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Revista Capital 1 DESENVOLVIMENTO Gita Welch: Poucos países irão atingir os Objectivos do Milénio ENTREVISTA Joana Matsombe: The self made woman CIÊNCIA Centro de Biologia tem um lado feminino Publicação mensal da S.A. Media Holding . Abril de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº28 . Ano 03 O poder das mulheres O poder das mulheres The power of women The power of women

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Revista Capital 1

DESENVOLVIMENTOGita Welch: Poucos países irão atingir osObjectivos do Milénio

ENTREVISTAJoana Matsombe: The self made woman

CIÊNCIACentro de Biologia tem um lado feminino

Publicação mensal da S.A. Media Holding . Abril de 2010 . 60 Mt . 350 Kwz . 25 Zar . 4 USD . 3,5 EUR Nº2

8 .

Ano

03

O poder das mulheresO poder das mulheresThe power of womenThe power of women

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Editorial

A guerra dos géneros

Segundo números publicados por insuspeitas organizações internacionais, os huma-nos do género feminino já ultrapassaram os do outro género, em número, claro, mas continuam aquém deste nas oportunidades e no acesso a posições de relevo nos di-

versos aspectos da via pública e social. E não se pense que este panorama é apenas apanágio de países em vias de desenvolvimento ou daqueles onde as liberdades e direitos ainda são atropelados no quotidiano.Mesmo nos países que se consideram avançados e onde algumas mulheres lograram alcan-dorar-se a posições de relevo, a verdade é que muito ainda existe por fazer. Desde a noite dos tempos que, regra geral, a política, o empresariado, a economia e outras componentes da sociedade foram dominadas pelo homem e apenas, de quando em vez, se abriam nesgas à penetração do elemento feminino nas esferas mais elevadas do exercício do poder.É como se uma lei imutável regesse as relações entre humanos dos dois géneros e impu-sesse a supremacia de uns em detrimento dos outros. Regra estranha essa que se ancorou ao longo dos séculos no imaginário da espécie e funcionou como status quo, como direito divino e impediu que existisse mais partilha e distribuição equitativa de responsabilida-des. Ainda hoje se verifica, mesmo nos gestos mais simples, essa descriminação que nunca poderá ser considerada positiva. Até no inócuo acto de oferecer brinquedos a uma criança a tendência é que aos meninos se ofertem carros, microscópios, jogos de destreza e inteli-gência e se deixe para as meninas as bonecas, as cozinhas de brincar, as vassourinhas, os quartos de bonecas, como se o seu universo se circunscrevesse a cuidar dos filhos, a cuidar da casa, em suma, a ser uma fada do lar e a preocupar-se com o bem-estar da família, do marido e dos parentes próximos. Mesmo o livro, o mais óbvio objecto de enriquecimento cultural, entra directamente na panóplia masculina e só raramente enriquece o espólio das prendas às meninas.São tradições, dirão alguns. São princípios elementares do cimento duma família modelo, dirão os mais tradicionalistas. São hábitos que impedem a mulher de crescer com horizon-tes mais abertos e libertas de dogmas que lhes cercearão a vontade de experimentar outras experiências e negarem os lugares comuns que condicionam a sociedade, dirão os que nun-ca perderam a esperança.Felizmente que ao longo dos anos se verificaram experiências que permitiram desbravar horizontes e combater os teóricos que defendem a supremacia masculina. As mais conse-quentes nunca pretenderam desencadear uma guerra dos sexos mas apenas trazer novas premissas a um debate que sempre enfermou do facto de ser conduzido por homens.Hoje em dia o elemento feminino assume posições de relevo nas empresas, no governo dos países, na investigação científica, na arte e no desporto, numa demonstração inequí-voca que a mulher não é apenas a parceira do homem, é sua igual e ambos os géneros são complementares na construção dum mundo novo, na luta a travar para que este planeta se desenvolva de forma harmoniosa e não apenas no sentido dos lucros sem levar em linha de conta o respeito pela preservação dos recursos naturais e princípios elementares. n

Ricardo [email protected]

Ficha Técnica

Propriedade e Edição: Southern Africa Media Holding, Lda., Capital Magazine, Rua da Sé, 114 – 3.º andar, 311 / 312 – Telefone/Fax +258 21 329337 – Tel. +258 21 329 338 – [email protected] – Director Geral: Ricardo Botas – [email protected] – Directora Editorial: Helga Neida Nunes – [email protected] – Redacção: Arsénia Sitoe; Sérgio Mabombo – [email protected] Secretariado Administrativo: Márcia Cruz – [email protected] ; Cooperação: CTA; Ernst & Young; Fer-reira Rocha e Associados; PriceWaterHouseCoopers, ISCIM, INATUR – Colaboradores: Ednilson Jorge; Fátima Mimbire – Colunistas: António Batel Anjo, Benjamin Bene, E. Vasques; Edgar Baloi; Federico Vignati; Fernando Ferreira; Gonçalo Marques (Ferreira Rocha & Associados); Hermes Sueia; Joca Estêvão; José V. Claro; Leonardo Júnior; Levi Muthemba; Manuel Relvas (Ernst & Young); Maria Uamba; Mário Henriques; Nadim Cassamo (ISCIM/IPCI); Nelson Saúte; Paulo Deves; Ragendra de Sousa, Rolando Wane; Rui Batista; Samuel Zita, Sara L. Grosso – Fotografia: Helga Nunes (Capa), Joca Faria; Luis Muianga; Sara Diva; 999– Ilustrações: Marta Batista; Pinto Zulu; Raimundo Macaringue; Rui Batista; Vasco B. – Design e Grafismo: SA Media Holding – Departamento Comercial: Neusa Simbine – [email protected]; Márcia Naene – [email protected] – Impressão: Magic Print Pty, Jhb – Distribuição: Ana Cláudia Machava - [email protected]; Nito Machaiana – [email protected] ; SA Media Holding; Mabuko, Lda. – Re--gisto: n.º 046/GABINFO-DEC/2007 - Tiragem: 7.500 exemplares. Os artigos assinados reflectem a opinião dos autores e não neces-sariamente da revista. Toda a transcrição ou reprodução, parcial ou total, é autorizada desde que citada a fonte.

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Comunidades estrangeiras - Portugal

Sumário16DESENVOLVIMENTO“P0ucos países irão atingir os objectivos de Desenvolvimento do Milénio”

O Programa Nacional das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) é dirigido, em Angola, por uma moçambicana. Helga Nunes entrevistou Gita Welch, uma dirigente de créditos formados na área unitária e aproveitou o ensejo para falar das várias áreas de actuação do PNUD.

20NEGÓCIOSJovens empresários e empreendedores organizam Feira de Negócios 2010

Abril é tempo do desabrochar duma nova iniciativa de jovens empresários moçambicanos que organizam a primeira Feira de Negócios virada para este sector e que procuram o reconhecimento público das empresas geridas por jovens, entre outros objectivos. Ricardo Botas, com fotografia de Luís Muianga, entrevistou Valentina Guebuza, presidente da comissão organizadora do evento.

Receitas para cozinhar negócios

Tudo o que você sempre quis saber sobre “a cozinha” dos negócios e nunca teve coragem d eperguntar. Sérgio Mabombo foi à procura de Amélia Zambeze, empresária e conhecedora das melhores receitas que implicam o Banco Mundial e outros da nossa praça mas que exigem muito trabalho e perseverança. Helga Nunes fotografou o resultado final dos preparos.

24INDÚSTRIA

No passado número, na entrevista com a Dr.ª Graça Gonçalves Pereira, Cônsul Geral de Portugal em Maputo, a transcrição de algumas respostas pode levantar imprecisões no sentido do discurso daquela diplomata por-tuguesa. Assim, e para repor o sen-tido exacto do que foi dito, aqui dei-

xamos as seguintes precisões: - Onde se lê “… Como tal as pessoas chegam e vão-se embora sem dizer nada” deve ler-se “… Como tal as pes-soas podem chegar e ir-se embora sem se registarem no consulado”.- Onde se lê “A Mota Engil actua em todo o norte e centro de Moçambi-que

e em muitos países do mundo, nome-adamente nos países árabes, nos EUA e noutros países africanos” deve ler-se “A Mota Engil tem actividade em várias partes de Moçambique, sendo também uma das empresas portuguesas com negócios em várias partes do mundo, incluindo estados

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árabes, EUA e África”.- Onde se lê “… depois temos os grupos que são modelos como a Vi-sabeira” deve ler-se “… depois temos os grupos, como por exemplo a Visa-beira”- Onde se lê “… do processo de reno-vação de residência que tem sido um bocado demorado e complicado” deve

ler-se “…do processo de renovação de residência que tem sido, nalguns casos, um bocado demorado e com-plicado”- Onde se lê “… há aqui uma questão que nos preocupa muito” deve ler-se “… há aqui uma questão que preo-cupa muito alguns”- Onde se lê “… limitações para com-

prar casas, o que por vezes onera muito a estadia porque as pessoas querem sempre mais e os preços exi-gidos são um pouco disparatados” deve ler-se “… limitações para comprar casas, sendo que o seu arrendamento onera muito a estadia porque os preços exigidos são um pouco disparatados”

CIÊNCIACentro de Biotecnologia temum lado feminino

Junte quatro faculdades, Agronomia, veterinária, medicina e ciências. Fale, por exemplo, de toxinas cianobactérias ou de organismos geneticamente modificados aos quais adiciona um peixe-gato ou, porque não, uma pequena mosca Tsé tsé. Vai ver que daí resultará um Centro de Biotecnologia que mesmo não funcionando ainda a 100%, já dá que falar a nível internacional.

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28ENTREVISTAThe self made woman

O título em inglês esconde uma entrevista conduzida em português por Helga Nunes e com fotografia de Sérgio Mabombo, a Joana Matsombe, uma das duas administradoras do Banco de Moçambique. No mês da mulher moçambicana nada melhor para provar que o segmento feminino conquista lugares de poder e de decisão, tanto no domínio público como no privado.

39EMPREENDEDORISMOSer mulher e empreendedora

Cláudia Tivane, consultora na área de Reengenharia de Processos Empresariais e Sistemas de Gestão da Qualidade tece algumas considerações pertinentes ao mesmo tempo que traça o panorama profissional que as mulheres vivem no país.

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BOLSA DE VALORES

EM ALTA

MOZABANCO. A instituição bancária com cerca de dois anos no mercado nacional, adquiriu lucros na ordem de 2,2 milhões de dólares norte-americanos no seu último exercício, segundo o administrador de-legado da instituição, Inaete Merali. Os lucros foram obtidos numa altura em que o país e o mundo atraves-sam a crise financeira internacional.

TURISMO. O sector em Moçambique amealhou 195 milhões de dólares em 2009, segundo o ministro Fer-nando Sumbana. A receita representa uma subida de 10 milhões de dólares em relação à arrecadada em 2008 (185 milhões de dólares). O sector de turismo é considerado catalisador de desenvolvimento do país tendo uma contribuição de 1.5 por cento para o Pro-duto Interno Bruto (PIB). Receitas não compatíveis com as potencialidades turísticas existentes no país nem com o número de turistas que o país regista anu-almente.

COMÉRCIO. As trocas comerciais entre a China e os países lusófonos aumentaram para 10.697milhões de dólares (99%) até Fevereiro face aos dois primeiros meses de 2009. Dados divulgados pelo Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum Macau indicam que este colosso asiático comprou, em Janei-ro e Fevereiro, aos oito Países de Língua Portuguesa, produtos no valor de 7,04 mil milhões de dólares (5,2 mil milhões de euros) contra vendas aos mesmos de 3,65 mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de eu-ros), o que significa aumentos de 131 % e 57 %, res-pectivamente.

SOMA E SEGUE

EDM. A empresa Electricidade de Moçambique (EDM) pretende instalar duas subestações de distribuição de energia nos bairros de Zimpeto e Costa do Sol. O projecto, que poderá custar cerca de cinco milhões de meticais, deverá ser realizado nos próximos dois anos e espera-se que melhore o abastecimento de energia eléctrica em alguns bairros suburbanos da cidade de Maputo.

EM BAIXA

ENERGIA. A Eskom está sem capacidade para satis-fazer necessidades energéticas em 2011. A empresa sul-africana de fornecimento de energia eléctrica re-comendou que a África do Sul deve centrar as suas atenções no uso eficiente de energia dado que não será capaz de fazer face à procura de electricidade a partir do próximo ano. Moçambique poderá sofrer graves consequências como resultado das soluções que o governo de Jacob Zuma está a desenvolver.

MUNDIAL DE FUTEBOL. A Federação Internacional de Futebol (FIFA) reconheceu que o Mundial se en-contra em risco de ser assistido por um número muito reduzido de adeptos, devido ao número reduzido de voos para a África do Sul. Estimava-se em um milhão o número de adeptos dos jogos, mas este número des-ceu para 450 mil. Moçambique esperava conseguir atrair até 10 por cento dos turistas que visitariam a África do Sul.

Capitoon

Não duvidamos nem um pouco«As expectativas devem desaparecer… Eu como Banco Central estou aqui e digo-vos que há divisas»,Luís Gove, Governador do Banco Central face às incertezas no seio do ambiente macroeconómico (Orçamento do Estado)

Factor incremento«Cada dólar canalizado ao Orçamento do Estado equivale ao dobro se injectado directamente nos projectos porque envolve ajuda técnica»,Magid Osman, economista

Caso de Artério (esclerose)?«Há casos em que andamos três a quatro horas nas nossas estradas sem cruzarmos com nenhum outro carro, o que dá a perceber que as nossas estradas não ligam pontos estratégicos de desenvolvimento»,Nuno Castel Branco, economista

Tiro ao alvo«Se tivermos que renegociar com os mega-projectos, que o façamos com responsabilidade. Caso contrário, estaríamos a dar um tiro no nosso próprio pé», Salimo Abdula, presidente da Confederação das Associações Económicas (CTA)

Quando Golias vence David«É injusto que os mega-projectos beneficiem de apoios que as PMEs não têm»,Idem

COISAS QUE SE DIZEM…

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INVESTIMENTOSGoverno e G -19chegam a acordo

O Governo moçambicano e os Parceiros de Apoio Programático (PAPs) chegaram a um consenso sobre algumas questões que teriam contribuído para o ligeiro atraso no desembolso de fundos para o Orçamento do Estado (OE) referente ao corrente ano.O embaixador da Finlândia Kari Alanko, cujo país preside os PAPs, ou seja G19, dis-se acreditar que o programa de reformas que o Governo se comprometeu a imple-mentar durante os próximos 12 meses e nos anos subsequentes irá trazer melhorias para todo o povo moçambicano. “Estamos satisfeitos com os planos do novo Governo de promover e desenvolver a boa governa-ção e estaremos disponíveis para apoiar o Governo na implementação e acompanha-mento destas actividades”, afirmou o em-baixador finlandês.Os desembolsos tinham sido suspensos no início do ano. Em Janeiro, o Governo espe-rava um desembolso de 175 milhões de dó-lares, o que não chegou a acontecer. Para este ano, o G19 deverá desembolsar 472 milhões de dólares.Na ocasião, o ministro da Planificação e Desenvolvimento, Aiuba Cuereneia, disse que os pontos essencialmente discutidos com o G19 tratavam sobre o último proces-so eleitoral, combate à corrupção, reformas no sector público, entre outros assuntos.Aiuba Cuereneia garante que o atraso no desembolso de fundos por parte de alguns membros do G19, não teve um impacto significativo no funcionamento do Estado pelo facto de o parlamento moçambicano, ainda não ter aprovado o Orçamento do Estado para 2010.

ENERGIAMissão Energia Moçambique 2010 O Serviço Económico da Embaixada da França e UBIFRANCE organizam, do dia 10 ao dia 12 de Maio, uma missão no sentido de descobrir as oportunidades de negócio no sector da energia em Moçam-bique. Por esta ocasião, uma delegação de 14 empresas francesas, como a Areva, Sch-neider Electric, SDMO, Arras Maxei, Sergi Holding, Alstom Power Service, ETDE, Si-camex, Gemco Internacional, GC Software, Tenesol, Nexans, Hycon, e a Gindre, esta-rão presentes em Maputo, e irão participar em encontros com as principais empresas

públicas e privadas do sector energético, (EDM, HCB, FUNAE, Ministério da Ener-gia, entre outros). Os encontros a realizar serão colectivos e individuais.

COMÉRCIOFronteira Únicapode impulsionar comércio

O ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, defendeu que a entrada em funcionamento este ano da fronteira única irá incrementar as trocas comerciais com a África do Sul.Com a fronteira de paragem única, a África do Sul e Moçambique vão passar a realizar o desembaraço aduaneiro de bens e merca-dorias em instalações comuns, passando-se o mesmo com a averiguação da legalida-de das pessoas em trânsito para ambos os lados da fronteira. O novo esquema vai evitar que se repitam os actos já realizados num ou noutro país e assim garantir-se a facilidade do comércio e trânsito de pessoas entre os dois estados. Além do bloco onde vão funcionar os servi-ços de desembaraço aduaneiro, que serão instalados do lado moçambicano, foi dado o início da construção de um pequeno tro-ço de estrada, onde vão passar os veículos em trânsito pelo posto fronteiriço e de 51 casas para as famílias retiradas do espaço abrangido pelo projecto. O custo da paragem de fronteira única para Moçambique que, deve estar pronta até fi-nal deste semestre, é estimado em cerca de cinco milhões de euros.

WWFEnergias renováveis atraem estudantes

A recente iniciativa ambiental denominada “Hora do planeta” levada a cabo pela WWF¬- Moçambique, em parceria com o Fundo de Energia (FUNAE) e outros parceiros, veri-ficou um surpreendente interesse por parte de jovens estudantes, segundo constatou a presidente do FUNAE, Miquelina Meneses.Segundo Miquelina Meneses, a adesão dos jovens à Feira das Energias Renováveis con-firma que esta camada não está alheia às ac-tuais preocupações ambientais na dimensão mundial, facto que abre boas perspectivas para a continuidade da prática em Moçam-bique. Na mesma perspectiva das energias renováveis, o FUNAE leva a cabo o projecto de introdução de bombas de combustíveis a energia solar que, segundo Miquelina Me-neses, tem conquistado cada vez mais es-paço nos distritos.Quanto à energia eólica, já começa a vislum-brar-se dados positivos sobre as potenciali-dades de algumas zonas do país para a elec-trificação, cuja conclusão levará no mínimo quatro anos de medição das potencialidades do vento nas referidas zonas.Dos sítios onde se evidenciam potenciali-dades de captação de energia eólica, desta-cam-se a Ponta do Ouro e a praia da Barra, em Inhambane.No actual contexto em que o grande debate a nível mundial é a utilização racional da energia eléctrica de modo a poluir menos, para o caso especifico de Moçambique (um país ainda em desenvolvimento), o grande desafio é superar o actual nível de acesso que é de 14 por cento.Na possibilidade do país vir a sonhar com uma cidade com espaços públicos e par-químetros electrificados com sistemas so-lares, Miquelina Meneses avança ser posi-tiva a ideia mas aponta a necessidade de priorizar o investimento de electrificação das zonas rurais, onde nem sequer há e-nergia.

MOçAMBIquE

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Sergio Mabombo (texto) . Luis Muianga (foto)

Quando faltam menos de 100 dias para o arranque do Mundial de Futebol 2010 que promete movimentar cerca de 10 milhões de turistas, os países da região austral de África fazem os últimos preparativos de modo a poderem ganhar o maior número de visitantes. Num clima nítido de concor-rência, os empreendedores no sector do turismo nacional apontam como valores de atracção o ressuscitado Parque Nacional de Gorongosa ou o potencial bush and beach, a gastronomia, a hospitalidade dos nativos e a proximidade face ao país anfitrião da Copa como elementos a favor de Moçambique.

Enquanto a nível cultural os países vizi-nhos têm atraído os turistas apostando em eventos cíclicos como o Bush fire (na Sua-zilândia), Harambee gourmet (na África do Sul), Gaberone beer (Botswana), o País, por sua vez, ainda dá os primeiros passos firmes nesse sentido, segundo Quessanias Mat-sombe, presidente da Associação dos Hotéis da Zona Sul de Moçambique.

Entretanto, a nível infraestrutural, já não é suficiente andar mas sim correr segundo evidenciam os operadores turísticos que no actual contexto pretendem capitalizar negócios que perdurem para além da Copa do Mundo. Os mesmos apontam que o país tem muito a fazer relativamente à rede de fornecimento de água e energia, sem no en-tanto deixarem de sublinhar a sua preocu-pação face ao estado das vias de acesso.

A Copa do Mundo - prestes a ouvir o pri-meiro apito - é apontada como o principal factor para gerar um aumento de cinco por cento de turistas em África, enquanto o res-to do mundo registou um decréscimo de quatro por cento - uma tendência que irá perdurar segundo os analistas.

A referida tendência é encarada como uma oportunidade pelos operadores nacionais de turismo ao mesmo tempo em que apon-tam os factores que jogam contra alguns países da SADC. No caso de Moçambique, o turista tem de passar a conduzir nas nossas estradas sem lhe ser exigido “refrescos” pe-los polícias de trânsito, segundo Quessanias Matsombe, que se demonstra preocupado

ainda com os vistos de entrada e o longo tempo de espera de que os turistas são alvo nos aeroportos.

Por seu turno, a África do Sul terá de fa-zer uma grande reviravolta para estancar o principal receio dos turistas em escalar o seu território: a criminalidade. Este detrac-tor poderá fazer com que os sul-africanos percam um terço dos 10 milhões de turis-tas esperados inicialmente - uma meta que representa um aumento de 20 por cento, considerando os 8.4 milhões registados em 2009.

Na esteira da criminalidade, Moçambique não foge à regra, e o factor limitante poderá lançar os quatro milhões de turistas que o Governo perspectiva como meta para 2010 a favor dos países apontados como relativa-mente estáveis, como é o caso da Suazilân-dia, Namíbia ou Botswana.

De um universo de 900 milhões de turis-tas, a nível mundial, actualmente África ab-sorve somente 50 milhões, sendo que uma parte considerável deste número tende a escalar a zona da SADC motivada sobretudo pelo Mundial de Futebol. n

Prós e contras do turismo nas vésperas da Copa 2010

TuRISMO

A primeira edição do “Festival Mafalala”, re-alizada em Janeiro deste ano no bairro que leva o nome do evento, atraiu cerca de seis mil espectadores de entre os quais um núme-ro considerável de turistas. A agenda do festival compreendeu a realiza-ção de uma feira de gastronomia e artesa-nato e ainda espectáculos de grupos musicais e de teatro e o evento constitui, ao mesmo tempo, um espaço onde os residentes criam renda vendendo a gastronomia típica aos turistas.O “Festival Mafalala” tem as suas próximas edições agendadas para Março, Maio e Julho e está inserido no Projecto Mafalala Turística sob a égide da IVERCA, que organiza o even-to em parceria com o Conselho Municipal da Cidade de Maputo, e o apoio da Embaixada

de Espanha, Instituto Nacional do Turismo (INATUR), SNV (Cooperação Holandesa) e demais parceiros. A iniciativa tem como objectivo contribuir para a diversificação da oferta turística da Ci-dade de Maputo, a partir do desenvolvimento de um novo e atractivo pólo de turismo cul-tural e suburbano, explorando a história, as tradições e os demais elementos que cons-tituem a identidade desta importante locali-dade e do país.Segundo Ivan Laranjeira, a principal moti-vação para que o empresariado adira a esta iniciativa passa pelo facto de o mesmo poder contribuir para numa nova abordagem da cultura nacional.

SM

‘Festival Mafalala’ atrai milhares

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INATuR

Entrevista ao Director-geral do Inatur

As zonas de interesse turísticoNa continuação da entrevista ao Director-geral do Inatur, Bernar-do Dramos, aborda-se desta vez a diferença entre diversos tipos de turismo, de entre os múltiplos que Moçambique pode oferecer a quem se deixa tentar pelas suas riquezas naturais. Mas ainda existe espaço para o início da explanação das es-tratégias para a promoção do país como destino turístico, essencial-mente junto de potenciais clientes no estrangeiro.

Podem considerar-se dois tipos de turismo, um de lazer e outro de negócios… qual destes dois está em vantagem, em termos percentuais?

Neste momento, acredito eu, há uma tendência clara para uma predominância muito grande do turismo de negócio. O que está a acontecer efectivamente é que Maputo e Moçambique, pelas suas con-dições actuais, de ser um país em paz, país seguro, país em franco crescimen-to, consegue constituir-se num elemento de atracção de interesses de negócios, atracção de interesses de investimentos, atracção em outros tipos de actividades inclusive de conferências, seminários de natureza empresarial, político, religioso e de outra natureza. Por estes factos, gran-de parte das pessoas se desloca a Moçam-bique com essa missão de estar a desem-penhar alguma actividade que não seja de puro lazer. É por isso que, se formos a observar, vamos constatar que Mapu-to cidade e arredores, até este momento, constituem o grande pólo de recebimento de turistas. Acontece que estas pessoas, cada vez que vêm, descobrem que Mo-

çambique tem muito mais a oferecer do que simplesmente ser um ponto de atrac-ção por causa da sua estabilidade políti-ca, seu crescimento económico, pela sua segurança. Então, quando estas pessoas vêm pela segunda vez tendem a trazer família. Enquanto está a participar numa conferência tem a família que está a usu-fruir do lazer numa ilha como Inhaca ou vai a Bilene. E muitos destes, trazendo ou não a família, passado um ou dois dias da conferência, normalmente viajam com dois ou três dias extras que é para o seu lazer. Mas também é importante obser-var que a cidade de Maputo ainda assim consegue ser dos poucos pólos de atrac-ção que pode oferecer mais do que uma promoção turística ao mesmo tempo. En-tão, a cidade de Maputo consegue ser um pólo que tem uma estrutura de animação turística mais completa quanto possível. Na cidade de Maputo temos uma cadeia de restauração e pode-se usufruir de um turismo gastronómico ao longo dos dias, bastante diversificado. Maputo tem uma vida nocturna vibrante, salas de jogos, discotecas, cadeia de bares… esta é a razão que faz com que predomine o mo-vimento turístico com pendência para o negócio. É importante reconhecer que está em franco crescimento o turismo de lazer, um turismo de lazer que se nota tanto na cidade como na província de Ma-puto como se estende também a outros destinos fora de Maputo. Por exemplo, temos destinos como Vilankulos, temos destinos como Závora, temos a Ponta de Ouro, Bilene, Pemba que começam a ser pólos de atracção turística. A maior parte das pessoas que vai para lá não vai com motivação de negócios mas cria espaços

de prazer, como a nossa grande costa que é constituída por grandes ilhas que são destinos paradisíacos, ilhas tropicais, onde as pessoas vão para usufruir de um turismo de lazer.

Que estratégia o INATUR usa para a promoção de Moçambique como destino turístico?

Há uma estratégia genérica que adop-tamos, que é reconhecer que o país ain-da não está estruturado de forma a criar uma promoção individualizada como destino turístico. Trabalhamos no sen-tido de consolidar os produtos que nós temos. Enquanto vendemos o destino “país-Moçambique”, para torná-lo su-ficientemente maduro, conhecido, no meio do processo vamos continuar a ofe-recer produtos específicos. Quero com isto dizer que estrategicamente teríamos pouco sucesso em vender, por exemplo, uma província específica como um des-tino turístico. Entretanto, estamos a ter resultados bastantes positivos em vender o país como destino. Dentro do destino turístico aí começámos já a vender pro-dutos; podemos vender o arquipélago das Quirimbas, numa primeira fase, não como destino, mas como um produto de destino-Moçambique. Começámos a ven-der a cidade de Maputo como um produ-to do destino turístico Moçambique. Nes-te momento, estamos a trabalhar dessa forma e esta forma tem surtido efeitos importantes porque a principal atracção continua a ser Moçambique e as pesso-as começam a ter noção de que Moçam-bique tem algo diversificado a oferecer. Este é um factor importante.n

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Helga Nunes (texto)

A política de subsídios aos combustí-veis fósseis em Moçambique custou ao Estado, em dois anos, cerca de 230

milhões de dólares. O valor em causa englo-ba 115 milhões de dólares em impostos não cobrados na importação de combustíveis, ao longo da crise do petróleo em 2008, e o restante foi direccionado para a compensa-ção concedida às gasolineiras.

Em 2008, o preço da tonelada de gasóleo aumentou mais de 59% ao subir de 836.2 para 1.327 dólares (de Janeiro a Julho), ao mesmo tempo que o barril de crude chegou a custar 150 dólares. Não obstante, o preço de venda ao público mateve-se nos 35.35 meticais aprovados em Janeiro até Outubro de 2008 – altura em que o Governo come-çou a introduzir reduções aos preços dos combustíveis.

Tendo em conta a persistência da subida dos preços no mercado internacional e a insuficiência de medidas de alívio imple-mentadas, em Junho de 2008 o Governo efectuou um novo agravamento dos pre-ços dos combustíveis internamente, acom-panhado de novas medidas de mitigação. Entre as medidas em causa, sublinha-se o adiamento da cobrança de direitos aduanei-ros na importação de gasóleo e petróleo de iluminação, usados para o transporte, agri-cultura e geração de energia, bem como o diferimento na cobrança do IVA.

Na mesma altura, o Governo negociou com as distribuidoras no sentido das mes-mas reduzirem a sua margem de lucro tal como as tarifas, taxas e compensações asso-ciadas à importações de combustíveis. En-tretanto, a tendência da redução de preços no mercado internacional decorreu, entre Julho de 2008 e Fevereiro de 2009, com o barril a atingir 42 de dólares em Janeiro, um fenómeno que foi seguido da redução dos preços dos combustíveis por parte do Governo moçambicano. A última revisão dos preços decorreu em Março de 2009, e desde então tem vindo a registar-se uma tendência para a subida do preço do barril e da tonelada dos refinados, facto que obri-gou o Estado a optar pela continuidade da política de subsídio, cujo término o ocorreu no primeiro trimestre deste ano.

A 24 de Março de 2010, os preços dos combustíveis aumentaram. O litro da gaso-lina passou de 23,10 meticais para 26,57; o gasóleo registou uma subida de 2,25 para 24,70 meticais; o petróleo de iluminação passou de 15,58 meticias para 17,92 e o gás

registou uma subida de 1,84 meticais por kg. Este aumento sucede quando se sabe que, entre 2008 e 2009, o consumo médio de combustível em Moçambique aumentou cerca de 25%. Curiosamente, só o consumo da gasolina cresceu cerca de 45% (facto que se explica devido ao aumento de importa-ção de viaturas).

Contudo, a subida não irá implicar o au-mento das tarifas dos transportes públicos. E os sectores produtivo e de transportes continuarão a merecer o cuidado do Gover-no, uma vez que o desconto na taxa de com-bustíveis irá manter-se no gasóleo. Decorre uma redução de 50% na importação de ga-sóleo para o funcionamento da maquinaria agrícola; para o sector das pescas (incluindo a artesanal e semi-industrial); para o sector da indústria mineira e para os transportes colectivos de passageiros. Nesse sentido, o gasóleo destinado a tais actividades passa a custar 20,40 meticais/litro, face aos ante-riores 18,16 meticais praticados.

Apesar da especial atenção aos sectores produtivo e de transportes, o que se consta-ta é que os preços dos combustíveis são tudo menos padronizados pelo país fora. Se na província de Maputo, mais concretamente nas cidades de Maputo e Matola, os preços da gasolina e do gasóleo (PVP Petromoc) situam-se, de facto, nos valores de 26,57 e 24,70 meticais o litro, respectivamente, à medida que a distância face à capital do país aumenta, os preços crescem.

A título de curiosidade, na Ponta do Ouro, a gasolina custa 32,05 e o gasóleo 29,35 meticais. Já na cidade de Xai-Xai, na pro-víncia de Gaza, a gasolina apresenta o pre-ço de 28,18 meticais e o gasóleo de 26,31. Em Inhassoro (província de Inhambane) os preços de venda ao público são de 32,19 e 30,32 para gasolina e gasóleo.

Uma vez em Cabo Delgado, os preços elevam-se ainda mais. Na cidade de Pemba, a gasolina custa 29,67 e o gasóleo 27,80, e em Mocímboa da Praia, 31,51 e 29,64 meti-cais. E a tendência parece acentuar-se ainda mais na província da Zambézia, dado que a gasolina custa segundo as tabelas 33,63 e o gasóleo 31,76 meticais por litro, na localida-de do Gilé.

Quanto à província de Tete, na cidade de Tete a gasolina é vendida a 31,46 e o gasóleo a 29,59 meticais, enquanto em Magoe custa 33,68 e 31,81 meticais, respectivamente. Por último, na província de Nampula, os preços mantêm-se nos 26,57 e 24,70 meticais o li-tro para a gasolina e gasóleo em Nacala, ao passo que em Moma os valores atingem os 30,04 e os 28,17 meticais por litro.

Em resumo, os preços não são standarti-zados e agravam-se com o distanciamento em relação aos grandes centros urbanos e abastecedores, prejundicando todo um mercado que vai registando aumentos em outros bens de consumo que, por sua vez, carecem de transporte. n

Combustíveis ‘minam’ mercado de consumo

EFEITO COLATERAL

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Gita Welch, directora do PNUD em Angola

Helga Nunes (entrevista)

O Programa das Nações Uni-das para o Desenvolvimento (PNUD) é dirigido em Angola por Gita Welch, uma moçam-bicana de créditos firmados na área humanitária. No sentido de saber como age aquele or-ganismo no que diz respeito à promoção do empreendedoris-mo, procurámos saber em que género de parcerias participa e que tipo de programas, fun-dos e financiamentos existem. É notório o desenvolvimento de uma rede de parcerias que permitem cruzar interesses e experiências num país que aposta, actualmente, na des-centralização, na formação e no acesso a serviços de micro-finanças.

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Quénia oficializou uma parceria com o Equity Bank no sentido de imple-mentar um fundo de 81 milhões de dólares para empréstimos destina-dos ao segmento feminino. Existe al-gum esforço do género a decorrer em Angola?

Em Angola, o PNUD aposta também nas parcerias público-privadas como platafor-ma importante na luta contra a pobreza e no microcrédito como um dos instrumen-tos com grandes potencialidades de eficácia nessa luta. Acreditamos também na inclu-são deliberada e massiva de mulheres em todos os nossos programas, já que a mulher é agente fundamental na sobrevivência e transformação qualitativa das sociedades, e já que ela constitui quase que invariavel-mente mais de 50% da população activa em qualquer parte da África Sub-Sahariana, estando também em maior número entre a população mais carente.

O Programa do PNUD Quénia é certa-mente uma referência positiva para outros escritórios do PNUD. É uma parceria entre o PNUD, o ‘Equity Bank’ e o Governo do Quénia (por intermédio do Ministério do Comércio). O objectivo geral do programa é

a promoção de um empreendedorismo fe-minino sustentável como parte da estratégia nacional de luta contra a pobreza. Em par-ticular o programa destina-se a contribuir para uma maior produtividade; um maior e melhor acesso ao mercado e uma maior competitividade entre empresas lideradas por mulheres. No contexto do programa, o ‘Equity Bank’ desenvolveu seis produtos financeiros (vários tipos de empréstimos e serviços financeiros) destinados às neces-sidades de mulheres empresárias. Nesta parceria, o PNUD ocupa-se essencialmente da componente de capacitação que inclui: capacitação empresarial, diagnóstico em-presarial e apoio técnico, e capacitação no uso da plataforma de Negócios através da Internet (E-business). Este modelo de de-senvolvimento de negócios tem estado a atrair o interesse de outros bancos.

O PNUD lançou em Angola o Empre-tec, um projecto de fortalecimento do pequeno empresário através de mi-crocrédito e formação profissional, avaliado em 4 milhões de dólares. Como está a funcionar o programa e quais os resultados apurados?

O programa lançado pelo PNUD em An-gola foi o Programa Empresarial Angolano (PEA) em Junho 2004, no âmbito de uma parceria entre nós, o Governo de Angola e a CHEVRON. O objectivo desse programa é facilitar o desenvolvimento de micro, pe-quenas e médias empresas através do forta-lecimento de instituições públicas e associa-ções empresariais. A parceria estendeu-se a ONGs e outras instituições. A Empretec foi apenas uma das parceiras do PEA neste programa.

No âmbito de microfinanças, o PEA faci-litou o estabelecimento da estrutura e con-tribuiu significativamente para o fortaleci-mento da mesma. Devo também salientar a importância da nossa contribuição através do PEA para a melhoria exponencial que hoje se verifica em relação ao quadro legal e ambiente facilitador para o estabelecimento de negócios e para o acesso a serviços de mi-crofinanças em Angola.

O PEA criou ainda a Incubadora de Em-presas em Luanda e o Centro de Informa-ção Empresarial, tendo também facilitado a criação do Conselho das Associações Em-presariais em Angola. A Incubadora funcio-

«Poucos países irão atingiros objectivos de Desenvolvimento do Milénio»

DESENVOLVIMENTO

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Revista Capital 17

na desde Novembro de 2005, estando a sua gestão a cargo do INEFOP (Instituto Nacio-nal de Emprego e Formação Profissional). Pouco menos de mil pessoas passaram já pela Incubadora de Luanda, tendo a criação subsequente de empresas pelos ‘incubados’ gerado postos de trabalho. A percentagem de mulheres que passam anualmente pela incubadora é agora de 20% e isto represen-ta uma melhoria em relação a dados de anos anteriores. Mas se quisermos aliar estas ini-ciativas à redução da pobreza, a nossa advo-cacia em relação aos serviços da incubadora de Luanda e do Centro de Informação Em-presarial tem de ser mais especificamente direccionada ao grande número de mulhe-res pobres que fazem os seus negócios nos mercados informais, que proliferam em Luanda. É também necessário que se repli-quem pelo menos os serviços de informação empresarial em outras províncias e nas zo-nas rurais, já que o conceito de incubadora em si não é necessariamente o mais viável em termos dos custos que acarreta.

No Brasil, o PNUD também apoia projectos voltados para microem-presas. Um deles é o Sebrae-PNUD Microcrédito, que amplia a assistên-cia a instituições de microcrédito. De que modo pensa que essa assistência pode ser benéfica? Existe algum pro-jecto do género em África?

O SEBRAE foi criado no princípio dos anos 70 e o programa tem sido bem sucedido no Brasil. O SEBRAE promove o apoio bilate-ral a países seleccionados, nomeadamente no âmbito da CPLP. O nosso Programa Em-presarial Angolano (PEA) tem também uma parceria com o SEBRAE, o qual entre outras iniciativas presta apoio técnico à Incubado-ra e à formação aos seus quadros.

No decorrer do encerramento de uma acção de formação sobre gover-nação local, em Ndalatando (Provín-cia do Kwanza Norte), reafirmou o compromisso do PNUD em promo-ver o desenvolvimento do país atra-vés de uma estreita cooperação com o Governo, no sentido de fortalecer a capacidade das administrações. De que modo a formação tem sido rele-vante para melhorar os índices de go-vernação?

A descentralização e governação local são áreas prioritárias para o Governo de Angola. A estratégia de descentralização em Angola é faseada. Em primeiro lugar assistiu-se a um processo de desconcentração adminis-trativa (transferência de funções), acompa-nhada de uma desconcentração financeira (o estabelecimento de alguns municípios como unidades orçamentais. A esta fase segue-se uma fase de autarcização completa (consolidação do poder local).

O projecto de descentralização do PNUD em Angola, procura apoiar as diferentes fases da descentralização com um progra-ma abrangente de capacitação aos 18 mu-nicípios e cinco províncias onde ele opera. Importa também referir a importância do investimento público como suporte para este programa. Assim, o Decreto Lei 8/08 que cria um Fundo de Apoio aos Municípios tem importância crucial em assegurar uma implementação efectiva das novas atribui-ções e funções dos municípios, conforme eles se vão capacitando para o fazer.

No programa de descentralização, o PNUD de Angola entrou em parceria com os Ministérios da Administração do Terri-tório, da Família e Promoção da Mulher, do Planeamento e das finanças, bem como cinco Governos Provinciais (Bengo, Uíge, Kwanza Norte, Malanje e Bié), e 18 muni-cípios. O programa conta com os apoios da Cooperação Espanhola, Cooperação Portu-guesa, e DFID. O objectivo das formações no âmbito deste projecto é fortalecer a ca-pacidade dos órgãos municipais para uma eficiente administração e gestão local, que beneficie a população. É também objectivo do programa instaurar um tipo de gestão participativa, que inclua mulheres, homens e jovens, que ausculte as autoridades tradi-cionais, as igrejas, a comunidade em geral, o sector privado local, aqueles que são afinal os actores incontornáveis de um desenvol-vimento humano sustentável ao nível local.

As acções de formação têm incidido em que áreas?

As acções de formação têm incidido nas áreas de fortalecimento da capacidade téc-nico profissional dos dirigentes municipais em questões de planeamento e orçamenta-ção, contabilidade e finanças, inclusão de aspectos relativos à promoção da mulher e igualdade de género nos planos de desen-volvimento e na gestão local; no fortaleci-mento da gestão pública, e da capacidade de provisão de serviços essenciais básicos à população local (incluindo através de parcerias público-privadas); no reforço da capacidade dos profissionais e técnicos das administrações locais na supervisão e ges-tão de programas de investimento público para o desenvolvimento local e, por fim, no empreendedorismo, microempresas e mi-crocrédito.

Estamos a completar a fase inicial das for-mações, mas estou em crer que os resultados começam já a ser visíveis. Nos Municípios e nas Comunas existe uma vontade enorme de aprender mais e de ‘fazer melhor’, e há um pragmatismo refrescante na busca de resultados rápidos, reais e palpáveis para a melhoria das condições de vida das pessoas. A descentralização em Angola abrange todo o território nacional, e o nosso programa é apenas um ‘piloto’, uma demonstração da-quilo que se pode conseguir se se priorizar a capacitação dos municípios e se fizer o

«Poucos países irão atingiros objectivos de Desenvolvimento do Milénio»

DESENVOLVIMENTO

«Sabemos que, por exem-plo, na nossa região poucos países irão atingir os Objec-tivos de Desenvolvimento do Milénio no ano 2015. Na África Sub-Sahariana, in-felizmente não se têm feito muitos progressos em rela-ção àquilo que são os gran-des entraves ao desenvolvi-mento: Em muitos países a incidência do SIDA aumen-tou nos últimos anos, ao in-vés de diminuir. Mulheres grávidas e crianças conti-nuam a morrer desneces-sariamente e em propor-ções alarmantes, por falta de cuidados primários de saúde ou por doenças pre-veníveis e curáveis como a malária e as doenças diar-réicas»

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18 Revista Capital

Gita Honwana Welch, natural de Moçambique, é directora do PNUD em Angola desde Abril de 2006. Ocupou desde Novembro de 2001 até Março de 2006, o cargo de directora do Grupo de Governação Democrática no Bu-reau das Políticas de Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em Nova Iorque.Em Moçambique exerceu as funções de delegada do Ministério Público e Juiza nos Tribunais Provincial e da Cidade de Maputo, bem como directora do Depar-tamento de Investigação e Legislação do Ministério de Justiça, entre 1978 e 1989.Iniciou a sua carreira nas Nações Uni-das há cerca de 15 anos, como repre-sentante para a África Austral do Fundo de Desenvolvimento das Nações Uni-das para a Mulher. Antes de se juntar ao PNUD (sede em Nova Iorque) em Novembro de 2001, fez parte da Admi-nistração de Transição de Timor Leste pelas Nações Unidas (UNTAET), como Ministra da Justiça, de Abril de 2000 a Outubro de 2001.Após ter frequentado a Faculdade de Direito de Lisboa, licenciou-se em Direi-to pela Universidade Eduardo Mon-dlane (Moçambique), em 1982. Tem um Mestrado em Direitos Humanos pela Universidade de Columbia (Nova Iorque) e um Doutoramento em Direito Internacional e Direitos Humanos pela Universidade de Oxford (Grã-Bretanha), o qual lhe foi outorgado em Dezembro de 1993.

O percurso profissionalde Gita Welch

DESENVOLVIMENTO

investimento inicial necessário ao nível dos municípios. As acções de formação deverão rapidamente estender-se a todos os municí-pios. Felizmente, existe uma enorme vonta-de política para que isso aconteça.

Gostava também de referir uma compo-nente não menos importante deste progra-ma. Trata-se de uma parceria entre o PNUD e a Universidade Agostinho Neto, a qual estabeleceu recentemente um curso de pós-graduação em Políticas Públicas e Governa-ção Local. Este curso que conta com o apoio da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e da Universidade de Minas Gerais (Brasil), incentivará estudos, pesquisas e trocas académicas que beneficiem e fortale-çam o processo de descentralização e gover-nação local em Angola.

O microcrédito e a micro-empresa para o desenvolvimento rural’ foi um dos cursos ministrados nas provín-cias. Será esta uma estratégia para fugir ao investimento centrado nos mega-projectos?

O microcrédito e a assistência às micro, pequenas e médias empresas são uma par-te essencial da nossa estratégia de acelerar o combate contra a pobreza e promover o desenvolvimento sustentável. Todavia, para que se alcance algum nível de qualidade, e portanto de competitividade, pensamos que deveríamos facilitar parcerias com os gran-des projectos e relevantes ‘cadeias produ-tivas’. Por outras palavras, no nosso apoio activo ao empreendedorismo devemos po-sicionar mesmo as microempresas de forma a capturarem um mercado que agora se lhes escapa completamente. O alinhamento das micro e pequenas empresas nascentes, com as necessidades dos ‘megaempreendimen-tos’ que podem ser satisfeitas localmente é uma estratégia que já foi posta à prova em vários sítios, e que pode funcionar bem, para gerar emprego localmente, bem como assegurar crescimento e a própria susten-tabilidade das micro e pequenas. Em An-gola, esperamos poder brevemente testar o modelo de ‘cadeias produtivas’, com o lan-çamento de uma iniciativa global do PNUD que tem sido chamada de ‘Promoção de Ne-gócios Sustentáveis’ (Growing Sustainable Business).

Quais os principais desafios que a Dra. tem enfrentado enquanto direc-tora do PNUD em Angola e qual foi o momento mais marcante que viveu?

Os principais desafios têm mais que ver com a tarefa em si do que com Angola. O PNUD tem o mandato de apoiar os países na redução da pobreza e promoção do de-senvolvimento humano sustentável. Mas todos sabemos que, por exemplo, na nossa região poucos países irão atingir os Objecti-vos de Desenvolvimento do Milénio no ano 2015. Na África Sub-Sahariana, infelizmen-

te não se têm feito muitos progressos em re-lação àquilo que são os grandes entraves ao desenvolvimento: Em muitos países a inci-dência do SIDA aumentou nos últimos anos, ao invés de diminuir. Mulheres grávidas e crianças continuam a morrer desnecessa-riamente e em proporções alarmantes, por falta de cuidados primários de saúde ou por doenças preveníveis e curáveis como a ma-lária e as doenças diarréicas. Pese embora algum sucesso em termos de uma pequena melhoria nos processos de governação em alguns países, a ‘boa governação’ que con-duza ao acesso de todos (incluindo os mais pobres), aos serviços essenciais básicos, que conduza a uma distribuição equitativa de recursos, é ainda um sonho para a maioria.

Especificamente em Angola, o PNUD e o sistema das Nações Unidas, esforçam-se por apoiar o Governo naquilo que são as prioridades nacionais de desenvolvimento, dentro de um quadro de apoio, mutuamen-te concordado entre as Nações Unidas e o Governo de Angola.

No meu trabalho em Angola, como em vários outros sítios, tem havido necessa-riamente muitos momentos marcantes. Não sendo fácil destacar ‘o momento mais marcante’ eu expressaria a minha apre-ciação pelo apoio e parcerias de que tenho desfrutado por parte dos nossos contrapar-tes incluindo Ministérios, Universidades, e Organizações não Governamentais.

De que modo antevê o desenvolvi-mento socioeconómico em Angola durante os próximos cinco anos?

O Governo tem reconhecido quão essen-cial é a diversificação da economia, e a cria-ção de algum equilíbrio entre as indústrias extractivas e outros sectores tais como a agricultura, as pescas, as indústrias trans-formativas, entre outros. Como é bem sabi-do, a recente crise financeira global abran-dou consideravelmente o crescimento da economia em Angola. Isto, por sua vez, teve um impacto negativo sobre as reservas em moeda estrangeira e em consequência sobre o Kwanza, com reflexo na inflação e no nível geral de preços. Importa porém dizer que o grande investimento feito nestes últimos anos, na recuperação e melhoramento das infraestruturas será um factor importante na promoção de uma maior circulação de pessoas e bens e, consequentemente, no desenvolvimento económico local. Quer-me parecer que com a recente assinatura de um acordo de ‘stand-by’ entre Angola e o Fundo Monetário Internacional, e o estreitamento de relações comerciais com países tais como a China, Angola tem reais possibilidades de manter ou aumentar o seu ritmo de cres-cimento e de implementar eficazmente os seus planos para a diversificação da econo-mia, criação de emprego e redução signifi-cativa da pobreza no país.n

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Lourenço Gadaga, economista

Factores que determinam nos aci-dentes de viação.

Gostaríamos neste trabalho de fazer uma abordagem sobre a política das explicações simplistas, cómodas e financeiramente prejudiciais ao empresário operador de transportes, e concentrarmo-nos nos di-versos factores que conduzem a acidentes, como por exemplo, a má condução como causa fundamental dos acidentes, pois o excesso de velocidade é já um factor de má condução.

Causas dos acidentes

As principais causas dos acidentes são sobejamente conhecidas. A velocidade ex-cessiva é a causa de cerca de um terço dos acidentes mortais e graves.

Numa primeira avaliação perante um acidente de viação as primeiras sensações afiguram-nos ser:

• O stress do motorista;• O cansaço;• Excesso de Velocidade;• Consumo excessivo de álcool;• Visibilidade (situação ambiental nas

vias etc.)Tudo certo e lógico, mas há que olhar sob

ponto de vista dos aspectos globais que constituem as causas, ou seja, factores que contribuem para os acidentes rodoviários, portanto, sob ponto de vista do comporta-mento do condutor, do peão, sistema de fiscalização e nas suas dimensões econó-micas, sociais e culturais.

Por conseguinte, consideram-se “factores associados à ocorrência de acidentes” com vítimas humanas e materiais com signi-ficância estatística, na maioria dos casos como sendo:

- factor “Humano” - factor “Ambiental”

- factor “Veículo”

- factor “Peão na Via Pública”

Vejamos caso por caso.

a) O factor “Humano”O factor humano é o mais importante res-

ponsável na ocorrência dos sinistros rodo-viários.

No plano do sinistro, o factor humano está associado tanto a condutores de veí-culos como a peões que frequentemente atravessam as vias.

A maior parte dos sinistros graves ocor-re devido ao erro humano associando-se a cultura geral de uma sociedade.

A cultura de um país reflecte-se no desem-penho dos condutores e, por conseguinte, é reflexo tal como as vias, a sinalização e o seu estado de conservação, também o são:

O comportamento humano deriva dos as-pectos demográfico, económico e social de cada sociedade. O indivíduo com sua per-sonalidade comporta-se no seu meio am-biente sócio-cultural, e estabelece normas e regras de conduta.

O comportamento diferenciado perante os acontecimentos resulta do meio e am-biente em que cada um vive(u).

O equilíbrio ou desiquilíbrio mental e emocional do homem têm muito a ver com a forma de actuação e respostas perante um certo acontecimento.

Desta forma todas as sugestões para um determinado fim devem partir do princípio de uma educação primária para que nos possa levar a um determinado resultado.

O factor modelo tem grande influência na aquisição e manutenção do comportamen-to, principalmente em uma sociedade que está a caminho do desenvolvimento tecno-lógico, este modelo deve partir da própria sociedade dentro do quadro de organiza-ção estrutural, por via de reuniões e pa-lestras nas escolas e/ou locais de trabalho onde são transmitidas as boas maneiras e conduta na via pública com demontrações práticas.

A agressividade é o comportamento indi-vidual mas também cultural e que se des-taca pela maior parte dos cidadões, neste caso concreto motoristas moçambicanos, o que os transforma em autênticos atentados à segurança.

O stress quotidiano, os desequilíbrios

emocionais, juntamente com uma cultura de desrespeito e outros comportamentos anti-cívicos são também factores elemen-tares.

A velocidade excessiva é resultado do comportamento agressivo e que causa cer-ca de um terço dos acidentes mortais e gra-ves que têm acontecido nas vias moçambi-canas e é agravado pela consumo excessivo de álcool durante a condução por parte de muitos motoristas e/ou fadiga.

A fadiga é o comportamento “físico” que resulta do facto de este estar a exercer uma actividade, neste caso, conduzir durante longas horas sem descanso ou porque não teve o merecido descanso antes de início de trabalho.

O estado de embriaguês - por ter ingeri-do bebidas alcoólicas antes e/ou durante a condução, conduz a uma fadiga que, como consequência, reduz a sua capacidade de controlo.

O factor “Ambiente” (Estado de conservação de vias)

O factor “Ambiente” contempla diversas condições que intervêm na condução tanto diurna como nocturna potenciando a ocor-rência de acidentes rodoviários, nomeada-mente:

a) a existência de água na via - substân-cias derrapantes que possam diminuir o coeficiente de atrito da via;

b) a baixa visibilidade atmosférica; c) ventos fortes - ocorrência de catástrofes

naturais e de outros fenómenos externos; d) circulação de animais; etc. n

(continua)

Reflexões sobre acidentese Segurança Rodoviária (2)

No âmbito do debate sobre os grandes temas que influenciam a nossa sociedade prossegue a publicação dum trabalho do economista Lourenço Gadaga sobre acidentes, circulação rodoviária e implicações no

desempenho da economia moçambicana a partir dos elementos enunciados

19Revista Capital

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Revista Capital20

NEGÓCIOS

Ricardo Botas (entrevista)

Uma feira de negócios especial-mente dedicada a jovens em-presários e empreendedores é a novidade deste mês de Abril. O evento decorre no Centro de Con-ferências Joaquim Chissano e con-ta com a organização da Thyende e Focus 21 bem como com o apoio de vários parceiros, com destaque para a CTA e KPMG.Valentina Guebuza, responsável da Focus 21 e presidente da Comissão Organizadora da Feira de Negó-cios Moçambique – 2010, traça as grandes linhas da organização e define os objectivos desta inicia-tiva que marca o início do segundo trimestre do ano em curso.

Como surgiu a ideia de promover uma feira de negócios dedicada a jovens empresários e empreendedores?A ideia surgiu pelo facto de termos cons-tatado que o nosso país, em função do pro-grama e daquilo que são as directivas do Governo, ter criado condições para que na-scesse uma nova classe empresarial (que faz parte também da recém-baptizada Geração DA VIRAGEM), neste caso seriam os Em-presários da Viragem.A Feira de Negócios será um espaço aonde se encontram bons negócios num ambiente jovem e tipicamente moçambicano.Considera-se que ser empreendedora é ter ideias, inovar e materializá-las não condi-cionando as mesmas a recursos financeiros. No fundo, pretende-se transformar as ideias em negócios, que por sua vez tragam mais-valia e diferença ao mercado.

Quais os principais objectivos do cer-tame? Os principais objectivos prendem-se com os desejos dos jovens empreendedores e podem consubstanciar-se em cinco grandes linhas: O reconhecimento das empresas geridas por jovens; o intercâmbio entre as empresas; a exposição de serviços das em-presas; a criação de oportunidades de negó-cios e tornar a feira num evento permanente e de referência.

Com esta iniciativa pretendem privile-giar os negócios de jovens empresári-os entre si. E como perspectivam a

Jovens empresários e empreendedoresorganizam ‘Feira de Negócios 2010’

Valentina Guebuza, organizadora do evento

"ponte" com o tecido empresarial mais antigo? Bom, a “ponte” com o tecido empresarial mais antigo, penso que surgirá natural-mente, até mesmo porque é como uma relação num lar, em que temos os pais e os filhos e dentro do qual existe uma relação de respeito, amizade. Certamente que com a idade os pais vão perdendo certas habili-dades e preocupações que os filhos terão, resultando por vezes em pontos de vistas diferentes mas que no fundo não mudam a essência do que se pretende e que é a vonta-de de ver Moçambique como uma potência económica. E como deve saber, sempre que temos dificuldades ou precisamos de acon-selhamento, recorremos aos mais velhos para nos orientarem.Eu acredito que o tecido económico funcio-na com o mesmo princípio, já dizia um es-critor que o que faz as empresas é o capital humano e a gestão do seu relacionamento.

A estrutura organizativa dos jovens empresários já dispõe de bases sóli-das para justificar esta feira de negó-cios, ou ela poderá servir para con-solidar ainda mais essas bases? A Feira de Negócios não pretende sobre-por-se a qualquer outra iniciativa que vem juntando empresários em cada ano no país. Mas sim, será também um horizonte para criação, no futuro, de um espaço de dis-cussão e debate de ideias para o nascimento de novos jovens empresários e empreende-dores em diversos ramos de negócio e me-lhorar o ambiente dos já existentes através da criação de um fundo ou centro de apoio ao desenvolvimento do empresariado juve-nil.

Sentem da parte dos empresários mais antigos um incentivo ao apare-cimento e desenvolvimento de jovens empresários? Sentimos sim, vemos a sua reflexão no suporte moral e até mesmo na transmissão daquilo que são suas experiências para a organização deste evento. E está claro que o país e os moçambicanos são os maiores beneficiários quando aparecem diversos movimentos a trabalharem. O país é grande e existem oportunidades para todos, muitas delas ao nosso alcance, mas infelizmente não nos apercebemos.

Em Moçambique, com uma economia ainda frágil mas em progressão, será mais fácil ser jovem empreendedor que noutros países onde a concorrên-cia é maior? Penso que não existe um cenário ou lo-cal perfeitos no mundo, onde o jovem tem ou terá facilidades. Os verdadeiros líderes, políticos e empresariais, se acompanhar-mos o seu trajecto, perceberemos logo que não tiveram um trabalho fácil. Houve sim uma visão e, com o suporte de elementos fundamentais para tornar o seu projecto em algo concreto, conseguiram alcançar seus objectivos.

Em termos de ensino e formação, os jovens empreendedores de hoje sentem que as estruturas existentes são suficientes ou existirão ainda muitas lacunas a preencher?Moçambique é um país que está em cresci-mento em diversos níveis, certamente que em termos de formação precisamos de mais. A nossa independência económica passa pela nossa independência intelectual juntamente com a elevação da nossa auto-estima.

A Feira de Negócios 2010 poderá tor-nar-se um elemento de referência no panorama económico moçambicano e dar origem a uma maior actividade neste âmbito?Os resultados esperados deste evento são essencialmente a troca de serviços entre as empresas participantes e que a Feira se torne um evento de referência para as em-presas participantes e a sociedade e geral. Por outro lado, espera-se que se propor-cione o apoio ao enquadramento das em-presas nos programas desenvolvidos pelo Governo. n

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Nota da Editora: Este espaço é reservado à opinião de directores, editores e jornalistas de

outros órgãos de comunicação social acerca dos temas abordados pela Capital Magazine, com o

intuito de enriquecer o debate e dar voz a outras opiniões.

Revista Capital22

O desafio de escrever um artigo so-bre o contributo que a mulher mo-çambicana tem dado ao desenvol-

vimento, mencionando as principais perso-nalidades e representantes do País na área da cultura, economia, sociedade, política, desporto, levanta à partida uma limitação, que é circunscrever a abordagem ao nível mais alto, ou seja citarmos nomes sonantes nas referidas arenas, ganhadoras de pré-mios, caras que habitualmente aparecem nos ecrãs, estatísticas resultantes da avalia-ção de entidades nacionais e estrangeiras, e por aí adiante. O meu grande receio nesta abordagem é precisamente o de resvalar e constituir aquilo a que eu chamaria de ante-na “repetidora”, um termo que eu coloquei entre aspas, embora sobejamente conheci-do na praça da língua portuguesa, pese em-bora o dicionário electrónico o rejeite como palavra lusa.Efectivamente, existem numerosas mu-lheres que dão um significativo contributo naquelas áreas. Moçambique é dos grandes exemplos em África onde o conceito de emancipação da mulher deu um grande sal-to, desde a proclamação da Independência Nacional. Os resultados estão à vista.Sem querer contaminar este tema injectan-do-o com politiquices, o facto inegável é que a Frelimo, ao desencadear uma ampla campanha de alfabetização e educação de adultos desde 1975, ano da Proclamação da Independência Nacional, abriu espaço para que a mulher moçambicana emergisse e com toda a força, dando um contributo cada vez qualitativo ao desenvolvimento.Não irei entrar em pormenores sobre nomes que a seguir enuncio e personalidades que mais se destacam neste processo de con-tributo para o desenvolvimento. Eles são por demais conhecidos. É só abrir páginas de jornais, revistas e tv’s.É incontornável a menção da Primeira-Dama, Maria da Luz Guebuza, um re-conhecimento que transcende as nossas fronteiras e se espalha pelo Mundo, tal é a magnitude do seu empenho pela causa do desenvolvimento humano.Evidentemente que Lurdes Mutola marca uma era de projecção de Moçambique, e-levando o nome do nosso País no concerto

das nações, não somente pela modalidade que ela pratica, como por essa via, ela fez saber que esta terra banhada pelo Índico é próspera em várias esferas de desenvolvi-mento.Reinata Sadimba, uma das conceituadas artistas plásticas moçambicanas, com um reconhecimento nacional e internacional; a Paulina Chiziane, primeira romancista de craveira em Moçambique, sendo uma das faces mais visíveis da literatura moçambi-cana; Luísa Diogo, ex-Primeira Ministra, economista de renome e negociadora de difíceis e complexos processos da econo-

mia moçambicana; Ana Flávia Azinheira, considerada como uma das melhores bas-quetistas de sempre, tendo pontificado du-rante anos nesta modalidade, nos EUA.Uma análise rigorosa ao citarmos principais figuras femininas que dão o seu contributo ao desenvolvimento, exigiria que entrás-semos na especialidade de cada uma das áreas. O número de caracteres que me é concedido pela Helga Nunes, directora edi-torial desta publicação é exíguo.Mas penso que ainda vou a tempo de revisi-tar Celina Cossa, que se destacou na lide-rança do movimento cooperativista em Ma-puto e com projecção internacional; Graça Machel que depois de apostar no desen-volvimento da comunidade, lança-se agora em negócios à escala continental; Verónica Macamo, membro sénior da Frelimo, hoje à frente do Parlamento.O elenco é vastíssimo. Porque nem sequer entramos na geração do 25 de Setembro, relembrando Deolinda Guezimane, Marina Pachipnuapa, Isabel Kavandheka e outras personalidades femininas dignas de louvor, pelo seu contributo ao desenvolvimento na-cional.Mas, em resumo, o que eu defendo é que há um grande leque de mulheres que também merecem destaque. Porque não aparece na comunicação social é gente anónima. No in-terior do nosso País há milhares de heroínas que dão o máximo de si contribuindo para o desenvolvimento. O sector informal no nosso País é exemplo dessa abnegação da mulher moçambicana.As organizações de especialidade, sejam elas governamentais ou da sociedade civil deverão encontrar formas de trazer essas figuras à superfície. Senão corremos o risco de nunca saber que elas existem. E de cair-mos nos lugares comuns, tal é o defeito que caracteriza este artigo.n

(*) Editor de Economia e Negócios do jornal Notícias

Mulheres abnegadascom e sem rosto

Daniel Cuambe *

PONTO DE MIRA

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Revista Capital 23

BCI Leasing Auto financia viaturasnovas ou usadas, até 7 anos

O Leasing Auto BCI visa proporcionar a todos os

moçambicanos o acesso ao financiamento de viatura nova ou

usada, até 7 anos.

O financiamento pode ir até 100% do valor total da viatura, com

flexibilidade de definição do valor de entrada inicial e do valor residual

para opção de compra no final do período.

O Leasing Auto BCI está disponível para todos os Clientes Particulares,

Empresários em Nome Individual, Empresas, Instituições ou Entidades

Públicas e Privadas.

O BCI disponibiliza uma solução de financiamento para au-tomóveis, novos ou usados, para todos os Clientes Particu-lares, Empresários em Nome Individual, Empresas, Institui-ções ou Entidade Públicas e Privadas: o Leasing Auto BCI.O Leasing Auto BCI é um financiamento flexível para viaturas ligeiras, mistas e ou pesadas, com opção de compra no final do período.

De entre as diversas vantagens oferecidas encontram-se as condições de financiamento até 100% do valor da viatura, a rapidez de decisão e de formalização do contrato, prazos de pagamento até 7 anos e a flexibilidade na definição do valor residual para opção de compra no final do período.

Para divulgar o Leasing Auto BCI, decorre uma ampla cam-panha publicitária que reforça o posicionamento do BCI como o Banco que oferece as melhores condições de financiamen-to, com soluções rápidas e adaptadas ao mercado nacional, traduzido no conceito de “soluções daqui, para aqui.”

A campanha publicitária está dirigida ao público em geral, com especial enfoque nos Clientes Particulares, mas o Lea-sing Auto BCI é destinado a todos os Segmentos de Clientes e mesmo acessível a Particulares ou Empresas que ainda não sejam Clientes do BCI.

Consulte: www.bci.co.mz/Institucional/imprensa.

Page 24: Revista Capital 28

Revista Capital24Revista Capital24

Sérgio Mabombo (texto) Helga Nunes (fotos)

Uma das linhas será gerida pelo Banco Co-mercial e de Investimentos (BCI), segundo avançou a fonte que sente o orgulho de ac-tualmente o país oferecer muito espaço para a mulher empresária, sendo que, ao mesmo tempo, se torna fundamental que a mes-ma tenha consciência de que os desafios a transpor são enormes. A mesma ideia é compartilhada por Vanize Teixeira (também empresária na área gráfi-ca, e serviços de importação e exportação)

que relembra tempos idos, em que a depen-dência da mulher era uma tónica comum. «Longe vão os tempos em que para a mulher fazer um movimento bancário só mediante a assinatura de um homem», explica. Em contraste com o cenário descrito por Va-nize Teixeira, o actual contexto é dominado por mulheres empresárias que acalentam ideias inovadoras, com ambição e que ge-ram emprego para muitos moçambicanos.Amélia Zambeze começou a sua carreira de empresária com o fabrico artesanal de agen-das em 1998, no quintal da sua casa locali-zada no bairro do Fomento. Entretanto, as

cheias de 2000 arrastaram consigo toda a produção do negócio mas, graças ao espíri-to determinado da empresária, o projecto teve continuidade no bairro da Liberdade. Neste novo espaço o empreendimento ga-nha a dimensão de uma empresa, e cedo a empresária e os seus dois sócios (os filhos) repararam que o mercado mais lucrativo seria o do fabrico de pastas de nylon e PVC. Neste contexto, Amélia Zambeze funda a IMAL (Indústria Moçambicana de Agendas, Lda.), uma empresa que representa um in-vestimento inicial acima dos 450 mil dóla-res. Com uma nova perspectiva de negócio, lançou-se então com quatro trabalhadores e, actualmente, já emprega 25 operários dos quais 80 por cento são mulheres.A empregadora verifica com agrado que, no actual contexto do relativo incentivo ao em-preendedorismo, as empresárias moçam-bicanas aproveitam a oportunidade para lançar o associativismo feminino, que, por sua vez, tem ganho espaço no tecido empre-

O sector financeiro nacional parece confiar mais na capacidade das empresárias moçambicanas na área de negócios. A consta-tação é da empresária Amélia Zambeze que participou recente-mente uma reunião do Banco Mundial com o sector empresarial, onde foi assegurada a criação (ainda no presente ano) de linhas de crédito exclusivamente para a mulher empresária.

INDÚSTRIA

Receitas para ‘cozinhar’ negócios

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25Revista Capital

A iniciativa Made in Mozambique, o programa do Governo que visa acres-centar valor e notoriedade aos produ-tos e serviços nacionais em relação aos estrangeiros tem de, necessariamente, agregar mais vantagens para as marcas que aderem ao mecanismo. A empresária Amélia Zambeze, que defende o referido posicionamento, adianta ainda que a iniciativa devia direccionar o produto nacional para os padrões de qualidade ISO (Interna-tional Organization for Standardiza-tion) como forma de tornar o produto nacional mais aceitável nos maiores mercados internacionais.A empresária refere que encontra pouca motivação em aderir ao Made in Mozambique, na medida em que ao avaliar os custos e as vantagens na ade-são ao mecanismo, lhe sai em conta co-locar o seu produto no mercado inter-nacional, por conta própria.Por outro lado, encontram-se no mer-cado moçambicano situações em que produtos sul-africanos são disponibi-lizados nas lojas nacionais com o selo Made in Mozambique, facto que dis-torce o objectivo do mecanismo de cer-tificação.É também questionável, na óptica da Amélia Zambeze, a certificação de ori-gem dos produtos nacionais pelo uso do código de barras, que entretanto é importado da África do Sul. A mesma diz que se o consumidor se informar sobre os produtos disponíveis no mer-cado, este terá a informação de que são de origem sul-africana porque o códi-go de barras dos mesmos é adquirido naquele país, um procedimento que «deve merecer análise a nível do pro-grama Made in Mozambique».

Made in Mozambique deviatrazer mais-valias

Amélia Zambeze, proprietária da IMAL

Muito recentemente a IMAL investiu 40 mil dólares na aquisição de duas máqui-nas modernas para o fabri-co de outras variedades de pastas e agendas. O facto representa o desafio de for-necer um mercado cada vez maior e mais exigente. Actualmente, as lojas Sho-prite e as grandes confe-rências e seminários na-cionais de carácter sazonal consomem as pastas da marca Kidzo, mas o refe-rido investimento poderá possibilitar que as agendas desta marca sejam também absorvidas pelo mercado dinamarquês.

sarial nacional.A AMEM (Associação de Mulheres Empre-sárias de Moçambique), com sede na Mato-la, e a FEMME (Associação Moçambicana de Mulheres Empresárias) são os espaços pioneiros onde se verificam sinergias sau-dáveis bem como a “troca de receitas para que elas cozinhem” cada vez melhor os seus negócios. Amélia Zambeze, que pertence a ambas as organizações, assegura que mais mulheres podem ter sucesso no mundo empresarial desde que desenvolvam um espírito posi-tivo. Entretanto, a industrial não deixa de apontar alguns constrangimentos que me-recem reparo no tecido empresarial moçam-bicano. Segundo a empresária, as políticas que regulam o mercado deviam adoptar o proteccionismo para o empresariado nacio-nal, a par do que se faz em outros países. A estratégia apontada vem, sobretudo, a propósito do paralelismo que a empresária faz entre a realidade moçambicana e a dos países com os quais trocou ferramentas de negócio. A mesma avança que, actualmen-te, o seu negócio tem como grande concor-rente a China, cuja qualidade de produtos que coloca no mercado moçambicano é no-toriamente menor do que os da sua marca denominada Kidzo. Entretanto, e apesar da referida diferença de qualidade, Amélia Zambeze verifica que as pastas Made in Chi-na chegam a custar duas a três vezes mais do que o seu produto perante a inoperância das instâncias reguladoras nacionais.Por outro lado, os concursos públicos para a prestação de serviços deviam investir mais na transparência. “Actualmente, mesmo com o concurso de prestação de serviço ga-nho pela sua empresa, o facto não represen-ta nenhuma certeza para a materialização deste compromisso”, referiu a industrial. Amélia Zambeze aponta como provável solução a liberalização, de modo a que os clientes passem a escolher e procurar direc-tamente os prestadores de serviço.Muito recentemente a IMAL investiu 40 mil dólares na aquisição de duas máquinas modernas para o fabrico de outras varieda-des de pastas e agendas. O facto representa o desafio de fornecer um mercado cada vez maior e mais exigente. Actualmente, as lojas Shoprite e as grandes conferências e seminários nacionais de ca-rácter sazonal consomem as pastas da mar-ca Kidzo, mas o referido investimento pode-rá possibilitar que as agendas desta marca sejam também absorvidas pelo mercado dinamarquês.A nível da AMEM e da FEMME, existe es-paço para traçar estratégias sobre os me-canismos práticos para que as empresárias (membros destes organismos) venham a ter acesso ao crédito bancário e formações rela-tivas à gestão de negócios. n

INDÚSTRIA

Receitas para ‘cozinhar’ negócios

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Revista Capital26

SERVIçOS

Sérgio Mabombo (texto) Helga Nunes (fotos)

A empresária Ester Macarin-gue, que explora o ramo de beleza através do seu salão de cabeleireiro denominado Was-tela afirma que o impacto do seu empreendimento deve-se em larga medida à poupança por via do Xitique, uma opção feita em detrimento do crédito bancário que, segundo a pró-pria, apresenta muitas barrei-ras burocráticas.

O Xitique trata-se de um mecanismo de poupança que consiste no empréstimo ro-tativo de um valor monetário a um mem-bro do grupo mensalmente, e, ao mesmo tempo, numa estratégia de financiamento que vem ganhando espaço no seio familiar dos moçambicanos pelas facilidades que concede. De acordo com Ester Macaringue e as suas parceiras de empreendedorismo, o Xitique possui mais impacto devido ao reinvestimento que representa na área dos negócios.O mecanismo em causa ajudou a alavancar o investimento da empresária na medida em que permitiu a compra de 15 secadores e a reabilitação do espaço onde actualmente funciona o seu salão (mesmo junto ao ate-lier da designer de moda, Rute Varela) que já conta com quatro funcionárias. Na altura da implementação do negócio, o valor do Xitique fixado era de quatro mil meticais.A sorte de Ester Macaringue na área em-presarial passa sobretudo pelo facto de ter a liberdade de se dedicar ao trabalho, uma vez que possui um núcleo familiar bastante compreensivo no que concerne à sua flexí-vel carga horária. Assim, e apesar de gerir uma agenda sobrecarregada que limita o tempo dedicado à família, a cabeleireira conta com o apoio da mesma em todas as suas decisões. Embora Ester (também conhecida por Es-tela) confesse ter «experimentado pouco a carteira da escola», a prática (ou melhor, a experiência) confere-lhe alguma visão que se encaixa no contexto do Marketing, en-quanto ferramenta de gestão. Além das técnicas estéticas e artísticas de-senvolvidas pela cabeleireira, realçam-se igualmente o leque de clientes onde sur-gem nomes sonantes como os de Tomás Salomão, secretário executivo da SADC, e Alcinda Abreu, ministra da Coordenação

Xitique impulsionaempreendedorismo

e Acção Ambiental (MICOA) e as técnicas de Marketing usadas no sentido da satisfa-ção. Ester Macaringue consegue entender em pleno a especificidade do seu público-alvo: «Os meus clientes conservam a sua boa disposição nas longas filas aos sábados (dia de maior procura dos seus serviços), desde que a espera seja acompanhada por um café e por uma ‘mordida’ nos biscoitos que servimos», adianta com o esboçar de um sorriso franco.Ester Macaringue é uma empresária bem sucedida. Talvez seja por isso que não con-segue evitar um pranto de cada vez que retrata o seu passado de origens modestas. «Eu venho de uma família muito pobre. So-fri muito e não tive oportunidade de ir à es-cola», afirma a empresária, acrescentando que o facto a impulsiona a trabalhar cada vez mais para oferecer o melhor aos seus filhos. Entretanto, a ambição da empresá-ria ultrapassa as fronteiras do hair styling. Actualmente, vem juntando as suas econo-mias no sentido de investir no seu próximo desafio: A decoração e o aluguer de espaços. A fórmula para obter o capital inicial para o investimento (tal como no primeiro ne-gócio) será uma vez mais consubstanciada através do Xitique, cujo valor emprestado por cada membro do grupo ao beneficiário cifra-se em 10 mil meticais por mês, nos dias que correm. n Ester Macaringue, cabeleireira e empresária

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27Revista Capital

Apesar dos ramos abrangidos pelo Centro de Biotecnologia da UEM, a sua estrutura de funcionamento decorre através da gestão de três núcleos de trabalho distintos (toxicologia molecular e ambiente; carac-terização genética e biodiversidade; dia-gnóstico e epidemiologia molecular) e, curiosamente, o centro é supervisionado por uma cientista e possui 14 investigadores efectivos, dos quais 10 são mulheres.Na área de toxicologia molecular e ambiente, o CB-UEM encontra-se actualmente a estudar os organismos geneticamente modificados.«Não estamos a produzir organismos geneticamente modificados, mas a diagnosticar, a detectar. Primeiro, fizemos o estabelecimento da técnica, pois essa área de organismos geneticamente modificados é nova», explica a Dra. Olívia Pedro, responsável pela Supervisão do CB-UEM que é dirigido pelo Dr. Luís Neves.Nesse sentido, uma equipa de toxicologia molecular e ambiente encontra-se a colher amostras de milho, soja e outros subprodutos alimentares que contenham na sua composição milho e (ou) soja, em diferentes pontos do país, por forma a detectar a presença dos organismos geneticamente modificados (OGM) em circulação. Produtos esses que podem ter entrado em Moçambique sob a forma de ajuda alimentar ou através da importação destinada ao comércio. Porém, o núcleo de toxicologia molecular e ambiente não se esgota naquela temática e encontra-se também a estudar a poluição ambiental e aquática, provocada por toxinas de cianobactérias. «O que fazemos é colher a água de alguns rios - principalmente os usados como fontes de água para beber - e usamos métodos moleculares para detectar a presença de cianobactérias tóxicas. Depois, usamos outros métodos químicos para detectar e quantificar a microcistina, que é a toxina de cianobactérias mais prevalente na água doce».Ainda dentro do núcleo de toxicologia, decorre o estudo de poluição ambiental por metais pesados. «Neste caso, também já estabelecemos a técnica onde usamos biomarcadores (peixe-gato) para avaliar

O Centro de Biotecnologia da Universidade Eduardo Mondlane (CB-UEM) é uma unidade multidisciplinar que se dedica à inves-tigação, formação e prestação de serviços na área de Biologia Molecular. Existe oficialmente desde 2005 como resultado de um consórcio firmado entre as faculdades de Agronomia, Veteri-nária, Medicina e Ciências.

Centro de Biotecnologia tem um lado feminino

e monitorar a poluição em ambientes aquáticos por metais pesados na água», refere Olívia Pedro, focando um mundo onde a objectividade científica se une ao desafio constante, numa dimensão aparentemente sem limites.E é assim que sobressai a intervenção feminina numa ciência dominada por poucos no país. O trabalho do peixe-gato e dos metais pesados encontra-se sob a responsabilidade da Dra. Dárcia Correia, o estudo de cianobactérias na tutela da própria Olívia Pedro e o dos OGM encontra-se sob a responsabilidade da Dra. Joelma Leão. No núcleo de caracterização genética e biodiversidade, destacam-se a caracterização genética de variedades de feijão nhemba e amendoim; da batata doce; de roedores; e de mycobacterium, um conjunto que é alvo de estudo por parte das Dras. Ivone Muocha, Ivete Maquia, Iara Gomes e Adelina Machado, respectivamente.No que diz respeito à área de diagnóstico e epidemiologia molecular, os trabalhos executados abrangem o diagnóstico de tripanossomose, na tutela da Dra. Paula Macucule, uma doença transmitida pela mosca Tsétsé, que afecta animais vertebrados incluindo o Homem e que é vulgarmente conhecida como a Doença do Sono (em humanos). Em animais, a doença ataca bovinos, caprinos, ovinos, asininos, entre outros.Em Moçambique, e segundo a supervisora do Centro, a doença assume maior incidência nas regiões Norte e Centro, e no Sul restringe-se ao distrito de Matutuíne. Quanto à tripanossomose humana, ocorre sobretudo na zona Centro, mais concretamente na região de Tete. Contudo, existem outras doenças como a babesiose e anaplasmose, que são transmitidas por carraças e que ocorrem em todo o país.«Diagnosticamos também doenças de importância agronómica como o amarelecimento letal do coqueiro e a virose do tomateiro. E além disso, estamos a fazer o diagnóstico de tuberculose humana e bovina. Uma bióloga do Instituto Nacional de Saúde faz a parte da tuberculose humana e temos uma veterinária a fazer o diagnóstico da

tuberculose bovina», sublinha Olívia Pedro, acrescentando que além das principais áreas de investigação, existem outras como a prestação de serviços. Nesse âmbito, surge o diagnóstico das viroses de camarão - uma técnica que é solicitada periodicamente pela empresa Aquapesca, que exporta aquele produto para a Europa. No fundo, trata-se de uma perspectiva de índole comercial que ainda não funciona a 100%, uma vez que o mercado desconhece a existência do Centro de Biotecnologia da UEM. n

CIÊNCIA

Helga Nunes (Texto e fotos)

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Revista Capital28

Helga Nunes (texto) Sérgio Mabombo (fotos)

Joana Matsombe é, actualmen-te, uma das duas administrado-ras do Banco de Moçambique, ocupando esse cargo de chefia há 12 anos. Num sector onde nem sempre é fácil encontrar mulheres no topo da hierar-quia, o caso da economista é, no entanto, sintomático num país onde o segmento femini-no vem conquistando lugares de poder e decisão, tanto no domínio público como no pri-vado.

A administradora do Banco de Moçambi-que, Joana Matsombe, é o exemplo-vivo do conceito de ‘self made woman’. Começou a trabalhar no Banco com o ensino secundário completo e só mais tarde é que pôde optar por frequentar o ensino superior devido a dificuldades financeiras vividas no seio familiar.Muito havia a ponderar sobre os pratos da balança há 35 anos. Por um lado, a mãe e seus seis filhos haviam perdido a figura paternal, e, por outro, a Joana, como irmã mais velha, era a pessoa sobre a qual recaía a responsabilidade de sustentar a família.Segundo a dirigente, a experiência foi interessante. A mesma ingressou no Banco de Moçambique a 5 de Novembro de 1974, justamente numa época em que os desafios do País passavam por formar moçambicanos para trabalhar no sector financeiro.«Quando entrei (para o então BNU- Banco Nacional Ultramarino) tinha a função de dactilógrafa. Naquela altura era assim mesmo, com o 7.º ano do Liceu nenhuma mulher podia ingressar no banco se não fosse por essa via. Portanto, primeiro tinha de começar por bater à máquina’ e só depois, aos poucos, é que podia ir crescendo e ocupando outras categorias», relembra.De 1974 a 1976, foi escriturária-dactilógrafa nos Serviços de Importação à vista. E com o espírito natural de quem procura alcançar algo mais, concorreu a uma vaga de caixa. Na época em causa, aquele cargo representava uma espécie de trampolim em termos de progressão de carreira, pois o nível de entrada para esta função estava duas categorias acima da de escriturária-dactilógrafa. E, de facto, assim foi.Entre 1976 e 1980, Joana Matsombe (na altura Saranga) foi conferente de documentos de embarque e responsável pelo Armazém Alfandegado; de 1980 a

1985, foi analista de Contratos Comerciais Internacionais; nos dois anos seguintes, foi chefe dos Serviços na Direcção de Relações Internacionais; de 1987 a 1990, foi directora da Direcção de Importação, e, de 1990 a 1992, exerceu as funções de directora do Departamento de Operações Comerciais Externas. Mais tarde, de 1992 a 1997, foi directora do Departamento de Operações Cambiais, e tendo subido paulatinamente os degraus da hierarquia conseguiu chegar a administradora e membro do Conselho de Administração, em 1997.Quanto às dificuldades enfrentadas, nomeadamente a necessidade de formação académica e profissional e a actualização constante até chegar ao topo, a administradora relembra etapas cumpridas.«Primeiro, entrei como uma simples dactilógrafa, como já referi , numa altura em que estava a concluir o meu 5.º ano

e depois tive de ir estudando à medida que ia sentindo necessidade de melhorar os meus níveis académicos. Assim sendo, fui para a Escola Francisco Manyanga e completei a 11.ª classe. Depois matriculei-me no Instituto de Línguas para melhorar os meus conhecimentos de língua inglesa, peça fundamental para a área externa aonde trabalhava. Mais tarde, achei que tinha de ir para a universidade», explicou a economista, licenciada pela Universidade Eduardo Mondlane, e mais tarde mestrada em Economia Financeira pela Universidade de Londres.Joana é defensora de que num mundo onde o sexo masculino é dominante sob o ponto de vista das oportunidades, se a mulher quer ‘fazer carreira’ e em simultâneo constituir família, terá de se esforçar. «Eu estudei enquanto cuidava dos meus filhos e havia momentos em que não podia estudar porque estava grávida ou porque estava a amamentar uma criança, então

The self made womanENTREVISTA

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29Revista Capital

fui enfrentado estas coisas… mas o final foi bom porque consegui», revela com um brilho de saudosismo nos olhos, acrescentando que o apoio familiar foi a ‘pedra de toque’ para que conseguisse atingir o patamar que hoje ocupa.

O dia-a-dia da administradorado Banco de Moçambique

Joana Matsombe é administradora com funções executivas no Banco de Moçambique e possui uma série de departamentos a quem presta acompanhamento e supervisão. De momento, encontra-se à frente de um pelouro que possui a responsabilidade de fazer a supervisão bancária, regulamentação e licenciamento de todas as instituições de crédito e sociedades financeiras nacionais. De igual modo, a administradora é responsável pelo acompanhamento das filiais e agências do BM nas províncias.A percepção de Joana Matsombe face à recente crise financeira é a de que Moçambique desenvolve uma supervisão forte. Ou seja, o sistema financeiro é pródigo sob o ponto de vista de controlo dos indicadores de solidez financeira. «Isto mercê de um trabalho de acompanhamento que a supervisão tem estado a fazer, chamando a atenção às instituições quando pisam o risco vermelho», garante. Nesse sentido, e apesar do cenário de crise mundial, Moçambique não se ressentiu porque as instituições se encontram bem capitalizadas e exibem bons indicadores financeiros, de acordo com a administradora.Na mesma esteira de reflexão, Joana Matsombe discorda da ideia de que Moçambique não sofreu tanto com a crise devido a uma certa independência face ao sistema financeiro internacional.«Nós não somos uma ilha, apesar de sermos pequenos, a vantagem que tivemos para não termos tido efeitos directos decorre, por exemplo, do facto das nossas instituições financeiras não terem investido nos chamados produtos tóxicos, que são os produtos que no fundo conduziram à crise financeira. Contudo, não podemos dizer que estamos totalmente livres dos efeitos da crise, porquanto as nossas instituições financeiras têm estado a investir no money market no mercado internacional», explica, e porque as taxas de juros quase zeraram nesse mesmo mercado os rendimentos baixaram significativamente.Tal sucede no âmbito de um contexto em que os bancos moçambicanos são das instituições financeiras que mais lucram e possuem as maiores taxas de juro. Sobre se essa tendência se irá manter, Joana Matsombe esgrima com a questão dos riscos. «A questão do juro é algo muito polémico. Se formos a ver… Os determinantes das taxas de juro, encontramos sempre presente para além de outros o factor risco. Então, o que acontece é que normalmente quando não se tem o

máximo de informação do cliente, o que se faz é carregar um bocadinho na taxa de juro para se precaverem dos riscos que estão a incorrer», explicou a administradora. Não obstante a taxa de juro ser alta, a mesma tem a tendência para descer devido à maior sofisticação nos métodos de análise por parte das instituições de crédito, e porque, o BM possui uma central de registo de crédito, à qual os bancos (antes de conceder qualquer crédito) podem ter acesso para saber à partida se o cliente é bom ou mau.Por outro lado, as taxas de juro não são as mesmas para todos os segmentos de mercado. «Há aqueles clientes considerados bons para os quais as taxas de juro aplicadas são mais baixas. Mas acredito que a questão da taxa de juro ir-se-á resolver primeiro com a concorrência, ou seja, quanto mais instituições financeiras tivermos no país melhor», acrescenta.Mas, se por um lado, existe o risco inerente à actividade bancária, em relação aos clientes propriamente ditos o acesso à informação sobre os produtos financeiros é ainda, e em alguns casos, um tanto ou quanto insípida. Como tal, a exigência de informação é um denominador comum no sector financeiro, e no que diz respeito às funções do Banco de Moçambique, a actualização do conhecimento torna-se igualmente uma exigência.A área financeira revela-se extremamente exigente sob o ponto de vista de conhecimento e da actualização constante de dados. E perante essa exigência, e tendo em conta que Joana Matsombe tem de proceder à supervisão de tantas instituições, torna-se vital gerir uma equipa bem preparada, actualizada e empenhada. Ao todo, a administradora

lida, diariamente, com cerca de 60 profissionais divididos em diversas equipas. Uns dedicam-se aos estudos e à regulamentação e produção de diversos normativos, outros fazem inspecções on site (nas instituições) enquanto outros ainda fazem inspecções off site, as quais têm como base a informação recolhida quinzenalmente das instituições para análise. «Tenho gente muito jovem, com boa formação e que também se preocupa em se actualizar. O Banco de Moçambique aposta na formação dos seus quadros e hoje em dia existem cursos rápidos via Internet e, sendo a área de supervisão tecnicamente bastante exigente, os técnicos têm usado todos os meios ao seu alcance para a sua formação profissional. Até eu, apesar dos anos que tenho no Banco, de vez em quando tenho de fazer uns refreshments».Actualmente, os recursos humanos do Banco de Moçambique englobam cerca de 40 por cento de mulheres num universo que conta com cerca de 800 funcionários, contrastando com o parco número de senhoras que trabalhava na instituição há 35 anos. E dos sete administradores em exercício no Banco, duas pertencem ao segmento feminino (Joana Matsombe e Prof. Doutora Esselina Macome). Trabalhar num sector ainda dominado por homens não é tarefa difícil, segundo Joana Matsombe, porque o mais importante é ser-se competente e estar em pé de igualdade com os homens.Aliás, e ainda no âmbito do espectro feminino e face à questão sobre se existe alguma linha de crédito direccionada especificamente para a mulher empresária, a administradora é peremptória ao dizer que no sistema bancário o que conta para aceder ao crédito é reunir as condições necessárias para tal (ser-se qualificado para tal). «Se qualifica para o crédito terá o crédito, se não qualifica não terá. Independentemente de ser homem ou mulher, até porque as empresas não têm género». Em contrapartida, o que parece existir é uma grande campanha no sentido de promover as microfinanças enquanto solução para pessoas de baixa renda, porque se sabe à partida que quando não se tem garantia dificilmente se consegue um crédito. E, normalmente, os mais pobres não conseguem apresentar garantias, daí a importância das microfinanças, na opinião da administradora do BM.«Como reguladores e supervisores preocupamo-nos bastante e, inclusiva-mente, há seis anos fizemos a revisão da legislação de modo a que pudessem surgir instituições de pequena dimensão para servir as camadas mais desfavorecidas, e a mulher faz parte dessas camadas».Contudo, torna-se difícil apurar - a partir dos dados estatísticos - até que ponto as mulheres estão a beneficiar mais agora do que antes. O que se sabe é que na área das microfinanças são maioritariamente as se-nhoras que têm beneficiado de crédito.n

ENTREVISTA

«Como reguladores e supervisores preocupamo-nos bastante e, inclusiva-mente, há seis anos fizemos a revisão da legislação de modo a que pudessem surgir instituições de pequena dimensão para servir as camadas mais desfavorecidas, e a mulher faz parte dessas camadas».

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ENTERVIEW

The self made woman

«As ruling bodies and supervisors we are greatly concer-ned, and inclusively, six years ago we revi-sed the law in force to allow for small sized institutions to attend to the needs of the more disad-vantaged people, of which women are part».However, it is di-fficult to conclude – through statisti-cal data–as to what point women are benefiting more now than they were befo-re. What we know is that in the micro-finance area it is mainly women who benefit from the credit.

Revista Capital32

Helga Nunes (text) Sérgio Mabombo (photos)

Joana Matsombe is, presen-tly one of the two Directors of the Banco de Moçambique, ha-ving held this managerial posi-tion for the past 12 years. In a sector where one very seldom finds women at the top of the hierarchy, the case of this eco-nomist is however an indica-tion that females are securing high power positions, both in the private and public sectors in this country.

The Director of the Banco de Moçambique, Joana Matsombe, is the typical example of the concept of a ‘self made woman’. She started working at the Bank having only completed High School; and only later, due to the financial difficulties encountered by her family, was she able to opt to attend university.Things had to be very well examined 35 ye-ars ago. On one hand the mother and her six children had lost a father figure, and on the other, Joana, being the eldest sister was the one responsible for supporting the fa-mily.According to her, it was an interesting ex-perience. She joined the Banco de Moçam-bique on 5th November 1974, at exactly the same time as the country faced the challen-ge to train Mozambicans to work in the fi-nancial sector.«When I joined (the then called BNU – Banco Nacional Ultramarino). I was em-ployed as a typist, because that is how thin-gs worked then. Women attained their Ma-triculation and had to start at the bank as typists. So, we had to start typing and then only slowly grow and obtain better and hi-gher positions.» she recalls.From 1974 to 1976 she worked as a clerk-typist in the Import Division. With the goal of one who wishes to achieve something better, she applied for a vacancy for a po-sition as a Teller. At that time this position meant a real big step in terms of career pro-gress, as the entry level for this position was 2 levels above the previous one. And that in fact is what happened.Between 1976 and 1980, Joana Matsombe (née Saranga) was responsible for checking shipping documents and in charge of the Customs Warehouse. From 1980 to 1985 she became the Analyst for International Commercial Contracts. In the two years that followed she became Head of the In-ternational Relations Division. From 1987

to 1990 she became Director of the Import Division and, from 1990 to 1992 she car-ried out the duties of Director of External (Foreign) Commercial Operations. Later on, from 1992 to 1997 she was appointed Director of the Foreign Exchange Division. Having slowly climbed the hierarchy lad-der, in 1997 she managed to become Ad-ministrator and Member of the Board of Directors.As for the difficulties faced, mainly the need for academic and professional training as well as the constant updating until she rea-ched the top, the Director recalls the stages fulfilled.

«Firstly, I was appointed as a simple typist, as already stated, at which time I was trying to complete Grade 10; I then had to pursue my studies as I deemed necessary to im-prove my academic levels. Therefore I at-tended the Francisco Manyanga School and completed Standard 9. Then I registered at the Institute of Languages in order to im-prove my English skills, which was essen-tial to work in the foreign division Later on I decided that I had to attend University» explains the Economist, who graduated at the University Eduardo Mondlane, and la-ter obtained her Master´s degree in Finan-cial Economy at the London. UniversityJoana defends de fact that, in a world whe-re males dominate as far as opportunities are concerned, if women wish to ´pursue a career´ and at the same time get married and form a family, they will have to go the extra mile. I studied while looking after my children, and there were times when I could not study because I was pregnant or breast-feeding. I faced these challenges…but at the end I won», she says with a lon-ging sparkle in her eyes. She confirms that, without the support of her family she would not be where she is today.

The day-to-day of the of the Banco de Mozambique’s Director

Joana Matsombe is an administrator with executive duties at the Banco de Moçam-bique and is Head of several departments. Presently, she is heading the Division responsible for the banking supervision, making of regulations and licensing of all the credit institutions and national finan-cial corporations. At the same time the Director is also responsible for the super-vision of BM´s branches and agencies in all the provinces.Joana Matsombe´s perception in face of the recent financial crises is that Mozam-bique develops a strong controlling action. This is, the financial system is improvident on the point of view of the control of finan-cial soundness indicators. «This is owed to a close monitoring by the supervisors, calling to the attention of those institu-tions whenever they step on the red line», she vouches. In that sense, and despite the global crises scenario, Mozambique did not get badly hurt because the institutions are well capitalized and display good financial indicators. By the same thoughts, Joana Matsombe di-sagrees with the idea that Mozambique did not suffer as much with the crises due to a certain independence in face of the interna-tional financial system.«We are not an island, however small, and the advantage that we had in not having any direct effects is due, for example, to the

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ENTERVIEW

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fact that our financial institutions did not invest in the so-called toxic products, whi-ch at the end of the day lead to the financial crises. Nonetheless, we cannot say that we are totally free of the effects of the crises, as our financial institutions have been in-vesting in the international money market, she explains, and because the interest rates came close to null in that same market, the revenues decreased significantly.And this happens in a context in which the Mozambican banks are deemed to be the most lucrative financial institutions having the highest interest rates. Whether this tendency will keep up, Joana Matsombe is struggling with the risk issues. «The interest issue is very controversial. . If we take a good look…The causes of in-terest rates are always present further to other risk factors. Therefore, what happens is that when we don´t have the utmost in-formation on the client we tend to increase

the interest rate slightly in order to provide against the risks incurred», the Director explained. Notwithstanding the high interest rate, its tendency is to drop due to the high sophis-tication in the methods of analysis by the credit institutes, and because BM has a credit registration central office open to all the banks, to ensure whether the client is sound or not (before granting any credit) On the other hand, the interest rates vary according to the market sectors. «Lower in-terest rates are granted to financially sound clients. But I believe that the interest rate issue will be resolved firstly by the competi-tion; this meaning, the more financial insti-tutions we have, the better» she adds. If on one hand there is the risk inherent to banking activities in relation to the clients, the access to the information on the fi-nancial products is still, in some cases, somehow dull. Therefore, the demand for

information is a common denominator in the financial sector, and in what concerns the Banco de Moçambique, the updating of knowledge becomes also a requirement.The financial sphere turns out to be extre-mely demanding in what concerns know-ledge and constant updating of data. And in view such demand, taking into account that Joana Matsombe has to supervise so many institutions it is vital to manage a well prepared, updated and engaged team. The Director deals daily, in all, with around 60 professionals, split up in several teams. Some are dedicated to the research and in-troduction of varied standards, others do site inspections (in the institutions) while others do off-site inspections, having as the basis the information gathered fortnightly from the institutions for analysis. «I am surrounded by very young and highly educated people who are always willing to keep updated. The Banco de Moçambique believes in the training of its staff. There are presently quick training courses via the internet, and because the supervision area is technically very demanding, the technicians have been using all means for their professional training. Even I, having worked for the Bank for so many years, have refresh sometimes».The Human Resources Department of the Banco de Moçambique includes approxi-mately 800 staff members 40 percent of which are women; this is indeed a great contrast to the few number of women whi-ch worked at the bank 35 years ago. And out of the 7 Directors working for the Bank two are women (Joana Matsombe and Prof. Dr. Esselina Macome). It is not difficult to work for a sector whi-ch is still dominated by men according to Joana Matsombe; the main issue is to be competent and to remain in equal terms with them.Furthermore, and still as far as women are concerned in face of the question whether there is a line of credit specifically directed at businesswomen, the Director catego-rically states that the, in banking system what counts in order to be granted credit is to have the necessary conditions and (to be qualified for it). «Whoever qualifies for credit will be granted credit, otherwise not, independently of being a man or a woman, as the companies don´t have a gender» To compensate, there seems to be a great campaign to promote micro-finances as a solution for low income people, as we are all well aware that if you don´t have colla-teral you may not apply for credit. «As ruling bodies and supervisors we are greatly concerned, and inclusively, six ye-ars ago we revised the law in force to allow for small sized institutions to attend to the needs of the more disadvantaged people, of which women are part.However, it is difficult to conclude – throu-gh statistical data –as to what point women are benefiting more now than before. What we know is that in the micro-finance area it is mainly women who have been benefiting from the credit. n

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Helga Nunes (entrevista)

Ao procurar produtos finan-ceiros exclusivamente vocacio-nados para o segmento femini-no, a revista Capital deparou-se com o conceito de ‘Cartão Mu-lher’ do Banco Millennium bim. Nesse sentido, tentou-se saber junto do administrador finan-ceiro daquela instituição ban-cária, António Gomes Ferrei-ra, em que medida o cartão de débito pode, de facto, auxiliar uma empresária, empreende-dora, dirigente, estudante, ou profissional liberal, e que tipo de vantagens o mesmo inclui.

Existe um cartão de débito do Mil-lennium bim destinado ao segmento feminino. O que representa em ter-mos de vantagens adicionais em rela-ção a um cartão normal emitido pela vossa instituição?

Este cartão é o tipo de produto que encerra só vantagens. Trata-se de um Cartão de Dé-bito, portanto, ao alcance de todas as clien-tes independentemente do segmento. Tem todas as funcionalidades de um Cartão de Débito e permite fazer todas as operações de qualquer outro Cartão de Débito, seja a ní-vel nacional como internacional e tem ainda um seguro de saúde que cobre as despesas relacionadas com o parto e com o tratamen-to do cancro do cólo do útero e da mama. É um cartão desenhado à medida das especi-ficidades próprias da Mulher e que permite ao Banco estar com ela nos momentos mais felizes e também nos de maior provação. E ainda oferece desconto em inúmeras lojas.

Que tipo de operações o Cartão Mu-lher permite fazer?

O Cartão Mulher é um Cartão de Débito Visa Electron, o que quer dizer que permi-te fazer todas as operações inerentes a um Cartão de Débito: levantamentos, paga-

mentos de serviços, transferências, compra de recargas, consulta de saldos e de movi-mentos, na ATM e pagamentos em POS. É também aceite em todo o mundo.

Desde que o Cartão Mulher foi im-plementado no mercado moçambi-cano, qual tem sido a evolução do mesmo em termos de adesão e utili-zação?

O Cartão Mulher tem uma excelente acei-tação, tendo atingido o número de vendas que projectámos. E nem fazemos muita pu-blicidade dele. As mulheres conhecem-no e procuram-no. Não há balcão do Millennium bim que não venda o Cartão Mulher.

Qual é o perfil da cliente que o uti-liza?

Este é felizmente um cartão transversal a todos os segmentos de cliente. É um cartão para todas as mulheres. Repare que é um Cartão de Débito, não é um Cartão de Cré-dito a que acederiam apenas as mulheres com capacidade creditícia. Isto não foi por acaso e tem a ver com o nossa preocupação em fazer os produtos que comercializamos numa óptica socialmente responsável. Este é um produto inclusivo, ao alcance de todas as mulheres e com um seguro de saúde que

seria incomportável ou mesmo impossível de ser subscrito individualmente por cada cliente. E do Rovuma ao Maputo todas as nossas clientes têm hipótese de subscrever este seguro. Isto não tem paralelo.

Existe alguma linha de crédito do Millennium bim destinada a fomen-tar o empreendedorismo feminino? Se sim, de que forma funciona e quais as suas especificidades?

O Millennium bim é o banco que mais cré-dito concede a mulheres. Temos milhares de mulheres empreendedoras com o Crédi-to Nova Vida do Millennium bim, que é um produto de crédito que se destina a qual-quer finalidade.

Financiamos muitas actividades, desde a compra de mercadoria para revenda, ao fi-nanciamento de lojas, restaurantes e paste-larias, à compra de viaturas, mobílias, elec-trodomésticos até à reabilitação das suas casas. Temos empreendedoras em todo o país e gostamos muito de as ter como clien-tes. São, sem dúvida, o motor do desenvol-vimento das famílias, da economia familiar com fortes repercussões positivas no desen-volvimento de todo o tecido económico e empresarial. n

Um cartão de débitosó para mulheres

BANCA

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O empreendimento surgiu da necessi-dade financeira, no ano de 1984. Linda Venichand tinha 20 anos e encontrava-se grávida quando começou a dar explicações de português a crianças. Na época, ela e o marido possuíam um pequeno apartamento no 16.º andar do prédio do Consulado de Portugal e foi justamente nesse espaço, que congregava apenas dois quartos e uma sala exígua, que tudo começou. Linda - ou ‘tia Linda’ - como ainda hoje é carinhosamente tratada por crianças e graúdos, no início ensinava a ler e a es-crever a um único grupo de cinco meninos, com a ideia de poder ensinar até à 7ª classe. «Naquela altura, as crianças tinham muitas dificuldades porque nas escolas elas não liam, e eu pensei dar desde a 1.a até à 7ª classe», relembra a educadora de infância, acrescentando que se tratava de uma época em que ainda não existiam escolas priva-das.Entretanto, a procura dos seus serviços foi paulatinamente crescendo, e, pouco tempo depois, Linda já lidava com turmas distin-tas, cumprindo três turnos de trabalho. Contudo, e como as crianças eram mui-tas e o espaço reduzido, três anos depois começou a concretizar o sonho de construir uma escola, com a ajuda de uma cliente. Mudou-se para o bairro da Sommerschield, mais concretamente para um terreno ao lado da creche do Comité Central e no local em causa implementou duas salas de aulas.Mas, nem tudo foram rosas. Nos anos 90, surgiram as escolas privadas e com elas uma maior concorrência. Linda não baixou no entanto os braços e decidiu aproveitar o nicho de mercado da ocupação dos tempos livres dos bébés, de modo a manter o seu negócio rentável, e passou a receber bebés

até ao meio-dia, sendo que a partir das 14 horas dava explicações.«À medida que as crianças cresciam era uma dor de coração muito grande. Porque, parecendo que não, eles chegavam ainda bebés - com seis ou nove meses - e íam-se embora já com os seus seis aninhos», expli-ca com um brilho típico nos olhos por parte de quem se afeiçoa e cria laços de afectivi-dade com os alunos.O estabelecimento de ensino foi seguindo o seu curso até se transformar na Escola Primária da Sommerschield, um conjunto de infraestruturas feitas em madeira com telhado de zinco. A sua directora foi in-

troduzindo algumas inovações e abrindo o leque das classes leccionadas, pouco a pouco, embora com muita dificuldade. «Na altura tínhamos só dez crianças na creche e na escola. Mas eu sabia que era uma aposta. No ano seguinte, já tínhamos 50 e gradual-mente íamos aumentando as classes», conta com um pingo de orgulho.Linda sentia algum receio diante da respon-sabilidade de gerir uma escola. Mas como a exigência foi surgindo de forma gradual, a mesma teve tempo suficiente para se prepa-rar. «Hoje, já temos até à 6ª classe. São 200 crianças na escola e 60 na creche. Só temos este número porque a casa é pequenina e não dá para ter muito mais», justifica Linda, acrescentando que a escola possui 16 pro-fessores e 7 educadoras. As aulas decorrem no período da manhã, a partir das 7h30 e depois do almoço, além da hora do estudo as crianças cumprem ac-tividades extracurriculares como a dança, a música, a educação cívica, retornando às 16h para casa num dos três autocarros que percorrem a Matola, o Triunfo e o centro de Maputo.As dificuldades foram muitas, mas a sorte segundo a directora da Escola Primária da Sommerschield é que nunca sonhou alto, e sempre preferiu andar devagar e de acordo com a suas próprias possibilidades financei-ras. Nunca solicitou qualquer empréstimo a entidades bancárias porque nunca viu van-tagens nisso e porque entende que a escola não é um negócio muito lucrativo. O único empréstimo que usufruiu até ao momento foi concedido, há uns anos, pelo Gabinete da Primeira Dama e o qual usou para ad-quirir carteiras para os alunos.A sua escola não exibe luxo mas, segundo as suas palavras, tem muito amor para dar. O próximo passo será construir o que chama de ‘escola de verdade’, um estabelecimento de ensino com biblioteca, salas de informáti-ca e condições mais apropriadas. Aliás, no futuro, Linda Venichand pensa passar o testemunho para a sua filha Samanta, uma designer de 24 anos que muito embora não possua experiência na área escolar já lhe segue as pisadas, abraçando a missão de gerir a escola.O que fará então a tia Linda? Vai dedicar mais tempo aos ‘bebés’ da sua creche e pretende também trabalhar com crianças carentes. «Esse é o meu sonho, quero ter uma escola para elas. Agora não posso mas quando a Sommerschield (escola) puder suportar, esse é um dos meus desejos», afirma Linda abraçada a um dos seus filhos adoptivos, uma empreendedora para quem a Escola é um negócio do coração.

HNN

Escola: negócio do coraçãoENSINO

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Revista Capital38

EMPREENDEDORISMO

Nassalete Miranda *

As transformações políticas, económicas e sociais que atravessam o mundo desde 1980 mostram que o papel das mulheres é absolutamente fundamental para o desen-volvimento das sociedades.Os números não enganam. Um estudo re-cente da OCDE regista que o aumento do número de empresas dirigidas por mu-lheres, desde 1998, é 1,5 vezes maior do que as dirigidas por homens. São, na sua grande parte, pequenas e médias empresas a crescerem em áreas inovadoras.Mais: estima-se que, ao longo deste ano, o papel das mulheres à frente das empresas aumente exponencialmente, pelo que em África a percentagem será de 64,5%, contra a América Latina que não deverá ultrapas-sar os 55%, sendo na Ásia de 70% e na Euro-pa de 80% . A América do Norte continuará

a liderar com 82% das mulheres a impulsio-nar a economia.As mulheres estão a vencer o medo e a mostrar a si próprias e à sociedade que quando se decidem a empreender é para ganhar!Naturalmente que há dificuldades, chegan-do a ser factor de desânimo as que se en-frentam para obter financiamento. Mas com persistência e a firme certeza de que “se é fácil, não é para nós”, conseguem-se ultra-passar todas as barreiras. Não pode haver lugar para o desânimo e deve-se olhar em frente, para o futuro porque é lá que está o resultado do que se fizer hoje.Basta uma boa ideia, inovadora, que se possa concretizar e conquista-se o mundo! O nosso mundo!Empreender é um verbo que parece recente mas de facto existe desde o século XVII. É de origem francesa e significa hoje o que

significava então; assumir riscos e começar algo novo.O empreendedor é assim aquele que arrisca, que sonha e que dá vida ao seu sonho. O empreendedorismo feminino existe, com-bate a pobreza, conquista qualidade de vida e nasceu da necessidade de afirmação das mulheres à sua independência, continuan-do a maior parte delas a conciliar o trabalho com a família e a educação dos filhos com a gestão da casa e o sucesso profissional.Penso que o grande segredo do êxito do em-preendedorismo feminino reside precisa-mente nas barreiras que se têm de vencer sem baixar os braços e na certeza de que todo o “caminho se faz caminhando”.

(*) Docente da disciplina de Ética e Res-ponsabilidade Social dos Média, na Univer-sidade Lusófona do Porto (Portugal)

Empreendedorismo no Feminino

O Associativismo feminino pretende ser um instrumento de garantia no que diz respeito à facilitação do acesso ao crédito bancário por parte das empresárias, que procurem investir nos seus negócios.A nível da Associação das Mulheres Em-presárias de Moçambique (AMEM), sediada na cidade da Matola, as negociações para a materialização do mecanismo de acesso ao crédito já estão em curso com uma das insti-tuições financeiras que operam no mercado moçambicano, segundo a sua presidente, Vanise Teixeira, também sócia-gerente da empresa de prestação de serviços Mocinter.Por outro lado, no seio da FEMME, outro recém-formado organismo de promoção do empresariado feminino, o acesso ao crédito bancário por via da Associação tem merecido especial atenção na agenda das suas reuniões. Contudo, a líder da agremi-ação, Letícia Klemens, é da opinião de que os membros devem investir de igual modo no know-how e no conhecimento da gestão dos seus próprios negócios.Os mecanismos menos céleres de acesso ao crédito em Moçambique tornam-se com-preensíveis na medida em que o empresari-ado feminino no país ainda é emergente, necessitando na sua maioria de conheci-mentos sólidos sobre gestão de suas empre-sas, de acordo com Letícia Klemens.Já passam quatro anos desde que a entidade reguladora do sector bancário nacional pro-

cedeu à revisão da legislação da área de licenciamento de novas instituições de mi-crofinanças, como forma de alargar o acesso ao crédito bancário de pequena dimensão, e servir as camadas mais desfavorecidas onde o segmento feminino se inclui.Entretanto, para o tipo de negócios prati-cados pelas empresárias pertencentes à FEMME e à AMEM verifica-se outro nível de ambição, a avaliar pelos empreendimen-tos desenvolvidos. A AMEM, que em breve irá filiar-se à FEMME, pretende com a iniciativa uma nova forma de intercâmbio alimentada por sinergias empresariais. O empresariado feminino tem o posicionamento comum segundo o qual o sector financeiro deveria conferir uma maior credibilidade ao papel exercido pelas empresárias. Não obstante, as empreendedoras não se queixam de qualquer tipo de parcialidade relativa ao gé-nero no que diz respeito às oportunidades de negócios no país. Na óptica de Vanise Teixeira, as barreiras que o país apresenta na área empresarial destinam-se a todos os géneros, e apresenta como exemplo o caso dos impostos. Caso os impostos fossem acessíveis, na óp-tica de Vanise Teixeira, as empreendedoras que se encontram no sector informal sen-tiriam uma maior motivação no sentido de abraçar o sector formal. n

Sérgio Mabombo

Associativismo feminino como garantia para créditos bancários

Vanise Teixeira, dirigente da AMEM

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A propósito do fenómeno do empreendedorismo feminino, Cláudia Tivane, consultora na área de Reengenharia de Pro-cessos Empresariais e Sistemas de Gestão da Qualidade, tece al-gumas considerações pertinen-tes ao mesmo tempo que traça o panorama profissional que as mulheres vivem no país.

Como vê o empreendedorismo femi-nino em Moçambique? Em que está-gio se encontra?Em Moçambique há pouca divulgação so-bre o empreendedorismo feminino. Os da-dos estatísticos nesta área, como por exem-plo o percentual de mulheres dedicado ao empreendedorismo, os ramos de negócio preferidos e a taxa de sucesso desses empre-endimentos não têm sido largamente divul-gados à semelhança de outros países como o Brasil, EUA, China e outros. Entretanto, pelo que se pode acompanhar e perceber, o empreendedorismo feminino vem ganhan-do espaço e importância em Moçambique sendo próprio, por um lado, de mulheres que buscam autonomia e independência, seja por necessidade financeira ou por dese-jo de alcançar os seus sonhos e ideais, e, por outro lado, motivado pela crescente taxa de desemprego. Qual tem sido a principal causa da fa-lência das empresas?O que se tem constatado, pelo menos a nível de algumas microempresas moçambicanas, é o início de empreendimentos sem planifi-cação adequada e sem uma estrutura sóli-da. Depois do estabelecimento da empresa, estas são geridas ignorando-se os princípios básicos de gestão, empregando-se mão-de-obra não qualificada, com deficiente contro-lo interno, entre outros factores. Entretan-to, não se pode deixar de considerar outros factores de ambiente externo que têm con-corrido para a falência das empresas e que sobre os quais não há controlo, como por exemplo a crise económica, a concorrência desleal, alguma discriminação (de género) e a pressão da corrupção.

O mercado empresarial moçambica-no mostra alguma oportunidade ou abertura para a maior actuação femi-nina neste ramo de actividade? Não existe uma diferença em termos de oportunidades. Isto é, as oportunidades são as mesmas tanto para homens como

para mulheres. Felizmente, as mulheres já conseguem identificar facilmente as opor-tunidades de negócio, têm conquistado o seu espaço no mundo empresarial e vêm ganhando muita visibilidade - situação que não se verificava há uns anos. O que se pode fazer para ampliar cada vez mais esse espaço?O governo tem introduzido várias mudanças que de certa forma ampliam cada vez mais este espaço. A título de exemplo, pode-se referir a introdução de licenciamento sim-plificado que permite a emissão imediata de licenças para o exercício da actividade em-presarial, a introdução do regime de impos-tos simplificado, entre outras medidas. Con-tudo, ainda há obstáculos a transpor como é o caso da burocracia e da corrupção. Podia-se realizar eventos vocacionados e premiar as melhores iniciativas de mulheres.

Acha que a mulher tem capacidade de liderança face à concorrência que se vive actualmente no nosso mercado? Não pode haver dúvidas sobre a capacidade da mulher na liderança. Ela tem atributos naturais que a colocam em vantagem em relação ao homem. Só para citar alguns, a mulher tem capacidade de realizar múlti-plas tarefas, cuidando de vários assuntos ao mesmo tempo, é dedicada, disciplinada, tem senso de responsabilidade e perseve-rança. Há ainda uma grande vantagem que a mulher tem, a intuição, que lhe dá mui-ta coragem de avançar nas decisões de alto risco. Estes atributos, agregados, fazem da mulher uma pessoa com preparação natural para os desafios da liderança. Obviamente que aspectos culturais têm influenciado muito para que as oportunidades de assu-mir os postos de liderança sejam, muitas vezes, cedidas ao género masculino.

Que factores contribuem para o su-cesso das empresas?Existem vários factores que contribuem para o sucesso de uma empresa, mas vou fa-lar de alguns que os considero básicos. Uma correcta planificação estratégica, baseada na análise de factores do ambiente interno e externo que possam ter um impacto sig-nificativo sobre o negócio. E é também im-portante que haja uma clareza para todos os colaboradores da finalidade pela qual todos os esforços da empresa estão direccionados, do que se pretende alcançar e como alcan-çar.É necessário que haja um conhecimento pro-fundo dos processos do negócio, monitoria destes processos e sua melhoria contínua;

este factor deve ser aliado à capacitação, de-senvolvimento e motivação dos colaborado-res para que haja competências necessárias na execução dos processos do negócio. Por outro lado, a focalização no cliente deve ser prioritária para a organização. O cliente é a razão principal da existência das empresas, por isso devem ser muito bem entendidas as suas necessidades e permanentemente mo-nitorada a sua satisfação relativamente aos serviços fornecidos.Por último, o acompanhamento e análise permanente das mudanças do mercado e reajustamento das estratégias e processos do negócio de acordo com as mudanças do mercado. Este acompanhamento permite que se opere dentro da legalidade vigen-te, com respeito pelas regras do mercado e que, continuamente, haja reajustamento contínuo entre os pontos fortes e fracos da empresa com as oportunidades e ameaças aos quais o negócio está exposto.n

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Ser empreendedora

EMPREENDEDORISMO

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Audit Manager

«Sustentabilidade significa assegurar o sucesso do negócio a longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento económico e social da comunidade, um meio ambiente saudável e uma sociedade estável – os gestores são chamados a gerir as suas empresas de forma a satisfazer as necessidades da presente geração sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer as suas necessidades»

Félix Sengo

Responsabilidade Social Empresarial Novos desafios no quadro da actual crise económica e financeira mundial

Desde que o risco de insustentabili-dade tomou conta da sociedade mundial moderna, as pessoas ten-

dem a não confiar nas organizações. Elas olham parra as organizações como irres-ponsáveis, gulosas e desumanas. Para res-ponder as necessidades de mudanças que se impõem no mundo actual de forma a resta-belecer a paz com os seus “stakehol-ders” (partes interessadas), as organizações são hoje, chamadas a desenharem estratégias de gestão que tenham como epicentro as di-mensões económicas, social e ambiental no desenvolvimento dos seus negócios.

Sustentabilidade

Quando nos debruçamos sobre a responsa-bilidade social empresarial a palavra que encontramos no centro das discussões é a Sustentabilidade, termo que tem sua origem nas preocupações de crescimento das na-ções nos anos 80s em que as nações foram chamadas a encontrar soluções para fazer crescer as suas economias sem destruir o meio ambiente ou sacrificar o bem-estar das futuras gerações. A partir dessa altura a sus-tentabilidade tornou-se um termo popular para as causas social e ambiental no mundo dos negócios.

Sustentabilidade significa assegurar o su-cesso do negócio a longo prazo e ao mesmo tempo contribuir para o desenvolvimento económico e social da comunidade, um meio ambiente saudável e uma sociedade estável – os gestores são chamados a gerir as suas empresas de forma a satisfazer as necessidades da presente geração sem com-prometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer as suas necessidades.

Os princípios de sustentabilidade defen-dem o desenvolvimento dos negócios numa perspectiva de respeito pelas necessidades e interesses das outras partes relacionadas nomeadamente, os grupos comunitários,

educacionais, instituições religiosas, força de trabalho e o público em geral as quais devem ser vistos como elementos que refor-çam as relações dentro das organizações.

ERNST & yOuNG

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Triple Bottom Line

A responsabilidade social empresarial co-mummente tida como “Triple Bottom Line” (TBL) é definida como o efeito financeiro, social e ambiental das políticas e acções empresariais que determinam a sua viabili-dade como uma organização sustentável. Com ela pretende-se cultivar no seio das or-ganizações uma cultura orientada a tomada de decisões empresariais ligadas a valores éticos, alinhadas com as exigências legais, o respeito pelas pessoas, comunidades e meio ambiente.

O conceito de Triple Botton Line foi origi-nalmente proposto pelo defensor da sus-tentabilidade – o guru John Elkington - de acordo com este autor os negócios precisam de medir seus sucessos não somente pela tradicional “bottom line” do desempenho fi-nanceiro (muitas vezes expresso em termos de lucro, retorno do investimento (ROI) ou valor para os accionistas mas também deve ser medido por seu impacto na economia no geral, no meio ambiente e na sociedade onde as empresas operam. Como sabemos, na condução dos seus negócios as empresas não usam somente os recursos financeiros (tais como investimentos em meios mone-tários e receitas de vendas) mas também recursos ambientais (tais como água, ener-gia, e matérias-primas) e recursos sociais (tais como o pessoal da comunidade, tempo e talentos e infraestruturas criadas pelas agências governamentais). Um negócio so-cialmente responsável tem de ser capaz de medir, documentar e reportar uma taxa de retorno (ROI) positiva nos três “bottom lines” – social, economia, e meio ambiente - bem como os benefícios que os accionistas recebem nestes três dimensões. O TBL cap-ta a essência da sustentabilidade por medir o impacto das actividades duma organiza-ção no mundo. Um TBL positivo reflecte um aumento no valor da empresa que incluirá o lucro, valor para os accionistas, capital so-cial, humano e ambiental.

Afinal quando é que uma empre-sa pode ser considerada social-mente responsável?

Na verdade, embora não haja nada de er-rado com as acções de cidadania das em-presas, ser socialmente responsável não é passar cheques numa base mensal para as organizações de caridade ou permitir que os trabalhadores realizem acções de limpeza na comunidade – uma empresa susten-tável é aquela que conduz os seus negócios de forma que o fluxo de benefícios ocorra naturalmente para todos os “stakeholders” incluindo trabalhadores, clientes, parceiros de negócios, a comunidade onde ela opera e claro os accionistas. As empresas susten-táveis encontram áreas de interesse mútuos e caminhos para fazer o “certo” e o “bom”, de forma a evitar conflitos entre a sociedade e os accionistas.

Para implementar o ambiente de gestão de responsabilidade social empresarial a orga-nização deve, para além de definir as estra-tégias de gestão a seguir no quadro das ver-tentes (i) pessoas (i) lucros e (iii) planeta/ambiente estabelecer claramente:• os indicadores de desempenho econó-

mico, social e ambiental;

• a forma de os medir;

• a forma como a organização deve estar organizada para implementar a medi-ção dos indicadores do desempenho naquelas vertentes.

Os próximos artigos para além de continu-arem a debruçar-se sobre alguns conceitos ligados ao vasto tema de “Responsabilidade social empresarial (TBL)”, vão procurar trazer as principais etapas que têm sido percorridas pelas organizações empresari-ais para alcançar nas suas empresas, ao mesmo tempo, sucessos económicos, soci-ais e ambientais.n

«Na verdade, embora não haja nada de errado com as acções de cidadania das empresas, ser socialmente responsável não é passar cheques numa base mensal para as organizações de caridade ou permitir que os trabalhadores realizem acções de lim-peza na comunidade – uma empresa sustentável é aquela que conduz os seus negócios de forma que o fluxo de benefícios ocorra naturalmente para todos os “stakehold-ers” incluindo tra-balhadores, clientes, parceiros de negócios, a comunidade onde ela opera e claro os ac-cionistas. As empresas sustentáveis encon-tram áreas de interesse mútuos e caminhos para fazer o “certo” e o “bom”, de forma a evitar conflitos entre a sociedade e os accionis-tas»

ERNST & yOuNG

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Efeito fiscal da fusão de sociedades em sede do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC)A fusão de sociedades é um mecanismo ge-ralmente usado pelas empresas por moti-vações económicas tais como reestrutura-ção ou racionalização das suas actividades, reforço da estrutura financeira e/ou patri-monial, bem como a obtenção de uma me-lhor posição no mercado, entre outros. Do ponto de vista fiscal, uma das grandes vantagens que se obtém com a utilização deste mecanismo é o efeito de neutralida-de fiscal, que consiste na não consideração para efeitos fiscais de qualquer resultado obtido pela transmissão do património en-tre as sociedades envolvidas na fusão. O presente artigo visa ilustrar generica-mente sobre o regime especial de tributa-ção a que estão sujeitas as entidades (e.g. pessoas colectivas) intervenientes no pro-cesso de fusão.

Conceito de fusão

A fusão consiste na transferência global do património de uma ou mais sociedades para a outra (fusão por incorporação) ou na transferência global do património de uma ou mais sociedades para uma nova so-ciedade a ser constituída (fusão por cons-tituição).

Regime fiscal da fusão

A nossa análise resume-se ao efeito fiscal da fusão na perspectiva das sociedades envolvidas, especificamente em sede do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC), pelo que não irá abran-ger outros impostos tais como Imposto so-bre Valor Acrescentado (IVA), Imposto de Selo, entre outros.O regime especial de tributação da fusão encontra-se previsto no Código do IRPC (CIRPC) e no respectivo Regulamento, visa assegurar a neutralidade fiscal destas operações, uma vez que, em princípio, a sociedade fundida dará continuidade às actividades das sociedades que deixam de existir com a fusão. Por essa razão, o Regu-lamento do CIRPC estabelece claramente que, para efeitos de determinação do lucro tributável das sociedades fundidas, não

será considerado qualquer resultado deri-vado da transferência dos elementos patri-moniais em consequência da fusão.

Requisitos para aplicação do regime da neutralidade fiscal Para que o regime da neutralidade seja aplicável na transmissão de património entre as sociedades fundidas e não haja tributação em sede de IRPC, as socieda-des resultantes da fusão deverão observar cumulativamente as seguintes condições:1.ª) A sociedade para a qual é transmitido o património das sociedades fundidas de-verá ter sede e direcção efectiva no territó-rio moçambicano;2.ª) Os elementos patrimoniais activos e passivos objecto de transmissão deverão estar inscritos na contabilidade da socie-dade resultante da fusão com os mesmos valores que tinham na contabilidade das sociedades fundidas;3.ª) Os valores relativos a elementos patri-moniais transferidos (e.g. activos, amorti-zações, reintegrações e reavaliações), de-verão respeitar as disposições do Código do IRPC ou outra legislação de carácter fiscal.

Determinação do lucro tributável das sociedades resultantes da fusão

Verificadas as condições acima, na deter-minação do lucro tributável serão aplicá-veis às sociedades resultantes da fusão al-guns benefícios que se traduzem no facto de:• Não haver lugar ao apuramento de qual-quer resultado por virtude da transmissão dos elementos patrimoniais em conse-quência da fusão;• Não haver lugar ao apuramento de mais-valias realizadas;• Não se considerarem como proveitos as provisões constituídas na sociedade fundi-da (e.g. provisões para créditos de cobran-ça duvidosa, perdas de valores das existên-

Carolina BalatePricewaterhouseCoopers

Manager

FISCALIDADE

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FISCALIDADE

Efeito fiscal da fusão de sociedades em sede do Imposto Sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRPC)

cias, obrigações e encargos com processos judiciais em curso), sendo aplicável o mes-mo regime que vinha sendo seguido nas sociedades fundidas;• As amortizações e reintegrações dos ac-tivos transferidos seguem, igualmente, o regime que vinha sendo observado nas so-ciedades fundidas.

Com base nos benefícios acima atribuídos no âmbito do regime especial da fusão, pode-se facilmente deduzir que os mes-mos são concedidos tendo em conta que a sociedade resultante da fusão deverá dar continuidade ao exercício das actividades das sociedades fundidas, daí que sucede plenamente nos direitos e obrigações das sociedades que lhe deram origem.Assim, tudo irá processar-se como se não tivesse havido a transferência do patrimó-nio, devendo a tributação ser deferida para o momento em que a sociedade que recebe o património proceda, ela própria, à alie-nação dos bens transmitidos em virtude da fusão, no caso das mais-valias, ou no momento em que forem utilizadas as pro-visões anteriormente constituídas.

Reporte de PrejuízosFiscais

Resulta do regime da neutralidade fiscal a possibilidade de serem deduzidos os pre-juízos fiscais das sociedades fundidas, caso estejam criadas as condições necessárias para o efeito. Contudo, o CIRPC não esta-belece claramente as condições em que de-verá ser feita a dedução dos prejuízos. Saliente-se que a falta de indicação clara e objectiva das condições para a dedução dos prejuízos poderá dificultar a utilização deste benefício pelas sociedades fundidas e fazer com que o mesmo seja aplicado de forma arbitrária.

Obrigações acessórias

As sociedades que transmitem os ele-mentos patrimoniais em virtude da fusão devem incluir no seu processo de docu-mentação fiscal uma declaração passada

pela sociedade para a qual são transferidos aqueles elementos patrimoniais.

Excepções ao regimeda neutralidade fiscal

O regime da neutralidade fiscal não é apli-cável sempre que se conclua que as opera-

ções de fusão tiveram como principal ob-jectivo a evasão fiscal.A evasão fiscal considera-se verificada sempre que as sociedades intervenientes no processo de fusão não tenham a tota-lidade dos seus rendimentos sujeitos ao mesmo regime de tributação em sede de IRPC, ou quando as operações não tenham sido realizadas por razões economicamen-te válidas (e.g. reestruturação, racionaliza-ção das actividades das sociedades).Como consequência da não observância dos requisitos para usufruir do regime da neutralidade fiscal, a administração fiscal poderá ditar que sejam efectuados os ajus-tamentos necessários ao lucro tributável da sociedade resultante da fusão, bem como a liquidação do imposto adicional do im-posto correspondente, acrescidos dos ju-ros eventualmente devidos, caso se tenha verificado uma “decalage” temporal entre a fusão e o momento da determinação do ajustamento.

Conclusão

Nos termos do acima exposto pode-se fa-cilmente depreender que o regime da neu-tralidade fiscal é bastante benéfico para as sociedades fundidas. Contudo, para que as sociedades envolvidas no processo de fusão beneficiem daquele regime especial, as mesmas deverão respeitar os requisitos e condições estabelecidas pela legislação fiscal relevante.O obstáculo que se poderá verificar para as sociedades beneficiárias deste regime é a dedução dos prejuízos fiscais, uma vez que não se encontram claramente estabeleci-das as respectivas condições. O facto poderá originar algumas arbitra-riedades, pelo que, do nosso lado, cabe-nos sugerir às autoridades competentes que estabeleçam os requisitos, condições e até limites para a dedução dos prejuízos pelas sociedades resultantes da fusão, tudo isso tendo em conta o princípio da continuida-de do exercício da actividade das socieda-des fundidas pela nova sociedade resultan-te da fusão. n

«Como consequência da não observância dos requisitos para usufruir do regime da neutralidade fis-cal, a administração fiscal poderá ditar que sejam efectua-dos os ajustamentos necessários ao lucro tributável da socie-dade resultante da fusão, bem como a liquidação do im-posto adicional do imposto correspon-dente, acrescidos dos juros eventualmente devidos, caso se tenha verificado uma “de-calage” temporal entre a fusão e o mo-mento da determina-ção do ajustamento»

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RESENHA JuRÍDICA

Dando continuidade ao referido no anterior artigo, importa dizer que para além da penhora de créditos

e de abonos ou vencimentos, a lei prevê a penhora de títulos de crédito, de direitos ou expectativas de aquisição, de depósitos ban-cários e de direitos a bens indivisos.Tomando em consideração que a nomeação de bens à penhora compete, primeiramente, ao devedor, este direito pode ser devolvido ao exequente, por força do artigo 836.º do Código do Processo Civil, caso o executado não nomeie os bens.

Se a penhora incidir sobre bens ou direitos que, embora pertencentes ao executado, não deviam responder pela dívida, os pos-síveis meios de reacção contra essa penhora são a impugnação do despacho que ordena a penhora, o incidente de oposição à penho-ra e o requerimento avulso do exequente.O despacho que ordena a penhora pode ser impugnado mediante agravo em primeira instância, dado que, por não ser conside-rado uma decisão sobre o mérito, dele não pode apelar-se. No entanto, a admissibi-lidade desse recurso está dependente, em princípio do valor dos bens penhorados: em regra, ele só é admissível se o valor exceder a alçada do Tribunal de primeira instância.A interposição do agravo não tem efeito sus-pensivo, uma vez que não impede a efecti-vação da penhora.O incidente de oposição só pode ser deduzi-do se nele puderem ser suscitadas questões que não hajam sido expressamente aprecia-das e decididas no despacho que ordenou a penhora.A impugnação do despacho que ordena a penhora através do agravo ou da recla-mação não pode ser utilizada para invocar factos novos, ou seja, factos que o Tribunal não podia ter considerado, e o incidente de oposição à penhora não pode ser usada pelo exequente. O requerimento do exequente fundamenta-se na nomeação pelo executa-do de bens impenhoráveis.Quanto aos limites subjectivos da penho-ra, estes são violados se forem penhorados bens ou direitos que não são do executado. Os meios de oposição à penhora subjecti-vamente ilegal são o protesto imediato, a impugnação do despacho que ordena a pe-nhora, os embargos de terceiro e a acção de reivindicação.O protesto imediato ocorre quando no acto da realização da penhora o executado ou alguém em seu nome declara que os bens visados pertencem a um terceiro ou não lhe pertencem exclusivamente. Cabe recurso de agravo, que pode ser interposto pelo tercei-ro.O mesmo recurso pode ser interposto quan-do o terceiro titular do bem penhorado re-

corra do despacho que ordena a penhora, visto que este é directa e efectivamente pre-judicado por tal decisão.Há ainda os embargos de terceiro, que constitui um meio de reacção contra um acto judicialmente ordenado de apreensão ou entrega de bens. Os embargos de tercei-ro visam impugnar a legalidade da penhora e obter o seu levantamento. Os embargos repressivos podem assumir acessoriamen-te uma função cautelar, pois o embargante pode requerer a restituição provisória da posse dos bens penhorados.A admissibilidade dos embargos de terceiro é independentemente da validade ou nuli-dade da penhora.Por último, importa referir-se à Acção de Reivindicação, que pode ser usada como meio de oposição de um terceiro à penhora, com o fundamento na propriedade de ter-ceiro ou no direito real desse sujeito sobre o bem penhorado.A penhora termina normalmente com a venda ou adjudicação do bem penhorado, mas, verificadas certas condições pode ser levantada antes de ocorrer essa alienação, caso ocorra o não andamento da execução durante mais de seis meses, por negligên-cia do requerente; a desistência da penhora pelo exequente; a substituição da penhora por iniciativa do exequente ou do executa-do; a procedência de oposição à penhora deduzida pelo executado ou por terceiro; a não atribuição, em processo de inventário, do bem penhorado ao cônjuge executado; o perecimento da coisa penhorada, se não houver convolação da penhora para a in-demnização paga ou devida por terceiro; a atribuição ao exequente da consignação ju-dicial de rendimentos sobre outros bens.O levantamento da penhora é realizado por despacho do Juiz da execução, pois foi por despacho que ela foi ordenada. Se a penho-ra estiver registada, o respectivo registo deve ser cancelado.n

(*) [email protected], colaborador da Ferreira Rocha & Associados – Sociedade de Advogados, Lda.

«A impugnação do despacho que ordena a penhora através do agravo ou da reclamação não pode ser utilizada para invocar factos novos, ou seja, factos que o Tribunal não podia ter considera-do, e o incidente de oposição à penhora não pode ser usada pelo exequente. O requerimento doexequente funda-menta-se na nomea-ção pelo executado de bens impenhoráveis»

Nomeação de Bens à Penhora (II)

Hugo Silvino Meirelles *

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Dos vários aspectos já analisados da em-presa Petromoc existe um denominador comum que ressalta. O cuidado que os res-ponsáveis entrevistados colocam em realçar a importância das equipas que, no terreno, se apresentam como linha avançada da for-ça operacional de toda a estrutura empresa-rial.Com uma actividade que se estende por todo o país e onde se inclui um interior pro-fundo, onde a civilização tarda em chegar, a Petromoc assume-se, na maior parte dos casos, como o único elo que ali representa o progresso e o contacto com a sociedade exterior, aquela que lida com a riqueza, a in-dústria e o desenvolvimento. Os homens e as mulheres que constituem o capital humano da empresa são o garante da sua presença nesses lugares recônditos e acabam por fun-cionar como elementos dinamizadores dos princípios que norteiam a sua actividade.Assim, chega-se ao capítulo onde se fala dos recursos humanos e da sua importância no progresso de qualquer empresa. Para que a informação seja o mais fiável possível, socorremo-nos do Dr. Zacarias Cossa, Ad-ministrador do pelouro administrativo e financeiro.

“Uma empresa é o resultado da con-jugação das forças convergentes dos seus trabalhadores. Esta poderá ser uma máxima que se aplique à Petro-moc?”Com certeza. A Petromoc é uma empresa de distribuição de combustíveis e prestação de serviços de manuseamento e armazenagem de produtos petrolíferos. Dado que o pro-duto que comercializamos é indiferenciado para todas as empresas que operam no sec-tor e o preço também é fixado pelo Governo, os factores diferenciadores são essencial-mente os serviços e aí os recursos humanos desempenham um papel preponderante. Por essa razão a nossa maior força está nos trabalhadores.

“Como se processa o envolvimento da massa trabalhadora no quadro da ac-tividade da Petromoc? Os trabalhado-res participam activamente na procu-ra de soluções para os problemas que surgem e na optimização dos resulta-dos da empresa?”O envolvimento dos 638 trabalhadores que operam no mercado nacional é feito em conformidade com os processos indutivos estabelecidos para o efeito. Todo o traba-lhador admitido na empresa passa por um processo de integração que lhe permite um enquadramento adequado. No que diz res-peito à sua participação activa, esta passa

necessariamente pelo seu reconhecimento como um activo importante para o sucesso pretendido. Por essa razão os Objectivos Es-tratégicos definidos pela Administração são repartidos em cascata pelos vários sectores de actividade e trabalhadores aí afectos. A título de exemplo, realizaram-se, ainda no primeiro semestre deste ano, nas zonas Centro, Norte e Sul, seminários para a di-vulgação do Plano Operacional para 2010.Nesta ordem de ideias pode afirmar-se que os trabalhadores participam activamente nos resultados da empresa. Nos seminários realizados, para além da participação dos gestores de vários níveis, incluíram-se ainda técnicos de diversos sectores da empresa.

“A formação profissional, segundo os especialistas, é um elemento prepon-derante para uma resposta mais efi-caz dos trabalhadores face às solicita-ções que lhes chegam. Essa é uma das preocupações da Petromoc? Existe uma política definida nesse sentido?”Um dos objectivos estratégicos da empresa é dotá-la de uma força laboral qualificada e motivada. Neste sentido tem-se vindo a financiar várias actividades de formação, quer curriculares (através da atribuição de bolsas de estudo) quer de formação profis-sional, no país e no estrangeiro.

Recursos Humanos: a base do sucesso

PETROMOC

Esta realidade integra, naturalmente, a polí-tica de formação profissional que preconiza, anualmente, o levantamento e a elaboração do Plano das Necessidades de Formação Profissional. A empresa tem uma divisão que se dedica, especialmente, à coordena-ção das acções de formação e vai em breve abrir um Centro de Formação no qual serão ministrados cursos para trabalhadores e também virados para o mercado.

“Como se processa o desenvolvimen-to de carreiras no interior da Petro-moc? A iniciativa de cada trabalha-dor, o seu poder de polivalência, a dedicação, assiduidade, são factores importantes na ascensão profissional de cada elemento? A informação cir-cula bem entre cada sector, quer a ní-vel horizontal, quer vertical, da base da pirâmide até ao topo?”A carreira profissional da empresa é assegu-rada pelo Sistema de Avaliação do Desem-penho, onde os trabalhadores, com o resul-tado positivo, crescem na carreira.E esse resultado positivo passa também pela iniciativa de cada trabalhador que conside-ramos da maior importância. No Sistema de Avaliação do Desempenho, para além de avaliar os objectivos individuais definidos, também se avalia a parte comportamental que representa na ordem dos 25% do total da pontuação.Por tudo o que referi podemos considerar que existe uma boa comunicação, quer ho-rizontal, quer vertical. Contudo, necessita-mos de melhorias nesse campo.

“Como se poderá caracterizar o cli-ma social no interior da empresa Pe-tromoc? A relação da administração com as estruturas representativas dos trabalhadores funciona?”O clima social é positivo. A empresa pos-sui uma política de Assistência Social nas várias vertentes, como, por exemplo, a As-sistência Médica e Medicamentosa para os trabalhadores e sua família, apoio à prática do desporto na empresa pelos trabalhado-res, oferecimento de refeições gratuitas aos trabalhadores e outros benefícios.Assim, é natural que a relação com os sin-dicatos seja saudável. A empresa possui um Acordo Colectivo de Trabalho que regula as relações entre as partes e tem articula-do com este órgão, tanto para as questões sociais dos trabalhadores, como para o pla-no operacional da empresa, por exemplo: anualmente, a administração tem realizado negociações com este órgão, tendo em vista o reajustamento salarial que tem sido um sucesso.n

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JAPÃO

Apoio alimentar é concedido a Moçambique

O governo do Japão vai financiar, breve-mente, 10 milhões de dólares norte-ameri-canos em arroz com vista a contribuir para a segurança alimentar em Moçambique. Para o efeito, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Henrique Ban-ze, e o embaixador japonês acreditado no país, Susumu Segawa, assinaram um me-morando sobre a ajuda alimentar estimada em 600 mil toneladas de arroz.

Henrique Banze explicou que a quan-tidade de arroz em causa será adquirida tanto no Japão como em outros países for-necedores, e vendidas a preço compatível no mercado moçambicano, devendo as receitas da comercialização vir a financiar projectos de desenvolvimento. «As receitas provenientes da venda do arroz a ser ad-quirido irão financiar projectos vitais de desenvolvimento a serem acordados entre os governos da República de Moçambique e do Japão, alguns dos quais já submetidos ao governo do Japão», disse aquele diri-gente.

Segundo o vice-ministro, o país ainda se defronta com sérios problemas de segu-rança alimentar devido a vários factores, principalmente resultantes das calamida-des naturais que, ciclicamente, assolam Moçambique, tais como secas e cheias.O embaixador Japonês disse, por seu tur-no, que o Japão dobrou, em 2008, a sua assistência a África para os próximos cinco anos na 4.ª Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento de África (TICAD).

A concessão do valor será feita através da Agência Japonesa de Cooperação Interna-cional (JICA) em Moçambique, responsá-vel pela implementação do projecto deno-minado «Projecto de Ajuda Alimentar».

ANGOLA

Parlamento firma cooperação com Moçambique

O parlamento angolano aprovou o pro-jecto de resolução sobre o acordo de coo-peração entre Moçambique e Angola no domínio da Defesa com 152 votos a favor, nenhum contra e nenhuma abstenção.

O ante-projecto, apresentado pelo minis-tro das Relações Exteriores, Assunção dos Anjos, visa impulsionar a cooperação no domínio militar e de Defesa e aproveitar as vantagens daí resultantes para os dois estados.

O reforço da cooperação entre ambos no domínio da Defesa, em especial na área técnico-militar, decorrerá em caso de so-licitação e dentro das possibilidades exis-tentes, e de acordo com a constituição de cada um dos países e das leis aplicáveis no âmbito do direito internacional.

O relatório da Comissão dos Assuntos Constitucionais, Jurídicos e Regimento do Parlamento angolano, lido pelo deputado Constantino Manuel dos Santos, destaca a colaboração entre Angola e Moçambique acordada numa base de respeito mútuo, dos princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e das normas do direito in-ternacional universalmente aceites.

ZIMBABWE

Banco público privatizado para salvar economia

O Governo do Zimbabwe anunciou ter vendido 49% das acções de People’s Own Saving Banks (um banco público) a in-vestidores privados no âmbito dum vasto programa de privatização com o objectivo de mobilizar fundos para controlar o défice orçamental estimado em 800 milhões de dólares americanos.

O Governo afirma que irá reservar 51% das acções do banco, que é o maior e um dos mais antigos do país, e lançou um pro-grama de privatização das grandes empre-sas a fim de angariar fundos para controlar o défice orçamental.

O Zimbabwe aguardava adquirir dos do-adores de fundos 10 biliões de dólares para recuperar a sua economia, mas a maioria dos seus parceiros adiaram a sua ajuda condicionando-a à implementação das re-formas políticas e económicas.

Entre as empresas a privatizar encon-tram-se as de telecomunicações e dos transportes, bem como a companhia aérea nacional, Air Zimbabwe.

MuNDO

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No tempo global que se vive actualmente, o lançamento de um modelo de automóvel em Singapura, Frankfourt, Paris ou Rio de Janeiro, acaba por dizer respeito a todos os potenciais

compradores já que, mais cedo ou mais tarde, essa versão bater-lhe-á à porta.

Como estamos no mês da mulher moçambicana nada melhor que procurar um modelo que se conjugue no feminino e trazê-lo à estampa.

Muitas marcas reivindicam, para alguns dos seus modelos, as preferências do público feminino e, em verdade se diga, alguns modelos parecem desenhados essencialmente para agradarem a esse tipo de compradoras.

De entre as várias opções optámos pelo Picanto, até porque em Moçambique a relação qualidade/preço acaba também por ser aliciante e tornou-se um “must” ir às compras ou passear as crianças no utilitário da Coreia do Sul.

A época de crise também ajuda a que os construtores agucem o engenho para penetrar novos mercados, descobrirem nichos emergentes e conquistarem um cada vez mais vasto leque de potenciais compradores.

Essas e, porventura, muitas outras razões que se prendem com o mercado interno brasileiro levaram a empresa sul-coreana Kia Motors a criar um Picanto versão EX 1.0, com opções de caixa manual ou automática, bem apetrechado, de molde a combater a produção local e a marcar uma posição relevante no apetecível segmento dos menos de 1.000 cm3.

Foi apresentado com airbag duplo frontal, ar condicionado, direcção assistida, regulação da altura do volante, rádio/CD/MP3 com entrada auxiliar para iPod, sistema centralizado de controle automático de portas, revestimento de couro no volante e alavanca de velocidades, desembaciador do vidro traseiro, além de banco traseiro escamoteável em dois segmentos.

Mas a marca vai mesmo ao extremo de instalar retrovisores externos, também com desembaciador, além de jantes de liga leve, puxadores de portas e retrovisores na cor da carroçaria, “spoiler” traseiro e faróis de nevoeiro.

A versão mais cara dispõe de alarme, detalhes cromados no interior e caixa automática de 4 velocidades.

O motor, como já se disse, é de 1.000 cm3, 4 cilindros em linha e uma potência de 64 cavalos. Tudo isto serve para deslocar um carrinho de 960 Kg distribuídos por 3,53 metros de comprimento, 1,59 m de largura, 1,48 m de altura e 2,37 m entre eixos.

O preço actual (no Brasil) oscila entre os 16.000 e os 19.000 dólares, versão manual e versão automática, e parece que está a seduzir a população feminina, aliás como acontece um pouco por todo o Mundo, onde o Picanto se assume como um utilitário fiável, fácil de parquear e económico.

Picanto: o carro no feminino

FICHA TÉCNICA

Kia Picanto EX 1.0 automático

Motor: Gasolina, transversal, 999cm3,quatro cilindros em linha. Injecção electrónica.

Transmissão: Caixa automática com 4 velocidades, marcha atrás e overdrive. Tracção dianteira.

Potência: 64 cv a 5.600 rpm

Diâmetro e curso: 66,0mm X 73,0mm. Taxa de compressão: 10,1:1

Direcção: Eléctrica/assistida. Raio de viragem: 4,6 m

Travões: Discos ventilados na frente e traseiros a tambor

Suspensão: Dianteira independente, tipo McPherson, com molas helicoidais. Traseira por eixo de torção, com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos.

Pneus: 165/60 R14, com jantes de liga leve

Carroçaria: Hatch em monobloco, 4 portas, 5 lugares. 3,53 m de comprimento; 1,59 m de largura; 1,48 m de altura e 2,37 entre eixos. Airbag duplo frontal.

Peso: 960 Kg

Porta-bagagens: 220 litros

Depósito: 35 litros

AuTO

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A história começa numa estação de camionagem de Antananarivo, de onde partem os transportes que ligam a capital de Madagáscar às regiões de província. Um autocarro está prestes a partir e quatro jovens malgaxes – Maeva, Soatiana, Tasngy e Setra – preparam-se para subir. As férias estão aí e para estes jovens serão passadas nas suas terras de oriem. Já dentro do autocarro, Maeva responde: “Que livro é esse que tanto te fascina?”. Maeva responde: “A Constituição”.É desta forma que começa uma banda desenhada criada em Madagáscar, que tem como objectivo dar a conhecera aos seus cidadãos a Lei Fundamental do país. “Na banda desenhada, ilustrámos a Constituição no contexto da vida dos jovens”, diz Jean Amie Raveloson, da Fundação Friederich-Ebert – uma instituição alemã fundada pelo Partido Social Democacrata (SPD), responsável pela criação do projecto, citado pela BBC Online.“Daí termos pegado num pequeno grupo que parte numa viagem de camioneta e que, ao longo do percurso, conversa sobre as suas vidas e as suas perspectivas para o país”. Desde o advento da terceira República, em 1992, a Constituição desta antiga colónia francesa já foi alterada, em referendo,

por três vezes: em 1995, 1998 e 2007. A 19 de Janeiro do ano passado, a Lei Fundamental foi novamente modificada pelo Parlamento. A alteração de poder ocorrida dois meses depois – um golpe militar depôs o presidente Marc Ravalomanana e originou a suspensão de Madagáscar da União Africana – deixa adivinhar, mais cedo ou mais tarde, uma nova alteração constitucional.“Mas, apesar das alterações, se formos ver bem, os principais pontos nunca mudam. Por exemplo, a Constituição fala da unidade do Estado – e é o mesmo no texto da primeira, da segunda e da terceira repúblicas”, acrescenta Jean Raveloson. Ao longo de 33 páginas, os malgaxes viajam pelo país ao som da leitura dos artigos da Constituição, que geram a discussão dentro do autocarro.“No quadro de alterações ou revisões da Constituição, o consenso nacional nem sempre é obtido. A população questiona-se se a Lei Fundamental apenas é útil para manter os governantes no poder. Para a maioria dos cidadãos malgaxes, a Constituição permanece longe da sua realidade e não tem interesse para a sua vida quotidiana”, pode ler-se na mensagem de apresentação publicada no início desta banda desenhada.

Constituição de Madagáscar em Banda Desenhada

A arte toma conta dos espaços em Maputo de 20 de Março a 3 de Abril. Durante três semanas seis artistas moçambicanos expõem em seis espaços da cidade de Maputo. Expõem as suas obras e os espaços a um público que (ainda) não os conheça ou que deles se tenha esquecido.Numa espécie de roteiro itinerante pela cidade temos no edifício sede do Clube Ferroviário, Gonçalo Mabunda (escultura); no Bazar Central, Gemuce (escultura); na Minerva Central, Maimuna Adam (vídeo); no Hotel Escola Andalucia, Mauro Pinto expõe Bem-Vindo (fotografia); Lourenço Pinto expôs os seus desenhos nas paredes do Museu de História Natural e Celestino Mudaulane é o autor do mural nas ruínas ao lado do Infantário 1.º de Maio.Nas palavras da curadora Elisa Santos, é “(…) a ocupação temporária de um espaço por obras de arte contemporânea. Um espaço não formal, naquilo que se define como o espaço de apresentação de obras artísticas, uma ocupação sem alteração do espaço mas com

intervenção no mesmo.” Eu acrescentaria “e com intervenção do mesmo” já que nenhuma das exposições ficou imune à ocupação que os espaços também fazem delas.Coincidindo com as datas da Jorburg Art Fair, a Ocupações Temporárias 20.10 vai para além deste conceito de ocupação do e pelo espaço, procurando divulgar o potencial artístico moçambicano e o potencial de Moçambique ao nível do turismo cultural. Resta-nos esperar que esta não seja uma iniciativa isolada e que tenhamos um Ocupações Temporárias 20.11 mantendo Moçambique na Rota da Arte Contemporânea.Óptimas informações em: http://ocupacoestemporarias.blogspot.com

Rita NevesFundação PLMJ

Ocupações temporárias 20.10

O QUE HÁ DE NOVO

GALERIA

ESTILOS DE VIDA

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Como que a confirmar o dito de algum autor segundo o qual «na devastação há oportunidade», assiste-se em Março do presente ano à aparição do filme Mahla, resultante da inspiração que o autor Mickey Fonseca, curiosamente, foi buscar na explosão do paiol de Malhazine ocorrida em Março de 2007. Mahla, já nomeado para o African Movie Academy Awards, na Nigéria, na categoria de curta-metragem, tem no actor Mário Mabjaia, o cartão de apresentação (pelo menos para a audiência moçambicana) e conta ainda com as participações de Edna Jaime e do músico Azagaia.Entretanto, embora o paiol tenha sido o ponto de partida, o autor não resistiu à tentação de trazer à narrativa outros elementos que tornaram o Mahla num casamento temático, que une especiarias que vão desde os linchamentos às divergências conjugais.O filme, que constitui a estreia de Mickey Fonseca como realizador, é fruto de um investimento feito pelo apurado atrevimento e ousadia do cineasta, na medida em que, segundo o mesmo afirma, de simples servente de mesa na cidade do Cabo transformou-se não só em realizador mas também em argumentista e produtor.

Mickey Fonseca trabalhou com o cineasta Pipas Forjaz na presente película e afirma que os dois pouco lucraram financeiramente com o projecto, na medida em que somente a materialização do projecto já constituía uma boa motivação.Se a explosão do paiol de Malhazine inspirou

Fonseca a conceber «Mahla», então por extensão pode-se dizer também que a criação da nova produtora de cinema que leva a designação do filme resultou daquela devastação.

Sérgio Mabombo

Mahla: O paiol “pariu” um filme

CINESCÓPIO

ESTILOS DE VIDA

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Revista Capital56

ESTILOS DE VIDA

NA BOCA DO MUNDO

Em abril estreou a nova serie de programas “essential…” no travel channel. Juntamente com a Lituânia, Turquia, Nova Escócia um dos episódios é dedicado a Moçambique. Este canal já tinha mostrado uma outra abordagem a férias em Moçambique no programa “globe trekker” já com alguns anos onde se mostrava um país com muito potencial para se passarem umas boas férias ao estilo mochila às costas.Com o programa que estreou este mês já se sente que o país já tem ofertas de férias de classe mundial onde se recomenda, entre outras, a estadia no fabuloso “Indigo bay” na ilha de Bazaruto com todas as suas regalias

e comodidades. Sugere-se o incontornável Parque da Gorongosa e experiências de proximidade com a vida selvagem (e como o programa é feito essencialmente para in-gleses) com chá e bolos… Maputo é referen-ciada como uma das cidades mais interes-santes de Africa pela sua beleza. Não ficam esquecidos os esforços de responsabilidade social de alguns projectos turísticos…Há, no entanto, uma coisa que se destaca nos dois programas, a promessa de um país onde se sente a magia de África e as pessoas tem sempre um grande sorriso… e esta é uma grande verdade.

Rui Batista

Sorriso essencial

BEM VINDO AOS SEUS OUVIDOS

Bambolear o corpo com um sorriso salpicado em cada passo de dança, seja ao vivo ou só na imaginação impressa da sonoridade que flutua na memória auditiva, eis o encanto de sentir o sentimento de Cesária Évora. Confesso que, de vez em quando, dou por mim a cantarolar aquela Sodade, quase sem querer e a rodopiar letras no chão ao sabor dos pés. Sim, dos pés A Diva dos pés descalços canta Cabo Verde ao Mundo. E seja através da morna ou de outros géneros musicais, ela canta e encanta. Nascida em Mindelo, em Cabo Verde, no ano de 1941, Cesária começou a cantar com apenas 16 anos. Contudo, só em 1988 é que se catapultou para o estrelato internacional com o lançamento do álbum “La diva aux pied nus”, em França. Vinda de uma família humilde, a artista teve altos e baixos, tanto na sua carreira profissional como na vida pessoal, tendo entretanto enfrentado uma longa luta contra o alcoolismo nos anos 70/80. Detentora de vários prémios de carreira, em 2004 conquistou um prémio grammy de melhor álbum “world musica contemporânea, e é detentora da medalha da Legião de Honra de França, atribuída pelo então presidente Jacques Chirac. A Diva jamais parou, e conta com dezenas de álbuns feitos, sendo o último

A DIVA dos pés descalços

lançado em 2009 com o título de Nha Sentimento. Com uma carreira recheada de álbuns próprios, sozinha ou na companhia de outros artistas como Bonga ou Kayah, outros há que utilizaram o seu repertório para fazerem remixes numa conjugação das novas tendências musicais como o lounge com a tradicional morna. Assim, torna-se possível ouvir a voz acalorada da Diva e apreciar a sua melodia muito própria em colecções como o Buddah Bar, Putumayo, entre outros, como o resultado de mais um tributo, em que a sua música se encaixa nos ritmos mais ou

menos electrónicos, e por versões mais ou menos controversas, mas sempre audíveis. Em cada pedaço de mundo que pisa há sempre quem a apelide de Billie Holiday crioula, Edith Piaff de África ou Amália Rodrigues de Cabo verde. Há mesmo quem já a tenha apelidado de Bessie Smith dos Trópicos. Títulos que advêm naturalmente do tom da sua voz, do carisma da sua pessoa, que canta emoções profundas, e que ‘verbaliza’ a alegria de viver a dor, o desejo, a saudade.

Sara L. Grosso

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Junto ao Ministério da Saúde, na esquina da Av. Salvador Allende com a Av. Eduardo Mondlane, o passante encontra um restau-rante cuja filosofia permite um contacto directo com a história moçambicana. O es-tabelecimento em causa chama-se 1908 e transmite, num ápice, aquele feeling de re-viver o passado em Lourenço Marques com um doce cheirinho ao presente.A traça do edifício do ‘1908’ conta histórias vividas na Cidade das Ácácias, seguramente com uma ligação intrínseca à comunidade médica que advém do Hospital ali ao lado (o Central). Ía jurar ter visto uma placa à entra-da dizendo algo sobre a «Ordem dos Médi-cos»… Mas entre as impressões que ficam comungam também os relatos de outrora,

que, por sua vez, se encontram marcados nas paredes alvas, no balcão amadeirado do bar e nos diversos exemplos decorativos das salas.O espaço é de encher o olho, sendo que o pé direito ajuda sem dúvida na percepção de um casarão da época colonial. Casa essa que se reveste, generosamente, de madeira e exibe uma altura de bradar aos céus!...Muito embora se denote um certo ar de abandono no que diz respeito à manutenção dos sofás à entrada (já um tanto ou quanto coçados e a precisar de novos revestimen-tos), dá gozo passear a vista pela antiquís-sima máquina de costura junto ao balcão; pelas imagens da urbe (a preto e branco) captadas numa altura em que os automóveis

ainda eram considerados um luxo; pelo mo-biliário antigo bem como pelos utensílios e armas usados no primeiro quartel do século passado.O ambiente é bem arejado e fresco, o atendi-mento super-atencioso e os pratos merecem menção. Aliás, se é adepto da comida genu-inamente moçambicana, experimente o ‘1908’ com a família e prove o incontornável caril de amendoím com xima ou a matapa de caranguejo. Artur Rocha, empresário que explora o res-taurante é conhecido por fazer os banquetes de grandes eventos. Um excelente cartão de visita… para quem nunca reparou ou ouviu falar do restaurante.

1908: o requinte de outros tempos

ESTILOS DE VIDA

FOTOLEGENDA

O movimento perpétuo, o Santo Graal, a pedra filosofal, representam alguns dos ob-jectivos que a humanidade persegue e não logra atingir. Constituem quimeras, mitos metamorfoseados em realidade que povoam os cérebros de alguns iluminados na sua busca incessante. São um pouco como aqueles desejos que se formulam em ocasiões especiais, como a significar que o mundo seria melhor se tudo fosse assim, redondinho, sem ângulos nem arestas, um longo e insípido caminho rumo à felicidade eterna. Frases como as que se pronunciam por ocasião dos festejos natalícios – ai quem me dera que todos os dias fossem Natal – ou outras quejandas e com significados similares.Desde as primeiras comemorações da data que devem as mentes simples, sonhar com um Natal todos os dias. Mas se há quem sonhe com esse desiderato, outros existem que lograram alcançá-lo e para quem o Natal acaba por ser quotidiano.Não acredita?! Então atente na imagem anexa, recolhida a 14 de Abril de 2010 e con-clua. Verdade ou mentira que para o Centro Comercial de Maputo, Natal é todos os dias?Verdade, claro! E porquê, perguntará o incrédulo leitor? Apenas porque mais de 100 dias decorridos sobre o último Natal, ainda lá se encontra um monumental painel a anunciar a chegada do pai Natal no dia 13 de Dezembro, e de helicóptero, porque este velhinho de alvas barbas é todo “práfrentex”.E quer o anúncio se refira ao natal passado ou ao próximo, a verdade é que, desde o último, tem sido Natal todos os dias no grupo MBS.

Natal todos os dias

LUGARES PARA ESTAR

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José V. Claro (texto)

Abril de 2010, mês da mulher moçam-bicana, momento prenhe de iniciati-vas que procuram atrair as atenções

para a problemática da igualdade de direi-tos e para o papel da mulher na sociedade. Atento ao problema e sensibilizado pela sua oportunidade resolvi debruçar-me sobre a questão e aqui a trago em forma de “supo-nhamos”.É isso mesmo, suponhamos que corre o ano de 2160, que nos encontramos em Moçam-bique, que a Revista CAPITAL continua a editar-se e que a “pena capital” ainda não foi substituída por uma qualquer rubrica de modas e bordados ou segredos da cozi-nheira.Imaginemos então que uma crónica de ac-tualidade, nesse longínquo ano, poderia dar qualquer coisa parecida com isto:

“As Nações Unidas Mundiais (NUM) deli-beraram ontem, acedendo à proposta da sua presidente Lin Tao Sun, instituir o dia 8 de Março como o Dia Mundial do Homem. A decisão já foi saudada, por dezenas de or-ganizações através do mundo, como cora-josa e respondendo aos anseios da popula-ção masculina que se sente marginalizada no processo criativo e afastada dos grandes centros de decisão internacionais. Carlos Buenaventura, secretário-geral da União In-ternacional dos Homens, saudou a decisão do órgão máximo das NUM mas sublinhou que existe uma sombra neste momento de júbilo para todos os homens do planeta, pois que a data escolhida coincide com o anterior dia internacional da mulher, que se comemorava a nível global até meados século passado, altura em que se iniciou a veloz ascensão do sexo feminino aos centros de poder em todo o mundo.Jean-François Latrive presidente da Con-federação Mundial dos Homens Domésticos também se regozijou com aquilo que consi-dera o reconhecimento à escala mundial do papel do homem dono de casa na construção de um Mundo Novo. Segundo as suas pala-vras o homem continua a ser explorado na sua condição masculina e, após cuidar das crianças e ocupar-se das compras familiares e tarefas do lar, raramente lhe sobra tempo para se integrar em actividades cívicas e participar em reuniões. Queixa-se ainda do

PENA CAPITAL

papel castrador de algumas esposas que se opõem a essa integração social e teimam em manter o homem confinado ao seu papel de pai e dono de casa, sem lhe reconhecerem o direito a uma cidadania plena.Também o secretário permanente da União Planetária dos Homens Empresários, João Barroso da Silva, prefere enaltecer os pon-tos positivos da medida e salienta que o Dia Mundial do Homem conferirá maior visi-bilidade ao esforço que as organizações de defesa dos direitos do homem levam a cabo para um equilíbrio maior entre elementos dos dois sexos. Na sua opinião os homens empresários redobrarão os esforços no seio das suas associações para apoiar esta medi-da e acrescenta que as empresas geridas por

homens já representam 3% da produção mundial e empregam mais de 800 mil tra-balhadores em todo o mundo.Integra ainda este coro de elogios à decisão das NUM, a presidente da Rede Mundial de Comunicações (RMC), Elizabeth Saint, ao afirmar que a criação do Dia Mundial do Homem representa o reconhecimento ao mérito de alguns homens que deci-diram passar dos lamentos aos actos e con-tribuíram substancialmente para o momen-to que agora se vive. A Miss Media, como é conhecida a mulher forte da RMC, refere ainda que dos efectivos da sua organização, 2% são homens e que está em curso um projecto que prevê duplicar esse número no próximo decénio.Uma das poucas vozes discordantes, até ao momento, é a de Domenico Fratellini, Pre-sidente da Federação Italiana, que critica a medida agora tomada e a entende como uma afronta aos homens de todo o mundo e um passo à retaguarda na luta pelo re-conhecimento internacional das competên-cias do sexo masculino. Recorde-se que Fratellini ascendeu à presidência italiana graças à controversa lei da nacionalidade que permite que naquela federação de es-tados todos os estrangeiros que residam no país há mais de 6 meses usufruam dos mesmos direitos que os cidadãos nacionais. Aproveitando essa brecha na lei, milhares de homens em todo o mundo afluíram ao território no ano anterior ao acto eleitoral e guindaram ao poder o único homem que ocupa tal cargo no contexto dos países re-conhecidos das NUM.Entretanto, e por razões diametralmente opostas, inúmeras observadoras internacio-nais também emitem pareceres apreensivos quanto a esta escalada dos homens no con-texto mundial e recordam que estes deram sobejas provas, no passado, da sua incapaci-dade de tomarem decisões, insuficiência essa que esteve na origem, há mais de 150 anos, da tomada do poder pelas mulheres reduzindo o elemento masculino ao seu pa-pel de elo não imprescindível no processo evolutivo da humanidade.”

Termine-se por aqui o “suponhamos” e re-flicta-se, mulheres e homens, neste cenário que, embora fantasioso, pode considerar-se perfeitamente plausível à luz dos comporta-mentos actuais. n

Jean-François Latrive presidente da Confe-deração Mundial dos Homens Domésticos

Tudo é relativo

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