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1 ANTONIETA | Ano 1 | Nº 1 NOV/DEZ 2014 DAS PENITENCIÁRIAS PARA AS ARARAS, A GRIFE DOISÉLLES GARANTE LIBERDADE EM PEÇAS EXCLUSIVAS Curadoria Fashion ARTE E MODA SE UNEM PARA CRIAR PEÇAS BEM AO ESTILO CARIOCA Design Social

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1ANTONIETA |

Ano 1 | Nº 1NOV/DEZ 2014

DAS PENITENCIÁRIASPARA AS ARARAS, A GRIFE DOISÉLLESGARANTE LIBERDADE EM PEÇAS EXCLUSIVAS Curadoria Fashion

ARTE E MODA SE UNEM PARA CRIAR PEÇAS BEM AO ESTILO CARIOCA

Design Social

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Elegância não significa ser notado, significa ser lembrado”.Giorgio Armani

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Para isso, anuncie aqui.

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Viemos para mudar essa coisa toda, essa visão rotineiramente comercial sobre a moda. Queremos ser diferentes e englobar tudo o que uma pessoa que entende de moda deseja saber, informação no melhor formato. Pode parecer pretencioso, mas temos a intensão de acompanhar você em todo lugar, como aquele item indispensável na vida da gente, que não abre mão de ter; Bíblia, guia, revista, chame como quiser, não queremos ditar a moda, mas servir como grande referência. Aqui daremos espaço para os iniciantes e os experts. Temos um nome antigo, mas a proposta acaba de sair do forno. Esta revista é voltada para você, profissional. Pra quem não sabe, Maria Antonieta foi precursora e referência de moda e sua fama perdura através dos séculos. Não queremos ser a Antonieta que negou pães na França durante a Revolução Francesa, mas sim a Antonieta que sabia ousar, que foi precursora para seu tempo, que arriscou e fez a diferença. Mensalmente, Antonieta vai ser produzida com reportagens, ensaios, perfis e dicas para o profissional que vive de moda e faz a moda acontecer no Brasil. Nossa proposta é trazer informação sobre mercado, tendências, polêmicas e oportunidades. Ao contrário das outras publicações do mercado, não queremos falar diretamente com o consumidor – embora ele também seja sempre bem vindo, mas com você, que é responsável por montar as araras da lojas e desfiles. Este é o nosso sonho. E, para começar nossa primeira edição, perguntamos a você: qual é o seu sonho? Alguma coisa que sempre quis realizar? “Sensibilizar as pessoas para o outro, para elas mesmas na figura do outro. Quanto mais eu toco as pessoas em relação ao outro, que somos todos um coletivo, que somos todos um só, que tudo está interligado mais eu me aproximo desse sonho”. Esse é o sonho de Raquell Guimarães, fundadora da marca Doisélles, e criadora de um projeto social incrível e inovador. A história dela e da marca você confere nesta edição. O casamento perfeito? Moda e arte. Ana Wambier e Daniela Sabbag provam que essa união dá certo e promete ser duradoura. Quando assunto é novidade fashion, você confere, direto da cidade maravilhosa, uma matéria especial com a Wasabi, uma marca com pegada laid-back que é a cara da mulher carioca cool, sexy, inteligente e cheia de personalidade. Também tivemos a oportunidade de participar de um beauty day realizado pela Dariene Rodrigues, fisioterapeuta e dona da marca Lado B moda inclusiva, que produz roupas especializadas para pessoas com deficiência. SPFW Inverno 2015. Antonieta esteve lá para conferir de perto o desfile da grife Tufi Duek. Parcerias, polêmicas, inovações e tudo o que chama atenção dentro deste universo fashion, a Antonieta trás para você.Esperamos que todos gostem e apreciem com carinho cada página desta edição.

Prazer, AntonietaCarta das Editoras

Gabriela Meneguim

Marcella Contrucci

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Quer ver seu produto entre as melhores marcas

do mundo da moda?

Anuncie aqui.

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EXPEDIENTEEDITORAS Gabriela Meneguim e Marcella Contrucci | REPÓRTERES Gabriela Meneguim, Marcella Contrucci e Ana Carolina Estevam | PROJETO GRÁFICO Gabriela Meneguim e Marcella Contrucci | FOTOGRAFIA Gabriela Meneguim e Marcella Contrucci | REVISÃO Gabriela Meneguim, Marcella Contrucci e Ana Carolina Estevam | COLABORADORES Adriana Bechara, Ana Wambier, Celso Oliveira, Consuelo Blocker, Daniela Auler, Daniela Sabbag, Dariene Rodrigues, Eduardo Pombal, Fábio Romito, Fernando Duarte, Gabriela Rittner, Kica de Castro, Mônica Salgado e Raquell Guimarães | IMPRESSÃO Gráfica 57 | TIRAGEM 15.000

A Revista Antonieta não se responsabiliza pelos artigos assinados. Todos os direitos reservados. ©

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10. MODA SOCIAL

18. FASHION REPÓRTER

24. COMO SER CAPA

30. TOP TRENDS

32. PROFISSÕESDA MODA

36. OPINIÃO

38. NEW FACES

48. HOLOFOTE

50. PARCERIA FASHION

54. HISTÓRIA

56. MODA PARA TODOS

62. FALANDO NISSO...

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Colaboradores

MÔNICA SALGADOjornalista e diretora de redação da revista Glamour, já trabalhou em grandes revistas de moda como a Vogue.

AdrianaBecharajá trabalhou como

coordenadora de estilo da Vogue, e hoje é editora de moda da

revista Glamour.

FÁBIOROMITO

Consultor de empresas têxteis e de vestuário, professor universitário em cursos de graduação e pós graduação nas instituições UNIFMU e Istituto Europeo di Design.

jornalista, mestre em Ciência da Comunicação pela ECA/USP, consultor em Gestão de Comunicação Governamental e cronista do blog Vida Sete Chaves.

Celso OliveiraDaniela Sabbag e Ana WambierSócio-propietárias e estilistas da grife Wasabi, as designers de moda criam peças exclusivas em parceria com diversos artistas.

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Gabriela RittnerPossui formação em consultoria de imagem, análise cromática e etiqueta. Atualmente, cursa graduação em Negócios de Moda pela ESAMC, em Campinas/SP.

DARIENE RODRIGUES

Fisioterapeuta por formação, em 2012 criou

a marca Lado B Moda Inclusiva, com o objetivo

de criar roupas para facilitar o dia a dia dos

seus pacientes.

Eduardo Pombal

Diretor de criação da grife Tufi Duek convidou nossa equipe para prestigiar o desfile da marca no evento São Paulo Fashion Week.

Kica de Castro

Publicitária, mas viu na fotografia sua grande paixão. Desde 2003 se dedica a clicar pessoas com deficiência e transmitir nas imagens suas essências.

Raquell Guimarães

Estilista, viu em presidiários a mão de obra necessária para

tricotar suas peças. A produção da Doiselles hoje chega aos

quatro cantos do mundo.

Consuelo BlockerNascida e criada no mundo da moda, garimpa tendências por toda a Europa e por onde passa. Em seu blog discute sobre marketing, design, moda, gastronomia, arte, arquitetura e tecnologia. Sim, também é filha da Costanza.

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Liberdade

sustentável

Moda social

Com matéria prima reaproveitada e mão de obra

vinda da penitenciária, a mineira Raquell Guimarães faz da

Doisélles uma grife referência em questões sociais. Os resultados

são a esperança de uma vida nova para os detentos, e peças exclusivas com design

encantador

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Logo que chegamos à sua casa, Raquell Guimarães transparecia a simpatia e personalidade

de uma mulher forte e decidida. Não seria diferente, já que está à frente de uma marca como a Doisélles. Dedicada exclusivamente ao tricô e crochê - que aprendeu desde cedo nas fábricas têxteis de seu pai e seu avô, a típica mineira dá vida a peças que transparecem seu mundo, ideias e pensamentos. Tudo que vê, ouve, lê e vivencia é inspiração. Com a moda já presente em sua vida e a importância que a roupa tem pela mensagem que transmite, Raquell estudou sobre o assunto e conheceu um pouco de como ela se faz presente no mundo afora.

Muito além de cavas alinhadas e botões clássicos, os pontos e nós originam desenhos incrivelmente trabalhados em modelagens amplas e geométricas, uma trama moderna, como ela mesma define. Para aqueles que acham que a beleza das peças é o ponto

Detentos durante a confecção das peças na penitenciária de Juiz de Fora, MG

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chave, sigam as próximas linhas desta reportagem.

Socialmente falando, a Doisélles é uma marca que se preocupa com o mundo e carrega uma história incrível na bagagem. Sua matéria-prima, a começo de conversa, tem foco na sustentabilidade e, para isso, Raquell reaproveita sobras de fios que seriam descarte, ou seja, o resíduo que sobra das linhas de produção. “Eu acho que o jovem empresário que não pensar em sustentabilidade como base do negócio dele, não precisa entrar no negócio”, afirma, ao lembrar da importância de hábitos sustentáveis, no trabalho e na vida. Em quatro anos, Raquell juntou com a colaboração de outras empresas 942 Kg de fios de lã, seda, poliamida, algodão, acrílico e muitos outras fibras naturais ou artificiais o suficiente para desenvolver oito coleções. A estilista conta que abriu a empresa ao lado da mãe e, a princípio, criava as peças com a ajuda de algumas vizinhas que pegavam encomendas para produção. Com desejo de crescimento, definitivamente, precisaria treinar um grupo de pessoas. Foi assim que nasceu então, em 2009, o projeto que faz da Doisélles uma marca tão comprometida socialmente, trazendo, muito além das tendências, uma imensidão de elementos culturais e emocionais. Flor de Lótus, como é chamado, foi concebido dentro da Lei de Execução Penal, que estabelece que o trabalho dos condenados deve ter função educativa e produtiva. Exatamente. 100% da mão de obra da grife vem de dentro dos presídios; mais do que

isso, as peças são feitas exclusivamente por homens.

Com suas agulhas e tesouras embaixo do braço, Raquell treinou 40 detentos do presídio de segurança máxima, a Penitenciária Professor Ariosvaldo de Campos Pires, localizada em Juiz de Fora (MG). Diferente de todas as outras grifes já conhecidas, Raquell leva esperança para aqueles que vivem atrás das grades e oferece a eles a oportunidade de ressocialização. A estilista conta que teve segurança desde o primeiro contato, e aos poucos, a oportunidade oferecida fez com que cada um criasse uma relação de confiança e gratidão por ela. Raquell explica que o projeto é favorável em aspectos sociais e também pessoais na vida de cada um dos presidiários. “Eles estão em outra realidade. A cadeia deles é outra, a cela deles é outra, a relação deles com a família é outra”, conta.

Por meio deste projeto, Raquell busca a realização de um desejo. “Meu sonho é sensibilizar as pessoas para o outro, e para elas mesmas, na figura do outro”, conta. Com tamanha sensibilidade e convicção, Raquell defende a ideia de coletivo; que somos todos uma coisa só. “Tudo está interligado; a mentira do outro é a nossa mentira; o crime do outro é o nosso crime; o erro do outro é o nosso erro. Meu sonho é de uma consciência, que as pessoas se tornem conscientes em olhar para o outro e olhar o invisível”, completa.

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Dessa forma, a designer indica a falta de oportunidade para que muitos dos encarcerados possam iniciar o processo de ressocialização ainda nos presídios. Para ela, faltam iniciativas privadas e do Estado para oferecer programas de capacitação que garantam um trabalho ainda durante o cumprimento da pena, e que ofereça oportunidades de emprego assim que pagarem as dívidas com a sociedade. “A gente faz com ele a mesma atrocidade que ele fez. A atrocidade deste mundo chama-se desigualdade”, afirma.

Hoje, Raquell mantém o projeto em Juiz de Fora, mas dá continuidade a ele na Capital, Belo Horizonte, na Penitenciária Público-Privada de Ribeirão das Neves.

Após conquistarem a liberdade, os ex-detentos também têm a oportunidade de continuar seus trabalhos na Doisélles. Em Belo Horizonte, ainda existem programas e agências de emprego, que auxiliam esse processo, como o Instituto Minas pela Paz.

Quero fazer uma roupa que fique na sua vida. Não que passe por ela.”

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DE PONTO A PONTO

O estilo, despretensioso e elegante, transparece o perfil de Raquell. Pode-se ver nas peças o aconchego que transmitem, quase como se abraçassem quem as veste, tão carinhosas quanto a estilista. De onde vêm as inspirações? Do ar, da vida. Em sua última coleção, por exemplo, a designer retratou na cadeia de pontos as grades que integram o dia a dia e a história de sua equipe. Já para a próxima coleção, o tempo é quem ditará as tramas. “Porque o tempo é uma relação muito forte que os meninos têm. Eles esperam o tempo passar, têm muito tempo e, aqui fora, é a única coisa que a gente não tem”, diz. O tema central será “O tempo troca a roupa do mundo”, inspirado pelo livro infantil “Tempo de voo”, de Bartolomeu Campos de Queirós (Editora Edições SM, 2009).

Atualmente, além das lojas que comercializam a marca no Brasil, as peças da grife estão disponíveis na Ásia, em Tóquio, na Europa, em Paris, e na América do Norte, em Nova Iorque. A grife já participou de eventos como Dragão Fashion, Minas Trend e todas as feiras internacionais. Em novembro, Raquell também terá espaço no São Paulo Fashion Week, em que levará algumas peças pela grife Iódice, para a coleção de inverno 2015.

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Fashion Repórter

Grifes internacionais e nacionais se envolvem cada vez mais em polêmicas, e

os consumidores não perdoam. Especialistas analisam e comentam caso a caso

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Todas afirmaram que, por possuírem confecções terceirizadas, desconheciam a maneira em que as empresas trabalhavam. Mas essa afirmação, de acordo com o consultor de gestão de comunicação governamental Celso Oliveira, não foi o bastante para manter a confiança dos clientes. “Muitos optaram por trocar

o consumo das marcas diante dos fatos. Cabe ressaltar que alguns foram incentivados pelos concorrentes dessas marcas, pois perceberam na gravidade do caso e na fragilidade da marca, uma oportunidade para conquista de mercado.” Para Oliveira, apenas se posicionar demonstrando desconhecimento é muito pouco, são necessárias ações que venham apresentar aos consumidores de que foram tomadas medidas para que os terceiros ou fornecedores viessem a mudar suas atitudes. Além disso, as marcas devem demonstrar calma e controle da situação,

Modelos magras demais, drogas, afirmações e ar-gumentos preconceituosos

sempre foram polêmicas comuns no mundo da moda, mas recentemente todos têm se voltado ao mais novo “suicídio fashion”: o trabalho escravo. Depois de 2011, em que a gigante espanhola Zara foi acusada de

regime análogo à escravidão, várias outras marcas foram palco das mesmas acusações, em que os trabalhadores de confecções que prestavam serviços para as grifes não tinham carteira de trabalho, cumpriam jor-nadas diárias superiores a 14 horas, não re-cebiam salário, dormiam e faziam refeições no local em condições precárias, além de não poder deixar a oficina sem autorização do dono.Entram na lista das marcas indiciadas a brasileira Carlos Miele e M.Officer, Le Lis Blanc e Bo.Bô do grupo Restoque, Ecko, Gregory, Billabong, Brooksfield e Tyrol.

Muitos optaram por trocar o consumo das marcas diante dos fatos. Cabe

ressaltar que alguns foram incentivados pelos concorrentes dessas marcas, pois perceberam na gravidade do caso e na

fragilidade da marca, uma oportunidade para conquista de mercado.”

Celso Oliveira

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além de medir ações visando reduzir o impacto negativo preparando uma virada na situação.De acordo com Fábio Romito, consultor de empresas têxteis e de vestuário, existe a possibilidade de as empresas não terem conhecimento de como ocorre o processo de confecção, o que, no entanto, não deixa de gerar uma crise de imagem. “Existem os dois casos: empresas que fecham os olhos para o que acontece nos fornecedores em nome do custo mais baixo, e empresas, sobretudo as grandes, que contratam fornecedores que repassam a mercadoria para outras confeccionarem. O contratante acaba perdendo o controle de onde foram parar seus produtos, pois a rede de fornecedores é muito grande. Um dos objetivos do certificado ABVTEX é evitar que isto aconteça”, explica, referindo-se à certificação da Associação Brasileira de Varejo Têxtil que prevê a realização de auditorias independentes para o monitoramento de práticas e compromisso ligados a temas como trabalho infantil, trabalho forçado ou irregular, discriminação, falta de segurança e

de cuidados com o meio ambiente. Polêmicas envolvendo o nome das marcas, além de gerar multas milionárias e a ações trabalhistas, fazem mal aos negócios. Para Oliveira, a empresa afetada deve buscar a origem do fato, e entender de que maneira a situação aconteceu, e principalmente de que forma pode afetar seu consumidor. “Buscando a origem dos fatos, a empresa visa identificar e construir ações para estancar a propagação da polêmica e construir um discurso para ser enviado, por meio da imprensa ou de outros meios, aos seus consumidores”, afirma.Muitas empresas vêm terceirizando sua mão de obra, com o objetivo de diminuir os custos e otimizar o trabalho, mas é necessário ficar atento, fechar os olhos e deixar na mão de terceiros pode ter consequências irreversíveis, já que quem ficará mal diante aos olhos do consumidor é a marca final. Além disso, Fábio Romito ressalva que uma das desvantagens de terceirizar a confecção é que a qualidade pode acabar se perdendo, e cópias de criações também podem acontecer.

O contratante acaba perdendo o controle de onde foram parar seus produtos, pois a rede de

fornecedores é muito grande.” Fábio Romito

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PRECONCEITO

Além de o trabalho escravo ser a bomba mais polêmica do mundo da moda, recentemente a marca masculina Sergio K. deu um tiro no próprio pé, quando apresentou camisetas comemorativas para a Copa do Mundo de 2014 com os dizeres “C. Ronaldo is gay”, “Maradona Maricón”, fazendo o uso pejorativo da homossexualidade. Muitos clientes, homossexuais ou não, se sentiram ofendidos. Para Oliveira, a marca agiu de impulso, acreditando que seria uma boa ideia inserir essas camisetas. “A empresa deveria ter medido o impacto dessa ação com os chamados mercados/teste ou em grupos de pesquisa qualitativa. Essa ação poderia identificar posicionamentos contrários e seus impactos na campanha desenvolvida pela empresa ou marca. Agir apenas pelo impulso de uma boa ideia nem sempre é o mais indicado, pois o gosto do consumidor ou sua postura pessoal frente aquele produto pode vir a ser muito prejudicial.” Não demorou muito para que surgissem petições pedindo que a marca interrompa

as vendas das peças, já que elas incitariam a homofobia. Diante da posição negativa dos clientes em relação às camisetas, o dono e estilista da marca, Sergio Kamalakian, afirmou que as camisetas não tinham objetivo de serem homofóbicas, mas que, depois das polêmicas, o estoque esgotou, não sendo necessário retirá-las de circulação. Nesse caso, em que as redes sociais começaram uma ação contra a marca, para Celso Oliveira, a marca deve estar sempre atenta e ativa no monitoramento das informações divulgadas via internet, a fim de controlar o caso e não permitir que ele gere comoção e cresça cada vez mais.

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Está vendo este espaço?

Seus clientes também verão.

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MÔNICA SALGADO

A resposta para a pergunta “como ser capa” é dada na edição de hoje pela diretora

de redação da revista Glamour, Mônica Salgado. Você confere um pouco do estilo

da revista e como tudo é influenciado pelas leitoras. Para completar, a editora de

moda, Adriana Bechara, da sua opinião voltada para a área de moda

Como ser capa

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uma história em todo o ensaio de capa. Na foto principal, temos que ser mais caretas, pois é uma questão de segundos para atrairmos a atenção do leitor. E eu tenho uma diretoria que também opina na escolha das personagens, participam do mood board, é um processo que envolve por baixo umas 15 pessoas.

A Glamour não é uma revista que possui o hábito de colocar homens como capa. Existe um porquê para isso?A Glamour é uma revista feminina, então os homens vão sempre aparecer em caráter

de asserção. A única vez que usamos um homem na capa foi no aniversário da revista com o Cauã Reymond, mas não tivemos muita aceitação. Existe uma verdade absoluta no mercado: homem não vende e queríamos provar que isso não era verdade, mas não obtivemos o sucesso que esperávamos com o público.

Quem é o responsável na decisão da capa? E como ocorre todo esse processo

aqui na Glamour?

É uma decisão de equipe. Eu me envolvo bastante nas capas, estou sempre presente. Além de mim, o diretor de arte participa muito, graças ao nosso formato pocket, em que a personagem da capa não pode ficar muito pequena e dar ênfase ao logo. Temos que estar sempre presente para auxiliar o fotógrafo nessa questão do corte. Temos sempre a equipe de moda envolvida, desde a estagiária que vai para a rua fazer a produção, de acordo com o

briefing. Há ainda a editora de moda, a Rita Lazzarotti. Montamos um “mood board”, que será um raio-x do trabalho que iremos fazer, incluindo o conceito geral, que mostra exatamente o que queremos extrair da mulher que irá na capa, o styling, o crope, a luz. Além disso, é importante enviarmos todas essas informações para a mulher da capa, para que se prepare, já que temos

Uma pessoa que eu queria muito que fosse capa, que eu acho que é a cara da revista é a modelo Cara Delavine. Ela é relevante, está acontecendo agora, ela é um fenômeno.”

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Qual o critério para selecionar a personagem para a capa?Tem que ser alguém que esteja acontecendo, alguém que gere curiosidade a ponto de você passar em uma banca e ficar com vontade de comprar a revista. E acho que nós temos uma leitora muito fiel, uma leitora que compra independente de quem for capa. No entanto, nossos números oscilam. Por exemplo, com a capa das blogueiras, nós tivemos uma tiragem de 62 mil exemplares vendidos em banca, isso fora os assinantes. Já quando colocamos a Gisele, o que ocorreu um ano depois, com a revista mais estabilizada, nós tivemos uma tiragem de 56 mil exemplares. Então, é claro que a estrela da capa vai pesar na compra da revista. Tem o critério da relevância, o timming de quem está acontecendo naquele momento, quem a gente gostaria de ver e saber mais.

Como ocorre a seleção da roupa que a personagem usa na capa? O nosso principal objetivo é que a capa fique linda, então não ficamos preocupados com a marca ou com o valor das roupas, queremos que chame a atenção do nosso leitor. Além disso, a roupa da capa deve estar de acordo com o mood e com a história que queremos contar.

Até que ponto o seu gosto pessoal e o da equipe influenciam na decisão da

capa e de toda a produção?A gente acaba influenciando, não tem como. Nós somos humanos, então tem muito do nosso coração e da nossa alma nas produções, até porque a Glamour é uma revista que quer se aproximar das leitoras, que fala com elas, então é legal ter um pouco de nós nela. Por exemplo, eu sou mais romântica, gosto de flor, de rosa; a Bechara [Adriana Bechara, editora de moda] é um pouco mais étnica; a nossa editora sênior [Pauli Merlo] é um pouco mais rock and roll, então, é legal que existam esses gostos diferentes, porque aí conseguimos conciliar e agradar a todos.

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Qual foi a capa mais marcante?Sem dúvida, a capa mais marcante foi a das blogueiras. Não sei se vamos conseguir fazer uma capa tão marcante, ela foi um divisor de águas não só na história da Glamour como no mercado. Foi uma edição histórica, em que as leitoras votaram em quem elas gostariam de ver na capa.

Utilizamos as redes sociais, além de ter sido uma de nossas edições mais vendidas. Eu fico pensando em como vamos conseguir superar aquela capa.

Tem alguém que você almeja em colocar na capa da Glamour?Eu queria ter colocado o Neymar, há muito tempo estávamos tentando colocá-lo como capa, foi uma grande decepção. Desde o nosso primeiro aniversário, estávamos tentando colocá-lo com a a Isabelli Fontana na capa, mas a agenda dele é uma loucura.

Uma pessoa que eu queria muito que fosse capa, que eu acho que é a cara da revista é a modelo Cara Delavine. Ela é relevante, está acontecendo agora, ela é um fenômeno.

Para a editora de moda, Adriana Bechara, o ideal para as revistas é utilizar aquelas

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personalidades que estão em alta, mas a Glamour gosta de arriscar e fugir do usual, como foi com a cantora Anitta, em que a revista produziu aquela que seria a primeira capa da funkeira, em um momento que poucas revistas acreditaram nela. Foi o período em que a produção da Glamour identificou um fenômeno, alguém que as leitoras teriam curiosidade de conhecer. Além disso, ela foi polêmica, independente das pessoas gostarem ou não, o importante é atiçar a curiosidade. A mesma ideia se aplicou na edição das blogueiras, em que

a revista se propôs a fazer uma capa “real people”, já que elas representariam melhor que ninguém a conexão do mundo irreal e inacessível das celebridades com as pessoas mais próximas às leitoras. Além disso, as blogueiras representarem um fenômeno que está acontecendo no Brasil e no mundo. Em relação às marcas, todas possuem o interessem em ser divulgadas, e a capa é a mais concorrida. Apesar de todas terem espaço, Adriana reconhece que sempre busca dar mais atenção às marcas que anunciam, pelo fato de acreditarem na

proposta da Glamour, mas não é o critério exclusivo para a escolha das roupas que irão aparecer. Ela lembra que as roupas devem estar de acordo com a tendência, com a história que a revista quer passar no ensaio e com a ideia principal da capa. A capa é o DNA da revista, então, ela deve mostrar para a leitora o ideal da publicação, e o principal objetivo da Glamour é conversar com o público, ser próxima, trazer uma moda mais acessível, com que as leitoras possam se identificar.

A gente gosta de sair da curva e arriscar na estrela da capa. Na verdade, gostamos mais de arriscar do que fazer

o que todas as revistas fazem.”

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Top Trends

Laranja tentaçãoViva, enérgica, intensa. Essas são as três

características que fizeram da tonalidade, um dress code para o verão 2015. A cor

aparece em peças estruturadas e fluidas, em looks monográficos ou detalhes

pontuais. Vale ousar nas composições de dia ou à noite; para completar,

tonalidades vibrantes ou até mesmo as candy colors integram a paleta de

possibilidades.

TENDÊNCIAS PARA VERÃO 2015

Muito além das praias

e piscinas, o queridinho que está fazendo a cabeça das

fashionistas neste verão é o neoprene. Usado para criar shapes descolados e

sensuais, cheios de estilo. O tecido aparece em saias, blusas, vestidos e até shorts; para as amantes dos clássicos “conjuntinhos”,

tanto as versões monocromáticas quanto as estampadas estão

com tudo.

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Divino romanceInspirado nos anos 50, o estilo lady like combina

romantismo e delicadeza em looks cheios de feminilidade. A cintura marcada é característica

principal das peças, como saias rodadas e de comprimento mídi; cores suaves, listras de todos

os tamanhos e florais finalizam as montagens com classe e elegância.

TropicalienteAs flores são a cara da estação e estarão presentes em looks compostos pela mistura de cores e tamanhos. Dentro dos closets masculinos e femininos, o tropicalismo se faz presente em estampas florais de cores vivas e cheias de personalidade, seja em peças despojadas ou alfaiataria. Uma aposta cheia de estilo.

Listras. Pra quê as quero?Em todos os tamanhos, cores e direções, as

listras são, definitivamente, indispensáveis para enfrentar as altas temperaturas com

classe. Homens e mulheres estão liberados para ousar nas criações; lembrando que o

importante, é não seguir regras e combiná-las da forma que desejar.

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Profissões da moda

OS VERDADEIROSCAÇA TALENTOS

Falsos agenciadores abordam jovens com promessas mirabolantes, mas o trabalho de headhunters vai muito além de simplesmente oferecer assessoria

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ainda há pouca divulgação dessa profissão, os “vendedores de books” atrapalham os grandes descobridores de talentos e fazem com que tenham muito mais dificuldade em ganhar credibilidade, inclusive das famílias dos jovens.

Fernando Duarte começou sua carreira há 7 anos, como estagiário na agência Monica Monteiro e, desde o começo, percebeu que seu trabalho era cercado de responsabilidades.

Quando tinha 20 anos, mandou pela primeira vez uma modelo para trabalhar no exterior. Ele afirma que “era muito seguro do meu trabalho, mas, mesmo assim, nunca se sabe o que vai passar pela cabeça de uma menina de 15, 16 anos do outro lado do mundo”.

Para alcançar o sucesso no mercado da moda, é preciso muito trabalho e dedicação de ambas as partes e também vale ressaltar que ninguém vira um modelo de grande exposição do dia pra noite. Muitos

Aproveitando-se do sonho de muitas adolescentes em se transformarem em

modelos, falsos headhunters atrapalham o trabalho de gente séria, responsável por abordar aquela menina ou menino na porta do colégio, num shopping, em lugares inusitados e transformá-lo num modelo de referência internacional. Como

Não se pode vender um sonho para uma pessoa,

quando não é certeza que ela vai dar certo no

mercado”Fernando Duarte

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falsos agenciadores fazem promessas mirabolantes, mas no mercado da moda não existe mágica.

Dentro deste mercado, há muito tempo existe a famosa “venda de books”, que consiste em pedir para que o jovem faça um material fotográfico para a agência e pague por ele, em troca de trabalho,

prática condenável pelas pessoas que são honestas. “Não se pode vender um sonho para uma pessoa, quando não é certeza que ela vai dar certo no mercado”, afirma o headhunter.

Fernando hoje é proprietário de uma agência de modelos em Itu (SP), e trabalha com crianças e jovens. Sua agência é parceira de outras no eixo Rio-São Paulo e internacionais, fazendo assim com que um jovem descoberto no interior possa chegar ao exterior. Ele busca seus modelos em escolas da cidade e em um evento realizado anualmente é possível ter em torno de 20 modelos new faces. Aos que demonstram

interesse pela carreira, proporciona que o jovem tenha uma estrutura com aulas de passarela, interpretação, dança, pose em fotografia e inglês. Ele ressalta que “se o jovem tem interesse em seguir carreira internacional, nós o ajudaremos, mas é muito importante que ele conclua seus estudos”.

A jovem Letícia Georgiou foi abordada por um headhunter na porta do colégio em que estudava e ela acabou sendo enganada por esse primeiro agenciador. “Eles me levaram para três agências diferentes para que eu fizesse testes e, em uma delas, eu passei. Pediram para eu fazer um book e pagar por ele e, segundo eles, em breve seria chamada para algum trabalho, o que não aconteceu até hoje”. Esse tipo de prática é comum e acaba atrapalhando o trabalho das agências sérias no mercado.Entre a primeira abordagem de Letícia e o dia em que pisou numa passarela internacional, passaram-se quatro anos. A jovem confessa que nunca tinha pensado

Se o jovem tem interesse em seguir carreira internacional, nós o

ajudaremos, mas é muito importante que ele conclua seus estudos”

Fernando Duarte

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em ser modelo, mas que, depois de ser observada por um especialista, passou a pensar nisso. Seus pais, Sidney e Areti, eram reticentes no começo, e não apoiaram a decisão da filha. Mesmo depois que ela começou a modelar, e passou a pensar em ir para o exterior, eles continuaram ponderando a carreira de modelo. Para que ela fosse para a China, foi preciso em torno de um ano de conversa entre seus pais e o agenciador, criando assim uma confiabilidade para que ela pudesse trabalhar tranquila. Letícia passou uma temporada na Ásia trabalhando como modelo, e atualmente está de volta ao País para terminar seus estudos. Ela ressalta que “indo trabalhar em outro país com outra cultura e outra língua, aprendi e amadureci muito, tanto profissionalmente quanto pessoalmente.” Para que os pais dos jovens permitam que ele vá para o exterior, ou até mesmo que comece uma carreira bem sucedida de modelo, é preciso que eles tenham muita confiança no agenciador de seus filhos. Fernando conta que há muitos jovens descobertos na porta da escola que não seguem carreira por falta de apoio familiar ou ainda por não querer abandonar amigos e família. Fo

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O desfile fora do desfile, hoje em dia é certamente de importância mor! Mas o que ele

representa? Por que ele é tão importante? Tem três fatores:– Informação digital– Normcore– EmpowermentA Informação digital tem distribuído imagens de street style com maior velocidade e amplies pelo mundo. Mais pessoas sabem imediatamente o que é usado nas ruas deste nosso planeta. É um fenômeno que começou com os bloggers. Foi uma tipo de democratização da informação gerado por sites de street style e bloggers de moda. De repente, as revistas não tiveram mais o monopólio desta informação. Foi revolucionário e gerou a simbiose que hoje vemos entre a passarela e o street style. Um influencia o outro sem podermos identificar a origem exata na maioria dos casos. É quase a estória do ovo e da galinha.O Normcore é o termo inventado há pouco para definir este estilo que vemos pelas ruas hoje. Gone were the days que o pessoal da moda se produzia todo com looks extravagantes, exagerados e habillé para rodopiar ao redor das passarelas. Hoje vemos uma calça e top aparentemente simples. Mas é nesta simplicidade

que identificamos quem tem estilo de verdade. Outros aspectos, a qualidade de acabamento, tecido e corte, tomam posição de extrema importância. O Normcore alcança o seu ápice em uma pessoa de grande estilo que pode comprar peças de alta qualidade.Empowerment (empoderamento). Eu vejo a unanimidade de sapatos baixos hoje entre o pessoal fashion, como uma reaproximada aos valores reais da mulher. Se somos super multitaskers (preparamos o café da manhã, enquanto escrevemos a lista do supermercado, respondemos o telefone e nos maquiamos…isto só pra começar o dia), como é possível fazer tudo isto sobre o salto (para quem já está com o dedinho levantado e a frase “Eu faço tudo sobre o salto!” na ponta da língua, saiba que toda regra tem sua exceção!) ?!?! Acredito que de uma certa forma, a volta ao sapato baixo não é só uma questão de tendência e proporção, mas também tem a ver com o comportamento e momento social da mulher. Ela não preclude o uso do salto, especialmente em ocasiões formais, mas é o que há de mais novo.O que vocês acham sobre tudo isto?O que gosto é a atitude e a originalidade que encontraram para interpretar o Normcore. Em vários modos, é muito mais difícil se vestir bem nesta tendência do que qualquer outra!!

O desfile fora do desfile...

Opinião

PorConsuelo Blocker

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New Faces

DUPLA IMBATÍVELDo casamento perfeito entre moda e arte, a grife Wasabi abre espaço para artistas exporem suas obras, em peças que vestem perfeitamente a mulher cool, sexy e bem informada, sem deixar de lado o lifestyle carioca

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Se estivesse vivo, Yves Saint Laurent certamente ficaria orgulhoso ao ver a elegância

com que a arte é transmitida nas peças da Wasabi. Fruto de muita dedicação e comprometimento, a grife carioca das sócias Ana Wambier e Daniela Sabbag tem no DNA o mesmo pluralismo que carrega no nome. Longe de referenciar apenas o tempero asiático, remete também à estética oriental. Como as próprias profissionais gostam de definir, algumas das peças são como

origamis, com dobraduras e modelagens complexas. A raiz forte é, em si, o próprio alimento e base para a consolidação da marca. Já em questões pragmáticas, há quem prefira pensar na Wasabi como a união das primeiras sílabas dos sobrenomes das idealizadoras.

Não é de hoje que a arte e o mundo fashion andam lado a lado, mas a forma como se unem é que faz toda a diferença; e esse é o ponto chave nas criações da marca.

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Desde que se conheceram durante o curso de Design de Moda na Senai-Cetiqt, a amizade indicava uma parceria de potencial, mas foi em 2008, quando Ana voltou de um mestrado em Londres, na Central Saint Martins, que decidiram criar uma marca juntas. Dois anos depois, a primeira coleção era apresentada ao público, já com a participação da artista Maria Lynch. As

estilistas contam que a ideia da parceria com artistas surgiu naturalmente, já que Ana tem muitos amigos na área, além de já ter trabalhado no centro cultural suíço, Casa Daros. Ela também é casada com um crítico de arte. De lá para cá, a dupla já desenvolveu coleções em parceria com os artistas, Filipe Jardim, Celia Euvaldo, Ana Holck, Gisele Camargo, Lucia Laguna,

Quem veste Wasabi sabe que está consumindo um produto bem informado, com

ampla sustentação no cenário cultural”

Anna Wambier

Há sempre uma renovação estética, que depende muito do artista com o qual nos filiamos”

Daniela Sabbag

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Gabriela Machado, Laércio Redondo e, para o verão 2015, o catalão Daniel Steegmann. O ponto alto dessa união artística está no resultado de cada coleção, que, além de produzir peças fora do padrão, carrega personalidades e histórias únicas, e, claro, diferente de qualquer outra marca. “Há sempre uma renovação estética, que depende muito do artista com o qual nos filiamos”, afirma Daniela.A contribuição artística é livre e natural, tanto quanto a beleza que nasce com as peças. Em cada parceria, o profissional tem liberdade para criar o conceito, tema ou modelagem. Ana conta que já houve casos em que tudo foi definido junto com o artista, da modelagem à estampa e à forma de aplicação da imagem no tecido. “Teve gente que simplesmente entregou o portifólio e disse ‘escolhe qualquer imagem e façam o que quiserem’; teve

artista que definiu o tema da coleção para nós, fez pesquisas históricas e de imagem. Depende da forma como cada um gosta de trabalhar”, explica Daniela.

Embora algumas coleções tenham se desenvolvido após o artista ter definido o tema, de forma geral, a ideia central da coleção se impõe à medida que as imagens criadas começam a chegar para as estilistas. As imagens que mais conversem entre si e com a estação em questão serão escolhidas para dar origem ao trabalho final, que une diferentes habilidades e inspirações. “Um pano de fundo vai se formando. É como se as imagens fossem, elas mesmas, contando pra gente a história da coleção”, explica Ana.

CURADORIA E CRIAÇÃOAssim, pode-se dizer que a Wasabi faz as vezes de uma curadoria artística,

Look book verão 2014

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Coleção de verão 2015 da marca Wasabi

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oferecendo espaço para criação e divulgação das obras. A escolha do artista é feita a partir da mensagem que Ana e Daniela desejam comunicar na temporada. Ana explica que a coleção desenvolvida ao lado da artista Gabriela Machado para o Verão 2014, por exemplo, com telas repletas de flores alegres e multicoloridas, transmitia a energia da estação, por isso mesmo, essa parceria não teria tanto sucesso, se fosse criada para o inverno. Daniel Steegmann, artista catalão da Galeria Mendes Wood, também apresenta grande influência da natureza em suas criações, e, para as estilistas, essa comunicação com a tropicalidade nada óbvia, foi ponto determinante para que o lançamento das peças fosse definido para o Verão 2015. As inspirações acabam retratando também o lifestyle carioca e todos os aspectos presentes no cenário encantador que o berço da marca oferece. Para criar suas estampas, por exemplo, Steegmann teve como ponto de partida o ambiente e paisagens do Rio de Janeiro. Intitulada Tropicalismos, conta com cinco estampas; a primeira, Floresta Real, nasceu de fotografias da Floresta da Tijuca, que, retalhadas e embaralhadas, garantem um ilusionismo geométrico com as folhagens e luminosidade da mata. Por impressão digital sobre tafetá, a estampa é revisão contemporânea das pinceladas de Cézanne, cujas telas exibem diferentes visadas de uma mesma paisagem. Para as estampas Praia Vermelha e Praia Azul, impressas em seda, Steegmann se baseou nas cores do pôr do sol e nas cores do mar – ambas inspiradas no cenário do Arpoador. Para

consagrar a parceria, o artista também cedeu para a marca uma das suas aquarelas, cuja série foi exposta na última Bienal de São Paulo, em 2012. Chamada Lichtzwang, a imagem foi impressa em mousseline de seda e em algodão. Já na estampa Caleidoscópio, impressa em neoprene, o catalão granulou as fotos da floresta e usou um processo de colorimetria para alterar a imagem.

Comprometidas com a revisão comercial, sem deixar de lado a expressão artística, as roupas que carregam a etiqueta Wasabi, parecem feitas sob medida para a mulher real das grandes cidades, além disso, transportam a arte para além dos museus e galerias. Daniela explica que a ideia não consiste em fazer das peças as próprias obras de arte, mas dar a elas uma nova plataforma expressiva, para que transpareçam a poética visual de cada profissional.

Mais do que um comportamento, a moda é, para Ana, um estado de espírito, sendo assim, a relação que a Wasabi tem com o universo das artes plásticas faz com que a marca seja tão bem estruturada. “Quem veste Wasabi sabe que está consumindo um produto bem informado, com ampla sustentação no cenário cultural”, define. Mais do que a peça, o que realmente causa impacto em quem a compra, é o conceito que ela carrega consigo, o que a marca quis comunicar com ela. Neste caso, Wasabi é toda a história que existe por trás do tecido, das estampas, de cada detalhe minuciosamente pensado,

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unido ao comportamento da mulher que a veste. “A nossa consumidora é bem informada, consome produtos culturais e tem referências de todos os lugares por onde viajou, e, por isso, ela valoriza, por exemplo, uma camiseta que tem um rascunho de Maria Lynch”, afirma.

É essa conexão direta com a consumidora e a história enraizada em uma proposta inovadora, que garante à Wasabi o destaque e respeito adquiridos nesses

quatros anos, desde a primeira coleção. “Como definiu a Vogue, fazemos uma moda preta-à-penser, para uma mulher que quer comunicar sua relação com a arte, com seus interesses estéticos e intelectuais”, explica a estilista. Por seu trabalho consistente, a marca também tem sido convidada para projetos além da indústria da moda, como os novos uniformes desenvolvidos para a Casa Daros, um centro de arte contemporânea latino-americano, com sede na Suíça, localizado no Rio de Janeiro. A Wasabi também integra as atividades paralelas da Art Rio, que ocorrei em setembro deste ano. Na ocasião, todas as coordenadoras do evento vestiram somente roupas Wasabi, numa espécie de flash mob conceitual.

Com a produção a todo vapor, a Wasabi se prepara para lançar, em breve, a coleção de inverno 2015. O artista escolhido para a temporada foi Matheus Rocha Pitta, autor Fo

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de um trabalho “intenso, muito forte e questionador”, nas palavras de Ana. Por temporada, a grife lança 130 itens para verão e 100 para inverno. O mix de peças apresenta sempre cerca de uns 5 itens instigantes, que comunicam de forma mais profunda o universo artístico, e outras completamente usáveis no dia a dia - esse aspecto é essencial para atender também as necessidades da mulher Wasabi. Essa mulher tem aproximadamente 30 anos, é elegante, inteligente, informada, sexy, cool e descontraída. “É uma mulher

viajada, então ela conhece diferentes culturas. É atenta às expressões artísticas e pode ser uma colecionadora de arte. É uma mulher chique-globe-trotter-contemporânea, que pode estar indo para uma festa superarrumada depois de ter passado o dia inteiro na praia com os amigos”, definem.

Ao estilo mais laid-back, a Wasabi é multifacetada, tanto quanto a energia que suas responsáveis transmitem; suas estampas, únicas, explosivas e carismáticas. A grife já se apresenta no Rio Moda Hype, e não promete parar aí. Desfiles profissionais

e eventos paralelos estão nos planos da dupla. Exportação e ampliação da presença em multimarcas no país também compõem a lista. Como quem sabe a importância da proximidade, para atingir o público desejado, e a probabilidade de crescimento do mercado eletrônico no Brasil, a grife também já está disponível em e-commerces como Gallerist e Farfetch. Além disso, está presente nas lojas Cartel 011 e Choix, em São Paulo, na Dona Coisa, Sala de Estar e Empório EM, no Rio de Janeiro e em mais de 30 multimarcas pelo país.

Daniela conta que, entre os novos projetos, seguirão para Shanguai por meio de uma ação coordenada pela Abest e pela Apex Brasil, ainda em novembro, logo após o Salão +B. Desfiles, personalidades e a apresentação da Wasabi para buyers chineses são algumas das novidades que estão por vir. No início deste ano, em abril, a grife foi escolhida pela ELLE China como uma das marcas mais interessantes do Rio de Janeiro, ao lado de Lenny Niemeyer e Osklen. Alguém tem dúvida de que ela já é um sucesso?

Como definiu a Vogue, fazemos uma moda preta-à-penser, para uma mulher que quer

comunicar sua relação com a arte, com seus interesses estéticos e intelectuais”

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A moda passa. O estilo permanece.Coco Chanel

Para eternizar o seu, anuncie aqui.

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A tão esperada Semana de Moda de São Paulo chega, em sua segunda edição anual, para trazer as novidades de Inverno 2015 de algumas das grifes brasileiras mais renomadas do mundo da moda. Com grande potencial comercial, o evento influência diretamente na movimentação do mercado de moda nacional e internacional. Paulo Borges, criador do evento, conta que ele sinaliza o empenho em fomentar o desenvolvimento da economia da moda e da informação da mesma, gerando o que é chamado de construção do mercado de moda brasileiro. “Pra você ter uma ideia, nesses quase 20 anos, já foram investidos mais de 1 bilhão de reais, em valores atuais, somente na realização das temporadas de moda do SPFW, que se transformou sem dúvida nenhuma na ferramenta mais preciosa e mais importante da disseminação e da construção de marcas e estilistas brasileiros”, afirma. Na abertura do evento, dia 1 de novembro, a Antonieta esteve lá para conferir de perto as apostas de Eduardo Pombal, para a grife Tufi Duek. Com inspiração viking, o estilista trouxe às passarelas uma rica gama de tecidos; muito couro, lã, musseline metalizado e paetês. No início do desfile, a top Isabeli Fontana vestiu uma blusa de jacquard encerado com saia de pregas e cristais. Peças trabalhadas em tiras de paetê transparente, fendas, e cristais

também ganharam a atenção do público presente. A modelagem das peças, cheia de recortes e com silhueta justa e alongada, garantiu sensualidade e elegância, mesmo que em looks com as pernas totalmente cobertas e botas “pesadas” de cano alto, como finalização. Uma das peças que mais chamou a atenção foi um vestido vinho plissado, com cristais pretos e colete assimétrico de um só lado preso pelo cinto. Tricôs bronze e dourado feitos de paetês também marcaram presença e remetiam claramente às armaduras. Na cartela de cores, preto, azul, bordô e verde escuro, foram os pontos chaves definidos para a estação. Na passarela, a figura de uma mulher forte e decidida. Para finalizar o show, a top Isabeli vestiu uma saia com maxi paetês azul sobreposta a uma saia crepe de lã, na mesma tonalidade. Em meio ao corre-corre, celebridades e profissionais da área fizeram dos corredores do evento, verdadeiras passarelas. Looks encantadores e cheios de estilo circulavam pelos lounges, backstages e muito mais. Para aqueles que quiserem adquirir peças de decoração ou acessórios, o espaço FFW Shop traz novidades encantadoras, como os clássicos bonecos da Katkiller, que representa diversas celebridades, incluindo os grandes nomes do mundo da moda. Confira alguns flashes!

Especial SPFWHolofote

Nossa equipe foi convidada pelo diretor de criação da Tufi Duek para coferir o desfile da grife, e contamos tudo o que rolou no primeiro dia do São Paulo Fashion Week Invernno 2015

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Parceria Fashion

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União Estável

O número crescente de parcerias entre grandes grifes e redes de fast fashion, movimenta a indústria e prova que a moda não precisa

ser elitista; É possível, sim, criar peças de qualidade a preços acessíveis

Não é de hoje que grandes nomes do mundo da moda investem em parcerias com redes de fast fashion, voltadas para a produção rápida e contínua de novidades. Há décadas, grifes renomadas de alta-costura produziram

suas primeiras linhas prêt-à-porter. Pierre Cardin, por exemplo, chegou a ser expulso da Câmara Sindical da Alta-Costura por ter criado uma coleção para a Printemps, famosa loja de departamentos. Com o passar dos anos, as redes de fast fashion foram ganhando cada vez mais espaço com o grande público, e, na última década, conquistaram a confiança e interesse de marcas renomadas, nacional e internacionalmente. O “boom” desse tipo de parceria aconteceu em 2004, quando a sueca H&M, lançou peças exclusivas em parceria com ninguém menos que Karl Lagerfeld, da Chanel.

Em um período em que o mercado da moda passa por tantas mudanças e reflexões, com o impacto da internet e das próprias lojas de departamentos, é cabível que a velocidade de produção das grandes marcas sofra influências, para se adaptar ao desejo

imediatista do consumidor. Além disso, essa união tende a beneficiar os dois lados. As redes de fast fashion são beneficiadas pela notoriedade e pelo respeito

diante das grandes grifes, atingindo uma parcela diferenciada de público. As grandes marcas, por outro lado, conquistam um número ainda maior de

consumidores. As parcerias envolvem tanto o mercado internacional quanto o nacional e, ao mesmo tempo em que aquece o setor,

a presença de gigantes internacionais em solo brasileiro faz com que as marcas nacionais busquem

novas estratégias para a competividade de mercado.

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Stella McCartney, a Topshop trabalhou com a colaboração de Kate Moss

e a Uniqlo, com designs de Jil Sander.

No Brasil, essa tendência mostra força e promete ficar por muito tempo. As grandes C&A e Riachuelo têm anunciado parcerias em toda estação. A primeira já lançou pe-ças desenvolvidas por Reinaldo Lourenço, Re-nato Kherlakian, Isabela Capeto, Glória Coelho, Patrícia Bonaldi, 284, Ca-

rina Duek, Santa Lolla, Isabela Giobbi, Ágatha,

Mixed, Walter Rodrigues, Marcelo Sommer, Raia de

Goeye, Giuliana Romanno, entre outros. As últimas anunciadas

pela rede, em novembro deste ano, foram apresentadas com a estilista Stella

McCartney - a segunda coleção da grife para a C&A, e com a Iódice. Já a Riachuelo lançou peças assinadas por grandes nomes como Fause Hauten, Oskar Metsavaht, Cris Barros, Lorenzo Merlino, André Lima, Juliana Jabour, Maria Garcia, Martha Medeiros, Huis Clos, Versace, Dudu Bertholini, da Neon, Adriana Degreas, Têca por Helô Rocha, Sabrina Sato, Matheus Mazzafera, Daslu e a marca de beachwear Tryia, com que conversamos nesta edição.

Entre as gran-

des redes que apostaram nessa união fashion, está a sueca H&M, que também já atuou ao lado de outros nomes como Alexander Wang, Martin Margiela, Isabel Marant, Roberto Cavalli, Jimmy Choo, Stella McCartney, Lanvin, Viktor & Rolf, e muitos outros. A GAP também já lançou até uma coleção infantil assinada por Fo

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Segundo Isabela Frugiuele, sócia e estilista da Triya, a coleção lançada para a rede de fast fashion foi fruto de uma parceria muito gratificante e trouxe resultados positivos para a marca. “Foi incrível para a Triya. Além de termos desenhado a coleção e acompanhado o processo todo de perto, ficamos muito felizes poder oferecer para as clientes um produto de qualidade com preço acessível, e também com a visibilidade que isso gerou para a marca”, afirma.

Aliado à necessidade de consolidar o próprio nome e atender ao mercado, as grifes precisam manter a qualidade e o requinte dos produtos oferecidos, mesmo que a estratégia do fast fashion seja a venda em grande quantidade e a preços mais baixos. A estilista da grife explica que o fato de oferecerem peças a preços reduzidos não foge ao público alvo, e traz ainda mais reconhecimento: “Ao contrário de fugir do público alvo, acreditamos que nosso produto pode conquistar cada vez mais clientes. A parceria que fizemos com a Riachuelo tem um volume de produção muito maior que o nosso, e isso permite um preço mais baixo”, explica Isabela.

Embora a fabricação das peças tenha ficado a cargo da rede, a estilista garante que o produto utilizado para a confecção - tecido e modelagem, são os mesmos utilizados por elas nas demais coleções. A marca de beachwear alcançou um número de vendas enormes nas araras da Riachuelo, o que

garante que a parceria foi um sucesso. “Ficamos muito felizes com essa oportunidade”, finaliza.

Assim como a grife, as lojas de departamento apresentam diversas vantagens, como maior relevância e valor diante dos designers e do próprio mercado da moda. Essa relação direta influencia na cadeia produtiva e garante o acesso ao mercado de luxo, por um número maior de consumidores. Esse resultado ajudar a rea-firmar a ideia de que a moda não precisa ser elitista e que peças a preços reduzidos não só podem, como apresentam, tanta qualidade e beleza quanto às demais. Antonieta entrou em contato com grandes redes de fast fashion, como C&A e Riachuelo, mas foi informada pela assessoria de imprensa da C&A, que a empresa tem um perfil low profile e não divulga dados internos, além do material já disponível na internet. A Riachuelo não se pronunciou a respeito.

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História

OSalto alto é símbolo de feminilidade e glamour, mas o que muitos não sabem é que a peça, essencial no

armário de uma mulher o salto alto foi inventado por um homem, e por muitos séculos foi um acessório masculino, essencial, até ser descartado na primeira metade do século 18.Vamos retornar para 1643, na França governada por Luís XIV, período em que o

país mais prosperou em questões políticas e econômicas. A grande curiosidade é que Luís XVI, também conhecido como Rei Sol (graças ao seu grande ego) deu as primeiras diretrizes para a invenção do luxo como o conhecemos hoje. Um grande exemplo disso é a sofisticação e o glamour que o champanhe e os diamantes transmitem, e tudo isso teve início em seu reinado. A moda era uma grande paixão de

Pintura de Luís XIV, realizada pelo artista Hyacinthe Rigaud. Fonte: rivagedeboheme.fr

O legado do luxo

Preciosos sapatos de Luís XIV. Fonte: rivage.deboheme.fr

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Luís XVI, tudo o que era criado dentro do palácio, logo era copiado pela nobreza e, consequentemente, pela burguesia. O Rei Sol era obcecado pela ideia de ostentar o luxo, já que ele acreditava que era uma forma de demonstrar o seu poder. Mas isso não era somente uma questão de vaidade, era uma estratégia de promoção da França, já que todo seu esplendor e luxo eram invejados por outros países, como Inglaterra e Holanda. Luís XVI contava com a ajuda de Jean-Baptiste Colbert, ministro das finanças, que teve a brilhante ideia de lançar em 1678 o Mercure Galant, o primeiro jornal de moda, que tinha como objetivo difundir as roupas parisienses e fazem com que fossem desejadas por toda a Europa. A ideia de Colbert funcionou, e até hoje a moda parisiense é desejada mundo a fora.

Em meio a todo esse luxo os artesãos palacianos criaram o sapato de salto, inicialmente desenvolvido com um pedaço de madeira no calcanhar, para aumentar o tamanho do então rei, que media apenas 1,63m, muito pequeno para seu ego enorme... O acessório o fazia crescer em 10 cm com saltos. Os sapatos do rei eram extremamente artesanais, visto que eram decorados com imagens de sua conquista de forma bem detalhada. Além disso, os saltos e as solas eram, em sua grande maioria, na cor vermelha, já que o tingimento demandava muito tempo e era caro, transmitindo luxo e unicidade em cada sapato. Em 1670, o Rei Sol publicou um decreto que proibia outras cortes além da sua de utilizar o salto vermelho, mas não demorou muito para que essa moda se espalhasse pela Europa.

O famoso sapato com salto vermelho de Luís XIV.Fonte: rivagedeboheme.fr

Jornal Mercure Galant, primeiro jornal de moda, lançado em 1678.

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Moda para todos

Num país com 45,6 milhões de pessoas com alguma deficiência, desenvolver peças

adaptadas a esse público pode se transformar num negócio

rentável e necessário

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Quem tem alguma deficiência que impacta diretamente o que vestir – como é o caso

das deficiências motoras, amputações de membros e cegueira – encontra muita dificuldade para comprar uma roupa que, ao mesmo tempo, tenha estilo e atenda às suas necessidades físicas. O mercado de moda inclusiva, como é chamado, ainda precisa ser descoberto por estilistas no Brasil.

O País tem, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 45,6 milhões de pessoas que declaram ter algum tipo de deficiência. Esse número equivale a 23% da população. Desse total, 7% têm deficiência motora, a que mais necessita de adaptações no vestuário. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia estima que existam no Brasil 1,1 milhão de cegos, ou 0,6% da população. Essas pessoas também podem ter condições

melhores de vida se as peças contiverem informações e relevos em braile, por exemplo. “Trazer de volta a autoestima para as pessoas com deficiência” foi um dos objetivos da fisioterapeuta Dariene Rodrigues ao criar a marca Lado B Moda Inclusiva, em 2012. Mesmo não sendo do mundo da moda, ela percebeu nas roupas adaptadas um novo nicho mercadológico.

Ao ver as dificuldades de seus pacientes, passou a desenvolver peças que fossem funcionais e que façam com que possam fazer atividades simples direcionadas à moda, como se vestir sozinhos.O trabalho da fisioterapeuta não se restringe em apenas criar roupas para pessoas com deficiência, ela também é editora do jornal Inclusão Brasil e tem um programa de rádio. Ambos para ela têm a função de ser difusores e facilitadores de

“Dificilmente, encontro roupas para o meu tamanho e a moda

inclusiva não chegou para nós ainda. Então, quem é minha estilista

é minha mãe”.Samara Fonseca Dariene Rodrigues e

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informações para pessoas com deficiência, mobilidade reduzida e terceira idade. Por meio desses veículos, é possível saber novidades na área da saúde, relevantes ao seu público, além de abordar as dificuldades do dia a dia das pessoas com deficiência. Dariene também criou a agência Inclusão, na qual é possível aproximar a pessoa com deficiência do mercado de trabalho divulgando as vagas disponíveis nas empresas. A agência conta com duas unidades no Estado de São Paulo: na Capital e em Sorocaba. As primeiras peças produzidas pela marca da fisioterapeuta foram a calça jeans e a bermuda adaptada, com diversas opções de lavagens. As peças são pensadas para serem funcionais, com elástico frontal para facilitar o uso de fraldas, elástico para ajudar na hora de vestir e despir, e com opção de bolso interno para acoplar bolsa coletora, para pessoas que tenham passado por colostomia (retirada do intestino). Agora, está em fase de produção uma camiseta polo, que conta com zíper lateral e etiqueta em braile com o tamanho da peça e a cor da roupa, para que pessoas com deficiência visual possam ter mais facilidade.Tudo é pensado para facilitar a vida de quem tem alguma deficiência, porém, enquanto numa uma calça jeans tradicional, é usado em torno 1.30m de tecido, numa peça adaptada, de acordo com a fisioterapeuta, são usados cerca de 2m. A fisioterapeuta estima que, desde o lançamento, foram vendidas em torno de 60 calças. Além disso, foi feito um investimento de R$ 40 mil no projeto, para

desenvolver a marca, criar loja virtual e entrar com pedido de patente das peças.Entrar em uma loja e não encontrar uma roupa que lhe sirva perfeitamente é uma rotina para Samara Fonseca, portadora de nanismo: “Dificilmente, encontro roupas para o meu tamanho e a moda inclusiva não chegou para nós ainda. Então, quem é minha estilista é minha mãe”. Ela acaba comprando roupas em lojas populares e lojas de departamento devido ao preço, e sua mãe reforma todas suas peças.As roupas adaptadas ainda são restritas a poucos modelos, tendo apenas calças, bermudas e camisetas simples. O preço ainda não é atrativo. O preço mínimo para uma calça simples é de R$130,00.

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CONCURSO

Em São Paulo, é realizado desde 2009 pela Secretaria de Estado dos Direitos das Pessoas com Deficiência o Concurso de Moda Inclusiva. A primeira edição teve parceria com Pensemoda e a empresa Vicunha. O Pensemoda é um evento de discussão e filosofia de moda do País, e a Vicunha que é uma indústria têxtil. O objetivo desse concurso foi fazer com que os jovens estudantes de moda passassem a exercer a criatividade em um novo mercado. Peças que foram desenvolvidas para o concurso chegaram a ser mostradas em desfiles em Milão em 2012. De acordo com a Coordenadora do concurso, Daniela Auler, este é um projeto pioneiro nacional e internacionalmente, e alinhado com a missão da Secretaria, o objetivo é fazer com que as pessoas com deficiência possam ter mais autonomia ao escolher suas roupas nas araras, além de contar com peças que os tornem mais independentes.

FOTOGRAFIA PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA A moda inclusiva movimenta também outros mercados como a fotografia e a publicidade. Fotógrafa desde 2003, Kica de Castro é especialista em clicar pessoas que tenham algum tipo de deficiência e, inclusive, criou uma agência voltada para esse público. Com um trabalho delicado e humano, a fotógrafa evita usar programas como o Photoshop em suas fotos, pois acredita na beleza real

das imagens e não na que é imposta pela sociedade com ajuda da computação gráfica. “É um mercado pouco explorado e é muito raro os modelos que vivem apenas com esse serviço. Em geral, eles encaram o trabalho como um freelancer, até porque a questão da beleza e da sensualidade de uma pessoa com deficiência era pouco explorada antes do meu trabalho”, afirma. A fotógrafa utiliza os aparelhos ortopédicos como acessórios de moda, as muletas, próteses, bengalas e cadeiras de rodas tornam-se elementos das imagens. Para ela, um grande defeito do mercado é a falta de visão dos empresários, que não enxergam as pessoas com deficiência como consumidores. Fo

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É um mercado pouco explorado e é muito raro os modelos que vivem apenas com esse serviço.

Em geral, eles encaram o trabalho como um freelancer, até porque a questão da beleza e

da sensualidade de uma pessoa com deficiência era pouco explorada antes do meu trabalho”

Kica de Castro

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Falando nisso...

A consultoria de imagem trabalha com o principio de aperfeiçoar e comunicar através da

vestimenta, tendo como benefício auto-conhecimento e confiança. E, assim como na semiótica, cada detalhe de uma roupa comunica o que você é. Consultor é o profissional capaz de avaliar e dizer a seu cliente que tipo de imagem pessoal ele está projetando, como otimizá-la e mantê-la positiva constantemente.Partindo do princípio que cada elemento e forma passam uma mensagem, quais são os elementos mais adequados para comunicar

a criatividade, muito presente no estilo de profissionais do ramo da moda, publicidade, arquitetura? Na verdade, é uma soma de fatores que comunicam a criatividade, mas o recurso que se pudesse seria apelidado de “criativo” seria a combinação de estampas.Essa boniteza já vem tentando ganhar espaço nas passarelas e nas vitrines. Mas, por mais coloridos que os brasileiros sejam, a aceitação por duas ou mais padronagens em uma mesma roupa ainda parece coisa de outro mundo.Então se você quer tentar e não quer errar aqui vão algumas das técnicas utilizadas

Criativo sim! Mas como mostrar?!

PorGabriela Rittner

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no processo de consultoria de imagem que tornam esse mix mais teórico e, portanto, um pouco mais concreto.A primeira das combinações é realizada através da junção de estampas acromáticas, que são as consideradas “não cores”: Branco, preto e cinza. Essas são combinações que podem ser muito bem aceitas, pois podem ficar bastante discretas se apostarmos em estampas menores e de tons pouco contrastantes.Já a segunda, vem ganhando um certo espaço na mente das consumidoras; são as combinações semicromáticas. Sabe aquele look que, com certeza, você já viu por aí de blusa de poás e saia de oncinha? Pronto, está ai um exemplo. Ou seja, é quando juntamos uma padronagem acromática com uma que envolva cor.O fato de duas estampas totalmente diferentes terem em comum uma única

cor também aproximas as estampas, e é a terceira técnica de combinação de estampas: por repetição de cor. É uma das técnicas mais utilizadas e, em geral, garante uma harmonia bastante forte ao look, mesmo quando escolhemos estampas de tamanhos te temas muito diferentes. O quarto tipo de combinação é quando um tema comum é eleito e as estampas, mesmo não tendo cores similares, se repetem. Pode assustar, mas uma dica pra tirar o ar caricato é a é misturar tamanhos diferentes de padronagem ou usar cores mais discretas na combinação.Agora que a teoria já foi dita, vale lembrar que combinações mais ousadas pedem ocasiões mais livres de regrasou casuais. E que a combinação de estampas não se limita somente a mistura de roupas e pode ser feita através da mistura também de roupas + acessórios ou somente acessórios.

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