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1 Escriba A VOZ DO 78934617 - ID 55*438357*8 Especial CHUVAS NA REGIÃO SERRANA Janeiro 2011 Jornalista Responsável: Jaricé Braga Escriba Especial Chuvas na Região Serrana -Janeiro 2011 - Jornalista Responsável: Jaricé Braga e Francisco Maciel A VOZ DO O Sol da Solidariedade A solidariedade social é a condição do grupo que resulta da comunhão de atitudes e de sentimentos, de modo a constituir uma unidade sólida, capaz de resistir às forças exteriores e mesmo de tornar-se ainda mais firme em face de oposição vinda de fora. Solidariedade é mais do que prestar serviços ao outro: é um tipo especial de relacionamento social. É lutar lado a lado. É vencer e convencer. É não ser só. É ser sol. Solidariedade é brilhar e iluminar como se o coração fosse um sol. Um sol na escuridão. Um sol na solidão. Um sol na meia-noite escura. Solidariedade é viver na luz do amor ao próximo.

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1 EscribaA VOZ DO

78934617 - ID 55*438357*8Especial CHUVAS NA REGIÃO

SERRANA Janeiro 2011

Jornalista Responsável:Jaricé Braga

EscribaEspecial Chuvas na Região Serrana -Janeiro 2011 - Jornalista

Responsável: Jaricé Braga e Francisco Maciel

A VOZ DO

O Sol daSolidariedade

A solidariedade social é a condição do grupoque resulta da comunhão de atitudes e de

sentimentos, de modo a constituir umaunidade sólida, capaz de resistir às forças

exteriores e mesmo de tornar-se ainda maisfirme em face de oposição vinda de fora.

Solidariedade é mais do que prestar serviçosao outro: é um tipo especial de

relacionamento social. É lutar lado a lado.É vencer e convencer. É não ser só. É ser sol.Solidariedade é brilhar e iluminar como se ocoração fosse um sol. Um sol na escuridão.Um sol na solidão. Um sol na meia-noite

escura. Solidariedade é viver na luz do amorao próximo.

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A solidariedade converte emdireito o que a caridade dá

como favor.(José Ingenieros)

O dia 11 de janeiro ficará parasempre na minha memória.

Acordei de madrugada e umagrande chuva caía no municípiode Guapi.

Voltei a dormir e quando acordeide novo levei um grande susto.Minha filha dizia:

- Pai! Pai! Olha o que estaacontecendo em Teresópolis seráque entrou água na minha escola?

Pronto! Era o inicio de umagrande guerra. Guerra eu disse!Sim é verdade partiimediatamente para Teresópolis efui recebido pelo Irmão FlavioGueiros que passou todas asnoticias.

Chegando à Delegacia deTeresópolis, o Irmão Jozimar, Juizde Direito, mostrou com emoçãodiversos carros frigoríficos ondeestavam sendo colocados osmortos não identificados.

Era verdadeiramente um caosonde pessoas desesperadasprocuravam pelos seus filhos,pais, mães, sobrinhos, irmãos,amigos, vizinhos. Eu estava nabeira da catástrofe. Porque, nocentro da tragédia, já não haviaesperança.

Havia desespero. Medo. Luto.Dor. Sede. E nem uma gota deesperança para nada, Nem umagota de água em todo o município.

Água. Entrei em contato com oGrão-Mestre Waldemar Zveiteronde fiz um relato da situação ede imediato ele colocou a GrandeLoja de plantão para atender a

SolidariedadeSerá que a solidariedade sofre algum tipo de deslizamento?

”“

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todas as necessidades imediatasda população.

Junto com o Irmão Flávio,partimos para o “Pedrão”, umclube do município ondeencontramos mais de 800 pessoascorrendo de um lado para outrosem saber o que fazer, procurandoseus antes queridos e ao mesmotempo querendo ser solidários.

Uma criança de não mais de seisanos chega com uma lata deNescau e pergunta:

- Isso serve para ajudar aspessoas?

Outros chegavam com pão,manteiga, leite, tudo, tudo que sepossa imaginar. Ninguém tinhaidéia da proporção da catástrofe,mas todas sabiam que existia algodiferente na cidade e todosqueriam participar.

- Posso ajudar? Isso serve?Como posso ajudar? – diziam aspessoas, muitas delas precisandode ajuda.

O tempo passa e você nãopercebe. A noite chega e você nãosente. O dia amanhece e o seucoração não suporta tanta dor. Aomesmo tempo você não acreditano que está vendo, você fica sementender o sentimento de pessoasdeclarando que perderam suascasas, seus filhos e não tinhampara onde ir, mas que queremparticipar, ajudar a quem precisa,só ajudar. Você começa a sentirque o ser humano é realmentedifícil de entender.

O centro de Teresópolis ficouintransitável. A delegacia está

“ Solidariedade, amigos, não se agradece,comemora-se. (Betinho) ”

Maçonaria, um exemplo em minha casaMeus Irmãos,Minha filha Gabriela tem 11 anos. Acompanhando todas as

notícias que passam da televisão da catástrofe que estaacontecendo na Região Serrana me pediu para comprar água,vela, biscoitos e outras coisas para doar. Argumentei que face aminha situação financeira atual fica complicado fazer esse tipode doação.

Ela se calou......se recolheu com papel e hidrocor e, não satisfeitacom a minha resposta, fez o cartaz que anexo para colocar noselevadores do prédio e veio me mostrar dizendo se podia fazerisso, além de pegar as roupas e brinquedos que ela não mais usae se eu me incomodaria de levar para um posto de doação já quenão teria nenhum gasto com isso.

Esse é um exemplo que todos devemos seguir....para mim agiumuito melhor do que muitos irmãos, me incluo nesse grupo pornão ter tido essa ideia, precisei de uma verdadeira lição deMaçonaria de uma criança de 11 anos para aprender o que devofazer.

Ronaldo Costa.·.

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recebendo gente, não para serpresa. A igreja não poderia maisreceber ninguém. Viraram uminstituto médico legal onde a cadaminuto chegavam mais pessoasque perderam suas vidas e umnúmero maior de pessoasprocurando por seus familiares ouquerendo acordar os que jádormiam eternamente. Tudo épossível. Por que não podeacontecer um milagre?

O Irmão Flávio, Subsecretáriode Turismo do Município teve agrande ideia de receber donativosna Secretaria, que fica emSoberbo, logo no início deTeresópolis.

Chegando lá já encontramoscaminhões, carros, ônibus, e maiscaminhões de mantimento comalimentos não-perecíveis. Foicrescendo também o número depessoas que queriam ajudar. Cadaum queria ser voluntário: crianças,jovens, adultos. Todos queriam sersolidários naquela dor.

O Irmão Flávio Gueiros e suaesposa Paula andavam de um ladopara outro, lágrimas caindo de dore emoção. O telefone do IrmãoFlavio toca uma, duas, cem vezes:é mais um caminhão comdonativos, é a solicitação de umremédio, de água, de alimento.Todos os funcionários daSecretaria estão prontos paraexecutar as ordens.

Tudo está perdido? Se tudo estáperdido, então tudo é procura,

FLASHES DO DESLIZAMENTO

Fogo AmigoNão é preciso dizer às autoridades que existe fogo amigo. Os políticos são especialistas nisso,

inclusive contra aqueles que os elegem. Mas não existe deslize amigo em matéria de política. Nãoexiste deslizamento amigo em matéria de inconsciência política e ambiental.

Após reunião com a presidente da República, Dilma Rousseff, o ministro de Ciência e Tecnologia,Aloizio Mercadante, afirmou na segunda-feira (17) que o governo estima que existam cerca de cincomilhões de brasileiros vivendo em 800 áreas de risco em todo país. Destas áreas, 300 são suscetíveisa inundações.

Pense nisso: os políticos já começaram a faturar com a tragédia que eles próprios criaram(ver OS DOIS PREFEITOS). Centralizam os esforços de distribuição de doações, aparecem diantedas câmeras de TV, falam nas rádios, dão declarações aos jornais, e completam o círculo vicioso:muitos desses políticos autorizaram a ocupação de encostas, mandaram iluminar, botar água, gatonete, quando tudo termina em deslizamento, eles faturam a tragédia que programaram distribuindocobertores para os vivos e caixões para os mortos.

A tragédia no Rio também é o pior deslizamento de toda a história do Brasil. Até quandovamos continuar permitindo esse “deslizamento político”, esse “deslize imoral”, esse “fogo amigo”?

É urgente denunciar esse NOVO CÓDIGO FLORESTAL como uma verdadeira armade destruição em massa, terrorismo contra a natureza, crime de lesa-natureza, terrorismoambiental

Estime a solidariedade. Você não poderá viversem os outros, embora na maioria dos casos os

outros possam viver sem você. (André Luiz)

”“

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busca, grito, chamado. Filhaprocurando pelo pai. Paiprocurando pelo seu filho.Crianças que ainda não sabemque estão órfãos. Um homem quenão sabe que não mais nenhumdos seus 12 parentes. A mulherque ainda não sabe que só lherestou a avó.

- Perdi tudo que construí durantemais de 30 anos. Em menos de 10minutos vi tudo se desmoronado,mas graças a Deus estou vivo eminha família também – dizemalguns, e estes são os que deramsorte, que acordaram no meio danoite e receberam uma mensagemque não sabem de onde dizendo:“Acorda, acorda toda a suafamília, e sobe o morro. Agora!”

Outros não tiveram essepresságio:

- Minha casa foi carrega pelodeslizamento e minha família todamorreu. Estou sem lugar para ir.Posso ficar aqui com vocêsajudando a quem precisa? –pediam, não queriam ficarsozinhos, ainda não tinhacondições de enfrentar a dor, aperda, o desamparo.

Pessoas chegavam procurandoseus filhos e eram informadas queeles estavam ali, logo ali em frente,em um carro frigorífico, e nessemomento o mundo desabava eelas caíam. Algumas ficavamcaídas um longo tempo. Outras selevantavam em silêncio. Outros searrastavam aos gritos. Ali, estão

A verdadeira solidariedade começa onde não seespera nada em troca.

(Antoine de Saint-Exupéry) ”“

FLASHES DO DESLIZAMENTO

Caos e Desvios: a natureza humanaNa segunda-feira, havia ao menos 170 toneladas de doações e milhares de voluntários.

Mas a situação caótica na região serrana do Rio tem dificultado a entrega de água, comida e roupasaos moradores que mais precisam de ajuda. Também começam a surgir indícios de desvios dasdoações. As informações são da reportagem de Alencar Izidoro, Marlene Bergamo e HudsonCorrea publicada na edição de segunda-feira da Folha, que aponta ainda que, em Nova Friburgoe Teresópolis, há relatos de aproveitadores que pegam doações sem precisar ou tentam comercializarprodutos.

Na cidade de Teresópolis, o centro que recebe e distribui donativos é o ginásio Pedrão.Policiais militares vigiam o procedimento. “Tem gente que recebeu e não estava desabrigado. Temgente que recebeu dez vezes a mesma coisa”, diz o empresário Sérgio Epifânio, um doscoordenadores do atendimento.

O Comando Geral da PM do Rio determinou, no dia 16, a prisão de comerciantes queestiverem cobrando preços abusivos na região serrana. A medida é válida para as cidades de NovaFriburgo, Teresópolis e Petrópolis e tenta coibir a prática de crimes contra o consumidor.Segundo o porta-voz da Polícia Militar, coronel Lima Castro, 400 homens da corporação ajudamnos trabalhos de socorro e segurança das vítimas. Em meio à tragédia, tentativas de saque foramrelatas por comerciantes.

Depois da tragédia, a população de Nova Friburgo começou a sofrer com o racionamentode comida. Assustados com a dimensão dos estragos causados pelas chuvas, os moradores passarama tentar estocar comida, apesar da grande quantidade de donativos enviada para a região. Issoprovocou uma disparada nos preços.

As chuvas também ilharam produtores rurais e destruíram plantações principalmente deverduras e hortaliças. Como consequência, os produtos já começam a sumir dos supermercadosda capital fluminense e, quando encontradas, os preços mais do que dobraram em relação à semanapassada.

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logo ali em frente, mas não vão tereconhecer nunca mais.

Outros se agarravam aos seusbens materiais. Alguém tem seagarrar a alguma coisa. Roupas,malas, tudo que era possívelcarregar.

Andamos. Não podemos ficarparados. No alto de uma árvoreuma pessoa morta, pendurada,que foi levada pela água e teveseu corpo parado pelos galhos daárvore.

Pisamos na lama e alguém donosso lado avisa:

- Você esta pisando no telhadode uma casa. Cuidado pra não cairlá dentro.

No meio da lama: celulares,relógios, sapatos de crianças.

Estamos no alto. Lá embaixo umvale completamente destruído,como se a lama quisesse cobrirtudo, nivelar tudo.

- Ali existia uma pousada –alguém diz.

Havia casas também. Uma vila.Vidas. Um bar. Uma praça. Agorasó existe lama e corpos debaixoda lama.

O telefone volta a tocar.Somos informados que emFriburgo, quatro horas depois dotemporal, o Corpo de Bombeirosouve um pedido de socorro: era avoz de uma criança. Todos sejuntam, cavam, cavam, cavammais fundo, e salvaram toda afamília dos escombros de suacasa. Momento de alegria!

No IML mais de 150 corpos,- Quinze pessoas de minha

família morreram, meus filhosmeus primos, todo mundo morreue ainda não achei a minha mãe. Oque vou fazer?

A pergunta não tem resposta.Ou tem: se lágrimas podemresponder por tantas perdas.

Segundo o Presidente doTribunal de Justiça do Rio deJaneiro, Desembargador LuizZveiter, foram montadas forçastarefas em Friburgo, Petrópolis eTeresópolis, com Juiz doMinistério Público, DefensoresPúblicos, membros do Ministério

Público. Será feita uma varreduradentro do Instituto Médico Legale da Polícia Civil para identificaros mortos. Os corpos serãoimediatamente liberados para osepultamento minimizando osofrimento das famílias.

Todos. Todos sofrem com amorte do pai, da mãe, do filho.Mas sofrem muito mais se nãoconseguem ver o corpo. E queremo corpo para lhes dar umasepultura com uma cruz, um lugaronde possam voltar um dia etrazer uma flor, uma pedra, umaboneca, uma lembrança, acenderuma vela.

Não existe outra via para a solidariedadehumana senão a procura e o respeito da

dignidade individual. (Pierre Lecomte Du Nouy) ”“

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Andamos. Estradas destruídase bloqueadas. Lama. Rios de lamae muito pedido de socorro.

Pessoas informando à DefesaCivil que perderam seus familiarese como não chegava ninguém elesmesmo enterraram os corpos noquintal de sua casa. Isso é certo?Isso é errado? As lágrimasrespondem, e seguimos adiante.

O Sereníssimo Grão-MestreWaldemar Zveiter e a GrandeLoja Maçônica do Estado do Riode Janeiro foram uns dos queprimeiro chegaram ao local. Valetambém ressaltar a participaçãointegral de todos os Irmãos doGrande Oriente do Brasil, que napessoa do Irmão Edimo MunizPinho estava presente em todaparte dando o seu ombro amigoaos necessitados. Uma coisa écerta: diante da dor e da morte detantos, pensarem em Potências équase um crime de lesa-maçonaria.

O telefone volta a tocar: o IrmãoVandir Encarnação, junto com osIrmãos Madureira, Barbirato,Jozias, Cristóvão, e tantos e tantosoutros, estão mandandomantimentos e remédios para apopulação. Onde entregar?

Tragédia, dor, lágrimas,perda, desespero, desamparo,solidão. Mas nos corações, na

Nunca compreendi a solidariedade. Aceitei-acomo artigo de fé tradicional. Se tivéssemoscoragem de a afastar completamente, livrar-nos-íamos do peso que incomoda a nossa

personalidade. (Henrik Ibsen) ”“

Vulcões, deslizamentos, enchentesFLASHES DO DESLIZAMENTO

Diante da falta de planejamento urbano e da ocupação de encostas perigosas,a tragédia em curso na serra fluminense tende a se repetir em outras áreas,advertem especialistas ouvidos pela BBC Brasil. Eles sugerem a implementaçãode sistemas de alerta para a população, a desocupação de áreas arriscadas e oplanejamento urbano de longo prazo. E, ainda, que as chuvas recebam doEstado brasileiro atenção semelhante à que países com atividades sísmicas evulcânicas dispensam aos desastres naturais.

Sem tudo isso, outras áreas de risco em todo o País - como encostas desolo raso sobre grandes blocos rochosos, sem rede de esgoto e galerias pluviais- podem sofrer, em verões futuros, o sofrido nos últimos anos nos Estados deSão Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina. “A prevenção aqui tem que sersemelhante à de terremotos no Chile e a de vulcões no Japão”, opina o geólogoMarcelo Motta, professor da PUC-RJ. “É preciso que haja continuidade aosplanos de mapeamento de risco, remoção das pessoas que vivem em áreasperigosas, planejamento da ocupação urbana e execução desse planejamento”.

Motta, que está participando das vistorias das regiões afetadas pelas chuvasrecentes na serra fluminense, diz que há populações vivendo em áreas perigosasnas áreas sul, centro e norte da região serrana do Rio. “(Áreas montanhosas)são como uma manteiga derretida. São perigosas, mesmo com florestas. Emáreas assim, não adianta dizer ‘moro aqui há 40 anos e nunca aconteceu nada’,porque o perigo existe”, diz.

“A impressão é que repetimos a mesma fita (de tragédias) todos os anos”,diz o geólogo Antonio Guerra, da UFRJ, que também fez estudos na serrafluminense. “Mas falta vontade política para colocar em prática os conhecimentosda academia”. Ele opina que não é necessário remover a população de todasas encostas do país. Mas, a partir do mapeamento feito nos municípios, épreciso tirar as pessoas das áreas consideradas de alto risco.

Em geral, diz Guerra, essas áreas têm “solo de pouca profundidade, emcima de blocos rochosos (que podem deslizar). E muitas dessas encostas nãotêm galerias pluviais e rede de esgoto”. Ou seja, a água de uso humano édepositada no próprio solo, que depois fica saturado com as chuvas. Nessecenário, o deslizamento é quase certo.

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lama, na alma, no corpo quedenuncia o tempo todo que aindaexiste vida, sobre tudo isso, brilhao sol da solidariedade.

Por incrível que pareça, nomeio dessa tragédia, não sintovergonha em dizer que gostariaque este sentimento durasse parasempre.

Sei que é ilusão. Não sei queessa solidariedade perdura até ocarnaval. Ou até uma próximacatástrofe. Fico me perguntandopor onde anda a população doBUMBA em Niterói? Será queaquelas pessoas foramabandonadas ou estão sendocuidadas pelas nossasautoridades? E peço que o nossoGrande Arquiteto do Universoolhe por todas essas famílias,depois da chuva, depois da lama,depois do esquecimento, depoisda solidariedade.

O Governo anuncia que vailiberar fundo de garantia e outrositens burocráticos. As pessoasatingidas receberão valores dequatro mil reais do fundo degarantia. O Governo Federal daráuma ajuda do seguro desempregopara as famílias, coisa de 400 ou500 reais para as pessoas quesobreviveram. Seria isso umaação de Pilatos: “Fiz o meu papel.Lavo minhas mãos e limpo minhaconsciência”.

A verdade e a solidariedade são dois elementosfirmes que permitem aos profissionais dos

meios de comunicação converter-se empromotores da paz. (Papa João Paulo II) ”“

Os Dois PrefeitosPrefeito PERFEITO

O prefeito de Areal, Laerte Calil, é o novo sucesso do Youtube e está se tornando estrela nonoticiário internacional. Ele contou à reportagem da TV Globo como teve uma ideia simples que salvoumuitas vidas.

Durante as chuvas de quarta-feira passada, Calil telefonou para municípios rio acima de sua cidadena Região Serrana do Rio. Descobriu que a água já tomava as áreas urbanas. Colocou, então, o carro desom da Prefeitura para circular com um “Alerta Máximo”.

Com isso, Calil deu duas horas de chance para os 10 mil habitantes da pequena e desprotegidaAreal se prepararem.

Resultado: 80 casas destruídas, 300 desabrigados, muitos prejuízos materiais, mas ninguém foimorto.

Prefeito IMPERFEITOEnquanto isso, o Sr. Prefeito de Teresópolis Jorge Mário mandou suspender a assistência que vinhasendo prestada pela CRUZ VERMELHA à população da cidade.

Depoimento do médico Martius de Oliveira, voluntário da Cruz Vermelha, duas equipes da entidadeque atuavam na área de Granja Florestal, nas imediações da localidade de Posse, teria sido obrigados pelaprefeitura a interromper as atividades e retornar.

“Nesta segunda, funcionários da prefeitura de Teresópolis nos expulsaram do galpão cedido por umempresário onde estávamos trabalhando. Vieram funcionários e guardas armados de fuzis. Foi uma cenasurrealista. Eu estava preparando um kit médico para atendimento em campo quando um guarda com fuzilordenou que saíssemos do local. Puseram todos nós pra fora, entrou um caminhão do exército, e emseguida alguns guardas armados começaram a pegar todos os donativos da Cruz Vermelha e colocaramnos caminhões. Ficamos do lado de fora, sem poder ver nada pois guardas ficaram montando guarda dolado de fora armados com fuzis. Liguei para um amigo influente, que ligou por sua vez para repórteres daRede Globo. (...)Inúmeras pessoas, a maior parte petistas doentes, acusaram a mim e a todos da Cruz Vermelha de mentirosos.Todos, repito todos os donativos, remédios, água, tudo foi confiscado pela prefeitura. A igreja católica quetambém foi boicotada pela prefeitura evangélica de Teresópolis nos cedeu o espaço da igreja para nosreorganizarmos e como formiguinhas rapidamente montamos um novo posto com as toneladas de donativosde São Paulo que haviam acabado de chegar!! Bendita São Paulo, que com sua carga de donativos,permitiu que voltássemos a operar quase imediatamente apesar de termos sido expulsos do local original.Muitos voluntários debandaram no meio da confusão. (...) A cidade do Rio de Janeiro é a segundamaior do Brasil, há milhares de médicos, mas nenhum voluntário durante toda esta segunda-feira. Juro que não consigo entender o que está acontecendo.... tantas pessoas desabrigadas,isoladas, precisando de ajuda... Os principais atendimentos médicos consistem em fazer triagem dospacientes que necessitam de remoção com internação em hospitais de campanha, estabilização hemodinâmicade feridos, imobilização de traumas, compensação de parâmetros fisiológicos em pacientes com insuficiênciacardíaca, diabetes e hipertensão, tratamento de infecções respiratórias e gastrintestinais agudas, rehidratação,e assistência aos que estão em estado de choque.”

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Jornalista Responsável:Jaricé Braga

Eu me preocupo agora: comoserá a vida dessas pessoas nospróximos meses, nos próximosanos?

Não posso deixar de lembrar quena tragédia em Angra dos Reis ede Niterói o Governo Lula seemocionou e disse há exatamenteum ano que autorizou umadotação imediata de 320 milhõesde reais, e que até o momentoexatamente um ano depois esserepasse não passou de 25%.

Tenho que perguntar a quemsabe mais sobre isso. Dizem queo dinheiro para proteção deencostas não chegou e por issotantos mortos. Será que essasmigalhas vão chegar aossobreviventes?

O telefone volta a tocar: é oIrmão Manhães, chorando,perguntando: “Irmão Braga, ondee como posso ajudar?”

Muitos, muitos outros Irmãosligavam a todo o momentoquerendo participar sem sabercomo e onde. Não estou sozinho,e isso também é uma forma desentir vivo em plenasolidariedade.

Mas a vida é agora. Ao meu ladoum cidadão diz:

Eu não acredito em caridade. Eu acredito emsolidariedade. Caridade é tão vertical: vai decima para baixo. Solidariedade é horizontal:

respeita a outra pessoa e aprende com o outro.A maioria de nós tem muito o que aprender

com as outras pessoas. (Eduardo Galeano) ”“

Sistemas de alertaFLASHES DO DESLIZAMENTO

Luiz Pinguelli Rosa, diretor do Coppe-RJ (Instituto Alberto Luiz Coimbrade Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ), defende a criaçãode sistemas de alerta para avisar populações em áreas de enxurradas. Elesugere alertas sonoros, conectados por fiação própria, que avisariam oshabitantes para a iminência de temporais e deslizamentos. “Isso não éfeito da noite para o dia, mas tem que começar. E é preciso aliar isso àdetecção de temporais, com mais radares meteorológicos”, diz o diretordo Coppe, instituição que, a pedido do governo Lula, sugeriu formas deprevenção de desastres em Santa Catarina após as enchentes de 2008.

Mas o sistema de alerta, por si só, não resolveria o problema em zonasde alto risco, opina ele. “Para construções em encostas, não há alerta queresolva. Essas construções são derivadas da cultura brasileira de que‘comigo nunca vai acontecer nada’”.

Antonio Guerra, que fez um projeto piloto de alerta para um bairro dePetrópolis, sob encomenda estatal, estima que alertas adaptados àsnecessidades de cada município custariam ao redor de R$ 1 milhão, pormeio de convênios com universidades, e poderiam ser preparados em atédois anos. “É um custo muito menor do que o das verbas liberadas para oatendimento de emergência”.

Apesar de alguns dos municípios serranos fluminenses terem planos deidentificação de risco desde 2007, as imagens da tragédia mostravam “aocupação humana em áreas de escoamento”, diz Elson Antonio doNascimento, professor de engenharia civil da Universidade FederalFluminense (UFF) que trabalha com planos de áreas de risco e encostas.

“Mas não vemos mobilização estratégica, de longo prazo. Os municípiostêm planos municipais, mas não os implementam. As iniciativas se diluem”,opina. Para Pinguelli Rosa, “muitas vezes os moradores não são avisadosde que um plano identificou que eles estão em área de risco. É precisofazer as informações chegarem à população”.

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- A minha mulher está morta.Estou aqui procurando o meufilho. Você pode me ajudar?

O telefone volta a tocar: é oIrmão Ferreira. Ele quer ajudar.

O comandante da Polícia Militare o nosso Irmão Coronel MarcusJardim cercaram a cidade deTeresópolis, dando assim umatranquilidade maior aosdesabrigados e aos moradores.Com a participação da PolíciaMilitar efetivamente a cidadeficou tranqüila, organizada e semviolência. Não há mais o medo desaques e de roubos. Porque nomeio da tragédia ainda existemchances de mais dor e maissofrimento.

A Loja George March e o IrmãoMoura centralizaram todo omaterial recebido, organizando edistribuindo diretamente aos maisnecessitados. Na Loja Três Luzesos Irmãos se uniram, trabalhandodia e noite, entregando donativosnos locais mais distantes e dedifícil acesso.

Andamos, conversamos,registramos. Chegamos mais umavez no IML. Um médico deplantão com lágrimas nos olhos:

- Na semana passada atendi umcidadão e sua esposa que estavamcom problemas de pressão. Hojeassinei os seus atestados de óbito.

O nosso Irmão Vandir liga e dizque o 7º Batalhão e 12º Batalhãoem Niterói têm fila de carros paraentrega de alimentos que serão

A solidariedade é o sentimento que melhorexpressa o respeito pela dignidade humana.

(Franz Kafka) ”“ entregues no Viva Rio, sob ocomando do Coronel Ubiratan, epara se conseguir a liberação domaterial será preciso mandar ume-mail para que ele possa analisar.

Lamento esse fato. Por que nãomandam para quem está aqui nalama e na chuva e sabe quemprecisa de ajuda. O Irmão Vandirvoltou a distribuir todo o materialdoado às lojas maçônicas deNiterói e São Gonçalo pordeterminação do Irmão EdimoMuniz. Sem análise.

O Irmão Robson BrandãoMartins pertence ao Bode doAsfalto e falou da campanha feita.Resultado: seis caminhões dealimentos doados por todo o MotoClubes e mais de 80 motoqueirosque vieram se unir nessa justanecessidade.

O Irmão Carlos José BarbosaCury veio de São José do RioPreto, foi recebido pelo IrmãoFlávio e perguntou:

- O que vocês precisam?O Irmão Carlos correu todas as

farmácias e comprou mais dequatro mil reais em remédiosemergenciais.

Uma padaria doou uma grandequantidade de pães, presunto equeijo. Os voluntários fizeramsanduíches e os motoqueiros dosBodes do Asfalto foram entregarnas regiões mais afetadas. Existialocalidade onde o bombeiro nãoconseguia chegar e de repentesurgem diversos motoqueiroslevando comida, água, remédio,esperança e levando materialnaquela localidade eram jovensque com orgulho davam a suaajuda aos necessitados. Quandoa tragédia acontece, até bodespodem ser anjos, foi mais uma queaprendi.

Por determinação dos JuizesJosé Ricardo e Jozimar, às pessoasque chegavam para reconhecerseu parente não era permitido

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“Riding the Lightning - Esse é o nome que os condenados à cadeira elétrica dãoquando estão a caminho da morte. Quer dizer: Montando o relâmpago. Cavalgando o relâmpago.

(Tem uma canção do grupo Metallica com esse nome). Amigos me mandam notícias: gentedesesperada procurando desenterrar os mortos à luz dos relâmpagos. Com as próprias mãos. Uma

cena de puro desespero.

entrar nos caminhões frigoríficos.O motivo: não chocar a pessoa.Ele determinou que o legistaentrasse e tirasse uma foto. A fotoera apresentada às pessoas parareconhecimento. Era uma formade impor menos sofrimento emenos dor às pessoasdesesperadas à procura seusparentes.

A Secretaria de Turismo estavasendo o ponto principal derecebimento e o mais importantede distribuição direta para os maisnecessitados. Sem mais nemmenos, por questões políticas, oPrefeito determinou ofechamento e mandou lacrar olocal. Não deixa de ser triste saberque nem mesmo numa horadessas um político entre emcampanha para votos futuros.

O Irmão Marcos Guarilha logonos primeiros momentos recebeuquatro caminhões representando15 toneladas e a cada minutoestão chegando mais e maisalimentos. Um caminhão enviadopelo irmão Bira veio do EspíritoSanto, e outro da LojaParanapuan de Campo Grande.

O Irmão Guarilha se orgulha:- Estamos fazendo Maçonaria,

não tem Grande Oriente, e nemGrande Loja. Aqui somos todosirmãos trabalhando em prol dessepovo que tanto precisa.

O Venerável Mestre IrmãoSergio da Loja Três Luzes ficouemocionado quando olhou parao templo completamente lotadode roupas e alimentos para osnecessitados de Teresópolis:

- Isso é a verdadeira Maçonaria,sem política e com muito amor -

disse.O Irmão Márcio Pascoal da Loja

Progresso e Ordem chegou emTeresópolis, procurou o IrmãoFlavio e entregou um caminhãode alimentos e roupas que foi paraa Loja Três Luz.

Quando da entrega do materialcaiu um grande temporal emTeresópolis e pessoas gritavampara parar de chover pelo amorde Deus. Elas corriam pelas ruaspedindo para a chuva parar. Achuva continuou.

O Irmão Marcio Pascoalemocionado saiu sem queninguém percebesse e tempodepois voltou dizendo:

- Comprei seis mil quentinhaspara as pessoas carentes poderemjantar. Onde devo entregar?

Um carinho todo especial paracunhada Ângela Vilela da Loja

13 EscribaA VOZ DO

78934617 - ID 55*438357*8Especial CHUVAS NA REGIÃO

SERRANA Janeiro 2011

Jornalista Responsável:Jaricé Braga

Três Luzes que foi uma verdadeiramaçoneira trabalhando 24 horas por diacom o mesmo sorriso de solidariedade.

Os Irmãos continuavam a ligarquerendo saber se precisava de algo.Outros Irmãos também, o telefone toca,e eu atendo, precisamos de toda ajuda,e ligar já é uma ajuda. Registro eagradeço ao Irmão Bira pelas suaspalavras.

Penso na minha mulher Rosane, àsminhas filhas Karina e Marina. que comos seus nove anos estava feliz ajudandoa alguém que tanto precisa. Ao meufilho Kayk. Penso em todos os que euamo. Estão vivos, todos, e juro lutarmuito para merecer essa felicidade.

Um fato que me chamou a atenção:as pessoas que moram no centro deTeresópolis e nada sofreram saírampara a rua com suco, bolo, doces, todosfeitos em casa para oferecer na rua paraaqueles que estavam trabalhando. Emais uma vez me vem aquela vontadede que essa solidariedade nunca maistermine.

Eu não sabia, mas agora eu sei: asolidariedade é mais forte que a morte.A solidariedade é o sol da vida. Descobriisso na tragédia que também é o piordeslizamento de toda a história do Brasilnos últimos 111 anos. Pelo menos voulevar esse sentimento enquanto euviver. Ele é inesquecível.

Ir.Jaricé Braga

Eu não sabia, mas agora eu sei: a solidariedadeé mais forte que a morte. A solidariedade é o solda vida. Descobri isso na tragédia que também

é o pior deslizamento de toda a história doBrasil nos últimos 111 anos. Jarice Braga”