resumão evolucao historica constitucionalismo

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CURSO: DIREITO DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I PROFESSOR: ADAILTON FEITOSA FILHO TÓPICO 7 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO BRASILEIRO 7.1. A Carta Política do Império do Brasil de 1824. 7.2. A Constituição de 1891. 7.3. A Constituição de 1934. 7.4. A Carta Política de 1937. 7.5. A Constituição de 1946. 7.6. A Constituição de 1967 e sua Emenda 1. 7.7. A Constituição de 1988. 7.1. A Carta de 1824 foi a primeira Constituição de nossa história e a única Constituição durante o período imperial. Influenciada pelas Constituições francesa de 1791 e espanhola de 1812, ficou marcada pelo liberalismo no tocante ao respeito aos direitos individuais) e pelo absolutismo na organização dos Poderes. 7.1.1. As principais características da Constituição do Império (1824) foram: o A forma unitária de Estado: o Brasil era um estado único ou unitário 1 , dividido em províncias 2 (sem autonomia política), e governado a partir de um poder central (centralização político-administrativa), sediado na capital (Rio de Janeiro 3 ). 1 Vide art. 1 da Carta de 1924: “O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se opponha á sua Independência.” 2 As antigas capitanias hereditárias foram transformadas em províncias (as quais poderiam ser subdividas), que passaram a ser administradas por um “Presidente” nomeado pelo Imperador (e como tal, dado seu caráter de subordinação ao poder central, poderia ser destituído livremente). 3 O Rio de Janeiro foi a capital do Império brasileiro (1822-1889), tendo sido, através do Ato Adicional nº 16, de 12.08.1834, elevado a condição de “município neutro” (entidade territorial para a sede da Monarquia), não submetido ao poder da província do Rio de Janeiro.

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Page 1: resumão Evolucao Historica Constitucionalismo

CURSO: DIREITODISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL IPROFESSOR: ADAILTON FEITOSA FILHO

TÓPICO 7A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONSTITUCIONALISMO

BRASILEIRO 7.1. A Carta Política do Império do Brasil de 1824. 7.2. A Constituição de 1891.

7.3. A Constituição de 1934. 7.4. A Carta Política de 1937. 7.5. A Constituição de 1946.

7.6. A Constituição de 1967 e sua Emenda 1. 7.7. A Constituição de 1988.

7.1. A Carta de 1824 foi a primeira Constituição de nossa história e a única Constituição durante o período imperial. Influenciada pelas Constituições francesa de 1791 e espanhola de 1812, ficou marcada pelo liberalismo no tocante ao respeito aos direitos individuais) e pelo absolutismo na organização dos Poderes.

7.1.1. As principais características da Constituição do Império (1824) foram:

o A forma unitária de Estado: o Brasil era um estado único ou unitário1, dividido em províncias2 (sem autonomia política), e governado a partir de um poder central (centralização político-administrativa), sediado na capital (Rio de Janeiro3).

o A forma monárquica de governo: O Brasil era uma monarquia, sendo Dom Pedro I (Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil) o chefe de Estado e de governo. A sucessão dar-se-ia hereditariamente, através de sua descendência, a qual era considerada a Dinastia imperante (Governo monárquico, hereditário, constitucional e representativo).

o A religião oficial: A religião Católica Apostólica Romana era a religião oficial do Império, tolerando-se tão-somente o culto doméstico ou particular (em casas destinadas para tal fim) das

1 Vide art. 1 da Carta de 1924: “O IMPERIO do Brazil é a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros. Elles formam uma Nação livre, e independente, que não admitte com qualquer outra laço algum de união, ou federação, que se opponha á sua Independência.”2 As antigas capitanias hereditárias foram transformadas em províncias (as quais poderiam ser subdividas), que passaram a ser administradas por um “Presidente” nomeado pelo Imperador (e como tal, dado seu caráter de subordinação ao poder central, poderia ser destituído livremente). 3 O Rio de Janeiro foi a capital do Império brasileiro (1822-1889), tendo sido, através do Ato Adicional nº 16, de 12.08.1834, elevado a condição de “município neutro” (entidade territorial para a sede da Monarquia), não submetido ao poder da província do Rio de Janeiro.

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demais religiões (não era admitida qualquer manifestação externa de templo).4

o O voto censitário5: Era necessário atender requisitos de renda para o exercício dos direitos políticos (votar e ser votado), quais sejam: a) uma renda anual mínima de duzentos mil-réis para votar na eleição de deputados; b) uma renda anual mínima de quatrocentos mil-réis para ser votado para deputado; e c) uma renda anual mínima de oitocentos mil-réis para ser indicado, pelo Imperador, senador.

o Os direitos civis e políticos: A Carta de 1824, sob influência das revoluções americana (1776) e francesa (1789), apresentava uma longa listagem6 de direitos fundamentais dos

4 Vide art. 5 da Carta de 1924: “A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo.”5 Na verdade, tratava-se de uma "cidadania censitária", pois existiam requisitos de renda tanto para votar como para ser votado.6 A Constituição de 1824 foi uma das primeiras do mundo a realçar as liberdades públicas, estabelecendo um rol tão detalhado de direitos. Vide art. 179 da Carta de 1924: “A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte. I. Nenhum Cidadão póde ser obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma cousa, senão em virtude da Lei. II. Nenhuma Lei será estabelecida sem utilidade publica. III. A sua disposição não terá effeito retroactivo. IV. Todos podem communicar os seus pensamentos, por palavras, escriptos, e publical-os pela Imprensa, sem dependencia de censura; com tanto que hajam de responder pelos abusos, que commetterem no exercicio deste Direito, nos casos, e pela fórma, que a Lei determinar. V. Ninguem póde ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não offenda a Moral Publica. VI. Qualquer póde conservar-se, ou sahir do Imperio, como Ihe convenha, levando comsigo os seus bens, guardados os Regulamentos policiaes, e salvo o prejuizo de terceiro. VII. Todo o Cidadão tem em sua casa um asylo inviolavel. De noite não se poderá entrar nella, senão por seu consentimento, ou para o defender de incendio, ou inundação; e de dia só será franqueada a sua entrada nos casos, e pela maneira, que a Lei determinar. VIII. Ninguem poderá ser preso sem culpa formada, excepto nos casos declarados na Lei; e nestes dentro de vinte e quatro horas contadas da entrada na prisão, sendo em Cidades, Villas, ou outras Povoações proximas aos logares da residencia do Juiz; e nos logares remotos dentro de um prazo razoavel, que a Lei marcará, attenta a extensão do territorio, o Juiz por uma Nota, por elle assignada, fará constar ao Réo o motivo da prisão, os nomes do seu accusador, e os das testermunhas, havendo-as. IX. Ainda com culpa formada, ninguem será conduzido á prisão, ou nella conservado estando já preso, se prestar fiança idonea, nos casos, que a Lei a admitte: e em geral nos crimes, que não tiverem maior pena, do que a de seis mezes de prisão, ou desterro para fóra da Comarca, poderá o Réo livrar-se solto. X. A' excepção de flagrante delicto, a prisão não póde ser executada, senão por ordem escripta da Autoridade legitima. Se esta fôr arbitraria, o Juiz, que a deu, e quem a tiver requerido serão punidos com as penas, que a Lei determinar. O que fica disposto acerca da prisão antes de culpa formada, não comprehende as Ordenanças Militares, estabelecidas como necessarias á disciplina, e recrutamento do Exercito; nem os casos, que não são puramente criminaes, e em que a Lei determina todavia a prisão de alguma pessoa, por desobedecer aos mandados da justiça, ou não cumprir alguma obrigação dentro do determinado prazo. XI. Ninguem será sentenciado, senão pela Autoridade competente, por virtude de Lei anterior, e na fórma por ella prescripta. XII. Será

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cidadãos7, que incluía, no conteúdo e na terminologia, vários dos direitos elencados no art. 5º da CF/88 (entre eles, a liberdade de locomoção e proibição de prisão arbitrária).

o A divisão de poderes: Não adotou a separação clássica de poderes (legislativo, executivo e judiciário), pois, sob inspiração do pensador francês Benjamin Constant, foi acrescido um quarto poder (moderador), um poder neutro8 ("poder real"), com o objetivo de promover a coordenação e o equilíbrio entre os demais poderes.

mantida a independencia do Poder Judicial. Nenhuma Autoridade poderá avocar as Causas pendentes, sustal-as, ou fazer reviver os Processos findos. XIII. A Lei será igual para todos, quer proteja, quer castigue, o recompensará em proporção dos merecimentos de cada um. XIV. Todo o cidadão pode ser admittido aos Cargos Publicos Civis, Politicos, ou Militares, sem outra differença, que não seja dos seus talentos, e virtudes. XV. Ninguem será exempto de contribuir pera as despezas do Estado em proporção dos seus haveres. XVI. Ficam abolidos todos os Privilegios, que não forem essencial, e inteiramente ligados aos Cargos, por utilidade publica. XVII. A' excepção das Causas, que por sua natureza pertencem a Juizos particulares, na conformidade das Leis, não haverá Foro privilegiado, nem Commissões especiaes nas Causas civeis, ou crimes. XVIII. Organizar–se-ha quanto antes um Codigo Civil, e Criminal, fundado nas solidas bases da Justiça, e Equidade. XIX. Desde já ficam abolidos os açoites, a tortura, a marca de ferro quente, e todas as mais penas crueis. XX. Nenhuma pena passará da pessoa do delinquente. Por tanto não haverá em caso algum confiscação de bens, nem a infamia do Réo se transmittirá aos parentes em qualquer gráo, que seja. XXI. As Cadêas serão seguras, limpas, o bem arejadas, havendo diversas casas para separação dos Réos, conforme suas circumstancias, e natureza dos seus crimes. XXII. E'garantido o Direito de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem publico legalmente verificado exigir o uso, e emprego da Propriedade do Cidadão, será elle préviamente indemnisado do valor della. A Lei marcará os casos, em que terá logar esta unica excepção, e dará as regras para se determinar a indemnisação. XXIII. Tambem fica garantida a Divida Publica. XXIV. Nenhum genero de trabalho, de cultura, industria, ou commercio póde ser prohibido, uma vez que não se opponha aos costumes publicos, á segurança, e saude dos Cidadãos. XXV. Ficam abolidas as Corporações de Officios, seus Juizes, Escrivães, e Mestres. XXVI. Os inventores terão a propriedade das suas descobertas, ou das suas producções. A Lei lhes assegurará um privilegio exclusivo temporario, ou lhes remunerará em resarcimento da perda, que hajam de soffrer pela vulgarisação. XXVII. O Segredo das Cartas é inviolavel. A Administração do Correio fica rigorosamente responsavel por qualquer infracção deste Artigo. XXVIII. Ficam garantidas as recompensas conferidas pelos serviços feitos ao Estado, quer Civis, quer Militares; assim como o direito adquirido a ellas na fórma das Leis. XXIX. Os Empregados Publicos são strictamente responsaveis pelos abusos, e omissões praticadas no exercicio das suas funcções, e por não fazerem effectivamente responsaveis aos seus subalternos. XXX.. Todo o Cidadão poderá apresentar por escripto ao Poder Legislativo, e ao Executivo reclamações, queixas, ou petições, e até expôr qualquer infracção da Constituição, requerendo perante a competente Auctoridade a effectiva responsabilidade dos infractores. XXXI. A Constituição tambem garante os soccorros publicos. XXXII. A Instrucção primaria, e gratuita a todos os Cidadãos. XXXIII. Collegios, e Universidades, aonde serão ensinados os elementos das Sciencias, Bellas Letras, e Artes. XXXIV. Os Poderes Constitucionaes não podem suspender a Constituição, no que diz respeito aos direitos individuaes, salvo nos casos, e circumstancias especificadas no paragrapho seguinte. XXXV. Nos casos de rebellião, ou invasão de inimigos, pedindo a segurança do Estado, que se dispensem por tempo determinado algumas das formalidades, que garantem a liberdede individual, poder-se-ha fazer por acto

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O poder legislativo: O legislativo era um poder nacional, exercido pela Assembléia Geral, com a sanção do Imperador, sendo integrada pela Câmara de Deputados (representantes eleitos pelo povo para um mandato temporário) e pelo Senado (membros vitalícios nomeados pelo Imperador a partir de uma lista tríplice enviada por cada província).

O poder executivo: O executivo era exercido pelo Imperador (chefe máximo) por intermédio dos Ministros de Estado9 nomeados por ele (na esfera nacional) e pelos presidentes das províncias indicados pelo Imperador entre pessoas de confiança e demissíveis ad nutum (respondiam pelo Imperador na esfera local).

O poder judiciário: O judiciário era exercido em três graus: 1) os juízes monocráticos10 (vitalícios, mas não gozavam da inamovibilidade), na esfera local; 2) os Tribunais de Relação, com competência recursal e para ações de maior vulto, na esfera das províncias; e 3) o Supremo Tribunal de Justiça11, com sede no Rio de Janeiro, com competência recursal e ações de foro especial.

O poder moderador: O poder moderador era a chave de toda a organização política12, sendo exercido

especial do Poder Legislativo. Não se achando porém a esse tempo reunida a Assembléa, e correndo a Patria perigo imminente, poderá o Governo exercer esta mesma providencia, como medida provisoria, e indispensavel, suspendendo-a immediatamente que cesse a necessidade urgente, que a motivou; devendo num, e outro caso remetter á Assembléa, logo que reunida fôr, uma relação motivada das prisões, e d'outras medidas de prevenção tomadas; e quaesquer Autoridades, que tiverem mandado proceder a ellas, serão responsaveis pelos abusos, que tiverem praticado a esse respeito.”7 Entretanto, os direitos fundamentais não chegaram a constituir uma garantia real aos cidadãos contra os possíveis abusos do Estado, dada a ausência de limites impostos ao Poder Moderador, que tudo mandava tudo controlava.8 O poder moderador, concebido pela Constituição de 1824, era o mais poderoso de todos, dotado de prerrogativas de mando, de fiscalização e de veto sobre os demais poderes. Na prática, instaurou-se uma monarquia absolutista disfarçada de monarquia constitucional.9 Os Ministros não dependiam da confiança do Parlamento, muito embora, com o Decreto nº 523, de 20.7.1847, tenha sido implanto um “parlamentarismo às avessas” no Brasil, segundo o qual D. Pedro II escolhia o Presidente do Conselho (subordinado, portanto, ao Imperador) e este, por sua vez, escolhia os demais Ministros, que deveriam ter a confiança dos Deputados e do Imperador.10 Os juízes aplicavam a lei, enquanto os jurados pronunciavam sobre os fatos.11 O Supremo Tribunal de Justiça era composto por juízes togados oriundos das Relações das Províncias, segundo critério de antiguidade. 12 Para Benjamin Constant, o “Poder Real” (Moderador) era “la chef de toute organisation politique”. O termo chef foi traduzido como “fecho” (apoiar e coordenar os demais poderes) pelos liberais e “chave” (abrir qualquer porta) pelos conservadores. Na prática, prevaleceu o segundo significado, dada as constantes interferências do Imperador sobre os demais poderes. Pedro Lenza lembra que “o Imperador, que exercia o Poder Moderador, no âmbito do Legislativo nomeava os

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exclusivamente pelo Imperador (chefe supremo da nação e seu primeiro representante), com vistas a velar “incessantemente” pela manutenção da independência, equilíbrio e harmonia dos demais poderes políticos.13

7.1.2. A Constituição de 1824 é classificada, doutrinariamente, como formal, escrita (codificada), outorgada, dogmática, analítica, semi-rígida14 e garantia.

7.2. A Constituição de 1891 foi a primeira Constituição da República brasileira (vigorou até 1930), tendo sido influenciada fortemente, sob a relatoria do Senador Rui Barbosa, pela Constituição norte-americana de 1787.

7.2.1. São características da Constituição republicana de 1891:

o A forma de Estado Federal: o Brasil deixou de ser um Estado Unitário, declarando a união perpétua e indissolúvel das antigas províncias, transformadas em Estados Unidos do Brasil.

o A forma republicana de governo e o sistema presidencialista: o povo brasileiro adotou a forma de governo republicana, sob o regime representativo, consagrando o sistema presidencialista.

o A criação do Distrito Federal: o antigo Município Neutro do Rio de Janeiro foi transformado em Distrito Federal15, capital da

Senadores, convocava a Assembléia Geral extraordinariamente, sancionava e vetava proposições do Legislativo, dissolvia a Câmara dos Deputados, convocando imediatamente outra, que a substituía. No âmbito do Executivo, nomeava e demitia livremente os Ministros de Estado. E, por fim, no âmbito do Judiciário, suspendia os Magistrados.” 13 Vide art. 98 da Carta de 1924: “O Poder Moderador é a chave de toda a organisação Politica, e é delegado privativamente ao Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos.”14 A Constituição de 1824, quanto a sua alterabilidade, adotou um modelo semi-rígido (algumas normas somente poderiam ser alteradas por um processo mais solene, enquanto outras poderiam ser modificadas pelo processo legislativo ordinário). Vide art. 178 da Carta de 1924: “É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas Legislaturas ordinarias.”15 A Lei nº 85, de 20.9.1892 (Lei Orgânica do Distrito Federal), ao estabelecer que “o Distrito Federal compreende o território do antigo Município Neutro, tem por sede a cidade do Rio de Janeiro e continua constituído em Município” (art. 1º), revela a sua origem histórica (art. 1º da Seção 8, nº 17, da Constituição americana de 1787). José Afonso da Silva lembra que “a autonomia das entidades federativas regionais entre si e em relação à União e do governo desta em face daquelas exigiu que a sede do governo federal se localizasse em território sujeito à sua própria jurisdição. Foi assim que surgiu o Distrito Federal, como mais uma inovação da história constitucional dos Estados Unidos.” (Comentários contextual à Constituição, 2. ed., São Paulo: Malheiros, p. 318)

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República Federativa do Brasil, até o cumprimento do art. 3º da Constituição de 189116.

o A ausência de religião oficial: o Brasil tornou-se um país leigo, laico ou não-confessional, não mais adotando a religião Católica Apostólica Romana como religião oficial. A separação entre o Estado e a Igreja importou, ainda, (a) a retirada dos efeitos civis do casamento religioso; (b) a proibição de ensino religioso em escolas públicas; (c) a transferência da administração dos cemitérios para a autoridade municipal; (d) a não invocação da expressão “sob a proteção de Deus” no preâmbulo da Constituição; (e) a extinção do beneplácito régio (necessidade de aprovação estatal dos Decretos dos Concílios e Letras Apostólicas e quaisquer outras Constituições Eclesiásticas para a vigência interna); (f) a extinção do recurso à Coroa contra as decisões dos Tribunais Eclesiásticos.17

o O voto não-secreto e excludente: O voto continuou não sendo secreto (o eleitor tinha que assinar a cédula de votação), tampouco universal (as mulheres, os mendigos, os religiosos com obediência eclesiástica e os analfabetos eram excluídos da votação).

o A declaração de direitos e garantias: A Constituição de 1891 aboliu as penas de galés18 (ratificando o Decreto nº 774, de 20.9.1890)19, de banimento20 e de morte21 (salvo as disposições militares em tempo de guerra); tratou da proteção

16 Vide art. 3º da Constituição de 1891: “Fica pertencendo à União, no planalto central da República, uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada para nela estabeIecer-se a futura Capital federal.”17 O Decreto nº 119-A, de 7.1.1890, já havia extinguido o padroado (direito do Imperador de interferir nas nomeações de bispos, bem como nos cargos e benefícios eclesiásticos).18 A pena de galés, no Império, era aplicada como comutação da pena de morte ou para os crimes de perjúrio, pirataria ou de ofensa física irreparável da qual resultasse aleijão ou deformidade, devendo os punidos andar com calceta no pé e corrente de ferro, como também realizar trabalhos públicos.19 Nas considerandas, vê-se clara preocupação com os direitos humanos: “Que as penas cruéis, infamantes ou inutilmente aflitivas não se compadecem com os princípios da humanidade, em que no tempo presente se inspiram a ciência e a justiça sociais, não contribuindo para a reparação da ofensa, segurança pública ou regeneração do criminoso; Que as galés impostas pelo código criminal do extinto império obrigando os réus a trazerem calceta no pé e corrente, infligem uma tortura e um estigma, enervam as forças físicas e abatem os sentimentos morais, tornam odioso o trabalho, principal elemento de correção, e destroem os estímulos da reabilitação”. 20 O condenado era privado dos seus direitos de cidadão (capitis diminutui do status civitatis), ficando, inclusive, impedido de residir no território do Império.21 O código criminal de 1830 previa a pena de morte pela forca, inadmitindo rigores na execução, a ser aplicada contra cabeças de insurreição e em determinadas circunstâncias de homicídios.

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das clássicas liberdades privadas22 (civis e políticas); e previu, expressamente, o habeas corpus23.

o A separação de poderes: adotou a clássica teoria da “tripartição de poderes” (legislativo, executivo e judiciário)24, extinguindo o poder moderador.

O poder legislativo: o legislativo passou a ser exercido pelo Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, sendo composto por duas Casas: a Câmara de Deputados (representantes do povo eleitos pelos Estados e pelo Distrito Federal, mediante sufrágio direto, com mandato de 3 anos) e o Senado Federal (representantes dos Estados e do Distrito Federal, mediante sufrágio direto, com mandato de 9 anos, renovando-se 1/3 trienalmente).25

O poder executivo: O executivo era exercido pelo Presidente da República26, com o auxílio de Ministros de Estado27, sendo eleito juntamente com o Vice-Presidente, mediante sufrágio direto28, para mandato de 4 anos, sendo vedada a reeleição para o período subsequente.

O poder judiciário: A justiça federal criada pelo Decreto nº 848, de 11.10.1890, foi mantida pela Constituição de 1891, sendo exercida pelo Supremo Tribunal Federal (composto por 15 Juízes) e por Juízes de Seção (com garantia de vitaliciedade e irredutibilidade de vencimentos).

7.2.2. A Constituição de 1891 é classificada, doutrinariamente, como formal, escrita (codificada), promulgada, dogmática, analítica, rígida29

e garantia.22 Por exemplo: liberdades de associação e de reunião desarmadas.23 A teoria brasileira do habeas corpus sofreu limitações, com a edição da Emenda nº 1, de 3.9.1926, a qual restringiu a aplicação do remédio constitucional exclusivamente à liberdade de locomoção.24 Vide art. 15 da Constituição de 1891: “São órgãos da soberania nacional o Poder Legislativo, o Executivo e o Judiciário, harmônicos e independentes entre si.”25 O Poder Legislativo estadual foi estabelecido com a Constituição de 1891, em face do federalismo, tendo, inclusive, alguns Estados (São Paulo e Pernambuco) adotado o bicameralismo (Câmara dos Deputados Estaduais e Senado Estadual).26 O Chefe do Executivo estadual era denominado de Presidente, por alguns Estados, e Governador, por outros.27 Os Ministros de Estado, enquanto agentes da confiança (demissíveis ad nutum) do Presidente da República, subscreviam os atos da presidência.28 A primeira eleição para Presidente da República, muito embora a Constituição de 1891 assegurasse o sufrágio direto, foi indireta (art. 1º das Disposições Transitórias), pelo Congresso Nacional, o qual elegeu o Marechal Deodoro da Fonseca (Presidente) e o Marechal Floriano Peixoto (Vice-Presidente). 29 O legislador constituinte estabeleceu um processo mais dificultoso para a reforma da Constituição de 1891 que o previsto para a alteração das demais espécies normativas, definindo, ainda, a forma republicano-federativa e a igualdade de representação dos Estados no Senado como cláusulas pétreas.

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7.3. A Constituição de 1934, afastando-se do liberalismo econômico e da democracia liberal característicos da Constituição de 1891, cuidou de disciplinar diversos direitos de segunda geração, delineando um Estado Social de Direito, sob a influência da Constituição alemã de Weimar de 191930.

7.3.1. São características da Constituição de 1934:

o A manutenção dos princípios formais fundamentais: A Constituição de 1934 manteve a Federação31, a República, a divisão dos poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário, independentes e coordenados entre si), o presidencialismo e o regime representativo.

o A Capital da República (o supermunicípio): a cidade do Rio de Janeiro foi mantida como Capital da República32, sendo elevada à condição de verdadeiro “supermunicípio” pela Lei nº 19633, de 18.1.1936, que aproximou o Distrito Federal dos Estados.

o A manutenção do Estado laico: a Constituição de 1934 manteve a separação entre o Estado (leigo, laico ou não-confessional) e a Igreja (notadamente, a Católica Apostólica Romana)34, reconhecendo, entretanto, a liberdade de consciência e de crença, inclusive quanto ao livre exercício dos cultos religiosos (observados a ordem pública e os bons costumes).

30 O fascismo também influenciou a Constituição de 1934, a qual estabeleceu a representação classista do Parlamento, ao lado da representação política tradicional.31 A Constituição de 1934, entretanto, ampliou os poderes da União (arts. 5º e 6 º). Por outro lado, enumerou alguns poderes dos Estados, conferindo-lhes, em regra, os poderes remanescentes (arts. 7 º e 8 º) e, ainda, dispôs sobre os poderes concorrentes entra a União e Estados (art. 10). Ademais, discriminou, com mais rigor, as rendas tributárias entre União, Estados e Municípios (na qual, se assentava, inclusive, a autonomia que lhes assegurava).32 As Disposições Transitórias da Constituição de 1934 renovou a previsão de transferência da Capital da República para um ponto central do Brasil. Vide art. 4º da Constituição de 1934: “Será transferida a Capital da União para um ponto central do Brasil. O Presidente da República, logo que esta Constituição entrar em vigor, nomeará uma Comissão, que, sob instruções do Governo, procederá a estudos de varias localidades adequadas à instalação da Capital. Concluídos tais estudos, serão presentes à Câmara dos Deputados, que escolherá o local e tomará sem perda de tempo as providências necessárias à mudança. Efetuada esta, o atual Distrito Federal passará a constituir um Estado.”33 Segunda Lei Orgânica do Distrito Federal, editada em cumprimento ao art. 5º, XVI, da Constituição.34 A Constituição de 1934 atenuou, todavia, o caráter “anti-religião” da Constituição de 1891, quando voltou a reconhecer os efeitos civis do casamento religioso e facultou o ensino religioso nas escolas públicas, além de fazer referência a Deus no preâmbulo.

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o O voto secreto e feminino: houve a constitucionalização do “voto australiano” (secreto) e do voto feminino (com valor igual ao masculino), já adotados pelo Código Eleitoral de 1932 (Decreto nº 21.076, de 24.2.1932).

o A declaração de direitos e garantias: além da clássica declaração de direitos e garantias individuais (em especial, a previsão do mandado de segurança e da ação popular35), a Constituição de 1934 inscreveu um título sobre a ordem econômica e social e outro sobre a família, a educação e a cultura, com normas quase todas programáticas. Regulou, ainda, os direitos trabalhistas, os problemas da segurança nacional36 e os princípios do funcionalismo público37.

o A separação de poderes: manteve a clássica teoria da “tripartição de poderes” (legislativo, executivo e judiciário).38

O poder legislativo: o legislativo era exercido pela Câmara dos Deputados (composta de representantes do povo eleitos, mediante sistema proporcional e sufrágio universal, direto e igual, e de representantes corporativos eleitos pelas organizações profissionais, na forma que a lei indicasse, para um mandato de 4 anos), com a colaboração do Senado Federal39 (representantes dos

35 Pedro Lenza esclarece que “muito embora o texto de 1824 falasse em ação popular nos termos do art. 157 (...), parece que esta se referia a certo caráter disciplinar ou mesmo penal. Assim, concordamos com Mancuso que o texto de 1934 foi ‘o primeiro texto constitucional que lhe deu guarida’ (Rodolfo de Camargo Mancuso, Ação Popular, 4. Ed., p. 52). (LENZA, Pedro. Curso de direito constitucional esquematizado. 13. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 63) 36 Vide art. 159 da Constituição de 1934: “Todas as questões relativas à segurança nacional serão estudadas e coordenadas pelo Conselho Superior de Segurança Nacional e pelos órgãos especiais criados para atender às necessidades da mobilização. § 1º - O Conselho Superior de Segurança Nacional será presidido pelo Presidente da República e dele farão parte os Ministros de Estado, o Chefe do Estado-Maior do Exército e o Chefe do Estado-Maior da Armada.”37 Vide art. 172 da Constituição de 1934: “É vedada a acumulação de cargos públicos remunerados da União, dos Estados e dos Municípios. § 1º - Excetuam-se os cargos do magistério e técnico-científicos, que poderão ser exercidos cumulativamente, ainda que por funcionário administrativo, desde que haja compatibilidade dos horários de serviço. § 2º - As pensões de montepio e as vantagens, da inatividade só poderão ser acumuladas, se reunidas, não excederem o máximo fixado por lei, ou se resultarem de cargos legalmente acumuláveis. § 3º - É facultado o exercício cumulativo e remunerado de comissão temporária ou de confiança, decorrente do próprio cargo. § 4º - A aceitação de cargo remunerado importa à suspensão dos proventos da inatividade. A suspensão será completa, em se tratando de cargo eletivo remunerado, com subsídio anual; se, porém, o subsídio for mensal, cessarão aqueles proventos apenas durante os meses em que for vencido.”38 A Constituição de 1934 instituiu, ao lado do Ministério Público e do Tribunal de Contas, os Conselhos Técnicos, como órgãos de cooperação nas atividades governamentais.39 Ao Senado Federal, cabia coordenar os Poderes federais, manter a continuidade administrativa, velar pela Constituição, colaborar na feitura de leis e exercer os demais atos de sua competência, que se restringia às matérias relacionadas à

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Estados e do Distrito Federal, eleitos, mediante sufrágio universal, igual e direto, para um mandato de 8 anos, renovando-se ½, conjuntamente com a eleição dos Deputados Federais). A Constituição de 1934 adotou, portanto, um bicameralismo desigual ou unicameralismo imperfeito (as duas casas não tinham funções principais idênticas).

O poder executivo: O executivo40 continuou a ser exercido pelo Presidente da República, com o auxílio de Ministros de Estado (que passaram a ter responsabilidade pessoal e solidária), sendo eleito juntamente com o Vice-Presidente, mediante sufrágio universal, direto, secreto e por maioria de votos, para mandato de 4 anos (vedada a reeleição para o período subsequente).

O poder judiciário: foram estabelecidos como órgãos do Poder Judiciário, a Corte Suprema (composta por 11 Ministros); os Juízes e Tribunais federais; os Juízes e Tribunais militares; os Juízes e Tribunais eleitorais41 (com garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de vencimentos).

Federação (por exemplo, a iniciativa de leis sobre a intervenção federal).40 A Constituição de 1934 aumentou os poderes do Executivo.41 O legislador constituinte, como visto alhures, definiu os direitos políticos e o sistema eleitoral, admitindo o voto feminino (arts. 108 e ss.), como também criou a Justiça Eleitoral, como órgão do Poder judiciário (arts. 63, d, 82 e ss.).

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7.3.2. A Constituição de 1934 é classificada, doutrinariamente, como formal, escrita (codificada), promulgada, dogmática, analítica, rígida42

e programática.

7.4. A Carta de 1937, elaborada por Francisco Campos, sob a inspiração de ideais autoritários e fascitas (ficou conhecida como Constituição Polaca43), instalou uma nova ordem no país denominada “Estado Novo”44. Deveria ter sido submetida a um plebiscito para aprová-la, mas Getúlio Vargas nunca o convocou (instituiu pura e simplesmente a ditadura45).

42 A Constituição de 1934 estabeleceu um processo solene para a sua reforma (mais difícil que o previsto para a alteração das demais espécies normativas), prevendo, ainda, a forma republicana federativa como cláusula pétrea (art. 178, § 5º), conforme segue: A Constituição somente poderia ser emendada quando as alterações propostas não modificassem a estrutura política do Estado (arts. 1º a 14, 17 a 21); a organização ou a competência dos poderes da soberania (Capítulos II, III e IV do Título I; o Capítulo V do Título I; o Título II; o Título III; e os arts. 175, 177, 178 e 181); e revista, no caso contrário. No caso de emenda (incorporada ao texto constitucional), a proposta deveria ser formulada de modo preciso, com indicação dos dispositivos a emendar, sendo de iniciativa: a) de uma quarta parte, pelo menos, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; b) de mais de metade dos Estadas, nos decurso de dois anos, manifestando-se cada uma das unidades federativas pela maioria da Assembléia respectiva. A emenda seria considerada aprovada, se aceita, em duas discussões, pela maioria absoluta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em dois anos consecutivos. Se a emenda obtivesse o voto de dois terços dos membros componentes de um desses órgãos, seria imediatamente submetida ao voto do outro, se estivesse reunido, ou, em caso contrário na primeira sessão legislativa, entendendo-se aprovada, se lograsse a mesma maioria. Na hipótese de revisão, a proposta seria apresentada na Câmara dos Deputados ou no Senado Federal, e apoiada, pelo menos, por dois quintos dos seus membros, ou submetida a qualquer desses órgãos por dois terços das Assembléias Legislativas, em virtude de deliberação da maioria absoluta de cada uma destas. Se ambos por maioria de votos aceitarem a revisão, proceder-se-ia pela forma que determinarem, à elaboração do anteprojeto. Este seria submetido, na Legislatura seguinte, a três discussões e votações em duas sessões legislativas, numa e noutra casa.43 Foi influenciada pela Constituição polonesa fascista de 1935, imposta pelo Marechal Josef Pilsudski.44 As palavras de Getúlio Vargas: “Por outro lado, as novas formações partidárias, surgidas em todo o mundo, por sua própria natureza refratária aos processos democráticos, oferecem perigo imediato para as instituições, exigindo, de maneira urgente e proporcional à virulência dos antagonismos, o reforço do poder central”.45 José Afonso da Silva observa o seguinte: “O país já se encontrava sob o impacto das ideologias que grassavam o mundo do após-guerra de 1918. Os partidos políticos assumiram posições em face da problemática ideológica então vigente: surge um partido fascista, barulhento e virulento – a Ação Integralista Brasileira, cujo chefe, Plínio Salgado, como Mussolini e Hitler, se preparava para empolgar o poder; reorganiza-se o partido comunista, aguerrido e disciplinado, cujo chefe, Luiz Carlos Prestes, também queria o poder. Getúlio Vargas, no poder, eleito pela Assembléia Constituinte para o quadriênio constitucional, à maneira de Deodoro, como este, dissolve a Câmara e o Senado, revoga a Constituição de 1934, e outorga a Carta Constitucional de 10.11.37”. (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 82)

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7.4.1. São características da Carta de 1937:

o A manutenção da forma de Estado e de governo: a Constituição de 1934 manteve a República Federativa (previsão meramente nominal46), com a mesma divisão política e territorial.

o O Distrito Federal: a cidade do Rio de Janeiro continuou como a Capital do Brasil (sede do governo da República), sendo administrada pela União.

o A ausência de uma religião oficial: o Brasil manteve-se um Estado leigo, laico ou não-confessional, não havendo, inclusive, invocação à “proteção de Deus” no preâmbulo da Constituição.

o A declaração de direitos e garantias: a Carta de 1937, ao “reconhecer e assegurar os direitos de liberdade, de segurança e de propriedade do indivíduo”, acentuou que “deveriam ser exercidos nos limites do bem público”, conforme segue:

a censura prévia: o direito de manifestação de pensamento foi restringido, visando a garantir a paz, a ordem e a segurança pública, em face da censura prévia da imprensa, do teatro, do cinema e da radiodifusão (art. 122, nº 15, “a” e “b”).

a pena de morte: afora a previsão tradicional das hipóteses da legislação militar (em tempo de guerra), a pena de morte poderia ser aplicada nos casos de crimes políticos e homicídios cometidos por motivo fútil e com extremos de perversidade (art. 122, nº 13).

a aposentadoria ou reforma compulsória: o Governo, a seu juízo exclusivo, poderia aposentar ou reformar os funcionários civis ou militares, no interesse do serviço público ou por conveniência do regime (art. 177).

o estado de emergência: foi declarado o estado de emergência em todo país, suspendendo direitos e garantias individuais (art. 186).

a proibição da greve ou lock-out: a greve e o lock-out foram declarados recursos anti-sociais nocivos ao trabalho e ao capital e incompatíveis com os superiores interesses da produção nacional (art. 139).

o estado de guerra e o Tribunal de Segurança Nacional: estabeleceu a possibilidade de declaração de guerra, como também o julgamento de crimes cometidos contra a estrutura das instituições, a segurança do Estado e dos cidadãos pela Justiça Militar ou pelo Tribunal de Segurança Nacional (art. 173).

46 A autonomia dos Estados-membros foi bastante reduzida, com a constante nomeação de interventores federais e, por conseguinte, a escolha de vereadores e prefeitos pelos interventores dos respectivos Estados.

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a exclusão de garantias constitucionais: a Carta de 1937 não previu o mandado de segurança e a ação popular, tampouco tratou dos princípios da irretroatividade das leis e da reserva legal.

o A nacionalização da economia e os direitos trabalhistas: a Constituição cuidou da defesa dos interesses nacionais em face do elemento alienígena, através da nacionalização formal de certas atividades e fontes de riqueza (controle de áreas estratégicas, a exemplo da mineração, do aço e do petróleo) e da proteção ao trabalho dos brasileiros47.

o A separação de poderes: manteve, apenas formalmente, a clássica teoria da “tripartição de poderes”, pois o Legislativo48 e

47 Vide art. 137 da Carta de 1937: “A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos: a) os contratos coletivos de trabalho concluídos pelas associações, legalmente reconhecidas, de empregadores, trabalhadores, artistas e especialistas, serão aplicados a todos os empregados, trabalhadores, artistas e especialistas que elas representam; b) os contratos coletivos de trabalho deverão estipular obrigatoriamente a sua duração, a importância e as modalidades do salário, a disciplina interior e o horário do trabalho; c) a modalidade do salário será a mais apropriada às exigências do operário e da empresa; d) o operário terá direito ao repouso semanal aos domingos e, nos limites das exigências técnicas da empresa, aos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradição local; e) depois de um ano de serviço ininterrupto em uma empresa de trabalho contínuo, o operário terá direito a uma licença anual remunerada; f) nas empresas de trabalho continuo, a cessação das relações de trabalho, a que o trabalhador não haja dado motivo, e quando a lei não lhe garanta, a estabilidade no emprego, cria-lhe o direito a uma indenização proporcional aos anos de serviço; g) nas empresas de trabalho continuo, a mudança de proprietário não rescinde o contrato de trabalho, conservando os empregados, para com o novo empregador, os direitos que tinham em relação ao antigo; h) salário mínimo, capaz de satisfazer, de acordo com as condições de cada região, as necessidades normais do trabalho; i) dia de trabalho de oito horas, que poderá sér reduzido, e somente suscetível de aumento nos casos previstos em lei; j) o trabalho à noite, a não ser nos casos em que é efetuado periodicamente por turnos, será retribuído com remuneração superior à do diurno; k) proibição de trabalho a menores de catorze anos; de trabalho noturno a menores de dezesseis, e, em indústrias insalubres, a menores de dezoito anos e a mulheres; l) assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante, assegurado a esta, sem prejuízo do salário, um período de repouso antes e depois do parto; m) a instituição de seguros de velhice, de invalidez, de vida e para os casos de acidentes do trabalho; n) as associações de trabalhadores têm o dever de prestar aos seus associados auxílio ou assistência, no referente às práticas administrativas ou judiciais relativas aos seguros de acidentes do trabalho e aos seguros sociais.” 48 Conforme José Afonso da Silva, a Constituição de 1937 reduziu o papel do parlamento nacional, em sua função legislativa, “com todo o Poder Executivo e Legislativo concentrado nas mãos do Presidente da República, que legislava por via de decretos-leis que ele próprio depois aplicava.” (SILVA, José Afonso da. Ob. cit., p. 83)

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o Judiciário49 foram “esvaziados” por um Poder Executivo forte e autoritário.

O poder legislativo: o legislativo era exercido pelo Parlamento Nacional, com a colaboração do Conselho de Economia Nacional e do Presidente da República (art. 38). O Parlamento, por sua vez, era integrado por duas Casas: a Câmara dos Deputados (composta de representantes do povo eleitos, mediante sufrágio indireto, para um mandato de 4 anos) e o Conselho Federal50 (composto por representantes dos Estados e 10 membros nomeados pelo Presidente da República, para um mandato de 6 anos).51

O poder executivo: O executivo era exercido pelo Presidente da República (autoridade suprema do Estado52), com o auxílio de Ministros de Estado53, eleito, mediante sufrágio indireto54, para mandato de 6 anos.

O poder judiciário: integravam o Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal; os Juízes e Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios; e os Juízes e Tribunais militares.55

49 Por exemplo: a) no caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do Presidente da República, fosse necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderia o Presidente da República submetê-la novamente ao exame do Parlamento; se este a confirmasse por 2/3 de votos em cada uma das Câmaras, ficaria sem efeito a decisão do Tribunal (art. 96, parágrafo único); b) os atos praticados em virtude do estado de emergência ou do estado de guerra não poderiam ser conhecidos por qualquer Juiz ou Tribunal (art. 170).50 Durante o Estado Novo, não tivemos Senado Federal.51 Na prática, com a dissolução da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Assembléias Legislativas dos Estados e das Câmaras Municipais pela Constituição de 1937 (art. 178), o Presidente da República exerceu o poder expedindo decretos-leis sobre todas as matérias da competência legislativa da União. As eleições não foram marcadas e, por conseguinte, o Poder Legislativo não chegou a ser instalado. 52 O Presidente da República coordenava a atividade dos órgãos representativos, de grau superior, dirigia a política interna e externa, promovia ou orientava a política legislativa de interesse nacional, e superintendia a administração do País. (art. 173)53 Os atos oficiais do Presidente da República eram referendados pelos Ministros, salvo os expedidos no uso de suas prerrogativas, os quais não exigia referenda (art. 176)54 Vide art. 82 da Carta de 1937: “O Colégio Eleitoral do Presidente da República compõe-se: a) de eleitores designados pelas Câmaras Municipais, elegendo cada Estado um número de eleitores proporcional à sua população, não podendo, entretanto, o máximo desse número exceder de vinte e cinco; b) de cinqüenta eleitores, designados pelo Conselho da Economia Nacional, dentre empregadores e empregados em número igual; c) de vinte e cinco eleitores, designados pela Câmara dos Deputados e de vinte e cinco designados pelo Conselho Federal, dentre cidadãos de notória reputação. Parágrafo único - Não poderá recair em membros do Parlamento nacional ou das Assembléias Legislativas dos Estados a designação para eleitor do Presidente da República.”55 A Justiça Eleitoral foi extinta, juntamente com os partidos políticos (Decreto-lei nº 37, de 2.12.1937).

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7.4.2. A Carta de 1937 é classificada, doutrinariamente, como formal, escrita (codificada), outorgada, dogmática, analítica, rígida56 e programática.7.5. A Constituição de 1946, com a redemocratização do País, foi promulgada sob inspiração dos ideais liberais da Constituição de 1891 e das idéias sociais da Constituição de 1934.57

7.5.1. São características da Constituição de 1946:

o A forma de governo republicana, a forma de Estado federativa e o sistema presidencialista: a Constituição de 1946 manteve, sob regime representativo, a Federação, a República e o Presidencialismo58.

56 A Constituição de 1937 estabeleceu um processo mais difícil para a sua reforma que o previsto para a alteração das demais espécies normativas. Vide art. 174 da Carta de 1937: “A Constituição pode ser emendada, modificada ou reformada por iniciativa do Presidente da República ou da Câmara dos Deputados. § 1º - O projeto de iniciativa do Presidente da República será votado em bloco por maioria ordinária de votos da Câmara dos Deputados e do Conselho Federal, sem modificações ou com as propostas pelo Presidente da República, ou que tiverem a sua aquiescência, se sugeridas por qualquer das Câmaras. § 2º - O projeto de emenda, modificação ou reforma da Constituição de iniciativa da Câmara dos Deputados, exige para ser aprovado, o voto da maioria dos membros de uma e outra Câmara. § 3º - O projeto de emenda, modificação ou reforma da Constituição, quando de iniciativa da Câmara dos Deputados, uma vez aprovado mediante o voto da maioria dos membros de uma e outra Câmara, será enviado ao Presidente da República. Este, dentro do prazo de trinta dias, poderá devolver à Câmara dos Deputados o projeto, pedindo que o mesmo seja submetido a nova tramitação por ambas as Câmaras. A nova tramitação só poderá efetuar-se no curso da legislatura seguinte. § 4º - No caso de ser rejeitado o projeto de iniciativa do Presidente da República, ou no caso em que o Parlamento aprove definitivamente, apesar da oposição daquele, o projeto de iniciativa da Câmara dos Deputados, o Presidente da República poderá, dentro em trinta dias, resolver que um ou outro projeto seja submetido ao plebiscito nacional. O plebiscito realizar-se-á noventa dias depois de publicada a resolução presidencial. O projeto só se transformará em lei constitucional se lhe for favorável o plebiscito.”57 Nas palavras de José Afonso da Silva: “Esse sentimento ficou traduzido nas normas da Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, de 18.9.46, que ao contrário das outras, não foi elaborada com base em um projeto preordenado, que se oferecesse à discussão da Assembléia Constituinte. Serviu-se, para sua formação, das Constituições de 1891 e 1934. Voltou-se, assim, às fontes formais do passado, que nem sempre estiveram conformes com a história real, o que constituiu o maior erro daquela Carta Magna, que nasceu de costas para o futuro. Talvez isso explique o fato de não ter conseguido realizar-se plenamente. Mas, assim mesmo, não deixou de cumprir sua tarefa de redemocratização, propiciando condições para o desenvolvimento do país durante os vinte anos em que o regeu.” (SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 85)58 O regime parlamentarista foi estabelecido pela Emenda Constitucional nº 4/61 (e vigorou até o referendo realizado em 6.1.1963), caracterizando-se pela dualidade do Executivo, que era exercido pelo Presidente da República e pelo Conselho de Ministros, que tinha a responsabilidade política do Governo. No parlamentarismo brasileiro, o Presidente da República nomeava o Primeiro-Ministro, que, por sua vez, escolhia os demais Ministros a serem nomeados pelo Presidente da República (art. 3º, I, da EC nº 4/61).

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o O Distrito Federal: a cidade do Rio de Janeiro foi mantida como Capital da República Federativa (Distrito Federal), que passaria a constituir o Estado da Guanabara (1960-1975), com a construção de Brasília (inaugurada em 21.4.1960) e a esperada transferência da Capital para o planalto central do País (art. 4º do ADCT).

o A inexistência de religião oficial: a Constituição de 1946 manteve a separação entre o Estado e a Igreja, entretanto fez expressa referência a “Deus” no seu preâmbulo (Estado leigo, mas não ateu).

o A declaração de direitos e garantias: houve a revisão do elenco de direitos e garantias fundamentais, destacando-se:

o restabelecimento do mandado de segurança e da ação popular (art. 141, § 24);

a consagração do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional (art. 141, § 4º);

o estabelecimento, pela primeira vez, de regras para os partidos políticos (art. 141, § 13);

a vedação das seguintes penas: de morte59, de banimento, de confisco e de caráter perpétuo (art. 141, § 31);

o reconhecimento do direito de greve (art. 158) e demais garantias dos trabalhadores conquistadas durante o “Estado Novo”60.

59 Exceção: disposições da legislação militar em tempo de guerra com país estrangeiro.60 Vide art. 157 da Constituição de 1946: “A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores: I - salário mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do trabalhador e de sua família; II - proibição de diferença de salário para um mesmo trabalho por motivo de idade, sexo, nacionalidade ou estado civil; III - salário do trabalho noturno superior ao do diurno; IV - participação obrigatória e direta do trabalhador nos lucros da empresa, nos termos e pela forma que a lei determinar; V - duração diária do trabalho não excedente a oito horas, exceto nos casos e condições previstos em lei; VI - repouso semanal remunerado, preferentemente aos domingos e, no limite das exigências técnicas das empresas, nos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradição local; VII - férias anuais remuneradas; VIII - higiene e segurança do trabalho; IX - proibição de trabalho a menores de quatorze anos; em indústrias insalubres, a mulheres e a menores, de dezoito anos; e de trabalho noturno a menores de dezoito anos, respeitadas, em qualquer caso, as condições estabelecidas em lei e as exceções admitidas pelo Juiz competente; X - direito da gestante a descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do emprego nem do salário; XI - fixação das percentagens de empregados brasileiros nos serviços públicos dados em concessão e nos estabelecimentos de determinados ramos do comércio e da indústria; XII - estabilidade, na empresa ou na exploração rural, e indenização ao trabalhador despedido, nos casos e nas condições que a lei estatuir; XIII - reconhecimento das convenções coletivas de trabalho; XIV - assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica preventiva, ao trabalhador e à gestante; XV - assistência aos desempregados; XVI - previdência, mediante contribuição da

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o A separação de poderes: restabeleceu a clássica teoria da “tripartição de poderes” (legislativo, executivo e judiciário).

O poder legislativo: o legislativo voltou a ser exercido pelo Congresso Nacional, integrado por duas Casas (bicameralismo igual): a Câmara de Deputados (representantes do povo, eleitos, segundo sistema proporcional, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Territórios, para mandato de 4 anos) e o Senado Federal61

(representantes dos Estados e do Distrito Federal, segundo sistema majoritário, para mandato de 8 anos, renovando-se 1/3 e 2/3 da representação, alternadamente, de 4 em 4 anos).

O poder executivo: O executivo era exercido pelo Presidente da República, eleito diretamente, junto com o Vice-Presidente, para mandato de 5 anos.

O poder judiciário: eram órgãos do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal; o Tribunal Federal de Recursos; os Juízes e Tribunais militares; os Juízes e Tribunais eleitorais; e os Juízes e Tribunais do trabalho.

7.5.2. A Constituição de 1946 é classificada, doutrinariamente, como formal, escrita (codificada), promulgada, dogmática, analítica, rígida62

e programática.

7.6. A Carta de 1967, muito influenciada pela Carta de 1937 (elaborada por Francisco Campos, o mesmo autor do Ato Institucional

União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte; XVII - obrigatoriedade da instituição do seguro pelo empregador contra os acidentes do trabalho. Parágrafo único - Não se admitirá distinção entre o trabalho manual ou técnico e o trabalho intelectual, nem entre os profissionais respectivos, no que concerne a direitos, garantias e benefícios.”61 As funções de Presidente do Senado Federal eram exercidas pelo Vice-Presidente da República (art. 61).62 A Constituição de 1946 estabeleceu um processo mais difícil para a sua reforma que o previsto para a alteração das demais espécies normativas. Vide art. 217 da Constituição de 1946: “A Constituição poderá ser emendada. § 1 º - Considerar-se-á proposta a emenda, se for apresentada pela quarta parte, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, ou por mais da metade das Assembléias Legislativas dos Estados no decurso de dois anos, manifestando-se cada uma delas pela maioria dos seus membros. § 2º - Dar-se-á por aceita a emenda que for aprovada em duas discussões pela maioria absoluta da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em duas sessões legislativas ordinárias e consecutivas. § 3 º - Se a emenda obtiver numa das Câmaras, em duas discussões, o voto de dois terços dos seus membros, será logo submetida à outra; e, sendo nesta aprovada pelo mesmo trâmite e por igual maioria, dar-se-á por aceita. § 4 º - A emenda será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Publicada com a assinatura dos membros das duas Mesas, será anexada, com o respectivo número de ordem, ao texto da Constituição. § 5 º - Não se reformará a Constituição na vigência do estado de sítio. § 6 º - Não serão admitidos como objeto de deliberação projetos tendentes a abolir a Federação ou a República.”

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nº 1, de 9.4.196463), na verdade, resumiu as alterações institucionais64 operadas na Constituição de 1946 (onde destaca-se a preocupação com a questão da segurança nacional), concentrando as principais competências na unidade central, com amplos poderes para o Presidente da República.

7.6.1. São características da Carta de 1967:

o A previsão formal da República Federativa: a Constituição de 1967 estabeleceu a forma de governo republicana e a forma de estado federativa (previsão meramente nominal65).

o O Distrito Federal: o Distrito Federal era a Capital da União (nos termos do art. 2º), concentrando em Brasília os poderes da República (desde 21.4.1960).

o A inexistência de religião oficial: o Brasil manteve-se um Estado leigo, laico ou não-confessional, havendo, entretanto, menção à “Deus” no preâmbulo da Constituição.

o A declaração de direitos e garantias: a Carta de 1967 se revelou mais autoritária do que as anteriores, salvo a de 1937 (quando, por exemplo, reduziu a autonomia individual, permitindo a suspensão de direitos e de garantias constitucionais66) e menos intervencionista do que a de 1946 (entretanto, limitou ainda mais o direito de propriedade, autorizando a desapropriação mediante pagamento de indenização por títulos da dívida pública, para fins de reforma agrária). Demais disso, definiu eficazmente os direitos dos trabalhadores67.

63 AI nº 1/1964 permitiu, entre outras medidas, que o Comando da Revolução (eclodida em 31.3.1964) decretasse estado de sítio (art. 6º); aposentasse civis ou militares (art. 7º); e suspendesse direitos políticos, bem como cassasse mandatos legislativos federais, estaduais e municipais, excluída a apreciação judicial (art. 10)64 A Constituição de 1946 sofreu 21 emendas constitucionais, 4 atos institucionais e 37 atos complementares, através dos quais o País passou a ser governado após a Revolução de 1964 (muito embora continuasse a existir formalmente).65 No regime da Constituição de 1967, as competências dos Estados-membros e Municípios foram bastante esvaziadas, como revelam as palavras de Pedro Lenza: “(...) muito embora o art. 1º estabelecesse ser o Brasil uma República Federativa, constituída, sob o regime representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, na prática, contudo, o que se percebeu foi um duro ‘golpe’ no federalismo, mais se aproximando de um Estado unitário centralizado do que federativo.” (LENZA, Pedro. Ob. cit., p. 71) 66 Vide art. 151 da Carta de 1967: “Aquele que abusar dos direitos individuais previstos nos §§ 8º, 23. 27 e 28 do artigo anterior e dos direitos políticos, para atentar contra a ordem democrática ou praticar a corrupção, incorrerá na suspensão destes últimos direitos pelo prazo de dois a dez anos, declarada pelo Supremo Tribunal Federal, mediante representação do Procurador-Geral da República, sem prejuízo da ação civil ou penal cabível, assegurada ao paciente a mais ampla, defesa. Parágrafo único - Quando se tratar de titular de mandato eletivo federal, o processo dependerá de licença da respectiva Câmara, nos termos do art. 34, § 3º.”

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o O sistema tributário e o sistema orçamentário: a Constituição de 1967 reformulou o sistema tributário nacional e a discriminação de rendas, ampliando a técnica do federalismo cooperativo (participação de uma entidade na receita de outra), com acentuada centralização de recursos. Outrossim, atualizou o sistema orçamentário, através da técnica do orçamento-programa e os programas plurianuais de investimento, como também instituiu normas de política fiscal, com vistas a combater a inflação e promover o desenvolvimento.

o A separação de poderes: manteve apenas nominalmente a clássica teoria da “tripartição de poderes”, porquanto “(...) no fundo existia um só, que era o Executivo, visto que a situação reinante tornava por demais mesquinhas as competências tanto do Legislativo quando do Judiciário”68.

O poder legislativo: o legislativo continuou a ser exercido pelo Congresso Nacional, integrado por duas Casas: a Câmara de Deputados (representantes do povo, eleitos por voto direto e secreto, em cada Estado e Território, para mandato de 4 anos)69 e o Senado Federal

67 Vide art. 158 da Carta de 1967: “A Constituição assegura aos trabalhadores os seguintes direitos, além de outros que, nos termos da lei, visem à melhoria, de sua condição social: I - salário mínimo capaz de satisfazer, conforme as condições de cada região, as necessidades normais do trabalhador e de sua família; II - salário-família aos dependentes do trabalhador; III - proibição de diferença de salários e de critérios de admissões por motivo de sexo, cor e estado civil; IV - salário de trabalho noturno superior ao diurno; V - integração do trabalhador na vida e no desenvolvimento da empresa, com participação nos lucros e, excepcionalmente, na gestão, nos casos e condições que forem estabelecidos; VI - duração diária do trabalho não excedente de oito horas, com intervalo para descanso, salvo casos especialmente previstos; VII - repouso semanal remunerado e nos feriados civis e religiosos, de acordo com a tradição local; VIII - férias anuais remuneradas; IX - higiene e segurança do trabalho; X - proibição de trabalho a menores de doze anos e de trabalho noturno a menores de dezoito anos, em indústrias insalubres a estes e às mulheres; XI - descanso remunerado da gestante, antes e depois do parto, sem prejuízo do emprego e do salário; XII - fixação das percentagens de empregados brasileiros nos serviços públicos dados em concessão e nos estabelecimentos de determinados ramos comerciais e Industriais; XIII - estabilidade, com indenização ao trabalhador despedido, ou fundo de garantia equivalente; XIV - reconhecimento das convenções coletivas de trabalho; XV - assistência sanitária, hospitalar e médica preventiva; XVI - previdência social, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, para seguro-desemprego, proteção da maternidade e, nos casos de doença, velhice, invalidez e morte; XVII - seguro obrigatório pelo empregador contra acidentes do trabalho; XVIII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico ou intelectual, ou entre os profissionais respectivos; XIX - colônias de férias e clínicas de repouso, recuperação e convalescença, mantidas pela União, conforme dispuser a lei; XX - aposentadoria para a mulher, aos trinta anos de trabalho, com salário integral; XXI - greve, salvo o disposto no art. 157, § 7º.” 68 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 21. ed. São Paulo: Saraiva, p. 134.69 A Constituição de 1967 privilegiou a representação dos Estados menores. Vide art. 41 da Carta de 1967: “§ 2º - O número de Deputados será fixado em lei, em proporção que não exceda de um para cada trezentos mil habitantes, até vinte e cinco Deputados, e, além desse limite, um para cada milhão de habitantes. (...) § 4º

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(representantes dos Estados, eleitos por voto direto e secreto, segundo sistema majoritário, para mandato de 8 anos, renovando-se 1/3 e 2/3 da representação, alternadamente, de 4 em 4 anos).

O poder executivo: O executivo era exercido por um Presidente da República fortalecido70, com o auxílio de Ministros de Estado, eleito, mediante sufrágio indireto71, para mandato de 4 anos.

O poder judiciário: formavam o Poder Judiciário da União, o Supremo Tribunal Federal; os Tribunais Federais de Recursos e Juízes Federais; os Tribunais e Juízes militares; os Tribunais e Juízes eleitorais; e os Juízes e Tribunais do trabalho. Havia, ainda, a previsão da Justiça estadual72.

7.6.2. A Carta de 1967 sofreu uma profunda alteração73, através da Emenda Constitucional nº 1, de 17.10.1969, outorgada pela Junta

- Será de sete o número mínimo de Deputados por Estado. § 5º - Cada Território terá um Deputado.” 70 Vide arts. 58 e 60 da Carta de 1967: Exercício da função legislativa por decretos-leis, ao final aprovados por decurso de prazo – “O Presidente da República, em casos de urgência ou de interesse público relevante, e desde que não resulte aumento de despesa, poderá expedir decretos com força de lei sobre as seguintes matérias: I - segurança nacional; II - finanças públicas. Parágrafo único - Publicado, o texto, que terá vigência imediata, o Congresso Nacional o aprovará ou rejeitará, dentro de sessenta dias, não podendo emendá-lo; se, nesse prazo, não houver deliberação o texto será tido como aprovado.” (art. 58) Iniciativa legislativa exclusiva para certas matérias – “É da competência exclusiva do Presidente da República a Iniciativa das leis que: I - disponham sobre matéria financeira; II - criem cargos, funções ou empregos públicos ou aumentem vencimentos ou a despesa pública; III - fixem ou modifiquem os efetivos das forças armadas; IV - disponham sobre a Administração do Distrito Federal e dos Territórios. Parágrafo único - Não serão admitidas emendas que aumentem a despesa prevista: a) nos projetos oriundos da competência exclusiva do Presidente da República; b) naqueles relativos à organização dos serviços administrativos da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e dos Tribunais Federais.” (art. 60)71 Vide art. 76 da Carta de 1967: “O Presidente será eleito pelo sufrágio de um Colégio Eleitoral, em sessão, pública e mediante votação nominal. § 1.º - O Colégio Eleitoral será composto dos membros do Congresso Nacional e de Delegados indicados pelas Assembléias Legislativas dos Estados. § 2º - Cada Assembléia indicará três Delegados e mais um por quinhentos mil eleitores inscritos, no Estado, não podendo nenhuma representação ter menos de quatro Delegados.”72 Vide art. 136 da Constituição de 1967: “Os Estados organizarão a sua Justiça, observados os arts. 108 a 112 desta Constituição”.73 Para José Afonso da Silva se tratava de uma nova Constituição: “Teórica e tecnicamente, não se tratou de emenda, mas de nova constituição. A emenda só serviu como mecanismo de outorga, uma vez que verdadeiramente se promulgou texto integralmente reformulado, a começar pela denominação que se lhe deu: Constituição da República Federativa do Brasil, enquanto a de 1967 se chamava apenas Constituição do Brasil.” (SILVA, José Afonso da. Ob. cit., p. 87) No mesmo sentido, é o pronunciamento de Pedro Lenza: “Sem dúvida, dado o seu caráter revolucionário, podemos considerar a EC nº 1/69 como manifestação de um novo poder constituinte originário, outorgando uma nova Carta, que ‘constitucionalizava’ a utilização dos Atos Institucionais.” (LENZA, Pedro. Ob. cit., p. 74)

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Militar74, com o fito de constitucionalizar a utilização dos Atos Institucionais.

7.6.2.1. São inovações introduzidas pela Emenda Constitucional nº 1/1969:

o Eleições indiretas: a EC nº 1/1969 estabeleceu eleições indiretas para o cargo de Governador de Estado.75

o Mandato presidencial: houve a ampliação do mandato presidencial para 5 anos.

o Imunidade parlamentar: o novo texto extinguiu, praticamente, a imunidade parlamentar, porquanto a inviolabilidade dos mandatos não estava mais garantida nos casos que parlamentares atentassem contra a segurança nacional, notadamente no cometimento de crimes de injúria, difamação e calúnia.

o Prisão de parlamentares: a Emenda possibilitou a prisão de parlamentares, no caso de flagrante de crime comum ou perturbação da ordem pública, vedando-a apenas durante as sessões legislativas e quando para elas se dirigissem ou delas regressassem.

o Concessão de anistia: a EC nº 1/1969 definiu como competência exclusiva do Presidente da República, a iniciativa das leis que concedessem anistia para crimes políticos (ouvido o Conselho de Segurança Nacional).

o Prerrogativa de foro: a EC nº 1/1969 também definiu como competência exclusiva do STF, o processo e julgamento do Presidente da República, Vice-Presidente, Ministros de Estado, Procurador Geral da República, Deputados Federais e Senadores.

o Justiça Militar: a Emenda ainda previu o julgamento de civis pela Justiça Militar para repressão de crimes contra a segurança nacional ou as instituições militares.

o Penas de morte, prisão perpétua, banimento e confisco: trouxe a previsão das penas de morte, prisão perpétua, banimento e confisco além da hipótese de guerra externa, pois

74 O Brasil, durante o afastamento do Presidente da República Costa e Silva, por motivos de saúde, foi governado pela Junta Militar, formada pelos Ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar (nos termos do Ato Institucional nº 12, de 31.8.1969, que afastou os poderes do Vice-Presidente Pedro Aleixo, um civil). A EC nº 1/1969 foi baixada pela Junta Militar, porquanto o Congresso Nacional se encontrava fechado (o Ato Complementar nº 38, de 13 de dezembro de 1968, decretou o recesso do Congresso Nacional, ficando o Poder Executivo Federal autorizado a legislar sobre todas as matérias, consoante o § 1º do artigo 2º do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968).75 Com a EC nº 15, de 21.11.1980, voltamos a ter no País eleições diretas em âmbito estadual.

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poderiam ser aplicadas também nos casos de guerra “psicológica adversa, ou revolucionária ou subversiva.”

7.6.3. A Constituição de 1967, com sua Emenda nº 1/1969, é classificada, doutrinariamente, como formal, escrita (codificada), outorgada, dogmática, analítica, rígida76 e programática.

7.7. A Constituição de 1988, chamada de Constituição Cidadã por Ulysses Guimarães (Presidente da Assembléia Constituinte), dada a “ampla participação popular em sua elaboração e especialmente porque se volta decididamente para a plena realização da cidadania”77, redemocratizou o País, sob a marcante influência da Constituição portuguesa de 1976.

7.7.1. São características da Constituição de 1988:

o A forma de governo republicana, a forma de Estado federativa e o sistema presidencialista: a Constituição de 1988 manteve, sob regime representativo, a Federação (com a ampliação dos poderes dos Estados, Distrito Federal e Municípios, apesar da forte centralização de competências na União), a República (confirmada pelo plebiscito78 previsto no art. 2º do ADCT) e o Presidencialismo (ratificado pelo plebiscito previsto no art. 2º do ADCT).

o O Distrito Federal: Na Constituição de 1988, o Distrito Federal é reconhecido como entidade federativa híbrida – reúne características de Estado e Município, ao incorporar as competências legislativas e tributárias estaduais e municipais (arts. 32, 147 e 155, CF) – e parcialmente tutelada – as polícias civil, militar e corpo de bombeiros militar79, como também o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública do DF (arts. 21, XIII e XIV, e 22, XVII, CF) são organizados e mantidos diretamente pela União. O Distrito Federal, pois, é a circunscrição territorial na qual está localizada Brasília, a Capital Federal (art. 18, § 1º, CF).

o A inexistência de religião oficial: a Constituição de 1988, a exemplo das demais constituições republicanas, manteve a separação entre o Estado e a Igreja, mas rogou a “proteção de

76 A Constituição de 1967, com a redação da Emenda nº 22/1982, estabeleceu um processo mais difícil para a sua reforma que o previsto para a alteração das demais espécies normativas. Vide art. 48 da Constituição de 1967: “Em qualquer dos casos do artigo anterior, a proposta será discutida e votada em sessão conjunta do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada quando obtiver, em ambas as votações, dois terços dos votos dos membros de cada uma das Casas.” 77 SILVA, José Afonso da. Ob. cit., p. 90.78 O plebiscito que estava previsto inicialmente para 7.9.1993 foi antecipado para 21.4.1993, por força da EC nº 2/1992.79 São subordinadas ao Governador do Distrito Federal e sua utilização é regulada por lei federal, conforme art. 32, § 4º, c/c art. 144, § 6º, CF (Súmula 647 do STF).

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Deus” no seu preâmbulo (o Brasil é um Estado leigo, mas não ateu).

o A declaração de direitos e garantias: o constituinte prescreveu uma relação abrangente dos direitos individuais e coletivos, dos direitos sociais dos trabalhadores, da nacionalidade, dos direitos políticos e dos partidos políticos, destacando:

a consolidação dos princípios democráticos e dos direitos individuais e coletivos, inclusive alguns inéditos (tornou o racismo e a tortura crimes inafiançáveis);

a ampliação dos direitos dos trabalhadores;

a ampliação dos legitimados para a propositura da ação direta de inconstitucionalidade;

o estabelecimento, pela primeira vez, do controle das omissões legislativas (mandado de injunção e ação direta de inconstitucionalidade por omissão);

a previsão de novos remédios constitucionais (mandado de segurança coletivo e habeas data);

o reconhecimento de importantes funções institucionais ao Ministério Público, entre elas: promoção do inquérito civil e da ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos (art. 127, caput, e 129, III); e defesa judicial dos direitos e interesses da população indígena (art. 127, V).

o A separação de poderes: estabeleceu a clássica teoria da separação dos poderes (legislativo, executivo e judiciário), buscando um maior equilíbrio entre as atividades estatais, segundo um mecanismo de controles recíprocos (mecanismo de freios e contrapesos ou checks and balances).

O poder legislativo: o legislativo, no âmbito da União, é exercido pelo Congresso Nacional (art. 44, caput), compondo-se da Câmara dos Deputados (representantes do povo, eleitos em cada Estado, no Distrito Federal e nos Territórios80, pelo sistema proporcional81, para um mandato de 4 anos – art. 45, caput) e do Senado Federal (representantes dos Estados e do Distrito Federal, eleitos segundo o critério majoritário puro, para um mandato de 8 anos, cuja representação será renovada de quatro em

80 O critério puro da proporcionalidade foi atenuado na Constituição de 1988, pois nenhuma das unidades da Federação poderá ter menos de 8 (oito) ou mais de 70 (setenta) Deputados (art. 45, § 1º) e cada território (se for criado) elegerá sempre 4 (quatro) Deputados (art. 45, § 2º).81 Os representantes são definidos segundo a proporção dos votos dos eleitores (votos válidos), de forma que todos os partidos (que atinjam o quociente eleitoral) se façam representar proporcionalmente à votação recebida.

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quatro anos, alternadamente, por um e dois terços – art. 46, caput, §§ 1º e 2º, CF)82.

O poder executivo: O executivo, no âmbito federal, é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado – art. 76 (Executivo Monocrático83), eleito, simultaneamente com o Vice-Presidente registrado na legenda/coligação partidária, pelo sufrágio universal, com voto direto e secreto, mediante sistema eleitoral majoritário de dois turnos84 (princípio da maioria absoluta85)86, para um mandato de 4 anos, admitindo-se a reeleição para um único período subseqüente (art. 14, § 5º, CF, com a redação dada pela EC nº 16/97)87.

O poder judiciário: são órgãos do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal; o Conselho Nacional de Justiça; o Superior Tribunal de Justiça88; os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; os Tribunais e Juízes do Trabalho; os Tribunais e Juízes Eleitorais; os Tribunais e Juízes Militares; os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios.

7.7.2. A Constituição de 1988 é classificada, doutrinariamente, como formal, escrita (codificada), promulgada, dogmática, analítica, rígida89

e programática.

82 Nos Estados, Distrito Federal e Municípios, o Poder Legislativo é unicameral (arts. 27, 29 e 32).83 É exercido por um só indivíduo, que reúne na figura central do Presidente da República as funções de Chefe de Estado (o Presidente da República corporifica a unidade interna do Estado brasileiro, bem como o representa nas suas relações internacionais – com outros Estados e organizações estrangeiras) e Chefe de Governo (o Presidente da República é responsável pela gestão dos negócios internos do Estado brasileiro, seja de natureza política – orientação da política nacional, principalmente pela sua participação no processo legislativo –, seja de caráter administrativo – direção da máquina administrativa federal).84 O pleito é realizado no primeiro domingo de outubro, em primeiro turno, e no último domingo de outubro, em segundo turno, se houver, do ano anterior ao término do mandato presidencial vigente (art. 77, caput).85 O eleito é aquele que obtiver a maioria absoluta dos votos válidos, ou seja, maioria de votos não computados os votos em branco e os votos nulos. 86 O sistema majoritário puro ou simples (o eleito é aquele que obtiver o maior número de votos, independentemente de alcançar a maioria absoluta) é adotado para a eleição dos Prefeitos nos Municípios com menos de 200 mil eleitores (art. 29, II) e dos Senadores da República (art. 46).87 O Presidente da República – assim como os Governadores e Prefeitos – deve renunciar ao mandato para concorrer a outros cargos (art. 14, § 6º). 88 O STJ foi instituído pela Constituição de 1988 com o objetivo de uniformizar a interpretação da legislação federal, sendo órgão de convergência da Justiça comum.89 A Constituição de 1988 estabeleceu um processo mais árduo e dificultoso para a sua reforma (mais solene que o previsto para a alteração das demais espécies normativas: discussão e votação, nas duas casas, em dois turnos, sendo aprovada por 3/5 dos membros), prevendo, ainda, um núcleo duro: a forma federativa do Estado; o voto direto, secreto, universal e periódico; a separação dos poderes; e os direitos e garantias individuais constituem cláusulas pétreas (art. 60, § 4º).

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