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1 Afinal, qual é o país do futebol? Saiba porque Brasil e Argentina são tão parecidos quando o assunto é futebol Um guia definitivo para quem quer se divertir e gastar pouco ao mesmo tempo Estudante Mochileiro A efervecência cultural presente nas ruas argentinas Artistas de rua Conheça as belezas de Buenos Aires Jovens e Política Entenda como pensam os universitários portenhos sobre os rumos do país CÂMBIO Um produto

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Afinal, qual é o país do futebol?

Saiba porque Brasil e Argentina são tão parecidos quando o assunto é futebol

Um guia definitivo para quem quer se divertir e gastar pouco ao mesmo tempo

Estudante Mochileiro

A efervecência cultural presente nas ruas argentinas

Artistas de rua

Conheça as belezas de Buenos Aires

Jovens e PolíticaEntenda como pensam os universitários portenhos sobre os rumos do país

CÂMBIOUm produto

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Câmbio! Câmbio! Câmbio! Essa talvez tenha sido a palavra que mais ouvimos nas ruas du-rante os dias em Buenos Aires. Com o tempo, soava-me como um mantra! Cambie, troque, mude! Foi esse espírito de transformação que

me convidava a descobrir aquela cidade com o olhar sem vícios, a observação de quem desco-nhece, a vista de quem primeiro vê. A ousadia de quatro aspirantes a repórteres a conhecer uma cidade sem anfitriões, sem guias, sem

programação agendada. Apenas um mapa nas mãos e meia dúzia de pautas pensadas, mas

constantemente ameaçadas pelo convite à mu-dança. Antes era apenas uma ideia expressa na redação de Impresso. Meses depois estávamos

lá e um convite tentador nos era oferecido: Cambie, troque o REAL!

Uilson Campos

Se viajar na fantasia já é algo libertador, imagina quando a cena se torna real, decola e ganha os ares, depois as rodas, e por fim,

os pés. A aventura de desbravar e conhecer o inusitado pode até assustar a priori, mas esse medo é acalentado pela vontade de experien-ciar o novo. São novos sons, cheiros, modos e tipos de pessoas que você compreende. Você sai do seu lugar comum com uma bagagem e um guia para viagens, e retorna ao ponto

inicial com um guia de ação e transformação para o seu cotidiano e uma outra bagagem de conhecimento que reinterpreta todas as suas experiências passadas. Como há muitos luga-res incríveis para vivenciar, escolha uma rota!

Natalia Dourado

Viajar é, pra mim, experimentar coisas novas e ampliar os horizontes, conhecer novos luga-

res, ouvir historias e entender hábitos em que o outro se insere. É a grande chance de apren-

der e aproveitar a particularidade oferecida de uma experiência. Sair da zona de conforto

é para a maioria das pessoas, uma situação difícil, porém necessária, para poder compre-ender e vivenciar a situação do outro, conhe-

cer expressões diferentes e principalmente aprender a olhar e ouvir de maneira atenta. Ir para Buenos Aires me proporcionou reflexões, grandes descobertas. Desfrutei sem modera-

ções, me permiti, me libertei e aprendi a viajar com meus olhos e meus pés.

Beatriz Medeiros

Um bom jornalista tem que vivenciar novas experiências e sensações que lhe enrique-

çam sempre. Viajar, é talvez o melhor modo de experimenta isso. Quando vamos para

um lugar onde tudo é novo, o deslumbre e a melhor coisa que pode acontecer. Olhar para todas as ruas, roupas, prédios e praças com

uma atenção divina, querendo a todo tempo mais informações, mais conhecimento; tudo isso faz de você uma nova pessoa. E disso eu

tenho certeza, que todos os quatro aspirantes a periodistas que ali estavam, se transformaram em uma nova pessoa. Talvez não sejamos hoje

pessoas melhores, mas com certeza somos jornalistas melhores.

Lidio Gabriel

Cartas ao leitor

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Na hora que a fome aperta a primeira coisa que um brasilei-ro em Buenos Aires pensa em procurar é um self service.

A surpresa é que restaurantes a quilo não são comuns na Argentina. Quem optar por esse tipo de restaurante

vai ter que andar um pouco em busca de um “Chino”. Os self-services têm esse nome por lá porque a maioria deles é comandada por

orientais. O local mais fácil de encontra-los é no decorrer da Avenida Marcelo T. Alvear e o pre-

ço varia entre R$ 11 e R$ 16 o quilo. Um detalhe im-portante: a maioria não tem lugar pra sentar. É pegar, pesar, pagar e levar a marmita pra comer fora.

Sim, e como comer fora na Argentina se self ser-

vices são difíceis de achar? Pois o que não falta são restaurantes (para todos os bolsos) que servem almoço executivo. Os mais em conta são os “bodegones”, estabelecimentos bem típicos, daqueles com menu em quadro escrito à giz na porta e que são frequentados por cliente fiéis, habitantes do bairro em que estão situados. Um dos mais tradicionais é o “El Obrero”, situado no bairro La Boca, Calle Augustín Caffarena, 64 (vale a pena conhecer). É importante saber que os argentinos comem muito bem... A refeição completa é composta de entrada, prato principal (geralmente carne e “guarnição” – arroz ou purê de batata) e postre – a sobremesa! A porção dá tranquilamente pra duas pessoas e nem fique com vergonha de pedir pra dividir, os garçons já estão habituados com isso. Custa, em média, R$ 45 – que dividindo dá um preço bacana!

Quando se planeja a viagem, a primeira preocupação é onde se hospedar. Todo mundo quer encontrar um lugar agradável, barato e de confiança para a estadia. A melhor alternativa para os que buscam hospedagem em conta na capital da Argentina são os hostels, tipos de acomodações que se caracterizam pelos preços convidativos e pela so-cialização entre os hóspedes. Hostels costumam ser simples, o ambiente é descontraído, os quartos são bem aconchegantes, alguns podendo aco-

Alimentação

Hospedagem

Se você quer conhecer a cidade de Buenos Aires e seus princi-pais atrativos com pouca grana, fuja das vendedoras de pacotes turís-ticos da Calle Florida! Vá até uma banca de jornal e compre um mapa. Cada bairro tem uma peculiaridade, monumentos e espaços que con-tam histórias e reverberam tradições, é só você pegar seu mapa e tra-çar o seu caminho. Caso fique poucos dias na cidade, escolha, por exemplo, dois bairros mais próximos territorialmente para desbravar num mesmo dia. As praças e parques da cidade são surpreendentes, bem frequentados, bastante arborizados e você não vai gastar nada para conhecê-los.

Vale a pena visitar os Bosques de Palermo, o Rosedal, o Jardim Japonês e a Flor Metálica. Em alguns hostels, como o Florida Suits, são organi-zadas excursões a pé, gratuitas e guiadas até os bairros de Palermo, San Telmo e Puerto Madero. E quem deseja conhecer um pouco da história da Argentina deve reservar um domingo para participar de uma visita guiada na Casa Ro-sada ou participar de um tour pelo Cemitério da Recoleta, aberto de terça a domingo, das 9hs às 14hs. Uma oportunidade para apreciar, ana-lisar, conhecer os espaços e as pessoas que por ali transitam.

Um fator importante para o seu passeio pela cidade portenha é o transporte. Primeiro, você deve saber que os meios de transpor-tes públicos realmente funcionam em Buenos Aires, seja ele o ônibus ou metrô. Para aproveita melhor todas essas formas de locomoção, o governo argentino criou a tarjeta Sube, um cartão usado para pagar todos os meios de transportes públicos. Para usar, basta compra-lo em qualquer ponto de diários (banca de revistas] e recarrega-lo em uma espécie de casa lotérica. Você pode colocar quanto de crédito quiser e também pode usá-lo diversas vezes, inclusive para paga a passagem de amigos, uma forma interessante de economiza numa viagem em

grupo. No entanto, tudo isso e somente se você quiser algum tipo de co-modidade, porque as ruas da capital argentina são muito fáceis de andar. Com apenas um mapa, você consegue chegar em qualquer lugar, sem falar no sistema de empréstimo gratuito de bicicletas; dispostas em vá-rios bairros da cidade, basta fazer um cadastro descrito no próprio local de empréstimo, com isso, você pode anda de bike pela cidade inteira, e depois devolver em algum ponto de empréstimo em outro bairro qual-quer. Falta de transporte não é desculpa em Buenos Aires, basta escolher o que você se adapta melhor e aproveitar a viagem.

Transporte

Guia de viagem para estudantesComo aproveitar B. A. com pouca “plata” no bolso

modar até 6 hóspedes, e o melhor é que oferecem tudo que o viajante sem luxos precisa: uma boa cama, ar-condicionado, serviço diário de limpeza e roupas de cama, banheiro limpo e uma boa ducha. Uma ótima opção é o Hostels Florida Suits, que fica localizado na Calle Florida, 328, no Centro de Buenos Aires. A diária custa em torno de R$ 45 por pessoa. Outras opções similares são o Hostel Suites Obelisco (Av. Corrientes, 830) e o Milhouse Hipo (Hipolito Yrigoyen 959).

Passeios

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A política sob a luz do olhar jovem

Sim, há coisas muito boas feitas nos governos Kirchner, mas também existe um lado obscu-ro e corrupto

Em um período de reviravoltas no cenário político da Argentina, saí-mos às ruas com um intui- to: co-nhecer a conjuntura que resultou

no novogoverno daquele país. Após uma campa-nha tensa, polarizada entre o peronista Da-niel Scioli (PJ) e o liberal Mauricio Macri (PRO), os argentinos puseram fim a 12 anos de governo Kirchner. Com vitória aperta- da, de menos que três pontos de vantagem, Mauricio Macri é o novo inquilino da Casa Rosada pelos próximos quatro anos. En-quanto as insatisfações se expressavam nos restaurantes, bares, bancas de revista e nas pichações das ruas, as promessas de mu-dança se insinuavam em outdoors de pro-paganda partidária. Queríamos conhecer a conjuntura política da Argentina a partir do olhar de quem renova e dinamiza o sistema. Que-ríamos ouvir jovens. Foi com esse propó-sito que chegamos ao bairro residencial de Constitucíon, conhecido por sua cultura urbana própria e subversiva, mais preci-samente à Rua Santiago del Estero, 1029. Naquela vizinhança hostil, fora do roteiro turístico da capital federal, está localizada a Faculdade de Ciências Sociais da Universi-dade de Buenos Aires (UBA). Nosso obje-tivo era conversar com universitários para entendermos seus anseios, frustrações e ex-pectativas em relação aos rumos da política no país.

Queda de energia

Ao chegarmos, nos deparamos com

os estudantes concentrados na avenida em frente à Faculdade de Ciências Sociais, enquanto o prédio se encontrava com os portões fechados. Aproximamo-nos da aglomeração pra entender o que aconte-cia. A explicação nos foi dada por Mariano Castro, estudante de Ciências Políticas da UBA. Uma queda de energia havia para-lisado as atividades na unidade de ensino, acontecimento que se tornava rotineiro no bairro. Aproveitamos para saber dele o que pensava sobre a participação dos jovens ar-gentinos na política. Descobrimos que as-sim como o blackout na faculdade naquele momento, parte dos jovens argentinos vive uma fase de “queda de energia”, um desin-teresse pela política nacional. Foi o que nos explicou Mariano Castro. “A realidade é que em geral há um sentimento apolítico, de não participação, por parte dos jovens. Podemos ver isso até aqui na Faculdade de Sociais, onde se imagina que seja o lugar em que mais se discute, onde mais se luta, porém a atuação política é baixíssima”. Mariano é filiado à UCR (União Cí-vica Ra- dical), partido que ele se orgulha em nos dizer ser o mais antigo do país. Mi-litante em uma conjuntura que pouco tem atraído a juventude, ele comenta que até novas iniciativas, como o partido Câmpo-

ra, surgido com a promessa de dar maior espaço para a juventude argentina na polí-tica, na prática, não cumpre essa função. “A Câmpora não é um bom exemplo. É uma agrupação que nasce já no governo e de-monstrou sempre uma vocação por ocupar espaço de poder. Na verdade não se vê um resultado concreto em relação a militantes jovens, cobrando protagonismo, ocupando lugares realmente importantes”. em relação a militantes jovens, cobrando protagonis-mo, ocupando lugares realmente importan-tes”. A UCR é um partido com forte pre-

sença en- tre o meio estudantil de Buenos Aires. Nas últimas eleições foi uma das le-gendas que se aliou ao PRO (Proposta Re-publicana), do atual presidente Maurício Macri, coligação que derrotou o candidato

Da Casa Rosada, Maurício Macri decidirá os rumos do país. Foto: Uilson Campos

Uilson Campos *

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Uilson Campos *

de Cristina Kirchner, Daniel Scioli, do PJ (Partido Justicialista). A disputa foi acirra-da e pela primeira vez decidida no segundo turno.

“A herança K”

Damian Vivas é outro estudante de Ciências Políticas de Buenos Aires. Ele nos conta os fatores que acredita ter mantido os governos Kirchner por mais de uma década no poder. “Uma provável explicação é que foram governos muito populares. No nosso país há muita pobreza, principalmente no Norte, no interior. Muita gente pensava que o fim do governo de Cristina também seria o fim dos programas sociais”. Ocorre que, embora tenha sido um governo com signi-ficativo investimento em segmentos mais carentes da sociedade, problemas como insegurança, corrupção e inflação geraram protestos com forte adesão popular desde 2011 em várias províncias do país. O apagão que constatamos em Cons-tituicíon é reflexo de um grave problema da Argentina. Além da instabilidade econô-mica, Maurício Macri deverá enfrentar o estado de emergência hídrica e energética em que se encontra o país, o que Damian chama de “a herança K”. “Foram 12 anos de corrupção e de Estado ausente. Sim, há coisas muito boas feitas nos governos Kir-

chner, mas também existe um lado obscuro e corrupto”. Em meio a uma classe política cada vez mais desacreditada pela juventude, Da-mian consegue ver na mudança de governo uma possibilidade de avanço na democra-cia. “Eu espero que a Argentina se torne

um Estado eficiente e para todos. Uma eco-nomia transparente, menos corrupção e, sobretudo, um Estado presente em todas as necessidades, independente das diferen-ças ideológicas”. Ao deixarmos o bairro de Constutuícion, essa nos pareceu ser a ver-dadeira luz que aqueles jovens tanto an-seiam.

MÍDIA ARGENTINA: a democratização é possivel?

Se tem um setor em que o go-verno de Cristina Kirchner não vai deixar saudade é o dos grandes con-glomerados de mídia da Argentina. Travando uma briga ferrenha com grupos que dominavam o setor, um dos legados do governo da ex-presi-dente foi a implantação do plano de democratização da comunicação, a chamada Lei de Meios A regulamentação mudou o cenário da produção audiovisual da Argentina, promovendo o desenvol-vimento de pequenas e médias em-presas, criando mais postos de tra-balho e conteúdos locais. A Lei de

Meios permitiu que 50 universidades federais pudessem ter suas próprias frequências de televisão, além da criação de núcleos audiovisuais arti-culando mais de 750 polos de produ-ção em todo o país. No rádio, 33% do espectro foram destinados às organi-zações sem fins lucrativos. Como a lei exige e incentiva a produção local inde- pendente, mais de 2.000 horas de conteúdo audiovisual de ficção já foram produzidas, sendo 60% delas fora de regiões metropolitanas, con-tando com atores e técnicos das pró-prias regiões onde foram realizadas.. Apesar dos avanços evidentes,

o novo presidente deu indícios de que não pretende dar continuidade aos programas de democratização da mídia na Argentina. Uma das primeiras providências de Maurí-cio Macri foi destituir os mandatos de autoridades que coordenavam a agência, dissolver órgãos regula-dores do setor audiovisual e passar todo o controle das entidades cria-das para as mãos do executivo, além de assinar decretos que novamente dão poderes monopolizadores às grandes empresas de comunicação. Um claro sinal que revela o lado em que está o novo governo.

* Enviado especial do Reverso em Buenos Aires. Email: [email protected]

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Aprendendo a cuidar dos pets com os portenhos

Os cães têm a capacidade de encan-tar e conquistar as pessoas, conse-guem mudar a vida de seus donos e muitas vezes ditam as regras da

casa. Mas não é fácil cuidar de todas suas ne-cessidades e caprichos; uma delas é o passeio diário, que tira o cão do ambiente fechado da casa/apartamento e lhes dão a possibilidade de socializar um pouco com outras pessoas ou até mesmo com outros cães. Em Buenos Aires são comuns praças

com espaços caninos, onde o pet pode ser solto e brincar à vontade com outros cachor-rinhos, sem brigas ou confusões. Até porque, o fluxo de cães que frequentam esses espaços é muito grande. Nessas mesmas praças é possí-vel encontrar crianças brincando com os cães, mesmo eles não sendo seus. Esse panorama agradável, que é per-

ceptível logo de cara na capital portenhas, é fruto de uma paixão pelos animais de estima-ção, que já somam mais de um milhão, segun-do a prefeitura da capital. Quase não se veem animais abandonados, os que estão sozinhos, muitas vezes foram deixados por seus donos para fazerem seu passeio e depois voltarem para casa; e estão devidamente identificados, é claro. O porteiro Osvaldo dos Santos leva suas duas cadelas para passear todos os dias de tarde, e conta que apesar delas ficarem bastan-tes sujas, é um sentimento revigorante, “todos os dias nós vamos embora com as energias re-novadas, e se ocasionalmente não puder vir, elas sentem logo e ficam meio cabisbaixas”. Ele ainda diz que têm muitas praças em seu bairro, onde ele leva as cadelas e aproveita para des-cansar. Para ele, o único problema são as pul-

gas, que são fáceis que infectar nesses ambien-tes compartilhados. Mas ainda assim, ele acha que essa é a melhor maneira de passear com o seu pet. Essa característica portenha não traz só benefícios. Por conta do crescente números de animais de estimação, quase um milhão só em Buenos aires, e também por falta de uma cul-tura mais ecológica por parte de alguns donos de pets, muitas ruas da cidade vivem sujas com as necessidades dos animais. Em uma pesqui-sa divulgada no site do Clarín, é mostrada que são despejadas nas ruas da cidade, mais de 70 toneladas de cocôs de cães por dia. Mostrando assim, que é muito difícil a implantação desse tipo de hábito em um lugar onde os moradores e donos não estão acostumados com a respon-sabilidade de higiene da cidade e também eco-lógica.

* Enviado especial do Reverso em Buenos Aires. E-mail: [email protected]

* Lidio Gabriel

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* Lidio GabrielA paixão argentina pelo futebol

O Brasil já se acostumou a ser chamado de “o país do futebol”, uma alcunha que pode facil-mente ser dada para a Argenti-

na. Essa dimensão de amor que os argenti-nos têm pelo futebol só é possível mensurar quando se observa de perto. Não é à toa que os dois maiores jogadores da história do fu-tebol são nascidos nestas duas nações. Todas as características de um tor-cedor fanático por futebol são possíveis en-contrar nas ruas de Buenos Aires (capital), tanto nos bairros mais nobres quanto nos periféricos. Uniformes de clubes de futebol são tão comuns quanto no Brasil; os clubes mais populares no país são o Boca Juniors e o River Plate, os dois juntos somam quase 70 % dos torcedores argentinos. Mesmo as-sim, é possível ver camisas de outros clubes nas ruas de Buenos Aires, como do Racing Club, Independiente e do San Lorenzo, clube de coração do Papa Francisco. Apesar de diversos clubes terem a ca-pital Buenos Aires como sede, a rivalidade entre eles não é tão fria quanto se imagina, é o que afirma o comerciante e torcedor do Boca Juniors, Ángel Lopes. “Os confrontos entre torcedores acontecem quase que ex-clusivamente nas partidas, onde os ânimos

estão a flor da pele”. Dono de uma loja de suvenires em frente ao estádio do clube, Ángel admite que existem as resenhas típi-cas dos torcedores, mas que isso não chega a violência; que acontecem sim, nos está-dios. Assim como no Brasil, muitos torce-dores são mais apaixonados por seu clube do que pela própria seleção do país, Ángel é um deles. Ele afirma que isso acontece por-que a seleção argentina está em dívida com os torcedores. Sem ganhar um título com a seleção principal desde 1993, quando conquistou a Copa América disputada no Equador, a Argentina vem de dois vice-campeonatos, o que para outros países seriam um bom resultado, mas que para eles tornaram-se decepcionantes. Esse parece ser um reflexo da expectativa criada nessa geração de joga-dores campeões olímpicos, que tem como astro principal o cinco vezes melhor joga-dor do mundo Leonel Messi. A idolatria por Messi é quase tão grande quanto por Maradona. Isso é fácil de perceber nas ruas da capital, onde é possível ver outdoors com a imagem do jogador em muitas ruas, camisas com o seu nome nas lojas e também estampando as costas dos torcedores. No entanto, é difícil ultrapassar

essa barreira de maior ídolo criado por Ma-radona. No bairro La Boca, onde nasceram o Boca Juniors e o River Plate, Maradona está em todos os lugares, seja no grafite dos muros, nas estátuas em tamanho real, nas camisas, bares, restaurantes e no próprio es-tádio do Boca Juniors, onde ele ostenta um camarote exclusivo e vitalício. Talvez falte a Messi conquistar um título com a seleção, como Maradona con-quistou na copa do mundo de 1990; ou até mesmo ser ídolo de um clube portenho, como o Argentino Junior e o Boca Junior, onde Maradona iniciou sua carreira e se aposentou respectivamente. Horácio Quinteiro é um dos torce-dores que acreditam que Maradona é me-lhor que Messi, mas ele acha que o atacante do Barcelona ainda tem condições de al-cançar o ídolo, e que para isso ele precisa conquistar títulos. Para ele, é importante o apoio da torcida nesse momento de je-jum vivido pela seleção. Torcedor fanático do River Plate, Horácio acredita que todo argentino ama a seleção de seu país, uns amam mais o clube, como ele próprio, mas que a idolatria pela seleção é prontamente despertada quando a Argentina entra em campo.

* Lidio Gabriel

* Enviado especial do Reverso em Buenos Aires. E-mail: [email protected]

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Centro: a região central é formada por microbairros (Monserrat, San Nicolás e Congresso) interligados, formando o coração da

cidade de Buenos Aires. O ruído é intenso, principal-mente frente a Catedral de

Buenos Aires, Teatro Colón, Obelisco, Congresso, Plaza

de Maya e Casa Rosada.

Porto Madero:  no século XIX o comerciante Eduardo Madero propiciou a cons-trução de diques em frente ao centro de Buenos Aires, porém com o crescente flu-xo de embarcações e com a chegada de barcos maiores, o puerto, se tornou obsole-to. Então em 1989 a região passou por um bilionário projeto de reurbanização,

transformando a zona por-tuária em uma área nobre, com escritórios, áreas resi-denciais exclusivas, espaços verdes públicos, e a Puente de la Mujer – um marco,

obra do arquiteto espanhol Santiago Calatrava.

Obs.: Puerto Madero tem o metro quadrado mais caro

da Argentina, algo como 3,5 mil dólares.

Recoleta: arborizado e sofisticado, é o bairro que confere o apelido de Paris

da América do Sul a Buenos Aires. Destacam-se como atrativos o cemitério da

Recoleta (onde está embal-samado o corpo de Eva Pe-rón*), o Museo Nacional de Bellas Artes e o El Ateneo

Grand Splendid.

Plaza 25 de MayoPuente de la Mujer Plaza de las N

aciones

Unidas

Mira, ¿ que tal ?

*Eva Maria Ibarguren, mais conhecida como Eva Perón, ou Evita, foi atriz e líder po-lítica populista da Agentina, casada com Juan Domingo Perón - Presidente da Ar-

gentina de 1946 a 1955 e de 1973 a 1974.

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Mira, ¿ que tal ?

La Boca: o tango emergiu deste humilde distrito que

também engloba a La Bom-bonera (o Estádio do Boca Juniors, time com maior número de torcedores da

Argentina, torcedores estes absurdamente fanáticos por

futebol) e o El Caminito (uma rua repleta de artistas e dançarinos de tango, com

casas de tábuas pintadas com cores vibrantes).

“Nació como um ritmo sin letra, uma expresión genu-ína Del corazón”, Meseo de

La pasion Boquense.

San Telmo: boêmio, cerca-do e marcado por casarões

coloniais. Bairro que aloca a intensa Feira de San Telmo, realizada todos os domingos para venda de ‘antiguidades’

na Plaza Dorrego. Onde viveu Quino, notável cartu-nista, pai da sapeca e boca-

dura Mafalda.

Palermo: um dos bairros mais turísticos, com o

bosques, cafés, restauran-tes, discotecas. Onde está

localizado o Jardim Botâni-co Carlos Thays da Cidade Autônoma de Buenos Aires

(encontram-se lá 5.500 espécies vegetais e diversas esculturas), junto ao Jardim

Zoológico (que ocupa 18 hectares no bairro porte-

nho de Palermo) e o Jardim Japonês (o maior jardim

japonês do mundo fora do Japão).

Esquina de la Mafalda La BomboneraCarlos

Thays

San Telmo, Porto Madero, Palermo, Recoleta e La Boca são os mais famosos bairros da cidade argentina de Buenos Aires.

Buenos Aires é a capital e maior cidade da Argentina, e está entre as vinte maiores cidades do mundo, ao lado da Cidade do México, Rio de Janeiro e São Paulo.

O pedacinho da Europa nas Américas, localiza-se na costa ocidental do estuário do Rio da Prata, na costa sudeste do continente, e é famosa por abarcar vasta atividade cultural e possuir a maior concentração de teatros no mundo.

Natalia Dourado

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No mundo da moda, Argentina é si-nônimo de elegância. Buenos Aires é conhecida por ter uma moda de rua

bastante inspiradora. Durante a viagem, cami-nhando pelas ruas portenhas, surgiu o interes-se por buscar a identidade da moda argentina. Ao observar as vitrines das lojas e as formas de se vestir das pessoas, pude perceber que a na-turalidade e liberdade são características mar-cantes da moda argentina. Com uma maneira muito marcante de se vestir, deu pra perceber que as pessoas não passaram horas em frente ao espelho para montar suas roupas. As mulheres, por exem-plo usam penteados simples, e mantém a face com maquiagens discretas. Uma liberdade de se vestir sem se preocupar no que o outro vai pensar ou comentar, o que é quase impossível de fazer aqui no nosso país. Em um dos pontos prediletos dos tu-ristas, que é a avenida Calle Florida, coinciden-temente demos de cara com um brasileiro nos oferecendo pacotes turísticos. Despertando a nossa atenção pela familiaridade no idioma e com seu charme e elegância no look, foi impos-sível não parar e começar a dialogar. Fotógrafo, agente de turismo e consultor de moda, Anderson Araújo, 30 anos, mora há al-guns anos em Buenos Aires. Desde 2006 traba-lhando na área de moda, já foi modelo e traba-lhou para as marcas Calvin Klein e Hugo Boss. Ao ser questionado sobre a moda de Buenos Aires, ele contou que é a principal da América do Sul. Eis que surge a seguinte dúvida: Mas a principal não seria São Paulo (devido ao Fashion Week) ou o Rio de Janeiro? Não. Ele afirmou que o principal ponto de moda e pu-blicidade é em Buenos Aires e São Paulo ou Rio perdem feio.

Moda PortenhaBeatriz Medeiros*

Segundo Anderson, os brasileiros não entendem tanto de moda quanto os argentinos e isso ficou claro durante a conversa com ele. “Aqui as pessoas se vestem melhor do que no Brasil. E os homens ainda se vestem melhor do que as mulheres. Do pobre ao rico, todos se vestem bem em BA. No Brasil, geralmente só quem tem dinheiro, porque é muito caro.” Mas qual é o critério que os homens usam para se vestir melhor? Ele nos contou que o critério está nas cores. “Os argentinos são mais neutros, se vestem parecido com os europeus. No Brasil se vestem muito coloridos, muito americanizados.” E sobre as mulheres, ele explica que elas também se vestem bem. “Para mulher é mais barato do que para homem. As mulheres se vestem bem porque aqui é muito barato. Elas mudam de guarda roupa uma vez no mês.” Sobre a identidade portenha, Anderson afirma que “a parte de cima mais colorida e a parte de baixo mais neutra, compõem o perfil argentino. Se colocar os dois, já sai do perfil e vira turista. E o que contribui também para a identidade são os acessórios, cabelo e sapato.” No inverno, os termômetros registram temperaturas muito baixas. Nesse caso, é acon-selhável, para todas as pessoas, que abusem das luvas e cachecóis como se não houvesse ama-nhã. Mas só isso é suficiente? NÃO! Claro que não. Luvas, casacões, toucas, cachecóis irão amenizar sim o frio, mas são necessárias peças sobrepostas. Como assim? Blusas quentinhas ou blusa térmica para ser a primeira peça, de-pois um moletom ou cardigan ou blusão mais grosso e por ultimo um casaco mais encorpado. Outras opções também para enfrentar o frio de Buenos Aires, são as meias calças mais grossas ou térmicas por baixo de uma calça qualquer,

vestidos de lã, jaqueta de couro e botas. Lem-brando sempre que peças básicas, neutras, com cores e texturas versáteis, vão colaborar para um look mais elegante e sofisticado, que é a cara do perfil argentino.

Como reconhecer um brasileiro na capital por-tenha? Durante a experiência vivida em Bue-nos Aires foi possível perceber que as pessoas, em especial os brasileiros que residem lá, reco-nheciam com muita facilidade a nossa nacio-nalidade. Surgiam comentarios do tipo: “São Brasileiros? Estão a passeio ou morando?”; “São meus conterrâneos”. Dessa forma, desper-tando a nossa curiosidade, surgiu a seguinte pergunta: Como eles nos reconhece? Será que a resposta está nas roupas, nos gestos ou no fí-sico? O REVERSO conversou com algumas pessoas para descobrir as possíveis “caracterís-ticas” de outros brasileiro que estão a passeio na cidade portenha e por incrível que pareça fomos surpreendidos na resposta. Somos reconhecidos por nos vestir de maneira colorida. Combinação de cores fortes, como amarelo com preto. Claro que é possível encontrar essa composicao em Buenos Aires, mas é bem provável que haja algum tecido de cor neutra jogado por cima da roupa, deixando o look mais suave. Outra explicação para o fá-cil reconhecimento foi o uso de luvas e gorros, acessórios incomuns para os argentinos. Os ar-gentinos não utilizam luvas ou toucas no dia a dia, pois já estão acostumadas com o frio e esses podem incomodar diante da quantidade de peças que eles são obrigados a vestir diaria-mente, principalmente no inverno.

*Enviada especial do Reverso em Buenos Aires. E-mail: [email protected]

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Palco das ArtesQuem trafega pelas ruas da capital

Argentina é convidado a parti-cipar de um espetáculo de sons,

cores e movimentos. A rua é o palco de gran-des artistas, e em um desses entrelaçamentos surge a expressão musical de René Santana, um brasileiro de 32 anos que viaja como pa-lhaço e músico, e busca sensibilizar quem o ouve se apresentando. Nascido no estado de Minas Gerais, Brasil, decidiu ser mochileiro e viver da arte há 12 anos. Viajou pelo Brasil, Uruguai, Chi-le, mas se apaixonou pela Argentina, e lá re-side há mais de três anos. René só toca mú-sicas brasileiras, e o encontramos ao som de Quem de Nós Dois1.

Ele falou que o fascínio pela Argenti-na acontece porque as pessoas “param para lhe ouvir, lhe respeitam e lhe incentivam”, diferente do Brasil, onde “o artista de rua é pouco valorizado e geralmente está associa-do estereotipicamente a maconheiro e dro-gado: lhe ignoram, chamam de doido”. Este é o motivo primordial pelo qual René prefe-re outros lugares, a estar no Brasil. O art. 5º, IX, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, es-tipula que a expressão da atividade intelec-tual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença, é livre. Porém não há lei que regulamenta a apresentação de artistas de rua no território nacional, exceto por decretos municipais, de cidades como São Paulo e Curitiba, que

certificam e restringem as apresenta-ções culturais de artistas de rua em pra-ças, parques e vias públicas. Locais estes, onde os artistas podem trabalhar até as 22h, quando não são obrigados a se ca-dastrarem em subprefeituras para traba-lharem e venderem CDs, DVDs, camise-tas e outros produtos. Muitos artistas sofrem com a re-pressão da prática de sua arte nas ruas e espaços públicos, assim como René já sofreu, seja por parte de seguranças, po-liciais, guardas, ou até de outros artistas (que se consideram donos de determi-nados espaços). Porém, mesmo enfren-tando muitas restrições e falta de aparato legal, a arte continua sendo difundida pelas intervenções de rua. “Aqui, [Argentina] em situações em que foi necessário a polícia interferir, ela militou a meu favor. Teve um episó-dio que aconteceu quando eu tocava em frente ao banco e queriam que saísse, po-rém a polícia disse que da porta pra fora era ela quem mandava, e pude continuar a tocar por toda a noite”, nos conta René. O músico não gosta de acordar cedo e cumprir horários; escolheu uma vida simples, mas, segundo ele, optou por viver bem: “Moro em bairro periféri-co, posso ganhar de $30 a $400 pesos por noite, depende muito, só que aqui não há censura”, sorriu. As efêmeras apresentações vi-venciadas se tornam belas agraciásseis aos passantes, e quando o artista passa o chapéu para recolher contribuições, há uma troca de arte e sobrevivência. Quan-do a música acaba, espera-se os aplausos, como em todo grande fim de show.1. Música Popular Brasileira, composta por Gean Luca Grignani e Massima Luca, que alcançou sucesso na ver-são de Ana Carolina e Dudu Falcão, em 2001, no álbum da cantora Ana Carolina: Ana Rita Joana Iracema e Ca-rolina.

Aqui, em situa-ções em que foi

necessário a polícia interferir, ela

militou a meu favor ”“

Natalia Dourado*

Em maio de 2015 o legislativo da Província de Buenos Aires aprovou uma lei qual obriga todos os hos-pitais públicos, com serviço de pediatria, a integrarem palhaços à suas equipes de saude, afim de hu-

manizar o tratamento de doenças e melhorar o bem-estar dos pacientes. Para se trabalhar com ri-soterapia, o especialista deve ser atriz ou ator, e deve passar por uma preparação específica.

*Enviada especial do Reverso em Buenos Aires. E-mail: [email protected]

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DiagramaçãoLidio Gabriel

Natalia Dourado