revenue management

45
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO EMPRESARIAL A IMPORTÂNCIA DO REVENUE MANAGEMENT PARA O SUCESSO DA COMPANHIA AÉREA NO MUNDO COMPETITIVO DE HOJE FRANCISCO JOSÉ MONTEIRO ALVES ORIENTADOR: PROF. GUARACY SALLES DE OLIVEIRA, D. Sc. OUTUBRO / 2001

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Page 1: Revenue Management

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

EMPRESARIAL

A IMPORTÂNCIA DO REVENUE MANAGEMENT PARA O SUCESSO DA COMPANHIA AÉREA NO MUNDO

COMPETITIVO DE HOJE

FRANCISCO JOSÉ MONTEIRO ALVES

ORIENTADOR: PROF. GUARACY SALLES DE OLIVEIRA, D. Sc.

OUTUBRO / 2001

Page 2: Revenue Management

II

O Departamento de Administração da Universidade Federal Fluminense

não aprova e nem reprova as opiniões neste trabalho, estas opiniões são de responsabilidade exclusiva do Autor.

Page 3: Revenue Management

III

“O verdadeiro criador é a necessidade,

que é a mãe da nossa invenção.”

Platão

Com amor e carinho, dedico esta monografia a minha esposa Eva que me

apoiou e incentivou desde o início e a todos aqueles que me ajudaram de

alguma forma para a conclusão deste curso.

Page 4: Revenue Management

IV

AGRADECIMENTOS

Não poderia concluir este trabalho sem antes agradecer à Varig e à F.R.B.

por terem proporcionado a oportunidade de fazer um curso de pós-graduação do

porte do oferecido pela U.F.F.

Agradeço também aos professores deste curso que deram tudo de si para

passar seus conhecimentos e fazerem de mim e todos os meus colegas de turma

pessoas mais preparadas para enfrentar este mundo cada vez mais competitivo

onde o conhecimento adquirido faz a diferença.

Dos professores, faço um agradecimento especial ao Guaracy Salles pela

paciência dispensada na preparação deste trabalho.

Page 5: Revenue Management

V

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Curva de Demanda X níveis de preço................................................................... 09

As três abordagens de controle ................................................................................ 12

Page 6: Revenue Management

VI

SUMÁRIO

Introdução .............................................................................................. 01

Capítulo I – Mudança no ambiente da aviação civil ................................... 03

1.1 Mudança no comportamento gerencial nas empresas. ............ 03

1.2 A desregulamentação do transporte aéreo nos E.U.A. ............ 03

1.3 Uma mudança radical no cenário da aviação civil nos E.U.A..... 05

1.4 O surgimento do Yield Management .......................................... 06

1.5 A diferenciação tarifária – a segmentação por preço ................. 08

1.6 Três abordagens de controle ..................................................... 11

Capítulo II – Atividades do Yield Management ........................................... 14

2.1. A disponibilidade de assentos ................................................... 14

2.2 O overbooking .......................................................................... 16

2.3 A definição do overbooking ....................................................... 17

Capítulo III – A INTEGRAÇÃO DAS ATIVIDADES .................................... 22

3.1 Analistas de Mercado ................................................................ 23

3.2 Marketing ................................................................................... 24

3.3 Pricing ....................................................................................... 25

Capítulo IV – A estrutura de Revenue Management ................................. 30

4.1 Visão a respeito do Revenue Management ..............................30

Page 7: Revenue Management

VII

4.2 As funções que compõem a estrutura de RM ............................ 31

Considerações Finais ................................................................................. 36

Referências Bibliográficas ......................................................................... 38

Page 8: Revenue Management

INTRODUÇÃO

A mãe da invenção é mesmo a necessidade. Por causa dela, há um

pouco mais de 20 anos, as empresas aéreas dos Estados Unidos precisavam

de um modo novo de administração que gerasse mais receita e de forma mais

eficiente e eficaz devido a uma nova realidade que elas estavam enfrentando

trazendo com ela uma forte concorrência a qual nunca tinham imaginado. Daí

surgiu o que hoje chamamos de Revenue Management.

Mesmo após 20 anos, o Revenue Management (RM) continua abalando

o mundo dos negócios. Na indústria da aviação civil, onde tudo começou, as

práticas e tecnologias de RM se tornaram os elementos básicos no incremento

de receita e lucro. O conceito mais fundamental em qualquer negócio é a oferta

e a demanda. As empresas estão sempre se esforçando para fornecer

produtos quando uma demanda forte existe e determinar preços para

maximizar a receita sem diminuir a demanda de maneira significativa. Se a

demanda fosse constante, as empresas saberiam exatamente quanto ofertaria

ao seu mercado e a que preço. Entretanto a demanda muda constantemente

de acordo com o tempo, a hora do dia, dia da semana, estação, período do

ano, feriados, eventos especiais etc. Prever estas mudanças é difícil, mas não

se pode alocar a quantidade certa do inventário ou desenvolver estratégias de

mercado sem uma estimativa boa da demanda.

Esta monografia tem como objetivo mostrar como o Revenue

Management é a ferramenta mais importante para o incremento de receita em

Page 9: Revenue Management

2

uma companhia de prestação de serviços, principalmente em uma companhia

aérea em um mundo super competitivo e dinâmico como nos dias de hoje

mostrando como esta ciência nasceu, como se desenvolveu a partir do Yield

Management – talvez a mais importante atividade dentro a estrutura de RM –

em um conjunto de atividades interdependentes. Mostra também as

características de cada uma destas atividades e a sua contribuição para o

objetivo maior do RM que é a receita da empresa comentando a sua estrutura.

Com isso, este trabalho visa esclarecer as dúvidas sobre as atividades

concernentes ao RM e mostrar que esta é a área da empresa na qual a alta

administração deve dispensar a maior atenção se quiser continuar

sobrevivendo em um mundo altamente globalizado e em constante mutação

enfrentando uma concorrência mais acirrada do jamais se viu na história da

aviação civil brasileira.

Page 10: Revenue Management

3

CAPÍTULO I

MUDANÇA NO AMBIENTE DA AVIAÇÃO CIVIL

1.1 Mudança no comportamento gerencial nas empresas aéreas

O RM surgiu exatamente da necessidade crescente por uma estimativa

acurada da demanda e por alocação de recursos. Antes a indústria fazia uso

da experiência e do chamado feeling das pessoas e do ambiente para definir a

alocação dos recursos. Entretanto, hoje, as empresas lutam para sobreviver

em um mercado muito mais competitivo e numa margem de lucro cada vez

menor e desta forma, a abordagem intuitiva não satisfaz mais. Em vez da

experiência subjetiva e da intuição, o RM emprega dados históricos, análises

estatísticas e otimização matemática e projeções.

Esta necessidade de se projetar a demanda teve início na indústria da

aviação civil no final da década de 70 com a desregulamentação do transporte

aéreo nos Estados Unidos da América do Norte.

1.2 A desregulamentação do transporte aéreo nos E.U.A.

Diante da incapacidade da Organização da Aviação Civil Internacional

(OACI) de regulamentar economicamente este transporte, foi celebrado, em

1948, um acordo bilateral entre os Estados Unidos e a Grã-Bretanha que

Page 11: Revenue Management

4

delegava a determinação das tarifas a foros multilaterais – mais

especificamente às conferências de tarifas da IATA (International Air Transport

Association), dada a importância recíproca dos bilhetes de passagem como

forma de facilitar e difundir o transporte aéreo internacional. A partir daí, foram

feitos vários outros acordos bilatérias que acabaram constituindo a

regulamentação do transporte aéreo internacional.

Nestas conferências não só se discutia tarifas, mas também padrões de

serviço, como, por exemplo, o espaço entre as poltronas. Desta forma não

havia competição de preços. Somente as operações charter, com grandes

restrições operacionais, tinham tarifas inferiores. Caso contrário, as empresas

sofreriam multas severas se não seguissem as condições acordadas

anteriormente.

Durante a década de 70, as empresas aéreas européias e norte-

americanas começaram a receber pressão do público para obter uma maior

liberdade de preços. Nos Estados Unidos, o CAB (Civil Aeronautics Board)

regulamentava todas as companhias aéreas do país controlando as ofertas nas

rotas e suas respectivas tarifas bem como acesso das empresas a essas rotas.

Todo passageiro que desejasse viajar de avião encontrava apenas um único

preço que era calculado normalmente com base na distância percorrida mais

uma margem de lucro determinada pelo governo. Já que as empresas não

podiam competir em preço, a competição girava em torno da qualidade do

serviço prestado ao passageiro – atendimento de bordo, freqüência de vôos,

Page 12: Revenue Management

5

tipo de aeronave etc. como se observa no livro “A Hora da Verdade” de autoria

de Jan Carlson então presidente da SAS.

Em 24 de outubro de 1978, foi assinado o Airline Deregulation Act que

deu início à desregulamentação do transporte aéreo nos Estados Unidos e

acabou levando o CAB à auto-extinção completa em 1985.

Com este novo cenário, um grande número de empresas aéreas

entraram no mercado norte-americano. Na sua grande maioria, eram empresas

de baixo custo. A competição se acirrava a cada dia. As tarifas caíam

particularmente nas rotas mais longas aonde o CAB vinha mantendo os níveis

mais altos.

1.3 Uma mudança radical no cenário da aviação civil nos E.U.A.

A desregulamentação removeu teoricamente todos os controles

econômicos aplicados ao serviço aéreo doméstico nos EUA. Qualquer empresa

aérea podia operar em qualquer rota em qualquer freqüência aplicando a tarifa

que escolhesse. Havia os novos entrantes que levaram mais vantagens neste

novo cenário de liberdade. As empresas já estabelecidas falharam ao tentar

reagir a estas empresas e, como resultado disto, começaram a atuar

defensivamente. Os seus altos custos faziam com que fossem inaptas a

concorrer com as tarifas baixas das novas empresas sem terem altas perdas.

Estas empresas não foram preparadas para enfrentar este tipo de competição

agressiva devido os anos de regulamentação e proteção vinda do Governo

Page 13: Revenue Management

6

norte-americano, por esse motivo, começaram a perder mercado para as novas

companhias que somavam 168 entre 1979 e 1992. Destas, 58 ainda operavam

em 1993. Elas tinham vantagem competitiva sobre as já estabelecidas por que,

para elas, o produto era o transporte puro e simples. Para manter os custos

bem baixos, os pilotos e os comissários de bordo executavam praticamente

todas as funções de terra, desde reservas até carregar a bagagem para o

avião. Assim elas poderiam oferecer tarifas de 50 a 80% inferiores às tarifas

das demais empresas.

A American Airlines (AA) lançou o “super saver fare” como uma tentativa

desesperada de aumentar suas receitas. A idéia era vender os assentos vazios

a preços mais baixos para atrair os passageiros que, ou não viajariam pela AA

ou nem viajariam de avião, mas tendo o cuidado de não vender muitos

assentos com estes preços antecipadamente e continuar vendendo os bilhetes

com os preços antes praticados.

1.4 O surgimento do Yield Management

Diante desta situação, Robert Cross, então presidente e CEO da

companhia Delta Airlines começava a procurar soluções para o problema da

gangorra do load factor1 / yield2. Vendo a taxa de ocupação dos seus vôos

diminuindo significativamente devido à migração de seus passageiros para as

companhias de baixo custo, atraídos pelos baixos preços, a primeira coisa em

que se pensou foi em retomada nos níveis anteriores de load factor. Para isso, 1 Load Factor – Taxa de ocupação da aeronave após sua partida. 2 Yield – Receita média de passageiro por assento-quilômetro.

Page 14: Revenue Management

7

se viram obrigados a baixar também seus preços, pois, considerando-se a lei

básica da oferta e da demanda, quanto menor o preço, maior a demanda. O

único problema era que os custos da Delta, assim como os das outras

empresas já estabelecidas, eram muito mais altos do que os das novas

empresa e não era possível se manter praticando preços tão baixos como

estas novas empresas. Daí surgiu a questão sobre como se chegar a um

equilíbrio entre um bom load factor e uma boa tarifa média paga por quilômetro

voado pelos passageiros.

Achar este meio termo entre load factor e yield visando maximizar a receita

de cada vôo se tornou o desafio maior para a empresa. Para isso, a Delta

tomou três medidas fundamentais:

• Transformar os controladores de espaço em especialistas de oferta e

demanda;

• Utilizar computadores para acumular e analisar um banco de dados de

reservas de passageiros;

• Utilizar modelos matemáticos para prever demanda.

O investimento total da Delta foi em torno de US$2 milhões e gerou um

aumento de receita de US$300 milhões.

Em paralelo, Robert Crandall, chairman e CEO da American Airlines,

trabalhava na solução de desse problema. Ele partiu das seguintes premissas:

o custo de cada um dos assentos não é o mesmo e o valor percebido do

produto varia de passageiro para passageiro o que permite separar os tipos de

Page 15: Revenue Management

8

passageiros por quanto cada um está disposto a pagar por um e gerenciar a

disponibilidade de assentos com desconto. Passou então a ser denominado

por ele de Yield Management.

Tais medidas permitiram que a AA desbancasse de forma lucrativa as

pequenas empresas de baixo custo. Foi o começo do atual Revenue

Management.

1.5 A diferenciação tarifária – a segmentação por preço.

Uma das principais mudanças que houve a partir deste novo

procedimento a foi a segmentação do mercado e com ela o aumento do

número de preços oferecidos ao passageiro pelo mesmo trecho utilizado. Foi

concluído que quanto mais níveis de preço existirem, maior é a parte da

população que a empresa atingirá.

Para entender melhor a necessidade desta mudança, deve-se

considerar o exemplo mostrado nas figuras a seguir. Suponhamos que o único

preço cobrado por um determinado trecho operado por uma aeronave cuja

capacidade é de 100 assentos seja de R$ 50,00. Neste caso, de acordo com a

curva de demanda representada aqui, só conseguiríamos vender 50 assentos,

isto é, 50% da capacidade e obtendo uma receita total de R$ 5.000,00.

Page 16: Revenue Management

9

Curva de demanda

Figura 1

Curva de demanda

Figura 2

Page 17: Revenue Management

10

Entretanto, se conseguirmos segmentar os clientes pelo que se dispõem

a pagar, e vender cinco lotes de 20 assentos cada a preços de

respectivamente R$ 20, R$ 40, R$ 60, R$ 80 e R$ 100, a receita gerada será

de R$ 6.000,00. Isto acontece por que se conseguiu verificar que há demanda

tanto para preços menores do que os R$ 50,00 cobrados anteriormente, como

também, há aqueles que valorizam mais a qualidade do serviço prestado e

estão dispostos a pagar mais por isso. Os gráficos mostram ainda que quanto

mais segmentado for o mercado, maior o número de clientes que serão

atendidos. A área cinza é exatamente onde se localiza a demanda não

atendida pela quantidade de preços praticados neste determinado mercado.

O objetivo do yield management é, então, encontrar a quantidade ideal

de assentos, dentro das possibilidades existentes de tarifas e de demanda, a

ser vendida em cada classe tarifária de forma a maximizar a receita do vôo.

Mas o que seriam essas possibilidades existentes? Que tipo de passageiro irá

pagar 20 ou R$ 100? Além dessas questões, surgem outras que exigem que as

companhias que adotam o yield management decidam a toda hora e todos os

dias se, por exemplo, devem deixar de vender assentos antecipadamente,

reservando-os para passageiros de última hora que poderiam pagar mais, ou

quando devem vender um número maior de bilhetes com desconto por

saberem que não haverá demanda para os bilhetes mais caros.

Page 18: Revenue Management

11

1.6 Três abordagens de controle.

Há três enfoques de controlar o inventário de assentos: “Load Factor”;

“Yield” e “Revenue”.

1. O enfoque “Load Factor” (percentual de aproveitamento) leva o

Analista a trabalhar para que o vôo parta com a melhor taxa de

aproveitamento possível. Este enfoque pode ser utilizado, por

exemplo, quando o objetivo é apenas ganhar ou aumentar a

participação em um determinado mercado (market share). Assim,

não há a preocupação em vender as melhores tarifas ou não. O

que importa é simplesmente vender o maior número possível de

assentos mesmo que isso não resulte em boa receita.

2. O enfoque “Yield” leva o Analista a trabalhar com o objetivo de

obter a maior receita média possível por vôo não se importando

com o número de passageiros embarcados. Yield é o valor da

receita unitária por passageiro-quilômetro que é calculado

dividindo-se a receita total obtida em um vôo pelo número de

passageiros e ainda dividido pela distância.

3. O enfoque Revenue (enfoque na receita) é uma combinação dos

dois anteriores. O objetivo é encontrar o equilíbrio perfeito entre

as tarifas vendidas versus quantidade de passageiro visando

obter a maior receita possível em cada vôo.

O quadro abaixo mostra exatamente a diferença entre os três enfoques.

Supondo um vôo de 2.100 km com uma capacidade de 200 assentos, tem-se:

Page 19: Revenue Management

12

CLASSE RECEITA YIELD LOAD FACTOR

REVENUE

Y 420 20 10 17

M 360 23 13 23

H 230 22 14 19

L 180 30 55 37

V 120 15 68 40

Assentos Vendidos 110 160 136

Load Factor 55% 80% 68%

Receita Total $28.940 $30.160 $31.250

Receita Média $263 $188 $230

Yield $0,13 $0,09 $0,11

Receita por Assento-quilômetro

$0,069 $0,072 $0,074

Este ajuste fino entre a quantidade de passageiros e o quanto cada um

paga é fruto de um trabalho minucioso que depende de projeções as mais

precisas possíveis, feitas por sistemas computadorizados que utilizam

complexos modelos estatísticos que se baseiam tanto em dados históricos

como futuros de cada vôo / data / trecho / classe. É necessário, então, que os

dados inseridos no sistema sejam o mais precisos possíveis e que estejam

constantemente monitorados. Mais abaixo veremos, com detalhes, as

atividades necessárias para que isto funcione da melhor maneira possível.

Page 20: Revenue Management

13

O ponto crucial é a segmentação do mercado. Para determinar a

quantidade correta de assentos a serem protegidos em cada classe tarifária é

preciso conhecer a demanda bem como o seu comportamento de cada uma

separadamente. Esta demanda deve ser devidamente segmentada. Quanto

mais segmentos puderem ser criados melhor para a maximização da receita.

Sabendo desta necessidade, chegou-se à conclusão que o yield

management sozinho não era suficiente para aumentar a receita e mantê-la

desta forma. Viu-se a necessidade de incorporar outras atividades inerentes à

captação de receita formando assim o que hoje chamamos de REVENUE

MANAGEMENT (RM). Daí a idéia de que o RM deve ser uma estrutura que

englobe atividades como: planejamento de capacidade; pricing; planejamento

de produtos; marketing; vendas e yield management. O RM deve ser parte

integrante do planejamento estratégico da empresa. A ciência de incrementar

receitas através de ajustes de preço e capacidade coordenados não são mais

função de suporte do back-office, mas a alta administração deve considerar o

RM um componente importante da sua estratégia global.

Page 21: Revenue Management

14

CAPÍTULO II

ATIVIDADES DO YIELD MANAGEMENT

Um sério problema que as companhias aéreas enfrentam reside no fato

em que o comportamento dos passageiros, a própria companhia e o ambiente

em que se encontra, compõem a dificuldade em definir os níveis ótimos de

controle dos assentos que assegurará que todos os vôos previstos a sair

lotados de fato, saiam com todos os assentos ocupados. Da mesma forma,

aqueles vôos previstos a sair com assentos vazios, deveriam ter seus níveis de

inventários de assentos ajustados em todos os níveis de classe tarifária de tal

forma a permitir o maior número possível de passageiros a viajar pela

companhia.

Como foi dito anteriormente, a atividade do yield management é alocar o

número exato de assentos para cada classe tarifária disponível para um

determinado vôo.

2.1. A disponibilidade de assentos.

A distribuição de assentos entre as classes tarifárias3 existentes é feita

com base em cálculos de probabilidade estatística que aplica valores

econômicos para cada assento alocado em cada classe. Este cálculo se chama

3 Classe tarifária – Letra a qual estão associadas as reservas de acordo com a tarifa paga.

Page 22: Revenue Management

15

E.M.S.R. (Expected Marginal Seat Revenue – Receita Marginal por Assento

Esperada). O E.M.S.R. é a receita associada à venda de um assento num

determinado trecho e uma determinada classe de um vôo e é calculado a partir

da probabilidade de venda desse assento e da tarifa média dessa mesma

classe.

A fórmula para o cálculo do E.M.S.R. é simples:

EMSR(Si) = Ri x Pi(Si)

onde:

Ri = receita média da classe i

Pi(Si) = probabilidade de se ocupar um assento (S) pagando a receita

relativa à classe i.

Quanto mais acurados estiverem os dados históricos e mais afinado

estiver o sistema de otimização, com maior precisão as proteções destes

assentos serão feitas permitindo uma melhor captação de receita no vôo.

Não basta somente saber quantos assentos serão distribuídos entre as

diversas classes tarifárias existentes no vôo. Em conjunto com este trabalho,

está entre as atividades do YM garantir que os vôos que são previstos saírem

lotados, o façam de fato ou pelo menos saiam com o máximo de passageiro

possível de acordo com a demanda existente. Para tal, usam uma prática que

gera, hoje, muita polêmica no mundo da aviação civil: o overbooking4.

4 Overbooking – prática de aceitar reservas em um número maior do que a capacidade física.

Page 23: Revenue Management

16

2.2. O overbooking

O overbooking é uma fonte significativa de receita incremental para as

companhias aéreas. Os assentos que sairiam vazios, na realidade saem

ocupados com passageiros pagantes. Os benefícios econômicos do

overbooking ao público viajante não devem ser subestimados. Graças ao

overbooking mais passageiros têm acesso ao vôo de sua primeira escolha.

Assim, conseqüentemente, um menor número de passageiros terão suas

solicitações de reserva rejeitadas.

As companhias conhecem bem os impactos negativos do denied

boarding5 ao passageiro no check-in. O que não é bem conhecido é o impacto

de recusar uma solicitação de reserva para um passageiro devido o vôo estar

“lotado”. Em não aceitar as solicitações e assumindo que o passageiro não

escolherá outro vôo da companhia – seja na mesma data ou em outra, ou

ainda para outro destino – se, no dia da partida o vôo decolar com assentos

vazios, então uma receita significante terá sido perdida. O assento, uma vez

que não foi vendido, se perde quando um vôo parte, pois não pode ser vendido

novamente. Daí, diz-se ser um produto altamente perecível. Assim, a receita

não obtida com ele, não há é recuperada após a partida.

Mais ainda, se o passageiro subseqüentemente descobre que havia

assentos vazios no vôo no qual desejou ter viajado, mas sua solicitação foi 5 Denied boarding – passageiro com reserva e bilhete marcado, mas tem seu embarque negado devido a overbooking.

Page 24: Revenue Management

17

negada pela companhia, o impacto negativo, apesar de não ser imediatamente

reconhecido, ainda é significante. A receita que poderia ter sido adquirida pela

companhia com aqueles passageiros que tiveram suas solicitações de reservas

recusadas poderão ser perdidas para sempre.

O processo de permitir que mais assentos sejam vendidos a mais

do que a capacidade da aeronave causa confusão para o público e uma dor de

cabeça para as companhias aéreas. A razão disso é que às vezes as leis da

estatística trabalham contra ambos. Às vezes acontece que um número maio

de que o esperado de passageiros aparece para embarcar ocasionando os

denied boardings. Neste momento o pessoal do aeroporto tem a difícil e mal-

agradecida tarefa de enfrentar passageiros irados e irritados que tiveram seu

embarque recusado. As conseqüências negativas de se ter denied boardings

podem ser significativas para uma companhia. Os impactos crescem de acordo

com o número de passageiros com seus embarques recusados.

2.3. A definição do overbooking

Mas o overbooking não é só utilizado baseado na taxa de

comparecimento dos passageiros no momento do embarque (show-up rate).

Para permitir que um maior número de pessoas tenham acesso ao inventário

com antecedência, como foi dito anteriormente, deve ser considerado também

a taxa de cancelamento que ocorre durante a “vida” do vôo. Cada tipo de

passageiro tem um com comportamento diferente. Ou seja, se olharmos como

as reservas de cada classe tarifária se comportam durante um período de

Page 25: Revenue Management

18

tempo, veremos que as curvas de reservas (booking) têm comportamentos

diferentes como pode ser verificado na figura abaixo.

Suponha um vôo com apenas três classes tarifárias (Y, B, M) e que

tenha uma capacidade de 80 assentos.

Booking Curve

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100 80 60 40 20 5 1 0 -1

Dias de antecedência

Qtd

. de

psgr

s

Y B M

No caso acima, pode-se verificar que os passageiros que procuram a

tarifa relacionada à classe M não costumam cancelar suas reservas ao

contrário do que acontece com os passageiros que procuram a classe B.

Assim, calculando-se as taxas destes cancelamentos, foram disponibilizados

até 145 assentos (40 dias antes da partida) em um equipamento com apenas

80 assentos (81% de overbooking). Já no dia do embarque (dia 0) o número de

assentos disponíveis são calculados com base na taxa de comparecimento

Page 26: Revenue Management

19

(show-up rate). Desta forma, temos 95 passageiros reservados. Assim sendo, o

vôo acima parte com 78 passageiros dando um aproveitamento (load factor) de

97,5%.

Veremos uma outra situação no mesmo vôo:

Booking Curve

0

10

20

30

40

50

60

100 80 60 40 20 5 1 0 -1

Dias de antecedência

Qtd

. de

psgr

s

Y B M

No gráfico acima se constata uma situação diferente. O comportamento

dos passageiros em cada classe é o mesmo, mas a quantidade muda. Neste

caso, temos muito mais passageiros na classe M do que na classe B.

Sabendo-se que a curva de bookings da classe M é praticamente estável, ou

seja, não há muitos cancelamentos, o nível de overbooking antecipado não

deveria ser o mesmo do caso anterior. Aqui, temos os mesmos 145

Page 27: Revenue Management

20

passageiros reservados nos 40 dias que antecedem a partida. Por se trabalhar

o vôo da mesma forma como se fosse na situação anterior, resultaria neste

caso em passageiros com seus embarques recusados (denied boardings).

Uma vez que se tem um grande número de passageiros que não costumam

cancelar suas reservas chega-se no dia 0 com 104 passageiros e considerando

a taxa de comparecimento de cada tipo de passageiro, chega-se na hora do

embarque com 88 passageiros querendo viajar o que é impossível tendo a

aeronave apenas 80 assentos. Assim, 8 passageiros terão o embarque negado

devido ao overbooking.

Neste caso foram cometidos dois enganos. O primeiro foi com relação à

ter deixado uma quantidade muito grande de assentos disponíveis para uma

classe tarifária baixa o que impediu que um passageiro que tenha procurado

por uma classe mais cara tivesse acesso ao vôo. O segundo, o qual provocou

a ocorrência de denied boardings no aeroporto, foi ter aplicado o mesmo nível

de overbooking em dois vôos que apresentavam situações de reservas

diferentes um do outro.

Isto ilustra bem qual é o trabalho principal de um Analista de Yield. Na

tentativa de obter a maior receita possível em cada vôo de acordo com a

demanda existente, ele deve estar sempre preocupado em ajustar o sistema

para que possa gerar projeções exatas para cada vôo/data em cada período do

ano ou ocasiões especiais. Dependendo do período do ano, o comportamento

das reservas pode mudar. Há também as datas especiais como feriados e

eventos como feiras, congressos, etc. que provocam mudanças no

Page 28: Revenue Management

21

comportamento das reservas. Há parâmetros no sistema de otimização que

devem ser ajustados da melhor forma a fim de que as suas projeções sejam as

mais apuradas possíveis para que a margem de erro seja bem pequena e a

receita obtida seja máxima. Para que este resultado seja alcançado, é

necessário que a dedicação dos Analistas às estas atividades seja completa,

ou seja, sem que a sua atenção seja desviada para atividades que devam ser

atribuídas a outras equipes.

Page 29: Revenue Management

22

CAPÍTULO III

A INTEGRAÇÃO DAS ATIVIDADES

Para que se possa alcançar os resultados positivos para as rotas, as

atividades descritas no capítulo anterior, atribuídas aos Analistas de Yield não

são suficientes. Em assim sendo, nasceu a necessidade de aliar ao YM outras

atividades inerentes à geração de receita da Companhia tais como,

Planejamento e Linhas, Marketing, Planejamento Estratégico, Pricing6 e a

atividade de análise de mercado; primordial para o entendimento sempre

atualizado do ambiente externo. Todas estas atividades, juntas, formam o que

hoje chamamos de Revenue Management.

As duas atividades mais atuantes junto ao YM são a de Analise de

Mercado e de Pricing. A primeira tem como objetivo acompanhar as mudanças

constantes que ocorrem em cada mercado7 informando constantemente ao

Planejamento de Linhas, Pricing e Yield Management sobre estas mudanças.

Estas informações incluem situação macro-econômica ou países operados pela

Companhia, situação micro-econômica da concorrência, movimentação da

concorrência com relação à mudança de freqüência, de rota, equipamento, etc.

Geram, também, informações gerenciais sobre os resultados da empresa

separada por mercado.

6 Pricing – Atividade de análise e criação de preços. 7 Mercado – É chamado de mercado um par de cidades no qual uma Companhia aérea opera.

Page 30: Revenue Management

23

3.1 Analistas de Mercado

Para maximizar a receita é necessário conhecer a demanda de forma a

tirar maior proveito das oportunidades que ela gera. Por isso, o principal foco

do estudo de mercado é na demanda e na oferta. Existem diversos fatores que

afetam a demanda do transporte aéreo e o trabalho do Analista de Mercado é

estuda-los a fim de identificar as oportunidades que possam surgir.

Pode-se dividir estes fatores em três grupos:

• Seleção de modal, ou seja, os fatores que levam um passageiro a

escolher o avião como meio de transporte. Uma das características que

mais pesa na escolha do transporte aéreo como alternativa de modal é o

tempo com o qual se chega ao destino final;

• Participação de mercado, isto é, o que faz um passageiro escolher uma

determinada empresa aérea;

• Demanda específica para produtos individuais, que são os fatores que

influenciam o usuário na escolha de um produto de uma determinada

empresa aérea.

O preço da passagem e a segurança constituem outros fatores

importantes no processo de decisão do passageiro. As condições econômicas

como o desenvolvimento de uma certa cidade ou país de origem ou destino,

podem afetar a demanda de um determinado par de cidades a curto, médio ou

longo prazo dependendo das mudanças verificadas nestas cidades.

Page 31: Revenue Management

24

O transporte aéreo também é muito influenciado pelo período do ano e

apresenta comportamentos variados em função de férias escolares, feriados e

fins de semana. Mercados diferentes possuem comportamentos e picos

diferenciados.

A freqüência e o tipo do serviço prestado são outros fatores que

influenciam a demanda pelo transporte aéreo. A quantidade de dias da semana

ou de horários diários que uma companhia oferece (direto, escalas ou

conexões) contribui significativamente com a variação da demanda. A

qualidade do serviço para o consumidor aumenta quanto maior o número de

vôos uma empresa aérea oferece em uma determinada rota.

Cabe, então, ao Analista de Mercado estudar estes fatores, sugerindo as

modificações necessárias em cada um deles a fim de aproveitar as

oportunidades inerentes destes fatores.

Além disso, deve-se também entender o tamanho e as características

(perfil, comportamento, necessidades) de cada segmento para prever a

demanda e ajustar a oferta a ela. Esta atividade está ligada ao Marketing.

3.2 Marketing

É o Marketing que faz pesquisas periódicas que visam mostrar as

preferências dos passageiros com relação à nossa empresa e as demais.

Indicam também o perfil consumidor dos passageiros em cada mercado

dizendo se a sua preocupação está mais em torno do preço ou da qualidade do

Page 32: Revenue Management

25

serviço, etc. segmentando o mercado consumidor. Baseado nesta

segmentação são criados produtos específicos para cada tipo de passageiro.

Por exemplo, caso seja identificado que em um determinado mercado, a

demanda é constituída na sua grande maioria de pessoas idosas que não se

importam com o preço, mas sim com o atendimento terra e no check-in e que

os mais jovens, em sua maioria, têm opinião contrária, poder-se-ia criar tarifas

promocionais para estes jovens ao mesmo tempo em que seria criado um estilo

de atendimento especial voltado para os idosos.

Outra função do Marketing que interage com a estrutura de RM é a

propaganda voltada para os mercados onde a empresa está experimentando

queda significativa de demanda ou onde ela decide aumentar a oferta ou ainda

inicia uma nova operação. Esta interação se dá quando, para definir onde e

como atuar com tais propagandas, se baseia em informações de projeções de

demanda geradas no sistema de Yield Management e nos relatórios gerados a

partir de estudos de mercado.

Estas informações, juntamente com os relatórios se segmentação

criados graças às pesquisas feitas pelo Marketing, servem de base para as

decisões tomadas pelos Analistas de Pricing.

3.3 Pricing

O Pricing talvez seja a que forma junto ao YM, as duas atividades mais

importantes da estrutura de RM. Elas interagem entre si constantemente. Uma

se baseando em informações da outra para auxiliar nas tomadas de decisão.

Page 33: Revenue Management

26

Em conjunto, são as principais responsáveis por incrementar ou não a

obtenção de receita em um determinado mercado ou até mesmo em toda uma

malha8.

Com o início da desregulamentação do transporte aéreo nos Estados

Unidos, as empresas aéreas puderam praticar os preços que melhor lhe

conviessem. Diversos níveis de descontos foram aplicados. Mas, surgiu a

questão sobre como evitar que passageiros que estariam dispostos a pagar

mais caro por um determinado trecho pagasse mais barato e, ao mesmo

tempo, ter apenas um certo número de tarifas com descontos altos disponíveis

a fim de guardar assentos para os passageiros que pagam mais. Para resolver

este problema foram criadas o que chamamos de restrições tarifárias. Estas

restrições podem ser de vários tipos:

• Período de estada mínima e/ou máxima;

• Número de paradas durante o itinerário;

• Prazos limites para reservar e emitir os bilhetes;

• Condições para remarcação e reembolso;

• Etc.

Revenue Management é o uso das estratégias de pricing e de controle

de inventário para equilibrar a oferta e a demanda em uma forma de maximizar

a receita. Uma estratégia de pricing identifica os preços ótimos para os

produtos com restrições de compra associadas. É baseado nas necessidades,

8 Malha – é o conjunto de linhas aéreas de uma companhia interligando as cidades entre si. Pode ser divida em doméstica e internacional.

Page 34: Revenue Management

27

comportamentos e disposição em pagar dos clientes e os inventários

disponíveis. Uma estratégia de controle de inventário, por outro lado, equilibra

de uma maneira ótima o número de produtos descontos e sem descontos

identificando os inventários que estão disponíveis ou não aos clientes.

As estratégias de pricing e de controle de inventário estão estreitamente

relacionados. As decisões de pricing alteram as previsões de demanda que são

utilizadas pelo sistema de controle de inventário. Por sua vez, as decisões

concernentes à disponibilidade do inventário são utilizadas pelos sistemas de

pricing. Há diversas pesquisas sobre a interdependência que existe entre estas

duas atividades. Há pesquisas que mostram que sob certas circunstâncias de

relacionamento entre demanda e preço, para cada problema de pricing que é

resolvido existe um problema de controle de inventário equivalente associado.

O departamento de pricing foi criado a partir da necessidade de se

determinar o valor percebido pelo passageiro a um determinado produto. Uma

viagem de São Paulo para o ponto Brasília às 14:00h de uma sexta-feira no

mês de fevereiro em um Boeing 737-200, por exemplo, tem um valor menor

para o passageiro do que o mesmo trecho às 09:00h de uma segunda-feira no

mês de abril em um Boeing 767-300. Neste caso, cabe ao departamento de

pricing associar um preço maior para o segundo caso por identificar que o

passageiro atribui menor valor ao primeiro e vice-versa.

Page 35: Revenue Management

28

Além desta função, também determina preços baseados em na relação

entre demanda e oferta, condições macro-econômicas, concorrência e outros

dados gerados pelas análises de mercado.

Imagine o seguinte cenário:

Um certo mercado tipicamente de high yield9 tem sua demanda

bruscamente reduzida devido à entrada de uma nova empresa concorrente

juntamente com uma situação macro-econômica desfavorável.

Conseqüentemente, o aproveitamento médio também é reduzido. Para

recupera-lo juntamente com a receita perdida, o pricing modifica a estrutura

tarifária e cria preços mais competitivos. O yield management que antes da

mudança do cenário, usava uma estratégia de disponibilizar o mínimo possível

de classes tarifárias mais baixas a fim de atender aos passageiros high yield,

agora deve mudar toda a estratégia a fim de incrementar o aproveitamento

tentando manter a receita obtida anteriormente. Para que a estratégia seja

eficaz, o analista de yield deve estar em completa consonância com os dados

dos analistas de mercado e com as estratégias de pricing. Estas mudanças

devem ser refletidas no sistema de otimização modificando parâmetros que

interfiram nos cálculos estatísticos do sistema a fim de que este consiga fazer

as novas projeções corretamente e disponibilize a quantidade certa de classes

tarifárias certas no momento certo e pelo período de tempo correto.

O inverso também é verdadeiro. Os parâmetros do sistema de

otimização devem estar devidamente ajustados para gerar projeções

9 Mercado de High Yield – É dito do mercado onde a tarifa média por assento-quilômetro é alta.

Page 36: Revenue Management

29

adequadas a fim de suprir o pricing com informações sobre como será o

mercado em um futuro próximo para que se possa criar estratégias.

É muito importante que tanto o Analista de Pricing, como o Analista de

Yield sejam bem capacitados e tenham alta capacidade analítica e raciocínio

matemático. A capacitação deve ser principalmente em estatística, matemática

e tarifas para que a interação seja eficiente e eficaz.

Page 37: Revenue Management

30

CAPÍTULO IV

A ESTRUTURA DE REVENUE MANAGEMENT

4.1 Visão a respeito do Revenue Management.

Para muitos o Revenue Management é apenas uma denominação mais

requintada para Yield Management que não passa de uma outra denominação

complicada de Controle de Espaço e não passa de modismo e invenções

modernas para uma atividade exercida nas empresas principalmente de

serviços por muitas décadas. Entretanto, isso é uma falácia. Um sério engano

que pode custar a vida de uma empresa que lutou anos e até décadas a fio

para conseguir sobreviver no mundo capitalista no qual temos vivido todos este

tempo que está cada vez mais competitivo com o advento da globalização que

se torna mais presente e mais necessária a cada dia.

Por esta razão, as empresas erram no momento de organizar a sua

estrutura de RM. Principalmente por não perceber que o “mero” Yield

Management não é tão mero assim e que, mais do que um simples controle

numérico do inventário passou a ser uma ciência baseada em vários ramos da

Estatística onde já há especialistas nesta prática.

Antes de se pensar em como organizar uma estrutura de Revenue

Management, é necessário que se saiba que a mesma tem que ser ágil, e

inteiramente funcional e que, para tanto, tem que haver uma completa

interatividade entre as áreas que a compõem.

Page 38: Revenue Management

31

Sendo assim, tem-se que ter uma visão holística da empresa e de todos as

atividades que formam o Revenue Management. Para isso é necessário

conhecer cada uma delas para que se possa definir o que cada uma poderá

contribuir para que a empresa como um todo possa atingir suas metas de

obtenção de receita e assim continuar sobrevivendo e até mesmo sobressair e

se colocar em evidência apesar das agruras que o mundo capitalista e

globalizado de hoje nos apresenta.

4.2 As funções que compõem a estrutura de RM.

Antes de se pensar em formar uma estrutura de RM – seja ela qual for – é

necessário saber que o RM é acima de tudo uma cultura que deve ser

enraizada em todos os departamentos da empresa e em todos os funcionários

que os compõe. Todos devem saber o que realmente é o RM, os benefícios

para a empresa e na vida deles e como todos podem participar e contribuir

para o sucesso de sua utilização.

A quantidade e o tipo das funções elencadas para formar a estrutura

desejada pode variar um pouco dependendo do tamanho e do ramo da

empresa. Apesar de tudo isso ter sido criado para uma empresa aérea e ter

evoluído dentro deste ramo, a mesma estrutura pode ser funcional em qualquer

outro ramo da indústria de prestação de serviços e em alguns ramos de outras

indústrias obedecendo a suas restrições não importando o seu tamanho seja

ela macro, média e micro-empresa.

Esta estrutura deve ser tal que facilite a comunicação entre todas as

áreas que exerçam atividades diretamente relacionadas à captação de receita.

Page 39: Revenue Management

32

Cada tipo de empresa tem seu número de departamentos dependendo do

tamanho e do ramo a que pertence. Aqui veremos o básico de uma companhia

aérea por ser o foco deste trabalho. Mesmo que estas funções sejam atribuídas

a um só departamento ou até mesmo a uma só pessoa, elas existem. São elas:

Comercial e Vendas / Marketing / Análise de Mercado / Análise de preços /

Yield Management / Planejamento e Produtos.

O ideal é que haja três grupos podendo ser três Gerências Gerais

coordenadas diretamente pela Presidência ou uma Vice-Presidência criada

especialmente para isso ou uma única Gerência Geral coordenando tais

grupos. O importante aqui é que a estrutura seja montada de tal forma que

facilite a comunicação entre estes grupos de atividade e o processo seja

eficiente e eficaz.

Assim sendo, a estrutura é montada a partir do fluxo abaixo:

GER. GERAL DE PLANEJAMENTO

E PRODUTOS

GERÊNCIA GERAL DE R.M.

GERÊNCIA DE GRUPOS

GERÊNCIA DE YM

GERÊNCIA DE ANALISE DE MERCADO

GERÊNCIA DE PRICING

GER. GERAL COMERCIAL

A preocupação aqui é mostrar a interação entre os departamentos e

divisões no em todo o fluxograma. Como pode ser percebido, é importante que

Page 40: Revenue Management

33

as três Gerências interajam sempre. O ideal seria até que as três Gerências

estivessem próximas fisicamente ou em salas próximas ou até mesmo na

mesma sala onde estariam sempre se reunindo a fim de tomarem decisões em

conjunto, pois, desta forma, toda ação teria um retorno mais eficaz do que

quando são tomadas separadamente.

Abaixo descrevo algumas das funções de cada divisão da Gerência de RM

de forma generalizada. É claro que cada empresa deve adequar estas funções

de acordo com a sua estrutura física e tecnológica.

• Yield Management

o Analisar os vôos de datas passadas, principalmente no dia anterior;

o Informar dados e previsões dos próximos vôos para o departamento

de planejamento a fim de tomar decisões sobre mudança de rota,

freqüência, horário, etc.

o Informar ao departamento de pricing dados relativos à demanda para

auxiliar na decisão em relação à formação de preços e produtos.

o Informar quaisquer mudanças na demanda nos mercados ao

departamento de marketing e produtos auxiliando na criação de

estratégia de marketing e criação de novos produtos.

o Suprir de informações a gerência comercial para auxiliar nas

tomadas de decisões e estratégias de vendas.

o Maximizar a receita de cada vôo com base nas projeções de

demanda e no estudo do comportamento de cada curva de reserva

em cada classe, vôo, horário e freqüência utilizando as ferramentas

disponíveis e as técnicas descritas no capítulo II.

Page 41: Revenue Management

34

o Interagir com o departamento técnico da base de dados do sistema

de inventário a fim de identificar possíveis problemas na distribuição

de disponibilidade dos vôos.

• Grupos:

o Analisar as solicitações de grupos confirmando-as ou não de acordo

com o preço oferecido e com a disponibilidade de assentos e

interagindo diretamente com o departamento de Yield Management.

o Analisar as solicitações de acordo com a materialização de cada

solicitante.

o Gerenciar os prazos dos grupos quando não são automáticos por

motivos comerciais ou estratégicos de mercado.

• Pricing:

o Acompanhar os níveis de tarifas / preços e desenvolver estudos para

melhor posicionamento da empresa no mercado;

o Manutenção das tarifas no sistema ATPCO;

o Harmonizar tarifas;

o Informar tarifas atualizadas para a base de dados do sistema de

otimização utilizado pelo YM.

o Avaliar acordos tarifários com outras companhias.

o Definir níveis tarifários que serão aplicados em acordos bi/trilaterais;

o Definir níveis tarifários que serão aplicados em tarifas negociadas;

o Assessorar as Gerências Gerais no estabelecimento da política de

pricing

o Sempre em contato com os Analistas de Yield; Gerências de Vendas,

lojas de passagens/aeroportos e Analistas de Mercado em busca de

Page 42: Revenue Management

35

informações para criar ou modificar os preços e suas regras

oferecidos no mercado.

o Criar, cancelar, modificar produtos tarifários e suas regras.

• Análise de Mercado:

o Analise comparativa demanda da companhia e da concorrência –

MARKET SHARE;

o Analise comparativa da oferta da companhia e da concorrência –

CAPACITY SHARE;

o Analise comparativa da conectividade da companhia e da

concorrência;

o Analise comparativa da receita gerada pela companhia e pela

indústria de aviação como um todo – REVENUE SHARE;

o Analisar previsão de Load Factor X Break Even por vôo;

o Elaborar estudos de viabilidade econômica para novas rotas;

o Gerar relatórios gerenciais para as diversas Gerências da empresa;

o Gerar relatórios gerenciais específicos para a área de vendas;

o Gerar relatórios gerenciais que auxiliem nas decisões das divisões

de Pricing e Yield Management.

Page 43: Revenue Management

36

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A ciência do Revenue Management se mostrou indispensável para uma

empresa no ramo da aviação civil que queira sobreviver à forte competição

existente no mundo de hoje. Principalmente com a total desregulamentação

iminente no setor no Brasil onde só há nas rotas domésticas no momento.

Fazendo uso desta ciência, a empresa será capaz de vender o produto

certo, ao preço certo, para o cliente certo, no momento certo e assim se

encontrar em vantagem competitiva. Para que isso seja possível, é necessário

que alguns pontos sejam observados.

O primeiro é que todos os funcionários devem se comprometer

intensamente com a empresa. Todos devem focar seus esforços na receita que

pode ser obtida pela companhia mesmo que, para isso, tenham que mudar a

maneira de pensar e quebrar alguns paradigmas.

O segundo ponto importante é a comunicação. Todas as áreas devem

estar sempre em contato para que as atividades de uma possam sempre

contribuir com outra e não atrapalhar como acontece em muitos casos hoje em

empresas de grande porte.

Deve-se também ter bem claro que o Revenue Management não é

apenas uma atividade isolada, mas um agregado de atividades de vários

departamentos e todos eles devem ter o foco voltado para suas funções sem,

Page 44: Revenue Management

37

no entanto, deixar de perceber as implicações destas nas das demais divisões

que fazem parte do todo que se traduz diretamente da rentabilidade total de

empresa. A cultura do Revenue Management deve ser divulgada para toda a

empresa, pois só assim todos podem cainhar para o mesmo objetivo.

Page 45: Revenue Management

38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 – BELOBABA, P, P. Airline differential pricing for effective yield management. In: HANDBOOK of Airline Marketing. New York, McGraw-Hill, 1998a. p.349-61.

2 – BELOBABA, P, P. The Evolution of airline yield management: fare class to origin-destination seat inventory control. In: HANDBOOK of Airline Marketing. New York, McGraw-Hill, 1998b. p.285-302. 3 – CROSS, R.G. An introduction to revenue management. In: HANDBOOK of Airline Economics. Fall Church, McGraw-Hill, 1995. p.443-58. 4 – CROSS, R.G. Revenue management – Maximização de receitas: táticas radicais para dominar o mercado. Rio de Janeiro, Campus, 1998a. 5 – CROSS, R.G. Trends in airline revenue management. In: HANDBOOK of Airline Marketing. New York, McGraw-Hill, 1998. p.303-18. 6 – DUNLEAVY,H, N. Airline passenger overbooking. In: HANDBOOK of Airline Economics. Fall Church, McGraw-Hill, 1995. p.469-76. 7 – DAUDEL, S. & VIALLE, V. Yield Management – Applications to air transport and other service industries. Paris, Institut du Transport Aérien, 1994a. 8 – MAYO, D. Contribuições para implementação do yield management em companhias aéreas brasileiras.São Paulo, Escola Politécnica – USP, 1999.