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808 BLOGS: ESPAÇOS DE MEMÓRIA E DIFUSÃO DO CONHECIMENTO HISTÓRICO NGINO PORTO GOMES Professor da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul. Bacharelando em História pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) Endereço eletrônico: [email protected] Resumo Seja com uma memória de vida acadêmica ou da relação deste nosso trabalho com pessoas que não propriamente do universo acadêmico, seja pela necessidade de se fazer uma análise de como se dá a propagação da História na internet, por exemplo. De fato, a temática do papel dos blogs é incipiente e muito recente, o que não invalida a sua relevância. O texto é um relato de nossa experiência como blogueiro trazendo três pontos de grande relevância: análise crítica do conteúdo sobre História presente nos blogs, como estes micro-sites podem auxiliar tanto docentes como historiadores. Os blogs ligados ao Universo da História, estão conectados com um contexto histórico próprio: o final do século XX com o início do século XXI. Palavras-chaves: memória, blogs, internet O presente texto é um relato de nossa experiência como blogueiro trazendo três pontos de grande relevância: análise crítica do conteúdo sobre História presente nos blogs, como estes micro-sites podem auxiliar tanto docentes como historiadores nos seus ramos de atuação e por fim e se estes espaços eletrônicos podem ser considerados como “arquivos digitais de memória”. A Historiadora Nívia Pombo 1 em uma resenha publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional intitulada “Por que estudar História?”, traz duas perguntas que fazemos questão de reproduzir: “[...] Mas a inquietação é permanente: afinal, por que é tão importante aprender sobre o passado? O que a disciplina, “mestra da vida”, ainda tem a ensinar? [...] (POMBO,2007: 94) E arriscamos fazer mais uma pergunta. “É possível falarmos de História com as pessoas de uma maneira geral?” Um dos conceitos fundamentais para a pesquisa exposta neste artigo é o da memória. Para Jacques Le Goff Para este autor “[...] A história deve esclarecer a memória e ajudá-la a retificar os seus erros [...]” (LE GOFF:1990, 29). É dentro desta perspectiva a memória é um instrumento de aproximação com a temporalidade e que a história tem o papel de conduzir o entendimento dos fatos históricos respeitando o relato, o documento e confrontando as versões e num processo investigativo é a História que segundo este mesmo autor, a memória possuí: [...] pelo menos duas histórias e voltarei a este ponto: a da memória coletiva e a dos historiadores. A primeira é essencialmente mítica, deformada, anacrônica, mas constitui o vivido desta relação nunca acabada entre o presente e o passado. É desejável que a informação histórica, fornecida pelos historiadores de ofício, vulgarizada pela escola (ou pelo menos deveria sê-lo) e os mass media, corrija esta história tradicional falseada [...] (LE GOFF:1990, p. 28-29) 1 Doutoranda em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

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Blogs: espaços de memória e difusão do conhecimento histórico

Noé GiNo Porto Gomes

Professor da Rede Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul. Bacharelando em História pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

Endereço eletrônico: [email protected]

resumo

Seja com uma memória de vida acadêmica ou da relação deste nosso trabalho com pessoas que não propriamente do universo acadêmico, seja pela necessidade de se fazer uma análise de como se dá a propagação da História na internet, por exemplo. De fato, a temática do papel dos blogs é incipiente e muito recente, o que não invalida a sua relevância. O texto é um relato de nossa experiência como blogueiro trazendo três pontos de grande relevância: análise crítica do conteúdo sobre História presente nos blogs, como estes micro-sites podem auxiliar tanto docentes como historiadores. Os blogs ligados ao Universo da História, estão conectados com um contexto histórico próprio: o final do século XX com o início do século XXI.

Palavras-chaves: memória, blogs, internet

O presente texto é um relato de nossa experiência como blogueiro trazendo três pontos de grande relevância: análise crítica do conteúdo sobre História presente nos blogs, como estes micro-sites podem auxiliar tanto docentes como historiadores nos seus ramos de atuação e por fim e se estes espaços eletrônicos podem ser considerados como “arquivos digitais de memória”.

A Historiadora Nívia Pombo1 em uma resenha publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional intitulada “Por que estudar História?”, traz duas perguntas que fazemos questão de reproduzir: “[...] Mas a inquietação é permanente: afinal, por que é tão importante aprender sobre o passado? O que a disciplina, “mestra da vida”, ainda tem a ensinar? [...] (POMBO,2007: 94) E arriscamos fazer mais uma pergunta. “É possível falarmos de História com as pessoas de uma maneira geral?”

Um dos conceitos fundamentais para a pesquisa exposta neste artigo é o da memória. Para Jacques Le Goff Para este autor “[...] A história deve esclarecer a memória e ajudá-la a retificar os seus erros [...]” (LE GOFF:1990, 29). É dentro desta perspectiva a memória é um instrumento de aproximação com a temporalidade e que a história tem o papel de conduzir o entendimento dos fatos históricos respeitando o relato, o documento e confrontando as versões e num processo investigativo é a História que segundo este mesmo autor, a memória possuí:

[...] pelo menos duas histórias e voltarei a este ponto: a da memória coletiva e a dos historiadores. A primeira é essencialmente mítica, deformada, anacrônica, mas constitui o vivido desta relação nunca acabada entre o presente e o passado. É desejável que a informação histórica, fornecida pelos historiadores de ofício, vulgarizada pela escola (ou pelo menos deveria sê-lo) e os mass media, corrija esta história tradicional falseada [...] (LE GOFF:1990, p. 28-29)

1 Doutoranda em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF)

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Pensamos que é conveniente traçar uma linha de pensamento sobre o nosso trabalho e a sua relação com a História e a Memória. Percebemos que o trabalho que foi iniciado em meados de 2008 com a criação do Blog Falando de História2, porém idealizado em 2005 tem uma relação intrínseca com estes dois grandes conceitos. Seja com uma memória de vida acadêmica ou da relação deste nosso trabalho com pessoas que não propriamente do universo acadêmico, seja pela necessidade de se fazer uma análise de como se dá a propagação da História na internet, por exemplo.

Confessamos que nos causou certo frenesi ao ler esta indagação da professora Nívia Pombo “O que a disciplina, “mestra da vida”, ainda tem a ensinar?”. Não temos a pretensão de neste momento fazer definições e conclusões, mas sentimos que temos que fazer desta pergunta um elemento de reflexão muito aprofundada. O fato é que só historiaremos se trouxer uma História que tem cheiro, cor, sabores, sensações e acima de tudo ela tem a nossa participação como agentes históricos, militamos por uma História que não seja um compêndio de relatos, fatos e memórias, mas que ela represente de fato um pensamento novo e nos desafie-nos a novos questionamento no sentido de apontar a História como uma disciplina que tão versátil e necessária que se torna atual e repleta de opções. Não é por acaso que Clio, a musa da História pelos gregos também era relacionada a criatividade e é por isso que ela (História) tende a nos ensinar a sermos criativos e estarmos abertos a novos horizontes.

falar de história para o grande público é possível? Que tipo de história pode ser falar nos blogs?

A indagação que fizemos se é possível falarmos de História a todos, está muito ligada ao conceito de popular e de linguagem. Primeiramente é necessário que se faça uma distinção do que é popular para vulgar. Popular é algo acessível, entretanto com qualidade e vulgar é a altura de todos, mas sem critérios e compromisso com o que é exposto.

A preocupação com o tipo de conteúdo veiculado na internet fervilhava em nossa cabeça. Quando lemos a afirmação de Denis Rolland no texto da colega Anita Lucchesi, fazendo menção a questão sobre quem e o que estão colocando na web e Rolland cria a expressão “História sem historiador” e sua preocupação com esse fato é que podemos dizer confiantes que era essa também a nossa grande angustia. Neste contexto é que nos valeremos de cinco blogs para realizarmos uma análise crítica e prática do uso de blogs no universo da História, aos quais enumeraremos neste momento: Blog do Ralph Giesbrecht3, História Pensante4,

2 http://falando-historia.blogspot.com.br

3 Ralph Mennucci Giesbrecht pode ser considerado um amante da História das Ferrovias. Químico, morador em Santana de Parnaíba, São Paulo. È Sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo desde 2006. Escritor de três livros sobre ferrovias e também da biografia de seu avô Sud Mennucci. Além de blogueiro é autor do site Estações Ferroviárias do Brasil cuja a função é descrita por Giesbrecht “[...] uma homenagem a todos esses prédios pequenos ou grandes que por pelo menos algum tempo tiveram seus momentos de glória. É também uma forma de se preservar pela fotografia e pelas narrativas a história de um meio de transporte que já foi quase monopolístico e que até hoje causa tanta alegria às pessoas que ainda se lembram do tempo dos trens que não voltam mais.” GIESBRECHT, Ralph Mennucci. Estações Ferroviárias do Brasil. Disponível em: http://www.estacoesferroviarias.com.br. Acesso em: 04/07/2012.

4 O Blog História Pensante é mantido pelo professor Pedro Paulo da cidade de Carangola, Minas Gerais. Sendo acessado em: http://historiapensante.blogspot.com.br

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História Digital5, Hoje na História6 e Blog Falando de História7. Cada blog citado anteriormente tem uma linguagem específica e que marca a sua

identidade. Entretanto há pontos de convergência entre estes blogs. A primeira convergência é que todos são uma espécie de grandes acervos mas de forma digital. No Blog do Ralph Giesbrecht há uma enorme quantidade de fotos de estações e composições ferroviárias espalhadas em todo o Brasil, assim como no Hoje na História que é um compendio de diversos temas e fatos noticiados pelo Jornal do Brasil do Rio Janeiro e que aloca grande quantidade de imagens que ilustram os seus mais diferentes posts. O mesmo ocorrendo com o História Digital e o Falando de História. O que queremos apontar é que o blog facilita o arquivamento de imagens e que esta iconografia pode ser sim usada em pesquisas posteriores.

Outro ponto convergente é o fato de que os blogs Falando de História, História Digital e História Pensante não são focados em uma área única do conhecimento histórico. A proposta destes três blogs é o de trazer informações e textos sem o compromisso de ser necessariamente algo cronológico. Assim é possível que haja ao mesmo tempo um post relacionado a Idade Média sucedendo um relacionado a área de Pré-História e assim por diante. Ao passo que O Hoje na História é totalmente cronológico, sem que com isso digamos que um tenha mais ou menor peso histórico nas suas preocupações e funções.

Possuem funções idênticas, embora com alvos distintos o Blog do Ralph Giesbrecht e o Hoje na História. Ambos por não serem mantidos por profissionais da História podem ser observados como mais ambientes de memória do que um espaço histórico. Isso não rebaixa as suas relevâncias. Podem servir de suporte de futuras pesquisas, mesmo que não sejam uma produção de historiadores. Aliás fizemos a seguinte pergunta: “Os documentos que hoje são considerados históricos exemplo a Bíblia, foram uma realização de historiadores?” O problema não reside neste aspecto e sim na questão de como isso é veiculado. Em ambos há uma preocupação ética de seus autores de mostrar que as suas postagens tem muito mais interesse da preservação da memória do que ser um ambiente historiográfico. Claro como Jacques Lee Goff resalta nem tudo é história , haja visto que o papel do historiador é o de refletir sobre os objetos que ajudem a compreender o passado. Neste caso o blog mantido por Ralph Giesbrecht desempenha um função importantíssima, num contexto de uma história onde as fontes são muitas vezes escassas como o da História Ferroviária Brasileira. Um exemplo disto é o Site Estações Ferroviárias do Brasil onde Ralph Giesbrecht faz um mapeamento das estações, estradas de ferro de todo o Brasil, apontando inclusive o descaso com o patrimônio ferroviário brasileiro, seu trabalho tem ajudado muito a entender a estrutura deste setor e que dependendo da pesquisa pode servir de fonte.

Jaqueline Almeida faz um apontamento bastante importante e que ajuda-nos a refletir sobre este assunto: “[...] É Evidente a preocupação de estudantes de graduação de história: o que fazer com que nos é ensinado na universidade? Qual a nossa missão na sociedade?” (ALMEIDA, 2012: p. 4) Falar de uma maneira acessível sem comprometimento com a História enquanto disciplina é sem dúvida uma tarefa que exige de nós a habilidade de interlocutores. Neste sentido nós com o Falando de História tentamos fazer e vimos que há publico interessado na História. Este publico, que não possui uma formação acadêmica, mas que deseja conhecer a História e responder as suas curiosidades pode se valer deste trabalho.

5 O Blog História Digital é mantido pelo professor Michel Goulart da cidade de Criciúma, Santa Catarina. O seu endereço de acesso é http://www.historiadigital.org

6 O Blog Hoje na História é mantido pelo CPDOC do Jornal do Brasil. Sendo acessado em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php

7 Mantido por Noé Gomes, cujo endereço principal de acesso é http://falando-historia.blogspot.com.br e também podendo ser acessado em: www.blog.falandodehistoria.com.br

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Fígura 1 Blog Hoje na História, CPDOC Jornal do Brasil

Apontamos os trabalhos dos Blogs História Digital e História Pensante no sentido de

que as experiências destes blogueiros com formação na área da história se torna importante na observação de como nós historiadores podemos nos valer deste recurso. Michel Goulart em entrevista ao Portal Falando de História8 afirma que:

[...] um grande desafio seja as mudanças conceituais na disciplina. Os fatos históricos, nos últimos, têm sido reinterpretados em grande velocidade. Isso põe em dúvida a veracidade das informações. Por outro lado, nenhuma disciplina oferece tantos recursos de aprendizagem. O professor de História pode utilizar diferentes recursos didáticos [...].

A partir deste entendimento, podemos afirmar que os blogs podem ter duas funções básicas: o de trazer elementos que auxiliem no trabalho docente ou no campo da pesquisa ser um compêndio de informações e conhecimentos de livre acesso. Ou ainda desempenhar as duas funções, é o caso do História Digital. Ou também do caso do Blog do Curso de História da UPF9

8 Entrevista concedida ao Portal Falando de História. Disponível em: http://www.falandodehistoria.com.br/entrevistas/michelgoulart.htm

9 Blog mantido pela Coordenação do Curso de História da UPF, sendo acessado em: http://historiaupf.blogspot.com.br

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Figura 2 - Blog História UPF

Ao longo desta pesquisa, constatamos que os blogs devido ao seu foco podem ser catalogados, ou seja, identificados em grupos de semelhanças. Propomos uma classificação básica que pode ser visualizada na figura abaixo:

Figura 3 - Tipos de Blogs

Os blogs informativos servem de espécie de murais para a promoção e divulgação de eventos ou informações relevantes. Muitos destes blogs são vinculados á instituições de

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pesquisa e ensino, como o Blog do GT Acervos da ANPUH-RS10, Blog do MARS11 entre outros.

Já os blogs de memória são microssites com posts sobre os mais diferentes assuntos. Possuem uma particularidade muito importante: são carregados por amantes da História, ou seja, que não possuem uma formação acadêmica. Todas as informações são postas ali, porém resta ao historiador saber usar o material e fazer análise do que está publicado. Um de blog de memória é o Blog Porto Alegre Antigo12.

Os blogs temáticos são aqueles voltados a uma área específica do campo da história. O professor José D´Assunção Barros mantém diversos blogs na área da historiografia, assim como o professor Carlos Fico na área da História do Brasil durante a Ditadura no Brasil, também pode ser identificado como um blog opinativo já que os posts são todos da autoria de seu criador e são falas suas sobre os assuntos relacionados a esta área.

Os blogs de curiosidades, reflexões e opiniões são aqueles onde são emitidas opiniões pessoais ou que contém desde resenhas, a artigos de revistas diversos e muitas vezes são mantidos por profissionais com alguma ou grande experiência no campo da História. Além do professor Carlos Fico podemos citar o Blog do professor Michel Goulart onde atualmente o seu blog virou uma espécie de Portal com inúmeras páginas e com a disponibilização de inúmeros materiais tanto pedagógicos no campo da pesquisa.

O que percebemos é que como ferramenta, o blog pode ser usado de inúmeras maneiras. Representa um leque imenso de possibilidades. O que almejamos é a demonstrar que o uso dos blogs é importante como interlocutor entre a academia e a sociedade.

A temática dos blogs que é pertencente a uma era da informática poderá ter a mesma representação que os panfletos do tempo, por exemplo, do chamado “Maio de 1968”, onde a comunicação visual representava ideias e um conjunto de símbolos representativos daquele movimento. Por isso a nossa preocupação com a preservação destes acervos online (desde sites antigos) e até mesmo blogs que por algum motivo possam ser extintos. Entendemos que a partir dos blogs é possível fazer uma reflexão pedagógica, social e histórica. Pedagógica por poder ser uma ferramenta de exposição de conteúdos relevantes ao publico em geral, social num sentido de poder facilitar o acesso e indicações de materiais e histórica ligada ao sentido de que pelos blogs é possível entender posicionamentos de historiadores e até mesmo como arquivos digitais.

Os blogs podem auxiliar tanto docentes como historiadores nos seus ramos de atuação, entretanto é preciso colocar a internet e estes micro-sites como um meio e não fim simplesmente. Estes espaços por si só não são os responsáveis pela propagação do conhecimento e sim os seus idealizadores e colaborares. Quem decide o seu fim são estes agentes apontados anteriormente.

Como dissemos inicialmente é preciso que façamos uma análise embasada nos princípios acadêmicos. Podemos e devemos usar uma linguagem de livre acesso, mas é indispensável critérios de publicação. Também vemos que o objeto de exame deste artigo traz como questionamento o fato da experiência como blogueiro/historiador/educador, se ela precisa ser historiográfica.

Essa discussão historiográfica intensa, necessita também um exame de fôlego. Seguindo desta perspectiva é que também lançamos mais uma indagação: Como os blogs aparecem ou estão representados no universo da pesquisa histórica: teoricamente ou

10 O blog do GT Acervos da ANPUH-RS pode ser visitado pelo seguinte endereço: http://acervosrs.blogspot.com.br

11 O Blog do Museu Antropológico do RS (MARS) pode ser acessado em: http://museuantropologico.blogspot.com.br

12 De autoria do usuário “James” que possuí perfil no Blogger desde 2009. O blog está disponível em: http://lealevalerosa.blogspot.com.br/

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metodologicamente? Neste sentido, nos valemos da fala de Maximiliano Martin Vicente, em que para este autor: “[...] Embora, no passado, o tempo presente e o imediato fossem relegados dos domínios da história, ambos aparecem e são aceitos, há algum tempo como terreno fértil para os historiadores.” (VICENTE, 2009: 93)

De fato, a temática do papel dos blogs é incipiente e muito recente, o que não invalida a sua relevância. Compreendendo que todo fato histórico tem uma ligação com outra situação na teia histórica é que não podemos deixar de lado a noção de que o fenômeno dos blogs, e mais especificamente os que estão ligados ao Universo da História, está conectado com um contexto histórico próprio: o final do século XX com o início do século XXI. Antonie Prost faz uma reflexão sobre a questão de um tema ter uma proposição ou não histórica. Para este autor os fatos não são espontaneamente históricos e sim possuem uma potencialidade nos objetos históricos. E vai mais além:

[...] É possível fazer – faz-se – história de tudo: clima, vida material, técnicas, economia, classes sociais, rituais, festas, arte, instituições, vida política, partidos políticos, armamento, guerras, religiões, sentimentos (o amor), emoções (o medo), sensibilidade, percepções (os odores), mares, desertos, etc. Pela questão é que se constrói um objeto histórico, ao proceder um recorte original no universo ilimitado dos fatos e documentos possíveis [...] (PROST, 2012, p.75)

A temática dos blogs tem inúmeras possibilidades de apreciações, assim como um fragmento textual, um processo jurídico, jornais e até mesmo os depoimentos de História Oral, o que está exposto neste local pode servir de fonte para pesquisas futuras. Sabemos que as fontes não falam por si só, é necessária a atuação dos profissionais da História para trazer a luz de todos um entendimento do contexto de sua produção.

Estamos acostumados a viver num mundo analógico e talvez este mundo virtual pode nos trazer um certo embaraço no sentido de como entende-lo. Mas a cada dia que passa esta relação entre real/virtual é presente no nosso cotidiano. Um exemplo disto é que por meio da internet podemos fazer ações que antes eram muito mais demoradas, desde pagamentos de contas passando também pelo processo de digitalização de processos jurídicos e aquela problemática relacionada aos acervos físicos, da luta de sua preservação e que ruma não só com o processo de microfilmagem, mas também com a digitalização. Assim também os blogs poderão num futuro próximo representar fontes digitais, como o Blog Brasil Recente do professor Carlos Fico que poderá ser usado quem sabe, para entender o seu pensamento por exemplo. A própria internet é um meio que possibilita diversos caminhos tanto para docentes como pesquisadores, o professor Antônio Fernando de Araújo Sá, ressalta que:

[...] uma fonte nova, ainda pouco estudada, em rapidíssima expansão, totalmente inscrita no tempo presente e que deu ensejo a muito poucos exames críticos: a internet. Ora, a internet propõe história, apresentada com ou sem entusiasmo, com escalas históricas muito variadas, tempo longo ou muito curto: uma história que assume frequentemente a forma de narrativas, recuperadas a partir de fontes –próximas ou longínquas – de reelaborações ou reconstruções mais ou menos coerentes... Mas esta história de costuras invisíveis, amiúde (embora nem sempre) desajeitada ou sumária, quando se trata de sites elaborados por particulares, é, de bom grado, quando se trata de sites mais oficiais, repleta de dissimulações, de amnésia – construtiva ou de mal-estar: história, compreende-se, de quantidade equalidade muito variáveis. (SÁ, 2008)13

Neste momento, uma resposta definitiva sobre o potencial dos blogs, mas sentimos

13 Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe é Pós-Doutor pela Universidad Nacional de Misiones – Argentina.

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e reafirmamos que como objeto novo de estudo precisa ser examinado com critérios bem definidos e não precisamente conclusivos, mas que haja uma clara e nítida noção de sua relevância. Este apontamento conduz a proposição de Michel de Certau, ao destacar que: “A Universidade deve solucionar atualmente um problema para o qual sua tradição não a preparou: a relação entre a cultura e a massificação de seu recrutamento (...)” (CERTAU: 2003:101). Portanto, também entendemos que além de espaços de difusão do conhecimento histórico e de memórias digitais no sentido de que os blogs apresentam um arquivamento cronológico, também entendemos que podemos encara-los como um elementos de massificação do conhecimento, não só pela inúmera quantidade destes micro-sites, mas pelo simples fato de realizarem um diálogo entre publico geral e especialistas do campo da História.

Para nós, é essencialmente importante a análise crítica da relevância social dos blogs como elemento de difusão cultural e de memória. A historiadora Anita Lucchesi ressalta que é preciso interrogarmos sobre o que está disponível na rede, pois

[...] Parece, com isso, que também temos um problema no que se refere à autoridade do texto, seja no sentido de autoria, como no de autoridade acadêmica, pois na rede os papéis de emissor de mensagens/enunciados e de destinatário se podem se confundir [...] E por falar em autoridade, vale lembrar que nem sempre os textos são assinados, por isso estamos sempre sujeitos a um tipo de “história sem historiador”. Parece irresistível a constatação de que vivemos em tempos de imprevisibilidade, sob o símbolo de uma espécie de Prometeu desacorrentado. (LUCCHESI: 2011, 9)

Compartilhamos com Lucchesi a ideia de que a autoridade dos textos é um item a ser analisado como primordial neste contexto e que este fato não excluí a importância e a relevância deste estudo, ao contrário, torna-se um caminho a ser trilhado. Pois a História é um processo de (res)significação que se traduz nas lembranças de uma trajetória de um labor que começou de forma despretensiosa e que ao olhar para trás mudou de fato o rumo de minha vida,

Quando Antonie Plost afirma que é possível fazer história de tudo basta buscarmos um sentido lógico para o objeto pesquisado é que podemos dizer sem sombra de dúvida que Blogs se traduzem pelo menos pra nós numa espécie de portal que nos traz para um mundo novo de descoberta.

Também percebemos que é preciso olhar os blogs como ferramentas, mas também como forma de propagação do conhecimento que precisa como todos os outros instrumentos de muita ética e dignidade para um desempenho correto. Infelizmente há uma infinidade de blogs que chegam a prestar o desserviço à História, mas ficar só olhando para isto não resolverá.

Como tudo é preciso ter um olhar criterioso sobre o que é posto na web. Aliás sempre foi uma preocupação nossa enquanto blogueiro, pois um bom interlocutor não é só aquele que diz a “Verdade Plena e Absoluta”. Pensamos que as dúvidas que este nos suscitou serão as molas propulsoras para futuros engajamentos para no campo da pesquisa. Afinal de contas as verdades absolutas caíram por terra e novos paradigmas estão sendo lançados.

Vimos os blogs como universo cibernético ganha proporções inimagináveis é que nos deparamos com um campo de novas oportunidades e que nós amantes dos ofícios de Clio, não podemos deixá-lo de lado, ou fazer aquilo que os avestruzes fazem que é enterrar suas cabeças no solo, deixando a possibilidade de se enxergar um mundo de novos horizontes, isso aliás é o que mais me motivou nessa pesquisa e que me fascina profundamente. Percebemos os blogs com um meio de acesso entre o conhecimento e comunidade, daí é que entendo como objeto de estudo desta pesquisa. Como um fenômeno da cibercultura e esta como um instrumento de interação entre conhecimento, academia e comunidade.

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referências BiBliográficas

ALMEIDA, Jaqueline Moraes de. A divulgação científica em História e Ciências Humanas no Brasil (Relatório Final 2010-2011). Campinas: UNICAMP, 2012.

CERTAU, Michel de. A cultura no plural (3ª Ed.) Campinas: Papirus, 2003.

LE GOFF, Jacques. História e memória (Coleção Repertórios). São Paulo: Campinas, Editora da UNICAMP, 1990.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

LUCCHESI, Anita. Histórias no Ciberespaço: viagens sem mapas, sem referências e sem paradeiros no território incógnito da Web. 2011. Grupo de Estudos de Tempo Presente (GET). Edição nº 06 - Cadernos do Tempo Presente. Disponível em:http://www.getempo.org/revistaget.asp?id_edicao=32&id_materia=111. Acesso em: 02/06/2012

SÁ, Antônio Fernando de Araújo. Admirável campo novo: o profissional de história e a Internet. Boletim tempo presente (UFRJ), v. ano 3, p. n.7, 2008. Disponível em: http://www.tempopresente.org/index.php?option=com_content&view=article&id=3620:admiravel-campo-novo-o-profissional-de-historia-e-a-internet&catid=36:historia-do-tempo presente&Itemid=127 Acesso em: 09/06/2012.