revista brasil paraolímpico n° 17

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julho/agosto 2005 n17 www.cpb.org.br Conheça todo o percurso do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação LONGO CIRCUITO CIRCUITO LONGO Brasil é o melhor das Américas no tênis de mesa Governo Federal lança programa Bolsa-Atleta Estréia da seção de humor com Maurício de Sousa e Cícero Lopes

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Edição número 17 da revista oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB.

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Page 1: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

ju lho/agosto 2005n17

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Conheça todo o percurso do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação

L O N G O C I R C U I T O C I R C U I T O

L O N G O

Brasil é o melhor das Américas no tênis de mesa

Governo Federal lança programa Bolsa-Atleta

Estréia da seção de humor com Maurício de Sousa e Cícero Lopes

Page 2: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

CIRCUITOLOTERIAS CAIXA

BRASILPARAOLÍMPICOATLETISMO E NATAÇÃO

1ª Etapa - Belo Horizonte2ª Etapa - Recife3ª Etapa - Rio de Janeiro4ª Etapa - Fortaleza5ª Etapa - Porto Alegre6ª Etapa - São Paulo

Page 3: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

E S P E C I A L C I R C U I T O

LOTERIAS CAIXA BRASILPARAOLÍMPICO DE ATLETISMO E NATAÇÃO

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletis-mo e Natação. Um dos maiores sonhos da comunidade paraolímpica brasileira tornou-se realidade: uma com-petição em etapas, com calendário fixo, premiação em dinheiro e alto nível de organização. Depois das primeiras trêsetapas, em Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro, podemos nos orgulhar ao constatar a satisfação de atletas, técnicos e clubes com a competição. O Circuito Loterias Caixa vai evoluir. Sempre se pode melhorar. Dessa primeira temporada, tiraremos grandes lições para incrementar o Circuito para os próximos anos.

Claro que esse sucesso só poderia ser atingido com o apoio de umparceiro sólido. As Loterias Caixa vieram para ficar no esporte paraolímpico e o Circuito que leva o nome de nos-so patrocinador marca uma nova era do nosso segmento. Uma era em que nossas competições estão no foco da mí-dia, nossos atletas são reconhecidos e nossos eventos sãoorganizados com profissionalismo. Temos que ter a sabedoria para aproveitar essas conquistas e fazer com que não sejam apenas um novo momento, mas uma nova realidade.

É curioso como a revista Brasil Paraolímpico sempre acompanha as transformações do CPB e do movimento paraolímpico.

Em 1997, quando foi lançada, a reportagem de capa retratava a conquista da primeira sede própria do CPB, que, ainda que fosse um pequeno sobrado alugado, já mar-cava uma mudança importante em nossa trajetória. Em 2002, quando a revista foi relançada, a reportagem de capa mostrava a nova sede do CPB, já em Brasília. Mais importante, uma sede própria, com a estrutura adequada. À altura de ser o centro de-cisório do esporte paraolímpico brasileiro.

Observe a revista que está em suas mãos. A Brasil Paraolímpico também renasce, acompanhando, como sempre, as transfor-mações do universo paraolímpico brasileiro. Apenas um sinal de mudança na comunicação do CPB. Afinal, para registrar a evolução dos atletas e de nosso movimento, é preciso investimento. Quem acompanha o mundo da mídia esportiva vai perceber que nossa presença será cada vez maior nos veículos de comunicação e essa nova Brasil Paraolímpico é apenas um sinal dessa mudança.

Seja bem-vinda, mais uma vez, Loterias Caixa.Seja bem-vindo Circuito Brasil Paraolímpico. Que os novos tempos sejam duradouros.

Vital Severino NetoPresidente do CPB

NO PÓDIOOdair Ferreira dos Santos

HUMOR

CULTURAAs lentes do fotógrafo Mike Ronchi

ESPECIALIII Parapan-americano de tênis de mesa

020506

NOTÍCIAS Campeonato brasileiro de adestramento paraolímpico O super fôlego de Rivaldo Martins Governo lança bolsa-atleta

NO PÓDIOEdênia Garcia

CAPACircuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação

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ATLETISMO E NATAÇÃO

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NO PÓDIOAndré Brasil

CURIOSIDADES

ADRENALINAEsportes de aventura

NO PÓDIORoseane dos Santos

OPINIÃOAgnelo Queiroz

323538

4246

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..............No pódio

MUNDIALRECORDECAÇA DO

O título veio durante o Troféu Brasil de Atletismo, quando conquis-tou o oitavo lugar geral da prova. Uma colocação nada modesta para Odair, único atleta com deficiência a correr os 1.500m. “Estou feliz até agora com essa conquista. A minha intenção é estar entre os cinco melhores no próximo ano”, afirma orgulhoso. Além disso, com o tempo de 3min54s87, Odair chegou muito perto do recorde mun-dial da categoria T12 (baixa visão), de 3min51s09, que pertence ao tunisiano Maher Bouallegue.

O atleta vê com otimismo a atual fase da carreira, que iniciou quan-do tinha apenas dez anos, a convite do tio Valdivino Ferreira, corre-dor profissional. “Foi paixão à primeira vista. Meu primeiro troféu veio em uma prova de três mil metros, quando eu tinha 12 anos. Não parei mais dali para frente”, relembra. Até então, Odair ainda não havia ingressado no esporte paraolímpico - a retinose pigmentar hereditária começou a se manifestar quando tinha oito anos e foi se agravando ao longo da adolescência.

Na realidade, o esporte quase perdeu este ídolo brasileiro, quando ele tinha 17 anos. “Comecei a trabalhar em uma firma de embalagens para poder ajudar em casa e não tinha mais tempo para o atletismo”, explica. O retorno às pistas foi apenas aos 22 anos, pouco tempo de-pois de Odair começar a aprender o sistema braille em uma escola onde havia também a prática esportiva. Com apenas três meses de treinamento, ao competir em um regional de Santa Catarina, vieram as primeiras de uma série de medalhas: ouro nos 800m, 1500m e 5000m, provas nas quais é especialista.

O paulista Odair Ferreira dos Santos, 24 anos, revela na voz

a determinação e a garra que o fazem estar hoje entre os dez

melhores corredores do Brasil nos 1.500 metros rasos.

à

Depois disso, ninguém mais conseguiu tirar Odair do atletismo. No Parapan-americano de Mar del Plata, Argentina, em 2003, foram mais três ouros nas provas preferidas de Odair. Em Atenas, nos Jogos Paraolímpicos, o paulista conseguiu as principais vitórias da sua vida: a prata nos 1.500m e nos 5.000m e o bronze nos 800m. “Tudo o que vivi na Gré-cia foi um sonho, ainda não acordei. Às vezes, paro e fico pensando se é verdade mesmo”, conta. Odair relembra aos risos o longo vôo até Atenas, sua segunda viagem internacional, que durou quase quinze horas: “Na época, deu um medo danado – não sabia se eu dormia, se fica-va acordado ou andava pelo corredor. A gente não che-gava nunca!”.

Por Patrícia OsandónFotos Mike Ronchi

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“Tudo o que vivi na Grécia foi

um sonho, ainda não acordei.

Às vezes, paro e fico pensando

se é verdade mesmo”.

“Foi paixão à primeira vista. Meu primeiro troféu veio em uma prova de três mil metros, quando eu tinha 12 anos. Não parei mais dali pra frente”. Odair trava uma batalha diária consigo mesmo pela buscade um recorde mundial. Nas três primeiras etapas do Circuito Loterias CaixaBrasil Paraolímpico de Atletismo e Natação, em Belo Horizonte, Recife e Rio de Janeiro, chegou muito perto novamente da marca, assim como no Troféu Brasil, só que dessa vez nos 800m. Em Minas, fechou a prova com 1min55s01 – o recorde é de 1mins53s12, do espanhol Abel Ávila-Rodriguez. Já em Per-nambuco terminou com 1min56s55 e no Rio com 1min55s88. “Entrar numa prova e não dar o melhor de si é estar sacrificando o seu talento. O recorde é só uma questão de tempo, para isso é preciso treinar muito”, acredita.

Os grandes ídolos de Odair são Deus e sua mãe, dona Maria Emília. “Meu sonho é terminar de construir a casa dela e dizer ‘mãe, essa casa é sua. Eu sofri tanto, batalhei demais, mas consegui’. Acho que tudo o que faço não teria sentido se não fosse ela”, conta. Mas quem não vive mesmo sem Odair é Maria Emília. “Meu filho é tudo pra mim. Ele é uma pessoa incrível, sonhadora e batalhadora. Digo ao Odair que sempre vou estar rezando pela carreira dele, para que ele con-quiste muitas medalhas, esteja onde eu estiver”, diz Maria. Oração que Odair agradece: “Fico orgulhoso em saber que toda a família torce pra mim. É mais um incentivo para, quem sabe, conquistar o ouro tão sonhado na Paraolimpíada de Pequim, em 2008”.

“Meu sonho é terminar deconstruir a casa dela e dizer

‘mãe, essa casa é sua. Eusofri tanto, batalhei demais,

mas consegui’”.

Page 7: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

Humor

05Cari

O desenhista Maurício de Sousa estréia a seção humor da revista Brasil Paraolímpico com uma divertida história de Luca, personagem da Turma da Mônica. Criado em dezembro de 2004, Luca é um menino que anda em cadeira de rodas e adora praticar esportes, principalmente o basquete-bol. Maurício de Sousa, que gentilmente desenhou em 2004 uma das capas da Brasil Paraolímpi-co, antes do glorioso desempenho da equipe brasileira nos Jogos de Atenas, prontificou-se de pri-meira a contar novas histórias de Luca para os leitores da revista. Luca é o segundo personagem com deficiência a entrar para a Turma da Mônica – o primeiro foi Dorinha, uma garota cega.

A Brasil Paraolímpico tam-

bém convidou o caricaturista

Cícero Lopes para home-

nagear os quatro atletas per-

filados d e s t a e d i ç ã o . Vo c ê

o s r e c o n heceu? Veja mais

sobre a vida de Odair Ferreira

dos Santos (atletismo), Edênia

Garcia (natação), André Brasil

(natação) e Roseane Ferreira

dos Santos, a Rosinha (atletis-

mo), nas páginas 2 a 4, 19 a

21, 32 a 34 e 42 a 45, respec-

tivamente.

Turma da Mônica

caturas

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Uma experiência fantástica. É assim que Mike Ronchi, 41 anos, descreve a cober-tura fotográfica dos Jogos Paraolímpicos de Atenas, em setembro de 2004. Com uma personalidade irreverente e comunicativa, Mike conquista facilmente todos os que es-tão ao seu redor. E, com isso, conquistou tam-bém o movimento paraolímpico.

Italiano, veio para terras brasileiras há cinco anos, após apaixonar-se pela atual esposa e grande companheira, a em-presária Andrea Corbucci. “Ela foi para a Itália para aprender o italiano, mas acabou mesmo foi apreendendo um italiano”, brinca. Hoje, após a adaptação à nova Pátria, define-se um adorador do povo e da cultura brasileira.

Engenheiro por formação, trabalhou durante 17 anos em grandes produtoras de vídeo na área de pós-produção, o que lhe trouxe um contanto constante com a composição e o enquadramento de imagens. Dali para a fotografia foi apenas uma questão de tempo, atividade que faz parte do seu dia-a-dia há 12 anos. Começou fotografando o fundo do mar, já que também atuou como instrutor de mergulho.

Por trás da lenteEm entrevista, o fotógrafo Mike Ronchi revela a emoção de cobrir os Jogos Paraolímpicos de Atenas

Cultura

Por Patrícia OsandónFotos Mike Ronchi

Fotógrafo Mike Ronchi, mago das imagens da Paraolimpíada de Atenas.

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Page 9: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

Mas foi pelo esporte paraolímpico que Mike realmente se apaixonou. Da co-bertura da Paraolimpíada, trouxe para o Brasil um acervo de mais de 6 mil fotografias. Junto com as Loterias Caixa, o fotógrafo lançou recentemente o livro Paraolímpicos – Os Deuses de Atenas 2004, que reúne as melhores imagens das coberturas dos Jogos, com textos do jornalista Sérgio Siqueira.

Nesta entrevista exclusiva à revista Brasil Paraolímpico, Mike conta um pouco sobre o seu trabalho.

BP Qual a sensação de cobrir um evento tão importante como os Jogos Paraolímpi-cos de Atenas?

MR Foi uma experiência profissional única e fantástica. Acho que se os Jogos fossem realizados a cada dois meses eu os fotografaria da mesma forma e com a mesma empolgação. A cobertura de uma Olimpíada ou Paraolimpíada é o ponto alto da carreira de um fotógrafo esportivo, assim como é para qualquer atleta - nunca tive uma oportunidade tão rica. Fotografar o esporte paraolímpico me trouxe uma satisfação de maravilha diante do que eu estava vendo, de superação, garra e exemplo. É uma verdadeira escola de vida. Às vezes, chego a pensar em reclamar de algumas coisas da vida, mas daí penso em tudo o que aprendi na Paraolimpíada e digo: “O que é isso? Bola pra frente!”.

Disputa acirrada entre brasileiros e britânicos no basquete em cadeira de rodas

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BP Como surgiu a idéia de produzir Paraolímpicos – Os Deuses de Atenas 2004?

MR Cheguei ao Brasil com cerca de 6.000 fotografias, entre elas mais de duas mil em ótima qualidade. Uma quantidade de imagens gigantesca. A idéia era fazer uma exposição itinerante ou produzir um livro. Em uma reunião com o Paulo Toncovitch (gerente de produtos das Loterias Caixa) e com outras pessoas da equipe decidimos fazer o livro, algo que ficaria para sempre na história. E acertamos em cheio. Criamos uma obra-prima sem querer.

BP Especifi camente quanto à rotina de trabalho, quais as difi culdades na cobertura das competições?MR O fotógrafo esportivo precisa ficar ligado em tudo o que está acontecendo, até porque, às vezes, várias competições estão ocorrendo ao mesmo tempo. Em uma Paraolimpíada, isso é ainda mais complicado por causa da rigidez das regras, especialmente quanto às áreas as quais não temos acesso. Além disso, os profis-sionais de comunicação tiveram que ser verdadeiros atletas para dar conta de tudo. Devo ter corrido vários quilômetros por dia durante os Jogos.

BP Qual a história mais engraçada que você viveu em Atenas?MR Houve um dia em que cheguei uns quarenta minutos atrasado para cobrir o halterofilismo, muito longe de todos os outros locais de competição. Como os horários são bastante controlados, só fui conseguir uma credencial especial para en-trar com um fotógrafo que estava saindo justamente na hora em que o brasileiro, João Euzébio, preparava-se para a prova. De mansinho, fui chegando perto do nosso halterofilista, algo perigoso por causa do risco do peso cair para trás, mas eu não sabia disso. Só fui saber dessa área proibida quando um fiscal dos Jogos chegou gritando comigo em inglês, reclamando que eu não poderia ficar ali. Eu respondia em português e em italiano, como se não entendesse nada. De tanto eu não o ouvir, ele foi embora e fiquei lá feliz da vida tirando as fotos. No final, o cara estava me esperando para brigar comigo, quis arrancar o meu crachá e me ameaçou caso eu voltasse a fazer isso. O fotógrafo faz tudo pela melhor foto.

BP Quanto aos momentos emocionantes, quais os que mais te tocaram?MR Lembro-me até hoje do Ozivan Bonfim, depois de conquistar o bronze nos 5.000m rasos, segurando a bandeira feliz e cor-rendo pra gente. O rosto dele de felicidade foi incrível. Também me recordo do rosto da Edênia Garcia após ganhar a prata nos 50m costas ou então do Clodoaldo Silva depois de ganhar o pri-meiro ouro, nos 100m livre. Um dos momentos que mais me emo-cionaram foi o último jogo de basquetebol em cadeira de rodas, contra a Grã-Bretanha, que os brasileiros perderam. Depois da partida, o jogador Írio Nunes chorava muito e eu não sabia o que fazer ou dizer. Fiquei na torcida por cada um deles e momentos como esse me marcaram muito.

Na Paraolimpíada, a rivalidade entre Brasil e Argentina também se confirma

Moisés Vicente agradece aos céus após a prova. Logo abaixo, o colega de equipe Ozivan Bonfim.

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“Os profissionais de comunicação tiveram que ser verdadeiros atletas para dar conta de tudo.

Devo ter corrido vários quilômetros por dia durante os jogos”.

BP Como é conviver tão perto dos deuses paraolímpicos?

MR Antes eu era como todo mundo, não acreditava que estava perto deles. Hoje em dia, conheço cada um dos nossos deuses paraolímpicos, assim como eles também começaram a conhecer o meu trabalho. Fiz grandes amigos no esporte paraolímpico. É incrível, por exemplo, um atleta como o Clodoaldo Silva, um ídolo do esporte paraolímpico nacional – ele mantém a humildade mesmo com todas as medalhas que ganhou na Grécia. E é fantástico como muitos atletas batalham para con-tinuar vivendo do esporte, e fazem de tudo para ser atletas, simplesmente porque adoram esporte. Eu queria poder ajudar mais os atletas paraolímpicos brasileiros, então faço o que eu sei e posso fazer, que é fotografar e mostrar o talento deles para todo mundo ver.

Noite de abertura dos Jogos Paraolímpicos de Atenas

Edênia Garcia prestes a conquistar a prata nos 50m nado costas

Moisés Vicente agradece aos céus após a prova. Logo abaixo, o colega de equipe Ozivan Bonfim.

Capa do livro Paraolímpicos – Os Deuses de Atenas

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Especial

Delegação brasileira conquista o primeirolugar geral do III Parapan-americanode Tênis de Mesa

NOALTO DO

PÓDIOO hino brasileiro foi a música mais ouvida durante o III Parapan-ameri-cano de Tênis de Mesa, realizado entre os dias 18 e 22 de julho, em Mar Del Plata, Argentina. Afinal, a delegação verde-amarela retornou ao País com 11 ouros, 6 pratas e 10 bronzes, 27 medalhas no total, e em primeiro lugar geral. Assim, inverteu com honra o cenário das duas pri-meiras edições do Parapan, em Brasília, no ano 2003, e em Buenos Aires, em 2001, quando o México sagrou-se campeão e o Brasil ficou em segundo e quar-to lugares, respectivamente. Estados Unidos e Argentina, fortes concor-rentes na modalidade, ficaram na terceira e quarta colocação neste ano.

Equipe unida, ambiente tranqüilo e muita responsabilidade. Para Sér-gio Gatto, representante do Comitê Paraolímpico Brasileiro em Mar del Plata, essa foi a estratégia usada na Argentina. “Terminar em primeiro lugar num Parapan-americano é uma grande conquista para o Brasil. Os concorrentes dos outros países, cada vez mais, sabem que vão enfrentar uma batalha dura sempre que um brasileiro estiver competindo”, avisa Gatto, que também é vice-presidente financeiro do CPB. O Parapan-ameri-cano é a terceira competição mais importante do ranking internacional do tênis de mesa – as outras são os Mundiais e os Jogos Paraolímpicos.

Dez brasileiros garantiram vagas para o Mundial de Tênis de Mesa Paraolímpico, que ocorrerá na Suíça, em 2006, a partir dos bons resulta-dos conquistados no Parapan-americano: os brasilienses Cristovam Jaques e Iranildo Conceição, os paulistas Ivanildo Freitas e Edimilson Pinheiro, o rondoniense João Fernando Nascimento, o Totó, os paranaenses Luiz Algacir e Welder Knaff, o potiguar Ecildo Lopes e o mineiro Carlo di Franco Michell.

Por Patrícia OsandónFotos Elton Shiraishi

Cristovam Jaques em pose patriota.

Luiz Algacir em ação.

Única atleta mulher a garantir vaga até o momento para o mundial na Suíça, em 2006, Carolina Maldonado é só alegria.

Jane Carla saca contra sua companheira de delegação, Carolina Maldonado.

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“O mais importante é você amar oque faz. E eu amo o que faço e vou

carregar o nome do Brasil com orgulho para onde for. A gente nunca chega ao auge da nossa carreira, sempre há um

lugar mais alto a alcançar”.Luiz Algacir

A única mulher com vaga garantida por enquanto é a paulista Carolina Maldonado. “É uma glória saber que estou classificada para um mundial, onde com-petirei com os melhores mesatenistas do mundo. Tenho a certeza que será um grande desafio, por isso é preciso treinar mais forte ainda”, diz Carolina.

Segundo o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa Adaptado (CBTMA), Roberto Alves, o Brasil deve conquistar novas vagas para o Mundial até o fim do ano por ranqueamento internacional. Para Roberto, os investimentos na modalidade nos últimos anos foram importantes para os resultados positivos alcançados na competição. “Nesse Parapan, mesmo em território estrangeiro, nós conquistamos 11 ouros, superando todas as expectativas. Isso é resultado de um trabalho forte realizado no Brasil. Hoje em dia, quando o assunto é tênis de mesa, somos respeitados como uma grande potência paraolímpica”, explica.

Jeitinho brasileiro conquista os estrangeiros

Técnica e brasilidade. Foram esses alguns dos itens da receita de sucesso para que Luiz Algacir, um dos melhores mesatenistas do mundo na classe 3, con-quistasse o ouro individual e por equipe no Para-pan-americano. O brasileiro explica de forma serena o segredo das suas medalhas. “O mais importante é você amar o que faz. E eu amo o que faço e vou car-regar o nome do Brasil com orgulho para onde for. A gente nunca chega ao auge da nossa carreira, sem-pre há um lugar mais alto a alcançar”, diz Luiz.

Outro brasileiro que deu trabalho para os concorrentes no Parapan foi Iranildo Conceição Espíndola, da classe 2, que ganhou um apelido durante a competição: “rei do balão”. O nome veio por causa de uma jogada espe-cial característica de Iranildo, na qual a bola bate no lado da mesa do adversário com efeito e retorna “em forma de balão”, sem oferecer chance de rebate. “Fiquei lisonjeado com o apelido. Foi uma grande vitória, sem dúvida, pois consegui uma pontuação fundamental para a minha carreira nesse Parapan”, afirma o atleta, que conquistou um ouro individual e uma prata por equipe, além de uma vaga no Mundial. “Estou numa boa fase do meu trabalho. O Brasil está cada vez mais profissional e nós, atletas, estamos conscientes do nosso potencial. Esse será o segundo Mundial que vou participar – o primeiro foi o da China, em 2001 –, mas agora estamos vivendo outro cenário”, enfatiza.

“Nesse Parapan, mesmo em território estrangeiro, nós conquistamos 11 ouros, superando todas as expectativas. Isso é resultado de um trabalho forte realizado no Brasil”. Roberto Alves

Cenário da competição na Argentina.

Olho fixo na bola,Andreza Barroso destila

seu veneno no saque

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No tênis de mesa, os jogadores com deficiência física competem em dez classes. Da classe 1 até a classe 5 estão agrupados os cadeirantes. Da classe 6 até a 10 estão os mesatenistas an-dantes. A classe 11 é disputada pelos deficientes mentais. Segue-se a lógica de que quanto maior o número da classe, menor é o comprometimento físico do atleta.

OURO

115431000

PRATA

63481310

BRONZE

101331111

TOTAL

279

11143421

PAÍS

Brasil México EUAArgentinaCosta RicaCanadáChile Venezuela

Sentido horário:

Edimilson Pinheiro (abaixo do quadro de medalhas).

Alexandre Caldeira rebate bola espinhosa.

Luiz Medina concentra-sena bola.

Renata Benevides faz brevedemonstração de habilidades.

Claudiomiro Segatto (foto menor) dá a falsa impressão de que o jogoé fácil.

Lincoln Lacerda bate maisum argentino.

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NotíciasÉ, no mínimo, intrigante assistir à desen-voltura com que pessoas com deficiência conduzem cavalos a seu bel-prazer. Porém, o que para muitos pode representar um paradoxo – afinal, há alguns atletas com sérias restrições de movimentos, o que praticamente inviabilizaria o controle do animal –, revela-se uma evolução natural de um convívio sincero e intenso.

“Passei 16 anos sem montar após o aci-dente”, confessa Marcos Fernandes Alves, o Joca, que já era atleta do hipismo antes de cair do cavalo e ficar paraplégico.

NOCABRESTONOCABRESTO

Brasília sedia Campeonato Brasileirode Adestramento Paraolímpico

Por Leandro FerrazFotos Mike Ronchi e Leandro Ferraz

Marcos Fernandes Alves, o Joca, conduz a égua CPHG Relíquia Vidroeste com maestria.M

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Page 16: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

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“Tive que superar o medo para montar nova-mente, desta vez sem os movimentos da parte mais importante para controle do cavalo, que são as pernas e o tronco”, explica Joca durante um intervalo nas competições do 3º Campe-onato Brasileiro de Adestramento Paraolímpi-co, realizado na Sociedade Hípica de Brasília, de 28 a 30 de julho.

Organizado pela ConfederaçãoBrasileira de Hipismo (CBH), em parceria com o Comitê Paraolímpi-co Brasileiro (CPB), o evento re-uniu cerca de 30 atletas de Brasília, São Paulo e Minas Gerais. Joca, único representante nacional nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, confirmou seu favoritismo e con-quistou cinco ouros e uma prata, tornando-se o grande campeão do Brasileiro. Outros destaques foram Elisa Melaranci, jovem talento de apenas 16 anos, com três ouros, uma prata e um bronze; Davi Sala-zar Mesquita, com dois ouros, duas pratas e um bronze; Sérgio Fróes, dois ouros e duas pratas; e Dante Rodrigues, três ouros e um bronze.

A equipe de Brasília, composta por Marcos Alves, Sérgio Fróes, Davi Salazar e Elisa Melaranci, ficou em primeiro lugar no campeonato.

Categoria Children é a grande novidadeUma competição com regras mais flexíveis, sem classificações, para que as crianças possam iniciar a prática do adestramento dentro do campeonato brasileiro adulto. Assim, Andrew Parsons, secretário geral do CPB, de-fine a mais nova categoria Children do adestramento paraolímpico. “Nós do Comitê gostamos muito dessas provas porque dali pinçamos novos talentos e verificamos onde podemos investir. Neste campeonato são 14 competidores Children. Um ou outro vai acabar em um sul-americano, parapan-americano e, mesmo, em uma paraolimpíada”, declara confiante.

O primeiro passo rumo às previsões de Andrew foi dado por Marcela Gonçalves, 9 anos, campeã da categoria. Com os movimentos do lado direito de seu corpo comprometidos por um acidente vascu-lar cerebral, ela é enfática: “Quero com-petir até crescer”. Para Marcos Alves, o Joca, a competição cria dentro de cada um a vontade de se superar cada vez mais. “É bacana ver tantas crianças no adestramento. A maioria está saindo da equoterapia e seus próprios professores estão percebendo que elas têm condições de competir”, afirma.

O encerramento do campeonato contou com a presença do ministro do esporte, Agnelo Queiroz, e do presidente do CPB, Vital Severino Neto. Segundo Agnelo, o Ministério pretende ampliar o acesso e a profissionalização do esporte por meio do progra-ma Bolsa-Atleta. Já Vital disse que o evento serviu como observação para o Mundial de Adestramento de 2007, na Inglaterra, que será seletiva para a Paraolimpíada de Pequim, em 2008.

Pequena campeã, grandes prêmios. Marcela Gonçalves exibe seu futuro promissor.

Lean

dro

Ferr

az

Mik

e Ro

nchi

Sérgio Fróes mostra quem tem o controle das rédeas.

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No detalhe, a jovem Elisa Melaranci graceja de mais um ouro conquistado.

Davi Salazar cumpre sua apresentação com técnica invejável.

Categoria Children recebe premiação.

Page 17: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

S u p e rS u p e r 15

Rivaldo Martins quebra o próprio recordemundial no Quelle Challenge, tradicional competição

de triatlo na Alemanha

Cerca de 800 quilômetros de bicicleta, 80 quilômetros de corrida e 15 quilômetros de natação por semana. Horas e mais horas, dias e mais dias, dedicados ao esporte. Com determinação e muito treinamento, o atleta paraolímpico Rivaldo Martins conseguiu re-alizar mais um sonho em julho deste ano: quebrar o próprio recorde mundial no Quelle Challenge, tradicional competição da cidade alemã de Roth.

O resultado é a nova marca mundial estabelecida em distâncias de Ironman da categoria Physically Challenged, para competidores amputados com prótese. Ri-valdo terminou os 3,8 quilômetros de natação, 180 de ciclismo e 42 de corrida com o exce-lente tempo de 9h57min48s. O recorde anterior, que também pertencia ao brasileiro, era de 10h10min42s, conquistado em 2001, no mesmo local.

“Era um sonho meu conseguir um tempo abaixo de 10 horas. Na metade da maratona, foi bastante complicado. Fiquei olhando o tempo todo o reló-gio e calculando a minha média por quilômetro. Eu consegui manter o ritmo na raça e só depois do 37º quilômetro tive certeza de que conseguiria bater o recorde. Aí foi só alegria”, relata o santista, que terminou a prova em oitavo lugar na categoria de 45 a 49 anos e em 154º na classificação geral.

Esta foi a sexta vez que Rivaldoparticipou do Quelle Challenge.A prova, que está em sua 21ªedição, contou com a presença de 2.200 atletas, entre pessoas com e sem deficiência. Além de um bom preparo físico, é preciso con-trole emocional para não desistir. A prova começou tranqüila e fo-ram precisos 52min18s para com-pletar a natação e sair da água em quarto lugar geral. Os 180 quilômetros de ciclismo, ele fez em 5h08min40s. Os últimos 42 quilômetros de corrida pareciam não ter fim e foram completados em 3h49min07.

“Senti muita dificuldade porque pedalei sozinho o tempo todo. Quando fico perto de outros competi-dores, tenho como saber se o meu ritmo está rápido ou lento. Acabei forçando bastante na bicicleta”, explica o triatleta, que em outubro participa de mais dois campeonatos mundiais da categoria Physically Challenged, no Havaí.

F o l e g oF o l e g oPor Julia CensiFotos divulgação

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16Na tentativa de melhorar o rendimento sobre duas rodas, Rivaldo acabou ino-vando: adaptou um solado novo à prótese, garantindo mais segurança e impulso nas pedaladas. Hoje em dia, é difícil encontrar um ciclista paraolímpico que não tenha aderido à invenção.

Rivaldo teve a perna esquerda amputada do joelho para baixo em 1986, após um acidente de ônibus. As limitações físicas não o afastaram do esporte. E tampouco das vitórias. Desde então, já participou de 18 competições com distâncias de um Ironman. Ele é o atual campeãomundial da prova no Havaína categoria para pessoascom deficiência, a maior e maisdifícil prova de triatlo existente.É dele também o recorde da categoria, com o tempo de dez horas e dez minutos. Mas um dos maiores sonhos do atleta é se tornar um medalhista paraolímpico. O sonho começou em 1992, nos Jogos de Barcelona. Em 2004, Rivaldo voltou a disputar uma paraolimpíada, em Atenas, mas a medalha também não veio. Nada que o faça desistir. Até Pequim, passando pelo Parapan do Rio, ele estará pedalando,correndo e nadando, sempre à esperade uma medalha.

Simpático, Rivaldo prepara-se para mais uma competição.

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17Quem assiste pela TV a competições de alto rendi-mento talvez não perceba a via crucis que o atleta tem que transpor para chegar lá. Somados a exigências básicas para qualquer esportista, como treinamen-tos constantes, alimentação balanceada e período adequado de repouso, juntam-se, no caso específico de atletas paraolímpicos, equipamentos dispendiosos e cuidados médicos. O resultado é uma barreira fi-nanceira muitas vezes intransponível, mesmo para pessoas tão acostumadas à superação.

Para estimular a permanência do atleta na carreira esportiva, o Ministério do Esporte lançou em 27 de julho o programa Bolsa-Atleta. Mensal e com duração de um ano, podendo ser renovado, o incentivo, que conta com a parceria da Caixa Econômica Federal, é distribuído a quatro categorias – estudantil (R$ 300), nacional (R$ 750), internacional (R$ 1.500) e olímpico e paraolímpico (R$ 2.500) – e irá beneficiar, nesta pri-meira etapa, 300 atletas de todo país.

Durante cerimônia de apresentação do programa no Palácio do Planalto, o ministro do esporte, Agnelo Queiroz, esclareceu que os requisitos básicos para o atleta solicitar a bolsa são não possuir patrocínio e ter comprovado rendimento em sua modalidade. “A iniciativa é um financiamento direto ao atleta, que vai sacar a bolsa na sua cidade, com o cartão mag-nético da CEF”, explica.

ÂNIMOGoverno federal lança programaBolsa-Atleta e contempla paraolímpicos

Por Leandro FerrazFotos Marcelo Westphalem

INJEÇÃO DE

Presidente Luís Inácio Lula da Silva: descontração ao lado do Ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, e durante seu discurso.

Heriberto Roca e Wandemberg Nejain, atletas do basquete em cadeira de rodas, apresentam seus cartões.

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Segundo o ministro, o governo federal acaba de aprovar a Política Nacional de Esportes, que congrega uma série de pro-gramas e ações com foco no desenvolvimento humano, na inclusão social, na promoção da saúde e no alto rendimento. “Com este conjunto de medidas, do qual faz parte o Bolsa-Atleta, teremos os requisitos indispensáveis para o desen-volvimento do esporte no Brasil”, afirma Agnelo Queiroz.

Também presente ao evento – assim como os presidentes da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Nuzman, e do Comitê Paraolímpico Bra-sileiro, Vital Severino Neto –, o presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, considerou o Bolsa-Atleta um “reconheci-mento a tantos talentos que existem no país”. Conforme disse, o esporte é encarado como política de Estado. “Oferecer con-dições para crianças e jovens estudarem e praticarem esportes é obrigação para um país que quer conquistar a cidadania”, sintetiza o presidente Lula.

Os critérios de escolha dos atletas beneficiados são de responsabilidade exclusiva do Ministério do Esporte. Mais informações podem ser obtidas no site www.esporte.gov.br

Presidente Lula analisa cartão dos atletas.

Atletas escolhidos agradecem incentivo.

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A C A S O PROVIDENCIALA C A S O PROVIDENCIAL

No Pódio

L a r g o s o r r i s o , Edênia Garcia revela logo a que veio

Por Paulo Mac CullochFotos Mike Ronchi

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Pode ser uma simples coincidência, mas o fato de o médico de Edênia Nogueira Garcia ter indicado a prática de natação na mesma época em que seu pai encontrou por acaso o nadador paraolímpico Francisco Avelino é, pelo menos, uma sorte para o esporte bra-sileiro. Apesar de fazer compras no supermercado de Avelino, foi em um ônibus que começaram a conversar.

“Meu pai falou para o Avelino que tinha uma filha com deficiência física e que estava procurando al-guma forma mais eficaz de me tratar. Foi aí que Avelino indicou a natação, assim como meu médico”, lembra a atleta, que se alegra ao falar do grande amigo, um de seus maiores incentivadores.

Na primeira competição, o regional, disputado em Re-cife, a nadadora já conquistou resultados expressivos. A marca de 56seg daria para garantir um 4º lugar nos Jogos Paraolímpicos de Sidney. Depois não parou mais e, com a delegação brasileira em Atenas, garan-tiu a medalha de prata, nos 50m costas. Seus tempos caem constantemente e isso pode levar Edênia a atin-gir seu grande objetivo: bater um recorde mundial.

“Tenho uma meta na minha carreira que é bater um recorde

mundial e acredito que falta pouco para atingi-la”.

A prata em Atenas é degustada com a fome de vitórias (acima), garantidas com muito esforço e disciplina.

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“Tenho uma meta na minha carreira que é bater um recorde mundial e acredito que falta pouco para atingi-la”, afirma Edênia, ganhadora de três medalhas de ouro na etapa de Recife do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação, realizada em julho deste ano.

“Esses resultados são fruto do nosso trabalho e talento”, afirma a nadadora, que ainda não tem patrocínio individual.

O esporte mudou a vida de Edênia. Até mesmo o con-vívio social melhorou com a prática esportiva. Apesar de parecer redundância falar em superação com atletas paraolímpicos, ela mostra força para superar suas limitações.

“Conquistei a medalha de prata em Atenas com tendi-nite. Não estava no melhor da minha forma física”, orgulha-se Edênia, que tem polineuropatia sensitiva mo-tora, uma doença hereditária que causa atrofia muscular.

Natural do Rio Grande do Norte, estado conhecido por revelar grandes valores da natação paraolímpica, como Clodoaldo Silva e Adriano Lima, ela credita ao talento dos atletas o sucesso do esporte em sua terra natal.

21Consagrada em Atenas, Edênia Garcia puxa o ar para agarrar a segunda posição nos 50m nado costas.

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Capa

LongoParceria entre CPB e Loter ias Ca ixa incrementa ca lendár io de compet içõesnac iona is com a cr iação do C ircu i to Loter ias Ca ixa Bras i l Paraol ímpicode At le t ismo e Natação

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Longo Circu i to

Quarenta e oito horas de viagem de ônibus até olocal de competição. Dois dias competindo. Maisquarenta e oito horas de viagem para voltar paracasa. O que pode parecer loucura para muitaspessoas acaba se tornando uma rotina prazerosapara considerável parcela de atletas paraolímpi-cos que esperam ansiosamente cada etapa do

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação.

Dividido em seis etapas, o circuito pre-tende divulgar o esporte paraolímpico pelo Brasil, fortalecer a preparação dos nossos atletas e promover o surgimen-to de jovens talentos. Três etapas já aconteceram, em Belo Horizonte, Re-cife e Rio de Janeiro. As próximas serão em Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo.

Por Julia CensiFotos Mike Ronchi e Alan Santos

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“O circuito é um marco para o esporte paraolímpico no nosso país, é um sonho que

nasceu desde 2001 e agora pôde se concretizar com o apoio das Loterias Caixa.

O movimento sempre sentiu a falta de um calendário fixo e permanente. E ter

a garantia de que esse calendário vai ser seguido é extremamente importante

para os atletas e seus técnicos”, explica o presidente do Comitê Paraolímpico Bra-

sileiro, Vital Severino Neto. Segundo ele, o objetivo geral é trabalhar aqueles

que já estão em destaque e abrir oportunidades para os que estão iniciando.

A primeira etapa aconteceu entre os dias 23 e 26 de junho na capital minei-ra e reuniu quase 400 atletas de todo o país. Além dos excelentes resultados, as provas trouxeram outra conquista: a descoberta de novos talentos, como o nadador carioca André Brasil. Com seqüela de poliomielite na perna es-querda, até o ano passado André não conhecia o esporte paraolímpico e seguia competindo entre os atletas sem de-ficiência. Descobriu o paraolimpismo durante as transmissões de Atenas e, já na primeira competição, em BH, revelou-se um excelente atleta. Em três provas disputadas na categoria S10 – na qual a deficiência física compromete menos os movimentos na água – ele ba-teu um recorde mundial nos 50 metros livre, com o tempo de 24s53, baixando 18 décimos o tempo que pertencia ao canadense Benoit Huot, conquistado nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, e se aproximou da marca mundial nos 100 metros borboleta e nos 100 metros livre.

Beloé o ponto de part ida do c ircui to

Hor izonte“Estava assistindo a algumas competições de Atenas evi o canadense que tem o mesmo problema que eu,só que na perna direita. Achei que poderia tentar e me surpreendi. O astral daqui é muito diferente do que a gente vê em outras competições con-vencionais, o clima é legal”, diz André. Para ele, Belo Horizonte foi só o primeiro passo. Demonstrando maturidade, lembra que ainda faltam algumas etapas do circuito, depois o mun-dial nos EUA, o Pan e, “se tudo der certo”, Pequim.

No atletismo, outro garoto de ouro. Aos 19 anos, cego desde os sete, Felipe Gomes comemorou a sua participação na competição. Além do recorde brasileiro nos 100 metros rasos da categoria T11, para deficientes visuais, Felipe foi ouro nos 200m e no salto em distância. Outras marcas comprovam a qualidade da nova geração paraolímpica, como o mineiro Clayton Pacheco, que quebrou o próprio recorde brasileiro nas provas de salto em distân-cia e salto triplo, e o paulista Odair Ferreira dos Santos, que hoje está entre os dez melhores atletas brasileiros, sem deficiência, nos 1500 metros ra-sos. “Nunca tinha competido com uma estrutura como essa e estou muito feliz. Dá até gosto de se inscrever e disputar cada etapa”, conta Felipe.

Estrutura que impressiona até mesmo atletas consagrados, acostumados às competições in-ternacionais. “Esse ano é a primeira competição nacional que participo e é uma surpresa positiva, a começar pelo número de atletas inscritos e a descoberta de novos talentos. Sempre lutamos por mais competições nacionais. Estamos com uma grande oportunidade de ganhar ritmo e melhorar a participação brasileira em competições inter-nacionais”, diz Clodoaldo, que em Belo Horizonte garantiu mais quatro medalhas de ouro, nos 50 metros borboleta e 50, 100 e 200 metros livre.

O atletismo e a natação foram responsáveis por 27 das 33 medalhas conquistadas pelo país no inédito desempenho dos brasileiros na Paraolim-píada de Atenas. E há ainda muito o que ser ex-plorado nas pistas e piscinas. “Percebo que muita gente já existia e não tinha estímulo para partici-par das competições. Com o circuito estão poden-do competir e mostrar seus talentos”, explica a nadadora Fabiana Harumi, bicampeã paraolímpi-ca dos 50 metros livre (Sidney e Atenas).

Odair esquentando as turbinas.

Moisés em prece singular.

Mais uma largada na natação

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André Brasil concentrado para mais uma prova.

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A D

Competir em casa é mesmo um privilégio. Em Recife, vários atletas tiveram motivos de sobra para se orgulhar. Rosinha dos Santos, Suely Guimarães e Luís Silva puderam receber todo o carinho dos pernam-bucanos na segunda etapa do Circuito. E, para completar a festa, novos recordes, novas marcas e, principalmente, novos atletas revelados.

Na piscina, Clodoaldo Silva e André Brasil brilharam. Foram quatro medalhas de ouro para cada um. E mais um recorde mundial batido por André nos 100 metros borboleta, marca que ainda não pôde ser homologada porque André precisa passar por uma classificação funcional internacional.

Reci fecaminho de recordesconf irma

Mas o desempenho de ambos serviu de inspiração para outro novato: o paulistaCarlos Farrenberg, que conquistou quatro ouros em Recife, todos com recordesbrasileiros – 50, 100 e 400 metros livre, além dos 100 metros peito. O nadadordisputa a categoria S13, para pessoas com baixa visão. Ele nãoesteve em Belo Horizonte e ficou surpreso com os próprios resultados, que garantiramsua participação na etapa do Rio de Janeiro. “Estou muito feliz, é isso quenos motiva. Precisamos deste incentivo para estarmos em todas etapas. O objetivoé disputar provas internacionais, estar na próxima Paraolimpíada e, quemsabe um dia, quebrar um recorde mundial. Tem que acreditar”, vibra o nadador.

Suely Guimarães lançando longe.

Luís Silva pronto para o mergulho.

Adriano Lima em mais uma vitória.

Antônio Delfino em potente arrancada.

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SY

ENo outro superdesafio da tarde de sábado (13/8), o brasiliense Antônio Delfino superou Elliot Mujaji, do Zimbábue, nos 100m rasos, com 11s28. Nos Jogos de Atenas, Delfino levou o ouro nos 200m e 400m. Porém, queimou a largada dos 100m, que foi então vencida por Mujaji. O desafio representou uma reedição da prova dos 100m de Atenas. E Delfino provou que ganharia mais um ouro se não tivesse sido desclas-sificado. “A dúvida acabou. Deu para sentir que a medalha de ouro em Atenas seria minha”, diz.

Os demais destaques da etapa do Rio de Janeiro foram o fenômeno Clodoaldo Silva, com quatro ouros nos 50m, 100m e 200m livre e nos 50m bor-boleta e a revelação das piscinas, Carlos Farrenberg, que bateu o recorde brasileiro nos 100m livre, com 59s25. Outro a quebrar um recorde brasileiro foi Clayton Pacheco, que atingiu a marca de 13m10 no salto triplo, no último dia da competição, em 14/8.

As próximas etapas do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação serão disputadas em Fortaleza, Porto Alegre e São Pau-lo, com calendário previsto até o final do ano.

Já está virando uma grata rotina. O nadador André Brasil bateu seu terceiro recorde mundial no circuito, desta vez nos 100m livre, com o tempo de 53s41, na piscina do Mourisco, em Botafogo. E, o melhor, em sua terra natal. “Bater o recorde aqui em casa tem um sabor diferente. Como é bom fazer isso”, comemora An-dré, que quebrou também os recordes nos 50m livre, em Belo Horizonte, e nos 100m borboleta, em Recife.

Da mesma forma, a emoção ditou as regras nas pistas. O público presente ao Estádio Célio de Bar-ros, no Maracanã, foi ao delírio com o empate entre André Garcia e Royal Mitchell no Superdesafio Internacional Loterias Caixa. Durante a Paraolimpíada de Atenas, o gaúcho André Garcia venceu os 200m rasos, na categoria T13 (baixa visão), enquanto Royal Mitchell conquistou o ouro nos 100m, na mesma categoria. A idéia do desafio foi realizar um tira-teima em uma distância intermediária: 150m. Abraçados após a prova, os corredores comentaram a experiência. “Foi uma boa corrida, não faz mal o empate”, afirma diplomático Mitchell. “Pelo visto serão necessárias mais provas para vermos quem é o melhor. A rivalidade continua”, provoca, de forma amistosa, André. Ambos fizeram o tempo de 16s97.

Rio de Janeiro Mais um recorde mundial e desafios internacionais sacodem a cidade maravilhosa

Fernando Aranha explica na pista o significado de superação.

Piscina do Botafogo, palco da natação na 3ª etapa, no Rio.

Revelação no circuito, Carlos Farrenberg mostra que tem peito para as competições.

No superdesafio, Antônio Delfino encerra dúvida que o persegue desde Atenas e vence Elliot Mujaji nos 100m.

O incrível acontece: empate no superdesafio entre o americano Royal Mitchell e o brasileiro André Garcia.

A comprovação do photochart não deixa dúvidas: o tira-teima fica para o próximo confronto.

Clayton Pacheco voa para novo recorde brasileiro no salto triplo. Colaborou Leandro Ferraz

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S Y

E

FD

Uma das preocupações do circuito é a aproximação dos medalhistas paraolímpicos com o público em geral, principalmente com os mais jovens. A cada etapa são realizadas ações recreativas ou tardes de autógrafos em shoppings e escolas públicas. Em uma colô-nia de férias, em Recife, cerca de 200 crianças, de 4 a 13 anos, tiveram uma manhã bem divertida ao lado de Roseane dos Santos, recordista mundial do arremesso de peso edisco, e do nadador Luís Silva. As crianças se encantaram com a presença dos campeões.

Ident i f icação do públ ico com at letas só aumenta

Os resultados alcançados e as promessas reveladas nas três primeiras eta-pas do Circuito Brasil Paraolímpico transformaram a expectativa para as próximas etapas. É um fato: o esporte paraolímpico começa a se consolidar no Brasil, com o ritmo e a continuidade das provas, e passa a alimentar para o país o status de futura potência paraolímpica mundial. Os próximos des-tinos dos participantes do circuito são Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo.

“Os atletas paraolímpicos vão poder se preparar sabendo que daqui a um mês nós temos outra etapa. Isso vai dar a eles condições de realmente estar preparados para se integrar à elite do esporte paraolímpico mundial”, analisa o presidente Vital.

“É LEGAL QUE SÓ! A ROSINHA, APENAS COM UMA PERNA, CONSEGUE ARREMESSAR TÃO LONGE... ACHO QUE NEM EU, COM AS DUAS PERNAS, CONSIGO FAZER O QUE ELA FAZ”.

RENATO CABRAL, 11 ANOS.

Rosinha em momento de descontração com crianças em Recife. Terezinha na pista durante a competição.

Fabiana Harumi em ação.

Clodoaldo esbanjando simpatia.

Alan Santos

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S YE

Resultados em Paraolimpíadas

S Y

E

FD Incent ivo ao pleno

desenvolvimento

Ádria Santos

Clodoaldo Silva

Adriano Lima

André Luiz Garcia de Andrade

Antônio Delfino de Souza

Antônio Tenório

Fabiana Harumi Sugimori

Francisco Avelino

Luís Silva

Roseane Ferreira dos Santos

Suely Rodrigues Guimarães

Seul, 1988 - Prata nos 100m e 400m; Barcelona, 1992 - Ouro nos 100m; Atlanta, 1996 -Prata nos 100m, 200m e 400m; Sydney, 2000 - Ouro nos 100m e 200m e Prata nos 400m; Atenas, 2004 - Ouro nos 100m e Prata nos 200m e 400m.

Sydney, 2000 - Prata nos 100m livre e nos revezamentos 4x50m livre e 4x50m medley e Bronze nos 50m livre; Atenas, 2004 - Ouro nos 50m, 100m e 200m livre, 50m borboleta, 150m medley e no revezamento 4x50m medley e Prata no revezamento 4x50m livre.

Atlanta, 1996 - Bronze nos 50m livre; Sydney, 2000 - Prata nos 100m livre e nos revezamentos 4x50m livre e 4x50m medley e Bronze no revezamento 4x100m livre; Atenas, 2004 - Ouro no revezamento 4x50m medley e Prata no revezamento 4x50m livre.

Sydney, 2000 - Prata nos 100m e 200m; Atenas, 2004 - Ouro nos 200m e Prata nos 100m.

Sydney, 2000 - Prata nos 400m; Atenas, 2004 - Ouro nos 200m e 400m.

Atlanta, 1996 - Ouro; Sydney, 2000 - Ouro; Atenas, 2004 - Ouro.

Sydney, 2000 - Ouro nos 50m livre; Atenas, 2004 - Ouro nos 50m livre.

Sydney, 2000 - Prata no revezamento 4x50m medley; Atenas, 2004 - Ouro no revezamento 4x50m medley e Bronze nos 100m peito.

Sydney, 2000 - Prata nos 50m borboleta e nos revezamentos 4x50m livre e 4x50m medley; Atenas, 2004 - Ouro no revezamento 4x50m medley e Prata no revezamento 4x50m livre.

Sydney, 2000 - Ouro no arremesso de peso e lançamento de disco; Atenas, 2004 - Recorde mundial no lançamento de disco.Barcelona, 1992 - Ouro no lançamento de disco; Atlanta, 1996 - Bronze no lançamento de disco; Atenas, 2004 - Ouro no lançamento de disco.

Resultados em Paraolimpíadas

“Depois de Atenas, senti necessidade de me profissionalizar”. Além de ressaltar a importân-cia que teve a Paraolimpíada de 2004 para o desenvolvimento do esporte no Brasil, o desa-bafo do nadador Clodoaldo Silva revela o quão determinados ficaram os atletas brasileiros após o inédito desempenho nos Jogos da Gré-cia. Entretanto, o desejo de se tornarem atletas profissionais misturou-se ao receio de que todo o esforço, que culminou em 33 medalhas para o Brasil, não tivesse seu valor reconhecido. “O atleta paraolímpico brasileiro sempre viveu de muitas promessas”, relembra, cautelosa, a nadadora Fabiana Harumi, medalhista de ouro em Atenas. Hoje, quase um ano desde o fim da Paraolimpíada, a realidade é bem diferente, sobretudo para 12 vitoriosos atletas brasileiros, entre eles, Fabiana e Clodoaldo.

Durante o lançamento oficial do Circuito Lo-terias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação, em Belo Horizonte, projeto de maior sucesso da parceria Caixa-CPB, foram apresentados os atletas de alto rendimentoque serão diretamente patrocinados pelas Lo

nova fase. “Fiquei surpreso, estava meio esque-cido, inclusive pela mídia de Pernambuco. O patrocínio que recebemos das Loterias Caixa e o trabalho de divulgação do CPB são muito positivos”, analisa, prevendo o futuro com a es-perança peculiar dos jovens. “Muita gente pode conseguir este apoio com um bom resultado”.

Pois o presságio de Luís Silva concretizou-se ali mesmo, na piscina recifense do Clube Es-portivo Santos Dumont. Depois de bater dois recordes mundiais em menos de um mês (o terceiro recorde mundial viria em agosto, na etapa do Rio de Janeiro), o nadador cari-oca André Brasil, maior revelação do Circuito até agora, recebeu o convite para ser o novo atleta patrocinado pelas Loterias Caixa, au-mentando aquele time inicial de 11 para 12 missionários do paraolimpismo brasileiro. “Muita gente está por trás destes resultados, o Botafogo, o IBDD, meu técnico Marco Veiga e todo esse pessoal precisa ser valorizado. Então, o patrocínio das Loterias Caixa vai ajudar bastante!”, comemorou André Brasil.

11 atletas, destaques em Atenas, além de uma grande revelação do circuito, recebem patrocínio das Loterias Caixa

terias Caixa. Ádria Santos, Adriano Lima, André Garcia, Antônio Delfino, Antônio Tenório, Clodoaldo Silva, Fabiana Sugimori, Francisco Avelino, Luís Silva, Roseane dos Santos e Suely Guimarães formam, agora, o time de elite do esporte paraolímpico nacional. Segundo o ministro do esporte, Agnelo Quei-roz, “o patrocínio das Loterias Caixa servirá de exemplo para que outras empresas também apostem no esporte paraolímpico brasileiro”.

No decorrer da etapa de Recife, em julho, eles já podiam sentir a diferença. Em visita a um shopping, no intuito de promover a integração dos 11 atletas com o público local, Adriano Lima pare-cia realizado: “A visibilidade aumentou muito, estou encantado. Até o público está sabendo mais sobre o nosso movimento”, declara o na-dador de 32 anos. “Sei que no Circuito vão surgir talentos e eles podem me alcançar, ninguém é imbatível. Mas, eu sempre entro na água para ganhar. Não gosto de perder!”, desafia Adriano.Em contrapartida, o jovem pernambucano Luís Silva, de 23 anos, curte cada momento desta

Por Bru na Gosl i ng

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No Pódio

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LIVREA PISCINA É

Ele descobriu que podia ser atleta paraolímpico por acaso. Durante astransmissões dos Jogos Paraolímpicos de Atenas, em 2004, o carioca André Brasil assistiu a uma prova do canadense Benoit Hout e percebeu que o nadador tinha uma deficiência física muito parecida com a dele. Resolveu, então, se dedicar ao des-porto paraolímpico. De lá para cá, emapenas um ano, André já quebroutrês recordes mundiais, nas três pri-meiras etapas do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação, nos 50m Livre, 100m borboleta e 100m livre, e espera uma competição internacional para que possa se classificar e ter os recordes homologados. “Vou bater quantos puder. Quero con-tinuar treinando, focar no trabalho e conseguir me classificar o mais rápido possível para competir lá fora de igual para igual”, empolga-se André, que atual-mente treina com o técnico Marco Veiga e prepara-se para o Aberto de Natação, em dezembro, nos Estados Unidos.

Por Luciana PereiraFotos Mike Ronchi e Alan Santos

SEU TERRITÓRIO

Novato nas competições paraolímpicas, o carioca

André Brasil acumula ouros e recordes mundiais no Circuito Loterias Caixa

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Assim como muitos atletas paraolímpicos, a natação na vida de André Brasil começou como reabilitação. Ele teve poliomielite aos três meses e ficou uma se-qüela na perna esquerda – ela é um pouco mais fina. Até os nove anos, quando começou a nadar profis-sionalmente, fez cinco cirurgias para melhorar a loco-moção. Desde os seis meses de idade, o contato com a piscina é diário, mas nunca havia sido encarado como trabalho. O esporte paraolímpico chegou na hora em que André já estava desistindo da natação pela di-ficuldade de conciliar os treinos com a faculdade de fisioterapia. E funcionou como um incentivo.

“Agora não saio mais da água. Quero con-seguir repetir o que Clodoaldo fez e, quem sabe, superá-lo. Ele é um ídolo para mim, um ícone da natação”, diz, referindo-se ao nadador Clodoaldo Silva, seis ouros e uma prata em Atenas.

Até descobrir que poderia competir com os atletas paraolímpicos, André nadava com os atletas que não apresentam deficiência. Mas ele conta que nunca se sentiu em desvantagem por ser deficiente físico e nadar com os atletas olímpicos. “Já ganhei o Estadual várias vezes, participei de seleções cariocas e já fui medalhista em campeonatos nacionais”, orgulha-se o nada-dor, que hoje compete na categoria S10 (deficiência menos severa).

André também está cha-mando a atenção nas pro-vas por outros motivos. Na rádio-corredor do vestiário feminino, ele já é chamado de “colírio das Paraolimpía-das”. Ele ri do apelido, nega e avisa: “Tenho namorada”.

André Brasil exibe mais um dos 12 ouros conquistados até a 3ª etapa do Circuito Loterias Caixa, realizada no Rio. Abaixo, premiação com os novos companheiros paraolímpicos, Marcelo Collet (esquerda) e Murilo Simões.

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Curiosidades

Maria José Ferreira Alves, a Zezé, encon-tra na leitura um grande prazer. E o fato de ter baixa visão (cerca de 10% apenas) em nada fere seu ímpeto.

Como costuma fazer nas pistas – é medalha de bronze nos 100m e 200m rasos, tanto em Atlanta-2000 como em Atenas-2004 –, ignora obstáculos e sacia a sede de conhecimento com o apoio de familiares, voluntários e livros gravados em fitas K7.

Aluna do 4º período de Jornalismo, atualmente lê “Não de-sista nunca de seus sonhos”, de Augusto Cury. Seus sonhos? “O mais imediato é me preparar bem para as competições que tenho este ano ainda”, afirma resoluta. “Depois, tornar-me uma jornalista reconhecida, uma atleta paraolímpica de ouro, ser campeã mundial, casar, ter filhos, essas coisas”, enu-mera com a tranqüilidade de quem sabe onde quer chegar.

SONHOSa PERDER

deVISTA

A Segunda Guerra Mundial deixou um triste legado de combatentes com deficiências físicas. Este contex-to influenciou o neurocirurgião alemão Ludwig Guttmann, judeu refugiado da Alemanha nazista, a inici-ar, na Inglaterra, um trabalho de reabilitação médica e social de veteranos de guerra por meio de práticas es-portivas. O ponto de partida foi no Centro Nacional de Lesionados Medulares do Hospital de Stoke Mandeville.

Em 1952, os Jogos organizados por Guttmann rompem os limites de Stoke Mandeville e ganham status in-ternacional. Finalmente, em 1960, ocorrem os primeiros Jogos Paraolímpicos, em Roma. Desde 1988, em Seul (Coréia do Sul), as Paraolimpíadas são realizadas na mesma cidade e nas mesmas instalações das Olimpíadas.

DO ESPORTE PARAOLÍMPICOPRIMÓRDIOS

Dois momentos de Zezé: em competição com o guia Gerson Knittel e no disciplinado treinamento.

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Grama natural, terra batida, calçada, grama sintética, cimento, asfalto, areia. Não importa o terreno, se o jogo for de campeonato, a pátria calça as chuteiras e deixa o coração livre na área, ao sabor do talento de nossos atletas.

No esporte paraolímpico não é diferente. O futebol de 5 (para cegos) é ouro em Atenas-2004. Em cima de quem? Isso mesmo, dos nossos hermanos argentinos. Já no de 7 (paralisados cerebrais) somos prata. Jogando desfalcada de dois importantes titulares, expulsos no catimbado jogo da semifinal, a seleção brasileira perdeu a final para a Ucrânia.Ganha um doce o leitor que adivinhar quem foi nosso freguês na semifinal.

PAÍSFUTEBOL

DO

Abril de 1958. Surge no Rio de Janeiro o Clube do Otimismo, fundado pelo ca-deirante Robson Sampaio de Almeida. Em julho do mesmo ano, Sérgio Seraphin Del Grande, também deficiente físico, cria o Clube dos Paraplégicos de São Paulo.

Tais ações foram motivadas pelo tratamento que ambos fizeram em hos-pitais dos EUA, de onde trouxeram o jogo de basquete em cadeira de ro-das. Logo, as associações de atletas deficientes começaram a aparecer.

A estréia brasileira em uma paraolimpíada acontece em 1972, na Ale-manha. No entanto, somente em 1976, no Canadá, nossa equipe conquista a primeira medalha (prata), na modalidade bocha.

INÍCIO DE TUDONO BRASIL

Tabelinha brasileira na entrada da área dos atordoados argentinos.

Marcos Felipe deixa o adversário na saudade.

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Notas

Wimbledon recebe tenistas paraolímpicosTradicional torneio de tênis inglês inova e promove com-petição paralela de pessoas com deficiência

Pela primeira vez o Torneio de Tênis de Wimbledon re-cebeu competição para jogadores em cadeira de rodas. A disputa paraolímpica, ocorrida no início de julho, tevecomo vencedores o francês Michael Jeremiasz e o inglêsJayant Mistry. Não houve jogos para mulheres. A com-petição foi realizada apenas em duplas porque as cadei-ras de rodas ainda não são perfeitamente adaptadas para a grama. Jeremiasz também foi medalha de bronze em Atenas 2004 e o grande vencedor do VI Brasil Open, em 2005. Os campeões tiveram premiação de E$7.900,00 e seus nomes foram incluídos na galeria dos campeões de Wimbledon, junto com Roger Federer e Venus Williams, vencedores do torneio deste ano para andantes.

Faltam dois anos para os Jogos do Rio 2007

O mês de julho foi importante para o CO-RIO (Comitê Or-ganizador dos Jogos do Rio 2007). O dia 13 representou o marco de dois anos para o início da competição. O presi-dente do CO-RIO, Carlos Arthur Nuzman, aproveitou a data para reiterar o compromisso com a excelência dos Jogos. “O relatório da Comissão de Inspeção da Odepa, que esteve recentemente no Rio de Janeiro vistoriando a organização dos Jogos Pan-americanos Rio 2007, é a maior prova de que tudo está correndo na mais perfeita ordem”, afirma o presidente. O Rio venceu a disputapara sediar a competição em 24 de agosto de 2002,durante reunião da Organização Desportiva Pan-ameri-cana (Odepa). A cidade norte-americana de San Antonio, do estado do Texas, foi a concorrente da capital carioca.Pela primeira vez na história, em 2007, os Jogos Para-pan-americanos serão disputados na mesma cidade dosJogos Pan-americanos.

O Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB) é parceiro da iniciativa. Para os Jogos Parapan-america-nos Rio 2007, que serão disputados entre 12 e 18 de agosto, está prevista a participação de 1.300 atletas e 700 membros de delegações, com-petindo em 12 esportes.

Lançado o programa de voluntários para Pequim 2008Mais de 100.000 voluntários serão recrutados

O Comitê Organizador de Pequim-2008 (BOCOG) lançou o Progra-ma Oficial de Voluntários para os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. A cerimônia de divulgação do Programa foi na capital chinesa, 5 de ju-lho, e contou com a presença do presidente do Comitê Olímpico Inter-nacional (COI), Jacque Roger, e do presidente do BOCOG, Liu Qi. No evento, foi anunciado o plano de ação e divulgada a logomarca oficial do Programa. Candidatos a voluntários da Universidade de Pequim e da Universidade de Tsinghua falaram em nome de todos os futuros voluntários, expressando entusiasmo e grande interesse em con-tribuir para o sucesso dos próximos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. A seleção vai de agosto de 2006 a abril de 2008. Cerca de 100.000 pessoas serão escolhidas ao final do processo, sendo 70.000 para a olimpíada e 30.000 para a paraolimpíada. Todos devem ser fluentes, ao menos, em inglês. Para mais informações entre no site www.beijing2008.com

Esporte Sem Fronteiras lança site

Bicampeã carioca e campeã do Leste de basquetebol cadeirante, a ONG Esporte Sem Fronteiras, de Campos (RJ), quer alcançar maior visibilidade nacional. A entidade lançou no último mês seu site oficial (www.esportesemfronteiras.com.br) para apresentar os trabalhos so-ciais e esportivos desenvolvidos no interior fluminense há quase qua-tro anos. Histórico, projetos, atletas e conquistas da entidade são as atrações do portal.

Londres vai sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2012 - Candidata surpreendeu Paris e venceu a eleição por poucos votos

A escolha de Londres para sediar os Jogos de 2012 foi anunciada dia 6 de julho em Cingapura, após a eleição que contou com o voto de mais de 100 delegados do Comitê Olímpico Internacional (COI). O resultado da disputa foi apertado: 54 a 50 votos na etapa final (fora as abstenções), com vitória da capital inglesa. Segundo analistas in-ternacionais, a favorita era Paris, que, sem nenhuma crítica, obteve a melhor avaliação divulgada pelo relatório do COI. Londres recebeu uma ressalva: o transporte público.

A decisão provocou imediata reação de apoio aos Jogos na Inglaterra. Em vários pontos do país, o povo foi às ruas comemorar a vitória. A Trafagual Square, no centro da capital, ficou tomada por entusiastas dos Jogos. Um estudo realizado pelo COI mostrou que 70% da popu-lação apóia a candidatura de Londres. Um dia após a divulgação da vitória inglesa, uma série de atentados ocorreu na capital. Cerca de 52 pessoas foram mortas. Paraolímpicos são homenageados no Criança EsperançaAtletas medalhistas de Atenas participam da festa em São Paulo

Há mais de 20 anos a Rede Globo de Televisão realiza o projeto Criança Esperança, que visa arrecadar fundos para financiar projetos de apoio a crianças e adolescentes. Neste ano, a festa contou com a presença de cinco atletas paraolímpicos: Ádria Santos, Karla Cardoso, Clodoaldo Silva, João Batista e Suely Guimarães. O show foi no Ibirapuera, em São Paulo, 6 de agosto, e bateu todos o recordes de arrecadação.

Os atletas chegaram à tarde no Ibirapuera para ensaiar sua partici-pação. Assim que Clodoaldo desceu do carro em frente ao local do show, o público começou a gritar seu nome. “Fiquei muito feliz com o reconhecimento das pessoas em São Paulo. Até artistas me trataram como um ídolo”, confessa o nadador, que é uma das sensações do Cir-cuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação.

Os paraolímpicos participaram do terceiro bloco, que foi dedicado às pessoas com deficiência. O narrador Kleber Machado anunciou a en-trada dos campeões. Na seqüência, o cantor Daniel executou a música “Guerreiros da Paz”, em homenagem aos medalhistas. Enquanto o sertanejo soltava a voz, foram apresentadas no telão imagens de vitórias de atletas brasileiros na Paraolimpíada de Atenas.

Por Marcelo Westphalem

Operários trabalham a todo vapor

Dupla campeã da disputa paraolímpica: o francês Michael Jeremiasz e o inglês Jayant Mistry

Rica

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Ayre

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Divulgação

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A primeira reação é de perplexidade. O que pessoas com deficiência

estão fazendo em desafios tão radicais? Passado o estranhamento,

vem a curiosidade. Como é possível cegos ou deficientes mentais esca-

lar montes, descer corredeiras, ignorar suas limitações evidentes? A

constatação de mais um estigma quebrado é o que embala o projeto

Esportes para Pessoas com Deficiência, da Unicamp.

Criada há mais de dez anos, a iniciativa congrega a prática de rapel,

rafting, canionismo, mergulho, trekking, espeleologia, entre outros.

Cerca de 100 deficientes visuais e mentais já passaram pelas atividades,

que também visam à produção de estudos acadêmicos sobre a associ-

ação entre esportes de aventura e pessoas com deficiência.

Projeto da Unicamp leva esportes de aventura a deficientes visuais e mentais

Adrenalina

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Por Marcelo WestphalemFotos Divulgação

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Recentemente, o Prof. Arthur de Carvalho, mais um ligado ao projeto da Unicamp, concluiu seu mestrado sobre os esportes de aventura realizados com deficientes visuais. Para produzir sua tese, ele explorou bastante o canionismo, modalidade em que os participantes percorrem o leito de um rio a pé, transpondo obstáculos como cachoeiras e acidentes geográficos. A intenção era estimular ao máximo os sentidos dos participantes e provocar sensações de adrenalina. “Procurei mostrar que a pes-soa com deficiência também tem direito de praticar

esportes de aventura”, afirma Arthur.

Uma das conclusões do trabalho foi que, superando os obstáculos da natureza, a pessoa com deficiência se encoraja a encarar os desafios do dia-a-dia. “Nos esportes de aventura os participantes têm que tomar muitas decisões e superar seus limites, o que ajuda no processo de independência pessoal”, completa o pesquisador.

Arthur de Carvalho, mais um ligado ao projeto da Unicamp, concluiu seu mestrado sobre os esportes de aventura realizados com deficientes visuais. Para produzir sua tese, ele explorou bastante o canionismo, modalidade em que os participantes percorrem o leito de um rio a pé, transpondo obstáculos como cachoeiras e acidentes geográficos. A intenção era estimular ao máximo os sentidos dos participantes e provocar sensações de adrenalina. “Procurei mostrar que a pes-soa com deficiência também tem direito de praticar

esportes de aventura”, afirma Arthur.

Uma das conclusões do trabalho foi que, superando os obstáculos da natureza, a pessoa com deficiência se encoraja a encarar os desafios do dia-a-dia. “Nos esportes de aventura os participantes têm que tomar muitas decisões e superar seus limites, o que ajuda no processo de independência pessoal”, completa o pesquisador.

“Respeitando as questões de segurança, o trabalho dá resultados incríveis. A pessoa se encoraja para desa-fiar a natureza e isso se reflete na independência cotidiana”, afirma Ciro Winckler, professor do projeto, que também trabalha com esportes paraolímpicos. Segundo ele, o modelo é inovador por viabilizar a prática dos chamados esportes radicais por deficientes, sempre sob a batuta do conhecimento acadêmico acumulado acerca do tema.

Um dos fundadores do projeto, Julio Gavião explica que a idéia é formar profissionais que possam ser multipli-cadores da experiência em outras locali-dades. “O que gente faz aqui é plantar a sementinha. Alguns ex-alunos já estão montando ações semelhantes em outras partes do país”, comemora Gavião.

Entre os alunos, alguns são conhecidos da comunidade paraolímpica brasileira. O maratonista Aurélio Guedes e a nadadora Fabiana Sugimori foram convidados e acei-

taram o desafio de participar de algumas aventuras. O vice-presidente da ABDC, Benedito Franco Leal, também foi aluno e comenta a experiência: “Achei muito interessante e indico. A informação tátil e sonora proporcionada é muito intensa e sempre experimentamos sensações prazerosas”.

Seja em cenário artificial ou sob o abrigo da natureza, o que vale paraos alunos do projeto é superar seus próprios limites.

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Participantes exploram acidentes geográficos no canionismo

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Aolta por cimaV

Por Patrícia WaichenbergFotos Mike Ronchi

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..............No pódio

olta por cimaV No ano de 1990, uma fatalidade

mudou a vida da pernambucana Roseane Ferreira dos Santos, que na época tinha 18 anos. Ao

chegar da escola, ela sofreu um acidente na porta de casa. Um caminhão desgovernado subiu a calçada e atropelou Rosinha,

que foi parar debaixo das rodas do veículo. Ela foi levada às pressas para o hospital e precisou amputar a perna esquerda. “Pensei que a minha vida ia

estacionar ali”, lembra Rosinha.

Sete anos após o acidente, Rosinha foi convidada por um técnico de Recife, Francisco Raimundo Matias, o Chico, para praticar esportes. “Na época, achei que o convite era uma brincadeira. Como podia a pessoa sem uma perna fazer qualquer tipo de esporte?”, recorda.

Durante algum tempo, ela não deu importância para o convite. Mas seus irmãos sempre a incentivaram. Em 1998, começou a treinar no atletismo e um ano depois recebeu a convocação de seu técnico para participar de um mundial. “Quando ele me deu um abraço e falou que eu ia pra Inglaterra – e o meu sonho era chegar, no máximo, até São Paulo – pensei que ele estivesse de brincadeira comigo mais uma vez”, afirma.

No primeiro mundial, Rosinha ficou em quinto lugar. O que era uma vitória para todos, para ela representava um desafio de ir além, de conquistar medalhas. A partir daí, não parou mais. A atleta, especialista em lança-

mento de disco e dardo e arremesso de peso, exige muito de si mesma. Ela treina, em média, cinco horas por dia.

Mas o que parecia o fim, na verdade era o começo de uma nova fase. Até o dia do acidente, ela era empregada doméstica. Trabalhava para ajudar a mãe e os oito irmãos. E à noite ainda buscava disposição para estudar.

Até hoje, com todo esse empenho de treinamentos e muita determinação, Rosinha vem fazendo nome no desporto paraolímpico. Ela carrega no peito duas medalhas de ouro con-quistadas na sua primeira Paraolimpíada, Sidney-2000, e o título de recordista mundial no arremesso de peso e no lançamento de disco. Em 2004, nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, ela bateu seu próprio recorde no lançamento de disco. Muito religiosa, Rosinha revela que pressente suas vitórias, como um sinal divino. Antes de qualquer prova ela lê trechos da bíblia e faz orações.

A atleta tem Deus e sua mãe, dona Maria das Dores,

como seus maiores ídolos. Deus, con-forme diz, ela carrega para onde quer que vá

competir, mas a mãe teve que deixar em Recife há um ano, quando partiu para o Rio de Janeiro em

busca de melhores condições de treino. Ao retornar à sua cidade para a segunda etapa do Circuito Lo-terias Caixa Brasil Paraolímpico, o reencontro foi emocionante. “É bom matar a saudade. Eu sinto

muita falta dela. E da tapioca também. Posso comer tapioca em qualquer lugar, mas

a da minha mãe é a melhor do mundo”, avisa.

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E melhores do mundo tam-bém, para essa gigante do esporte, podem vir a ser todos aqueles que sabem lidar com as suas limitações e vencer as barreiras do dia-a-dia. Por isso, quando o assunto são as conquistas, Rosinha é bem objetiva: “Eu acho que a minha grande conquista foi ter me superado. Porque não é uma medalha que vai te fazer a melhor do mundo”, garante ela.

“Perder a perna foi a melhor coisa que aconteceuna minha vida”

Conhecida por ter dito a polêmica frase em 2000: “Perder a perna foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida”, Rosinha atribui a afirmação ao fato de que, se isso não tivesse acontecido, jamais teria ingressado no esporte.

E hoje, aos 33 anos, ela realmente acredita que a pessoa com deficiência pode ser feliz. E levanta essa bandeira.

Na seqüência, Rosinha mostra toda sua força.

Intimidade com o material de trabalho.

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Opinião

Vitória. Essa é a palavra que poderia resumir a história do esporte paraolímpico no País. O crescimento das paraolimpíadas é de extrema importância às pessoas com deficiência. O esporte paraolímpico, além de ser muito significativo, também contribui para um mundo legitimamente pluralista.

Na primeira Paraolimpíada, realizada em Roma, 400 atletas participaram. Já em Atenas, em 2004, levamos para os Jogos Paraolímpicos a maior delegação de todos os tempos e disputamos o maior número de modali-dades. O Brasil inteiro vibrou. Esses jogos atraíram cerca de 4000 atletas do mundo inteiro que superaram seus limites e treinaram rigorosamente para as competições.

A grande vitória dessas paraolimpíadas não está ilustrada apenas na con-quista de medalhas para o país. A vitória se estampa no exemplo de força e garra que esses atletas dão a milhões de brasileiros e a pessoas do mundo inteiro, que encontram a inspiração nesses atletas que lutaram com muita coragem e dedicação ao esporte.

As pessoas que praticam esportes, com de-ficiência ou não, precisam de apoio e estímulo para uma ação coletiva pela democratização das oportunidades no Brasil.

Por isso, as políticas nacionais voltadas para os paraolímpicos são de extrema importân-cia. Com a Lei Agnelo/Piva, que destina 2% das loterias federais para os comitês olímpico e paraolímpico brasileiros, os atletas passaram a ter mais apoio e garantia com um recurso de cerca de R$ 33 milhões. A Política Nacional do Esporte também garante destaque para esse campo. Essa é mais uma vitória. A visão que temos hoje, no Governo e fora dele, é de que o esporte é efetivamente um direito de todos.

SUPERANDO LIMITES

Agnelo QueirozMinistro do Esporte Ministro Agnelo Queiroz no meio da torcida em Atenas

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Agenda

Justa reeleição

Vital, você sempre será muito impor-tante para nós. Fico muito feliz pela sua garra e luta pelo esporte paraolímpico no Brasil, principalmente por saber que foi reeleito com a maioria dos vo-tos. Nada mais justo depois do grande resultado de nossos atletas em Atenas, que, graças ao apoio do CPB, tiveram a chance de mostrar ao mundo que somos capazes.

Agora, estou me preparando ao máximo para ser motivo de orgulho em nosso comitê paraolímpico, pois meu objetivo é trazer um ótimo resultado de Pequim 2008 e poder fazer parte desta família, mostrando a todos que apenas com esta ótima organização do CPB é que vamos crescer mais e mais.

Desejo um grande mandato e que con-tinue sendo esta pessoa humilde e solidária. Jane Karla Rodrigues LacerdaAtleta de tênis de mesa

CPB no caminho certo

Somos os representantes da Secre-taria Executiva de Esporte do Estado de Alagoas, lotados na Gerência de Esportes Especiais. Estivemos na ci-dade de Recife para acompanhar a II Etapa do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação. Ficamos surpreendidos com o que vi-mos: tamanha organização, estrutura e atendimento ao atleta paraolímpico. Acreditamos que o Comitê Paraolímpi-co Brasileiro está no caminho certo para 2008 e que, estrategicamente, tem o parceiro ideal que fará surgir novos atletas e novos pódios.

Agradecemos a toda equipe do CPB, que nos recebeu muito bem e não hesitou em momento algum em nos fornecer informações sobre o evento e todos os contatos com o intuito de poder estrei-tar os futuros relacionamentos com a nossa secretaria.

Abraços de nossa secretaria aoPresidente Vital e a toda equipedo Comitê Paraolímpico.

Profs. Higino Vieira e Otávio OliveiraSecretaria Executiva de Esporte e Lazer do Estado de Alagoas

Vital Severino Neto, parabéns pela grande vitória e que Deus o abençõe!

Sônia GouveiaAtleta de atletismo

Presidente Vital Severino Neto, pa-rabenizo-o pela sua reeleição para mais um mandato.

Adriano Galvão PereiraAtleta de natação

CART A S

EVENTO LOCAL DATA

Confira o calendário de competiçõespara o segundo semestre de2005

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação – 3ª etapa

Aberto Europeu de Atletismo Paraolímpico

5º Mundial de Tiro com Arco do IPC

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação – 4ª etapa

1ºs Jogos Juvenis Pan-americanos do IPC

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação – 5ª etapa

7º Aberto Europeu de Halterofilismo do IPC

Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação – 6ª etapa

Aberto de Natação dos Estados Unidos do IPC

Brasil / Rio de Janeiro

Finlândia / Helsinque

Itália / Massa

Brasil / Fortaleza

Venezuela / Barquisimeto

Brasil / Porto Alegre

Portugal / Quarteira - Algarve

Brasil / São Paulo

EUA / Minneapolis

12 a 14/08

17 a 28/08

24/09 a 04/10

30/09 a 02/10

22 a 30/10

18 a 20/11

05 a 12/11

16 a 18/12

06 a 10/12

Ministro Agnelo Queiroz no meio da torcida em Atenas

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Publicação bimensal do CPB5.000 exemplares

PresidenteVital Severino Neto

Vice-presidente AdministrativoFrancisco de Assis Avelino

Vice-presidente FinanceiroSérgio Gatto

Assessora Especial para AssuntosPolítico-AdministrativosAna Carla Thiago

Assessor Especial para Assuntos Corporativos e de Comunicação e MarketingRenausto Alves Amanajás

Secretário GeralAndrew Parsons

Assessor Especial para AssuntosTécnico-Esportivos e CientíficosVanilton Senatore

Diretor de Finanças e ContabilidadeCarlos José Vieira de Souza

Diretor de Administração e PatrimônioEvandro Aguiar Calhau

Editor ChefeMarcos Malafaia

JornalistasLeandro Ferraz e Patrícia Osandón

Jornalistas ColaboradoresJulia Censi, Luciana Pereira, Patrícia Waichenberg e Paulo Mac Culloch

EstagiárioMarcelo Westphalem

Projeto GráficoV7 Comunicaçã[email protected]

Execução GráficaGráfica Brasilwww.graficabrasil.com.br

Foto da capaNadador Nélio PereiraFotógrafo Mike Ronchi

Endereço Sede CPBSBN Qd. 2 - Bl. F - Lt. 12Ed. Via Capital - 14o andar - Brasília/DFCEP: 70 040-020Fone: 55 61 3031 3030Fax: 55 61 3031 3023E-mail: [email protected]

Site: www.cpb.org.br

Carlos “Jordan”, atleta do tênis em cadeira de rodas

Page 51: Revista Brasil Paraolímpico n° 17

CIRCUITOLOTERIAS CAIXA

BRASILPARAOLÍMPICOATLETISMO E NATAÇÃO

1ª Etapa - Belo Horizonte2ª Etapa - Recife3ª Etapa - Rio de Janeiro4ª Etapa - Fortaleza5ª Etapa - Porto Alegre6ª Etapa - São Paulo

Page 52: Revista Brasil Paraolímpico n° 17