revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

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[ As mudanças climáticas... [ Na crise da mineração... Religião [ Vida Consagrada: os jovens respondem... ANO LXXXVII / Nº 3873 FEVEREIRO / 2016 olutador.org.br R$ 9,90 Casa comum nossa responsabilidade FOTO: TRATABR.WORDPRESS.COM

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Revista Católica de periodicidade mensal. Com artigos sobre a vida da Igreja e roteiros bíblicos, liturgicos e catequetéticos. Tema da CF 2016.

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Page 1: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

[ As mudanças climáticas...[ Na crise da mineração...

Religião [ Vida Consagrada: os jovens respondem...

Ano lxxxVii / nº 3873feVereiro / 2016

olutador.org.br

R$ 9,90

Casa comum nossa responsabilidade

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Page 2: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

A Campanha dos Devotos de Nossa Senhora da Piedade é uma força na ação evangelizadora e também no amparo aos mais pobres.

A partir da sua doação e amor, é possível transformar e melhorar muitas vidas. Com a sua ajuda, os serviços e o cuidado social com os mais pobres serão intensificados.

Para ajudar mensalmente, com qualquer quantia, entre em contato: (31) 3319-6111

facebook.com/eusoufacoparte A Revista da sua Família, em defesa da Vida e da Fé!

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Resposta aos leitores

Em atenção a vários leitores que nos ligaram, a partir desta edição, passamos a evitar os fundos es-curos e letras pequenas afim de facilitar a leitura. Agradecemos as observações que nos ajudam a tornar a Revista O Lutador mais acessível a todos. Mande-nos sem-pre suas sugestões.

Atenciosamente,

a Redação.

[ Jesus, amor maior...[ Guerras climáticas...

Juventude [ Ser feliz... um desafio

Ano lxxxvii / nº 3872JAnEiRo / 2016olutador.org.br

R$ 9,90

O cerco ao Papa

Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, comente no site e no facebook...

facebook.com/revistaolutador

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■ Revista digital

Para assinar:[email protected]

@ [ MOTIVAÇÃO“Neste ano de 2015 tive alegria de poder contar com valiosa motivação expres-sa na Revista O Lutador, pela qualidade de seus artigos, pela apresentação. Ro-go a Deus que permaneça iluminando o Redator desta conceituada revista para que continue neste trabalho colaboran-do na formação de nossos irmãos leito-res em 2016. Receba nossos votos de Feliz 2016 e parabéns pelo trabalho de vocês. Entrego um anexo que, se julgar de utilidade, podem aproveitar. É uma reflexão fruto da fé e da experiência.”[PE. José dE oLivEira da siLva

[email protected]

@ [ AGRADECIMENTO“Ao ler o ‘Lutador’, senti-me muito fe-liz pelas palavras sobre minha irmã An-neunyce. Estava junto com ela na Igreja da Boa Viagem na missa de lançamen-to da Revista ‘O Lutador’, onde Dom Jo-aquim Mól pronunciou palavras mara-vilhosas sobre a revista. Quero deixar aqui meu agradecimento pelo carinho e manifestação da redação e tenho cer-teza de que lá do Céu, ela nos ajudará a viver pelo Reino de Deus. Abraço fraterno!

[EmíLia moL starLing

Belo Horizonte, [email protected]

[ VOTOS (1)Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cris-to! A todos que trabalham e colaboram com O Lutador, desejo um Santo Natal e um abençoado Ano Novo!” ronaLdo BErnadEs andradEBelo Horizonte, MG

[ VOTOS (2)“Não podemos dormir a Noite Santa. De-vemos acordar para acolher os pobres da terra, os pequenos do Reino. Devemos viver, cada dia, a Noite Santa do Reino.” [dom PEdro CasaLdáLiga

[ As mudanças climáticas...[ Na crise da mineração...

Religião [ Vida Consagrada: os jovens respondem...

Ano lxxxVii / nº 3873feVereiro / 2016

olutador.org.br

R$ 9,90

Casa comum nossa responsabilidade

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Espaço do Leitor [ Escreva, envie seu e-mail, comente no site e no facebook...

“Vocês são uma lição de vida que ja-mais será apagada. O sonho de cons-truir uma família começou em 17 de fevereiro de 1950, quando vocês dis-seram “Sim” para o sacramento do matrimônio e agora já contam 66 anos. Assim aconteceu uma linda vi-tória do amor. O sentimento de vo-cês venceu os desafios, as diferen-ças e os obstáculos. Vocês nos mos-traram o trabalho caseiro, a escola e a Igreja como o rumo certo para as nossas vidas. E Deus foi genero-so ainda quando permitiu ao papai viver 90 anos, cercado de carinho de todos aqueles que o amam. Aqui estamos nós, seus oito filhos, suas noras, seus genros, seus netos e bis-netos, terceira geração do amor de vocês, tão queridos.”

[néria EstEr - Governador Valadares, MG

[ “Que neste Natal os sentimen-tos de paz, fraternidade e solidarieda-de inundem nossos corações e a harmo-nia da data se estenda por todos os dias do novo ano que se inicia. Na oportuni-dade, encaminho-lhes o meu novo livro ‘Tempos Sombrios – Escritos Políticos – 2015’, no qual apresento uma compila-ção de artigos que publiquei no decorrer deste ano. Agradeço a todos que cami-nharam conosco e desejo um 2016 com muita paz, saúde e alegrias.”[dEP. durvaL angELo – Belo Horizonte, MG

COMO OS PASTORES EVANGÉLICOS VEEM O PAPA?O LifeWays Research ouviu as opiniões de mil pastores evangélicos dos Estados Unidos sobre o Papa argentino Francis-co. A pesquisa apontou que, no geral, os pastores têm começado a gostar do Papa. Metade considera o líder católico um “irmão em Cristo”. Quase 4 em ca-da 10 dizem que o Papa, conhecido por sua humildade e preocupação com os pobres, tem tido um impacto positivo sobre as suas opiniões da Igreja Cató-lica. No entanto, metade dos pastores protestantes dizem que não valorizam opinião do Papa Francisco em questões de teologia. [EntrEvista ComPLEta:

www.Christianitytoday.Com

re Vis ta UltiM ato jan-fe V 2016

@ [ LIÇÃO DE VIDA

CuRSO dE CâNTiCOS 2016“Cantando o direito e a Justiça”. Em sintonia com a Campanha da Fraternidade Ecu-mênica 2016, aconteceu o Curso de Cânticos Litúrgicos Pastorais. Esta iniciativa, que nasceu há 43 anos, com o Pe. João Rodrigues e Mons. Raul Motta de Oliveira, é con-tinuada hoje pela “Equipe Pe. João”. O Curso, realizado nos dias 8 a 10 de janeiro, reuniu na Casa do Mobon, em dom Cavati, diocese de Caratinga, MG, mais de 260 participantes. Com muita disposição e grande calor, cantores, compositores e ins-trumentistas de várias paróquias de Minas e do Espírito Santo puderam ensaiar e aprender as músicas que, em sua quase totalidade, eram de compositores das pró-prias comunidades. Uma riqueza que enaltece a vida litúrgica da Igreja. Em cada edi-ção, a Revista O Lutador publica uma música na sessão “Juventude Encanto”. Confira!

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[ Expedienteo Lutador é uma publicação mensal do instituto dos missionários sacramentinos de nossa senhora

o LutadorISSN 97719-83-42920-0

FundadorPe. Júlio Maria De Lombaerde

superior geralPe. Aureliano de Moura Lima, sdn

diretor-Editor Ir. Denilson Mariano da Silva, sdn

Jornalista responsável Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn (MG086063P)

redatores e noticiaristas Pe. Marcos A. Alencar Duarte, sdn Pe. Sebastião Sant’Ana, sdn

Frt. Henrique Cristiano, cmm

Frei Patrício Sciadini, ocd, Frei Vanildo ZugnoDom Paulo M. Peixoto, Antônio Carlos Santini Pe. Reginaldo Manzotti

Colaboradores Vários

revisão Antônio Carlos Santini

Projeto gráfico e diagramação Valdinei do Carmo

assessoria de Comunicação Melt Comunicação

assinaturas e ExpediçãoMaurilson Teixeira de Oliveira

impressão e acabamentoGráfica e Editora O Lutador, Certificada FSC®,Praça, Pe. Júlio Maria, 01 - Planalto31730-748 - Belo Horizonte, MG - Brasil

telefax [31] 3439-8000 | 3490-3100

site olutador.org.br - facebook.com/revistaolutador

redação [email protected]

assinaturas R$80,00 / Brasilwww.olutador.org.brassinaturas@olutador.org.br0800-940-2377 - De 2ª a 6ª das 7 às 19 horas

outros países R$80,00 + Porte

Edições anteriores Tel.: 0800-940-2377

Correspondência Comentários sobre o conteúdo de olutador, sugestões e críticas: [email protected]: Praça Padre Júlio Maria, 01 - PlanaltoCEP 31730-748 - Belo Horizonte, MG - Brasil

As matérias assinadas são deresponsabilidade de seus autores, não expressam, necessariamente, a opinião de olutador. ]

Editorial

[ ir . dEniLson mariano, sdn

Casa Comum, nossa responsabilidade

Papel Certificado, o papel da revista!

Os papéis

desta revistasão oriundos de

empreendimentos florestais

que seguem normas

internacionais de reflorestamento.

t odos os anos a Igreja do Brasil propõe um exercício de comunhão eclesial que é a Campanha da Fraternidade. Este ano a Campanha será ecumênica. Trata-se de uma proposta abraçada pelas Igrejas que com-põem o CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs.

Somos convidados a somar forças na busca do saneamento bá-sico para todos. Creio que estamos diante de, pelo menos, dois grandes desafios: a comunhão dentro da Igreja e com as outras Igrejas cristãs, e a questão do saneamento básico, cuja falta prejudica a todos. Proble-mas comuns pedem esforços conjuntos, envolvimento de todos, pois a responsabilidade é comum: é minha, é sua, é nossa.

Quando se propõe a Campanha da Fraternidade, o desejo é que haja um esforço conjunto de toda a Igreja não apenas na reflexão e nas iniciativas de culto e oração sobre determinado tema, mas que, de fa-to, ações concretas possam sinalizar nossa conversão diante situação abordada pela Campanha. Infelizmente, muitos, sejam leigos, clérigos ou consagrados, e também vários grupos e movimentos na Igreja pare-cem ignorar a Campanha. Alegam até que ela desfoca a atenção do mis-tério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.

Bem entendida, porém, a Campanha da Fraternidade nos leva a contemplar o Cristo sofredor crucificado nas situações que ferem a vida e dignidade do ser humano nos dias e contextos atuais. Longe de des-focar, ela nos faz aprofundar nos mistérios Pascais do Redentor frente a uma situação ou realidade concreta que fere a vida, na qual o mesmo Cristo continua sendo crucificado hoje.

Toda Campanha da Fraternidade é um esforço de comunhão, de soma de forças e busca de objetivos comuns. Quando não se abra-ça a Campanha, a comunhão na Igreja fica também enfraquecida. Este ano, sendo uma Campanha Ecumênica, exigirá um esforço de comu-nhão ainda maior. Somos convidados a somar forças com outras Igrejas.

O desafio do saneamento básico e as consequências geradas com a sua falta são comum a todos. Abraçar esta Campanha fará um bem enorme a todos. Ainda mais quando, segundo avaliação da Confede-ração Nacional das Indústrias, o Plano Nacional de Saneamento vai so-frer atraso de pelo menos 20 anos. As metas do Plano previam chegar a 2023 com a universalização do serviço de água (100%) e, dez anos de-pois, com o de esgoto (cerca de 90%). No ritmo atual, estes percentuais somente serão alcançados em 2043 e 2053, respectivamente. Eis a im-portância de abraçarmos juntos esta Campanha da Fraternidade.

O lema da Campanha – “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24) – manifesta o dese-jo de Deus e atualiza o dever de todos nós cristãos, católicos e evangéli-cos, e todas as pessoas tementes a Deus, nos empenharmos na recons-trução da nossa Casa Comum de uma maneira justa, sustentável e ha-bitável para todos os seres humanos.E isso é pra começo de conversa.]

[ Campanha da Fraternidade

Ecumênica201606

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sumário [ olutador • REVISTA MENSAL • ANO LXXXVII • Nº 3873 • FEVEREIRO • 2016 •

[ As 14 obras 12

[ Campanha da Fraternidade

Ecumênica201606

[ o Coaching na evangelização 09

[ Na crise da mineração

46

[ vida Consagrada: 13

[ relembrando a dEi vErBum 50 anos depois

14

[ vale a pena ser padre hoje em dia? 20

[ igreja-comunidade 10[ transmitir a Boa nova

da família 16[ o envolvimento das

famílias do iniciando 18[ 2016 ano do Convite 22[ o catequista da

misericórdia de deus 23[ ofertar a vida 24[ Quebrar os potes 25[ a porta,

o parto, o porto... 26[ o que eles

pensam de nós? 27[ Comunidade:

sonho e realidade 30[ roteiros Pastorais 31[ o Lutador Kids 36[ guerras climáticas 44

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[ 6 • olutador [ fevereiro ] 2016

Casa comum, nossa responsabilidade

Campanha da Fraternidade Ecumênica–2016

João da siLva rEsEndE , sdn *

A CamPanha da FRateRnidade é o grande projeto de evangelização da Igreja do Brasil. Ela tem seu tempo forte no período da Qua-resma. Sua meta é

fortalecer a vivência da fraternidade e os laços comunitários de solidarie-dade através do nosso envolvimento em um tema concreto de nossa reali-dade. Trata-se de contemplar a Paixão de Cristo nos rostos sofredores apon-tados por uma realidade concreta que nos desafia.

Este ano a Campanha da Frater-nidade será ecumênica – CFE. Ela foi elaborada pelas Igrejas que fazem par-te do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs – CONIC, formado pelas Igre-jas: Católica, Cristã Reformada, Epis-copal Anglicana do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igre-ja Síria Ortodoxa de Antioquia, Pres-biteriana Unida.

Uma Campanha da Fraternidade Ecumênica vem reforçar a ideia de que a busca da paz e da harmonia do Pla-neta não é trabalho de um grupo iso-lado. É missão de todas as pessoas de fé e de boa vontade. O ecumenismo feito a partir da dor do povo nos une mais. Um apelo urgente vem do Papa Francisco: “Precisamos de um deba-

te que nos una a todos, porque o de-safio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas dizem respeito e têm impacto sobre todos”. (LS, 14)

O tema da CFE deste ano é: “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O le-ma é: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O cuidado com a casa comum nesta CFE será feito a partir de um problema concreto que afeta o meio ambiente e a vida de to-dos os seres vivos: Saneamento básico.

É dever de todos nós cristãos, cató-licos e evangélicos, reconstruir a Casa Comum de uma maneira justa, susten-tável e habitável para todos os seres hu-manos. O Papa Francisco, na sua car-ta Laudato Si’ – [Louvado Sejas], sobre o cuidado da Casa Comum, explicita de um modo mais amplo e profundo a questão colocada por esta CFE. Por isso, cada encontro desde estudo terá sempre um aceno a esta carta do Pa-pa. Será de grande proveito um estu-do atento deste documento.

Cultivar e guardar a terraA CFE nos vem recordar que temos a responsabilidade de “cultivar e guar-dar” esse jardim que é mundo, nosso planeta Terra (cf. Gn 2,7-15). Não so-mos proprietários do mundo. Somos cuidadores dele. Cuidar é mais que um ato, é uma atitude. Abrange mais que

[ Capa [ É missão de todas as pessoas...

Que tipo de mundo

queremos deixar

a quem vai suceder-nos,

às crianças que estão

crescendo?[ Papa Francisco ]

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[▶ olutador [ fevereiro ] 2016 • 7 ]

um momento de atenção. O cuidado inclui atenção permanente, preocu-pação, inquietação, responsabilidade e envolvimento com o outro. O con-trário de cuidado é descaso, descui-do, depredação.

O nosso cuidado com a casa co-mum deve ser testemunhado no em-penho de levar a efeito o objetivo prin-cipal da CFE: “assegurar o direito ao sa-neamento básico para todas as pesso-as e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsá-veis que garantam a integridade e o fu-turo de nossa casa comum”.

Assim nos alerta o Papa Francisco: “Que tipo de mundo queremos deixar

a quem vai suceder-nos, às crianças que estão crescendo? Esta pergunta não toca apenas o meio ambiente de maneira isolada, porque não se pode pôr a questão de forma fragmentária. [...] Se não pulsa esta pergunta de fun-do, não creio que as nossas preocupa-ções ecológicas possam alcançar efei-tos importantes. Mas, se esta pergun-ta é posta com coragem, leva-nos ine-xoravelmente a outras questões muito diretas: Com que finalidade passamos por este mundo? Para que viemos a esta vida? Para que trabalhamos e lu-tamos? Que necessidade tem de nós esta terra? Por isso, já não basta dizer que devemos preocupar-nos com as

gerações futuras; exige-se ter consciên-cia de que é a nossa própria dignidade que está em jogo”. (Laudato Si’, 160.)

saneamento básicoO problema da água em Jericó (2Rs 2,19-22) nos coloca frente a uma questão fun-damental em nossa sociedade: o sane-amento básico. Trata-se de um traba-lho coletivo que envolve autoridades, governos, órgãos públicos e privados, entidades não governamentais (ON-Gs) e a participação da população. O saneamento básico implica o desen-volvimento de uma política pública e social que cuida do abastecimento e do tratamento da água, da coleta de lixo, do tratamento de esgoto, do ma-nejo de águas de chuva, e o controle ambiental. Trata-se do melhor inves-timento em relação à saúde pública, o saneamento básico ou a falta dele, tem um efeito direto na qualidade de vida de uma população. Basicamente três situações são prioridade num sa-neamento básico: água, lixo e esgoto.

ÁguaDela depende a nossa sobrevivência e o futuro nosso e do planeta. Ela é um bem natural, vital e insubstituível. A ca-da dia cresce mais o seu uso e ela, ca-da vez, é mais escassa. A situação exi-ge cuidado, a crise não passou. Grande parte da população brasileira tem água tratada. Mas 37 % desta água é desper-diçada em vazamentos e usos indevi-dos. Cresce a poluição de nossas águas, através de mineradoras, produtos tó-xicos da indústria e da agricultura. A escassez da água está provocando no mundo uma corrida para a sua priva-tização. A água vai deixando de ser um bem comum para ser fonte de lucro.

lixoA produção de lixo doméstico e indus-trial é cada vez maior devido à cultura do descartável. Em quase todas as ci-dades existe coleta de lixo. O problema para o saneamento é o destino do lixo. Lixões - São grandes áreas a céu aberto onde é depositado o lixo das residên-

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cias, comércios e indústrias. Localiza-dos geralmente nas periferias das cida-des, estes lixões são responsáveis pela concentração de ratos, baratas e outros insetos, verdadeiros focos de prolife-ração de doenças, além do mau chei-ro que exalam.

Aterro controlado - É um depósi-to de lixo coberto de terra. Evita o mau cheiro e a proliferação de insetos. Mas, como não tem impermeabilização de base, não evita a contaminação do so-

não seca”. (Am 5,24.) Não é apenas uma frase isolada para ser citada. Ela deve ser refletida a partir do contexto da época de Amós, que tem muito a ver com a nos-sa situação hoje. A partir da iluminação de Amós, a CFE quer nos ajudar a fazer uma leitura da real situação de nosso saneamento básico. Por que há tanto interesse na privatização deste serviço?

A CFE não pode ser apenas um mo-mento em nossa vida de comunida-de. Ela deve ser como um riacho que

digam com as suas ações; será neces-sário insistir para que se abram nova-mente à graça de Deus e se nutram pro-fundamente das próprias convicções sobre o amor, a justiça e a paz. Se, às vezes, a má compreensão dos nossos princípios nos levou a justificar o abu-so da natureza [...], nós, crentes, pode-mos reconhecer que então fomos in-fiéis ao tesouro de sabedoria que de-víamos guardar”. (LS, 200.)

atitudes sugeridas pela CFe

1Educação para a sustentabilidade: Tomar consciência na correspon-

sabilidade de todos(as) na criação de novos hábitos em relação ao uso e reu-so da água, energia, uso de descartá-veis, coleta seletiva de lixo, reciclagem, destino do lixo e esgotos, não jogar co-mida fora. Esta educação é indispen-sável para a criação de uma socieda-de totalmente sustentável.

2Conhecer o Plano Municipal de Sa-neamento Básico e a criação do Con-

selho Municipal de Saneamento Básico. E procurar participar deste conselho para garantir sua efetividade.

3O texto base da CFE sugere um es-quema para uma ação mais concreta:– Não gerar lixo.– Se gerar, buscar minimizar tal

produção.– Agir sempre na possibilidade de

reutilizar.– Sempre que possível, reciclar.– Caso possa, tratar.– Não havendo outras possibilida-

des, buscar, de forma conjunta, uma deposição adequada em aterros sani-tários.

– Conscientizar as pessoas sobre a importância da coleta seletiva de lixo.

Não deixe de abraçar esta Campa-nha! Participe das iniciativas promo-vidas em sua paróquia e em sua co-munidade.]

* Missionário sacramentino de nossa senhora, trabalha com formação e animação de comunidades, MoBon, dom Cavati, MG. e-mail: [email protected]

dom Edson José orioLo dos santos*

[ Capa [ É missão de todas as pessoas...

lo e o lençol de água. Não trata o cho-rume nem o biogás.

Aterro sanitário - É um descarte de resíduos sólidos que utiliza técnicas buscando minimizar os impactos que o lixo provoca na natureza. Não faz reciclagem. Através de um consórcio municipal, vários municípios partici-pam de um mesmo aterro sanitário.

esgotoA coleta de esgoto está presente em 55% dos municípios brasileiros. Já o tratamen-to desses resíduos só é feito em 29% de-les. Cada município deve elaborar seu Plano de Saneamento Básico - PMSB. A coleta seletiva ainda é um desafio para o nosso saneamento básico. A tarefa da CFE é fazer com que o saneamento bá-sico seja a prioridade número um para os poderes públicos e para a população.

o direito e a justiçaO lema da CFE foi tirado da profecia de Amós: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que

corre sempre. Uma fonte sempre jor-rando, que impulsione nossas Igrejas a cuidarem do bem-estar das pessoas, a deixarem de lado uma religiosidade de fachada e distante das reais neces-sidades do povo. Deus não se agrada de ricas e bonitas celebrações quan-do elas desviam a atenção do povo das enormes injustiças sociais e ambien-tais. Bem nos recorda o profeta Oséias: “Pois eu quero amor, e não sacrifícios, conhecimento de Deus mais do que holocaustos”. (Os 6,6.)

O lema desta CFE deve ser uma mística que alimente uma espiritua-lidade libertadora. Esta espiritualida-de é a incorporação da sensibilidade de Deus que vê, ouve, conhece e des-ce para libertar seu povo (cf. Ex 3,7-8).

Palavra do Papa Francisco: “Qual-quer solução técnica que as ciências pretendam oferecer será impotente para resolver os graves problemas do mundo [...]; será preciso fazer apelo aos crentes para que sejam coerentes com a sua própria fé e não a contra-

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igreja hoje [ Precisamos garimpar...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 9 ]

Fala sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual e solidifica a máxima da “Igreja em saída”. A Igreja “em saída” é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido (cf. EG 46). Significa que todos podem participar, de alguma forma, da vida eclesial. Todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer (cf. EG 47).

Penso que esta máxima revela si-nais da eclesiologia do Papa Francis-co que tem suas raízes nas considera-ções do Vaticano II, aprofundadas na

Conferência de Aparecida. Na expres-são “Igreja em saída”, constatamos o acento eclesiológico da missionarieda-de. Manifesta uma eclesiologia conci-liar quando afirma uma Igreja povo de Deus, povo escolhido, convocado, com a missão de ser fermento de Deus no meio da humanidade (cf. EG 113-114).

Nesta dinâmica, exortando a uma nova evangelização na Igreja, o Papa quer que o anúncio traga algo relevan-te para a vida e não “quer correr o ris-co de falar ao vento” (EG 158). Apre-senta, assim, como interlocutor um

sujeito humano e histórico, criado à imagem e semelhan-

ça de Deus, que é movido pela sedução e liberdade.

Francisco coloca o “hu-mano” no centro da Evange-lii Gaudium. O ser humano é “criado à imagem da comunhão divina, pelo que não pode-

mos realizar-nos nem salvar-nos

sozinhos” (EG 178). Precisamos dos outros

para sermos nós mesmos, já que somos intersubjetividades.“Chegamos a ser plenamente

humanos quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mes-mos, a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro” (EG 8). Não sobrevi-vemos sem os outros, sem a natureza, sem o cosmos. O outro me convoca, me tira do fechamento em mim mesmo e, precisamente assim, permite um aces-so a mim mesmo.

Deus é aquele que devolve o senti-do da vida, é fonte de alegria porque é amor manifestado em Jesus Cristo (EG 7). No entanto, necessitamos de apro-fundar este “ser humano” para fazer a experiência cristã de Deus e forne-cer ferramentas para a evangelização.

Penso que o coaching pode nos ajudar nesta realidade. Coaching es-

tá-se tornando cada vez mais conheci-do no mundo da liderança, principal-mente, no meio empresarial. Trata-se de um conjunto de técnicas, metodo-logias e ferramentas com o propósito de melhorar significativamente os as-pectos da vida pessoal e profissional de alguém. O coaching ajuda no auto-conhecimento, no planejamento pes-soal, na potencialização de recursos, na eliminação de limitações e de blo-queios e na busca de benefícios.

Acredito que contribua para trans-formar sonhos em realidade através da boa formulação de objetivos, da melhor compreensão do pensamen-to e dos estilos de comunicação entre as pessoas. Gera rapport, confiança e empatia na comunicação. Leva a reco-nhecer como a linguagem exerce in-fluência sobre as pessoas, a melhorar a autoimagem e a autoconfiança. Ca-pacita o profissional para gerenciar o seu próprio desempenho e preparar pessoas para lidar melhor com as mu-danças ocasionadas pelo desenvolvi-mento do seu potencial.

Destarte, precisamos garimpar, nes-ta metodologia de resultados, sinais, luzes, caminhos, métodos, ações pa-ra que possa ajudar “a paróquia a não se tornar uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos” (cf. EG 28).

Esta metodologia de resultados vai fornecer ferramentas para a paró-quia ser “comunidade de comunida-des, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missioná-rio” (EG 28), o que significa um apelo para abraçarmos o projeto da CNBB: “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”.]

dom Edson José orioLo dos santos*

O Coaching na evangelização

* Bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte, mestre em filosofia social pela pUC Campinas. e-mail: [email protected]

o PaPa FRanCisCo nos deu a exortação apos-tólica Evangelii Gaudium (EG) como ecos das pro-posições do Sínodo so-bre a “Nova Evangeli-

zação para a Transmissão da Fé Cristã”. Mas, para surpresa, ele responde, nesta exortação, à sua leitura atual sobre a situ-ação da Igreja no mundo e as interven-ções feitas no conclave, em 2013.

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igreja hoje [ Em quê o Vaticano II mudou a Igreja [ 4 ]

[ 10 • olutador [ fevereiro ] 2016

em sua “volta às fontes” bí-blicas e patrísticas, uma das grandes mudanças do Vati-cano II foi o resgate de uma “Igreja-comunidade’ e a con-sequente superação do ve-

lho e caduco modelo de uma “Igreja-massa”. Da nova autocompreensão da Igreja como Povo de Deus, veio a passa-gem do binômio clero-leigos para co-munidade-ministérios, o surgimento da pastoral orgânica e de conjunto, a criação dos secretariados diocesanos de pastoral, dos conselhos e assem-bleias, das equipes de coordenação dos diferentes serviços e níveis da Igreja, enfim, os planos de pastoral, fruto de processos participativos. Na América Latina, a Igreja foi mais longe na recep-ção da renovação conciliar. Superan-do a paróquia tradicional, lançou-se na criação das comunidades eclesiais de base, segundo Medellín (1968), “fo-cos de evangelização e célula inicial da estruturação eclesial”. (Med 6,1.)

Hoje, passados cinquenta anos, de-pois de se ter avançado bastante, nas últimas décadas entramos num proces-so de “involução eclesial” em relação à renovação do Vaticano II, ainda que recentemente atenuado com instau-ração de um pontificado novo. Muitos padres, com determinados movimen-tos de Igreja, têm ressuscitado a velha Igreja barroca: uma Igreja massa, visi-

PE . agEnor BrighEnti

De uma igreja-massa a uma igreja-comunidade

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igreja hoje [ Em quê o Vaticano II mudou a Igreja [ 4 ]

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bilidade, prestígio e poder. Na contra-mão do modelo eclesial neotestamen-tário, em lugar de multiplicar o número das pequenas comunidades, preferem aumentar o tamanho de seus templos.

da igreja doméstica às paróquias massivasOs primeiros cristãos haviam enten-dido muito bem que a fé cristã é “ecle-sial”, isto é, vivência em comunidade da vida e obra de Jesus, que é o Reino de Deus. Quem aderia a Jesus e à Boa Nova, se juntava com os companheiros de fé, conformando pequenas comu-nidades, que se reuniam nas casas – a domus ecclesiae – ou a “Igreja domés-

cristianismo da mais alta qualidade. A prática da caridade causava admiração até ao Imperador. As escolas de cate-cumenato geravam cristãos converti-dos, com espírito de pertença e profe-tismo. E o sangue dos mártires era se-mente de novos cristãos (Tertuliano).

Com a anexação do cristianismo à sorte do Império romano e as “con-versões” em massa, rapidamente, já no século V, praticamente se perdeu tudo isso. As pequenas comunidades incharam de cristãos não-convertidos. Da Igreja nas casas, se passa para as pa-róquias, grandes templos, nos quais a assembleia dos irmãos vira massa anô-nima. Os fiéis, antes membros ativos

sada, assumiu o desafio de reconfigurá-la, a partir das comunidades eclesiais de base. Toma-se consciência de que a Igreja só será verdadeiramente comu-nidade se for comunidade de peque-nas comunidades. Uma comunidade eclesial, para ser realmente comunida-de, precisa ter tamanho humano, con-dição para a ministerialidade e a cor-responsabilidade de todos.

Para Medellín, não é a paróquia a unidade eclesial mais básica, mas as CEBs, denominada a “célula inicial da estruturação eclesial”. Para Aparecida, as CEBs descentralizam e articulam as ‘grandes comunidades’ impessoais ou massivas em ambientes simples e vitais. Elas são fonte e semente de variados serviços e ministérios, a favor da vida, na sociedade e na Igreja”. (DAp 179.)

Consequentemente, o desafio é mui-to maior do que simplesmente “reno-var a paróquia”. Renovar a paróquia é partir dela, criando “grupos” dentro da matriz e das capelas, sem que se chegue a configurar uma Igreja-rede de pequenas comunidades. Grupos e movimentos não são comunidade, são grupos. Podem e até precisam existir, mas desde que seus membros estejam dentro da comunidade.

Na realidade, o verdadeiro desafio consiste em “reconfigurar a paróquia”, o que implica em repensá-la a partir das comunidades eclesiais de base ou das pequenas comunidades, inseridas profeticamente no seio da sociedade. O resultado deste processo, até pode continuar sendo chamado de “paró-quia”, mas será outra coisa totalmente distinta, uma reconfiguração da Igre-ja no seio da Igreja Local, fruto do res-gate do modelo normativo neotesta-mentário da domus ecclesia.

Numa sociedade fundada no “triun-fo do indivíduo solitário”, não se trata de uma tarefa fácil. O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, fala de uma “cri-se do compromisso comunitário”, al-go contracultural, que encontra resis-tência, quase generalizada. Entretan-to, o cristianismo é portador de uma diferença, que precisa fazer diferença.]

tica”. Os primeiros cristãos viviam a fé em pequenas comunidades não por-que eram poucos. Tanto que, quando o número de pessoas da comunidade crescia, em lugar de aumentar o tama-nho da casa, repartiam a grande comu-nidade, criando outras pequenas co-munidades. No final da era apostólica, só em Roma, havia mais de quarenta destas Igrejas pequena-comunidade.

Como atestam os Atos dos Após-tolos, as pequenas comunidades per-mitiam aos cristãos serem assíduos na oração e partilha, tendo tudo em co-mum. Não que as primeiras comuni-dades não tivessem defeitos e proble-mas. Mas foi por causa deste modelo de Igreja que, nesse tempo, tivemos um

de comunidades, passam a ser clien-tes que só vêm à Igreja para receber os sacramentos. A maioria dos ministé-rios, inclusive o diaconato, desapare-ceu. A Igreja passa a ser os bispos e os padres, que comandam a massa dos cristãos (cristandade). A vida cristã tende a se restringir ao espaço intrae-clesial, a atos de culto. É a denomina-da por Medellín, “pastoral de conser-vação”, que reinará do início da Idade Média até à renovação do Vaticano II.

da paróquia a uma igreja de pequenas comunidadesPara uma Igreja-comunidade, o Vati-cano II propõe renovar a paróquia. A Igreja na América Latina foi mais ou-

o desafio é muito maior do que simplesmente “renovar a paróquia”.

Renovar a paróquia é partir dela, criando “grupos” dentro da matriz

e das capelas, sem que se chegue a configurar uma igreja-rede

de pequenas comunidades

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religião [ Quais são as obras de misericórdia?...

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DesDe o início do seu pontificado, o Papa Francisco se apre-sentou como o Pa-pa que vem do fim do mundo, o Papa dos pobres e da miseri-

córdia. Um dia ele disse publicamen-te: “Estou lendo um livro de um meu irmão cardeal, sobre a misericórdia, e me faz muito bem”. Este irmão cardeal é o Cardeal Walter Kasper, que escre-veu “As 14 obras de misericórdia”, sem dúvida um livro belo e interessante, que todos deveríamos ler.

Não sei se foi publicado em por-tuguês, porque agora vivo na terra das pirâmides, no Egito. Eu li o livro e me fez e me faz bem, para compreender o que é a misericórdia, uma palavra que se presta a interpretações sentimentais ou a uma leitura distante da vida, que não toca o nosso coração. Na verdade devemos fazer desta palavra, neste Ano da Misericórdia, uma chave de leitura e de prática da vida de todos os dias.

Deus não pode deixar de ser o Deus misericordioso, isto é, que se abaixa sobre os sofrimentos do ser humano e desce para libertar-nos de todo mal, dá-nos um coração de carne, cheio de ternura e de bondade. A misericórdia não pode ser um sentimento que nos comove um minuto e, depois, volta-mos a ter um coração de pedra, duro.

O profeta Ezequiel nos fala de um transplante de coração: “tirarei o teu co-ração de pedra e te darei um coração de carne”. Uma imagem forte da palavra de Deus. Terrível é ter um coração de pedra, isto é, um coração que se comove por um minuto e, depois, esquecemos. São lágri-mas de crocodilo e uma pele de jacaré.

de beber a quem tem sede; vestir os nus; dar abrigo aos peregrinos; assi-stir aos enfermos; visitar os presos; enterrar os mortos.

Obras de misericodia espirituais: instruir; aconselhar, consolar, confor-tar, perdoar, suportar com paciênc-ia e rogar pelos vivos e pelos mortos.

Não e difícil recordá-las. E sempre encontraremos ao nosso lado pesso-as que têm necessidade de nossa aju-da. Mas, especialmente, devemos re-conhecer que nós somos as primeiras pessoas que necessitamos de encon-trar alguém que tenha misericórdia de nós e nos estenda a sua mão para levantar-nos do desânimo, do sofri-mento, e retomar o caminho com es-perança e com alegria.

Pode ser que, durante este ano, nós vamos meditar juntos estas obras, para poder praticá-las melhor. Vamos, portanto, gravá-las no coração e na mente. Se nós paramos um pouco e observamos com os olhos do coração a vida que nos circunda, vemos que o ser humano é cada vez mais “adora-dor das leis, da justiça”. Escuta-se por aí uma frase terrível: “errou, deve pa-gar!” A linguagem de Deus é diferen-te: “errou, está perdoado, recomece o caminho... e pague um pouco para não cair de novo”. É a linguagem da misericórdia.

A porta da misericórdia, que de-ve ser aberta, não é só a da Igreja, mas especialmente a porta do nosso co-ração, para que todos os que espe-ram o nosso perdão possam encon-trá-lo, recebê-lo. E nós receberemos o perdão de Deus e dos que temos ofendido. A cada dia, somos ofen-didos e ofendemos. E o único remé-dio é o perdão.]

As 14 obras de misericórdia

FrEi PatríCio sCiadini , oCd

Durante este ano devemos prati-car todos os meses duas obras de mi-sericórdia, uma obra de misericór-dia corporal e uma espiritual, e es-colher um mês em que devemos vi-ver quatro obras. Mas sabemos quais são as obras de misericórdia? Às ve-zes as conhecemos mais ou menos, mas não em profundidade, e não fa-lam forte ao nosso coração e sensibi-lidade. Ei-las:

Obras de misericórdia corporais: dar de comer a quem tem fome; dar

a porta da misericórdia, que deve ser aberta, não é só a da igreja, mas especialmente a porta do nosso coração

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a explosão de rebeldia dos anos 60, a maré baixa do pós-Concílio, a on-da materialista, a inun-dação do hedonismo e a descristianização das famílias têm sido

apontadas como causas da falta de vo-cações religiosas. Mas as coisas estão mudando. Muitas instituições regis-tram um crescimento vocacional, seja nas congregações tradicionais, seja no seio das Comunidades Novas.

Um exemplo é o da Comunidade Aliança de Misericórdia, com sede em São Paulo. Em 7 anos de existência, os fundadores já haviam atraído 300 jo-vens missionários, muitos deles com formação universitária. Hoje, com 15 anos de vida, a Comunidade já conta com 11 sacerdotes ordenados e vários seminaristas a caminho das ordens.

Outra fonte inesgotável de voca-ções consagradas é o Caminho Neo-catecumenal, que rapidamente se es-palhou por todo o planeta. Autoriza-do pela Santa Sé, abriu seus próprios seminários, já insuficientes para aco-lher os candidatos. No dia 26 de março de 2010, em Roma, 320 rapazes e 200 moças do Caminho Neocatecumenal acolheram o chamado a doar totalmen-te suas vidas ao Senhor, com vistas ao sacerdócio e à vida monástica. Parti-ciparam do encontro, na praça S. Pe-

dro, em preparação à XXV Jornada da Juventude - JMJ, mais de 26 mil jovens.

deus continua chamandoSe os candidatos ao sacerdócio e à vi-da consagrada estavam escassos, não é porque Deus não estivesse chamando. Recente pesquisa realizada por Opinion Way, a pedido da Conferência dos Reli-giosos e Religiosas da França, publicada com exclusividade pelo jornal católico “La Croix”, revelou que a imagem da vida religiosa tem evoluído favoravelmente naquele país, em especial entre os jovens.

os dados podem impressionar

Dez por cento dos franceses já pensaram em ser monge ou freira. O percentual so-be a 15% entre os jovens na faixa de 18 a 24 anos de idade, e a 14% entre 18 e 24. Conforme diz o Pe. Jean-Pierre Longe-at, “ainda que, para alguns, tenha apenas aflorado em seu espírito, isto quer dizer que as vocações existem”.

a escolha que assustaOuvido o chamado, as dificuldades se oferecem, diz a pesquisa: o desejo de formar uma família (58%), o medo de se comprometer por toda a vida (25%) ou de não conseguir ser fiel aos compromis-sos assumidos (12%). O aspecto radical

da vida a ser assumida elimina previa-mente muitos eventuais candidatos.

No entanto, entre os jovens que aco-lheram o chamado e professaram os vo-tos religiosos, a imagem é bem positi-va: sentem-se úteis à sociedade (85%) e próximos da realidade (93%). Predo-mina o sentimento de que sua vida e seu ministério são realmente preciosos.

Segundo o Anuário Pontifício 2013, “o número de padres passou de 405.067 em 2001 para 413.418, dez anos depois, aumen-to sustentado pelos continentes africano (39,5%) e asiático (32,0%), que compen-sam a diminuição de sacerdotes na Europa (menos 9%). Esta tendência deverá manter-se nos próximos anos, dado que há mais seminaristas em todo o mundo (7,5%), com destaque para África (30,9%) e Ásia (29,4%); na Europa, os candidatos ao sacer-dócio são menos 21,7% do que em 2001”.

Entre os fatores que teriam reanimado as vocações entre jovens, são apontados a ação da pastoral vocacional, a Jornada Mundial da Juventude, os encontros de Taizé, retiros e peregrinações. (ACS)]

Vida Consagrada: os jovens respondem...

Em baixa desde os anos 60, as vocações à vida consagrada

começam a surgir de novo. Os jovens são os mais sensíveis

a esse apelo

religião [ Ouvido o chamado...

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dom PauLo JaCKson n. sousa*

PaReCe bastante natural que, hoje, tenhamos duas mesas nas igrejas – a me-sa do pão (altar) e a mesa da palavra (ambão) – com igual dignidade. Mas, houve

tempo em que não foi assim. Até pou-quíssimo tempo, a Igreja continuava a assegurar a autoria de Moisés para o Pentateuco e novelas edificantes pre-sentes na Bíblia eram tidas como livros absolutamente históricos.

A Bíblia, no século XVI, foi toma-da como elemento de identidade das Igrejas da Reforma. Fazendo a sua pró-pria reforma, a Igreja Católica, no iní-cio, teve dificuldade de lidar com a Bíblia, ao menos no que diz respei-to ao grande público. Ela estava pre-sente em conventos, mosteiros e se-minários. Era praticamente coisa pa-ra bispos e padres. Somente recente-mente é que começou a ser devolvi-da ao povo.

Entre as Igrejas da Reforma, a exe-gese bíblica científica começou bem antes. Os católicos tiveram que recu-perar o tempo perdido. O surgimento, o avanço e o uso maciço de algumas ciências, tais como a crítica textual e literária, a filologia, a hermenêutica, a arqueologia, a história, a epigrafia,

a história das religiões comparadas, entre outras, deixou um legado impor-tantíssimo para a redescoberta da Bí-blia no ambiente católico.

Na Segunda Guerra mundial, cató-licos e evangélicos se colocaram dian-te do absurdo e do horror do Nazismo. Houve uma nova busca de sentidos. Per-

relembrando a DEi VErbum 50 anos depois

o processo de redação da dei Verbum

é talvez o mais conturbado do Concílio Vaticano ii.

Passou por sucessivas etapas e por muitas disputas

Bíblia [ Os católicos tiveram que recuperar o tempo perdido...Bíblia [ Os católicos tiveram que recuperar o tempo perdido...

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cebeu-se que o inimigo era outro e que as várias igrejas e comunidades cristãs tinham muito mais pontos em comum do que discordantes. Nos campos de concentração ou na clandestinidade, tentando reler as origens da Europa destruída por duas grandes guerras, surge um imenso movimento ecumê-nico em favor da paz. Percebe-se que a vida humana está acima dos credos. E a Palavra de Deus vai sendo gradativa-mente descoberta como veículo pro-motor deste movimento em favor da unidade. Assim, o movimento bíblico se associa ao movimento ecumênico.

A Providentissimus Deus convidou os estudiosos católicos a adquirirem competência científica para o estudo da Bíblia por meio do conhecimento das línguas antigas e da exegese cien-tífica. A Divino Afflante Spiritu desta-cou o alcance teológico do sentido li-teral e dos gêneros literários, ligando, assim, a interpretação científica da Bí-blia com o objetivo pastoral e espiritu-al. O sentido espiritual deve apresentar

garantias de autenticidade: a simples inspiração subjetiva não é suficiente.

Numa palavra: a Igreja afirma Jesus Cristo, Deus e homem. Estas duas en-cíclicas rejeitam a ruptura entre o hu-mano e o divino, entre a investigação científica e o olhar da fé, entre o senti-do literal e o sentido espiritual, man-tendo-se a plena harmonia do Mistério da Encarnação. Esse é o clima que pre-domina na preparação da Dei Verbum, o documento sobre a revelação e a Pa-lavra de Deus do Concílio Vaticano II.

O processo de redação da Dei Ver-bum é talvez o mais conturbado do Con-cílio Vaticano II. Passou por sucessivas etapas e por muitas disputas. O Con-cílio foi anunciado no dia 25/01/1959 por João XXIII. Ficou logo claro que o Papa queria um concílio com índole pastoral. Foram criadas as comissões de trabalho, entre elas, a Comissão Teo-lógica, responsável pela reflexão sobre a revelação. Mas havia outra força que refletia a partir da Palavra de Deus: o Secretariado para a Unidade dos Cris-tãos, tendo à frente o Cardeal Bea.

O primeiro esquema para a Dei Ver-bum, preparado pela Comissão Teológi-ca, chamou-se De fontibus Revelationis [Sobre as fontes da Revelação]. Foi dura-mente criticado por amplos setores do episcopado por dois motivos: segue a ideia de uma Igreja inimiga da moderni-dade; era um típico produto da concepção escolástica, sem preocupação pastoral.

Em suma, o esquema era uma traição da intenção do Papa, pois não fugia ao an-tiprotestantismo ultrapassado. As críticas vieram, sobretudo, de teólogos germâni-cos – entre eles: Schillebeeckx, Rahner e Ratzinger –, da parte do Secretariado para a Unidade dos Cristãos e dos episcopados da Europa Central, especialmente Ale-manha, Holanda, França e Bélgica. Mui-tos estavam descontentes com o centra-lismo curial e com a preparação do Con-cílio como tal. O esquema não resistiu.

Se você quiser saber o que aconteceu depois deste primeiro esquema da Dei Verbum, leia o artigo da próxima edição.]

* Bispo da diocese de Garanhuns e doutor em teologia Bíblica

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[ Concílio Vaticano ii ]– 2ª edição –

A celebração dos 50 anos da Aber-tura do Concílio Vaticano II (11-10-1962), oferece uma oportunidade sin-gular para conhecermos, em maior profundidade, sua história e seu ri-quíssimo legado.

Mergulhar na herança do Vati-cano II nos faz ser mais Igreja, tor-nando-nos homens e mulheres que querem ser verdadeiros discípulos-missionários, experimentando que exatamente nessa condição serão felizes e encontrarão o sentido ple-no de sua existência.

Bíblia [ Os católicos tiveram que recuperar o tempo perdido...Bíblia [ Os católicos tiveram que recuperar o tempo perdido...

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Pesquisas diversas têm mos-trado que, depois de Deus, a família ocupa o primeiro lugar no coração das pes-soas. Assim também com-preende o Documento de

Aparecida ao considerar a família “o valor mais querido por nossos povos” (DAp, 435). O Instrumentum Laboris do Sínodo Ordinário foi além: “Um gran-de número de Conferências Episcopais faz notar que, onde se transmite com profundidade o ensinamento da Igre-ja (sobre a família), com a sua genuí-na beleza humana e cristã, este é acei-

to com entusiasmo por grande parte dos fiéis”. (IL, 13.) Por sua vez, o Papa não se cansa de pedir que, com lin-guagem atraente e jubilosa, seja anun-ciada às novas gerações esta Boa No-va da família.

o Papa e a igreja fazem o apelo Na homilia de abertura do Sínodo Or-dinário da Família (4/10/2015), o Papa Francisco já destacava a importância da formação das novas gerações “pa-ra viverem seriamente o amor, não como pretensão individualista base-ada apenas no prazer e no ‘usa e jo-

ga fora’, mas para acreditarem nova-mente no amor autêntico, fecundo e perpétuo, como o único caminho para sair de si mesmo, para se abrir ao outro, para sair da solidão, para vi-ver a vontade de Deus, para se reali-zar plenamente, para compreender que o matrimônio é o espaço onde se manifesta o amor divino, para de-fender a sacralidade da vida, de to-da a vida, para defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo con-jugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o ser humano tem de amar seriamente”.

Transmitir a Boa nova da família às novas gerações

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No discurso de encerramento (24/10/2015), sugeriu “uma pastoral familiar renovada, que esteja baseada no Evangelho e respeite as diferenças culturais; uma pastoral capaz de trans-mitir a Boa Nova com linguagem atra-ente e jubilosa e de tirar do coração dos jovens o medo de assumir compromis-sos definitivos”.

o que Jesus Cristo traz à família?O Papa Francisco, ao convocar os dois Sínodos sobre a família (2014 e 2015), pediu que as assembleias sinodais não se reduzissem a debates sobre as cri-ses impostas pela cultura atual, mas que se buscasse, acima de tudo, ofe-recer a “Alegria do Evangelho” às fa-mílias concretas, sofridas, mergulha-das em crises profundas, para que elas tenham um horizonte de esperança e possam vislumbrar o projeto maior, que Jesus Cristo lhes oferece. Não é ópio nem propaganda enganosa. So-bretudo aos jovens deve ser anuncia-do que, no projeto de Jesus, estão in-cluídos não só desafios, sofrimentos, cruzes, calvários, mas a alegria do ver-dadeiro amor, do sentido pleno da vi-da, da liberdade, da felicidade presen-te e futura, da colaboração na obra do Criador e Redentor, da identida-de “divina” da qual a família é chama-da a ser sinal.

“Família, torna-te aquilo que és!” – é o convite de São João Paulo II (FC, 17), ao mostrar que, no plano divi-no, a família descobre a sua identi-dade (ser comunidade de vida e de amor) e sua missão (revelar e comu-nicar o amor de Deus pela humani-dade e o amor de Cristo pela Igreja, sua esposa).

Na Carta às Famílias [1994], afir-mava: “À luz do Novo Testamento, é possível entrever como o modelo ori-ginário da família é buscado no pró-prio Deus, no mistério trinitário da sua vida. O Nós divino constitui o mo-delo eterno do nós humano; daque-le nós, antes de tudo, que é formado pelo homem e pela mulher, criados à imagem e semelhança divina”. (Nº 6.)

unidos eucaristia e matrimônioDom Jean Lafitte, secretário do Pon-tifício Conselho para a Família, em conferência em Salvador, Bahia (7/10/11), destacou a contribuição de Bento XVI para realçar a Boa No-va da família.

Na Exortação pós-sinodal Sa-cramentum Caritatis – sobre a Eu-caristia, fonte e ápice da vida da Igre-ja (22/02/2007) –, o Papa emérito consagrou três parágrafos (27–29) à união inseparável entre Eucaristia e Matrimônio. Mostrou, em primeiro lugar, a Eucaristia como sacramento nupcial; em seguida, o laço que une a Eucaristia ao Matrimônio, de um

poligamia e a questão dos divorcia-dos em segunda união. “O parágra-fo 28 fundamenta, com muita suti-leza de expressão, a incompatibili-dade entre a prática poligâmica, re-ferindo-se à qualidade exclusiva da união Cristo-Igreja: o laço fiel, indis-solúvel e exclusivo, que une Cristo e a Igreja, e que encontra sua expres-são sacramental na Eucaristia, des-cobre esse dado antropológico ori-ginal, pelo qual o homem deve estar unido, de modo definitivo, a uma só mulher, e vice-versa.”

O testemunho das famíliasPapa Francisco, Bento XVI, São João Paulo II, Beato Paulo VI, o Concílio Va-ticano II (Gaudium et Spes), os Síno-dos da Família (2014 e 2015), o Docu-mento de Aparecida e todo o magis-tério da Igreja, todos têm ressaltado a importância do testemunho alegre e entusiasta das famílias cristãs. Isto pode significar muito para que as no-vas gerações possam acreditar na Boa Nova da família.

Encerramos com um trecho da mensagem de Bento XVI às famílias de Zagreb, na Croácia (5/06/2011): “Queridas famílias, sede corajosas! Não cedais à mentalidade seculari-zada que propõe a convivência como preparação ou mesmo substituição do matrimônio. Mostrai com o vos-so testemunho de vida que é possí-vel amar, como Cristo, sem reser-vas, que não é preciso ter medo de assumir um compromisso com ou-tra pessoa. Queridas famílias, ale-grai-vos com a paternidade e a ma-ternidade! A abertura à vida é sinal de abertura ao futuro, de confian-ça no futuro, tal como o respeito da moral natural, antes que mortificar a pessoa, liberta-a!”]

* assessor da pastoral familiar e pároco de são sebastião, espera feliz, MG.

Família [ Queridas famílias, alegrai-vos...

lado pela unicidade, de outro, pela indissolubilidade deste sacramento.

O primeiro parágrafo (27) serve de fundamento aos outros dois: a Eu-caristia reforça, de maneira inesgotá-vel, a unidade e o amor indissolúveis de todo matrimônio cristão. Em vir-tude do sacramento, o laço conjugal é intrinsecamente ligado à unidade eucarística entre o Cristo esposo e a Igreja esposa (perfeita a referência paulina a Efésios 5, 31-32).

Foram tiradas, a partir daí, du-as implicações imediatas, decisivas no plano pastoral, sobre dois temas que os últimos Sínodos (2014 e 2015) não conseguiram evitar: a questão da

[ o Papa não se cansa de pedir que,

com linguagem atraente e jubilosa, seja anunciada às novas gerações esta Boa nova

da família

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Catequese [ O ponto de partida da catequese é a vida do iniciando...

a inspiração catecumenal [2

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o lugar essencial da Palavra de deusA Palavra de Deus, escrita na Bíblia e na vida, precisa ocupar um lugar de desta-que na catequese, pois o seu conheci-mento e a sua meditação ajudam o ini-ciando a perceber a história de salvação que continua hoje e a presença constan-te de Deus na vida na sua história pesso-al, com força de libertação. Inseridos na mais antiga e rica tradição cristã, cabe-nos salientar a importância da Palavra de Deus como despertadora da fé e mobili-zadora de conversão: “Logo, a fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo”. (Rm 10,17.)

PE . vaniLdo Paiva *

É na Família que o catequi-zando convive boa parte de seu tempo e é lá que prefe-rencialmente se dará o tes-temunho cristão. Descobrir

meios para envolver e atingir a família daqueles que são acom-panhados no proces-so de iniciação é de grande importância, principalmente em nos-so tempo, quando nos deparamos com novas configurações familiares.

Urge que a pastoral orgânica assu-ma o acompanhamento das famílias do iniciando, de tal modo que ela também cresça na mesma proporção e possa ser sementeira fértil, onde se desenvolvam cristãos convictos e coerentes com sua fé. Entendendo a Iniciação Cristã co-mo essencialmente missionária, não dá para ficar entre as quatro paredes da igreja aguardando que venham a nós as famílias. Cumpre-nos imbuir-nos da “mística do Bom Pastor”, que hoje certamente deixaria uma ovelha no redil para ir em busca de noventa e nove que estão dispersas e feridas pe-los caminhos da história.

Catequese a partir da vida e para a vida do iniciandoO ponto de partida da catequese não é o livro, nem as definições teológicas, mas sim, a vida do iniciando. O acom-panhamento personalizado e o bom senso do iniciador/catequista permi-tem uma consideração do iniciando a partir de seu contexto, de sua realidade social, econômica, política, cultural, religiosa, existencial... Se o processo de iniciação não incidir na vida, não a transformar, se envidarão muitos es-forços por quase nada!

Processo gradual e permanenteO processo catequético precisa res-peitar o desenvolvimento natural da pessoa, em seus aspectos essenciais. Absorver, introjetar e assumir certos

conteúdos fortes e relevantes demanda tempo, paciência, construção diária, foco no essencial. Por isso fala-se de catequese permanente, desde o útero materno até a hora da morte! Acolhi-da e sustentação do cristão no cami-nho de Jesus Cristo são duas dimen-sões que não podem ser esquecidas por nenhum itinerário de iniciação e evangelização.

Mais uma vez apontamos para a necessidade de uma pastoral orgâni-ca, centrada nos objetivos da iniciação, que proporcione ao caminhante possi-bilidades de se reconhecer membro da comunidade continuamente alimen-tado e sustentado por ela, que siga feliz o seu caminho, como aquele servo da rainha da Etiópia, evangelizado e bati-zado por Filipe (cf. At 8,26-39).

Isso requer a sensibilidade da co-munidade e do iniciador/catequista para que respeite o tempo, o “kairós” de cada iniciando, sem pressões para que tome decisões, receba sacramen-tos ou assuma trabalhos na comuni-dade. Esse elemento também reforça a ideia de uma catequese mais perso-nalizada, que acompanhe melhor a di-versidade do ritmo de crescimento de cada um, sustente itinerários diversi-ficados conforme as várias faixas etá-rias dos iniciandos, e conheça as suas dificuldades no discernimento e ade-são ao projeto de Jesus.

Uma catequese reducionista e a pre-ocupação extremada com as espécies eucarísticas são responsáveis pela pou-ca atenção à Palavra, não reparando na veneração equiparada que o Concílio Vaticano II destacou entre as duas mo-dalidades da mesma e única presença do Cristo, Pão do Céu a alimentar os fiéis.

a Palavra de deus como despertadora

da fé e mobilizadora de conversão

Page 21: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

Catequese [ O ponto de partida da catequese é a vida do iniciando...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 19 ]

a unidade teológica dos sacramentos de iniciação CristãNos primeiros séculos do Cristianismo, quem queria tornar-se cristão fazia uma caminhada séria de iniciação, permeada por ritos, encontros humanos, aprofun-damento da Palavra, inserção na comu-nidade e testemunho na vida cotidia-na. E os sacramentos de iniciação eram celebrados numa festa só, na solene li-turgia da Vigília Pascal. Historicamen-te, isso muda com a obrigatoriedade do cristianismo pelo Império Romano. A unidade sacramental se fragmenta, e até hoje os sacramentos do Batismo, Cris-ma e Eucaristia são celebrados e, infe-lizmente, entendidos separadamente.

Se, cronologicamente, será difícil conseguir uma unidade dos Sacramen-tos de Iniciação, importa que o inician-do perceba a unidade teológica que há entre eles, não fragmentando as vivên-cias sacramentais ou isolando um do outro, sob pena de vincular-se efeti-vamente a nenhum deles e empobre-cer a vida cristã.

Compromisso sociotransformadorO princípio de interação Fé-Vida, fun-damental característica da Cateque-se Renovada, na mais fiel tradição da Igreja latino-americana, é princípio que deve iluminar todo itinerário de iniciação cristã, garantindo que a op-ção preferencial de Jesus Cristo pelos pobres e marginalizados seja sempre atualizada e assumida no testemunho do cristão amadurecido e implicado com sua fé.

É na vivência do compromisso sociotransformador da sua realidade que o iniciando (e iniciado!) vai dan-do sinais de adesão a Jesus Cristo e ao seu projeto de justiça, vida e fraterni-dade, especialmente em nosso con-tinente marcado pela exclusão social e pelo desrespeito à vida de tantos ir-mãos empobrecidos, muitos na linha de miséria. Ênfase seja dada à defe-sa da qualidade de vida no planeta e a ações transformadoras que garan-tam ao ser humano a dignidade e a vi-da em plenitude.

educação para o ecumenismo e para o diálogo ReligiosoEm um mundo globalizado e plural, no qual a diversidade é cada vez mais en-tendida como valor e riqueza, é de gran-de importância que o cristão maduro na fé assuma atitudes de respeito e va-lorização das diferenças individuais e de grupos, especialmente religiosos. O processo de iniciação deve colaborar na educação do cristão para que este sai-ba acolher o seu próximo sem precon-ceitos, abrir-se ao diálogo religioso e a perceber as sementes do Reino de Deus espalhadas em todos os povos e culturas.

Consciente de sua fé católica, mas sem fundamentalismos ou proselitismos, a pessoa que trilha o caminho da inicia-ção cristã é o homem/mulher da paz, do entendimento e, sobretudo, do amor que a todos aproxima, muito além das divisões sociológicas ou culturais da reli-gião ou de qualquer outro partidarismo.

ConclusãoPentecostes acontece toda vez que a Igreja acolhe, com renovado entusias-mo e ardor missionário, as inspirações do Espírito, que “sopra onde quer” e quando quer, e “renova a face” da Igre-ja e do mundo. Retomando um pensa-mento inspiradíssimo de João XXIII a respeito de seu empenho pela realiza-ção do Concílio Vaticano II, podemos fazer ecoar também hoje, quando o mes-mo Espírito nos sugere mudanças, esta certeza: “Não é o Evangelho que muda; nós é que começamos a compreendê-lo melhor. Chegou o momento de reco-nhecer os sinais dos tempos, de apro-veitar a oportunidade e olhar longe”.

É hora de olharmos para um ho-rizonte que nos encanta, ao mesmo tempo que nos atrai. Ele nos encan-ta, pois nos faz vislumbrar uma Igreja mais madura e mais fiel ao projeto de Jesus. Atrai-nos pela imperiosa tare-fa que temos de assumir, jamais como um peso, mas sim, com paixão, gosto, afeto, arte e alegria...]

* especialista em Catequese e liturgia e professor do irpaC

Page 22: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

Juventude [ Ser Padre...

[ 20 • olutador [ fevereiro ] 2016

dionE aFonso*

Com uma inquietação bastante presente no meio dos que se dedicam à vida religiosa, Mons. Guiller-mo Meguizo Yepes, em vista da celebração dos

seus 50 anos de sacerdócio, publica, em 2007 a sua obra “¿Vale la pena ser sacer-dote hoy?” [Vale a pena ser padre hoje em dia?]. São cinquenta anos de expe-riência ministerial que enriquecem es-te livro. Yepes pretende, através de seu estilo original, suscitar uma esperança no âmbito ministerial. “Questiono-me se vale a pena ser sacerdote hoje, apesar dos pesares, apesar das circunstâncias dolorosas, apesar do contexto socioecle-sial adverso, apesar do desencanto que nos invade por toda a parte.”

Sua obra culmina com o encerra-mento do V CELAM – Conferência Epis-copal Latino-americana e Caribenha – e traz reflexões pertinentes diante de um contexto histórico abrangendo a cami-

nhada da Igreja até apresentar os desa-fios que nos angustiam na era pós-mo-derna, sobretudo a crescente crise de sentido que assola o ser humano hoje. Onde fica a motivação vocacional dian-te disso? Como ficam os jovens de hoje, diante dessa crise de pobreza de senti-do da vida? Como o sacramento da Or-dem é visto hoje?

Para conduzir o povoO sacramento da Ordem é constituído de três graus: o diaconato, o presbitera-do e o episcopado, sendo que estes dois últimos pertencem ao sacerdócio minis-terial de Cristo. Isso significa que são sa-cerdotes de Cristo, pois os diáconos car-regam, como afirma Aparecida, o “ros-to de Cristo Servidor como modelo dos Discípulos Missionários”.

Não pertencemos a um modelo pira-midal de Igreja, é importante frisar com convicção isso: em Aparecida, reafirma-mos a comunhão de todos, pois na Igre-ja todos somos discípulos missionários guiados pelo Chamado que Deus nos faz.

Tanto o bispo como o presbítero, o diáco-no, o leigo, o consagrado e a consagrada, todos vamos a caminho do seguimento de Jesus Cristo. Então, qual é a diferen-ça? “Somos Discípulos Missionários de Jesus Cristo com vocações específicas.”

A figura de Moisés, “tirado das águas” [cf. Ex 2,10] apresenta-nos este mode-lo de seguimento ao chamado de Deus. Moisés faz a experiência de um encontro com Deus. Uma experiência que o con-vida a entrar no projeto de Deus: “Moi-sés, Eu vi a miséria do meu povo, ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos”. (Ex 3,7.) Este encontro pessoal transformou Moi-sés. Deus o escolheu como um líder para conduzir o povo rumo à Terra Prometida, à liberdade. Moisés, iluminado pela Pa-lavra de Deus, conduz o povo revelando o projeto de vida e de salvação.

Deus, hoje, em sua “sarça ardente”, continua apresentando-se aos nossos jovens, revelando o seu desejo de esco-lher, no meio do povo, líderes para guiar o próprio povo. Eis a missão do Sacerdo-te, “tirado do meio do povo para servir o próprio povo”, ser um guia à sua fren-te, conduzindo todos rumo à terra “on-de corre leite e mel”, ou seja, a um Reino de paz, justiça, e de amor.

“Vocês serão para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. É o que você deverá dizer aos filhos de Israel.” [Ex 19,6.] O Povo de Israel foi consagra-do por Deus como um Povo Sacerdotal [cf. Is 61,6]. Entre as Doze tribos de Isra-el, a tribo de Levi recebeu uma missão “específica”: sua função era anunciar a Palavra de Deus e restabelecer a comu-nhão com Ele através dos sacrifícios e da oração; “os lábios do sacerdote guarda-vam o conhecimento, e de sua boca se procurava o ensinamento, pois ele era um mensageiro do Senhor”. [Ml 2,7.]

Diante das interpretações que a Igre-ja faz diante desta relação do Povo de Deus com o sacerdócio, importa per-ceber que fica bem claro, desde o Êxo-do, desde Moisés, que a principal e “pri-meira missão deste escolhido por Deus é de anunciar a Palavra de Deus” [PO, 4]. Vive-se o sacramento da Ordem em

Vale a pena ser padre hoje em dia?

Page 23: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

Juventude [ Ser Padre...

Cantando o Direito e a Justiça60 Cânticos para celebrações litúrgicas e encontros

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a Comunidade como po-vo de Deus é convidada a preparar a mesa da grande oferta que é Jesus, o Filho

amado do Pai. O chamado à conver-são se torna claro e exige conversão, que passa pelo cuidado da terra e pe-la busca da justiça. Se, na ceia, Jesus se dá no pão e vinho, ele mesmo nos

mostra que não se pode separar o cul-to da vida e a vida do culto. E este só se torna verdadeiro quando se põe a serviço da vida, na busca da justiça e da paz. Um canto para o momen-to das oferendas que nos sintoniza com os apelos de conversão próprios do período quaresmal: “Eis, Senhor, a grande oferta!”]

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olutador [ fevereiro ] 2016 • 21 ]

prol de outrem, ou seja, para levar à sal-vação ao outro que nos surge. A Ordem nos lança, através de uma convivência coerente, convicta e edificante, a anun-ciar Jesus Cristo.

O padre não ensina a sua própria sabe-doria, “mas a Palavra de Deus, convidando a todos, pela sua pregação - onde se anuncia o Mistério de Cristo aos que creem; pela transmissão da Sagrada Escritura - e pelo estudo, à luz de Cristo, dos problemas que surgem, à conversão e à santidade” [PO, 4].

Vale a pena...Então, “vale a pena ser padre hoje em dia?” O encontro de Moisés com Deus o fez entender que sua vocação e missão consistiam em salvar a vida de seu po-vo, que vivia escravizado e perseguido por um tirano que não valorizava a vi-da, nem se importava com as dores do outro, nem de ninguém.

Hoje, é possível viver essa experiên-cia de um encontro pessoal com Cristo, mesmo que não seja no alto de uma mon-tanha, mas que seu coração se torne essa montanha de encontro com Deus; que a sua Igreja, a sua comunidade se torne essa montanha onde Deus possa con-versar com você e você possa ouvi-lo. Então, vale a pena, sim!

Vale a pena abraçar com fé e coragem a missão que Deus nos confiou, seja no sacramento da Ordem, seja em outra es-pecificidade. O importante é que, como diz Mons. Yepes, “mesmo diante de tanta falta de sentido numa sociedade fragmen-tada, mesmo nos deparando com tantas famílias que nos procuram desistindo da família, desistindo dos filhos, se entre-gando às doenças da sociedade, mesmo nos deparando com tantos jovens que nos questionam, interrogam-nos, cobram-nos uma coerência de vida, ser padre é a melhor coisa que já me ocorreu. Talvez, o segredo foi fazer da minha paróquia uma montanha onde Deus pode se en-contrar com seu povo, com as famílias, com os casais, com os jovens, com todos!”

Então, jovem? Quer fazer uma expe-riência de Deus no rumo da Vida Reli-giosa Consagrada? Venha! Estamos es-perando por você!]

Page 24: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

Encontro matrimonial [ Qualidades fundamentais...

[ 22 • olutador [ fevereiro ] 2016

Cada um de nós que fez o Fim de Semana (FDS) do Encontro Matri-monial Mundial – EMM, já ouviu a

frase: “Levar o FDS ao maior número pos-sível de pessoas”. No entanto, temos mui-tas dificuldades de concretizar este pedido.

Divulgamos em igrejas, distribuímos panfletos, mas ficamos esperando que as pes-soas nos procurem e, como isso não acon-tece, nos decepcionamos e mais uma vez deixamos de partilhar esta bela experiência com tantos casais, fora o investimento feito, despesas de aluguel da casa de retiros etc.

Um erro muito comum entre nós é uti-lizar o mesmo tipo de argumento e aborda-gem com todos os casais como se fossem to-dos iguais. Casais diferentes se sensibilizam com argumentos diferentes e, portanto, pre-cisam de uma comunicação distinta para serem sensibilizadas. Existem três tipos de pessoas com relação à forma como captam e organizam sua visão de mundo: Pessoas visuais, auditivas e sinestésicas.

Pessoas visuaisSão do tipo: “é preciso ver para crer”. Perce-bem melhor o mundo através de imagens. Só após verem de fato o produto e obser-varem todos os seus detalhes visuais é que conseguirão tomar decisões.

Costumam incluir em suas conversas, expressões como: “o dia está azul”, “deixa eu te mostrar uma coisa”, “a situação está pre-ta” e “é preto no branco”. Com estas pesso-as, é preciso incluir os mesmos tipos de ar-gumentos visuais que elas utilizam: as ima-gens. Só assim conseguiremos sensibilizá-las para aquilo que queremos.

Exemplo: ter algumas fotos do EMM com grupos grandes, casais muito felizes, frases com depoimentos, panfletos, algum depoimento de alguém que fez o FDS ou, se o ambiente e tempo permitir, pequenos vídeos do Encontro.

Pessoas auditivasPrecisam “ouvir para crer”. Para estas pesso-as, ouvir uma argumentação é mais impor-tante do que ver uma imagem. Interessa a maneira como são proferidas as palavras e como o som é utilizado na argumentação. Elas preferem mais ouvir os argumentos re-lacionados aos benefícios que o Encontro irá lhe trazer.

Estas pessoas utilizam expressões co-mo: “ouça aqui uma coisa”, “deixa eu te con-tar”, “preste atenção no que digo”, “me fala uma coisa”, que mostram como é sua for-ma de expressar.

Exemplo: Teremos que argumentar com convicção a mudança de vida que ca-sais tiveram, como fulano estava até sepa-rado e voltou, outros estavam vivendo jun-tos e quiseram casar-se, outro era agressivo em casa e agora até os filhos perceberam a grande mudança...

Pessoas sinestésicasPreferem as “sensações do corpo”. Comuni-cam-se mais através da ação corporal, pelo sentimento, inclusive as táteis, viscerais e emocionais. A visceral é uma reação emo-cional intensa, que brota do mais profun-do do interior da pessoa.

O tipo sinestésico exagera nos abra-ços, beijos, carinhos, fazendo ser notado através de algum movimento ou barulho. Percebe o mundo através do sentido tátil. Utiliza frases como: “estou sentindo um pe-so em minhas costas”, “a barra está pesada”,

“a coisa vai esquentar”; “estou me sentin-do leve depois desta notícia” e outras que identificam o sentido tátil.

A estas pessoas devemos facilitar o aces-so, fazê-las tocar, sentir em suas mãos. Ao invés de falar, primeiro abrace, bata nas cos-tas, coloque nas mãos deles fotos, vídeos de casais bem felizes que fizeram o Encontro.

Para se comunicar bem com todos exis-tem duas qualidades fundamentais:

– Sensibilidade: é necessário que pres-temos atenção ao comportamento de cada pessoa, observando sua linguagem, as ex-pressões que utilizam, a forma como pro-cessam as informações para distinguir com qual tipo de pessoas estamos lidando;

– Flexibilidade: é preciso desenvolver uma comunicação adequada àquela pessoa, acompanhando sua linguagem e sua forma de se expressar e compreender o mundo.

Aprender a utilizar argumentos dife-rentes para pessoas diferentes é a melhor forma que temos para obter sucesso, pa-ra facilitar os trabalhos e cumprirmos com nossa meta de passar todo este ano fazendo convites permanentes para lotarmos nossas casas nos FDS e outras Formações.

Reunimos uma equipe de vendedores profissionais de produtos de saúde e forma-dores para executivos, que nos deram boas dicas de sensibilização das pessoas, levan-do em conta as percepções acima. Veremos no próximo artigo.]

2016 ano do ConviteUm momento especial para casais [1REgiOnAl SUl i i i – S ínTESE PE . nivaLdo oLivEir a souza

Page 25: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

Família Julimariana [ O compromisso social...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 23 ]

PE. marCos antônio a. duartE, sdn*

Pe. Júlio maria de lombaerde foi um catequista por excelência. Sua missão foi marcada pela tare-fa de instruir, apresentar o cami-

nho da fé, tomar o fiel pela mão e levá-lo a Deus. Na Holanda e na Bélgica, temos re-latos de suas catequeses, nas várias mis-sões pregadas por ele e seus companheiros.

um catequista que interagia com o grupoEm Macapá, AM, junto às crianças, adul-tos e anciões, fez todo um movimento ca-

Não sei!… Que o digam os fisiologistas e psicologistas. O que sei é que não me es-queço de Natal. O que sinto é que continuo a amar aqueles e aquilo que lá amava. O que experimento é que o corpo pode au-sentar-se sem que o coração se despren-da do lugar. [...]

Quando se apresenta qualquer reu-nião de homens, penso em meus queridos homens da Liga Católica. Quando presen-cio um grupo de crianças, penso em meu grupo alegre de criancinhas do Catecismo. Quando estou pregando em qualquer igre-ja, meu olhar procura na multidão qual-quer conhecido de Natal.” [Diário de Na-

estarmos no Ano Santo da Misericórdia. Va-lioso é o ensinamento do Servo de Deus, quando nos diz que o melhor atributo da-do a Deus não é dizer que Ele é todo-po-deroso, onipotente, onisciente... Mas, sim, que Ele é misericordioso. “Deus é a própria misericórdia, sendo este o atributo de que mais se glorifica: ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’”. (Mt 12,7.)

Pe. Júlio Maria nos lembra que a mi-sericórdia é o jeito próprio de Deus reve-lar sua bondade. Por isso afirma: “A mise-ricórdia é uma manifestação da bondade de Deus. Concedendo favores aos que não os merecem, esta bondade intitula-se gra-ça; e dando auxílio aos que sofrem, chama-se misericórdia”.

Para salientar a imensa misericórdia de Deus, ele repetiu o ensinamento de São Leonardo do Porto Maurício: “A mãe se-ria menos apressada em socorrer a seu filho caído no fogo, do que Deus em so-correr a um pecador arrependido”. Deus tem pressa em perdoar, em ser misericor-dioso com todo aquele que se arrepende. Por isso Deus não espera o pecador; co-mo na parábola do Pai misericordioso, ele mesmo vai e corre ao encontro do fi-lho arrependido.

A misericórdia de Deus é ilimitada. Ela sempre nos alcança. Não podemos te-mer pedir a Deus o seu perdão: “Ó ho-mens, temos que confessar ser Deus bas-tante bom e misericordioso para perdoar os nossos crimes. E a sua bondade se es-tende a tanto, que temos todo o direito, e até o dever, de alimentar em nós esta es-perança de que Ele nos perdoará todas as nossas fraquezas, pois os nossos cri-mes não chegam às suposições que aca-bamos de ouvir”.

Aproveitemos o Jubileu da misericór-dia de Deus, para nos aproximarmos des-te Deus Misericordioso a partir do Servo de Deus, o Pe. Júlio Maria, que nos ensina em suas catequeses que a misericórdia é o melhor caminho para experimentar e co-nhecer quem é, de fato, Deus.]

* pároco de Manhumirim, MG e Mestre em teologia

2016 ano do ConviteUm momento especial para casais [1REgiOnAl SUl i i i – S ínTESE PE . nivaLdo oLivEir a souza

tequético de apresentar a beleza da fé cris-tã. No Rio Grande do Norte, em Alecrim, reuniu 540 homens da Liga Católica, tra-balhou com eles as verdades da fé a pon-to de contagiá-los no caminho do segui-mento a Jesus Cristo. Esse trabalho o ani-mou tanto, que o Servo de Deus deixou va-zar de seu coração o seguinte sentimento:

“Coisa curiosa é a saudade! Tudo per-de o seu valor, o seu brilho, a sua arte e o seu entusiasmo, para só deixar aparecer num como nimbo glorioso, aquilo que se ama e que se colocou no altar do seu coração. Nem eu mesmo julgava estar tão identifi-cado com as pessoas e coisas de Natal. Co-loquei Natal no centro do meu coração… ou o meu coração ficou preso em Natal?

tal – artigo, escrito depois de sua chegada a Manhumirim.]

Pe. Júlio Maria não só transmitia uma doutrina, criava verdadeira amizade com seus catequizandos. Acreditamos que o apo-geu dessa prática aconteceu em Manhumi-rim, MG. A Paróquia do Senhor Bom Jesus tornou-se o seu grande centro catequético. Foi do púlpito da Igreja Matriz que anun-ciou as mais belas catequeses sobre os mis-térios de Cristo, a espiritualidade eucarís-tica e mariana, os sacramentos, a vida li-túrgica, o compromisso social dos cristãos.

Catequese do deus misericordiosoDe suas catequeses, centremos nosso olhar sobre o tema da misericórdia de Deus por

o catequista da misericórdia de deus

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Page 26: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

Espiritualidade [ O egoísmo fecha os nossos OlhOs para a oferta da vida...

[ 24 • olutador [ fevereiro ] 2016

A vida é bela. É dom a ser preservado, que não per-tence à pessoa, mas foi-lhe dado de graça para ser fonte de realização humana. É divina, mas

o contexto de sua existência temporal é humano. Ela tem sido ameaçada em diversas circunstâncias e ferida em sua dignidade, atacada pela ampla violên-cia na cultura dos povos.

Por trás de muitos acontecimen-tos está a revelação da vida, que surge de situações, às vezes, totalmente sim-ples, sem muita evidência, mas com força de esperança e coragem. A vida se fortalece na oferta dos simples, si-nal de que Deus é a sua causa motiva-

dora. Vida ofertada é vida feliz e cheia de vitórias.

Na cruz, Cristo ofertou sua vida para resgatar a justiça para todos, mas muitas pessoas não entenderam seu propósito e não se beneficiam dos frutos da cruz. Foi um esvaziamento para superar as práticas de competição, de ciúmes e invejas que contradizem a vida cristã. Supera também a ideologia do poder e da busca de satisfação a todo custo.

O egoísmo fecha os nossos olhos para a oferta da vida. Torna a pessoa incapaz de enfrentar sacrifícios para construir uma vida com mais solidez. Temos mais disputa de poder do que de doação de vida na generosidade. A Bíblia diz: “Aquele que quiser ser gran-

de, seja o vosso servidor, e aquele que quiser ser o primeiro dentre vós seja o servo de todos”. (Mc 10,43-44.)

Os critérios de Cristo subvertem os valores apresentados pela ideologia que domina hoje. São critérios do Reino de Deus e não do reino do mundo. Crité-rios de justiça, de paz e fraternidade, que ajudam nos relacionamentos so-ciais. Eles são autenticados pelo teste-munho coerente de vida e de doação.

Ofertar a vida é um gesto sagrado. Exige determinação e propósito firme de estar fazendo o bem. Corremos o risco da influência das ideologias do poder, que em vez de doação, suga com práticas injustas e de exploração. Com isto a vida perde o sentido de beleza e de dignidade.]

O F E R T A R A

dom PauLo mEndEs PEixoto – arCeB isp o de UBer aBa , MG

Page 27: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

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Cadernode CidadaniaANO 13 * Nº 275 * FEVEREIRO * 2016 * BELO HORIZONTE * MG

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Page 28: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

[ 2 * olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]

❝Direito de ser criança❞

A Composição de Gildásio Mendes “O direito de ser criança” expressa muito bem o espírito deste Ca-derno de Cidadania. Que nossas crianças tenham os seus direitos respeitados para que possam crescer felizes, amparadas, amadas e cuidadas.

Muitos até se revoltam dizendo: “Não se pode mais educar os filhos para o trabalho”. Ou: “Se eles não podem trabalhar, vão crescer na vagabundagem”; “nós perdemos até a autonomia com nossos filhos”...

Afirmar e defender o direito de ser criança não sig-nifica não poder educar para o trabalho, significa que o prioritá-rio para a criança é ter tempo, espaço e oportunidade para brin-car, estudar, descansar. E não se pode apelar para o simples fato de que no passado não era assim.

O que se quer e precisamos evitar são as situações de trabalho forçado, esquemas de escravidão disfarçados em ati-vidades que prejudicam o rendimento escolar, o desenvolvimen-to humano, afetivo e psicológico da criança.

Vivemos num tempo que exigem de pai e mãe mui-ta doação para o serviço, os filhos ficam sozinhos ou por conta de terceiros. Muitas crianças crescem pelas ruas e são conduzidas à marginalidade. Tudo isso exige mais iniciativas familiares e tam-bém da rede pública para que o direito da criança seja preserva-do. Veja as iniciativas em nosso Caderno de Cidadania.

Percorra os versos da canção abaixo como se fosse seu filho, neto, sobrinho, ou mesmo aquele menino da rua que você conhece, cantando ternamente ao seu ouvido. Isso ajuda a compreender o direito de ser criança.

Eu quero um lugar onde eu possa brincar.Eu quero o sorriso de quem sabe amar.Eu quero um pai que abrace bem forte.Eu quero um beijo e um abraço de mãe.Eu quero o direito de ser criança,De ser esperança de um mundo melhor.Eu crescer como gente.Eu quero um mundo diferente.Será que eu posso contar com você?Eu quero meus passos marcando esse chão.Eu quero o direito de ter o meu pão.Eu quero uma mão que me mostre o caminho.Eu quero a vida, eu só quero o amor.Eu quero os homens unindo as mãos.Eu quero um mundo mais justo e irmão.Eu quero os jovens vivendo a esperança.Eu quero as crianças cantando assim.*

denilson mariano❝ O

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A Gráfica e Editora O Lutador, filial do Instituto dos Missio-nários Sacramenti-nos de Nossa Senho-ra, torna público o EDITAL PARA SELE-

ÇÃO DE MATÉRIAS que regulamenta inscri-ções de participantes do público em geral, que tenham interesse em publicar matérias no encarte CADERNO DE CIDADANIA. As ins-crições serão gratuitas e realizadas entre os dias 25 de janeiro a 19 de fevereiro de 2016. O resultado será enviado por E-mail a todos os participantes e publicado na página da Grá-fica Editora O Lutador, no dia 1º de março de 2016. Confira Edital e mais informações no nosso site: www.olutador.org.br

FórumO Fórum de Erradi-cação e Combate ao Trabalho Infantil e Proteção ao Adoles-cente Trabalhador, nasceu por meio de uma iniciativa prio-

ritária do Dr. Marilton Velasco, então Delega-do Regional do Trabalho em Minas Gerais, através da Portaria DRT/MG N.º 201, de 23 de dezembro de 1994 com a criação da CIP-TA – Câmara Interinstitucional de Proteção ao Trabalhador Adolescente, cuja finalidade era propor medidas que visavam à erradica-ção do trabalho infantil, à profissionalização e à proteção ao trabalho do adolescente con-tra toda forma de negligência, discriminação e exploração. As reuniões mensais de articu-lação das ações do Fórum acontecem nas úl-timas quartas-feiras do mês, de 9h a 12h, na Superintendência Regional do Trabalho, à rua Tamoios, entre Curitiba e Paraná, no Centro de Belo Horizonte.

proteja BrasilO Proteja Brasil é o apli-cativo para iPhone ou celular com sistema Android criado para facilitar denúncias e informar sobre violên-cia contra crianças e adolescentes. Ele in-dica telefones e ende-reços e o melhor ca-minho para chegar a delegacias especiali-zadas de infância e ju-

ventude, conselhos tutelares, varas da infância e organizações que ajudam a combater a violência contra a infância e adolescência nas principais ci-dades brasileiras. Confira!*

J u l i a S i lv a , M a r c e l O M O r e i r a e P O l lya n n a l i M a

Page 29: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ] * 3 ]

[▶

Trabalho em rede:uma realidade nas comunidades

do Norte de Minas Gerais

J u l i a S i lv a , M a r c e l O M O r e i r a e P O l lya n n a l i M a

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[ 4 * olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]

[▶ O traBalho inFantil é um tema de grande preocu-pação no país. Governantes, justiça e população em geral

articulam-se para erradicar crianças e adolescentes de trabalhos que violem ou impossibilitem o acesso a seus direi-tos fundamentais, conforme disposto do artigo 4º do Estatuto da Criança e do Ado-lescente/1990. Com o objetivo de contri-buir para esse avanço, o CEDUC Virgilio Resi tem atuado em municípios do nor-te de Minas Gerais com projetos sociais que buscam a prevenção e o combate à exploração do trabalho infantil por meio da valorização do indivíduo e sua famí-lia, da cultura e do artesanato local e for-talecimento dos vínculos comunitários.

Entre os anos de 2008 e 2012 o Proje-to Reciclando Oportunidades para Crian-ças atendeu 540 famílias (aproximada-mente 2100 pessoas) em 10 municípios do Norte de Minas Gerais, onde foi iden-tificado elevado índice de exploração do trabalho infantil, inclusive em lixões irre-gulares. Nesta fase do projeto foram de-senvolvidas ações para fomentar a cons-trução dos planos municipais de enfren-tamento ao trabalho infantil, elaboração do diagnóstico sociofamiliar das famílias atendidas pelo projeto e repasse para a rede sócio assistencial dos respetivos municípios, realização de cursos para ca-pacitação profissional de adultos e ela-boração de planos de negócios com po-tenciais empreendedores identificados.

reciclandO OPOrtunidadeS Para criançaS A partir desta experiência e com a cons-trução dos planos de negócios, foi vis-lumbrada a necessidade de estruturar um processo com as famílias que possi-bilitasse a desconstrução/construção de novas possibilidades de vida e trabalho digno, respeitando a cultura local. Após quatro anos de execução do Projeto Re-ciclando Oportunidades para Crianças, em 2013, o CEDUC Virgilio Resi, com fi-nanciamento da União Europeia, iniciou o Projeto Reciclando Oportunidades – Gerando Trabalho e Renda, que bus-ca o fomento da rede de artesanato no

Norte de Minas Gerais e a inserção des-ses produtos no mercado, ao ponto de possibilitar o desenvolvimento huma-no por meio da geração de renda às fa-mílias envolvidas.

“Simultaneamente a essa ação do projeto, atuamos fortemente com o for-talecimento dos vínculos e no relacio-

namento interpessoal dos membros dos grupos, sempre oferecendo ferramentas para que os mesmos pudessem melho-rar o relacionamento dentro de casa e se conscientizar sobre o papel de cada um dentro da família, respeitando o direito do outro e também os das crianças”, con-ta a psicóloga Ellen Dias.

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iSOnOMaEm novembro de 2014, o Projeto apre-sentou, como resultado de sua atuação na região, a ISONOMA - Incubadora de Empreendimentos Econômicos Solidá-rios, que tem como objetivo fomentar a expressão do trabalho artesanal dos EES de forma digna, solidária e susten-

tável. Com a ISONOMA em ação, o Ins-tituto Lojas Renner aderiu à proposta e, por meio do projeto Mulheres Solidárias em Ação, investiu na estruturação de um Centro Comercial de Economia Solidária, espaço onde os EES atendidos pela ISO-NOMA podem comercializar seus produ-tos de forma competitiva e sustentável.

A artesã do grupo Riacho da Cruz, Neusa Nery dos Santos, conta que to-das essas intervenções, desde 2008, re-duziram muito o trabalho infantil den-tro da comunidade. “Estamos sempre nos reunindo para tratar deste tema, orientando as famílias e levando nos-sas crianças para a escola integral, de modo que elas realizam atividades ex-tracurriculares dentro do próprio am-biente escolar. Estamos mudando o en-dereço da nossa cooperativa para ter-mos mais espaços e voltar com nossa brinquedoteca. Lá, enquanto trabalha-mos, as crianças que ainda não estão na escola integral podem aproveitar os brinquedos que disponibilizamos”, explica Neusa.

“A ISONOMA foi uma maravilha para a valorização do nosso artesanato, para a geração de renda e para recebermos muitos ensinamentos que acontecem durante as visitas dos técnicos. Cres-cemos com tudo isso, reconhecendo a importância do nosso trabalho e a im-portância de proteger nossas crianças da exploração infantil, ao mesmo tem-po que repassamos todo esse conhe-cimento às outras famílias. Estou mui-to satisfeita com os resultados que te-mos alcançado”, conclui a artesã. Atual-mente são 28 grupos produtivos aten-didos em 14 municípios do Norte de Minas Gerais.*

Sede Rua Joventina da Rocha, 289 Heliópolis, Belo Horizonte / MG

Unidade 1 SIBS Quadra 03 conjunto B lt 13 Núcleo Bandeirante, Brasilia / DF (31) 2103 2712 (Empresas) (31) 2103 2713 (Jovens)

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[ 6 * olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]

Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social

SEGuNDO dados do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística - IBGE, mais de 3,3 milhões de crian-ças e adolescentes entre cinco e

17 anos são vítimas do trabalho infantil no Brasil e, de acordo com o Tribunal Supe-rior do Trabalho - TST, mais da metade do público infantojuvenil que trabalha não recebe qualquer remuneração fixa pelo serviço prestado. Além disso, de quatro crianças que trabalham uma está fora da escola ou, quando ainda mantém os es-tudos, acaba vendo o rendimento esco-lar diminuir, em decorrência do pouco tempo para se dedicar às atividades ex-traclasse e para o descanso.

Vender balas, flores ou amendoim, fazer malabarismo nos sinais de trânsito são algumas das formas mais visíveis so-cialmente do trabalho infantil. Todavia, nos territórios com altos índices de vul-nerabilidade social, passar “pretinho” nas rodas dos carros em lava-rápido, cuidar em tempo integral dos irmãos mais novos ou de filhos de vizinhas, trabalhar como empregada doméstica ou até na constru-ção civil e na capina de lotes são ativida-des comumente realizadas por jovens.

Considerando essa particularidade, a Secretaria Municipal Adjunta de Assis-tência Social - SMAAS - BH inicia, em mar-ço e abril de 2016, uma campanha espe-cífica nas áreas de abrangência dos Cen-tros de Referência de Assistência Social - CRAS, com o objetivo de combater os tipos de trabalho infantil mais incidentes nesses territórios. 34 vilas e favelas da Capital serão atingidas com as ações da campanha Brincar, Estudar, Viver... Tra-balhar, só quando crescer!, que prevê a

distribuição de material informativo e a integração entre pais e filhos a partir de atividades lúdicas realizadas nos CRAS.

“Pensamos em produzir um jogo da memória com cartas gigantes para que pais e filhos pudessem brincar juntos e ir formando os pares do que é permi-tido e proibido para os jovens em cada faixa etária. Temos como negativo crian-ças em trabalho doméstico, fora da esco-la, lavando carro, vendendo balas, entre outros, e como positivo temos crianças brincando, estudando, fazendo esportes e adolescentes no trabalho protegido”, explica a gerente de proteção social bá-sica da SMAAS, Magali Ceotto.

Além das ações de prevenção ao fe-nômeno, a SMAAS também realiza, nos Centros de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS, o atendimento das famílias cujos filhos foram encontra-dos em situação de trabalho infantil, até que a situação de violação seja integral-mente superada. Além disso, a situação financeira da família também é verifica-da no intuído de incluí-la em programas de transferência de renda, a criança é in-serida em atividades de contraturno es-colar e o adolescente encaminhado pa-ra o trabalho protegido.

Para o secretário municipal adjunto de assistência social, Marcelo Alves Mou-rão, a campanha é uma maneira de sen-sibilizar a população quanto ao fenôme-no e desmistificar a ideia de que o traba-lho infantil traz benefícios para a criança. “A sociedade tende a pensar que o tra-balho é bom para as crianças que vivem em territórios de alta vulnerabilidade so-cial, mas o correto são essas crianças es-tarem na escola, fazendo esportes, ativi-dades de cultura como qualquer outra criança de classe média, por exemplo. É isso que queremos garantir e esclarecer para a população. Se atuarmos bem na prevenção e na conscientização das pes-soas, consequentemente diminuiremos esse tipo de violação de direitos na cida-de”, comenta Mourão.

tOdOS JuntOS!Lembre-se de que comprar produtos na mão de crianças e adolescentes é uma forma de contribuir para o trabalho in-fantil! Ao ver esse tipo de situação, de-nuncie! Disque 100!

Para contribuir financeiramente, de-posite qualquer quantia na conta corrente, vinculada ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, e ajude a cus-tear as ações contra o trabalho infantil.*Banco do BrasilBeneficiário: combate ao trabalho infantilagência: 1615-2Conta: 6466-1

Trabalho infantil não

é brincadeiraSe atuarmos bem

na prevenção e na conscientização

das pessoas, consequentemente

diminuiremos esse tipo

de violação de direitos

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olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ] * 7 ]

Do ponto de vista jurídico, o Brasil é apontado como um dos países que mais avançou no combate ao trabalho infan-

til. Seu conjunto de leis sobre o assunto remonta a 1891, com a criação do Decreto 1.313, que definia a jornada de trabalho mínima para os menores do sexo mascu-lino e feminino, passando pela CLT - Con-solidação das Leis Trabalhistas, respalda-do pela atual Constituição Federal e final-mente atacado de frente com a criação do ECA - Estatuto da Criança e do Adoles-cente, através da Lei 8.069/90,que traz no seu bojo inovações fundamentais no trato dessa questão, alterando mudan-ças já existentes de método e de ação.

iMPOrtância dO ecaEntre as mais diversas ações criadas pelo ECA - Estatuto da Criança e do Adolescen-te, está a criação dos Conselhos Munici-pais, Estaduais e Nacional, que fazem a defesa dos direitos da Criança e do Ado-lescente, determinando que “ a política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governa-mentais e não governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Mu-nicípios” (Art.86).

O embasamento para a promoção e a proteção dos direitos da criança e do adolescente, em alguns documentos in-ternacionais apoiados pela ONU - Orga-nizações das Nações Unidas, são inspira-dos no ECA, numa demonstração da im-portância deste documento para o com-bate ao trabalho infantil.

Na sua demonstração de erradicar o trabalho infantil, as autoridades brasi-leiras têm participado, de forma exem-plar, de eventos internacionais que abor-dam este assunto sob diferentes ângulos. Apesar de o trabalho infantil ser um da-do nacional negativo para o país, o Bra-sil nos encontros internacionais tem si-do aplaudido pelos seus projetos e ações na erradicação deste tipo de trabalho.

Fatores históricos, políticos e sociais, independente de recursos naturais escas-sos, contribuíram e contribuem para em-purrar a sociedade a permitir a prática do

trabalho de menores, e ainda, em alguns segmentos desta, aceitá-la com naturali-dade. A elite política e econômica, com-posta de empresários sem compromis-so social e políticos ultraconservadores, acabaram fomentando as injustiças so-ciais na maioria do povo brasileiro [...].

açãO cOnJuntaNo Brasil, é preciso avançar na universa-lização de uma educação de qualidade em todos os níveis de ensino, especial-mente em educação básica, na acelera-ção do crescimento econômico, no in-centivo ao desenvolvimento tecnológi-co e na geração de trabalho e renda [...].

A sustentabilidade dessa tendência de o poder aquisitivo do brasileiro con-tinuar crescendo e até, em alguns seg-mentos, mudando de classe social, sain-do da faixa de pobreza para a classe mé-dia, vai depender muito da capacidade do Estado brasileiro de manter e admi-nistrar melhor as medidas estruturais na atual economia.

Entretanto, uma ação conjunta da sociedade civil, organismos internacio-nais e organizações não governamentais e o próprio Estado, em todas suas esferas federais, daria mais consistência à luta contra a exploração da mão-de-obra in-fantil. Essas entidades teriam ações dis-tintas, porém o resultado final seria a er-radicação dessa praga social. Essas inter-venções poderiam ser assim entendidas:

a) das empresas, seria exigido compro-misso social, transparência e prestação de contas;

b) da sociedade civil, a obrigação de de-nunciar práticas desleais e lutar pelo cum-primento de direitos sociais fundamen-tais com relação ao trabalho;

c) dos governos, a fiscalização implacá-vel no cumprimento das leis de prote-ção e amparo à criança e ao adolescen-te e exigência da aplicação de projetos políticos que visem a combater as injus-tiças sociais.*

* AdvogadaFonte: www.ambito-juridico.com.br

A legislação brasileira e o trabalho infantilM a r i a d a lv a d i a S c O n c e i ç ã O *

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expediente *❯ e-mail da Redação [email protected] ❯ e-mail do Caderno [email protected] ❯ Oficina Belo Horizonte, MG, Praça Pe. Júlio Maria, 01, Bairro Planalto - 31730-748, Telefone: (31) 3439-8083, Telefax: (31) 3439-8000 ❯ diretor-editor Ir. Denilson Mariano da Silva, SDN ❯ Jornalista responsável Sebastião Sant`Ana - MG086063P ❯ equipe Juliana Gonçalves, Cristiane Felipe, frater Henrique Cristiano José Matos, cmm, Ir. Denilson Mariano da Silva, SDN❯ Parcerias SMAAS – Secretaria Municipal Adjunta de Assistência Social, IDH – Instituto Direitos Humanos, APC – Apoio Pastoral Carcerária❯ revisão Antônio Carlos Santini ❯ entidade Mantenedora Instituto dos Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora❯ tiragem 8.200 exemplares ❯ impressão e acabamento Gráfica e Editora O Lutador, Certificada FSC®as matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores.

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[ 8 * olutador [ fevereiro ] 2016 [ Caderno de Cidadania ]

CentroSacramentino deFormação

CentroSacramentino deFormação

CentroSacramentino deFormação

CentroSacramentino deFormação

para aprender valoreswagner dias ferreira*

Há milhares de formas de aprender coisas para a vida cotidiana, que podem contribuir para o desen-

volvimento de valores humanos, sociais, ecológicos e de comprometimento com uma causa ligada a esses valores ou situa-ções sociais que se pretende promover ou modificar. O acompanhamento diário dos noticiários é um meio. Assistir a filmes e documentários também. O profissional do direito tem um leque enorme e excelen-te de opções para aprender e desenvol-ver valores humanos, sociais e ecológicos.

A exploração mineral do quadrilátero ferrífero de Minas Gerais sempre foi tida pela população do Estado como algo co-mum. Muitas pessoas festejavam a pre-sença da atividade econômica e seu po-tencial para o desenvolvimento de muni-cípios e regiões inteiras vinculadas a esta exploração econômica. Há os que ansia-vam e ainda anseiam pelo emprego nes-sas empresas proeminentes do Estado que leva o nome de Minas Gerais.

Os profissionais do direito que já atua-ram na defesa de interesses de pessoas que trabalharam para empresas mineradoras, contra os interesses dessas exploradoras de minério, sabem muito bem que este é um anseio que certamente será frustrado pela realidade. Doenças decorrentes da insalu-bridade da atividade minerária, acidentes

que levam à morte e violação a direitos bá-sicos do trabalhador é parte do cotidiano das empresas. Cidades que recentemente emergiram na exploração mineral apre-sentaram o aparecimento forte da pros-tituição e do tráfico de drogas e do cons-tante temor de acidentes com barragens.

Todos estamos precisando adquirir va-lores humanos, sociais e ecológicos para observar os fenômenos que ocorrem ao redor. Filmes como o que explicita o mas-sacre dos índios isolados de Corumbia-ra, o que conta a história de Ganga Zum-ba e Zumbi de Palmares, o novo filme do

Betinho da Fome, os filmes sobre Cazuza e Renato Russo e o documentário sobre o Quilombo do Campo Grande, em Mi-nas Gerais, ou mesmo filmes de histórias brasileiras “comuns” de pessoas extraor-dinárias são opções. Filmes estrangeiros como “As Trombetas de Gideão” sempre ajudam as pessoas a revisarem seus va-lores e a aprenderem sobre o que é real-mente mais importante para o homem e para sua vida.

Considerando que o povo brasileiro está convidado a refletir sobre seus valo-res sempre que chega o mês de novem-bro, quando somos lembrados que somos uma República Democrática, onde a par-ticipação de todos é imprescindível à so-brevivência, e que esta sobrevivência, no caso brasileiro, não foi, não é, e não se-rá possível sem a consciência do valor do negro na cultura brasileira, coroados es-ses processos pela reflexão sobre a supre-macia dos direitos humanos no planeta Terra, datas que no país são o 15 de no-vembro, o 20 de novembro e o 10 de de-zembro, nada melhor do que levar essas reflexões para o Natal e o Ano Novo que são datas em que mais se abre o coração humano para a solidariedade e o que há de melhor no homem.*

* Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG

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Liturgia [ É preciso aprender...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 25 ]

PE . José antonio dE oLivEir a

há uma tribo indígena cuja especialidade é a cerâmi-ca. Lá, quando um caci-que idoso vai passar para outro a sua função, ofe-rece ao que está chegan-

do o vaso mais bonito e precioso que confeccionou durante toda a sua vida. O novo cacique recebe o vaso, quebra-o e mói; e, misturando água, faz argila e modela um vaso novo. O velho caci-que não vê isso como uma afronta ou desrespeito. Entende que o outro irá conservar a essência, a substância, a Tradição, mas lhe dá uma nova forma.

Na vida e na fé deve acontecer o mesmo. Não podemos abrir mão da es-sência, mas a vida exige novas formas. O Espírito Santo continua a agir e suscitar coisas novas. Mesmo porque as trans-formações do mundo o exigem: “Eis que faço novas todas as coisas”. (Ap 21,5.)

Jesus disse a Simão: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. (Mt 16,18.) Deve estar claro que ‘pedra’ é só o fundamento, o alicerce. Essa base é a fé que Pedro revela na pessoa de Jesus e na proposta do Rei-no. A Igreja não pode ser toda ‘petrifi-cada’, pronta, acabada. Pedro chega a falar que somos ‘pedras vivas’ (cf. 1Pd 2,5), mas tudo o que é vivo se transfor-ma, se desenvolve.

O alicerce da Igreja é imutável. Je-sus Cristo não muda. Nossa fé é úni-ca. O Evangelho é o mesmo. Há ver-dades e valores que são eternos. Mas a Igreja precisa se adaptar a cada tem-po, a cada cultura, a cada circunstân-cia. Em sua Exortação Evangelii Gau-dium, o Papa Francisco nos lembra que “o dom de Deus encarna-se na cultura de quem o recebe. O cristianismo não dispõe de um único modelo cultural, mas, permanecendo o que é, assume o rosto das diversas culturas e dos vá-rios povos onde for acolhido”. Aí está a “beleza deste rosto pluriforme” (cf. EG 115 e 116). Por isso a nossa fé pas-sa por mudanças e adaptações em sua forma de se expressar.

mudanças ao longo da históriaA própria celebração eucarística já pas-sou por várias mudanças ao longo da história. E como foi bom! A oração do Pai-Nosso, ensinada por Jesus Cristo, sofreu modificação e é recitada de for-ma diferente pelas Igrejas. É natural. Ninguém sabe ao certo como ela era, porque até os evangelistas a registram de modo diferente. Basta conferir na Bíblia: Mt 6,9-13 e Lc 11,2-4. E é claro que, se a oração é conversa entre pes-soas que se amam - nós e Deus -, não faz sentido obrigar alguém a orar sem-pre com as mesmas palavras, sem po-der expressar o que sente. Há ritos que mantemos e são importantes, mas a prece deve brotar bem livre de um co-ração que ama e confia.

Há orações que, mesmo sendo man-tidas oficialmente pela Igreja, podem ser modificadas por quem as recita. Ci-to, por exemplo, a prece de louvor que fazemos durante a Bênção do Santíssi-mo: “Bendito seja Deus...” Ela expres-sa o louvor ao Pai duas vezes, ao Fi-lho cinco vezes, ao Espírito Santo uma vez, e a Maria quatro vezes, mais que ao Pai e ao Espírito Santo. Numa ora-ção essencialmente cristológica, a in-vocação a Maria poderia ser tranqui-lamente omitida, ou aparecer apenas uma vez. Contudo, como surgiu num tempo em que se negava a importân-cia de Maria na História da Salvação,

houve a preocupação, talvez exagera-da, de reforçar a sua presença. Hoje não faz mais tanto sentido.

descer à casa do oleiroO alicerce não pode mudar, mas o for-mato, a cor, os acessórios, isso precisa ser atualizado. É bom que a Igreja não seja construída de pedras imutáveis, mas de tijolos e massa, algo que seja mais maleável, moldável.

A Bíblia registra um texto muito bonito, quando Jeremias é convidado por Deus a descer até a casa do oleiro e aprender com ele. O Profeta percebe que o vaso precisa ser, às vezes, que-brado, refeito, novamente moldado. Deus, o grande Oleiro, não quer gen-te de cabeça dura. Muito menos de co-ração duro. Quer gente que se entre-gue à ação transformadora da Graça, à força renovadora do Espírito. Somos – ou devemos ser – como o barro nas mãos do oleiro (cf. Jr 18,1-6).

O Papa Francisco chama a atenção para o perigo de se desenvolver “a psico-logia do túmulo, que pouco a pouco trans-forma os cristãos em múmias de museu” e “corrói o dinamismo apostólico”. (EG 83.) Para isso, é fundamental quebrar po-tes e criar vasos novos. Mesmo porque a Igreja é chamada a ser “casa acolhedo-ra” (cf. DAp 370), e toda casa exige con-tínua limpeza e periódicas reformas.]

* [email protected]

Que-brar potes

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Atualidade [ Quando a Igreja abre as portas...

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No dia 29 de novem-bro de 2015, o Pa-pa Francisco abriu a “Porta Santa” na Catedral de Nossa Senhora da Concei-ção, na cidade de

Bangui, na República Centro-africa-na, abrindo as celebrações do “Ano da Misericórdia”, proposto a toda a Igreja através da Mensagem “Misericordiae Vultus” [O Rosto da Misericórdia].

A imagem da porta é rica de harmô-nicos, pulsante de conotações. A porta é um limiar, uma divisória entre os que estão fora e os que estão dentro. A porta é a páscoa, a passagem que se abre ao visitante. A porta dá acesso aos misté-rios e aos tesouros acumulados no co-ração da Igreja. Por isso mesmo, a pia batismal se localiza logo à entrada do templo, pois o Batismo é o pórtico pe-lo qual os novos filhos são incorpora-dos à família de Deus. Assim, é na por-

ta do templo que ocorre o parto de um novo cristão, gerado pela mãe-Igreja.

Em muitos lugares, a porta entre o mar e a terra era o “porto”. Por exemplo, o porto de Roma é a cidade de Óstia [em latim, a “porta”]. Porto e porta se con-fundem como o lugar de asilo, refúgio e proteção. O navegante que encontra-va o porto estava seguro, pois as por-tas da terra se abriam à sua chegada.

Quando a Igreja abre as portas, ela faz um convite, como já o fizera João Paulo II: “Abri as portas ao Redentor!” Há um duplo movimento no gesto ri-tual da Porta Santa que se abre: o tem-plo se abre ao fiel e este se abre a Cristo. Afinal, o próprio Jesus Cristo se apre-senta como a entrada para o Pai: “Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem”. (Jo 10,9)

A porta é o lugar da acolhida. To-dos os mosteiros deixavam um monge em permanente plantão junto à porta

de entrada, para acolher os peregrinos. Era o “ostiário”, isto é, o porteiro. As mo-dernas portas giratórias das agências bancárias foram copiadas das portas rotatórias dos conventos femininos, onde a irmã “rodeira” – que vigiava a “roda” – estava sempre pronta a reco-lher o recém-nascido abandonado na cestinha do lado de fora.

O Papa Francisco vem insistindo na atitude de misericórdia e de acolhi-da a todos nós, os pecadores abando-nados. Deve haver sempre um espa-ço para nós. Mas não nos esqueçamos de Alguém que também costuma es-tar do lado de fora e bate à nossa por-ta. Ele diz: “Eis que estou à porta e ba-to. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearemos juntos, eu com ele e ele co-migo”. (Ap 3,20)

E com tantas portas fechadas, ne-nhum andarilho tem sido mais rejei-tado do que Jesus Cristo...]

A porta, o parto, o porto... antônio CarLos santini

CarLos sChEid

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olutador [ fevereiro ] 2016 • 27 ]

Nós somos os consumidores. Eles são os marqueteiros. Nós, de olhos e bocas abertas (todas elas!). Eles, de olho em nós.Mas antes de olharem para nós, eles se ocupam em adivinhar

nossos desejos, nossas ansiedades, nossas expectativas. É assim que eles poderão apresentar na telinha os produtos capazes de fazer a nossa felicidade ainda aqui, neste vale de lágrimas. Ou será que não?

Eles, os conspiradores, habitam sem alarde os porões da mídia, porões cercados de eletrônica e vidro fumé. Dotados de uma inteligência acima da média (e de polpudos orçamentos!), sabem cooptar os melhores profissionais, músicos e diretores de imagem, de modo a produzirem mensagens publicitárias que le-vem o consumidor (é o nosso caso...) a comprar.

Assim combinado, o objetivo deles é... vender! Para ven-der, vale tudo: o verde da paisagem rural, o ar puro da montanha, a força monstruosa dos motores, as curvas sensuais da modelo, as promessas de um Éden no aquém-túmulo.

Esse exército do marketing e do merchandising (e outros babados ianques), devidamente armado de som e imagem, conta ainda com a retaguarda de estudiosos da psicologia do indivíduo e da psicologia social. Em suas planilhas, o mais detalhado raio-X do coração do homem. É com base nesse design de Adão, o barrento, que eles criam suas mensagens conhecidas como “o comercial” – quase sempre mais criativo que os programas por ele fatiados.

E que pensam eles sobre nós? Bem, até onde as mensagens veiculadas deixam supor, eles pensam que somos gulosos. Exa-mine bem um comercial da Sadia. Eles pensam que somos leve-mente depravados em nossa sexualidade. Contemple a saia cur-ta da mocinha que vende cerveja. Eles pensam que somos vaido-sos. Leve em conta os comerciais de perfumes, cremes e xampus. Eles pensam que somos movidos pela cobiça. Tente contar a va-riedade de propostas para ganhar dinheiro...

Peço licença para não completar a lista dos pecados capitais, incluindo a inveja, a preguiça e a avareza. De qualquer modo, é tu-do isso que eles pensam de nós. E se a linguagem empregada pela mídia-que-vende revela profundo desrespeito pelo pobre (que não compra...), pelo homem comum (podado pelo salário mínimo), pelo simples cidadão, isto é mera consequência de seus objetivos.

E “eles” estão errados? Talvez não. Pode ser que, de fato, nós sejamos exatamente aquilo que eles pensam de nós (em ordem alfabética): avarentos, gulosos, invejosos, lascivos, preguiçosos, raivosos e vaidosos.

Se somos assim, eles vendem bastante. Se não fôssemos, já teriam ido à falência...]

o que eles pensam

de nós? CarLos sChEid

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Crônica [ Maria

[ 28 • olutador [ fevereiro ] 2016

Chuva antiga

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olutador [ fevereiro ] 2016 • 29 ]

B em que tento envelhecer meus medos. Bem que tento envelhecer minhas emoções. qual nada! É um descompasso total! se cá fora o tempo passou, lá dentro, bem dentrinho do meu coração, ele nem chegou perto.e vivo aqui, essa velhota-menina, acompanhando meus netos em seus medos pequenos.

eu, que deveria ser uma “rocha” para eles, na hora das chuvas bravas, sou a primeira a desmoronar. Perco o rumo, não sei quantos anos tenho mais, fico neném, fico com dez anos, querendo colo de mãe, querendo presença de pai. quando passa a tormenta, recomponho meus cabelos grisalhos, arranjo uma cara de vó, faço um olhar de corajosa e me espanto de a casa estar no lugar, de a rua ser a mesma, de os vizinhos estarem sorrindo nas janelas. será que a chuva passou só dentro do meu coração? será que choveu só para mim? será que os relâmpagos eram de mentirinha e que fui que inventei os trovões e o vento maluco?

Foi há muitos anos. A vó que sou hoje era uma jovem mãe. Antes, ontem, a vó era criança. o medo de chuva sempre foi o mesmo, trago-o desde estrela, desde meus tempos de pai, de mãe, de Ana e irmãos. sou a repetição de minha mãe, que enfrentava as tempestades da terra estrelada com ramos bentos, terço na mão, cantando o Bendito e o Ofício de Nossa Senhora.

A casa recendia a incenso, era um grande barco à deriva, onde mãe, Ana, madrinha maria e filhotes esperavam ser lançados num mundo escuro e desconhecido...

Papai, o herói das minhas chuvas infantis, chegava — para meu espanto —, chegava intacto da loja: vinha socorrer sua prole que, já sabia, ia encontrar aninhada debaixo da mesa grande da sala de jantar. meu pai chegava, salvava os náufragos da tormenta e o sol brilhava de novo.

Por isso, para mim, meu pai sempre foi o sol.mamãe, tímida, calada, séria, perdia a majestade na hora das chuvas bravas. ela achava

todas as chuvas perigosas...hoje, quando o vento sopra aqui do lado, o capim se deita com humildade, ouço vozes

antigas, vindas da luz dos relâmpagos, sussurradas no canto do vento, choradas nas lágrimas da chuva:— não fica debaixo da luz, menina!— não pega o garfo!— tapa os espelhos! esconde a tesoura!— não respira, que é perigoso!— não fica perto da janela!— sai de perto da cerca de arame!— essa árvore atrai raios!Ah! meu deus, ainda hoje sou criança, sou neném, quero pai, quero uma mesa grande pra

me esconder com meus irmãos. Porque, no tempo de deus, não cresci, não sou avó, não aprendi a ser corajosa na hora que os relâmpagos incendeiam minhas janelas.

só que, quando tudo passa, olho pela porta, esperando meu pai trazer o sol.só que, nessa hora, viro vó, viro bisavó, fico enrugada, tenho quinhentos anos.Porque, nas chuvas antigas, eu tinha um barco onde me esconder. e meu pai chegava.

como sol aceso.Agora, eu tenho de ser o sol. mas onde buscá-lo, se tenho coração de filha pequena?

se meu coração até se esqueceu de crescer?Ah! quem cantará o Ofício de Nossa Senhora para mim? quem entoará o Bendito, louvado

seja para acalmar meu coração? onde estão meus ramos bentos?quem vai acender o sol dentro de minha casa? dentro do meu coração?]

[do livro Água Doce, Belo horizonte, 2003

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Páginas que não passam [ Comunidade...

[ 30 • olutador [ fevereiro ] 2016

É da maior importância que isto fique claro desde o início: a fraternidade cris-tã não teve um ideal, mas uma reali-dade dada por Deus. É precisamente o cristão sério, ao entrar pela primeira vez em uma comunidade de vida cris-tã, que muitas vezes levará consigo um ideal bem preciso do que ela deve ser, e se esforçará por realizá-lo.

Mas é a graça de Deus que rapida-mente conduz ao fracasso todos esses tipos de sonhos. Então, somos submer-gidos por uma grande desilusão a res-peito dos outros, dos cristãos em ge-ral e, se tudo correr bem, a respeito de nós mesmos, que Deus quer conduzir ao conhecimento de uma verdadeira comunidade cristã.

É por pura graça que Deus não per-mite que vivamos, talvez por algumas semanas, segundo uma imagem qui-mérica, que nos abandonemos a essas experiências exaltantes e ao entusias-mo gratificante que nos invade como uma embriaguez. É que Deus não é um Deus de emoções sentimentais, mas um Deus da verdade.

Por isso, somente a comunidade que entra na grande desilusão expe-rimentada com todos os fenômenos

desagradáveis e negativos que ela po-de conhecer, começa a tornar-se aqui-lo que ela deve ser diante de Deus e a captar na fé a promessa que lhe é da-da. Quanto mais cedo soar a hora desta desilusão, para o fiel e para a comuni-dade, tanto melhor será para os dois.

Mas uma comunidade que não su-porte tal desilusão e não a supere, e em consequência se apegue à sua ilusão, que ela deveria ver partida em peda-ços, cedo ou tarde irá à falência.

Deus odeia o devaneio, pois ele nos torna orgulhosos e pretensiosos. Aquele que sonha com a imagem ide-al de uma comunidade, exige de Deus, dos outros e de si mesmo que ela se re-alize. Ele se apresenta à comunidade dos cristãos com suas exigências, erige uma lei que lhe é própria e em função da qual ele julga os irmãos e ao próprio Deus. Ele se impõe com dureza e co-mo uma acusação viva contra todos os outros no círculo dos irmãos. Ele age como se tivesse a iniciativa de criar a comunidade cristã, como se seu ideal imaginário devesse tecer os vínculos que unem os seres humanos. Aquilo que não acontece segundo a sua von-tade, ele o considera como um fracas-

so. Ali onde seu sonho se quebra, ele vê a comunidade afundar. Assim, ele se torna o acusador de seus irmãos, a seguir o acusador de Deus e, enfim, o acusador desesperado de si mesmo.

De fato, é só porque Deus já esta-beleceu o único fundamento de nossa comunidade, só porque há muito tem-po, antes que entrássemos na vida co-munitária com outros cristãos, Deus já nos tivesse ligado juntos em um só cor-po, em Jesus Cristo, só por esta razão é que entramos na vida comunitária com outros cristãos, não com nossas exigências, mas com gratidão e pron-tos e receber.]

dietRiCh Bonhoe FFe R [1906 -1945] nasceu em Breslau, polônia. foi pastor luterano e profes-sor de teologia em um seminário cuja vida comu-nitária foi por ele organizada. adversário decla-rado do regime nazista, foi proibido de pregar e de escrever. seu engajamento político e sua fé o levaram a participar de um complô contra Hitler. preso em 5 de abril de 1943, foi enforcado em 9 de abril de 1945. suas cartas, escritas na prisão, tiveram notável irradiação após sua morte e ainda apontam caminhos para a reflexão teológica. en-tre seus livros, foram publicados em português: Ética, 2005; discipulado, 2004; resistência e submissão: Cartas e anotações escritas na prisão, 2003; tentação, 2003; Vida em comunhão,1986 (todos pela editora sinodal), e orando com sal-mos, editora encontro, 1995.

Comunidade: sonho e realidade

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diEtriCh BonhoEFFEr

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Páginas que não passam [ Comunidade...

RoteirosPastoraisRoteirosPastorais

Leitura Orante 32 • Tudo em Família 33Dinâmica para Grupo de Jovens 33 • Catequese 34

O Lutador Kids 36 • Homilética 37

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Leitura orante [ A clareza da missão...

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Busca da intimidade com deusProcure um ambiente tranquilo, silen-cie, invoque a Santíssima Trindade, peça as luzes e faça a oração ao Divino Espí-rito Santo. Pode cantar um refrão para ajudar no recolhimento diante de Deus. Sugestão: “Envia teu Espírito, Senhor, e renova a face da terra!” (2x).

a. situando o textoO período quaresmal é um período de grande riqueza espiritual. Os 40 dias nos recordam os 40 anos do povo no deserto, tempo para que o povo mu-dasse a mentalidade. Recorda ainda os 40 dias de caminhada de Elias pa-ra o Monte Horeb, tempo para reto-mar sua missão. Jesus também passa 40 dias no deserto, vencendo as ten-tações que podiam desvirtuar a mis-são que o Pai lhe confiava.

Vamos, com calma e atenção, ler o texto do Evangelho do 1º Domingo da Quaresma e deixar que Palavra nos conduza e converta.

B. o que o texto diz em siler na Bíblia: Lucas 4,1-13.Chave de leitura:Em que o diabo se baseia para tentar Je-sus e baseado em que Jesus responde?Identifique no texto as três tentações.Em seu entendimento, o que signifi-ca: o diabo afastou-se dele até o tem-po oportuno?

Como você tem reagido às tentações que o rodeiam?

C. o que o texto diz para nósHá uma boa explicitação do texto aci-ma na página 37 desta edição. Dom Emanuel aborda com propriedade a simbologia de cada uma das tenta-ções de Jesus. Confira antes de con-tinuar.

Embora tenhamos bons propósi-tos, façamos promessas, assumamos compromissos, não estamos livres de nos desviar dos projetos que abraça-mos. Jesus também teve de lutar con-tra as tentações.

Chama a atenção o fato de o dia-bo usar as Escrituras para tentar Jesus. Isso mostra que não basta ter a Bíblia nas mãos, não basta pregar a Palavra de Deus como garantia de estar fazen-do a vontade de Deus. Ninguém está isento de cair na tentação e, até com a Palavra nas mãos e na boca, pode-se agir em contrário à vontade Deus.

Cantando: Palavra de Salvação /, so-mente o Céu tem pra dar. / Por isso o meu coração / se abre para escutar. (bis)

O povo percebia em Jesus um jeito diferente de anunciar. Ele ensinava com autoridade, isto é, ele ensina-va vivendo o que pregava, testemu-nhando o que transmitia ao povo. O fio de prumo da pregação de Jesus não eram os interesses pessoais, mas o projeto do Pai.

Infelizmente, vemos muitos pre-gadores nas igrejas, na televisão, nas novas mídias, desviando-se do projeto de vida do Pai. Anunciam uma falsa re-ligião da riqueza e do poder, sem sensi-bilidade e sem solidariedade para com

os pequenos e sofredores. Essa não é a religião de Jesus. É pelos frutos que conhecemos se a árvore é boa ou má...

Rezando: Convertei-vos e crede no Evangelho!

d. o que o texto nos faz dizer a deus?a) Jesus, que na força da Palavra ven-cestes as tentações, ajudai-nos tam-bém a vencê-las. Rezemos:– Senhor, que a vossa Palavra nos for-taleça.

b) Jesus, que o Ano Santo da Miseri-córdia acorde em nós o projeto de vi-da do Pai. Rezemos:

c) Jesus, que o período da Quaresma nos faça mais praticantes da Palavra. Rezemos:

e. o que o texto sugere para nossos dias?Jesus se firma nas Escrituras para vencer cada uma das tentações. Ele cultivava a leitura e a oração a partir das Escritu-ras e conhecia muitos salmos de cor.

– Qual tem sido o meu empenho no es-tudo e na reflexão da Palavra de Deus? O que posso fazer para melhorar?

F. tarefa concretaProcurar participar das iniciativas pa-róquias no período da Quaresma e en-contrar formas de abraçar a Campanha da Fraternidade que é proposta para toda a Igreja do Brasil.

encerramento: Ofertar-se a Deus numa oração de confiança à sua von-tade; Pai-Nosso e pedido de bênção a Deus.]

Foi posto à prova pelo diabo durante 40 dias

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tudo em Família [ 26 – Para reunião de casais

árvore da vida e árvore da morte — dinâmicas para Grupo de Jovens [ 24

Leitura orante [ A clareza da missão...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 33 ]

1. Coisas que acontecemIsto foi em Londres, nos anos 50. É a história de um jovem casal. Ela traba-lhava como balconista em uma loja de roupas. Ele era auxiliar em um escri-tório de contabilidade. Na véspera de Natal, ambos pensavam como com-prar um presente para o outro, pois o dinheiro era muito curto.

Ele decidiu comprar um prende-dor de cabelos para ela, já que admi-rava seus longos cabelos. Para isso, pe-nhorou o relógio de ouro que herdara de seu avô e que guardava com extre-mo cuidado. Ela pensou em adquirir uma correntinha de ouro para aquele mesmo relógio de estimação. Para is-so, cortou seus lindos cabelos e vendeu-os a uma fábrica de perucas.

Ela chegou primeiro em casa e pre-parou o jantar natalino. Ele chegou de-pois e, quando abriu a porta, viu que a esposa cortara os cabelos. Ela teve de

explicar: fora a maneira de comprar a corrente de ouro para o relógio de ouro que ele... acabara de penhorar.

Naturalmente, abraçaram-se cho-rando. Lágrimas de alegria, pois entende-ram que o sacrifício é a prova do amor...

2. Pensando juntosAntigamente, estas coisas eram com-preendidas com mais facilidade. Di-zem os conselheiros e confessores que grande parte das separações entre ca-sais resulta da incapacidade de sofrer, da recusa em sacrificar-se pelo cônjuge.

Os mais jovens costumam enca-minhar-se para o casamento na ex-pectativa de alegrias e felicidade, o que devia incluir passeios, festas, en-contros com amigos. Quando surgem as dificuldades ligadas à gravidez, à educação dos filhos, aos proble-mas profissionais, ao aperto finan-ceiro, exigindo esforço, disciplina

e sacrifício, facilmente optam pe-la separação.

3. Para uma reunião de casais– Que sentimentos você experimen-

ta diante do exemplo daquele jovem casal londrino?

– Qual tem sido a sua reação diante dos sofrimentos próprios do casamen-to e da vida de família?

– Você percebe quando seu cônjuge se sacrifica por você? Pode dar exemplos?

– Quais os sacrifícios que mais lhe custam na vida de família?

– Você costuma recorrer à oração para aceitar os sofrimentos como pro-va de amor?]

objetivo: Refletir sobre os sinais de vi-da e morte no bairro, na comunidade, na família, no grupo de jovens.

material: um galho de árvore seco, um galho de árvore verde, caneta ou pin-cel e pedaços de papel.

desenvolvimento: em pequenos gru-pos, descobrir os sinais de vida e mor-te que existem no bairro, na família, no grupo de jovens... Depois, diante das árvores seca e verde, vão expli-cando para o grupo o que escreveram e penduraram na árvore. No interva-lo das colocações, pode-se cantar al-gum refrão.

Iluminar com a palavra de Deus e em grupo refletir: Iluminados pela práti-ca de Jesus, que fazer para gerar mais sinais de vida e enfrentar as situações de morte de nosso bairro?

Fazer a leitura de João 15,1-8. Depois, cada participante toma um sinal de morte da árvore, faz uma prece de perdão e o queima. Em seguida, cada um pega um sinal de vida e leva como lembrança e desafio.

Palavra de deus: Jo 15,1-8; Sl 1.]

Fonte: limadajuventudedarcc.blogspot.com.br/

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Catequese / roteiros [ 3 encontros seguindo os Evangelhos dos domingos 14, 21 e 28 de fevereiro ]FO

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1. Vencer as tentações (1º Dom. Quaresma)

objetivo: Compreender o que é con-versão para viver a fraternidade.material: Quadro ou cartaz da CF e li-vrinho, Bíblia, Cartaz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”.

1 – VEr (a realidade)

Dinâmica: Vamos começar nosso en-contro brincando de roda? Vamos dar as mãos e cantar um cântico bonito que todos saibam de cor. Agora, va-mos levantar as mãos dadas, dar uns passinhos para o centro e dizer: “Nós somos uma turma de catequese mui-to unida e alegre!”

Experiência de Vida: Que tempo ini-ciamos na quarta-feira passada? O que o padre ou ministro disse ao traçar o sinal-da-cruz com cinza na nossa tes-ta? (“Convertei-vos e crede no Evan-gelho”). O que a Igreja quer dos cris-tãos no tempo da Quaresma? O que quer a CFE (Campanha da Fraterni-dade Ecumênica)?

O tema da CFE deste ano é: “Casa Comum, nossa responsabilidade”. O le-ma é: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca” (Am 5,24). O cuidado com a casa comum nesta CFE será feito a partir de um problema concreto que afeta o meio ambiente e a vida de to-dos os seres vivos: Saneamento bási-co. Teremos de enfrentar muitas difi-culdades e tentações, mas com Jesus nós vencemos.

2 – ilumiNAr (Ensinamentos de Jesus)

Canto: para aclamar a Palavraleitura: Lucas 4,1-13.

Perguntar:a) Quem conduzia Jesus no deserto?

b) Quem apareceu para tentar Jesus?

c) Como Jesus venceu as tentações?

d) Como podemos vencer as tenta-ções, hoje?

Para refletirJesus vence as tentações deixando-se guiar pela luz do Espírito Santo e pela força da Palavra de Deus. O diabo usou até as Escrituras Sagradas (Bíblia) para desviar Jesus com uma interpretação errada. Jesus vence as tentações sen-do fiel à Palavra do Pai. Este é o cami-nho que devemos seguir.

Muitos tentam nos desviar das coi-sas de Deus, da catequese, da Igreja, usam de falsidades e nos apresentam diversão, esporte e outras tantas coi-sas. Precisamos aprender com Jesus a vencer as tentações.

Guardar no coração: “Não tentarás o Senhor, teu Deus”.

3 – CElEbrAr

oração: Deus, Pai do teu Povo, a Igre-ja, nós te damos graças. Pelo Batismo e Confirmação, libertaste-nos das amar-ras da morte e do pecado para nos in-troduzir na nova Terra Prometida, a Eu-caristia. Neste início de Quaresma, aju-da-nos a vencer as tentações e a voltar para a participação na vida de fé, fir-mes na tua Palavra.

4 – AGir (a realidade nos convoca para...)

CompromissoDescobrir as atividades da comuni-dade ligadas à Campanha da Frater-nidade.

FinalTerminar o encontro com um cânti-co alegre. Depois rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria.]

2. Este é o meu Filho amado. (2º Dom. Quaresma)

objetivo: Perceber que João Batista anuncia a todos a Boa Notícia da vin-da do Messias.material: Bíblia, vela acesa.

1 – VEr (a realidade)Dinâmica: Fazer um círculo. Vamos olhar bem uns para os outros e observar o jeito de cada um (modo de rir, cor do cabelo, cor dos olhos, a roupa...). Quais as dife-renças? Há uma coisa igual em todos nós?

Comentar: Somos todos gente, pes-soas, crianças inteligentes, alegres com vontade de crescer e aprender muitas coisas. Cada um de nós tem um nome. É importante conhecer os nomes de nos-sos colegas. [Com uma vela acesa que passa de um para o outro, cada um pega a vela e diz: “Eu sou uma luz de Deus, meu nome é... (diz o próprio nome)”].

Experiência de Vida: Pode-se con-tar a seguinte história.

Estou muito contente com a pre-sença de vocês. Jesus também está mui-to contente com vocês. Na catequese nós vamos conhecer melhor Jesus, nos-so grande amigo. Para conhecer Jesus, precisamos ter amor pela Palavra de Deus: ouvir com atenção, criar o cos-tume de ler sempre a Bíblia. São Jerô-nimo sempre dizia: “Quem não conhe-ce as Escrituras (Bíblia) não conhece Jesus Cristo”. Jesus é a chave para o en-tendimento da Bíblia. É a luz que ilu-mina todo o Antigo Testamento.

2 – ilumiNAr (Ensinamentos de Jesus)Canto de aclamaçãoleitura: Lucas 9,28-36.Perguntar:a) No monte, Jesus aparece ao lado de que figuras do Antigo Testamento?

Page 45: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

Catequese / roteiros [ 3 encontros seguindo os Evangelhos dos domingos 14, 21 e 28 de fevereiro ]

olutador [ fevereiro ] 2016 • 35 ]

b) O que diz a voz que vem do céu?c) O que os discípulos queriam fazer no alto do monte?d) Temos o costume de ler a Bíblia? Por quê?

Para refletirJesus aparece ao lado de Moisés e Elias, que são as maiores figuras do Antigo Testamento. Moisés representa toda a Lei de Deus, e Elias representa to-dos os profetas que transmitiam a Pa-lavra de Deus. Mas só Jesus aparece com roupas brilhantes, só Jesus tem luz própria. Jesus é o Filho amado de Deus. Ele é quem ilumina todo o Anti-go Testamento. Por isso a voz de Deus que vem do céu deixa claro para todos nós. “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutem o que ele diz!” (Lc 9,35.)

Devemos sempre seguir o que Je-sus ensina e nossa vida toda será sem-pre iluminada.

Guardar no coração: “Este é o meu Fi-lho, o Escolhido. Escutem o que ele diz!”

3 – CElEbrAroração: “Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-o!” Pai, com tua voz vin-da da nuvem, tu nos pedes para escu-tar Jesus. Ajuda-nos a prestar atenção ao que o outro diz… Isso nem sempre é fácil. Ajuda-nos a aprender a escutar, aprender a fazer silêncio para poder dar ao outro espaço para falar. Ajuda-nos a acolher o que o outro quer nos dizer, sem fazer resistências. Que a tua luz ilu-mine nossa vida, hoje e sempre. Amém.

Rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria de mãos dadas.

4 – AGir (a realidade nos convoca para...)

CompromissoLer em casa o texto do nosso próximo encontro: Lucas 13,6-9.

FinalCanto do Advento: “Vem, Senhor, vem nos salvar. / Com teu povo, vem ca-minhar.”]

3. É preciso produzir frutos (3º Dom. Quaresma)

objetivo: Descobrir, juntos, a missão libertadora de Maria e Isabel.material: Bíblia, papel cortado em for-ma de fruta (laranja, manga etc.) e ca-neta ou lápis, um vaso de planta ou um galho de árvore para colar os frutos.

1 – VEr (a realidade)Dinâmica: Entregar um pedaço de pa-pel a cada participante e pedir para es-creverem nela um serviço que sempre gostam de fazer.

O(a) catequista explica que estamos no mundo para produzir bons frutos e vamos colocar na árvore da vida os frutos que temos para oferecer a Deus. Cada um diz o serviço que gosta de fa-zer e cola o seu fruto na árvore da vida.

Canta-se: “Eu vim para que todos tenham vida, / que todos tenham vida plenamente”, ou outro canto apropriado.

Experiência de VidaTemos uma missão no mundo. Deus não nos criou por acaso. Nossa missão é ajudar o mundo a ser melhor. Produ-zir frutos de paz, de justiça, de verdade. Deus confiou a nós a missão de cuidar do mundo, de cuidar da natureza, dos animais e sobretudo de cuidar uns dos outros, vivendo como irmãos.

Deus sempre nos visita e espera encon-trar em nós bons frutos. Por isso apresen-tamos a Ele os frutos que estão na árvore...

2 – ilumiNAr (Ensinamentos de Jesus)

Canto de aclamaçãoLeitura: Lucas 13,6-9.

Perguntar:a) O que o homem foi procurar?b) Quando não achou frutos, o que o homem ordenou?

c) O que fez o agricultor?d) Somos pacientes uns com os ou-tros? Por quê?

Para refletirJesus utiliza a parábola da figueira pa-ra ilustrar as oportunidades que Deus concede para a conversão, para produ-zir frutos bons. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbo-lo do povo de Deus (cf. Os 9,10). Deus espera, portanto, que a figueira (povo de Deus) dê frutos, isto é, aceite con-verter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus.

Assim Deus revela a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não es-tá disposto a esperar indefinidamen-te, espera a nossa decisão. Jesus con-fia em que a nossa resposta será posi-tiva, por isso o apelo para não cortar a figueira, mas cuidar dela...

Guardar no coração: “Quem sabe, no futuro, ela dará fruto”.

3 – CElEbrAroração: Ó Deus paciente, sê ben-dito pelos sinais dos tempos através dos quais nos convidas sem cessar a nos voltarmos para ti. Nós te damos graças, porque nos deixas o tempo da conversão. Nós te pedimos pela nos-sa catequese, por nossas comunida-des e por nossas famílias; que o teu Es-pírito guie os nossos pensamentos, as nossas palavras e as nossas ações, para que possamos sempre produzir bons frutos de paz, justiça e verdade, hoje e sempre. Amém.

4 – AGir (a realidade nos convoca para...)

CompromissoEnsinar em casa o que aprendeu no en-contro de hoje. Convidar seus familia-res a participar da missa nesta semana, pondo em prática o que aprenderam.

FinalEncerrar o encontro com o Pai-Nosso, a Ave-Maria e um cântico animado.]

Page 46: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

o Lutador Kids [ Fraternidade... Um espaço descontraído e alegre que leva os

pequenos ao despertar

da fé e ao encantamento

com Jesus

[ 36 • olutador [ fevereiro ] 2016

1º Domingoda Quaresma

RESPOSTAS: 1. Fé; 2. Morrendo; 3. Paz; 4. Santo; 5. Verdade; 6. Amor; 7. União; 8. Alegria; 9. Perdão; 10. Amar; 11. Compreender; 12. Esperança.

1. Cruzadinha da Fraternidade

1. Creio, Senhor, mas aumentai a minha (...);2. É (...) que se vive para a vida eterna;3. Dai-nos, Senhor, a vossa (...);4. Ano (...) da Misericórdia;5. Eu sou o Caminho a (...) e a vida;6. Só o (...) constrói;7. A (...) faz a força;8. A (...) está no coração de quem já conhece a Jesus;9. Quem ama também dá seu (...);10. “É preciso (...) como se não houvesse amanhã”;11. Mais (...) que ser compreendido;12. A (...) é a última que morre.

[ConheçA e AComPAnhe CAdA temPo do Ano LitúrgiCo]

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FRATERNIDADE

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homilética [ 14•02•2016

Leituras da semana [ dia 15: lv 19,1-2.11-18; sl 18[19],8-10.15; mt 25,31-46[ dia 16: Is 55,10-11; sl 33[34],4-7.16-19; mt 6,7-15[ dia 17: Jn 3,1-10; sl 50[51],3-4.12-13.18-19; lc 11,29-32[ dia 18: est 4,17n.r.aa-bb.gg-hh; sl 137[138],1-2a.2bc-3.7c-8; mt 7,7-12[ dia 19: ez 18,21-28; sl 129[130],1-8; mt 5,20-26[ dia 20: dt 26,16-19; sl 118[119],1-2.4-5.7-9; mt 5,43-48

[Comentários de: dom emanuel messias de oliveira

Bispo diocesano de caratingaFone cúria: (33) 3321-4600

[email protected]]

o Lutador Kids [ Fraternidade...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 37 ]

Leituras: Dt 26,4-10; Sl 90 [91] 1-2.10-15; Rm 10,8-13; Lc 4,1-13.

1. Terra, dom de Deus. estamos diante do “credo histórico de Israel”, trecho de funda-mental importância para o povo de deus, trazido à memória a cada ano, quando as fa-mílias celebram o memorial de sua libertação.

o que deve ser feito ao tomar posse da terra Prometida? o povo deve pegar os primeiros frutos da terra e apresentá-los a Javé; cada família devia ir até ao sa-cerdote, levando o cesto, e professar a sua fé. temos aqui todo o ritual com a ofer-ta, a profissão de fé, a adoração e o gran-de banquete de confraternização (v. 11). com a família participavam também o levita e o imigrante. todos se alegravam com a fé no deus libertador.

neste gesto, três grandes significa-dos: 1. o processo da libertação e a posse da terra, dom de deus que liberta, e con-quista do povo que luta e se organiza. 2. nesta profissão de fé, o israelita reconhecia a opção preferencial que Javé havia feito pelos oprimidos e marginalizados, Javé ouve o clamor do povo e o liberta. 3. o povo manifesta a sua fé através da grati-dão da oferta, reconhece que tudo vem de deus, a liberdade, a vida e os produtos da terra. A partilha e a generosidade supe-ram a tentação da ganância e do acúmulo.

nossa fé no deus que é dono de tudo e tudo nos dá, nos leva à partilha genero-sa através do dízimo e da oferta?

2. O caminho da salvação. cristo é o próprio fim da lei “como meta, como termo e como realização”, quer dizer, o objetivo da lei é chegar até Jesus, e Jesus põe fim à lei, pois agora a vida é encon-trada em Jesus cristo e não na lei. os vv. 5-13 mostram que o único caminho da salvação está na fé em cristo.

1º Domingoda Quaresma

“Não porás à prova o Senhor,

teu Deus.” [Lc 4,12b]

o texto de Paulo faz duas citações: lv 18,5 - a lei plenamente cumprida le-va à salvação; se o acento aqui está no agir humano, na realidade, ninguém é capaz de cumpri-la por causa da força do pecado. A segunda, dt 30,11-14, sublinha o agir de deus. mostra que a Palavra de deus não está distante do homem (no céu ou nos abismos), mas foi colocada por deus ao seu alcance. no v.8, Paulo mostra que esta não é palavra da lei, mas a palavra da fé.

qual é o conteúdo dessa fé? É o v. 9 que nos traz o sintético e primitivo cre-do cristológico: “Se, pois, com tua boca con-fessares que Jesus é o Senhor e, no teu cora-ção, creres que Deus o ressuscitou dos mor-tos, serás salvo”.

te, novo elias, vai refazer de modo vito-rioso a caminhada do povo com um no-vo projeto de libertação.

Jesus é tentado a ser o Messias da abun-dância, transformando pedras em pão. num mundo de famintos, Jesus teria pleno su-cesso. Jesus responde com o texto de dt 8,3: “não só de pão vive o ser humano”. o projeto de Jesus vai além do alimento.

Jesus é tentado a ser o Messias do poder. o demônio propõe dar a Jesus todos os reinos do mundo com toda a glória, con-tanto que Jesus o adore. Jesus sabe que um messianismo temporal e político não seria libertador, seria opressor como o projeto do faraó; por isso, Jesus responde de novo com dt 6,13: “temerás o senhor teu deus, a ele servirás e só por seu nome jurarás”.

Jesus é tentado a ser o Messias do prestígio. usar o poder de deus em seu próprio favor, isto é, a fim de se livrar da morte. dentro do simbolismo da terceira tentação, Jesus é convidado a pular do pináculo do templo, pois conforme o sl 91,11-12 os anjos de deus o protegeriam e o livrariam da morte.

mas Jesus entendeu bem que o projeto de deus, que é a libertação dos oprimidos, tinha de passar pelo sofrimento e morte, e Jesus não se acovardou. A reposta de Jesus é tirada de dt 6,16: “não tenteis o senhor vosso deus”. o v. 13 afirma que o demônio voltará no momento oportuno, quando Jesus tiver de enfrentar os chefes dos sa-cerdotes, doutores da lei e anciãos, que re-presentavam o poder (cap. 20, cf. 22, 3-53).

quais são as três principais tentações de hoje? quem hoje faz o papel do demô-nio, promovendo as tentações?]

3. O vencedor do mal. os sinóticos que-rem mostrar, antecipadamente, a vitória de Jesus sobre o poder do mal. nestas três tentações simbólicas, sintetizam todas as tentações que Jesus sofreu em sua vida pú-blica. Jesus está no deserto e é guiado pelo espírito. o deserto pode simbolizar o povo de Israel, e o demônio todos os obstáculos e antiprojetos que Jesus enfrentou e venceu para levar à frente seu programa libertador.

os 40 dias simbolizam o tempo da vida de Jesus – uma geração. lembra o tempo em que moisés passou no sinai (ex 34,28), a caminhada de elias para o horeb (1rs 19,8) e, também, o tempo em que Israel passou no deserto. Jesus, no-vo moisés e, para lucas, principalmen-

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homilética [ 21•02•2016

Leituras da semana [ dia 22: 1Pd 5,1-4; sl 22[23],1-6; mt 16,13-19[ dia 23: Is 1,10.16-20; sl 49[50],8-9.16bc-17.21.23; mt 23,1-12[ dia 24: Jr 18,18-20; sl 30[31],5-6.14-16; mt 20,17-28[ dia 25: Jr 17,5-10; sl 1,1-4.6; lc 16,19-31[ dia 26: Gn 37,3-4.12-13a.17b-28; sl 104[105],16-21; mt 21,33-43.45-46[ dia 27: mq 7,14-15.18-20; sl 102[103], 1-4.9-12; lc 15,1-3.11-32

2º Domingoda Quaresma

3º Domingoda Quaresma

[ 38 • olutador [ fevereiro ] 2016

Leituras: Gn 15,5-12. 17-18; Sl 26 [27],1.7-9.13-14; Fl 3,17-4,1; Lc 9,28b-36

1. Aliança e promessa. deus fez uma promessa a Abraão. Abraão acredita. es-ta fé lhe é creditada como justiça. o sinal de que deus vai cumprir sua promessa é dado no rito da aliança.

A aliança é sempre bilateral, quer di-zer, as duas pessoas envolvidas tinham de assumir o compromisso. o rito da alian-ça era concluído assim: dividiam alguns animais e colocavam as partes uma dian-te da outra. os contraentes passavam no meio. quem violasse o contrato teria a mesma sorte dos animais. em nosso tex-to, porém, é só Javé, através do símbolo do fogo, que passa entre os animais. Isto significa que Javé nunca será infiel à sua promessa de conceder vida e liberdade àqueles que nele confiam.

deus promete duas coisas, que eram as aspirações mais profundas de Abraão e de todo o povo da Bíblia: descendên-cia e terra.

2. Uma pátria no céu. A carta aos Fi-lipenses pode ser lida como uma compi-lação de três cartas escritas em momen-tos distintos. A primeira 4,10-20: agra-decimentos pelos auxílios recebidos na prisão. A segunda seria uma exortação à unidade e notícias pessoais: 1,1-3 + 4,2-7 + 4,21-23. A terceira seria um ataque a falsos doutores, inimigos da cruz de cris-to: 3,1b-4,1 + 4,8-9.

como vemos, nosso trecho perten-ce à terceira carta, apresentando de um lado os amigos da cruz de cristo, sendo Paulo o modelo a ser imitado; do ou-tro lado “os inimigos da cruz de cris-to”, um contramodelo a ser evitado. o interesse dos amigos da cruz de cris-

to, os cristãos, está no céu. o interes-se dos inimigos da cruz de cristo está no ventre etc.

Paulo, o modelo. não se trata de or-gulho ou vaidade de Paulo. Aliás, os fi-lipenses são convidados a observar não apenas Paulo, mas também os que vivem com a mesma coragem de fazer uma op-ção radical por cristo (cf. 3,7-8; 1,21). no fundo, a preocupação de Paulo é ajudar os filipenses a distinguir os verdadeiros dos falsos líderes e se colocar como pon-to de referência para os filipenses, dian-te do contratestemunho dos inimigos da cruz de cristo.

onde está o interesse dos que são de cristo? no céu, pois eles, mesmo atuan-

3. O êxodo de Jesus. enquanto rezava, Jesus se transfigura. ele está sobre uma montanha para rezar e leva consigo Pe-dro, tiago e João. A montanha é um lu-gar de oração a sós. o Jesus de lucas es-tá sempre rezando, principalmente antes de decisões importantes. A montanha re-lembra também o lugar de tentações de um projeto mundano. mas Jesus vence o demônio e consolida o projeto divino de salvar os homens através da cruz.

moisés, elias e Jesus conversam so-bre o seu êxodo ( sua partida através da morte e ressurreição). moisés represen-ta a lei; elias, os profetas. É que as pro-messas do Primeiro testamento vão se realizar em Jesus. Para lucas, este v. 31 é o ponto alto do episódio. o que signifi-ca o êxodo de Jesus? A palavra relembra toda a caminhada da libertação do po-vo do egito até à terra Prometida. Jesus também quer libertar o povo oprimido. Isto ele vai fazer superando as tentações do comodismo, do egoísmo e do triunfa-lismo, e subindo para Jerusalém numa su-bida sem retorno, para lá enfrentar a mor-te e de lá continuar sua subida ou êxodo até à casa do Pai (cf. 9,51 que marca esta decisão de Jesus).

da nuvem, a voz de deus declara: “este é meu Filho, o escolhido, escutem o que ele diz”. Jesus é o Filho, superior aos servos moisés e elias. só que ele vai as-sumir a missão de servo de Javé, o esco-lhido (cf. Is 42,1) para a libertação-trans-figuração do seu povo através da cruz.

o Primeiro testamento conduz a Je-sus e se eclipsa com a sua chegada. A úni-ca voz autorizada agora é a dele. diante desse mistério, ainda incompreensível, os discípulos se calam.

como ajudar, hoje, na transfigura-ção do rosto tão desfigurado do nosso povo sofrido?]

do na terra, já são cidadãos do céu. A es-pera do retorno de cristo é ansiosa, pois, com seu poder, ele vai transformar o nos-so corpo, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso. eis a importância do res-peito ao corpo, pois nosso corpo tem um destino glorioso.

os inimigos da cruz de cristo são os judaizantes, os que não acreditam no va-lor salvífico da cruz de cristo. A salvação deles ainda está no fiel cumprimento da lei antiga. mas Paulo garante que o fim deles é a perdição, pois seus pensamen-tos estão nas coisas da terra, não nas coi-sas do céu (cf. cl 3,2).

quem são hoje os inimigos da cruz de cristo?

“Este é o meu filho, o Eleito.

Escutai-o!” [Lc 9,35]

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[Comentários de: dom emanuel messias de oliveira

Bispo diocesano de caratinga

homilética [ 28•02•2016

Leituras da semana [ dia 29: 2rs 5,1-15a; sl 41[42],2-3; sl 42[43],3-4; lc 4,24-30[ dia 1º: dn 3,25.34-43; sl 24[25],4bc-5ab.6-7bc.8-9; mt 18,21-35[ dia 2: dt 4,1.5-9; sl 147[147B],12-13.15-16.19-20; mt 5,17-19[ dia 3: Jr 7,23-28; sl 94[95],1-2.6-9; lc 11,14-23[ dia 4: os 14,2-10; sl 80[81],6c-8a.8bc-9.10-11ab; mc 12,28b-34[ dia 5: os 6,1-6; sl 50[51],3-4.18-19.20-21ab; lc 18,9-14

“Se vós não vos converterdes,

perecereis.” [Lc 13,3]

3º Domingoda Quaresma

olutador [ fevereiro ] 2016 • 39 ]

Leituras: Ex 3,1-8a.13-15; Sl 102 [103],1-4.8.11; 1Cor 10,1-6.10-12; Lc 13,1-9

1. Deus libertador. moisés foi pastorean-do as ovelhas do seu sogro até à montanha de deus, o horeb (= sinai). Ali, o senhor lhe aparece no meio de uma sarça que es-tava em chamas, mas não se consumia. A experiência de deus é um mistério que está além da compreensão humana, apresentado aqui como fogo que arde sem se consumir.

deus chama moisés e se apresenta co-mo o deus de seus antepassados, o deus que fez aliança com os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó. É um deus sensível e solidário, por isso escutou os clamores do povo no egito e desceu para libertá-lo. É um deus fiel às promessas feitas aos patriarcas, vai condu-zir o povo a uma terra boa e espaçosa, onde corre leite e mel. deus exige respeito e re-verência. moisés, de fato, deve tirar as san-dálias, pois está pisando em lugar sagrado.

Para que deus o chama? Para ser o seu agente na libertação do povo, por isso deus vai enviá-lo ao egito. moisés se sente inca-paz dessa missão (v. 11), mas deus garante sua presença e promete que o povo chega-rá até o sinai para prestar-lhe um culto.

deus revela seu nome a moisés - “Eu sou aquele que sou” - para que ele possa res-ponder ao povo: “Eu sou me enviou até vo-cês”. e ele quer ser chamado sempre com este nome que está ligado à sua presença e a todo o processo de libertação do povo.

qual é a identidade de Jesus cristo pa-ra você? ele o chama para alguma missão?

2. Os erros do passado. esta releitura do Antigo testamento mostra que “estes fatos aconteceram como exemplos para nós”. A preocupação do apóstolo é a ten-tação da comunidade de recair nos erros do passado, “a falsa ilusão de estarem se-

guros e a indigna convicção de já terem atingido a libertação definitiva”.

quais os fatos que aconteceram co-mo exemplos? A travessia pelo deserto, onde os israelitas eram protegidos pela nuvem de deus, a travessia do mar ver-melho, sob a ordem de moisés. o maná, alimento de deus para todos, a água da rocha. A nuvem e a água do mar lembram para Paulo o batismo que lava, congrega, compromete. no maná e na água da rocha, temos a prefiguração da eucaristia. essa rocha que nos acompanhava era cristo. “segundo as tradições dos rabinos, a rocha golpeada por moisés (cf. nm 20,1-3) se-guia os hebreus para providenciar-lhes a água. essa interpretação é aqui usada pa-

3. A paciência de Deus. Alguns acha-vam que certos desastres eram castigos de deus pelos pecados deles. É a doutrina da retribuição: quem faz o mal deve pagar por ele já nesta vida. como eles são jus-tos, foram poupados. Jesus tira essa idéia errada da cabeça do povo: todos são pe-cadores, todos têm de se converter. deus não é vingador. esses fatos trágicos são fa-lhas humanas (caso de Pilatos) e contin-gências da vida (queda da torre de siloé).

entretanto, Jesus tira uma lição dos fatos da vida. As vítimas não são mais pecadoras do que os presentes, mas os acontecimentos podem ser vistos como advertências e convite à conversão. uma vida de solidariedade no mal leva à ruína total. uma vida de solidariedade no bem leva à construção do reino de deus. Je-sus narra a parábola da figueira, que sim-boliza o povo de Israel, uma árvore ge-nerosa, pois dá frutos dez meses por ano. ela estava plantada no meio da vinha, que também simboliza Israel. Foi deus que a plantou. só que esta figueira não dá fruto e já faz três anos de espera pa-ciente – paciência de deus.

deus diz ao agricultor que corte a fi-gueira. o agricultor é Jesus, que pede mais um tempo. vai investir além das expectati-vas. vai desdobrar-se de cuidados pela sua figueira: cavar ao redor e adubar! os agri-cultores sabem que não precisam adubar as figueiras, pois já eram plantadas no meio das vinhas e tratadas com esmero. este cuidado retrata que a solidariedade, paciência e ca-rinho de deus chegam às raias do absurdo. mas fica uma grande pergunta no ar. será que para nós, que somos a figueira, não es-tá terminando o ano da culpa? quem sabe estamos abusando da paciência de deus?]

ra dizer que cristo conduz o povo desde os tempos do Êxodo” (cf. Bíblia Pastoral).

o v. 5 nos adverte: “Apesar disso, a maioria deles não agradou a deus, e caí-ram mortos no deserto”. quer dizer, com tantos favores de deus, tinham tudo para serem ótimos e mesmo assim pecaram. e isso aconteceu como exemplo e instrução para nós, que vivemos no fim dos tempos.

o que fazer então? É não fazer o que eles fizeram: cobiça, idolatria, imoralidade, provocar a deus, murmurar. eles cometeram esses erros e foram castigados. eis a grande advertência final: “Portanto, aquele que jul-ga estar de pé, tome cuidado para não cair”.

você é consciente de sua fragilidade e sempre confiante?

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[Comentários de: dom emanuel messias de oliveira

Bispo diocesano de caratinga

[ 40 • olutador [ fevereiro ] 2016

homilética [ 06•03•2016

Leituras da semana [ dia 7: Is 65,17-21; sl 29[30],2.4.5-6.11-12a e 13b; Jo 4,43-54[ dia 8: ez 47,1-9.12; sl 45[46],2-3.5-6.8-9; Jo 5,1-16[ dia 9: Is 49,8-15; sl 144[145],8-9.13cd-14.17-18; Jo 5,17-30[ dia 10: ex 32,7-14; sl 105[106],19-20.21-22.23; Jo 5,31-47[ dia 11: sb 2,1a. 12-22; sl 33[34],17-21.23; Jo 7,1-2.10.25-30[ dia 12: Jr 11,18-20; sl 7,2-3.9bc-12; Jo 7,40-53

4º Domingoda Quaresma

5º Domingoda Quaresma

“Este meu filho estava morto

e tornou a viver.” [Lc 15,24]

Leituras: Js 5,9a.10-12; Sl 33[34],2-7; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32

1. A terra e o pão. o povo de deus acaba de chegar à terra Prometida e celebra a che-gada com a circuncisão e a Festa da Páscoa. como o v. 11 fala dos pães sem fermento, isto significa que a festa da Páscoa e dos pães ázimos já estavam reunidas em uma só.

o que era a Festa da Páscoa? Antes do êxodo ela servia para os pastores afas-tarem da família e dos rebanhos os espíri-tos maus. Isto era feito matando um ani-mal e tingindo a entrada da tenda com o sangue dele. depois do Êxodo, a Festa da Páscoa adquire um novo sentido. tor-na-se lembrança perpétua do deus vivo que, para libertar o seu povo, derrota os opressores e seus ídolos.

o que era a festa dos pães sem fer-mento? de início só era celebrada pelos agricultores na ocasião da colheita. A fi-nalidade era não misturar o produto da colheita anterior com o produto da nova. eles comeram pão sem fermento e trigo tostado, e só a partir do dia seguinte, co-meram produtos da terra (v.11). quan-do começaram a comer dos produtos da terra, o maná parou de cair (v.12).

o que era o maná? A contraposição entre os produtos da terra e o maná mar-ca o fim do período do deserto. o maná é uma figura da eucaristia, no sentido de ser o pão do céu e alimento de um povo que ainda está a caminho para a pátria ce-leste. você experimenta, ao comungar, o sentido libertador da eucaristia?

2. Um novo tempo. Paulo desenvolve o tema da reconciliação. ele é acusado de não ser apóstolo, pois não conheceu Jesus em sua vida terrestre, não ouviu suas palavras nem participou de suas ações. Por isso não pode ser testemunha do evangelho. Paulo

vai mostrar que o evangelho não é simples história de Jesus e, sim, o anúncio de sua morte e ressurreição, que reconcilia o ho-mem com deus e inaugura uma nova era.

conhecer o cristo segundo as apa-rências tem pouco valor, pois agora já não o conhecemos assim (v. 16). o importante é a novidade que deus nos traz: a recon-ciliação em cristo. ele restaurou sua obra corrompida pelo pecado. se alguém está em cristo é nova criatura. Isso é que importa.

deus não levou em conta os pecados dos homens e por meio de cristo ele re-conciliou o mundo consigo. É a Paulo e aos apóstolos que cristo confiou o minis-tério da reconciliação. ele exerce assim a função de embaixador em nome de cris-

é distanciar-se da casa do Pai com ex-periências desligadas da fonte do amor e da vida. mas ele acaba na “lama”, cui-dando de porcos, animal imundo para os judeus. nem comida de porcos ele tinha. reconhece, na miséria absoluta, que na casa do pai até os empregados têm de tu-do. ensaia sua confissão e decide voltar.

sua esperança é de ser ao menos um empregado. mas o Pai o aguardava ansioso (v. 20). vendo-o, encheu-se de compaixão e correu ao seu encontro e o restabelece na família com toda a dignidade de filho: o beijo é o sinal do perdão; a veste festiva é para um hóspede de honra; a entrega do anel é a restituição de todos os direitos e plenos poderes na família; os sapatos eram luxo dos homens livres, escravos não usa-vam. naquela casa voltou a alegria: “vamos fazer um banquete, porque meu filho es-tava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado”. e começaram a festa.

mas... e o filho mais velho? o mais velho tem todas as qualidades, mas não é capaz de acolher o irmão que volta, nem quer partilhar da alegria do coração do Pai que insiste com amor e ternura que ele entre para a festa. Gabando-se de sua conduta justa e irrepreensível, chega a criticar a ati-tude do Pai. A parábola termina com o Pai justificando sua conduta misericordiosa.

e o filho mais velho entrou, ou não, entrou na festa? Agora entenderemos os versículos iniciais.

o filho mais novo são todos os peca-dores com quem Jesus faz a festa. o filho mais velho são os fariseus e doutores da lei que se consideram justos, mas são in-capazes de acolher os irmãos marginali-zados e ainda criticavam a atitude de Je-sus. e você? qual a sua postura?]

to e é através dele (de Paulo) que deus fa-la, exortando os coríntios à reconciliação.

o v. 21 significa: deus fez de cristo, que não tinha pecado nenhum, “uma pes-soa solidária em tudo com a humanidade pecadora, para que por seu intermédio nos tornássemos justos”, agraciados, reconcilia-dos. você cuida de viver profundamente em paz com deus, os irmãos e a comunidade?

3. A roupa nova. o capítulo 15 é o coração do evangelho de lucas. são três parábolas de misericórdia: a da ovelha perdida, da dracma perdida e do filho pródigo (melhor ainda, parábola do Pai misericordioso).

o filho pede sua parte da herança ao pai e parte para bem distante. Pecar

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[Comentários de: dom emanuel messias de oliveira

Bispo diocesano de caratinga

olutador [ fevereiro ] 2016 • 41 ]

homilética [ 13•03•2016

Leituras da semana [ dia 14: dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62; sl 22[23],1-3a.4.5.6; Jo 8,12-20[ dia 15: nm 21,4-9; sl 101[102],2-3.16-18.19-21; Jo 8,21-30[ dia 16: dn 3,14-20.24.49a.91-92.95; cânt. dn 3,52-56; Jo 8,31-42[ dia 17: Gn 17,3-9; sl 104[105],4-9; Jo 8,51-59[ dia 18: Jr 20,10-13; sl 17[18],2-7; Jo 10,31-42[ dia 19: 2sm 7,4-5a.12-14a.16; sl 88[89],2-3.4-5.27 e 29; rm 4,13.16-18.22; mt 1,16.18-21.24

“Eu também não te condeno.”

[Jo 8,11]

5º Domingoda QuaresmaLeituras: Is 43,16-21; Sl 125[126], 1-6; Fl 3,8-14; Jo 8,1-11

1. Um mundo novo. em pleno exílio ba-bilônico, o profeta anônimo (deutero-I-saías, por volta do ano 550) quer reanimar as esperanças de retorno à Pátria. ciro, rei da Pérsia, está conseguindo seguidas vitórias sobre os caldeus. o profeta interpreta o fato à luz da fé. o senhor, criador, redentor e rei de Israel está se servindo do seu ser-vo ciro para libertar Israel (cf. vv. 14-15).

Após as memórias das ações liber-tadoras de Javé, da passagem pelo mar vermelho, e da destruição do exército do faraó que perseguia os israelitas, curiosa-mente, o v. 18 convida a esquecer o passa-do. Por quê? Porque o que Javé vai fazer agora é uma coisa nova, muito mais fan-tástica do que as maravilhas do Êxodo.

no v. 19 e seguintes, o profeta reani-ma as esperanças dos exilados. esta coi-sa nova já começou a acontecer. As con-quistas de ciro são um pré-anúncio. no Êxodo o deserto foi cruel e hostil ao po-vo. Javé vai abrir uma estrada no deserto e fazer correr rios no sertão. diante das maravilhas em favor de Israel, até os ani-mais selvagens darão glória a Javé, pois dando água para a sede do seu povo, Javé favorece toda a criação, renovando a vida.

As ações de Javé são imprevisíveis. Assim, devemos rezar e alimentar nos-sas esperanças. se Javé se serviu de ciro, não poderia também servir-se de um no-vo governo para restaurar nossas estradas, suscitar vida nas favelas, despertar espe-ranças para os excluídos? como podere-mos ser instrumentos nas mãos de deus?

2. Esquecer o passado. Podemos divi-dir a carta aos Filipenses em três bilhetes: a) 4,10-20 – bilhete de agradecimento; b) 1,1-3-1a + 4,2-7 + 4,21-23 – exortações à

unidade e notícias pessoais; c) 3,1b-4,1 + 4,8-9 – ataques aos falsos doutores. nos-so texto faz parte do 3º bilhete. um grupo de cristãos que vinha do judaísmo queria judaizar o cristianismo. queriam forçar a comunidade a seguir as leis judaicas. Pau-lo critica o rito da circuncisão na carne e dá um sentido espiritual à circuncisão.

o ponto de referência da vida do cristão é cristo, e não a lei de moisés. Por isso Paulo descreve seu passado ir-repreensível segundo a lei. mas afirma que, depois de ter conhecido Jesus cris-to, seu passado perdeu o sentido. Pode até ser considerado como uma perda. nada é maior que o conhecimento que agora ele possui de Jesus cristo.

de todos os excluídos da sociedade e da religião judaica. Para excluir Jesus, os se-nhores do templo (fariseus e doutores da lei) condenam uma adúltera que, pe-lo adultério, deveria ser excluída, junta-mente com o adúltero, não só da religião, mas até da vida, com pedradas. era a lei.

queriam saber a opinião de Jesus (v. 5), mas para eles a adúltera já está con-denada. serviam-se dela para condenar também a Jesus (v. 6). diante da pergun-ta, Jesus se inclina e escreve com o dedo no chão. depois se ergue e, com voz de quem conhece profundamente as fraque-zas humanas, com o coração de quem veio para acolher, perdoar e não condenar, Je-sus diz solenemente: “quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra”.

A frase pulveriza os corações de todos os que ainda não vivem estas sentenças la-pidares de Jesus: “não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis conde-nados, perdoai e sereis perdoados”. (lc 6,37.)

os pretensos juízes da mulher excluí-da são incluídos na categoria de réus. e devagar foram saindo conscientes de seus pecados. os mais velhos saíram primeiro. Jesus e a mulher começam o diálogo liber-tador: “ninguém te condenou?” “ninguém, senhor!” o círculo opressor que oprimia e queria condenar estava desfeito. resta-va diante da mulher a única pessoa que, isenta de todo o pecado, poderia conde-ná-la. só que Jesus ficou não para conde-nar, mas para absolver, resgatar e salvar. É o coração do Pai misericordioso que fa-la por Jesus: “eu também não te conde-no. vai e, doravante, não peques mais”. Jesus condena o pecado, não o pecador.

como o mundo seria diferente se aprendêssemos a lição de Jesus!]

Aliás, diante de Jesus cristo, tudo que ele conquistou antes pode ser considerado como lixo desprezível. o mais importante agora é ganhar Jesus cristo pela justiça que vem de deus, através da fé em Jesus cristo. usando a imagem do atleta que corre para alcançar o prêmio, Paulo deixa claro que já foi conquistado por cristo, mas a perfeição é meta que está no fim da corrida. o im-portante para ele não é gloriar-se das con-quistas alcançadas, mas continuar a correr.

e para você, o que é importante? en-trar em campo ou ser espectador ou, quem sabe, atleta aposentado?

3. Uma vida nova. Jesus ensina no tem-plo, local símbolo da exclusão de Jesus e

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Patê natural

de cenouraIngredientes4 cenouras cozidas; 1 cebola peque-na; 1 colher (sopa) de molho de so-ja; ½ limão; 1 colher (sopa) de mel; óleo de soja até dar ponto de patê (pode-se usar também óleo de mi-lho ou girassol); sal marinho.

Modo de FazerCozinhar as cenouras em quadra-dinhos. Colocar todos os ingre-dientes no liquidificador. Bater bem e guardar, bem fechado, na geladeira.]

Do livro “Cozinhando sem Mistério”,

de Léa Raemy Rangel &

Maria Helena M. de Noronha Ed. O Lutador, Belo Horizonte, MG

Pedidos pelo noVo nÚmeRo

0800-940-2377

variedades [ Dicas de português & Humor

[ Não Tropece na Língua[ alGumas ReFleXÕes soBRe Vós

[ 42 • olutador [ fevereiro ] 2016

quando os índios crescemNo barracão da fazenda, sempre apa-reciam índios da região. Um deles gos-tava de conversar com o velho fazen-deiro sobre as coisas do dia a dia. Uma vez, o fazendeiro perguntou ao índio:

– Você gosta de mulheres?– Minha é boa mulher! – disse o índio.– É... deve ser... afinal você está ca-

sado há 33 anos...Houve um longo silêncio. Depois

o índio explicou:– Primeiros 10 anos, eu e mulher

brigar, brigar. Segundo 10 anos, mu-lher e crianças brigar, brigar, brigar, eu

Por que nos cursos de português não se usa mais o pronome vós? Como usar vós, o que significa?

[ amélia, são Paulo, sP

Precisamos começar lembrando que temos três pronomes pessoais no sin-gular e três no plural. A primeira pes-soa é a que fala: eu e nós. A segunda é a pessoa com quem se fala: tu e vós. A terceira é a pessoa de quem se fa-la: ele/ela e eles/elas. Ocorre que nós brasileiros deixamos de lado tu e vós em favor de você e vocês, que seriam pronomes de tratamento tanto quan-to o senhor, a senhora, vossa senhoria, vossa excelência.

O pronome pessoal tu é ainda usa-do em algumas regiões do Brasil (eu mesma tuteio a maioria das pessoas com quem converso), mas o seu cor-respondente no plural – vós – não é ja-mais falado neste país. Seu uso ficou restrito ao âmbito religioso e literário, podendo ser encontrado ainda em es-critos de natureza bastante formal como um discurso. É por essa raridade que os livros didáticos não incluem mais este pronome na conjugação verbal, Amélia. Mas é interessante saber co-mo ele funciona, ao menos como “co-nhecimento geral”.

vÓs singuLarApesar de pertencer à categoria plu-ral, vós pode ser usado em relação a uma só pessoa. É o caso, por exemplo, da Divindade: Pai Nosso, que estais no céu, santificado seja o Vosso nome...

Também é muito comum os fiéis se dirigirem a Deus com a segunda pes-soa do singular, sem que isso signifique menor respeito ou reverência. Assim sendo, a mesma oração pode ser feita com o uso do pronome Tu, mas neste caso é preciso observar a mudança dos verbos, naturalmente, e demais prono-mes: Pai Nosso, que estás no céu, san-tificado seja o Teu nome...

vÓs PLuraLPara ilustrar o uso do pronome vós co-mo segunda pessoa do plural, trago um trechinho do poema Versos, de Cruz e Sousa, escrito em 1881 na então Des-terro, hoje Florianópolis:Eia, jovens, avante!Ser artista é brilhante,Trabalhar é uma lei! [...]Não temais os pampeiros,Sois gentis brasileiros,Deveis pois progredir!Quem vos traça na históriaVossa augusta memóriaÉ um deus – o Porvir!]

humor

calar boca. Terceiro 10 anos, crianças crescer, eu crescer, todos calar boca...Fé e políticaDe férias em Cuba, um português con-versa com um cubano. A certa altura pergunta-lhe o cubano: “Você vem de um país muito católico, até lá apareceu Nossa Senhora... Fátima. É católico?”

“Mais ou menos” – responde o portu-guês. “Acredito, mas não pratico. Já agora, deixe-me fazer-lhe uma pergunta” – con-tinua o português. “Você vive num país oficialmente comunista. É comunista?”

“Mais ou menos” – responde o cubano. “Pratico, mas não acredito”.]

Page 53: Revista catolica o lutador 3873 fevereiro 2016

variedades [ Dicas de português & Humor

E C O C E C í L i a m E i r E L E s

mensagens [ Poesia & Sabedoria...

[ P a l a V R a d e s a B e d o R i a

olutador [ fevereiro ] 2016 • 43 ]

Cantara ao longe Francisco,jogral de Deus deslumbrado.

Quem se mirara em seus olhos,seguira atrás de seu passo!(Um filho de mercadores

pode ser mais que um fidalgo,se Deus o espera

com seu comovido abraço...)Ah! Que celeste destino,

ser pobre e andar a seu lado!Só de perfeita alegria

levar repleto o regaço!Beijar leprosos,

sem se sentir enojado!Converter homens e bichos!

Falar com os anjos do espaço!...(Ah! Quem fora a sombra,

[ao menos,desse jogral deslumbrado!)

Do livro:“Antologia Poética”.Editora Global, S. Paulo, 2013

“todos os homens

podem ser criminosos,

caso sofram tentação;

todos os homens

podem ser heróis,

caso sejam inspirados.”

G. K. CHesterton

[ P o e m a Pa R a o m ê s d e F e V e R e i R o

humor

foto

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sociedade [ norte da nigéria: a degradação das terras perturbou o modo de vida agrícola...

Guerras climáticas, a

nova ameaça [2[ 44 • olutador [ fevereiro ] 2016

as mudanças climáticas não criam apenas novos motivos para conflitos violentos, mas também novas formas de guerra, ressalta o psicossociólogo harald Weizer

para remover parte dos excedentes de carbono da atmosfera (remoção de di-óxido de carbono) e regular as radia-ções solares (gestão de radiação solar), o risco de uma maior desestabilização das sociedades e ecossistemas.

A pulverização de enxofre, por exem-plo, supõe que a camada comum na at-mosfera é de espessura suficiente pa-ra ter um efeito ótico de obstrução da radiação solar e, desse modo, refres-car o planeta.

Mas a observação de erupções vul-cânicas leva os climatologistas a cons-tatar que, se as partículas de enxofre concorrem para resfriar a atmosfera, elas também induzem secas regionais e podem reduzir a eficiência de painéis solares, levar à degradação da cama-da de ozônio e enfraquecer o ciclo hi-drológico global.

“Além disso, sem acordos inter-nacionais que definam como e em que proporções usar a geoengenha-ria, as técnicas de gestão de radiação solar representam um risco geopolí-

tico. Como o custo desta tecnologia alcança dezenas de bilhões de dóla-res por ano, ela poderia ser assumi-da por atores não-estatais ou peque-nos Estados agindo em seu nome. Is-so contribuiria para os conflitos mun-diais ou regionais”, adverte o último relatório do IPCC.

As mudanças climáticas não criam apenas novos motivos para conflitos violentos, mas também novas formas de guerra, ressalta o psicossociólogo Harald Weizer. A violência extrema des-ses conflitos excede o quadro das te-orias clássicas e “instaura espaços de ação para os quais nenhum quadro re-ferencial é fornecido pelas experiên-cias vividas no mundo, marcado pela paz, do hemisfério ocidental pós-se-gunda guerra mundial”.

Combates assimétricos entre po-pulações e senhores de guerra a ser-viço de grandes grupos privados am-pliam os mercados da violência, galva-nizados pelo aquecimento climático. O caos de Darfur, no Sudão, que per-

agnès sinaï

no seu liVRo Clima-te Wars [Guerras Cli-máticas], o jornalista Gwynne Dyer descre-ve um mundo onde o aquecimento se acelera e onde os refugiados,

esfomeados pela seca, perseguidos pe-lo aumento do nível dos oceanos, ten-tam chegar ao hemisfério Norte. En-quanto isso, os últimos países autossu-ficientes em alimentos, os de latitudes mais altas, devem defender-se, inclusi-ve a golpes de armas nucleares, contra vizinhos cada vez mais agressivos do Sul da Europa e das margens do Medi-terrâneo, transformados em desertos.

Face ao que certos cientistas de-nominam uma “perturbação climática de origem humana”, a geoengenharia – ou seja, a intervenção deliberada pa-ra reduzir o aquecimento do planeta – tenta assumir o controle do clima. Ela consiste em um conjunto de técnicas

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sociedade [ norte da nigéria: a degradação das terras perturbou o modo de vida agrícola...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 45 ]

dura desde 1987, é emblemático des-sa dinâmica autodestrutiva agravada pela fragilidade dos Estados.

No norte da Nigéria, a degradação das terras perturbou o modo de vida agrícola e de pastoreio e interfere com as rotas migratórias. Várias centenas de aldeias foram abandonadas e as mi-grações que resultaram disso contribu-íram para desestabilizar a região, pre-parando o terreno para o movimento islâmico Boko Haram.

O último informe do IPCC define a noção de “risco composto” [compou-nd risk], que designa a convergência de múltiplos impactos numa dada área geográfica: “Como a temperatura mé-dia do globo pode aumentar de 2 a 4°C até 2050, em relação às médias do ano 2000, há um risco, mantendo-se todas as coisas iguais, de importantes mu-danças nos padrões de violência inter-pessoal, conflitos entre grupos e ins-tabilidade social no futuro”.

O pesquisador Marshall B. Burke, da Universidade de Berkeley, na Cali-

fórnia, e seus coautores anteciparam um crescimento de conflitos armados, em 54%, de agora até 2030. Seu estu-do propõe a primeira avaliação global dos impactos potenciais das mudan-ças climáticas sobre as guerras na Áfri-ca Sub-Saariana. Ele ilumina a ligação entre guerra civil, altas da temperatu-ra e queda das chuvas, ao extrapolar as projeções médias de emissão de gases de efeito estufa do IPCC para estas re-giões entre 2020 e 2039.

O afluxo de refugiados às portas da ilha de prosperidade que é a Euro-pa poderia continuar a aumentar no decorrer do século 21. “Existem hoje tantas pessoas deslocadas no mundo em razão da degradação ambiental co-mo pessoas deslocadas pela guerra e pela violência”, estima o cientista polí-tico Francis Gemenne. Esses migran-tes fogem de guerras que acontecem longe do Ocidente, o qual, a despeito de sua responsabilidade histórica pelo aquecimento global, resiste em reco-nhecer um status: “Refutar o termo de

“refugiado climático” significa refutar a ideia de que as mudanças climáticas são uma forma de perseguição contra os mais vulneráveis.”

Estas são vítimas de um processo de transformação da Terra que está muito além delas. (Tradução: Inês Castilho)]

Fonte: outras Palavras

as mudanças climáticas não criam apenas novos motivos para conflitos violentos, mas também novas formas de guerra, ressalta o psicossociólogo harald Weizer

existem hoje tantas pessoas

deslocadas no mundo

em razão da degradação

ambiental como pessoas

deslocadas pela guerra

e pela violência

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na crise da mineração, chance para

a América latina

mundo [ A crise do setor mineiro não se deve apenas à queda dos preços...

[ 46 • olutador [ fevereiro ] 2016

r aúL ziBEChi

Pela primeira vez em muitos anos, a mineração está retrocedendo na américa latina. À queda dos preços internacionais, e ao aumento de custos de produção, com

consequente diminuição dos lucros, soma-se a crescente resistência da so-ciedade, alarmada com os impactos ambientais e sociais da atividade.

“O modelo extrativo mineiro é um problema de poder e, portanto, políti-co”, diz em seu último informe o Obser-vatório de Conflitos Mineiros da Amé-rica Latina - Ocmal. Apesar da queda dos preços internacionais dos minérios, a região continua recebendo a maior parte do investimento em exploração do subsolo, em plano mundial.

O informe acrescenta: “O extra-tivismo mineiro é um problema de

Preços dos produtos

primários despencaram.

Populações revoltam-se

contra a exploração predatória.

Como o continente pode tirar proveito destas novidades

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mundo [ A crise do setor mineiro não se deve apenas à queda dos preços...

olutador [ fevereiro ] 2016 • 47 ]

direitos humanos”, já que as gran-des empresas multinacionais apro-veitam-se das debilidades dos ser-viços públicos “para promover uma imagem de responsabilidade social e de que satisfazem necessidades da população”.

O Ocmal chega a esta conclusão depois de constatar que “é falso que as empresas mineradoras desenvol-vam infraestrutura para as comuni-dades, já que fazem obras para que trafeguem seus equipamentos e seu pessoal; que promovam o direito à saúde ou educação das comunida-des, quando o que fazem é oferecer, aos pobres, migalhas dedutíveis de impostos, contaminando o ambien-te e tornando piores a curto, médio e longo prazo a saúde e as condições de vida das pessoas.

Em 15 de outubro, a Cepal – Co-missão Econômica para América Lati-na, da ONU – informava que a América Latina viu a entrada de investimentos estrangeiros diretos cair 21%, no pri-

meiro semestre do ano, devido “à que-da das inversões em mineração e hi-drocarbonetos, causada pela redução dos preços internacionais, a desacele-ração da China e o crescimento eco-nômico negativo da região”.

O investimento estrangeiro já ha-via caído 16% em 2014, o que mostra não se tratar de um declínio conjun-tural. As inversões voltadas à extração de matérias-primas tende a se degra-dar. O Brasil concentra o maior declí-nio (-36%), em grande medida em ra-zão da crise que afeta seu mercado in-terno. No Chile, Colômbia e Peru, a re-dução concentrou-se especialmente no setor minerador.

Três são as razões que explicam es-ta queda: a consistente baixa nos pre-ços internacionais dos minérios, o au-mento dos custos de exploração e a forte oposição que a atividade mineradora encontra, junto às comunidades indí-genas e camponesas, o que está levan-do os governos a serem mais exigentes com as multinacionais do setor.

um passo atrás?Muitos governantes e analistas lamen-tam o retrocesso nos investimentos mi-neiros, mas na realidade trata-se de uma nova oportunidade para alcançar um crescimento sustentável. O informe anu-al da Cepal sobre investimento estran-geiro assinala que a queda dos preços dos minérios começou em 2012 – dois anos antes da queda dos preços do pe-tróleo – e que isso resulta em investi-mentos menores, a partir de 2014.

O índice de preços das commodi-ties, elaborado pela Agência Bloom-berg, que inclui petróleo, ouro e soja, caiu pela metade, desde o pico histórico do primeiro semestre de 2011. A mul-tinacional Glencor-Xstrata, que con-trola a maior parte da produção de mi-nerais e grãos no mundo, registrou na Bolsa de Londres perdas superiores a 30% no final de setembro, totalizando uma queda acumulada de 74% no ano.

Não é o único caso. “Na mesma tendência estão, entre outras transna-cionais, a AngloAmerican, com perdas [▶

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[ 48 • olutador [ fevereiro ] 2016

de 10% em setembro e 60% no ano; a BHP Billiton, com perda de 40% em 2015 e a Antofogasta Minerals (-33%). O crise do setor de mineração implica fechamento de minas, para reduzir a produção com objetivo de recuperar os preços, e perdas maciças de postos de trabalho.

reduzido: apenas US$ 4200. Segundo os especialistas, os preços de mercado aproximam-se cada vez mais dos pre-ços de produção (US$ 4000, no caso do cobre), e as empresas não são capazes de frear o declínio. [...]

A América Latina é campeã em atrair capitais externos para minera-ção. A porcentagem de dinheiro estran-geiro, nos investimentos para o setor, não passa de 10% na média mundial – mas na região, atinge 26%, e chega a superar 50% em países como Bolívia e Chile. Quanto mais industrializado é um país, menos investimentos che-gam aos recursos naturais.

um mar de conflitosMas a crise do setor mineiro não se de-ve apenas à queda dos preços. Um fator decisivo são as resistências das popu-lações, que muitas vezes conseguem fechar as minas ou interromper seus trabalhos. Segundo a Cepal, os confli-tos mineiros ocorrem em todo o mundo “mas a América Latina concentra uma quantidade desproporcional”.

Os conflitos desenvolvem-se de mo-dos distintos em cada país. No Uruguai e Chile, por exemplo, costumam ter co-mo canal o Judiciário. Em abril de 2013, a empresa canadense Barrick Gold foi obrigada a suspender indefinidamen-te a exploração da mina de ouro Pascua Lama, na fronteira de entre Argentina e Chile, após uma ação judicial que, ba-seada nas demandas das comunidades indígenas do local, acusaram a empresa de prejudicar o acesso à água. É o maior projeto de mineração interrompido no continente. Representou, para a empre-sa, perdas de 5 bilhões de dólares.

No Peru, as comunidades apelaram à ação direta, que conseguiu paralisar a mina Yanacocha, bem como outros projetos ao norte e ao sul. O país con-verteu-se em epicentro dos conflitos mineiros. Regiões inteiras, com deze-nas de prefeitos e milhares de campo-neses implicados, foram arrastadas a conflitos graves, com feridos e mortos.

O forte crescimento das inversões e a multiplicação dos projetos não são

suficientes para explicar o aumento ver-tiginoso do número de conflitos. Há três razões adicionais.

A primeira é que as comunidades afetadas têm maior acesso á informa-ção e mostram uma capacidade reno-vada de lutar para que suas vozes se-jam ouvidas. Camponeses e indígenas teceram redes de solidariedade com ONGs ambientalistas e organizações sociais, tanto rurais quanto urbanas, e contam com apoios institucionais em organismos de direitos humanos, pre-feitos e autoridades estatais de todos os níveis, assim como meios de comu-nicação.

A segunda razão é a Convenção 169, da Organização Internacional do Trabalho - OIT, um importante ins-trumento legal aprovado por 15 paí-ses da região, que obriga os governos a consultar os povos indígenas quan-do os projetos afetam suas comuni-dades. Quase todos os povos indíge-nas apelam a este mecanismo em seu processo de empoderamento diante dos governos.

A terceira relaciona-se com a per-cepção da ocorrência de fortes danos ambientais nos lugares onde já exis-tem empreendimentos mineiros e a certeza de que as multinacionais do setor obtêm enormes lucros. Por um lado, há os fortes passivos ambientais e a grave contaminação das águas. Por outro, as indústrias de extração conso-mem muita energia. Há um “uso mais intensivo da energia, porque as jazi-das em exploração têm cada vez me-nos quantidade de mineral por volu-me de material extraído”. [...]

É possível que a crise da mineração seja uma oportunidade para os povos. Se forem capazes de estabelecer as ba-ses para um modelo econômico dife-rente, menos voltados às exportações de commodities,mais inclinado para o mercado interno e regional; menos agressivo diante da natureza e as co-munidades; com mais trabalho espe-cializado envolvido na fabricação de produtos de alta qualidade.]

Fonte: outras Palavras

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Em outubro, o grupo Goldman Sa-chs informou que os preços dos miné-rios continuarão caindo. No caso do co-bre, principal produto mineral latino-americano, o preço caiu em agosto a 4.968 dólares a tonelada, o valor mais baixo em vários anos, mas espera-se que no final de 2016 esteja ainda mais

Por um lado, há os fortes passivos ambientais e a grave contaminação das águas ...

Por outro, as indústrias de extração consomem muita energia

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