem aliar saber popular, organização social e conhe-cimento técnico-científico. O importante é que sejam efetivas, reaplicáveis e que pro-piciem desenvolvimento social em escala.

SOBRE O PRÊMIO

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plicar a experiência para outras comunidades dado o cunho social do projeto e a deman-da por alimentos em muitas comunidades.

No Tarumã-Mirim, a experiência envolveu o assentado que participa desde o início, com a construção do criadouro, passando depois pela criação dos peixes. Ao final de um ano recebendo acompanhamento, a pessoa já está preparada para multiplicar. Segundo Jorge, a construção do canal e sua manutenção é de bai-

xo custo e um ano de acompanhamento é sufi-ciente para tornar o agricultor independente.

A tecnologia abriu caminhos também para o desenvolvimento da pesquisa. Há três dissertações de mestrado e uma de douto-rado com esse tema. “Com o conhecimen-to acumulado, estamos partindo para ou-tros projetos como o desenvolvimento de uma alimentação alternativa, de fácil acesso para as comunidades no interior”, finaliza.

Nos canais de igarapés de águas claras, é possível até acompanhar mais facilmente o crescimento do peixe para, em caso de necessidade, manejá-lo

ANTONIO MENEZES

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A eficiência e os resultados do Procima já o le-varam a expandir as fronteiras do Amazonas. Téc-nicos do Estado do Pará, comunidades, programas de televisão de vários Estados, além do Projeto Fronteiras em São Gabriel da Cachoeira, onde a maioria da população é indígena. “Em locais onde as pessoas passam fome por falta de alimentos, esse projeto será de extrema viabilidade social”, afirmou o pesquisador Jorge Fim, indicando a ne-cessidade da implantação de infra-estrutura em comunidades onde não existe luz elétrica, estra-das, assim como de suporte financeiro e técnico.

Pelos cálculos dele, o agricultor pode bus-car financiamento público, pois no período de carência, de cerca de dois anos, vai reaver não só o que gastar na compra dos alevinos e com a manutenção, mas também com o que vender. O melhor é que poderá consumir um alimento rico e tradicional da dieta alimentar da região. Para a comercialização, Jorge destaca o fato de que a carne desse peixe criado num ambien-te o mais natural possível será mais saborosa, o que deverá ser notado pelos consumidores.

Nos canais de igarapés de águas claras é pos-sível até acompanhar mais facilmente o cresci-mento do peixe para, em caso de necessidade, manejá-lo. Uma questão importante é a obser-vação de uma distância mínima entre os canais de criação para evitar a retenção de resíduos. Para tanto, existe até uma Resolução da Con-selho Estadual do Meio Ambiente (Ceman) re-gulamentando a criacão de peixe em igarapés através da Resolução N. 08/08, explica. Na Resolução do Ceman está previsto que a dis-tância entre um e outro seja pelo menos três vezes o tamanho do criatório para facilitar que a água saída do criatório elimine os resíduos.

O canal pode ser feito em água de qualquer igarapé, outra felicidade do projeto. Daí ele ga-rantir que essa é uma das melhores alternati-vas para se desenvolver no interior do Estado e em assentamentos. “Por uma coincidência, nessas áreas existem muitos igarapés e muitas pessoas passando fome”, finaliza ele, empe-nhado na elaboração de um manual de orienta-ção aos interessados em desenvolver o projeto.

Expansão já é realidade

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Jorge destaca o fato de que a carne desse peixe criado num ambiente o

mais natural possível será mais saborosa

ANTONIO MENEZES

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O Laboratório de Tuberculose e Hanseníase figura como importante parceiro da rede de saúde estadual e municipal, realizando análise de casos de tuberculose de difícil diagnosticaçãoTA

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Atualmente, segundo dados da Organi-zação Mundial de Saúde (OMS), o Ama-zonas, com 67 casos para cada 100 mil

habitantes, ocupa o segundo lugar entre os Estados com maior incidência de Tuberculose Pulmonar (TbPul), perdendo apenas para o Es-tado do Rio de Janeiro, com 73 diagnósticos para cada 100 mil habitantes. Em 1982 a tu-berculose era responsável por 85% dos casos no Estado, índice que levou o Instituto Nacio-nal de Pesquisas da Amazônia (Inpa) a implan-tar, naquele ano, o Laboratório de Tuberculo-se e Hanseníase, sob a tutela da Coordenação de Pesquisa em Ciência da Saúde (CPCS).

O laboratório, hoje, figu-ra como importante parceiro da rede de saúde estadual e municipal, realizando análise de casos de tuberculose de difícil diagnosticação. Para a coordenadora da CPCS, pes-quisadora Júlia Salem, além da contribuição na análise de diagnósticos de (TbPul), o laboratório que conta com es-tudantes, voluntários e pro-fissionais, é uma das provas de que o Inpa está sempre de portas abertas para a socieda-de civil, e para a comunidade acadêmica, independente das instituições a que pertençam.

“O Inpa reconhece a necessidade de formar profissionais, priorizando sempre o desenvol-vimento de estudos que contribuam para a des-coberta de novos conhecimentos”, afirma ela.

Entre os trabalhos realizados no Inpa, com o objetivo de gerar conhecimentos sobre a tuberculose, destaca-se o método de tria-gem baseado em um questionário, desenvol-vido em 2005, pelo pediatra da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Gastão Dias.

O pediatra atua no tratamento de Tuber-culose Pulmonar na rede de saúde do Esta-

do e relata haver grande dificuldade no fe-chamento do diagnóstico em crianças. “Isso acontece não por falha do sistema, apesar de haverem algumas, mas porque não há um sistema que tenha sensibilidade e especifici-dade para fechar um diagnóstico”, ressalta.

Além disso, segundo o médico, outro ponto que prejudica a diagnosticação da doença em crianças são as peculiaridades que os pacien-tes infantis apresentam como a dificuldade em expelir o material utilizado na baciloscopia – exame laboratorial que analisa o muco do pa-ciente – em busca do bacilo da tuberculose.

Em crianças o exame ge-ralmente é feito da secreção retirada do estômago do pa-ciente, mas a positividade que em adultos alcança 90%, no caso das crianças não ul-trapassa os 20% de eficácia.

O Ministério da Saúde (MS), segundo Dias, não considera a baciloscopia e, o cultivo – mé-todo de estocagem em estufa para verificação do desenvol-vimento do bacilo - como fon-tes confiáveis de diagnóstico em crianças, devido aos altos índices de falha dos métodos. Sendo mais seguros os exa-mes de raios-X, a presença do histórico de não melhora do paciente frente ao tratamento de doença respiratória, a pro-

va tuberculínica (método auxiliar no diagnós-tico de tubercule), a questão nutricional do paciente e o sistema de contágio com o doente.

O questionário desenvolvido durante o es-tudo utiliza um método de pontuação que varia de 5 a 30 pontos na escala de gravi-dade. Entre os critérios abordados no ques-tionário, para identificação de um paciente com suspeita de tuberculose está tosse por períodos prolongados, febre, emagrecimen-to, utilização de antibiótico para germes comuns, por no mínimo dez dias, sem oca-sionar melhora da patologia respiratória

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parceiro Umna busca pela saúde

> Por annyelle bezerra

Entre os trabalhos realizados no Inpa, com o objetivo de gerar conheci-mentos sobre a tuberculose, está o método de triagem, pioneiro na região, pois trabalha com a tuberculose em crianças, algo até então nunca rea-lizado

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Onde buscar tratamento

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ou febre, sudorese noturna, entre outros.

Após o preenchimento do questionário, se constatada uma pontuação igual ou supe-rior a 50%, o paciente é orientado a reali-zar exames complementares. O médico explica que o objetivo principal do método de tria-gem, não é modificar o sistema de diagnós-tico empregado pelo MS, mas fazer com que os médicos das unidades de saúde cogitem a suspeita de tuberculose. “O que nós percebe-mos é que às vezes os colegas não pensam no diagnóstico de tuberculose. Então vem aquela criança com a patologia pulmonar, e ele fica tratando como se fosse uma pneumo-nia, ou uma alergia respiratória, e não pen-sa no diagnóstico da tuberculose”, afirma.

Para a pesquisadora do Inpa, e orientadora do estudo, Júlia Salem, o modelo de triagem é pioneiro na região, pois trabalha com a tubercu-lose em crianças, algo até então nunca realiza-do. “Nós nunca havíamos conseguido trabalhar com crianças e o Gastão foi uma pessoa muito séria no trabalho que desenvolveu”, afirmou.

Segundo o pesquisador do Inpa, e coorde-nador do estudo, Maurício Ogusku, o método é diferente e pode contribuir para o aumento do número de diagnósticos em crianças com maior rapidez. “O Ministério da Saúde já tem um sistema de diagnóstico por meio de pon-tuação, mas é um sistema mais complexo, que precisa de alguns exames laboratoriais. O mé-todo proposto, por ser um sistema de triagem pontua informações clínicas, epidemiológicas, e vacinais que por si só são capazes de re-velar a necessidade de realização de exames complementares, ou não”, ressalta Ogusku.

Manaus conta com 230 Unidades Bási-cas de Saúde (UBS), incluindo as casas de saúde da família, todas com sistema de tra-tamento da tuberculose já implantado.

A Policlínica Cardoso Fontes (antigo Dispen-sário), localizada na Rua Lobo D’almada, nº 222, Centro de Manaus, é um centro de referência em pneumologia sanitária no Amazonas, sendo seu carro-chefe de atuação, o tratamento, e o diag-nóstico da tuberculose. A Unidade atende ca-sos provenientes dos 62 municípios do Estado.

De acordo com a diretora da policlínica, Irineide Assumpção, os casos com complexidade de diag-nóstico são a prioridade da Unidade. “Os casos sus-peitos que a rede não consegue diagnosticar, então

são encaminhados para nós”, explica Assumpção.Outra prioridade do centro é receber todos os casos

da rede estadual e municipal que se enquadram nos casos de falência de tratamento, retorno após aban-dono e, reincidência da doença. Os pacientes são encaminhados à policlínica, segundo Assumpção, para que sejam feitos os exames de cultura, bacilos-copia concentrada e, radiografia computadorizada.

Nestes casos, o tratamento é realizado na po-liclínica onde o paciente recebe todo o acompa-nhamento necessário. Os demais casos de tuber-culose pulmonar com baciloscopia positiva são diagnosticados na policlínica e depois encaminha-dos a rede básica de saúde. “Isso acontece porque o programa de tuberculose está descentralizado para os 62 municípios, uma vez que, todos têm o

Gastão Dias comenta que quando uma crianças vai ao consultório com a patologia pulmonar, alguns médicos tendem a tratar como se fosse uma pneumonia, ou uma alergia respiratória, não pensando na tuberculose

EDUARDO GOMES

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Estima-se que os primeiros casos de Tu-berculose Pulmonar (TB) no estado do Amazonas - ou “peste branca” como era designada no passado - datem de 1800, período referente ao Ciclo da Borracha, quando uma grande quantidade de pes-soas, provenientes de diferentes regi-ões adentraram o estado em busca de emprego e, melhores condições de vida.

Segundo dados da dissertação de mestra-

do da acadêmica da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Luciana Botinelly, baseados nas obras de Djalma da Cunha Batista, médico tisiologista, e autor da maioria dos registros técnicos e científicos referentes à TB no Amazonas, os primei-ros índices oficiais de morte por tubercu-lose são de 1900, período em que Manaus registrou um aumento absoluto do núme-ro de mortes decorrentes da doença, che-gando a 44, em 1900 e, a 121 em 1905.

Resgate de informação

O Ministério da Saúde considera como fontes confiáveis de diagnóstico os exames de raios-X e a presença do histórico de não melhora do paciente frente ao tratamento de doença respiratória.

programa de tuberculose implantado“, esclarece.A diretora ressalta, porém, que grande par-

te dos pacientes abandona o tratamento an-tes do período estimado de cura, que é de seis meses, o que ocasiona a recaída da doença.

Estima-se que o Cardoso Fontes, receba em

média cem pessoas diariamente em busca do diagnóstico de tuberculose, contabilizando um fluxo de mais de duas mil pessoas por mês nas dependências da Unidade. “É claro que dessas cem pessoas que passam por aqui todos os dias, nem todas estão doentes, mas eles vêm porque tem algum sintoma respiratório”, frisa a diretora.

TABAJARA MORENO

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experimentaçãoLei regulamenta ética no uso de animais para

Alguma vez você já parou para pensar e se questionou se é contra ou a fa-vor ao uso de animais em experimentos

científicos? Ou até mesmo como são feitos os diagnósticos para algumas doenças? E de que forma eles são testados? Não é de hoje que este assunto gera polêmica e levanta sé-rios questionamentos em torno da sociedade.

A importância dos experimentos científicos no

mundo contemporâneo resulta do fato de que, a princípio, todos os seres humanos estão en-volvidos nos seus efeitos. Diante disso podem-se citar diversos processos como a fecundação, transferência de embriões, fármacos obtidos através das biotecnologias, combates a grandes endemias e até mesmo o tratamento de doen-

ças como o câncer e a Aids, que dependem de estudos para que possam ser diagnosticados.

Todas essas atividades envolvem o uso de-técnicas de biologia molecular, que utilizam-medicamentos ou células vivas de animais.Talvez você não saiba, mas existe uma lei que-regulamenta a ética no uso de cobaias, ouse-ja, estabelece condições para que animaispos-sam ou não serem usados em experimentos, e define de que forma isso pode ser feito.

A lei Arouca, nº 11.794, entrou em vigor em outubro de 2008, revogando a lei de vivissecção (operação feita em animais vivos para estudo de fenômenos fisiológicos) de 1979, tomando novos critérios e principalmente avaliando os cuidados necessários para o uso das espécies em experimen-to científico, de acordo com suas necessidades.

> Por eduardo GoMes

FOTOS: EDUARDO GOMES

O biotério do Inpa existe há 15 anos e possui seis salas, distribuídas entre salas de criação, lavatório e salas de experimentação

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De acordo com a lei Arouca, as práticas de ensino devem ser

fotografadas, filmadas ou gravadas,permitindo reprodução para ilus-trar futuras práticas, evitando a repetição.

Dentro dos critérios citados na legislação, fica claro que a utilização de animais em atividades de pesquisas educacionais fica restrita a estabelecimentos de ensino supe-rior, e de educação profissional técnica de nível médio, na área biomédica. Mas como avaliar dentro desses estabelecimentos de ensino, o que de fato pode ser considera-do como atividade de pesquisa científica?

Já em vigor, a lei nº 11.794/08 de ou-tubro de 2008, estabeleceu que podem ser consideradas como atividades de pesqui-sa científica todas aquelas relacionadas com a ciência básica, aplicada, desenvolvi-mento tecnológico, produção e controle de qualidade de drogas, medicamentos. Além disso, a lei explica que práticas zootécni-cas relacionadas a agropecuária não são consideradas como atividades de pesquisa.

Nova regulamentação explica que

experimentos que, por acaso, possam

ocasionar dor devem ser desenvolvidos sob sedação, ou

anestesia adequada

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Outro grande destaque das novas providên-cias dadas pela lei Arouca, foi a criação do Conselho Nacional de Controle de Experimenta-ção Animal (CONCEA). Agora você deve estar se perguntando, para que serve o CONCEA? De que forma ele pode contribuir para que a utilização das cobaias possa ser feita de maneira correta?

Cabe ao CONCEA credenciar as instituições para criação ou utilização de animais em ensino e pes-quisas científicas, além de submeter os estudos ao Ministério de Estado da Ciência e Tecnologia (MCT) para aprovação. Com isso a regulamenta-ção evidencia que o uso de animais em experi-mentos não é feito de qualquer maneira e que antes, durante e após o experimento, existe uma grande preocupação com o estado do animal.

Para que as instituições possam fazer seu cre-denciamento é necessário também que cada uma delas crie uma comissão, intitulada Co-missão de Ética no Uso de Animais (CEUAs). As comissões devem ser integradas por médicos veterinários e biólogos, docentes e pesquisado-res na área específica da pesquisa e um repre-sentante de alguma das sociedades protetoras de animais, legalmente estabelecidas no país.

Um dos deveres que devem ser cumpridos por es-tas comissões é informar ao CONCEA e às autorida-des sanitárias, a ocorrência de quaisquer acidentes com animais nas instituições credenciadas, forne-cendo informações que permitam ações saneado-ras. Sabe-se que a grande preocupação das pessoas que são contra o uso de animais nesses experimen-tos está relacionada diretamente as condições de vida do animal, visto que dessa forma possam ser evitadas dores e angústias sofridas pelas cobaias.

Segundo o médico veterinário do Inpa, Anselmo D’Affonseca, a criação das comissões significa ana-lisar todos os projetos de pesquisa, visando man-ter os princípios éticos que norteiam a lei Arouca. “Grosso modo, significa evitar procedimentos que resultem em sofrimento desnecessário e injustifi-cado aos animais de experimentação”, explicou.

A lei Arouca explica que experimentos que por

acaso possam ocasionar dor, devem ser desenvolvi-dos sob sedação ou anestesia adequada. Sempre que possível as práticas de ensino devem ser fotografa-das, filmadas ou gravadas, permitindo reprodução para ilustrar futuras práticas, evitando a repeti-ção desnecessária de procedimentos com animais.

Em julho deste ano, criou-se o decreto Nº 6.899 para regulamentar a lei, tendo como uma de suas atribuições estabelecer as infrações administra-

tivas relacionadas ao tema. Entre elas, pode-se citar a proibição da reutilização do mesmo animal depois de alcançado o objetivo principal do projeto de pesquisa.

Mas você deve estar curio-so para descobrir qual a penalidade para quem não cumprir com os deveres incluídos na legis-lação e supervi-sionado pelo CONCEA , não é?

Em caso de transgressões ao regu-

lamento, as instituições estão sujeitas a advertências, multas que vão de R$ 5 à R$ 20 mil, interdição temporária, suspen-são de financiamentos de créditos de fomen-to científico e até mesmo interdição definitiva.

Para entender melhor quais os procedimentos tomados em pesquisas e como são cuidados os animais , é preciso conhecer o lugar onde são criados e experimentados, ou seja, o biotério.

Conselho de Experimentação

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Biotérios são instalações capazes de produ-zir e manter espécies de animais destinados a servir como reagentes biológicos em diver-sos tipos de ensaios controlados para atender as necessidades dos programas de pesquisas, ensino, produção e controle de qualidade nas

áreas biomédicas, ciências humanas e tecnológicas de acordo com

a finalidade da institui-ção.

Exemplo de um deles é o biotério do Insti-tuto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Existente há 15 anos, ele possui seis salas, distribuídas entre salas de cria-ção, lavatório e salas de experimentação. De acordo com a zootecnista, Risonilce Fer-nandes, que atua diretamente no bioté-rio do Instituto, existem algumas áreas de pesquisa que realizam mais trabalhos, que

necessitam de experimentos com animais.

“Os trabalhos mais realizados são nas áreas de nutrição, medicina e biolo-gia”, disse. Ela destacou que o nume-ro de animais utilizados em estudos, de-pende sempre da necessidade solicitada pelos pesquisadores responsáveis pelo estudo.

A zootecnista explicou alguns cuidados tidos com os animais no biotério do Inpa. “Diariamente é feita a alimentação e troca de água, duas vezes na semana é feita a tro-ca de serragem (cama), além de um dispo-sitivo que controla a luz, apagando e acen-dendo-a na hora certa, pois isso influencia no comportamento do animal”, ressaltou.

No dia-a-dia de um biotério, todas as ati-vidades exigem uma programação para que nada possa interferir no resultado da pes-quisa. Os animais são cruzados , e logo após é feito a “sexagem”, ou seja, separa-ção entre machos e fêmeas, o desmame e feito somente após 21 dias de nascidos.

O Inpa criou uma comissão no dia 13 de novembro de 2008, com a prioridade de ela-borar o regimento que pudesse direcionar as ações de seu comitê de ética. O objetivo da comissão, é evitar o abuso ou o excesso no uso de animais para experimentação e princi-palmente orientar os projetos de pesquisa, no sentido de evitar conflitos com a lei Arouca.

Risonilce Fernandes, conta que todos os experimentos feitos com animais, ba-seiam-se também em critérios pelos quais os animais precisam passar. “O experi-mento só pode ser feito desde que o ani-mal esteja dentro dos critários necessários como, por exemplo, o peso”, ponderou.

Para Anselmo d’Affonseca, a expectativa é que a relação entre a lei e os experimentos realizados no biotério do Inpa, assim como em todos os outros, aconteça por meio de uma adequação que valorize o princípio éti-co no uso de animais, já que estes contri-buem para o bem estar e saúde humana. “O que se espera é a adequação a referida lei visando os princípios éticos no uso de ani-mais em experimentos, tornando os processos científicos mais humanos e responsáveis no que se refere ao uso consciente dos animais, os quais prestam grande serviço ao bem es-tar da nossa espécie”, disse o veterinário.

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O que é um biotério?

Processos como fecundação, transferência de embriões, fármacos obtidos através das biotecnologias, envolvem o uso de técnicas de biologia molecular, que utilizam medicamentos ou células vivas de animais

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colE

ção

Inseto da espécie Pepsis heros

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Em março deste ano, os proprietários de um estabelecimento comercial situado no mu-nicípio de Codajás, distante 297 quilôme-

tros de Manaus (AM), tiveram um grande susto ao se deparar com o que parecia ser um tipo de “barata super-nutrida”, segundo informou a um site de notícias uma das donas da loja onde o bicho foi encontrado. Em Coari, também no Amazonas, um inseto com chifres, do tamanho de uma caneta esferográfica – aproximadamente 15 centímetros – foi encontrado por trabalha-dores de uma obra. Caso semelhante aconteceu em Novo Progresso, no Pará, quando um “be-souro gigante” foi encontra-do dentro de uma residência.

A tal barata de “tamanho-fa-mília” era, na verdade, um in-seto da espécie Callipogon ar-millatus – um tipo de besouro de grande porte muito comum na Amazônia. Também co-nhecido como “Serra-pau” ou “Serrador”, este besouro tem hábitos noturnos e geralmen-te é atraído por focos de luz – como lâmpadas incandescen-tes. Os outros insetos citados nos casos acima também eram besouros, mas do gênero Mega-soma actaeon. Sua característi-ca mais marcante é a presença do grande chifre nos machos, o que levou ao sugestivo ape-lido de “Besouro de Chifre”.

“Você não me vê. Eu vejo você”Com exceção da mandíbula forte do Callipogon

armillatus, que pode morder quem se arriscar a tocá-lo, todos os insetos descritos acima são inofensivos, alimentando-se basicamente de seiva que escorre dos troncos de árvores. Po-rém, como foi possível observar, o porte “avan-tajado” e as aparências esquisitas assustaram as pessoas que os encontraram. Apesar de não serem vistos com muita frequência, salvo quan-do cometem a gafe de adentrar nas residên-cias sem convite, estes pequenos gigantes são comuns, principalmente em locais próximos a áreas de florestas. Se você, que lê esta edição de Ciência para todos, mora em alguma cida-de da região Norte, saiba que você pode estar,

agora mesmo, bem próximo a um desses titãs.

Mas como você, prezado leitor, provavel-mente não vai querer esperar pacientemente pela possibilidade de se deparar acidental-mente com um desses seres atrás da porta do banheiro, entre as roupas de cama dentro do guarda-roupa ou subindo lentamente pelas suas pernas logo abaixo do edredom que lhe cobre enquanto você descansa, a reportagem de Ci-ência para todos resolveu trazê-los até você.

Para isso, visitamos a Coleção de Inverte-brados da Coordenação de Pesquisas em Ento-mologia do Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia (Inpa), em Manaus, onde são mantidos, com fins de pesquisa, cerca de cinco milhões de exemplares de in-setos de dez mil espécies di-ferentes. Segundo o cientista Augusto Loureiro Henriques, curador-chefe da coleção, são quatro milhões de espéci-mes armazenados em álcool, 450 mil alfinetados e outros 400 mil dispostos nas cha-madas “mantas” – um tipo de “cama” de papel coberta com uma fina camada de algodão.

“Todos (os insetos), sem exceção, têm papel funda-mental na manutenção do equilíbrio da biodiversidade da região amazônica, seja por participarem na polinização de flores ou por ajudarem os cientistas a compreender os processos de transmissão de

algumas doenças típicas da região, como ma-lária, dengue, leishmaniose e mal de chagas”, explica Henriques, falando sobre a importân-cia do acervo para a comunidade científica.

Se você quiser conhecê-los de perto e, mais importante, se tiver estômago para isso, vire as páginas a seguir. A partir de agora, você será apresentado a alguns dos mais estra-nhos, grandes e inacreditavelmente belos seres da fauna da S.A. – Selva Amazônica.

Com colaboração de Francisco Felipe Xavier, Augusto Loureiro Henriques e Jacob Leonardo.

As fotos a seguir estão em tamanho real.

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> Por Mário benTes

Monstros S.A.

O Inpa possui cinco milhões de insetos de dez mil espécies diferentes arma-zenados em sua coleção de inverte-brados. São quatro milhões armazena-dos em álcool, 450 mil alfinetados e outros 400 dispos-tos nas chamadas “mantas”.

FOTO

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ÁRIO

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Nome Científico: Callipogon (Enoplocerus) armillatus (Linneus, 1767).

Ocorrência: Toda a região amazônica.

Hábitos Alimentares: Seiva de troncos de árvores.

Venenoso: Não.

Periculosidade: Médio. Pos-sui mandíbulas fortes e pode morder com facilidade.

Curiosidades: As larvas deste grande besouro de hábitos noturnos vivem em tronco de árvores mortas. Os adultos são atraídos por focos de luz, principalmente em locais próximo de florestas. A bela coloração deste besouro o torna alvo do tráfico ilegal de insetos da floresta amazônica. É a “barata super-nutrida” citada no início da reportagem.

Dados do exemplar: Coletado em Presi-dente Figueiredo, Julho de 2005.

Nome Científico: Dynastes hercules (Linneus, 1758)

Ocorrência: Em alguns pontos da região amazônica.

Hábitos alimentares: Seiva de troncos de árvores e frutos fermentados.

Venenoso: Não

Periculosidade: Nenhuma

Curiosidades: O hércules é considerando um dos maiores besouros do mundo, sendo superado apenas pelo Tytanus – embora existam relatos de ser até mesmo superior em tamanho. É muito apreciado pelos colecionadores de insetos. Quanto maior e perfeito for o exemplar, mais valioso ele é conside-rado. Têm hábitos noturnos e suas larvas vivem de três a cinco anos em troncos apodrecidos. Os machos possuem longos chifres.

Dados do Exemplar: Coletado em Roraima, em julho de 1991.

Serra-pau ou Serrador1

Besouro de Chifre ou Besouro-rinoceronte1

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Nome Científico: Acrocinus longimanus (Linneus, 1758).

Ocorrência: Toda região amazônica.

Hábitos alimentares: Seiva de tronco de árvores, madeira.

Venenoso: Não

Periculosidade: Nenhum

Curiosidades: O macho se distingue da

fêmea pelo extraordinário desenvolvimen-to das pernas anteriores. Além de espécies

botânicas nativas, suas larvas atacam a jaqueira. As fêmeas fazem pequenas inci-sões no tronco e depositam seus ovos. Ao nascerem, as larvas penetram no interior

do tronco. Outro fato curioso são que pequenos aracnídeos, conhecidos como “pseudo-escorpiões”, pegam “carona”

embaixo das asas deste besouro.

Dados do Exemplar: Coletado em Presi-dente Figueiredo, agosto de 2005.

Mãe do Sol

Arlequim da mata, serrador ou besouro da jaqueira

Nome Científico: Euchroma gigantea (Linneus, 1758).

Ocorrência: Toda a região amazônica.

Hábitos alimentares: Seiva de tronco de árvores e madeira.

Venenoso: Não.

Periculosidade: Nenhum.

Curiosidades: Este besouro metálico é usa-do como enfeite pelos índios. É o gigante dos Buprestídeos da América do Sul, pois alguns exemplares atingem 80 milímetros de comprimento. Este coleóptero é comum em áreas recém desmatadas, onde machos e fêmeas dominam as clareiras, daí o nome popular de Mãe do Sol – neste local

é onde se acasalam e posteriormente

as fêmeas depo-sitam seus ovos nas arvores recém derrubadas.

Dados do Exem-plar: Coletado em

Presidente Figueiredo, em agosto de 2005.

(?)Nome científico: Gauromydas heros (Perty, 1883).

Ocorrência: Toda a região amazô-nica.

Hábitos alimentares: Há relatos de se alimentarem de néctar das flores.

Venenoso: Não.

Periculosidade: Nenhuma.

Curiosidades: Pouco se sabe sobre a vida dessas moscas gigantes. Suas larvas vivem em formigueiros como predadora. Os adultos me-dem até 90 milímetros e acredita-se que seja a maior entre todas as moscas do mundo. Se parecem com vespas das quais são excelentes imitadoras (mimetismo) – não só na forma e na cor, mas também no comportamento de defesa, produzin-do zumbidos ameaçadores e falsos intentos de picar.

Dados do exemplar: Coletado em Presidente Figueiredo, em julho de 2005.

Besouro de Chifre ou Besouro Rinoceronte1

Nome científico: Megasoma mars (Reiche, 1852).

Ocorrência: Toda a região amazônica.

Hábitos alimentares: Observou-se, em espécies semelhantes, que eles se alimentam de seiva que escorre dos

troncos de algumas árvores.

Venenoso: Não.

Periculosidade: Nenhum.

Curiosidades: As espécies deste gênero são marcadas pela presença de grandes chifres nos machos. As larvas chegam a viver cinco anos nos troncos de árvores apodrecidas, sendo que quando adulto vive poucas semanas. Seus chifres eram usados como jóias – as pessoas pegavam o chifre e mandavam encastoar em ouro para fazer parte de uma medalha. Também são alvo do comércio ilegal de insetos.

Dados do Exemplar: Coletado em Manaus, Julho de 1990.

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Nome científico: Macrodontia cervicor-nis (Linneus, 1758).

Ocorrência: Toda a região amazônica.

Hábitos alimentares: Segundo pesquisado-res, assim como outros insetos, eles se ali-

mentam de seiva do tronco de árvores.

Venenoso: Não.

Periculosidade: Médio. Suas mandíbulas são desenvolvidas e pode morder.

Curiosidades: Começa a vida em

forma de larva (Foto superior). Os machos desta espécie de besouro gigante possuem mandíbulas enormes. Este coleóptero noturno é tido como um dos maiores besouros do mundo, chegando alcançar 16 centímetros de comprimento. Passa os dias descansando nos troncos das árvores, sendo camuflado pela coloração. É alvo do comércio ilegal de insetos da Amazônia.

Dados do exemplar: Não disponível.

Serra-pau ou Serrador1

Besourão ou Baratão Nome científico: Titanus giganteus (Linneus,1771)

Ocorrência: Toda a região amazônica.

Hábitos alimentares: Segundo pesquisadores, alimentam-se de madeira apodrecida

Venenoso: Não.

Periculosidade: Médio. Tem uma mordida poderosa se manuseado incorretamente.

Curiosidades: Dentre os besouros, o Titanus é o maior do mundo, chegando a medir 20 centímetros de comprimento. São extremamente raros e suas mandíbulas, segundo especialistas, são poderosas a ponto de quebrar um lápis. Estes insetos se tornaram lendários pois, embora tenham sido descritos e denominados por Linneus em 1771, com base em poucos fragmentos existentes em museus na Eu-ropa, foi somente quase um século e meio depois que foram descobertos exemplares vivos ou perfeitos. Até o século XVIII, o melhor espécime conhecido foi encontrado parcialmente digerido no interior do estômago de um peixe, que havia sido capturado na bacia amazônica e levado até a Europa. Assim como outras espécies, este besouro pode atingir grandes preços no comércio ilegal de insetos.

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Aranhaçu, Aranha Macaco ou Caranguejeira

Exemplar mais antigo: Um mosquito, coletado em 1929

Exemplar considerado mais raro: O besouro da espécie Titanus giganteus – inseto com a maior massa corpórea do planeta, quando alcança os 17 centímetros de comprimen-to máximo. Chega a custar U$ 5 mil no mercado clandes-tino.

Exemplar mais perigoso: As aranhas do gênero Phoneu-tria, que são popularmente conhecidas como aranhas-macacas ou aranhas-armadeiras. Dependendo da sensibi-lidade de quem for picado, o veneno pode causar parada

cárdio-respiratória.

Cientistas envolvidos na manutenção do acervo: Augusto Loureiro Henriques, Célio Magalhães, José Albertino Rafael, Márcio Oliveira, Catarina Motta, Rosa Sá Hutchings (Inpa); Francisco Felipe Xavier Filho, Alexandre Silva Filho (CPBA/Inpa); Bolsistas: Ana Tourinho (PPBio-gerência),Tiago Krolow (PPBio), Érika Portela (PCI), Rafaela Santo (PBIC), Walter Botelho (PPBio),Kelve Sousa (voluntária), Fabrício Baccaro (Pós-Graduação), Jessica Albuquerque (PPBio),Daniele Moraes (PPBio), Beatriz Coelho (Fapeam) e Herbert Guariento (Fapeam).

Dados da Coleção de Invertebrados do Inpa

Nome Científico: Therapho-sa blondi (Letreiller, 1804).

Ocorrência: Toda a região ama-zônica, com exceção das matas inundadas.

Hábitos alimentares: Todo tipo de pequenos animais, de insetos e pequenos vertebrados.

Venenoso: Sim.

Periculosidade: Baixo a médio. O veneno não é mortífero para o homem, mas seus pe-los podem causar irritação na pele e nos olhos.

Curiosidades: Essa espécie é a maior aranha do mundo em comprimento de pernas

– um exemplar capturado na Venezuela

ultrapassou 28 centímetros e está entre as aranhas mais

pesadas (as fêmeas são mais volumosas que os machos). Vive nas florestas de terra firme, como na Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus. Elas utilizam seus “pelos urticantes” como defesa. Acidentes com caranguejeiras ocorrem por contato entre a pele humana e os pelos quando a mesma é molestada. Os pelos são muito pequenos e leves, capazes de flutuar, e são liberados com um rápido esfregão pelas pernas traseiras sobre o ab-dômen – ao atingir a pele, pode causar alergias simples ou graves, principalmente se aspirados. A reação à picada pode ser forte ou fraca, dependendo da pessoa. Algumas espécies não estudadas podem possuir um veneno mais potente.

Dados do Exem-plar: Coletada em Manaus, Reserva Ducke, em dezembro de 1999.

1 - Algumas espécies possuem o mesmo nome popular

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Grandes construções na Amazônia devem levar em consideração todas as questões ligadas aos impactos ambientais. O caso

da BR-319, que liga Manaus à capital de Rondô-nia, Porto Velho, não é diferente, uma vez que ela deve cruzar o estado do Amazonas e servir

de porta de entrada do desmatamento para uma das áreas de floresta mais preservadas do País.

É por isso que o grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) coordenou um estudo para avaliar os impactos ao meio ambiente na área de influ-ência direta da rodovia. A pesquisa vai ser

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em RoraimaConstrução da BR 319 pode causar desmatamento

> Por daniel jordano

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apresentada à comunidade científica no 13º Congresso Florestal Mundial que acontece em outubro próximo, em Buenos Aires, Argentina, e foi tema de dissertação de mestrado da pós-graduação em Ciências de Florestas Tropicais.

O estudo revela que, devido à migração de pessoas e a intensificação de atividades eco-

nômicas como a exploração madeireira e agro-pecuária, áreas de cinco municípios do sul de Roraima, e também de Boa Vista, devem sofrer um crescimento no índice de desmata-mento em função da reconstrução da estrada.

Segundo o pesquisador Paulo Eduardo Barni, que realizou o estudo, a rodovia pavimenta-

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em RoraimaConstrução da BR 319 pode causar desmatamento

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Os governos federal e estadual promoveram a criação de reservas ambientais ao longo da BR 319 para evitar a criação de ramais ao longo da rodovia, o que amplia ainda mais o desmatamento, mas não foram tomadas medidas que impedissem que o entorno das áreas da região metropolitana de Manaus e da região do Sul de Roraima fossem atingidas

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da vai ligar o Amazonas às áreas do chama-do arco do desmatamento, onde está incluí-do o estado de Rondônia. “A BR ligará o sul da região Amazônica ao que podemos chamar de centro da floresta. A borda sul está mais desmatada e totalmente ocupada pelo agronegócio e pastagens e nessas áreas há a pressão de pessoas que já não possuem terras. Com a rodovia pavimentada, o fluxo migrató-rio vem até Manaus seguindo a BR-319 e vai até o sul de Roraima pela BR-174, onde as terras são relativamente me-lhores e mais baratas”, disse.

Os governos federal e esta-dual promoveram a criação de reservas ambientais ao longo da BR 319 para evitar o que os especialistas chamam de espi-nha de peixe, ou seja, a criação de ramais ao longo da rodo-via, o que amplia ainda mais o desmatamento. Mas segundo Barni, não foram tomadas medidas para evitar o desmatamento

no entorno das áreas da região metropolitana de Manaus, em áreas ao longo da BR 174 (que liga Manaus à Boa Vista) e na região do Sul de Roraima. “É preciso fazer um cadastramento das áreas que poderão sofrer desmatamento em função da reconstrução da BR 319”, informou.

Ainda de acordo com o estudo, o índice de desmatamento em cinco municípios roraimen-ses deve crescer entre 20 e 42% até 2030. “O estudo está limitado ao sul de Roraima e avalia o efeito das rodovias federais (BR’s 174 e 210) sendo conectadas ao ‘arco do desmata-mento’ através da BR-319. Os municípios são Roraimópolis, Caroebe, Caracaraí, São João da Baliza e São Luiz do Anauá, totalizando uma área de 100 mil quilômetros quadrados, os quais foram modelados em minha disser-tação. Se houver um forte fluxo migratório, como é esperado com a reconstrução da BR-319, o desmatamento e a emissão de car-bono deve subir entre 20 e 42 % acima do cenário de linha de base, ou seja, o cenário sem a reconstrução da rodovia’’, declarou.

Intitulada “Reconstrução e asfaltamento da rodovia BR 319: Efeito dominó pode elevar as taxas de desmatamento no sul do Estado de Roraima”, a pesquisa do Inpa coloca a BR-319 como uma primeira peça de dominó a ser der-rubada. Apesar da pesquisa se referir ao sul do Estado vizinho, Paulo Barni não descarta a possibilidade do índice de desmatamento crescer também em Manaus e em municípios vizinhos. “No caso da BR-319 e o desmata-mento resultante, é como se a gente colocas-

se peças do dominó em pé e o asfaltamento da BR-319 seria a primeira peça a ser derruba-da. Os arredores de Manaus, com o distrito agropecuário da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) - há anos abandonado - seria a segunda peça a cair, Pre-sidente Figueiredo e Itacoa-tiara também sentiriam esse efeito. A sequência do efeito e o espalhamento do desma-tamento se estenderiam ao longo da BR 174 chegando até Roraima”, reforça Barni.

Fatores como o agronegó-cio e a pecuária extensiva no chamado “arco do desmata-mento” deslocam populações dos locais onde se instalam, os fluxos migratórios através

da BR 319 reconstruída, principalmente após a provável dispensa de trabalhadores ao final

Apesar da pesquisa se referir ao sul do Estado vizinho, Paulo Barni não descarta a possibilidade do índice de desmatamento crescer também em Manaus e em municípios próximos

Estudo coordena-do pelo grupo de pesquisas do Laboratório de Agroecologia do Inpa indica que a reconstrução da rodovia pode gerar aumento no des-matamento e nas emissões de gases de efeito estufa até no sul de Roraima

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de obras importantes no Estado de Rondônia, como a construção das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, poderão causar também uma pressão social maior sobre o Amazonas.

De acordo com o pesquisador, a rodovia pode servir como via de acesso a movimentos até então inexistentes no Amazonas, como Movi-mentos de Sem Terras. “Com a chegada do agro-negócio no norte do Mato Grosso, sul do Pará e agora em Rondônia, essas atividades reque-rem muita área de terra e com poucas pessoas trabalhando. Isso elimina postos de trabalho e “expulsa” população. Além da questão de Jirau e Santo Antônio que devem atrair apro-ximadamente cem mil pessoas para suas obras de construção. Ao fim das obras, parte dessas pessoas, provavelmente, irão engrossar o flu-xo migratório para Manaus e Roraima”, disse.

Avaliação da rodoviaPara o coordenador do grupo de Pesquisa em

Agroecologia do Inpa, Philip Martin Fearnsi-de, é necessário fazer todas as análises sobre os impactos ambientais antes da realização da obra. “Todos os impactos ambientais devem ser levados em consideração na tomada ini-cial de decisões para que depois não se tenha que consertar os danos. Você deve avaliar os impactos e ponderar os benefícios para tomar uma decisão racional, o que não aconteceu, pois nem os impactos fora da área do EIA/RIMA da BR 319 foram avaliados”, afirmou.

Fearnside disse ainda que a BR 319, da forma como está, não é viável ambientalmente. “Ela não é viável, gera um impacto ambiental muito grande abrindo ao desmatamento, praticamen-te, a metade da floresta Amazônica. Até hoje, 80% do desmatamento brasileiro restringiu-se ao arco do desmatamento, em torno das áreas ao leste e ao sul da Amazônia. Manaus vai ser ligada, via BR 319, a esse arco”, declarou. O pesquisador fez ainda uma avaliação econô-mica da BR 319 e declarou. “Ela também não é viável economicamente para levar os produ-tos para São Paulo via Rodovia”, acrescentou.

SoluçõesSegundo Philip Fearnside, a proposta da

pesquisa para evitar o desmatamento no sul de Roraima é a criação de áreas protegi-das. ”Também dá para fazer algumas coisas, o estudo mostra que e uma delas é criando reservas para assim diminuir o desmatamen-to causado pela a abertura da BR’, disse.

Já o pesquisador Paulo Barni acredita que além da criação de áreas de proteção, é ne-cessário ainda o emprego de políticas alterna-

tivas de desenvolvimento para assim evitar o desmatamento futuro e recuperar as áreas já degradadas. “É preciso fazer a regularização fundiária das terras e aumentar a fiscalização, além de criar linhas de créditos aos agricultores para a implantação de sistemas auto-sustentá-veis como os sistemas agro-florestais”, disse.

A rodoviaA BR 319 foi construída na década de 70, assim

como outras rodovias, na intenção de integrar a região. Além das obras, o regime militar pro-moveu a vinda de várias pessoas do sul do país para a região com a promessa de que elas teriam toda assistência técnica para produzir aqui.

Após anos de abandono, surge a proposta da recuperação completa da rodovia. Além da questão da integração de fato da Amazônia com o resto do país, a rodovia recuperada repre-senta uma via de escoamento da produção de produtos do Pólo Industrial de Manaus (PIM).

Philip Fearnside ressalta ser necessário fazer todas as análises sobre os impactos ambientais antes da realização da obra, para que depois não se tenha que consertar os danos

FOTOS: TABAJARA MORENO

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A questão do clima no planeta ganhou maior destaque no início de 2007, quando saiu o último relatório do

Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas. Essas informações alertaram a sociedade para as consequências das al-terações climáticas provocadas em função das ações humanas. A partir daí, o assunto tornou-se uma das principais pautas na im-prensa e ganhou maior destaque nas agen-das governamentais do Brasil e do mundo.

De acordo com o gerente executivo do Progra-ma de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), Antonio Ocimar Manzi, o termo Mudanças Climáticas pode ser atribuído tanto às mudanças do clima que ocorrem naturalmente, quanto às alterações no clima provocadas pelas atividades do homem. Entretanto, esses termos Mudanças Climáticas Globais ou Mudanças Am-bientais Globais são aplicados às alterações cli-máticas provocadas pelas atividades humanas.

Segundo Manzi, a origem desses problemas está, principalmente, na mudança da compo-

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Mudanças climáticas globais:

> Por TharCila MarTins

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ciência ou política?sição da atmosfera. “Isso acontece com a uti-lização de combustíveis fósseis, ou seja, na transferência de carbono, na maioria das vezes, do subsolo, que está na forma de carvão mi-neral, petróleo e gás natural, que quando são usados para produzir energia liberam gases de efeito estufa na atmosfera, mas também quan-do uma floresta é cortada ou queimada”, afirma.

De acordo com o pesquisador, os estudos so-bre mudanças climáticas da Amazônia no século XXI seguem dois focos. Um deles continua sendo o de entender a variabilidade natural do clima

Estudos sobre mudanças climáticas da Amazônia mostram que essas estão associadas tanto aos impactos climáticos das mudanças de usos da terra na Amazônia, como à influência das mudanças climáticas globais nos ecossistemas amazônicos, assegura o pesquisador

FOTOS: TABAJARA MORENO

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e seus efeitos nos ecossistemas e na hidrolo-gia. Em geral, a variabilidade do clima amazô-nico está associada a padrões de variação da temperatura da superfície dos oceanos, como é o caso das alterações do regime de chuvas sobre a Amazônia em decorrência dos fenôme-nos El Niño e La Niña, mas responde também às grandes erupções vulcânicas e pode ser in-fluenciada pela variabilidade da atividade solar.

“A literatura especializada apresenta estudos sobre a variabilidade climática da Amazônia associada às oscilações entre décadas nos pa-drões de distribuição de temperatura da super-fície dos oceanos, especialmente do Pacífico e do Atlântico, mas também às oscilações entre anos, como nos eventos El Niño e La Niña do oceano Pacífico e nos even-tos de mudança no gradiente norte-sul de anomalias de tem-peratura das águas superficiais do oceano Atlântico tropical. Alguns estudos abordam os efeitos de aerossois lançados na atmosfera em decorrência de erupções vulcânicas e ou-tros efeitos da variabilidade natural da intensidade da ra-diação solar”, explica Manzi.

Quando ocorrem os even-tos El Niño (águas do oceano Pacífico tropical mais quentes que na média de longo pra-zo), as regiões norte e leste da Amazônia em geral sofrem com diminuição de chuvas, e quando ocorrem eventos La Niña (águas do oceano Pacífi-co mais frias) as chuvas nes-sas regiões se intensificam. Quando o oceano Atlântico tropical sul está mais quente do que o normal a tendência é ter aumento de chuvas no norte do nordes-te brasileiro e numa parte do norte e leste da Amazônia; quando ele está mais frio, a tendên-cia é de diminuição de chuvas nessas regiões.

O segundo foco está associado tanto aos impactos climáticos das mudanças de usos da terra na Amazônia, como à influência das mu-danças climáticas globais nos ecossistemas amazônicos, com ênfase para o aumento da concentração de gás carbônico da atmosfe-ra (que é o principal alimento das plantas), o aumento da temperatura do ar e as prováveis mudanças no regime de chuvas da região.

O pesquisador do Inpa afirma que existe toda uma série de estudos do clima geral e sua influ-

ência na Amazônia. “Nós tivemos, principalmen-te, no final do século XX, um interesse muito grande em entender qual o efeito dos desmata-mentos da Amazônia no clima. Hoje já conhece-mos muito sobre isso, principalmente, em função das pesquisas que realizamos aqui na Amazô-nia, em instituições brasileiras, onde o Inpa sempre teve um papel de liderança”, declara.

DesmatamentosA substituição da floresta por pastagem pro-

voca diminuição de 20% a 30 % da evapotrans-piração superficial, com conseqüente aumento da temperatura do ar sobre a pastagem. Em um modelo conceitual de áreas desmatadas envoltas por flores-tas, a diferença de temperatura do ar entre floresta e pastagem gera uma circulação atmosférica que

propicia aumento da nebolusida-de e provável aumento de preci-pitação sobre a área desmatada.

Entretanto, para um desmata-mento em grande escala, acima de 40% a 50% da Amazônia, si-mulações com modelos numéri-cos climáticos sugerem que pode haver uma redução de chuvas na Amazônia como um todo, mas principalmente uma redistribui-ção das chuvas, na qual a região leste vai se tornar mais seca e a parte oeste um pouco mais úmida.

Para Manzi, esse assunto do desmatamento total foi im-portante no final do século XX, quando a taxa anual de des-matamento era muito grande e não havia perspectiva de redu-ção dessas taxas. Mas, segun-do ele, a situação agora é dife-rente. Por conta das mudanças climáticas globais e das pres-sões sociais pela conservação

da biodiversidade da Amazônia se passou a ter uma atitude governamental e, hoje, até empre-sarial, com um olhar diferente sobre a Amazônia.

“As taxas de desmatamento reduziram nos úl-timos anos e a meta do governo brasileiro é de baixar ainda mais nos próximos, mas a pre-ocupação, lógico, continua. Por isso, o cená-rio de um desmatamento praticamente total da Amazônia é pouco provável. Eu acho que está cada vez mais distante”, afirma o pesquisador.

Aquecimento globalO aquecimento global é o que leva às mudan-

ças climáticas globais. A física do efeito estufa/aquecimento global começou a ser desvenda-da no século XIX. Segundo Manzi, nessa época,

Afinal, o que são as famosas mudan-ças climáticas? O que as causa? É sobre isso que o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e gerente executivo do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), Antonio Oci-mar Manzi, explica.

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descobriu-se que existia o efeito estufa na Ter-ra e que os principais gases causadores do efei-to estufa são o vapor de água e o gás carbônico. Sem esses gases na atmosfera, a superfície de nosso planeta seria pelo menos 30ºC mais fria.

O aumento da concentração dos gases de efei-to estufa na atmosfera intensifica o efeito es-tufa natural da Terra e o planeta se aquece. O termo aquecimento global é atribuído exata-mente a esse aumento de temperatura provoca-do pela intensificação do efeito estufa. Os gases que mais contribuem para o aquecimento global são o gás carbônico, o metano e o óxido nitroso.

Homem x meio ambienteExistem mudanças climáticas que são de origens

naturais e o clima está mudando o tempo todo. Mas as mudanças climáticas globais, aquelas que acontecem com interferência do homem, se somam às mudanças climáticas naturais.

Para Manzi, as mudanças climáticas glo-bais podem levar a grandes consequências

para os ecossistemas. Qualquer mudança na temperatura ou na distribuição de chuvas tem implicação para a vida, favorecendo al-gumas espécies em detrimento de outras, podendo ter efeito ecológico muito grande.

“O mais importante de tudo é que as mudan-

ças climáticas globais estão contribuindo para repensarmos nosso modo de vida, a maneira como está se dando o desenvolvimento da hu-manidade. Isso nos faz concluir que o modelo de desenvolvimento econômico e social que adotamos não é sustentável para o planeta. Temos que mudar a maneira com que trata-mos o meio ambiente, inclusive para a sobre-vivência de muitas espécies”, declara Manzi.

Atualmente, as mudanças climáticas glo-bais deixaram de ser um problema técnico e científico para tornar-se político. Essa si-tuação está levando a uma mudança de ati-tude e isso levará a uma modificação im-portante na maneira com que o homem explora os recursos naturais do planeta.

Manzi, no alto da torre de monitoramento do LBA, na Reserva Biológica do Cuieiras:“As taxas de desmatamento reduziram nos últimos anos, por isso o cenário de um desmatamento praticamente total na Amazônia é pouco provável.“

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Além da torre principal de 300 metros, haverá pelo

menos outras quatro torres meteorológicas com cerca de 80 metros cada uma, voltadas para a medição de fluxos horizontais

de energia e gases

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Programa ajuda a entender o funcionamento dos ecossitemas amazônicos

Com mais de 10 anos do início dos trabalhos de cam-po, o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmos-fera na Amazônia (LBA), que surgiu como um projeto científico de cooperação internacional, é desde 2007 um programa do governo brasileiro, coordenado pelo Inpa. De acordo com Manzi, o programa propõe ini-ciativas de pesquisas nacionais e internacionais em que se procura entender o funcionamento dos ecos-sistemas amazônicos e a interação deles com o clima.

O LBA tem o objetivo de tentar responder de uma maneira científica qual o papel da Amazônia no sistema climático da Terra. Como a Amazônia funciona? Qual o papel dela no sistema climático da Terra? “A outra ques-tão é entender, realmente, como funcionam os nossos ecossistemas, mas de uma maneira integrada, não só pensando no ponto de vista físico, químico ou bioló-gico isoladamente, mas integrando tudo isso. O LBA busca entender como os ecossistemas, nos ambientes naturais e também nos ambientes já alterados, intera-gem com o sistema climático”, afirma o pesquisador.

Além disso, o programa estuda como as mudanças de uso da terra na Amazônia afetam o clima em si e o próprio funcionamento dos ecossistemas amazônicos. E, ainda, como as mudanças climáticas globais afeta-rão os ecossistemas amazônicos. Tudo ocorrendo den-tro de um quadro cujo objetivo é desenvolver tecno-logias para o desenvolvimento sustentável da região.

Manzi afirma que o LBA foi planejado como um programa científico de ciência básica, no entanto, incorporou desde o início a preocupação com o de-senvolvimento sustentável da região. Daí se tem a importância das atividades do programa para a socie-dade. As atividades desenvolvidas têm grande rele-vância, não só para a Amazônia, como para o mundo.

Monitorando a florestaUm dos projetos do LBA que vem ganhando destaque

na Amazônia e no mundo é o da rede de monitoramento ambiental e de gases de efeito estufa, composta de 12 torres instaladas no meio da floresta e áreas alteradas, com o intuito de monitorar as condições meteorológi-cas e as trocas gasosas entre a atmosfera e a floresta.

As torres erguidas no Amazonas estão localizadas na Reserva Biológica do Cuieiras, do Inpa, em Ma-naus, no km 14, do ramal ZF2 (denominação dos ra-mais que se inciam na BR 174 que dá acesso às áreas do Distrito Agropecuário da Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa), com 57 metros de altura e no km 34, com 53 metros. Uma terceira torre, de 65 metros de altura, foi erguida na floresta do Par-que Nacional do Pico da Neblina em São Gabriel da Cachoeira, distante 852 quilometros por via fluvial de

Manaus, há uma torre de 35 metros instalada em uma floresta secundária na Fazenda Esteio, no ramal ZF3.

O topo das torres ultrapassam em pelo menos 20 me-tros a copa das árvores. Nelas estão instalados equipa-mentos que medem, por exemplo, numa frequência de 10 vezes por segundo a velocidade do vento, a temperatura do ar e as concentrações de gás carbônico, de metano e de vapor de água, que possibilitam calcular os fluxos de energia e massa entre a vegetação e a atmosfera.

Elementos meteorológicos convencionais são medi-dos no topo da torre, perfis de vento, temperatura e umidade do ar e concentração de gás carbônico são medidos ao longo da torre e perfis de temperatura e de conteúdo de água são medidos no solo. Para 2010 es-tão previstas instalações de torres em Humaitá e Tefé.

Novo sítio experimentalUm novo super sítio experimental equipado com

uma torre de monitoramento de mais de 300 metros de altura está previsto para ser implantado em 2010 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Ua-tumã, no município de Presidente Figueiredo, no âmbito da cooperação do Brasil com a Alemanha.

Segundo Manzi, essa torre possibilitará fazer me-didas de vários constituintes químicos que muitas vezes são produzidos pela vegetação e que reagem rapidamente na atmosfera e também dos comple-xos mecanismos de transporte de energia e maté-ria que ocorrem na atmosfera acima da floresta.

“Poderemos medir como esses gases e partículas são produzidos e transportados, e como eles reagem na atmosfera. Há um interesse especial no entendi-mento do ciclo do carbono e do papel dos aerossois biogênicos na formação de chuvas na Amazônia. O grande estoque de carbono armazenado nas árvo-res e no solo da Amazônia faz dela uma região ain-da mais importante no contexto do clima e das mu-danças climáticas globais”, afirma o pesquisador.

Manzi ainda explica que além da torre principal de 300 metros, haverá pelo menos outras quatro torres meteorológicas com cerca de 80 metros cada uma, vol-tadas para a medição de fluxos horizontais de energia e gases, medidas essas essenciais para a determinação completa dos balanços de energia e gases da floresta.

“Serão monitoradas, no interior e acima da floresta, as condições ambientais e as concentrações de dióxido de carbono, metano e outros gases atmosféricos. Entender o papel da Amazônia no ciclo global do carbono e de outros nutrientes, além da sua evolução ao longo de al-gumas décadas, é um dos objetivos do projeto”, afirma.

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O Instituto Nacional de Pesquisas da Ama-zônia (Inpa) há mais de 50 anos se de-dica a estudar sobre a biodiversidade da

fauna e flora amazônicas. Diversos produtos ao longo dos anos foram elaborados a partir de pesquisas desenvolvidas no instituto, como a Sopa Desidratada de Piranha (Serrasalmus spp.), a Pupurola Granola de Pupunha (Bactris gasipaes), e a Zerumbona, obtida dos óleos essenciais das raízes de Zingi-ber zerumbet (planta herbácea de fácil cultivo), entre outros.

A Divisão de Propriedade Intelectual e Negócios (DPIN) é a responsável pela proteção dos produtos gerados a par-tir dos estudos desenvolvidos no instituto e, atualmente, contabiliza 40 pedidos de pa-tente em andamento junto ao Instituto Nacional da Pro-priedade Industrial (INPI).

Segundo a coordenadora do DPIN, Rosangela Bentes, dos 40 pedidos de patentes fei-tos, 24 já possuem número de patente em âmbito nacio-nal e internacional permitind o com isso que haja negocia-ção com o mercado produtivo. Outras 16 estão com a solicitação em andamento, e das 24, oito se encaixam no chamado Tratado de Coo-peração em Matéria de Patentes (PCT), devendo adentrar o território brasileiro ainda este ano.

O processo de patenteA necessidade de patente, segundo Bentes, é

percebida geralmente na fase inicial da pesqui-

sa. “Assim que o pesquisador identifica a neces-sidade de patente, ele nos procura para que a partir do projeto escrito nós possamos fazer uma análise de viabilidade”, explica a coordenadora.

O segundo passo é a elaboração de um re-latório e a realização de uma reunião interna na qual são expostos ao pesquisador os for-mulários a serem preenchidos com todas as

informações necessárias para a compreensão do produto.

Bentes ressalta que antes desse processo é feita a assina-tura, por parte do pesquisador e sua equipe, do termo de sigilo, onde as partes se comprome-tem a não publicar ou divulgar a descoberta. “É preciso haver uma preocupação com a segu-rança da informação e do pro-cesso do produto para que após a solicitação, o pesquisador não venha a perder o direito sobre a sua descoberta”, enfatiza.

Produtos e processosO Inpa conta com um port-

fólio, onde estão expostos os mais de 10 produtos e processos protegidos. Mas, de acordo com a coorde-nadora do DPIN, o port-fólio está em fase de re-formulação para que sejam

integradas as novas patentes adquiridas.

Os produtos patenteados e disponíveis para negociação com o setor produtivo regional, na-cional e internacional são direcionados ao setor alimentício, de cosméticos e de bens e serviços.

São sabonetes líquidos e sólidos, cremes antioxidantes e emulsões a base de óle-

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amazônicasInpa garante proteção

às descobertas

> Por annyelle bezerra

Entre os produ-tos patenteados e disponíveis para negociação com o setor produtivo regional, nacional e internacional, estão aqueles do setor alimentício, de cosméticos e de bens e serviços. Atualmente, existem 40 solici-tações de patentes em andamento

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amazônicas

os de Pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.), e Buriti (Mauritia flexuosa); produtos de uso doméstico para profilaxia bucal e pro-dutos de uso profissional em consultório odontológico; produção de móveis com ma-deira de Pupunha; paineis de folhas de ve-getais para forros, divisórias, móveis e ar-tefatos a base de matérias-primas naturais.

A Bebida Fermentada de Pupunha – de au-toria dos pesquisadores Nei Junior, Spartaco

Filho, Sônia Carvalho, Lílian de Oliveira, Je-rusa Andrade e Roberto Maeda - é uma das peculiaridades desenvolvidas no Inpa. A be-bida é elaborada através de um processo se-melhante ao do vinho e consiste na utiliza-ção de açúcares fermentáveis por linhagem de Sccharomyces cerevisae, formando o etanol.

Além de grande aceitação do produto, a be-bida apresenta como vantagens a praticida-de da aplicação da técnica e o aumento da

De acordo com Rosangela Bentes, dos 40 pedidos de patentes feitos, 16 já possuem número de patente, permitindo

sua negociação com o mercado produtivo

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Produtos e processos

patenteados no Inpa

• Sabonete Líquido a Base de óleos de Pupunha e Buriti;

• Creme Antioxidante a Base de óleos de Pupunha;

• Emulsão Evanescente a Base de óleo de Pupunha e Buriti;

• Sabonete Sólido a Base de óleo de Pupunha e Buriti;

• Produtos de Uso Doméstico para Profilaxia Bucal;

• Produtos de Limpeza Pessoal de Uso Doméstico e Profissional;

• Biocida Orgânico como Preservativo da Madeira;

• Uso de Derivados Semi-Sintéticos no Tratamento da Malária;

• Painéis de Folhas de Vegetais para Forros, Divisórias, Móveis e Artefatos;

• Produtos de Uso Profissional em Consultório Odontológico;

• Composto Antimicrobiano contra a Murcha Bacteriana;

• Bebida Fermentada de Pupunha (Bactris gasipaes);

• Método de Diagnóstico de Leishmania guyanensis;

• Zerumbona obtida dos óleos essenciais das raízes de Zingiber zerumbet;

• Secador Solar para Produtos Madeireiros;

• Secador Solar para Produtos Naturais e Madeireiros;

• Pupurola – Granola de Pupunha (Bactris gasipaes);

• Farinha Integral de Pupunha (Bactris gasipaes);

• Sopa Desidratada de Piranha (Serrasalmus spp.);48

demanda do fruto, contribuindo para o cres-cimento da renda das famílias produtoras.

Outro produto também proveniente da pupu-nha é a Farinha Integral, produto desidratado para consumo direto ou como ingrediente de alimentos, como doces e salgados. O produ-to, em 2008 foi fonte de estudo, em parceria com o Banco de Leite do Estado do Amazonas (BLH-AM), sendo comprovada sua eficácia no

enriquecimento do leite materno, direcio-nado aos bebês prematuros. A pesquisa,

desenvolvida como dissertação de mestrado da então chefe do BLH-AM, Tânia Batista, sob a coordenação da pesquisadora do

Inpa, Helyde Albuquerque Marinho, comprovou que pelo alto índice de vi-tamina A, existente na pupunha, o produto é importante na prevenção de infecções respiratórias, intesti-nais e gastrointestinais no bebê.

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A importância de patentear um produtoUm levantamento realizado pelo Instituto Bra-

sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), em meados de 2003, reve-lou que o Brasil perde US$ 16 milhões diariamen-te, em decorrência da biopirataria internacional. Anualmente isso corresponde a mais de US$ 5,7 bilhões que poderiam ser empregados na melho-ria da educação e saúde da população brasileira.

Um dos produtos brasileiros patenteados por países estrangeiros foi o produto a base de Cupu-açu (Theobroma grandiflorum). A fruta de origem Amazônica é muito consumida na região e uma das principais iguarias servidas aos turistas, seja em forma de sucos, sorvetes, doces, ou geleias.

A empresa japonesa Asahi Foods conseguiu pa-tentear o cupulate, chocolate feito a partir do caroço do fruto, desenvolvido pela Empresa Bra-sileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). En-quanto isso, a empresa britânica The Body Shop, usurpava o direito de patente sobre o extrato da fruta, muito eficaz na produção de cosméticos.

Inúmeros são os produtos brasileiros paten-teados no exterior. Entre eles, o veneno da Jararaca (Bothrops jararaca). Eficiente no con-trole da hipertensão, o veneno foi patenteado por um laboratório dos Estados Unidos. A An-diroba (Carapa guianensis Aubl), usada na re-gião norte para o tratamento de febres, como cicatrizante e repelente de insetos, foi paten-teado pela Rocher Yves Vegetale nos Esta-dos Unidos, Europa e Japão para a produção de cosméticos ou remédios a base do extrato.

Além deles, há também o Curare, mistura de er-

vas que os índios usam na ponta das flechas para imobilizar a presa, patenteado pelos Estados Unidos na década de 40 e aplicado na elaboração de relaxantes musculares e anestésico cirúrgico. A árvore amazônica Pau-Rosa (Aniba roseadora), registrada pela França em 1920 que tem o óleo usado como fixador de perfumes nos Estados Uni-dos, Bélgica, França, Reino Unido e Alemanha. É a matéria-prima do perfume Chanel nº 5, consi-derado o perfume mais glamouroso do mundo.

São sabonetes líquidos e sólidos, cremes antioxidantes e emulsões a base de óleos de Pupunha (Bactris gasipaes H.B.K.) e Buriti (Mauritia flexuosa); produtos de uso doméstico para proflaxiabucal e produtos de uso profissional em consultório odontológico

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A descoberta, na reserva do Instituto Na-cional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) em 1997, de um ninho de Gavião-real foi

o pontapé inicial para o programa de conser-vação da ave realizado pelo Instituto. Hoje, o estudo se expandiu e atua nas áreas de Manaca-puru (distante 84 quilômetros de Manaus) a Pa-rintins (369 quilômetros da capital), Pará, Ron-dônia e nas regiões do Pantanal e Mata Atlântica.

O monitoramento via satélite do Gavião-real co-meçou em Parintins e se expandiu para a Bahia. Se-gundo a coordenadora do programa, Tânia Sanaiotti, o trabalho envolve sensibilização ambiental. “Traba-lhamos para manter sítios reprodutivos da espécie, conservá-las em áreas de reserva, até mesmo parti-culares. Se preservamos esses locais, mantemos al-gumas populações dessa espécie”, relata Sanaiotti.

As comunidades têm papel importante para o programa, pois ajudam na localização de ninhos e no resgate de gaviões feridos ou abandonados. “Nossa ideia é lidar com locais de nidificação tra-balhando junto a comunidades por meio da sensibi-lização ambiental, mostando o uso sustentável dos recursos, incluindo mudanças nos hábitos de caça. Além de lidarmos com o monitoramento, ainda há a demanda das entregas voluntárias de animais que perderam seu habitat”, afirmou a pesquisadora.

Para o Gavião-real, assim como para outros ani-mais, o desmatamento é uma ameaça. A ave precisa de grandes áreas para caçar e se reproduzir. Na Mata Atlântica e em regiões degradadas da Amazônia, o resgate e a reabilitação significam sobrevivência. “No Amazonas e no leste do Pará, quando a mata é derrubada, em alguns casos, o ninho é removido e o filhote entregue ao IBAMA. Avaliamos a capa-cidade da ave para que ela retorne ao seu habitat natural após a reabilitação”, contou a pesquisado-ra, afirmando que o programa conseguiu devolver a natureza quatro gaviões nos últimos quatro anos.

Em 2009, outras áreas de nidificação foram encontradas, o que amplia a atuação do Pro-grama. “Encontramos novos ninhos em dife-rentes locais. Vamos visitar ninhos no Acre e no Amapá, onde não trabalhávamos”, declarou, informando que os novos ninhos vão favore-cer estudos de fluxo gênico da espécie no Brasil.

Olhos atentosAtualmente o Gavião-real figura na lista inter-

nacional de animais ameaçados de extinção. Con-siderado a maior ave de rapina das Américas, o gavião pode carregar o equivalente ao seu peso. As fêmeas são maiores e podem medir até 1 me-tro de cumprimento e 2 metros de envergadura.

Conforme estudo feito em uma região de Parin-tins por Helena Aguiar, pesquisadora do programa, 79% da alimentação da ave é composta por pregui-ças, seguida por macacos, porco espinho e aves .

O Programa de Conservação do Gavião-real é finan-ciado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), Fundação Boticário de Proteção a Natureza, Vale, Estação Veracel e Parque Nacional do Pau Brasil.

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Gavião-realDe olho no

> Por daniel jordano

Para Sanaiotti, as comunidades têm papel importante para o programa, pois ajudam na localização de ninhos e no resgate de gaviões feridos ou abandonados

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Gavião-real