revista banco de ideias n° 44 - sumário - humboldt

Upload: agencia-quartzo

Post on 04-Jun-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    1/14

    WILHELMVONHUMBOLDT

    OSLIMITESDAAODOESTADO

    Por Roberto Fendt

    Introduo

    O objetivo das pginas que se seguem descobrir qual a finalidade das instituies doEstado e quais os limites que devem ser estabelecidos para essas atividades.

    dois objetivos principais a ter em mente em qualquer tentativa de estruturar oureorgani!ar as instituies pol"ticas. Primeiro# determinar quem governar e quem sergovernado# e organi!ar o funcionamento da administra$o% segundo# prescrever qual a

    esfera de atua$o do governo. Este &ltimo objetivo afeta diretamente a vida particular doscidad$os e determina os limites de sua atividade livre e espont'nea.

    (e e)aminarmos a *ist+ria das organi!aes pol"ticas# perceberemos ser dif"cil decidir oslimites e)atos dentro dos quais suas atividades encontram,se restritas# j que n$oencontramos# em nen*uma delas# a elabora$o sistemtica de qualquer plano deliberado#fundamentado em princ"pios bsicos.

    Observaremos que a liberdade do cidad$o sempre esteve limitada ou pela necessidade deorgani!ar e garantir uma constitui$o# ou pelo e)pediente de prover condies para ae)ist-ncia moral e f"sica da na$o. os Estados antigos# quase todas as instituiespertinentes / vida privada dos cidad$os tin*am um carter estritamente pol"tico. 0 nosEstados modernos# o prop+sito da a$o que visa ao cidad$o como indiv"duo o deproporcionar,l*e o seu mel*or bem,estar.

    o que di! respeito /s restries / liberdade# somos levados a notar uma vasta diferenaentre os governos antigos e modernos. Os antigos dedicavam sua aten$o / fora e / culturado *omem enquanto *omem% os modernos preocupam,se# sobretudo# com o seu conforto#prosperidade e produtividade. Os primeiros se preocupavam com as virtudes# os segundosprocuram a felicidade. 1 por isso que as restries impostas / liberdade nos Estados antigoseram# em certos aspectos importantes# mais opressivas e perigosas do que as quecaracteri!am nosso tempo. 2s naes antigas apresentavam um carter de uniformidade#que n$o se devia tanto ao seu anseio por refinamento mais elevado e por umaintercomunica$o mais limitada# mas sim a uma educa$o comunitria sistemtica de suajuventude e ao estabelecimento deliberado de uma vida comunal dos cidad$os. Em nossapoca o *omem encontra,se imediatamente menos restrito. 3ontudo# a influ-ncia dascircunst'ncias ao seu redor cada ve! mais limitadora# ainda que parea poss"vel lutarcontra esses obstculos e)ternos com os nossos pr+prios recursos internos.

    Por mais de uma ve! se discutiu se o Estado deve ter como meta somente a segurana doscidad$os# ou# mais genericamente# todo o bem,estar f"sico e moral da na$o. 2 preocupa$o

    4

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    2/14

    com a liberdade da vida privada condu!iu / primeira afirma$o% a idia natural de que oEstado pode garantir algo mais que a mera segurana e de que um abuso na limita$o daliberdade poss"vel# mas n$o necessrio# condu! / segunda. Esta tambm a idiadominante tanto na teoria como na prtica.

    Captulo Do indivduo e das mais elevadas finalidades de sua existncia

    O verdadeiro fim do omem o cultivo mais completo e *armonioso poss"vel de suasforas para integr,las em uma totalidade. 2 liberdade constitui a primeira e indispensvelcondi$o para esse desenvolvimento% a segunda condi$o essencial uma variedade desituaes.

    3ada ser *umano s+ pode agir com uma faculdade dominante por ve!% mas est nos poderesdo *omem evitar a especiali!a$o# por meio de tentar unir as faculdades de sua nature!ae)ercidas distinta e separadamente. 5sso obtido pela coopera$o m&tua dos membros da

    sociedade. 1 atravs da uni$o social# por conseguinte# baseada nos desejos e capacidadesinternas de seus membros# que cada um torna,se capacitado para participar dos ricosrecursos coletivos de todos os demais.

    2 utilidade formativa de tais associaes repousa sempre sobre o grau em que semanten*am# por sua ve!# a independ-ncia dos associados e a internalidade da associa$o.Porque# carecendo desta internalidade# um n$o pode compreender suficientemente o outro.2mbas requerem# porm# a fora dos indiv"duos e uma diferencia$o que n$o sejademasiado grande# para que um seja capa! de compreender o outro% mas tambm n$o sejademasiado pequena# para despertar alguma admira$o pelo que o outro possui e o desejo detransferi,lo tambm para si mesmo.

    Esta fora e esta diferencia$o m&ltipla se unem na originalidade# e naquela em que em&ltima anlise consiste toda a grande!a do *omem# pela qual o individuo deve lutar sempre#e o que nunca deve perder de vista quem deseja atuar sobre os *omens6 a peculiaridade daenergia e a forma$o cultural.

    Portanto# a ra!$o verdadeira n$o pode desejar para o *omem condi$o outra que n$o a deque n$o s+ cada indiv"duo go!e da mais ilimitada liberdade para desenvolver suaspeculiaridades# mas que tambm a nature!a f"sica ten*a uma configura$o que l*e deuarbitrariamente cada indiv"duo# segundo a medida de suas necessidades e de suasinclinaes# limitado somente pelas foras e pelos direitos individuais.

    Captulo !Sobre a solicitude do Estado para com o bem-estar positivo do cidado

    7endo em vista as concluses a que c*egamos ao cap"tulo anterior# poder"amos proceder demodo a derivar uma limita$o ainda mais estrita / a$o do Estado6 qualquer interfer-ncia doEstado em assuntos particulares 8 em que n$o ocorra qualquer viol-ncia aos direitosindividuais 8 deveria ser absolutamente condenada.

    9

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    3/14

    Falo aqui do esforo do Estado para elevar o bem,estar positivo da na$o# de seus cuidadospela popula$o do pa"s# da manuten$o dos *abitantes# em parte atravs de *ospitais# emparte atravs do fomento da agricultura# da ind&stria e do comrcio% de todas as operaesfinanceiras e monetrias# das proibies de importa$o e e)porta$o# etc. Finalmente# detodas as disposies para a prote$o e compensa$o de danos produ!idos pela nature!a#

    animadas pelo prop+sito de manter ou fomentar o bem,estar f"sico da na$o.O Estado pode ter duas finalidades6 pode incentivar a felicidade ou somente querer impediro mal# a" inclu"do o mal dos pr+prios *omens. (e limitar,se ao &ltimo# o Estado buscasomente a segurana% e me permitam contrapor o termo segurana a todas as demaisfinalidades poss"veis# que agrupo sob o nome de bem,estar positivo.

    2 diferena dos meios empregados pelo Estado d tambm / sua a$o uma e)tens$odiferente. O Estado procura obter seu fim diretamente# seja pela coa$o 8 leis prescritivas eproibitivas# penas 8 ou por est"mulos e e)emplos% ou de maneira imediata# procurandomoldar a vida e)terna dos cidad$os e impedindo,os de atuar de outra forma% ou# finalmente#

    procurando influir sobre seus coraes e mentes para que estejam em conformidade comele. o primeiro caso# o Estado determina somente aes particulares% no segundo#determina todo o modo de atuar% por fim# no terceiro# o carter e o modo de pensar. O efeitoda limita$o # no primeiro caso# m"nimo# no segundo# maior# e no terceiro# m)imo# emparte porque atua sobre as fontes de que brotam m&ltiplas aes# em parte porque a pr+priapossibilidade de ocorr-ncia do efeito requer muitas medidas.

    (ustento que todas essas disposies t-m conseq:-ncias nocivas e que s$o inapropriadaspara um verdadeiro sistema de sociedade organi!ada% um sistema que parta das mais altasaspiraes# embora de forma alguma incompass"vel com a nature!a *umana.

    4. O esp"rito de governar predomina em todas as instituies estatais. Por muito sbio esalutar que seja esse esp"rito# produ! na na$o uma uniformidade e uma maneira contida eartificial de atua$o. 2 sociedade passa a ser composta de vassalos isolados que entram emrela$o com o Estado% isto # com o esp"rito que domina em seu governo# e em uma rela$otal que o poder prevalecente do Estado reprime o livre jogo das energias individuais.

    Por conseguinte# quanto mais atua o Estado# tanto mais semel*antes ser$o# n$o s+ todos osagentes# mas tambm os pacientes. Essa precisamente a aspira$o dos Estados. Elesquerem bem,estar e tranq:ilidade. ;as ambas se obt-m com facilidade justamente namedida em que o indiv"duo luta menos contra os outros. (+ que o *omem aspira e deveaspirar a algo completamente diferente# / variedade e / atividade. (omente isso produ!caracteres diversificados e vigorosos% e por certo n$o *averia algum t$o degradado queprefira para si mesmo bem,estar e felicidade / grande!a.

    9. 2 segunda conseq:-ncia nociva a de que tais instituies estatais enfraquecem avitalidade da na$o. Em geral# o entendimento do *omem s+ se forma# como qualquer outrade suas faculdades# graas / pr+pria atividade. 2s instituies estatais# porm# tra!emsempre consigo maior ou menor coa$o# e mesmo quando n$o fosse esse o caso# dequalquer forma *abituam em demasia os *omens a esperar das instrues a condu$o e aajuda al*eia# em lugar de encontrar solues por si mesmos.

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    4/14

    (ofrem ainda mais# sem d&vida# a energia da a$o em geral e o carter moral por uma a$oampla do Estado. =uem dirigido muito e com freq:-ncia# sacrifica com facilidade evoluntariamente o restante de sua pr+pria vontade. (e sente liberado pelos cuidados que v-em m$os al*eias e cr- fa!er o suficiente com o esperar e seguir as suas diretivas. 3om issose atrofiam suas percepes do mrito e do dever. $o somente se acredita livre de toda

    obriga$o que o Estado l*e impon*a de maneira e)pressa# como se sente tambm liberadode todo e qualquer esforo para mel*orar sua pr+pria situa$o. E procura burlar# na medidado poss"vel# as pr+prias leis do Estado# considerando cada evas$o como um gan*o.

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    5/14

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    6/14

    mais elevado com nosso sistema de condu$o da guerra# em que se conta cada ve! menoscom a fortale!a# a coragem e a *abilidade do indiv"duo.

    7erei sido muito infeli! na e)posi$o de meus pontos de vista# se se considerar que defendoque o Estado deve# de quando em quando# procurar um prete)to para a guerra. O Estado

    n$o deve de forma alguma fomentar a guerra# mas se a necessidade o e)ige# tampouco deveimpedi,la% deve conceder plena liberdade ao influ)o da mesma sobre o esp"rito e o carterpara difundir,se atravs de toda a na$o% e principalmente deve tomar as disposiespositivas para formar a na$o para a guerra% ou quando estas forem absolutamentenecessrias# como# por e)emplo# no treinamento dos cidad$os para o uso das armas# devedar,l*es uma orienta$o tal que estas n$o somente tragam consigo a coragem# a destre!a e asubordina$o de um soldado# mas tambm inspirem o esp"rito de verdadeiros guerreiros# oude cidad$os nobres que estejam sempre preparados para lutar por sua ptria.

    Captulo $Sobre a solicitude do Estado para com a segurana mtua dos cidados. s meios para

    alcanar essa finalidade. !s institui"es para a reforma da mente e do car#ter docidado. ! educao pblica

    2 educa$o p&blica# isto # aquela organi!ada e dirigida pelo Estado# em muitos aspectosquestionvel. (egundo os argumentos anteriormente e)postos# a educa$o trata da forma$odo *omem na sua mais rica diversidade% mas a educa$o p&blica# mesmo quando querevitar o defeito da massifica$o moral dos cidad$os# promove sempre uma formadeterminada de desenvolvimento. 2ssim# se incorporam a ela todas as desvantagens quee)pus na primeira parte desta investiga$o# e devo apenas acrescentar que essa limita$o t$o mais danin*a quando di! respeito ao carter moral# e que se * algo que e)ijaefetividade do indiv"duo precisamente a educa$o# que deve formar o indiv"duo.

    3ertamente a educa$o benfica quando as condies do *omem e do cidad$o coincidemtanto quanto poss"vel% mas dei)a por completo de ser saudvel que o *omem sejasacrificado ao cidad$o. Por isso# em min*a opini$o# deveria prevalecer uma forma$oabsolutamente livre do *omem# orientada t$o pouco quanto poss"vel /s condies civis.

    (e se deseja proibir / instru$o p&blica todo favorecimento positivo desta ou daquelaeduca$o# se se quer obrig,la a incentivar unicamente o pr+prio desenvolvimento dasforas do *omem# isto n$o reali!vel# j que o que possui unidade de ordenamento tra!consigo certa uniformidade de a$o. Portanto# tampouco se v- sob esta *ip+tese a utilidadede uma educa$o p&blica. Porque o seu prop+sito s+ evitar que as crianas fiqueminteiramente sem instru$o% ent$o# seria mais fcil e menos prejudicial impor tutores aospais negligentes ou subvencionar aos indigentes.

    2lm disso# a educa$o p&blica tampouco logra o prop+sito a que se destina# isto # aconforma$o dos costumes segundo o modelo que o Estado julga mais adequado para ele.Por mais importante que seja e por muito que se e)era durante toda a vida a influ-ncia daeduca$o# sempre s$o mais importantes ainda as circunst'ncias que acompan*am o *omemem sua vida inteira. Por conseguinte# me parece que a instru$o p&blica est inteiramentefora dos limites em que o Estado deve manter sua a$o.

    ?

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    7/14

    Captulo %$eligio

    2lm da educa$o dos jovens# e)iste um outro meio importante de e)ercer uma influ-nciasobre os costumes e o carter de uma na$o# atravs do qual o Estado se esfora por educar#

    por assim di!er# o *omem plenamente crescido# acompan*a,o atravs do inteiro curso davida na sua maneira de pensar e agir# e tem por meta dar,l*e alguma dire$o espec"fica epreviamente concebida# ou evitar provveis desvios do camin*o traado. Estamos falandoda religi$o.

    2 *ist+ria mostra,nos que todos os Estados t-m feito uso desse tipo de influ-ncia# emborapor meio de prop+sitos bem diferentes# e em diferentes graus para agir sobre os costumesatravs das idias religiosas. =uando o Estado acredita que a moralidade e a religiosidadeest$o inseparavelmente associadas e considera que pode e deve valer,se delas como formade influenciar# torna,se dif"cil que n$o prefira uma religi$o / outra. O Estado tende# porconseguinte# a favorecer indiretamente as crenas que o beneficiem# suprimindo outras

    poss"veis crenas dos indiv"duos. @evido / ambig:idade de todas as e)presses# o Estadoseria obrigado a fornecer alguma interpreta$o definitiva do termo religiosidade# antes quea pudesse aplicar como uma regra clara de conduta. 2ssim sendo# eu negaria# de maneiraabsoluta# qualquer possibilidade de interfer-ncia do Estado em assuntos religiosos.

    2ssim sendo# posso proceder ao estabelecimento do princ"pio# sem d&vida de modo algumnovo# de que tudo que di! respeito / religi$o e)iste para alm da esfera da atividade doEstado e de que a escol*a de clrigos# assim como tudo o que se relacione com o cultoreligioso em geral# deve ser dei)ado ao livre ju"!o das comunidades a que se referem# semqualquer supervis$o especial da parte do Estado.

    Captulo &!primoramento da moral

    Os &ltimos meios utili!ados pelo Estado para reformar os costumes# de acordo com a suaconcep$o da manuten$o da segurana# s$o a influ-ncia de leis especiais e suaspromulgaes. ;as como estas constituem medidas indiretas em face da virtude e damoralidade# provises especiais dessa nature!a n$o podem fa!er mais do que coibir certasaes particulares dos cidad$os# ou limitar aquelas que# embora sem infringir diretamenteos direitos dos outros# s$o imorais ou suscet"veis de condu!ir / imoralidade.

    2 imoralidade tem por origem uma e)cessiva propens$o da alma ao sensual% ou adespropor$o geral entre os desejos e os impulsos dos *omens# e os meios de satisfa$o quesua posi$o e)terna dispe. Pareceria consistente com a verdadeira finalidade do Estadoconfinar a lu)&ria a seus devidos limites# j que ela a fonte da qual nascem todos osconflitos entre os *omens.

    2s impresses# inclinaes# e pai)es que t-m como fonte imediata os sentidos s$o aquelasque primeiro e mais violentamente se mostram na nature!a *umana. O sensual e o espiritualest$o ligados por um v"nculo misterioso# sentido por nossas emoes# mas escondido de

    C

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    8/14

    nossos ol*os. 2 vida moral a prov"ncia espec"fica da fria ra!$o. Portanto# apenas a idiado sublime que nos capacita a obedecer /s leis absolutas e condicionais# ambas *umanas#por meio do sentimento e com um desinteresse divino# atravs da m)ima aus-ncia de todarefer-ncia subseq:ente / felicidade ou ao infort&nio. =uando a lei moral nos obriga aconsiderar cada *omem como um fim em si mesmo# ela acaba por fundir,se com aquele

    sentimento pelo belo que ama animar o mais simples dos barros# de modo que at mesmonele possa rego!ijar,se numa e)ist-ncia individual.

    $o importa o qu$o ansiosamente o *omem possa se esforar por manter,se preso aopra!er# ou o quanto ele possa tentar representar a si mesmo numa uni$o constante entre afelicidade e a virtude# mesmo sob as condies as mais desfavorveis# sua alma ainda assimpermanece viva para a grande!a da lei moral. O sensualismo# com todas as suasconseq:-ncias benficas# encontra,se entrelaado com o inteiro tecido da vida *umana esuas buscas. Dostaria de angariar para ele uma maior liberdade e estima. o entanto# n$ocabe esquecer que o sensualismo tambm a fonte imediata de in&meros males f"sicos emorais. 2t mesmo sob o ponto de vista moral# ele s+ benfico numa rela$o apropriadacom o e)erc"cio das faculdades espirituais% ele facilmente e)erce uma preponder'nciaprejudicial.

    3oncluindo# em ra!$o dos princ"pios desenvolvidos# que desaprovam qualquer eficciaestatal direcionada para metas positivas e que se aplicam aqui como com fora particular# jque precisamente o *omem moral aquele que sente mais profundamente cada uma dasrestries# refletindo# alm disso# sobre o fato de que# se e)iste um aspecto dodesenvolvimento que mais que qualquer outro deve sua mais alta e)press$o de bele!a /liberdade# esse precisamente o cultivo do carter e da moral. esse caso# a justia doprinc"pio que se segue tornar,se, suficientemente +bvia6 o Estado deve abster,se porcompleto de qualquer tentativa de atuar direta ou indiretamente sobre os costumes ou ocarter da na$o# a n$o ser quando isso possa se tornar inevitvel como uma conseq:-ncianatural de outras medidas absolutamente necessrias% e que tudo que possa favorecer esseprop+sito# em particular toda medida especial sobre a educa$o# religi$o# leis da lu)&ria#etc.# est absolutamente fora dos limites de suas atividades.

    Captulo '! solicitude do Estado pela segurana definida mais precisa e positivamente.

    Desenvolvimento adicional da id%ia da segurana

    2gora que completei as mais importantes e dif"ceis partes da presente investiga$o e meapro)imei da solu$o do grande problema que ela envolve# torna,se necessrio rever oprogresso obtido at este ponto e tentar resumir seus resultados.

    Primeiro# os cuidados do Estado devem ser retirados de todo objeto que n$o estiverimediatamente relacionado com a segurana interna e e)terna dos cidad$os. (egundo# essamesma segurana foi representada como um objeto real da atividade do Estado% por fim#concordou,se que n$o permiss"vel para a promo$o desse objetivo que o estado sejaconcebido para atuar sobre os costumes e o carter da na$o# para desvi,la para ou dequalquer curso particular.

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    9/14

    2 atividade do Estado s+ pode estender sua influ-ncia a aes que impliquem avano sobrede uns sobre os direitos dos outros% para a tarefa de decidir nos casos de direito em disputa%e para corrigir a infra$o e punir o infrator. 2 idia de segurana# abarcando t$o somente asegurana contra a agress$o de inimigos e)ternos e contra o esp"rito agressivo dosconcidad$os# varia em e)tens$o e aplica$o# j que podemos entend-,la como a segurana

    contra uma particular forma ou grau de influ-ncia coercitiva# ou contra alguma infra$oespec"fica de direitos.

    Os cidad$os est$o segurosem um Estado se# no e)erc"cio dos seus direitos de pessoa e depropriedade# n$o s$o perturbados por usurpa$o al*eia% por essa ra!$o# c*amo segurana acerte!a da liberdade sob a lei. Esta determina$o n$o foi introdu!ida ou escol*ida por mimde forma arbitrria. Pois somente as transgresses reais do direito tornam necessrio outropoder alm daquele de que o pr+prio indiv"duo dispe% apenas aquilo que detm taisviolaes proporciona um gan*o l"quido para a verdadeira forma$o do *omem# emcircunst'ncias que qualquer outro empen*o do Estado pe obstculos em seu camin*o%somente isso flui finalmente do princ"pio infal"vel da necessidade# j que tudo o mais esterigido sobre a base insegura de vantagens calculadas segundo verossimil*anas enganosas.

    2queles cuja segurana deve ser preservada s$o# de um lado# os cidad$os# em todaigualdade# e por outro# o pr+prio Estado. 2 segurana do Estado tem um objetivo da maiorou menor import'ncia dependendo da e)tens$o de seus direitos e de seus limites# e essadetermina$o depende# em conseq:-ncia# da determina$o da finalidade da mesma.

    2 segurana perturbada por aes que usurpam por si mesmas o direito al*eio# ou poraes que levam ao temor dessa usurpa$o. 3abe ao Estado proibir ou tentar impedir osdois tipos de aes% quando ocorreram# deve cuidar para que no futuro sejam menosfreq:entes# mediante uma repara$o legal do dano causado ou mediante penas. @aqui seoriginam as leis policiais# civis e criminais. 2 isso se adiciona um outro objeto% refiro,meaos que ainda n$o alcanaram ainda a idade de madure!a e a aqueles a quem algumaloucura ou defici-ncia mental priva do uso de suas foras *umanas. 3abe ao Estado cuidarigualmente da segurana deles.

    Captulo ()Sobre a solicitude do Estado pela segurana com relao &s a"es 'ue se relacionam

    diretamente com o agente apenas (leis policiais)

    Para cuidar da segurana dos cidad$os# o Estado deve proibir ou limitar aquelas aesrelativas imediatamente s+ ao agente# cujas conseq:-ncias infringem os direitos dos outros#isto # menoscabam sua liberdade ou sua propriedade sem o consentimento deles oucontrariamente a eles# ou aquelas das quais se possa verossimilmente temer isso%verossimil*ana que em todo caso deve levar,se em considera$o a magnitude do dano quese teme e a import'ncia da limita$o da liberdade que se seguiria a uma lei proibitiva.=ualquer limita$o adicional da liberdade# ou decorrente de outros pontos de vista# seencontra fora dos limites da a$o do Estado.

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    10/14

    Captulo ((

    Da solicitude do Estado pela segurana com relao s aes que se relacionam

    diretamente com o agente apenas (leis policiais)

    Onde o *omem n$o permanece dentro do c"rculo de seus poderes e de sua propriedade# masempreende aes que afetam diretamente a terceiros# a preocupa$o com a segurana impeao Estado as seguintes obrigaes6

    4. 3om rela$o /s aes reali!adas sem o consentimento ou contra a vontade de terceiros#ele deve proibir que os terceiros sejam prejudicados no go!o de seus poderes ou na posse desua propriedade% no caso de transgress$o# deve obrigar o culpado a reparar o danoocasionado# mas deve impedir que o prejudicado# com ou sem esse prete)to# e)era umavingana privada.

    9. 2s aes que s$o reali!adas com o livre consentimento de terceiros devem serrestringidas dentro dos mesmos limites# limites estes n$o mais estreitos que os prescritospara as aes mencionadas no caso anterior.

    . ;esmo no caso de contratos vlidos# se tais obrigaes

    pessoais# ou# ainda mais# se tal rela$o pessoal cont"nua segue,se como calculado pararestringir a liberdade dentro de limites bem estreitos# o Estado precisa facilitar a libera$odo contrato# mesmo contra a vontade de uma parte e sempre de acordo com o grau de danocausado por essa restri$o ao cultivo interno de si mesmo. @a" que# nos casos em que odesempen*o de deveres que emergem da rela$o encontra,se intimamente relacionado coma sensibilidade# o Estado dever conceder sempre o poder de libera$o incondicionada.3ontudo# onde quer que Ga limita$o sendo ainda algo estreitaH essa cone)$o n$o se revelet$o "ntima# necessrio permitir o poder de retirada ap+s o lapso de certo tempo# desta ve!sendo determinada de acordo com a import'ncia da restri$o e a nature!a daquilo que foirestringido.

    B. (e algum quer dispor de seus bens em caso de morte# seria aconsel*vel permitir quenomeasse o *erdeiro imediato# mas sem permitir que se acrescente nen*uma condi$olimitante do poder daquele que *erda para que dispon*a dos bens de acordo com seu livrearb"trio e desejo.

    4I

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    11/14

    ?. 1# contudo necessrio proibir quaisquer disposies dessa nature!a# decidir sobre algumaordem de sucess$o ab intestato e fi)ar a por$o que cabe / fam"lia do testador.

    C. Embora contratos pactuados entre vivos se transferiram aos seus *erdeiros e devam sercumpridos# na medida em que modificam aquilo que foi dei)ado atrs# o Estado deve n$o

    apenas impedir qualquer e)tens$o adicional desse princ"pio# mas seria tambm efica! emlimitar certos contratos que ocasionam relaes "ntimas e restritivas entre as partes Gcomo#por e)emplo# a divis$o de direitos sobre uma coisa entre vrias pessoasH ao per"odo de vidaapenas% ou# pelo menos# facilitar a dissolu$o pelos *erdeiros de uma ou outra parte. 5ssoporque# embora as mesmas ra!es n$o se apliquem como no caso precedente das relaespessoais# ainda que a vontade dos *erdeiros seja menos livre# a continua$o da rela$o infinitamente longa.

    Captulo (

    Sobre a solicitude do Estado para com a segurana tal como manifestada na deciso

    *urdica de disputa entre os cidados

    Jm dos principais deveres do Estado a investiga$o e resolu$o das controvrsias legaisdos cidad$os. Ele atua nisso em lugar das partes e tem como &nica finalidade proteg-,las dee)ig-ncias injustificadas# por um lado# e# por outro# dar apenas /quelas cujo devido peso econsidera$o s+ poderiam ser obtidos pelos pr+prios cidad$os# de alguma forma prejudicial/ ordem p&blica. @urante o processo de investiga$o# por conseguinte# o Estado deveconsultar os desejos das partes 8 tanto quanto esses estejam apoiados nos mais estritosprinc"pios de justia 8 mas precisa impedir tanto um quanto o outro de usarem meiosinjustos contra si mesmos.

    2 decis$o do jui!# em casos de direitos contestados# s+ pode ser proferida se e)ig-nciaslegais particulares *ouverem sido satisfeitas. 2 partir disso surge a necessidade de umanova classe de leis# a saber# aquelas que s$o concebidas para especificar certas e)ig-nciasda validade das transaes legais. 2o formatar tais leis# o legislador precisa ser guiado pordois objetivos apenas6 prover a autentica$o de transaes legais e facilitar a provanecessria nos processos% em segundo lugar# ser cuidadoso para n$o cair no e)tremooposto# ou seja# tornar as transaes dif"ceis demais. 2lm do mais# n$o deve nunca imporregulamentaes onde poderiam quase significar torn,las imposs"veis.

    Captulo (!

    Sobre a solicitude pela segurana tal como manifestada na pena de transgresso das leis

    do Estado (leis penais)

    Jm dos principais meios para a manuten$o da segurana a puni$o dos transgressoresdas leis do Estado. O Estado deve infligir penas a toda a$o que cause dano aos direitos doscidad$os e tambm a toda a$o pela qual se transgrida alguma de suas leis.

    2 pena mais grave deve ser a mais branda poss"vel# segundo as circunst'ncias particulares

    44

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    12/14

    de tempo e de lugar. 2 partir dessa# todas as demais penas devem ser determinadas# empropor$o aos delitos cometidos. 1 por essa ra!$o que a pena mais grave deve ser reservadaa quem viola o direito mais importante do pr+prio Estado% uma menos severa a queminflige um direito igualmente importante de um cidad$o individual% e# por &ltimo# umaainda mais branda a quem s+ transgrediu uma lei cujo prop+sito seja impedir uma infra$o

    meramente poss"vel.7oda lei penal s+ pode ser aplicada a quem a transgrediu com inten$o ou com culpa# eunicamente na e)tens$o em que demonstrou falta de respeito ao direito al*eio.

    a investiga$o de delitos cometidos# o Estado pode utili!ar os meio adequado / finalidade%mas nen*um daqueles que tratem o cidad$o que meramente suspeito como se j fosse umcriminoso# nem tampouco qualquer outro meio que viole os direitos do *omem e docidad$o# que o Estado deve respeitar at mesmo sendo o criminoso# ou que tornaria oEstado culpado de uma a$o imoral.

    O Estado deve apenas adotar dispositivos especiais de preven$o aos crimes ainda n$ocometidos# na medida em que tais dispositivos sejam para evitar a perpetra$o iminente. Etodos os outros# n$o importa se concebidos para contra,restar as causas do crime ou paraevitar as aes# inofensivas em si mesmas# mas que condu!em frequentemente a ofensascriminais# encontram,se completamente fora dos limites de a$o do Estado.

    (e parecer *aver contradi$o entre esse princ"pio e aquele estabelecido em rela$o /s aesdos indiv"duos# n$o se deve esquecer que a quest$o anterior aplicava,se /s aes que emsuas conseq:-ncias imediatas *averiam provavelmente de infringir os direitos dos outros# eque aqui estamos considerando aquelas a partir dos quais# a fim de produ!ir este efeito# umaa$o subseq:ente precisa prosseguir.

    Captulo (#

    +edidas para a manuteno do Estado. ,inaliao da teoria

    @e modo a poder reali!ar at mesmo os objetivos mais limitados# o Estado precisa auferirreceita suficiente. E)istem# ao que parece# apenas tr-s fontes de receita estatal6

    4. 2 propriedade que tem sido reservada ao Estado# ou subsequentemente adquirida%

    9. 5mpostos diretos%

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    13/14

    e)peri-ncia ensina,nos que a multiplicidade de instituies e)igida para bem dispA,las eagili!,las. E todas essas# de acordo com o nosso racioc"nio prvio# devem serinquestionavelmente desaprovadas. 2 ta)a$o direta ent$o tudo que resta. E deveriaincidir n$o somente sobre a agricultura# mas tambm sobre os frutos do trabal*o.

    (e# no entanto# o sistema de ta)a$o direta ao qual estamos redu!idos n$o for injustamentecondenado como o pior e mais entravado dos sistemas financeiros# n$o devemos esquecerque o Estado# cuja atividade circunscrevemos t$o estreitamente# n$o necessita de grandesreceitas e que o Estado que n$o possua interesses especiais voltados para si mesmo# almdaqueles de seus cidad$os# estar mais garantido pelo apoio dado por uma na$o livre e# porconseguinte# de acordo com a e)peri-ncia de todas as pocas# mais pr+spera.

    Captulo ($

    !plicao pr#tica da teoria proposta

    Para o fruto mais formoso do esp"rito# a realidade n$o est nunca suficientemente madura% oideal deve estar sempre ante os ol*os de todo criador como um modelo inalcanvel. Essasra!es recomendam# pois# ainda que para as teorias mais conseq:entes e menos duvidosas#um cuidado mais que rotineiro em sua aplica$o.

    Os princ"pios mais gerais da teoria de todas as reformas deveriam ser talve! os seguintes6

    4. $o dever"amos nunca tentar transferir princ"pios puramente te+ricos para a realidade#at que esta &ltima n$o oferea quaisquer outros obstculos / consecu$o de resultados aos

    quais os princ"pios deveriam sempre condu!ir# na aus-ncia de interfer-ncia e)terna.9. Para reali!ar a transi$o das circunst'ncias presentes /quelas que foram planejadas# cadareforma deveria ser permitida a proceder# tanto quanto poss"vel# das mentes e pensamentosdos *omens.

    o comeo deste ensaio observei que o *omem se inclina mais / domina$o que /liberdade# e que uma estrutura de dom"nio n$o apenas agrada aos ol*os do sen*or que aestimula e protege# mas at mesmos os servos s$o estimulados pelo pensamento de quefa!em parte de um todo que se eleva bem acima da vida e da fora de geraes isoladas.Onde esta perspectiva ainda predominante para cativar a admira$o dos *omens# a energiadeve desvanecer,se# e surgem a negligencia e a inatividade quando se quer obrigar o*omem a atuar somente em si e para si# unicamente no espao que suas pr+prias forasabarcam e pela dura$o do tempo de sua vida.

    ;as verdade que esse realmente o &nico camin*o no qual o *omem pode atuar emtempo e espao ilimitados# embora ele o faa indiretamente. Ele lana sementes quebrotar$o espontaneamente# em ve! de erigir estruturas que mostram diretamente as marcasde sua m$o. E necessrio um n"vel mais elevado de cultura para elaborar seus pr+prios

    4

  • 8/13/2019 Revista Banco de Ideias n 44 - Sumrio - Humboldt

    14/14

    resultados# em ve! de algo que as estabelea de uma ve! por todas. 1 esse grau de culturaque mostra que o tempo est maduro para a liberdade. ;as a capacidade de liberdade quesurge de tal grau de cultura n$o um lugar algum perfeita. E essa perfei$o# quero crer# estdestinada a permanecer para alm do alcance da nature!a sensual do *omem# que sempre odispe a se apegar a objetos e)ternos.

    3om vistas aos limites de sua a$o# o Estado deve se esforar por manter a condi$o realdas coisas t$o pr+)ima quanto poss"vel daquelas prescritas pela verdade e pela teoria justa#e desde que n$o esteja em oposi$o /s ra!es da verdadeira necessidade. 2s possibilidadesconsistem no fato de que os *omens est$o preparados para receber as conseq:-nciassalutares que sempre acompan*am sua opera$o desimpedida. 2s ra!es da necessidadeque podem surgir em oposi$o s$o6 a liberdade# uma ve! assegurada# n$o vista no sentidode destruir essas condies# sem as quais n$o apenas todo progresso subseq:ente# mas atmesmo a e)ist-ncia em si encontra,se em perigo. Em ambos os casos o julgamento doestadista precisa ser formado a partir de uma compara$o cuidadosa entre o presente estadode coisas e a mudana contemplada# assim como entre suas respectivas conseq:-ncias.

    4>