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Revista de Administração de Empresas All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution License. Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 75901980000400002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 17 nov. 2017. REFERÊNCIA HESKETH, José Luiz; ALMEIDA, Meneleu A. de. Comunicação organizacional: teoria e pesquisa. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 20, n. 4, p. 13-25, out./dez. 1980. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034- 75901980000400002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 nov. 2017. doi: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901980000400002.

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Revista de Administração de Empresas

All the contents of this journal, except where otherwise noted, is licensed

under a Creative Commons Attribution License. Fonte:

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-

75901980000400002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 17 nov. 2017.

REFERÊNCIA

HESKETH, José Luiz; ALMEIDA, Meneleu A. de. Comunicação organizacional: teoria e pesquisa.

Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 20, n. 4, p. 13-25, out./dez. 1980.

Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-

75901980000400002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 17 nov. 2017. doi:

http://dx.doi.org/10.1590/S0034-75901980000400002.

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J. Introdução;2. A revisão de Thayer;3. O modelo de Thayer;

4. A revisão de Porter e Roberts;5. A síntese histórica de Richetto;6. Métodos de pesquisa, segundo

Dennis, Goldhaber e Yates;7. A análise ideológica de Redding;

8. A perspectiva de Carney;9. Teoria da Comunicação

organizacional.

José Luiz Hesketh**Meneleu A. de Almeida***

* Versão reduzida do trabalho intituladoComunicação organizacional: o "state

of art", de Meneleu A. de Almeida,apresentado na Universidade de Brasília,

1980.

** Ph. D.

*** Da Universidade de Brasília.

Rev..Adm, Ernp.

I. INTRODUÇÃO

Em sua expressão mais simples, o conceito de ciêncianos remete à relação entre o pesquisador (sujeito) e oobjeto de sua curiosidade - com a intermediação dométodo. Conseqüentemente, para se conhecer o está-gio em que se encontra o progresso de uma ciência oude uma determinada especulação científica, o cami-nho óbvio é consultar os registros daqueles que se de-dicam à tarefa de investigá-la (cf. Carney, 1979).

Este é um procedimento comum no seio da comu-nidade científica mundial, particularmente a norte-americana. No caso específico da comunicação orga-nizacional, por exemplo, a American Business Com-munication Association (ABCA) e a InternationalCommunication Association (lCA) publicam, emconjunto e desde 1974, um volume anual com a bi-bliografia da área. São centenas de pesquisas e, porisso, a maneira prática e mais coerente de entrar emcontato com elas é, sem dúvida, através das revisõescomentadas feitas pelos especialistas.

O objetivo deste trabalho é situar o atual "estadoda arte" da comunicação organizacional e, para tan-to, faremos primeiramente uma exposição dos aspec-tos relevantes de seis das principais revisões comenta-das sobre o assunto, para depois, a partir dessa expo-sição, fazer um exame da situação em que se encon-tram a teoria e a pesquisa na área.

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2. A REVISÃO DE THA YER

Thayer (1973) salienta que foram importantes os ali-cerces conceituais lançados por volta do início do sé-culo por pensadores como Jarnes, Baldwin, Cooley eMead, e de especial importância como antecedentes"intermédios" do interesse presente pela superfíciede contato comunicação/organização, as contribui-ções de Lewin (pequenos grupos) e de Moreno (socio-metria e relações de papel). Mencionou também acontribuição dos trabalhos de laboratório sobre redesde comunicação e os efeitos da estrutura sobre o de-sempenho dos grupos (Leavitt, Bavelas e Barrett,Guetzkow etc.).

Destaca ainda o impacto dos estudos sociológicos,dentre os quais se incluem as pesquisas levadas a efei-to por Caudill (1958) e Revans (1960) em hospitais depequenas cidades; a análise social, através dos tiposcaracterológicos culturalmente determinados, surgi-da com os trabalhos de Riesman (1950) e .Whyte(1956), bem como as descrições de Presthus (1962)dos três tipos ideais de acomodação às grandes orga-nizações; os inúmeros trabalhos teórico-empíricos(Hovland, Katz e Lazarsfeld, Festinger, Newcombetc.) realizados na área da comunicação de massa; aobra de Goffman (1959, 1963) sobre comunicaçãoem pequenos grupos.

Thayer examina também o reflexo dos estudos deorganização e gerência, tais como as pesquisas de

Rio de Janeiro, 20(4): 13-25, out.ldez.1980

Comunicação organizacional teoria e pesquisa

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J acques (1952) sobre organizações operantes; o tra-balho de March e Simon (1958) sobre a teoria da or-ganização; os vaticínios (que depois se confirmaram)de Barnard; os estudos comparativos de Thompson eseus associados; a orientação teórica de Cyert eMarch; os estudos sobre burocracia e análise da orga-nização formal de Blau (1955, 1952); as sínteses teóri-cas de Etzione sobre organizações complexas; os tra-balhos de Leary (1955), Goffman (1959) e Homans(1961) sobre a interação dialética indivíduo-organiza-ção; as contribuições de Simon (1957) e de McGregor(1960) sobre administração; os trabalhos de Albers(1961) e Brown (1960) sobre os aspectos operacionaisda comunicação em organizações; a análise sobre ateoria unificada da gestão feita por Koontz (1958).

Verifica ainda o papel da teoria da informaçãoatravés dos trabalhos sobre análises de sistemas deOptner (1960) e Neushel (1960), que abalaram as an-tigas noções de comunicação ascendente-descenden-te, gerência-empregado, formaI-informaI; os estudossobre camadas de requisitos de informação de Simon(1960), e sobre sistemas de informação-decisão, deJohnson e Rosenzweig (1964), contrapondo-se àabordagem de relações humanas para a boa comuni-cação. Outrossim, examina também a relevância dosestudos psicológicos, destacando o trabalho de Ko-chen e Galanter (1958) sobre estratégias de comporta-mento em face da informação; de Sinaiko (1961), so-bre o impacto de sistemas complexos sobre a decisãohumana; de Miller (1956), sobre os limites humanos

14 de processamento da informação; de Toda e Takada(1958), sobre o comportamento no processamento dainformação; de Mackay (1957), sobre os sistemas deinformação humana; de Campbell (1958), sobre os"erros" humanos sistemáticos na comunicação.

Thayer analisa também o efeito dos estudos meto-dológicos, entre os quais os trabalhos desenvolvidospor Weiss e Jakobson (1955), Bales (1952), Festinger(1949), Ross e Harary (1955) e Stinchcombe (1958),direta ou indiretamente relacionados com as varian-tes dos métodos de matriz na análise sociométrica oucom variantes de esquemas tais como a análise doprocesso de interação; as análises sobre modelos decomunicação feitas por Deutsch (1952), Dorsey(1957), Rapapport (1963) e Forrester (1961); metodo-logias desenvolvidas por Uris (1959), Walton (1959),Powers (1962), Ryan e Weld (1963), Funk e Becker(1952).

Finalmente, ele examina estudos de comunicaçãoem organizações, incluindo os trabalhos pioneiros deJakobson e Seashore (1951) e de Rubenstein (1951,1953); o estudo de Burns (1954) propondo que as es-truturas organizacionais fossem consideradas cadeiasde comunicação e que a função executiva fosse enten-dida como a comunicação efetiva de informação adestinos apropriados; o estudo empírico conceitualde Davis (1961), através da "ECCO Analysis"; o tra-balho de Simpson (1959) sobre o impacto das mudan-ças tecnológicas nas práticas de comunicação em or-ganizações; a teoria magnética de Walton (1962,1963).

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3. O MODELO DE THA YER

A maior contribuição do trabalho de Thayer (1973) éindubitavelmente a sua teoria sobre a comunicaçãoorganizacional. Segundo ele, a literatura da área dá aentender que é excessivamente bitolado o conceitogeral do que a comunicação é nas organizações, bemcomo coercitivas e assistemáticas as concepções de"organização" assumidas. Segundo Thayer, a com-preensão do fenômeno da comunicação organizacio-nal requer antes de tudo o exame de alguns "pressu-postos orientadores". Primeiramente, ele afirma quea comunicação ocorre sempre num contexto organi-zado ou, em outras palavras, a condição suficientepara a ocorrência da comunicação é algum modeloou plano articulado no sistema psicológico do indiví-duo (nível intrapessoal), das relações entre algum as-pecto dos objetos, pessoas ou idéias do seu mundo,com o qual está disposto a tratar (nível interpessoal).

O segundo pressuposto estabelece que a comunica-ção é a função organística, interpessoal e organiza-cional essencial e predominante, isto é, a entrada,processamento e saída programáticos da 'informa-ção' (cf. Deustsch, 1951; Wiener , 1950; Ackoff,1961). Este pressuposto é resultante da confluênciade quatro importantes linhas de pensamento: a) a ci-bernética; b) a teoria matemática (de Shannon eWeaver) e a teoria da informação - de origens co-muns; c) a concepção da organização como uma redede comunicação (Bavelas, 1948); d) e os sistemas e ateoria dos sistemas abertos (Bertalanffy, 1951).

O terceiro pressuposto apresentado por Thayerpropõe que os sistemas de comportamento - quersejam intrapessoais ou interpessoais - têm uma ten-dência característica para estabilizar-se num estadode proporção mínima de mudança (cf. Bateson eRuesch, 1949; e Harvey e Schroeder, 1963). Isto sig-nifica que as organizações tendem a limitar sua aber-tura e seu funcionamento, tão logo atingem um está-gio de desenvolvimento que, hipoteticamente, nãopede senão uma percentagem mínima de mudança.Há, então, uma imposição de limites aos sistemas decomportamento envolvidos e isso transforma a co-municação que ocorre, em grande parte, numa "fun-ção dos contextos de organização sobrepostos emque ela acontece".

A seguir, Thayer apresenta as "proposições bási-cas" que fundamentam o seu modelo. Ele afirma que"está fora de discussão que a comunicação humanaem organizações envolve, pelo menos, um indivíduoutilizando o seu equipamento neurológico e confian-do em seu sistema psicológico dentro de um meio-ambiente social prescrito, no qual os comportamen-tos do indivíduo e da empresa multi pessoal são afeta-dos pelo equipamento e as técnicas ao alcance delesnessa fase particular de suas tecnologias". A partirdessa colocação e na "ausência de qualquer teoriaúnica e abrangente", ele propõe quatro níveis deanálise que correspondem às quatro fontes básicasdos determinantes do comportamento da comunica-ção humana em organizações: o fisiológico, o psico-

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lógico, o sociológico e o tecnológico. Os problemasteórico-conceituais básicos são os que existem nasáreas de contato ou zonas de sobreposição dos váriosníveis e suas combinações.

No nível intrapessoal a análise trataria do metabo-lismo da comunicação, isto é, veria o indivíduo comoum sistema de informação-decisão mais ou menoscomplexo, dinâmico, aberto e intencional, cujas ope-rações básicas consistem em converter dados em in-formações como a base de um comportamento decerta espécie. No nível interpessoal a análise levariaem conta três coisas: primeiro, os subsistemas essen-ciais (de uma interação diádica, triádica etc.) são ossubsistemas psicológicos pertinentes ou "participan-tes" dos componentes da interação e, dessa forma,duas óu mais pessoas, na verdade, não "interatuam"mas sim processam o que percebem ser dados perti-nentes da situação, em face do comportamento os-tensivo de uma e outra; segundo, o que Thayer cha-ma de estruturas sincrônica e diacrônica de interaçãocomunicativa, ou seja, "que um ou outro dos partici-pantes é, em alguns casos, um escoadouro ou pontoterminal para a troca mas, em outros casos, há umamodificação mútua de tal natureza que a conseqüên-cia do encontro é um produto da interação mútua"; eterceiro, que "o ser humano socializado é um orga-nismo seguidor de regras e, de modo geral, duas oumais pessoas só podem conduzir transações significa-tivas entre elas quando obedecem a certas "regras"sociais de comportamento e desempenho - especial-mente, de comportamento lingüístico.

Finalmente, no nível organizacional a análise cui-dará primordialmente das organizações planejadas esuborganizações (planejadas ou fortuitas) nelas exis-tentes, concebidas como "um sistema complexo eaberto de informação-decisão" , da mesma forma co-mo ocorre com o organismo humano. Dentro dessaperspectiva, as funções essenciais de uma organiza-ção planejada seriam as de suas cadeias de comunica-ção (sistemas de fluxo de informação) e centros deconversão (pontos de processamento ou decisão). Emsuma, o que estaria organizado num organização pla-nejada não seriam pessoas ou cargos, mas as relaçõesdos sistemas de fluxo informativo e centros de con-versão.

4. A REVISÃO DE PORTER E ROBERTS

Estes autores apresentam em seu trabalho uma revi-são crítica e suas conclusões sobre as pesquisas reali-zadas no período de 10 anos após a publicação dotrabalho de Guetzkow (1965). Eles abordam o temada comunicação organizacional sob quatro aspectos:a) o que diz a teoria organizacional; b) o ambiente in-terpessoal; c) o ambiente organizacional; d) algumasconsiderações metodológicas.

Porter e Roberts classificam os teóricos de organi-zação em quatro grupos. O primeiro é o dos autoresestruturalistas clássicos: Fayol (1949), Gulick e Ur-wick (1937), Mooneye Reiley (1939), Taylor (1911),

Weber (1947). Para eles as organizações são sistemasfechados e estáticos que dão mais importância aos as-pectos não-humanos da empresa (autoridade, coor-denação e controle) e enfatizam a eficiência como amais importante variável de resultados. A comunica-ção é vista sob o ângulo estritamente formal e, umavez que essa "escola" preza a aplicação inflexível derotinas e programas de trabalho para assegurar oadequado desempenho da tarefa, a comunicação dotipo descendente tem a primazia. Os princípios estru-turalistas-clássicos são tão amplos e intrincados queaplicá-los à comunicação organizacional não ajudamuito. O segundo grupo consiste dos autores alinha-dos em relações humanas: McGregor, Argyris e Li-kert. Estes focalizam na organização, preponderan-temente, as interações dos grupos e os sistemas infor-mais de comunicação. Na verdade, eles não procu-ram especificamente identificar os componentes im-portantes da comunicação nem sugerem hipótesestestáveis, relacionando-a a outras variáveis organiza-cionais. Mas nos obrigam a olhar para o comporta-mento inter pessoal dentro das organizações e acres-centam à nossa visão mais primitiva e simples da co-municação organizacional uma riqueza não percebi-da pela observação apenas formal dos sistemas de co-municação. O terceiro grupo inclui os autores volta-dos para a decisão comportamental: Simon (1945),March e Simon (1958), Cyert e March (1963). Elesvêem as organizações como estruturas funcionalmen-te especializadas, com metas bem definidas e basea-das no processo decisório. De um modo geral, a co-municação organizacional é entendida tão-somente 15como a transmissão de informações sobre procedi-mentos. As organizações se asseguram um funciona-mento adequado, estabelecendo sistemas da comuni-cação com esquemas específicos de classificação deinformação construídos dentro delas próprias. Final-mente, o quarto grupo refere-se aos autores engaja-dos no "processo" ou "sistema": Katz e Kahn(1966), Thompson (1967), Weick (1969). Esses teóri-cos vêem as organizações em função de suas intera-ções com o ambiente que as cerca. Ambas as aborda-gens (processo e sistema) nos orientam para visõesmultivariadas da comunicação organizacional ondeos ambientes em que vivem as organizações atuantessão determinantes essenciais dos seus comportamen-tos. Após a apresentação de sua classificação dos teó-ricos de organização, Porter e Roberts concluem quesua possível contribuição é de pouco auxílio para ospesquisadores da comunicação organizacional.

Na apreciação do ambiente interpessoal e suas im-plicações para com a comunicação na organização,esses autores chegaram aos seguintes resultados: pri-meiro, o trabalho teórico e impírico relativo à comu-nicação interpessoal é extremamente irregular. Amaior parte das descobertas se baseia em pesquisasde laboratório e é de extrapolação questionável paraas interações organizacionais da vida real. Segundo,a literatura sobre o assunto é ampla e relativamenteamorfa, podendo-se responsabilizá-la por um bomnúmero de perguntas sem resposta nessa área. Tercei-ro, uma parte considerável do trabalho teórico estáassociada com mudança de atitude, e como o concei-

Comunicação organizacional

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to de atitude é não-situacional e entendido como umaestimativa de valor para um objeto singelo, atravésde situações, não tem muita utilidade para o estudodo processamento da informação, pois não nos dizmuito sobre o valor de um objeto numa dada situa-ção de orientação. Quarto, não existem, assim, mo-delos adequados para a orientar o pesquisador quedeseja testar hipóteses relacionadas com o modo peloqual se processa a informação nas organizações.Quinto, os teóricos das empresas poderiam tentarampliar os modelos de comunicação interpessoal diá-dica para incluir todos os aspectos estruturais, am-bientais, de limite de tempo e outros da organização,que não podem ser ignorados.

Em continuidade ao seu plano de trabalho, Portere Roberts passam, então, a examinar o contexto or-ganizacional das interações comunicativas, ou seja,os fatores organizacionais que afetam a estrutura, oprocesso e as conseqüências dos atos de comunica-ção. Inicialmente, abordam a natureza das organiza-ções e suas relações com a comunicação, apontandoas características que têm relevância para a comuni-cação: composição social, orientação para o estabele-cimento de metas, as funções diferenciais, os siste-mas de coordenação e a continuidade através do tem-po. A seguir, analisam a natureza dos sistemas de co-municação e suas relações com as organizações, con-siderando dois aspectos: os estruturais e os do pro-cessamento da informação.

16 O terceiro ponto estudado pelos autores, no tocan-te ainda ao contexto organizacional, refere-se à con-figuração da organização como um todo. Eles apon-tam que, como a maior parte das pesquisas tem abor-dado aspectos limitados das organizações, são rarosos estudos disponíveis sobre os efeitos do tamanhoou formato do todo organizacional sobre a comuni-cação. Eles indicam ainda as seguintes variáveis co-mo importantes: diferenças institucionais, efeitostecnológicos, efeitos do tamanho, formato (pirâmidehierárquica) e estruturas de controle (autoridade).

O quarto ponto enfocado refere-se à dimensão ver-tical, ou seja, aos efeitos hierárquicos. Dentro destetópico foram examinadas três variáveis principais:a) o papel do status e do poder - em geral, o status éentendido como a importância relativa de uma posi-ção e o poder como a habilidade relativa para contro-lar ou influenciar outras pessoas e acontecimentos;b) o fluxo da comunicação através de mais do quedois níveis organizacionais - a maior parte dos estu-dos dos aspectos hierárquicos da comunicação temenfocado a natureza das interações entre superior esubordinado; c) comunicação entre superior e subor-dinado - foi o aspecto da dimensão vertical que me-receu maior atenção dos pesquisadores, cujos estu-dos proporcionaram dados reveladores sobre quatroquestões principais: quantidade, efetividade ou qua-lidade, precisão ou exatidão, e a natureza das reaçõesdos indivíduos envolvidos.

O ponto visto a seguir envolve a dimensão lateral,cuja importância foi demonstrada por diversos pes-

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quisadores. Como Porter (1974) indicou, a comuni-cação horizontal admite três formas de interação: a)a que ocorre entre iguais dentro dos grupos de traba-lho; b) as que envolvem membros de unidades dife-rentes; c) as interações entre linha e assessoria. Final-mente, o sexto e último ponto analisado relativo aocontexto organizacional diz respeito à dimensão gru-pai, isto é, à comunicação no interior das subunida-des. O enfoque aqui é sobre os resultados e implica-ções dos estudos de laboratórios sobre redes de co-municação em pequenos grupos.

Para finalizar a sua revisão propriamente dita,Porter e Roberts tecem algumas considerações meto-dológicas sobre os estudos de comunicação, após su-mariarem as 22 pesquisas de campo mais importan-tes, realizadas antes de 1972. Eles apontam que:a) apenas uma variedade bem limitada de organiza-ções tem sido pesquisada; b) tipicamente, os estudosutilizam uns poucos indivíduos de um certo númerode organizações, mas sem analisar os dados por tipose características das organizações; c) os sujeitos estu-dados são predominantemente gerentes e profissio-nais, ao invés de empregados comuns; d) diferentesmétodos para coleta de dados têm sido utilizados; e)os dados disponíveis nos estudos de campo de comu-nicação organizacional são predominantemente fac-tuais, e não primariamente de caráter atitudinal; f) naamostra dos 22 estudos considerados apenas cincoformularam hipóteses explícitas antes de coletar osdados, enquanto os 17 restantes são na verdade tra-balhos "exploratórios".

Os autores, baseados em sua revisão, concluem en-tão que: a) não existem teorias ou sistemas concei-tuais compreensivos nem profundamente adequadospara explicar a natureza da comunicação em organi-zações; b) as descobertas da pesquisa em psicologiasocial, relativas à comunicação interpessoal e à mu-dança de atitude são de uso apenas limitado paraquem se preocupa com a comunicação organizacio-nal; c) os estudos de laboratório sobre redes de comu-nicação parecem já ultrapassados, com pouca coisarealmente nova ou interessante surgindo daí nos últi-mos anos; d) as pesquisas sobre comunicação nosambientes organizacionais reais, realizadas até ago-ra, não parecem ter penetrado no âmago dos proble-mas de comunicação organizacional; e) é necessárioque abordagens metodológicas mais variadas e ino-vadoras surjam no estudo da comunicação organiza-cional, pois do contrário este campo corre o risco dese tornar estéril e improdutivo; f) a comunicação re-presenta uma área subteorizada e subpesquisada queoferece excelentes oportunidades para futuras contri-buições ao crescente corpo de conhecimentos sobre ocomportamento em organizações.

5. A SÍNTESE HISTÓRICA DE RICHETTO

A revisão de Richetto (1977) está estruturada em trêspartes: na primeira há uma síntese histórica que co-meça nos anos 20 e vai até as tendências observadasno princípio dos anos 70; depois ele apresenta um le-

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vantamento dos principais temas correntes até 1976;e, por último, um sumário contendo a série de falhasda pesquisa na área, mais freqüentemente citadas, econsiderações sobre as potencialidades da "ICAcommunication audit" como uma possível solução.Nos parágrafos que se seguem vamos abordar osprincipais aspectos dessas colocações.

o início do levantamento histórico nos anos 20 -levando em consideração que em 210 a.c. PetroniusArbiter, um legionário romano, já tecia comentáriossobre métodos de organização e reorganização - é,segundo Richetto, inteiramente arbitrário. Não obs-tante, em termos de estímulo à pesquisa voltada espe-cificamente para se aprender mais acerca do compor-tamento de comunicação nas organizações formais,acha-se na década de 20 o ponto de partida mais cla-ro.

Foi nessa época que as idéias de Dale Carnergie("como conquistar amigos e influenciar pessoas") te-riam influenciado vivamente os administradoresamericanos, ligando-lhes nas mentes as noções de"habilidades de comunicação" e "efetividade geren-cial". Foi também nessa época que foram realizadosos célebres "estudos de Hawthorne" que estimula-ram as primeiras pesquisas sobre os problemas de co-municação dos empregados. O livro The Human pro-blems of industrial civitizations, de Elton Mayo(1933), é, assim, um clássico da área.

Na década de 30 salientam-se as influências produ-zidas pelas idéias de Chester Barnard. A partir de co-locações feitas por Mary Parker Follet, Barnard estu-dou a comunicação em sua própria organização (TheNew Jersey Bell Telephone Company), chegando aconcluir que a primeira função de um executivo seriadesenvolver e manter um sistema de comunicação.Drucker (1974) - diz o autor - credita a Follet eBarnard os méritos do pioneirismo no estudo de co-municação em tomada de decisões e o desenvolvi-mento de teorias para elucidar o relacionamento en-tre as organizações formais e informais. "The func-tions of the executive", de Barnard (1938), seria,também, ouro clássico da literatura de comunicaçãoorganizacional.

A década de 40 foi chamada de "A Era da Infor-mação" (Dover, 1959), em termos da atividade decomunicação organizacional. Com a economia ame-ricana impulsionada pelo esforço de guerra e sob ainfluência da noção segundo a qual "empregados in-formados são empregados produtivos", houve umcrescimento na utilização das técnicas de relações pú-blicas e o surgimento do movimento das relações hu-manas.

Os anos 50 foram chamados de "era da Interpreta-ção e Persuasão" (Dover, 1959) e neles as pesquisasde laboratório e de campo tiveram um impulso deci-sivo. As redes de comunicação começaram a ser dis-secadas, surgindo os trabalhos de Leavitt (1951) e deBavelas e Barrett (1951) sobre os efeitos das redes decomunicação simuladas nos fluxos da informação.

Leavitt e Miller (1951) conduziram sua clássica pes-quisa sobre os efeitos da realimentação (feedback) nodesempenho da tarefa; o grupo da Purdue Universitydesencadeou os estudos sobre clima organizacional;Davis (1953) criou a chamada técnica da "ECCOAnalysis" para estudar as redes de comunicação in-formai; Odiorne (1954) empregou pela primeira vez otermo "comunication audit".

A década de 60 apresentou uma atividade aindamaior no campo da comunicação organizacional,com muitos dos estudos dos anos anteriores conti-nuando e com a passagem da pesquisa, dos laborató-rios para o campo, para o interior de organizaçõesreais e operantes. Foram feitas várias tentativas parao desenvolvimento de taxonomias com os termos"ascendente", "descendente" e "horizontal", sendomuito usados nas descrições de métodos e descober-tas das pesquisas. A sofisticação na análise das redesalcançou seus níveis mais altos com a introdução douso de técnicas computacionais e gráficos avançados.Com os trabalhos de Thayer (1967) e Guetzkow(1965) apareceram as primeiras tentativas para inte-grar os resultados da pesquisa e criar uma teoria decomunicação organizacional.

Os primeiros anos da década de 70 são marcadospelo interesse dos pesquisadores nas três maiores cor-rentes da área; estudos de clima, de fluxo de informa-ção e de conteúdo das mensagens. Continuam as ten-tativas de integrar e sintetizar os achados da pesqui-sa. Cresce o papel da estrutura organizacional nos es-tudos de comunicação e fluxo de informações nas or-ganizações formais. Diz-se que a característica prin-cipal da comunicação organizacional é que ela ocorreem ambientes altamente estruturados.

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Até 1976 as principais pesquisas em desenvolvi-mento abrangeram as áreas tradicionais, como a co-municação recíproca (diádica), interpessoal, homem-máquina e redes de informação. Começaram tam-bém a receber a atenção dos estudiosos das áreas no-vas como a do comportamento comunicativo dasmulheres e das minorias raciais, o relacionamento co-municativo entre superior-subordinado, os efeitos dotreinamento de comunicação, o feed-back nos siste-mas de comunicação organizacional e a comunicaçãointerorganizacional.

Richetto aponta como principais falhas na pesqui-sa de comunicação organizacional: a) uso de metodo-logias não apropriadas na pesquisa das organizaçõesoperantes; b) as abordagens particulares utilizadastornam praticamente impossível comparações entreas organizações estudadas; c) amostras pequenas, eprovavelmente não representativas; d) inexistência deum banco de dados à disposição dos pesquisadores;e) exemplos de comportamento comunicativo real li- .mitado; 1) medições estáticas e não dinâmicas; g)poucas pesquisas destinadas a determinar o papel dacomunicação performance organizacional. Final-mente, ele conclui defendendo a auditoria de comu-nicação da ICA como um caminho promissor para os

Comunicação organizacional

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destinos da comunicação organizacional, posto queeste instrumento poderá fornecer: a) meios para umamúltipla obtenção de dados; b) padronização dosprocedimentos de coleta; c) desenvolvimento de ma-nutenção de um grande banco de dados; d) elabora-ção de uma coleção de incidentes críticos referentes àefetividade organizacional; e) determinação de umalinha-base para condução de análises de séries tempo-rais; f) aumento da validade preditiva dos instrumen-tos usados no estudo da relação entre o processo decomunicação organizacional e o desempenho da or-ganização.

6. MÉTODOS DE PESQUISA, SEGUNDODENNIS, GOLDHABER E YATES

Num longo e criterioso trabalho, Dennis, Goldhabere Yates (1978) apresentam uma inteligente represen-tação de um sistema de pesquisa no qual nove faixas,representando nove categorias metodológicas, permi-tem descrever e avaliar os diversos métodos de pes-quisa usados no estudo da comunicação organizacio-nal, fazendo sobre cada um desses aspectos um de-senvolvimento histórico, uma avaliação e recomen-dações.

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O primeiro item refere-se ao ambiente da pesquisa(laboratório versus campo) e, nesse aspecto, os auto-res consideram não haver propriamente uma oposiçãoentre laboratório e campo, mas uma espécie de conti-nuum que vai desde a pesquisa de campo relativa-mente pura à pesquisa de laboratório, também relati-vamente pura. O que diferencia uma da outra é, pos-sivelmente, a presença ou ausência de controles pelopesquisador, em combinação com a percepção maiorou menor que os sujeitos investigados têm do que sepassa. Não o local, mas o grau de rigor é que faz adistinção.

Vista a questão por esse ângulo, Dennis e seus cole-gas tecem então as suas considerações principais. Daamostra tomada, representativa das pesquisas em co-municação organizacional realizadas desde 1948,apenas 30070 foram feitas em laboratório. Assim apreponderância é para as pesquisas de campo que, noentanto, podem, na melhor das hipóteses, ser consi-deradas como semi-experimentais. Após a introdu-ção da entrevista como um artifício para coleta dedados, a pesquisa de campo assistiu ao surgimentodos instrumentos analíticos do survey, da observaçãoe do conteúdo.

O patrocínio da pesquisa é, em certos casos, fatorde resultados "enviesados". A obrigação de produzirprimeiro resultados úteis para o sistema-cliente e, de-pois, para a comunidade científica, pode favorecer aaceitação de critérios e procedimentos pouco rigoro-sos. O estudo da comunicação organizacional temtambém sofrido com a produção de demasiados ins-trumentos e questionários superpostos, que se pro-poêrn a medir os mesmos fenômenos de comunica-ção.

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O segundo item abordado concerne à natureza doprojeto de pesquisa: descritivo ou preditivo. Os auto-res afirmam que 73070 dos estudos revisados usaramprojetos descritivos, o que é compreensível levando-se em conta que a maioria dessas pesquisas foramcusteadas por empresas interessadas em resultadosimediatos e não no desenvolvimento teórico e cientí-fico per se. O que os pesquisadores de comunicaçãoorganizacional precisam entender é que um projetode pesquisa preditiva não é uma simples coleta de da-dos que se processa, analisa estatisticamente e se rela-ciona, depois, com determinada medida. Ela sugere,de fato, que o rigor da manipulação experimental,com controles adequados, é usado para predizer ocomportamento dos fenômenos da comunicação or-ganizacional, enquanto explica outras fontes de va-riação que influenciam os fenômenos sob estudo.

O terceiro item refere-se ao reconhecimento do fa-tor tempo. A vida da organização é progressiva econtínua e, por isso, o tempo é um fator de peso noseu planejamento e orçamentação, determinando ascondições para o desenvolvimento, manutenção ealocação de recursos humanos, materiais e financei-ros. Segundo Scott (1965), o tempo tem duas dimen-sões importantes para a pesquisa: pode-se referir aoperíodo em que o cientista se mantém no ambiente deestudo para colher os dados; pode-se referir ao perío-do total da pesquisa, isto é, durante quanto tempo ocientista interveio no ambiente da investigação.

A consideração do tempo como fator relevante napesquisa da comunicação organizacional parece, his-toricamente, ter sido ditada mais pelas conveniênciasdas exigências do método de pesquisa, e menos pelaestrutura do problema sob estudo. É claro, porém,que algumas variáveis de comunicação são de "tem-po limitado" e outras de "tempo livre" . A estruturade tempo dentro da qual os indivíduos devem desem-penhar suas tarefas varia de uma situação para outra.Portanto, em termos metodológicos, os estudiososda comunicação devem usar, com mais freqüência,projetos múltiplos de medição repetida e escalonadosno tempo. Devem introduzir o tempo como uma va-riável independente ou dependente.

No quarto item os autores examinam a questão re-lativa à estrutura da amostra. O tamanho e a consti-tuição das amostras têm variado bastante nos últimos30 anos. Nos anos 50, por exemplo, a maioria daspesquisas utilizou amostras com aproximadamente100 indivíduos. Mas esse número cresceu, de sorteque, nos anos 70 os estudos já se vêm utilizando deamostras bem maiores (300 ou mais pessoas) e com atendência para estudar organizações inteiras. Embo-ra a amostra seja um fator crítico na realização dequalquer plano de pesquisa, não tem havido relató-rios sistemáticos a respeito das características dasamostras nem dos procedimentos para obtê-las. É re-comendável que os pesquisadores da comunicaçãoorganizacional levem em conta o estudo da organiza-ção inteira, ou, pelo menos, de subunidades comple-tas, devendo sempre mencionar o tamanho da amos-tra, o plano e o método usados para obtê-la, a mar-

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gem de erro e o nível de confiabilidade, as razões pa-ra a seleção daquela amostra particular, sua naturezademográfica e os pontos de semelhança e contrastecom outras amostras de pesquisas relacionadas.

No quinto item é analisada a base dos dados: com-portamentais versus não-comportamentais. Para osautores, comportamental se refere aos atos observá-veis e verificáveis, enquanto não-cornportamental de-nota qualquer descrição de uma experiência de comu-nicação humana que não é observável e verificávelatravés de nenhuma prática metodologicamente váli-da. Vistos dessa maneira, 70070dos estudos revisadosvaleram-se de dados de base não-comportamental.Tentativas para determinar em que medida os dadosobtidos de medições não-cornportarnentais se corre-lacionam com dados de base comportamental estãototalmente ausentes no estudo da comunicação orga-nizacional. É muito difícil medir com precisão oscomportamentos individuais nos ambientes das orga-nizações complexas e, ainda mais, os comportamen-tos dos grupos. O laboratório continua a ser o am-biente mais propício para isso. Na medida em que is-so fosse factível e prático, os pesquisadores deveriamcolher dados tanto comportamentais quanto não-comportamentais dentro do mesmo projeto global depesquisa.

Os procedimentos de coleta de dados são focaliza-dos no sexto item. Quase todos os pesquisadores dacomunicação organizacional têm reunido dadosusando questionários de survey, entrevistas, técnicasde observação ou análises de conteúdo. Cerca de75070dos estudos revistos usaram questionários desurvey para medir sentimentos, avaliações percepti-vas e relatos sobre experiências de comunicação dosrespondentes. As entrevistas têm sido aplicadas juntocom ou em seguida ao emprego de um instrumentode survey. O sistema da Auditoria de Comunicaçãoda ICA consiste numa entrevista com dois entrevista-dores: um para conduzir a entrevista e outro para to-mar notas.

As técnicas de observação envolvem a percepção eo registro de experiências de comunicação de si mes-mo ou de outrem. As técnicas de análise de conteúdotêm sido usadas para examinar o conteúdo e a mani-pulação de mensagens, como por exemplo as maté-rias de um jornal, manuais de serviço etc. Todos osquatro métodos examinados têm vantagens e desvan-tagens, porém o maior problema com referência aeles é a falta de acordo sobre um conjunto de padrõese regras para a sua aplicação. Os pesquisadores decomunicação organizacional devem utilizar todos osrecursos necessários para garantir a validade e a con-fiabilidade de seus instrumentos.

O sétimo item refere-se ao dilema: análise quantita-tiva versus análise qualitativa. O desenvolvimento douso das análises de medições quantitativas na pesqui-sa de comunicação organizacional acompanhou ocrescente uso dos modelos matemáticos em todas asciências sociais. Começando com o uso de contagensde índices aglutinados, a pesquisa hoje se utiliza de

técnicas correlativas e regressivas, bem como de mo-delos multivariados. Na verdade, a distinção entretécnicas analíticas de dados quantitativos e qualitati-vos tornou-se difícil após o advento do computador.Freqüentemente, procedimentos estatísticos têm sidoutilizados de forma incorreta, com flagrante violaçãodos pressupostos em que se baseiam. O principal re-médio para esses erros está na educação, atualizaçãoe controle de seus utilizadores.

No esquema de Dennis e seus associados, o oitavoitem diz respeito às contingências externas. O termocontingências denota os acontecimentos passíveis deocorrer em dada situação organizacional, indepen-dentemente de planejamento, e elas podem ser dedois tipos: internas - próprias da organização, e ex-ternas - advindas do ambiente exterior. Cerca de50070das pesquisas revistas colheram dados primor-dialmente relacionados a contingências sobre a per-cepção, atitudes e comportamentos de comunicação.A ausência de relacionamentos contingenciais hipoté-ticos na pesquisa de comunicação organizacional in-dica negligência quanto a esse aspecto. As descober-tas recentes de Wiio (1976) e de Goldhaber (1977) de-monstram a viabilidade da teoria da contingência pa-ra os pesquisadores de comunicação. Assim, deve-riam ser mensuradas as contingências internas - aestrutura de organização; os seus produtos finais; osaspectos demográficos de pessoal; os aspectos espa-ço-temporais das atividades; as tradições - bem co-mo as contingências externas - economia externa; atecnologia disponível; a legislação pertinente; as cir- 19cunstâncias sócio-político-culturais; o ambiente exte-rior.

Finalmente, o nono e último item versa sobre oscritérios do tipo de resultado. Os critérios podem serinternos ou externos. Os primeiros referem-se às me-didas dependentes criadas pelos pesquisadores e queapenas operam dentro do realismo da própria pesqui-sa. Os critérios externos representam as medições ob-jetivas, que se apóiam nas organizações para avaliaroutros fenômenos do desempenho organizacionale/ou comunicativo. Isto posto, cerca de 65070das pes-quisas revistas empregaram, pelo menos, uma medi-da de critério interno; 5070da literatura vista citou ouso de, pelo menos, um critério externo; e 30070dosestudos revistos não usaram qualquer medida de cri-tério interno e externo. Existe, portanto, uma subuti-lização dos critérios externos relevantes para a orga-nização. Os "especialistas" e pesquisadores quecompartilham da noção de que a comunicação "efe-tiva" é algo importante e valioso para as organiza-ções devem, então, mostrar como os melhoramentosno funcionamento da comunicação redundarão embenefícios mensuráveis para a organização global-mente vista. É preciso uma utilização maior de crité-rios externos nos projetos de pesquisa de comunica-ção organizacional, ou pelo menos, de critérios inter"nos correlacionados com outos externos.

Concluindo a sua revisão, Dennis e seus associadosobservam que: a) é preciso realizar mais pesquisas delaboratório, transferindo e aplicando depois estas

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pesquisas para o campo; b) projetos experimentaismais autênticos devem ser usados; c) o tempo deveser considerado uma variável significativa; d) devemser usadas unidades de amostra organizacional signi-ficativas, com cálculos de potência para determinar asua força; d) é necessário retificar os erros de pers-pectiva produzidos por dados não-comportamentais;f) o uso de procedimentos múltiplos e de instrumen-tos já existentes deveria substituir a atual tendênciapara elaborar novas técnicas para cada procedimentoconvencional; g) maior rigor e controle deve ser apli-cado nas análises tanto quantitativas quanto qualita-tivas dos dados; h) o relato dos estudos deveriam in-cluir uma descrição de como os dados obtidos intera-giram com outros resultados encontrados durante aintervenção da pesquisa; i) é fundamental provar queo comportamento e as percepções de comunicaçãorealmente predizem alguma variância significativa nodesempenho humano e organizacional.

7. A ANÁLISE IDEOLÓGICA DE REDDING

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Na introdução de seu trabalho, Redding (1979) afir-ma que é pequeno o nosso conhecimento sobre a co-municação organizacional porque os estudiosos doassunto falharam nas tentativas de construir umateoria científica aceitável. Na verdade, o campo pare-ce caracterizar-se por um grande número de iniciati-vas que podem ser chamadas de "teorias". O que ele,no entanto, pretende demonstrar é que em face da in-flação de "teorias" na comunicação organizacionalestas poderão ser melhor entendidas se consideradascomo derivadas de certas ideologias.

Inicialmente ele examina quais as categorias a se-rem ponderadas na construção das teorias da comu-nicação organizacional. Podemos ter grandes ou pe-quenas teorias. O autor coteja as duas posições, criti-cando estudiosos com Thayer, Dance, Grunig, Por-ter e Roberts, Richetto etc., que advogam a necessi-dade de uma grande teoria, uma que explique todosos fenômenos rotulados como "comunicação organi-zacional". Sua recomendação é para que os pesqui-sadores se movimentem no sentido de gerar teoriasintegradoras, mas com a expectativa de que cadauma delas será apropriada apenas para uma limitadaárea de influência.

A seguir Redding examina a questão dos critériosqualitativos para "boas" teorias. Ele afirma que onúmero tão expressivo de trabalho sobre construçãoe crítica de teorias, mesmo restringindo-se ao campoespecífico da comunicação organizacional, torna im-possível tratar de todos em um só artigo. Ele mencio-na então os trabalhos de Smith (1972), Hawes (1973),.(1975), O'Keefe (1975), Miller (1976), Frentz e Far-reli (1976), Delia (1976, 1977), Benson e Pearce(1977), Cushman e Pearce (1977), Cronem e Davis(1978), Miller (1978) e Bochner (1978). Segundo ele, éperda de tempo imaginar que exista em algum lugar"lá fora" um conjunto uno e garantido de critérios,através do qual a teoria cien:ífica sobre o comporta-mento humano e social possa ser construída.

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A falta de consenso sobre um conjunto uno de cri-térios invulneráveis para a construção de teorias de-veria, então, levar o estudioso da comunicação orga-nizacional a considerar as seguintes proposições: a)embora não haja um consenso para justificar a acei-tação automática de qualquer racionalidade para aconstrução de teorias, há um consenso negativo refle-tido na rejeição do positivismo lógico; b) a falta deconsenso não deveria proporcionar uma "muleta"para os que tudo aceitam; c) especialmente para umcampo tal como o da comunicação organizacional ospesquisadores deveriam ser receptivos a uma visãopluralizada das estruturas teóricas.

De acordo com Cushman e Pearce (1977), as teoriasdevem satisfazer inteiramente a dois critérios básicos:a generalidade e a necessidade. Há duas espécies degeneralizações: a sintática (tudo ou nada versus aqualificada ou probabilística) e a do domínio (classede fenômenos abrangidos); e há três categorias de ne-cessidades: a nôrnica (compreendendo relacionamen-tos causais e determinísticos), a lógica (referida àconsistência interna) e a prática (a que depende daforça normativa que leva um ator a desempenharuma dada atividade de um modo específico). Assim,a perspectiva das leis se baseia na necessidade nômi-ca, os sistemas na necessidade lógica e as regras nanecessidade prática.

Portanto, a conceituação das organizações comosistemas (habitualmente "abertos"), cujos compo-nentes são comportamentos e relacionamentos basea-dos no conceito de "papel", é vista por muitos teóri-cos da organização como axiomático. No entanto, ofato de Katz e Kahn terem incluído a perspectiva depapéis num quadro sistêmico demonstra que os tiposde necessidade não estão limitados a teorias que re-presentam qualquer paradigma uno (leis, sistemas eregras), pois, por definição, o "papel" é um meio dedescrever ou explicar o comportamento humano emtermos de "expectativas" e as expectativas de papelsão análogas às regras.

Na segunda seção de seu trabalho, Redding concei-tua a ideologia como um rótulo para abrigar reaçõescontidas em pensamentos como, por exemplo, "cli-ma de opinião", "maneiras de ver o mundo", "siste-mas de crença" etc. Segundo ele, três aspectos devem ser ressaltados: a) os vários componentes de umaideologia assim conceituada não precisam ser mem-bros de um sistema de consistência interna rígida; b)é perfeitamente possível a qualquer pessoa aderir amais de uma ideologia não excluente; c) o termo aquiabrange tanto os elementos "conscientes" (explíci-tos) quanto os "inconscientes" (subentendidos) pre-sentes num conjunto de itens. O teórico da comuni-cação organizacional trabalha sob a influência de po-derosas demandas e constrangimentos ditados poruma ou mais ideologias.

Desde o seu surgimento, os estudiosos da comuni-cação organizacional vêm "adotando" conceitos evariáveis de áreas acadêmicas vizinhas com a psicolo-gia social, a psicologia organizacional, a sociologia e

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as ciências administrativas. O problema é que a im-portação de conceitos implica, também, na importa-ção de ideologias. No entanto, é comum os pesquisa-dores da comunicação organizacional não demons-trarem estar considerando as origens e implicaçõesideológicas contidas em suas variáveis e hipóteses.

A seguir Redding apresenta um esquema de traba-lho para realizar análises ideológicas no campo dacomunicação organizacional, fruto de contribuiçõesretiradas do estudo da literatura conceitual e empíricae de algumas investigações pessoais ainda não-publi-cadas. O esquema inclui os seguintes elementos: a)ideologias do próprio pesquisador; b) ideologiasdos indivíduos alvo da pesquisa; c) pressupostos pri-mitivos; d) valores básicos; e) premissas gerenciais; f)diretrizes instrumentais.

Na terceira seção de sua revisão, Redding se pro-põe a fazer uma classificação arbitrária de diversasperspectivas sob três rubricas. A primeira rubrica é ada "teoria fundamentada". Nela o autor enfoca adiscussão a respeito das fontes de onde os teóricos ti-ram as idéias originais que, mais tarde, convertem emteorias, ou seja, o famoso problema da descobertaversus a verificação. Para a solução desse impasse,Glaser e Strauss (1967) propõem uma metodologiaespecífica, que usa, como ponto de partida, dadosqualitativos, a qual denominaram de "teoria funda-mentada". A teoria fundamentada pode ser resumi-da como a permissão para que unidades e categorias"emergentes" sejam sugeridas ao investigador comoresultado de profunda imersão em eventos de primei-ra ordem, dinâmicos e da vida real.

A segunda rubrica toma em consideração os siste-mas, a cibernética e as redes. Redding revela que, to-madas em conjunto, essa rubrica com a que vem emseguida (perspectiva humanista), representam cercade 90070 de toda a pesquisa publicada no campo decomunicação organizacional. A verdadeira razão pe-la qual sistemas, cibernética e redes foram colocadosno mesmo grupo reflete uma questão muito debati-da: o que é, exatamente, a teoria dos sistemas? Hámuita controvérsia sobre até que ponto a teoria dossistemas está associada com a cibernética e com a teo-ria de informação.

A terceira e última rubrica trata da perspectivashumanísticas. Sob a denominação de "humanismo"estão compreendidos todos os referentes que têm co-mo premissas básicas: relações humanas, administra-ção de recursos humanos e potencial humano. O im-pacto do pensamento humanístico sobre a teoria dasorganizações mais recente, especialmente sobre a teo-ria da comunicação falada, tem sido decisivo e insi-nuante. Nord e Durand (1978) articularam uma sériede premissas sobre a administração de recursos hu-manos que podem ser tomadas como paradigmáticasda perspectiva humanística no contexto da comuni-cação organizacional.

Finalmente, para concluir a revisão sob exame,Redding coloca algumas perguntas bem abrangentes:

1. Como encararemos as abordagens dimensional-analíticas para o "clima de comunicação organiza-cional", tipicamente humanistas, à luz das questõeslevantadas? 2. Como levar em conta argumentos coma finalidade de provar que as organizações estrutura-das e burocratizadas são correlatos necessários de va-lores humanos tais como "justiça" e liberdade? 3.Até que ponto são importantes os postulados da teo-ria da administração humanística relacionados aos ti-pos de comunicação organizacional rotulados de"group think"? Como é que a teoria humanística le-varia em conta as conseqüências de um possível mun-do com limites para o crescimento?

8. A PERSPECTIVA DE CARNEY

Este autor fundamenta o seu trabalho na premissa deque é o consenso entre os pesquisadores de um deter-minado assunto que nos dá a medida da significaçãodesse assunto. Assim, leva a efeito o exame crítico dediversos autores. Inicialmente, ele traça um brevehistórico do desenvolvimento do campo de estudo dacomunicação organizacional, cujas origens estão nateoria científica da administração, em sua preocupa-ção com a comunicação descendente efetiva e a cria- .ção de um enfoque voltado para o pessoal, centradono trabalho e orientado para a tarefa (Taylor, 1911).O trabalho de Mayo (1933) deu origem ao movimen-to das "relações humanas" no qual o interesse pas-sou a ser a comunicação interpessoal e a integridadegrupal. 21

Depois veio a abordagem dos sistemas sociais e,com ela, as tentativas para ajustar os estudos de co-municação a algum tipo de quadro teórico unificado.As organizações passaram a ser conceituadas comosistemas abertos em ambientes de mutação constan-te. A partir dessa época (anos 60), a comunicaçãopassou a ser vista como uma força modeladora inde-pendente, extremamente importante para o funcio-namento das organizações. As atuais definições decomunicação organizacional repousam, principal-mente, em dois corpos de pesquisa: a) estudo da co-municação real e interpessoal (verbal e não-verbal);b) estudos administrativos - comportamento orga-nizacional, comunicações administrativas e futuris-mo.

Carney estabeleceu sete áreas principais a partir datotalidade de tópicos cobertos pelos sete trabalhosque analisou, verificando a seguir a presença ou au-sência de um determinado tópico em cada uma dasobras estudadas. Sobre o primeiro trabalho analisa-do, de Goldhaber, ele afirma que esse autor tentouescrever um livro sobre o comportamento de comuni-cação nos mais complexos tipos de organização. Elepronunciou a direção dos desenvolvimentos teóricos,como no caso da auditoria de comunicação.

Quanto ao segundo trabalho revisto, de Koehler eoutros, ele propõe que a sua finalidade principal éexaminar os principais problemas teóricos e concei-tuais bem como os pressupostos da comunicação or-

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ganizacional. No entanto, a abordagem geral da obraé, de fato, sobre o comportamento organizacionalcom pouquíssimas referências a descobertas específi-cas de comunicação para apoiá-lo. O trabalho exami-nado a seguir, de Baird, é um bom exemplo das virtu-des e fraquezas da abordagem levada a efeito poruma pessoa sozinha: o estilo é uniforme e há um mí-nimo de redundância, porém a amplitude e a profun-didade ficam diminuídas. O enfoque nesta obra é so-bre comunicação intrapessoal, interpessoal e grupal,vistas sob o ponto de vista sistêmico. O objetivo doautor é oferecer sugestões para o decréscimo dos cus-tos da comunicação.

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O quarto estudo refere-se à obra de Tortoriello esua equipe. Segundo Carney, este trabalho parece tersido escrito às pressas, pois além da falta de rigor nacomposição, há também algumas superposições. Oobjetivo dos autores foi apresentar as abordagens dateoria e da prática organizacionais usando estudos decaso e acrescentando ao final de cada capítulo algunsexercícios bem engenhosos. No trabalho visto a se-guir, de Rogers e Rogers, os autores procuraram sin-tetizar os diversos estudos especializados de comuni-cação, desenvolver a temática da inovação nas orga-nizações do ponto de vista das comunicações e pro-porcionar um quadro de referência culturalmentecruzado. Eles fizeram a primeira tentativa real demanipular o tema da "organização inserida no am-biente" ao desenvolver o conceito de "cosmopoli-tas". O tratamento dado à sobrecarga de comunica-ção desloca a discussão para um nível novo e forameles que estabeleceram firmemente o conceito de re-de.

A obra produzida pela equipe de Farace, que cons-titui o sexto trabalho examinado, faz progredir umpouco mais o campo da comunicação organizacio-nal, O seu principal objetivo foi proporcionar umquadro teórico para a compreensão do processo or-ganizacional a níveis sistêmicos diferentes. Seu dese-jo de oferecer um mapa, enfocando a comunicaçãocomo um processo de intercâmbio de mensagens foiamplamente satisfeito; deles não tiveram êxito foi natentativa de apresentar estratégias com as quais osadministradores possam controlar as comunicaçõesdas suas organizações.

Finalmente, o último trabalho analisado, de John-son, constitui um livro confuso e de difícil leitura, se-gundo Carney. Três são os aspectos mais problemáti-cos desse texto: a) há um abuso de palavras com sen-tido especial, criada pela própria autora; b) a autoranão parece estar familiarizada com as teses que de-fende; c) Johnson é uma estudiosa que acredita ser a"fala" sumamente importante nas organizações. Oobjetivo da obra é saudável: explorar as organizaçõesde uma perspectiva simbólica, enfocando o funciona-mento dos processos organizacionais para criar umconsenso a respeito dos significados e expectativas.

Ao encerrar sua revisão, Carney afirma que "a dis-tância percorrida pela comunicação organizacionaldesde 1974 é uma clara evidência da importância atri-

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buída ao campo, não obstante esse rápido desenvol-vimento tenha OCOi rido a determinado custo". Estecusto diz respeito à co •...•nulsão dos pesquisadores decomunicação organizacional para quantificação,uma vez que têm necessidades de provar seu "profis-sionalismo" e utilidade do seu trabalho para a tecno-burocracia que os patrocina. E por último, ele dizque do ponto de vista de um expectador neutro, a co-municação organizacional pode ser vista a partir domovimento da "nova consciência", que compreendepelo menos uma das seguintes inquietações: a) preo-cupação ecológica; b) orientação futurista; c) saúdeholística; d) psicologia transpessoal.

9. TEORIA DA COMUNICAÇÃOORGANIZACIONAL

Em termos de definição teórica da comunicação or-ganizacional, os estudos aqui revistos demonstramclaramente duas coisas principais. A primeira delas éque não existe ainda, quer em termos de grande teo-ria, quer de pequenas teorias, um conceito firmadosobre o campo. E a segunda é que os esforços paraformulação desse conceito são escassos, consideran-do-se o volume de pesquisas realizadas em quatro dé-cadas. Essa constatação está explícita em pratica-mente todos os autores vistos.

Essa falta de consenso tem sua origem, ao que pa-rece, no fato de serem, tanto a comunicação quanto aorganização, campos teoricamente indefinidos. Masesse problema ocorre, segundo Redding, com todasas ciências comportamentais - especialmente com asociologia e a psicologia - e possivelmente advém,com lembra Kaplan, "do fato de o cientista e seu ob-jeto de estudo participarem da humanidade ou, me-lhor, de uma comunhão mais rica e mais específica aque se refere a abstração humanidade" (1975, p.141).

No que tange à comunicação, o problema foi agu-damente abordado por Porter e Roberts ao examina-rem os trabalhos de Dance e de Schramm. O primeiroconcluiu, após um levantamento no qual descobriu95 definições de comunicação, reduzidas depois amenos de 15 por meio de análise de conteúdo, que "édifícil dizer se a comunicação é superdefinida ou sub-definida, mas suas definições levam os pesquisadoresa direções diferentes e algumas vezes contraditó-rias" .

Aliás, isto parece ser conseqüência de que a comu-nicação "constitui uma das encruzilhadas mais ativasno estudo do comportamento humano. ( ... ) A teoriae pesquisa de comunicação têm atraído, por isso, ointeresse de psicólogos, sociólogos, cientistas políti-cos, economistas, matemáticos, historiadores e lin-güistas, e, de todos esses setores e de muitos outros,têm surgido contribuições para a compreensão desseassunto" (Schramm, 1964, p. 9-10). Como a comuni-cação não constitui, em tese, o interesse primário denenhum desses "contribuintes", compreende-se aatitude de Thayer em mencionar uma série de "disci-

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plinas tributárias", antes de propor a sua própriateoria.

Quanto à organização, este conceito diverge tantoquanto são as abordagens a respeito, embora, apa-rentemente, a situação aqui não seja tão caótica.Conforme classificação feita por Porter e Roberts(1976), há no mínimo quatro categorias de pesquisa-dores nessa área: os estruturalistas, os alinhados emrelações humanas, os voltados para a decisão com-portamental e os engajados no "processo" ou "siste-ma". Assim, ao se examinar as definições de organi-zação dadas por diversos teóricos, quatro ou cincocaracterísticas emergem como fundamentais. Nemtodos os teóricos incluem todas as quatro ou cinco,mas a maioria é citada por quase todos.

A comunicação organizacional carece ainda deuma herança intelectual, ou seja, um acervo de auto-res considerados clássicos a cujas obras o pesquisa-dor recorre sempre e nas quais descobre, invariavel-mente, coisas novas sobre que meditar. Por isso en-tão é que vemos remissões tão díspares como, porexemplo, Thayer se reportando ao interesse demons-trado por Confúcio "pelas condições de autoridadena formulação de ordens dentro de uma organiza-ção", ou Richetto citando palavras escritas em 210a.c. pelo legionário Petronius Arbiter sobre a rela-ção entre o treinamento e a organização do exércitoromano. Enquanto isso, Carney afirma que o funda-dor da disciplina foi Taylor, ao passo que em outrosestudos recentes surge o nome de Barnard como o seumais aceito inspirador.

Em termos de soluções para esse impasse, pareceque a dificuldade maior reside na tendência generali-zada para a grande teoria, isto é, uma que expliquetodos os fenômenos compreendidos sob o título de"comunicação organizacional", conforme está tex-tualmente dito por Thayer (1973, p. 129), e Porter eRoberts (1976, p. 1584), bem como sugerido por Ri-chetto (1977, p. 343). Baseado principalmente na fal-ta de unanimidade quanto a um conjunto de critériosválidos sobre a construção de teorias, Redding (1979)praticamente elimina a possibilidade da grande teoriae propõe, ao invés, que especialmente para um cam-po como a comunicação organizacional, que por de-finição está sujeito a compreender relações desusada-mente complexas e lábeis, os pesquisadores devem es-tar abertos a uma "visão pluralista" das estruturasteóricas. Ou seja, para certos propósitos, um tipo deteoria menos tradicional pode ser a mais produtiva;para outros, uma teoria talvez mais convencional oudeterminística pode ser útil.

Conclui-se pois, da literatura examinada, que a co-municação organizacional é um campo onde o aspec-to teórico tem sido caracterizado pela abundância deteorias incipientes, ou prototeorias, conforme querRedding, que até o momento não conseguiram setransformar num corpo sólido de teorias de médio oude longo alcance, mais ou menos gerais, cuidadosa-mente articuladas e filosoficamente bem fundamen-tadas.

·10. A PESQUISA EM COMUNICAÇÃOORGANIZACIONAL: CONCLUSÕES

Evidentemente, foi apenas por uma questão de siste-matização que separamos a pesquisa da teoria, umavez que elas são, de fato, inseparáveis. Da leitura dostrabalhos aqui examinados, surge a constatação dariqueza e diversidade das pesquisas - até certo pontoem contraste com a situação da teoria. Em seu traba-lho, Dennis e outros, por exemplo, explicam que"nós limitamos a nossa busca específica, entretanto,às pesquisas produzidas sob a óbvia rubrica de 'co-municação organizacional', que mantiveram umaperspectiva conceitual centrada na mensagem reco-nhecível, e que examinaram algumas característicasdas relações organizacionais formais ou emergentes"(1978, p. 245).

Partindo da afirmação de Bernstein de que" a co-municação é uma disciplina em busca de um domí-nio", Richetto procura explicar esse fato dizendo quederiva de duas coisas: a) o nascimento dessa discipli-na, a partir de uma diversidade de esforços feitos porvários estudiosos da área organizacional; b) o desin-teresse em articular os parâmetros teóricos do cam-po, em virtude da ânsia para integrar as rnetodolo-.gias oriundas daqueles esforços.

Ao que tudo indica, o interesse pela pesquisa naárea da comunicação organizacional teve início, real-mente, na década de 40. Embora Richetto mencione 23as idéias de Dale Carnegie ("fazer amigos e influen-ciar pessoas") e Carney considere os estudos de"Hawthorne" como os responsáveis pelos primeirossinais de interesse no campo, foi de fato nos anos 40- sem dúvida sob o impulso do esforço de guerraamericano - que os primeiros estudos realmente vá-lidos apareceram.

Talvez esteja nesse aspecto a razão pela qual aspesquisas de comunicação organizacional se tenhamcaracterizado, desde sua origem, como eminente-mente quantitativas e utilitárias. Segundo Schwartz-man (1979), foi exatamente nessa época que o desen-volvimento científico perdeu definitivamente sua au-réola de neutralidade, porquanto o cientista se politi-zou e a idade da inocência, se um dia existiu, chegouao seu fim. Carney talvez não tenha refletido nessesaspectos quando acusou os pesquisadores da comuni-cação organizacional de serem quantitativa mentecompulsivos e superpreocupados em provar o seuprofissionalismo.

A evolução das pesquisas de comunicação organi-zacional foi admiravelmente retraçada por Richettoque apontou seus principais marcos: I. A noção decomunicação organizacional como um processo dotipo "two-way" (Hero, 1942; Pigors, 1949), bem co-mo a análise de conteúdo de mensagens (Patersone Jenkins, 1948; Baber, 1948; Baber, Ballantine eTrue, 1949); 2. Os estudos dos efeitos de redes simu-ladas de comunicação nas organizações sobre o fluxoda informação (Leavitt , 1951; Bavelas e Barrett,

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1951).3. Os estudos de clima na comunicação orga-nizacional, iniciados, principalmente por Lull e porRedding e outros, em princípios da década de 50;4. A criação da ECCO Analysis (Davis, 1953) paraestudar o fluxo da informação através das redes in-formais de comunicação nas empresas; 5. O apareci-mento de técnica dos "incidentes críticos", criadapor Flanagan (1954) e freqüentemente usada nas pes-quisas da área; 6. Os primeiros esforços para cons-truir teorias da comunicação organizacional feitas,principalmente, por Oeutsch (1952), March e Simon(1958) e Haire (1959), sob a influência da nascenteteoria geral dos sistemas; 7. O desenvolvimento de ta-xonomias, incluindo as de direção do fluxo da infor-mação (Redding, 1972); 8. O aumento da sofistica-ção das análises de rede através da aplicação de técni-cas computacionais, com os trabalhos feitos na Mi-chigan State University (Farace e MacOonald, 1971,por exemplo) e no MIT (Allen, 1966); 6. A teoriamagnética de Walton (1962), na qual pontos centrali-zadores agem como magnetos humanos, atraindo ainformação e difundindo-a, depois, através de todo osistema; 10. As tentativas de Thayer (1967) e deGuetzkow (1965) para a construção de uma teoria ge-rai da área; 11. Os estudos sobre relacionamentos in-terpessoais nas organizações (homofilia-heterofilia,"abertura", percepção da comunicação etc.);12. Estudos de feedback em sistemas de comunica-ção organizacional (Steers, 1976; Adams e Swanson,1976); 13. Estudos de comunicação interorganizacio-nal (Miller, 1975; Czepiel, 1975; Adkinbode e Clark,

24 1976; Metcalfe, 1976 etc.); 14. Estudos de comuni-cação e desenvolvimento organizacional (Richetto,1975; Hair e Tubbs, 1974 etc.).

Sob o ponto de vista metodológico, Oennis e ou-tros mostraram que a maior parte da pesquisa em co-municação organizacional tem sido realizada nocampo, usando predominantemente projetos de pes-quisa descritivos, periódicos de duração relativamen-te curtos e reconhecendo apenas incidentalmente otempo como um fator importante. Têm sido usadasamostras constituídas principalmente por indivíduos(e não por grupos), dados de natureza não-comporta-mental, métodos de coleta caracterizados por instru-mentos muito pessoais e análises primordialmentequantitativas. Os pesquisadores têrndescritocontin-gências internas como uma fonte de variância inter-veniente ou como uma explanação suplementar posthoc a descobertas de pesquisas mais importantes.Eles têm, também, adotado o uso de critérios princi-palmente internos, a fim de estabelecer a validadedos resultados de pesquisa.

A impressão que fica sobre a pesquisa, após o exa-me dos trabalhos aqui estudados, é que há uma gran-de dispersão de esforços. Cada investigador pareceempenhado, única e exclusivamente, em resolver oseu problema particular, sem se preocupar muitocom o que outros pesquisadores na área estão fazen-do, ou com o possível impacto de seu trabalho no dosoutros.

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* N. do A. Não estão incluídas aqui as referências indicadas nostrabalhos revistos, posto que essas obras não foram consultadasdiretamente.

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