resumo convite à filosofia – marilena chauí

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Convite à Filosofia – Marilena Chauí Capítulo 1: Características do senso comum: - são subjetivos, isto é exprimem opiniões individuais e de grupos variando de acordo com a cultura, experiência e objetivos dos mesmos (Ex: uma vaca é vista por um hindu de uma forma totalmente diferente do que um dono de frigorífico) - são avaliados qualitativamente - são individualizadores - são generalizadores, pois tendem a reunir numa só opinião ou numa só idéia fato julgados semelhantes (Ex: fala-se de animais, das pinturas etc.) - as generalizações levam a estabelecer causa e efeito (Ex: “onde há fumaça, há fogo”, “quem tudo quer, tudo perde”) - não se surpreendem com a constância, repetição - considera a investigação cientifica como magia, já que lidam com o misterioso, incompreensível -> geram medo - cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca Características da atitude científica: - é objetivo - é quantitativo, ou seja, busca padrões, critérios de comparação e de avaliação. - é generalizador, pois reúne individualidades sob as mesmas leis, padrões - é diferenciador, pois distingue entre os que parecem iguais - surpreende-se com a constância, freqüência e repetição - distingue-se da magia uma vez que procura mostrar que no mundo não agem forças secretas, mas causas e relações racionais que podem ser conhecidas -> libertam do medo - evita doutrinas e preconceitos sociais

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Resumo capítulo 1, 2 e 4 - Convite à Filosofia (Marilena Chauí)

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Page 1: Resumo Convite à Filosofia – Marilena Chauí

Convite à Filosofia – Marilena Chauí

Capítulo 1:

Características do senso comum:- são subjetivos, isto é exprimem opiniões individuais e de grupos variando de

acordo com a cultura, experiência e objetivos dos mesmos (Ex: uma vaca é vista por um hindu de uma forma totalmente diferente do que um dono de frigorífico)

- são avaliados qualitativamente- são individualizadores- são generalizadores, pois tendem a reunir numa só opinião ou numa só idéia

fato julgados semelhantes (Ex: fala-se de animais, das pinturas etc.)- as generalizações levam a estabelecer causa e efeito (Ex: “onde há fumaça, há

fogo”, “quem tudo quer, tudo perde”)- não se surpreendem com a constância, repetição- considera a investigação cientifica como magia, já que lidam com o

misterioso, incompreensível -> geram medo- cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a

realidade que nos cerca

Características da atitude científica:- é objetivo- é quantitativo, ou seja, busca padrões, critérios de comparação e de

avaliação.- é generalizador, pois reúne individualidades sob as mesmas leis, padrões- é diferenciador, pois distingue entre os que parecem iguais- surpreende-se com a constância, freqüência e repetição - distingue-se da magia uma vez que procura mostrar que no mundo não agem

forças secretas, mas causas e relações racionais que podem ser conhecidas -> libertam do medo

- evita doutrinas e preconceitos sociais

Page 2: Resumo Convite à Filosofia – Marilena Chauí

Conhecimento mítico - induz a aceitação (posição acrítica)

Conhecimento científico - induz a crítica- uso do racionalismo (ligado à lógica), o que diferencia os homens dos animais- conhecimento passa a ser dinâmico (estar em constante mudança)

Por que a necessidade de migrar do conhecimento mítico para o científico?

Algumas certezas, que formam o senso comum da nossa sociedade, são transmitidas de geração para geração e, muitas vezes, ao se transformarem em crença religiosa, tornam-se doutrinas inquestionáveis.

Ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, onde o senso comum vê coisas, fatos e acontecimentos a ciência vê aparências que precisam se explicadas.

Conhecimento existe para reduzir os riscos que a existência nos coloca e assim usar a racionalidade para nos relacionar com a natureza.

Exemplos: - Avanço da medicina- A invenção da política, para organizar e estruturar a sociedade por meio de

contratos (leis, regras)

Capítulo 2:

Historicamente, há 3 concepções de ciências:

- Racionalista: afirma que ciência é um conhecimento racional dedutivo e demonstrativo como a matemática.

- Empirista: afirma que a ciência é uma interpretação dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer induções (modelo de objetividade da medicina grega e da história natural do século XVII)

- Construtivista: Utiliza o racionalismo (exige que o método permita garantir axiomas e deduções), o empirismo (exige que a experimentação guie e modifique axiomas e definições), mas também considera a ciência uma construção de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da própria realidade. Portanto, não espera apresentar uma verdade absoluta, e sim uma verdade aproximada que pode ser corrigida (“razão como conhecimento aproximativo”). Iniciada em nosso século.

Page 3: Resumo Convite à Filosofia – Marilena Chauí

Diferenças entre ciência antiga e a clássica (ou moderna):

A ciência antiga era uma ciência qualitativa e teorética, ou seja, apenas contemplava os seres naturais, sem jamais intervir neles.

A ciência clássica é uma ciência quantitativa e tecnológica, que visa não só ao conhecimento teórico, mas sua aplicação prática ou técnica, intervindo na natureza. O conhecimento da natureza visa apropriar-se dela para controlá-la e dominá-la. A ciência não é apenas contemplação da verdade, mas é sobretudo o exercício do poderio humano sobre a natureza. Numa sociedade em que o capitalismo está surgindo e, para acumular o capital, deve ampliar a capacidade do trabalho humano para modificar e explorar a natureza, a nova ciência será inseparável da tecnologia.

Técnica X Tecnologia: A técnica é um conhecimento empírico que graça a observação elabora um conjunto de receitas e práticas para agir sobre as coisas (ex: relógio de sol). A tecnologia, porém, é um saber teórico que se aplica praticamente (ex: cronometro, pois sua construção pressupõe um saber cientifico e seu uso interfere nos resultados das pesquisas cientificas).

Gastón Bachelard: As mudanças cientificas ocorrem por meio de rupturas epistemológicas que conduz a novas teorias e novos métodos, gerando descontinuidades. Mas, há também continuidades.

Thomas Kuhn: Considera que a historia da ciência é feita de descontinuidades e rupturas radicais, as chamadas revoluções cientificas. A ciência, portanto, não capinha numa via linear contínua e progressiva, mas por saltos ou revoluções.

Karl Popper: Uma ciência formula hipóteses para resolver problemas e as conserva até que sejam refutadas ou falsificadas por algum fato. Essas hipóteses são verdades provisórias mantidas até que sejam contestadas ou não consigam explicar novos problemas. Para Popper, uma teoria científica é boa quanto mais aberta estiver para ser contestada. Assim o valor de uma teoria não se mede por sua verdade, mas pela sua possibilidade de ser falsa (faseabilidade).

Capítulo 4:

O estudo das ciências evidencia a existência de um ideal científico: embora continuidades e rupturas marquem os conhecimentos científicos, a ciência é a confiança que a cultura ocidental deposita na razão, como capacidade para conhecer a realidade. A ciência contemporânea funda-se:

- na distinção entre sujeito e objeto do conhecimento- na idéia de método como um conjunto de regras que regem a pesquisa- nas operações de análise e síntese- na idéia de lei do fenômeno, isto é, de regularidades e constâncias universais- no uso de instrumento tecnológicos e não simplesmente técnicos- na criação de uma linguagem específica e própria

Page 4: Resumo Convite à Filosofia – Marilena Chauí

Desde a Renascença duas concepções sobre o valor da ciência estiveram sempre em confronto:

- O ideal do conhecimento desinteressado, afirma que o valor de uma ciência encontra-se na qualidade, na exatidão e na verdade de uma teoria, independentemente de sua aplicação pratica. Ela vale por trazer ocnhecimentos novos sobre fatos desconhecidos. É por ser verdadeira que a ciência pode ser aplicada na prática, mas o uso da ciência é conseqüência e não causa do conhecimento científico.

- O utilitarismo, afirma ao contrario, que o valor de uma ciência encontra-se na quantidade de suas aplicações práticas. É o uso ou a utilidade imediata dos conhecimentos que prova a verdade de uma teoria científica.

As duas concepções são verdadeiras, mas parciais. Se uma teoria cientifica fosse elaborada apenas por suas finalidades práticas imediatas, inúmeros fenômenos jamais teriam sido conhecidos, pois, com freqüência, os conhecimentos teóricos estão mais avançados do que as capacidades técnicas de uma época e por isso sua aplicação só é possível muito tempo depois. No entanto, se uma teoria cientifica não for capaz de suscitar aplicações, seremos obrigados a dizer que a técnica e a tecnologia são incertas e perigosas, porque são práticas sem bases teóricas seguras. A teoria e a prática científicas estão relacionadas na concepção moderna e contemporânea de ciência, mesmo que uma possa estar mais avançada que a outra.

Cientificismo: idéia do senso comum que identifica as ciências como o resultado de suas aplicações, ignorando as complexas relações entre ciência pura e ciência aplicada (teoria e pratica; verdade e utilidade). É portanto a fusão entre ciência e técnica e ilusão da neutralidade cientifica. Esta ultima refutada por Chauí pelo fato de haver interesses por trás das pesquisas, que atualmente entraram na competição capitalista (por isso são feitas em segredo).

Alguns filósofos alemães, reunidos na Escola de Frankfurt, descrevem a racionalidade ocidental como instrumentalização da razão.

Ciência X Técnica: O conhecimento cientifico é concebido como lógica da invenção (para solução de problemas teóricos e práticos) e lógica da construção (de objetos teóricos). São os conhecimentos científicos que permitem a construção de instrumentos técnico-tecnológicos, mas dando-lhes capacidades que cada um de n;os, como individuo, não possui (Ex: telescópio). Os objetos técnicos são criados pela ciência como instrumentos de auxilio ao trabalho humano, de precisão para o conhecimento científico e para a dominação da natureza.

Page 5: Resumo Convite à Filosofia – Marilena Chauí

Ciência na economia:Uma das características mais novas da ciência está em que as pesquisas

científicas passaram a fazer parte das forças produtivas da sociedade, isto é, da economia. A automação, a informatização, a telecomunicação determinam formas de poder econômico, modos de organizar o trabalho industrial (introduzem velocidade na produção, distribuição e consumo das mercadorias), e modificam padrões industriais, comerciais e culturais. A ciência tornou-se parte integrante e indispensável da atividade econômica. Tornou-se agente econômico e político.

Essa nova posição das ciências na sociedade contemporânea além de indicar que é quase inexistente o grau de neutralidade e de liberdade dos cientistas, indica também que o uso das ciências define os recursos financeiros que nelas serão investidos.

A sociedade, porém, não luta pelo direito de intervir nas decisões de empresas e governos quando estes decidem financiar um tipo de pesquisa em vez de outro. Dessa maneira, o campo cientifico torna-se cada vez mais distante da sociedade sem que esta encontre meios para orientar o uso das ciências, pois este é definido antes do início das próprias pesquisas e fora do controle que a sociedade poderia exercer sobre ele.

Um exemplo de luta social para intervir nas decisões sobre as pesquisas e seus usos encontra-se nos movimentos ecológicos, no novo movimento da genética e em muitos movimentos sociais ligados a reivindicações de direitos. De modo geral, porém, a ideologia cientificista tende a ser muito mais forte do que esses movimentos e, em decorrência dos poderes econômicos, políticos e militares envolvidos, a limitar o seu poder de ação.