revista comunicando 1/2012

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SÍNDROME DE CINDERELA COMUNICANDO Revista-laboratório do curso de Comunicação Social Relações Públicas Universidade de Caxias do Sul - 2012 ...DA IDENTIDADE AO PRAZER ...DA SAÚDE À MODA ...DO CONSUMO À RECICLAGEM SAPATOS...

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Revista-laboratório do curso de Comunicação Social Relações Públicas Universidade de Caxias do Sul - 2012

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Page 1: Revista Comunicando 1/2012

SÍNDROME DECINDERELA

COMUNICANDORevista-laboratório do curso de Comunicação Social Relações Públicas

Universidade de Caxias do Sul - 2012

...DA IDENTIDADE AO PRAZER...DA SAÚDE À MODA

...DO CONSUMO À RECICLAGEM

SAPATOS...

Page 2: Revista Comunicando 1/2012

E S P E C I A L I Z A Ç Ã O , M B A , M E S T R A D O E D O U T O R A D O

Artes, arquitetura e designAgrárias e biológicasComunicaçãoEngenharias e tecnologiasExatasGestãoHospitalidadeHumanasInformáticaJurídicasSaúde

CURSOS NAS ÁREAS DE:

w w w . u c s . b r

facebook.com/ucsoficial@ucs_of icial

Page 3: Revista Comunicando 1/2012

COMUNICANDO 03

EDITORIAL

Uma forma elegante, elevada e cristalina

de informação

– e prazer

SAPATO DE CRISTAL

Oconto de fadas Cinderela repercute no imaginá-rio de várias formas. Como inspiração para essa revista, feita pelos alunos de Projeto Experimen-tal IV, dos cursos de Comunicação Social – habi-litações Relações Públicas, com a participação, nesse semestre, de alunos de Jornalismo, fica a

imagem de um sapato de cristal pela transparência, onde é possí-vel projetar desejos e ansiedades de consumo, emoções e traços de personalidade, espírito tribal e o mais genuíno estilo de transitar pelo mundo.

Nesse percurso inspirado pela história do sapato e sua evo-lução, por emblemas como as Havaianas, de consumo mundial, e por questões prioritárias como a reciclagem dos resíduos da indús-tria calçadista, os sapatos serviram em todos os pés. Cada grupo de alunos, com suas expectativas e interesses diferentes, traduziu nas páginas que seguem as suas preocupações e os seus encantos pelo tema.

Não podiam ficar de fora a indústria, com os bastidores de uma fábrica e as questões econômicas pertinentes ao setor, bem como o lançamento de tendências, que este ano estão um show à parte. Da saúde mental à óssea, com seus desafios na hora de se equilibrar no salto, esta revista tem o objetivo de ser para o leitor o que ela foi para a turma que a desenvolveu: uma forma elegante, elevada e cristalina de informação – e prazer.

ReitorIsidoro ZorziVice-Reitor

José Carlos KöchePró-Reitor Acadêmico

Evaldo Antonio KuiavaDiretora do Centro de Ciências da Comunicação

Marliva Vanti GonçalvesCoordenadora do Curso de Comunicação - Habilitação

em Relações PúblicasJane Rech

Foto de capaMário Franzem

Professora da disciplina Projeto Experimental IV - Produção GráficaAlessandra Rech

Projeto gráficoMarli Superti

Produção e diagramação Alunos da disciplina

EXPEDIENTE

AGRADECIMENTOS

Professor Edson Correa; Pole Modas (54) 3028.5366; Jaque Kuver – Sapatos e Estilo (54) 9139.7519; Gstock (54) 3028.1778; Paraonda (51) 3637.2405; Dakota (54) 3281.8090 e ao fotógrafo Mário Franzem.

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... Charme.Fernanda Andrade

COMUNICANDO 04

MAKING OFF

SAPATO É...

... Exuberância.Cristina Weissheimer

... Resistência.Daniel Rufatto

TendênciaPáginas 18 a 23

... Elegância.Juliane Stecker

... Desejo.Juliana Wilbert Gonçalves

... Personalidade.Karina Boone

... Conforto.Maico Vogel

... Sedução.Patriane Padilha Melo

IndústriaPáginas 36 a 39

... Versatilidade.Rocheli Camargo

... Estilo.Rosineri Perotoni

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COMUNICANDO 05

... Atitude.Ana Maria Demoliner

... Glamour.Angelita Dias da Silva

... Vaidade.Camila Toigo Fogaça

... Expressão.Fernanda Pooter

... Prazer.Fernanda Tomazzoni

... Afirmação.Gisele Barbara da Silva

... Proteção.Joseane Mazzolla

SaúdePágina 28 a 31

... Identidade.Marcos Chieli Biazzus

... Movimento.Marli Superti

... Necessidade.Nalia Elisa Pellin

... Utilidade.Sérgio Toniello Filho

... Sensação.Vanessa Candido

Ambiente.Páginas 48 a 51

... Liberdade.Alessandra Rech

... Conforto.Maico Vogel

... Estilo.Rosineri Perotoni

ComportamentoPáginas 8 a 17

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COMUNICANDO 06

HISTÓRIA

UMA VOLTA NO MUNDO DOS

CALÇADOS

Os sapatos fazem a cabeça das mulheres. Mero engano! Eles fazem a cabeça e os pés das mu-lheres, assim como dos homens, dos jovens, das crianças... De um simples acessório, o calçado passou a ser símbolo de status e personalidade. São diversas marcas, modelos, cores e materiais

que deram um forte impulso para o mercado calçadista.No início, apenas uma invenção com a finalidade de proteger

os pés do contato direto com o chão. A história começa há muitos anos, em 10.000 a.C., e é para lá que vamos viajar agora, em meio a diversas curiosidades. Atenção: calcem seus sapatos e boa viagem!

TEXTO:Juliane Stecker

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COMUNICANDO 07

Os calçados chegaram ao país trazidos pelos portugueses e tornaram-se artefatos da moda em 1808, com o aumento de vendas do produto. No entanto, os escravos eram impedidos de usá-los, por isso, assim que ga-nhavam liberdade, compravam um par de calçados como sím-bolo de uma nova condição so-cial. Nesta época, muitos ainda não tinham se acostumado com a novidade e, ao invés de calçá--los, preferiam carregá-los nos ombros ou nas mãos como sím-bolo de prestígio ou, ainda, co-locá-los em estantes como obje-to de decoração a ser apreciado.

No Brasil, o Rio de Janei-ro era o local com maior con-centração de sapatarias do país. Mesmo assim, grande parcela dos sapatos eram importados da Europa. No final do século XIX, o modelo mais utilizado pelas mulheres da classe alta era uma botina de camurça, pelica

ou seda. As demais usavam chi-nelos. Com a chegada das má-quinas de costura o preço ficou mais acessível e popularizou o calçado.

Nas décadas de 10 e 20 o sapato feminino mais procurado era a botina fechada, como for-ma de evitar os pés expostos. A grande mudança aconteceu no período pós-guerra, quando a mulher passou a sair às ruas e o tênis tornou-se a novidade. Nes-ta mesma época, os sapatos tive-ram sua estética modificada com a chegada de diversos modelos.

Grandes mudanças acon-teceram na década de 1940, quando a indústria começou a confeccionar calçados de borra-cha e materiais sintéticos, des-lanchando as vendas principal-mente para o público feminino e infantil. Hoje, as lojas dão um show de estilos e cores. Já sabe qual combina mais com você?

E NA NOSSATERRINHA BRASILEIRA...

Vamos caminhar para o Perío-do Paleolítico. É nas pinturas em ca-vernas da Espanha e do sul da Fran-ça que tudo começa. Há registros de que os homens das cavernas faziam raspagem de pele de animais, mate-rial que provavelmente foi usado na confecção dos calçados.

No Antigo Egito, palha, pa-piro, fibras de palmeiras e couro serviram de matéria-prima para as sandálias. Naquela época, somente os nobres podiam calçá-las.

Já na Mesopotâmia, os sapatos eram feitos de couro, com detalhe de tiras amarradas aos pés. Como símbolo de alta posição social, as pessoas usavam coturnos.

Os calçados indicavam a clas-se social também na Roma Antiga. Os cônsules usavam sapato bran-co, os senadores sapatos marrons amarrados por fitas pretas de couro. O modelo tradicional era uma bota de cano curto que deixava os dedos descobertos.

Além de status, os sapatos geraram moda na Grécia Antiga: os gregos inovaram com modelos diferentes para o pé direito e o es-querdo.

Na Idade Média, homens e mulheres usavam sapatos de cou-ro abertos, semelhantes às sapati-lhas. Além delas, os homens tam-bém calçavam botas de cano curto ou alto com tiras. O material mais comum era a pele de vaca que, se substituída pela pele de cabra, ga-nhava maior qualidade.

FOTOS:JULIANE STECKER

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COMUNICANDO 8

ALMA NOS PÉS

“Os olhos podem bem ser as janelas da alma, mas os sapatos são uma entrada

para a mente feminina. ”

COMPORTAMENTO

FOTOS: ALUNOS DE TECNOLOGIAS DIGITAIS

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COMUNICANDO 9

Os sapatos sempre refletiram o status social e a situação eco-nômica de quem os calça, mas são também um registro pessoal. Os psicólogos têm explorado todos os significa-dos ocultos dos sapatos, considerando-os desde símbolos fálicos a recipientes secretos. Os sapatos práticos im-põem respeito, mas os saltos altos incitam à adoração. Eles

podem ser muito mais que uma proteção para os pés. A própria expressão popular “conhece-se as pessoas pelos sapatos que elas usam” revela que o calçado pode dizer, sim, muito sobre o comportamento e sobre a persona-lidade. Sapatos denotam idade, estado de espírito, desejos para os vários momentos da vida, contam tudo sobre uma mulher ou homens. Estudos revelam uma relação íntima entre mulheres e seus sapatos. Enquanto elas os calçam com intuito de transmitir uma mensagem, muitos homens sentem-se seduzidos e estimulados a desvendar os mistérios da alma feminina e seus estonteantes sapatos.

Alguns desses mistérios revelamos agora!

TEXTOS:Camila Toigo Fogaça

Fernanda PooterNália Elisa Pellin

Rosineri Perotoni

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COMUNICANDO 10

“A escolha de um acessório pode variar de acordo com o estado emocional da pessoa.

Mas, sem dúvida, pode trazer muitas hipóteses de possíveis características de

personalidade.”

Estilo dita comportamento

Dourados: ela gosta de ser o centro das atenções. É uma mulher chique e que acompanha as tendências, brilha por onde passa.Preto elegante: tem um estilo reservado e clássico. A so-briedade lhe encanta e a cor dá glamour ao estilo femi-nino. Cores claras: o rosa remete ao romantismo. A delicadeza nos pés revela o amor por tudo o que faz, além de eviden-ciar um espírito jovem. Esportivos: mostra atitude descomplicada e atlética. Está sempre confortável e sente-se livre para tudo.

Estampa felina: seu perfil é de mulher atre-vida e ousada na hora de se vestir. Gosta de chamar a atenção e não se importa com o que os outros pensam sobre ela. Tons solares: utilizados por pessoas sofis-ticadas e que não temem a monotonia. Ela encara a moda como uma forma divertida de se produzir. Vermelhos poderosos: eles indicam paixão e sedução. Usados por mulheres de forte personalidade. Sandálias muito aberta: mulher enérgica - pessoa com a libido em alta voltagem, quanto mais pele à mostra, mais disposição sexual.Sapatos de couro: mulher liberal, são os mais sensuais - dizem que revelam a flexi-bilidade da mulher durante os jogos amo-rosos. Sandálias com tiras: mulher sexy - as tiras amarradas no tornozelo são consideradas um dos modelos mais sensuais; fazem par-te da personalidade de mulheres que sabem bem o que querem.Chanel: mulher conservadora: é indicador de uma conduta amorosa à moda antiga, ou seja, muita paquera disfarçada, gestos de duplo sentido.

Fivelas, laços e apliques: mulher insinuante - na parte da frente dos sapatos revelam hábitos de sedução e um pra-zer intenso em provocar.Sapatos abertos na frente: mulher recatada - revela perso-nalidade companheira, uma parceira sexual, independen-te de outros atrativos que alimentam o relacionamento.Sapatos com bico fino: mulher inteligente - revela perfil das destinadas a posições profissionais de poder.Botas: mulher provocante: as mais próximas ao joelho são típicas de uma satisfação plena. Além disso, dizem ser um convite a muitas surpresas.O salto fino Stiletto: está ligado ao fetiche. A mulher que usa estes saltos está exercitando um paroxismo do femi-nino, significa: “vou provocar”.

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COMUNICANDO 11

ComportamentoNo livro Como andar de salto alto (2008, Editora

Matrix), a autora Camilla Morton afirma que a mulher de 50 anos atrás se esforçava para ser completa acumulando conhecimentos e experiências como dona de casa, mãe e esposa. Já da mulher deste século, exige-se muito mais. Ela quer ser chique e maravilhosa em qualquer situação do cotidiano, como trocar o pneu do carro, levar as crian-ças ao colégio, fazer compras no supermercado, tudo isso sem perder o estilo.

A mulher que enfrenta essas situações - mas não abre mão do seu conforto - está preparada com um ou mais pares de calçados para as diferentes situações do dia-a--dia. Ela “desce do salto” literalmente para desempenhar papeis familiares, usa um sapato mais comportado e social para seu papel profissional, e ao final do dia deseja seduzir com um calçado especial.

No processo de evolução do mundo, as mudanças de comportamento foram causadoras de inovações no desig-ner dos calçados e as razões para o uso deste ou daquele modelo. Os sapatos ganharam alma, as formas e os ma-teriais se multiplicaram e pontuaram características de quem os usavam.

Atentas a este comportamento de mercado, as fabri-cantes de sapatos estão acompanhando de perto as ten-dências de estilo e design que ditam a moda. Viagens de atualização a grandes centros de moda como Milão, Londres e Berlin são recursos usados, como no caso da

Coopershoes, representante da marca All Star no Brasil.Além da influência dos grande centros, a pesquisa do

perfil das consumidoras é outra ferramenta fundamental para criação do sapato ideal. Conforme Sérgio Dullius, responsável pela modelagem da marca Maruá, de Igreji-nha (RS), exportadora de sapatos, a pesquisa que a em-presa encomenda de consultores europeus é feita “desde a loja onde o cliente compra, os lugares que frequenta, seu perfil, através do auxílio de uma supervisora de vendas externa que acompanha os representantes durante as ven-das nas lojas, escutando as necessidades de produto, pa-drão e qualidade que o mercado procura”. Tudo isso para atender as necessidades e expectativas do consumidor.

Uma das maiores fabricantes de calçados do Brasil, a Dakota, sediada em Nova Petrópolis, e com filiais no nordeste brasileiro, é uma empresa que cria seus produtos de acordo com as tendências da moda. Ao longo dos anos a marca sofreu uma grande revolução, identificando as necessidades das mulheres de cada época e se adequando a essas necessidades. Os calçados estão disponíveis em diferentes modelos, o que permite maior liberdade de es-

colha para as consumidoras. Conforme Jonas Gottschalk, “cada linha

tem suas características, podendo ser usadas em todas as ocasiões para completar o figu-rino. Meninas, adolescentes e mulheres mo-dernas encontram na coleção Dakota o que procuram.” A empresa está realmente preocu-pada em prestigiar as diferentes personalida-des de suas clientes, mas sem deixar de lado o conforto, através da linha Extra Conforto. “A linha Dakota Extraconforto é a grande no-vidade de 2010: calçados que possuem saltos com amortecedor, flexibilidade, revestimento interno macio, ampla absorção de impactos e proteção nas laterais”, completa Gottschalk.

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Não é incomum ouvir de uma mulher, ou de um homem, a expres-são: “Tenho fetiche por sapatos” e o emprego da palavra não está errado se levarmos em consideração que a pa-lavra fetiche vem de feitiço. E quem (homem ou mulher) já não se sentiu enfeitiçado em algum momento, por algum calçado?

Um fetiche (do francês féti-che, que por sua vez é um emprésti-mo do português feitiço, cuja origem é o latim facticius “artificial, fictício”) é um objeto material ao qual se atri-buem poderes mágicos ou sobrenatu-rais, positivos ou negativos.

O fetichismo é um desvio quase sempre atribuído ao sexo mas-culino, pois as mulheres respondem melhor aos estímulos táteis do que aos visuais, já que possuem um extraordi-nário erotismo cutâneo.

Por que o sapato de salto é tão fascinante? A resposta é clara, porque nos tempos modernos, esta forma de calçado se tornou exclusivamente fe-minina. Segundo a psicóloga Virginia Toni Felippetti, a veneração ao sapato pela alma masculina está mais ligada à questão do fetiche do que ao próprio estereótipo do machismo.

O fetiche masculino está liga-do à postura da mulher, na forma como ela caminha quando está de salto alto. Ele faz a pelve oscilar, o que projeta os seios para frente e salienta as nádegas. Os saltos alongam as pernas, visual-mente, o que por sua vez atrai os olhos para cima, para a genitália. Ao contrair os músculos da parte inferior da perna, os sapatos de salto alto afinam a barri-ga da perna e o tornozelo.

O salto alto faz com que o pé pareça menor, ao posicioná-lo num ân-gulo extremo, o que também exagera o arco do peito do pé. Esta posição de andar nas pontas dos pés (um andar do tipo pavoa durante o período de acasa-

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lamento) é reconhecida como um sinal de disponibilidade sexual entre muitas espécies de animais.

Conforme Virginia, alguns pesquisadores afirmam que pelo sa-pato é possível adivinhar o estado emocional de uma pessoa, inclusive, a atitude dela em relação ao sexo. A psicóloga entende que é extremamen-te arriscado tirar conclusões assim: “Até porque somos seres mutantes, em constante desenvolvimento. Sendo assim, a escolha de um acessório pode variar de acordo com o estado emocio-nal da pessoa. Mas, sem dúvida, pode trazer muitas hipóteses de possíveis características de personalidade”.

Um salto ultra-alto, de 16 cm, por exemplo, é de deixar qualquer feti-chista apaixonado. A psicóloga alerta que “diante do poder de sedução do sapato, a saúde acaba ficando em se-gundo plano.” Muito alto, mas de apa-rência delicada, ele restringe, dificulta o andar, provocando um movimento sinuoso. Isto se deve ao fato de que são como verdadeiras obras de arte por si mesmos, insinuantes esculturas sexuais.

Sapatose seus feitiços

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COMUNICANDO 13

“Uma mulher se sente poderosa pelo simples fato de estar calçando sapatos de salto alto. Já o homem

sente-se atraído ao ver uma mulher calçando um belo sapato de salto agulha.”

Estudos sobre fetiche A urologista Maria Cerutto, da Universidade de Verona, na Itália, afirma que o uso continuado do salto alto pelas mulheres aumenta e contribui decisivamente para uma melhor performance sexual. De acordo com seu estudo, andar de salto faz com que a musculatura da pélvis fique mais relaxada e com isso ajuda nas contra-ções sexuais. A pesquisa aponta ainda que o fetiche por sapa-tos está diretamente associado com os pés, pois de todas as formas de simbolismo erótico, a mais frequente é a que idealiza o pé e o sapato. Até mesmo para o amante

normal, o pé parece ser uma das partes mais atraentes do corpo; tanto que foi comprovado cientificamente que par-te dos estimúlos relacionados às sensações da genitália se encontra bem próxima dos pés.

Psiquiatras descrevem a relação entre salto alto e o sexo, sugerindo que as mulheres anseiam pelo salto alto como uma espécie de paliativo para a inveja do pênis, uma conclusão que se baseia na hipótese de que o sapato se assemelha ao órgão sexual masculino.

Fonte www.boraee.com.br.

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COMUNICANDO 14

COMPORTAMENTO

O sapato é um acessório considerado por muitos uma paixão que propicia um estado de realização, mesmo que efêmera. Independentemente do esti-lo, denota poder. Acredita-se que as pessoas po-dem expressar até seus sentimentos pela escolha do calçado. Um sapato de salto alto, por exemplo,

como sinônimo de elegância e sensualidade, pode gerar um grau de importância e de maior segurança aos adeptos desse estilo. Já o tê-nis, por ser um calçado esportivo, se utilizado fora de um ambiente de academia, remete a um espírito de liberdade e de descontração.

Os sapatos têm o poder de transformar um visual simples em um look sofisticado e arrojado. Entretanto, a influência que exer-cem na identidade/personalidade das pessoas é totalmente questio-nável na atualidade. Para a jornalista e consultora de moda Patrícia Pontalti, os sapatos não demonstram a identidade, mas o estilo da

TEXTOS:Ana Demoliner

Gisele Barbara da SilvaMarli Superti

CALÇADOSDE ATITUDE

C

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COMUNICANDO 15

pessoa no dia e instante em que está usando. “O bacana da moda hoje é que o consumidor não tem a obrigação de se adequar a tribos ou a gru-pos. Ele não precisa ficar ilhado. A gente fala que a moda atual é híbrida porque permite que a pessoa escolha no menu o que ela quer usar e como quer misturar”, evidencia. E toma como exemplo o coturno, antes considerado um ele-mento visualmente punk e, hoje, utilizado com vestidos delicados de rendas por meninas cheias de charme, perdendo, assim, a conotação outsi-der, mas ainda imprimindo um certo toque de rebeldia e ousadia; longe de caricaturas e fu-

gindo da identificação de tribos, torna-se um conceito de estilo.

Patrícia também destaca que na contempo-raneidade as tribos se formam, em geral, com o público adolescente, pois esses vivem em constantes mudanças na busca do estilo consi-derado “ideal”. Para isso, desenvolvem códigos comuns, usados como um espécie de passapor-te para se identificarem com os demais. “Essas pessoas usam determinadas peças para serem bem-vindas na turma, para se parecerem com o outro, para criarem um vínculo, inclusive, inspirando-se em celebridades e trendsetters.”

Mesmo quando as tribos parecem ter um estilo bem definido, o calçado é variável. Patrí-cia salienta que “um roqueiro do Strokes pode

usar um All Star, que é o mais comum entre eles, mas também pode calçar um sapato

de bico alongado com ar cinquentista”. Dessa maneira, as regras atualmente podem ser facilmente corrompidas. A fashionista destaca quem consegue

subvertê-las com naturalidade, criando uma linguagem peculiar, mesmo que com

códigos em comum. Ao ser questionada quanto às constantes

transformações da moda e o significado que os sapatos podem expressar, Patrícia é pontual ao afirmar:

“Os stiletto, sapatos de saltos altíssimos criados nos anos 50, são o reflexo perfeito do glamour e da sofisticação da época. Hoje, acompanham calças jeans destroyed e camisas xadrezes egressas do movimento grunge.” E finaliza, fazendo uma analogia entre o luxo e o lixo, o burguês e o boêmio, o sofisticado e o casual. Estabelece uma sincronia entre aspectos variados, inclusive nos calçados, transforman-do, corrompendo e renovando o significado das peças. “Nada mais é o que parecia ser”, com-plementa.

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COMUNICANDO 16

Criado com o objetivo de proporcionar mais conforto aos jogadores de basquete, o All Star não demorou muito para se populari-zar também em outros grupos. Para muitos ele representa a lembrança do uniforme escolar, já para outros remete diretamente à liberdade e transgressão do punk rock. As ideias que repre-sentam o All Star podem variar, mas é inegável que esse tênis de aparência simples sempre traz muita identidade.

A variedade de modelos de All Star disponí-vel no mercado impressiona. Existem exemplares de todas as cores, formas e tamanhos. Essa diver-sidade acaba concedendo ainda mais personalida-de ao estilo. E o tênis também tem um diferencial muito importante: costuma ter um preço bem mais acessível que a maioria das outras marcas.

Mas há uma legião enorme de consumido-res que, independentemente do preço ou da esta-ção do ano, nunca abandonam o tênis. O estilista Maxime Perelmuter, criador da grife de moda masculina British Colony, destaca que “existe o clube do All Star. Quem entende o estilo não lar-ga mais”. Confortável e versátil (afinal, fica bem com quase tudo), o modelo dá um ar de leveza e jovialidade para quem usa.

A relações públicas Francesca Migliori-ni (foto), 24 anos, é adepta do All Star desde criança. “Todas as minhas lembranças de in-fância remetem de alguma forma para o All Star. Tenho um sentimento forte por esse cal-çado. A minha paixão é tanta que minha irmã, minha prima e meu afilhado ganharam um All Star quando nasceram”, conta. Porém, Frances-ca acredita que o tênis não ilustra apenas um grupo específico de pessoas. “Do esportista ao punk rock, todos usam All Star”, acredita.

O tênis que nunca sai de moda

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COMUNICANDO 17

Usar um coturno não é a mesma coisa que calçar um simples par de botas pretas. Até mesmo se os saltos forem igualmente baixos e o cano ficar na mesma altura da perna, definitivamente botas normais são bem diferentes de coturnos. A consultora de moda Gloria Kalil destaca que “coturnos têm personalidade própria: são jovens, de-safiadores e têm um gostinho de rebeldia”. Ou seja, são botas de atitude.

Há anos o coturno passou a repre-sentar o estilo rebelde dos punks e góticos, além de fazer parte da vestimenta militar. Mas ultimamente ele tem se tornado tam-bém uma presença constante nos desfiles de moda do mundo todo. Com a capacida-de de quebrar o clima suave de um vestido mais delicado ou ajudar a compor um look rock’n’roll, os coturnos trazem personali-dade e estilo à produção das garotas.

Para quem acha que o tradicional co-turno preto é muito pesado para o dia-a-dia, os fashionistas criaram várias novidades.

Há modelos de diversas cores, estampas e tamanhos. Já para quem não gosta de muitos contrastes, estilistas aconselham a usá-lo com meia-calça preta ou com calça ajustada na canela. Impermeável e resisten-te, os coturnos fazem sucesso no inverno rigoroso dos países da Europa.

A fotógrafa Vibiana Cornutti de Lu-cena (foto), 23 anos, é uma amante de-clarada dos coturnos. “Além de gostar do visual, o coturno tem uma atmosfera e significados ao seu redor. Quanto mais ve-lho e gasto, mais ele representa. Significa atitude, e, talvez, algum idealismo revolu-cionário. Com o coturno é possível brincar com os estereótipos que a sociedade im-põe sobre o que seja belo”, explica. A fo-tógrafa acredita também que os coturnos não identificam somente um certo tipo de tribo, mas sim um certo tipo de pessoa: as de atitude. Afinal, “quem usa coturno não se importa muito com o que o resto está usando”, resume Vibiana.

Botas com estilo

“Com o coturno é possível

brincar com os estereótipos”

VIBIANA DE LUCENA

Page 18: Revista Comunicando 1/2012

COMUNICANDO 18

TENDÊNCIAS

FOTO

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Sempre bastante ligado à personalidade e estilo da mulher, o calçado é um acessório que vem cons-truindo uma relação cada vez mais forte com a con-

sumidora, já que a cada temporada ganha mais e mais espaço nas sapateiras femini-nas. Novos modelos, em estilos ousados e combinações surpreendentes, chegam às lojas e vitrines arrancando suspiros.

As sandálias, coloridas nos sete tons do arco-íris, contam ainda com todo o glamour que strass e cristais oferecem para serem acessórios de destaque nos looks. Tiras mais finas dividem espaço com as versões de tiras largas e marcan-tes. Para os saltos, as novidades são mui-tas, mas a altura segue valorizada.

Esculturais, em acrílico, couro ou madeira, finos ou grossos, plataformas e saltos com design diferenciado chegam

TEXTOS:Angelita Dias

Cristina Weissheimer Fernanda Gomes de Andrade

Patriane Padilha Melo

O GLAMOUR DOS PEEP-TOE

Ankle Boots

A cartela de cores é extensa e varia da simplicidade à

elegância

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às prateleiras.Modelos como o meia-

-pata, salto mais fino atrás e com uma espécie de plata-forma na parte frontal, como apoio para a região dos dedos e de ponta de pé, prometem destacar os pés femininos na temporada quente.

Outro modelo que vem com tudo é o Peep-Toe, calça-do atemporal, que volta e meia ressurge com tudo na moda. O Peep-Toe se caracteriza por ser um sapato com pequena aber-tura frontal, onde um ou mais dedos aparecem.

As sandálias estilo Gla-diadora também terão espaço reservado, com a diferença de que nessa temporada elas vêm em versões mais altas, além

das rasteirinhas que já fazem bastante sucesso pelas ruas do Brasil.

Saltos geométricos e or-namentação com flores em calçados de cores vibrantes direcionam as melhores ten-dências, assim como o uso de transparências. Tachas e pé-rolas poderão ganhar os pés femininos em modelos mais glam (abreviação de Glamour) ou delicados, como revelam croquis de grifes como Ale-xandra Neel, DKNY e Alexan-dre Birman.

Já as botas do inverno se-rão também vistas nas tempo-radas mais quentes, em versões desenvolvidas sobre a base de sandálias - a bota-sandália pro-mete ser um hit.

COMUNICANDO 19

A praticidade dos calçados baixos, como as rasteirinhas, é enri-quecida por pedraria, bordados e flores colori-das, além de saltos mais generosos.

Enfim, seja alto,

baixo, colorido, floral, em tons nude ou mais estilosos, como os ne-ons, toda mulher deverá se render a alguma das novidades e tendências, de acordo com seu esti-lo.

As Ankle Boots, botas de cano curto que ficam na altura do tor-nozelo, continuam com tudo na próxima estação. Seguem o mesmo princípio das tradicionais, porém mais abertas.

A toda vazada é uma das novas tendências para este verão, principalmente os modelos aperfeiçoados com pequenos quadricula-dos cortados a laser, que permitem ventilação aos pés.

Já as mais tradicionais, aperfeiçoadas nas cores alegres do ve-rão, se tornam um acessório complementar e luxuoso, podendo ser usado a qualquer momento do dia, não desvalorizando e, claro, o pre-tinho clássico e básico. Os lacinhos permanecem, conferindo um tom de leveza à Ankle Boot mais fechada.

A diversidade dos estilos

Os Peep Toe continuam, aperfeiçoados em tons fortes e fluo, e outras cores já apresentadas na estação passada, como o laranja, azul, vermelho, pink e amarelo, que são os responsáveis por animar os looks de tons apagados.

As cores neutras, principalmente as claras, como os nudes e caramelo, também fazem parte e o preto e branco continuam sem-pre.

Para o verão, as rasteirinhas trazem modelos com tiras de couro, (desde baixinhas ou até na altura dos tornozelos), tachinhas metálicas, flores e materiais rústicos como palha e juta.

A cartela de cores é extensa e varia desde a simplicidade e elegância do nude, até as mais vibrantes, cítricas e alegres.

Fonte: Jaque Kuver / Sapatos e Estilo

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Sapatos seguem em evidência nos mais re-centes desfiles apresentados durante grandes even-tos e fashion weeks. Nessa última temporada, a moda calçados chamou a atenção, adiantando algu-mas tendências para o outono inverno 2012. Modelos variados, seja em sapatos fecha-dos, ankle boots, coturnos, sandálias ou sapatilhas chegam confeccionadas em lustrosos veludos ou ca-murças, em geral, de tons escuros.

Calçados com mais de uma cor, em combi-nações extravagantes (foto) dão o tom da estação. Em materiais de aspecto mais natu-ral, dão destaque para os pés e têm tudo a ver com as estações mais frias. Várias grifes investiram nesse estilo em suas novas coleções. Vale conferir.

Inverno 2012

FOTOS DIVULGAÇÃO

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O tropicalismo e suas nuances

Identidade é essencial também quando o assunto é calçado. “O colorido é do brasileiro, somos um país rico em natureza, é com isso que as pessoas se identificam”. É a partir dessa idéia que a Paraonda Calçados, empresa com sede em Feliz, que atua no mercado desde 1999, concebe seus produtos.

Extremamente atualizados e com estilo ar-rojado, os calçados da Paraonda são resultado de vários anos de experiência. O empresário e também designer da Paraonda Roberto Antônio Lucas usou seus conhecimentos para agregar va-lor e oferecer produtos de qualidade e conforto para pessoas de alto poder aquisitivo.

Lucas conta que a etapa de desenvolvimen-to de uma coleção de inverno e verão é dividida em dois semestres, sendo que a produção dos calçados é sempre a inversa da coleção que está à venda nas lojas.

O empresário diz que a moda é a razão da empresa e que as tendências para a próxima co-leção são materiais rústicos, crus, que estejam de acordo com a natureza. No verão estão em alta as cores tangerina, azul e amarelo. Destaca ainda que o consumidor brasileiro opta por um calçado mais colorido, mesmo porque “somos um país tropical”.

A Paraonda conta com 130 funcionários di-retos e 100 indiretos. Fabrica 110 mil pares de calçados por ano. Qualidade, conforto e design exclusivo estão entre as principais característi-cas dos calçados Paraonda.

Além de se preocupar com o cliente, Lucas destaca também sua preocupação com a questão ambiental. Grande parte do lixo gerado pela empresa é enviado para a Ultresa (usina de tratamento de resíduos) e o lixo reciclável é des-tinado adequadamente ao sistema de coleta.

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Beleza e conforto em todas as estações

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As tendências de moda apontam um estilo romântico muito forte também para o calçado. Na Dakota, empresa com sede em Nova Petrópolis, a combinação de cores e materiais propostos pela empresa determina o perfil de uma mulher que, embora romântica, retrata seu lado determinado e de guerreira em seu cotidiano, unindo moda e conforto para o seu dia a dia.

A empresa hoje abrange uma larga e diferente faixa de perfil de consumidor, devido ao fato de que o “Universo Dakota” subdivide-se em sete marcas, cada uma delas com seus respectivos perfis de consumo.

A moda tem grande importância para a empresa, se-gundo Kuhn. “Junto à preocupação de melhorar cada vez mais os processos, visando ao maior conforto para nosso calçado, a moda tem um papel fundamental no desenvolvi-mento do produto, afinal, nos encontramos atualmente num quadro em que os consumidores estão muito mais bem in-formados acerca de moda e tendências, e isso os leva facil-mente a distinguir e desejar um produto atual, um produto de moda”, afirma.

Para a Dakota, a inovação e o design dos calçados bra-sileiros se destaca, e são elementos-chave para o desenvolvi-mento do produto. A equipe de desenvolvimento de produto está sempre atenta à evolução das tecnologias e processos sustentáveis.

A cada ano surgem novos materiais concebidos com esta preocupação. Exemplo disto são os componentes pro-duzidos a partir do reaproveitamento de materiais reci-cláveis, como tecidos derivados de garrafas P.E.T.; além da utilização de couros cujo curtimento é realizado sem a presença de cromo, diminuindo assim impactos ambientais provenientes desse material.

A Dakota, que está há 33 anos no mercado, conta com cerca de 14 mil colaboradores e é uma das maiores empre-sas do Brasil no ramo calçadista, tendo como prioridade dos seus produtos conforto e bem-estar. Sempre atenta à evolu-ção e às tendências de moda, seu público-alvo interno e ex-terno gira em torno de 95% de brasileiros e diariamente são produzidos 90 mil pares de calçados em toda a rede Dakota.

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Conforme Sabrina (pesquisadora de tendências da empresa Dakota), a moda dos calçados se expressa nas criações a partir de: - Análise de Macrotendências (tendências globais de comportamento e consumo de um prisma ger-al);- Análise de tendências/cores e materiais (princi-pais feiras internacionais não só as voltadas para o segmento dos calçados, mas como também nichos como decoração, arquitetura, design, au-tomóveis e novas tecnologias em diversas áreas;- Análise dos desfiles internacionais das princi-pais capitais da moda: Paris, Milão, Londres e Nova York;-Viagens internacionais para os principais desti-nos do circuito da moda, como também a novos destinos para onde as tendências apontam como referência, bem como viagens pelo Brasil;- Depois da "análise geral", faz-se um cruza-mento de dados das diferentes fontes de pesquisa usadas, juntamente a uma análise de moda em nível nacional e o seu respectivo termômetro ante às tendências internacionais, considerando peculiaridades da moda.

Sabrina Durgante Leães,Graduada em Moda e Es-tilo pela Universidade de Caxias do Sul, Mestre em Design e Marketing de Moda pela Universidade do Minho em Portugal, aprofundou-se nos estudos sobre a Moda Italiana pela Scuola Leonardo Da Vinci na Itália, bem como avan-çou seus estudos na análise de comportamento e novas tendências estudando Cool Hunter London pela Cen-tral Saint Martins College of Art & Design em Lon-dres. Atualmente reside no Brasil, atuando na área de pesquisa de moda para a empresa Dakota.

Pesquisa de comportamento e consumo

FOTO: PATRIANE MELO

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IMAGEM

UMA MANIADE BORRACHA

As Havaianas cresceram de

apenas um modelo até 1994 para mais

de 60 tipos hoje

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Elas estão nas prateleiras do comércio de Nova York e Paris e ocupam espaço em vitrines de Milão. Adornam pés de artistas, modelos. Ao

mesmo tempo, são vistas em uma mar-cha do Movimento dos Sem-Terra, nos pés de milhares de homens, mulheres e crianças. Sem dúvida são as sandálias mais democráticas de que se tem notí-cia. As Havaianas.

O que começou como um pro-duto popular, que já foi considerado “coisa de pobre” no Brasil, virou artigo de luxo em menos de quatro décadas e hoje enfeita pezinhos milionários. Bo-nita e gostosa de calçar, a sandália se transformou em um objeto chique.

Durante quase 30 anos, o consu-midor das sandálias Havaianas, vendi-das com mais frequência em mercados de bairros, se restringia a uma classe menos favorecida. Costumava-se dizer que “Havaianas era chinelo de pobre”. Era preciso adotar um novo posiciona-mento para alavancar as vendas e mu-dar sua imagem.

Impulsionados pelos investimen-tos em campanhas publicitárias prota-gonizadas por artistas e celebridades, os chinelos de borracha transformaram--se em objeto de desejo. A distribuição também passou a ser focada em nichos de mercado. “Cada ponto de venda passou a receber um modelo diferente, de acordo com seu público-alvo”, ex-plica Ronei Mariani, 50 anos, diretor--acionista da loja Mariani Artefatos de Couro.

Na Mariani, loja aberta em Ca-xias do Sul em 1947, os responsáveis se orgulham de dizer que revendem as Havaianas desde o seu lançamento, em 1962. “Em Caxias, somos a loja que possui a maior variedade de Havainas. Em torno de 70% dos modelos produzi-dos estão aqui”, informa.

Segundo Ronei, a melhor época de venda para as Havaianas varia entre novembro e março, durante os meses quentes do ano. A loja chega a vender

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TEXTO:Maico Vogel

As Havaianas cresceram de

apenas um modelo até 1994 para mais

de 60 tipos hoje

uma média de quase 1,7 pares men-salmente. Em 2009, foram cerca de 20 mil Havaianas comercializadas durante todo o ano. “A previsão de aumento em 10% nas vendas de 2010 já foi atingi-da em outubro”, comemora. Como os brasileiros já conhecem o chinelo, as explicações acerca de qualidade e du-rabilidade se fazem desnecessárias. O que importa é o design.

Aliados a esse novo formato de distribuição, as Havaianas passaram a ter também novas opções de cores e no-vos modelos. A ideia caiu no gosto do povo. De repente, andar de Havaianas por aí não parecia mais coisa de pobre, mas algo da moda. As sandálias se tor-naram objeto de desejo dos brasileiros. Sucessivos ciclos de inovação em esti-los e cores romperam com o velho es-tigma e valorizaram o produto.

A revolução da marca começou por volta dos anos 2000. Até então, as vendas para outros países eram pe-quenas e não havia um movimento articulado em direção a esse mercado. A decisão de explorar a marca no exte-rior deu-se pelo fato de ser um produto tipicamente brasileiro, colorido, e sem concorrência interna ou externa.

Outro evento importante para di-vulgação da marca fora do Brasil ocor-reu em 2003 quando foram distribuídas Havaianas aos indicados ao Oscar. Dois meses antes da cerimônia, foi desenvol-vido um modelo sofisticado, decorado com cristais austríacos Swarovski e guardado em caixas especiais com o nome dos atores imitando os símbo-los estampados na calçada da fama de Hollywood. Paralelamente, a fábrica entrou em contato com os agentes das 61 celebridades indicadas ao prêmio - entre elas, Jack Nicholson, Nicole Ki-dman e Renée Zellweger - para saber que número calçavam. No dia seguinte à premiação, todos receberam sua san-dália. Iniciativas como essa ajudaram a Alpargatas - empresa detentora dos di-reitos da marca - a vender 1 milhão de pares de Havaianas aos varejistas ame-ricanos naquele ano.

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1962O nascimentoA primeira Havaianas surgiu em 1962. Foi inspirada em uma típica sandália japonesa chamada Zori, feita com tiras em tecido e solado de palha de arroz. Por essa razão, o solado de borracha de Havaianas possui uma textura que reproduz grãos de arroz, um dos muitos de-talhes que a tornam inconfundível.

1970A criação dos

grandes slogansO famoso slogan “Havaianas. As legíti-mas” foi lançado. Bastava ouvir a frase “Não deformam, não soltam as tiras e não têm cheiro” para se lembrar dos comerciais protagonizados pelo come-diante Chico Anysio durante as déca-das de 70 e 80.

1980Feijão com arrozNessa época, já eram vendidos mais de 80 milhões de pares de Havaianas por ano. As Havaianas eram tão fundamentais na vida do brasileiro que, na década de 80, foram consideradas como um dos itens da cesta básica, assim como feijão e arroz.

1994Havaianas. Todo mundo usa.A comunicação de Havaianas passa por uma grande transformação. Na TV, pessoas famosas como Malu Ma-der, Bebeto, Hortência e Luana Pio-vani mostravam seus pés para provar que todo mundo usava Havaianas. Nas revistas, a explosão de cores e as imagens divertidas dos anúncios de Havaianas traduziam o alto-astral da marca.

1997Para o bebêA partir do final dos anos 90, Havaianas não parou mais de inventar moda. São cria-das novas estampas, cores e modelos - até mesmo para os que mal tinham aprendido a andar... Como as Havaianas Baby!

1998A bandeir-inhaPara a Copa do Mundo de 98, foi lançado um novo modelo de Ha-vaianas, com uma pe-quena bandeira do Bra-sil na tira. Essa sandália logo se tornou objeto de desejo no exterior e mo-tivo de orgulho para os brasileiros.

2000InternacionalizaçãoAs Havaianas se tornam mania internacional. Havaí, Austrália, França... Estrangeiros compram no Brasil e levam para seus países. Viram assunto nas páginas das grandes revistas e jornais do mun-do, e conquistam algumas das vitrines mais con-corridas do planeta. Hoje, podem ser encontradas em mais de 60 países.

O CRESCIMENTO DA MARCA

A qualidade do produto, a estratégia de marketing e a campanha publicitária baseada em depoimentos de gente famosa usando Havaianas, trouxe vida para a tradicional sandália, ainda que ela dispensasse maiores apresentações.

Reprodução: YouTube

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2004DiamantesEm 2004, foi lançada uma edição especial de sandáli-as assinada pela joalheria H.Stern, com acabamento em ouro 18K e diamantes. Foi a sandália que é uma jóia.

2007Casa própria

em NYSímbolo do alto-astral brasileiro em qualquer parte do mundo, Havaianas finca definitivamente sua bandeira nos EUA em 2007. É o início da segunda fase da expan-são internacional da marca.

2006SlimAs Havaianas Slim vieram para agradar ainda mais as mulheres. Com tiras mais finas e delicadas, caíram no gosto do público mais exi-gente e já são um ícone da marca.

2008Olé!Em acelerado ritmo de expansão internacional, Havaianas passa a atuar diretamente na Europa em 2008. O local escolhido para abri-gar o escritório próprio da marca e uma equipe de diversas nacionali-dades e culturas é Madri.

2009Todas elas

O ano começa com um grande acontecimento na história da marca, a abertura do Espaço Havaianas em São Paulo. Uma loja que reúne tudo com que os apaixonados por Havaianas sempre sonharam: linha completa de sandálias, produtos exclusivos para o mercado internacional, cus-tomização e novos produtos.

1998A bandeir-inhaPara a Copa do Mundo de 98, foi lançado um novo modelo de Ha-vaianas, com uma pe-quena bandeira do Bra-sil na tira. Essa sandália logo se tornou objeto de desejo no exterior e mo-tivo de orgulho para os brasileiros.

2000InternacionalizaçãoAs Havaianas se tornam mania internacional. Havaí, Austrália, França... Estrangeiros compram no Brasil e levam para seus países. Viram assunto nas páginas das grandes revistas e jornais do mun-do, e conquistam algumas das vitrines mais con-corridas do planeta. Hoje, podem ser encontradas em mais de 60 países.

O CRESCIMENTO DA MARCA

A qualidade do produto, a estratégia de marketing e a campanha publicitária baseada em depoimentos de gente famosa usando Havaianas, trouxe vida para a tradicional sandália, ainda que ela dispensasse maiores apresentações.

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OS PERIGOS DOSALTO ALTO

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SAÚDE

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Amaioria das mulheres considera os sapatos de salto itens indispensá-veis para o guarda-rou-pa. Seja por simbolizar feminilidade ou por re-

meter à sensualidade, o salto alto se tornou um verdadeiro símbolo de elegância. No entanto, seu uso frequente é extremamen-te prejudicial ao alinhamento postural e ao equilíbrio do corpo. A Faculdade de Medi-cina da Universidade de São Paulo (USP) divulgou dados de um estudo recente que comprova que o uso de salto alto causa da-nos à postura e ao equilíbrio músculo-arti-cular de meninas em fase de crescimento.

A fisioterapeuta Franciele Schio res-salta que o uso frequente de salto alto pode trazer problemas em qualquer idade, mas em adolescentes o prejuízo é ainda maior. “Quando as meninas começam a fazer uso prolongado do salto alto podem terminar a fase de crescimento já com alterações na postura e na marcha. Essas alterações, ao longo do tempo, podem gerar dores, dese-quilíbrio muscular e até degeneração das articulações”, explica.

Outra consequência que o uso prolon-gado do salto pode causar é em relação ao ângulos posturais. É comum o aumento da lordose lombar (curva acentuada na base da coluna) seguida da pelve em antever-são (o chamado “bumbum empinado”). De acordo com Franciele, a aproximação dos joelhos (joelho valgo) e o afastamento dos pés, deixando as pernas no formato de um “x”, também é frequente. “Quando coloca-mos um sapato de salto alto, o nosso corpo é projetado para frente, mantendo o centro de gravidade na parte anterior do pé. Ao longo do tempo, isso provoca adaptações posturais mesmo quando não estamos com o calçado”, ressalta.

TEXTOS:Ana Demoliner

Gisele Barbara da SilvaMarli Superti

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COMUNICANDO 30

Franciele destaca que o salto agulha, por ter sua base de sus-tentação mais estreita, provoca alterações ainda mais expressivas, tanto na postura quanto na marcha. Para as pessoas que já sofrem com problemas de coluna ou alterações posturais, o ideal seria não fazerem uso prolongado de salto alto, mas quando fizerem, é importante es-colher os de salto baixo e cuidar a largura. “Quanto menor a largura, maior será a instabilidade causada e mais problemas devem apare-cer”, destaca.

O ortopedista e traumatolo-gista Gustavo Nora Calcagnotto destaca que unir conforto e beleza pode ser bastante complicado. “O sapato ideal está longe de ser bo-nito. Eles deveriam ter no máximo quatro centímetros de altura, com formato largo nos dedos e, de pre-ferência, com bico quadrado. Para

completar, o salto também deveria ser quadrado, pois garante mais es-tabilidade.”

Mas a ausência do salto alto não garante que o sapato seja ide-al para a coluna. Segundo Calcag-notto, os especialistas condenam os extremos: saltos altos ou baixo demais, como as rasteirinhas. “Os dois podem provocar sobrecarga na coluna e nos pés. O melhor é não usá-los ou, pelo menos, não calçá-los diariamente. Palmilhas ajudam a manter o pé mais firme no sapato. O calçado ideal deve ter um salto nem tão alto, nem tão bai-xo.” Nem mesmo o confortável tê-nis de corrida é indicado para toda hora. De acordo com Calcagnotto, eles só podem ser adotados para o uso diário se não tiverem o amorte-cedor alto demais. Caso contrário, a inclinação faz o mesmo efeito que um salto alto.

“O calçado ideal deve ter um salto

nem tão alto, nem tão baixo”

AGULHA E FINOOs sapatos de salto e bico fino podem causar desequilíbrio, pois impedem o uso do calcanhar na sustentação do corpo. Além disso, podem ocasionar dores nos dedos e na planta do pé.

PLATAFORMAÉ o tipo de calçado que oferece melhor distribuição da pressão exercida pelo corpo sobre os pés. Os modelos com a mesma altura do calcanhar à ponta não pressionam excessivamente o antepé, mas em compensação, a chance de torcer o tornozelo é maior.

Características de cada salto

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Dicas da fisioterapeuta

Se você não fica sem usar sapa-tos de salto, opte pelos modelos com saltos mais largos, que distribuem me-lhor o peso e estabilizam o tornozelo.

Bico quadrado também é o mais recomendado para evitar deformida-des nos dedos.

A prevenção é o melhor trata-mento: alongamento dos músculos depois de tirar os sapatos e massagens nos pés e nas panturrilhas são reco-mendados.

Se puder, deixe a sandália e opte pelo sapato. Assim, o calcanhar estará mais seguro. O reforço lateral propor-cionado pelas botas é ainda mais efi-ciente.

Crianças não devem, em hipóte-se alguma, usar salto, seja ele baixo ou alto.

Os sapatos altos não devem ser usados constantemente por adoles-centes, porque o corpo ainda está em formação.

QUADRADOComo o modelo deixa o calcanhar bem apoiado, ajuda no equilíbrio do corpo.

BAIXOO salto de até três centímetros é o único recomendado por especialistas para o uso diário.

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COMPULSAO

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De um modo geral, os sapatos fizeram parte dos acessórios das mulheres. Com o passar dos anos, sua importância aumentou. As mulheres come-çaram a encurtar os vestidos, que antes eram lon-gos, e se preocuparam com a parte de baixo que ficava à mostra, os pés. Aos poucos, os sapatos

foram se tornando objetos de desejo no universo feminino. O sapato pode ser considerado uma expressão da perso-

nalidade feminina. Algumas mulheres buscam antes escolher o sapato que irão usar, para depois escolher a roupa. Outras, são capazes de fazer loucuras em busca de um sapato que elas tanto idealizaram.

“Comecei a trabalhar como estagiária na época que estu-dava na PUC. Aí gastava o meu próprio dinheiro, e aos poucos, fui intensificando as compras”, confessa a jornalista Tríssia Or-dovás, 30 anos. Tríssia conta que, como ela calça tamanho 33, muitas vezes é difícil encontrar sapatos, ainda mais que adora os de salto alto. Como sua família sabe de sua paixão, quando eles encontram um sapato que seja sua cara, eles a presenteiam.

Paixão sem limitesSair de casa com a intenção de comprar alguma peça de

roupa e voltar pra casa com pares de sapato é normal para a consumista assumida Alice Viezze, 52. Ela, que perdeu a conta de quantos pares possui, arrisca que aproximadamente 80 pares estão guardados, entre eles: botas, sandálias, rasteirinhas, sapa-tos sociais e tênis.

A origem da paixão vem da infância. Ela lembra que sua mãe xingava quando comprava sapato. “Quando eu era jovem a gente não tinha tantas condições financeiras, e meu pai era mais dureza. Mas se eu tinha um dinheirinho que minha mãe me dava eu sempre escolhia sapatos”, lembra. Também conta que, na época, deixava de comprar roupas para comprar sapatos.

Alice, animada, lembra de uma frase dita por uma amiga: “o pé na verdade está sempre igual, o corpo é que muda, às vezes estamos mais gordinhas, às vezes mais magrinhas, e o

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TEXTOS:Juliana Wilbert

Karina BooneVanessa Candido

PODERINCONSCIENTE

FOTO:VINICIUS DEBONI FALAVIGNA

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sapato, em qualquer situação, serve”. Um fato recente foi quando saiu de casa para comprar um casaco de lã, e voltou com dois pares de sapatos.

Mesmo apaixonada por calçados, ela garante que não é apegada, empresta sem problemas para as namoradas dos seus fi-lhos, e quando acha que não vai mais usar, passa adiante. “Se passou um ano e não usei, passo adiante, pois não vou usar mais.”

“Não tenho ideia de quanto é o meu gasto com sapatos, tem meses em que eu compro quatro pares e tem outros em que

não compro. Agora começa o verão, daí chega a coleção nova, então vou à loja, ado-ro quatro sapatos e compro.”

Alice ainda conta que o marido não se opõe às compras de sapatos, na realidade a preocupação dele é com a falta de espaço, já que sobra pouco para ele. Ela avisa que, quando o filho mais velho se casar, vai usar o guarda-roupas dele para guardar seus sa-patos. E revela que o único erro é comprar sapatos com saltos muito altos e depois não conseguir usar: “oito centímetros é o meu limite”, afirma.

“É uma alegria

comprar sapato”

FOTO: VANESSA CANDIDO

Entusiasmada, Alice mostra uma pequena parte da sua coleçãoCOMUNICANDO 34

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COMUNICANDO 35

Teste

Abaixo, alguns sinais de consu-mismo:

√ Você não consegue sair de um shopping sem pelo menos uma sacola na mão;

√ Qualquer objeto comprado há

mais de um ano, desde um relógio até um automóvel, lhe parece insuporta-velmente velho e ultrapassado, preci-sando urgentemente ser trocado;

√ Você estoura o seu limite do cartão de crédito com frequência;

√ Você se sente rebaixado, hu-milhado, arrasado, quando alguém próximo aparece com um objeto mais moderno, mais atual, mais caro;

√ Os objetos de marca exercem um fascínio irresistível sobre você;

√ Ir às compras é o seu hobby predileto.

O consumismo é uma com-pulsão que leva o indivíduo a comprar de forma ilimitada e sem necessidade. É uma atitude típica da sociedade capitalista em que vivemos, estimulada pelas campa-nhas publicitárias veiculadas, prin-cipalmente na TV, cinema e outros meios de comunicação. Para a psicóloga Cristiane Brandão, de Caxias do Sul, “temos o hábito de consumir sem necessidade especí-fica”.

Cristiane explica que o ser humano tende a achar que quanto mais se consome mais se tem ga-rantias de bem-estar, de prestígio e de valorização, já que, na atualida-de, as pessoas são avaliadas pelo que possuem e não pelo que são.

O consumista se diferencia do consumidor normal, que com-pra as mercadorias e os serviços por reais necessidades: “Ele com-

pra movido por distúrbios emocio-nais e psicológicos, tentando fa-zer compensações por problemas no convívio social, pela carência financeira, por uma baixa autoes-tima e por outras tantas razões”, acredita a psicóloga.

A compulsão pode existir em variados graus, desde aquela compra ocasional em que se che-ga em casa com a sensação de que não precisava ter comprado outra camiseta, que parecia ser tão útil quando se estava na loja, até o clo-set transbordando com 350 pares de sapato.

A psicóloga explica que, para a pessoa buscar um tratamento psí-quico, é preciso primeiro que ela se conscientize do que está aconte-cendo. “Dar esse passo não é fácil, porque o consumismo é uma ati-tude muitas vezes inconsciente”, conclui a psicóloga.

Ter e ser

Nair De Gregori Menegotto, 64, aposentada“Todas nós temos o sapato que mais adoramos,

e eu estava justamente com o que eu mais gostava passeando pelo centro, quando senti algo diferente nos meu pés. Olhei para baixo e vi o que eu temia, simplesmente a sola do meu sapato se desmanchou, fiquei superenvergonhada com a situação”.

Sandra Pareira Gonçalves, 27, professora “Era a formatura da minha prima e ela comemorou em um restaurante, onde estavam acontecendo ou-tras festas também. Era necessário irmos ao buffet para nos servirmos, então, como todos, me servi. Eu estava de calça e sandália e quando fui dar um pas-so, o salto da sandália engatou na barra da calça, isso fez com que eu escorregasse, mas não cheguei a cair, apenas toda a comida do meu prato caiu no chão. Fi-quei morrendo de vergonha, o restaurante todo parou pra ver o que estava acontecendo”.

Marina Bertotto, 18 anos“Fui toda produzida para a balada, lá encontrei

com as minhas amigas e estávamos curtindo numa boa. Até que decidimos mudar de ambiente e foi ne-cessário descer escadas... nisso meu salto quebrou e, se não fosse eu me apoiar no corrimão, teria rolado escada abaixo! Fiquei morrendo de vergonha. Depois dessa cena fomos embora”.

Janaína Matos, 30 anos, empresária “Era casamento do meu primo, já estávamos de

saída, quando tocou aquela música que todo mundo adora dançar. Então eu e minhas primas voltamos correndo pra pista de dança, e foi assim que a sandá-lia fez com que eu ficasse atirada no chão. Minha mãe pensou que eu tinha deitado, antes fosse. Sorte que poucas pessoas viram”.

MICOS....Hahaha

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Quem calça um sapato macio e confortável não imagina a quantia de trabalho neces-sária para fazê-lo. O processo de produção varia conforme o modelo e, principalmen-te, o material utilizado. A reportagem da Comunicando visitou a empresa farroupi-

lhense Ganesco Calçados, que tem a linha voltada para o público feminino e o couro como principal artefato.

A produção de um calçado envolve muito mais detalhes do que parece à primeira vista. A confecção de um sapato de couro, por exemplo, é composta por mais etapas do que de um sintético. A Ganesco produz calçados femininos em couro desde 1975. O administrador, Jorge Gasperin, esteve recentemente em Milão, na Itália, para acompanhar o que vai ser tendência nas próximas tem-poradas. Ele participou da Micam, principal feira de calçados da Europa. A Ganesco, apesar de pequena (produz entre 30 e 40 mil calçados anualmente), busca constante atualização para se manter competitiva no mercado.

A seguir são detalhadas as etapas que compõem o processo de produção de um calçado de couro.

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TEXTO:Daniel Rufatto

Joseane MazzollaRocheli Camargo

Sérgio Toniello Filho

INDÚSTRIA

PASSO A PASSOPOR TRÁS

DOS PASSOSMoldes de

madeira dão forma ao sapato.

Produção tem etapas manuais e mecanizadas

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COMUNICANDO 37

1 - Design/ModelagemA cada temporada, a em-

presa contrata um profissional de Moda e Estilo para a criação dos novos modelos. A estilista fica responsável pelo design de cada coleção. Com os desenhos prontos, se inicia a parte técnica, em que um modelista, através de um programa de computação (o CAD), faz as fôrmas e alinha o produto. Em seguida, é desenvol-vido um mostruário, para que os representantes possam fazer os pedidos, observando a cartela de cores disponíveis.

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5 - Montagem

2 - Corte

4 - CosturaEsta etapa é a que padroni-

za a espessura do couro. Como ele não é uniforme, é necessário passá-lo por uma máquina para que não haja diferença entre as peças. Também nesta fase, é feito o desbastamento. Em seguida, é feita a “dublagem”, que é a junção da couraça com a forração. Este é um passo primordial para dar a sustentação ao sapato. Depois de preparadas, as peças são separadas em conjuntos.

A Ganesco, assim como a maioria das empresas, terceiriza a costura (ou pesponto). Os ateliês de costura emendam as peças, for-mando a parte superior do sapa-to. Junto com o couro, a empresa manda para o atelier os apliques a serem utilizados em determinados modelos, como fivelas e zíperes. Esta etapa pode ser considerada a menos automatizada de todo o processo de produção do sapa-to. Isto porque a costura varia de acordo com o modelo desejado.

A palmilha é pregada em moldes de madeira, já com os for-matos de pés esquerdos e direitos em suas numerações. Em segui-da, o cabedal é colado na palmi-lha. Nesta fase, o sapato começa a ganhar o aspecto de seu formato final. A montagem pode ser feita tanto à máquina quanto à mão. As sandálias da Ganesco, por exem-plo, são montadas totalmente de modo artesanal. Já os sapatos são mistos. O bico e a parte traseira são montados na máquina, en-quanto a parte lateral é montada manualmente.

É nessa parte que a matéria--prima começa a ganhar forma. Depois de pronto o molde de cada uma das peças, o couro é corta-do por uma máquina chamada balancin. A navalha corta a parte externa (cabedal), o forro, a cou-raça (que é a parte do bico) e o contraforte (parte traseira, que dá sustentação). Dependendo do mo-delo, podem ser utilizadas outras peças. Em produções com tecno-logia mais avançada, o corte pode ser feito a laser, jato de água ou ar-comprimido.

A partir das fôrmas, é feito

o corte das peças que

vão compor o sapato

3 - Preparaçãoc

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COMUNICANDO 39

7 - AcabamentoO molde é retirado de dentro

do sapato. A taloneira é fixada e, quando necessário, é feito algum retoque, como corte de sobras de linhas. Dentro dos pares são colo-cados papel amassado e uma esta-ca para a peça não perder a forma durante o transporte. Por fim, são embalados em caixas individuais. Os pedidos são separados e a fatu-ra é enviada ao cliente. A merca-doria é transportada às lojas, pron-ta para ser comercializada.

6 - SoladoO couro é lixado para rece-

ber a aplicação de cola. Para que fique bem colado, o adesivo é aplicado tanto no cabedal, quanto na sola do sapato, sendo necessá-rio aguardar a secagem de 10 a 15 minutos. Depois é feita a prensa-gem para completar a fixação do cabedal com o solado.

A produção de um sapato envolve

muito mais detalhes do que

parece à primeira vista

Cola é aplicada tanto no

solado como no cabedal para melhor

fixação

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COMUNICANDO 40

ECONOMIA

A CHINA NOS PÉS DO MUNDO

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Aindústria brasileira de calçados enfrenta dificuldades para se manter competitiva no mercado. O núme-ro de exportações está

em queda há cinco anos. A principal concorrente é a China. O país asiáti-co, conhecido por falsificar marcas famosas e explorar os trabalhadores, é responsável por quase dois terços da produção mundial. Para driblar os chi-neses, as empresas brasileiras apostam na qualidade e no design.

O sapato brasileiro começou a ga-nhar o mundo no início da década de 1970. Naquela época, a indústria nacional tinha a mesma vantagem que a China tem hoje: mão-de-obra barata. Empresas italianas migraram para a América do Sul. Grandes polos calçadistas, como o de Novo Ham-burgo e o da Serra, cresceram rapidamente. A indústria calçadista chegou ao auge no fim do século XX.

TEXTO:Daniel Rufatto

Joseane MazzollaRocheli Camargo

Sérgio Toniello Filho

COMUNICANDO 41

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COMUNICANDO 42

Nos últimos anos, muitas empresas foram para a Ásia na tentativa de diminuir os custos. Outras decidiram terceirizar a produção, se tornando revendedoras. O coordenador do Curso de Comércio In-ternacional da Universidade de Caxias do Sul (UCS), professor Fábio Verruck, ex-plica o que mudou no mercado. “Antes a competição era pelo preço, agora tem de se buscar outros tipos de diferenciação”. Para Verruck, a Itália é um bom modelo a ser seguido. “O que a Itália fez é o que algumas empresas que permaneceram no Brasil estão fazendo: melhorar o marke-ting, a qualidade do seu produto”, analisa.

Em uma década (1999 a 2009), as importações brasileiras da China cres-ceram 498% em número de pares. Se o critério de análise for o do valor dessas negociações em dólares, o aumento é de 1026% no mesmo período. Para conter este avanço, o Brasil adotou o direito de antidumping contra o gigante asiático. O recurso vale por até cinco anos. A medi-da, que é regulamentada pela Organização Mundial de Comércio (OMC), sobretaxa os sapatos chineses em U$13,85 por par. O recurso abre exceção para alguns mo-delos, como pantufas e sapatilhas para dança.

O antidumping, que iniciou em defi-nitivo em setembro de 2009, vem gerando efeitos positivos na indústria nacional. O setor chegou a criar 10 mil vagas de em-prego por mês com a medida. Só que o

número vem caindo em razão de o sapato chinês chegar ao Brasil por países como Vietnã, Malásia e Indonésia. O compor-tamento fraudulento dos asiáticos põe em risco o plano de investimentos da indús-tria, que previa um incremento de 11,5% em 2010.

Competitividade ameaçadaApesar da concorrência desleal, o

Brasil se mantém o terceiro maior produ-tor e um dos grandes exportadores de cal-çados do mundo. Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, a alta tributação é um ponto negativo na tentativa de manter a competitividade. “O que onera o produto são as condições ma-croeconômicas, especialmente a carga tri-butária, os encargos trabalhistas e o câm-bio apreciado (valorização do real frente às moedas estrangeiras)”, afirma.

Sem conseguir igualar em valores, o jeito é apostar na criatividade. O Bra-sil possui uma cadeia produtiva comple-ta, dispondo de domínio de tecnologia, mão-de-obra qualificada, equipamentos e insumos nacionais. O exemplo italia-no pode servir para a indústria produzir cada vez mais calçados de vanguarda, buscando recuperar o espaço perdido no mercado internacional, sem esquecer do consumo interno. Ferramentas para isso, as empresas brasileiras possuem de sobra.

Indústria nacional ganha

impulso com sobretaxa

aos calçados chineses

2007148,9

199916,3

200019,1

200117,6

200225,7

200330,6 2004

45,9

200578,8 2006

87,9

2008218,7

2009183,6

Importações Brasileiras de Calçados da China

A importação de calçados chineses alcançou o ápice no Brasil em 2008. Com a sobretaxa adotada no ano seguinte, os números começaram a diminuir. Em 2010, o número de pares importados da China deve continuar caindo.

cc

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COMUNICANDO 43

Couro ou sintético?

Os sapatos de couro são a preferência dos con-sumidores que frequentam as Lojas Andreolio de Bento Gonçalves. Segundo a geren-te-proprietária Jussara Lucia Andreolio Tomasini, “os cal-çados que têm mais saída são os de couro, pois são mais fá-ceis de conservar e possuem durabilidade maior”.

Na hora da compra, o consumidor questiona as di-ferenças dos materiais uti-lizados nos produtos. “De modo geral, ele quer estar na moda, mas sem investir tanto em um calçado”, avalia

Jussara. Segundo o represen-tante da empresa Ramarim, de Nova Hartz, Airton José Alf, grande parte do material sintético é importado. “As fábricas brasileiras importam 95% dos sintéticos da China, devido ao seu baixo custo”.

Para Maria Julia da Cruz, 48 anos, vendedora e grande consumidora de sa-patos, a qualidade do calçado aliada ao conforto e a apa-rência são características que pesam na escolha. “Quanto ao material, prefiro o couro, porque o sintético não deixa o pé transpirar”, observa.

Na hora da compra, o

consumidor questiona as

diferenças dos materiais

utilizados

FOTO

: JOSEAN

E MAZZO

LLA

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TEXTOS E FOTOS:Fernanda Tomazzoni V

ida de sapateiro não é fácil. Mui-tos deles entram nesse mundo ou para seguir uma tradição de fa-

mília já instalada no ramo, ou por necessidade. É comum, por exem-plo, que o desemprego seja o pon-to de partida para, sem alternativas e sem muito estudo, aproveitar as habilidades manuais e passar a criar e consertar os mais diversos tipos de sapatos. É o caso de Clei-

de Mara Matos, 38 anos, há dois na profissão. Ela abriu a sua sapa-taria por conta da necessidade de ganhar dinheiro em pouco tempo. Conta que uma vez, andando na rua, quebrou um taquinho de seu calçado e, por ser um calçado bom, levou para arrumar. Na hora em que foi buscar o calçado o sapatei-ro cobrou R$ 10. “Não demorou nem cinco minutos para arrumá-lo, aí vi que poderia ganhar dois reais por minuto e senti a necessidade de abrir uma sapataria”, afirma.

VIDA DE SAPATEIRO

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COMUNICANDO 45

“Muitas vezes o sapateiro vira psicólogo de seus clientes. As pessoas estão amarguradas

em casa e vêm aqui para bater um papo”.

A sapataria deCleide, que fica nobairroCruzeiro,chamaaatençãopelaorga-nização e capricho e, claro, o fato raro deter como proprietária umamulher, em ummercado ainda dominado pelos homens.Depoisdeumalongatrajetóriaprofissionalnocomércio,Cleideestavacansadaeque-riapartirparaoseunegóciopróprio.Comaajudadonamorado,teveaindicaçãodeumsapateiroqueaensinounoperíododejunhoa novembro de 2008, quando abriu a suasapataria.Elacontatambémquefezmuitasamizadesnessesdoisanosemquetêmasa-pataria,seusclientesviraramamigos.Mui-tas vezes eles vão visitar Cleide somenteparabaterumpapo.

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“As pessoas buscam qualidade em meu estabelecimento. Muitos dos

meus clientes vêm aqui apenas para me contar uma piada. Eu paro o meu

trabalho para ficar escutando”.

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Com o seu professor, Nelson Vaccari, que está na profissão há 38 anos, Cleide aprendeu, entre tantas coisas, que todo o material utilizado pode ser bem aproveitado. “Cada pedacinho de couro pode vi-rar num remendo” diz.

Nelson começou a sua vida de sapateiro no inte-rior de Caxias, onde arrumava os chinelões para ir à roça, mas como no interior não tinha como trabalhar, veio para a cidade grande ser sapateiro. Seus clientes variam de todas as faixas etárias e classes sociais. “As pessoas buscam qualidade em meu estabelecimento. Muitos dos meus clientes vêm aqui apenas para me contar uma piada. Eu paro o meu trabalho para ficar escutando”, conta.

Nelson acredita que os calçados hoje em dia es-tão durando muito pouco e afirma que, para o futuro, os calçados vão ser recicláveis. “Acho que a minha profissão vai ser extinta do mercado, pois aqui em Ca-xias não se encontra muitos sapateiros”.

A opinião é compartilhada por Cleide. Talvez

um indício esteja no maquinário utilizado. Ambos trabalham com máquinas utilizadas no século passado. Cleide comprou a sua máquina de costura num antiquário em Novo Hamburgo e diz que hoje em dia ela custa muito caro por ser antiga. Nel-son também utiliza como ferramenta de trabalho uma faca, um pé-de-moleque e uma lixadeira, ferramentas indispensáveis para o seu trabalho.

Mesmo com a liberdade que o negócio próprio pressupõe, os dois sapateiros revelam que suas jor-nadas, na prática, se estende muito mais além das oito horas comuns à maioria dos trabalhadores brasi-leiros. Eles começam cedo pela manhã e vão até tar-de da noite, sempre com a boa vontade de quem sabe que está colaborando para o bem-estar de seus clien-tes. Bem-humorado e muito disposto aos 63 anos, Nelson destaca a importância da alegria em tudo o que se faz: “A alegria é o fator principal para as coisas darem certo. Ganha-se bem para viver bem”, aconselha.

O passo a passo da alegria

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COMUNICANDO 48

AMBIENTE

DESEJO QUE VIRA LIXO

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COMUNICANDO 49

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COMUNICANDO 50

Exemplo africano

AMBIENTE

Objetos de desejo nos quatro cantos do mundo, os sapatos encan-tam por suas formas e cores e são itens de destaque no vestuário, principalmente para o universo feminino. O que geralmente não se percebe ao ver essas peças marchando por ruas e passarelas é para onde elas vão quando perdem a utilidade. A solução pode parecer simples, afinal, é fácil colocar tudo em uma sacola e deixar na li-

xeira na frente de casa, mas há muita coisa neste ciclo que não está diante dos olhos.

A confecção de um simples par de sapatos é um processo que envolve uma quantidade enorme de materiais, que têm diferentes destinos, e saber para onde vai tudo isso é tão importante quanto decidir qual é o modelo que combina melhor com aquele vestido lindo que você comprou na semana passada. Qualquer atenção dispensada ao meio ambiente é sempre bem-vinda.

TEXTOS:Vinni Biazzus

Claro que esse papo de ecologia já não é mais novidade, mas ainda há muita coisa para se fazer na questão da reciclagem de resíduos sólidos, principalmente no Brasil. Mesmo assim, não convivemos apenas com notícias tristes. Há motivos para sorrir, e a luz no fim do túnel permanece cintilante. A boa-nova é a recente lei, sancionada em agosto desse ano, que determina a Política Nacional de Resíduos Sólidos e foca de uma maneira mais abrangente a ideia de um desenvolvimento sustentável.

Um dos principais artigos da lei 12.305 estipula que todos os municípios da União devem desenvolver um plano de gestão integrada dos resíduos sólidos. Essas definições obrigam as empresas a reciclar corretamente todo o lixo produzido, e o setor calçadista também está incluso nisso. Evidentemente muitas empresas já tratavam dessa questão com a devida importância, mas nunca é demais tomar cuidado quando o tema é o planeta.

Os resíduos gerados na fabricação de sapatos podem ser facilmente reciclados pelas indústrias, mas os produtos que são dispensados pelos consumidores, por uma série de fatores, nem sempre têm seu fim ideal e acabam dificultando o processo de reciclagem.

Um artista plástico de Cabo Verde, arquipélago situado na costa ocidental do continente africano, transforma os calçados velhos e gastos, que seriam destinados para as latas de lixo, em impressionantes peças de artesanato. Albertino Francisco Silva utiliza praticamente todos os restos dos materiais, com isso evita gerar outros tipos de resíduos dispensáveis. Além de realizar este tipo de trabalho, ele também ministra cursos de reciclagem de sapatos, onde en-sina suas técnicas para jovens interessados em artes plásticas. Todo esse trabalho pode ser visto no blog do artista, o Arte Sapatos (www.arte-sapatos.blogspot.com).

Odisseia: uma das criações de Albertino Silva.

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COMUNICANDO 51

Cooperaçãocomo alternativa

Os grandes centros do país pos-suem sistemas e estruturas de reci-clagem mais adequados para suprir a demanda de resíduos gerada pelas indústrias. Mas quem realmente sofre quando o assunto é reciclagem são os pequenos municípios, que nem sem-pre contam com áreas adequadas para receber estações de reciclagem e ater-ros sanitários. Esse fato força as em-presas a enviarem seus resíduos para cidades vizinhas, que possam receber esses materiais, o que gera um custo elevado e pode fazer com que muitas dessas empresas não realizem a reci-clagem da forma correta.

Uma das soluções para esse pro-blema é a criação de cooperativas de indústrias que trabalham para monito-rar e reduzir o custo do processo de reciclagem. Um exemplo desse tipo de sistema pode ser encontrado em Farroupilha, na Serra gaúcha, onde 26 fábricas de calçados se uniram para criar a Cocafar, uma cooperativa que

tem a função de recolher e dar o des-tino certo aos resíduos de cada uma dessas indústrias.

Criada há três anos, a Cocafar possui um pavilhão onde os materiais são armazenados e separados de acor-do com a sua classificação e depois reciclados. Os resíduos secos, consi-derados Classe I, são comercializados para empresas de reciclagem da pró-pria cidade, e os materiais de Classe II, que são orgânicos, são enviados por caminhões autorizados para um aterro industrial, localizado na cidade de Estância Velha, na região Metropo-litana do Estado. Por mês são destina-das, em média, 30 toneladas de resí-duos para o aterro industrial.

Toda a atividade da coopera-tiva é legalizada e supervisionada pela Federação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que também é o órgão responsável pelo monitoramen-to de todas as ações que envolvam o meio ambiente.

Quem realmente sofre quando o assunto é

reciclagem são os pequenos

municípios

c

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