revelação 269

12

Upload: universidade-de-uberaba-uniube

Post on 21-Feb-2016

242 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 18 à 24 de novembro de 2003

TRANSCRIPT

Page 1: Revelação 269
Page 2: Revelação 269

Newton Luís Mamede

2 18 a 24 de novembro 2003

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba ([email protected])

Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva ([email protected]) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Projeto gráfico: André Azevedo ([email protected]) Diretor doCurso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Karla Borges ([email protected]) • • • Professoras Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]), Neirimar deCastilho Ferreira ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Analista de Sistemas: Tatiane Oliveira Alves ([email protected]) • • •Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica ImprimaFale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Jornal Revelação - Sala L 18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8953http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: [email protected] - As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

Já é se tornou um chavão ou frase feita oconceito de que a razão de ser de uma escola éo aluno. Nada mais real – para usar de outrochavão. Entendida como simples empresa quepresta serviço a um cliente, ou, em amplitudetaxionômica, como instituição de educação, deformação moral, intelectual, cultural e cien-tífica de jovens, de pessoas, a escola visa aoaluno, gira em torno dele, tem-no como centroe rumo de todas as suas atenções e ações. Porisso, a escola é uma instituição que surgiu parao aluno. Qualquer que seja o nível de ensino ea categoria da escola. A universidade inclusive.

A universidade! Já refletimos, comfreqüência, a respeito da necessidade, da im-portância e dosentido da uni-versidade nocontexto social,principalmentede sua partici-pação e atuaçãono progresso eno desenvolvi-mento da sociedade. E, nessa linha de pro-gresso e de avanço, exige-se dela um per-manente esforço de atualização e de moder-nidade, de constante adaptação às tendênciase às exigências do momento histórico em queela vive. Principalmente se se considerar quea universidade é escola de formação deprofissionais de nível e de conduta científica.Por isso, a modernidade no ensino é condiçãosine qua non para a sobrevivência da uni-versidade. Modernidade que combata a crisepor que ela passa, tanto em âmbito nacional,quanto mundial. A estagnação de conheci-mentos significa retrocesso e atraso, e a univer-sidade é centro de estudos e de pesquisas queampliam, geram, produzem conhecimento.

Nenhum esforço de remodelação, atua-lização e modernização da universidade,porém, tem sentido ou surte efeito se nãocontar com a participação e a dedicação dosestudantes, dos universitários. Isto é, do alvo,do centro e do fim da universidade. Partici-pação ativa e dedicação responsável em todosos atos que constituem a vida do estudante uni-

versitário: estudo, espírito científico, preparoteórico e prático para o exercício profissional,e mais participação comunitária, atuação sociale política, formação de consciência esclarecidasobre os problemas que a sociedade vive e quereclamam solução.

Nos estudos acadêmicos, em sala de aula,nos chamados “bancos de escola”, o universi-tário se distingue pela superioridade e profun-didade dos conteúdos estudados. Essa distin-ção amplia-se e avoluma-se à medida que aaplicação de cada aluno se faz presente, de for-ma responsável e com a consciência de apren-der para a vida, e não para a escola. De apren-der para solidificar conhecimentos que irão

fundamentar osprocedimentosde trabalho pro-fissional e deconstrução dasociedade. E nãode aprender ape-nas para a ob-tenção de notas.

Essa é a postura ideal do estudante univer-sitário. Mas será que é isso que acontece, defato, ao menos com a maioria de nossos estu-dantes? Com os estudantes de hoje? A condutaque ostentam revela, de fato, superioridadede estudos? Estão realmente se preparandocom seriedade e competência para a vida deprofissionais de nível superior? Com ver-dadeiro espírito científico, de estudos e depesquisas? O grau de conhecimento queadquirem e possuem é compatível com a sérieou período que estão cursando na universi-dade? Ou é um grau igual ou inferior ao nívelde curso médio? Os estudantes universitáriosde hoje estudam, mesmo?

São questionamentos que se fazem e queincomodam, ou angustiam. O mau desempe-nho dos estudantes prejudica toda a insti-tuição universidade. Mas eles serão, indis-cutivelmente, os mais prejudicados. Agora eno futuro.

Newton Luís Mamede é Ombudsman daUniversidade de Uberaba

O estudanteuniversitário

Nenhum esforço de remodelação,atualização e modernização da universidade,porém, tem sentido ou surte efeito se nãocontar com a participação e a dedicaçãodos estudantes, dos universitários

Atualmente, uma grande preocupação dasempresas é retribuir para em projetos sociais.

Até pouco tempo atrás, a expressãoresponsabilidade social era desconhecida nasempresas por todo Brasil. Poucos empresáriosse preocupavam em retribuir à sociedade, emforma de benefícios sociais, aquilo quepertencia a ela: a terra que as empresas usampara extrair sua matéria-prima. As enormescarências e desigualdadessociais existentes em nossopaís dão à responsabilidadesocial empresarial rele-vância ainda maior.

A sociedade brasileiraespera que as empresascumpram um novo papel no processo dedesenvolvimento: sejam agentes de uma novacultura, sejam atores de mudança social,sejam construtores de uma sociedade melhor.

A TIM/Maxitel, por intermédio da Lei deIncentivo à Cultura, que reduz o ICMS(Imposto de Circulação de Mercadorias eServiços) das empresas, está investindo emum projeto que incentiva alunos de baixarenda à buscarem novas formas de apren-dizagem: o Projeto TIM ArtEducAção. Em2003, terceiro ano do projeto em Uberaba, asatividades começaram no dia 11 de abril eterminaram no dia 11 de novembro, com amostra final, aberta à toda comunidade,realizada no Teatro Experimental da cidade.

Esse movimento de valorização daresponsabilidade social empresarial ganhouum forte impulso na década de 90, através da

ação de entidades não-governamentais,institutos de pesquisa e empresas sensi-bilizadas para a questão. As empresas pas-saram a interagir com a comunidade, uma vezque pensavam em apenas recolher tributos egerar empregos. A responsabilidade social nãose restringe mais somente à doação dedinheiro, mas também ao compartilhamentode recursos, oportunidades, conhecimento e

acompanhamento dos in-vestimentos feitos à socie-dade por parte dos colabo-radores das empresas. Hoje,esse tema se tornou rele-vância nos principais cen-tros da economia global,

discutido em várias diretrizes das atividadesempresariais, com o intuito de promover oexercício da cidadania, satisfazendo acomunidade onde essas empresas estãoinseridas.

Com isso, podemos concluir que “nãoexistem grandes empresas sem grandesprojetos sociais”. A empresa de pequeno,médio ou grande porte deve se preocupar eminvestir em responsabilidade social, usandoa consciência. Fazendo isso, esta empresaserá bem-vista no mercado global. Essa é umadica para aquelas empresas que procuramsempre expandir o seu mercado em busca deuma qualidade superior aos concorrentes. Adecisão de compra de um consumidor vaipesar muito na hora da escolha. O clienteprecisa ser conquistado. Nada melhor que serconquistado por uma empresa cidadã.

Responsabilidade

Social

“Não existem grandesempresas sem grandesprojetos sociais”

Responsabilidade

Social

Page 3: Revelação 269

3318 a 24 de novembro de 2003

Fábio Luís da Costa3º período de Jornalismo

Tortura, choques elétricos, algemas,confinamento, internação em manicômios eaté mesmo lobotomia (operação no cérebroque torna o indivíduo uma espécie de “morto-vivo”). Estes eram os tratamentos utilizadoshá alguns anos para inibir o comportamentodos portadores de transtornos mentais.

Após longo tempo de sofrimento, estarealidade começou a ser modificada no Brasil,a partir da década de 70, quando surge oMovimento Nacional de Luta Anti Mani-comial. O movimento propunha a ReformaPsiquiátrica, através de um ato de protestopara erradicar trata-mentos obsoletosque em nada auxi-liam na melhora eauxílio ao enfermomental.

A partir destadécada, o movimento ganha vitalidade e visi-bilidade social, quando propõe a desinstitu-cionalização, não como sinônimo de desos-pitalização, mas de transformação de saberese práticas em lidar com a loucura.

Nessas considerações estão embutidasnovas formas de relacionar em saúde mental,abrindo o campo para outros profissionais, em

destaque para osque lidam com aarte e o processocriativo, na buscade cuidados maisflexíveis e estimu-lantes.

As oficinas terapêuticas de arte surgemcomo complementação do trabalho dereinserção social das pessoas em sofrimentopsíquico. A arte como processo de estímulo àcriatividade permite aos usuários a expressãoe comunicação de idéias e emoções.

Arte como remédioPartindo do princípio que a arte possibilita

o aumento da auto-estima e a expansãoemocional, diminuindo a ansiedade doportador de transtorno mentais, a FundaçãoGregório Baremblitt resolveu apostar nesteprocesso.

Tanto que, a instituição promove de 11 a22 de novembro uma mostra de arte naBiblioteca Municipal Bernardo Guimarães,reunindo os trabalhos artísticos dos pacientesatendidos pela instituição.

O trabalho de Oficina de Arte na fundação,iniciada neste ano, volta-se para o aten-dimento, principalmente, de pessoas porta-doras de transtornos mentais severos já queestas têm uma menor participação em outrasatividades que exigem habilidades motoras econcentração.

Elisa Carvalho, arte-educadora e uma dascoordenadoras do evento, diz que o ProjetoPaisagens do Inconsciente, são oficinasterapêuticas de arte, que surgem comocomplemetação do trabalho de reiserção socialdas pessoas com sofrimentos psíquicos. “OProjeto serviu para o usuário ter uma melhorsociabilidade com os familiares, além de termelhorado a convivência entre eles,” conta Elisa.

Tratamento à base deUsuários da Fundação Gregório Baremblitt desenvolvem verdadeiras obras primas

Maluco Beleza!

Projeto Paisagens do Inconscientesurge como complemetação dotrabalho de reiserção social daspessoas com sofrimentos psíquicos

“O Projeto serviu para o usuárioter uma melhor sociabilidadecom os familiares, além de termelhorado a convivência entre eles”

Para Wanice Facure, também cooder-nadora do projeto, a análise sobre a mostranão é diferente em relação a Elisa. Waniceacrescenta que o contato com obras de Por-tinari, Dali, Tarsila do Amaral, entre outros,trouxe momentos de contemplação e debeleza para os usuários. “Foi a partir dessasobras que eles começaram a desenvolversuas artes e assim, o fazer artístico permiteque se fale indiretamente de problemas, davida, dos sentimentos para com o mundo”,conclui Wanice

As técnicas utilizadas para os usuáriosaperfeiçoarem as suas criações são as maisvariadas. De colagens à pinturas, dedesenhos à técnicas não muito sofisticadas.As obras de artes, feitas por essessimpáticos artistas não possuem padrõesestabelecidos. As formas são distintas,abstratas, e não muito sofisticadas, mastemos a exata noção de que, as artesapresentadas deixam claro a disposição e adinâmica eficaz que foram aplicadas asoficinas.

Mudanças comportamentais são per-ceptíveis quando as visitas são feitas àBiblioteca. Com sorrisos estampados nosrostos, os simpáticos usuários, recebem os vi-sitantes com um grande entusiamo, fazendoquestão de mostrar cada obra feita.

artefotos: Fábio Luís da Costa

Page 4: Revelação 269

4

André Azevedo da Fonseca4º período de Jornalismo

A língua portuguesa, assim como qualqueroutro idioma, é muito mais viva, rica ecolorida que sua gramática normativa. Asinúmeras variedades do português falado pormilhões de brasileiros de diferentes regiões,tradições, idades e classes sociais podem serentendidas como um tesouro lingüístico, umverdadeiro patrimônio cultural de nossadiversidade.

Os sabores sor-tidos das cons-truções sintáticas,dos sotaques e dosvocabulários sur-gidos na esponta-neidade do coti-diano são frutos evidentes dessa fertilidade.

No entanto, as variedades lingüísticas não-padrão são estrategicamente desprezadas poruma elite culta que, sob o pretexto de defendera língua portuguesa, carimba o diferente sobo rótulo do erro. Essa minoria elege umpadrão ortográfico, fonético e gramatical edeliberadamente renega as demais variaçõescomo se fossem corpos estranhos à língua.

Assim, entende como deficiente o falanteque diz “Cráudia”; acha que é ignorante osujeito que fala “nóis vai”; considera tosco ovizinho que fala “me passa a cuié”; afirmaque é estúpido o moço que diz “fósfro”.

Contudo, estudos sociolingüisticossugerem que este preconceito não énecessariamente contra as palavras, mascontra a própria classe social dos falantesdessas variedades.

Portanto, as expressões “ficam bonitas”quando são usadas por gente importante, rica,poderosa, mas“ficam feias”quando faladaspelas pessoasque, por fatoressociais, geográ-ficos, raciais –ou pelo fato denão terem tido a sorte de nascer em umafamília rica e poderosa – sofrem as injustiçassociais. Dessa forma, o português não-padrãoé vítima do mesmo desdém a que estãosubmetidos os seus falantes.

Há uma furiosa desavença entregramáticos e sociolingüistas a respeito dessetema. “Fósfro” é erro ou variedade? Mas naverdade, essa discussão se esvaziaria casofossem compreendidos os pressupostos

fundamentais de cada raciocínio:1) Não há regras estáticas, pois as línguas

estão em constante transformação eadaptação. As desobediências às normas sãofenômenos coerentes e fazem com que alíngua permaneça viva e não se fossilize emarcaísmos. As variedades não-padrão são,portanto, processos históricos cuja orga-nização interna possui lógica própria,explicável do ponto de vista lingüístico,psicológico ou mesmo fisiológico.

2) O ensino danorma-padrão –ou seja, das regrasdo português queregem os textostécnicos, as leis, osdocumentos e osdemais escritos

formais – é uma atitude política de construçãoda cidadania, pois significa convidar ocidadão a interpretar e a participar do jogo dasociedade com os mesmos instrumentoslingüísticos da elite culta.

Portanto, amar as variações não significaodiar a norma. Mas apesar de parecer evidenteque os dois raciocínios não se excluem, adiscórdia persiste. Gramáticos seguemacusando lingüistas de supervalorizar o usopopular, de admitir indiscriminadamentequalquer vulgaridade e de empobrecer alíngua. Lingüistas chamam os gramáticos deconservadores, reacionários e defensores deuma regra opressiva incapaz de trazerrespostas aos desafios do português moderno.

Em A língua de Eulália (Contexto, 1997)e Preconceito lingüístico: o que é, como sefaz (Loyola, 1999) o estudioso MarcosBagno trava um diálogo com o leitor sobrea história das transformações lingüísticas e

faz uma defesaapaixonada doportuguês não-padrão.

Critica deforma incisiva omito do idiomaúnico no Brasil,

primeiro lembrando das mais de 200 línguasfaladas por sobreviventes indígenas, esobretudo porque, para ele, “não existenenhuma língua que seja uma só”. Bagnoexplica que apenas uma variedade do idiomachegou a alcançar o prestígio de norma-padrão por causa do grande investimento querecebeu – ou seja, a constante atualização eincorporação de vocabulário técnico, palavraseruditas, metáforas e construções sintáticas a

fortaleceu como o código oficial para aredação culta.

Mas esse procedimento – que é umaescolha política – pode ser feita com qualquervariação. Já houve casos em que esseinvestimento foi realizado em línguasindígenas ou ar-caicas, transfor-mando-as, assim,em línguas cultasperfeitamente ca-pazes de responderaos desafios de co-municação contem-porâneos, assim como à produção técnica eliterária. É o caso do idioma maori, na Aus-trália, e do hebraico moderno, em Israel.

É preciso ter sempre em conta que, nahistória das transformações da língua, fatoresinternos e externos à própria estrutura doidioma concorrem para que determinadavariação seja mais prestigiada que outras. Oitaliano de hoje, por exemplo, foi originadoem uma região chamada Toscana – um dos

mais importantes pólos comerciais e culturaisno período do Renascimento. Foi nessavariedade do italiano que Dante, Petrarca eBocaccio escreveram suas obras-primas.

Na Espanha, o castellano consolidou-secomo a língua-padrão porque, originária da

região da Castela,alcançou enormeprestígio por ser avariação falada pe-los reis que derro-taram os árabes,colocando fim a800 anos de do-

minação. A propósito, foi justamente do latim-vulgar, falado por legionários e emissários,que surgiram todas as línguas chamadasromânicas (provenientes de Roma), como,além dessas duas anteriores, o português, ofrancês e o romeno.

No Brasil de hoje, a hegemonia político-econômica do sul-sudeste faz com que asvariações do português falado nessas regiõesseja mais prestigiada e privilegiada na

A língua do patrãoUsos do idioma reproduzem relações de poder na sociedade

Estudos sociolingüisticos sugeremque os preconceitos não são contra aspalavras, mas contra a própria classesocial dos falantes dessas variedades

Portanto, as expressões “ficam bonitas”quando são usadas por gente importante,mas “ficam feias” quando faladas pelaspessoas que sofrem as injustiças sociais

A hegemonia político-econômicado sul-sudeste faz com que asvariações do português faladonessas regiões seja mais prestigiada

Sociedade

Alice Francisca, José Alexandre e o filho Sóstenes, na capa do livro“Preconceito Linguístico”, do linguista Marcos Bagno

18 a 24 de novembro 2003

Page 5: Revelação 269

35

configuração das normas-padrão a que todosos falantes, independente das regiões, sãolevados a se submeter.

Essa arrogância costuma fazer com quealguns preconceitos sejam solidificados. Paradizer que a fala nordestina é “ridícula”, porexemplo, falantes de outras regiões apontamo quanto é engraçado aquela variação ondeas pessoas dizem “oitcho” e “muitcho”referindo-se ao termo oito e muito.

No entanto, consideram normal quandoum carioca, um mineiro ou um capixaba diz“tchia”, “tchico-tchi-co” e “tchigre” quan-do a grafia registratia, tico-tico e tigre.Por que, então, a ocor-rência desse fenô-meno fonético no “i”é normal mas no “o”é ridículo?

Lógica do não-padrãoMarcos Bagno lista uma série de exemplos

para mostrar algumas construções lógicas doportuguês não-padrão. Por tratar-se de umavariação enxuta, econômica, modesta e menosvaidosa, o português popular articula-se emconstruções mais diretas, funcionais e livres,ao contrário da norma culta, que é cultivada,redundante e regrada.

Nas frases em plural, por exemplo, avariação popular costuma utilizar apenas umamarcação de pluralidade, por entender queassim é suficiente para mostrar que os demaistermos também são plural. Portanto, se na

norma-padrão temos que flexionar diversoselementos para fazer as devidas concor-dâncias e enfim dizer “As meninas usambiquinis coloridos”, no português de ruapodemos dizer tranquilamente “As meninausa biquini colorido”, sem qualquer prejuízopara a compreensão – pois ninguém temdúvidas que “As menina usa” se refere avárias garotas. Contudo, mesmo aí há umacordo: a marcação é feita sempre no primeirotermo da frase. Ninguém diz: “A meninasusa”, ou: “A menina usam” para marcarplural. Há lógica nessas construções, assimcomo há uma regra regendo a construção:“Ques moleque mais levado”, muito usada eaceita pelos mineiros.

A simples compreensão dos fenômenosfonéticos é capaz de demonstrar a falta decritérios dos preconceitos lingüísticos. Emalgumas variedades do português, por

exemplo, o fonema /l/ (símbolo usadopara representar osom “lhê”) simples-mente não existe.Assim, a palavra“calha” é pronun-ciada “cáia”; “colher”fala-se “cuié”; e “te-

lha” diz-se “têia”. Esse fenômeno chama-seassimilação, e ocorre porque os fonemas /l/ e/y/ (símbolo usado para reprentar o i, comoem ai) são produzidos quase na mesma zonade articulação na boca. Isso se chama yeísmo,e acontece em muitas línguas, como noespanhol e no francês.

Mas se essa variação é ridicularizada,outras são aceitas mesmo entre falantes cultos.Por exemplo, é perfeitamente comum aocorrência da redução do ditongo EI em Equando está diante das consoantes J e X. Issotambém acontece por causa da mesma zonade articulação entre a semivogal /y/ e aquelasconsoantes. Assim, falamos “quêjo” e “dêxo”

quando as palavras registram “queijo” e“deixo”. É isso que faz “beijo” e “desejo”rimarem com tanta tranquilidade nas cançõespopulares. Por uma divertida ironia, aansiedade em “falar certo” provoca muitasvezes um excesso de correção, levandofalantes cultos se atrapalhem ao dizer“carangueijo”, “bandeija” e “prazeiroso”,quando o registro escrito marca caranguejo,bandeja e prazeroso.

O caso do “chicrete”, “pranta” e “Cráudia”é muito curioso. Ridicularizado à exaustão porfalantes cultos que atribuem a substituição doL pelo R a uma espécie de atraso mental dofalante, esse fenômeno histórico, chamadorotacismo, acontece constantantemente econtribui até mesmo para a formação de novaslínguas. Muitas palavras do português foramoriginadas por causa disso. A palavra“branco”, por exemplo, deriva do germânicoblank. Das derivadasdo latim, podemoscitar “cravo”, queveio de clavu;“dobro”, de duplu;“escravo”, de sclavu;“fraco”, de flaccu,“obrigar”, de obli-gare; “praga”, deplaga, entre inúmeros termos. Essa mudançaacontece quando a comunidade de falantesnão usa a zona de articulação que produzo fonema do encontro consonantal com aletra L – assim como nós, brasileiros, nãousamos o fonema TH, do inglês, como emthieve. A propósito, em “Os Lusíadas”,Camões escreve, entre outras coisas,“ingrês”, “pubricar”, “frauta”, “frecha”etc. Evidentemente ninguém tem coragemde dizer que Camões, o patriarca dal íngua por tuguesa, sofr ia de a t rasomental.

Portanto, para Marcos Bagno, os pro-fessores de português deveriam explicar esses

fenômenos e destacar o valor social atribuídoaos usos da língua. E isso não significa deixarde ensinar a norma-padrão, que goza deprestígio social e, por isso, abre portas nasociedade. Mas o autor afirma que o ensinoda gramática deve ser um estudo crítico, capazde apontar as contradições, os arcaísmos e asinadequações da própria norma, assim comoabrir as possibilidades de estudo das demaisvariações.

A psicologia social nos diz que, nocotidiano, somos capazes de usar várias

máscaras de acordocom as circuns-tâncias. Assim, aapropriação consci-ente das variedadesdo português nosoferecem instrumen-tos para adequar anossa fala a todos os

encontros e exigências sociais, tornandoassim nossa comunicação mais eficiente ehumana.

Nas aulas de concordância verbal enominal oferecidas nos cursos de extensão daUniube, o professor Décio Bragança defendeque o ensino da norma-padrão é sobretudouma atitude de libertação, pois oferece aocidadão as chaves para interpretar as sutilezasda língua culta usadas para maquiar asrelações de poder e submissão na sociedade.A propósito, essa idéia está explícita nopróprio slogan impresso nas apostilas docurso: “Dominar a estrutura da língua éexercer a cidadania”.

Para o linguista Marcos Bagno,professores de portuguêsdeveriam destacar o valor socialatribuído aos usos da língua

Ensino da gramática deve ser umestudo crítico, capaz de apontar ascontradições, os arcaísmos e asinadequações da própria norma,

O ensino da norma é uma atitudepolítica, pois significa convidar ocidadão a participar da sociedadecom os mesmos instrumentoslingüísticos da elite culta

As desobediências àsnormas são fenômenoscoerentes e fazem com que alíngua permaneça viva e nãose fossilize em arcaísmos

18 a 24 de novembro de 2003

Page 6: Revelação 269

Fábio Luís da Costa3º período de JornalismoGraziela Christina de Oliveira1º ano de Jornalismo

Levar cultura e promover a inclusão socialde crianças e jovens de baixa renda através deatividades como artes plásticas, dança, cantocoral e teatro. Este é o objetivo de um programaque vem gerando resultados em algumascidades de Minas Gerais.

O Projeto TIM ArtEducAção, é umaparceria da empresa de telefonia Telecom ItáliaMobile - TIM/Maxitel e de algumas prefeiturasmunicipais, além da Secretaria de Cultura deMinas Gerais.

O programa teve início na cidade de Viçosa.Uma experiência proposta pelo ex-professor deMatemática, diretor de teatro e produtor cultural,Marcelo Soares de Andrade, secretário deCultura, Esporte, Lazer e Patrimônio da cidade.

Marcelo criou o Centro Experimental deArtes para ajudar os jovens com menosoportunidades a crescerem enquanto cidadãose poderem se integrar junto à sociedade, pormeio de expressões artísticas.

A TIM/Maxitel, por intermédio da Lei deIncentivo à Cultura, que reduz o ICMS (Im-posto de Circulação de Mercadorias e Servi-ços) das empresas que, de alguma forma, con-tribuem com projetos sociais, se propôs a pa-trocinar o programa.

O Presidente da TIM, Massimo Tacchella,diz que o incentivo ao TIM ArtEducAção, éuma forma de fazer com que muitos jovenspossam ampliar seus horizontes através do co-nhecimento. “O que queremos é que as pesso-as tenham acesso ao conhecimento. Que esseconhecimento seja a base para a transforma-ção social. Acima de tudo, queremos desfrutarde uma sociedade livre para pensar, crescer,produzir, sonhar e fazer deste mundo um lugarmelhor para todos.”

Em 2001, noprimeiro ano doProjeto, nove cida-des foram benefici-adas: Viçosa, Ubá,Juiz de Fora, Bar-bacena, Lavras,Varginha, Poços de Caldas, Uberaba e Uber-lândia. Entre os meses de agosto e dezembro,mais de cinco mil crianças foram atendidas ecerca de 100 empregos diretos foram criados.

No segundo ano, duas novas cidades foraminseridas no projeto: Divinópolis e MontesClaros. Cada município, de acordo com suasnecessidades, escolhe cursos e oficinas para

levar aos estudantes. Aliás, condição funda-mental para participar é que os alunos das ofi-cinas estejam frequentando a escola.

Marcelo Andrade, que coordena o projetoem nível nacional, vê com muita satisfação asidéias que teve em Viçosa serem levadas a

outras regiões doestado. “Estamosajudando a melho-rar a vida de cincomil jovens e adoles-centes de baixarenda.” Os resul-tados mostram que,

a maioria dos alunos, melhorou a capacidadede socialização e aprendizado, além de teremse tornarem mais curiosos e interessados emparticipar das atividades propostas.

O projeto vem dando tão certo, que ele jáchegou em outras regiões do país, como Bahia.Lá, 850 pessoas participam nas cidades de Feirade Santana, Juazeiro, Vitória da Conquista,

Itabuna, Ilhéus, Jequié e Barreiras.O programa leva propostas das ONGs

(Organizações Não-Governamentais) Casa dasFilarmônicas, CRIA (Centro de RefênciaIntegral do Adolescente), Circo Picolino,Grupo Cultural Bagunçaço e OAF (Orga-nização do Au-xílio Fraterno).Na Bahia, o Pro-jeto também aten-de professores darede pública.

Os projetosEm Uberaba, a executora do projeto, Olga

Maria Frange de Oliveira, é a responsável pelaindicação e permanência dos professores, pelaescolha dos lugares onde serão realizadas asoficinas e a fiscalização do trabalho.

Neste ano, 280 crianças estão fazendo partedo espetáculo. No ano passado, foram 600. Osparticipantes são escolhidos pela Secretaria

Municipal de Trabalho e Ação Social –SETAS-que indica os lugares mais precários e pelaSecretaria de Educação que seleciona al-gumas escolas.

Além disso, algumas entidades podem ligarpara a Fundação Cultural, solicitando a entrada

no programa, comofoi o caso do Agen-te Jovem da Casado Menino e doAcolhida Marista.

Em 2003, ter-ceiro ano do pro-jeto em Uberaba,

as atividades começaram no dia 11 de abril eterminaram no dia 11 de novembro, com amostra final, aberta à toda comunidade,realizada no Teatro Experimental de Uberaba.“ A cada ano é uma conquista, por isso nós jámandamos um ofício, assinado pelo prefeito,pedindo a continuidade do projeto”, disse Olga.

Neste ano, cerca de R$ 4 mil foram

Educação através das artesProjeto Tim ArtEducAção incentiva alunos de baixa renda a buscarem novas formas de aprendizagem

Responsabilidade social

Crianças da Oficina de Musicalização interpretam a cultura indígena e africana

“Acima de tudo, queremos desfrutarde uma sociedade livre para pensar,crescer, produzir, sonhar e fazer destemundo um lugar melhor para todos”

“Você sente que é muito mais que umtrabalho, é um envolvimento emocional.A gente chega a se emocionar com osdepoimentos de quem participa”

José

Car

doso

Sob

rinh

o

6 18 a 24 de novembro 2003

Page 7: Revelação 269

enviados à Uberaba para as despesas com oprograma, já que a cidade é consideradamodelo, atendendo maior número de crianças.

E o movimento dos professores é muitogrande. “Você sente que é muito mais que umtrabalho, é um envolvimento emocional. A gentechega a se emocionar com os depoimentos dequem participa”, comenta Olga.

Além deste trabalho, a Tim patrocinaoutros, como o Tim Estado de Minas GrandesEscritores que leva doze escritores, entre eles,Marina Colasanti e Alcione Araújo às cidadesmineiras para contarem umpouco sobre suas histórias.

E ainda, o Tim Estadode Minas Grandes Escri-tores Biblioteca, que levalivros destes escritorespara as bibliotecas públicasdas cidades atendidas pelo projeto, comoUberaba que recebeu 180 livros neste ano.

Olga Frange vê uma evolução no projeto,principalmente em termos de quantidade dealunos e de locais atendidos, desde que asatividades começaram. E apesar de ser umtrabalho árduo, ela gosta muito. “ É um trabalhoque eu amo fazer, eu faço com muita vontadeque dê certo”, falou a executora.

ApresentaçõesUm espetáculo especial do projeto foi

realizado no dia cinco de novembro, para os paise a comunidade uberabense. No dia 11, foirealizada uma nova apresentação, para osrepresentantes da Tim e de Viçosa.

A primeira oficina que se apresentou foi ade musicalização, com a participação de 20crianças do Projeto Caetés, que tocaram flautadoce. E, juntamente, com um coral de 42crianças da Creche Marta Carneiro.

A segunda oficina foi a de dança, que levoucrianças das escolas Olga de Oliveira e NizaGuaritá ao palco do Teatro Experimental deUberaba -TEU- para mostrarem danças dePortugal, Itália, França, Espanha e Brasil.

Outra oficina foi a de canto coral e contoucom a presença de 42 crianças da CrecheTutunas e do Centro Miguel Hueb.

Hip Hop foi a quarta oficina a serapresentada. De acordo com o professor,Ricardo Ranieri dos Santos, o hip hop éformado por quatro elementos que, juntos,formam a ideologia de transformação dajuventude: o break dance, o grafite, o Dj e oRap, que é uma música de protesto. “ Isso fazcom que a juventude se conscientize mais dassuas raízes”, disse.

Quarenta e cinco alunos de várias

instituições participaram da coreografia, querepresentou a resistência dos escravos. “ Acoreografia é pequena, mas depois, eles abremuma roda e cada um mostra o seu talento, seudesenvolvimento. Isso faz com que cada umtreine e se dedique”, explicou o professor.

Ricardo conta que algumas pessoasdiscriminam, acham que é coisa de “adolescente sem causa”. “A gente é bem maispolítico do que eles imaginam, tem consciênciae atitude, sabe o que quer e passa isso pramolecada, que é o mais importante”, enfatiza.

Além disso, rola umcerto preconceito emrelação ao sexo, já que sóuma menina participa dohip hop. Michele Apare-cida Santos, de 14 anos, édedicada e, de acordo com

o professor, acreditou e teve atitude paraenfrentar os pais que achavam que isso nãoseria bom para ela.“ Com o tempo, os pais per-ceberam que ela estava desenvolvendo não sóo corpo, mas a mente, fazendo com que elaficasse mais atenta com os problemas, comodrogas e violência”, disse.

Michele participa há três anos do projeto edisse que sua vida mudou muito desde quecomeçou a frequentá-lo. “ É muito importantepra mim, pro meu crescimento. Eu crescimuito, dentro e fora de casa. Na escola,

melhorou 100%”, conta. Ela também disse quehá preconceito mas, que um dia, isso vai mudar.E apesar disso, ela gosta muito do que faz.

Ricardo está no projeto desde o início. Játrabalhava como voluntário há dois anos e,mesmo com as dificuldades, gosta do traba-lho. “Esse projeto fez com que eu me dedicas-se somente a isso e ensinasse as pessoas quequeriam aprender, mas não tinham oportuni-dade. Pude expandir a cultura dentro deUberaba”, concluiu.

A última oficina foi a de teatro, divididaem quatro momentos. O primeiro,“ No princí-pio”, fala da criação do universo e da presençadivina na humanidade. No segundo, tem-se aexplicação da formação do homem. O título é“ A Lenda da Iraci e Torogi”, com a passagemde índios e brancos.

O outro momento nos conta sobre um len-da folclórica portuguesa, intitulada “ A moçade Bambuluá”. E para finalizar, “Os escravos”,baseado no poema Navio Negreiro, de CastroAlves, com todos cantando uma música deMartinho da Vila, que fala dessa junção, decomo o Brasil é. “Fala dessa miscigenaçãocultural que resultou no homem brasileiro”,explica Carlos Alberto, professor de teatro.

A escolhado tema foi fei-ta consultandoalunos e coorde-nação do pro-jeto, chegando-se a conclusãode que seriauma boa falar dessa identidade. “É sempre im-portante estar voltando nisso para não perderessa raiz, esse conceito de brasilidade”, com-pleta o professor.

Por quatro meses, 45 alunos de diversoslocais ensaiaram essa peça. Segundo o profes-sor Carlos Alberto, esse tipo de trabalho possi-bilita aos jovens uma leitura crítica da socie-

dade, conhecer os passos históricos que mar-caram e determinam o que vivemos hoje. “ Éimportante para eles tomarem contato com oserros do passado que fazem a gente chegar nes-sa complicação que é o presente e nessa inter-rogação que é o futuro”, disse.

Carlos dá aulas de teatro desde 1995. Tra-balhou na Casa do Menino, nas escolas PauloRodrigues e Frei Eugênio e na Fundação Cul-tural. Está no projeto da Tim desde o começo.Para ele é uma honra estar partilhando eaprendendo com os jovens que participam e,de alguma forma, interferir na realidade de-les e fazer com que eles percebam que po-dem ser protagonistas da vida deles. “ É umamissão: faz parte do nosso trabalhovocacional. É muito bacana ser cúmplice des-sa formação para algo melhor.”

O teatro foi unânime na mudançacomportamental dos estudantes. PatríciaOliveira, aluna da oficina diz que o teatroserve para ela expressar seus sentimentos,vencer barreiras e, hoje na medida do pos-sível, alcançar seus objetivos. “ Melhoreimuito meu comportamento, meus pais eramcontra a minha entrada e de meu irmãoRafael, mas hoje eles nos apoiam, e podem

nos ver bri-lhando emcima do pal-co”.

Jader Ma-rinho, que hádois anosestá atuando,

diz que o teatro é tudo em sua vida. “Adororepresentar, é uma essência que me encan-ta”, diz.

Todo o programa é voltado para ajudaresses jovens e, em alguns casos, até revelarartistas no futuro. “Cada criança que sobeno palco, se sente um pouco artista”, con-clui Olga.

Crianças do Projeto Caetés tocam flauta doce e soprano na oficina de canto coral

Aluno de hip-hop apresenta-se em uma das oficinas

José

Car

doso

Sob

rinh

o

Fábi

o Lu

ís d

a Co

sta

“A gente é bem mais políticodo que eles imaginam, temconsciência e atitude”

“ Melhorei muito meu comportamento, meuspais eram contra a minha entrada e de meuirmão Rafael, mas hoje eles nos apoiam,e podem nos ver brilhando em cima do palco”

3718 a 24 de novembro de 2003

Page 8: Revelação 269

8

Cesar Henrique Fonseca Júnior4º período de Jornalismo

Ieris Imbimbo descobriu há pouco tempoque poderia ser mais que uma dona de casadedicada e orgulhosa pela criação dos trêsfilhos que já lhe deram sete netos. A paulistade 52 anos, nascida no interior do estado,sabia que poderia contribuir mais com osnegócios da família.

Foi assim que desde o último ano, Ieris jánão consegue se livrar da rotina de acordarcedo e ir à Auto Peças e Mecânica Alvarenga.A simpática “recém empresária”, como sedefine, tinha um desafio nada fácil: colocarum toque feminino na loja de OrlandoImbimbo, seu marido.

Entretanto, engana-se quem pensa queIeris aboliu a graxa do local, ou colocou vasosde flores na administração. Em menos de trezemeses, e usando o “jeitinho de mulher”, elaconseguiu aumentar razoavelmente asexportações da empresa e principalmentediversificou o público comprador.

Hoje, coordenadora do Conselho daMulher Empresária de São Paulo / DistritalButantã, reconhece que mudou sua vida.“Nossa loja foi inaugurada em 1962, nãoentendia nada de peças para caminhões,cheguei a pensar que não conseguiria, masestou aqui”, reconstrói Ieris.

O exemplo que vem de São Paulo é cadavez mais uma realidade freqüente em todo opaís. Com força no mundo empresarialbrasileiro desde os anos 70, as mulheres sãocada vez mais responsáveis pelo sucessoeconômico do Brasil. No século em que opoder das máquinas substituiu a força física,elas aparecem como foco primordial tantopara a mão de obra quanto para o empre-sariado. Hoje, as mulheres dominam 84% dosetor de moda e con-fecções, são 28% dosempregos informaisno país, 40% dos27,2 milhões de tra-balhadores nas em-presas brasileiras,comandam 25% dasfamílias e são mai-oria em um país ainda machista.

O destaque feminino, é reconhecido econfirmado por uma pesquisa realizada pelaBolsa de Valores de São Paulo-BOVESPA,neste ano. Segundo dados da instituição, nas1.500 entrevistas realizadas em seis capitaisno mês de abril, entre homens (30%) emulheres (70%), os resultados indicam acrescente participação da mulher no mercado

brasileiro, se destacando principalmente pelasua qualificação e eficácia.

Os dados revelam a mulher comoprotagonista nas decisões referentes ainvestimentos. É delas, por exemplo, namaioria dos casos, a iniciativa pela for-matação de clubes de investimentos eorganização das despesas familiares. Comvisão estratégica, as mulheres também sãoatuantes no plano social e, de forma geral,transitam entre o presente e o futuro comgrande otimismo. A maioria, 57%, considera

o momento atualmelhor do que há 10anos, 85% se dizempreparadas paraenfrentar o futuro e40% apontam o su-cesso profissionalcomo um dos seusprincipais objetivos.

Foi para tratar desta nova mulher do sé-culo XXI que, cerca de seicentas empresári-as do Brasil, Argentina, Colômbia, México,Paraguai, Porto Rico, Uruguai, Espanha e Por-tugal se reuniram entre os dias 19 e 23 deoutubro no XIV Congresso Ibero-americanode Mulheres Empresárias, CIME, realizado nacidade de Araxá. O evento, que aconteceu pelaprimeira vez no Brasil, é uma iniciativa da

FIDE - Federacion Iberoamericana deMujeres Empresarias e tem o propósito de es-tabelecer uma rede de comunicação e colabo-ração mútua ampliando as oportunidades denegócios no mercado nacional e internacional,mostrando a importância da presença da mu-lher no cenário empresarial de todos os países.

O evento acontece em um momento em

que se inicia um processo de reconhecimen-to e incentivo ao trabalho da empresária bra-sileira. “Aqui se reuniram o esforço, a quali-dade e a competência do empreendedorismodos homens e das mulheres dos países pre-sentes e chamam a atenção e o olhar do mun-do para o Brasil, para o que é capaz a inicia-tiva privada, com o apoio do setor público,

O poder femininoEmpresárias de vários países se reúnem em congresso para discutir a mulher do século XXI

Agora é que são elas

Em menos de treze meses, e usandoo “jeitinho de mulher”, ela conseguiuaumentar razoavelmente asexportações da empresa

Cesar Henrique Fonseca Júnior

18 a 24 de novembro 2003

Congresso Íbero-americano de mulheres empresárias discutiu olhar feminino no mundo dos negócios

Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan,disse em sua palestra que as mulheres têm maior capacidade de administrar o dinheiro

Page 9: Revelação 269

9

com a participação efetiva também das mu-lheres. O evento realizado no Brasil dá umaprova da determinação, da organização e dacompetência das mulheres brasileiras”, res-saltou a ministra da Secretaria Especial de Po-líticas para as Mulheres, Emília TherezinhaXavier Fernandes.

Um dos acontecimentos mais esperadosdo Congresso foi a primeira palestra magna,o “Poder da cooperação para os negócios”,em que ministro do Desenvolvimento,Indústria e Comércio Exterior, Luiz FernandoFurlan destacou o papel da mulher brasileirano contexto nacional.

Segundo o mi-nistro, que esteverecentemente naChina, a evolução doBrasil quanto ao es-paço para a mulher éde destaque quandose compara com os outros países do mundo eaté os ibero-americanos. “Por exemplo, noKwait a mulher não tem direito ao voto, naArábia Saudita mulher não dirige carro”,comentou Furlan, que ainda ressaltou aimportância da mulher como administradorada família brasileira e, arrancando aplausos erisos das centenas de mulheres que estavamno teatro do Tropical Grande Hotel, co-mentou: “A mulher tem mais capacidade deadministrar o dinheiro - não são todas. O anode 2004, o presidente estipulou ser o ano dasmulheres. Acho que corro o risco de sersubstituído por uma mulher mais compe-tente”, brincou, ao lembrar que grande partedas residências visitadas pelo presidente epelos ministros no Vale do Jequitinhonha eNordeste do País, quando do lançamento doFome Zero, era administrada por mulheres.

Para o ministro as mulheres possuemcaracterísticas que as diferenciam do homem,como o apego aos detalhes, a maior facilidadede enxergar o defeito e corrigi-lo e a fibra.

Durante o CIME, foram realizados painéise mesas redondas com temários diversificadose abrangentes, como: Ética e Cidadania – AEmpresa e o Exercício da Responsabilidade;O Olhar Feminino no Mundo dos Negócios:Mercosul, Comunidade Européia, Alca eNafta: Realizações e Perspectivas; Turismo:As Múltiplas Faces Desse Negócio; Saúde eQualidade de Vida: Desafios do Século XXI;Interação da Arte, Moda e Artesanato noMundo dos Negócios; Agronegócios e oCooperativismo a Serviço da Geração deEmpregos; Educação: Alicerce do Desen-volvimento Sustentável e Negócios pelaWWW: Credibilidade e Segurança.

O XV Congresso Ibero-Americano deMulheres Empresárias deve acontecer naEspanha, provavelmente na cidade de Sevilha.

Mineiras são destaque no CongressoBastante representadas, as mulheres

mineiras mereceram destaque no XIVCongresso Ibero Americano de Mulheres,CIME. Como participantes e anfitriãs, elas

mostraram para o mundo a força de suasatividades em Minas Gerais. Um exemplovindo da cidade de Araxá mostra a intensaparticipação da mulher no setor empresarialnos municípios mineiros.

Valda Woolgar descobriu na docência suarazão de vida. Lecionando desde ajuventude, decidiu, juntamente com suairmã, Valma, abrir uma escola de Inglês emAraxá. A concorrência de uma grande redede escolas não amedrontou as irmãs empre-endedoras.

Em pouco tempo de negócio o número dealunos multiplicoue hoje depois depassar por duascasas alugadas nacidade, a escola seprepara para fun-cionar em sua novasede, um grande

investimento no centro da cidade. O segredodo sucesso? “Não atribuo totalmente aoaspecto de sermos mulheres, os homensadministram muito bem. O que temos de dife-rencial é a nossa sensibilidade e capacidadede ver nas pessoas comuns, seres huma-nos”, diz Valda, que é presidente da Câ-mara da Mulher Empreendedora da Asso-ciação Comercial e Industrial de Araxá eparticipou ativamente da organização doCIME.

Segundo dados do SEBRAE, a parti-cipação da mulher no segmento das micro epequenas empresas em Minas Gerais éexpressiva: elas são proprietárias de 45,67%da empresas deste porte no Estado. A presençada mulher é maior no comércio, onde atuam51,72% das empresárias, vindo a seguir osetor de serviços (34,48%) e, em menorproporção, a indústria (13,79%).

A segmentação por porte demonstra que,embora a maioria das empresas lideradaspor mulheres seja micro (68,97%), a mulhermineira tem, comparativamente ao em-presariado masculino, maior propensão atrabalhar com empresas de pequeno porte.Normalmente, a mulher empresária tem um

“Nossa loja foi inaugurada em 1962,não entendia nada de peças paracaminhões, cheguei a pensar quenão conseguiria, mas estou aqui”

18 a 24 de novembro de 2003

Ieris Imbimbo descobriu que poderia ser mais que uma dona de casa

único sócio (60,34%) ou trabalha sozinha(31,03%), valendo destacar que essavocação feminina para dirigir a empresasem a presença de sócios é relativamentemaior que a masculina (23,19%).

Quanto a variável escolaridade, aempresária de Minas é bem instruída, comcolegial completo / superior incompleto(39,66%) ou superior completo (34,48%).Este último estrato denota consideráveldiferencial em relação ao empresariadomasculino, onde apenas 17,39% possuem

curso superior. Isso explica também hábitosde leitura onde o conteúdo técnico éproporcionalmente superior ao descrito parao empresariado masculino (54% as mulheres,contra 47% os homens).

Os números talvez expliquem também ogrande interesse e participação das orga-nizações comerciais da região. Comodestaque, as comitivas das AssociaçõesComerciais e Industriais de Araxá, Uberabae Uberlândia foram umas das maiores doCongresso.

Page 10: Revelação 269

10

Rogério Simões4º período de Jornalismo

Danilo Marques Tristão tem 17 anos,cursa o 2º ano do ensino médio e mora emConceição das Alagoas, cidade mineira epacata localizada a 58 quilômetros deUberaba, Minas Gerais. Danilinho, como échamado carinhosamente pelos amigos maispróximos, é peão de rodeio e foi na arena queele descobriu sua grande paixão: a montaria.

A descoberta de sua vocação aconteceuaos 11 anos. Enquanto seus amigos faziamtravessuras pelas ruas, gozando desta faseinesquecível da vida que é a infância, ele emais vinte amigos, todos mais velhos,montavam nas arenas improvisadas emchácaras e fazendas da região de Conceiçãodas Alagoas.

Ser peão exige dedicação, amor e fé.Ingredientes principais antes de ingressarneste mundo de encanto e magia que se chamarodeio. Profissão perigosa, onde cadamontaria revela a eternidade do tempo, poiscada segundo se torna o mais rápido e, aomesmo tempo, o mais demorado da vida dopeão e de sua família que acompanha cadaatitude do animal. Este, impiedosamentedeseja ser o vencedor, enquanto o cowboy odesafia para que o objetivo do animal não sejaalcançado.

O risco da profissão assustou a família deDanilo, que começava a observar a notávelpaixão do menino pelo rodeio. Mas apreocupação foi só no início. E o receio, logotransformou-se em orgulho. De anjo amarmanjo, o garoto cativava em cada mon-taria, familiares, amigos, colegas de profissãoe o grande público que se alastra pelasarquibancadas e rodeiam o cenário para ondeestão voltadas todas as atenções, a arena. “Eleé fera, e por isso não tem medo de animal”,dizem os priminhos, Juninho e Mozair, ambosde 7 anos, quando questionados sobre o perigoda montaria.

Danilo MarquesTristão, entrou paraa competição háquatro anos, nacategoria RodeioJúnior de Montariaem Touro de Bar-retos-SP, quandocomeçou a participar da festa do Peão. Em1999 acontecia sua estréia no palco, numdos lugares que futuramente lhe traria doistítulos importantes.

Em 2001, foi o segundo colocado, e em2002 tornou-se campeão pela primeira vez em

Barretos. Este título, serviu para incentivá-loainda mais e demons-trar que ele contavacom talento e sorte.

A consagração naarena também serviucomo recompensapelos exaustivos mo-mentos e pelos finais

de semana que abdicou das badalações pararealizar seus treinos. Em 2003, voltounovamente ao desafio de trazer mais um título,com a intenção desta vez de se tornarbicampeão. E assim fez… Danilinho foi o 1o

colocado de Barretos na categoria Rodeio

Um jovem peão apaixonadoBicampeão da categoria Rodeio Júnior de Barretos conta sua trajetória de sucesso nas arenas

Júnior de Montaria em Touro, neste ano.O jovem cowboy, já

montou em cidades ,como: Planura, Pira-juba, Campo Florido eConceição das Alagoas.E já participou tambémde rodeios nas cidadespaulistas de Guairá eBarretos.

Recentemente, Danilo foi campeão doRodeio Júnior da 10a Agroshow, festa dopeão que acontece tradicionalmente nomunicípio de Conceição das Alagoas. Osprêmios, já totalizam aproximadamente R$

História de Vida

Danilo Marques Tristão, entroupara a competição há quatro anos,na categoria Rodeio Júnior deMontaria em Touro de Barretos-SP

5 mil e demonstram a experiência adquiridanas arenas.

Nossa conversa acon-teceu em uma área aosfundos da casa de Danilo.A mesa estava comple-tamente empoeirada.Ali, observei que a pai-xão pelo campo se es-

tendia em sua morada, num quintal, ondegalinhas e cachorros dividiam o mesmoespaço. Danilo, receptivo, contava ami-gavelmente suas experiências e os planos,todos eles relacionados a sua maiorpaixão: o rodeio.

O jovem cowboy, já montouem cidades, como: Planura,Pirajuba, Campo Florido eConceição das Alagoas

reprodução

18 a 24 de novembro 2003

Page 11: Revelação 269

11

Micheli Bernardeli4º período de Jornalismo

Começo da manhã e fim de tarde.Crianças, jovens, adultos e idosos andam pelaavenida Nenê Sabido. Homens e mulheresque têm o cachorro como companhia e o ventocomo saudade. Momento ideal para refletirsobre a vida. Como ela é bela!!! Umamenininha de calça cor-de-rosa, escuta seuwalkman ao lado do pai, com olhar atento,enquanto passa em frente ao aeroporto,observa um avião decolando. Com aquelesolhinhos que só a criança tem, imagina comodeve ser bom voar, a sensação de liberdadeque o ser humano possui, assim como ospássaros. Atrás vêm cinco adolescentes.Gordinhas e Magrinhas. Juntas caminham embusca de uma vida saudável e o corpo para overão. Nessa época, fim de inverno e começode primavera, é exatamente quando as pessoaslotam as ruas e as academias. Sonham com aminissaia, o biquíni… Que época boa!!!

“A caminhada promove o relaxamentofisico e mental, favorece o rendimentomuscular, controla a pressão, melhora arespiração, o preparo fisico, assim a pessoafica mais disposta. A caminhada tambémmelhora o apetite e a qualidade do sono”,explica o médico José Haroldo de Lima.

As pessoas sedentárias são mais suscetíveisa problemas de saúde, e mudam ocomportamento somente quando o médicoorienta. “É curioso notar como pessoasocupadas demais para se exercitar sempreencontram o tempo necessário após o primeiroinfarto”, relata o médico Kenneth Cooper nosite www.caminhar.com.br. Então, sempretenha um horário na agenda para fazerexercício; se não pode fazer academia,caminhe. Mas não se esqueça de que não érecomendado caminhar quando o sol está forte.Beber água, e usar filtro solar até mesmoquando o tempo estiver nublado, é essencial.

Maria Oliveira de Azevedo, doméstica, 47anos, diz que gosta de caminhar. “Eu sei quea caminhada é boa, por isso caminhodiariamente”. Segundo Domaria, como écarinhosamente chamada pelos amigos,quando era mais jovem não se importava

Caminhada é bomAliada a uma boa alimentação ajuda a manter uma vida saudável

Antes de sair por aí caminhando,

siga as instruções:1) Antes de mais nada, consulte oseu médico.2) Faça um teste ergométrico3) Use roupas leves e bebabastante líquido (idosos têm maisfacilidade de se desidratar).4) Se tiver problemas cardíacos,procure um centro dereabilitação.5) Se for diabético, não saiadesacompanhado.6) Procure caminhar em terrenosplanos e lisos.7)Atenção redobrada aoalongamento e aos períodos deaquecimento e desaquecimento

Calcule seu IMC( Índice de Massa Corpórea)

Segundo a Organização Mundial deSaúde (OMS), esse cálculo depende devários fatores. Por isso a necessidade deprocurar um médico. Siga o cálculo (pesodividido altura ao quadrado)

Peso dividido pela altura ao quadradoAté 25- normal25 a 30 – obesidade leve30 a 35 – obesidade moderada35 a 40 – obesidade mórbida

ilustrações: Frank Pérez / www.bitniks.es

muito em caminhar, mas hoje sabe o quantoé importante. “Antigamente as pessoas nãotinham a preocupação de caminhar. Hoje emdia está diferente. Crianças e até idosos fazemesta prática” relata.

Já a adolescente Keyla Damiana Silva,20, sabe da importância de caminhar, porémnão anima. “Não gosto de caminhar sozinha,somente quando minhas amigas vão queanimo”. “Sempre deixo para amanhã”, diz.Sobre a questão de perder peso a estudantediz que seu pai caminha duas vezes ao dia eestá emagrecendo. Mas não se iluda: nãoemagrece só caminhando, é preciso aliar uma

alimentação saudável com o exercício físico.“A caminhada previne a obesidade, mas apessoa precisa modificar seus hábitosalimentares, adotar uma dieta balanceada. Etambém precisa praticar outros exercíciosfisicos além da caminhada”, adverte JoséHaroldo. A cada 30 min perde-se 187 calorias.

Hoje em dia, várias editoras lançamrevistas sobre saúde e dieta, mostrandopessoas que conseguiram vencer a balança emanter hábitos saudáveis. Não é difícil, bastater coragem, um tênis e muita força devontade. “Saúde é importante na nossa vida”,finaliza Domaria.

Saúde

“É curioso notar como pessoasocupadas demais para se exercitarsempre encontram o temponecessário após o primeiro infarto”

reprodução

18 a 24 de novembro de 2003

Page 12: Revelação 269

Luis Felipe Silva4º período de Jornalismo

Uberaba e o Triângulo Mineiro jápossuem certa tradição em negóciosrelativos à moda. Entretanto, devido o fracodesenvolvimento das redes de produção,confecção e vendas, a região ainda não sedestacou neste segmento. Para a diretora docurso de Arquitetura da Universidade deUberaba (Uniube), Carmem Maluf, asituação poder mudar com a eventualcriação de um curso superior voltado aesta área.

Para iniciar os debates com empresáriosdo setor e apresentar o projeto da criação docurso para a comunidade em geral, a Uniubepromoveu, na manhã de 24 de fevereiro, o 1ºEncontro de Negócios Para a Moda. “Que-remos, antes de tudo, o aval da região” escla-rece Carmem. Para falar sobre o assunto fo-ram convidados a arquiteta Ângela de SouzaDiniz – envolvida com produção de modadesde a infância, por in-termédio da mãe quepossui uma confecção;além de Orlando Ca-breira, especialista nes-ta áera, e Rita Andrade,coordenadora do cursode Moda da FaculdadeAnhembi Morumbi, de São Paulo.

Entre os principais temas abordados, osdebatedores desta-caram a importânciada especialização dosprofissionais. ÂngelaDiniz e Orlando Ca-breira admitiram que,por não não teremformação específica

na área, tiveram de aprender tudo “na raça”,como eles mesmo disseram. “Tive que lutarmuito. Aprendi com meus erros, que nãoforam poucos, e demorei muito para desen-volver meu próprio estilo. Mas acabei meapaixonando” confessou Ângela. Os doisexplicaram que essa “trilha de erros” pode serreduzida com a formação superior. “A novageração não pode se dar ao luxo de errar, nestemundo globalizado e com uma competiçãoextremamente acirrada”.

Para Cabreira, a formação específica ajudaainda a resolver um dos maiores problemasdos estilistas nacionais: a falta depersonalidade. Segundo o especialista, a modano Brasil se desenvolveu copiando astendências internacionais. “Mas naquelaépoca fazíamos releituras. Hoje o que se vê épirataria”, acusou. Para ele, isso demonstrafalta de ética entre concorrentes. Cabreiraobservou que é fundamental desenvolver umavisão inovadora. “Hoje as pessoas procuram

Universidade discute criaçãode curso de ModaEncontro de profissionais na Uniube discute formação superior e tendências de mercado

criar seu próprio estilo, existe espaço paratodas as tendências” esclarece.

Rita Andrade, a única com formaçãoespecífica na área, falou sobre o históricoda educação de moda no Brasil.Surpreendendo quem acreditava que osestudos dessa área são recentes, Ritarevelou que a tradição já existe há mais de100 anos. “Não podemos deixar de levarem consideração o aprendizado em ateliês,ou mesmo os cursos de economia do-méstica, que fazem parte deste processoevolutivo”.

Para Rita, níveis avançados destes estudosjá começam a aparecer no território nacional.Empresários do setor já começam a pensar,por exemplo, no design como ferramentade negócios. “A formação superior nãoabrange só o processo de criação, mas todosas áreas onde a moda atua, inclusive agestão. Um administrador pode terdificuldades para administrar uma empresaligada à moda, pois ela possui inúmerasparticularidades quesó podem ser com-preendidas por al-guém do ramo”.

O cursoA Uniube pretende

oferecer um curso

elaborado de acordo com o modelos dasfaculdades maisavançadas do país. Ocurso se enquadrariana estrutura de for-mação acadêmica decurta duração, vi-sando a profissio-nalização do aluno.

Também seriam oferecidos cursos deextensão em diversas áreas específicasaos estudos de moda. Somados, eles ofe-receriam um contorno global do assunto.

Assim, o aluno escolheria primeiro aárea que mais o interessa e, depois deum curso com uma visão mais geral,seguiria uma área determinada. “Comoa duração do curso se r ia de apro-ximadamente três anos, e o dos cursosde extensão de 360 horas, os alunos po-derão escolher mais de uma área deatuação” explica Carmem.

Mercado para absorver os profissionaisque se formarão no novo curso é o que nãofaltará – garante a diretora, lembrando quea prefeitura cedeu um território de 50 milmetros quadrados para construção de umpólo industrial do setor. “A situação éextremamente favorável. Uberaba tem tudopara se tornar um grande pólo da moda noBrasil.”

A Uniube pretende oferecerum curso elaborado de acordocom o modelos das faculdadesmais avançadas do país

“A nova geração não pode se darao luxo de errar, neste mundoglobalizado e com competiçãoextremamente acirrada”

Ângela Diniz observou que formação superiorreduz “trilha de erros” da carreira profissional

Para o especialista Orlando Cabreira , hojeexiste espaço para todas as tendências

Rita Andrade é coordenadora do curso de Modada Faculdade Anhembi Morumbi

fotos: Neuza das Graças

Para diretora do curso de Arquitetura da Uniube,Carmen Maluf, Uberaba pode se tornar pólo da moda

Educação