revista brasileira de inteligÊncia - volume 8

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PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA Revista Brasileira de Inteligência Revisada e Corrigida ISSN 1809-2632

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REVISTA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA. AGÊNCIA BRASILEIRA DE INTELIGÊNCIA . VOL. 08. www.abin.gov.br. VERSA SOBRE DADOS RELATIVOS A POLÍTICA, GEOGRAFIA, ECONOMIA, INTELIGÊNCIA, SEGURANÇA PÚBLICA, TERRORISMO..............................................................................................................................................................................................................................................................................

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  • PRESIDNCIA DA REPBLICAGABINETE DE SEGURANA INSTITUCIONAL

    AGNCIA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA

    Revista Brasileira de Inteligncia

    Revisada e Corrigida

    ISSN 1809-2632

  • REPBLICA FEDERATIVA DO BRASILPresidenta Dilma Vana Rousseff

    GABINETE DE SEGURANA INSTITUCIONALMinistro Jos Elito Carvalho Siqueira

    AGNCIA BRASILEIRA DE INTELIGNCIADiretor-Geral Wilson Roberto Trezza

    SECRETARIA DE PLANEJAMENTO, ORAMENTO E ADMINISTRAOSecretrio Luizoberto Pedroni

    ESCOLA DE INTELIGNCIADiretor Osvaldo A. Pinheiro SilvaEditorEliete Maria de PaivaComisso Editorial da Revista Brasileira de IntelignciaAna Beatriz Feij Rocha Lima; Dimas de Queiroz; Eliete Maria de Paiva; Olvia Leite Vieira; Paulo Roberto Moreira; Marcos Silvino; Ricardo Esteves.ColaboradoresAndr Luis Nogueira Terra; Edson Lima; Roniere Ribeiro do Amaral; Marta Sianes Nascimento; Paulo Souza; Vicente Carneiro.RevisoErika Frana; Geraldo Adelano de Faria; L.A. Vieira; Lvia Isabele Mayer Blaskevicz.Jornalista ResponsvelGustavo Weber RP 4659 CapaWander Rener de Arajo e Carlos Pereira de SousaEditorao GrficaJairo Brito MarquesCatalogao bibliogrfica internacional, normalizao e editoraoCoordenao de Biblioteca e Museu da Inteligncia - COBIM/CGPCA/ESINTDisponvel em: http://www.abin.gov.brContatos:SPO rea 5, quadra 1, bloco KCep: 70610-905 Braslia/DFTelefone(s): 61-3445.8164 / 61-3445.8427E-mail: [email protected] desta edio: 3.000 exemplares.ImpressoGrfica Abin

    Os artigos desta publicao so de inteira responsabilidade de seus autores. As opinies emitidas no exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Abin. permitida a reproduo total ou parcial dos artigos desta revista, desde que citada a fonte.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Revista Brasileira de Inteligncia / Agncia Brasileira de Inteligncia. n. 8 (set. 2013). Revisada e Corrigida Braslia : Abin, 2005

    117p.

    Semestral

    ISSN 1809-2632

    1. Atividade de Inteligncia Peridicos I. Agncia Brasileira de Inteligncia. CDU: 355.40(81)(051)

  • ERRATAREVISTA BRASILEIRA DE INTELIGNCIA. Braslia: ABIN, n. 8, set. 2013.

    Prezados leitores,

    Verificamos que um dos artigos citados no Editorial no foi includo no n 8 da Revista Brasileira de Inteligncia, de setembro de 2013.

    Como forma de atenuar nosso erro, corrigimos a edio eletrnica, que agora est completa, incluindo o ttulo do artigo no Sumrio e o artigo no corpo do texto.

    Pedimos desculpas aos leitores por nossa falha e, especialmente, ao autor do artigo, Glauber Nbrega da Silva.

    Comisso Editorial da Revista Brasileira de Inteligncia

    ERRATA

    No Sumrio, ONDE SE LIA:

    99 Resenha BONILLA, Diego Navarro. Espas! Tres mil aos de informacin y secreto. Plaza y Valdes Editores, 2009. 512 p. ISBN 978-84-96780-74-3 Maurcio Viegas Pinto

    LEIA-SE:

    99 O USO DE DATA MINING PARA A INTELIGNCIA DE ESTADO um estudo de caso

    Glauber Nbrega da Silva

    107 Resenha BONILLA, Diego Navarro. Espas! Tres mil aos de informacin y secreto. Plaza y Valdes Editores, 2009. 512 p. ISBN 978-84-96780-74-3 Maurcio Viegas Pinto

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 3

    Sumrio

    5 Editorial9 PORQUE NECESSRIO TIPIFICAR O CRIME DE TERRORISMO NO

    BRASIL Mrcio Paulo Buzanelli

    21 LIES PARA O BRASIL SOBRE OS ATENTADOS DE BOSTON REALIZAO DE GRANDES EVENTOS NO PAS

    Paulo de Tarso Resende Paniago

    29 CONSIDERAES SOBRE O PROJETO DE LEI RELATIVO A CRIMES DE TERRORISMO

    Fbio de Macedo Soares Pires Condeixa

    35 A PROLIFERAO DE ARMAS DE DESTRUIO EM MASSA E A ATIVIDADE DE INTELIGNCIA

    Eduardo Mssnich Barreto

    47 LEI DE ACESSO INFORMAO E OS REFLEXOS SOBRE A PRODUO DE INTELIGNCIA NA POLCIA FEDERAL Jorvel Eduardo Albring Veronese

    59 SISTEMAS DE INTELIGNCIA: O Papel das Decises de Nvel Intermedirio

    Joel Ferreira

    69 REPENSANDO COMPORTAMENTOS: REFLEXES SOBRE PLANEJAMENTO E DIREO DO CICLO DE INTELIGNCIA

    Vitor Lares

    81 INTERESSES ESTRATGICOS EM ENERGIA E MATRIAS-PRIMAS: GS E PETRLEO, URNIO E NIBIO

    Herman Cuellar

    91 ABORDAGENS CONCEITUAIS DE INFORMAO APLICADAS S ACEPES DE INTELIGNCIA

    Francisco Luziaro de Sousa

  • 4 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    99 O USO DE DATA MINING PARA A INTELIGNCIA DE ESTADO Um Estudo de caso

    Glauber Nbrega da Silva

    107 Resenha BONILLA, Diego Navarro. Espas! Tres mil aos de informacin y secreto.

    Plaza y Valdes Editores, 2009. 512 p. ISBN 978-84-96780-74-3 Maurcio Viegas Pinto

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 5

    Editorial

    Trs coisas so necessrias para a salvao do homem: conhecer o que se deve acreditar, conhecer o que se deve desejar, conhecer o que se deve fazer.

    Essa declarao atribuda ao telogo, filsofo e padre dominicano, de origem italiana, So Toms de Aquino. Por meio dela, o estudioso evidencia alto valor efetiva mobili-zao de recursos cognitivos, ao esforo prospectivo e, certamente, estratgia como elemento de grande relevncia nas aes do ser humano, abrindo caminho para o bem comum. Mas falar em estratgia significa, antes de tudo, discutir a capacidade de refle-tir sobre a dimenso do real em contraponto ao ideal. Significa apropriar-se de dados, informaes, conhecimentos e aprendizados para ter a mnima chance de vislumbrar a utilizao proativa da criatividade humana.

    Esta nova edio da Revista Brasileira de Inteligncia (RBI), a oitava, chega com toda vontade e certeza de oferecer ao leitor, mais uma vez, sua melhor verso, partindo da premissa de que a pluralidade o caminho a seguir, principalmente no que diz respei-to produo intelectual. Dessa forma, a RBI n8 apresenta temas to diversificados quanto atuais, em uma estratgia visceralmente assumida para mediar o debate sobre Inteligncia de Estado no Brasil.

    Para abrir este oitavo nmero, sugerimos ao leitor mergulhar em incontornvel re-flexo acerca da tipificao do crime de terrorismo no Brasil. Essa a proposta do ex-Diretor-Geral da Abin, Mrcio Paulo Buzanelli, em artigo que coloca em evidncia a dificuldade brasileira de considerar o terrorismo como uma ameaa real, haja vista felizmente, diga-se de passagem a no ocorrncia de manifestao terrorista em solo nacional. Esse argumento compartilhado por Paulo de Tarso Resende Paniago, em artigo que lembra que a Organizao das Naes Unidas colocou o terrorismo ao lado do narcotrfico, da proliferao de armas de destruio em massa, das migraes e das agresses ao meio ambiente, como um problema global. Por isso, o autor se prope a discutir as lies de que o Brasil pode se valer a partir de acontecimentos em outros pases, justamente quando se avizinha a realizao de grandes eventos no Pas. Fiel ainda reflexo sobre o terrorismo, a RBI traz consideraes de Fbio de Macedo Soares Pires Condeixa sobre o Projeto de Lei n 762/2011, relativo a crimes de terro-rismo, oferecendo ao leitor um contraponto jurdico reflexo sobre tipificao, posto que, para o autor, no se deve ver o terrorismo como um fenmeno circunscrito a uma conduta ou conjunto limitado de condutas, de forma que possa ser enquadrado em um nico tipo penal.

  • 6 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    Mas nem s de terrorismo se compe a oitava edio da RBI. A proliferao de armas de destruio em massa e o papel da Atividade de Inteligncia so colocados em pers-pectiva por Eduardo Mssnich Barreto, em texto que destaca a importncia do assunto diante do fato de o Brasil ser signatrio de diversos tratados e acordos internacionais sobre no proliferao das ADMV armas de destruio em massa e seus vetores. O autor destrincha o papel da Abin, ao longo de mais de uma dcada, e o empenho para neutralizar tentativas de transferncias ilcitas de bens e tecnologias sensveis no Brasil.

    Outra discusso bastante atual decorre da entrada em vigor, em maio de 2012, da chamada Lei de Acesso Informao Pblica, a Lei n 12.527/11, que enseja ade-quabilidade por parte dos rgos que lidam com informaes sensveis. Jorvel Eduardo Albring Veronese, em artigo que prope analisar a repercusso dessa Lei na Produo de Inteligncia do Departamento de Polcia Federal, destaca o paradoxo criado pelo novo dispositivo quando se discute o exerccio de uma atividade de Estado a Inteligncia , considerando esta ser atividade que tem como escopo o necessrio resguardo de infor-maes e conhecimentos.

    Um ponto praticamente pacfico quando se discute a Atividade de Inteligncia diz res-peito ao papel do assessoramento prestado para a tomada de decises estratgicas de alto nvel. Joel Ferreira, em instigante reflexo, pergunta: Quando se fala de sistemas de inteligncia, qual o papel das decises de nvel intermedirio? Para o autor, maior ateno deve ser dispensada ao que chamou de processo decisrio de nvel intermedi-rio, destacando seu papel crucial na preparao do Pas para situaes crticas. Ferreira defende que os sistemas necessitam ser integrados de tal sorte a identificar as poten-ciais ameaas aos interesses da sociedade e do Estado, alm de coordenados de modo a difundir os conhecimentos para deliberao do alto Executivo Federal, sem perder a capacidade de viabilizar decises intermedirias, de verificao, aprofundamento ou conteno, para no incorrer em risco de ineficincia, ineficcia e inefetividade.

    E quem pode ser responsabilizado quando acontecem falhas da Inteligncia? Os rgos de Inteligncia? Os usurios? Os tomadores de deciso? A falta de integrao e de compartilhamento oportuno? Essa a proposta que Vitor Lares nos apresenta em artigo que sugere ser preciso repensar comportamentos no caminho da reflexo sobre o planejamento e direo do Ciclo de Inteligncia. Para essa anlise, o autor traz a viso de especialistas que tentam analisar o comportamento dos principais atores envolvidos.

    Em um mundo que precisa cada vez mais de energia, a RBI oferece ao leitor artigo de Herman Cuellar que rene gs, petrleo, urnio e nibio, para construir o cenrio geopoltico de discusso sobre interesses estratgicos em energia e matrias-primas. O autor destaca o surgimento de novos recursos energticos como fonte de interesse estratgico de outros pases, o que pode representar, ao mesmo tempo, risco e opor-tunidade para o Brasil.

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 7

    De Informao para Inteligncia. Em discusso sempre instigante, Francisco Luziaro de Sousa mapeia a etimologia do termo Informao e faz uma reviso conceitual do vocbulo luz da Cincia da Informao. Assim, o autor chega a trs acepes atuais para o termo Inteligncia: (1) como aptido, (2) como atividade de informaes e (3) como informao de alto valor, ou seja, como uso efetivo e oportuno do conhecimento.

    Com uma proposta essencialmente aplicativa, Glauber Nbrega da Silva nos traz estudo de caso sobre a utilizao de ferramentas de minerao de dados data mining para identificar padres teis Inteligncia de Estado, chegando ao ponto de demonstrar como essas informaes podem ser utilizadas para antecipar eventos com expressiva probabilidade de acerto, ou seja, o autor assinala o valor prospectivo da anlise de Inteligncia baseada em minerao de dados.

    Por fim, a revista mantm a saborosa tradio de oferecer ao leitor uma resenha sobre obra de interesse para a rea. Desta feita, Maurcio Viegas Pinto nos brinda com obra de Diego Navarro Bonilla, professor da Universidad Carlos III de Madrid, intitulada Espas! Tres mil aos de informacin y secreto, ainda sem traduo no Brasil. Obra de flego, Espas!... aborda, em mais de 500 pginas, a trajetria da Atividade de Inteli-gncia ao longo dos sculos, listando os fatores de influncia no processo constante de sistematizao metodolgica, sem esquecer o impacto dos avanos tecnolgicos na atuao dos espas.

    com esse mosaico de temas que a RBI n 8 chega aos leitores, com a certeza de que, em verdadeira engenharia reversa, conhecer o que fazer decorre do conhecer o que se deseja, o que, por sua vez, resulta do conhecer o que se acredita. E por acreditar no valor da reflexo e nos nossos colaboradores que agradecemos pelas contribuies e estendemos o convite para participar da prxima edio a todos que alimentam interes-se especial pelo debate e reflexo sobre a Atividade de Inteligncia.

    Excelente leitura a todos!

    Osvaldo A. Pinheiro SilvaDiretor da Escola de Inteligncia/Abin

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 9

    PORQUE NECESSRIO TIPIFICAR O CRIME DE TERRORISMO NO BRASIL

    Mrcio Paulo Buzanelli*

    Verba volant scripta manent**

    Resumo

    A possibilidade de ocorrncia de aes terroristas durante a realizao dos grandes eventos desportivos e outros que tero lugar no pas reabre a questo recorrente da inadequao do ordenamento jurdico ptrio para o tratamento legal desse tipo de ameaa ao Estado e sociedade. Igualmente, reacende preocupaes quanto insuficiente coordenao e falta de interoperabilidade dos vrios entes envolvidos nas atividades de preveno, combate e resposta ao terrorismo, remetendo constatao da subsistncia do caracterstico atavismo, mais pro-penso ao reativa que a preventiva.

    A proximidade dos grandes eventos esportivos, como a Copa do Mun-do do Brasil, em 2014, e as Olimpa-das de 2016, no Rio de Janeiro, sem-pre atrativos para o terrorismo, devido superexposio miditica, traz primeira cena um tema recorrente: a dvida sobre a suficincia do aparelhamento do Esta-do brasileiro para o enfrentamento dessa potencial ameaa, inclusive no que con-cerne adequao do seu ordenamento jurdico para o tratamento legal desse tipo de crime.

    A percepo de insuficincia compar-tilhada no somente por profissionais

    do setor pblico nas reas de seguran-a, defesa e inteligncia, mas, atestando que a preocupao atinge setores mais amplos, tambm por parlamentares nas duas Casas do Congresso Nacional, como se percebe no significativo nmero de projetos de lei em tramitao, versan-do, principalmente, sobre a tipificao do crime de terrorismo1.

    No Executivo, a preocupao antiga, destacando-se a iniciativa do GSI- no mbito da Cmara de Relaes Exterio-res e Defesa Nacional (CREDEN) - de edio de uma Lei de Defesa da Sobera-nia e do Estado Democrtico de Direito,

    *OficialdeInteligncia,ex-Diretor-GeraldaAgnciaBrasileiradeInteligncia(ABIN).FoiConse-lheirodoConselhodeControledeAtividadesFinanceiras(COAF)eConselheirodoConselhoNacionalAntidrogas,DiretordoNcleodoCentrodeCoordenaodasAesdePrevenoeCombateaoTerrorismo/GSI/PR.Chefioudivisesdecrimeorganizadoecontraterrorismo,bemcomoaCoordenaodeAssuntosEspeciais(CAI).AtuounacriaodaAbin/Sisbin.Participoudaconfecodevriaspropostasdeleisrelacionadasinfiltraodeagentesdepolcia,crimeorganizado,lavagemdedinheiro,trficodedrogas,contrabando,segurananacional.

    **Palavrasvoam,escritasficam.

  • 10 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    em substituio Lei n 7170/83 (Lei de Segurana Nacional - LSN). Apro-vada em reunio daquela alta cmara de governo em 14 de julho de 2008, encontra-se, sob a forma de proposta de anteprojeto de lei e incluindo artigo que tipifica o crime de terrorismo, j finaliza-da, tendo sido elaborada por um grupo de trabalho interministerial coordenado pelo Ministrio da Justia2.

    Embora tais iniciativas, existem opinies que colocam em dvida a necessidade de criao de um tipo penal especfico para o crime de terrorismo. Entre os que assim se posicionam, advogam, alguns, que as leis penais existentes j seriam su-ficientes; outros, que a LSN persiste per-feitamente aplicvel; muitos mostram-se temerosos de ambiguidades que ensejem o enquadramento de movimentos so-ciais; h, ainda, os que consideram des-necessria a iniciativa, sob o argumento de que a possibilidade de ocorrncia de atentados terroristas no pas mnima; existe, at, argumento contrrio tipifi-cao do crime de terrorismo, porque a iniciativa iria atrair a ira dos terroristas contra o Brasil (!)3.

    Compreensivelmente, pelo fato de o ter-rorismo no haver se manifestado em territrio nacional, verifica-se uma na-tural dificuldade de consider-lo como uma ameaa real. Sua apario, sempre restrita aos noticirios internacionais, passa a impresso de molstia social e poltica que somente afeta regies dis-tantes, atingidas por conflitos internos de natureza sectria, ou ento aquelas potncias que aceitam o risco como ine-rente ao seu papel de protagonista da cena mundial.

    Tal impresso, associada inexistncia de ocorrncias em passado recente e tambm aos difundidos mitos do bra-sileiro cordial e pas amistoso, baseado nos quais o Brasil garantiria uma espcie de imunidade a agresses, contribuem, em conjunto, para iludir a percepo do terrorismo como ameaa real. Com efei-to, a adeso ao mito da imunidade to plena que torna difcil qualquer discurso favorvel adoo de medidas mnimas de ampliao da capacidade do Estado no campo da preveno ao terrorismo.

    No obstante tal quadro, oportuno ob-servar que a anlise do perfil atual do ter-rorismo internacional indica que, mesmo no se caracterizando como alvo tradicio-nal, um pas no pode se considerar fora de seu alcance. Ademais, os fenmenos associados da globalizao e do multi-culturalismo nos avizinham, mais do que percebemos, de pases onde essa classe de ameaa desempenha papel ativo.

    [...] dever do Estado estabelecer, preventivamente, polticas,

    estratgias e planos para fazer face a eventuais emergncias

    decorrentes de atos terroristas[...]

    Alm disso, as caractersticas de im-previsibilidade e amplitude na ao ga-rantem aos promotores do terrorismo a manuteno da iniciativa estratgica. Essa vantagem proporciona a opo de poder atacar o inimigo principal (Esta-dos Unidos, Reino Unido, Israel) onde, como e quando for mais conveniente, mesmo em reas geogrficas situadas na periferia das zonas de conflito, garantin-do-se o essencial efeito demonstrao, porquanto os atos sero imediatamente

    Mrcio Paulo Buzanelli

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 11

    bate e resposta ao terrorismo (servio de inteligncia, foras armadas, polcia, aduanas, servio de imigrao, defesa civil, proteo nuclear, etc) que, no caso brasileiro, tm baixa experincia de ao conjunta e pouca interoperabilidade, isto , capacidade de atuar em conjunto em uma emergncia, emulando o bom exem-plo da resposta espanhola aos atentados de 11 de maro de 2004 e evitando a descoordenao visvel nos episdios de 1992 e 1994, em Buenos Aires. Em funo disso, criou-se, no mbito federal e vinculado ao GSI, o Centro de Coor-denao das Atividades de Preveno e Combate ao Terrorismo (CPCT), em 09 de junho de 20094.

    Por fim, estou convencido que a adoo de medidas, de cunho to somente ad-ministrativo, de nada adianta se o pas no dispuser de instrumentos jurdicos que, ao tempo em que aprovisionem de-vidamente o Estado, no atentem con-tra as garantias individuais. No se trata, naturalmente, de conclamar a uma ao que coloque em risco a devida tutela dos direitos fundamentais reconhecidos no texto constitucional (assim como o fun-cionamento das instituies democrti-cas e a garantia do exerccio livre e pac-fico dos direitos reivindicatrios), porm de preencher visvel lacuna legal.

    A plena adeso brasileira ao regime inter-nacional de antiterrorismo, que integra o conjunto das Resolues, Protocolos e Convenes da ONU e da OEA sobre o tema, j ratificadas pelo Congresso Na-cional e gerando as decorrentes obriga-es, constitui suficiente motivao para a adequao legal aos compromissos as-sumidos5. Do conjunto, vale ressaltar a Resoluo n 1.373/2001, do Conselho

    repercutidos pelos modernos meios de informao.

    Nesse sentido, o terrorismo, tal como praticado por organizaes como a Al Qaeda, suas franquias e, sobretudo, por indivduos radicalizados e atuando iso-ladamente, inclusive nacionais agindo nos pasespalco das aes, pode, em tese, ocorrer a qualquer momento, em qualquer lugar e sem prvio aviso: a esse atributo deve-se a sua capacidade de in-timidar o mundo. Contra os argumentos de que a Al Qaeda estaria definhando operacionalmente e de que os terroristas que atuam isoladamente (Lone wolves) seriam amadores e ineficientes, cumpre observar que sendo o terrorismo um tipo de crime de natureza marcadamente psi-colgica, portador da deliberada disposi-o de intimidar, influenciar e coagir uma audincia, no caso, governo e socieda-de, a simples ameaa torna-se substituti-va da prtica, por vezes desnecessitando o prprio ato. Assim, tambm ocorre com os atos falhos, como os muitos nos Estados Unidos nos ltimos anos, que, mesmo malsucedidos no que concerne a danos e baixas, cumprem a finalidade terrorista de produzir insegurana e sen-timento de vulnerabilidade.

    Diante desse quadro, entendo ser dever do Estado estabelecer, preventivamente, polticas, estratgias e planos para fazer face a eventuais emergncias decorrentes de atos terroristas, independentemente de ser iminente ou remota a possibilida-de de sua ocorrncia.

    Creio ser necessrio, igualmente, o esta-belecimento de mecanismos de coorde-nao dos vrios entes da administrao pblica envolvidos na preveno, com-

    Porque necessrio tipificar o crime de terrorismo no Brasil

  • 12 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    de Segurana das Naes Unidas, que estabelece medidas a serem empregadas pelos Estados Partes para o combate ao terrorismo, sendo adotada aps os ata-ques aos EUA, em 11 de setembro de 2001 e produzida ao abrigo do Captulo VII da Carta das Naes Unidas. A re-ferida Resoluo estabelece que todos os Estados devem assegurar que, alm de quaisquer outras medidas contra o terrorismo, atos terroristas sejam con-siderados graves delitos criminais pelas legislaes e cdigos nacionais. Sua execuo em territrio nacional dis-posta pelo Decreto n 3.976, de 18 de outubro de 2001.

    [...] o crime de terrorismo no se exaure nos comportamentos

    criminosos j devidamente tipificados no CP.

    Ainda, a propsito de adequao legal, cabe qualificar como inservvel a Lei n 7170/83 (Lei de Segurana Nacional - LSN). Tal qualificao decorre, de um lado, da falta de preciso da tipificao estabelecida no art. 20 da referida Lei; de outro, porque, precedendo no tem-po a Constituio Federal, lavrada em 1988, com a mesma deixa de guardar, naturalmente, relao de consonncia, evitando muitos juristas de consider-la, de vez que,embora ainda em vigor, car-rega inamovvel estigma como um dos smbolos do denominado perodo auto-ritrio. Portanto, devido desconsidera-o prtica da Lei n 7170/83, ficam o Estado e a sociedade desprovidos de efe-tivo instrumento de proteo legal contra os crimes de terrorismo (assim como de espionagem, sabotagem etc).

    Tambm me parece despido de funda-mento o argumento de que condutas presentes em eventuais atos terroristas j so abordadas pelo Cdigo Penal (CP), o que tornaria desnecessria uma lei es-pecfica. Em primeiro lugar, porque o CP, datado de 1940, pode ser considerado bastante desatualizado, sobremodo para a preveno de condutas comuns ao s-culo XXI, estando a merecer a reviso encaminhada pelo Senado Federal, caso contrrio teremos que enquadrar even-tuais organizaes terroristas no escopo do artigo 288 (crime de quadrilha ou bando), concebido originalmente para as associaes criminosas conformadas pelos bandos de cangaceiros que asso-lavam o nordeste brasileiro nas primeiras dcadas do sculo XX.

    Em segundo lugar e mais importante porque o crime de terrorismo no se exaure nos comportamentos criminosos j devidamente tipificados no CP. No cri-me de terrorismo, transcendendo as con-dutas, h um plano maior, o de ameaar a ordem e a paz social ou impor uma vontade ou ainda coagir entes institucio-nalmente estabelecidos. Assim, os tipos penais existentes revelam-se insuficientes para combater o terrorismo, pois aque-les praticados por um agente terrorista, mesmo atuando isoladamente, como no caso noruegus ou do Unabomber, nos Estados Unidos, obedecem, qua-se sempre, a um plano cuidadosamen-te preparado, voltado para um objetivo que transcende a finalidade intrnseca de cada uma das condutas delitivas indivi-dualmente consideradas.

    Prosseguindo, importante ter em mente que o ordenamento jurdico brasileiro j apresenta vrios exemplos de incorpora-

    Mrcio Paulo Buzanelli

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 13

    com a posio brasileira de signatrio da Conveno da ONU para a Supresso do Financiamento do Terrorismo, de 09 de dezembro de 1999, j ratificada pelo Congresso Nacional. Por ltimo, a Lei n 10.744, de 09 de outubro de 2003, que dispe sobre a assuno, pela Unio, de responsabilidades civis perante terceiros, no caso de atentados terroristas. Essa ltima lei, inclusive, dispe, em seu arti-go 1, 4, o entendimento de ato ter-rorista como qualquer ato, de uma ou mais pessoas, sendo ou no agentes de um poder soberano, com fins polticos ou terroristas, seja a perda ou dano dele resultante acidental ou intencional.

    Como complemento, cabe conjecturar que a no tipificao do terrorismo decre-ta a inobservncia do sempre necessrio princpio da reserva legal (Nullum crimen nulla poena sine lege praevia scripta), desassistindo, de um lado, o expresso no mencionado artigo 5, XXXIX, do texto constitucional e, de outro, a possibilida-de, de todo real e que, tambm por isso deve ser recepcionada por lei, de ocor-rncia de crime de terrorismo no Brasil. Adicionalmente, convm observar que o princpio da legalidade, por sua vez, exige que todos os crimes sejam expres-samente previstos em lei.

    Em concluso, entendo que a inexistn-cia de um instrumento legal tipificando o crime de terrorismo e, cabe insistir, a Constituio Federal, em seu artigo 5, XLIII, o reconhece como crime dei-xa o Estado brasileiro sem a necessria proviso jurdica e merc de possveis constrangimentos, entre esses, a impos-sibilidade de reconhecer como terroris-tas atos dessa natureza aqui eventual-mente praticados. Alm disso, o expe

    o da preocupao do legislador com a possibilidade de incidncia do fenmeno do terrorismo em nosso pas e, principal-mente, de sua disposio em consider--lo como crime, a comear pela prpria Constituio Federal, que faz referncia ao terrorismo, em seu artigo 4 [...] do Brasil rege-se nas relaes internaiconais pelos seguintes princpios: [...] VIII - Re-pdio ao terrorismo e ao racismo [...]; e, sobremodo, em seu artigo 5, XLIII, quando estabelece: a lei considerar crimes inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia [...] o terrorismo [...].

    Mais adiante, a j comentada Lei de Se-gurana Nacional (LSN - Lei n 7.170, de 1983) que, em seu art. 20, relacio-na determinadas condutas especficas como aes prprias do terrorismo, e a qual se procura substituir por instrumen-to legal coerente com o pleno esprito da Constituio Federal (CF) de 1988. Igualmente, a Lei n 8072, de 25 de ju-lho de 1990 (que relaciona o terrorismo entre os chamados crimes hediondos). A Lei n 6.815, de 19 de agosto de 1980, que estabeleceu o Estatuto do Estrangei-ro e faz meno ao terrorismo, sem se deter em sua conceituao.

    [...] a inexistncia de um instrumento legal tipificando o crime de terrorismo [...]

    deixa o Estado brasileiro sem a necessria proviso jurdica [...]

    Ainda a Lei n 9.613, de 13 de mar-o de 1998 (modificada pela Lei n 10.701, de 09 de julho de 2003), que inclui o terrorismo no rol de crimes ante-cedentes ao da lavagem de dinheiro. Tra-ta-se, esta ltima, de iniciativa coerente

    Porque necessrio tipificar o crime de terrorismo no Brasil

  • 14 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    Como tem sido dito, o Brasil pode at no ter tradio de terrorismo, mas alguns grandes eventos desportivos internacionais tm como nos lembram as Olimpadas de Munique e Atlanta e tambm a ltima Ma-ratona Internacional de Boston. Assim, e recordando o aforismo de Erasmo (no o Carlos, mas o de Rotterdam) que, pruden-temente, observava que a preveno me-lhor que a cura, parece, afinal, chegada a hora de romper com o imobilismo atvico, mais afeito ao reativa do que a pre-ventiva, e tratar as questes de segurana do Estado e as chamadas novas ameaas, entre as quais o terrorismo, com a previ-dncia que se espera de um participativo e responsvel ator da cena internacional.

    possvel risco de quebra da soberania legal, caso atentados contra estrangeiros venham a ser enquadrados como crimes comuns na ausncia de uma lei que tipi-fique a conduta, do que poderia resul-tar, inclusive, pedidos de extradio e recursos ao Tribunal Penal Internacio-nal (TPI), alm de presses internacio-nais de natureza poltica, sem contar os inevitveis danos imagem do pas.

    A responsabilidade que recai sobre o Poder Pblico inclui, ao mesmo tempo, a ateno devida aos possveis riscos segurana ad-vindos de sua deciso de sediar grandes eventos internacionais, assim como e ex-pressamente, a fidelidade aos compromis-sos decorrentes da plena adeso ao regime internacional sobre combate ao terrorismo.

    Notas:1 ProjetosdeLei(PL)emtramitaonasduasCasasdoCongressoNacionalreferentestipifi-caodocrimedeterrorismo.

    PLstramitandonoSenadoFederal:

    PLS728/2011-deautoriadosSenadoresWalterPinheiro (PT/BA),AnaAmlia (PP/RS)eMarceloCrivella(PRB/RJ),apresentadoem09dedezembrode2011.Ementa:ComplementaaLeiGeraldaCopaedefinecrimes(entreessesodeterrorismo)einfraesadministrativascomvistasaincrementaraseguranadosgrandeseventosesportivosprevistosparaospr-ximosanosnoBrasil.Situao:EmtramitaonaComissodeEducao,Cultura,EsporteeLaser.

    PLS762/2011 -deautoriadoSenador (PSDB/SP)AloysioNunesFerreiraFilho.Ementa:apresentatipospenaisparaafiguradoterrorismo,daincitaoaoterrorismo,paraaforma-odegrupoterroristaetambmparaofinanciamentoaoterrorismo.Situao:Em21denovembrode2012,foiretiradodepautadareuniodaComissodeConstituio,JustiaeCidadania(CCJ),apedidodorelator,senadorAcioNeves(PSDB-MG),sendoencaminhadocomissoquediscuteoprojetodereformadoCdigoPenal.

    PLS236/2012-deautoriadoSenadorJosSarney(PMDP/AP),apresentadoem09dejulhode2012.Ementa:ReformadoCdigoPenal(incluiartigoreferentetipificaodocrimedeterrorismo).Situao:emtramitaonaCCJ,aguardandorecebimentodeemendas.

    PLstramitandonaCmaradosDeputados:

    SeisprojetostramitamemconjuntonaCmara,emregimedeprioridade:Oprojetomaisantigo(PL2462/91)doex-deputadoHlioBicudoedefineoscrimescontraoEstadoDemocrticodeDireitoeahumanidade.Osdemais(PLC6764/02,149/03,7765/10,3714/12ePL4674/12)tipificamocrimedeterrorismonombitodoCdigoPenal(Decreto-Lei2.848/40)ouemlegis-laoespecfica.ReferidosPLsoosseguintes:

    PL2462/1991-deautoriadoex-deputadoHlioBicudo(PT/SP),apresentadoem05demaro de 1991. Ementa: Define os crimes contra o EstadoDemocrtico deDireito e a

    Mrcio Paulo Buzanelli

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 15

    Humanidade.Situao:AguardandoconstituiodeComissoTemporrianaMesaDiretoradaCmaradosDeputados,paraposteriorencaminhamentoCoordenaodeComissesPermanentes(CCP).

    PL6764/2002-deautoriadoPoderExecutivo,apresentadoem09demaiode2002.Ementa:AcrescentaoTtuloXII,quetratadoscrimescontraoEstadoDemocrticodeDireito,ParteEspecialdoDecreto-Lein2.848,de7dedezembrode1940-CdigoPenal,edoutrasprovidncias(tipificaosCrimescontraoEstadoDemocrticodeDireito,entreesses,osseguintes:CrimecontraaSoberaniaNacional,CrimecontraasInstituiesDemocrticas,Crime contra o Funcionamento das InstituiesDemocrticas e dosServiosEssenciais,CrimecontraAutoridadeEstrangeiraouInternacionaleCrimecontraaCidadania).Situao:ApensadoaoPL2462/1991(dodeputadoHlioBicudo).

    PL149/2003-deautoriadoex-deputadoAlbertoFraga(PMDB/DF),apresentadoem24defevereirode2003.Ementa:AlteraoDecreto-Lein2.848,de7dedezembrode1940-Cdi-goPenal,tipificandoocrimedeterrorismoedoutrasprovidncias.Situao:ApensadoaoPL2462/1991.

    PL7765/2010-deautoriadodeputadoNelsonGoetten(PR/SC),apresentadoem17deagos-tode2010.Ementa:Tipificaocrimedeterrorismo.Situao:ApensadoaoPL149/2003.

    PL3714/2012-deautoriadodeputadoEdsonPimenta(PSD/BA),apresentadoem18deabrilde2012.Ementa:Tipificaocrimedeterrorismo.Situao:ApensadoaoPL7765/2010.

    PL4674/2012-deautoriadodeputadoWalterFeldman(PSDB/SP),apresentadoem07denovembrode2012.Ementa:Dispesobreoscrimesrelacionadosaatividadesterroristasedoutrasprovidncias.Situao:ApensadoaoPL2462/1991.

    2 IniciativasdetipificaocriminaldoterrorismoeoutrasnombitodoExecutivo:SodecorridosexatosdezanosdesomadosesforosdoGSIrelativosspropostasdemodernizao-legaleadministrativa-dotratamento,peloEstadobrasileiro,dequestesatinentespotencialame-aadoterrorismo.Referidosesforostmsuaorigemremotaemreuniopromovidaem02deabrilde2003.Naoportunidade,esteautorapresentoupautacontendotrspropostas:(1)reformasnaatividadedeinteligncia;(2)indicaodeumaAutoridadeNacionaldePrevenoaoTerrorismoecriaodeumcentrodecoordenaodasatividadesdepreveno,combateeresposta;e(3)substituiodaLei7170/1983(LeideSeguranaNacional)porumaleidesalvaguardadoEstado,coerentecomaConstituiode1988,contemplandoatipificaodoscrimesdeterrorismo,sabotagemeespionageme,portanto,necessariamentepenal.Osanosseguintesassistiramaumasriedetentativasdematerializarasreferidaspropostas.

    Comefeito,apresentadasnomesmoano,aspropostas referentescriaodaAutoridadeNacionalerevisodaLSNnoprosperaram.Somenteteveacolhidaadereformasnaativi-dadedeinteligncia,aqualdeuorigemprimeiraaoconjuntadesenvolvidaem2003peloGSIemparceriacomaSecretariaGeraldaPR(SGPR),queresultounoprogramaConsultasSociedadesobreaAtividadede Inteligncia,escapandoaoescopooriginaldaproposta.Duranteaexecuodoreferidoprograma,porpropostadaSGPR,foramconsultados(esemanifestaram) segmentos importantes da sociedade, como centrais sindicais, entidadesdeclassepatronal,bemcomoentesligadosIgrejaCatlica,todos,desnecessrioenfatizar,es-tranhosaotema.Aofinal,conformeprevisto,oprogramaresultouincuoeimprodutivoparaospropsitoscolimados.Noobstante,emsetembrode2004,sobottuloUmanovaperspectivadegestopblica:consultasociedadesobreaatividadedeinteligncia,oprogramafoi(aoladodeoutros)escolhidopararepresentaroBrasil,comoexemplodegesto,naIXReuniodoCentroLatino-AmericanoparaoDesenvolvimento(CLAD),realizadaemMadrid,Espanha,emnovembrodomesmoano.

    Aindaem2004,apsosatentadosde11demaro,nacapitalespanholaeemrazodapr-ximaratificaopeloCongressoNacionaldaConvenoInternacionalparaSupressodoFi-nanciamentodoTerrorismo,adotadapelaAssembleia -Geral dasNaesUnidasem9dedezembrode1999eassinadapeloBrasilem10denovembrode2001,comsuaesperadacargadeobrigaes,foramreapresentadasaspropostasdecriaodaAutoridadeNacionalederevisodaLSN.Devidoaoclimadecomoosuscitadopelosreferidosatentadoseaoau-mentodapercepodeameaa,aspropostasdecriaodeumaAutoridadeNacionaledeumCentrodeCoordenaoobtiveram,destafeita,anecessriaaquiescncia,sendoautorizada

    Porque necessrio tipificar o crime de terrorismo no Brasil

  • 16 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    aconvocaodaCREDENparaoseuexame.Comoesperado,aCREDEN,reunidaemabrilde2004,autorizouacriaodeGrupodeTrabalho(GT)coordenadopelaABINparaestudaraquestoeelaborarpropostas.Em2005,ostrabalhosforamconcludoseapresentadosCRE-DEN.EmborarecomendadapeloGTeavalizadapelaCREDEN,acriaodoscitadosentesadministrativosnoteveapretendidaacolhida.

    Em2008,oGSIreapresentou,maisumavez,asreferidaspropostas.AdecriaodaAutorida-deNacionaledoCentrodeCoordenaonofoiconsiderada.AdesubstituiodaLSN,porsuavez,foiaceita,convocando-seaCREDENparaseuexame.Emdecorrncia,emreuniorealizadaem14dejulhode2008,aCREDENautorizouaconstituiodeumGTinterministerialparaproporaediodeumaLeideDefesadaSoberaniaedoEstadoDemocrticodeDireito,sendosuacoordenaoatribudaSecretariadeAssuntosLegislativosdoMinistriodaJusti-a(SAL/MJ).Emsuaprimeirafase,dedelimitaodotema,estudodalegislaocomparada,discussoeformulaodabaseconceitualedoutrinria,oGTexecutoutrabalhos,apresentan-doaoPresidentedaCREDENseurelatriofinalem30desetembrode2009.Atocontnuo,em19deoutubrode2009,oPresidentedaCREDENdeterminouacriaodenovoGT,destafeitaparaconferirredaolegislativaspropostasformuladaspeloGTanterior.Presentemente,ostrabalhosencontram-seemfasedeconclusodoanteprojetodelei(APL).OtextodoreferidoAPL,produtodedezanosdetrabalhodeespecialistasdediversosministrios(Defesa,Justia,RelaesExteriores,GSI,Advocacia-GeraldaUnio,entreoutros),noseresumetipificaodoscrimesdeterrorismo,apologiaaoterrorismo,financiamentodoterrorismoeparticipaoemorganizaoterrorista,porm,buscandoacompletudeemtermosdesalvaguardalegaldoEstado,trataigualmentedostiposcriminososdesabotagem,espionagemeoutros.

    3ReuniesdoGTLDSEDD/MJ:contra-argumentosapresentadosduranteasreuniesiniciaisdoGTcriadoparaapresentarpropostadeLeideDefesadaSoberaniaedoEstadoDemocrticodeDireito(LDSEDD),naSAL/MJ.

    4 CriaoedesativaodoCPCT:Em09dejunhode2009,oministrodeEstadoChefedoGSI(por intermdiodaPortarian22,publicadaemDirioOficialdaUnioden109,de10dejunhode2009), criouoNcleodoCentrodeCoordenaodasAtividadesdePrevenoeCombateaoTerrorismo(CPCT).Oreferidoente,cujacriao,calcadaemexemplosinterna-cionaisbem-sucedidos,objetivoupromoveranecessriaintegraoentreosdiferentessetoresenvolvidosnasatividadesdeprevenoedecombateao terrorismoque, tradicionalmente,poucooununcainteragem,foidesativadopeloGSI,emboranoformalmenteextinto,em07defevereirode2011,apsefmeroeprofcuoperododeatividades,reaofavorveldosrgosparticipanteseseguidasmenespositivasnaimprensa.

    5 Convenes,ResolueseProtocolosajustadosemorganismosmultilateraisaosquaisoBrasiladeriuesignatrio:

    ConvenoRelativasInfraeseOutrosAtosCometidosaBordodeAeronaves(Decreton66.520/1970);

    ConvenoParaRepressoaoApoderamentoIlcitodeAeronaves(assinadanaHaiaem16dedezembrode1970/Decreton.70.201/1972);

    ConvenoParaaRepressodeAtosIlcitosContraaSeguranadaAviaoCivil(Decreton.72.383/1973);

    ConvenoSobreaProteoFsicadosMateriaisNucleares(assinadaemVienaem3dedezembrode1980/Decreton.95/1991);

    ConvenoParaPrevenirePunirosAtosdeTerrorismoConfiguradosComoDelitosContraPessoasQuandoEssasTiveremTranscendnciaInternacionaleExtorsoConexa(Decreton.3108/1999);

    ConvenoSobreaPrevenoePuniodeInfraesContraPessoasqueGozamdePro-teoInternacional(Decreton.3167/1999);

    ConvenoContraaTomadadeRefns(Decreton.3517/2000);

    ProtocoloParaaSupressodeAtosIlcitosdeViolncianosAeroportosaServiodaAviaoCivil(assinadoemMontrealem24dedezembrode1988/Decreton.2611/1997);

    Mrcio Paulo Buzanelli

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 17

    ConvenoInteramericanaContraaFabricaoeoTrficoIlcitodeArmasdeFogo,Muni-es,ExplosivoseOutrosMateriaisCorrelatos(Decreton.3229/1999);

    Resoluo1.373/2001,doConselhodeSeguranadasNaesUnidas(Estabelecemedi-dasaseremadotadaspelosEstados-parteparaocombateaoterrorismo,adotadaapsosataquesaosEUA,em11desetembrode2001;oDec.n3976,de18deoutubrode2001,dispesobreasuaexecuonoterritrionacional);

    ConvenoSobreaMarcaodosExplosivosPlsticosParaFinsdeDeteco(Decreton.4021/2001);

    ConvenoInternacionalSobreaSupressodeAtentadosTerroristascomBombas(Decreton.4.394/2002);

    ConvenoInteramericanaContraoTerrorismo(assinadaemBarbados,em3dejunhode2002,epromulgadapeloDecreto5639/2005);

    Conveno InternacionalPara aSupressodoFinanciamento doTerrorismo (Decreto n.5.640/2005);

    Conveno InternacionalparaaSupressodeAtosdeTerrorismoNuclear (assinadapeloBrasilemNovaIorque,em14desetembrode2005,eaprovadapeloDecretoLegislativon.267/2009/aguardandoratificao);

    ProtocoloparaaSupressodeAtosIlcitoscontraaSeguranadePlataformasFixaslocali-zadasnaPlataformaContinental(Decreton.6136/2007);e

    ConvenoparaaSupressodeAtosIlcitosContraaSeguranadaNavegaoMartima(Decreton.6136/2007).

    Referncias

    BRASIL. Cmara dos Deputados. Projeto de lei n 149/2003. Altera o Decreto- Lei n 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Cdigo Penal, tipificando o crime de terrorismo e d outras providncias. Dis-ponvel em: . Acesso em: 22 abr. 2013.

    BRASIL. Cmara dos Deputados. Projeto de lei n 2.462/91. Define os crimes contra o Estado Demo-crtico de Direito e a Humanidade. Disponvel em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=423360>. Acesso em: 02 abr. 2013.

    BRASIL. Cmara dos Deputados. Projeto de lei n 3.714/2012. Tipifica o crime de terrorismo. Dis-ponvel em: . Acesso em: 26 abr. 2013.

    BRASIL. Cmara dos Deputados. Projeto de lei n 4.674/2012. Dispe sobre os crimes relacionados a atividades terroristas e d outras providncias. Disponvel em: . Acesso em: 23 abr. 2013.

    BRASIL. Cmara dos Deputados. Projeto de lei n 6.764/2002. Acrescenta o Ttulo XII, que trata dos crimes contra o Estado Democrtico de Direito, Parte Especial do Decreto-Lei n 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Cdigo Penal, e d outras. Disponvel em: . Acesso em 05 abr. 2013.

    Porque necessrio tipificar o crime de terrorismo no Brasil

  • 18 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    BRASIL. Cmara dos Deputados. Projeto de lei n 7.765/2010. Tipifica o crime de terrorismo. Dis-ponvel em: . Acesso em: 03 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto n 267, de 29 set. 2009. Aprova o texto da Conveno Internacional para a su-presso de atos de terrorismo nuclear, assinada pelo Brasil em Nova Iorque, no dia 14 de setembro de 2005. Disponvel em: . Acesso em: 13 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto no. 2.611,de 2 jun.1998. Promulga o Protocolo para a Represso de Atos Ilcitos de Violncia em Aeroportos que Prestem Servios Aviao Civil Internacional, concludo em Montreal, em 24 de fevereiro de 1988. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2611.htm>. Acesso em: 18 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto no. 3.018, de 6 de abril de 1999. Promulga a Conveno para Prevenir e Punir os Atos de Terrorismo Configurados em Delitos Contra as Pessoas e a Extorso Conexa, Quando Tiverem Eles Transcendncia Internacional, concluda em Washington, em 2 de fevereiro de 1971. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D3018.htm>. Acesso em: 03 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto n. 3.167, de 14 de Setembro de 1999. Promulga a Conveno sobre a Preveno e Punio de Crimes Contra Pessoas que Gozam de Proteo Internacional, inclusive Agentes Diplo-mticos, concluda em Nova York, em 14 de dezembro de 1973, com a reserva prevista no pargrafo 2 do art. 13 da Conveno. Disponvel em: . Acesso em 21 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto no. 3.229, de 29 out. 1999. Promulga a conveno interamericana contra a fabri-cao e o trfico ilcitos de armas de fogo, munies, explosivos e outros materiais correlatos, con-cluda em Washington, em 14 de novembro de 1997. Disponvel em: . Acesso em: 23 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto n. 4021, de 19 nov. 2001. Promulga a Conveno sobre a Marcao de Explosivos Plsticos para Fins de Deteco. Disponvel em: < http://www.lexml.gov.br/urn/urn:lex:br:federal:decreto:2001-11-19;4021>. Acesso em: 21 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto n. 4.394, de 26 Set. 2002. Promulga a Conveno Internacional sobre a Supresso de Atentados Terroristas com Bombas,com reserva ao pargrafo 1 do art. 20. Disponvel em: . Acesso 12 abr. 2012.

    BRASIL. Decreto n. 5639, de dez. 2005. Conveno Interamericana contra o Terrorismo, assinada em Barbados, em 3 de junho de 2002. Disponvel em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5639.htm>. Acesso em: 12 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto n. 5.640, de 26 dez. 2005. Promulga a Conveno Internacional para Supresso do Financiamento do Terrorismo, adotada pela Assemblia-Geral das Naes Unidas em 9 de dezembro de 1999 e assinada pelo Brasil em 10 de novembro de 2001. Disponvel em: . Acesso em: 12 abr. 2013.

    Mrcio Paulo Buzanelli

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 19

    BRASIL. Decreto n 6.136, de 26 de junho de 2007. Promulga a Conveno para a Supresso de Atos Ilcitos contra a Segurana da Navegao Martima e o Protocolo para a Supresso de Atos Ilcitos con-tra a Segurana de Plataformas Fixas Localizadas na Plataforma Continental, ambos de 10 de maro de 1988, com reservas ao item 2 do artigo 6o, ao artigo 8o e ao item 1 do artigo 16 da Conveno, bem como ao item 2 do artigo 3o do Protocolo. Disponvel em: . Acesso em: 24 abr. 2013.

    BRASIL. Decreto n 66.520, de 30 de Abril de 1970. Promulga a Conveno relativa s infraes e a certos outros atos cometidos a bordo de aeronaves. Disponvel em: . Aces-so em: 21 abr. 2013.

    BRASIL. Senado Federal. Projeto de lei do Senado n 728/2011. Complementa a Lei Geral da Copa e define crimes e infraes administrativas com vistas a incrementar a segurana dos grandes eventos es-portivos previstos para os prximos anos no Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 12 abr. 2013.

    BRASIL. Senado Federal. Projeto de lei do Senado n 762/2011. Apresenta tipos penais para a figura do terrorismo, da incitao ao terrorismo, para a formao de grupo terrorista e tambm para o financia-mento ao terrorismo. Reforma do Cdigo Penal. Disponvel em: . Acesso em: 12 abr. 2013.

    Porque necessrio tipificar o crime de terrorismo no Brasil

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    LIES PARA O BRASIL SOBRE OS ATENTADOS DE BOSTON REALIZAO DE GRANDES EVENTOS NO PAS

    Paulo de Tarso Resende Paniago*

    Resumo

    Aps 2001, a ONU passou a considerar o terrorismo uma das principais ameaas globais. Alas radicais islmicas criaram grupos como a Al-Qaeda, que atua em pases onde existam vulnerabilidades e sem histrico de aes terroristas. Com os ataques de Boston, acendeu a luz de alerta para o Brasil, que realizar eventos internacionais nos prximos anos, sendo o Rio de Janeiro um dos seus principais alvos. Por outro lado, a eficcia no combate ao terrorismo depende, entre outros, de parcerias internacionais e do trabalho realizado pela ABIN. Alm disso, o Pas precisa de instrumentos legais modernos para tipificar o terrorismo. Portanto, o Brasil tem que se preparar para enfrentar esses desafios.

    O terrorismo internacional, devido a seu poder de infiltrao em di-ferentes pases e capacidade de gerar instabilidade na comunidade mundial, constitui-se uma das principais ameaas da atualidade, real e crescente para a paz e segurana internacionais e para a estabilidade e soberania dos Estados.

    Os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos da Amrica (EUA) quebraram paradigmas at ento exis-tentes, alando a ameaa terrorista como principal elemento definidor de polticas no cenrio mundial desde ento.

    Reconhecendo a gravidade dessa ques-to, a Organizao das Naes Unidas (ONU) passou a considerar o terroris-

    mo um dos cinco principais problemas globais, juntamente com narcotrfico, proliferao de armas de destruio em massa, migraes e agresses ao meio ambiente.

    A expanso desse fenmeno est atre-lada ao crescimento do extremismo is-lmico, que, por sua vez, ampliou-se na esteira da disseminao de interpre-taes radicais do Isl, que se ope a qualquer tipo de interveno nos valores muulmanos e prega o uso da violncia guerra santa (jihad) como forma de defender e aumentar a comunidade mu-ulmana mundial.

    A internacionalizao do terrorismo tornou irrelevantes definies nacionais

    *FormadoemComunicaoSocialPublicidadeePropaganda.

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    quanto probabilidade de ocorrncia de atentados e ao desenvolvimento de outras atividades ligadas a esse fen-meno, que tende a atuar onde existi-rem vulnerabilidades que possam ser exploradas. Nesse contexto, plausvel que pases sem histrico de atividades terroristas tornem-se alvo ou palco do terrorismo simplesmente por reunir condies favorveis realizao de atentados.

    A necessidade de recrutamento e for-mao de redes de apoio de organi-zaes extremistas tem feito com que seus membros busquem novos locais para atuar. Devido aos prejuzos e per-das impostas s suas estruturas por aes desenvolvidas e lideradas, prin-cipalmente, pelos EUA, esses grupos passaram a implementar novas formas de recrutamento e reorganizao de elementos operacionais em regies at ento pouco exploradas.

    [...] entende-se o terrorismo, ou sua ameaa, como ao premeditada visando atingir,

    influenciar, intimidar ou coagir o Estado e/ou a sociedade com emprego de violncia.

    Paralelamente a isso, vertentes religiosas como o wahabismo (corrente religiosa islmica), por exemplo, visam organizar o Estado de acordo com a sharia (lei isl-mica), em que governo e religio formam um mesmo conjunto. Alas radicais desse movimento, como a Al-Qaeda e suas afi-liadas, inspiraram grupos extremistas em muitos pases.

    A anlise de inmeros atentados ter-roristas que ocorreram ao longo dos ltimos anos permite identificar carac-tersticas gerais comuns ao fenmeno, no importando orientao ideolgica, causa defendida ou motivao poltica. Em sua definio corrente no Brasil, en-tende-se o terrorismo, ou sua ameaa, como ao premeditada visando atingir, influenciar, intimidar ou coagir o Esta-do e/ou a sociedade com emprego de violncia.

    O primeiro aspecto que representa ca-racterizao prpria de ato terrorista aquele perpetrado por pessoa ou grupo com apoio de uma estrutura/organiza-o, sendo, portanto, ao propositada e planejada visando provocar o maior dano possvel, seja populao, a instalaes fsicas ou a instituies nacionais.

    Alm disso, a sua natureza indiscrimi-nada, ou seja, todos so alvos, indepen-dente da posio na sociedade. Justa-mente essa falta de especificidade que ajuda a disseminar o medo, pois se no existe um alvo em particular, ningum pode sentir-se seguro.

    No se pretende, com essa afirmao, excluir a possibilidade de que haja al-vos humanos individuais ou coletivos especficos, o que de fato existe. En-tretanto, ao se atingir alvos aleatrios, no previamente definidos, o temor de que outros venham a ser feridos torna--se generalizado e d mais fora ao movimento, pois o efeito psicolgico, normalmente, ter muito mais amplitu-de e ressonncia do que simplesmente prejuzos fsicos.

    Paulo de Tarso Resende Paniago

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 23

    Tambm existem outros riscos associa-dos estabilidade do Estado, que so as aes de extremistas organizados ou reunidos por ideologias excludentes, religiosas ou no, que podem recorrer a atos terroristas. No rol dessas aes, esto as que, impedindo, sabotando, transformando e desestruturando, pode-ro atacar a base estrutural, econmica e social de um pas. A probabilidade de ocorrerem ataques, por exemplo, a siste-mas de informao e comunicaes po-der ser considerada ameaa terrorista tanto quanto a de sabotagem de redes energticas.

    Com isso, o terrorismo por si s um crime, e, como tal, associa-se a delitos conexos que lhe possam suprir meios ou ainda facilitar suas aes, aproveitando--se da forma mais segura disponvel consecuo de seus planos, como asso-ciar-se a organizaes criminosas para atingir objetivos paralelos e coincidentes de ataque a determinadas estruturas go-vernamentais.

    Boston

    Depois de as vtimas das exploses na Maratona de Boston terem sido atendidas e o presidente Barack Obama ter clas-sificado o episdio como ato terrorista, autoridades estadunidenses passaram a dedicar-se exclusivamente a responder s perguntas: quem (so) o(s) culpado(s) e por que motivo cometeu(ram) os ataques que deixaram trs mortos e 264 feridos.

    O Federal Bureau of Investigation (FBI) identificou que havia no local um circuito eletrnico que teria sido usado para de-tonar as bombas, e confirmou que foram recuperados restos de bolsas de nilon deixadas em cantos e na calada da Rua

    Boyslton, as quais podem ter sido usa-das para acondicionar panelas de pres-so, que tinham em seu interior material explosivo e artefatos de metal.

    Investigadores encontraram indcios de materiais utilizados para fabricao ca-seira desse tipo de artefato onde ocorreu a ao, o qual, apesar de improvisado, letal; isso os levou a supor menor grau de profissionalismo dos perpetradores do atentado. O detonador pode ser acionado por controlador de tempo que comumente usado na cozinha.

    Segundo os mdicos, as bombas foram preparadas para causar o mximo de le-ses possvel, forando os profissionais a fazerem amputaes imediatas, especial-mente dos membros inferiores. Para os cirurgies, esses ferimentos so compa-rveis aos de bombas improvisadas usa-das por integrantes da Al-Qaeda desde a invaso do Iraque at a atualidade.

    O recurso foi amplamente utilizado contra foras estadunidenses no Afega-nisto, Iraque e Paquisto. Atentados atribudos a movimentos extremistas da ndia e do Paquisto tambm foram co-metidos com esse tipo de objeto (pane-las feitas de metal grosso, hermticas). O alcance estimado da onda de fragmentos das exploses em Boston supera os se-tenta metros.

    Foras de segurana dos EUA j tinham conhecimento de que a Al-Qaeda en-sinava, pela internet, a fabricar bombas caseiras utilizando panelas de presso.

    Esse atentado motivou precaues ex-tras de segurana nos EUA. Dois pas-sageiros e suas malas foram retirados de voo no aeroporto de Boston com destino a Chicago. Em Nova York, um

    Lies para o Brasil sobre os atentados de Boston

  • 24 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    dos terminais do aeroporto LaGuardia foi esvaziado depois da descoberta de pacote suspeito.

    Os governos de George W. Bush e Bara-ck Obama criaram enorme aparato para rastrear terroristas no exterior, mas au-toridades de segurana interna sempre alertaram que os EUA no conseguiriam impedir ataques em solo americano. Em alguns incidentes, elas contaram mais com o benefcio da sorte do que com a habilidade de investigao.

    Trs meses aps os atentados de 11 de setembro, Richard Reid levava no sapa-to explosivo que pretendia detonar em voo da American Airlines, que fazia o trajeto Paris-Miami. Oito anos depois, o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab planejava detonar explosivos escondidos em suas roupas em voo entre Amsterd e Detroit. Nos dois casos, no houve xito na ao.

    Em outros dois incidentes, autoridades norte-americanas conseguiram frustrar as aes. Em setembro de 2009, plano para explodir a rede de metr de Nova York, possivelmente por membros da Al-Qaeda, foi descoberto. Tambm nes-sa cidade, em maio de 2010, a Times Square foi esvaziada aps descoberta de carro-bomba deixado pelo cidado pa-quistans, naturalizado americano, Faisal Shahzad.

    Autoridades tentam identificar as moti-vaes para o atentado em Boston. Esse resultado certamente vai contribuir para melhor compreender fatos como este e para que outros pases adotem ou in-crementem medidas preventivas capazes

    de, pelo menos, reduzir os riscos dessas aes contra a sociedade.

    Entre 17 e 18 abril de 2013, europeus realizaram o maior exerccio antiterro-rista no continente, reunindo foras es-peciais de nove pases que integram a Unio Europeia (UE), com testes e simu-laes para verificar-se a capacidade de resposta a eventuais aes terroristas.

    O objetivo foi mostrar reao em caso de ataques simultneos nos pases que participaram dessa atividade. O exerc-cio faz parte de atividade denominada Desafio Comum, no mbito de associa-o formada por unidades de foras es-peciais dos 27 Estados-membros da UE para melhorar a cooperao e o inter-cmbio de experincias.

    No mesmo perodo, em visita ao Brasil, a representante permanente dos EUA na ONU, embaixadora Susan Rice, reuniu-se com o ministro das Relaes Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, e o principal tema discutido foi o aumento da preo-cupao com a segurana dos pases em competies esportivas, e dos EUA, principalmente, tendo em vista o recente atentado ocorrido em Boston, que aler-tou os responsveis nacionais pelas reas de segurana de grandes eventos para os prximos anos.

    Em fevereiro de 2013, acordo entre os ministrios da Justia e da Defesa, res-ponsveis pelo planejamento da seguran-a da Copa das Confederaes da FIFA 2013, Copa do Mundo da FIFA 2014 e Jogos Olmpicos de 2016, definiu res-ponsabilidades e incluiu aes de defe-sa ciberntica, combate ao terrorismo e servios de segurana e Inteligncia.

    Paulo de Tarso Resende Paniago

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 25

    O Comando do Exrcito coordenar me-didas ligadas ao terrorismo e tambm ser responsvel pelo contraterrorismo (medidas ofensivas, como ataques pon-tuais a grupos inimigos, visando prevenir, dissuadir ou retaliar suas aes).

    O governo federal dividiu a segurana em trs eixos: ameaas externas; proteo

    de portos, aeroportos e fronteiras; e ameaas internas.

    A Polcia Federal (PF) e a Agncia Bra-sileira de Inteligncia (ABIN), que ava-lia como baixo o risco de atentado du-rante os mencionados eventos, trataro do antiterrorismo (medidas preventivas e defensivas para investigar, obter in-formaes de Inteligncia e identificar possveis vulnerabilidades que facilitem atentados). A atuao das polcias esta-duais estar focada em segurana pbli-ca, policiamento urbano, Inteligncia e preveno.

    O governo federal dividiu a segurana em trs eixos: ameaas externas; prote-o de portos, aeroportos e fronteiras; e ameaas internas. Com isso, aumentam as chances de sucesso no combate de atividades extremistas em tempo real.

    No entanto, o alerta que vem dos EUA interessa principalmente ao Brasil, em preparao para uma srie de eventos internacionais. O primeiro grande teste ocorrer em junho de 2013, na Copa das Confederaes. Em julho, o Pas ser sede da Jornada Mundial da Juven-tude (JMJ), promovida pela Igreja Catli-ca, que deve trazer o papa Francisco pela primeira vez ao Brasil. Em 2014, ser a

    vez da Copa do Mundo, e, em 2016, dos Jogos Olmpicos.

    Em 2014, doze capitais brasileiras se-diaro os jogos da Copa do Mundo FIFA e, em 2016, os Jogos Olmpicos ocor-rero principalmente no Rio de Janeiro, sendo esses dois eventos considerados por suas entidades representativas, FIFA e Comit Olmpico Internacional (COI), respectivamente, como eventos de pro-jeo mundial e consequentemente alvos preferenciais do terrorismo.

    Muito provavelmente, em nenhum outro perodo to curto de tempo, o Pas aco-lher tantas pessoas, como a partir de 2013. Preparativos intensos so decisi-vos para preservar vidas e a imagem do Brasil. o que as autoridades asseguram que est sendo feito, com treinamentos no Pas e no exterior, e aproveitando o exemplo do que ocorreu em eventos an-teriores desse porte.

    Rio de Janeiro

    Sede de sete partidas da Copa do Mundo da FIFA 2014 e dos Jogos Olmpicos de 2016, a cidade est em alerta depois dos atentados em Boston. Organizadores da Maratona do Rio, que ser disputada em 7 de julho de 2013, j trabalham para aumentar a segurana da corrida. Repre-sentante de uma das empresas organiza-doras do evento ressaltou que a ateno com a integridade fsica dos vinte mil atletas que devero inscrever-se ficou maior.

    A JMJ est programada para o perodo de 23 a 28 de julho e o evento inicial, previsto para ocorrer na Praia de Copa-cabana no primeiro dia, quando o arce-

    Lies para o Brasil sobre os atentados de Boston

  • 26 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    bispo do Rio de Janeiro celebrar missa, na qual provavelmente no estar pre-sente o papa Francisco.

    Na previso dos organizadores da JMJ, ele deve chegar ao Pas somente em 25 de julho, quando haver cerimnia para recepcion-lo. Militares envolvidos no planejamento da segurana informam que o Sumo Pontfice dever participar de trs missas. Alm da ltima, em Gua-ratiba, sua presena esperada em Co-pacabana e na Catedral Metropolitana, no centro da cidade.

    [...] a eficcia no combate ao terrorismo depende [...] tanto da implementao de novas polticas

    voltadas para a segurana e defesa quanto da reavaliao de acordos internacionais [...]

    Com a promoo desses e outros vrios eventos que devero ocorrer at 2016, a cidade do Rio de Janeiro, sem dvida, no momento um dos principais alvos de organizaes e grupos extremistas, sejam eles de carter radical islmico ou de outro matiz.

    O Brasil defende constitucionalmente a promoo da paz e a resoluo pacfica de conflitos. Mas a eficcia no comba-te ao terrorismo depende, por exemplo, tanto da implementao de novas pol-ticas voltadas para a segurana e defesa quanto da reavaliao de acordos inter-nacionais, sobretudo na esfera regional, como os assinados no mbito do Merco-sul sobre iseno de vistos, ingresso pri-vilegiado em aeroportos e documentao requerida para trnsito de cidados entre os pases-membros. Ressalta-se que h vulnerabilidades crnicas de segurana em pases vizinhos como o Paraguai, em

    especial na Ponte Internacional da Ami-zade, que liga Ciudad del Este a Foz do Iguau/PR.

    Em nosso pas, no h motivao terro-rista de carter religioso, tendo em vis-ta o histrico de assimilao cordial de diferentes grupos tnicos e culturais na sociedade, caracterstico da formao da nao brasileira. Muito provavelmente foram esses graus de integrao social e de universalismo da poltica externa bra-sileira que, at o momento, preservaram o Brasil de ameaas e aes destrutivas de grupos extremistas, e permitiram maior insero econmica e atuao po-ltica em mercados e foros culturalmente diversificados.

    Por outro lado, impe-se cada vez mais a necessidade de reformular conceitos, como diferenciao clara entre ameaas internas e externas, e adotar parcerias com outros pases para efetivamente neutralizar a atuao dessas organiza-es. Portanto, somente por meio da cooperao conjunta que os Estados podero adquirir maior estabilidade e manter sua soberania.

    Cabe aos respectivos governos prepa-rarem-se para isso e estimularem espe-cialmente o trabalho de Inteligncia (que atua precipuamente no campo preven-tivo, e possui melhores condies de combater esse fenmeno), buscando a certeza do conhecimento e a antecipa-o dos fatos.

    No Brasil, aes tipicamente terroristas constituem-se, no momento, uma mdia possibilidade. Entretanto, deve-se consi-derar a atual tendncia de crescimento do terrorismo no mundo, com a globalizao de suas atividades e constante mutao. Dessa forma, mtodos e procedimentos

    Paulo de Tarso Resende Paniago

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 27

    de grupos extremistas internacionais po-dero passar a ser utilizados por organi-zaes ou indivduos nacionais.

    Paralelamente a isso, devem ser ouvi-dos e avaliados alertas de entidades re-presentativas de servidores federais, as quais tm demonstrado preocupao com a possvel carncia de pessoal para atender a todas as tarefas de segurana, e advertem para o fato de que a concen-trao de pessoal de ponta nas deman-das dos eventos pode, no caso da Polcia Federal, por exemplo, deixar a descober-to o combate ao contrabando e ao tr-fico de drogas, alm da possibilidade de que algumas dessas categorias venham a usar esse perodo para realizar greves.

    Cabe aos respectivos governos [...] estimularem

    especialmente o trabalho de Inteligncia [...] buscando a certeza do conhecimento e

    a antecipao dos fatos.

    Essas preocupaes merecem a total ateno dos envolvidos com a segu-rana dos participantes desses eventos. Atentados como o que abalou Boston e o mundo podem ter causas diversas, e obviamente merecem o repdio in-ternacional. Todavia, manifestaes de indignao so insuficientes para evitar atentados ou ter seus danos reduzidos, especialmente em eventos que chamam a ateno e atraem pessoas de todos os continentes.

    O Pas vem mantendo a posio de no existncia de atividade terrorista em seu territrio, mas at quando isso permane-cer, pois h um quadro conjuntural que pode torn-lo vulnervel a presses inter-nacionais, com o recente surgimento de

    aes de grupos extremistas, como pri-ses de suspeitos em pases europeus, a exemplo de Alemanha, Espanha e Frana.

    E o Brasil, mediante essa nova realidade, precisa, entre outros pontos, de instru-mentos legais modernos para enfrentar esse fenmeno, dando resposta efetiva comunidade internacional, como tipificar criminalmente o terrorismo, principalmen-te neste momento, em que o Pas est sob os holofotes mundiais em face dos grandes eventos, podendo tornar-se alvo preferen-cial de organizaes como a Al-Qaeda.

    Por fim, as autoridades governamentais e os legisladores devem ter em mente a existncia de vrias convenes e resolu-es internacionais sobre a matria, con-siderando que no mbito externo o Pas precisa assumir suas obrigaes, evitan-do, assim, futuras sanes e ainda expo-sio negativa e desnecessria que possa prejudicar suas pretenses quanto ao as-sento permanente no Conselho de Segu-rana da ONU. Internamente relevante ter como premissa o estabelecimento de entendimento jurdico unificado do que terrorismo e seu eficaz combate e res-posta imediata a essa ameaa.

    Portanto, nesse momento, o terrorismo um assunto de abrangncia mundial e nenhum pas pode dizer que est a sal-vo de seus efeitos. O Brasil tem desem-penhado seu papel, em diversos fruns internacionais, para combater e eliminar esse mal. Apesar de, at o momento, no ter sofrido ao direta perpetrada por organizaes extremistas, no se pode descartar que isso venha a ocorrer a qualquer momento, at por suas ca-ractersticas de imprevisibilidade. Temos que estar preparados para enfrentar esse desafio ao longo dos prximos anos.

    Lies para o Brasil sobre os atentados de Boston

  • 28 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    Referncias

    ATENTADO em Boston faz Maratona do Rio reforar segurana. R7 Esportes, 17 abr. 2013. Dispo-nvel em: . Acesso em: 17 abr. 2013.

    FBI confirma substncia letal ricina em carta enviada a Obama. UOL, So Paulo, 17 abr. 2013. Dispon-vel em: . Acesso em: 17 abr. 2013.

    GIRALDI, Renata. Europeus fazem exerccio para simular reao a ataques terroristas. Agncia Brasil, 17 abr. 2013 Disponvel em: . Acesso em: 17 abr. 2013.

    GIRALDI, Renata. Representante norte-americana na ONU conversa com Patriota sobre exploses em Boston e operaes de paz. Agncia Brasil, So Paulo, 17 abr. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 17 abr. 2013.

    PACOTES suspeitos so encontrados no Capitlio, em Washington. G1 Mundo, So Paulo, 17 abr. 2013. Disponvel em: . Acesso em: 17 abr. 2013.

    STOCHERO, Tahiane. Ataque de Boston preocupa governo para a Copa das Confederaes. G1 Brasil, So Paulo, 17 abr. 2013. Disponvel em: . Acesso em:17 abr. 2013.

    Paulo de Tarso Resende Paniago

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 29

    CONSIDERAES SOBRE O PROJETO DE LEI RELATIVO A CRIMES DE TERRORISMO

    Fbio de Macedo Soares Pires Condeixa*

    Resumo

    Este trabalho pretende analisar projeto de lei relativo a crimes de terrorismo em tramitao no Senado Federal, apontando crticas e propondo sugestes.

    1 Introduo

    Tramita no Senado Federal o Proje-to de Lei do Senado (PLS) n 762 (BRASIL, 2011), de autoria do sena-dor Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP), visando a tipificar os crimes relaciona-dos ao terrorismo. O projeto busca atender a um antigo clamor da socie-dade e da comunidade internacional de criao de um aparato legal apropriado para o tratamento penal do terrorismo no Brasil.

    O projeto pequeno e simples. Sua essncia consiste na tipificao de de-litos relacionados ao terrorismo. En-tendemos que a definio legal des-se tipo de delito, tal como proposta, apresenta problemas de ordem lgico--jurdica, como se pretende demons-trar a seguir.

    2 Problemtica da tipificao do terrorismo

    A prpria idia de tipificar crimes de terrorismo j se assenta num equvoco. Como tivemos a oportunidade de ex-por em outro trabalho (CONDEIXA, 2012), o terrorismo no pode ser par-ticularizado em uma conduta ou num conjunto limitado de condutas, de modo a caber num nico tipo penal.

    No referido trabalho, sustentamos que o terrorismo, segundo a legislao em vigor, deveria ser tratado como circunstncia judicial ou elementar heterotpica de condutas criminosas, aferida casuisticamente pelo juiz, que tomaria como parmetro o conceito de terrorismo fixado no art. 4, 1, da Lei Federal n 10.744 (BRASIL, 2003). Ato contnuo, o juiz dispensa-ria ao criminoso o tratamento previsto

    * Bacharel emDireito eMestre emCincia Poltica pelaUniversidade Federal doRio deJaneiro.

  • 30 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    sos atos criminosos praticados com a in-teno de provocar ou infundir terror ou pnico. Desse modo, o terrorismo deve ser entendido como uma qualidade, um adjetivo de certas condutas criminosas. Essa idia foi esposada pelo Ministro Nelson Jobim, na Extradio n 855/Chile, ver:

    O conceito de terrorismo no um con-ceito que diz respeito a um ato da reali-dade, no um substantivo que trate de atos concretos; so juzos de valores em condutas polticas que tm de ser exami-nadas caso a caso. (BRASIL, 2004).

    Por essa razo, pugnamos pelo trata-mento do terrorismo como circunstncia judicial ou elementar heterotpica do tipo penal, verificada caso a caso, se-melhana do que ocorre, por exemplo, nos homicdios qualificados por motivo ftil ou torpe. Trata-se de uma margem de discricionariedade judicial da qual no se pode abdicar, sob o risco de vermos condutas indevidamente caracterizadas ou no caracterizadas como terroristas.

    [...] pugnamos pelo tratamento do terrorismo como circunstncia

    judicial ou elementar heterotpica do tipo penal [...]

    Nossa orientao tem a vantagem de fa-zer com que a margem de discricionarie-dade recaia apenas sobre a qualificao do crime e no sobre a imputao como um todo, como o faz o PLS n 762, com seu tipo aberto de provocar ou infundir terror ou pnico. Assim, a discricionarie-dade de decidir o que terrorista somen-te ter repercusso no agravamento ou

    na Lei de Crimes Hediondos (Lei Fe-deral n 8.072 (BRASIL,1990)), com base na parte final do art. 2 desse di-ploma legal e no prprio art. 5, XLIII, da Constituio Federal (CF)1.

    A idia mesma de tipificao consiste em particularizar condutas, de forma clara e precisa, de modo a no dar azo ao arb-trio da autoridade julgadora para a impu-tao penal. Trata-se de uma decorrncia do princpio da reserva legal, consagrado no art. 1 do Cdigo Penal (CP) e no art. 5, XXXIX, da CF. Tal princpio encarna o antigo brocardo jurdico nullum crimen, nulla poena sine lege (GRECO, 2013).

    Vemos que o art. 2 do projeto busca ti-pificar o terrorismo da seguinte maneira:

    Terrorismo

    Art. 2 Provocar ou infundir terror ou p-nico generalizado mediante ofensa inte-gridade fsica ou privao da liberdade de pessoa, por motivo ideolgico, religioso, poltico ou de preconceito racial, tnico, homofbico ou xenfobo:

    Pena recluso, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos.

    A expresso provocar ou infundir ter-ror ou pnico generalizado pode ser demasiado aberta para figurar num tipo penal. O termo generalizado abrange-ria o qu? Todo o pas? Todas as pesso-as presentes? Todo o mundo? E em que consistiria provocar ou infundir terror ou pnico?

    Um tipo penal de terrorismo ser sempre demasiado aberto por uma razo muito simples: considera-se terrorismo diver-

    1 XLIII - a lei considerar crimes inafianveis e insuscetveis de graa ou anistia a prtica da tortura, o trfico ilcito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evit-los, se omitirem; (BRASIL, 1988).

    Fbio de Macedo Soares Pires Condeixa

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 31

    no da pena e do regime de seu cum-primento.

    Condutas tpicas so cometidas; o terro-rismo no cometido. O que se comete so atos como leso corporal, homicdio, exploso, uso de gs txico ou asfixiante, todas essas condutas descritas no CP. E, na verdade, a preocupao maior deve recair sobre essas condutas e no so-bre as intenes. Pela redao do dis-positivo, o ato de provocar ou infundir terror ou pnico sobressai-se em relao prpria ofensa integridade fsica ou privao da liberdade da pessoa. A ob-jetividade jurdica a ser protegida parece ser a paz pblica, e no as pessoas, em si. Assim, se fssemos incluir esse dispo-sitivo no CP, ele entraria no Ttulo IX da Parte Especial.

    Diante disso, de se questionar: o tipo penal do art. 2 do PLS n 762 absorveria os tipos relativos ofensa integridade fsica e liberdade da pessoa? Em outras palavras, num ato terrorista com emprego de explosivos que tirasse a vida de vrias pessoas, o agente responderia pelo tipo previsto no art. 2 do PLS n 762 em concurso com o crime de homicdio? Ou restaria este absorvido por aquele, uma vez que o pargrafo primeiro do art. 2 prev a pena de recluso de 24 a 30 anos para o caso de morte? Parece-nos perfeitamente defensvel a aplicao do princpio da consuno nessa hiptese, uma vez que os homicdios seriam cri-mes-meio para a prtica de provocar ou infundir terror ou pnico.

    Essa soluo, muito provvel de ocorrer, pode beneficiar a prtica do terrorismo, em vez de combat-la, como pretende o PLS n 762. A imputao nos crimes de

    homicdio qualificado em concurso pode resultar em pena maior do que a mera aplicao daquela estabelecida no art. 2 do projeto.

    3 Modelo alternativo de definio legal

    Desse modo, o melhor seria que o PLS n 762 fosse alterado para que se abs-tivesse de tentar tipificar o terrorismo, tratando-o como circunstncia judicial ou elementar heterotpica de tipos penais e agravando a pena do eventual delito, alm de aplicar o regime da Lei n 8.072. Esse modelo o adotado por Portugal, que, em sua Lei n 52/2003, disps o seguinte:

    Artigo 2

    Organizaes terroristas

    1 - Considera-se grupo, organizao ou associao terrorista todo o agrupamento de duas ou mais pessoas que, actuando concertadamente, visem prejudicar a inte-gridade e a independncia nacionais, im-pedir, alterar ou subverter o funcionamen-to das instituies do Estado previstas na Constituio, forar a autoridade pblica a praticar um acto, a abster-se de o prati-car ou a tolerar que se pratique, ou ainda intimidar certas pessoas, grupos de pes-soas ou a populao em geral, mediante:

    a) Crime contra a vida, a integridade fsi-ca ou a liberdade das pessoas;

    b) Crime contra a segurana dos trans-portes e das comunicaes, incluindo as informticas, telegrficas, telefnicas, de rdio ou de televiso;

    c) Crime de produo dolosa de perigo comum, atravs de incndio, exploso, li-bertao de substncias radioactivas ou de gases txicos ou asfixiantes, de inundao ou avalancha, desmoronamento de cons-truo, contaminao de alimentos e guas destinadas a consumo humano ou difuso de doena, praga, planta ou animal nocivos;

    Consideraes sobre o Projeto de Lei relativo a crimes de terrorismo

  • 32 Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013

    d) Actos que destruam ou que impossi-bilitem o funcionamento ou desviem dos seus fins normais, definitiva ou tempora-riamente, total ou parcialmente, meios ou vias de comunicao, instalaes de ser-vios pblicos ou destinadas ao abasteci-mento e satisfao de necessidades vitais da populao;

    e) Investigao e desenvolvimento de ar-mas biolgicas ou qumicas;

    f) Crimes que impliquem o emprego de energia nuclear, armas de fogo, biolgi-cas ou qumicas, substncias ou enge-nhos explosivos, meios incendirios de qualquer natureza, encomendas ou car-tas armadilhadas; sempre que, pela sua natureza ou pelo contexto em que so cometidos, estes crimes sejam suscept-veis de afectar gravemente o Estado ou a populao que se visa intimidar.

    2 - Quem promover ou fundar grupo, organizao ou associao terrorista, a eles aderir ou os apoiar, nomeadamente atravs do fornecimento de informaes ou meios materiais, punido com pena de priso de 8 a 15 anos.

    3 - Quem chefiar ou dirigir grupo, orga-nizao ou associao terrorista punido com pena de priso de 15 a 20 anos.

    4 - Quem praticar actos preparatrios da constituio de grupo, organizao ou associao terrorista punido com pena de priso de 1 a 8 anos.

    5 - A pena pode ser especialmente ate-nuada ou no ter lugar a punio se o agente abandonar voluntariamente a sua actividade, afastar ou fizer dimi-nuir consideravelmente o perigo por ela provocado ou auxiliar concretamente na recolha das provas decisivas para a identificao ou a captura de outros responsveis.

    Artigo 4

    Terrorismo

    1 - Quem praticar os factos previstos no n 1 do artigo 2, com a inteno nele referida, punido com pena de priso de 2 a 10 anos, ou com a pena corres-pondente ao crime praticado, agravada de um tero nos seus limites mnimo e mximo, se for igual ou superior quela, no podendo a pena aplicada exceder o limite referido no n 2 do artigo 41 do Cdigo Penal.

    2 - Quem praticar crime de furto qualifi-cado, roubo, extorso, burla informtica e nas comunicaes, falsidade informti-ca, ou falsificao de documento admi-nistrativo com vista ao cometimento dos factos previstos no n 1 do artigo 2 punido com a pena correspondente ao crime praticado, agravada de um tero nos seus limites mnimo e mximo. (POR-TUGAL, 2003).

    Talvez a tcnica legislativa adotada pela legislao portuguesa no seja a mais adequada, porquanto demasiado extensa e redundante, mas a idia de agravar a pena de delitos existentes afigura-se-nos a alternativa mais apropriada.

    4 Consideraes sobre outros pontos do projeto

    Quanto ao art. 5, pargrafo nico2, entendemo-no despiciendo, porquanto j consta na Lei n 8.072 a aplicao do regime de crimes hediondos ao terroris-mo. O mesmo ocorre em dispositivo no mencionado pelo projeto constante no art. 83 do Cdigo Penal, com a redao dada pela Lei n 8.072. Igualmente des-piciendo seria o art. 6 do projeto3, pelas mesmas razes.

    2 Pargrafo nico. Quanto progresso de regime, observar-se- o disposto no 2 do art. 2 da Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990.

    3 Art. 6 Os crimes previstos nos arts. 2 e 4 desta Lei so inafianveis e insuscetveis de graa, anistia, indulto ou fiana.

    Fbio de Macedo Soares Pires Condeixa

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 33

    O art. 7 do PLS n 7624, alm de repetir a disposio de seu art. 1, tambm padece claramente de vcio de inconstitucionalida-de, porquanto trata de matria reservada Constituio. Ao dispor que os crimes de terrorismo enquadrar-se-iam na hip-tese do art. 109, IV, da CF, o projeto est tentando de certa forma usurpar a tarefa do Poder Judicirio de subsumir os casos concretos s hipteses legais, esgarando, assim, o sentido do referido dispositivo constitucional. Em outras palavras, a com-petncia da Justia Federal matria de re-serva constitucional; aferir que casos se en-quadram nela tarefa do Poder Judicirio.

    Embora na justificao do projeto se lamente a suposta ausncia de regula-mentao do inciso XLIV, do art. 5, da CF5, o que o PLS 762 faz justamente subtrair-lhe a eficcia. O projeto prope a revogao da Lei de Segurana Nacional (LSN) Lei Federal n 7.170 (BRASIL, 1983) , e somente prev o delito de terrorismo para os casos em que haja ofensa pessoa. Dessa forma, a revoga-o da LSN faz com que fique desampara-da uma gama de hipteses de delitos con-tra a ordem constitucional e democrtica que poderiam ser objeto da incidncia do referido dispositivo constitucional.

    A LSN no dispe apenas sobre terro-rismo; ela a regulamentao mesma do art. 5, XLIV, da CF! Ao trocarmos uma lei por outra, estaramos cobrindo a ca-bea e descobrindo os ps. A LSN prev hipteses de espionagem contra a ordem democrtica, o que no tem nada a ver com terrorismo. Uma lei de terrorismo teria amparo no inciso XLIII, do art. 5,

    da CF, e no no XLIV. No h, pois, que confundir situaes distintas.

    Embora a LSN tenha sido promulgada em perodo de exceo, de modo geral, suas disposies no so reputadas como absurdas pela comunidade jurdica, e, no que for, estar sujeita ao controle de cons-titucionalidade a ser exercido pelo Poder Judicirio6. Entendemos at conveniente a alterao e modernizao da LSN, mas no a sua revogao e substituio por lei versando sobre outro assunto.

    bom salientarmos que a imprescritibili-dade s prevista, alm do racismo, para aes criminosas de grupos armados con-tra a ordem constitucional ou democrti-ca. O constituinte no quis impor tal gra-vame ao terrorismo, ao qual imps apenas a vedao de fiana, anistia e graa (ao que a lei acresce o indulto). Isso s refora a distino entre os crimes de terrorismo e os crimes contra a segurana nacional.

    5 Consideraes finais

    Diante do exposto, propomos que o PLS n 762 seja alterado, no sentido de:

    1) Abster-se de revogar a Lei Federal n 7.170, de 14 de dezembro de 1983;

    2) Tratar o terrorismo como circunstn-cia judicial ou elementar heterotpica de um conjunto de tipos penais (cri-mes contra a incolumidade pblica, contra a pessoa, contra o patrimnio, etc.), somente agravando a pena; e

    3) Suprimir as disposies atinentes competncia da Justia Federal, ins-culpidas nos arts. 1 e 7 do projeto.

    4 Art. 7 Para todos os efeitos legais, considera-se que os crimes previstos nesta Lei so praticados contra o interesse da Unio, cabendo Justia Federal o seu processamento e julgamento, nos termos do art. 109, IV, da Constituio Federal.

    5 XLIV - constitui crime inafianvel e imprescritvel a ao de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrtico.

    6 O Supremo Tribunal Federal j teve oportunidade de declarar inconstitucional seu art. 30, o qual determinava que a competncia para julgamento dos crimes previstos nela recasse sobre a Justia Militar. A Corte entendeu que o art. 109, IV, da CF, derrogara o dispositivo (Recurso Criminal 1468).

    Consideraes sobre o Projeto de Lei relativo a crimes de terrorismo

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    Referncias

    BRASIL. Cdigo penal (1984). Disponvel em: .

    BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988. Disponvel em: .

    BRASIL. Lei n 7.170, de 14 de dezembro de 1983. Define os crimes contra a segurana nacional, a ordem poltica e social, estabelece seu processo e julgamento e d outras providncias. Disponvel em: . Acesso em: 15 abr. 2013

    BRASIL. Lei n 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispe sobre os crimes hediondos, nos termos do ar-tigo 5, inciso XLIII, da Constituio Federal, e determina outras providncias. Disponvel em: . Acesso em: 15 abr. 2013

    BRASIL. Lei n 10.744, de 9 de outubro de 2003. Dispe sobre a assuno, pela Unio, de responsa-bilidades civis perante terceiros no caso de atentados terroristas, atos de guerra ou eventos correlatos de aeronaves de matrcula brasileira operadas por empresas brasileiras de transporte areo pblico, excludas as empresas de taxi areo. Disponvel em: . Acesso em: 15 abr. 2013

    BRASIL. Senado Federal. Projeto de lei do Senado n 762/2011. Apresenta tipos penais para a figura do terrorismo, da incitao ao terrorismo, para a formao de grupo terrorista e tambm para o financia-mento ao terrorismo. Reforma do Cdigo Penal. Disponvel em: . Acesso em: 12 abr. 2013.

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    BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Extradio n 855/Chile. Relator Ministro Celso de Mello, julgamen-to em 26/08/2004. Disponvel em:. Acesso em: 12 abr. 2013.

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    GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal. 15. ed. Niteri: Impetus, 2013. v. 1: Parte Geral.

    PORTUGAL. Lei n 52, de 22 de agosto de 2003. Lei de combate ao terrorismo (em cumprimento da Deciso Quadro n 2002/475/JAI, DO Conselho, de 13 de junho) Dcima segunda alterao ao Cdigo de Processo Penal e dcima quarta alterao ao Cdigo Penal. Dirio da Repblica I srie A, Lisboa, PT, 22 ago. 2003. Disponvel em: . Acesso em: 15 abr. 2013

    Fbio de Macedo Soares Pires Condeixa

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    A PROLIFERAO DE ARMAS DE DESTRUIO EM MASSA E A ATIVIDADE DE INTELIGNCIA

    Eduardo Mssnich Barreto*

    Resumo

    O Brasil signatrio de diversos tratados e acordos internacionais sobre no proliferao de Armas de Destruio em Massa e seus vetores (ADMV) nas reas qumica, nuclear, biolgica e missilstica. Seu crescimento industrial e cientfico empresta maior relevncia ao tema, uma vez que milhares de empresas e instituies de pesquisa brasileiras produzem e desenvolvem equi-pamentos e materiais que tm sua exportao controlada por aqueles tratados. A Abin atua na rea de no proliferao h mais de uma dcada, buscando identificar, antecipar e neutralizar tentativas de aquisies ou transferncias ilcitas de bens e tecnologias sensveis no Pas.

    Introduo

    Pode-se entender arma de destruio em massa (ADM)1 como o dispositivo capaz de promover danos intencionais em grande escala, a exemplo de armas nucle-ares, qumicas e biolgicas ou toxnicas. Msseis e veculos areos no tripulados, tambm denominados vetores, com ca-pacidade de transportar ADM, no so assim considerados, embora despertem idnticas preocupaes do ponto de vista da segurana internacional.

    Os Estados nacionais encontram, nesse tipo de armamento, os seguintes atrati-vos: o relativamente baixo custo frente a uma corrida armamentista convencional;

    a expressiva capacidade dissuasria, que desestimula agresses e acresce a expec-tativa de segurana; e a maior projeo de poder poltico e econmico. Atores no-estatais, como organizaes terro-ristas, tambm consideram o emprego de tais armas. Apesar da existncia des-ses interesses, a proliferao de ADM tem sido contida, em boa parte, graas atuao eficaz dos mecanismos mais adiante relatados.

    Algumas outras definies so igual-mente importantes para a melhor com-preenso do tema. Denominam-se bens sensveis os equipamentos, materiais ou

    *TecnologistaSnior,engenheiroeltricoePhDemengenharianuclear,coordenouaanlisedetecnologiassensveisedesarmamento,naAbin.

    1 DefiniodaONU(1948):Armasexplosivasatmicas;armascommateriaisradioativos;cer-tasarmasqumicasebiolgicasletais;quaisquerarmasdesenvolvidasnofuturocomefeitosdestrutivossimilares;quaisquerarmasdesenvolvidas,nofuturo,comefeitodestrutivocompa-rvelqueledabombaatmicaoudeoutrasarmasmencionadasacima.

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    substncias passveis de utilizao em programas de desenvolvimento e fabri-cao de ADM e seus vetores (ADMV). Nos tratados internacionais de que o Brasil faz parte, quase 2 mil itens so oficialmente identificados como bens sensveis. Muitos deles so, entretanto, utilizados pela indstria sem o propsito blico, servindo a propsitos diversos da fabricao de armas, sendo, por isso, chamados de bens de uso dual. Tais bens tm, portanto, uso duplo: civil e militar.

    Um exemplo de bem de uso dual so os acelermetros includos em aparelhos celulares e que permitem identificar seu movimento ou rotao, para determinar a melhor orientao da tela se vertical ou horizontal. Esses mesmos dispositi-vos podem ser tambm usados em sis-temas de guiagem de msseis, e por isso tm sua exportao controlada e pas-svel de acompanhamento por servios de Inteligncia.

    As tecnologias que fundamentam a pro-duo de bens sensveis so, por sua vez, denominadas tecnologias sensveis.

    Os avanos tecnolgicos das ltimas d-cadas, tais como a Internet e as tecnolo-gias de informao e comunicaes tm permitido crescentes facilidades na ob-teno do conhecimento em tecnologias sensveis.

    A ameaa segurana internacional re-presentada pelas ADMV tem sido geral-mente acompanhada de desequilbrios polticos, tecnolgicos e econmicos, com reflexos militares: a ocupao do Iraque em 2003, por exemplo, teve como pano de fundo a suposta posse de armas nucleares por aquele pas; a des-truio, por ataque israelense, de usinas nucleares em construo no Iraque e na Sria foi motivada por receios similares; da mesma forma, as atuais presses so-bre o Ir dizem respeito suspeio de que seu programa nuclear objetive o desenvolvimento de ADMV. A essa lista, adicione-se o declarado desenvol-vimento de msseis e de armas nuclea-res pela Coria do Norte e a permanen-te busca por ADMV empreendida por atores no estatais.

    Imagem1Umbemdeusodual,ocentelhadoresquerda,com4cmdealtura,utilizadotantoemoscilos-cpioscomunsdelaboratriocomoemsistemasdedisparodearmasnucleares.direita,umabombacomdiversoscentelhadoresinstalados.Poressemotivo,evisandoaocumprimentodostratadosinternacionais,aexportaodecentelhadoresacompanhadaporserviosdeInteligncia.

    Eduardo Mssnich Barreto

  • Revista Brasileira de Inteligncia. Braslia: Abin, n. 8, set. 2013 37

    Assim, a frequncia desses pases no no-ticirio no reflete meras coincidncias, mas a complexidade do sistema inter-nacional de interesses geopolticos que lhes