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1 ANAIS DOS RESUMOS DOS TRABALHOS CIENTÍFICOS E TÉCNICOS (232C) AVALIAÇÃO DOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA O GERENCIAMENTO DA ATIVIDADE: UM ESTUDO JUNTO AOS PISCICULTORES COMERCIAIS DE SANTA MARIA/RS BETINA POZZEBON PIOVESAN Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) [email protected] CAMILA TEIXEIRA KURTZ Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) [email protected] MARIVANE VESTENA ROSSATO Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) [email protected] NEY IZAGUIRRY DE FREITAS JUNIOR Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) [email protected] RESUMO Na piscicultura, como em qualquer atividade econômica do meio rural, para se atingir bons resultados é necessário o planejamento, o controle e a avaliação dos gastos com a prática da mesma, ou seja, deve-se dar atenção não só à criação dos peixes, mas também às questões gerenciais, como por exemplo, precificação dos produtos, apuração dos custos e das receitas da atividade em especifico. Em suma, para que o produtor compreenda a complexidade do seu negócio e possa assim tomar decisões mais eficazes para alavancar lucros e diminuir custos, faz-se necessário o uso de ferramentas de gestão na produção. Nesse contexto, a problemática do presente estudo se expressa na seguinte questão: os piscicultores comerciais do município de Santa Maria/RS estão se utilizando dos instrumentos de gerenciamento para o controle dos gastos de sua atividade? O objetivo geral deste artigo consistiu em avaliar a utilização dos instrumentos gerenciais junto à piscicultura comercial em Santa Maria/RS, no ano de 2015. Em relação à fundamentação teórica do estudo, foi realizado um breve histórico da piscicultura comercial, conceito e classificação, bem como da importân- cia do gerenciamento no meio rural. Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, de natureza qualitativa quanto à abordagem do problema, e em relação aos procedimentos técnicos e metodológicos, configura-se como levantamento e estudo de caso. Os dados foram coletados por meio da aplicação de formulário junto a uma amostra de 27 piscicultores comerciais, de um total de 75 existentes nos nove distritos do município de Santa Maria/RS: Arroio Grande, Arroio do Só, Boca do Monte, Pains, Palma, Santo Antão, São Valentim, Santa Flora e Passo do Verde. Vale salientar a importância deste estudo vista a carência de pesquisas desta natureza na região estudada, e sua importância para o desenvolvimento do setor no município, uma vez que não é uma das atividades mais tradicionais da cidade. Os resultados da pesquisa revelaram que as formas de registros dos gastos da atividade, realizadas pelos piscicultores, resumem-se ao registro men- tal ou anotações superficiais em cadernos. Os mesmos tampouco se utilizam dos custos como base para a precificação, a maior preocupação deles está com a inserção no mercado e não com a devida cobertura dos gastos e rentabilidade da atividade. Conclui-se que o tratamento atribuído aos gastos da atividade se limita a experiência dos piscicultores comerciais na mesma, sem que haja, na maioria dos casos, utilização de ins- trumentos gerenciais, sendo tal fato preocupante, uma vez que a falta do gerenciamento mais formal pode acarretar em inúmeros problemas, inclusive estagnar o desenvolvimento da atividade no município e levar os piscicultores a tomarem decisões errôneas. Palavras-chave: Piscicultores comerciais. Instrumentos gerenciais. Gerenciamento.

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ANAIS DOS RESUMOS DOS TRABALHOS CIENTÍFICOS E TÉCNICOS

(232C) AVALIAÇÃO DOS INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA O GERENCIAMENTO DA ATIVIDADE: UM ESTUDO JUNTO AOS PISCICULTORES COMERCIAIS DE SANTA MARIA/RS

BETINA POZZEBON PIOVESANUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM)[email protected]

CAMILA TEIXEIRA KURTZUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM)[email protected]

MARIVANE VESTENA ROSSATOUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM)[email protected]

NEY IZAGUIRRY DE FREITAS JUNIORUniversidade Federal de Santa Maria (UFSM)[email protected]

RESUMO

Na piscicultura, como em qualquer atividade econômica do meio rural, para se atingir bons resultados é necessário o planejamento, o controle e a avaliação dos gastos com a prática da mesma, ou seja, deve-se dar atenção não só à criação dos peixes, mas também às questões gerenciais, como por exemplo, precificação dos produtos, apuração dos custos e das receitas da atividade em especifico. Em suma, para que o produtor compreenda a complexidade do seu negócio e possa assim tomar decisões mais eficazes para alavancar lucros e diminuir custos, faz-se necessário o uso de ferramentas de gestão na produção. Nesse contexto, a problemática do presente estudo se expressa na seguinte questão: os piscicultores comerciais do município de Santa Maria/RS estão se utilizando dos instrumentos de gerenciamento para o controle dos gastos de sua atividade? O objetivo geral deste artigo consistiu em avaliar a utilização dos instrumentos gerenciais junto à piscicultura comercial em Santa Maria/RS, no ano de 2015. Em relação à fundamentação teórica do estudo, foi realizado um breve histórico da piscicultura comercial, conceito e classificação, bem como da importân-cia do gerenciamento no meio rural. Esta pesquisa caracteriza-se como descritiva, de natureza qualitativa quanto à abordagem do problema, e em relação aos procedimentos técnicos e metodológicos, configura-se como levantamento e estudo de caso. Os dados foram coletados por meio da aplicação de formulário junto a uma amostra de 27 piscicultores comerciais, de um total de 75 existentes nos nove distritos do município de Santa Maria/RS: Arroio Grande, Arroio do Só, Boca do Monte, Pains, Palma, Santo Antão, São Valentim, Santa Flora e Passo do Verde. Vale salientar a importância deste estudo vista a carência de pesquisas desta natureza na região estudada, e sua importância para o desenvolvimento do setor no município, uma vez que não é uma das atividades mais tradicionais da cidade. Os resultados da pesquisa revelaram que as formas de registros dos gastos da atividade, realizadas pelos piscicultores, resumem-se ao registro men-tal ou anotações superficiais em cadernos. Os mesmos tampouco se utilizam dos custos como base para a precificação, a maior preocupação deles está com a inserção no mercado e não com a devida cobertura dos gastos e rentabilidade da atividade. Conclui-se que o tratamento atribuído aos gastos da atividade se limita a experiência dos piscicultores comerciais na mesma, sem que haja, na maioria dos casos, utilização de ins-trumentos gerenciais, sendo tal fato preocupante, uma vez que a falta do gerenciamento mais formal pode acarretar em inúmeros problemas, inclusive estagnar o desenvolvimento da atividade no município e levar os piscicultores a tomarem decisões errôneas.

Palavras-chave: Piscicultores comerciais. Instrumentos gerenciais. Gerenciamento.

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1. INTRODUÇÃOA piscicultura é uma das alternativas do meio rural, que possibilita o aproveitamento dos recursos

hídricos disponíveis da propriedade, sem que haja a necessidade de vasto espaço físico para a sua prática, como exige a criação do gado, por exemplo.

Além disso, pode se utilizar subprodutos de outras atividades desenvolvidas simultaneamente como fonte de alimento no processo de engorda dos peixes, o que corrobora para a inferioridade do custo de pro-dução de um quilo de peixe em relação ao de outras carnes, sendo ainda alimento de alto valor nutritivo, e saudável à alimentação humana.

O Brasil, segundo dados divulgados em 2013 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), teve produção total de 392,5 mil toneladas de peixes oriundos da piscicultura, chegando a ocupar no ano se-guinte a 17ª posição no ranking mundial na produção de pescados em cativeiro. O país apresenta condições favoráveis para o desenvolvimento desta atividade, sendo detentor de aproximadamente 12,3% da água doce do mundo, além de possuir diversidade de clima, vegetação e temperatura, o que leva muitos a crer que se tornará futuramente um dos maiores produtores de peixes.

Tanto que, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), espera-se que o país até 2030 venha a ser um dos maiores produtores mundiais de pescado, onde se estima que sua produção terá condições de atingir 20 milhões de toneladas de peixes, o que possibilitará o desenvolvimen-to das regiões que englobam as cadeias da piscicultura.

Porém, como em qualquer outra atividade econômica do meio rural, para se atingir bons resultados na piscicultura é necessário o planejamento, o controle e o estabelecimento de estratégias básicas para a prática da mesma. Crepaldi (2009) afirma que o planejamento, o controle financeiro (de resultados e de produção), bem como o conhecimento da quantidade de recursos disponíveis para cada atividade, são as principais práticas administrativas para o sucesso da gestão na propriedade rural.

Segundo Martin et al. (1995) a rentabilidade da piscicultura depende de inúmeros fatores, sendo que dentre eles está o preço de venda e o gerenciamento adequado da atividade. Assim, esta prática requer atenção não só com a criação dos peixes, mas também com questões gerenciais, como a precificação dos produtos, oferta, demanda mercadológica, apuração dos custos e das receitas da atividade em específico. Nesse intuito, faz-se necessário o uso de ferramentas de gestão na sua produção, para que o produtor com-preenda a complexidade do seu negócio e possa assim também tomar decisões mais eficazes para alavancar lucros e diminuir custos.

Dentre esse ferramental, é necessário destacar o desenvolvimento e aplicação da contabilidade no pro-cesso de gerenciamento das atividades rurais. Conforme Crepaldi (2012), a contabilidade rural é o principal instrumento de apoio às tomadas de decisões durante a execução e o controle das operações. Se o piscicultor ponderar o uso da mesma aliada a suas práticas econômicas, esta proporcionara ótimos resultados, oriun-dos de um planejamento e controle bem subsidiado de informações confiáveis e úteis.

O autor destaca ainda que os relatórios contábeis, oriundos das informações que a contabilidade apre-senta, permitem à gerência avaliar situações atuais e comparar com o que foi planejado, possibilitando aper-feiçoamento de planos futuros, bem como identificar pontos fracos e fortes de cada atividade produtiva e da empresa como um todo para, assim, otimizar a produção.

Nesse contexto, a problemática do presente estudo se expressa na seguinte questão: os piscicultores comerciais do município de Santa Maria/RS estão se utilizando dos instrumentos de gerenciamento para o controle dos gastos de sua atividade? O objetivo geral deste artigo consiste em avaliar a utilização dos ins-trumentos gerenciais junto à piscicultura comercial em Santa Maria/RS, no ano de 2015. Especificamente, pretende-se: traçar o perfil dos piscicultores; verificar as formas dos registros relativos aos gastos pratica-dos, bem como a sua finalidade; identificar quais os fatores que interferem na formação do preço de venda; analisar de que forma são tratados os gastos relativos ao desenvolvimento da piscicultura.

Vale salientar a importância deste estudo vista a carência de pesquisas desta natureza na região estu-dada, e sua importância para o desenvolvimento do setor no município, uma vez que não é uma das ativida-des mais tradicionais da cidade.

Estudo semelhante a este, mas não com o mesmo propósito, foi desenvolvido por Oliveira et. al.(2006), com o objetivo de analisar o processo de elaboração do planejamento estratégico para a piscicultura de uma pequena empresa rural, localizada no município de Nepomuceno-MG. Esta pesquisa proporcionou resul-tados significativos na visão empresarial do proprietário, evidenciando novas ideias e novos caminhos a

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serem percorridos para a atividade, bem como, mostrou a relevância de se ter um planejamento dos gastos e investimentos na atividade piscícola.

O artigo está estruturado em quatro seções. Após a introdução, ora apresentada, aborda-se o referen-cial teórico, onde estão expostas as teorias e fundamentos que deram suporte à análise dos resultados. Em seguida, encontra-se a metodologia, onde estão apresentadas as técnicas de pesquisa utilizadas para realização do estudo. Na sequência, apresenta-se a seção dos resultados e discussões obtidos. E por último, as considerações acerca de como os piscicultores comerciais do Município de Santa Maria/RS realizam o gerenciamento de suas atividades.

2. REFERENCIAL TEÓRICONesta seção estão apresentados os fundamentos teóricos que darão suporte à análise dos resultados.

2.1 PisciculturaSabe-se hoje que as empresas rurais não se limitam mais apenas à atividade agrícola e pecuária, e que

a monocultura dentro das propriedades não é a opção mais rentável. Sendo assim, tem-se como uma das alternativas de fonte de renda extra, ou até mesmo como outra opção de atividade principal para os produ-tores rurais, a criação de peixes.

Vieira Filho (2009) corrobora com a ideia afirmando que de fato o ramo da piscicultura, ou seja, o cul-tivo de peixes, pode sim ser visto como um acréscimo de produção ou diversificação das atividades de uma propriedade, e que esse ramo aparece como uma importante alternativa de renda para o produtor, podendo servir inclusive como a atividade mais rentável da propriedade.

A piscicultura é uma das especialidades da aquicultura voltada para a criação de peixes em cativeiro, seja em tanques de rede, tanques de solo ou açudes, e exige cuidado com a qualidade da água, bem como com a alimentação, reprodução e crescimento destes animais. A aquicultura, segundo o Ministério da Pesca e da Aquicultura (2011), é o cultivo de organismos cujo ciclo de vida em condições naturais se dá em partes ou totalmente em meio aquático, seja em água doce ou salgada, abrangendo várias especialidades desde a criação de moluscos até a criação de jacarés.

Quanto a atividade piscícola em específico, tem-se que é uma das mais antigas exercidas pelo ser huma-no, com registros de sua prática por volta de 2000 a.C., onde já se havia a criação desses animais nas piscinas dos nobres egípcios. No Brasil, tal prática teve início a partir do século XVIII no litoral nordestino, onde os holandeses construíram os primeiros tanques de terra, durante a invasão holandesa.

De acordo com Diegues (2006), a piscicultura para fins comerciais só foi introduzida no país na década de 1950, com o início das criações de peixes exóticos, como Carpa, Tilápia e Truta, em tanques de pequenas propriedades. Sendo que, os grandes avanços nessa área começaram após 1990, segundo o Serviço Brasilei-ro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE (2011), com a ampliação das áreas de água doce e o desenvolvimento de pesquisas para o cultivo comercial com grande potencial de mercado.

Diante dos vários campos de atividade das empresas rurais, a piscicultura é considerada uma atividade zootécnica, que necessita de pouco espaço físico, aproveita-se de áreas normalmente consideradas improduti-vas, não requer grandes investimentos e ainda por cima oferece alimento rico em proteínas para a população.

Kubitza e Ono (2010) reforçam a ideia, afirmando que a criação de peixes em pequenas propriedades rurais contribui para o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, gera receita adicional com a co-mercialização de parte da produção e incrementa a qualidade nutricional da dieta familiar, provendo ainda uma opção de lazer, que é a pescaria.

Já quanto ao sistema produtivo, segundo Faria et al. (2013) pode-se classificar a piscicultura em extensiva, semi-intensiva, intensiva e superintensiva, devido ao fato de tal atividade poder ocorrer de diferentes formas, em relação ao manejo, tipo de alimentação, densidade da população de peixes e condições da propriedade.

Conforme evidencia o Faria et al. (2013), o cultivo extensivo caracteriza-se pelo baixo consumo de in-sumos, uma vez que os peixes nesse sistema produtivo se alimentam de organismos presentes no próprio meio ambiente, sem a utilização de rações. Além disso, de acordo com Vieira Filho (2009), não é feito por parte do piscicultor um controle sobre a reprodução desses animais, de seus predadores naturais e nem da qualidade da água.

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Medeiros e Moraes (2013), em parceria com o SEBRAE, afirmam que o número de peixes por unidade de área naquele sistema é normalmente baixo, e sua comercialização se dá com o relativo aumento da den-sidade populacional após um período determinado de tempo, sendo o método mais utilizado para fins de lazer ou para fornecimento esporádico para os consumidores.

Já quanto ao cultivo semi-intensivo, Vieira Filho (2009) ressalta que a alimentação dos peixes é com-plementada com ração comercial, grãos, farelos ou farinhas, e não somente por recursos naturais do meio, sendo que nesse método há uma maior densidade de peixes por metro quadrado. Além disso, conforme Me-deiros e Moraes (2013) nesse sistema produtivo, não é feita a renovação da água do viveiro, mas sim apenas o tratamento do mesmo com adubo orgânico ou químico.

Quando adotado o semi-intensivo, Faria et al. (2013) recomenda a criação de variadas espécies de pei-xes com hábitos alimentares diferentes, para melhor aproveitamento dos insumos e a fim de evitar a trans-missão de doenças entre os animais.

Com relação ao sistema de criação intensivo, Faria et al. (2013) afirma que, diferentemente do semi-inten-sivo, este prioriza o monocultivo, ou seja, a criação de uma única espécie de peixe, sendo a densidade desses animais por metro quadrado bem elevada em relação às demais. A principal fonte de alimento nesse sistema, conforme Medeiros e Moraes (2013), é a ração fornecida frequentemente pelo piscicultor para diminuir o pe-ríodo até o abate, sendo a qualidade da ração um dos fatores mais importantes para a otimização do sistema.

Os mesmos autores afirmam ainda que não é feito o tratamento dos viveiros por meio da adubação, e é necessário que o piscicultor procure estar sempre atualizado e se aperfeiçoando com treinamentos periódi-cos, uma vez que o cultivo intensivo requer mais atenção que os demais, sendo qualquer descuido, por parte do produtor, prejudicial à produtividade.

Existe também o sistema de criação superintensivo onde, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária do Pantanal (Embrapa Pantanal, 2010) se utilizam tanques de rede, que permitem a troca de água com o meio ambiente em curto período de tempo. Medeiros e Moraes (2013) também dissertam sobre esse método afirmando que o mesmo exige por parte do criador o constante acompanhamento, assim como o estabelecimento de rotinas quanto à alimentação, cuidado com a temperatura, oxigênio e atenção a todos os demais detalhes, até mesmo em relação ao comportamento do animal.

Conforme a Embrapa Pantanal (2010) o sistema superintensivo vem se desenvolvendo em várias par-tes do mundo, sendo mais uma opção de cultivo de peixes de alto valor comercial para o piscicultor. Este sis-tema produtivo, atualmente, é o que mais cresce dos quatro métodos, segundo o que apresenta Medeiros e Moraes (2013), tal, vindo a se tornar futuramente o mais importante sistema de cultivo de peixes do mundo.

2.2 Gerenciamento no meio ruralAtualmente, produzir alimentos está se tornando uma tarefa cada vez mais difícil, principalmente, no

que diz respeito ao gerenciamento dessa produção. Com isso, os pequenos empresários rurais são forçados a ampliarem sua capacitação e habilidades gerenciais na tentativa de aumentar a competitividade dos negócios.

O produtor rural, além de implementos agrícolas, necessita de ferramentas importantes para o geren-ciamento de seus negócios, bem como de um auxílio contábil, devido as suas necessidades e particularida-des, para que possa planejar e controlar sua produção agrícola, pecuária e piscícola, devendo conhecer as condições climáticas, fatores biológicos e mercados futuros.

Conforme Crepaldi (2009), no ramo da contabilidade rural, a preocupação com a gestão do negócio está em torno das atividades que se utilizam da capacidade produtiva do solo por meio do cultivo da terra, da criação de animais e da transformação de determinados produtos agrícolas.

Deste modo, o agricultor deve optar pelo tipo de atividade a desenvolver, e no caso do piscicultor, esco-lher a melhor espécie para criar, o quanto deve produzir de acordo com o espaço disponível, como controlar os predadores e quanto tudo isso vai lhe custar financeiramente. Essas ações devem ser relevantes no ge-renciamento da atividade e fazem com que o agricultor/piscicultor torne-se um administrador competente, que tenha um planejamento das atividades produtivas, para tornar a empresa mais eficiente e competitiva, e auxiliar as necessárias tomadas de decisões envolvidas nessa atividade (VILCKAS, 2005).

Ressalta-se a importância do administrador ter o controle financeiro da sua produção, apresentar uma estratégia de marketing (para alavancar as vendas) e ser bem informado sobre condições de mercado de seus produtos. Além disso, é necessário que o mesmo tenha conhecimento de seus recursos disponíveis,

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tanto naturais quanto financeiros, para que assim possa tomar decisões que melhorem o gerenciamento na propriedade rural.

Batalha (2009), afirma que se faz necessário o uso de ferramentas gerenciais que contribuam para uma melhor gestão da propriedade, sobretudo pelo fato de que os conhecimentos e controles necessários devam ir além da memória do produtor rural.

Sendo assim, para auxiliar o produtor na gerência de sua propriedade, esse pode fazer uso da Contabi-lidade Zootécnica, que nada mais é que a Contabilidade Geral aplicada às empresas que exploram a criação de animais.

O presente artigo dá enfoque ao gerenciamento da atividade zootécnica de piscicultura, que de acordo com Scorvo Filho et. al. (2001) apresenta taxas de retorno e de lucratividade elevadas quando comparadas às de outras opções de investimento. Porém, mesmo que apresente bons resultados, a piscicultura, segundo Ostrensky e Boeger (2008), ainda é tida como complementar a exploração de outras culturas, raramente os produtores a tem como principal atividade econômica da propriedade.

Assim como a contabilidade, existem outros ferramentais que são indispensáveis para que se tenha um melhor gerenciamento das suas atividades, tais como planejamento, organização, direção e controle, instru-mentos estes que estão relacionados entre si e corroboram para que o piscicultor possa melhor administrar seus negócios.

Segundo Freitas et al. (2014) o planejamento deve preceder todos os outros ferramentais e caracteri-za-se pela definição dos objetivos e meios para alcançá-los, considerando sempre a situação atual da pro-priedade, bem como premissas sobre condições futuras da mesma, possibilitando assim readequações ao longo do tempo.

Ainda de acordo com os mesmos autores, dando continuidade ao planejamento tem-se a organização e a direção, que consistem, respectivamente, na coordenação dos recursos para viabilizar sua prática e na preocupação com a execução para o alcance das suas metas. Já o controle ocorre por meio da coleta de dados, que uma vez comparados com o padrão estabelecido acabam visando às ações corretivas a serem implementadas para alcançar os objetivos.

Portanto, através das técnicas contábeis e ferramentas gerenciais, os piscicultores podem aprimorar os seus conhecimentos a respeito das suas receitas e despesas para que possam aumentar os lucros, a so-brevivência e o crescimento da propriedade. Ademais a utilização desses ferramentais torna o piscicultor não simplesmente um criador de peixes, mas também um administrador, que detenha os conhecimentos necessários para levar a piscicultura a ser mais rentável, bem como as demais atividades exercidas conco-mitantemente por ele.

3. METODOLOGIAA pesquisa de acordo com Andrade (2010, p.109) pode ser conceituada como “o conjunto de procedi-

mentos sistemáticos, baseado no raciocínio lógico, que tem por objetivo encontrar soluções para problemas propostos, mediante a utilização de métodos científicos”.

Esta pesquisa, quanto à abordagem do problema, caracteriza-se como sendo de natureza qualitativa, uma vez que contribui no processo de mudança de determinado grupo e possibilita, em maior nível de profundida-de, o entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos (Richardson 1999, p.80).

No presente estudo, a natureza qualitativa é evidenciada pelo fato de que se busca melhor compreender o comportamento dos piscicultores frente ao gerenciamento desta atividade, através de coleta de dados de cunho racional e intuitivo, para melhor interpretação dos mesmos e assim responder à problemática proposta.

Quanto aos objetivos, a pesquisa classifica-se como descritiva. Pois, de acordo com Gil (2010), tais pes-quisas objetivam a descrição das características de determinada população.

Já quanto aos procedimentos técnicos e metodológicos utilizados, a pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, pois busca investigar a fundo um fenômeno específico da realidade. Conforme Gil (2008) o estudo de caso é caracterizado pela análise profunda e exaustiva de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e detalhados do mesmo, dos quais outros procedimentos não conseguiriam.

Ainda, conforme os procedimentos técnicos, o artigo configura-se como de levantamento, pois para o alcance dos objetivos da mesma, foram feitas interrogações diretas, por meio de questões predeterminas, junto a uma amostra significativa de piscicultores comerciais do município estudado.

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Lima (2008) conceitua o método de levantamento como a realização de pesquisa de campo, na qual a coleta é realizada por meio de aplicação de questionários e/ou formulários, junto a uma parcela represen-tativa da população.

No presente estudo, optou-se como método auxiliar de coleta de dados o formulário, que consiste em obter informações diretamente do entrevistado, por meio de coleção de perguntas, cujo preenchimento é feito pelo próprio pesquisador à medida que faz as observações ou recebe as respostas.

Os formulários, compostos por questões abertas, fechadas e mistas totalizando 65 perguntas, foram aplicados nos nove distritos do município de Santa Maria/RS, quais sejam: Arroio Grande, Pains, São Valen-tim, Palma, Boca do Monte, Santa Flora, Santo Antão, Sede e Arroio do Só, no ano de 2015. Utilizou-se uma amostra de 27 piscicultores comerciais, de um total de 75 existentes segundo informações fornecidas pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Rural de Santa Maria.

4. RESULTADOS E ANÁLISESOs resultados do estudo permitiram, além de identificar e analisar o uso das informações contábeis,

traçar o perfil dos piscicultores comerciais do município de Santa Maria-RS.

4.1 PerfilA partir dos resultados obtidos com a aplicação dos formulários, constatou-se que dentre os pisciculto-

res componentes da amostra, a maioria desses apresenta ensino fundamental incompleto, com média de 50 anos de idade. Esses têm como principal fonte de renda a comercialização de produtos agrícolas, por mais que considerem, com base nos custos, a piscicultura como a produção mais rentável.

O estudo revelou também que, os mesmos possuem mais de 30 anos na atividade piscícola, tendo em média 22,23 hectares de área total das propriedades, sendo que 59,26% são proprietários. Outras ques-tões que também foram identificadas evidenciam que a modalidade de criação de peixes predominante é a extensiva; sua comercialização na cidade se concentra na semana santa; e, a principal espécie vendida é a carpa capim, sendo o consumidor direto o público alvo dos piscicultores comerciais.

4.2 Tratamento dos gastos relativos à atividadeO sistema de apuração de custos é importante para saber onde está sendo alocado cada recurso produ-

tivo, e fornecer subsídios para que os piscicultores possam decidir se devem ou não continuar com determi-nada atividade. No entanto, a maioria dos entrevistados não faz uma separação dos custos de sua residência com os custos de produção, como mostra a Figura 1.

Figura 1: Separa os custos da casa dos custos da produção.

Fonte: Dados da entrevista.

Esse resultado (Figura 1) revela que a situação identificada não vai ao encontro de um dos princípios fundamentais da contabilidade, o princípio da Entidade, que reza que o patrimônio da entidade jurídica não deve se confundir com os patrimônios de seus proprietários ou sócios. Deste modo, a contabilidade é sem-

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pre mantida para uma entidade, e registra somente os atos e os fatos ocorridos que se refiram ao patrimônio da mesma. Quanto ao particular de seus sócios ou proprietários, por sua vez, devem ser tratados separada-mente, para que assim possam ter informações fidedignas e condizentes com a realidade da propriedade.

Ao desconsiderar este princípio, o proprietário/piscicultor estará não só perdendo o controle em re-lação aos custos de cada uma de suas atividades econômicas, mas também em relação à rentabilidade que estas estão lhe proporcionando, o que poderá vir a prejudicar a continuidade das mesmas.

Isso pode fazer com que muitos proprietários aleguem que os custos são elevados para as atividades exercidas ou que elas não lhe dão um retorno satisfatório, mas devido às distorções das informações que lhes são proporcionadas, eles não conseguem verificar a veracidade a respeito deste fato. Além disso, a falta de controle acaba levando os piscicultores comerciais a não só parar eventual ou definitivamente com as ati-vidades, como também a tomarem decisões equivocadas quanto à formação de preços, redução nos custos, entre outros, que podem de fato lhes gerar prejuízos.

Em compensação, como mostra a Figura 2, a maioria afirmou separar os gastos em relação a cada cultu-ra, o que em certo ponto contradiz com o resultado anterior, e o que leva a concluir que, ou os entrevistados não entenderam o que estava lhes sendo perguntado, devido à definição do conceito de custos, ou há de fato uma separação dos custos por cultura. Porém os mesmos estão distorcidos, uma vez que os custos do patrimônio pessoal estão sendo inclusos a estas atividades.

A maneira utilizada pelos piscicultores para a separação de custos, a partir da observação das respos-tas, evidencia a falta de utilização de sistemas de custeio, uma vez que os entrevistados, em sua maioria, realizam a distinção dos custos por meio de anotações em cadernos, baseados nas notas fiscais.

Figura 2: Avaliação dos gastos individuais das culturas.

Fonte: Dados da entrevista.

Ainda, em relação aos gastos com a atividade piscícola, os entrevistados consideraram os custos ra-zoavelmente baixos, uma vez que, por meio da separação que alegaram fazer, é possível comparar os custos necessários a cada atividade realizada. Inclusive, em sua maioria, avaliam a piscicultura como a que lhes traz maior retorno financeiro, baseado principalmente nos gastos empenhados na atividade e também pela baixa necessidade de manutenção.

4.3 Formação do preço de venda Os piscicultores ao serem questionados quanto à avaliação dos resultados obtidos (Figura 3), afirma-

ram (55%) avaliá-los, por mais que em sua maioria os registros são informais, bem como que não há divisão dos gastos da casa em relação as demais atividades exercidas, o que leva a uma provável avaliação distorcida dos resultados obtidos.

Porém, vale ressaltar que mesmo que a avaliação seja feita com base em dados não fidedignos, é im-portante que eles tenham demonstrado a preocupação em relação aos resultados alcançados. Evidencia-se assim, a necessidade de auxílio para estes piscicultores, principalmente quanto à gestão das atividades, uma vez que os mesmos demonstraram interesse. No entanto, não possuem total domínio das informações e técnicas contábeis, o que de fato seria muito útil para eles, não somente para obterem dados mais condizen-

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tes com a realidade, como também para auxiliar na tomada de decisão, otimizando assim seus resultados e garantindo a continuidade da sua produção.

Figura 3: Avaliação dos resultados das atividades.

Fonte: Dados da entrevista.

Ainda, em relação à avaliação dos resultados das atividades, o estudo revelou que 81,48% dos pisci-cultores dizem estar satisfeitos com seu empreendimento, com base principalmente no lucro obtido. Lucro este, que se constitui em uma estimativa, baseada na experiência em memorizar valores que possuem, pois a grande parte deles não realiza anotações fidedignas e periódicas de cada gasto realizado na propriedade ou associadas as suas atividades.

Quanto à formação do preço de venda, 44,44% dos entrevistados conforme evidencia a Figura 4, afir-maram realizar a precificação dos produtos baseada no comércio da cidade, sendo que apenas 3,7% o fazem com base nos custos de produção. Tal fato evidencia a não utilização das informações contábeis quanto à tomada desta decisão, sendo que os piscicultores comerciais consideram mais relevantes, neste quesito, os preços dos demais comerciantes, do que os reais gastos aplicados na produção.

Assim sendo, a maioria prefere se manter ativo no mercado, igualando o valor dos seus produtos aos do comércio da cidade, do que eles próprios estabelecerem os seus preços com base nos gastos empenhados na atividade. Sendo que, se a precificação fosse realizada pelo próprio piscicultor possibilitaria a ele avaliar se os valores cobrados pelo comércio estão sendo suficientes para cobrir os custos necessários para a pro-dução, bem como se proporcionam o retorno esperado, fazendo com que ele assim evite prejuízos na venda.

Figura 4: Como determinam o preço de venda.

Fonte: Dados da entrevista.

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4.4 Formas de registro dos gastosDentre os entrevistados, 33,33% não realizam nenhum tipo de registro, e dentre os 66,67% restantes,

apenas um entrevistado não respondeu, os outros, em sua maioria, fazem registros para um controle geren-cial ou por obrigações fiscais. Este último motivo se da, em muitos casos, devido ao talão do produtor rural, como mostra abaixo a Figura 5.

Figura 5: Finalidades dos registros realizados

Fonte: Dados da entrevista

Quando questionados de que forma são realizados os registros, a maioria dos que realizam, o fazem de maneira simplista, por meio de anotações superficiais em cadernos, ou até mesmo por meio da memoriza-ção de informações, sem qualquer registro por escrito. Assim, tem-se a falta de um controle mais detalhado por parte dos piscicultores, o que dificulta a tomada de decisão, bem como o planejamento da atividade como um todo, devido à ausência de informações confiáveis ao seu gerenciamento (Figura 6).

Além disso, cerca de 55% dos piscicultores entrevistados não realizam o levantamento dos gastos da propriedade, o que contribui para a distorção das informações necessárias a tomada de decisão.

Figura 6: Formas de registros praticadas

Fonte: Dados da entrevista

O estudo também teve por preocupação avaliar o controle de estoque dos produtos, insumos e com-bustíveis. A maioria dos piscicultores não o realiza, uma vez que eles não possuem a prática de estocagem desses, sendo a compra efetuada apenas quando precisam utilizar-se dos mesmos. Logo, a não realização do controle de estoque não é preocupante, pois 70,37% não possuem bens estocados. Quanto aos outros 29,63% que possuem, a maioria realiza alguma forma de controle, sendo os insumos um dos bens mais pre-sentes nos estoques dos mesmos (Figura 7).

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Figura 7: Realização de controle de estoque

Fonte: Dados da entrevista

Constatou-se, ainda, quanto ao planejamento e controle da piscicultura, que a criação de peixes além de demandar custos razoáveis, não necessita de muito espaço físico e apresenta um bom rendimento, mo-tivos estes que levaram a muitos escolherem por este tipo de atividade. Essa revelação foi presente junto a maioria dos piscicultores.

Quanto à comercialização, os piscicultores da amostra, concentram suas vendas principalmente na Se-mana Santa, onde o público alvo é o consumidor direto, sendo que a principal dificuldade encontrada diz respeito ao transporte dos peixes até as feiras do peixe vivo, bem como as eventuais perdas devido aos pre-dadores, tais como os pássaros e eventualmente furtos de parte da sua criação.

O planejamento da atividade requer atenção, devido as vendas concentrarem-se em sua maioria no mês de abril, e ao ciclo ideal para a comercialização dos peixes, considerado pelos entrevistados, ter duração média de 2 anos. Logo, é necessário que o piscicultor fique atento a isto para que possa ter sua renda anual garantida, sendo fundamental que consiga, além de ter produtos para venda, também ter o controle dos gastos demandados, para obter um bom retorno financeiro quando da ocorrência das mesmas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Tendo em vista que este estudo procurou avaliar a utilização dos instrumentos, junto à atividade de

piscicultura comercial de Santa Maria-RS, constatou-se que a maioria dos entrevistados não se utiliza de ferramentais necessários para um bom gerenciamento da atividade. Fato este constatado a partir da análise dos resultados obtidos através dos formulários.

A pesquisa também permitiu identificar o perfil dos piscicultores comerciais do município. Observou--se que a maioria possui ensino fundamental incompleto, e encontram-se na faixa etária de 45 a 60 anos, sendo que eles estão a mais de trinta anos exercendo essa atividade. Além disso, a piscicultura não é tida como a principal fonte de renda da propriedade, a maioria exerce outras atividades concomitantemente, como a agricultura e a pecuária, sendo estas o foco de investimento dos piscicultores.

Dentre os principais resultados obtidos, evidenciou-se que as formas de registros dos gastos da ativi-dade, realizado pelos piscicultores, resumem-se ao registro mental ou anotações superficiais em caderno, sem o devido cuidado com o princípio da entidade, pois não há separação de gastos em relação a casa e a atividade. Os mesmos tampouco se utilizam dos custos como base para a precificação, a maior preocupação deles está com a inserção no mercado e não com a devida cobertura dos gastos e rentabilidade da atividade.

Assim, constatou-se que o tratamento atribuído aos gastos da atividade se limita a experiência dos pis-cicultores na mesma, sem que haja, na maioria dos casos, utilização de instrumentos gerenciais, tais como a contabilidade e o devido controle em relação, principalmente, aos custos. A falta do gerenciamento mais formal pode acarretar em inúmeros problemas para os piscicultores comerciais do município, inclusive es-tagnar o desenvolvimento da atividade no município e levar a decisões errôneas.

Algumas limitações, encontradas na pesquisa, estão relacionadas à dificuldade de se conseguir, perante aos órgãos competentes, uma lista formal de todos os piscicultores comerciais de Santa Maria-RS, bem como

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ANAIS DOS RESUMOS DOS TRABALHOS CIENTÍFICOS E TÉCNICOS

da divergência de respostas dos entrevistados, quando mais de 50% destes responderam não realizarem o levantamento dos gastos, nem a separação do que é da propriedade do que é das atividades, ao mesmo tempo que afirmaram avaliar os gastos para cada cultura e seus respectivos resultados.

Recomenda-se para estudos futuros, estender a pesquisa para os piscicultores não comercias, com in-tuito de abranger todos os criadores de peixe do município de Santa Maria/RS. Também, sugere-se realizar esta mesma pesquisa em outras cidades da região central, para fins de comparação e verificar se os resulta-dos obtidos são semelhantes a estes encontrados até o momento.

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