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  • Sebrae Agronegcios

  • Sebrae Agronegcios

    O conhecimento que os empresrios de micro e pequenos negcios precisam est no Sebrae.

    OPedro Costa agricultor e conhece muito bem as dificuldades do agronegcio. Para enfrent-las com sucesso, ele se associou a uma cooperativa e conheceu os Projetos Coletivos do Sebrae. Agora, ele participa de rodadas de negcio, reunies tcnicas, aes coletivas e de outros projetos importantes que esto desenvolvendo o seu setor e gerando mais produtividade. A cooperativa do Pedro tambm conta com cursos de capacitao, assessoria e consultoria, material tcnico e com as feiras e exposies promovidas pelo Sebrae. Ele est aprendendo que quando se planta conhecimento, seja por meio de TV, rdio, revista, jornal ou pelo Sebrae, se colhe sucesso.

    0800 72 66 500w w w.sebrae.com.br

    >> Depois que participei dos grupos de

    negcios apoiados pelo Sebrae, minha

    cooperativa passou a produzir mais.

    Agora, minha empresa vai pra frente. >>

  • Sebrae Agronegcios

    O conhecimento que os empresrios de micro e pequenos negcios precisam est no Sebrae.

    OPedro Costa agricultor e conhece muito bem as dificuldades do agronegcio. Para enfrent-las com sucesso, ele se associou a uma cooperativa e conheceu os Projetos Coletivos do Sebrae. Agora, ele participa de rodadas de negcio, reunies tcnicas, aes coletivas e de outros projetos importantes que esto desenvolvendo o seu setor e gerando mais produtividade. A cooperativa do Pedro tambm conta com cursos de capacitao, assessoria e consultoria, material tcnico e com as feiras e exposies promovidas pelo Sebrae. Ele est aprendendo que quando se planta conhecimento, seja por meio de TV, rdio, revista, jornal ou pelo Sebrae, se colhe sucesso.

    0800 72 66 500w w w.sebrae.com.br

    >> Depois que participei dos grupos de

    negcios apoiados pelo Sebrae, minha

    cooperativa passou a produzir mais.

    Agora, minha empresa vai pra frente. >>

  • Sebrae Agronegcios

    Os desafios da apiculturaDiante das portas fechadas pela Unio Europia, o segmento apcola brasileiro precisa abrir novos mercados internos e externos

    23

    Exportao para a Europadeve ser retomada este ano

    Governo age, mas Unio Europia reafirma que s suspende embargo ao mel brasileiro se

    houver controle de resduos

    18

    Mel na merenda escolar aumenta consumo internoLeis e parcerias inserem o alimento no cardpio dos estudantes e criam um novo nicho de negcios para o segmento

    38

    Revista SEBRAE AgRonEgcioS n 3 maio de 2006

    SEBRAEServio Brasileiro de Apoio s Micro e

    Pequenas Empresas

    Presidente do conselho Deliberativo nacional

    ARMANDO MONTEIRO NETO

    Diretor-presidentePAULO TARCISO OKAMOTTO

    Diretor TcnicoLUIz CARLOS BARBOzA

    Diretor de Administrao e FinanasCSAR RECH

    gerente da Unidade deAtendimento coletivo

    Agronegcios e TerritriosEspecficos

    JUAREz DE PAULA

    gerente da Unidade deMarketing e comunicao

    LUIz BARRETO

    coordenao EditorialABNOR GONDIM (Plano Mdia)

    [email protected]

    ReportagemPELgio gonDiM, LciA BRocHiER, MARinA AMARAL, MARA MonTEiRo, JAiRo PiToL SAnTAnA, SiLVAnEiDE

    cABRAL, cAMiLo DELELLiS, gioVAnnA FLoRES, ASn-PR, ASSESSoRiAS DE SEBRAE/DF, SEBRAE-MT, SEBRAE-

    PA,SEBRAE-cE, SEBRAE/Sc, SEBRAE-PR, SEBRAE-PR, SEBRAE-Pi, SEBRAE-RJ, SEBRAE-Rn E AgnciA SEBRAE DE

    noTciAS

    Fotografiascapa: ALfREDO MOREIRA

    Agncia Sebrae de notcias/Sebrae-UF

    Projeto grficoMILTON GOES

    DiagramaoEDUARDO GREGRIO

    RevisoDEMERVAL DANTAS

    grfica:CORONRIO

    PublicaoSEBRAE UAGRO (UniDADE DE

    ATEnDiMEnTocoLETiVo AgRonEgcioS E

    TERRiTRioS ESPEcFicoS)[email protected] 515, Bloco c, loja 32

    cEP: 70.770-530 BRASLiA DF(61) 3347 7404

    E x p E d i E n t E

    6 Artigo: Rede Apis elos integrados para uma apicultura sustentvel8 Entrevista: Henrique Faraldo, presidente da Abemel10 o salto do mel12 Perfil: Warwick Kerr13 investimentos: colmia de projetos14 Artigo: Desenvolvimento e expanso da apicultura no Brasil com abelhas africanizadas17 Histria: Das cavernas ao Sculo XXi20 crise: Efeitos do bloqueio europeu21 Pr-embargo: Exportao em alta22 Apicultura ganha cmara Setorial24 Pesquisa: o mercado do mel no Brasil26 comrcio e Servios: novas estrat- gias para aumentar consumo27 convite ao paladar sem atravessadores28 Apicultores montam loja na beira da estrada29 contineres viram casas de mel em SE30 indstria prefere o sabor artificial31 gesto coletiva no Palcio do Mel32 carro-chefe do comrcio Justo34 Serto faz comrcio Justo36 Artigo: Desafios e oportunidades para o mel brasileiro

    38 Mel na merenda escolar aumenta consumo interno40 Para filhos e pais41 Apicultor prefeito e lder em Mg42 Aes consolidam central de coope- rativas44 Piau quer produzir e exportar mel orgnico 45 cear descobre alternativa ao xodo rural46 Artigo: ADR os agentes da nova apicultura no Brasil48 capacitao eleva produtividade no Par49 Sc investe em tecnologia para con- quistar mercados50 Artigo: A Profissionalizao da Apicul- tura no Brasil52 A ascenso potiguar54 Polinizao: Atividade gera renda extra aos apicultores56 cear investe na produo de prpolis 57 Antibitico natural58 Saiba por que o mel um bom alimento59 Artesanato para aumentar renda60 Apacame e livro de meliponicultura 61 Encontros de solues

    Encarte: Cartaz divulga as qualidades do mel

    s u m r i o

  • Sebrae Agronegcios

    O grande desafio da apicultura brasileira neste momento superar o embargo da Unio Europia ao mel brasileiro e ampliar o consumo interno do produto. Para vencer essa batalha, preciso ultra-passar os obstculos. no exterior, no pas e inclusive dentro de casa.

    Em primeiro lugar, qualquer cri-se deve ser sempre encarada como oportunidade. Por isso, hora de divulgar as vantagens do mel como alimento saudvel que tem ainda o ingrediente da incluso social e eco-nmica de trabalhadores e empreen-dedores rurais em diferentes pontos do interior. Vale ressaltar tambm que a apicultura cai como uma luva em dois nichos de mercado em as-censo comrcio Justo e Mundo orgnico.

    no contra-ataque, os apicul-

    tores e seus parceiros comeam a abrir novos espaos. Uma medida que serve de inspirao para todos os estados foi adotada pelo governo de Mato grosso do Sul, que tornou obrigatria a incluso do produto na merenda escolar dos estabelecimen-tos pblicos. Medidas semelhantes vm sendo adotadas por vrias pre-feituras e cmaras municipais.

    o governo federal est dando sua contribuio por meio da conab e do Ministrio do Desenvolvimento Agrrio, com a aquisio da produ-o de apicultores no Rio grande do norte e no Rio de Janeiro destinados tambm para a merenda escolar da rede pblica de ensino.

    no exterior, esto sendo intensi-ficadas as gestes para se conseguir novos importadores nos Estados Uni-dos e no oriente Mdio. Mas, alm

    do b l oque io externo, temos de derrubar medi-das que sustentam uma espcie de embargo interno, como a resoluo 05/2000, do Ministrio da Agricultura. Essa medida permitiu que os produ-tos a base de mel no tenham mel ou o tenham quantidades nfimas. nesse caso, a defesa dos 350 mil apiculto-res tambm uma reivindicao dos milhes de consumidores brasileiros, que exigem transparncia e confiabili-dade no que consomem.

    Enfim, o desafio de vencer a cri-se que se abateu sobre a apicultura brasileira poder ensejar a identifica-o e o aproveitamento de diversas oportunidades de mercado.

    Luiz Carlos Barboza, Diretor-Tcnico do Sebrae.

    Novas oportunidades

    e d i t o r i a l

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    Na ampla atuao do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas no agronegcio, a apicultura tem uma ateno especial. Por vrias razes: a cadeia produtiva envolve 350 mil bra-sileiros, a grande maioria de peque-nos produtores, e a atividade gera renda e ocupao, ajudando a fixar o homem no campo.

    o Sebrae est presente, junto com vrios outros parceiros, em projetos de apicultura de 418 muni-cpios, apoiando quase 13 mil pro-dutores ligados a 283 associaes e 42 cooperativas. Esse universo responde por 7.482 toneladas anuais de mel, mais de 20% de toda a produ-o nacional, de 32 mil toneladas, a

    11 maior do mundo. A chamada Rede Apis, a Rede

    de Apicultura integrada e Sustent-vel, a carteira de projetos do Sebrae com maior nmero de empreende-dores beneficiados. Esto sendo investidos na Rede Apis, ao todo, at 2008, R$ 55 milhes, dos quais 35% aportados pelo Sebrae.

    Esse grande esforo contempla aes que vo da assistncia tcnica introduo de novas tecnologias, passando por capacitao gerencial e acesso a mercados. Queremos ver a apicultura transformada efetiva-mente num negcio, rentvel, tecno-logicamente atualizado.

    Diante do crescimento da com-petio mundial na produo de

    mel, do embargo europeu s nossas exportaes, que acreditamos ser temporrio, e do baixssimo consumo interno, urgente profissionalizar o setor. isso que defende tambm o professor Darcet costa Souza, da Universidade Federal do Piau, em consistente artigo na pgina 50.

    Temos todas as condies para isso. o Sebrae no tem dvidas de que a Rede Apis, uma construo de muitos parceiros, um passo decisi-vo para consolidar no nosso pas uma apicultura forte e competitiva.

    PAULO OKAMOTTODiretor-Presidente do Sebrae

    Por um mel mais doce

  • Sebrae Agronegcios

    O atual momento da apicultura exige uma mudana de com-portamento e nos estimula a articular foras para enfrentar os novos e grandes desafios, pessoais ou coletivos. um bom momento para refletir acerca da prtica cons-truda nas aes associativas e em parcerias, como forma de integrar interesses, objetivos e necessidades comuns.

    o slogan da Rede APiS As-sociando recursos e integrando competncias para viabilizar negcios abarca desde a colabo-rao na formulao e execuo de projetos e programas at a imple-mentao das iniciativas que facili-tam a criao de organizaes, onde os indivduos possam articular seus interesses, buscando alcanar resul-tados compartilhados.

    assim que os projetos de api-cultura da Rede APiS buscam a inte-grao de todos os atores que intera-gem nos mbitos local, regional, na-cional e internacional, dentro de uma viso sistmica, que considera os diversos fatores do desenvolvimento (econmicos, sociais, culturais, polti-cos, cientficos e tecnolgicos).

    Essa estratgia estabelecida por um modelo orientado para ob-teno de resultados definidos pelos pblicos-alvo das aes, estabelece a promoo da cultura da cooperao e articulao de parcerias como base para o sucesso dos empreendimentos.

    a r t i g o

    Por Alzira Vieira e Reginaldo Resende, coordenadores nacionais da carteira de Apicultura da Unidade de Agronegcios do Sebrae

    (alz [email protected] e [email protected])

    Rede Apis elos integrados para uma

    apicultura sustentvelSebrae consolida alianas com parceiros para o sucesso dos

    empreendimentos com incluso social e econmica.

    Mais informaes: www.apis.sebrae.com.br e www.sigeor.sebrae.com.br

  • Sebrae Agronegcios

    sil = 60 gramas; EUA = 910; Alema-nha = 960; e Sua = 1.500).

    Elevado potencial de incre-mento na produtividade. Por meio de um manejo adequado, ou seja, pela adoo das Boas Prticas Apcolas, pode-se triplicar a produtividade: de 16 kg para 48 kg/colmia/ano.

    Disponibilidade de matria-pri-ma. Atualmente, explora-se apenas 15% do potencial da flora apcola. Estima-se que o Brasil tem um po-tencial inexplorado de, pelo menos, 200 mil toneladas de mel, alm dos demais derivados.

    Elevada capacidade ociosa das indstrias (entrepostos) de bene-ficiamento de mel.

    Alta qualidade do mel brasilei-ro, pela maior rusticidade das abelhas africanizadas em relao s abelhas do gnero Apis no mundo inteiro, reduzindo custos e dispensando uso de drogas veterinrias.

    Elevado potencial para produ-o do mel orgnico, pela disponibili-dade de plantas melferas e silvestres, isentas de pesticidas e herbicidas.

    Potencial de produo no Bra-sil de derivados de mel com alto valor agregado, por meio do marketing, do design e da certificao.

    PLANEJAMENTOMas, como todo bom negcio,

    para ser sustentvel, fundamental um bom planejamento. preciso ter uma viso sistmica do agronegcio apcola e uma abordagem de cadeia produtiva, estimulando alianas estratgicas em todos os seus elos. Uma tarefa que demanda a integra-o, o engajamento e o compromisso de todos os envolvidos, que deve ser assumida e protagonizada pelos representantes, apicultores e em-presrios, do setor. A recm-criada cmara Setorial do Mel e outros produtos das abelhas, no mbito do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, certamente se cons-tituir no frum propcio e ideal para o encaminhamento e equacionamento dessas questes.

    Em sntese, preciso que todos pensem como o grande empreen-dedor Walt Disney, que um dia se definiu da seguinte forma: Penso em mim como uma pequena abelha. Vou de uma rea a outra, junto plen e as-sim estimulo todo o mundo.

    O Sebrae investe em projetos de apicultura

    com 245 parceiros em 418 mu-nicpios beneficiando 12.875 apicultores organizados em 283 associaes e 42 coope-rativas, com uma produo

    equivalente a 23% da produo nacional

    (IBGE).

    A perspectiva de desenvolver um trabalho em rede surgiu da cons-tatao de que nenhuma organiza-o, isoladamente, pode responder ao desafio de viabilizar uma Apicultu-ra integrada e Sustentvel. o debate a respeito das dificuldades e dos de-safios comuns e a troca de experin-cias demonstraram a necessidade da cooperao, do estabelecimento de parcerias ou de alianas estratgicas para superar obstculos e maximizar resultados.

    INSPIRAO E ATUAOna apicultura, foi relativamente

    simples a assimilao da importncia da articulao e da parceria, pois a atividade j traz em sua essncia esse ensinamento. As abelhas so mestras naturais do conceito de cooperao, organizao e divi-so do trabalho. inspirados nesse comportamento das abelhas, as pessoas, os grupos e as instituies parceiras esto superando as barrei-ras ao associativismo e buscando a construo conjunta, motivadas pela conscincia da magnitude e comple-xidade da misso.

    A metodologia utilizada para facilitar essa prtica a da gesto Estratgica orientada para Resultados (gEoR), ferramenta ado-tada pelo Ser-vio Brasileiro d e A p o i o s Micro e Peque-nas Empresas (Sebrae) para construir e ge-rir os projetos finalsticos da instituio, com foco na obten-o de resultados pactuados e contratua-lizados com o pblico-alvo e parceiros.

    Desde o incio do projeto, em 2003, em articulao com 245 par-ceiros em mbitos internacional, nacional, estadual e municipal, o Sebrae vem apoiando a implantao de 22 projetos de apicultura, abran-gendo 418 Municpios, beneficiando diretamente 12.875 apicultores organizados em 283 associaes e 42 cooperativas, com uma produo atual de 7.482 toneladas de mel, equi-

    valente a mais de 23% da produo nacional (estimada pelo iBgE).

    no obstante os esforos de fortalecimento do agronegcio apcola, os nossos apicultores vm convivendo com limitaes estruturais, aliadas s dificuldades de acesso tecnologia, aos servios de assistncia tcnica e, principalmente, de acesso aos mercados, em face da desorga-nizao da oferta, do baixo consumo interno de mel e produtos da colmia e, mais recentemente, do embargo do mel brasileiro pela Unio Europia.

    SUSTENTABILIDADEApesar desse cenrio, a Apicul-

    tura Brasileira rene alguns requisi-tos que a coloca num elevado poten-cial de incluso, pois, sob o ponto de vista ambiental, econmico e social, capaz de gerar ocupaes social-mente justas, ambientalmente cor-retas e economicamente viveis. uma das atividades econmicas que mais se enquadra no conceito de sustentabilidade propagado pelo mundo pelos seguintes motivos:

    Es t ima-se que cada R$ 5.000,00 investido na apicultura gera 1 emprego ou uma ocupao.

    A apicultura uma das raras atividades pecurias que no

    tem nenhum impacto ambiental negati-

    vo. Pelo contr-rio, transforma o apicultor em um ecologista prtico.

    A p o l i -nizao inten-siva, realizada pelas abelhas do gnero Apis, favorece a ma-

    nuteno da biodi-versidade, impactando

    positivamente a sustentao do ecossistema local, bem como

    permitindo ganhos de produtividade em diversas culturas, em funo da polinizao.

    cada vez mais, os grandes laboratrios descobrem nos pro-dutos da apicultura, especialmente na apitoxina, na prpolis e no plen, novas formas de aplicao com fins teraputicos.

    Potencial de aumento do con-sumo interno por habitante/ano (Bra-

  • Sebrae Agronegcios

    e n t r e v i s t a

    No adianta ficarmos procurando culpados

    Presidente da Abemel considera a diversidade e a produo de mel orgnico grandes atrativos para que o produto

    continue interessando os importadores

    Henrique Faraldo, presidente da Associao Brasi leira dos Expor tadores de Mel (Abemel)

    Como o mel do Brasil livre dessas substncias (antibiti-

    cos), usado para fazer blends (mistu-ras) de correo dos mis com eventuais

    problemas.

    Com 18 anos de experincia no mercado de mel, o admi-nistrador Henrique Faraldo, 37 anos, est diante de um dos maiores desafios de sua vida: supe-rar a crise dos exportadores diante do embargo da Unio Europia ao mel brasileiro, que entrou em vigor no dia 17 de maro deste ano.

    H trs meses na presidncia da Associao Brasileira de Expor-tadores de Mel (Abemel), Faraldo representa um grupo de 15 empres-rios que so responsveis por 80% das vendas externas do produto, diretamente afetadas pela deciso europia.

    o Brasil produz de 35 mil a 45 mil toneladas de mel por ano. Em 2005, as exportaes somaram 14,5 mil toneladas (US$ 18,94 milhes), e 80% das vendas externas foram para a Europa.

    o presidente da Abemel evita apontar culpados, mas diz que o embargo poderia ter sido evitado. E prefere alinhavar os prximos passos que devem ser dados para a des-coberta de solues. na avaliao dele, os importadores tm interesse de continuar comprando o mel bra-sileiro. Boa parte dos mis do nor-deste j exportada como produto orgnico.

    Em entrevista revista SEBRAE AGRONEGCIOS, o exportador aponta caminhos para a superao da crise. confira a seguir:

    SEBRAE AGRONEGCIOS Qual foi o impacto do embargo da Unio Europia nas exporta-es brasileiras de mel?

    Henrique faraldo As em-

    presas exportadoras precisaram se readequar nova realidade de mer-cado, reposicionando as ofertas para os Estados Unidos, que o segundo maior mercado consumidor. outra opo seria o oriente Mdio, mas o Brasil no tem tradio exportadora para esse mercado, que ainda dominado pelos fornecedores euro-peus, principalmente pelos alemes e espanhis.

    SA Os exportadores es-peravam o embargo da Unio Europia ou foram pegos de sur-presa?

    faraldo Entre a primeira in-formao de que a Unio Europia poderia barrar as exportaes e o embargo, ns tivemos um intervalo de trs semanas. Foi uma surpresa tanto para os exportadores brasilei-ros, quanto para os importadores da Alemanha, da inglaterra, enfim de todo mercado europeu. Tudo aconte-ceu muito rpido.

    SA O embargo justificvel? faraldo Sim. Tecni-

    camente, os europeus no tinham alter-nativa, a no ser executar o embar-go. Essa postura foi a concluso de um processo que comeou h trs anos, o que significa que as exigncias no fo-ram feitas de uma hora para outra. As cobranas foram as mesmas que valem para outros produtos, como bovi-

    nos, sunos e frangos. o controle de resduos uma exigncia comum entre parceiros comerciais. A Unio Europia no chegou aqui com uma novidade, como ocorreu na china, quando foi detectada a presena de clorofenicol no mel chins. naquela ocasio, foi aplicada uma barreira

    sanitria em funo da presena comprovada de antibiticos.

    os europeus tm uma espcie de alerta ve rme lho que acionado quando algum sinal de an-tibiticos detec-tado em amostra-gens de produtos de origem animal. no caso do Brasil, nem esse primeiro

    alerta ocorreu.

    SA Seria possvel evitar o embargo?

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  • Sebrae Agronegcios

    Tecnicamente, os europeus no tinham

    alternativa, a no ser executar o

    embargo.

    faraldo Seria, se o Brasil tivesse cumprido as etapas que estavam previstas no acordo com a Unio Europia. Por exemplo, deveria ter sido feito o credencia-mento dos laboratrios e a valida-o das metodologias de anlise. Tambm era necessrio um estudo das doenas apcolas no Brasil, para particularizar as nossas reais necessidades. ns estamos sendo questionados acerca de antibiticos que no so usados no Brasil, mas que so aplicados na Argentina, na china e em outros pases que fazem tratamento das abelhas. no Brasil, ns no temos esse problema.

    SA De quem a responsa-

    bilidade pelo embargo?faraldo Esse tema no do

    setor privado, do governo. ns esta-mos trabalhando em conjunto com o setor pblico, que est respondendo com a velocidade possvel. o embar-go envolve questes tcnicas que pre-cisam ser trabalhadas numa relao de governo para governo. no adianta ficarmos procurando culpados.

    SA Qual o cenrio para as exportaes de mel?

    faraldo Vai depender do volu-me de mel que vamos produzir. A safra deste ano est atrasada, h pouco comeou no nordeste, que um grande fornecedor. Daqui pra frente que poderemos calcular o tamanho da produo. Se ns tivermos uma safra boa, teremos uma dificuldade maior para escoar. Hoje, os Estados Unidos esto importando, mas em maio co-mea a safra americana e eles tero uma oferta grande de matria-prima dentro de casa. os Estados Unidos so um grande produtor de mel, com 100 mil toneladas anuais.

    SA O mel do Brasil com-petitivo no mercado externo?

    faraldo Sim, o mel brasileiro tem uma boa procura l fora. os importadores compram, tradicional-mente, da Argentina e da china, onde os mis pode conter uma pequena presena de antibiticos. como o mel do Brasil livre dessas subs-tncias, usado para fazer blends (misturas) de correo dos mis com eventuais problemas.

    Tambores metlicos usados na exportao: embalagem adequada s exigncias dos importadores

    SA Como est o controle de qualidade das exportaes?

    faraldo Todos os entrepostos fazem rastreabilidade. o mel emba-lado em tambores metlicos, do mes-mo tipo usado para exportao de suco de laranja. cada tambor recebe um lote e ns sabemos a histria dele do princpio ao fim. Muitas empresas tm uma classificao que vai ao nvel de floradas e subfloradas. Existem blends, necessrios para a obteno de determinada cor ou padro, mas, se voc abrir um tonel, voc sabe exatamente o que tem ali e em que proporo.

    S A O m e l brasileiro j possui uma identidade no exterior?

    faraldo Sim. o mel de bracatinga, que possui alta condutividade, muito procurado na Europa. Antes de iniciarmos as exportaes, esse produto era vendido no Brasil como um mel de segunda linha, e hoje muito valorizado l fora. o mel de laranja do Brasil tambm muito requisitado. no mundo todo, h apenas quatro grandes produtores desse tipo de mel: Estados Unidos, Mxico, Espanha e Brasil. Ento, estrategicamente, para os impor-tadores, muito importante manter o Brasil como fornecedor. outros tipos de mis do nordeste, como, por exemplo, de marmeleiro, de

    cip-uva, de angico, tambm so va-lorizados pelo sabor, pela suavidade e pela clareza da cor. Uma boa parte desses mis j exportada como produto orgnico.

    SA O que ainda falta ao mel brasileiro para conquistar mais mercados?

    faraldo Falta uma maior par-ticularizao dos mis, explorar as caractersticas de cada florada, ao

    invs de vender tudo na forma de blend. Precisamos evitar as

    misturas sem controle da qualidade do pro-duto.

    S A Q u a l o diferencial do mel brasileiro?

    faraldo A di-versidade, o grande

    potencial para produo de mel orgnico. Alm disso, temos

    uma caracterstica que outros pases no tm: condies de oferecer mel o ano todo, pois, em algum lugar do Pas, todos os meses, est entrando mel. Se falhar a produo em algum estado, ns conseguimos recuperar em outro, mantendo a rotatividade do produto. na Argentina, onde a exportao sete vezes superior do Brasil, a produo se concentra entre novembro e fevereiro. o Uruguai e a china tm a mesma caracterstica. Ento, para os importadores, um conforto saber que podero ser abas-tecidos o ano todo pelo Brasil.

  • 0 Sebrae Agronegcios

    E las chegaram ao Brasil em 1956 e desembarcaram no Rio de Janeiro, mas no fica-ram no estado. Foram levadas para camacu, no interior de So Paulo, e por l fizeram histria. As abelhas africanas foram trazidas pelo ge-neticista Warwick Estevam Kerr, o maior especialista em gentica de abelhas do mundo, at hoje em plena atividade aos 84 anos (veja o perfil do pesquisador na pgina 14). com o auxlio do professor Lionel gonalves, da Universidade de So Paulo, Kerr criou um hbrido das espcies africana e europia, que j existia no Brasil. Esses geneticistas so considerados os maiores res-ponsveis pelo salto de produtivi-dade dado pela apicultura nacional na segunda metade do sculo 20.

    Ao mesmo tempo, houve a

    disseminao de cruzamentos na natureza entre as abelhas africanas e outras espcies, como as euro-pias e as nativas, devido liberao acidental, por um apicu l -tor, de exames afr icanos que estavam em quarentena num apirio no Municpio de R io c la ro (SP). Da formou-se um polibrido, com domnio das africanas, que picaram pessoas e mataram animais. Hoje, as chamadas abelhas africanizadas representam quase 90% das abelhas existentes no Pas.

    Em 50 anos, as abelhas afri-canizadas deram grande contribui-

    o para o avano da apicultura graas ao desenvolv imento de tcnicas adequadas criao de

    abelhas e ao aproveitamento de seus produtos. Tambm con-

    triburam para o Pas passar de 27 para 5 posi-

    o no ranking mundial de exportao de mel e fi-car hoje em

    11 maior pro-dutor mundial.

    na dcada de 50, o Bras i l

    produzia apenas 4.000 toneladas de

    mel por ano. com as abe-lhas africanizadas, a produ-

    o foi ampliada e, atualmente, o Pas produz 40 mil toneladas

    e v o l u o

    O salto do melEm 50 anos de abelhas africanizadas, o Brasil passou da 27 para a 5 posio no ranking mundial de exportao de mel. Estima-se que

    350 mil pessoas participem da cadeia produtivaalf

    red

    o M

    or

    eir

    a

  • Sebrae Agronegcios

    por ano. o aumento explicado porque a abelha africanizada bas-tante produtiva e mais resistente s pragas que destroem colmias.

    o presidente da Federao

    Mineira de Apicultura, irone Martins Sampaio, acredita que a tecnologia trouxe qualidade para a produo e comercializao do mel. os api-cultores contam agora com mais recursos a exemplo de cursos de orientao, equipamentos mais adequados, vesturio prprio e tudo isso faz diferena na fabricao do mel, diz Sam-paio.

    Vr ios pases per-ceberam os avanos no processo de fabricao e comearam a importar o produto do Brasi l . nesta dcada, o Brasil passou a ocupar um lugar de destaque mundial na exportao de mel, inclusive com a participao de api-cultores do semi-r ido do nordeste. Eles ajudaram a transformar o Pas em expor-tador do produto, passando de 269 toneladas, em 2000,

    para 21 mil toneladas, em 2004, um aumento de 7.800%. Em 2005, houve uma queda que prenunciou a crise provocada pelo embargo da Unio Europia ao mel brasileiro e a necessidade de se buscar alternati-vas de mercado.

    Em 2005, a exportao de mel brasileiro atingiu 14,4 mil toneladas, gerando uma receita de US$ 18,9 mi-lhes para o Pas. Em torno de 80% das exportaes foram para a Unio Europia (11,1 mil toneladas e US$ 14,4 milhes), sendo a Alemanha o principal importador (6,2 mil tonela-das e US$ 8,1 milhes). os princi-pais estados brasileiros exportadores foram So Paulo (US$ 7,72 milhes), cear (US$ 3,4 milhes), Piau (US$ 3,05 milhes) e Santa catarina (US$ 2,93 milhes).

    MEL DA INCLUSO

    os nmeros mostram que a apicultura virou um instrumento de incluso econmica e alternativa de emprego e renda. o casal apicultor Angelino Jos Ferreira e isabethe Mendes Ferreira percebem que a apicultura poderia ser uma boa fonte de renda familiar e decidiu investir na atividade.

    Eles nunca tiveram medo de sofrer ferroada. Eles saram de Viosa (Mg), onde viviam na zona rural e foram para o Distrito Fede-ral. L, tiveram a oportunidade de fazer cursos acerca das tcnicas de apicultura e partiram para a prtica. Sem terras prprias, o casal cria abelhas em propriedades alugadas em fazendas no Estado de gois.

    Estima-se que 350 mil pessoas vivam hoje no Brasil com a renda da apicultura. A atividade no necessi-ta de um alto investimento inicial e tem grandes vantagens naturais, a exemplo da extensa flora brasileira com inmeras plantas nectarferas e polinferas (essenciais para as abelhas). outra caracterstica que ajuda no crescimento a condio favorvel para a criao desses insetos encontrada em todas as regies. Alm disso, o apirio (h-bitat das abelhas) no necessita de cuidados dirios, permitindo que os apicultores tenham uma outra fonte de renda.

    A atividade exige, porm, pro-fissionalizao para render boas safras. o que est sendo feito

    por entidades de apicul-tores e instituies a exemplo do Servio Brasileiro de Apoio

    s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

    Para pequenos grupos fami-liares, a exemplo do casal Angelino

    e isabethe, iniciativas como a do Sebrae representam a chance de um bom negcio. os cursos oferecidos para os apicultores so importan-tes, porque nos ensinam a produzir

    melhor, aumentando, assim, a qualidade dos nossos produtos. Se tivermos qualidade nos pro-

    dutos, teremos uma doce renda, diz isabethe.

  • Sebrae Agronegcios

    P e r f i l

    A trajetria de Warwick Kerr, o maior geneticista de abelhas do mundo, se confunde com a evoluo da atividade no Brasil e revela um homem que

    sempre acreditou nos seus sonhos

    Um apaixonado na histria da apicultura brasileira

    Kerr defende tambm o desenvolvimento da criao das abelhas nativas sem ferro

    Brincadeiras, idias, coisas, gostos, enfim, tudo para ele precisava ser diferente. To diferente que, aos oito anos de ida-de, ganhou de presente de seu pai uma colmia. Enquanto as crianas corriam pelas ruas, Warwick Este-vam Kerr observava sua colmia e o vo das abelhas. Aos 12 anos, criou seu prprio estroboscpio instrumento que permite visualizar um objeto que est girando como se estivera parado.

    Desde ento comeou a ser traado o futuro do maior geneticista de abelhas do mundo e um dos prin-cipais responsveis pela evoluo da apicultura brasileira nos ltimos 50

    Eu tive que comear do zero sete

    vezes. Poderia ter perdido a esperana na primeira

    vez, mas no perdi. E, se for preciso comear de novo,

    por que no?

    div

    ulG

    a

    o

    anos, desde quando ele introduziu no Pas as abelhas africanas, dando origem aos hdridos das abelhas afri-canizadas.

    Minha me fazia manteiga e usava uma centrfuga para separar o leite e a gordura. Eu usei a centrfu-ga para ver o movimento da asa da abelha. E meu pai disse que eu havia redescoberto o estroboscpio, lem-bra Kerr, do alto de seus 84 anos em plena atividade cientfica na ps-graduao da Universidade Federal de Uberlndia.

    Tudo poderia ser diferente e hoje a histria da apicultura po-deria ser outra, se o apaixona-do pelas abe-lhas no tivesse acreditado em seus sonhos . isso aconteceu, por exemplo, no se-gundo ano de faculdade de agronomia, quando ele manifestou interesse pela gentica e pelas abelhas, surpreendendo o professor.

    nesse momento, poderia ter desistido, mas sempre vou atrs dos meus sonhos, afirma ele. Eu tive que comear do zero sete vezes. Poderia ter perdido a esperana na primeira vez, mas no perdi. E, se for preciso comear de novo, por que no?

    LUCROSoutro desconforto poderia t-lo

    estimulado a desistir da paixo pelas abelhas. Depois de ter introduzido em 1956 as abelhas africanas no Brasil, a pedido do governo federal, Kerr enfrentou o constrangimento de ser acusado como responsvel pelos

    incidentes provocados pelos exames importados que fugiram de um api-rio no interior de So Paulo.

    As pessoas me apontavam na rua. Escutei muitas coisas desagra-dveis. Uma vez o pai falou para seu filho que eu era o responsvel pela morte de um cavalinho da fazenda, porque trouxera a abelha que ferroa-va e matava, conta.

    Kerr acredita que as abelhas afri-canizadas representam sua contri-

    buio para o fortalecimento da apicultura e de seus

    benefcios. A apicul-

    t u r a t e m t r s lucros inevi t-veis. Primeiro, o lucro ecolgico porque as abe-lhas esto entre os insetos poli-nizadores mais impor t antes e

    muitas das plantas que cultivamos, princi-

    palmente as rvores frutferas, dependem dos insetos para sua po-

    linizao. o segundo o econmico porque a apicultura ainda a ativida-de mais lucrativa da agricultura. E o terceiro lucro o social. A apicultura envolve toda a famlia, desde o pai at os netos, explica o geneticista.

    Apesar de ter sido responsvel pela experincia que multiplicou a api-cultura brasileira, Kerr mantm-se fiel sua histria de buscar rumos diferen-tes. Ele defensor da valorizao da meliponicultura (criao de abelhas sem ferro), com o aproveitamento das abelhas nativas. Ele orienta apicul-tores que esto montando no Paran colmias com casas de calefao para criar abelhas nativas uruus e jandaras levadas do nordeste.

  • Sebrae Agronegcios

    A Apicultura rene o maior nmero de beneficirios das carteiras de projetos das Uni-dades de Agronegcios, indstria e comrcio e Servios do Sebrae. Ao todo, os 39 projetos, em 22 Unida-des Federativas, estruturados para atender 12.875 apicultores em 418 municpios brasileiros.

    no perodo de 2006 a 2008, esses projetos vo aumentar a produ-o anual de mel, passando de 7.482 para 11.697 toneladas, com aumen-

    to da produtividade por colmia/ano de 18,4 quilos para 28,7 quilos. os investimentos previstos envolvem R$ 55,5 milhes, sendo R$ 19,4 milhes oriundos do Sistema Sebrae.

    Veja quais so e onde esto os projetos apoiados pela instituio e parceiros, entre os quais esto 283 associaes e 42 cooperativas. So beneficirios desses projetos mais de 12 mil apicultores. A apicultura a carteira do Sebrae que tem o maior nmero de beneficirios, avaliam Alzi-

    ra Vieira e Reginaldo Resende, coor-denadores nacionais de Apicultura da Unidade de Agronegcios do Sebrae.

    Mais detalhes dos projetos po-dem ser consultados pelo endereo eletrnico www.sigeor.sebrae.com.br, que abriga os projetos includos na gesto Estratgica orientada para Resultados (geor), uma meto-dologia concebida pelo Sebrae para pactuar e medir com parceiros os efeitos socioeconmicas das aes conjuntas realizadas.

    i n v e s t i m e n t o s

    Colmia de projetosApicultura a carteira de projetos do Sebrae que rene o maior nmero de beneficirios, reforando a importncia da atividade como fator de incluso

    social e econmica no meio rural

  • Sebrae Agronegcios

    Ao se comemorar, no presente ano, os 50 anos da introduo das abelhas africanas no Bra-sil, ocorrida em 1956, constata-se que houve nesse perodo uma signi-ficativa mudana para melhor na situ-ao da apicultura brasileira. isso se constata tanto do ponto de vista do agronegcio, como do social e tec-nolgico, apesar do fato de recente-mente o Brasil ter sofrido um bloqueio temporrio de suas exportaes para a Europa devido falta de atuao do Ministrio da Agricultura quanto s normas exigidas pelo Mercado Euro-peu para a exportao de mel. Aguar-da-se uma soluo urgente por parte de nossas autoridades, pois, se esse impasse no for resolvido em breve, a nossa apicultura certamente entrar em uma sria crise, o que infelizmente ser um retrocesso.

    interessante lembrarmos que, desde sua criao, a apicultura brasileira j passou por vrias dificul-dades, caracterizadas por impactos negativos e positivos, que se inter-calaram ao longo dos anos. nesse

    sentido, podemos dividir a Histria da Apicultura Brasileira basica-mente em trs etapas distintas, a saber: a primeira etapa ou perodo de implantao da apicultura no Pas, que corresponde ao perodo entre 1839 a 1955 e que, portanto, antecede a chegada das abelhas africanas (Apis mellifera scutellata) ao Brasil em 1956; a segunda etapa ou perodo de africanizao dos apirios e das colnias na natu-reza, que se iniciou intensamente a partir dos primeiros enxames africa-nos ocorridos em 1956, continuando ao longo dos anos e ultimamente com menos intensidade at os dias atuais; e uma terceira fase muito marcante que foi o perodo de recuperao e expanso da apicultura bra-sileira, iniciado em 1970, quando ocorreu o Primeiro congresso Bra-sileiro de Apicultura, atingindo at os dias de hoje.

    A primeira fase correspondeu ao incio da explorao da apicultura brasileira pelos colonizadores euro-peus e foi alicerada em tecnologias

    importadas da Europa, em especial alem, destacando-se sua influn-cia principalmente no Sul do Brasil. Destacamos aqui o Municpio de Rio Pardo (RS), bero da apicultura brasileira e, por essa razo, consi-derado hoje como sede histrica da confederao Brasileira de Apicul-tura (cBA). nesse primeiro perodo, as atividades apcolas eram ainda de pouca expresso no cenrio agrcola nacional e as pessoas desenvolviam a apicultura mais como hobby ou como uma atividade secundria que, aos poucos, se expandiu para o Su-deste brasileiro e demais regies.

    A produo de mel do Brasil na ocasio, dcada de 50, oscilava ao redor de 5 mil toneladas/ano e era muito pequena comparada com a produo de pases vizinhos, a exemplo da Argentina (mais de 30 toneladas/ano), apesar de o nosso clima ser tropical e de possuirmos excelente flora, propcia explora-o da apicultura. Tal fato chamou a ateno de algumas autoridades bra-sileiras, tendo o eminente geneticista

    Prof. Dr. Lionel Segui Gonalvesda Faculdade de Filosofia, Cincias e Letras de Ribeiro Preto Universidade de So Paulo Departamento de Biologia Ribeiro Preto-SP-Brasil (e-mail: [email protected])

    O Brasil se tornar em breve um dos mais importantes fornecedores mundiais de produtos apcolas e, em especial, de mel orgnico

    Desenvolvimento e expanso da apicultura no Brasil com

    abelhas africanizadas

    a r t i g o

  • Sebrae Agronegcios

    A total falta de conhecimento da biologia e do comportamento das

    abelhas africanas foram as causas principais da maioria dos acidentes amplamente

    noticiados pela mdia.

    brasileiro, prof. Warwick E. Kerr, sido convidado para analisar o problema com o objetivo de se aumentar a pro-duo nacional de mel. Assim, aps uma reviso bibliogrfica na literatura acerca da pro-dutividade de vrias raas de abe-lhas, o Prof. Kerr dirigiu-se fri-ca em 1956 e, aps constatar a alta produtivida-de das abelhas africanas Apis mel l i fera scu-tellata, decidiu introduzi-las no Bra-sil, iniciando-se ento, em 1956, a segunda etapa da histria da apicultura brasileira (pe-rodo de africanizao). Devido liberao acidental, por um apicultor, das abelhas africanas que estavam em quarentena num apirio no Muni-cpio de Rio claro (SP), iniciou-se o cruzamento dessas abelhas africanas com as demais abelhas europias (ligustica, mellfera, etc.) que haviam sido introduzidas anteriormente no Brasil, formando-se um polibrido,

    com domnio das africanas. Essa se-gunda etapa ficou caracterizada prin-cipalmente pela srie de acidentes

    ocorridos devido elevada agres- sividade dessas abe-

    lhas. A total falta

    de conhecimen-to da biologia e do compor t a -mento das abe-lhas africanas, bem como a ine-xistncia de m-todos apropria-dos de manejo dessas abelhas,

    foi a causa principal da maioria dos acidentes

    amplamente noticiados pela mdia. Esses fatos causaram um

    impacto extremamente negativo na populao, surgindo ento o termo abelha assassina ou killer bee, criado pela mdia, com srios danos apicultura. Muitos apicultores aban-donaram suas atividades e a falta de conhecimento e manejo dessa abe-lha causou um verdadeiro caos na apicultura brasileira.

    A dependncia brasileira de ma-

    terial apcola importado na ocasio era absoluta, desde a importao de colmias a centrfugas e demais implementos apcolas. o associati-vismo era quase inexistente, tendo o perodo culminado com a criao da confederao Brasileira de Api-cultura que, em 1970, realizou o 1o. congresso Brasileiro de Apicultura em Florianpolis (Sc) para se discu-tir os srios problemas da apicultura nacional. A partir de 1970, iniciava-se a terceira etapa ou o perodo de recuperao e expanso da api-cultura brasileira , que se consti-tuiu no grande desafio para os pes-quisadores, tcnicos e apicultores brasileiros. nesse terceiro perodo, foi introduzida por ns a terminologia abelha africanizada para identi-ficar o polibrido resultante do cru-zamento das abelhas africanas com as europias e, principalmente, para substituir a imprpria denominao de killer bee, abelha assassina ou mesmo brazilian bees, terminologia j aplicada para as abelhas brasilei-ras sem ferro. nessa fase, uma srie de aes em universidades e alguns rgos governamentais, lideradas pelos pesquisadores, tcnicos e

    giLBERTo ALVES

  • Sebrae Agronegcios

    a r t i g o

    O Brasil apresenta vrias culturas de interesse econmico que se utilizam de polinizao por abelhas.

    Essa atividade precisa ser melhor valorizada no agronegcio brasileiro.

    apicultores proporcionaram grandes mudanas na apicultura brasileira, ou seja, a adaptao propriamente dita do apicultor s abelhas africanizadas, significativa produo de artigos cientficos acerca dessas abelhas, o desenvolvimento de novas metodolo-gias de manejo, autonomia da inds-tria de material apcola (centrfugas eletrnicas, desoperculadores, de-cantadores, homogeneizadores, de alta qualidade etc.). com a migrao das abelhas africanizadas em direo ao norte e nordeste do Pas, alguns estados nordestinos, a exemplo da Bahia, do Piau, do cear, de Per-nambuco, do Rio grande do norte, de Sergipe etc., passaram a se inte-ressar pela apicultura, ocorrendo um significativo aumento do nmero de apicultores e de colnias de abelhas africanizadas nessa regio.

    Queremos destacar aqui a marcante poltica de incentivo apcola do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Em-presas (Sebrae), pelos importan-tes programas de capacitao e apoio tecnolgi-co aos apiculto-res, em especial no nordeste. A rica flora natural, t-pica da regio nordestina, por ser pouco agricultvel e, portanto, isenta de agrotxicos e a presena das abelhas africanizadas resistentes a doenas de crias e ao caro Varroa destructor propiciam ao nordeste a produo do mel e, em especial, do mel orgnico, pro-duo que vem aumentando a cada ano, sendo que, apenas em 2004, o nordeste foi responsvel por apro-ximadamente 30% da exportao de mel produzido no Brasil. Por essa razo, o nordeste representa hoje um dos maiores potenciais apcolas do Pas. Segundo estimativas dos distintos estados brasileiros, a pro-duo mdia anual de mel no Brasil aumentou consideravelmente, tendo atingido 50 mil toneladas nos lti-mos anos, embora ainda no exista uma estatstica exata nem da produ-o, nem do nmero de apicultores e

    Caso no seja suspenso em

    curto prazo esse bloqueio comercial, grande o risco de um eminente caos apcola no Pas.

    de colmias no Pas.o Brasil apresenta vrias cultu-

    ras de interesse econmico que se utilizam de polinizao por abe-

    lhas. Essa atividade precisa ser melhor valorizada

    no agronegcio brasileiro.

    Devido ao embargo ocor-rido nas expor-taes chine-sas de mel ao redor de 2000, a partir de 2001 o Bras i l pas -sou a figurar no

    mercado apco la internacional como ex-

    portador de mel, assim como tambm de prpolis, sendo gran-

    de produtor de prpolis verde (de alecrim) a l t a m e n t e comerc ia l i -zvel devido s propriedades medicinais es-peciais. Devo, a inda, acres-c e n t a r q u e , alm dos fatos j comentados, o Brasil apresenta vrias culturas de interesse econ-mico que se utilizam de polinizao por abelhas, como as culturas de laranja, melo, ma, morango, be-rinjela, etc. Embora essa atividade apcola j venha sendo explorada h

    anos no Sul e Sudeste brasileiros e mais recentemente no nordeste (polinizao de melo etc.), ela vem crescendo razoavelmente no pas. Porm, precisa ser melhor valorizada no agronegcio brasileiro.

    Assim, em face do progresso ocorrido at agora na apicultura brasileira e aps termos conquistado o cobiado mercado apcola inter-nacional, chegando a exportar, em 2004, ao redor de 24 mil toneladas de mel, espera-se que o Brasil recu-pere esse importante filo do agro-negcio internacional, momentane-amente prejudicado pelo bloqueio europeu s exportaes brasileiras. Portanto, caso no seja suspenso em curto prazo esse bloqueio comer-cial, grande o risco de um eminente caos apcola no pas. Finalmente, em face do indubitvel crescimento da

    apicultura brasileira apresentada no relato acima, com mais

    apoio governamental e de entidades cor-relatas a exemplo do Sebrae etc., melhor organizao do as-sociativismo apcola e com boa dose de otimismo em relao continuidade das

    exportaes, possvel prever-se um futuro muito

    promissor da apicultura brasilei-ra, sendo nossa opinio que o Brasil se tornar em breve um dos mais importantes fornecedores mundiais de produtos apcolas e, em especial, de mel orgnico.

  • Sebrae Agronegcios

    Pesquisas arqueolgicas de-monstram que as abelhas j produziam e estocavam mel h 20 milhes de anos, antes do sur-gimento do ser humano na Terra. o homem das cavernas saa caa dos insetos, mas no sabia como separar os produtos do favo. o alimento era ingerido como uma mistura de mel, plen, crias e cera.

    os egpcios foram os primeiros a manejar as colmias, colocando as abelhas em potes de barro, 2.400 anos antes de cristo. Mas a palavra colmia teve origem na grcia, onde os gregos colocavam enxames em recipientes com forma de sino, feitos de uma palha tranada, chamada colmo.

    com o tempo, as abelhas passa-ram a assumir importncia cultural e religiosa, sendo consideradas sagra-das por muitas civilizaes.

    A explorao econmica do mel cresceu na idade Mdia, quando as abelhas chegaram a ser considera-das smbolos de poder para reis e pa-pas, aparecendo em brases, cetros, coroas, moedas e mantos reais. Em algumas regies da Europa, os enxa-

    H i s t r i a

    Das cavernas ao sculo 21Abelhas so mais antigas do que o homem das cavernas, que j consumia

    o produto como uma mistura de mel, plen e cera

    DOs hERis gREgOs AOs NDiOs BRAsilEiROs A mitologia grega conta que Zeus, o maior dos deuses, foi criado por

    ninfas, que o alimentaram com mel e leite de cabra. A Bblia faz inmeras referncias ao mel. no Antigo Testamento, h

    passagens onde a Terra Prometida descrita por Deus ao profeta Moiss como um lugar onde corriam leite e mel.

    A expresso lua-de-mel surgiu na Babilnia, h cerca de 4.000 anos, quando o pai da noiva oferecia ao genro uma bebida alcolica feita da fer-mentao do mel.

    o pai da medicina, o grego Hipcrates (460-370 a.c) usava o alimen-to em seus preparos para combater diversas doenas

    o mel universal por ser um alimento consumido pelo mundo todo o Brasil tem uma lenda indgena para explicar a origem do mel, onde o

    alimento era mantido pelo lobo-guar. os outros animais da floresta vence-ram o lobo para poder saborear o lquido.

    A doura do mel inspirou o brasileiro Jos de Alencar, que descreveu iracema como a virgem dos lbios de mel: o favo do jati no era doce como seu sorriso, escreveu o romancista.

    mes eram registrados em cartrio e deixados de herana.

    MEL NO BRASILAs abelhas nativas j habitavam

    o territrio brasileiro antes da che-gada dos colonizadores. Mas a api-cultura, como forma organizada de produo, comeou com os enxames

    trazidos pelos imigrantes. A atividade se expandiu a partir de 1956, com o cruzamento das espcies europias e africanas, que resultaram na raa africanizada.

    A diversificao da flora brasi-leira contribuiu para a expanso da atividade, que hoje est presente em todos os estados.

  • Sebrae Agronegcios

    o e n B a r g o d o m e l

    Exportao para a Europadeve ser retomada este ano

    Governo age para solucionar o impasse, mas Unio Europia reafirma que s suspende proibio ao mel brasileiro se houver controle de resduos

    Exportador analisa o embargo como

    retaliao comercial em razo do sucesso

    de produtos brasileiros base de mel nas

    gndolas europias

    o embargo da Unio Europia ao mel brasileiro dever ser suspenso at o segundo se-mestre. A previso dos tcnicos do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (Mapa), encarregados de negociar a reverso da medida. Mas as autoridades europias adian-tam que a proibio somente ser cancelada, se o governo brasileiro apresentar informaes satisfatrias que atestem o controle de resduos qumicos na produo nacional.

    nossa expectativa retomar as exportaes antes do fim do ano, afirma o coordenador de Resduos e contaminantes da Secretaria de De-fesa Agropecuria do Mapa, Adauto

    Lima Rodrigues. Esse assunto j est na esfera presidencial, com solicitao para resoluo ime-diata, disse, referindo-se ao fato de o presidente Luiz incio Lula da Silva ter acio-nado o ministro da Agricultura, Roberto Rodri-gues, para resol-ver o impasse.

    D u r a n t e reunio organi-zada em abri l , pelo ministrio com exportadores, para discutir o embargo,

    foi informado que o empresrio Peter Martin, da Associao internacional

    de Empacotadores de Mel, com sede no Reino Unido, con-

    sidera que a medida poder ser rapida-

    mente revista, se o Brasil remeter ao Laboratrio Applica gMBH, da A lemanha , igual nmero das 420 amost ras que sero colhi-das pelo Progra-ma nacional de

    controle de Resduos (PncR), do Ministrio.

    DiVULgAo AAPi

    Com o embargo, toneladas de mel esto encalhadas; alguns produtores acreditam em boicote ao produto brasileiro

  • Sebrae Agronegcios

    Suspenso da medida pode ser antecipada

    com a anlise conjunta no Brasil e na Alemanha

    de 420 amostras para monitoramento de resduos qumicos

    PLANO DE AOA ausncia de controle de res-

    duos no mel brasileiro foi a princi-pal justificativa para o embar-go. Para decret-lo, a Unio Europia se baseou em dois r e l a t r i o s d o Servio Alimen-tar e Veterinrio (FVo), elabora-dos em 2003 e em 2005 durante visitas realizadas para inspecionar os processos de produo e monito-ramento de produtos de origens animal e vegetal.

    Agora, o governo brasileiro en-caminha o plano de ao Direo de Sade e Proteo do consumidor da Unio Europia, na tentativa de reverter o embargo. Depois da aplica-o da medida, no dia 17 de maro, os tcnicos do ministrio levaram um ms at concluir o plano de ao que est sendo negociado com a UE.

    A proposta brasileira prev a coleta de amostras anuais para cada grupo de antibiticos e outras substncias qumicas que tiveram monitoramento recomendado pela Unio Europia. As anlises sero

    feitas em oito laboratrios, quatro da rede oficial e quatro privados.

    Alm disso, em fevereiro, um ms antes da decreta-

    o do embargo, o Mi-nistrio havia in-

    cludo o mel no PncR. Adauto Rodrigues diz que o contro-le adotado no Brasil segue os parmetros do Codex Alimen-tarius, um frum internacional de

    normalizao de ali-mentos, criado pela or-

    ganizao das naes Unidas (onU) e pela organizao Mundial

    da Sade (oMS). Segundo ele, ou-tros 90 pases que exportam para a Unio Europia tambm adotam as referncias do frum.

    RETALIAO COMERCIAL?As exportaes de mel para a

    Europa sero retomadas quando a produo brasileira se adequar aos padres europeus de controle de resduos, afirma o conselheiro para Assuntos comerciais da Delegao da Unio Europia no Brasil, Jorge Peydro Aznar.

    Estamos exigindo a apresen-tao e aprovao de um programa de ao e de todas as informaes necessrias, relativas aos controles no Brasil de resduos no mel, de acordo com a legislao europia, adianta Aznar, em resposta revista SEBRAE AGRONEGCIOS.

    Mas para o exportador Jos Alexandre Abreu, 42 anos, o mais in-trigante no embargo europeu ao mel brasileiro que os exportadores h muitos anos contratam laboratrios especializados para atestar a au-sncia de resduos e essas anlises sempre foram aceitas sem contes-tao. isso alimenta, segundo ele, a suspeita de que o embargo tem mais a ver com retaliao comercial do que com a sade dos consumidores europeus.

    nossos produtos finais base de mel comearam a incomodar por-que vm ganhando a preferncia nas gndolas europias, assinala Abreu, dono da nctar Farmacutica, um grupo de empresas de apicultura que exportam 60 produtos base de mel, como xampus, cosmticos e pasta de dente. Muitos deles sequer so encontrados nas prateleiras dos supermercados brasileiros. o que est por trs dessa retaliao no o alimento mais seguro, avalia.

    Uma nova ameaa aos produtos bra-sileiros pode vir do Japo, que est prestes a adotar uma nova legislao de controle sanitrio com a exigncia da anlise de 765 substncias encontradas em produtos de origem animal, vegetal e aditivos.

    De acordo com o coordenador do Pro-grama nacional de controle de Resduos do Ministrio da Agricultura, Adauto Rodrigues, no h nenhuma comunicao oficial de que a medida possa provocar embargo a alimen-tos oriundos do Brasil.

    A respeito disso, apenas ouvimos bo-atos, afirmou Rodrigues revista SEBRAE AGRONEGCIOS. Esperamos que, com

    a criao da cmara Setorial de Apicultura, o setor possa trabalhar melhor esse tipo de informao, evitando especulaes. A cmara ser instalada no dia 22 de maio, no XVi congresso Brasileiro de Apicultura, que ocorrer em Aracaju (SE).

    Segundo ele, o governo respondeu consulta feita pelo Japo aos parceiros co-merciais e informou que a maioria das subs-tncias sequer analisada pelos laboratrios brasileiros e considerou alguns ndices muito altos, superiores aos estabelecidos em pro-grama da organizao das naes Unidas para a Agricultura e Alimentao (FAo) e pela organizao Mundial da Sade (oMS).

    NOVO CONTROlEJapo vai exigir dos parceiros comerciais a anlise de 765 substncias

  • 0 Sebrae Agronegcios

    c r i s e

    Efeitos do bloqueio europeuDesemprego comea a surgir no Nordeste com as dificuldades de assegurar

    novos mercados externos e aumentar o consumo interno

    O brasileiro s lembra do mel quando est doente, por isso, estamos

    investindo ostensivamente em propaganda,

    Edson Skurczinski, gerente de exportadora

    O embargo europeu ao mel brasileiro comea a provocar desemprego no semi-rido nordestino e incertezas quanto ao destino da colheita. o mel que come-a a ser colhido nas colmias brasilei-ras ainda no tem destino certo. com o fechamento do principal mercado importador, o segmento precisa en-contrar consumidores para as 14 mil toneladas que antes tinham como destino a Unio Europia.

    o que vamos fazer com o mel que estamos colhendo?, questiona, preocupado, o presidente da con-federao Brasileira de Apicultura (cBA), Joail Humberto Abreu. A es-timativa da cBA de que o prejuzo a ser causado pelo bloqueio da Unio Europia chegue a US$ 30 milhes.

    Se no for suspensa rapidamen-te, a medida afetar boa parte das 350 mil pessoas envolvidas com a atividade no Brasil, como os apicul-tores de reas carentes do nordes-te. nesta dcada, eles ajudaram a transformar o Pas em exportador do produto, passando de 269toneladas em 2000 para 21 mil toneladas em 2004. no ano passado, j houve uma queda da exportao para 14,5 mil toneladas, prenunciando a crise e a necessidade de alternativas, como o aumento do consumo interno e novos mercados no exterior.

    ESTADOS UNIDOSUma das opes que restou

    para os exportadores foi direcionar a oferta para os Estados Unidos. Mas, segundo os representantes do seg-mento, os preos praticados no mer-cado norte-americano mal cobrem os custos de produo.

    o exportador Andr Bussab, diretor de uma trade em So Paulo (SP), afirma que os Estados Unidos esto pagando no mximo US$ 1.10 por tonelada de mel, o que con-siderado um valor baixo. Estamos prevendo uma perda de 70% no nos-so faturamento, com o bloqueio da Unio Europia, revela Bussab.

    o gerente-administrativo de outra empresa exportadora paulista, Edson Skurczinski, diz que o segmen-to j vinha sofrendo prejuzos antes mesmo do embargo europeu. A queda dos preos no mercado internacio-nal, com a desvalorizao do dlar, forou a empresa a interromper as ex-portaes de mel para a Alemanha e para os Estados Unidos no fim do ano passado.

    A deciso do grupo foi focar as vendas no merca-do interno, o que tambm no tarefa fcil. o brasileiro s lem-bra do mel quando est doente, por isso, estamos investindo ostensi-vamente em propaganda, comenta Skurczinski.

    EMPREGO E PREOS EM QUEDAA produo que estava voltada

    para o mercado europeu comea a ser estocada no nordeste, onde a safra est mais adiantada. o reflexo

    aparece nos ndices de desemprego. Segundo o diretor-geral da central de cooperativas Apcolas do Semi-rido Brasileiro (casa Apis), Antnio Dantas Filho, a maioria dos produ-

    tores est dispensando os traba-lhadores que cuidavam das

    colmias.na regio, onde

    atuam sete coope-rativas com 800 cooperados, a redu-o de mo-de-obra nas colmias chega a 75%, segundo levantamento da casa Apis. os agri-cultores familiares

    que tinham quatro aju-dantes esto ficando apenas

    com um, afirma Dantas Filho. o mercado reagiu previso

    de excesso de oferta reduzindo os preos pagos ao produtor. o quilo do mel, que saa das propriedades por R$ 3,00 no fim do ano passado, est sendo vendido por R$ 2,00 pelos produtores. Mas, no supermercado, o preo para o consumidor no mu-dou, reclama Dantas Filho.

    No Piau, a reduo da mo-de-obra empregada nas colmias j atinge 75% dos trabalhadores

    DiVULgAo AAPi

  • Sebrae Agronegcios

    P r - e m B a r g o

    Exportao em altaVendas externas ainda no refletem o embargo europeu ao mel brasileiro. No trimestre

    deste ano, houve uma forte reverso da curva descendente verificada em 2005

    At antes do embargo europeu ao mel brasileiro, que passou a vigorar a partir de 17 de maro, no primeiro trimestre de 2006, o valor das exportaes brasileiras de mel foi de US$ 6,01 milhes, represen-tando um aumento de 49,11%, em relao a igual perodo do ano anterior.

    Houve assim uma forte reverso da curva descendente registrada em 2005, quando ocorreu uma reduo de 55% no valor exportado em rela-o a 2004. Segundo a coordena-o da carteira de Apicultura do Se-brae, surpreendentemente, o preo mdio recebido pelos exportadores tambm cresceu de US$ 1,40 por quilo de mel para US$ 1,59, no pri-meiro trimestre deste ano, rompen-do o clico de preos decrescentes, que culminou com um preo mdio de US$ 1,31/kg no ano de 2005.

    Tudo indica que esse cenrio de expanso foi decorrente de contratos de exportaes firmados anterior-mente ao embargo. A perspectiva de uma drstica reduo das exporta-es brasileiras de mel nos prximos meses, face forte dependncia do mercado europeu e, em especial, da

    Alemanha, que no primeiro trimestre deste ano respondeu por 68% das importaes de mel do Brasil (US$ 4,01 milhes). isso representou mais da metade do valor total das impor-taes desse pas durante em 2005 (US$ 8,1milhes).

    neste 1 trimestre, o maior expor-tador foi So Paulo (US$ 1,9 milhes), seguido de Santa catarina (US$ 1,7

    milhes) e Rio grande do Sul (US$ 786,0 mil) e Paran (US$ 668,7 mil). os Estados que tiveram o maior cresci-mento no valor das exportaes foram: Paran (+387%), Rio grande do Sul (+170%) e Santa catarina (+126%), Dessa forma, Rio grande do Sul ficou posicionado como terceiro exportador no lugar do cear (US$ 563,7 mil), que teve um crescimento de 7%.

    os produtores brasilei-ros de mel vivenciaram uma entrada meterica no mer-cado exportador, h quatro anos, graas sanidade do produto nacional. A participa-o das vendas externas no chegava perto dos 5%. Pas-saram de 269 toneladas em 2000 para 21,2 mil toneladas em 2004.

    os novos tempos vieram quando as 103 mil toneladas de mel exportadas da china e as 88 mil da Argentina, principais fornecedores in-ternacionais, foram banidas da Europa pela constatao da presena de resduos de clorafenicol, um antibitico cancergeno.

  • Sebrae Agronegcios

    A apicultura sobe mais um de-grau de importncia na pro-duo rural brasileira, com a instalao da cmara Setorial da cadeia Produtiva do Mel e Produtos Apcolas, no dia 22 de maio, durante o XVi congresso de Apicultura, que acontece em Aracaju, Sergipe.

    inserida na estrutura do Minist-rio da Agricultura, Pecuria e Abas-tecimento, a cmara ser um instru-mento de interlocuo do governo com o segmento. Dela vo participar representantes do setor, processa-dores, distribuidores e exportadores de mel, alm de representantes dos Ministrios da Agricultura, do Desen-volvimento Agrrio, do Meio Ambien-te e do Desenvolvimento, indstria e comrcio Exterior.

    Essa a forma mais democr-tica de formar polticas pblicas,

    pois envolve representantes de todos os segmentos da sociedade, avalia o coordenador das cmaras Setoriais do Ministrio da Agricultu-ra, Duarte Vilela.

    A direo da cmara ser esco-lhida na primeira reunio ordinria, a ser marcada na data da instalao. Se a tradio for mantida, o cargo de presidente ser ocupado pelo Pre-sidente da confederao Brasileira de Apicultura (cBA). o Ministrio da Agricultura indica o secretrio-executivo.

    VALORIzAOA expectativa do setor produ-

    tivo que a cmara contribua para valorizar o mel dentro do Ministrio da Agricultura, com a criao de um departamento, onde o assunto seja tratado por tcnicos especializados.

    c o n q u i s t a

    Apicultura ganha Cmara setorialSurge um novo instrumento no Ministrio da Agricultura para debater os problemas

    especficos e definir polticas pblicas para o segmento

    O qUE UMA CMARA sETORiAl?Trata-se de rgo consultivo do governo Federal, encarregado

    de apresentar propostas de polticas pblicas para o setor que repre-senta. Atualmente, existem 26 cmaras setoriais instaladas no Ministrio da Agricultura. J funcionam, por exemplo, cmaras setoriais da soja e do gado bovino.

    Atualmente, a fiscalizao do mel est includa na diviso responsvel pelo leite dentro do Departamento de inspeo de Produtos de origem Animal (Dipoa).

    Antes de encerrar sua gesto, o presidente da cBA, Joail Rocha Abreu, fez uma previso dos pontos que sero tratados pela cmara. Uma das propostas criar uma regulamen-tao que padronize os materiais e equipamentos usados nas colmias.

    outra exigncia o aumento do rigor na fiscalizao do Ministrio da Agricultura, para garantir a qualidade do mel. Ainda existem produtores com procedimentos inadequados, que prejudicam o padro do produto na origem, reclama Abreu.

    H, ainda, propostas no sentido de a cmara estabelecer um progra-ma de conformidade para a certifica-o da produo do mel, de acordo com padres nacionais e internacio-nais de qualidade.

    A certificao um instrumento que, a um s tempo, assegura a quali-dade do produto e permite a abertura de novos mercados no exterior, por causa da preocupao quanto qualidade do processo produtivo. De preferncia, sem o uso de aditivos qumicos.

    Joail Rocha de Abreu presidente da CBA: expectativa de valorizao da

    Apicultura nas polticas pblicas

    DiVULgAo

  • Sebrae Agronegcios

    Em razo do embargo da Unio Europia ao mel brasileiro, vigorando a partir dia 17 de maro deste ano, a apicultura brasi-leira est diante de novos desafios para encontrar alternativas ao esco-amento da produo. isso exige um redirecionamento das estratgias de promoo e comercializao. As oportunidades precisam ser aprovei-tadas a partir de estratgias distintas, focadas e articuladas, alerta a geren-te da Unidade de Acesso a Mercados do Servio Brasileiro de Apoio s Mi-cro e Pequenas Empresas (Sebrae), Raissa Rossiter.

    no mercado internacional, as possibilidades consideradas pelo Sebrae levam em conta o resultado de um estudo realizado no fim de 2005 pela Agncia norte-Americana para o Desenvolvimento internacio-nal (Usaid). A entidade analisou uma dcada de evoluo da oferta e do consumo de mel e constatou que a demanda mundial do produto cresce 2,4% por ano.

    com base nos dados, o Sebrae concluiu que uma das sadas para o Brasil so os destinos alternativos, fora do eixo tradicional formado por Alemanha, Estados Unidos e Japo, que, juntos, absorvem 60% das im-portaes mundiais de mel.

    o trabalho aponta mercados com grande potencial de aumento no consumo, a exemplo da Arbia Saudita e do Reino Unido. A partir de agora, vamos investigar melhor esses mercados alternativos para a colocao do mel brasileiro, que considerado de boa qualidade pelos especialistas, enfatiza Raissa.

    no cenrio interno, as estrat-gias sero respaldadas pela An-lise do Mercado Apcola no Brasil, concluda no incio deste ano pelo Sebrae. os tcnicos da entidade acreditam que a oferta nas indstrias deve ser direcionada para os grandes compradores, enquanto no varejo as aes devem estar voltadas para o

    Mel o mel produzido a partir do nctar que as abelhas armazenam nos favos. composto de gua, glicose, sacarose e alguns minerais. como alimento, tem alto valor nutritivo e energtico. Tambm tem emprego medicinal em doenas respiratrias e como cicatrizante, laxante e digestivo.

    Nctar um lquido doce e rico em acar, colhido pelas abelhas para fazer o mel. Foi empregado pelos gregos para preparar a ambrosia, bebida feita a partir da mistura de vinho, gua e mel. Usado como medicamento e suplemento alimentar.

    Cera Para produzir meio quilo de cera, as abelhas precisam consumir entre trs e cinco quilos de mel. A cera usada em tratamentos cosmticos e na inds-tria, para polimentos e impermeabilizaes.

    Gelia real produzido, pelas abelhas para alimentao das crias e da rai-nha. contm hormnios, vitaminas, aminocidos, enzimas, lipdios e outras substn-cias que agem sobre o processo de regenerao celular. A gelia real oferecida como alimento para todas as larvas jovens da colmia, durante trs dias, e, para a rainha, durante toda sua vida. considerada a fonte da juventude.

    Prpolis o prpolis produzido a partir de resinas e blsamos coletados das plantas e modificado pelas abelhas operrias por meio de secrees prprias. usa-do para fins medicinais, como tratamento de doenas respiratrias e, ainda, para mau hlito, aftas e gengivites, bem como para fortificar o organismo. Tambm pode ser usado como cicatrizante em feridas, cortes, micoses, espinhas, verrugas e frieiras.

    Plen coletado pelas abelhas ao visitar as flores. Alguns gros so trazidos para o interior das colmias e depositados nos alvolos dos favos. Possui 22 ami-nocidos essenciais, alm de grande quantidade de protenas e minerais. usado como suplemento alimentar e como medicamento.

    Apitoxina conhecida como veneno da abelha, a apitoxina uma subs-tncia contida no ferro das abelhas que tem alto valor comercial no segmento de manipulao de medicamentos. uma substncia qumica complexa, formada por gua, aminocidos, acares, histamina e outros componentes.

    a l t e r n a t i v a s

    Os desafios da apiculturaDiante das portas fechadas pela Unio Europia, o segmento apcola brasileiro tenta abrir janelas em novos mercados internos e externos

    PRODUTOs qUE PODEM sER ExTRADOs DAs COlMiAs

    pblico de renda mais elevada, onde est o maior potencial de consumo do mel no Brasil.

    As estratgias levam em conta a necessidade de investimentos em marketing do mel, trabalhando desde a embalagem at a comunicao com

    os consumidores, para oferecer um produto diferenciado com maior valor agregado. chegou a hora de juntos partirmos para um novo patamar, de profissionalizao das empresas do segmento, com orientao para o mercado, prev Raissa.

    Demanda mundial de mel cresce ,% por ano

    DiVULgAo

  • Sebrae Agronegcios

    que quanto maior a classe social, mais freqente o consumo do pro-duto. A maioria dos consumidores pertence s classes A e B.

    o perfil dos consumidores revela, ainda, que a maior parte do consumo

    feita na forma de medicamentos. Quem usa o produto como remdio no considera a mercadoria cara, mas o mel visto como um alimento de alto custo pelos consumidores que ado-tam o produto na alimentao.

    P e s q u i s a

    O mercado do mel no BrasilEstudo elaborado pelo Sebrae aponta que o consumidor interno do produto

    exigente e tem alto poder aquisitivo, concentrando-se nas classes A e B

    o consumidor brasileiro de mel exigente e tem alto poder aquisitivo. A constatao est na Anlise de Mercado Setorial da Apicultura, que foi concluda em abril e feita pela Unidade de Acesso a Mercados do Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empre-sas (Sebrae). o estudo demonstra

    Pesquisa aponta as necessidades do consumidor

  • Sebrae Agronegcios

    Realizada a partir de estudos de-senvolvidos nas unidades regionais do Sebrae, a pesquisa vai permitir que o produtor trabalhe as caracte-rsticas do produto de acordo com as necessidades do consumidor.

    o apicultor precisa se adequar ao que o mercado quer, sabendo o que o consumidor avalia na hora de decidir se compra ou no o produto, destaca a consultora Patrcia Souza, da Unidade de Acesso a Mercados.

    CONSUMO BAIXO

    o estudo do Sebrae buscou res-postas para o baixo con-sumo de mel no Brasil. De fato, o brasileiro consome 60 gramas de mel por ano, enquanto que em al-guns pases da Europa, o consumo percapita anual fica em torno de 1 quilo.

    os consumidores entrevistados revelaram que os principais mo-tivos para a demanda reduzida so o preo alto do produto e a falta de hbito alimentar, alm de mitos, como a crena de que o mel aumenta as taxas de colesterol.

    De acordo com o

    levantamento, os fatores que influen-ciam a deciso de compra do consu-midor so a aparncia de pureza do produto, as garantias, a exemplo de selos e carimbos de inspeo, a for-ma de extrao, a origem, a marca ou embalagem e o preo de venda.

    ALTERNATIVASA partir da pesquisa, o Sebrae

    apresenta sugestes para melhoria na comercializao do mel. Entre as propostas esto: maior divulgao do produto, fiscalizao, melhoria da qualidade (boas prticas de fabrica-

    o), reduo do preo para feiras populares, registro do mel ofertado no mercado, maior confiana entre fornecedor e comprador, incentivo venda direta, melhoria das embala-gens, rtulos e distribuio.

    com as informaes obtidas, ser possvel elaborar estratgias de comercializao. A pesquisa confirmou a necessidade de maior divulgao do mel como alimento e a importncia de adotarmos estrat-gias diferenciadas, conforme cada mercado, acrescenta a consultora da Unidade de Acesso a Mercados.

    Para estimular o consu-mo de produtos apcolas, o Sebrae sugere a realizao de campanhas direcionadas e abertas, em mdia regional, a partir de plos de excelncia na produo de mel. Tambm prope campanhas dirigidas para veculos direcionados rea de sade, como revistas tcnicas. nos supermerca-dos, as aes devem incluir degustao dos alimentos.

    o estudo aponta, ainda, a necessidade de encontrar novos nichos de mercado, com possibilidades de renta-bilidade maior, como pblico infantil, atletas e executivos.

  • Sebrae Agronegcios

    c o m r c i o e s e r v i o s

    Novas estratgias para aumentar consumo

    Aes baseadas na Anlise Setorial da Apicultura prevem a oferta do mel em hotis e o aumento da participao dos produtos em feiras

    O nosso esforo

    preparar estratgias

    de comercializao para

    fracionamento deste mel, que

    ter maior valor agregado do

    que na venda a granel

    Vincius Lages, gerente da Unidade

    de comrcio e Servios

    do Sebrae

    Fracionamento do mel aumenta valor agregado

    os setores de comrcio e ser-vios esto no foco de um movimento articulado pelo Sebrae para aumentar o consumo de mel. Por meio de uma ao integra-da entre as unidades da instituio, os tcnicos esto buscando novas frentes para introduzir o produto em outros nichos de mercado.

    As estratgias sero orienta-das pela Anlise de Mercado Setorial de Produtos da Apicultura, um estudo desenvol-vido pelo Sebrae para identificar as preferncias dos consumidores e o potencial do mercado interno. o trabalho, que apresenta uma rad iog ra f i a da oferta, e da demanda e dos principais dificuldades da cadeia do mel, ser divulgado durante o XVi congresso Brasileiro de Apicultura, em Sergipe.

    CADEIAS PRODUTIVAS INTEGRADAS

    As aes devem integrar segmen-tos a exemplo de padarias, supermer-cados, bares, restaurantes, hotis e

    farmcias. o nosso esforo preparar estratgias de comercializao para

    fracionamento deste mel, que ter maior valor agrega-

    do do que na venda a granel, explica o gerente da Uni-dade de comr-cio e Servios do Sebrae, Vincius Lages.

    U m a d a s idias trabalhar, por exemplo, o setor hoteleiro, in-

    centivando o uso do mel nos diferentes servios

    oferecidos aos hspedes, desde sachs disponibilizados nos frigobares at souvenires, presenteados em emba-lagens diferenciadas para os turistas.

    os coordenadores nacionais da carteira de Projetos de Apicultura do Sebrae, Reginaldo de Rezende e Alzira Vieira, explicam que o objetivo promo-ver uma integrao entre cadeias pro-

    dutivas, reforando as afinidades que existem entre elas. H uma srie de ca-ractersticas que podem ser mutuamen-te exploradas no agronegcio apcola e nas cadeiras produtivas de: artesanato, bares, restaurantes, hotelarias, indstria de alimentos, de farmcos e cosmti-cos, comentam os consultores.

    EXPOSIO DO PRODUTOA participao dos apicultores

    em grandes feiras uma das aes previstas na articulao integrada. Em setembro, o Sebrae vai viabilizar a ida de um grupo de apicultores at So Paulo, para participarem do Va-rejo Total, a feira anual da Associao Brasileira de Supermercados (Abras). Ser um grande encontro entre for-necedores e compradores, por isso precisamos estar presentes, justifica Ricardo Villela, consultor da Unidade de Atendimento coletivo do Sebrae. neste ano, o evento vai integrar a ca-deia de distribuio e os prestadores de servio.

  • Sebrae Agronegcios

    Em Braslia, praticada a api-cultura familiar, com uma pro-duo mdia de 12 a 15 to-neladas de mel por ano. A produo ainda pequena, mas tem um grande diferencial: a qualidade, reconhecida inclusive no congresso nacional de Apicultura, que h dez anos intitula a cidade ora com o primeiro, ora com o segundo lugar do Pas em qualidade do mel.

    investindo sempre no potencial do mercado interno, aliada cria-tividade, os apicultores familiares encontraram uma alternativa de co-mercializao e de divulgao da im-portncia do consumo do mel como alimento saudvel, com um esquema de venda direta ao consumidor final.

    A Associao Apcola do Distrito Federal (APi/DF) trabalha para que essa venda direta acontea, promo-vendo, com apoio do Sebrae no Dis-trito Federal, feiras sistemticas, que so realizadas durante todo o ano em vrios locais, facilitando o acesso do consumidor.

    Em maio, so realizadas feiras no Jardim Botnico, no Parque da cidade e na Feira olhos dgua. o grupo, formado por 140 apicultores, participa tambm de grandes feiras, a exemplo da Feira da Embrapa, da Fia-flora Expogarden que foi realizada, no ms passado, em Braslia, com um evento paralelo de produtos orgni-cos e da Exposio Agropecuria, que acontece duas vezes por ano na granja do Torto. Eles, ainda, possuem um ponto permanente no Parque da cidade, no antigo pedalinho.

    DEGUSTAOAs feiras tm um formato atraente,

    com barracas padronizadas e artesa-natos de abelhas, que so um convite para os olhos. com degustao de produtos, so oferecidos para o p-

    Apicultores participam de feiras, como a Fiaflora Expogarden Braslia 2006

    Convite ao paladar sem atravessadores

    Qualidade, venda direta e menor preo so as estratgias de comercializao do mel produzido no Distrito Federal e Entorno.

    c a m i n H o

    blico vrios tipos de mel (de laranjei-ra, eucalipto e silvestre, entre outros) e seus derivados: plen, prpolis, ge-lia real, granola, po de mel, balas, vinho e vinagre de mel. um convite ao paladar.

    os visitantes so atendidos pe-los produtores rurais, que esclarecem acerca dos benefcios do consumo do mel. Divulgamos o mel como um alimento de excelncia que traz benefcios sade do consumidor. o sucesso depende disso, explica o presidente da Associao Apcola do DF, nilo Macedo.

    nos eventos, no existe concor-rncia entre os apicultores, ressalta ele. A concorrncia fica apenas na apresentao, j que a qualidade uma caracterstica comum a todos. A unio pelo menor preo, que oferecido bem abaixo do valor de mercado, sendo outra maneira de di-vulgao do produto brasiliense.

    os pequenos apicultores apos-tam no potencial do mercado local e tm a meta de aumentar a produo

    anual, em 30%, at o final de 2007. nossa estratgia crescer junto com a demanda, explica o coronel Macedo, em referncia ao potencial de crescimento do mercado interno.

    Para melhorar a qualidade tc-nica da produo de mel e atrair novos produtores para a atividade, aumentando a produo e a comer-cializao do produto, os apicultores associados APi/DF participam do Projeto de Apicultura integrada e Sustentvel (Apis), desenvolvido pelo Sebrae no Distrito Federal. A propos-ta trabalhar para fortalecer a cadeia produtiva da apicultura local, com a inteno de valorizar a agricultura familiar, tornando-a uma importante fonte de renda.

    Mais informaescall center Sebrae/DF:

    (61) 3362-1700www.df.sebrae.com.br

  • Sebrae Agronegcios

    Aps o embargo da Unio Eu-ropia importao do mel brasileiro em maro passado, o mercado interno tornou-se uma alternativa que merece a ateno dos apicultores, seja em associaes ou mesmo de forma isolada. Em nossa Senhora das Dores, a 83 quilmetros de Aracaju, Sergipe, os turistas que seguem em direo aos cnions do Rio So Francisco para apreciar a represa da hidreltrica de Xing tm um motivo especial para fazer uma parada no caminho. na beira da es-trada, no povoado de Sucupira, fica o Mimo do cu. uma loja, em formato de losango, que lembra uma clula do favo de mel. o pequeno comrcio oferece desde o produto in natura at derivados produzidos artesanal-mente.

    A loja pertence famlia do apicultor Autran Feitosa Rocha, que trabalha com a esposa, Marinalva Felipe Rocha, e os dois filhos. H dez anos, eles compraram uma pequena propriedade no municpio e decidiram se dedicar apicultura e ao comrcio.

    c r i a t i v i d a d e

    Apicultores montam loja na beira da estrada

    Apicultor cria loja de produtos apcolas, em formato do favo de mel, no interior de Sergipe e vira atrao turstica no caminho da represa de Xing

    Desde que construiu a loja Mimo do cu, Autran Feitosa vem recebendo apoio do Sebrae para participar de cursos, congressos e feiras. Em cada viagem, o apicultor absorve uma novidade que passa a ser incorporada ao negcio. A re-ceita da pinga de mel, por exemplo, que um dos maiores sucessos de venda da loja, foi trazida de Florian-polis (Sc).

    Eu no teria condies de andar sozinho. Mas, com a ajuda do Sebrae, j participei de mais de dez eventos em vrios estados. Alm de no gastar nada, eu ganho conheci-mento, vangloria-se Feitosa.

    De tanto observar as novida-

    des, Feitosa acabou descobrindo um talento para produzir invenes. Em 1998, o apicultor ficou em primeiro lugar em um concurso de inventos, realizado durante o Xii congresso Brasileiro de Apicultura em Salvador (BA). A vitria foi con-quistada com a padiola apcola, uma ferramenta artesanal desenvolvida para carregar as colmias.

    o prximo invento de Feitosa ser conhecido em maio, durante o XVi congresso Brasileiro de Apicultura em Sergipe. o apicultor inventou uma tampa para fechar as colmias durante o transporte, substituindo as telas por um mate-rial trs quilos mais leve. Para no

    INVENTOR APCOLAAutran j criou a padiola e vai apresentar a tampa para colmias

    Mimo do Cu: venda de produtos artesanais e demonstrao para turistas

    Autran e a esposa, Marinalva: Famlia trabalha unida

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    Toda a famlia est envolvida. cada detalhe revela o carinho dos quatro apicultores por seu ofcio, descreve a gestora do Projeto Apis em Sergipe, Marianita Souza.

    os produtos mais procurados na Mimo do cu so a pinga de mel, a

    bala de mel e o mel no favo, produzidos pela famlia de Feitosa. os turistas ainda podem acompanhar de perto a produo, nos apirios demonstrativos, onde possvel observar as abelhas em atividade. A loja tambm vende mudas de plantas melferas.

  • Sebrae Agronegcios

    INVENTOR APCOLAAutran j criou a padiola e vai apresentar a tampa para colmias

    No Estado de Sergipe, as ca-sas de mel so peculiares: ao invs de serem instaladas em construes de concreto, as unidades esto sendo montadas em contnei-res que estavam abandonados.

    os 70 contneires foram adquiri-dos na dcada de 80, pelo governo do Estado, para armazenamento de gros. Mas nunca foram usados com essa finalidade, pois estavam distribudos em regies que no tinham energia eltrica nem produo de cereais.

    o destino dos contineres mu-dou quando os consultores do Sebrae em Sergipe tiveram a idia de aprovei-tar as estruturas para processamento de mel e plen. A Secretaria de Agri-cultura do Estado doou para a Federa-o Apcola de Sergipe dez contine-res, que esto sendo transformados em casas de mel mveis.

    Atualmente, trs unidades j esto montadas. Uma delas funciona em gararu, no Semi-rido sergipano,

    a P r o v e i t a m e n t o

    Contineres viramcasas de mel em sE

    Estruturas abandonadas so recuperadas para garantir qualidade do produto

    Apicultores da Associao Bela Vista, em Gararu, no semi-rido sergipano.

    tirar o impacto do lanamento, Fei-tosa mantm a novidade sob sigilo. nem os meus colegas apicultores viram ainda. S vou mostrar em Sergipe, avisa Feitosa.

    onde atende os apicultores da Asso-ciao de Boa Vista. Duas so usadas para processamento de mel e uma para processamento de plen. A meta atingir 20 casas de Mel no Estado, para que os produtos cheguem aos entrepostos com o padro de qualida-de exigido pelo mercado.

    CASINHA DE PLENno incio deste ano, a chegada

    de um continer ao povoado Tigre, no municpio de Pacatuba, litoral norte do Estado, viabilizou a produo de plen na regio.

    A vegetao local, caracterizada pelas vastas plantaes de coqueirais, no resultava em boa produtividade para o mel, mas oferecia farta quantida-de de plen para as abelhas. Entretanto os apicultores precisavam se deslocar 40 quilmetros para processar o pro-duto, no municpio vizinho de Japoat.

    o continer, de 6 metros de comprimento, foi apelidado de casi-nha de plen pelos apicultores, pois dispe de todos os equipamentos necessrios para o processamento do produto, inclusive mquinas para embalar o plen, que sai pronto para a comercializao.

    A obteno de plen diferente do mel, pois exige a retirada diria de gros dos coletores instalados nas colmias. Por isso, a estrutura de processamento precisa estar prxima dos apicultores, observa Jos Soares de Arago Brito, consultor do Sebrae.

    PLEN E PALHAA produo de plen feita por

    14 apicultores, que pertencem As-sociao dos Artesos e Apicultores dos Povoados de Juna e Tigre. A ati-vidade exercida de forma integrada com o artesanato a base de taboa, uma palha que nasce perto dos co-queirais.

    As senhoras da comunidade se dedicam fabricao de esteiras, enquanto os filhos delas cuidam das colmias, explica a gestora do Proje-to Apis Plen-Propi, do Sebrae-SE, Marianita Mendona de Souza.

    Alm disso, a produo de p-len est contribuindo para aumentar a produtividade dos coqueirais, graas atuao das abelhas como polinizadoras. Segundo estatsticas do Sebrae/SE, a produo de coco aumenta at 18% com a presena dos enxames.

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  • 0 Sebrae Agronegcios

    A permisso do uso de aditivos qumicos nos produtos indus-trializados base de mel est provocando reduo no consumo da matria-prima natural. o alerta feito por representantes de entrepostos, que passaram a concorrer com os fornecedores de corantes, aromati-zantes, adoantes, e outros produtos qumicos.

    o diretor de uma empresa que produz e industrializa mel em Belo Horizonte (Mg), Jos Alexandre Abreu, afirma que o consumo de mel na indstria caiu pela metade a partir de 2000, quando o Ministrio da Agricultu-ra flexibilizou o uso de aditivos qumicos nos lcteos.

    Existe um em-bargo interno ao mel brasileiro, praticado pela indstria nacio-nal, muito mais grave que o embargo externo, revolta-se Abreu.

    ADITIVOS PARA TODOSo tcnico Moacir carvalho,

    da Diviso de inspeo de Leite do Departamento de inspeo de Pro-dutos de origem Animal (DiPoA), do Ministrio da Agricultura, Pecu-ria e Abastecimento, afirma que o emprego de aditivos cresceu em todos os segmentos da indstria de alimentao.

    ns no podemos deter o uso de aditivos porque existe uma inds-tria organizada e tecnicamente habi-litada para fabricar esses produtos, justifica carvalho.

    o uso de substncias qumicas que imitam o sabor, a cor e o aroma do mel tambm permitido por nor-

    d i v e r g n c i a s

    indstria prefere o sabor artificial

    A desequilibrada disputa do mel com os aditivos qumicos

    O QUE CONSTA DA LEI

    Ministrio da Agricultura (DIPOA) Resoluo n 5, de 13 de novembro de 2000

    Estabelece padres de identidade e qualidade de leites fermentados e estipula os limites de quantidade para aditivos.

    Ministrio da Sade (ANVISA) Resoluo n 4, de 24 de novembro de 1998

    Resoluo n 27, de 28 de maro de 2000 Resoluo n 1, de 8 de janeiro de 2002

    Estabelecem as funes e os empregos de aditivos em alimentos e estipula limites de quantidade.

    Empresas de mel queriam mudar legislao de aditivos

    mas da Agncia nacional de Vigi-lncia Sanitria (Anvisa), do Mi-nistrio da Sade. Atualmente, es-to em vigor trs reso lues do rgo que regula-mentam o uso de aditivos na indstria de alimentao.

    os aspectos referentes ao mercado no so considerados na

    elaborao das regras. os aditi-vos so avaliados do ponto

    de vista toxicolgico, de sade pblica. ns levamos em conta a segurana para a sade do consumi-dor, explica o ge-rente de Aes de cincia e Tecno-logia de Alimentos da Anvisa, Lucas

    Medeiros Dantas.Em comum, os es-

    pecialistas do Ministrio da Agricultura e da Anvisa consideram

    que o consumidor no lesado pelo uso de aditivos, j que os rtulos dos

    produtos devem informar acerca da presena das substncias.

    EMBARGO EVIDENCIA PROBLEMA

    Embora tenha se agravado nos ltimos cinco anos, a queda no con-sumo de mel pela indstria se tornou mais evidente com o embargo da Unio Europia. At ento, o produto desprezado no mercado interno era direcionado para as exportaes.

    Pressionados pela queda na de-manda, os empresrios do segmento esto se preparando para criar a Asso-ciao nacional dos Entrepostos Ap-colas, ainda no primeiro semestre des-te ano. Uma das misses da entidade ser negociar a mudana da legislao a respeito de aditivos nos alimentos que usam mel como ingrediente.

    AcH/giLMAR AcH (MinAMEL/Sc)

  • Sebrae Agronegcios

    No Planalto central vai jorrar leite e mel. co-mea a virar realidade a profecia feita pelo sacer-dote italiano Joo Belchior Bosco, o santo Dom Bosco (1815-1934). Pelo menos os apicultores do Distrito Fede-ral e Entorno esto fazendo sua parte com o apoio do go-verno local e do Sebrae. At 2007, o segmento tem como meta aumentar a produo anual de mel em 30%. Para isso contam com um importante auxlio carinhosamente batizado de Palcio do Mel.

    H dois anos, esses apicultores receberam do governo do Distrito Federal a primeira unidade coletiva de processamento e qualificao do mel produzido na regio, onde o trabalho conjunto esta sendo, mais uma vez, o pilar do desenvolvimento da atividade. Alis, o associativismo uma das principais caractersticas desses pro