revelação 255

12

Upload: universidade-de-uberaba-uniube

Post on 26-Mar-2016

276 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 12 à 18 de agosto de 2003

TRANSCRIPT

Newton Luís Mamede

2 12 a 18 de agosto de 2003

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba ([email protected])

Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva ([email protected]) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Projeto gráfico: André Azevedo ([email protected]) Diretor doCurso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle ([email protected]) • • • Professoras Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]), Neirimar deCastilho Ferreira ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Suporte de Informática: Cláudio Maia Leopoldo ([email protected]) • • •Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica ImprimaFale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Jornal Revelação - Sala L 18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8953http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: [email protected] - As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

O natural e inato desejo de saber impeliuo homem à busca do conhecimento. Ouniversal conceito conhecer o homem e omundo já identifica a inteligência humanadesde os primórdios da constituição ontológicae antropológica do Homo sapiens. Rudimentare obscura no início, e organizada e lúcida namaturidade racional, a busca do conhecimentosaltou do mito à ciência, na construção daverdadeira sabedoria intelectual. E sabedoriaentendida em sentido amplo, ou infinito, nouniverso dos fatos e coisas que constituemobjeto do saber humano. Sabedoria quedesbancou o mito e instaurou a ciência.

No atual estádio de civilização e de culturaem que se encontra ahumanidade, cominequívoco avanço daciência e da aplicação deseus resultados, oespaço destinado aoempirismo e, com maisrazão, ao mito deve serrestrito ou confinadoapenas às mentesdesprovidas de instrução escolar e de ilustraçãointelectual. O empirismo, a fundamentaçãoapenas no visível ou na experiência imediata ediária, jamais pode ter lugar na explicação dosfenômenos de qualquer natureza. E o mito, essedeve restringir-se apenas aos estudosantropológicos das culturas ditas primitivas ounão civilizadas. Não há como conceber, hoje,qualquer explicação sobre o homem e o mundoque não seja resultado de pesquisa exaustiva ede profundidade científica que revele econstrua a verdade.

A recente transição cronológica de eras,de um século e de um milênio para outros,respectivamente, operou profundastransformações nas mentes e consciências, e,contraditoriamente, ainda acendeu e avivoureflexões e atitudes baseadas em falsosconceitos e suspeitas sabedorias queexpunham (e expõem) explicações sobre umasérie de fatos e fenômenos que instigam acuriosidade humana. O que causa estranheza,

porém, é o amplo e “respeitado” espaço queessas “explicações” ganham nos modernos eavançados meios de comunicação, dedivulgação de notícias. Explicações absurdase irracionais, mas que teimam em se impor e,desastradamente, conquistam adeptos atédotados de cultura e de instrução universitária.Explicações que confundem, que apregoame disseminam heresias, sofismas e ridículasinverdades. Isso, paradoxalmente, em plenaera moderna, de avançadíssimo progressocientífico e tecnológico, de sofisticadíssimosrecursos da ciência aplicada.

Foi dito, acima, que esse tipo de engodoatinge pessoas dotadas de instrução univer-

sitária. Pois é isso queinspira este pronuncia-mento. Como pode umindivíduo com esse graude instrução, nos diasatuais, acreditar levia-namente, em vez decompreender racional-mente? O acreditar, emtermos científicos, é

muito pouco, é quase nulo, quando se tratade conhecimento baseado no trinômio verdade– evidência – certeza, conhecimento que constituia base e a essência dos estudos universitários. Oque diferencia, distingue, identifica e personalizao conhecimento científico é exatamente ofundamento na verdade, no ser tal como ele é, enão como parece ser, conforme se diz emfilosofia. E é esse conhecimento que deveprevalecer e imperar na universidade e naconsciência de quem cursou universidade.Conhecimento capaz de compreender e explicaro ser, a verdade do ser, e não de apenas supor ouinventar explicações.

O conhecimento adquirido e praticado nauniversidade deve ter coerência científica,deve ser a garantia da ciência. E, com basenisso, é um conhecimento que deve inspirar,necessariamente, seriedade e confiança.

Newton Luís Mamede é Ombudsman daUniversidade de Uberaba

Empirismoe ciência

Como pode um indivíduocom esse grau de instrução,nos dias atuais, acreditarlevianamente, em vez decompreender racionalmente?

Esta edição é especial, não só porquesimboliza um segundo trabalho dessa novaequipe que a partir deste semestre com amesma dedicação denossos colegas, se propõea continuar o trabalho deprodução de nosso jornal,mas também porque asoportunas datas comemo-rativas de agosto nospermitiram unir doisassuntos especiais em uma mesma edição.

Não só falaremos dos pais homenageadosno último domingo, como teremos a graça decontar um pouco da história da “ Mãe” NossaSenhora da Abadia. Unir símbolosprimordiais na construção da família é, paranós, não só desencadear reflexões como

também relembrar o quão importante évalorizar a instituição base que vem seperdendo com o tempo.

Falar de família aomesmo tempo que se falade fé é acreditar queproblemas graves como otráfico de drogas,mostrado pelo alunoFernando Machado,podem ser amenizados

pelo amparo e carinho de uma lar. E ainda, quepolíticos liderem o país, propondo mudanças,com a mesma seriedade de um pai em sua casa.

Que as reportagens publicadasrepresentem a visão dos jovens preocupadoscom a realidade social e empenhados noreconhecimento de valores.

Datas comemorativas deagosto nos permitiram unirdois assuntos especiaisem uma mesma edição

Fé e realidade social

Da redação

Quatro alunos e recém-formados emComunicação Social da Universidade deUberaba tiveram seus trabalhos classificadosna 10ª Exposição da Pesquisa Experimentalem Comunicação (Expocom) da SociedadeBrasileira de Estudos Interdisciplinares daComunicação (Intercom).

Os finalistas são os estudantes AndréAzevedo da Fonseca, com a história emquadrinhos “Edgar Alan”; Daniela Teixeira,com o vídeo educativo “Medo”; os jornalistasrecém-formados Leonardo Boloni, com oensaio fotográfico “Seis Etnias”; e RenataThomazzini, com o vídeo científico “GadoTecnológico”.

A Expocom é um dos mais importantesprêmios para estudantes de ComunicaçãoSocial do país. Os alunos concorreram comcentenas de universitários de faculdades de

Comunicação de todo o Brasil. A premiaçãoserá anunciada no dia 4 de setembro duranteo 26º Congresso da Intercom, que serárealizado na Pontifícia Universidade Católicade Minas Gerais (PUC-MG), em BeloHorizonte.

Estudantes são finalistasem prêmio nacionalExpocom é uma das mais importantes premiaçõespara alunos de Comunicação Social do país

Veja os indicadosAndré Azevedo da FonsecaHistória em quadrinhos“Edgar Alan”

Daniela TeixeiraVídeo educativo“Medo”

Leonardo BoloniEnsaio fotográfico “Seis Etnias”

Renata ThomazziniVídeo científico“Gado Tecnológico”

3312 a 18 de agosto de 2003

Fábio Luís da Costa3º período de Jornalismo

“Pai, eu cresci e não houve outro jeito,quero só recostar no teu peito

Pra pedir pra você ir lá em casa e brincarde amor com meu filho

No tapete da sala de estar”

Este é o trecho da música Pai Herói docantor Fábio Júnior. E, esta letra serve de“gancho” para o contexto das próximas linhasque é uma homenagemdo Jornal Revelaçãoaos pais.

A figura de um paina vida de uma criançaé extremamente impor-tante. Os laços afetivos,os vínculos que acriança cria, enfim,todo o comportamentodireto e indireto, sãocaracterísticas que os pais devem passar aosfilhos para que, ao longo da vida ela conquisteseu espaço e tenha representatividade dianteda sociedade. Esses laços possibilitam que,ainda muito cedo, a criança ganheautoconfiança e crie sua própria identidade.

Assim como a maternidade, a paternidadena adolescência provoca problemas sociais eemocionais, pois o jovem assume um papelque presumidamente, ainda não estápreparado. No momento quando aspreocupações giram em torno de reflexõessobre escolhas para ofuturo, tais como: pro-fissão, relações amo-rosas, orientação se-xual, e até mesmo apro-veitando a fase da vidaboêmia, os pais pre-coces passam a buscarformas para assumir umfilho. E, tal responsabilidade acaba gerandoalgum conflito familiar.

O primeiro dia dos pais para estes jovenstorna-se uma comemoração e umaexperiência gratificante. Como será oprimeiro dia dos pais para estes homens quejá receberam a notícia de que serão papaisou, que acabaram de ter um filho?

Para Daniel Rezende de Andrade de

A gratificante tarefade ser paiComo os jovens pais lidam com a responsabilidadede constituir uma família e, educar os filhos?

apenas 22 anos a responsabilidade é muitogrande. Ele é pai de Pedro Henrique de cincomeses de vida, trabalha o dia todo e estuda ànoite. Portanto tem pouco tempo para visitaro filho, entretanto, sempre arruma um jeitinhode ficar com ele. “Sou um pai recente,acompanhei toda a gravidez da minhanamorada e, sempre que posso vou ver meufilho, que mora com os pais dela, às vezes,até durmo por lá, assim, passo mais tempocom ele”. Daniel acrescenta ainda que é umpai presente, e que, carinho, atenção e amor

não faltam ao filho.Já Paulo Fernando

de 21 anos, tevealgumas dificuldadesno início do processo.Seu filho Herbert, estácom três meses de vida.Ele conta que ao saberda gravidez levou umgrande susto. Algumtempo depois é que

despertou um insight quando acabouacostumando com a idéia. “Criar um filhohoje em dia custa muito caro. Temos grandesresponsabilidades, e no momento estoubastante preocupado com a saúde do meufilho, pois, ele está internado com suspeitade pneumonia”. Paulo Fernando completa:“Saí da casa dos meus pais e agora tenho umaresponsabilidade maior, pois acabo deconstituir uma família”.

Há informações suficientes para evitaruma gravidez indesejada, quanto a isso não

restam dúvidas. Aprofessora e psicólogaJanete Tranqüila dizque, as informaçõessobre gravidez naadolescência já estãosaturadas. Entretanto oque faz um jovem sedescuidar são as

próprias informações, pois eles acabamacreditando que estão cientes de seus atos,ou que isso jamais aconteceria com eles. “Oquerer viver, a liberdade tão sonhada, odelivery nas relações amorosas, trazeminúmeras conseqüências negativas. Agravidez não planejada é uma delas.Frequentemente altera o processo dedesenvolvimento deste jovem pai, além de

retardar a entrada dele no mercado detrabalho”, explica a psicológa.

“Após o fato estar consumado, o ideal ébuscar apoio familiar. A ajuda dos pais, deambas as partes é imprescindível ,principalmente em um momento tãodelicado” recomenda Janete.

E para os pais já não tão jovens? O quesegnifica a paternidade? Décio Bragança, 53anos, professor de Língua Portuguesa, ser paivai além das questões iniciadas no processobiológico. Confira o comentário do professor:“ Pai?! Bem, pai tem que ser pai adotivo. Enão é filho adotivo, é o pai adotivo. Significa

foto: Joyce Pereira Ramos

Daniel Rezende, de 22 anos,além de trabalhar e estudarBiomedicina na Uniube, tem quearrumar tempo para cuidar deseu filho filho Pedro Henrique

Eles

“Acompanhei toda a gravidezda minha namorada e, sempreque posso, vou ver meu filho,que mora com os pais dela. Àsvezes até durmo por lá. Assim,passo mais tempo com ele”.

que, ele tem que adotar uma pessoa e, fazerdesta pessoa um cidadão, um ser humanoconsciente, feliz, prazeroso e, encantado coma vida. Se um homem biologicamente é pai,isso o torna vago, é muito pouco, não valenada; Pai é o que adota mesmo. Não é à toaque chamamos Deus de Pai.”

Os pontos de vista são diferentes. Podeaté existir um para cada pai. Para os filhostambém. Mas a verdade é que cada pai é umuniverso de possibilidades de amor,dedicação, orientação e exemplo.Principalmente aqueles que são e exercem apaternidade!

“Se um homem biologicamenteé pai, isso o torna vago,é muito pouco, não vale nada.Pai é o que adota! Não é à toaque chamamos Deus de Pai.”

4 12 a 18 de agosto de 2003

Gilberto Lacerda6º período de Jornalismo

Era maio de 1881. Após participar de urnamissa na Freguesia de Santo Antônio e SãoSebastião, o capitão Eduardo José deAlvarenga Formiga levou a um compadre, omajor Ananias Ferreira de Andrade, a intençãode construir urna capela dedicada a NossaSenhora da Abadia em um lugar chamado deAlto da Misericórdia.

Foi o primeiro ato decisivo para começara história da mais importante festa religiosada região.

No dia 11 de agosto daquele ano, aCâmara Municipal concede ao capitãoEduardo Formiga a licença para construir acapela. Coube ao próprio capitão atuar comoprocurador das obras.

Horas depois, no dia 15 de agosto, ocônego Santos celebra, no canteiro de obrasda futura capela, a primeira missa da Abadia.Um cruzeiro marcou a construção.

No dia 15 de agosto de 1882, fiéis do altoda Abadia promoveram a primeira festa deNossa Senhora. O destaque do evento foi abênção sobre a imagem da padroeira.

Um fato curioso chamou a atenção noinício da obra. Como os construtoresprecisavam de água para o serviçoprovidenciou-se a perfuração de uma cisternaem frente à capela, que deu água emabundância, que, depois, foi considerada“milagrosa” por quem dela fazia uso.

Relatos apontam que, certo dia, umhomem, portador de doença venérea, foi atéa cisterna para um banho na madrugada.Daquele dia em diante a água secou, e tiveramque fechar o poço.

No santuário da Abadia, há informaçõesde que, após concluída, a capela sob aresponsabilidade do capitão Formiga. Este,segundo fiéis, não prestava contas daadministração, o que motivou o bispo ainterditar a capela.

Irado, o capitão fechouo santuário, levando consigoas chaves e a imagem deNossa Senhora da Abadia.Passou a promover, naprópria casa, novenas, rezase até procissões.

Foi necessário recorrerà Justiça para ter de volta a imagem e ocomando do santuário da Abadia. A cúriarecebeu tudo de volta no dia 20 de novembrode 1898. Diziam que um grave acidente, quelevou a mulher e os filhos do capitão, motivoua devolução imediata.

Naquela época, o arcebispo diocesano dom

Luiz Sant’Ana convida a congregação deestigmatinos a assumir a administração dosantuário. No dia 21 de março de 1935, chegaramem Uberaba para a missão os padres Albino, JoãoConolaro e o irmão Pedro Bianconi.

No dia 24 de março de 1935, na missadas 9h, dom Luiz Sant’Ana oficializou aentrega da Paróquia e do Santuário aosestigmatinos.

Depois de assumir a administração doSantuário da Abadia, ospadres estigmatinos apre-sentaram em março de1937, os projetos para aconstrução da torre dosantuário, e da nova fa-chada da igreja.

Em 1939, o padreTondin foi chamado para

observar os trabalhos da torre em construção.Nesse mesmo ano, chega de São Paulo o sinomaior para a torre. Pesava 800.

No dia 21 de maio de 1940, um momentode muita emoção foi vivido na praça daAbadia. Os padres descobriram a imagem deNossa Senhora da Abadia, colocada em cima

da torre. A imagem media 4,40 metros dealtura dividida em três partes.

Em 5 de abril de 1941, os fiéis acordaramao som do sino de bronze, transformando apraça em local de muita alegria e júbilo.

Em virtude de transferência para RibeirãoPreto, padre Albino foi substituído pelo padreJoão Crepaldi.

Esculturas sagradas O dia 11 de julho de

1945 marcou a chegada deSão Paulo de esculturasmuito aguardadas. Eram osanjos, que foram instaladosno alto da fachada nova daigreja. Uma semana depoischegaram de Campinas asimagens de São Pedro e SãoPaulo. O pároco e fiéis decidiram colocá-lasna fachada principal do templo.

Em outubro de 1945, depois do fantasmada Segunda Grande Guerra, a paróquiadecidiu derrubar a parte velha da igreja.

Em agosto do ano seguinte, foram iniciadosos trabalhos de construção da abóboda. Estes

últimos trabalhos relatados foram todos elescoordenados pelo padre João Missoni.

Em fevereiro de 1948, os padres contrataramuma equipe de pedreiros para construir acobertura da nave central do santuário. A obrarecomendava o uso de telhas francesas.

Tão logo terminou a cobertura, da novacentral foi inaugurada.

O bispo diocesano dom AlexandreGonçalves do Amaral não abria mão de suas

convicções ele usavaargumentos quase sempreirrefutáveis para venceruma batalha ideológica. Efoi por esse tempera-mento, e com a convicçãode servo zeloso, que aDiocese, mais uma vez,meteu-se em debate po-

lítico que acabaria afetando a Festa daPadroeira. Em 1948, por causa de umdesentendimento com a prefeitura deUberaba, dom Alexandre proibiu a realizaçãoda festa. A igreja permaneceu fechada nos diasda festa e só foi reaberta no dia 22 de agosto.

No dia 23 de janeiro de 1949, a Paróquia

122 anos da festa de Nossa Senora da Abadia em Uberaba

A capela que virou santuárioMemória

arquivo Cidade Livre

Em 1948, por causa de umdesentendimento com aprefeitura de Uberaba,dom Alexandre proibiu arealização da festa

No dia 11 de agosto de1881, a Câmara Municipalconcede ao capitãoEduardo Formiga a licençapara construir a capela

Multidão de fiéis participam da festa da Abadia na década de 60

3512 a 18 de agosto de 2003

de Nossa Senhora da Abadia recebeu umpároco que orientaria a vida de fiéis econgregados por muitos anos, o nome deleera padre Ângelo Pozzani.

Em fevereiro de 1954, os trabalhos da igrejaiam bem adiantados. Padre Ângelo anunciavaque já estavam concluídos o revestimentointerno, a colocação de molduras de arcos ecapitais em gesso, e as bases das colunas queostentavam um granito preto.

Em 1955, a paróquia promoveu a demoliçãoda parte velha da casa. No lugar dela, seriamrealizadas obras de ampliação da igreja.

Em julho de 1957, os pedreiros já haviamretirado definitivamente os andaimes. Era osinal de que estavam concluídos os trabalhosde pintura da cúpula.

Altar-morEm setembro de 1957, padre Ângelo inicia

uma campanha para construção do altar-mor. Aobra foi inaugurada em dezembro daquele ano.

Em janeiro de 1962, foi aberto um poçosemi-artesiano que deu muita água. Tambémneste mesmo ano as paredes da nova casa dospadres começaram a aparecer.

Em 1962, foi a vez de trabalhar pelofuncionamento das salas da Paróquia. Surgiudaí uma escola municipal, que mais tarde viriaa ser a Escola Estadual Nossa Senhora daAbadia. Em 1965 tem início a pintura dobraço esquerdo da Igreja.

No dia 22 de julho de1965 os padres daparóquia se mudaram paraa casa nova. Mais uma vez,foi marcada a presença dobispo dom Alexandre, queabençoou a mudança nodia 8 de agosto do mesmo ano.

Em 1968 foram executadas reformas namatriz e suas dependências. Foram obras decomplementação do piso de cerâmica naigreja, assentamento de mármore e granitonatural no presbitério, colocação de vitrais nointerior da igreja, cobertura das naves laterais,

cobertura do sanitário para serventes, e dalavanderia.

Também foram reformadas as salas deaula. Duas outras foram construídas.

Em agosto de 1969, foram colocadas astrês portas da fachada da Igreja e montado oaltar do Santíssimo, pelo artista ArnmelettoBeiloni, de Ribeirão Preto.

Em agosto de 1975, a Paróquia de NossaSenhora da Abadia inaugurou com cerimôniareligiosa os novos sinos do templo. Foramapresentados o sino mais antigo, com 500quilos, e os dois mais novos, com 380 e 240quilos cada um. Também naquele ano, foramconstruídas salas para costura, cozinha e salãode reuniões para jovens.

O ano de 1977 foi marcado por umaimportante aquisição para o santuário. Depoisde muito esforço, a paróquia adquiriu umórgão eletrônico para uso nos serviçosreligiosos. Em 1978, a comunidade religiosade Uberaba, dentre elas a da Abadia, viuchegar à cidade um religioso com perfildiferente do então arcebispo que acabara dedeixar o cargo, dom José Pedro Costa. O“novato” trouxera na bagagem a experiênciada igreja progressista, que ganhava corponaquela década.Dom Benedito de UlhôaVieira trazia no currículo o trabalho ao ladodo cardeal dom Paulo Evaristo Arns, daArquidiocese de São Paulo.

Em 1980, a paróquia deNossa Senhora da Abadiapromoveu a renovação dainstalação elétrica e dailuminação do Santuário. Oano também foi marcadopela restauração dasescadarias da torre, e pela

pintura da imagem de Nossa Senhora que estáinstalada na torre. Outra obra importante foi areforma do escritório paroquial e a construçãode uma sala para consultório dentário e farmácia.

O ano seguinte foi um dos mais importantesna história da igreja de Nossa Senhora daAbadia, 1981 marca o centenário da paróquia.Para as comemorações, algumas obras foramrealizadas. A “família abadiana” colocou vidrosnos vitrais da torre, e ainda construiu uma salapara Aspa, a associação dos fiéis, localizadajunto ao Santuário.Também naquele ano, acomunidade iniciou o revestimento externo daigreja e instalou o sistema de iluminaçãoautomática da torre e da imagem de NossaSenhora.Em 1982, dom Antônio AlbertoGuimarães Rezende, bispo estigmatino e oprimeiro bispo nascido em Uberaba, celebramissa solene no Santuário. Em 25 de marçode 1982 foi encerrado o revestimento externoda igreja.

Em 25 de abril chega o novo responsávelpela Paróquia da Abadia. Trata-se de um ex-superior geral da Congregação Estigimatina,padre José Alberto.

O principal trabalho do pároco foi realizaras negociações que resultaram na troca de umterreno no fundo da igreja por duas lojas emprédio localizado na praça.

No dia 1º de novembro de 1989, o ex-su-perior geral, padre Moura, participou emRoma do ato de canonização do dom GasparBertoni, fundador da Congregação dos Padrese Irmãos Estigmatinos.

No ano seguinte, tem início ofuncionamento do noviciado conjunto dasduas províncias em Uberaba. O padre JoãoCarlos Semen foi primeiro mestre de noviços

Em abril de 1990, padre Moura foiescolhido como bispocoadjutor de Uberlândia.Foi ordenado em Ituiutaba,no dia 14 de julho desse ano.

O padre Ronualdoassumiu a paróquia em 1990.Sua primeira obra: adaptar acasa para acomodar onoviciado, que passa a funcionar no pisosuperior do prédio onde moram os padres.

Em 1992, o padre Gemido Lívero terminaa adaptação iniciada pelo padre Romualdo.Foram reformadas a cozinha, capela,lavanderia, biblioteca e sala de estudos.

Nesse ano, a comunidade inicia aconstrução do grande salão paroquial queabrigaria o salão para festas. A obra incluiucozinha, banheiros e toda a parte destinadaao atendimento paroquial: escritório, salaspara atendimento, mecanografia, comoinformou o pesquisador Márcio Salge.

Após o capítulo provincial de 1994, o padreGeraldo Lívero foi transferido para Brasília.Em seu lugar, assumiu como pároco, o padreVicente Ruy Marot. Ele permaneceu de 25 deagosto de 1994 até o começo de 2001.

Padre Ruy termina as obras iniciadas porpadre Geraldo. Depois disso, inicia acampanha junto aos fiéis para promover umacompleta restauração do Santuário. Na ordemdo dia, um aviso: seria preciso mexer em tudo,do piso ao telhado.

Como foi a reformaA ampla reforma incluiu diversos setores

do Santuário da Abadia.

• restauração de vitrais• restauração de pinturas artísticas• troca das instalações elétricas• troca da sonorização da igreja reformada• renovação de todos os bancos• reforma nas pinturas interna e externa• remodelação da entrada da igreja• construção de altares de Nossa Senhora

da Abadia e de São Gaspar• instalação do sino da torre em

comemoração à passagemdo novo milênio

• instalação de urna naentrada da sacristia

• pintura do quadrorepresentando osesponsais de NossaSenhora com São José

• reforma dos banheiros externos• construção um galpão equipado com

cozinha• construção de bar para promoção de

festas

No inicio de 2001 o padre Ruy foitransferido para Goiânia.

A transferência acabou dando à Paróquiaum dos mais criativos e populares párocos daAbadia. O dia 19 de fevereiro de 2001 marcoua chegada do padre Divino Alves da Silva.

Com o padre Divino, chega também onovo vigário paroquial, padre José AiltonTeodoro. Gildásio Tanajura, até então mestrede noviços foi substituído pelo padre JúlioCésar Gonçalves.

Hoje a paróquia de Nossa Senhora daAbadia tem como pároco, Divino AlvesPereira. A principal contribuição do Padre aparóquia foi a criação de vários cursos como apoio de professores voluntários. O padretambém é responsável pela criação de umacentral de atendimento jurídico voluntário,destinada a pessoas carentes. Padre Divinoeste ano resolveu inovar, com missas emintenção as mais diversas profissões. Durantea quinzena são celebradas três missas por dia.

Padre Divino este anoresolveu inovar, commissas em intenção asmais diversas profissões

O ano de 1977 foi marcadopor uma importanteaquisição para o santuário:um órgão eletrônico

Igreja da Abadia na década de 70

A igreja nos dias de hoje

Gilberto Lacerda6º período de Jornalismo

São nove horas da manha do dia 01 deagosto. Em frente à Igreja de Nossa Senhorada Abadia centenas de carros dividem espaçocomo motos e cavalos. A cena é meiosurrealista. Do alto a Santa acompanhada depássaros que repousam sobre seus braços,contempla o exército de fiéis que se forma sobseu olhar materno. O exército de devotos têmcomo arma a fé, como munição, a devoção àMãe de Cristo.

Embaixo, os maisexaltados soltam fogos deartifícios. O barulhoensurdecedor assusta umdos passarinhos querepousava seguro em umninho sobre a cabeça deMaria. Num vôo ata-balhoado de quem está começando a aprendera voar, a ave voa rasante rente a multidão eassustada explora o ambiente. Pousa numacaixa preta. A sua frente um homem agitadocaminhando de um lado para outro. Suas vestessão curiosas. Seu corpo está todo coberto porum tecido branco que desce do pescoço aospés. Na cabeça um chapéu de cowboy. Uma

voz aguda, densa e rouca proferida por umasenhora, cujo peso estava longe de sercompatível com a altura, identifica o homemde vestes estranhas. “Padre Divino, nósestamos atrasados”, gralhou.

Sereno como o pássaro que estava a suafrente o padre retrucou. “Calma minha filhatudo vai dar certo”, acalmou a mulher semacalmar a si mesmo. As mãos suadas e a tensãoque formava-se em torno da sua testaemolduravam o quadro da preocupação queestava estampado no seu rosto com pinceladas

fortes de tensão. Já erammais de 9h40 e a carreata emlouvor a Virgem Mariaestava longe do seu início.

Os carros chegaramtodos ao mesmo tempo.Veículos importados ultra-modernos dividiam espaçocom carros mais

semelhantes aos dos Flinstones. O pássaro quevislumbrava a tudo ao seu redor quase perdeuas penas quando a caixa preta sobe seus péscomeçou a vibrar com intensidade de umterremoto. A caixa de som anunciou o inicioda carreata. O buzinaço de mais de 500 veículosassustou os pássaros que bateu asas e voou paralonge da algazarra. Ainda meio tonto, pousou

a poucos metros da praça da Abadia noparapeito de um pequeno sobrado. Não seincomodou com a presença de uma bela negra,que ao seu lado esperava pelo inicio da carreata.A mulher acabara de sair do salão decabeleireiros e ainda estava com alguns objetosestranhos presos no seu cabelocrespo. Eufórica com amovimentação ela olha paraimagem da Santa e diz.“Obrigado pela graça MãeDivina”.

Iniciada a carreta às10h40, todos os que estavamno salão correram para oparapeito acompanhando comos olhos o translado dos veículos. Como umacorredeira em câmara lenta os carros desciampelas principais ruas da cidade. No meio damovimentação o pássaro identificou a mulherque o acolheu sua cora no alto da Igreja,momentos antes de começar a explosão dosfogos. Ela seguia com seu olhar maternal,

sustentada por uma armação de ferro com floresque contornavam o seu corpo, como uma áurea.O pássaro não teve dúvidas, seguiu vôo até oseu porto seguro, mas sempre que tentava seaproximar, a Santa dobrava uma esquina.Cansado, desistiu. Perdeu de vista a Mulher

Divina.Voou para outro extremo

da cidade. Descansou asombra de uma árvore. Maisuma vez não estava sozinho.Uma senhora de corpoencurvado com um terço nasmãos e cantando a musicaNossa Senhora, de RobertoCarlos, estava estática a

esperar por algo. Poucos minutos depois umbando de homens sobre motocicletasbarulhentas com luzes vermelhas fizeram calara velha mulher. Com dificuldade girou seupescoço na direção das motos e ao fundoapreciou o que aguardava. O terço tremeu nomesmo compasso das suas mãos harmonizados

De voltaao ninho

O pássaro não teve dúvidas,seguiu vôo até o seu portoseguro, mas sempre quetentava se aproximar, aSanta dobrava uma esquina

Desolado o pássarovoltou para a praça daAbadia e descansouem uma barraca queestava sendo montada

Especial

12 a 18 de agosto de 20036

Padre Divino, momentos antes de começar a procissão

Visão do vôo rasante do pássaro assustado

Sebastião Silva

Sebastião Silva

no ritmo da emoção. Com a voz embargadadesabafou. “É Ela”, como se entendesse o quedizia o pássaro também olhou. A velha tinharazão. Era Ela. O porto seguro do ave antes doinício da carreata seguia na sua direção.Novamente as asas seagitaram e como um imão pássaro voou na direçãoda ima-gem de NossaSenhora. Já próximo foiafugen-tado por aquelesque estavam segurando aSanta e quase foi abatido.

Desolado o pássarovoltou para a praça daAbadia e descansou em uma barraca que estavasendo montada. A companhia do pássaro dessavez era um jovem comerciante que exaustomontava o seu ganha pão dividido entre doismundos, o do sono e o da realidade que oobrigava a trabalhar de forma mecânica, sendoo seu corpo algoz da sua vontade reprimida dedormir. O trabalhador que se priva do direitode descansar é o jovem comerciante ClaudineiAparecido Julho, de Paranavaí, no Paraná. Eleviajou uma grande distância para chegar atéUberaba. As olheiras, e os olhos semicerradose os movimentos sem muita coordenaçãodenunciavam que a dias Claudinei nãoconhecia o aconchego de uma cama.

A viagem foi longa. Claudinei veio de BelaVista, no Mato Grosso do Sul, divisa com oParaguai, depois de viajar quase 800 quilôme-tros, para poder montar sua barraca. Claudineicontou que estava participando de um feiraquando um amigo de Goiás falou sobre a festade Nossa Senhora da Abadia em Uberaba. “Fi-quei entusiasmado com o que ouvi. Espero quetudo sobre a facilidade para vender seja verda-de”, disse. Otimista, ele acredita que deve ven-der no mínimo R$ 500 por dia.

Claudinei trabalha com sorvete e comchurros para não ter prejuízo. “Se o tempo ti-ver frio a gente vende mais churros, se estiverquente vende mais sorvete”.

Para poder montar o seu comércio na pra-ça da Abadia, Claudinei teve que desembolsarR$ 1.100. Na avaliação dele, o preço está umpouco salgado, mas ele acredita que o movi-mento vai compensar o investimento.

Viagem de mais de300 quilômetros

O vendedor José Apa-recido Alves é outro co-merciante que vai tentarfazer dinheiro na Festa daAbadia. Ele percorreu poucomais de 300 quilômetros atéchegar a Uberaba.

É a segunda vez que José vem deFernandópolis(SP) para o evento.

Para ele o comércio na Festa de Nossa Se-nhora da Abadia pode ser considerado bom.Na opinião do vendedor, as vendas devemaquecer nos finais de semana e no último diada festa.

O operador do carrinho de trombada,Francisco das Chagas Silva Araújo saiu deCastanhal no Pará para trabalhar na festa. Eleacredita que mais 14 mil pessoas passarão pelosbrinquedos do parque de diversões. Franciscoinformou, com um carregada sotaque – mistode Caetano Veloso com a fala dinâmica deDorival Caymi – que até o final de festa outrosbrinquedos serão montados na praça da Abadia.

O pássaro parecia alheio ao barulho e aostrabalhadores que caminhavam apressados deum lado para outro. Estava mais preocupadoem repousar depois do dia fatigante. Na praçada Abadia começaram a chegar equipamentospesados, lonas, gêneros alimentícios, bebidas,alterando por completo o que antes era umapacata pracinha. Um dos protagonistas do baléde trabalhadores é o encarregado damanutenção de equipamentos pesados doparque de diversão Célio Alves da Silva.Empapado em suor que descia em cascata pelossulcos cravados pelo tempo no seu cansadorosto ele confessou que o trabalho é pesado,mas se sente gratificado em poder trabalhar emuma festa como a de Nossa Senhora da Abadia.“Fico envaidecido por saber que trabalho combrinquedos para crianças e adolescentes. Decerta forma estou contribuindo para o sorrisodessas pessoas” acredita.

Outro que trabalhou sem parar foi José An-tonio Martins. Ele é um dos responsáveis pelamontagem do palco onde ocorrerá à missa doúltimo dia da festa. Católico fervoroso, JoséAntônio disse que se sente honrado por poderrealizar o trabalho. “A Santa merece uma mis-sa grandiosa. Estamos caprichando para o pal-co ficar a altura dela”, orgulha-se.

A festa da Abadia está contribuindo parageração de alguns empregos temporários. Odesempregado Marcio Alberto de Sousa disseque todo ano consegue trabalho na festa daAbadia montando barracas, posteriormentecomo vendedor em uma delas. “O salário nãoé grande coisa, mas pelo menos a gente tá

trabalhando, né?”, observou.Uma pressão na barriga acordou o pássaro.

O ronco do seu estômago denunciava que jáestava passando da hora de comer. Ao longepedaços de pastel caiam de uma bancada desalgados. O pássaro es-gueirou-se sorrateiro entrepés, ferragens e folhas atéchegar próximo ao objetode sua cobiça. Em poucasbicadas liquidou as miga-lhas do pastel caídas nochão. A agulha mordáz dafome persistia em picar oestômago vazio da ave faminta. Acima da suapequena cabeça um pratinho repleto de pastéis.

O dono da barraca de salgados

esbravejava com sua mulher o fato de terpago caro para montar o seu estabelecimen-to na praça da Abadia.

O comerciante Joseilton Antônio Silva re-clamou com veemência dos preços cobrados

pela organização da festapelo espaço para montar asbarracas. “O lucro fica quasetodo na concessão para mon-tar a barraca”, criticou.Joseilton observou que estáacontecendo uma progressãono valor do espaço ocupadopelas barracas. Segundo ele

no ano passado pagou R$ 250 para poder mon-tar sua barraca. Esse ano ele contou que pagouR$ 360.

“A vigilância sanitária pegapesado com os barraqueiros,mas ele tem que entenderque não existe estruturaadequada aqui na praça”

12 a 18 de agosto de 2003 7

segue

“A Santa merece umamissa grandiosa. Estamoscaprichando para o palcoficar a altura dela”

Washington Bertoluci agradece a bênção recebidaMãe e filha rezam no santuário

Juliano Carlos

Juliano Carlos

8 12 a 18 de agosto de 2003

A metralhadora de denúncias de Joseiltontambém foi direcionada para a falta de ba-nheiros públicos e lavatórios para oscomerciantes poderem trabalhar com maishigiene. “A vigilância sanitária pega pesadocom os barraqueiros, mas ele tem que entenderque não existe estrutura adequada aqui napraça”, enfatizou. De acordo com ocomerciante no ano passado, a coordenaçãoda parte externa da festa prometeu que osbarraqueiros teriam um lavatório para oscomerciantes poderem lavar os seus equipa-mentos e higienizar os alimentos vendidos nolocal. Enquanto o paraibano reclamava o pás-saro se aproximava cada vez mais dos pasteis.

Ao saber das reclamações o encarregadopela concessão das barracas, HenedinoPereira,informou a Joseilton que o requeri-mento para construção dos lavatórios foienviado para a prefeitura de Uberaba, que deacordo com ele, alegou falta de recursos paramudar a estrutura dos encanamentos da praçade Nossa Senhora da Abadia.

Quanto aos banheiros, Henedino informouque na paróquia existem vários e que a pre-feitura de Uberaba vai instalar mais 18 napraça da Abadia. No tocante aos preços,Henedino disse que o metro linear custa R$100. “O preço é o mesmo do ano passado”,garantiu.

Para finalizar Henedino disse a Joseiltonque os lavatórios devem ser construídos nopróximo ano. Henedino deu de ombros e saiusem dar qualquer possibilidade de respostasao paraibano. Indignado Joseilton ergueu oseu braço e desceu-o como um martelo nadireção da bancada. O soco acertou o pratoarremessando os pasteis pelo ar e afugentandoo pássaro que estava a um bico de saciar suafome.

Com medo, a ave refugiou-se dentro doSantuário de Nossa Senhora da Abadia. Foiparar debaixo de um dos bancos da Igreja.Acima de sua cabeça e de suas penas agitadasum senhor de corpo magro e esguio, mãosexageradamente tremulas, descansava o frágilcorpo fatigado pela ação impiedosa do temponos bancos da igreja. Uma luz azul provindados vitrais da igreja iluminavam o velho comose este fosse o protagonista de uma peça nocentro do palcoiluminado por umcanhão de luz. O anciãoé o aposentadoWashington Bertoluci.Com seu olhar fixo naimagem de NossaSenhora sobre o altar elelembrou da infância e adolescência.Washington era um jovem muito matreiro. Noseu monólogo mental, lembrou quecostumava fazer artes como subir em locaisíngrimes e ter atitudes que, volta e meia, co-locavam sua vida em risco. Numa dessasatitudes insensatas subiu no lombo de um boi.A história não podia acabar bem.

Bertoluci cravou suas esporas no lombodo animal que começou a pular e rodopiarpelo pasto. Num dos saltos o animal atirou ogaroto matreiro a vários metros de distancia.“Bati com a cabeça em uma pedra. Desmaieipor algumas horas e acordei no colo de minhamãe que estava orando. Ela pediu algumacoisa a Nossa Senhora da Abadia”, lembra.

Aflita com a possibilidade de perder o fi-lho, a mãe de Washington pediu à Nossa Se-

nhora da Abadia queintercedesse em favor deseu filho curando-o daschagas causadas peloacidente e dando-lhe umpouco de juízo.

O garotoWashington, que na

época tinha 16 anos, cumpriu a promessa feitapela mãe caminhando 128 km até Romaria.

Hoje, aos 77 anos, garante que a Santaatendeu o primeiro pedido da sua mãe.“Quanto ao juízo...”, disse a si mesmo esbo-çando um sorriso tão grande e largo quanto aentrada do Santuário da Abadia.

Um barulho assustou novamente o pássa-

ro. A ave ficou perplexa ao ver um instrumen-to de madeira com curvas sinuosas feito ancade mulher. Uma viola sem cordas havia sidocolocada ao seu lado. Vendo aquele buraco àsua frente, o pássaro resolveu atocaiar-se ládentro. Finalmente sentia-se seguro. O donoda viola é violeiro Amado Delfino Lopes,mais conhecido pelos colegas violeiros comoBeira-mato. Ele foi até o Santuário de NossaSenhora da Abadia para agradecer o dom detocar e cantar etambém para que aSanta abençoe asnovas cordas quehavia compradopara colocar na suaviola. Sem seacanhar com apresença de outras pessoas, o violeiro dedi-cou suas palavras a mãe de Cristo. Beira matocomeçou agradecendo a graça recebida na in-fância. Por ser criança pequena não se lem-brava da enfermidade que tinha quando suamãe fez um pedido a nossa senhora. “Briga-do Mãe Divina, Mãe de todos nós pela possi-bilidade que a senhora me deu de poder ca-

minhar com saúde. Agradeço também o domque a Senhora me deu de poder levar alegriapara as pessoas através do dedilhar da minhaviola. Queria aproveita e pedir mais uma graçapra Senhora. Sei que no arto da sua generosi-dade a Mãe do menino Jesus e de todos nósvai me atender. Queria pedir pra Senhoraabençoar as cordas da minha viola para mimpoder continuar entoado essas músicas divi-na. Brigado Mãe. Prometo que dessa vez pagoa promessa de deixar de beber em demasia”,agradeceu, ergueu as cordas na direção doaltar, pegou a velha companheira de noitadase seguiu rumo a saída da Igreja. O balanço daviola agitou o pássaro que assustado tentavasair pelo buraco da viola. Beira-Mato achouestranho a agitação da viola que tremia emsuas mãos. Ao tentar olhar dentro da viola,assustou-se com a cabeça do pássaro que bro-tou de dentro do instrumento. Incrédulovislumbrou o pássaro por uma fração desegundos. Mais uma vez assustado voousem destino para longe da agitação e doperigo. “Que milagre foi esse”, questionouBeira-Mato.

As asas da ave só param de bater ao en-contrarem o parapeito do salão de cabeleirei-ros localizado ao lado da praça da Abadia.De dentro do salão a bela mulher negra saiu,desta vez com o seu cabelo todo arrumado.Acompanhada do seu marido ela contempla-va a imagem de Nossa Senhora no alto doSantuário. Desviando o olhar para a praça,lembrou-se do tempo que sua filha corria parase divertir nos brinquedos, durante o períododa festa da Abadia. Seus olhos marejaram aolembra da promessa feita em favor da filha.Ela prometeu dedicar sua vida a obras assis-tências em favor de crianças com leucemia.A Santa atendeu seu pedido. A mulhernegra acredita que sua filha viveu maisdois anos ao seu lado por causa da graçaconcedida por Maria. Moveu sua mão atéos lábios, o suave e terno movimento foiacompanhado pelo olhar do pássaro cujo oúnico deseja era voltar para o seu porto segu-ro. A mulher beijou a mão e mandou o carinhorevestido de agradecimentos pela graça rece-bida para a Santa no alto da Igreja. O pássaroque acompanhou atentamente o movimento

visualizou o seuninho apontado pelobraço estendido damulher. As asas seagitaram com força ea ave passou rasantepróximo ao rosto docasal. “O que foi

isso?”, perguntou o assustado marido. Acom-panhando o bater de asas do pássaro seguindorumo ao alto da Igreja e posando sobre a cabe-ça de Nossa Senhora, a mulher respondeu. “Éo Espírito Santo que passou por nós, ouviu aminha prece e levou até a Santa a minha voz”.E assim, o pássaro voltou para o ninho, e aSanta ao altar.

“Brigado Mãe Divina, Mãe detodos nós pela possibilidadeque a senhora me deu depoder caminhar com saúde”

A mulher beijou a mão e mandou ocarinho revestido de agradecimentospela graça recebida paraa Santa no alto da Igreja

Beira-mato, o violeiro devoto, foi surpreendido pela ave que saiu de sua viola

Juliano Carlos

912 a 18 de agosto de 2003

A peregrinação que existe há mais de 130anos reunindo milhares de pessoas, conta coma presença de um personagem folclórico. Otrabalhador rural Dionísio Antônio de Oliveiracruza a estrada que leva a Romaria há 4 anos.Dionísio não caminha 128 Km para pagarpromessa, mas sim para animar os amigos quefazem parte da Romaria do Paizinho. O nomefoi dado em homenagem a Espedito Alves doSantos que iniciou a tradição da caminhada a25 anos atrás.

Hoje quem leva adiante essa tradição sãoos filhos de Espedito, mais conhecido comopaizinho. Os romeiros que participam dessacaminhada de fé cruzam as estradas dointerior mineiro em busca do santuário daNossa Senhora da Abadia da Água Suja,localizada na cidade de Romaria - MG. Nestaépoca do ano, mais precisamente nas duasprimeiras semanas do mês de agosto, umalegião de fiéis louvam a Nossa Senhora daAbadia das mais diversas formas.

Uma figura folclórica vai animando osromeiros. Chapéu de vaqueiro, sotaque e falaarrastada, carregada de ginga provinciana,roupas simples e uma botina largadaaparentando ter o número bem maior do que opé que a ostenta com orgulho de um “lordinglês”. Essa não é a descrição de personagenscomo o saudoso Mazaropi ou Barnabé. Muitomenos dos atuais caipiras como Nerson daCapitinga e Chico Bento. As palavras acima,na verdade descrevem o verdadeiro caipira docerrado mineiro: Dionísio Antônio de Oliveira.

Católico fervoroso, caminha ao lado dosromeiros com a mesma dedicação e entusiasmodos pagadores de promessa. O folclóricopersonagem não caminha mais de 100 km parapagar promessas ou retribuir as graçasrecebidas. O esforço é dedicado a manter

elevado, o astral dos romeiros.Dionisio revelou que os filhos de paizinho,

gostam da suapresença por causada boa prosa e doscausos interes-santes. Dionísiocontou que nuncafez promessa aNossa Senhora daAbadia, ele caminha apenas para desfrutar daboa companhia dos amigos. Sempre que vêalguém desanimado, ou pensado em desistrirda dura caminhada, Dionísio se aproxima, ecomeça a contar suas aventuras e desventuras.De renpente os contornos do rosto pálido,cansado e desanimado, causados pela fadigada dura e longa caminhada, começam aganhar vida e brilho com o sorriso que seesboça a cada novo causo. A conversa franca,amiga e invariavelmente engraçada deDionisio com os romeiros serve comorevigorante para os pagadores de promessa.

Nesses quatro anos de caminhada pelaestrada que leva até Romaria, Dionísio ficoufascinado com a devoção e a fé de algunsromeiros. Há aqueles que de tanto caminharmachucam os pés. As bolhas formadas a cadanovo passo, revelam todo o sofrimentodaqueles que pagam com sacrifício as graçasrecebidas de Nossa Senhora. “Já vi gente quea ferida ficou na carne”, revela Dionísio. Aschagas facínoras não intenrrompem a caminhada.

A dor para o paga-dores de promessa nada maisé do que uma provação. A morfina dos cami-

nhantes é a fé e avontade de pagar adívida com NossaSenhora.

O homem doscausos não se cansade animar os ca-minhantes. Ao ver

um com o corpo encurvado, colocando asmãos na cabeça de forma reflexiva e comconstantes paradas para descançar, Dionísiose aproxíma rapidamente para uma boa prosa.

Personagem folclóricoalegra caminhada à Romaria

Foto: Dionísio Antônio de Oliveira

Nas conversas, os pagodores de promessa nãopedem milagres mirabolantes. São pedidosaparentemente simples como união familiar,diálogo conjugal, emprego e principalmentesaúde. Por falar em saúde dessa vez Dionísiofez dois pedido a Nossa Senhora. O primeiroé muita saúde para os familiares e amigos e ooutro é sucesso para o seu filho que querestudar em Brasília. “Eu entrego as sorte domeu filho nas mãos da Mãe de Cristo. Tenhocerteza de que o destino dele vai ficar em boasmãos”, contou erguendo os braços ao céucom gestos expansivos.

A caminho do santuário, romeiros calados,absortos em seus pensamentos. A reflexão écompanheira da maiora, não pensam nadistância, na dor ou no tempo que ainda faltapara terminar a caminhada. Um filme de erros,acertos, possibilidades e perdas se estendepelo caminho como frames na película da vidade cada um.

A primeira parada dos romeiros aconteceno trevo de Almeida Campos a cerca de 50km de Uberaba. A próxima parada fica a 10km depois de Nova Ponte. A última paradaacontece a poucos quilômetros de Romaria.Ao lado de um córrego os romeirosdescansam a espera da missa campal.Centenas de pessoas participam do evento defé .“A missa campal reúne mais de 1.500pessoas. É bonito ver aquele amontoado degente rezando para Nossa Senhora para curardos males que aflinge a vida de cada um”emociona-se Dionísio.

A caminhada prossegue até o santuário. Háaqueles que sentem alívio, outros esboçamexpressões de dever cumprido. Os maisemotivos tocam a santa com devoção. O contatocom tantas dores, vivências e fé contribui paralágrimas coletivas. O líquido cristalino seconfunde com o suor do esforço de mais de 100Km de caminhada. O odor da fé deixa osantuário impregnado com o cheiro do povo eas flores dedicadas a santa exalam fé. A devoçãovai como abelha, retirando de cada pessoa opólen da esperança criando favos de súplicas aserem atendidas pela Virgem Maria.

Fim da Romaria, os fiéis deixam o templosagrado. No próximo ano a maioria voltarápara agradecer as graças recebidas. Os passosvoltarão repletos de pedidos a seremcontemplados pela intervenção divina daquelaque vela pelos pobres, oprimidos,marginalizados, sendo chamada por eles deNossa Senhora da Abadia, Mãe de Cristo,Santa dos desvalidos, ou simplesmente Maria.Dionísio faz o sinal da Cruz perante a imagemda Santa e segue o seu caminho de volta coma sensação de dever cumprido. (G.L.)

Peregrino da alegria

Juliano Carlos

Dionísio acompanha os romeiros contando causos e animando os pagadores de promessa

Dionísio contou que nunca fezpromessa a Nossa Senhora da Abadia,ele caminha apenas para desfrutarda boa companhia dos amigos

10 12 a 18 de agosto de 2003

Fernando Machado6º período de Jornalismo

Se o consumo de drogas constitui um dosprincipais problemas da sociedade moderna,o uso dessas substâncias por menores serevela a faceta mais cruel dessa realidade. Porestar ainda em estado de formação, a criançaque se droga compromete tanto o seu futuroquanto o da sociedade que a cerca. Asconseqüências do uso de entorpecentes nainfância são devastadoras, às vezesirreversíveis, de forma que a criança drogadase torna mais excluídasocialmente e frágil perantea criminalidade. A maconhapode causar irritabilidade euma perda gradativa dememória e de concentração.O crack causa desdeconfusão mental ealucinação até cegueira e morte.

Em Uberaba, segundo o DepartamentoAdjunto de Tóxicos e Entorpecentes (Date),40% das apreensões de drogas feitas na cidadeenvolvem menores de idade. “A maconhaainda é a mais comum, mas o crack tem sidocada vez mais encontrado. Só perde para amaconha e a cocaína”, relata o delegadoVagner Caldeira. Praticamente expulso docomércio de drogas nas periferias norte-americanas porque matava rápido demais edava pouco lucro para os traficantes, o cracké uma droga recente no Brasil. Em Uberaba,de acordo com o delegado do Date, chegouhá menos de dez anos. O delegado explicaque quase toda a droga consumida emUberaba vem de Ribeirão Preto e que ostraficantes, de maneira geral, utilizam a mão-de-obra infantil.

O consumo deentorpecentes pormenores, muitos ainda naprimeira década de vida,é uma realidade fácil deser constatada emUberaba, tanto pelapopulação quanto pelo Juizado de Menores.Só no ano passado, o Conselho Tutelar dosDireitos da Criança e do Adolescente atendeu148 crianças usuárias de drogas. Neste ano,até maio, já foram 28 atendimentos, sendo que14 dessas crianças já, apresentavamdependência química. Os conselheiros queacompanham os casos, são testemunhas dasimbiose entre o crescimento do uso dedrogas, os índices de evasão escolar,envolvimento com outras drogas, exploraçãosexual e outros tipos de violação dos direitosda criança e do adolescente. O problema é

tão grande que, semelhante ao que ocorre commaiores infratores, não existe infra-estruturasuficiente em Uberaba, nem no Brasil, paragarantir atendimento a todos os casos. OPoder Público recebe a valiosa ajuda devoluntários e de ONGs, mas mesmo assim aVara da Infância e Juventude não faz segredode que muitos menores ficam excluídos porfalta de vagas em creches e outros pontos deatendimento.

É o caso de Lucival, que se recupera dadependência do álcool e da cocaína na CasaDia, um dos vários centros de apoio ao

dependente químico emUberaba. Incentivado pelo paie amigos, através de umacultura machista, segundo aqual, o homem que não bebeperde em masculinidade, eleconta que aos dez anosdependia do álcool. Hoje, com

30, Lucival relata que o envolvimento comoutras drogas, lícitas e ilícitas, foi umaconseqüência do estado de quase mendicânciaa que chegara.

Os arquivos e relatórios do ConselhoTutelar, assim como a experiência pessoal dosconselheiros, dão conta de situações bem maisextremas que a de Lucival. É o caso de cincoirmãos (três meninos e duas meninas) que hácerca de cinco anos, vindos com a mãe dointerior de São Paulo, mudaram-se paraUberaba. O pai fora assassinado e a mãe ésoropositiva. Com idades entre os quatro eos dezesseis anos, todos os irmãos fazem usode algum tipo de droga. Inclusive o mais novo,de apenas quatro anos, influenciado peloirmão mais velho, começou a fumar maconha.Apesar de tão tenra idade, a criança começou

a apresentar umc o m p o r t a m e n t oagressivo e a praticarpequenos furtos dentrode casa. Com treze anos,uma das meninasaproveitava quando amãe saía para se

prostituir dentro de casa. E um filho de onzeanos não se importava com a presença da mãee fumava maconha dentro de casa. Se a mãereclamava, apanhava.

Rodrigo, de 11 anos, é outro caso que oConselho Tutelar acompanhou. Os pais nãoconseguiam dormir à noite, temendo que ogaroto lhes matasse durante o repouso. Umavez, fazendo uso de um martelo, o filhotentara matar a mãe. O nome de Rodrigoabandonou a lista de chamada da escola ondeestudava para freqüentar os boletins deocorrências policiais. Ficava quatro dias sem

aparecer em casa, causando desespero nocasal de classe média. Figura conhecida dapolícia, o menino volta e meia chegava emcasa em uma viatura ou era encaminhado aoConselho . Os pais tinham medo de que o filhotivesse AIDS ou fosse abusado sexualmente,pois a mãe descobrira que um travesti emestágio avançado da doença queria dar suacasa para o garoto.

Drogas e consumismoA busca da felicidade e do prazer é um

dos principais mandamentos de nossasociedade. Desde muito cedo, as crianças têmum modelo de felicidade diretamente ligadoao consumismo: o que podemos comprarpoderá nos trazer satisfação e realizaçãopessoal. As propagandas de álcool, cigarro echocolate veiculam esse modelo para venderseus produtos. A crença ingênua de que“podemos comprar a felicidade” e de que ascoisas desagradáveis (embora naturais)devem ser evitadas a qualquer preçoconstituem o mesmo padrão de relação queos dependentes (consumidores) estabelecemcom as drogas (produtos). Neste sentido, os“drogados” repetem o modelo de sociedadeque lhes é ofertada.

O comportamento de Talita, outra criançade onze anos acompanhada pelo ConselhoTutelar, pode ser tomado como exemplo.Segundo sua mãe, a menina parecia quererviver tudo o que não fosse próprio da suaidade e, apesar de muito jovem, era “sarcásticae irônica”. Em um bilhete em que se declaravapara um colega da escola, em letras tortas,escreveu no final: “Eu quero transar comvocê”. Fugira de casa diversas vezes, ficandodias desaparecida. A garota justificava suasatitudes dizendo que tinha “medo que omundo acabasse”. Talita passou a ficar cadavez mais tempo sumida. Mais tarde a mãe

Crianças na miraMenores respondem por quase 50% da droga consumida em Uberaba

ficou sabendo que a filha estava seprostituindo em uma chácara e morando comum traficante. Levada ao ginecologista,constatou-se a ruptura do hímen da garota.Temendo represálias do traficante, a mãepreferiu não registrar queixa na polícia.

Depois de idas e vindas ao centro deatendimento psicológico do Conselho. ediversas recaídas nas drogas e na prostituição,o comportamento de Talita só melhorouquando ela começou a fazer um curso demanequim. “Ela sempre quis ser modelo”,contava a mãe. Para a psicóloga JaneteTränquila, a menina pode ter substituído umsonho de consumo por outro, para preencherum vazio dentro de si. “Ela trocou o consumode drogas pelo consumo de um estilo de vida.O mecanismo é o mesmo. O consumismo é abusca de preenchimento de lacunas e vaziosinteriores. Uma das suas mensagenssubliminares é essa: não se pode parar deconsumir nunca”, analisa Janete.

*Drogas apreendidasno 2 semestre de 2002Maconha – 60%Crack- 15%Cocaína – 15%Outras (Haxixe, lança-perfume, etc)- 10%Número de apreensões – 180

*Drogas apreendidasde janeiro até maio de 2003Maconha - 40%Crack - 25%Cocaína – 10%Lança-perfume – 20%Outras drogas – 5%Número de apreensões – 48

*Fonte: Polícia Civil. Delegacia Adjunta de Tóxicos eEntorpecentes.

Sociedade

“A maconha ainda é amais comum, mas ocrack tem sido cadavez mais encontrado”

Um filho de onze anosnão se importava com apresença da mãe e fumavamaconha dentro de casa

Revelarte - foto: reprodução

1112 a 18 de agosto de 2003

Erika Machado6° Período de Jornalismo

È provável que nós jovens universitários,no momento só estejamos pensando no tãosonhado diploma e na realização dos projetosprofissionais idealizados nos anos defaculdade. Assim que ganharmos o mercadode trabalho, o únicointeresse parece ser ode trabalhar e con-quistar a indepen-dência financeira epessoal.

Mas vai chegar odia em que preci-saremos pensar na nossa aposentadoria, entãoparece ser melhor que desde cedo, haja umapreocupação com o dia em que, enfim,poderemos desfrutar dos resultados dadedicação em estudos e trabalho.

Pode ser muito cedo para falar no assunto,preocupar com aposentadoria quando se estána faculdade ou começando a trabalharparece exagero, mas com tantas mudanças jáocorridas na previdência social brasileira, oassunto virou motivo de muita discussão. Equem tem uma longa carreira pela frente, nãopode se excluir de tal preocupação.

A reforma da Previdência já causouindignação aos servidores públicos federaisque se organizaram em várias manifestações.Em Uberaba servidores do Hospital Escola,do INSS e da Receita Federal suspederam osatendimentos ao público em manifesto contraa reforma. O medo da aprovação foi tanta queos pedidos de aposenta-doria aumentaram em70% de acordo com acoordenadora do Depar-tamento de RecursosHumanos do HospitalEscola.

As manifestaçõesforam inúteis, na último dia 6, a reforma foiaprovada pelo Senado e pela Câmara, agoraas mudanças só dependem do segundo turnode votação para ser levada à sançãopresidencial.

Quem não gostou muito da notícia foi

As mudanças da reforma da Previdênciaparecem estar longe da realidade dos jovens,mas afetam diretamente o futuro deles

Ricardo Berzoíni, o ministro da Previdência Social, é um defensor de reformas estruturais no sistema

Assim como os outrosfuncionários públicos,Maria Inêz Macedo está há oitoanos sem reajuste salarial

Se continuasse com tantasdespesas, em dois anos aPrevidência não teria dinheiro parapagar mais nenhum trabalhador

Anderson Eugênio de Oliveira,com apenas três anos deformado, já tem um plano deprevidência privada

Foto: José Cruz/Agência BrasilSeu Futuro

Os jovens e aprevidência

Dona Maria Inêz Macedo que trabalhou por28 anos no serviço público federal e hoje estáaposentada. Revoltada ela conta que terádescontado 11% do benefício que recebe. Eladiz que assim como os outros funcionáriospúblicos do governo, está há oito anos semreajuste salarial, o último, de 1% anunciadoneste ano, ainda não chegou ao contracheque.

Casada pelasegunda vez, mãe deduas filhas e avó detrês netos, viu o nívelde vida cair nosúltimos anos. Pre-cisou fazer cortes noorçamento domés-

tico. A aposen-tada reclama que até o lazerprecisou ser deixado de lado.

Mesmo causando tanta indignação areforma da previdência foi aprovada, e háexplicações para os motivos das mudanças.

O advogado Paulo Leonardo explica quea reforma é necessária porque o InstitutoNacional do Seguro Social ( INSS), arca comtodas as despesa tanto dos funcionáriospúblicos, quanto dos privados, através dosdescontos das carteiras de trabalho e aindabanca os pensionistas.

Se continuasse com tantas despesas, emdois anos a Previdência não teria dinheiro parapagar mais nenhum trabalhador. Pauloacredita que o país esteja caminhando para aprevidência privada que complemente aaposentadoria paga pelo governo, mas paraisso algumas leis precisam ser regu-lamentadas.

E o advogado pa-rece estar certo, se-gundo o corretor deprevidência privada,Àureo Francisco deOliveira, houve umaumento de 60% nosnegócios. Ele explica

que a população ainda não tem umaconsciência de preocupar com aaposentadoria, todo mundo prefere confiar naPrevidência pública. Áureo conta que oscorretores ainda tem que correr atrás dosclientes, mas depois que estes conhecem as

vantagens dos planos resolvem investir nestetipo de aposentadoria. Diferente do INSS, naPrevidência privada,durante o tempo quequiser a pessoa depositaqualquer quantia quegaranta uma reserva, e apartir dos 50 anos, odinheiro pode serretirado.

Foi o que fez An-derson Eugênio deOliveira, com apenas três anos de formado,ele já tem um plano de previdência privada.Mesmo tendo descontado mensalmente dosalário, o valor da contribuição ao INSS, oengenheiro agrônomo buscou um plano

privado que futuramente vai complementar aaposentadoria. Cedo demais para pensar

nisso? Para ele é aantecipação que vaigarantir uma aposen-tadoria melhor e maistranquila.

Já o estudante LuizFlávio Assis Moura,que faz seu primeiro

ano de faculdade tem mais preocupação comas dificuldades com o mercado de trabalho doque com a apo-sentadoria. Ele pretende trabalharna área acadêmica e por isso acredita que asmudanças podem afetar futuramente, mas porenquanto não tem uma idéia definida sobre isso.