revista abeclin n.01

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ano 1 | nº 1 | outubro/novembro/dezembro 2013 Em busca do reconhecimento Case de sucesso Santa Casa de Porto Alegre é exemplo de organização com EC Entrevista Marcello Bonfim: a profissão envolve assistência e infraestrutura Opinião José Tadeu da Silva: Confea abre as portas para a ABEClin Engenheiros clínicos, profissionais essenciais em EAS, querem regulamentar a profissão

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Primeira edição da ABEClin em revista, publicação que traz como proposta consolidar e difundir a engenharia clínica no Brasil.

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ano 1 | nº 1 | outubro/novembro/dezembro 2013

Em busca do reconhecimento

Case de sucessoSanta Casa de Porto Alegre é exemplo de organização com EC

EntrevistaMarcello Bonfi m: a profi ssão envolve assistência e infraestrutura

OpiniãoJosé Tadeu da Silva: Confea abre as portas para a ABEClin

Engenheiros clínicos, profi ssionais essenciais em EAS, querem regulamentar a profi ssão

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EDITORIAL

É com grande alegria que me dirijo aos senhores neste editorial.

Primeiro, pela comemoração de 10 anos de nossa associação, a qual fui

escolhido para dirigi-la. Neste mais de dois anos à frente da entidade sempre

cultivamos a ideia de ter um espaço para divulgar a classe. Criar um periódico

onde pudéssemos levar informações da nossa área aos profi ssionais de Enge-

nharia Clínica, sejam eles engenheiros, tecnólogos, técnicos etc. Era um sonho

que agora está se tornando realidade.

Escolhemos esta data, 10 anos da ABEClin, por julgarmos que a associa-

ção já amadureceu a tal ponto que conseguiremos, juntos, formatar esse produto

de modo que seja realmente uma ferramenta de busca de conhecimento, entre-

tenimento e divulgação da categoria entre nossos pares e demais profi ssionais

ligados à saúde.

Em todas as nossas edições traremos aos senhores conhecimentos, cases

de sucesso, perfi s de profi ssionais, questões de âmbito jurídico aplicadas

à prática profi ssional, além de artigos de interesse geral que possam

agregar ao leitor conhecimento específi co da área e de interesse geral

da comunidade.

A revista da ABEClin será interativa, isto é, quem norteará as

pautas, entrevistas e assuntos que estarão presentes nas próximas

edições serão nossos leitores, através dos canais de comunicação

que os senhores encontrarão nas páginas que seguem. Tudo que

os senhores precisam estará na AR (ABEClin em Revista).

A ABEClin faz aniversário e o presente é para você!

Boa leitura a todos!

Abraços,

Rodolfo Fernandes More

Presidente da ABEClin

Informação é tudo

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ÍNDICE

EXPEDIENTE

PresidenteRodolfo MoreDiretor ExecutivoAlessandro VezzáDiretor de RedaçãoWallace Nunes - MTB 55.803/SP

Diretor AdministrativoGiancarlo FriasProjeto Gráfi coCheeses Publicidade - Fone: (11) 4901.4904CapaImagens: ShutterstockFotosCamila Bevilacqua

A Revista AR - ABEClin em Revista é uma publicação de distribuição gratuita, editada pela Sustentabilidade Editorial. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. Não é permitida a reprodução total ou parcial de seu conteúdo editorial sem a autorização da editora ou do autor da matéria.

6 DIRETORIA

7 NOTAS

8 CASE DE SUCESSO

Engenharia Clínica

presente em Porto Alegre

10 CAPA

10 anos de existência

13 ENTREVISTA

Marcello Dias Bonfi m

14 ARTIGO

O trabalho e as

alterações na súmula

16 PROBLEMAS E VIRTUDES

Engenharia praticada

dentro do hospital

17 ENTRETENIMENTO

18 OPINIÃO

José Tadeu da Silva

Uma profi ssão em crescimento

Contatos Redação: [email protected]: 11 4901-4904Cartas: Rua Macaúba, 82 - CEP 09190-650Bairro Paraíso - Santo André - SPComercial: [email protected]: 11 4902-4904Para receber a revista cadastre-se no portal: abeclin.org.br

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DIRETORIA

Rodolfo MorePresidenteSanto André - SPFormação• Engenheiro de Produção formado na

Universidade de Marília• Especialista em Engenharia Clínica

pela UnicampHistórico na ABEClin• Primeiro Secretário das gestões

2008-2009 e 2010-2011Breve Histórico Profi ssional• Proprietário da Engebio Engenharia Ltda.• Membro da Célula de Excelência em

Tecnologia Biomédica do CRA-SP• Professor da disciplina de Engenharia

Clínica no curso de Engenharia Biomédica da PUC-SP

Fernando Meira da RochaVP ExecutivoEsteio - RSFormação• Engenheiro mecânico especialista

em projetos de tratamentos de resíduos - PUC-RS

• Mestrado em Mecânica de Fluidos - UFRGS

Histórico na ABEClin• Diretor da Regional RS no período

2010-2011Breve Histórico Profi ssional• Graduado em Engenharia Mecânica

pela PUC-RS (1984)• Pós-graduado em Tratamentos de

Resíduos - PUC-RS (2000)• Pós-graduado em Mecânica dos

Fluídos no mestrado PROMEC-UFRGS (1998)

• É mediador e árbitro do quadro permanente do CREA-RS

• É cofundador e primeiro presidente da Associação dos Mediadores e Árbitros dos Profi ssionais do CREA-RS

• Membro do quadro de árbitros da FIERGS

Alexandre Ferreli SouzaVP de Gestão AdministrativaRio de Janeiro - RJFormação• Especialista em Engenharia de

Manutenção (ABRAMAN)• Mestre em Ciências em Engenharia

Biomédica (COPPE/UFRJ)• Engenheiro em Eletrônica pela UFRJHistórico na ABEClin• Secretário da Regional RJ no período

2010-2011Breve Histórico Profi ssional• Atua desde 1997 na área de gestão,

Engenharia Clínica e manutenção• Atuou nos hospitais Municipal

Ferreira Machado, Pró-Criança Cardíaca, Unimed RJ

Paulo Roberto FerroVP de Gestão FinanceiraSão Paulo - SPFormação• Engenheiro CivilHistórico na ABEClin• Afi liado desde 2010Breve Histórico Profi ssional• Engenheiro civil formado em 1983,

com vivência nas áreas industriais, comerciais, hospitalares e residenciais

• Responsável pela engenharia, manutenção e conservação dos centros de treinamento 1 e 2, clube de campo e sede social da Sociedade Esportiva Palmeiras e gerenciamento da construção do futuro estádio

Ricardo Leal ReisVP de Marketing e Relações InstitucionaisSão Paulo - SPFormação• Engenheiro eletricista e de

Segurança do TrabalhoHistórico na ABEClin• Participante da comissão de

certifi cação de profi ssionaisBreve Histórico Profi ssional• Experiência em gestão de equipes

de Engenharia Clínica de diversos hospitais de grande porte do Rio de Janeiro e São Paulo

• Atualmente exerce o cargo de gerente de Projeto de Implantação da Acreditação da JCI no Hospital e Maternidade Santa Joana e Pró-matre Paulista, e em paralelo na Gerência do Departamento de Engenharia Clínica e Segurança do Trabalho do Grupo Santa Joana de São Paulo

Mara Clécia Dantas SouzaVP de Desenvolvimento Técnico-Científi coSalvador - BAFormação• Engenheira EletricistaHistórico na ABEClin• Membro da ABEClin desde a

fundaçãoBreve Histórico Profi ssional• Graduação em Engenharia Elétrica

pela Universidade Federal da Bahia (1992), mestrado em Engenharia Biomédica pela Universidade Federal da Paraíba (2000) e doutorado em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (2007)

• Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. Ex- -Diretora da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia da área de ciência, tecnologia e inovação em saúde

• Assessora do secretário de Saúde do Estado da Bahia. Também é instrutora de cursos de pós- -graduação da Universidade Federal da Bahia

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NOTAS

Reconhecimentoda profi ssão O processo iniciado por demanda da ABEClin para a instauração de um Gru-po de Trabalho (GT) com o intuito de estudar o reco-nhecimento do engenheiro clínico como profi ssão foi pauta da Plenária do Con-selho Federal de Engenha-ria e Agronomia (Confea). Devido ao pedido de vista do processo por um dos conselheiros federais, deve retornar à pauta na próxima Plenária do Confea de nº 1.404 que será realizada entre os dias 20 a 22 de novembro, na qual além do pedido inicial com parecer favorável da Comissão de Educação e Atribuição Profi ssional (CEAP), constará também o parecer do conselheiro federal que pediu vista ao processo. Veja vídeo com trecho da sessão: http://ow.ly/qfFyO

Regional RJ/ES promove encontro A diretoria regional ABEClin RJ/ES realizou na sede do CREA de Vitória, no Espírito San-to, o primeiro encontro de Engenharia Clínica na região. O evento contou com a presença de profi ssionais regionais e foi palco de importan-tes debates e interesses da área para o desen-volvimento da profi ssão. O encontro foi orga-nizado pelo engenheiro José Draurio e contou com a apresentação do engenheiro Guilherme Xavier, diretor regional da ABEClin.

Parabéns à ABRAMAN por seus 29 anos de atuação Entre as grandes conquistas da Associa-ção, destacamos a realização do grande evento de Manutenção e Gestão de Ati-vos, o maior da América Latina: o Con-gresso Brasileiro e a EXPOMAN.

Curso de especialização Abertas as inscrições para o cur-so de especialização em equipa-mentos biomédicos (técnico de nível médio) no Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), da Uni-camp, até dia 06/11.

Homenagem O evento em comemoração aos 10 anos da ABEClin será marcado pela cerimônia de entrega de três honrarias. Alexandre Henrique Hermini e Antônio Gibertoni Jú-nior serão os homenageados com João Carlos Langanke Pedroso (em memória), fundador da entidade e responsável por nomear a premia-ção. Os planos da ABEClin para 2014 também serão apresentados na celebração.

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CASE DE SUCESSO

Uma instituição hospitalar que se tornou referência na área de equipamentos e tecnologias

para a saúde. Assim é conhecida a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. Com as atividades iniciadas em 1994, a história da Engenharia Clí-nica na instituição começou a dar seus primeiros passos rumo à reconhecida excelência internacional após con-

quistar o certificado de acreditação Joint Commission International, no Hospital Santo Antônio, em 2012.

Mas o certificado não nasceu à toa. Tudo começou com uma equipe de 14 técnicos de nível médico que construíram na entidade protocolos de intervenções preventivas e corre-tivas, inspeção de instalações, maior rigor com normas e especificações e

ainda realizaram testes de aceitação para os equipamentos médicos. Qua-tro anos depois, após todo o trajeto de criação e consolidação, os profis-sionais passaram a gerenciar o plane-jamento de tecnologias médicas dos sete hospitais da entidade.

Nos anos seguintes, foi criada uma equipe multidisciplinar, agora mais estabilizada, formada por 46 colaboradores - engenheiros, físicos e profissionais com formação técnica e apoio administrativo - para vencer o gargalo e estabelecer níveis de exce-lência e credibilidade.

Estudos Como o engenheiro clínico é o

profi ssional que aplica e desenvolve os conhecimentos e as práticas geren-ciais às tecnologias da saúde para pro-porcionar uma melhoria constante nos cuidados dispensados ao paciente, os avanços não pararam por aí. A década de 2000 foi o momento da consolidação nas áreas acadêmica e de pesquisa. Em 2003, com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a Engenharia Clínica passou a coordenar o curso de especialização em Engenharia Clínica, que nesse ano comemora dez anos de atuação.

Santa Casa de Misericórdia é exemplo de qualidade e perfeição de uma área que se torna conhecida a partir do sul do país

Engenharia Clínica presente em Porto Alegre

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Abad

Foto: Bruno Lois

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Dois anos mais tarde, em 2005, a Engenharia Clínica foi credenciada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para o desenvolvi-mento de pesquisas. Em 2008, em co-operação técnica com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), foi criado o Centro de Referência e Tecnologias de Equipamentos e Insu-mos Estratégicos na Área da Saúde (Creties), com o objetivo de realizar pesquisas sobre tecnologias médicas, principalmente em avaliação de tec-nologias, usabilidade, ergonomia e gerenciamento de riscos.

Atualmente, os profissionais de Engenharia Clínica da Santa Casa são responsáveis por todo o planejamento de tecnologias e gerenciam o controle e a qualidade dos equipamentos mé-dicos, dos sistemas de comunicação e ainda dos arquivamentos de imagens médicas.

Além disso, os engenheiros tam-bém são membros dos comitês de pesquisa e ética, de padronização de materiais, de processamento de pro-dutos para a saúde, de investigação de acidentes, de infecção hospitalar e

210 anos de história

Fundada em outubro de 1803, a Santa Casa de Porto Alegre é uma instituição privada de caráter fi lantrópico e atua como hospital ensino. Composta por sete hos-pitais, pediatria geral, oncologia, pneumologia, neurocirurgia, car-diologia e transplantes, possui acreditação internacional Joint Commission International no hos-pital de pediatria, sendo que mais dois hospitais da Instituição estão passando pelo processo para ob-ter o selo.

integram a equipe de gerenciamento de risco.

“Acredito que a tendência para os próximos anos, possivelmente, será a avaliação de tecnologias na área da saúde com o objetivo de utilizar de forma segura os equipamentos mé-dicos e contribuir com a qualificação das decisões tomadas pelos gestores da saúde. A Engenharia Clínica deve estar interligada com a Tecnologia da

Informação (não há mais como fica-rem separadas)”, afirma a profissio-nal Leria Rosane Holsbach.

“Quando comecei em 1994, a En-genharia Clínica ainda era uma área pouco conhecida, sem visibilidade e nada solidificada. Era um cenário pouco explorado, mas com imenso po-tencial. Hoje pode-se afirmar o quan-to já evoluímos e nos fortalecemos. É impensável uma instituição de saúde

com qualidade não contar com os serviços do engenheiro clínico”, explica a engenheira. ❚❘❚

Foto

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Foto: Giovanni Rocha

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CAPA

Ainda hoje, pouco se conhece so-bre a infl uência de um serviço de apoio de manutenção hospitalar

estruturado na relação de custos de uma instituição de saúde. Aplicar téc-nicas de gestão em Engenharia Clínica, avaliar seus aspectos econômicos e de qualidade faz parte de uma profi ssão que marca seus primeiros passos para ser reconhecida no país.

A partir da década de 1980, a Enge-nharia Clínica concentrou seus esforços na redução de custos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. Esses aspectos, com a segurança do paciente, caracterizavam-se como os principais desafi os enfrentados pelas unidades de saúde. Naquela década começou a surgir também o interesse pelo uso de tecnologias da informação e por novas

estratégias para o gerenciamento de equipamentos eletromédicos.

No Brasil, a preocupação com as tecnologias em saúde iniciam-se efeti-vamente no fi nal de 1975 com a criação

da Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica. “Foi uma luta árdua”, resu-me o engenheiro Alexandre Hermini.

A Engenharia Clíni-ca (EC) é conceituada por Hermini como a En-genharia praticada den-tro do hospital. Segundo o professor, ela envolve a aplicação de técnicas de Engenharia, de Admi-nistração e de Economia para o gerenciamento de tecnologias utiliza-das na área de saúde, principalmente rela-tivas a equipamentos médico-hospitalares. “A Engenharia Clínica”, diz, “está envolvida com atividades de geren-

ciamento de risco, de tecnologia da in-formação, de treinamento e de suporte técnico aos médicos e enfermeiras, e de gerenciamento do parque de equipa-mentos, dentre outras”. Ele explica que

essas atividades são fundamentais para a segurança e a confi abilidade na sua utilização. “Se o equipamento fornecer um resultado errado, erra também o mé-dico na escolha da conduta. Isso é muito sério e por isso os equipamentos devem estar sempre em perfeitas condições de uso”, realça.

Ele diz ainda que foi no campus da Unicamp, onde exerce a profi ssão, que a categoria de engenheiro clínico co-meçou a ter reconhecimento a partir da insistência de nomes como Saide Jorge Calil, engenheiro eletricista e professor da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC), e Wang Bin-seng, doutor em Ciência com certifi ca-ção em Engenharia Clínica e auditor de certifi cado de qualidade.

Calil lembra que, na década de 1980, o ex-professor da FEEC Wang Binseng,

ABEClin comemora aniversário com metas estipuladas, como a regulamentação da profi ssão e o aumento dos profi ssionais na área para os próximos anos

10 anos de existência

“A Engenharia Clínica está envolvida com atividades de gerenciamento de risco, de tecnologia da informação, de treinamento e de suporte técnico aos médicos e enfermeiras”

Foto: Divulgação

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precursor da Engenharia Clínica no Bra-sil, sugeriu ao professor José Aristo-demo Pinotti, então reitor da Unicamp, que fosse montada localmente uma es-trutura baseada nos conhecimentos da Engenharia Clínica.

O professor Pinotti, entendendo a propriedade do tema, estimulou a construção do Centro de Engenharia Biomédica (CEB). Isso ocorreu em 1982, mas a Engenharia Clínica somente foi implementada no Brasil dez anos de-pois, com a participação da Unicamp na criação de cursos de especialização. “Em 1985, fui contratado pela FEEC. Em 1987, o professor Wang Binseng, que foi o primeiro diretor do CEB, saiu para assumir uma nova função junto à Secre-taria do Estado de Saúde. Assumi seu lugar, onde permaneci por sete anos”, contextualiza Calil.

Verifi cando as vantagens que a En-genharia Clínica oferecia para a área de saúde, o Ministério da Saúde iniciou, em 1990, um projeto para a criação de cursos de engenharia clínica.

A Unicamp, através do CEB e do De-partamento de Engenharia Biomédica (DEB) da FEEC, o qual participou inten-samente no planejamento desse projeto, apresentou uma proposta para a criação de cursos nessa área de nível superior na FEEC, e médio e básico no Colégio -Técnico de Campinas (Cotuca). O cur-so de Engenharia Clínica, do qual ainda Calil é coordenador, começou como cur-so lato sensu na FEEC e posteriormente

foi transferido para a Escola de Extensão (Extecamp). No Brasil, eram quatro unidades de ensino a serem contempladas com o pro-jeto, mas a Unicamp foi a única a continuar oferecendo o curso inin-terruptamente até o presente.

Desde então, foram formados mais de 500 profi ssionais para atuarem na área da saúde. De-

vido à seriedade do curso, o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea-SP) decidiu pela anotação em car-teira dos engenheiros que o concluem. “Temos profi ssionais de todo o país que vêm à Unicamp todas as semanas,

durante 12 meses, para aprenderem conosco, o que ajuda na divulgação do trabalho desenvolvido nesta Universida-de”, esclarece Calil.

O professor acompanhou a expan-são da área ao longo desses anos. Par-ticipou do crescimento da área de saúde dessa Universidade até se constituir o atual complexo hospitalar da Universi-dade (dois hospitais, mais de dez unida-des de saúde e a Faculdade de Ciências Médicas - FCM, com seus diversos la-boratórios). Em 1982, o complexo hos-pitalar possuía por volta de 1.100 equi-pamentos - hoje são aproximadamente 12 mil.

Anos 1990A história de construção dessa pro-

fi ssão continua na década de 1990, onde são aprovadas as primeiras normas na-cionais de segurança para equipamen-tos médicos (NBR-IEC 601-1 e NBR-IEC 601-2) que estabeleceram a certifi cação compulsória dos equipamentos eletro-médicos.

Tal certifi cação consiste da elabo-ração de textos normativos, ensaios em laboratórios independentes creden-ciados pelo INMETRO (para verifi car

a compatibilidade dos equipamentos às normas) e a avaliação do processo produtivo (realizada por Organismos de Certifi cação Credenciados - OCC).

Em 1992, o Colégio Americano de Engenharia Clínica (American Co-llege of Clinical Engineering) criou uma das primeiras defi nições sobre o “enge-nheiro clínico”, descrevendo-o como um profi ssional que argumenta e melhora, de forma indireta, o cuidado com os pacientes, aplicando suas habilidades e competências de Engenharia e de ges-tão em tecnologia médico-hospitalar no cuidado com a saúde.

Em concordância com o ocorrido

em outros países, em 2003 foi criada a Associação Brasileira de Engenharia Clínica, focando-se mais restritamente nos processos de gestão dos Estabele-cimentos Assistenciais de Saúde (EAS), hospitais, clínicas médicas e labora-tórios de análises clínicas. A ideia da criação de uma associação ocorreu para garantir a integridade do profi ssional de Engenharia Clínica que traz qualidade aos serviços de manutenção realizados num EAS.

“A entidade tem como papel ava-liar e relatar o impacto da apli-cação das técni-cas de gestão

Em concordância com o que vinha ocorrendo em outros países, em 2003 foi criada a Associação Brasileira de Engenharia Clínica, focada nos processos de gestão dos estabelecimentos assistenciais de saúde (EAS).

Foto: Divulgação

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em Engenharia Clínica”, explica o atual presidente Rodolfo More.

Segundo ele, a entidade pretende fornecer informações para gestores de outras instituições de saúde em que possam apontar as vantagens e des-vantagens da criação de um Serviço de Engenharia Clínica.

Com demanda em alta e perspectiva de crescimento em curto e médio prazos, o mercado da saúde tem exigido cada vez mais ações para a regulamenta-ção e adequação de infraestrutura e procedimentos. “Tanto técnicos, como tecnólogos e engenheiros clínicos têm, respectivamente, suas atribuições, a missão de exercer a função de responsável pelas atividades de execução, im-plantação e elaboração do Plano de Gerenciamento de cada tec-nologia utilizada na prestação de serviço para ambientes de saúde, trabalhando efetivamente para o sucesso da gestão”, enfatiza o presidente.

FuturoO presidente mostra as

metas da entidade para os pró-ximos anos. Entre elas, o desta-que é fortalecer a presença dos profi ssionais de Engenharia Clí-nica no mercado nacional, bem como descentralizar e regionali-zar a entidade em diversas regi-ões brasileiras.

Em seus 10 anos de atuação, a ABEClin adota o posicionamento estratégico de agregar conteúdo e promover a troca de experiência entre seus pares. “Mas é impor-tante ressaltar que os precurso-res, Saide Jorge Calil, Wang Binseng, Ale-xandre Hermini e João Carlos Langanke Pedroso, têm todo respaldo, pois foram eles quem traçaram os caminhos para a existência desta organização”, explica o presidente, Rodolfo More.

Ele diz ainda: “Para o futuro, lança-remos mão de um planejamento que en-globa desde a realização de eventos para promoção do networking até a utilização de ferramentas como as redes sociais para compartilhar conhecimento e inspi-rar o desenvolvimento profi ssional”.

Ainda de acordo com o presidente, a gestão está focada na expansão da associação pelo Brasil. “Nossa proposta é estabelecer parcerias com outras en-tidades e órgãos governamentais para difundir a profi ssão”, diz More.

“Cada vez mais é importante pre-parar os profi ssionais para compatibili-zar todas as demandas do segmento de saúde e encontrar soluções para a ges-tão dos estabelecimentos”, enfatiza.

EstatutoOutro importante passo dado pela

atual gestão foi a aprovação do novo estatuto que prevê a ampliação da atu-ação da entidade em diversas praças, bem como ressalta a participação da cadeia profi ssional que envolve a En-genharia Clínica: técnicos, tecnólogos e engenheiros, além de demais profi ssio-nais afi ns do setor. “Dessa forma cria-mos condições para ampliar os horizon-tes, reforçando a participação de todos nessa nova etapa”, diz o presidente.

Objetivos1. Promover, desenvolver e difundir o conhe-

cimento sobre a Engenharia Clínica

2. Reunir profi ssionais que atuem na área de Engenharia Clínica

3. Promover o desenvolvimento da capacita-ção técnica de seus membros

4. Estabelecer relacionamento com órgãos governamentais e não governamentais, entida-des públicas e privadas, no Brasil ou no exterior, a fi m de atingir o escopo do item 1

5. Colaborar com órgãos governamentais, entidades civis, militares ou paraestatais, em-presas privadas, entidades de ensino e insti-tutos de pesquisa, na elaboração de normas técnicas e regulamentos, emissão de pareceres e laudos técnicos e estudos especiais e planeja-mentos sobre gestão de equipamentos de saúde em serviços de saúde

6. Zelar pela ética profi ssional e oferecer aos associados serviços que facilitem o exercício da profi ssão

Fonte: ABEClin

Além de More, a atual gestão da ABEClin é composta pelo vice-presiden-te executivo Fernando Meira da Rocha, Alexandre Ferreli Souza (vice-presi-dente de gestão administrativa), Mara Clécia Dantas Souza (vice-presidente de desenvolvimento técnico-científi co), Paulo Roberto Ferro (vice-presidente de gestão fi nanceira) e Ricardo Leal Reis (vice-presidente de marketing e rela-ções institucionais).

Défi cit de profi ssionais

Profi ssional que reúne as competências necessárias para adequar tecnologias e infraes-trutura dos estabelecimentos de saúde, o engenheiro clínico é responsável por cuidar da compa-tibilização, especifi cação técnica, análise e aquisição de tecnolo-gias, inventário e coordenação de programas de manutenção, além de preparar os integrantes das equipes clínica e técnica para de-sempenharem todas as funções relacionadas aos equipamentos de saúde com total segurança.

“Atualmente, há no Brasil um défi cit de profi ssionais da área que pode levar cerca de 20 anos para ser suprido”, aler-ta More em relação à falta de engenheiros clínicos no país. De acordo com estimativas, exis-tem atualmente no Brasil pouco mais de 300 engenheiros de for-mação com especialização em Engenharia Clínica. Além disso, apenas cerca de 6% dos hospi-tais com mais de 120 leitos con-tam com esse tipo de serviço.

Outrossim, desde 2010 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (AN-VISA) indica a necessidade de os es-tabelecimentos de saúde designarem profi ssionais habilitados para exercer a função de responsável pela elaboração e implantação do Plano de Gerencia-mento de cada tecnologia utilizada na prestação de serviço de saúde. “Com isso a demanda só tem aumentado e, cada vez mais, a necessidade do geren-ciamento para os ambientes de saúde está impulsionando o crescimento do setor”, arremata o presidente. ❚❘❚

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ENTREVISTA

Engenheiro Eletrônico formado pela Escola de Engenharia de Lins, Admi-nistração hospitalar pela Faculdade

de Saúde Pública da USP e Gestão de Atenção à Saúde pela FDC (Fundação Dom Cabral), Marcello Dias Bonfi m traba-lha no Hospital Sírio-Libanês e tem mais de 18 anos de experiência na área. Em entrevista para a AR ele faz um balanço da profi ssão, reco-nhece o défi cit de profi ssionais e diz que educação é a chave para promover o aumento do número de profi ssionais.

É possível fazer um rápi-do balanço da profi ssão?

A Engenharia Clínica no Brasil vem num processo de ascensão, pois cada vez mais as instituições de saúde de-senvolvem políticas de gestão que englobam não só o foco na assistência, mas também na in-fraestrutura.

Nesse momento, tanto questões operacionais, como montar um programa de manu-tenções até as estratégicas, tal como a avaliação tecnológica, são temas que encontram na Engenharia Clínica uma referên-cia para apoiar a alta direção das organizações na tomada de decisões, as quais cada vez mais profi s-sionalizam suas gestões.

No Brasil, infelizmente, a carrei-ra ainda é desconhecida. Como fazer para que se torne conhecida?

O país é grande, e são tantas as oportunidades... Porém, creio que um bom começo seja a regulamentação da profi ssão junto ao CREA e a criação de cursos de formação desses profi ssionais no MEC. A partir do momento em que houver uma regulamentação que exija

a presença de um profi ssional de Enge-nharia Clínica em cada estabelecimen-to de saúde, essa procura aumentará. Os trabalhos desenvolvidos por vários profi ssionais da área, através de cursos pontuais, palestras, congressos, publica-ções e as atividades da ABEClin visam a difundir a profi ssão.

O papel do EC só é relevante em hospitais de grande porte?

Cada instituição, independentemen-te de seu tamanho, deveria contar com os serviços da Engenharia Clínica. Temos observado o quanto a Engenharia Clínica é inserida nas inúmeras discussões e nos projetos de um hospital. Em alguns ca-sos, essa participação pode ser decisiva para embasar uma tomada de decisão, dando maior segurança e propriedade aos gestores.

Ter uma entidade de classe aju-da no futuro da regulamentação da profi ssão?

As questões da profi ssão sempre acabam passando pelas entidades de classe, onde só a união dos profi ssio-nais ajudaria a fortalecer e a esclarecer sobre a importância da Engenharia Clí-nica nas instituições de saúde.

O défi cit de profi ssionais em sua profi ssão é uma realidade no atual momento. Isso impede que o en-genheiro clínico apareça mais na área de suporte?

Creio que temos défi cit idêntico em outras profi ssões. O investimento em educação para promover a formação dos profi ssionais em Engenharia Clí-nica, dando-lhes perspectivas no mer-cado de trabalho, é o ponto de partida fundamental para preparar aqueles que optam por atuar na área da saúde.

Na hierarquia dos fatos, qual é a importância do engenheiro clíni-co?

A de ser o especialista em tecnolo-gia médica, tornando-se referência para assuntos a serem tratados no ambiente da saúde, contribuindo para as gestões administrativa e da clínica e enfocando segurança, otimização, efi ciência e qua-lidade. Sendo profi ssional da área, só posso dizer que temos um campo vasto de atuação e boas oportunidades de contribuir para um melhor programa de saúde no Brasil.

O salário de um profi ssional de Engenharia Clínica hoje está de-fasado ou está de acordo com as profi ssões similares de grande im-portância da área médica?

É difícil estabelecer um parâmetro salarial, uma vez que não há dissemi-nação dos profi ssionais pelo país, no volume que desejamos. ❚❘❚

“ As questões da profi ssão sempre acabam por passar pelas

entidades de classe”

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ARTIGO

Por Sergio Macário*

A partir desta primeira edição terei encontros trimestrais neste impor-tante canal. Apresentarei a você,

leitor, um pouco mais de conhecimento sobre importantes temas absorvidos no dia a dia pela Engenharia Clínica. Escla-recimentos sobre o direito que, como um todo, sofre seguidas alterações e, com isso, talvez possa dissipar eventu-ais dúvidas.

A exemplo do que ocorreu em setembro/2012, onde o Tribunal Su-perior do Trabalho (TST) revisou vários entendimentos sobre as normas traba-lhistas, gerando, assim, novas maneiras de aplicar as regras legais já existentes (Resolução TST nº 185/2012), ouso dizer que o direito do trabalho teve uma das mais signifi cativas alterações em suas súmulas.

Nessa linha, passamos a exemplifi -car as principais mudanças que atingem de forma frontal o contrato de trabalho entre empregador e empregado.

• GESTANTESA nova súmula garante a estabi-

lidade de emprego para empregadas gestantes em contratos temporários, inclusive contrato de experiência (90 dias), estabilidade esta que até o mo-mento não era aplicada. O empregador terá de garantir o emprego até o fi nal da gestação e assegurar a estabilida-de de cinco meses ou de acordo com o que determina a Convenção Coletiva de trabalho de cada categoria, se mais benéfi ca.

• AFASTAMENTOS PELO INSSNesse item, a nova súmula garante

ao empregado que tiver seu contrato de trabalho suspenso em virtude de auxí-lio-doença acidentário e aposentadoria por invalidez o direito à manutenção do plano de saúde ou assistência médica por parte do empregador.

• SOBREAVISOFicou determinado que o emprega-

do que estiver submetido ao controle do empregador por meio de instrumentos telemáticos e informatizados – como celulares e tablets –, aguardando, em regime de escala, um chamado para o serviço durante seu período de descan-so, tem direito ao adicional de sobreavi-so onde a hora será o equivalente a um terço de sua hora normal de trabalho.

• ACIDENTADOSEmpregado vítima de acidente de

trabalho terá direito a permanecer no em-prego por pelo menos um ano após sua re-cuperação. Mesmo nos casos de trabalha-dores temporários e contrato de trabalho por tempo determinado, os empregados terão a garantia provisória de emprego.

• ESTABILIDADE PROVISÓRIA. ACIDENTE DE TRABALHO. ART. 118 DA LEI Nº 8.213/91

O empregado submetido a contra-to de trabalho por tempo determinado goza da garantia provisória de emprego, decorrente de acidente de trabalho, pre-vista no art. 118 da Lei nº 8.213/91.

• JORNADA 12×36A jornada conhecida como jornada

12×36 horas – em que o empregado

trabalha 12 horas e descansa 36 horas – muito comum em hospitais – só será permitida mediante acordo coletivo de trabalho ou convenção coletiva de tra-balho. Quando permitida nesses ter-mos, fi ca assegurada a remuneração em dobro nos feriados trabalhados e o em-pregado não terá direito ao pagamen-to de adicional referente ao trabalho prestado na décima primeira e décima segunda horas.

Assim, torna-se imperioso que o profi ssional da Engenharia Clínica este-ja antenado com as leis/súmulas traba-lhistas, pois conforme já dito, a celeri-dade nas alterações legislativas torna o contrato de trabalho um campo minado para o patrão, que somente poderá ser evitado com a orientação técnica de um advogado especializado na área do Di-reito do Trabalho.

Hoje, por exemplo, abordaremos a responsabilidade subsidiária do toma-dor de serviços na contratação de mão de obra de trabalho e seus refl exos no contrato de trabalho.

Contudo, para que possamos de-linear tais institutos, tomo a liberdade de navegar antes pelos artigos 2º e 3º, ambos da Consolidação das Leis de Tra-balho, para que possamos compreender o que é empregado e empregador, na concepção típica da legislação obreira.

É importante alertar que, conforme já mencionado, a legislação não evidencia a fi gura da exclusividade, onde muitos em-pregadores entendem que, pelo simples fato de o trabalhador prestar serviços para outro empregador, descaracteriza a rela-

O trabalho e as alterações na súmula

Questões trabalhistas devem ser levadas em consideração para qualquer entidade, sobretudo para a área de Engenharia Clínica

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ção de emprego e, com isso, acabam o contratan-do até mesmo informal-mente para prestar algum serviço. Com isso, poderá posteriormente acabar nos Tribunais, pois tal requisito não impede que exista a confi guração da relação de emprego, desde que preenchidos estejam os demais requisitos, pois o empregado pode prestar serviços a diversos empre-gadores, desde que os ho-rários sejam compatíveis.

Delimitados, portanto, os requisitos da relação de emprego, onde também restou claro que a relação jurídica em-pregatícia é bilateral, ou seja, emprega-dor e empregado.

Com o advento da terceirização, há a intermediação da mão de obra pelas empresas prestadoras de serviço e, na outra ponta, a tomadora do serviço. Nessa relação é imperioso informar que os trabalhadores são subordinados dire-tamente à empresa prestadora de servi-ço, assim como todos os direitos traba-lhistas são suportados por esta, fazendo nascer uma relação triangular.

Importante ressaltar que, em sendo a empresa prestadora de serviços de vigilância e de transporte de valores, as relações de trabalho devem sofrer obediência à Lei nº 7.102/83 e de forma subsidiária à Consolidação das Leis do Trabalho, inteligência do artigo 2º, § 2º. Registre-se, por oportuno, que depen-dendo da natureza dos serviços contra-tados, a prestação de serviços poderá se desenvolver nas instalações físicas da empresa contratante ou em outro lugar por ela indicado.

Por outro lado, se a tomadora de serviços não observar os ditames da le-gislação trabalhista, poderá o trabalha-dor reclamar em face da tomadora de serviços, na forma delineada na Súmula nº 33I, IV, do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, onde pede-se licença para

transcrevê-lo para melhor elucidar o tema posto:

“Súmula 331 – CONTRATO DE PRES-TAÇÃO DE SERVIÇOS LEGALIDADE –

IV – O inadimplemento das obriga-ções trabalhistas, por parte do empre-gador, implica a responsabilidade sub-sidiária do tomador de serviços quanto àquelas obrigações, desde que haja participado da relação processual e conste no título executivo judicial

V.....”.

Em sede de terceirização lícita, a me-lhor jurisprudência assentou o entendi-mento segundo o qual o inadimplemento de obrigações trabalhistas por parte do contratado (empregador) demanda a res-ponsabilidade subsidiária do contraente (tomador dos serviços) como forma de evitar-se que a subcontratação seja em-pregada com o escopo de reduzir os cus-tos do trabalho para o tomador, do que resultaria o desvirtuamento das normas de proteção ao trabalho, uma vez que a ordem constitucional vigente se alicerça na valorização social do trabalho (art.170, III, CF/88) e na dignidade da pessoa hu-mana (art.1º, III, CF/88).

Nesse sentido, não podemos perder de vista que a medida assegura cautela na escolha e diligência da fi scalização por parte do contratante quanto ao cum-

primento de encargos trabalhistas pelos contratados, sobretudo diante do fato de que na Justiça do Trabalho impera o princípio protetivo.

Nessa seara, torna-se cristalino que a empresa tomadora dos serviços exer-ça o papel de fi scalizadora da empresa prestadora no que tange à observação desta pelos direitos trabalhistas dos trabalhadores. Aqui vemos que se trata da responsabilidade civil quanto às re-lações de trabalho, através da culpa in eligendo e in vigilando.

Por fi m, cabe à empresa tomado-ra solicitar mês a mês a comprovação quanto ao pagamento dos encargos previdenciários, fi scais e trabalhistas, à luz do que preconiza o artigo 186, do Có-digo Tributário Nacional, e o artigo 499, da Consolidação das Leis do Trabalho, e teremos redu-zido o risco de deman-das trabalhistas junto à empresa tomadora de serviço e, sobretu-do, à empresa prestadora de serviços. ❚❘❚

* Advogado especialista em questões trabalhistas.

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PROBLEMAS E VIRTUDES

Garantir a segurança no atendi-mento de saúde requer mais do que um corpo médico e de Enfer-

magem bem preparados. Para que tudo funcione é preciso assegurar que a in-fraestrutura hospitalar esteja adequada às necessidades da equipe multiprofi s-sional, zelando pela conservação e ma-nutenção dos equipamentos usados no atendimento.

Esse é o papel desempenhado pela Engenharia Clínica, um ramo que vem se consolidando nos últimos anos como essencial para gestão de tecno-logias médico-assistenciais em hos-pitais e unidades de saúde, mas que sofre com a carência de profi ssionais especializados. “O engenheiro clínico é um profi ssional que congrega conhe-cimentos das áreas de Medicina, de Engenharia e de Administração, e que se desenvolveu a partir da necessida-de estabelecida pelos avanços tecno-lógicos introduzidos na área de saú-de”, explica o professor Sérgio Santos Mühlen, membro do departamento de Engenharia Biomédica na Unicamp e doutor pelo INPL (França).

A fi gura do engenheiro clínico de-morou cerca de 30 anos para chegar ao Brasil, desde o surgimento da es-pecialidade em países da Europa e da América do Norte, em resposta à neces-sidade crescente de segurança no uso de tecnologia em saúde. Os primeiros cursos de formação no País em nível de pós-graduação surgiram em meados dos anos 1980, mas ainda são poucos e concentrados no Sul-Sudeste.

A profi ssão surgiu em face dos altos custos e especifi cidades de equipamen-tos e acessórios, mas a insufi ciência de

profi ssionais capacitados e a ausência de uma política clara para o setor são fatores que difi cultaram a introdução da Engenharia Clínica no Brasil.

A área contribui para a formação de recursos humanos qualifi cados, com mestres, doutores e especialistas que estudam os problemas da área como a introdução de novas tecnologias e os riscos inerentes ao seu uso, as demandas qualifi cadas e os métodos mais efi cientes para substituição de equipamentos obsoletos. Atua ainda no desenvolvimento de metodologias e ferramentas computacionais para o gerenciamento e a qualifi cação das demandas de equipamentos médico- -hospitalares.

No entanto, no Brasil o papel do en-genheiro clínico ainda não é obrigatório, mas já há um movimento de convenci-mento por sua necessidade através da apresentação de resultados. Tanto que o setor público reconhece a necessida-de do profi ssional.

Para entender um pouco mais so-bre a área é preciso olhar para a apare-lhagem que os médicos operam quan-do estão diagnosticando um paciente. Por exemplo, para que um aparelho tomógrafo, que todos sabem seu peso - muitos com mais de uma tonelada-, possa ser instalado num local de difí-cil acesso, é necessária uma logística com a locação de guindaste, quebra de janela e a paralisação de uma via mo-vimentada no centro da cidade.

De fato é necessária a presença de um engenheiro clínico que, envolvido no processo desde a compra do equi-pamento, planeja cada deslocamento, as responsabilidades técnicas e legais,

além de atuar como braço tecnológico das instituições.

De acordo com Rodolfo More, pre-sidente da Associação Brasileira de Engenharia Clínica (ABEClin), em muitos casos o profi ssional dá suporte inclusi-ve de TI, para controle de impactos na rede, diagnóstico e inspeção remota, e até sinaliza falhas de software. “O en-genheiro tem uma visão macro para tra-zer o equipamento e fazê-lo compatível com a área”, explica.

A norma RDC 2/2010 da ANVISA determina as diretrizes mínimas para gestão clínica, com tratativas para ge-renciamento de tecnologias de saúde. Em paralelo, a ABNT lançou em abril a norma 15.493, a qual estabelece os re-quisitos mínimos para o gerenciamento de equipamentos e infraestrutura no hospital.

Essa área profi ssional, considera-da por muitos a mais nova vertente do mercado, tem muito a contribuir com análises qualifi cadas e ferramentas es-pecífi cas para municiar os gestores e di-retores dos estabelecimentos assisten-ciais de saúde. Além de ser a interface com o centro de controle de infecções do hospital.

“Numa infecção na UTI neonatal, o engenheiro clínico orienta o proces-so de desinfecção do equipamento e da área”, comenta Alexandre Hermini, professor doutor engenheiro clínico da Unicamp. ❚❘❚

Profi ssão nova, a Engenharia Clínica ganha espaço no mercado brasileiro e tende a ser regulamentada nos próximos anos

Engenharia praticada dentro do hospital

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ENTRETENIMENTO

Música

MPBChico Buarque - ChicoSarapuíDisco de inéditas do aclamado cantor e

compositor, após um hiato de cinco anos de-dicados em grande parte à literatura. E é jus-tamente nisso que se baseiam as canções de “Chico”, inspiradas nas personagens de seus romances Estorvo (1992) e Leite Der-ramado (2009).Homenageando o blues e a bossa, o artista conta com as participações de João Bosco em Sinhá, Thais Gulin em Se eu soubesse e Wilson das Neves em Sou Eu, composição sua em parceria com Ivan Lins. Outro des-taque é Querido diário, bem recebida por público e crítica.

Samba/JazzZimbo Trio - Zimbo TrioDiscobertasUm dos maiores expo-entes do jazz brasileiro,

o Zimbo Trio ganha um relançamento em Box com seus primeiros seis álbuns remasteriza-dos por Ricardo Carvalheira. A iniciativa foi da gravadora carioca Discobertas, que homena-geou o trio com quase 50 anos de carreira, e ainda na ativa. Os trabalhos reeditados foram lançados originalmente entre 1964 e 1969, e trazem o melhor da mistura fi na entre jazz e samba, traduzidas em brilhantes composições instrumentais e virtuosas do trio, formado por Amilton Godoy (piano), Luíz Chaves (contra-baixo) e Rubinho Barsotti (bateria). Destaque para a bela “Menina Flor”.

Pop/SoulJoss Stone - LP1Stone´d RecordsCoescrito e coproduzido por Dave Stewart, do

Eurythmics, “LP1” foi gravado em Nashville (EUA), em apenas seis dias. A criação de um selo próprio, Stone’d Records, permitiu que a diva inglesa da soul music retornas-se com total liberdade de criação.O álbum é simples, no bom sentido, mas com grande

variedade durante as 10 faixas, embaladas pelo costumeiro soul afi nadíssimo, agora com uma dose maior de rock’n’roll. Talvez, um resultado de sua recente parceria com Stewart e Mick Jagger, no projeto Superhe-avy. O primeiro single do álbum, Somehow, é uma amostra disso. Os licks de guitarra com-plementam o vozeirão de Joss em um clima pop rock bastante agradável.

Hard RockEdguy - Age of the JokerNuclear BlastConsiderados por muitos os sucessores do Scor-

pions, este quinteto alemão comandado por Tobias Sammet retorna com um álbum calcado no hard rock radiofônico, como os anteriores, em vez do heavy metal do início da carreira. O resultado é um CD mais maduro, com riffs pe-sados e melodias marcantes, temperadas com notas do órgão Hammond, sinônimo de Deep Purple. O bom humor característico não é dei-xado de lado, como é possível notar no single Robin Hood, um dos destaques do álbum. Uma edição limitada traz um disco com faixas bô-nus, que conta com uma releitura do clássico “Cum on Feel the Noise”, do Slade.

LivrosRomanceSe eu fechar os olhos agoraAutor: Edney SilvestreEditora RecordO livro narra a envol-vente história entre dois meninos adolescentes

numa pequena cidade da antiga zona do café fl uminense, em abril de 1961. Os garotos de 12 anos encontram o corpo de uma linda mu-lher, que foi morta e mutilada, às margens de um lago onde vão fazer gazeta. Eles não acei-tam a explicação ofi cial do crime, segundo a qual o culpado seria o marido, o dentista da cidadezinha, motivado por ciúme. Começam uma investigação, ajudados por um velho que mora no asilo da cidade, um ex-preso político da ditadura Vargas, que acaba se tornando um terrível caminho de amadurecimento para chegar à vida adulta.

Profi ssional Negócios - EstratégiasEstratégia em mídias sociaisAutor: Fabio CiprianiCampus Elsevier

Realizando uma grande análise de como as mídias sociais mudaram a forma de fazer ne-gócios, integrando empresas e consumido-res como jamais visto, Fabio Cipriani lança o livro Estratégia em mídias sociais — como romper o paradoxo das redes sociais e tor-nar a concorrência irrelevante, pela editora Campus/Elsevier. A obra ensinará como as pessoas podem fazer bom uso desta fer-ramenta de comunicação com o mercado, além de melhorar a reputação das marcas, aumentar a satisfação e a fi delidade dos clientes e vender mais. Ao longo de suas 184 páginas, o título aborda os mais varia-dos temas, como Entendendo o novo mundo social; O paradoxo das mídias sociais; Um novo consumidor; O ciclo de vida da empre-sa; Necessidade e experiência dos clientes; O caminho da decisão; Impressões individu-ais; Formas de abordar as mídias sociais; Dimensões estratégicas; entre outros.

FicçãoPequeno irmãoAutor: Cory DoctorowGalera RecordTodo cibernético, in-ternauta ou amante da tecnologia irá amar a leitura de Pequeno

Irmão. Aclamado pela crítica e best seller do New York Times, Pequeno Irmão, que chegou a ser comparado ao clássico 1984, de George Orwell, chega às livrarias pela Galera. Na história criada pelo premiado jornalista especialista em tecnologia Cory Doctorow - eleito pela Forbes como uma das pessoas mais infl uentes da web -, Marcus é um jovem hacker metido a invadir sistemas de segurança, até ser preso pelo Departa-mento de Segurança junto com seus amigos após um atentado terrorista. Agora só lhe resta escapar do sistema violando-o, como sempre fez. ❚❘❚

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OPINIÃO

Por Eng. Civil José Tadeu da Silva*

É aa Engenharia que fundamenta tudo que um país pode fazer para assegurar qualidade de vida a

uma população. Podemos citar como exemplo a atuação da Engenharia na área da saúde: manter a infraestrutura (eletricidade, gases, hidráulica etc.) e os equipamentos médicos operacio-nais disponíveis vinte e quatro horas, de forma a garantir que os profi ssio-nais da saúde possam fazer com se-gurança os procedimentos necessários para manter/salvar vidas.

É muito gratifi cante saber que, como paciente em uma cirurgia, eu não precisarei me preocupar com os mais variados riscos associados à En-genharia, pois o engenheiro que atua no hospital dentro de suas atribuições mantém um plano de contingência e gerenciamento de risco.

A Engenharia possui várias espe-cialidades que podem atuar em estabe-lecimentos de saúde, desde as clássi-cas até as recentes como engenheiros biomédicos e engenheiros clínicos. Esses profi ssionais são especializados na área da saúde e sua importância e demanda têm crescido com o tempo.

No Brasil, segundo o DATASUS CNES (outubro de 2013), existem 260.566 estabelecimentos de saúde que, pela RDC 02 da ANVISA, neces-sitam ter um profi ssional com o perfi l de engenheiro clínico e/ou biomédico. Nos Estados Unidos, essa é a profi ssão que terá maior demanda por profi ssio-nais nos próximos 10 anos.

No Brasil, a revista VOCÊ SA pu-blicou um artigo no qual cita que “o setor de clínicas e hospitais privados é um dos que mais devem crescer no país nos próximos anos e, entre os pro-fi ssionais que devem se benefi ciar das oportunidades que surgirão, estão os engenheiros hospitalares ou clínicos”.

O CONFEA observa e apoia esses profi ssionais e sua ativa associação, a Associação Brasileira de Engenharia Clínica (ABEClin). Ficamos satisfeitos em ver uma associação buscando o reconhecimento da importância das atividades e funções exercidas por seus fi liados, assim como interagindo com outras associações, promovendo debates de modo a se buscar o enfren-tamento adequado dos problemas co-muns a todos e realizando seminários para atualização profi ssional. Outro ponto louvável é a busca do reconhe-cimento pelo CONFEA do engenheiro

clínico, defi nindo suas atribuições e a formação necessária. O engenhei-ro hoje não se forma em cinco anos. Esse tempo é para ele obter registro no Crea. O profi ssional que não se atu-aliza está fora do mercado. É preciso estar em constante contato com as novas tecnologias, especialmente o engenheiro clínico.

Parabenizo o trabalho desenvolvi-do e agradeço ao convite de escrever este editorial para o primeiro número da revista da associação. O Confea está de portas abertas para a ABEClin e desejo que continue este excelente trabalho, concentrados no objetivo de planejar e dinamizar ações presentes e futuras que, com certeza, fortalecerão a atuação dessa associação que chega, em 2013, ao seu 10º ano de atuação e representação profi ssional. ❚❘❚

Uma profi ssão em crescimento

* Presidente do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia. O engenheiro civil José Tadeu da Silva nasceu em 1953, em Ouro Fino/MG. Formou-se pela Pontifícia Universidade Católica - PUC de Campinas/SP em 1976. Pela Fundação Otá-vio Bastos, formou-se em Direito em 1992, sendo também advogado. Em 2011, foi eleito para o exercício da presidência do Confea, com mandato de 1º de janeiro de 2012 a 31 de dezembro de 2014.

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