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Jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 24 de fevereiro à 02 de março de 2003

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2 24 de fevereiro a 2 de março de 2003

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba

Supervisora da Central de Produção: Alzira Borges Silva ([email protected]) • • • Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Projeto gráfico: André Azevedo ([email protected]) Diretor doCurso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenador da habilitação em Jornalismo: Raul Osório Vargas ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle ([email protected]) • • • Professoras Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]), Neirimar deCastilho Ferreira ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Suporte de Informática: Cláudio Maia Leopoldo ([email protected]) • • •Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • • Impressão: Gráfica ImprimaFale conosco: Universidade de Uberaba - Curso de Comunicação Social - Jornal Revelação - Sala L 18 - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • • • Tel: (34)3319-8953http:/www.revelacaoonline.uniube.br • • • Escreva para o painel do leitor: [email protected] - As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

Fernando Machado6º período de Jornalismo

Falar de preconceitos costuma ser umterreno escorregadio, arenoso. A únicaafirmação que se pode fazer com toda certezaé a de que qualquer preconceito é estúpidopor natureza. Dois fatos recentes referentesao preconceito contra os negros andaramlevantando polêmicas ultimamente em todoo país: a reserva de cotas para negros e pardosna Universidade Estadual do Rio de Janeiroe a lei 10.639/03, sancionada pelo presidenteda República, queobriga o ensino dehistória e cultura afro-brasileira nos estabele-cimentos de ensinofundamental e médio,da rede oficial ouparticulares.

Esses dois fatosmostram uma coisaainda pouco discutida: o preconceito comoforma de defesa de um preconceito. É de seesperar que negros rejeitem a discriminaçãoque recebem dos brancos de forma idêntica,criando preconceitos contra eles.

As “panelinhas” de brancos serãoinevitáveis nas salas de aula da Uerj. Assimcomo será inevitável que os negros não sevoltem contra os brancos. Como filho de seutempo e herdeiro cultural das geraçõespassadas, todo brasileiro nasce machista,racista, entre uma série de outras coisas, boase ruins. É assim que somos educados e é assimque educamos. De tão profundamente

cravados em nossa alma, esses preconceitoscriaram discriminações também das partesdiscriminadas, gerando assim a guerra.

Um armistício seria a melhor opção. Paracomeçar, que tal banir (juntamente com aspiadinhas preconceituosas sobre negros)aquelas camisetas com a frase escrita em letrasgarrafais: “100% negro”. Ora, não se podeser, no Brasil, totalmente branco nemtotalmente negro. Até os de pele brancatrazem nas veias o sangue de índios e outrospovos. Outra coisa boa a se fazer, seria queos negros deixassem de exigir ser chamados

de negros e não depretos. É natural dizerpreto, como é naturaldizer branco. Nunca vibranquelo nenhumexigir ser chamado dealvo. É a mesma coisa.

Quanto a reserva decotas para negros, nemé necessário dizer que

tal situação humilha o negro, ao invés debeneficiá-lo realmente. Melhor seria queminorias e maiorias recebessem educação dequalidade, independentemente de seu podereconômico.

E a medida compulsória, e forçada, deensinar separadamente a história afro-brasileira nas escolas –além de renegar ahistória de outros povos que contribuiram naformação de nossa nação, tais como índios,japoneses, libaneses, etc- lembra uma velhahistorinha: a do homenzarrão de quase doismetros de altura que processou o circo porquenão o aceitaram para a vaga de anão.

Preconceitoàs avessas

Quanto a reserva de cotaspara negros, nem é necessáriodizer que tal situaçãohumilha o negro, ao invésde beneficiá-lo realmente

reprodução

Agenda culturalAgenda culturalAgenda culturalAgenda culturalAgenda cultural• Bar ArchimedesQuinta-feira 27/02 – Banda DibadáSexta-feira 28/02 – Banda PrismaSábado 01/03 – Banda PrismaSegunda-feira 03/03 - Banda Prisma• CebolaDe quarta a domingo musica ao vivo• MuchenTerça feira 25/02 – Hebert : acústicoQuarta feira 26/02 – Denilson e DanielQuinta feira 27/02 – Grito de Carnaval: Rodrigoe Alexandre e Flávio e HenriqueSexta-feira 28/02 – banda kalahariSábado e domingo - sem programação ,funcionará normalmente

"Os pequenos atos que se executam são melhoresque todos aqueles grandes que se planejam"(George Marshall)

• Mário choperiaFeijoada aos sábadosExposição de fotos dos casarões antigos deuberaba, muitos deles já demolidos; fotos dofotógrafo marujoTítulo da exposição: uberaba de outróra - ficaráaté o dia 28/02• Pró houseSexta-feira• Resumo da ópera - ndaSexta-feira• Recanto da praça (universitário)Quinta-feira 27/02 – gustavo lopes e bandaSexta-feira 28/02 – skina iiSábado 01/03 – kgbDomingo 02/03 – • aldemar e majaca

Em Rosa de Hiroshima, o cantor NeyMatrogrosso, ainda integrante do Secos &Molhados, uma banda performática surgidanos início dos anos 70, reativou ospensamentos humanos a cerca das temidasarmas nucleares.

A música é na verdade um poema deVinícius de Morais – A Rosa de Hiroshima ea letra da canção fazreferência ao terrívelepisódio de 6 de agostode 1945 no Japão - aexplosão da bombaatômica em Hiroshimadurante a SegundaGuerra Mundial.

Quando escreveu “ … a rosa radioativaestúpida e inválida”, o poeta talvez nãoimaginasse que passados tantos anos, omundo mais uma vez está atento a umpossível conflito que coloca em risco asegurança de milhões de inocentes. Ecomo a evolução dos armamentosnucleares superou a evolução dosconceitos antiguerra, é impossível prevero futuro.

O Jornal Revelação desta semana, alémde trazer informações sobre os conflitos entreamericanos e iraquianos, pretende criar uma

nuvem de esperança entre todos os cidadãospara que juntos, de alguma forma, intercedama favor de um Não à Guerra.

Ao longo das décadas, o clarão silenciosoque iluminou os céus de Hiroshima ainda temseus fragmentos cravados na alma deinúmeros inocentes. A guerra, não cria poder,não desfaz ideologias e nem eleva soberanos.

A guerra mata, fere ehumilha.

Mesmo que asdiferenças geográficassejam notórias, existemartifícios para que cadaum de nós , tenha emmãos a “arma da paz”.

Então que sejamos um batalhão de homens emulheres, jovens, crianças e idosos, unidosna mesma artilharia e com o mesma proposta– Defender o território Global e vencer oinimigo, a Guerra.

A batalha pode ser árdua, mas o resultadoé recompensador. Iniciemos então odesarmamento dos conceitos hipócritas etenhamos sempre o mesmo sonho, “ Um diaas rosas hão de vencer as armas” , e se fornecessário esperar longos períodos existe aesperança de que “Os sonhos nãoenvelhecem”.

Pela paz mundial

A guerra, não cria poder,não desfaz ideologias e nemeleva soberanos. A guerramata, fere e humilha

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3324 de fevereiro a 2 de março de 2003

André Azevedo3º período de Jornalismo

Há alguns anos, a idéia de respon-sabilidade social vem chamando a atenção deempresas, profissionais de comunicação e dasociedade organizada. No entanto, muitosainda têm dúvidas a respeito dos conceitosdessa nova atitude empresarial, assim comoparece ainda não estar claro os benefícios reaisdessa postura – seja para o empresário, sejapara a sociedade.

Para esclarecer alguns pontos principais,a gerente de marketing da TV Integração,Mônica Melo, ministrou uma palestra paraestudantes de Comunicação Social daUniversidade de Uberaba (Uniube). A palestrafoi realizada na noite de 20 de fevereiro, noanfiteatro da Biblioteca Central, e contou commais de cem alunos. Mônica esclareceu queresponsabilidade social não é um conceitoisolado, pois está interligado comdesenvolvimento sustentável, preservaçãoambiental, distribuição de renda, educação equalidade de vida.

A palestrante explicou que o termo se referea uma forma de gestão empresarial onde oconjunto de ações emtodas as áreas da em-presa é baseado noprincípio da ética nasrelações e no compro-misso em promover odesenvolvimento sus-tentável da sociedade.“A empresa não é só responsável pelo seu públicodireto, mas por toda uma cadeia que incluifuncionários, acionistas, clientes, fornecedores,suas famílias e a comunidade em geral”.

No entanto, ela considera um erro traduziressa preocupação social com ações isoladas.“Não adianta a empresa doar um milhão parauma campanha e não cuidar da condição detrabalho de seus funcionários. Há uma sériede conceitos para defini-la como empresa deresponsabilidade social.”

Para quem diz que resolver questõessociais não é coisa de empresário, mas degoverno, Mônica rebate afirmando que umpaís só tem jeito se a sociedade participarintensamente, pois governo nenhum dá contasozinho. “A sociedade que participaativamente tem mais poder de cidadania.Como cidadãos, podemos sempre participarde associações, ONGs, conselhos municipais,etc. Tem muita coisa boa acontecendo nafrente da gente, e muitas vezes a gente nãoestá nem aí”. As empresas também dispõem

de muitas alternativas para cumprir seu papelsocial – tais como a criação de institutos,fundações e programas especiais. Para ela,“não há desculpa para quem cruza os braçose fica esperando que outros resolvam osproblemas do país”.

A palestrante observou que a relação comos fornecedores é um exemplo de como aempresa pode atuar para garantir melhoriassociais. Ela citou, como mau exemplo, orecente caso da Nike, que foi duramentecriticada e viu suas ações na bolsadespencarem quando a imprensa descobriuque a multinacional comprava material de umfornecedor asiático acusado de utilizar mão-de-obra escrava. “A empresa socialmenteresponsável deve fiscalizar, pressionar osfornecedores e dizer: – se você não for ético,não respeitar leis trabalhistas, nãocompramos de você. Olha só o poder! É maisforte que governo.”

Os consumidores também têm enormeforça para exigir ética dos empresários.“Temos o poder de não comprar produtos eserviços de empresas que não mantêm umapostura de responsabilidade social.” Para ela,os consumidores também devem educar-se

para um consumoconsciente. “É gratifi-cante comprar de umaempresa que não usamão-de-obra infantil,que respeita o tra-balhador e investe emprojetos sociais. Isso

cria identidade e fidelidade à marca.”Existem diversos selos e certificados para

empresas socialmente responsáveis, como o seloEmpresa Amiga da Criança, conferida pelaFundação Abrinq Pelos Direitos da Criança edo Adolescente, e o SA 8000, que certifica aempresa comprometida com as condições detrabalho de seus funcionários.

Boa imagemA palestrante mostrou que a opinião

pública dá muito valor à empresa queincentiva projetos sociais e envolvimentovoluntário. Outra atitude que agrega valor àempresa é a educação ambiental. “A gentenunca imaginava que ia faltar água no Brasil,e hoje há escassez. O que o empresário deixade fazer e que pode piorar as condições domeio ambiente?”

Segundo ela, quando a empresa assumeuma missão social, age segundo umadeclaração de valores e humaniza a relaçãocom todas as pessoas envolvidas com seu

funcionamento, verifica-se, além da boarepercussão na imagem perante o público,evidentes ganhos de produtividade.

“Os empresários devem agir hojepensando no amanhã, precisam perceber queinvestir no desenvolvimento sustentável dasociedade vai serbom pra todo mun-do. As pessoas di-zem que isso é uto-pia, que o empre-sário só visa o lucro.Mas empresário in-teligente, com visãoa longo prazo, per-cebe com mais clareza a importância doinvestimento social.”

Mônica afirma que, hoje, apenas 20% dapopulação do Brasil participa ativamente domercado de consumo. Ela argumenta queinvestir na sociedade para desenvolver os80% é a única saída para o mercado crescer.Mais pessoas com capacidade de consumodarão impulso à economia e vão gerar maislucros. “É preciso trazer esses 80% para omercado de consumo. Às vezes a gente só selembra deles quando somos assaltados. Temosque despertar para o fato de que isso sóacontece porque não estamos fazendo nadapara mudar essa situação”. Enquanto a rendacontinuar concentrada, não haverácrescimento contínuo, e o mercado ficaráestagnado – e vai saturar se os consumidorescontinuarem reduzidos aos 20%.

No entanto, é importante esclarecer adiferença entre projeto social e projetoassistencial. O assistencialismo não favorece

a emancipação do favorecido – ao contrário,consolida a dependência sem modificar asestruturas. Já o projeto social resgata averdadeira cidadania ao inserir as camadas debaixa renda na sociedade, através do estímuloà educação, profissionalização e articulaçãosocial, possibilitando que a pessoa, através doseu trabalho, ingresse na economia comdignidade.

Outro erro comum é confundir marketingsocial com a simples propaganda das açõessociais da empresa. “O verdadeiro marketingsocial é a comunicação que gera atransformação da sociedade, são ascampanhas de conscientização e mobilizaçãosocial em nome de uma causa. Não é sópropagandear que a empresa é socialmenteresponsável.” Ao contrário, empresas quecostumam alardear suas ações devem servistas com desconfiança.

Segundo a palestrante, se a postura que aempresa comunica não corresponder àverdadeira filosofia da empresa, o públicoacaba por perceber, mais cedo ou mais tarde.Segundo ela, é propaganda enganosa quandoa empresa diz que faz responsabilidade social,mas trata mal o funcionário, por exemplo.

“Como é o clima daempresa? Como aempresa trabalha asdemissões? Há pro-gramas de reinserçãode demitidos no mer-cado de trabalho?Isso tudo é respons-abilidade social. A

imagem da empresa depende muito do queas pessoas que saíram dizem dela.”

Os profissionais de comunicação tambémtêm grande poder nessa transformação. “Opublicitário é quem decide os veículos decomunicação onde seus clientes vão anunciar.Neste momento da escolha, ele deve levar emconsideração a responsabilidade social daempresa de comunicação”. E na hora de criaro anúncio, Mônica sugere que o profissionalse pergunte: o que eu quero? A venda doprodutos qualquer custo, ou transmitirvalores e fazer da propaganda algo maisvalioso?

Conheça maishttp://www.ethos.org.brhttp://www.gife.org.brhttp://www.rits.org.brhttp://www.mma.gov.brhttp://www.akatu.org.br

Consumidores querem empresas comresponsabilidade social

Gust

avo

Salo

mão

“Não adianta a empresa doarum milhão para uma campanhae não cuidar da condição detrabalho de seus funcionários”

“Temos o poder de não comprarprodutos e serviços de empresasque não mantêm uma posturade responsabilidade social”

Mônica Melo, gerente de marketing da TVIntegração, falou sobre responsabilidade socialpara estudantes de Comunicação Social

Empresários devem favorecer desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da comunidade

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4 17 a 23 de fevereiro de 2003

A pauta do diaProfessores e alunos debatem o possível conflito entre EUA e Iraque

Guerra

Wagner Fonseca6º período de Jornalismo

O conflito iminente entre americanos eiraquianos foi tema de um Painel de Debatesorganizado pelo curso de Comunicação Socialda Universidade deUberaba. O debatelevou à Biblioteca docampus II, um pú-blico de mais de cempessoas entre alunose professores.

De acordo com opalestrante, Francisco Marcos dos Reis,jornalista e professor, o estudante decomunicação é um indivíduo do mundo, edeve estar sempre informado sobre osassuntos que interfiram na formação docidadão.

“Hoje em dia, não se pode restringir onível de informação”, disse o palestrante.

Questionado sobre o papel da mídia nestemomento, o jornalista diz que o comunicadornão pode ser um “papaguaio de pirata”, umreles repetidor de tudo aquilo que os outrossegmentos dizem.

“O jornalista deve possuir um discursocrítico, com visão crítica da realidade. Nãose pode criar euforia que, de alguma forma,contrarie os interesses da comunidade”,concluiu.

HegemoniaOutro assunto que esteve em evidência foi

o interesse do Estados Unidos em atacar o

Iraque. Para o professor Sérgio Vilas Boas, ointeresse americano pode ser econômico.

Ele acredita que os EUA, querem sesobrepor em uma região que detém umproduto cada vez mais disputado, o petróleo.Porém, ele considera que nenhuma decisão

econômica é tomadasem uma decisãopolítica. Mas a de-cisão política ame-ricana de atacar, podeser estabelecida emquestão de tempo.

Para ele, a políticaamericana hoje, é de exacerbar ointervencionismo, incentivar o investimentona indústria bélica, criar uma nova

polarização e, acima de tudo, aumentar onacionalismo interno abalado desde osatentados aos Estados Unidos.

“A sensaçáo de vitória sobre iraquianos e atésobre o Talebä é o grande interresse americano.Eles querem reconquistar o título de in-vulneráveis”, concluiuo professor.

Além de discutira guerra, professorese alunos deixaramclaro a importânciade neste momento,criar artifícios quegerem e paz.

O coordenador do Curso de Jornalismo,o professor Raul Osório Vargas, em uma

simples pincelada de todo o processo deguerra entre o povo iraquiano e americanocitou uma antiga preocupação dos índiosXeroque , que ainda possuem algunsrepresentantes nos Estados Unidos.

Segundo o coordenador, esses índios, diantede qualquer decisão,tinham a sabedoria deproteger, não a pró-xima , mas a sétimageração de seu povo.

“A preocupaçãoiminete desses povospode ser uma re-flexão individual

acerca de uma possível busca pela paz”,concluiu Osório.

Neuza das Graças

Painel de debates reuniu dezenas de estudantes de Comunicação no anfiteatro da BibliotecaOs professores Francisco Marcos Reis, Raul Osório, Sérgio Vilas Boas e Ádrian Padilla discutiram a guerra

“O comunicador não pode ser um‘papaguaio de pirata’, um relesrepetidor de tudo aquilo que osoutros segmentos dizem”

“A sensaçáo de vitória sobreiraquianos e até sobre o Talebä éo grande interresse americano.Eles querem reconquistaro título de invulneráveis”

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3517 a 23 de fevereiro de 2003

Wagner Fonseca6º período de Jornalismo

“Se os Estados Unidos atacarem o Iraque,11 de setembro vai parecer piquenique.” Odepoimento do primogênito do ditador SadamHussein ganhou as páginas dos jornais de todoo mundo e tocou mais uma vez o egoamericano – o de ser uma potência inabalável.

Após o atentado terrorista de 2001, omundo percebeu que a “terra prometida dolado ocidental” tem lá suas fragilidades. E seexistem as deficiências na segurança internaexistem também o receio de atentadosorganizados pelos algozes americanos, comoSaddam e Bin Ladem.

Desde que Hussein invadiu o Kuwait em1990, um dos maiores exportadores depetróleo de todo o mundo, os conflitos naregião do Golfo Pérsico têm colocado emrisco a segurança no Oriente Médio

Agora, passados mais de 12 anos, opresidente americano George Bush resolve darcontinuidade ao trabalho de desarmamentoiraquiano, iniciado pelo Bush pai no início dosanos 90, e considerado pela crítica mundialcomo uma operação mal sucedida.

A herança da Guerra do Golfo deu ao atualpresidente norte-americano, a responsa-bilidade de defender seu povo, derrubar ahegemonia do ditador iraquiano e as ofensasterrorista do Talebä, duas forças conhecidasdo governo americano.

O Iraque já foi aliado dos Estados Unidosna Guerra contra o Irã, e o regime do Talibãfoi o resultado da luta americana pelo controledo Afeganistão durante a Guerra Fria.

Com um poderio militar,que no ano de 2001, custouaos cofres do governo 350bilhões de dólares, (três vezesa nossa dívida externa), a irade Bush impera a favor de60% da população norte-americana que endossam uma ofensiva contrao Iraque e ao poder de Bin Laden.

Adoração à GuerraGuerra

Jogos de interesses políticos e religiosos ameaçam o planetareprodução

“Os homens aprendem a voarcomo os pássaros,a nadar como os peixes,mas não aprendem aviver como irmãos”

(Martin Luther King )

AliadosCom um discurso de atacar alvos militares,

bases armadas e fontes de energia do inimigo,sem baixas civis, George Bush,tem conquistado algunsaliados como a Grã-Bretanha,a Espanha e a Bulgária, paíseseuropeus. Porém, grandesnações que em conflitosanteriores, inclusive na Guerra

do Golfo, se aliaram às tropas americanas nafamosa operação “Tempestade no Deserto”,

ainda esperam uma definição precisa da ONU(Organização das Nações Unidas) para apoiaro levante americano de Bush.

Por outro lado, a se-gurança interna dos EstadosUnidos é um assunto a serdiscutido.

Alguns críticos, chegarama declarar que, dois anos apóso atentado ao WTC e aoPentágono, o FBI e a CIA, ainda não estãopreparados para as ofensivas terroristas. Ementrevista realizada pela internet, o brasileiroRoberto Lima, jornalista e editor dosemanário Brazilian Voice, diz que existe aexpectativa de que algo vá acontecer, mas amaioria dos americanos espera que tudo sejaresolvido no oriente.

O semanário, editado em Newark, noestado de New Jersey, circula em cincoestados da costa leste do país e tem comopúblico alvo a comunidade brasileira que vivena América. Ele diz que a confiança nopoderio militar americano é evidente, e amaioria das pessoas, entre americanos e

estrangeiros, acredita que se houver umaguerra, vai ser em território iraquiano. Mas omesmo não acontece com relação aosatentados terroristas.

“O que se ouve pelas ruas é diferente.Após o 11 de setembro, quebrou-se o mito dainvulnerabilidade, o medo do imponderávelexiste.”

A mesma opinião tem a uberabenseFabiana Santana Crosara, gerente de projetosde estratégia e planejamento a longo prazopara utilitários e pickups da linha da GeneralMotors. Transferida pela GM do Brasil paratrabalhar na sede mundial da empresa, ela dizque, individualmente, teme armas químicas,biolólogicas e os atentados terroristas.

“Contra esses atentados, o governoamericano não me convence de estarpreparado para garantir a integridade físicada população”, disse.

Não tem sido difícil perceber que o povoamericano continua sofrendo com as sequelasde neuroses que, talvez, jamais sejam curadas.Não existe segurança para o suicida. O suicídioé a tecnologia dos inimigos norte-americanos.

Desde o “day-after”, o cidadão americanodescobriu de forma cruel e trágica a existênciado “outro”. Se a neurose se agrava, é precisoentão evitar possíveis ataques.

Se Bush diz querer atacar, mesmo sem acolaboração efetiva de outros países, osiraquianos por outro lado, estão prontos paradefender seu território – e pior, com umapossível ajuda talebã. E nesse jogo deinteresses vale a frase do líder negro MartinLuther King, “ Os homens aprendem a voar

como os pássaros, a nadar comoos peixes, mas não aprendem aviver como irmãos”.

A necessidade de destruir opoderio de armas do Iraque seresulta no medo e apreensão deque o mundo sofra mais uma vezcom os horrores de uma guerra.

Hoje, mesmo com todo o avançotecnológico e científico, o mundo está nasmãos de pouco mais de meia-dúzia deditadores. Os interesses capitalistas, religiosose a avidez de conquistas territoriais para aexploração de recursos naturais , setransformaram em sofrimento e morte deinocentes ao longo do tempo, entre eles,crianças e idosos.

Seja de onde for, do ocidente ou dooriente, o desejo de guerra tem sido a formade vida de ideologistas sem escrúpulos queignoram a presença do humana na Terra.

Fonte: Manhatan Connection ( GNT- 08/09/2002)

O Iraque já foi aliadodos Estados Unidosna Guerra contra o Irã

Cidadão americanodescobriu de formacruel e trágica aexistência do “outro”

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Cícera Gonçalves7º período de Jornalismo

Tudo começa quando ela faz da cozinha oambiente da arte e da imaginação. Existe atéum “ritual”, um radio ligado, bem baixinho,para dar mais emoção a sua pintura. Nada atra-palha o dom de criar passagens de tinta comsuas mãos.

Morena, cabelos curtos, baixa, solteira,personalidade forte, gente fina e sempre dis-posta a falar sobre seu trabalho, parece se en-cantar quando ouve o nome da arte e princi-palmente quando o assunto são seus quadros.Ana Tereza Resende, conhecida como Anatê,faz suas pinturas dentro da cozinha, com atela em cima de uma mesa. Sem utilizar pin-céis e muito menos cavalete, esta uberabensede 36 anos já tem seu nome gravado nos cir-cuitos de arte do mundo. Em busca do dife-rente e diverso a cada dia realiza seu traba-lho de forma harmônica.

Em 1991, Anatê foi para Uberlândia e co-meçou a trabalhar como monitora de maquetena UFU (Universidade Federal deUberlândia), a partir disso descobriu que ti-nha talento para a coisa e ratificou entusias-mo pela arte, passou então a se interessar pelapintura e cursou extensão na área. Passadosdois anos mudou-se para Belo Horizonte ecomeçou o curso de decoração a nível supe-rior -sempre baseado na observação e nosdetalhes- fez até curso de designer. – O de-senho é importante, pois é pré-requisito paraa Escola de Decoração. Como neve ao cair,algumas esculturasfeitas em isopor coma ajuda do estilete,contornavam os tra-ços das peças. Disseela. Isopor caindo deum lado e de outro eque mais tarde se tor-naria em símbolo de sua caminhada pela pin-tura. Nunca imaginava que um dia poderia sefirmar como pintora renomada.

Permaneceu em Belo Horizonte por trin-ta anos, e com saudades da terra, retornou em2001.– Na decoração, realizei meus projetoscom sucesso e hoje está exposto na pintura.

O reconhecimento profissional, ela sempre car-rega e sendo bastante determinada pelo que estáfazendo e o que está por vir.

Começou a pintar mesmo, em dezembro de1999, e que hoje se somam 150 quadros. Falaque pintava só porque a agradava, mas não ébem assim, além dessa afeição, a impressão éque as telas são de grande estima para sua vida.

Anatê pinta seus quadros com as mãos, equem os observa podem pensar que foram pin-tados com pinceis, tem-se a impressão de umapintura solta, nada interrompida e todo o dom

por meio da arte. Dedosfazem o papel de pincel,e vem de encontro em suamente a cada quadro pin-tado, um sentimento dereconhecimento, o poderde expressar o que estásentindo e de poder criar.

Coragem e persistênciaAlguns podem vir a pensar que deficientes

visuais não podem exercer atividades, mas es-tão equivocados porque esta mulher, a partirdo momento que perdeu sua visão em conse-qüência de um acidente quando tinha 32 anos,

passou por alguns problemas, mas com suacoragem e persistência, trabalhou com incli-nação na pintura.

Tudo começou em um dia chuvoso, esta-

va em um restaurante em Belo Horizonte.Estava andando muito rápido em uma desci-da, cheio de pedras e muito escorregadio.

– Eu caí com muita violência no chão emcima de minha própria perna direita e naque-le momento tinha acabado de quebrá-la, só quecomo eu era muito jovem muito vaidosa e ti-nha levado um tombo muito horroroso, todomundo riu, então tentei levantar rápido e sairde fininho. Com muita vergonha, ainda saiandando de perna quebrada e foi então queminha situação se agravou. Anatê fez variascirurgias na perna, mas infelizmente era muitosério. A deficiência visual é decorrente da nãorecuperação das cirurgias que teve que passarno ano de 1995. Por outro lado Anatê comentade suas telas como se estivesse falando de umfilho. Tenho muitos ciúmes delas e não as ven-deria para qualquer pessoa, a não ser para umaamiga mais próxima e olhe lá.

A mãe de Anatê, Eleusa Resende, com jei-to meigo e adorável tanto com sua filha ou comqualquer outra pessoa, empenha-se ao máxi-mo para ajuda-la, como, por exemplo, ofere-cendo as tintas para ela pintar, mas hora algu-ma interfere no trabalho da pintora, e no resul-tado final, a filha a pergunta se está faltando

As cores da almaAnarê dribla a deficiência visual e conquista prêmios internacionais com suas obras

Captura de tela - Imagens: Ren6e Vieira

A deficiência visual é decorrenteda não recuperação dascirurgias que teve quepassar no ano de 1995

Artista faz suas pinturas dentro da cozinha, com a tela em cima de uma mesa

Ana Tereza Resende, conhecida como Anatê, já conquistou diversos prêmios internacionais

As cores da almaArte

24 fevereiro a 2 de março de 2003

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7

alguma coisa aqui, outra ali, mas a mãe nãoexpõe sua opinião, e confere se está faltan-do tinta em algum pedacinho dentro daquelaarte toda e elogia o produto final com orgu-lho. Um certo dia Anatê vendeu um de seusquadros e arrependeu tanto que falava neletodas as horas.

Valor artísticoAnatê comenta que a alguns anos atrás,

uma tia de “coração”, comentou que ela es-tava pintando uma gracinha e isso a deixoumagoada, pois parecia que a tia estava comsentimento de dó. Lembra que naquele mes-mo momento que a tia disse aquilo, serviupara ela crescer no seu trabalho e procuraresquecer o que a tia falou.Eu pensei: – sem-pre tinha sido reconhecida como decoradorae que teria que saber de qualquer maneira aqualidade de minha pintura e decidi entãome compactar na Academiabrasileira de arte e culturahistórica, e deu tudo certo.

Quando se compactou naAcademia, em dezembro de2000, não contou que era de-ficiente visual, pediu paraque avaliassem seu trabalho. Indicaram-na en-tão uma sessão à pintora e orientaram sobrecomo deveria ser feita a foto de seus quadros.Ela contratou um fotógrafo profissional e estefez as fotos, em seguida levou-as para o crítico,que analisava as fotos dos quadros dos artistas.

A surpresa veio à tona, no dia 15 de ja-neiro do ano seguinte, foi anunciada emuma página inteira do Jornal Estado deMinas sobre a pessoa dela e que teria sidoconvidada para expor seu quadro para oPapa no Vaticano. Ela foia Roma levando cincoquadros, foram eles: Can-teiro de Hortência, Clarei-ra na Mata, Releitura dasCores na Bandeira doBrasil, multidão e mortede uma árvore.

A partir deste convite,a notícia alastrou-se e muitas pessoas fi-caram sabendo e a chamaram para exporos quadros em Belo Horizonte e São Pau-lo na Sociedade Sírio Árabe antes de irao Vaticano. E foi ai que ganhou seu pri-meiro prêmio de pintora. Conta ela que a

par t i r desse momentomarcante de sua v ida ,eram fei tas entrevis taspara jornais e TV quasetodos os dias.

A TV Horizonte de BeloHorizonte fez uma entrevis-

ta de uma hora com ela e teceu agradecimen-tos à Uberaba. Uberaba ainda não sabia di-reito quem era a pintora Uberabense e noexterior eu já estava muito conhecida_ risosdela e da mãe. Hoje muitas pessoas sabemperfeitamente quem é esta pintora que faz

quadros com mãos de pincéis.O VII Circuito Internacional de Arte Bra-

sileira na 2ª mostra, que aconteceu dia 1 ao a5 de outubro de 2002 em Viena – Áustria-incluiu vários quadros de artistas de todo o

mundo, Anatê foi classifica-da, enviou 5 quadros e re-presentou Uberaba e MinasGerais. Para participar des-se circuito são feitas sele-ções com mais de 500 artis-tas escolhidos a dedo. O ar-tista não ganha dinheiro, sógasta, só paga. Anatê diz que

é raro ter premiações em dinheiro, mas quealguns prêmios são em viagens. Nesta épocalá está muito frio, achei melhor ficar por aquimesmo, comenta ela.

– Já viajei para vários lugares devido aosquadros que ganhavam, mas nunca com in-tuito de adquirirr dinheiro,pelo contrario só gastava emuito, com alimentação,manutenção e segurança,mas para mim só de estar fa-zendo meus quadros e sen-do reconhecidos é o que im-porta, pois estarei mostran-do –os e sendo reconhecida lá fora.

Não só os prêmios que Anatê recebe, mas,sobretudo o dom que tem pela arte e o gostopela pintura que a faz observar os detalhes decada momento, até mesmo de sua vida po-

dendo ser passados para a tela, pois a qual-quer momento a mistura de cores exposta nastelas pode vir a tornar-se um só momento, mo-mento pelo qual o pintor expressa o que estásentindo sem restrições. Ana Tereza já é re-conhecida e recebeu da Unape (União Nacio-nal de Artistas Plásticos), a indicação pela or-dem do mérito das artes plásticas.

No dia 25 de agosto de 2002, a pintoraconquistou outro prêmio no New Internacio-nal Art & grupo Lemos Artes, na cidade deToronto no Canadá. Ela ganhou o prêmioMáster Gold Midal (máster medalha de ouro)com seu quadro titulado como LUA. Foi atela que mais marcou a minha vida. A mãecom todo carisma trouxe o quadro LUA paraeu conhecer e pediu para que o olhasse de lon-ge, porque em uma certa distancia parecia àlua de verdade. Foi até o quarto busca-lo,quando o vi, parecia uma lua de verdade. Luaque iluminava a casa e clareava o recinto da-quela sala imensa que mais parecia casa deartista, afinal é uma casa de artista que jamaisirá desfazer-se desta lua que a ilumina.

Algumas pessoas que nunca passaram porproblemas, seja uma deficiência ou qualqueroutra coisa, podem pensar que não são capa-zes de fazer nada e logo desistem de seus so-nhos, sendo que “nada” os impedem de fazeralgo. E não é bem assim, porque esta pintoramostra um grande amadurecimento em rela-ção a sua vida e sua arte, e o mais importante,é que sua deficiência não impede que seu tra-balho seja realizado, pelo contrário, traz a cadadia novas esperanças a serem construídas e ad-quiridas dentro daquela cozinha que não servesó para lanchar e jantar, mas para ouvir seu

radinho bem baixinho que tan-to gosta e transformar-la emuma espécie de arte-cozinha,fazendo seus quadros saíremdesse recinto e viajar por essemundo afora, trazendo maisemoções para ela em especi-al e sua mãe. O cavalete? Há!

Não esqueci desse, mas lembro-me bem me-lhor da mesa que está no seu lugar e quandotudo se torna sem pinceis e sem cavalete etransforma-se as mãos de pincéis e a mesafarta de tinta.

Artista foi convidadapara expor seu quadropara o Papa no Vaticano

Anatê pinta seus quadros com as mãos, e quem os observa podem pensar que foram pintados com pinceis

Pintora conquistoupremiação no NewInternacional Artem Toronto, Canadá

Em dezembro de 2000,não contou que eradeficiente visual e pediupara que avaliassemseu trabalho

24 de fevereiro a 2 de março de 2003

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8 17 a 23 de fevereiro de 2003

André Teixeira Nunes8º período de Jornalismo

Em qualquer segmento do Brasil ou domundo, o medo, isso mesmo!.. O medo, é onosso obstáculo maior. É o pior inimigo quetemos pela frente. Ele é cruel e nos faz refénsde nós mesmos, impossibilitando-nos deprosperarmos. Incrível não? Às vezes nosvemos incapazes de realizar algo, que láfundo, bem lá no fundo,sabemos que temos plenacondição, somos plena-mente capazes. Porém porcausa dele, o malditomedo, somos aprisio-nados por nossa inca-pacidade de superá-lo.

Existem vários medos. O medo de encararuma dificuldade qualquer, o medo de fazeruma prova decisiva, o medo de arriscar umchute a gol, o medo de colocar em campo,um time ofensivo, o medo de dar tudo errado,enfim, o medo de termos coragem!.. Por trazdesta simples palavra, pequena eaparentemente insignificante, “medo”,oculta-se o maior de nossos oponentes, aqueleque mais consegue nos vencer! O medo. É!..ele é insistente, e aterroriza as nossaspretenções. Todos, somos prisioneiros domedo. Porém, muitos com coragem, lutam eresistem a este implacável terrorista. Mas!..

Meus amigos da bola, um abraço! 2003já começou, com ele, foi dado o ponta péinicial para mais uma grande temporada do

nosso maravilhoso futebol arte. Em MinasGerais, São Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, etc,etc, etc, a menina levada, está rolando pelosgramados. Seja num pequeno estádio simplese acanhado, dono de um campo cheio deburacos quase que totalmente careca, ou nummaravilhoso estádio de belíssimo gramadoverde, como os campos em época deprimavera, ela rola à vontade, a menina, sedelicia com o tratamento de primeira que

recebe daqueles que aconhecem como aspalmas de suas própriasmãos. Tudo bem, nãovamos exagerar, não é?Sabemos que muitos, atratam como umaescrava. No entanto,

mesmo assim, ela continua dando show,alegra os quatro cantos do mundo, comemoção e muitos gritos de gol. É!.. Matériaprima para isso, nós temos de montão. Agora,profissionais do ramo para enxergarem ascaracterísticas de todo esse material,lapidando-o ainda mais, colocando cada peçaem seu devido lugar, está cada vez, maisescasso em nosso promissor Brasil.

Tem treinador que exagera no medo, eesses meus amigos, é o que mais existem poraqui. Engraçado não? Logo aqui, terra demuito bom cultivo e excelentes colheitas, mastudo bem. Como diz um ditado popular, emcasa de ferreiro, o espeto é de pau. Agora,raridade mesmo, é termos profissionaiscompetentes, que simplificam as coisas.

Como dizia o nosso saudoso Cafunga, selembram dele? Cafunga, ex goleiro doglorioso Atlético Mineiro, que ao encerrar acarreira, tornou-se um brilhante comentaristade futebol, alguns devem se lembrar, porém,creio que a grande maioria dos jovens, nuncaouviram falar. Ele dizia bem assim: no Brasil,o errado é que é o certo.

Sabe galera, o Cafunga tinha razão. Porexemplo, tem treinador que no seu time, sójoga quem tiver um físicoavantajado e mais de ummetro e setenta e cinco dealtura, ou até mesmo um eoitenta, é brinquedo? Vocêsjá pararam para pensar nisso,imaginem vocês, se há vinte,trinta anos atrás, nóstivéssemos esses treinadores,que dureza seria não! Então, seguindo o meuraciocínio, provavelmente, não teríamos oprazer de vermos em campo, um Zico, umReinaldo, um Pelé, um Garrincha, jápensaram nisso? Meu Deus!..

Muitos deles insistem em criticarjogadores que em lances mágicos,desconcertam defesas adversárias, para eles,esses jogadores ousados e habilidosos,desrespeitam os adversários

Existem outros treinadores, que ao invésde observarem as características de seuscomandados, para então definir uma filosofiade trabalho, não, já chegam no clube impondoo seu método e quem não se enquadrar, tá fora.São por esses motivos e outros mais, que

Medo de ter coragem

O medo é o pior inimigoque temos pela frente.Ele é cruel e nos fazreféns de nós mesmos

Socorro! Estão desvirtuando as características de nossos craques e a arte do futebol brasileiro

Tem treinador queexagera no medo,logo aqui, terra demuito bom cultivo eexcelentes colheitas

determinados jogadores arrebentam com abola em alguns clubes por onde passam equando chegam em outros, dirigidos portreinadores, diga-se de passagem,retranqueiros, não são os mesmos de outrora.Por que isso acontece então? É simples, noBrasil, o que mais se vê, são técnicos que sóatrapalham. Existem treinadores por aí, comoCelso Roth do Atlético Mineiro e Felipão daSeleção portuguesa, que por mera

“coincidência” são damesma escola, se tivessemem seu grupo de jogadores,craques como, Robinho ouum Diego, com certeza iriampedí-los para marcarem,assim como fazem comPaulinho e Juninho do galo,e Figo da Seleção de

Portugal. É muita crueldade não? Quando issoacontece, em alguns times por aí, como essesque foram citados etc e etc, a torcida do timeadversário agradece, pois na verdade, são elesé quem deveriam ser marcados, no entanto!..

No Brasil meus amigos, infelizmente agrande maioria dos treinadores não entendemnada de futebol, essa é que é a mais puraverdade. Estão desvirtuando as característicasde nossos craques, e acabando com a arte dofutebol brasileiro em parceria com dirigentestambém incompetentes, que de futebol eadministração, nada entendem, são bons sim,em uma coisa, argumentos persuasivos epalavras bonitas, mais nada. Socorro!..

Galera do esporte, aquele abraço!..reprodução

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917 a 23 de fevereiro de 2003

Karla Marília Meneses6 Período de Jornalismo

Quando alguém se aposenta o destinofatal é ficar em casa vendo televisão, certo?Errado. No “ Bar dos Aposentados”, existentehá mais de trinta e seis anos à rua GovernadorValadares os aposentados vão tirar um dedo,tomar uma cervejinha gelada e discutir osacontecimentos de relevância no país. Asportas do bar são daquelas de ferro, antigasque correm de cima parabaixo. A placa Luiz eMarcos Comércio e Ltdaestá localizada na entradado bar. De propriedadedos irmãos Luis e MarcosHumberto Mutão, o bar éo “ponto estratégico” dosque tiraram eternas férias.“ Estamos aqui há mais de 24 anos.Compramos e não saímos mais.” revelaMarcos Humberto com a tranquilidademineira, de quem nasceu em Jubaí.

“ A gente vai ficando mais velho, tem queficar mais quieto”, diz o frequentador RobertoPinheiro, fazendeiro, com três pontes desafena. Leva e busca os netos no ColégioMarista Diocesano e nesse intervalo assisteo noticiário na televisão do bar de Luiz eMarcos. Os irmãos se revezam com o bar e o“Delícia Lanches”, lanchonete que se localizafrente ao bar. Os salgados são feitos por lá. Otorresmo e o famoso “bauru” com tomate,

Vamos ter umdedo de prosa?“ Bar dos Aposentados” é o local dos que vivem em eternas férias

presunto e mussarela são os itens maisapreciados. O bar tem um certo “charme”num estilo “secos e molhados” . Tem de tudoum pouco: dos inevitáveis enlatados àsgarrafas de rum, campari e uísque. Dasgarrafas de bebida a um bom coador de café.É trabalho que não acaba mais.

Para comer, o cardápio é variado: frangocaipira cozido ou frito, carne de panela,linguiça calabreza ou mineira. E por falar emlinguiça, Luiz conta a prosa de um delegado

que gostou tanto da linguiçado bar que roubou umaquantidade considerável.Saiu na rua com uma baciade linguiças na mão. “ Issofaz muito tempo!”, Luiz ri.E quem é o delegado? AíLuiz fica sério: “ Digo não.”

Muita gente com váriasprosas para contar passam por lá: um dosclientes assíduos é Aloysio Ferreira, que háseis anos frequenta o bar. “ Já aposentei porminha conta. Daqui a cinco anos aposento denovo!” brinca ás gargalhadas. Spártaco é umaoutra “ figura” do bar. Com quase oitentaanos, quando jovem foi pescador profissional.Há anos não pesca e sonha em fazer umapescaria, pegar muitos peixes antes demorrer., apesar da fragilidade física.

Outro “causo” interessante é Maratona deSão Marcos da 3a Idade: idealizada em 1994por Luciano de Sousa Rocha, o “ Lulu”, cantorde guarânias nas horas de lazer. A corrida tinha

como percurso a avenida Leopoldino deOliveira e tanto a saída quanto a chegada erano Bar dos Aposentados. Aliás, o Bar dosAposentados - com a Funerária IrmãosPagliaro – seria o patrocinador do evento.Havia uma lista com o nome dos participantese eram setenta e um homens. Para correr,apenas um requisito: ter mais de cinquentaanos. A corrida não se realizou, mas a listaexiste até hoje e está comLuciano. “ Os que vãomorrendo vou dando baixa.”,afirma. De fato, vinte e umparticipantes morreram. “Aquiexiste a cadeira fatal. É aquelaali do cantinho… quem sentamuito nela, morre!” avisa “Lulu”. Brincadeiraou não, o remédio é evitar a famigeradacadeira.

Outro cliente fiel é Wilson Rodrigues, o “Cação”, que volta e meia discute políticae polemiza com os outros fregueses dobar. Tudo na brincadeira. Geralmente

chega um que é fanático por um time,geralmente o Naça, (Nacional, time deUberaba), outro que discute política exinga ou apoia o governo. Cada qual comsuas opiniões e ideologias, vão expondosuas idéias. A polêmica é o ingredienteindispensável.

Na realidade, o bar é o ponto de encontropara rever velhos amigos, jogar conversa fora,

falar sobre política e futebol.Um exemplar dos principaisjornais da cidade fica sobrea mesa, à disposição dosfregueses. À disposiçãotambém está o Pimba: ojogo que com 1 real você

aposta, é o que afirma a cartelinha do jogo.Lá pelas tantas, comer um bom torresminhomineiro é uma boa pedida. “ É o melhortorresmo de Uberaba”, o proprietárioassegura. A estudante que vos escreve essamatéria não conferiu apenas o torresmo. Acerveja é gelada.

Bar é ponto de encontropara rever velhos amigos,jogar conversa fora, falarsobre política e futebol

“ A gente vai ficandomais velho, tem queficar mais quieto”

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“ Bar dos Aposentados” existe há mais de trinta e seis anos

Frequentadores jogam conversa fora enquanto bebem uma gelada e comem um torresminho

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10 17 a 23 de fevereiro de 2003

Luiz Flávio Assis Moura2º período de Jornalismo

Ela chorava. Não por desespero ouinfelicidade, tampouco de alegria e glória –quem sabe espanto? dor? não, não, muito pelocontrário. Era uma razão distante, fria, eultimamente inútil – então eram lágrimas desi. Chorava seu próprio corpo por motivoíntimo, em ritual quieto e indevassável, e erafeliz naquele instante de sal amargo.Finalmente Miranda descia as escadas,obsedada pelo sangue do amanhecer, satisfeitae cética em relação a si própria. Sorria ecaminhava com paciência, recostada em suatristeza arredia e calma como se fosse maciosenti-la na pele pálida, quase desconhecedorado sol. O que tornava seu acordar maissurpreendente – ela que, suspeita por seupróprio ato de pensar, se mantinha suspensasecretamente no ar que suspirava e repelia emtédio morno… vivia em processo lento deentardecer, segregada e protegida dos outrose de si, mas ainda assim, pronta para morrerpelas suas próprias mãos encharcadas decarne fugaz e atônita sem arrependimentoalgum, como se guardasse dentro de sua batao próprio fim e soubesse disso… então, o quea arrebatava da cama tão cedo? e sentia prazeroculto e quase proibido de sua própriaincongruência, por um instante translúcido seabstendo de si. O anseio vagava leve, quasecálido pela mesa que servia o café da manhãenquanto o filho gritava nervoso e ininterruptoatrás de si mesmo. Sem saber, sentia que sedistanciava do corpo grande e cego, e o querestaria de sua infância?Mariana, subitamente,repousou em si em umímpeto branco e mornoque a avisava de seucoração batendo, comose precisasse viver emintervalos emergen-ciais. Maternal e branda, quase derramandoleite de sua neutralidade, tomava o filho pelosolhos e dizia “está tudo bem, meu filho, euestou aqui”, subitamente enlevando eaquietando a tensão vívida e alegre da casa…somente para desaparecer sem deixar omundo, e perder-se de Eduardo, Clara, odesastre, Alberto, os estranhos que aassustavam e a desconheciam… Ela nãosabia, não sabia, e sentiu-se culpada pelatristeza que fugia de suas mãos. Então, erapor isso que!… não. Não, ela compreendeusurda, e diminuiu-se insípida e tranqüila devolta ao quarto, antes que as criançasbuscassem desejá-la presente e não pudessemviver sós.

O armário de mogno velho repousavadesajeitado e infeliz ao lado de Miranda,recostada e expectante como quem esperachuva, consciente d’O ar que a circundava.Opressa e esperançosa, ela passava acontemplar as coisas como o fazia todos osdias, incapaz de negar amor e ódio aosborbulhos, incandescendo em sua friezaalmiscarada e limpa, e lembrava-se tambémdos filhos, do marido que morreu antes de seuamor… ela nunca teve a chance de vê-lo alémde sua força eterna de ser amado paradesvendá-lo como homem tolo e sem surpresa– a ponto de não saber se ele seria realmenteum tolo ou uma pessoa que realmente amavacomo se pertencesse a seu âmago. Aospoucos, se enegrecia seca, resistindo à piedadeque a dominava e acolhia diante dos outros –pobre viúva! Tão jovem, o marido era tãobom! A água que corria pelo mundo era vastae diferente, Miranda sabia… no entanto,desde que se separara da terra, os veios queencontrava eram sujos e intoxicantes, e nãoconseguia beber deles mesmo que tivessemuma textura doce, poderosa a ponto deembriagá-la e fazê-la sorrir como se seu nomefosse outro. Morar na cidade grande, nomundo gigantesco, longe de si, sentiasaudades, saudades, saudades… e ele estavamorto. A razão pelo qual se fizera estrangeirase encontrava debaixo da terra fofa. Ele deveestar feliz, agora que pode sentir água pura,pensou… sem se dar conta que ele não sepreocupava com água e sangue. Aos poucos,aquilo que já não rememorava com precisãose tornava um desvio para suas raízes e

baixos-relevos, parteintegrante e pálida desi. Se encolheu, poucoa pouco sonolenta eambígua, e lá fora aspessoas conversavam,riam, viviam sem pressae estúpidas, sim, sim,

é claro. Ele queria um carrinho de madeira,mas quanto custa este tomate, e as bacias?Ah, esta maçã parece tão gostosa, você fariaum desconto para uma cliente antiga, Felício?as vozes se erguiam e sorriam para Mirandaà medida distante em que ela se tornava menore mais triste, como se todos os seussentimentos fossem visitados pela primeiravez. Mas não posso, os tempos estão difíceis,você entende, não, Alice? Os tempos eramdifíceis. Dias de amanhecer cru einterrompido por uma carta empoeirada quelamentava o fim de mais um elo da teia comose fosse um pedaço de pão morto e pesado.Ao instante, aquela carne sem sopro nãosignificava nada… nada… mas o que restara

de Miranda sem ele? Não fora chamado aotúmulo, mas o fogo apoderara-se de Albertodo mesmo jeito, sentia ela… o que era, o queera que a impedia de sofrer em paz? Poderiaser mais do que uma mulher, estava destinadaa ser mais que um terreno molhado queflorescia gente para ser dona de seu próprioútero chuviscante, que se apalpava em ânsiae fome. Mais que simples geratriz, ela nasceracom a marca do amor irrestrito e inundanteque sempre dedicara às coisas. Mesmo quenão pudesse demonstrá-lo com o rosto ou asmãos, em algum lugar da casa tomava o ar eescrevia que não podia viver sem as coisasque amava, o mundo, as crianças, ele, osgritos, Deus, coisas… perdera um de seusamados, e era como se já não tivesse maisninguém. E o desastre, o desastre, por Deus,o que aconteceria setodo o resto que já nãopodia alcançar fossedestruído também? elao perdeu para o horrorde poeira e fogo queencontrava naquelasruas quentes e velhassomente um eco, mas osentia vivo e se aproximando. E ameaçador,mas por que não colocas o vestido branco denoiva e te casas, querida? o cheiro forte degritos desencontrados e bêbados de dor aatormentava e chamava por ela… vinde,vinde, Miranda, porque tens nada e nadaperdes, vinde que tua alma é condenada… oque, o que, se Deus respondesse a seuslamentos, o que ela pediria? Chorava de novo,como não o fazia com freqüência… suainfelicidade críptica se estendia até a cama, eela aos poucos se sentia cansada e incapaz depensar… então, ela simplesmente desfaleceue dormiu, como se aquele fosse o momentode sua morte.

Quando acordou, era como se estivesse

morta há anos e seu mundo já não existisse.No entanto, a noite baixa e sussurrante nãodava o sinal de descanso ou fim que elaesperava. Miranda sentou-se diante doespelho e estranhou-se: era outra pessoa, eseus olhos não reverberavam consigo, damesma forma que as palavras que murmuravasem cortar o ar não eram aquelas que buscavadizer, mesmo que aquela fosse a razão de suamudez constante e densa. Há quanto temponão acordava? poderia recomeçar a viverdiante de seu mundo arruinado e sem vestígioscomo outra. Poderia dar a si um outro nome,seria Elisa ou Lavínia, enquanto Mirandapoderia descansar pelo resto de sua vida…aos poucos, gostava mais de seu passado e deseu próximo instante sem esquecer-se dogosto amargo da solidão. Uma grandeza

profunda se apro-ximava de seu centroa partir da garganta,ocupando sua respi-ração opressa, asfixi-ando-a tranqüila-mente, dizendo: mor-re, morre, não chora…as portas se abriam e

fechavam, em sons de vidro quebrado embusca, em busca, em busca, até que surgiriaum grito oco de madeira anunciando –

-Mãe, tia Germana chegou!-O quê? Ah, já vou descer, Clara…Então, estava viva. Quantos dias? Sua

irmã estava ali, o que a traria para a terradistante além da saudade? pensou Miranda, àmedida que sua nova identidade sedissipava… ainda estava ali. Tudo o quetemia, o que chorava, inclusive aquilo que nãoperdera e lamentava por antecipação. Atéquando… ainda se lembrava do amor quesentia por Germana, e as saudades quecresciam macias com as cartas que mandavae demoravam meses a ser respondidas, não

CADERNO LITERÁRIO

Morar na cidade grande, nomundo gigantesco, longe de si,sentia saudades, saudades,saudades… e ele estava morto.

Se encolheu, pouco a poucosonolenta e ambígua, e lá foraas pessoas conversavam,riam, viviam sem pressa eestúpidas, sim, sim, é claro.

eiroSilêncio Estrangeiro

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1117 a 23 de fevereiro de 2003

parecia que vivia assim há anos, e que eratudo revisto e conhecido na cidade, em voltadas pedras e das calçadas duras. Da mesmaforma que descera as escadas diante doamanhecer revolto o fazia ao contemplar atarde obsoleta e neutra. Ao ver a irmã gorda esurpreendente, como se não pudesse viversem alegria e sobressalto, sorriu em assustadasinceridade e se sentou, pediu chá – ah, o cháestá pronto? Clara, por favor, traga o chá, sequiser, pode comer os biscoitos com a gente…chame o Eduardo, querida, que não é sempreque tia Germana vem! Senti tantas saudades,irmã, como vai, como vai…? Se acostumava,reconfortava-se diante dos rostos… algumasvezes, se esquecia da impossibilidade decortar-se de si além de um breve instante desantidade em que aspessoas vêem suaalma distante docorpo, e desmaiava.O fazia sozinha,também, como sefosse um ritualsecreto que a ocu-passe em corpo eespírito – não sem razão. Se desmaiasse dianteda irmã e dos filhos, naquele instante, nãoretornaria inteira e serena como seu própriovulto e se perderia da própria intimidade. Dequalquer forma, esperava. As coisascontinuaram, entre chá, biscoitos e o seupróprio silêncio, consciente de algumaeminência cujo nome não sabia. Talvezsoubesse que algo iria acontecer.

-Miranda, o que você está olhando pelajanela, querida?

-Eu… nada, minha irmã. Só vendo ascoisas…

-Como sempre, não é? Desde criança…você sempre foi assim.

O que não esperava. Afinal, estavaatônita e quieta, mas nada a prepararia para

Karla Marília Meneses6º período de Jornalismo

Quando em 1989 os estudantes invadirama Praça da Paz Celestial numa manifestaçãocontra o sistema político chinês, o diretorZhang Yimou estava entre eles. E foi acusadode incitar os jovens contra a China e fazê-losadorarem o cegamente o “pernicioso” cinemaocidental.

Filho de pais que lutaram contra oExército Vermelho, Zhang foi um dosresponsáveis pela ascensão do cinema chinêsnos anos 90. Usando a captação da imagemem movimento mediante as sombras, recursocorrente na sétima arte chinesa, o diretordemonstra as atrocidades praticadas pelo seupaís, a conturbada evolução política e osimplacáveis costumes milenares. O diretor éfortemente influenciado pela filmografiaocidental – isso é óbvio – e mais influenciadoainda pelos seus compatriotas: os cineastasperseguidos por Mao Tsé-Tung na(ironicamente) chamada Revolução Cultural.

Em Lanternas Vermelhas, baseado noromance Esposas e Concubinas. As lanternassignificam um ritual noturno praticado pelosenhor das concubinas. Nos anos 20, umajovem universitária vai ser concubina de umsenhor feudal que a mantém em um palácio.Outras três mulheres estão na mesmacondição. Presas, com o destino nas mãos dohomem, as quatro engendram todo o tipo deintrigas na disputa da preferência do “mestre”e dos privilégios que recebem quandoescolhidas por ele.

O filme retrata a situação das chinesas, asubserviência feminina, o sistema patriarcalvigente e a rigidez dos costumes chineses. Asjovens chinesas, sem uma perspectiva diversapara suas vidas, ficam sob o jugo masculinopara não morrerem de fome. Impossibilitadasde trabalhar, tornam-se concubinas e escravas,realidade comum no país, além da matançageneralizada de meninas ainda bebês.

Zhang Yimou explora o minimalismo eas “sombras chinesas” que é uma dasprimícias do início do cinema chinês. Alentidão da câmera, buscando detalhes, apenassugere. Quem vê, sente o impacto, apesar daviolência não explícita. O uso do vermelho,sombras e cores é um recurso muito utilizadopelo diretor em Lanternas Vermelhas.Malgrado a disparidade de costumes entreÁsia e Ocidente, o filme nos deixa com umaleve impressão de dejà vu : as mulheresocidentais igualmente possuem suas algemasde escravidão no stablishment. Uma dascenas mais impressionantes do filme é a deuma das concubinas – que é cantora lírica –subir no telhado para cantar em pleno invernorigoroso oriental, já que era proibida de cantare ouvir discos. Poderia apenas, quandoescolhida pelo “mestre” por alguns dias.

Lanternas Vermelhas custou $ 1 milhãode dólares. Cultuado no Ocidente, é proibidoem seu próprio país.

Lanternas Vermelhas(Raise the red lantern), 1991Diretor: Zhang Yimou.

a felicidade súbita que não vira até então– o jornaleiro corria pela rua aos berrosindignados e alegres como se o mundofosse um moleque para se gritar o nomeno meio da rua, as coisas borbulhando dolado de fora:

-É finita! É finita!-O… que…?-Gente! É finita la guerra!-… sério?O quê!!!???? Finita, finita, acabou…

Miranda deu um grito cego, levantando-se As crianças subiram as escadas,Germana também deu um grito, as coisaspararam… então, deu-se um murmúriocomentando a falta estranha de alegria emvolta, um pintor continuou seu retrato de

uma dama emsilêncio – que,s e c r e t a m e n t e ,também gritarasem que osoutros soubes-sem – e tudocontinuou. Mi-randa continuou

a conversar, observando esporádica ajanela e a irmã. No dia seguinte, ela foraembora e Miranda não pôde fazer nadaalém de arrumar seus escombros finoscom um pedaço de seda e ir embora comum sorriso seco e tranqüilo. Nada doque perdera voltaria, assim como nadado que tinha seria eterno. Mas estavafe l i z e t r i s t e , enve lhecendo comamenidade mais uma vez. Pela primeiravez deixou-se molhar pela chuva queesperava cair na estação de trem, evoltou para casa. Desde então, voltou aacordar todos os dias vendo o mundocrescer junto com seus filhos. Morreuestrangeira e quieta, e passaram-se anose anos…

No dia seguinte, ela for a embora eMiranda não pôde fazer nada alémde arrumar seus escombros finoscom um pedaço de seda e ir emboracom um sorriso seco e tranqüilo.

O assassino ameaçado (detalhes) Óleo de René magritte / reprodução

Cinema

Algemasmilenares

divulgação

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Flávia Correia7º período de Publicidade

Recife e Olinda (PE) sediaram o maiorevento cultural do país. Um encontro com acultura popular foi o que estudantes de todoo Brasil presenciaram na terceira Bienal deArte, Ciências e Cultura promovida pelaUNE ( União nacional dos Estudantes). Como objetivo de promover, incentivar e divulgara produção cultural realizada dentro dasUniversidades do país, a Bienal ao mesmotempo teve a responsabilidade de debatersobre a formação e a atualidade da culturabrasileira.

As mostras Universitárias consistiam naexposição de trabalhos selecionados deacordo com o regulamento da Bienal, quecontempla mostras nas áreas de ArtesCênicas; Cinema e Vídeo; Artes Visuais;Músicas; Literatura; Ciência e Tecnologia.Pôde-se observar a qualidade e criatividadedos trabalhos e reafirmar o potencial artísticoe científico dos estudantes.

Ao mesmo tempo, realizavam-se oficinase minicursos ministrados por profissionaisrenomados da capital pernambucana.Atividades em que os participantes puderamter contato com diversas formas de produçãoe expressão artística. Além das atividadesrealizadas no Centro de Convenções de

Olinda, as comunidades populares, como acidade de Tabajara, Comunidade Peixinhos,Comunidade Campina de Barreto, Totó eAlto de Santa Terezinha, interagiram com asexpressões populares tipicamentepernambucanas.

Os Universitários que lá estavam,apreciaram o Café Literário- grande sucessoda segunda Bienal, ocorrida no Rio de Janeiro

Um encontro com aCultura Popular

Bienal da Une

Evento reuniu estudantes e artistas de todo o país

- que, além de uma rica programação, abrigoua Mostra de Literatura, Ciência e Tecnologia.Para que todos participassem desse cenário,foi criada a Cyber Café, divulgação onlinede todos os momentos daBienal.

Maracatu e Frevoanimaram as noites dabienal, que contou com apresença de importantespersonalidades do cenáriolocal, como Selma doCoco, Mundo Livre S.A,Cordel do Fogo Encantadoe Alceu Valença. Um luau na praia de Gaibu(Cidade do Cabo), a 55 Km de Recife, com apresença de Paulo Miklos, explorou a belezade uma das praias do litoral brasileiro. Paracompletar esse visual, uma vila de pescadores

proporcionou um charme ao cenário do luau.“Teve um tempo no Brasil que quem

falava em cultura popular era apedrejado equem falava em cultura popular brasileira erapreso. Nunca me intimidei com isso, nuncaabaixei a guarda, sou teimoso.”, assim sedefine Adriano Suassuna numa aula paracerca de 3 mil estudantes.

Através de um jeito de menino, o jovemsenhor, 76, responsável por um dos pontosmais altos da Bienal, fez questão de enfatizara necessidade da preservação da línguaportuguesa. A aula de Suassuma, terminoucom a apresentação do Ballet Popular deRecife, que procura fundir a arte erudita coma arte popular. Um espetáculo que contagioua todos.

Um evento foi organizado para defender acultura popular brasileira e seus valores, aCulturata. Cerca de 800 pessoas percorreramas ruas históricas de Olinda, impulsionados como ritmo do frevo e do maracatu, gastando muitaenergia acompanhando os bonecos de Olinda.

O ator e Secretário de Arte Cênica eMúsica do ministério da cultura SérgioMamberti, também deu o ar da graça. Falou

entusiasmado da iniciativada UNI na construção dosCUCAs (CentroUniversitário de Cultura eArte), destacou aimportância de seestabelecer uma ponte como ministério da cultura parafortalecer esse processo.Além disso, comentou a

necessidade de se estabelecer uma pontetambém com o Ministério da Educação.

Todas as atividades – impossíveis de serdescritas – com certeza foram guardadas nalembrança de cada participante. Foi umaprofunda renovação do nosso espíritobrasileiro.

Durante sete dias, convivemos com poetasrecitando suas poesias, artistas plásticosexpondo suas obras, bandas fazendo quaseoito mil estudantes aplaudirem sem cessar.

Realmente, foi um evento que todo jovembrasileiro deveria ter participado. Como disseo Ministro da Cultura, Gilberto Gil, em suapalestra: “ antes de dar subsídios ao jovem coma finalidade de promover a cultura, é precisopromover a valorização da cultura popularbrasileira entre crianças e os jovens, afinal éde público que os artistas precisam”.

Maracatu e Frevo animaram as noites da bienal

Alceu Valença foi uma daspersonalidades que partiparam do evento

Danças e expressões populares de todo o Brasil mostrarama diversidade de nossa cultura popular

fotos: Flávia Correia

“É preciso promover avalorização da culturapopular brasileira entrecrianças e os jovens,afinal é de público queos artistas precisam”