revisão de literatura

17
21 2 Revisão de literatura Realizaremos nessa primeira parte deste capítulo a apresentação disponível para alunos e professores em livros didáticos de PL2E e em Gramáticas (não apenas nas tradicionais, mas também em gramáticas de usos) a respeito do assunto tratado no presente trabalho para termos um exemplar de como o uso de modalidades típicas do subjuntivo estão sendo expressas em orações completivas com os verbos não factivos em questão nesse trabalho. 2.1 Livros didáticos de PL2E Analisamos quatro livros didáticos de PL2E “Diálogo Brasil – Curso intensivo de Português para Estrangeiros”, 2003; “Bem-Vindo - A Língua Portuguesa no Mundo da Comunicação”, 2009; “Novo Avenida Brasil 3 – Curso Básico de Português para Estrangeiros”, 2010; e “Brasil Intercultural – Língua e cultura brasileira para estrangeiros Nível 2”, 2012. Como veremos a seguir, os resultados no que diz respeito ao uso do subjuntivo ou do infinitivo considerando-se a coreferencialidade de sujeitos foi variado, porém, nenhuma menção no que se refere ao uso de Estruturas Alternativas será feita, uma vez que nada específico é apresentado no material analisado. 2.1.1 Diálogo Brasil Curso intensivo de Português para Estrangeiros, 2003 O capítulo 12, página 188, apresenta como possibilidade para uso do presente do subjuntivo a complementação de estruturas em que há “verbos e expressões de desejo + que”. Os quatro primeiros exemplos são com as estruturas “quero que”,

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Português para estrangeiros

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  • 21

    2

    Reviso de literatura

    Realizaremos nessa primeira parte deste captulo a apresentao disponvel

    para alunos e professores em livros didticos de PL2E e em Gramticas (no apenas

    nas tradicionais, mas tambm em gramticas de usos) a respeito do assunto tratado no

    presente trabalho para termos um exemplar de como o uso de modalidades tpicas do

    subjuntivo esto sendo expressas em oraes completivas com os verbos no factivos

    em questo nesse trabalho.

    2.1

    Livros didticos de PL2E

    Analisamos quatro livros didticos de PL2E Dilogo Brasil Curso

    intensivo de Portugus para Estrangeiros, 2003; Bem-Vindo - A Lngua Portuguesa

    no Mundo da Comunicao, 2009; Novo Avenida Brasil 3 Curso Bsico de

    Portugus para Estrangeiros, 2010; e Brasil Intercultural Lngua e cultura

    brasileira para estrangeiros Nvel 2, 2012.

    Como veremos a seguir, os resultados no que diz respeito ao uso do

    subjuntivo ou do infinitivo considerando-se a coreferencialidade de sujeitos foi

    variado, porm, nenhuma meno no que se refere ao uso de Estruturas Alternativas

    ser feita, uma vez que nada especfico apresentado no material analisado.

    2.1.1

    Dilogo Brasil Curso intensivo de Portugus para Estrangeiros, 2003

    O captulo 12, pgina 188, apresenta como possibilidade para uso do presente

    do subjuntivo a complementao de estruturas em que h verbos e expresses de

    desejo + que. Os quatro primeiros exemplos so com as estruturas quero que,

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  • 22

    desejo que, espero que e peo que (destacando, aqui, que o verbo pedir vem

    apresentado na categoria de verbos que expressam desejo).

    Figura 1 Apresentao do presente do subjuntivo Dilogo Brasil Curso

    intensivo de Portugus para Estrangeiros, pgina 188

    O exemplo e os exerccios subsequentes apresentam sujeitos no-

    correferenciais, ou seja, nenhuma explicao ou exerccio indica ao aluno o uso do

    infinitivo em caso de sujeitos correferenciais, e nenhum dos exerccios inclui o uso do

    verbo pedir.

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  • 23

    Figura 2 Exerccios Dilogo Brasil Curso intensivo de Portugus para

    Estrangeiros, pgina 189

    Figura 3 Exerccios Dilogo Brasil Curso intensivo de Portugus para

    Estrangeiros, pgina 190

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  • 24

    2.1.2

    Bem-Vindo - A Lngua Portuguesa no Mundo da Comunicao, 2009

    A unidade 5, pginas 43, 44 e 45, apresenta ao aprendiz o presente do

    subjuntivo com exemplos e exerccios com as estruturas quero que, desejo que e

    espero que com o uso do subjuntivo.

    Figura 4 Apresentao do presente do subjuntivo Bem-Vindo - A Lngua

    Portuguesa no Mundo da Comunicao, pgina 43

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    Figura 5 Exerccio Bem-Vindo - A Lngua Portuguesa no Mundo da

    Comunicao, pgina 43

    Figura 6 Exerccio Bem-Vindo - A Lngua Portuguesa no Mundo da

    Comunicao, pgina 44

    Na pgina 45, o exerccio 5 lembra ao estudante como usar tais verbos em

    caso de sujeitos correferenciais, havendo, ainda, na sequncia, nota explicitando tais

    usos e breve exerccio de fixao.

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  • 26

    Figura 7 Exerccio Bem-Vindo - A Lngua Portuguesa no Mundo da

    Comunicao, pgina 45

    Figura 8 Exerccio com casos de sujeitos correferenciais, nota e breve

    exerccio de fixao Bem-Vindo - A Lngua Portuguesa no Mundo da

    Comunicao, pgina 45

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  • 27

    2.1.3

    Novo Avenida Brasil 3 Curso Bsico de Portugus para Estrangeiros,

    2010

    Na pgina 1, ensina-se como se expressar desejo com os verbos pedir,

    esperar e querer se usando a conjuno que e o subjuntivo. Nenhum exerccio

    posterior contrasta o uso de tais verbos com infinitivo ou subjuntivo.

    Figura 9 Apresentao do presente do subjuntivo Novo Avenida Brasil 3

    Curso Bsico de Portugus para Estrangeiros, pgina 1

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    No final do livro, uma tabela de regncia verbal indica que o verbo pedir

    pode ser complementado por substantivo, sem preposio, ou pela preposio para

    e infinitivo, sem maiores explicaes no que se refere correferencialidade de

    sujeitos.

    Figura 10 Tabela de regncia verbal Novo Avenida Brasil 3 Curso Bsico

    de Portugus para Estrangeiros, pgina 130

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  • 29

    2.1.4

    Brasil Intercultural Lngua e cultura brasileira para estrangeiros

    Nvel 2, 2012

    De acordo com este livro, o presente do subjuntivo usado (i) para indicar

    desejos com as estruturas desejo que, quero que e espero que e (ii) para indicar

    pedidos/sugestes com as estruturas peo que, quero que e recomendo que.

    Literalmente em seguida, o livro destaca a necessidade de troca de consoante

    em certos verbos ao se fazer o presente do subjuntivo a partir do presente do

    indicativo, com os seguintes exemplos: espero que eu dance, espero que eu fique

    e espero que eu pague. Dessa maneira, ensina-se ao aluno a usar o subjuntivo em

    caso de sujeitos correferenciais com os verbos no factivos apresentados.

    Figura 11 Apresentao do presente do subjuntivo Brasil Intercultural

    Lngua e cultura brasileira para estrangeiros Nvel 2, pgina 43

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  • 30

    2.2

    A Gramtica Tradicional

    Buscamos informaes a respeito do uso do subjuntivo e do infinitivo em trs

    gramticas tradicionais; na Gramtica Normativa da Lngua Portuguesa de Rocha

    Lima (2007), na Moderna Gramtica Portuguesa de Evanildo Bechara (2009) e na

    Nova Gramtica do Portugus Contemporneo de Cunha & Cintra (2001).

    Na primeira, nenhuma informao relevante para a pesquisa foi encontrada.

    Na segunda, encontramos apenas as seguintes explicaes:

    - em oraes subordinadas substantivas, o subjuntivo ocorre depois de verbos

    que denotam ordem, vontade, consentimento, aprovao, proibio, receio,

    adimirao, surpresa, contentamento.

    - na linguagem coloquial, as ideias de pedir que algo acontea e trabalhar

    para que algo acontea, construes indicadas pelo autor como previstas pela

    gramtica normativa, foram aproximadas e a preposio para passou a ser usada

    com frequncia nas linguagem de pessoas cultas pra introduzir oraes completivas

    objetivas diretas subordinadas a oraes principais com o verbo principal pedir.

    Dessa maneira, ficou-nos claro que o modo como a Gramtica Tradicional

    descreve o uso obrigatrio do subjuntivo e do infinitivo em completivas no varia

    muito. Escolhemos, aqui, trabalhar principalmente com o apresentado por Cunha &

    Cintra (2001), uma vez que estes se aprofundam um pouco mais na apresentao do

    uso do subjuntivo, de uma maneira que nos ajuda a entender as perguntas propostas

    na presente dissertao.

    2.2.1

    Cunha & Cintra (2001)

    No que diz respeito ao uso obrigatrio do subjuntivo, tais autores apontam que

    esse exigido, no caso especfico de oraes subordinadas completivas, em oraes

    em que se expressem a ideia de apreciao e de vontade com referncia ao fato sobre

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  • 31

    o qual se fala, de dvida que se tem no que se refere realidade do fato sobre o qual

    se fala, de ordem, de proibio, de desejo, de splica, de condio, de negao, de

    lamentao, entre outras.

    Tais autores caracterizam o subjuntivo como o modo tpico de oraes

    subordinadas. Assim, e tendo em vista tambm a descrio destacada no pargrafo

    acima, podemos peceber que estes atribuem a seleo do modo verbal da orao

    subordinada carga semntica do verbo da orao matriz.

    Outro fato importante para nossa pesquisa o de que Cunha & Cintra (2001),

    alm de uma descrio formal de tal uso, consideram em seus comentrios que h

    situaes em que o uso do subjuntivo pode ser, s vezes, pesado e mal soante, sendo

    conviniente sua substituio por expresses equivalentes no infinitivo ou gerndio, ou

    com substantivos abstratos ou construes elpticas. E, em sua explicao entitulada

    Substitutos do subjuntivo temos o seguinte exemplo2 como substituto possvel do

    subjuntivo:

    Exemplo no subjuntivo

    O professor mandou que o aluno lesse o romance.

    Exemplo na forma expressional equivalente no infinitivo

    O professor mandou o aluno ler o romance.

    Assim, podemos ver claramente a considerao dos autores do uso do

    infinitivo em oraes com sujeito no-correferenciais como uma Estrutura Alternativa

    possvel.

    Tais autores ainda indicam a posibilidade do uso de pronome oblquo tono

    como sujeito de um infinitivo, de maneira que se use o infinitivo em casos de sujeitos

    2 Embora o exemplo no subjuntivo esteja no Pretrito Imperfeito, este foi considerado em tal

    trabalho por poder ser facilmente transposto para o presente do subjuntivo, podendo este

    ltimo ser substitudo da mesma maneira indicada por uma estrutura alternativa no infinitivo.

    Adiante, nessa seo, novos exemplos em tempos diferentes do presente sero apresentados,

    sendo esses considerados tambm por poderem ser transpostos para tempos no presente.

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  • 32

    no-correferenciais na orao subordinada (exemplo: Mandei-o sair), e no oraes

    completivas objetivas diretas com a conjuno que e o verbo no subjuntivo

    (exemplo: Mandei que ele sasse...).

    2.3

    Gramticas de Usos

    No poderamos deixar de considerar em um trabalho com a orientao terica

    deste a abordagem ao assunto apresentada por gramticas de uso da Lngua

    Portuguesa. Moura Neves (2000), em sua Gramtica de usos do portugus, a

    segunda gramtica a ser analisadas nessa seo, mostra a importncia de tais obras

    para tal estudo nos seguintes trechos:

    A Gramtica de usos do portugus... parte da observao dos usos realmente ocorrentes no Brasil, para refletindo sobre eles oferecer uma organizao que

    sistematize esses usos. O que as lies fazem, portanto, organizar numa gramtica

    da lngua portuguesa as possibilidades de construo que esto sendo aproveitadas pelos usurios para obteno dos efeitos de sentido pretendidos..

    Embora uma gramtica de usos no seja, em princpio, normativa... normas de uso so invocadas comparativamente, para informar sobre restries que tradicionalmente

    se fazem a determinados usos atestados e vivos. (verso da capa)

    2.3.1

    Modern Portuguese A Reference Grammar (Perini, 2002)

    Perini apresenta o exemplo Tia Carolina quer que voc faa aquele famoso

    bolo e Tia Carolina quer fazer aquele famoso bolo para ilustrar sua explicao de

    que com os verbos querer, desejar, detestar e esperar obrigatrio o uso do

    subjuntivo em caso de sujeitos na orao subordinada diferente do sujeito da principal

    e, do infinitivo, em caso de sujeitos iguais.

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    Nessa mesma seo, When (and how) to use the infinitive [Quando (e como)

    usar o infinitivo3, em portugus], o autor ainda explica como usar o infinitivo com os

    verbos recomendar e pedir. O autor inclui o verbo recomendar na mesma lista

    que o verbo permitir por ambos apresentarem o mesmo comportamento estrutural.

    Se adaptamos, ento, o exemplo dado por Perini para nossa seleo de verbos, temos

    o seguinte: O cozinheiro recomendou a Manuel entrar na cozinha4. Para o verbo

    pedir, Perini d o exemplo O cozinheiro pediu a Manuel para entrar na cozinha e

    destaca no apenas a necessidade da preposio a ao se especificar a quem se faz o

    pedido e da para antes do infinitivo, como tambm deixa claro que tal frase

    ambgua por no se saber claramente se o ato se trata de uma pedido de permisso ou

    uma ordem.

    2.3.2

    Gramtica de usos do portugus (Moura Neves, 2000)

    Moura Neves, por sua vez, apresenta o uso do infinitivo com o verbo pedir

    indicando, tambm, o uso da preposio para precedendo o infinitivo5. A autora

    mostra apenas que tal uso comumente feito quando o sujeito da orao principal e o

    da completiva so correferenciais, sendo o timo no expresso, como no exemplo

    Pedi para voltar cidade.

    No que se refere aos verbos volitivos, a autora aponta as contrues de tais

    verbos com completivas no subjuntivo e no infinitivo da seguinte maneira:

    a) Construes mais empregadas

    3 Traduo da autora

    4 Consideramos aqui que o uso do infinitivo poder ou no ser equivalente ao uso do

    subjuntivo dependendo do contexto em que se insere. Logo, esse exemplo pode expressar o

    mesmo que a frase no subjuntivo O cozinheiro recomendou que Manuel entrasse na

    cozinha.

    5 A autora deixa claro, porm, que tal construo condenada pela gramtica normativa.

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    - Conjuno que6 + verbo no subjuntivo quando o sujeito da orao

    principal e o da orao completiva so no-correferenciais, sendo o

    sujeito da orao subordinada expresso, como nos exemplos Desejo

    QUE o povo confie tambm., E o que que voc quer QUE eu

    faa? e Espero QUE tudo j esteja normalizado..

    - Orao completiva com verbo no infinitivo quando o sujeito da

    orao principal e da orao completiva so correferenciais, sendo o

    sujeito da orao subordinada no expresso, como nos exemplos

    Todos desejam ver o Brasil sair das dificuldades em que se

    encontra. e Espero dedicar minha vida a eles..

    b) Construes tambm empregadas, mas menos comuns

    - Conjuno que + verbo no subjuntivo quando o sujeito da orao

    completiva correferencial ao da orao principal e no vem expresso,

    como no exemplo Espero QUE, com isso que estou comeando hoje,

    influencie a nova gerao..

    - Orao completiva com verbo no infinitivo quando o sujeito da

    orao completiva no-correferencial ao da orao principal e vem

    expresso, como no exemplo Vou ter que esperar o dia raiar e

    apanhar cachaa, galinha morta e farofa dos macumbeiros..

    6 Como lembrete, a autora fornece, ainda, exemplos para ilustrar a possibilidade da

    conjuno que estar elptica, como em Esta primeira reunio ministerial o marco inicial

    de uma ao de equipe que espero venha a se estender, coordenada e perseveratemente, por

    todo o nosso perodo governamental..

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  • 35

    2.4

    Estudos Lingusticos

    Estudos Lingusticos referentes ao uso de Estruturas Alternativas para

    expresso de modalidades tpicas do subjuntivo e do infinitivo e tipologia de verbos

    de oraes matrizes de oraes subordinadas completivas tambm contriburam para

    a construo das hipteses e objetivos dessa pesquisa e no poderamos deixar de

    inclui-los nesse captulo, uma vez que estes no s nos mostram como o assunto vem

    sendo tratado na rea do estudo do uso da linguagem, como tambm baseiam a

    pesquisa.

    2.4.1

    Estruturas Alternativas (EAs)

    Ao iniciar nosso estudo, buscamos pesquisar na literatuta existente o que se

    estava dizendo a respeito da flutuao no uso do subjuntivo e nos deparamos com a

    tese de doutorado de Rosana Alves (2009), entitulada A Expresso em Modalidades

    Tpicas do Subjuntivo em Duas Sincronias do Portugus: Sculo XVI e

    Contemporaneidade, na qual a autora mostra que, ao iniciar uma pesquisa sobre a

    flutuao no uso obrigatrio do subjuntivo (tempo presente), constatou-se que essa

    no se d apenas com o uso do presente do indicativo, e sim, tambm, com o uso de

    outras estruturas alternativas, assim como, por exemplo, estruturas com forma verbal

    no infinitivo, no gerndio, nominalizada, elptica, no futuro condicional e expresso

    com ter modal (ter que ou ter de + infinitivo). Alves trabalha em sua tese, ento, com

    a hiptese central de que o pouco uso do presente do subjuntivo se d em

    conseqncia no somente desse co-ocorrer com o presente do indicativo, mas

    tambm da recorrncia a Estruturas Alternativas (EAs).

    Uma das variveis que Alves levou em considerao foi a varivel

    modalidade verbal e, embora uma das modalidades verificadas pela autora ser a

    volio, os dados estudados so de enunciados proferidos por falantes apenas de Feira

    de Santana, Bahia, e em Muria, Minas Gerais. Nosso trabalho tem o objetivo de

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  • 36

    prover uma descrio da lngua que espelhe no dialetos especficos em que se

    percebe claramente o pouco uso do subjuntivo, e sim a variante aceita pelos meios de

    comunicao e efetivamente utilizada, na atualidade, pela classe escolarizada

    brasileira em geral. Assim, pudemos perceber, com a leitura de tal tese, a necessidade

    de se incluir em uma pesquisa em que se estudam as regras de uso de oraes

    completivas regidas por verbos no-factivos quais estruras alternativas se apresentam

    e como essas so estruturadas.

    2.4.2

    Tipologia verbal da orao matriz

    A pesquisadora Maria do Carmo de Oliveira, a qual tambm trabalha em sua

    dissertao de Mestrado com o uso do modo verbal em estruturas de complementao

    no portugus falado no Brasil, apresenta estudos realizados por outros lingustas sobre

    a tipologia de verbos de oraes matrizes de oraes subordinadas completivas.

    De acordo com Oliveira (2007), Botelho Pereira (1974) prope que os modos

    indicativo e subjuntivo se opem por meio de trs funes que so as seguintes:

    (i) funo semntica a orao matriz no condiciona o modo da orao

    subordinada; a diferena no modo utilizado na orao subordinada acarreta em

    diferena de significado da orao e o significado da orao depende de interpretao.

    A autora usa como exemplo as frases Pedro caiu de modo que quebrou a

    perna e Pedro caiu de modo que quebrasse a perna. Sendo que, na primeira,

    apresenta-se um fato real e, na segunda, uma relao de causa e consequncia.

    (ii) funo gramatical relativa apenas ao modo subjuntivo, uma vez que

    esse o modo da subordinao. Estando, assim, marcado gramaticalmente, tendo-se um

    verbo na orao matriz que condicione o seu uso na orao subordinada.

    A autora usa como exemplos as oraes Desejo que Pedro se recupere e

    Esperei que ele viesse e destaca que, devido s caractersticas de tal funo, o valor

    de verdade da orao subordinada no determina o modo verbal(pag. 41).

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  • 37

    (iii) funo semntico-gramatical o modo do verbo da orao matriz

    condiciona o da orao subordinada; exclusivo do modo indicativo uma vez que

    apenas esse permite que ambos os aspectos estejam presentes, ou seja, apenas com o

    uso de um verbo no modo indicativo na orao matriz que indique certeza do que se

    diz na orao subordinada, podemos ter ambas as funes anteriores presentes.

    (Exemplo utilizado pela autora: Sei que chove)

    Optamos em tal trabalho por assumir a classificao da tipologia verbal

    desenvolvida por Botelho Pereira (1974) e adaptada por Rocha (1997) que foi adotada

    por Oliveira (2007) por essa assumir que a escolha por um modo verbal depende de

    propriedades semnticas e de aspectos de natureza essencialmente gramatical.

    Destacamos, abaixo, descrio para predicados no factivos.

    predicado no-factivo: mostra uma atitude neutra do locutor em relao ao

    valor de verdade da proposio expressa pela orao completiva: esperar,

    preferir, desejar, querer, recomendar, solicitar, insistir, pedir, mandar,

    exigir e outros. (OLIVEIRA, p. 43)

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