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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Especial Caminhos do Oeste BARREIRAS (BA) / NATIVIDADE (TO) CACHOEIRA - BAHIA | DEZEMBRO - 2012 | EDIÇÃO 62 Foto: Rafaela Barreto

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Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Especial Caminhos do OesteBARREIRAS (BA) / NATIVIDADE (TO)

C A C H O E I R A - B A H I A | D E Z E M B R O - 2 0 1 2 | E D I Ç Ã O 6 2

Foto

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reto

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Centro de Artes Humanidades e Letras (CAHL)Quarteirão Leite Alves, Cachoeira/BA

CEP - 44.300-000 Tel.: (75) 3425-3189

Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo

Acesse o Reverso Online

ReitorPaulo Gabriel Soledad Nacif

Coordenação EditorialJ. Péricles Diniz e Robério

Marcelo

EditoraCelina Pereira

RedatoresCelina Pereira

Lélia Maria SampaioRobério Marcelo

Editoração Gráfi caAline Cavalcante

Celina PereiraLaís Sousa

Mariana SouzaPollyanna Macêdo

Produção de ImagensBárbara RochaCelina Pereira

Laís SousaMariana SouzaMichele BarrosRafaela Barreto

>>EXPEDIENTE<< I N E D I T O R I A L <<>>

Saímos de Cachoeira bem cedinho, às 8h e a nossa primeira parada para necessidades básicas foi em Ita-beraba, numa lanchonete ao meio dia. Na parada os cartazes, fotografi as, climas e historias dos colegas indicavam que já estávamos entrando na região da Chapada Diamantina. A paisagem de fato começou a mudar e foi possível sentir que a gente não estava mais em nosso território - pelo menos não eu. O nosso colega Caiã Pires, que é de Lençóis, se sentiu em casa e nos serviu como um bom guia turístico da região. Foi sugerido que fi zéssemos apenas um lanche e almoçássemos em Mucugezinho, uma localidade mais a frente. Excelente sugestão! Paramos em um pequeno restaurante muito agradável, de comida caseira, onde experimentamos diversos tipos de carnes cozidas e assadas, e como acompanhamento um cozido da folha da palma, novidade para quase todos. De aparência, lembrou um pouco um cortadinho de quiabo. Mas o sabor, não tenho como comparar com nada que já tenha comido na vida. Um sabor realmente diferente Melhor que a comida, só mesmo a vista. Depois de passar por um pequeno caminho em uma trilha de pedras, pudemos contemplar uma quedinha d’água, em uma bela paisagem de pedra com água trasparente e cor de cobre. Aí foi só a festa! Fotos, mais fotos, poses... Acredito que fi camos mais de uma hora no local, mas só pelo visual - no-vidade completa pra mim, posso dizer que foi um tempo ganho, e não perdido. Agora é seguir viagem, que Barreiras nos espera!

E O QUE FAZER PRA PASSAR O TEMPO NO BUSU?

Acredito que, assim como eu, a maioria dos colegas preparou um repertório pra viagem, com os mais diver-sos elementos de diversão e passatempo. Palavras Cruzadas, livros, revistas, música no celular, nos iPads e iPods... Mas sabe o que realmente a galera optou por fazer? DORMIR MUITO!Com pouca gente no ônibus e muito espaço sobrando, as poltonas duplas viraram camas individuais, o cantinho particular de cada um, quase uma cabine inviolável. Com os fones quase o tempo todo enfi ado nos ouvidos, pouca interação rolou no caminho. Isso até uma das colegas interromper nosso sono e decretar que era hora de acordar e convidar todos pra uma roda de violão - um tanto desafi nado, diga-se de passagem – mas, ainda assim, os acordes mal tocados e as letras esquecidas não impediram a diversão e as risadas. Agora, é parar em Ibotirama e resolver com os motoristas se vamos seguir viagem, ou dormir por aqui mesmo... Durante a parada para lanche, descanso e baheiro - ai, banheiro! - em Ibotirama, foi possível sentir um pouco do clima do que é viver na estrada. No banheiro feminino do posto, chuveiros, espaço para banho e troca de roupas compunham o cenário. Mulheres de caminhoneiros reclamavam da difi culdade de viver no asfalto com seus fi lhos pequenos para acompanhar seus maridos na difícil rotina de trabalho sobre rodas. “Estou longe de casa há mais de dois anos. É muito cansativo. Não vejo a hora de voltar pra minha terra!”, contava uma delas enquanto enxugava o seu fi lho, com menos de um ano, para a outra mãe que dava banho nos dois fi lhos também crianças. Enquanto pra nós estudantes, tudo parecia uma grande farra - mesmo as longuíssimas horas de estrada para chegar ao destino - para essas pessoas, o dia-a-dia nas estradas nada mais é do que uma difícil forma de garantir a sobrevi-vência fi nanceira e a união da família.

COMÉRCIO INFORMAL

No posto de Ibotirama, além do comércio ofi cial, encontramos alguns vendedores ambulantes comercializan-do CDs e DVDs piratas. Na tentativa de tornar a viagem mais prazerosa, os colegas resolveram adquirir alguns fi lmes pra passar no caminho da cidade ate Barreiras - que por sinal, parecia não chegar nunca. Para o azar da turma, os fi lmes não funcionaram no aparelho do ônibus. Ainda assim, foi divertido. Os arrochas, sertanejos e musicas bregas soavam alto no ambiente e sempre algum dos colegas dançava ou cantava aquele repertório fazendo graça. Sem fi lme e sem música, o jeito foi seguir viagem, como sempre, em silêncio e no escuro, aproveitando o restinho do per-curso ate Barreiras pra mais um longo cochilo.

D i á r i o d e B o r d o Fui de Viagem, passei em Barreiras...>> Rafaela Barreto

Fotos: Rafaela Barreto

3DEZEMBRO - 2012

Sair das zonas de conforto é uma ação difícil para algu-mas pessoas. Talvez, para a maioria das pessoas. Experi-mentar coisas diferentes e viver situações inusitadas costu-mam desestabilizar essas zonas confortáveis e estremecer bases de julgamento sobre fenômenos ou problemas. Daí a importância de deixar esses espaços seguros, de quan-do em vez: podemos encarar algumas questões por outras perspecivas.Quando estudante, na Faculdade de Comuncação da UFBA, me deparei muitas vezes com essa necessidade de sair mim mesmo e de minhas certezas para lidar com as certezas dos outros. Creio que continua sendo um choque para qualquer estudante de ensino médio o ingresso na universidade pública e o tipo de postura esperada na nova condição (de estudante universitário). Cultivados numa de-terminada prática, sentem-se seguros nela e pensam em uma continuidade dessa prática no espaço acadêmico, mas o “outro” dessa relação, costuma ter hábitos distintos daqueles cultivados no ensino médio. Surge aí uma primei-ra necessidade de sair da zona de conforto, que pode ser bastante traumática ou prazerosa – é um momento de rein-venção de si mesmo, dos próprios valores e crenças.Com o tempo, contudo, aprende-se as “regras” do univer-so acadêmico adentrado e passa-se a compreender a si-tuação em que se inserem. Aquele universo antes descon-fortável torna-se conhecido, aquele professor sensacional torna-se mais um e o hábito e a rotina permitem uma nova situação de controle frente as situações vivenciadas. Esse processo ocorre constantemente, mas penso que ele deve

E x p e r i m e n t a r - s e , s a i r d e s iser, com a mesma constância, combatido, com uma postura mas curiosa, que torne estranha a situação mais banal.Uma postura curiosa como essa pode ser desenvolvida de vários modos: disciplina, estudo ou pela própria natureza do indivíduo (de índole mais questionadora), mas independente de possuir qualquer dessas características, é provavel que um estudante viva tal experiência numa viagem de estudos, seja para um congresso, intercâmbio, atividade de extensão ou pesquisa de campo. Isso porque, nessas ocasiões, algo na rotina da vida acadêmica é quebrado. Há o deslocamen-to para outra cidade, outra instituição, às vezes, para outras culturas. É preciso aprender a portar-se (outra vez) nesse ambiente, lidar com os hábitos dos que ali vivem, entender as ideologias e ou controvérsias que estão colocadas.O estudante de Comunicação Social, penso, tem, nessas ocasiões, possibilidade de exercitar bastante sua capacida-de de interpretação e compreensão dos processos sociais, na medida em que precisará interagir com pessoas que não partilham, necesariamente, os mesmos valores que os seus. Por exemplo, participar do encontro da UNE ou da ENE-COS, implica estar disposto a dialogar e debater com pesso-as com visões de mundo distintas, todas dispostas a tentar convencer o outro de suas próprias ideias. Se o estudante não exercita esse seu “deslocamento de si mesmo” pode ter uma experiência muito incomoda – como um debate em que os interlocutores não se ouuvem. Por outor lado, trata-se de uma oportunidade de ver, em sua concretude, o sentido eti-mológico da palavra comunicação (do latim, communus, que signifi ca “dom comum”), uma vez que a partir de ações mútu-as, os interlocutores tentam se fazer entender.Mas não é apenas essa capacidade, digamos, mais racional que esses deslocamentos possibilitam. Eles permitem tam-bém o choque físico com ambientes diferentes, que muitas vezes, deixam marcas simbólicas no nosso corpo e espírito. Uma experiência de mobilidade acadêmica ou intercâmbio, por exemplo, permitem a vivência de um inverno rigoroso ou de uma língua estrangeira no cotidiano – sensações que não esquecemos quando passamos, se entranham na gente e nos tornam algo um pouco diferente do que havíamos sido.Essas experiências, na minha opinião, contribuem não ape-nas para o estudante ou profi ssional, mas para o ser huma-no ter noção de sua condição de fi nitude e simplicidade. Por mais interessante que seja sua universidade, sua cidade ou sua visão de mundo, ela é somente mais uma das tantas possíveis nesses ambientes pelos quais (gostaríamos de) transitar. Simples assim! Daí a beleza de sair de si, de vez em quando. É a chance de aproveitar intensamente a sin-gularidade de uma experiência.

Foto: Laís Sousa

Jorge Cardoso Filho é docente do Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB

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“A principal característica de um assessor deve ser o dinamismo

para entender as situações”

Yonara Alves

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Jornalismo nas FronteirasE s t u d a n t e s d e j o r n a l i s m o d a U F R B c o n h e c e m a s i n s t a l a ç õ e s d a T V O e s t e e m B a r r e i r a s>> Celina Pereira

DEZEMBRO - 2012

Para os estudantes do curso de jor-nalismo, uma das experiências mais aguardadas durante a vida estudantil é a oportunidade de ter um contato mais próximo com a rotina de sua futura profissão. Os alunos do quinto e sé-timo semestre do curso de Comunica-ção Social da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) na via-gem de estudos “Caminhos do Oeste” fizeram uma visita à sede da TV Oes-te e conheceram suas instalações e o funcionamento da rotina jornalística da empresa. Durante a visita, os alunos foram re-cebidos e guiados diretamente pelo chefe de redação da TV Oeste, Roni-markes Mota. Apesar de não ser jorna-lista de formação, Ronimarkes atua na área a mais de 25 anos e afirmou que mais do que o conhecimento de sala de aula, o essencial para o exercício de sua profissão é ter o sentimento de jornalista bastante apurado. “É preci-so ter muita capacidade de improviso, ter sempre uma carta na manga, pois quando uma pauta não funciona e a matéria não sai, é necessário preen-cher aquele espaço com outra coisa”, contou ele.

REDAÇÃO É no térreo do prédio da TV Oeste que a parte essencial da máquina jornalís-tica da empresa funciona. Ronimarkes explicou que além dos elementos tec-nológicos, que dão suporte e formato à notícia, é a parte de planejamento e idealização que movimentam qualquer produção jornalística.

A sala de redação é o ponto de partida para qualquer matéria, onde todo o seu planejamento é elaborado. Nela acon-tecem as reuniões de pauta que dão

direcionamento à matéria que deve ser executada nas ruas. É ali também que o texto é revisado e editado depois de escrito pelo repórter. Nas palavras do chefe de redação, é na redação que o jornalismo realmente acontece. “Se quer conhecer o jornalismo, olhe para a produção. É lá que as matérias veri-dicamente nascem. Tudo se pensa e se escreve aqui, e só depois é levado para as ilhas de edição e para o estú-dio”. ILHAS DE EDIÇÃO E CEDOC

A estrutura física da TV Oeste conta ainda com três ilhas de edição, uma sala de computação gráfica e o CE-DOC, centro de documentação onde fica arquivado todo material audiovisu-al já produzido pela emissora. Ronima-rkes esclareceu que a maior parte dos arquivos da TV ainda é em fitas VHS, mas que como essa tecnologia tende a desaparecer, em breve o CEDOC passará por um processo completo de digitalização de seus arquivos. A adap-tação aos novos equipamentos tem sido feita de forma gradual. Segundo Ronimarkes, “nesse processo de tran-sição tecnológica, é preciso ter do chip à máquina mais antiga. Mais aqui na TV Oeste, boa parte do equipamento ainda utiliza a fita”.

Na parte de edição dos vídeos, traba-lhar com arquivos digitais exige mais tempo para a finalização dos arquivos nas máquinas. “Embora a fita seja uma tecnologia mais atrasada, ela possui mais agilidade para edição, que é feita em tempo real. Quando você termina de ver, a matéria já está pronta. Não é preciso esperar o processamento do arquivo”, esclareceu Alexandro Rodri-gues, um dos responsáveis pela edi-ção dos vídeos.

SOBRE A TV OESTEInaugurada em 02 de feve-reiro de 1991, a TV Oes-te, afiliada da Rede Bahia de Televisão, é responsá-vel atualmente pela cober-tura noticiosa de 23 mu-nicípios da mesoregião do extremo oeste baiano. Sua sede situa-se em Barrei-ras por ser ela o mais re-levante polo agropecuário da região. A TV Oeste pos-sui ainda escritórios em Luís Eduardo Magalhães e Bom Jesus da Lapa, inau-gurados em 2004, devido à notoriedade dessas cidades no cultivo de grãos e no turismo religioso, respec-tivamente. Com sua amplia-ção e digitalização, a TV Oeste passará a cobrir no total, 40 municípios e lo-calidades da região.

Assessoria de Comunicação (AS-COM), que teve seu primeiro con-curso público em 1996, se tornou Diretoria (DICOM). A atual equipe é composta por 12 membros que se subdividem em jornalistas, pu-blicitário, cerimonialistas, secre-tária, cinegrafistas, fotógrafos. Numa pequena sala localizada na Prefeitura Municipal de Bar-reiras, 4 componentes do quadro revezaram a interrupção da rotina atarefada, por pouco mais de uma hora, para dar atenção às curio-sidades de jovens candidatos a jornalistas, dentre os quais eu es-tava.

Promoção da festa da mãe

Hasteamento de bandeira, prova de ciclismo, competições espor-tiva e premiação de atletas no parque de exposição foi a progra-mação dos 121 anos completos pelo principal centro urbano, po-lítico e econômico do Oeste da Bahia em 2012. A “Cidade Mãe”, como carinhosamente foi apelida-da pela prefeita Jusmari Oliveira, teve interação intensa da equipe de filhos assessores, em espe-cial, para que, por toda a semana de comemoração houvesse inau-gurações de abrigo, creche, colé-gio, sistema de abastecimento de água, barragem, posto de saúde, além de shows gospels, de ban-das locais e finalização com o cantor Fábio Junior.

A cidade desenvolve-se em hospi-talidade, alegria, diversidade cul-tural, tornando-se promissor pólo turístico. Estruturada com dois circuitos, a festa de carnaval rea-lizada na cidade, chega a receber cerca de 50 mil pessoas em cada um dos cinco dias de duração da folia. A diretoria de comunicação de Barreiras está acostumada a trabalhar com planejamos ante-cedentes de grandes eventos, re-ação aos imprevistos e respostas a demanda de interesses da po-pulação.

Papo Assessoria – profissão proativa

“De comentar em ponto de ônibus a publicar o que desconfiam”, afir-ma a respeito do povo qualificado como apaixonado pela política, Yonara Alves, responsável pela imprensa na cidade. Além do rá-dio, o povo tem recorrido bastan-te à internet como meio de falar, cobrar e acompanhar informações locais, fator que faz com que ao passo que o mecanismo ganha força, incentiva maior periodicida-de na atualização e demanda de matérias, postagens nas redes so-ciais e site oficial da cidade, que já não trabalha com jornal impresso.

Noádia Borges, primeira concur-sada da equipe, conta que em geral o trabalho se resume a aju-da de ações e projetos, “a gente tem que estar preparado”. Yonara Alves explica que equipe é gran-de, mas tem atividades intensas sendo difícil reuni-la por completo. Cada situação e ação devem ser analisadas em sua especificidade para saber qual melhor escolha de comunicação e a que ferramenta recorrer para alcançar diferentes públicos - coletivas, exclusivas, realises, carros de som oficiais, rádio, site.

Para manter tudo sobre controle, a organização da equipe se dá por meio da divisão de tarefas por setores: Planejamento – relação direta com os interesses da pre-feita afim de construir e manter o marketing-, Imprensa - estrutu-ra e recepção para a imprensa, acompanhamento da prefeita em suas saídas, confecção de textos, notas, releases, posts, captura de coletivas, externas e seleção de imagens e vídeos -, e Cerimonial –mobilizações, decorações, texto para apresentações, contratos, banners, cartazes, convites.

“A prefeita de agora é bem popular, de andar de chinelo, visitar a peri- 5DEZEMBRO - 2012

A s s e s s o r i a d e I m p r e n s a n a C i d a d e M ã eG r a n d e e q u i p e a s s e s s o r a a c o m u n i c a ç ã o d a p r e f e i t u r a d e B a r r e i r a s

>> Laís Sousa

ENGENHARIA

A sala de engenharia é tida por Ro-nimarkes como o coração do telejor-nalismo na TV OESTE. Ela é respon-sável pela recepção e distribuição de sinal, além do envio e recebimento de imagens e matérias finalizadas, permi-tindo a interação entre emissoras e afi-liadas. “Não é só editar a matéria para o vídeo. É preciso distribuir e essa é a grande dificuldade do telejornalismo hoje”, explicou o chefe de redação.

Da sala de engenharia que se coloca o telejornal no ar. É nela também que se faz o controle do gerador de caracteres (legendas informativas que aparecem nas matérias), do ponto eletrônico, da mesa de áudio e de onde a editora de texto do telejornal acompanha e super-visiona ao vivo a sua transmissão.

CENÁRIO

É no cenário da TV Oeste que se re-alizam as últimas ações para dar ao conjunto de matérias produzidas e editadas o formato de telejornal. Atrás do bancada de onde a apresentação do jornal é comandada pelos âncoras, existe um painel com imagens que re-presentam alguns aspectos da região: O Rio de Ondas, que é o cartão pos-tal de Barreiras; a Soja, representando os aspectos econômicos e agrícolas do extremo oeste da Bahia e a Aveni-da ACM de Barreiras, simbolizando a sua parte urbana. O retrato da notícia é dado através do enfoque em cada uma dessas imagens durante a sua apresentação no telejornal.

É neste momento da visita que o chefe de redação ressaltou algumas das di-ficuldades de se fazer jornalismo nas fronteiras do estado. Ele explicou que apesar de estar na Bahia, a cidade de Barreiras possui como capital de referência Brasília, e isso altera mui-to o campo de interesses do público. Segundo Ronimarkes, os aspectos econômicos, políticos, e até mesmo climáticos não são os mesmos dos da região que circundam a capital baia-na, e que é natural que não haja tanta afinidade com o restante do estado: “Essa é a região que a Bahia conhe-ceu por último. Barreiras, assim como Luís Eduardo não acompanharam o ritmo de crescimento do restante da Bahia”.

Central de documentação da TV Oes-te ainda tem seus arquivos em VHS.

Alunos acompanham gravação das chamadas do Bahia Meio Dia em Barreiras

Fotos:Celina Pereira

feria”, comenta a chefe cerimonial Jaíra Mariani à respeito da atual ‘cara da prefeitura’. Para formular estratégia e planejamento na in-formação, é preciso que a equipe se adapte à personalidade e jeito de cada prefeito e seus secretá-rios. Noádia Borges afirma que a relação de sintonia torna-se tama-nha a ponto de ter carta branca, o aval necessário para responder pelo cliente, assim, confessa acre-ditar que o trabalho na assessoria deve ser um cargo de confiança: “Tem que ter vontade de fazer jun-to, comungar com os planos da administração”.

A Barreiras do futuro se garan-tindo hoje

Os assessores reconhecem o crescimento da cidade e afirmam que reconhecimento e estrutu-ração de fato se consegue aos poucos. Barreiras tem área privi-legiada, é entroncamento entre Norte, Nordeste e Centro Oeste do Brasil, o aeroporto da cidade dispõe voos diários para Salva-dor, com duração média de 50 mi-nutos e para Brasília, 30 minutos. Como solos planos, altos índices pluviométricos o município é uma grande potência da agricultura e pecuária, destacando-se o cultivo da soja, algodão, milho, café, fru-tas e hortaliças. Desponta como pólo desportivo regional, promo-vendo eventos e competições onde recepciona delegações das principais cidades do estado com infraestrutura adequada para alo-jamento e treinamento além da rede hoteleira ampla e moderna que abarca a demanda com quali-dade e bom gosto.

Cientes disso a equipe de Asses-soria preocupou-se em coletar informações em cada uma das secretarias municipais e confec-cionar um material detalhado con-tendo um relatório redigido em 50 páginas, traduzido em Inglês, Newslater e DVD com imagens,

a ser enviado a FIFA a fim de se-diar campo de base para equipes na Copa do Mundo. Com o esfor-ço, foram convincentes a ponto de serem pré-selecionados para campos de treinamento e ainda que não seja eleita, a Funfest já se comprometeu em bancar a exi-bição ao vivo os jogos da Copa na cidade.

“Lutem para que a profissão seja mais valorizada. Nossa profissão

é muito prostituída, valorizem todo trabalho que fizerem!”

Tiago Lira

Fotos: Mariana Souza

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O Prêmio Pequi de Ouro abriu seus festejos com o Reizado do Bebedouro, onde músicos do cerrado tocavam melodias regio-nais, ao som da sanfona, triângu-los e violas, que levou ao palco os ganhadores do prêmio de 2012. O evento entrega o Prêmio Pequi de Ouro para homenagear as pessoas e as organizações que defendem o bioma cerrado. O co-ordenador do evento, Martin May explicou como é feita a escolha dos ganhadores e sobre a disputa entre o Pequi e a Soja de Ouro: “Muita gente merece o prêmio. Mas só o entregamos através da nossa vivência presencial com as pessoas que estão realmente en-volvidas e empenhadas em prote-ger nosso bioma. O pequi também é fonte de renda e sobrevivência da região, não é justo prestigiar apenas a soja com a Soja de Ouro, prêmio que acontece entre os grandes fazendeiros regionais. Não queremos criar uma grande

P r ê m i o P e q u i d e O u r o

Encontrada em maior densidade no meio nor-te brasileiro, principalmente nos estados do Tocantins,

homenageia pequenos agricultorespolêmica contra a Soja de Ouro, isso não é uma oposição, mas uma oportunidade de homenage-ar também o pequi e as pessoas que vivem aqui, que ajudam na preservação do cerrado, como, por exemplo, o pequeno agricul-tor”. O prêmio é para aqueles que se destacam pela luta e convi-vência com o cerrado, que segun-do o Ministério do Meio Ambiente, é um dos biomas mais agredidos pela ocupação humana. O pequi é um dos frutos mais conhecidos do cerrado natural, muito aprecia-do na alimentação dos animais e dos moradores dos gerais. “Por ser um dos símbolos mais popula-res do bioma, achamos justa a ho-menagem com o Pequi de Ouro, como reconhecimento das lutas em defesa do cerrado, da bacia hi-drográfi ca do Rio Grande e do Rio Corrente” contou a coordenadora Edite Lopes. O Pequi de Ouro já foi idealizado por outras pesso-

as, mas não conseguiram levar na prática: “Nós estamos levando adiante essa iniciativa”, completa a coordenadora. Um dos ganhadores do prêmio foi o senhor Alberto José dos Santos, agricultor de 92 anos, que vive no cerrado desde seu ca-samento, em 1945, e contou que mesmo sendo forasteiro, sempre fez questão de cuidar vem da Ca-beceira de Água Boa. A funcionária pública, for-mada em Engenharia Florestal, Balbina Maria de Jesus, também foi contemplada com o prêmio: “Temos compromisso com a so-ciedade, com a utilidade pública. Sou uma catingueira legítima, e fui de um extremo a outro: saí da seca para a água. Me sinto res-ponsável para trazer o exemplo da minha região. Cuidem de tudo isso, não destruam! Lutem e cui-dem!”, ressalta a engenheira. Com muita emoção ao re-ceber o prêmio, Samuel Brito da

CPT (Comissão Pastoral da Ter-ra), que trabalha na revitalização do Rio São Francisco, com o ob-jetivo de preservar o bioma, e é articulador das Forças Sociais, comenta: “É uma grande alegria receber esse prêmio na beira do Rio Grande. Afi nal, esse prêmio não é só meu, devo ele também a todos os geraizeiros que lutam pelo cerrado, pelo São Francisco vivo”. O agricultor descendente da Guerra de Canudos, Seu Con-tídio Ferreira, também ganhou o prêmio, fala sobre sua história e, entristecido, relata como se de-senrola a situação atual do bioma: “Fui criado comendo pequi. Uma árvore que ajudou meus pais a criar toda a família. Também tra-balhávamos com a mangaba, o buriti, o côco de babaçu, mas com a chegada dos tratores acabou tudo: os bichos, as araras, a man-gaba o buriti, toda a fauna e a fl o-ra”.

João Zinclar é fotógrafo e ganhou o prêmio através de um ensaio fotográfi co que fez do Rio São Francisco: “Não esperava pelo prêmio. Há muito tempo es-tamos na luta pelo cerrado, pelos rios”. O fotógrafo faz um breve his-tórico das vezes em que o cerrado se apresentou em diversos mo-mentos da sua minha vida: “Aos 18 anos cruzei o Rio São Francis-co pela primeira vez. Como gaú-cho, fi quei impressionado com o cerrado em sua forma vegetal e o rio de ondas. A gente que é do sul imagina uma Bahia seca, com o chão rachado, mas ao ver tanta água, desconstruí essa ideia”. Representando o Ministé-rio Público da Bahia, o Dr. Eduar-do Bittencourt, também recebeu o prêmio: “Espero que mais iniciati-vas como essa se multipliquem”.Durante o evento, foi servido co-midas típicas da região feitas pela cozinheira Lurdete Batista, como o arroz com pequi e frango, paçoca

de pilão, doce de cascudo e até remédio de jatobá para tosse. “O pequi é difícil de fazer, pois pegamos a fruta no pé, limpa-mos, cozinhamos e depois ras-pamos. Mas todo esse esforço é válido, afinal ele dá sustento e renda às nossas famílias”, afir-mou a cozinheira. Outra forma de subsis-tência das famílias do cerrado é o artesanato. Na comemora-ção ao pequi, estavam expostos diversos utensílios produzidos pelas moradoras da região, que buscam como matéria prima para sua arte o côco babaçu. “Valorizamos o cerrado em pé, investimos em pessoas e grupos que lidam com o bioma e com a vida em geral. Acompanhamos comunidades, fazemos oficinas, como a ‘Troca de Saberes e Sabores’”, comentou a coorde-nadora Edite Lopes, que afirma que a maior dificuldade enfren-tada pelos pequenos agriculto-

res da região é o crescimento desordenado dos agronegócios. A artesã Maísa Gonçalves, que participou do projeto social dire-cionado para o artesanato e pre-servação da cultura do cerrado, conta: “Aprendi a fazer o arte-sanato com o Movimento Inte-restadual das Quebradeiras de Coco Babaçu. Fazemos brincos, colares e acessórios em geral, vendemos prontos e também fa-zemos encomendas. Através da arte, mantemos nossa cultura viva e ainda ajudamos a susten-tar nossa família”. O evento todo foi condu-zido em trechos de cordéis, res-saltando as qualidades e bene-fícios que o cerrado proporciona para seus moradores e peque-nos agricultores, assim como é necessária a preservação desse bioma, que está ame-açado pelos grandes fazen-deiros cultivadores do agro-negócio.

7DEZEMBRO - 20126 DEZEMBRO - 2012

>>Bárbara Rocha

No oeste baiano não foram só o clima e a paisagem que vimos de novo. Conhecemos um fruto arredonda-do, de casca esverdeada, muito parecido com o abacate. O pequi é do tamanho de uma pequena laranja e está maduro quando a sua casca verde-amarelada amolece. A polpa tem uma coloração amarela intensa e a semente é dura. Moradores de Barreiras explicam como é preciso ter cuidado ao roer o fruto, por seu caroço ter muitos espinhos que podem causar sérios ferimentos nas gengi-vas. “Ele parece ser um fruto oleoso. O sabor me lembra muito manteiga. É muito diferente!” a� rma Celina Pe-reira ao experimentar o Pequi.

O Pequi é muito utilizado na cozinha de Barreiras, principalmente de novembro a fevereiro. Do fruto é ex-traído um azeite chamado azeite de pequi. Ele também é consumido cozido, puro ou com arroz e frango. O sa-

bor e o aroma dos frutos são muito marcantes e peculia-res. É muito gorduroso e pode ser conservado tanto em essência quanto em conserva.

O sabor do Pequi>>Rafaela Barreto

Babaçu: a riqueza do cer rado>>Mariana Souza

Fotos: Laís Sousa

Foto: Celina Pereira

Foto: Celina Pereira

Maranhão, Piauí, e Mato Grosso, o babaçu é uma das mais importantes representantes das palmeiras, sendo considerada uma riqueza do cerrado. Começa a produzir o fruto entre o 7º e o 8º ano de vida, alcançando plena produção aos 15 e atingindo em média 35 anos. Conhecido por ser altamente aprovei-tável, o babaçu é utilizado há séculos pelas po-pulações tradicionais como fonte e alimento e sustento. Vilma Santos da Silva, técnica em radiologia, encontra na arte proveniente do coco do babaçu uma segunda fonte de renda. “Aprendi o ofício em um curso oferecido por uma quebradeira de coco do Piauí. Até então essa arte desconhecida pra mim”, declarou. As folhas novas geralmente são usa-

das para a confecção de diversos utensí-lios como cestos, esteiras, chapéus e pe-neiras. Do mesocarpo, região do fruto das angiospermas na botânica, é obtida uma farinha amplamente comercializada e que por vezes, substitui a farinha de trigo em receitas. Da amêndoa pode-se extrair o óleo que é utilizado tanto na culinária quanto nos cosméticos e industriais (fa-bricação de sabonetes, margarina e gor-duras especiais). Além disso, é comida pura ou torrada. O coco é utilizado para a produção de artesanatos, como colares, brincos, chaveiros, pulseiras, arranjos, e outros. Por fim, da casca é feito carvão, xaxim e fumaça para repelir insetos.

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Ensino Superior em Barreiras

O desmembramento da Universida-de Federal da Bahia (UFBA) para a criação da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOBA), com sede em Barreiras e campi nos municípios de Barra, Bom Jesus da Lapa e Luís Eduardo Magalhães, foi um projeto de lei (2204/11) do Executivo, aprova-do pela Câmara. Atualmente a instituição possui qua-tro prédios construídos e oferece 11 cursos, sendo eles: geografia, geo-logia, administração, química, física, matemática, biologia, engenharia sa-nitária e ambiental, engenharia civil, história e bacharelado interdisciplinar de ciências e tecnologia e de ciências da humanidade. Após a concepção da UFOBA, serão oferecidos 35 cur-sos de graduação. A meta é atender

7.930 estudantes nos cursos. A criação da nova Universidade trou-xe consigo questionamentos acerca dos seus aspectos positivos e nega-tivos. Para Paulo Baqueiro, professor de geografia da instituição, ela deve ser pensada pelos dois aspectos. “É imensamente positivo que a Univer-sidade chegue no interior, atinja um número maior de pessoas e possa expandir sua teia de relações. Isso dá maior consistência à questão de ensino, pesquisa e extensão. Por ou-tro lado, e a gente vem sentindo isso desde a criação, existe a falta de re-cursos humanos e materiais pra que as coisas funcionem da maneira que deveriam”, contou. Paulo aponta ainda a questão da universidade ter sido desenhada no

modelo multicampi. “Pra gente vai ser problema porque a extensão entre um campi e outro é muito grande. A cidade mais próxima da sede é Luis Eduardo, que fica a uma hora daqui, mas as outras são muito distantes. Barra por exemplo, além de distan-te tem a estrada ruim”, disse. O problema na comunicação por conta de distância pode ser percebido na instituição enquanto campi da UFBA, uma vez que a sede (Salvador) se en-contra a mais de 800 km de onde ela é instalada. Entretanto, Paulo diz que festeja a criação da Universidade apesar de re-conhecer todos os problemas que es-tão relacionados a esse processo de expansão - uma vez que ele, segun-do ele, não foi pensado nem digerido da maneira que deveria ser. “No geral

eu acho que vai ser bom pra região como um todo. Ela é muito conserva-dora e de alguma maneira a universi-dade abre cabeças, cria espaços de diálogos, incentiva transformações”, afirmou. Conclui ainda contando que “nós todos que estamos conversando somos frutos desse processo de ex-pansão e estamos de alguma manei-ra sendo beneficiados com ele”.

Na visita ao campus de Barrei-ras da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Joaquim Neto, rei-tor da universidade que é a pionei-ra em interiorizar o ensino superior na Bahia, contou sobre o funcio-namento do campus. A Uneb foi criada na cidade em 1981 e na-quela época, segundo Joaquim, ainda não se falava em educação na Bahia. Mas hoje a universidade conta com cerca de três mil alunos nos cursos de oferta anual - agro-nomia, letras, pedagogia, ciências contábeis, biologia, matemática, e os de oferta especial - biologia, artes, sociologia, história, mate-mática, letras, educação física. Esses cursos especiais ainda são oferecidos na região da bacia do Rio Grande, nas cidades de Cris-tópolis, Vanderlei e Cotegipe, área de abrangência do campus de Barreiras.

Questão política Segundo o reitor a Uneb foi criada com o intuito de crescer e dinamizar e levar ensino às cidades do interior. Mas por uma questão política, só a partir de 1981 foram trazidos esses cursos para atender as necessida-des da região. “Nós temos agrono-mia aqui porque é uma reivindicação da própria comunidade, pois é uma região agrícola” conta. Outro ponto forte para a criação do campus de Barreiras foi a falta de pessoas licen-ciadas na cidade.

CETA O campus da Uneb em Barreiras possui um programa chamado CETA (Curso Técnico Agrícola para Mo-vimentos sociais), que desde 2008 possibilita que qualquer pessoa que faça parte do movimento social pos-sa se inscrever para o curso de Agro-nomia e realizar o vestibular para

concorrer a 50 vagas destinadas a esse projeto. A seleção é diferente da tradicional, uma vez que ao inscritos só concorrem entre eles mesmos. A iniciativa tem o apoio do NEPPA (Nú-cleo de Estudo e Pesquisa em Produ-ção Animal), que é responsável por ministrar as disciplinas de Alimentos e Alimentação dos Animais Domés-ticos, Criação de Grandes Animais e Criação de Pequenos Animais. Os aprovados passam três meses na universidade estudando, e outros três meses na área no local de onde vieram para praticar o que aprende-ram. Eles ficam alojados em uma re-sidência com dormitórios, banheiros, refeitórios e área de convivência. O principal objetivo dessa ação é o fortalecimento do ensino de práticas de criação de animais com ênfase na sustentabilidade na agricultura fami-liar para o desenvolvimento tecnoló-gico, econômico, social e ambiental,

fornecendo as condições para fixa-ção das famílias no campo. Odinéia Morais é uma das estudan-tes desse projeto. Ela diz que as co-munidades dos sem-terra possuem realidades diferentes, já que cada re-gional do movimento têm necessida-des específicas. Ela afirma que ela e seus colegas fazem parte da mesma localidade, dessa forma o projeto é o mesmo e por isso eles vão ter que formar juntos. “Depois que a gente concluir o curso, vamos implementar a agricultura familiar na nossa loca-lidade. O que aprendemos na teoria aqui, levamos pra prática na nossa comunidade”, diz Odinéia. A Uneb foi a única universidade pú-blica da Bahia que abraçou o projeto até agora. E segundo o reitor, o pro-jeto deve ser ampliado, pois os cur-sos Direito, Técnico em agropecuária e Pedagogia estão previstos para os próximos três anos.

8 DEZEMBRO - 2012

U m a C E T A n o O e s t e B a i a n o>> Michele Barros

U F O B A : A “ n o v a ” f e d e r a l b a i a n a>> Mariana Souza

Antiga estrutura da UFBA em Barreiras pas-sa a fazer parte da UFOBA

Foto: Mariana Souza

9DEZEMBRO - 2012

>> Michele Barros

Saímos bem cedo do Campi da UFBA em Barreiras, que tinha

nos servido como hotel durante os dois dias que passamos na

cidade. Uma preguiça ainda tomava conta dos nossos corpos.

Também, depois de uma noite regada à festa, muito pequi, e

iguarias do babaçu, não havia quem não estivesse cansado.

Mas o cansaço não nos impediu de tirarmos uma foto em frente

ao ônibus que já nos esperava, para mostrar que já estávamos

de malas prontas e preparados para pegar a estrada rumo ao

nosso próximo destino: Natividade.

No ônibus cortinas fechadas e óculos escuros, indicavam que

o sono imperava em nossas pessoas. Uma parada para o café

da manhã, e o que temos hoje? Cuzcuz de milho, com ovo, catu-

piry e manteiga, acompanhado de café com leite, uma refeição

bem calórica, não é? Mais estava uma delícia. Restabelecidos

com o café bem reforçado, voltamos ao ônibus, e o professor

Robério logo nos animou nos contando que estava acontecendo

uma festa típica na cidade de Natividade, a Festa do divino. Ele

nos falou também de uma fábrica de biscoitos, na qual existiam

vários biscoitos divinos assim como a festa, e que com certeza

iríamos adorar a cidade.

Ficamos muito ansiosos para que o nosso próximo destino

chegasse o mais rápido possível. Mais enquanto ainda estava

longe, nos contentamos em conversar sobre o que vimos em

Barreiras Mas tudo isso já ficava para trás, junto com a vegetação árida

de Barreiras, que já era substituída por um leve verde que ia

tomando conta das janelas, do ônibus. Isso indicava que Nativi-

dade já estava perto. E lá vamos nós para mais uma Aventura:

o Tocantins nos esperava!

Café da manhã reforçado! Huuuumm...

Aventureiras prontas pra seguir viagem!

E da janela do

ônibus, o céu do

Tocantins já nos

contava as suas

belezas...

Foto: Michele Barros

Foto: Laís Sousa

Foto: Celina Pereira

D i á r i o d e B o r d o Natividade, lá vamos nós!

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11DEZEMBRO - 201210 DEZEMBRO - 2012

Doce, crocante, derrete na boca e é praticamente im-possível resistir à segunda mordida. Quem visita Nativi-dade não pode deixar de sa-borear o Amor Perfeito, tra-dicional biscoito de polvilho, cuja fama carrega o nome da cidade Brasil afora. A loja de biscoitos de dona Ana Bene-dita de Cerqueira e Silva – a famosa Tia Naninha é para-da obrigatória para os turis-tas que desejam conhecer uma das experiências gas-tronômicas mais marcantes da região. A “fábrica” de biscoitos fun-ciona no Centro Histórico da cidade, num casarão da Pra-ça da Matriz construído pelos pais de Tia Naninha, e onde ela vive até hoje. No total, 12 funcionários - dentre eles, três filhos de Naninha, são encarregados de toda a pro-dução. Quem visita pode ver de perto o processo de fabri-cação, inteiramente artesa-nal, além de experimentar os biscoitos, servidos com café colonial. Pioneira na fabricação de biscoitos típicos, a loja de tia Naninha é responsável não só pelo sustento da sua famí-lia como também pela manu-tenção dessa atividade como uma das manifestações do patrimônio cultural de Nati-vidade. O Amor Perfeito é reconhecidamente o mais importante produto da culi-nária local, representando a cidade em feiras e eventos estaduais e nacionais e até internacionais.

DEMANDA E PRODUTOSO biscoito Amor Perfeito tem grande procura o ano todo, mas a saída aumenta no mês de maio, durante a época da

festa do Divino, quando é preciso ampliar a produção para atender à demanda dos turistas. Em época de feste-jos ou não, toda a fabricação ainda passa pelo olhar cri-terioso de Tia Naninha, que com os seus 74 anos de ida-de faz questão de participar da produção e supervisão, colocando a mão na massa e estabelecendo o seu padrão de qualidade. O Amor Perfeito é famoso, mas certamente não é a úni-ca delícia que sai dos fornos de Tia Naninha. Além dele são especialidades da fábri-ca a Bolacha de Canela, o Biscoito do Céu, o Fervido (que leva erva doce na recei-ta) e os biscoitos salgados Trovão e Peta (este último, um biscoito de polvilho simi-lar ao avoador). Mas todos eles figuram como coadju-vantes junto ao biscoitinho em forma de coroa que se tornou o símbolo gastronô-mico de Natividade.

A RECEITA Zoélia Nunes de Cerquei-ra é uma das filhas de Tia Naninha responsáveis pela produção dos biscoitos. Ela revela que não conhece ao certo a origem da receita, mas afirma que foi passa-da de mãe pra filha: “Minha mãe aprendeu com a mãe dela e fazia só pra casa mesmo, pros vizinhos... aí muita gente começou a pro-curar e ela então começou a vender, pois não tinha mais condições de dar”. A fama do biscoito aumentou ainda mais com a visita da apre-sentadora Claudete Troiano, que além de dar a receita em seu programa, divulgou os biscoitos e a cidade. A partir

daí, o Amor Divino saiu da roda de amigos, parentes e conterrâneos para conquis-tar os paladares de todo o Brasil. Zoélia conta que a famosa receita não guarda muitos mistérios. Os ingredientes – polvilho fino, leite de coco, açúcar refinado e manteiga, são despejados em uma gamela e misturados for-mando uma massa, que é sovada até atingir o ponto desejado. Depois disso, a massa é enrolada e cortada pelas doceiras, que mode-lam os biscoitos um a um em forma de pequenas co-roas. O símbolo remete não só às jóias produzidas na cidade como ao símbolo do Divino Espírito Santo, cuja festa é outra famosa tradi-ção de Natividade. Por fim, os biscoitos são colocados nas bandejas e levados aos fornos a lenha para assar, de onde saem crocantes e prontos para embalar.

HERANÇAA paixão pela fabricação dos biscoitos é também uma herança na família de Tia Naninha. “No começo eu não gostava muito. Mas aí aprendi a gostar com mi-nha mãe e agora não me vejo fazendo outra coisa” confessa Zoélia. Quando questionada sobre o se-gredo do sucesso, ela res-ponde sem hesitar: “Com certeza é o amor, carinho e dedicação especial passa-dos de mãe pra filho”. As-sim fica fácil entender por-que o Amor Perfeito é uma verdadeira jóia culinária, de nome tão doce quanto o seu sabor.

Amor Perfe i toO biscoito símbolo da culinária tocantinense>> Celina Pereira

Repórteres não resistem e provam o Amor Perfeito

Divino Espírito Santo: Inspiração para o artesanato e os biscoitos

Artesanatos Amor PerfeitoOs biscoitos de Tia Naninha ficaram tão famosos em Nativi-dade que serviram de inspiração para o nome de uma loja de artesanato. “Amor perfeito” nasceu de um projeto da primeira dama e atende preferencialmente pessoas auxiliadas pela Bolsa Família.As peças são todas produzidas em cursos oferecidos anu-almente – sempre próximos à realização da Festa do Divino Espírito Santo - no próprio local, sendo o material fornecido pela prefeitura. Após a confecção, os alunos têm a opção de deixarem as peças na loja ou de venderem por conta própria. Dona Maria José é uma das cinco profissionais contratadas atualmente para dar as aulas do projeto. Segundo ela, a reli-giosidade está sempre presente nos artesanatos. “Nós foca-mos mais na cultura de Natividade, que é bem voltada para as festas do Catolicismo, como a Festa do Divino, Festa da Padroeira e Lavagem do Bonfim”, contou. São feitos artefa-tos de bordados, crochê, madeira e outros.A Universidade Federal do Tocantins aderiu ao projeto a par-tir de uma parceria com a Prefeitura Municipal de Natividade e todo ano leva um grupo de alunos pra cidade para dar e receber oficinas.Para Maria José, o nome da loja é justificado por outro motivo além dos biscoitos. “Uma coisa puxa a outra. Mas é porque aqui tudo é feito com muito amor, com muito carinho.”

>> Mariana Souza

Foto: Rafaela Barreto

Fotos: Celina Pereira

Do coração de Tocantins, garimpo. Do coração dos ourives, talento. Do cora-ção da vendedora, sustento. A arte de fazer joias em Natividade, deu a pe-quena cidade do interior tocantinense o apelido de cidade do ouro, onde a população desfila com valiosas obras artesanais cujo maior segredo é talen-to, dom e amor.

Receita Todas as jóias produzidas na cidade são feitas em ouro ou prata vindos dos diversos garimpos da região. En-tre duas ourivesarias artesanais da cidade, as obras são vendidas por quilo e variam preços entre R$ 200,00 a R$3.000,00 reais. As encomendas, atendem a demanda regionais, na-cionais e ganham reconhecimento internacional, mediante a procura dos turistas. A matéria prima, seja prata ou ouro, é derretida e transformada em barra para que a quantidade seja pesada. Em seguida a barra passa pelo lami-nador de fio para ganhar forma,.Cabe

ao ourives manipular as ferramentas a fim de trançar, achatar, moldar forma-tos. Em seguida, é hora de trabalhar com o pingente daquela peça – seja corrente, pulseira ou anel. O processo é longo e a depender da complexida-de da peça, é possível fazer até duas completas por dia.Quando interrogado a respeito da peça que mais gosta de fazer, o ou-rives Orleid Sérgio Carvalho fala do Coração Tradicional Português. Flor de Maracujá, Pomba do Divino... cada peça tem um nome estabelecido que trás história, religiosidade, cultura e bastante apego. “Não tem curso para artesão, mas o mercado para jovens é escasso. Aí vai do querer: eles gostam da arte, ob-servam quem sabe e aí decidem ficar ou não. Mais do que necessidade é preciso ter dom...”, esclarece Anfrísia Cardoso, dona do estabelecimento onde o jovem rapaz exerce a função de ourives.Dedicação, paciência e de-talhamento são qualidades necessá-rias para dar continuidade ao trabalho

dos mestres que ensinaram a tarefa. Embora possam confeccionar peças exclusivas, diariamente seguem a tra-dição e não fogem aos moldes padro-nizados que só mudam tamanho.

Uma conversa com o MestreDentre tantos que não tiveram paciên-cia nem talento para continua tentan-do a minuciosa prática de ser ourives, seu Jesumar Batista tem 20 díscipu-los, quer trabalhando em Natividade e ainda recorrendo a sua casa em casos de dúvida, quer ligando lá de Goiás ou até da Inglaterra para agradecer: “foi com você que aprendi todas as tá-ticas!”. – “Todas, entendeu?” – Brinca o charmoso senhor que se enbalando na cadeira de balanço promete voltar à ativa “do ouro e da paquera”, após o ano e meio que esteve afastado: “Mi-nha mulher adoeceu, a perdi, não es-tava com cabeça para trabalhar. Esse é um trabalho que não dá para fazer se seu coração não estiver bem, é um trabalho feito com amor...”O Mestre Jesumar, como é conhe-cido por seus discípulos, é “o cara” da região. Aos doze anos de idade dedicou-se a aprender o “ministério familiar de mais de 100 anos”, com o tio e Mestre Juvenal, e hoje, com 50 anos de profissão, tem orgulho e ra-zão de causa ao afirmar que sem ele a história da filigrana não teria tido continuidade. De influencia portugue-sa e séculos de tradição, a técnica de confeccionar jóias com fios de ouro ou prata tão fino quanto fios de cabelo e com pequenas bolas do metal solda-da como acabamento, tem “somente dois ou três trabalhando com isto no país, é raro!”. Não tardou em contar que, por este motivo, já foi “procurado pela televisão” e alí mesmo, de frente a sua casa, já deu uma entrevista para o Me Leva Brasil, quadro do Maurício Kubrusly para o Fantástico. “Está na internet, não sou muito bom com es-

sas coisas, mas pode olhar!”

Ourivesaria ColonialAnfrisia Cardoso é proprietária da ou-rivesaria colonial - um nome raro para combinar com a profissão, um salto alto para fazer jus ao ramo comercial escolhido.Vaidosa, representa bem a delicada beleza feminina, expondo em si pró-pria modelos de algumas das joias que vende. Batalhadora, numa so-ciedade interiorana, onde persistem ideias coloniais a ponto de desacre-ditar no sucesso rentável de um co-mércio necessitado de poder aquisiti-vo relativamente alto para sobreviver, Anfrísia acreditou no potencial, aban-donou um emprego público e seguiu na construção de seu negócio, que já completa dois anos de lucro e prazer. Solteira e mãe em processo de desa-ninho, afirma que precisou de cara de pau para começar batendo de porta em porta e vizitando empresas. Re-alizada, conta da emoção de viajar pela região com entregas e voltar com encomendar, ter uma equipe sob sua responsabilidade e inovar com ali-mentação de redes sociais - “Gosto quando as pessoas gostam da histó-ria, do nosso trabalho, a maioria fica encantada!”. Sabendo do risco de assalto causa-do pelo porte de obras visadas, An-frísia afirmar que a cidade é tranquila e houveram poucos casos de furtos, nenhum com ela que, mesmo preca-vida, continua correndo atrás de sua liberdade financeira e incentivando a juventude, em especial, mulheres, em busca de conquistas que agradam o coração: “ Mulher tem que correr atrás de seus objetivos! Mulher não pode esperar casar para ser independente. Eu gosto muito de dinheiro. Então te-nho que acreditar e correr atrás porque não vai cair do céu e nem ninguém vai me dar, não.”

Valiosas artes do coraçãoConfecção de joias artesanais torna Natividade conhecida como Cidade do ouro

>> Laís Sousa

Jovem nativitano exercendo o ofício com talento, para agrado do coraçãoFoto: M

ichele Barros

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12 DEZEMBRO - 2012

Quando se fala em misticismo na pequena e pacata Nativi-dade, cidade do interior do To-cantins, o nome mais citado é o de Dona Romana. Conhecida não apenas por causa de suas “garrafadas”- misturas de ervas e raízes curativas- e por rezar as pessoas, como é típico no sertão e interior da Bahia, Dona Romana tem um dom: ela tem visões sobre o fi m do mundo.

Medo e TensãoAo entrar no sítio de Dona Ro-mana, um clima pesado paira no ar. Ele é cercado por um muro, como uma fortaleza, com pedras marrons, bem rústicas. Logo na entrada um arco com pedras amarelas e vermelhas faz alusão ao sol, e indica que as esculturas de pedra estão por perto. E o que vem a seguir é um labirinto, que tem dois la-dos, mas só pode ser acessado pelo lado direito, pois a esquer-da é a saída. Qual o motivo disso? Indicação de Dona Ro-mana.Depois de um pequeno cami-nho percorrido no labirinto, já é possível ver as esculturas de pedra que no primeiro mo-

mento causam um grande im-pacto. São imagens de bichos, cruzes... arqueiros e anjos misturam-se às escadarias que dão em lugar nenhum. Mais la-birintos, guardiões e espadas, poços decorados com conchas, pombas, sereias, serpentes, murais com inscrições indeci-fráveis, Jesus Cristo crucifi ca-do e uma balança com cerca de três metros de altura. Essa obra impressionante foi erguida por Dona Romana, em pedra, cimento e areia, e decorada com vários cacos de espelho que cintilam à luz do sol.

O porquê das esculturasDona Romana não estava pre-sente no dia da entrevista. Mas Velmon Alves, que se considera fi lho dela, e que é responsável por acompanhar os visitantes e tomar conta do lugar quando Dona Romana não está, con-tou sobre a missão dela. Vel-mon conheceu Romana ainda quando era pequeno, começou a frequentar o sítio, e hoje além de ser seu seguidor, mora com ela. Dona Romana faz as escul-turas desde janeiro de 1990, de acordo com as visões espiritu-

ais que têm. “Suas atividades de cura, viagens planetárias, esculturas e desenhos fazem parte de sua missão espiritual” relata Velmon. Dentro dessas atividades há todo um ritual de preparação para se construir as peças de pedra, que segue o fundamento do levantamento do grande eixo da terra. Velmon conta que Romana, quando re-cebe a ordem espiritual, preci-sa realizar as esculturas, e não as faz sente muitas dores pelo corpo.

Estoque para o fi m do mundoVelmon mostra um espaço onde é guardado todo tipo de coisa, desde água em garrafas, até alimentos, roupas, livros e combustíveis, que são doados ou comprados pela própria Ro-mana. “A gente guarda tudo isso para o grande momento da virada da terra” afi rma Velmon. Nesse espaço o cheiro de mofo e de coisas guardadas há tem-pos é muito forte. É impressio-nante a quantidade de objetos que começaram a ser acumu-lados desde que ela começou a ter as visões. Segundo Velmon, Romana vive de doações. Há um espaço no meio de galpão, no qual há um círculo com vá-rios objetos que Dona Romana ganhou de presente: bonecos, estátuas, capacetes, placas e até um E.T, caracterizam o am-biente.

Seguidores e mediunidadeDona Romana faz esculturas até hoje, mas necessita do au-xilio dos seus seguidores. Ela ajuda a desenvolver a mediuni-dade de muitas pessoas ao seu redor, mas não gosta de ser chamada de Mãe de Terreiro nem Mãe de Santo. “A missão não é ela que dá para ninguém, as pessoas já nascem com ela” afi rma Velmon.

Mistérios de Dona Romana A nativitana que faz esculturas do � m do mundo!>> Michele Barros

Pedras e mistérios envolvem as esculturas de Dona Romana

Elementos re l ig iosos encantam e assustam os v is i tantes

Labirinto de esculturas nos fundos da casa de Dona Romana

Fotos:Celina Pereira