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Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A. PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ACADÊMICOS DE UM CURSO DE NUTRIÇÃO Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo - 13.278-181 [email protected] [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 09 de março de 2009 Kelly Cristina Campos da Silva Profª. Ms. Flavia Melo Pontieri Curso de Nutrição FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. Trabalho apresentado no 8º. Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC – SEMESP em novembro de 2008. RESUMO Os transtornos alimentares podem ser definidos como desvios do comportamento alimentar, que levam a alterações excessivas do peso do indivíduo, como obesidade ou emagrecimento. Os principais tipos de transtornos alimentares que envolvem o emagrecimento são anorexia e bulimia nervosas. O aumento da prevalência desses transtornos entre a população jovem, decorrente de modificações na estrutura econômica e social das comunidades, é motivo de preocupação entre os profissionais de saúde. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo verificar a prevalência de transtornos alimentares entre acadêmicos de um curso de Nutrição. Para tanto, foram feitos cálculos de Índice de Massa Corporal e aplicação de questionários de auto-preenchimento (Eating Attitudes Test - EAT, Bulimic Investigatory Test Edinburg - BITE e Body Shape Questionnaire - BSQ). Os resultados obtidos permitiram traçar o perfil de prevalência de transtornos alimentares nessa comunidade e sugerir medidas de correção e prevenção entre os alunos do curso de Nutrição e conscientização da comunidade acadêmica em geral. Palavras-Chave: Transtornos alimentares, Bulimia nervosa, Anorexia nervosa, Nutrição. ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008

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Trabalho realizado com o incentivo e fomento da Anhanguera Educacional S.A.

PREVALÊNCIA DE TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ACADÊMICOS DE UM CURSO DE NUTRIÇÃO

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo - 13.278-181

[email protected] [email protected]

Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e

Desenvolvimento Educacional - IPADE Publicação: 09 de março de 2009

Kelly Cristina Campos da Silva Profª. Ms. Flavia Melo Pontieri Curso de Nutrição FACULDADE ANHANGUERA DE ANÁPOLIS ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.

Trabalho apresentado no 8º. Congresso Nacional de Iniciação Científica – CONIC – SEMESP em novembro de 2008.

RESUMO

Os transtornos alimentares podem ser definidos como desvios do comportamento alimentar, que levam a alterações excessivas do peso do indivíduo, como obesidade ou emagrecimento. Os principais tipos de transtornos alimentares que envolvem o emagrecimento são anorexia e bulimia nervosas. O aumento da prevalência desses transtornos entre a população jovem, decorrente de modificações na estrutura econômica e social das comunidades, é motivo de preocupação entre os profissionais de saúde. Dessa forma, este trabalho teve como objetivo verificar a prevalência de transtornos alimentares entre acadêmicos de um curso de Nutrição. Para tanto, foram feitos cálculos de Índice de Massa Corporal e aplicação de questionários de auto-preenchimento (Eating Attitudes Test - EAT, Bulimic Investigatory Test Edinburg - BITE e Body Shape Questionnaire - BSQ). Os resultados obtidos permitiram traçar o perfil de prevalência de transtornos alimentares nessa comunidade e sugerir medidas de correção e prevenção entre os alunos do curso de Nutrição e conscientização da comunidade acadêmica em geral. Palavras-Chave: Transtornos alimentares, Bulimia nervosa, Anorexia nervosa, Nutrição.

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008

116 Prevalência de transtornos alimentares em acadêmicos de um curso de Nutrição

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 115-127

1. INTRODUÇÃO

Os transtornos alimentares (TA) podem ser definidos como patologias cujas características

mais comuns são: alterações graves no padrão alimentar, distúrbios na percepção corporal

e controle obsessivo do peso (SAIKALI et al., 2004). Apresentam um alto grau de

morbidade (PINZON et al., 2001), e podem resultar em perda ou ganho de peso excessivo.

Os principais TA caracterizados por perda de peso são a anorexia nervosa e a bulimia

nervosa (BOSI; LUIZ; MORGADO, 2006).

A anorexia nervosa (AN) se caracteriza por um medo excessivo de ganhar peso,

mesmo o indivíduo estando em seu peso normal ou abaixo deste (SAIKALI et al., 2004). A

perda de peso nesses casos ocorre de forma intencional e os métodos dietéticos utilizados

são extremamente restritivos e radicais (BOSI; LUIZ; MORGADO, 2008). Não ocorre perda

real do apetite, mas sim uma negação do mesmo (CORDÁS, 2004). De acordo com o

comportamento do indivíduo, a anorexia nervosa pode ser classificada em dois tipos:

restritivo e purgativo (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000).

A bulimia nervosa (BN) é caracterizada por períodos alternados de compulsão

alimentar e utilização de estratégias para eliminar as calorias ingeridas. Essas estratégias

podem variar desde a indução do vômito até o uso de laxantes e excesso de exercícios

físicos (ROMARO; ITOKAZU, 2002).

Os TA são mais prevalentes em mulheres, e pesquisas apontam para um maior

índice em jovens acadêmicas de cursos nos quais a aparência física é importante. Entre

esses cursos os já citados em estudos são o de Nutrição (FIATES; SALLES, 2001) e

Educação Física (BOSI; LUIZ; MORGADO, 2008; PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007).

Os estudantes de Nutrição, mesmo conhecendo os princípios da Nutrição e

Dietética, valores e as necessidades de nutrientes, confrontam-se com o fato de o controle

de calorias auto imposto ser bastante rígido, com restrição de alimentos até então

apreciados (DUNKER; PHILIPPI, 2003).

A identificação da presença de TA nessa população de acadêmicos é primordial, uma vez

que serão esses mesmos indivíduos, potencialmente doentes, os profissionais que irão

lidar e tratar de outros doentes. A identificação precoce permite tanto a conscientização

quanto o tratamento do futuro profissional, além de estender esses valores à comunidade

em geral. Além disso, instrumentalizar os professores e demais responsáveis pela

formação dos profissionais para a obtenção de métodos efetivos para a capacitação técnica

destes enquanto estudantes (BOSI; LUIZ; MORGADO, 2006).

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2. OBJETIVO

Objetivo geral:

Verificar a prevalência de transtornos alimentares em acadêmicos de um curso de

Nutrição.

Objetivos específicos:

1) Traçar um perfil nutricional dos alunos do curso de Nutrição a partir do Índice de

Massa Corporal (IMC);

2) Verificar a necessidade de trabalhos de conscientização acerca da imagem corporal e

inserção de disciplinas específicas no curso que permitam a diminuição da prevalência

verificada.

3. METODOLOGIA

Para realização da pesquisa, o projeto foi submetido e aprovado por Comitê de Ética em

Pesquisa em Seres Humanos.

A composição da amostra foi feita a partir da apresentação do projeto de pesquisa

a todos os alunos regularmente matriculados no curso de Nutrição da Instituição. Os que

se dispuseram a participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE). O único critério de exclusão estabelecido foi a recusa do estudante em participar

da pesquisa.

Em momento posterior ao da assinatura do TCLE, os participantes preencheram

quatro instrumentos da pesquisa:

1. Formulário de dados antropométricos – com anotações de peso atual auto inferido, peso máximo, peso mínimo e altura. A partir dos dados de peso atual e altura foi calculado o IMC, para avaliar o estado nutricional do indivíduo. A classificação do IMC foi feita segundo a OMS (2006), de acordo com o exposto na Tabela 1.

2. Questionários de auto-preenchimento validados para verificação da presença de TA. A escolha e utilização dos questionários, em número de 3, seguiram o mesmo procedimento utilizado por Pontieri, Lopes e Eça (2007). Os questionários auto-aplicáveis são fáceis de usar na avaliação de grande número de pessoas. (PENZ; BOSCO; VIEIRA, 2008).

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Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 115-127

Tabela 1. Estado nutricional segundo o IMC.

Estado Nutricional IMC (kg/m²)

Magreza Grau III <16,0

Magreza Grau II 16,0 -16,99

Magreza Grau I 17,0 -18,49

Eutrofia 18,50 - 24,99

Pré-Obesidade 25,0 -29,99

Obesidade Grau I 30,0 – 34,99

Obesidade Grau II 35,0 -39,99

Obesidade Grau III ≥40,0 Fonte: OMS, 2006.

A classificação dos participantes segundo os parâmetros apresentados permitirá o

traçado do perfil de prevalência de TA em acadêmicos deste curso de Nutrição. Os

questionários de auto-preenchimento validados para determinação da presença de TA

(PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007) apresentam a caracterização a seguir:

EAT-26 (Eating Attitudes Test): Esse questionário foi desenvolvido em 1982

por Garner et al. (CORDÁS; NEVES, 2002, apud PONTIERI, LOPES E EÇA, 2007;

ASSUNÇÃO et al., 2002), e a versão utilizada no estudo foi validada e traduzida no Brasil

por Bighetti em 2003 (CORDÁS; NEVES, 2002, apud PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007;

ASSUNÇÃO et al., 2002). É um instrumento auto-aplicativo, que avalia as atitudes e

comportamentos típicos de pacientes com anorexia nervosa. É composto por 26 questões,

onde cada questão é dividida em 3 escalas do tipo Likert com 6 opções de resposta, com

pontuação de 0 (nunca) a 3 (sempre). Se a soma dos pontos for superior a 21 indica

sintomatologia ligada à anorexia nervosa. Se for inferior, indica normalidade (CORDÁS;

NEVES, 2002, apud PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007; ASSUNÇÃO et al., 2002).

BITE (Bulimic Investigatory Test Edinburgh): Esse instrumento avalia a

sintomatologia dos pacientes com bulimia nervosa. É um questionário auto-explicativo

composto por 30 itens, cujas respostas “sim” ou “não” são pontuadas. São avaliadas a

escala de sintomas e a escala de gravidade do transtorno. Há alta gravidade com

pontuação maior ou igual a 10 nas questões 06, 07 e 27. Com pontuação entre 9 e 5,

gravidade moderada. Valor 5 indica estado clinicamente comprometido e resultado menor

que 5 não é significativo clinicamente (OLIVEIRA et al., 2003). Para as demais questões,

pontuação maior ou igual a 20 indica presença de comportamento alimentar compulsivo

com grande possibilidade para desenvolvimento de bulimia, entre 19 e 10 o padrão

alimentar é não usual e abaixo de 10 indica normalidade (SOUZA et al., 2002, apud

PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007).

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BSQ (Body Shape Questionnaire): Esse instrumento foi desenvolvido em

1987 por Cooper et al. (FREITAS; GORENSTEIN; APPOLINARIO, 2002). Seu objetivo é

avaliar a preocupação do paciente com seu peso e sua forma corporal, traduzidos pela

sensação de “sentir-se gordo” (FREITAS; GORENSTEIN; APPOLINARIO, 2002). A versão

utilizada na pesquisa foi traduzida por Cordás e Castilho em 1994 (apud PONTIERI;

LOPES; EÇA, 2007). Nela existem 34 itens, cada um com 6 possibilidades de resposta, de 1

(nunca) a 6 (sempre). Se na soma dos pontos o valor for menor que 70, é indicativo de

normalidade. Entre 70 e 90, indica distorção leve da imagem corporal. Entre 90 e 110

distorção moderada da imagem corporal, e maior que 110 pontos distorção grave da

imagem corporal (ASSUNÇÃO et al., 2002).

4. DESENVOLVIMENTO

Os transtornos alimentares são definidos como “desvios do comportamento alimentar que

podem levar ao emagrecimento extremo, também conhecido por caquexia, ou à obesidade,

entre outros problemas físicos e mentais” (MAGALHÃES; MENDONÇA, 2005).

Os TA são mais freqüentes em indivíduos do sexo feminino, independente de

condições sociais e de escolaridade (FIATES; SALLES, 2001). Sua ocorrência em homens é

baixa, tendo sido observada em homossexuais. Mesmo ocorrendo em indivíduos de

gêneros distintos, existe similaridade tanto na resposta ao tratamento como nos aspectos

clínicos (MELIN; ARAÚJO, 2002).

O aumento da prevalência de TA está diretamente ligado a questões econômicas,

sociais e culturais da modernidade, em especial no ocidente, onde se vive a crença,

amplamente divulgada pela mídia, de que “o belo deve ser magro” (CORDÁS;

CLAUDINO, 2002).

Pesquisas também apontam para uma maior prevalência de TA em jovens

universitárias cujos cursos exijam mais da aparência física, um exemplo é o curso de

Nutrição (FIATES; SALLES, 2001; OLIVEIRA et al., 2003; PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007).

Os principais tipos de TA ligados ao emagrecimento são a anorexia nervosa (AN) e a

bulimia nervosa (BN) (MAGALHÃES; MENDONÇA, 2005). Os dois transtornos

apresentam alguns sintomas em comum, como a preocupação excessiva com o peso e o

medo patológico de engordar, e percepção alterada da imagem corporal

(SCHEBENDACH; REICHERT, 2005). Essa similaridade diferencia os TA de outros

padrões comportamentais relacionados à ingestão de alimentos, e sua presença altera a

120 Prevalência de transtornos alimentares em acadêmicos de um curso de Nutrição

Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 115-127

composição corporal de forma prejudicial ao organismo (MORGAN; VECCHIATTE;

NEGRÃO, 2002).

4.1. Anorexia Nervosa

De acordo com Cordás et al. (1999, apud PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007), o indivíduo com

anorexia nervosa tem alguns traços característicos de personalidade, tais como

preocupação e cautela excessivas, medo de mudanças, sensibilidade exacerbada e gosto

pela ordem.

São sintomas comuns da AN o medo de ganhar peso, mantendo-o sempre abaixo

do peso normal, dietas severas e restrições alimentares, distorção da imagem corporal,

sentindo-se gordo(a) mesmo estando magro(a), perda de peso em períodos curtos de

tempo, amenorréia, sentimento de culpa quando algum alimento é ingerido, excesso de

exercícios físicos, hipersensibilidade ao frio, irritabilidade, entre outros (OLIVEIRA et al.,

2003; CLAUDINO; BORGES, 2002). Homens com anorexia podem desenvolver aparência

feminina (MELIN; ARAÚJO, 2002).

Na AN restritiva o paciente utiliza-se de dietas, jejuns e exercícios para perda de

peso (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000). Na AN purgativa, o paciente tendo ou não

episódios de ingestão compulsiva, faz purgações, como auto-indução de vômito, uso de

laxantes e diuréticos de forma irregular (CORDÁS; CASTILHO, 1994, apud

APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000).

Segundo Baptista (2005, apud PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007), as conseqüências da AN

podem ser divididas em cardiovasculares, dermatológicas, digestivas e neuroendócrinas.

4.2. Bulimia Nervosa

A BN tem como principal sintoma a compulsão alimentar, estado em que o indivíduo

alterna a ingestão exagerada de alimentos com estratégias para eliminação das calorias

ingeridas. Essas estratégias podem ser: uso de laxantes, diuréticos e auto-indução de

vômitos (APPOLINÁRIO; CLAUDINO, 2000; ROMARO; ITOKAZU, 2002).

Segundo Schebendack e Reichert (2005), algumas características psicológicas dos

indivíduos com BN são: impulsividade, desorganização, fácil desmotivação, tendência a

modismos e extroversão. Romaro e Itokazu (2002) também citam baixa auto estima, nível

elevado de ansiedade e baixo limiar à frustração. Além disso, são sujeitos à percepção da

imagem corporal alterada, medo de ganhar peso e insatisfação com o próprio corpo

(ASSUNÇÃO et al., 2002; ROMARO; ITOKAZU, 2002).

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Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente • Vol. XI, Nº. 12, Ano 2008 • p. 115-127

De acordo com Baptista (2005, apud PONTIERI; LOPES; EÇA, 2007), as

conseqüências da BN podem ser divididas em cardiovasculares, digestivas,

neuroendócrinas, pulmonares, físicas.

Em se tratando de transtornos com conseqüências tão graves, e do pequeno

número de pesquisas publicadas no Brasil, já citadas na introdução deste trabalho

(CORDÁS, 2001), faz-se necessário que pesquisas acerca da prevalência de TA sejam feitas.

Através da aplicação de questionários auto-explicativos e auto-preenchíveis, o EAT, o

BITE e o BSQ, foi possível determinar se acadêmicos de um curso de Nutrição apresentam

alto índice de prevalência para transtornos alimentares. Mais que isso, se os fatores de

risco para o desenvolvimento de tais transtornos existem. Os questionários possuem

sistema de pontuação própria, que foram analisados a partir da metodologia selecionada.

5. RESULTADOS

A amostra foi composta por 155 alunos regularmente matriculados no curso de Nutrição.

Esse número corresponde a 45% do total de alunos matriculados no curso. Desses 155, 147

são do sexo feminino e 08 são do sexo masculino. Foram obtidos os seguintes resultados

após compilação dos dados:

5.1. IMC

Pode-se observar na Figura 1 a comparação entre os resultados obtidos pelo IMC. Ela

mostra 12,5% de Magreza Grau II nos homens (1 homem) e 8% nas mulheres (12

mulheres); 0 de Magreza Grau I nos homens e 17% nas mulheres (25 mulheres); 75% de

Eutrofia nos homens (6 homens) e 64% nas mulheres (94 mulheres); 12,5% de Pré-

Obesidade nos homens (1 homem) e 10% nas mulheres (14 mulheres); 0 de Obesidade

Grau I nos homens e 1% de Obesidade Grau I nas mulheres (2 mulheres). Nenhum

indivíduo com Obesidade dos Graus II e III ou Magreza grau III.

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Figura 1. Resultados IMC comparação entre homens e mulheres.

5.2. EAT

Mediante gráfico (Figura 2), pode-se observar quanto ao EAT: 25% de Sintomatologia

ligada a Anorexia Nervosa nos homens (2 homens) e 29% nas mulheres (43 mulheres); 75%

de Normalidade presente em homens (6 homens) e 71% nas mulheres (104 mulheres).

Figura 2. Resultados EAT comparação entre homens e mulheres.

Magreza Grau 

III %

Magreza Grau 

II% Magreza Grau 

I%

Eutrofia%

Pré‐Obesi‐

dade%

Obesidade

 Grau I%

Obesidade

 Grau II%

Obesidade

 Grau III%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

55%

60%

65%

70%

75%

INDÍCE DE MASSA CORPORAL

Homens Mulheres

Sintomalogia ligada a Anorexia Nervosa

Normalidade

0%

5%10%

15%20%

25%30%

35%

40%45%

50%55%

60%65%

70%

75%

ANOREXIA NERVOSA

Homens

Mulheres

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5.3. BITE – Escala de Sintomas

Mediante gráfico (Figura 3), pode-se observar quanto ao BITE, escala de sintomas: 2% de

Comportamento alimentar compulsivo nas mulheres ( 3 mulheres); 12% de Padrão

alimentar não usual nos homens ( 1 homem) e 27% nas mulheres ( 40 mulheres); 88% de

Normalidade nos homens (7 homens) e 71% nas mulheres (104 mulheres).

Figura 3. Resultados BITE comparação entre homens e mulheres.

5.4. BITE – Gravidade dos Sintomas

Mediante gráfico (Figura 4), pode-se observar quanto ao BITE, gravidade dos sintomas: 3%

de Alto Grau de Gravidade nas mulheres (4 mulheres); 12% de gravidade moderada nas

mulheres (17 mulheres); 12% de Estado Clínico Comprometido nos homens (1 homem) e

18% nas mulheres (27 mulheres); 88% de Resultado Clinicamente não significativo nos

homens (7 homens) e 67% nas mulheres (99 mulheres).

Comportamento alimentar  

compulsivo

Padrão alimentar  não usual

Normalidade

0%

5%

10%15%

20%25%

30%

35%

40%

45%50%

55%

60%

65%

70%75%

80%85%

90%

BULIMIA NERVOSA ‐ ESCALA DE SINTOMAS

Homens

Mulheres

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Figura 4. Resultados BITE comparação entre homens e mulheres.

5.5. BSQ

Mediante gráfico (Figura 5), pode-se observar quanto ao BSQ: 100% de Normalidade nos

homens (8 homens) e 50% nas mulheres (74 mulheres); 13% de Distorção leve da Imagem

Corporal nas mulheres (19 mulheres); 17% de Distorção Moderada nas mulheres (25

mulheres); 20% de Grave distorção da Imagem Corporal nas mulheres (29 mulheres).

Figura 5. Resultados EAT comparação entre homens e mulheres.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise dos dados coletados permite afirmar que os TA estão presentes no curso de

Nutrição estudado, com características variáveis para o desenvolvimento de anorexia e

bulimia nervosas.

Alto Grau Gravidade

Moderado

Estado Clinico Comprome‐

tido Re

sultado Clinicamente não 

significativo

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

BULIMIA NERVOSA ‐  GRAVIDADE SINTOMAS

Homens Mulheres

Normalidade

Distorção Leve da 

Imagem

 Corporal

Distorção Moderada

Grave  Distorção da 

Imagem

 Corporal

0%5%10%15%20%25%30%35%40%45%50%55%60%65%70%75%80%85%90%95%

100%

BSQ ‐ SENSAÇÃO DE "SENTIR‐SE GORDO"

Homens

Mulheres

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Há que se considerar que a população estudada compreende alunos de diversas

séries do curso de Nutrição, portanto alguns ainda não possuem conhecimento técnico

suficiente que os permitam avaliar seu próprio estado nutricional e as conseqüências que

os transtornos alimentares podem provocar nas suas vidas.

Os resultados dessa pesquisa estão em concordância com alguns estudos já

citados, tais como Pontieri, Lopes e Eça (2007), que encontraram fatores de risco para o

desenvolvimento de TA em acadêmicos de um curso de Educação Física, de acordo com os

instrumentos BSQ, EAT e BITE.

Fiates e Salles (2001), em sua pesquisa em acadêmicos de um curso de Nutrição

seus resultados apresentaram classificações no EAT (+) ou Sintomatologia ligada a AN,

nas mulheres de 25,43%. A mesma pesquisa realizada por Fiates e Salles (2001) obteve

como valor de EAT (+) ou Sintomatologia ligada a AN, 14% em estudantes de outros

cursos, onde se faz uma comparação e o curso de nutrição se destaca pela maior presença

de TA.

Souza et al. (2002), encontraram, em estudo realizado em alunas de um curso de

Medicina, EAT (+) ou Sintomatologia ligada a AN, em 32,1% da amostra pesquisada, e

para o BITE 3,5% da amostra com Comportamento Alimentar Compulsivo na escala de

sintomas, além de 2% das alunas com Alto Grau de Gravidade na escala de gravidade.

Em relação ao BITE – Escala de Sintomas, Bosi; Luiz e Morgado (2006)

apresentam em seus resultados de sintomas comportamento alimentar compulsivo nas

mulheres 5,7%. Ele mostrou 27% de padrão alimentar não usual nas mulheres e 12% nos

homens. Estes resultados mostram que os sintomas estão mais presentes nas mulheres.

Com relação à gravidade de sintomas do BITE, os resultados mostram Alto Grau de

Gravidade em 3,2% das mulheres, reforçando o fato de que a gravidade dos sintomas que

aparecem estão mais presentes nas mulheres.

A partir desses dados fica evidenciado que os acadêmicos do curso de Nutrição estudado

apresentam perfil de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares. Sugere-se

que tanto um trabalho de conscientização como a inclusão de atividades que esclareçam a

presença e as consequências dos TA sejam feitas o quanto antes.

PARECER DE APROVAÇÃO DE COMITÊ

Pesquisa autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Anhanguera

Educacional S/A – CEP/AESA - em 16/04/2008 por meio do parecer: 36/2008.

126 Prevalência de transtornos alimentares em acadêmicos de um curso de Nutrição

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