revista capital 41

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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Maio de 2011 . 100 Mt Nº 41 . Ano 04 DESENVOLVIMENTO Conflito, segurança e desenvolvimento DOSSIER Acesso às TIC ainda é uma miragem ESTUDOS DE MERCADO 10 meses de audiências diárias pela 1.ª vez no País MERCADO DE CAPITAIS O Mercado de Valores Mobiliários e a Bolsa de Valores de Moçambique ECONOMIA Medidas sobre a Cesta Básica não são implementáveis FORMAÇÃO Órgão regulador irá surgir em breve EMPRESAS Baixa qualidade dos técnicos prende-se com nível da formação escolar e académica FORMAÇÃO A DUAS VElOCIDADES two-speed training

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Page 1: Revista Capital 41

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Maio de 2011 . 100 Mt Nº

41 .

Ano

04

DESENVOLVIMENTOConflito, segurançae desenvolvimento

DOSSIERAcesso às TICainda é uma miragem

ESTUDOS DE MERCADO10 meses de audiênciasdiárias pela 1.ª vez no País

MERCADO DE CAPITAISO Mercado de Valores Mobiliáriose a Bolsa de Valores de Moçambique

ECONOMIAMedidas sobre a Cesta Básicanão são implementáveis

FORMAÇÃOÓrgão regulador

irá surgir em breve

EMPRESASBaixa qualidade dos técnicos

prende-se com nível da formação escolar e académica

FORMAÇÃO A DUAS VElOCIDADES

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EMPRESAS

30ENTREVISTA . EDUCAÇÃO

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SUMÁRIO

DOSSIER SECTOR TURISMO

18 20

ECONOMIA

22Os contornos tremidos da formaçãotécnico-profissionalEnquanto as escolas técnico-profissionais se multiplicam, os empregadores medem a qualidade dos técnicos nelas formados. O desafio de saciar os empregadores, for-necendo-lhes técnicos de qualidade, ainda não está ganho.

Formação a duas velocidadesA formação técnico-profissional é moldada segundo as necessidades do sector pro-dutivo, num Moçambique ávido em produzir cada vez mais. O ministro da Educação, Zeferino Martins, descreve os novos esforços na área sem deixar de realçar o da uni-formização da formação a nível da SADC.

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ÍNDICE DE ANUNCIANTES

TDM, p 02MILLENIUM BIM, p 03PRIME, p 04AP CAPITAL, p 05STANDARD BANK, p 08

TRASSUS, p 11PUBLIREPORTAGEM BCI, p 13TIM, p 17LAM, p 23MCEL, p 26,27

PHC, p 43PWC, p 50ESPORO, p 54TV RECORD p 59BCI, p 63PETROMOC p 64

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SECTOR . EDUCAÇÃO

ESTATÍSTICA . INE

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SUMÁRIO

TURISMO EMPRESAS DESENVOLVIMENTO

22 28 52Distritos já lucram com a formação profissional

Moldar a formação profissional, de forma a enquadrá-la no modus- vivendi dos dis-tritos, é uma experiência que já “pega.” Os números alcançados, no âmbito dos es-forços do PIREP, revelam um impacto à medida da visão do País: o empoderamento económico dos distritos.

Os indicadores económicos, quase todos eles, revelam um ténue crescimento do País em 2010, quando comparado com os dois anos anteriores. O PIB; o índice do volume de negócios; o indicador do clima económico, entre outros, descrevem um pulsar económico que pode ser prometedor.

Síntese de Conjuntura Económica- IV Trimestre de 2010

VISÃO

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9EDITORIAL

maio 2011 revista capital

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Av. Mao Tse Tung, 1245 – Telefone/Fax (+258) 21 303188 – [email protected] – Director Geral: Ilidio Bila – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sithoye - [email protected]; Sérgio Mabombo – [email protected] – Se-cretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected]; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, Intercampus, Prime Consulting Moçambique – Colunistas: António Batel Anjo, E. Vasques; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo; Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rita Neves, Rolando Wane; Rui Batista; Sara L. Grosso, Vanessa Lourenço; Fotografia: Luís Muianga, gettyimages.pt, google.com; – Ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Paginação: Benjamim Mapande – Design e Grafismo: SA Media Holding – Tradução: Alexandra Cardiga – Departamento Comercial: Neusa Simbi-ne – [email protected]; – Impressão: Brinrodd Press – Distribuição: Nito Machaiana – [email protected]; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: N.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

FICHA TÉCNICA

Helga [email protected]

Formação na sendada uniformização e qualidade

Todos os cidadãos devem poder adquirir conhecimentos, aptidões e competên-cias e manter permanentemente actualizadas as que já possuem através da edu-cação e da formação ao longo da vida. Essa possibilidade irá contribuir segu-ramente para o crescimento do emprego e da economia, reforçando ao mesmo

tempo a coesão social.Quando falamos de economia, chegamos à conclusão de que a intensificação da colabora-ção da formação técnico-profissional com a indústria é uma condição sine qua non para a inovação e um maior nível de competitividade.Moçambique, perfeitamente ciente dessa realidade, investe actualmente sérios esforços numa reforma que privilegia a promoção de sinergias entre o sector público e o privado, no que respeita à formação técnico-profissional - ou à formação especializada que o sector industrial tanto carece.A reforma está a ser implementada de uma forma gradual em sectores económicos, cam-pos profissionais e ocupações-chave até 2020. Na essência, tem como finalidade asse-gurar a valorização da força de trabalho moçambicana e garantir a competitividade da economia, no contexto da integração regional e internacional.O tecido empresarial moçambicano queixa-se, frequentemente, da falta de recursos hu-manos qualificados no País que possam contrariar a onda de contratações de estrangei-ros, e, ao mesmo tempo, os percursos profissionais continuam a assumir-se como menos atraentes do que os percursos académicos na sociedade. Ou seja, continua a prevalecer um certo preconceito em relação à categoria de ‘técnico’, ao mesmo tempo que a catego-ria dos ‘doutores’ ainda continua a grangear, tradicionalmente, mais simpatias no seio familiar.Numa outra perspectiva, a melhoria da qualidade e da atractividade da formação técnico-profissional continua a constituir um desafio determinante para o futuro. Os países da Região preocupam-se cada vez mais em aplicar princípios, padrões e referências comuns que sejam reconhecidos no contexto da SADC, sendo que a garantia da qualidade para a validação da aprendizagem não formal faz igualmente parte das suas expectativas.Quando se investe na qualidade dos formandos, deve-se prestar uma profunda atenção ao desenvolvimento profissional dos formadores e à capacidade das entidades formadoras. Se por um lado, a balança pesa sobre as certificações, ela também deve vergar sob o peso das creditações. E essa atenção continua a representar um sério desafio, tal como a mo-bilidade dos trabalhadores na Região. Mas, quando a palavra de ordem é a mobilidade, aparecem outras problemáticas, como a importância da aprendizagem das línguas estran-geiras. E assim continua o somatório dos desafios envolvidos…Em resumo, torna-se necessário que sejam criados mecanismos bem sucedidos quanto à gestão das necessidades de formação do mercado de trabalho, com a participação dos diferentes ministérios envolvidos e dos principais sectores de actividade interessados. Por outro lado, é preciso que a avaliação das políticas seja melhorada, de molde a permitir um seguimento mais adequado dos progressos alcançados e a instituir uma forte cultu-ra de avaliação, utilizando plenamente os resultados da investigação. Como tal, torna-se indispensável a concepção de instrumentos e uma infraestrutura estatística de elevada qualidade.c

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EM AlTA

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EM BAIXA

BOLSA DE VALORES CAPITOON

COISAS QUE SE DIZEM…

Afinal… acreditar compensa mesmo«Moçambique e seu Governo ensinaram à Vale como vencer o desafio»,

Presidente da Vale, Roger Agnelli, a propósito da mineradora ter contrariado a ideia segun-do a qual África é um lugar arriscado para se investir.

Mais vale a serenidade«A violência só irá contribuir para atrasar o desenvolvimento económico do País.»,

Presidente Armando Guebuza, face ao posicionamento anti-manifestações manifestado pe-las populações do distrito de Cheringoma em Sofala, durante a Presidência Aberta

Espírito We Can de volta«Queremos ganhar medalhas nos Jogos Africanos Maputo-2011.»,

Pedrito Caetano, ministro da Juventude e Desportos, a propósito dos objectivos de Moçam-bique no evento.

O disse vs. não disse«Moçambique não recebeu nenhuma notificação dando conta do banimento das companhias aéreas nacionais no espaço europeu.»,

Alberto Mabjaia In “Jornal O País,” reagindo às declarações de Paul Mulin, chefe da Dele-gação da União Europeia, segundo as quais a aviação civil moçambicana está interdita no espaço europeu.

GÁS NATURAl

A empresa japonesa Mitsui descobriu um depósito de gás natural na bacia do Rovuma.A organização, que desenvolve um projecto de exploração off-shore no norte de Moçambique, estima que a bacia do Rovuma tenha mais de 10 biliões de pés cúbicos de gás natural. A descoberta significa um potencial de 10 milhões de toneladas de gás natural liquefeito durante os próximos 20 anos. A empresa japonesa detém 20 por cento do projecto de exploração na bacia do Rovuma que conta ainda com a Empresa Nacional de Hidrocar-bonetos e a norte-americana Anadarko Petroleum Corp.

CRESCIMENTO ECONÓMICOO economista chefe do Banco Mundial, Justin Lin, prevê que Moçambique irá tornar-se um país de rendimento médio, dentro de 10 anos, devendo a sua economia crescer a 10 por cento ao ano.

TURISMO

Moçambique arrecadou prémios na Feira de Tu-rismo de Indaba, localizada na cidade sul-africana de Durban. O evento premiou três operadores tu-rísticos nacionais, nomeadamente Explore Goron-gosa, Londo Lodge e ainda Vamizi Island Lodge. À Vamizi foi-lhe atribuída o prémio de Melhor Esta-belecimento em África, enquanto a Londo lodge o de Melhor Gastronomia de Safaris. Por sua vez, a Explore Gorongoza chamou a si dois prémios, o de Novo Melhor Estabelecimento de Safari em África assim como o de Melhor Estabelecimento de Sa-fari Ecológico.

CUSTO DE VIDA

As cidades moçambicanas são dependentes da agricultura urbana praticada nas cinturas verdes destas metrópoles. Entretanto, esta forma de agri-cultura é limitada e não suprime as necessidades dos consumidores, facto que aumenta cada vez mais o custo dos alimentos no País. Ao mesmo tempo, Moçambique verifica cada vez menos pes-soas a praticar a agricultura, facto que tem im-pulsionado um elevado índice de importações de alimentos básicos.

FINANCIAMENTO

O nível de reembolso do fundo de Desenvolvimen-to do Distritos, vulgo Sete Milhões, é de apenas cinco por cento. Desde a introdução do mecanis-mo em 2006, o Executivo moçambicano já desem-bolsou 4.200 milhões de meticais tendo reavido apenas 227 milhões de meticais. Apesar do insu-cesso do reembolso, o Executivo realça o impacto dos projectos desenvolvidos.

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MUNDO NOTÍCIAS12

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AMÉRICA lATINA FMI aconselhaaumento de jurose contenção de gastos públicos na região

A América Latina ainda enfrenta o risco de super-aquecimento provocado pelo ex-cesso de medidas de incentivo económico e pelos aumentos dos preços de alimentos e energia. Apesar do facto, a região actual-mente tem registado um crescimento mais moderado em relação a 2010. Esta avalia-ção foi feita pelo Fundo Monetário Interna-cional (FMI), que recomendou o aumento dos juros e a contenção de gastos públicos pelos governos da região. O relatório re-vela ainda que as pressões inflacionárias são agravadas pelo aumento nos preços internacionais dos alimentos e da energia nos últimos meses. Para conter a inflação, sugere-se novas elevações nas taxas de juros na América Latina. Para este ano, o FMI elevou a previsão de crescimento das economias latino-americanas de 4.70 por cento para 4.75 por cento.

PORTUGAl País vai receber 78 mil milhões de euros

Bruxelas considera “plausível” que a média da maturidade dos empréstimos a Portu-gal seja igual à da Grécia e Irlanda, de 7.5 anos. O FMI disse, através do chefe da de-legação negocial, Poul Thompsen, que os 26 mil milhões de euros provenientes de Washington terão uma carência de 3 anos e uma maturidade de 13. O mês de Maio

foi de muito suspense em relação às deci-sões sobre os empréstimos agendados para Maio no Eurogrupo e Ecofin pelos minis-tros de Finanças. Os montantes de juros e de maturidades avançados para a Grécia e Irlanda, cujas cifras nas primeiras tranches foram de 5.2 e 5.8 por cento, são sempre valores médios de todo o empréstimo. Se-gundo os mesmos analistas, Portugal po-derá passar pelo mesmo cenário.

JAPÃO Lucros da Toyotacaíram mais de 75%

A Toyota anunciou que os seus lucros ca-íram mais de 75%, no primeiro trimestre, para 218 milhões de euros devido à queda da produção causada pelo sismo e tsuna-mi de 11 de Março, no Japão. A construto-ra japonesa desconhece os resultados que poderá obter no final do ano, uma vez que ainda não recuperou os níveis normais de produção. A produção deverá ser normali-zada a partir de Junho no Japão enquan-to no estrangeiro, em Agosto. A catástrofe natural destruiu uma série de fábricas da Toyota e obrigou a construtora a reduzir o ritmo de produção naquele país e também nos Estados Unidos, Europa e China.

ÁFRICA As nove mulheresmais ricas de África

A Forbes divulgou recentemente a lista das nove mulheres mais ricas de África, den-tre as quais consta a empresária angolana Isabel dos Santos que possui participações na Zon Multimédia (10 por cento), no BES, no BPI e na EDP. Além da empresária an-golana, a revista destaca empresárias sul-africanas: Bridgette Radebe, filha do milionário sul-africano Patrice Motsepe ligado à indústria mineira. Irene Charnley, uma empresária ligada à área das telecomunicações. Actu-almente, é presidente executiva da Smile Telecoms, uma operadora de telecomuni-cações “low cost” sedeada nas Maurícias. Pam Golding, que enriqueceu através de negócios na área da imobiliária, depois de ter fundado a Pam Golding Properties, em 1976. Actualmente, a empresária está retirada da vida profissional activa. A lis-ta compreende ainda a empresária Wendy Appelbaum, que vendeu a sua participação na empresa Liberty Investors tornando-se rica; Elisabeth Bradley, cuja fortuna pro-vém da venda de 25 por cento da Toyo-ta South-Africa. A Forbes destaca ainda Mamphela Ramphele, que dirige a empre-sa Circle Capital Ventures; Sharon Wap-nick, accionista na Octodec Investments e Wendy Ackerman proprietária da Acker-man Family Trust.

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DRGettyimages

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BCI é daqui

O BCI lançou uma nova Campanha Publicitária em todos os meios, que visa reforçar o posicionamento institucional do BCI, a única marca orgulhosamente moçambicana, entre as maiores Instituições bancárias a actuar em Moçambique.A campanha representa mais um passo na evolução estratégica iniciada com a campanha “O meu Banco é daqui”, lançada em 2010, agora mais centrada no Cliente, valorizando a auto-estima dos moçambicanos que se orgulham de ser “daqui” e fomentando a partilha de todos os valores da moçambicanidade.A campanha publicitária corporiza uma forte componente emocional, com a participação de artistas com elevado reconhe-cimento no panorama musical moçambicano, tais como Moreira Chonguiça, Wazimbo, Ghorwane, Neyma e Valdemiro José. A música tem um papel muito importante nesta campanha, através da adaptação do tema “Nwahuluana”, do cantor Wazim-bo, já usado pelo BCI em 2010, e que é considerado um dos maiores êxitos da música moçambicana de todos os tempos.

O BCI lançou uma nova Campanha Publicitária em todos os meios, que visa reforçar o posicionamento institucional do BCI, a única marca orgulhosamente moçambicana, entre as maiores Instituições bancárias a actuar em Moçambique.A campanha representa mais um passo na evolução estratégica iniciada com a campanha “O meu Banco é daqui”, lançada em 2010, agora mais centrada no Cliente, valorizando a auto-estima dos moçambicanos que se orgulham de ser “daqui” e fomentando a partilha de todos os valores da moçambicanidade.A campanha publicitária corporiza uma forte componente emocional, com a participação de artistas com elevado reconhecimento no panorama musical moçambicano, tais como Moreira Chonguiça, Wazimbo, Ghorwane, Neyma e Valdemiro José. A música tem um papel muito importante nesta campanha, através da adaptação do tema “Nwahuluana”, do cantor Wazimbo, já usado pelo BCI em 2010, e que é considerado um dos maiores êxitos da música moçambicana de todos os tempos.

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AGRICUlTURAQuatro variedadesde arroz poderãoser produzidasem Matutuíne

O projecto de produção de arroz à escala industrial no distrito de Matutuíne, deno-minado “Bela Vista Rice Project” teve o seu início em Setembro de 2009 já absorveu 24 milhões de dólares norte-americanos dos 33 milhões que representam o pacote global. O mesmo contempla a edificação de uma unidade fabril de processamento do arroz, com capacidade para processar 600 toneladas por dia.Filipe Gago, presidente do Conselho de Administração (PCA) da LAP/Ubuntu, empresa que está a implementar o pro-jecto, disse que desde o início em 2009 já foram realizadas várias pesquisas labora-toriais para seleccionar as variedades mais adequadas as condições e características agro-ecológicas do País.Segundo o PCA, na primeira fase foram feitas pesquisas laboratoriais com um to-tal de 39 variedades, das quais 10 foram seleccionadas, num processo que contou com a participação de consultores idos da Tailândia e do Vietname, países que juntos são responsáveis por 65% da exportação mundial do arroz.Os estudos mais aprofundados levaram à selecção de apenas quatro variedades plantadas numa extensão de cerca de 60 hectares, dos 270 até então concedidos. As variedades eleitas apresentam bons sinais, porquanto permitem uma colheita que va-ria entre sete a nove toneladas por hectare.Outro assunto que mereceu destaque foi a

MOÇAMBIQUE NOTÍCIAS

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construção de um dique de protecção com cerca de três metros de altura e sete qui-lómetros de comprimento para impedir as águas do rio Maputo de invadir os arrozais e, pela primeira vez, em 40 anos o Rio Ma-puto foi efectivamente impedido de inun-dar a área protegida durante o período de pico nas duas últimas épocas chuvosas.O projecto de produção do arroz é finan-ciado pelo Fundo Líbio para o Desenvol-vimento Africano, e emprega um total de 160 trabalhadores, universo que poderá atingir cerca de 400 quando arrancar a fase de produção, mas nunca ultrapassar este número dado que se trata de produ-ção mecânica.

FISCALIDADEOperador Económico Autorizado

Foi apresentada no mês de Abril passado, a análise da evolução do Operador Económi-co Autorizado. Trata-se de um estatuto que concede benefícios e tratamentos especiais aos operadores de comércio internacional, cujas fichas aduaneira e fiscal são limpas. O Projecto iniciou em Outubro de 2010 e, desde então, processados 143 despachos no Terminal Rodoviário. Dos dez operado-res nesta fase piloto apenas cinco usaram desta facilidade. No terminal marítimo, as operações começaram em Novembro, tendo sido processados até então 89 des-pachos. Apenas quatro operadores usaram esta facilidade. Para que o projecto surta o efeito desejado, há que disciplinar a facili-dade da descarga directa limitando não só o período para a liquidação das imposições como também o tipo de mercadoria.Para questões informáticas, a divisão de informática e estatística deve averiguar e proceder à revisão do sistema. Recomen-dou-se ainda o uso do «desk-service» para a notificação de problemas com a gestão do sistema informático, dando menos pri-vilégio aos contactos singulares.

ENERGIA ElÉCTRICA Iniciou o estudode impacto da linhaTete-Maputo

Arrancaram os estudos de impacto am-biental e social do projecto de construção da linha de transporte de energia eléctrica do centro de produção em Tete para Ma-puto, considerada, pela EDM, como a espi-nha dorsal de electrificação. Por outro lado, está agendada uma série de encontros de consulta pública em pelo

menos oito pontos por onde as linhas vão passar, principalmente a de corrente al-ternada, considerando que a da contínua, a 800 kilovolts (kV), ligará Tete e Maputo sem interrupção.As auscultações serão realizadas entre 25 de Abril e 4 de Maio em Matambo, na pro-víncia de Tete, Gorongosa e Muchungue, em Sofala, Sussundenga, em Manica, Mas-singa, em Inhambane, Chibuto, em Gaza, Boane, em Maputo, para além da cidade capital do País.Os encontros, a serem orientados pelas fir-mas SAL Consultoria em Desenvolvimen-to Social Lda e Mott MacDonald Ltd, tem em vista informar as comunidades sobre o projecto e ouvir as inquietações dos afec-tados e interessados para enquadrá-las na política de reassentamento, uma das prin-cipais condições para a obtenção da neces-sária licença ambiental. A construção da linha Tete/Maputo, com uma extensão de 1400 quilómetros e cujo projecto denomina-se CESUL, está orça-da em cerca de 1,7 mil milhões de dólares norte-americanos e poderá ser suportada pela EDM em parceria com a Redes Ener-géticas Nacionais (REN) de Portugal.Para o efeito, as duas empresas rubrica-ram em Julho de 2010 um protocolo de intenções para a celebração de um acordo de parceria com o objectivo de viabilizar os potenciais projectos de geração de energia eléctrica previstos no CESUL. A “espinha dorsal” é vista como impres-cindível para o escoamento da energia a ser produzida em várias frentes no Vale do Zambeze, com destaque para a central norte da Hidroeléctrica de Cahora Bassa, Mpanda Nkuwa, Central Termoeléctrica de Benga, entre outras fontes.

DR.

DRGettyimages

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«Aliás, o FMI espera que Moçambique tenha um desempenho económico acima da média da região, com o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer 7,5% em 2011. As previsões avançadas adiantam ainda que, para 2012, se prevê que o crescimento económico moçambicano seja de7,8%.»

15ECONOMIA MOÇAMBIQUE

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FMI prevê que Moçambique cresçaperto dos dois dígitos em 2011O crescimento da economia moçambicana vai reaproximar-se a partir deste ano dos dois dígitos, resistindo ao impacto da es-calada em curso dos preços dos combus-tíveis e dos alimentos, segundo previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI).O representante-residente do FMI em Moçambique, Victor Lledo, anunciou as expectativas da organização em relação à economia moçambicana, na sequência de uma avaliação feita por uma missão do FMI, que visitou Moçambique entre 23 de Março e 7 de Abril.Em conferência de imprensa sobre os re-sultados da missão, Victor Lledo afirmou que uma previsão mais conservadora in-dica para uma taxa de crescimento da economia moçambicana de 7% este ano, e uma mais optimista para 7,5%, podendo ir até aos 7,8%.Aliás, o FMI espera que Moçambique te-nha um desempenho económico acima da média da região, com o Produto Interno Bruto (PIB) a crescer 7,5% em 2011. As previsões avançadas adiantam ainda que, para 2012, se prevê que o crescimento eco-nómico moçambicano seja de7,8%.Já no ano passado a economia recuperou do forte abrandamento sofrido em 2009 em consequência da crise global. As pro-jecções mostram uma forte aceleração em 2012, com um crescimento de 6,%, sendo a previsão para este ano de 5,5%, semelhan-te ao nível de 2010.Para a Guiné-Bissau e São Tomé e Prín-cipe, o FMI prevê crescimentos para este

ano de 4,3% e 5%, respectivamente, e para o próximo ano de 4,5 para a Guiné-Bissau e 6% para São Tomé e Príncipe.«Moçambique tem condições para vol-tar a partir deste ano a crescer a taxas próximas dos dois dígitos», afirmou o representante-residente do FMI, apontan-do os mega-projectos, telecomunicações e agricultura como os sectores que mais vão impulsionar a dinâmica da economia mo-çambicana.Questionado sobre o efeito das crises nos combustíveis e nos alimentos nas perspec-tivas de crescimento da economia moçam-bicana, Victor Lledo afirmou que a estru-tura da economia do País permite manter o optimismo em relação ao futuro.«O cenário internacional é bastante de-safiante, mas acho que a estrutura da economia moçambicana permite o cresci-mento a taxas anteriores à crise financei-ra internacional», enfatizou o represen-tante-residente do FMI em Moçambique.As autoridades moçambicanas, disse ain-da Victor Lledo, devem manter «um foco de curto prazo no combate à inflação, evitando a queda da taxa de juro de re-ferência e níveis de contenção de gastos prudentes e mais aprimorados».

Inflação em Moçambiqueabranda para 13,78% em Março

A inflação em Moçambique abrandou em Março para 13,78%, contra 15,23% em Fe-vereiro, relativamente aos mesmos meses

de 2010, segundo anunciou o Instituto Na-cional de Estatísticas moçambicano (INE).De acordo com os mesmos dados, Mo-çambique registou em Março uma inflação acumulada na ordem dos 2,86%, muito devido ao sector de Alimentação e Bebi-das, com agravamento de 1,75%.«O peixe fresco, refrigerado ou conge-lado, o ensino superior público, o feijão manteiga, a couve, o carvão vegetal, o arroz e a farinha de milho foram os pro-dutos cujo agravamento de preços teve maior impacto no total da inflação acu-mulada ao contribuírem com 1,55 pontos percentuais positivos», refere a nota do INE.c

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ECONOMIA MOÇAMBIQUE16

DR

Medidas sobre a Cesta Básicanão são implementáveisSérgio Mabombo [texto]

Moçambique não possui condições insti-tucionais para implementar as medidas dos subsídios, nomeadamente a cesta bá-sica e o passe sobre os transportes colecti-vos público privado. O economista Nuno Castel Branco que de-fende o posicionamento em causa entende ainda que o Estado não possui nenhum controlo sobre a produção nem sobre a co-mercialização e distribuição dos produtos importados.Segundo o Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD), o aumento dos salários traz por outro lado o aumento dos preços. A cesta básica surge para resolver um problema que o aumento do salário não soluciona, na óptica do mesmo or-ganismo e segundo o economista. Entre-tanto, o motivo que leva o aumento dos salários a influenciar a subida dos preços é o abastecimento insuficiente de bens de consumo básico, sobretudo para pessoas de baixo rendimento, segundo a análise da maioria dos economistas.A referida insuficiência irá persistir en-quanto o País não atingir a auto-suficiên-cia na produção de bens de consumo bási-cos para a população de baixo rendimento, que é a que mais vai sentir o impacto da subida dos preços. Durante a década de oitenta, o sistema controlava a origem, a importação dos produtos, a forma grossista de distribui-ção e o respectivo registo das pessoas. Apesar do facto, não era fácil controlar a

distribuição, na medida em que uma boa parte do comércio ocorria fora do mesmo, ao nível informal e praticando preços que não correspondiam aos estipulados pelo sistema.A implementação das medidas, no contex-to actual, faz prever que estas estarão acti-vas quando os preços dos produtos forem altos e inactivas quando os mesmos forem baixos.O inquérito aos orçamentos familiares, divulgado nos finais de 2010, revela que enquanto o PIB per capita cresceu a uma média de cinco por cento, a produção dos alimentos diminuiu. A produção agrícola foi direccionada para outros produtos pri-mários de exportação, como as florestas, o tabaco, os biocombustiveis, e o algodão, entre outros, excluindo assim os alimen-tos. O economista faz perceber que a intro-dução da cesta básica não é prioritária no contexto económico que se vive actu-almente em Moçambique. Na sua análise crítica faz entender que os actuais esforços e os recursos mobilizados deviam ser con-centrados na implementação de políticas de produção alimentar decente. Actualmente, o Executivo vem priorizando a construção de uma linha férrea Norte-Sul, e a construção do metro na cidade de Maputo, entre outras acções. Entretanto, a análise crítica entende que o que realmen-te devia ser prioritário é a ligação entre os vários centros de produção através de

um sistema de cabotagem marítima. Este sistema é de baixo custo, e facilitaria em muito o transporte de produtos marítimos ao longo de todo o País. Quando se questiona o motivo porque se tomaram as recentes medidas, mesmo que não sejam aplicáveis no actual contexto económico do País, surgem diversas lei-turas divergentes. Uma das interpretações sugeridas por Castel Branco defende que a decisão reflecte o nível de desespero em que o País se encontra, perante um cenário económico internacional agressivo. Por outro lado, a decisão pode ter sido motivada pela necessidade de responder às pressões das organizações financeiras internacionais.Embora o Executivo tenha defendido que o aumento salarial iria resultar no aumen-to dos preços, a medida foi recentemente aplicada. No referido reajuste, a função pública e a área da construção foram as que registaram a menor taxa de reajusta-mento salarial. A função pública passou dos 2.270 meti-cais para 2.368 meticais (o corresponden-te a 8%), enquanto o sector da construção registou 9% de subida, fruto dos 2.779,50 meticais estipulados para este ano. Por outro lado, verifica-se uma taxa de reajus-tamento salarial recorde no sector das ac-tividades financeiras. O salário mínimo do sector situa-se nos 5.320 meticais, alcan-çando deste modo um reajuste calculado em 52%, enquanto o da indústria trans-formadora foi reajustado em 24%, com os actuais 3.100 meticais.As Pequenas e Médias Empresas fornece-doras dos serviços de produção e distribui-ção de electricidade, gás e água também tiveram maior taxa de reajuste, calculada em 21,04%.c

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Acesso às TIC ainda é uma miragem no PaísSe usarmos as capitais provinciais como indicador, conclui-se que as Tec-nologias de Informação e Comunicação estão a expandir-se pelo País, mas se estabelecermos uma relação entre o número de habitantes e o de pessoas com acesso à Internet ou com computadores, nota-se logo uma discrepân-cia abismal, pois dos cerca de 22 milhões de habitantes que somos, apenas 2,8% possuem acesso à Internet.

O cenário que se assiste em Moçambique no domínio das tecnologias é decorren-te de vários factores, principalmente da “adolescência” da nossa economia que em função das necessidades do País, relega para o terceiro plano o desenvolvimento tecnológico. Só em 2002 é o que o Governo aprovou um importante documento neste ramo, a “Estratégia de Implementação da Política de Informática”. O documento teve como principais objectivos: Contribuir para a re-dução da pobreza absoluta e melhorar as condições de vida dos moçambicanos; con-tribuir para o combate ao analfabetismo e acelerar o desenvolvimento dos recursos humanos; proporcionar o acesso univer-sal dos cidadãos à informação e ao saber mundial; elevar a eficiência e eficácia das instituições públicas e privadas; melhorar a governação e a administração pública; criar um ambiente legal e de negócios fa-vorável à produção e disseminação das tecnologias de informação e comunicação; e fazer de Moçambique um parceiro activo e competitivo na Sociedade Global de In-formação e na economia mundial.Em termos concretos, a estratégia preten-de: expandir a disponibilidade e o acesso a conteúdos e aplicações por forma a aten-der às necessidades das principais áreas de desenvolvimento identificadas na Po-lítica de Informática e no PARPA; criar e proporcionar um ambiente que encoraje a expansão de actividades inovadoras das TIC no sector privado; promover o uso de TIC dentro das instituições governamen-tais e das organizações da sociedade civil; acelerar a extensão da infraestrutura por todo o País; e alargar e expandir a base do conhecimento nacional no domínio das tecnologias de informação e comunicação.Neste contexto, a estratégia previu: O es-tabelecimento de uma espinha dorsal de comunicações entre os principais centros urbanos do país; o aumento da cobertura

geográfica estendendo a rede para as zonas rurais; a disponibilização e oferta de novos produtos e serviços de telecomunicações; a melhoria da qualidade e disponibilida-de das comunicações; o desenvolvimento da integração regional e internacional; e a criação de vantagens competitivas para o País na atracção e captação de investi-mentos.Para materializar os pontos acima referi-dos, o Governo começou a drenar inves-timentos nas seguintes componentes: de-senvolvimento da espinha dorsal da Rede Nacional de Transmissão; expansão e mo-dernização da rede e sistemas de comuta-ção telefónica digital em todas as capitais provinciais e principais centros urbanos; expansão e modernização da rede das áre-as metropolitanas e suburbanas da cidade de Maputo; projectos integrados de comu-nicações rurais; e o desenvolvimento de redes de telefonia móvel celular. Ora, nove anos depois da sua aprovação, as estatísticas mostram que ainda há mui-to por se fazer. Senão vejamos: de acordo com o site Internet World Stats, dos cerca de 22 milhões de habitantes que Moçam-bique tem, apenas 612 mil têm acesso à internet. Segundo o censo de 2007 do Ins-tituto Nacional de Estatísticas (INE), em Maputo há mais viaturas do que compu-tadores, visto que em termos de posse de bens duráveis dos habitantes da Capital, 14,5% têm carros e 11,9% têm computado-res.Por outro lado, houve registo também de grandes progressos, estimulados princi-palmente pelo sector das Telecomunica-ções. Este ramo foi impulsionado, prin-cipalmente, pela telefonia móvel e pelos cabos de fibra óptica nos quais o País in-vestiu. Hoje, fala-se de perto de 6 milhões de utilizadores dos serviços de telefonia móvel em todo o território, fora a expan-são das plataformas de telecomunicação pelo País fora.

Poder aquisitivo, contrafacçãoe “iliteracia” digital

Tendo em conta o custo dos consumíveis informáticos e outros dispositivos digitais, o acesso da maioria da população moçam-bicana às TIC é limitado. Assim sendo, até há bem pouco tempo era um “luxo” possuir um telemóvel e ainda é luxo para muitos possuir um computador, seja ele de mesa ou portátil. Este cenário abre um precedente à comercialização de produtos informáticos contrafeitos, que prejudicam toda a cadeia de comércio neste ramo. Pri-meiro, os consumíveis das marcas regista-das, por estarem relativamente mais caras ficam sem muito espaço no mercado. Por outro lado, os produtos contrafeitos ape-sar de baratos não oferecem muita fiabili-

«Nove anos depois da sua aprovação, as estatísticas mostram que ainda há muito por se fazer. Senão vejamos: de acordo com o site Internet World Stats, dos cerca de 22 milhões de habitantes que Moçambique tem, apenas 612 mil têm acesso à internet. Segundo o censo de 2007 do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), em Maputo há mais viaturas do que computadores, visto que em termos de posse de bens duráveis dos habitantes da Capital, 14,5% têm carros e 11,9% têm computadores.»

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dade. A minar o desenvolvimento tecnológico, temos também o fraco domínio das pró-prias TIC pela maioria dos cidadãos, que, em muitos casos, têm a coincidência de também serem analfabetos. Desta forma, aumentam os desafios da inclusão digital, promovida pelo Governo.

Cibercrime em Moçambique

O cibercrime, que, há muito tempo, vem representando o lado negativo dos avan-ços da tecnologias de informação, está a alcançar novas e preocupantes dimensões, segundo especialistas em segurança da in-formação. De acordo com o estudo Norton Cybercrime Report: The Human Impact – publicado em 2010 pela empresa ameri-cana de segurança e tecnologia Symantec, dois terços dos utilizadores de Internet no mundo são vítimas de crimes digitais. Por conta desta situação, os países desen-volvidos começaram uma corrida para o desenvolvimento de dispositivos legais que previnam estas práticas. Em sintonia com os dispositivos, estes mesmos países investiram em recursos humanos e mate-riais como forma de detectar as infracções digitais.No caso de Moçambique, o cibercrime ain-da não tem o devido tratamento legal. Para que práticas ilegais no domínio informá-tico possam ser punidas por lei, é preciso

que estas estejam previstas como crime pela própria lei. Contudo, o grande ‘Calca-nhar de Aquiles’ no cibercrime não passa pela inexistência de legislação eficaz, mas sim pelos recursos humanos e materiais capazes de detectar, rastrear e investigar os crimes informáticos. A necessidade sur-ge na medida em que, mesmo nos países desenvolvidos, a perícia dos malfeitores geralmente é maior do que a dos investi-gadores.

2 biliões de utilizadores de Internet

O número de utilizadores de Internet no mundo alcançou os 2 biliões de pessoas, segundo anunciou em Janeiro a União In-ternacional de Telecomunicações (UIT). «No início do ano 2000, havia apenas 500 milhões de assinantes de telefones celulares e 250 milhões de usuários de Internet», diz a organização. Segundo a UIT, no princípio deste ano, os assinantes de telefonia móvel eram mais de 5 biliões enquanto que os utilizadores de Internet superavam ligeiramente os 2 biliões. Por outro lado, a utilização da banda larga pelos utilizadores de Internet disparou no mundo, no ano passado, segundo a UIT. Em 2002, o número de assinantes do ser-viço de banda larga no mundo aumentou 72% e passou para 62 milhões, afirma o relatório desse organismo do sistema das Nações Unidas. A Coréia do Sul se destaca,

com perto de 21 assinantes em cada 100 habitantes, seguido do território de Hong Kong, com 15 em cada 100, e do Canadá, com 11 em cada 100. A UIT destaca que «a maior parte da demanda de banda larga em todos os mercados é de particulares» e afirma que essa tecnologia «está acele-rando a integração da Internet na vida quotidiana». Conforme a UIT, a banda larga significa também que a utilização da Internet seja mais acessível e em alguns mercados «chegue a ser até 111 vezes mais barata por megabyte e por segundo», que a linha telefónica convencional. Em sintonia com o aumento de utilizado-res, a velocidade média global de acesso à Internet cresceu no terceiro trimestre de 2010, de acordo com o estudo "State of the Internet", publicado pela Akamai. Em todo o planeta, a velocidade média é de 2 Mbps, contra apenas quatro países (Coreia do Sul, Japão, Hong Kong e Roménia) com velocidades acima de 30 Mbps. Apesar do crescimento médio na velocidade, a lista das 100 cidades com Internet mais rápida no mundo continua dominada pela Ásia, com 61 locais no Japão, 13 na Coreia do Sul e em Hong Kong. Apenas 13 cidades dos Estados Unidos aparecem na lista, e nenhuma da América do Sul. A velocida-de média na Coreia do Sul é de 14 Mbps, seguida por 9,2 Mbps em Hong Kong e 8,5 Mbps no Japão. Os EUA aparecem na 12ª posição, com 5 Mbps, em media.c

DR.Google

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SECTOR AGRICULTURA20

O projecto corredor da Beira, na Aliança para Revolução Verde em África (AGRA) está a investir 683 mil dólares norte-ame-ricanos na promoção de tecnologias agrá-rias, como o uso de fertilizantes inorgâni-cos e rotação de culturas para aumentar a fertilidade dos solos, para aumentar a pro-dução e produtividade.O projecto, cujo término está agendado

para 2012, conta com apoio do Instituto de Investigação Agrária de Moçambique (IIAM). O mesmo está a ser desenvolvido nos distritos de Gorongosa, na provín-cia de Sofala, Manica e Báruè (Manica), e abrange cerca de 70 produtores entre singulares e associados. Na prática arran-cou em 2010, com apenas 30 produtores, mas hoje conta com 70 camponeses, o que

demonstra uma adesão à iniciativa, espe-rando-se que o número venha a aumentar nos próximos tempos. Ao mesmo tempo, o projecto vai trabalhar com outros parcei-ros, tais como companhias de produção de sementes melhoradas e venda de insumos agrícolas, para ajudar a colocar insumos agrícolas mais próximos do produtor.c

A Companhia de Sena, empresa agro-industrial baseada na vila de Marromeu, na província Sofala, poderá começar a registar lucros a partir da produção des-te ano. Com efeito, nos últimos anos, os accionistas investiram naquela unidade aproximadamente 250 milhões de dólares norte-americanos que nunca tiveram o re-torno e a empresa não conseguiu amorti-zar a dívida acumulada na ordem de 150 milhões de dólares contraída às institui-ções financeiras.Esta situação, segundo apurámos, deve-se aos elevados prejuízos registados no arranque daquele mega-projecto. Os só-cios daquela empresa injectaram no ano passado mais 30 milhões de dólares.De acordo com o director-geral daquela fábrica, Stephane Isautier, caso as con-dições climáticas o permitam, nomeada-mente ocorrência de chuvas normais, es-

pera-se que a Companhia de Sena venha a facturar este ano 50 milhões de dólares cujo lucro está calculado entre dois e três milhões de dólares.Com três mil trabalhadores permanen-tes e cinco mil sazonais, a Companhia de Sena vai explorar este ano uma área calculada em 15 mil hectares de cana-de-açúcar para moer 750 mil toneladas e pro-duzir 72 mil toneladas de açúcar.Em caso do cumprimento desta meta, a fábrica vai registar uma subida do ren-dimento em 30 por cento, comparativa-mente à última produção.A presente campanha de produção de açúcar deverá decorrer entre Maio e De-zembro próximos. Desta vez, mesmo com as inundações do Zambeze, os prejuízos foram mínimos, graças à instalação de di-ques de protecção.c

A Itália disponibilizou cerca de 16 milhões de euros (22,8 milhões de dólares) para financiar o Programa de Apoio ao Desenvolvimento Rural (PADR) nas províncias de Manica e Sofala, na região central de Moçambique, segundo a porta-voz do governo provincial de Sofala, Marina Karagianis.Karagianis disse que o programa foi um dos temas recentemente discutidos pelo gover-no provincial, mas adiantou ser ainda necessária a clarificação de alguns aspectos para que o mesmo possa passar à fase de execução.O programa funcionará até 2013 e o seu objectivo principal visa melhorar o rendimento e as condições sócioeconómicas das populações rurais naquelas duas províncias, fiando a sua gestão a cargo da Cooperação Italiana para o Desenvolvimento.Em termos específicos, o programa procurará aumentar a competitividade e a produ-tividade bem como contribuir para a redução da pobreza nas áreas, rurais através do fortalecimento do planeamento económico nos distritos onde as organizações comuni-tárias desempenham um papel importante.c

Preço do algodãoatinge nível recorde

O algodão caroço produzido na presen-te safra agrícola vai custar 15 meticais o quilograma, preço considerado recorde nas últimas duas décadas. O valor foi recentemente acordado, em Nampula, durante a reunião nacional visando a negociação do preço mínimo do algodão caroço envolvendo fomentadores e pro-dutores tendo sido orientada pelo Minis-tro da Agricultura, José Pacheco.Na ocasião, foi apresentada a perspecti-va da campanha agrícola em curso que aponta para colheitas na ordem das 70 mil toneladas de algodão caroço que após processamento vai resultar em cer-ca de 26 mil toneladas de fibra daquela cultura, que na sua maioria já está co-locada no mercado podendo render aos fomentadores aproximadamente 100 milhões de dólares norte-americanos.O mercado internacional de algodão de-monstra tendência de evolução positiva do preço por tonelada. Nas últimas se-manas, a tonelada da fibra do chamado ‘ouro branco’ está cotada em 4.500 dóla-res norte-americanos, facto que propicia um ambiente de concorrência entre as empresas fomentadoras no sentido de colocar a sua produção no mercado.Contrariamente às anteriores negocia-ções do preço mínimo do algodão caro-ço, esta foi dominada por um diálogo e entendimento entre as partes sendo que o Fórum Nacional dos Produtores de Al-godão (FONPA) avançou a proposta de 16 meticais o quilograma de secundada pela Associação Algodoeira de Moçam-bique (AAM) com a oferta de 14,5 meti-cais.c

AGRA investe na promoção do uso de teconologias agrárias

Itália apoia Programa de DesenvolvimentoRural em Moçambique

Companhia de Sena espera registar lucro

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21SECTOR ENERGIA

‘Beacon Hill Resources’ investe atenções em Moatize

O grupo estatal indiano Bharat Petro-leum Corporation (BPCL) pretende construir na Índia estruturas para a re-cepção de gás natural a ser extraído num bloco em Moçambique onde dispõe de uma participação, informou em Bom-baim SK Joshi, o director financeiro do grupo.Citado pelo jornal The Economic Times, SK Joshi disse que a construção das es-truturas, incluindo um gasoduto, deverá avançar assim “que for decidido o fazer com os blocos ‘offshore’ de que dispomos em Moçambique”.O BPCL, o segundo maior refinador de petróleo da Índia, e o conglomerado Vi-deocon Industries têm uma participação

de 10 por cento cada numa área “offsho-re” de 10520 quilómetros quadrados na bacia do Rovuma, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, em que o grupo norte-americano Anadarko Pe-troleum, com uma participação de 36,5 por cento, funciona como operador.Em Fevereiro passado, a Anadarko Pe-troleum anunciou a quarta descoberta de gás natural no bloco.Os grupos BPCL e Videocon adquiriram recentemente em conjunto a empresa petrolífera brasileira Encana Brasil Pe-tróleo e adquiriram, também em conjun-to, duas participações de 12,5 por cento à Anadarko Indonesia no bloco Nunukan, no mar indonésio.c

TeteMoatize

A ‘Beacon Hill Resources’ assinou um me-morando de entendimento com a ‘Global Minerals & Metals’ para a aquisição de uma licença de exploração carbonífera em Moçambique mediante o pagamento de 42 milhões de dólares norte-americanos (USD), segundo informou a empresa em comunicado divulgado na sua página elec-trónica.Trata-se da ‘licença 1165L’ para a explora-cao de parte da bacia carbonífera de Moa-tize, província de Tete, no centro do país, que se estima ter mais de 450 milhões de toneladas de carvão com um baixo teor de cinzas, próprio para ser utilizado na indús-tria metalúrgica.A licença abrange uma área situada a 40 quilómetros da Mina de Moatize.De acordo com o comunicado, a ‘Beacon Hill Resources’ já pagou um depósito de

dois milhões de dólares USD. Os restantes 40 milhões USD serão pagos de uma única vez após a conclusão da aquisição. Entretanto, esta licença esta condiciona-da à conclusão da aquisição da mesma (licença) pela ‘Global Minerals & Metals’. No comunicado, o Presidente executivo da empresa, Justin Lewis, afirma que, quan-do concluída, esta aquisição irá quintupli-car os recursos de carvão da ‘Beacon Hill Resources’ em Moçambique. A ‘Beacon Hill Resources’ é uma empresa cotada no mercado alternativo de inves-timento da Bolsa de Valores de Londres que centra a sua actividade no desenvolvi-mento de uma carteira de activos associa-dos com a indústria siderúrgica, dispondo de uma mina de carvão em Moçambique e uma outra de magnesite (carbonato de magnésio) no noroeste da Tasmânia.c

África do Sul e Canadá favoritos no concurso das áreas pesadas do Chibuto

A Mod Consortium, de origem sul-africana ou a Rock Forge Titanum Lda, de origem canadiana, são as empresas favoritas para vencerem o concurso público internacio-nal destinado a explorar as areias pesadas do Chibuto, na província de Gaza, escreve o Zambézia online.O resultado do concurso lançado em Ou-tubro de 2010 deverá ser conhecido nos próximos dias, uma vez que as propostas foram abertas em meados do mês passa-do e a comissão encarregue de avaliá-las tinha 30 dias para anunciar o vencedor. Inicialmente, o projecto cujas actividades de prospecção e pesquisa arrancaram em 1997, esteve concessionado à BHP Billiton que viu a sua licença cancelada devido ao incumprimento do calendário pré-estabe-lecido com o Governo moçambicano.Os estudos realizados indicam haver na área em questão, mais de 72 milhões de to-neladas de ilminite, cuja exploração leva-ria pelo menos 30 anos. A zona calculada em 10840 hectares possui, igualmente, 2,6 milhões de toneladas de reservas de zircão e 0,4 milhão de toneladas de rutilo.c

Grupo indiano vai construirestruturas para receber gás natural

DR.Gettyimages

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SECTOR TURISMO22

Melhorias serãoimplementadas no Artesanato

A Feira de Artesanato, Gastromomia e Flores de Maputo (FEIMA) irá contar com mais de 30 stands de venda de artesanato, a partir de Julho deste ano. O protótipo dos stands ou expositores já foram dese-nhados, e a ideia irá culminar com a mon-tagem dos equipamentos no local.Alguns parceiros irão juntar-se à iniciati-va. Espera-se que a quantidade de stands venha a aumentar consideravelmente de modo a beneficiar a totalidade dos arte-sãos, calculados em mais de 300.A iniciativa de equipar o espaço da FEIMA com os stands enquadra-se nos esforços que vêm sendo levados a cabo pelo Progra-ma Conjunto para o Fortalecimento das Indústrias Culturais e Criativas e Políticas Inclusivas em Moçambique, uma colabo-ração entre o Governo de Moçambique e as Nações Unidas, sendo apoiado pelo Fundo dos Objectivos de Desenvolvimen-to do Milénio (F-ODM) e financiado pelo Governo Espanhol.

Sérgio Mabombo [texto]

Acredita-se que o turismo cultural possa vir a gerar demanda mas se a oferta não estiver organizada, os resultados serão francamente infrutíferos. Os exemplos dos desafios por superar ainda são inúmeros: O distrito de Zavala, por exemplo, ainda não atingiu o estatuto de destino devido à falta de infraestruturas. Segundo Lor-raine Johnson, Coordenadora do Progra-ma Conjunto, «os turistas passam menos tempo do que deviam em Zavala por ser um local ainda sem restaurantes nem ho-téis».Mas embora existam dificuldades, surgem igualmente melhorias no que diz respeito ao segmento do Artesanato. Será ainda ao longo deste ano que a CEDARTE irá im-plementar o sistema de código de barras em embalagens e rótulos de mercadorias de artesanato. A iniciativa irá conferir um outro estatuto aos artesãos filiados à CE-DARTE, que na sua maioria operam no espaço da FEIMA. O mecanismo de codifi-cação é implementado, pela primeira vez, na área de produtos do artesanato nacio-nal. O facto irá permitir a valorização de todas as entidades envolvidas no processo de comercialização do artesanato, desde o fabricante até às entidades detentoras das patentes, antes da exportação se efectivar para os distribuidores ou retalhistas a ní-vel mundial

Exportações exigemmaiores quantidades

Os artesãos nacionais devem melhorar a sua capacidade de encomendas no senti-do de satisfazer as exigências do merca-do internacional. A nível internacional, a quantidade mínima de uma encomenda feita por um hotel de cinco estrelas supera em larga medida as 100 unidades, segun-do José Gravata, ponto focal do Programa Conjunto para o Fortalecimento das In-dústrias Culturais e Criativas.A recente visita feita aos ateliers da África do Sul, no âmbito do Programa Conjunto, serviu de “termómetro” para avaliar o real nível de desafios dos artesãos nacionais. Os ateliers sul-africanos têm alimentado

eficazmente as encomendas industriais feitas a partir de mercados europeus, asiá-ticos e até americanos.Uma vez cá, a Associação Asaruna - com-posta por artesãos sediados na província de Nampula - já exporta em quantidades consideráveis para os Estados Unidos da América. A organização é apontada às de-mais entidades como um exemplo na con-quista do mercado internacional do arte-sanato. Não obstante, a rapidez na entrega das encomendas ainda constitui um sério desafio no seio da classe artesanal moçam-bicana, que encara o mercado regional da SADC como cada vez mais competitivo.A descrição feita por José Gravata sobre o mercado nacional do artesanato revela um crescimento de consumo, alimentado por novos hábitos, sobretudo provenientes da tendência da moda. Hoje em dia, quase toda a artista moçambicana não dispensa um acessório de beleza feito à base das ar-tes manuais. Por sua vez, a exposição des-tes artistas em palco influencia cada vez mais a procura e o consumo de brincos, pulseiras e colares pela sua legião de fãs, ávidas em se identificar com o seu ídolo.De igual modo, destaca-se o impacto dos Tours de turismo que procuram a FEIMA e oferecem uma maior dinâmica de vendas, embora o ganho ainda esteja longe de ser suficiente. Existe ainda um imenso traba-lho a ser feito do lado da oferta. Nesse sen-tido, José Gravata sugere que se trabalhe na perspectiva da introdução do artesana-to nas escolas como forma de potenciar a actividade de uma forma mais sólida. Por outro lado, a concorrência do mercado do artesanato a nível internacional impõe a melhoria do design dos produtos nacio-nais, segundo o mesmo responsável.Os três anos durante os quais decorre o Programa Conjunto para o Fortalecimen-to das Indústrias Culturais e Criativas são avaliados como positivos, por terem cria-do a possibilidade de intercâmbio e uma orientação constante aos artesãos no sen-tido da melhoria dos seus produtos e da sua colocação no mercado. Nesta óptica, o desafio maior é tornar o País competitivo em todas as áreas das indústrias culturais, no contexto da integração regional.c

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24 SECTOR FORMAÇÃO PROFISSIONAL

O apoio luso na formação profissional moçambicana

DR.LuísMuianga

Em 1996, a Fundação Portugal África (FPA) foi solicitada pelo governo mo-çambicano no sentido de apresentar um estudo com vista à reestruturação do en-sino das “artes e ofícios”, ministrado nas ex-Escolas de Artes e Ofícios, espalhadas por todo o país e desactivadas por força da guerra civil que Moçambique viria a sofrer pouco depois da sua independência.Para coordenar os respectivos trabalhos foi solicitada a colaboração do director do Centro Regional do Porto da Universidade Católica, Joaquim de Azevedo, que, após uma visita a Moçambique onde se encon-trou com os mais altos responsáveis do Ministério da Educação, decidiu que uma equipa de técnicos portugueses visitasse as 38 escolas referenciadas espalhadas por todas as províncias moçambicanas e que necessitavam de ser reabilitadas e postas em funcionamento. Estas equipas tinham como missão trazer informações concretas sobre cada uma dessas escolas. Para o efeito, foram visita-das as suas instalações, contactadas, local-mente, diversas entidades públicas (Direc-ções Provinciais e Distritais de Educação, Administradores Provinciais e Distritais e

outras), autoridades civis, religiosas, co-merciantes, gestores de empresas, direc-tores e professores de escolas, ONG’s de intervenção local, etc..Este trabalho de campo decorreu em 1998. Em 1999 foi apresentado às autoridades educativas moçambicanas o estudo solici-tado, o qual foi aprovado por unanimidade em sede de Conselho Consultivo.Desde 2001 que vem decorrendo, em Moçambique, a operacionalização do Programa de Reactivação das Escolas Profissionais de nível 2, apoiado por Por-tugal através da Fundação Portugal África (FPA), do Ministério da Educação (ME), do Instituto Português de Apoio ao Desen-volvimento (IPAD), da Fundação Calouste Gulbenkian (FCG), do Instituto de Em-prego e Formação Profissional (IEFP) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) da Fundação Portugal Telecom (FPT). Re-centemente aderiu também a este projecto a Universidade de Aveiro que, através do Projecto Pensas, vai desenvolver em co-laboração com os restantes parceiros um processo de geminação de escolas profis-sionais portuguesas e moçambicanas.Neste contexto, foram destacados para o

Ministério da Educação de Moçambique (MINED), dois consultores-residentes, oriundos do Ministério da Educação de Portugal e professores do ensino técnico português, que constituíram com outros técnicos moçambicanos uma Unidade Técnica de Apoio (UTA) presidida pelo Director Nacional da Educação Técnico-Profissional (DINET).O programa tem desenvolvido as seguintes acções: Reorganização curricular dos cur-sos; Formação de directores, professores e mestres; Elaboração do quadro legal dos cursos e dos normativos de funcionamento das escolas; Inventariação de obras de res-tauro e ampliação das escolas envolvidas e Levantamento da tipologia dos equipa-mentos didácticos necessários.Por decisão do MINED e para início da ex-periência, logo em 2001, foram indicadas cinco escolas-piloto: MOAMBA, província de Maputo, escola comunitária que tem como promotores a Rede Salesiana de For-mação Profissional; INHAMISSA, provín-cia de Gaza, escola pública que tem como promotora a Direcção Provincial de Edu-cação de Gaza; MASSINGA, província de Inhambane, escola pública que tem como promotora a Direcção Provincial de Edu-cação de Inhambane; ILHA DE MOÇAM-BIQUE, província de Nampula, escola pú-blica que tem como promotora a Direcção Provincial de Educação de Nampula; e SONGO, província de Tete (escola pública que tem como promotora a Direcção Pro-vincial de Educação de Tete e o apoio da HidroEléctrica de Cahora Bassa). A 2ª fase do programa iniciou-se em Se-tembro de 2003. Visou o apoio ao funcio-namento de novas escolas, a transferência de "Know-how" para a equipa moçambi-cana e a implementação de um programa de acções de formação técnico-pedagógica para professores, directores e técnicos dos serviços centrais e locais do MINED. Ain-da em Setembro de 2003, o Ministério da Educação de Moçambique oficializou o modelo de formação que havia sido pre-conizado no "Relatório Final do Estudo de Implementação de uma Rede de Escolas Profissionais".

O modelo educativo-formativodas Escolas Profissionais de Moçambique

A missão das EP passa por “qualificar profissionalmente (nível 2) adolescentes e jovens moçambicanos como núcleo de uma estratégia de desenvolvimento socio-económico nacional que requer e repousa, em boa parte, na existência de uma mão-

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25SECTOR FORMAÇÃO PROFISSIONAL

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O apoio luso na formação profissional moçambicana

A empresa LEYA, disponibilizou, em 2010, uma verba de Mt 200 000, 00 para apoio à publicação da Revista Tec-nicando, revista das Escolas Profissio-nais de Moçambique (editada quadri-mestralmente, distribuída por todo o país e disponível em http://revistatec-nicando.blogspot.com)Também a Fundação Portugal Tele-com ofereceu às Escolas Profissionais de Moçambique 284 computadores desktop e 40 computadores portáteis, que foram distribuídos pelas escolas de todo o país.

Empresas portuguesas financiam revista e dão equipamento

de-obra competente e apta a evoluir nos mais variados contextos profissionais e laborais”.A qualificação profissional de nível 2 exige a aquisição de competências e conheci-mentos profissionais práticos e teóricos, envolvendo a utilização dos instrumentos e das técnicas da profissão. Com este ní-vel o profissional qualificado desempenha funções bem definidas, por vezes de forma autónoma, desde que no âmbito das técni-cas que lhe dizem respeito.Cada escola tem um Projecto Educativo (PE) que lhe confere uma identidade pró-pria e a distingue pela especificidade da sua proposta educativa de tal modo que as EP desempenham, para as regiões onde estão inseridas, um papel de “motor” de desenvolvimento local.A oferta formativa de momento, abrange os cursos de: Carpinteiro/ Marceneiro; Serralheiro Civil/Soldador; Serralheiro de Manutenção Mecânica; Reparador de Carroçarias; Electricista de Edificações; Empregado de Mesa e Bar; Operador Agro-pecuário; Electricista Bobinador; Pedreiro de Limpos; Jardineiro/Floricul-tor; Horticultor/Fruticultor; Empregado Administrativo; Mecânico-Auto; Técnico de Ecoturismo.

Regime de acesso,ano complementar e equivalências

Têm acesso à frequência das Escolas Pro-fissionais alunos saídos da Escola Primá-ria Completa (EPC), com a sétima classe concluída (escolaridade mínima obrigató-ria em Moçambique). Para estes alunos, as EP oferecem cursos de qualificação profis-sional de dois anos de duração, seguido de um estágio nas empresas.Para os alunos que queiram prosseguir estudos e adquirir competências profis-sionais relacionadas com o “saber super-visionar e conduzir” foi instituído um “ano vestibular” designado por “ano comple-mentar”. Por outro lado, têm acesso ao ano complementar os alunos que, tendo completado o nível precedente com está-gio realizado, obtenham, na parte escolar do curso, uma média igual ou superior a 12 valores.Para efeitos profissionais, aos diplomados com os cursos técnico-profissionais minis-trados nas Escolas Profissionais, após a conclusão do estágio profissional, é confe-rida a equivalência ao nível básico técnico-profissional (nível 2). Aos diplomados com o ano complementar é conferida a equiva-lência à 10ª classe do ensino secundário

geral.

Avaliação do Projecto

O projecto teve já, por iniciativa própria, dois momentos de avaliação. O primeiro, em 2008, foi realizado por uma equipa da DINET (Direcção Nacional da Educação Técnico-Profissional e Vocacional) a que se juntaram dois elementos da Inspecção-geral de Educação do Ministério da Edu-cação de Moçambique. Incidiu sobre 13 es-colas (50,1% do total das escolas, à data); o segundo revestiu a forma de uma avalia-ção externa e envolveu uma equipa mista de inspectores moçambicanos e portugue-ses (da Inspecção-geral de Educação do Ministério da Educação de Portugal). Esta avaliação externa (mista) incidiu sobre 3 escolas das que haviam sido, anteriormen-te, avaliadas: escolas profissionais de “S. Francisco de Assis”, “Domingos Sávio” e “Ilha de Moçambique”. De referir ainda que outras avaliações têm sido realizadas, nomeadamente pelo IPAD (Instituto Português de Apoio ao Desen-volvimento) co-financiador do projecto. Em todas estas avaliações tem ressaltado o impacto socioeconómico muito positivo que o funcionamento destas escolas tem proporcionado nos contextos locais, pro-vinciais e mesmo nacionais. Aliás, cons-tata-se que a maior parte dos graduados encontra emprego e/ou cria mesmo o seu próprio posto de trabalho.

A dinâmica das escolas profissionais

Em 2010, estavam em funcionamento 32 escolas distribuídas por todas as provín-cias de Moçambique à excepção da pro-víncia da Zambézia que aguarda a trans-formação de duas escolas de artes e ofícios em escolas profissionais. Desde 2001, foram realizadas acções de formação e cursos de capacitação técnico-pedagógica quer em Portugal (6) quer em Moçambique (40). Nestas acções de for-mação tomaram parte 1076 professores envolvidos em 2610 horas de formação.A abertura das escolas profissionais pode ser proposta por iniciativa pública, comu-nitária, ou privada. Das escolas existentes, até ao presente, nenhuma é de natureza privada. Ao passo que as escolas comu-nitárias resultam de parcerias entre o Es-tado e outros promotores, normalmente ONG’s, igrejas, organismos de solidarie-dade social, como a Cáritas Moçambicana, etc.Ao Estado compete o pagamento dos do-

centes e dos materiais consumíveis (in-cluindo os oficinais); a gestão da escola é assegurada por elementos propostos pelos restantes parceiros envolvidos.

O papel das empresas privadasna abertura de EP

Várias empresas privadas, apercebendo-se da sustentabilidade legal das Escolas profissionais de Moçambique, têm mani-festado vontade de apoiar a abertura deste tipo de escolas por entenderem que a exis-tência de uma mão-de-obra competente nos mais diversos sectores da actividade económica é um dos pilares importantes para o desenvolvimento de Moçambique. A título de exemplo, a empresa privada “SASOL MOÇAMBIQUE” edificou, equi-pou e colocou em funcionamento a Escola Profissional de Mabote, na província de Inhambane.c

DR.G

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«A baixa qualidade dos nossos técnicos está relacionadamais com deficits ao nível da formação escolar e académica»Ana Tavares gere os destinos da Formoprojectos, uma empresa de projec-tos e formação que em Moçambique tem ministrado cursos, sobretudo, nas áreas comercial e comportamental, apesar das solicitações de formação nas áreas financeira, administrativa e de ordem mais técnica terem vin-do paulatinamente a aumentar. A directora executiva fala sobre o sector e discorre sobre as razões por que a formação nas instituições de ensino técnico-profissional nem sempre correspondem às necessidades do desen-volvimento económico e social do País.

Entre 1998 e 2008, o número de escolas técnico-profissionais cresceu de forma significativa no país. Como se reflecte esse crescimento na área profissional em Moçambique, em termos qualitativos?Confesso que não tenho informações pre-cisas e suficientes sobre o impacto qua-litativo do crescimento dos Centros de Formação Profissional Qualificante no mercado profissional, para poder emitir uma opinião fundamentada. Contudo, acredito que não existam razões para que esse impacto não seja necessariamente po-sitivo, pois a existência de oferta de quali-ficação para o exercício de uma profissão é fundamental para o desenvolvimento das empresas e da economia de um país.

Quais são as áreas de formação mais pro-curadas na sua empresa?A Formoprojectos, com os seus 22 anos de experiência, a sua abrangente carteira de formadores e as suas parcerias com insti-tuições congéneres, está capacitada para desenhar e ministrar formação em pratica-mente qualquer área profissional. Apesar disso, em Moçambique a maioria das soli-citações que recebemos são nas áreas Co-mercial e Comportamental. Contudo, têm vindo a aumentar os pedidos de formação na área financeira e administrativa, assim como em áreas mais técnicas (HST, quali-dade, etc.); e também nos tem começado a ser solicitada a construção de programas de formação em áreas muito específicas inexistentes em Moçambique (turismo, seguros, etc.), aos quais temos tido sempre a capacidade de dar resposta.

A formação nas instituições de ensino técnico-profissional corresponde às ne-cessidades do desenvolvimento econó-

Arsénia Sithoye [texto] . Luis Muianga [fotos]

DR.LuísMuianga

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«A baixa qualidade dos nossos técnicos está relacionadamais com deficits ao nível da formação escolar e académica»

mico e social do país? Acha que a mesma é feita de acordo com os padrões exigi-dos pelo mercado de emprego?Penso que existem duas razões principais para que por vezes se considere que a for-mação dada pelas empresas de formação não corresponda às necessidades de de-senvolvimento das empresas e do país: o modo como a escolha da formação a realizar é decidida ou até mesmo como é aconselhada aos clientes pelas empresas de formação e, claro, a qualidade da for-mação ministrada, que por vezes consta de “aulas” teóricas que não desenvolvem competências práticas para o desempenho profissional e como tal não têm qualquer impacto futuro.Constato que por vezes as empresas, quan-do pretendem realizar formação, sentem que têm que escolher cursos de entre ca-tálogos de oferta formativa das empresas de formação, acabando por vezes por con-tratar formação que até nem responde às suas reais necessidades de competências. Nestes casos, uma avaliação do impacto da formação dificilmente será positiva. Ora, o processo tem que ser feito ao contrário; a formação tem que ter objectivos definidos e ser planeada em função destes. As em-presas devem diagnosticar as suas reais necessidades de formação interna, iden-tificar que tipo de cursos satisfazem essas necessidades e contratar uma empresa ca-paz e competente para desenhar e minis-trar tal formação. É assim que trabalha-mos na Formoprojectos: diagnosticadas as necessidades de formação do cliente, desenhamos soluções de formação com-pletas e à medida dessas necessidades, que podem inclusivamente incluir moda-lidades de intervenção para além da clás-sica formação em sala (on the job training, coaching, e-learning, etc.); quando o clien-te não possui já um diagnóstico das suas necessidades de formação também presta-mos esse serviço, nomeadamente através de projectos de avaliação de competências da mão-de-obra.A área da formação é complexa e deve ser encarada com muita responsabilidade e profissionalismo por beneficiários (em-presas clientes) e fornecedores (empresas de formação), para que seja útil e possa ter um impacto positivo no mercado. E as em-presas devem procurar contratar empre-sas de formação qualificadas e experien-tes, com capacidade para criar soluções de

qualidade que satisfaçam as suas necessi-dades formativas.

Os empregadores têm-se queixado da baixa qualidade dos nossos técnicos, tendo muitas vezes que recorrer á mão-de-obra estrangeira. A que se deve, no fundo, esta fraca qualidade? Será a mes-ma motivada por uma oferta de forma-ção inadequada?Penso que em Moçambique este é um problema mais estrutural, à semelhan-ça do que acontece em muitos, senão na maioria, dos países em desenvolvimento. Penso que a baixa qualidade dos nossos técnicos de que se queixam empregadores está mais relacionada com deficits ao nível da formação escolar e académica, que du-rante muito tempo foi sacrificada pelas ra-zões sociais que tão bem conhecemos, do que com a oferta de formação profissional. As principais competências de um profis-sional (técnicas e atitudinais) devem ser adquiridas em primeiro lugar na escola, e penso que as empresas recorrem em mui-tos casos à formação profissional contínua dos seus colaboradores precisamente para colmatar algumas dessas competências em falta.Há quem refira que o leque de cursos existentes e ministrados pelas empre-sas de formação técnico-profissional não abrange as reais necessidades do sector da indústria, turismo e hotelaria, e comércio. Quando há necessidade de canalizadores, cozinheiros e balconistas, a formação é canalizada para cursos de carácter mais abrangente em termos de conteúdo. Concorda com esta ideia?Quando falamos de qualificar pessoas para o exercício de uma profissão em áre-as técnicas e por vezes complexas como as que refere, falamos inevitavelmente de uma formação de longa duração (vários meses), pois esta deve incluir uma com-ponente técnica aprofundada, uma forte componente prática e uma formação de base transversal às diversas profissões, devendo por isso ser ministrada por uma entidade que possua uma estrutura ade-quada (em certos casos, nomeadamente, em maquinaria), como é o caso dos Cen-tros de Formação Profissional qualifican-te. Para uma parte destas profissões, é natural que as empresas de formação não possuam esta estrutura e esta capacidade de resposta, encarregando-se usualmente,

sobretudo, de actualizar e aperfeiçoar pro-fissionais em competências específicas.Mas isto não significa necessariamente que não haja empresas de formação ca-pacitadas para prestar formação de qua-lidade nestas áreas específicas. A Formo-projectos por exemplo está, e já desenhou vários programas de formação em áreas técnicas. O que acontece muitas vezes é que os empresários e gestores partem do princípio de que as empresas de formação só estão capacitadas para fazer formação “light” e nem nos chegam a fazer solicita-ções para este tipo de formação.

Existem alguns fundos e programas de apoio à área de formação profissional. Já alguma vez recorreu a algum. Se sim, a qual e qual foi a experiência que teve?A maioria destes programas está vocacio-nada normalmente para dar apoio directa-mente aos promotores ou beneficiários da formação (empresas, associações...) e não aos prestadores de serviços da mesma, como é o caso da nossa empresa. Por isso, conheço de facto alguns desses programas mas nunca recorremos a nenhum directa-mente.c

«Constato que por vezes as empresas, quando pretendem realizar formação, sentem que têm que escolher cursos de entre catálogos de oferta formativa das empresas de formação, acabando por vezes por contratar formação que até nem responde às suas reais necessidades de competências. Nestes casos, uma avaliação do impacto da formação dificilmente será positiva.»

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Os contornos tremidos da formação técnico-profissionalA questão do ensino técnico-profissional em Moçambique tem levado a de-bates no que se refere à qualidade prestada pelas instituições de ensino e à satisfação por parte dos empregadores. Regista-se um crescimento signi-ficativo de escolas técnico-profissionais, facto que nem sempre se reflecte na qualidade dos técnicos formados. O director-geral da Tecnicol e tam-bém vice-director da Confederação dos Profissionais de Recursos Huma-nos, Rui Tembe, fala-nos deste assunto tão vital para o desenvolvimento do País e das experiências vividas na empresa que dirige.

Arsénia Sithoye [texto] . Luis Muianga [fotos]

Segundo o director-geral da empresa de formação Tecnicol, Rui Tembe, a questão da qualidade constitui um dos principais desafios das escolas técnico-profissionais. Aliás, um dos critérios de avaliação da qualidade de um profissional é a capaci-dade do mesmo de responder eficazmente aos desafios dos empregadores. «Precisamos de um mecanismo eficiente e penso que pelo que conheço do progra-

ma integrado da reforma da educação técnico-profissional, ele tem previsto o quadro nacional de competências, que poderá criar directrizes para a qualidade em determinadas áreas. Por outro lado, os laboratórios devem estar equipados e deve ser intensificada a parceria com o sector privado para programas de está-gio, porque os empregadores, melhor do que ninguém, poderão aferir a qualidade dos técnicos formados, sendo eles os prin-cipais interessados pela qualidade dos técnicos. É neste sentido que nos temos esforçado: por nos aproximarmos do sec-tor privado e envolvê-lo na formação dos

nossos técnicos».Rui Tembe aponta como exemplo o siste-ma de competências, existente na institui-ção que dirige, e que orienta a formação dos técnicos, afirmando que o ideal seria aplicar uma uniformização ao nível do País. Na sua opinião, a qualidade passa igualmente pela certificação internacional dos formadores e das instituições de for-mação, facto que poderá garantir a quali-dade dos cursos e permitir que os técnicos formados em Moçambique possam actuar em qualquer parte do mundo. Pela dinâmica dos tempos actuais, os cur-sos ligados às novas tecnologias de infor-mação, desde a Informática Básica aos cursos de certificação técnica são bastante procurados na Tecnicol. O mesmo aconte-ce com os cursos de Secretariado Executi-vo e com a Contabilidade Geral. «Sente-se uma tendência por cursos de aplicabilidade imediata. O Inglês é trans-versal a todos os cursos e as salas estão sempre cheias na Tecnicol», afirma. Segundo o empresário, a formação nas instituições de ensino técnico-profissional corresponde em certa medida às neces-sidades do desenvolvimento económico e social do país, contudo há-que acelerar a criação de instituições ligadas às novas áreas de investimento no país, como a do petróleo e mineração. «Sinto que os programas de apoio aos centros de formação deveriam priorizar a criação de capacidade de formação nessas áreas. Os gestores de Recursos Humanos e os gestores de linha deveriam estar mais ligados aos centros de forma-ção, certificando-se que as competências transmitidas nos centros coincidem com as exigências do mercado. Por outro lado, percebemos que havia necessidade de en-globar nos nossos programas conteúdos indispensáveis à mudança de mentali-D

R.LuísMuianga

«Sinto que os programas de apoio aos centros de formação deveriam priorizar a criação de capacidade de formação nessas áreas. Os gestores de Recursos Humanos e os gestores de linha deveriam estar mais ligados aos centros de formação, certificando-se que as competências transmitidas nos centros coincidem com as exigências do mercado. Por outro lado, percebemos que havia necessidade de englobar nos nossos programas conteúdos indispensáveis à mudança de mentalidade dos jovens(...)»

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Os contornos tremidos da formação técnico-profissional

dade dos jovens, como o empreendedo-rismo e a cultura do trabalho. Os nossos estudantes passarão a ter estes conteúdos como obrigatórios em todos os progra-mas. Procuramos melhorar ainda a du-ração dos cursos e estamos a apresentar ao mercado modelos inovadores de for-mação acelerada integrada, com 600 ho-ras de formação técnica profissional, ofe-recendo no fim da formação uma carteira profissional. É, portanto, um esforço para a valorização dos técnicos profissionais». Questionado sobre a alegada falta de qua-lidade dos técnicos, Rui Tembe afirmou tratar-se não de falta de qualidade, mas sim da falta de uniformização de qualida-de de acordo com os padrões internacio-nais - o que segundo o mesmo pode ser conseguido através de programas de cria-ção de capacidade nos centros, sendo essa responsabilidade do Governo.

A falta de reconhecimento dostécnicos é um denominador comum

Rui Tembe considera preocupante a con-tratação de técnicos estrangeiros para su-prir as necessidades do mercado de traba-lho e defende que os centros de formação devem actualizar-se para que se formem técnicos com certificações reconhecidas internacionalmente e com o domínio das mais modernas tecnologias industriais.«Tenho alertado para este fenómeno e sugeri que o Governo trabalhe em coor-denação com os centros de formação, di-vulgando a necessidade de mão-de-obra qualificada em determinadas áreas para que nos preparemos e formemos milha-res de moçambicanos para o trabalho nos

mega-projectos». Outra questão de bastante relevância su-blinhada por Rui Tembe foi o facto de a sociedade reconhecer apenas os técnicos superiores e os profissionais de escritório em detrimento dos técnicos profissionais, devido aos mecanismos de remuneração, sobretudo no sector público, que influen-cia o sector privado, e que a seu ver care-cem de uma revisão.«A sociedade tem tendência a dar um maior reconhecimento aos técnicos supe-riores e os profissionais de escritório, daí que a ambição de todos os jovens passe por procurar profissões modernas, que valorizem o seu status social. Parece uma questão marginal, mas pode ser a origem do problema. Quem quer educar o seu fi-lho para ser carpinteiro ou canalizador? E receber o salário mínimo? Estas profis-sões servem apenas de alternativa àque-les que não possuem uma maior quali-ficação. Felizmente o enorme fluxo de estudantes à Tecnicol tem demonstrando uma relativa mudança no paradigma da realização profissional em Moçambique».Outro problema constatado por aquele dirigente é a forma de remuneração no sector público que segundo ele contrasta com o discurso a favor da massificação da educação técnico-profissional. Indica a título de exemplo, a existência de pessoas licenciadas em determinada área a tra-balharem em outra totalmente diferente, auferindo a salários de técnicos superiores devido ao sistema. «Quando começarmos a pagar pelo que a pessoa faz e não pelo que estudou, pode-remos então observar uma mudança de comportamento no que se refere à pro-

cura por parte destes cursos e um conse-quente aumento da oferta dos centros de formação. Em resumo, precisamos de pa-gar melhor aos técnicos. Aqui ao lado, na África do Sul, estas profissões são valori-zadas e os técnicos têm uma vida digna mesmo que não sejam licenciados, mas desde que apresentem um trabalho de qualidade». Relativamente aos fundos e programas de apoio à área de formação profissional, a Tecnicol teve, em 2005, uma parceria com o então Projecto para o Desenvolvimento Empresarial – componente de aprendiza-gem técnica, que consistia na formação de pessoal de pequenas e médias empresas comparticipado em 50% do valor do pro-jecto. Não obstante, Rui Tembe lamenta a falta de apoio directo à melhoria da qua-lidade.A empresa tem como objectivo para 2011 concorrer a algumas janelas do Programa Integrado da Reforma de Educação Téc-nico Profissional (PIREP). Porém, sugere uma mudança na metodologia de aplica-ção dos fundos. «Seria, quanto a mim, mais eficaz, se o PIREP, centralizasse a gestão dos pro-gramas e projectos, sendo ele responsável pela concepção dos programas e projec-tos, com base na dinâmica actual e nas necessidades do mercado como um todo e convidasse os centros a beneficiarem des-ses programas ou projectos, ao invés de esperar que os centros apresentem pro-jectos, que podem divergir dos objectivos do programa como um todo e obrigar a uma maior fiscalização da sua aplicação. Penso que tornaria transparente e dinâ-mica a implementação do projecto».c

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Formação a duas velocidadesA formação técnico-profissional revela-se cada vez mais importante nos dias que correm, sobretudo para o tecido produtivo moçambicano. Cada vez mais, a gestão das qualificações e competências geram um valor acres-centado num país onde a palavra de ordem é: produzir. O ministro da Edu-cação, Zeferino Martins, fala desta realidade e de como decorre a reforma no sector, abrindo um horizonte não muito distante para uma uniformiza-ção do ensino em causa na SADC.

ENTREVISTA

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Helga Nunes [texto] Luís Muianga [fotos]

Estima-se que a mão-de-obra em Moçam-bique é de cerca de 8.5 milhões de pesso-as e que a sua taxa anual de crescimento é de aproximadamente 2.9%, excedendo de longe as taxas actuais de crescimento do sector formal. Até que ponto o ensi-no técnico-profissional tem alimentado o provimento da referida mão-de-obra pelas organizações?O ensino técnico profissional tem duas abordagens simultâneas em relação à for-mação da mão-de-obra, e funciona a duas velocidades. Por um lado, é preciso formar uma mão-de-obra qualificada com pa-drões de competência standard. Trata-se de uma mão-de-obra que leva mais tempo a formar, na qual as exigências de entrada são mais elevadas e em que a formação é feita considerando primeiro as expectati-vas dos locais de trabalho e depois as tec-nologias e os procedimentos que se usam nessas empresas. Neste sentido, o currículo para esta forma-ção é feito em permanente diálogo e dis-cussão com o sector produtivo, e é valida-do por este mesmo sector. Eles é que nos dizem se o currículo serve ou não serve, se cobre as diferentes áreas e se desenvolve as competências que são requeridas no mercado de trabalho. É uma vertente mais cara. A formação da mão-de-obra é mais longa e, por isso, os números são mais pe-quenos. Portanto, o mercado de emprego para este tipo de mão-de-obra é relativa-mente limitado. Contudo, estas empresas, poucas em número mas com padrões de competência são as que produzem para a exportação, mantêm os padrões de com-petência elevados de produção. Como tal, ou temos os moçambicanos preparados para ocupar esses postos ou corremos o risco dessas empresas contratarem mão-de-obra estrangeira. Concluindo, esta é a primeira dimensão: competitiva, de alto nível, em números mais pequenos e adap-táveis.

E qual é a segunda velocidade?Depois dos milhões a que se referiu, há todo um conjunto de pessoas que vive nas zonas rurais, nas zonas peri-urbanas e mesmo nas principais cidades que pre-cisam de competências adicionais para sobreviver no mercado de trabalho. Para essas temos uma solução menos onerosa e mais simples que são os centros comunitá-rios de desenvolvimento de competências, que são centros adaptados às zonas rurais que promovem a formação de pessoas in-dependentemente da formação geral que tenham adquirido. Trabalham em cursos de curta duração, intensivos em módulos e motivados para coisas muito precisas, como por exemplo: como fazer sumo a partir de goiaba; como fazer compotas a partir de mangas. Estamos aqui a falar de produção alimentar, e podemos incluir as padarias, a arte de como fazer pão e bolos,

DR.LuísMuianga

«Por um lado, é preciso formar uma mão-de-obra qualificada com padrões de competência standard. Trata-se de uma mão-de-obra que leva mais tempo a formar, na qual as exigências de entrada são mais elevadas e em que a formação é feita considerando primeiro as expectativas dos locais de trabalho e depois as tecnologias e os procedimentos que se usam nessas empresas.»

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ZEFERINO MARTINS, MINISTRO DA EDUCAÇÃO

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entre uma série de outros produtos. Mas também há áreas como a carpintaria, a serralharia, ou seja, actividades mais voca-cionais, como a construção e alinhamento de paredes. E esta é uma formação mais curta, mais intensiva, onde podemos for-mar grandes números de indivíduos.Portanto, as primeiras instituições são os institutos tecnológicos, politécnicos, ins-titutos de nível médio, que existem, mais ou menos, um por capital de província, e a ideia é que também em relação aos insti-tutos superiores politécnicos possamos ter um em cada província. Digamos que na cadeia temos os institutos superiores politécnicos, que são três (Gaza, Manica e Tete), depois vêm os institutos médios agrários, comerciais e industriais, de computação, de hotelaria e turismo, à razão de mais ou menos um por província sendo que em algumas províncias há dois, como é o caso da cidade de Maputo. E te-mos as escolas profissionais que é o nível a seguir. Aí possuímos várias, aparecendo já ao nível dos distritos, e ainda podemos encontrar os centros comunitários de de-senvolvimento de competências. Em resumo, a oferta de formação é diver-sificada e varia desde a formação de nível mais exigente, que se destina a números mais reduzidos e em tempos maiores de preparação até à formação que serve nú-meros maiores de formandos, de curta duração, intensiva e em função das ne-cessidades locais das comunidades. A este nível, as competências servem para que os formandos possam fazer o seu próprio ne-gócio para melhorarem a sua produção e produtividade. Portanto, é esta a resposta.

Os centros comunitários de desenvolvi-mento de competências também se diri-gem ao sector informal?É fundamentalmente para o sector in-formal, estamos a falar de distritos onde o sistema produtivo formal é inexisten-te. Em muitos distritos não se encontra qualquer tipo de indústria significativa, o que há são moageiras e não mais do que isso. E o modelo prevê mais adiante, e se as pessoas produzirem, a implementação de centros de transferência de tecnologias. Estes centros de transferência de tecno-logias vão servir um conjunto de centros comunitários porque acreditamos que a revolução e a eliminação da pobreza pas-sam por considerar três vectores princi-pais: Primeiro, os conhecimentos. Temos de dotar as pessoas de conhecimentos que são necessários para perceber os fenóme-nos, para entenderem e darem uma expli-cação aos problemas. A segunda vertente é

a tecnologia. Portanto, é preciso dominar as ferramentas da técnica e usar as máqui-nas. A terceira, e uma vez com o conheci-mento e a tecnologia, é preciso adquirir re-cursos financeiros, micro-créditos e outras soluções, para que os projectos, as inicia-tivas empresariais e os planos de negócios dessas pessoas possam vingar. Digamos que os centros comunitários dis-seminam os conhecimentos, os centros de transferência de tecnologias providenciam a formação em tecnologia. Depois, com esses conhecimentos e tecnologias, o for-mando elabora o seu plano de negócio e pode ir a uma agência de micro-crédito. E hoje há possibilidades nas zonas rurais, até mesmo por causa dos sete milhões de meticais que estão disponíveis nos distri-tos. Um dos problemas dos sete milhões é que muita gente não tem nem o conhe-cimento, nem domina a tecnologia e nem possui um plano de negócio para arrancar. Então estes centros comunitários têm um pouco esse papel de preparar as pessoas até poderem chegar à fase da solicitação do micro-crédito.

A estratégia até 2015 é promover o em-prego e a formação profissional através do aumento da relevância da formação como forma de responder à demanda da economia e do mercado de emprego. Quais são as áreas de formação específi-cas que, actualmente, são mais absorvi-das pelo mercado de emprego em Mo-çambique?Fizemos um estudo há uns anos e iden-tificamos quatro grandes sectores onde a economia de Moçambique ia crescer mui-to rapidamente, que são as áreas de agri-cultura e agro-processamento; hotelaria e turismo; serviços de contabilidade, gestão e secretariado, administração e gestão; e a área de manutenção industrial por causa dos equipamentos, da sua manutenção e das fábricas. Entretanto, desenvolvemos cerca de 20 qualificações diferentes que já estão a ser implementadas em instituições piloto. Há cinco instituições piloto, em Pemba, Chimoio, Maputo e Matola. Portanto, são cursos que já estão em funcionamento. As pessoas já estão a ser treinadas e, há dois anos, contactámos uma consultora para ver que áreas novas necessitam de mão-de-obra e com que intensidade, em que quantidades e com que perfis. Esse segundo estudo mostrou-nos que para além daqueles sectores que já tinham sido identificados, havia igualmente a área das minas; energia; pescas; do turismo rural e cinegético. Primeiro, porque havia

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«Digamos que os centros comunitários disseminam os conhecimentos, os centros de transferência de tecnologias providenciam a formação em tecnologia. Depois, com esses conhecimentos e tecnologias, o formando elabora o seu plano de negócio e pode ir a uma agência de micro-crédito. E hoje há possibilidades nas zonas rurais, até mesmo por causa dos sete milhões de meticais que estão disponíveis nos distritos. Um dos problemas dos sete milhões é que muita gente não tem nem o conhecimento, nem domina a tecnologia e nem possui um plano de negócio para arrancar.»

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vários projectos no Centro de Promoção de Investimentos (CPI) que estavam a mo-bilizar recursos e que, num período previ-sível de dois a cinco anos, iriam precisar de mão-de-obra. Aliás, a área de carvão já está a precisar actualmente e há dois anos não imaginávamos que as necessidades e os investimentos seriam tão grandes.Digamos que as quatro áreas agora iden-tificadas com as quatro inicialmente iden-tificadas dão o leque principal das áreas de concentração. Estes são os sectores e é interessante que a economia vai crescer nesta direcção.

Existe também a perspectiva de aumen-tar o acesso ao ensino técnico-profissio-nal. Com o programa, o efectivo escolar passou de 31 mil alunos em 2001 para 45 mil em 2011, ano em que os graduados devem representar 24% dos efectivos escolares. Até que ponto as acções em curso irão garantir esse alcance de metas na sua perspectiva? Com este processo de reforma registamos um crescimento considerado ainda que modesto porque as necessidades em ter-mos de pessoal qualificado são muitas. Mas como estamos em processo de refor-ma, por um lado, e como a área do ensino técnico e da formação profissional é muito mais cara do que a da educação geral, um graduado do ensino técnico custa cinco vezes mais do que um graduado equiva-lente do ensino geral. Devido às restrições financeiras e de recursos que temos, mas também porque a própria reforma está em processo de maturação e consolidação, es-tamos a crescer a um ritmo modesto. Mas quando, daqui a cerca de dois anos, a pri-meira fase da reforma que acaba este ano der lugar à segunda fase, que é uma expan-

são no sentido de que mais cursos e mais qualificações estejam disponíveis e que mais escolas abracem essas qualificações, significa que na mesma escola teremos cursos novos com as novas qualificações, mas também que teremos cursos antigos. Vai haver uma expansão dentro da própria escola no sentido de começarem progres-sivamente a desaparecer os cursos antigos dando lugar às novas qualificações. E vai haver uma expansão por mais escolas. O que quer dizer que vamos multiplicar por três ou por quatro o número de gradua-dos, dentro de três ou quatro anos. O que significa que estaremos mais próximos de satisfazer as necessidades de mão-de-obra que os próximos projectos requerem.Também com a ajuda do sector de for-mação profissional privado, os centros de formação profissional do Ministério do Trabalho e das ONG´s que também fazem formação, juntamos uma série de parcei-ros. No total, se incluirmos os privados e centros de formação profissional conta-mos 110 instituições de formação profis-sional. É uma boa base, embora precise de se estruturar melhor, consolidar-se e modernizar-se.

De que modo essa estruturaçãoirá ocorrer?A reforma vem pôr em ordem todo o sis-tema de formação técnico-profissional e vocacional nacional. No início, toda a gente estava a fazer formação em tempos diferentes e sem um nivelamento de acor-do com a SADC, o que faz com que os gra-duados do nosso País não possam ter um reconhecimento profissional na África do Sul ou nas Maurícias. Portanto, há todo um trabalho que se deve fazer para mo-dernizar o nosso sistema e chegar ao nível

dos países da SADC, sobretudo aqueles que estão mais avançados como o Botswa-na, as Maurícias e a África do Sul, e depois procurar falar a mesma língua, procurar um dicionário para interpretar todos os sistemas de qualificação. A SADC tem mesmo um sonho perfeita-mente realizável de termos um quadro regional de qualificações profissionais, onde todas as formações a nível da região estejam harmonizadas e niveladas por um mesmo quadro. Quer dizer, se eu daqui a 10 anos quiser um mecânico auto de nível quatro em Moçambique, os requisitos bem como as competências serão os mesmos que nos restantes países da SADC. Esse é o estágio ambicionado.

A expansão das escolas de artes e ofí-cios também é uma das estratégias do governo para o combate à pobreza, há uma ideia tripartida que junta a forma-ção profissional ao mercado de empre-go e à redução da pobreza. Quais são os números que reflectem o impacto deste mecanismo das escolas de artes e oficio na geração de emprego desde a sua im-plementação feita em 2003?É relativamente difícil porque infelizmen-te não fazemos o exercício de avaliar qual é o impacto da formação na economia. São estudos um pouco mais estruturados e complexos. Uma educação geral razoável de sete classes é uma base fundamental para melhorar a vida de muitos moçam-bicanos. Por isso, acredito que a chance daqueles que têm para além da 7ª classe e que fazem formação vocacional melhora substancialmente. O estudo que foi feito em 2003 sobre as competências dos nos-sos trabalhadores mostrou que os gradu-ados do ensino técnico auferiam salários maiores do que os seus parceiros da edu-cação geral. É um indicador interessante porque valoriza mais o ensino técnico. Com estes elementos dá para provar que os nossos graduados, assim como as pes-soas que concluíram as escolas de artes e ofícios e as escolas profissionais, são mais valorizados do que os que não tiveram qualquer tipo de formação profissional.c

DR.LuísMuianga

ENTREVISTA EDCUCAÇÃO FORMAÇÃO PROFISSIONAL34

revista capital maio 2011

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TWO-SPEED TRAININGTechnical and professional training have become more and more impor-tant nowadays, mainly to the Mozambique productive sphere. More and more the management of qualifications and skills produce an added va-lue in a country where the watchword is :to produce. Education Minister, Zeferino Martins, speaks about this reality and on how de sector’s reform takes place, opening an horizon not too far to a standardization of the edu-cation in cause at the SADC

Helga Nunes [text] Luís Muianga [photos]

The manpower in Mozambique is estima-ted at around 8.5 million people and its annual growth rate is of approximately 2.9%, exceeding by far the current gro-wth rates of the formal sector. To what extent has the technical and professio-nal training supported the provisioning of the said manpower by the companies?The technical and professional training has two simultaneous approaches in re-lation to the training of manpower, and works in two-speeds. On one hand it is ne-cessary to train qualified manpower with standard skills patterns. It is a manpower which takes longer to train, the entry level demands are higher, and the training is done considering firstly the expectations of the work place and then the techno-logies and the procedures applied in the companies.In this sense, the curriculum for this trai-ning is drawn up in constant dialogue and discussion with the productive sector, and it is validated by this same sector. They tell us if the curriculum is or not adequate, if it covers the differences areas and if it develops the qualifications required in the labour market. It is a more expensive op-tion. Manpower training takes longer and consequently the numbers are fewer. The-refore, the labour market for this type of manpower is relatively limited. However, these companies, few in number but with standard capacity are the ones which pro-duce for export, and maintain the export standards at a high level. Thus, either we prepare the Mozambican people in order for them to hold these positions or we risk having the companies outsourcing foreign labour.To conclude, this is the first dimension: competitive, high level, in fewer and adap-table numbers.

What is the second speed?After referring to the millions of people, there are still a whole lot of them who live in rural areas, in peri-urban areas and

even in the main cities who need additio-nal skills in order to survive in the labour market. For those there is a lighter and simpler solution which are the Community Centres for Skills Development. These are centres adapted to the rural areas promo-ting the training of people independently of their general education. They work with short-term intensive courses, in modules, motivated to necessary things, for exam-ple: how to make juice from a guava; how to make jam from mangoes. Here we are referring to food production, and we can include bakeries, the art of baking bread and cakes, amongst many other products. But there are also areas such as carpentry, blacksmith, more vocational activities, such as construction and walls alignment. This is a shorter period training, more in-tensive, in which a large number of people can be trained. Therefore, the first institutions are the te-chnologic and polytechnic institutes, me-dium level institutes, of which there is one in the capital of each province. The idea is to have also one Polytechnic University in each province.Say we have a Polytechnic Universities in the chain, which are three (Gaza, Manica and Tete), then we have the Agricultural Intermediate Institute, commercial and industrial, data processing, hotel and tourism institutes, at the rate of more or less one per province. In some provinces there might be two, as in the case of Ma-puto city. We have then the professional schools, which are the following levels. We have several of these, at district levels, as well as Community Centres for Skill Deve-lopment. In summary, the supply of training is di-versified and varies from the more deman-ding training, destined to a more limited number and in longer periods of prepara-tion, up to the training for larger numbers of trainees, short-periods, intensive and in accordance to the local needs of the com-munities. At this level, the skills assist the

DR.LuísMuianga

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«On one hand it is necessary to train qualified manpower with standard skills patterns. It is a manpower which takes longer to train, the entry level demands are higher, and the training is done considering firstly the expectations of the work place and then the technologies and the procedures applied in the companies.»

INTERVIEW

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trainees to open their own business in or-der to improve their production and pro-ductivity. Therefore, this is the answer.

O community centres for skills develop-ment, does it also apply to the informal sector?It is fundamental to the informal sector, we are talking about districts where the formal productive system does not exist. In many districts we cannot find any type of significant industry; there are millers but that is about all. The model foresees a bit further, and if people produce, the implementation of centres of technology transfer.These centres of technology transfer will serve a group of community centres as we believe that the revolution and the elimi-nation of poverty will consider three main sectors: Firstly, the knowledge. We have to give the people the necessary knowledge for them to understand the phenomenon, for them to understand and find a solution to the problems. The second option is the technology. It is necessary to dominate the technology tools and the use of the machi-nery. Thirdly, once there is the knowledge and technology, it is necessary to obtain fi-nancial resources, micro-credits and other solutions, in order that the people’s pro-jects, the business-related initiatives and business plans, may prosper.Say the community centres diffuse the knowledge, the technology transfer cen-tres will provide the technology training. Then, with that knowledge and technolo-gy, the trainee will prepare his business plan and go to a micro-credit agency. There are possibilities in rural areas due to the seven million meticais available in the districts. One of the problems of the seven million is that many people are not even aware, they do not master the techno-logy, neither do they have a business plan to start off with. These community centres are there to assist to prepare people up to the point where they are ready to request the micro-credit.

The strategy up to 2015 is to promote employment and professional training through the increase of the importance of training, as a way to respond to the demands of the economy and the labour market. What are the specific training areas which are currently more absorbed by the Mozambican employment ma-rket? We made a research some years ago and identified four large sectors in which the Mozambique’s economy would grow ra-pidly: these are agriculture and agro-pro-cessing; hotel and tourism; book-keeping services, management and secretarial, ad-ministration and management; and also the area of industrial maintenance due to the equipment, its maintenance and facto-

ries.In the meantime, we have developed around 20 different qualifications which are already being implemented in pilot institutions. There are five pilot institu-tions, in Pemba, Chimoio, Maputo and Matola. Therefore, the training courses already running. People are already being trained and, two years ago, we contacted a consultancy company to ascertain which new areas are in need of manpower, with what intensity, in what quantities and with which profiles. This second study showed us that, further to those sectors already identified, there was also the mining; energy; fishing; rural and scenic tourism areas. Firstly, because there were several projects at the Centre for Investment Promotions(CIP) mobili-zing resources which, in a foreseeable pe-riod of two to five years, would be needing manpower. Furthermore, the coal area is presently in need of manpower, and two years ago we would not imagine that this neither nor the investments would be so large.The four areas now identified together with those initially identified indicate the footprint of the main concentration areas. These are the sectors and it is interesting that the economy will grow in this direc-tion.

There is also the perspective of increa-sing the access to technical and profes-sional training. With the program, the number of permanent students went

DR.LuísMuianga

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«Say the community centres diffuse the knowledge, the

technology transfer centres will provide the technology

training. Then, with that knowledge and technology,

the trainee will prepare his business plan and go to a micro-credit agency. There are possibilities in

rural areas due to the seven million meticais available

in the districts. One of the problems of the seven

million is that many people are not even aware, they do not master the technology,

neither do they have a business plan to start off with. These community

centres are there to assist to prepare people up to the

point where they are ready to request the micro-credit.»

INTERVIEW EDUCATION TRAINING

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from 31 thousand in 2001 to 45 thou-sand in 2011, year in which the gradua-tes should represent 24% of the perma-nent students. To which extent will the current actions guarantee the reaching of targets in their perspective?With this reform process we have regis-tered a considerable growth, even if mo-dest, as the need to have qualified people is immense. But as we are in the process of reform, on one hand, and as the area of technical training and professional educa-tion is much more expensive than gene-ral education, technical training gradua-tion costs five times more than a general training graduation. Due to financial and resource restrictions and also because the reform itself is in the process of mainte-nance and consolidation, we are growing at a slow pace. But when, within the next two years, the first phase which ends this year gives place to the second one - which is an expansion as more training and qua-lifications will be available and that more schools will embrace those qualifications - we will have new courses with the new qualifications and old courses in the same school. There will be an expansion within the school itself when the old courses will pro-gressively give place to new qualifications. There will be an expansiveness for more schools. This means that we will multiply by three or four the number of graduates, within the next three to four years. We will then be closer to fulfilling the needs for manpower which future projects will require. Also, with the assistance of the private pro-fessional training sector, the professional training centres of the Labour Ministry and of the ONGs which also provide trai-ning, we will gather many partners. In total, if we include the private and profes-sional training centres we have 110 institu-tions for professional training. It is a good basis however needing better structure, to consolidate and to modernise.

How will this structure take place?The reform comes to organize the entire National Technical, Professional and Voca-tional Training System. In the beginning, everybody training at different times and without any standardization in accordance with the SADC, resulting in the non-recog-nition of our country’s graduates in South Africa or in the Mauritius. Therefore, there is a lot of work to be done to modernize our system and achieve the level of the SADC countries, mainly the more advanced ones such as Botswana, the Mauritius and Sou-th Africa. The SADC has a perfectly feasible dream, that is to have a regional board of profes-sional qualifications, whereby all the trai-ning at the level of the region are reconci-led and graded by one sole board.

The expansion of Arts and Crafts schools is one of the government’s strategies for the fight against poverty, there is a tri-party idea which connects the professio-nal training to the labour market and to the reduction of poverty. What are the numbers which reflect the impact of this mechanism of the arts and crafts schools in the creation of employment since its implementation in 2003?It is relatively difficult to confirm that once we do not appraise the impact of the training on the economy. These are more structured and complex studies. A general reasonable Grade seven education is a fun-damental basis to improve the life of many Mozambicans. Therefore, I believe that those who have the opportunity to study further than Grade seven and obtain voca-tional training have a better change in life. The study made in 2003 on our workers skills showed that technical training gra-duates received higher salaries than those with general education. This is an interes-ting indication as it gives added value to technical training. These principles show that our graduates, as well as those who fi-nished the arts and crafts and professional schools, have more value than those who did not have any sort of professional trai-ning.c

DR.LuísMuianga

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«With this reform process we have registered a

considerable growth, even if modest, as the need to have qualified people is

immense. But as we are in the process of reform, on

one hand, and as the area of technical training and

professional education is much more expensive than general education,

technical training graduation costs five

times more than a general training graduation.»

ZEFERINO MARTINS, MINISTER OF EDUCATION

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SECTOR EDUCAÇÃO PIREP38

Distritos beneficiam com formação profissional,sob os auspícios do PIREPTendo como objectivo melhorar a relevân-cia da formação profissional em Moçambi-que, o Governo iniciou, a 1 Junho 2006, a implementação da Reforma de Educação Profissional (REP) envolvendo os Mi-nistérios de Educação e do Trabalho em parceria com o Sector Produtivo, o qual está a introduzir profundas mudanças na abordagem, concepção e funcionamento do sub-sistema da educação profissional.A reforma está a ser implementada de uma forma gradual em sectores económicos, campos profissionais e ocupações-chave no período compreendido entre 2006 e 2020. Na essência a reforma em curso tem como finalidade última assegurar a valori-zação da força de trabalho moçambicana e garantir a competitividade da economia, no contexto da integração regional e inter-nacional.O Programa Integrado de Reforma de Educação Profissional (PIREP) inclui o estabelecimento de um Sistema Nacional de Qualificações e Formação (SNQF) e

conta com o envolvimento activo do sec-tor produtivo e mecanismos de garantia de qualidade da formação profissional, o estabelecimento de um órgão indepen-dente para a governação, regulamentação, planificação e coordenação da formação profissional em Moçambique, o desenvol-vimento de padrões de competência pro-fissionais e o estabelecimento de um Fun-do de Desenvolvimento de Competências Profissionais (FUNDEC).O Programa Integrado de Reforma da Educação Profissional (PIREP), que já vai no seu quarto ciclo de vida, já atingiu os 128 distritos do país na vertente dos projectos financiados pelo FUNDEC. A evolução da iniciativa conseguiu abran-ger 33.000 beneficiários directos e cerca de 1.500.000 beneficiários indirectos. A distribuição dos projectos do FUNDEC aprovados por província revela que Cabo Delgado lidera o grupo, com a soma de 19 projectos, seguido de Maputo com 16, e Tete apenas apresenta 6 projectos no seu

portfólio apesar de o sector mineiro pro-meter vir a dar um input relevante à eco-nomia do País, nos próximos tempos.De referir que sendo o referido fundo competitivo, a qualidade e a relevância dos projectos submetidos determina as hi-póteses de sucesso do seu financiamento. Actualmente, o valor desembolsado para a cobertura dos projectos seleccionados, que abrangem maioritariamente as áreas de agro-processamento, pecuária, cons-trução civil, carpintaria e turismo, ascende a cerca de 5 milhões de dólares.Como corolário de todas as actividades fomentadas pelo FUNDEC, diversas pro-víncias do pais contam hoje com centros comunitários de desenvolvimento de com-petências, onde um cada vez maior núme-ro de beneficiários das zonas rurais acorre em busca de oportunidades de formação como forma de elevar as suas capacidades e competências e de se inserir no mercado de trabalho.De acordo com o Gestor do Fundo de De-senvolvimento de Competências Profissio-nais, (FUNDEC), Alberto Simão, «a provi-são de acções de formação e capacitação da força de trabalho nos distritos tende a afectar de forma positiva a renda fami-liar pelo impacto gerado na criação de novos empreendimentos e no alargamen-to de oportunidades de trabalho, sobretu-do para as mulheres e os jovens».A título ilustrativo, foi referenciada a As-sociação TIGWANE na localidade de Mue-da, em Cabo Delgado, que é constituída por mulheres-alfaiates e que é vista como um exemplo de sucesso das acções de for-mação financiadas pelo FUNDEC. Aliás, o investimento nos projectos contemplados permitiu a construção de um edifício, a ser usado na formação das mulheres da loca-lidade, na arte do corte e costura.O impacto das acções do FUNDEC pode ser visualizado igualmente através do desempenho da Associação “Chama da Unidade”, em Cabo Delgado. A Associa-ção tem desempenhado um papel pivot na produção de carteiras escolares para as diversas instituições de ensino a nível da província.

MaputoProvíncia

Fonte: PIREP

Total de Projectos aprovados por Província

16

MaputoCidade

08

Gaza

13

Inhambane

11

Sofala

13

Manica

10

Zambézia

13

Tete

06

Nampula

10

CaboDelgado

19

Niassa

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Alberto Simão, gestor do FUNDEC, e Gilberto Uamusse, assistente do FUNDEC

Page 39: Revista Capital 41

39SECTOR EDUCAÇÃO PIREP

Distritos beneficiam com formação profissional,sob os auspícios do PIREP

Moçambique vai contar brevemente com um órgão independente que irá regula-mentar e certificar a formação profissional. Para a implementação do futuro mecanis-mo regulador está em curso a elaboração da respectiva legislação que conta com a comparticipação do PIREP e de outros ac-tores ligados a área de formação.O órgão regulador irá certificar não só os formandos mas também os formadores e irá englobar também a creditação das ins-tituições provedoras de formação.A existência de um mecanismo regulador

independente explica-se pelo facto de ser necessário haver uma coordenação e pla-nificação unificada; hamonizar formatos e procedimentos, e estabelecer um sistema de formação profissional constituído por instituições públicas (tuteladas pelos di-versos ministérios), instituições privadas, entre outras, segundo critérios de garantia de qualidade claros e objectivos.Mesmo sem indicar a data da implemen-tação do mecanismo, a gestora das Qua-lificações e Formação do Secretariado Executivo da COREP garante que o novo

órgão regulador de formação irá mar-car uma nova etapa na área da Educação Profissional em Moçambique, que busca a padronização de critérios de formação bem como dotar os formandos nacionais das competências profissionais relevantes para preencher as exigências do mercado laboral - nacional e internacional - facili-tando desse modo a movimentação das pessoas na região da SADC no contexto da integração regional.

Está prevista a implementação de órgão regulador de formação

Sectores de actividade envolvidos

O período que vai de 2006 a este ano (2011) está a ser utilizado para a pilotagem de alguns elementos-chave do novo Siste-ma Nacional de Qualificações Profissionais (SNQF) em quatro campos profissionais, nomeadamente: Administração e Ges-tão; Manutenção Industrial, Agricultura e Agro-Indústria; Hotelaria e Restauração.Neste contexto foi aprovado o Quadro Nacional de Qualificações Profissionais, sistemas de avaliação e certificação assim como foram desenvolvidas 26 qualifica-ções profissionais com o envolvimento do sector produtivo, através da consulta dos Comités Técnicos Sectoriais (CTS), equi-pas de definição de padrões de compe-tência profissionais e painéis de validação constituídos por empregadores.Com efeito, o maior desafio que se coloca à formação profissional em Moçambique, a formulação de uma resposta eficaz à demanda do mercado de trabalho, que se revela cada vez mais exigente. Neste sen-tido, pode-se já apontar um ganho ainda que em processo: a indústria hoteleira que habitualmente se ressente da falta de pro-fissionais qualificados já vê no PIREP uma fonte potencial de resposta às suas solici-tações. A título de exemplo , desde 2009, duas instituições de educação profissional (Maputo e Pemba) estão ao pilotar uma qualificação de guias turísticos largamente acolhida e aplicada pelo sector. No pre-sente ano, já iniciou a qualificação na área da restauração, operações hoteleiras em Pemba, técnicos assistentes de recepção e andares. Os hotéis Rani e Pemba Beach Hotel são alguns dos parceiros estratégi-cos que se têm prontificado para absorver

estagiários, na sua maioria para a área de Recepção.Por outro lado, estima-se que o sector mi-neiro venha a ser um dos parceiros que futuramente irão beneficiar do desenvol-vimento de qualificações no âmbito das acções do PIREP.

A intervenção imprescindíveldo sector privado

Segundo a gestora de Qualificações e Formação do Secretariado Executivo da COREP (Comissão Executiva para a Re-forma da Educação Profissional), Zélia Menete, a tarefa de investir na formação e definição dos padrões ocupacionais e qualificações profissionais não deve ser encarada como sendo exclusivamente do Governo pois que uma permanente ar-ticulação entre os principais intervenien-tes (Governo, empregadores e a sociedade civil) no processo de tomada de decisões sobre o Sistema Nacional de Qualificações Profissionais, sendo que a abordagem de ensino, os mecanismos de financiamento e governação é crucial para o sucesso do processo.Deste modo, os empregadores são convi-dados pelo PIREP a exteriorizarem as suas necessidades presentes e também futuras. «As necessidades de mão-de-obra para os próximos cinco anos devem ser definidas agora», afirma Zélia Menete, sem deixar de fazer um alerta sobre o actual estágio da competitividade internacional e da ne-cessidade de reconhecimento nacional e internacional dos padrões de competência profissionais e qualificações, com vista à valorização da mão-de obra moçambi-cana.c

maio 2011 revista capital

DR.LuísMuianga

Gestora das Qualificações e Formação do Se-cretariado Executivo da COREP, Zélia Menete

Page 40: Revista Capital 41

revista capital maio 2011

SECTOR PRIVADO CTA40

CTA em audição na AR

A CTA está envolvida, desde Maio de 2010, na discussão da Lei sobre as Parce-rias Público-Privadas, Projectos de Gran-de Dimensão e Concessões Empresariais. Nesse âmbito, houve várias reuniões das quais participaram empresas do ramo mi-neiro, florestal, petrolífero, entre outros, como forma de garantir que os interesses do sector privado fossem salvaguardados. Nessa perspectiva e na esteira das relações de trabalho que esta agremiação tem com a Assembleia da República (AR), a CTA foi ouvida no dia 26 de Abril pela Comissão da Agricultura, Desenvolvimento Rural, Actividades Económicas e Serviços e apre-sentou os seus subsídios para o enriqueci-mento da Proposta de Lei Complementar relativa às Parcerias Publico-Privadas, Projectos de Grande Dimensão e Conces-sões Empresariais. Apesar de ser consultada durante a pre-paração da Lei, a CTA levantou algumas questões, nomeadamente: (i) a ausência de regulamento da Lei, para ser analisada em simultâneo, o que provo-ca certa ambiguidade e falta de clareza de alguns artigos;(ii) a presente Lei é considerada Lei com-plementar, em virtude de existirem várias Leis sectoriais que já regulam algumas das matérias que a mesma aborda. A proposta da CTA é que as leis sectoriais, actualmen-te em vigor, tenham primazia em relação à Lei em discussão; (iii) Outro aspecto a salientar na presente Lei é a criação de taxas e impostos em di-ferentes fases do empreendimento sem su-ficiente clareza de aplicação e articulação com outros impostas e taxas de concessões e de adjudicação existentes;(iv) Finalmente, conceptualmente a Lei não oferece uma distinção clara entre PPPs e os PGDs. A reunião decorreu de maneira positiva, o objectivo principal é de criar uma legisla-ção o mais consensual possível. Aguarda-se a análise das propostas pela Comissão e concertações feitas com o Governo de que resultará a versão final da Lei.

Criada Federaçãodas Associações Agráriasde Moçambique

Decorreu nos dias 28 e 29 de Abril, na ci-dade de Chimoio (província de Manica), a Assembleia Geral Constituinte da Federa-ção das Associações Agrárias de Moçambi-que. O encontro iniciou com a apresenta-ção do relatório do trabalho desenvolvido pela comissão instaladora. O primeiro dia

de trabalho, Contou com a presenca da Governadora da província de Manica, Ana Comoane, que se mostrou satisfeita pelo facto de o evento estar a decorrer em Chi-moio, tendo realçado as condições que a província dispõe para a prática desta ac-tividade.Para além dos parceiros sociais, esteve no evento o presidente da CTA, Salimo Abdula, que se manifestou honrado por testemunhar mais um passo na consoli-dação do associativismo empresarial em Moçambique.Ainda no primeiro dia de trabalho, houve a eleição de novos corpos directivos da Fe-deração das Associações Agrárias de Mo-çambique. No segundo dia de trabalho, realizaram-se a tomada de posse e debates sobre temas importantes como constran-gimentos no acesso à terra para agricultu-ra.

CTA reuniucom o ministro da Agricultura

No dia 28 de Abril, o pelouro da Agricul-tura da CTA reuniu-se com o Ministro da Agricultura, José Pacheco, no quadro dos

mecanismos de diálogo entre os sectores público e privado. A referida reunião visa-va a discussão do Plano Estratégico do De-senvolvimento do Sector Agrário que será submetido em Conselho dos Ministros para aprovação nas próximas semanas.

Conferência anualde abertura da RETOSA

A Organização Regional do Turismo da África Austral (RETOSA) realizou a sua Conferência Inaugural, no dia 7 de Maio de 2011, em Durban, África do Sul durante a Feira de Viagem e Turismo INDABA. O objectivo da conferência foi de conhecer e explorar como a região da África Austral pode criar um ambiente propício para o crescimento do turismo e o desenvolvi-mento regional. Além disso, a conferência ofereceu aos participantes uma platafor-ma para aprender as melhores práticas globais de viagens e turismo e ao mesmo tempo estabeleceu uma rede de actores-chave no sector turístico. A conferência reuniu representantes do sector e especialistas. Mais informações: [email protected].

Oportunidade de Negócios

O «Southern Africa Trade Hub» em Mo-çambique (SATH): www.satradehub.org, é um projecto que visa aumentar a com-petitividade, o comércio intra-regional e a segurança alimentar na região da SADC. A SATH está a facilitar a participação de dez empresas moçambicanas na feira Agrícola NAMPO, na África do Sul, entre os dias 15 e 18 de Maio. Essas empresas devem ser produtoras, agro-processado-ras e/ou fornecedoras de insumos e al-faias agrícolas , com capacidade de partici-par e beneficiar de uma feira de negócios.

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DR.Google

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9

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10

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0

Out

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FIG. 2-Indicador de Clima Económico (Jan.04 = 100)

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9

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.09

Jan.

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Abr

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0

Out

.10

FIG. 3-Indicador de expectativa de emprego (Jan.04 = 100)

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145

II Tr

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IV T

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II Tr

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IV T

rim08

II Tr

im09

IV T

rim09

II Tr

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IV T

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FIG. 4- Volume de negócio total (I Trim.06 = 100)

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II Tr

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IV T

rim07

II Tr

im08

IV T

rim08

II Tr

im09

IV T

rim09

II Tr

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IV T

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103

Mw

h

FIG. 5-Energia eléctrica

Oferta total Consumo Interno + Exportação

40

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II Tr

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IV T

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II Tr

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IV T

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II Tr

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Hós

pede

s

FIG. 6-Movimento de hóspedes

Nacionais Estrangeiros

-15,0

-10,0

-5,0

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5,0

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20,0I T

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II Tr

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III T

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IV T

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I Trim

10

II Tr

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III T

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IV T

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Fig. 1-Evolução do PIB, %

PIB - TOTAL Ind. Extrativa Transp. E Comun.

Fonte: INE

41ESTATÍSTICA INE

Síntese da Conjuntura EconómicaIV Trimestre de 2010Produto Interno Bruto (PIB)

A s estimativas preliminares do PIB a preços constantes de 2003 indicam que, no IV trimestre de 2010, houve comparativamente

a igual período de 2009 um crescimento da economia em cerca de 6,5%. E quando comparado com o trimestre anterior, tam-bém cresceu 2,4%. Por outro lado, e em termos acumulados, as estimativas mos-tram que a economia moçambicana cres-ceu em 2010 cerca de 6,6%.O desempenho da actividade económica no IV trimestre de 2010 deveu-se funda-mentalmente ao comportamento da Agri-cultura e da Indústria extractiva, que cres-ceram 13,6% e 8,6%, respectivamente.

Indicador de clima económico

O Indicador de clima económico (ICE)do IV trimestre de 2010 apresentou um perfil ascendente, contrariando a tendência do terceiro trimestre, sendo que os transpor-tes e a indústria foram os sectores que mais contribuíram para esta tendência positiva que se verificou no sector empresarial.

Indicador de expectativa de emprego

A expectativa de emprego no último tri-mestre de 2010 foi no geral positiva. Con-tudo, há a assinalar duas fases: um perfil

ascendente de Outubro a Novembro e um perfil estacionário de Novembro a Dezem-bro. Os sectores que contribuíram para o perfil ascendente foram os do transpor-te, comércio e outros serviços. Enquanto os sectores de alojamento, Indústria e de construção contribuíram para a tendência estacionária que se verificou de Novembro a Dezembro. Ao mesmo tempo, o perfil das expectativas de emprego foi positivo.

Índices de Volume de Negócios

O volume de negócios cresceu nominal-mente face ao trimestre homólogo de 2009 em 34,7%. Esta tendência crescente é ex-plicada fundamentalmente pelo aumen-to do volume de negócios da Indústria, Restaurantes e Turismo em 34,7%,32,5%e 28,5%, respectivamente.Em relação ao trimestre anterior, também houve um crescimento na ordem de 13,1%.As remunerações cresceram, face ao perí-odo homólogo em 4,5% e o número de tra-balhadores decresceu em 0,4%.

Energia Eléctrica

De acordo com a informação disponível referente ao IV trimestre de 2010, a oferta total de energia decresceu face ao trimes-tre homólogo de 2009 em cerca de 7,6%, enquanto que o consumo interno cresceu, no mesmo período, cerca de 9,5%.Cenário diferente verificou-se face ao tri-

mestre anterior em que tanto a oferta total de energia eléctrica como o consumo in-terno cresceram em 5,9% e 9,5%, respec-tivamente.

Movimento de hóspedes

O número de hóspedes total nos estabe-lecimentos hoteleiros aumentou, segundo dados do INE, no IV trimestre de 2010 na ordem dos 23,8%, quando comparado com o mesmo período de 2009. Este comporta-mento encontra explicação no crescimen-to de hóspedes estrangeiros, que se regis-tou na ordem dos 48,8%. Em relação ao trimestre anterior, o número de hóspedes total registou um crescimento de 17,7%, influenciado, sobretudo, pelo aumento do número de hóspedes estrangeiros em cerca de 28,6%, enquanto a tendência do movimento de hóspedes nacionais cresceu 5,9%.

Transporte ferroviário e aéreo

No IV trimestre de 2010, o transporte fer-roviário registou face ao período homó-logo de 2009, umcrescimento da carga transportada em cerca de 12,6%, enquanto que no transporte aéreo o mesmo indica-dor teve uma queda de cerca de 11,8%.Em relação ao trimestre anterior, o trans-porte de carga de ambos os sectores fer-roviário e aéreo cresceu cerca de 6,4% e 11,5%, respectivamente. Relativamente ao

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revista capital maio 2011

42 ESTATÍSTICA INE

Fonte: INE

60

80

100

120

140

160

180

200

Jan.

08

Abr

i.08

Jul.0

8

Out

.08

Jan.

09

Abr

.09

Jul.0

9

Out

.09

Jan.

10

Abr

.10

Jul.1

0

Out

.10

FIG. 7-Carga Transportada(Jan.06 = 100)

T. Ferroviário T. Aéreo

7292

112132152172192212232

Jan.

08

Abr

i.08

Jul.0

8

Out

.08

Jan.

09

Abr

.09

Jul.0

9

Out

.09

Jan.

10

Abr

.10

Jul.1

0

Out

.10

FIG. 8-Passageiros Transportados (Jan.06 = 100)

T. Ferroviário T. Aéreo

10003000500070009000

1100013000150001700019000

II Trim 09 IV Trim09 II Trim10 IV Trim10

106

MT

FIG. 9-Orçamento do Estado

Receitas Despesas

-2,0

-1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

Abr

.08

Jul.0

8

Out

.08

Jan.

09

Abr

.09

Jul.0

9

Oct

.09

Jan.

10

Abr

.10

Jul.1

0

Oct

.10

%

FIG. 10-Inflação mensal

-5,00

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

%

FIG. 11-Inflação acumulada

2009 2010

75

85

95

105

115

125

135

Abr

.08

Jul.0

8

Out

.08

Jan.

09

Abr

.09

Jul.0

9

Oct

.09

Jan.

10

Abr

.10

Jul.1

0

Out

.10

FIG. 12-Evolução das Taxas de juros (Jan.07 = 100)

Passivas Activas

23,50

25,50

27,50

29,50

31,50

33,50

35,50

37,50

Abr

.08

Jul.0

8

Out

.08

Jan.

09

Abr

.09

Jul.0

9

Out

.09

Jan.

10

Abr

.10

Jul.1

0

Out

.10

FIG. 13-Paridade MT/USD, B. Central

2,30

2,80

3,30

3,80

4,30

4,80

5,30

5,80

Abr

.08

Jul.0

8

Out

.…

Jan.

Abr

.09

Jul.0

9

Out

. …

Jan.

Abr

.10

Jul.1

0

Out

. …

FIG. 14-Paridade MT/ZAR, B. Central

200

350

500

650

800

950

1100

1250

II Tr

im07

IV T

rim07

II Tr

im08

IV T

rim08

II Tr

im09

IV T

rim09

II Tr

im10

IV T

rim10

106

USD

FIG. 15-Comércio externo

ExportaçõesImportações

transporte de passageiros, tanto o servi-ço de transporte ferroviário como o aéreo registaram face ao período homólogo de 2009 um crescimento de cerca de 48,9% e 25,0%, respectivamente.

Orçamento do Estado

Os dados disponíveis da execução orça-mental, indicam que no IV trimestre de 2010 as receitas correntes cresceram em termos nominais, tanto em relação ao trimestre homólogo como em relação ao anterior em cerca de 35,6%, e 9,0%, res-pectivamente. Este crescimento é susten-tado pelo aumento das receitas fiscais em 45,8%, impostos sobre rendimento em 42,8% e outros impostos em 196,0%. Nou-tra vertente da execução orçamental, as despesas registaram um decréscimo face ao período anterior,em 2,9%e um cresci-mento em relação ao período homólogo em 29,0%.

Inflação

No IV Trimestre de 2010, o País registou

um aumento do nível geral de preços na ordem dos 5,6%. O aumento global de preços no trimestre tem explicação na ten-dência de agravamento de preços nas cida-des de Maputo (4,0%), Nampula (5,2%) e Beira (9,8%).De Janeiro a Dezembro, houve um agrava-mento do nível geral de preços na ordem dos 17,44%, sendo a classe de Alimentação e Bebidas não alcoólicas responsável por 13,34 pontos percentuais positivos deste aumento.

Taxas de Juros

Tanto as taxas de juros das operações ac-tivas assim como as passivas aumentaram cerca de 18,6% e 40,5% em relação ao tri-mestre homólogo de 2009, respectivamen-te. Em relação ao trimestre anterior,as ta-xas de juro activas aumentaram em 34,1% e as passivas em cerca de 7,8%.

Paridade Meticais/Moeda Externa

No IV trimestre de 2010, o Metical de-preciou-se em termos homólogos face ao

Dólar e ao Rand em 28,5% e 38,9%, res-pectivamente. Em relação ao trimestre an-terior, o Metical apreciou-se face ao Dólar americano na ordem de 1,7%. Contraria-mente, em relação ao Rand sul-africano depreciou-se na ordem dos 4,1%.

Comércio externo

Os dados disponíveis do Comércio Externo indicam ter-se registado uma queda nas exportações, face ao trimestre homólogo de 2009,em cerca de 1,9%. Em relação ao período anterior, as exportações também decresceram em 3,5%.Relativamente às importações, houve também um decréscimo no trimestre em análise em 8,3%. Contrariamente a esta tendência, o gasóleo e a maquinaria tive-ram uma considerável tendência de cres-cimento.O défice da Balança Comercial teve um au-mento face ao período homólogo em cer-ca de 25,0% face ao trimestre anterior em 18,0%.c

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revista capital maio 2011

José Fernando Figueiredo*

As PME e o crescimento económico em Portugal

Muito se tem falado da crise que assola Portugal e dos seus efeitos sobre a evolu-ção da sociedade portuguesa.De facto, a uma anemia geral de longa data da nossa economia associou-se, nos últimos dois anos, em parte devido à cri-se financeira internacional, um problema sério de financiamento do país, hoje muito focado nas finanças públicas e no desiqui-librio orçamental, mas que efectivamente vai muito além do mero financiamento do

Estado.Em 2011, Portugal terá, necessariamente, de iniciar de modo credível um trajecto de reposição do equilíbrio nas suas contas públicas, tomando para o efeito medidas restritivas ao nível da despesa (algumas de grande dureza social) e de expansão da carga fiscal sobre empresas e cidadãos (esta já no limite do suportável). Esta si-tuação potencia o agravamento da já de si difícil situação económica das empresas e dos agentes económicos em geral, que se traduzirá, em muitos casos, numa menor capacidade para gerar vendas e rendimen-tos, logo menores níveis de emprego, me-nor consumo, maiores dificuldades a nível financeiro e menor cobrança de impostos, num ciclo que seguramente não será difícil de controlar, e muito menos de contornar. Para sair deste aparente círculo vicioso algo terá de ser feito ao nível da economia real, do chamado “modelo de desenvolvi-mento económico” do país. Até porque, re-solvida a questão financeira, por nossa ini-ciativa, ou por imposição externa, restam as questões do crescimento e do emprego.Em que medida o modelo de desenvolvi-mento económico de Portugal pode ser redesenhado para potenciar o que de me-lhor temos e sabemos fazer, introduzindo ainda novas capacidades e valências, que criem valor para os agentes económicos e para a sociedade em geral, é uma ques-tão em aberto, a que teremos de voltar, de forma a criar as condições de crescimento económico sustentado, única saída viável

para a situação em que se encontra o país.É, pois, na área da economia que se joga a questão cental do futuro de Portugal e da sua capacidade para proporcionar aos cidadãos níveis adequados de emprego e rendimento, aspecto fundamental da vi-vência em sociedade. Entretanto, ao longo de 2011, os mercados financeiros interna-cionais, cruciais para o financiamento do país, em especial do Estado e do sector fi-nanceiro, e através deste das famílias e dos seus agentes económicos, prestarão uma especial atenção ao efectivo controlo da execução orçamental e da realização das reformas necessárias em muitas áreas da nossa vida colectiva.

Desenvolvimento das PME como um claro objectivo estratégico

Em 2009, existiam em Portugal cerca de 349 mil micro, pequenas e médias empre-sas (PME), representando 99,75% do total das empresas do país.Historicamente, as PME representam cer-ca de 73% do emprego total do sector não financeiro, sendo ainda responsáveis por valores entre os 60% e os 70% do volume de negócios. Mais, a sua contribuição para o VAB é muito significativa, em torno dos 60%.Tomando dados do INE, mas agora rela-tivos a 2008, verificava-se que em média 72% do financiamento das PME tinha ori-gem em endividamento. Este recurso a meios externos para o financiamento das

RECORTE44

DR.Gettyimages

«Em 2009, existiam em Portugal cerca de 349 mil micro, pequenas e

médias empresas (PME), representando 99,75% do

total das empresas do país.Historicamente, as PME

representam cerca de 73% do emprego total do sector

não financeiro, sendo ainda responsáveis por valores

entre os 60% e os 70% do volume de negócios. Mais, a sua contribuição para o VAB

é muito significativa, em torno dos 60%.»

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maio 2011 revista capital

EMPRESAS EMPREGO VOlUME DE NEGÓCIOS Nº % Total Taxa Var. 2008/2009 Nº % Total Taxa Var. 2008/2009 Mil Euros % Total Taxa Var. 2008/2009Emprego TOTAL 348,994 100% -0.50% 2,889,112 100% -3.90% 319,880,927 100% -8.20%> 249 Grandes 883 0.25% -4.10% 783,938 27.13% -2.70% 98,048,973 30.65% -6.80%50-249 Médias 5,762 1.65% -5.70% 553,901 19.17% -6.20% 72,349,358 22.62% -10.70%10-49 Pequenas 39,600 11.35% -4.80% 752,422 26.04% -4.90% 80,940,652 25.30% -9.00%<9 Micro 302,749 86.75% 0.20% 798,851 27.65% 2.30% 68,541,944 21.43% -6.60%

actividades coloca as empresas em geral, e as PME em particular, numa situação de forte dependência face aos seus credores. Esta situação vem-se agravando, pois a conjuntura económica não tem sido pro-pícia à realização de resultados positivos nem à capitalização das empresas pela via da retenção de custos.Portugal, é, pois, um país de PME, de que resulta uma certeza: sem prejuízo do ne-cessário esforço de atracção de investi-mento directo estrangeiro, potenciador da trnasferência de tecnologia e aumento na cadeia de valor da produção mundial, fundamental para ancorar o desenvolvi-mento do país, qualquer solução para o crescimento económico e para o aumento dos níveis de emprego passa, necessaria-mente, pelo desenvolvimento do potencial das pequenas e médias empresas nacio-nais, em especial pelo incemento da par-ticipação no comércio internacional e nos circuitos de exportação de bens transac-cionáveis.Tal é ainda mais evidente no curto prazo, onde a concorrência pelos investimentos de larga escala a nível global se encontra em níveis muito elevados, e se faz cada vez mais em favor dos blocos económicos em maior expansão, e quando sabemos que a implementação destes projectos toma tempo que, neste momento, o país não tem.Definido o desenvolvimento das PME como um claro objectivo estratégico, algu-mas coisas relativamente simples podem ser feitas para facilitar a vida às empresas.

É preciso facilitar a vida às empresas

Importa melhor definir um quadro claro e integrado no que respeita às regras para a criação, registo, entrada em funcinamento e operacionalidade das empresas. Portu-gal evoluiu muito no que respeita às regras administrativas para constituir e registar empresas, sendo hoje um exemplo a nível internacional. No entanto, muitas em-presas constituem-se e registam-se, mas depois esperam muito tempo para obter coisas essenciais como um licenciamento camarário ou industrial das suas activida-des, ligações a pretadores de serviços bási-cos, interacção nos meios administrativos e burocráticos. A coordenação entre os envolvidos nestas matérias pode poupar muitas horas de esforço e espera aos em-presários e aumentar significativamente a produtividade do país.

Importa definir de modo claro quais os apoios à internacionalização das empresas e em especial ao acesso aos mercados ex-ternos, e quem trata deles de modo ágil e eficiente.Para muitas empresas portuguesas, em es-pecial as PME, a dimensão dos mercados alvo não será uma questão complexa na medida em que o potencial de crescimento a partir de valores muito baixos é relativa-mente ilimitado, pelo que importa foemn-tar a liberdade de escolha, mas assegurar a coordenação na acção.O sistema de ensino deve continuar o seu trajecto e evolução num sentido mais amigável às empresas, deve focar-se em fornecer formação empresarial e técnica para empresários e para as suas equipas. Por exemplo, uma parte da “factura social” paga pelas empresas poderia ser reduzida através de uma contrapartida dada em formação por escolas e centros de saber (públicos ou privados) financiados já hoje com dinheiros públicos.O sistema nacional de compras públicas deve assumir como opção estratégica um valor para fornecimentos obrigatoriamen-te feitos por PME nacionais, ou por con-sórcios onde estas participem. Há exem-plos internacionais onde este valor chega aos 30% do total.

Cabe às empresas “fazer pela vida”

Na vertente de financiamento das empre-sas, e num momento onde, por um lado, é fundamental recapitalizar as empresas, mas, por outro lado, não se esperam gran-des lucros, importa continuar a assegurar os meios adequados para a existência de financimento de médio e longo prazos, ac-tuando na área da mitigação de risco junto do sistema bancário, e, ao mesmo tempo, reforçar os instrumentos de capitalização, focalizando-os para apoio aos projectos de inovação empresarial, transmissão e ga-nhos de escala.O sistema de justiça e o funcionamento dos tribunais devem ser revistos urgente-mente, pois os seus atrasos são responsá-veis por improdutividades de perdas ab-solutamente incompreensíveis num país com tanta escassez de recursos.A investigação aplicada, e bem assim a procura de actividades inovadoras, que possam aportar valor às produções nacio-nais nas áreas transaccionáveis, são segu-ramente um desígnio nacional, que deve continuar a merecer apoio, mas obvia-

45RECORTE

mente muitas destas acções de “upgrade” do nível das produções nacionais só terá reflexos em escala visível a mais médio e longo prazos.Finalmente, e mais importante do que tudo acima dito, são as próprias empresas quem terá de “fazer pela vida”. Cabe aos empresários e às suas equipas, em primei-ra linha, organizar-se, motivar-se e serem ou não capazes de se orientar cada vez mais para os mercados externos, desenvolver as competências adequadas (sozinhos ou co-operando) para produzir e vender os bens e serviços, com vaor acrescentado, nesses mercados, aumentando quotas, conquis-tando novos espaços.Em 2011, as empresas portuguesas, em especial as PME, terão de mais uma vez ajudar a puxar o país. É uma agenda ambi-ciosa e um caminho longo, mas parece ser o único que permitirá algum sucesso, por isso terá mesmo de ser percorrido. É difí-cil, não é certo, mas temos de conseguir. A bem do futuro!

(*) Presidente da SPGM e das Sociedadesde Garantia Mútua portuguesas;

Presidente da AECM – Associação Europeia de Garantia Mútua; presidente da 2Bpartner

SCR e mebro da Invicta Angels – Associação de Business Angels do Porto.c

«O sistema de ensino deve continuar o seu trajecto e evolução num sentido mais amigável às empresas, deve focar-se em fornecer formação empresarial e técnica para empresários e para as suas equipas. Por exemplo, uma parte da “factura social” paga pelas empresas poderia ser reduzida através de uma contrapartida dada em formação por escolas e centros de saber (públicos ou privados) financiados já hoje com dinheiros públicos.»

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revista capital maio 2011

ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS46

A Intercampus do Grupo GfK encontra-se a realizar, diariamente, desde 30 de Maio de 2010 um estudo de audiência televisiva de canais abertos em todas as capitais provinciais de Moçam-bique e disponibiliza, nesta edição, os dados de 10 meses tendo sido implementadas 113.824 entrevistas válidas no período em análise.

10 meses de audiênciasdiárias pela 1.ª vez no País

P ela primeira vez em Moçambique são disponibilizados os resulta-dos de um estudo diário de audi-ências televisivas que, de forma

ininterrupta, analisa diariamente as au-diências televisivas desde 30 de Maio de 2010. Por vezes, solicita-se ao entrevistado que possua uma memória de elefante com perguntas do tipo “Que programas de tele-visão é que se recorda de ter visto na últi-ma semana?”. Naturalmente as audiências são dinâmicas e reagem à programação de um dia específico ou à emissão de um evento, como por exemplo a inauguração do novo estádio nacional ou o último epi-sódio de uma novela.O estudo diário de audiências da Inter-campus do Grupo GfK permite a análise também de rádio e imprensa permitindo a estratificação dos consumidores de media por género, cidade, status social (utilizan-do a estratificação ESOMAR que combina o nível académico e a ocupação profissio-nal) através de uma fiel proporcionalidade da população residente em cada capital provincial.

Análise indivíduo-médiae quantificação de telespectadores

Para uma correcta utilização destes da-dos por parte dos anunciantes, os dados de audiências da GfK possibilitam o cru-zamento de perfis de consumo com dados de audiências permitindo, por exemplo, identificar quais os programas mais vistos, indivíduos que possuem conta bancária ou mulheres dos 15 aos 25 anos que residem em Maputo da Classe Social A .Através deste método inovador, será pos-sível utilizar mais eficazmente os vários meios disponíveis para a promoção de produtos e serviços, e quantificar, em mé-dia, o número de telespectadores de um determinado programa de televisão.

Evolução de 10 mesesde audiências televisivas

Desde o início da medição das audiências televisivas que se verificaram alterações nos resultados obtidos de audiências. No início de Junho de 2010, a liderança de

audiências a nível nacional era disputada entre a Record e a STV. Com a realização do Mundial de Futebol na África do Sul, o panorama das audiências alterou-se e pas-sou a haver uma disputa entre a Record e a TVM. Findo este evento, a TVM volta a instalar-se no terceiro lugar não conse-guindo a STV voltar à proximidade da li-derança. Durante todo o resto do ano de 2010, a STV aproxima-se gradualmente da liderança tendo conseguido atingi-la em alguns dias, no entanto a liderança da Record volta a reforçar-se no primeiro tri-mestre de 2011 (Fig.1)Em termos da avaliação global dos 10 me-ses em análise, verifica-se que a liderança de audiências televisivas médias pertence à Record com uma audiência média de 9.68% (média diária de indivíduos a ver o canal em relação ao total da amostra entre as 6:00 e as 0:00 horas) e um share médio de 42,51% (percentagem média de indiví-duos que vêm a Record em relação ao total de indivíduos que nesse período estão a ver televisão). (Fig.2)Em termos de share médio a nível nacio-

DR.Gettyimages

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maio 2011 revista capital

47ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS

nal, verificamos que a STV é o canal na segunda posição representando 26.89% enquanto a TVM apresenta um share de 18,86% e a TIM 8,14%. A RTP África fica na última posição com um share médio de 3,73%. (Fig.2)A audiência média permite extrapolar para o universo em análise a quantidade média de telespectadores para cada um dos canais e programas de televisão. A Record é o canal com mais telespectado-res em média representando 220.712 em todas as capitais provinciais. (Fig.2)Quanto à audiência máxima do período em análise, verificamos que se verificou durante o Jornal da Noite (STV) do dia 2 de Junho de 2010 com 53% dos inquiri-dos. (Fig.2)Em suma, podemos afirmar que para o pe-ríodo em análise, o canal Record é o líder incontestável de audiências a nível nacio-nal.Ao analisarmos em particular as audiên-cias médias por períodos do dia, verifica-mos que a Record é líder de audiências nos períodos da tarde (12:00 às 17:45 horas) e da noite (18:00 às 00:00 horas) em todos os meses de Junho de 2010 e Março de 2011.A liderança média mensal da Record, por períodos do dia, apenas é contestada du-rante o período da manhã (6:00 às 11:45 horas) em Dezembro de 2010, em que a STV atinge a liderança nesse período, e no primeiro trimestre de 2011 em que a TVM assume essa liderança. (Fig.3).O modelo metodológico tem como vanta-gem a possibilidade da elaboração de ava-liações diárias, semanais e mensais que permitem compreender evoluções e va-riações ao longo do tempo para Televisão, Rádio e Imprensa. Para mais informações contactar [email protected].

Ficha Técnica

O Universo é constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 15 ou mais anos de idade, residentes nas capitais provinciais de Moçambique. A amostra foi constituída por 113.824 entrevistas válidas (represen-tando um grau de confiança de 95% e um erro máximo de +/- 0,5%). A informação é recolhida através de entrevista directa e pessoal (Maputo e Matola) e por telefone (restantes capitais provinciais), com base em questionário elaborado pela Intercam-pus, sendo implementada diariamente uma amostra de 400 questionários no dia imediatamente a seguir à programação de canais abertos. Os dados acima correspon-dem ao período de programação entre 30 de Maio de 2010 a 31 de Março de 2011.

A Intercampus

A Intercampus – Estudos de Mercado, Lda. é uma empresa de direito moçambi-cana e iniciou formalmente a sua activida-de em Moçambique em 2007 sendo parte integrante do Grupo Internacional GfK. A GfK é a quarta maior empresa de estu-

dos de Mercado no mundo. A sua activida-de abrange três áreas: Custom Research, Retail & Technology e Media. O Grupo é composto por 150 empresas em mais de 100 países e com mais de 10 000 colabora-dores. Em 2010, as vendas do Grupo GfK ascenderam a 1,3 mil milhões de euros.

Fig. 1. Evolução da Audiência Média Diária,de 30 de Maio de 2010 a 31 de Março de 2011

Fig. 2. Audiência Média, entre 30 de Maio de 2010 e 31 de Março de 2011

Fig. 3. Audiência Média Mensal Período da Manhã,entre Junho de 2010 e Março de 2011

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revista capital maio 2011

FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS48

Tânia Santhim*

O Tratamento Fiscal dos Fundos de Pensões

T odos os dias as pessoas são con-frontadas com a incerteza sobre a capacidade de fazerem face às suas necessidades financeiras, de-

pois de uma vida profissional activa. Tam-bém é costume dizer-se que durante a vida profissional activa é imperioso preparar o período que se segue após a reforma. Tal é o ditame decorrente da velha parábola da formiga e da cigarra…! No mundo hodierno existem diversas for-mas de materializar a necessidade de, ao longo da vida profissional activa, se faze-rem as opções necessárias visando encarar a vida após a reforma, com relativa segu-rança financeira. Uns dos meios mais usados são os Fundos de Pensões. Estes fundos são definidos como meios financeiros criados especial-mente para responder a tais preocupa-ções, sendo dirigidos a todos aqueles que procuram soluções de investimento para a constituição dos seus complementos de reforma. Ao subscreverem estes fundos, as pessoas estão a construir a sua base de sobrevivên-cia para as situações de ausência ou limi-tação da capacidade para o trabalho e re-forma, podendo adaptar a constituição do mesmo às suas expectativas futuras, assim como a aliar a possibilidade da criação de poupanças. No presente artigo, proponho-me abor-dar o regime fiscal aplicável aos Fundos de Pensões, não apenas em termos de tri-butação de rendimentos dos Fundos de Pensões, mas também dos seus associados e aderentes, bem como os aspectos carac-terizadores dos mesmos.

Definição

Os Fundos de Pensões são instituições e mecanismos particulares de protecção social alternativos, que visam reforçar as prestações da segurança social obrigató-ria, sendo constituídos por um património autónomo exclusivamente afecto à reali-zação de um ou mais planos de pensões, de acordo com os artigos 31 e 32 da Lei nº 4/2007, de 7 de Fevereiro (sobre as bases da Protecção Social), conjugado com o nº8 do anexo ao Decreto Nº 25/2009, de 17 de Agosto (Regulamento da Constituição

e Gestão de Fundos de Pensões no âmbito da Segurança Social Complementar).

Tipos de Fundos de Pensões

Consoante, os vínculos existentes entre os associados e aderentes, os fundos de pensões podem revestir a forma de fundos abertos ou fechados, conforme abaixo de-finido.

a) Os fundos abertos podem ser constitu-ídos por iniciativa de qualquer entidade gestora de fundos de pensões legalmente constituída, sendo o seu valor líquido glo-bal dividido em unidades de participação, inteiras ou fraccionadas, que podem ser representadas por certificados. A adesão a este fundo pode ser efectuada de forma colectiva ou individual.

b) Fundos de pensões fechados podem ser constituídos por iniciativa de uma empre-sa ou grupos de empresas, de associações, designadamente de âmbito sócio-profis-sional, ou por acordo entre associações patronais ou sindicais.

Regime fiscal Relativamente ao tratamento fiscal dos Fundos de Pensões, temos a considerar, essencialmente, três aspectos distintos do funcionamento destes, nomeadamente: (i) das sociedades gestoras de fundos de pen-sões e rendimentos obtidos; (ii) das contri-buições para o Fundo; e (iii) do pagamento de pensões pelo Fundo.Os princípios orientadores que presidem à tributação de cada uma dessas etapas são o da consideração como custo fiscal das contribuições das empresas e não tributa-ção na esfera dos trabalhadores e, ainda, tributação atenuada dos benefícios pagos pelo Fundo.

I. Das sociedades gestorasde fundos de pensões

Em sede de IRPC

A tributação dos rendimentos provenien-tes de Fundos de Pensões encontra-se pre-

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49FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS

O Tratamento Fiscal dos Fundos de Pensõesvista no Código do Imposto sobre o Ren-dimento de Pessoas Colectivas (CIRPC), aprovado pela Lei n.º 34/2007, de 31 de Dezembro, cuja alínea c) do n.º 1 do artigo 9 estabelece que as instituições de segu-rança social legalmente reconhecidas e as de providência social encontram-se isen-tas do imposto.Com efeito, os rendimentos obtidos pelos Fundos de Pensões e equiparavéis que se constituam e operem de acordo com a le-gislação em vigor, encontram-se isentos de IRPC.Contudo, os dividendos distribuídos por entidades sujeitas a IRPC e postos à dispo-sição de Fundos de Pensões estão sujeitas a retenção na fonte à taxa geral de 20%, nos termos do nº 1 alínea c) do artigo 67 do CIRPC.

Em sede do IVA

As transmissões de bens e prestações de serviços de assistência social e as trans-missões de bens com elas conexas encon-tram-se isentas do imposto sobre o valor acrescentado (IVA), conforme estabelece a alínea a) do n.º 2 do artigo 9 do Código do IVA.

Em sede de Imposto Autárquico de SISA

A aquisição onerosa de imóveis por parte de Fundos de Pensões e equiparáveis en-

«Uns dos meios mais usados são os Fundos de Pensões. Estes fundos são definidos

como meios financeiros criados especialmente

para responder a tais preocupações, sendo

dirigidos a todos aqueles que procuram soluções de investimento para a

constituição dos seus complementos de reforma.»

contra-se isenta do referido imposto, nos termos da alínea d) do n.º 1 do artigo 62 da Lei n.º 1/2008, de 16 de Janeiro, que define o regime financeiro, orçamental e patrimonial das Autarquias Locais e o Sis-tema Tributário Autárquico.

Imposto de Selo

Tendo em conta os benefícios atribuídos à aquisição onerosa de imóveis, o Legislador moçambicano previu um regime mais fa-vorável em sede de imposto de selo. Nestes termos, os Fundos de Pensões e equipará-veis encontram-se isentos do pagamento do imposto do selo, conforme se poderá claramente constatar da leitura e interpre-tação da alínea c) do artigo 5 do Código do Imposto de Selo.

II. Das contribuiçõespara o fundo de pensões

De acordo com o n.º 2 do artigo 31 do CIRPC, as contribuições efectuadas por uma entidade empregadora a favor do seu trabalhador são totalmente aceites como custos fiscais da mesma, contanto que as referidas contribuições representem no máximo 10% das despesas com o pessoal escituradas a título de remunerações, or-denados ou salários, respeitantes ao exer-cício.No entanto, a admissibilidade dos custos fiscais em apreço encontra-se sujeita a condicionantes adicionais e de natureza cumulativa, estabelecidos no artigo 32 do CIRPC, nomeadamente, (i) os benefícios devem ser constituídos para a generali-dade dos trabalhadores permanentes da empresa, devendo, ainda, ser atribuídos com base em critérios objectivos e idênti-cos para todos e não ser considerados ren-dimentos de trabalho dependente; (ii) o Plano de Pensões deve acompanhar as dis-posições da Segurança Social no que se re-fere à idade de reforma e aos titulares dos direitos, não poderá exceder, anualmente, os limites estabelecidos, devendo ser efec-tivamente pago sob a forma de prestação pecuniária mensal vitalícia; (iii) a gestão e disposição das importâncias despendidas não devem pertencer à própria empresa.

Em sede de IRPS

Nos termos da alínea a) do artigo 6 do Có-digo do IRPS (CIRPS), aprovado pela Lei n.º 33/2007, de 31 de Dezembro, as pres-tações efectuadas pela entidade empre-gadora para para fundos de pensões não constituem rendimento tributável, não devendo, por isso, ser englobadas na de-terminação do rendimento colectável.

III. Pagamento de pensões

As pensões, incluindo as prestações de fundos de pensões, estão isentas de IRPS, nos termos do artigo 7 do CIRPS.

Nota Final

Os Fundos de Pensões em Moçambique são uma realidade cada vez mais generali-zada, tratando-se sem dúvida de um resul-tado de um incentivo fiscal concedido pelo próprio Estado na constituição deste tipo de assistência complementar de natureza social.O envelhecimento da população coloca sérios desafios ao sistema de Segurança Social moçambicano. A incerteza quanto à sustentabilidade financeira do mesmo au-menta a necessidade de constituição atem-pada de um plano de poupança privado, como forma de assegurar a manutenção do nível de vida na reforma. O investimen-to num Fundo de Pensões permite a cons-tituição de um complemento de reforma a partir de mínimos de investimento reduzi-dos, delegando a gestão em especialistas. Adicionalmente através do investimento em Fundos de Pensões, o associado obtém ainda as seguintes vantagens: constituição de uma reserva, para fazer face a uma situ-ação grave (desemprego de longa duração, incapacidade permanente, doença grave, dentre outras situações) ou por optimiza-ção fiscal (na medida em que os Fundos de Pensões e os respectivos contribuintes be-nefeciam de incentivos fiscais decorrentes das isenções previstas na lei).

(*) Consultant PricewaterhouseCoopers Legal

[email protected]

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51RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA

dra Paula Duarte *

O Novo Regulamento da Lei Cambial

N ão obstante o facto de a “nova” Lei Cambial – Lei n.º 11/2009, de 11 de Março – ter entrado em vigor há dois anos, a realização

de operações cambias no país continuava a operar-se com base no procedimento aprovado pelo Aviso n.º 05/GGBM/96 e respectivas alterações, uma vez que a sua regulamentação não havia sido aprovada.No 31 de Março de 2011, entrou finalmente em vigor o novo Regulamento da Lei Cam-bial, aprovado pelo Decreto n.º 83/2010, de 31 de Dezembro.Destaca-se como novidade trazida por este Regulamento, a liberalização das transac-ções correntes, isto é a realização de pa-gamentos ou recebimentos em moeda es-trangeira, nomeadamente, pagamentos ou recebimentos em conexão com o comércio externo, remessas de valores para despe-sas familiares e outras não sujeitas à pré-via autorização do Banco de Moçambique. Esta liberalização traduz-se na não neces-sidade de autorização prévia do Banco de Moçambique com vista à realização deste tipo de transacção, mantendo-se, porém, a obrigatoriedade de registo, através do banco comercial intermediário da transac-ção.O Regulamento vem também tornar obri-gatório às entidades residentes declararem ao Banco de Moçambique todos os valores e direitos adquiridos, gerados ou detidos no estrangeiro, assim como procederem à “remessa para Moçambique, por transfe-rência bancária a ser reflectida em moe-da nacional na conta do beneficiário, de parte das receitas de exportação de bens, serviços e investimento no estrangeiro até ao limite de cinquenta por cento”.A abertura e movimentação de novas con-tas em moeda estrangeira por residentes, quer por pessoas singulares ou pessoas colectivas, carece agora de autorização prévia do Banco de Moçambique, “tendo como fontes de alimentação, para as pes-soas colectivas, fundos provenientes de empréstimos ou destinados à sua amorti-zação e/ou fundos provenientes de recei-

tas de exportação ou de rendimentos de investimento no exterior, até ao limite de cinquenta por cento”. Depreende-se portanto, da leitura das dis-posições contidas nos dois parágrafos ime-diatamente anteriores, para as pessoas co-lectivas residentes em concreto, cinquenta por cento dos montantes correspondentes a receitas de exportação de bens, serviços e investimento deve ser reflectido em mo-eda nacional na respectiva conta no país, podendo o remanescente ser reflectido em conta em moeda estrangeira; sendo que, com a entrada em vigor deste Regulamen-to, a abertura de qualquer nova conta em moeda estrangeira estará sujeita a autori-zação prévia pelo Banco de Moçambique. Ainda que sem referência explicita à revo-gação da inerente legislação, considera-se

no âmbito do Regulamento que o paga-mento por entidades residentes de servi-ços de assistência técnica, de preço ou ho-norários relativos a outro tipo de serviços e pela utilização de direitos de proprieda-de industrial e intelectual1 já não requer aprovação prévia do respectivo contrato pelo Ministério das Finanças, efectivando-se mediante a apresentação, pelos inte-ressados, do respectivo contrato na forma legalmente exigível ao banco comercial in-termediário da transacção.O pagamento de salários de entidades não residentes pode também ser efectuado através dos bancos comerciais, sem neces-sidade de autorização prévia da transac-ção, contando que ache-se regularizada a sua situação laboral ao abrigo da respec-tiva legislação em vigor no país e que haja sido pago ou assegurado o imposto devido.No que respeita a empréstimos ou crédi-tos financeiros recebidos do estrangei-ro, incluindo suprimentos, mantêm-se a obrigatoriedade de autorização prévia pelo Banco de Moçambique, do registo dos desembolsos e do registo dos paga-mentos relativos à amortização do capital (principal). A novidade surge no facto de o pagamento dos inerentes juros poder ser efectivado mediante a apresentação pelo interessado ao banco intermediário da identificação das partes, plano de amor-tização ou nota de débito, comprovativo da autorização cambial do empréstimo ou suprimento e do registo de desembolsos, e de que se mostra pago ou assegurado o im-posto que for devido relativo à transacção, sem a necessidade de autorização prévia pelo Banco de Moçambique.

1Não deve confundir-se a o pagamento de honorários devidos pela utilização de direitos de propriedade industrial e intelectual, com o pagamento devido à compra e venda de tais di-reitos; este último, sujeito a autorização prévia pelo Banco de Moçambique.

*[email protected] Sócia da Ferreira Rocha

& Associados - Sociedade de Advogados, Lda.

«O pagamento de salários de entidades não residentes pode também ser efectuado através dos bancos comerciais, sem necessidade de autorização prévia da transacção, contando que ache-se regularizada a sua situação laboral ao abrigo da respectiva legislação em vigor no país e que haja sido pago ou assegurado o imposto devido. No que respeita a empréstimos ou créditos financeiros recebidos do estrangeiro, incluindo suprimentos, mantêm-se a obrigatoriedade de autorização prévia pelo Banco de Moçambique (...)»

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52 DESENVOLVIMENTO MERCADO PROFISSÕES INTEGRADAS

Cadeias de valor mais competitivas

A s organizações interprofissio-nais, interlocutores privile-giados dos poderes públicos, parecem ser as que melhor

defendem os interesses das fileiras que re-presentam. Nos países ACP, vão-se gradu-almente reforçando, sobretudo no sector de produtos para exportação.

Num momento em que a planificação das políticas agrícolas e o desenvolvimento da produção estão, mais do que nunca, na or-dem do dia, a existência de organizações profissionais integradas, fortes e estru-turadas constitui um trunfo importante, tanto para os Estados, como para os agri-cultores. Com efeito, reconhecidas pelos Estados, estas organizações associam to-dos os actores de uma mesma fileira de produtos e são os interlocutores privilegia-dos dos Governos. Defendem, junto des-tes, os interesses de todos os sectores da mesma cadeia de valor, desde o produtor ao comerciante, passando pelos transfor-madores. Sendo diversas, consoante a sua história e o seu contexto, e também devi-do aos seus recursos e à sua estruturação, apresentam-se em maior ou menor escala nas políticas nacionais, mas parecem ser, cada vez mais, indispensáveis à emergên-cia de uma produção agrícola crescente e competitiva.

Modelos e histórias diversos

As organizações interprofissionais, “filei-ras”, associações ou conselhos, qualquer

que seja a sua designação, apresentam estruturas similares, ainda que as suas histórias sejam diferentes. As “interprofis-sionais” privadas são organizadas segundo o modelo francês. Dum modo geral, elas reagrupam todos os actores de uma cadeia de valor, como por exemplo, no Senegal, a Comissão Nacional Interprofissional da Fileira do Arroz (CIRIZ), que representa o arroz local, compreende representantes dos produtores, industriais, instituições financeiras, fornecedores de adubos, ne-gociantes, consumidores, fornecedores de serviços agrícolas, instituições públicas e outros actores do desenvolvimento. Os conselhos ou juntas, baseados no modelo anglo-saxónico, são geralmente emana-ções do Estado, associando o sector pri-vado. São presentes sobretudo nas fileiras de exportação, como sejam o Conselho In-dustrial do Café (Coffee Industry Board - CIB) na Papuásia-Nova Guiné ou o Conse-lho do Café do Burundi (Office du Café du Burundi ou Burundi Coffee Board - OCI-BU), cujo mandato principal é incentivar a cultura do café no Burundi, a elaboração e o respeito de normas de qualidade pelos intervenientes. Estas instituições têm atri-buições importantes: regulamentação da comercialização, gestão da qualidade, pro-dução de informações sobre a fileira, etc.

As “fileiras”, saídas do modelo canadia-no, presentes em alguns países de África Ocidental, focalizam-se mais na concerta-ção entre as várias partes envolvidas num determinado produto agro-alimentar (por exemplo, no Burquina Faso, as fileiras do

leite, das bananas, do karité ou da carne). Para além das suas histórias e das suas origens, estas organizações divergem se-gundo os sectores em questão: fileiras de exportação, frequentemente administra-das no passado pelo Estado (café, cacau, algodão), fileiras alimentares nacionais (cereais), fileiras mais pequenas e localiza-das (cebolas, tomate industrial).

O papel mais importante destas organi-zações integrando várias profissões é a de-fesa da sua causa junto dos Governos, vi-sando o apoio às fileiras que representam e a participação na formulação de políticas agrícolas. Por outro lado, são muitas as que foram criadas por iniciativa de Governos, desejosos de negociarem com um número restrito e representativo de interlocutores. Elas permitem, também, a integração de agentes privados, muitas vezes omitidos aquando da elaboração das políticas que lhes dizem respeito.

Cada estrutura possui mandatos específi-cos em função do produto e da conjuntura local. Por exemplo, para os horticultores do Zimbabué, os pontos mais importantes são a logística e a organização da fileira. A Federação dos Agrupamentos Interprofis-sionais da Carne do Mali (FEBEVIM) du-rante algum tempo centrou a sua acção na eliminação de taxas abusivas que penaliza-vam as exportações. Criada em 2004, no Gana, a Organização Interprofissional do Arroz (Ghana Rice Interprofessional Body, GRIB), que agrupa mais de 8000 interve-nientes, visa o desenvolvimento da produ-ção e incentiva a melhoria da qualidade do

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53DESENVOLVIMENTO MERCADO PROFISSÕES INTEGRADAS

arroz local. Obteve do Governo a adopção de uma taxa especial sobre a importação, fazendo com que o arroz ganês se tornasse competitivo nos mercados urbanos.

Quais os recursos para o futuro?

Para o sucesso da montagem de uma or-ganização que integre as várias profissões envolvidas numa mesma cadeia de valor, parece ser indispensável realizar uma am-pla reflexão colectiva. Quanto mais um sector estiver previamente estruturado, contando com organizações sólidas, inter-venientes que se conhecem e se reconhe-cem e com um quadro jurídico favorável, tanto mais essa organização terá possi-bilidade de se tornar rapidamente ope-racional. Cooperativas, organizações de produtores, transformadores, comercian-tes, todos estão envolvidos. Uma outra vantagem pertinente: contar com mulhe-res e homens que possuam um verdadeiro sentido político e que saibam enfrentar os desafios comuns.

Mas mesmo quando se reúnem todas estas condições, estas organizações de ca-deias de valor deparam, muitas vezes, com grandes dificuldades. Dizer que são re-conhecidas pelo Estado não significa que sejam efectivamente escutadas… Muitas vezes o Estado age em função dos desa-fios estratégicos veiculados pela fileira: a sua importância no quadro da segurança alimentar, fonte de divisas e/ou empre-go, repartição “equitativa” dos rendimen-tos pelos produtores… Por outro lado,

nem sempre é fácil manter os equilíbrios no seio da organização, na qual os acto-res mais frágeis – pequenos produtores, transformadores, etc., – não têm o mesmo peso que os actores mais influentes, como os comerciantes. Para finalizar, a questão dos recursos constitui um grande obstácu-lo. As organizações mais afortunadas con-tam com uma ajuda exterior (doadores) ou com taxas específicas decididas pelo Esta-do – como no caso do GRIB (Gana), que garante acções de formação sobre a quali-dade dos produtos para os seus membros graças à taxa especial sobre a importação do arroz. Mas a grande maioria destas or-ganizações conta apenas com as contribui-ções das associações-membros. Na ausên-cia de meios suficientes, os responsáveis não podem ser remunerados e as estrutu-ras não podem funcionar devidamente.

Ultrapassar o nível nacional

As organizações interprofissionais co-meçam também a surgir a nível regional: as cadeias de valor avícolas de oito países da Comissão da Comunidade Económica e Monetária da África Central (CEMAC) organizam-se para limitar a concorrência oferecida pelos frangos congelados impor-tados e rentabilizar as produções locais. Criaram, em 2009, a organização avíco-la regional da zona, CEMAC (IPAR-CE-MAC). Valorizar a qualidade dos produtos também constitui um cavalo de batalha destas organizações.

Tal é o caso da fileira de karité no Bur-

quina-Faso que centra a sua mensagem sobre a melhoria das condições de coloca-ção no mercado da karité, ou do caso dos cafés especiais da República Dominicana. Mas, para além da abordagem da qualida-de, as organizações interessam-se, cada vez mais, pelas indicações geográficas. A Comissão Interprofissional do Cacau e do Café dos Camarões (CICC) é um parceiro eminente na reflexão sobre as apostas des-tes produtos no país. Estas abordagens, que necessitam de organizações de pro-dutores bem estabelecidas e de ambientes institucionais fortes, poderiam constituir eixos de desenvolvimento, estratégicos para estas organizações de profissões in-tegradas.

Para mais informaçõesCTAIniciar uma cooperativa: Iniciativas económicas geridas por agricultoresKoopmans, R. 2006CTA, Agromisa CTA n.º 1335, 5 unidades de cré-dito.Seminário CTA - ORIGIN - ONCC sobre os desafiosligados às indicações geográficas para as filei-rasdo café e do cacau nos Camarõeshttp://tinyurl.com/69fju45FAO• Les associations interprofessionnelles sont-elles un outil de développement des filières?http://tinyurl.com/6zb9fnm• Rapport de l’Atelier de création et de lance-ment de l’interprofession avicole en Afrique Centrale(IPAR-CEMAC)http://tinyurl.com/5r5a5prInter-réseaux développement rural• Dossier de Grain de sel n°44 : les organisations interprofessionnelleshttp://tinyurl.com/69yxjw5• Panorama des organisations interprofession-nelles dans le monde. Guillaume Duteurtrehttp://tinyurl.com/6xz9btvAlgumas organizações interprofissionaisComissão Interprofissional do Cacau e do Café dos Camarões (CICC)www.cicc-cameroun.org/Associação Industrial do Café da Papuásia-Nova Guinéhttp://tinyurl.com/64sccmkConselho do Café do Burundiwww.burundicoffee.com/

DR.Gettyimages

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NEGÓCIOS PRIME CONSULTING MOÇAMBIQUE

Maria Iolanda Wane *

As novas tendências no mundo dos negócios (tendências globais)

O que significa no concreto falar de Novas Tendências no Mun-do dos Negócios? Significa em poucas palavras olhar mais de

perto para as mudanças económicas, so-ciais, ideológicas, tecnológicas e culturais do ambiente de negócios que vêem ocor-rendo a nível global, seus reflexos nas or-ganizações e nas pessoas.

Essas mudanças trazem consigo tendên-cias que influenciam o ambiente com o qual as empresas interagem no dia-a-dia. O conjunto de mudanças obedece normal-mente a uma matriz, na qual as mudanças se agrupam, e nos permitem identificar com clareza algumas tendências que nos explicam muito do que ocorre à nossa vol-ta, em particular no mundo corporativo que vem sendo palco de um processo de transformação que se desenrola de uma maneira vertiginosa e fortemente influen-ciado pelas chamadas mega-tendências globais.

Os aspectos mais marcantes das mudan-ças no campo económico, por exemplo, estão associados à formação de blocos re-gionais, à expansão das empresas multina-cionais em particular dos países emergen-tes do grupo dos BRIC1 , e à integração no campo das finanças. Hoje em dia já não é possível falar sobre a economia de apenas um único país isoladamente tal é o grau de interdependência entre os países e regiões por causa daquilo que se convencionou designar Globalização Económica, que tem por base o consumo comum entre os cidadãos de diferentes países e a cada vez maior dependência entre os diversos agentes económicos.

No campo social uma das alterações mais destacadas refere-se à inserção das mu-lheres no mercado de trabalho, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvi-mento, desempenhando papéis diferentes: líderes políticas, empresárias, empreende-doras, académicas, só para citar alguns exemplos. Em Moçambique, por exemplo, apesar das estatísticas modestas, não há dúvidas de que nos últimos anos a presen-ça das mulheres nos negócios tornou-se

comum e os benefícios daí resultantes são inegáveis.

No que se refere à arena política, o mo-vimento pela democratização das socieda-des vem ganhando espaço assinalável com ganhos evidentes do envolvimento dos cidadãos e Moçambique não está alheio a este movimento.

Os avanços tecnológicos no campo da informática estão a revolucionar as co-municações ao impulsionarem a trans-missão, com rapidez, das informações que contribuem para o conhecimento e para a socialização acelerada entre as pessoas. A realidade das redes sociais na internet está aí para comprovar este facto da vida em rede. No mundo dos negócios já é uma realidade, hoje em dia, fechar negócios de forma instantânea para regiões distantes que dantes era impensável. Na gestão em-presarial a tecnologia da informação tem permitido melhorias significativas na efi-cácia das organizações, notadamente na redução de custos e melhor atendimento aos clientes.

Todas estas mudanças trazem um desa-fio para o mundo dos negócios na medida em que impõem novas formas de condu-ção dos negócios, exigem o repensar na estratégia e flexibilização do modelo orga-nizacional, novas posturas perante os de-safios, num mercado global marcado pelo altíssimo nível de competitividade.

Segundo uma visão moderna, um admi-nistrador eficaz possui, além de outras ha-bilidades, um entendimento global, sofis-ticado e visionário do ambiente à sua volta. Além de conhecer as melhores práticas da sua profissão, o gestor, em qualquer nível organizacional, deve estar capacitado para ler a realidade em mudança, não só para melhor se adaptar mas também para tirar proveito das oportunidades geradas pelas mudanças.

As empresas são reconhecidas como principais agentes económicos, pois são delas que depende a subsistência da maior parte da população activa de um país e, por outro lado, o crescimento económico de um país está intrinsecamente relacio-

nado com o sucesso das empresas, que, por sua vez dependem muito de um clima de negócios saudável gerado pelas melho-res práticas de corporate governance.

As melhores práticas de corporate go-vernance evitam abusos de poder e con-flitos de agência, gestão deficiente, fraudes corporativas, promovendo deste modo a confiança no mundo dos negócios, cres-cente canalização de recursos para o mer-cado de capitais e amplo envolvimento da sociedade no processo de expansão da economia.

1 Refere-se ao grupo de países formado por: Brasil, Rússia, Índia e China e, recentemente a África do Sul foi admitida neste selecto grupo.

*Administradorada Prime Consulting Moçambique

[email protected]

«Os avanços tecnológicos no campo da informática estão a revolucionar as comunicações ao impulsionarema transmissão, com rapidez, das informações que contribuem para o conhecimento e paraa socialização aceleradaentre as pessoas.A realidade das redes sociais na internet está aí para comprovar este facto da vidaem rede. No mundo dos negócios já é umarealidade, hoje em dia, fechar negócios de forma instantânea para regiões distantes que dantes era impensável.»

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MERCADO DE CAPITAIS PRIME CONSULTING MOÇAMBIQUE56

O Papel do Mercado de Valores Mobiliários e da Bolsade Valores de Moçambique no panorama empresarial

Raúl Peres*

O já distante no tempo, processo de pacificação política e social e a subsequente estabilidade alcançada, a progressiva e cada

vez mais acelerada adesão aos princípios e às práticas de uma economia liberal e de mercado, a cada vez maior atracção de investimento externo - sinal claro da confiança que os agentes económicos de-positam no potencial de crescimento da economia – são factores que não apenas criaram as condições para um conjunto de reformas económicas, mas implicam for-çosamente a concretização, a assimilação no quotidiano, dessas reformas.

É neste contexto que surge a oportuni-dade, dir-se-á melhor, a necessidade, de olhar para o importantíssimo contributo que trará ao processo de crescimento da economia nacional a continuidade da or-ganização do mercado de valores mobiliá-rios e, neste âmbito, de um funcionamento cada vez mais amplo, efectivo e dinâmi-co da Bolsa de Valores de Moçambique (BVM).

A instalação e o arranque de funciona-mento da BVM, assim como a confiança que nela continua a ser depositada pela governação, foram e são (naturalmente sem prejuízo de muitas outras acções e reformas fundamentais) possivelmente dos actos mais elucidativos da visão estra-tégica da governação, dotando o sistema nacional de importantes mecanismos com vista à reforma da economia e do sector empresarial, público e privado, reforma esta de que o mercado de valores poderá ser um motor impulsionador.

Com efeito, a organização do mercado de valores mobiliários, nos planos jurídico e institucional e, em particular, a instalação e funcionamento regular da BVM, que é o seu verdadeiro “centro nervoso”, são em-preendimentos de carácter estruturante, que interagem com os mais diversos secto-res da economia e da sociedade em geral.

O Estado, tendo promovido o processo de organização do mercado e criando as condições de ordem legal e material neces-sárias para que este possa funcionar, tem igualmente vindo a assumir-se, de forma regular, como um importante participante no seu desenvolvimento, quer recorrendo ao mercado como um dos meios de acesso aos recursos de que carece para o custeio das despesas ou para o financiamento dos investimentos a seu cargo, quer adoptan-do o mercado de valores mobiliários como veículo para a realização de algumas das operações de privatização de participações do Estado mais representativas que tive-ram lugar na ultima década. É importante aliás não esquecer, e com particular acui-dade no momento presente, as evidentes sinergias e complementaridades entre o processo de organização e de dinamiza-ção do mercado de valores mobiliários e o programa de privatizações, e as vantagens que poderão extrair-se da respectiva arti-culação.

Para as empresas e empresários, e dir-se-ia, no momento de particular dinâmica que o País atravessa também para novos empreendimentos empresariais em fase de constituição e organização, a existên-cia de um mercado de valores mobiliários eficiente, compreendendo a existência de uma bolsa de valores, traduz-se desde logo numa forma privilegiada de acesso a financiamento; mas muitas outras vanta-gens, mais ou menos imediatas, podem ser citadas, como a renovada atitude de gestão e de racionalização no funcionamento in-terno que é induzida às empresas, a adop-ção de padrões de governação e controlo mais eficientes e transparentes, ou a visi-bilidade que a sua presença no mercado lhes proporciona.

Aos agentes aforradores e aos investido-res em geral, o mercado de valores mobi-liários proporciona uma forma alternativa (que normalmente se acaba por assumir

como a forma privilegiada) de aplicação das suas poupanças ou recursos – desde que reconheçam um ambiente que lhes inspire credibilidade e confiança. É que, apenas terá condições de atrair os investi-dores, ou dito de outra forma, apenas será susceptível de contribuir para o desenvol-vimento económico transformando a pou-pança em investimento produtivo:

- Um mercado pautado por elevados pa-drões de segurança e regularidade, para o que a manta legal e regulamentar e as es-truturas efectivas de supervisão e fiscali-zação terão que obedecer a requisitos que têm evoluído em função das experiências globais vividas na industria;

- Um mercado transparente, porque a in-formação nele gerada seja suficiente e de qualidade, e estejam criadas as condições para fluir de forma acessível e em momen-to oportuno a todos os interessados; e fi-nalmente,

- Um mercado líquido e eficiente, porque dotado dos meios técnicos e operacionais que melhor se adequem às suas caracte-rísticas e assim propiciem inteligibilida-de, facilidade, rapidez e baixo custo na contratação dos negócios e no sistema de registos e pagamentos (liquidação física e financeira).

A organização do mercado pode também ter um significativo impacto na interme-diação financeira, e no próprio sistema financeiro em geral, pelo específico tecni-cismo desta actividade e, assim, os eleva-dos padrões de especialização e qualidade de serviço que exige aos seus agentes. Os mercados eficientes evoluem constante-mente, são crescentemente competitivos e conduzidos pela primazia do princípio da melhor satisfação dos interesses dos clientes. Por outro lado, a diversificação da gama dos serviços prestados é outra característica transversal aos mercados, assim como o conteúdo ético e o alto grau de exigibilidade das normas de conduta e

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57MERCADO DE CAPITAIS PRIME CONSULTING MOÇAMBIQUE

maio 2011 revista capital

O Papel do Mercado de Valores Mobiliários e da Bolsade Valores de Moçambique no panorama empresarial

deontologia profissional que são apaná-gio de um mercado regulamentado. Outro aspecto a relevar, num mercado amplo e líquido, é a alternativa disponibilizada à gestão dos activos próprios das institui-ções financeiras. Por todas estas razões, é visível que o processo de estruturação e funcionamento regular do mercado de valores mobiliários constitui factor impor-tante para a expansão quantitativa, e para a melhoria qualitativa, do sector financei-ro em geral.

Em todo este quadro, não será de mais realçar o papel a desempenhar pela bolsa de valores, que deverá ser figura central quer no plano da organização institucional do mercado, quer no do seu funcionamen-to operacional.

A principal função da bolsa de valores é a de criar um espaço próprio para o funcio-namento do sistema de troca do mercado de valores mobiliários. A bolsa é, na pura acepção da palavra, um mercado; um mer-cado regulamentado, organizado, fiscali-zado e supervisionado, público e aberto, especificamente arquitectado para a nego-ciação de valores mobiliários. Na bolsa de valores, assiste-se num primeiro momento a um processo negocial entre interesses à partida divergentes – o do comprador, que deseja comprar pelo preço mais bai-xo possível, e o do vendedor, que deseja vender pelo preço mais elevado possível; depois de equilibrados aqueles interesses, isto é, depois de encontrado um ponto de equilíbrio aceitável para ambas as partes, realizam-se os correspondentes negócios.

Mas há uma característica essencial para

se compreender totalmente a dimensão da especificidade e da importância econó-mica e social deste sistema negocial que se desenvolve na bolsa de valores: É que a negociação de que falamos não é, como sucede num mercado tradicional de tro-ca de produtos, uma negociação privada, bilateral, entre comprador e vendedor; é pelo contrário uma negociação multilate-ral, envolvendo ao mesmo tempo todos os compradores e todos os vendedores, orga-nizada através da intervenção de regras e procedimentos específicos, conduzida por intermediários especializados que repre-sentam os interessados, e com a utilização de tecnologias ou sistemas apropriados, de forma a, simultaneamente, satisfazer na máxima medida possível, quer os in-teresses particulares de cada interessado, quer os melhores interesses do mercado em geral.

A função mais visível da bolsa de valores é assim a de reunir, através de interme-diários financeiros especializados, todos os interessados em comprar e em vender valores mobiliários, consolidando num espaço e momento próprios o fluxo de or-dens de compra e de venda que existem dispersas no mercado. Esta circunstância leva a duas consequências: Por um lado, assegura aos investidores a existência de um mercado líquido, isto é, de um merca-do em que seja rápido e fácil comprar ou vender valores mobiliários; por outro lado, confere eficiência ao preço, ou seja, o pre-ço formado no mercado resulta da opinião de todo o mercado, e não de um mero ajus-te directo ou particular.

«Para as empresas e empresários, e dir-se-ia, no momento de particular dinâmica que o País atravessa também para novos empreendimentos empresariais em fase de constituição e organização, a existência de um mercado de valores mobiliários eficiente, compreendendo a existência de uma bolsa de valores, traduz-se desde logo numa forma privilegiada de acesso a financiamento...»

Desta função, aquela que é imediata-mente visível, da bolsa de valores, decor-re contudo como corolário a sua função económica: É que, sem a existência de um mercado secundário como a bolsa de va-lores, regulamentado e organizado, livre e aberto, credível, transparente e eficiente, verificar-se-á a impossibilidade ou a extre-ma incipiência de funcionamento do mer-cado primário, e também do mercado das ofertas públicas, e assim um muito menor potencial de desenvolvimento económico. Apenas a consciência plena da existência e do funcionamento regular de um mer-cado de troca seguro, líquido e eficiente permite que o mercado primário funcione adequadamente e cumpra o seu papel no desenvolvimento económico e social, no-meadamente mediante a canalização dos recursos disponíveis para o investimento produtivo.

Atento o contributo, fundamental, que o surgimento de um mercado organizado e da bolsa de valores constituem para o desenvolvimento económico sustentado e alargado, a iniciativa e a tutela dos po-deres públicos é de louvar e reforça a con-fiança que se instala nos agentes económi-cos nacionais e estrangeiros. O que resta para o funcionamento efectivo e dinâmico do mercado é encargo, já não tanto do po-der político, mas dos decisores e agentes económicos, financeiros, empresariais e responsáveis técnicos das instituições en-volvidas.

*Administradorda Prime Consulting Moçambique

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COMUNICADO58

revista capital maio 2011

HCB Empresa lucroumais de 962 milhõesde meticais

A Hidroeléctrica de Cahora Bassa anun-ciou ter gerado lucros de mais de 962.472 milhões de meticais, cerca de 21,48 milhões de euros, em 2010, e que pela pri-meira vez vai pagar dividendos, ao Gover-no de Moçambique, principal accionista.O montante destinado ao Estado Moçam-bicano, em forma de dividendos, “ascende a 25,2 milhões de dólares” (cerca de 17,44 milhões de euros ao câmbio actual.)A HCB diz que este desempenho traduz um aumento de 30% dos resultados ope-racionais, conseguidos com um aumento dos proveitos da empresa e o crescimento controlado dos custos.Desde a reversão do controlo de Cahora Bassa para o Estado Moçambicano, em fi-nais de 2007, a empresa já contribuiu para as receitas do país com mais quase 100 milhões de dólares (69,09 milhões de eu-ros), através da taxa de concessão liquida-da mensalmente, valor ao qual acrescem os dividendos a serem agora entregues.No exercício económico de 2010, Cahora Bassa atingiu a segunda maior produção de energia eléctrica de sempre, ao realizar 16.290 GWh, energia suficiente para su-prir todos os compromissos comerciais e dar resposta à necessidade de aumento da potência para servir o desenvolvimento de Moçambique.No âmbito da gestão, a empresa adianta que a administração delineou um plano estratégico para o quinquénio 2010-2014 no sentido de aumentar ainda mais os níveis de produtividade e os resultados da empresa.Recorde-se que o Estado português, ainda detém 15% do capital da barragem de Cahora Bassa. Entretanto, há informações segundo as quais está a ser negociada a cedência, em partes iguais, desses 15%, à empresa estatal moçambicana Companhia Eléctrica do Zambeze (CEZ), que já detém 85 % do capital, e à portuguesa Redes Energéticas Nacionais (REN).

INSS Campanha Nacionalde Cobrança de dívidas é lançada

O Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) arrancou a 11 de Abril, a Campanha Nacional de cobrança da dívida de contri-buintes devedores ao INSS. A campanha cujo término está previsto para o dia 11 de Maio vai abranger 617 empresas (contri-buintes) em todo o país, com uma dívida total de mais de 540 milhões de meticais (540.063.564,51 MT).Trata-se de uma acção legal, levada a cabo pela Inspecção-Geral do Trabalho e o INSS, que visa salvaguardar o futuro de muitos trabalhadores e pensionistas que se encontram neste momento na iminên-cia de ficarem privados dos seus direitos sociais, devido à não canalização dos seus descontos salariais ao INSS, por parte de algumas entidades empregadoras, afec-tando o equilíbrio e a sustentabilidade fi-nanceira do Sistema de Segurança Social. A protecção social, segundo consagra a Constituição e as demais leis do País, tem por objectivos atenuar, na medida das con-dições económicas, as situações de pobreza absoluta das populações, garantir a subsis-tência dos trabalhadores nas situações de falta ou diminuição de capacidade para o trabalho, bem como dos familiares sobre-viventes em caso de morte dos referidos trabalhadores, para além de conferir con-dições suplementares de sobrevivência.Até Janeiro deste ano, o INSS contava com 856.624 beneficiários inscritos em todo o país, com 30.937 pensionistas, sendo 14.944 de velhice, 14.664 de sobrevivência e 1.329 pensionistas de invalidez, enquan-to que o número de contribuintes era de 33.156.

TELECOMUNICAÇÕESVodacomexperimenta novatarifa em Nampula

A Vodacom, segunda operadora de telefo-nia móvel em Moçambique, lançou uma tarifa única de cinco meticais por minuto para as chamadas feitas a partir de qual-quer ponto da província de Nampula, norte do país, para qualquer operadora móvel.A introdução desde serviço, a título expe-rimental e por tempo indeterminado, faz com que seja a primeira vez que é lançada no país uma mesma tarifa para as chama-das feitas quer para a mesma operadora, quer para outra.Desta feita, a nova tarifa marca um mo-mento importante na história das comuni-cações no país, pois é a primeira vez que uma operadora de telefonia móvel reduz o preço das chamadas e mensagens, para além de ser a menor tarifa do mercado.Além de inovadora, a recém lançada tarifa é, por outro lado, a oferta mais competitiva no mercado moçambicano, pois representa ao cliente uma poupança de mais de 41 % em relação aos preços da concorrência.O presidente da Comissão Executiva da Vodacom, José dos Santos, disse que a ini-ciativa é uma das primeiras dentro de um conjunto de actividades que vão provar ao cliente que o “tudo bom para ti” é mais do que um simples slogan.

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Cultivar a cultura

A Italiana, indicado como a última obra de Malangatana, é um Fiat 500 que está a ser leiloado como forma de financiar a fundação

desejada pelo mestre. Esta fundação terá como fim promover o desenvolvimento humano dos jovens moçambicanos, atra-vés da arte e cultura. Nos últimos dias, foi também notícia a licitação de 150.000 USD feita pelo BCI, mas, se estiver interes-sado na obra de Malangatana, ainda vai a tempo de fazer a sua licitação até ao dia 6 de junho.Por outro lado, decorreu em Maputo um encontro promovido pelo INEFP que pre-tende promover a contribuição das indús-trias culturais e criativas para o desenvol-vimento social e económico. O objectivo passa por dotar estas indústrias, em parti-cular a do artesanato, de políticas, estraté-gias e estruturas legais, regulamentares e fiscais, que permitam uma melhor actua-ção no mercado.No fundo, tratam-se de duas iniciativas muito diferentes que assentam na promo-ção da arte e da cultura como formas de desenvolvimento sustentado da sociedade moçambicana. E como diz Neyma, no fe-cho do mês da mulher moçambicana, no seu videoclip: "A Hi Dzimeni"...

Rui Batista

gale

ria

MAURO PINTO‘MAPUTO – LUANDA - LUBUMBASHI’FOTOGRAFIAInflux Contemporary Art, Rua Fernando Vaz, 20 B1750-108 Lisboa14 Maio a 25 Junho 2011

revista capital maio 2011

ESTILOS DE VIDA60

M auro Pinto inaugura a sua primeira individual em Por-tugal este mês, na Influx Con-temporary Art. São dezoito

fotografias das três cidades que titulam a exposição, em que Mauro joga com os ex-teriores e os interiores de cada uma delas. As fotografias de Maputo e Luanda, em suporte analógico, a preto e branco, inte-gram o projecto “Portos de Convergên-cia” que o público de Maputo teve já opor-tunidade de ver em exposição no Centro Cultural Franco Moçambicano, em 2005. Este é um projecto de vida de Mauro em que, seguindo o percurso da escravatura, retratando lugares marcados pelo comér-cio de escravos, o artista, nas suas próprias palavras, explora «(…) as relações das cul-turas da África Austral com o resto do

mundo, (…) numa busca do que será le-gado o africano em outros continentes».A captação desses espaços públicos e ex-postos, alterna com a captação intimista de interiores em cada uma das cidades tema. Nas imagens de Lumumbashi, em particular, Mauro é intensamente marca-do por esse lado íntimo dos espaços e das pessoas. Numa exposição onde a noção de proximidade é ambígua, Mauro procura captar e transmitir, de uma forma quase afectiva, esse intimismo. Já uma referência nacional e internacio-nal da fotografia, Mauro Pinto nasceu em 1974, em Maputo. Tendo desde muito cedo sentido gosto pela fotografia, forma-se no início da década de 90 na Monitor Inter-national School. Estagia em seguida com o fotógrafo José Machado. Aprendendo as

bases do fotojornalismo. Uma formação alternativa prossegiue com a convivência próxima com o norueguês Trygve Bolstad, o reuniense Karl Kugel e, principalmente, Ricardo Rangel. Em 2009, juntamente com Gonçalo Mabunda, funda em Maputo o projecto Karl Marx 1834. Mauro Pinto expõe regularmente desde o ano 2000. Depois da recente participação na Exposi-ção “Idioma Comum”, da Fundação PLMJ, Mauro Pinto regressa a Lisboa, para a sua primeira individual em Portugal.

Rita NevesFundação PLMJ

Para mais informações onsulte www.influxcontemporary.com

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leituras capitais

bem vindo aos seus ouvidos

O património sonoro de N’Dour

maio 2011 revista capital

61ESTIILOS DE VIDA

Envelhecer é uma Arte

Com o passar do tempo, a pele vai dando manifestações de cansaço e começa a per-der vitalidade. Surgem manchas na pele, a flacidez dos tecidos e os vincos das vivên-cias que delatam o desgaste do dia-a-dia. O envelhecimento da pele é algo natural. À medida que o tempo avança, a activida-de das células vai diminuindo e, em média, a cada 10 anos perdem-se mais células do que as que o organismo consegue produzir, provocando a flacidez e, por consequência, as inevitáveis rugas. No entanto, associados ao factor natural encontram-se factores externos que poten-ciam o aceleramento do processo de enve-lhecimento como a alimentação, a poluição, o tabagismo, o alcoolismo, a exposição solar não moderada e o stress. Para combater eficazmente o envelheci-mento precoce da epiderme e manter uma pele jovem e firme durante mais tempo, o Evasões SPA dá-lhe, a partir desta edição, algumas dicas de “ouro”.Beba água! A ingestão de água permitirá a hidratação das camadas mais profundas da epiderme. Consuma alimentos ricos em anti-oxidantes! Os anti-oxidantes retardam o envelheci-mento celular, reforçam a síntese natural do colageno e protegem o organismo dos efei-tos danosos dos radicais livres. Mantenha a sua pele limpa e protegida! É fundamental que se faça uma esfoliação à pele, numa base regular, e que aplique um protector solar factor 30, diariamente, ini-bindo as inflamações da derme provocadas pelos raios UV. Combata o Stress! Aposte numa vida saudá-vel privilegiando o desporto e o lazer. Envelhecer é inevitável, mas perpetuar a be-leza da pele é possível. Procure o seu conse-lheiro de beleza que o ajudará a entender melhor acerca das necessidades do seu or-ganismo e da sua pele.

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editoracapitalc

O Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE) lançou re-centemente o segundo número da série de livros “Desafios para

Moçambique”. A questão de protecção social é um dos vários debates contidos no livro, e que actualmente é fortemente abordada pela classe académica e outros circuitos de in-teracção. Segundo o mesmo debate, ter muitos filhos ainda é a principal forma de

protecção social em Moçambique. Usa-se a força laboral dos filhos para aumentar a produtividade na machamba e em outras actividades que geram sustento familiar. Entretanto, o modelo de protecção social praticado revela-se primitivo e desfasado da realidade actual moçambicana, segun-do o estudo realizado por António Francis-co. O autor revela que a força do trabalho assalariada em Moçambique é de apenas 1 milhão de pessoas enquanto cerca de 1,3 milhões de crianças engrossam as fi-leiras do trabalho infantil. A comparação faz perceber que a economia encontra-se baseada numa actividade familiar ainda bastante limitada, segundo o autor.O livro do IESE compreende cerca de 18 autores, entre os quais Nuno Castel Bran-co que escreveu “Dependência de Ajuda Externa, Acumulação e Ownership”; João Borges Coelho propõe “Cooperação e Se-gurança Pública”. A lista de autores inclui ainda Sofia Amancy e Nelson Massingue que escreveram “Desafios da Expansão de Serviços Financeiros em Moçambique”, entre outros.Um testemunho escrito que revela a nossa sociedade, simplesmente a não perder.

Sérgio Mabombo

“Desafios para Moçambique” gera mais debates

N ão foi há muito tempo atrás que ‘tropecei’ em Youssou N’Dour. O seu álbum Egypt é, atrevo-me a dizê-lo, absolutamente

divinal. Quando procurei um pouco mais sobre a voz que me encantou, descobri que afinal já a tinha ouvido em “7 seconds”, uma colaboração encetada entre N’Dour e a artista Neneh Cherry. “7 Seconds” vendeu cerca de 1,5 milhões de cópias e ganhou um prémio da MTV. Mas limitar N’Dour a esse êxito é uma tremenda injustiça. N’Dour é muito mais, é muito maior. É uma das vozes de ouro do nosso continente, e é considerado por muitos como a voz mais bela do mundo. Nascido no Senegal em 1959, N’Dour sur-giu na cena musical do seu país com ape-nas 12 anos. Desde essa altura, revelou-se um sucesso com a sua voz doce e sedutora. Em 1979, forma a sua banda os Super Etoi-les, tornando-se o mais famoso artista pop

do Senegal. Foi em 1984 que se estreou com a sua ban-da nos palcos europeus para pouco tempo depois conquistar os palcos norte-ame-ricanos. Tendo trabalhado ao longo dos anos com muitos artistas, colaborou com Paul Simon, Peter Gabriel, Sting, Tracy Chapman, entre outros. Em 2004, a revista Rolling Stone conside-rou-o como sendo um dos mais famosos cantores vivo. Ajudou, com a sua obra, a desenvolver a música popular do Senegal. No seu trabalho “Egypt”, com o qual ga-nhou um Grammy na categoria de melhor albúm de música contemporânea do mun-do, há um regresso nítido às suas origens, quer geograficamente, culturalmente ou religiosamente. Trata-se de um álbum in-tenso e de certa forma espiritual. Um tri-buto à beleza da música islâmica.

Sara L. Grosso

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revista capital maio 2011

VISÃO62

O Japão nãoestá derrotado

Alejandro Bolaños* [texto]

Os especialistas em economia das catástrofes mostram-se relativamente optimistas. Salvo em caso de cataclismo nunclear, o país deverá reerguer-se em pouco tempo.

A pesar de o pessimismo ter ga-nho terreno, nenhum perito considera que uma estagnação da economia de Japão possa

pôr em risco a retoma mundial. «A econo-mia japonesa passou uma boa parte dos últimos 20 anos em recessão e isso não afectou grandemente o resto do mundo», sublinha Pablo Bustelo, professor de Eco-nomia da Universidade Complutense de Madrid.É verdade que, nas próximas semanas, a indústria automóvel e a indústria electró-nica irão ter grande dificuldade em asse-gurar as suas encomendas. E que, nos pró-ximos dias, os mercados financeiros irão funcionar com altos e baixos. Mas o Japão, que acaba de ceder à China o segundo lu-gar na classificação das economias mun-diais, representa apenas 9% do PIB mun-dial (metade da percentagem de 1995, ano do sismo de Kobe). Esse abrandamento é ainda mais evidente nos mercados: a ca-pitalização dos mercados japoneses mal ultrapassa 8% do volume mundial, em comparação com 30% em 1995.O Japão não se recompôs da explosão da bolsa imobiliária e especulativa dos anos 1980, que também teve como consequên-cia um aumento espectacular da dívida pública. Em 1995, o Governo lançou um ambicioso programa de financiamento da reconstrução de Kobe, num montante de cerca de 30 mil milhões de euros (ou seja, quase 1% do PIB). Mas, na altura, a dívida pública era praticamente equivalente ao valor do PIB (95%), enquanto hoje atin-ge os 225%. Onde ir buscar dinheiro para financiar uma reconstrução sem dúvida muito mais onerosa? «A dívida pública japonesa é singular, visto que a sua imensa maioria é finan-ciada pelos investidores japoneses. De-pende muito pouco do exterior e, logo, há muito menos especulação nos merca-dos», explica o professor Amadeo Jensa-na. «Mesmo com um endividamento mais elevado, o governo continua a emitir tí-

tulos de tesouro a taxas de juro relativa-mente baixas. Financiar a dívida em 1% não é mesma coisa que financiá-la a 6%», garante, aludindo aos custos da dívida que alguns Estados europeus têm de suportar.Uma missão de peritos que está a asses-sorar o Governo japonês anunciou que a dotação inicial do plano de reconstrução atingiria o equivalente a 60 mil milhões de euros, ou seja, duas vezes mais do que em 1995. E, de acordo com vários órgãos de comunicação do país, o Banco do Ja-pão, que, no início da semana passada, tinha anunciado uma injecção de liquidez sem precedentes, estaria disposto a emitir obrigações num montante semelhante.

Espírito de sacrifício e poupança

Segundo o especialista em economia das catástrofes Yasuhide Okuyama, só os pa-íses desenvolvidos que possuam uma pou-pança sólida e uma forte capacidade de inovação tecnológica, têm condições para tirar partido da reconstrução de estradas, indústrias e habitações para melhorar a rentabilidade da economia. No entender do professor Bustelo, há outros factores que ajudam a explicar o milagre japonês que, depois da guerra, permitiu ao país, então fortemente dependente da ajuda externa, tornar-se o primeiro investidor mundial em apenas 20 anos. «Sentido de sacrifício, forte tendência para poupar, responsabilidade social das empresas – em especial para manter os empregos - e eficácia das políticas públicas», resume este investigador.«Com pessoas qualificadas, que possuem conhecimentos culturais e tecnológicos desenvolvidos graças a uma economia di-nâmica, é impossível superar quase todas as catástrofes», concluía George Horwi-tch, no seu estudo sobre a rápida recupe-ração de Kobe.

(*) Excerto In Jornal El País

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