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Resumo de artigo científico Francisco Champlon | 7357 | MIARQ5D | FA-ULisboa Casa e mudança social: Uma leitura das transformações da sociedade portuguesa através da casa Autora: Sandra Marques Pereira Publicado no relatório do Prémio André Jordan, Edição 2012, Categoria de Teses de Doutoramento (Foram resumidos os capítulos 1 a 3 do artigo referido) 1. Introdução Se bem que a análise geral da evolução do imobiliário residencial de uma sociedade espelha, de algum modo, o desenvolvimento dessa mesma sociedade, é, contudo, da análise dos fogos habitacionais em concreto que se consegue retirar informação mais sólida. Deve-se isto ao facto de o fogo (ou alojamento) constituir, provavelmente, o factor de maior peso no processo de escolha da habitação. Simultaneamente, os alojamentos – entendidos como objectos dotados de espaço interior habitável, independentes da sua localização no território – são entidades/objectos cuja variabilidade é virtualmente infinita, diferenciando-se através de um vasto conjunto de aspectos, tão diversos como os materiais utilizados ou a disposição dos compartimentos no espaço. Se nos “anos dourados” do Portugal do final do século XX uma certa ideia de abundância dispensava a consideração séria do perfil sociológico dos potenciais utilizadores finais das promoções imobiliárias de habitação, hoje em dia, em contexto de crise económica, impõe-se a adopção neste domínio de estratégias de produção muito mais explicitamente dirigidas a cada público-alvo. Numa primeira pesquisa exploratória, a autora chega à conclusão que, já no início do século XXI, o mercado português de habitação se caracterizava ainda pela oferta de fogos sem grande diferenciação, o que não só contraria os pressupostos de maturação deste mercado como ignora a apetência pela diferenciação que caracteriza as novas classes médias urbanas. Assim, o seu trabalho incide na procura e caracterização dos modelos habitacionais que dão resposta a essa nova procura, tarefa que, por sua vez, carecia da confirmação prévia da hipótese de a evolução da casa expressar a evolução da sociedade, mais especificamente a evolução da família moderna.

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Resumo do artigo "Casa e mudança social: Uma leitura das transformações da sociedade portuguesa através da casa", de Sandra Marques Pereira

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Page 1: Resumo do artigo "Casa e mudança social: Uma leitura das transformações da sociedade portuguesa através da casa", de Sandra Marques Pereira

Resumo de artigo científico Francisco Champlon | 7357 | MIARQ5D | FA-ULisboa

Casa e mudança social:Uma leitura das transformações da sociedade portuguesa através da casa

Autora: Sandra Marques Pereira

Publicado no relatório do Prémio André Jordan, Edição 2012, Categoria de Teses de Doutoramento

(Foram resumidos os capítulos 1 a 3 do artigo referido)

1. Introdução

Se bem que a análise geral da evolução do imobiliário residencial de uma sociedade espelha, de

algum modo, o desenvolvimento dessa mesma sociedade, é, contudo, da análise dos fogos

habitacionais em concreto que se consegue retirar informação mais sólida. Deve-se isto ao facto de

o fogo (ou alojamento) constituir, provavelmente, o factor de maior peso no processo de escolha da

habitação. Simultaneamente, os alojamentos – entendidos como objectos dotados de espaço interior

habitável, independentes da sua localização no território – são entidades/objectos cuja variabilidade

é virtualmente infinita, diferenciando-se através de um vasto conjunto de aspectos, tão diversos

como os materiais utilizados ou a disposição dos compartimentos no espaço.

Se nos “anos dourados” do Portugal do final do século XX uma certa ideia de abundância

dispensava a consideração séria do perfil sociológico dos potenciais utilizadores finais das

promoções imobiliárias de habitação, hoje em dia, em contexto de crise económica, impõe-se a

adopção neste domínio de estratégias de produção muito mais explicitamente dirigidas a cada

público-alvo.

Numa primeira pesquisa exploratória, a autora chega à conclusão que, já no início do século XXI, o

mercado português de habitação se caracterizava ainda pela oferta de fogos sem grande

diferenciação, o que não só contraria os pressupostos de maturação deste mercado como ignora a

apetência pela diferenciação que caracteriza as novas classes médias urbanas. Assim, o seu trabalho

incide na procura e caracterização dos modelos habitacionais que dão resposta a essa nova procura,

tarefa que, por sua vez, carecia da confirmação prévia da hipótese de a evolução da casa expressar a

evolução da sociedade, mais especificamente a evolução da família moderna.

Page 2: Resumo do artigo "Casa e mudança social: Uma leitura das transformações da sociedade portuguesa através da casa", de Sandra Marques Pereira

2. Enquadramento e Estado da Arte

A relação entre sociedade e tipologia habitacional é confirmada pela descrição de dois processos de

relacionamento distintos.

Em primeiro lugar, alega-se o facto de os indivíduos produtores do espaço serem, necessariamente,

indivíduos incluídos numa sociedade e, portanto, expressarem, ainda que de modo pouco

consciente, os seus valores e ideais. A autora prossegue relatando a discussão de que o tema da

produção arquitectónica estandardizada massiva versus a reabilitação e o cuidado com a cultura

local foi tendo ao longo do século XX.

Em segundo lugar, refere-se a diversidade de modos de habitar decorrentes das particularidades dos

residentes, sublinhando que a relação do indivíduo ou da família com a casa não é apenas funcional

e prática, mas também simbólica. De seguida, a autora faz um breve resumo dos procedimentos

adoptados, enquadrando a sua análise nos processos de individualização e diferenciação observados

actualmente na sociedade e identificando os grupos sociais que protagonizam esses processos,

nomeadamente os PTE (Profissionais, Técnicos e de Enquadramento).

Por seu turno, o estudo da evolução da família teria de incluir não só os aspectos relativos à

interacção dos seus membros entre si e com o exterior – comportamentos enquadrados em

diferentes lógicas de estrutura familiar (democrática/hierarquizada, formal/informal, etc), mas

também a sua classificação em termos de composição, nomeadamente em relação ao número de

indivíduos e respectivas relações de parentesco (casais sem filhos, famílias monoparentais, pessoas

sozinhas, etc).

Partindo desta grelha de análise, apuraram-se alguns modelos de família básicos: 1. a família

instituição, de estrutura tradicional (casal e filhos) profundamente hierarquizada e com a autoridade

centrada no homem; 2. a família fusão, democrática, colectivista e congregacional; e 3. a família

associação, mais informal e permissiva aos desejos individuais dos seus membros.

3. Objectivos e Metodologia

A tese parte da realidade empírica do mercado de habitação privada multifamiliar da cidade de

Lisboa e tem como objectivos:

1. fazer uma análise evolutiva dos modelos de habitação ao longo do século XX;

2. proceder ao estudo de 4 modelos habitacionais diferenciados dirigidos ao perfil sociológico

moderno, individualista e informal, traçado anteriormente e correspondente às novas classes

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médias.

Para o primeiro objectivo, adoptaram-se dois procedimentos:

1. a análise de 3 tipos habitacionais até à década de 1960 (gaioleiro, típico das avenidas novas;

português suave, associado ao Estado Novo; e moderno, desde cerca de 1950 em diante), focando

alguns componentes principais, como a planta dos fogos, o aspecto exterior do edifício e também,

ainda que menos significante, os espaços comuns dos edifícios;

2. a análise dos anúncios de imóveis publicados no Expresso entre 1973 e 2000, com especial

atenção às plantas e outros conteúdos publicitários visuais, procurando salientar as regularidades

morfológicas que se possam correlacionar com determinados aspectos do perfil sociológico dos

utilizadores finais.

Para o segundo objectivo, procedeu-se ao estudo de 4 modelos habitacionais diferenciados, a saber:

1. LisboaLoft, da promotora Temple; 2. Studios Residence Palácio, da Chamartín Imobiliária; 3.

Torre Sul, da Arquitectura Sustentável de Tirone Nunes; e 4. Condomínios Residenciais (Junqueira

e Expo), da José de Mello. Foi necessário realizar a caracterização formal do edifício ao nível do

fogo, dos espaços comuns e dos serviços oferecidos; a determinação do perfil sociológico dos

habitantes pioneiros; e a caracterização dos modos de uso da casa por cada residente e por perfil

sociológico, sublinhando os aspectos diferenciadores.

As técnicas de recolha de informação utilizadas partiram de abordagens mais quantitativas para

outras mais qualitativas, do seguinte modo: 1. análise documental das promoções imobiliárias; 2.

inquérito por questionário aos residentes; 3. entrevistas a alguns residentes; 4. registo fotográfico e

em planta do modo de ocupação da casa (disposição de mobiliário e objectos). Por motivos que a

autora explica detalhadamente na tese, decidiu excluir deste artigo o caso dos Condomínios

Residenciais.

Texto original: 2822 palavras

Resumo: 884 palavras (31%) 27 de Outubro de 2014