revista atuação - edição 10ª - agosto de 2014

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EDIÇÃO 10 | AGOSTO 2014 UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL MAIS TEMPO NA ESCOLA O BRASIL AVANÇA RUMO À OFERTA DA EDUCAÇÃO INTEGRAL NA REDE PÚBLICA DE ENSINO PÁG. 20

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Revista Atuação - Edição 10ª - Agosto de 2014 Revista Atuação, uma publicação da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS). Redação e Produção:Íris Comunicação Integrada; Diretora de Criação: Nanci Silva; Diretor de arte: Ivan Cardeal Nunes e José HG; Jornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242); Revisão: Greice Maciel; Colaboraram nesta edição: Naiane Mesquita; Fotos: Wilson Jr.;Thiago Lung; Rua Chafica Fatuche Abussafi, 200; Vila Nascente - CEP 79036-112; Campo Grande; Mato Grosso do Sul; Brasil

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Page 1: Revista Atuação - Edição 10ª - Agosto de 2014

EDIÇÃO 10 | AGOSTO 2014UMA PUBLICAÇÃO DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORESEM EDUCAÇÃO DE MATO GROSSO DO SUL

MAIS TEMPONA ESCOLA

O BRASIL AVANÇA RUMO À OFERTA DAEDUCAÇÃO INTEGRAL NA REDE PÚBLICA DE ENSINO PÁG. 20

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Capacitação .......................................................................................................................................10

A partir de 2015, o Pronatec deve oferecer 12 milhões de vagas em 220 cursos técnicos de Nível Médio e em 646 cursos de qualificação

EXPEDIENTE DESTAQUES

Redação e Produção Íris Comunicação IntegradaRua Chafica Fatuche Abussafi, 200Parque dos Poderes - 79036-112Campo Grande/MS+ 55 67 3025.6466

Diretora de criação: Nanci SilvaDiretor de arte: Ivan Cardeal Nunes e José HGJornalista responsável e editora: Laura Samudio Chudecki (DRT-MS 242)

Revisão: Greice MacielColaboraram nesta ediçãoNaiane Mesquita

FotosWilson Jr.Thiago LungOs textos assinados são de responsabilidade dos autores e

não representam, necessariamente, a opinião da revista.

Fátima do Sul .....................................................................................................................................7

No interior do estado, revista Atuação é usada como material de apoio pedagógico, enriquecendo o conteúdo aplicado em sala de aula

Música ..................................................................................................................................................40

Em entrevista, Almir Sater diz que a sociedade, o poder público e a igreja são responsáveis por promover o ensino no país

Capa

Literatura

...................................................................................................................................................20

...........................................................................................................................................36

Educação integral começa a ser implantada na rede pública de ensino, “mas o Brasil ainda tem um grande caminho a percorrer”, afirma Jaqueline Moll

Escola estadual inova ao implantar academia de letras que incentiva a prática da lei-tura e da escrita entre os estudantes

WWW.FETEMS.ORG.BRRua 26 de Agosto, 2.296, Bairro Amambaí. Campo Grande - MS

CEP 79005-030. Fone: (67) 3382.0036. E-mail: [email protected]

DiretoriaPresidente: Roberto Magno Botareli CesarVice-presidente: Sueli Veiga MeloSecretária-Geral: Deumeires Batista de Souza Rodrigues de Morais Secretário Adjunto: Marcos Antonio Paz Daz SilveiraSecretário de Finanças: Jaime Teixeira (Licenciado)Sec. Adjunto de Finanças: José Remijo PerecinSec. de Formação Sindical: Joaquim Donizete de MatosSec. para Assuntos Jurídicos: Amarildo do PradoSec. de Assuntos Educacionais: Joscemir Josmar MorescoSec. dos Func. Administrativos: Wilds Ovando PereiraSec. de Comunicação: Ademir CerriSec. de Administração e Patrimônio: Paulo Antonio dos SantosSec. de Política Municipal: Ademar Plácido da RosaSec. de Políticas Sociais: Iara Gutierrez CuellarSec. dos Aposentados e Assuntos Previdenciários: José Felix FilhoSec. dos Espec. em Ed. e Coordenadores Pedagógicos: Sebastião Serafim GarciaSec. de Relações de Gênero: Cristiane de Fátima PinheiroSec. de Combate ao Racismo: Maria Laura Castro dos SantosSec. da Saúde dos (as) Trabalhadores (as) em Educação: Maria Ildonei de Lima PedraDepartamento dos Trabalhadores na Educação no Campo: Leuslania Cruz de MatosSuplente 1: Nilson Francisco da SilvaSuplente 2: Rejane Eurides Sichinel SilvaSuplente 3: Idelcides Gutierres DengueSuplente 4: Elizabeth Raimunda da Silva SigariniSuplente 5: Ivarlete PinheiroSuplente 6: Maria Suely Lima da Rocha

Vice-presidentes regionais: Amambai: Olga Tobias Mariano e Valério LopesAquidauana: Jefersom de Pádua Melo e José de Ávila FerrazCampo Grande: Paulo Cesar Lima e Renato Pires de PaulaCorumbá: Luizio Wilson Espinosa e Antonio Celso M. dos SantosCoxim: Thereza Cristina Ferreira Pedro e Onivan de Lima CorreiaDourados: Anderci Silva e Apolinário CandadoFátima do Sul: Maria Jorge Leite da Silva e Nilsa Maria Bolsanelo SalesJardim: Ludemar Solis Nazareth Azambuja e Sandra Luiza da SilvaNaviraí: Valdecir Roberto Mandalho e Margareti Macena de LimaNova Andradina: Edson Granato e Izabel Silveira da RosaParanaíba: Tânia Mara de Morais Silva e Tânia Aparecida da Silva MarquesPonta Porã: Joel Aparecido Barbosa Pereira e Luiz Carlos Marques ValejoTacuru: Jandir Carlos Dallabrida e Elizeu Gomes da SilvaTrês Lagoas: Maria Aparecida Diogo e Maria Inês Anselmo Costa

Delegados de base à CNTE: Campo Grande: Idalina SilvaMiranda: Robelsi PereiraNova Andradina: Maurício dos Santos

Conselho Fiscal da FETEMS: Anastácio: Rodney Custódio da SilvaCampo Grande: Alceu Wanderley LancineDourados: José Aureliano da SilvaCosta Rica: Rosely Cruz MachadoNova Alvorada do Sul: Irene do Carmo

Assessoria de Imprensa da FETEMS: Karina Vilas Boas, Azael Júnior e Mayara Sá

5Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014 |

Page 4: Revista Atuação - Edição 10ª - Agosto de 2014

EDITORIAL FÁTIMA DOSUL

Seguindo em frente por mais direitos, conquistas e um Brasil melhor

Recentemente, passamos por mais uma campanha eleitoral na FETEMS. Uma disputa pautada pela democracia e pelo respeito entre os adversários, que resultou na vitória da Chapa 2 – FETEMS Cada Vez Mais Forte.

Passada a euforia do momento eleitoral, agora é hora de nos concentrarmos nas realizações dos compromissos firmados com a categoria. Já iniciamos o segundo semestre de 2014 com planejamentos e ações, seguindo em frente pela ampliação de direitos e conquistas aos trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul.

Sentimo-nos extremamente honrados por cada um dos votos de confiança que recebemos. Isso demonstra a credibilidade que adquirimos com o trabalho sério, ético, transparente e feito em prol do coletivo.

É preciso entender que cada um dos direitos que garantimos, cada uma das conquistas que comemoramos até agora são frutos de muita luta, de muita dedicação e, principalmente, são resultados da vontade de mudança e de amor pela educação. As conquistas da educação pública são, acima de tudo, conquistas da sociedade, pois, sem educação, não há transformação.

Aproveitamos a oportunidade para pedir o compromisso de todos durante as eleições 2014. Logo teremos novos governantes e representantes nas esferas estadual e federal. Vamos votar com consciência, em candidatos que melhor representem a educação, a saúde, a segurança, a assistência social, a cultura, o esporte, o desenvolvimento sustentável, o trabalho, a dignidade e o respeito que todos nós merecemos.

É nas urnas que decidimos o futuro do país. É nas urnas que vamos decidir o futuro da educação pública, a garantia de acesso e a permanência de todos os cidadãos brasileiros nas escolas, a valorização dos profissionais, a oferta do ensino integral, a educação inclusiva, os cursos profissionalizantes e a ampliação das políticas públicas de acesso aos cursos de graduação. É nas urnas que vamos construir um Brasil melhor para se viver!

Roberto Magno Botareli CesarPresidente da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul

Fugir dos tradicionais li-vros de História ao in-cluir novas ferramentas

de trabalho foi a forma encon-trada pelo professor Wagner Cordeiro Chagas para provocar o debate entre os alunos da Es-cola Estadual Vicente Pallotti, em Fátima do Sul/MS.

Wagner teve contato com a revista Atuação, publicada em março, que abordava os 35 anos da luta sindical da Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (FETEMS) e traçou um paralelo com o início do sindicalismo durante a Revolução Industrial, a partir do século XVIII, na Inglaterra. “Sou filiado ao Sindicato Municipal dos Trabalhadores em Educação em Dourados (SIMTED de

Dourados), e eles enviam a revista para a escola onde eu trabalho. Percebi que o tema da última edição se adequava ao material que eu deveria trabalhar com os alunos do 2° ano do Ensino Médio, durante o segundo bimestre, que era a Revolução Industrial. Foi nessa época que os sindicatos começaram a surgir”, afirma o professor.

Mestrando em História pela Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), Wagner per-cebeu que era possível trabalhar o livro didático disponibilizado pela rede de ensino e a revista Atuação, de forma complemen-tar. “O uso da revista contribuiu com a metodologia em sala de aula. Os alunos gostaram muito

e se identificaram com o tema, principalmente porque eles es-tudam no período noturno e a maioria trabalha. Muitos dis-seram que se interessam pela questão sindical, apesar de o patrão não ver com bons olhos o envolvimento”, conta.

Segundo o professor, os alu-nos, que têm idade entre 16 e 20 anos, compreenderam que o sindicato é um importante instrumento de luta, de garan-tias e conquistas de direitos dos trabalhadores. “Sou formado há cinco anos e tento buscar novos métodos para trabalhar com os estudantes em sala de aula. Amo a profissão, e meu objetivo é que eles consigam aprender cada vez mais, se interessando pelo tema apresentado.”

Revista Atuação chega às salas de aulas

Reportagem sobre a história do movimento sindical da Educação em Mato Grosso do Sul é usada como material de apoio pedagógico na aula de História

7Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014 |

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Reeleito como presidente da FETEMS com 70% dos votos, o professor

Roberto Magno Botareli Cesar acredita que, além de continuar o trabalho desenvolvido nos últimos três anos, a Chapa 2 – FETEMS Cada Vez Mais Forte deve focar em novas batalhas. Presidente da Federação, ao lado da vice, Sueli Veiga, Roberto obteve 9.662 votos dos trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul, sendo que de 14 regionais, 13 apoiaram a atual gestão. “Vejo que esse resultado demonstra que estamos no caminho certo. Agora é hora de olhar para o futuro, pensar no coletivo, nos trabalhadores em Educação. Temos que entender que os grandes embates devem ser feitos contra o poder público e não entre os trabalhadores”, afirma o presidente.

As eleições foram realizadas no dia 2 de junho, e os repre-sentantes da Chapa 2 – FETEMS Cada Vez Mais Forte comanda-rão a diretoria durante o triênio 2014/2017. Na disputa, a Chapa 1 – Movimenta FETEMS com Au-tonomia e Luta, com Gleice Jane Barbosa e Gilvano K. Bronzoni, recebeu 4.027 votos, 29,4% do total de votantes.

Entre os novos desafios da diretoria citados por Roberto es-tão a implantação da Lei do Piso em 100% das redes municipais e o início do debate para que o Piso seja pago por 20 horas se-manais nos municípios onde já foi efetivado, assim como acon-tece na rede estadual. A reforma do Plano de Cargos e Carreira (PCC) também está em pauta. “Temos que começar a discus-são da reforma do Estatuto dos Profissionais da Educação, ou seja, o nosso Plano de Cargos e Carreira (PCC), disposto na Lei nº 087, para incluir o doutorado na carreira e mexer nos coefi-cientes do professor com espe-cialização e mestrado”, explica.

O presidente afirma que o in-terior do estado também entrará no debate do PCC. “Vamos ins-truir os SIMTEDs para que façam a revisão dos Planos de Cargos e Carreira nos municípios onde não há esses coeficientes. Além disso, vamos debater a licença sabática, que é uma licença que o professor tem o direito de ti-rar a cada sete anos de trabalho. Essa licença é remunerada e é específica para o profissional se capacitar. No seu retorno, a es-cola pública ganha qualidade”, aponta Roberto.

Além dos professores, Ro-berto afirma que os funcioná-rios administrativos também serão lembrados pela nova ges-tão. Entre as metas está a am-pliação do Profuncionário, um programa que visa a formação dos funcionários de escola, em efetivo exercício, em habilitação compatível com a atividade que exercem na escola.

A iniciativa do Ministério de Educação é resultado do Decre-to nº 7.415, de 30 de dezembro de 2010, que institui a política nacional de formação dos pro-fissionais da educação básica e dispõe sobre a formação inicial

A urgência em aprovar as mudanças no Estatuto e no Pla-no de Cargos e Carreira é em consequência da necessidade de oportunizar o crescimento do profissional e a sua remu-neração adequada. A proposta é que o doutorado na carreira chegue a 2.2 no valor do Piso Ini-cial do Magistério. Em relação à especialização, o valor passaria de 1.60 para 1.75, e, no caso de mestrado, de 1.65 para 1.90. “Se imaginarmos uma escola pública com 100% do quadro de docen-tes com mestrado e doutorado, dá para idealizar a qualidade da escola que teríamos? E para que isso aconteça, é necessário que o governo encontre alternativas para proporcionar ao profissio-nal da Educação oportunidades de valorização. Isso é um debate nacional que vem sendo defen-dido pela CNTE. Nós vamos lutar por esses direitos aqui em Mato Grosso do Sul”, promete.

Para fortalecer a classe, a di-retoria eleita já começou a exe-cutar o projeto de construção da nova sede administrativa da FETEMS. “Já compramos o ter-reno e estamos esperando a li-beração do alvará de construção pela Prefeitura de Campo Gran-de”, conta.

Implantação da Lei do Piso em 100% das redes municipais e reforma do Plano de Cargos e Carreira são algumas das metas da chapa eleita

em serviço dos funcionários da escola.

“Temos que avançar no que diz respeito aos administrati-vos. Ampliar o Profuncionário, fazendo com que ele esteja pre-sente em todos os municípios do estado, lutar pela implanta-ção do Piso Salarial Profissional Nacional para os administrati-vos da Educação, lutar pela im-plantação do Profuncionário de nível superior e tantas outras melhorias. Nós defendemos que os administrativos também são educadores, e, graças à dedica-ção deles, a escola acontece to-dos os dias”, afirma Roberto.

ELEIÇÕES DA FETEMS

9Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014 | 8 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014

Page 6: Revista Atuação - Edição 10ª - Agosto de 2014

CAPACITAÇÃO

A CERTEZA PARA QUEM PROCURA UMA VAGA NO MERCADO DE TRABALHO

Ensino técnico

11Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014 | 10 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014

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Com apenas 18 anos, o estudante Lucas Pena-cho concilia o intenso

3° ano do Ensino Médio com o curso técnico de Eletrônica. Apaixonado por tecnologia, como todo jovem que nasceu no século XX, o campo-gran-dense viu nos estudos a oportu-nidade para iniciar no mercado de trabalho. “Vale muito a pena. O crescimento é constante, tan-to na teoria quanto na prática. A base que se tem aqui ajuda no trabalho, no dia a dia”, conta o jovem.

Lucas integra o Programa Na-cional de Acesso ao Ensino Téc-nico e Emprego (Pronatec), do governo federal, que tem como objetivo capacitar 33 milhões de pessoas com idade entre 15 e 24 anos, até o ano de 2023. Os jovens ocupam 67,27% das va-gas ofertadas. O público femini-no se destaca com 60,37% das matrículas.

“Eu descobri o curso durante uma divulgação na escola. Isso foi em outubro de 2012. Como sempre gostei de eletrônica, re-solvi experimentar”, afirma o es-tudante.

Prestes a se formar, Lucas já trabalha como estagiário na ins-tituição onde estuda, o Centro de Educação Profissional Eze-quiel Ferreira (CEPEF), mantido pela Secretaria de Educação de Mato Grosso do Sul (SED) des-de 2003. O local foi a primeira escola técnica do estado e, atu-almente, oferece oito cursos, entre eles, Hospedagem e Co-municação Visual. “Nós temos estudantes de 18 a 70 anos, do aluno que já terminou o Ensino Médio há anos aos adolescentes que estão nas fases finais. Exis-tem muitas razões para a pro-cura do curso técnico”, explica Vagno Lopes Nascimento, dire-tor adjunto do CEPEF.

Mercado de trabalho

Descobrir uma profissão em pouco tempo, entrar ou melho-rar o desempenho no mercado de trabalho e até descobrir uma nova carreira são alguns dos mo-tivos de quem busca uma quali-ficação técnica. “Temos muitos exemplos no CEPEF de pesso-as que já trabalham em deter-minada área, mas precisam de qualificação. Por exemplo, nós temos um eletricista que traba-lhou durante anos na profissão. Ele aprendeu no cotidiano, com o auxílio de outro profissional, mas nunca teve uma formação. Depois de se inscrever no curso de Eletrotécnica, ele percebeu que, na prática, trabalhava com vários vícios e até mesmo colo-cava a segurança dele e de ou-tras pessoas em risco”, ressal-ta. Segundo o diretor, no caso da eletrotécnica, é até possível obter o registro de trabalho no Conselho Regional de Engenha-ria e Agronomia de Mato Grosso do Sul (CREA-MS).

A procura pelos cursos pro-fissionalizantes não é de hoje. O técnico em Tecnologia da In-formação Guilhermino Augusto Martins Júnior, 38 anos, ingres-sou no curso profissionalizante pela primeira vez em 1996. Na época, Guilhermino Júnior havia deixado os estudos para ajudar o pai em uma oficina mecânica. “Parei de estudar um tempo, e, um dia, uma professora me aconselhou a voltar para termi-nar o Ensino Médio e já fazer um curso técnico. Fiz Contabilida-de”, diz.

A segunda profissão acabou ficando de lado. “Não segui. Foi mais para concluir o Ensino Mé-dio. Acabei voltando para a ofi-cina e trabalhando um tempo como motorista de ônibus. Em 2006, decidi voltar aos estudos e escolhi o campo tecnológico”, frisa.

Atualmente, Júnior é forma-do em três cursos técnicos e está cursando outro. “Depois de

Contabilidade, eu fiz Montagem e Manutenção de Microcompu-tadores e Redes no Senac [Ser-viço Nacional de Aprendiza-gem]. Foi quando montei o meu laboratório, onde trabalho com reparo de computadores, confi-guração de modem, segurança de rede, entre outras funções.”

A corumbaense Neide Dan-tas, 48 anos, também acumula dois cursos técnicos na baga-gem: Técnico em Hospedagem de Turismo e Recursos Huma-nos. “Eu sempre achei que fosse velha para o mercado de traba-lho pela idade. Mas meus filhos começaram a fazer faculdade, e eu senti a vontade de começar a estudar. Fiquei sabendo do cur-so no CEPEF e resolvi tentar”, relembra.

Da tentativa a um estágio na Prefeitura Municipal de Campo Grande foi um pulo. “Vi que o curso abria possibilidades. Ti-

ATÉ O FINAL DE 2014, 20 MIL VAGAS PARA

CURSOS TÉCNICOS SERÃO OFERTADAS EM MATO

GROSSO DO SUL

Tipos de curso:

Técnico para quem concluiu o Ensino Médio, com duração mínima de um ano.Técnico para quem está matriculado no Ensino Médio, com duração mínima de um ano.Formação inicial e continuada ou qualificação profissional para trabalhadores, estudantes de Ensino Médio e beneficiários de programas federais de transferência de renda, com duração mínima de dois meses.

Desde sua efetivação, o programa já matriculou 7,3 milhões de brasileiros até o início de 2014. A meta divulgada em

junho pela presidente Dilma Rousseff prevê a criação de 12 milhões de vagas em 220 cursos técnicos de Nível Médio e

em 646 cursos de qualificação, a partir de 2015.

Para professores:- Para lecionar no Pronatec, o professor deve ser formado,

com certificado na área condizente com o curso.

COMO SE INSCREVER NO PRONATEC:

Quem pode se inscrever?Estudantes que já concluíram o Ensino Médio e

fizeram o ENEM.

VANTAGENS DO CURSO TÉCNICO

- O diploma técnico aumenta a renda em até 24%.- 72% dos alunos conseguem trabalho no primeiro ano de formados.- Enfermagem e cursos relacionados à construção civil e à segurança no trabalho são os campeões de procura.

Fonte: Senai

nha feito um estágio de oito me-ses na prefeitura e, depois, dois meses em um hotel. Isso foi um grande incentivo”, frisa.

Neide não pretende parar e já espera a abertura e a seleção de novas turmas. “Quando a gente quer estudar, não existe idade. Ainda tenho o sonho de me for-mar em um curso superior. Ago-ra que comecei a aprender, não quero mais parar.”

Programa

O Pronatec foi criado pelo

governo federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de Educação Profissio-nal e Tecnológica e é coordena-do pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Plano Brasil Sem Miséria (BSM), do Ministério do Desenvolvimento Social e Com-bate à Fome (MDS).

Desde sua efetivação, o pro-grama já matriculou 7,3 mi-lhões de brasileiros até o início de 2014. A meta divulgada em junho pela presidente Dilma Rousseff prevê a criação de 12 milhões de vagas em 220 cur-sos técnicos de Nível Médio e em 646 cursos de qualificação, a partir de 2015.

De acordo com Dionesio Du-tra Paulon, coordenador do Pro-natec na Universidade Anhan-guera-Uniderp, o programa surgiu da necessidade de suprir a falta de mão de obra técnica no Brasil, para atender a indús-

tria, o comércio e outros seg-mentos da economia.

“Como são cursos de curta duração (entre 1 e 2 anos), os estudantes, em sua grande maioria, conseguem emprego até mesmo antes de terminar os estudos, ou seja, uma resposta rápida do mercado de trabalho. O Pronatec oferece capacitações de acordo com as necessidades do mercado de trabalho de cada região. É uma ação de intermediação entre os que buscam trabalho e os que precisam dos trabalhadores”,

13Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014 | 12 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014

Page 8: Revista Atuação - Edição 10ª - Agosto de 2014

afirma Dionesio. Em Mato Grosso do Sul, se-

gundo dados do MDS, 2,9 mil alunos foram capacitados desde 2011 pelo programa. Até o final de 2014, a meta é ofertar 20 mil vagas no estado.

Estudando Eletrônica na Anhanguera-Uniderp, Guilher-mino Júnior afirma que procurou o ensino por uma necessidade do mercado. “Sou pai de famí-lia, tenho esposa e três filhos. O curso técnico traz um retorno financeiro mais rápido. Tenho o desejo de fazer um curso su-perior, Engenharia da Computa-ção, mas, por enquanto, o curso técnico me aponta um caminho mais certo”, acredita.

Além da CEPEF e da Anhan-guera-Uniderp, o Instituto Fe-deral de Mato Grosso do Sul

O Centro de Educação Profissional Ezequiel Ferreira Lima (CEPEF) tem turmas para os cursos de Técnico em Biblioteca, Técnico em Eletrotécnica, Técnico em Comunicação Visual, Técnico em Eventos, Técnico em Cozinha, Técnico em Hospedagem, Técnico em Eletrônica, Técnico em Recursos Humanos. Informações sobre cursos abertos e vagas disponíveis podem ser obtidas pelo telefone 3357-9000 ou pelo site www.sed.ms.gov.br/cepef.

(IFMS), o Senac, o Senai e as es-colas públicas oferecem o Pro-natec. Os cursos de qualificação profissional são de responsabi-lidade dos governos estaduais e municipais, ofertados gratui-tamente pelo Sistema S, sendo que os cursistas são beneficia-dos com assistência estudantil durante o período letivo, com recursos do governo federal. Contudo, nem todos os cursos ofertados no Senac são gratui-tos, mas é possível concorrer à gratuidade pelo Pronatec ou pelo Programa Senac de Gra-tuidade (PSG), oferecidos pela instituição.

Para mais informações sobre os cursos, inscrições e instituições de ensino, acesse o seguinte site www.pronatec.mec.gov.br

Dicas para uma boa leitura

Sem perder de vista o papel fundamental que a escola desempenha na sociedade, Luiz Carlos Cagliari faz um estudo de questões linguísticas na alfabetização. A obra mostra a importância dos conhecimentos linguís-ticos na interpretação e na busca de soluções para problemas técnicos relativos à fala, à escrita e à leitura infantis, enfatizando a relevância do conhecimento da natureza, da função e do uso da linguagem para um tra-balho eficiente em sala de aula. O autor pretende despertar os educadores para a necessidade de conhecer e considerar na prática escolar os fatores envolvidos no processo de alfabetização.

Nesse livro, você encontra: a linguística e o ensino do português; o que a criança pensa ao cometer “erros” ortográficos; cartaz com a origem das letras do alfabeto. Recomendado para as disciplinas: Língua Portuguesa, Didática, Psicologia e Fonoaudiologia.

‘Eu sou Malala’ é a história de uma família exilada pelo terrorismo glo-bal, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valori-zação da mulher em uma sociedade que privilegia filhos homens. O livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade so-cial, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã.

Alfabetização e linguísticaLuiz Carlos CagliariEditora Ática327 páginas

Eu sou Malala Malala Yousafzai Editora Companhia das Letras360 páginas

15Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014 | 14 | Revista ATUAÇÃO | Agosto 2014

Page 9: Revista Atuação - Edição 10ª - Agosto de 2014

Nós da FETEMS, CNTE e CUT entendemos que toda formação e toda

certificação técnica profissio-nalizante incidem diretamente nos processos de acesso, remu-neração, permanência, mobili-dade e migrações dos trabalha-

to no âmbito das relações de trabalho como nos espaços pú-blicos de diálogo social.

O Pronatec, na forma como está concebido, resgata princí-pios já superados na concepção da educação e na formação dos trabalhadores, como a noção de

dores no mercado de trabalho. Portanto, diz respeito a uma dimensão estratégica das rela-ções de trabalho, que é o direi-to à negociação da formação e da certificação profissional dos trabalhadores(as). Tal processo de negociação deve se dar tan-

empregabilidade e a desarticu-lação das dimensões da edu-cação propedêutica com as da educação técnica e tecnológica. Também reforça a proposta de concomitância; não avança na articulação entre as redes públi-cas, federal e estadual, de ensi-no técnico e tecnológico; reto-ma a noção de que o problema do desemprego diz respeito so-mente à baixa qualificação dos trabalhadores; intensifica o uso de verba pública pela iniciativa privada, entre outros. Não há projeção ou obrigatoriedade de contrapartidas sociais por parte das empresas que se beneficia-rão de recursos públicos dire-tamente por meio do acesso à linha de crédito – FIES Empresa – com recursos do BNDES.

Assim, apresentamos aqui a posição da CNTE sobre o Pro-natec.

Os riscos do Pronatec para a educação técnica profissional

Em 29 de abril de 2011, o go-verno federal enviou ao Con-gresso Nacional, em regime de urgência, a proposta que visa instituir o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Em-prego – Pronatec.

A primeira fase de tramita-ção da matéria encerrou-se em 31 de agosto, quando a Câma-ra dos Deputados aprovou o Substitutivo ao Projeto de Lei (PL) nº 1.209/2011. A este, foram agregadas emendas, a exem-plo da que estende as bolsas de estudos para estudantes de cursos técnicos profissionali-zantes e sequenciais de forma-ção específica, matriculados em instituições privadas de ensino profissional, com ou sem fins lucrativos (prevista no PL nº 1.288/2011), e a que condicio-na a liberação das parcelas do seguro-desemprego à compro-vação de frequência a curso de qualificação profissional (PL nº

1.343/2011). A proposta, agora, segue para apreciação do Sena-do.

Para a CNTE e grande parte das entidades educacionais e de representantes de trabalhado-res, excluídas do debate oficial na esfera de governo e na Câ-mara dos Deputados, a estrutura do Pronatec ameaça o conceito e os pressupostos da educação técnica profissional de nível mé-dio, consolidados, sobretudo, pelo Decreto nº 5.154, de 2004, e pela Lei nº 11.741, de 2008, em consonância com o Fundo da Educação Básica (Fundeb) e a Emenda Constitucional (EC) nº 59, sob os seguintes aspectos:

1. Não dimensiona o papel do Estado na oferta pública e gratuita de educação profissio-nal técnica de nível médio.

À luz da Constituição Federal (art. 208, I), o poder público é responsável pela oferta gratui-ta de ensino médio propedêuti-co e profissional, sobretudo na modalidade articulada, que se mostra a mais viável para trans-por as barreiras que impedem a universalização das matrículas nessa etapa de ensino.

Hoje, somente a metade dos jovens entre 15 e 17 anos está matriculada no ensino médio, e a falta de atratividade da es-cola tem se mostrado a princi-pal causa de evasão e distorção idade-série nesse corte etário.

Isso leva a crer que o investi-mento público no ensino médio profissional cumpre papel rele-vante tanto para a universaliza-ção das matrículas como para proporcionar aos jovens – espe-cialmente das camadas popu-lares da cidade e do campo – a oportunidade de obterem quali-ficação para ingresso no mundo do trabalho, como empregados ou empreendedores.

O déficit de mão de obra qualificada que o país atravessa

– fruto do descaso de décadas com a formação de qualidade do trabalhador – não deve ser tratado ao estilo de uma opera-ção “tapa-buraco” e sem o de-vido compromisso público. Se assim for, corre-se o risco de repetir desempenhos pífios e de desperdiçar dinheiro público.

Neste sentido, caberia ao Pronatec, especialmente em seus incisos I, II e VI do art. 4º do PL nº 1.209/2011, dimensio-nar os objetivos da EC nº 59, aliando-os à perspectiva de uma educação sólida com metas pre-vistas no Plano Nacional de Edu-cação. E para que o Estado zele pelo direito à educação pública gratuita, de qualidade e para to-dos, é preciso saber: Em quan-tas unidades será expandida a rede federal de educação pro-fissional e tecnológica ao longo da década? Quanto de recursos da União será destinado à ex-pansão das redes estaduais de educação profissional? Quantos estudantes terão acesso a essas redes públicas até o fim do pró-ximo PNE? E qual a matriz pe-dagógica da formação?

O não dimensionamento e a (re)orientação dessas questões--chave na proposta do Pronatec tendem a conduzir a educação técnica e tecnológica a outras graves consequências, a exem-plo das que se seguem neste documento.

 2. Flexibiliza o compromis-

so do Estado para com a oferta da educação técnica de nível médio e estimula a reserva de mercado educacional.

O projeto do Pronatec – apro-vado na Câmara – carrega con-sigo duas características que colidem com o recente cenário de expansão do direito à educa-ção básica (pública e gratuita) no Brasil. Ao mesmo tempo em que cria mercado para empre-sas educacionais, também pre-

ENSINO MÉDIO E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL:

Um debate de concepção de

Educação

ARTIGO

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vê onerar o estudante que não teve acesso ao ensino básico de qualidade, direcionando-o para o ingresso no FIES-Técnico/Profissional (programa de finan-ciamento estudantil do gover-no federal). Outro contrassenso refere-se à desoneração de im-postos empresariais para cur-sos de qualificação profissional de mínima duração (160 horas), que não apresentam nenhuma perspectiva de atendimento dos requisitos de qualidade da edu-cação (art. 205 e seguintes da Constituição).

Outra distorção do Prona-tec consiste na instauração do Prouni-Técnico/Tecnológico, em que instituições privadas de ensino se credenciarão para ministrar cursos concomitantes ao ensino médio. Embora esta modalidade tenha previsão le-gal, não é o que se espera do poder público, que pode e deve ampliar, continuamente, os cur-sos integrados de ensino médio à formação técnico-profissional (LDB, art. 36-C, I).

Quanto à bolsa-formação trabalhador, em se mantendo a perspectiva de sua concessão às instituições privadas, a me-dida deveria, ao menos, prever caráter emergencial e de cali-bração temporal, a fim de que os benefícios à iniciativa priva-da cessem no momento em que o poder público adequar sua oferta de matrículas à demanda social – com base nas metas do PNE.

3. Contrapõe o recente acor-do de expansão de matrículas gratuitas em âmbito do Siste-ma S.

A proposta do Executivo (e da Câmara) tende a contradizer o acordo selado em 2008, com os serviços nacionais de apren-dizagem (Sistema S), que previu a concessão de vagas gratuitas nessas instituições até 2014, nas

seguintes proporções:  Senai e Senac: 2/3 de vagas gratuitas sobre o total das ofertadas, e Sesc e Sesi: 1/3 de vagas gratui-tas.

Como o Pronatec prevê a possibilidade dessas entidades receberem recursos públicos provenientes da bolsa-forma-ção trabalhador (art. 4º, IV, do PL nº 1.209/2011), o objetivo do acordo não deve se concretizar, podendo, ainda, as novas fontes federais sobreporem não ape-nas os custos com as menciona-das vagas gratuitas, como tam-bém significarem acréscimo na receita líquida do Sistema S. Ou seja, a conta pode ficar pior que a troca de seis por meia dúzia! Pois, ao que tudo indica, a con-cessão de bolsas visa compen-sar as perdas financeiras com as vagas gratuitas que o sistema terá de arcar, com mais peso, a partir de 2014.

Eximir essas instituições da assinatura de contrato para re-cebimento de novas verbas via Pronatec (art. 6º do PL nº 1.209/2011) não parece algo sa-lutar. Ao contrário, deveriam ser estabelecidos critérios para aplicação dos cerca de R$ 11 bi-lhões arrecadados anualmente pelo Sistema S, que, somados às receitas de aplicações financei-ras (questionáveis do ponto de vista legal), renderam mais de R$ 16 bilhões às entidades pa-tronais no ano de 2010. Por con-sequência, a fiscalização desses recursos – que somam o dobro da complementação da União ao Fundeb – é outro tema sensí-vel à deliberação do Congresso, haja vista a dificuldade que os órgãos de controle encontram para executar plenamente a fis-calização dessas verbas públi-cas.

4. Inibe a expansão de instituições públicas de formação técnica e tecnológica compromissadas com a

formação cidadã. 

A CNTE, como a maioria das entidades educacionais, defen-de a aplicação de recursos pú-blicos exclusivamente em es-colas públicas. Isso porque, não obstante a Constituição Federal (art. 213, § 1º) prever a possi-bilidade de destinação desses recursos para instituições co-munitárias, confessionais ou fi-lantrópicas sem fins lucrativos, e somente quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede pública na localidade de residência do educando, o mes-mo texto da Carta Magna obriga o poder público a investir priori-tariamente na expansão de sua rede na localidade onde há défi-cit de vagas.

Mediante este desígnio, en-tendemos que o PL nº 1.288/2011 não deveria ter sido agregado ao Pronatec, uma vez que a edu-cação básica já conta com obri-gatoriedade gratuita na Consti-tuição, independentemente de sua oferta constar na modali-dade concomitante. Nesse mes-mo diapasão, a bolsa-formação estudante prevista no art. 4º, § 1º do PL nº 1.209/2011, destina-da às instituições do Sistema S e a entidades sem fins lucrati-vos (art. 8º do PL nº 1.209/2011), deve ser suprimida do projeto durante a tramitação no Sena-do, levando-se, ainda, em consi-deração os argumentos do item 2 deste documento.

Assim, um dos caminhos pro-missores para se equalizar a oferta pública de educação pro-fissional técnica de nível médio, à luz da EC nº 59, pressupõe o aprofundamento do regime de colaboração entre os entes pú-blicos por meio de convênios para construção e/ou adapta-ção das escolas públicas de ní-vel médio-profissional e para a formação profissional de pro-fessores e funcionários dessas escolas. Outro mecanismo con-

siste em incrementar, por meio da parcela de suplementação da União, o fator de distribuição per capita do Fundeb, visando à manutenção e ao desenvolvi-mento do ensino dessa moda-lidade da educação básica nas redes estaduais.

 5. Fomenta o reducionismo

curricular da formação para o trabalho.

Embora a educação profis-sional mantenha vínculo estrei-to com o mundo do trabalho, o Decreto nº 5.154, de 2004, e, posteriormente, a Lei nº 11.741, de 2008, trataram de conceber premissas a essa formação no sentido de articulá-la às áreas da educação, do trabalho e da ciência e tecnologia, em cursos que privilegiassem itinerários formativos, objetivando o de-senvolvimento de aptidões dos estudantes/trabalhadores para a vida produtiva e social.

Outro objetivo dessa nova concepção da educação pro-fissional – que norteia a LDB – diz respeito à oferta preferen-cialmente integrada a cursos de educação de jovens e adul-tos, objetivando a qualificação para o trabalho e a elevação do nível de escolaridade do(a) trabalhador(a).

Tal como se apresenta o pro-jeto do Pronatec, percebe-se que os eixos dos cursos per-passam, prioritariamente, pela qualificação profissional de cur-ta duração e pela formação téc-nica-profissional concomitante ao ensino médio, desprezando, portanto, as premissas curricu-lares e o papel social da forma-ção dos trabalhadores construí-das nos últimos sete anos.

O reducionismo curricular atende aos interesses dos agen-tes produtivos, interessados apenas na qualificação opera-cional da mão de obra. E para que seus objetivos sejam atin-

gidos com segurança, optaram em direcionar a formação para cursos e instituições privadas com currículos adstritos aos in-teresses corporativos.

Mesmo não alterando a LDB, a proposta original do Pronatec tende a abrir uma nova disputa conceitual sobre os horizontes da formação técnica-profissio-nal de nível médio, o que é bas-tante temerário para a qualida-de dessa modalidade de ensino. E, para se evitar esse retroces-so conceitual – conquistado a partir da interação da educa-ção profissional com os obje-tivos da formação pedagógica –, caberia ao próprio governo, agora em parceria com o Sena-do, estabelecer parâmetros e outros mecanismos de prazos para a oferta da qualificação re-querida pelo empresariado (de cunho emergencial), de modo a evitar que se confundam os objetivos da formação escolar técnica e tecnológica, recente-mente construídos com os(as) trabalhadores(as) e as institui-ções formadoras.

Por óbvio, a qualificação pro-fissional (mesmo operacional), no afã da atualização, da inser-ção e da promoção do traba-lhador no mundo do trabalho acaba por atraí-lo para essa modalidade. Mas trata-se de um benefício passageiro, sem raízes e com oportunidades restritas. Diante dessas perspectivas, não convém ampliá-la para além do que é necessário, para atender, pontualmente, a demanda repri-mida e necessária à manutenção do atual processo de crescimen-to econômico do país.

Em outra ação de governo, o Executivo deveria propor – no bojo do PNE – ações mais bem definidas – como as que se mostram no Pronatec – a fim de promover a educação profis-sional sob os desígnios do art. 205 da Constituição, quais se-jam: visando ao pleno desenvol-

vimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho, conferindo maior robustez ao processo de desenvolvimento inclusivo e sustentável do Brasil.

 6. Condiciona o trabalhador,

assistido por seguro-desem-prego, a vínculo empregatício sem direito de escolha.

Além de propor formas de financiamento público para a educação profissional e tecno-lógica, o Pronatec também al-tera as legislações do programa do seguro-desemprego e da se-guridade social. E, reforçando a proposta do Executivo, o PL nº 1.343/2011 – recepcionado em votação na Câmara – condicio-na a liberação das parcelas do seguro-desemprego à compro-vação de frequência a cursos de qualificação profissional.

Já o dispositivo que prevê o cancelamento de assistência ao trabalhador desempregado em razão de recusa, por parte deste, de outro emprego con-dizente com sua qualificação e remuneração anterior (art. 14 do PL nº 1.209/2011) tolhe o direi-to do trabalhador em avaliar as condições que envolvem a sua relação de emprego, o que é ar-bitrário e altamente questioná-vel na seara trabalhista.

Em suma: além das questões conceituais, também pairam muitas incertezas do ponto de vista jurídico na proposta do Pronatec. Esperamos que o Se-nado, ao contrário do que fez a Câmara dos Deputados, pro-mova um amplo debate com os setores envolvidos nesta impor-tante política pública, a fim de melhorar o projeto.

Brasília, 1º de setembro de 2011.Diretoria Executiva da CNTE

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CAPA

EDUCAÇÃO INTEGRALBrasil começa a investir na ampliação da jornada escolar na rede pública

A lista de espera era grande, sem previsão de quando o próximo

aluno seria chamado. Mesmo assim, a contadora, Wanessa Stephan Arantes, 33 anos, não desistiu, e depois de muita per-sistência conseguiu uma vaga para o filho de sete anos na Es-cola Municipal Prof.ª Iracema Maria Vicente, no bairro Rita Vieira, em Campo Grande/MS.

Wyllen Ludvig Stephan Aran-tes Santos estava matriculado em outra unidade da Rede Muni-cipal de Ensino (REME), mas só ficava na escola um período do dia. No outro, os pais precisa-vam se desdobrar para atender o menino. Matriculado na Escola Iracema, o problema foi resolvi-do. O aluno entra na escola às 7h30 e sai às 16h, e os pais con-seguem se organizar nos horá-rios de trabalho.

O drama de Wanessa é o mesmo enfrentado por milhares de mães e pais contemporâneos que se dividem entre educar os filhos e promover o sustento do lar.

Para quem dispõe de recur-sos, a alternativa é pagar uma escola particular que atenda o aluno em jornada ampliada. Já para quem ganha pouco – reali-dade da maior parte da popula-ção brasileira –, a solução é con-tar com a oferta educacional do poder público, que, aos poucos, vem implantando projetos que visam a permanência maior do aluno no ambiente escolar.

“Acho que os governos de-veriam investir mais em escolas como essa, pois recursos têm nos cofres públicos. Todo mun-do paga impostos, é só adminis-trar. Se o poder público quiser, ele faz; não faz porque não tem planejamento,” diz Wanessa.

Entretanto, a proposta de

Educação Integral vai muito além de um local para os filhos ficarem enquanto os pais tra-balham. É preciso que a escola proporcione um ambiente sau-dável, capaz de integrar desen-volvimento intelectual e psicos-social.

Para a educadora Laura Mon-te Serrat Barbosa, especialis-ta em Psicologia Escolar e da Aprendizagem e mestre em Educação pela Universidade Fe-deral do Paraná (UFPR), o con-ceito de Educação Integral tem várias interpretações. Segundo ela, a definição mais apropria-da é a que “concebe o sujeito como um ser inteiro, constituído por várias dimensões que pre-cisam ser consideradas em seu processo de vir a ser: dimensão cognitiva, social, afetiva e bioló-gica. E, ainda, o funcionamento que decorre da articulação des-sas dimensões,” explica.

No Brasil, a proposta de Edu-cação Integral não é nova. Edu-cadores como Anísio Teixeira, Darcy Ribeiro e Paulo Freire já defendiam a ideia há mais de 50 anos. Atualmente, o debate vol-tou à tona, motivando a criação de políticas específicas para im-plantação de escolas de tempo integral na rede pública de en-sino.

A proposta também é uma alternativa para reduzir os ín-dices de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade so-cial, afastando essa população das ruas, das drogas e da crimi-nalidade.

Países como Finlândia, Co-reia do Sul, Irlanda e Chile são modelos em educação. Os es-tudantes passam o dia todo na escola, em média, nove horas. Nas escolas brasileiras, a maio-ria dos alunos não fica mais que cinco horas em sala de aula.

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Wanessa Stephan Arantes, conta-dora, mãe do aluno Wyllen

“Acho que os governos deveriam investir mais em escolas como essa, pois recursos têm nos cofres públicos. Todo mundo paga imposto, é só administrar. Se o poder público quiser, ele faz, não faz porque não tem planejamento”

Criado por meio da Porta-ria Interministerial nº 17/2007 e regulamentado pelo Decreto nº 7.083/10, o Programa Mais Educação do governo federal tem como proposta a indução da agenda de Educação Integral nas redes estaduais e munici-pais de ensino, ampliando a jor-nada escolar para o mínimo de 7 horas diárias, com oferta de ati-vidades no contraturno escolar, nos campos de: Acompanha-mento Escolar, Educação Am-biental, Esporte e Lazer, Direitos

Humanos em Educação, Cultura e Artes, Cultura Digital, Promo-ção da Saúde, Comunicação e Uso de Mídias, Investigação no Campo das Ciências da Nature-za, e Educação Econômica.

O Mais Educação, que come-çou a funcionar efetivamente no ano de 2008, iniciou suas ati-vidades com a participação de 1.380 escolas, em 55 municípios dos 26 estados e no Distrito Federal, atendendo 386 mil es-tudantes. Em 2013, o programa conseguiu chegar a 4.894 mu-

O PRIMEIRO PASSO: PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

Wyllen Ludvig Stephan Arantes Santos, 7 anos, passa o dia em uma das Esco-las de Tempo Integral (ETI) de Campo Grande. O projeto teve início no ano de 2009 e já beneficiou milhares de alunos da Rede Municipal de Ensino. Na escola, Wyllen e os demais colegas praticam judô e uma série de outras ativi-dades complementares que contribuem com o desenvolvimento da criança.

Laura Monte Serrat Barbosa, espe-cialista em Psicologia Escolar e da Aprendizagem e mestre em Edu-cação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR)

“O termo Educação Integral pode ter várias interpretações, a que mais me agrada é aquela que concebe o sujeito como um ser inteiro, constituído por várias dimensões que precisam ser consideradas em seu processo de vir a ser: dimensão cognitiva, social, afetiva e biológica. E, ainda, o funcionamento que decorre da articulação dessas dimensões”

nicípios brasileiros, atendendo aproximadamente 6 milhões de estudantes.

O Mais Educação iniciou suas atividades priorizando as esco-las com baixo Índice de Desen-volvimento da Educação Básica (IDEB) e que estavam localiza-das em regiões de vulnerabilida-de social. Além disso, os alunos beneficiados eram de famílias que recebem o Bolsa Família. Entretanto, este ano, o Ministé-rio da Educação (MEC) abriu a inscrição para todas as escolas da rede pública.

Mesmo com todo o empenho do governo federal, o grande problema do Mais Educação tem sido a infraestrutura das escolas públicas. Muitas não dispõem de espaços físicos adequados para desenvolver a proposta peda-gógica. Por conta disso, as es-colas deixam de aderir ao pro-grama, ou quando aderem, não conseguem desenvolvê-lo de maneira efetiva.

A diretora do Ensino Integral do MEC, Jaqueline Moll, disse em entrevista à TV NBR, em agosto de 2013, que o Mais Edu-cação é o primeiro passo para que o Brasil possa garantir um ensino integral. “Estamos ca-minhando pouco a pouco para a formação dessa nova escola, com a permanência maior do aluno no ambiente escolar. Es-tamos décadas atrasados no que diz respeito à infraestrutu-ra. Temos muitas crianças estu-dando em locais que não foram construídos para serem escolas. Esse é um problema que o Mi-nistério vem buscando resolver junto aos estados e municípios. Nós entendemos que a mudan-ça na infraestrutura escolar é fundamental, mas também, é determinante mudanças na con-cepção do processo educativo. A escola integral não se resume na ampliação do turno escolar. É preciso que haja atividades que façam sentido e que este-

jam de acordo com o século XXI. Estamos num processo de rein-venção do espaço escolar e de tornar a escola mais atrativa. É preciso garantir acesso, perma-nência e atividade significativa. Ainda temos um longo caminho a percorrer,” ressalta.

Realidade regional

Em Mato Grosso do Sul, se-gundo dados da Secretaria Es-tadual de Educação (SED), das 362 escolas da Rede Estadual, 33 aderiram ao programa em 17 municípios.

Na capital, Campo Grande, das 94 escolas municipais, 27 oferecem a programação do Mais Educação no contratur-no escolar. Segundo a coorde-nadora do Mais Educação no município, Jaqueline Pereira, a SEMED realiza um trabalho in-tensivo com a direção das es-colas para incentivar à adesão ao programa. “Muitas vezes, o diretor ou a diretora não estão muito bem informados sobre os aspectos do programa. Nós es-tamos visitando todas as esco-las, orientando a coordenação pedagógica sobre todos os pas-sos necessários para incorporar o Mais Educação na jornada es-colar”, explica.

Os recursos do programa são encaminhados diretamente para as escolas, sem precisar passar pelas secretarias estaduais e municipais de Educação. Des-sa forma, a direção pedagógica tem autonomia e pode se orga-nizar da melhor maneira para atender os estudantes.

Ainda de acordo com a co-ordenadora Jaqueline Pereira da SEMED, o MEC libera os re-cursos para a escola, e o muni-cípio entra com a contrapartida de mão de obra e infraestrutura. Os monitores que atendem os alunos no contraturno são es-tagiários das diversas áreas da educação.

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Ressignificando o conceito de escola pública

Uma experiência que vem dando certo na capital sul-ma-to-grossense.

Se de uma forma geral, o Bra-sil ainda engatinha para a con-solidação de uma escola públi-ca em tempo integral, há que se enaltecer iniciativas que estão dando certo e vêm beneficiando estudantes e suas comunidades.

Em Campo Grande/MS, duas Escolas de Tempo Integral (ETIs) atendem mais de mil alunos da rede municipal de ensino. O pro-jeto completou recentemente, cinco anos de funcionamento e já colhe os louros da educação integral e integrada.

Um das escolas fica no bairro Rita Vieira, é a Escola Prof.ª Ira-cema Maria Vicente, onde estuda o pequeno Wyllen, personagem do início da nossa reportagem. A outra, Escola Municipal Prof.ª Ana Lúcia de Oliveira Batista, está localizada no bairro Jardim Paulo Coelho. As duas escolas são fruto de uma iniciativa ou-sada da SEMED, que, a partir de dados socioeconômicos do Ins-tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da própria Secretaria, levantados no ano de 2005, identificou nessas duas regiões da cidade, um elevado índice de vulnerabilidade social e, com isso, decidiu elaborar um projeto que atendesse as neces-sidades educacionais e sociais daquela população. O resultado foi a implantação das ETIs que começaram a ser construídas no ano de 2008 e abriram as portas no ano seguinte, em 2009.

“O primeiro passo para a im-plantação do projeto foi a capa-citação dos profissionais. Nós queríamos um profissional com perfil diferenciado, pois uma das

propostas pedagógicas das ETIs era o processo de alfabetização utilizando as ferramentas tecno-lógicas. Então, pensamos na for-mação do corpo docente nessa perspectiva”, conta a superin-tendente de Gestão de Políticas Educacionais da SEMED, Sandra Rose Rodrigues Cruz, que par-ticipou de todo o processo de elaboração do projeto.

Paralelamente à formação dos professores, as escolas eram erguidas. Toda a infraes-trutura foi pedagogicamente projetada, com salas e ambien-tes onde podem acontecer ati-vidades simultâneas. Todos os espaços são de aprendizagem, possibilitando um fazer peda-gógico diferente, em ambientes de investigação, experiências, reflexão, interação, descobertas de novas ideias, invenção de no-vas práticas e diversas formas de conhecer, ler e compreen-der o mundo. Ademais, as ETIs dispõem de ambientes virtuais, da alfabetização até o 5º ano do ensino fundamental.

Tânia Versagi, diretora da Escola Prof.ª Iracema Maria Vicente

“Temos um diferencial no que diz respeito à qualidade da aprendizagem da criança. Nós nos preocupamos e trabalhamos para que a criança desenvolva um pensamento crítico e participativo”

Aprovado pelo Congresso Nacional no primeiro semes-tre de 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE) que esta-belece 20 metas que deverão ser cumpridas nos próximos 10 anos.

Entre as diretrizes, estão a erradicação do analfabetis-mo; o aumento de vagas em creches, no ensino médio, no ensino profissionalizante e nas universidades públicas; a uni-versalização do atendimento escolar para crianças de 4 a 5 anos; e a oferta de ensino em tempo integral para, pelo me-nos, 25% dos alunos da educa-ção básica.

Segundo o plano, o inves-timento em educação cresce-rá paulatinamente até 2024, atingindo o equivalente a 10% do PIB ao ano – quase o do-bro do praticado atualmente (5,3%). Em 2019, no quinto ano de vigência do plano, o valor já deve estar em 7%.

PNE APROVADO

Participação da comunidade

Durante as obras de constru-ção das ETIs, os portões esta-vam sempre abertos para as co-munidades do entorno. “Todos, pais e mães, queriam uma vaga para seus filhos. Foi preciso es-tabelecer critérios para o aten-dimento da clientela. Para isso, fizemos uma pré-matrícula. O grupo da escola ia até as resi-dências para se certificar de que aquele aluno pertencia à comu-nidade local. Era preciso morar até 2 mil metros de distância da escola”, conta a coordenadora do Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano da SEMED, Evanir Bordim Sandim.

Atualmente, os portões con-tinuam abertos, os pais e os fa-miliares dos alunos têm acesso livre às escolas. “Houve grandes mudanças nessas comunidades. Eram regiões carentes, com inú-meros problemas sociais,” com-

Sandra Rose Rodrigues Cruz, superintendente de Gestão de Po-líticas Educacionais da SEMED

“O primeiro passo para a implantação do projeto foi a capacitação dos profissionais. Nós queríamos um profissional com perfil diferenciado, pois uma das propostas pedagógicas das ETIs era o processo de alfabetização utilizando as ferramentas tecnológicas”

pleta a coordenadora Evanir. O relacionamento entre es-

colas e comunidades é tão po-sitivo que a presença dos pais é massiva, cerca de 400 pais marcam presença nas reuniões escolares. Além disso, as comu-nidades participam de todas as atividades promovidas pelas es-colas, como festas juninas, com-petições esportivas e confrater-nizações.

“A população local cuida da escola, nunca tivemos um muro pichado, não houve depredação nestes cinco anos”, conta a di-retora da Escola Iracema, Tânia Versagi. Segundo ela, as ETIs foram pensadas para atender a comunidade, o bairro, as mães e os pais que trabalham. Mas a prática pedagógica não se re-sume ao cuidar. “Temos um di-ferencial no que diz respeito à qualidade da aprendizagem da criança. Nós nos preocupamos e trabalhamos para que a criança desenvolva um pensamento crí-tico e participativo.”

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Metodologia e dinâmica das ETIs

A rotina do menino Samuel Scariot da Silva, seis anos, é pu-xada. Todos os dias, de mãos dadas com a mãe, o pequeno atravessa as instalações da Es-cola Iracema até o saguão prin-cipal, onde centenas de outras crianças aguardam para o início das atividades, às 7h30. É o co-meço de uma jornada escolar extensa, que só termina às 16h.

Primeiro o café da manhã e depois as aulas, que são inter-disciplinares. Onde se aprende Língua Portuguesa também se aprende História, Geografia, Ma-temática e outras disciplinas do currículo escolar. Essa interação só é possível graças à Metodo-logia da Problematização, que incita o aluno a observar a reali-dade de modo crítico, possibili-tando que ele relacione seu dia a dia com a temática que está estudando em sala de aula.

“Por exemplo, quando acon-tece uma enchente no bairro, os alunos fazem o levantamento para saber quais as causas que contribuíram para a enchente, vão às ruas, tiram fotos, que-rem saber para onde vai a água da chuva e tudo mais. Propõem ações e medidas que visam a resolução do problema. Assim,

nâmica na qual as aulas acon-tecem. O aluno pode ter duas aulas de Geografia e depois aula de Teatro, Música, Atletis-mo, Futebol e outras Atividades Curriculares Complementares (ACC).

O planejamento das aulas acontece uma vez por semana ou mais. Os docentes se reúnem para trocar experiências, ideias e planejar os conteúdos. Os pro-fessores são exclusivos das ETIs, não lecionam em outros locais e, anualmente, passam por forma-ção e capacitação para garantir a qualidade da aprendizagem.

O professor de Artes Visuais, Júlio César dos Santos, mostra--se bem satisfeito com o proje-to pedagógico que ajuda a de-senvolver. “É uma oportunidade que os professores têm de reali-zar um planejamento articulado, com a participação de todos. Outro fator é o espaço físico que nós temos para trabalhar, com laboratórios de Artes, Ci-ências e outros. Nós saímos do curricular, do tradicional e con-seguimos trabalhar um pouco mais o lúdico. Nesse momento, estou trabalhando aeromodelis-mo com meus alunos. Nós faze-mos os aviões e ao mesmo tem-po aprendemos Artes, Física e Matemática.

A mãe do Samuel, Elecir An-gela Scariot, não tem do que reclamar da escola e lamenta o fato de não haver mais vagas para outras crianças. “O Samuel está se desenvolvendo bem. A escola é ótima. Sem dúvida, deveria ter mais escolas assim. Falta muita vaga. Acho que o problema não é recursos para construir mais escola, o que falta é vontade de fazer. A educação deve estar em primeiro lugar.”

Segundo a direção da Escola Iracema, o número de alunos na lista de espera por vagas é sufi-ciente para montar outra escola. Só para a pré-escola, a lista é de 60 alunos.

eles começam a entender como as coisas acontecem. Se tornam cidadãos plenos”, explica a pe-dagoga técnica da Coordenado-ria do Ensino Fundamental do 1º ao 5º ano (COEF), da SEMED, Rosângela Estrada.

A coordenadora do 4º e do 5 º ano da Escola Iracema, Crys Michele Oliveira Dutra, diz que, no início, os professores encon-traram dificuldades para aplicar a Metodologia da Problemati-zação, pois os alunos eram de escolas regulares da comuni-dade. “Hoje, nós já começamos a colher os frutos, pois temos crianças que chegaram aqui na pré-escola e já estão no 5º ano. Podemos perceber o desenvol-vimento delas no que diz res-peito à oralidade, ao desenvol-vimento social, à criticidade, são crianças participativas e ques-tionadoras. Isso foi construído ao longo dos anos. Nosso índice no IDEB só vem aumentando.”

No IDEB de 2011, a Escola Iracema ficou com nota 6,3, en-quanto a média nacional era 5,3. Em 2009, a nota da escola foi 5,1.

A carga horária das ETIs é a mesma das escolas regulares no que diz respeito ao núcleo co-mum, que são as disciplinas de Matemática, Língua Portuguesa, História, etc. O que é inovador na proposta pedagógica é a di-

Elecir Angela Scariot, mãe do Samuel, de seis anos

“O Samuel está se desenvolvendo bem. A escola é ótima. Sem dúvida, deveria ter mais escolas assim. Falta muita vaga. Acho que o problema não é recursos para construir mais escola, o que falta é vontade de fazer. A educação deve estar em primeiro lugar”

Samuel está sendo alfabetizado com base na Metodologia da Pro-blematização, que incita o aluno a observar a realidade de modo crítico, possibilitando que ele relacione seu dia a dia com a temática que está estudando em sala de aula.

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Crys Michele Oliveira Dutra, co-ordenadora do 4º e do 5 º ano da Escola Iracema

“Hoje, nós já começamos a colher os frutos, pois temos crianças que chegaram aqui na pré-escola e já estão no 5º ano. Podemos perceber o desenvolvimento delas no que diz respeito à oralidade, ao desenvolvimento social, à criticidade, são crianças participativas e questionadoras. Isso foi construído ao longo dos anos. Nosso índice no IDEB só vem aumentando”

Escola 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

5.1 6.3 5.3 5.6 5.9 6.1 6.4 6.6E.M Profª IracemaMaria Vicente

Escola 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

Escolas de Tempo Integral no IDEB*Os resultados marcados em verde referem-se ao IDEB que atingiu a meta.

Campo Grande no IBEB – Rede Pública

5.5 5.8 5.8 6.0 6.3 6.5 6.7 6.9E.M Profª Ana Luciade Oliveira Batista

Município 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

4.0 4.9 5.1 5.6 4.1 4.4 4.8 5.1 5.4 5.7 5.9 6.2Campo Grande

Município 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

3.5 4.2 4.4 4.4 3.5 3.6 3.9 4.3 4.7 5.0 5.2 5.5Campo Grande

Mato Grosso do Sul no IBED – Rede Pública

8ª série / 9º ano

8ª série / 9º ano

Estado 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

3.4 4.1 4.5 5.0 3.4 3.8 4.2 4.5 4.8 5.0 5.3 5.6Mato Grosso do Sul

Município 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

3.1 3.7 3.9 3.8 3.2 3.3 3.6 4.0 4.4 4.6 4.9 5.2Mato Grosso do Sul

4ª série / 5º ano

4ª série / 5º ano

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Alunos críticos e participa-tivos, bons índices no IDEB, in-fraestrutura escolar planejada e adequada, mas nem tudo é gló-ria no projeto das ETIs. A gran-de preocupação da SEMED hoje é encaminhar esses alunos para escolas que estejam preparadas para recebê-los, uma vez que as ETIs ofertam o ensino até o 5º ano do Ensino Fundamental.

A diretoria das ETIs tem orientado os pais para que ma-triculem esses alunos em es-colas que desenvolvam o Pro-grama Mais Educação, com o objetivo de diminuir o impacto do aluno em seu processo de aprendizagem. Além disso, a SEMED tem investido na forma-ção continuada dos professores que vão receber esse público e está se organizando para am-pliar a oferta de escolas de edu-cação integral, considerando as regiões mais críticas do municí-pio e a faixa etária do público--alvo.

A superintendente de Gestão de Políticas Educacionais da

SEMED, Sandra Rose, explica que o investimento financeiro para a construção de mais escolas de tempo integral é muito grande, e os recursos são apenas municipais. Além disso, as duas escolas funcionam como projeto-piloto. “Nós precisávamos saber como seria a funcionalidade delas e estávamos mobilizados para sustentar e manter esse projeto, implementando ações que agregassem valor ao trabalho que já vinha sendo realizado. Também passamos por um período de aprendizagem.”

Outro fator que, para a su-perintendente, comprometeu a ampliação do projeto foi a mudança política no município ocorrida nas últimas eleições. “A questão política não pode ser maior do que o investimento no cidadão. Temos que manter, ampliar e melhorar os projetos educacionais que já deram cer-to. É um compromisso com a educação pública e com a po-pulação.

DOS LOUROS ÀS DIFICULDADES

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Para falar sobre Educa-ção Integral e escola de tempo integral, é neces-

sário um olhar sobre a história da educação no Brasil, marcada ainda hoje pela colonização por-tuguesa. O professor João Mon-levade, em seu livro Educação Pública no Brasil: Contos e Des-contos, faz uma retrospectiva histórica da trajetória da educa-ção brasileira, de onde trago os conteúdos e informações para este primeiro momento.

No Brasil, a história da educa-ção oficial começa com a chega-da dos colonizadores portugue-ses em solo brasileiro, visto que nossa história não considera o período anterior, ou seja, quan-do o território era habitado pe-los índios. Para ser mais didática e fundamentada nos escritos de João Monlevade, sintetizo essa história em cinco períodos:

Período: 1500 a 1550 – 50 anos sem educação mais siste-mática/pública.

Período: 1551 a 1758 – Exis-tem escolas públicas no Brasil desde 1551, quando começou a funcionar na Bahia o Colégio dos Meninos de Jesus, esco-la gratuita confiada pelo rei de Portugal aos religiosos jesuítas. Até 1758, quando foram expul-sos de Portugal e de suas colô-nias, os jesuítas viviam de uma provisão real (a redízima), mas os colégios só puderam se man-ter por meio da renda de suas fazendas, especialmente do tra-balho de escravos e da venda do gado.

Período: 1759 a 1834 – Em 1772, iniciaram-se as aulas ré-gias, oferecidas a crianças e adolescentes. Eram financiadas pelo “subsídio literário”, um tri-buto derivado da venda de car-ne nos açougues e de cachaça nos alambiques. Nesse período, nem 5% da população escolari-

zável era atendida.

Período: 1934 a 1983 – A par-tir de 1930, acelerou-se o pro-cesso de urbanização, puxado pelas indústrias, e os recursos públicos escasseavam, premi-dos por várias novas demandas: saneamento, rodovias, fontes de energia. Mesmo com a entrada em cena das escolas municipais, financiadas por seus tributos, era necessária uma política per-manente de financiamento. A partir de 1934, sucessivas cons-tituições impuseram percentu-ais de vinculação de impostos para a manutenção e o desen-volvimento do ensino. Os go-vernos autoritários revogavam essas vinculações (1937 e 1967), forçando o crescimento da ofer-ta complementar de ensino pri-vado.

Período: 1988 a 2013 – O en-sino público e gratuito, finan-ciado por impostos vinculados, acabou prevalecendo, primeiro por meio da Emenda João Cal-mon (1983) e, depois, na Cons-tituição Federal de 1988, que determinou um percentual míni-mo de impostos para o financia-mento da educação, 18% para a União e 25% para estados e mu-nicípios.

Estes últimos 25 anos foram muito produtivos e de significa-tivos avanços para a educação brasileira, com a aprovação de várias leis importantes:

• 1996 – Nova Lei de Diretri-zes e Bases da Educação.

• 1996 – FUNDEF, recurso es-pecífico para o Ensino Funda-mental.

• 2001/2010 – Plano Nacional de Educação.

• 2007 – FUNDEB, recurso específico para a Educação Bá-sica.

• 2008 – Piso Salarial Profis-sional Nacional.

Entretanto, o Brasil vive pro-

blemas educacionais bastante complexos, tais como:

• Baixa remuneração dos(as) profissionais da educação públi-ca, especialmente da educação básica.

• Carência de sistemas efi-cientes de formação inicial e continuada dos(as) profissio-nais da educação.

• Currículo pouco interessan-te para os(as) estudantes.

• Baixa participação dos pais na vida escolar dos filhos e nos assuntos da escola.

• Excesso de burocracia e au-toritarismo na gestão escolar.

• Investimentos públicos in-suficientes para atender com qualidade as necessidades edu-cacionais.

• Baixa permanência dos(as) estudantes nas escolas (média de 4 horas diárias).

• Professores(as) lecionando sem formação específica para a área de atuação.

• Falta de integração entre os níveis de ensino (infantil, funda-mental e médio).

• Altas taxas de abandono, repetência e fracasso escolar.

• Carência de infraestrutura e materiais adequados nas esco-las.

• Falta de políticas mais efe-tivas para o atendimento à po-pulação e específicas para as comunidades do campo, indíge-nas, quilombolas, entre outras.

A esses, somam-se outros problemas:

• Na Educação Infantil, o atendimento nos Centros de Educação Infantis (Ceinfs) em 2010 era de apenas 23,6% e na Pré-Escola, de 80,1%.

• No Ensino Fundamental, em 2012, as matrículas chegaram a 97% dos estudantes. As matrí-culas estão praticamente uni-versalizadas, embora com altas taxas de crianças não alfabeti-zadas aos 8 anos de idade, índi-

ARTIGO

EDUCAÇÃO INTEGRAL E ESCOLA DE TEMPO INTEGRAL NO BRASILUma reivindicação histórica e uma experiência recente

“Acreditamos que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não te-mos outro caminho se não viver a nossa opção. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que dizemos e o que fazemos”

Paulo Freire

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ces que variam de 4,9% no esta-do do Paraná a 35% em Alagoas.

• No Ensino Médio, a situação é mais grave ainda. No ano de 2011, apenas 51,6% dos estudan-tes com idade de 15 a 17 anos es-tavam matriculados, 31,1% esta-vam matriculados fora da idade e 2,2% eram alunos analfabetos.

• No Brasil, a escolaridade média é de 7,5 anos.

• O analfabetismo atinge 14 milhões de pessoas.

• 49,3% dos adultos até 25 anos não possuem o ensino fun-damental completo, e apenas 11% têm o ensino superior com-pleto.

A diversidade de público da educação no Brasil é imensa. O país enfrenta problemas mui-to sérios em relação ao aten-dimento a públicos que muitas vezes são quase invisíveis. O Brasil deixa a desejar nas áre-as de atendimento às pessoas com deficiência; educação do e no campo; educação escolar in-dígena x educação para índios; educação quilombola; educação para jovens em situação de rua; educação para jovens em priva-ção de liberdade, entre outras.

Com relação à formação dos professores, dados do INEP/2007 apontam que 74% dos cursos de formação eram feitos no setor privado, presen-cial, em turno noturno, em ins-tituições não universitárias, for-mação inicial a distância e em cursos de duração reduzida. Já com relação aos Funcionários Administrativos da Educação, a maioria dos estados e das pre-feituras não investe no Profun-cionário como formação ade-quada e necessária e não realiza concursos específicos para a educação.

No que diz respeito à valori-zação dos Profissionais da Edu-cação, apesar de estar garanti-do em lei, o Piso Salarial ainda não é pago. Dados da CNTE, de

março/2013, mostram que ape-nas 12 das 27 unidades da Fede-ração pagam o Piso Salarial.

Como se esses problemas não bastassem, ainda existem aqueles relacionados às condi-ções de saúde e trabalho dos profissionais da educação, como mostra a Pesquisa da Fundação Educacional/UFMG/2010, que apontou:

• 28% dos profissionais da educação se afastaram do tra-balho com licenças médicas (coluna, cordas vocais, alergias) no último ano da pesquisa. Des-tes, 14% por depressão e 13% por estresse.

• 12% foram readaptados para outras funções na escola.

• 39% consideram os ruídos da sala/escola muito altos.

• 53% consideram a ventila-ção nas salas regular ou ruim.

• 51% consideram os banhei-ros dos trabalhadores ruins.

• 65% consideram os espaços de convivência comuns ruins.

• 25% tiveram redução sala-rial por afastamentos em função da doença.

• 44% fazem trabalho domés-tico no tempo livre.

• 71% levam trabalho da esco-la para casa.

Nos últimos anos, o Brasil tem dado um salto de qualida-de na educação

O governo Lula marcou o iní-cio de uma mudança importante na maneira de tratar a educação no Brasil, ampliando e democra-tizando o acesso à educação em todos os níveis, uma preocupa-ção que vem se consolidando com o governo da presiden-te Dilma Rousseff. A educação deixou de ser segmentada ar-tificialmente, de acordo com a conveniência administrativa ou fiscal, e passou a ser vista como uma unidade, da creche à pós--graduação.

Entretanto, mesmo com tan-

tos avanços, há um consenso de que a escola atual não está cumprindo satisfatoriamente a função de formar as futuras ge-rações nas capacidades que irão requerer o desenvolvimento do cidadão em uma sociedade de rápidas mudanças.

Diante disso, na busca de so-luções e alternativas, um amplo processo de reflexão/ação está em curso por parte do gover-no federal, articulando-se com todos os setores e segmentos sociais voltados à educação, na discussão e na elaboração de projetos, programas e políticas que superem essas deficiências.

Uma dessas ações é o “Pro-grama Mais Educação”, que se constitui como estratégia do Mi-nistério da Educação para am-pliar a jornada escolar e orga-nizar o currículo na perspectiva da Educação Integral.

As escolas das redes públicas de ensino estaduais, municipais e do Distrito Federal fazem a adesão ao Programa e, de acor-do com o projeto educativo em curso, optam por desenvolver atividades nos seguintes eixos: acompanhamento pedagógico; educação ambiental; esporte e lazer; direitos humanos em educação; cultura e artes; cultu-ra digital; promoção da saúde; comunicação e uso de mídias; investigação no campo das ci-ências da natureza e educação econômica.

Além disso, o Programa ob-jetiva a ampliação da jornada escolar, com um mínimo de 7 horas diárias na escola dentro de uma concepção de Educa-ção Integral, em que o currículo e o projeto político-pedagógico apresentem uma visão capaz de levar a escola ao atendimen-to das necessidades formativas dos(as) estudantes, contem-plando as dimensões afetiva, ética, estética, social, cultural, política e cognitiva, buscando formar o ser humano em sua in-

tegralidade e para a autonomia crítica.

Posições e contribuições do movimento sindical da educa-ção

Educação Integral

A concepção da Educação Integral é uma luta histórica da CNTE e da CUT, tendo como re-ferência desde Marx, que defen-dia uma educação “omnilateral” – ou seja, que contemple todas as dimensões da pessoa huma-na –, ao mestre Paulo Freire, com a defesa de uma educação popular e transformadora.

A CNTE e a CUT entendem que o processo educacional, para ser integral, precisa de mais tempo. Portanto, escola de tempo integral e concepção de educação integral devem cami-nhar juntas porque são proces-sos que se complementam.

Dentro da concepção de Educação Integral, CNTE e CUT defendem:

• uma educação que vá para além dos muros e dos espaços escolares, que envolva a família, a comunidade e a cidade;

• educação como ato políti-co, que precisa, portanto, su-perar e ir além da neutralidade política;

• uma educação que supere a ideia de que os conteúdos e os conhecimentos que se ensi-nam na escola são os únicos e os mais importantes;

• que educação não é e não acontece apenas na relação professor-aluno;

• que educação acontece ao longo da vida, no mundo e com o mundo;

• uma educação que busque a unidade e a superação da frag-mentação entre níveis, etapas e modalidades;

• uma educação que envolva o prazer de aprender e de ensinar;

• que a educação seja instru-mento de reflexão crítica e de libertação;

• que a educação seja pro-cessual, permanente, planejada e sistematizada;

• uma educação que comba-ta todas as formas de precon-ceitos e discriminações;

• uma educação que conside-re as dimensões política, cultural e técnica da formação humana;

• uma educação que leve em conta a integralidade do ser hu-mano;

• que Educação Integral exi-ge “educador integral” e uma “escola integral”, além de articu-lações locais, setoriais, políticas, sociais, culturais, ambientais, econômicas;

• que Educação Integral re-quer profissionais competen-tes, valorizados e capazes de promover mudanças e articular todo o conhecimento do patri-mônio cultural, histórico, psi-cológico, ético, estético, com-portamental, afetivo, criativo, artístico, de sustentabilidade, político, tecnológico e profissio-nal.

Para se ter uma Educação In-tegral e Escolas de Tempo Inte-gral, a CNTE e a CUT entendem ainda que, para avançarmos, é fundamental a valorização dos Profissionais da Educação, com o ingresso por meio de concur-so público; formação inicial e continuada; Piso Salarial Pro-fissional Nacional; jornada de trabalho com 1/3 de horas para planejamento e planos de car-gos e carreira unificados com professores e funcionários da educação.

Educação Integral e Escolas de Tempo Integral podem sig-nificar a grande mudança que a educação brasileira, dos tempos atuais, necessita, contribuindo para a erradicação do analfa-betismo; a universalização do atendimento escolar; a supera-

ção das desigualdades educa-cionais/regionais; a melhoria da qualidade do ensino; a gestão democrática da educação; a ar-ticulação entre educação e tra-balho; a promoção humanística, científica e tecnológica do país; a valorização dos Profissionais da Educação; a educação com inclusão de toda a diversidade e o aumento do financiamento, com a aplicação de 10% do PIB do país em educação.

Como diz o nosso ex-presi-dente da CNTE, Carlos Abicalil:

Estamos construindo atitu-des que conformam um Projeto de educação capaz de:

co-mover pessoas;re-mover entraves;de-mover resistências;pro-mover ações;Afirmando a diversidade

como valor, o direito e a igual-dade como princípio e a unida-de como fio condutor.

Sueli Veiga [email protected]: 55 067 9961 2771

Referências

AVALIAÇÃO da Educação Básica. Revista Semestral da Escola de For-mação da CNTE, Volume 7, Número 12, 2013.

ENSINO Médio e Educação Profis-sional. Revista Semestral da Escola de Formação da CNTE, Volume 5, Número 8, 2011.

POLÍTICAS e Gestão da Educação Básica: Concepções da CNTE. 2. ed. re-vista e ampliada. Brasília: Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educa-ção, Escola de Formação, 2013.

MONLEVADE, João. Educação Públi-ca no Brasil: Contos e Descontos. Ceilân-dia, Idéa, 2001.

Reformulação do Ensino Médio. Do-cumento Orientador para os Seminários Estaduais, 2013.

www.todospelaeducacao.org.brwww.cnte.org.brwww.cut.org.br

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Page 19: Revista Atuação - Edição 10ª - Agosto de 2014

LITERATURA

Academia de Letras valoriza a poesia e transforma autoestima de alunos

Os escritores Pablo Ne-ruda, João Pessoa e Machado de Assis têm

estilos literários diferentes, mas dividem em comum a admira-ção dos adolescentes da Escola Estadual Waldemar Barros da Silva, localizada no bairro Mo-reninhas II, em Campo Grande/MS. Mestres ou ídolos dos estu-dantes, os literatos se tornaram inspiração para os jovens após a implantação do projeto Acade-mia WBS de Letras, idealizado pela professora de literatura Ali-ne Calixto.

Criado em 2012, o projeto tem como proposta o estudo dos di-versos estilos e escritores, em

especial, os poetas. Além disso, estimula a escrita dos alunos. Ao longo do ano, os estudantes são convidados a conhecer e experi-mentar a subjetividade presente nos textos literários e colocar no papel a sua visão sobre os te-mas.

A iniciativa da professora de literatura resultou na publicação de dois livros de poesias redigi-dos pelos participantes durante o desenvolvimento do projeto. “O primeiro livro foi feito por 14 alunos. Eu fiz uma seleção das produções em que avaliei os alu-nos pela linguagem e critérios utilizados. Os alunos participa-vam do projeto no contraturno

das aulas do período matutino. Já para a segunda edição, em 2013, cerca de 40 estudantes do ensino médio, de todos os tur-nos, tiveram os textos selecio-nados”, explica.

Surpreendendo todas as ex-pectativas, o projeto conquis-tou os alunos logo na primeira edição. Um dos “fisgados” foi o estudante do 3º ano do Ensino Médio Maycon da Silva, 16 anos. “Com a literatura, você é capaz de viver uma realidade, você se transporta para o lugar, para a situação descrita no livro. Isso desperta a imaginação, a inte-ligência e a magia. É inexplicá-vel”, acredita Maycon.

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A estudante Suelen Cristina da Silva Ribas, 16 anos, concorda com o colega de turma. “Acho espetacular a ideia. Gosto mui-to de Manoel Bandeira e Pablo Neruda. Sempre escrevo sobre sentimentos, cotidianos, lágri-mas. Escrevia no meu canto, agora vou mostrar um pouco”, diz.

A jovem não esconde a em-polgação em ter uma poesia publicada. “Não participei das edições anteriores, mas sempre gostei de literatura, cinema e te-atro. Os livros do projeto ficam bem legais, estou animada”, confessa.

Além de desenvolver a técni-ca, a publicação do livro da Aca-demia trouxe benefícios para a autoestima e transformou o modo como os participantes observam o cotidiano e as rela-ções pessoais. “Publicar causa um fascínio entre os alunos. Este ano, pretendo fazer um concur-so para escolher a ilustração para a capa do livro. Nos anos anteriores, havia uma ilustrado-ra, mas ela terminou os estudos na escola. Toda essa preparação envolve os alunos, trabalha a autoestima, vai além, aflora a vi-são humanística dos estudantes, as emoções; além da formação intelectual, interfere em outros aspectos, ensina pela sensação”, explica a professora.

A experiência na Academia de Letras deixou Maycon con-fuso na hora de escolher entre Arquitetura e Letras no vestibu-lar. Elogiado pela professora, o estudante, que participou das duas edições do livro, afirma que o segredo é simples: leitura constante. “Gosto muito de ler e isso ajuda no vocabulário e na escrita”, aconselha.

Cinema x Literatura

A relação de amor entre a lite-ratura e o cinema é antiga. Fonte de inspiração para as produções

cinematográficas, os livros cos-tumam ser adaptados para a te-lona, mas na Academia WBS de Letras o caminho foi inverso. En-cantada pelo documentário bra-sileiro Elena, da diretora Petra Costa, a professora Aline Calix-to decidiu exibir a produção em sala de aula e propor aos alunos que se inspirassem na película para produzir as poesias para a segunda edição do livro.

“Assistimos ao filme e nos inspiramos nele. O filme aborda-va a vida da Elena e da irmã dela como atriz, tudo o que ela fez, como enxergava a vida. Acaba-mos nos identificando com mui-tas coisas, o filme é bem subjeti-vo”, explica Maycon.

Na produção, Elena viaja para Nova York com o mesmo sonho da mãe: ser atriz de cinema. Dei-xa para trás uma infância passa-da na clandestinidade dos anos de ditadura militar e deixa Pe-tra, a irmã de 7 anos. Duas dé-cadas mais tarde, Petra também se torna atriz e embarca para Nova York em busca de Elena. Aos poucos, os traços das duas irmãs se confundem na jornada.

Programa Jovem de Futuro

O projeto da Academia WBS de Letras integra o Programa Ensino Médio Inovador/Jovem de Futuro (ProEMI/JF), resul-tado de uma parceria entre o Ministério da Educação (MEC), cinco secretarias estaduais de Educação e o Instituto Uniban-co. O objetivo é atender cerca de 2.500 unidades de ensino e mais de 2 milhões de alunos até 2016.

Resultado da convergência entre a orientação estratégica do MEC para o Ensino Médio e o Projeto Jovem de Futuro, de-senvolvido pelo Instituto Uni-banco, o ProEMI/JF tem como objetivo central promover o re-desenho curricular das escolas e fortalecer a gestão escolar, com

Edner Gustavo Cardoso, 16 anos, estudante do 2º ano do Ensino Médio

“Gosto de Shakespeare, de como ele consegue transitar entre a comédia e a tragédia. Queremos que fique mais perto da comédia para a apresentação na escola. As histórias dele são muito profundas, os personagens têm muita personalidade. O que mais admiro é que as obras dele nunca ficam velhas. A nossa principal preocupação é não estragar tudo.”

SHAKESPEARE EM SALA DE AULA

Adaptar uma obra de William Shakespeare é parada quase obrigatória para diretores e atores de teatro. Na Escola Estadual Waldemar Barros da Silva não foi diferente. Depois de descobrir a subjetividade das poesias, os alunos do Ensino Médio se aventuraram nas peças teatrais do dramaturgo inglês. “Estamos adaptando duas peças teatrais de Shakespeare: Macbeth e Romeu e Julieta. Um grupo de alunos está escrevendo o roteiro. É preciso muita pesquisa para fazer o trabalho”, afirma a professora Aline Calixto.

Um dos roteiristas, o estudante do 2º ano do Ensino Médio Edner Gustavo Cardoso, 16 anos, confessa que a adaptação não está sendo uma tarefa fácil. “Gosto de Shakespeare, de como ele consegue transitar entre a comédia e a tragédia. Queremos que fique mais perto da comédia para a apresentação na escola. As histórias dele são muito profundas, os personagens têm muita personalidade. O que mais admiro é que as obras dele nunca ficam velhas. A nossa principal preocupação é não estragar tudo”, brinca Edner.

Aline Calixto, professora e ideali-zadora do projeto Academia WBS de Letras

“Publicar causa um fascínio entre os alunos. Este ano, pretendo fazer um concurso para escolher a ilustração para a capa da produção. Toda essa preparação envolve os alunos, trabalha a autoestima, vai além, aflora a visão humanística dos estudantes, as emoções; além da formação intelectual, interfere em outros aspectos, ensina pela sensação.”

foco na melhoria da aprendiza-gem dos estudantes. As ações do programa buscam colaborar com o acesso, a permanência e a conclusão dos jovens na esco-la.

Em Mato Grosso do Sul, 196 escolas desenvolvem projetos educacionais em parceria com o Programa Jovem de Futuro. Ao todo, 102 mil alunos são atendi-dos, e a meta é que, em até dois anos, todas as 299 escolas do Ensino Médio tenham projetos em parceria com o programa. Além de MS, recebem investi-mentos da ação os estados de Goiás, Ceará, Pará e Piauí.

Em 2011, as cem primeiras escolas atendidas pelo projeto foram escolhidas em um sor-teio promovido pela Secretaria de Estado de Educação (SED). A execução do Projeto Jovem de Futuro está orientada para o alcance de algumas metas fun-damentais: reduzir em 40% os índices de evasão/abandono es-colar dessa etapa da escolarida-de; aumentar a média do Ensino Médio da escola em, no mínimo, 25 pontos; diminuir em 50% o percentual de alunos no padrão de desempenho “baixo” nas dis-ciplinas avaliadas. Como con-sequência, o projeto tem ainda como meta a melhoria do Índice de Desenvolvimento da Educa-ção Básica (IDEB) das escolas envolvidas.

O investimento é feito pelo MEC, por meio do Fundo Nacio-nal de Desenvolvimento da Edu-cação (FNDE), órgão financia-dor responsável pelos recursos direcionados para o ProEMI/JF. O repasse do recurso é realizado por meio do Programa Dinhei-ro Direto na Escola (PDDE). Os recursos são destinados com a seguinte divisão: 70% para cus-teio (destina-se à contratação de serviços ou aquisição de ma-teriais de consumo) e 30% para capital (destina-se à aquisição de material permanente).

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MÚSICA

O som de aço da viola pantaneiraAlmir Sater define seu gênero musical como rock e diz que não tem pressa de gravar suas canções. Na região da Nhecolândia, o violeiro ajuda a manter uma escola que beneficia crianças e jovens do pantanal sul-mato-grossense

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No mês de março, a FETEMS realizou um grande evento no Par-

que das Nações Indígenas, em Campo Grande, em comemora-ção aos seus 35 anos de história e luta sindical. Entre as atrações da festa, o cantor e compositor Almir Sater embalou uma multi-dão de fãs ao som inconfundível de sua viola.

Em entrevista à revista Atua-ção, Almir diz que a Educação é a única alternativa para melho-rar o Brasil, e que a sociedade, o poder público e até mesmo a igreja são responsáveis por pro-mover o ensino no país.

Almir divide sua vida entre os palcos e as paragens pantanei-ras, não tem pressa de gravar suas composições e afirma não ter vocação para falar de si mes-mo nas redes sociais.

Revista Atuação – Sobre a Escola Pantaneira, instalada em uma de suas propriedades, na região da Nhecolândia, como surgiu essa iniciativa de cola-borar com a Educação? Como funciona a parceria com o poder público?

Almir – A iniciativa surgiu da cobrança da comunidade panta-neira. As pessoas diziam assim: Almir, você mudou para cá, para o Pantanal, você é uma pessoa que tem influência, conhece muita gente. Nossas crianças estão desassistidas, não temos escola aqui. Temos que mandar as crianças para estudar lá em Aquidauana, e as mães acabam indo também, as famílias ficam separadas. Isso causa muitos problemas, desunião. Será que você não consegue implantar uma escola aqui na região pan-taneira? Eu fiquei com aquilo na cabeça, não podia montar a escola porque não sou do ramo. Isso faz onze anos. Por felicida-de, minha esposa é educadora. Por fim, conhecemos um secre-

tário de Aquidauana e propu-semos que se criasse um posto avançado de uma escola muni-cipal. Então, nós cedemos uma casa da fazenda. Adaptamos a casa para uma pequena escola e acabou dando certo. Um dos nossos primeiros alunos já se formou em Medicina Veterinária. Fiz uma parceria “informal” com a Fundação Bradesco para que

os alunos que saíssem da nos-sa escola fossem matriculados lá. E para quem quer continuar, também temos um acordo com o Padre Marinoni, da Universida-de Dom Bosco. Faço um show na universidade para cada aluno da nossa escola que tiver uma bolsa na universidade. No ano passado, quitei minha primeira dívida, fiz um show quando um dos nossos alunos se formou. Já consegui outras bolsas de estu-do para várias crianças panta-neiras. São pessoas que não têm como pagar uma universidade, é caro. Acho que a igreja pode ajudar bastante. Não só a igreja, mas o poder público, o cidadão, a sociedade. O nosso grande desafio é investir em Educação cada vez mais. É isso que falta no Brasil, que é um país rico, maravilhoso. Percebi, ainda, que a escola aproximou muito a comunidade pantaneira. A vizi-nhança começou a se conhecer mais. Com a escola, surgiu até

uma associação de artesanatos. Nós sempre desejamos que as crianças pudessem aprender a ler e a escrever. Quem sabe ler e escrever, sabe se expressar e interpretar bem. E o brasilei-ro não sabe fazer nada disso. É uma deficiência da nossa edu-cação básica. A escola funciona em período integral, e os alunos ficam em regime de semi-inter-nato. Chegam na segunda-feira e voltam na sexta. Prefiro esse sistema de escola que funciona no local, que atende a comuni-dade. Onde não funciona assim, os alunos têm que acordar mui-to cedo e viajar quilômetros até a escola. Acordam às 3 horas. É um horror! As crianças não dor-mem e não aprendem. Trans-portar crianças todos os dias por mais de 40 quilômetros é um crime. Isso não existe, está fora. É uma falta de criatividade!

Revista Atuação – Como avalia Mato Grosso do Sul no cenário cultural? Nós temos in-centivos do poder público para propagar nossa cultura?

Almir – O poder público tem incentivado, mas ele não decide a cultura. Talento não se com-pra, não se vende, não se ensina. Eu sinto que falta cultura de uma forma geral. Antigamente, nós tínhamos referência. As décadas de 50, 60 e 70 foram muito ricas musicalmente. Como foi no pas-sado, com Beethoven, Bach... Sempre tem épocas na história da humanidade, que pinta uma geração extremamente talen-tosa de músicos, e um acaba influenciando o outro. Nós es-tamos vivendo uma entressafra de talentos. Temos excelentes instrumentistas, a escola faz com que o cara toque muito bem e tal. Mas o criador, aque-le que, do nada, faz uma música que emociona as pessoas, disso eu sinto falta hoje. Eu continuo ouvindo meus discos da déca-

“Quem sabe ler e escrever, sabe se expressar e interpretar bem. E o brasileiro não sabe fazer nada disso. É uma deficiência da nossa educação básica”

“Meu estilo, para mim, é rock. Eu gosto de Pink Floyd, James Taylor... Mas também gosto de Tião Carreiro e Pardinho, que são dois violeiros roqueiros. Você escuta o Tião Carreiro tocar viola e vai ver que é uma pegada roqueira. Roqueiro é postura”

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da de 70. Por outro lado, Mato Grosso do Sul é um celeiro de músicos, nós temos excelentes instrumentistas e compositores, como Gabriel, Marcelo Lourei-ro, Marcelus Anderson e outros. Você não encontra um compo-sitor como Geraldo Espíndola facilmente, com essa concep-ção universal de música que ele tem. O Geraldo Roca e o Paulo Simões também. Por que eles são diferentes? Porque eles par-ticiparam das décadas de 60 e 70. Têm essa influência que re-volucionou a música.

Revista Atuação – Dá para viver da música, da venda de CDs?

Almir – Nunca deu para viver só da venda de discos ou CDs. Poucas pessoas conseguiram isso, como Roberto Carlos, Ma-

ria Bethânia... Eu sempre vivi de show. Meu disco é para registrar meu trabalho e minhas experi-ências musicais. Viver da venda de discos é para poucos!

Revista Atuação – Você gra-va sempre?

Almir – Eu nunca tive pressa de gravar. Gravo um disco, pas-sam cinco anos, eu gravo outro, e assim vai. Sou um pouco ego-ísta em termos de arte. Gravo disco para mim. Se eu gostar do disco, já valeu. Porque se eu gra-var um disco para os outros, os outros não vão gostar e eu tam-bém não. Aí é um sofrimento. É igual casar por dinheiro, você pode até ser feliz um dia, mas o mais importante é o amor. E eu tenho amor pela música. A mú-sica me corresponde. Faço as minhas canções sem pressa, não me cobro. A música me susten-ta, já me trouxe muitas alegrias.

Revista Atuação – Quando você tocou pela primeira vez?

Almir – Toquei pela primei-ra vez quando tinha 12 anos, na Rádio Cultura. Eu e um amigo meu, o Gil Ourives, ele cantava bem, tocava muito bem e afina-va meu violão. Tocamos a músi-ca Do You Wanna Dance?. O Gil

era meu vizinho.

Revista Atuação – Por que a preferência pela viola?

Almir – A primeira vez que escutei esse instrumento foi num radinho que eu tinha. De madrugada, sintonizava as emissoras de São Paulo e escu-tava o som dos violeiros ponte-ando suas violas. Tinha um som muito diferente, um som de aço, um som roqueiro. Sempre gos-tei dessa coisa roqueira. Muitas músicas eram do Tião Carreiro. Levei muito tempo para chegar na viola. Comprei um violão e vi que não era aquele som que eu queria. Depois comprei outro, até que vi dois violeiros minei-ros tocando e cheguei à conclu-

são de que o som que eu queria era o da viola.

Revista Atuação – E seu es-tilo?

Almir – Nunca defini meu es-tilo. Já definiram como folk rock. Prefiro folk a sertanejo. Na ver-dade, prefiro ser roqueiro. Meu estilo, para mim, é rock. Eu gos-to de Pink Floyd, James Taylor... Mas também gosto de Tião Car-reiro e Pardinho, que são dois

“Meu disco é para registrar meu trabalho e minhas experiências musicais. Viver da venda de discos é para poucos!”

“Eu nunca tive pressa de gravar. Gravo um disco, passam cinco anos, eu gravo outro, e assim vai. Sou um pouco egoísta em termos de arte. Gravo disco para mim. Se eu gostar do disco, já valeu”

Almir Sater anima uma multidão no Parque das Nações Indígenas, no evento de aniversário dos 35 anos da FETEMS.

violeiros roqueiros. Você escuta o Tião Carreiro tocar viola e vai ver que é uma pegada roqueira. Roqueiro é postura. Você pode tocar rock num violão de plás-tico, o importante é a energia, o som que sai.

Revista Atuação – Como di-vide a vida de músico com a vida de pecuarista?

Almir – Às vezes, não durmo, não como. Puxa, é uma corre-ria. Eu sempre gostei dessa vida do mato. Mas nunca pensei em ser produtor rural. Acabei indo morar no Pantanal e senti que não dava para só ficar só fazen-do música. Resolvi trabalhar e aprender sobre pecuária. Mas o que me sustenta mesmo é a música.

Revista Atuação – Por que você não está nas redes sociais?

Almir – Recebo muitas críti-cas por causa disso. Só que não tenho talento para a internet. Não tenho talento para ficar fa-lando de mim, postando o que fiz ou deixei de fazer. Acho que começa a ficar um papo fútil, e todo mundo começa a dar opi-nião de tudo. Acho isso muito chato. Prefiro a discrição. Eu não tenho site, só tenho uma agen-da. Também não faço questão de ter agenda.

Revista Atuação – Se come-çasse sua carreira hoje, o que faria de diferente?

Almir – Acho que estudaria teoria musical. Na época em que comecei, eu queria mesmo era tocar. Estou aqui falando sobre educação, mas sou um analfa-beto musical. Fiz questão que meu filho aprendesse. As coisas que os pais não fizeram, eles torcem para que os filhos façam. Essa é a evolução. Ele fez, estu-dou. Ofereci o melhor para ele.

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CULTURA

“Um acalento para a alma”

O ferroviário aposenta-do José Sabino de Oli-veira não se intimida

em tirar uma dama para dançar. Aos 84 anos, Sabino carrega alegria no olhar, a precisão das notas musicais nos dedos e o ritmo do rasqueado nos pés. To-das as quintas-feiras à noite, o aposentado tem encontro mar-cado com os amigos no Sarau Raízes. Além de dançar, Sabino toca acordeão e anima a gale-ra dos cinquentões, sessentões e daí por diante. Vez ou outra, vê-se no local alguns que ainda não chegaram aos “entas” da vida, mas apreciam a boa músi-ca de raiz.

“Toda semana, tenho a satis-fação de estar aqui. Até quando Deus quiser, eu estarei”, diz o senhor Sabino que também faz parte da diretoria do projeto Sarau e integra o grupo musical Portal do Pantanal.

A história do projeto social Sarau Raízes começou com a vontade de superação de Dona Ilza, uma mulher intrigante, que vem enfrentando os altos e bai-xos que a vida lhe impõe. Ilza Feitosa Nogueira aprendeu a to-car sanfona ainda menina, com o pai. Segundo ela, a música sem-pre foi uma das suas paixões, mas o destino não permitiu que seguisse carreira artística, então Ilza acabou percorrendo outros caminhos da vida. Casou, teve quatro filhos, foi professora e também trabalhou na saúde pú-blica. Encarou as dificuldades e viveu intensamente os filhos, o trabalho, a família e os amigos.

Cuidou, durante sete anos, de um dos filhos que se acidentou gravemente. O tempo passou, o filho se recuperou, casou e, como os demais, seguiu o pró-prio destino; e Ilza entrou em depressão. “Eu tive um apagão, sabe? Cheguei ao ponto de to-mar 12 psicotrópicos por dia. Esse período, que eu chamo de incubação, durou três anos. So-fri a Síndrome do Ninho Vazio”, conta.

Com a depressão, vieram outros problemas de saúde, o sobrepeso e logo um problema no joelho. A quiropraxia foi a so-lução para o joelho. A partir do tratamento, Ilza começou a se sentir um pouco melhor. Por in-dicação médica, voltou a tocar sua sanfona como alternativa para sair da depressão.

Certo dia, conseguiu reunir alguns amigos e se apresenta-ram no Centro Comunitário do bairro Estrela no Sul, em Cam-po Grande/MS, durante a ação social do Centro de Atendimen-to do Idoso (CAI). Depois disso, não parou mais. O Sarau nasceu oficialmente em dezembro de 2012 e, em apenas um mês, já contava com vinte e sete violei-ros e oito sanfoneiros.

O projeto social foi regula-mentado, ganhou estatuto, di-

José Sabino, ferroviário aposentado e músico

“Toda semana, tenho a satisfação de estar aqui. Até quando Deus quiser, eu estarei”

Mesmo com dificuldades, Neuza Borges e Ilza Feitosa Nogueira querem ampliar as atividades do projeto implantando aulas de vio-lão, sanfona e técnica vocal.

retoria e tudo mais. Atualmente, cerca de 200 pessoas, a maioria idosos, frequentam o local e se divertem ao som de polcas, ras-queados, vaneiras e outros rit-mos dançantes.

Além de Ilza, várias pessoas reencontraram a autoestima e a alegria de viver, frequentan-do as noites animadas do Sarau. “Toda a comunidade se empe-nhou em fazer o projeto acon-tecer. Também pedimos ajuda para os comerciantes do bairro, recebemos várias doações”, diz.

Embora as dificuldades sejam muitas, o Sarau vem crescendo dia a dia, o projeto agrega ou-tras iniciativas como o Borda-do da Vovó, que oferece cursos para as mães e as avós que fi-cam em casa cuidando de filhos e netos e não podem sair para o mercado de trabalho.

O próximo passo é arrecadar recursos para a contratação de um professor que dará aulas de violão, sanfona e técnica vocal para a comunidade. “Só que o professor vai custar R$ 1.200,00 por mês. Ainda não consegui-mos manter esse valor, pois nossa despesa semanal com a locação de som, cadeiras e ou-tras coisas é muito alta.”

Para se manter, o projeto conta com doações e a venda de bebidas, salgados, caldos e pamonhas. A técnica em nutri-ção Neuza Borges é quem faz as guloseimas. “A música acalenta as pessoas. Para mim, o Sarau é isso, um acalento para a alma. Ajudar ao próximo é ajudar a si mesmo.”

O Sarau Raízes acontece toda quinta-feira, às 19h, no Centro Comunitário do bairro Estrela do Sul, na rua Dr. Jivago, nº 830, em frente à praça do bairro, ao lado da Escola Estadual Arthur de Vasconcelos Dias.

Doações para o projeto so-cial podem ser feitas por meio dos telefones: (67) 9263-3683 e 9233-7322.

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PRESTAÇÃODE CONTAS

Parecer técnico do TCE/MS aponta ressalvas nas contas de Educação do Estado

A prestação de contas de 2013 do Governo do Estado recebeu o

parecer prévio favorável à apro-vação do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul (TCE/MS). Apesar dos votos unânimes, os conselheiros apontaram algu-mas ressalvas no relatório re-ferente aos investimentos em Educação do Estado.

O parecer prévio foi elabora-do em forma de relatório pela conselheira Marisa Serrano, com base em análise da 6ª Inspetoria de Controle Externo, Auditoria e Ministério Público de Contas (MPC). Participaram da mesa da Sessão Especial do Tribunal do Pleno realizada no dia 28 de mar-

ço de 2014, que votou o parecer, o presidente Cícero de Souza, os conselheiros José Ricardo Perei-ra Cabral, Iran Coelho das Neves, Waldir Neves Barbosa, Ronaldo Chadid e o procurador-geral de Contas, José Aêdo Camilo.

Em análise das contas apre-sentadas, observa-se que no exercício 2013, o Governo do Estado de MS atingiu o limi-te constitucional de gasto com Educação, fixado em 25% da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, consoante pre-ceitua o art. 212 da Constituição Federal. Entretanto, a conselhei-ra Marisa Serrano destaca que “apesar de o Balanço apresen-

tado consignar a realização de 36,77% com aplicação na manu-tenção e no desenvolvimento do ensino, entendo que o aplicado efetivamente representa 28,11%, em razão do expurgo do valor lançado por força da Lei Estadu-al nº 2.261/2001 (Lei do Rateio), tendo em vista que esta não é contemplada no art. 70 da Lei de Diretrizes e Bases da Educa-ção”.

Outro ponto observado pelos conselheiros foi o elevado núme-ro de professores contratados temporariamente, atingindo, no final do exercício, o percentual de 52,58% do quadro do magis-tério, o que representa cerca de 9 mil professores contratados.

O número é alto, considerando que o Governo do Estado reali-zou a lotação de 311 professores concursados.

A conselheira lembrou, du-rante a sessão, que esta cons-tatação também foi objeto da auditoria compartilhada reali-zada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo TCE/MS em 2013. “A série histórica reve-la que tem aumentado o núme-ro de professores contratados temporariamente no Estado, o que, pelas mais diversas razões de ordem pedagógica, não con-tribui para a oferta de uma edu-cação de qualidade”, destacou.

Para o presidente da FETEMS, Roberto Botareli, a federação

tem reivindicado a realização de mais concursos públicos no Estado. “A FETEMS defende e sempre defendeu a realização de concursos públicos. Somente através do concurso público vamos diminuir o número de convocados. Hoje, Mato Grosso do Sul trabalha com mais de 8 mil convocados. Temos reivindicado que se faça mais concursos e dê posse aos aprovados. Faz 9 anos que lutamos por isso. O governo tem dado posse a um número muito pequeno de aprovados, se compararmos ao número de convocados. Que faça concurso e chame pelo menos três, quatro mil dos aprovados”, afirma.

Da análise do Balanço, foi

possível ainda verificar que foi aplicado apenas 0,42% da re-ceita tributária do Estado na Fundação de Apoio ao Desen-volvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia (FUNDECT), em vez do valor mínimo de 0,5% exigi-do no art. 42 do Ato das Dispo-sições Constitucionais Transitó-rias da Constituição Estadual. Tal ponto já foi objeto de reco-mendação nos Balanços de 2011 e 2012. A despeito de não ter al-cançado o índice constitucional, os conselheiros entendem que tal irregularidade é passível de recomendação, tendo em vista que houve uma evolução do ín-dice em relação ao do exercício anterior, que foi de 0,12%.

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A educação pública bra-sileira sempre foi um dos temas mais abor-

dados na sociedade e principal argumento político. Resultado da omissão do ensino às classes sociais desfavorecidas desde o processo de colonização, o Bra-sil perdeu a oportunidade pre-coce de transformar-se em um dos países líderes na geração de ativos humanos, como estudio-sos e pesquisadores, fruto dos investimentos na área.

Com todos os fatores histó-ricos que cercearam a socieda-de brasileira até final do século 20, principalmente o do não le-tramento da população que se-guia alienada ao cenário social, político e econômico à época; hoje, difere-se. As políticas go-vernamentais de inclusão social, distribuição de renda e acesso facilitado ao ensino público-pri-vado contrapõem-se com o que era praticado, e caminha, ainda que a passos vagarosos, para a

dia (102°), China (90°) e África do Sul (69°).

Em contrapartida aos dados positivos divulgados pelo IPS, a OECD Better Life Index (Orga-nização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) divulgou neste ano o ranking da educação em 36 países, no qual o Brasil ocupa a penúltima posi-ção, ficando à frente do México, o último colocado. Os critérios utilizados para a avaliação são o desempenho dos alunos no Pro-grama Internacional de Avalia-ção de Estudante (PISA), a mé-dia de anos que estes passam na escola e a população que cursa o ensino superior.

Tais informações compro-vam que os investimentos ainda não são suficientes, contudo, a melhora interna na educação já é vista a olho nu. Hoje, além do Ensino Básico, é disponibiliza-do ao público o Ensino Técnico Profissionalizante, integrado ou não ao Ensino Médio, Tecnoló-gico e/ou Superior.

O fomento à Ciência e à Tec-nologia também ganha destaque nas ações pró-desenvolvimento do país. O intercâmbio com os melhores centros de ensino do mundo proporciona aos alunos brasileiros melhor capacitação e, por conseguinte, a aplicação do conhecimento lá obtido em ações realizadas aqui.

Um dos programas que vem contribuindo para o avanço da educação em nosso país é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Lançado em 2011, o Programa já ofertou cursos téc-nicos profissionalizantes para 7,3 milhões de brasileiros que buscam na educação profissio-nal tecnológica a oportunida-de de ter uma profissão antes mesmo do ingresso na universi-dade. Atualmente, são 13 eixos tecnológicos oferecidos, sendo que 70% dos alunos matricula-dos são de cursos de formação

ARTIGO

COM INVESTIMENTOS ÀS MARGENS

PLÁCIDAS, O BRASIL RUMA A MELHORES

RESULTADOS NA EDUCAÇÃO

construção de uma nova narra-tiva social.

Rico em recursos naturais e belas paisagens, o Brasil, de fato, é um gigante pela própria natureza e de impávido colosso, contudo, essa grandeza mini-miza-se quando os dados glo-bais acerca dos investimentos praticados em educação e de-senvolvimento humano são di-vulgados. Segundo o Índice de Progresso Social (IPS) – novo indicador global que avalia mais de 50 parâmetros que dizem respeito à qualidade de vida dos cidadãos, como saúde, moradia, segurança pessoal, acesso à in-formação e à educação, sanea-mento básico, sustentabilidade e tolerância às diferenças –, o país ficou em 46º lugar entre os 132 países avaliados, sendo o mais bem avaliado entre as na-ções pertencentes aos BRICS – grupo de potências emergentes da economia global, formado por Brasil, Rússia (80° lugar), Ín-

inicial e continuada, com carga--horária mínima de 160 horas e baixa exigência de escolarida-de. As demais vagas são para os cursos de 800 horas e 2 mil horas (Ensino Médio Técnico Profissionalizante), segundo as informações divulgadas pelo Mi-nistério da Educação.

Outrossim, a formação e a qualificação de novos profissio-nais convergem com os novos anseios governamentais para a educação no país, bem como com a nova realidade socioeco-nômica. A saber, com o cresci-mento da economia e do poder de compra, aumentaram-se as vagas de empregos, principal-mente, no setor industrial, ele-vando o Brasil para o ranking dos países que não só exportam matéria-prima, como também produtos manufaturados.

Todavia, no Brasil, apenas 6,6% da população entre 15 e 19 anos está em cursos da edu-cação tecnológica profissional, enquanto que na Alemanha – país-referência no âmbito tec-nológico e educacional –, esse índice é de 53%.

Os benefícios do ensino tec-nicista são inegáveis e compro-vam que o país está na direção certa. Promover esse ramo edu-cacional e incentivar os jovens a entrarem, de forma qualifica-da e capacitada, no mercado de trabalho são medidas essenciais à construção de um país de-senvolvido. É preciso, também, encorajá-los ao aperfeiçoamen-to profissional, por meio dos cursos de graduação, especia-lização e pós-graduação, uma vez que só assim haverá um crescimento uno, atrelado ao desenvolvimento da economia, da educação e da sociedade. No entanto, é perceptível que, às margens plácidas dos inves-timentos feitos na educação pú-blica, ouve-se um brado pouco retumbante. Ainda é preciso fa-zer mais!

Célio de Araujo JúniorPublicitário, especialista em Gestão Estratégica de Negócios, professor-bolsista do Pronatec no curso de Comunicação Visual, eixo tecnológico Produção Cultural e Design

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