resumo: palavras-chave: gestão. cultura. clima. mudança e...

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Revista de Psicologia l 1 Uma abordagem acerca do psicólogo organizacional Luciana de Oliveira Amaro 1 Karlysson de Castro 2 RESUMO:As organizações apresentam uma necessidade de tornarem-se cada vez mais competitivas devido à globalização, mantendo de forma continua sua qualidade e visando a melhoria de seu desempenho. Para que ocorram mudanças é fundamental conhecermos o modelo de gestão, para podermos implantar o modelo de intervenção proposto a promover mudanças. Concluímos que toda intervenção desenvolvida proporciona certo grau de ansiedade ao processo de mudanças. PALAVRAS-CHAVE: Gestão. Cultura. Clima. Mudança e Psicologia Organizacional. A ENTRADA DO PSICÓLOGO NAS ORGANIZAÇÕES No inicio do século XX, a Psicologia entra nas organizações a partir da formulação da Abordagem Humanística da Administra- ção. Nesse momento, a ênfase no trabalho é deslocada da tarefa e da estrutura organizacional para as pessoas. A primeira face da Psicologia do Trabalho surge atrelada aos interesses das indústrias, instrumentalizando alguns pressupostos do taylorismo. Baseia-se no aspecto produtivo e resumia-se ini- cialmente à seleção e à colocação profissional, o que gerou o nascimento de uma organização americana denominada Psycho- logy Corporation para desenvolver e distribuir testes psicológicos e realizar serviços de consultoria a indústrias e outras organiza- ções (SAMPAIO, 1998). Sua função era a verificação das características pessoais atra- vés de testes, chamada de seleção científica. Desenvolvia ainda trabalhos de colocação profissional, orientação vocacional, ba- seada em testes e estudos sobre as condições de trabalho com intuito de aumentar a produtividade. Essa forma de atuação da psicologia denomina-se Psicologia Industrial, que desenvolveu os seguintes temas: a seleção (com base na psicometria), a classifi- cação de pessoal, a avaliação de desempenho, as condições de trabalho, o treinamento e a liderança (SAMPAIO, 1998). Surge então a necessidade de se estudar as estruturas da organização, nascendo portando a Psicologia Organizacional. Vários trabalhos foram desenvolvidos no sentido de aumentar a produção através da motivação do trabalhador. Esses trabalhos vinham desde a seleção de pessoal, passando pelo estudo sobre reforçadores do clima e da cultura, estudos sobre fadiga, prevenção de acidentes, treinamento e desenvolvimento de recursos humanos. A Psicologia Organizacional não foi uma ruptura radical com a Psicologia da Indústria, e sim uma ampliação do objeto de estu- do, visto que os psicólogos continuavam atrelados ao problema da produtividade das empresas (SAMPAIO, 1998). È importante citar algumas tarefas do Psicólogo nas Organi- zações para ilustrar como esse se posiciona no contexto orga- nizacional: Seleção e Colocação de Pessoal - Planejamento de Recursos Humanos Treinamento de Pessoal - Desenvolvimen- to de Recursos Humanos - Avaliação de desempenho - Saúde Mental no trabalho - Plano de cargos e salários - Condições de trabalho - Mudança e Análise das Organizações - Ensino e Pes- quisa - Gerência: ocupar cargos de gerência das áreas de atuação da Psicologia do Trabalho; ocupar cargos de gerência em áreas afins (como RH, por exemplo) (SAMPAIO 1998). A profissão do Psicólogo Organizacional tem sido tema de reflexão, discussão e estudos por parte dos profissionais que a exercem. Esses estudos buscam não só compreender os deter- minantes histórico-sociais que moldaram o perfil de atuação do psicólogo hoje, como também questionar a sua prática na pers- pectiva ética de sua profissão (BASTOS, 1992). O desenvolvimento dos conceitos e técnicas para lidar com os desafios continuamente estiveram vinculados a uma base ou a antecedentes sociais e culturais (ZANELLI, 2008, p.489). Ainda hoje, os profissionais de Recursos Humanos são vis- tos como mais uma ferramenta de manipulação dos trabalha- dores dentro das organizações. Talvez por uma dificuldade do psicólogo em encontrar uma maneira de se posicionar dentro da empresa, visto que ele realmente é mais um trabalhador desta. Esse posicionamento do profissional de Recursos Humanos é levantado a partir do pressuposto que o empresário tem como única preocupação o lucro. Sendo assim, os indivíduos que com- põem o seu quadro de funcionários são apenas recursos utili- zados para a obtenção desse lucro, não reconhecendo que os recursos humanos; e por tanto dotados não somente de talen-

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Page 1: RESUMO: PalavRaS-chavE: Gestão. Cultura. Clima. Mudança e ...blog.newtonpaiva.br/psicologia/wp-content/uploads/2012/08/pdf-e2... · Cultura. Clima. Mudança e Psicologia Organizacional

Revista de Psicologia l 1

Uma abordagem acerca do psicólogo organizacionalLuciana de Oliveira Amaro1

Karlysson de Castro2

RESUMO:As organizações apresentam uma necessidade de tornarem-se cada vez mais competitivas devido à globalização, mantendo de forma continua sua qualidade e visando a melhoria de seu desempenho. Para que ocorram mudanças é fundamental conhecermos o modelo de gestão, para podermos implantar o modelo de intervenção proposto a promover mudanças. Concluímos que toda intervenção desenvolvida proporciona certo grau de ansiedade ao processo de mudanças.

PalavRaS-chavE: Gestão. Cultura. Clima. Mudança e Psicologia Organizacional.

a ENTRaDa DO PSIcÓlOGO NaS ORGaNIZaÇÕESNo inicio do século XX, a Psicologia entra nas organizações

a partir da formulação da Abordagem Humanística da Administra-ção. Nesse momento, a ênfase no trabalho é deslocada da tarefa e da estrutura organizacional para as pessoas.

A primeira face da Psicologia do Trabalho surge atrelada aos interesses das indústrias, instrumentalizando alguns pressupostos do taylorismo. Baseia-se no aspecto produtivo e resumia-se ini-cialmente à seleção e à colocação profissional, o que gerou o nascimento de uma organização americana denominada Psycho-logy Corporation para desenvolver e distribuir testes psicológicos e realizar serviços de consultoria a indústrias e outras organiza-ções (SAMPAIO, 1998).

Sua função era a verificação das características pessoais atra-vés de testes, chamada de seleção científica. Desenvolvia ainda trabalhos de colocação profissional, orientação vocacional, ba-seada em testes e estudos sobre as condições de trabalho com intuito de aumentar a produtividade. Essa forma de atuação da psicologia denomina-se Psicologia Industrial, que desenvolveu os seguintes temas: a seleção (com base na psicometria), a classifi-cação de pessoal, a avaliação de desempenho, as condições de trabalho, o treinamento e a liderança (SAMPAIO, 1998). Surge então a necessidade de se estudar as estruturas da organização, nascendo portando a Psicologia Organizacional. Vários trabalhos foram desenvolvidos no sentido de aumentar a produção através da motivação do trabalhador. Esses trabalhos vinham desde a seleção de pessoal, passando pelo estudo sobre reforçadores do clima e da cultura, estudos sobre fadiga, prevenção de acidentes, treinamento e desenvolvimento de recursos humanos.

A Psicologia Organizacional não foi uma ruptura radical com a Psicologia da Indústria, e sim uma ampliação do objeto de estu-do, visto que os psicólogos continuavam atrelados ao problema da produtividade das empresas (SAMPAIO, 1998).

È importante citar algumas tarefas do Psicólogo nas Organi-zações para ilustrar como esse se posiciona no contexto orga-nizacional: Seleção e Colocação de Pessoal - Planejamento de Recursos Humanos Treinamento de Pessoal - Desenvolvimen-to de Recursos Humanos - Avaliação de desempenho - Saúde Mental no trabalho - Plano de cargos e salários - Condições de trabalho - Mudança e Análise das Organizações - Ensino e Pes-quisa - Gerência: ocupar cargos de gerência das áreas de atuação da Psicologia do Trabalho; ocupar cargos de gerência em áreas afins (como RH, por exemplo) (SAMPAIO 1998).

A profissão do Psicólogo Organizacional tem sido tema de reflexão, discussão e estudos por parte dos profissionais que a exercem. Esses estudos buscam não só compreender os deter-minantes histórico-sociais que moldaram o perfil de atuação do psicólogo hoje, como também questionar a sua prática na pers-pectiva ética de sua profissão (BASTOS, 1992).

O desenvolvimento dos conceitos e técnicas para lidar com os desafios continuamente estiveram vinculados a uma base ou a antecedentes sociais e culturais (ZANELLI, 2008, p.489).

Ainda hoje, os profissionais de Recursos Humanos são vis-tos como mais uma ferramenta de manipulação dos trabalha-dores dentro das organizações. Talvez por uma dificuldade do psicólogo em encontrar uma maneira de se posicionar dentro da empresa, visto que ele realmente é mais um trabalhador desta.

Esse posicionamento do profissional de Recursos Humanos é levantado a partir do pressuposto que o empresário tem como única preocupação o lucro. Sendo assim, os indivíduos que com-põem o seu quadro de funcionários são apenas recursos utili-zados para a obtenção desse lucro, não reconhecendo que os recursos humanos; e por tanto dotados não somente de talen-

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2 l Revista de Psicologia

tos, mas também de limitações próprias de sua espécie, variam de indivíduo para indivíduo (ZANELLI, 2008)

Devido à globalização, o empresário deve oferecer serviços e produtos de qualidade para garantir seu espaço no mercado de trabalho. Por isso, foram construídas políticas de qualidade nas empresas, onde um de seus itens foca a valorização dos trabalha-dores (AZEVEDO, 1993).

Outro fator que se faz importante na atuação do psicólogo organizacional é seu papel de agente de saúde mental. O psicólo-go da empresa reflete sobre essa responsabilidade que lhe com-pete (LADEIRA, 1996).

Contudo, a importância deste trabalho baseia-se em chamar atenção dos psicólogos para a constante reflexão sobre o lugar que estão ocupando nas organizações e as possíveis formas de trabalho. Possibilitando-os pensar que, antes de serem trabalha-dores, possuem um papel ético e social a cumprir.

O PaPEl DO PSIcÓlOGO Na INSTITUIÇãO acaDEMIa FORMa E EqUIlíbRIO

O objetivo do Diagnóstico Organizacional foi promover o conhecimento da organização através do olhar dos funcionários, entendendo os pontos fortes e aqueles que precisam ser desen-volvidos ou melhorados.

Com base nos dados obtidos, a Academia poderá rever os seus processos administrativos, gerenciais e os aspectos motiva-cionais, estabelecendo as correções necessárias.

Os colaboradores foram submetidos a entrevistas indivi-duais. A partir da análise das entrevistas, foram apontados os seguintes aspectos:

Pontos fortes: festas e eventos, alunos fiéis, clima familiar, diversidade das modalidades, investimentos, professores capaci-tados, avaliação física, estrutura física, administração, autonomia e localização.

Pontos a serem desenvolvidos: trabalho em equipe, comuni-cação, limpeza, interação, novas modalidades, retenção de alunos e recepção.

De acordo com os funcionários, no geral, a imagem da em-presa está relacionada a uma boa academia, sendo considerada a melhor da região, com boa localização e estrutura. O ambiente de trabalho é bom, proporciona o trabalho em equipe e qualidade de vida para alunos e professores.

Algumas dificuldades encontradas pelos funcionários para o desempenho do cargo estão relacionadas ao volume do som, so-brecarga de trabalho e falta de comunicação entre os funcionários.

Já como facilitadores, contamos com a estrutura da academia, o ambiente agradável, o bom relacionamento com alunos e apoio

da coordenação. A academia investe em treinamentos, estrutura e eventos.

Com relação à tomada de decisões, os professores destaca-ram que têm autonomia, principalmente nas decisões referentes às aulas. As decisões administrativas são tomadas pela coordenação.

Os relacionamentos de modo geral são satisfatórios. Entre-tanto, foi destacada a necessidade de melhorias na comunicação interna na academia.

Para trabalhar com retenção de alunos, os funcionários desta-cam o trabalho em equipe, investimentos na recepção e atenção ao aluno, oferecendo de novas modalidades, melhoria nas ativi-dades das aulas e capacitação dos professores. Investimentos na motivação dos alunos e no marketing também foram destacados

Também foram elaborados e trabalhados diversos painéis com professores e coordenadores para avaliar a comunicação, liderança e trabalho em equipe. Através desses painéis, os cola-boradores falaram abertamente sobre seus desafios, metas, e pla-nejamento para o próximo ano, buscando ativamente a melhoria contínua de seus trabalhos.

Em síntese, assinalamos que vivemos em um mundo cujas transformações se dão de forma acelerada. Essas mudanças afe-tam significativamente as organizações.

REFERÊNcIaSAZEVEDO, Marco Antônio. A formação do Psicólogo Organizacional e

alguns dilemas da Psicologia como Ciência. Belo Horizonte, 1993.

BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt. O que pode fazer o Psicólogo Orga-

nizacional. Revista Psicologia Ciência e Profissão, v.10 n.1 Brasília 1990. Dis-

ponível em: <www.pol.org.br>. Acesso em 19/09/09.

LADEIRA, Marcelo Bronzo. O Processo do Estresse Ocupacional e a Psi-

copatologia do Trabalho. São Paulo: Revista de Administração. V 31, n1, p.

64-74, março 1996.

SAMPAIO, Jader dos Reis: As três faces da Psicologia do Trabalho. In: Psicolo-

gia do Trabalho e Gestão de Recursos Humanos: estudos contemporâ-

neos. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.

ZANELLI, José Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; BASTOS, Antônio

Virgílio Bittencourt (Orgs). Psicologia, Organizações e Trabalho no Bra-

sil. Porto Alegre: Artmed, 2008.

NOTaS DE RODaPÉ1 Acadêmica do Curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva.

2 Professor supervisor de estágio do curso de Psicologia do Centro Universi-

tário Newton Paiva.