revista a granja - agricultura familiar

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62 | NOVEMBRO 2011 AGRICULTURA FAMILIAR O empreendedor do MELADO de Tunápolis Fotos: Donato Lauschner/Jornal Expressão O jovem Marcelo Baumgratz, aos 21 anos, administra a agroindús- tria familiar de melado e açúcar mascavo baseando-se em dois princí- pios fundamentais: 1 - a contabilidade rigorosa, em que absolutamente todos os números, em relação a custos e ao processo produtivo, são catalogados e comparados; 2 - a engenhosidade em imaginar as estruturas físicas que a empresa mantida com a irmã e dois fun- cionários, além da ajuda do pai, precisa para funcionar e, sobretudo, se expan- dir. Naturalmente, a Agroindústria Bau- mgratz, sediada em Tunápolis, um pe- queno município de colonização alemã no extremo-oeste de Santa Catarina, exi- ge muito mais para dar certo e já ser exemplo na região. Como a dedicação do rapaz, que durante o dia trabalha na fábrica e, à noite, se volta à sua admi- nistração. A fabricação de melado na proprie- dade começou 13 anos atrás, com o pai, Inácio. Mas o filho assumiu há três anos, registrou a empresa em 2010 e, neste ano, antecipou a implantação de um projeto que desenvolveu no Progra- ma Empreendedor Rural, do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Se- nar), então previsto para execução em 2012. A principal modificação é a cal- deira a vapor que melhorou absoluta- mente todo o processo produtivo. Pela caldeira é possível se ter uma ideia de como os números na ponta do lápis são tão importantes na gestão do negócio. Baumgratz contabiliza que antes era ne- cessário um metro cúbico de lenha para fabricar 100 quilos de melado, e que agora o mesmo dispêndio gera até 300 quilos. “E em 40% de tempo a menos”, acrescenta. “É muito mais vantajoso”. Além da qualidade dos produtos terem melhorado em muito. Para montar a caldeira, foi necessá- rio um investimento de R$ 50 mil, fi- nanciados para cinco anos pelo Progra- ma Mais Alimentos. Mas ele prevê que já ao final de 2012 a dívida será salda- da, visto a diminuição de custos de pro- Marcelo Baumgratz: nova caldeira levou a agroindústria de melado e açúcar mascavo a outro patamar Leandro Mariani Mittmann

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Page 1: Revista A Granja - Agricultura Familiar

62 | NOVEMBRO 2011

AGRICULTURA FAMILIAR

O empreendedor doMELADO de Tunápolis

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Ojovem Marcelo Baumgratz, aos21 anos, administra a agroindús-tria familiar de melado e açúcar

mascavo baseando-se em dois princí-pios fundamentais: 1 - a contabilidaderigorosa, em que absolutamente todosos números, em relação a custos e aoprocesso produtivo, são catalogados ecomparados; 2 - a engenhosidade emimaginar as estruturas físicas que aempresa mantida com a irmã e dois fun-cionários, além da ajuda do pai, precisapara funcionar e, sobretudo, se expan-dir. Naturalmente, a Agroindústria Bau-mgratz, sediada em Tunápolis, um pe-queno município de colonização alemãno extremo-oeste de Santa Catarina, exi-

ge muito mais para dar certo e já serexemplo na região. Como a dedicaçãodo rapaz, que durante o dia trabalha nafábrica e, à noite, se volta à sua admi-nistração.

A fabricação de melado na proprie-dade começou 13 anos atrás, com o pai,Inácio. Mas o filho assumiu há trêsanos, registrou a empresa em 2010 e,neste ano, antecipou a implantação deum projeto que desenvolveu no Progra-ma Empreendedor Rural, do ServiçoNacional de Aprendizagem Rural (Se-nar), então previsto para execução em2012. A principal modificação é a cal-deira a vapor que melhorou absoluta-mente todo o processo produtivo. Pela

caldeira é possível se ter uma ideia decomo os números na ponta do lápis sãotão importantes na gestão do negócio.Baumgratz contabiliza que antes era ne-cessário um metro cúbico de lenha parafabricar 100 quilos de melado, e queagora o mesmo dispêndio gera até 300quilos. “E em 40% de tempo a menos”,acrescenta. “É muito mais vantajoso”.Além da qualidade dos produtos teremmelhorado em muito.

Para montar a caldeira, foi necessá-rio um investimento de R$ 50 mil, fi-nanciados para cinco anos pelo Progra-ma Mais Alimentos. Mas ele prevê quejá ao final de 2012 a dívida será salda-da, visto a diminuição de custos de pro-

Marcelo Baumgratz: novacaldeira levou a

agroindústria de meladoe açúcar mascavo a outro

patamarLeandro Mariani Mittmann

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dução, inclusive também porque é me-nor a depreciação da estrutura (tachos,tijolos, pintura, etc.). E houve o aumentoda produção. Aqui entra em ação outracaracterística dos Baumgratz. Eles de-finiram como queriam a caldeira e osdemais equipamentos, como a batedei-ra e a moenda. O jovem visitou outrasduas estruturas semelhantes na região,mas o sistema implantado na Baumgratzé exclusivo. “No Brasil não tem sistemaigual a este”, garante. Ele e o pai sãohabituados a trabalhar com mecânica, eo pai fabricou a batedeira numa oficinaao lado, enquanto as especificações dosdemais equipamentos e máquinas, de-vidamente planejados por eles, foramrepassadas em detalhes aos fabricantes.

Plantio “mecanizado” — O plan-tio da cana-de-açúcar também passa pelaengenhosidade dos Baumgratz, que de-senvolveram o que Marcelo chama de“pré-máquina” de plantio. Do zero, paie filho inventaram a máquina que abre osulco, larga o defensivo anti broca (pra-ga comum na região) e cobre a mudacom terra. A participação humana, alémdo conduzir o trator, é largar a muda nosulco. Mas já está sendo projetada parao ano que vem uma plantadeira que dis-tribui a muda automaticamente. “Estátudo pensado, tudo pronto”, antecipaMarcelo Baumgratz. A atual “pré-máqui-na” planta de 1,5 a 2 hectares por dia,mas a invenção vai melhorar a veloci-dade em meio hectare/dia. “A gente temnoção de como tem que funcionar”,explica.

Tudo na Agroindústria Baumgratz édevidamente contabilizado e projetado.Nesta entrevista, o jovem tinha absolu-tamente todos os números em mãospara apresentar. Nenhum “chute”. Ocusto de produção do melado e açúcaré de R$ 0,40 a R$ 0,70 ao quilo (con-forme o volume produzido), que antesda nova caldeira ficava em R$ 1,00 aR$ 1,25. E o produto é repassado aosdistribuidores a R$ 3,78 a R$ 4,00. Atu-almente, são necessários 8,5 hectaresde cana para atender a demanda, mas aárea terá que ser ampliada em 1,5 hec-tare visto os ganhos da caldeira, sendoque a empresa tem potencial máximopara atender a produção de 12 hecta-res. São produzidos, por mês, cerca de2 toneladas de melado, 2 de um produ-to chamado meladinho (melado mais lí-quido) e 2 toneladas de açúcar masca-

vo. A comercialização se dá em dezmunicípios da região e do norte do RioGrande do Sul.

E quais são as dicas do jovem a ou-tros empreendedores? Sempre aprendercom demais empreendimentos, para nãocometer em casa os mesmo erros queos outros já o fizeram. “Para começar,visitar cinco indústrias para montar asua”, sugere. “E investir em tecnologiade baixo custo”. Segundo ele, desde quefez o curso do Empretec, do Sebrae,

"Pré-máquina" deplantio de cana

desenvolvida napropriedade rende atédois hectares por dia

trabalha com esta idéia fixa de reduzircustos. Revela que a partir de uma em-balagem diferente de outros meladosfabricados na região, este custo foi re-duzido de R$ 1 para R$ 0,35 por quilode melado vendido. “Eu vendo melado;não plástico”, argumenta. Por fim, “fa-zer o melhor produto”. “Qualidade é ocarro-chefe”, lembra. Ele aprendeu aproduzir melado em família, cuja ori-gem alemã por si só já explica a maes-tria em produzir alimentos doces.