resumos gerais - tgdc - 2.ª parte

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Resumos Gerais - TGDC - 2.ª Parte

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  • TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL II

    1. ANO - TURMA DA NOITE Ano lectivo de 2011/2012 - 2. semestre

    Regente: Prof. Doutor Drio Moura Vicente Colaboradores: Mestres Carlos Barata e Ftima Manso

    I EXERCCIO E TUTELA DOS DIREITOS SUBJECTIVOS

    1. Legitimidade Artigos

    2. Representao Artigos 258 a 269

    3. Prescrio Artigos 296 a 333

    4. Caducidade Artigos 296 a 333

    5. Abuso de direito Artigos 334 a 340

    6. Coliso de direitos Artigos 334 a 340

    7. Legtima defesa Artigos 334 a 340

    8. Estado de necessidade e aco directaArtigos 334 A 340

    consentimento do lesado Artigos334 a 340

    9. Provas Artigos 341 A 396

    II PESSOAS

    10. Lugar da pessoa no Direito Civil. Personalidade jurdica

    11. Direitos de personalidade: noo, modalidades e regime geral

    12. Continuao: direitos de personalidade em especial

    13. Estado, domiclio e ausncia

    14. Capacidade jurdica 15. Incapacidades: menoridade

  • 16. Continuao: interdio e inabilitao. Insolvncia

    17. Pessoas colectivas: noo, elementos constitutivos e categorias

    18. Continuao: regime comum

    19. Associaes

    20. Fundaes

    21. Sociedades

    22. A desconsiderao da personalidade colectiva

    III BENS

    23. Coisas: noo e classificaes

    24. Continuao: frutos e benfeitorias. Patrimnio

    25. Animais e sua tutela

  • Teoria Geral do Direito Civil 14 de Fevereiro de 2012

    Prof. Drio Moura Vicente Legitimidade

    Que problemas se colocam relativamente legitimidade?

    Saber que relao deve de haver entre uma pessoa e o objecto do acto por ela

    celebrado, ou entre essa pessoa e terceiros que so afectados por esse acto,

    afim de que essa pessoa possa praticar esse mesmo acto.

    A legitimidade um requisito geral dos actos jurdicos, pelos quais se exercem

    direitos ou se assumem vinculaes.

    Como que podemos definir o conceito de legitimidade?

    Antes de mais nada, trata-se da qualidade de uma pessoa, sendo que dessa

    qualidade resulta uma certa relao ou entre ela e o direito que est em causa

    num determinado acto jurdico, por exemplo, dessa pessoa ser titular do direito

    que vai ser exercido, ou uma relao entre essa pessoa e outra pessoa que

    parte tambm nesse acto ou nesse negcio jurdico, e em virtude desta relao

    a pessoa que est em causa tem o poder de praticar esse acto ou o negcio

    jurdico que est aqui em causa.

    De uma forma mais sucinta podemos dizer que se trata do poder de uma

    pessoa agir validamente, quanto a certo direito ou vinculao, tendo em conta

    a relao que existe entre essa mesma pessoa e o direito ou vinculao em

    causa ou outra pessoa.

    Por exemplo: o dono de um automvel tem legitimidade para vender esse

    mesmo automvel, pelo facto de que esse automvel lhe pertence.

    Mas um procurador desse dono do automvel, ou a pessoa com poderes para

    representar esse sujeito tambm pode ter legitimidade para realizar essa venda,

    se lhe tiverem sido concedido poderes para esse efeito.

  • Neste caso, a legitimidade do sujeito para a prtica do acto em questo, no

    deriva propriamente dele ser o proprietrio do objecto do acto, mas sim da

    relao de representao que existe entre esse sujeito e o dono do bem que vai

    ser vendido.

    Outros problemas se colocam, no sentido de saber se por exemplo o cnjuge

    do dono do automvel o pode vender?

    Uma pessoa por ser cnjuge do proprietrio de um bem, tambm tem

    legitimidade para dispor desse bem?

    Suponhamos agora que o dono do automvel o quer vender mas est

    insolvente, no tem meios para pagar aos seus credores, foi-lhe instaurado um

    processo de insolvncia.

    Poder essa pessoa vender esse automvel?

    E se o dono do automvel, que no est insolvente, o quiser vender a um dos

    seus filhos preterindo os demais, poder faz-lo?

    Em todos estes casos se levantam problemas sobre a validade dos actos que

    podemos agregar sob o conceito de legitimidade.

    Pergunta-se, se, determinada pessoa pode ou no praticar os actos que esto

    aqui em questo.

    Antes de responder a estas questes, uma reflexo de caracter mais geral sobre

    o fundamento deste requisito da prtica dos actos jurdicos.

    Porque exigido como condio de validade dos actos jurdicos e dos negcios

    jurdicos em particular, a legitimidade de quem os pratica?

  • Existe uma relao entre esta exigncia e o princpio da autonomia privada, ou

    seja, as pessoas podem (dentro dos limites da lei) estipular o regime e contedo

    jurdico aplicvel s relaes de que so parte (liberdade contratual art.405

    CC).

    A exigncia de legitimidade para a prtica de actos jurdicos assegura que os

    interesses que esto em causa num determinado acto, pertencem

    efectivamente pessoa que pratica esse acto.

    No se pode considerar como legtimo um acto que seja praticado, no exerccio

    da autonomia privada, por quem no for o titular dos interesses que so

    regulados por esse acto ou, no esteja de alguma outra forma legitimado para

    praticar esse mesmo acto.

    Este conceito de legitimidade no se encontra consagra em termos gerais no

    cdigo civil, no h regras gerais sobre a legitimidade o que torna um pouco

    mais difcil o estudo desta matria.

    No entanto, encontramos em vrios preceitos do cdigo civil afloramentos

    deste requisito, so susceptiveis de serem caracterizados como situaes de

    ilegitimidade:

    A venda de coisa alheia, o artigo 892 CC, considera nula essa venda, sempre

    que o vendedor carea de legitimidade para esse efeito.

    Depois temos no artigo 302 n 3 do CC, uma disposio que prev a renncia

    prescrio por quem no pode dispor do benefcio que a prescrio tenha

    criado a favor dela.

    Tambm aqui temos um acto que invlido por falta de legitimidade.

  • Outra hiptese, prevista no artigo 657 n 1 do CC, a constituio de uma

    consignao de rendimentos por quem no puder dispor desses mesmos

    rendimentos.

    Essa pessoa tambm no tem legitimidade para a prtica desse acto, portanto,

    ele h-de ser invlido.

    Outra hiptese ainda, prevista no artigo 685 n3 do CC, a cobrana de um

    crdito empenhado por um credor cujo direito no tenha preferncia sobre o

    de outros credores pignoratcios.

    Trata-se aqui tambm de outro caso de ilegitimidade.

    Outra hiptese ainda, prevista no artigo 715 do CC, a constituio de uma

    hipoteca por quem no possa alienar os bens que so dados em garantia dessa

    forma.

    Artigo 877 do CC, a venda de pais a filhos ou de avs a netos, se os outros

    filhos ou netos no consentirem essa venda.

    Um pai para preterir um dos seus filhos, vende-lhe, naturalmente por preo

    muito baixo um bem de que proprietrio sem ter a anuncia dos outros,

    tambm aqui h um problema de legitimidade.

    Outra hiptese ainda, prevista no artigo 1682 n 2 do CC, a alienao ou

    onerao de um dos cnjuges de bens que sejam comuns do casal, mas dos

    quais no tem a administrao, tambm aqui essa pessoa se deve considerar

    carecida de legitimidade para essa alienao.

    Outra hiptese ainda, prevista no artigo 1682- A, n2 do CC, a alienao,

    onerao, arrendamento ou constituio de outros direitos pessoais de gozo,

    sobre a casa de morada de famlia, por um s dos cnjuges sem o

    consentimento do outro.

  • Portanto esses actos respeitantes casa de morada de famlia no podem ser

    praticados livremente por um dos cnjuges, sem que o outro o consinta.

    Tambm neste caso existe um problema de legitimidade.

    Depois, ainda, a hiptese prevista no artigo 1714 n2 do CC, de contratos de

    compra e venda e de sociedade entre cnjuges que so proibidos pela nossa lei,

    excepto quando se tratem de pessoas que se encontrem separadas

    judicialmente de pessoas e bens.

    Uma distino relativamente a outras figuras, prximas mas no coincidentes

    com a da ilegitimidade:

    Legitimidade/capacidade

    Desde logo a figura da capacidade, no se podendo confundir os dois conceitos.

    Quando falamos de capacidade, estamos a falar de um modo de ser de uma

    determinada pessoa em si mesma considerada, resultante, por exemplo, de

    essa pessoa ter uma certa idade, de ser casada, etc..

    Quando falamos da legitimidade estamos a considerar uma relao que existe

    entre determinada pessoa e o objecto de um acto jurdico, ou uma relao

    entre essa pessoa e outra.

    Portanto, daqui resulta que uma pessoa pode ter capacidade para praticar um

    determinado acto jurdico (ter por exemplo 18 anos, maior, pode vender ou

    comprar bens, mas no ter legitimidade para a prtica desse mesmo acto

    jurdico, por hiptese, pelo facto de no ser o proprietrio do bem cuja venda

    est em causa.

    Pode, portanto, haver capacidade sem legitimidade para a prtica do acto

    jurdico.

  • Legitimidade/possibilidade do objecto

    De acordo com o artigo 280 do CC, nulo o negcio jurdico,cujo objecto seja

    fsica ou legalmente impossvel.

    Por exemplo: vender uma parcela de uma praia, ningum pode vender um bem

    que faz parte do domnio pblico.

    Ou, por exemplo, ceder os direitos de autor de uma obra que j recaiu no

    domnio pblico.

    Obviamente que a venda destes direitos por parte dos herdeiros um negcio

    jurdico nulo.

    Contudo, pode perfeitamente acontecer que o objecto do negcio jurdico seja

    possvel, porque a coisa transacionada existe e o negcio legalmente possvel,

    simplesmente um dos sujeitos que intervm na celebrao desse negcio

    jurdico, carece de legitimidade para esse efeito, pelo facto de que o bem que

    est a ser transacionado no lhe pertence.

    No tendo portanto poderes para dispor deles em nome de outrem.

    Legitimidade/disponibilidade

    O conceito de disponibilidade, traduz um poder que uma pessoa tem de

    transmitir ou de renunciar a um direito subjectivo.

    Eu posso dispor um direito, significa que eu posso transmiti-lo a outrem ou

    posso renunciar a ele.

    Existem uma srie de direitos que a nossa ordem considera indisponveis, neste

    sentido em que ningum pode transmiti-los ou renunci-los.

    o caso por exemplo, dos direitos de personalidade, uma pessoa no pode

    alienar o seu direito integridade fsica, ou o seu direito honra.

    Estes no so bens de que uma pessoa possa dispor.

    A disponibilidade ou indisponibilidade de um direito afere-se, portanto, em

    razo da natureza desses mesmos direitos.

  • H direitos que a ordem jurdica considera, em virtude da sua essencialidade

    para o seu titular que, no devem em condio alguma sair da esfera jurdica do

    respectivo titular.

    O problema que se coloca no caso da legitimidade outro, no saber se em

    abstrato uma pessoa pode ou no renunciar a um direito, ou transmiti-lo a

    outrem, trata-se de saber quem que pode faz-lo.

    Ser somente o titular dele ou pode por vezes em certos casos faz-lo um

    terceiro, que no o titular?

    A disponibilidade de um direito uma qualidade desse mesmo direito que

    objecto de um determinado acto jurdico.

    A legitimidade uma qualidade do sujeito desse acto jurdico, embora seja uma

    qualidade que decorre da relao que existe entre quem pratica o acto e o

    respectivo objecto ou entre quem pratica o acto e um terceiro.

    Modalidades da legitimidade

    Legitimidade directa / legitimidade indirecta

    A legitimidade directa aquela que resulta de um sujeito de um determinado

    negcio jurdico, ser ele prprio titular dos interesses que so tutelados atravs

    desse acto ou desse negcio jurdico.

    No h portanto legitimidade directa quando, quem pratica esse acto no seja o

    titular desses interesses ou no lhe tenha sido dado assentimento relativamente

    a ele.

    A lei, relativamente legitimidade directa mais exigente para os actos em que

    resulte uma diminuio do activo patrimonial de uma pessoa ou o aumento do

    seu passivo.

    Nestes casos requer-se como condio de legitimidade que os sujeitos dos

    negcios jurdicos em causa sejam os prprios titulares dos interesses que esto

    em causa.

  • Para que haja legitimidade directa preciso que os actos sejam praticados pelos

    titulares dos interesses em causa.

    J quando, de um acto jurdico resulte apenas a diminuio de um passivo, ai, a

    lei no faz essa exigncia, permitindo que qualquer outra pessoa tenha

    legitimidade para a prtica desse acto.

    Importa ainda fazer uma distino em virtude da natureza do acto que esteja

    em causa:

    Actos dispositivos actos em que uma pessoa dispe de um direito subjectivo.

    Em princpio, uma pessoa s pode dispor de direitos prprios.

    Logo, a legitimidade para dispor de direitos, pertence em regra ao titular desses

    mesmos direitos.

    Actos vinculativos actos atravs dos quais uma pessoa assume vinculaes ou

    obrigaes.

    Em princpio, tambm s podem ser praticados pelas pessoas sobre quem essas

    obrigaes ou vinculaes vo recair.

    Por exemplo, s pode contrair uma dvida o prprio devedor, no um terceiro

    em nome dele.

    Actos aquisitivos actos em virtude dos quais algum adquire um direito.

    Em princpio tambm tem de intervir nesses actos quem adquire esses mesmos

    direitos.

    Mesmo que a aquisio seja feita a ttulo gratuito, como o caso da doao, a

    nossa lei exige a aceitao por parte do donatrio.

    Actos liberativos actos em que resulta a extino de uma obrigao, como por

    exemplo o pagamento, em virtude desse mesmo pagamento liberta-se de uma

    obrigao.

  • Quanto prtica destes actos, a lei, em princpio, confere legitimidade a

    qualquer pessoa, o que resulta do artigo 767 do CC.

    Relativamente legitimidade indirecta, a nossa lei admite que se celebrem

    actos jurdicos por pessoas que no sejam os titulares dos prprios interesses

    que esto em causa, mas, pessoas essas que, detm por qualquer outro motivo,

    um poder para praticar esses actos.

    o que acontece no caso do representante do titular de um direito, diz-se

    portanto que este tem uma legitimidade indirecta.

    Legitimidade de direito / legitimidade de facto

    Legitimidade de direito, aquela que deriva de o sujeito de um acto ou de um

    negcio jurdico, ser o titular dos direitos que so exercidos atravs desse acto

    ou desse negcio jurdico, por exemplo, porque era o proprietrio da coisa que

    foi vendida, ou porque era o titular de um crdito que foi cedido a um terceiro,

    etc..

    Mas em certos casos, pode acontecer que uma pessoa que no titular desses

    interesses, que no o proprietrio do bem vendido, no titular do crdito

    que cedido, etc.

    No tem portanto, a pessoa que pratica o acto legitimidade directa, nem

    porventura legitimidade indirecta e ainda assim, por um outro motivo a lei

    reconhece este negcio jurdico, celebrado por esse sujeito, como vlido e

    eficaz.

    Fala-se nestes casos de uma legitimidade de facto.

    Estes casos acorrem nas aquisies a non domino, (aquisio de um bem a

    quem no o proprietrio dela).

    Vamos supor por exemplo que, A simula a venda a B de um imvel seu, para se

    livrar de uma dvida fiscal.

  • Este negcio jurdico nulo.

    Mas B revende este imvel a C, sendo que C se encontra de boa f,

    desconhecendo a venda entre A e B de forma simulada, sendo que B no seria o

    proprietrio do bem, e confiou de que B seria realmente titular do bem.

    De acordo com o artigo 243, n1 do CC, a nulidade que provm desta

    simulao no oponvel a C, logo, C vai adquirir a propriedade sobre aquele

    imvel.

    Neste caso a lei atribui relevncia jurdica a uma legitimidade meramente de

    facto, meramente aparente do vendedor.

    A legitimidade que resulta de o vendedor, nesta transao entre B e C aparecer

    perante C como sendo B o proprietrio do direito sobre o imvel.

    manifesta a preocupao em tutelar a confiana do adquirente e isso que

    leva a que a lei nestes casos admita que h uma legitimidade de facto, logo o

    negcio no ser invlido.

    Legitimidade originria / legitimidade superveniente

    A legitimidade originria, como o nome indica, aquela que contempornea

    da prtica do acto ou do negcio jurdico em causa.

    A pessoa no momento em que praticou esse acto era proprietria do bem, ou

    era titular do direito de crdito que foi cedido, etc..

    A legitimidade ser superveniente se ela s vem a ocorrer no momento

    posterior, se por exemplo, j depois de vendido um bem por quem no era o

    seu proprietrio, o vendedor vem a adquirir a propriedade desse mesmo bem.

    Em princpio, a nossa lei requer a legitimidade originria para que o acto seja

    validamente celebrado, mas em certos casos admite-se aquilo a que se chama a

    convalidao do acto jurdico que foi praticado sem legitimidade originria,

    desde que quem o praticou venha a adquirir essa legitimidade superveniente.

    o que acontece, nomeadamente, nos casos de venda de bens alheios.

  • Em princpio, a venda de bens alheios nula (no produz efeitos), mas o artigo

    895 do CC, vem introduzir um desvio a esta regra no sentido de que, logo que,

    o vendedor adquira de algum modo a propriedade da coisa ou direito vendido,

    o contrato torna-se vlido e a dita propriedade ou direito transfere-se para o

    comprador, assiste-se assim convalidao do contrato.

    O artigo 897 do CC, impem mesmo ao vendedor de coisa alheia, (no caso de o

    comprador estar de boa f) a obrigao de sanar a nulidade dessa venda,

    adquirindo a propriedade da coisa vendida, o direito que foi vendido.

    evidente que se trata aqui de uma obrigao de meios e no de resultados,

    uma vez que poder ser impossvel conseguir essa propriedade.

    Todo modo o nosso legislador teve a preocupao de assegurar aqui o

    aproveitamento deste negcio jurdico.

    No momento da sua celebrao o negcio no era vlido por falta de

    legitimidade, mas pode mais tarde vir a tornar-se vlido pelo facto de o

    vendedor vir a adquirir supervenientemente essa legitimidade.

    Legitimidade substantiva / legitimidade processual

    A legitimidade substantiva, a legitimidade para a prtica de actos de negcios

    jurdicos.

    A legitimidade processual, uma outra vertente da legitimidade e a

    legitimidade para estar em juzo, para ser parte num processo.

    O artigo 288 do cdigo de processo civil exigia como pressuposto processual.

    Se no existe ou no se verifica esse pressuposto processual que a

    legitimidade de ambas as partes, ento, o tribunal deve abster-se de conceder o

    pedido e absolver o ru da instncia.

    Como que se afere essa legitimidade processual?

    Ela resulta de uma posio de cada uma das partes, relativamente pretenso

    que deduzida em juzo.

  • H uma pretenso que apresentada no tribunal (condenao de flano de tal

    no pagamento da quantia X ao autor, que lhe devida por qualquer razo) e

    essa posio relativamente pretenso que deduzida em juzo, decorre em

    regra, da titularidade do interesse que est em litgio).

    De acordo com o artigo 26 n 1 do cdigo de processo civil, o autor

    considerado como parte legtima, quando tem interesse directo em demandar e

    o ru considerado como parte legtima quando tem interesse directo em

    contradizer.

    O n2 desse mesmo artigo vem acrescentar que o interesse em demandar se

    exprime pela utilidade derivada da procedncia da aco, e o interesse em

    contradizer pelo prejuzo que poder resultar dessa mesma procedncia.

    Por exemplo: o credor ter legitimidade para requerer a condenao judicial do

    devedor a cumprir a obrigao, uma vez que ele o titular do interesse que a lei

    tutela.

    Mas, j o scio, da sociedade comercial que o titular desse mesmo crdito no

    tem legitimidade para intentar a aco, uma vez que s a sociedade que a

    parte legtima.

    Sano da ilegitimidade

    Se no se verificar o requisito da validade dos actos jurdicos, relativamente

    legitimidade substantiva, a sano a nulidade do acto que praticado sem ela.

    A nulidade regra entre ns, quanto aos actos viciados, o que resulta do

    disposto no artigo 294 do CC, e a mesma coisa resulta do disposto no artigo

    892 do CC (quanto venda de bens alheios), tambm ai a lei nos diz que esse

    acto jurdico considerado nulo.

    Sendo a sano a nulidade dos actos praticados com ilegitimidade, ento este

    vcio deve considerar-se que invocvel a todo tempo, por qualquer

    interessado, e declarado oficiosamente pelo tribunal, nos termos do artigo 286

    do CC.

  • J quanto ilegitimidade processual a sano a absolvio do ru da instncia,

    ou seja, o tribunal no chega a pronunciar-se sobre o mrito da causa,

    simplesmente absolve o ru do pedido.

  • Teoria Geral do Direito Civil 16 de Fevereiro de 2012

    Prof. Drio Moura Vicente Representao

    O que a representao?

    Com base no artigo 258 do CC, a representao consiste na prtica de um acto

    jurdico de uma pessoa em nome de outra.

    Sendo que, os efeitos desse acto jurdico praticado pelo representante vo

    repercutir-se na esfera jurdica do sujeito por ele representado.

    Muitos dos actos jurdicos nunca poderiam ser praticados se no houvesse o

    instituto da representao.

    Basta pensarmos que h um grande nmero de pessoas que so incapazes,

    (menores) que s podem agir por via da representao, nomeadamente aquela

    que feita pelos pas, relativamente aos filhos menores.

    Existe, ainda, um nmero significativo de actos que no podem ser praticados

    por qualquer pessoa, pelo simples facto de que o comum das pessoas no tem a

    formao tcnica necessria para esse efeito (representao forense).

    A necessidade das pessoas se fazerem representar perante o tribunal, radica

    nessa circunstncia.

    E finalmente, acontece que, muitas vezes as pessoas no tm pura e

    simplesmente condies para praticar pessoalmente certos actos jurdicos, ou

    pelo facto de estarem ausentes do pais, ou por outra qualquer circunstncia, e

    ento nessas hipteses, constituem um representante para pratic-los.

    A representao alarga a esfera da autonomia pessoal, alarga o mbito dos

    actos que as pessoas podem praticar, por intermdio de outros.

    Pode-se desta forma afirmar que, a autonomia privada o fundamento deste

    instituto da representao.

  • Algumas profisses, como o caso da advocacia, assentam em larga medida

    justamente nesta figura da representao.

    Devido importncia da figura (representao), esta carece de regulamentao

    legal, entre outras razes, pelo facto de que h diferentes interesses que esto

    em jogo nesta matria.

    Conflituantes entre si, que o legislador tem de ter em conta e atender numa

    relao harmnica e equilibrada.

  • Quais os interesses a ter em conta?

    Os interesses do representado, o interesse do representante e finalmente o

    interesse do terceiro, perante quem se d a representao.

    Assim, importante a proteco do representado, nomeadamente contra

    eventuais abusos por parte do representante, que pode praticar actos sem que

    tenha poderes para isso, ou, eventualmente abusando dos poderes que lhe so

    conferidos, nomeadamente atravs de negcios consigo mesmo na qualidade

    de representante.

    H que acautelar os interesses do prprio representante, nomeadamente,

    quando o representante pratique profissionalmente actos de representao,

    como o caso dos advogados, e em relao aos quais se pode dizer que a sua

    subsistncia econmica depende da representao.

    Pode acontecer que a representao seja conferida no prprio interesse do

    representante, nem sempre no interesse do representado que se conferem

    poderes representativos.

    Finalmente, e atendendo aos interesses dos terceiros que contrata com algum

    que representado por outrem.

    Nessas situaes, pode acontecer que esse terceiros confiem na aparncia de

    que o representante efectivamente tem poderes de representao.

    Algum apresenta-se como sendo representante de outrem, gerando-se a

    espectativa de que o acto que essa pessoa praticou, em nome de outrem seja

    um acto vlido e eficaz.

    Isto apesar de na realidade a pessoa no ter esses poderes ou ter actuado para

    alm desses poderes.

    Portanto, aqui, intervm o valor da tutela da confiana de quem contratou com

    outrem, atravs de um representante.

  • Diferentes modalidades de representao

    As diferentes modalidades podem-se definir em funo da origem dos poderes

    do representante, podemos assim falar em:

    Representao voluntria quando esses poderes provm de um acto

    voluntrio do representado, e esse acto chama-se procurao (acto atravs do

    qual se confere poderes de representao a outrem).

    Representao orgnica aquela que se funda nos estatutos ou em qualquer

    outro acto constitutivo numa pessoa colectiva.

    Algum que estatutariamente representa perante terceiros essa pessoa

    colectiva.

    Por exemplo, o director de uma qualquer pessoa colectiva.

    Representao legal aquela que em que os poderes do representante provm

    da prpria lei.

    o que acontece no caso dos pais, dos tutores, dos administradores de bens e

    dos curadores.

    Distino de representao de outras figuras prximas dela, mas que no se

    confundem com ela.

    Representao / Mandato

    O mandato um contrato, qua alis est regulado no CC, no artigo 1157,

    estando definido como um contrato de prestao de servios, pelo qual uma

    pessoa se obriga a praticar um ou mais actos por conta de outrem.

    Este contrato no se confunde com a representao, pelo facto de que, desde

    logo pode haver mandato sem representao.

  • Uma pessoa pode contratar com outra, que essa outra pessoa praticar certos

    actos por conta dela, mas no em nome dela.

    o que acontece quando o mandatrio age em nome prprio, ainda que por

    conta do mandante, ele no representa o mandante, ele age por conta do

    mandante.

    Isso acontece, nomeadamente no contrato de comisso que est regulado nos

    artigos 266 e ss. do cdigo comercial, e do contrato de mandato sem

    representao, que est regulado nos artigos 1180 e ss. do CC.

    Portanto desde logo podemos ter mandato sem representao, e depois,

    tambm podemos ter representao sem mandato.

    possvel que algum exera poderes representativos, sem que tenha sido

    celebrado com essa pessoa qualquer contrato de mandato.

    o que acontece nomeadamente nos casos de representao legal.

    Os pais representao os filhos menores, sem que tenham qualquer contrato

    com eles para esse efeito, sendo a lei que lhes atribui esse poder.

    Pode tambm acontecer que, os poderes do representante se fundem num

    outro contrato que no o contrato de mandato.

    Por exemplo, o contrato de trabalho, pode acontecer que um trabalhador, em

    virtude das suas funes represente a entidade patronal, assim como esses

    poderes, podem ser conferidos atravs de um contrato de agncia (contrato

    comercial, regulado por legislao especfica, Dec.Lei 178/86, alterado pelo

    Dec.lei 118/93 de 13 de Abril).

    Os poderes de representao, em princpio desaparecem, os poderes

    representativos extinguem-se se desaparecer o negcio jurdico que lhe serve

    de base.

    Representao / Nncio

    As funes do representante e do nncio tm alguns aspectos em comum mas

    no se confundem.

  • O representante uma pessoa que emite uma declarao em nome de outrem,

    portanto ele que pratica o acto jurdico.

    No caso do nncio, ns estamos perante algum que se limita a transmitir uma

    declarao feita por um terceiro.

    Neste caso, quando intervm um nncio o acto jurdico em questo j foi

    praticado, limitando-se o nncio a levar ao conhecimento de algum a

    declarao em causa, ao contrrio do que acontece na representao.

    Representao / Consultor

    O representante tambm no se confunde com o chamado consultor, sendo

    que o consultor no celebra negcios jurdicos em nome de outrem, antes se

    limita a praticar certos actos materiais para outrem.

    Representao / Contrato a favor de terceiro

    Em ambas as figuras h um elemento em comum, que a existncia, ou a

    interveno numa determinada situao jurdica de trs pessoas.

    No caso da representao, o representado, o representante, e o terceiro,

    perante o qual o representante representa o representado.

    No caso de um contrato a favor de terceiro, tambm temos uma situao

    triangular, um contrato celebrado entre duas pessoas mas do qual derivam

    certas obrigaes a favor de um terceiro que no parte nesse contrato.

    Exemplo: seguro de vida, seguro de responsabilidade civil, a favor de um

    terceiro.

    Como que se distinguem estas situaes?

    Na representao, o representante no parte no negcio jurdico em causa,ele

    celebra o negcio jurdico em nome de outrem, mas ele prprio no parte

    nesse negcio jurdico.

  • No contrato a favor de terceiro, ns temos duas pessoas que contratam entre si,

    tem obrigaes reciprocas mas h alm disso obrigaes que vinculam uma

    delas relativamente a um terceiro que beneficirio perante esse contrato,

    por exemplo, o terceiro a favor de quem celebrado o seguro de vida.

    Representao / Gesto de negcios

    O artigo 464 do CC, diz-nos que h uma gesto de negcios quando algum

    assume a direco de um negcio alheio no interesse e por conta do respectivo

    dono, embora sem estar para isso autorizado.

    Se eu apresentar uma declarao de impostos de uma outra pessoa, que est

    ausente no estrangeiro, estando impossibilitado de o fazer, ou se eu pagar uma

    dvida dessa pessoa.

    Eu estou a actuar como gestor de negcios dessa pessoa.

    Pode acontecer que o gestor actue em nome do dono do negcio, neste caso de

    acordo com o artigo 471 do CC, aplicam-se as regras referentes

    representao sem poderes e essas regras de representao sem poderes esto

    enunciadas no artigo 268 do CC.

    O gestor de negcios no um representante, ele no tem poderes que lhe

    tenham sido outorgados pelo dono do negcio para agir em seu nome, mas a

    gesto pode ser feita no interesse do dono do negcio, e pode ela vir a traduzir-

    se, retroactivamente em actos de representao sem poderes.

    Sendo que, esses actos, para serem eficazes na esfera jurdica do dono do

    negcio, carecem de uma ratificao por parte do dono do negcio.

    Se o dono do negcio ratificar os actos praticados pelo gestor, mesmo sem ter

    poderes para o representar, ento esses actos vo projectar-se na sua esfera

    jurdica convalidam-se dessa forma.

    A figura da representao encontra-se regulada nos artigos 258 e ss do CC.

  • A diviso primeira artigos 258 a 261, em que se estabelecem certos

    princpios gerais, ou seja, princpios que so comuns representao legal e

    representao voluntria.

    Nos artigos 262 a 269, regras especficas sobre a representao voluntria.

    As regras mais especficas sobre a representao legal, constam de outros

    preceitos dispersos no cdigo.

    As regras sobre a representao legal, vamos estud-las mas frente com as

    situaes de incapacidade.

    H ainda outras disposies com interesse para esta matria, aquelas que se

    ocupam do mandato com representao (artigos 1178 e ss).

    A representao pelo agente, que est regulada nos artigos 21 e ss do regime

    jurdico do contrato de agncia, (Dec.Lei 178/86).

    A representao forense, objecto dos artigos 32 e ss do cdigo do processo

    civil e constam tambm do estatuto da Ordem dos Advogados, aprovado por Lei

    da Assembleia da Repblica (Lei 15/2005).

  • Regime jurdico da representao

    A primeira condio fundamental que a lei estabelece, para que haja

    representao a prtica de actos em nome de um terceiro, resultando do

    disposto no artigo 258 do CC, aquilo a que se chama a contemplatio domini.

    Se no h a prtica de actos em nome de outrem, no podemos falar de

    representao.

    Se uma pessoa negoceia em nome prprio, ainda que por conta de um terceiro,

    no interesse de um terceiro, essa pessoa no um representante, pode ser

    mandatrio mas no representante.

    Isso tem desde logo como consequncia o facto de que, o acto praticado por

    quem no agiu em nome de outrem, no vais produzir os seus efeitos na esfera

    jurdica desse, outrem.

    Se um acto praticado em nome prprio, apenas o vincula a ele prprio.

    De que que depende que esse acto praticado pelo representante em nome

    de outrem, efectivamente venha a produzir os seus efeitos na esfera jurdica

    do representado?

    Esta a questo essencial da representao.

    Para que isso acontea necessrio, no apenas que o acto tenha sido

    praticado em nome de outrem (contemplatio domini), mas para alm disso que

    haja a chamada legitimao representativa.

    E essa legitimao representativa pode decorrer de uma de duas condies:

    1) Ou que o representante actue dentro dos limites dos poderes que lhe so

    atribudos pelo representado, conforme exigido pelo artigo 258, a

    chamada legitimao originria;

    2) Ou que haja em alternativa uma legitimao superveniente.

    Essa legitimao superveniente deriva de um acto a que se chama a

    ractificao.

  • Portanto, uma pessoa pode ter agido em nome de outrem, embora sem

    ter poderes para esse efeito, sendo que, se o representado entender que

    lhe interessa aquele acto, pode ratific-lo.

    Com isto liga-se a questo da verificao da existncia da legitimao

    representativa.

    Como que o terceiro, perante o qual se apresenta algum que diz ter

    poderes de representao de outrem, pode certificar-se de que existe essa

    legitimao?

    O terceiro tem o nus de verificar se existe a legitimao, sendo que isso resulta

    no disposto do Artigo 260 do CC.

    De acordo com este artigo, ao terceiro que compete exigir a chamada

    justificao de poderes, ou seja, a apresentao dos poderes representativos.

    No ficando contudo, o terceiro desprotegido, nos casos em que ele no tenha

    pedido a justificao deles.

    Existem outros mecanismos de proteco do terceiro, que possa ser vtima de

    uma actuao por algum que no tenha poderes representativos.

    Regime da procurao

    A procurao um negcio jurdico unilateral, pela qual se conferem poderes

    de representao.

    Esse negcio jurdico est regulado nos artigos 262 e ss do CC.

    No confundir a representao, com os negcios jurdicos de que nascem os

    poderes representativos que a procurao.

    A procurao est sujeita a um regime que a lei estabelece, desde logo, no que

    toca forma.

    A procurao em princpio deve ter a forma do negcio que o procurador

    dever realizar (resulta do artigo 262 n2).

  • Se o negcio a realizar pelo procurador deve revestir a forma escrita, a prpria

    procurao deve ter essa forma.

    Regula-se no artigo 264 a substituio do procurador, em princpio, ela carece

    do consentimento do representado, ou seja, o procurador no se pode fazer

    substituir por uma outra pessoa qualquer sem esse consentimento.

    E regula-se tambm a extino da procurao, nos termos do artigo 265, essa

    extino pode dar-se por vrias causas:

    Por renncia do procurador;

    Em virtude da cessao da relao jurdica que lhe serve de base.

    Por exemplo, o contrato de mandato ou o contrato de trabalho;

    Em virtude de uma revogao, ou seja, o representado pode revogar a

    procurao que conferiu a um terceiro.

    Essa revogao livre, pelo facto de que a representao pressupe uma

    relao de confiana, logo, desaparecendo essa relao de confiana,

    ento natural que o representado possa revogar os poderes

    representativos.

    Exceptuando-se duas hipteses:

    1) O caso em que a procurao seja conferida no interesse do prprio

    representante (dao pro solvendo, regulada no artigo 840 do

    CC).

    A dao pro solvendo, consiste na entrega de um bem para solver

    uma dvida, ou seja, a pessoa em vez de pagar a quantia de que

    devedora, entrega um bem para esse efeito.

    Mas pode acontecer que a entrega desse bem, em nome do actual

    proprietrio seja acompanhada de uma procurao, para o credor

  • vender esse bem, satisfazendo o credor atravs da venda desse

    bem o seu prprio crdito.

    2) Pode tambm acontecer que seja celebrado um contrato de

    seguro, acompanhado da procurao que passada em nome do

    segurador, para dirigir os processos relativos ao risco que foi

    segurado.

    Nestes casos a procurao s pode ser revogada com autorizao

    do representante ou com justa causa.

    Quando a procurao tenha caducado, o documento de que constem os

    poderes representativos deve ser restitudo, o que nos diz o artigo 267.

  • Representao sem poderes (falsus procurator)

    Pode acontecer que algum pratique actos em nome de outrem, sem ter

    poderes para isso.

    O problema que se coloca o de saber se, e em que medida, que esses actos

    praticados sem poderes representativos podem vir a vincular o representado.

    Em princpio, esses actos so ineficazes em relao pessoa em nome de quem

    o acto foi praticado.

    Isto com uma excepo, (no caso de haver ratificao).

    O artigo 268, claramente estabelece esta regra. Se algum actua sem ter

    poderes representativos para o efeito em nome de outrem, esse acto no se vai

    projectar na esfera jurdica do representado, mas se essa pessoa quiser pode

    retificar esse acto e ento ele convalida-se.

    Este acto, praticado, desta forma abusiva, tambm no vincula o prprio

    representante.

    Ento pergunta-se: e se o terceiro contratou com algum que se dizia ser

    representante de outrem, o interesse desse terceiro no acautelado, no se

    protege a sua confiana?

    Claro que sim. Pois apesar do acto em si, ser ineficaz, no vincular o suposto

    representado, pode haver responsabilidade civil do falso procurador,

    responsabilidade pr-contratual, (artigo 227 do CC).

    Devendo o falso procurador indemnizar o terceiro em todos os danos que ele

    no haveria sofrido, se no tivesse sido celebrado esse contrato.

    Colocando-o na posio em que ele se encontraria se aquele acto no tivesse

    sido celebrado (interesse contratual negativo).

  • No regime jurdico do contrato de agncia, ns vamos encontrar uma regra

    especial a este respeito, que constitui um desvio quilo que dispe o artigo 268

    n1 do CC.

    E essa regra especial consta do artigo 22 n 2 do regime de contrato de agncia.

    Esse preceito, vem dizer que se considera ratificado o negcio que tenha sido

    celebrado pelo agente sem poderes de representao, se a outa parte logo que

    tenha conhecimento da celebrao desse negcio, no manifestar ao terceiro

    que esteja de boa-f, no prazo de cinco dias, a sua oposio quele negcio.

    Neste caso o silncio tido como um meio declarativo (artigo 218 do CC em

    que permite em certos casos que o silncio possa valer como meio declarativo).

    O silncio serve como ratificao, para salvaguardar a confiana do terceiro que

    se encontra de boa-f.

    Estamos no domnio das relaes mercantis (regra do direito comercial),

    avultando os interesses ligados segurana jurdica e a segurana ligada

    fluidez do trfego jurdico, permitindo se assim, em certos casos se atribua

    maior relevncia confiana dos terceiros do que vontade de uma das partes.

    Abuso de poderes de representao (artigo 269 do CC)

    O abuso de representao ocorre quando, o representante embora actue

    dentro dos limites formais que lhe formam concedidos, actua de forma

    substancialmente contrria aos fins dessa representao.

    Por exemplo, uma pessoa tinha poderes para comprar um escritrio, e em vez

    disso compra um andar para habitao.

    Formalmente actuou dentro dos seus poderes mas no com a finalidade para a

    qual lhe haviam sido concedidos poderes.

    Ou, algum tem procurao para proceder venda de determinado bem, e

    vende esse mesmo bem abaixo do valor de mercado.

  • Estabelece a este respeito o artigo 269 do CC, e no caso de o representante ter

    abusado dos seus poderes, se a outra parte conhecia ou devia conhecer o

    abuso.

    Se no se verificar esta condio, ento o negcio ser eficaz relativamente

    contraparte.

    Podemos dizer que a nossa lei foi aqui menos exigente, para a eficcia do

    negcio celebrado pelo representante.

    Isto ocorre, fundamentalmente porque as espectativas do terceiro com quem o

    representante negociou e contratou so mais relevantes.

    Estas espectativas so mais relevantes porque aqui havia poderes de

    representao.

    O indivduo que actuou em nome de outrem, tinha efectivamente poderes para

    esse efeito, embora tivesse ido alm do que lhe era permitido pelo

    representado.

    Mas muitas vezes o terceiro no tinha obrigao de ter conhecimento desses

    limites, seria ir longe demais exigir-lhe que tivesse conhecimento desses limites,

    nesse caso o regime do artigo 268 no se ir aplicar e portanto nessas

    hipteses o negcio ir vincular o representado.

    Isto no quer dizer que o representante no possa incorrer em

    responsabilidade, no perante o terceiro mas perante o prprio representado.

    Se ele abusou dos seus poderes, ter de indemniza-lo pelos danos.

    Representao aparente / Negcio consigo mesmo

    O artigo 23 do regime jurdico do contrato de agncia, contempla uma outra

    hiptese em que h que proteger o terceiro e que so os casos de

    representao aparente.

    Casos em que justificada a confiana do terceiro que s encontra de boa-f, na

    legitimidade do agente.

  • Nestes casos o negcio celebrado pelo agente, sem poderes de representao

    eficaz perante o principal (assim chamado nessa legislao), o sujeito que ter

    sido representado, embora sem poderes para o efeito.

    Esta regra do direito comercial funda-se na preocupao de proteger a

    confiana.

    Quanto ao negcio consigo mesmo, trata-se de hipteses em que o

    representante tem efectivamente poderes para agir em nome de outrem,

    simplesmente em vez de contratar com um terceiro, contrata consigo prprio.

    Por exemplo: A confere a B poderes para vender um imvel de que

    proprietrio, em seu nome.

    B, em vez de ir procurar no mercado, um comprador para esse imvel, vende-o

    a si prprio.

    Portanto o contrato celebrado entre A e B, mas com a representao de A por

    B.

    Estas hipteses levantam um problema de conflito de interesses.

    O B ao mesmo tempo representante de A e contraparte no negcio jurdico,

    como bom de ver, em muitas situaes poder sentir-se tentado a no exigir a

    si prprio, o preo mais adequado para o seu representado, podendo efectuar a

    venda do imvel a valores bastante abaixo, de forma a satisfazer o seu prprio

    interesse.

    Estes negcios, nos termos do artigo 261do CC, so anulveis.

    A no ser que o representado, tenha expressamente consentido na celebrao

    de um negcio desse tipo, estes negcios podem ser anulados, por iniciativa do

    prprio representado.

  • Teoria Geral do Direito Civil

    23 de Fevereiro de 2012 Prof. Drio Moura Vicente

    Prescrio (extintiva e aquisitiva)

    As repercusses do decurso do tempo sobre as situaes ou relaes jurdicas.

    uma matria que est regulada no nosso cdigo civil nos artigos 296 a 333.

    H essencialmente duas formas pelas quais o decurso do tempo incide sobre a

    vida das situaes ou relaes jurdicas, e so elas:

    A prescrio e a caducidade.

    Duas figuras muito prximas mas bastante distintas uma da outra.

    Caractersticas da prescrio, ou, o que a prescrio no direito civil?

    Podemos defini-la como a extino dos direitos subjectivos em virtude do seu

    no exerccio, durante um certo lapso de tempo, portanto, decorrido um certo

    perodo, uma pessoa que seja titular de um direito subjectivo, se no o exerceu,

    podendo faz-lo, perde esse direito, ele vai-se extinguir.

    Uma vez completado o prazo de prescrio, o beneficirio desse prazo de

    prescrio, pode recusar o cumprimento da sua prestao e pode por outro

    lado opor-se ao exerccio do direito prescrito.

    o que nos diz o artigo 304 n1 do CC.

    Por exemplo: A tem um crdito de 1000 sobre B, e durante o prazo que a lei

    estabelece para este efeito A no exige o pagamento desses 1.000 a B.

    Decorrido esse prazo, B pode recusar-se a pagar a A os ditos 1.000.

    Porqu esta extino dos direito subjectivos, decorrido determinado perodo

    de tempo?

    H duas ordens de razes que justificam esta figura:

  • 1) A segurana jurdica se os direitos pudessem ser exercidos sem

    qualquer limitao de tempo, se eles se mantivessem mesmo

    decorrido um longo perodo de tempo, sem que o seu titular os

    tivesse exercido, evidente que surgiria alguma incerteza sobre a

    existncia desse mesmo direito subjectivo.

    O devedor, numa relao obrigacional, poderia ter grande

    dificuldade, por exemplo, em provar que j tinha cumprido.

    Se no houvesse a figura de prescrio, as pessoas podiam ser

    demandas ad eternum, sem qualquer limitao de tempo, para

    cumprirem as suas supostas obrigaes.

    Isto, mesmo que, por ventura, j tivessem cumprido, poderia dar-

    se o caso de ter grande dificuldade em provar esse cumprimento.

    Portanto, de um ponto de vista de certeza do direito de segurana

    jurdica, realmente indesejvel esse prolongamento indefinido

    no tempo dos direitos subjectivos.

    Portanto, a prescrio a forma de resolver esse problema.

    2) Mas h uma segunda ordem de consideraes que justifiquem a

    figura da prescrio e que se prendem com uma sano que a

    ordem jurdica estabelece, para a inrcia do titular do direito.

    O titular do direito tem um certo lapso de tempo para exigir o

    cumprimento da obrigao que outrem tem perante si, se no o

    faz por negligncia, por inrcia, ou outra qualquer razo, a ordem

    jurdica deixa de lhe dar tutela.

    Portanto, deixa de haver razo para proteger essa pessoa e por

    isso mesmo, tambm, o seu direito deve considerar-se extinto

    pelo decurso do tempo.

  • Pode, contudo, acontecer que, decorrido o tal prazo o devedor tenha cumprido

    a obrigao j prescrita.

    Ser qua a pessoa que pagou inadvertidamente, sem saber qua j tinha

    decorrido esse prazo, pode exigir a restituio da sua prestao ao credor?

    Pois, a lei, vem efectivamente dizer-nos que no no artigo 304 n2 do CC.

    No pode ser repetida, no sentido, portanto, de ser restituda a prestao

    realizada espontaneamente em cumprimento de uma obrigao prescrita, ainda

    que quando feita com ignorncia da prescrio.

    Tambm no ser muito difcil compreender a razo de ser desta outra

    disposio.

    Pois, a prescrio, em parte, funda-se numa ideia de sancionar o credor

    negligente, o credor que deixou passar o tempo sem exigir o cumprimento do

    seu crdito.

    Nestes casos, em que o devedor porventura igualmente negligente, porque

    pagou sem ter que o fazer, pois a sua dvida estava prescrita, ou por ventura

    pode ter pago com esprito de liberalidade ou com certo sentido de justia,

    achando que, apesar da sua dvida estar prescrita, ainda assim, devia fazer esse

    pagamento, pois j nestes casos a lei no protege o devedor que pagou, sem ter

    que o fazer.

    As obrigaes prescritas, cabem na categoria das chamadas obrigaes

    naturais de que tratam os artigos 402 e ss.

    So obrigaes naturais, aquelas que se fundam num mero dever de ordem

    moral ou social cujo cumprimento no judicialmente exigvel, mas

    corresponde a um dever de justia.

    Portanto, so obrigaes inexigveis, uma vez que passou o tempo para esse

    efeito, mas que se forem cumpridas espontaneamente, no do lugar a

  • qualquer pretenso por parte do devedor no sentido da restituio da prestao

    que foi realizada.

    E estaro todos os direitos sujeitos a esta prescrio, ou todos os direitos se

    estinguem pelo decurso do tempo?

    A resposta negativa.

    De facto, nem todos esto a sujeitos a esta figura.

    Nos termos do artigo 298 n1 do CC, s esto abrangidos pela prescrio os

    direitos que no sejam indisponveis (direitos que uma pessoa no pode dispor,

    no pode transmiti-los a um terceiro, no pode renunciar a eles, como o

    direito de personalidade, direito vida, integridade fsica, direito honra,

    etc.), esses direitos so alienveis.

    Bem como certos direitos pessoais, familiares, o direito ao respeito por parte do

    outro cnjuge, o direito lealdade, coabitao, tudo isso so direitos de que

    uma pessoa no pode abdicar.

    Se estes direitos so indisponveis, eles tambm no devem prescrever pelo seu

    no exerccio ao longo de certo lapso de tempo, pois esta seria uma forma de se

    poder tornear a proibio de dispor desses direitos.

    Existem tambm outros Direitos imprescritveis, como o caso dos direitos

    reais, propriedade, usufruto, uso e habitao, superfcie e de servido.

    Todos estes direitos so imprescritveis, podendo no entanto extinguir-se pelo

    seu no uso, em virtude do disposto no artigo 298 n3.

    Nesse caso vo aplicar-se as regras sobre a caducidade (outra figura prxima da

    prescrio, que ir ser analisada na prxima aula).

    Uma nota ainda para chamar a ateno para o facto de que, o regime legal

    sobre a prescrio um regime imperativo, ou seja, estas regras so regras

    inderrogveis por efeito da vontade dos interessados.

  • O artigo 300 do CC, estabelece expressamente que os negcios jurdicos

    destinados a modificar os prazos legais de prescrio so nulos, portanto, no

    possvel por contrato prolongar um prazo de prescrio ou encurt-lo e por

    outro lado o artigo 302 n2 s permite a renncia prescrio pela pessoa

    que beneficie dela, uma vez que tenha decorrido o prazo de prescrio.

    Existindo vrias razes possveis para estes factos:

    a) Por um lado esto aqui interesses que no so estritamente das partes

    nestas situaes jurdicas (o interesse na segurana jurdica um

    interesse que transcende as partes).

    Por exemplo, num contrato em que resultem obrigaes para uma ou

    para ambas as partes, so interesses gerais que afectam todo o trfego

    jurdico, e por isso compreende-se que no se possa por negcio jurdico,

    alterar as regras que esto aqui em causa.

    b) Haveria, por ventura o risco de uma pessoa antes de decorrido certo

    prazo prescricional, aceitar ou, o seu prolongamento ou o seu

    encurtamento, consoante se trate do devedor ou do credor.

    Estando aqui tambm em causa a proteco das partes, contra o risco da

    sua prpria precipitao.

    c) Modo como a prescrio opera, ou seja, a prescrio no opera

    automaticamente.

    Um direito no se extingue ipso jure, pelo mero decurso do tempo,

    ainda necessrio que o devedor, o seu representante, ou ainda o

    Ministrio Pblico (no caso de o titular do direito ser um incapaz),

    necessrio que uma dessas pessoa invoque judicialmente ou

    extrajudicialmente a prescrio, o que nos diz o disposto no artigo 303

    do CC.

  • Ento quais so os prazos de prescrio vigentes entre ns, quanto tempo

    que necessrio, para que se considere que um direito se extinguiu com base

    na prescrio?

    O prazo ordinrio de prescrio que est estabelecido no artigo 309 do CC,

    hoje de 20 anos.

    Ao fim de 20 anos, salvo disposio em contrrio, um direito subjectivo que no

    tenha sido exercido durante esse lapso de tempo, considera-se extinto pelo

    decurso desse mesmo lapso de tempo.

    Existem no entanto, prazos mais curtos de prescrio que a lei estabelece

    relativamente a certos direitos, conforme o descrito no artigo 310 do CC, onde

    se descrevem regras que submetem prazos mais curtos (cinco anos).

    Pese embora este facto, pode acontecer que seja proferida uma sentena

    judicial, que venha reconhecer um dos direitos descritos no artigo 310 do CC, e

    nesses casos nos termos do artigo 311 do CC, estes direitos passam a estar

    sujeitos ao prazo geral dos 20 anos.

    Uma questo que se pode colocar a este propsito, a de saber se o prazo

    geral de 20 anos ser hoje um prazo ajustado s realidades da nossa

    sociedade.

    Eu (Professor) tenho algumas dvidas de que assim seja.

    Pois ns vivemos na chamada sociedade de informao, onde as comunicaes

    circulam com grande facilidade e celeridade, no h hoje uma razo muito

    ntida, para que se espere tanto tempo para que um credor exera um direito.

    H ainda que ter em conta que para certo tipo de direitos, a lei prev ainda

    outros prazos ainda mais curtos.

    o que acontece, designadamente, em matria de indemnizao que seja

    devida por um facto ilcito extracontratual.

  • Por exemplo, uma indemnizao por danos causados atravs de um acidente de

    viao, ou por uma agresso, ou de uma ofensa sua honra, etc..

    Esse tipo de indemnizaes, nos termos do artigo 498 do CC, prescreve no

    prazo de 3 anos a contar da data de que o lesado teve conhecimento do direito

    que lhe compete.

    Mas porque que para, os direitos imergentes de factos geradores de

    responsabilidade civil extracontratual, h esse prazo mais curto do que nos

    casos contratuais?

    Esta explicao encontra-se, na dificuldade da prova do facto gerador do dano.

    Nestes casos, a prova tem por via de regra de ser feita num prazo relativamente

    curto, pelo facto de que muitas das vezes feita atravs de testemunhas,

    perdendo a prova a sua fora muito rapidamente.

    Nestes casos de responsabilidade extracontratual, o prazo tem, pela natureza

    das coisas, de ser mais curto.

    J quanto, aos direitos emergentes de um contrato, o direito de crdito ao

    respectivo preo, etc. ai a situao muito diferente, pois, por via de regra, a

    prova da existncia do contrato faz-se atravs de documentos.

    Naturalmente, esses documentos estaro disponveis, se houver incria do

    titular do direito subjectivo em questo, durante um prazo mais largo.

    Por outro lado, o dano causado ao credor, pelo incumprimento das obrigaes

    emergentes desse contrato, esse dano muitas vezes fixado atravs de regras

    legais, ou de regras estipuladas entre as partes.

    No h nesses casos, de direitos emergentes de contratos, as dificuldades de

    prova, e dai a lei possa ser um pouco mais generosa, no que toca ao prazo

    prescricional.

  • Outra questo que se coloca e que temos de ter presente para a resoluo de

    casos concretos a questo de saber, a partir de quando que estes prazos de

    prescrio se contam?

    O princpio geral, que vamos encontrar no artigo 306 n1 do CC, o de que a

    contagem do prazo, comea no momento em que o direito poder ser exercido.

    Se porventura, houver uma condio suspensiva, ou um termo inicial

    relativamente ao exerccio desse direito, ento a prescrio s comea a correr

    depois desse condio se verificar ou de esse termo inicial se vencer, o que

    nos diz o artigo 306 n2 do CC.

    Isto quanto generalidade dos casos.

    Quanto aos prazos de prescrio em matria de responsabilidade civil

    extracontratual, uma vez mais, temos uma regra especial que consta do n1 do

    artigo 498 do CC.

    O prazo prescricional se conta a partir do momento em que o lesado teve

    conhecimento do direito que lhe compete.

    Portanto, no a partir do momento em que ele pde exercer o direito, a

    partir do momento em que ele teve conhecimento do direito.

    Isso significa que, o crdito indemnizatrio se pode ter vencido em certo

    momento, mas se o credor s tiver tido conhecimento do seu direito em

    momento posterior a esse, a contagem do prazo de prescrio atrasada at

    esse momento.

    Porqu, esta diversidade de regimes, entre a prescrio em matria de

    crditos contratuais (sujeita ao regime geral) e a prescrio em matria de

    crditos indemnizatrios, no mbito da responsabilidade extracontratual?

  • Temos de ter em conta a diversidade das situaes na responsabilidade

    contratual e na responsabilidade extracontratual.

    Na responsabilidade extracontratual, por via de regra no existe qualquer

    relao jurdica entre a vtima (titular do direito indemnizao) e o agente

    devedor dessa mesma indemnizao.

    Portanto, ns podemos supor que, se o titular do direito indemnizao no

    exerceu logo o seu direito, no ter havido necessariamente incria da parte

    dele, podemos diferir para um momento ulterior o incio da contagem do prazo

    de prescrio.

    J no caso da responsabilidade contratual (obrigao de indemnizar os danos

    causados pelo no cumprimento de uma dvida, (por exemplo).

    Aqui a situao completamente diferente, porque as partes j estavam

    vinculadas entre si, havia entre elas um contrato, cada um sabia dos seus

    direitos, e portanto o credor estava perfeitamente em condies de exercer o

    seu direito a exigir o pagamento da dvida, a partir do momento do vencimento

    dessa mesma dvida.

    Se no o fez, porque houve negligncia, logo, o prazo prescricional deve

    contar-se a partir do momento em que ele pde exercer esse mesmo direito.

    A isto acresce que, nos casos em que esteja em causa a responsabilidade por

    defeitos no objecto da prestao, exemplo:

    Vendeu-se uma casa e essa casa mete gua quando chove, tem defeitos de

    construo, a contagem do prazo prescricional a partir do momento da entrega

    desse objecto, pode justificar-se ainda porque, decorrido certo tempo comea a

    ser muito difcil diferencial aquilo que verdadeiramente um defeito desse

    objecto e aquilo que o desgaste normal que as coisas tm em virtude do

    tempo.

    Tambm por essa razo o diferimento que existe na responsabilidade

    extracontratual no se justificaria nestas hipteses.

  • Temos ainda de ter em conta o facto de que o prazo da prescrio em certos

    casos pode ser prolongado, em virtude de dois factos:

    A suspenso e a interrupo, em ambos os casos, est em causa a ocorrncia

    de certos factos que justificam o exerccio do direito e que justificam portanto, a

    no contagem do prazo durante certo lapso de tempo, simplesmente, os efeitos

    da suspenso e da interrupo so diferentes.

    Comecemos pelo caso de suspenso da contagem da prescrio.

    Se o prazo prescricional tiver sido suspenso por qualquer razo, durante todo o

    perodo em que se verificar essa suspenso a prescrio no comea nem corre,

    s se conta portanto o tempo que tenha decorrido at ao surgimento do facto

    que determina a suspenso, e depois de esse facto desaparecer.

    |___________|_Suspenso_______________|_____________|

    Suspenso - durante todo este perodo de tempo, ns no contamos a

    prescrio, suspende-se a contagem do prazo.

    O que que determina a suspenso da contagem da prescrio?

    Existem duas ordens de causas suspensivas:

    Causas com carcter subjetivo esto previstas nos artigos 318 a 320 e 322

    do CC, enquanto se verificarem as situaes descritas, esto suspensos os

    prazosprescricionais.

    Causas com carcter objectivo esto previstas no artigo 321 do CC, e so

    designadamente a hiptese em que uma pessoa no possa fazer valer o seu

    direito por motivo de fora maior.

  • Por exemplo: durante os ltimos 3 meses do prazo prescricional o titular do

    direito subjectivo cometido de uma doena grave, e essa doena dura por

    hiptese um ano.

    Durante esse ano essa pessoa est impossibilitada de exercer esse seu crdito,

    considera-se que est suspensa a prescrio.

    H ainda, tambm prevista no artigo 312 do CC a hiptese de o titular do

    direito no ter podido exerc-lo por dolo do prprio sujeito que esteja obrigado

    (devedor).

    evidente que numa situao como esta no seria admissvel que o prazio

    prescricional corresse.

    H ainda uma outra disposio, que consta do Cdigo Civil do Processo Civil no

    artigo 249 A, que prev tambm a suspenso dos prazos de prescrio em

    virtude da instaurao de um processo de mediao.

    Se h um conflito a respeito de um certo direito de crdito e se instaura uma

    mediao para tentar compor as partes, durante o perodo em que decorrer

    esse processo de mediao, considera-se que o prazo est suspenso.

    Interrupo

    A interrupo tem um modo de funcionamento diferente, pelo facto de que, no

    caso de interrupo se considerar inutilizado todo o tempo j decorrido para

    efeitos de prescrio.

    |______________|_________________|

    Interrupo

    Se em determinado momento se verifica um facto que causa de interrupo

    da prescrio, todo o tempo que tenha durado essa interrupo e todo o tempo

    que estiver para trs no contado.

  • S a partir do momento em que cessa esse facto interruptivo da prescrio

    que se comea a contar e comea-se a contar do zero.

    Enquanto na suspenso se pode contar de novo o prazo, a partir da cesso do

    facto suspensivo, tendo em conta o tempo j decorrido, na interrupo isso no

    acontece.

    Obviamente a interrupo mais generosa para o credor do que a suspenso.

    Isto est previsto no artigo 326 n 1do CC.

    Os factos que determinam a interrupo, so normalmente factos que revelam

    a inteno por parte do credor de exercer o seu direito.

    Esses factos esto previstos nos artigos 323 e ss do CC, designadamente a

    citao ou notificao judicial, de um acto que exprima a inteno de exercer o

    direito.

    So ainda o compromisso arbitral (acordo das partes para submeter um litgio a

    um tribunal arbitral).

    E ainda o reconhecimento do direito por parte daquele contra quem ele pode

    ser exercido.

    Por exemplo: o devedor fez um pagamento parcial de uma dvida.

    Em todos estes casos justifica-se a inutilizao do tempo j decorrido para

    efeitos de prescrio.

    A esta luz e sendo esta a justificao da interrupo da prescrio, ento h que

    dizer que a disposio qual mencionei h pouco (Cdigo Civil do Processo Civil

    no artigo 249 A, que prev tambm a suspenso dos prazos de prescrio em

    virtude da instaurao de um processo de mediao.

    Se h um conflito a respeito de um certo direito de crdito e se instaura uma

    mediao para tentar compor as partes, durante o perodo em que decorrer esse

    processo de mediao, considera-se que o prazo est suspenso), que qualifica

    como facto suspensivo e no como facto interruptivo, est errada.

    A instaurao de um processo de mediao, devia de ser facto causador da

    interrupo e no da suspenso da prescrio.

  • Uma vez que obviamente a instaurao desse processo revela que o credor quer

    exercer o seu direito, embora tenha tentado chegar a um acordo com o seu

    devedor.

    Prescries presuntivas

    A todas as prescries atrs reportadas acrescem, nos termos dos artigos 312 e

    ss do CC, as chamadas prescries presuntivas.

    No caso da prescrio presuntiva, j no se trata de uma sano contra a inrcia

    do titular do direito que deixou passar o tempo, no exerceu o seu direito e

    portanto a ordem jurdica fez extinguir esse direito.

    Na prescrio presuntiva, presume-se que um determinado crdito se tenha

    extinto pelo seu cumprimento, decorrido um certo lapso de tempo, a

    experincia demonstra que por via de regra esse crdito j ter sido cobrado.

    Estas prescries presuntivas tm prazos diferentes, consoante a natureza dos

    crditos que estejam em causa.

    H prazos de 6 meses (previstos no artigo 316 do CC) e prazos de 2 anos

    (previstos no artigo 317 do CC).

    Porqu as prescries presuntivas?

    Pela natureza dos crditos (pelo facto de resultarem de contratos verbais), a

    prova destes crditos ser muito difcil ao fim de algum tempo.

    Prescrio aquisitiva

    A prescrio aquisitiva gera a aquisio de um direito, enquanto na prescrio

    extintiva se assiste extino desse direito.

    a tambm chamada usucapio (artigo 1287 do CC).

  • Os prazos de prescrio aquisitiva variam entre 2 e 20 anos, dependendo da

    natureza do bem que est em causa (bem mvel ou imvel), depende tambm

    do facto de o possuidor estar ou no de boa-f.

    O decurso do tempo permite a uma pessoa adquirir um direito, de que

    aparentemente ele titular, muitas vezes mesmo que actue de m-f, o prprio

    ladro pode adquirir o direito de propriedade sobre a coisa roubada, ao fim de

    um certo lapso de tempo.

    A prescrio aquisitiva uma regra que se justifica por uma preocupao de

    segurana jurdica, a ordem jurdica no se conforma com a incerteza sobre

    quem o proprietrio de um bem e mesmo que uma pessoa tenha ilicitamente

    obtido a posse desse bem, pode tornar-se o proprietrio desse mesmo bem.

    Exemplo em que uma situao ilcita se pode tornar numa situao lcita, face

    ordem jurdica.

    Esta figura diz respeito aos direitos reais, pois no h usucapio nos direitos

    subjectivos (por exemplo: direitos de crdito).

    Teoria Geral do Direito Civil 01 de Maro de 2012

    Prof. Drio Moura Vicente Abuso de direito

  • A proibio do abuso de direito um limite extrnseco ao exerccio de um

    direito subjectivo, que se encontra consignado no artigo 334 do CC.

    O artigo 334 vem estabelecer uma limitao liberdade individual, pois, as

    pessoas no podem exercer os seus direitos como quiserem.

    Trata-se de uma limitao que tem o seu fundamento numa ideia de

    solidariedade, que se encontra consagrada no artigo 1 da CRP.

    O artigo 334 do CC, implica tambm a admisso de uma certa funcionalizao

    dos direitos subjectivos, pelo facto destes estarem subordinados sua

    finalidade.

    Quer dizer, o seu exerccio (do direito subjectivo) deve conformar-se com o fim

    para os quais foram consagrados, todo o direito consagrado com uma

    determinada finalidade e no pode ser exercido para finalidades destintas,

    daquela para que foi consagrado.

    Nem sempre um direito atribudo a uma pessoa, para satisfazer interesses

    dessa mesma pessoa.

    Exemplo: poder paternal (responsabilidade parental), esse poder no

    concedido no interesse do prprio pai mas sim, no interesse do filho.

    O artigo 334 do CC, consiste numa vlvula de segurana do sistema jurdico,

    uma regra que visa evitar situaes de abuso.

    Esta proibio do abuso de direito no se confunde com a equidade (a

    equidade a justia do caso concreto), a equidade distingue-se da figura da

    proibio do abuso de direito.

    Na equidade o julgador pode afastar o preceito legal, pode no o aplicar, tendo

    em conta os resultados da sua aplicao no caso concreto.

    Porque no caso concreto, atente sua especificidade, a aplicao rgida daquele

    preceito conduz a um resultado injusto.

  • No caso do abuso de direito, no est em causa afastar nenhum preceito legal,

    pelo contrrio, o que est em causa aplicar os preceitos legais com o respeito

    pelo seu esprito.

    Uma norma legal consagra um determinado direito subjectivo, a favor de certa

    categoria de pessoas, pois esse direito tem de ser exercido de acordo com o

    esprito dessa norma.

    No para o fim diferente daquele para que a norma o consagrou, mas

    precisamente para a finalidade que o legislador teve em vista.

    Pressupostos do abuso de direito (casos em que se pode falar de abuso de

    direito).

    O artigo 334 do CC, enuncia 3 categorias de limites ao exerccio dos direitos.

    1) A boa-f;

    2) Os bons costumes;

    3) E o fim social ou econmico do direito.

    Portanto temos aqui 3 tipos de barreiras limites forma como os direitos

    podem ser exercidos.

    Examinando cada um deles:

    Boa-f

    A boa-f uma das traves mestras da nossa ordem jurdica, um princpio

    fundamental do direito portugus, podendo ser entendida em duas acees

    fundamentais.

    Em sentido subjectivo (boa-f subjectiva) e em sentido objectivo (boa-f

    objectiva).

    Falamos em boa-f em sentido subjectivo, quando queremos aludir a um

    determinado estado psicolgico, em funo da sua situao interior.

  • Quanto boa-f em sentido objectivo, aqui temos uma aceo da boa-f como

    norma de conduta.

    A boa-f pode impor s pessoas certos deveres de conduta.

    Exemplo: a culpa na formao dos contratos (artigo 227 do CC).

    Do princpio da boa-f decorrem certos deveres de conduta nos preliminares e

    na formao dos contratos (informao, lealdade, proteco, etc.), que so

    corolrios dessa ideia de boa-f.

    Mas, a boa-f como norma de conduta no tem apenas este contedo positivo,

    tambm tem um contedo negativo, e esse contedo negativo, traduz-se em

    certos comportamentos serem proibidos pela ordem jurdica e aqui que

    entronca o abuso de direito.

    O abuso de direito justamente um caso, em que uma determinada conduta

    proibida, entre outras razes, por ser contrria boa-f, tomada como norma

    de conduta.

    Os bons costumes

    Os bons costumes so regras de convivncia na sociedade, so usos geralmente

    observados pelas pessoas de bem, pelas pessoas honestas, em certo meio

    social.

    No fundo so regras que exprimem a moral social.

    Pode dizer-se, as condutas imorais ofendem os bons costumes, ainda que

    formalmente correspondam ao exerccio de um direito.

    Por exemplo: um sujeito credor de outro, que lhe deve 1.000,00, e vai-lhe

    exigir o cumprimento da dvida no dia do funeral de um parente, ou a meio da

    noite, ou durante o casamento.

    A forma como o crdito exercido, manifesto que visa apenas vexar, humilhar

    aquele sujeito.

    Trata-se aqui de uma conduta contrria aos bons costumes, e nesta medida,

    podemos tambm considera-la no conceito de abuso de direito.

  • O fim social ou econmico do direito

    Este preceito reflexo de uma ideia de funcionalizao dos direitos subjectivos,

    da sua sujeio aos fins para que a ordem jurdica os consagrou.

    Toda a actuao, por parte do titular do direito que estravase esses fins, que v

    para alm deles, que seja desconforme com eles, nesta medida uma actuao

    abusiva e portanto ilcita.

    Este problema pe-se, designadamente, em relao ao direito de propriedade.

    Hoje reconhece-se que h uma funo social da propriedade, e essa funo

    social impem limites actuao do proprietrio.

    O direito de propriedade, neste sentido, j no tido hoje como um direito

    absoluto, no h o direito de abusar do direito de propriedade.

    ainda necessrio, de acordo com o artigo 334 do CC, que o titular do direito

    exceda manifestamente os limites referidos (boa-f, bons costumes, o fim

    social ou econmico do direito).

    Portanto, no todo e qualquer violao desses limites, so os casos mais

    clamorosos, mais chocantes que a ordem jurdica vem considerar como

    ilegtimos.

    O exerccio de um direito s por si, mesmo que cause danos a terceiros, no

    dever dar lugar a qualquer indemnizao.

    necessrio que o exerccio de um direito exceda manifestamente os limites

    do artigo 334 do CC.

    Nem todo o dano tem de ser indemnizado, s deve ser indemnizado aqueles

    danos que a ordem jurdica, por esta ou aquela razo, a lei especfica, considera

    que deve ser transferido, daquele que o suportou, para aquele que o causou.

  • A esta luz, devemos reconhecer que a figura do abuso de direito, deve

    considerar-se uma figura excepcional, no pode considerar-se que este seja um

    preceito de que se lance mo facilmente.

    S em situaes particularmente graves, em que haja a tal violao manifesta

    dos princpios dos limites impostos pela boa-f, bons costumes, ou pelo fim

    scio ou econmico do direito, que ns podemos dizer que efectivamente

    estamos perante uma situao de abuso de direito sancionvel.

    Uma outra questo que se pode colocar a este respeito, tem que ver com o

    estado de esprito de quem actua em abuso de direito.

    Ser que necessrio que quem actuou em violao daqueles limites

    estabelecidos no artigo 334, deve ter agido com dolo, ou negligncia, para

    que possa ser chamado a ressarcir os danos causados a um terceiro?

    A lei no formula essa exigncia, no h no artigo 334 do CC, nenhuma aluso

    ao estado de esprito de quem actuou em abuso de direito.

    Portanto, bastar que se excedam os tais limites do artigo 334 do CC.

    Est subjacente ao artigo 334 uma concepo objectivista do abuso de direito.

    Tipos de situaes em que a doutrina tem identificado abusos de direito.

    Actos emulativos (competir, rivalizar como outrem) ou actos de chicana

    (tramia, trapaaria).

    Trata-se de um exerccio de um direito, unicamente com o objectivo de

    prejudicar outra pessoa.

    Estamos a pensar em situao em que algum exerce um direito de uma

    determinada forma, que no lhe trs nenhuma vantagem, mas que causa

    prejuzo a um terceiro.

  • Exemplo: O proprietrio de um terreno constri neste, uma chamin enorme

    que no servia para nada, somente com o objectivo de projectar sombra no

    terreno do seu vizinho, no sentido de desvalorizar monetariamente a

    propriedade deste, prejudicando-o.

    O tribunal francs considerou que estvamos aqui perante uma forma do

    exerccio do direito de propriedade abusivo, pois, no havia nenhuma

    finalidade, til, sria, para a construo daquela chamin.

    Exemplo: Em Portugal, na jurisprudncia dos nossos tribunais superiores, tem-

    se verificado alguns casos em que este tipo de problemas se coloca a respeito

    do chamado direito de tapagem (artigo 1356 do CC).

    J tm aparecido situao em que um determinado proprietrio de um imvel,

    constri um muro enorme volta do seu imvel, que no tem qualquer

    finalidade til seno prejudicar os proprietrios dos imveis vizinhos.

    Estamos aqui perante situaes que podem ser configuradas como actos

    emulativos, logo, situaes de abuso de direito.

    Exemplo:A que titular de uma patente relativa a um medicamento, recusa-se

    a conceder a B, uma licena para a produo desse medicamento, apesar de B

    no explorar esse medicamento nesse mercado.

    A recusa no tem qualquer sentido til, seno o de prejudicar B.

    Pois, tambm aqui podemos configurar uma hiptese de abuso de direito.

    Exemplo: C probe D, sua ex. mulher de utilizar o seu apelido depois do divrcio.

    Sendo que a senhora em questo j utilizava o apelido h vrios anos,

    nomeadamente na sua actividade profissional.

    Essa proibio, visa objectivamente prejudic-la.

    Em todos estes casos podemos falar em abuso de direito.

    No processo civil o abuso de direito assume contornos especficos.

  • Litigncia de m-f (actos que so formalmente exerccio de direitos

    processuais que assistem s pessoas mas que so de pura chicana,

    visando apenas tropeliar (prejudicar) o processo, impedindo que chegue

    a bom porto, atras-lo, etc. (artigo 456 do cdigo do processo civil).

    Uma outra categoria de abuso de direito so as chamadas condutas

    contraditrias.

    Como o nome indica, so condutas que geram certa expectativa em algum,

    expectativa, essa, que defraudada atravs de uma actuao contrria de

    quem as praticou.

    Por exemplo: algum procura destruir os efeitos do negcio jurdico, atravs da

    sua anulao, sendo que fez crer contraparte que nunca iria exercer o seu

    direito de pedir essa anulao.

    Ou, tendo determinada pessoa dado causa, a um facto gerador da invalidade do

    negcio, vem depois ela prpria invocar em juzo essa invalidade.

    Ou ainda, uma pessoa limita o exerccio por outrem de um determinado direito

    de crdito e depois, passado o prazo de prescrio vem invocar que esse mesmo

    crdito prescreveu.

    Outro caso ainda, algum convence uma determinada pessoa de que a

    celebrao de um determinado negcio jurdico no carece de forma especial

    (por exemplo, no est sujeito necessidade de escritura pblica, conforme a

    lei exige) e depois mais tarde vem invocar que o negcio formalmente

    invlido.

    Em todos estes casos ns estamos perante situaes de abusos de direito.

    O fundamento da proibio destas condutas a preocupao da ordem jurdica,

    evitar a defraudao da expectativa da confiana legtima.

  • Quando que concretamente, podemos dizer que estamos perante uma

    defraudao da confiana, que justifique caracterizar uma determinada

    conduta que gerou essa confiana como abusiva?

    A doutrina dividiu em 5, os pressupostos da tutela da confiana, so 5 os

    requisitos destas situaes para que possamos dizer que estamos perante uma

    confiana digna de tutela jurdica, cuja defraudao conduz caracterizao de

    uma determinada conduta como abusiva:

    Existncia de uma situao de confiana e essa situao de confiana,

    traduz-se na formao no esprito de determinada pessoa de uma

    expectativa.

    A legitimidade dessa mesma expectativa, e essa legitimidade traduz-se,

    por um lado na boa-f subjectiva do titular da expectativa (a que confiou

    em outrem), e por outro lado, na existncia de elementos objectivos que

    sejam capazes de provocar essa mesma expectativa.

    Investimento de confiana, ou seja, a pessoa em relao qual se pode

    dizer que existe essa tal expectativa, deve ter praticado actos ou

    omisses que evidenciem a existncia dessa expectativa e um dano

    resultante de ela no ser tutelada (por exemplo, realizou despesas, ou

    absteve-se de praticar determinados actos que resultariam para si em

    vantagens partindo do pressuposto que um determinado estado de

    coisas iria ocorrer ou se manteria).

    Tem de existir um nexo de causalidade entre a expectativa e o

    investimento de confiana, foi porque a pessoa esperou que

    acontecesse determinada coisa, ou se mantivesse determinado estado

    de coisas que fez certo investimento, que foi para si nocivo.

    Quando a tutela da confiana onere a outra pessoa a imputabilidade

    dessa situao de confiana, ao sujeito onerado atravs da tutela da

    confiana. Portanto, se ns vamos impor algum o dever de indemnizar

  • os danos causados por esta via, necessrio que tenha sido essa pessoa

    a gerar a expectativa no esprito de outrem.

    Nem sempre se verificam estes pressupostos e existem certos casos em que a

    nossa lei permite expressamente uma conduta contraditria, justamente

    porque parte do princpio de que estes pressupostos no esto preenchidos,

    designadamente no h uma tutela digna de confiana jurdica.

    Por exemplo: A revogao do testamento livre no nosso direito nos termos

    dos artigos 2311 e ss do CC.

    Quem faz testamento deixando os seus bens a outras pessoas, no est inibido

    de mais tarde mudar de ideias, vir a revogar ou alterar esse testamento.

    evidente que o testamento, se for conhecido do beneficirio das deixas

    testamentrias, gera uma espectativa nessa pessoa de vir a receber os bens.

    Simplesmente, esta uma expectativa que a ordem jurdica no considera

    merecedora de tutela e portanto, mesmo que haja uma revogao ela no se

    pode considerar como um acto de abuso de direito, com a consequncia

    geradora do dever de indemnizar.

    J no caso da doao, esta s pode ser revogada com base na ingratido do

    donatrio, nos termos do artigo 970 do CC, e mesmo ai, com limitaes.

    Portanto, temos aqui uma expectativa do donatrio que tutelada.

    A omisso prolongada do exerccio de um direito.

    Uma pessoa no exerceu um determinado direito durante muito tempo, e pelas

    circunstncias em que isso se passou, gerou na pessoa perante quem esse

    direito podia ser exercido, a expectativa legtima de que esse direito nunca viria

    a ser exercido.

    Nestas situaes no existe nenhuma perda de um direito, no estamos perante

    a situao da prescrio (em que o no exerccio de um direito ao fim de um

    certo lapso de tempo, determina a extino do direito), o que h aqui e com

  • base no artigo 334 do CC a precluso do exerccio do direito (pelo facto de

    algum durante muito tempo no ter exercido um direito de que titular, gera-

    se em outrem uma espectativa que nunca o ir exercer e se porventura um dia

    vier a exerc-lo, pode essa situao ser configurada como um abuso de direito e

    como tal, uma forma ilegtima desse exerccio.

    Exemplo: Acrdo do Supremo Tribunal de Justia de 1998, que dizia respeito a

    um contrato de locao financeira.

    A lei exigia ao tempo, sob pena de nulidade, o reconhecimento notarial das

    assinaturas dos outorgantes desse contrato de locao financeira (o chamado

    leasing).

    E neste caso s tinha sido reconhecida a assinatura do locatrio.

    Durante 10 anos, as partes cumpriram pacificamente as suas obrigaes,

    nenhuma delas levantou qualquer questo relativa validade formal desse

    contrato.

    Passados esses 10 anos, o locatrio, deixa de pagar as rendas devidas, nos

    termos desse contrato e vem invocar a nulidade do contrato, com fundamento

    na ausncia da assinatura reconhecida do locador.

    O Supremo entendeu que o princpio da proibio do abuso de direito,

    imponha, neste caso a manuteno do contrato, o contrato no podia ser tido

    como nulo e o locatrio no se podia considerar desvinculado das suas

    obrigaes em consequncia desse vcio formal.

    Nestes casos no basta o no exerccio de um direito durante certo lapso de

    tempo, para que se considere que est precludida a possibilidade desse direito

    ser exercido, ainda necessrio e segundo acrdo do Supremo Tribunal de

    Justia de 19 de Outubro de 2000, que o titular desse direito se comporte como

    se no tivesse esse direito, ou se no quisesse exerc-lo.

  • ainda necessrio que a contraparte, tenha confiado que esse direito nunca

    seria efectivamente feito valer e ainda, que o exerccio desse direito acarrete

    uma desvantagem, um prejuzo para a contraparte.

    No basta portanto, o decurso do tempo necessrio todo um

    circunstancialismo que permita ao Tribunal chegar concluso de que o

    exerccio tardio de um direito abusivo.

    H ainda, uma outra categoria de casos em que se tem admitido que tambm

    estamos perante uma conduta de abuso de direito.

    So situaes em que, algum pratica um acto ilcito e depois se quer fazer

    prevalecer dessa situao ilcita em seu benefcio.

    Exemplo: o senhorio de prdio arrendado, recusa-se durante anos a fazer

    obras no imvel arrendado e em virtude da degradao a que esse imvel

    chegou, o arrendatrio obrigado a desocupar esse imvel.

    A segui o senhorio move uma aco de despejo contra o arrendatrio,

    invocando que ele deixou de habitar o local arrendado.

    Est aqui a tentar prevalecer-se dos resultados de uma conduta dele prprio

    que partida seria contrria a um direito.

    Outra hiptese, tambm, julgada pelo Supremo Tribunal de Justia, em 13 de

    Fevereiro de 2003.

    O caso em que uma determinada pessoa que possua um automvel vendeu

    esse automvel a outra, enviou-lhe um documento para formalizar a venda do

    automvel e o comprador manteve esse documento em seu poder.

    No o assinou e no o devolveu ao vendedor, no entanto j estava na posse

    da viatura

    O comprador vem agora invocar que o contrato nulo, por falta dessa mesma

    assinatura.

  • Uma vez mais, temos algum que pratica um acto ilcito e se est a querer

    prevalecer da situao gerada por esse acto ilcito, em seu prprio beneficio e

    em detrimento de um terceiro.

    Nestes casos, podemos dizer que a actuao do titular do direito contrrio

    boa-f, logo, sendo contrrio boa-f, uma conduta abusiva, portanto, cai no

    mbito do artigo 334 do CC.

    Efeitos do abuso de direito (consequncias jurdicas)

    Se repararem no artigo 334 do CC, vero que l se diz que esse

    comportamento, esse exerccio abusivo desses direitos, tido como ilegtimo.

    A ilegitimidade uma situao que decorre de uma determinada pessoa estar

    impossibilitada de praticar certo acto jurdico, atendendo relao que existe

    entre ela e o objecto desse mesmo acto jurdico.

    Por exemplo, porque esse pessoa quer vender determinado bem, sendo que

    esse mesmo bem no lhe pertence, temos aqui uma situao de ilegitimidade

    em sentido tcnico.

    evidente que o artigo 334 do CC, no emprega aqui o conceito de

    legitimidade neste sentido, o conceito de legitimidade no est aqui utilizado

    num sentido tcnico rigoroso, verdadeiramente, a consequncia do exerccio

    abusivo de um direito a ilicitude do acto praticado.

    O acto que se consubstancia no exerccio de um abuso de direito, um acto

    ilcito, no um acto ilegtimo.

    Um exerccio abusivo de um direito um acto ilcito.

    Consequncia da ilicitude do acto.

    Existem vrias consequncias.

  • Responsabilidade civil quem pratica um acto ilcito, gerando dessa

    forma um dano na esfera jurdica alheia, pode ser chamado a indemnizar

    esse dano. contudo, necessrio, que estejam reunidos os pressupostos

    da responsabilidade civil, que o artigo 483 do CC consagra. Prev-se

    aqui a violao de um direito de outrem, primeira hiptese, ou de uma

    disposio legal destinada a proteger interesses alheios, segunda

    hiptese. No est c, (no artigo 483 do CC), expressamente

    contemplada, o exerccio abusivo de um direito subjectivo, mas a nossa

    doutrina tem admitido, que esta terceira hiptese, se deve tambm

    considerar-se abrangida pelo artigo 483 do CC, como um facto ilcito

    gerador do dever de indemnizar.

    Nulidade do negcio o negcio que seja praticado, celebrado em abuso

    de direito, deve-se considerar como um negcio nulo, nos termos do

    artigo 294 do CC.

    Excepo de dolo pode ser invocado contra o acto abusivo, no sentido

    em que o acto no pode ser praticado e a pessoa, perante quem se

    queira exercer um