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Resumo de Direito Processual Civil I - Turma BFDL, 2012/2013por: Filipe Braz Mimoso e Patrícia Ganhão

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RESUMO DIREITO PROCESSUAL CIVIL I 2012/2013 Profs. Teixeira de Sousa, Lebre de Freitas e Remdio Marquespor Filipe Braz Mimoso e Patrcia Ganho

CAPTULO I PROCESSO CIVIL1 Ordem jurdica e processo CIVIL

II. Processo e procedimento1. Distino

A palavra processo tem a sua origem palavra latina processus, derivada do verbo procedere. Como procedere significa avanar ou progredir, o processus a aco de avanar ou de progredir.Os processos jurisdicionais de que o processo civil um exemplo so uma sequncia de actos das partes e do tribunal, encadeado de forma a possibilitar a expresso das posies das partes e a deciso do tribunal sobre uma determinada questo. Esses actos processuais relacionam-se entre si, dado que cada um deles condiciona o contedo e, por vezes, a realizao dos demais, e constituem, na sua globalidade, uma realidade unitria e estruturada que o processo. O processo surge ento como um conjunto de actos destinados tutela das situaes subjectivas.A sequncia das formalidades exigidas para a apresentao das posies das partes e para o proferimento de uma deciso chama-se procedimento. O procedimento , assim, o processo considerado simultaneamente num sentido formal e finalista, isto , perspectivado como um conjunto de formalidades destinadas expresso das posies das partes e produo de uma deciso do tribunal.

2. Funes do procedimento

O procedimento jurisdicional engloba as formalidades necessrias para o proferimento de uma deciso. Estas formalidades constituem uma estrutura algo complexa, porque importa evitar um dfice procedimental e uma crise de legitimao do processo, ambos resultantes de um insuficiente dilogo processual entre o tribunal e as partes e entre estas mesmas partes. Tal complexidade , alis, inerente a qualquer procedimento jurisdicional, que deve cumprir determinadas funes, nomeadamente enquadrar a conflitualidade entre as partes, permitir a formao de consensos entre elas e garantir a legitimao da deciso do tribunal.

3.Eficincia do procedimentoUm dos desideratos fundamentais dos procedimentos jurisdicionais deve ser o da sua eficincia, ou seja, da sua aptido para, mediante custos aceitveis, servirem de meio de tutela aos direitos e interesses . Esses custos referem-se aos custos operacionais do processo, como aos custos inerentes ao erro na deciso.Essa eficincia nem sempre alcanada, nomeadamente, porque muitas vezes, os procedimentos jurisdicionais no possuem a necessria racionalidade econmica e fazem recair os seus custos sobre a parte que os no devia suportar. Pense-se, por exemplo, na hiptese em que os custos da litigncia acabam por incidir sobre o autor que ganha a aco, porque, apesar de condenado, o ru tirou proveito da demora no proferimento da deciso. Importantes so tambm os custos inerente a um possvel erro na deciso.Quanto a eles, como, em caso de dvida sobre a realidade de.um facto, o tribunal decide contra a parte onerada com a sua prova (cfr. art. 516), so indispensveis uma adequada repartio do nus da prova pelas partes e uma idntica exigncia a ambas as partes do grau de prova necessrio para convencer o tribunal. S assim esse erro se pode repartir aleatoriamente por ambas as partes.

III. mbito do processo civil1. Determinao1.1. Critrios

A garantia jurisdicional dos direitos e interesses pressupe o recurso pelos seus titulares a um tribunal e ainda a definio dos actos das partes e desse rgo jurisdicional durante a apreciao de um caso concreto. O. processo civil a forma processual que serve de meio de tutela dos direitos subjectivos e interesses atribudos pela ordem jurdica privada, bem assim como de quaisquer outros direitos ou interesses que no encontrem outra forma de tutela jurisdicional.O processo civil comporta assim um mbito prprio e um mbito residual. O mbito prprio do processo civil respeita aos direitos subjectivos e interesses atribudos pelo direito privado, seja civil ou comercial. Alm disso, o processo civil tem um mbito residual, porque a forma de tutela de todos os direitos e interesses que no podem ser tutelados ou exercidos por forma processual e que, por isso, s atravs dele podem ser protegidos ou garantidos.1.2. Tribunal competente

O Processo civil da competncia dos tribunais judiciais, que so os tribunais comuns em matria cvel e criminal (art 211. n 1 CRP; cfr. tambm, art.66). Esses tribunais englobam o Supremo Tribunal de Justia, as Relaes e os tribunais de comarca (art 209, n 1 al. a), CRP; art. 16, ns 1, 2 e 3 do LOFTJ).Em concordncia com o mbito residual do processo civil, tambm os tribunais judiciais possuem competncia para todas as causas que no sejam atribudas a outros tribunais (art. 21 211, n 1 in fine, CRP; art 18 n1 LOFT; art 66).

2. Tipos de aces2.1. Aces declarativas

Os direitos subjectivos podem ser classificados em direitos a uma prestao (ou pretenses), direitos de monoplio, que so direitos sobre bens materiais ou imateriais exclusivos do seu titular (como, por exemplo, o direito de propriedade), e direitos potestativos, que so direitos que, atravs de uma sujeio, impem uma mudana na ordem jurdica. A cada um destes direitos corresponde uma aco destinada a garantir a sua tutela jurisdicional (art 2, n 2).Todavia, segundo a tipologia do art 4, n 2, a aco de que o titular do direito subjectivo dispe para a sua tutela jurisdicional no sempre a mesma: ao direito prestao corresponde uma aco condenatria (art 4, n 2, al. b)), dado que o titular exige a prestao de um coisa ou de um facto, pressupondo ou prevendo a: violao daquele direito; - ao direito de monoplio corresponde uma aco de simples apreciao (art 4, n 2', al. a)), dado que, no comportando esse direito, em si mesmo, qualquer faculdade de exigir uma prestao a outrem, o tribunal s pode declarar a sua existncia ou inexistncia;- ao direito potestativo corresponde uma aco constitutiva (art 4, n 2, al. c)) dado que do exerccio desse direito decorre a constituio, modificao ou extino de uma situao jurdica.

As aces de simples apreciao tambm podem ter por objecto certos factos.Porm, estes factos s podem ser factos juridicamente relevantes, como, por exemplo, os factos impeditivos, modificativos ou extintivos de um direito. Conforme resulta da configurao das aces constitutivas, estas aces originam uma situao nova na ordem jurdica. Isso distingue-as das aces de simples apreciao e das aces de condenao, as quais se limitam a reconhecer uma situao preexistente, embora reforcem com um ttulo judicial a fonte legal ou negocial do direito reconhecido.

Algumas das referidas acces declarativas podem assumir diversas configuraes. Assim, as aces de simples apreciao podem ter por obiecto a existncia, ou inexistncia de um direito subjectivo (art 4, n 2, al. a)): no primeiro caso denominam-se acoes de simples apreciao positiva; no segundo aces de simples apreciao negativa. Tambm as aces condenatrias podem referir-se a uma violao passada de uma pretenso ou a uma violao futura (mas previsvel) dessa pretenso: as aces que visam obter a condenao na satisfao futura de uma pretenso chamam-se aces de condenao in futurum) (cfr. art. 472) e as aces que se destinam a impor uma omisso ou absteno (necessariamente futura) chama-se aces inibitrias.

Em todas as referidas aces, o tribunal s desenvolve uma actividade tendente formulao de uma deciso: ele condena o suieito passivo a realizar a prestao, aprecia a existncia ou inexistncia do direito ou declara constituda, modificada ou extinta a situao jurdica. Dentro da classificao das aces referida no art. 4o, n 1, todas elas so aces declarativas.

Nalguns dos casos acima referidos o tribunal nem sequer pode actuar diferentemente, pois a sua interveno esgota-se necessariamente na apreciao do direito de monoplio ou na constituio, modificao ou extino da situao subjectiva. A actividade do tribunal termina necessariamente com a deciso que aprecia o direito ou que opera a mudana na ordem jurdica. Problemas relacionados com a eventual violao das situaes subjectivos decorrentes dessa apreciao ou dessa mudana s podero ser resolvidos num processo com outro objecto. Por exemplo: na aco de simples apreciao s declarada a propriedade do imvel, pelo que o pedido de condenao no pagamento da indemnizao resultante da ocupao indevida desse imvel deve ser formulado e apreciado numa outra aco.

2.2. Aces executivas

Quando o processo tem por objecto uma pretenso, so concebveis duas formas de interveno do tribunal: uma correspondente aco condenatria em que o tribunal de limita a verificar a existncia daquela pretenso e a condenar o sujeito passivo a cumprir a respectiva prestao (cfr. art 4. n 2. al b)); outra, logicamente posterior quela, em que o tribunal verifica o incumprimento, dessa prestao e faculta ao titular do direito os meios, se necessrio coactivos, para obter realmente aquela prestao ou um seu sucedneo pecunirio (cfr. art.817 CC). A aco atravs da qual o titular de uma pretenso pode obter do tribunal os actos necessrios reparao efectiva desse direito violado chama-se acco executiva (art 4, n 3).

3. Providncias cautelares

A efectividade da tutela jurisdicional exige, em certos casos, uma composio provisria dos interesses das partes antes do proferimento da deciso definitiva; isso sucede sempre que, se o direito no for imediatamente acautelado, a aco possa no realizar o seu efeito til (cfr. art 2, n 2 in fine). Esta composio provisria obtida atravs das providncias cautelares, como, por exemplo, a restituio provisria da posse (art 393) ou os alimentos provisrios (art 399, n 1).

IV. Outros processos jurisdicionaisAlm do processo civil, existem ainda, na ordem jurdica portuguesa, outros processos jurisdicionais destinados apreciao de outras matrias. Importa referir os seguintes:- O processo constitucional- O processo penal - O processo de trabalho- O contencioso administrativo- O processo tributrio

2. Relaes com o processo civil2.1. Decises obrigatrias

As decises do Tribunal Constitucional prevalecem sobre as dos restantes tribunais (art. 2 LTC)). Sendo assim, os tribunais onde aplicado o processo civil esto naturalmente vinculados a essas decises.

2.2 Questes prejudiciais

Ao tribunal judicial - que o tribunal perante o qual decorre o processo civil (art 211, n 1, CRP; art 66)- no incumbe em princpio, conhecer de matria da competncia de outros tribunais e abrangida por outros processos jurisdicionais. Por isso, se o conhecimento do objecto da aco civil depender da deciso de uma questo que seja da competncia do tribunal criminal ou administrativo - isto , se houver uma questo prejudicial que deva ser apreciada por um tribunal criminal ou administrativo -, pode o respectivo juiz suspender o processo at se obter a pronncia pelo tribunal competente (art. 97, n 1). Porm, se a aco penal ou administrativa no for exercida dentro de um ms aps a suspenso da aco civil ou se o respectivo processo estiver parado, por negligncia das partes durante o mesmo prazo, o juiz daquela aco pode decidir, embora com eficcia restrita a esse processo, aquela questo prejudicial penal ou administrativa (art 97, n 2).

2.3. Posio subsidiria

O processo civil o processo comum no sentido de que considerado o processo paradigmtico para todos os demais processos jurisdicionais e aquele cujo regime aplicvel na falta de regulamentao especfica naqueles processos. O processo civil , relativamente s outras formas processuais, o processo subsidirio. Da que a regulamentao legal daqueles processos preveja quanto ao que neles no se encontre especialmente regulado, uma remisso para as disposies reguladoras do processo civil.

V. Processo civil portugus1. Enquadramento comparativo

O processo civil portugus enquadra-se na famlia romano-germnica. Ele comunga das caractersticas dos processos pertencentes a este sistema jurdico, nomeadamente a importncia concedida s peas escritas das partes, o decurso de toda a tramitao da causa em primeira instncia perante o mesmo juiz e ainda, segundo graus variveis, o papel activo do juiz da causa.

2. Evoluo histrica

2.1. OrdenaesO regime do processo civil constava do Livro Terceiro das Ordenaes Afonsinas (1446), Manuelinas (1521) e Filipinas (1603), que regulava o processo declarativo (em primeira instncia e nos tribunais de recurso) e o processo executivo. O regime a previsto apresentava as caractersticas prprias do processo comum medieval de inspirao cannico-germnica: o regime processual reflectia certos privilgios de classe e s admitia actos escrtos no favorecendo, por isso, a imediao entre o juiz e as partes e outros participantes na acao.

2.2. Cdigo de 1876Por Carta de Lei publicada no Dirio do Governo de 8/11/1876 foi promulgado o primeiro Cdigo de Processo Civil, que entrou em vigor apenas em 17/5/1887. Dada a sua inspirao liberal, o Cdigo de 1876 colocava o processo na disponibilidade quase absoluta das partes e consagrava, embora em termos restritos, a imediao e a oralidade.

2.3. Cdigo de 1939O movimento de reforma iniciado em 1926 conduziu elaborao de uma nova legislao processual civil: o Decreto 29.637, de 28/5/1939, aprovou um novo Cdigo de Processo Civil. O Cdigo de 1939, em que interveio, em posio proeminente, Jos Alberto dos Reis, unificou o processo civil e comercial e regulou o regime processual das falncias. -Caracterizava-se pela acentuao Sos poderes do juiz e pela adopo de um regime de oralidade que, pela forma como foi consagrado, impossibilitava, na prtica, o controlo do julgamento de facto pela segunda instncia. O Cdigo de Processo Civil foi substancialmente revisto pelos Decretos- -Leis 329-A/95, de 12/12, e 180/96, de 25/9, que, entre muitas outras novidades (referidas, quase todas, nos importantes prembulos daqueles diplomas), introduziram no processo civil portugus a audincia preliminar de inspirao austraca e reforaram o princpio da cooperao entre as partes e o tribunal.

2.4.Tendncias actuais

Apesar da profunda Reforma de 1995/1996, o Cdigo de Processo Civil tem continuado a ser modificado em alguns aspectos importantes. H que salientar, em especial, a possibilidade do uso da citao por via postal por meio de carta simples (art 238 na redaco do art. 1 DL 183/2000, de 10/8), a admissibilidade da prtica ds actos das partes atravs de telecpia ou por correio electrnico (arts 143; n 4, e 150, n 2, ai c), na redaco do art 1o DL 183/2000), a possibilidade de apresentao dos articulados e alegaes e contra-alegaes de recurso em suporte digitai (art 150, n 1, na redaco do art DL 183/2000), a realizao, em regra, do julgamento da causa em primeira instncia por um juiz singular (cfr. art 646, n 1, na redaco do art 1o DL 183/2000) e a excluso- tambm em regra, de recurso para o Supremo Tribunal de Justia das decises sobre matria processual (cfr. art 754, n 2, na redaco do art 1o DL 375|A/99, de 20/9).

Atendendo a vrios factores - que vo desde a morosidade processual at falta de justificao econmica para recorrer aos tribunais , o processo civil tem vindo a perder o seu papel primordial na resoluo de certos litgios entre os particulares. Isso nota-se especialmente na tentativa de solucionar alguns conflitos atravs da~ designada Resoluo Alternativa de Litgios (RAL), que comporta meios jurisdicionais - como o caso da arbitragem - e meios no no jurisdicionais - de que so exemplos a mediao e a actividade desenvolvida pelas comisses de resoluo de conflitos e pelos provedores de clientes.

3. Fontes3.1. Fontes nacionais

O processo civil comunga das fontes do direito vigentes na ordem jurdica portuguesa: a lei, a jurisprudncia normativa ou vinculativa (nomeadamente, os acrdos com fora obrigatria geral do Tribunal Constitucional: cfr. art 2o LTC) e o costume, designadamente o jurisprudencial.

3.2. Fontes internacionais

A grande expresso do processo civil na resoluo de litgios relativos ao comrcio internacional e a crescente mobilidade das pessoas provocaram a elaborao de um importante direito processual internacional de origem convencional. Portugal parte em vrias convenes internacionais, bilaterais ou multilaterais, respeitantes ao processo civil.Portugal, enquanto membro da Unio Europeia beneficia dos esforos de unificao do processo civil ao nvel europeu. At ao momento, a harmonizao mais significativa foi realizada, no mbito da competncia judiciria e da execuo de decises em matria civil e comercial, atravs da Conveno de Bruxelas e da paralela Conveno de Lugano.

Enquadramento constitucional do processo civilI.Generalidades

1. Visao liberal e social

O processo civil - como, alis, qualquer outro processo jurisdicional - reflecte algumas concepes polticas fundamentais. A evoluo verificada nas relaes entre o juiz e as partes particularmente significativa da influncia de algumas opes polticas no processo. Durante o liberalismo, o processo era encarado como um assunto privado das partes, pelo que o tribunal-no tinha poderes de impulso do processo, de instruo da causa ou de investigao dosfactos relevantes. Tal como, no mbito extraprocessual, s concebia o contrato como expresso da autonomia privada e a melhor forma de assegurar/atravs de um encontro de vontades livres, os interesses dos contraentes* tambm o processo devia permanecer subordinado vontade das partes e atribuir ao juiz um comportamento passivo e no interveniente.A progressiva substituio do liberalismo pelas vrias concepes sociais e a acentuao do intervencionismo estatal e da funo assistencial do Estado refiectiram~se num aumento dos poderes do juiz no processo, tanto no impulso processual, como na instruo da causa, como ainda na investigao da matria de facto. Esta tendncia, tambm compatvel com os requisitos de publicidade, oralidade e concentrao do processo definidos pelas correntes iluministas e jusnaturalistas, concebia o processo civil, especialmente pela influncia marcante do austraco Franz Klein, como uma instituio de bem-estar, no qual deviam ter expresso tanto os interesses individuais dos litigantes, como os interesses gerais da colectividade na boa administrao da justia. Foi neste ambiente que nasceu o poder assistencial do juiz perante as partes, bem como o dever de colaborao destas com o tribunal.

2. Reflexos do Estado de direito

O processo civil e os demais processos jurisdicionais reflectem os valores fundamentais do Estado de direito. atravs destes processos que os tribunais desempenham a funo jurisdicional e que os interessados tm acesso tutela jurisdicional, o que implica determinadas consequncias em matrias relacionadas com o exerccio dessa funo e com as garantias do processo justo.

II. Exerccio da funo jurisdicional1. Separao e interdependncia de poderes

Os tribunais so rgos de soberania que dirimem conflitos de interesses (arf. art 202/2 CRP). Respeitando a separao de poderes entre os vrios rgos de soberania (crf. art. 111/1 CRP), a funo jurisdicional s pode ser exercida por rgos legislativos ou executivos. Isto significa que.se deve partir de um conceito material de funo jurisdicional e que esta contm em si mesma um ncleo essencial que no pode ser retirado dos tribunais.

Os tribunais tm direito coadjuvao das outras autoridades, pblicas ou privadas (art 202, n 3, CRP). Assim, concretizando a interdependncia entre as suas funes (cfr. art 111/1 CRP), os tribunais tm igualmente direito colaborao dos outros rgos de soberania.

2. Condies do exerccio

A independncia e imparcialidade dos tribunais so duas importantes condies do exerccio da funo jurisdicional. Esta independncia resulta da submisso exclusiva do tribunal lei (art 203 CRP; art 3 LOFTJ) e aos juzos de valor legais (art 4 , n 2, EMJ) e concretiza-se na sua no sujeio a quaisquer ordens ou instrues, salvo o dever de acatamento pelos tribunais inferiores das decises proferidas, em via de recurso, pelos tribunais superior (Art. 4/1 EMJ) e o idntico dever que impende sobre quaisquer tribunais quanto s decises do Tribunal Constitucional. No exerccio da funo jurisdicional, os tribunais devem procurar observar o princpio da igualdade, proferindo decises idnticas em casos idnticos. Os tribunais devem ter em considerao todos os casos que meream um tratamento anlogo, a fim de se obter uma interpretao e aplicao uniformes do direito (art. 8/3 CC). Uma das funes dos tribunais superiores a de favorecer a aplicao uniforme do direito, podendo mesmo proferir acrdos especificamente destinados uniformizao da jurisprudncia (cfr., no mbito do processo civil, arts. 732-A e 762/3).

III. Garantias do processo justo1. Generalidades

Dos princpios enformadores do Estado de direito decorre a garantia do processo justo ou equitativo (art. 20, n 4 CRP). O processo justo aquele que permite uma aplicao correcta da lei a factos verdadeiros pelo que, para atingir este resultado, necessrio satisfazer algumas condies organizativas e atender a alguns direitos das partes e s finalidades que devem ser prosseguidas pelo processo.

2. Aspectos organizativos

O processo justo exige, antes do mais, uma tramitao adequada para aplicar correctamente a lei a factos verdadeiros. Alm disso, ele tambm exige do Estado uma aplicao dos recursos financeiros necessrios que possibilitem aos tribunais boas condies de trabalho, pois que tribunais com excesso de trabalho, com juzes e funcionrios mal pagos, sem os modernos meios tecnolgicos e sem instalaes adequadas dificilmente garantem uma boa administrao da justia

3. Direitos das partes3.1. Generalidades

O Estado e direito implica o reconhecimento de determinados direitos das partes processuais. Importa referir, em especial, o direito de acesso aos tribunais (art. 20/1 CRP), o direito apreciao da aco por um tribunal independente e imparcial (cfr. art. 10 DUDH; art. 6/1 CEDH; art. 14/1 PIDCP) e o direito a obter uma deciso em prazo razovel (cfr. art 20/4 CRP; art. 6/1 CEDH; art. 2/1).

Alguns destes direitos relacionam-se com dois factores inerentes a qualquer processo: o factor relativo aos custos e o factor respeitante ao tempo. Pela perspectiva de todos os interessados - sejam partes ou terceiros -, o processo no deve nem envolver custos incomportveis, nem demorar demasiado tempo a ser decidido.3.2. Acesso aos tribunaisDado que, no Estado de direito, os tribunais possuem o monoplio do exerccio da funo jurisdicional, a todos os cidados deve ser garantido o acesso aos tribunais (art 20/1 CRP), pois que qualquer excluso, ou restrio nesse acesso implica a impossibilidade ou dificuldade de defesa dos direitos ou interesses prprios. Em especial, dado que a justia no pode ser denegada por insuficincia de meios econmicos (art 20, n 1, CRP), h que garantir a todos, atravs dos necessrios apoios, o acesso informao, consulta, jurdicas e ao patrocnio judicirio (art 20, n 2 CRP).A garantia do acesso justia, independentemente da situao econmica ou da condio social do interessado, uma consequncia do princpio da igualdade (art. 13 CRP, pois que h que evitar que algum deixe de tutelar os seus direitos ou interesses em juzo por no poder suportar as inerentes despesas. O apoio estadual no acesso aos tribunais tambm decorre dos princpio orientadores do Estado social de direito, segundo os quais os cidados tm direito a que o Estado fornea as condies que possibilitem um gozo e um exerccio efectivos dos direitos constitucionalmente consagrados.

A garantia do acesso aos tribunais no incompatvel com certas restries, desde que estas no sejam arbitrrias ou injustificadamente discriminatrias. o que sucede, por exemplo, com a fixao de prazos para o exerccio do direito ou propositura da aco (cfr., v.g., arts 498, n 1, 1410, n 1, 1786, n 2, CC) ou com a exigncia do patrocnio judicirio (cfr. arts 32, n 1, e 60).

Um outro reflexo da garantia do acesso aos tribunais independentemente da condio econmica ou social do interessado o que se estabelece quanto falta de cumprimento de obrigaes tributrias: essa situao no obsta nem ao recebimento ou prosseguimento de qualquer aco, incidente ou procedimento cautelar (art. 280/1), nem valorao dos documentos apresentados como meio de prova (art.280, n 2).

Finalmente, o direito de acesso aos tribunais tambm exige que as custas do processo - isto , as quantias que devem ser pagas pela parte vencida na aco (cfr. art 446, ns 1 e 2) - no sejam desproporcionadas em relao nem aos benefcios que o autor pode vir a retirar, da procedncia da acco, nem s desvantagens impostas ao ru que foi condenado. Uma tal desproporo significaria que as custas deixariam de se orientar, por um princpio de compensao das despesas ocasionadas e passariam a representar uma sano imposta parte vencida. Isso traduzir-se-ia ainda num desincentivo ao recurso aos tribunais, pois que dificilmente algum arriscaria propor uma aco se receasse que, na hiptese de improcedncia, teria que pagar uma quantia desproporcionada em relao vantagem que poderia obter em caso de procedncia.

3.3. Igualdade das partes

A imparcialidade do tribunal implica que este rgo no pode tomar partido por nenhuma das partes, devendo trat-las durante todo o processo, com completa igualdade (art 3-A). A parte tem direito a que, perante o tribunal a sua posio processual tenha o mesmo valor que a da sua contraparte. nisso que consiste o princpio da igualdade de armas das partes, que se concretiza na possibilidade de cada uma delas se pronunciar sobre tudo o que for relevante para a deciso da causa e de utilizar todos os meios admissveis para se defender de um pedido ou contrariar uma alegao da contraparte.

3.4. Previsibilidade da deciso

A deciso do tribunal deve corresponder quilo que alegado e discutido durante o processo, no devendo as partes ser surpreendidas com uma deciso que, embora baseada numa matria de conhecimento oficioso, aprecia uma questo que nenhuma das partes alegou ou discutiu. Para obviar s chamadas decises-surpresa, o art 3, n 3, probe, em regra, que o juiz conhea de questes de facto ou de direito, mesmo de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem.

3.5. Prazo razovel

As partes tm direito a que a deciso da causa seja proferida num prazo razovel (art 20/4 CRP; art. 6/1 CEDH; art 2/1). No certamente possvel definir em abstracto o prazo razovel para a durao dos processos, mas sempre vivel analisar se, em funo das circunstncias do caso concreto, a durao de um processo excedeu aquilo que seria justificado. Para isso, basta confrontar a durao efectiva do processo com a durao que ele deveria ter tido se fossem respeitados todos os prazos legais definidos para os actos do tribunal e das partes.A obteno de uma deciso num prazo razovel uma das mais importantes garantias da efectividade da tutela jurisdicional, pois que uma justia que no pronta raramente pode satisfazer os interesses do demandante que obteve a procedncias da causa ou do demandado que conseguiu a sua improcedncia. Alm disso, a durao excessiva do processo dificulta a produo da prova, pois que torna mais difcil a recolha de provas e mais incerto, o depoimento de testemunhas. Uma justia tardia uma justia mais falvel e cuja utilidade est diminuda, se no mesmo completamente perdida.No entanto, como se comprova pela anlise de diferentes pocas histricas e de vrios ordenamentos jurdicos, a obteno da deciso da causa num prazo razovel tem sido, dentro das garantias das partes, uma das mais difceis de alcanar e de assegurar. Para a morosidade da justia contribui o aumento da litigncia (que, por seu turno, tem variadas causas sociais e econmicas), aliado, entre outros factores, s condies de trabalho existentes nos tribunais, dificuldade de racionalizar o processo e de maximizar a sua eficincia e ainda a alguns comportamentos dilatrios das partes.

4. Finalidades do processo

O processo justo tambm implica a existncia de procedimentos adequados a diferentes objectivos. Assim, porque h que permitir o reconhecimento do direito ou interesse, porque importa possibilitar a realizao coactiva de uma prestao no cumprida e ainda porque h que acautelar o efeito til da tutela, a lei processual, como se dispe no art2/2 prev: - processos declarativos, que so processos destinados apreciao e declarao do direito (cfr. art 4, n 2); - processos executivos, que possibilitam a reparao efectiva do direito violado (cfr. art4/3); - procedimentos cautelares, destinados a obter uma composio provisria dos interesses conflituantes antes do proferimento da deciso final e acautelar o efeito til da aco (cfr. art 381/1).

3. Elementos do processo civilI. Sujeitos processuais

1. Tribunal

Os sujeitos do processo civil so o tribunal e as partes. O tribunal o rgo decisrio, isto , o rgo que administra a justia no caso concreto que lhe foi submetido a julgamento (cfr. art. 202, n 1, CRP).

2. Partes

As partes so as entidades que requerem tutela jurisdicional para um determinado direito ou interesse ou contra as quais requerida essa mesma tutela. A parte que requer aquela tutela jurisdicional designa-se, por autor, no processo declarativo, e exequente, no processo executivo. A parte contra a qual requerida essa mesma tutela chama-se, respectivamente, ru e executado.Toda a parte actua em juzo em nome prprio. Assim, quando se verifique uma situaao, de representao, a parte sempre o representado, e nunca o representante.

Verificados determinados pressupostos, so possveis situaes de pluralidade de partes (cfr. arts 27 a 31-B) e admissvel a interveno de terceiros durante a pendncia da aco (cfr. arts. 320 a 359).

3. Participantes processuais

Alm do tribunal e das partes (isto , dos sujeitos processuais), outras entidades podem ter interveno num processo pendente. o caso, por exemplo, das testemunhas, (cfr. art 616) e dos peritos (cfr. arts 568 e 569). Estas entidades, que no so sujeitos processuais mas intervm no processo, podem ser designadas por participantes processuais.

II. Objecto processual

1. Noo

O objecto do processo a matria ou assunto sobre o qual o tribunal chamdo a pronunciar-se. Este objecto constitudo por dois elementos: o pedido e a causa de pedir.

2. Elementos

2.1. Pedido

O pedido a forma de tutela jurisdicional requerida para um direito subjectivo ou interesse legalmente protegido (cfr. art 498, n 3). A parte alega um direito ou um interesse e requer para eles uma das formas de tutela jurisdicional correspondente a uma das aces previstas no art 4, ns 2 e 3: a condenao, a apreciao, a constituio ou a execuo.

2.2. Causa de pedir

A causa de pedir (causa petendi) constituda pelos factos necessrios para individualizar o direito ou o interesse invocado pela parte (cfr. art 498/4 1 parte). Assim, por exemplo, distinto o direito de crdito que invocado com fundamento num contrato de compra e venda de um outro direito de crdito que fundamentado num contrato de mtuo.Os factos que integram a causa de pedir so os factos essncias, isto , os factos dos quais resulta a situao subjectiva alegada pela parte. Dado que a qualificao jurdica dos factos pertence ao tribunal (cfr. art 664 1 parte), a causa de pedir o facto concreto e no a categoria jurdica ou legal em que se enquadra o facto alegado.

Podem ser referidos alguns exemplos de causa de pedir nas aces de reivindicao, a causa de pedir o facto jurdico de que deriva a propriedade (cfr. art 498, n 4 2a parte), pelo que, se a aquisio for derivada, necessrio demonstrar, alm do facto que determinou a transmisso, que o direito existia no transmitente; nas aces de divrcio, a causa de pedir o facto concreto que invocado como fundamento do pedido; na aco de investigao da paternidade, a causa de pedir o facto jurdico da procriao; na aco constitutiva de denncia do arrendamento, a causa de pedir a necessidade da casa para, habitao prpria; na aco de interdio, a causa de pedir constituda pelos factos reveladores da anomalia psquica, da surdez-mudez ou da cegueira e do respectivo grau de incapacidade

A causa de pedir integrada pelos factos essenciais para individualizar a situao subjectiva alegada, o que no significa que ela englobe, todos os pressupostos constitutivos da daquela situao. Assim, por exemplo, numa aco em que se pede o cumprimento de um contrato no tm de ser alegados, como causa de pedir, todos os factos respeitantes aos requisitos de validade desse contrato (como so, entre outros, a capacidade das partes e a inexistncia de qualquer vcio da vontade dos contraentes).Alm disso, dos factos essenciais que integram a causa de pedir h que distinguir os factos instrumentais (probatrios ou indicirios) e os factos complementares (ou concretizadores). Os factos instrumentais so aqueles de cuja prova se pode inferir a demonstrao dos correspondentes factos essenciais (cfr. art 264/2). Por exemplo: a causa de pedir de uma aco de investigao da paternidade o acto de procriao natural, mas, como difcil provar esse mesmo acto, a comunho duradoura de vida entre a me do investigante e o pretenso pai pode ser utilizada como facto instrumental (cfr. art 1871/1 al. C), CC).

Esta, distino entre factos essenciais, e instrumentais, tem importncia nos seguintes aspectos s a modificao de facto essencial implica a alterao da causa de pedir (cfr. arts. 272 e 273), pois que, como os factos instrumentais no integram a causa de pedir, a modificao destes no afecta essa causa petendi; - o tribunal est vinculado causa de pedir alegada pela parte (arts. 264/2 e 664 2 parte) e, portanto, aos factos essncias, mas os factos instrumentais podem ser considerados oficiosamente pelo tribunal (art. 264/2 in fine).

Os factos complementares so aqueles que, no sendo indispensveis individualizao do direito ou interesse alegado pela parte, so necessrios em conjugao com os factos essenciais, procedncia da aco (cfr. art 264 n3). Por exemplo: numa aco de divrcio litigioso com fundamento em adultrio do cnjuge demandado (cfr. arts 1779, n 1, e 1672 CC), a causa de pedir essa violao dos deveres conjugais e o facto complementar o comprometimento da vida em comum decorrente da gravidade e reiterao dessa violao.

3. Relevncia

3.1. Intraprocessual

O objecto do processo condiciona o objecto da deciso, ou seja, aquilo que pedido e alegado pela parte aquilo que pode ser apreciado e decidido pelo tribunal. Nesta matria, a regra a de que o tribunal deve apreciar tudo o que pedido pela parte e no pode apreciar mais do que aquilo que a parte pediu (cfr. arts. 660/2 e 664; cfr. tambm art. 668/1 al. d)).

3.2. Extraprocessual

atravs da anlise do objecto do processo que se pode saber o que pedido pela parte e qual o fundamento que esta apresenta para o pedido que formula. Qualquer destes elementos relevante para permitir, a comparao com o objecto de uma outra aco, o que determinante para verificar se esto, preenchidos os requisitos das excepes de litispendncia ou de caso julgado (cfr. arts 497 e 498).Convm precisar que a deciso do tribunal - isto , a condenao ou absolvio por ele proferida - vale sempre em conjunto com o respectivo fundamento. Assim, se, por exemplo, a parte fundamentou a aco de reivindicao de um bem na sua aquisio por usucapio e o tribunal julgou a aco improcedente porque o autor no provou esse fundamento, esta parte no est impedida de propor uma outra aco de reivindicao do mesmo bem, desde que nela invoque um outro ttulo de aquisio do bem, ou seja, uma outra causa de pedir.

4. Valor da aco

4.1. Atribuio

O objecto do processo civil pode ser qualquer direito ou interesse de natureza patrimonial (como, por exemplo, o direito a uma indemnizao) ou no patrimonial (como, por exemplo o direito ao divrcio ou ao estabelecimento da paternidade). No entanto, qualquer que seja o objecto do processo, a toda a causa deve ser atribudo um valor certo, expresso em moeda legal ecorrespondente utilidade econmica do pedido(art. 305 n 1).Conforme se dispe no art 305 , n 2, a atribuio de um valor acao releva para determinar, em conjugaao com outros factores, a competncia do tribunal (cm arts 97/1, 99 e 101 LOFTJ; art. 319/1), aferir a forma do processo comum (art. 462) e definir a relao, para efeitos de recurso, da causa com a alada do tribunal (cfr. art. 678/1). O valor processual da aco no coincide necessariamente com o valor do processo para efeito de custas (art 305/3), o qual determinado pelos critrios especiais dos arts. 5 a 12 CCJ.

4.2. Critrios

Os critrios aferidores do valor da causa podem, ser gerais, ou especiais. Os critrios gerais determinam que o valor da causa o valor da quantia certa em dinheiro que se pretende, obter, ou, quando se pretende um benefcio diverso, o valor da quantia em dinheiro correspondente a esse benefcio (arto306o, n 1). Se numa mesma aco se cumularem vrios pedidos (cfr. art.470, n 1), o valor a quantia correspondente soma do valor de todos eles (art 306, n2 1a parte)..Podem referir-se os seguintes exemplos: nas aces de demarcao, o valor, da causa o da faixa de terreno em litgio; nas aces de demolio de obra por devassa de prdio alheio, o valor da aco o do custo da remoo da obra adicionado ao do prejuzo provocado pelo devassamento.

Os critrios especiais aferem o valor da aco sempre qu o objecto do processo no seja uma quantia monetria ou algo de equivalente. Dos vrios critrios especiais salientam-se os respeitantes fixao do valor quando o objecto for a existncia, validade, cumprimento, modificao ou resoluo de um acto jurdico (art 310) ou um direito de propriedade ou outro direito real sobre uma coisa (art 311).

Quando a causa respeitar ao estado das pessoas como sucede, por exemplo, com uma aco de anulao do casamento (art 1632 CC), de divorcio (cfr. art 1773 CC) ou de investigao da maternidade (cfr. art 1814 CC^) ou da paternidade (cfr. art 1869 CC) - ou quando a aco incidir sobre interesses imateriais - como , por exemplo, uma aco relativa ao nome (cfr. art 72, n2 CC), privao do uso do nome pelo cnjuge (cfr. art 1677-C, n1 CC), inibio do poder paternal (cfr. art 1915, n 1, CC) -, no possvel atribuir causa um valor aferido pela utilidade econmica imediata do pedido. por isso que o art 312 ficciona para essas aces um valor, que, alis, possibilita a interposio de recurso at ao Supremo Tribunal de Justia (cfr. art 678, n 1

Sobre outros critrios especiais de determinao do valor da causa, cfr. arts 307, 309, 313 e 316.

4.3. Fixao

O valor, da causa fixado de acordo com a situao existente no momento em que a aco proposta (art. 308/1), devendo o autor indic-lo na petio inicial (art. 467/1 e)). A omisso da indicao desse valor justifica a recusa do recebimento da petio pela secretaria (art. 474 e)) ou, se isso no tiver sucedido, o convite ao autor para suprir a falta (art 314/3). O ru pode impugnar o valor da causa indicado na petio inicial do autor, contanto que oferea outro em sua substituio (art 314o n 1 1 parte). Neste caso, as partes podem chegar a acordo sobre esse valor (art 314, n 1 2 parte), mas a aceitao pelo autor do novo valor proposto pelo ru tem de ser expressa. Se o ru no impugnar o valor indicado pelo autor, isso significa que o aceita (art 314/4).

Se o valor indicado pelo autor no tiver sido impugnado pelo ru ou se as partes tiverem acordado expressamente no valor da causa, em regra este valor encontra-se definitivamente fixado (art 315, ns l l parte e 2) e no pode ser alterado num tribunal de recurso. Contudo, o juiz pode fixar causa um outro valor, quando entenda que aquele que foi indicado pelo autor ou acordado entre as partes est em flagrante oposio com a realidade (art 315, n 1 2 parte). Para ess determinao, o juiz, deve considerar os elementos fornecidos pelo processo ou, se estes forem insuficientes, atender aos resultados das diligncias por ele ordenadas, ou requeridas pelas partes (art 317), incluindo o arbitramento (art 318).A aceitao, pelo juiz do valor da causa pode assentar num erro resultante da circunstncia de o valor que as partes acordaram estar em flagrante oposio com os critrios legais aplicveis, mas tal deciso, quando transitar em julgado, tem fora obrigatria dentro do processo (cfr. art 672): STJ-29/10/1992, BMJ 420, 484. No sentido de que as normas contidas nos arts 305, 308, n 1, e 309 no so inconstitucionais quando interpretadas no sentido de o valor da causa ser o indicado pelo autor no caso de o ru no contestar, cfr. TC-182/98 (11/2/1998), DR II-11/5/1998, 6327.

(LF) 2.3. Valor da causaO valor da causa, monetariamente expresso, representa a utilidade econmica do pedido (art. 305-1). Quando o pedido tem por objecto uma quantia pecuniria lquida (quantia certa em dinheiro), a determinao est in re ipsa, constituindo essa quantia a utilidade tida em vista por quem o deduz, independentemente de ser pedida a condenao no seu pagamento, a simples apreciao da existncia do direito a essa quantia ou a sua realizao em aco executiva; nos outros casos, h que encontrar o equivalente pecunirio correspondente utilidade visada ("benefcio) (art. 306-1).Este critrio geral concretizado e adaptado nos arts. 307 e 309 a 311, que consagram critrios especiais, determinados pelo tipo de pedido formulado, respectivamente para a aco de despejo, a aco referente a contrato de locao financeira, a aco de alimentos definitivos e de contribuio para despesas domsticas, a aco de prestao de contas, a aco em que se pea prestaes vencidas e vincendas, a aco de apreciao da existncia, validade, cumprimento, modificao ou resoluo dum negcio ou outro acto jurdico a aco de propriedade ou outro direito real de gozo e a aco de diviso de coisa comum.Para a fixao do valor, atende-se ao momento em que o pedido i deduzido (art. 308, n." 1 e 2), sem prejuzo de o valor inicial vir a ser corrigido nos processos em que a utilidade econmica do pedido s se define na sequncia da aco, como o caso dos de liquidao de patrimnios.Sujeitas a uma norma especfica estio as aces cujo objecto no versa sobre valores patrimoniais isto , as aces de estado e as relativas a interesses imateriais. No podendo, para os efeitos decorrentes do valor da causa, deixar de ter um valor, este atribudo de modo a que se aplique a forma processual mais complexa e assim seja sempre garantido o direito ao recurso: o valor o equivalente alada da Relao mais 1 cntimo (art. 312). (LF)

4. Formas do processo civilI.Enunciado

Em concordncia com a distino entre aces declarativas e aces executivas (cfr. art. 4/1), o processo pode igualmente ser declarativo (nomeadamente, arts. 467 a 800) ou executivo (designadamente, arts. 801 a 943).

II. Processo declarativo

1. mbito

O processo declarativo visa apreciar a existncia de um facto ou de um direito, constituir, modificar ou extinguir uma situao jurdica ou impr um dever de cumprimento de uma prestao (art 4, n 2). No mbito do processo declarativo, a principal diferenciao radica na distino entre os processos de jurisdio voluntria e os demais processos (que, alis, constituem a regra).

2. Jurisdio voluntria 2.1. Critrio definidor

Os processos de jurisdio voluntria esto regulados nos arts. 1409 a 1510 e comportam processos como o de separao ou divrcio por mtuo consentimento (arts. 1419 a 1423-A), o de suprimento (arts. 1425 a 1430), o de fixao judicial de prazo (arts. 1456 e 1457) e o de notificao para preferncia (arts. 1458 a 1466), assim como vrias providncias relativas aos filhos e aos cnjuges (arts. 1412 a 1418) e vrios processos referidos ao exerccio de direitos sociais (arts. 1479 a 1510). Em geral, aos processos de jurisdio voluntria est reservada uma funo de assistncias das entidades pblicas na proteco de determinados interesses individuais ou de certos interesses gerais: a escolha dos tribunais para a apreciao desses processos justifica-se pela garantia da sua imparcialidade (art. 203 CRP), pelo direito dos tribunais coadjuvao de outras entidades (art. 202/3 CRP) e ainda pela especial eficcia das suas decises (art. 205/2 CRP).

A distino entre os processos de jurisdio voluntria e os demais processos declarativos realiza-se atravs dos critrios de deciso do tribunal em cada um deles. Nos processos de jurisdio voluntria, as decises podem ser tomadas segundo critrios de convenincia de oportunidade (art 1410o), o que- significa que nesses processos as decises podem ser fundamentadas num critrio no normativo: esse critrio assenta na discricionariedade judiciria, porque ele que pressupe o uso daqueles juzos de convenincia e de oportunidade. Diferentemente, as decises dos processos de jurisdio contenciosa decorrem do uso dos critrios normativos extrados das regras jurdicas ou da utilizao, quando permitida pelo art 4o CC, do critrio no normativo da equidade.

2.2. Caractersticas

Nos processos de jurisdio voluntria, em consequncia do seu especfico critrio de deciso, no vigora o princpio da disponibilidade das partes sobre o objecto, porque o tribunal pode investigar livremente os factos, coligir as provas, ordenar os inquritos, recolher as informaes convenientes e recusar as provas consideradas desnecessrias (art. 1409/2). Alm disso, nesses processos no admissvel recurso para o Supremo Tribunal de Justia das decises proferidas segundo critrios de convenincia ou oportunidade (art. 1411/2) e as respectivas decises podem ser alteradas com fundamento em circunstncias supervenientes, de carcter objectivo ou subjectivo (art. 1411/1).

A natureza jurdica da jurisdio voluntria muito controvertida, entendendo alguma doutrina que essa jurisdio , substancialmente, uma actividade de carcter administrativo.A questo de mera construo jurdica e no tem quaisquer consequncias prticas. Em todo o caso, deve referir-se que a possibilidade de o divrcio por mtuo consentimento ser requerido, perante o conservador do registo civil (cfr. art 1773, n 2, CC) indicia uma tendncia para retirar os processos de jurisdio voluntria do mbito jurisdicional e atribu-los a entidades no jurisdicionais.

3. Formas do processo declarativo

3.1. Processo comum e especial

A tramitao do processo declarativo isto , a sequncia de actos das partes e do tribunal conducentes ao julgamento de uma aco declarativa no sempre a mesma. Antes do mais, o processo declarativo pode ser, quanto forma, especial ou comum (art. 460/1). O processo especial aplica-se aos casos expressamente designados (art. 460/2 1 parte), sendo estes os constantes dos arts. 944 a 1510. O processo comum aplicvel a todos os casos a que no corresponda qualquer processo especial (art. 460/2 2 parte).

(LF) No havendo lugar a processo especial, emprega-se o processo comum (art. 460). Dentro deste, h trs formas distintas: a ordinria, a sumria e a sumarssima (art. 461).A determinao da forma de processo comum aplicvel faz-se, na aco declarativa, tendo em conta o valor da causa e, quanto ao processo sumarssimo, tambm o tipo da pretenso deduzida: usa-se o processo ordinrio quando o valor da causa superior ao fixado para a alada do tribunal da relao; usa-se o processo sumarssimo quando o valor da causa igual ou inferior ao valor fixado para a alada do tribunal de comarca e se pretende o cumprimento de obrigao pecuniria, a indemnizao por dano ou a entrega de coisa mvel; usa-se o processo sumrio nos restantes casos (valor da causa igual ou inferior alada do tribunal da relao, desde que, quando se pretende o cumprimento de obrigao pecuniria, a indemnizao por dano ou a entrega de coisa mvel, esse valor exceda o da alada do tribunal de comarca). Esta repartio, constante do art. 462 , assenta nos pressupostos de que, na maior parte dos casos, a causa to mais complexa quanto maiores so os valores envolvidos e de que, mesmo quando assim no , as consequncias da perda da aco so to mais gravosas quanto maiores esses valores, o que justifica anlise mais atenta da causa pelo tribunal . Assenta, por outro lado, na medida em que o objecto do processo interfere na delimitao entre processo sumrio e processo sumarssimo, na ideia de que, na generalidade dos casos, no se pem questes de tanta complexidade quando est em causa o cumprimento de obrigao pecuniria, a obrigao de reparar o dano causado por facto ilcito ou a entrega de uma coisa mvel, em cumprimento de obrigao ou do dever de restituir a coisa alheia, como quando se trata, por exemplo, de declarar a nulidade, anular, ou resolver um contrato, impugnar uma deliberao social, executar especificamente um contrato-promessa, definir o estatuto dum prdio ou proceder sua demarcao. (LF)

3.2. Formas do processo comum

As formas do processo comum so definidas atravs de critrios assentes exclusivamente no objecto da aco ou simultaneamente no seu valor e no seu objecto. Se o valor da causa exceder a alada da Relao, a forma do processo comum a ordinria (ou seja, processo comum ordinrio) (atrt. 462 1 parte).Quando o valor da causa, no exceder a alada da Relao, a forma adequada , em princpio, o processo sumrio (art 462o- 2a parte), excepto se dever ser utilizado o processo sumarssimo, o que sucede quando o valor da causa no ultrapassar o valor da alada dos tribunais de comarca e o objecto do processo for o cumprimento de uma obrigao pecuniria a indemnizao por dano computada em quantia certa ou a entrega de uma coisa mvel (art 462 2a parte).

Sobre o valor da alada dos tribunais judiciais, cfr. art 24, n 1, LOFTJ. O Decreto-Lei 269/98, de l/9, aprovou um procedimento para pagamento de obrigaes pecunirias emergentes de contratos de valor no superior alada do tribunal de l instncia, no qual se contm uma aco declarativa especial (cfr. arts 1o a 6o RPOP) e um processo de injuno (cfr. arts 7o a 22 RPOP), que consomem, no seu respectivo mbito de aplicao, o processo comum sumarssimo.

(LF) 2.2. Alada do tribunal

Entende-se por alada um valor, fixado pela lei de orgnica judiciria, at ao qual um tribunal de instncia (23) julga definitivamente as causas da sua competncia.

(23) Constituem tribunais de 1 instncia (epgrafe do art. 70) os tribunais de comarca, de competncia genrica, especfica ou especializada (CPC anotado, comentrio aos arts. 67, 68 e 69), e de 2. instncia os tribunais da relao (art. 71). O Supremo Tribunal de Justia (art. 72), situado na pirmide dos tribunais judiciais, no tem alada. Com a Lei 52/2008, de 28 de Agosto, acaba e bem a categoria da competncia especfica, que integrada na da competncia especializada, anteposta da competncia genrica (art. 73 NLOFTJ, n.s 2 e 4); mas, por enquanto, a nova lei aplica-se apenas, experimentalmente, nas comarcas, por ela criadas, de Alentejo Litoral, Baixo Vouga e Grande Lisboa Noroeste (art. 171 NLOFTJ).

O conceito de alada interessa, pois, antes de mais, aos recursos: a deciso proferida em causa de valor contido na alada do tribunal que a profere no , em regra, susceptvel de recurso ordinrio, ao passo que a proferida em causa de valor superior a essa alada -o em regra, desde que seja desfavorvel para o recorrente em valor superior a metade da mesma alada (art. 678-1).Mas a alada tem outras funes, entre as quais a de distribuir a competncia entre tribunais de 1. instncia de competncia genrica e de competncia especfica (25) e a de determinar a forma do processo declarativo comum.

(25) Aos tribunais de competncia genrica cabem todas as causas para as quais materialmente competente o tribunal judicial da 1. instncia e que no sejam atribudas a um tribunal de competncia especializada (definida em razo da matria). Mas j os tribunais de competncia especfica sem competncia residual, existentes em certas circunscries judiciais (maxime, Lisboa e Porto), tm competncia limitada s causas, de entre essas, cujo valor se contm dentro do limite definido pela alada da 1. instncia {juzos de pequena instncia cvel) ou excede o valor da alada da 2. instncia (varas cveis), enquanto os juzos cveis a tm para todas as causas no atribudas s varas nem aos juzos de pequena instncia cvel (arts. 97 LOFTJ, 99 LOFTJ e 101 LOFTJ). Na nova LOFTJ mudam as designaes e os juzos de instncia cvel podem desdobrar-se em trs nveis de especializao: juzos de grande instncia cvel (as actuais varas cveis); juizes de mdia instncia cvel (os actuais juzos cveis, conservando a sua competncia residual); juzos de pequena instncia cvel (como actualmente). A alada mantm a funo de distribuir a competncia entre estas trs categorias de tribunais, agora tidas como desdobramento dos juzos de competncia, j em si especializada, cvel (arts. 74 NLOFTJ e 127 NLOFTJ). Estritamente dependentes do valor da moeda e por isso sucessivamente alteradas pelas leis de organizao judiciria, a alada do tribunal de comarca e hoje de 5.000 euros e a do tribunal da relao de 30.000 euros (art. 24-1 LOFTJ | art. 31-1 NLOFTJ) (LF)

(LF) PROF. LEBRE DE FREITAS:

22. PROCESSO SUMRIO

22.1. Fase dos articulados22.11. Especialidades

Trs so os pontos em que, na fase dos articulados, o processo sumrio difere do processo ordinrio:1. No h rplica nem trplica, podendo, em vez da primeira, ter iugar um articulado de resposta do autor contestao ou reconveno;2. So mais curtos os prazos para a apresentao dos articulados;3.Havendo revelia operante e sendo concludentes os factos alegados pelo autor, o juiz pode proferir sentena abreviada.

22.1.2. Resposta contestao ou reconveno

Tal como no processo ordinrio, o autor pode, aps a contestao, apresentar novo articulado quando o ru tenha excepcionado ou reconvindo, ou quando a aco seja de simples apreciao negativa; mas este articulado no designado como rplica, mas sim como resposta contestao ou resposta a reconveno (arts. 785 e 786) No se trata de dois articulados distintos, mas de um s: quando, na contestao, o ru tenha deduzido excepo e reconveno, a resposta do autor contm-se num s articulado, a apresentar no prazo do art. 786.A designao de resposta limita a funo do articulado: desempenhando a mesma funo primria, no pode j desempenhar a funo secundria, que a rplica pode realizar, dc alterao ou ampliao do pedido e (ou) da causa de pedir (art. 273, n.s 1 e 2, 1.a parte); o autor tem de conter a sua alegao de facto nos limites da defesa (por impugnao e por excepo) e a invocao do seu direito nos limites do pedido deduzido na petio inicial, sem prejuzo de poder aproveitar o articulado para completar ou corrigir a causa de pedir invocada na petio inicial ou para ampliar o pedido nela deduzido nos termos permitidos pelos arts. 273-2, 2.a parte, e 273-4

22.1.3 Prazos

O ru dispe de 20 dias para contestar (art. 783) e o autor de 10 ou de 20 dias para lhe responder, consoante o ru apenas tenha excepcionado (art. 785) ou tenha reconvindo ou contestado aco de mera apreciao negativa (art. 786).Nada dispondo a lei em contrrio, estes prazos so prorrogveis, nos mesmos termos em que o podem ser no processo ordinrio.

22.1.4. Revelia

No tendo o ru contestado, no se verificando nenhuma excepo ao efeito cominatrio da revelia e verificando-se os pressupostos processuais, ojuiz, se entender que da aplicao da lei aos factos provados, designadamente por admisso (art. 484-1) ou outro meio de prova plena, resulta a procedncia da aco, pode limitar-se, na sentena a proferir (art. 484-2), a aderir aos fundamentos invocados pelo autor na petio inicial, estando dispensado da fundamentao, ainda que sumria (art. 484-3), da deciso.

22.2. Fase da condensao22.2.1. Especialidades

Dois so os pontos em que, na fase da condensao, o processo sumrio difere do processo ordinrio:1. A audincia preliminar tem nele carcter excepcional;2. A seleco da matria de facto pode ser nele dispensada.

22.2.2. Audincia preliminar

Enquanto no processo ordinrio a audincia preliminar s dispensvel nos casos do art. 508-B-1, pela simplicidade excepcional de que se revista, respectivamente, a fixao da base instrutria e a apreciao das excepes dilatrias ou questes de mrito j suficientemente debatidas nos articulados, no processo sumrio ela s deve ter lugar quando a complexidade da causa seja superior normal ou haja necessidade de actuar o princpio do contraditrio, ainda no suficientemente observado na fase anterior do processo (art. 787-1).A primeira situao verifica-se quando a seleco da matria de facto possa suscitar dvidas e quando tenham sido levantadas nos articulados questes de direito necessitadas de clarificao: a colaborao das partes na elaborao da especificao e da base instrutria, no primeiro caso (art 508-A-1-e), e a discusso das suas posies, no segundo (art. 508-A-l-c), justificam que haja audincia.A segunda situao verifica-se quando o juiz deva, no despacho saneador, conhecer de mrito ou duma excepo dilatria levantada pelas partes (art. 508-A-1-b), sem que a sua apreciao se revista de manifesta simplicidade (art. 508-B-1-b), e quando o juiz se proponha decidir a causa com base em questo, de facto ou de direito, de conhecimento oficioso e no discutida entre as partes nos articulados (art. 3-3). Esta finalidade da audincia preliminar permanece, pois, qua tale, no processo sumrio.

22.2.3.Seleco da matria de facto

Haja ou no audincia preliminar, se a seleco da matria de facto controvertida se revestir de simplicidade, o art. 787, nos n.s 1, 2. parte, e 2, devidos ao DL 375-A/99, permite ao juiz dispensar a seleco da matria de facto, ainda que mediante a mera remisso para os articulados que o art. 508-B-2 admite. A ter algum sentido a repartio do preceito pelos n.s 1 e 2 referidos, ela s pode significar que a elaborao da especificao no dispensvel no caso de haver audincia preliminar s o a elaborao da ;base instrutria , mas, no tendo ela lugar, pode no ser preciso seleccionar nem os factos assentes nem os factos a provar, desde que a seleco seja simples . Esta interpretao, no obstante a infeliz redaco do preceito , confirmada pelo n. 3, que revela ser possvel a total ausncia de saneamento e condensao do processo, isto , a dispensa tambm do prprio despacho saneador, quando no haja que resolver questes concretas (levantadas pelas partes ou suscitadas oficiosamente), de processo ou de mrito, nos termos do art. 510-1.

22.3. Fase da instruoSo apenas duas a especialidades do processo sumrio, em face do processo ordinrio, na fase da instruo:

O prazo para o cumprimento das cartas, precatrias ou rogatrias, expedidas para produo da prova de 30 dias (art. 788), em lugar de ser de dois meses quando devam ser cumpridas em Portugal (art. 181-1) e de trs meses quando devam s-lo no estrangeiro (art. 181-2);Os autores, por um lado, e os rus que apresentem a mesma contestao, por outro, no podem oferecer mais de 10 testemunhas, no podendo ser ouvidas mais de 3 sobre cada facto (art. 789).

22.4. Fase da discusso e julgamento

So as seguintes as especialidades do processo sumrio:A audincia final marcada para dentro de 30 dias (art. 791-1) e, sendo adiada, o novo dia designado no deve exceder o perodo de 30 dias contados a partir da primeira data (art. 790-2);A audincia realiza-se sempre perante tribunal singular (art. 791-1);Os debates sobre a matria de facto no podem exceder uma hora por cada advogado, no havendo direito a rplica (art. 790-1);A deciso da matria de facto consta de despacho proferido logo aps a produo da prova (art. 791-3); embora a lei no o diga especificamente ao tratar do processo ordinrio, pode neste o presidente do tribunal suspender a audincia, designando dia para a leitura da deciso da matria de facto; esta suspenso que o art. 791-3 pretende evitar;As alegaes de direito so orais e no podem exceder uma hora por cada advogado (art. 790-1).

23. PROCESSO SUMARSSIMO

23.1. Fases

Enquanto o processo sumrio mantm as fases do processo ordinrio, com algumas simplificaes, o processo sumarssimo tem-se caracterizado, desde o CPC de 1939, por se concentrar todo em duas fases: a fase dos articulados e a fase da audincia final.Com a reviso de 1995-1996, foi introduzida a possibilidade de, finda a fase dos articulados, o juiz logo proferir a deciso final (de absolvio da instncia ou de mrito), em momento em que anteriormente tal s podia acontecer se o ru no contestasse a aco. No caracterizando uma fase autnoma de condensao, que continua a no existir, este acto isolado de deciso representa, sim, o abreviar da fase seguinte, reduzida a uma sentena eventualmente precedida dum articulado complementar de resposta ou da discusso de questo nova de conhecimento oficioso.

Quanto fase da instruo, no existe: a produo dos meios de prova, oferecidos nos articulados, feita na prpria audincia, nos dias que a antecedem ou no intervalo entre duas sesses.No obstante a simplicidade de que o processo sumarssimo se reveste, a reviso de 1995-1996 no realizou aquilo que as Linhas Orientadoras da Nova Legislao Processual Civil tinham proposto: a real possibilidade de as partes poderem litigar por si, sem necessidade de patrocnio judicirio, o que (...) implicar uma maior interveno do julgador e o contacto pessoal com as prprias partes, sem a necessria mediao de peas escritas, privilegiando-se ainda a conciliao das partes e a eventual soluo com base na equidade .Posteriormente, o DL 269/98, de 1 de Setembro, introduziu o processo especial da aco declarativa para cumprimento de obrigaes pecunirias emergentes de contratos, o qual, juntamente com o processo de injuno, veio retirar ao processo sumarssimo o ncleo principal do seu objecto e, sem corresponder| ainda ideia de transformao das Linhas Orientadoras, contm, relativamente a ele, algumas simplificaes significativas, que o DL 375-A/99, de 20 de Setembro, acentuou. Pela sua proximidade do processo sumarssimo, quer esse processo especial, quer o processo (no jurisdicional) de injuno so adiante examinados.

23.2. Fase dos articulados

23.2.1. Os articuladosSo as seguintes as especialidades que, nesta fase, o processo sumarssimo oferece em face do processo sumrio:Os articulados no carecem de ser deduzidos por artigos (art. 793);Neles tem de ser feita a proposio da prova (arts. 793 e 794-1);O prazo para contestar de 15 dias (art. 794-1).

Ponto controvertido o de saber se o processo sumarssimo admite reconveno e articulado de resposta, do autor ( contestao ou reconveno).As duas questes esto ligadas, embora, quanto ao articulado de resposta, apenas na medida em que constitua resposta reconveno: da admissibilidade da reconveno resultar necessariamente a admissibilidade de um articulado que veicule o exerccio, pelo autor, do direito fundamentai de defesa perante o pedido contra ele deduzido pelo ru. Por isso, quem entende que o esquema legal do processo sumarssimo no se compadece com a existncia dum articulado de resposta levado a rejeitar tambm a possibilidade de reconveno e quem sustenta a admissibilidade da reconveno levado a defender que, quando o ru reconvm, a resposta do autor admitida.Antes da reviso de 1995-1996, a posio negativa (maioritria) baseava-se, de jure constituto, na redaco anterior do art. 795-2, que inculcava a ideia de que a contestao era o ltimo articulado admissvel (Havendo contestao, que ser notificada ao autor, marcado o dia para o julgamento, que deve efectuar-se dentro dos 10 dias seguintes) Esse elemento literal desapareceu da nova redaco do art. 795, em que a referncia contestao aparece substituda pela expresso findos os articulados. A norma do art. 494 leva ento a aplicar as disposies estabelecidas para o processo sumrio, que, por sua vez, subsidiariamente recorre s do processo ordinrio: os arts. 785 e 786 aplicam-se e, desaparecido o invocado obstculo reconveno, esta admissvel nos termos gerais.Numa perspectiva racional, pode argumentar-se com a especial convenincia de celeridade do processo sumarssimo, que impregna todo o seu regime; mas fcil contrapor que a admissibilidade da reconveno obedece a exigncias de economia processual e que o interesse do ru em deduzir, no processo da aco contra ele proposta, pedidos estreitamente conexos com os do autor no de menosprezar. E, tal implicando a imediata notificao da contestao apresentada pelo ru (art. 229-2), mais razovel permitir-lhe logo tambm a resposta s excepes do que reservar-lhe o direito de o fazer, mais perturbadoramente, na audincia final (art. 3-4).

23.2.2.O despacho do art. 795

Aps os articulados, ocorrendo excepo dilatria ou nulidade, ou podendo a aco ser logo decidida de mrito por a prova de todos os factos relevantes estar feita, o juiz pode proferir a correspondente deciso. No distinguindo a lei, a absolvio da instncia (em caso de pluralidade de pedidos) e a deciso de mrito (em caso de pluralidade de pedidos ou por conhecimento parcial de um pedido) podem ser parciais. Mas o que o juiz no pode conhecer de excepes dilatrias para as julgar improcedentes, no devendo assim proferir despacho quando se trate apenas de declarar a ocorrncia dos pressupostos processuais, ainda que as partes hajam invocado a falta de algum. Quanto s nulidades, a lei impe, como regra, o seu conhecimento imediato (art. 206). A apreciao dos pressupostos deve, alis, preceder qualquer apreciao de mrito e a declarao da ocorrncia de determinado pressuposto pode ter de preceder a declarao da inocorrnda de outro (art. 660-1).Questo que o art. 795-1 suscita a de saber se, quando verifique a falta dum pressuposto processual que seja sanvel, o juiz no dever promover a sanao logo aps os articulados. A interpretao meramente literal do artigo inculcaria a resposta negativa, parecendo at que a ressalva do disposto no art. 3, n.s 3 e 4 (resposta superveniente a excepo em articulado e discusso de questo nova oficiosamente suscitada), sem concomitante ressalva do art. 265-2 (promoo da sanao da falta de pressuposto processual), corrobora a ideia de que o juiz no pode, neste momento processual, providenciar nesse sentido. Esta interpretao no racional: o esquema de actos do processo sumarssimo visa a celeridade e o protelamento da verificao dos pressupostos processuais para a audincia final s se justifica quando essa verificao no deva ser precedida de actos destinados a assegurar a regularidade da instncia, pois de outro modo, em vez de maior celeridade, teramos a demora decorrente da suspenso da audincia (art. 796-5) quando o juiz, finalmente, verificasse a falta do pressuposto. O art. 795-2 manda designar logo o dia da audincia final quando a aco deva prosseguir; mas tal no impede que, no mesmo despacho em que faz a designao, o juiz no deva providenciar nos termos do art. 265-2, a fim de se sanar a irregularidade antes ainda da audincia.O mesmo deve observar-se quanto ao articulado irregular (art. 508-2): a parte deve logo ser convidada a sanar a irregularidade, sem o que o articulado no poder ser considerado no processo. Se, dependendo da parte a sanao da falta do pressuposto, ela no praticar o acto que para tanto tem o nus de praticar (art. 265-2 in fine) ou se, sendo o articulado irregular a petio inicial, o autor no sanar a irregularidade, o juiz, logo que verifique a situao, deve proferir a absolvio da instncia, sem esperar o dia designado pata a audincia final.Mais delicada a questo de saber se igual procedimento deve. ser seguido no caso de articulado deficiente. No obstante a redaco do art. 795, inclinaria resposta positiva a considerao de que o despacho de aperfeioamento visa, nesse caso, evitar uma deciso injusta. No entanto, inserindo-se o art. 508 na regulao do processo ordinrio, constituindo o convite ao aperfeioamento dos articulados um despacho (pr-saneador) de natureza discricionria e tendo a parte a possibilidade de vir a completar a alegao na audincia final quando se verifique a previso do art. 264-3, harmoniza-se melhor com a celeridade e a concentrao no processo sumarssimo no admitir o despacho de aperfeioamento do art. 508, n.s 1-b e 3.

23.3. Audincia final

Com a reviso de 1995-1996, foi suprimido o efeito cominatrio pleno que a lei derivava da falta das partes audincia final: faltando o ru, era ele condenado no pedido; faltando o autor, o ru era absolvido da instncia.Esse era o ponto de maior divergncia entre o processo sumarssimo e o processo sumrio na fase da audincia final. Uma vez suprimido, so hoje as seguintes as especialidades do processo sumarssimo:Nem a falta do advogado de qualquer das partes, nem a da parte que deva ser ouvida em depoimento de parte, motivo de adiamento (art. 796-2); normalmente na audincia que o juiz determina a realizao de diligncias probatrias por sua iniciativa (art. 796-1), ainda que tal determine a sua suspenso (art. 796-5);As testemunhas so, em regra, apresentadas pelas partes, s sendo notificadas quando a parte haja requerido a sua notificao (art. 796-4);As testemunhas inquiridas no podem ser mais de seis por cada parte (art. 796-1) ; A prova pericial sempre feita por um s perito (art. 796-5 in fine);A prova s gravada se o juiz oficiosamente o determinar, visto que as partes no podem requerer a gravao (art. 791-2);A discusso da matria de facto e da matria de direito feita, pelo advogado de cada parte, numa mesma alegao, que deve ser breve (art. 796-6);A sentena, em que o juiz decide tambm de facto e de direito, oral, deve ter uma fundamentao sucinta e ditada para a acta da audincia (art. 796-7).Quando as partes no hajam constitudo mandatrio judicial (e a parte no for advogado ou solicitador), a inquirio das testemunhas feita pelo juiz e, no havendo advogado, no h lugar alegao das partes. (LF)

4.Fases do processo comum4.1. Generalidades

O processo civil decorre perante um tribunal de primeira instncia e, eventualmente, perante um tribunal de recurso. A lei institui o processo comum ordinrio como o processo paradigmtico, pois que o nico que regulado em todos os seus actos (arts. 467 a 782), sendo estes subsidiariamente aplicveis, quando necessrio,ao processo sumrio e ao processo sumarssimo (cfr. arts 463, n 1, e 464).

(LF) Os actos da sequncia processual ordenam-se em fases sucessivas, findas as quais pode preciudir a possibilidade de praticar actos que, nelas se integrando, no hajam sido praticados. (LF)

4.2. EnunciadoO processo comum ordinrio inicia-se com a entrega da petio inicial na secretaria do tribunal competente (arts 267, n 1, e 467). Se nada obstar ao recebimento daquela petio (cfr. art 474), o ru citado para contestar a aco (art 480). Em certas circunstncias, o autor pode apresentar uma rplica (art 502, n 1) e o ru uma trplica (art 503, n 1). Como estas peas escritas em que as partes expem os fundamentos da aco ou defesa e formulam os pedidos correspondentes se chamam articulados (art.,151, n l), esta fase do processo designada por fase dos articulados (cfr. arts 467. a 507).

Finda a fase dos articulados, passa-se chamada fase de saneamento e condensao (cfr. arts 508 a 512-A). A fase assim designada, porque nela o tribunal verifica a regularidade do processo e saneia este de eventuais vcios que o afectem (art 508/1 a)) e ainda porque nessa fase que se procede condensao da matria de facto relevante, seleccionando, nos factos alegados pelo autor, aqueles que no foram contestados pelo ru e que, por essa razo, se consideram admitidos por acordo (art 490,n.2) e aqueles que o foram e que, por isso, se consideram controvertidos. Estes ltimos factos passam a constar da chamada base instrutria (arts 508-A, n 1, al. e), e 511, n 1).

Relativamente aos factos no controvertidos, nada mais deve ser realizado no processo: esses factos esto assentes e, se forem relevantes, devem ser considerados pelo juiz na sentena final (art 659o, n 3). Em contrapartida, os factos controvertidos devem ser provados em juzo, sendo necessrio, para isso, preparar a produo dessa prova (por exemplo, notificando as testemunhas que se pretende que sejam ouvidas em juzo ou solicitando a realizao de uma peritagem por especialistas. fase que prepara a produo da prova chama-se fase da instruo (cfr. arts 513 a 645).

Aps a preparao da prova, segue-se a fase da audincia final (cfr. arts. 646 a 657). Nesta fase, procede-se produo da prova dos factos controvertidos (art. 652/3) e ao consequente julgamento da matria de facto (art. 653). Neste julgamento, o tribunal vai decidir quais os factos controvertidos que julga provados e quais os que considera no provados (art 653/2).O procedimento em primeira instncia termina com a fase da sentena (arts. 658 a 676). Nesta fase, o tribunal julga a aco atravs do proferimento de uma sentena (art 658). Para isso, o tribunal utiliza como fundamento os factos no controvertidos e os factos considerados provados, aplica a esses factos a lei e conclui pela deciso final (art 659/3). Em regra, esta deciso ser de condenao ou de absolvio do ru no pedido.

(LF) Ou segundo o Prof. Lebre de Freitas:

So as seguintes as fases do processo comum com forma ordinria na aco declarativa em l. instncia e os actos que as integram: Fase dos articulados, ao longo da qual as partes alegam a matria de facto e de direito relevante para a deciso (art. 151-1): petio inicial (art. 467), distribuio (arts. 209 e 209-A), citao do ru (arts. 228-1 e 233), contestao (arts. 486-1,487 e 488) e sua notificao ao autor (art. 229-2); eventualmente, a seguir, rplica (art. 502), notificao desta ao ru (art. 229-2) e trplica (art. 503); excepcionalmente, despacho judicial liminar aps a apresentao da petio inicial, precedendo a citao (arts. 234-4 e 234-A). Fase da condensao, visando verificar e garantir a regularidade do processo, identificar as questes de facto e de direito relevantes (com a possibilidade de serem suprimidas as insuficincias e imprecises na alegao da matria de facto), decidir o que possa j ser decidido, concretizar o objecto da prova a efectuar subsequentemente e preparar as diligncias probatrias: despacho pr-saneador (art. 508), notificao das partes para a audincia preliminar (art. 229-1) e audincia preliminar (art. 508-A); no havendo lugar a esta, despacho saneador autnomo (art. 510), seleco da matria de facto pelo juiz (arts. 508-B-2 e 511-1), notificao de um e outra s panes, ao mesmo tempo convidadas a requerer a prova (arts. 512-1 e 229-2), eventuais reclamaes (art. 511-2), deciso destas (arts. 508-B-2 e 511-3), proposio das provas, acompanhada do eventual requerimento de gravao da audincia final ou da interveno do tribunal colectivo (art. 512-1), despacho de admisso das provas propostas pelas partes e de designao da audincia Final (art, 512-2) e sua notificao s partes (art. 229-1)Fase da instruo, repartida por actos de produo de cada meio de prova, tendencialmente concentrados na audincia final (arts. 652-3, ais. a) a d), e 653-1), mas tendo lugar antes dela quando a natureza do meio de prova, como o caso da percia, ou outras circunstncias (a urgncia, a impossibilidade da comparncia da testemunha ou da parte no tribunal, a qualidade da testemunha, a convenincia em realizar a inspeco judicial antes da audincia: cf. arts. 520, 556, 557, 612-613 e 624 a 627) o imponham ou aconselhem. Fase da discusso e julgamento, em que as partes expressam os seus pontos de vista sobre as decises, de facto e de direito, a proferir e o tribunal decide: alegaes sobre a matria de facto (sucessivas) do autor e do ru, com possibilidade de rplica (art. 652-3-e), julgamento da matria de facto (art. 653, n.s 2 e 3), leitura da deciso e eventuais reclamaes das partes, seguidas de deciso sobre elas (art. 653-4), alegaes sobre a matria de direito (sucessivas) do autor e do ru (art. 653-5 e 657), sentena (arts. 658 e 659), notificao desta s partes (art. 229-1), eventuais reclamaes das partes e sua deciso (arts. 667 a 670), seguidamente notificada (art. 229-1).Assim terminado o processo em l. instncia, pode abrir-se, no prazo do art. 685, instncia de recurso ordinrio dirigido Relao. O processo seguir ento novas fases, mediante o encadeamento de actos processuais igualmente indicados na lei de processo.

7. CONTESTAO (importante porque aparece nos casos prticos)

Dentro da contestao:

7.2.nus da contestao e revelia7.2.1.Noo

Vimos que a citao constitui o ru, em regra, no nus de contestar (supra, n. 6.4). Se este nus no for observado, no apresentando o ru qalquer defesa, constitui-se ele em situao de revelia.Quando, dentro do prazo da contestao, o ru intervm de outro modo no processo, nem que seja apenas para constituir, por procurao, mandatrio judicial, a revelia diz-se relativa, absoluta quando o ru no intervm de modo algum no processo (art. 483).

7.2.2.Regime-regra da revelia

A revelia tem, em regra, como consequncia que os factos alegados pelo autor se consideram provados por admisso (art. 484-1).E prova desconhecida nos sistemas ditos de ficta litis contestado, ou contestao ficta, em que a omisso de contestar no tem o valor de prova legal e mantm inclumes as normas sobre a distribuio do nus da prova (infra, n. 14.3). Entre ns, fica definitivamente adquirida no processo: no pode o ru vir posterior mente negar os factos sobre os quais se manteve silencioso. No assim em todos os sistemas de facta confessio: em alguns deles, o efeito de prova pode, em certas condies, cessar, por apresentao tardia da contestao ou por oposio sentena entretanto proferida.

7.2.4. Tramitao subsequente revelia

Quando opera o efeito cominatrio da revelia, segue-se o procedimento abreviado do art. 484, n.s 2 e 3, conjugado com o art. 483, o processo concluso ao juiz, para verificao da regularidade da citao (se a revelia for absoluta), da regularidade da petio inicial (art. 508-2) e da ocorrncia de excepes dilatrias que possam dar lugar a sanao (arts. 508-1-a e 265-2), procedendo-se em conformidade o advogado do autor primeiro e o advogado do ru a seguir (este, se o ru tiver constitudo advogado) so notificados para, em 10 dias, alegarem por escrito juiz profere seguidamente a sentena, em que aplicar o direito aos factos assentes.Sendo a petio inicial deficiente, seria injusto que ao autor no pudesse ser dada a possibilidade de a aperfeioar, nos termos do art. 508, n.s 1-b e 3, - por o ru no ter contestado a aco, seguindo-se a absolvio do ru do pedido. Mas, apresentada petio a completar ou corrigir a inicial, o ru dever ser dela notificado, assegurando-se o contraditrio (art. 508-4). Como a revelia do ru se pode explicar pela manifesta inconcludncia da petio inicial, o ru deve ser admitido, na contestao, a defender-se com a mesma amplitude com que inicialmente poderia faz-lo, podendo ainda impugnar os factos inicialmente alegados pelo autor. Assim, s se a revelia se mantiver que se segue o processo abreviado do art. 484, n.s 2 e 3.No sendo a revelia operante, por se verificar alguma das excepes das als. b), c) e d) do art. 485, o processo segue os seus termos normais, mas a audincia final nunca se faz perante o tribunal colectivo (art. 646-2-a) e o ru revel no notificado enquanto no intervier no processo (art. 255-2), com a nica excepo da notificao da sentena (infra, 21.2.3).

7.3.2. Modalidades de defesa

Duas so as modalidades de defesa ao alcance do ru: a defesa por impugnao e a defesa por excepo (art. 487).A impugnao pode ser de facto ou de direito. de facto quando o ru se ope verso da realidade apresentada pelo autor, negando os factos alegados, como causa de pedir, na petio inicial(31). E de direito quando o ru contradiz o efeito jurdico (normalmente, o direito subjectivo material por eles consutudo) que o autor deles pretende extrair, pondo em causa a determinao, interpretao ou aplicao da norma de direito feita pelo autor na petio inicial(32).A excepo dilatria ou peremptria. dilatria quando invocada a falta dum pressuposto processual, isto , duma das condies (relativas s partes, ao tribunal, ao objecto do processo ou relao entre as partes e o objecto) exigidas para que o tribunal se possa ocupar do mrito da causa, respondendo ao pedido formulado pelo autor. peremptria quando alegado um facto impeditivo, modificativo ou extintivo da situao jurdica que o autor se arroga ou, na aco de mera apreciao da existncia de factos, um facto impeditivo da existncia do facto jurdico que o autor pretende que seja declarada.Todos os meios de defesa (impugnaes e excepes) que o ru tenha contra a pretenso formulada pelo autor devem, em princpio, ser deduzidos na contestao. Este princpio da concentrao da defesa, que a necessidade dum processo quanto possvel clere explica e que o art. 489-1, na sua primeira parte, estabelece, , em princpio, alargado aos incidentes que o ru queira levantar e excepcionado nos casos de defesa diferida do art. 489-2: meios de defesa supervenientes, abrangendo quer os casos em que o facto em que eles se baseiam se verifica supervenientemente (supervenincia objectiva), quer aqueles em que esse facto anterior contestao, mas s posteriormente conhecido pelo ru (supervenincia subjectiva), devendo em ambos os casos ser alegado em articulado superveniente (art. 506-2) meios de defesa que a lei expressamente admita posteriormente contestao; meios de defesa de que o tribunal pode conhecer oficiosamente, abrangendo a impugnao de direito (art. 664) e a maioria das excepes dilatrias (art. 495) e peremptrias (art. 496) sem prejuzo de os factos em que as excepes se baseiem s poderem ser introduzidos no processo pelas partes (salvos os casos excepcionais em que permitido o seu conhecimento oficioso: art. 514), na fase dos articulados ou com os limites definidos para a alegao de facto em articulado superveniente.

(31) Exemplos: o contrato no foi celebrado, ou no o foi nos termos alegados pelo autor; a coliso entre o veculo do autor e o do ru no se deu como o autor descreve; o marido no agrediu violentamente a mulher nem teve as repetidas relaes sexuais extra-matrimoniais que a autora alega; o documento no foi materialmente alterado.

(32) Exemplos: o contrato que autor e ru celebraram, nos termos alegados pelo autor, no tem a qualificao jurdica de compra e venda, mas sim de empreitada: da descrio do acidente de viao feita pelo autor resulta que este que teve a culpa da ocorrncia; a agresso ou o adultrio, nas condies descritas pela autora, no provocaram a ruptura definitiva do casamento, no constituindo fundamento de divrcio; a alterao feita no documento, que o autor narrou, no afecta a sua fora probatria, pelo que a falsidade pretendida no se verifica.

7.5. Excepo7.5.1. ClassificaoAo conceito de excepo subjaz a ideia da defesa indirecta, que, sem pr em causa a realidade dos factos alegados como causa de pedir nem o efeito jurdico que o autor deles pretende extrair, consiste na alegao de factos novos dos quais o ru entende que se retira que o tribunal em que a aco foi proposta no poder declarar o efeito pretendido ou porque tais factos impedem que esse tribunal aprecie o pedido formulado pelo autor (excepo dilatria) ou porque levam o tribunal, ao apreci-lo, a julg-lo improcedente (excepo peremptria).

7.5.2 Excepo dilatria

Sabemos j que, para que o tribunal se possa ocupar do mrito da causa, decidindo-a, necessrio que se verifiquem determinadas condies, que so os pressupostos processuais, e que, quando algum deles no se verifica, ocorre uma excepo dilatria. Se a falta do pressuposto no for sanada (arts. 265-2 e 288-2), o juiz deve proferir uma sentena de absolvio (do ru) da instncia (arts. 288-1 e 494), salvo se o processo dever ser remetido para outro tribunal (arts. 105-2, 111-3, 288-2 e 493-2) ou ocorrer a situao prevista no art. 288-3. Pressuposto processual e excepo dilatria constituem, assim, o verso e o reverso da mesma realidade. A excepo dilatria , em regra, de conhecimento oficioso (art. 495); mas, mesmo sendo-o, o ru pode argui-la na contestao e, embora possa tambm faz-lo posteriormente, enquanto no houver deciso (art. 489-2), pi dele o nus de alegar os factos em que se baseie, quando ela no se funde apenas na verso apresentada pelo autor.

Ateno: s a primeira que essencial para o teste!:O art. 494 contm um elenco extenso, mas no exaustivo (so dilatrias, entre outras, as excepes seguintes), das excepes dilatrias:Incompetncia do tribunal (al. a)). Resulta da inobservncia, pelo autor, de normas das quais resulta a falta de competncia para a causa dos tribunais portugueses (arts. 61, 65, 65-A e 99 e, pela sua importncia, arts. 2 a 24 do Regulamento (CE) 44/2001, de 22 de Dezembro de 2000, 2 a 18 da Conveno de Lugano) ou qu determinam o tribunal portugus em que a aco deve ser proposta (arts. 62, 66, 70-89, 100, 18-21 LOFTJ / 26-30 NLOFTJ 33-36 LOFTJ / 41-44 NLOFTJ, 55-57 LOFTJ / 65-67 NLOFTJ com intermitncias, 63-107 LOFTJ / 73-137 NLOFTJ): a aco proposta num tribunal portugus, quando, nem de acordo com uma conveno internacional, nem segundo a lei processual portuguesa, nem por determinao das partes, na medida em que esta admitida por lei, os tribunais portugueses tm competncia internacional, ou proposta em determinado tribunal portugus quando, segundo a lei processual, conjugada com a de organizao judiciria, outro seria o tribunal com competncia interna para a causa. No primeiro caso, h incompetncia absoluta no tribunal (art. 101); No segundo caso, a incompetncia pode ser absoluta (art. 101) ou relativa (art. 108). Nulidade de todo o processo (al. b)). D-se em consequncia da ineptido da petio inicial (art. 193; supra, n. 5.2.1), da sua irregularidade no sanada (infra, n. 11 (26)), do erro na forma do processo, quando a petio inicial no se possa aproveitar ou da simulao do litgio pelas partes, em simulao ou fraude processual (art. 665).- Falta de personalidade judiciria do autor ou do ru (al. c)). Surge se a aco for proposta por ou contra um ente desprovido de personalidade jurdica (art. 5-2) e de mera personalidade judiciria (que atribuda pela lei processual a entes sem personalidade jurdica: arts. 6 e 7), como tal insusceptvel de ser parte (art. 5-1). H casos em que a feita de mera personalidade judiciria sanvel (art. 8).- Falta de capacidade judiciria do autor ou do ru (al. c)). Surge se a aco for proposta por ou contra pessoa sem capacidade de exerccio, sem a mediao do representante ou a autorizao do curador (arts. 9, 10 e 13). A interveno do representante ou curador do autor ou do ru, ou a citao do representante ou curador do ru, sana a falta (art. 23). H casos em que nomeado ao incapaz um curador provisrio ou especial (art. 11).

7.5.3.Excepo peremptria

Constitui excepo peremptria, segundo o art. 493-3, a invocao de factos impeditivos, modificativos ou extintivos do efeito jurdico dos factos articulados, como causa de pedir, pelo autor. Ao contrrio da excepo dilatria, fundada no direito processual, a excepo peremptria vai buscar o seu fundamento ao direito material: tal como o efeito do facto constitutivo, dos factos que o impedem, modificam ou extinguem determinado pelas normas de direito substantivo constituindo problema de interpretao; destas a individualizao dos respectivos tipos. Por isso, a procedncia da excepo peremptria leva absolvio do pedido (art. 487-2 in fine).A identificao dos factos modificativos (exs.: a alterao contratual, no meramente ampliativa do contedo duma obrigao; os factos dos arts. 793-1 CC e 1478-1 CC (81A)) e extintivos (exs.: o decurso do prazo do usufruto; o pagamento da obrigao) fcil, uns e outros ocorrendo em momento temporal posterior ao do facto constitutivo. Mais difcil , por vezes, identificar o facto impeditivo, distinguindo-o do constitutivo, pois um e outro so contemporneos e o facto impeditivo inibe ab initio os efeitos do facto constitutivo (ainda que com retroactividade), s dele se diferenciando pela necessidade de resolver o problema dos nus da alegao e da prova. Tomemos exemplos da teoria geral da responsabilidade civil. O art, 503 CC estabelece a responsabilidade civil objectiva de quem tiver a direco efectiva dum veculo de circulao terrestre e o utilizar no prprio interesse e o art, 505 s a exclui quando o acidente for imputvel ao prprio lesado ou a {terceiro ou resulte de causa de fora maior estranha ao funcionamento do veculo. Resulta claramente da lei que quem sofre o dano tem o nus de provar e, portanto, de alegar os factos (constitutivos) do art. 503, enquanto os factos (impeditivos) do art. 505 devem ser alegados e provados por quem tiver a direco do veculo. A mesma clareza quanto repartio do nus da prova no campo da responsabilidade civil extracontratual resulta do art. 492-1 (responsabilidade do proprietrio ou possuidor de edifcio que rua, por vcio de construo ou defeito de conservao), do art. 491 (responsabilidade da pessoa obrigada vigilncia de outrem) ou do art. 493 (responsabilidade de quem tiver em seu poder coisa mvel ou imvel, com o dever de a vigiar, ou tiver assumido o encargo da vigilncia de animais). Mais directa ainda a estatuio do art. 799-1 CC, em sede de responsabilidade obrigacional: incumbe ao devedor provar e, portanto, alegar o facto (impeditivo) de que resulte que a feita de cumprimento ou o cumprimento defeituoso da obrigao no procede de culpa sua, isto , devida a caso fortuito ou fora maior.

7.5.4 Excepo propriamente dita e objeco

As excepes so, em regra, de conhecimento oficioso, o que mais no do que uma vertente do princpio jura novit curia (art. 664): o tribunal no est sujeito s alegaes das partes e, portanto, alegao do re no que respeita indagao, interpretao e aplicao da norma de direito. Este princpio tem como limites, entre outros, os casos em que, em virtude da lei substantiva, est na dependncia da vontade do ru a invocao dum direito potestativo ou outra excepo (art. 496), bem como aqueles em que a lei processual coloca na sua exclusiva disponibilidade a invocao da falta dum pressuposto, o que s acontece com a incompetncia relativa em caso no abrangido pelo art. 110 (conjugar com o art. 109) e com a preterio do tribunal arbitral voluntrio (art. 495). Dizem-s