resumo: palavras-chave: criança. hospital....

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Revista de Psicologia l 1 A criança hospitalizada e sua família Margareth Felippe Trindade 1 Claudia Neto 2 RESUMO: Este trabalho enfoca a atuação do psicólogo junto à criança hospitalizada, objetivando a diminuição do sofrimento e, juntamente com a família, criando novas formas de se relacionarem com a doença. PALAVRAS-CHAVE: Criança. Hospital. Família. A atuação do psicólogo junto às crianças hospitalizadas ob- jetiva fundamentalmente a diminuição do sofrimento inerente ao processo do adoecer e da hospitalização. O psicólogo atua no sentido de fazer com que a hospitalização e a situação de doença sejam melhor compreendidas pela criança e sua família, bem como de evitar situações difíceis e traumáticas. “Brincando” e “conversando” com o psicólogo, as crianças expressam seus medos, dúvidas, angústias, aliviando assim seu sofrimento e ca- minhando para uma recuperação mais rápida. O presente trabalho surge da necessidade de refletir sobre o atendimento psicológico à criança hospitalizada, buscando co- nhecer os meios e o processo utilizado por uma criança sub- metida a um tratamento invasivo para expressar a sua vivência. Parte-se do pressuposto de que a expressão é um momento importante da compreensão e elaboração simbólica. Dentro do hospital, sua primeira impressão é de estranha- mento, há um profundo desconhecimento, algo invasivo vai sur- gindo, e com isso a criança associa com algo punitivo, gerando uma sensação de abandono. O hospital para a criança é um lugar de proibições, onde ela não pode fazer as coisas que gosta; é um lugar de solidão, lágrima e saudade. A família é o conjunto natural para o crescimento e cura de um contexto que o terapeuta de família dependerá para atualiza- ção de seus objetivos terapêuticos. A família é um grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação. Esses padrões constituem a estrutura familiar, que por sua vez governa o funcionamento dos membros da família, delineando sua gama de comportamentos e facilitando sua interação. Uma forma viável de estrutura familiar é necessária para desempenhar suas tarefas essenciais e dar apoio para a individuação ao mesmo tempo em que provê um sentido de pertinência. (VASCON- CELLOS, 2005). Para Minuchin (1982), a estrutura familiar é o conjunto invisí- vel de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família interagem, mas a estrutura da família deve ser capaz de se adaptar quando as circunstâncias mudam. Na área médica, as práticas sistêmicas contrastam fortemen- te com as práticas tradicionais, nas quais geralmente se evidencia um pensamento linear, determinista, de busca de compreensão clara de relações de causa-efeito e de intervenções que sempre pretendem a cura de uma patologia. .(VASCONCELLOS, 2005). Para Vasconcelos (2005), ficou evidente também como os efeitos e interações entre alguns membros da família po- dem ser identificados no funcionamento do corpo de outros membros da família. Isso pode conduzir os profissionais da área médica a novas maneiras de ver e lidar com os ‘’sintomas físicos’’ de seus pacientes. São muitas as situações de crise vividas dentro do hospi- tal. Elas são caracterizadas por dor, doenças, perdas, deses- pero e desamparo. A criança passa a ser um objeto em uma situação na qual os enfermeiros e médicos ditam todas as ordens, estabelecendo horários de comer, tomar banho, e etc. Para Oliveira (1999) a dor de estar internada pode tomar maior dimensão se essa criança não puder falar de seu sofrimento. A importância do psicanalista e o atendimento sistêmico no hospital é de acolher o pedido de ajuda do sujeito, onde é inevitá- vel algum tipo de crise nesse lugar onde a sombra da morte ronda. Segundo Kruel (1999 apud Decat,1999), a psicanálise traba- lha de modo a fazer com que o tempo da urgência dê lugar ao tempo de compreender. É preciso que o paciente se coloque a falar do que esta acontecendo. A partir daí é que vão poder se formular as perguntas que estabilizam a criança. Portanto, a criança doente e hospitalizada demonstra a capacidade de observação e captar situações que acontecem ao seu redor, onde os adultos tentam ocultar. Nesse aspec- to, a incompreensão do adulto e sua falta de respostas aos questionamentos da criança doente provocam mais dor e são causadores de conflitos.

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Revista de Psicologia l 1

A criança hospitalizada e sua famíliaMargareth Felippe Trindade1

Claudia Neto2

RESUMO: Este trabalho enfoca a atuação do psicólogo junto à criança hospitalizada, objetivando a diminuição do sofrimento e, juntamente com a família, criando novas formas de se relacionarem com a doença.

PAlAvRAS-chAvE: Criança. Hospital. Família.

A atuação do psicólogo junto às crianças hospitalizadas ob-jetiva fundamentalmente a diminuição do sofrimento inerente ao processo do adoecer e da hospitalização. O psicólogo atua no sentido de fazer com que a hospitalização e a situação de doença sejam melhor compreendidas pela criança e sua família, bem como de evitar situações difíceis e traumáticas. “Brincando” e “conversando” com o psicólogo, as crianças expressam seus medos, dúvidas, angústias, aliviando assim seu sofrimento e ca-minhando para uma recuperação mais rápida.

O presente trabalho surge da necessidade de refletir sobre o atendimento psicológico à criança hospitalizada, buscando co-nhecer os meios e o processo utilizado por uma criança sub-metida a um tratamento invasivo para expressar a sua vivência. Parte-se do pressuposto de que a expressão é um momento importante da compreensão e elaboração simbólica.

Dentro do hospital, sua primeira impressão é de estranha-mento, há um profundo desconhecimento, algo invasivo vai sur-gindo, e com isso a criança associa com algo punitivo, gerando uma sensação de abandono.

O hospital para a criança é um lugar de proibições, onde ela não pode fazer as coisas que gosta; é um lugar de solidão, lágrima e saudade.

A família é o conjunto natural para o crescimento e cura de um contexto que o terapeuta de família dependerá para atualiza-ção de seus objetivos terapêuticos. A família é um grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação. Esses padrões constituem a estrutura familiar, que por sua vez governa o funcionamento dos membros da família, delineando sua gama de comportamentos e facilitando sua interação. Uma forma viável de estrutura familiar é necessária para desempenhar suas tarefas essenciais e dar apoio para a individuação ao mesmo tempo em que provê um sentido de pertinência. (VASCON-CELLOS, 2005).

Para Minuchin (1982), a estrutura familiar é o conjunto invisí-vel de exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais

os membros da família interagem, mas a estrutura da família deve ser capaz de se adaptar quando as circunstâncias mudam.

Na área médica, as práticas sistêmicas contrastam fortemen-te com as práticas tradicionais, nas quais geralmente se evidencia um pensamento linear, determinista, de busca de compreensão clara de relações de causa-efeito e de intervenções que sempre pretendem a cura de uma patologia. .(VASCONCELLOS, 2005).

Para Vasconcelos (2005), ficou evidente também como os efeitos e interações entre alguns membros da família po-dem ser identificados no funcionamento do corpo de outros membros da família. Isso pode conduzir os profissionais da área médica a novas maneiras de ver e lidar com os ‘’sintomas físicos’’ de seus pacientes.

São muitas as situações de crise vividas dentro do hospi-tal. Elas são caracterizadas por dor, doenças, perdas, deses-pero e desamparo.

A criança passa a ser um objeto em uma situação na qual os enfermeiros e médicos ditam todas as ordens, estabelecendo horários de comer, tomar banho, e etc.

Para Oliveira (1999) a dor de estar internada pode tomar maior dimensão se essa criança não puder falar de seu sofrimento.

A importância do psicanalista e o atendimento sistêmico no hospital é de acolher o pedido de ajuda do sujeito, onde é inevitá-vel algum tipo de crise nesse lugar onde a sombra da morte ronda.

Segundo Kruel (1999 apud Decat,1999), a psicanálise traba-lha de modo a fazer com que o tempo da urgência dê lugar ao tempo de compreender. É preciso que o paciente se coloque a falar do que esta acontecendo. A partir daí é que vão poder se formular as perguntas que estabilizam a criança.

Portanto, a criança doente e hospitalizada demonstra a capacidade de observação e captar situações que acontecem ao seu redor, onde os adultos tentam ocultar. Nesse aspec-to, a incompreensão do adulto e sua falta de respostas aos questionamentos da criança doente provocam mais dor e são causadores de conflitos.

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2 l Revista de Psicologia

Neste sentido, Angerami (1996) informa que as crianças do-entes têm um contato direto e íntimo com seu corpo, portanto, percebem a sua deterioração, e suas perguntas pedem um maior esclarecimento do que já sabem.

Vários efeitos psicológicos podem ser citados como conse-qüência da situação da doença grave, morte e hospitalização em crianças como: negação da doença, revolta, ansiedade, depres-são, projeção, solidão, entre outros.

Concluo que a proposta do trabalho com crianças e famí-lias deve fazer do hospital um lugar que atenue o sofrimento ao colocar o sintoma para deslizar metonimicamente através da as-sociação livre, pondo a cadeia de significantes em movimento. No final desse percurso, o deslocamento com as verdades que o analisante isolou liberando a pulsão, permitindo um movimento endereçando ao outro. Esse movimento possibilita que a criança passe a sua dor de existir ao prazer de viver, que sustenta na falta estrutural que se chama desejo.

A terapia familiar trata aquilo que torna difícil para a família, ajudando-os a enfrentar seus problemas e criar novas maneiras de se organizarem. Com as sessões terapêuticas, a família e a criança entram em contato com os sentimentos e produzem novas for-mas de vivenciar com a doença produzindo um bem estar.

REFERENcIASMOURA,Marisa Decat de.(org.) Psicanálise e hospital. Rio de Janeiro: Revin-

ter,1999.p16.

ANGERAMI,Augusto Valdemar-Camon (org.) E a psicologia entrou no

hospital...,São Paulo: Pioneira,1996.p21.

MINUCHIN,Salvador Famílias: funcionamento & tratamento. Porto Alegre: Ar-

tes Médicas,1982.p.34

ESTEVES DE VASCONCELLOS,MJ. Pensamento sistematicamente nossas rela-

ções familiares, a partir do novo paradigma da ciência In: AUN, J ESTEVES DE

VASCONCELLOS, M.J. COELHO,S. Atendimento sistêmico de famílias e

redes sociais. Vol1. Fundamento teóricos e epistemológicos.Belo Horizonte:

Ophicina de arte e prosa,2005,p.107.

NOTAS DE RODAPÉ1 Acadêmica do curso de Psicologia do Centro Universitário Newton Paiva

2 Professora supervisora de estágio do curso de Psicologia do Centro Universi-

tário Newton Paiva