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Jornal laboratório do curso de Comunicação Social da Universidade de Uberaba. 27 de maio à 02 de junho de 2002

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2 27 de maio a 2 de junho de 2002

Jornal-laboratório do curso de Comunicação Social, produzido e editado pelos alunos de Jornalismo e Publicidade & Propaganda da Universidade de Uberaba

As opiniões emitidas em artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores

Edição: Alunos do curso de Comunicação Social • • • Supervisão de Edição: Celi Camargo ([email protected]) • • • Secretário de redação: André Azevedo ([email protected]) • • •Diretor do Curso de Comunicação Social: Edvaldo Pereira Lima ([email protected]) • • • Coordenadora da habilitação em Jornalismo: Alzira Borges da Silva ([email protected]) • • •Coordenadora da habilitação em Publicidade e Propaganda: Érika Galvão Hinkle ([email protected]) • • • Professores Orientadores: Norah Shallyamar Gamboa Vela ([email protected]),Vicente Higino de Moura ([email protected]) e Edmundo Heráclito ([email protected]) • • • Técnica do Laboratório de Fotografia: Neuza das Graças da Silva • • • Suporte de Informática: CláudioMaia Leopoldo ([email protected]) • • • Reitor: Marcelo Palmério • • • Ombudsman da Universidade de Uberaba: Newton Mamede • • • Jornalista e Assessor de Imprensa: Ricardo Aidar • • •Impressão: Jornal da Manhã • • • Fale conosco: Universidade de Uberaba - Comunicação Social - Bloco L - Av. Nenê Sabino, 1801 - Uberaba/MG - CEP 38055-500 • Tel: (34)3319-8952 • http:/www.revelacaoonline.uniube.br

Refletindo sobre o que eu li“Somos todos escravos”

Parabéns grande moço que teve acoragem de posar de uma forma tãoespecial e importante. Sei que enfrentoucríticas … mas não se deixou ser colhidopelo preconceito e foi à luta de cabeçaerguida. Continue sendo este “exemplo”,pois na realidade, nós negros quandorecebemos um destes convites, ou seja,uma destas oportunidades, ficamos comvergonha, com medo e preferimossilenciar. Sentimento este que talvezsomos escravos dele e não sabemos ou nãonos deixamos enxergar isto como umaescravidão em nossas vidas.

Vemos todos os dias brancos, amarelos,vermelhos, escravizados pelos vícios dasdrogas, até mesmo do tabagismo que é tãocomum entre nós. Escravizados pelo poder,pela corrupção e subornos; pelo egoísmo, apossessividade; a violência do parceiro quebate e ela se cala porque o amor fala mais

Fernando Machado4º período de Jornalismo

Rubens Barrichelo nunca foi conside-rado um grande piloto da fórmula 1. Pelocontrário, o piloto da Ferrari sempre foi muitocriticado e até ridicularizado. Não é um gran-de ídolo. Nunca conquistou o título da F1, ese há alguma unanimidade a seu respeito, nãoé nada elogiosa. Sua reputação acabou de ruirquando freiou para que seu companheiro deequipe o ultrapassasse, deixando assim deganhar a corrida. Rubinho deu vexame. Mas,já pensou se ele pudesse voltar atrás e fazertudo de novo, mas dessa vez certinho? Im-possível? Talvez não.

Oscar Schimidt sempre foi consideradoum grande jogador de basquete. É o maiorcestinha da história das Olimpíadas. Sem-pre foi muito admirado. O “mão-santa” éunanimidade. Já conquistou diversos títu-los e sua reputação é uma fortaleza. MasOscar, tal qual Rubinho, deu vexame. Elehavia marcado sua despedida das quadraspara o jogo de terça-feira passada, 21, con-tra o COC/Ribeirão Preto. O Flamengo,time do astro, estava em desvantagem napartida e teve um jogador expulso. Oscarnão aceitou e, com toda prepotência de ído-lo que é, foi xingar o árbitro. Resultado:também foi expulso. Continuou sem acei-tar e fez o Flamengo retirar o time de qua-dra. Foram embora cuspindo cobras, lagar-tos e salamandras contra o árbitro que ha-

via acabado de cumprir com honestidade asua tarefa. Puniu dois jogadoresindisciplinados.

O que Oscar fez? Simples: adiou a des-pedida, anulou o jogo. Com lágrimas nosolhos disse que não vai ser desse jeito a suaretirada. Não quer que seu filho, sua esposae os brasileiros guardem uma lembrança nãovitoriosa da sua aposentadoria. A saga doherói sofre atribulações, mas não se desvia.

O que Oscar fez? O que Rubinho nãopôde fazer. Voltou no tempo, como seRubinho voltasse a corrida. Como se a vidade um ídolo, guardada em fitas de vídeo,pudesse ser rebobinada.

A vida e a carreira de grandes heróis,feitas em vídeo, podem ser editadas na vidareal. Michael Jordan, o maior jogador debasquete de todos os tempos (uau!), já se“aposentou” duas vezes, e depois retornouàs quadras. Até beisebol profissional Jordanconseguiu jogar graças a seu nome. Depoisvoltou ao basquete. O retorno e a despedi-da do herói devem ser triunfais. O retornoprecisa ser imponente. A despedida, quan-do o herói parte para atingir a sabedoria fi-nal, precisa ser vitoriosa. Nem que para issoseja necessário voltar a fita, apagar algu-mas coisas, trocar outras de lugar, editarenfim. Michael Jordan e Oscar Schimidtserão aplaudidos tantas vezes quanto ocor-rerem suas partidas e chegadas. No casode Jordan e Oscar foi virtual. Mas no deRubinho, imoral.

Tão longe,tão pertoTão longe,tão perto

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Caro André Azevedo

Li e reli sua matéria - “História haviasido condenada ao esquecimento” – Re-velação 207 – 13/19 – 05/2002 cujo con-teúdo deixa longe, muito longe o que setem publicado sobre “coisas” de Uberaba.

Há que se comprovar ainda muitos da-dos mas, até os dias de hoje o terreno (Pça.Rui Barbosa com a Rua Santo Antônio)sempre despertou-me a atenção sobre ainércia de seus proprietários. OsórioAdriano da Silva (o patriarca) que conhe-ci, sempre adquiria seus bens em locaisprivilegiados dado à sua grande visão co-mercial apesar da sua pouca cultura. DeUberaba a Belo Horizonte, São José doRio Preto e São Paulo conheço imóveisseus. Dos meus 53 anos, pelo menos 46lembro-me de nada existir sobre aquelelote. É intrigante ver o metro quadradomais caro de Uberaba sem qualqueredificação ao longo dos tempos.

Possivelmente você desagradou mui-ta gente ao virar o tapete e mostrar coisasguardadas com a vassoura. Temos jorna-listas e jornalistas. O seu estilo já o marcacomo profissional sagaz, investigativo esem paixões. Vá em frente. Nossa terrapossui preciosidades do gênero que nenhu-

ma cidade tem. Sei de algumas.“Seja polêmico, nem que seja consigo

mesmo, caso contrário não provará o que veiofazer aqui...” – Mário Palmério. Ouvi daque-le mestre tal frase. Sempre lastreado na ver-dade, tenho suscitado polêmicas com minhasescritas, que não chegam a atingir-me.

O acervo de dados que você publicouserve para teses e mais teses. Que os nos-sos órgãos, instituições de ensino, pes-quisadores e até curiosos possamaproveitá-los.

Parabéns. Até breve.

Eng. João Eurípedes Sabino

alto; pelo desrespeito ao próximo e atémesmo pela falta de oportunidade por sernegro. E você, já presenciou algum dessesfatos?

Brígida, zeladora da Universidadede Uberaba / Técnica deDesenvolvimento de Comunidades

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3327 de maio a 2 de junho de 2002

Claudinei Honório7° período de JornalismoCícera Gonçalves5°período de Jornalismo

Crianças, idosos, jovens, estudantes ounão, mestres ou leigos reunidos no mesmoobjetivo: promover uma interação entre omundo universitário e a população,mostrando as várias atividadesdesenvolvidas pelos cursos de graduaçãoda universidade. Assim pode ser descritoo Domingo no Campus, que abriu noúltimo dia 19, a XIII Semana deSeminários promovida pela Universidadede Uberaba.

Palestras, testes na área de saúde,brincadeiras, músicas, esportes radicaiscomo rapel e muitas outras atividadesforam desenvolvidas. As criançaspuderam dar um mergulho no mundo daimaginação onde a criatividade rolou soltanas brincadeiras realizadas pelos alunosde Terapia Ocupacional, Psicologia ePedagogia. A colagem e a pintura atraiuos pequenos artistas que se entreteramtambém com os alunos vestidos depalhaço e de Emília, a boneca do Sítio doPica-pau Amarelo.

Já para os adultos, o trabalho quechamou a atenção foi a produção artesanalatravés do tear indígena. De acordo com a

professora, mestre em Pedagogia Especial,Maria Paula, este tipo de artesanato eramuito usado e feito pelos índios, emespecial, quando suas esposas iam dar a luz.“Eles se mantinham ocupados e ao mesmotempo concentrados, isso, além de fazerbem à saúde era uma forma de colocar oestresse para fora” explica.

O tear indígena hoje é usado pararelaxar, traba-lhando também ac o o r d e n a ç ã omotora de crian-ças, jovens eadultos. “Esse tipode terapia é ótimopara concentraçãoe para estimular a criatividade das criançasuma vez que são usadas muitas cores” disse.O curso de Terapia Ocupacional, montouuma oficina de arte para produção de peçasem argila. “A argila é usada paradesenvolver a criatividade das crianças eadultos. Através dos desenhos podemosanalisar a história de cada pessoa. É muito

utilizada no tratamento de deficientesfísicos. Não é uma atividade por atividadee sim uma forma de análise e apren-dizagem” explica.

Saúde em diaO Domingo no Campus ofereceu

também a oportunidade para os adultoschecarem a sua saúde, através dos testes de

medição de glicosee pressão arterial.Os resultados eramimediatos e segui-dos de orientaçãodos alunos deBiomedicina. Oprofessor do curso

de Biomedicina, Marcelo Fernandes, falouque após ser feito o exame com o medidorde glicose, o paciente deve ser encaminhadopara um laboratório e em seguida fazer umexame de glicose semi- automatizada.

Para agitar e colocar à prova, aresistência física dos presentes, os alunosde Educação Física, Larissa, Alessandro,

Comunidade passadomingo no CampusEvento marcou o início da XIII Semana de Seminários da Universidade de Uberaba

Luciana, Willian André e Lelo, coordenadopelo professor Otávio Neto, deram um showde Body Jamp e Body Combat, deixando opessoal literalmente de boca aberta com suasperformances.

ShowO encerramento da programação do

Domingo no Campus ficou por conta daorquestra Filarmônica do colégio JoséFerreira. Os 63 músicos deixaram opúblico emocionado, cantando e tocandograndes clássicos da música popularbrasileira. Mas o auge da programação foio concerto do pianista Arthur MoreiraLima.

O pianista começou a viajar este anolevando dentro de um caminhão todos osequipamentos necessários para a realizaçãodo grande espetáculo. A intenção dele épercorrer todo o país. O show só não seprolongou por mais tempo devido à chuvaque caiu durante a tarde, batizandodefinitivamente a abertura da XIII Semanade Seminários.

O pianista Arthur Moreira Lima apresentou-se durante as atividades do Domingo no Campus

Marcos Padilla deitou e rolounas oficinas de pintura

“Esse tipo de terapia é ótimo paraconcentração e para estimular acriatividade das crianças”

fotos: Leonardo Boloni

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Fernando Machado4º período de Jornalismo

Durante a XIII Semana de Semináriosda Universidade de Uberaba, a doutoraMaria Júlia Paes, professora da USP (Uni-versidade de São Paulo), ministrou pales-tra para alunos de Enfermagem e TerapiaOcupacional com o título “Humanização naSaúde”.

Maria Paes falou sobre sua experiênciacom os pacientes e de como o tratamentomais humanizado contribui para melhoriassignificativas da saúde dos enfermos. Paraela é necessário que o profissional da saúdeadquira consciência de que deve não só tra-tar, mas também cuidar de pessoas em fa-ses tão delicadas no momento de umainternação.

A palestrante salientou que o pacientecarece de atenção personalizada por parte

dos profissionais. “Traumas e medos quesurgem antes e depois das cirurgias, podemser superados com mais facilidade quandoo paciente recebe cuidados que o fazem sesentir respeitado”,ressaltou Júlia Paes.

Para a doutora, ofato de trabalhar coma humanização émais do que simples-mente resgatar o ladomaravilhoso do serhumano. Para o pro-fissional da saúde deve significar uma re-flexão interna dentro de um processo emque os dois lados estejam inseridos, desco-brindo também as próprias fragilidades.

O profissional que interage com o paci-ente “volta mais sábio” diante de suas ex-periências, precisando ser verdadeiro comas pessoas a qual presta atendimento. Ela

Por uma saúde mais humanaProfissional de saúde deve não só tratar, mas cuidar das pessoas

Ricardo Bavaresco7º período de Jornalismo

A Universidade de Uberaba dá maisum passo importante no cenário nacional.Durante a XIII Semana de Semináriospromovida pela instituição, foi instalada aprimeira DelegaciaRegional de Bio-medicina de MinasGerais. A solen-idade realizada noauditório do Colé-gio Nossa Senhoradas Dores, contoucom a participaçãodo presidente do Conselho Federal deBiomedicina, Silvio Cecchi e do presidentedo Conselho Regional de Goiânia, CláudioMecenas. Os convidados foramrecepcionados pelo reitor Marcelo Palmérioe pelo diretor do curso de Biomedicina, omédico, Fahim Sawan.

Formada por um conselho composto porex-alunos graduados em Biomedicina naUniversidade de Uberaba, a DelegaciaRegional tem como missão dar suporte aos

destacou a fragilidade emocional dos enfer-mos, e observou que os doentes não olhampara as mãos do médico durante uma cirur-gia, mas antes para o seu rosto, em busca

de confiança. Se não aencontram, entram nacirurgia com medo.

No caso de umainjeção dolorosa,como a palestranteexemplificou, o paci-ente deve ser informa-do que vai sentir dor.

Caso contrário, ele sente que foi (e realmen-te foi) enganado. É certo que muitos enfer-mos se infantilizam durante os períodosmais difíceis, mas nem por isso o médicodeve “tratar o paciente como um idiota”.

Dentre as atitudes que transmitem osentimento de cuidado, a doutora falou darelação que o profissional tem que ter com

profissionais da área a começar pelaexpedição de registro e carteira profissional.“O principal papel do conselho é mostrarpara a população, a importância dobiomédico e dizer que ele não é só umrealizador de exames, mas sim, aquele queinterpreta e ajuda a elucidar os diagnósticos

da patologia hu-mana”, explicouFahim Sawan.

Além de pro-mover o apoio àcategoria ligada aárea biomédica, odiretor destacouque a delegacia já

nasce com um desafio a travar com outrascategorias, não só as de nível superior, queainda não reconheceram o trabalho dobiomédico, mas também com aquelas denível médio e primário. A delegacia vai dartodo o suporte para os profissionais da área,a começar pelo registro junto ao órgão e acarteira profissional de biomedicina.

A conquista da criação desta delegaciafoi fruto de muito esforço e trabalho entre adiretoria e os alunos do curso. Segundo o

a família do doente. A pessoa que vai pas-sar por uma cirurgia, sente-se reconfortadaao ver que seus parentes confiam no médi-co. Outras vezes é um sorriso ou o simplesfato de ser chamado pelo nome o que elevaa auto-estima do enfermo.

A personalização no tratamento é o eixocentral da proposta da professora dehumanizar a relação. O médico, enfermei-ro ou terapeuta não deve se sentir superiorao paciente. Agachar-se para conversar comuma pessoa deitada ou com uma criança ésinal de respeito e transmissão de confian-ça. Explicar o que vai fazer também é umaforma honesta de transmitir tranquilidade.

A doutora Júlia Paes ressaltou no finalda palestra que a área de saúde carece demais humanização. Ainda há muitos quetratam os pacientes como “máquinasestragadas”. E concluiu que é preciso aten-ção e intenção.

Curso de Biomedicina édestaque nacionalUberaba ganha Delegacia do Conselho Regional de Biomedicina, a primeira no estado de Minas Gerais

diretor, o fator que contribuiu para a decisãoda criação da delegacia, foi o fato dos alunosterem obtido o conceito A no provão doMEC (Ministério da Educação). “Por tudoisso, a implantação da regional na cidade,era só uma questão de tempo e paciência”,ressaltou.

Durante o encontro, tanto o presidentedo Conselho Federal de Biomedicina,quanto o presidente do Conselho Regionalde Goiânia, foram unânimes em destacar aimportância da delegacia em Uberaba, nãosó para acompanhar o trabalho debiomedicina na região, mas em todo Estado.

Segundo Fahim Sawan, o fato dosalunos terem obtido o conceito Ano provão do MEC contribuiu paraa decisão da criação da Delegacia

Delegacia Regional promete dar suporte aos profissionais da área

Os doentes não olham para asmãos do médico durante umacirurgia, mas antes para o seurosto, em busca de confiança

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3527 de maio a 2 de junho de 2002

Fernando Machado4º Período de Jornalismo

O advogado Lúcio Delfino, formado emDireito pela Universidade de Uberaba, compós-graduação no curso de Direito Civilpela Universidade de Franca, mexeu comfumantes e não fumantes durante suapalestra dirigida aos acadêmicos de Direito.No último dia 21, ele ministrou a palestra“Responsabilidade Civil dos fabricantes decigarro”, tema defendido em sua tese demestrado, quando falou sobre a milionáriaindústria do cigarro e de suas relações como governo e com o consumidor.

Delfino, que é membro da Comissão deDefesa do Consumidor da OAB/MGdemonstrou as contradições do cigarro com asnormas do Código de Defesa do Consumidor.A nicotina, por exemplo, não está arrolada nosrelatórios do governo como psicotrópico emfunção da proteção dessas empresas. Mas, paraDelfino, o cigarro não é um bom investimento,pois para cada dólar arrecadado em impostos,um dólar e meio é gasto com tratamentos desaúde dos consumidores.

Toda empresa é obrigada por lei ainformar sobre o produto ou serviço quevende. A responsabilidade de informar porparte dos fabricantes de cigarro não écumprida, advogou Delfino. No Brasil, ondehá 15 milhões de analfabetos e mais de 20%da população é analfabeta funcional, serianecessário o uso de símbolos e imagens paraque ocorresse a efetividade da comunicaçãopara essas camadas da população. Asempresas tabagistas driblam a MedidaProvisória que obriga o uso dessas imagensnas embalagens de cigarro. As advertênciasnunca ocupam mais do que três linhas e asfotos são encenações feitas por atores que

não representam os reais malefícios que ocigarro causa.

Para ele, seria interessante se os cigarrosviessem com prospectus, como as bulas usadasnos remédios, informando tudo sobre o produto.

Quanto as indenizações dosconsumidores, há no Brasil, segundo opalestrante, pouco mais de 300 ações movidascontra os fabricantes de cigarro. De acordocom Delfino, depois da Constituição de 1988,quando a Magna Carta passa a prever asindenizações para danos morais surgiu umaverdadeira “indústria” das indenizações. Paraele, esse é um dos empecilhos para que asvítimas do cigarro, fumantes passivos e ativos,recebam alguma indenização ou enriqueçamilicitamente. Nos Estados Unidos algunsconsumidores que processaram as empresasde cigarro receberam indenizações queultrapassam os U$ 50 milhões. A indústriatabagista, garante Delfino, muitas vezes, agede má-fé, como quando alega que a nicotina épara dar sabor ao cigarro e na verdade é umagente viciante. Delfino afirmou que nosEstados Unidos, os fabricantes de cigarrofinanciam pesquisas “científicas” para criarcontrovérsias sobre os males causados pelocigarro, surgindo as dúvidas sobre as doençasadvindas do tabagismo.

A Sousa Cruz, principal fabricante decigarro do País, possui um patrimônio líquidode R$ 1,5 bilhão. A Philip Morris, maiorfabricante de cigarros do mundo, explicou aogoverno da República Tcheca como serialucrativo investir no tabaco, pois, reduzindoo tempo de vida da população, conseguiriaeconomizar um grande capital ao deixar depagar pensões e outras despesas referentes àpopulação inativa. O cigarro é até então, oúnico produto que se consumido da forma queé estimulado, mata metade dos consumidores.

Indústria de cigarro contradizcódigo do consumidorAdvogado mostra as incoerências na lei que regulamenta o tabagismo

Patrícia Valeriano Nolli4º Período de Jornalismo

Três palestras dividiram a platéia docurso de Direito, entre os temas Agrário,Trabalhista e Psicologia Jurídica. O mini-curso de Direito Agrário ministrado peloprofessor e especialista em Direito Agrá-rio, Marcos Henrique,teve como ponto prin-cipal a evolução e oavanço do direito depropriedade ou direi-to rural. Ele disse queantigamente o direitode propriedade eravisto como “ergahominis”, ou seja, um direito absoluto,contra tudo e contra todos. Hoje em dianão se vê mais esse tipo de conceito, ten-do evoluído e atendendo os anseios da so-ciedade em geral.

O palestrante salientou as mudançasocorridas no Direito Agrário, principal-mente em relação à evolução do concei-

to do direito de propriedade, e acrescen-tou que ainda fala-se muito agindo pou-co. “O poder público coloca para a soci-edade à necessidade da reforma agráriae possui mecanismos para isso, mas ain-da não a implementou”, falou. MarcosHenrique preocupou em despertar o sen-so crítico dos alunos e a importância de

entender o que é re-almente a reformaagrária, deixando delado os conceitos an-tigos e maldosos deque ela trata-se de to-mar a terra de alguéme passar para outroque não possui.

Cálculos trabalhistasJá os mini-cursos sobre Cálculos Tra-

balhistas e Psicologia Jurídica, foram mi-nistradas respectivamente pela advogadae mestranda em cálculo trabalhista, JussaraMelo Pedrosa e pela especialista e psicó-loga do núcleo de prática jurídica, Rita deCássia G. F. Neto Silva.

Durante o mini-curso de Cáculo Tra-balhista, a palestrante Jussara Melo rela-tou e ensinou aos alunos todos os direitosdos trabalhadores desde o início, até sualiquidação geral e total, ensinado todoscálculos dos adicionais, horas extras e seusreflexos, referindo-se aos direitos dos tra-balhadores incluindo as horas extras, dé-cimo terceiro salário e as férias etc.

Na palestra de Psicologia Jurídica foienfatizado a interdisciplinalidade entre apsicologia e o direito. Ou seja, a relaçãodas duas disciplinas, que tem o ser huma-no na sua essência. A palestra demonstroua importância da psicologia no direito, emfunção do contexto dos fatos, e de se co-nhecer a fundo o ser humano para assimpoder julgá-lo de forma mais justa, ética eprofissional, não esquecendo o lado huma-no de cada ser e contexto dos fatos.

Direito Agrário discutepropriedade rural

Bem-vindo ao mundo de Marlboro: campanha dos Adbusterssatiriza propaganda da indústria de cigarros

Antigamente o direito depropriedade era vistocomo um direito absoluto,contra tudo e contra todos

Marcos Henrique explicou a evoluçãodos conceitos de propriedade rural

Ricardo Bavaresco

reprodução: (www.adbusters.org)

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6 27 de maio a 2 de junho de 2002

Luciana Souza7º período de Jornalismo

Fábio Lopes, Diego Moraes, LeonardoRamalho. Nomes de três rapazes que não fi-guram nas colunas sociais, culturais - muitomenos policiais - dos jornais da cidade, masque se tornaram estrelas numa noite especialonde a irreverência e a criatividade ditaramas regras durante o 6º Festival Universitáriodo Minuto, promovido pelo Instituto de Hu-manidades da Universidade de Uberaba erealizado no último dia 23 no auditório Ce-cília Palmério, campus I.

Os três meninos, estudantes secundaristas,trouxeram de volta a essência do FestivalUniversitário do Minuto ao seguirem literal-mente a filosofia do cineasta Glauber Rocha,para quem iniciar a produção de um filme bas-tava: “uma câmera na mão e uma idéia na ca-beça”. E assim, sem recursos, mas com deter-minação e vontade de participar, os três pro-

duziram o vídeo “60 segundos de pânico” einovaram apresentando em outro vídeo “Bas-tidores de 60 segundosde pânico”, o makingoff da produção.

O vídeo dos garo-tos, na categoria deHumor, arrancou gar-galhadas do público,pois o horror estava naprecariedade e simplicidade do enredo e ohumor, no desempenho dos atores. O making

off entrou na categoria reportagem quandoeles contaram as “presepadas” da gravação.

Eles concorreram tam-bém na categoria ani-mação com o Imagina-ção, que fala da vida deum cachorro triste. Ovídeo, segundo os auto-res, foi inspirado na vidados cachorros que

perambulam pelas ruas. Nenhum dos trabalhosdeste trio alcançou a pontuação da premiaçãodas categorias. Entretanto, pela espontaneida-de, iniciativa e coragem dos meninos de encarara disputa repleta de trabalhos de alto nível, fo-ram premiados como revelação do festival,abocanhando o troféu e mais R$ 200,00.

Diante de uma platéia entusiamada e atéemocionada os três foram aplaudidos de pé.

A explosão do minutoFestival surpreende pela irreverência e criatividade dos participantes

Diego Moraes destacou que as pessoas, mes-mo morando em um bairro considerado deperiferia, não devem se envolver em confu-sões, em drogas ou coisas do tipo e sim vol-tar-se para a arte pois é algo em que se vêbons resultados.

Mais destaquesPara um dos componentes do corpo de jura-

dos, jornalista Denis Silva, a qualidade dos vídeossurpreendeu e mostrou-se melhor que os traba-lhos do ano passado. “Observa-se que os alunosestão com uma consciência mais crítica e por-tanto, uma abordagem mais madura”, avaliou.

De fato, os 23 vídeos que concorrecramnas categorias Publicidade, Educacional, Re-portagem, Humor, Animação e Drama, mos-traram a preocupação dos estudantes em pre-gar a paz sem ter que mostrar a violência erevelaram também o interesse na defesa decausas sociais com uma atenção especial nodestaque dos valores humanos.

Paz no trânsito ganhou na categoria Educacional

Vai Vida mostrou que a vida sem drogas vai longe. Vídeo venceu Festival Universitário do Minuto

Garotos não se intimidaram e exibiram o“trash” 60 Segundos de Pânico

Coragem e espontaneidade de Diego, Fábio e Leon

Garotos foram premiadospela espontaneidade, iniciativae coragem de encarar a disputados universitários

Leonardo Boloni

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727 de maio a 2 junho de 2002

Como disse o estudante André Azevedo,que divide a parceria com o mestre DécioBragança na organização do festival, todosparticipantes são vencedores. “O prêmio é sóum estímulo, é o meio para incentivar a pro-dução. O grande barato é quando a equipe vêseus vídeos despertando reações nos espec-tadores e estimulando debates. Quer prêmiomelhor que isso?”, diz.

O vídeo A Comunicação Social e a Mídiada Paz, venceu a categoria Publicidade. Ovídeo foi produzido por alunos de Publicida-de e Propaganda ligados a agência Portfólio.Através do trabalho, mostraram que não bastafalar de paz é preciso comunicá-la.

Na categoria Educacional, o prêmio foiconquistado pelo vídeo Paz no trânsito, dosalunos de Publicidade e Propaganda, AntônioMaranhão, Hugo Leonardo e Victor

Mascarenhas. Mais uma vez, os estudantesmostraram que é possível um olhar otimistae uma atitude po-sitiva perante osacidentes davida. Na catego-ria reportagem, ovídeo LengaLenga que mos-tra a promessafeita pelo presidente Fernando Henrique Car-doso de concluir as obras da BR 050 e quenão foi cumprida, foi o vencedor. Os autoressão os alunos de jornalismo Wagner Fonsecae Ralfer Zaidan. Na categoria humor, não tevequem não se visse na mesma situação apre-sentada pelo vídeo. Dança do Cisne fez umacomparação do clássico bale com os passosquase que artísticos que os estudantes da uni-versidade têm que dar para pularem as poças

nardo arrancou aplausos do público. Garotos encarnaram o espírito anárquico e artesanal do festival

“O grande barato é quando a equipevê seus vídeos despertando reaçõesnos espectadores e estimulandodebates. Quer prêmio melhor que isso?”

d´água no período de chuva. Os autores destehumor foram os alunos de Publiciada, Ana

Seleucia (conhe-cida como Anaponto com), AnaPaulo Prado,L e o n a r d oH e n r i q u e ,Luciano Bessa eLungas Neto.

A Estrada foi o vídeo vencedor na cate-goria Animação. Os alunos Ralfer Zaidan,Fábio Lacerda e Luciano Guimarães utiliza-ram sinais de trânsito numa campanha con-tra o câncer de mama. Na plateia, os pais semisturavam em meio aos alunos na euforiade comemorar a premiação dos filhos. O gran-de vídeo vencedor deste festival foi o Vai Vidade Wagner Fonseca, Alexandro CrosaraAlvarez, Rodrigo Avelino e WilliamPulguinha. O vídeo começa com o persona-gem, ainda criança, andando de bicicleta; de-pois, ele jovem e saudável andando de bici-cleta e por fim, já velho praticando o mesmoesporte com todo vigor. A mensagem deixadaé de que sem drogas a vida continua.

Os vídeos premiados, de acordo com odiretor do curso de Comunicação Social,Edvaldo Pereira Lima, serão veiculados pelainternet, através do site da revista eletrônicaNova-e. Para acessá-la, o endereço éwww.nova-e.inf.br.

A Dança do Cisne mostrou que todos osuniversitários um dia já dançaram ballet

Lenga Lenga trata de promessasnão cumpridas de FHC

A Estrada usou sinais de trânsito numacampanha contra o câncer de mama

Leonardo Boloni

A Comunicação e a Mídia pela Paz foi produzido pelos alunos da agência experimental Portfólio

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Leonardo Boloni7º período de Jornalismo

A dinâmica da oficina Contação deHistórias na Escola de Educação Infantil eEnsino Fundamental, com as educadoras doGrupo Fluistória, chamou a atenção dequem passava pelopavimento superior dobloco A, na Universidadede Uberaba. A intençãonão era esta, mas sim,chamar a atenção dosfuturos educadores para aleitura de livros durante oprocesso de aprendizado na infância.

A oficina foi recheada de historinhas,teatros e músicas, que para o grupo, setornam um diferencial na hora de atrair ascrianças para a leitura. De acordo com aspalestrantes, a idéia principal do evento édespertar o contador de histórias que existe

em cada um. A leitura, que pode ser feitaatravés do teatro e da música, tem o poderde criar laços afetivos entre professores ecrianças, trabalhando seu lado imaginário,além de motivar o contato com o livro,criando o hábito da leitura.

Para a professora e mestranda emeducação-formação deprofessores, AdrianaBeatriz da Silva Fonseca,a leitura é fundamental naformação de bons leitores.“Nós não queremos formarbons escritores através daleitura, mas sim, uma

pessoa com ampla visão do mundo e umbom raciocínio”, explica. Para ela, a criançaque adquire o hábito da leitura, poderá teruma visão mais crítica do mundo. “Os livrosdespertam as cabecinhas”, disse.

As atividades desenvolvidas durante aoficina, como cantar, pular, brincar com

Oficina incentiva o contato decrianças com livrosPalestrantes mostram a importância da leitura na formação de um bom cidadão

bexigas, têm um efeito muito maior que amera descontração. Segundo a educadora eespecialista em literatura, Darcy Bosco,estas dinâmicas ajudam no relacionamentodas crianças, influenciando seu processo deadaptação e socialização nos vários locaisem que possam estar.

A idéia principal doevento é despertaro contador de históriasque existe em cada um

fotos: Leonardo Boloni

Educadoras do Grupo Fluistória realizaram oficina de “Contação de Histórias na Escola de Educação Infantil e Ensino Fundamental”

Teatro, a música e brincadeiras são boasformas de chamar a atenção

“Nós não queremosformar bons escritoresatravés da leitura, massim, uma pessoa comampla visão do mundoe um bom raciocínio”

Na oficina, ficou uma contestação aotradicional método de ensino, observadopelas educadoras em muitas escolas. Umexemplo citado, é a atitude de algunsprofessores que mandam os alunos àsbibliotecas para copiarem os livros. “Comoeles podem gostar de leitura assim?”,questionam. Além do despreparo doeducador, a maneira em que eles lidam comas crianças não faz jus ao processo deeducação. “A criança sabe de muita coisa,ela é esperta, perspicaz. Não adianta darbronca ou deixar de castigo, é precisodialogar”, afirma a educadora Ana TeresaTeixeira Nunes. “Temos que respeitar oslimites das crianças, não podemos tratá-lascomo bobas, são seres capazes de entendere refletir sobre os diversos assuntos, cabe anós orientá-las”, completa.

O teatro, a música e as brincadeiras vêmcomo boas formas de chamar a atenção dospequenos. Quando eles vêem que tudo issoestá saindo de algumas páginas, com certezairão querer fazer isso também. Para que ospais possam estar adquirindo bons livrospara os filhos, elas dão umas dicas quevalem a pena seguir. “Além de um bomprojeto visual e gráfico, é preciso que hajauma contextualização temática dos assuntostratados, assim como a maneira em que sãoabordados. Deve ser uma leitura prazerosae que desperte a reflexão da criança”,aconselham.

27 de maio a 2 de junho de 2002

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Karla Marília Meneses4º Período de Jornalismo

Anualmente, no dia 18 de maio, ocorreno calçadão da rua Arthur Machado, umevento comemorando o Dia da LutaAntimanicomial. É uma data nacional,ocorrendo desde 1995 em Uberaba com aparticipação efetiva da comunidade eprofissionais da saúde. Essa luta consistenum ato de protesto para erradicartratamentos obsoletos que em nada auxiliamna melhora e auxílio ao enfermo mental.Choques elétricos, confinamento e algemaseram alguns dos “métodos” utilizados. Emalguns casos, executavam a famigeradalobotomia, operação que removia o córtexcerebral impossibilitando o indivíduo àsreações, tornando-o uma espécie de “morto-vivo”.

Maria de Fátima Caiedo, psicóloga eCoordenadora Geral da Fundação GregórioBaremblitt, ONG especializada em saúdemental, esclarece que existem vertentesnessa manifes-tação e uma delasé a modificaçãolegislativa. A LeiPaulo Delgado,aprovada no anopassado apósdoze anos de espera, prevê reforma nostratamentos psiquiátricos. “A lei anterior

Luta contra o manicômioleva ativistas às ruasEntidades e pacientes defendem tratamento humanizado e o fim dos hospícios

tratava o doente mental como um indivíduode alta periculosidade, quase um criminoso.

A t u a l m e n t e ,através da noval e g i s l a ç ã o ,novas propostasforam ofereci-das ao enfermo,resguardando

sua integri-dade.”A psicóloga afirma que existem no

Brasil cerca de 80 mil doentes mentaistrancafiados em hospícios. “E o resultado éa quebra dos laçosfamiliares, não hápossibilidade de umareinte-gração dodoente na sociedade.Em Uberaba existemserviços flexíveis,coerentes com arealidade do paciente. Na FundaçãoGregório Baremblitt há todo um trabalhomedicamentoso, atividades e oficinas,psicoterapia e atenção à família dosusuários. Infelizmente, serviços assim sãoem torno de 400 no Brasil.” garante. Mariade Fátima encerra, citando a importância daparticipação da sociedade na manifestação,atentando para a necessidade do auxílio deempresários e entidades na exposição dostrabalhos feitos nas oficinas terapêuticas.

A Assistente Social Gilda Crozara épresidente da Associação dos Usuários,Familiares e Trabalhadores da Saúde.Segundo ela, a participação da família éfundamental. “O Naps (Núcleo de AtençãoPsicossocial), promove reuniões mensaiscom a família para que haja um suporte notratamento do doente mental. Há umaparticipação efetiva. Inclusive na lutaantimanicomial estão engajados familiares,a população e várias instituições como aCria (Associação Cristã de Assistência ao

Doente Mental Pobre), que atende criançase adolescentes com distúrbios mentais,Secretaria Municipal da Saúde entreoutras”, relata.

Fundação Gregório BaremblittGregório Baremblitt, é um médico

argentino sempre atuante nas causas quefavorecem um tratamento humanizado aodoente mental. “Em meados de agosto ousetembro, realizaremos um seminário comprofissionais da área e palestrantes de todoo país para debatermos a questão do doentemental. Será aberto para toda acomunidade”, finaliza.

Há cinco anos, a Coordenadora daSaúde Mental, da Secretaria Municipal deSaúde, Wagna Lúcia Alves resolveu sedispor contra o preconceito dirigido aosenfermos. “ O doente lida com sintomasterríveis da doença, o nosso papel éamenizá-los e não segregar os portadores.A última década foi decisiva para umareforma clínica. Hoje, apenas em crises

extremas, o doente éinternado. Mesmoassim por um períododeterminado. O doen-te recebe uma gama deatividades, com acom-panhamento médico eterapia ocupacional.

Não há confinamento nos muros de umainstituição, já que esse método é ultrapassadoe os custos são maiores” , relata.

A coordenadora cita ainda a ocorrênciada III Conferência Nacional de SaúdeMental feita em Brasília, com novaspropostas apresentadas por familiares depacientes e profissionais. As propostas serãoencaminhadas ao Conselho Nacional deSaúde para apreciação dos órgãosresponsáveis.

“Nos últimos dez anos houve umaredução dos hospitais psiquiátricos no Brasil.É o resultado de uma política mais humanadispensada aos doentes. Uma prova disso sãoesses produtos demonstrados aqui, asbarracas com artesanato de qualidade que ospacientes confeccionam. Hoje as instituiçõesde saúde mental reforçam a auto - estima dosdoentes e fazem atividades comemorativaspara uma interação social: imaginem quantasvezes um doente mental teve a data do seuaniversário esquecido?”, finaliza.

“A lei anterior tratava o doentemental como um indivíduo de altapericulosidade, quase um criminoso”

Atividades comemorativas elevam auto-estima e promovem reintegração na sociedade

Obras de arte produzidas pelos pacientes foram expostas no calçadão da rua Arthur Machado

Hoje, apenas em crisesextremas, o doente é internado.Mesmo assim por umperíodo determinado

Patrícia Nolli

Cássia Rocha

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André Azevedo1º período de Jornalismo

“Aqui, graças a Deus, a turma está comen-do desde cedo. Chega um e come, chega ou-tro e come...”, disse Antônio Munhoz, onzefilhos, mais de trinta netos e alguns bisnetos.Em sua casa, o grupo de Folia de Reis “OsFilhos da Benção” ensaiava para a pro-cissão da noite de 18 de maio.

O dia todo era de fes-ta. Os moradores da co-munidade Nova San-to Inácio Ranchi-nho, localizada nomunicípio deCampo Florido(MG), comemora-vam, na véspera,os nove anos deassentamento comum grande churras-co comunitário.Munhoz acompanhou olento processo de desapro-priação, assim como aacomodação das 115 fa-mílias a partir de 1993.“Ficamos todos, com asmulheres e os meninos,três anos e meio debai-xo de lona”, lembra. Hoje, quase todas ascasas têm energia elétrica e boa parte delasé abastecida com rede de água. O assenta-

mento conta também com uma escola ligadaao projeto Escola Família Agrícola (EFA).

José Ferreira dos Santos, conhecidocomo José Messias, é violeiro e mestre dafolia. “A procissão no aniversário era umaintenção que a gente tinha desde a beira darodovia”, conta. Por causa de diversos pro-blemas enfrentados nos primeiros anos de

assentamento, somente em 1996conseguiram reorganizar o

grupo para a comemora-ção. “A folia é tradição

na família. Meu avôpassou para o meupai e ele passoupara mim. Meu fi-lho – o Israel, dedoze anos – já estáaprendendo”, en-tusiasma-se.

José FranciscoRibeiro, o Zé Melé,

é uma figura muitopopular e querida na

comunidade. Apresentadocomo o amigo maisbrincalhão, há trin-ta anos é compa-nheiro de folia deJosé Messias. Jáparticipou como pa-

lhaço e hoje, aos 68 anos, toca pandeiro.“Quero ver essa cara pretinha no jornal”,disse ao posar para a foto.

Natal Martins, o Natalino, é folião hámais de vinte anos. “Eu era só o escrivão,anotava as prendas, essas coisas. Um dia ocontramestre ficou rouco, fui chamado norepente... e cantei – assim meio com vergo-nha – mas saiu”, diz. Tornou-se então o con-tramestre de José Messias e o acompanhoupor doze anos cantando e tocando viola.Mais tarde Natalino seria mestre em seupróprio grupo, a companhia 25 de Dezem-bro. Seu filho, Márcio José, é integrante dogrupo e toca cavaquinho. Natalino foi con-vidado especialmente para participar da pro-cissão no aniversário do assentamento.

Um líder político na foliaComo é sabido, o termo sofisticado de-

riva de sofística. Platão era um grande ini-migo dos sofistas. Considerava-os engana-dores, imitadores de filósofos. A prática dosofisma caracteriza-se por raciocínios escor-regadios que induzem a uma “verdade” pu-ramente ornamental. Lourival é um dosprincipais líderes do assentamento. De ra-ciocínio claro e bem articulado, não é umhomem sofisticado, assim como não sãosofisticados o Antônio Munhoz, o JoséMessias, o Zé Melé, o Natalino, ou os ou-tros amigos de Nova Santo InácioRanchinho. Não é preciso se perder ememaranhados de análises para decifrá-los;

descobre-se claramente suas intenções apartir do que eles mesmos dizem.

Requisitado a todo momento, Lourivalé chamado para ajudar a resolver quase todotipo de assunto na comunidade. Mas o líderpolítico fica para outra reportagem. Aqui,Lourival é um dos foliões e toca violão comos Filhos da Benção.

TradiçãoA Folia de Reis é uma festa inspirada

em costumes católicos com raízes que re-metem ao período colonial. José Messiasimagina que, em sua família, a tradição semantém há mais de um século. A procissãoreproduz a viagem dos Reis Magos a Belém.Os cortejos percorrem ruas, vilas e povoa-dos entoando em frente às casas os cânticosde louvor. Pedem aos moradores que abramas portas, fazem a saudação ao dono da casa,cantam jornadas dos reis magos ou passa-gens da vida de Jesus, agradecem edespendem-se. Normalmente as folias ini-ciam-se em 24 de dezembro e extinguem-se em 6 de janeiro. Mas a procissão de NovaSanto Inácio Ranchinho é um festejo espe-cial para comemorar o aniversário do as-sentamento.

A reportagem do Revelação acompa-nhou o cortejo que partiu da casa de Antô-nio Munhoz no final da tarde e seguiu até a

Festa de Reis comemora nove anosde assentamentoFolia foi uma das atividades no aniversário de Nova Santo Inácio Ranchinho

fotos: André Azevedo

Folia é parte das comemorações desde o terceiro aniversário do assentamento

Foliões ensaiam à tarde na casa de Antônio Munhoz

Zé Melé: “Quero ver essacara pretinha no jornal”

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sede da Associação Nova Santo InácioRanchinho (Ansir). De intensaexpressividade simbólica, os cânticos ins-piram forte devoção religiosa e provocamnos fiéis um estado de contemplação místi-ca que se mostra profundamente autêntico.

As violas pulsam na regularidade de umorganismo. E pulsam de verdade, num pul-sar que quase sai sangue. Os toques nascordas formam constelações e orientam asvozes que, humanamente mundanas,cantam para agradar os san-tos. O tempo da toada écircular, mais umconvite ao despren-dimento da medi-tação religiosa.

A afinaçãodos arranjosvocais é o quehá de mais as-sustadoramen-te humano, car-nal e sanguíneona folia. As toadascarregam toda a im-perfeição e toda a im-pureza que nos carac-teriza como huma-nos. A voz do mestreJosé Messias desafi-ava e vencia o tomcontinuamente, en-frentando o cansaçode sua gargantaempoeirada. Masnão desafinou, se-guiu teimoso. A paleta come forte a cordaseca do cavaquinho para o som ressoar noagrado dos santos. Os foliões estão ali paraexpressar sua devoção da forma mais bo-nita e humana que existe. Demasiadamen-te, assustadoramente humana.

Ai ai meu Deus do céu. As vozes cle-mentes arrancam da alma dos foliões umatristeza não chorada que agora quase chorana cadência da zabumba. E a tristeza dói láno fundo da alma. “Depois eu te conto oque é tristeza”, disse Zé Melé, sem contardepois. Ai ai Nossa Senhora. O que clamamos foliões? O que é aquilo no rosto de Aní-sio Gomes, que toca o violão? O que é aqui-lo no olhar de Clarice Rosa, a bandeireira?

É tristeza ou alegria esse compasso tãodecidido e receoso ao mesmo

tempo? A folia não res-ponde. Segue cortejo.

Já na sede daAnsir, a procissão

pára no galpão ealgo acontece: ospandeiros deWederson e ZéMelé e as za-bumbas de Ari-clenes e Arima-

téia entram emtranse. Era a rainha

da Companhia, Ma-ria Aparecida, a MariaPreta, quase 100 anos,mãe de José Messias,que saudava as pesso-as e dançava entre asduas colunas de foliões.O transe durou algunsminutos, enquanto arainha caminhava e se-gurava a bandeira sobrerosto dos fiéis. Ela pro-

feriu, mais tarde, um discurso louvando acoragem e o talento.

Voltam os cânticos. O trinado do pan-deiro e o pulsar da zabumba sobem pelaespinha e apertam o coração. A entoada tris-te faz florescer uma nostalgia impossível,

traz uma sensação de memória lon-gínqua, subterrânea, calada, queninguém sabe nomear. Asraízes profundas da tradi-ção e a simbologia místi-ca sugerem que não sãoapenas os fiéis que ar-repiam com o trinadodo pandeiro; são seuspais, suas mães, seusavós, bisavós, tata-ravós, toda a populaçãoque nasceu, sofreu, cru-zou oceanos, enfrentouguerras e morreu para queeles estivessem ali ouvindo afolia é que arrepiam neles. Umpouco da carne e da memória deantepassados que aindasobrevivem neles reco-nhecem os cânticos e ar-repiam de verdade. Daía força religiosa e aexpressividade simbóli-ca da Folia de Reis.

Lourival e Anísio (esq.) tocaram violão. Clarice Rosa foi a bandeireira. Os palhaços foramEurípedes Dias e Aparecida Martins. Aparecida subsituia Benedito Galante, que estava “entrevado” Pandeiro e zabumba entram em transe: era Maria Preta, a Rainha, que dançava entre os foliões

José Messias e o filho Israel:“A folia é uma tradição dafamília. Meu avô passou para omeu pai e ele passou para mim.Meu filho já está aprendendo”

Natalino e o filho Márcio:“Um dia o contramestre ficou rouco, fuichamado no repente... e cantei – assimmeio com vergonha – mas saiu”

fotos: André Azevedo

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Saudade

Adilson Nakamura - 18/08/1956 - 19/05/2002