reverso 79

16
Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Cachoeira - BA EDIÇÃO 79 www.ufrb.edu.br/reverso Abril |2014 Cidades do recôncavo adotam “Big Brother” Carroceiro: profissão que ficou no passado Trânsito urbano é uma das dificuldades. Carroças estão desaparecendo aos poucos Expressão do livro do escritor inglês George Orwell tornou-se popular e ganha força nacional no combate a violência UM JORNAL DE OPINIÃO: De olho na Copa de 2014: registros de uma cidadã cruzalmense DE PAI PARA FILHO Filho do dono da rádio poste Franco Publicidade fala sobre sua satisfação em trabalhar no primeiro sistema de comunicação popular instalado nas ruas de Cachoeira. Ele fala sobre o principio que segue para entender a população e quando o assunto é futebol, polit- ica ou religião, prefere não dar opiniões CIDADE P5 Cachoeiranos falam sobre “rolezinhos” P15 P3 P4 Rotary Clube: situação precária Todos os proje- tos tiveram que ser interrompi- dos, entre eles seria o Agulhas e linhas, que desenvolve em parceria com o Sebrae P7 Saiba o que muda com o marco civil da internet P16 Professores, alunos e familiares trabalham para que a associação não deixe de cumprir o papel de escola iNVESTIMENTOS NA APAE P12 P6 DEFASAGEM DE SALÁRIO PREJUDICA TRABALHADORES P2 Distribuição Gratuita FALA POVO

Upload: rachel-neuberger

Post on 08-Apr-2016

246 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Reverso 79

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Cachoeira - BAEDIÇÃO 79

www.ufrb.edu.br/reverso Abril |2014

Cidades do recôncavo adotam “Big Brother”

Carroceiro: profissão que ficou no passado

Trânsito urbano é uma das dificuldades. Carroças estão desaparecendo aos poucos

Expressão do livro do escritor inglês George Orwell tornou-se popular e ganha força nacional no combate a violência

UM JORNAL DE OPINIÃO: De olho na Copa de 2014: registros de uma cidadã cruzalmense

DE PAI PARA FILHOFilho do dono da rádio poste Franco Publicidade fala sobre sua satisfação em trabalhar no primeiro sistema de comunicação popular instalado nas ruas de Cachoeira. Ele fala sobre o principio que segue para entender a população e quando o assunto é futebol, polit-ica ou religião, prefere não dar opiniões

CIDADE P5

Cachoeiranos falam sobre “rolezinhos” P15

P3

P4

Rotary Clube: situação precáriaTodos os proje-tos tiveram que ser interrompi-dos, entre eles seria o Agulhas e linhas, que desenvolve em parceria com o Sebrae P7

Saiba o que muda com o marco civil da internet P16

Professores, alunos e familiares trabalham para que a associação não deixe de cumprir o papel de escola

iNVESTIMENTOS NA APAE

P12

P6

DEFASAGEM DE SALÁRIO PREJUDICA TRABALHADORES

P2

Distribuição Gratuita

FALA POVO

Page 2: Reverso 79

IneditorialDe olho na Copa de 2014: registros de uma cidadã cruzalmense

Clécia Junqueira

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo

Cachoeira - BA | Janeiro/2014

Reitor da UFRBProf. Dr. aulo Gabriel S. Nacif

Diretora do CAHLProfa. Dra.Georgina Gonçalves

Coordenação EditorialProf. Dr.Robério Marcelo RibeiroProf. Dr. José Péricles Diniz

EditorProf. Dr. J. Péricles Diniz

Editoração GráficaProf. Dr. J. Péricles DinizIvisson CostaValério Amós

www.ufrb.edu.br/reverso

/reverso

Acesse o Reverso Online

F altam poucos meses para o início da Copa do Mun-do de 2014. Tão lon-gos quanto têm sido os meses de preparação são os desdobramentos soci-

ais e políticos associados, direta ou in-diretamente, ao espetáculo esportivo. Em âmbito externo, temos as pressões da FIFA para que os prazos das obras sejam respeitados e, em âmbito local e nacional, uma diversidade de discussões que podem ser divididas, de maneira geral, em dois grupos: 1) Composto pelo Estado e pelos brasileiros que sinali-zam para o chavão “vai ter copa”; 2) Composto por outros brasileiros mais resistentes que advogam uma politi-ca mais radical do “não vai ter copa”. Após acompanhar os vários debates na mídia, nas redes sociais e na universidade, confesso que me sinto inclinada a obser-var os sentidos mais democráticos por trás do “não vai ter copa”. Essa negatória, antes de ser tomada ou confundida com mera baderna ou protesto, reflete movi-mentos que denunciam o caráter exclu-dente e segregador do Estado brasileiro, apontando para as fragilidades e perigos por trás da retórica positiva da copa.

Convém observar que não estamos querendo desmerecer os possíveis efeitos positivos do mega evento mundial. O que parece urgente é reconhecer que os des-dobramentos assimétricos dessa conjun-tura esportiva fortaleceram problemas antigos de violência contra as populações desviantes e subalternas. Por óbvio, es-sas classes estão bem longe do que Bau-man chamou de “bons consumidores”.

Não bastasse a deficiência em termos de utilidade econômica, o Estado brasileiro, investido de práticas sutis tais como a internação compulsória de usuários de crack, também postula como outrora uma docilidade política. Trata-se de do-cilizar o subalterno ou o errante quan-do possível for e, quando não, fazê-lo desaparecer das ruas e confiná-los aos currais e laboratórios especializados no combate à diferença – social, étnica, sexual etc. Estamos, nesse momento, chamando atenção para a violência das práticas de higienização social que vêm

ocorrendo nos grandes centros. Violên-cia essa que nem sempre é vista como tal. Ao observar conversas de pessoas mais experientes aqui no interior da Bahia, vejo que muito se concorda com esse tipo de limpeza social. Nos extrem-os, isso parece ensinar que muita gente no Brasil resiste ao processo democráti-co. Soma-se a esse ambiente de negação do outro, a grande modernização dos estádios. Torná-los mais luxuosos e caros é também uma forma de tirá-los do convívio e experimento de alguns. O que acarreta, segundo grandes intelec-tuais, profundos problemas políticos.

Convém observar que não estamos querendo desmerecer os possíveis efeitos positivos do mega evento mundial

ESTUDANTE DE JORNALISMO

Page 3: Reverso 79

CIDADE

Carroceiro é uma profissãoem extinção em Cachoeira

Valério Amós

Trabalhar como carroceiro em Cachoei-ra já foi algo que gerou boa renda, em uma época em que os animais eram uma das prin-cipais forças de trabalho e as carroças faziam o transporte, principalmente de mercadorias, de um lado para o outro, de uma cidade a outra. Essa profissão sofreu com os avanços da tecnologia e vê cada vez mais próximo o seu fim. Mesmo o preço sendo 25% em média mais barato, a carroça perdeu espaço no merca-do nesses últimos anos. A concorrência é feita pela grande quantidade de veículos de pequeno porte ou adaptados, que prestam os mesmos serviços que a carroça. São os chamados carretos. Por não ser uma atividade regulamenta-da e não possuir nenhuma fiscalização, novos entrantes nesse ramo é muito comum, o que aumenta a disputa pelo mercado. Mercado.Antônio Conceição, que trabalha com carreto há 41 anos, contou que quan-do começou haviam apenas dois e agora em menos de três anos já são cinco. Ele também reclamou da concorrência. “Essa é a maior dificuldade”, afirmou.

Ao contrário desse crescimento no núme-ro de carretos, as carroças estão desapare-cendo aos poucos. Quando Osvaldo Reis, 53 anos, ingressou nessa atividade há 30 anos existiam oito carroças, hoje restam apenas três. Segundo Osvaldo, eles perderam para os seus concorrentes “mais ou menos umas dez viagens ao dia”, o que representa quase 70% de queda. Quem ainda preserva e depende desse oficío sobrevive com muita dificuldade, em contraste ao veloz crescimento dos carretos. Como é o caso de Antônio Batista, de 47 anos, que também é carroceiro há 20. Ele

contou que, como os ganhos são poucos, “tem dia que dá e tem dia que não dá”. Ele faz serviços como mototaxi para implemen-tar a renda. Batista disse que muitos dos seus colegas já morreram, outros mudaram de atividade e que, com essa dificuldade de mercado, “vir trabalhar e não fazer nada, essa profissão vai acabar”.

Quem depende desse oficio sobrevive com muita dificuldade

3

Quantidade de carroças na cidade é pouca

Foto: Ivisson Costa

Nos últimos anos a carroça perdeu espaço no mercado. A concorrência é a grande quantidade de veículos na cidade

Page 4: Reverso 79

Cidades do recôncavo adotam “Big Brother”para prevenir criminalidade

Karlos Vynicius

Câmeras de vigilância estão sendo insta-ladas no centro de Cachoeira e em locais com maior índice de criminalidade, vitsando o combate à violência na cidade, como tam-bém garantir a segurança tanto dos muníci-pes quanto dos visitantes.  A iniciativa é uma  parceria  da prefeitura  com a Polícia Militar. De acordo com Mamed Dayube, secretário de Administração e Planejamento de Cachoeira, a vigilância através de câmeras de segurança é atualmente o método mais efi-caz de combate ao crime. “Com as câmeras, nós temos o controle de tudo o que se passa em boa parte da cidade e tudo isso fica regis-trado e gravado”, afirmou. Segundo ele,  as câmeras  previnem pos-síveis roubos, arrombamentos e assaltos, dev-ido à  incerteza dos criminosos quanto à fil-magem. “Já aconteceu de sujeitos, por não saberem que estavam sendo filmados, serem flagrados em ação a partir das câmeras”, disse o secretário.

Bons olhos. O motorista Edson dos San-tos vê com bons olhos a vigilância eletrônica em Cachoeira e não teme a perda de privaci-dade. “Eu acho viável. Para mim não há com que se preocupar, se é para o bem do mu-nicípio, eu concordo. Acho inclusive que já

deveria ter sido implantada há muito tempo, devido aos crimes que têm acontecido na ci-dade”, afirmou. Outros municípios da Bahia também ader-iram ao Big Brother. Em Amargosa, a 114 km de Cachoeira, devido aos diversos assaltos ocorridos e que mudaram os hábitos da pop-ulação, a Associação Comercial decidiu im-plantar o monitoramento em todo o centro da cidade. A amargosense Dinalva Teles, de 54 anos, relatou a tranquilidade que era o município há cerca de 20 anos e a mudança que a violên-cia causou na cidade. “Antes saíamos à noite despreocupados, as casas possuíam muros baixos e não se tinha toda essa inquietação com relação à criminalidade. Hoje, a cidade é quase um deserto à noite, são poucas as pessoas que saem e em muitas casas a gente só vê grades e cerca elétrica”, desabafou.

Estatística. Segundo pesquisa feita pela Confederação Nacional da Industria (CNI), divulgada no início de fevereiro, a violência é a segunda maior preocupação da população do interior do país, estando atrás apenas da saúde. A região Nordeste tem o maior per-centual de insatisfeitos com a falta de segu-rança: cerca de 47% da população temem a criminalidade.

Curiosidade. Muitos não sabem, mas a expressão Big Brother é muito anterior ao programa televisivo. Na verdade, ela surgiu no livro 1984 do escritor inglês George Or-well, escrito no final da década de 1940. Na obra, Orwell descreve uma sociedade ampla-mente controlada e vigiada pelo Estado, daí a relação feita pela TV em que dezenas de pessoas são vigiadas pelas câmeras. Outra expressão famosa do livro é Big Brother is watching you! (O Grande Irmão está obser-vando você!). Hoje em dia, a ficção tornou-se realidade pelo método de vigilância adotado em inúmeras cidades do país.

Cachoeira - BA | Abril/2014CIDADE 4|

Expressão que surgiu no livro 1984 do escritor inglês George Orwell tornou-se popular e ganha força nacional

Câmera instalada em local de grande circulação de pessoas

Foto: Karlos Vynicius

A organização conta com o apoio de 15 funcionários, todos remunerados, dando suporte aos profissionais das diversas áreas.

Page 5: Reverso 79

Ivisson Costa

Rádio poste mantêm população informada

Como toda rádio poste, a Franco Publi-cidade nasceu com o objetivo de conversar com a comunidade. Um dos idealizadores, o radialista Gilberto Franco, queria passar in-formações úteis e importantes, locais e nacio-nais, com um pouco de entretenimento, além de músicas e entrevistas. Hoje, o filho do ra-dialista, Fábio Franco, é o locutor e também operador de áudio e apresentador. Quando Gilberto Franco assumiu o siste-ma de comunicação popular instalado nas ruas de Cachoeira em 1992, possuía dez caix-as de alto falantes. Mas ainda assim enfren-tava problemas técnicos. Só depois começou a investir em equipamentos.

Carreira. Fábio lembra que iniciou sua car-reira de locutor após uma visita a uma rá-dio da região. “Fui com um amigo e gostei daquele mundo. Hoje, ela faz parte da minha vida”, diz. Para ele, compreender a realidade da comunidade é importante, um princípio que segue até hoje. Para ter sucesso, Fábio diz que é preci-so respeitar os gostos musicais e, quando o assunto é futebol, política ou religião, pref-ere não dar opiniões. Na rádio são transmit-idas informações da comunidade, repertório musical variado e alguns recados. A sede fica perto da feira livre e utiliza uma mesa de som com seis canais e um com-

putador. A emissora é sustentada por meio de anúncios da região. Moradores de Cachoeira ouvem diaria-mente a Franco Publicidade. Para Nélio dos Santos, de 67 anos, do Distrito São Francisco do Paraguaçu, que ouve a rádio sempre que está em Cachoeira, ela cumpre bem o papel de informar. Ele salientou que ouve a rádio poste enquanto espera o ônibus para voltar para casa.

5

a emissora é sustentada por meio de anúncios da região

Fábio Franco no estúdio da Franco Publicidade

Foto: Natália Verena

23 anos de comunicação popular em Cachoeira. A sede fica perto da feira livre

Page 6: Reverso 79

APAE investe em inclusão e educação social

Marlon Campos

A Associação de Pais e Amigos dos Excep-cionais de Cachoeira (APAE) atende hoje a cerca de 102 portadores de deficiência cadas-trados, diariamente, nos turnos matutino e vespertino. Para tanto, conta com o apoio de 15 funcionários, todos remunerados, e uma equipe técnica dando suporte aos profission-ais das diversas áreas. Mais do que desenvolver a leitura e a escri-ta, esses alunos com deficiência são orienta-dos no sentido de que seu papel é importante na sociedade, que são capazes e que podem interagir com o outro. Os trabalhos da APAE, segundo os seus responsáveis, con-tam com voluntários que realizam atividades

pedagógicas, culturais e sociais com cerca de 20 crianças e jovens portadores de deficiência já então cadastrados na instituição.

Espaço. Com o tempo o espaço onde fun-cionava a instituição ficou ineficiente e o setor público cedeu um prédio escolar com estruturas físicas mais adequada. Para a real-ização dos trabalhos diários com as crianças, os professores contavam apenas com mate-rial didático cedidos pelas escolas, alguns móveis encontrados no local e a boa vontade dos profissionais. Neste sentido, conforme os responsáveis, voluntários, professores, alunos e familiares

trabalham para que a associação não deixe de cumprir o papel de escola. Segundo eles, mesmo que a proposta de lei do Ministério da Educação implique que os alunos com deficiência sejam matriculados em ensino regular, a APAE luta para ter uma base de trabalho voltada para o desenvolvimento da autonomia de cada pessoa atendida. Iniciativa. A Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Cachoeira (APAE) foi fundada em 16 de maio de 1997, mas a ini-ciativa de sua criação se deu em dezembro de 1996, durante encontro no Auditório do Colégio Estadual da cidade que contou com a presença do psicólogo Raimundo Oliveira; da presidente da APAE de Muritiba, Sued Cavalcante; e da professora Gicélia Sodré, na época secretária municipal de Educação. Desde então, mais de 200 crianças e adoles-centes passaram pela unidade.

Cachoeira - BA | Abril/2014CIDADE 6|

a APAE luta para ter uma base de trabalho voltada para o desenvolvimento da autonomia de cada pessoa atendida

Apae de Cachoeira foi fundada em 1996

Foto divulgação

A organização conta com 15 funcionários remunerados, dando suporte a profissionais das diversas áreas

Page 7: Reverso 79

Rotary Clube de Cachoeiracontinua sem sede própria

Natália Lima

Devido ao desmoronamento de um prédio ao lado, que terminou atingindo a sua sede, o Rotary Clube de Cachoeira foi interdita-do pela defesa civíl do município. Com isso, todos os seus projetos tiveram que ser inter-rompidos, entre eles seria o Agulhas e linhas, que desenvolve em parceria com o Sebrae. Segundo seu atual presidente, Everaldo Rodrigues Dayube, o Rotary Clube já fez várias ações sociais em Cachoeira, como do-ações de cestas básicas e remédios em bairros periféricos, como também cederam um es-

paço para o funcionamento da APAE, mas agora encontra-se nesta situação.

Reuniões. O presidente do clube disse que irá entrar com uma causa na Justiça para que os donos do prédio que atingiu a sede do clube tenham que ressarcir pelos prejuízos causados. Até lá, as reuniões entre os sócios continuarão acontecendo em restaurazntes ou na sala em que funcionava a APAE. Os encontros acontecem todas as quintas de 12 h às 14 h..

O Rotary Clube de Cachoeira e São Fe-lix, fundado em 17 de abril de 1940, é uma organização formada por líderes de negócios e profissionais que prestam serviços hu-manitários. Define-se como um clube de serviços à comunidade local e mundial, sem fins lucrativos ou nenhum envolvimento político e não recebe qualquer tipo de aju-da do governo. São mantidos através de do-ações dos seus sócios.

Ambiente encontra-se totalmente acabado

7

Foto: Jessyka Evanesa

Todos os projetos tiveram que ser interrompidos, entre eles o Agulhas e linhas em parceria com o Sebrae

Page 8: Reverso 79

FALAPOVO

Cachoeiranosfalam sobre “rolezinhos”

Udinaldo Júnior

O shopping center como reduto de consumo da classe média brasileira foi recentemente abalado pelo fenômeno do “rolezinho”. Quando jovens da periferia, em sua maioria negros, adentraram um ambiente que até então era reservado para gente rica e branca, até a polícia foi acionada. O debate em torno desses passeios se acirraram no último mês, levantando questões sobre seus entornos e sobre a ação policial. Fomos à rua, saber dos cachoeiranos o que eles pensam sobre os “rolezinhos”.

Cachoeira - BA | Abril/2014CIDADE 8|

31 anos, dona de casaCarla dos Anos

“Eu acho que isso é racismo, por sermos de uma classe mais baixa. Até aqui em Cachoe-ira, acontece isso. Entramos em lugares com pessoas mais endinheiradas e eles fazem biquinho”.

25 anos, AtendenteDamiama

“Eu sou contra, né? Porque isso gera de certa forma um vandalismo. Acho que a polícia deve agir, sim, porque quem sofre com isso somos nós.”

Page 9: Reverso 79

52 anos, aposentadaAriadne

9

“Eu só acho que é vandalismo, os jovens hoje em dia acham que tudo é permitido. Tudo isso tem haver com educação, os pais que permitem demais.”

“Creio que é uma maneira deles se manifes-tarem. Só que há um mal entendido, já que as pessoas acham que eles vão pra lá roubar, saquear. E não é isso.”

50 anos, artesãLindinalva

19 anos, estudanteIsrael

“É só uma mudança de lugar, saindo da perife-ria pros grandes centros comerciais. De alguma forma assusta, por conta da quantidade de gente.”

Rolezinho (diminutivo de rolê ou rolé, gíria brasile-ira, significa “fazer um pequeno passeio” ou “dar uma volta”, é um neologismo para definir um tipo de flash mob ou coordenação de encontros simultâ-neos de centenas de pessoas em locais como praças, parques públicos e shopping centers. Os encontros são marcados pela internet, quase sempre por meio de redes sociais como o Facebook

WIKIPÉDIA RESPONDE

O QUE É ROLEZINHO?

Page 10: Reverso 79

Quem passa distraído pela Rua Santo Antonio, na cidade de Cruz das Almas, pode não não notar a variedade comercial presente entre as residências. Nos último anos, a busca por uma renda extra levaram os cruzalmenses a montar um comércio em suas próprias casas, alimentando o merca-do informal. A diversidade comercial presente na rua

é ampla e os moradores se arriscam em in-vestimentos que parecem dar certo, como afirmou Vera Lúcia, 45 anos, ex-dona de casa e agora proprietária de uma pequena feira na garagem de casa. “Um bairro tão bom como esse não tem como não colocar comércio. Daí comecei a colocar frutas pra vender e deu certo, todo mundo compra”, contou.

Apesar da curta distância entre a Rua Santo Antonio e o centro da cidade, cerca de 15 minutos andando, os comerciantes estão satisfeitos com a procura pelos seus produtos, além da renda extra que permite cobrir as despesas básicas. Dona de uma boutique, Maria Lúcia, 56 anos, revelou que tem uma clientela de pelo menos 300 pessoas e que o lucro da sua lojinha cobre

ECONOMIA

Comércio cresce entre casas em Cruz das Almas

Fernanda Lemos

Cachoeira - BA | Abril/2014ECONOMIA 10|

Comerciantes estão satisfeitos com a procura pelos seus produtos

Inserir legenda

Fotos: Gabi Nascimento

Page 11: Reverso 79

‘‘as despesas essenciais. De acordo com a economista baiana Thaiz Braga, esse tipo de comércio informal sur-giu como consequência da instabilidade da economia brasileira, que agravou os prob-lemas estruturais no mercado de trabalho, o que contribuiu para o aumento do de-semprego. Logo, o termo informal é facil-mente ligado a subemprego, porém esse setor gera boas oportunidades e renda. O sapateiro conhecido como Seu Lio, 71 anos, abriu seu comércio em um pequeno quarto de casa, onde guarda aproximada-mente 300 pares de sapato. Ele concorda que é possível gerar lucro com o comércio informal. “Ser sapateiro é uma profissão ingrata, o que a gente faz com as mãos o pessoal destrói com os pés, mas o que eu ganho aqui auxilia nas despesas de casa”, declarou. Privilégios. Com uma rua de comércio

tão variado, os moradores se disseram sat-isfeitos com o fato de não precisarem se de-slocar até o centro. Entre feirinhas, salões de beleza, minimercados, lojas de roupa, lava rápido, loja de materiais para con-strução e até uma bomboniere, os mora-dores da Santo Antônio se consideram privilegiados. “É bom porque facilita, precisou, é só ir ali do lado que você já tem. Além dos espaços de beleza, que você pode marcar o horário e esperar na sua própria casa, não precisa ficar o dia todo esperando. Tudo perto de casa é bom”, afirmou Marlene Souza, 52 anos. A diversão noturna na rua fica por conta dos barzinhos, que oferecem típicos pratos baianos, como o acarajé ou churrasquinho de gato, além de ser um espaço agradável. “É maravilhoso, um lugar que você vai, entra e sai sem problemas!”, contou Lu-celia Trindade, 35 anos. Edson Batista, 58,

dono de um dos bares declarou que nunca há brigas ou reclamações dos vizinhos, “a vizinhança é maravilhosa”, garantiu.

Um bairro tão bom como esse não tem como não colocar comércio.Vera Lúcia,sobre a localização do bairo Santo Antônio

11

Inserir legenda

Page 12: Reverso 79

Em primeiro de janeiro deste ano, o salário mínimo passou por reajuste de 6,78% e ag-ora o trabalhador brasileiro ganhará R$ 724,00. Apesar do aumento de R$ 46,00 na receita no trabalhador, a quantia ainda é in-suficiente para sanar os gastos. Em balanço dos últimos 12 meses, o Departamento In-tersindical de Estatística e Estudos Socioeco-nômicos (Dieese) divulgou dados que apon-taram defasagem no salário. O valor devido para que se cubram as necessidades mensais

Gabi Nascimento

seria, na realidade, R$ 2.765,44 (ver tabela 1), cerca de quatro vezes o valor atual. Os dados divulgados pelo Dieese mostram que, em Salvador, o baiano trabalha cerca de 86h02m para conseguir garantir sua ali-mentação básica, que inclui itens como arroz, feijão, carne, leite, pão e café (ver tabela 2). Em São Paulo, uma das capitais pesquisadas, esse tempo de trabalho chega a 106h11m, en-quanto a média total da jornada de trabalho da maioria da população por mês é de 160h.

A pesquisa mostrou que em todas as capi-tais apresentadas, o brasileiro gasta mais de 50% do seu tempo de trabalho para comprar comida.

Alternativa. Em Salvador, o valor da cesta no último mês foi de R$ 265,13, embora não contemple todos os alimentos necessários para uma boa alimentação, apenas garantin-do produtos essenciais para a subsistência. Em muitas capitais, como no Rio de Janeiro,

Cachoeira - BA | Abril/2014ECONOMIA 12|

Salário mínimo aumentamas ainda está defasado

Acumular contas não faz bem. Traz dor de cabeça

Foto: Fernanda Lemos

Valor não contempla os alimentos necessários para uma boa alimentação, apenas garantindo produtos essenciais

Page 13: Reverso 79

Manaus e Porto Alegre, o preço ultrapassou R$ 300,00 no mesmo mês de dezembro. A empregada doméstica Léa Raquel afir-mou que é muito difícil administrar as despe-sas de casa com apenas um salário mínimo. “Para pagar aluguel e comprar comida só com o dinheiro que a gente ganha fica com-plicado. Está tudo caro, o feijão e a farinha estão com o preço lá em cima. Ou deixam-os de comer ou diminuímos a quantidade”, disse. Ela mora em Cruz das Almas e disse que o valor da cesta lá é mais barato que na capital, estimada em R$ 180,00.

Efeito cascata. Marlene Lemos, auxiliar de escritório, também moradora de Cruz das Almas, contou que mesmo com o aumento, o salário continua pouco “O salário é muito pouco para o custo de vida, cesta básica, rou-pa e escola. O aumento do salário só dificulta porque se aumentar 10% do salário, as coisas sobem 20% a 25%, então as coisas ficam mais complicadas ainda”, afirmou. Marcos Augusto, diretor executivo de sindicato patronal de Cruz das Almas, afir-mou que para quem é consultor empresarial o aumento do salário não é feito de forma correta “Para quem é consultor, o salário não é ajustado pelo INPC, então esse aumento não é repassado. Todos os encargos que vem em cima da cesta básica, da conta de energia, de água e de telefone, a gente termina pa-gando porque houve um aumento do salário mínimo. É o efeito cascata do salário mínimo, se você aumenta o salário, aumenta outras coisas também, inclusive o INSS”, concluiu.

13

Salário mínimo nominal e salário mínimo necessário em 2013Dezembro R$ 678,00 R$ 2.748,22Novembro R$ 678,00 R$ 2.761,58Outubro R$ 678,00 R$ 2.729,24Setembro R$ 678,00 R$ 2.621,70Agosto R$ 678,00 R$ 2.685,47Julho R$ 678,00 R$ 2.750,83Junho R$ 678,00 R$ 2.860,21Maio R$ 678,00 R$ 2.873,56Abril R$ 678,00 R$ 2.892,47Março R$ 678,00 R$ 2.824,92Fevereiro R$ 678,00 R$ 2.743,69Janeiro R$ 678,00 R$ 2.674,88

Fonte: DIEESE

Variação da cesta básica em algumas capitas - Dezembro e ano 2013

Fonte: DIEESE

A pesquisa mostrou que em todas as 18 capitais, o brasileiro gasta mais de 50% do seu tempo de trabalho para comprar comida

De olho no seu bolso

Cidades Tempo de trabalho

Valor da cesta, em R$

Salvador 86h02m 265,13São Paulo 106h11m 327,24Rio de Janeiro 102h23m 315,52Manaus 99h51m 307,71Porto Alegre 106h49m 329,18Goiânia 89h08m 274,67Brasilia 94h01m 289,72

Page 14: Reverso 79

Juliana Leite

O ano já começou e a correria para as compras dos materiais escolares também. A lista de material escolar é mais uma das des-pesas no orçamento familiar que anualmente sofre alterações, tanto nos preços, como na quantidade dos produtos. Por isso, os pais devem ficar atentos aos itens da lista para evitar exageros. Segundo o economista e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana

Antônio Rosevaldo Ferreira, “as pesquisas de preço terão que ser feitas. O consumidor pode gastar um pouco a sola dos sapatos, mas deve, sim, pesquisar os preços. Afinal, o valor dos materiais em todas as cidades no Brasil encontra-se com disparidades de até 100%, caso da borracha. Os cadernos tiveram seus preços alterados em 7%, por exemplo”. De acordo com o comerciante cachoeirano Raimundo Dayube, “o começo de ano letivo é o período em que a minha loja mais vende artigos de materiais escolares”.

Planejar para economizar. O admin-istrador Hernandes Rocha, em virtude do seu trabalho, busca por economia de tempo e comodidade. “Opto sempre por um local onde posso encontrar todos os materiais da lista, pois a variação de preço não é muito grande”, disse. A população precisa ficar atenta ao que pode e o que não pode ser solicitado pelas escolas. Existem alguns itens de uso coletivo, como pratos ou copos descartáveis, materi-ais de limpeza, papel sulfite, enfim, produtos que são da responsabilidade escolar e não a dos pais. A lei 12.886/2013, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, proíbe a exigên-cia desses produtos. As compras de materiais escolares são re-sponsabilidades que tendem a ser renovada todos os anos e planejar com antecedência é a sugestão oferecida pelo economista. “Sem-pre em planejamento é bom antecipar as de-mandas, não somente em material escolar, mas falando destes, comprar com antecedên-cia itens que certamente serão demandados é de bom alvitre”, declarou Rosevaldo. Uma das maneiras eficientes de economizar que a dona de casa Fernanda Lopes encontrou foi deixar a filha em casa. “Se eu levar minha filha para me acompanhar na hora das com-pras, a conta sai mais cara”, afirmou. O Procon, órgão de proteção e defesa do consumidor, alertou a população, em seu site, que é importante verificar a qualidade dos produtos. Segundo professor Rosevaldo, “nem sem-pre o sofisticado ou o mais barato é o mais indicado, é importante ter responsabilidade ambiental, principalmente, buscar produtos de preferência pessoal e de boa procedência”, concluiu.

Cachoeira - BA | Abril/2014ECONOMIA 14|

Pais se preparam para compras de materiais escolar

Levar filhos para comprar o material escolar pode sair mais caro

Os pais devem ficar atentos aos itens da lista para evitar exageros

Cachoeira - BA | Abril/2014ECONOMIA 14|

A cada ano que passa os preços sofrem alterações

Foto: Udinaldo Júnior

Page 15: Reverso 79

15

Page 16: Reverso 79

Você Sabia?

A necessidade de um marco regulatório contrapõe-se à tendência de se estabelecerem restrições, condenações ou proibições relativas ao uso da internet. O marco a ser proposto tem o propósito de determinar de forma clara direitos e responsabilidades relativas à utilização dos meios digitais. O foco, portanto, é o estabelecimen-to de uma legislação que garanta direitos, e não uma norma que restrinja liberdade.

Marco Civil da internet

Valério AmósTexto e Arte

Cachoeira - BA | Abril/2014VOCÊ SABIA 16|