ressonância 15

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Nesta edição a AEFML traz até vocês temas da maior importância, outros de menor importância mas com mais graça, ou outros que entrelaçam ambas as qualidades!

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Ficha TécnicaN.º 15, ano 2012, Junho de 2012, tiragem de 600 exemplares, preço 0,75 €, distribuição gratuita.

EditoresJoão David GonçalvesJoão Valente [email protected]

Responsabilidade EditorialJoão Valente JorgeJoão David GonçalvesJoão Soares FerreiraMaria Guilhermina

Composição GráficaJoão David GonçalvesJoão Valente JorgeJoão Soares Ferreira

Capa e ContracapaJoão Valente Jorge

ImpressãoSecção Editorial da Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de [email protected]

PropriedadeAssociação de Estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa, Avenida Professor Egas Moniz,Hospital de Santa Maria - piso 01,1649-035 Lisboat: 217 818 890e: [email protected]: www.aefml.pt

Copyright © 2012Todos os direitos reservados à Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina de LisboaDepósito Legal: 178455/02ISSN: 1645-3816

Apoio PUB

Tema de CapaA informação é a base de suporte para uma decisão acertada e cor-recta. O espírito crítico é algo que se deseja num médico e que a Universidade é o local mais indicado para desenvolver.Partindo destas duas premissas, queremos que sejas um colega cada vez mais informado acerca da pedagogia e educação médica. É nosso dever enquanto alunos trabalhar e muito. Mas não menos é exigir aos nossos professores a excelência que ambicionamos. Assim, é com prazer que te damos a conhecer uma série de artigos sobre o tema, com os quais poderás concordar ou não. A intenção é que eles sejam um estímulo para podermos, juntos, crescer como médicos e, sobretudo, pessoas.

António Sampaio [email protected]

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EditorialColegas, terminado um longo e árduo trabalho,

posso finalmente dirigir-me a todos vós com a certeza que nas próximas páginas vão encontrar um pouco da vida da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Essa vida, gerada por todos nós, que nos encontramos neste glamoroso

e gigantesco biotério, marca, constantemente o nosso percurso (académico, civil ou boémio) e, consequentemente, o nosso futuro - que espero ser de igual forma delineado nesses três moldes.

Foi com isso em mente que construí e desenhei uma das marcas na vida da FMUL: a Ressonância.

Nesta edição trazemos até vocês temas da maior importância, outros de menor importância mas com mais graça e outros que entrelaçam ambas as qualidades! Foi conseguido com a colaboração de grande nomes da nossa academia e de outros fora dela. Deixo um convite a todos os que se queiram imbuir em palavras não tão soltas como minhas: virem a página!

Índice

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“Nas próximas páginas vão encontrar um pouco da vida da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.”

João Valente [email protected]

Editorial..................................................................03Mensagem da Direcção da AEFML...........................04

Lá foraGeneral Assembly. Dinamarca..................................06Livro “Um dia no Hospital dos Pequeninos”...............07

Um primeiro olharPraxe na FML.........................................................08Torneio Olímpico.....................................................09Perspectivas do Caloiro............................................10E Depois do Adeus?.................................................11

Educa-tePensar uma FMUL melhor........................................12Processo educativo para os próximos 20 anos..........14Conselho Pedagógico O que é?.....................................................16 O que podemos mudar?.................................17Nova PNS...............................................................18

Visão, Graça e TradiçãoEmpreendedorismo em Portugal..............................19Memmes FML........................................................20Regresso ao passado: Um ENEM na Beira Alta..........21Tio Patinhas............................................................22

Noite vivaA Noite da Medicina Um marco na vida da FMUL..........................24 Actuar.........................................................26

Entre VistasUm minuto com: Prof. Doutor António Castanheira Dinis.....26Um verão de obras..................................................27

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Mensagem da Direcção da AEFML

Francisco [email protected]

“Mensagem de boas-vindas”, “Mensagem da Direcção da AEFML”, “Artigo de Primeira página”, enfim…este é o tipo de rubrica que, de tão habituados que estamos a ver, não recordamos nem lembramos. Talvez por isso, a minha vontade de cumprir o clichet seja, neste momento, praticamente nula…

Escrevo-vos estas linhas com mais de dois meses de atraso. Sim! Porque a ressonância da AEFML está “pendurada” há mais de dois meses por falta do artigo do “Presidente”. Mas este período de reflexão teve um porquê. Queria usar da melhor forma este espaço para registar ideias e pensamentos, queria usá-lo de forma a dar asas à imaginação e aos projectos visionários, queria usar este espaço da melhor forma possível. E, afinal de contas, de tão grandes que eram as minhas intenções, foram necessários 60 dias para perceber que quando falamos daquilo que amamos não há necessidade de cerimónias em demasia.

Chegado ao 5º ano de curso e à presidência da AEFML, confesso que a nostalgia por vezes me invade o pensamento. O que foi feito do parolo da “província” que tocava bombo durante as praxes? O que foi feito do miúdo que adorava tirar partido das falhas do sistema para “fazer o menos possível”? De facto, esse miúdo mudou, não por ter amadurecido mas, antes, por se ter apaixonado.

Como é bem sabido por todos, o Cupido tem o dom de induzir nos

seus alvos um estado de embriaguez doce e lírico. Talvez tenha sido nesse mesmo contexto, de embriaguez e lirismo, que cresci nesta família de trabalho que é a AEFML. Limpamos casas de banho no final de festas,

carregamos colegas com “umas cervejas a mais”, passamos noites em claro nas Olimpíadas de guarda aos extintores de diferentes hotéis. E tudo isso fazia imenso sentido há uns anos atrás. Era óptimo sermos bem sucedidos e competentes nos projectos a que nos propunhamos e sentir retorno do nosso cansaço. Até que nos apercebemos do “elefante cor de rosa” que havia estado diante de nós durante todo esse tempo: uma Faculdade de Medicina com mais de 100 anos, dezenas e dezenas de docentes, vícios, práticas e decisões questionáveis, um sistema de ensino com muito para melhorar e um poder de persuasão estudantil praticamente nulo. Afinal, havíamos estado mais preocupados com festas, Magustos e Olimpíadas do que com o nosso próprio ensino.

Afinal talvez não fossemos mais do que qualquer uma dessas associações estudantis de reputação questionável.

Então, mergulhámos de cabeça e assumimos esta demanda, por uma

melhor Educação Médica e mais Pedagogia, com o mesmo amor que costumávamos colocar em cada cerveja servida aos colegas…

A FMUL era uma estrutura bem mais complexa do que seria de esperar. A cultura da veneração dos mestres e seus pedestais, associada a ideias e pensamentos de “quintal” baseava-se em poderes inquestionáveis e na ideia do “não questionar para não ser questionado”. Foi nesta realidade que tivemos de nos impor.

“Foi nesta realidade que tivemos de nos impor. Contra muitas expectativas, encontrámos n’O Padrinho um aliado de ideias firmes, mão assertiva mas, acima de tudo, palavra leal.”

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Contra muitas expectativas, encontrámos n’O Padrinho um aliado de ideias firmes, mão assertiva mas, acima de tudo, palavra leal. Desde então não mais a AEFML esteve só. Engolimos os nossos medos de estudantes e começamos a bater às portas para saber “Porquê?”. E se muitas se nos abriram com disponibilidade e agrado, como as de muitos regentes e Secretariados, outras apareceram que se nos fecharam de imediato, como foi o caso do Conselho Pedagógico. Curioso apenas era o facto de haver também, do lado de dentro, estudantes e colegas. Aguardámos pacientemente até que foi chegada a hora de escancararmos portões com chave oficial. Finalmente, a teia era fragmentada pelas pontes construídas em tempo recorde pelos estudantes. Direcção da AEFML, Discentes do Conselho Pedagógico e da Assembleia da FMUL, sintonizados na mesma frequência e motivados para, de uma vez por todas, devolver as rédeas do ensino da FMUL aos seus legítimos donos: os estudantes.

Mas se para garantir um ensino de qualidade foi importante batalhar pelo legítimo poder de reivindicação

e participação dos estudantes nos Órgãos de Governo da FMUL, para ver as suas condições de estudo e aprendizagem salvaguardadas o desafio não foi menos ambicioso.

Lembramo-nos perfeitamente do dia em que, face a uma necessidade óbvia de renovação das casas de banho da sala de alunos, uma ideia diferente e prioritária surgiu da parte dos Vice-Presidentes desta casa: Mais importante de que loiças novas para os WCs não seria a construção de mais um espaço de estudo?” Cada pormenor da nova sala de estudo foi sonhado, imaginem só, na cúpula da Basílica de S. Pedro (Roma).

E puff! No final dessa mesma semana, entrava a AEFML no “monte Olimpo” da FMUL, com uma proposta convicta em mente: “Exmo. Sr. Director, ceda-nos os espaços dos arquivos da FMUL, e nós construiremos a maior sala de estudo desta casa!”

Contra todas as expectativas a proposta foi bem aceite e, à custa de algumas dores de cabeça e do sacrifício das férias de Verão de alguns, a Sala de Estudo Eduardo Coelho nasceu!

Acreditamos que, a AEFML não poderá voltar a afastar-se da Pedagogia ou Educação médica.

A possibilidade de extinção do ano comum, escassez de vagas de internato médico, mudança da actual PNS trarão momentos conturbados às nossas vidas.

Resta-nos apenas sonhar com uma AEFML de amanhã, com RGAs participadas, estudantes motivados e em que, os membros da Direcçao são apenas teus meros “Porta vozes”, ao invês dos elitistas/escravos do costume que se veêm obrigados a decidir por ti.

Pela Pedagogia e Educação Médica nascemos há 100 anos atrás... sonho que por ela haveremos de morrer!

“Mas se para garantir um ensino de qualidade foi importante batalhar pelo legítimo poder de reivindicação e participação dos estudantes nos orgãos de Governo da FMUL, para ver as suas condições de estudo e aprendizagem salvaguardadas o desafio não foi menos ambicioso.”

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Passar 6-12 meses em ERASMUS1? Fazer um intercâmbio científico ou clínico durante um mês num país à tua escolha2? Representar o teu país ou a tua AE em eventos internacionais para estudantes de Medicina3? Não interessa o que escolhes ou preferes: se te identificas com

alguma destas possibilidades, então certamente partilhamos o gosto pela Medicina, por viajar, por partilhar com os outros aquilo que faz de nós portugueses e por partilhares com os teus amigos todas as experiências e conhecimentos adquiridos.

São precisamente estas as razões pelas quais gostava de te convidar a arriscar e a ser proactivo na procura

e concretização destas experiências.

Para aqueles que dão valor aos pormenores que tornam cada viagem única, talvez ainda falte aqui uma pequena referência a esses momentos para vos convencer por completo, por isso, deixem-me contar-vos uma pequena lista de

alguns dos episódios mais caricatos que passei em Copenhaga, no mês de Agosto. O quarto do “hotel” (não, as aspas não são um erro de gráfica) tinha, no máximo, o tamanho de um roupeiro e no seu WC a torneira do lavatório era a mesma que a da banheira (got it?); houve ainda tempo de ser evacuado duas vezes de um hostel por falso alarme de incêndio e de, no aeroporto, ouvir

pela primeira vez o próprio nome antecedido da expressão “Last Call” – o que é sempre bom, em especial sabendo que se está do lado oposto do terminal.

Por tudo isto e muito, muito mais, não deixes de perder uma oportunidade que pode mudar a tua vida! Informa-te, pede ajuda junto de quem te pode ajudar, faz as malas e: check-in!

Espero que este artigo vos tenha sido útil. Qualquer pergunta ou dúvida que vos surja, não hesitem em enviar-me um e-mail!

Do vosso colega do 5º ano,Ricardo Veiga4

1: Informa-te junto do núcleo de cooperação internacional da faculdade, ou então através do e-mail [email protected] ou do link: http://www.fm.ul.pt/#39462: Para mais informações, consulta o site da ANEM em www.anem.pt3: neste caso, tratou-se de uma assembleia geral (GA) da IFMSA. Para mais informações, visita o site www.ifmsa.org e subscreve o [email protected] em http://groups.yahoo.com/group/ifmsa-general/ . Não deixes também de consultar o site da EMSA em http://www.emsa-europe.org/.4: interessado em saber em maior pormenor as actividades em que o Ricardo participou e esclarecer dúvidas quanto a modos de participar? Contacta-o através do e-mail: [email protected]

Generalforsamling

General Assembly. Dinamarca“Estou aqui para partilhar contigo a minha mais recente aventura por terras estrangeiras. Se achares desinteressante podes já mudar de página.”

Ricardo [email protected]

“Informa-te, pede ajuda junto de quem te pode ajudar, faz as malas e: check-in!”

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Razões políticas à parte, decerto que na idealização da construção de 2 hospitais gémeos – um em Lisboa, outro no Porto – há cerca de 50 anos, a cooperação entre ambas as instituições era um dos principais objetivos que motivavam o projeto.

De facto, a Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (AEFMUP) e a Associação de Estudantes da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (AEFML), sediadas respetivamente no Hospital de S. João e Sta. Maria, têm estabelecido pontes para criar novas ideias, fortalecer posições e dinamizar projetos, algo que vem sendo reforçado nos últimos anos.

Neste sentido, a AEFMUP decidiu associar-se a um exemplo de sucesso criado pela AEFML – o livro do Hospital dos Pequeninos – de forma a promover a sua divulgação e potenciar o seu crescimento.Como é sabido, o livro surge na sequência de um projeto nacional e internacional,

o Hospital dos Pequeninos (ou Hospital do Ursinho, nalguns locais), organizado independentemente pelas diferentes Associações ou Núcleos de Estudantes de Medicina, promovendo também a participação de outras AE’s de Faculdades ligadas à área da saúde (Enfermagem, Nutrição, Medicina Dentária e Ciências Farmacêuticas). Tem como propósitos a desmistificação da figura do profissional de saúde – principalmente do médico – junto da população infantil, assim como possibilitar o contacto dos estudantes com a população desta faixa etária (entre os 3 e os 6), no sentido duma Medicina mais humana e personalizada.

O início desta colaboração com a AEFML é assinalado com a venda de exemplares dos livros nas instalações da AEFMUP, promovendo também a sua compra por instituições que a visitem durante o Hospital dos Pequeninos. Paralelamente, pretendemos reforçar a imagem do livro, através da adaptação e decoração do nosso Hospital com as personagens e cenários do livro, em tamanho real.

Também neste sentido, criaremos um concurso de desenhos para as crianças participarem após a atividade, inspirando-se nos cartazes de divulgação que distribuiremos pelas instituições a fim de serem afixados nas salas didáticas.

Queremos que o projeto, através do livro, seja conhecido e apreciado pela população em geral. Para tal, encontramo-nos em contacto com a ARS Norte e a Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos, de forma a distribuirmos cartazes pelas USF’s (dirigidos às zonas de atendimento pediátrico) e promovermos a presença do livro nas salas de espera dos serviços de Pediatria dos hospitais e consultórios privados.

Tal como em Lisboa, a AEFMUP pretende conferir ao projeto do lançamento do livro um cariz solidário. Parece-nos natural e importante envolvermo-nos ativamente na contribuição para a concretização do Hospital Pediátrico do Porto, através da iniciativa “Um lugar pró Joãozinho”. Assim, parte das vendas conseguidas através da implementação destas ideias reverterá para a conta de angariação de fundos para o Hospital Pediátrico. A AEFMUP junta-se assim a uma longa lista de parceiros institucionais de relevo, com o objetivo comum de tornar possível a construção de um centro hospitalar pediátrico de excelência a nível mundial.

Num mundo cada vez mais competitivo e individualista, a AEFMUP e a AEFML respondem com a abertura do seu leque de parcerias, promotoras de cooperações transversais, por um bem comum e solidário. Envolve-te e participa!

Livro “Um dia no Hospital dos Pequeninos”

A Cooperação AEFML - AEFMUP

Bernardo NunesAntigo Vice-Presidente Externo da AEFMUP

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“A Praxe é a mais antiga e controversa tradição universitária. Controversa?! Não sei porquê. É um excelente método de integração dos novos caloiros, que lhes ensina o espírito de amizade e união com as pessoas que vão passar os melhores anos da sua vida. Que lhes transmite valores de igualdade, respeito e entreajuda.

Durante a praxe, os caloiros são sujeitos às duras, mas gratificantes, actividades, que aqueles que não compreendem acham humilhantes e uma perda de tempo. Defendemos com todo o empenho e orgulho as cores da nossa faculdade.”

“É bastante fácil, para qualquer espectador externo, enumerar mil e um atentados à dignidade humana cometidos em Praxe. Quem ignorantemente a observa, afirma de forma categórica que tudo o que se faz é humilhar e ridicularizar caloiros. Quem a vive, entende. Entende que não há melhor sítio ou ocasião para travar amizades, para partilhar momentos memoráveis e criar laços com pessoas que nos acompanharão numa época tão marcante e determinante da nossa vida.

A autoridade e hierarquia fomentada em Praxe têm uma importante função: que todos nós saibamos reconhecer aqueles que têm muito para nos ensinar e aqueles que, tal como nós, têm muito para aprender. Os conceitos de comodidade e capricho são anulados por valores mais elevados como a igualdade, a fraternidade, o respeito, a entreajuda e o esforço por um propósito comum. Defendemos de corpo e alma toda a tradição associada à Praxe nos é querida, nomeadamente no que diz respeito ao Fado, à cidade e ao traje, pelo que lutamos para que se mantenham.”

Praxe na FML Quem é Quem?

“É um excelente método de integração dos novos caloiros, que lhes ensina o espírito de amizade e união com as pessoas que vão passar os melhores anos da sua vida.”

Caros colegas, no decurso dos últimos anos têm se vindo a identificar a vontade de perpetuar a tradição de praxe académica da FML. Com a formação da Comissão de Praxe FML foram desenvolvidas várias actividades organizadas e estruturadas de forma a enaltecer cada vez mais esta tradição na nossa faculdade. Para tal contamos sempre com a colaboração de toda a comunidade praxística – veteranos, doutores e caloiros.

Com este artigo, pretendemos dar a perspectiva de um caloiro e de um doutor sobre a praxe académica – Consegues saber qual é qual?

Lançamos o desafio a todos, venham participar e que criem a vossa própria opinião sobre a praxe académica, porque como doutores e caloiros dizem… só quem a vive é que compreende.

Saudações Académicas,Dura Praxis Sed PraxisComissão de Praxe FML

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Desde os primórdios, dos gregos aos fenícios, dos romanos aos cartagineses, a actividade física é privilegiada. Assim, a prezada comissão de praxe proporcionou aos caloiros um

dia diferente através da realização do torneio olímpico. É de notar o ambiente extraordinário, os gritos de fúria, a euforia e o fair-play que se fez sentir durante todo o evento. Tal como gladiadores, os caloiros entraram na arena providos não de utensílios bélicos mas de um espírito de conquista e união e deixaram-se divertir pelo basquetebol, pelo futebol e pelo voleibol. Entretanto, nas bancadas, um manto negro cobria o orgulho disfarçado dos doutores e

doutoras de medicina.Não existiram vencedores nem vencidos, caloiro é só um. No entanto, todos ganharam com esta experiência memorável.

Torneio OlímpicoCaloiro, olhos na bola!

“Não existiram vencedores nem vencidos, caloiro é só um.” Gabriel Nogueira, Carlos Eduardo Pinto e Tiago Bouça Nova

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Ainda não era meia-noite de domingo quando começavam a sair as tão esperadas colocações. Impaciente com estes meses de espera que estavam quase a terminar, decidi ir ver um filme para me distrair… ainda não tinha passado meia hora desde o inicio do filme quando toca o telemóvel “Vai já ao site da DGES! Já há pessoas no facebook a escrever onde foram colocados!”. Liguei apressadamente o

computador, fui directamente ao meu email e eis que lá estava o resultado das colocações: tinha sido colocada em Medicina na FMUL! É indescritível a felicidade que senti naquele momento... Peguei no telemóvel e comecei então a ligar a todos os meus familiares e amigos a contar a excelente notícia!

Uns dias mais tarde fui então ao Hospital de Santa Maria para fazer a matrícula… Inicialmente foi bastante estranho estar rodeada de pessoas que não conhecia mas que sabia que iriam ser meus colegas ao longo dos próximos 6 anos! Olhei em

redor, tentando imaginar possíveis amizades, simples colegas ou tentando somente aperceber-me de como todos partilhávamos uma coisa muito importante: um sentimento de grande satisfação. Após esperarmos algum tempo, fomos recebidos numa sala, que agora sei ser a “sala de auto”, onde efectivamente nos matriculámos. Passámos por umas bancas onde fomos recebidos por alguns representantes

da Associação de Estudantes, abrimos conta no Banco, reservámos cacifos e recebemos algumas informações sobre a biblioteca da faculdade. Começámos depois a fazer fila junto da porta e no interior do edifício uma vez que, lá fora, uma mancha negra estava à nossa espera... e, de facto, muitos de nós nem sequer sabiamos do que se tratava. Quando finalmente ganhámos coragem para sair, vimos que todo este receio fora desnecessário – íamos ser praxados. Na praxe aprendemos o que é o espírito de manada, que o “caloiro é um” e, acima de tudo, que a praxe é

integração! Nas semanas que se seguiram

a verdade é que andámos todos um bocado perdidos… para além da questão dos módulos “Ah, agora temos teórica de módulo II? Então mas isso é o quê? Bioquímica, Anatomia, Fisiologia...?”, não sabíamos ainda por onde é que havíamos de estudar e, pedindo ajuda a colegas de anos anteriores, o mais provável era ficarmos ainda mais confusos devido à enorme diversidade de livros e sebentas que temos disponíveis para cada cadeira.

A pouco e pouco fomo-nos integrando cada vez mais na faculdade, conhecendo as pessoas, os espaços, participando nas festas organizadas pela AE (desde o Arraial de Medicina, ao Magusto, entre muitas outras), nas iniciativas culturais (como a Noite de Fados e o Sarau Cultural) e ainda nas actividades de voluntariado.

Finalmente, e passado quase um semestre (já só faltam os terríveis exames!), posso afirmar com toda a certeza que fiz uma boa escolha: entrei no curso de Medicina e numa faculdade onde me sinto integrada, apoiada e BASTANTE feliz!

Perspectivas do CaloiroJá conheces a FML?

“Inicialmente foi bastante estranho estar rodeada de pessoas que não conhecia mas que sabia que iriam ser meus colegas ao longo dos próximos 6 anos!”

Ana Martins, Caloira

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E Depois do Adeus?E depois do adeus? Na verdade, ainda falta um bom

bocado para a parte em que se é médico efectivamente. Antes, inicia-se um período em que se tenta evitar pensar que estamos a dedicar a maioria das horas acordado de quatro meses da nossa vidinha a um livro que todas as frases parecem ser uma possível casca de banana que nos fará cair de cabeça se não as decorarmos. Há quem engorde tipo boneco da Michelin, há quem fique com a magreza dum prisioneiro numa gulag. Há quem descubra que o acne afinal não é coisa do passado, há quem leia com demasiada atenção o capítulo sobre cólon irritável. Os muito organizados e disciplinados cumprem o seu plano à risca, os menos organizados e/ou disciplinados fazem muitos planos que riscam. A dada altura, pode sonhar-se com a prova, o Dia D, o dia do Juízo Final, uuuuh, o que é um bocado aflitivo, especialmente naqueles sonhos que contenham perguntas sobre Fernando Pessoa para as quais obviamente não tínhamos estudado e em que chegamos à sala a 10 minutos do fim do exame.

E depois do exame? Não há mortos, nem feridos, mas há quem se sinta como tal. Não corre bem a todos. E aí vem o período em que falar do exame é quase tabu. Uns têm receio de perguntar a nota do colega, outros vergonha de dizer a sua. Há uma certa culpa estúpida quer se tenha sucesso ou insucessso. Outros insistem em saber:

- “Como correu?”- “Err, mais ou menos...”- “Mais ou menos é o quê?”-“Mais ou menos é menos do que desejava”- “E isso é quanto?”-“É menos que o meu desejo de te mandar ir levar no

**.” – poderá ser um possível diálogo, com a última frase transmitida apenas telepaticamente.

Depois há um curto período que não se sabe muito bem o que fazer, já que ir estudar era um gesto quase automático. Aí terás tempo de pensar que tudo acabou, a Faculdade acabou, ir em bando com a turma acabou, faltar às primeiras horas da manhã acabou, ir às festas de estudantes sem se ter a sensação de parecer o velhote Herbert, the pervert, do Family Guy, acabou. Os melhores anos acabaram... Eis que

chega o Ano Comum. Dependendo do estágio em que se esteja poder-se-á estar em 1 de 3 papéis. O de “sombra” nos estágios em que não sabem o que fazer contigo, o de “mouro” nos que sabem muito bem o que te pôr a fazer e o de “é como o óleo de fígado de bacalhau, nem bom, nem mau”. Não tens grande compromisso com ninguém, afinal estás de passagem! Magicamente aparece saldo na tua conta! E já não tens de ir à cantina velha! Não há diários de medicina preventiva, nem powerpoints de farmacologia! YEAH! Renova-se a tua rede de contactos, pois agora podes trabalhar com colegas que vieram de outras faculdades! Há mais futeboladas que nunca! E para quem ainda não tinha saído de casa durantre o curso, há 1 de 2 cenários. Ou finalmente se emancipam tipo Braveheart ou fazem um pé-de-meia fabuloso tipo Tio Patinhas! (bem, talvez não tanto...) Não há maneira de sair a perder! Talvez os melhores anos não tenham afinal acabado!

Dás por ti preocupado com a carreira, a tentar perceber como raio se calculam os valores das horas extraordinárias,

a pensar se te deves sindicalizar, a interrogares-te se haverá emprego mais tarde, a ligar ao que o Bastonário diz, a temer o dia em que tens de preencher o IRS, a ponderar se deves aparecer nas Olimpíadas... E que especialidade escolher? Haverá escolha quando chegar a minha vez? Haverá algo bom que não me chute para um sítio longe? Ou haverá aquela que me permita fugir daqui de perto? É isto ser um “adulto”? Pelos vistos não se sabe muita coisa... E também não descobri se é agora que nos sentimos médicos efectivamente.

Ah, mas querem mesmo saber se a vida é boa? É.

Um interno do ano comum [email protected]

“Dás por ti preocupado com a carreira, a tentar perceber como raio se calculam os valores das horas extraordinárias, a pensar se te deves sindicalizar, a interrogares-te se haverá emprego mais tarde, a ligar ao que o Bastonário diz, a temer o dia em que tens de preencher o IRS, a ponderar se deves aparecer nas Olimpíadas...“

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Pensar uma FMUL melhorEducação Médica

O Ensino da Medicina em Portugal Nota histórica

O ensino da Medicina em Portugal teve início nos finais do século XIII, reinava D.Dinis. Na altura, o recém-fundado Estudo Geral de Lisboa – sito em Alfama – assumia-se como o local onde o conhecimento médico se difundia. O Hospital Real de Todos-os-Santos (Séc. XV) e a Real Escola de Cirurgia (Séc. XIX) precederam o advento da entusiasta geração médica de 1911, que viria a fundar a Faculdade de Medicina de Lisboa. Hoje, a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e todos os que ao nobre nome desta instituição estão ligados orgulham-se de celebrar o seu Centenário – 1911-2011.

O “efeito lagarta”

Segue-se um excerto relativo à Liderança da nossa Faculdade - termo lato para diferentes cargos do presente - nomeadamente: Direcção, Presidência e Regência. Estes existem para combater algo a que metaforicamente chamarei “efeito lagarta” – i.e. quando um

conjunto, como um todo, tenta avançar no terreno, algumas “peças” da rectaguarda travam a intenção

dos elementos da frente, tornando a lagarta um animal lento. A frente da lagarta lidera coerentemente, decide após estudar por onde, quando e como deverá avançar. A rectaguarda co-lidera, nem sempre no mesmo sentido.

No ensino médico, para decidir correctamente, é essencial um Líder. Um Líder mantém-se sempre na frente, informa-se estudando por onde, quando e como deve “avançar no terreno” e, depois, decide. E avança. E bem. No entanto, pouco impede que líderes não o sejam. Assim, a rectaguarda da lagarta - co-líderes - entram em acção. E tal como a lagarta, avançam. Menos bem... É absolutamente necessário combater a cacofonia de opiniões e

decisões incompatíveis em prol de uma Liderança com um objectivo final comum – a excelência no

ensino médico. Líderes dedicados são essenciais à crescente responsabilidade da FMUL.

O Sistema Nacional de Saúde e o Ensino da Medicina

3,5. Este é, aproximadamente, o actual número de médicos por 1.000 habitantes, em Portugal Continental (fonte: OCDE, Jul’09). Sumariamente, estes distribuem-se em – 2,74 (Especialistas não MGF) + 0,63 (Medicina Geral e Familiar) + 0,08 (Saúde Pública).

Duas simples constatações: 1. A meta para 2010 de

0,6 médicos de família por 1.000 habitantes está ultrapassada.

2. Estamos acima da média dos 30 estados-membro da UE –

“Este pequeno texto pretende ser tão-só um momento de opinião de um aluno do actual quinto ano do curso de Medicina da FMUL.”

O AL

UNO David Sousa

[email protected]

“quando um conjunto, como um todo, tenta avançar no terreno, algumas “peças” da rectaguarda travam a inten-ção dos elementos da frente, tornando a lagarta um animal lento.”

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3,1 médicos por 1.000 habitantes (fonte: OCDE, Jul’09).

O relatório datado de 2001 do Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior (CIPES) traduz “uma distribuição regional desequilibrada” e “uma má distribuição por especialidades”.

Note-se que não faltam médicos em Portugal.

Desde 1999/2000, o numerus clausus foi progressivamente aumentando, tendo registado em

2009/2010 o recorde de 1658 vagas, cerca do triplo de há 10 anos atrás. Ao comparar o número de novos médicos prontos a ingressar no S.N.S. e o número de aposentações previstas a partir deste ano, verifica-se sempre um excedente de novos médicos em relação àqueles que abandonam a actividade profissional. Para que um médico possa exercer autonomamente tem que frequentar, obrigatoriamente, um programa de formação específica, pelo que, com este tipo de medidas, corre-se o sério risco de que, tal como a própria Ordem dos Médicos já afirmou, seja ultrapassada a capacidade formativa disponível nos hospitais do país, não apenas em quantidade mas também em qualidade.

O reflexo de tudo isto na FMUL: demasiados alunos para recursos humanos e capacidades logísticas que não acompanham o grande aumento de número de estudantes de Medicina. Mantém-se e agrava-se então o problema do elevado rácio alunos/tutor no ensino teórico, prático das mais diversas áreas – básicas e clínicas.

A Medicina actual, de uma especialização crescente, não é mais

que um equilíbrio entre a ignorância e inaptidão. No passado, época de um relativamente diminuído conhecimento científico, o principal objectivo seria combater a ignorância. Hoje, com um conhecimento fácil e rapidamente acessível, torna-se essencial combater a inaptidão. É obrigatório garantir um ensino clínico de qualidade, com um acompanhamento constante de médicos aptos que, de facto, nos ensinem a nós – estudantes de

Medicina, i.e. cidadãos cultos em Medicina, inaptos – a arte da entrevista clínica, do exame objectivo, do diagnóstico e do tratamento.

Os estudantes têm, no entanto, de estar motivados para isso.

Independência e Motivação

Se é verdade que um ensino que não atinge as expectativas é, ao mesmo tempo, desmotivante para a discência e desprestigiante para a docência, também o é que os alunos têm de assumir um papel importante no seu ensino, auto-motivando-se, pensando, agindo – assumindo um papel activo. A passividade actual é, em parte, criada pelo actual paradigma da educação – desde uma escolaridade básica e secundária que procura standartizar os jovens por idade e conhecimento a uma Faculdade que, à semelhança destes, funciona como um estímulo externo para um estudo de raciocínio linear, convergente. Os estudantes estão anestesiados, dependem de um ensino que gera estímulos externos para estes usarem. Não, não é assim que evoluimos. Assim

normalizamos uma sociedade, estagnamos uma geração médica que será cientificamente enorme, mas medicamente incapaz em todas as restantes faculdades de um bom médico. O ensino médico deverá conjugar um ensino que assuma parcialmente o comando e, ao mesmo tempo, estudantes activos, com os seus sentidos alerta, capazes de pensar por si, de se tornarem cidadãos medicamente cultos, aptos – verdadeiros médicos.

A Medicina é a ciência e a arte de curar.

Avaliação A avaliação do ensino-

aprendizagem é, hoje, o que permite seriar os alunos e as Faculdades. Um exemplo: deveremos avaliar, tal como acontece no presente nas cadeiras clínicas, uma história clínica – o texto? Ou deveríamos, mais que o referido, ser observados na anamnese, exame objectivo discutindo, a posteriori, o diagnóstico e tratamento com o tutor médico? O actual paradigma da educação médica e o excesso de alunos são uma limitação a este ideal segunda hipótese.

Gostaria de finalizar este artigo de opinião com outro conceito inevitavelmente ligado a uma correcta avaliação – o rigor. Na nossa futura profissão, para bem dos doentes e para o nosso próprio bem, não poderemos prescindir de rigor em muitas das nossas tarefas. A avaliação do nosso conhecimento durante o curso deverá exigi-lo, com critérios celeremente definidos e com a exigência que a Medicina contemporânea impõe.

“ars longa, vita brevis”A arte é longa, a vida é breve.

“Os estudantes estão anestesiados, de-pendem de um ensino que gera estímulos externos para estes usarem. “

Hipócrates

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Um curso de Medicina não é mais que um conjunto de experiências e estímulos programado para induzir nos alunos uma transformação cognitiva e comportamental.

Para que esta transformação seja máxima três variáveis devem ser optimizadas: as “qualidades” dos alunos, as competências dos docentes (a profissional no sentido estrito da competência médica, e a sua competência educacional), e a natureza do processo transformador (o “curso” – sua estrutura e métodos educacionais).

O curso de medicina veio a sofrer nos últimos anos uma reforma profunda. Os primeiros três anos, ditos “básicos” deram um passo decisivo no sentido da integração disciplinar e de abertura para uma visão clínica, operacional, dos conhecimentos aí adquiridos, bem como para o início do contacto com seres humanos doentes e as estruturas assistenciais.

A área clínica sofreu já algumas modificação importantes: o

agrupamento de áreas conexas de forma a harmonizar o seu ensino, a extensão a outras

estruturas de saúde, e sobretudo, o estabelecimento do estágio clínico do 6º ano. A criação de um espaço de vivência clínica “real” com integração nas estruturas assistenciais constitui uma mudança major. É verdade que algumas alterações poderiam provavelmente aumentar a sua eficiência, em particular o afastamento temporal do exame de acesso às especialidades e, porque não dizê-lo, o estabelecimento de métodos de real

avaliação da competência clínica. Afigura-se-me pleno de sentido que a uma experiência clínica da

dimensão do estágio clínico corresponda uma avaliação proporcionada da competênciaclínica.

Que alunos, que docentes e que processo educativo para os próximos 20 anos?

O PROFESSORPROF. DOUTOR J. DUCLA SOARES

Prof. Doutor José Luís Ducla Soares

“A formação educacional específica dos docentes da FML tem de ser encarada, tal como para a ciência médica, objecto de formação contínua”

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A formação educacional específica dos docentes da FML tem de ser encarada, tal como para a ciência médica, objecto de formação contínua, ou seja, um projecto a acompanhar os docentes para toda a vida.

É verdade que o elemento primordial da competência educacional reside no interesse genuíno em educar os alunos concretos, não apenas no desejo abstracto de ensinar. E isso, associado ao saber empírico obtido por mimetização ou experimentação pessoal tem permitido que tantos docentes se destaquem como educadores que persistem na memória e admiração de tantos alunos e médicos. Mas muitos desafios educacionais que se avizinham, como a cientifização dos modelos de avaliação, a inclusão de modelos de “problem based learning” mais ou menos generalizada, implicam a transição para uma formação educacional generalizada dos docentes. Na nossa faculdade, um mestrado em Educação Médica, nos anos 90, foi uma acção marcante nesse sentido; a actual parceria com a Faculdade de Harvard poderá, esperemos, ser o estímulo final para o desencadear desta acção formativa contínua.

E quanto aos alunos?

Alguns aspectos merecem particular atenção: 1. que características psicomotoras; 2. que qualidades humanas; 3. que “cultura”; 4. que “atitudes” enquanto alunos;As observações e interrogações relativas aos

três primeiros aspectos apontados têm a ver com as considerações de que:

a) o ensino secundário seria baseado na memorização, com quase nulo componente de procura activa de informação, gerando alunos predominantemente passivos e pouco aptos ao desafio colocado pelo ensino universitário, caracterizado por um posicionamento activo e crítico perante o conhecimento;

b) as avaliações seleccionadoras dos alunos para a faculdade reflectiriam os vícios educacionais apontados sendo, consequentemente, inapropriadas, e justificando a introdução de formas de selecção activas

pela própria faculdade; c) a prática médica (a que se dirige, em princípio,

a vasta maioria dos alunos) exige personalidades solidárias, altruístas, com capacidade de cooperação;

d) uma cultura humanista, cultivando áreas de conhecimento humano, artístico, envolvendo experiências de dádiva social é uma mais valia para quem pretende ter com profissão cooperar com os doentes na superação de dor e sofrimento;

e) os alunos de medicina devem estar particular-mente predispostos para a busca activa de informação, a criação de engramas operacionais, isto é, estar à par-tida aptos para um ensino que deve (tem de) progres-

sivamente acen-tuar a formação pessoal em det-rimento do mero consumo de ma-terial educacional disponibilizado. Se a introdução de

critérios culturais de selecção parece questionável, já a modificação (íamos dizer metamorfose) relativa à auto-responsabilização individual parece ser imperativa visto corresponder também um objectivo educacional em si mesmo. A previsível expansão do ensino baseado em problemas irá tornar esta característica fundamental para eficiência do sistema.

São estes, em traços largos,alguns dos vectores que determinarão a evolução daFaculdade (alunos, docentese processo educativo) nospróximos 20 anos. Quantoaos mais importantes, a determinação, boa vontade e sentido prático dependem estritamentede nós próprios.

“É verdade que o elemento primordial da competência educacional reside no interesse genuíno em educar os alunos concretos, não apenas no desejo abstracto de ensinar.“

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O Conselho Pedagógico (CP) é um dos órgãos de governo da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), cuja acção e trabalho são escassamente conhecidos pela maioria dos alunos.

Este grupo de trabalho exerce a sua actividade de modo voluntário e é constituído por igual número de Professores e alunos, eleitos pelos pares. Reúnem-se regularmente, a priori mensalmente, para discutir e optimizar assuntos relativos à formação e avaliação dos alunos do 1º ao 5º ano do Curso de Mestrado Integrado em Medicina.

No entanto, quem tem algum conhecimento e interesse

nesta vertente da vida académica, seguramente já discutiu e criticou o não cumprimento do Regulamento Pedagógico (RP) por quase todos os Professores, sendo estes pertencentes ou não a este mesmo órgão.

Infelizmente, apesar de tentativas de mudança, o cumprimento deste “conjunto de normas e princípios orientadores do processo pedagógico” continua a parecer utópico. A falta de autoridade inerente ao CP para garantir o seu cumprimento e a flexibilidade atribuída às normas propostas neste documento, permitem que cada qual estabeleça as suas próprias formas de ensino e avaliação.

No meu ponto de vista, o trabalho do CP pode, grosseiramente, ser dividido em trabalho fácil e trabalho

difícil. No primeiro caso, englobam-se as aprovações dos horários lectivos das Unidades Curriculares, dos calendários escolares, das revisões de prova, o que se resume, basicamente, a burocracias necessárias e que se repetem anualmente.

No entanto, o trabalho difícil, o mais significativo, marcaria a diferença por não fazer parte da rotina necessária ao funcionamento básico da faculdade. Entre os múltiplos pontos que poderiam ser desenvolvidos, destaco a reestruturação dos anos clínicos – tema inúmeras vezes abordado por actuais e antigos alunos da FMUL, mas nunca concretizado.

Todas as mudanças são difíceis, exigem esforço, dedicação e dinamismo; haverá sempre quem queira conservar um sistema que se repete, comodamente, há vários anos, apesar das numerosas críticas que suscita tanto entre alunos como entre alguns Professores.

O CP deveria ser o órgão indicado para que os problemas detectados fossem efectivamente resolvidos e para assegurar o cumprimento rigoroso do RP, garantindo a qualidade, homogeneidade e justiça do ensino e das avaliações nesta instituição que todos constituímos.

A implementação da mudança é sempre a opção difícil, mas válida, que pode, a qualquer altura, ser iniciada.

Conselho PedagógicoO que é?

Mariana [email protected]

“Todas as mudanças são difíceis, exigem esforço, dedicação e dinamismo; haverá sempre quem queira conservar um sistema que se repete, comodamente, há vários anos, apesar das numerosas críticas que suscita tanto entre alunos como entre alguns Professores.”

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Enquanto aluna, poucas foram as situações em que tive oportunidade de compreender quais as funções, competências e actividades inerentes a este órgão, sendo que quase todas elas aconteceram durante a minha passagem pela Comissão de Curso 2008-2014. Consigo, ainda, aperceber-me que muitos dos meus colegas também não têm a noção concreta desses aspectos, nem sabem que as decisões tomadas, mensalmente, nas reuniões do CP, têm influência directa na forma como decorre cada semestre, ou cada disciplina, do seu curso.

Foi exactamente por sentir que a missão de melhorar o ensino a cada dia é uma missão de todos e de cada um, que aceitei a integração numa equipa de trabalho, a meu ver, competente, dedicada e trabalhadora.

Aquando desta minha adesão lista candidata, pude conversar com colegas que já tinham pertencido ao Conselho Pedagógico e aperceber-me de uma nova perspectiva dos problemas pedagógicos da nossa faculdade. Enquanto anteriormente, eu poderia pensar que haviam ainda muitos assuntos a regulamentar na FML, ao falar com estes colegas, apercebi-me que muitos deles estão regulamentados mas não estão a ser

cumpridos. Para além disso, não está previsto nenhum tipo de penalização para as entidades não cumpridoras, nem nenhum tipo de enaltecimento para as entidades responsáveis e cumpridoras. Essa é uma realidade, a meu ver, modificável a pequenos passos, na qual tentarei trabalhar como actual membro do Conselho Pedagógico.

Desafio o aluno que ler esta revista a pensar no que pode, também, fazer para melhorar as novas gerações de médicos. Todos somos parte integrante do mesmo

conjunto e, penso eu, devemos lutar por um ensino exigente bidireccionalmente. Afinal, todos ansiamos ser profissionais competentes e pessoas realizadas.

Conselho PedagógicoO que podemos mudar?

“Desafio o aluno que ler esta revista a pensar no que pode, também, fazer para melhorar as novas gerações de médicos. Todos somos parte integrante do mesmo conjunto e, penso eu, devemos lutar por um ensino exigente bidireccionalmente. Afinal, todos ansiamos ser profissionais competentes e pessoas realizadas.”

Joana Simõ[email protected]

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No passado dia 28 de Setembro decorreu mais uma experimentação da prova nacional de seriação que virá ou poderá vir a substituir o mítico “exame Harrison”. Ao contrário do que sucedeu em experiências anteriores, os estudantes da FMUL participaram “em peso” nesta iniciativa e agora há que fazer um balanço da mesma.

Há algo de unânime no que toca ao actual exame que nos permite ter acesso à especialidade: não é bom, está todos os anos recheado de erros, exige pouco (ou nenhum) raciocínio clínico e é acima de tudo um exercício de memória em que temos que arranjar mil e uma estratégias para memorizar os “pormenores de pé de página” dum livro tão denso que até compramos em tamanho A3! É consensual que não se adequa ao fim a que se destina.

E o novo exame será melhor? Será um método mais justo de seriar os mais de 1000 recém-licenciados que se candidatam à entrada na especialidade todos os anos?

No que toca à resposta à primeira questão, penso que não será difícil achar melhor um exame que assenta sobretudo no raciocínio clínico, engloba áreas mais diversificadas da medicina, está bem estruturado, é feito por uma equipa de verdadeiros peritos na elaboração de perguntas na área médica e é aplicado com um rigor a que estamos pouco habituados em Portugal (horários são para cumprir, há instruções para todos os passos, não há grandes possibilidades para “copianços” ou “consulta de auxiliares de memória”). Pessoalmente, gostei

muito de fazer o exame, de estar perante casos clínicos que poderiam perfeitamente ser de doentes que eu teria que saber diagnosticar e/ou tratar.

Claro que nem tudo é perfeito, não há bela sem senão! Havia erros de tradução (alguns verdadeiramente grosseiros), os casos clínicos eram na sua maioria muito extensos, era notória uma desproporção entre o número de questões dos vários temas e, por vezes, facilmente se percebia que a chave para a resposta passava por um raciocínio estruturado “à americana”, isto é, muito guiado por protocolos que por cá são habitualmente escassos (para não dizer inexistentes, ou pior, muito variáveis!), já para não falar nalguns fármacos que se usam lá e não cá. Por outro lado, o facto de ser um exame baseado quase exclusivamente no raciocínio clínico

aumenta o grau de subjectividade das respostas e como não temos acesso à chave, nunca podemos contestar o que quer que seja. A extensão do exame é ainda um outro ponto negativo, é muito cansativo e a gestão do tempo é complicada. A inexistência de bibliografia recomendada que obviamente nos traz uma sensação de insegurança, na prática não me parece muito problemática, uma vez que o que está no exame é aquilo que eu considero ser “medicina pura”, logo, é igual em todos os livros médicos.

De resto, alguns estudantes portugueses candidatam-se para entrar numa especialidade nos EUA, onde têm que fazer exames semelhantes a este e vários têm bons resultados (ou seja, é possível!). Os restantes defeitos do exame também são contornáveis, principalmente se for criada uma comissão em Portugal para garantir que não há erros de tradução e que as perguntas estão adaptadas à realidade portuguesa, bem como uma definição a priori da proporção em que vão estar representadas as diferentes áreas médicas. E claro, a disponibilização de uma matriz (o que infelizmente não aconteceu nesta experiência) é fundamental!

Por tudo isto, penso que este exame tem, de facto, potencial para ser melhor do que o que temos actualmente, embora não o possa afirmar com toda a certeza, naturalmente.

No entanto, independentemente de considerarmos este modelo melhor ou pior do que o actual, não nos podemos esquecer de pensar numa questão importante: será que este novo exame é adequado para nos seriar? Esta questão, a meu ver, ainda não tem resposta, mas espero que o futuro nos venha a esclarecer…

Ana Gonçalves [email protected]

Nova PNS O Rescaldo

“...não será difícil achar melhor um exame que assenta sobretudo no raciocínio clínico...”

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AEFML fomenta o empreendedorismo em Portugal.

A AEFML é, sem dúvida, mesmo para quem não estuda medicina, um marco no associativismo estudantil português. Apesar de, logo após a conclusão do meu ensino secundário em Portugal ter iniciado a minha licenciatura em Inglaterra e posteriormente o mestrado nos EUA, acontecimentos tais como uma noite no Coliseu ou

as Olimpíadas da Medicina (em que afinal não se fazem competições de estudo) despertaram a minha atenção desde cedo. Inicialmente através do feedback da minha namorada, que estuda medicina no ICBAS e depois, inevitavelmente, pelo entusiasmo com que um Portuense foragido que conheci, o Kiko Goiana da Silva, sempre falou da AEFML.Quem diria que o futuro faria dos estudantes da Faculdade de Medicina de Lisboa os principais parceiros de um projecto profissional que viria a acontecer?No final do Verão de 2011, eu, Miguel Amaro, e os meus actuais sócios, Ben Grech (Inglês) e

Mariano Kostelec (Argentina) que conheci na minha jornada em Londres, decidimos mudar-nos para Portugal. Não por neste país termos encontrado certezas mas antes porque, enquanto empreendedores que tentamos sempre ser, encontramos na famosa crise um bom pretexto para tentar pensar diferente.

Chegámos a Portugal sem nada, para além do apartamento dos meus pais, no Porto, que constituía garantia de um tecto (a curto prazo).Foi altura de começarmos a procurar um lugar para ficar. Confrontados com preços exagerados praticados por imobiliárias mais vocacionadas para a venda de imóveis do que propriamente para o serviço de arrendamento, não nos conformámos. Fomos ao ponto nevrálgico da procura e oferta de imóveis para arrendamento – as universidades. Qual não foi o nosso espanto quando fomos informados de que, a melhor forma de encontrar anúncios e boas casas para alugar era nos postes e troncos das

arvores das Faculdades…Depois de instalados, e sem nos termos apercebido que uma grande oportunidade de pensar diferente estava precisamente debaixo das nossas barbas aconteceu um desabafo que nos fez reflectir. O Kiko (presidente da AEFML) lamentava, numa das suas conversas telefónicas comigo, as horas longas dispendidas, diariamente, pelos membros do Departamento de Informação e Imagem da AEFML na actualização do separador de classificados do seu site, durante a época do início do ano. Informatizar mais de 50 anúncios por dia não era tarefa fácil!

A ideia surgiu! Porque não criar uma empresa que retirasse essa carga enorme de trabalho às associações de estudantes, centralizando toda a informação relativa ao arrendamento universitário numa plataforma virtual?No Kiko, João Valente e Juju encontrámos todo o apoio necessário para construir um projecto exactamente à medida das necessidades dos Estudantes da FMUL. A AEFML foi o nosso primeiro parceiro e graças a esta instituição conseguimos consolidar o nosso projecto e fazê-lo crescer.

“Chegámos a Portugal sem nada, para além do apartamento dos meus pais, no Porto, que constituía garantia de um tecto (a curto prazo).”

“UniPlaces é o portal oficial do alojamento para estudantes universitários.

Encontra neste portal a maior selecção de quartos, apartamentos e moradias perto da nossa universidade.”

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Muitas reuniões, telefonemas e e-mails depois, a UniPlaces nasceu baseada em dois pilares essenciais: genes novos e empreendedores dos seus promotores, e a experiência e conhecimento de uma parceiro que é centenário no Associativismo.O crescimento tem sido exponencial e surpreendente. Em menos de um mês a UniPlaces estabeleceu parcerias com principais AEs da UL e UP. As primeiras parcerias no Reino Unido estão já em período de finalização. Aquilo que começou por ser uma ideia bem AEFMéLica

atinge agora uma projecção internacional.A UniPlaces começou como um projecto “de garagem” mas, após a sua recente vitória de Start-up Weekend Lisboa (concurso que premeio os projectos mais inovadoros e promissores), a sua plataforma de alojamento de estudantes e docentes é já um sucesso reconhecido pelos potenciais investidores. O site já recebeu mais de 3.000 anúncios de imóveis e o tráfego continua a aumentar.

Agora, nesta altura em que a internacionalização já não é uma barreira, mas antes um caminho certo, podemos apenas garantir a todos os Estudantes da FMUL que o primeiro logo da nossa plataforma será sempre o da AEFML!

Visitem UniPlaces.com Miguel Amaro

Co-founder, UniPlaces.com

Memmes FMLUm momento de destaque

Le F

ML

Prof

.

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Regressar ao passadoUm ENEM na Beira Alta.Andava um dirigente associativo às volta com uma revista mediática. Remexendo arquivos e antigos baús, cheios de pó e histórias por contar. Numa destas aventuras, intoxicado pelo pó que se havia elevado, descobrimos o que se segue:

Consegues adivinhar qual a edição deste mítico ENEM?Primeira pista: contou com a participação do então Bas-tonário da Ordem dos Médicos: Prof. Doutor Carlos Ribeiro.

Segunda Pista: a segunda noite deste evento decorreu na Discoteca: Day After que ainda hoje se encontra em fun-cionamento!

Solução: Este foi a sexta edição do ENEM! Consgues imaginar o que foi o VI ENEM?

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Tio PatinhasO Controlo do Tesouro

Escrevo estas palavras já no final de um mandato como Tesoureiro, desta que é uma das maiores Associações de Estudantes do País… Foi sem dúvida um ano cheio de emoções, um verdadeiro desafio! Aproveito aqui para contar um pouco como tudo aconteceu…

Foi-me lançado o desafio de participar na gestão do património financeiro da AEFML, património este que é bem maior do que qualquer um que alguma vez na vida tenha sequer imaginado.

Ser Tesoureiro não é mais do que assumir um papel de “Tio Patinhas”, fazendo todos os dias um esforço por garantir a execução das nossas actividades, garantindo a sua qualidade, e inovação, mas em simultâneo conseguir poupar!

Será que isto é possível?! No final destes meses de contacto

com este dia-a-dia, posso afirmar, com um sorriso na cara, que afinal de contas é possível. O esforço e o empenho diário de toda uma equipa, no respeito mútuo e cooperação constante, tornou possível cumprir esta missão de levar o nome da AEFML mais longe, garantido a manutenção, e mais do que isso, o reforço do seu património financeiro.

Muitos foram os momentos em que me deparei com alguns dilemas interiores, afinal de contas acrescentar aos valores habituais dois ou três zeros assusta qualquer um… Gerir e investir o dinheiro de 2200 colegas, é muitas vezes uma valente dor de cabeça! Saber

quando é altura certa para realizar determinado gasto, mesmo que as certezas sejam poucas, como é o caso dos investimentos realizados na Secção Editorial, fazem deste desafio uma verdadeira aventura.

Guardo na memória diversos momentos em que o meu papel de Tesoureiro foi vivido de forma extrema, tornando-os episódios únicos e marcados de emoções, sorrisos, ficando os mesmos gravados na nossa memória. Recordo-me por exemplo, de uma hilariante discussão, bastante acesa, devido a um gasto de 1,50 € por parte de um dos membros da direcção. É nestes pormenores, quando o nosso papel é encarado de forma “louca”, que deixo um dos principais ensinamentos que retirei deste mandato: a diferença entre investir um misero cêntimo e 100.000 euros é pouca… Pois é nos valores e nos princípios pelos quais nos regemos que se encontram as verdadeiras diferenças, e desde que ambos sejam aplicados com a mesma convicção e com um mesmo fim, ambos são legítimos de ser

João FerreiraTesoureiro DAEFML

“Ser Tesoureiro não é mais do que assumir um papel de “Tio Patinhas”, fazendo todos os dias um esforço por garantir a execução das nossas actividades, garantindo a sua qualidade, e inovação, mas em simultâneo conseguir poupar!”

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aplicados.Foi também este ano que

compreendi uma célebre frase muitas vezes dita por grandes e c o n o m i s t a s , “dinheiro traz mais dinheiro”. Esta para mim sempre foi uma afirmação um pouco controversa, dado que gastar é sempre gastar. No entanto, é na visão do futuro, e daquilo que este nos pode trazer que se encontra o segredo. É preciso uma enorme coragem para tomar determinadas decisões, e felizmente tive a sorte de sentir no Departamento de Gestão esta ousadia e capacidade de alcançar novos horizontes!

Foi neste misto de “Tio Patinhas”, afogado entre facturas, e com um enorme peso das decisões a tomar, que igualmente descobri o prazer de trabalhar em colaboração com toda uma equipa de 24 pessoas…

Por fim, quero apenas deixar umas últimas palavras, pois afinal de contas a AEFML representa 2200 alunos, sendo responsável por 10 funcionários, gerindo diariamente um património monetário gigantesco, mas no final de contas somos apenas colegas… Pelo que é importante lembrar a cada um a sua responsabilidade nesta tarefa, quer

seja nas diversas actividades diárias da AEFML, quer seja na gestão do nosso património!

Para me despedir deixo apenas um convite a todos: sejam activos e interessem-se pelo que é vosso por direito, pois afinal de contas todos nós somos os verdadeiros interessados…

“...deixo apenas um convite a todos: sejam activos e interessem-se pelo que é vosso por direito, pois afinal de contas todos nós somos os verdadeiros interessados…”

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O re-encontro com o passado é sempre motivo de saudade e inspiração.As récitas dos finalistas de Medicina foram uma tradição até ao meio da década de 70 e nós participámos activamente na nossa récita, cujo título era, também, medida da nossa irreverência: “Virgilix e os

Abomináveis Patifes”. A sátira era então o meio mais sofisticado e seguro de fazer crítica ao ensino na Faculdade, às bizarrias de alguns professores e suas tropelias (daí o título de abomináveis patifes, inspirado no filme de guerra que se estreara nessa época) e de fazer passar a mensagem de inconformismo perante a situação política que então prevalecia.Esse exercício esporádico de Liberdade era pressurosamente vigiado pela polícia política através do exame prévio pela Censura e

eram frequentes as imposições de emendas ao texto, que com a conivência de todos e algum talento e improvisação, eram puramente ignoradas.Assim se viveram anos que recordamos com saudade e emoção. Havia a tradição da Academia assistir ao ensaio geral, a récita era por tradição no Teatro Monumental gentilmente cedido pelo empresário Vasco Morgado e com a colaboração de aderecistas e outros profissionais que nos ensinavam as posições no palco, as deixas, os passos de

A Noite da MedicinaUm marco na vida da FML

PROF. DOUTOR J. FERNANDES E FERNANDES

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dança – o can-can era um desafio! - enfim múltiplos pormenores que eram indispensáveis ao sucesso. O ensaio geral era uma festa – talvez a verdadeira festa partilhada por todos os estudantes – pois a récita tinha sempre a presença dos Professores, que não obstante se saberem alvos da crítica não faltavam e a presença das Famílias e amigos dos finalistas.

O Tempo mudou e os hábitos tinham que ser necessariamente diferentes.A Noite da Medicina não tinha que ser idêntica à récita do nosso tempo e vocês fizeram um programa excelente e proporcionaram-nos momentos magníficos, quer pelo humor, quer pela qualidade das performances dos artistas.Apreciámos o envolvimento de todos os anos, com o seu sketch, expressão clara de espírito de corpo e de solidariedade entre todos os estudantes da pré-graduação da Faculdade. As críticas foram... benignas e perpassou um sentimento de orgulho e felicidade pela vossa passagem por esta Casa, que estou certo, teve influência marcante sobre todos.Tive pena que poucos professores estivessem presentes e que a fila que tão amavelmente reservaram estivesse

tão vazia! Espero que isso mude no futuro.A minha mulher e eu também tivémos um papel muito activo na nossa récita, ela bem mais do que eu, e foi a solista dum hino que então cantámos enganando a Censura e cujo título foi “We shall overcome” baseado num conhecida canção imortalizada por Paul Robeson.E vencemos! A Liberdade foi reconquistada em 74

e revendo na memória todos os colegas que nos acompanharam do 1º ao 6º ano do curso, alguns infelizmente já desaparecidos, de facto... “we did it, we did overcome”!Que esse possa ser também, daqui a muitos anos, o vosso sentimento e a vossa memória desta Escola Médica, e estes são os nossos melhores votos de felicidades pessoais e profissionais para todos vós, que nos proporcionaram um magnífico e divertido espectáculo.

Bem hajam e boa sorte para todos.

“Tive pena que poucos professores estivessem presentes e que a fila que tão amavelmente reservaram estivesse tão vazia! Espero que isso mude no futuro.”

Prof. Doutor José Fernandes e Fernandes

Director FMUL

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Actuar para a Noite da Medicina Participar na fantástica Noite da Medicina como actor é

estupendo. Entendo esse convite como um acto de estima que muito me deixa reconhecido e só tem paralelo com a afeição que tenho para com os meus prezados alunos.

Ter a honra de estar presente no dia mítico é arrepiante. Quero lá saber das rugas que ganho a rir, da rouquidão, das mãos doridas no dia seguinte devido às palmas.

O mais importante é o convívio convosco, sentir-me até parte de um todo e, por vezes, emocionar-me (mas de forma contidapara não entregar os pontos assim sem mais nem menos).

Pediram-me que escrevesseA Noite da Medicina

Fui-me ao cante alentejanoE saiu assim, com rima…

Ah, Noite da Medicina,E só há uma por ano

Faço figuras grotescasDivirto-me p’ra catano!

Ah, ganda festa tão loucaDe brincadeira e de crítica!Entre musicais e sketches

É sempre uma noite mítica!

Miguel Andrade Maria (Mané) Nunes

0. Breve Biografia

a. Quando nasceu: 26 de Setembro de 1944, em Lisboa

b. Pontos altos do percurso académico: O Doutoramento e a Regência da Oftalmologia na FMUL

1. Eu, Castanheira Dinis

a. O filme “Cinema Paraíso” de Giuseppe Tornatore b. O restaurante “Le Petit Lutetia”, Paris

c. O livro “A Conquista da Felicidade” de Bertrand Russel

d. Tipo de música Piano, Mozart, John Lennon, Elton John

e. O hotel “Le Château Frontenac”, Québec, Canadá

f. Destino do mundo “Lizard Island”, Austrália g. O Pintor Paul Klee

2. O que mudaria no seu per-curso se hoje fosse estudante de Medicina?

Praticamente nada, porque me sinto confortável com as opções tomadas.

3. Bom aluno é aquele que...… sabe aprender com prazer e com espírito de descoberta, interrogando-se sobre a veracidade das “coisas”.pírito de descoberta, interrogando-se sobre a veracidade das “coisas”.

“Um minuto com Prof. Doutor António Castanheira Dinis”

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1. Acha que estas novas obras foram um bom investimento?

2. Durante o Verão, como foi trabalhar aqui?

3. O que acha da nova Sala de Estudo?

4. O corredor principal tem tido mais movimento desde a abertura da sala? Sente isso como uma mais valia?

5. O que acha do novo espaço chill-out da Sala de Alunos ?

6. Sente que os alunos ganharam mais o hábito de vir à sala de alunos?

7. O que faria diferente?

8. Valeu a pena?

Um verão de obrasAs entrevistas

1. Então não? Porque não? Muito bom investimento! Es-pectáculo! Tudo o que seja bom para os estudantes, é o que eu mais quero!

2. Estava fechado. Foi um caos! Pó por todo o lado… Pode crer! Trouxe lençóis para tapar isso tudo, mas passei um mau bocado… Mas com obras é mesmo assim…

3. Um espectáculo!4. Os alunos ganharam o hábito de passar mais vezes

por aqui. A sala de estudo está sempre cheia! O corredor ganhou vida! É uma mais valia, sim.

5. Está um espectáculo, também!6. Quanto a isso, não posso dizer falar muito, porque eu

só vou lá muito de vez em quando.7. Fazia igual ao que fizeram! Está bem feito e pensado.8. Valeu a pena ter engolido o pó durante as férias e ter

feito esse sacrifício porque o objectivo principal é que os alunos tenham sucesso. Se a Associação não criar espaços para os alunos, quem o fará? É para os alunos! Nunca se pode esquecer isso.

1. Foram, sem dúvida, um excelente investimento!2. É sempre bom trabalhar aqui! Não me faz diferença!

Com um bocadinho de pó a mais… Um bocadinho de pó a menos…

3. Está o máximo! Ficou linda!4. Penso que sim. Com a abertura da sala, as pessoas

vêm para aqui estudar e, como tal, tem havido mais movi-mento.

5. Para mim, a sala de alunos ficou a ganhar muito com estas obras. Ganhou espaço, claridade, saiu aquela cortina preta horrorosa e o palco redondo ficou lindo! Agora quando vocês lá estão em cima nos puffs parecem focas nas praias. É como se estivéssemos a ver aqueles programas da BBC vida selvagem.

6. Não. Penso que os alunos agora têm melhores con-dições para poder estar e conversar, mas o hábito manteve-se.

7. Não fazia nada! Está muito bem. Só não gosto é da porta da casa de banho para dentro da sede.

8. Valeu muito a pena!

António Samju

Ana Isabel

Preços para sóciosIva não incluidos nos preços apresentados