revista capital 36

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Publicação mensal da S.A. Media Holding . Dezembro de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR 35 ANOS DE ECONOMIA Transportes entre os mais promissores COMÉRCIO Brasil quer maior volume comercial ENTREVISTA Casamento perfeito entre Portugal e Moçambique Nº 36 . Ano 03 MELHORES MARCAS DE MOÇAMBIQUE O ranking das Marcas Moçambicanas TV RECORD Mercado televisivo ganho a galope O BROTAR DE UM NOVO COMÉRCIO THE BIRTH OF A NEW COMMERCE

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Page 1: Revista Capital 36

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Dezembro de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR

35 ANOS DE ECONOMIATransportes entre os maispromissores

COMÉRCIOBrasil quer maiorvolume comercial

ENTREVISTACasamento perfeitoentre Portugal e Moçambique

36 .

Ano

03

MELHORES MARCAS DE MOÇAMBIQUEO ranking das Marcas Moçambicanas

TV RECORDMercado televisivo ganho a galope

O BROTAR DE UM NOVO COMÉRCIO

the Birth of a new commerce

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e-mail: [email protected](+258) 21 303188

eNTReVISTA«O casamento perfeito entre Portugale Moçambique»30

COMÉRCIO

34 Brasil quer maior volume comercialem África

SUMÁRIO

FOCO BANCA 35 ANOS INDÚSTRIA

15 16 18 22

Daniel David, presidente da Câmara do Comércio Moçambique-Portugal, mos-tra-se agradado pelo facto dos empresários lusos pretenderem investir na base produtiva moçambicana. Apesar do comércio internacional ser caracterizado por trocas desiguais e barreiras administrativas, Moçambique pode ser uma boa porta de entrada para a SADC.

O Brasil quer um maior volume comercial com o continente africano, em par-ticular com Moçambique e Angola. Segundo o embaixador brasileiro em Mo-çambique, António José Maria de Sousa Silva, para um país como Moçambique, quanto mais desenvolvido for, mais vai comprar e vender no contexto da sua relação económico-comercial com o Brasil.

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Melhores Marcas de Moçambique e as Marcas Moçambicanas

ÍNDICe De ANUNCIANTeS

TDM, P 02AP CAPITAL, P 03HIDROÁFRICA, P 04PHC, P. 05STANDARD BANK, P 08eLeCTROTeC, P 11

DCC-TIGA, P 13PROCReDIT, P 17 GeSSeR, P 27HOTeL AFRIN, P 44BCI, P 47eRNST & YONG, P 52

SeLeCT VeDIOR, P 54QUINTA eSSÊNCIA, P 55PWC, P 57MFW, P 59SA MeDIA HOLDING, P 61TV ReCORD, P 63TDM P 64

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eSTUDOS De MeRCADO

GeSTÃO e CONTABILIDADe

Um dos maiores desafios, senão o maior desafio da Contabilidade da Gestão Ambiental, é assegurar, nas organizações, a implementação dos processos li-gados à identificação, quantificação, contabilização e divulgação dos passivos ambientais, entendidos como obrigações decorrentes da contaminação ou de-gradação ambiental provada por determinadas actividades das organizações sobre o meio ambiente

Um olhar sobre os Passivos Ambientais

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45

SUMÁRIO

INDÚSTRIA TECNOLOGIAS NEGÓCIOS INVESTIMENTO

22 24 28 29

No ranking global das 174 marcas avaliadas pela Intercampus, destacam-se as marcas Nestlé, Nokia e EDM que se encontram no Top 10+, havendo um notório aumento do número de marcas de produtos alimentares melhor ava-liadas, em comparação com as do ano anterior nos lugares cimeiros. O topo do ranking pertence à marca NESTLÉ.

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A actual edição tem o condão de juntar sectores, que naturalmente se complementam: o dos Transportes e Comunicações e o do Comércio.É do senso comum que os custos de comércio, a nível global, caíram graças à prática dos custos mais baixos dos transportes e comunicações, à maior qualidade e à maior veloci-dade. Mas nem todos os países beneficiaram da mesma forma.Os custos de transporte caíram mais rápido onde a demanda por serviços de transporte era maior. O aumento de escala da produção comercializada elevou a competitividade e permitiu o despoletar de economias de escala no sector dos transportes. Os custos mais baixos de comércio e de transporte subsequentes incentivaram o panorama das trocas e permitiram uma maior especialização, e mais comércio.Certos países como a China e o Chile penetraram nos mercados internacionais e benefi-ciaram de custos de transporte mais reduzidos. Mas a maior parte dos outros não o fez. Na maior parte dos estados do continente africano a causação cumulativa em vez de aju-dar prejudicou, pois as economias de aglomeração continuam a ser pequenas nas regiões divididas da África.Ao aumentar as interacções locais de mercado e ao reduzir as distâncias entre as cidades, e entre as áreas, assim como entre as divisões internacionais, as políticas de transporte nos países em desenvolvimento podem, segundo os analistas, iniciar círculos virtuosos.Contudo, a melhoria das infraestruturas físicas afigura-se como parte indispensável na equação. Espera-se que em Moçambique os esforços encetados pelos doadores, investi-dores externos e internos venha, de facto, a produzir diferenças assinaláveis.Entretanto, o Governo aprovou, em 2009, a Estratégia para o Desenvolvimento Integra-do do Sistema de Transportes, cujo início da sua implementação se perspectiva como o principal desafio do Quinquénio 2010-2014. A visão, plasmada nessa Estratégia, passa sobretudo pelo desenvolvimento integrado do sistema de transportes. Por uma opção que no sentido Norte-Sul do País venha a ser dominada pelos transportes marítimos e ferroviários, ao passo que no sentido Este-Oeste venham a predominar os transportes ro-doviários e fluviais, salvo imperativos estratégicos decorrentes da Integração Económica Regional.A implementação dessa Estratégia afigura-se como um grande desafio para o sector dostransportes, se se tomar em linha de conta que os recursos financeiros para o efeito são de longe superiores à capacidade de investimento do Estado. Como tal, o Governo exorta o sector privado nacional e internacional a investir; assegura que o sector dos transportes e Comunicações precisa de se reestruturar para a implementação da Estratégia; e cria o Fundo para o Desenvolvimento dos Transportes e Comunicações.O desafio traçado é hercúleo e abrange inúmeras frentes de batalha, que incluem portos, aeroportos, e corredores de desenvolvimento. O objectivo máximo é dinamizar uma eco-nomia que promete dar cartas em termos de comércio, mas que ainda se retrai perante dificuldades de ordem infraestrutural.c

Oxalá 2011 se revele pródigo em termos económicos. Nesse sentido, termino 2010 ende-reçando votos de um feliz Ano Novo a todos os leitores!

9EDITORIAL

dezembro 2010 revista capital

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Av. Mao Tse Tung, 1245 – Telefone/Fax (+258) 21 303188 – [email protected] – Director Geral: Ilidio Bila – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sithoye - [email protected]; Sérgio Mabombo – [email protected] – Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected]; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Ferreira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR, INTERCAMPUS – Colunistas: António Batel Anjo, E. Vasques; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rita Neves, Rolando Wane; Rui Batista; Sara L. Grosso, Vanessa Lourenço – Foto Capa: Sérgio Costa; Fo-tografia: gettyimages.pt, Luís Muianga; – Ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Paginação: Benjamim Mapande – Design e Grafismo: SA Media Holding – Tradução: Alexandra Cardiga – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Brinrodd Press – Distribuição: Nito Machaiana – [email protected]; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Registo: N.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não necessariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

FICHA TÉCNICA

Helga [email protected]

Comércio e transportes envolvidos em círculos virtuosos

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revista capital dezembro 2010

EM ALTA

PESCASerão instalados em Marracuene e Manhiça, vi-veiros piscícolas que deverão fornecer ao mercado cerca de 60 mil toneladas anuais de pescado para alimentar o mercado interno e as exportações. Para o efeito, foi já constituída uma empresa mista congregando capitais mauricianos, sul-africanos e moçambicanos, designada Mozpeixe, que está a trabalhar nos detalhes burocráticos para o avan-ço do projecto. O investimento é de 1.2 biliões de dólares norte-americanos e é considerado o maior no sector da aquacultura no país. O mesmo com-preende a aquacultura, o fomento da produção de peixe junto da população e uma componente agrá-ria para a produção de ração.

EDMA baixa qualidade da energia eléctrica da rede de Moçambique e os elevados custos da água estão a afectar negativamente a competitividade das em-presas moçambicanas. No decurso da XII Confe-rência Anual do Sector Privado, alguns empresá-rios e operadores económicos afirmaram estarem a sofrer 50 cortes de energia por mês, facto que afecta os seus planos de produção. O presidente da CTA, Salimo Abdula, indicou que apesar da ener-gia ser gerada no País, os custos chegam a ser dos mais altos da região da SADC, facto que retira a vantagem competitiva do país.

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EM BAIXAMecânica política?«O Estado deve criar instrumentos de controlo quotidiano da economia, de tal for-ma que as empresas possam desenvolver e as famílias possam melhorar as condi-ções de vida de cada um dos seus membros»,

Firmino Mucavele, docente da Universidade Eduardo Mondlane, falando na conferência do Millennium bim.

Existe comprimido de motivação à venda?«A criação da riqueza exige uma liderança eficaz e eficiente, que consegue influen-ciar largas massas para o trabalho e criação da riqueza»,

Idem.

Faz o que eu digo e não faças o que eu faço!«Um estado sobre-endividado é um estado fraco, injusto e incapaz»,

Luis Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças de Portugal, alertando para os riscos de en-dividamento na conferência do Millennium bim.

Autarquia com sabor africano«As pessoas, e sobretudo os jovens, querem a mudança. Depositaram em mim as suas esperanças para que as coisas mexam»,

Peter Bossman, medico ganês, foi eleito presidente da Câmara da cidade eslovena de Piran e é o primeiro africano autarca na Europa de Leste

Poder político voltado para os pobres«Não entreguem o país àqueles que não têm nenhum compromisso com os mais pobres»,

Lula da Silva, presidente cessante do Brasil.

COISAS QUE SE DIZEM…

BOLSA DE VALORES CAPITOON

PORTO DE MAPUTOA directora-executiva da Iniciativa de Logística do Corredor de Maputo (MCLI), Brenda Horne, disse que esta empresa vai ampliar a capacidade do porto de Maputo dos actuais 10 milhões de to-neladas anuais para 48 milhões até 2025. O Porto de Maputo vai beneficiar de um plano de moder-nização orçado em 750 milhões de dólares norte-americanos, a serem disponibilizados durante os próximos 20 anos, que contempla projectos como a dragagem do canal de acesso, ancoradouro e de-mais intervenções.

SABMILLERA South African Breweries/Miller (SABmiller), fa-bricante de várias marcas de cerveja no mundo e uma das maiores engarrafadoras de produtos da Coca-Cola, é acusada, pela ActionAid, de sonega-ção fiscal nos países em que opera. Esta, detém 78% das acções da empresa Cervejas de Moçam-bique (CDM), que produz no País as marcas 2M, Laurentina (clara e preta), Raiz, Manica, Carling Black Label, Castle Milk Stout, Peroni Nastro Azzurro, Castle Lager, Barons e Redd’s. O valor da sonegação é de cerca de 20 milhões de libras por ano (31.1 milhões de dólares), equivalente a 1.1 biliões de meticais. A ActionAid explica que uma das formas de sonegação usada pela companhia é manter marcas valiosas de cervejas africanas na Europa ao invés do país de origem. Dessa forma, o custo de usar as marcas diminui os lucros na filial africana e, consequentemente, a quantidade de impostos que paga. Outra forma é pagar taxas de administração, principalmente para a Suíça.

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MUNDO NOTÍCIAS12

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PORTUGAL Greve geral contracortes paralisaprincipais serviços

Uma greve geral convocada pelas duas maiores centrais sindicais do país parali-sou no dia 30 de Novembro grande parte do sistema de transporte, das escolas e dos serviços públicos em Portugal.O objectivo da paralisação foi protestar contra as medidas tomadas pelo governo para reduzir o défice público - que vem comprometendo a credibilidade do país nos mercados financeiros internacionais.O sector mais afectado pela greve em Lis-boa foi o dos transportes. Ao mesmo tem-po, os hospitais cancelaram cirurgias, fa-zendo apenas atendimento de emergência. A recolha de lixo esteve parada e os bom-beiros prestaram apenas serviços mínimos.Enquanto os sindicatos anunciam a vitória da mobilização, dizendo que a paralisação chegou entre 90% e 100%, o governo afir-ma que a greve não foi geral, e que apenas 40% dos trabalhadores aderiram.Entre suas reivindicações está a revogação de medidas como a redução de até 10% do salário dos funcionários públicos (depen-dendo de quanto recebem), o congelamen-to das aposentadorias e a redução de be-nefícios à maternidade e de outros apoios sociais. Os grevistas também protestaram contra os aumentos no imposto de renda sobre pessoas físicas e sobre valor agrega-do.Com um défice público de 9,3% do PIB, em 2010, Portugal comprometeu-se a reduzir o rombo para apenas 4,6% em 2011 e che-gar a 2012 com um défice inferior aos 3% exigidos pelo Tratado que criou o euro.Economistas estimam que o governo por-tuguês esteja a perder 500 milhões de eu-ros por causa da greve.

IRLANDA Anúncio de empréstimonão estimula mercado

Os mercados europeus continuam cautelo-sos após o anúncio dos detalhes do pacote de ajuda financeira à Irlanda.O Fundo Monetário Internacional e a União Europeia ofereceram um emprésti-mo de 85 biliões de euros à Irlanda, numa tentativa de reduzir o grave défice fiscal do país e as enormes dívidas no seu sistema bancário.O acordo fechado em Bruxelas prevê que 35 biliões de euros irão servir para ajudar os bancos irlandeses, enquanto os 50 bili-ões restantes serão um auxílio para as des-pesas do governo.A taxa de juros básica do empréstimo fica-rá em 5,8%, contra os 5,2% acertados no resgate financeiro da Grécia, realizado em Maio deste ano.O primeiro-ministro da Irlanda, Brian Cowen, disse que o acordo foi «o melhor possível», dando «tempo e espaço vitais» ao país para resolver com sucesso os seus problemas financeiros.

EUA Economia cresce mais do que o previstono 3.º trimestre

A economia dos Estados Unidos cresceu mais que o esperado entre Julho e Setem-bro de 2010, segundo informou o Departa-mento de Comércio americano.A revisão do Produto Interno Bruto (PIB) americano no terceiro trimestre do ano indica um crescimento de 2,5%, e não de 2%, como o estimado anteriormente. No segundo trimestre, o índice foi de 1,7%.O percentual também fica acima dos 2,4% do que esperava o mercado americano. A revisão do PIB reflectiu dados que não pu-deram ser computados para a primeira es-timativa divulgada para o período.Segundo a subsecretária para assuntos económicos do Departamento do Comér-cio, Rebecca Blank, uma série de dados possibilitou a revisão para cima do PIB, como resultados positivos nas exportações e no consumo interno, por exemplo.Blank afirmou que várias previsões indi-cam uma recuperação maior da economia num cenário futuro, e que o governo se mantém firme em adoptar políticas que “dêm apoio a empresas e empreendedores americanos”.Apesar da revisão para cima do PIB, o cor-respondente económico da BBC Andrew Walker destaca que o crescimento da eco-nomia não foi suficiente para amenizar a taxa de desemprego, que está em 9,6%.No início do mês, o Federal Reserve (Ban-co Central americano) injectou 600 biliões de dólares na economia do país. A medida derrubou a cotação do dólar e ajudou as exportações americanas, mas aumentou as discussões sobre a “guerra cambial” entre os Estados Unidos e outros países, como a China.

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MOÇAMBIQUE NOTÍCIAS

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INDÚSTRIA Megaprojectosmobilizam 9,8 biliões de dólares

Um total de nove megaprojectos aprovados em Moçambique já arrecadou para o País um capital de 9,82 biliões de dólares norte-americanos.Segundo o ministro da Planificação e De-senvolvimento, Aiuba Cuereneia, que fala-va, na Assembleia da República (AR) du-rante a sessão de perguntas ao Governo, este valor constitui um grande contributo na formação do “capital bruto nacional”, um factor determinante na atracção de ou-tros investimentos.Citando o caso do empreendimento Mozal (Fábrica de Fundição de Alumínio) como exemplo, Cureneia explicou que para além do investimento de 2,3 biliões de dólares, o mesmo gerou 1.400 postos de trabalho di-rectos e cerca de 1,5 biliões de dólares em exportações.Para Cuereneia, este mesmo empreendi-mento tem como impacto adicional o dis-pêndio anual de cerca de 96 milhões de dólares em compras de bens e serviços for-necidos por pequenas e médias empresas moçambicanas, tendo atingido 290 contra-tos anuais sem incluir fornecimentos oca-sionais.Outros exemplos avançados pelo ministro da Planificação foram o do Projecto das Areias Pesadas de Moma que, além de um investimento de 500 milhões de dólares gerou 560 postos de trabalho directos; o projecto da petroquímica sul-africana, Sa-sol, que realizou um investimento de 850 milhões de dólares americanos e criou 183 postos de trabalho directos, além de con-tribuir com cerca de 160 milhões de dóla-res em exportações; e a Vale Moçambique que está a investir 1,5 biliões de dólares em Tete. O projecto gerou quatro mil postos de trabalho e investiu 330 milhões de dólares na contratação de pequenas e médias em-presas, durante a fase de construção.

AGRICULTURA Milho moçambicano alimenta Malawi

Grandes quantidades de milho moçambi-cano continuam a ser escoadas informal-mente para o Malawi, estimando-se que só em Outubro último 40% do milho produ-zido no país foi exportado informalmente para aquele país vizinho.As estatísticas sobre o comércio transfron-teiriço indicam que, neste momento, o Malawi é o maior importador informal do milho moçambicano. Este cenário faz com que sejam os malawianos a determinar os preços de compra do milho produzido em Moçambique, o que levou à queda dos pre-ços no distrito de Milange, na província da Zambézia.Nos últimos anos, o presidente do Malawi, Bingu wa Mutharika, tem vindo a vanglo-riar-se de que o seu país está a produzir milho suficiente para consumo interno e para exportação. No entanto, existem evidências segundo as quais a maior par-te do milho que o Malawi alega produzir provém dos distritos de Angónia e Tsan-gano, em Tete; Morrumbala e Milange, na Zambézia; e Entre-Lagos, Mecanhelas, Ngauma e Mandimba, no Niassa. O milho moçambicano é depois incorporado nas es-tatísticas malawianas como se fosse produ-ção daquele país.A maior parte do milho moçambicano aca-ba por ter como destino o Malawi devido à ineficiência dos circuitos de comercializa-ção agrícola em Moçambique, em particu-lar na região fronteiriça. Devido à necessi-dade de dinheiro para a sua sobrevivência, alguns camponeses moçambicanos aca-bam vendendo todos os seus excedentes ao Malawi, propiciando o surgimento de bolsas de fome em algumas regiões.

ENERGIA Descobertomais gás naturalna Bacia do Rovuma

A Companhia Anadarko Moçambique con-firmou uma nova descoberta de gás natural em “offshore” na Bacia do Rovuma, após a conclusão do furo “Lagosta”, cuja abertura foi iniciada a 26 de Outubro último.A descoberta de gás foi feita em formações arenosas com uma espessura de 167.6 me-tros. O furo “Lagosta” está projectado para atingir a profundidade de 4.850 metros. Até ao momento, atingiu 4.222 metros de profundidade em relação ao nível médio das águas do mar e os trabalhos de perfu-ração prosseguirão por mais 628 metros.Após a conclusão do “Lagosta”, os traba-lhos de perfuração irão prosseguir, estando projectada a abertura de mais um furo de pesquisa.O furo situa-se a aproximadamente 30 quilómetros a Sul do “Barquentine” e a 26 quilómetros a sudoeste do “Windjammer”, dois furos descobertos em Outubro e Abril deste ano, respectivamente.Os concessionários da ‘área 1’ da bacia sedimentar do Rovuma são a Anadarko Moçambique com 43% de participações, a Empresa Nacional de Hidrocarbonetos com 15%, a Mitsui com 23,5%, a BPRL Ventures Mozambique com 11,75%, a Vide-ocon Mozambique Rovuma 1 Limited, com 11,75% e a Cove Energy, com 10%.Moçambique tornou-se num país apetecí-vel para o investimento estrangeiro direc-cionado para a pesquisa e prospecção de petróleo, devido às suas potencialidades na área dos hidrocarbonetos.Actualmente, cerca de uma dezena de multinacionais petrolíferas se encontram envolvidas em actividades de pesquisa e prospecção de hidrocarbonetos. As activi-dades são mais intensas ao longo da Bacia do Rovuma, onde operam as companhias Petronas (malaia), Artumas (canadiana), ENI (italiana), Anadarko (norte-america-na) e Norsh Hydro (norueguesa).

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O Millenium bim realizou a 22 de Novem-bro um jantar de gala em virtude da come-moração dos seus 15 anos de existência. No evento, era notável a presença de per-sonalidades das áreas económica e política moçambicanas, bem como do Presidente da República, Armando Guebuza, e muitos membros do Governo e representantes de diversas instituições públicas e privadas.

O Presidente da República, Armando Guebuza, falou, ao longo da cerimónia, da bancarização da economia de Moçambi-que, sobretudo a rural, e apelou para que se fizesse mais pela bancarização da econo-mia. Por seu turno, o presidente do Con-selho de Administração do Millenium bim, Mário Machungo, referiu que os 15 anos do Millenium bim representam muito traba-lho, muitas dificuldades, muita imaginação e muita perseverança, tendo sido estes os aspectos que ditaram o sucesso da institui-ção bancária em causa.

Mário Machungo acrescentou ainda que apesar de se estar a atravessar crise eco-nómica internacional, a qual não se sabe quando irá desaparecer, a sua instituição mantêm-se forte. «É preciso ocupar o nos-so espaço na geoestratégia política que se desenha actualmente, tomando Moçambi-que a posição que ocupa no eixo da geo-

estratégia actual e na deslocação dos cen-tros de decisão mundiais», revelou o PCA.

No decorrer dos 15 anos de existência, o Millenium bim conseguiu conquistar mais de 800 mil clientes, o que representa 35% da quota do mercado bancário moçambi-cano. A instituição bancária encontra-se representada em 32 distritos, com 130 bal-cões espalhados em todo o país. No total, Moçambique possui 128 distritos e mais de 50% dos mesmos não têm acesso a serviços bancários, sendo apenas 52 cobertos pelo sistema financeiro.

Aquele dirigente referiu que esta quota de mercado foi conquistada pela qualidade dos serviços proporcionados ao mercado e aos clientes. «O nosso objectivo não é atin-gir a quota de mercado, é servir bem e me-lhor ao cliente», disse.

Relativamente à bancarização rural, Má-rio Machungo afirma ser um desafio de desenvolvimento, e que a banca deve ter visão suficiente para identificar e posicio-nar-se nos locais onde há negócios promo-vendo assim o desenvolvimento.

De recordar que o Millennium bim ini-ciou o programa de comemorações do seu 15.º Aniversário em Março último, que incluía diversas actividades culturais, des-portivas e de carácter lúdico que culmina-

ram com a Gala dos 15 anos.De referir que o Millenium bim foi recen-

temente nomeado pela emeafinance maga-zine o “Melhor Banco em Moçambique”, no âmbito do African Banking Achievement Awards 2009. Trata-se de um programa que premeia os melhores bancos, melho-res equipas e melhores negócios da área EMEA: Europa, Médio Oriente e África, e visa distinguir os bancos pelos resultados atingidos. A edição que nomeia os ‘Melho-res Bancos de 2009’ será disponibilizada no Fórum Anual do FMI e Banco Mundial, que terá lugar em Istambul, na Turquia.

A emeafinance magazine é uma publica-ção financeira dirigida a CEOs e persona-lidades do mundo financeiro e político e esta distinção vem juntar ao “Prémio Res-ponsabilidade Social Multinacional 2008”, atribuído pela Ernst & Young e aos de Me-lhor Banco em Moçambique pelas revistas The Banker e Euromoney, nos últimos quatro anos.

Estes galardões demonstram o reconhe-cimento internacional da capacidade de execução e qualidade das equipas que in-tegram o Millennium bim, evidenciando o forte crescimento que tem registado e premiando a inovação e diversificação da oferta de produtos e serviços disponíveis.c

Arsénia Sithoye [texto]

Millenium bim e os seus 15 anos de luta

dezembro 2010 revista capital

15FOCO MILLENIUM BIM

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“O novo horizonte para o ProCredité converter-se num banco de referência para o sector empresarial”

- Depois de dez anos, 150.000 clientes e 21 agências em todo Moçambique, como se apresenta o futuro para o Banco Pro-Credit?Nos nossos inícios, O Banco ProCredit consolidou um mercado muito importan-te em Moçambique no âmbito das micro-finanças, orientado para um mercado que necessitava de serviços bancários e apoio financeiro para iniciar actividades de mui-to pequena escala. Hoje, dez anos depois, somos um prestador de serviços financei-ros completos, um banco transparente e responsável, que através dos emprésti-mos para empresas, pretende continuar a contribuir para o crescimento económico. O Banco ProCredit tornou-se num banco

comercial completo, com um excelente nível de serviços e com um maior profis-sionalismo, preocupado em acompanhar o desenvolvimento dos seus clientes.

- Como está o Banco ProCredit a enfren-tar esta mudança?O novo horizonte para o Banco ProCredit é converter-se num Banco de referência para o sector empresarial. Quando um moçambicano tem uma ideia, quando uma família aposta num novo negócio nós, o Banco ProCredit, devemos ser a sua pri-meira referência. Na procura deste ob-jectivo todos os segmentos da nossa ins-tituição sofreram uma reestruturação. A estrutura anterior estava dividida em Cré-

ditos e Serviços Bancários. Hoje, o novo foco exige um excelente nível de serviços, com maior profissionalismo orientado à personalização das necessidades especí-ficas de cada cliente.Para atender as necessidades destes seg-mentos, o Banco ProCredit criou serviços financeiros como os empréstimos, servi-ços de depósito, transacções diversas e negócios registados legalmente. Agora estamos satisfeitos por fornecer produtos de alta qualidade e, num futuro próximo, iremos ampliar ainda mais o leque de ope-rações para cada um dos segmentos.

- O Banco ProCredit está também cen-trado na construção da sua nova sede no Pais…Sim, no final do ano 2011 o Banco inaugu-rará a nova sede em Moçambique, na ave-nida Vladimir Lenine, em Maputo. O edi-fício será totalmente ecológico e, com a estrutura prevista, reduziremos em 40% o consumo de energia eléctrica, sendo que os nossos colaboradores trabalharão num entorno de luz natural com consumo mínimo de recursos “artificiais”. Para nós, o Meio Ambiente é muito importante. Na concessão de empréstimos cuja apli-cação possa ser considerada de um maior risco ambiental, fazemos uma análise de impacto ambiental, para garantir que não sejam financiadas actividades propensas ao prejuízo do meio ambiente. Incentiva-mos os nossos clientes a melhorar o seu desempenho ambiental e, planeamos campanhas anuais nas quais envolvemos escolas e a comunidade envolvente às nossas agências. Este ano, por exemplo, plantamos árvores em diversas escolas do País e a nossa ideia é continuar com essa conduta educativa.

Em 2000, surgiu o Novo Banco, uma instituição financeira dedicada à concessão de micro crédi-to a micro negócios. Passados dez anos, esta instituição financeira consolidou-se como Banco ProCredit, tendo acompanhado o desenvolvimento dos seus clientes, tornando-se num pres-tador de serviços financeiros completos que através de empréstimos para empresas, contribui para o crescimento económico de Moçambique. O seu director geral, Yann Groeger, acompanha o Banco nesta nova etapa, no qual procura a expansão da instituição em Moçambique, assim como, ser um parceiro financeiro de referência para as pequenas e médias empresas no País.

YANN GROeGeR, DIReCTOR GeRAL BANCO PROCReDIT MOÇAMBIQUe

Yann Groeger, Director Geral do Banco ProCredit

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Os transportes assumem um papel estra-tégico na economia nacional desde a era colonial. Esta situação deve-se à posição geográfica do País em relação ao oceano e ao continente. Por via disto, Moçambique serviu de corredor para mercadorias dos países vizinhos, na altura sob colonização inglesa. Neste contexto, os investimentos feitos nas infraestruturas ferro-portuárias nacionais tinham em vista a ligação com o Interior e não necessariamente o desen-volvimento de Moçambique.

Com o alcance da Independência, o nos-so sistema de transportes manteve-se es-tratégico, não só para nós, mas também para os países sem acesso directo ao mar como é o caso do Zimbabwe, Zâmbia, Ma-lawi e Botswana. Parte significativa das mercadorias destinadas a estes países, chegava aos seus territórios através das infraestruturas ferro-portuárias do País.

Contudo, este processo regista uma súbi-ta interrupção, na década 70, com a eclo-são da guerra dos 16 anos. Fora a instabi-

lidade política, os saques e a pilhagem que caracterizaram a época, o sistema nacio-nal de transportes viu-se comprometido devido à vandalização das infraestruturas ferroviárias e rodoviárias. Quilómetros e quilométros de linhas férreas e de estradas ficaram parcial e totalmente danificados. Num olhar preliminar, a ideia que se podia ter era de que bastando dispor de recursos financeiros, o sistema de transportes vol-taria a ser o que era, mas minas espalha-das pelo território nacional contrariavam essa expectativa.

Até aos dias de hoje, a construção de uma estrada em determinadas localidades do nosso País, requer primeiro a desmina-gem, para a posterior prossecução dos tra-balhos. Esta situação pesa como um dos factores que onera a construção ou reabili-tação de algumas vias de acesso.

De acordo com a “Estratégia para o De-senvolvimento Integrado do Sistema de Transportes” no desenvolvimento do País, «o sector de transportes contribui com

cerca de 10% no Produto Interno Bruto, o que lhe confere a terceira posição nos sectores de economia que directamente galvanizam o crescimento económico. Contudo, se considerarmos que essa con-tribuição resulta fortemente da prestação de serviços aos países do interior (Hin-terland), se deduz que o sector de trans-portes e comunicações desempenha ainda um papel incipiente no desenvolvimento dos sectores líderes da economia».

No mesmo documento, o Governo reco-nhece que «o sistema de transportes do país ainda se encontra maioritariamente na fase de reabilitação das infraestrutu-ras destruídas pela guerra, quando uma grande parte dos pilares da economia nacional conhece fases de investimentos mais aceleradas e mais intensivas do que no período colonial, durante o qual a in-fraestrutura e os serviços de transportes servia principalmente para ligar as zonas do interior da África do Sul, do Zimaba-bwe e o Malawi ao mar». Porém, «desde

Transportes entre os mais promissores dos sectores da economia moçambicana

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O sector dos transportes consta na lista dos mais flagelados pela guerra dos 16 anos. A rede de transporte terrestre, quer a rodoviária, quer a ferro-viária, verificaram cortes severos, decorrentes de incursões militares. No entanto, em termos de crescimento, este sector revela boas perspectivas, estimulado sobretudo pelos megaprojectos, pelos corredores de desenvol-vimento e pelos montantes avultados alocados tanto à construção, como à reabilitação de linhas férreas, estradas e pontes.

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Transportes entre os mais promissores dos sectores da economia moçambicana

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a independência nacional que a reorga-nização do sistema de transportes e de logística esteve no centro das atenções do Governo. O esforço empreendido nessa direcção, logrou resultados impressio-nantes sobretudo nas áreas da marinha mercante, transportes rodoviários e fer-roviários. Contudo, a guerra e a sabota-gem frustraram a aposta do Governo e nos finais de 1992 quase toda a infraes-trutura de transporte tinha colapsado».

Excluindo a capacidade e a modernidade dos veículos que processam o transporte de pessoas e bens, a qualidade dos siste-mas de transportes assenta na existência de infraestruturas e na exploração susten-tável das vias de acesso, sejam elas maríti-mas, terrestres, fluviais ou aéreas.

No caso de Moçambique, em termos de infraestruturas, ainda estamos aquém do exigido para os níveis de crescimento e desenvolvimento almejados. Nesta pers-pectiva, o Governo aumenta, ano pós ano, a percentagem, do Orçamento de Estado, alocada às infraestruturas.

Os corredores de desenvolvimento

O entendimento que existe a nível da SADC é de que os «os corredores consti-tuem o ponto fulcral para iniciativas de desenvolvimento regional. Inicialmente, baseados em rotas de transporte, os cor-redores são importantes para o alcance dos objectivos económicos e políticos da região, particularmente devido ao facto de quase metade dos Estados membros

da SADC serem do Interior e requererem ligações regionais eficientes de transpor-te para terem acesso ao mar». Com base neste conceito, Moçambique desenvolveu este tipo de sistemas integrados, privile-giando as ligações terrestre, ferroviária e rodoviária, respectivamente.

Eis a lista de alguns corredores estraté-gicos no país:

Corredor de MaputoDe acordo com um boletim informativo

da SADC, o Corredor do Desenvolvimento de Maputo foi a primeira das Iniciativas de Desenvolvimento Espacial (SDI – sigla em inglês) a ser executada em 1995. Este liga a província de Gauteng da África do Sul ao porto de Maputo em Moçambique.

Os desenvolvimentos ao longo do corre-dor focalizaram-se na reabilitação e mo-dernização das tradicionais ligações do co-mércio e transporte como uma base para um desenvolvimento económico abran-gente. A estrada, caminhos-de-ferro e a infraestrutura e funcionamento do porto foram concessionados em Moçambique.

A participação do sector privado jogou um papel importante no corredor, par-ticularmente no investimento na cons-trução da estrada com portagens que liga Witbank na África do Sul a Maputo e na melhoria do funcionamento de caminhos-de-ferro e portos em Moçambique.

Corredores da Beira e do ZambezeAs iniciativas dos corredores de desen-

volvimento da Beira e do Zambeze preten-

dem desenvolver uma região económica que liga Malawi, Moçambique, Zâmbia e Zimbabwe, através dos portos da Beira. Os objectivos-chave são reestabelecer e mo-dernizar as ligações das infraestruturas no Interior. Os projectos de desenvolvimento de infraestruturas incluem modernizar o porto da Beira, fornecimento da electri-cidade, viadutos do gás e do combustível líquidos, a proposta estrada Harare-Beira com portagens, o melhoramento das li-nhas férreas de Harare-Beira e a moderni-zação dos aeroportos.

Corredor de Nacala O Corredor de Desenvolvimento de Na-

cala visa desenvolver uma plataforma económica ligando o Malawi no Interior ao porto de Nacala, em Moçambique. Há necessidade de expandir e reabilitar a in-fraestrutura dos transportes para expôr o potencial de investimentos no corredor. Actualmente o corredor conta na sua ges-tão com dois accionistas de peso, os Ca-minhos de Ferro de Moçambique (CFM), com 49%, e a Sociedade do Corredor de Desenvolvimento do Norte (SCDN), com 51%.

Corredor Mtwara O Corredor de Desenvolvimento de

Mtwara cobre os territórios do Malawi, Moçambique, República Unida da Tanzâ-nia e a Zâmbia. O Corredor é percorrido desde o porto de Mtwara no leste à Mbam-ba Bay ao ocidente no Lago Malawi. Pro-jectos dos transportes incluem a expansão

«Os corredores constituem o ponto fulcral para iniciativas de desenvolvimento regional. Inicialmente, baseados em rotas de transporte, os corredores são importantes para o alcance dos objectivos económicos e políticos da região, particularmente devido ao facto de quase metade dos Estados membros da SADC serem do Interior ...»

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35 ANOS DA ECONOMIA20

e modernização do porto de Mtwara, dos portos de Mbamba Bay e Manda, ambos situados no Lago Malawi/Niassa. Outros projectos incluem a modernização do Ae-roporto de Mtwara e várias infraestruturas de estradas e caminhos-de-ferro.

A Ponte da Unidade, desenhada para atravessar o Rovuma, irá contribuir signi-ficativamente para melhorar a conectivi-dade da rede de estradas na região. Impor-tantes também são a Estação de Energia Térmica de Mchuchuma, o viaduto de pe-tróleo de Mtwara-Mbamba Bay e o projec-to do gás do Songo.

Influência dos megaprojectosno desenvolvimento dos transportes

O papel dos megaprojectos na econo-mia nacional pode ser analisado sob vá-rios prismas. No caso dos transportes, os mega-projectos proporcionaram ao sector uma nova dinâmica. Este cenário é de-corrente das necessidades de escoamento das matérias exploradas por esses mega-

projectos. No caso da Mozal, esta empresa potenciou o transporte rodoviário para o escoamento dos lingotes de alumínio.

Por outro lado, temos os projectos de ex-ploração de carvão na bacia de Moatize, onde se encontram a mineradora brasi-leira Vale e a australiana Riversdale. Pelo potencial que a bacia de Moatize revelou, a capacidade logística existente mostra-se insuficiente para escoar as milhares de toneladas previstas. Visto isto, as atenções voltaram-se para as ferrovias, com desta-que para a Linha de Sena, cuja reabilitação está em curso, e para o estratégico corredor de Nacala. Os projectos em curso estão a ter um efeito directo na cadeia de transpor-tes, facto que se traduz na melhoria da qua-lidade das linhas férreas das regiões onde estes são desenvolvidos.

Mas o impacto do carvão não se limita às vias ferroviárias ou rodoviárias, pela inca-pacidade logística de ambas, a Riversdale já avançou com o estudo de impacto am-biental com vista a aferir a navegabilidade do rio Zambeze, e caso haja luz verde, esta via mostra-se complementar as já existen-tes.

Ainda no transporte terrestre, temos pro-jectos como as “Areias Pesadas de Moma” a impulsionarem a rede rodoviária.

Fora os mega-projectos, existem agora as Zonas Económicas Especiais, que caso se desenvolvam como o previsto vão dar um grande estímulo ao sector dos transportes, pelo menos nas áreas onde estiverem ins-taladas.

O transporte aéreo

O percurso do transporte aéreo no país confunde-se com o de duas instituições. Trata-se da empresa Aeroportos de Mo-çambique (ADM) e das Linhas Aérea de Moçambique (LAM). Ambas existem há décadas e experimentaram várias realida-des, consoante a conjuntura do País.

Para a ADM a expressão do dia é “mo-dernizar e ampliar”. Baseada neste pres-suposto, a empresa está a investir centenas de milhões de dólares na remodelação das infraestruturas aeroportuárias estratégicas do País. Aliás, recentemente foi inaugura-do o terminal internacional do Aeroporto de Maputo.

Em relação à LAM, esta empresa também se encontra a investir na renovação da sua frota de aeronaves, tendo trazido ao País quatro engenhos de última geração, dois destes encomendados à brasileira Embra-er, num desembolso estimado em 100 mi-lhões de dólares.

Apesar das fortunas movimentadas nes-te sector, o transporte aéreo no nosso país está muito e mais associado à movimen-tação de passageiros, ou seja, o manuse-amento de carga ainda é incipiente. Na indústria aeoronáutica internacional, o

«Apesar das fortunas movimentadas neste sector, o

transporte aéreo no nosso país está muito e mais associado à

movimentação de passageiros, ou seja, o manuseamento de carga ainda é incipiente. Na indústria

aeoronáutica internacional, o transporte de bens mostra-se tão

rentável quanto o transporte de pessoas. Contudo, o estágio do

desenvolvimento económico do País ainda não gerou mercadorias

que justifiquem a utilização de aeronaves do tipo cargueiro, para operações domésticas, bem como

internacionais.

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dezembro 2010 revista capital

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transporte de bens mostra-se tão rentável quanto o transporte de pessoas. Contudo, o estágio do desenvolvimento económico do País ainda não gerou mercadorias que jus-tifiquem a utilização de aeronaves do tipo cargueiro, para operações domésticas, bem como internacionais.

O transporte marítimo e o fluvial

A “Estratégia para o Desenvolvimento Integrado do Sistema de Transportes” as-sume que um dos problemas ligados ao en-carecimento das operações portuárias em Moçambique diz respeito à incidência de impostos e procedimentos aduaneiros. É necessário simplificar estes instrumentos e mecanismos de modo a combinar equipa-mentos modernos, com organização, for-mação e quadro regulatório favorável. Por isso, uma das principais linhas estratégicas neste âmbito é a concepção e implantação de uma política nacional portuária que in-troduza um novo modelo de gestão portu-ária que traga maior competitividade e su-

ficientemente atractiva para os armadores e empresas de navegação. Por via disto, o transporte marítimo mostra-se restrito às empresas ou entidades com maior poder económico.

Por outro lado, «A utilização do mar como meio de transporte de cabotagem tem vindo a reduzir drasticamente. Den-tre as razões principais que contribuem para a não existência de transporte de cabotagem regular ao longo da costa do país se destacam: Questões estruturais induzidas pela guerra e pelas privatiza-ções das empresas estatais; inexistência de frota nacional; ausência de mercado de fretamento; legislação restritiva; au-sência de incentivos.»

Para inverter o cenário, o documento sugere que «uma transmarítima mais efi-ciente poderá servir como explorador de risco e de negócios, o que por sua vez po-derá encorajar e motivar a participação do sector privado. Esta medida deve ser acompanhada pela revisão da legislação e a criação de um pacote de incentivos

para transportadores e armadores que deverá incluir entre outros a adopção de transportes de bandeira de conveniência de alto padrão, sistema fiscal e simplifi-cação dos procedimentos aduaneiros nas mercadorias de trânsito nos portos».

A navegabilidade dos rios

Entre os debates mais candentes da ac-tualidade consta a navegabilidade dos rios em Moçambique, com especial destaque para o Zambeze. Este é um assunto que coloca em rota de colisão ambientalis-tas e homens de negócio. Os empresários com interesse no escoamento do carvão reconhecem os danos ambientais, mas insistem que são controláveis. Os ambien-talistas defendem que não podemos ser imediatistas e que nos devemos pautar por práticas conducentes a um desenvol-vimento sustentável. Independentemente do lado onde esteja a razão, o facto é que os rios como vias de comunicação são pouco explorados em Moçambique.c

«A utilização do mar como meio de transporte de cabotagem tem vindo a reduzir drasticamente. Dentre as razões principais que contribuem para a não existência de transporte de cabotagem regular ao longo da costa do país se destacam: Questões estruturais induzidas pela guerra e pelas privatizações das empresas estatais; inexistência de frota nacional; ausência de mercado de fretamento; legislação restritiva; ausência de incentivos.»

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A empresa Vidreira de Moçambique está a passar por um processo de revitalização e poderá começar a operar dentro de oito meses segundo Carlos Vieira, o responsá-vel pelo processo.

A empresa Sonil Lda. adquiriu as acções da Vidreira e Cristalaria de Moçambique por um valor de 3.1 milhões de dólares americanos e iniciou com o estudo do ter-reno para posterior trabalho de reabilita-ção há sensivelmente quatro meses, quan-do a mesma passou para a sua gestão.

O fabrico de vidro é uma experiência nova no entanto para a Sonil, uma vez que a empresa sempre actuou na área de comercialização de produtos agrícolas, ex-ploração de carvão, construção de estradas e pontes e comércio geral.

Recorde-se que a Vidreira esteve para-lisada durante 10 anos, tendo o equipa-mento ficado obsoleto e inoperacional daí, segundo Carlos Vieira, terem solicitado a vinda de técnicos portugueses da Marinha Grande, cidade portuguesa conhecida pe-

las maiores fábricas de vidro, técnicos es-ses que lhes forneceram as directrizes de como proceder no que concerne à revitali-zação da Vidreira.

«Com a vinda agora dos técnicos portu-gueses que nos puseram mais a corrente da situação, fizeram-nos ver o que não tí-nhamos visto. É lógico que eles estão den-tro deste negócio, desta vida, e fizeram-nos ver determinadas coisas. Agora já estamos a elaborar um plano de trabalho com mais certeza daquilo que estamos a fazer, o que não acontecia antes», disse Carlos Vieira.

Os técnicos portugueses identificaram um problema no sistema da chaminé de recuperação de valores que se encontra to-talmente danificada devido ao tempo que ficou sem funcionar, sendo a sua recupe-ração bastante complexa morosa e dispen-diosa. Trata-se de uma chaminé preparada para o reaproveitamento da energia para dentro do forno. Portanto, a energia sai e depois retorna para dar mais intensidade

ao calor. Outro constrangimento com que os técni-

cos da fábrica se deparam diz respeito à ca-nalização da água, uma vez que os tubos se encontram corroídos pelo tempo e fora dos padrões usados actualmente, carecendo de modernização. Para tal, são necessárias 16 bombas de água e 1.150 metros de tubos para conduzir a água até aos fornos.

Já na parte eléctrica, ponto crucial e in-dispensável ao fabrico de vidro, o proble-ma é ainda maior pois os diversos postes de transformação existentes na fábrica foram vandalizados por pessoas com a intenção expressa de vender o material eléctrico.

A fábrica possui vários postes de transfor-mação divididos pelos sectores da mesma, tendo os técnicos enfrentado dificuldades para identificar a que sector pertencia cada um deles. Graças à colaboração dos anti-gos trabalhadores da Vidreira de Moçam-bique que ao verem a movimentação dos novos patronos da fábrica se prontificaram a ajudar, foi possível identificar a chave do

REGIÕES MATOLA22

Vidreira de Moçambique:Revitalização de “olhoatento” no mercado

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Arsénia Sithoye [entrevista] Helga Nunes [fotos]

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23REGIÕES MATOLA

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problema e o ponto de partida para a sua resolução.

De acordo com Carlos Vieira, já se entrou em contacto com a Electricidade de Mo-çambique (EDM) no sentido de se repor a luz eléctrica cortada aquando da inac-tividade da fábrica. No entanto, segundo palavras daquele representante, a EDM até agora ainda não respondeu ao pedido e não dá nenhuma razão plausível para tal: «A electricidade não nos liga a luz e não sabemos por que razão. E sem luz isto não pode andar e há coisas que já deviam ter sido feitas mas não foram por falta de luz. O apoio neste sector da energia infe-lizmente não tem sido no nível favorável para nós, pelo contrário, não há vontade de apoiar como devia haver».

Por outro lado, existe o problema do forno que para além de carecer de uma reabilitação, tem a duração máxima de mais seis anos, findos os quais terá de ser substituído. Portando, a esperança é que efectivamente a fábrica consiga trabalhar e rentabilizar de modo a adquirir-se um novo forno.

Previsões possíveis

A Sonil está, neste momento, a estudar a possibilidade de contratar uma empresa sul-africana no sentido de pôr cobro a essa situação. «Neste momento, estamos a fa-zer uma análise para ver se conseguimos fazer a reparação através de uma empre-sa técnica da África do sul, que já nos está a dar apoio nesse sentido, pois creio que neste momento é o mais viável. Vamos ver se eles conseguem porque até os tubos usados na máquina são de um aço muito especial que têm de suportar 800 graus e o forno trabalha a 1.400 graus e não pode ser qualquer aço para evitar dilatações ou outras situações», revelou aquele respon-sável.

A empresa poderá fazer uma reformula-ção no seu sistema de fabrico, que consiste em substituir o gás normal pelo gás natu-ral produzido em Moçambique. Segundo Carlos Vieira, esta reformulação é onerosa mas poderá ser compensadora na medida em que irá reduzir custos de energia eléc-trica, pois antes da sua paralisação há dez anos, a empresa despendia cerca de 100 mil dólares de energia por mês, o represen-taria cerca de 130 mil dólares em termos de custos actuais.

O fabrico do vidro irá iniciar com três linhas de produção, sendo duas vocacio-nadas para garrafas e outra para uma área inovadora (a de produção de pratos, cin-zeiros e blocos de vidro para construção) após a adaptação de uma máquina ainda por adquirir. E esta será uma das grandes apostas da fábrica, através da qual nasce a esperança de ter mercado para exportação, pois com a paralisação, a fábrica perdeu o mercado para outros países da Região.

Antigamente, a vidreira abastecia uma considerável parte da África Austral. Com

a sua paralisação, todas as vidreiras da Re-gião com capacidade de produção de cerca de 70 toneladas por dia duplicaram a pro-dução face às exigências do mercado.

Mas paira uma dúvida no ar: «Agora que vamos reaparecer, será que o mercado vai suportar as 125 toneladas que iremos fabricar por dia? É lógico que as empresas nacionais poder-nos-ão nos dar preferên-cia no caso da Cervejas de Moçambique (CDM), da Coca-Cola, da Pepsi e outras pequenas indústrias de engarrafamento de bebidas tradicionais», refere Vieira, sem esconder contudo um certo receio.

Não obstante a Sonil, além dos potenciais clientes acima mencionados, conta com o alento proveniente da tendência interna-cional para reduzir o uso de plásticos. O reaparecimento do vidro no uso das em-balagens tem vindo a ser um denominador comum no mercado europeu e espera-se que a tendência se mantenha em África.

No concernente à mão-de-obra, a Sonil pretende recrutar trabalhadores que fi-zeram parte dos quadros da fábrica. Mas subsistem dificuldades a esse nível. «Dos poucos trabalhadores que a fábrica tinha, boa parte deles já estão de reformados, portanto não temos técnicos, temos que formar técnicos com pessoas técnicas, que conheçam o serviço. E é lógico que essa formação não é de hoje para hoje, tem o seu tempo e os seus custos. Por outro lado, ninguém compra uma garrafa de Coca-Cola, de vinho ou de cerveja sem primeiro testar. Quer dizer que temos de produzir com qualidade», rematou Carlos Vieira.

Para dar procedimento aos trabalhos de reabilitação, a empresa aguarda actual-

mente dos técnicos portugueses o relatório que indica as direcções a serem tomadas e só partir daí é que se poderá ter uma ideia dos custos reais do empreendimento.c

Carlos Vieira

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O rastreamento de produtos agrícolas é um novo requisito do comércio internacional e exis-te uma falta global de analistas experientes, especializados no acompanhamento da cadeia de fornecimento de produtos agrícolas. Para além disso, novos modelos como a Parceria Global para as Boas Práticas Agrícolas (GlobalGap) e o Sistema de Análise de Perigos e Con-trolo de Pontos Críticos (HACCP -Hazard Analysis CriticalControl Point System) estão ainda em evolução, o que dificulta o desenvolvimento de uma aplicação informatizada.

As aplicações e-goverment devem igual-mente transformar o processo das autori-zações alfandegárias, uma área de impor-tância crucial em África. A União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América estão prestes a avançar para um comércio sem quaisquer papéis e todas as exportações da UE terão de estar de acordo com a respecti-va legislação, até Julho de 2009. Os impor-tadores da UE trabalharão sem papéis em Janeiro de 2011, o que poderá aumentar as barreiras comerciais não-tarifárias aplica-das aos produtos africanos, sublinhando a necessidade dos países de África acelera-rem a sua conversão ao comércio electró-nico (e-trade).

O comércio electrónico está presente em todo o processo de importação-exportação, desde que um produto é adquirido e envia-do, até ao momento em que é pago e re-cebido. Existem, no entanto, outros proce-dimentos e regulamentos alfandegários a cumprir. Uma transacção comercial envol-ve normalmente entre 27 a 30 interessados e 40 documentos para a exportação, 90 por cento dos quais são actualmente feitos em papel. Para além disso, em cada transacção são necessários 200 dados informativos, 30 dos quais são repetidos pelo menos 30 vezes, implicando reescrever 60 a 70 por cento dos dados pelo menos uma vez. Consequentemente, 10 por cento do valor de todos os bens exportados por via ma-rítima, em 2008 no mundo, foi gasto em custos administrativos, estimados em 550 mil milhões de dólares norte-americanos. Para reduzir estes custos, existem diversas iniciativas que promovem o comércio elec-trónico, como, por exemplo, os Documen-tos Electrónicos das Nações Unidas (UNe-Docs), os Programas Comunitários Fiscais e Alfândegas 2013, a CBP – Alfândega e Protecção das Fronteiras Norte America-nas e a Adopção de Comércio sem papéis no Canadá e na Austrália. Estas iniciativas promovem o desenvolvimento de um en-quadramento comum, onde todos os dados estão disponíveis e podem ser visualizados segundo indicação do agente regulador.

O comércio sem papel em África poderá diminuir o tempo e os custos das trocas co-merciais.

Enquanto a Ásia do Sul é a pior região em termos do número de documentos nas actividades de importação-exportação, a África Subsaariana lidera em termos do tempo e do custo das importações e expor-tações. Estes custos são o dobro dos pra-ticados nos países da OCDE, da América Latina e do Norte de África. Nesta região, as importações e exportações necessitam em média de 35.25 dias e custam cerca de 1.881 dólares por contentor.

Estes fardos no comércio subsaariano sublinham os potenciais benefícios do de-senvolvimento de inovações transfrontei-riças. Existem, contudo, dúvidas sobre até que ponto as PME poderão beneficiar do e-trade. De acordo com um estudo recen-temente realizado pela UNECA, as peque-nas e médias empresas no Quénia, Egipto, África do Sul, Gana, Senegal e Etiópia têm diferentes níveis de “adaptabilidade elec-trónica” (e-readiness) e por isso a sua ca-pacidade de integração em actividades de e-trade está comprometida.

Outra questão refere-se às exigências sanitárias dos países importadores para evitar o alastramento de doenças. Os re-gulamentos internacionais de segurança e higiene alimentar obrigam a que todos os alimentos sejam seguidos desde a sua origem. Os sistemas de acompanhamen-to Radio Frequency identification (RFID) estão a ser utilizados em África de modo a cumprir estes regulamentos. No Botsuana, existe um dos maiores sistemas do mundo de acompanhamento, monitorização e ges-tão de gado, que engloba todas as vacas do país - 3 milhões em 2008. Este sistema de Identificação e Localização de Gado (LITS) dispõe de uma base de dados sobre a pro-dução, processamento e venda de carne. Apesar de este projecto ter sido elaborado para cumprir os regulamentos da UE, per-mite igualmente aos produtores de gado optimizarem os sistemas de alimentação e cumprirem os relatórios exigidos pelas au-

toridades de saúde. Na Namíbia, as auto-ridades locais estão a intensificar a utiliza-ção do RFID para controlar todas as vacas do país. No Quénia, um programa piloto baseado no RFID está a ser desenvolvido também para vacas. Na África do Sul, os criadores de ovelhas e avestruzes utilizam sistemas de RFID.

O rastreamento de produtos agrícolas é um novo requisito do comércio internacio-nal e existe uma falta global de analistas experientes, especializados no acompa-nhamento da cadeia de fornecimento de produtos agrícolas. Para além disso, no-vos modelos como a Parceria Global para as Boas Práticas Agrícolas (GlobalGap) e o Sistema de Análise de Perigos e Con-trolo de Pontos Críticos (HACCP -Hazard Analysis CriticalControl Point System) estão ainda em evolução, o que dificulta o desenvolvimento de uma aplicação in-formatizada. O acompanhamento tem, igualmente, de considerar as necessidades de diferentes departamentos do governo e de empresas privadas, aumentando os cus-tos dos negócios. A experiência do Quénia demonstra que o custo da certificação e do cumprimento de outros regulamentos leva à desistência dos pequenos negociantes. Websites comunitários geridos no Quénia e no Senegal mostram que os custos de certificação podem ser significativamente reduzidos.

Um exemplo de sucesso de certificação comunitária é a plataforma web Fresh Food Trace da empresa de exportação de mangas FRUILEMAGIE do Mali, criada em Fevereiro de 2008, em conjunto com a Manobi e a IICD. Esta plataforma ajuda os exportadores de manga do Mali a melhora-rem o acompanhamento dos seus produtos e a cumprirem os padrões de certificação definidos pelo Global Gap. Os agricultores podem utilizar os telemóveis para trans-mitirem informações das suas actividades, sendo estas integradas num sistema a que os compradores têm acesso.c

Reformas electrónicaspara o e-trade são necessárias

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SECTOR TECNOLOGIAS24

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25SECTOR TECNOLOGIAS

TIC combatem barreiras comerciais Norte-Sul

«... no Senegal, a empresa local de TIC Gainde 2000 desenvolveu o ORBUS, uma solução electrónica de janela única baseada na tecnologia da Microsoft, que facilita as formalidades de pré-certificação ligando várias agências governamentais, bancos, importadores e exportadores, ao colocar em funcionamento, desde o início, as melhores infraestruturas disponíveis. O Senegal tem conseguido disponibilizar uma plataforma alfandegária sem papel, e segura, permitindo ao país comercializar de forma mais eficaz com o resto do mundo.»

As Tecnologias de Comuni-cação e Informação (TIC) permitem às populações e organizações trabalharem melhor à distância, coorde-

narem-se de forma mais próxima e reuni-rem diversas fontes de informação numa plataforma comum. Estas vantagens são cada vez mais relevantes para simplifica-rem os complexos procedimentos do co-mércio internacional.

Ao longo dos últimos 10 anos, os países em desenvolvimento tornaram-se mais activos no comércio internacional. África transaccionou 424 mil milhões de USD em 2007 – um aumento de 16 por cento re-lativamente a 2006 – assumindo-se como uma significativa fonte de rendimento e de crescimento económico para o continente. A Microsoft acredita que, encorajando um maior acesso à tecnologia nos países em desenvolvimento, são criadas oportunida-des para facilitar o comércio, incorporar boas práticas e ultrapassar as barreiras Norte/Sul.

Por exemplo no Senegal, a empresa local de TIC Gainde 2000 desenvolveu o OR-BUS, uma solução electrónica de janela

única baseada na tecnologia da Microsoft, que facilita as formalidades de pré-certi-ficação ligando várias agências governa-mentais, bancos, importadores e expor-tadores, ao colocar em funcionamento, desde o início, as melhores infraestruturas disponíveis. O Senegal tem conseguido disponibilizar uma plataforma alfandegá-ria sem papel, e segura, permitindo ao país comercializar de forma mais eficaz com o resto do mundo. Esta solução está também a ser implementada no Quénia.

Outro parceiro da Microsoft, a Trade Facilitate, desenvolveu uma plataforma electrónica que actualiza os sistemas al-fandegários existentes, desde o Sistema Automatizado de Informações Alfandegá-rias (ASYCUDA - Automated System for Customs Data) implementado pela UNC-TAD nos anos 70, às referências tecnoló-gicas mais actuais para o comércio sem papel – impulsionando melhorias gradu-ais nas infraestruturas. Esta plataforma tem sido dirigida especificamente para as pequenas e médias empresas (PME) dos países em desenvolvimento na África, América Latina e Sudeste Asiático, para que possam beneficiar das últimas tecno-

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SECTOR TECNOLOGIAS26

logias e cumprir as exigências do comércio sem papel criadas pelos Estados Unidos e União Europeia.

Um programa africano e da APEC foi im-plementado em 2009, em conjunto com o Grupo CP3 da União Europeia para o comércio electrónico Import/Export das PME, com um projecto-piloto inicial lan-çado em Abril de 2008 para exportado-res da Etiópia. O Grupo CP3 estima que o tempo entre a transmissão inicial de dados por parte de um exportador e a recepção da permissão para exportar passe a me-dir-se em minutos (em vez dos actuais 30 dias), através da utilização da plataforma da TradeFacilitate. O Grupo CP3 alertou-que as exportações da Etiópia, no valor de 923 milhões de USD, poderão estar em risco em 2011 e que 400 empresas expor-tadoras iriam beneficiar do acesso a este projecto, até Julho de 2009.Outros países

que se encontraram a discutir a utilização desta plataforma são Taiwan, o Vietname e a Tailândia.

À medida que as capacidades tecnológi-cas se desenvolvem ao nível global, sur-gem com cada vez mais frequência apli-cações inovadoras de base local, com o objectivo de enfrentar as necessidades es-pecíficas dos países em desenvolvimento, beneficiando-os directamente e permitin-do ao Norte aprender através do Sul.

No Quénia, a Virtual City Ltd, um par-ceiro da Microsoft, criou uma nova forma de acompanhamento através de Identi-ficação por Frequência de Rádio (RFID), com o objectivo de ajudar os criadores de gado do Quénia a terem informações so-bre o historial médico e a localização de cada uma das vacas destinadas ao mer-cado de exportação. Através da inserção, com um baixo custo, de um dispositivo de

acompanhamento no estômago das vacas e da digitalização de dados relevantes, os criadores de gado no Quénia conseguem agora cumprir os regulamentos de acom-panhamento de alimentos da UE, reabrin-do assim um mercado que anteriormente estava fechado. Este sistema pode ser fa-cilmente adaptado a outros países.

À medida que os sistemas de comércio global se modificam, os maiores parceiros comerciais (EUA e UE) estão a impor con-dições cada vez mais rigorosas nas suas importações.

A tecnologia ajudará os países em desen-volvimento a cumprirem estas condições, assegurando o seu acesso contínuo aos mercados e mantendo a sua capacidade competitiva a longo prazo.c

Fonte: Frank McCosker, Director de Gestão,Global Strategic Accounts, Microsoft.

«No Quénia, a Virtual City Ltd, um parceiro da Microsoft, criou uma nova forma de acompanhamento através de Identificação por Frequência de Rádio (RFID), com o objectivo de ajudar os criadores de gado do Quénia a terem informações sobre o historial médico e a localização de cada uma das vacas destinadas ao mercado de exportação. Através da inserção, com um baixo custo, de um dispositivo de acompanhamento no estômago das vacas e da digitalização de dados relevantes, os criadores de gado no Quénia conseguem agora cumprir os regulamentos de acompanhamento de alimentos da UE»

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NEGÓCIOS DOING BUSINESS 201028

No último ano, 27 econo-mias da África Subsariana implementaram 49 reformas do quadro regulador com vista a melhorar o ambiente de negó-cios. Esta é uma afirmação de Doing Business 2011: Making a Difference for Entrepre-neurs, o oitavo de uma série de relatórios anuais publicados pelo Banco Mundial e pelo IFC (Corporação Financeira Interna-cional), umas das instituições que compõem o Grupo Banco Mundial.

«Estou impressionado com o impul-so reformador no continente e apraz-nos particularmente saber que Moçam-bique figura entre os países que estão a melhorar o seu ambiente de negócios», referiu Young Chul Kim, economista prin-cipal do Banco Mundial em Moçambique e representante residente interino.

«A posição de Moçambique melhorou 4 pontos, passando da posição 130 para a posição 126 no ranking global das 183 eco-nomias inquiridas. O Relatório denota no entanto a necessidade de esforços adicio-nais em Moçambique, em particular nas áreas de facilitação do comércio (trade facilitation) e do licenciamento. Estes es-forços adicionais são importantes para in-centivar o investimento privado que criaria mais postos de trabalho e contribuiria para a redução da pobreza».

Moçambique figura no 8.º lugar entre os países da SADC, à frente da Tanzânia (128); Malawi (133); Lesotho (138); Zim-babwe (157); Angola (163) e República

D e m o c r á -tica do Congo

(175). Três economias da região (Ruan-da, Cabo Verde e Zâmbia) estão en-tre o top 10 mun-

dial com três refor-mas cada em matéria de

melhoria na facilidade de negócios no último

ano, com base no número e impacto das alterações às

regulações de negócios para as firmas locais, implementadas entre

Junho de 2009 e Maio de 2010. Em consequência, Ruanda subiu 12 luga-

res nos rankings globais agregados, Cabo Verde 10 lugares e a Zâmbia 8, sendo este último o mais reformador na SADC. A ní-vel mundial, o Gana liderou as melhorias reguladoras com vista a facilitar a obtenção de crédito, enquanto o Malawi comandou na área de melhoria na execução de con-tratos.

De notar que das 30 economias mundiais que mais modernizaram as regulações du-rante os últimos cinco anos, um terço está concentrado na África Subsariana: Burki-na Faso, Gana, Madagáscar, Mali, Ilhas Maurício, Moçambique, Nigéria, Ruanda, Senegal e Serra Leoa.

Por exemplo, a partir de 2005 Ruan-da executou 22 reformas da regulação de negócios nas áreas medidas pelo Doing Business. Em 2005, para se começar um negócio no Ruanda eram necessários nove

Moçambiqueregista ligeira melhoriaRuanda, Cabo Verde, Zâmbia entre os Líderes Globais dos países que mais aperfeiçoaram a regulação para os Negócios.

revista capital dezembro 2010

procedimentos e custava 223% do rendi-mento per capita. Actualmente, os empre-sários podem registar um novo negócio com dois procedimentos que demoram apenas três dias (13 dias em Moçambique), pagando taxas oficiais que totalizam 8,9% do rendimento per capita.

O relatório Doing Business analisa as re-gulações que se aplicam aos negócios de uma economia durante o seu ciclo de vida, incluindo abertura de empresas, comércio internacional, pagamento de impostos e encerramento de um negócio.

O Doing Business não mede todos os as-pectos do ambiente de negócios relevantes para as empresas e os investidores. Por exemplo, não mede a segurança, estabili-dade macroeconómica, corrupção, nível de qualificações ou a solidez dos sistemas financeiros. As suas constatações estimula-ram debates sobre políticas em mais de 80 economias e propiciaram uma crescente investigação quanto ao modo como a re-gulação empresarial se encontra associada aos resultados económicos nas diversas economias.c

«O Relatório denota no entanto a necessidade de esforços adicionais em Moçambique, em particular nas áreas de facilitação do comércio (trade facilitation) e do licenciamento. Estes esforços adicionais são importantes para incentivar o investimento privado que criaria mais postos de trabalho e contribuiria para a redução da pobreza».

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dezembro 2010 revista capital

29INVESTIMENTO

A Sociedade portuguesa para o Financia-mento do Desenvolvimento (SOFID) re-alizou um fórum empresarial em Maputo para apresentar o InvestimoZ, um novo mecanismo de apoio ao investimento em Moçambique.

A SOFID é uma instituição financeira de desenvolvimento responsável por financiar e apoiar empresas portuguesas e seus par-ceiros em projectos de investimento sus-tentáveis em países emergentes e em vias de desenvolvimento.

O presidente executivo da SOFID, Diogo Gomes de Araújo, disse que o objectivo do fórum é dar a conhecer as empresas luso-moçambicanas as oportunidades que a ins-tituição oferece em termos de condições fi-nanciamento de projectos para pequenas e médias empresas e grandes empresas que tenham um impacto no desenvolvimento e transfiram valor à economia moçambi-cana.

O fundo português de apoio ao investi-mento em Moçambique (Investimoz), no valor de 94 milhões de euros, destina-se a participações de capital nas empresas mo-çambicanas, estando disponível para este ano 10% desse valor. O fundo será utili-zando por um período de 15 anos e a cada empresa será atribuído o montante de 2,5

milhões de euros. «O fundo é generalista e abrange todos

os sectores de actividade, nomeadamente o agro-industrial, o industrial, de infra-estruturas, turismo, mas tem um grande enfoque e esperamos que venha a ter uma grande utilização a nível das energias re-nováveis», argumentou Diogo Gomes de Araújo.

Segundo aquele representante, poderão beneficiar do fundo projectos económica e financeiramente viáveis. «Entendemos que só com projectos desta natureza e com o envolvimento do sector privado é que po-deremos fazer com que, de facto, o fundo cresça e continue assim a ajudar as peque-nas e médias empresas moçambicanas».

De recordar que este fundo foi anunciado aquando da visita a Moçambique do pri-meiro-ministro português, José Sócrates. Trata-se de uma contrapartida da reversão da Hidroeléctrica de Cahora Bassa e será financiado, na totalidade, pela Direcção Geral do Tesouro e das Finanças. Por outro lado, Portugal espera aumentar a sua linha de crédito de 400 milhões de euros para in-vestimento em Moçambique em mais 300 milhões de euros, segundo o secretário de Estado do Tesouro português, Carlos Costa Pina, que esteve presente no fórum empre-

sarial.De acordo com aquele governante luso,

no âmbito da linha de crédito concessional foram aprovados até agora financiamentos de projectos envolvendo equipamentos de transporte, relativos à rede eléctrica e viá-ria, com um nível de execução de 60%, sen-do cerca de 95% os projectos autorizados.

Carlos Costa Pina garantiu que o retorno do fundo será para reinvestir em Moçam-bique e não para transferir para Portugal, pelo que deve ser usado em projectos eco-nómica e financeiramente sólidos.

Portugal criou com Moçambique um Banco de Desenvolvimento com uma linha de crédito de 400 milhões de euros e outra adicional de 300 milhões, para financiar mais de 800 quilómetros de estradas, e criou o fundo de investimento de 94 mi-lhões de euros, totalizando cerca de 800 milhões de euros, um valor que Portugal disponibiliza a Moçambique.c

SOFID financia empresas luso-moçambicanasArsénia Sithoye [texto]

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revista capital dezembro 2010

30 ENTREVISTA

«O casamento perfeito» entre Portugal e MoçambiqueDaniel David, presidente da Câmara do Comércio Moçambique-Portugal, considera que o casamento entre Portugal e Moçambique é perfeito e mos-tra-se agradado pelo facto de os empresários lusos pretenderem investir na base produtiva moçambicana. E muito embora o ambiente de negócios no que diz respeito ao comércio internacional ser caracterizado por trocas desiguais e barreiras administrativas, o facto de Moçambique ser uma boa porta de entrada para a SADC pode vir a constituir uma clara vantagem para Portugal.

Helga Nunes [entrevista] Luís Muianga [fotos]

Se por um lado, Portugal procura inves-tir no mercado moçambicano, Moçambi-que procura ser uma boa porta de entra-da em termos de comércio para a África Austral. Poderá este vir a ser um bom casamento?

Acredito perfeitamente que sim. Aliás, é por estar claro nisso que eu e outros mem-bros fundadores mobilizamo-nos para constituir a Câmara de Comércio Moçam-bique Portugal.

Apesar de existirem outros países oci-dentais interessados em investir em Áfri-ca, Moçambique não é o único destino deste continente, mas a relação histórico-cultural, a língua e similaridade do regime jurídico-administrativo, a estratégia da internacionalização portuguesa orientada para parcerias locais, o modelo diversifica-do e sustentado de desenvolvimento eco-nómico em implementação e a localização estratégica de Moçambique na região, aliados à manifesta vontade política entre os dois países, são ingredientes perfeitos para que esse casamento não seja mais um, e sim o casamento perfeito!

A presença de Portugal bateu o recorde e todas as expectativas, com a presença de 95 empresas na FACIM 2010. O que esperam os empresários portugueses comercializar no País e o que procuram importar?

Esta é uma pergunta que tenho algum re-ceio em responder, dado a grande proba-bilidade de dar uma resposta falaciosa, na medida em que não tive contacto individu-alizado com uma amostra representativa.

Contudo, foi com enorme satisfação que pude apurar que os interesses destas empresas não se limitavam às áreas de suporte e desenvolvimento como servi-ços de gestão e financeiros, tecnologias e sistemas de informação, transporte e co-mércio, indo à agricultura, agro-processa-mento, manufacturação e transformação. Ou seja, percebi que existe interesse de in-vestimento na base produtiva, o que gera uma expectativa positiva sobre a evolução do emprego e produção no País.

Outra realidade que me pareceu clari-vidente é a preferência pela exportação como a primeira etapa na internacionali-zação das empresas portuguesas para Mo-çambique, daí que a maioria dos presentes que tive o privilégio de contactar, procu-ravam potenciais importadores, represen-tantes e parceiros em Moçambique. Acho que o actual estágio de estagnação/reces-são na economia ocidental, assombrada por uma produção e consumo comprome-tidas pelo envelhecimento populacional e benefícios sociais muito além do sustentá-vel, explica essa orientação, e nós temos é que aproveitar esse facto para melhorar a nossa capacidade produtiva, incentivando o investimento, e desta forma tornarmo-nos auto-sustentáveis, e aí sim, ter a ex-portação como prioridade.

Existe um bom ambiente de negócios no que diz respeito ao comércio inter-nacional? O que tem feito Moçambique para eliminar os constrangimentos buro-cráticos, alfandegários, e que vantagens concretas tem concedido aos empresá-

rios?Não sei se o ambiente de negócios no que

diz respeito ao comércio internacional é tão bom assim, uma vez que ainda persis-tem as trocas desiguais e barreiras admi-nistrativas, como subsídio à agricultura no Ocidente.

Mas é verdade que tem havido avanços e Moçambique tem dado respostas satisfa-tórias na eliminação de barreiras ao inves-timento e a expectativa é que estas sejam mais céleres nos próximos anos. Isto é um facto, e para concretizar, basta olhar para a actual facilidade na criação de unidades empresárias, quer no que se refere aos procedimentos necessários, quer no tem-po estimado para tal criação, quer ainda na disponibilidade de informação.

Os incentivos fiscais e sobretudo a cria-ção das zonas económicas especiais e da Zona Franca Industrial, como Nacala e Beluluane respectivamente, são outras evidências da grande vontade em facilitar a vida dos empresários em Moçambique.

O Govermo moçambicano criou recen-temente o Imposto Simplificado para Pe-quenos Contribuintes – ISPC, como forma de reduzir a burocracia nos trâmites legais para a criação de pequenas empresas e in-centivos a pequenos empreendedores. Em termos de barreiras aduaneiras, existe a chamada Zona de Livre Comércio (ZLC), que é uma área formada por dois ou mais países que de forma imediata ou gradual procedem à abolição de direitos aduanei-ros, e de restrições quantitativas de mer-cadorias, nomeadamente: África do Sul, Botswana, Lesotho, Malawi, Maurícias,

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«O que quero pontuar é que nenhum processo de desenvolvimento pode ter sucesso se estiver baseado em variáveis exógenas que não podemos gerir e nem mesmo condicionar. A União Monetária significa uma aparente facilitação ao comércio na Região que passaria a ter um meio de troca comum. Mas na verdade é muito mais do que isso».

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«O casamento perfeito» entre Portugal e Moçambique

DANIEL DAVID, PRESIDENTE DA CÂMARA DO COMÉRCIO MOÇAMBIQUE-PORTUGAL 31

Namíbia, Suazilândia, Zâmbia, Tanzânia, Zimbabwe, Madagáscar e Moçambique.

Em 2008, foi dado início na SADC a in-tenção de promover entre os seus mem-bros uma zona de Comércio Livre. En-contra-se previsto para 2011 o início da União Aduaneira, e em 2015 começará o Mercado Comum. Por fim, em 2016, pre-vê-se o início da União Monetária. Acha que Moçambique poderá acompanhar esse ritmo?

Moçambique já deu provas que é capaz de levar a bom porto navios aparentemente fragilizados e com rotas e destinos verda-deiramente complicados, como o processo de paz ou a implementação dos programas de reabilitação económica.

Mas nesse caso, acho que devemos se-guir o nosso próprio ritmo, embora cientes do enquadramento regional. O que quero pontuar é que nenhum processo de de-senvolvimento pode ter sucesso se estiver baseado em variáveis exógenas que não podemos gerir e nem mesmo condicionar. A União Monetária significa uma aparente facilitação ao comércio na Região que pas-saria a ter um meio de troca comum. Mas na verdade é muito mais do que isso. Signi-fica que os países passariam a ter uma úni-ca autoridade monetária e, consequente-mente, as políticas monetárias adoptadas seriam únicas para todos. E é aqui onde está o problema, porque a política mone-tária afecta o investimento e o emprego ge-ralmente de forma concorrente. E porque as economias da região são heterogéneas, quer pelas suas estruturas quer pelos seus tamanhos, existe um enorme potencial de benefícios desiguais.

É fundamental que o ritmo moçambica-no seja consistente com o actual estágio da economia nacional.

Portugal é o único país da CPLP que está

integrado na União Europeia, e que pode servir a Moçambique como porta de en-trada para a Europa. Em termos estraté-gicos, o que pensa a Câmara de Comércio

Moçambique Portugal (CCMP) fazer para aproveitar esse facto?

A CCMP foi criada para facilitar a relação entre os investidores e as instituições dos dois países e com isso promover o investi-mento que seja benéfico para as partes en-volvidas. A CCMP está ciente que as duas economias estão orientadas para a iniciati-va privada e, por isso, pretende apenas as-sumir o papel de facilitador de contactos. Exemplo disso, é que no dia 28 de Outubro a CMCM, em parceria com a Associação Industrial Portuguesa (AIP), promoveu um seminário em Lisboa com o objectivo de apresentar Moçambique como porta de entrada na SADC, numa organização de “O País Económico”, de Moçambique, e do Di-ário Económico, de Portugal.c

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revista capital dezembro 2010

32 INTERVIEW

«The perfect marriage» between Portugal and Mozambique

Daniel David, president of the Chamber of Commerce Mozambique-Por-tugal, believes that the marriage between Portugal and Mozambique is perfect and is pleased that the Portuguese businessmen are interested in investing in the Mozambican productive base. Regardless of the fact that the international business environment is characterized by unfair trade and administrative barriers, the fact that Mozambique is a good gateway to SADC may come as an advantage for Portugal.

Helga Nunes [interview] Luís Muianga [photos]

If on the on hand, Portugal is interested in investing in the Mozambican market, Mozambique is defining itself as a good gateway to Southern Africa. Could this be a good marriage?

I truly believe so. As a matter of fact, it is because i have no doubt about it that I and the other founding members got together and created the Chamber of Commerce Mozambique Portugal.

Despite the fact that there are other Wes-tern countries interested in investing in Africa, Mozambique is not the only desti-nation of the continent, but the historical-cultural relationship, the language and the similarities in the administrative-judiciary system, the strategy of the Portuguese in-ternationalization which is oriented to lo-cal partnerships, the implemented econo-mic development variation model and the

strategic location of Mozambique in the region, together with the political willing-ness between the two countries, are the perfect ingredients for this not to be just another marriage but the perfect marria-ge.

The Portuguese presence hit the record and exceeded all expectations, with 95 companies present at FACIM 2010. What

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dezembro 2010 revista capital

«The perfect marriage» between Portugal and Mozambique

DANIEL DAVID, PRESIDENT, CHAMBER OF COMMERCE MOZAMBIQUE-PORTUGAL 33

do the Portuguese businessmen expect to commercialize and what do they want to import?

This is a question that i am a bit afraid of answering, because the odds of me gi-ving a misleading answer are big, giving the fact that i did not have individualized contact with a representative sample.

Nevertheless, it was with great satis-faction that i found out that the interests of these companies´ where not limited to the development and support sectors such as financial and management servi-ces, technology and information systems, transport and commerce but also agricul-ture, agro-processing, manufacturing and transformation. I realized that there is in-terest in investing in the productive base, which generates positive expectations on the evolution of jobs and production in the country.

Another reality that seemed prudent is the preference for exportation as the first stage in the internationalization of the Portuguese companies to Mozambique, and most of the people that i contacted, were looking for potential importers, re-presentatives and partners in Mozambi-que. I believe that the current stagnation/recession stage in the western economy, shadowed by production and consumption compromised by the aging of the popula-tion and social benefits far from sustaina-ble, explains this orientation, and we must take advantage of that fact to improve our productive capacity, by stimulating invest-ment and in this manner we will become auto-sustainable, and then have exporta-tion as a priority.

Is there a good business environment in terms of international commerce? What is Mozambique doing to mitigate bure-aucratic constraints, customs, and what real advantages are businessmen being given?

I am not sure if the business environment concerning international commerce is that good, since up to now unfair trade and ad-ministrative barriers are still a reality, as a subsidy for agriculture in the West.

It is true that there have been advances and Mozambique has been giving satis-factory responses in terms of mitigating investment barriers and we expect them to be swift in the coming years. This is a fact, and to make it a reality one just has to look at how easy it is to create business units, both in terms of necessary procedures, and estimated time for its creation, and

availability of information. Fiscal incentives and the creation of spe-

cial economic zones and of the Industrial free zone such as Nacala and Beluluane respectively, are evidences of the great willingness to make the life of business-men easier in Mozambique..

The Mozambican Government recently created the Imposto Simplificado para Pe-quenos Contribuintes – ISPC, as a way of reducing bureaucracy in the legal procee-dings for the creation of small businesses and incentives to small entrepreneurs. In terms of custom barriers, there is what we call Free Commerce Zone (FCZ), which is an area of two or more countries that immediately or gradually abolish trade barriers and quantitative restrictions on goods namely: South Africa, Botswana, Lesotho, Malawi, Mauritius, Namibia, Swaziland, Zambia, Tanzania, Zimbabwe, Madagascar and Mozambique.

In 2008 , SADC started the idea of pro-moting a Free Trade Zone for its mem-bers. The beginning of the Customs Union is scheduled for 2011, and in 2015 the Common Market will commence. And finally in 2016 the Monetary Union will begin. Do you think that Mozambique will be able to follow that rhythm?

Mozambique has proven that it is capa-ble of handling itself well in difficult situ-ations such as the peace process and the economic rehabilitation programs.

But in this case, i believe that we should follow our own rhythm with our regional framework in mind. What I would like to point out is that no development process can be successful if it is based in exogenous variables that cannot be managed nor con-ditioned. The Monetary Union signifies an apparent facilitation of the commerce in the Region which would from now on have a common medium of exchange. But in re-ality it is much more than that. It means that countries would have one monetary authority and, consequently, the moneta-ry policies adopted would be the same for everyone. And here is where the problem lies because monetary policy affects in-vestment and the Job market in a com-petitive manner. And due to the fact that the regions´ economies are heterogeneous both in terms of structure and size, there is great potential for unequal benefits.

It is fundamental that the Mozambican rhythm be consistent with the current sta-ge of national economy.

Portugal is the only CPLP country that is integrated in the European Union, and that can serve Mozambique as a gateway to Europe. In strategic terms, how is the Chamber of Commerce Mozambique Por-tugal thinking of taking advantage of this fact?

The CCMP was created to facilitate the relationship between investors and the institutions of both countries and with that promote a type of investment that benefits the existing parties. CCMP is conscious that both economies are private initiative oriented, and for that fact only pretends to play the part of contacts facilitator. And as an example of that on the 28th of October CMMP in partnership with the Portugue-se Industrial Association (PIA), will pro-mote a seminar in Lisbon with the aim of presenting Mozambique as a gateway to SADC, and the seminar will be organized by “O País Económico”, of Mozambique, and Diário Económico, of Portugal.c

«Mozambique has proven that it is capable of handling itself well in difficult situations such as the peace process and the economic rehabilitation programs. But in this case, i believe that we should follow our own rhythm with our regional framework in mind. What I would like to point out is that no development process can be successful if it is based in exogenous variables that cannot be managed nor conditioned. The Monetary Union signifies an apparent facilitation of the commerce in the Region which would from now on have a common medium of exchange»

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COMÉRCIO BRASIL34

revista capital dezembro 2010

O Brasil pretende desenvolver um maior volume comercial com o continente afri-cano, em particular com Moçambique e Angola. O alcance do objectivo depende de um certo nível de desenvolvimento eco-

Brasil quer maior volume comercial em África

Sérgio Mabombo [texto] . Luís Muianga [foto]

nómico, o qual ambos os países-membros da CPLP possuem boas perspectivas de al-cançar. Segundo o embaixador brasileiro em Moçambique, António José Maria de Sousa Silva, para um país como Moçam-

bique, quanto mais desenvolvido for, mais IRÁcomprar e vender no contexto da sua relação económico-comercial com o Brasil.

António de Sousa Silva sublinhou que o Brasil pretende ganhos mútuos na relação económico-comercial que tece, em particu-lar com Moçambique. O facto irá possibili-tar que Moçambique supere os actuais 2.1 milhões de dólares (conseguidos de Janei-ro a Outubro de 2009) correspondentes às exportações para aquele país sul-america-no.

O intercâmbio comercial entre Moçam-bique e Brasil registou o seu crescimento assinalável no período entre Janeiro e Ou-tubro de 2009, ao atingir 102.5 milhões de dólares norte-americanos contra os 28.4 conseguidos no ano anterior.

Nos dez primeiros meses de 2009, o vo-lume de exportações brasileiras para Mo-çambique atingiu 100.4 milhões de dólares norte-americanos.

Cooperação de vento em pôpa

A recente visita do presidente Lula da Sil-va a Moçambique consubstancia o interes-se brasileiro em acelerar o desenvolvimen-to económico de Moçambique e por esta via potenciar trocas comerciais em maior escala, segundo o embaixador brasileiro.

A visita, que permitiu a assinatura de cinco acordos de cooperação cobrindo as áreas da Saúde, Educação, Agricultura e Habitação compreende a implantação de um centro de tele-saúde, biblioteca e pro-grama de ensino à distância. Por outro lado, a área da agricultura irá conhecer um novo ímpeto com o estabelecimento da co-operação trilateral (Moçambique, Brasil e Japão) visando alavancar o “sector base” da economia moçambicana.

Com o cenário descrito, a aposta brasi-leira em potenciar os seus parceiros de cooperação africanos constitui uma apren-dizagem de lado a lado, na avaliação de An-tónio de Sousa. Nesta óptica, o Brasil tem enviado anualmente delegações empresa-riais a Moçambique e Angola de modo a incrementar cada vez mais a cooperação comercial. Nos dois países, o Brasil dá par-ticular destaque para as áreas de agro-ne-gócios, bebidas, habitação, calçado, defesa, infraestruturas e formação profissional.

Devido à crise económica e financeira internacional as trocas comerciais entre Angola e Brasil caíram 2.8 mil milhões de dólares, em 2009, fixando-se actualmen-te em pouco mais de 1.4 milhões de dóla-

António José Maria, Embaixador do Brasil

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35COMÉRCIO BRASIL

Brasil quer maior volume comercial em Áfricares.

Angola é o maior parceiro comercial do Brasil na África lusofona, com um volume de exportações para aquele país sul ame-ricano a atingir a soma dos 137.7 milhões de dólares. Por sua vez, a linha de crédito brasileiro para Angola já supera a fasquia de mil milhões de dólares.

O impacto do mecanismo reflecte-se, so-bretudo, na afluência das empresas brasi-leiras de construção civil que exploram o mercado angolano. O petróleo angolano é o principal produto que atrai o Brasil, ao passo que o país exporta para o seu parceiro comercial bens alimentares, materiais de construção, camiões e tractores.

O modelo de desenvolvimentoque catapultou o Brasil

Para o alcance do desenvolvimento eco-nómico pretendido, os africanos poderão inspirar-se no próprio modelo de desen-volvimento em curso que catapultou Brasil a fazer parte dos BRIC. Mas, a experiência do Brasil no seio dos BRIC indica que Mo-çambique poderá ter uma autoconfiança económica a partir do momento em que identificar os seus reais problemas e conse-guir resolvê-los com serenidade. «Nada se resolve da noite para o dia», adverte Antó-nio José Maria de Sousa Silva.

Num outro desenvolvimento, o embaixa-dor sublinha que o programa de combate à fome no Brasil foi implementado há cerca de 12 anos, com a inclusão de grandes con-tingentes de populações nos processos de produção e distribuição de renda sobretudo na área da agricultura. «O impacto foi visto-so porque estimulou-se o consumo (até o de lazer, para o caso de turismo) e por sua vez alargou-se o mercado», acrescentou.

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Entretanto, o modelo brasileiro não cons-titui uma fórmula que possa ser aplicada na íntegra por Moçambique, ou qualquer outro país africano, na medida em que os modelos devem ser adequados a cada país. O Brasil conseguiu nos últimos anos acu-mular um capital de recursos que lhe per-mite hoje fazer a actual distribuição. Para o caso de Moçambique muito dificilmente pode acontecer o mesmo enquanto parte do seu orçamento resultar de doações dos países amigos, segundo o embaixador.

Mesmo na actual situação de dependên-cia de ajuda externa, o país poderia até desenvolver programas económicos só-lidos com os parceiros internacionais. As

iniciativas, embora não sejam abrangen-tes como foi para o caso do Brasil, podem constituir o início de um modelo de desen-volvimento local a ser trilhado. O facto ve-rificou-se também na génese da ascensão económica do Brasil, na qual o impacto do programa era ainda menos abrangente.

A ascensão de Dilma Rousseff à presi-dência brasileira representa a continui-dade do plano económico brasileiro para com África, e Moçambique em particular. A nova presidente já agendou a sua pri-meira visita oficial e a mesma será feita a Moçambique, o que consubstancia o com-prometimento brasileiro para com o plano de desenvolvimento económico do País.c

Page 36: Revista Capital 36

RECORTE DE IMPRENSA GOVERNAÇÃO36

revista capital dezembro 2010

Será a primeira mulher Presi-dente da história do Brasil. Dilma Rousseff vai fazer com-panhia à argentina Cristina Fernández e à costa-riquenha

Laura Chinchilla, num mundo até há pou-co tempo reservado aos homens. Tomará posse a 1 de Janeiro, dia em que substituirá Luís Inácio Lula da Silva, que conclui dois mandatos com um elevado grau de popula-ridade (83%-85%). O mesmo aconteceu no Chile com Michelle Bachelet. Saber retirar-se a tempo é uma mais-valia: mais vale que sintam a nossa falta do que fiquem fartos de nós.

Lula é como Nelson Mandela: um ícone, um político que soube passar pelo poder sem perder os seus valores. Dilma não é Lula, mas também representa um símbo-lo: ser mulher e Presidente. A esperança de que, com esforço, se consegue alcançar a meta, numa sociedade – a nossa – que substituiu a liderança baseada no mérito pelo clientelismo e pelo cinzentismo. Dil-ma pode ser amiga de Lula – mas não é cinzenta.

Na sua primeira declaração, comprome-teu-se a manter a política social e a pro-mover a igualdade entre homens e mulhe-res. Quer que a sua imagem como mulher numa posição de topo se estenda à socieda-de, às empresas e às comunidades. É a sua principal tarefa.

O venezuelano Hugo Chavéz foi um dos primeiros a felicitar a vencedora. Já tinha apelado ao voto nela, apesar de estar ainda a tentar aprender a pronunciar o seu ape-lido. Não parece que Dilma Rousseff, uma economista que lutou contra a ditadura e foi torturada pelos seus agentes, siga uma via diferente da via pragmática de Lula, um

O símbolo é ser mulherDilma não é Lula. Mas a nova Presidente brasileira tem ideias clarase um discurso fluido e categórico.

homem que soube acalmar os medos da direita, sem decepcionar a esquerda. Esse caminho foi bom para o Brasil: colocou-o no mapa mundial e reproduziu a sua ima-gem de país simpático e acolhedor. O fu-tebol, o samba, a praia de Copacabana, o esforço colectivo e a própria liderança de Lula foram mais fortes do que a pobreza extrema, a delinquência nas favelas e a corrupção que manchou todos, incluindo o Partido dos Trabalhadores e os Governos de Lula.

Quem é Dilma? Uma mulher forte, que superou uma doença grave (não foi moti-vo central da campanha). Os seus críticos dizem que lhe falta o carisma do seu ante-cessor. A maioria considera-a uma mulher eficiente, boa gestora e recta. Virtudes que faltam a muitos dos homens que chegam a cargos de responsabilidade. Num discur-so, pronunciado em Maio, em Salvador da Baía, mostra várias das suas qualidades. Não é Lula – é verdade, mas tem as ideias claras e um discurso fluido e categórico.c

Ramón lobo . Jornal El País [texto]

«Lula é como Mandela: um ícone. Dilma também representa um símbolo: ser mulher e Presidente»

Page 37: Revista Capital 36

O BCI integrou pela primeira vez a listados nomeados da 10.ª ediçãodos Prémios SAPO.

Foi no passado dia 23 de Novembroque o BCI recebeu o Grande PrémioSapo Moçambique,uma classificação que teve por basea votação dos utilizadoresdo Portal SAPO.mz, pelo reconhecimento da Campanha“O Banco que se preocupa consigo,só podia ser o seu”.

Esta distinção foi recebida em Lisboapelo Dr. Manuel Soares,Director Central do BCI,numa Cerimónia bastante concorridaem que foram igualmente galardoados os anunciantes das melhores campanhas dos Portais SAPO em Angola,Cabo Verde e Portugal.

Consulte a Sala de Imprensa, em:www.bci.co.mz/Institucional/imprensa

O BCI integrou pela primeira vez a lista

dos nomeados da 10.ª edição

dos Prémios SAPO.

A classificação teve por base a votação

dos utilizadores do Portal SAPO.mz,pelo reconhecimento

da Campanha “O Banco que se preocupa consigo,

só podia ser o seu”.

BCI vence Grande PrémioSAPO Moçambique 2010

Page 38: Revista Capital 36

«Desde que tomou as rédeas do mercado moçambicano, a Record vem desenvolvendo uma forma de fazer televisão cujo diferencial assenta numa visão muito ligada à realidade humana local. Os factos são trazidos como realmente são em quase todos os programas. Fernando Teixeira explica que a referida forma de fazer televisão visa fazer um jornalismo social que traga uma realidade não camuflada de maneira a que o telespectador se identifique com os problemas retratados.»

MEDIA RECORD38

revista capital dezembro 2010

Quando em 2009, um grupo de entu-siastas pela televisão pegou na extinta televisão Miramar, na altura segmenta-da, pouco rentável e menos activa, muito poucos sabiam que o facto representaria o nascimento do que é hoje a TV Record: Uma estação televisiva que vem ganhando o mercado a uma velocidade cada vez mais crescente.

Mais surpreendente ainda é a resposta que se obtém dos estrategas da Record, quando questionados sobre os ingre-dientes que fazem o actual sucesso. Os mesmos não apontam nenhuma fórmula

mágica e nem algum tipo de segredo, mas falam de «investimento no pessoal, trazer programas estruturados de forma a res-ponderem a padrões internacionais mas com um cariz moçambicano», segundo Fernando Teixeira Administrador da TV Record.

As revelações feitas poderiam constituir um simples falatório, mas as evidências apontam que a TV Record é actualmente o líder incontestável em termos de audiên-cia televisiva em Moçambique.

Desde que tomou as rédeas do mercado moçambicano, a Record vem desenvolven-

do uma forma de fazer televisão cujo dife-rencial assenta numa visão muito ligada à realidade humana local. Os factos são tra-zidos como realmente são em quase todos os programas. Fernando Teixeira explica que a referida forma de fazer televisão visa fazer um jornalismo social que traga uma realidade não camuflada de maneira a que o telespectador se identifique com os problemas retratados. Nesta perspectiva, a Record “fala o que o telespectador quer falar”, facto que faz daquele canal uma verdadeira voz do povo, segundo constata o administrador do canal.

TV Record: Um mercado televisivo ganho a galope

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39MEDIA RECORD

TV Record: Um mercado televisivo ganho a galope

Por outro lado, o know how brasileiro na área de televisão tem sido assimilado com muito entusiasmo pelos cerca de 95 por cento de profissionais moçambicanos que labutam naquele canal de TV. O entu-siasmo é ainda maior quando se sabe que a direcção de produção acumula uma ex-periência de mais de 20 anos nos maiores canais de televisão a nível mundial.

Mas a rápida ascensão da Record ao mer-cado televisivo, explica-se, por outro lado, segundo Fernando Teixeira, pela grande ambição que caracteriza a sua equipa. Esta possui pouco interesse em importar pro-gramas pouco ligados ao meio moçambi-cano.

Por outro lado, o próprio slogan do ca-nal actualmente defende que a TV Record é uma “TV de Primeira”. Trata-se de um slogan que reflecte a vontade de liderar o mercado moçambicano e de exportar a re-alidade africana de uma forma particular. «Queremos mostrar ao mundo que em África temos qualidade», afirmou o admi-nistrador.

O posicionamento contraria a tendência da maioria dos canais concorrentes que importam cada vez mais os seus progra-mas. O recém terminado programa “Dança dos Artistas” difundido a nível mundial, e que contou com a participação de artis-tas nacionais e estrangeiros, revelou parte das projecções da empresa: A de transpor o mercado televisivo nacional e firmar-se internacionalmente.

À frente nos estudos de audiência

Um recente estudo de mercado, realizado pela empresa Intercampus com enfoque para a audiência televisiva em Moçambi-que veio confirmar que os telespectadores de todas as faixas etárias consomem cada vez mais os programas da Record. No estu-do, referente ao período de Maio a Junho

de 2010, pode verificar-se que a Record comanda a audiência média com cerca de 10.56 por cento em frente aos restantes cinco canais, na maioria dos quais com mais de cinco anos no mercado. No que concerne à audiência máxima, a Record alcançou 49 por cento, uma cifra impul-sionada pelos programas transmitidos aos domingos. O share médio do canal cifrou-se em cerca de 34.80 por cento.

Como que a confirmar o actual momen-to da rápida afirmação no mercado, o ca-nal Record foi recentemente distinguido como a segunda melhor marca no que diz respeito ao sector de comunicação social e como a primeira na categoria de eventos, com a organização do programa Dança dos Artistas, numa iniciativa promovida pelo programa Melhores Marcas de Moçambi-que (MMM).

Entretanto, os prémios verificados não reflectem alguma meta ou talvez o objec-tivo pré-traçado pela actual direcção da Record. Fernando Teixeira explica que o presente ano estava devotado apenas à es-truturação da jovem empresa. «O trabalho que temos vindo a desenvolver, não o fize-mos com o intuito dos prémios», afirma o administrador, que acrescenta que as dis-tinções foram algo que a equipa, aliás, nem esperava.c

«Mas a rápida ascensão da Record ao mercado televisivo, explica-se, por outro lado, segundo Fernando Teixeira, pela ambição grande que caracteriza a sua equipa. Esta possui pouco interesse em importar programas pouco ligados ao meio moçambicano. O próprio slogan da Record defende que actualmente é “Tv de Primeira”. Trata-se de um slogan que reflecte a vontade de exportar a realidade africana e a moçambicana de uma forma particular. “Queremos mostrar ao mundo que em África temos qualidade”»

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COMUNICADO40

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EDM A melhor marcamoçambicana

A EDM tornou-se em 2010 a Melhor Marca de Moçambique no sector da Energia e a terceira melhor marca no Ranking Geral, logo a seguir a duas marcas internacionais, a Nestlé e a Nokia, pelo que passou a ser a melhor marca moçambicana.Estes resultados do Ranking das Melhores Marcas de Moçambique foram anunciados no dia 24 de Setembro de 2010, numa ceri-mónia realizada para o efeito em Maputo. Na altura, foi indicado que a marca EDM conquistou no BPI (Brand Potential Index) Global 81,2 pontos, com 100 por cento de notoriedade e 97 por cento de qualidade de notariedade. A Intercampus, empresa do Grupo GfK, lançou o Ranking das Melhores Marcas de Moçambique, baseado na avaliação da per-cepção dos consumidores moçambicanos. A avaliação de 2010 englobou 20 sectores de actividade, tendo sido avaliadas 174 marcas através de 15.149 entrevistas váli-das a nível nacional em duas fases.

NESTLÉ Melhor marca global

A Nestlé Moçambique foi premiada com o prémio de Melhor Marca Global em Mo-çambique no âmbito do projecto Melhores Marcas de Moçambique desenvolvido pela Intercampus.Foi também distinguida pelo Júri na ca-tegoria de Produtos Alimentares, desta-cando-se entre as 19 marcas concorrentes, sendo que a marca Nestlé foi reconhecida como a melhor dentre as melhores existen-tes em território nacional na categoria de Produtos Alimentares. «Este reconhecimento por parte dos con-sumidores é muito expressivo para a nos-sa marca, uma vez que vem reforçar o conceito da marca Nestlé e a demonstra-ção factual do nosso trabalho», refere o Diogo Victória, director geral da Nestlé em Moçambique.

CENTRO DREAM Laboratório de biologia molecular para a criança é inaugurado

A Primeira Dama, Maria da Luz Guebu-za, e o Fundador da Comunidade de Sant’ Egidio, Andrea Riccardi, inauguraram o la-boratório de biologia molecular do Centro DREAM para a Criança no dia 25 de No-vembro.O Laboratório de Biologia Molecular, que se situa no primeiro andar do Centro DRE-AM para a Criança, na Avenida Eduardo Mondlane nº 279, propriedade da Comu-nidade de Sant’ Egidio, sofreu um violento incêndio no dia 9 de Janeiro. Desta forma, o Centro DREAM irá inaugurar o novo La-boratório de Biologia Molecular. O Labora-tório de Biologia Molecular do Centro para a Criança está destinado ao tratamento do HIV/SIDA, no qual se processam amostras de sangue para a determinação da carga vi-ral e o PCR (o teste para diagnosticar o HIV aos bebés), para além da bioquímica e da contagem de CD4. Actualmente, o Labora-tório processa cerca de 2.500 cargas virais, 1.300 CD4 e 300 PCR por mês.

FDC-VODACOM Em prol do apoioà educaçãonas zonas rurais

A Vodacom Moçambique e a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC) assinaram, a 2 de Dezembro, um acordo de parceria com vista a contribuir para o reforço do programa de apoio à edu-cação nas zonas rurais. A Vodacom Moçambique prontifica-se a disponibilizar o equivalente a 2,8 milhões de meticais para a construção de um blo-co de salas de aulas, bloco administrativo e sanitários numa Escola Primária locali-zada na Vila de Chidenguele, província de Gaza. O acordo, contempla ainda o apetre-chamento das salas com todo o mobiliário necessário para que as crianças tenham acesso ao processo de ensino e aprendiza-gem em condições mais apropriadas.Estas entidades esperam com esta par-ceria poder contribuir por um lado, para que anualmente cerca de 400 crianças tenham acesso à educação e, por outro, dar um novo ímpeto ao processo de ensi-no e aprendizagem na zona rural onde a componente de infraestruturas se assume como fundamental.

PROCREDIT Procredit emite 70 mil cartões de débito em dois anos

O Banco Procredito completou 10 anos de existência em Moçambique e emitiu cerca de 70 mil cartões de débito durante os úl-timos dois anos em que opera no merca-do, um número que encoraja o organismo a alcançar cada vez maiores ambições nos anos que se seguem. No referido período, o Banco obteve um registo de cerca de 2 mil cartões de débito por mês e projecta vir a ter balcões em todas as províncias do país a partir de 2011.O organismo, que já investiu no presen-te ano mais de 40 milhões de meticais na formação de 300 funcionários nas áreas de análise financeira, contabilidade e técnicas de venda, pretende com o presente esforço um crescimento sustentável. Nesse sentido, os investimentos no seio da Procredito não são feitos na perspectiva de curto prazo, segundo o seu Director fi-nanceiro, Zulficar Buramo. Aliás, o Banco projecta a construção do seu edifício sede, num investimento orçado em 5 milhões de dólares provenientes dos cofres do próprio organismo e a inauguração do edifício (que se projecta vir a ser amigo do ambiente) está previsto para 2011.O Procredit considera os resultados finan-ceiros conseguidos durante o exercício laboral de 2010 como positivos, conside-rando o difícil cenário económico que se vive actualmente, nomeadamente a crise financeira e a inflação da economia nacio-nal que, actualmente, oscila entre 13 a 15 por cento e com uma depreciação do meti-cal em relação ao dólar de cerca de 30 por cento. Apesar das dificuldades encontra-das, a larga experiência do banco adoptou um modelo de gestão de menor exposição aos efeitos da crise económica.

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O sector privado moçambicano realizou em Maputo a sua XII Conferência Anual (CASP) com o objectivo de reflectir sobre o desenvolvimento económico de Moçambi-que, identificando os principais constran-gimentos e oportunidades para acelerar o crescimento económico.

O evento teve a presença do Presidente Armando Guebuza, e contou com a parti-cipação de cerca 700 personalidades, entre membros do Governo, académicos e em-presários. A CTA apresentou ao Governo observações sobre as razões que levam as empresas nacionais a continuarem pouco produtivas, tendo solicitado ao Executivo a adopção de medidas que permitam maior eficiência do sector produtivo.

A base do encontro foi um estudo que analisa os custos de transacções em Mo-çambique, em comparação com os países da região da África Austral. O mesmo co-loca Moçambique numa situação delicada relativamente a outros países da SADC, facto que direccionou o debate para a re-dução dos custos de transacção.

Um dos aspectos apontado pelos agentes económicos como agravante para os custos das transacções de exportação e importa-ção tem a ver com os mecanismos de ins-pecção não intrusiva de mercadorias – os scanners pelas suas tarifas elevadas, bem como pela imposição da fiscalização até para mercadorias em trânsito.

A estrutura de custos do sector produti-vo moçambicano é das mais elevadas da região da África Austral e o seu ambiente de negócios tem estado a melhorar de for-ma demasiado lenta, mas ao mesmo tempo com reformas seguras.

O presidente da Confederação das As-sociações Económicas de Moçambique

(CTA), Salimo Abdula, fez uma dissertação subordinada ao tema “Como produzir com eficiência”, onde advertiu que para mudar o cenário actual e estimular a produção e a produtividade do País é necessário que sejam adoptadas reformas ousadas que melhorem o ambiente de negócios, confe-rindo maior confiança, e que estimulem a entrada de capitais e de novos investimen-tos no sector produtivo.

Aquele dirigente frisou ainda que a es-tratégia para o aumento da produção, produtividade e competitividade deve ter em conta as vantagens comparativas e as potencialidades do país com vista ao seu posicionamento nos mercados regional e internacional.

«A promoção da produção e produtivi-dade deve ser orientada para três sectores fundamentais, nomeadamente agro-ne-gócios; indústria e comércio e turismo», disse Salimo Abdula e acrescentou que existem desafios à produção no sector de agro-negócios, «cuja remoção defendemos para permitir a melhoria da produtivida-de das empresas, entre os quais a inde-finição e a falta de clareza de políticas à actividade agro-pecuária; difícil acesso à terra para produção; e elevados custos de produção e transacção».

O sector privado deixou algumas propos-tas para aumentar a produção e a produ-tividade, como a melhoria das políticas de acesso, o uso e o aproveitamento da terra, água, energia eléctrica, combustíveis, se-mentes melhoradas, crédito bancário e mão-de-obra.

Salimo Abdula caracteriza o sector da in-dústria pela extracção e exportação de re-cursos naturais sem acrescentar valor em termos de processamento e produção de

bens manufacturados e que apesar do seu potencial contribui com menos de 15 % do Produto Interno Bruto. Os custos de tran-sacção deste sector estão associados com as inspecções pré-embarque que muitas vezes ultrapassam os 15 dias regulamen-tados, altos custos de importação, atrasos no retorno do IVA, falta de mão-de-obra qualificada, altos custos de energia e inter-rupção no seu fornecimento.

Relativamente ao sector do turismo, o presidente da CTA indicou que apesar do enorme e diversificado potencial existen-te no país, o sector susceptibiliza-se das ineficiências da economia moçambicana, como as demoras nos postos fronteiriços e dificuldades de movimentação de pessoas e bens nas estradas nacionais.

Para o aumento da competitividade do sector turístico, o relatório indica que é necessário o desenvolvimento de infra-estruturas e serviços como estradas, tele-comunicações e Internet, bem como um conjunto de reformas, nomeadamente a simplificação de requisitos para a obtenção do visto, melhoria nos procedimentos de migração particularmente para turistas.

Quanto ao sector comercial, o estudo in-dica que o País operou mudanças no seu sistema de comércio internacional, que incluem a redução dos direitos aduaneiros nas importações, baixando ainda mais a tarifa mínima. Houve melhoramento dos serviços alfandegários e eliminação de ou-tros impostos, contudo, continua elevado o tempo de espera (26 dias) para exportar um contentor e, em media 32 dias para im-portar um contentor. A tabela de Custos do Comércio Internacional mostra a compa-ração das exportações com a África do Sul e outros países da SADC..c

CTA sugere reformaspara aumentar produtividadeArsénia Sithoye [texto]

Comércio internacional Moçambique África do sul Melhor país da SADCPosição Mundial (n=181) 140 147 20 (b)Exportação Custos S/contentor 1.200 1.445 725 (c) Documentos (número) 8 8 4 (d) Tempo (dias) 26 30 17 (e)Importação Custos S/contentor 1.475 1.171 677 (f) Documentos (número) 10 9 6 (g) Tempo (dias) 32 25 16 (h)

(a) baseado no custo de exportação; (b) Maurícias; (c) Maurícias; (d) Madagáscar; (e) Maurícias; (f) Maurícias; (g) Maurícias; (h) Maurícias

Tabela de Custos do Comércio Internacional

Fonte: Estudo sobre Custos de Transacção em Moçambique

41SECTOR PRIVADO

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revista capital dezembro 2010

ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS42

As Marcas Moçambicanas encontram-se bem representadas na pesquisa das Melho-res Marcas de Moçambique, representando 55% das marcas seleccionadas pelos mo-çambicanos em todas as capitais provin-ciais.Depois da primeira edição do projecto Me-lhores Marcas de Moçambique em 2009, a Intercampus do Grupo GfK mantém o seu comprometimento para com a valorização das marcas e dos profissionais que as tra-balham. A implementação pelo segundo ano consecutivo de uma pesquisa em todas as capitais provinciais significa o início do voo para este projecto mas também para o desenvolvimento desta área em Moçambi-que.Na presente edição da pesquisa a avaliação foi alargada para 20 sectores de actividades tendo sido avaliadas 174 marcas através de 15.149 entrevistas válidas a nível nacional em 2 fases. O indicador utilizado foi o Brand Potential Index® - BPI® - da GfK, que engloba 11 indicadores que representam a avaliação emocional e racional de uma marca sob a perspectiva do indivíduo, bem como as suas tendências comportamentais face à marca. Estas componentes são fruto de um contínuo processo de análise no departa-mento de Investigação & Desenvolvimento da GfK e agrupa os principais factores que determinam a atractividade/força da mar-ca.

As melhores marcas 2010

Segundo dados recolhidos na pesquisa de 2010, mantêm-se algumas tendências ge-rais na avaliação das melhores marcas. As marcas mais bem avaliadas pelos moçam-bicanos não têm necessariamente de ter as notoriedades mais elevadas mas uma boa imagem junto de quem conhece a marca. Na maior parte dos 20 sectores avaliados a marca mais bem avaliada é também a mar-ca com maior notoriedade total, sendo os sectores onde isso não acontece o das Bebi-das, Comunicação Social, Eventos, Indús-tria, Produtos Alimentares, Produtos de Higiene, Transportes e Vestuário.

Em termos de sectores, são as marcas ener-gia, electrónica de consumo e produtos alimentares que melhor se posicionam. Os sectores com as marcas menos atractivas são os dos seguros, eventos e ensino.No ranking global das 174 marcas avalia-das, destacamos as marcas Nestlé e Nokia e EDM que se encontram no Top 10+, ha-vendo um aumento do número de marcas de produtos alimentares melhor avaliadas em comparação ao ano anterior nos lugares cimeiros. O topo do ranking pertence à marca NES-TLÉ (indicador de atractividade: 87,7), cuja atractividade é reforçada pelos aspectos de ser a marca que mais gosta, que inspi-ra mais confiança que as outras, com mais qualidade que as outras e que é superior às outras.De acrescentar que o BPI® da marca com a avaliação mais baixa foi de 18,9 e a média das avaliações foi de 64,4. Paralelamente ao BPI®, foi também analisada a notorie-dade e a qualidade da notoriedade para cada uma das marcas em avaliação. Em termos de notoriedade total, a MCEL, EDM e Vodacom atingem o valor de 100%, segui-das da Nokia (98%) e Toyota (95%).

As melhores marcasmoçambicanas 2010

Relativamente às marcas moçambicanas verificamos uma forte presença nas 174 marcas avaliadas representando 55% do total das marcas moçambicanas com des-taque para a EDM, Polana e HCB. De desta-car ainda que das 20 melhores marcas por sector, 10 são moçambicanas.

A Metodologia

1.ª Fase Selecção das Marcas em Avaliação

A selecção das Marcas em avaliação para cada um dos sectores teve a sua origem num estudo realizado através de entrevis-tas telefónicas (CATI) com 100% de per-guntas abertas que obedeceram a um plano de codificação a posteriori com base em

cerca de 50% de transcrição destas, com relevância estatística a nível nacional. A seguinte pergunta foi implementada para cada um dos sectores: “Gostaria de lhe per-guntar, por favor, qual ou quais as marcas de cada um dos seguintes sectores conhe-ce ou já ouviu falar: Conhece mais alguma marca? Qual(ais)?” As marcas selecciona-das foram referidas espontaneamente por, pelo menos, 3% dos inquiridos. O Universo foi constituído pelos indivíduos com 15 ou mais anos de idade, residentes numa das capitais províncias de Moçam-bique. A Amostra foi constituída por 1383 entrevistas telefónicas com uma distribui-ção proporcional com base na idade da po-pulação residente nas capitais provinciais, de acordo com os dados do último censo realizado pelo Instituto Nacional de Esta-tística (INE), correspondendo a um grau de confiança de 95% e um erro máximo de +/- 2,6 % a nível nacional. As entrevistas telefónicas decorreram entre o dia 1 e 18 de Maio de 2010.

2.ª Fase Análise do Valor da Marca - BPI ®

A pesquisa foi realizada através de questio-nário presencial e telefónico a indivíduos de ambos os sexos, com 15 ou mais anos de idade, residentes nas 11 capitais provinciais entre 9 de Setembro e 10 de Novembro de 2010 tendo sido realizadas 13.766 entre-vistas que se traduziram em amostras pa-ralelas (correspondendo a um intervalo de confiança de 95% e um erro máximo de +/- 3,7% para cada sector). A amostra obede-ceu a uma estratificação proporcional com base no sexo e idade de acordo com os da-dos do último censo realizado pelo Institu-to Nacional de Estatística de Moçambique.

A Intercampus

A Intercampus – Estudos de Mercado, Lda. é uma empresa de direito moçambicana e iniciou formalmente a sua actividade em Moçambique em 2007 sendo parte inte-grante do Grupo Internacional GfK. O Grupo GfK é a quarta maior empresa

Melhores Marcas de Moçambique e as Marcas Moçambicanas

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43ESTUDOS DE MERCADO INTERCAMPUS

«No ranking global das 174 marcas avaliadas, destacamos as marcas Nestlé e Nokia e EDM que se encontram no Top 10+, havendo um aumento do número de marcas de produtos alimentares melhor avaliadas em comparação ao ano anterior nos lugares cimeiros. O topo do ranking pertence à marca NESTLÉ (indicador de atractividade: 87,7), cuja atractividade é reforçada pelos aspectos de ser a marca que mais gosta, que inspira mais confiança que as outras, com mais qualidade que as outras e que é superior às outras»

de estudos de Mercado no mundo. A sua actividade abrange cinco áreas: Custom Research, Retail & Technology, Consumer Tracking, Healthcare e Media. O Grupo é composto por 150 empresas em mais de 100 países e com mais de 10 000 colabora-dores. Em 2009, as vendas do Grupo GfK ascenderam a 1,16 mil milhões de euros. Para mais informações contactar [email protected]..

Melhores Marcas de Moçambique e as Marcas Moçambicanas

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Félix Sengo*

45GESTÃO E CONTABILIDADE ERNST & YOUNG

Introdução

Um dos maiores desafios, senão o maior desafio da Contabilidade da Gestão Am-biental, é assegurar, nas organizações, a implementação dos processos ligados à identificação, quantificação, contabilização e divulgação dos passivos ambientais, en-tendidos como obrigações decorrentes da contaminação ou degradação ambiental provada por determinadas actividades das organizações sobre o meio ambiente (ou ainda obrigações sujeitas a cobrança), que nem sempre são mensuradas e provisiona-das pelas empresas.

A ausência de definição clara de custos ambientais e a dificuldade em calcular um passivo ambiental efectivo têm sido os principais factores que dificultam o proces-so de implementação da Contabilidade da Gestão Ambiental nas empresas.

Passivos ambientais

Os passivos ambientais, são geralmente definidos como reservas ou restrições de activos provenientes de obrigações legais ou espontâneas adquiridas no processo de execução da actividade produtiva e ad-ministrativa pela organização, através da aquisição de activos ou do processo de ob-tenção de receita, obrigações essas que são expressas em valor na data de publicação das demonstrações financeiras.

O passivo ambiental pode ser também en-tendido como toda a agressão que se pra-ticou/pratica contra o meio ambiente e consiste no valor de investimentos neces-sários para reabilitá-lo, bem como multas e potenciais indemnizações (Instituto de Auditores Independentes do Brasil - IBRA-CON, 1996).

Todos os gastos referentes à manutenção e à recuperação do meio ambiente devem ser registados no momento da ocorrência do factor que os gerem, ou no momento em que ocorrer a constatação da responsabili-dade pelo factor gerador. Contudo, a deter-

minação do passivo ambiental é uma tarefa complexa já que significa identificar, ca-racterizar e quantificar os efeitos ambien-tais adversos, e quanto maior forem esses efeitos, maior será o montante do passivo ambiental da organização. A estimativa do valor a ser despendido com a recuperação do meio ambiente afectado, de acordo com o princípio contabilístico de conservado-rismo, deverá abranger todos os possíveis gastos que serão necessários para tal.

O passivo ambiental deverá abranger todas as obrigações de curto, médio e longo pra-zo, decorrentes de investimentos em prol de acções relacionadas com a preservação, recuperação e protecção do meio ambien-te.

O passivo ambiental, como qualquer ou-tro passivo, está dividido em capital alheio e capital próprio da empresa e constitui a origem de recursos dessa entidade. A títu-lo de exemplos, pode-se citar. (i) Bancos – empréstimos de instituições financeiras para investimentos na gestão ambiental; (ii) Fornecedores – compra de equipamen-tos e consumíveis para o controle ambien-tal; (iii) Governo – multas decorrentes das infracções ambientais; (iv) Funcionários – remuneração de mão-de-obra especiali-zada em assuntos de gestão ambiental; (v) Sociedade – indemnizações ambientais; (vi) Sócios /ou accionistas – aumento do capital destinado exclusivamente aos in-vestimentos em meio ambiente ou paga-mento de um passivo ambiental; (vii) Em-presa – através da alocação da parte dos seus resultados (lucros) para os programas ambientais.

Identificação dos passivos ambientais

De um modo geral, o processo de identifi-cação dos passivos ambientais deve ser re-alizado em duas etapas: Na primeira etapa deve ser feita uma avaliação qualitativa dos impactos, nomeadamente, identificação de todas as práticas e procedimentos relativos aos aspectos ambientais mais relevantes tais como: licenças ambientais existentes,

resíduos gerados pela organização e a sua disposição final, taxas de emissões atmos-féricas e de geração de efluentes líquidos e os respectivos sistemas de minimização e tratamento de poluição adoptados. Na se-gunda etapa deve ser levado a cabo o pro-cesso de quantificação dos aspectos am-bientais. O objectivo nesta etapa é medir os impactos ambientais de forma a permi-tir a avaliação do custo envolvido para uma adequada gestão dos mesmos.

Mensuração dos passivos ambientais

A prática de avaliação de passivos am-bientais teve sua origem na necessidade de informação para apoiar os processos de fusão, aquisição, incorporação, compra e venda de empresas e também para a orien-tação de definição de prémios de seguros de responsabilidade. Hoje em dia, os dados de avaliação dos passivos ambientais, são também usados pelas instituições financei-ras nas decisões de concessão de créditos. Muitas vezes, os passivos ambientais têm criado embaraços, chegando mesmo a in-viabilizar negócios, já que podem atingir níveis superiores à capacidade da empresa de gerar recursos para solucioná-los.

No que respeita à mensuração dos passi-vos ambientais, a Organização das Nações Unidas (ONU) determina que “quando existir dificuldades para estimar o valor de um passivo ambiental, deve-se indicar a melhor estimativa possível e nas notas explicativas do Balanço divulgar as infor-mações sobre o método utilizado nessa es-timativa”. Alguns métodos indicados pelo aquele Órgão como preferidos e aceitáveis são: (i) Método do valor actual – que leva em conta o volume actual de gastos futuros estimados, baseando-se no valor da reali-zação das acções necessárias para a preser-vação ou recuperação do meio ambiente, trazido ao valor presente na base de taxas de descontos, normalmente utilizadas no país onde a empresa opera. (ii) Método de previsão de gastos antecipados durante o curso das operações relacionadas – que significa determinar no exercício em curso

Contabilidade da Gestão AmbientalUm olhar sobre os Passivos Ambientais

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revista capital dezembro 2010

GESTÃO E CONTABILIDADE ERNST & YOUNG46

o custo estimado para realizar as activida-des de restauração da natureza, conside-rando-se as condições actuais e vigentes para efectivá-las.

O valor do passivo ambiental estimado por qualquer um dos métodos acima refe-ridos deve ser revisto de forma periódica com o objectivo de ajustá-lo caso alguma das premissas utilizadas no cálculo tenha apresentado variação de um exercício para o outro. Muitas empresas alegam que não fazem o registo, nem divulgação dos seus passivos ambientais devido a impossi-bilidade de mensuração financeira total ou parcial dos mesmos. Para esses casos, recomenda-se que nas notas explicativas, fundamentem os motivos que lhes impedi-ram de estimar e contabilizar a obrigação/passivo ambiental, mas sem se eximirem da responsabilidade e divulgação da sua situação patrimonial real. Divulgação dos passivos ambientais

Pelo facto de os passivos ambientais es-tarem, geralmente ligados aos factos am-plamente conhecidos pela sua conotação mais negativa no mercado, nota-se que muitas organizações procuram ocultar sua divulgação nas suas demonstrações finan-ceiras. Contudo, é sabido que a divulgação dos passivos ambientais é de grande im-portância para que a contabilidade duma organização possa fornecer informações verdadeiras aos seus stakeholders, e serve como um instrumento de grande utilida-de no processo de tomada de decisões e, sobretudo, nos processos de aquisição, fu-são, incorporação, venda e privatização de empresas, tendo em conta que os futuros shareholders e gestores deverão assumir todos os direitos e responsabilidades da nova empresa, incluindo os passivos am-bientais, que muitas vezes representam grandes montantes que podem até com-prometer a continuidade da empresa.

As empresas poluidoras que não identifica-rem, reconhecerem e divulgarem, actual-mente e no futuro, os potenciais encargos do passivo ambiental, estarão na realidade a apurar resultados anuais fictícios.

No respeitante à divulgação duma situação económica – financeira afectada pelos as-pectos ambientais, a ONU aconselha que seja reflectida nas demonstrações finan-ceiras da empresa, nomeadamente, no ba-lanço, nas demonstrações de resultados do exercício e nas notas explicativas. Aquele Órgão alerta também, para que as orga-nizações, sem se eximirem das suas res-ponsabilidades, façam uma análise cuida-

dosa do custo/benefício da demonstração daquele tipo de informação, examinando sempre os aspectos quantitativos e quali-tativos, para além de verificar os impactos que podem ser causados pela informação que se pretende divulgar, porque pode trazer enormes prejuízos à imagem da em-presa bem como à sua posição competitiva no mercado. Para a ONU os passivos am-bientais devem ser apresentados de forma separada no Balanço ou em Notas explica-tivas, acompanhados da descrição do mé-todo da sua mensuração, dos respectivos descritivos técnicos, da data futura da sua exigibilidade e das incertezas relacionadas com os mesmos.

Considerações conclusivas

Apesar das dificuldades técnicas existen-tes no tratamento contabilístico dos aspec-tos de gestão ambiental, nota-se um cres-cimento da consciência da comunidade empresarial em adoptar o procedimento de identificação, quantificação, contabili-zação e divulgação dos passivos ambien-tais. No caso de Moçambique, a referida consciência é reforçada pela necessidade de implementação do novo Sistema de Contabilidade para o Sector Empresarial, recentemente aprovado através do De-creto nº 70/2009 de 22 de Dezembro que introduz profundas alterações aos princí-pios contabilísticos que vigoravam no país, visando a adopção de um Plano Geral de Contabilidade baseado nas Normas Inter-nacionais de Relato Financeiro. A identificação e quantificação dos passi-vos ambientais é um requisito fundamen-tal nas operações de fusão, aquisição, in-corporação, compra e venda de empresas, porque a responsabilidade e obrigação da restauração ambiental podem recair sobre os novos proprietários. Ele funciona como um elemento importante de decisão, pro-curando identificar, avaliar e quantificar posições, custos e gastos ambientais po-tenciais que devem ser tomados em conta a curto, médio e longo prazo. O cuidado que há de avaliar o passivo ambiental não está apenas nos sócios/accionistas, mas também atinge o cidadão comum no seu quotidiano.De acordo com Jacometo (2004), a grande dificuldade que a ciência enfrenta é como medir um passivo ambiental! As perguntas clássicas que normalmente se levantam para se encontrar uma resposta adequada são: (i) “Quanto é que o ser humano estaria disposto a pagar para ter a natureza cada vez mais bem preservada?”, (ii)”Quanto é que vale a natureza?”.

(*) Audit Manager na Ernst & Young

«Pelo facto de os passivos ambientais estarem, geralmente ligados

aos factos amplamente conhecidos pela sua

conotação mais negativa no mercado, nota-se que muitas

organizações procuram ocultar sua divulgação

nas suas demonstrações financeiras. Contudo, é

sabido que a divulgação dos passivos ambientais é

de grande importância para que a contabilidade duma

organização possa fornecer informações verdadeiras aos seus stakeholders, e

serve como um instrumento de grande utilidade no processo de tomada de

decisões e, sobretudo, nos processos de aquisição,

fusão, incorporação, venda e privatização de empresas,

tendo em conta que os futuros shareholders e

gestores deverão assumir todos os direitos e

responsabilidades da nova empresa, incluindo os

passivos ambientais, que muitas vezes representam

grandes montantes que podem até comprometer a

continuidade da empresa.»

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revista capital dezembro 2010

Orlanda Niquice

FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS48

Moçambique tem vindo a celebrar Tratados para Evitar a Dupla Tributação, como o co-rolário lógico de se tratar de um dos países mais atractivos na promoção de Investi-mento Directo Estrangeiro. Ora, uma das questões mais candentes quando se negoceiam e concluem os Trata-dos diz respeito ao conceito de Estabeleci-mento Estável a ser acordado e incluído no seu articulado. E esta relevância tem a sua explicação lógi-ca: o conceito de Estabelecimento Estável é um dos mecanismos que permite a tri-butação dos rendimentos de uma entida-de estrangeira num determinado Estado, sendo portanto uma regra fundamental na determinação, ou não, de tributação de ren-dimentos gerados nesse Estado.Assim, a noção de Estabelecimento Estável é, em quase todos os Tratados para evitar a Dupla Tributação e Prevenir a Evasão Fiscal firmados pelo Estado moçambicano, mais alargado quando comparado com o concei-to estabelecido pela legislação doméstica em vigor em Moçambique.No presente texto, faremos uma abordagem sobre este conceito nos termos da legislação doméstica versus tratados, que pode in-fluenciar as transacções das empresas com o exterior. Apresentaremos ainda o enten-dimento da Administração Fiscal moçam-bicana relativamente ao alargamento deste conceito nos termos dos referidos tratados.

Conceito doméstico de Estabelecimento Estável

A definição de Estabelecimento Estável en-contra-se plasmada no artigo 3º do Código de Impostos sobre o Rendimento das Pes-soas Colectivas (CIRPC), aprovado pela Lei 34/2007 de 31 de Dezembro.Nos termos do referido dispositivo legal, Estabelecimento Estável é definido como

sendo qualquer instalação fixa através da qual seja exercida, total ou parcialmente, uma actividade comercial, industrial ou agrícola, incluindo a prestação de serviços.Este conceito compreende, em particular, os locais de direcção, as sucursais, os escri-tórios, as fábricas, as oficinas, as minas, as pedreiras ou qualquer lugar de extracção de recursos naturais e as obras de construção, instalação ou montagem de duração supe-rior a 6 meses.Por outro lado, considera-se que existe Es-tabelecimento Estável quando uma pessoa, que não seja agente independente, actue em território moçambicano por conta de uma empresa, e que tenha, e exerça poderes de intermediação e conclusão de contratos que vinculem a empresa.

Conceito de Estabelecimento Estávelnos termos dos tratados

Conforme teremos a oportunidade de veri-ficar, o conceito de Estabelecimento Estável nos termos de alguns tratados em vigor em Moçambique é mais alargado quando com-parado com o referido acima e conforme definição dada pelo (CIRPC).De facto, a noção de Estabelecimento Está-vel constante dos tratados celebrados com Portugal (alteração introduzida através do Protocolo assinado a 24 de Junho de 2007 e ratificado pela Resolução nº 34/2008, de 16 de Outubro), Maurícias, Emiratos Ára-bes Unidos, Macau e África do Sul, possui uma particularidade que o torna diferente do conceito doméstico acima apresentado.Para além das situações estabelecidas no Código de IRPC que consubstanciam Es-tabelecimento Estável, nos termos do arti-go 5, nº 3, alínea b) dos referidos tratados, este conceito compreende, ainda, o forne-cimento de serviços por uma empresa não residente através de trabalhadores ou outro

O conceito de estabelecimento estávelnos Tratados para evitar a Dupla Tributação

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49FISCALIDADE PRICEWATERHOUSECOOPERS

O conceito de estabelecimento estávelnos Tratados para evitar a Dupla Tributação

pessoal contratado, desde que essas activi-dades sejam prestadas por um período ou períodos que totalizem mais do que 6 me-ses (9 meses nos termos do tratado com os Emiratos Árabes Unidos) em qualquer perí-odo de 12 meses. É importante realçar que este alargamen-to ao conceito de Estabelecimento Estável previsto nos tratados acima referidos segue a definição apresentada pelo Modelo das Nações Unidades e que difere da filosofia apresentada pelo Modelo da Organização para a Cooperação Económica e Desenvol-vimento (OCDE).O referido artigo 5, nº 3, alínea b) é actu-almente usado pela Administração Fiscal moçambicana como base para aferir da existência ou não de Estabelecimento Está-vel de entidades residentes em qualquer dos países cujo tratado adopta este conceito.Desta forma, achamos pertinente comparti-lhar com os nossos leitores a interpretação adoptada pela Administração Fiscal. Com efeito, e ao abrigo das regras dos trata-dos atrás mencionados, é entendimento da Administração Fiscal que qualquer presta-ção de serviços fornecida por uma empresa não residente através de trabalhadores ou outro pessoal contratado que se desloque para o país, consubstancia Estabelecimento Estável independentemente do tempo em que os mesmos permaneçam em Moçam-bique, desde que o serviço seja prestado por um período de pelo menos 6 meses em qualquer período de 12 meses.É importante salientar que, contrariamen-te ao que se entendia, o posicionamento da Administração Fiscal espelhado em di-versos pareceres emitidos sobre matéria, o período de 6 meses referido nos tratados é relativo à duração do contrato ou da presta-ção de serviços pela entidade não residen-te, e não com o tempo de permanência dos trabalhadores ou trabalhador em Moçam-

bique.Com base neste entendimento, sempre que (i) a prestação de serviço tenha duração su-perior a 6 meses (em qualquer período de 12 meses) e, ainda, que o mesmo seja maio-ritariamente prestado fora do país, (ii) se durante a execução do mesmo algum traba-lhador (independentemente deste possuir ou não poderes para vincular a empresa) deslocar-se a Moçambique, esta situação consubstanciará Estabelecimento Estável da entidade não residente, independente-mente do tempo em que o mesmo perma-necer no país.Ou seja, se por exemplo uma empresa não residente prestar serviços que contêm uma componente de instalação de equipamento e que impliquem a deslocação de pessoal para Moçambique apenas para a montagem do mesmo, esta situação consubstanciará Estabelecimento Estável desde que os ser-viços sejam prestados por um período supe-rior a 6 meses em qualquer período de 12 meses. Note-se que, ainda que os serviços sejam efectivamente prestados fora do País, a Administração Fiscal entende que existe Estabelecimento Estável devido a desloca-ção do referido pessoal à Moçambique, in-dependentemente do tempo de permanên-cia no país.A criação de Estabelecimento Estável de-termina que a entidade estrangeira tenha que cumprir com as obrigações fiscais no país equiparáveis às entidades residentes, nomeadamente quanto ao registo fiscal e submissão de declarações fiscais.Sendo assim, as empresas que contratam com entidades não residentes devem, na fase de negociação dos contratos tomar em consideração este aspecto relevante, por forma a advertirem aos seus prestadores de serviços da possível obrigatoriedade de registo em Moçambique de um Estabeleci-mento Estável.

«Ou seja, se por exemplo uma empresa não residente prestar serviços que contêm uma componente de instalação de equipamento e que impliquem a deslocação de pessoal para Moçambique apenas para a montagem do mesmo, esta situação consubstanciará Estabelecimento Estável desde que os serviços sejam prestados por um período superior a 6 meses em qualquer período de 12 meses. Note-se que, ainda que os serviços sejam efectivamente prestados fora do País, a Administração Fiscal entende que existe Estabelecimento Estável devido a deslocação do referido pessoal à Moçambique, independentemente do tempo de permanência no país»

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Na anterior edição da Revista Capital, le-vantámos a problemática que envolve a representação de um sócio numa Assem-bleia Geral de uma Sociedade por Quotas de Responsabilidade Limitada. Na altura fincámos a promessa de fazer uma análi-se semelhante, mas respeitante ao outro tipo societário mais comum no panorama juridico Moçambicano: a Sociedade por Acções de Responsabilidade Limitada ou, como é mais conhecida, a Sociedade Anó-nima.

I. Regime jurídico da representaçãodo accionista nas AssembleiasGerais das Sociedades Anónimas

O preceito que a lei consagra como pon-to de partida para esta análise é o Artigo 414.º, alínea 3, do Código Comercial, tal como aprovado pela Lei n.º 10/2005, de 23 de Dezembro.Analisada a base legal acima mencionada, constatamos que o elenco de indivíduos com capacidade jurídica para representar accionistas são (i) advogados, (ii) outros accionistas, ou (iii) Administradores da Sociedade.Quanto à possibilidade de representação do accionista numa Assembleia Geral de uma Sociedade Anónima, parece ser fá-cil a sua aferição: só indivíduos a quem a lei confere a possibilidade de exercício do mandato judicial poderão representar o accionista. Quais são, então, os requisitos para o exercício do mandato judicial? Des-de logo o Estatuto da Ordem dos Advoga-dos de Moçambique define, claramente, que apenas os indivíduos inscritos como Advogados perante tal ordem profissional se podem identificar como Advogados e, exercer e praticar o mandato judicial. Ou

seja, não basta que seja um simples licen-ciado em direito, mas sim, alguém que esteja devidamente inscrito como Advo-gado perante a Ordem dos Advogados de Moçambique. Claramente, ficam excluí-dos da possibilidade de poder representar um accionista numa Sociedade Anónima, indivíduos que, ainda que detentores de qualificações académicas suficientes para compreenderem e poderem agir diante das decisões a serem tomadas numa Assem-bleia Geral de uma Sociedade Anónima, não estejam inscritos como Advogados perante a mencionada ordem profissional.Não obstante o acima referido, o Estatuto da Ordem dos Advogados de Moçambique elenca ainda outras individualidades com capacidade para exercerem o mandato ju-dicial: os Advogados-Estagiários. Refere tal estatuto que o Advogado-Estagiário que se encontre a frequentar o terceiro período de estágio pode praticar todo e qualquer acto próprio da profissão de advogado. Tendo este raciocínio em mente, conside-ramos que a expressão “Advogado” cons-tante do artigo 414.º do Código Comercial abrange ainda Advogados-Estagiários que, nos termos dos Estatutos da Ordem dos Advogados de Moçambique possam exer-cer o mandato judicial e praticar actos pró-prios da profissão do Advogado.Estamos cientes que para um accionista sem formação jurídica, será difícil verifi-car a possibilidade de ser representado por alguém que se identifique como Advogado ou Advogado-Estagiário com capacidade para exercer o mandato judicial. Esta pos-sibilidade deverá ser aferida pela própria individualidade a quem lhe é pretendido conferir o mandato de representação, abs-tendo-se de receber e exercer tal mandato se tal lhe for vedado pelas regras emanadas

A Representação do sócio numa Assembleia Geralde uma Sociedade por Acções de Responsabilidade Limitada

Por Rodrigo F. Rocha*

revista capital dezembro 2010

RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA50

«Quanto à possibilidade de representação do

accionista numa Assembleia Geral de uma Sociedade

Anónima, parece ser fácil a sua aferição: só indivíduos

a quem a lei confere a possibilidade de exercício

do mandato judicial poderão representar o accionista.

Quais são, então, os requisitos para o exercício

do mandato judicial? Desde logo o Estatuto da

Ordem dos Advogados de Moçambique define,

claramente, que apenas os indivíduos inscritos como

Advogados perante tal ordem profissional se podem

identificar como Advogados e, exercer e praticar o

mandato judicial.»

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dezembro 2010 revista capital

51RESENHA JURÍDICA FERREIRA ROCHA

A Representação do sócio numa Assembleia Geralde uma Sociedade por Acções de Responsabilidade Limitada

pelos diplomas que regulam o exercício da advocacia.Um outro personagem a quem a Lei con-fere a possibilidade de exercer o mandato de representação de um accionista numa Assembleia Geral de uma Sociedade Anó-nima é um outro qualquer accionista. Esta possibilidade já era prevista no número 2 do artigo em apreço, quando se refere que, existindo um número mínimo de acções para permitir um accionista votar numa Assembleia Geral poderão, os eventuais vários accionistas detentores de acções em número inferior ao estatutariamente per-mitido exercer o direito de voto, agrupa-rem-se e serem representados por um ac-cionista, de forma a exercerem tal direito de voto. Neste aspecto surge uma dúvida: poderão vários accionistas detentores de acções que não perfazem o mínimo estatutariamente exigível para exercerem o direito de voto ser representados por outro dos persona-gens elencados no n.º 3 do Artigo 414.º do Código Comercial? Em nosso entender, tal possibilidade é permitida. E isto resulta desde logo da interpretação teleológica do preceito: o n.º2 permite o agrupamento e a possibilidade de representação e o n.º3 identifica quem pode receber o mandado de representação.Por último, a lei confere a possibilidade do accionista ser representado por um Admi-nistrador da própria Sociedade Anónima. Há que realçar que quem nomeia um Ad-ministrador são os accionistas. Logo, se um Administrador merece o voto de con-fiança de um accionista para guiar os des-tinos da Sociedade Anónima, também faz sentido que possa ser susceptível de mere-cer o voto de confiança do accionista para deliberar em sua representação decisões

que o próprio considere importantes para a vida da Sociedade que dirige. Cabe aqui ao accionista, antes de conferir o mandato de representação, determinar se o Admi-nistrador deveria abster-se de decidir por si por se encontrar em conflito de inte-resse, caso em que, não deverá conferir o mandato. Mas tal depende única e exclusi-vamente da decisão do accionista.

II. A forma do mandato de representação

Diz-nos o artigo 414.°, n.° 3 do Código Co-mercial que o mandato deverá ser conferi-do através de procuração. No sistema jurí-dico moçambicano temos, essencialmente, dois tipos de procurações, sendo uma (i) a procuração notarial, e o outro (ii) a pro-curação simples, com reconhecimento de assinatura.Em nosso entender, a escolha entre um dos tipos de procurações deverá obedecer à natureza dos direitos que se pretendem discutir na Assembleia Geral de accionis-tas. Assuntos cuja decisão necessite de formalidades especiais para a respectiva execução deverão ser tomadas por quem tenha poderes consagrados por instru-mento cuja formalidade de emissão seja mais solene, como por exemplo, a dispo-sição de património imóvel da sociedade. Nos restantes casos, somos de opinião que uma procuração simples, com reconheci-mento presencial de assinatura seja docu-mento bastante.

*Advogado e Sócio da Ferreira Rocha & Associa-dos – Sociedade de Advogados, Limitada

[email protected]

«Não basta que seja um simples licenciado em direito, mas sim, alguém que esteja devidamente inscrito como Advogado perante a Ordem dos Advogados de Moçambique. Claramente, ficam excluídos da possibilidade de poder representar um accionista numa Sociedade Anónima, indivíduos que, ainda que detentores de qualificações académicas suficientes para compreenderem e poderem agir diante das decisões a serem tomadas numa Assembleia Geral de uma Sociedade Anónima, não estejam inscritos como Advogados perante a mencionada ordem profissional».

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dezembro 2010 revista capital

53TURISMO

Os operadores turísticos de Vilankulos defendem que a actividade está centraliza-da em Maputo e pretendem que o pelou-ro do sector se faça sentir mais nos ícones com potencial atractivo, que se encontram localizados fora da capital.

Os empreendedores que possuem in-vestimentos no sector do turismo nas zo-nas mais atractivas como Tofo, Vilankulo, Pemba, entre outros, poderão perder mo-tivação e encerrar os seus negócios, caso as atenções turísticas continuem centra-lizadas no sul, segundo Jonas Ndembeka, gestor do Tourist Information Center.

O Tourist Information Center, que é uma das entidades representativas da associa-ção hoteleira de Vilankulos ressente-se de um certo abandono do pelouro do turismo e também admite fechar as portas, caso o pelouro do turismo não responda às neces-sidades colocadas. De entre vários anseios da agremiação, particular realce vai para um possível fundo destinado a custear as despesas relativas ao salário dos funcioná-rios e a rede de Internet, de modo a for-necer melhor apoio ao turista que escala Vilankulos. Estas e outras limitações já foram colocadas ao ministro do Turismo, Fernando Sumbana, durante a sua visita a Vilankulos, segundo avançam os mem-bros do Tourist Information Center. En-tretanto, os associados ainda não viram satisfeitas as suas solicitações. Na altura,

Fernando Sumbana qualificou a criação do Tourist Information Center como de “bom exemplo” mas os donos da iniciativa pre-tendem mais do que as referidas palavras.

O pouco contacto existente entre o Minis-tério e as entidades ligadas ao turismo em Vilankulos oferece poucas evidências de que a limitação será resolvida o mais bre-ve possível. Com um contacto permanen-te poder-se-ia estipular o valor necessário para custear as despesas anuais do Tourist Information Center, na óptica de Jonas Ndembeka.

O Tourist Information Center tem de-senvolvido as suas actividades num espaço concedido pelo Município de Vilankulos e este responsabiliza-se também pelo paga-mento da electricidade consumida. Entre-tanto, o gesto ainda é insuficiente para res-ponder as necessidades daquele organismo que atende em média cerca de 5 turistas por dia.

Por outro lado o Tourist Information Center sobrevive com base nas contribui-ções financeiras de apenas oito dos cerca de 40 lodges que estão inscritos no or-ganismo. Os lodges que pagam algumas despesas do Tourist Information Center recebem em contrapartida alguma anga-riação de turistas para que se alojem nos seus quartos.

Entretanto, Jonas Ndembeka afirma que a contribuição dos lodges é insignificante

e tem sido irregular por estar condiciona-da à afluência de turistas. O mesmo fala, por outro lado, de épocas de menor afluên-cia de turistas em que os funcionários dos lodges e do próprio Tourist Information Center ficam dois a três meses sem os seus salários.

Actualmente, vive-se um cenário carac-terizado por uma maior adesão de turistas em Vilankulos, facto que desafia o Tourist Information Center a atender cada vez a um maior número de turistas que pro-curam informações acerca de alojamen-to, serviços de mergulho e visita às ilhas. Entretanto, a referida dinâmica ainda não traz lucro suficiente para a sobrevivência daquele organismo que conta actualmente com dois anos de existência.

O Tourist Information Center acredita que, futuramente, o seu actual cenário fi-nanceiro poderá melhorar, considerando a tendência para uma maior afluência de turistas ao distrito.

O distrito de Vilankulos possui um forte potencial turístico devido à sua localização no norte de Inhambane, na região sul de Moçambique que dista cerca de 700 qui-lómetros de Maputo. A maior afluência de turistas ao distrito é condicionada por este ser a porta de entrada ao arquipélago de Bazaruto, um dos maiores pólos atractivos de turismo no País..c

“O turismo está centralizado em Maputo”Sérgio Mabombo [texto] Helga Nunes [foto]

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TURISMO54

Mais de 20 turistas chegam diariamente o distrito de Vilankulos nesta época nata-lícia e os operadores turísticos locais re-modelam estratégias para lucrar o máximo possível com esta oportunidade que se abre anualmente.

Por um lado, muitos operadores do sector esperam ansiosos pelo seu licenciamento, de modo a explorarem o turismo de aloja-mento, cujo alvo são os turistas nacionais e europeus. Por outro lado, os mesmos ad-mitem a possibilidade de se explorar um rápido crescimento do número de turistas de acampamento.

Entretanto, o turismo de campismo pra-ticado maioritariamente por sul-africanos tem obtido poucos defensores no seio dos analistas do sector. A pouca receptividade deste segmento prende-se com o facto dos respectivos turistas trazerem tudo na baga-gem (bebidas, comestíveis e tendas), o que oferece poucas possibilidades de negócio para as estâncias turísticas locais. Em Vi-lankulos, os turistas de acampamento pa-gam um valor que varia entre 100 a 150 meticais por dia pelo espaço onde montam a sua tenda. A Federação Moçambicana de Turismo e Hotelaria (FEMOTUR) pretende um turismo constante, de qualidade e que

traga renda para as comunidades sem colo-car de lado o consequente impacto na eco-nomia nacional.

O turismo de campismo não pode repre-sentar maior fatia, na medida em que é de baixa renda e logo contribui pouco para a economia nacional, segundo a percepção comum naquele organismo.

Entretanto, o turismo de “quantidade,” de pouco lucro é o possível de ser pratica-do no actual cenário, segundo Quessanías Matsombe presidente da FEMOTUR. Este adverte que a qualidade no sector irá exi-gir um esforço redobrado na melhoria das vias de acesso, energia, água e telecomu-nicações. Embora reconheça que não haja contradição nos dois segmentos de turismo (de alojamento e o de acampamento), o lí-der dos hoteleiros nacionais defende que é possível explorar tudo, desde o momento que se dê prioridade ao alojamento que traz mais valias à economia nacional.

Actualmente, os voos diários entre Vi-lankulo e Joanesburgo já potenciam um fluxo considerável de turistas europeus que escalam o local de modo a visitar as ilhas. Darrell Huffman, turista proveniente da Alemanha prevê que no futuro poderá ser difícil obter uma reserva de voo para Vi-

lankulos, a avaliar pela dinâmica que ac-tualmente se verifica. A referida dinâmica oferece o desafio dos serviços de alojamen-to prestados em Vilankulo estarem à altu-ra das exigências do mercado SADC, que já se revela bastante competitivo, segundo Katrin Resnschler, também proveniente da Alemanha que é conhecedora da região. A mesma gostaria de explorar o acampamen-to, caso tivesse garantias de segurança.

A área de alojamento verificava todas as reservas de camas esgotadas até Novem-bro. Se nos meses anteriores os preços mí-nimos de alojamento oscilavam entre 20 a 40 dólares nos Backpackers (alojamentos de baixo custo), já em Novembro e Dezem-bro quase não se consegue uma cama a um preço abaixo de 60 dólares, segundo Jonas Ndembeka gerente do Tourist Information Center, em Vilankulos.

Suleiman Júnior, proprietário do Dolphin Dhow Safaris, uma estância licenciada para o serviço de alojamento revela que o fac-to de ter esgotado as reservas de quartos, trouxe a ideia de explorar algum espaço que lhe resta para o acampamento. Entretanto, o projecto tardo devido a morosidade do processo de licenciamento. A mesma pre-tensão é partilhada por Carlos Chongue,

Turistas aglomeram-se em Vilankulos: Alojá-los ou ‘acampá-los’?Sérgio Mabombo [texto]

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55TURISMO

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Turistas aglomeram-se em Vilankulos: Alojá-los ou ‘acampá-los’?

gerente dos serviços de alojamento Zombie Cucumber. Este lamenta a demora no licen-ciamento da sua estância turística para ex-plorar o turismo de acampamento, embora sem indicar as causas da referida morosida-de. As dificuldades dos operadores turísti-cos em explorarem qualquer dos segmentos de turismo surgem numa altura em que o executivo moçambicano reestrutura as suas políticas para facilitar o registo de estabele-cimentos comerciais em todos os sectores.

O sector do turismo compreende taxas de licenciamento cuja tabela varia de oito a 30 mil meticais, consoante o tipo de instância turística.

Para um parque de campismo, o investi-mento no licenciamento cifra-se em 17.500 meticais. O valor subdivide-se na análise do projecto (4 mil meticais), vistoria (7 mil meticais), e denominação (500 meticais). O licenciamento de hotéis até 4 estrelas, residenciais, lodges e resorts, cifra-se em 30.500 meticais. Deste montante, a taxa de vistoria corresponde a nove mil meticais, o alvará custa 10 mil meticais, pela deno-minação paga-se 1.500 meticais enquanto pelo registo o operador turístico desembol-sa 2.500 meticais..c

A Federação Moçambicana de Hote-laria e Turismo (FEMOTUR) irá propor no próximo ano a introdução da taxa de turismo estimada em 1 por cento sobre o valor da acomodação.

Segundo o presidente da agremiação, Quessanías Matsombe o pagamento da taxa de turismo poderá solucionar alguns problemas existentes no sector, sobretu-do financeiros. Dentre as limitações do sector do turismo, Quessanías Matsombe fala da criação de três centros de forma-ção em matéria de turismo divididos nas três zonas do país sul, centro e norte.

No seio da FEMOTUR paira a vontade comum de tornar Moçambique um des-tino turístico competitivo, uma vontade que poderá ter um grande trampolim com a introdução da taxa de turismo.

A experiência já surtiu resultados ani-madores em outros países. O presidente da FEMOTUR sita o exemplo da África do Sul onde o fundo acumulado pelo pa-gamento da taxa de turismo é usado para a promoção da actividade.

A implementação da taxa tem tudo para alcançar os objectivos propostos, consi-derando as boas relações entre operado-res turísticos e o governo.

A FEMOTUR representa a voz comum de todos os operadores turísticos na-cionais. A entidade tem como membros fundadores, a AVITUM (Associação de Agentes de Viagem e operações turísticas de Moçambique), a CDTUR (Associação de Hotelaria e Turismo de Cabo Delga-do), AHSM (Associação de Hotéis do Sul de Moçambique) entre outros.

Taxa de turismopode arrancar em 2011

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D e 19 de Outubro a 4 de Dezem-bro, o Teatro Tri-Bühne de Es-tugarda, na Alemanha, acolheu mais uma edição do SEET Fes-

tival - o Festival Europeu de Teatro. O Mutumbela Gogo de Moçambique este ano voltou ao festival, representado pela actriz Lucrécia Paco, que participou numa peça com actores alemães, um costa-mar-finense e outro congolês. “Kämpferische träume”, ou seja a peça “Sonhos Guerrei-ros”, foi escrita pela moçambicana Paulina Chiziane e pelo actor alemão Géza Révay, e trata-se da história de uma comunidade de Otjivero na Namíbia, os seus vastos dra-mas interligados, mas quase sempre con-tada e interpretada no modelo estereotipa-do do amor, romanceado e inalcançável...Entretanto, por debaixo desse invólucro do amor, desenrolam-se várias histórias de dor, lágrimas, sangue e alegrias tam-bém. Lucrécia Paco resumiu a peça dizen-do: «Numa primeira fase, fazemos uma síntese da ocupação alemã na Namíbia, desde os campos de concentração que marcaram a colonização alemã, passan-do pelo Apartheid e os seus aspectos nega-tivos para os Herreros, que tiveram de se

refugiar e recomeçar a vida quando hou-ve os conflitos entre os fazendeiros bran-cos e os empregados negros. E como estas comunidades não tinham recursos para refazer a vida, há uma iniciativa de dis-tribuir uma renda básica, o Basic Income Grant, BIG, que consistia na distribuição de 100 dólares namibianos, o equivalen-te a 10 Euros. Claro, para se contar uma história, não consideramos apenas os aspectos históricos, mas também as rela-ções humanas. E a Paulina Chiziane, que co-escreveu a história, optou por trazer um casal misto e as complicações que po-dem advir de uma relação dessas. Porque a Maria, branca, abandona os luxos da fazenda dos pais ao apaixonar-se por um trabalhador negro do seu pai, e há um fi-lho que nasce desta união».19 de Novembro, dia da estreia, sala cheia, muita curiosidade e algum esforço dos es-pectadores para entender a maioria das sete línguas em palco, sim, sete línguas! Alemão, Inglês, Francês, Português, Ron-ga, Lingala e Guéré. Os diálogos não eram traduzidos, cada personagem interpretava na sua língua materna, apenas as narra-ções eram traduzidas do Português, com

“Kämpferische träume”também em Ronga e na Alemanha

teat

ro

Lucrécia Paco, para o Alemão. Um esforço redobrado para a actriz moçambicana. «Não foi fácil, porque um dos grandes desafios foi interpretar na minha língua materna, o Ronga, uma língua que conhe-ço mas que não tenho falado com muita frequência, e outra foi a dificuldade de ter uma tradução simultânea com a minha parceira que fala em alemão e, muitas ve-zes, sabemos qual o conteúdo mas quando não conhecemos a língua é difícil resolver um problema quando há falhas. Mas foi bom», confessa a actriz.A diversidade não se restringiu apenas à parte linguística, outras manifestações artísticas se juntaram à representação te-atral. A música e a dança deram também o seu contributo na transmissão da mensa-gem. No final, era mais do que teatro, era algo multicultural.Edith Koerber, a encenadora e directora do Teatro Tri-Bühne, justifica esta diversida-de explicando que «ela é a riqueza do ser humano, embora com a globalização as diferenças vão diminuindo cada vez mais, porque a globalização põe as pessoas em contacto umas com as outras. E o sistema capitalista também faz desaparecer as di-ferenças, e é importante que isto seja mos-trado no teatro».Não fosse afinal “Symphonie des Geldes”, ou seja “Sinfonia do Dinheiro”, o lema do Festival este ano. As desigualdades sociais, na esteira do capitalismo são uma das pre-ocupações de Edith Koerber, dai a focaliza-ção da peça na renda básica de 10 Euros, o BIG, que de grande nada tem, distribuída às populações carenciadas de Otjivero. A redistribuição de riquezas no mundo é o ideal da peça, para vingar aí o princípio do amor ao próximo. E voltamos ao início de tudo, ao amor. Costuma-se a dizer que o céu é o limite e que o amor é a força motora do Universo. E tudo isto foi a grande mensagem que a peça passou para Nestor Gahe, dançarino e actor da Costa do Marfim. O mesmo disse a propósito: «A vida não tem limite, a cultu-ra nos une. Ela mostra-nos que não somos diferentes e que temos de lutar em conjun-to sem distinção de raça, religião, língua, etc. Temos de nos amar uns aos outros» e assim existem os “Sonhos Guerreiros”…

Nádia Issufo [texto] Estugarda-Alemanha

ESTILOS DE VIDA56

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Descobertas de novasespécies em Moçambique

J osé Rosado, investigador indepen-dente e colaborador do Museu de História Natural (Universidade Eduardo Mondlane) na área da

Malacologia, descobriu e descreveu com mais dois especialistas Italianos uma nova espécie de Molusco marinho, denominado (Echinophoria mozambicana). O resultado desta descoberta, realizada na província de Inhambane, em águas pro-fundas e a mais de 600 metros de profun-didade, foi publicado recentemente na re-vista “Malacologia” (publicação científica da especialidade). Ainda este ano, a expedição “MAINBAZA” (resultante das iniciais de Maputo, Inham-bane, Bazaruto, Zambeze), liderada pelo conhecido cientista Professor Philippe Bouchet do Museu de Historia Natural de Paris, desvendou mais uma nova espécie para a ciência. O novo molusco, então baptizado de Bol-

ma mainbaza (em homenagem ao nome da expedição), foi encontrado, a aproxi-madamente 300 metros de profundidade, no Baixo Almirante leite a cerca de 120 mi-lhas a Este da Ilha da Inhaca. Estas novas descobertas revelam alguns dos segredos que o nosso mar esconde e contribuem para o conhecimento da biodiversidade que existe no nosso País.Já em 2008, uma expedição ao monte Mabu, coordenada pelo Kew Royal Bota-nic Gardens encontrou três novas espécies de borboletas, uma nova espécie de cobra e uma nova espécie de camaleão. No mes-mo ano, outros investigadores se depara-vam com uma nova espécie de peixe que habita os lagos temporários formados na época das chuvas.O Museu de História Natural, comprome-tido com o conhecimento e conservação da espécies e ecossistemas de Moçambi-que, tem apostado fortemente na partici-

pação em diferentes projectos de investi-gação do género, em estreita colaboração com diversos especialistas de centros de investigação de outros países. O elevado ritmo de descoberta de novas espécies no território moçambicano ressalta a enorme riqueza biológica existente mas também deixa a descoberto as imensas lacunas de informação.No Ano Internacional da Biodiversidade estas descobertas obrigam-nos a reflectir sobre a importância da investigação e o longo caminho que ainda está por percor-rer no sentido de conhecermos e valorizar-mos o nosso património natural. Apesar de ao nível mundial apenas se conhecer a existência de 2 milhões de espécies de seres vivos, os cientistas estimam que po-dem existir entre 5 a 30 milhões de espé-cies. Ou seja, todo um mundo novo para descobrir. E parte dele aqui tão perto.

o qu

e há

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exposição da World Press Photo 2010

A Fortaleza de Maputo acolhe mais uma vez a exposição da World Press Photo, na sua terceira edi-ção em Moçambique. A exposição

itinerante, patrocinada pela Embaixada do Reino dos Países Baixos em Maputo, inclui as 167 fotografias vencedoras da edição de 2010 e estará patente de 2 a 20 de Dezembro.Anualmente, na sequência do Concurso World Press Photo, as imagens vencedo-ras correm o mundo num programa que inclui cerca de 100 cidades em 45 países. Após a abertura oficial da exposição que tem lugar em Amesterdão, em Abril, as

imagens são expostas nos diferentes locais até Março do ano seguinte. Com a parti-cularidade de este ano colocar maior enfo-que nas categorias de Natureza, Desporto e Retrato, a exposição traz-nos as fotogra-fias eleitas de entre as mais de 100.000 imagens submetidas a concurso, em dez categorias diferentes.Da deliberação dos 15 júris que anualmen-te elegem as melhores World Press Photos surge como vencedora a fotografia de Pie-tro Masturzo (Itália), que em tons cinza retrata os gritos de descontentamento de mulheres num telhado de Teerão, na se-quência das eleições presidenciais que te-

rão dado a vitória ao Presidente Mahmoud Ahmadinejad, sob acusações de fraude eleitoral. De destacar ainda a foto de Joan Bardeletti (França), vencedora do segundo lugar da categoria Quotidiano, que retrata o almoço de uma família na Costa do Sol, Maputo.A exposição deste ano integra ainda um programa paralelo do qual se destacam o workshop para profissionais e a exposição “Manifestações do 1-2 de Setembro”, am-bos na Associação Moçambicana de Foto-grafia.

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2 a 20 de Dezembro - Fortaleza de Maputo

ESTILOS DE VIDA58

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revista capital dezembro 2010

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60 ESTILOS DE VIDA

O jornal The Guardian, de Ingla-terra, tem desde 2008 um con-curso onde convida os leitores a escreverem relatos de viagem.

Este ano, o texto que ganhou a secção so-bre praias, foi o de Donal Conlon de Lon-dres que escreveu sobre a experiência de desfrutar da Praia de Maputo…O texto relata de uma forma simples um dos momentos mais descontraídos da vida de Maputo. É um retrato social divertido, onde o autor descreve os diversos tipos de personagens que habitam aquele lugar, que é um centro nevrálgico de todos. Desde as crianças que jogam à bola aos pi-queniques familiares passando pelas acti-vidades religiosas, os inevitáveis cuidados com os amigos do alheio e os casais apai-xonados, todos os fenómenos no mesmo local, todos à mesma hora. No fundo, o fascínio de conseguir ver toda uma cidade condensada numa pequena cápsula so-bressai do seu texto.

“Dream a little dream of me” foi a primei-ra música de Bublé que conheci e que ins-tantaneamente amei. Uma música que até parece estar a arranhar a inocência de um primeiro amor. Foi quase como regressar às grandes vozes do século XX. Parecia até que ouvia Frank Sinatra na voz de um ga-roto com um certo ar imberbe.Michael Bublé é um dos mais populares cantores da actual música pop românti-ca. As influências são nítidas, o jazz como pano de fundo é a força motriz da sua mú-sica, com alguns toques latinos aqui e aco-lá, convidando a um passito de dança com aquela companhia tão especial…

Uma praia que dá prémios

Michael Bublé, o neo-românticolançado pelo avô

Um fascínio provavelmente igual ao que deu o segundo lugar na categoria de ‘daily life’ a Joan Bardeletti no World Press Pho-to de 2010, do qual já referenciamos em outra edição da revista Capital.

Um pormenor engraçado... O prémio de Donal Conlon foi uma estadia num Spa no-rueguês no meio de um fiorde classificado pela UNESCO. Curioso, não é?

Rui Batista

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Nascido a 9 de setembro 1975 e de origem canadense, cresceu a ouvir a colecção de discos de jazz do seu avô que o encorajou e incutiu em Michael o bichinho do jazz. Nomes como Mills Brothers, Frank Sina-tra, Ella Fitzgerald e Bing Crosby fizeram parte da sua infância. Actuou pela primeira vez aos 16 anos em bares da sua terra natal com a ajuda do seu avô, que fazia pequenos serviços de canali-zador em troca das actuações do seu neto. Mais tarde, e não contente, o avô pagou aulas de canto a Michael com um presti-giado professor de ópera. Bublé ainda adolescente lançou vários ál-buns independentes, mas o salto para o estrelato só viria a acontecer no ano 2000, ao conhecer David Foster, um produtor famoso que trabalhara anteriormente com Madonna, Whitney Houston, Céline Dion,

entre outros célebres cantores. O encontro ocorreu quando Michael cantava no casa-mento da filha do autor dos discursos de Brian Mulroney, antigo primeiro-ministro do Canadá. Inicialmente, Foster mostrou-se relutante em assinar com Bublé pois pensava não haver mercado para este esti-lo de música. Mas assinou, e eis que o sal-do totalizou cerca de 11 milhões de discos vendidos em todo o mundo, mostrando bem que a sua opinião inicial estava com-pletamente errada.Posto isto e tendo em conta a época no-toriamente festiva e propícia a envolvi-mentos mais descontraídos, recomendo vivamente para este mês de Dezembro o seu mais recente álbum, «Crazy Love», lançado em 2009.

Sara L. Grosso

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revista capital dezembro 2010

O Mito do empresárioem Moçambique

VISÃO62

em Moçambique, como em todo o mundo, o mundo empresarial é dominado pela existência das PME, as pequenas e médias empresas. Mais de 95% do te-

cido empresarial é constituído por empre-sas com menos de 250 trabalhadores. As empresas com menos de 10 trabalhadores dominam a mancha produtiva. São as mi-croempresas.A mortalidade destas empresas é muito grande. Nos primeiros 5 anos de activi-dade, 80% das empresas desaparecem (EUA). Este facto é muito estranho, já que vivemos em sociedades onde a esperança de vida é já de 79 anos, como é o caso de Portugal. Em Moçambique, trabalha-se para lá chegar – ao nascer, segundo o INE, é apenas de 42 anos: http://www.ine.gov.mz/censos_dir/recenseamento_geral/estudos_analise/Morte. No meu caso, a FORMEDIA tem 23 anos. Há que preparar os próximos 10 ou 20 anos. A Visão Jovem Moçambicana quantos anos quer viver?

Eduardo Cruz* [texto] Não sei responder, mas quer de certeza contribuir para aumentar a esperança de vida dos moçambicanos.Por que razão tantas empresas fracassam? Por que são tão frágeis? Diz Michael Ger-ber, um empresário americano que fundou a E-Myth Academy, que o fracasso se deve ao mito do empresário.

Qual é o mito do empresário?

A ideia é de que as empresas são lançadas por empresários que arriscam capital para obterem lucros.A realidade é bem diferente. Obriga a fazer algumas perguntas que permitem desfazer o mito. Quem é o empresário? Onde estava antes de lançar a empresa? O que é que o empresário fazia? Como decidiu criar uma empresa? E, o que é que estes empresários não aprenderam, que é essencial para o su-cesso ou a sobrevivência da empresa?A verdade é que ninguém nasce empre-sário. A maior parte deles também não aprende a ser empresário. O erro fatal co-metido pela maioria deriva da sua função anterior. O empresário é geralmente um técnico que num dia, por diversas razões, resolve criar uma empresa.“Se sei fazer o trabalho técnico num certo tipo de negócio, então também sei condu-zir um negócio que faça esse trabalho”. Daqui para o desastre ou para a ineficácia vai um pequeno passo. A realidade é que o trabalho técnico e a condução do negócio são duas coisas completamente diferentes.

Entre a euforia e o desespero

O técnico que sofre do Síndroma Empre-sarial, como diz Gerber, quando se trans-forma em patrão de si próprio, passa pela euforia, depois pelo terror, pela exaustão e finalmente pelo desespero. O trabalho que gostava de fazer, transforma-se muitas ve-zes num emprego que é preciso despachar, para arranjar tempo para outras coisas que também têm de ser feitas. O prazer da actividade que exercia com competência, transforma-se numa escravidão, sem ho-ras, nem tempo para a família ou os ami-gos.

A Santíssima Trindade

A verdade é que em cada um de nós coe-xistem em graus diferentes três pessoas: o empresário, o gestor e o técnico. Cada pes-soa quer ser o Patrão. Mas nenhuma quer ter um Patrão.O Empresário representa o nosso lado vi-sionário, sonhador. A energia, a imagina-ção, o catalisador. Vive no futuro, nunca no passado, raramente presente. Manifesta forte necessidade de controlo, sobre pes-soas e acontecimentos. Para o empresário típico,as pessoas representam um problema no caminho do sonho.O gestor é pragmático. É a pessoa do pla-neamento, da ordem da previsibilidade. Prefere a manutenção das coisas, em vez da mudança. Corre atrás do empresário para limpar a confusão que este estabele-ce. A tensão entre a visão do Empresário e o pragmatismo do Gestor podemos criar a síntese que dá origem às grandes reali-zações. Infelizmente, no mundo real, isso raramente acontece.“Quem quer vai, quem não quer, manda”, é o lema do técnico. Trabalha de forma sistemática, e só é feliz quando comanda o fluxo do trabalho - mesmo que isso sig-nifique não ter prazos. O técnico detesta ser interrompido pelo empresário, cheio de novas ideias. Detesta também ser inter-rompido pelo gestor, o intrometido a evi-tar, aquele que quer impor prazos e custos que não podem ser ultrapassados.Todos temos dentro de nós um Empresá-rio, um Gestor e um Técnico. Se estas três pessoas conseguem conviver em equilí-brio, somos incrivelmente competentes. Mas quase sempre, é o técnico quem man-da. E nesse caso, o empresário está morto.Para a empresa, é o desastre, o princípio do fim.Como transformar o técnico num empre-sário que lidera uma empresa de sucesso será o objectivo do diálogo consigo. Escre-va, duvide, conteste.

* Director Geral da FORMEDIA Instituto Europeu de Empresários e Gestores, onde

desenvolve um trabalho de apoio à criação e desenvolvimento de empresas.

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