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1 RETRATOS DE BENFEITORES DO ASILO DE ORFÃS SÃO BENEDITO EM PELOTAS - RS (1901 1951): REFLEXÕES SOBRE A IMAGEM E HISTÓRIA Josué Eicholz Mestrando em História PPGH UFPel E-mail: [email protected] RESUMO: O presente trabalho aborda aspectos relacionados a retratos encomendados em homenagem a alguns associados benfeitores da instituição Asilo de Órfãs São Benedito, localizado na cidade de Pelotas. O recorte temporal para este trabalho contempla a primeira metade do século XX, ressaltando as características imagéticas de tais pinturas e suas possíveis motivações. Ainda, pretende-se identificar quem eram estes personagens e como atuavam na trama social da cidade e se eram pertencentes a algum grupo considerado como elite local ou regional. PALAVRAS - CHAVES: Pelotas; caridade; elite; retratos. Este trabalho propõe-se a analisar alguns aspectos relacionados a retratos de benfeitores do Asilo de Órfãs São Benedito, localizado na cidade de Pelotas, para que tal escopo possa ser atingido, optou-se por analisar alguns retratos de indivíduos que foram homenageados pela instituição, estes retratos adornam as paredes do salão de honra do atual Instituto São Benedito. A partir de tais imagens, buscará se traçar o perfil dos sujeitos que nas pinturas são retratados, além de saber quem eram e como atuavam no cenário social pelotense das primeiras décadas do século XX. O presente trabalho será dividido em três capítulos, sendo que no primeiro o objetivo é dissertar sobre a cidade de Pelotas no contexto do Pós-Abolição, tendo em vista o recorte temporal (as primeiras décadas do século XX, observando que a instituição analisada é fundada em 1901) e o recorte espacial (Asilo de Órfãs São Benedito, localizado em Pelotas), atentando para as desigualdades sociais e econômicas entre a população branca e negra. No segundo capítulo o escopo é abordar a instituição Asilo São Benedito, contemplando sua trajetória, seus idealizadores, seus objetivos. Por último, o objetivo é deter-se na análise imagética dos retratos de alguns sócios benfeitores, pois conforme Meneses: “Vivemos a imagem em nosso cotidiano, em várias dimensões, usos e funções” (MENESES, 2003, p.29). Num segundo momento irá se discutir acerca de quem eram esses sócios que foram homenageados com um retrato,

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RETRATOS DE BENFEITORES DO ASILO DE ORFÃS SÃO BENEDITO EM

PELOTAS - RS (1901 – 1951): REFLEXÕES SOBRE A IMAGEM E HISTÓRIA

Josué Eicholz

Mestrando em História – PPGH – UFPel

E-mail: [email protected]

RESUMO: O presente trabalho aborda aspectos relacionados a retratos encomendados em homenagem a

alguns associados benfeitores da instituição Asilo de Órfãs São Benedito, localizado na cidade de Pelotas.

O recorte temporal para este trabalho contempla a primeira metade do século XX, ressaltando as

características imagéticas de tais pinturas e suas possíveis motivações. Ainda, pretende-se identificar

quem eram estes personagens e como atuavam na trama social da cidade e se eram pertencentes a algum

grupo considerado como elite local ou regional.

PALAVRAS - CHAVES: Pelotas; caridade; elite; retratos.

Este trabalho propõe-se a analisar alguns aspectos relacionados a retratos de

benfeitores do Asilo de Órfãs São Benedito, localizado na cidade de Pelotas, para que

tal escopo possa ser atingido, optou-se por analisar alguns retratos de indivíduos que

foram homenageados pela instituição, estes retratos adornam as paredes do salão de

honra do atual Instituto São Benedito. A partir de tais imagens, buscará se traçar o perfil

dos sujeitos que nas pinturas são retratados, além de saber quem eram e como atuavam

no cenário social pelotense das primeiras décadas do século XX.

O presente trabalho será dividido em três capítulos, sendo que no primeiro o

objetivo é dissertar sobre a cidade de Pelotas no contexto do Pós-Abolição, tendo em

vista o recorte temporal (as primeiras décadas do século XX, observando que a

instituição analisada é fundada em 1901) e o recorte espacial (Asilo de Órfãs São

Benedito, localizado em Pelotas), atentando para as desigualdades sociais e econômicas

entre a população branca e negra. No segundo capítulo o escopo é abordar a instituição

Asilo São Benedito, contemplando sua trajetória, seus idealizadores, seus objetivos. Por

último, o objetivo é deter-se na análise imagética dos retratos de alguns sócios

benfeitores, pois conforme Meneses: “Vivemos a imagem em nosso cotidiano, em

várias dimensões, usos e funções” (MENESES, 2003, p.29). Num segundo momento irá

se discutir acerca de quem eram esses sócios que foram homenageados com um retrato,

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tornando-se assim “imortais” no salão de honra do estabelecimento sob a forma de uma

imagem e porque estes foram agraciados com tal honraria.

A CIDADE DE PELOTAS NO CONTEXTO PÓS-ABOLIÇÃO

Falar sobre a cidade de Pelotas ao final do século XIX e durante as primeiras

décadas do século XX é essencial para compreender em qual situação econômica e

social se encontravam as pessoas negras residentes na cidade, além do mais é

importante para situar o leitor no que tange a necessidade de criação de um local que

abrigasse meninas órfãs.

A Pelotas da segunda metade do século XIX é conhecida e reconhecida pela

produção do charque, pelas charqueadas, pela pecuária e pela riqueza advinda dessas

atividades. O que não se pode é ocultar ou amenizar o fato de que esta riqueza conferida

aos grandes charqueadores foi a custas de muito suor e muito sofrimento dos escravos

negros, então, pode se afirmar que Pelotas fez sua fortuna através da mão de obra

escrava. Ou seja, nas terras da “Princesa do Sul” muito sangue dos cativos negros foi

derramado para que alguns membros da sociedade entrassem na elite local e regional e

ganhassem status e títulos de nobres como “barão”.

A respeito do nocivo trabalho empregado nas charqueadas em Pelotas, Gutierrez

comenta:

A população servil, junto com os seus senhores, habitava os terrenos

ribeirinhos e circulava pelo arroio Pelotas, pelo canal São Gonçalo e pela

laguna dos Patos, transportando a carne salgada. O espaço da produção

charqueadora pelotense foi um dos locais de consolidação do sistema

escravista do Rio Grande do Sul, ao mesmo tempo em que foi um lugar onde

se verificou a exploração violenta do trabalho cativo. O espaço fabril foi

descrito como um ambiente mórbido, insalubre, que chegava a alcançar o

macabro. Os vapores emanados das águas e detritos parados dissipavam

pelos ares os cheiros nauseabundos dos sangues putrefatos, dos excrementos

apodrecidos, das vísceras decompostas pelo forte calor do sol, nos dias de

safra. E as nuvens de fumaças, que saíam das fornalhas, exalavam o cheiro

das gorduras fervidas e dos ossos carbonizados. Os urros dos animais

abatidos e esfolados vivos e o som do ritmo do trabalho imposto pelos

feitores nos escravos terminavam por compor o tétrico meio ambiente da

produção charqueadora pelotense. (2001, p.222).

Nas instituições de caridade e filantropia de Pelotas, desde meados do século

XIX a elite do charque também era ativa. Havia certa hierarquia entre os associados, e

ter um retrato seu exposto no salão de honra dos estabelecimentos de caridade era um

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privilégio para poucos, pois estava condicionado a grandes atos generosos do indivíduo

para com as instituições. Ao falar da elite charqueadora de Pelotas, Jonas Vargas

contribui com as seguintes palavras: “E aqui está um traço marcante entre as elites da

época. Elas possuíam a capacidade de reconhecerem suas equivalentes em outras

sociedades, compreenderem os signos de distinção e as hierarquias de poder que as

cercavam”. (VARGAS, 2013, p.420).

A questão dos retratos a óleo começou a ser difundida em Pelotas nas últimas

décadas do século XIX, o hábito de contratar pintores europeus para retratar parentes e a

si mesmo se tornou recorrente entre os membros da elite pelotense e alguns desses

pintores ganharam fama na “Princesa do Sul” e também na vizinha cidade do Rio

Grande. Sobre a prática do retrato, verifica-se o seguinte anúncio num periódico local:

“O retrato é hoje uma necessidade por todos reconhecida. O filho não pode negar-se a

fazer retratar os seus pais, porque nada pode trazer-lhe a memória uma recordação mais

agradável do que a imagem daqueles a quem deve amor e gratidão”. (JORNAL DO

COMÉRCIO, 14/01/1875 apud VARGAS, 2013, p.430-431).

Vargas, ao analisar os charqueadores mais ricos de Pelotas, constatou que

algumas famílias como os Antunes Maciel, os Moreira, os Tavares, os Cunha e os

Simões Lopes atuavam também na promoção das artes e da educação em Pelotas.

Veremos no último capítulo desse trabalho, que Augusto Simões Lopes, filho do

Visconde da Graça, continuou com essa tradição da família, atuando na promoção da

educação e da caridade em Pelotas. Sobre essa prática dos charqueadores do século

XIX, Vargas disserta o seguinte:

Portanto, ocupando posições distintas nos espaços filantrópicos,

educacionais, artísticos e [...] políticos, esta elite da elite reforçava a sua

dominação social sobre os demais legitimando-se, por meio de uma relação

extremamente complexa, como os mais aptos a governarem a sua sociedade e

a representá-la em outros espaços de poder. (2013, p.435).

A Pelotas da segunda metade do século XIX era uma cidade de contrastes1 e

após a abolição da escravatura estes contrastes persistem, apesar do término da

1 Sobre o contraste que existia em Pelotas na década pré-abolição da escravatura, entre a elite do

charque e os escravos, ver Gutierrez (2010).

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escravidão no país. Para este trabalho optou-se por trabalhar com o período do pós-

abolição, sobre o qual, as contribuições de Loner são importantes:

A população afrodescendente de Pelotas foi trazida à região para trabalhar,

sob o regime da escravidão. Posteriormente à Abolição eles se radicaram

aqui, trabalhando em todo o tipo de serviço [...]. Em 1890, formavam cerca

de um terço da população urbana de Pelotas e sua grande concentração na

cidade tornou-os um dos principais grupos de trabalhadores do município.

Durante a maior parte do século XX, os negros sofreram muito com a

segregação e o preconceito racial, que terminaram condicionando suas

chances de ascensão social e de busca de emprego na cidade. (LONER, 2010,

p.182).

Outra observação necessária, diz respeito às diferenças de oportunidades de

acesso ao trabalho na cidade de Pelotas entre os afrodescendentes e os imigrantes que

aqui decidiam fixar residência, sobre essa questão, Beatriz Loner escreve:

Era muito mais fácil, naquele momento de um capitalismo ainda incipiente,

um artesão branco ascender socialmente do que um negro. Um branco, se

imigrante, poderia ser beneficiado pela proteção de seus patrícios, com sorte

poderia fazer um bom casamento, ou poderia associar-se a outro com

dinheiro e abrir seu próprio negócio. A maior parte destas opções estava

vedada aos negros, independente de sua cultura ou inteligência (LONER,

1999, p. 240).

A cidade de Pelotas no final do século XIX e início do XX passava por vários

problemas de urbanização, emprego, inclusão social, moradia, saúde, educação, entre

outros, sendo a comunidade negra a mais atingida. O resultado era o aumento de

crianças negras abandonadas ou em situação de vulnerabilidade social. Quando, em

1901 surge em Pelotas uma instituição com a finalidade de abrigar e proteger a infância

desvalida, aceitando meninas negras.

HISTÓRICO DO ASILO DE ÓRFÃS SÃO BENEDITO

“A Caridade, rainha das virtudes, é sempre bela e comovedora:

mas reveste-se de particular encanto quando a contemplamos

ao lado de orfanzinhas, enxugando lhes as lágrimas, e ainda

mais, quando estas criancinhas pertencem à última camada

social” D. João Francisco Braga – Bispo do Paraná.

Antes de dissertar sobre o Asilo de Órfãs São Benedito, é importante situar o

leitor acerca da situação em que se encontrava a infância desvalida em Pelotas, sobre

essa questão Caldeira contribui dizendo o seguinte: “A primeira alternativa criada em

Pelotas para acolhimento da infância desvalida foi a implementação da Roda de

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Expostos no dia 1º de julho de 1849, na Santa Casa Misericórdia que amparava crianças

recém-nascidas”. (CALDEIRA, 2014, p.96). E seis anos após a criação da roda de

expostos é inaugurado o Asilo de Órfãs Nossa Senhora da Conceição.

No ano de 1901, é criado em Pelotas, o Asilo de Órfãs São Benedito, tendo

como escopo “amparar da miséria as meninas desvalidas deste Estado, sem distinção de

cor, órfãs ou não” (ESTATUTOS, 1902, p.1), além de dar “ás asiladas instrução e

educação, primária, moral e religiosa, cuidando, principalmente, de torná-las aptas nos

misteres próprios de boa mãe de família” (ESTATUTOS, 1902, p.2). Nos anais do

cinquentenário do Asilo de Órfãs São Benedito (1901-1951) encontra-se a referencia a

Luciana Lealdina de Araújo, como sendo a principal idealizadora do referido Asilo em

Pelotas, ressalta-se que Luciana era negra, e por ser negra e mulher no começo do

século XX, provavelmente vivenciou inúmeros preconceitos, porém isto não a impediu

de realizar uma obra de caridade, que conforme consta nos anais do cinquentenário foi

uma consagração a Deus, pois anteriormente a mesma estava gravemente doente, abaixo

a transcrição de uma parte dos anais do cinquentenário:

A formação desta obra de assistência social é muito expressiva. A mãe preta

– Luciana Lealdina de Araújo – gravemente enferma, suplicou, e Deus

concedeu-lhe a graça de viver, por mais alguns anos, para consagrá-los, como

fez à criação de um estabelecimento, onde fossem recolhidas órfãs e meninas

desvalidas, sem distinção de cor. Iniciou a sua cruzada, em Pelotas, com a

fundação deste Asilo [...] De imediato, Pelotas, confirmando a tradição de

filantropia de seus habitantes acolheu carinhosamente, a iniciativa da preta

Luciana. Em memorável reunião pública, a 6 de fevereiro de 1901, dava-se a

fundação do Asilo, e a 13 de maio do referido ano, a sua instalação, por entre

aplausos do povo pelotense. (ANAIS DO CINQUENTENÁRIO 1901-1951:

ASILO DE ÓRFÃS SÃO BENEDITO, p.05).

Jeane Caldeira, que em sua dissertação pesquisou sobre o Asilo São Benedito,

nos fornece mais informações sobre Luciana de Araújo:

A iniciativa de fundar um asilo para meninas sem distinção de cor partiu de

Luciana Lealdina de Araújo. “Mãe Preta”, como era conhecida

carinhosamente, filha de escrava, nasceu em Porto Alegre no dia 13 de junho

de 1870 e mudou-se para Pelotas no ano de 1900. Era uma mulher dotada de

bondade e extrema determinação, com vontade de praticar o bem e fazer

caridade junto aos mais necessitados, principalmente às crianças

abandonadas [...] vítima da tuberculose quando jovem, Luciana ficou muito

doente e foi desenganada pelos médicos. Pela gravidade da situação em que

se encontrava, ela fez uma promessa ao santo de devoção, o São Benedito:

caso ficasse curada ajudaria a construir uma casa para abrigar meninas

pobres. (2014, p.113-114).

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A instituição Asilo de Órfãs São Benedito, possuía quatro modalidades de

sócios: contribuintes, protetores, benfeitores e beneméritos. Essas modalidades

possuíam como fronteiras a questão financeira, ou seja, conforme o valor da doação o

sócio se enquadrava em uma das modalidades.

O Asilo teve sua primeira sede no endereço nº 7 da antiga Praça da Matriz, atual

José Bonifácio, após passou a ocupar o prédio localizado na Praça Júlio de Castilhos,

esquina da antiga Rua General Vitorino, hoje Padre Anchieta, após sua sede social foi

transferida para o prédio da esquina, à Rua Felix da Cunha com a Praça José Bonifácio,

local em que a instituição encontra-se até hoje, sob a denominação de Instituto São

Benedito.

Inicialmente, a responsabilidade pelo cuidar das crianças estava a cargo de

Luciana Lealdina de Araújo e de suas amigas, como Maria Bárbara de Cerqueira. No

ano de 1912 as irmãs do Imaculado Coração de Maria assumem a direção interna do

Asilo, conforme a notícia contida na Revista Pelotas Memória:

A diretoria deliberou entregar a direção interna os encargos dos serviços

assistenciais da Obra a Congregação de Puríssimo, hoje Imaculado Coração

de Maria, atendendo ao pedido de exoneração da Sra. Arminda Machado de

Oliveira por motivos de enfermidade. A posse das Irmãs deu-se no dia 25 de

setembro de 1912. (MAGALHÃES, 1997, p.03).

Ao longo dos 50 anos iniciais de atividade do Asilo de Órfãs São Benedito, 10

presidentes estiveram à frente da instituição, dois deles possuem retratos no salão de

honra (José Veríssimo Alves e Firmo da Silva Braga). Abaixo, tabela com a relação dos

Presidentes do Asilo São Benedito e o respectivo período em que estiveram à frente da

diretoria.

Tabela 1: Relação dos primeiros presidentes do Asilo de Órfãs São Benedito.

Presidente Período

José da Silva Santos 1901-1903

Carlos Antônio Palma 1904-1910

José Maria de Carvalho e Silva 1911

José Veríssimo Alves 1912-1913

Firmo da Silva Braga 1914

Francisco Carlos de Araújo Brusque 1915-1916

Luiz Mello Guimarães 1917-1921

Francisco Behrensdorf 1922-1934

Antônio Jesuíno dos Santos Júnior 1934-1942

Domingos de Souza Moreira 1942-1952

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Tabela com a relação dos primeiros 10 presidentes do Asilo de órfãs São Benedito (1901-1952). Fonte:

MAGALHÃES, Nelson Nobre. Pelotas Memória, 1997.

Pertencer a um quadro diretivo, ser considerado “benfeitor” e “benemérito” de

uma instituição de caridade e filantropia ressaltava as características de bom cidadão e

igualmente preocupado com as demandas sociais da cidade, nesse sentido a detenção de

cargos diretivos expandia a rede de contatos em âmbito local e em muitas vezes até

regional, consequentemente aumentando o status social desses indivíduos. Nas

primeiras décadas do século XX, muitos imigrantes já haviam se estabelecido em

Pelotas e alguns desses haviam prosperado economicamente, e alguns, em menor

número vinham com algumas condições financeiras favoráveis do Velho Mundo. Aos

poucos se tornava mais frequente vermos nos cargos diretivos ou nos colaborativos

sobrenomes de origem francesa, alemã, etc. Essas famílias aos poucos foram adentrando

na elite, ou melhor, configurando uma nova elite, uma elite cujos proveitos já não eram

mais oriundos do charque, mas sim da indústria, do comércio, da construção civil e de

outras atividades econômicas.

Segundo Caldeira (2014), nos primeiros anos, a diretoria do asilo era formada

por homens negros. Já a partir de 1914, os nomes de indivíduos brancos se mesclam aos

negros. E aos poucos os negros vão se distanciando dos cargos diretivos, sendo formada

uma diretoria predominantemente branca.

E assim, nas primeiras décadas do século XX, surge e se consolida na cidade de

Pelotas uma instituição com o fim de amparar a infância desvalida, de abrigar meninas

órfãs, sem distinção de cor. E aos poucos o asilo vai se inserindo no círculo da caridade

pelotense, sendo alvo de práticas caritativas por parte da sociedade, incluindo a elite

local.

O SALÃO DE HONRA DO ASILO DE ÓRFÃS SÃO BENEDITO: OS USOS E

POSSIBILIDADES DOS RETRATOS PARA A PESQUISA HISTÓRICA

Ao falar das imagens da História, Paulo Knauss (2006) faz colocações

importantes quanto aos usos e a importância das imagens ao longo da história humana,

ainda ressalta, que por vezes, nem o próprio historiador as valoriza como fonte de

pesquisa:

As imagens pertencem ao universo dos vestígios mais antigos da vida

humana que chegaram até nossos dias. O mundo da Pré-História é conhecido

pelas inscrições rupestres; o mundo da Antiguidade, pelas suas imagens

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inscritas em paredes ou em diferentes suportes como os vasos [...] para nos

restringimos às menções recorrentes do senso comum. Isso significa dizer

que, diante dos usos públicos da História, a imagem é um componente de

grande destaque, mesmo que nem sempre seja valorizada como fonte de

pesquisa pelos próprios profissionais da História. ( 2006, p.98).

Já o trabalho de Ulpiano Meneses (2003), intitulado: “Fontes visuais, cultura

visual, História visual. Balanço provisório, propostas cautelares”, trás importantes

considerações sobre História visual. Ao criticar o uso incorreto de um objeto de

conhecimento histórico a partir de um fato documental, mencionando como exemplo a

história oral, o autor faz as seguintes considerações: “Não se estudam fontes para

melhor conhece-las, identifica-las, analisá-las, interpretá-las e compreendê-las, mas elas

são identificadas, analisadas, interpretadas e compreendidas para que, daí, se consiga

um entendimento maior da sociedade, na sua transformação” (MENESES, 2003, p.26).

No decorrer deste capítulo, fontes escritas, como por exemplo, os anais do

cinquentenário do Asilo de Órfãs São Benedito se mesclam e se somam a outras fontes,

tais como as visuais (retratos). Esse somatório de fontes é que enriquece e possibilita a

resolução de questionamentos propostos pelo pesquisador. Sobre a importância do uso

de todo tipo de fonte, Meneses disserta o seguinte: “Para que a observação seja eficaz, é

indispensável usar-se todo e qualquer tipo de fonte (fontes materiais, escritas, orais,

hábitos corporais, etc., etc.).” (MENESES, 2003, p.26). Também, segundo o autor,

utilizar somente fontes visuais na pesquisa pode ocasionar numa “História

iconográfica”, de fôlego curto e de interesse, sobretudo documental.

Não são, pois documentos os objetos da pesquisa, mas instrumentos dela: o

objeto é sempre a sociedade. Por isso, não há como dispensar aqui, também,

a formulação de problemas históricos, para serem encaminhados e resolvidos

por intermédio de fontes visuais, associadas a quaisquer outras fontes

pertinentes. Assim, a expressão “História Visual” só teria algum sentido se se

tratasse não de uma História produzida a partir de documentos visuais, mas

de qualquer tipo de documento e objetivando examinar a dimensão visual da

sociedade. (MENESES, 2003, p.28).

Knauss menciona que numa pesquisa, por exemplo: “a vida das elites pode

ganhar outros enfoques a partir de álbuns de fotos de família que podem ser

contrastados com diários íntimos” (KNAUSS, 2006, p.99). Menciono o exercício que se

procurou realizar neste trabalho, como sendo semelhante ao que diz Knauss, pois se

procurou contrastar e cruzar as imagens (retratos) de benfeitores do Asilo São Benedito

com fontes escritas e primárias, como por exemplo, documentos oficiais da instituição,

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a fim de traçar um perfil dos sujeitos homenageados, cujos retratos adornam as paredes

do salão de honra da referida casa asilar.

Outra sugestão realizada por Meneses refere-se ao fato de que o historiador que

trabalha com imagens, necessita observar o ciclo completo de sua produção, circulação

e consumo, nesse sentido cabe salientar que este trabalho não possui o escopo de

analisar o percurso dos retratos dos sócios benfeitores do Asilo de Órfãs São Benedito,

porém cabe observar e buscar “adequar” estas três variáveis de Meneses na referida

pesquisa. Então, é possível considerar que a produção corresponde ao pedido realizado

pela direção da instituição a um determinado artista, que na maioria dos casos, não foi

possível identificar, pedido este que é realizado como forma de homenagear um

determinado sujeito que durante sua vida fez uma grandiosa ação caridosa para com a

instituição, já a circulação corresponde ao ambiente em que os retratos estiveram e

foram alocados, tendo os retratos por mim analisados como destinação final as paredes

do salão de honra do Asilo de Órfãs São Benedito, e por fim o consumo destas obras se

dá pelos seus pares, demais indivíduos, na maioria dos casos pertencentes a algum

grupo considerado como elite local, que com o passar dos anos revezam-se na prática da

caridade, além é claro daqueles que vivenciam a realidade e a rotina da instituição e

demais pessoas, que em virtude da realização de algum evento naquele recinto, possam

ter contato com os retratos.

O recinto onde estão alocados os retratos das pessoas benfeitoras do Instituto

São Benedito denomina-se Salão de Honra, essa denominação altera-se dependendo do

estabelecimento, algumas instituições utilizam salão/galeria nobre, etc. Porém, a

finalidade de todos estes recintos é a mesma, representar através dos retratos a

imortalidade, guardar na expressão de um rosto as ações caritativas e contributivas dos

sujeitos para com as instituições, retratos que vão ficar expostos, servindo como uma

auto representação de si mesmo e como uma representação de status positivo perante

seus pares e perante a sociedade local.

Figura 1: salão de honra do Instituto São Benedito.

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Fonte: Foto do pesquisador. Ano: 2015. Salão de Honra do Instituto São Benedito.

Na figura acima, é possível visualizar a porta de entrada do salão de honra, que

fica a primeira entrada do lado esquerdo de quem adentra no prédio, bem como duas

paredes, nas quais estão alocados quarenta quadros de pessoas ligadas ao Asilo São

Benedito, com predominância de pessoas do gênero masculino, porém há alguns

quadros de mulheres.

A professora Larissa Patron Chaves (2014) ao analisar os retratos de caridade

nas instituições de Beneficência menciona que:

A imagem advinda do “retrato” concedido aos associados foi uma das formas

de garantia de visibilidade social. O associado que realizava uma doação ou

préstimo efetivo passava a gozar das melhores considerações frente à

diretoria e comunidade local, quando também acendia, muitas vezes, a

membro diretivo, ganhando um lugar no salão de honra através da imagem.

Uma pintura representaria o seu retrato oficial, a sua chance de imortalidade

no saguão do edifício-sede, um requisito importante para a sua autoafirmação

perante a sociedade local. ( 2014, p.07).

No caso das imagens analisadas neste trabalho, percebe-se que alguns dos

homenageados com um retrato, eram membros da diretoria, inclusive alguns dos

indivíduos fizeram parte da primeira diretoria do Asilo São Benedito, outros eram

grandes benfeitores, e em virtude de suas práticas caritativas para com a instituição

recebiam como retribuição um “retrato” de si no salão de honra, ficando a sua imagem

para a posteridade. Conforme se verifica nos estatuto de 1911, para ter um quadro

deveriam ser atendidos alguns critérios: “só aos sócios Grandes Benfeitores é concedida

a regalia especial de fazerem parte da galeria de retratos desta associação, sendo,

entretanto, respeitadas as já concedidas neste sentido, pelas diretórias e assembleias

gerais transatas” (ESTATUTO, 1911, p. 05).

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Figura 2: José Veríssimo Alves. 4º Presidente do Asilo de Órfãs São Benedito.

Fonte: Foto do Pesquisador. Ano: 2015. Salão de Honra do Instituto São Benedito.

Na imagem acima se verifica a existência da assinatura do artista, que no caso

identifica-se como: “H. Farjat” e abaixo do nome, está à localidade e a data “Rio

Grande 7-3-1918”, esta identificação está escrita na cor branca. Para o presente

trabalho, não foi despendida maior atenção na investigação do artista em questão, tendo

em vista que isto demandaria maior tempo, sendo este texto o resultado de uma

investigação de menor fôlego. Nas demais imagens, que compõem o salão de honra não

há assinatura do artista, mas isso não anula o tratamento artístico conferido aos retratos.

Pois, ambas as obras possuem características de postura e expressão facial semelhante.

O retrato de José Veríssimo Alves ilustra uma pessoa séria, com vestes que indicam

uma boa posição social e ou cultural.

José Veríssimo Alves, jornalista, fez parte da primeira diretoria do Asilo São

Benedito, tendo ocupado o cargo de tesoureiro, também foi o 4º presidente da

instituição, no período de 1912 a 1913. Além de ter sido um dos primeiros sócios a

serem proclamados benfeitores, conforme consta nos anais do cinquentenário:

Em 1902, em reconhecimento a serviços prestados ao nascente instituto,

foram proclamados sócios benfeitores Luciana Lealdina de Araújo e sua

grande cooperadora, Maria Bárbara de Sequeira, Ataliba Borges Ribeiro da

Costa, xarqueador, José Veríssimo Alves, jornalista; Júlio Teixeira,

comerciante; Dr. Domingos Alves Requião, médico, e o Dr. Albino da Silva

Fagundes, médico homeopata, ainda vivo. (ANAIS DO

CINQUENTENÁRIO 1901-1951: ASILO DE ÓRFÃS SÃO BENEDITO,

p.05).

Pode se inferir que José Veríssimo Alves foi um homem influente na cidade de

Pelotas no começo do século XX, e também por ser jornalista, suas ideias e

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posicionamentos alcançavam um determinado número de pessoas. Possivelmente, Alves

tenha sido jornalista do Jornal A Alvorada, porém não encontrei até o prezado momento

nenhuma fonte primária que comprove isso e consultando o artigo de Fernanda Oliveira

da Silva (2011), intitulado “Associativismo negro em Pelotas no Pós-Abolição:

Membros dos clubes sociais negros, articulistas do A Alvorada e militantes da Frente

Negra Pelotense (1933-1937)” também não há menção ao seu nome. Porém é apenas

uma hipótese, que talvez no decorrer das pesquisas vá se confirmar.

Outro personagem da sociedade pelotense de grande expressão econômica e

política nas primeiras décadas do século XX, era Augusto Simões Lopes. Por si só o seu

sobrenome já remonta status social e prestígio, remetendo-nos a uma das famílias mais

tradicionais da elite pelotense desde a época de ouro do charque. Filho mais moço de

João Simões Lopes Filho, o Visconde da Graça, importante charqueador pelotense, que

segundo os dados levantados por Vargas (2013) na tabela: Composição do patrimônio

dos charqueadores com fortunas acima de 50 mil libras, onde foram verificadas

variáveis como imóveis rurais, imóveis urbanos, escravos, dívidas ativas e dinheiro,

pode se concluir que o Visconde da Graça estava entre os cinco mais ricos

charqueadores de Pelotas em determinado período.

Augusto Simões Lopes nasceu em Pelotas no dia 15 de julho de 1880 e faleceu

no Rio de Janeiro no dia 15 de outubro de 1941, se destacou no cenário político local,

regional e até nacional, formou-se em direito, tendo sido suplente de juiz federal, porém

foi na política que se destacou, filiado ao Partido Republicano Rio-Grandense, esteve à

frente da administração de Pelotas entre os anos de 1924-1928, após foi deputado

federal (1933-1935) e senador (1935-1937). Adepto do futebol presidiu o Grêmio

Esportivo Brasil, quando este se sagrou campeão do primeiro campeonato gaúcho de

futebol. Ainda, segundo Fernando Osório (1997), Augusto Simões Lopes foi redator do

jornal Correio Mercantil e presidente do Asilo de Mendigos. Portanto, para satisfazer

um dos escopos dessa pesquisa, pode se dizer que Augusto Simões Lopes era

pertencente à elite pelotense, seja no âmbito econômico, ou no político.

Todavia, a sua ligação com o Asilo de Órfãs São Benedito não pôde ser

elucidada por completo para este trabalho. Portanto, não se sabe ao certo, quais motivos

levaram Simões Lopes a ter um retrato seu no salão de honra do Asilo. O que no

mínimo, pode se supor é que este por ser atuante no círculo pelotense da caridade ou por

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ter sido prefeito de Pelotas, tenha contribuído de alguma forma com o Asilo São

Benedito. Sabe-se que, Augusto Simões Lopes foi um grande incentivador da educação,

talvez esteja aí o elo entre ele e o Asilo São Benedito, já que entre os objetivos da

instituição estava proporcionar educação às meninas assistidas.

Figura 3: Augusto Simões Lopes. Advogado e político pelotense.

Fonte: Foto do pesquisador. Ano: 2015. Salão de Honra do Instituto São Benedito.

Os benfeitores do Asilo de Órfãs São Benedito, em sua grande maioria eram

indivíduos com prestígio em determinados nichos da sociedade pelotense e eram ativos

nas pautas sociais e políticas do período. Pode se dizer que pertenciam à elite, se

considerarmos que pertencer à elite, não necessariamente é estar entre os sujeitos mais

ricos da cidade, considerando as diversas formas de elite: intelectual, política e

econômica, apenas para citar algumas.

Pode-se dizer que os retratos de sujeitos benfeitores funcionariam como um

espelho para os seus pares, ou seja, não somente o sujeito retratado, mas sua família,

assim como os demais membros da elite ou as demais pessoas imbuídas de boas

condutas morais e cristãs se enxergariam representadas naqueles retratos. Também,

como já foi mencionado aqui, ter um retrato seu no salão de honra de uma instituição

significa de certa forma ficar imortalizado através de uma imagem. Sendo assim, uma

das formas de retribuição das instituições pela caridade praticada, é a encomenda do

retrato do grande benfeitor e sua posterior alocação nas paredes do salão de honra.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Este trabalho é resultado de uma pesquisa ainda incipiente, porém algumas

considerações podem ser feitas. A cidade de Pelotas na segunda metade do século XIX

possuía uma forte e pulsante elite do charque, estes charqueadores enriqueceram e

produziram a modernização urbana de Pelotas, também contribuíram no campo da

saúde, da educação e das artes, porém este enriquecimento foi fruto do seu tempo e

infelizmente baseado na mão de obra escrava. Após a abolição da escravidão no país em

1888, não havia empregos disponíveis para toda essa parcela significativa da população

pelotense, e nem programas habitacionais ou assistência social, com isso muitos

afrodescendentes ficaram a margem da sociedade, sem emprego, muitas vezes sem

residências e sem alimentação, e por vezes muitas crianças ficavam órfãs. Através de

alguns membros da sociedade pelotense que possuíam melhores condições econômicas,

políticas, sociais e culturais e da irmandade de São Benedito, com o apoio de pessoas

caridosas e com a força de vontade de Luciana Lealdina de Araújo, surge em Pelotas, o

Asilo de Órfãs São Benedito com o escopo de receber e instruir meninas órfãs e sem

distinção de cor.

Dito isso, procurou se verificar e analisar através de alguns retratos, quem eram

esses indivíduos que contribuíram para com o Asilo. É perfeitamente possível concluir

que os retratos eram concedidos a pessoas que praticavam grandes ações em prol do

Asilo São Benedito, conforme se verifica nos estatutos do referido estabelecimento.

Estes retratos eram alocados nas paredes do salão de honra e eram uma representação do

sujeito caritativo, sendo em todos os casos analisados, retratados de forma frontal, bem

vestidos, com a expressão facial séria.

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