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Embrapa Labex: avançando com os donos do conhecimento Pág. 52 ISSN 1413-4969 ./ / 200 Publicação Trimestral Ano XIV - Nº 4 Out Nov. Dez. 5 Revista de O amanhã se constrói dia a dia Pág. 102 A revolução nanotecnológica e o potencial para o agronegócio Pág. 38 Ponto de Vista Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Pág. 19 Pág. 86 Impactos econômicos, sociais e ambientais dos investimentos na Embrapa

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Embrapa Labex:avançando comos donos doconhecimento

Pág. 52

ISSN 1413-4969

./ / 200

Publicação TrimestralAno XIV - Nº 4

Out Nov. Dez. 5

Revista de

O amanhã se constróidia a dia

Pág. 102

A revoluçãonanotecnológicae o potencial parao agronegócio

Pág. 38

Ponto de Vista

Publicação da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Pág. 19Pág. 86

Impactoseconômicos,

sociais eambientais dos

investimentosna Embrapa

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ISSN 1413-4969Publicação Trimestral

Ano XIV – Nº 4Out./Nov./Dez. 2005

Brasília, DF

SumárioCarta da Agricultura

O futuro da pesquisa agropecuária ................................. 3Roberto Rodrigues / Eliseu Alves

A geração de conhecimento e osucesso do agronegócio brasileiro .................................. 5José Roberto Mendonça de Barros / Alexandre Lahóz Mendonça de Barros

Agroenergia: uma opção estratégica para o Brasil ......... 15Carlos Lovatelli

Worldwide adoption and profitabilityof precision agriculture: implications for Brazil .............. 20T.W. Griffin / J. Lowenberg-DeBoer

A revolução nanotecnológicae o potencial para o agronegócio ................................. 38Luiz H. C. Mattoso / Eliton S. de Medeiros / Ladislau Martin Neto

Agricultura: dimensões de seusnovos desafios e conquistas .......................................... 47Carlos Bloch Jr.

Embrapa Labex: avançandocom os donos do conhecimento .................................. 52Luis Fernando Vieira / Pedro A. Arraes Pereira

Formação de recursos humanos e os novos tempos ...... 63Eliseu Alves / Renato Silva / José Prado Fonseca Filho

O orçamento da Embrapa ............................................ 73Eliseu Alves / Antônio Jorge de Oliveira

Impactos econômicos, sociais e ambientaisdos investimentos na Embrapa...................................... 86Antonio Flavio Dias Avila / Marília Castelo Magalhães / Graciela Luzia Vedovoto /Luis José Maria Irias / Geraldo Stachetti Rodrigues

Ponto de VistaO amanhã se constrói dia a dia .................................. 102Silvio Crestana / Renato Cruz Silva

Conselho editorialEliseu Alves (Presidente)

Ivan WedekinElísio ContiniHélio Tollini

Antônio Jorge de OliveiraRegis N. C. Alimandro

Biramar Nunes LimaPaulo Magno Rabelo

Marlene de Araújo

Secretaria-geralRegina M. Vaz

Coordenadoria editorialMierson Martins Mota

Cadastro e distribuiçãoCristiana D. Silva

Revisão de textoFrancimary de M. e Silva

Raquel Siqueira de Lemos

Revisão de referênciasGraciela Olivella Oliveira

Projeto gráfico e capaCarlos Eduardo Felice Barbeiro

Imagem da capaJoniel Sergio R. Oliveira (arte)

e Arquivo do Mapa (foto)

Impressão e acabamentoEmbrapa Informação Tecnológica

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 2

Todos os direitos reservados.A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte,

constitui violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)Embrapa Informação Tecnológica

Revista de política agrícola. – Ano 1, n. 1 (fev. 1992) - . – Brasília: Secretaria Nacional de Política Agrícola, Companhia Nacionalde Abastecimento, 1992-

v. ; 27 cm.

Trimestral. Bimestral: 1992-1993.Editores: Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento, 2004- .Disponível também em World Wide Web: <www.agricultura.gov.br>

<www.conab.gov.br> <www.bb.gov.br>ISSN 1413-4969

1. Política agrícola. I. Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento. Secretaria de Política Agrícola. II. Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

CDD 338.18 (21 ed.)

República Federativa do Brasil

Luiz Inácio Lula da SilvaPresidente

Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento

Roberto RodriguesMinistro

Secretaria de Política Agrícola

Ivan WedekinSecretário

Departamento de Comercialização eAbastecimento Agrícola e Pecuário

José Maria dos AnjosDiretor

Departamento de Economia Agrícola

Edilson GuimarãesDiretor

Departamento de Gestão do Risco Rural

Welington Soares de AlmeidaDiretor

Esta revista é uma publicação trimestral da Secretaria dePolítica Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento, com a colaboração técnica da Embrapa eda Conab, dirigida a técnicos, empresários, pesquisadoresque trabalham com o complexo agroindustrial e a quembusca informações sobre política agrícola.

Interessados em receber esta revista comunicar-se com:

Ministério da Agricultura, Pecuária e AbastecimentoSecretaria de Política AgrícolaEsplanada dos Ministérios, Bloco D, 5º andarCEP 70043-900 Brasília, DFFone: (61) 3218-2505Fax: (61) [email protected]

Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaSecretaria de Gestão EstratégicaParque Estação Biológica (PqEB), Av. W3 Norte (final)CEP 70770-901 Brasília, DFFone: (61) 3448-4336Fax: (61) 3347-4480Mierson Martins [email protected]

É permitida a citação de artigos e dados desta Revista, desdeque seja mencionada a fonte. As matérias assinadas nãorefletem, necessariamente, a opinião do Ministério daAgricultura, Pecuária e Abastecimento.

Tiragem5.000 exemplares

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 20053

Dois conceitos sobre desenvolvimentoeconômico emergiram no pós-guerra: a edu-cação do povo – o capital humano do País – e osinvestimentos em ciência são as variáveis quemais capacidade têm para explicar a riqueza dasnações, e é menos relevante o papel dos recursosnaturais. Assim, a construção da riqueza de umpaís fundamenta-se nas prioridades que são dadaspela sociedade para o investimento no povo, naciência e na tecnologia. É óbvio que, na cami-nhada do desenvolvimento sustentável, a políticaagrícola, as políticas macroeconômicas, as deindustrialização, de exportação, de distribuiçãode renda e de investimento em infra-estrutura nãopodem ser negligenciadas. Mas, numa democra-cia, elas mesmas dependem da compreensão dopovo, do qual emana todo o poder.

As lideranças precisam antecipar-se àpercepção popular para dar prioridade aosinvestimentos em educação, em ciência etecnologia, e, assim, persuadir a sociedade dequão importante e benéfico é o sacrifício depequena parte do consumo presente em favordesse tipo de gasto.

A compreensão do papel da educação eda ciência e tecnologia como investimentofundamental à modernização da sociedadechegou tarde ao Brasil. Em termos de educação,fizemos enormes progressos na década de 1990e continuamos bem na década em curso. Quantoà ciência e à tecnologia, demos um grande saltona década de 70, mas ainda ficamos longe dospaíses asiáticos em desenvolvimento, e, infeliz-mente, retrocedemos no período 1980-2004.

O futuro da pesquisaagropecuária

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Mas hoje se reconhece, tanto no executivocomo no legislativo, a importância da educação,ciência e tecnologia. A aprovação de leis queprotegem a propriedade intelectual e que, ainda,abrem caminhos para o governo subsidiar a inicia-tiva particular e os pesquisadores é um importan-tíssimo passo para incrementar os investimentosem pesquisa e desenvolvimento. Com elas, ainiciativa particular, a exemplo dos paísesavançados e dos tigres asiáticos, passará a ter umpapel ainda mais relevante no desenvolvimentocientífico e tecnológico do Brasil. Certamente,vencida a difícil fase do ajuste macroeconômico,a motivação do governo em favor da ciência etecnologia traduzir-se-á em investimentos cres-centes do poder público nessas áreas3.

Pesquisa em ciências agrárias tem umalonga história no Brasil, que remonta à criação doInstituto Agronômico de Campinas na segundametade do século XIX. Exemplo mais tarde seguidopor Rio Grande do Sul, Pernambuco e MinasGerais, embora mais timidamente. No Ministérioda Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa),seguindo o exemplo de São Paulo, foram criadosvários institutos de pesquisa, mais tarde coordena-dos pelo Departamento Nacional de PesquisaAgropecuária (DNPEA). Em reais de 2004, em1972, os investimentos do Mapa no DNPEA nãoultrapassaram cinqüenta milhões de reais, menosde 0,1% do PIB agropecuário. Em 1973, 26 deabril de 1973, foi implantada a Embrapa. E osinvestimentos do Mapa cresceram de formaimpressionante. Em 1982, equivaleram à cerca

1 Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.2 Assessor do diretor-presidente da Embrapa e pesquisador.3 Com o advento da Constituição de 1988, os estados criaram as fundações de amparo à pesquisa, e algumas delas, como a de São Paulo, têm recursos de vulto.

Roberto Rodrigues1

Eliseu Alves2

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 4

de 1 bilhão de reais, reais de 2004, e 1,09% doPIB agropecuário. No período 1982-2004, houveavanços e recuos, mas predominantemente emtorno de 1 bilhão de reais, exceto no período 2001-2004, no qual ocorreu uma queda maior noorçamento da empresa. Recuamos, com essaqueda, para 0,55% do PIB agropecuário4. Mas, ogoverno Lula está firmemente empenhado emrecuperar o orçamento da Embrapa e o saláriodos pesquisadores para níveis compatíveis com agrandeza do agronegócio. Em maio de 2005, osalário do pessoal da Embrapa foi reajustado em8,5%. Está em curso a revisão da política depessoal, visando recuperar os salários, e nova-mente tornar a Embrapa atrativa aos brasileirosde talento. Busca-se, ainda, dar condições de aempresa adicionar ao orçamento os recursos pró-prios. Como está, o recurso próprio reduz oorçamento do tesouro na mesma quantidade.E, assim, não existem incentivos para aumentar oseu montante.

A Embrapa desenvolveu-se num período emque não havia proteção adequada à propriedadeintelectual, principalmente, no caso da agricultura.Por isso, ela evoluiu dentro da concepção de quecabia ao governo a responsabilidade da pesquisaem ciências agrárias. É verdade que a iniciativaparticular teve alguns sucessos nesse campo, masnas áreas em que foi possível manter o segredoda descoberta, sendo, assim, factível para elaapropriar-se dos resultados dos investimentosfeitos. Nessa linha, um dos casos notáveis é omilho híbrido. Mas, no ambiente até a porteira dafazenda e em pesquisa básica, o domínio dos in-vestimentos públicos, em ciência e tecnologia,tem sido absoluto.

Na agricultura e nos países avançados, ainiciativa particular se destacou em áreas em queas descobertas são patenteáveis, e, portanto, emáreas que os resultados, em termos de lucro,podem ser apropriados. Assim é em cultivares,máquinas e equipamentos, tecnologia de ali-mentos, genes, etc. Contudo, a pesquisa da

iniciativa particular é pouco relevante em práticasculturais, conservação de solos, manejo deanimais, etc. Ou seja, em áreas do tipo bempúblico.

Com o advento, no Brasil, das leis queprotegem a propriedade intelectual, a iniciativaparticular terá um papel muito mais ativo empesquisa em ciências agrárias e já está avançandonisso, sobretudo em biotecnologia. A história temacumulado três lições. Em primeiro lugar, apesquisa da iniciativa particular somou-se aoinvestimento público, aumentando substancial-mente os fundos de pesquisa, sem, contudo, aliviaros gastos do governo. Em segundo lugar, ainiciativa particular, por intermédio de contratos,aliou-se à pesquisa pública, reforçando o seuorçamento. Em terceiro lugar, as organizaçõespúblicas se adaptaram de modo a competir porcontratos e a tirar vantagens que a nova alternativade financiamento trouxe. Nos países desenvol-vidos, elas aprenderam a elaborar, discutir e hon-rar contratos. Reduziram o custo da pesquisa,prepararam os dirigentes e os cientistas para onovo cenário, além de flexibilizar os salários demodo a permitir uma remuneração adicional, semque a mesma se incorporasse ao salário.

A Embrapa tem que ser ágil para se adaptaràs exigências das três lições e, ainda, estarpreparada para suprir as áreas de pesquisa depouco interesse para a iniciativa particular, comoem meio ambiente, defesa, agricultura familiar,plantas medicinais e aromáticas, avaliação depolítica agrícola e de tecnologia, em manejo deanimais e práticas culturais. Ela precisa ajustarsua estrutura organizacional, com olhos críticosem cima dos custos fixos. Precisa flexibilizar ossalários e manter nos seus quadros cientistascompetentes e que, ainda, inspirem confiança dainiciativa particular na empresa. Felizmente, aEmbrapa tem talento, competência e experiênciapara realizar, com sucesso, os ajustes que os novostempos requerem, e dispõe de uma diretoria comvisão de modernidade.

4 Os dispêndios do Ministério da Agricultura Americano (USDA) igualaram 1,13% do PIBAGR(Gross value added of de agricultural sector), em 2002. Estimativasindicaram, respectivamente, 1,12% e 0,86% para 2003 e 2004. Portanto, já estivemos bem.

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A geração deconhecimento e osucesso doagronegócio brasileiro

IntroduçãoO agronegócio brasileiro é um sucesso. Este

trabalho pretende mostrar quais foram oselementos-chave para tal resultado, destacandoespecialmente a relevância da geração deconhecimento como alavancador das vantagenscomparativas do País.

Na segunda parte do trabalho apresentam-se os principais traços da evolução da agro-pecuária desde o início dos anos 1970 até hoje,mostrando como se construiu, em pouco mais detrês décadas, o sistema mais competitivo domundo. Na terceira parte destacam-se as forçasdo sistema e os principais desafios que o Paísenfrenta, hoje, a análise complementada peladiscussão dos novos paradigmas de produção e adistribuição que afetarão e estimularão nossosistema produtivo. Busca-se, ainda, mostrar quea nova revolução produtiva dependerá, essencial-mente, da geração, difusão e incorporação denovas informações e conhecimento.

Finalmente, as principais conclusões serãoalinhadas, ressaltando mais uma vez o papelcentral da Embrapa no desenho de nosso futuro.

Agropecuária após 1970Em 35 anos o Brasil construiu, após 1970, o

sistema produtivo mais eficiente do mundo, como

se discute adiante. Uma primeira lição já podeser sugerida: o desenvolvimento e a consolidaçãode vantagens comparativas sistêmicas é tarefa demuitos anos e de muitos tipos diferentes de ações.

A agricultura brasileira desempenha, hoje,um papel importante nos mercados internacionais.Como pode ser visto na Tabela 1, o Brasil éresponsável por 38% das exportações mundiaisde soja, 29% do açúcar e frango e 82% domercado exportador de suco de laranja. Em todosos mercados listados, o País é um dos quatroprincipais exportadores, e as taxas de crescimentorecentes sugerem que nossa posição ainda vai seconsolidar mais.

Ao longo dos anos, a soja tornou-se o setormais importante do agronegócio. Em 2004,o complexo soja (grãos, farelo e óleo) exportou8.1 bilhões de dólares. Em seguida vem o com-plexo das carnes (frango, suína e bovina) e oaçúcar. Como pode ser visto na Fig. 1 o saldocomercial agrícola responde pela totalidadedo saldo comercial do País.

Este padrão de expansão é notável, espe-cialmente se levarmos em consideração oelevado grau de proteção e distorções no comér-cio internacional, que tendem a reduzir o tamanhodos mercados e pressionar negativa-mente a taxade retorno dos investimentos no setor.

A posição do Brasil nos mercados interna-cionais é resultado direto do alto grau de

José Roberto Mendonça de Barros1

Alexandre Lahóz Mendonça de Barros2

1 MB Associados, e.mail: jr.mendonç[email protected] Escola de Economia de São Paulo, Fundação Getúlio Vargas, e-mail: [email protected]

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Fig. 1. Balança comercial do agronegócio (em US$bilhões).(1) Previsão.Fonte: Brasil (2004).

Tabela 1. Posição das exportações brasileiras no ranking mundial (2003).

Soja em grãosFarelos de sojaAçúcarFrangoCarne bovinaCaféÓleo de sojaSuco de laranjaTabacoCarne suínaMilhoAlgodãoTotal agrícola

Fonte: ERS/USDA; FAO.

Valor emexportação

(US$ milhões)

4.2902.6022.1401.7091.5381.3021.2321.1921.052

546369189

21.281

ProdutoBrasil/mundo

38342929202928822316

45

3,8

Participação(%)

1212112114443

RankingTaxa anual de crescimento

(1990–2003)(%)

174

1813

93917

2753126,4

competitividade, sem subsídios, de nossa agricul-tura. Essa competitividade decorre de altaeficiência econômica, tecnologia e, comoresultante, baixos custos. De fato, o País é oprodutor de mais baixo custo numa importantecesta de produtos.

Várias razões podem ser levantadas nosentido de explicar a referida competitividade daagricultura brasileira. Dentre muitas, merecemdestaque as seguintes3:

• Desde os anos 1970, o setor agrícola tembaixos níveis de proteção o que tendeu a estimular

exportações nos períodos de expansão docomércio internacional. Os casos mais conhecidossão o da soja, da laranja e da carne de frango queapresentaram desde essa época forte crescimentonas exportações.

• Entre o início dos anos 1970 e 1985 ocrédito rural foi amplo e facilitado, o que inverteuo sinal das transferências intersetoriais. De fato,nesse período, o setor agrícola recebeu recursosdo resto da economia, facilitando forte aumentono uso de fertilizantes, tratores e equipamentos.

• A criação da Embrapa, que passa a lideraro sistema brasileiro de pesquisa, produziu, apósum período inicial de investimento, fluxo constantede inovações que se estende até hoje, alavan-cando conhecimento. Ao mesmo tempo, o sistemaeducacional especializado em ciências agráriascresceu velozmente, elevando o número deprofissionais graduados nas áreas de engenhariaagronômica, florestal, medicina veterinária ezootecnia4.

• Paulatina redução dos fortes controlesexistentes nas cadeias do trigo, leite e cana. Após1990, os mercados ficaram livres para responderaos estímulos e oportunidades, resultando em in-

3 Para análise mais detalhada dos elementos citados, sugere-se a leitura de Dias; Barros (2000) e Barros (1999).4 Ver Araújo et al. (2003).

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crementos substanciais de produção e produtivi-dade5.

• Nos anos 70 e 80 desenvolveram-se várioscorredores de exportação que melhoraram acomercialização de produtos agrícolas. Entretanto,no período mais recente, a queda nos investimen-tos públicos e a piora na qualidade da malharodoviária voltam a ser um problema de magnitudemais ampla.

• A abertura generalizada a partir de 1990implicou em redução no custo de insumos eequipamentos importados que estimulou seu uso.

• A estabilização produzida pelo Plano Realelevou a renda do consumidor na medida em queo imposto inflacionário foi praticamente eliminado.

• Finalmente, a introdução do regime decâmbio flutuante completou o aparato macroeco-nômico, integrando de maneira mais sólida aeconomia brasileira e o agronegócio à economiamundial.

Desafios e característicasda atual fase do sistema

Após três décadas de mudanças parece quea agricultura brasileira começa a delinear umpadrão agrícola único: moderno, intensivo emtecnologia e tropical. Não é fácil antever todos osaspectos desse modelo que ainda se encontra emconstrução, mas é possível levantar suas maioresforças, fraquezas e desafios.

Forças

Terra abundante e a baixo custo

O País possui um volume expressivo de áreapotencialmente agricultável. Existem diferentesestudos referentes à disponibilidade de terra que,em geral, tendem a convergir para uma áreapotencial superior a 100 milhões de hectares naregião do Cerrado. Existe, ainda, uma enorme áreade pastagem caracterizada por baixa produtivi-

dade das forragens e que atualmente começa aser integrada ao sistema de grãos, configurandoum inovador sistema de rotação. Em trabalhorecente, Brandão et al. (2005) concluem que cercade 80% do aumento da área cultivada comlavouras nos últimos 10 anos no Brasil deu-se emantigas áreas de pasto. Como observado anterior-mente, a área total de pastagem no País situa-seao redor de 170 a 180 milhões de hectares. A áreaagrícola atualmente cultivada no Brasil encontra-se em um patamar de 60 milhões de hectares, oque permite dar dimensão do enorme potencialprodutivo do País.

Tecnologia

O evento tecnológico mais relevanteocorrido na agricultura brasileira nos últimos 30anos foi sem dúvida o sistema de plantio direto.Esse sistema foi decisivo para viabilizar odesenvolvimento da agricultura nas áreas decerrado. Clima tropical requer proteção do solo eo sistema de cultivo tradicional e o modelo demecanização a ele atrelado mostrou-se inade-quado a esse regime climático. Plantio direto,juntamente com nutrição de plantas e desenvol-vimento genético, garantiu expressivo aumentoda produtividade da agricultura na região centraldo País.

O domínio tecnológico da agricultura emambiente tropical permitiu que a naturalabundância de solo, luminosidade, temperaturae água pudessem ser utilizadas a fim de elevar aprodutividade da agricultura. Em poucas palavras,o desenvolvimento tecnológico permitiu ao Paísfazer uso de suas vantagens comparativas naagricultura.

Duas safras em um ano

A possibilidade de produzir duas safras emum único ano tornou-se maior graças aodesenvolvimento do sistema de plantio direto. Arealização de duas safras por ano é hoje usual noMato Grosso, em Goiás e no Paraná, emboranesse último estado, em decorrência da elevadaprecipitação por quase todo o ano, o sistema desafra de verão e de inverno já era utilizado, nopassado, com maior freqüência6. A técnica de

5 Essa afirmação é menos verdadeira no caso do trigo.6 O sistema de plantio direto foi inicialmente desenvolvido por agricultores paranaenses em meados dos anos 70. Após essas experiências iniciais, a tecnologia

de plantio direto foi sendo desenvolvida, disseminada e adotada na região do Cerrado.

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plantio direto reduz o tempo despendido commecanização, permitindo a execução de duassafras com menor risco climático.

Sistema de integraçãolavoura–pecuária

Ao longo da última década, iniciou-se umsistema de produção que procura interagir aprodução de culturas anuais (grãos e algodão) coma pecuária bovina. Esse sistema passou a serconhecido como integração lavoura-pecuária.Existe um leque de variações dos tipos deintegração, mas o princípio geral é a rotação depastagem com grão, entre anos ou em um únicoano (inverno e verão). O sistema de plantio diretorequer palhada para proteger o solo. Ao final doperíodo de chuvas é usual o cultivo de algumalavoura para garantir a proteção do solo compalha quando do plantio da safra em setembro/novembro. Ocorre que o pasto pode perfeitamenteser utilizado para esse propósito, conferindoexcelente proteção ao solo. Além disso, com arotação com lavoura há melhoria da fertilidadedo solo, elevando a produtividade das pastagens.A rotação com pasto permite, por sua vez, reduzira infestação de doenças o que reduz aspulverizações necessárias às lavouras anuais.

A presença da agricultura permite ampliara qualidade da nutrição dos bovinos. Oprocessamento da safra colhida acaba por gerarsubprodutos que podem ser utilizados em raçõesde confinamento, semiconfinamento ou suplemen-tação a pasto a um custo reduzido, o que ampliaconsideravelmente a produtividade da pecuária.É interessante notar a presença de estruturas deconfinamento disseminadas por todo o País, atéem regiões do cerrado que nunca fizeram usodessa tecnologia, por razões de custos deprodução. Ademais, a presença de uma dieta demelhor qualidade amplia consideravelmente obenefício advindo do melhoramento genético,estimulando a adoção dessa tecnologia. É notórioque ao longo dos últimos anos o uso de técnicasde melhoramento genético (touros provados,inseminação artificial, transferência de embrião,fertilização in vitro) cresceu muito no País.

Note-se, portanto, que há forte sinergia entrea produção de grãos e a pecuária bovina. Aforaas vantagens tecnológicas, a diluição de risco

decorrente da diversificação configura outro ganhodo sistema de integração.

Escala

O moderno sistema de produção do cerradoé concentrado. Em decorrência da escassez decapital no País e da relativa escassez histórica demão-de-obra na região central, os preços relativosdos fatores (capital e trabalho) induziram amecanização, configurando padrão semelhanteao dos Estados Unidos. Diversos fazendeiros estãose transformando em empresas com capacidadede produção, colheita, armazenagem e, emalguns casos, processamento e transporte. Emsuma, relevo plano, grandes propriedades e bomclima permitem boa produtividade decorrente dosganhos em escala.

Baixo risco climáticonas áreas de cerrado

Como mencionado anteriormente, partes doBrasil central são caracterizadas por baixo riscoclimático. Esse elemento passou a ser decisivopara que o sistema informal de financiamentodesenvolvido nos últimos anos entre empresasprivadas do ramo de insumos e de exportação(traders) e os agricultores crescesse consistente-mente. Boa parte dos fazendeiros do cerradonecessita do capital dos exportadores parafinanciar a produção. Os grandes traders susten-tam suas operações através de diversos contratos,conhecidos como Cédula de Produto Rural. Essescontratos dão boa garantia de propriedade sobreo produto pré-comercializado, mas não cobremo risco de produtividade (quebra da safra). Nãoexiste no País um sistema de seguro generalizado;assim, baixo risco climático é condiçãoindispensável para a sustentação do sistemainformal de financiamento. É interessante notarque entrevistas conduzidas com empresas deinsumos e grandes exportadores sugeriram quecerca de 60% da safra de soja do Mato Grosso épré-comercializada, ou seja, vendida por ocasiãodo plantio. No Sul do País, especialmente no RioGrande do Sul, onde o risco climático é alto, apré-comercialização é da ordem de 10 a 20% dasafra.

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Pesquisa

O sistema agrícola brasileiro dependeu econtinuará dependendo pesadamente de seusistema de pesquisa. O sistema de pesquisafederal, liderado pela Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolvepesquisas em todo o País, englobando diferentescondições edafoclimáticas e distintos produtos.Existe, ainda, um conjunto de centros de pesquisasestaduais, notadamente no Estado de São Paulo,que desenvolve tecnologia adaptada às condiçõeslocais. Além disso, diversas associações privadasde pesquisa foram criadas por produtores rurais,a fim de desenvolver pesquisa nas áreas denutrição de plantas e de melhoramento genéticode plantas. Existe amplo número de empresasprivadas que adapta e desenvolve material gené-tico, novos equipamentos e técnicas de pulveriza-ção e mecanização, nutrição de plantas, etc.A maior parte das multinacionais produtoras deinsumos tem longa tradição no País.

Capital humano

No decorrer das últimas décadas, diversasescolas de engenharia agronômica e florestal,medicina veterinária, zootecnia e biologia foramcriadas no País, multiplicando consideravelmenteo número de profissionais em ciências agrárias.Um número igualmente significativo de progra-mas de pós-graduação foi fundado, elevando aqualidade dos profissionais que atuam na área.Atualmente, o Ministério da Educação requer queas universidades mantenham em seus quadrosprofessores e pesquisadores com um mínimopadrão de formação. A maior parte das universi-dades públicas e parcela crescente das privadasapresenta, em seus quadros, profissionais commestrado e doutorado. Parte desses profissionaisobteve sua pós-graduação em instituiçõesinternacionais, elevando o padrão de conheci-mento do País.

Os profissionais de ciências agrárias atuamnas empresas privadas de insumos, nos centrosde pesquisas público e privado, nas empresasagrícolas, nas cooperativas, em empresas deconsultoria, etc. É interessante notar que aspropriedades mais modernas contam com

consultoria especializada nas diversas etapas doprocesso produtivo: nutrição, pulverização,mecanização, caracterizando forte especializa-ção do conhecimento, o que acaba por elevar aprodutividade do sistema. É importante mencionarque todas as empresas de insumos possuem emseus quadros um corpo de profissionais paraaplicar e disseminar tecnologia. No passado, esseprocesso foi essencialmente feito pelo Estado, masem decorrência tanto do crescimento do setor,quanto da crise fiscal dos anos 1980 e 1990, asempresas privadas assumiram a liderança nadisseminação do conhecimento como umaestratégia de marketing. Atualmente, muitosencontros tecnológicos são organizados pelasempresas privadas e cooperativas.

Diversificação de produtos

Um aspecto interessante do agronegóciobrasileiro é seu amplo número de produtos quesão estruturados em uma cadeia completa. Açúcare álcool, laranja, café, soja, algodão, madeira,tabaco, borracha, cacau, frutas, tomate, carnevermelha, carne de frango, ovos, leite e cadeiasmenores como flores e hortaliças encontram-sepresentes no País. Essa diversificação garanteestabilidade ao sistema, uma vez que as naturaisvariações de preços das commodities afetammenos o sistema como um todo. Ademais, note-se que o Brasil tem, além da diversificação dasexportações, um grande mercado interno paraprodutos como café, açúcar, frutas, óleo de soja,frango, etc.

Boa oferta de água

Como se sabe, existe restrição na oferta deágua em termos mundiais. O Brasil, entretanto,reconhecidamente dispõe de uma oferta abun-dante de água bem como de chuvas razoavel-mente bem distribuídas no território (exceto nosertão nordestino).

Sistema de agronegócio sofisticado

Ao longo das últimas décadas, a qualidadee o controle da produção e dos processosprodutivos melhoraram sistematicamente. Essemovimento foi conseqüência da elevação daqualidade das indústrias processadoras, da

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sofisticação dos supermercados, da maior exigên-cia por qualidade por parte dos consumidores eda introdução da tecnologia da informação. Essesmovimentos sugerem que a rastreabilibilidade ea certificação da maioria dos produtos brasileirosé uma realidade não muito distante, como já podeser vista em algumas cadeias. Esse aspecto émuito relevante para o comércio mundial. Alémdisso, o País possui boa indústria de insumos(máquinas, defensivos de fertilizantes), sendo olocal de centros mundiais de produção demáquinas e equipamentos.

Rentabilidade e inovação

Finalmente, a mais importante força dosistema é a percepção generalizada que nuncamais o empresário inovador deixará de buscarativamente novas técnicas de conhecimento.

Desafios de curto prazo

Dificuldades agronômicas

A rápida expansão da produção, nos últimoscinco anos, mostra as dificuldades vindouras emtermos de restrições agronômicas. O súbitoaumento da área plantada de soja conjuntamentecom a ausência de rotação de culturas comoconseqüência dos bons preços de soja espalhouamplo número de doenças que impressionou osprodutores. A disseminação da ferrugem durantea safra 2003-04 foi intensa. A ferrugem surgiu naBahia; na estação seguinte já se encontravaespalhada por todo o País de norte a sul. Emambiente tropical não há inverno rigoroso quereduza a infestação de doenças. Essa é uma dasprincipais restrições do ambiente tropical. Éimportante ressaltar que com a expansão daprodução no futuro, os problemas surgirão nãonecessariamente com um padrão de crescimentolinear.

O crescimento da agricultura brasileiraimplicará em grandes esforços no sentido dedesenvolvimento de novas práticas produtivas,rotação de culturas, novos materiais genéticos,em suma, nova tecnologia. A pesquisa seguirácomo a chave para o sucesso. É sempre bommanter a perspectiva histórica reconhecendo queo processo de expansão está apenas começando.

Infra-estrutura detransporte e armazenagem

Um dos principais problemas da regiãocentral do Brasil é o preço do frete. A logísticareduz a rentabilidade da agricultura porque osinsumos apresentam preços maiores e os produtos,menores. A maior parte da produção brasileira étransportada por rodovias, as ferrovias sãoescassas e com problemas de integração (porconta de bitolas diferentes) e de velocidade (asferrovias cruzam por dentro de muitas cidades). Amaior parte da soja produzida no Mato Grosso éexportada através dos portos de Santos eParanaguá, sendo a trajetória composta porrodovias.

Com o rápido aumento da produção de soja,as estradas encontram-se congestionadas e emmau estado de conservação. Existe, entretanto,perspectivas de melhorias nas ferrovias e nashidrovias. Nesse caso, há possibilidade de saídapelo norte do País reduzindo consideravelmenteo preço do frete (entrevistas conduzidas com osetor privado sugerem que o frete pode cair 70%).É importante comentar que as restriçõesambientais farão com que a expansão da infra-estrutura logística siga uma tendência relativa-mente lenta.

Restrições ambientais

A expansão da agricultura brasileira atingeatualmente a região Amazônica. Apesar deexistirem leis restringindo o desmatamento, estenão está sendo contido. O estímulo econômicodos últimos cinco anos resultou em ampliação doprocesso de desmatamento. Existe claro conflitode interesses entre ambientalistas e agricultores.A abertura de uma nova estrada é ótima para aagricultura (e indústria), mas a expansãoeconômica advinda da implantação da estrada éruim para a floresta. Não é certo qual forçavencerá, mas torna-se claro que a expansão dainfra-estrutura será mais lenta do que o imaginado.A sociedade brasileira é essencialmente urbanae, portanto, naturalmente mais sensível à causaambiental.

Risco sanitário

O aumento no tamanho do agronegóciobrasileiro elevará o risco sanitário envolvido na

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produção, como mencionado anteriormente. Alémdisso, a expansão do comércio internacional trazconsigo o risco de contaminação com doençasexistentes no exterior. Em outras palavras, aprobabilidade de problemas sanitários se elevaconforme a integração internacional aumenta.

As exportações brasileiras apresentam umacaracterística interessante, qual seja, envolve umamplo número de países. Por exemplo, aexportação de carne vermelha é feita para maisde 150 países diferentes. Esse vasto número deparceiros comerciais, embora reduza o risco dereduções abruptas nas exportações, impõe umcomplexo processo de administração para asempresas privadas. Nossas entrevistas indicaramque a estrutura comercial das empresas exporta-doras tem que lidar com ampla variedade delegislações sanitárias presentes em cada país.Existe um ponto positivo nesse complexo sistema:as empresas estão melhorando o controle dequalidade e a rastreabilidade. Contudo, ao mesmotempo, é oneroso lidar com tamanha variedadede especificações e restrições.

O governo federal está empenhado emorganizar a legislação e em construir umaestrutura para lidar com os padrões de qualidadeque as legislações sanitárias presentes nosparceiros comerciais do País exigem. Entretanto,as restrições financeiras parecem indicar que nãohaverá como a política acompanhar a velocidadedo movimento privado. As restrições fiscais estãoimpondo cortes no orçamento da vigilânciasanitária do Ministério da Agricultura Pecuária eAbastecimento (Mapa). O déficit nominal dogoverno federal vem forçando cortes nas despesasque se generalizam por todo o governo federal.Politicamente é difícil estabelecer prioridadesentre os diferentes ministérios. Por conta disso, adespeito do forte crescimento nas exportações doagronegócio (e conseqüentemente da necessida-de de maior controle sanitário) recursos alocadospara a segurança alimentar estão reduzindo acada ano. A Fig. 2 apresenta o orçamento federalda Defesa Sanitária entre 1998 e 2005 (previsão).Pode-se observar que os recursos estão diminuindoe no ano corrente são significativamente menores(embora ainda possam ser revertidos). Em que

pese à existência de sistemas estaduais devigilância sanitária, essa redução no orçamentofederal merece forte preocupação.

Fig. 2. Orçamento federal da Defesa Sanitária(milhões R$).(1) Previsão.Fonte: Minsitério da Agricultura (2005).

Pequenas propriedades

A modernização da agricultura brasileira foimarcada por uma dicotomia entre grandespropriedades intensivas em capital e a presençade pequenas propriedades intensivas em trabalho.A pequena produção vem sofrendo crescentesdificuldades para sobreviver, pressionada pelaredução nos preços dos produtos, pelo alto custodo capital e com a sofisticação das novas tecnolo-gias não viáveis em pequena escala. Não sãoclaras quais são as soluções para esse setor daagricultura brasileira. Apenas as pequenaspropriedades, que se integraram em sistemasprodutivos maiores, como aves e ovos, fumo,certos casos de flores, frutas e vegetais conseguemprogredir a despeito de seu tamanho.

Todas as limitações indicam quais são osmaiores desafios da agricultura brasileira.Entretanto, dois tópicos especiais merecematenção. Primeiro faz-se necessário melhorar osmercados financeiros. O sistema oficial de créditoé pequeno para as necessidades da produção. Deacordo com nossas estimativas, o sistema decrédito oficial é suficiente para algo como 25% a30% do total de capital requerido. A outra partedos recursos é o capital próprio do produtor (aoredor de 35% das necessidades) e o capitaloriundo das empresas de insumos e dos grandestraders, que, em muitos casos, são a mesma firma.

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O sistema financeiro informal desenvolvidona agricultura brasileira é caro para os produtores.Por conta do alto custo de oportunidade do capitalo sistema bancário não tem interesse em emprestarrecursos aos fazendeiros. A baixa oferta de capitaldo sistema financeiro faz com que a única fontede recursos privada sejam aquelas com interessecomercial com relação à agricultura.

A informalidade abre as portas para proble-mas judiciais. O ano de 2004 se caracterizou porum momento de perturbação na estabilidade dosistema informal de crédito. Com o alto preço dasoja no início do ano alguns produtores nãoentregaram a soja que haviam pré-comercia-lizado. Os grandes traders tiveram que recorrer àJustiça e alguns casos não conseguiram reaver oproduto pelo qual haviam pago quando do plantioda safra. Esse fato foi o primeiro choque em largaescala para o sistema de financiamento.

O modelo de financiamento da agriculturabrasileira necessita, ainda, desenvolver um amplosistema de seguro. Embora o risco de produtivi-dade seja relativamente baixo em partes do MatoGrosso, Goiás e Paraná, isso não é verdade paraboa parte do País. Nesse ano, por exemplo, a secaafetou severamente a Região Sul do País.

Outro grande desafio para os setores públicoe privado consiste no desenvolvimento deinteligência para lidar com o comércio interna-cional. Existem diversas barreiras de comércio aosprodutos agrícolas brasileiros que devem sercontestadas nos organismos internacionais.Ademais, as regulamentações sanitárias em todoo mundo são variáveis e complexas o que requerharmonização de princípios e procedimentos.Novas instituições devem ser construídas para lidaradequadamente com essas questões.

Novos paradigmas

A revolução da Tecnologia da Informação(TI) permitiu a consolidação de uma nova formade organizar a produção e a distribuição de bens.De fato, a vertiginosa queda no preço dosequipamentos resultou na possibilidade de

gerenciamento de grandes massas de informaçõesa custos acessíveis. Ademais, a explosão dainternet e da comunicação reduziu a distânciaentre as pessoas, empresas e países, resultandoem profundas transformações da sociedade, aindaem andamento e não completamente compreen-didas. Oriunda e consolidada na área industrial,essa revolução está adentrando fortemente o setoragropecuário.

No plano dos bens, a agregação de valorpassa a se dar pela diferenciação dos produtos apartir da introdução de novos atributos. Consumi-dores ou, mais precisamente, grupos de consumi-dores, estão dispostos a pagar mais por estadiferenciação. O caso mais geral (e que não énovo) é a diferenciação por qualidade, categoriaque finalmente entrou para valer no nosso sistemaprodutivo, como mostram os casos da carne e docafé. Os atributos também podem ser dirigidos amercados específicos (flores que se abrem numadeterminada data na Holanda, cortes muitoespecíficos de carne para diferentes mercados).Os atributos também podem ser ligados a valores,como é o caso dos produtos orgânicos (mel noNordeste), florestas certificadas ou de manejosustentável, etc.

Produtos novos são também fruto dapesquisa: diferentes subprodutos de soja e milho,fitoterápicos, etc. Nessa direção, área especialconstitui a utilização da modificação genéticavisando o desenvolvimento de produtos compropriedades específicas e qualidades maisadequadas para o processamento industrial, comotipos especiais de farinhas, óleos, frutas e legumes.Além disso, a inovação inclui a produção dealimentos funcionais, ou nutracêuticos, com aelaboração de itens dotados de atributos espe-cíficos, sobretudo saúde (por exemplo, o projetoda Embrapa da cenoura com mais vitamina A).

O Brasil, que domina a competitividade naárea de commodities, está entrando firme na áreade diferenciação por qualidade e para certos tiposde consumidores. A pesquisa de novos produtos,entretanto, é um desafio a vencer, apesar dosavanços recentes. Combinar volume e diferencia-ção será o futuro do agronegócio no Brasil.

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No plano dos processos produtivos, o novoparadigma começa pela introdução da TI naanálise, planejamento e controle da produção(exemplo da pecuária). Isso deve ocorrer napropriedade e na cadeia produtiva e, antes de tudo,deve levar ao atendimento de elevados padrõesde sanidade e qualidade. A rastreabilidade aolongo da cadeia produtiva (inclusive importações)é fundamental.

Além disso, a flexibilidade na produção éfundamental: aqui entram as rotações de culturasdentro do ano e entre anos, a resposta mais rápidada produção frente a alterações de preçosrelativos, etc.

Ainda no processo produtivo, um tópicoessencial é a redução de custos. Fala-se, porexemplo, do controle de processo advindo daagricultura de precisão e também de resultadosdiretos de pesquisa e experimentação, comocontrole biológico de pragas (cigarrinha na cana,lagartas na soja, etc.).

E fala-se especialmente da produção desementes transgênicas que permitem elevar aresistência de plantas e vários tipos de "stress",reduzindo o uso de insumos e os custos. Emboratardia, é extremamente bem vinda à aprovaçãoda Lei de Biossegurança e o início do plantio legalde soja modificada, fruto de pesquisas locais.

Finalmente, a pesquisa pode gerar varieda-des adaptadas a diferentes ambientes. O sucessodo Brasil em criar a única agricultura tropical delarga escala amplamente competitiva em umasérie de produtos é o melhor exemplo que se podedar. Commodities e produtos diferenciadosproduzidos com alto padrão de qualidade e a customais baixo é o que se pode conseguir e vem sendoconseguido no Brasil.

Entretanto, isto ainda não é tudo. A transfor-mação no paradigma produtivo passa pelo foco edesverticalização da produção ao longo da cadeiaprodutiva. A mudança na forma de organizar aprodução a partir da fazenda só ocorre porqueuma rede de fornecedores (públicos e privados)de conhecimento e insumos vai se criando, naárea de software, serviços técnicos, sementes,

informações de mercado, etc. Além disso, a pontafinal (supermercados e compradores no exterior)cada vez mais comanda o processo. A logísticaé, portanto, cada vez mais essencial.

Nesse plano, afora a restrição da infra-estrutura do orçamento público, já apresentada,o Brasil está mal em dois quesitos: uma elevadacarga tributária e um cipoal de impostos,contribuições, taxas e regulamentos, que elevamos custos de produção, de administração eparalisam a terceirização (o caso da MP 232 éantológico).

Ademais, cresce o papel dos contratos e dorespeito às leis. É necessária a criação/desenvol-vimento de mecanismos expeditos de solução decontrovérsias, como a arbitragem.

ConclusõesO Brasil construiu o sistema agroindustrial

mais competitivo do mundo. Água, sol e terra emabundância, recursos humanos e conhecimentodesenvolvido e aplicado localmente atraíram ocapital necessário para alavancar o processo.Políticas públicas adequadas (embora nem todas)e a abertura da economia completaram oprocesso.

Além da produção, do emprego e dasexportações, também o consumidor saiubeneficiado, como já mostrado. É um processoque segue avançando, em que pesem desafiospor nós apontados, que, incidentalmente, não sãomaiores que aqueles do passado. E esses avançostêm sempre mais um componente de conheci-mento. Tome-se como exemplo, o processo deexportações, que comandado por Pedro deCamargo Neto o País aprendeu o jogo das leiscomerciais e do tratado da Organização Mundialdo Comércio, abrindo e ganhando painéis quejulgaram ilegais os subsídios americanos aoalgodão e europeus ao açúcar. Como conseqüên-cia, segue sólida a possibilidade de avançosadicionais no mercado internacional, em que peseo atual surto de valorização do real.

O agronegócio seguirá como um propulsordo crescimento, mais do que tudo por ter

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percebido a força que o conhecimento confereaos recursos naturais. Isto não ocorre apenas nacadeia de produção e comercialização deprodutos agropecuários e florestais. Os benefíciosvazam para o resto da economia, como ocorreuno caso do pólo de calçados de Birigui, a partir deuma pesquisa da Embrapa7.

O sistema Embrapa continuará tendo papelcentral no desenho e construção de nosso futuro.

ReferênciasARAÚJO, P.F. de C.; SCHUH, G. E.; BARROS, A. L. M de;SHIROTA, R.; NICOLELLA, A. C. O crescimento da agriculturapaulista e as instituições de ensino, pesquisa e extensão numaperspectiva de longo prazo. [São Paulo]: Fapesp, 2003. 176 p.

BARROS, A. L. M. Capital, produtividade e crescimento daagricultura: o Brasil de 1970 a 1995. 1999. 149 p. Tese(Doutorado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz,Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.

BRANDÃO, A. S. P.; REZENDE, G. C. de; MARQUES, R. W. daC. Crescimento agrícola no período 1999-2004: explosão daárea plantada com soja e meio ambiente no Brasil. Rio deJaneiro: IPEA, 2005. 21 p. (Texto para discussão, 1062).

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.Agricultura: 145 anos. 2004. Disponível em: <http://www.agricultura.gov.br>. Acesso em: 7/2005.

DIAS, G. L. S.; BARROS, A. L. M. Dynamics of the Braziliansmall farm sector. In: VALDES, A. (Org.). Rural povertyalleviation in Brazil: towards an integrated strategy. GrassValley, CA: World Bank, 2000. v. 1, p. 32-36.

FAO. FAOSTAT: agriculture. Disponível em: <http://www.faostat.fao.org>. Acesso em: 7/2005.

UNITED STATES OF AMERICA. Department of Agriculture.Economic Research Service. 2006. Disponível em: <http://www.ers.usda.gov>. Acesso em: 7/2005.

7 A utilização de uma tecnologia (hardware e software) desenvolvida para otimizar a aplicação de produtos em superfícies foliares foi adaptada para controlara aplicação ótima de cola na sola de tênis infantis.

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AgroenergiaUma opção estratégicapara o Brasil

Motivações para o usode biocombustíveis

O controle da contaminação atmosféricacom gases provenientes da queima de combus-tíveis fósseis, responsáveis pelo chamado efeitoestufa, é um tema que está cada vez mais presentena agenda da maioria dos países, principalmenteapós os compromissos assumidos com o Protocolode Kioto.

A necessidade premente dos países ricosem reduzir seus níveis de emissões atmosféricas,buscando reverter ou minimizar seus efeitosdanosos ao meio ambiente, tem levado nos últimosanos a uma tendência crescente de substituiçãodos combustíveis fósseis pelos chamadoscombustíveis de biomassa, ou simplesmentebiocombustíveis.

O Brasil, mediante o Proálcool, é mundial-mente reconhecido como o pioneiro dessatendência, tendo-se notabilizado como o maiorprodutor e consumidor de biocombustíveis.O álcool brasileiro, já consolidado no mercadodoméstico com uma produção de cerca de15 bilhões de litros/ano e com a demandacrescente, devido aos carros bicombustíveis(flexible fuels vehicles), começa gradativamentea ganhar o mercado externo, configurando-secomo uma commodity energético-ambiental.

Outro biocombustível que deve passar a tergrande importância no cenário mundial é o

biodiesel, um combustível renovável, biodegra-dável e ecologicamente correto, produzido apartir de óleos vegetais. Em função de suasenormes vantagens ambientais, como seubaixíssimo teor de enxofre e menor emissão dedióxido de carbono (apontado como principalresponsável pelo efeito estufa), vários países estãoproduzindo comercialmente o biodiesel ouestimulando seu desenvolvimento em escalaindustrial para uso nos veículos do 'Ciclo Diesel'.A União Européia, pioneira no uso de biodiesel,com uma produção superior a 2 bilhões de litrosem 2004, aprovou recentemente uma diretivaambiental que recomenda a adição de 2% debiocombustíveis em todos combustíveis usados emseu território até 2005, com a ampliação para5,75% até 2010.

A decisão sobre a adoção desses biocom-bustíveis como componentes significativos namatriz energética de diversos países baseia-seem motivações de caráter ambiental e tambémde ordem econômica e estratégica. Estas estãocentradas basicamente em dois aspectos: a buscade combustíveis alternativos em função datendência estrutural de aumento nos preços dopetróleo e os efeitos positivos sobre o emprego ea renda, principalmente no campo, que a adoçãode biocombustíveis pode proporcionar.

A substituição do petróleo por biocombus-tíveis, principalmente o biodiesel e o álcoolcombustível, tem se tornado fator cada vez maisimportante para os países dependentes do petróleo

Carlos Lovatelli1

1 Presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Òleos Vegetais (Abiove), presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag).

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importado. O aumento da demanda mundial e asinstabilidades políticas no Oriente Médio, quedetém cerca de 65% das reservas mundiais, têmprovocado um aumento crescente dos preçosinternacionais do petróleo. Enquanto o preçomédio do barril de petróleo situou-se em cerca deUS$ 25/barril entre 1999 e 2003, o preço médioprojetado para os próximos anos situa-se acimade US$ 40/barril, representando uma mudançade patamar nos preços praticados no mercadointernacional.

Entretanto, quando se compara a tendênciahistórica dos preços do petróleo com a dos óleosvegetais para a produção de biodiesel, porexemplo, nota-se claramente a inversão datendência entre os preços relativos dos óleosvegetais e os preços do petróleo. Isto é um forteindicativo da competitividade que o biodiesel deveganhar nos próximos anos (Fig. 1).

Assim, a produção nacional de biodieselrepresenta um posicionamento estratégico parao País em um momento de enorme instabilidadepolítica mundial, que diversificará nossa MatrizEnergética, eliminando nossa principal restrição:o óleo diesel. O Brasil é estruturalmente deficitáriona produção de óleo diesel, importando em média10% de seu consumo doméstico. Além disso, aprodução e o uso em larga escala do biodiesel noPaís promoverá ganhos econômicos imensos nopresente, com a geração de milhares de novos

empregos no campo e na indústria, assim comoganhos ambientais para as atuais e futurasgerações, com a melhora da qualidade do ar nasgrandes cidades.

A produção de álcool combustível, extraídoda cana-de-açúcar, e de biodiesel, produzido deóleos vegetais, representam uma extraordináriaevolução na história da agricultura, que além deseus usos tradicionais passaram também aproduzir insumos para a fabricação específica decombustíveis e co-geração de energia, inauguran-do a fase da Agricultura Energética. O Brasil, quetem uma vocação agrícola invejável, disponibili-dade de terras férteis ainda inexploradas e queconstruiu o maior programa mundial de biocom-bustíveis, o Proálcool, é um candidato natural aestar à frente desse processo e tornar-se tambémum grande produtor e uma referência mundial embiodiesel.

Efeitos da produção de biodieselsobre o agronegócio brasileiro

A produção de biodiesel no País, apoiadapelo governo federal, tem como objetivos aredução da dependência atual de importação deóleo diesel, da ordem de 6 milhões de metroscúbicos por ano e, ao mesmo tempo, promover ainclusão social mediante fomento à agricultura,principalmente por meio da agricultura familiar.

Fig. 1. Comparação dos preços do petróleo e dos óleos vegetais.Elaboração: Abiove

Fonte: Zilio (2006).

Anos Anos

Evolução das cotações de petróleo(mercado internacional: 1989 – 2005)

Evolução das cotações do óleo de soja(mercado internacional: 1989 – 2005)

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Para isso, foram aprovadas as Leis Nº 11.097/05 eNº 11.116/05 e as Resoluções ANP Nº 41 e 42que tratam respectivamente do estabelecimentode mistura compulsória do biodiesel ao diesel,tributação federal sobre o biodiesel e especifica-ção técnica do biodiesel. Este arcabouçoinstitucional compõe o chamado marco regula-tório do biodiesel.

A Lei Nº 11.097/05 estabelece que de janeirode 2005 a janeiro de 2008 está autorizada amistura de 2% de biodiesel ao diesel, e a partir dejaneiro de 2008 esta mistura passa a sercompulsória, passando para 5% a partir de janeirode 2013. Estima-se que no momento que a misturade biodiesel ao diesel se tornar compulsória em2008, serão necessários cerca de 1 bilhão de litrosde biodiesel para atender ao percentual de 2%, oque demandará aproximadamente US$ 120milhões em investimentos em unidades industriaispara produção desse novo biocombustível.

Em todo processo de mudança, no entanto,existem os fatores que são aliados naturais e apré-condição para o sucesso de um projeto, comotambém existem fatores que podem representarpontos críticos e cuja antevisão não pode serignorada. Assim, o Programa Nacional de Produ-ção e Uso de Biodiesel pode ser analisado sob aótica de seus fatores de impulsão e de restrição.

Fatores de impulsão• O biodiesel proporciona a chance de

substituição direta de um produto importado (óleodiesel) por um produto inteiramente nacional, semque seja necessária qualquer alteração nosmotores atuais.

• Cada quilograma de biodiesel utilizadoem substituição ao óleo diesel evita a emissão de2,5 quilogramas de gás carbônico (CO2) naatmosfera, além de outros gases poluentespresentes no diesel, principalmente os resíduosde enxofre que provocam chuvas ácidas eproblemas respiratórios e cardiovasculares.Portanto, a utilização do biodiesel trará resultadosambientais imediatos, proporcionais ao percentualda mistura.

• O Brasil é o único país no mundo comgrande capacidade de expandir sua produção deoleaginosas (soja, palma, mamona, semente dealgodão, girassol, amendoim, canola, etc.) deforma sustentável para a produção de biodiesel.Essa expansão deverá ocorrer a partir darecuperação de áreas já degradadas, em substitui-ção à áreas de pastagem, principalmente reformade pastos e em áreas de expansão legal doscerrados no Centro-Oeste.

• A produção de biodiesel representa umanova dinâmica para toda cadeia produtiva dosóleos vegetais, desde a produção agrícola até aagroindústria, com a perspectiva de aumento dedemanda por óleos vegetais e conseqüente efeitomultiplicador pelos demais segmentos da econo-mia.

• A demanda de óleos vegetais parafabricação de biodiesel tornará possível,dependendo de alguns fatores técnicos, ambientaise econômicos, o fortalecimento de lavouras quetêm um forte impacto regional como a mamona ea palma. Essa nova demanda pode impulsionaros investimentos em pesquisas agrícolas, buscan-do o aumento de produtividade e assim, repetir atrajetória de sucesso da soja no Brasil, que se deveprincipalmente ao notável trabalho de pesquisarealizado pela Embrapa.

• Maior integração dos negócios do setorda cana-de-açúcar e de óleos vegetais, com autilização do álcool anidro como insumo noprocesso de fabricação do biodiesel (rota etílica).

• Melhora da qualidade do óleo diesel que,com a adição do biodiesel, tem um significativoganho na sua lubricidade.

• Diversificação de nossa matriz energética.

Fatores de restriçãoNas condições atuais de produção existe

um diferencial de custo de produção do biodieselem relação ao óleo diesel, cuja equalizaçãorequer o uso de algum tipo de desoneraçãotributária e o estabelecimento de mistura compul-sória do biodiesel ao diesel.

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Os dados apresentados na Fig. 2 mostramuma estimativa dos custos de produção dobiodiesel, produzido a partir de óleo de soja eetanol, em planta de grande porte, para os anosde 2000 a 2005, ajustados pelos preços do óleode soja e demais variáveis para aqueles anos.Percebe-se que o biodiesel é competitivo com oóleo diesel apenas quando os preços dos óleosvegetais estão relativamente baixos (anos de 2000e 2001) ou quando os preços do petróleo estãoelevados, como os praticados no atual momento.

Desse modo, a competitividade econômicado biodiesel frente ao diesel poderá ser alcançadacom a desoneração dos tributos federais (Pis-Cofins), criando um degrau de competitividade deR$ 0,218 por litro de biodiesel. Caso os custos deprodução do biodiesel desonerado excedam aosdo óleo diesel, essa diferença é absorvida atravésdo mecanismo da mistura compulsória. Portanto,a viabilidade econômica do biodiesel dependeenormemente desses dois mecanismos.

A Lei Nº 11.116/05 estabeleceu os mecanis-mos de tributação federal sobre o biodiesel,criando quatro faixas distintas de tributação, quevão da total desoneração, para o biodieselproduzido a partir de óleo de palma ou mamonaproduzidas pela agricultura familiar nas regiõesNorte, Nordeste ou Semi-Árido nordestino, até ovalor de R$ 0,218 por litro de biodiesel

(equivalente ao valor dos tributos sobre o óleodiesel).

Essa estrutura tributária com quatro faixasdiferentes de tributação não favorece aimplementação do programa. Enquanto existeuma forte tendência mundial de desoneração dobiodiesel, a exemplo da União Européia e dosEstados Unidos, o Brasil contrariando essatendência estabeleceu uma estrutura tributária, naqual a maior parcela da produção nacional debiodiesel será tributada no mesmo patamar que odiesel mineral. Na Região Centro-Sul, porexemplo, que não é produtora de mamona e nemde óleo de palma, por restrições climáticas, eonde está a maior parte do consumo de diesel noPaís (77%) e, conseqüentemente, de onde virátambém quase que a totalidade da demanda porbiodiesel, não há qualquer incentivo tributáriopara o uso das oleaginosas produzidas nessa partedo Brasil para produção de biodiesel. Se umprodutor no Centro-Oeste ou na Região Sul forproduzir biodiesel a partir da soja, girassol,amendoim ou canola (colza), este biodiesel serátributado nos mesmos valores que o diesel mineral,num total de R$ 0,218 por litro produzido. Portanto,o biodiesel na Região Centro-Sul terá quecompetir com o diesel nas mesmas condiçõestributárias, apesar de todos os benefíciosambientais, econômicos e sociais que este novo

Fig. 2. Estimativas dos custos de produção do biodiesel (Éster-etílico de óleo de soja).Fonte: Zilio (2006).

Elaboração: Nappo (2006).

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biocombustível pode trazer para essas regiões. Istoé muito sério e pode dificultar enormemente aprodução de biodiesel nesta parte do País.

Além disso, o modelo atual de desoneraçãoseletiva exclui os grandes produtores, quepoderiam fazer o mercado de biodiesel crescerde forma rápida, enquanto que a simplesdesoneração tributária não é suficiente para tornaro pequeno produtor competitivo. O governodeveria ter criado um incentivo fiscal geral para aprodução de biodiesel com desoneração total,independente da região produtora, da oleaginosaou do tamanho do produtor agrícola, e deveriaprover incentivos adicionais para a agriculturafamiliar a fim de estimular a inclusão social. Istoseria muito mais efetivo para o desenvolvimentodo programa como um todo e para a própriainclusão social, pois somaria esforços para osucesso do programa entre todos os agentesenvolvidos na produção de biodiesel, além detornar a fiscalização mais simples, evitandofraudes.

Um momento histórico únicoNo momento que o mundo, especialmente

o desenvolvido, caminha na direção do uso decombustíveis mais limpos e derivados dabiomassa, nosso país não pode ficar alheio às

transformações que este processo vai provocar.

Primeiro porque o Brasil pela enormetradição na produção e comércio agropecuário,disponibilidade de terras férteis ainda inexploradase a força do seu agronegócio é um candidatonatural a estar à frente desse processo e tornar-seuma referência mundial.

Segundo porque a destinação ao consumonão humano para determinados produtosagrícolas, mediante a Agricultura Energética, criaum horizonte imensurável de expansão dasatividades do agronegócio com todo seu cabedalde oportunidades sobre toda a cadeia produtiva.

Finalmente é um momento histórico eúnico, e o Brasil não pode ignorar a grandeoportunidade que o uso de combustíveisrenováveis o está proporcionando.

ReferênciasNAPPO, Márcio. Competitividade econômica do biodiesel noBrasil. In: SEMINÁRIO COMBUSTÍVEIS, LUBRIFICANTES EADITIVOS, 2005, São Paulo. Panorama automotivo do Brasil:anais eletrônicos. Disponível em :http://www.aea.org.br/br/paginas.asp?id-site=br&cod-pagina=1858codsecao=55. Acessoem: 9 jan. 2006.

ZILIO, José. Biodiesel economics in Brazil - May 2005. In:BIOFUELS SEMINAR, 2005, São Paulo. [Anais eletrônicos]...Disponível em: http://www.ahk.org.br/upload-arq/JoseZilio-ABIOVE.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2006.

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 20

Abstract: Precision agriculture (PA) technology has been on the market for almost 15 years. GlobalPositioning Systems (GPS), Geographic Information Systems (GIS), yield monitors, variable ratetechnologies (VRT) and other spatial management technologies are being used by farmers worldwide,but questions remain about the profitability of the technology and its future. This paper summarizes: 1)data on worldwide adoption of PA technology,2) review of PA economics studies and 3) implications forBrazil. Worldwide adoption estimates are based on reports by an international network of collaborators.The PA profitability summary goes beyond previous reviews by including a large number of publicationsfrom the last three years, a more detailed breakdown of results by technology type and new technologies.For Brazil, low land prices, low wage rates, focus on commodity crops, and the high cost of importedtechnology would tend to discourage PA adoption, especially for the classic PA technologies like VRT.The large scale of many Brazilian farms may favor adoption of GPS guidance and use of PA to automaterecord keeping, employee supervision and quality control. PA adoption may grow rapidly in areas withhigher value crops, such as citrus and sugar cane, states with higher land values and regions with astrong agricultural research base. Strong public sector agricultural research organizations will helpBrazil develop site-specific PA uses, but the shortage of farm and field level economics in those publicsector research organizations may inhibit PA adoption decisions.

Key-words: precision agriculture, adoption, profitability,

Worldwide adoptionand profitability ofprecision agricultureImplications for Brazil

T.W. Griffin1

J. Lowenberg-DeBoer1

1 Dept. of Agricultural Economics, Purdue UniversityWest Lafayette, Indiana, [email protected]@purdue.edu

IntroductionThe adoption and profitability of precision

agriculture (PA) technologies has been site specific.In some areas of the world variable fertilizerapplication is highly profitable, while in other areasit rarely covers costs. Some farmers andagribusinesses focus on analysis and use ofcombine yield monitor data, others find guidancesystems to be the most profitable aspect of PA. As

a globally competitive agricultural producer,Brazilian agriculture needs to identify which PAtechnologies fit its economic, social andecological conditions. The objectives of this articleare to summarize the worldwide picture of PAadoption and profitability, and outline implicationsof the worldwide patterns for Brazilian agriculture.

Precision agriculture (PA) is an applicationof spatial information technologies to crop

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production. PA technologies such as GlobalPositioning Systems (GPS), GeographicInformation Systems (GIS), yield monitors, variablerate technology (VRT) and other spatialmanagement technologies have been on themarket for about 15 years and are used by farmersworldwide, but questions remain about theprofitability of these technologies and their future.This paper summarizes: a) data on worldwide PAtechnology adoption; b) a literature reviewcovering more than 200 studies reviewing PAprofitability; and c) implications for Brazilianagriculture. These overlapping themes can bethought of as what we have learned, what we aredoing, and where we go from here.

Adoption estimates are based on reports froman international network of collaborators, andpublicly available literature, such as refereedjournal articles, technical magazines, andconference proceedings. United States PAadoption numbers draw on USDA AgriculturalResource Management Survey (ARMS) data. ThePA profitability summary extends the review of 108documents by Lambert and Lowenberg-DeBoer(2000) with an additional 126 studies and abreakdown of technology profitability by type andnew technologies. Following the adoption and PAeconomics sections, the paper applies the lessonslearned in PA adoption and economics worldwideto Brazil.

Current adoption trendsSeveral studies have examined PA adoption

since its debut in the late 1980s (DABERKOV etal., 2002; DABERKOV; McBRIDE, 1998;FOUNTAS et al., 2003; GRIFFIN et al., 2000;POPP;GRIFFIN, 2000; ENGLISH et al., 2000;GRIFFIN et al., 2002; GRIFFIN et al., 2004;KHANNA, 2001). PA has slowed in recent yearscompared to the mid- and late 1990's(DABERKOW et al., 2002; POPP et al., 2002;WHIPKER; AKRIDGE, 2005). Still others presentpossible constraints impeding PA adoption(FOUNTAS et al., 2003; GRIFFIN et al., 2004;KITCHEN et al., 2002; POPP et al., 2002;WIEBOLD et al., 1998).

The USDA ARMS survey provides the mostdetailed information with respect to PA adoptionin the U.S. The survey is a collaborative effort bythe Economic Research Service (ERS) and theNational Agricultural Statistics Service (NASS).Since 1996, the ARMS Survey has providedinformation on production practices and resourceuse of America's farmers through face-to-faceinterviews. The 2002 ARMS survey targetedsoybean (Glycine max, L. Merr.) production andthe 2003 targeted cotton (Gossypium hirsutum, L).This section reports results of the updated 1996through 2003 ARMS.

Yield monitor adoption

Yield monitor adoption is often the yardstickby which PA is measured. Around the world yieldmonitors are the single most common PAtechnology ( LOWENBERG-DeBOER, 2003a).About 90% of the world's yield monitors are in theUnited States. Corn (Zea mays, L.) and soybeanyield monitor adoption rates have steadilyincreased since the introduction. Corn andsoybean yield monitors were used on 15.6% and13.3% of planted area in 1996 (Table 1). Yieldmonitor use exceeded 35% of planted cornacreage in 2001. However, the soybean acreageharvested with a combine yield monitor was stillless than 30% by the end of 2002. Wheat (Triticumaestivum, L.) and cotton have not experienced thesame level of adoption as corn and soybean.Approximately 9% and 2% percent of plantedwheat in 2000 and cotton in 2003, respectively,were harvested with machines equipped withyield monitors.

One might expect high value crops likecotton to have higher adoption rates. One reasonfor the lag in yield monitor adoption in cotton isthe uniqueness of the crop's harvesting machine.The cotton picker is used only for cotton, asopposed to the grain combine, which is used forcorn, soybean, wheat, and other grain and oilseedcrops. While a combine harvests multiple cropsand can have costs spread over many hectares,the cotton picker has its costs spread over cottononly. The cotton yield monitor became

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commercially available in 1998, at a time whenover 20% of corn and soybean hectares wereharvested with yield monitors.

Cross-country technology comparisons areimportant for tracking global trends in competitiveadvantage and in understanding the underlyingeconomics of the technology. Assessing which

Table 1. Share of U.S. corn, soybean, all wheat, and cotton acres on which precision agriculture technologieswere used, 1996-2003(1).

Yield monitor19961997199819992000200120022003

Yield map (Yield monitor with GPS)19961997199819992000200120022003

Geo-referenced soil map(2)

199819992000200120022003

Remotely sensed image(3)

19992000200120022003

Technology/year

* = Less than 1 percent. NA = not available(1) These estimates are revised from previously published estimates based on updated weights from the ARMS.(2)Prior to 2002, respondents were asked if the soil characteristics of this field had ever been geo-referenced. Beginning in 2002, respondents wereasked about geo-referencing in the current and previous year.(3) The question was reworded in 2002 to better define the term "remotely sensed".Source: USDA/ERS (2005a). For more information, go to http://www.ers.usda.gov/Briefing/ARMS/.

(percent of planted acres)15.619.926.032.034.236.5NANA

NA9.512.718.413.813.7NANA

18.623.825.025.0NANA

12.77.33.4NANA

Corn

13.316.120.221.625.4

NA28.7

NA

8.15.2

10.29.97.8NA

10.7NA

14.416.718.5

NA11.2

NA

6.94.4NA1.7NA

Soybeans

5.97.48.5NA9.1NANANA

***

NA*

NANANA

6.6NA

12.2NANANA

NA3.9NANANA

All wheat

NANA

*1.71.3NANA1.7

NANA

*1.0

*NANA

*

3.17.6

14.2NANA4.8

NANANANA4.6

Cotton

technologies do well in different economicenvironments gives indication about the perceivedbenefits and costs. To make this comparison it isessential to count yield monitors the same way ineach country. Some observers report only yieldmonitors used with GPS because it is only withGPS that full use can be made of the data, but tobe consistent with the USDA ARMS data we have

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 200523

tried to count all yield monitors and reportseparately on the percentage used with GPS. It isalso important to understand yield monitornumbers relative to the total crop are.

In 2000, the U.S. had about 335 yieldmonitors per million hectares of grain or oilseeds(Table 2) with about 37% associated with GPS.Anecdotal information suggests that the situationis similar in Canada. The only country that mayhave had a higher level of yield monitor use isGermany, with over 523 yield monitors per millionhectares of grain and oilseeds. Denmark hadapproximately 247 yield monitors per millionhectares, while the U.K. and Sweden had only107 and 119 yield monitors per million hectares,respectively. Outside U.S., Canada and WesternEurope the highest density of yield monitor use isin Argentina and Australia, with an estimated 64and 42 yield monitors per million hectares,respectively. It should be noted that because ofdifferences in farm size and combine ownership(more custom cutters in Argentina), a combine inthat country may annually cover as much as fivetimes as a similar machine in the U.S. Thus, theuse of yield monitors in Argentina probablysurpasses that of most Western European countriesand approaches that of the U.S. in the late 1990s.In addition about 87% of yield monitors inArgentina are used with GPS, compared to onlyabout one third in the U.S. Without GPS growerscan not make yield maps and can not use yieldmonitor data in most management informationdecisions.

Yield monitors are being used on somelarger farm operations in Brazil and Mexico(NORTON; SWINTON, 2001). Although there areonly four yield monitors per million hectaresreported in Brazil, all are said to be used with GPS.Informal reports indicate that about 800 yieldmonitors were used in Australia for the 2000harvest. Some fifteen farmers used yield monitoringin South Africa for the 1999-2000 crop season.

Variable rate technologyuse by farmers

The second most common yardstick tomeasure PA adoption is variable rate technology

(VRT). In the later part of the 1990's, VRT was usedto manage soil fertility (mainly nitrogen,phosphorous, potassium, and lime) on nearly 18%of planted corn area (Table 3). However, ARMSdata indicate that this rate was less than 10% ofcorn planted in 2001. Soybeans showed a similartrend, albeit a lesser magnitude. Soybean areafertilized with VRT peaked at 8% in 1999, but fellto 5% in 2002. Part of the difference is thatsoybeans require no applied nitrogen, the nutrientthat is most widely applied using VRT in corn(LAMBERT; LOWENBERG-DeBOER, 2000). Thesefluctuations are in part explained by soil mappingadoption rates in those years since VRTapplications are coincident with soil mapping.Corn acres with VRT seeding declined steadily,while soybean VRT seeding fell to below 1% ofplanted area in 2002. Some studies haveconcluded that VRT seeding is not profitable incorn (LOWENBERG-DeBOER, 2003 b; BULLOCKet al., 1998). However, other studies suggest thatVRT seeding for cotton shows some profit potential(LARSON et al., 2004). VRT for pesticides seemsto be increasing for corn, soybean, wheat andcotton, even though overall rates are still low at1% to 3% in the most recent ARMS data.

Variable rate technology servicesoffered by agricultural industry

The Precision Agricultural ServicesDealership Survey Results has been publishedannually by Whipker and Akridge since 1996. In2005, 388 useable respondents from 41 stateswere included in the survey. Of the serviceproviders who offered custom applications, 67%expected to offer VRT services by the end of 2004(WHIPKER; AKRIDGE, 2005). In 2005 and 2004,43% and 41% of dealers offered controller-drivensingle product application, down from 45% and50% in 2003 and 2002, respectively. Controller-driven multi-product application was offered by22% of service providers in 2005, approximatelythe same levels as in 2002, 2003, and 2004 when20%, 26%, and 23% of service providers,respectively, offered the service (WHIPKER;AKRIDGE, 2005). Only 30% of providers expect

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Table 2. Number of yield monitors by country.

AmericasUnited StatesArgentinaBrazilChileUruguay

EuropeU.K.DenmarkFranceGermanyNetherlandsSwedenBelgiumSpainPortugal

OtherAustraliaSouth Africa

Country

1Bongiovanni, R. INTA Manfredi, Córdoba, Argentina, Personal communication, 2005.2Bragachini, M. INTA Manfredi, Córdoba, Argentina, Unpublished manuscript, 2001.3Conceicao, Luis Aleino. Personal communication. Escola Superior Agrária, De Elvas, Portugal, 2003.4Molin, José Paulo. Personal communication, University of São Paulo, College of Agriculture (ESALQ), Piracicaba, SP, Brazil, 2003.5Nell, Wilhem. Personal communication, Centre for Agricultural Management, University of the Free State, Bloemfontein, South Africa, 2000, 2004.6STAFFORD, J. Personal communication. 5th International Conference on Precision Agriculture, 2000.7WAGNER, P. Personal communication. Martin-Luther-Universitaet Halle-Wittenberg Professur fuer Landwirtschaftliche Betriebslehre, 2004.

30.0001.500

13012

4

400400

504.250

6150

654

80015

Estimatednumber

20002005200420002000

200020002000200320002000200020032003

20002000

Year ofestimate

Daberkow et al. (2002)Bongiovanni (2005)1

Molin (2003)4

Bragachini (2001)2

Bragachini (2001)2

Stafford (2000)6

Stafford (2000)6

Stafford (2000)6

Wagner (2004)7

Stafford (2000)6

Stafford (2000)6

Stafford (2000)6

ECPA participants (2003)4

Conceicao (2003)3

Lowenberg-DeBoer (2003a)Nell (2000)5

Source ofestimate

33564

419

7

107247

5523

2711917

16

423

Yield monitorsper million hectares

Table 3. Share of U.S. corn, soybean, all wheat, and cotton planted area on which VRT was used by input,1998-2002.

19981999200020012002

Year

12.317.514.5

9.8NA

Fertilizer

4.14.24.52.4NA

Seed

2.41.13.83.8NA

Pesticides

Corn

Percent of planted area

6.78.35.8NA5.0

Fertilizer

*2.02.5NA*

Seed

*1.71.0NA1.3

Pesticides

Soybean

199819992000

2.6NA3.1

1.5NA*

1.7NA*

All wheat

2.01.03.8

1.31.82.4

1.52.02.7

Cotton

* = Less than 1 percent. NA = not available.Source: Griffin et al. (2004), based on ARMS.

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to offer multi-product applications by 2007(WHIPKER; AKRIDGE, 2005). Although singlenutrient application is the most common use ofVRT, the %-increase in VRT multi-nutrientapplication offered was greater than for singlenutrient. Whipker and Akridge found that theagricultural industry is not as interested in VRTseeding as in other PA services, with less than 10%of dealerships offering the service.

Commercial applicators are increasinglyusing PA technology to deliver conventionalservices. Pierce et al. (1999) segregate PAtechnologies into one of two groups. One groupdeals with yield monitors, soil mapping, and othersensors that provide spatial information and thesecond group deals with using PA technologiessuch as GPS to control or improve conventionalapplications. Sixty-four percent of applicatorservices use GPS guidance with manual controlor light bar navigation, however only 6% use GPSauto-guidance (WHIPKER; AKRIDGE, 2005). GPSguidance has become standard practice on aerialapplicators.

Yield mapping adoption(Yield monitor plus a GPS)

Most crop management uses of yieldmonitor data are only possible if the sensor islinked to GPS to provide location information. Theyield maps which have become the icon of PAare only possible with GPS. However, yield-mapping adoption seems to be occurring at a muchslower pace than yield monitoring. Although thepercentage of acres of corn and soybeansharvested with a yield monitor-equipped combinegradually increased since 1996, corn and soybeanarea harvested with a combine yield monitorattached to a GPS did not follow the same trendas yield monitor adoption. In the U.S., corn areayield mapped peaked in 1999 at 18.4% anddecreased to 13.7% in 2000. Since 1998, mappedsoybean area dipped to 9.9% and 7.8% in 1999and 2000, respectively. Soybean area yieldmapped had the highest reported rate in 2002 at10.7%, breaking the previous high of 10.2% set in1998.

There may be several reasons why yieldmapping adoption rates lag behind yield monitoradoption rates. Many combine manufacturers offeryield monitors as standard equipment on theirlarger machines, but GPS is often not included(GRIFFIN, 1999; LOWENBERG-DeBOER, 2003a).Thus, some combine owners acquire yield monitorswhether they want the sensors or not. In some ofthose cases, the yield monitor is not even switchedon. In other cases, it is used uncalibrated to providerough yield differences. Some combine ownerswho do not wish to use the yield monitorthemselves will buy it in a new combine becauseit is perceived that combine trade-in values arehigher with a yield monitor. Logistical reasons forhaving a yield monitor without a GPS is that yieldmonitors can be used for the associated moisturemeasurements. Some growers use the yieldmonitor moisture readings to decide whether graincan be sold directly from the field or needs to bedried before sale. Case studies by Urcola (2003;LOWENBERG-DeBOER; URCOLA, 2003)showed that some farmers use the combine yieldmonitor as a replacement for weigh wagons byrecording "loads" of field, block or strip averagesrather than within-field variability.

The most often cited reason provided byfarmers for not yield mapping are problemsassociated with data analysis. Yield data analysisrequires substantial time and skill of the farmoperator, crop consultant, or other analyst. Ratherthan farmers learning to conduct analysis, Griffinand Lambert (2005) suggest analysts teach farmershow to interpret results and make appropriatedecisions. In spite of the recently released step-by-step instructions on use of spatial statistics inanalysis of yield maps (GRIFFIN et al., 2005a),interpretation of yield maps is still as much an artas a science. Uncertainty about the reliability ofyield maps for crop management reduces theirperceived value. Thus, the cost of yield mapanalysis in terms of management time is perceivedto be high, while the benefit is uncertain.

Some countries appear to have higher ratesof yield mapping than the U.S. Some 87% ofcombines with yield monitors in Argentina use GPScompared to only about one-third in the U.S. For

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northern Europe, some evidence suggests that thenumber of combines with yield monitors, but noGPS, is similar to that of the U.S. (LOWENBERG-DeBOER, 2003a). Part of the difference is due tofarm structure. United States and northernEuropean farms are often run by owner-operatorswho do much of their own fieldwork. In contrast,many Argentine farms are run by managers whohave less direct experience with field conditionsbecause they hire custom operators to dofieldwork. Therefore, yield data may provide morenew information for Argentine managers than itdoes for U.S. or European owner operators.Because of high unemployment in Argentina anddownward pressure on wages, management timemay be less expensive than in the U.S.

Soil mapping adoption

Leading up to 2000, a positive general trendfor soil mapping was observed for corn andsoybean with approximately 2% increase in areaeach year for soybean (DABERKOW et al., 2002).One-fourth of U.S. corn area had soils that weregeo-referenced. This trend appears to be levelingoff for the time being. The proportion of areaplanted to wheat has values comparable to corn,cotton, and soybeans at 12.2% in 2000. Cottonarea soil mapped has doubled each year between1998 and 2000, starting at 3.1% and rising to14.2%. Similar to the problems associated withyield map interpretation, understanding the spatialand temporal dynamics between soil test variablesand yield is difficult, and maybe more of an artthan science.

Coupled with the expenses associated withgrid sampling, this uncertainty with respect to dataprocessing and application may be anotherconstraint with respect to soil mapping adoption.A related problem is that of resolution. How fineof a grid is needed before solid recommendationscan be made? Mallarino and Wittry (2004) andPeone (2004) have recently tackled some of thesequestions with respect to soil test resolution.Unfortunately, like site-specific management ingeneral, optimal soil sample resolution tends tobe field-specific. On-the-go technologies such as

the Veris Technologies Mobile Sensor Platform(MSP) automate high-resolution electricalconductivity and pH sampling at relatively lowcosts (LOWENBEG-DeBOER, 2003c). Thesetechnologies collect data on almost a continuousbasis rather than on discrete grids.

Remote sensing

Anecdotal accounts indicate that remotelysensed (RS) images are being widely used formanagement of fruits and vegetables. For grainsand oilseeds, RS images were the least adoptedtechnology among the group reviewed in theARMS data set (Table 1). In 2002, only 1.7% ofsoybeans in the U.S. had RS images orphotographs made during the growing cycle. Thiswas the lowest reported use of RS images for anycrop in any year since data collection began in1999. The trend for both corn and soybeans wasthe same; fewer RS images were used over time.

One reason for the decrease in the use ofRS maps is the lack of perceived usefulness ofmapping growing crops. A second reason is thatmaps of bare soils do not change over time andare only needed once. A third reason for low RSadoption rates is that there are relatively fewreliable RS analysis or consulting firms.

The way in which RS images have beenmarketed may also discourage adoption by grainand oilseed growers. In the past, RS providers havetried to market subscriptions with an image everyweek or ten days. This may be good for orchards,vegetables and cotton, but not for corn andsoybean for which most decisions are madearound planting time. Although the ARMS surveydid not examine RS in cotton during the same yearsas corn and soybean, evidence suggests that RSimage use for cotton exceeds that of corn andsoybean substantially and is expected to remainat higher levels.

In spite of the long history of research on RSimagery use in agriculture, the economics of thistechnology are not well researched. Tenkorangand Lowenberg-DeBoer (2004) reviewed 10articles reporting RS economic benefits (Table 4).

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Seven of the ten report positive returns. Manystudies did not report the budgeting details. Veryhigh returns appear to be gross value, with nodeductions for RS image cost and analysis, orimplementation of VRT management plans basedon the image. Tenkorang and Lowenberg-DeBoer(2004) argue that to make progress inunderstanding the economics of RS for agriculture,researchers need to report yield and budget details.In addition, they advocate repeated testing ofmultiple locations of the same managementapproach to RS use. The ten RS economics studiesseem to be one-of-a-kind trials or case studies thatare hard to compare.

Auto-guidance

Automated guidance systems, or auto-guidance, have become commercially availablein the last three years. However, benefits from thistechnology are not yet established. Auto-guidancemakes use of GPS information automaticallycontrolling steering of farm equipment, effectivelyreducing human error. This technology works invarious adverse conditions including dust and

nighttime dark. Accuracy differs between systemsand so do costs (WATSON; LOWENBERG-DeBOER, 2003). As with most new technologies,initial costs are relatively high, but will becomeless expensive over time. Benefits includeallowing the operator to safely work more hoursin a day, increasing ground speed, and reducingoverlap. In some cases, auto-guidance allowsmore acres to be farmed with the same equipmentset (GRIFFIN et al., 2005b). Some studies estimatethat auto-guidance could increase net revenuesabove variable and technology costs by $69 USDto $74 USD per acre (WATSON, 2003) andallowing a 1,214 hectare farm to expand to 1,350hectares and remain as timely (GRIFFIN et al.,2005b).

Because auto-guidance technology is new,there are at present no reliable adoption numbersavailable. The USDA ARMS data indicates that in2001 and 2002 about 7% of U.S. corn and soybeanfarmers used some type of GPS guidance,including lightbars. Anecdotal informationindicates that the use of guidance technology hasgrown rapidly in the last few years in the U.S.,Australia, Brazil, Argentina, South Africa and other

Table 4. Studies citing returns to use of remote sensing in agriculture.

Carr et al. (1991)

OSU (2002)

Larson et al. (2004)

Seelan et al. (2003)

Authors

Aerial andSatellite

Aerial

Aerial

Satellite

Type of imagery

Wheat Barley

Cotton

Cotton

Wheat,sugar beet

Crop

Zone Determination using Images from Previous Seasons:

P&K fertilizer

Fertilizer,insecticide,growth regulatorFertilizer,insecticide,growth regulatorNitrogen

Input managed

$2.15

$148.26 - $370.66(1)

-$5.71 to -$36.97

$244.09(1)

Average return$USD/hectare

(1) No details given on how benefit was estimated. Appears to be gross benefits without subtracting costs of images, analysis and VRA implementation.Source: Tenkorang and Lowenberg-DeBoer (2004).

Copenhaver et al. (2002)Long (2002)Reynolds et al. (2002)Watermeier et al. (2003)White et al. (2002)White and Gress (2002)

AerialAerialAerialAerialAerialAerial

SoybeansWheatCotton, cornCornWheatCorn

In-season management

HerbicideHerbicideHerbicideNitrogenNitrogenNitrogen

$4.15$2.27

$67.88 to $184.46(1)

$32.12-$2.99-$2.62

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countries. Griffin et al. (2005b) indicate that theworldwide implications for auto-guidanceadoption depend on cost and availability of capitaland labor, as well as potential for farm expansion.For instance, in countries such as the U.S. andEuropean Union (E.U.), labor costs are very highrelative to capital costs so labor effects of auto-guidance are valuable. In South Africa,experienced tractor operators have been lost tothe AIDS epidemic and being replaced by auto-guidance. Conversely, in Brazil and Argentinawhere labor is relatively cheap and readilyavailable compared to capital, the increasedefficiency from reducing overlap and increasingground speed dominate economics.

On-the-go technologies

From a logistical and economic perspectiveon-the-go sensing linked to application equipmenthas many advantages (LOWENBERG-DeBOER,2004). In particular, on-the-go technologies reducethe management time and associated cost inimplementation of VRT. The most commerciallyviable on-the-go technologies for crop productionfocus on changing nitrogen fertilizer applicationwithin fields. Both Greenseeker and Yara N-Sensortechnology were originally developed for on-the-go changes in nitrogen application rates in wheatand other small grains. In addition, activenormalized difference vegetative index (NDVI)readings from Greenseeker have been found tobe useful in determining management zones incotton (SHARP et al., 2004).

There are other sensor technologies thatautomate the collection of soils data and greatlyincrease the resolution of that information, but arenot yet linked directly to applicators.Measurements of resistance of electrical flowthrough soil are being made by electricalconductivity (Veris) and electromagnetic induction(Geonics EM38) giving information about soilchemical levels and physical properties on anearly continuous level. The Veris TechnologiesMobile Sensor Platform (MSP) automates pHsampling in addition to its electrical conductivityreadings. Veris MSP's were sold in at least fiveU.S. states since being offered in the fall of 2003(LOWENBERG-DeBOER, 2003c) takingmeasurements from more than 20,000 hectares(ERICKSON, 2004).

Profitability studiesThis section summarizes publicly available

studies of the profitability of PA. It is an update ofthe PA profitability review by Lambert andLowenberg-DeBoer (2000). Studies since 2000 aresummarized by Peone et al. (2004). Theinformation sources are refereed articles fromscientific journals or proceedings, and non-technical or non-refereed magazines andmonographs specializing in agribusiness services.Of the 210 of the 234 reviews reporting losses orbenefits, 68% reported benefits from some sort ofPA technology. Approximately half (52%) of thosestudies reporting benefits were written or co-authored by economists.

Profitability by technology – Of thetechnologies specifically mentioned in the articles,PA summaries were most frequent, appearing inone-third of the literature (34%) (Table 5). GPS wasmentioned in 6.4% of the articles. This does notinclude articles mentioning the combined use ofGPS and other technologies, like yield mappingand VRT. VRT was mentioned with GPS in 4% withVRT/Yield Monitor and VRT/Seed mentioned inroughly 3% of the articles each.

Crops – Thirty-seven percent of the articlesreviewed discussed economic returns from PAexperiments with corn alone, and 73% of thosereporting some benefit from using PA (Table 6). Thesecond most common crop mentioned was wheatat nearly 11% of the articles, with half of those

Table 5. Frequency (%) of PA technologies reviewedin articles.

VRT, NVRT, SeedVRT, Weeds/PestsVRT, IrrigationVRT, P,KVRT, GPSVRT, Yield MonitorVRT, LimeSoil SensingGPSPA(Summary)VRT(General)Total

Technology

287727

10845

158259

234

Frequency

11.972.992.990.852.994.273.421.712.146.4134.9425.21

Percent

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reporting PA benefits. Other crops mentioned werecorn and soybean studies accounting for 9%,however three-fourths of those reported PAbenefits. All soybean, barley and oats studiesreported benefits. Corn and cotton combinationstudies reported no benefits to PA.

Time scale and discount rate – Factorsrelating to time scale include the period of testvalidity (soil tests, yield maps), whether costs werespread out over an area per time period, and thenet revenue period. When these details werementioned in articles, they were noted. Twenty-nine percent of the articles reviewed included oneor more of these factors.

Input and VRT/PA costs – Input costsconsidered in this review were fertilizer costs, seedcosts, application costs, and any variable and fixedcosts mentioned in the article. Variable ratetechnology and PA costs were consideredseparately for comparative purposes to verifywhether benefits espoused by the authors(s)included PA technology costs, other farm inputcosts, and crop yield. Seventy-one percent of thearticles included farm inputs in the budget analyseswhile 62% included PA technology costs. One-fourth mentioned equipment costs. Forty percentmentioned yield monitors. One-third of the articlesreported environmental costs and benefitsassociated with PA.

Human capital and information costs -Conventional economic feasibility studies of PAtechnology have often failed to include humancapital and information costs in budget analyses.In all, nearly 21% of the articles reviewedmentioned human capital costs. Although this maybe a difficult cost to compute, it should always beaddressed in economic analyses since PA isgenerally human-capital intensive.

Information costs are associated with gridsoil sampling, lab testing, GPS services, or any PAactivity that generates data conducive to becominguseful information. Information costs werementioned in 34% of the articles reviewed. InTable 7, benefits to specific crops from differentPA technologies are presented. This tablesummarizes results from articles where a mentionof a specific crop(s) was explicitly managed by aspecific PA technology. It omits reports that reportedbenefits to PA but were not explicit whichtechnology corresponded to a particular crop (forexample, whole-farm PA benefits), or reports thatwere not specific about which crops directlybenefited from a PA technology in the article.

Discussion - future directions:where do we go from here?

It is crucial to identify key constraints beforeanticipating the future of new technologies.Fernandez-Cornejo et al. (2001) contrastedadoption patterns of biotechnology and PA. Thequestion that remains with PA users and thoseconsidering PA is whether 'information-intensive'management is profitable, or whether we continuewith the 'embodied knowledge' approach.'Information-intensive' management refers tostrategies that depend on farm and field level datato make decisions about input application andcropping practices. That data may be collectedmanually or electronically. VRT soil fertilitymanagement and integrated pest management areexamples of information intensive approaches. Inembodied knowledge technologies, informationis purchased in the form of an input. The managerrequires minimal additional data. An example of'embodied knowledge' is hybrid corn. When it was

Table 6. Percent of studies reporting PA benefits forspecific crops.

CornPotatoWheatSoybeanSugarbeetBarleyOatsCorn e CottonCorn e SoybeanSoybean, Corn & RiceMixedSorghum/MilletCottonNA

Crop

37.02.1

10.92.12.61.00.50.58.91.69.42.61.6

19.3

Percent

737552

10080

100100

07633626033

Percent reportingbenefits from PA

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Table 7. Crop and Technology-Specific Benefits from PA Technology(1).

CornPotatoWheatSugarbeetBarleyCorn & SoybeanCornCornWheatSoybeanCornCorn e CottonCornPotatoCorn e SoybeanCornWheatCorn e SoybeansCornCorn e SoybeanCornSugarbeetCorn e SoybeanCornWheatCorn e SoybeansSorghum/MilletCottonCornWheatSoybeanBarleyCorn e SoybeanCorn, Soybeans, RiceSorghum/MilletCornSorghum/MilletCottonCornPotatoWheatSugarbeetOatsCorn e SoybeanCorn, Soybeans, RiceSorghum/Millet

Crop

VRT, NVRT, NVRT, NVRT, NVRT, NVRT, N

VRT,SeedVRT, Weed/PestsVRT, Weed/PestsVRT, Weed/Pests

VRT, IrrigationVRT, Irrigation

VRT, P & KVRT, P & KVRT, P & KVRT,GPSVRT,GPSVRT,GPSVRT, LimeVRT, Lime

Soil SensingSoil SensingSoil Sensing

GPSGPSGPSGPSGPS

PA Technology (In General)PA Technology (In General)PA Technology (In General)PA Technology (In General)PA Technology (In General)PA Technology (In General)PA Technology (In General)

VRT, Yield MonitorVRT, Yield MonitorVRT, Yield Monitor

VRT, GeneralVRT, GeneralVRT, GeneralVRT, GeneralVRT, GeneralVRT, GeneralVRT, GeneralVRT, General

Technology

72NO20

YESYESYES86

10050

100YESNO60

YESYES100YES100100YES33NOYES5050

YESNONO67

YESYESYES5050

10033NO5081

10060

100YES60NOYES

Percent reporting benefit

introduced in the U.S. in the 1920s, hybrid cornwas a new technology, but the knowledge neededto implement the technical package was alreadywell-established. Two other good agricultural

examples of 'embodied knowledge' are Bt Cornand Round-up Ready soybeans. The skill neededto successfully apply these new technologies isrelatively small in that the technological packages

(1) Entries with “Yes” or “No” are based on a single article.

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are 'self-contained', requiring no new equipmentpurchases, or additional cultivating skills. Anexample in PA would be GPS automatedguidance.

The 'information-intensive' technologies thatcharacterize many PA technologies not onlyrequire time-costs, but they are scale-sensitive aswell. For a producer willing to spend $150,000USD to $200,000 USD on a combine, the extra$3,000 USD for GPS equipment is negligible.However, the size in area of the farm to spreadthe costs makes a difference. Spreading capitalover area is probably less important than beingable to spread human capital over the same area.For example, someone who learns how to interpretyield maps for a 2,000-hectare farm can probablyinterpret yield monitor data for a 20,000-hectarefarm. Fountas et al. (2003) note that a key constraintto 'spreading of human costs' over farm acres isthat of learning new software and other analysisskills. The opportunity cost of time may often besufficiently high to discourage producers fromlearning how to accumulate, store, process, andinterpret electronically generated data in the fieldor office computers.

Although the human cost of informationintensive processes limit use, crop producers seemto be skeptical of 'closed-looped' approaches thatautomate decision-making. An example of a closedloop process in agriculture is the use of automatedchicken feeders which adjust feed rations byaverage bird weight. In this instance, the producerspends less time worrying about matching feedrequirements with bird growth: rations areadjusted automatically over the course of birdgrowth. Crop farmers argue that a 'human touch'is still needed in cropping because cropmanagement is still more of an art than a science.The environment of a chicken house is verycontrolled compared to field conditions for rainfed crops. Some farmers might feel they are givingup production control by handing over theirhuman-made decisions to the 'black-box' decision-making processes.

Earlier mentioned studies outline reasons fornon-adoption, but few give alternative

encouragement for PA adoption. Overall,information technology software and hardwarecosts are continually declining at the same timeits capacity is increasing. In a broader view,societies in developed nations are readilyincorporating technology in everyday life such aspersonal computers, GPS in cars, and cellulartelephones. People are becoming morecomfortable with technology. USDA Farm ServiceAgency (FSA) and Natural Resources andConservation Service (NRCS) have moved to aGIS based system to replace photocopied aerialimagery, potentially increasing producerawareness of PA benefits. Identity tracking (IT) andidentify preservation (IP) of agriculturalcommodities from seed production through farmerfields site-specifically, all the way through themarketing, processing, and distribution chains caneither offer premiums for specialty crops orsegregation of transgenic varieties. Anothermotivation for PA adoption may be throughenvironmental regulations for monitoring input usethat could potentially affect water quality andwetlands. PA could assist in pesticiderecordkeeping in much the same way as withgrain with IT and IP. In addition, cost sharing of PAtechnologies may entice farmers to adopt. Thismay occur by way of studies documentingenvironmental benefits from PA use.

When understanding adoption trends,cultural and socio-economic factors certainlycome into play. For example, anecdotal evidencesuggests that auto-guidance will be adopted bygrain producers in South Africa for very differentreasons than those in Brazil or the U.S. In SouthAfrica, farm workers specialized in combine andtractor operations have been lost to the AIDSepidemic. In response, some owner-operators areconsidering purchasing auto-guidance to replaceyears lost in driver skill. In contrast, in Brazil wherefarm labor is comparatively abundant and wagesrelatively low, the time and chemical savingsmight be the driving motivation for use of GPSguidance for sprayers. Additional examples of PAtechnologies being adopted in different parts ofthe world because of differing environmental,economic, and social conditions include:

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• Auto-guidance is popular in Australia forcontrolled traffic because their soils are particularlysusceptible to compaction and they do not havefreezing and thawing to counteract thatcompaction.

• Outside of North America most farmersapply their own fertilizer and pesticide, so therehas not been the growth of PA servicesexperienced in the U.S. and Canada.

• In South Africa and Argentina mostphosphorus and potassium is applied with theplanter. For farmers using air seeders it is relativelyeasy to modify their equipment for VRT.

• Grid soil sampling is used commerciallymainly in the U.S. and Canada, in part becausesoil analysis is relatively cheap.

• Agronomic skills are relativelyinexpensive in Latin America, so knowledge-intensive management may catch on in countriessuch as Brazil before the U.S.

• Much of the VRT in Europe has focusedon nitrogen because of the environmental rulesregulating nitrogen application.

Implications for BrazilWhile Brazil is being touted by some

analysts as a good market for U.S. PA technology(CS UNITED STATES OF AMERICA, 2004), this islargely based on general arguments and informalobservation. The economics of PA in Brazil havenot been intensively studied, so this section willattempt to apply the lessons of PA adoption fromother parts of the world. Brazil is a large countryand agriculture differs from one region to another.This analysis will focus on the rapidly growingagriculture in the Center-West "Cerrados" regionwith some comments on how PA adoption in otherparts of the country may differ from the situationin the Center-West.

Some key characteristics of Brazilianagriculture as they affect PA adoption include:

• Low cost land – The original PA concepts(e.g. variable rate input, yield monitoring) focused

on fine tuning production systems to make the mostof high cost farmland in Europe and NorthAmerica. When land is relatively inexpensive itmay be more profitable to farm additional landwith uniform rate, embodied knowledgetechnology, than it is to invest in the technologyfor information intensive variable rate inputapplication, yield monitoring and other fine tuning.The classic PA concepts may fit better in RioGrande do Sul and other parts of Southern Brazilwhere farms are smaller and land prices higher.

• Large scale – PA is essentially automationof certain management tasks. Variable rateapplication and yield monitoring automateagronomic management. GPS guidanceautomates part of equipment operations. One ofthe main benefits of GPS guidance is farming moreland with the same equipment by reducing skipand overlap, as well as lengthening the workday(WATSON; LOWENBERG-DeBOER, 2003;GRIFFIN et al., 2005b). In the Cerrados where landis available for farm expansion, farming more landwith a given set of equipment will be a substantialeconomic advantage.

In addition, PA tools may be useful in recordkeeping, supervising employees and qualitycontrol for the work of custom operators. As-applied maps and other sensor data canautomatically record input application, cutting thetime required for record keeping and also reducinghuman error in data entry. Many truckingcompanies in the U.S. and Europe use GPS andtelemetry to track and supervise drivers. Similarsoftware is being adapted for use by ag retailers.The next step would be adaptation for large farmingoperations giving the manager information in thefarm office on location, speed, quality of work (e.g.combine grain loss) and other parameters. InArgentina one of the key uses of yield maps isquality control for the work of custom operators(LOWENBERG-DeBOER, 1999; BONGIOVANNI;LOWENBERG-DeBOER, 2001). PA technologymay also facilitate recordkeeping for traceabilityand identify preservation. Automation ofrecordkeeping, supervision of employees andquality control is of greatest benefit on large scalefarming operations such as those in the Cerrados.

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• High cost of DGPS – One of the reasonscited for slow growth of GPS use in Brazil is thelack of low cost differential correction. In the1990s, the only differential correction option wasby satellite at around $2,000 USD per year perunit. This was substantially higher than the roughly$600 USD annual per GPS unit for FM sidebanddifferential correction in Argentina at the time. Inthe U.S., Coast Guard and Wide AreaAugmentation Service (WAAS) is availablewithout charge. In cooperation with the Braziliangovernment, the U.S. Federal Aviation Agency(FAA) plans to extend WAAS to Brazil (STIGLER,2003). Free WAAS availability should reduce thisconstraint to GPS use.

• Protectionist Policies & No FrillsPreferences – Precision agriculture innovation inBrazil is hampered by the high cost of importedequipment and the market's preference for "nofrills" machinery (McMAHON, 2005). Importedequipment can be twice the cost of Brazilianequipment because of import taxes and financingrestrictions. This has motivated multinationalcompanies to invest in manufacturing capacity inBrazil, but it has not necessarily caused them tosell their most innovative products in the country.

The "no frills" preference makes economicsense for farms on the frontier far from service andparts. Service for specialized equipment might takedays and require hundreds of kilometers of travel.The "no frills" preference also reflects the fact thatin Brazil farm equipment is often operated byemployees, not by the farm operator and his familyas is often the case in the U.S. and Canada. InBrazil, farm labor is in good supply, so farmersusually do not need to invest in comfort andconvenience to attract and retain employees.

The combination of a market dominated by"no frills" equipment and the high cost of importedmachinery means that Brazilian innovators mayfind it difficult to find and to afford precisionagriculture technology.

• Low cost labor – Some precisionagriculture technology is labor saving (e.g. GPSguidance). When labor costs are lower, the valueof saving labor is reduced.

• Commodity crops – The main crops in theCerrados are relatively low per unit pricecommodity grains and oilseeds. Economicresearch indicates that precision agriculture is morelikely to be profitable with higher value crops(SWINTON; LOWENBEG-DeBOER, 1998). Theoriginal PA concepts of variable rate applicationof inputs and yield monitoring may be morevaluable in citrus groves and on sugar plantations,than in the Cerrados.

• Input costs – One situation in whichprecision agriculture has profit potential is wheninput costs are high and large quantities of inputsare used. Cerrados soils are generally low fertilityand acidic. Large applications of fertilizer and limeare required to make them productive. Whileoverall production costs for grains and oilseedsare lower in Brazil than they are in the U.S.,Cerrados fertilizer cost per hectare is often 2 or 3times the cost in the U.S. Corn Belt (HUERTA;MARSHALL, 2002). Variable rate application offertilizer could help reduce fertilizer costs in Brazil.

In addition, some PA technologies have thepotential to reduce energy costs. Using GPSguidance to reduce overlap, cuts energy usebecause less land is unnecessarily covered twice.Controlled traffic farming with GPS auto-guidancecan reduce fuel use because equipment is alwaystraveling on a firm path, rather than making itsway through soft soil.

• Soil variability – Variable rate fertilizerapplication is only profitable if there is substantialsoil variability. In the U.S., natural soil variabilityhas been increased by management-inducedvariability due to former feedlots, lanes and fencelines, as well as by fertilizer spreading patterns.Much of the farmland in the Cerrados is newlycleared and does not suffer from this long historyof management-induced soil variability. In thissense, the Brazilian situation is similar to that ofArgentina (LOWENBERG-DeBOER, 1999;BONGIOVANNI; LOWEBERG, 2001).Management-induced soil variability may bemuch more common in long-term farmed easternand southern parts of Brazil than it is in theCerrados.

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• On-farm computer use – Evidencesuggests that computer use in farm offices is lowerin Brazil than it is in the U.S. or in Argentina. Asurvey in Sao Paulo state found that in 2001, about13% of farms had a computer (FRANCISCO; PINO,2002). The CS Market Research study estimatesthat in 2004 about 14% of commercial farms inBrazil have computers. In the U.S., about 50% offarms owned or leased a computer in 2001, andabout 55% in 2005 (USDA, 2005b). Computer useis higher than the national average in the CornBelt states that have been the center of PA adoption.A 2001 survey in Argentina showed that 47% offarm managers used a computer at that time(SEIFERT, 2001). The relatively low computer useon Brazilian farms can be linked to protectionistpolicies in computers markets in the 1970s and80s (BUCKLEY, 2000). Will precision agriculturein Brazil suffer a similar fate because of barriers totechnology imports?

Farmers can use PA technology withoutdirectly using a computer, but farm office computeruse is an index of the level of comfort withelectronic technology and farmers that arecomfortable with computers are more likely to usePA. For classic PA technologies, such as VRT,farmers can hire a crop consultant or agronomistto analyze the data for them. They do not need toanalyze the data themselves. Computers areembedded in GPS guidance and sensortechnologies; users do not need to directly use orunderstand computers.

• Site-specific research – Classic precisionfarming technologies, like variable rate inputapplication and analysis of yield maps require site-specific research. Some Latin American countries,such as Argentina, have cut back funding foragricultural research in favor of a strategy thatrelies on borrowing technology from abroad. Forconventional uniform rate technology this was asuccessful strategy because it is usually much lessexpensive to borrow or buy technology than todevelop it. Classic precision farming technologiesare difficult to borrow because they rely on site-specific research.

Brazil has the advantage over many of itsneighboring countries because it has an effective

and relatively well financed public agriculturalresearch system that could do much of this site-specific research. One weakness of the Brazilianpublic agricultural research system is that there isrelatively little farm and field-level economic workproviding growers and agribusinesses guidanceon which technologies are likely to proveprofitable in their conditions. The publicly availableBrazilian PA economics research (BRUSCO et al.,2005a, 2005b; MATTOSO, 2003) has often focusedon use of PA tools in decision making (e.g. profitmaps), instead of the "head-to-head" comparisonsof profitability that have characterized much ofthe U.S. PA economics literature (SWINTON;LOWENBERG-DeBOER, 1998; LAMBERT;LOWENBERG-DeBOER, 2000; GRIFFIN et al.,2004). In the U.S., research on the economics ofPA has been widely reported in the press and thathas helped guide farm and agribusiness PAadoption choices.

ConclusionsWorldwide the adoption of PA technology

has been slower and more localized than manyanalysts in the 1990s expected. The characteristicsof Brazilian agriculture suggest that that patternmaybe repeated there. Relatively low land prices,modest labor costs, low management induced soilvariability, relatively low on-farm computer use,production of relatively low price commodities andthe relatively high cost of imported high techequipment suggest that Brazilian growers as awhole may lag in PA adoption, particularly theclassic PA concepts of yield monitor data analysisfor fine tuning crop management and variable rateapplication.

The conditions of large scale farmingoperations, particularly in the Cerrados, wouldtend to favor adoption of GPS guidancetechnologies, especially as the cost of technologyand GPS differential correction declines. PAtechnology automation of recordkeeping,employee supervision and quality control wouldalso have its greatest advantage in large scaleoperations.

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These overall adoption trends may differwidely in specific areas of Brazil. For example,the classic PA technology may be rapidly adoptedfor higher value crops (e.g. citrus) and in areaswith higher farmland values (e.g. Sao Paulo,Parana and Rio Grand du Sul). If fertilizer andenergy prices continue to rise rapidly, growers inthe Cerrados may find it worth their while to dovariable rate application. Some areas or groupsof farms may benefit from targeted public or privateresearch that adapts the general PA concepts totheir particular problems.

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Resumo: A nanotecnologia é atualmente um negócio mundial de 100 bilhões de dólares, queatrai, a cada dia, mais investimentos devido ao seu enorme potencial de aplicação tecnológica nosmais variados setores industriais. O agronegócio é sem dúvida uma das áreas onde o nosso país podeter a maior competitividade em nanotecnologia, graças às especificidades e oportunidades de questõesvinculadas ao nosso clima e agricultura tropical. Este artigo apresenta a origem e os fundamentosbásicos da nanociência e nanotecnologia e descreve exemplos de algumas áreas, nas quais ananotecnologia pode alavancar o agronegócio, dentre elas estão a indústria de insumos (fertilizantes,pesticidas) e medicamentos para uso veterinário, agricultura de precisão, rastreabilidade, indústria dealimentos, certificação e qualidade de produtos agrícolas, segurança alimentar, biotecnologia,agroenergia, monitoramento ambiental, novos usos de produtos agropecuários e vários outros setoresda agroindústria.

Palavras-chave: nanotecnologia, agronegócio, nanociência.

A revoluçãonanotecnológicae o potencial parao agronegócio

Luiz H. C. Mattoso1

Eliton S. de Medeiros2

Ladislau Martin Neto3

1 Doutor em Engenharia de Materiais, pela Universidade Federal de São Carlos, pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária,[email protected]

2 Doutorando em Engenharia de Materiais, pela Universidade Federal de São Carlos, pesquisador da Embrapa Instrumentação Agropecuária,[email protected]

3 Doutor em Física, pela Universidade de São Paulo, chefe-geral da Embrapa Instrumentação Agropecuária, [email protected]

IntroduçãoA nanotecnologia tem provocado uma

revolução em vários setores da ciência etecnologia, pela descoberta de que os materiaisem escala nanométrica (milionésimo de milímetro,nm) – nanoescala – podem apresentar novaspropriedades e comportamentos e melhoresdesempenhos do que aqueles que geralmente sãoapresentados em escala micro ou macroscópica.O domínio da nanotecnologia encontra-secompreendido entre 0,1 e 100 nm, ou seja, desdeas dimensões dos átomos e moléculas até próximo

a valores do comprimento de onda da luz visível.A nanotecnologia é claramente uma área depesquisa e desenvolvimento muito ampla einterdisciplinar uma vez que pode interferir nosmais diversificados tipos de materiais (naturais esintéticos) estruturados em escala nanométrica –nanoestruturados – de modo a formar blocos deconstrução (building blocks) na nanoescala, taiscomo: nanopartículas, nanotubos, nanofibras, queapresentam novas propriedades e levam a umganho significativo no desempenho dos produtosresultantes. Dessa forma, a síntese, fabricação oumodificação e controle da matéria em escala

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nanométrica e seu subseqüente arranjo eaproveitamento para formar materiais e/oudispositivos nanoestruturados representa o iníciode uma nova era, em que se pode ter acesso anovas propriedades e comportamento de materiaise de dispositivos de modo nunca visto antes(DREXLER, 1992).

A habilidade de medir, manipular eorganizar a matéria em nanoescala e os novosfenômenos apresentados pelos materiais nano-estruturados são descobertas científicas que já têmpromovido avanços tecnológicos inusitados eapontam para muitos outros que ainda virão numfuturo cada vez mais próximo. Cientistasda universidade de Berkeley (FORESIGHTINSTITUTE, 2005), por exemplo, vêm desenvol-vendo um sistema integrado de detecção dedoenças patogênicas quase em tempo real,usando a nanotecnologia para o desenvolvimentode sensores ultra-sensíveis. Doenças em planta-ções e em animais podem diminuir a produtivida-de e fornecimento de alimentos, a menos quesejam detectadas logo no seu início sem que hajamaiores proliferações para as áreas e animaisainda não contaminados. Esses dispositivos sãocapazes de detectar essas doenças em cadaplanta, de forma inteligente e em tempo real,baseando-se nas mudanças no metabolismo e narespiração, sendo apenas um exemplo de comoa nanotecnologia abre possibilidades inovadoraspara a agropecuária.

Neste artigo, os autores apresentam umabreve introdução sobre nanotecnologia descre-vendo a origem e os fundamentos básicos dananociência e apresentando exemplos de algumasáreas, nas quais a nanotecnologia pode revolu-cionar o agronegócio.

A revolução nanoCom o passar dos séculos, a concepção a

respeito da constituição da matéria foi evoluindo,à medida que novos métodos e equipamentos deinvestigação científica foram sendo aperfeiçoadose incorporados à ciência (HAWKING, 1988). Nãoobstante a preocupação da ciência em estudar

os elementos constitucionais da matéria, para apartir desses elementos poder compreender econtrolar seu comportamento macroscópico, e degrande parte do conhecimento científico atual serproveniente do conhecimento que vem seacumulando ao longo dos séculos, a manipulaçãode átomos e/ou moléculas individuais em escalananométrica – a nanomanipulação – é uma idéiarelativamente recente que só ganhou maiorconsistência a partir de 1959, quando RichardFeynman, um dos mais renomados cientistas doséculo 20 e ganhador de dois prêmios Nobel(DREXLER, 1992) mostrou que não há razõesfísicas que impeçam a fabricação de dispositivosatravés da manipulação de átomos individuais.Ele destacou, ainda, que essa manipulação nãosó era perfeitamente possível, como tambéminevitavelmente resultaria na fabricação dedispositivos úteis e aplicações incríveis para todosos campos do conhecimento (FISHBINE, 2002).

A palavra usada para denominar essaciência em nanoescala sugerida por Feynman,ou mais precisamente, o termo nanotecnologia,surgiu apenas em 1974, quando um pesquisadorda Universidade de Tóquio, Norio Taniguchi, feza distinção entre engenharia em escala micro-métrica (por ex: a microeletrônica) e o novocampo da engenharia, em escala sub-micro-métrica, que estava começando a emergir(FISHBINE, 2002; TANIGUCHI, 1996).

Avanços significativos em nanotecnologianão foram notados até o início da década de 1980,devido à ausência de novos instrumentos quepermitissem a nanomanipulação, como porexemplo, os microscópios de varredura por sonda(SPM), de varredura por tunelamento (STM), decampo próximo (NFM) e de força atômica (AFM).Esses instrumentos vêm promovendo os "olhos" eos "dedos" necessários para medir e manipularmateriais em escala nanométrica (FISHBINE,2002; SAKAKI, 1999) permitindo assim manipularátomos, moléculas, proteínas, DNA, etc.

Em 1986, Richard Smalley da Universidadede Rice descobre uma nova forma de blocos deconstrução, os fulerenos buckminster ou"buckyballs", que por sua vez conduziram à

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Fig. 1. Modelo mostrando um nanotubo de carbono.Os átomos de carbono estão representados pelasesferas azuis e as ligações químicas entre eles pelosbastonetes amarelos.Fonte: http://www.ewels.info/img/science/nanotubes/

Acessado em: 26/10/2005.

descoberta dos nanotubos de carbono, em 1991,por Sumio Iijima (AMATO, 1999). Essa última formade bloco de construção é basicamente formadapor uma folha de carbono, enrolada de forma aconectar suas extremidades formando um tubo.Os nanotubos de carbono (Fig. 1) vêm revolu-cionando a nanotecnologia por exibiremresistência mecânica extremamente alta, podendochegar a ser até 400 vezes maior que a do aço,conseguida apenas pela forma como o carbonose organiza na escala nanométrica. Adicional-mente estes materiais possuem propriedadeselétricas e aplicações singulares, em particularpara aplicação em sensores que podem ter umenorme potencial no agronegócio tanto para arastreabilidade de processos como para acertificação de produtos agroindustriais.Atualmente muitos outros materiais ou fenômenosem nanoescala têm sido estudados, pornanocientistas do mundo inteiro, com o objetivode compreender melhor os fundamentos e as leisda nanotecnologia para explorar todo o potencialde suas aplicações (SIEGEL et al.,1999).

Além disso, cientistas e órgãos governa-mentais tanto nos Estados Unidos como na Europareconhecem o potencial das chamadas Tecnolo-gias Convergentes de transformarem todos ossetores da economia, assim como a própriacompreensão do ser humano. O governoamericano refere-se a essas tecnologias comoNanotechnology-Biotechnology-Informationtechnology-Cognitive science (NBIC), mastambém conhecida por BANG (derivado de bites,átomos, neurônios e genes), e reconhece que odomínio da escala nano integrando essastecnologias proporcionará ao domínio da natureza(ROCO et al., 1999).

O mega efeito do nanoNa nanoescala surgem novos fenômenos

que não aparecem na macroescala. As mudançasmais importantes de comportamento são causadasnão apenas pela ordem de magnitude da reduçãode tamanho, mas por novos fenômenos intrínsecosobservados ou que se tornam predominantes emnanoescala e que não são necessariamenteprevisíveis a partir do comportamento observávelem escalas maiores. Essas alterações de compor-tamento estão relacionadas com as forças naturaisfundamentais (gravidade, atrito, eletrostática, etc.)que mudam de importância quando a escala éreduzida (FISHBINE, 2002).

No mundo macroscópico dos sereshumanos, as forças gravitacional e de atrito sãomais predominantes. Além das forças naturais,existem as forças "dominadas" pelo homem, comoa proveniente dos motores de combustão internaou as forças eletromotoras que impulsionam asmáquinas elétricas. Essas forças são dominantesdesde a escala macroscópica até dimensões decerca de um milímetro, permitindo a tecnologiaindustrial conhecida hoje (FISHBINE, 2002;ROCO et al., 1999). Porém, a medida que asdimensões dos corpos diminuem, as forças deatrito, gravitacional e de combustão tornam-se demenor importância, enquanto novas forçasganham mais importância – forças eletrostáticas.Por exemplo, em escala subatômica, a forçaeletrostática entre dois prótons é cerca de 1036

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vezes mais forte que a força gravitacional, e podeser utilizada, por exemplo para mover nanodis-positivos. A força gravitacional começa a dominaro universo dos corpos e partículas apenas quandouma quantidade significativa de matéria se fazpresente e, nesta escala mais ampla, é a forçadominante (FISHBINE, 2002; ROCO et al., 1999).

Pelo menos dois efeitos principais sãoinduzidos pela estruturação de materiais emescala nanométrica:

• Efeitos de tamanho – quando a matéria,como por exemplo, partículas magnéticas sãoreduzidas a dimensões muito pequenas, suaestrutura atômica dá origem a novos fenômenos,como o super-paramagnetismo, mudança naspropriedades óticas e elétricas, que podem serexploradas para a fabricação de nanosensores eoutros dispositivos para aplicação no agronegócioe em muitos outros campos do conhecimentoaplicado.

• Efeitos induzidos pelo aumento na áreasuperficial – o aumento na área superficial denanomateriais provoca um aumento significativona sua reatividade, permitindo, por exemplo, aredução do uso de insumos (fertilizantes,pesticidas) na agricultura, melhoria no desem-penho de essências aromáticas e paladar emalimentos e de catalisadores para, por exemplo,produção de biocombustível, dentre outros.

Potencial da nanotecnologiapara o agronegócio

Embora o agronegócio brasileiro ocupe hojeuma posição de líder mundial, é essencial oinvestimento contínuo em novas tecnologias, parao País poder continuar crescendo e abrir novosmercados nesse setor tão dinâmico da economia(ALVES, 2001; BANCO DO BRASIL, 2004). Assima nanotecnologia oferece oportunidadesextremamente promissoras para melhoria dacompetitividade e do desempenho de processose produtos agropecuários em varias áreas,agregação de valor a produtos, e aproveitar nichosde mercado que pelas nossas características

tropicais teremos vantagens competitivas, ealgumas destas serão descritas brevemente abaixo(DURÁN et al., 2005, ETC GROUP, 2004;MATTOSO, 2005).

A importância da nanotecnologia noagronegócio começa desde o início das cadeiasprodutivas, contribuindo de forma significativa namelhoria do desempenho, eficiência e economiade insumos (fertilizantes, pesticidas, etc.), por meiodo desenvolvimento de nanopartículas enanoencapsulação para liberação controlada defertilizantes e pesticidas em solos e também defármacos para uso veterinário (DURÁN et al.,2005, ETC GROUP, 2004; MATTOSO, 2005). Emanos recentes tem aumentado a pressão no Brasilpara o desenvolvimento de insumos agrope-cuários de melhor qualidade e desempenho, emfunção do maior acesso a produtos externos, bemcomo da necessidade de diminuir o impactoambiental associado ao uso desses insumos.

Há uma demanda crescente por fertilizan-tes que apresentem maior absorção pelas plantas,que não sofram segregação durante a etapa deformulação e transporte, e que sejam mais fáceisde manusear e aplicar. Pesticidas com eficáciana aplicação cada vez maior também sãodesejáveis não apenas pela vantagem econômica,mas, sobretudo, pela redução do impactoambiental, diminuição da toxidez para o homemdurante a sua aplicação e diminuição da cargapoluente alimentada ao meio físico. Assim, aaplicação da nanotecnologia no setor de insumosagropecuários tem a finalidade de melhorar aeficiência funcional de produtos como nutrientes,pesticidas sintetizados quimicamente (herbicidas,inseticidas e parasiticidas) ou de natureza biológica(microorganismos com atividade específica contrauma praga-alvo), bem como a segurança nomanuseio desses produtos, reduzindo riscos detoxidez para o homem, de concentrações eleva-das na lavoura e de contaminação ambiental. Talabordagem está alinhada com as exigênciaspertinentes à preservação de qualidade de vida eredução dos riscos de contaminação do meioambiente.

O Brasil economiza atualmente 1,5 bilhãode dólares por ano em fertilizantes nitrogenados

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somente na cultura da soja, graças, especial-mente, as pesquisas desenvolvidas pela EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) einstituições parceiras, no desenvolvimento dafixação biológica de nitrogênio na cultura dessaleguminosa, o que demonstra o potencial que aagregação de novas tecnologias pode ter nessesetor.

A nanotecnologia também pode contribuirsignificativamente na melhoria do desempenhode produtos agropecuários e no desenvolvimentode novas aplicações, agregando valor, abrindonovos mercados e ajudando assim a capacidadedo País de passar de simples produtor decommodities, na forma de alimentos in natura,para gerador de uma série de outros produtos defontes renováveis e obtidos de forma sustentável,tal como é o caso mais recente da agroenergia. Apartir do momento que se passar a conhecer,dominar e manipular cada vez mais as plantas,animais, alimentos e outros produtos agropecuá-rios em geral, no nível da nanotecnologia,conseguir-se-á explorar melhor todos aspropriedades de seus constituintes e ser capaz deum mesmo grão de soja, por exemplo, extrairalimento, leite, óleo comestível, óleo combustível,tinta, plástico, borracha, remédios e outrosprodutos, cujo potencial ainda estão desconhe-cidos. Assim, o desenvolvimento de novos usos

de produtos agrícolas é uma área que pode sersignificativamente impulsionada explorando-se ananotecnologia.

Com o uso de recursos renováveis, osrecursos fósseis podem ser parcialmentesubstituídos, levando a uma diminuição dapoluição e impacto ambiental e do próprio efeitoestufa. Para substituir matérias-primas nãorenováveis, uma solução natural é a fotossíntese,a transformação da energia solar e gás carbônicoem substâncias orgânicas, isto é, biomassavegetal. A biosfera apresenta 27 x 1010t de carbonoem organismos vivos e deste total, mais de 99%está contido nas diferentes espécies de plantas.Dentre os componentes da planta, destacam-seos lignocelulósicos que possuem propriedadesextremamente promissoras para substituição devários materiais sintéticos, como, por exemplo,fibras de sisal (Fig. 2) que já podem substituir fibrasde vidro em algumas aplicações da indústria deplásticos e peças automobilísticas.

Com o aumento da preocupação com apoluição ambiental e os problemas com o aumentode desperdício, gerando cada vez mais lixo nãodegradável, o uso de produtos naturaisbiodegradáveis, tais como polímeros vindos daagricultura para confecção de plásticos eembalagens biodegradáveis é uma necessidade

Fig. 2. Imagens obtidas em microscópio de força atômica de fibras de sisal mostrando: (a) ordenamento dasfibras e (b) medida das características das fibras.

(a) (b)

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premente. Outro problema é que o volume deresíduos gerados de atividades de base agrícolae florestal é bastante elevado, cerca de 50% a70% na indústria madeireira (serrarias e indústriade móveis) e de quase 50% nas indústrias de papele celulose. Além da ampliação do mercado, peladisponibilização e valorização de novos produtos,o desenvolvimento de tecnologias que revertamo conceito de resíduo para o de matéria prima,como a extração de nanofibras vegetais ounanopartículas de sílica de resíduos da agroin-dústria para a produção de nanocompósitosplásticos, ou produção de outros produtos deinteresse industrial, é imprescindível para otimizara eficiência da indústria, podendo contribuir paraagregação de valor e rentabilidade de produtosagrícolas e melhorar a competitividade eestabilidade econômica do País (DURÁN et al.,2005; ETC GROUP, 2004; MATTOSO, 2005).

Na agroindústria são inúmeras as áreasonde a nanotecnologia pode dar contribuiçãoexpressiva para aumentar a competitividade dosetor. Um exemplo é na melhoria do desempenhode processos e produtos agroindustriais, atravésdo desenvolvimento de membranas de separaçãoe/ou barreira para vários processos agroindustriaise embalagens ativas e inteligentes para alimentose bebidas e purificação de água, com controle dananoestrutura, que possuem uma enormeimportância neste setor.

A agroindústria de alimentos tem enfrentadoenormes perdas durante o armazenamento,transporte e distribuição de alimentos frescos, pré-cortados e embalados. Para a redução das perdasquantitativas e qualitativas dos alimentos duranteo armazenamento, transporte e distribuição estãosendo desenvolvidos sistemas de embalagem(ativas e inteligentes) que monitoram não só aqualidade dos alimentos bem como a condiçãodo ambiente que os circunda. Essas embalagenstambém podem indicar a quebra da cadeia defrio e podem revelar o histórico desses produtosdurante as principais etapas da comercialização.As embalagens podem regular a taxa derespiração de produtos vegetais, reduzir oprocesso de degeneração de alimentos e/ouprodutos perecíveis por ação de microorganismos

em condições reais de estocagem e conservação,aumentando a sua vida útil e também introduzirelementos no envasamento capazes de retercomponentes indesejáveis desses alimentos, quedeterioram a sua qualidade, introduzindo com-postos como agentes antimicrobianos que podemmelhorar as características sensoriais do produto,aumentando o seu tempo de conservação comconseqüente abertura de novos mercados paraexportação, e ganhos econômicos extremamentesignificativos (DURÁN et al., 2005; ETC GROUP,2004; MATTOSO, 2005).

Para finalizar, citam-se, ainda, pelo menosoutras três áreas interligadas, onde a nanotec-nologia pode também revolucionar o agronegóciona área da agropecuária de precisão, são elas: arastreabilidade e certificação de produtosagropecuários e a segurança alimentar, atravésdo desenvolvimento de nano sistemas inteligentesde monitoramento e tomada de decisão enanobiosensores e nanodispositivos eletrônicosdedicados para o agronegócio. Na agricultura deprecisão todos os ganhos em capacidade,memória e velocidade alcançados na computa-ção e no desenvolvimento de circuitos eletrônicoscada vez menores e mais potentes possibilitarãoter, por exemplo, rede de sensores inteligentes nocampo que monitorem desde a produtividade atéo amadurecimento ou início de doenças emplantas ou animais diretamente no campo, emescala e níveis nanométricas, impossíveis deserem detectadas sem o desenvolvimento denanodispositivos. Nessa linha, cientistas daUniversidade de Michigan (Kopelman Laboratory,EUA) (FORESIGHT INSTITUTE, 2005) estãodesenvolvendo nanosensores bioanalíticos, quepoderão ser implantados na glândula salivar deum animal, capazes de detectar um único vírusna saliva até mesmo antes que eles possam seproliferar ou que os sintomas sejam evidentes.Assim, existe uma exigência crescente darastreabilidade da qualidade de produtosagropecuários desde a sua produção até a suacomercialização final, importantíssimo paraaumentar a competitividade e garantir a sustenta-bilidade do agronegócio brasileiro. Quando sepensa no mercado internacional, as exigências

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por rastreabilidade, qualidade e certificação sãoainda maiores. Adicionalmente a avaliação doimpacto ambiental causado pelas atividadesagropecuária é, portanto, também umanecessidade vital. O aumento crescente deresíduos das atividades produtivas, incluindo oagronegócio com uso indiscriminado de pesticidasque causam contaminações de solos e águas, temchamado a atenção não só de cientistas, mas detoda sociedade para as questões ambientais, e ananotecnologia pode também dar contribuiçãosignificativa nessa área.

Nos últimos anos, descobertas de destaque,por exemplo, demonstraram a importância do usode materiais nanoestruturados para atingir altassensitividades em vários tipos de sensores.Algumas dessas descobertas foram realizadas porbrasileiros, como é o caso da língua eletrônica dealta sensitividade, desenvolvida pela EmbrapaInstrumentação Agropecuária (Fig. 3) (DURÁN etal., 2005), que é hoje a mais sensitiva já relatadana literatura, liderança que se deve à sinergia decolaborações científicas de pesquisadores devariadas formações e instituições, que está sendoutilizada para o programa de qualidade do caféda Associação Brasileira das Indústrias de Café(Abic) e estará expandindo suas aplicações paraqualidade de sucos de frutas (Fig. 4) e rastreabili-

dade e certificação de vários outros produtos,desde que o País consiga priorizar mais investi-mentos em ciência e tecnologia para o agrone-gócio.

Fig. 3. Imagem obtida em microscópio de forçaatômica de nanoestruturas utilizadas no sistemasensor conhecido como língua eletrônica.

Fig. 4. Perda da qualidade de suco de laranja emfunção do tempo e da temperatura de armazena-mento.

O Brasil carece de investimentos emnanotecnologias para o agronegócio

A nanotecnologia é atualmente um negóciode 100 bilhões de dólares que possui a previsãode um enorme crescimento, devendo atingir1 trilhão até 2011 (ETC GROUP, 2004; HASSAN,2005), em virtude do seu potencial de aplicaçãonos mais variados setores industriais e ao impactoque seus resultados podem dar ao desenvol-vimento tecnológico e econômico. Nessecontexto, existe uma infinidade de áreas, para asquais a nanotecnologia pode dar uma contribui-ção significativa, algumas delas, inclusive, já estãosendo comercializadas. O Brasil tem procuradonão ficar de fora da corrida por essa tecnologia, eo governo começou um esforço conjunto nessaárea conhecida com a Iniciativa Brasileira emNanotecnologia em 2001, para formar redes depesquisa no tema em áreas estratégicas.

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As oportunidades são imensas e altamentepromissoras, mas até o momento o País apenasconseguiu priorizar os escassos recursos paraáreas mais tradicionais como a física, química eengenharia onde os países desenvolvidos temmaior poder de fogo, mas que não sãonecessariamente as áreas em que o nosso paíspossui mais necessidade, potencial e competitivi-dade, como é o caso do agronegócio.

O agronegócio é, certamente, uma área emque nosso país pode ter a maior competitividadeem nanotecnologia, graças as especificidades eoportunidades de questões vinculadas ao nossoclima e agricultura tropical. Adicionalmente, asuniversidades e demais instituições de pesquisado nosso país, tais como a Embrapa, possuemgrupos de excelência de pesquisadores altamentecapacitados para promover avanços do conheci-mento nesse tema. No entanto, o País ainda nãotem priorizado recursos para explorar aspotencialidades da nanotecnologia para o agrone-gócio, e começa a se comprometer se um esforçoconjunto dos órgãos de fomento não for feito nessesentido. Um estudo recente da universidade deToronto (The University of Toronto Joint Centre forBioethic), que ranqueou as dez áreas onde asaplicações de nanotecnologia possuem o maiorpotencial de impacto, colocou a agricultura emsegundo lugar (ETC GROUP, 2004). No entanto,levantamento similar feito no Brasil deixou oagronegócio fora das dez prioridades, enquantoa agricultura americana e européia já atuam nessesetor há alguns anos, tendo inclusive inúmerosprodutos nanoestru-turados, melhorando de formaimpressionante o desempenho desde fertilizantesaté alimentos industrializados.

Os desafios são enormes, em particular dacapacidade do País reconhecer o potencial dessanova tecnologia e conseguir rapidamentepriorizar investimentos significativos numa áreatão estratégica para o Brasil, como é o caso doagronegócio, integrando esforços das maisvariadas instituições de pesquisa e empresas dessesetor.

Assim, uma maior conscientização dosnossos gestores é imprescindível para termos uma

política coesa de desenvolvimento científico etecnológico em áreas estratégicas que gere maisdesenvolvimento econômico e social para o País.O Brasil não pode mais perder um bonde dainovação, em particular quando de trata de umaárea em que o País tem demonstrado tantavocação, capacidade e competência – oagronegócio – não somente para garantir a suacompetitividade e agregar valor aos seus produtos,mas para poder alavancar o desenvolvimentoeconômico e social do País. A Embrapa, por suavez, empenha-se em não perder esta oportuni-dade e definiu a nanotecnologia como uma desuas áreas estratégicas para fazer parte doLaboratório no Exterior (Labex), desenvolvido emcooperação, até o momento, com os EstadosUnidos e Europa (sede na França). Tambémcoordena a iniciativa de organização de umagrande rede de cooperação de pesquisa emnanotecnologia no agronegócio, que ainda estáem busca de investimentos e de um Instituto AlanMacDiarmid de Inovação e Negócios, com acolaboração do Prêmio Nobel de Química, quedá nome a este instituto, para incrementar asações em P&D&I no agronegócio, em particularinovações em nanotecnologia.

ConclusõesA nanotecnologia está tendo um enorme

investimento nos mais variados setores daeconomia, em todo o planeta, em razão doenorme potencial de desenvolvimento tecnoló-gico, econômico e social que ela pode proporcio-nar. Os países ou setores da economia que nãodominarem essa tecnologia poderão ficarseriamente comprometidos e/ou dependentes dosdetentores deste know-how. O Brasil possui umaoportunidade única de ser competitivo no domínioda nanotecnologia aplicada ao agronegócio,desde que tenha a capacidade de priorizarrecursos para essa área no qual o Brasil possuivocação e competência, e que pode seralavancada com o uso da nanotecnologia.Esforços têm sido feito com a formação de umarede de pesquisa envolvendo especialistas dediferentes instituições de excelência de todo o

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País, mas têm esbarrado na falta de financiamento,que no caso de tecnologias como essa deveriaser certamente encaradas como estratégicas eprioritárias para um país que não pode ficar paratrás, mas que deseja crescer e liderar oagronegócio em nível mundial. Assim, o Brasil temnas mãos a oportunidade preciosa de ser nãoapenas um dos maiores produtores de alimentosdo mundo, mas de se tornar um país maisdesenvolvido, graças ao agronegócio maisdesenvolvido do planeta, para produzir desdealimento até agroenergia, incluindo uma sérieenorme de outros produtos, em que ananotecnologia será a tecnologia propulsionantee ao mesmo tempo vital para se ter umagronegócio competitivo.

Agradecimentos: Os autores agradecem àFundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SãoPaulo (Fapesp), ao Conselho Nacional deDesenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoalde Nível Superior (Capes), ao Programa Labex-EUA, e à Embrapa e instituições parceiras peloapoio concedido.

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AgriculturaDimensões de seus novosdesafios e conquistas

1 Pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Laboratório de Espectrometria de Massa.

IntroduçãoO presente artigo tem como principal

motivação o desejo de compartilhar algumasexpectativas, reflexões e fatos relevantes quepossam contribuir para a elaboração de políticasque possibilitem avanços significativos nos modosde produção de alimentos, de forma a contemplarresponsavelmente a preservação da variabilidadegenética de que ainda dispomos. O setor agrícolafoi escolhido, em meio a tantos outros, tão-somentecomo modelo estratégico de avaliação, devidomuito mais à minha proximidade circunstancialcom a área, do que a qualquer mérito profissionalou mesmo à minha autoridade acadêmica noassunto.

A questão de como são vistas as coisasIntui-se facilmente com o auxílio da

linguagem matemática, que um conjunto demenores dimensões jamais poderá conter umoutro que seja maior que ele próprio. Em termosfilosóficos, o célebre pensador judeu holandêsEspinosa (Baruch Spinoza, 1632-1677), conside-rava que, para compreender o universo, énecessário libertar-se dele e, por conseqüência,para compreender-se tudo, é preciso ser livre detudo. Se é verdade que o homem é escravo detudo que ignora, por conseguinte a ignorância omantém em uma condição menor do que adaquele que detém a compreensão, pois aqueleque compreende torna-se, necessariamente,

maior e mais livre, do que aquele que écompreendido.

Assim, o que parece ser para toda e qualqueratividade humana, com a agricultura não poderiaser diferente. Após milhares de anos de extrativis-mo e observação da natureza ao seu redor, ohomem conseguiu extrair também dela algunsprincípios básicos de renovação e manejo de seresvivos, os quais se constituem até hoje nosfundamentos da agroatividade moderna. Séculosde observação e experimentação testemunhamo laborioso e contínuo processo de aprendizadoe compreensão dos mais variados aspectos dessesetor, cuja importância não tem precedentesquando avaliada à luz da sobrevi-vência,manutenção e desenvolvimento do ser humano.Basta lembrar que sem alimento não há vida. Osetor agrícola, talvez por essa razão, teve queaprender rapidamente a não mais depender depráticas meramente predatórias dos recursosnaturais, como ainda é o caso de outros setores.A agricultura foi, provavelmente, a primeira ativi-dade produtiva a inaugurar a era da renovaçãoconsciente da energia por meio de numerosasações intencionais de reciclagem de nutrientes.

Sob a óptica espinosiana, a agricultura podeser considerada um dos mais antigos exemplosde elevação da condição humana. A partir dodomínio de alguns princípios fundamentais dessaatividade, o homem demonstrou a capacidade desair de um estado inicial de ser “compreendido”pela natureza, para um patamar mais elevado, o

Carlos Bloch Jr.1

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de "compreensor" de pelo menos parte dela.Progressivamente torna-se livre da históricadimensão politeística minimizante, na qual asrelações de causa e efeito de um determinadoevento natural não mais poderiam estarcircunscritas a um cenário mítico de imagens, desacrifícios expiatórios e do eterno obséquio deoblações divinas, que não correspondiam àrealidade.

Em termos matemáticos, o desenvolvimentodas Ciências Agrárias pode ser comparável àinvenção do zero. Da mesma forma que essealgarismo proporcionou aumento na precisão doscálculos, trazendo enorme avanço às demaisciências, a Agricultura, como registra a História,ofereceu uma nova dimensão ao esforço desobrevivência para as dezenas de espéciesdiferentes de hominídeos nômades, completa-mente à mercê do que pudessem extrair dassavanas africanas e elevou, pelo menos umadelas, à categoria de operadora dessa poderosaferramenta de subsistência, detentora designificativo grau de previsibilidade e acurácia.

Em suma, a Agricultura permitiu ao homemsair da condição de apenas mais um elementocontido no complexo "conjunto" dos seres vivos,cujas dimensões físicas e comportamentais eramsimplesmente indomáveis, para conceber emanipular um novo "subconjunto" particularmenteseu, sob constante interferência sua, no qualvariáveis importantes, até então imperscrutáveis,passaram a ser conhecidas e administradas,proporcionando assim a primazia atual de nossaespécie sobre as demais.

Conseqüências de umavisão incompleta das coisas

Contudo, parece que se está chegando aoslimites tecnológicos e conceituais dessas inven-ções. O assustador aumento das áreas de interces-são destrutiva entre o conjunto das atividadesagroindustriais e o conjunto dos últimos biomasdepositários do patrimônio genético diversificadorepresenta a mais clara evidência de que alguma

mudança sistêmica na compreensão dessemodelo de produção precisa ser feita.

O subconjunto agricultura que se conhece,só pôde surgir porque sempre foi subordinado aodomínio da biodiversidade e, por conseqüência,amplamente contido no conjunto maior doecossistema terrestre. Não pode-se esquecerjamais de que a biodiversidade foi sempre a baseda sobrevivência humana e que, diante depressões evolutivas mais variadas, foi ela quesempre funcionou como um tipo de “apólice deseguro” para a conservação da vida e, como tal,precisa continuar. Mediante o surgimento deacontecimentos inesperados no futuro, elarepresenta reais possibilidades de alternativa desobrevivência e desenvolvimento, constituindouma resposta adequada a eventuais decréscimosde suprimento, tanto para nós como para todas asdemais espécies.

O que seria capaz de unificar esses doisprocessos que agora se apresentam tãodivergentes? Como se poderia compatibilizar odesenvolvimento agrícola à imperativa necessi-dade de manutenção da biodiversidade? Diferen-temente do parasitismo predatório, que aniquila asua fonte primordial de sobrevivência, o modo deprodução de alimentos para o ser humano precisadesenvolver alternativas análogas ao do seupróprio processo de reprodução. Ou seja, assimcomo o feto não pode permanecer ad eternum noventre de sua mãe, sob pena de provocar a mortede ambos, precisando continuar o seu desenvol-vimento em outra dimensão, fora do útero, aagricultura terá que encontrar novas formas,parâmetros de preservação e desenvolvimento,diante não somente das condições ora experimen-tadas, mas, sobretudo daquelas que serãoenfrentadas futuramente. Para a sobrevivência detodas as espécies, principal-mente aquelas maisameaçadas pela natureza, pela voracidade docomportamento do homem, outra dimensão quepermita o desenvolvimento da atividade agrícolae que, ao mesmo tempo, permita a manutençãoda variedade de seres vivos que ainda existe, teráque ser encontrada.

Mas será que já não existe essa novadimensão ou pelo menos elementos que permitam

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a humanidade vislumbrá-la? Acredita-se que sim,e não se trata da colonização de novos planetas.As ferramentas tecnológicas que vêm sendoproduzidas, desde o último século, já fornecemvaliosas pistas de como já se pode desenvolverestratégias para se chegar a uma compreensãomaior e "pra fora" desse sistema que limita ohomem.

O estado da arteA era pós-genômica, com suas contribuições

conceituais e metodológicas, talvez seja a maisimportante de todas nesse aspecto. A capacidadede se desvendar o código genético completo devárias espécies de seres vivos colocou o homemdiante da real possibilidade de identificar oconjunto de genes mínimos necessários para quea vida possa existir. O Projeto Genoma Mínimo(HUTCHISON III et al., 1999), iniciado emdezembro de 1999 por pesquisadores da TheInstitute of Genomic Reseach (TIGR), http://www.tigr.org/minimal/, não somente abriu aperspectiva de se conhecer (MARSHALL, 2002),quantificar (SMALLEY et al., 2003), compreendera ordenação (FEDOROV; HARTMAN, 2004) e ahierarquização dos agentes fundamentais da vida(KATINKA et al., 2001), mas principalmenteofereceu a expectativa de um dia se poder emulá-los, completa ou parcialmente (ISLA et al., 2004),em favor de um processo de produção de alimentosmais eficientes e muito menos agressivos àsdemais espécies.

De modo geral, os últimos avanços nospermitem sugerir propostas que conduzam a umaprogressiva substituição dos atuais meios deprodução de nutrientes, já identificados como fontede enorme desperdício energético e sobrecargaambiental, por meio de processos equivalentesoriundos da utilização de novos seres comgenomas minimamente desenhados para esse fim.A criação de organismos com eficiência metabó-lica selecionada para cumprir uma determinadafunção, de maneira sistemática, precisa e menosdispendiosa, não é novidade para o setor agrícola.Gado leiteiro, cavalos de corrida, cultivares maisresistentes a patógenos são apenas alguns poucos

exemplos consagrados da incessante busca pormelhoria da produtividade. Contudo, se os avançosque vimos registrando até agora não significam,necessariamente, uma redução global dodesperdício energético ou do impacto ambientalque se deseja para atingir o equilíbrio desobrevivência de todos, tampouco a pura e simplescriação de novos organismos "mais eficientes",porém descontextualizados dessas premissas,resolverá o problema.

O desafio primário que agora se enfrentanão está somente no que se busca, mas sim naescala de trabalho (WHITESIDES, 2003) do quese procura e em suas conseqüências. A criaçãode organismos com genoma mínimo pode seremblemática dentro dessa perspectiva decrescimento futuro, mas esbarra na capacidadede se desenvolver, desde já, as ferramentasapropriadas (FREDERIX et al., 2005) para efetuaressa tarefa satisfatoriamente e, ao mesmo tempo,monitorar os seus efeitos colaterais. Assim comose foi capaz de desenvolver telescópios, sondasespaciais e todo tipo de artefato, desde a escalacósmica até a manipulação microscópica,precisa-se compreender melhor o ambienteespecífico da escala nanobiológica (PENNADAMet al., 2004), as leis que a ele se aplicam (BALL,2005) e os seus limites (GRUNWALD, 2004).

Por onde começar?Iniciativas de pesquisa em Nanobiotecnolo-

gia começam a florescer por todo o mundoinclusive no Brasil (DURÁN, 2004). Os órgãos defomento à pesquisa, bem como várias instituiçõescientíficas nacionais demonstram concretamenteque não estão alheios a essa tendência e jáiniciaram uma decisiva reestruturação de seusquadros e recursos com esse propósito.

A Embrapa, a partir de décadas de investi-mento nas áreas de biosensores, de biologiamolecular, de biofísica e de bioquímica direcio-nadas à resolução de problemas do setoragropecuário, encontra-se hoje em uma posiçãoestrategicamente privilegiada de inserção nessenovo contexto da pesquisa científica. A sistemática

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demonstração de sua capacidade de acessoqualificado ao sistema biológico, associada àcompreensão das constantes necessidades degerar soluções tecnológicas inovadoras paraproblemas de um agronegócio interno crescente-mente globalizado, atesta o enorme potencial decrescimento científico e produção industrial quese espera.

Exemplos como o da Língua Eletrônica(RIUL JUNIOR et al., 2003), da capacidade demanipulação e desenvolvimento de clonesanimais (IGUMA et al., 2005), de transferência degenes para embriões (RIBEIRO et al., 2001) e demétodos e processos em escala molecular quegarantam rastreabilidade e segurança alimentar(BLOCH JUNIOR et al., 2002) são alguns registrosdo sucesso da instituição no uso de nanoferramentas, quando ainda nem eram reconhe-cidas como tal. Tais referências mostram que osfundamentos desse novo ramo do conhecimento,a nanobiotecnologia a serviço do agronegócio,estão associados ao quotidiano de trabalho daEmbrapa, constituindo um tema de crescenteinteresse entre os seus pesquisadores.

Projetos que contemplem a urgentenecessidade de desenvolvimento de testes paraa detecção direta, rápida e inequívoca de víruscomo o da "influenza asiática"; de métodosconfiáveis e práticos para diferenciação in vivode prions infectivos; para rastreabilidademolecular de animais de corte que não sópossibilite avaliações de sanidade, desde onascimento até o seu ponto final de utilização,mas também que sejam viáveis sob o ponto devista econômico são alguns dos desafiosatualmente assumidos por vários grupos depesquisa da Embrapa e que ilustram a expressivademanda por ferramentas e abordagensnanotecnológicas.

ConclusãoÉ fato que as iniciativas em nanobiotecno-

logia, divulgadas até o momento, podem serconsideradas muito tímidas e ainda bem distantes,quando comparadas àquelas necessárias para se

atingir o domínio tecnológico que a utilizaçãorotineira de organismos com genomas minima-mente desenhados para o agronegócio exige.Contudo, é da maior importância registrar-se queesses são tempos decisivos para a consolidaçãode novos fundamentos técnicos, conceituais eéticos muito mais abrangentes do que aquelescom os quais hoje se trabalha. Urge a necessidadede uma visão mais qualificada sobre fluxoenergético e sobre os meios de sustentação davida no planeta, para que possa ser pensadadentro de bases científicas sólidas e não perma-neça refém de especulações feitas ao sabor decenários conjunturais ou modismos tecnológicos.

Esse é, sem dúvida, o maior desafio detodos. Seria um desperdício incalculável inaugu-rar um novo capítulo da ciência, em um setor daatividade humana tão importante como aagricultura, limitado pelo mesmo olhar antropo-cêntrico que vem caracterizando a esmagadoramaioria de todas as ações. Precisa-se, sim,resolver os problemas de hoje com a maior compe-tência técnico-científica possível. Contudo, épreciso ir mais além. É necessário planejamentode atividades de pesquisa, produção e uso dosrecursos disponíveis de uma forma maisconseqüente: deslocando o foco do subconjuntoque foi inventado, direcionando-o para o conjuntodo ecossistema terrestre como um todo.

A nanobiotecnologia aplicada à agricultura,sob todos os aspectos, parece ser o melhorambiente possível para que se possa desvendaros caminhos que poderão levar o homem a essanova dimensão de manutenção da vida que tantose precisa. A escala nanométrica exige que anossa mente macroscópica (algumas vezescósmica) elabore estratégias que a liberte dos seuslimites físicos e psicológicos inatos, para"enxergar" no "invisível" os espaços de trabalho,as oportunidades de interações, de desenvol-vimento e de criação, inconcebíveis para a maiorparte das gerações anteriores. Quem sabe, nesseprocesso de busca pelos pontos de intercessãoentre o infinitésimo e o infinito encontre-se o quede fato está faltando.

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GlossárioConjunto: Reunião de objetos, determinados

e diferenciáveis, quer esses objetos pertençam àrealidade exterior, quer sejam objetos do pensa-mento.

Domínio: Conjunto a que uma variável estáconfinada.

Subconjunto: Conjunto cujos elementospertencem a outro conjunto; conjunto que estácontido em outro; subclasse.

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Embrapa LabexAvançando com osdonos do conhecimento1

1 O título faz referência à concentração dos investimentos em C&T e registros de patentes na América do Norte, Europa e Ásia Industrial (CONTINI et. al., 2004).2 Pesquisador da Embrapa, coordenador do Labex França.3 Pesquisador da Embrapa, coordenador do Labex Estados Unidos.

IntroduçãoDesde sua criação, a Embrapa adotou a

cooperação internacional como um de seusinstrumentos estratégicos de desenvolvimento. Aolongo de sua existência, da mesma forma e aomesmo tempo em que soube reformar, aperfeiçoare inovar em seus modelos e instrumentos degestão, a Empresa avançou nos seus modelos einstrumentos de relacionamento e cooperaçãointernacional.

Neste artigo procura-se mostrar que aconcepção e implementação do projeto Labex –Laboratório Virtual da Embrapa no Exterior foiresultado de uma decisão estratégica da altadireção da Embrapa, contextualizada por umavisão bastante elaborada de futuro e compossibilidades de se tornar viável, em razão docaráter de abertura e inovação que historicamentenorteou a cooperação internacional na Embrapa.

Para esse fim, em uma primeira seçãoapresenta-se uma breve descrição da trajetóriada cooperação internacional na Empresa; nasegunda seção, busca-se registrar justificativas efatos relevantes na formação do conceito e naconcretização do Labex. Nas duas seçõesposteriores discute-se a situação do projeto Labex,respectivamente, nos Estados Unidos e na Europapara, finalmente, chegar-se à última seção,contendo conclusões e recomendações.

Marcos do desenvolvimentoda cooperação internacionalna Embrapa

O processo de implantação e consolidaçãoda Embrapa começou com a implantação de uminédito e intenso programa de capacitação depesquisadores e técnicos nos centros maisdesenvolvidos e nas instituições universitárias demaior renome do planeta. Esse programa, queainda hoje perdura, agora ajustado à realidadeda disponibilidade e oferta de cientistas no País,ao mesmo tempo em que representou uminvestimento seguro na formação de capacidadeintelectual de alto nível, significou também oestabelecimento de laços fortes entre a Embrapae os principais centros mundiais de excelênciaem ciência e tecnologia, em áreas estratégicaspara o desenvolvimento agropecuário.

Paralelamente, a Embrapa buscou entreinstituições como Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID) e Banco Mundial os meiospara o estabelecimento de sua estruturainstitucional e para a implementação do seuprograma de pesquisa, dando origem a relaçõesduradouras que se estendem até hoje, e que, semdúvida, se revestem de caráter estratégico, tantopara a Embrapa quanto para as mencionadasinstituições (EMBRAPA, 2002).

Luis Fernando Vieira2

Pedro A. Arraes Pereira3

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A cooperação com a Organização dasNações Unidas para Agricultura e Alimentação(FAO), com o Instituto Interamericano paraCooperação em Agricultura (Iica), com o GrupoConsultivo em Pesquisa Agropecuária Internacio-nal (Cgiar) e com os centros internacionais depesquisa agrícola, bem como com instituições dospaíses europeus, notadamente o Centro deCooperação Internacional de Pesquisa Agronô-mica para o Desenvolvimento (Cirad), da França,cuja relação de cooperação com a Embrapa jáatinge duas décadas, e com o Japão, foifundamental na construção e organização daEmbrapa, tanto no que tange ao seu modelo depesquisa quanto no seu próprio modelo de gestão.

Mesmo na fase embrionária da Embrapa,os exemplos mencionados não esgotam todas asrelações de cooperação internacional estabeleci-das pela instituição, servem, porém, para mostrarque naquele momento o sentido dessas relaçõesera, predominantemente, norte-sul, com caráterde "cooperação recebida".

Pouco mais à frente, a Embrapa envolve-seem modalidades mais complexas de cooperação.Em uma iniciativa pioneira, a Empresa alia-se aoIica e a instituições de pesquisas agropecuáriaslatino-americanas para a formação de redesregionais de pesquisas. O primeiro exemplo foi oPrograma Cooperativo para el DesarrolloTecnológico Agropecuario del Cono Sur (Procisur),estabelecido em 1980 (PROCISUR, 2005). Algumtempo depois, estabeleceu-se o ProgramaCooperativo de Investigación y Transferencia deTecnología para los Trópicos Suramericanos(Procitropicus). Por meio dessas iniciativas, acooperação internacional na Embrapa começoutambém a assumir uma dimensão mais horizontal,estabelecendo relações sul-sul, abrindo, ainda,oportunidades para relações do tipo "cooperaçãofornecida". Essas redes, organizadas na forma deconsórcios foram denominadas ProgramasCooperativos para o Desenvolvimento Agrope-cuário, respectivamente, do Cone Sul e dosTrópicos.

Posteriormente, esses programas, o Procisurem particular, serviram de exemplo para a

formação de consórcios semelhantes em outrasregiões da América Latina, no Caribe e na Américado Norte.

Ao longo do tempo, como conseqüência docrescente reconhecimento internacional daqualificação de seu corpo técnico e de suacontribuição para o desenvolvimento doconhecimento científico e tecnológico para aatividade agropecuária, sobretudo para as regiõestropicais, a Embrapa, ao mesmo tempo em que sequalifica como parceira e busca recebercooperação de instituições de alto nível em todoo mundo, passa também a ser cada vez maisdemandada como fornecedora de cooperação(BARBOSA; COSTA, 2005). Gerenciamentocompetente e inovador e instrumentos criativosacompanharam e acompanham o desenvolvi-mento e a intensificação da cooperaçãointernacional.

A partir dos anos 90, inicia-se um processomuito rápido de intensificação científica dasinovações tecnológicas em praticamente todos ossetores produtivos. A tecnologia agropecuária nãoé exceção. Um dos marcos dessa revolução foi olançamento, em 1996, do primeiro produtobiotecnológico de grande impacto comercial, asoja geneticamente modificada (RUNGE; RYAN,2005). Em 1995, registra-se o primeiro caso demorte de um ser humano acometido da doençade Creutzfeldt-Jakob, associado à ingestão decarne bovina contaminada pela EncefalopatiaEspongiforme Bovina (BSE), o mal da "vaca louca"(DE CICCO, 2005).

Esses eventos trazem importantes conse-qüências em pelo menos duas vertentes: oprimeiro mostra que as prospecções de futuroapontando para a construção de um novoparadigma tecnológico universal começam a serconcretizadas, dando uma nova dimensãoestratégica às ciências emergentes, como, porexemplo, as nanociências, alargando os espaçosde aplicação e desenvolvimento das tecnologiasde informação, e apontando para imensasoportunidades para a inovação de base científicaavançada e de caráter interdisciplinar. O segundotraz consigo o sentimento de insegurança da

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sociedade em relação aos avanços científicos etecnológicos, a desconfiança da população nasinstituições e nos instrumentos de regulação e umaforte demanda por novos métodos de avaliaçãode riscos associados às novas tecnologias. O efeitosinergístico desses dois eventos tem provocadonovos e acirrados debates sobre ética, regulaçãoe modelos de comunicação entre cientistas esociedade, que estão promovendo a construçãode um novo pano de fundo político, legal einstitucional para a atividade de pesquisa,desenvolvimento e inovação.

Ainda, ao longo da década de 90, foicolocado no alto das prioridades políticas e dapesquisa científica e tecnológica todo um lequede temas e conceitos relacionados com o alívioda pobreza e o desenvolvimento econômico esocial das agriculturas de base familiar, desustentabilidade e mitigação das mudançasambientais globais, de valorização da biodiversi-dade e conhecimentos tradicionais e de proteçãoà propriedade intelectual (EMBRAPA, 1992, 1998).Esses marcos fixam-se, tendo como pano de fundoo processo de globalização.

Esse momento, bastante complexo para osindivíduos, grupos sociais e instituições, apresentagrandes riscos, mas também oferece muitasoportunidades (SHELL INTERNATIONALPETROLEUM COMPANY, 1998). A direção daEmbrapa, percebendo que esse momentosignificava um momento de inflexão na trajetóriapara o futuro, buscou encontrar os espaços deoportunidades. No bojo da estratégia global daEmbrapa para fazer frente a esse complexo futuro,surgiu o projeto Labex, como um dos instrumentosestratégicos capazes de alinhar a Embrapa e oBrasil à trajetória da fronteira da inovação e doconhecimento científico e tecnológico para osetor agropecuário e o agronegócio.

Conceitos e implementaçãodo Projeto Labex

A Embrapa, desde a sua fundação, juntocom seus parceiros nacionais e internacionais, jáhavia provocado uma "revolução tecnológica" no

setor agropecuário brasileiro. Isso já era visívelpara a sociedade e as instâncias políticasbrasileiras e para as instituições de pesquisainternacionais ligadas à área. As estimativas doimpacto da pesquisa agropecuária, calculadas porvários autores durante os anos 80 e 90, medidaspela taxa interna de retorno aos investimentos,mostram predominantemente taxas de retornovariando da ordem dos 25% ao ano até a casados 40% anuais e ilustram bem a dimensão dessa"revolução" (ÁVILA; SOUZA, 2002).

Como, porém, ainda perduravam políticasde auto-suficiência e substituição de importações,os efeitos sobre o desempenho competitivo nomercado internacional ainda não se manifesta-vam em sua plenitude.

Entretanto, a partir do final da década de90, o Brasil emerge entre os líderes do agronegóciomundial. Passando

"... a influir decisivamente no preço e no fluxo dealimentos e outras commodities agrícolas, bem comodesembarcou no centro de todas as disputas legais ediplomáticas em torno de subsídios, cotas e outrasbarreiras que impedem o acesso dos produtoresagrícolas aos mercadores consumidores. O País é umdos líderes mundiais na produção e exportação devários produtos agropecuários, ocupa o primeiro lugarcomo produtor e exportador de café, açúcar, álcool esucos de frutas. Além disso, lidera o ranking dasvendas externas de soja, carne bovina, carne de frango,tabaco, couro e calçados de couro. As projeçõesindicam que o País também será, em pouco tempo, oprincipal pólo mundial de produção de algodão ebiocombustíveis, feitos a partir de cana-de-açúcar eóleos vegetais. Milho, arroz, frutas frescas, cacau,castanhas, nozes, além de suínos e pescados, sãodestaques no negócio agrícola brasileiro, queemprega atualmente 17,7 milhões de trabalhadoressomente no campo" (RODRIGUES; CRESTANA, 2005).

Não seria possível alcançar, e não serápossível manter, essa posição, sem o contínuoinvestimento em ciência, tecnologia e inovação.O desafio implica, ainda, na escolha correta daagenda de prioridades, na redução dos temposde geração do conhecimento e de sua incor-poração aos segmentos produtivos, bem como noestabelecimento de alianças que possamcomplementar as capacidades necessárias parao cumprimento dessa missão (EMBRAPA, 2003).A Embrapa tem clareza de que "... o desenvolvi-

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mento de um país ou de uma organização jamaisprescinde da cooperação de agentes externos"(ALVES, 2001).

Sempre protagonista do debate estratégicosobre as construções e o futuro da agropecuáriabrasileira, o Dr. Eliseu Alves sugere à Diretoria-Executiva da Embrapa a instalação de unidadede pesquisa nos Estados Unidos, como instrumentopara agilizar e intensificar a cooperação técnico-científica e manter um fluxo rápido de informaçõessobre os avanços na fronteira da ciência e datecnologia. A idéia deu origem ao projeto Labex4.

O conceito aditado para o desenvolvimentodo labex é simultaneamente ambicioso, inovadore transparente:

• Para o cumprimento dos objetivos demonitorar a trajetória da fronteira do conhecimentoe da inovação em áreas estratégicas para apesquisa e a inovação brasileiras é importante quese tenha acesso imediato à informação, sepossível, em tempo real. Portanto, o Labex temque estar inserido em instituições e grupos depesquisa de excelência reconhecida internacio-nalmente e que sejam protagonistas da construçãodessas fronteiras. Para que isso seja viável, essasinstituições e esses grupos têm que igualmenteperceber benefícios ao abrigar o Labex e,normalmente, os benefícios que são maisreconhecidos são as contribuições à pesquisa.Adicionalmente, é necessário que as relaçõesestabelecidas sejam entre pares, isto é,pesquisadores de alto nível, que sejam capazesde desenvolver relações técnicas e pessoais deconfiança e uma linguagem comum decomunicação. A construção dessas relaçõesdemanda tempo.

• O Labex, além da atividade de monitora-mento, deve trabalhar para intensificar acooperação entre grupos e redes brasileiras, quetrabalham nas áreas estratégicas de ponta, e osgrupos e redes com interesses similares ou

4 A proposta estratégica de gestão da Embrapa (1995), incluía entre suas prioridades a criação de um mecanismo para monitoramento dos avanços do conhecimentocientífico e tecnológico nos países desenvolvidos (EMBRAPA, 1995). Em discussões posteriores sobre a formatação desse mecanismo, surge a proposta do Dr.Alves, de implantação de unidade de pesquisa no exterior. O desafio era conceber um modelo de implantação que permitisse superar as restrições definanciamento, surgindo daí a idéia de um modelo “virtual”, para dispensar a construção de bases físicas e demais custos de uma unidade “real”. Cumprereconhecer a contribuição do Dr. Francisco Reifschneider na construção desse conceito e nas negociações que levaram à sua implantação (A. D. Portugal emcomunicação pessoal de julho de 2005).

correlatos nos países onde o Labex atua. Issosignifica que os pesquisadores do Labex devemconhecer a agenda de prioridades e ascompetências brasileiras, ter alguma ascendênciatécnica sobre suas lideranças, ser capaz deestabelecer conexões desses grupos com osgrupos internacionais de excelência e identificaroportunidades de financiamento internas eexternas para viabilizar o desenvolvimento deações de pesquisa e inovação de interesse comum.Pela qualificação e experiência profissional queesse papel exige, a condição de pesquisadorsênior é essencial.

• É essencial que o Labex disponha definanciamento próprio. Em se tratando de umprograma de interesse mútuo, sempre haverácontrapartida da instituição que abriga seuspesquisadores, na forma de suporte à pesquisa.Porém, dispor de seus próprios meios definanciamento, ainda que limitados, sinaliza ocompromisso da Embrapa e do Brasil com oprojeto. Esse é um fator essencial de credibilidadedo Labex.

• Por último, a escolha dos pesquisadoresdo Labex deve ser feita por meio de um processotransparente e aberto, com critérios e condiçõesque privilegiem a competência e o perfilprofissional. O seu trabalho, tanto no plano globaldo programa quanto no plano individual deve seracompanhado e avaliado regularmente, pormecanismos e critérios independentes, com aparticipação de referentes do país hospedeiro.

Esse conceito foi operacionalizado commuita competência. A Embrapa mobilizou o apoiodas instâncias políticas ao projeto, comprometeu-se com a necessária alocação de recursos,avalizou e participou das iniciativas de negocia-ção empreendidas pela então Secretaria deCooperação Internacional, tanto com o BancoMundial, que por meio do Programa deDesenvolvimento Tecnológico da Agropecuária

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Tabela 1. Número de programas de pesquisa, empregados e orçamento da Embrapa e do ARS em 2004–2005.

Programas nacionais de pesquisaProjetos de pesquisaPesquisadoresTotal de empregadosOrçamento

Variáveis

22120021008100$1,10

ARS Embrapa

6781

22068619

0,48(1)

(1)Valor em bilhões de dólares.

Brasileira (Prodetab), financiou o empreendi-mento, quanto com o Agricultural ResearchService (ARS), dos Estados Unidos, que foi aprimeira instituição hospedeira do Labex.

Uma outra característica importante domodelo, relacionada também com a localizaçãodo Labex, diz respeito à eficiência do uso dosescassos recursos disponíveis. O investimento eminstalações próprias, implicando investimentos eminfra-estrutura, facilidades administrativas,manutenção e demais custos de overhead,inviabilizaria o projeto. Além disso, implicaria emseparação física dos pesquisadores brasileiros emrelação aos grupos estrangeiros de interesse.Como forma de viabilizar financeiramente o Labexe evitar a distância física, a fórmula utilizada pelaEmbrapa foi a de negociar a instalação do Labexnas próprias instituições de interesse, com seuspesquisadores integrando-se diretamente aosgrupos de excelência identificados como alvo.Esse arranjo absolutamente inovador talvez tenhasido o principal fator para o sucesso do projetoLabex.

Internamente, foram definidos os critérios,as regras e os mecanismos para seleção dospesquisadores que comporiam a primeira missão.O processo escolhido consiste de uma chamadainterna aberta de candidatos, por meio de Edital,especificando as áreas estratégicas previamenteavaliadas e debatidas com várias instânciasresponsáveis pela estratégia de pesquisa,desenvolvimento e inovação da Embrapa, oscritérios e processos de avaliação, bem comoobrigações e benefícios. A avaliação é feita porum comitê composto por gerentes e pesquisadorese a decisão final é tomada pela Diretoria da

Embrapa, considerando os candidatos queobtiveram qualificação ao longo do processo deavaliação.

Consta do III Plano Diretor da Embrapa,atualmente em vigência, o propósito de estendero projeto Labex para a Ásia (RODRIGUES;CRESTANA, 2005).

O Labex nos Estados UnidosA cooperação internacional na área

cientifica é uma necessidade inerente a qualquerinstituição que tenha ambição de ocupar um papelrelevante no cenário de inovação tecnológica noplano mundial e, com o projeto Labex, a Embrapapropôs um novo paradigma para a cooperaçãointernacional em ciência, tecnologia e inovação.

A primeira implementação do Labex, nosEstados Unidos, em parceria com o ARS, foinatural, já que os dois países têm algumascaracterísticas importantes em comum. Ambostêm uma ampla extensão territorial, com umagrande diversidade climática. Por sua vez, o Brasile os Estados Unidos são grandes parceiros etambém competidores no mercado internacionale, finalmente, são dois países que detêm posiçõesde liderança em pesquisa agropecuária mundial,os Estados Unidos na agropecuária de climatemperado e subtropical e o Brasil em agrope-cuária de clima tropical.

Pode-se também observar que o ARS e aEmbrapa possuem uma estratégia de gestão deP&D e uma estrutura de pesquisa e apoio bastantesimilares (Tabela 1).

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A coordenação do Embrapa Labex-EUAestá localizada em área de Beltsville, no estadode Maryland, onde estão localizadas ascoordenações dos 22 Programas Nacionais dePesquisa do ARS.

A Embrapa Labex-EUA foi estabelecida emabril de 1998, com suporte de um projeto com oBanco Mundial. Nesse momento, a formação daterceira equipe de pesquisadores da EmbrapaLabex, nos Estados Unidos, encontra-se na fasefinal. É importante ressaltar que a definição deáreas prioritárias é objeto de ampla discussão entrea Embrapa e o ARS para que áreas estratégicaspara ambas instituições sejam determinadasquando da formação de cada nova equipe.

A primeira equipe da Embrapa Labex-EUA,à qual coube também a implantação do Programa,foi composta por Silvio Crestana, AriovaldoLuchiari, Maria José A. Sampaio, Miguel Borges eTerezinha Padilha, respectivamente nas áreas deManejo de Solos e Recursos Hídricos e tambémcoordenador, Agricultura de Precisão, Biotecno-logia e Propriedade Intelectual, Controle Integradode Pragas e Doenças de Plantas e ControleIntegrado de Doenças Animais. Essa equipe tevepapel importante na consolidação da idéia decooperação internacional preconizada peloLabex, que pressupõe uma via de relacionamentonos dois sentidos.

A segunda equipe de pesquisadores atuounas seguintes áreas estratégicas: Modelagem,Mudanças Globais, Uso Alternativos de ProdutosAgrícolas e Manejo Integrado de Pragas e Doençase foi composta, em cada uma dessas áreas,respectivamente por Airdem Assis que tambémexerceu a função de coordenador, Helvécio DePolli, Mercedes Panizzi, e Antonio Panizzi.

Atualmente foram selecionadas as áreas deSegurança Alimentar, Nanotecnologia e RecursosGenéticos. A ênfase agora é para que em cadauma dessas áreas prioritárias seja estabelecida e/ou fomentada a formação de redes de pesquisano Brasil, para que se possa maximizar o fluxo deinformação obtendo-se o máximo de proveitodessa oportunidade de se ter um pesquisador lotadoem um centro de excelência nesta área, noslaboratórios do ARS nos Estados Unidos.

Tem-se como exemplo que no caso desegurança alimentar a atuação do pesquisador doLabex estará apoiando a Rede de PatógenosAlimentares Veiculados pela Carne Suína, Leite eQueijos Frescos de Bovinos e Caprinos eIdentificação de suas Fontes de Contaminação nosSegmentos da Cadeia Produtiva. Essa rede temparticipação de seis unidades da Embrapa e duasuniversidades.

No caso de nanotecnologia, no momentoencontra-se em formação uma rede emNanotecnologia Aplicada ao Agronegócio, queterá três linhas prioritárias de pesquisa:

• Materiais nanoestruturados para odesenvolvimento de sensores e biossensores parao agronegócio.

• Membranas de separação e embalagensativas e inteligentes, com controle de nanoestru-tura para a aplicação na agroindústria.

• Nanopartículas para liberação controladade nutrientes, pesticidas e fármacos de usoveterinário.

Essa rede é composta de 18 unidades daEmbrapa, 19 universidades e 4 institutos depesquisa. A rede de recursos genéticos estaráapoiando a rede Renargen, da Embrapa, e atuarábuscando encontrar mecanismos de troca degermoplasama importantes para o aumento dadiversidade genética da maioria das espéciescultivadas no País.

A formação de redes de equipes estrutura-das na dimensão horizontal, interagindo com oLabex, também facilitará a integração dosmembros do Labex, quando do retorno às suasunidades de pesquisa de origem, incentivando queesses exerçam um papel de liderança nessas áreasna Empresa.

O Labex na França

Agenda

Depois da experiência bem-sucedida doLabex nos Estados Unidos, a Embrapa empreen-

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deu a instalação do Labex na França, maisprecisamente em Montpellier. Embora instaladona França, o plano para essa unidade do Labex émais ambicioso, pois a intenção da Embrapa éque atue como elo entre o agronegócio brasileiroe os centros de excelência para desenvolvimentocientífico-tecnológico e de inovação relevantesda Europa.

A agenda européia para a pesquisacientífica e tecnológica de interesse da Embrapaé extensa e complexa, uma vez que deverepresentar o interesse de uma enorme diversidadede culturas e status de desenvolvimento, mesmodentro do já grande quadro de países quecompõem a União Européia. Um esforço desíntese, ainda que correndo riscos, permite porémidentificar alguns grandes grupos de temas quetêm tido tratamento prioritário: ciências emer-gentes, onde incluem-se a biotecnologia e ananotecnologia, sustentabilidade e gestão derecursos naturais, saúde e segurança nas cadeiasalimentares e um grande grupo em ciênciassociais.

Dentro desses grandes temas, algumasáreas prioritárias para o Brasil têm tido pouco, ounenhum, suporte. Dentre elas, algumas áreasrelacionadas com a modificação genética deorganismos, as ciências agronômicas e a pesquisaem sistemas de produção para as commodities. Aprimeira área, em função de pressões de gruposde interesse da sociedade, já bastante conhecidas,tem enfrentado restrições e resistências queacabam por inibir a exposição de cientistas.Assim, pesquisas continuam sendo feitas, mas comsuporte e exposição reduzidos. Quanto às outrasduas áreas, possivelmente em decorrência dossistemas de subsídios praticados, que acabam portornar a questão da competitividade relativamentesecundária, as dificuldades para obtenção defundos têm sido crescentes. Pesquisadores têmincluído esses temas, de forma subjacente, emprojetos de outras áreas ou em projetos comfinalidade de promover o desenvolvimento deregiões fora da Europa.

Existem, entretanto, programas bastanteavançados em biotecnologia, relacionados com

vários aspectos da genômica, voltados àconservação e valoração dos recursos genéticose da biodiversidade, de grande interesse para oBrasil. Também, programas em nanotecnologia ebionanotecnologia ganham prioridade e grandesuporte.

Sem dúvida, uma das grandes prioridadeseuropéias é a sustentabilidade ambiental e agestão de recursos naturais. A agenda nessa áreaé bastante avançada e o espectro de temas ébastante amplo, e muito convergente com osgrandes desafios que o Brasil já enfrenta ou devefuturamente enfrentar. Muitos grupos de exce-lência, em países de tradição científica comoFrança, Holanda, Alemanha, Inglaterra, Suécia,Dinamarca, Noruega e Itália, desenvolvempesquisas científicas e tecnológicas avançadasnesses temas e o potencial de cooperação com aEmbrapa e outras instituições brasileiras é muitorico.

O mesmo pode se dizer a respeito dapesquisa científica e tecnológica em segurançanas cadeias agroalimentares e na relação entrealimento e saúde. Além do interesse do Brasilnesses temas per se, sua importância no que dizrespeito a potenciais barreiras técnicas àsexportações brasileiras lhes dão uma novadimensão de interesse. Grupos de excelênciainvestigam a relação do alimento com a saúdesobre vários aspectos, abrangendo desde aspectosmédicos e nutricionais, até a funcionalidadebiológica e tecnológica de componentes isolados.Muitos desses temas podem ter desdobramentosfuturos importantes para o Brasil. Alguns estudosprospectivos apontam que os sistemas previden-ciários só suportarão o ônus adicional decorrentedo aumento da longevidade da população se aalimentação do futuro for voltada para a conserva-ção da saúde e prevenção de doenças. Em sejulgando plausível essa visão, à pesquisa sobrefuncionalidade dos alimentos e sua aplicação deveser assinalada altíssima prioridade.

Localização

A escolha por Montpellier tem fortes razões:

• Além de ser um dos principais clusters deinstituições científicas da Europa, Montpellier é,

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sem dúvida, onde se concentra a maior massacrítica de capacidade científica voltada para apesquisa científica, tecnológica e para a inovaçãoem agricultura tropical da Europa.

• Ainda justificando a escolha, a Embrapae o Brasil têm uma longa história de cooperaçãocom a França, facilitando assim a integração doLabex ao ambiente institucional francês, além depermitir o acesso a uma série de mecanismos eoportunidades de financiamento para cooperaçãointernacional, muitos dos quais em função deacordos bilaterais da França com o Brasil.

• Montpellier oferece arranjos institucionaisbastante convenientes para o desempenho doLabex, seja na organização dos grupos depesquisa no formato de Unidades Mistas dePesquisa (UMR), que são plataformas multiinsti-tucionais e multidisciplinares para o desenvolvi-mento de programas específicos de pesquisa, sejano âmbito mais global de gestão das organizações,na qual a plataforma Agrópolis congrega em umaforma de consórcio as principais organizaçõescientíficas e tecnológicas instaladas no local, querorientadas para a pesquisa, para a formação oupara a inovação.

• Por fim, o ambiente francês, em geral, e olocal, em particular, é amplamente abertoe receptivo à cooperação internacional, dentro efora do espaço europeu, facilitando o acesso aoutras instituições européias e a conexão comgrupos brasileiros.

Arranjo institucional

O acordo para instalação da coordenaçãodo Labex França foi negociado e firmado com aAgrópolis. A Agrópolis define-se como um pólointernacional de pesquisa e ensino superior emagronomia e ciências correlatas, tendo por sóciosestabelecimentos públicos e privados de pesquisae ensino superior de Montpellier e da RegiãoLanguedoc-Roussillon, em parceria com estabele-cimentos estrangeiros e internacionais, cole-tividades territoriais e empresas privadas, e cujoprincipal objetivo é o desenvolvimento econômicoe social das regiões mediterrâneas e tropicais

(AGRÓPOLIS, 2005). A partir dessa plataformapode-se ter acesso facilitado a inúmerasinstituições francesas, instâncias políticas eparceiras internacionais.

O Labex França entrou em operação emjaneiro de 2002, tendo como áreas estratégicas:Economia do Agronegócio, Biotecnologia, Gestãode Recursos Naturais e Tecnologias Agroalimen-tares e Agroindustriais. O grupo pioneiro selecio-nado para desenvolver as áreas estratégicas foiformado, respectivamente, pelos pesquisadoresElisio Contini, também na função de coordenador,Ana Brasileiro, José Madeira Netto e Regina Lagoque, em curto prazo, integraram-se às suasequipes de pesquisa. Em 2005, depois de umperíodo de três anos, iniciou-se o processo derenovação da equipe.

Estuda-se agora a descentralização doLabex na Europa, buscando-se outros países ondeseria conveniente a colocação de pesquisadores.Já existem negociações avançadas com aUniversidade de Wageningen e, no desenvolverdo processo de substituição dos membros da atualmissão, que já está em curso, um dos novospesquisadores poderá ser lotado naquelauniversidade.

Estratégia de trabalho

De uma maneira bastante racional, aprimeira fase do Labex França foi dedicada aintegrar-se ao ambiente francês, estabelecendouma forte aproximação com as instituiçõesfrancesas. Como conseqüência foram criadasoportunidades e promoveu-se um crescimentosubstancial de pesquisadores brasileiros nessasinstituições, nos formatos de visitas técnicas,desenvolvimento de pesquisas para conclusão deprogramas de pós-graduação e programas de pós-doutorado, muitos com financiamento de fonteseuropéias. Um conjunto significativo de projetosde pesquisa envolvendo grupos europeus ebrasileiros foi, e está sendo, articulado incluindoa bem-sucedida participação da Embrapa noChallenge Program “Generation”.

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Além da ação de consolidação na França,o Labex avançou no estabelecimento de relaçõescom instituições e grupos na Holanda, emWageningen, Alemanha e Reino Unido, que agoraentram em processo de maturação e geração deoportunidades para concretização de atividades.

Como parte da estratégia de multiplicaçãode seu alcance, o Labex França procura apoiar eestabelecer alianças com os pesquisadores daEmbrapa que desenvolvem programas de pós-doutorado e sabático na Europa, para aumentar acapacidade de monitoramento do conhecimentoe também para, aproveitando as conexõestécnico-científicas estabelecidas por essespesquisadores, dar-lhes um caráter institucionalmais amplo e, assim, criar oportunidades deabertura internacional a outros grupos e redes depesquisa na Embrapa e em outras instituiçõesbrasileiras. Por meio desse mecanismo, uma sériede outros pesquisadores pode estabelecerrelacionamentos e encontrar oportunidades deintercâmbio com grupos europeus. Também oLabex tem estimulado esses pesquisadores aapresentarem projetos de pesquisa em parceriacom os grupos onde desenvolvem seus programas,de forma que o envolvimento e as relações seconstruam em horizontes de tempo de mais longoprazo. Alguns casos de sucesso já podem sercontabilizados e outros estão em desenvolvimento(ARRAES et al., 2005).

Avaliação

O Labex França foi avaliado recentemente,no final de fevereiro de 2005, por uma equipeformada por cinco experts franceses e brasileiros,com inclusão de avaliadores externos à Embrapa.Nesse processo, foram avaliadas as ações geraisdo Labex, bem como o desempenho individualde cada membro da equipe (AJUDA..., 2005).

Foi ressaltada a contribuição do Labex naprodução de informações relevantes para acompreensão da Política Agrícola ComumEuropéia (PAC), que estabelece os níveis de suporteà atividade agrícola nos países da União Européia,bem como o bom nível de relacionamento

estabelecido com instituições governamentais ede pesquisa, no Brasil e na Europa. Foramapontadas as participações do Labex nasarticulações das parcerias que levaram àaprovação de um conjunto expressivo de projetosna chamada do Challenge Program Generation,à inclusão da Embrapa no projeto Kassa e àparticipação de grupos da Embrapa nos projetosAlcue, Pavuc e Food-N-Co, financiados pelaUnião Européia. Chamaram também atençãoalgumas articulações bem-sucedidas com o setorprivado, que redundaram em cooperação nasáreas de aromas naturais e na abertura deoportunidades para investimento privado emprodução agrícola no Brasil.

A atividade de pesquisa dos cientistas doLabex foi extremamente elogiada pelascontrapartes francesas, pela contribuição que foidada, seja para o avanço na obtenção deresultados dos programas e projetos dos grupos,seja pela abertura de frentes inéditas de pesquisa.Na área de biotecnologia, utilizando análisegenômica de materiais contrastantes e micro-arrays, foram obtidas mais de mil seqüênciasdiferencialmente expressas em arroz, sobcondições de estresse hídrico. Métodos avançadosde interpretação de imagens para possibilitar oestudo de interação água-solo por sensoriamentoremoto foram obtidos e validados. Foram tambémdesenvolvidas pesquisas em métodos químicos detransformação dos lipídios da mamona, com oobjetivo de se obter lipídios funcionais porbiomodelagem.

Foram também avaliados positivamentepelos membros da equipe o número de 21publicações, a participação em 74 eventosinternacionais (congressos, seminários, conferên-cias, etc.) e o aumento do número de pesquisadoresem pós-graduação ligados às atividades do Labex,que saltou de um para sete.

Da discussão com os pesquisadoresfranceses que lideram os grupos de pesquisa nosquais se inseriram os cientistas do Labex ficouevidente que, além dos benefícios diretos,decorrentes dos resultados de pesquisa obtidos,um benefício indireto e substancial, ainda que

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menos tangível, foi o aumento do grau de acessodos grupos de pesquisa europeus a parceirosbrasileiros, dentro e fora da Embrapa, e a outrosparceiros sul-americanos, facilitados pela ação dearticulação do Labex, que viabilizaram a captaçãode recursos substanciais junto a fontes definanciamento de pesquisas que exigem arranjosmultinacionais com a participação de países emdesenvolvimento.

Durante o processo de avaliação, eviden-ciou-se que o Labex França passa por ummomento de inflexão, com o encerramento de suafase inicial de implantação e consolidação, tendoa sua equipe pioneira sido distinguida com umalto e merecido grau de aprovação, e uma novafase, agora de expansão, para dar-lhe um caráterde âmbito europeu, se inicia, cabendo à novaequipe a tarefa de realizá-la, tendo por referênciaos níveis de qualidade e realizações alcançadosna sua primeira fase (SAVIDAN, 2005).

Conclusões e recomendaçõesDo ponto de vista global, conclui-se que o

projeto Labex foi uma iniciativa visionária, bastan-te ousada e inovadora da Embrapa, e que, mercêda criatividade e da capacidade dos gerentes queconduziram o projeto até sua implantação, foitornado uma realidade viável e eficiente, do pontode vista da sua formatação e da aplicação derecursos.

Para um país como o Brasil, que tem noagronegócio um dos seus motores de desenvol-vimento, e para a Embrapa, em particular, reco-nhecidamente uma das mais importantes institui-ções de pesquisa agropecuária e inovação nocenário mundial, prova-se, pelo resultado dassucessivas avaliações por que tem passado, uminstrumento de muito valor, cuja maturação devetrazer retornos ainda mais altos que aqueles atéaqui obtidos.

A recomendação fundamental é que aEmbrapa esteja sempre atenta às potencialidadesdo Labex, para que o uso desse instrumento sejaotimizado, fazendo-o dar o máximo de suportepossível às estratégias de desenvolvimento da

pesquisa e dos processos de inovação para oagronegócio do País.

No plano operacional, alguns pontosrelevantes para a manutenção da credibilidadedo projeto devem merecer contínua atenção:

• Que haja pelo menos um mês deoverlapping entre a data de saída de umpesquisador e a chegada de seu substituto.

• Que sejam reforçadas as iniciativas doLabex para assumir o papel de facilitador daintegração de parcerias de instituições européiase brasileiras com instituições da África e daAmérica Latina.

• O envolvimento do Labex no apoio aospesquisadores que entram nos programas decapacitação, mesmo em nível de pós-graduaçãoe sabático, auxiliando-os na identificação degrupos de interesse nas suas áreas de especia-lização, bem como a manutenção da estratégiade envolvê-los nas atividades de monitoramentoe prospecção tecnológica e nas de articulaçãode parcerias com os grupos brasileiros e europeuse americanos, ainda que esse apoio possa serestendido a outras instituições do Brasil.

• Desenvolver ações para aumentar avisibilidade do Labex, tanto no Brasil, e aí mesmointernamente à Embrapa, e nos países e instituiçõesda Europa e EUA Buscar expandir seu alcancepara países-chave europeus, como Alemanha,Países Baixos e Reino Unido.

• Fomentar ações conjuntas e coordenadasentre o Labex França e o Labex EUA.

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Formação derecursos humanose os novos tempos

IntroduçãoO propósito do artigo é discutir os

paradigmas da política de recursos humanos parapreparar os cientistas da Embrapa para os novostempos. Fala-se muito nas dificuldades orçamen-tárias da Empresa. Mas, o quadro que sedescreverá não diz respeito a este importanteassunto. O quadro ainda é pertinente numambiente orçamentário favorável. Ou, ainda, aEmbrapa terá que se ajustar às transformações emcurso, qualquer que seja o rumo que o orçamentodo governo federal possa tomar. Assim, o artigonão tem como objetivo discutir novas formas definanciar a Embrapa, embora elas, naturalmente,decorrerão das transformações em andamento.Mas, sim, discutir os ajustamentos necessários.

Política de recursoshumanos do passado

A política de recursos humanos do passadose desenvolveu num ambiente em que atecnologia, em nível de porteira da fazenda, erabem-público, e, portanto, legalmente desprote-gida. Cabia, assim, ao poder público desenvolvere difundi-la, sem custo para os agricultores. Aproteção existente, como no caso do milhohíbrido, tinha fundamento na preservação desegredos, em acordos entre indústrias e no

elevado nível de capital exigido, considerando-se a insegurança que a ausência de uma estruturalegal de proteção ao invento e à descoberta trazia.Por isso, a política de recursos humanos daEmbrapa foi abrangente no limite do nível daporteira da fazenda, estendendo-se, ainda, à áreade tecnologia de alimentos, máquinas eequipamentos, mas timidamente.

Nunca se teve a ilusão de que existissemtécnicas que permitissem identificar, a priori, umjovem talentoso para pesquisa. Assim sendo, teveque se valer da lei "dos grandes números", pelaqual somente se encontra, entre jovens recém-formados, talentos para a pesquisa, apostando-senum grande número deles. Por isso, nos primeiroscinco anos de vida, foram contratados ouincorporados ao quadro, quando oriundos doextinto Departamento Nacional de PesquisaAgropecuária (DNPEA), cerca de 1.100 pesquisa-dores, recém-formados ou sem treinamento denível mestrado4. Nos casos das contratações, paraminimizar erros de escolha, quanto à disposiçãopara o trabalho, optou-se por escolher aqueles quedemonstraram ser operosos, como estudantes, ouseja, aqueles que se colocaram entre os 10%melhores da turma. Ainda as disciplinas querequeriam mais o raciocínio lógico pesaram naescolha, em função das notas nelas obtidas.Recorreu-se à opinião de um grupo de professores,quando julgado necessário. Obviamente, a opção

Eliseu Alves1

Renato Silva2

José Prado Fonseca Filho3

1 Assessor do diretor-presidente da Embrapa e pesquisador.2 Assessor do diretor-presidente.3 Chefe do Departamento de Gestão de Pessoas (DGP).4 A lei que criou a Embrapa determinou-a absorver o pessoal do DNPEA que passasse nos testes de seleção.

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por recém-formados deveu-se a inexistência,àquela época, de um número de pesquisadoresexperientes que preenchessem a demanda daEmbrapa. E, por isso, a Empresa teve que por emmarcha um programa de pós-graduação de vulto,aliás, muito bem sucedido, a fim de, rapidamente,capacitá-la a enfrentar os desafios de nossaagricultura.

O concurso público foi estabelecido naEmbrapa em 1984, antecipando-se ao dispositivoconstitucional, que mudou o processo de seleção,de modo a dar igualdade de oportunidades a todos,mas que enfraqueceu a Empresa, quanto ao nãolevar em conta fatores subjetivos que as provasnão captam, como o espírito empreendedor, acapacidade de se sacrificar por objetivos e ahonestidade de propósitos.

A política de recursos humanos, ainda, sepautou pelos seguintes fundamentos:

• O estabelecimento de uma carreira queestimula a vontade de estudar e de progredir. Temtrês níveis (designados por cargos), sendo que onível I é para quem não tem curso de pós-graduação, o nível II para quem tem mestrado, e,finalmente, o nível III é para quem tem doutorado.Cada nível tem vários acessos. O maior problemade hoje está nos salários baixos de entrada decada nível, o que compromete toda a carreira depesquisador.

• Um nível de salário que permite opesquisador competente viver, com sua famíliadignamente, do que a Embrapa lhe paga. Com ocorrer do tempo, este fundamento tem sidoerodido.

• Um plano de aposentadoria, sendovoluntária a adesão, pago pela Embrapa e peloservidor, para apoiar a velhice. Este plano visasuplementar a aposentadoria do INSS. Estácristalizado na Ceres.

• Um plano de saúde, pago pela Embrapae pelos servidores, com duas finalidades: ampararo pesquisador e sua família, no que respeita àsdespesas com saúde, e preservar a saúde dospesquisadores, de fato o capital importante daEmpresa5.

• Um conjunto de atividades visandoestimular o pesquisador a acumular conhecimentoe experiência, a ser produtivo e a amar a Embrapa.Há um complexo sistema de promoção por mérito,baseado no indivíduo, no grupo e na unidade depesquisa. O aforisma, caro à Embrapa, reza quetodo ano ela tem que corresponder à sociedadecom tecnologias que justifiquem os investimentosfeitos e produzir pesquisadores mais bemtreinados. Assim, dois produtos cabem à Embrapa:produzir pesquisadores sempre mais competentese tecnologias.

• Um programa de treinamento em nívelde pós-graduação, em serviços e pós-doctor queatenda simultaneamente aos interesses daEmpresa e dos pesquisadores, e que procuracapacitá-los, conforme padrões de exigência dosmelhores centros dos países avançados.

• A Empresa reconhece que a tecnologiagerada cristaliza o esforço de todos os seusfuncionários. Por isso, o programa de treinamentoé para todos, mas a pós-graduação se centra nospesquisadores, não sendo, contudo, exclusivadeles.

• Cada unidade de pesquisa concentra umamassa crítica de pesquisadores. É organizada detal modo que fiquem claro o público-alvo, oproblema principal e a responsabilidade da equipeperante a sociedade. Cada unidade já é em si uminstrumento de concentração do esforço depesquisa e propicia um ambiente de trabalho queestimula o desenvolvimento humano, acriatividade e senso de utilidade à sociedade.

• Procura-se estimular o pesquisador a serum empreendedor no seu campo, a buscarrecursos, a interagir com o mundo externo e azelar pela difusão de tecnologia. Reza outroaforisma: resultado de pesquisa na gaveta dopesquisador, ou o resultado não presta para nadaou o pesquisador, ou ambos.

• O programa de comunicação da Embrapavisa prestar conta do que ela realiza; divulgarresultados de pesquisa; dar à Empresa visibilidadee transparência; e valorizar o seu corpo de

5 O plano de saúde é para todos os servidores, e sua razão de ser é a mesma, qualquer que seja o servidor.

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funcionários. São, ainda, parte do programa decomunicação, várias solenidades, umasconectadas com o aniversário da Empresa e dasUnidades, outras desenroladas em seminários,simpósios no Brasil e exterior, mas todas elasproporcionam oportunidades de aprendizagem evalorizam os servidores. Assim, o programa decomunicação é parte do programa de desenvol-vimento de recursos humanos, embora com vidaindependente.

• Embora todo o esforço da Empresa sejavoltado para apreciar o seu capital humano, oprincípio da substituição ordenada tem queprevalecer, visando manter uma idade média paraos doutores de 45 anos, assim estabelecida: opesquisador termina o doutorado com 30 anos,com um horizonte de trabalho de 30 anos. Ametade disto é 15. Por isso, 15 anos devem seradicionados aos 30, perfazendo 45 anos. Dessemodo, em média, um jovem doutor terá 15 anosde vida profissional ao lado de pesquisadoresseniores. Um problema crítico do momento é queestamos ultrapassando essa média para osdoutores, sem uma reposição ordenada. Ainda émuito importante criar condições para quem querse aposentar e é competente e pretende continuarservindo à Embrapa. Há muito que se avançarnesse sentido.

• No começo, foi feito um enorme esforçopara integrar os pesquisadores ao espírito daEmbrapa, em cursos, reuniões e comunicaçãodireta com a direção da Empresa. Como aEmpresa era jovem, um mundo de oportunidadesse abria aos que se juntaram à empreitada. Aslideranças não tinham tido tempo de se estratificar.Por isso e pelo apoio obtido da sociedade, nãohouve maiores dificuldades de desenvolver oespírito Embrapa.

Em pesquisa, é natural, com o passar dotempo, desenvolver-se a "senioridade", pela qualse solidificam as lideranças, tendo comofundamentos o conhecimento e a fama. Se essaslideranças não souberem integrar ao trabalho eno caminho da promoção humana os novospesquisadores, a decepção deles, ao verificar quenão têm ajuda na sua caminhada, se transformará

em rancor, e o espírito anti Embrapa prosperarárapidamente. Não adianta querer resolver esteproblema via democratização de procedimentos.O que se deve fazer é encontrar mecanismos depromoção para aqueles que sabem trabalhar emequipe e repartir seus conhecimentos. Procedi-mentos não têm força para fazer um pesquisadorcompetente partilhar mais do que aquilo quedivulgou, em textos ou comunicação oral. E umpesquisador competente tem muito mais parapartilhar.

Algumas evidênciasQuadro de pessoal

A Embrapa foi instalada em 26 de abril de1973. Por lei, a Empresa teve condições de avaliaros servidores do extinto DNPEA, e admitir no seuquadro de pessoal os que foram consideradoscompetentes para missão e que, obviamente,aceitaram o desafio. Quem não ficou na Embrapa,permaneceu no Ministério da Agricultura Pecuáriae Abastecimento (Mapa). Ninguém perdeu oemprego. A incorporação dos servidores doDNPEA ao quadro da Embrapa, em larga medidaocorreu em 1974, e, ainda, houve contrataçõesem 1973 e 1974. Assim, o efeito DNPEA noquadro de pessoal desapareceu em 1974, daí parafrente o quadro cresceu apenas pela contrataçãode pesquisadores e servidores para o quadro desuporte.

Nos anos 1973 e 1974, incorporaram-se àEmpresa 884 pesquisadores, sendo que 730 (83%)somente tinham curso superior e 154 tinhammestrado e doutorado (apenas 17). Aqueles comcurso superior, a imensa maioria, seguiu,imediatamente, para os cursos de mestrado e, emseguida, para o doutorado. Os de mestradoformaram a base do doutorado, mas muitostrabalharam alguns anos antes de se matricularemnos cursos de pós-graduação. Nesses dois anos,passaram a pertencer à Embrapa 4.056 servidores,equivalente a 45,1% dos 8.991 servidoresexistentes em dezembro de 2004.

Nos primeiros 12 anos de vida, o programade pós-graduação teve grande ímpeto, chegando

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a ocupar 50% das vagas de pós-graduaçãoexistentes no País, e um grande número depesquisadores foi mandado ao exterior,principalmente, para o nível de doutorado. Emdezembro de 1984, já com 12 anos de vida, aEmbrapa contava com 1.619 pesquisadores,sendo 320 sem pós-graduação, 1.001 commestrado completo e 298 com doutoradocompleto (cerca de 18,4% do total de pesquisa-dores).

A política de formação de recursossubseqüente perseguiu os mesmos objetivos, alémde, nos concursos públicos mais recentes, exigirpelo menos mestrado. Em 2004, o quadro depesquisadores equivaleu a 2.211. Dos quais, 47não tinham pós-graduação, 827 com nível demestrado e 1.337 com nível de doutorado - cercade 60,5% do total de pesquisadores, num quadrode servidores de 8.503.

O quadro de pessoal chegou a 11.097servidores em março de 1990. Os servidoresde apoio, 8.822, equivaleram a 79,5% do total.Os pesquisadores, em número de 2.275,guardavam uma proporção de 1 para 3,9 emrelação à categoria apoio. Esses números foramjulgados exagerados, e procurou-se reduzir onúmero de servidores de apoio. Em dezembrode 2004, o quadro caiu para 8.503, sendo, noquadro de apoio, 6.292 servidores, e o númerode pesquisadores correspondeu a 2.211,pequena queda em relação a março de 1990.Assim, houve uma queda substancial donúmero de servidores do quadro de apoio e umaqueda pequena do número de pesquisadores.Relativo aos servidores totais, apoio corres-pondeu a 74,0%, em 1994. E para cada 2,8servidores da categoria apoio equivaleu umpesquisador, relação esta semelhante àquela depaíses avançados. Pode-se ainda notar, que ototal de servidores de 2004 era próximo ao de1984, quando terminou o mandato da segundadiretoria da Embrapa, e não muito diferente de1982 (Tabela 1).

A Fig. 1 visualiza a evolução dos três níveis,no período 1973-2004. Mostra uma quedaacentuada do número de pesquisadores que não

obtiveram mestrado ou doutorado, um acentuadoincremento dos pesquisadores com mestrado até1995, e uma queda continua em seguida, e oavanço persistente do nível de doutorado (Ph.D).

Em função da ampliação e diversificaçãodos cursos de pós-graduação, o mercado já ofereceum número elevado de mestres e doutores. Apolítica de concursos públicos da Empresa evoluiu,corretamente, para colocar como exigênciamínima o nível de mestrado. Essa exigência e osucesso do programa de pós-graduaçãopraticamente zeraram os profissionais sem pós-graduação. Em dezembro de 2004, eles eram 47.Está na hora de a Empresa dar um passo à frente,tendo, como requisito mínimo, o nível dedoutorado para os concursos públicos Sem deixarde dar oportunidades aos bons pesquisadores comnível de mestrado de fazerem o doutorado; oprograma de pós-graduação deve restringir-se aopós-doctor, com ênfase em treinamentoavançado.

Idade dos pesquisadores

Na Tabela 2 estão os pesquisadores comnível de mestrado e doutorado, em número de2.175. Ainda existem 47 pesquisadores sem pós-graduação que não são objeto de análise, por serum pequeno número e porque a Embrapa exige,nos concursos públicos, pelo menos mestrado.

Admite-se que um doutor tenha uma vidade trabalho na Empresa, neste nível, de 30 anos.Metade desta idade ele estaria trabalhando comdoutores mais experientes e outra metade eleestaria orientando doutores menos experientes.Assim sendo, 50% dos doutores deveriam ter 15anos ou menos de Embrapa. Pela Tabela 2, 30,4%dos doutores satisfazem esta condição. Assim, ataxa de renovação de doutores deixa a desejar.Ela chegaria a um bom desempenho, se o pontode corte fosse 20 anos. Nesse caso, 52,2% dosdoutores satisfazem o critério, tendo, ainda, umaidade média menor que 47,4 anos. Dez anosdepois teriam, aproximadamente, 57 anos, aindano melhor de sua capacidade.

A complicação maior está na classe de (30,35) anos. Há nela 202 pesquisadores de 57,9 anos,

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Tabela 1. Evolução do quadro de pessoal, em número de servidores, 1973-2004.

1973197419751976197719781979198019811982198319841985198619871988198903/90199019911992199319941995199619971998199920002001200220032004

Fonte: Departamento de Gestão de Pessoas (DGP).

I

6724832

1.0981.086548548509439403355320275274336324467537435366315270247198156133104

917967585047

Ano(dezembro)

Pesquisadores

II

4133178194188699777882941968986

1.0011.0121.0461.0751.0881.1511.1791.1501.1361.1281.1141.1351.2321.1431.1101.0691.018965

1.0191.020902827

III

21527363789

123162196226269298363404459499548559561603645684717769793853890955

1.0011.0181.1201.2571.337

(III/T) (%)

16,71,72,62,72,86,78,5

10,412,414,216,718,422,023,424,526,125,324,626,128,630,933,134,235,037,940,743,146,348,948,451,056,960,5

Total (T)

12872

1.0371.3281.3111.3361.4481.5531.5761.5971.6101.6191.6501.7241.8701.9112.1662.2752.1462.1052.0882.0682.0992.1992.0922.0962.0632.0642.0452.1042.1982.2092.211

(T/TG) (%)

18,221,921,623,323,122,120,821,020,520,220,219,819,520,321,121,520,320,521,021,321,421,521,922,323,023,323,823,924,025,025,526,026,0

Grupos ocupacionais

Suporte

543.1183.7724.3754.3744.6985.4975.8306.1056.3286.3746.5536.7936.7487.0086.9578.5028.8228.0647.7567.6497.5597.4777.6516.9996.8956.5976.5556.4856.3176.4216.2926.292

Total (TG)

663.9904.8095.7035.6856.0346.9457.3837.6817.9257.9848.1728.4438.4728.8788.868

10.66811.09710.2109.8619.7379.6279.5769.8509.0918.9918.6608.6198.5308.4218.6198.5018.503

Fig. 1. Evolução do quadro de pesquisadores.

portanto, em condições de se aposentarem oumuito próximo disto. A mediana da classe é muitopróxima de 58 anos, embora não incluída natabela. O desafio da Embrapa é contratar umnúmero de doutores igual a 202. Baseando-se namediana, pelo menos, a metade deste número,ou seja, 101 doutores.

A classe (25, 30] anos será motivo depreocupação muito breve, nos próximos cincoanos. Ela contém 327 doutores de idade médiade vida de 56,2 anos. Sua renovação também não

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pode ser muito retardada. Considerando-se cincoanos, pelo menos 1/5 deste número devesse ser,anualmente, substituídos. Pela mediana, 1/10.

O nível mestrado deve ser substituído pordoutores. Nas classes (30, 35] e (25, 30] anos há,respectivamente, 91 e 174 pesquisadores comnível de mestrado. Assim o problema de renovaçãoé bem menos grave no nível de mestrado, excetoque devem ser substituídos por doutores.

As conclusões, principalmente, sobre osdoutores, têm caráter geral e dão uma visão semdetalhes. Por exemplo, há 213 doutores com idadeigual ou maior que 58 anos, sendo que 137 delestêm pelo menos 60 anos e 38 pelo menos 65 anos.Uma sintonia mais fina examinará nome pornome para ter uma noção mais exata do problemade renovação.

Com os contratos com a iniciativa particular,sob a égide das novas leis, é possível propiciaraos doutores, sabidamente competentes,condições de permanecerem na Embrapa porperíodo mais longo, aliviando-se o problema decurto prazo, mas o de longo prazo continuaráexistindo, ou seja, a renovação ordenada doquadro de pessoal. Uma alternativa são oscontratos de consultoria. É importante que sejaelaborado um plano de substituição,fundamentado em princípios sólidos, e factívelorçamentariamente, e nele deve-se contemplarmeios de estimular a permanência, por maiortempo, na Embrapa, dos pesquisadorescompetentes para proveito de nossa agricultura.Está em curso um programa de demissãovoluntária. Ele precisa ser administrado com muito

Tabela 2. Distribuição em classes de permanência na Embrapa, de pesquisadores com grau de doutoradoe mestrado e idade média por classe, em anos.

<=15(15, 20)(20, 25)(25, 30)(30, 35)Total

Fonte: DPGE.

414297123327202

1.363

Anos deEmbrapa

Doutorado

%

30,421,8

9,024,014,8

100,0

Idade média

39,347,452,656,257,949,0

263208

76174

91812

Mestrado

%

32,425,6

9,421,411,2

100,0

Idade média

37,446,952,257,058,547,8

cuidado para não ensejar a perda de doutoresexperientes e competentes.

Remuneração dos pesquisadores:princípios gerais

Cuidar-se-á, com mais detalhes, da remune-ração dos doutores. Se a Embrapa ajustar-se aosnovos tempos, a remuneração dos doutores terádois componentes básicos: o salário que aEmbrapa pagará e aquilo que o pesquisadorpoderá receber de outras fontes, sem incorporarao salário.

Quanto ao salário da Embrapa, o nívelinicial tem que ser atraente para os doutores detalento e a carreira deve oferecer uma remunera-ção que dê à família tranqüilidade e ao pesquisa-dor um horizonte de promoções por mérito e deobtenção de vencimentos adicionais, nãoincorporáveis ao salário, firmemente estabelecidosnos regulamentos da Empresa.

As promoções por mérito e outros incentivossão aspectos importantes da política salarial, masnunca devem vir à custa de redução dos saláriosda tabela salarial.

As instituições de pesquisa pública domundo desenvolvido têm procurado estimular seucorpo técnico a buscar contratos com a iniciativaparticular, com fontes de financiamento dosgovernos, dos organismos internacionais e dedoadores, hoje muito mais voltados para África.Como elas não têm condições de competir com ainiciativa particular, porque se generaliza oprincípio de que os salários do governo têm que

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ser baixos – porque é isto que os eleitores querem–, a solução foi permitir que os pesquisadorestivessem outras fontes de remuneração, eviden-temente, dentro de normas bem fundamentadas.As novas leis criaram abertura para a Embrapamudar o contrato de trabalho dos pesquisadoresde modo a lhes dar flexibilidade para fazerarranjos com outras fontes de financiamento,admitindo-se vantagens de vencimentos. Esseproblema precisa ser resolvido, antes mesmo dese criar um outro arranjo organizacional, que nofundo busca amealhar dinheiro flexível. Essesrecursos podem ser utilizados para dar vantagensadicionais aos pesquisadores, desde que ocontrato atual de trabalho seja mudado e seestabeleçam as normas pertinentes que regerãoo uso do tempo dos pesquisadores.

Em linhas gerais, a remuneração dospesquisadores de cargo III (doutores), deveobservar os seguintes pontos:

• Salário inicial competitivo dentro dogoverno e no mercado, suficiente para atrairpesquisadores jovens de talento.

• Flexível para acomodar pesquisadoresexperientes em qualquer nível da carreira.

• Oferecer um horizonte de promoção pormérito que seja um convite aos pesquisadores defazerem carreira na Embrapa, e poderem dedicar-se, em regime de tempo integral, à pesquisa.

• Regras do contrato de trabalho e de outrosregulamentos da Empresa devem estabelecer osparâmetros da remuneração adicional que vier ater origem em contratos com órgãos do governoe com a iniciativa particular.

Os novos tempos e novas demandasPorque tempos novos?

Porque as mudanças em curso exigemajuste de vulto na política de pesquisa da Embrapae, portanto, na sua política de recursos humanos.Ainda, as mudanças em curso estão revelandonovas demandas de pesquisa que darão rumos à

Embrapa do amanhã. Vejamos os principaispontos, por tópicos.

Novas demandas da pesquisaparticular – Embrapa

Há muito tempo é conhecido que as taxasde retorno dos investimentos públicos empesquisa, especialmente dos investimentos naEmbrapa, são elevadas. É fácil compreender quea iniciativa particular, se investir em pesquisa, temcondições de obter taxas até maiores. Porque,então, ela investiu apenas em áreas em que oinvento se protegia pela preservação de segredos,por patentes da indústria, acordos entre multina-cionais, ou, ainda, em áreas em que a entrada deum concorrente exigia grande aporte de capital,e o ambiente sem proteção legal, portanto deelevado risco, desestimulava esta entrada?

A resposta é simples: os investimentos dainiciativa particular em pesquisa, aliás, depequeno vulto até aqui, foram feitos nas áreaspossíveis de apropriação dos lucros. As leisrecentemente aprovadas permitem essaapropriação, além de criar incentivos para apesquisa particular e para os pesquisadores dasesferas pública e privada. Portanto, criou-se umcenário para a evolução acelerada da pesquisaparticular, inclusive dentro da porteira da fazenda,o que não existia antes.

Como conseqüências, deve-se esperar umagrande expansão das fundações de pesquisa, nosmoldes das existentes, as cooperativas devemevoluir para um modelo semelhante aos dasfundações e milhares de iniciativas, com aformalização legal mínima para se valer dasvantagens da lei, vão nascer, e poucas serão bemsucedidas se não se aliarem, pelo menos na faseinicial, à pesquisa pública.

Em vista do enorme barateamento do custode transportes e de comunicação, as multina-cionais vão ampliar seus investimentos, nummodelo de rede, cujo centro ficará em países queofereçam mais proteção ao invento, de custo maisbarato para realizar pesquisa e que tenham um

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sistema de financiamento ao investimento emciência e tecnologia mais favorável. Em vista, dotamanho de nosso mercado, o Brasil terá osinvestimentos muito ampliados, e é atrativo parasediar centros de decisão de redes. As redescolocarão sob tensão o sistema público depesquisa, em termos de apoderarem de mercadosimportantes e de oferecerem remuneraçãoconvidativa aos pesquisadores competentes.Cabe à pesquisa do setor público organizar-se,baixar custos, tornar-se flexível, de modo a serparceira confiável para contratos de mútuointeresse, dar condições de competição para asempresas de pesquisa de menor porte e realizarpesquisas em áreas que não interessam àiniciativa particular.

As áreas de pesquisas preferidas pelainiciativa particular são aquelas em que o novoconhecimento se cristaliza num ente físico, fácile barato de descrever e de patentear, como umgene, uma semente, um novo produto ou umanova máquina. O que não for patenteável ficaráde fora do escopo da iniciativa particular, a nãoser que o custo da pesquisa seja coberto pelogoverno.

O impacto maior das mudanças em cursosobre a Embrapa incidirá nos centro de produtos,e, sobretudo, nos programas de melhoramento decultivares, especialmente aqueles atrelados acommodities internacionais. Inteligentementeexplorado, o novo cenário, ou nova demanda,renderá dividendos à Empresa6. Cabe, ainda,aduzir os seguintes pontos:

• A Embrapa não perderá o importante papelde regulador do mercado e de reduzir aconcentração da pesquisa particular em poucasfirmas. Ela é, ainda, fundamental, para colocar osempreendimentos de porte menor em condiçõesde competir com os oligopólios existentes, porexemplo, na área de sementes. Para ser bemsucedida, a Embrapa tem que desenvolver umaestratégia de divisão do campo de pesquisa e demercado, implicando isto na divisão de custos e

lucros, com a iniciativa particular. Terá quecompetir com outras instituições públicas que vãoexplorar este filão lucrativo.

• Em conexão com os empreendimentosde menor porte, ressalte-se o papel da Embrapana incubação de empresas, área fadada a sermuito importante.

• Mesmo em áreas patenteáveis, numaseqüência de eventos, alguns deles requeremcompetência específica, demandam pesquisascomplexas, de alto risco e de longa duração. Asfirmas de grande porte terão todo o interesse,nesses casos, de se associar à pesquisa pública,desde que ela seja competente e saiba guardarsegredos.

• Ainda que de pequeno risco, a pesquisaparticular de grande porte fugirá de produtos depequena expressão no mercado, ou, então,plantados por agricultores de baixa renda.

• Embora as leis protejam as patentes, émelhor ficar com as áreas em que a preservaçãode segredos é mais fácil. Essas áreas de pesquisatendem a ter a preferência da iniciativa particularque irá estabelecer arranjos especiais, pelos quaisuma parte do projeto é desenvolvida pela pesquisado governo e a outra pela firma contratante, e osarranjos são de tal modo a protegerem o segredo.

• Outra linha de divisão de trabalho estána engenharia genética, em que genes específicossão desenvolvidos por uma dada empresa e atecnologia que os aplica por outras empresas. AEmbrapa pode ocupar as duas pontas domercado: desenvolver genes específicos oudesenvolver tecnologias que usa genes de outrasempresas.

• A área não patenteável, do ponto de vistade apropriação do lucro, é muito grande, comoem meio ambiente, agricultura familiar, manejode culturas e animais. É bom que a Embrapa definarigorosamente essas áreas, escreva os projetos depesquisa e busque financiamento junto ao poderpúblico. No futuro, provavelmente, a Embrapa

6 Em nenhum país de porte, a pesquisa particular substituiu a pública, no caso da agricultura. Houve divisão de campos e os dois lados se juntaram, via contratos,onde prevaleceu o interesse comum. Portanto, a experiência histórica não autoriza admitir que a iniciativa particular irá aliviar o orçamento público, em ciênciasagrárias. O que se obteve foi um incremento dos investimentos em ciência e tecnologia.

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terá que definir dois programas de pesquisa, umpara as áreas patenteáveis e outros para as nãopatenteáveis, com o entendimento que este gruposerá da responsabilidade exclusiva do poderpúblico.

• Também a pesquisa básica costuma nãointeressar a iniciativa particular, e, quando ela sefizer necessária, a tendência é contratar quemtiver competência, entre as instituições públicas.

Em resumo, a Embrapa tem que realizaruma mudança de porte para se associar àiniciativa particular nas pesquisas, cujos resultadossão apropriáveis, e ainda terá que desenvolverdois modelos, sendo um deles para empresas degrande porte e outro para aquelas menores. Omercado será muito competitivo, também nasesferas da pesquisa pública. Quais as implicaçõesespecíficas para a Embrapa?

• Como organização, a Empresa tem quereduzir o custo da pesquisa; preparar-se paracompetir com as congêneres da esfera pública;organizar sua área de mercado para buscarcontratos; flexibilizar a legislação; orçar seusprojetos de pesquisa de modo a se livrar dos custosdas áreas não patenteáveis; ser capaz de absorvermultas por deixar de honrar contratos e sercompetente em escrevê-los e honrá-los. Terá queencontrar formas de remunerar competitivamenteseus pesquisadores, sendo que os recursos decontratos podem ser uma fonte, desde que aremuneração adicional se restrinja à duração docontrato e não se incorpore aos salários. Aquiresidirá a mudança mais importante, aquela que,se bem feita, garantirá a sobrevivência daEmpresa. A sede precisa reforçar a área denegócios e patentes para difundir resultados depesquisa, proteger suas descobertas e contratarprojetos de pesquisa.

• A iniciativa particular dará preferênciapara contratar pesquisas complexas e de maiorrisco. Por isso, os pesquisadores, além de doutores,terão que ser bem treinados nas áreas maisbásicas e disporem de laboratórios que respondamàs perguntas complexas, no menor espaço detempo possível. Assim, o recrutamento tem queatrair jovens doutores com vocação para aprender

métodos e teorias sofisticadas, mas, sobretudo,competentes no aplicar o conhecimento.Aliás, orecrutamento deve exigir o doutorado como umdos requisitos.

• Como ninguém é bom em tudo, éimportante saber montar consórcios, envolvendoinstituições públicas e privadas de pesquisa.

• Os chefes dos Centros terão que tercompetência para negociar com a iniciativaparticular e desenvolver projetos conjuntos,cofinanciados por ela e por outros investidores dosetor público. Além de demonstrarem ter talentopara a empreitada, deverão receber treinamentoadequado.

Novas demandas do setor público:defesa vegetal e animal

É claro que o Mapa necessita ter umconjunto de laboratórios e pessoal especializadoou manter convênios com laboratóriosespecializados para realizar o monitoramento ea fiscalização que a lei lhe delegou. Mas tãoimportante quanto esta tarefa, é fazer pesquisas,visando aprimorar métodos de detecção defraudes, pesquisas sobre qualidade de produtos,prevenção de entrada de pragas e doenças,doenças transmissíveis ao homem por animais eplantas, níveis de tóxicos e cancerígenos nosalimentos. A Embrapa deve-se preparar parareceber demandas do Mapa nestes aspectos:necessita de pessoal treinado e de laboratóriosespecializados. É mais aconselhável ter unidadede pesquisa especializada, com financiamentopróprio, em rede organizada, envolvendouniversidades, institutos de pesquisa e a iniciativaparticular, via projetos específicos. Muitos dostemas podem ser do interesse da iniciativaparticular, desde que redundem em patentes.Outros não, cabendo o custeio da pesquisa aopoder público.

Novas demandas do setor público:meio ambiente

A demanda de pesquisa na área de meioambiente, referente à agricultura, deverá crescer

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exponencialmente. Ela será muito diversificada.É muito importante que a Embrapa faça as opçõescorretas, quanto às pesquisas em meio ambiente,na linha de verificar o impacto diferencial dastecnologias em uso e das potencialmenteaplicáveis. Como é uma instituição de pesquisa,o método científico é o fundamento da ação, oque envolve simultaneamente a teoria e os dados,e, sempre que possível, experimentos cientifica-mente planejados testarão as hipóteses formuladas.Há uma tendência muito grande de apontarimpossibilidades. Mas, é papel da Empresaapontar caminhos alternativos, que sejam factíveispara a iniciativa particular trilhar, depois de seavaliarem os custos ambientais. Tecnologiassocialmente aconselháveis, mas, pelos critériosusuais, economicamente não rentáveis, carecemde subsídios para difundirem-se, e é muitoimportante dimensionar-se o montante dosmesmos.

A Embrapa tem uma unidade específica quejá trabalha bem em rede, o Centro Nacional dePesquisa de Monitoramento e Avaliação deImpacto Ambiental. O importante é captar recursosadicionais do Ministério do Meio Ambiente e dedoadores internacionais de modo a ampliar a rede,as pesquisa no Centro e a equipe depesquisadores.

Embora não sob o controle do Mapa, outrademanda que crescerá para a Embrapa é área depesca. A Embrapa já está muito grande, por isso,o que pode fazer é ancorar uma rede de pesquisaem piscicultura, financiada com recursosmarcados.

ConclusõesOs novos tempos têm importantes

implicações para a Embrapa, como:

• Reduzir o seu custo fixo para ser capazde competir pelos novos contratos de pesquisa queserão gerados pela iniciativa particular brasileirae internacional. Desburocratizar-se, ser flexível eestar preparada para firmar contrato com ainiciativa particular, honrá-los e pagar multas.

• Ser capaz de permitir uma remuneraçãoadicional aos pesquisadores, sem incorporar avantagem aos salários, além de garantir umacarreira que atraia e mantenha nos quadros ospesquisadores de talento.

• Ser competente na arte de gerar patente,de registrar e negociá-la. Esta arte envolve umcorpo de servidores especializados, comdedicação exclusiva, ancorados até num prédiopróprio.

• Preparar os chefes de Unidades para atarefa de incessantemente buscar contratos depesquisa, geri-los e honrar compromissos. Cadapesquisador deve empreender sua atividade, nosentido de gerar novos projetos e buscar recursospara financiar sua execução.

• Ser capaz de dividir o campo de pesquisade modo a tirar proveito das demandas que virãoda área internacional, da iniciativa particular,meio ambiente e defesa animal e vegetal.

• Preparar os centros de produtos para seassociarem à pesquisa particular, principalmente,na pesquisa de produção de novos cultivares.

• Preparar-se para incubar novas empresasde pesquisa de modo a multiplicar os casos desucesso.

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O orçamentoda Embrapa

1 Assessor do diretor-presidente e pesquisador da Embrapa.2 Coordenador da CEE/SGE e pesquisador da Embrapa.

Resumo: o trabalho discute por que existe pesquisa pública na agricultura, mostra que as taxasde retornos dos investimentos públicos na Embrapa são muito elevadas, o que significa que osinvestimentos deveriam ser ampliados. A despeito do desempenho marcante do agronegócio, e muitodesse desempenho se assentou na modernização da agricultura, em função de tecnologias geradaspela pesquisa pública, os investimentos na Embrapa caíram sensivelmente na década de 1990 e nosprimeiros anos da década de 2000. Construiu-se na Embrapa uma infra-estrutura de pesquisa e ela foiequipada com pesquisadores de nível de primeiro mundo, formados e treinados com dinheiro público,e, rapidamente, estão eles perdendo a capacidade de retribuir à sociedade o salário que recebem,porque o investimento em custeio da pesquisa e em laboratórios caiu para níveis muito baixos. Comoos salários dos pesquisadores, em termos reais, sofreram depreciação, a empresa não atrai talentos eperde os mais competentes, porque se demitem, e por aposentadoria precoce. Ou seja, ela está ficandomenos eficiente, porque lhe faltam meios, e sua sobrevivência está ameaçada. Ou, ainda, segundo alógica do setor privado, uma empresa está condenada à falência se não for capaz de operacionalizaro seu capital fixo (pessoal + capital físico), com volumes adequados de capital de giro (custeio).

Na agricultura, em nenhum país de agronegócio pujante como o brasileiro, a pesquisa da iniciativaparticular substituiu os investimentos públicos, e ela mesma foi, em parte, financiada pelo governo, porinter-médio de incentivos e renúncia fiscal. O que a experiência tem demonstrado é que a pesquisa dainiciativa particular é muito mais produtiva nos países que muito investiram em pesquisa pública.Ainda, os investimen-tos em pesquisa pública continuam tendo taxas de retornos elevadas, quandocomparados com outras opções. Ou seja, a despeito do crescimento da pesquisa particular, ainda, éótimo negócio para a sociedade investir em pesquisa pública.

O agronegócio se beneficiou dos investimentos de pesquisa do passado e se desenvolveu deforma tão marcante. A pergunta que se faz é qual será seu desempenho, num quadro de queda acentuadados investimentos públicos na Embrapa?

Palavras-chave: pesquisa, orçamento, agronegócio.

Eliseu Alves1

Antônio Jorge de Oliveira2

A importância da pesquisa públicaPor que a pesquisa em agricultura se abrigou

numa instituição pública? Por duas razões: atébem recentemente, o lucro das descobertas quederam origem às tecnologias no âmbito daporteira não podia ser apropriado pela iniciativaparticular, mesmo nos países desenvolvidos,

porque inexistia uma estrutura legal de proteção;a organização do Estado, pós-revolução industrial,recomendava a criação de uma instituição paraabrigar investimentos de propósitos específicos.Em alguns países desenvolvidos, a universidadefoi escolhida, e, em muitos casos, favoreceu-se atrilogia ensino–pesquisa–extensão. Em outros, na

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Europa continental, principalmente, a opção foipelos institutos de pesquisa.

A impossibilidade de apropriação dos lucrosafastou a iniciativa particular da pesquisa agrícola,no âmbito de porteira. É claro que há muitosexemplos de associações sem fins lucrativos quese formaram com propósito de pesquisarproblemas da agricultura, mas pouco relevantes,em volume de investimentos. A pressão paraincrementar a produtividade da terra, nos paísesde fronteira agrícola esgotada, levou os governosa investirem em pesquisa agrícola, e osinvestimentos nesta área cresceram fortemente nopós-guerra, impulsionados pela explosão dademanda de alimentos e fibras e o esvaziamentodos campos.

Mesmo com o advento das leis queprotegem as descobertas, os governos dos paísesavançados não reduziram o investimento empesquisa pública, porque existem muitas áreasdifíceis ou mesmo impossíveis de serempatenteadas e, ainda, os investimentos públicosaumentam a eficiência das duas esferas: a públicae a particular.

No Brasil, o governo federal só deu maiorimportância à pesquisa agrícola da metade dadécada de 1960 em diante. No plano estadual,São Paulo, com seu Instituto Agronômico deCampinas, da metade final do século 19, é únicaexceção digna de menção. O governo federaldesenvolveu, mas timidamente, no séculopassado, o Departamento Nacional de PesquisaAgropecuária (DNPEA). Em 1973, ele foisubstituído pela Empresa Brasileira de PesquisaAgropecuária (Embrapa).

A razão que justificou os investimentospúblicos no Brasil foi a mesma, ou seja, aimpossibilidade da iniciativa particular de investirem pesquisa, em vista de não ter condições de seapropriar dos lucros, porque lhe faltava proteçãolegal adequada.

A pesquisa privada em milho, principal-mente, e em outras sementes tem tradição queremonta ao final da Segunda Grande Guerra. Masnote-se que, nesses casos, a proteção foi depen-

dente da possibilidade de preservar segredos. Emalguns poucos casos, em máquinas e equipa-mentos, se valeu da proteção legal da indústria.Ainda se investiu em pesquisa em campos, emque a entrada de uma nova firma no negócioexigia um tão elevado nível de capital queninguém ousaria aportá-lo, sem a proteção legaladequada. Entre as multinacionais, prevaleceu oacordo pelo qual se respeitavam as patentesregistradas na origem. Mesmo considerando-setodas essas possibilidades, o investimento dainiciativa particular em pesquisa agrícola, noâmbito de porteira, tem sido, no Brasil, muitopequeno, quando comparado com o esforço dogoverno. Com o advento das leis recentes, queprotegem o invento e incentivam a pesquisaparticular e os pesquisadores, espera-se que osinvestimentos da iniciativa particular cresçamrapidamente, mormente nas áreas em que apesquisa pública foi bem-sucedida e demonstrouter alcançado elevadas taxas de retorno, comonos produtos transacionados, em larga escala, nomercado internacional.

Os investimentos da iniciativa particularvão, em parte, depender do sucesso da pesquisapública, e serão mais rentáveis, na medida emque a pesquisa do governo se fortaleça e se preparepara contratar projetos com o setor privado (ALVESet al., 2005).

Mas as áreas em que os resultados depesquisa não são apropriáveis são numerosas,como meio ambiente, agricultura familiar, emprodutos de mercado pequeno, em práticasculturais, formação de pastagem, recuperação desolos, zoneamento agrícola, estudos de recursosnaturais, métodos para melhorar a eficiência dadefesa vegetal e animal, impacto econômico datecnologia, avaliação da política agrícola e deciência e tecnologia. Nesses casos, a responsa-bilidade é exclusiva do governo, mas ele podecontratar projetos de pesquisa, com a iniciativaparticular.

A Embrapa necessita ter uma estrutura legalflexível que facilite, via contratos, interagir com ainiciativa particular, remunerar o pesquisadoralém do registrado na folha de pagamento, de

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forma tal que o adicional não se incorpore aossalários, e ter uma estrutura de gestão competentepara buscar contratos, com a iniciativa particular,com o governo e no exterior.

A Embrapa não perderá o importante papelde regulador do mercado e de reduzir aconcentração da pesquisa particular em poucasfirmas. Ela é, ainda, fundamental, para colocar osempreendimentos de porte menor em condiçõesde competir com os oligopólios existentes, porexemplo, na área de sementes. Para ser bem-sucedida, a Embrapa tem que desenvolver umaestratégia de divisão do campo de pesquisa e demercado, implicando a divisão de custos e lucros,com a iniciativa particular. Terá que competir comoutras instituições públicas que vão explorar essefilão lucrativo. Cabe, ainda, aduzir que osincentivos do governo vão gerar milhares depequenas empresas de tecnologia, se foremincubadas por instituições experientes, ocasionan-do uma considerável elevação nas taxas desucesso destas. E as empresas menores bem-sucedidas terão papel destacado para controlar aconcentração da pesquisa em poucas grandesfirmas.

A experiência dos países desenvolvidos, nocaso da agricultura, tem demonstrado que apesquisa básica se adapta melhor ao governo, quetem condições de correr grande risco, de investirem projetos de resultados incertos, ou, ainda, emprojetos distantes de uma aplicação prática, alémde assegurar um ambiente muito mais livre àsopções de escolha dos pesquisadores.

Finalmente, se o governo guiar suas opçõesde investimento, como, aliás, deveria fazer, pelataxa de retorno, a pesquisa agrícola é das áreasque oferecem as maiores taxas de retorno, comoestá demonstrado no artigo de Avila et al. (2005).

O dispêndio da EmbrapaA fim de reduzirem-se as flutuações, as

séries reportam médias trienais. Sempre seindicou, em cada tabela, o período inicial e finalda série original. Obviamente, perdem-se dois

anos, o inicial e o final. Os valores monetáriosdas séries originais da Embrapa foram corrigidospelo IGP-DI e o PIB agropecuário pelo deflatorimplícito, sendo 2004 o ano-base para os doisgrupos de série.

A questão complicada que surge é saberqual é o nível ótimo de investimento em pesquisaagropecuária no Brasil. Certamente, o nível ótimoexigiria a construção de um modelo tão sofisticadotal que dificilmente alguém teria competênciapara fazê-lo, e mesmo que fosse construído,dificilmente existiriam dados para estimá-lo. O quese faz é calcular taxas de retorno e verificar seelas ultrapassam a taxa de retorno do capital, ouentão, aquelas de bons projetos. Neste númeroda revista, está o artigo de Avila et al. (2005) quemostra que investir na Embrapa é um ótimonegócio para o governo, comparado com outrasopções. Mas, por que o governo, desde a décadade 1990 do século passado, reduz os investi-mentos na Embrapa? A explicação do arrochoorçamentário, em função do ajuste macroeco-nômico, é pouco convincente, porque outras áreastiveram seus orçamentos muito ampliados. Mostra-se, a seguir, o quanto o dispêndio da Embrapa temcaído.

O dispêndio em relaçãoao PIB agropecuário

O agronegócio representa 39% dasexportações brasileiras, 34% do Produto InternoBruto (PIB) e 37% dos empregos – cerca de17,7 milhões de postos de trabalho. Chegou a essaimportância nos últimos 10 anos, percorrendo umcaminho em que a modernização da agriculturafoi uma das peças fundamentais. O estilo demodernização se baseou no incremento daprodutividade da terra e do trabalho, e osinvestimentos na Embrapa muito tiveram a ver como incremento dessas produtividades. No período1975-2002, a produtividade total dos fatores (PTF)cresceu à taxa de anual média de 3,30%. Nomesmo período, nos Estados Unidos, a PTF cresceuà taxa anual de 1,57%. Voltando-se ao Brasil, ataxa anual média de crescimento da produtivida-de da terra foi de 3,82%, a do trabalho equivaleu

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a 3,37%, e a do capital, 2,69%. Portanto, muitoelevadas. A experiência dos países avançadosindica um crescimento da produtividade total dosfatores da ordem de 1,5% a 2%, e os investimentosem pesquisa e extensão explicam dois terçosdesse crescimento (GASQUES et al., 2005). Comoos investimentos em pesquisa têm sido tãoimportantes para o desenvolvimento do agrone-gócio, como explicar a queda recente acentuadados investimentos da Embrapa em relação ao PIBda agropecuária? É verdade que tivemos que nossubmeter a um controle rígido dos gastos, visandodomar a inflação. A despeito disso, a queda dosinvestimentos na Embrapa relativos ao PIBagropecuário significa perda de pontos daempresa para alternativas de investimentos, comouma das prioridades do governo. Em 1978, cincoanos depois de implantada, essa relação equivaleua 0,77% e saltou para cerca de 1% em 1981 e1982. Entre 1983-89, a relação permaneceu nointervalo 0,65-0,84. No período 1990-1993, arelação dispêndio-PIB agropecuário superou amarca de 1%. É próxima de 1%, em 1996 a 1998,quando entra em queda livre e atinge o nível de0,55% em 2003, nível este que é menor do queaquele alcançado em 1978, 0,77%, quando aEmbrapa tinha cinco anos de vida. Na série demédias móveis, 1975-2003, a relação referida émaior que 0,90 em 11 dos 18 anos do período.Saliente-se que, a partir de 1998, estamos bemabaixo do nível julgado apropriado, corres-pondente a 1% do PIB agropecuário3. O desinvesti-mento na Embrapa, certamente, vai comprometera capacidade do agronegócio de exportar mais eabastecer melhor nossos consumidores (Tabela 1,Fig. 1).

O dispêndio em relaçãoao IGP-DI da FGV

No caso discutido anteriormente, pode-seimaginar que se deflacionou o dispêndio daEmbrapa pelo PIB agropecuário. Vejamos o queacontece quando se usa IGP-DI da FGV, comodeflator. O dispêndio total atingiu um valor de

cerca de R$ 1 bilhão em 1981, valor este quesomente é, significantemente, ultrapassado nosanos 1995 e 1996, quando ele correspondeu,respectivamente, a R$ 1.162,00 e R$ 1.189,00milhões. De lá para cá, entra em queda persistentepara o nível de R$ 822 milhões, nível este bemmenor do que aquele verificado em 1980, seteanos depois da criação da empresa. Em 2002 e2003, tivemos os menores dispêndios da Embrapado período 1980-2003. Os dados do dispêndiototal, no período analisado, levam à mesmaconclusão da relação dispêndio-PIB agrope-cuário, ou seja, a perda de prestígio da empresa,entre as prioridades do governo, não obstante suarelevância para o Brasil (Fig. 2).

Em resumo, a Embrapa não superou amarca de 1981. É verdade que tem, hoje, um poucomais de pesquisadores e de servidores, cerca de8.503 e dos quais 2.211 são pesquisadores. Em1981, esses números correspondiam, respectiva-mente, a 7.681 e 1.576. Mas o dispêndio atual ébem menor. Em contradição com os números, aEmpresa está expandindo suas responsabilidades,como resposta às demandas da classe política eem função da falência do sistema estadual, quefoi cofinanciado por ela até 1985. Ter maisresponsabilidades com orçamento menor é algoinconcebível. Assim, os padrões de qualidade, quecelebrizaram a Empresa no Brasil e no exterior,não poderão se manter. Para fechar a equação,ou se amplia o orçamento ou se reduz o tamanhoda Embrapa. De ampliação, são necessárioscerca de R$ 200 milhões para equivaler ao valorde 1981.

Gestão do orçamentoO que o governo federal tem feito é garantir

o orçamento de pessoal e cortar o de custeio ecapital. Essa política tem tido um efeito dramáticona Empresa. Como se procurou manter o poderde compra médio dos salários, a massa salarial seaproxima assintoticamente do orçamento global,e cada vez menos recursos são deixados para o

3 Os dispêndios do Ministério da Agricultura americano (Usda) igualaram 1,13% do PIBAGR (Gross value added of de agricultural sector), em 2002. Estimativasindicaram, respectivamente, 1,12% e 0,86% para 2003 e 2004. Portanto, já estivemos bem.

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Fig. 1. Evolução do dispêndio da Embrapa, emrelação ao PIB agropecuário, em %.

Tabela 1. PIBAGR e dispêndio da Embrapa relativo ao PIBARG, em %.

PIBAGR foi deflacionado pelo deflator implícito. O dispêndio pelo IGP-DI, FGV.Fonte: SGE e DAF/Embrapa.

19751976197719781979198019811982198319841985198619871988198919901991199219931994199519961997199819992000200120022003

AnosPIBAGR

R$ mil de 2004

77.080.20985.665.029

104.754.69890.614.91294.462.960

105.103.667102.372.645

89.378.489111.102.801131.076.190129.759.932130.713.924122.616.824129.121.698115.510.58486.860.27486.217.05785.306.99789.140.170

121.418.010115.616.518110.552.206109.716.700113.807.018114.538.837115.121.146122.244.586130.382.594149.364.031

PIBAGR R$ milmédia móvel

77.080.20985.665.029

104.754.69890.614.91294.462.960

105.103.667102.372.64589.378.489

111.102.801131.076.190129.759.932130.713.924122.616.824129.121.698115.510.58486.860.27486.217.05785.306.99798.621.725

121.418.010115.616.518110.552.206109.716.700113.807.018114.538.837115.121.146122.244.586130.382.594149.364.031

Dispêndio médio móvelR$ milhões de 2004

267,9419,3547,5697,2809,1897,0994,2976,6934,4857,6902,4987,2965,4934,6924,8

1.016,71.013,91.008,3

913,8966,3

1.072,71.162,61.189,01.090,31.029,8

980,2932,0855,1822,9

Dispêndio / PIB%

0,350,490,520,770,860,850,971,090,840,650,700,760,790,720,801,171,181,181,030,800,931,051,080,960,900,850,760,660,55

Fig. 2. Evolução do dispêndio total, em R$ de 2004,médias móveis de 1974-2004.

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custeio da pesquisa e do capital. Em 2003, osgastos com pessoal equivaleram a 76,3% dodispêndio total, contra 51,5% em 1981; o de custeiofoi de 28,3 % em 1981 contra 20,9 em 2003; o decapital, de 20,2% em 1981 contra 2,8%, em 2003(Tabela 2). Os laboratórios ficaram desatualizados,o que restringe a capacidade dos pesquisadoresde responder às demandas de nossa agricultura:laboratórios velhos desperdiçam o tempo doscientistas, reduzem sua capacidade de perguntarà natureza e os expõem a riscos evitáveis.É orçamento de custeio que permite realizar apesquisa. Reduzi-lo drasticamente, como temocorrido, significa não permitir à Empresaresponder às demandas da sociedade. Ainda,destrói-se o moral dos pesquisadores, compro-mete-se seriamente o elã de todos os servidores e

condena-se à Embrapa a ineficiência, por não terela como otimizar os recursos de capital físico ehumano. Vejamos mais detalhes.

Quadro de pessoal

No que diz respeito ao quadro de pessoal,a renovação continuada, visando à substituiçãoordenada, é uma política que não existe.Ocorreram alguns eventos, mas que não fizeramparte de uma política de longo prazo deadministração de quadro de pessoal, quepermitiram à Diretoria da Embrapa melhoradministrar o seu corpo de funcionários, traduzidosem dois planos de demissão voluntária. Em marçode 1990, havia 11.097 servidores na Embrapa.Aquele número caiu para 8.503, em dezembrode 2004, e procurou-se preservar o número depesquisadores, o que foi uma política correta eelogiável (Tabela 3). A Fig. 3 , que cobre o período1973-2004, retrata esses fatos. Os dados são dedezembro e não foram submetidos ao tratamentode médias móveis. Sendo anuais, março de 1990não foi incluído.

Observa-se um crescimento de servidorestotais acelerado até 1990, quando atinge omáximo, e depois, por uma política deliberada dadireção da Empresa, política aquela correta,houve uma redução acentuada dos servidores deapoio, o que refletiu na persistente redução dototal de servidores.

Ainda o número de pesquisadores cresceumais lentamente, estabilizou em 1990 e voltou acrescer lentamente em 2001. A relação pesquisa-dor/servidor de apoio está hoje em nível aceitável,considerando-se as complicações burocráticasbrasileiras e a experiência de outros países.

Salário médio

O salário médio da Embrapa, em termosreais, está crescendo, o que é desejável numainstituição de ciência e tecnologia que teminvestido muito em treinamento, principalmente,visando dar oportunidade a todos os pesquisadoresde galgarem aos níveis de mestrado e doutorado.

Tabela 2. Participação, em %, do custeio, pessoale capital no dispêndio total.

Fonte: Embrapa/DAF.

19751976197719781979198019811982198319841985198619871988198919901991199219931994199519961997199819992000200120022003

AnosCusteio/total (%)

54,942,233,232,529,131,028,329,131,334,036,831,328,922,421,020,420,118,916,517,617,819,722,225,425,224,722,922,020,9

Pessoal/total (%)

41,252,258,858,357,053,351,553,152,655,452,955,755,162,669,275,576,876,977,873,372,870,871,470,071,571,773,574,976,3

Custeio/total (%)

3,95,68,19,2

13,915,720,217,816,110,610,313,016,015,0

9,84,23,14,25,79,19,49,56,44,63,33,63,63,12,8

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Mas esta é uma boa política se, simultaneamente,os investimentos em prédios, laboratórios eequipamentos estiverem crescendo na mesmaproporção, mas infelizmente, o oposto vemocorrendo, como demonstram as Fig. 4 e 5. Oprimeiro deles evidencia o crescimento do saláriomédio. O segundo mostra uma queda dramáticado custeio por pesquisador. Assim, o crescimentoda massa salarial, o que é desejável, em vista deum nível baixo de remuneração, faz-se às custasdo custeio da pesquisa, o que é altamenteindesejável. Cortar pessoal não é aconselhável,em vista das responsabilidades que a Empresa

tem. O que é preciso é recuperar o orçamento decusteio em, pelo menos, R$ 200 milhões.

Pessoal, custeio e capital.

A Fig. 6, construída a partir dos dados daTabela 4, mostra que os gastos com pessoalaproximam-se perigosamente do dispêndio total,o dispêndio em custeio cai persistentemente e omesmo ocorre com os investimentos em capital.Percebe-se isso pela distância entre as curvas dedispêndio total e em pessoal. A maior distânciaestá em 1981, e, no período 1990-2003, elas se

Tabela 3. Evolução do quadro de pessoal da Embrapa: pesquisadores (I, II e III), apoio e total (TG).

(1) Referente ao mês de março de 1990.Fonte: Embrapa/DAF.

197319741975197619771978197919801981198219831984198519861987198819891990(1)

199019911992199319941995199619971998199920002001200220032004

Anos I

6724832

1.0981.086

548548509439403355320275274336324467537435366315270247198156133104

917967585047

II

4133178194188699777882941968986

1.0011.0121.0461.0751.0881.1511.1791.1501.1361.1281.1141.1351.2321.1431.1101.0691.018

9651.0191.020

902827

III

21527363789

123162196226269298363404459499548559561603645684717769793853890955

1.0011.0181.1201.2571.337

(III/T) (%)

16,71,72,62,72,86,78,5

10,412,414,216,718,422,023,424,526,125,324,626,128,630,933,134,235,037,940,743,146,348,948,451,056,960,5

Total (T)

12872

1.0371.3281.3111.3361.4481.5531.5761.5971.6101.6191.6501.7241.8701.9112.1662.2752.1462.1052.0882.0682.0992.1992.0922.0962.0632.0642.0452.1042.1982.2092.211

(T/TG) (%)

18,221,921,623,323,122,120,821,020,520,220,219,819,520,321,121,520,320,521,021,321,421,521,922,323,023,323,823,924,025,025,526,026,0

Apoio

543.1183.7724.3754.3744.6985.4975.8306.1056.3286.3746.5536.7936.7487.0086.9578.5028.8228.0647.7567.6497.5597.4777.6516.9996.8956.5976.5556.4856.3176.4216.2926.292

Total (TG)

663.9904.8095.7035.6856.0346.9457.3837.6817.9257.9848.1728.4438.4728.8788.86810.66811.09710.2109.8619.7379.6279.5769.8509.0918.9918.6608.6198.5308.4218.6198.5018.503

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 80

Fig. 3. Número de pesquisadores e pessoal total.

Fig. 4. Evolução do salário dos empregados da Embrapa, 1973-2004, R$ de 2004.

Nota: Valroes corrigidos pelo IGP-DI.

Fonte: Embrapa/DGP. Elaboração SGE.

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 200581

Fig. 5. Evolução dos dispêndios em custeio por pesquisador, médias móveis, R$ de 2004, período 1974-2004.

Fig. 6. Evolução dos dispêndios total e com pessoal, custeio e capital, médias móveis do período 1974-2004,em R$ de 2004.

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 82

Tabela 4. Dispêndio da Embrapa por rubricas, em reais de 2004, média do IGP-DI, FGV.

Fonte: Embrapa/DAF.

19751976197719781979198019811982198319841985198619871988198919901991199219931994199519961997199819992000200120022003

Anos Pessoal

110,5218,8321,8406,5461,2478,4511,9518,2491,4475,0477,6550,3531,5585,5639,9767,2778,3775,5710,5708,5781,3822,9849,2763,3736,1703,0684,8640,5628,0

Custeio

147,1177,1181,7226,8235,7278,0281,2284,6292,3291,7332,1308,9279,4209,2194,6206,9203,9190,3150,8169,8190,6229,5263,5276,5259,9241,8213,6187,8172,0

Capital

10,423,344,163,8

112,3140,7201,1173,7150,6

90,992,7

128,0154,5139,9

90,342,531,742,552,588,0

100,8110,176,350,533,835,433,726,722,9

Total

267,9419,3547,5697,2809,1897,0994,2976,6934,4857,6902,4987,2965,4934,6924,8

1.016,71.013,91.008,3

913,8966,3

1.072,71.162,61.189,01.090,31.029,8

980,2932,0855,1822,9

Dívida

-----------------

0,027,044,661,644,839,440,546,155,865,176,277,2

Total

267,9419,3547,5697,2809,1897,0994,2976,6934,4857,6902,4987,2965,4934,6924,8

1.016,71.013,91.008,3

940,81.010,91.134,31.207,41.228,41.130,81.075,91.036,0

997,1931,3900,1

aproximam, rapidamente. Uma empresa parti-cular, assim gerida, está condenada a fechar asportas. Não se trata de reduzir salários, ospesquisadores estão ganhando pouco, os melhoresnos deixam e não atraímos jovens talentosos.Temos reduzido o quadro de apoio, hoje ele estábem, em termos de padrões internacionais,quando confrontado com o número de pesqui-sadores. O que é preciso fazer é aumentar oorçamento de custeio para os níveis de 1981, pelomenos, e ajustar os salários iniciais da carreira depesquisador, de modo que a Embrapa fiquecompetitiva como outrora fora. Existem muitasesperanças de que arranjos com a iniciativaparticular, mas eles florescerão apenas nos ramospatenteáveis e se a Embrapa for flexível,competente e capaz de honrar contratos. Mas,como já se salientou, a área não patenteável é

muito numerosa, ainda o casamento com ainiciativa particular não visará aliviar o orçamentodo governo, mas sim aumentar a eficiência deambos os grupos de organizações.

A idade dos pesquisadores

O conhecimento das idades de pesquisa-dores e do tempo de permanência na Embrapa émuito importante. A Tabela 5 compreende ospesquisadores de nível de mestrado e doutorado,em número de 2.175. Há, ainda, 44 pesquisadoressem pós-graduação. A idade média deles,calculada para 30/6/2005, equivaleu a 52,6 anos,a mediana igualou-se a 52,28. O mais velho terá,no fim de julho, 77,5 anos e o mais novo terá 37,5anos. A média de permanência na Embrapa é de

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20,5 anos e a mediana corresponde a 20,5 anos.Cerca de 25% têm mais de 27,8 anos de Empresa.Como a Embrapa exige, presentemente, pós-graduação, não continuaremos discutindo estegrupo.

Na Tabela 1, na parte inferior aparece apalavra separatriz. Para 5%, por exemplo, aseparatriz permanência na Embrapa iguala 2,7anos. Significa esse número que 5% dos doutorestêm menos 2,7 anos de Embrapa, ou 95% delestêm 2,7 anos ou mais de Embrapa. As informaçõeslá contidas servem apenas para confirmar aquelasda parte de cima da tabela.

Admite-se que um doutor tenha uma vidade trabalho na Empresa, neste nível, de 30 anos.Metade dessa idade ele estaria trabalhando comdoutores mais experientes e outra metade eleestaria orientando doutores menos experientes.Assim sendo, 50% dos doutores deveriam ter 15anos ou menos de Embrapa. Pela Tabela 1, 30,4%dos doutores satisfazem essa condição. Assim, ataxa de renovação de doutores deixa a desejar.

Ela chegaria a um bom desempenho se o pontode corte fosse 20 anos. Nesse caso, 52,2% dosdoutores satisfazem o critério, tendo, ainda, umaidade média menor que 47,4 anos. Dez anosdepois teriam, aproximadamente, 57 anos, aindano melhor de sua capacidade.

A complicação maior está na classe de 30,35 anos. Há nela 202 pesquisadores de 57,9 anos,portanto, em condições de aposentadoria ou muitopróximo disso. A mediana da classe é muitopróxima de 58 anos, embora não incluída natabela. O desafio da Embrapa é contratar umnúmero de doutores igual a 202. Baseando-se namediana, pelo menos, a metade desse número.

A classe 25, 30 anos será motivo depreocupação muito breve, nos próximos cincoanos. Ela contém 327 doutores de idade médiade vida igual a 56,2 anos. Sua renovação tambémnão pode ser muito retardada. Considerando-secinco anos, pelo menos 1/5 desse número devesseser, anualmente, substituído. Pela mediana, 1/10.

Tabela 5. Distribuição, em classes de permanência na Embrapa, de pesquisadores com grau de doutor emestrado, e idade média por classe, em anos.

<=15(15, 20](20, 25](25, 30](30, 35]Total

Fonte: DPGE

414297123327202

1.363

Anos deEmbrapa

Doutorado

%

30,421,8

9,024,014,8100,0

Idade média

39,347,452,656,257,949,0

263208

76174

91812

Mestrado

%

32,425,6

9,421,411,2

100,0

Idade média

37,446,952,257,058,547,8

5%10%Quartil 25%MedianaQuartil 75%90%95%99%

Classes

Doutorado

Permanênciana Embrapa

2,73,2

10,518,229,331,131,531,5

Idade(anos)

33,936,741,749,955,960,062,468,6

Mestrado

Outras estatísticas da distribuição de idade, separatrizes das classes, em anos.

Permanênciana Embrapa

0,72,68,7

15,927,030,331,431,5

Idade(anos)

31,233,440,348,155,859,761,869,0

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 84

O nível mestrado deve ser substituído pordoutores. Nas classes 30, 35 e 25, 30 anos há,respectivamente, 91 e 174 pesquisadores de nívelmestrado. Assim, o problema de renovação é bemmenos grave no nível de mestrado, exceto quedeve ser substituído por doutores.

As conclusões, principalmente sobre osdoutores, têm caráter geral e dão uma visão semdetalhes. É preciso, em seguida, examinar nomepor nome para se ter uma sintonia mais fina. Comos contratos com a iniciativa particular, sob aégide das novas leis, é possível propiciar aosdoutores, sabidamente competentes, condições depermanecerem na Embrapa por período maislongo, aliviando-se os problemas de curto prazo,mas o de longo prazo continuará existindo, ou seja,a renovação ordenada do quadro de pessoal. Umaalternativa são os contratos de consultoria. Éimportante que seja elaborado um plano desubstituição, fundamentado em princípios sólidos,e factível orçamentariamente, e nele deve-secontemplar meios de estimular a permanência,por maior tempo, na Embrapa dos pesquisadorescompetentes para proveito de nossa agricultura.

ConclusõesAs conclusões principais são as seguintes:

Embora muito elogiada pela imprensa epelo governo, a Embrapa, quanto ao orçamento,principalmente nos últimos cinco anos, estácedendo lugar para outras áreas em que o governoaplica recursos. Em relação a 1981-82, em termosde R$ de 2004, o dispêndio da Embrapa em 2004foi menor, em pelo menos, R$ 200 milhões. Osgastos com pessoal aproximam-se rapidamentedo dispêndio total, deixando o custeio e oinvestimento em capital com recursos insufi-cientes e decrescentes. Fosse a Embrapa umaempresa particular, esse quadro significaria o sinalvermelho de falência.

A Diretoria da Embrapa procura negociaruma solução com o governo tal que proteja nãotão-somente os salários (como é atualmente), mastambém o orçamento de custeio e investimento.É importante que a Empresa tenha flexibilidade

para alocar os recursos, livre da peia que fixa osmontantes dispêndios em pessoal, custeio einvestimento. Além do mais, os recursos própriosprecisam ser acréscimo ao orçamento.

As leis de proteção à propriedade intelec-tual criam estímulos e condições para a iniciativaparticular investir em geração de tecnologiaagropecuária. Mas esses investimentos fugirão dasáreas difíceis de serem patenteadas e, ainda, serãomais rentáveis quando se dispõe de uma pesquisapública eficiente e competente para trabalharjunto com o setor privado. Assim, os investimentosno setor público são indispen-sáveis quanto aosbens públicos, porque fogem ao interesse dainiciativa particular, e como um meio de fortalecera pesquisa privada. Nos países desenvolvidos, aspesquisa particulares e a públicas crescem juntas,obviamente com delimitações de campos nãorígidas. Lá, como aqui, investir em pesquisapública é um bom negócio para a sociedade.

A expansão da pesquisa particular colocarásob tensão os centros de produto, principalmentea área de geração de cultivares. A Embrapa podeganhar ou perder muito. Ganhará se souber firmare honrar contratos com a iniciativa particular; seos chefes dos centros se prepararem para tirarproveitos do novo mercado que se abre; se ossalários dos pesquisadores se flexibilizarem parapermitir ganhos de remuneração que não seincorporam à folha de pagamento; e, finalmente,se forem reduzidos os custos fixos de modo que aEmpresa continue competitiva em relação àsuniversidades, às fundações e aos institutos depesquisa. O poder de competição é tanto maiorquanto mais competente for o quadro de cientistas,em termos de padrão de país desenvolvido.Perderá prestígio e a notoriedade que tem se nãoinovar para se adaptar aos novos tempos.

Novas demandas de pesquisa dizemrespeito à demanda de contratos com a iniciativaparticular, às áreas de defesa animal e vegetal ede meio ambiente. Essas demandas exigirão quea estrutura gerencial da Empresa seja flexível, demodo a acomodar os arranjos clássicos depesquisa, na linha do bem público, e os arranjosde mercado, com as implicações de contratos coma iniciativa particular.

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ReferênciasALVES, E.; SILVA, R.; FONSECA FILHO, J. P. Formação derecursos humanos e os novos tempos. Revista de PolíticaAgrícola, Brasília, v. 14, n. 4, 2005. No prelo.AVILA, A. F. D.; MAGALHÃES, M. C.; VEDOVOTO, G. L.;IRIAS, L. J. M.; RODRIGUES, G. S. Impactos econômicos,

sociais e ambientais dos investimentos na Embrapa. Revista dePolítica Agrícola, Brasília, v. 14, n. 4, 2005. No prelo.

GASQUES, J. G.; BASTOS, E. T.; BACCHI, M. P. R.;CONCEIÇÃO, J. C. P. R. da. Condicionantes da produtividadeda agropecuária brasileira. Revista de Política Agrícola,Brasília, v. 13, n. 3, p. 73-90, jul./set. 2004.

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Impactos econômicos,sociais e ambientaisdos investimentosna Embrapa

Antonio Flavio Dias Avila 1

Marília Castelo Magalhães1

Graciela Luzia Vedovoto1

Luis José Maria Irias2

Geraldo Stachetti Rodrigues2

1 Pesquisadores da Secretaria de Gestão e Estratégia da Embrapa.2 Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente.

Quando são divulgados trabalhos sobre osretornos dos investimentos em pesquisa agrope-cuária na Embrapa, os números surpreendem emuitas vezes surgem questionamentos metodoló-gicos, especialmente quanto à mensuração dosimpactos (econômicos, sociais e ambientais). Essefato se repetiu no momento da divulgação dosvalores dos benefícios gerados pela Embrapa noano de 2004, no seu Balanço Social (EMBRAPA,2005). O presente documento traz mais detalhessobre os resultados encontrados no Balanço Sociale sobre a metodologia de mensuração dosimpactos, bem como apresenta uma revisão dosestudos anteriormente realizados na Empresa esuas relações com estudos similares publicadosna literatura mundial.

Os impactos da Embrapa em 2004As estimativas dos benefícios econômicos

feitas em decorrência da adoção de um conjuntode tecnologias lançadas pela Embrapa nos últimos10-15 anos mostraram que, no ano passado, foigerado um excedente econômico de quase 12bilhões de reais. Se relacionarmos tal benefícioao montante de investimentos realizados nomesmo ano, chega-se a uma relação benefício/custo (B/C) de 13:1. Em outras palavras, isto

significa que para cada real investido na Embrapaexiste um retorno de 13 reais.

Também no Balanço Social de 2004 serãoapresentados resultados sobre os impactosdecorrentes da adoção de tecnologias no nívelde emprego ao longo das cadeias produtivas dosprodutos envolvidos. As estimativas indicam quea Empresa contribuiu para a geração de mais de200 mil empregos. Um número também surpreen-dente, mas considerado dentro das expectativas,dada a ampla adoção de tecnologias Embrapa eos seus desdobramentos nas respectivas cadeiasprodutivas.

Finalmente, em função do enfoque multidi-mensional do processo de avaliação de impactosadotado na Empresa, foi realizada uma análisedos impactos potenciais de um subconjunto de31 tecnologias da Empresa, do ponto de vistaambiental. Também nessa dimensão foram gera-dos resultados interessantes, e que mostram, emgeral, impactos ambientais positivos importan-tes,considerando um amplo e diversificado conjuntode indicadores.

Vale ressaltar, que os resultados apresen-tados no Balanço Social de 2004 são fruto de umprocesso de avaliação multidimensional realizadoanualmente na Empresa, com a participação dasequipes de socioeconomia de todos os seus

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centros de pesquisa e sob a coordenação daSecretaria de Gestão e Estratégia. Em tal processoé analisado um conjunto selecionado de tecnolo-gias (processos, práticas, insumos, etc.) e todas ascultivares da Embrapa atualmente em uso nomercado de sementes, segundo informaçõesrecebidas do Ministério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento (Mapa) e da AssociaçãoBrasileira de Sementes (Abrasem).

Impactos econômicos

As estimativas dos impactos econômicosgerados pela Empresa em 2004 foram estimadosusando-se o método do excedente econômico, omais usado na literatura para se avaliar tal tipo deimpacto na pesquisa agropecuária (ALSTONet al., 2001). Na Fig. 1 pode-se visualizar qualseria o excedente econômico (área escura) nocaso típico da adoção de uma inovaçãotecnológica numa dada cultura ou criação.

Empregando-se tal método estimaram-se osganhos gerados (excedente) por uma amostra de66 tecnologias Embrapa selecionadas, compa-rativamente às tecnologias usadas anteriormentepelos produtores, descontados os eventuaisadicionais de custos de produção3. Os benefícioseconômicos estimados, no valor de R$ 5,96bilhões, são apresentados na Tabela 1 por tipo deimpacto, excluindo-se os impactos gerados porcultivares, estimados em separado.

Para o cálculo dos benefícios econômicos,inicialmente estimaram-se os ganhos líquidos porhectare de cada tecnologia, levando-se em contaas especificidades de cada uma delas. No casode tecnologias que geram incrementos deprodutividade, comparou-se a tecnologia Embrapacom o rendimento de outras tecnologiasalternativas, enquanto que na de redução de custode produção, são comparados custos dastecnologias alternativas com o custo após aadoção da nova tecnologia. No caso deagregação de valor e de expansão da produçãoem novas áreas, comparam-se as diferenças derenda do produtor.

3 Como os impactos econômicos estimados referem-se a tecnologias recentes, o valor apresentado no Balanço Social de 2004 não inclui os benefícios resultantesda adoção de tecnologias geradas nas décadas de 1970 e 1980, como a fixação biológica de nitrogênio, o manejo integrado de pragas da soja, o controlebiológico em trigo e soja e as tecnologias em nutrição de suínos e aves, entre outras.

Fig. 1. Excedente econômico gerado pela adoçãode inovações tecnológicas.

Tabela 1. Estimativas dos impactos econômicos detecnologias Embrapa.

Fonte: Embrapa (2005).

Incrementos de rendimentoRedução de custos de produçãoAgregação de valoresExpansão de áreaTotal

Tipo de impactoValor

(R$ milhões)

5.147.088124.081239.147453.441

5.963.757

De posse dos ganhos por hectare devido àadoção da tecnologia (ou em alguns casos poroutra medida mais conveniente) e após considerarfatores como preço do produto e custos adicionais,os ganhos são multiplicados pela área de adoçãoda tecnologia. A comparação da área de adoçãoentre os anos indica se a tecnologia estáaumentando ou reduzindo sua participação nomercado e sendo substituída por outras.

Todos esses dados são estimados por meiode visitas de campo, contatos com técnicos daextensão rural (pública ou privada), pesquisadoresque desenvolveram as tecnologias e técnicos daprópria Embrapa que atuam na área de transfe-rência de tecnologia.

Todavia, no caso das novas cultivares dealgodão, arroz (irrigado e sequeiro), feijão, milho,

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soja e trigo geradas pela Embrapa e adotadas pelosprodutores, o excedente econômico também foicalculado comparando-as com cultivaresanteriormente usadas (Tabela 2).

Nas estimativas dos ganhos de rendimentousaram-se dados comparativos de ensaiosnacionais e regionais de competição de cultivaresusadas pelos próprios Centros por ocasião dolançamento das cultivares que ora estão nomercado brasileiro de sementes. Nesse caso,deve-se destacar que no desenvolvimento demuitas dessas cultivares houve a participação deinstituições parceiras, como as organizaçõesestaduais de pesquisa agropecuária (OEPAs).

As estimativas dos impactos econômicosgerados por cultivares Embrapa foram feitas combase na participação das mesmas no mercadobrasileiro de sementes de algodão, arroz irrigado,arroz de sequeiro, feijão, milho, soja e trigo.

Estimaram-se os benefícios econômicos detais cultivares usando para tanto a produção totaldos produtos acima referidos (dados da CompanhiaNacional de Abastecimento), os seus preços demercado (dados da Fundação Getúlio Vargas) eas diferenças de rendimento de ensaios nacionaisem que se compara as cultivares Embrapa e asusadas anteriormente.

Os dados da participação de sementesEmbrapa no mercado (%) correspondem propor-cionalmente às áreas cobertas com as cultivaresda Embrapa na safra 2002-2003 (ano agrícolaanterior), relativamente ao total de cultivaresusadas. Tal informação é bastante precisa, uma

vez que é coletada anualmente pelos serviçosestaduais de produção de sementes, e depoisorganizada numa base de dados pelo Mapa e pelaAbrasem, com o apoio da Embrapa Transferênciade Tecnologia (SNT).

Cabe ressaltar que as estimativas de impactousadas no Balanço Social são anuais e, portanto,levam em conta a situação econômica e o níveltecnológico a cada ano. Entretanto, para seminimizar a possibilidade de atribuição à Embrapade benefícios que não são dela derivados, usou-se como limite na distribuição de tais benefíciosum percentual máximo de 70%. A atribuição dessepercentual é subjetiva, o que é reconhecido pelaliteratura sobre o assunto, já que não existe umafórmula matemática para se fazer tal distribuição.

Impactos ambientais

A complexa natureza das interações queocorrem quando uma tecnologia é introduzida,ampliada ou modificada implica grande incertezasobre os possíveis impactos da inovação. O estudosistemático desses impactos de acordo comobjetivos de sustentabilidade pode contribuir paraque o desenvolvimento e a recomendaçãotecnológica resultem em um máximo de ganhoseconômicos e sociais, com um mínimo de custosambientais. A avaliação de impactos de tecno-logias envolve uma ampla variedade de tópicosrelativos aos contextos institucional, social, culturale político, no âmbito da segurança econômica,de saúde e ambiental, tanto individual comocomunitária. Quando objetivos de sustentabili-

Tabela 2. Estimativas dos impactos econômicos das cultivares Embrapa.

(1) Fonte: Embrapa (2005).

AlgodãoArroz irrigadoArroz sequeiroFeijãoMilhoSojaTrigoTotal

Produtos Área total (ha)(1)

1.1001.039,22.610,34.286,2

12.82221.275,7

2.464,245.597,60

Produção total (t)(1)

2.408,66.301,76.506,52.994,4

42.191,549.770,1

5.851,3116.024,10

Paricipação desementes (%)

29306464114631

-

Benefício econômico(R$ 1.000)

460.734,77266.390,89725.915,80

1.553.010,23753.642,37

1.562.684,70431.885,10

5.754.263,86

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dade são definidos, a avaliação tende a endereçaro ciclo de vida tecnológico. A montante, istosignifica que se faz necessário considerar osrecursos requeridos para o desenvolvimentotecnológico (insumos, matérias-primas e habitatsafetados), e a jusante deve-se endereçar osresíduos, envolvendo toda extensão de alcanceambiental da tecnologia.

O setor agrícola brasileiro tem recebidoatenção especial com respeito aos impactosambientais, ou seja, aos danos resultantes dasatividades agrícolas pelo uso inadequado deinsumos e formas de manejo, às conseqüênciasde políticas públicas e de influências do mercadointernacional de commodities sobre a agriculturanacional, e aos desenvolvimentos promovidospela pesquisa e requisitos para o desenvolvimentorural sustentável (QUIRINO et al., 1999). Esteesforço de estudo e discussão sobre os impactosambientais da agricultura brasileira vemresultando no direcionamento da pesquisa agrícolaoficial para a busca de alternativas para odesenvolvimento sustentável. Para tanto, e comoparte desse esforço institucional da Embrapa,introduz-se um sistema prático para a avaliaçãodo impacto ambiental resultante da adoção deinovação tecnológica no processo produtivoagropecuário.

Sistema Ambitec

A formulação de um sistema de avaliaçãode impactos ambientais (AIA) de inovaçõestecnológicas agropecuárias envolve a seleção deindicadores e sua organização em umaplataforma operacional para medida, ponderaçãoe expressão de resultados. O Sistema de Avaliaçãode Impactos Ambientais de Inovações Tecnoló-gicas Agropecuárias (Sistema Ambitec);(RODRIGUES et al., 2003a, 2003b; IRIAS et al.,2004a, 2004b) tem uma estrutura hierárquicasimples, que parte da escala local (unidade deárea, unidade animal ou estabelecimento) dorespectivo segmento ou dimensão do agronegócioem avaliação (agropecuária, produção animal ou

agroindústria) e estende-se até a escala de entornodo estabelecimento rural, a paisagem oumicrobacia hidrográfica, e atenta para a qualidadedos ecossistemas e para a manutenção de suacapacidade de suporte.

O Sistema Ambitec baseia-se em umaexperiência prévia de AIA aplicada a projetos depesquisa no âmbito institucional, na qual foiselecionado e validado um conjunto de indica-dores direcionados à avaliação exante dacontribuição de uma inovação tecnológica parao desempenho ambiental da atividade agrope-cuária (RODRIGUES et al., 2000). Uma avaliaçãoenvolve três etapas: a primeira refere-se aoprocesso de levantamento e coleta de dados geraissobre a tecnologia, que inclui informações sobreo seu alcance (abrangência e influência), adelimitação da área geográfica e sobre o universode adotantes da tecnologia (definindo-se aamostra de adotantes).

A segunda etapa trata da aplicação dosquestionários em entrevistas individuais com osadotantes selecionados e inserção dos dados sobreos indicadores de impacto nas planilhas eletrô-nicas componentes do Sistema (plataforma MS-Excelâ), obtendo-se os resultados quantitativos dosimpactos e os índices parciais e agregados deimpacto ambiental da tecnologia selecionada.A terceira etapa consiste da análise e interpretaçãodesses índices e indicação de alternativas demanejo e de tecnologias que permitam minimizaros impactos negativos e potencializar os impactospositivos, contribuindo para o desenvolvimentolocal sustentável.

O conjunto de planilhas eletrônicas4

componentes do Sistema Ambitec permite aconsideração de diversos aspectos de contribui-ção de uma dada inovação tecnológica paramelhoria ambiental, dependendo do segmento doagronegócio em avaliação. No caso da agrope-cuária (expressão de impactos tecnológicos porunidade de área), são considerados os aspectosAlcance, Eficiência, Conservação e RecuperaçãoAmbiental; o segmento produção animal (expres-são por unidade animal) considera os aspectos

4 Arquivos contendo o conjunto de planilhas do Sistema Ambitec estão disponíveis para acesso e uso na página da Embrapa Meio Ambiente: http://www.cnpma.embra.br/servicos.

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gerencial consolidado como software até sistemasde produção para culturas selecionadas,pastagens ou integração agricultura pecuária;sistemas para controle e manejo integrado depragas, variedades vegetais e raças animais,sistemas de suporte agroindustrial, até método pararecuperação de áreas degradadas. Com estadiversidade de aplicações, os ndices de ímpactoambiental estimados, usando-se o SistemaAmbitec, variaram amplamente, desde valoresmínimos de -2,60 para a tecnologia de "Sistemade produção para algodão nos cerrados", atévalores de 5,26 para o “Monitoramento deresistência de carrapatos a acaricidas”.

No caso do resultado negativo mencionado(referente à tecnologia "Sistema de produção dealgodão para os cerrados brasileiros"), aintensificação produtiva proposta implicou emaumento do uso de insumos e energia, além depressão por aumento na ocupação de novasáreas, dadas as vantagens econômicas previstas,em uma situação de franca expansão do mercadocomprador do produto (algodão). Já no extremode resultado positivo mencionado (referente àtecnologia “Monitoramento da resistência doscarrapatos aos acaricidas”), vantagens excepcio-nais foram associadas à minimização do uso deprodutos químicos tóxicos (acaricidas), implicandograndes reduções nas emissões para a atmosferae água, além de expressiva melhoria na qualidadedo produto, uma vez que resíduos de carrapa-ticidas são um problema importante do setor(Tabela 3).

Em termos gerais, as inovações tecnoló-gicas associadas à proposição de sistemas deprodução que visam à intensificação agropecuáriaestiveram associadas a índices de impacto demenor amplitude ou negativos, enquanto asinovações vinculadas a sistemas de gestão, comomanejo e produção integrada, manejo conserva-cionista ou alternativo (como variedade de canaindicada para alimentação animal) alcançarammaiores amplitudes positivas. Esse fato écorroborado por estar a maioria dos índicesparciais de impacto negativos associados aosindicadores uso de energia (13 em 31 tecnologiasanalisadas), uso de insumos (9 em 31) e impactosobre a biodiversidade (8 em 31).

Alcance, Eficiência, Conservação, RecuperaçãoAmbiental e Qualidade do Produto e aagroindústria (expressão por estabelecimentoagroindustrial) considera os aspectos Alcance,Eficiência, Conservação e Qualidade do Produto.Cada um desses aspectos é composto por umconjunto de indicadores organizados em matrizesde ponderação automatizadas, nas quais oscomponentes dos indicadores são valorados comcoeficientes de alteração, conforme conhecimen-to pessoal do produtor adotante e responsávelpelo estabelecimento rural e pela atividade à qualaplica-se a tecnologia.

A inserção desses coeficientes de alteraçãodo componente diretamente nas matrizes eseqüencialmente nas planilhas resulta naexpressão automática do coeficiente de impactoambiental da tecnologia, ponderada por fatoresrelativos à escala da ocorrência da alteração e àimportância do componente na composição doindicador. Os resultados finais da avaliação deimpacto são expressos graficamente na planilha"AIA da Tecnologia", após ponderação automáticados coeficientes de alteração fornecidos peloadotante/responsável, segundo os fatores deponderação dados.

O Sistema Ambitec vem sendo utilizadoanualmente no contexto institucional de P&D naEmbrapa, para a avaliação de impactos ambientaisdas inovações tecnológicas oferecidas pelasUnidades Descentralizadas. Essas avaliaçõescontribuem, por um lado, para apresentar àsociedade os resultados dos investimentos napesquisa agropecuária; e por outro, paraconscientizar pesquisadores e administradores dapesquisa e da transferência de tecnologia sobre arelevância das avaliações de impactosambientais, como instrumentos para a adequaçãotecnológica e a sustentabilidade das atividadesagropecuárias.

O conjunto de tecnologias incluídas nopresente exercício de avaliação de impactosambientais para o ano 2004, apresentado naTabela 3, inclui inovações que cobrem um amploespectro de aplicações desde um sistema

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Esses índices negativos estão possivelmenteassociados a ampliação de área ocupada eaumento no uso de insumos, indicadoresfreqüentemente associados à intensificaçãoagropecuária. Assim, pode-se concluir que osprocessos de intensificação estão implicados nageração de impactos ambientais negativosassociados às inovações tecnológicas propostaspela Embrapa, em especial no tocante a ampliaçãoda ocupação de áreas e uso de insumos erecursos. Isso significa, de um lado, que seriarecomendação importante para os adotantesdessas inovações, que devem ser respeitados oslimites de ocupação dos espaços rurais; e de outrolado, que na maioria das vezes, os impactosambientais associados às inovações tecnológicassão secundários, resultantes da ampliação da baseprodutiva e com reflexos no desempenhoeconômico e social das atividades.

Uma recente revisão sobre métodos paraAIA aplicado à agropecuária, que incluiu umaanálise crítica do Sistema Ambitec (PAYRAU-DEAU et al., 2004), enfatizou os principaisobjetivos do sistema, de prover um diagnósticoambiental e identificar as práticas causais deemissões de poluentes e de uso de recursos. Oestudo valorizou o tipo de abordagem do SistemaAmbitec (AIA), que satisfaz a necessidade dosmétodos de avaliação serem transparentes em suaconstrução, suficientemente simples paraaplicação prática no campo, enquanto suficiente-mente completos para evitar erros de diagnóstico.Dentre os sistemas incluídos no estudo, o SistemaAmbitec esteve entre aqueles que tratam do maiornúmero de objetivos de avaliação, porém nopresente o sistema vem sendo ampliado paraincluir a avaliação de impactos sociais, conformesegue.

Impactos sociais

A dimensão e a importância social dosprodutos e serviços gerados pela Embrapa estãosendo recentemente medidos nos estudos deavaliação de impactos de suas tecnologias. Osesforços iniciais foram dirigidos à geração deempregos, mas já se encontra em fase de testes

uma metodologia que permite identificar e avaliar,de modo mais amplo, os impactos sociais relativosaos aspectos de geração e qualidade do emprego,da renda, da saúde e da gestão e administraçãode estabelecimentos rurais (RODRIGUES et al.,2005). No caso da geração de emprego, em 2004,as estimativas realizadas no âmbito da Empresaindicaram que a adoção de suas tecnologiascontribuiu efetivamente para a geração de maispostos de trabalho, seja no campo, seja nasagroindústrias.

Em uma amostra de 30 tecnologiasavaliadas, de um universo de 120 incluídas nocontexto do sistema de avaliação de impactos, aEmbrapa indica que foram gerados aproxima-damente 206.831 postos de trabalho, consi-derando os vários segmentos da cadeia produtivados produtos envolvidos. É importante destacarque são considerados apenas os empregosadicionais, ou seja, empregos que não teriam sidocriados, caso os produtores estivessem adotandoalternativas tecnológicas que não aquelaspropostas pelos Centros de Pesquisa da Embrapa.Entretanto, como os estudos de avaliação deimpactos abrangem um número relativamentereduzido de tecnologias geradas, com ênfasenaquelas mais recentes, o número de empregosgerados pelas tecnologias da Embrapa ao longode sua história é bem maior do que este estimadopara esta amostra.

Ampliando esta ênfase inicial na quantifica-ção do número de novos empregos, os estudos deavaliação de impactos sociais atualmenterealizados na Embrapa abordam os benefíciossociais trazidos pela adoção de tecnologias sobrevários outros aspectos. São incluídas considera-ções sobre impactos sociais do ponto de vista dacapacitação e da condição do trabalhador, dageração e da qualidade do emprego; dacaptação, distribuição e diversidade das fontes derenda; da saúde ocupacional e pessoal e dasegurança alimentar; do perfil do responsável, dascondições de comercialização, da destinação deresíduos e do relacionamento institucional doestabelecimento rural.

Pode-se destacar o impacto do ponto devista da saúde, com o desenvolvimento, por

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 94

exemplo, de tecnologias cujo objetivo é aprodução de alimentos fortificados com algumnutriente específico. O consumo desses alimentospode proporcionar uma grande economia ao Paísno que se refere à prevenção de doenças. Hátambém relatos sobre como a adoção dedeterminadas tecnologias permitiu aos produtoresa permanência no campo. Este é um benefíciosocial de difícil mensuração, por ser um dosdesdobramentos dos impactos econômicos. Outrobenefício social importante se refere à segurançado trabalhador no campo, com a adoção, porexemplo, de tecnologias poupadoras do uso desubstâncias nocivas à saúde humana.

No intuito de aprimorar a avaliação deimpactos sociais uma nova metodologia, o Sistemade Avaliação de Impacto Social da InovaçãoTecnológica Agropecuária (Ambitec-Social) estáatualmente sendo testado nas Unidades daEmbrapa. Esta metodologia vem sendo desenvolvi-da por uma equipe de pesquisadores e colabo-radores da Embrapa Meio Ambiente e, assim comoa metodologia de avaliação de impactosambientais, integra uma série de aspectos eindicadores sociais em índices parciais e em umíndice geral de impacto social da tecnologia.

Ambitec-Social

O Ambitec-Social consiste em um conjuntode planilhas eletrônicas elaboradas para permitira consideração de quatro aspectos de contribuiçãode uma dada tecnologia para melhoria social naprodução agropecuária, quais sejam, emprego,renda, saúde e gestão e administração(RODRIGUES et al., 2005). Tais aspectos englobamum conjunto de quatorze indicadores e 79componentes explicativos dos impactos sociaisresultantes da adoção de uma dada tecnologiano âmbito de uma propriedade rural.

O aspecto emprego possui quatroindicadores: capacitação; oportunidade deemprego local qualificado; oferta de emprego econdição do trabalhador; e qualidade do emprego.O aspecto renda consiste de três indicadores:geração de renda do estabelecimento; diversi-

dade de fontes de renda; e valor da propriedade.O aspecto saúde considera três indicadores: saúdeambiental e pessoal; segurança e saúdeocupacional; e segurança alimentar. Finalmente,o aspecto gestão e administração compreendequatro indicadores: dedicação e perfil doresponsável; condição de comerciali-zação;reciclagem de resíduos; e relacionamentoinstitucional (Fig. 2).

A aplicação da metodologia segue asmesmas linhas de avaliação e etapas apresentadaspara o Sistema Ambitec. A primeira etapa se refereao processo de levantamento e coleta de dadossobre a tecnologia, incluindo informações sobrea sua abrangência e influência, obtidas dos dadostécnicos do projeto de P&D. Em seguida, define-se a amostra (universo de adotantes da tecnolo-gia). Os componentes dos indicadores de impactosocial são avaliados em entrevistas e vistoriasaplicadas pelo usuário do Ambitec-Social juntoao responsável pelo estabelecimento rural, queexpressa os coeficientes de alteração doscomponentes, em virtude da influência datecnologia avaliada sobre a atividade agrope-cuária.

Segundo Rodrigues et al. (2005), "osresultados da avaliação permitem, ao produtor/administrador, averiguar quais impactos datecnologia podem estar desconformes com seusobjetivos de bem-estar social; ao tomador dedecisões a indicação de medidas de fomento oucontrole da adoção da tecnologia, segundo planosde desenvolvimento local sustentável e,finalmente, proporcionam uma unidade de medidaobjetiva de impacto, auxiliando na qualificação,seleção e transferência de tecnologias agrope-cuárias."

Com o Ambitec-Social, a Embrapa visa aanalisar, de forma integrada, os diversos aspectosimplicados com as contribuições de suastecnologias para o bem estar social. Compondocom as abordagens econômica e ambiental (ouecológica), essas avaliações favorecem a tomadade decisão quanto à elaboração de projetos depesquisa, à transferência e à adoção tecnológica,sob uma perspectiva de desenvolvimento susten-

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 200595

Fig. 2. Aspectos e indicadores para a avaliação de impacto social da inovação tecnológica (Ambitec-Social).Fonte: Rodrigues et al. (2005).

tável no âmbito do estabelecimento rural e dosterritórios em que se inserem. A integração dosindicadores das dimensões ecológica, social eeconômico traduz a diversidade de aspectosconsiderados, construídos em uma basemetodológica homogênea, capaz de avaliar asmais variadas tecnologias geradas pelos diversosCentros de Pesquisa da Empresa.

A consistência dosresultados obtidos:Embrapa e outras instituições

Os resultados obtidos nessa avaliação dosimpactos gerados pela Embrapa em 2004, narealidade, não surpreendem já que a literaturaeconômica mundial, incluindo a brasileira, temmostrado claramente de que a pesquisaagropecuária é uma atividade altamente rentável.A este respeito Bonelli e Pessoa (1998) afirmamtextualmente:

“Empiricamente, nossos resultados confir-mam o quejá foi enfatizado à exaustão ao longo do texto e emdiversos outros estudos do gênero: qualquer que sejao método que se adote para a mensuração, osinvestimentos em pesquisa agrícola efetuados pelaEmbrapa geram retornos, produtivos ou deprodutividade, muito elevados”.

No caso econômico, isto tem sido mostradousando-se as mais diferentes metodologias, e oque é importante, baseada em estudos realizadostanto por economistas de dentro, como de foradas instituições envolvidas em tal atividade. Estudorecente desenvolvido por Alston et al. (2001), emque foram analisados quase 2 mil artigos deavaliação de retorno de investimentos empesquisa agropecuária realizados em todo omundo, confirmou esta alta rentabilidade. Umasíntese das taxas de retorno levantadas pelosautores desta chamada "meta-análise", por regiãodo mundo, é apresentada na Fig. 3.

Os dados mostram que a rentabilidade dapesquisa agropecuária no Brasil se situa no mesmo

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Fig. 3. Medianas taxas de retorno da pesquisaagropecuária no mundo. Período 1957-1997.Fonte: Regiões do mundo - The World Bank (2001) e Brasil - Avila e Souza (2002).

patamar da América Latina e um pouco acimadas taxas encontradas nos centros internacionaisde pesquisa agrícola vinculados ao ConsultativeGroup for International Agricultural Research(CGIAR). Entretanto, a rentabilidade brasileira ésuperior àquela de regiões como África, OrienteMédio e Oceania e inferior àquela de regiõesdesenvolvidas (USA/Canadá e Europa).

Vale ressaltar que essa diferenciação detaxas de retorno entre as diversas regiões domundo é em muito explicada pela dinâmica daagricultura onde as tecnologias geradas foramadotadas. É sabido que nos países desenvolvidosexiste uma agricultura empresarial muito avan-çada, o que torna mais rápido o processo de ado-ção e difusão de qualquer inovação tecnológica.

Vale ressaltar que dos estudos desenvol-vidos no Brasil e mostrados nas Tabelas 4 e 5, agrande maioria foi desenvolvido na Embrapa,iniciando-se por Cruz et al., em 1982. Isso ocorreuem decorrência de uma política da Empresa que,desde meados dos anos 1980, priorizou talatividade, montando e capacitando equipes paratrabalhar nessa área, tanto na Sede da Empresaquanto nos seus 37 Centros de Pesquisa. Talprograma não só envolve a realização de estudosa cargo dos próprios socioeconomistas daEmpresa (da Sede e dos Centros), mas tambémtem contado com especialistas nacionais e

internacionais, especialmente oriundos deuniversidades brasileiras (Viçosa, Brasília, Cearáe Rio Grande do Sul, entre outras) e americanas(Yale, Davis e Minnesota).

Nos estudos apresentados na Tabela 4, osautores estimaram o fluxo de benefícios por meiodo método do excedente econômico, o que lhespermitiu estimar a taxa interna de retorno dosinvestimentos realizados. Já no caso dos estudosapresentados na Tabela 5, os modelos usadosforam econométricos e, portanto, a rentabilidadedos investimentos foi avaliada com base na taxamarginal interna de retorno. Nesse caso, a taxa éestimada a partir dos coeficientes da variávelpesquisa agropecuária, que entra no modelocomo uma das variáveis explicativas dasmudanças na produtividade agrícola.

Os resultados apresentados mostram a altarentabilidade dos investimentos em pesquisaagropecuária no Brasil, o que evidencia que osresultados obtidos no Balanço Social da Embrapade 2004 são consistentes com a literatura.Também no caso brasileiro, notam-se diferenças,o que, conforme já explicado, tem a ver com adinâmica da agricultura onde as tecnologiasgeradas têm sido adotadas.

Uma outra medida usada para avaliar oretorno do investimento em pesquisa agropecuáriaé a relação benefício/custo, que é calculadadividindo-se o valor presente líquido dosbenefícios econômicos gerados pelas tecnologiaspelo valor presente líquido dos custos daspesquisas realizadas para gerá-las.

A relação benefício/custo do programa demelhoramento de soja, arroz de sequeiro e feijãoda Embrapa foi estimado recentemente por Pardeyet al. (2004). Os valores estimados mostram umarelação positiva, sendo mais alta a do programade melhoramento de soja (31/1), seguido doprograma de arroz de sequeiro com 5/1 e doprograma de feijão com 3/1. A relação benefício/custo média do programa de melhoramento daEmbrapa, estimada pelos autores para essas trêsculturas, foi de 16/1, o que, mais uma vez, confirmaa alta rentabilidade das inversões da Empresa,sobretudo em melhoramento genético, já

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 200597

Tabela 4. Taxas internas de retorno dos investimentos em pesquisa agropecuária.

Fonte: Avila e Souza (2002).

Ayer e Schuh (1972)Monteiro (1975)Fonseca (1976)Moricochi (1980)Avila (1981)Cruz et al. (1982)Ribeiro (1982)

Cruz e Avila (1983)Avila, Borges, Irias e Quirino (1984)

Roessing (1984)Ambrosi e Cruz (1984)Avila, Irias e Veloso (1985)

Monteiro (1985)Barbosa, Cruz e Avila (1988)Barbosa, Avila e Motta (1988)Kitamura et al. (1989)Santos et al. (1989)Teixeira et al. (1989)Lanzer et al. (1989)Santos e Barros (1989)Gonçalves, Souza e Rezende (1989)Kahn e Souza (1991)

Barbosa e Cruz (1993)Dossa e Contini (1994)Avila e Evenson (1995)

Evenson e Avila (1995)

Oliveira e Santos (1997)

Vilela, Morelli e Makishima (1997)Pereira e Santos (1998)Cançado Júnior, Lima e Rufino (2000)Almeida, Avila e Wetzel (2000)

Ambrosi (2000)Almeida e Yokoyama (2001)

Pardey et al. (2004)

Autores e Ano Abrangência

Estado de São PauloBrasilBrasilEstado de São PauloEstado do Rio Grande do SulEmbrapaEstado de Minas Gerais

Projeto Banco Mundial (I)Embrapa

Embrapa Centro SojaEmbrapa Centro TrigoProjeto BID (II): PesquisaEmbrapaPesquisa Estadual Centro-SulMinas Gerais e Espírito SantoEmbrapaProjeto Banco Mundial (II)Embrapa NorteEmbrapa NordesteEmbrapa Centro-OesteEmbrapa SulEmbrapa Centro AlgodãoEstado de São PauloEmbrapa Centro Mandioca eFruticultura TropicalProjeto BID (II)Embrapa Centro SojaEmbrapa Programas NacionaisEmbrapa Centros RegionaisPesquisa EstadualEmbrapa Pesquisa em Grãos

Embrapa Centro Caprinose OvinosEmbrapa Centro HortaliçasEmbrapa Centro AlgodãoEstado Minas GeraisEmbrapa

Embrapa Centro TrigoEmbrapa Centro Arroz e Feijão

Embrapa: Programa deMelhoramento Genético

Produto/nível

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AgregadoAgregadoCacauAgregadoAgregadoAgregadoAgregadoAgregadoAgregadoAgregadoArrozMandioca eFeijão-caupiAgregadoAgregadoAgregado

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Ano XIV – Nº 4 – Out./Nov./Dez. 2005 98

Tabela 5. Taxas marginais de retorno dos investimentos em pesquisa agropecuária.

Evenson (1982)Silva (1984)Pinazza et al. (1984)Ayres (1985)

Evenson e Cruz (1989a)

Evenson (1990a)

Evenson (1990b)

Bonelli e Pessoa (1998)

Autores e Ano Abrangência

BrasilBrasilEstado de São PauloBrasilEstado de ParanáEstado de São PauloEstado de Santa CatarinaEstado de Rio Grande SulBrasil

Brasil

Brasil – Centro-Sul

Embrapa

Produto/nível

AgregadoAgregadoCana-de-açúcarSoja

TrigoMilhoSojaCulturastemporáriasCulturastemporáriasCulturas perenesAgregado

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6960354651233153393050

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71-7818-27

mostrado anteriormente neste artigo quando setratou da participação da Embrapa das cultivaresno mercado brasileiro de sementes.

Dados os resultados apresentados acima,fica evidente que a relação benefício/custo de 13/1 mostrada no Balanço Social de 2004 é coerente.Os valores obtidos por Pardey et al. (2004) sãomaiores porque os autores apenas avaliaram oprograma de melhoramento, considerado uma dasatividades mais rentáveis em qualquer instituiçãode pesquisa agropecuária. Tal relação benefício/custo é similar à encontrada no Balanço Socialda Embrapa de 2003 (AVILA, 2004).

Esta análise pode ser enriquecida fazendo-se uma estimativa mais apurada da relaçãobenefício/custo, ou seja, sem limitar aos dados decustos e benefícios de 2004. Se numa hipótesemais pessimista for considerado que os benefícioseconômicos do ano passado são resultantes deinvestimentos feitos ao longo dos 32 anos dehistória da Embrapa, devidamente atualizados,esta relação cai para 2/1. Como, na realidade, os5,6 bilhões de reais investidos no período 1974-2004 não só geraram benefícios num dado ano,esta relação, mesmo sendo positiva, estásubestimada.

Uma relação benefício/custo mais plausívelseria aquela em que se relacionariam todos oscustos da Embrapa com os benefícios econômicosestimados. Como não se tem os benefíciosestimados durante todo o período, numa mesmametodologia de cálculo, pode-se estimar a relaçãoB/C usando-se apenas os benefícios estimados parao período 1997-2004 e que constam dosrespectivos Balanços Sociais anuais. Nestahipótese a relação benefício/custo é de 9,6/1, oque significa que a cada real investido na Embrapaexiste um retorno de cerca de 10 reais.

Esta última relação B/C (9,6/1) é similaràquela obtida por Raitzer (2003) na avaliação dosretornos dos investimentos dos centros internacio-nais de pesquisa agrícola do CGIAR. O referidoautor estimou a taxa de 9/1 num estudo em queconsiderou cinco cenários, indo desde o maisotimista (17,26/1) até um cenário mais pessimistaonde a relação B/C foi de 1,94/1. Portanto, osresultados obtidos na Embrapa usando este tipode indicador de rentabilidade também estãodentro dos limites mostrados na literatura.

Em um estudo recente, desenvolvido naEmbrapa, pesquisadores de vários Centros dePesquisa da Empresa avaliaram os impactos

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econômicos e ambientais de uma amostra de 12tecnologias. Este trabalho ocorreu como um dospré-requisitos solicitados pelo BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID), comoparte do processo de avaliação de impacto doprojeto Programa de Inovação TecnológicaAgroalimentar e Agroindustrial para o Futuro(Agrofuturo) (MAGALHÃES et al., 2005).

Uma síntese dos resultados das avaliaçõesde impactos econômicos, medidos em termos dataxa interna de retorno, do valor presente líquidoe da relação benefício/custo desta amostra detecnologias são apresentados na Tabela 6. Osvalores apresentados, apesar de bastante variadosdada a natureza das tecnologias incluídas naamostra e o tipo de produto em que se aplica(culturas anuais, culturas perenes, produçãoanimal e processamento industrial), demonstra-ram, mais uma vez, a alta rentabilidade dosinvestimentos na Embrapa.

ConclusõesOs resultados obtidos na avaliação dos

impactos da Embrapa em 2004, mostradas noBalanço Social, e a comparação dos mesmos comestudos similares realizados no Brasil e no exterior,confirmam a alta rentabilidade dos investimentos.

Os vários indicadores apresentados, seja naavaliação dos impactos econômicos, seja naavaliação dos impactos sociais e ambientais,mostram que os investimentos feitos ao longo deseus mais de 32 anos foram compensadores paraa sociedade brasileira.

Uma análise das condicionantes daprodutividade total dos fatores (PTF) feita porGasques et al. (2004) mostram por um outro ânguloa importância do papel da pesquisa agropecuáriadesenvolvida na Embrapa para o crescimento daprodutividade da agropecuária no Brasil e,portanto, para a geração de excedentes. Osreferidos autores encontraram que uma variaçãode 1% nos gastos em pesquisa tem um impactode imediato da ordem de 0,17% na PTF, enquantono caso do crédito rural este efeito é bastantepequeno (0,06%).

Gasques et al. (2004) sugerem ainda queno crescimento futuro da produtividade total dosfatores na agricultura mundial, o papel da pesquisae da extensão rural será decisivo. No casobrasileiro, eles estimaram uma taxa média decrescimento de 3,30% ao ano, no período 1975-2002, usando o índice de Tornqvist. Avila, Romanoe Garagorry (2005) também estimaram a taxa decrescimento da PTF na agricultura brasileira eobtiveram resultado muito similar (3,54%), assim

Tabela 6. Síntese das análises benefício/custo das tecnologias selecionadas.

Eucalyptus benthamii – tolerante a geadas severasRecomendação do cultivo de pimenta-longa para produção deóleos e essências ricos em safrolCultivar de arroz de terras altas ‘Primavera’Uva niágara rosada para regiões tropicaisTerminação de cordeiros em confinamentoGalinha colonial poedeira Embrapa 051Cultivar de pêssego Maciel – duplo propósitoManejo integrado de mosca-das-frutas: monitoramentopopulacional e tratamento hidrotérmicoCenoura ‘Brasília’Técnicas de produção intensiva aplicada às propriedadesfamiliares produtoras de leite.Produção integrada de mangaMódulos múltiplos de processamento de castanha-de-caju

Título da tecnologia TIR (%)

1314

64109

26344451

6077

6576

VPL(R$ 1.000)

6.116284.227

264.27524.044

722.8174.3852.1823.460

54.668486.783

3.80817.767

B/C

1,5/11,9/1

52/159/1

3/17,9/1

166/14/1

94/1156/1

5,29/111/1

Fonte: Magalhães et al. (2005).

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como demonstraram que a pesquisa agropecuáriatem se constituído na mais importante fonte decrescimento de tal produtividade na AméricaLatina.

Nessa mesma linha, Avila e Evenson (2005),usando somente dados estatísticos da Organizaçãodas Nações Unidas para Agricultura e Alimen-tação (FAO) e estimando as taxas de crescimentoda produtividade da agricultura para 78 países emdesenvolvimento, obtiveram uma taxa para oBrasil de 3,3% para o período 1981-2001. Taisautores também constaram que a pesquisaagropecuária foi a responsável por mais de 50%do crescimento da produtividade agrícolaverificado no período nos países em desenvol-vimento analisados.

Enfim, são muitas as evidências de que apesquisa agropecuária, e em particular a Embrapa,tem gerado tecnologias que compensam, comfolga, os investimentos nela realizados, comparati-vamente aos retornos dos investimentos em outrossetores da economia, seja no Brasil, seja em outraspartes do mundo desenvolvido ou em desenvol-vimento.

As organizações públicas de pesquisa têmpassado por importantes mudanças nos últimos 10-15 anos e outras dimensões de impacto, além daeconômica, passaram a ter um papel relevantenos estudo de impacto. Neste sentido, destaca-sea importância dos impactos ambientais e sociaisdos seus produtos. A abordagem metodológica hojeutilizada na Embrapa é uma combinação deestudos de caso, entrevistas e análises ocupacio-nais.

No tocante aos impactos ambientais, aexperiência que vem sendo desenvolvida naEmbrapa tem contribuído decisivamente paramelhorar a compreensão de pesquisadores,técnicos, tomadores de decisão e produtores ruraissobre as implicações ambientais do desenvol-vimento e adoção de inovações tecnológicasagropecuárias. Ademais, a aplicação de sistemasintegrados de avaliação de impactos ambientaistem permitido introduzir esses processos deavaliação em nível operacional no agronegócionacional, facilitando o entendimento dasinterações, positivas e negativas, entre tecnologiasagropecuárias e o meio ambiente. Com essesavanços, encontra-se encaminhada a aceitação

das avaliações de impacto ambiental enquantoinstrumentos de gestão das atividades rurais, deforma que sistemas cada vez mais consistentesem termos teóricos e metodológicos possam serpropostos e introduzidos.

O desenvolvimento das atividadesprodutivas rurais em uma situação sustentável ecom um ambiente de qualidade somente se darámediante planejamento das intervenções sobre anatureza, segundo as capacidades e limitaçõesdas comunidades e dos ecossistemas. No presentemomento, no qual ocorrem profundas modifica-ções no panorama dos mercados, com a formaçãode nichos especiais que premiam a inserçãodiferenciada de produtores que estejam atentos amodelos alternativos, social e ambientalmenteresponsáveis, procedimentos que permitamavaliar, documentar e gerir adequadamente estesmodelos de produção são ferramentas importantespara a certificação ambiental das atividadesprodutivas rurais. A iniciativa da Embrapa, deproceder à avaliação de impactos ambientais dassuas inovações tecnológicas agropecuárias, nabusca de adequá-las a este novo cenário dedesenvolvimento da agricultura, vem contribuindopara consolidar este movimento. Os aspectosambientais, assim, passam a constituir fatores decompetitividade e de qualidade para odesenvolvimento da agricultura nacional.

A abordagem metodológica utilizada paraa avaliação desses impactos sociais é umacombinação de estudos de caso, entrevistas eanálises ocupacionais. Aspectos significativosrelacionados, por exemplo, à saúde, nutrição esegurança no trabalho são observados. Noentanto, destaca-se enquanto impacto social maisevidente a geração de novos empregos iden-tificados não só em nível da propriedade rural,mas principalmente ao longo da cadeia produtiva.

No caso específico dos impactos sociais,cabe ressaltar que aspectos significativosrelacionados, por exemplo, à saúde, nutrição esegurança no trabalho estão sendo observados.No entanto, destaca-se enquanto impacto socialmais evidente a geração de novos empregos,identificados não só em nível de propriedade rural,mas principalmente ao longo da cadeia produtiva.

Do ponto de vista do emprego, por exemplo,o Balanço Social de 2004 mostrou, mais uma vez,

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a inquestionável importância da Embrapa nageração de empregos. Porém, com o uso dametodologia Ambitec-Social, as futuras avaliaçõessociais buscarão ampliar essa avaliação social ecaptar aspectos relacionados ao bem-estar dostrabalhadores no quesito emprego. Pretende-seavaliar, dentre outros aspectos, a qualidade dotrabalho gerado, se a tecnologia oferece aotrabalhador a oportunidade de se capacitar e ascondições de vida do trabalhador que adota astecnologias da Embrapa. Planeja-se tambémavaliar os desdobramentos de aspectos relacio-nados à renda, à saúde e à gestão e administração.

Entretanto, cabe destacar que, apesar dasevidências de impactos positivos e dos altosretornos dos recursos nela investidos, nos últimosdez anos, observa-se um decréscimo no montantede recursos alocados na Empresa. Portanto, énecessário recolocar o volume de investimentosna Embrapa, em níveis mais compatíveis com assuas reais e crescentes necessidades, para queela possa, no futuro, manter ou até mesmo ampliaro seu papel no desenvolvimento brasileiro.

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O amanhã seconstrói dia a dia

Nos últimos 17 anos, o agronegócio brasi-leiro vem experimentando um surto de cresci-mento vigoroso, capaz de resistir e de suplantar atoda sorte de lerdezas do Estado, crises cambiais,acidentes climáticos e abusos na prática da “maisvalia”, pelo poder comercial internacional.

Nesses anos, adquiriu eficiência econômi-ca mundial, cresceu em sustentabilidade ambien-tal, deu ao Brasil respostas convincentes emsegurança alimentar, tanto em termos de garantiade abastecimento quanto de qualidade nutricional.Criou, também, riquezas no interior – distribuindorenda e empregos – e melhorou os demaisindicadores sociais de qualidade de vida de todoo País.

Gerou saldos comerciais expressivos e,assim, financiou o ajuste econômico do País,sobretudo o investimento na renovação tecnoló-gica da indústria, e ajudou a pagar parte signifi-cativa da Dívida Externa (cerca de US$100bilhões nos últimos 7 anos). Mais que tudo,resgatou a auto-estima do povo brasileiro,sobretudo do povo do interior, fazendo de cadabrasileiro um agente de transformação econômica,um cidadão.

Mercê dessa transformação do agrone-gócio, atualmente o Brasil é o fiel do equilíbrio domercado de alimentos e outras commodities deorigem agrícola, não só no presente, mas esperan-çosamente, também, do futuro. Pela competênciatecnológica, disponibilidade de terras, água einsolação é que este País garantirá ao mundo, umaoferta direta e significativa de álcool e de biodiesel.É também quem pode recompor a oferta mundial

Silvio Crestana1

Renato Cruz Silva2

1 Silvio Crestana, PhD., é Diretor-Presidente da Embrapa.2 Renato Cruz Silva, MSc., é assessor da Presidência da Embrapa, em Desenvolvimento Institucional.

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Dilema estratégico do Brasil: enquanto crescem os lucros da inovaçãopassada, reduz-se o investimento na inovação e lucros do futuro.

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de alimentos, na medida em que os países de climatemperado forem desviando sua produção degrãos para a geração de agroenergia.

No Brasil, o agronegócio cresceu forte, ágil,flexível e competitivo porque foi impulsionado pelosucesso que tiveram as instituições públicas depesquisa agropecuária em criar uma base própriade conhecimentos e tecnologias para o desenvol-vimento da nova agricultura tropical. Essa foi aprimeira grande parceria público-privada desucesso no País (muito antes de existir a Lei dasPPP): o ente público usou o imposto e gerou oconhecimento; o ente privado aproveitou oconhecimento e para gerar riquezas e muito maisimpostos.

Contudo, contraditoriamente nesses mes-mos 17 anos, essa nova massa de impostos e essariqueza não foram e nem têm sido usadas paramanter e fazer crescer tal rede de cooperação.Ao contrário, o Brasil vem desmontando o braçopúblico dessa parceria: lendo errado os sinais dostempos e viajando na contramão, nesse mesmoperíodo, o Estado brasileiro se dedicou a desmo-bilizar o arranjo institucional e operacionalvitorioso que criou essa agricultura tropical, ochamado Sistema Nacional de PesquisaAgropecuária (SNPA).

Criado ao mesmo tempo que a Embrapa, oSNPA trabalhava segundo uma receita engenhosapara tempos de crise e de enormes desafios.Primeiro, havia foco e divisão de trabalho: umaagenda de pesquisa básica, outra estratégica,outra aplicada e outra adaptativa. Sem fronteirasrígidas, as universidades cuidavam mais dabásica, a Embrapa, da estratégica e da aplicada,e os institutos estaduais faziam parte da pesquisaaplicada e de toda a pesquisa adaptativa de ajustedas tecnologias às condições regionais e locais.

Para isso, tinha-se a capilaridade neces-sária: uma rede de estações de pesquisa federal eoutra estadual, que se completavam. A parti-cipação privada, a não ser por uma ou outrauniversidade, não se dava nesse plano, sendo maisvisível nas ações de transferência de tecnologia.

A Embrapa detinha instrumentos muito fortespara coordenar essas duas redes e induzir a

convergência de propósitos. Primeiro, dispunhade um programa de capacitação internacionalque treinava pesquisadores federais e estaduaispara fazer a transformação tecnológica pretendidae ainda alocava em todos os estados os especia-listas que lhes faltassem.

Segundo, como sócia, participava da indica-ção de dirigentes e repassava recursos para ocusteio das pesquisas. Era possível então ter foco,concentração de esforços e talentos, agilidade evelocidade na construção das soluções. No planoda transferência das tecnologias, a Embratercoordenava financeira e tecnicamente o esforçoda rede de entes estaduais de assistência técnicae extensão rural.

As crises financeiras do Estado negaram àEmbrapa os recursos necessários à eficiênciadesse arranjo e feriram de morte sua coordenação.A amplitude de ação das universidades foi limitadapela escassez de recursos públicos. Mais tarde,as disposições da Constituição de 1988 jogarama última pá de cal sobre esse arranjo. A Embraterfoi simplesmente extinta, também se desfazendoa coordenação na transferência de tecnologias.

A partir de 1989, exatamente quando acolheita dos frutos benéficos desse arranjo passoua ser mais visível, sem o repasse de recursos fede-rais específicos para esse fim, os estados come-çaram a desmontar a rede estadual de pes-quisa,claramente extinguindo suas organizações depesquisa ou incorporando-as nas organizações deextensão rural.

Desde então, institutos seculares – cujoacervo de conhecimento é um dos pilares da atualbase tecnológica da agricultura tropical – têm sidomantidos à míngua, privados de sua identidade,subtraídos em sua liderança científica. Nessecaso, lideranças regionais agiram como se ainovação do agronegócio pudesse se ampararapenas na pesquisa estratégica e aplicada daEmbrapa.

É uma falácia. A própria Embrapa temsofrido muito com a descontinuidade deinvestimentos, que a impede de sozinha responder

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a tal desafio. Além do mais, ela sofreu umainvolução institucional: criada como empresapública ágil e operacionalmente flexível, hojesofre dos mesmos entraves burocráticos quemotivaram sua criação, o que limita, inclusive,sua capacidade de buscar soluções fora do Estado.

Então, na prática, o que temos é isso:afastadas as ameaças de desabastecimento efome, alcançadas as supersafras e os saldos daBalança Comercial, estamos desmobilizando a"usina de soluções", minando a capacidade dedefesa e ataque, porque o perigo já passou.

É natural, é uma das idiossincrasias da con-dição humana. Só que o Estado não tem o direitode agir assim. A sociedade gasta muito para man-ter o Estado e para criar coisas como organização,gestão, planejamento estratégico e políticaspúblicas para que não fiquemos à mercê dasnossas fraquezas, imediatismos, erros e limitações.Nesse caso, não é o que se passou.

Na nova economia interna das organiza-ções de pesquisa dos estados, o Setor Público, comdificuldades, mal garante os salários e encargos.O custeio da pesquisa aplicada e adaptativa e dosinvestimentos em bens de capital precisam serbuscados no Setor Produtivo, o que confere a essasações caráter não sistêmico, conjuntural, locali-zado e restrito. Isso não é estratégico e ameaça asustentabilidade do processo de inovação doagronegócio.

A falta de mais pesquisas adaptativas (mastambém das pesquisas aplicadas e estratégicas) ede assistência técnica adequada reduz a eficiên-cia da tecnologia agrícola local já existente. Omilho é um exemplo: muitos produtores moder-nos já alcançaram o potencial de produtividadecomparável ao dos países desenvolvidos, mas aprodutividade média ainda está em torno de3 t/ha, porque um grande número de produtoresainda está à margem desse progresso. Ou comono caso do trigo, que continua confinado no Suldo Brasil, ainda sem realizar seu potencialprodutivo no Cerrado.

O mais preocupante é que há um lapso detempo entre a criação da tecnologia e a realização

do seu efeito produtivo, havendo nisso um efeitoperverso. As supersafras e os saldos de balançaagrícola – que estamos colhendo hoje – encobremo fato de que são produzidas por tecnologias quecriamos no passado, e esse sucesso nos ilude eestá nos impedindo hoje de investir adequada-mente na geração das tecnologias que vãogarantir as supersafras de alimentos, fibras eenergia, e os saldos comerciais agrícolas do futuro.

Alguns dos principais desafios do futuroestão colocados agora. Entre eles, se impõe acriação de uma nova matriz energética – centradana agroenergia – e a construção de um novopatamar de sanidade agropecuária e agroindus-trial, centrada na gestão da informação e sistemasde rastreabilidade vegetal e animal, combinandonos alimentos segurança de nutrição e de saúde.

Precisamos melhorar o manejo ambiental,sobretudo no que se refere ao uso e à preservaçãoda qualidade da água, e na redução do aqueci-mento global, via seqüestro de carbono e enfren-tando o desafio florestal. Precisamos também do-minar os conhecimentos em nanotecnologia, paracriar novos materiais e produtos, além de garantira oferta mundial de alimentos e combater a fome.

Para responder a esses desafios, os paísesque competem com o Brasil na faixa tropical, comoÍndia, China, Austrália e Nova Zelândia estãoseguindo um caminho diverso. Eles não têm amesma disponibilidade de terras, água e sol queo Brasil, mas ampliam seus investimentos eminovação, seguros de que as tecnologias corretaspodem suprir tais deficiências.

Os países de clima temperado, pressiona-dos pela luta contra subsídios agrícolas, tambémaumentam seus investimentos e serão competi-dores importantes na oferta de tecnologia tropical,em geral, e de agroenergia, em particular.

Na contramão, sem tecnologias adequadas,não saberemos bem aproveitar os recursos naturaisque nos sobram. Os desafios tecnológicos que seapresentam não são uma continuidade do queestamos fazendo, mas um novo patamar dequalidade científica que requer novas abordagense refinamentos. Requer, também, novos talentos,novas capacidades e conhecimentos.

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Por todas essas condicionantes, um processode revitalização da Embrapa e do SNPA é maisdo que devido. A Embrapa, as universidades e osinstitutos estaduais de pesquisa, enfim, todos nãosó precisamos de melhor sustentação financeirapara atrair e renovar os talentos científicos eampliar as pesquisas, como é crucial ter maiorflexibilidade institucional e jurídica para orquestrarnovos arranjos operacionais com o setor produtivo.

Nisso, o cenário é parecido com o de 1970.Difere no fato de que hoje o setor privado estábem mais forte e tem maior disposição emparticipar no financiamento do desenvolvimentode tecnologias. Não é preciso treinar, no exterior,os talentos requeridos, pois o mercado de pós-graduação brasileiro os oferece com qualidademundial, e amealhamos uma competência quenos faz líder em tecnologia agrícola tropical.

Após as bem-sucedidas experiências deprospecção, monitoramento de avanços ecooperação científica dos laboratórios da Embrapano Exterior (o Labex-EUA e Labex-Europa),estamos prontos para avançar um pouco mais naconexão internacional, abrindo um escritório denegócios na África – a Embrapa África. Taliniciativa tem uma perspectiva maior de transfe-rência de tecnologia agrícola tropical que interes-sa, de perto, às relações diplomáticas entre o Brasile as nações africanas assim como ao setor produ-tivo brasileiro, dadas as perspectivas de maiordesenvolvimento econômico do continenteafricano, principalmente na sua porção maispobre.

No plano interno, a iniciativa Rede de Ino-vação e Prospecção para o Agronegócio (Ripa)faz intensa mobilização das redes públicas federale estadual de pesquisa, reavaliando todos os pro-gramas em andamento, face aos novos desafios.

Melhoramos muito em vários aspectos doarcabouço jurídico com as leis da Inovação e dasPPP, e no aspecto institucional, com a criação dosfundos setoriais de desenvolvimento tecnológico.Se eles ainda padecem com as reservas dos

contingenciamentos orçamentários, em poucotempo alcançarão a normalidade operacional,mercê do esforço do Ministério de Ciência eTecnologia, em desbloquear os recursosfinanceiros lá alocados.

Todos esses fatores estimulam a Embrapa evários atores públicos e privados, como o BancoNacional do Desenvolvimento Econômico eSocial (BNDES), o Banco do Brasil, a Petrobrás, aVale do Rio Doce, a Itaipu Binacional e tantosoutros, a considerar, com grande entusiasmo, aspossibilidades de iniciativas como empresas depropósito específico, previstas e autorizadas pelaLei de Inovação.

Nelas, se juntam não só culturas de eficiên-cia pública e privada, mas também se estabeleceuma conexão transversal, unindo setores comoenergia, agricultura e logística, que podem serextremamente eficientes na construção de alter-nativas para a matriz energética e para manu-tenção da competitividade externa brasileira.

Nesse particular, o governo já definiu elançou o Plano Nacional de Agroenergia, inicia-tiva interministerial coordenada pelo Mapa.Agora, parte-se para a instituição do consórcionacional de instituições de pesquisas nessa áreae, para integrá-lo, a criação, pela Embrapa, deum centro nacional de pesquisas com essa missão,a Embrapa Agroenergia.

Todas essas possibilidades dependem deque as redes de inovação públicas – que servemao agronegócio – sejam revitalizadas conformeexplicitado neste número da Revista de PolíticaAgrícola. Há sinais promissores. Novos concursospúblicos estão sendo realizados e examina-se aimplementação de um novo plano de carreiraspara que a Embrapa seja capaz de atrair os talentosde que necessita, sobretudo nessas áreas doconhecimento ditas portadoras de futuro.

Também é grande a sensibilidade doCongresso Nacional, procurando apoiar essemovimento de revitalização institucional comoferta ao Orçamento da União de emendasespecíficas para esse propósito. Ao mesmo tempo,

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o Parlamento trabalha para ampliar e flexibilizaras dotações orçamentárias da Embrapa e paraliberar dos contingenciamentos tudo aquilo que édestinado à Ciência & Tecnologia.

Em 2005, o Balanço Social da Embrapa,mostra que cada R$1,00 investido pelo governo,na inovação do agronegócio, devolve à socie-

dade o equivalente a outros R$13,00 em renda,emprego, saúde e bem-estar. Isso prova, de formacabal, que financiamento público da inovação emqualquer campo não é despesa; é investimentoestratégico.

Como em 1970, o Brasil precisa, urgente-mente, optar pelo que lhe é estratégico.

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1. Tipo de colaboração

São aceitos, por esta Revista, trabalhos que se enquadrem nasáreas temáticas de política agrícola, agrária, gestão e tecnologiaspara o agronegócio, agronegócio, logísticas e transporte, estudosde casos resultantes da aplicação de métodos quantitativos equalitativos aplicados a sistemas de produção, uso de recursosnaturais e desenvolvimento rural sustentável que ainda não forampublicados nem encaminhados a outra revista para o mesmo fim,dentro das seguintes categorias: a) artigos de opinião; b) artigoscientíficos; d) textos para debates.

Artigo de opinião

É o texto livre, mas bem fundamento sobre algum tema atual e derelevância para os públicos do agronegócio. Deve apresentar oestado atual do conhecimento sobre determinado tema, introduzirfatos novos, defender idéias, apresentar argumentos e dados,fazer proposições e concluir de forma coerente com as idéiasapresentadas.

Artigo científico

O conteúdo de cada trabalho deve primar pela originalidade, istoé, ser elaborado a partir de resultados inéditos de pesquisa queofereçam contribuições teórica, metodológica e substantiva parao progresso do agronegócio brasileiro.

Texto para debates

É um texto livre, na forma de apresentação, destinado à exposiçãode idéias e opiniões, não necessariamente conclusivas, sobretemas importantes atuais e controversos. A sua principal carac-terística é possibilitar o estabelecimento do contraditório. O textopara debate será publicado no espaço fixo desta Revista,denominado Ponto de Vista.

2. Encaminhamento

Aceitam-se trabalhos escritos em Português. Os originais devemser encaminhados ao Editor, via e-mail, para o endereç[email protected].

A carta de encaminhamento deve conter: título do artigo; nomedo(s) autor(es); declaração explícita de que o artigo não foi enviadoa nenhum outro periódico para publicação.

3. Procedimentos editoriais

a) Após análise crítica do Conselho Editorial, o editor comunicaaos autores a situação do artigo: aprovação, aprovaçãocondicional ou não-aprovação. Os critérios adotados são osseguintes:

• adequação à linha editorial da revista;

• valor da contribuição do ponto de vista teórico, metodológico esubstantivo;

• argumentação lógica, consistente, e que ainda assim permitacontra-argumentação pelo leitor (discurso aberto);

• correta interpretação de informações conceituais e de resultados(ausência de ilações falaciosas);

• relevância, pertinência e atualidade das referências.

b) São de exclusiva responsabilidade dos autores, as opiniões eos conceitos emitidos nos trabalhos. Contudo, o editor, com aassistência dos conselheiros, reserva-se o direito de sugerir ousolicitar modificações aconselhadas ou necessárias.

c) Eventuais modificações de estrutura ou de conteúdo, sugeridasaos autores, devem ser processadas e devolvidas ao Editor, noprazo de 15 dias.

d) A seqüência da publicação dos trabalhos é dada pela conclusãode sua preparação e remessa à oficina gráfica, quando entãonão serão permitidos acréscimos ou modificações no texto.

e) À Editoria e ao Conselho Editorial é facultada a encomenda detextos e artigos para publicação.

4. Forma de apresentação

a) Tamanho – Os trabalhos devem ser apresentados no programaWord, no tamanho máximo de 20 páginas, espaço 1,5 entre linhase margens de 2 cm nas laterais, no topo e na base, em formatoA4, com páginas numeradas. A fonte é Times New Roman, corpo12 para o texto e corpo 10 para notas de rodapé. Utilizar apenasa cor preta para todo o texto. Devem-se evitar agradecimentos eexcesso de notas de rodapé.

b) Títulos, Autores, Resumo, Abstract e Palavras-chave (key-words) – Os títulos em Português devem ser grafados em caixabaixa, exceto a primeira palavra ou em nomes próprios, com, nomáximo, 7 palavras. Devem ser claros e concisos e expressar oconteúdo do trabalho. Grafar os nomes dos autores por extenso,com letras iniciais maiúsculas. O resumo e o abstract não devemultrapassar 200 palavras. Devem conter uma síntese dos objetivos,desenvolvimento e principal conclusão do trabalho. É exigida,também, a indicação de no mínimo três e no máximo cinco pala-vras-chave e key-words. Essas expressões devem ser grafadasem letras minúsculas, exceto a letra inicial, e seguidas de doispontos. As Palavras-chave e Key-words devem ser separadaspor vírgulas e iniciadas com letras minúsculas, não devendo conterpalavras que já apareçam no título.

c) No rodapé da primeira página, devem constar a qualificaçãoprofissional principal e o endereço postal completo do(s) autor(es),incluindo-se o endereço eletrônico.

d) Introdução – A palavra Introdução deve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda. Deve ocupar, no máximoduas páginas e apresentar o objetivo do trabalho, importância econtextualização, o alcance e eventuais limitações do estudo.

e) Desenvolvimento – Constitui o núcleo do trabalho, onde que seencontram os procedimentos metodológicos, os resultados dapesquisa e sua discussão crítica. Contudo, a palavra Desenvol-vimento jamais servirá de título para esse núcleo, ficando a critériodo autor empregar os títulos que mais se apropriem à natureza doseu trabalho. Sejam quais forem as opções de título, ele deve seralinhado à esquerda, grafado em caixa baixa, exceto a palavrainicial ou substantivos próprios nele contido.

Em todo o artigo, a redação deve priorizar a criação de parágrafosconstruídos com orações em ordem direta, prezando pelaclareza e concisão de idéias. Deve-se evitar parágrafos longosque não estejam relacionados entre si, que não explicam, quenão se complementam ou não concluam a idéia anterior.

f) Conclusões – A palavra Conclusões ou expressão equivalentedeve ser grafada em caixa-alta-e-baixa e alinhada à esquerda dapágina. São elaboradas com base no objetivo e nos resultadosdo trabalho. Não podem consistir, simplesmente, do resumo dosresultados; devem apresentar as novas descobertas da pesquisa.Confirmar ou rejeitar as hipóteses formuladas na Introdução, sefor o caso.

g) Citações – Quando incluídos na sentença, os sobrenomes dosautores devem ser grafados em caixa-alta-e-baixa, com a dataentre parênteses. Se não incluídos, devem estar também dentro

Instrução aos autores

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do parêntesis, grafados em caixa alta, separados das datas porvírgula.

• Citação com dois autores: sobrenomes separados por “e”quando fora do parêntesis e com ponto-e-vírgula quandoentre parêntesis.

• Citação com mais de dois autores: sobrenome do primeiroautor seguido da expressão et al. em fonte normal.

• Citação de diversas obras de autores diferentes: obedecerà ordem alfabética dos nomes dos autores, separadas porponto-e-vírgula.

• Citação de mais de um documento dos mesmos autores:não há repetição dos nomes dos autores; as datas das obras,em ordem cronológica, são separadas por vírgula.

• Citação de citação: sobrenome do autor do documentooriginal seguido da expressão “citado por” e da citação daobra consultada.

• Citações literais que contenham três linhas ou menos devemaparecer aspeadas, integrando o parágrafo normal. Após oano da publicação acrescentar a(s) página(s) do trecho citado(entre parênteses e separados por vírgula).

• Citações literais longas (quatro ou mais linhas) serão desta-cadas do texto em parágrafo especial e com recuo de quatroespaços à direita da margem esquerda, em espaço simples,corpo 10.

h) Figuras e Tabelas – As figuras e tabelas devem ser citadas notexto em ordem seqüencial numérica, escritas com a letra inicialmaiúscula, seguidas do número correspondente. As citaçõespodem vir entre parênteses ou integrar o texto. As Tabelas eFiguras devem ser apresentadas no texto, em local próximo aode sua citação. O título de Tabela deve ser escrito sem negrito eposicionado acima desta. O título de Figura também deve serescrito sem negrito, mas posicionado abaixo desta. Só são aceitastabelas e figuras citadas efetivamente no texto.

i) Notas de rodapé – As notas de rodapé devem ser de naturezasubstantiva (não bibliográficas) e reduzidas ao mínimo necessário.

j) Referências – A palavra Referências deve ser grafada comletras em caixa-alta-e-baixa, alinhada à esquerda da página. Asreferências devem conter fontes atuais, principalmente de artigosde periódicos. Podem conter trabalhos clássicos mais antigos,diretamente relacionados com o tema do estudo. Devem sernormalizadas de acordo com a NBR 6023 de Agosto 2002, daABNT (ou a vigente).

Devem-se referenciar somente as fontes utilizadas e citadas naelaboração do artigo e apresentadas em ordem alfabética.

Os exemplos a seguir constituem os casos mais comuns, tomadoscomo modelos:

Monografia no todo (livro, folheto e trabalhos acadêmicospublicados).

WEBER, M. Ciência e política: duas vocações. Trad. de LeônidasHegenberg e Octany Silveira da Mota. 4. ed. Brasília, DF: EditoraUnB, 1983. 128 p. (Coleção Weberiana).

ALSTON, J. M.; NORTON, G. W.; PARDEY, P. G. Science underscarcity: principles and practice for agricultural research

evaluation and priority setting. Ithaca: Cornell University Press,1995. 513 p.

Parte de monografia

OFFE, C. The theory of State and the problems of policy formation.In: LINDBERG, L. (Org.). Stress and contradictions in moderncapitalism. Lexinghton: Lexinghton Books, 1975. p. 125-144.

Artigo de revista

TRIGO, E. J. Pesquisa agrícola para o ano 2000: algumasconsiderações estratégicas e organizacionais. Cadernos deCiência & Tecnologia, Brasília, DF, v. 9, n. 1/3, p. 9-25, 1992.

Dissertação ou Tese

Não publicada:

AHRENS, S. A seleção simultânea do ótimo regime dedesbastes e da idade de rotação, para povoamentos depínus taeda L. através de um modelo de programaçãodinâmica. 1992. 189 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federaldo Paraná, Curitiba.

Publicada: da mesma forma que monografia no todo.

Trabalhos apresentados em Congresso

MUELLER, C. C. Uma abordagem para o estudo da formulação depolíticas agrícolas no Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DEECONOMIA, 8., 1980, Nova Friburgo. Anais... Brasília: ANPEC,1980. p. 463-506.

Documento de acesso em meio eletrônico

CAPORAL, F. R. Bases para uma nova ATER pública. SantaMaria: PRONAF, 2003. 19 p. Disponível em: <http://www.pronaf.gov.br/ater/Docs/Bases%20NOVA%20ATER.doc>.Acesso em: 06 mar. 2005.

MIRANDA, E. E. de (Coord.). Brasil visto do espaço: Goiás eDistrito Federal. Campinas, SP: Embrapa Monitoramento por Satélite;Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2002. 1 CD-ROM.(Coleção Brasil Visto do Espaço).

Legislação

BRASIL. Medida provisória nº 1.569-9, de 11 de dezembro de1997. Estabelece multa em operações de importação, e dá outrasprovidências. Diário Oficial [da] República Federativa doBrasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez. 1997. Seção 1, p.29514.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 42.822, de 20 de janeiro de1998. Lex: coletânea de legislação e jurisprudência, São Paulo,v. 62, n. 3, p. 217-220, 1998.

5. Outras informações

a) O autor ou os autores receberão cinco exemplares do númeroda Revista no qual o seu trabalho tenha sido publicado.

b) Para outros pormenores sobre a elaboração de trabalhos aserem enviados à Revista de Política Agrícola, contatar diretamenteo coordenador editorial, Mierson Martins Mota, ou a secretária-geral, Regina Mergulhão Vaz, em:

[email protected]; telefone: (61) 3448-4336

[email protected]; telefone: (61) 3218-2209

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Empresa Brasileira de Pesquisa AgropecuáriaSecretaria de Gestão e Estratégia

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

CG

PE5644

Colaboração