resumo - sucessões

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS HELOÍSA MARIA DE FREITAS MEDEIROS DEZEMBRO/2013 Fichamento do livro “DIREITO CIVIL: SUCESSÕES” – PAULO LÔBO CAPÍTULO I – CONCEPÇÃO, ÂMBITO, EVOLUÇÃO E CONSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIREITO DAS SUCESSÕES 1.1. CONCEPÇÃO O direito das sucessões é o ramo do direito civil que disciplina a transmissão de bens, valores, direitos e dívidas deixados pela pessoa física aos seus sucessores, quando falece, além dos efeitos de suas disposições de última vontade. Diz-se herança o patrimônio ativo e passivo deixado pelo falecido, também denominada acervo, monte hereditário ou espólio. Para que haja a sucessão hereditária é necessário (1) o falecimento da pessoa física (de cujus) e (2) a sobrevivência do beneficiário, herdeiro ou legatário (princípio da coexistência). Nem todos os bens juridicamente tuteláveis podem ser objeto do direito das sucessões. Os bens devem ter (a) natureza patrimonial e (b) integrar relações privadas. Ou seja, o que não é patrimonial , ou o que é patrimonial, porém indisponível, não se transmite hereditariamente. Os direitos, pretensões e ações integram a herança. Não pode haver sucessão danosa, o que significa dizer que a responsabilidade patrimonial dos herdeiros se limita ao valor da herança, sem alcançar o patrimônio pessoal dos herdeiros (princípio da pré-exclusão da responsabilidade ultra vires). Os bens jurídicos de natureza não patrimonial (direitos da personalidade, intimidade, vida privada, honra) extinguem-se com a morte de seu titular. A respeito, é importante salientar que os familiares são legitimados para defendê-los, quando ofendidos após a morte de seu titular, mas não são herdeiros das titularidades. Também há bens patrimoniais que se extinguem com a morte do titular, como os direitos de uso, usufruto e habitação ou o direito de preferência. Não apenas a transmissão de bens patrimoniais por causa da morte é objeto do direito das sucessões. A pessoa física pode valer-se de testamento para veiculação de manifestações de última vontade sem fins econômicos, com objetivo de declarar certos fatos de sua existência ou desejos, como o reconhecimento voluntário de filho ou a nomeação de tutor para seus filhos. Pode, ainda, mediante testamento, instituir fundações de fins religiosos ou constituição de servidão de um imóvel em benefício de certas pessoas ou comunidades. Em suma, o direito das sucessões diz respeito às consequências jurídicas do evento morte da pessoa física, alcançando, por vezes, atos que a esse evento antecedem. São três os modos de se tornar herdeiro de uma pessoa falecida: a sucessão legítima, a sucessão testamentária e a sucessão contratual ou por contrato. O direito brasileiro admite

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

    FACULDADE DE DIREITO DE ALAGOAS

    HELOSA MARIA DE FREITAS MEDEIROS

    DEZEMBRO/2013

    Fichamento do livro DIREITO CIVIL: SUCESSES PAULO LBO

    CAPTULO I CONCEPO, MBITO, EVOLUO E CONSTITUCIONALIZAO DO DIREITO DAS

    SUCESSES

    1.1. CONCEPO

    O direito das sucesses o ramo do direito civil que disciplina a transmisso de bens,

    valores, direitos e dvidas deixados pela pessoa fsica aos seus sucessores, quando falece, alm

    dos efeitos de suas disposies de ltima vontade. Diz-se herana o patrimnio ativo e passivo

    deixado pelo falecido, tambm denominada acervo, monte hereditrio ou esplio. Para que

    haja a sucesso hereditria necessrio (1) o falecimento da pessoa fsica (de cujus) e (2) a

    sobrevivncia do beneficirio, herdeiro ou legatrio (princpio da coexistncia).

    Nem todos os bens juridicamente tutelveis podem ser objeto do direito das

    sucesses. Os bens devem ter (a) natureza patrimonial e (b) integrar relaes privadas. Ou

    seja, o que no patrimonial , ou o que patrimonial, porm indisponvel, no se transmite

    hereditariamente. Os direitos, pretenses e aes integram a herana.

    No pode haver sucesso danosa, o que significa dizer que a responsabilidade

    patrimonial dos herdeiros se limita ao valor da herana, sem alcanar o patrimnio pessoal dos

    herdeiros (princpio da pr-excluso da responsabilidade ultra vires).

    Os bens jurdicos de natureza no patrimonial (direitos da personalidade, intimidade,

    vida privada, honra) extinguem-se com a morte de seu titular. A respeito, importante

    salientar que os familiares so legitimados para defend-los, quando ofendidos aps a morte

    de seu titular, mas no so herdeiros das titularidades. Tambm h bens patrimoniais que se

    extinguem com a morte do titular, como os direitos de uso, usufruto e habitao ou o direito

    de preferncia.

    No apenas a transmisso de bens patrimoniais por causa da morte objeto do direito

    das sucesses. A pessoa fsica pode valer-se de testamento para veiculao de manifestaes

    de ltima vontade sem fins econmicos, com objetivo de declarar certos fatos de sua

    existncia ou desejos, como o reconhecimento voluntrio de filho ou a nomeao de tutor

    para seus filhos. Pode, ainda, mediante testamento, instituir fundaes de fins religiosos ou

    constituio de servido de um imvel em benefcio de certas pessoas ou comunidades.

    Em suma, o direito das sucesses diz respeito s consequncias jurdicas do evento

    morte da pessoa fsica, alcanando, por vezes, atos que a esse evento antecedem.

    So trs os modos de se tornar herdeiro de uma pessoa falecida: a sucesso legtima, a

    sucesso testamentria e a sucesso contratual ou por contrato. O direito brasileiro admite

  • apenas a sucesso legtima e a sucesso testamentria, pois os efeitos atribudos doao em

    vida aos provveis herdeiros no se enquadram na sucesso a causa da morte.

    A sucesso pode ser universal, quando todo o patrimnio transmitido aos herdeiros,

    ou sucesso singular, quando h bens destinados a certas pessoas, chamadas de legatrias.

    Quanto natureza das normas jurdicas aplicveis, elas podem ser normas jurdicas

    cogentes de proteo dos herdeiros necessrios (sucesso legtima necessria) ou norma

    jurdica dispositiva, aplicvel supletivamente (sucesso legtima simples), ou ainda negcio

    jurdico unilateral (sucesso testamentria).

    Os direitos da personalidade, apesar de se extinguirem com a morte da pessoa, so

    dotados de transeficcia post mortem, podendo ser defendidos pelos familiares do de cujus.

    1.4. ABERTURA DA SUCESSO: MORTE REAL E PRESUMIDA DA PESSOA FSICA

    Por abertura da sucesso entende-se a ocorrncia indiscutvel da morte da pessoa

    fsica. O morto o autor da herana.

    O mesmo fato (morte da pessoa fsica) provoca extino dos direitos do titular e

    irradia-se na esfera jurdica de seus sucessores.

    O momento da morte h de ser indiscutvel, para que no paire dvidas sobre quem

    sucedeu o autor da herana e desde quando. Assim , porque apenas herdam os que a ele

    sobreviverem e no os que faleceram antes dele (princpio da coexistncia). A morte fato

    jurdico em sentido estrito.

    O direito brasileiro adotou por inteiro a regra da transmisso imediata das

    titularidades de quem morreu, no admitindo que os direitos restem sem sujeito. Os

    sucessores investem-se imediatamente nas titularidades, ainda que no saibam da ocorrncia

    da morte (saisine).

    A morte pode, ainda, ser real (aquela constatada efetivamente no corpo da pessoa,

    com a extino da vida) ou presumida (em virtude de ausncia, tendo por efeito a abertura da

    sucesso).

    A morte enceflica, constatada indiscutivelmente pela equipe mdica, constitui o fim

    da pessoa, ainda que outros rgos do corpo sejam mantidos artificialmente, pois no existe

    mais autonomia de vida pessoal. Em 1992, a legislao brasileira incorporou o conceito de

    morte enceflica, em substituio do conceito de morte por parada cardiorrespiratria;

    portanto, ocorre a morte da pessoa, ainda que sem parada cardiorrespiratria do corpo.

    A comorincia a simultaneidade das mortes de duas ou mais pessoas. Em

    determinadas situaes, impossvel constatar quem faleceu primeiro. Diante disso, o direito

    vale-se de presuno legal relativa, entendendo que ambos morreram simultaneamente.

    Consequncia disso a impossibilidade de se considerar herdeiro o filho que faleceu no

    mesmo acidente que o pai, uma vez que apenas podem ser herdeiros aqueles que sobrevivam

    ao falecido.

    Por ausncia, tem-se o desconhecimento, por longo perodo de tempo, do paradeiro

    da pessoa, por seus parentes e conhecidos. A ausncia instrumento jurdico voltado a

    resolver problemas de natureza patrimonial resultantes do desconhecimento duradouro da

    existncia da pessoa, mas que no pretende se igualar ao fato natural da morte.

    A ausncia requer o preenchimento dos seguintes requisitos:

    i) desaparecimento da pessoa fsica de seu domiclio;

  • ii) durao do tempo de desaparecimento, relativamente longo, aprecivel

    no caso concreto, pois a lei no o determina;

    iii) carncia de notcias por parte das pessoas com quem se relacionava;

    iv) abandono da administrao de seus bens e negcios.

    Se no h bens suscetveis de sucesso hereditria no h utilidade na declarao de

    ausncia.

    A ausncia dever ser declarada judicialmente, sendo legitimados para propor a ao

    os herdeiros, legatrios ou credores e o Ministrio Pblico. Quando o juiz declarar a ausncia,

    dever nomear um curador, a quem cabe administrar os bens da pessoa ausente, definindo os

    poderes e obrigaes dessa especfica curatela. Aps um ano da deciso judicial, ser

    promovida a abertura da sucesso provisria, cessando a curatela. A sucesso provisria

    perdurar por 10 anos. Se o ausente retornar dentro desse prazo, desfaz-se a sucesso,

    devolvendo-se-lhe os bens. A sucesso definitiva aps o prazo de 10 anos da sucesso

    provisria convalida com carter de permanncia a transmisso dos bens, que podem ser

    livremente geridos e alienados pelos sucessores. Pesa-lhe, todavia, uma condio resolutiva,

    para a hiptese do reaparecimento a qualquer tempo do ausente, quando este retomar seu

    patrimnio no estado em que encontrar, sem fora retroativa. O prazo de dez anos ser

    dispensada se o ausncia, poca de seu desaparecimento, j contava com setenta e cinco

    anos ou mais. Nesse ltimo caso, a sucesso ser definitiva, sem necessidade da sucesso

    provisria, passados cinco anos do desaparecimento, quando atingiria oitenta anos.

    O direito brasileiro tambm admite a presuno definitiva da morte da pessoa

    desaparecida. So eventos e circunstncias com altssimo grau de probabilidade da morte, nos

    quais o corpo no encontrado. Ocorrem, principalmente, em tragdias naturais ou

    provocadas por acontecimentos humanos ou por falhas de equipamentos, alm de

    desaparecimento de prisioneiro de guerra, aps dois anos do encerramento desta.

    A data provvel do falecimento deve ser, preferencialmente, a da ocorrncia do fato

    ou da tragdia e no do encerramento das buscas. A sentena judicial que declara a morte tem

    o mesmo efeito da certido de bito.

    A Lei n. 9.140, de 1995, reconhece como mortas pessoas desaparecidas em razo da

    participao, ou acusao de participao, em atividades polticas no perodo de 2 de

    setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979, perodo que corresponde durao da ditadura

    militar no Brasil.

    1.5. HERANA COMO ENTE NO PERSONALIZADO

    Como o direito brasileiro no admite direito sem sujeito, a natureza jurdica da

    herana de ente no personalizado, e no patrimnio sem sujeito, como defendem alguns.

    O art. 80 do CC inclui dentre os bens imveis o direito sucesso aberta, ainda que

    bem imvel algum haja. Trata-se de equiparao legal. Se deixou aes, bens mveis e outros

    bens no imveis, o conjunto dele tido pelo direito como um bem imvel, at a partilha.

    Uma das consequncias a necessidade de escritura pblica para alienao (cesso) da

    parte ideal da herana.

    A herana jacente, a herana vacante e o esplio possuem capacidade processual.

    Nessa caso, no se representa o falecido, pois a pessoa no mais existe, mas sim a

    universalidade dos bens deixados, tida como um todo.

  • Paulo Lbo defende que a herana entidade no personificada porque no necessita

    de se revestir de personalidade para que possa atuar em juzo ou fora dele, na defesa de seus

    interesses, alm de no ser sujeito de direito de capacidade jurdica necessariamente limitada

    consecuo de suas estritas finalidades.

    A herana jacente apenas a fixao de prazo para que apaream eventuais

    herdeiros familiares no conhecidos, enquanto a herana vacante o procedimento exigvel

    para a certificao da transmisso da herana Fazenda Pblica.

    1.6. DE CUJUS E OS DEMAIS FIGURANTES DO DIREITO DAS SUCESSES

    O autor da herana a pessoa jurdica que morreu. Herdeiros so os que receberam o

    patrimnio ou parte ideal dele, seja em virtude da lei, seja por deciso do testador. O herdeiro

    legtimo quando se enquadra em um dos tipos de sucessores previstos em lei; necessrio

    quando, alm de legtimo, recebe a garantia legal mnima da parte indisponvel,

    correspondente metade do patrimnio do de cujus.

    Art. 1829. A sucesso legtima defere-se na ordem seguinte:

    I aos descendentes, em concorrncia com o cnjuge sobrevivente,

    salvo se casado este com o falecido no regime de comunho

    universal, ou no da separao obrigatria de bens (art. 1.640,

    pargrafo nico); ou se, no regime de comunho parcial, o autor da

    herana no houver deixado bens particulares;

    II aos ascendentes, em concorrncia com o cjuge;

    III ao cnjuge sobrevivente;

    IV aos colaterais.

    Art. 1.845. So herdeiros necessrios os descendentes, os

    ascendentes e o cnjuge.

    Legatrios so as pessoas fsicas ou jurdicas que o testador escolhe para receber

    determinados bens, quando se abrir sua sucesso. O que caracteriza o legatrio o fato de

    investir-se em direito sucessrio sobre determinado bem e no sobre parte do patrimnio

    deixado. Quando a pessoa contemplada pelo testador, em vez de receber bem ou bens

    determinados, recebe parte ou parcela do patrimnio, considerada herdeira testamentria,

    deixando de ser qualificada como legatria. O legatrio mero adquirente de bens; no

    continuador do de cujus (papel reservado ao herdeiro).

    1.7. O LUGAR NO DIREITO DAS SUCESSES: CONFLITO DE LEIS NO ESPAO

    Para o direito civil brasileiro, o lugar da abertura da sucesso o do ltimo domiclio

    do falecido, ainda que neste no esteja situado nenhum dos seus bens ou tenha falecido em

    outro lugar. Por outro lado, a legislao processual, mais especificamente o art. 96 do CPC,

    ressalva que, caso o autor da herana no tenha domiclio certo, ser competente o foto da

    situao dos bens, ou o lugar em que ocorreu o bito, se o de cujus tinha bens em lugares

    diferentes.

  • Domiclio lugar onde a pessoa estabelece a sua residncia com nimo definitivo.

    Se o autor da herana for estrangeiro, ser aplicada a lei brasileira em benefcio do

    cnjuge e dos filhos, se for mais favorvel que a lei do pas de nacionalidade daquele; se esta

    for mais favorvel, a lei brasileira no prevalecer.

    Se a herana for vacante, o domiclio no determinante da legitimidade do municpio

    que suceder, pois, o Cdigo Civil, mudando a orientao legal anterior, estabelece que os

    bens arrecadados passaro ao domnio dos municpios, ou do Distrito Federal, ou da Unio,

    onde estiverem localizados.

    1.8. O TEMPO NO DIREITO DAS SUCESSES: DIREITO INTERTEMPORAL

    O tempo da morte do de cujus determina qual a lei aplicvel sua sucesso. Essa regra

    no se aplica Constituio.

    Com relao doao feita em via a herdeiros necessrios, tendo em vista que

    importa adiantamento da correspondente parte legtima, a lei aplicvel no a do momento

    da abertura da sucesso, mas sim a do momento em que se der o contrato de doao. Em

    outras palavras, se a lei for mudada, e a nova estabelecer, no momento da morte do doador,

    que no h mais nulidade do excedente (CC, art. 549), prevalecer a antiga, para que no haja

    violao do princpio constitucional da irretroatividade das leis.

    Em relao sucesso testamentria, a lei que rege o testamento a da feitura e no

    a da abertura da sucesso. Quando o testamento servir apenas de forma para algum ato que

    afeta o direito herana, como no caso de deserdao, a lei nova predomina, tornando

    ineficaz o ato de deserdao que tiver utilizado forma testamentria no mais admitida

    quando houver a abertura da sucesso.

    CAPTULO II SUCESSO HEREDITRIA EM GERAL

    2.1. SUCESSO E HERANA

    Os sucessores sucedem nos bens e no na personalidade do falecido. A herana tem

    como termo inicial a abertura da sucesso (morte) e como termo final a partilha.

    O Cdigo Civil brasileiro (arts. 12 e 20) distingue titularidade dos direitos da

    personalidade, da pessoa viva, e legitimao dos familiares para requerer medidas de proteo

    dos direitos da personalidade do falido, sem caracterizar sucesso. O STJ tem afirmado (RESP

    1040529), em casos de ao de reparao por danos morais, que o direito que se sucede o

    da ao e no o direito da personalidade, por natureza intransmissvel. As pretenses

    reparatrias em geral (dano material ou moral) incluem-se como crditos na herana e se

    transmite com ela, por fora do art. 943 do Cdigo Civil.

    A sucesso a causa da morte pode ser de dois tipos, no direito brasileiro: sucesso

    legtima e sucesso testamentria. Quando o falecido deixa herdeiros necessrios (parentes

    em linha reta, cnjuge ou companheiro), a sucesso testamentria no abrange a totalidade

    dos bens deixados, mas apenas a metade, denominada parte disponvel.

    O herdeiro na sucesso universal, no herda bens determinados, mas o conjunto da

    herana ou parte ideal dela. Diferentemente, na sucesso a ttulo particular, o sucessor

    (legatrio) recebe bem determinado pelo testador. O legatrio, que sucessor a ttulo

  • particular, no pode responder, com o bem que lhe foi destinado pelo autor da herana, pelo

    pagamento dos dbitos da massa hereditria.

    So considerados ilcitos os negcios jurdicos que tenham por objeto os bens que vo

    ser deixados por algum, quando morrer.

    2.2. AQUISIO DA HERANA: SAISINE

    Adquire-se a herana, automaticamente, com a abertura da sucesso. A transmisso

    por fora de lei. O que uma pessoa herdou e ainda no sabe, ou no aceitou, j ingressou em

    seu patrimnio, conquanto no definitivamente. A essncia da norma brasileira que a morte

    da pessoa no gera um vazio de titularidade sobre a herana que deixou. No se exige

    qualquer ato de autoridade ou de herdeiro para que se opere a transferncia da herana.

    A saisine, contudo, no opera automaticamente com relao posse dos bens

    deixados aos legatrios, pois estes, conquanto j investidos na titularidade dos respectivos

    direitos reais, tm que reclam-la aos herdeiros legtimos, se houver. Consequentemente, no

    direito brasileiro, a transmisso dos direitos reais, a causa da morte, legal e automtico, no

    dependente de vontade ou deciso de quem quer que seja. A transmisso da posse imediata e

    direta no opera automaticamente em relao aos legatrios.

    Nos atos entre vivos, a aquisio dos direitos reais sobre imveis apenas ocorre com o

    registro do ttulo de aquisio; j com relao aos bens mveis, o modo de aquisio a

    tradio (entrega real da coisa). Diferentemente, na transmisso da herana de bens mveis e

    imveis a causa da morte, o ttulo e o modo de aquisio se confundem na abertura da

    sucesso: no so, portanto, dois momentos distintos, o que significa dizer que no se fazem

    necessrios nem o registro pblico nem a tradio da coisa, cujas eficcias so meramente

    declarativas, ao contrrio da eficcia constitutiva da transmisso entre vivos. Nesse sentido,

    esclarecendo o efeito da saisine, decidiu o STJ (REsp 48199) que a herana modalidade de

    aquisio da propriedade imvel, que se transfere aos herdeiros com a abertura da sucesso e

    no com o registro imobilirio.

    Se no houver herdeiros legtimos ou testamentrios, ou caso tenham renunciado

    herana, herda a Fazenda Pblica. Esta no pode renunciar herana.

    2.3. EFEITOS JURDICOS DA SAISINE PLENA

    Os principais efeitos do saisine, segundo Pontes de Miranda, so: (a) a prescrio

    contra os herdeiros comea a correr da morte do de cujus; (b) os herdeiros podem exercer as

    medidas conservatrias, como as de defesa da posse, de interrupo de prescrio; (c) podem

    pedir a partilha, tomar posse efetiva de bens, propor aes de nulidade ou anulao de

    testamento.

    A saisine brasileira importa imediata transmisso da posse ao herdeiro, desde a

    abertura da sucesso, e no apenas as titularidades dos direitos reais. Seja como for, mediata

    ou imediata, a posse que passa ao herdeiro posse prpria, definitiva, a mesma em que se

    encontrava investido o de cujus, no posse imprpria ou provisria.

    At a partilha dos bens, a posse imediata concentra-se no cnjuge, ou companheiro,

    ou administrador da herana ou inventariante judicial. Mas a posse mediata j foi transmitida

    aos herdeiros desde a abertura da sucesso, que a tm em partes ideais, pois enquanto no se

  • proceder partilha dos bens (judicial ou extrajudicialmente), a herana tida como um todo,

    em condomnio. Com relao a isso, o Cdigo Civil adotou expressamente o entendimento de

    que a natureza jurdica da herana de condomnio. A indivisibilidade e a universalidade da

    herana regulam-se pelas normas relativas ao condomnio, at a partilha. Os herdeiros legais e

    testamentrios so titulares de partes ideais. A composse exclusiva dos herdeiros, no

    incluindo o legatrio, cuja titularidade se equipara nua-propriedade at a partilha, ou antes

    desta se lhe for deferido o pedido de legado.

    Os direitos hereditrios, ainda que em partes ideais da herana, integram o patrimnio

    do herdeiro e so, por isso, disponveis e penhorveis; arrematados os direitos hereditrios, o

    herdeiro respectivo sucedido no inventrio pelos arrematantes (REsp 999348).

    2.4. ACEITAO DA HERANA

    O herdeiros sucessvel, na ordem de vocao hereditria, pode aceitar ou no a

    herana. A aceitao conforma-se ao princpio constitucional da liberdade ou de

    autodeterminao, pois ningum pode ser obrigado a receber herana, se no a deseja.

    A aceitao prvia tida como juridicamente inexistente.

    A aceitao no pode ser revogada em face do disposto no art. 1.804 do Cdigo Civil:

    aceita a herana, torna-se definitiva a sua transmisso ao herdeiro. Diferentemente da

    renncia, a aceitao do herdeiro no produz efeitos retroativos, pois no h alterao quanto

    origem e o alcance da herana que recebeu. A aceitao possui natureza declaratria. A

    renncia, sim, retroage, apagando desde o incio a transmisso no desejada.

    O Cdigo Civil no exige manifestao expressa para a aceitao, reputando-a

    existente quando o herdeiro no manifesta expressamente a renncia. Se o herdeiro ou o

    legatrio renuncia, o valor correspondente acrescido herana dos herdeiros legtimos.

    Faculta-se a qualquer dos herdeiros requerer ao juiz, aps vinte dias da abertura da

    sucesso, que notifique algum ou todos os demais para dizer expressamente se aceita ou

    renuncia herana. Cabe ao juiz estabelecer prazo razovel, dadas as circunstncias, para tal

    manifestao, desde que no seja superior a trinta dias. Depois de devidamente notificado,

    tem-se a herana como confirmada e aceita, de modo irrevogvel. D-se a presuno legal

    absoluta.

    O incio do prazo para o nascituro depende de seu nascimento com vida e desde que

    conte com representante legal.

    A aceitao pode ser implcita, mas a renncia sempre expressa. Ela pode ser

    inexistente, invlida ou ineficaz. inexistente quando o aceitante no herdeiro ou legatrio,

    ou quando feita aps a renncia, dado o carter de irrevogabilidade desta. nula a aceitao

    que viola lei expressa ou forma essencial. Tambm nula, por violao de lei, a aceitao feita

    por tutor ou curador, quando no autorizados pelo juiz ou feita diretamente pelo menos

    absolutamente incapaz. anulvel a aceitao com vcio da manifestao da vontade, como o

    erro em relao ao objeto da herana, ou quando feita diretamente pelo relativamente

    incapaz no assistido.

    2.5. MODALIDADES DE ACEITAO DA HERANA

    A aceitao pode ser expressa ou tcita, mas a renncia deve ser sempre expressa.

  • No se consideram aceitao tcita da herana certas condutas que o sucessvel adota,

    que podem ser vistas como expresses de solidariedade, afeio e considerao com a

    memria do de cujus, inclusive para se evitar que os bens deixados se deteriorem. Essas

    condutas no presumem a aceitao da herana.

    Se o herdeiro for absolutamente incapaz, a aceitao expressa ou tcita ser ato de

    seu representante legal. Se for relativamente incapaz, ser assistido por seu assistente. O

    herdeiro que foi excludo da herana, por cometer qualquer das situaes ilcitas previstas no

    Cdigo Civil, no poder representar seu filho, que herdar em seu lugar; tampouco poder

    administr-la, porque, em ambos os casos, seria beneficirio indireto, o que importaria em

    fraude lei. Quanto ao tutor de menores (se faltam ambos os pais) e curador de interditos

    somente podem aceitar herana com autorizao do juiz (CC, art. 1.748, II).

    O credor do herdeiro pode, excepcionalmente, tomar o lugar desse para aceitao da

    herana do de cujus. A faculdade excepcional ocorre quando o herdeiro, que no contar com

    patrimnio ativo suficiente para responder por suas dvidas, renunciar herana que teria

    direito a receber, o que, objetivamente, poder pr em risco a garantia do crdito e prejudicar

    o credor. Qualquer renncia herana fica exposta a essa eventual ineficcia, quando o credor

    exerce o direito de aceitar no lugar do herdeiro e limitado ao montante do crdito. O credor

    requerer ao juiz que seja admitido a aceitar a herana no lugar do herdeiro que lhe

    devedor, no montante suficiente segurana do crdito. O remanescente do que seria cabvel

    ao herdeiro acrescido aos quinhes dos demais herdeiros.

    Essa modalidade de aceitao forada apenas cabvel em relao s dvidas dos

    herdeiros, mas nunca para as dvidas deixadas pelo prprio de cujus. Nesse caso, no h

    necessidade de recorrer a essa modalidade, pois o credor pode habilitar-se diretamente no

    inventrio.

    A lei concede o prazo de trinta dias para sua habilitao ao inventrio, contados do

    conhecimento do fato, ou seja, no da data da abertura da sucesso. Recai sobre os

    herdeiros interessados no acrscimo de seus respectivos quinhes hereditrios, o nus de

    provar que o conhecimento alegado pelo credor do falecimento do de cujus se deu antes dos

    trinta dias do pedido de habilitao.

    Pontes de Miranda aponta dois pressupostos necessrios para a aceitao pelo credor:

    (1) a anterioridade dos crditos, em relao renncia, e (2) a insuficincia dos bens do

    devedor para solver a dvida. indispensvel a citao do renunciante para sua defesa, se for o

    caso. Se o renunciante pagar as dvidas, a aceitao forada perder sua eficcia, prevalecendo

    a renncia. Desde o momento em que se paga todo o crdito, cessa a legitimao obtida.

    2.6. SITUAES VEDADAS NA ACEITAO DA HERANA

    No possvel que a aceitao se faa sob condio de qualquer espcie ou que seja

    considerada a partir de determinada data. Tampouco admitida a aceitao de parte da

    herana. Ou se aceita a integralidade da herana, com seu ativo e passivo, suas vantagens e

    desvantagens, ou se tem de renunciar a ela.

    Essa proibio decorre do fato de ser a herana um todo indivisvel, at a partilha,

    havida em condomnio pelos herdeiros.

    Caso o autor da herana tenha destinado alguns bens em benefcio de determinados

    herdeiros, podem eles aceitar a herana e rejeitar o ou os legados, ou at mesmo renunciar

  • herana e aceitar apenas os legados. Nesta ltima hiptese, deixou de ser herdeiro e passou a

    ser exclusivamente legatrio.

    O Cdigo Civil (art. 1.808) criou outra exceo regra de vedao da aceitao parcial,

    ao permitir que o herdeiro, chamado, na mesma sucesso, a mais de um quinho hereditrio,

    sob ttulos sucessrios diversos, pode aceitar um ou alguns quinhes e renunciar a outro ou

    outros.

    2.7. RENNCIA DA HERANA OU DO LEGADO

    A renncia, em virtude da eficcia retroativa negativa, opera o apagamento da

    situao jurdica de herdeiro ou de legatrio, como se o renunciante nunca tivesse sido (art.

    1.811 ningum pode suceder, representando herdeiro renunciante).

    No se admite a renncia tcita ou por silncio; por mais expressiva e verdica que seja

    a manifestao de vontade de renunciar, no se tem como renunciada a herana, se no for

    expressa por escrito. Optou o direito brasileiro por uma de duas formas escritas: a) escritura

    pblica, lavrada por notrio; b) por termo nos autos, se o renunciante optar por manifestar sua

    A renncia irrevogvel e seu efeito imediato. Da mesma forma que a aceitao, no

    se admite renncia submetida a qualquer condio ou termo.

    Qualquer herdeiro ou legatrio pode renunciar herana ou ao legado, desde que no

    os tenha aceitado, porque a aceitao tambm irrevogvel. A Fazenda Pblica (municipal,

    distrital ou federal), contudo, no pode renunciar, porque a herana no pode ficar sem

    titular, beneficiando-se a sociedade como um todo.

    Hipteses em que a renncia ser inexistente, nula, anulvel e ineficaz: pgina 60.

    Se o herdeiro renunciar porque eram excessivos os gravames impostos pelo testador,

    mas, depois, em deciso judicial forem consideradas nulas as respectivas disposies

    testamentrias, poder propor a ao de anulao da renncia, pelo erro.

    A renncia pode ser feita por procurador com poderes especficos. Nesse caso, exige-

    se que haja indicao expressa de que o procurador pode renunciar herana e quem o

    autor da herana. Na hiptese de legatrio, de qual bem se trata. Para a escritura pblica de

    herana, a procurao tambm dever revestir a forma pblica, tendo em vista expressa

    previso do Cdigo Civil, art. 657, para esses casos. dispensvel a forma pblica da

    procurao quando a renncia se der por termo nos autos.

    A renncia abdicativa a rejeio pura e simples da herana. A renncia translativa

    ocorreria quando o herdeiro renunciasse a favor de determinada pessoa. Porm, renncia a

    favor de determinada pessoa no existe; o ato seria de herana, ou de doao, como adverte

    Pontes de Miranda. Mas o Cdigo Civil (art. 1.805, 2) inovou para atender a prticas sociais

    comuns, admitindo que no importa igualmente aceitao a cesso gratuita, pura e simples

    da herana, aos demais coerdeiros. O objetivo da norma legal evitar a incidncia de tributos

    e outros encargos legais, se ficasse caracterizada a cesso, equivalente a doao. Para os

    herdeiros cedentes, a cesso, todavia, tem os efeitos de renncia, pois opera retroativamente

    e presume a inexistncia de aceitao.

    Os pais, o tutor e o curador no podem alienar bens imveis de seus filhos, pupilos e

    curatelados sem prvia autorizao do juiz. No podem tambm renunciar herana desses

    bens, em nome das pessoas protegidas, salvo por motivo justificado e aps autorizao

  • judicial. De qualquer modo, se houver coliso de interesses entre os pais e os filhos, cabe ao

    juiz dar aos segundos curador especial (CC, art. 1.692).

    No se exige a outorga do cnjuge ou do companheiro para o ato de renncia do

    herdeiro. A renncia ato unilateral, no receptcio e exclusivo do herdeiro, alm de retro-

    operante, apagando todos os efeitos, inclusive da saisine. No h aquisio patrimonial nem

    pelo herdeiro nem por seu cnjuge ou companheiro.

    2.8. LEGITIMAO PARA SUCEDER

    So legtimos a suceder os sujeitos de direito que podem ser qualificados como

    herdeiros, de acordo com a lei, ou como legatrios, designados em testamento. A legitimao

    para a sucesso hereditria mais ampla que a capacidade civil, pois alcana outros sujeitos

    de direito, que no so pessoas.

    So legitimados a suceder, no direito brasileiro:

    a) as pessoas fsicas;

    b) os nascituros;

    c) as pessoas fsicas ainda no concebidas, ou prole eventual de determinadas pessoas,

    contempladas em testamento;

    d) as pessoas jurdicas, designadas em testamento;

    e) as entidades no personificadas, porm existentes, como as sociedades em comum

    ou as sociedades em conta de participao, designadas em testamento;

    f) as pessoas jurdicas futuras;

    O direito admite a legitimidade de pessoa jurdica ainda no existente a suceder. A

    nica forma admitida a fundao de direito privado, excludas as associaes civis,

    sociedades empresrias ou quaisquer entidades admitidas em direito civil ou empresarial. O

    testamento no necessita conter a organizao da fundao, ou o Estatuto, mas deve definir

    com clareza quais os bens afetados que retira da parte disponvel e os fins aos quais so

    destinados. Considerando que o testador no mais existir quando a fundao for constitudas,

    nem esta contar com scios ou associados, a lei faz competir ao Ministrio Pblico a

    fiscalizao de suas atividades, o controle e a aprovao de suas contas e das reformas

    estatutrias.

    2.9. ADMINISTRAO DA HERANA

    A herana totalidade patrimonial que pressupe gesto ou administrao e

    representao judicial e extrajudicial, dado seu carter de entidade no personalizada. O

    direito considera-a bem imvel para fins legais (CC, art. 80), um todo unitrio, bem

    indivisvel ou condomnio (CC, art. 1791).

    O direito no admite qualquer vazio na administrao da herana. Por isso, estabelece

    uma ordem preferencial de inventariante que deve ser observada, enquanto algum no for

    investido na qualidade de inventariante, no inventrio judicial, ou for celebrada a escritura

    pblica de inventrio, quando todos os herdeiros forem plenamente capazes. A ordem

    obrigatria e o investido legalmente na administrao da herana apenas pode dela se eximir,

    justificadamente, por deciso judicial.

  • Na ordem sucessiva, incumbe inicialmente ao cnjuge ou ao companheiro de unio

    estvel, desde que esteja convivendo de fato com o de cujus, no momento da abertura da

    sucesso, compartilhando a administrao do patrimnio comum e particular de cada qual no

    mesmo domiclio.

    Na falta de cnjuge ou companheiro, assume a administrao da herana o herdeiro

    que j estiver na posse ou na administrao dos bens. Entre os herdeiros da mesma classe, se

    mais de um estiver na gesto do patrimnio, prevalece o mais velho. Se quem estiver na

    administrao do patrimnio for sucessvel de outra classe, no considerado herdeiro para

    fins da administrao da herana.

    Na falta de herdeiro que estivesse na administrao ftica do patrimnio (no basta o

    ttulo de herdeiro), assume a administrao da herana o testamenteiro que foi designado

    pelo testador.

    Se faltarem o cnjuge, o companheiro, o herdeiro ou o testamenteiro, caber ao juiz

    designar o administrador da herana, entre pessoas de sua confiana. Mas no basta a

    confiana; exige-se demonstrada aptido para gesto ou administrao. A m escolha, que

    cause prejuzos herana, pode levar responsabilidade civil do Estado e administrativa do

    juiz.

    A administrao compulsria da herana, segundo a ordem legal referida,

    temporria e de prazo presumivelmente curto. O administrador assume tal mnus at que

    haja o compromisso do inventariante, que a partir da passa a exerc-lo, quando o inventrio

    for judicial. Se for extrajudicial, at que se conclua a escritura pblica da partilha.

    2.10. CESSO DA HERANA

    O herdeiro pode transferir para outrem sua parte da herana. Como a herana um

    todo indivisvel, segundo as regras do condomnio, at que se d a partilha, cada herdeiro

    titular de parte ideal, desde a abertura da sucesso. A parte ideal, da mesma forma que ocorre

    com o condomnio, pode ser transferida para outro herdeiro ou para terceiro, mediante

    instrumento pblico de cesso gratuita ou onerosa.

    No se cede a qualidade de herdeiro, mas sua posio, inclusive para fins de

    aceitao e petio da herana.

    No possvel a cesso da herana com utilizao de instrumento particular, porque,

    ainda que no contenha qualquer imvel, a este equiparada para os fins legais. Mas no h

    impedimento a que se faa promessa de cesso de herana por instrumento particular.

    A lei atual exige que a cesso se d por escritura pblica, no se fazendo necessrio o

    registro pblico, inclusive imobilirio, para que produza seus efeitos perante o esplio, pois o

    cessionrio, ao assumir a posio de herdeiro, alcanado pela transmisso do domnio e da

    posse do herdeiro cedente desde a abertura da sucesso, por fora de lei (saisine) e no em

    razo do registro.

    A cesso gratuita equivale doao, sendo as normas deste contrato supletivas

    daquela. A cesso onerosa, dependendo de sua finalidade, equivale compra e venda, quando

    a totalidade ou a parte ideal transferida mediante o pagamento de preo.

    Pode a cesso da herana ser de determinada proporo ou percentual dela (quando

    houver nico herdeiro), ou da parte ideal de algum herdeiro.

  • O direito brasileiro no admite que o herdeiro fraude a natureza do todo indivisvel da

    herana, imposta por lei, cedendo bem determinado. ineficaz a cesso de bem determinado

    feita por herdeiro, assim como a disposio que o herdeiro faa de bem componente da

    herana, para outros fins, sem autorizao expressa do juiz, como o arrendamento ou locao

    a terceiro, ou sua entrega para garantia de dvida, como penhor e hipoteca.

    A cesso de parte ideal ou de parte da parte ideal diz respeito ao valor

    proporcional herana, no momento da escritura pblica da cesso. No alcana o que,

    posteriormente, tenha sido a ela acrescido.

    A cesso da herana no pode preterir o direito de preferncia que deve ser

    assegurado aos coerdeiros. O direito de preferncia aplicvel apenas cesso onerosa a

    terceiro estranho sucesso, mas no para a cesso gratuita.

    O exerccio da preferncia depende da assuno do pagamento do valor tanto por

    tanto.

    Se forem vrios os coerdeiros interessados em exercer a preferncia, o Cdigo Civil,

    art. 1.795, estabelece que entre eles se distribuir o quinho cedido, na proporo das

    respectivas quotas hereditrias.

    Diferentemente da renncia, se o herdeiro cedente for casado ou companheiro de

    unio estvel, havendo bens comuns, exige-se que haja outorga do outro cnjuge ou

    companheiro, salvo se o regime de bens for o de separao absoluta.

    O cessionrio, sendo sucessor a ttulo singular, s responde pelas dvidas do de cujus

    na proporo da parte da herana adquirida, porque a alienao da herana no despe o

    vendedor de sua qualidade de herdeiro.

    2.11. RESPONSABILIDADE DE HERANA PELAS DVIDAS E DEMAIS ENCARGOS

    O patrimnio que se transmite aos herdeiros o ativo e o passivo.

    A responsabilidade pelas dvidas e demais encargos exclusivamente do herdeiro, seja

    ele legtimo, seja ele assim investido em testamento. Assim, os legatrios, pelo fato de serem

    beneficiados com bens determinado, no respondem por elas. Para o fim de responsabilidade

    dos dbitos da herana, o legatrio assume peculiar posio de credor e no de devedor;

    credor contra os herdeiros em relao ao bem que lhe foi destinado, com pretenso para que

    lhe seja entregue a posse.

    CAPTULO III SUCESSO LEGTIMA

    3.1. CONCEPO E PRIMAZIA

    A sucesso legtima ou legal a que se d em observncia ordem de vocao e aos

    critrios estabelecidos na legislao. Divide-se em sucesso necessria e legtima em sentido

    estrito.

    Tem primazia sobre a sucesso testamentria, podendo ser esta afastada em favor

    daquela quando: a) o testamento for declarado nulo ou inexistente pelo juiz; b) o testador

    revogar o testamento expressa ou tacitamente; c) o testamento for destrudo ou extraviado,

    sem possibilidade de recuperao; d) os herdeiros testamentrios e legatrios forem

  • considerados excludos da herana, ou indignos, ou falecerem antes do de cujus, ou tiverem

    renunciado herana.

    3.2. ORDEM DA VOCAO HEREDITRIA

    O Cdigo Civil de 2002 adota, resumidamente, a seguinte ordem: descendentes,

    ascendentes, cnjuge sobrevivente, parentes colaterais. Os herdeiros da classe seguinte s

    herdam se faltarem os da classe anterior. Dentro de cada classe, h subordens ou graus;

    nestes, os parentes mais prximos preferem aos mais remotos. Na classe dos descendentes,

    consideram-se mais prximos os filhos, depois os netos e assim sucessivamente. Na classe dos

    ascendentes tambm os mais prximos preferem aos mais remotos, mas de acordo com as

    linhas paterna e materna, nas quais se biparte a herana: se faltarem os pais, os avs no

    herdam igualmente, mas de acordo com sua linha (o nico av paterno herda a metade e os

    dois avs maternos herdam a outra metade).

    Na classe dos colaterais, alguns parentes de mesmo grau preferem a outros, como os

    sobrinhos que preferem aos tios (ambos so parentes em terceiro grau). Nas linhas diretas

    dos descendentes e dos ascendentes no h limite de grau, que infinito, diferentemente da

    linha colateral, encerrada no quarto grau, para os fins de sucesso.

    3.3. HERDEIROS NECESSRIOS

    Entre os herdeiros legtimos h os que o direito tutela de modo especial garantindo-

    lhes uma parte intangvel da herana, denominada legtima. So os chamados herdeiros

    necessrios.

    A finalidade da qualificao legal dos herdeiros necessrios, entre os herdeiros

    legtimos, diz respeito proteo da parte da herana que no pode ser destinada a outros

    parentes ou a estranhos, mediante atos de liberalidade (doao, testamento, partilha em

    vida), denominada parte legtima ou parte indisponvel.

    O Cdigo Civil de 2002 tambm introduziu a concorrncia sucessria obrigatria do

    cnjuge e do companheiro com os descendentes ou ascendentes do falecido, o que os

    converte em tipos especiais de herdeiros necessrios, pois compartilham a parte legtima ou

    indisponvel da herana.

    Restringindo o poder do testador, o Cdigo Civil (art. 1.848) apenas admite as clusulas

    de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade sobre os bens da legtima se

    houver justa causa declarada no testamento, o que mitiga a violao da legtima.

    3.4. LEGTIMA DOS HERDEIROS NECESSRIOS OU PARTE INDISPONVEL

    A existncia de qualquer pessoa que possa se investir na figura de herdeiro necessrio

    limita a liberdade do doador e a liberdade do testador. No direito brasileiro, a legtima dos

    herdeiros necessrios, corresponde, no mnimo, metade ou 50% do valor do patrimnio

    pertencente ao de cujus. Se o de cujus tiver feito doaes em vida a descendentes ou ao outro

    cnjuge, os respectivos valores so acrescidos ao da metade do patrimnio, compondo o valor

    final da legtima.

  • Assim, o clculo da legtima no se resume imputao do valor de metade do

    patrimnio deixado pelo de cujus, mas sim de seu patrimnio lquido.

    Em primeiro lugar, devem ser deduzidos da herana os valores das dvidas deixadas

    pelo de cujus, vencidas ou a vencer. Em segundo lugar, deduzem-se as despesas feitas com

    seu funeral. Da, tem-se o patrimnio lquido. Deste se apura o valor da metade. Em terceiro

    lugar, por fim, acrescentam-se metade do patrimnio lquido os valores das liberalidades

    feitas em vida pelo de cujus a seus descendentes ou ao outro cnjuge, que ele no tenha

    expressamente dispensado de serem levados herana. Somando-se a metade do

    patrimnio lquido e os valores das liberalidades tem-se o valor final da legtima dos

    herdeiros necessrios ou parte indisponvel.

    3.5. PARTE DISPONVEL

    A parte disponvel, que pode ser objeto de doaes ou disposies testamentrias, a

    quem no seja herdeiro necessrio, apura-se de acordo com os bens que esto no patrimnio

    do de cujus na data de sua morte.

    Ingressam na parte disponvel os valores das liberalidades recebidas do de cujus

    pelos ascendentes e, tambm, os descendentes de grau mais remoto apesar de serem

    herdeiros necessrios -, por no constiturem adiantamento da legtima. O pargrafo nico

    do art. 2.005 do Cdigo Civil presume imputada na parte disponvel a liberalidade feita ao

    descendentes que no seria chamado sucesso na qualidade de herdeiros, considerando o

    tempo da liberalidade, ainda que, na abertura da sucesso, seja chamado pelo direito de

    representao, em virtude de ter falecido seu pai ou sua me antes do de cujus.

    3.6. DEVER DE REDUO DO EXCESSO DA PARTE DISPONVEL

    O que exceder da parte disponvel, em virtude de liberalidade do de cujus ou de

    disposio testamentria, deve ser reduzido, para que a parte indisponvel, ou necessria, ou

    legtima dos herdeiros necessrios existentes na abertura no seja comprometida. O que

    exceder da parte disponvel incide em nulidade.

    O dever de reduo do excesso no se confunde com a colao, que consiste no dever

    que tem seus descendentes e o cnjuge de levar herana comum o que receberam do de

    cujus, mediante doao.

    O dever de reduo do excesso tambm imputvel a quem no herdeiro

    necessrios, mas foi beneficirio de doaes que excederam a metade disponvel do doador.

    Se o de cujus, em vida, doou mais do que poderia doar, ou se, no testamento, deixou como

    herana, ou legado, aquilo de que no podia dispor, h o dever de reduo do excesso.

    O art. 2007 estabelece que esto sujeitos reduo as doaes em que se apurar

    excesso quanto quilo de que o doador poderia dispor, no momento da liberalidade. A lei no

    estabelece a nulidade de toda a doao, mas do que exceder da parte disponvel. proibio

    do excesso.

    O valor de cada doao ser considerado no momento em que foram feitas. Se a coisa

    indivisvel, a nulidade alcanar todo o contrato de doao. Sendo mais de uma doao, em

    momentos diversos, a reduo do excesso atinge em primeiro lugar o valor da ltima: se o

    valor desta for insuficiente, a nulidade atingir-lhe- por inteiro, porque doou o que j no

  • poderia doar, e a parcela necessria do valor da doao antecedente. As doaes feitas em

    tempos diversos exigem o clculo da metade do patrimnio do doador, em cada momento, se

    ele variar de valor, para mais ou para menos. Assim, supondo-se duas doaes feitas por um

    pai a dois de seus filhos, em momentos distintos, h de se calcular a percentagem do valor de

    cada uma em relao totalidade do valor patrimnio existente em cada momento, de modo

    a se verificar se excedeu a cinquenta por cento.

    Se a reduo se der posteriormente data da doao, comprometendo a legtima, a

    nulidade no ser retroativa. O aumento do patrimnio, posteriormente ao momento da

    doao em excesso, no altera este fato; a nulidade cabvel. Se de nada poderia dispor, no

    momento da doao, toda ela nula.

    No se levam em conta as doaes que foram feitas ao tempo em que o doador no

    tinha herdeiros necessrios; mas somam-se os valores das que se fizeram em todo o tempo em

    que o doador tinha herdeiros necessrios. Se a doao foi remuneratria, at onde houver

    remunerao, no se computa; bem assim, se feita para cumprir dever moral, ou onerada com

    encargos que no sejam gratuitos.

    A nulidade no de ordem pblica, mas no exclusivo interesse dos herdeiros

    necessrios. Assim, apenas estes esto legitimados a reclam-la. Do mesmo modo, o

    Ministrio Pblico pode alega-la e o juiz pronunci-la, sempre no interesse dos herdeiros

    necessrios incapazes.

    A pretenso no prescreve, pois a sano de nulidade.

    Se o donatrio tiver alienado a coisa recebida em excesso de doao, responder pelo

    preo, no sendo cabvel o pronunciamento da nulidade. Porm, se a coisa pereceu sem culpa

    do donatrio, este no tem de restituir o valor.

    O valor da doao leva em conta o que foi fixado no contrato, na data deste, no

    sendo passvel de atualizao no ajuizamento da ao de reduo ou na abertura da sucesso.

    Por fim, estabelece o Cdigo Civil (art. 1.966) que o remanescente das disposies

    testamentrias pertencer aos herdeiros legtimos, quando o testador dispuser de poro da

    parte disponvel.

    (Complementar este captulo depois)

    CAPTULO IV DEVER DE COLAO NA SUCESSO LEGTIMA NECESSRIO

    4.1. DEVER DE COLAO

    4.2. ADIANTAMENTO DA LEGTIMA DOS HERDEIROS NECESSRIOS

    4.3. DOAO ENTRE CNJUGES E ENTRE COMPANHEIROS

    4.4. DOAES EXCLUDAS DA COLAO

    4.5. CONSIDERAM-SE OS VALORES ATRIBUDOS NAS DOAES

    4.6. HIPTESES DE DEVOLUO EM ESPCIE

    4.7. CLCULO DO VALOR DO ADIANTAMENTO DA LEGTIMA

    4.8. LEGITIMADOS ATIVOS E PASSIVOS DA COLAO

    4.9. COLAO VOLUNTRIA

    4.10. DISPENSA DA COLAO

    CAPTULO V SUCESSO DOS DESCENTENTES E ASCENDENTES

  • 5.1. DESCENDENTES SUCESSVEIS

    5.2. NASCITUROS

    Nascituros so os seres humanos que se desenvolvem no ventre feminino. Sua

    existncia, para os fins do direito civil, tem incio com a implantao uterina efetiva, por meios

    naturais ou artificiais, e se encerra quando nasce com vida ou morto. considerado sujeito de

    direito, mas ainda no pessoa, ou seja, ainda no dotado de personalidade civil.

    Os nascituros so sujeitos de direito ainda no personificados, dotados de legitimao

    para adquirir por testamento. O nascituro tem direito tutela dos direitos sucessrios, que lhe

    sero transferidos se nascer com vida, quando se converter em pessoa. O direito expectativo

    resolvel, pois se encerra com o parto (nascimento com vida ou morte do nascituro). Se

    nascer com vida herda, pois se resolve o direito expectativo, de que titular o nascituro,

    adquirindo definitivamente os direitos prprios pessoa. Se nascer morto, resolve-se o direito

    expectativo, sem qualquer transmisso ou aquisio.

    A lei brasileira (CC, art. 1.798) prev que esto legitimados a suceder os j concebidos

    no momento da abertura da sucesso e ainda no nascidos. Para que possa suceder, em

    qualquer dessas hipteses, necessrio que j se tenha originado o nascituro, no ventre

    materno; nesse sentido, concebido.

    5.3. FILHOS NO CONCEBIDOS

    A regra do direito brasileiro que somente podem ser dotados de legitimao para

    suceder hereditariamente as pessoas nascidas ou os j concebidos no momento da morte do

    autor da herana. Mas admitida, excepcionalmente, a legitimao dos filhos, ainda no

    concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas ao abrir-se a sucesso (CC,

    art. 1.799).

    O Cdigo Civil estabeleceu limite mximo de dois anos, a partir da abertura da

    sucesso, para a confirmao ou no da concepo e para a gesto do curador. Findo o prazo,

    sem concepo do beneficirio, os bens so redistribudos aos herdeiros legtimos ou outros

    sucessores do de cujus, mediante sobrepartilha. O prazo de dois anos no para que se d o

    nascimento, mas para que se confirme a concepo. Assim, dois so os prazos para tutela da

    futura pessoa, que se somam: a) o prazo certo de at dois anos, a partir da abertura da

    sucesso, para que ocorra a concepo (filiao eventual); b) a partir desta, o prazo varivel

    para a gestao e o parto (nascituro).

    A lei refere a filho no concebido de pessoa indicada pelo testador. No h

    impedimento legal, todavia, para que o testador admita que a pessoa indicada, se no houver

    concepo biolgica, possa adotar filhos, dentro do prazo legal de dois anos da abertura da

    sucesso, ou mesmo constituir outro modo de filiao socioafetiva, como o incio de posse de

    estado de filho.

    5.4. DESCENDENTES SOCIOAFETIVOS E A SUCESSO LEGTIMA

    5.5. CLCULO DA QUOTA HEREDITRIA DO DESCENDENTE

    5.6. EFEITOS NA HERANA DO ESTADO DE FILIAO NO RECONHECIDO

    VOLUNTARIAMENTE

    5.7. DIREITO DE REPRESENTAO

  • 5.8. SUCESSO DOS ASCENDENTES

    CAPTULO VI DIREITOS SUCESSRIOS DO CNJUGE

    6.1. CNJUGE COMO HERDEIRO LEGTIMO E NECESSRIO

    6.2. SUCESSO DO CNJUGE SEPARADO DE FATO

    6.3. DIREITO REAL DE HABITAO DO CNJUGE SOBREVIVENTE

    6.4. CONCORRNCIA DO CNJUGE SOBREVIVENTE COM OS PARENTES SUCESSVEIS

    6.5. SUCESSO CONCORRENTE NO REGIME DE COMUNHO PARCIAL

    O cnjuge sobrevivente concorrer com os descendentes do de cujus sobre os bens

    particulares, quando o regime for o de comunho parcial. A meao do de cujus transmite-se

    inteiramente aos descendentes.

    At o casamento, os bens adquiridos pelos cnjuges permanecem particulares,

    inclusive os adquiridos posteriormente com os valores derivados de suas alienaes. H,

    tambm, bens particulares posteriores, cuja aquisio ocorre aps o casamento,

    principalmente em virtude de herana ou de doao.

    A opo do legislador a de haver a sucesso concorrente do cnjuge sobrevivente

    com os descendentes do de cujus exclusivamente sobre os bens particulares que deixou. A

    meao do de cujus sobre os bens comuns integra, inviolavelmente, a legtima de seus

    descendentes.

    A lei prev trs outras espcies de bens que, malgrado adquiridos aps o casamento,

    qualificam-se como particulares: a) os recebidos por liberalidades do alienante (principalmente

    doao) ou por sucesso; b) os adquiridos ou sub-rogados no lugar destes; e c) os adquiridos

    com valores de alienao dos bens particulares. A lei presume que os bens de uso pessoal

    (roupas, lembranas, joias, objetos de lazer), os livros e os instrumentos de profisso foram

    adquiridos com recursos do prprio cnjuge, antes ou aps o casamento, configurando-se

    como particulares. Essa presuno absoluta, no podendo o interessado fazer prova da

    origem conjunta dos recursos correspondentes. Tambm so bens particulares os rendimentos

    provenientes de trabalho de cada cnjuge.

    6.6. SUCESSO CONCORRENTE NOS REGIMES DE COMUNHO UNIVERSAL OU DE

    PARTICIPAO FINAL NOS AQUESTOS

    No regime de comunho universal h, ainda que residualmente, bens particulares.

    Todavia, a lei (CC, art. 1.829,I) excluiu da sucesso concorrente o regime de comunho

    universal, o que inclui tanto os bens comuns quanto os bens particulares. So bens

    particulares, no regime de comunho universal, que tambm no so objeto de sucesso

    concorrente: a) os bens doados ou herdados por um dos cnjuges, com clusula de

    incomunicabilidade, inclusive quando a doao tiver sido feita, antes do casamento, por um

    dos cnjuges ao outro; b) os bens recebidos por um dos cnjuges em fideicomisso; c) as

    dvidas anteriores ao casamento contradas pelos cnjuges, individualmente, salvo se

    revertidas em proveito comum, que ingressam na comunho universal de bens; d) os bens de

    uso pessoal e profissional, inclusive livros; e) os salrios, proventos de aposentadoria e

    penses recebidas pelo de cujus.

  • 6.7. SUCESSO DO CNJUGE SOBREVIVENTE NO REGIME DE SEPARAO TOTAL

    Ao tratar da sucesso concorrente, o Cdigo Civil (art. 1.829, I) a excluiu quando o

    cnjuge sobrevivente tivesse sido casado com o de cujus no regime da separao obrigatria

    de bens. Ao no incluir nas ressalvas da sucesso concorrente a separao consensual de

    bens, pode levar interpretao literal de que o que no entrou em comunho, em vida,

    entrar, aps a morte.

    No regime de separao de bens, os bens de cada cnjuge, independentemente de sua

    origem ou da data de sua aquisio, compem patrimnios particulares e separados, em

    carter absoluto e permanente.

    Escolhido livremente o regime de separao de bens, os bens adquiridos antes ou

    aps o casamento no se comunicam, no entram em comunho nem em vida, nem aps a

    morte. Em tais casos, o cnjuge sobrevivente no herdeiro necessrio (REsp 992749).

    6.8. QUOTA SUCESSRIA DO CNJUGE EM CONCORRNCIA COM DESCENDENTE

    6.9. DIREITO SUCESSRIO DO CNJUGE NO CASAMENTO PUTATIVO

    CAPTULO VII DIREITOS SUCESSRIOS DO COMPANHEIRO NA UNIO ESTVEL

    7.1. CONFIGURAO DA UNIO ESTVEL

    7.2. EVOLUO DO DIREITO SUCESSRIO DO COMPANHEIRO

    7.3. DIREITO REAL DE HABITAO PARA O COMPANHEIRO SOBREVIVENTE

    7.4. DIREITO SUCESSRIO DO COMPANHEIRO NO CDIGO CIVIL

    7.5. INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 1.790

    7.6. DIREITO SUCESSRIO NA UNIO HOMOAFETIVA

    7.7. DIREITOS SUCESSRIOS DOS COMPANHEIROS DE UNIES SIMULTNEAS

    7.8. DIREITOS SUCESSRIOS NAS UNIES ESTVEIS PUTATIVAS

    CAPTULO VIII SUCESSO DOS PARENTES COLATERAIS E DA FAZENDA PBLICA

    8.1. PARENTES COLATERAIS SUCESSVEIS

    8.2. CONTAGEM DOS GRAUS E ESPCIES DE PARENTES COLATERAIS

    8.3. IRMOS UNILATERAIS E BILATERAIS

    8.4. DIREITO DE REPRESENTAO NA SUCESSO COLATERAL

    8.5. CONCORRNCIA ENTRE TIO E SOBRINHO

    8.6. A FAZENDA PBLICA COMO HERDEIRA LEGTIMA

    8.7. HERANA JACENTE

    8.8. HERANA VACANTE

    CAPTULO IX OS QUE NO PODEM SUCEDER

    9.1. HERDEIROS QUE NO PODEM PARTICIPAR DA HERANA

    9.2. PESSOAS NO LEGITIMADAS A SUCEDER O DE CUJUS

    9.3. HERDEIROS EXCLUDOS DA SUCESSO POR INDIGNIDADE

    9.4. NATUREZA JURDICA DA EXCLUSO

  • 9.5. EFEITOS DA EXCLUSO POR INDIGNIDADE

    9.6. REABILITAO DO EXCLUDO DA HERANA

    9.7. DESERDAO

    9.8. CAUSAS E PROVAS DA DESERDAO

    9.9. INCONSTITUCIONALIDADE DA DESERDAO

    CAPTULO X SUCESSO TESTAMENTRIA EM GERAL

    10.1. SUCESSO TESTAMENTRIA

    A sucesso testamentria a que se d em observncia s declaraes de vontade

    expressas deixadas pelo de cujus, nos limites e em documentos formais admitidos em lei. No

    Brasil, teve sempre utilidade secundria e residual.

    A Constituio de 1988 (art. 5, XXX) elevou o direito herana ao status de direito

    fundamental. So dois os fins sociais principais da norma constitucional: o de impedir que o

    legislador infraconstitucional suprima totalmente esse direito e o de garantia de sua aquisio

    pelos herdeiros.

    O testador exerce sua autonomia ou liberdade de testar de modo limitado quando h

    herdeiros que a lei considera necessrios. Nessa hiptese, sua autonomia fica confinada

    parte disponvel, no podendo reduzir a legtima desses herdeiros. Sua autonomia mais

    ampla quando no h qualquer herdeiro necessrio, podendo contemplar de modo desigual

    os demais herdeiros ou exclu-los totalmente da herana, quando destinar a herana a

    terceiros.

    10.2. TESTAMENTO

    Testamento o meio apropriado para o exerccio da liberdade de testar, de acordo

    com os tipos, efeitos e limites reconhecidos pela lei. A formalidade de sua natureza e

    substncia, levando sua no observncia nulidade insuprvel e, consequentemente, ao

    impedimento de suas finalidades.

    O testamento negcio jurdico unilateral, formal e pessoal, cujos efeitos ficam

    suspensos at que ocorra o evento futuro e indeterminado no tempo, que a morte do

    prprio testador. Tambm produzir efeitos o testamento se o testador, em vida, tiver

    alienado todo seu patrimnio, nada deixando de aprecivel economicamente, nem tendo feito

    disposies de carter no econmico.

    No pode ser objeto do testamento a legtima dos herdeiros necessrios, salvo para

    grav-la com clusula de inalienabilidade, impenhorabilidade ou incomunicabilidade, desde

    que justificada expressamente. Se o testador no distribuir toda a herana, a parte que sobejar

    ir para os herdeiros legtimos.

    O testamento pode ser revogado a qualquer tempo pelo testador, porque, apesar de

    existir e ser vlido, ainda no produziu efeitos. Os herdeiros e legatrios tm mera expectativa

    de direito; nenhum direito se constituiu ou se iniciou, nada podendo fazer se o testador mudar

    ou extinguir o testamento. O testador pode, consequentemente, revogar o testamento,

    expressa ou tacitamente (neste ltimo caso, realizando outro no qual destina os mesmos bens

    do primeiro de maneira diversa).

  • Com a abertura da sucesso, o testamento comea a produzir seus efeitos. A

    invalidade pode ser total ou parcial. Se o testador exceder a parte disponvel, o excesso

    considerado invlido, pois a legtima dos herdeiros necessrios inviolvel.

    10.3. OUTRAS FINALIDADES DO TESTAMENTO

    O testamento no apenas serve para distribuio do patrimnio do testador, segundo

    sua vontade e nos limites da lei. Tambm instrumento adequado para declaraes em

    matrias no patrimoniais, como as relativas ao direito de famlia. Nessas matrias de estado

    civil e familiar das pessoas, as declaraes produzem efeitos definitivos, os quais permanecem

    mesmo quando o testamento for revogado pelo testador (CC, art. 1.610). ~

    O testamento tambm um dos meios admitidos pelo direito, para instituio de

    fundao de direito privado. Se o patrimnio destinado pelo testador for insuficiente para a

    consecuo dos fins propostos, ser incorporado em outra fundao j existente, cujos fins

    sejam iguais ou assemelhados. O ato de instituio no necessita conter a organizao da

    fundao, ou o Estatuto, mas deve definir com clareza quais os bens afetados que o instituidor

    retira de seu patrimnio pessoa e os fins aos quais so destinados.

    10.4. CAPACIDADE E LEGITIMIDADE PARA TESTAR

    Todas as pessoas civilmente capazes podem emitir declarao de vontade em

    testamento. Todavia, para fins de legitimidade para testar, a legislao atual, seguindo a

    anterior, reduziu a idade para dezesseis anos. Nesses casos, dispensa-se a assistncia e sua

    declarao de vontade considerada suficiente.

    Estabelece o Cdigo Civil (art. 1.860) que no podem testar os que, no ato de faz-lo,

    no tiverem pleno discernimento. No h impedimento para testar em relao aos brios

    habituais, aos viciados em txicos e aos que tiverem o discernimento reduzido, desde que

    tenham entendimento e compreenso suficientes para saber o que esto fazendo, no

    momento da outorga das disposies testamentrias. A aferio da capacidade ou da

    legitimidade do testador d-se no momento da realizao do testamento. Interessa saber se,

    quando manifestou sua vontade, tinha o necessrio discernimento para a prtica do ato de

    testar e de suas consequncias. A incapacidade superveniente no invalida o testamento.

    Cabe aos interessados provar que o testador j se encontrava incapacitado de

    livremente exprimir sua vontade, quando realizou o testamento, ainda que no tenha sido

    judicialmente interditado. Indcios no so suficientes. Exigem-se as mesmas provas que a lei

    considera necessrias para o processo de interdio. Na dvida, deve presumir-se capaz o

    testador e vlido o testamento.

    10.5. LEGITIMIDADE PARA SUCEDER POR TESTAMENTO

    So legitimados a suceder os sujeitos de direito que podem ser qualificados como

    herdeiros, de acordo com a lei, ou como legatrios, designados em testamento. So

    legitimados a adquirir por testamento, no direito brasileiro atual:

    a) as pessoas fsicas;

    b) os nascituros;

  • c) as pessoas fsicas ainda no concebidas, ou prole eventual de determinadas pessoas,

    contempladas em testamento;

    d) as pessoas jurdicas, designadas em testamento;

    e) as entidades no personificadas, porm existentes, como as sociedades em comum

    ou as sociedades em conta de participao, designadas em testamento (CC, arts. 986 a 996);

    f) as pessoas jurdicas futuras, a serem constitudas conforme determina o testamento

    (fundaes de direito privado).

    A nica forma admitida a fundao de direito privado, excludas as associaes civis,

    sociedades empresrias e outras entidades admitidas em direito civil ou empresarial.

    O princpio da coexistncia dos nomeados e do testador so legitimados a suceder as

    pessoas nascidas ou concebidas na data da abertura da sucesso apenas se aplica, no direito

    brasileiro atual, sucesso legtima. Para a sucesso testamentria, quem ainda no foi

    concebido na data da abertura da sucesso pode ser legitimado a suceder, desde que seja

    concebido ou nasa com vida at dois anos aps essa data. Ao sujeito de direito ainda no

    concebido, o Cdigo Civil de 2002 atribuiu-lhe curador nomeado pelo juiz, a quem so

    confiados os bens, aps a liquidao ou a partilha (art. 1.800).

    Para o STJ, as impugnaes legitimidade para suceder devem ser suscitadas em aes

    prprias, e no no inventrio.

    10.6. TESTAMENTEIRO

    Testamenteiro a pessoa designada pelo testador para dar cumprimento e velar pelo

    testamento. Apenas as pessoas fsicas podem ser testamenteiras. Pode ser apenas um

    testamenteiro ou podem ser dois ou mais, para atuarem conjunta, separa ou sucessivamente;

    na dvida devem os testamenteiros atuar conjuntamente. Para a validade e eficcia do

    testamento no necessria a designao de testamenteiro.

    O testamenteiro pode ser um dos herdeiros ou terceiro sem direito a herana. O

    testamento exerce funo que lhe foi confiada pelo testador, mas no o representa, nem h

    mandato; exerce a funo em seu prprio nome. No representa o morto nem os herdeiros.

    Se o testamento no tiver sido entregue ao testamenteiro, este pode requerer ao juiz

    que determine a quem o detenha que o leve a juzo para que se proceda o registro.

    A testemunha depende da aceitao do testamenteiro designado pelo testador. Uma

    vez aceita a incumbncia, o testador fica obrigado a exerc-la. Se houver recusa de sua parte, a

    execuo do testamento ser assumida pelo cnjuge ou companheiro ou, na falta deles, por

    herdeiro que seja nomeado pelo juiz. Diz-se dativo o testamenteiro nomeado pelo juiz. O

    testamenteiro h de ser plenamente capaz e permanecer capaz; a incapacidade superveniente

    pe fim testamentaria.

    A funo de testamentaria no transmissvel nem delegvel, dado seu carter

    personalssimo. A lei (CC, art; 1.985) admite, contudo, que possa fazer-se representar por

    procurador com poderes especiais.

    Se o testamenteiro aceitar a funo, no sendo herdeiro ou legatrio, ter direito

    remunerao, denominada de prmio, que o testador tiver fixado. Na falta de fixao, o

    prmio ser equivalente a 1% at 5% sobre a herana lquida (depois de deduzidas as dvidas),

    que for arbitrado pelo juiz. O valor do prmio ser deduzido da parte disponvel, quando

    houver herdeiros necessrios, pois a legtima destes no pode ser reduzida. A lei faculta ao

  • herdeiro ou legatrio que for nomeado testamenteiro receber o prmio, ou a quota

    hereditria a que faria jus, ou o legado; no pode cumular ambas as verbas. Para Pontes de

    Miranda, os herdeiros a que se refere a lei so s os institudos pelo testador, no incluindo os

    legtimos, os quais, nomeados testamenteiros tm direito tanto herana quanto ao prmio.

    O testamenteiro pode ser removido da funo se no cumprir os deveres

    correspondentes, por deciso do juiz, ou se tiver sido condenado por crimes de roubo, furto,

    estelionato, falsidade, ou se demonstrar mau procedimento, ou falhas de probidade ou

    abusos, aplicando-se-lhe, por analogia, as regras de exonerao da tutoria.

    Pode haver testamenteiro sem testamento. O Cdigo Civil (art. 1.883) admite que para

    fins do codicilo, possa ser nomeado testamenteiro.

    10.7. INVALIDADE DO TESTAMENTO

    10.8. MUDANA DAS CIRCUNSTNCIAS DO TESTAMENTO

    10.9. INTERPRETAO DO TESTAMENTO

    10.10. TESTEMUNHAS TESTAMENTRIAS

    10.11. SUBSTITUIO DO HERDEIRO OU LEGATRIO

    10.12. FIDEICOMISSO

    Fideicomisso a destinao de bem, como propriedade resolvel, feita pelo testador

    (fideicomitente) a uma pessoa de sua estrita confiana (fiducirio) para que o transmita ao

    destinatrio final (fideicomissrio), quando ocorrer determinado evento. O Cdigo Civil de

    2002 sujeitou o fideicomisso a dois requisitos: no existir o fideicomissrio na data da morte

    do testador e ser concebido dentro de dois anos a partir dessa data.

    10.13. HIPTESES DE CADUCIDADE DO FIDEICOMISSO

    10.14. REVOGAO DO TESTAMENTO

    10.15. ROMPIMENTO OU RUPTURA DO TESTAMENTO

    CAPTULO XI ESPCIES DE TESTAMENTO

    11.1. TESTAMENTOS ORDINRIOS E ESPECIAIS

    11.2. TESTAMENTO PBLICO

    11.3. TESTAMENTO CERRADO

    11.4. TESTAMENTO PARTICULAR

    11.5. TESTAMENTO SIMPLIFICADO

    11.6. TESTAMENTO MARTIMO

    11.7. TESTAMENTO AERONUTICO

    11.8. TESTAMENTO MILITAR

    11.9. CODICILO

    11.10. TESTAMENTO VITAL

    CAPTULO XII DISPOSIES TESTAMENTRIAS, LEGADOS E DIREITO DE ACRESCER

  • 12.1. DISPOSIES TESTAMENTRIAS

    12.2. SUJEITOS E OBJETOS DAS DISPOSIES TESTAMENTRIAS

    12.3. PLURALIDADE DE HERDEIROS DESIGNADOS

    12.4.VALIDADE, EFICCIA E CONSERVAO DAS DISPOSIES TESTAMENTRIAS

    12.5. DISPOSIES TESTAMENTRIAS SUJEITAS A CONDIO E A MOTIVO

    12.6. DISPOSIES TESTAMENTRIAS SUJEITAS A ENCARGOS E A TERMO

    12.7. CLUSULAS DE INALIENABILIDADE, IMPENHORABILIDADE E

    INCOMUNICABILIDADE

    12.8. INTERPRETAO DAS DISPOSIES TESTAMENTRIAS

    12.9. LEGADOS E SEUS VARIADOS MODOS

    12.10. EFICCIA E INEFICCIA DO LEGADO

    12.11. DIREITO DE ACRESCER ENTRE HERDEIROS E LEGATRIOS

    CAPTULO XIII INVENTRIO E PARTILHA

    13.1. INVENTRIO E SUAS MODALIDADES

    O inventrio o procedimento pelo qual os bens, direitos e dvidas deixados pelo de

    cujus so levantados, conferidos e avaliados de modo a que possam ser partilhados pelos

    sucessores, sejam eles herdeiros legtimos, herdeiros testamentrios e legatrios.

    O procedimento do inventrio pode ser judicial ou extrajudicial. O procedimento

    extrajudicial feito mediante escritura pblica, desde que observados os seguintes requisitos:

    todos os herdeiros serem capazes e haver concordncia entre eles sobre a partilha dos bens.

    Nesse procedimento, o inventrio e a partilha so feitos sem a participao do Poder

    Judicirio.

    Durante o procedimento de inventrio e at ultimao da partilha, a herana

    permanece indivisvel, devendo observar as regras do condomnio comum. Nesse perodo, a

    herana, tambm denominada de esplio, investe-se de capacidade de exerccio de direito e

    capacidade processual, atuando como autor ou r, na defesa dos interesses comuns dos

    herdeiros.

    So modalidades do inventrio: a) o inventrio judicial; b) inventrio judicial sob a

    forma de arrolamento sumrio; c) inventrio extrajudicial.

    O inventrio judicial, que segue o procedimento previsto no Cdigo de Processo Civil,

    obrigatrio quando houver herdeiro civilmente incapaz, seja absoluta ou relativa a

    incapacidade, ou quando houver testamento deixado pelo de cujus, ou quando os interessados

    na herana divergirem entre si. No haver necessidade de inventrio judicial se o de cujus

    tiver deixado testamento com finalidades apenas no econmicas, como o reconhecimento de

    filho.

    O inventrio sob a forma de arrolamento sumrio pode ser utilizado quando todos os

    interessados forem capazes e concordes, para fins de homologao de partilha amigvel, ou

    quando o valor total da herana for inferior a 2.000 OTN, ainda que os interessados no

    estejam concordes ou que haja herdeiro incapaz, para o que se far necessria a interveno

    do Ministrio Pblico.

  • A praxe desenvolveu, para certos fins, o denominado inventrio negativo, quando o de

    cujus no deixou bens a partilhar. Em determinadas circunstncias, para se atender exigncias

    legais de inventrio concludo, precisa algum abrir o inventrio e provar-lhe a negatividade. O

    inventrio negativo pode ser extrajudicial (Res. 35/207-CNJ, art. 28). comum o vivo abrir o

    procedimento de inventrio negativo para que seu casamento no incorra na causa suspensiva

    prevista no art. 1.523 e 1.641 do Cdigo Civil.

    A Lei n. 11.441/2007, que derrogou o art. 1.796 do Cdigo Civil nesse ponto, estipula o

    prazo mximo de sessenta dias, a contar da abertura da sucesso, para que seja instaurado o

    inventrio do patrimnio hereditrio, prazo esse que se estende at o compromisso do

    inventariante. Tambm se entende que esse prazo deva ser observado para o incio da

    lavratura da escritura pblica de inventrio e partilha amigvel, quando os herdeiros forem

    capazes.

    No procedimento de inventrio, a meao do cnjuge suprstite no abarcada pelo

    servio pblico prestado, destinado essencialmente a partilhar a herana deixada pelo de

    cujus; tampouco pode ser considerada proveito econmico, porquanto pertencente por direito

    prprio e no sucessrio ao cnjuge vivo; logo, no processo de inventrio, a taxa judiciria

    deve ser calculada sobre os valores dos bens deixados pelo de cujus, excluindo-se a meao do

    cnjuge suprstite (STF, ADI na MC 1.772; STJ, REsp 898294).

    13.2. INVENTARIANTE

    Inventariante quem fica incumbido de levantar e indicar os haveres do de cujus, o

    estado em que se encontram e administr-los. O inventariante nomeado pelo juiz, aps

    compromisso formal, dentre os que a legislao processual tem como preferenciais: o cnjuge

    ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo de fato com o de cujus ao

    tempo de sua morte; na falta de cnjuge ou companheiro sobrevivente, o herdeiro que esteja

    efetivamente na posse e administrao do esplio; se este no houver, qualquer herdeiro

    legtimo ou testamentrio; o testamenteiro, se o de cujus tiver deixado herana; na falta de

    qualquer desses, o inventariante judicial se houver na organizao judiciria local e, por fim,

    qualquer pessoa que o juiz considere idnea.

    Ao inventariante cabe a representao ativa e passiva do esplio e a administrao dos

    haveres, desde a assinatura do compromisso at a homologao da partilha (CC, art. 1.991).

    Antes de seu compromisso, a herana ou esplio administrada por administrador provisrio,

    investido nessa funo por fora de lei (CC, 1.797).

    O inventrio e a partilha por escritura pblica, se todos os herdeiros forem capazes e

    concordes, tornam desnecessrio o inventariante, uma vez que os haveres do de cujus so

    declarados, discriminados e estimados em seus valores por todos os herdeiros,

    conjuntamente.

    A rigor, parte legtima para figurar no polo passivo de ao proposta pelo herdeiro o

    prprio inventrio, mas o STJ admite tambm que a ao seja proposta contra o inventariante.

    13.3. INVENTRIO EXTRAJUDICIAL

    A Lei n. 4.441, de 2007, facultou o inventrio e a partilha mediante nica escritura

    pblica, lavrada por notrio de livre escolha dos herdeiros legtimos, quando estes forem

  • capazes e concordes. Para fins da lei, considera-se capaz o mais de dezesseis anos que tenha

    sido emancipado (CC, art. 5). A referncia feita pela lei partilha no impede que o herdeiro

    nico utilizes do inventrio extrajudicial, com a adjudicao a ele de todos os bens deixados

    pelo de cujus.

    O inventrio e a partilha produzem seus efeitos imediatamente na data da lavratura da

    escritura pblica, porque esta no depende de homologao judicial. O traslado extrado da

    escritura pblica o instrumento hbil para averbao do registro dos imveis, se houver, e

    para certificao da aquisio da titularidade dos bens, na forma como se deu a partilha,

    perante qualquer pessoa fsica ou jurdica, ou rgos pblicos. A lavratura definitiva da

    escritura pblica depende do recolhimento dos tributos incidentes, principalmente o imposto

    de transmisso causa mortis. No h necessidade, pois, de formal de partilha ou de

    documento de adjudicao.

    A lei impe a assistncia do advogado ao ato.

    A lei prev que os pobres que assim se declararem, perante o tabelio, no pagaro os

    emolumentos que a este seriam devidos.

    A escritura pblica deve conter a qualificao completa do de cujus, o regime de bens,

    a data do falecimento, o lugar do falecimento, data da expedio da certido de bito e

    respectivo registro, a declarao dos herdeiros de que o de cujus no deixou testamento e

    outros herdeiros, sob as penas da lei.

    Todos os interessados legtimos na sucesso do de cujus - no apenas os herdeiros

    podem participar do inventrio extrajudicial. Assim, participam, ao lado dos herdeiros, os

    cessionrios de direitos hereditrios de qualquer deles.

    O inventrio extrajudicial no conter partilha se houver apenas um herdeiro. A

    escritura pblica do inventrio o documento suficiente para fins de registro imobilirio,

    mediante traslado emitido pelo notrio.

    13.4. PETIO DE HERANA

    13.5. HERDEIRO APARENTE E ADQUIRENTE DE BOA-F

    13.6. SONEGADOS

    13.7. PAGAMENTO DAS DVIDAS

    13.8. PARTILHA

    13.9. PARTILHA EM VIDA

    13.10. TRANSMISSO DE VALORES COM DISPENSA DE INVENTRIO